roteiros jurÍdicos - direito processual do trabalho - 2ª edição

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direito Processual do trabalho

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2ª edição2011

direito Processual do trabalho

Coordenador José Fabio rodrigues MaCiel

eduardo Henrique raymundo von adamovich

C o l e ç ã o R o t e i R o s J u R í d i C o s

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ISBN 978-85-02-05744-9 obra completaISBN 978-85-02-12012-9

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Von Adamovich, Eduardo Henrique RaymundoDireito processual do trabalho/ Eduardo Henrique Raymundo

von Adamovich. – 2. ed. — São Paulo : Saraiva, 2011. – (Coleção roteiros jurídicos / coordenador José Fabio Rodrigues Maciel)

1. Direito do trabalho 2. Direito do trabalho - Brasil 3. Direito processual do trabalho - Brasil I. Maciel, José Fabio Rodrigues. II. Título. III. Série.

10-02883 CDU-347.9:331(81)

Índice para catálogo sistemático:

1. Brasil : Processo trabalhista : Direito do trabalho 347.9:331(81)

Diretor editorial Antonio Luiz de Toledo PintoDiretor de produção editorial Luiz Roberto CuriaGerente de produção editorial Lígia AlvesEditor Jônatas Junqueira de MelloAssistente editorial Sirlene Miranda de SalesAssistente de produção editorial Clarissa Boraschi MariaPreparação de originais Cíntia da Silva LeitãoArte e diagramação Cristina Aparecida Agudo de Freitas

Isabel Gomes CruzRevisão de provas Rita de Cássia Queiroz Gorgati

Roberto de Mello Jr.Serviços editoriais Carla Cristina Marques

Vinicius Asevedo VieiraCapa Gislaine RibeiroProdução gráfica Marli RampimImpressão Acabamento

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva.A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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Data de fechamento da edição: 20-3-2011

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SUMÁRIO

Capítulo 1 – DEFINIÇÃO ......................................................................... 7

Capítulo 2 – ESPECIALIZAÇÃO E DISTINÇÃO DAS DEMAIS DISCIPLINAS PROCESSUAIS ........................................................... 9

Capítulo 3 – PRINCÍPIO E REGRAS DE FUNCIONAMENTO .......... 11

Capítulo 4 – JURISDIÇÃO: CARACTERÍSTICAS ................................. 16

Capítulo 5 – A JUSTIÇA DO TRABALHO NA ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA BRASILEIRA .................................................................. 18

Capítulo 6 – MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ...................... 21

Capítulo 7 – COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO........................................................................................... 23

Capítulo 8 – COMPETÊNCIA TERRITORIAL. PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA. PREVENÇÃO ........................................................ 32

Capítulo 9 – COMPETÊNCIA FUNCIONAL ........................................ 36

Capítulo 10 – COMPETÊNCIA POR VALOR DA CAUSA .................. 37

Capítulo 11 – A AÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO .................. 38

Capítulo 12 – DISSÍDIOS INDIVIDUAIS ............................................... 44 12.1. As partes nos dissídios individuais ................................. 44 12.2. Litisconsórcio e intervenção de terceiros ........................ 51 12.3. Representação sindical ou a impropriamente denomi- nada substituição processual ............................................ 60 12.4. Atos, termos e prazos processuais ................................... 61 12.4.1. Atos e termos processuais ........................................... 61 12.4.2. Prazos processuais ........................................................ 64 12.5. Defeitos dos atos processuais: nulidades ........................ 66 12.6. Fase postulatória ................................................................. 69

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12.6.1. Petição inicial .................................................................. 69 12.6.2. Distribuição, notificação do reclamado e abertura da audiência ................................................................... 71 12.6.3. Arquivamento ou revelia ............................................ 72 12.7. Primeira fase conciliatória ................................................. 73 12.8. Resposta do reclamado: exceções; contestação e recon- venção................................................................................... 76 12.9. Fase instrutória: provas ..................................................... 78 12.10. Razões finais ........................................................................ 82 12.11. Segunda fase conciliatória ................................................. 83 12.12. Tutela de urgência .............................................................. 84 12.13. Sentença e coisa julgada .................................................... 88 12.14. Ação rescisória .................................................................... 93 12.15. Recursos ............................................................................... 93 12.16. Cumprimento de sentença (execução) ............................ 97 12.16.1. Liquidação ....................................................... 97 12.16.2. Citação, penhora e avaliação ......................... 100 12.16.3. Embargos à execução e impugnação do exe- quente ............................................................... 103 12.16.4. Procedimentos de expropriação; embargos à arrematação e à adjudicação; adjudicação e remição .......................................................... 105

Capítulo 13 – DISSÍDIOS COLETIVOS E AÇÕES COLETIVAS CIVIS SUBSIDIÁRIAS ..................................................................................... 108

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Definição

Direito Processual do Trabalho é a disciplina jurídica que cuida da so-lução jurisdicional dos conflitos surgidos nas relações individuais e coleti-vas do trabalho e da tutela a outros direitos correlatos conforme definidos em lei.

A jurisdição é dita método heterônomo de composição dos conflitos, de natureza pública, imperativa e coercitiva, porque exercida sob forma de monopólio do Estado, sabendo-se que proibida a autotutela com a crimina-lização do exercício arbitrário das próprias razões. A jurisdição é atributo da soberania do Estado, constituindo-se em uma das funções de governo deno-minadas “Poderes da União” pelo art. 2º da Constituição.

A jurisdição distingue-se de outro conhecido método heterônomo de solução dos conflitos que é a arbitragem. Esta é regulada pela Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996, e, de acordo com o seu art. 1º, só se podem valer dela pessoas maiores e capazes de contratar, para resolver litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis, pelo que é de entender que, ao contrário da jurisdição, ela tenha natureza de Direito Privado. A arbitragem pode ser empregada como meio alternativo para solução de conflitos coletivos do trabalho, se frustrada a negociação coletiva (CF, art. 114, § 1º).

A negociação coletiva e a arbitragem, assim como a conciliação extra-judicial nos litígios individuais (arts. 625-A a 625-H da CLT) não integram, a rigor, o Direito Processual do Trabalho, tanto que não compõem o Títu-lo VIII, da Consolidação, que trata da Justiça do Trabalho. Não obstante, deve-se reconhecer a existência de uma zona de interseção entre as pri-meiras e esse último, a justificar a constante referência àqueles institutos quando do exame de diversos assuntos da disciplina que empolga o pre-sente trabalho.

A conciliação celebrada em juízo ou a extrajudicial homologada pelo juiz do trabalho, conquanto se revistam na origem de natureza de métodos de autocomposição dos conflitos, com aquele ato judicial de homologação, ganham conformação jurisdicional. No processo do trabalho, há uma fase conciliatória que obrigatoriamente antecede a defesa e a instrução do pro-

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cesso (CLT, art. 764, § 2º)1 e outra que de forma não menos impositiva se antepõe ao julgamento da causa (CLT, art. 850).

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

GIGLIO, Wagner; CORREA, Cláudia Giglio V. Direito processual do trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

1 A referência a juízo arbitral nesse dispositivo consolidado não deve ser tomada literalmente. Quis a lei, na verdade, dizer que há uma fase de tentativa de autocomposição que obrigatoriamente ante-cede o exercício da heterocomposição dos conflitos do trabalho.

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Especialização e Distinção das Demais Disciplinas Processuais

O Direito Processual do Trabalho é função do Direito do Trabalho, ser-vindo, em última análise, para realizá-lo. Se o Direito do Trabalho se distin-gue de outros ramos do Direito sobretudo pelo princípio da proteção ou protecionista, que lhe denuncia as finalidades, tal traço de especialização se projeta no Direito Processual do Trabalho, dando-lhe uma natureza prepon-derantemente equitativa.

Os primeiros órgãos com jurisdição trabalhista, ao tempo da Revolução Industrial, foram instituídos na Inglaterra em fins do século XVIII e, sobre-tudo, em 1806, na França, sob Napoleão I, com a denominação de Conseils de Prud’hommes, inspirados nos juízos das antigas corporações de ofícios, em busca de uma jurisdição “menos jurídica” e mais equitativa.

O paradoxo da instituição de uma forma de jurisdição “menos jurídica” e de inspiração corporativa no ápice do liberalismo revolucionário francês, paralelamente à jurisdição comum, impõe sublinhar o caráter equitativo e a vocação para o trato coletivo das questões nessa espécie de jurisdição, ao contrário da jurisdição comum de então, que se caracterizava pela estrita fidelidade aos textos legais e o extremo individualismo.

Distingue-se o Direito Processual do Trabalho do Direito Processual Civil, não apenas pela matéria trabalhista afeita ao primeiro e os demais assuntos residualmente tratados neste último, mas, sobretudo, por uma mais larga margem de autonomia dada ao juiz do trabalho na interpretação da lei e na criação jurisdicional das soluções para os litígios, tendo sempre em atenção a repercussão transindividual das decisões. Essa autonomia criativa está longe de significar espaço aberto ao arbítrio ou às criações meramente idios-sincrásicas, uma vez que tudo há de conformar-se em última análise às normas constitucionais e aos princípios que regem o Direito e o Processo do Trabalho.

Distingue-se também o Direito Processual do Trabalho do Direito Pro-cessual Civil pela preponderância da função inquisitorial do juiz (CLT, art.

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765) sobre a disponibilidade dos direitos, que é marca geral neste último. No primeiro, há iniciativa dispositiva do processo, mas condução inquisitorial, ao passo que no segundo, o civil, há disponibilidade como regra geral, à medida que o processo só caminha por iniciativa das partes e a poder de dinheiro com o pagamento e/ou adiantamento das custas e demais despesas processuais.

Por seu caráter marcado de condução inquisitorial, o processo do traba-lho, ao contrário do que se poderia supor à primeira vista, assemelha-se mais com o Direito Processual Penal do que com o Direito Processual Civil. Nes-te último, como se viu, há iniciativa dispositiva e condução em regra da mesma espécie, quando no Processo Penal a condução é também inquisito-rial, concebendo-se formas análogas de iniciativa dispositiva e condução inquisitorial (ação penal privada). Não por acaso a ação ordinária no Proces-so do Trabalho é denominada “reclamação” e a sua correlata no Processo Penal, a ação penal privada, é normalmente iniciada por uma “queixa”, destacando-se com isso em ambas a iniciativa dispositiva e a condução in-quisitorial.

Tem larga margem de interseção o Direito Processual do Trabalho também com o Direito Processual Coletivo, cuja principal sede está hoje no Título III, do Código de Defesa do Consumidor e na Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85), podendo-se dizer mesmo que este último Direito promoveu ver-dadeira revisão teórica no Processo Coletivo do Trabalho2, na medida em que este não havia incorporado avanços tais como a distinção entre direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (CDC, art. 81, parágrafo único), nem havia assimilado devidamente a amplitude da tutela jurisdicional nes-ta seara (CDC, art. 83).

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

2 Consulte-se, a propósito, Eduardo Henrique Raymundo von Adamovich, Sistema da ação civil públi-ca no processo do trabalho, São Paulo: LTr, 2005.

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Princípio e Regras de Funcionamento

É preciso distinguir duas figuras que são fontes de muita confusão e equívocos ao lidar-se com o Direito Processual do Trabalho. Trata-se de saber que o princípio é representado por palavra ou locução que cristaliza deter-minado preceito da evolução civilizatória humana em determinado local e em determinada época, podendo ser convertido em lei ou não.

O princípio não se confunde com as regras de funcionamento de um sistema, que decorrem dele ou constituem exceções a ele, operando sempre para realização dos valores que ele encerra ou, quando excepcionais, para justificar o resultado que se distingue desses mesmos valores. O princípio é a força propulsora e as regras de funcionamento são as peças da engre-nagem.

Feita a distinção, fica fácil perceber que, se o Direito do Trabalho se governa por um princípio maior que é o da proteção, o Direito Processual do Trabalho que busca realizar tal finalidade protetiva só pode fazê-lo através de um único preceito, que é a equidade. O juízo equitativo é o único princípio que governa o Direito Processual do Trabalho, que procu-ra afastar-se da rigidez das formas e das normas jurídicas estritas e alcan-çar resultados mais adequados à dinâmica da realidade socioeconômica das relações de trabalho.

A equidade é dita forma inteligente de igualdade, que funciona como verdadeiro amortecedor entre a dinâmica da vida e a rigidez da lei. Juízo de equidade não significa juízo desigual, nem juízo que privilegie uma parte ou uma classe social em detrimento de outra, ou muito menos juízo que despreze a lei. Juízo de equidade significa a constatação de que o legislador está longe de conceber formas legais que açambarquem toda a riqueza da vida social, sobretudo num meio diretamente influenciado pela dinâmica das relações econômicas como é o das relações de trabalho, devendo-se abrir espaço no campo normativo para que ele seja completado com a criação jurisdicional de soluções mais conformes àquela dinâmica social, daí por que

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se tenha falado em criar uma Justiça “menos jurídica”, isto é, menos rígida, quando se pensou na criação de órgãos da jurisdição do trabalho3.

O único princípio que especializa e rege a jurisdição do trabalho é, por-tanto, o do juízo de equidade. Os demais preceitos ou máximas aqui e ali enunciados como princípios de Direito Processual do Trabalho constituem visões equivocadas ou parciais do mesmo princípio do juízo de equidade ou meros corolários, decorrências dele, que expressam na verdade regras de funcionamento desse sistema.

Assim, o chamado princípio da desigualdade das partes nada mais é que uma visão parcial do fenômeno da equidade, que equivocadamente se julga funcionar sempre em favor da parte trabalhadora. E a denominada força normativa dos julgados no processo coletivo do trabalho nada mais é que uma expressão do juízo de equidade aplicada à tutela jurisdicional a direitos indivisíveis, de natureza transindividual, fenômeno que, aliás, não é exclu-sivo do Direito Processual do Trabalho, mas constante em todo o Direito Processual Coletivo4.

A capacidade postulatória das partes (CLT, art. 791), que os Tribunais não se cansam de repetir que continua em vigor no processo do trabalho5, cos-tumeiramente sugerido como o primeiro dos princípios do Direito Proces-sual do Trabalho, é, na verdade, o primeiro corolário do juízo de equidade, mera regra de funcionamento desse ramo do processo. Para que se dê julga-mento equitativo aos litígios, para que se garanta o acesso mais amplo possível à Justiça (CF, art. 5º, XXXV) em matéria urgente como é a das pres-tações de natureza alimentar e também são, por exemplo, as de Medicina e Segurança do Trabalho que usualmente envolvem as reclamações à Justiça do Trabalho, não se poderia antepor a tanto a indispensabilidade da figura do advogado (CF, art. 133), por mais nobres, necessárias e relevantes que se entendam as suas funções na Justiça.

É que a emergência da sobrevivência ou do resguardo à saúde ou à inte-gridade física do trabalhador, ou ainda a manutenção da ordem indispensá-vel ao desenvolvimento livre das atividades empresariais não poderiam

3 Sobre o papel da equidade nas causas de especialização da Justiça do Trabalho, de sua competência e na efetivação de soluções para as novas lides acrescentadas a essa competência com a Emenda Constitucional n. 45, consulte-se Eduardo Henrique Raymundo von Adamovich, A nova competência da Justiça do Trabalho: Ampliação do alcance dos juízos de equidade ou nova concepção bicéfala da Justiça Civil de raízes burguesas? Revista LTr, ano 70, São Paulo, maio de 2006, p. 548-562.4 Consulte-se, para tanto, o meu Sistema da ação civil pública no processo do trabalho, cit., Capítulo 5.5 V., a propósito, o decidido pelo STF nos autos da ADIn 1.127-DF e as Súmulas 219 e 329 do TST.

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aguardar nem mesmo a preparação formal de peças processuais pelos ad-vogados, ou contar com a atuação caritativa deles em favor daqueles que não dispõem de recursos para pagá-los ou ainda cujos direitos não têm ex-pressão econômico-financeira que permita o trabalho ad exitum, tudo isso sem esquecer que as dimensões continentais do país não raro oferecem situ-ações em que não há nas proximidades nem sequer um advogado disponível para atuar.

O dito princípio da oralidade não é mais do que uma regra de funciona-mento do sistema da jurisdição do trabalho, na fase de conhecimento e no primeiro grau de jurisdição. Por tamanha especificidade e limitada aplicação, está longe de ser princípio, conquanto o uso na doutrina e na jurisprudência lhe tenha impropriamente atribuído tal dignidade.

A oralidade justifica-se como instrumento do juízo de equidade, uma vez que só descendo como força viva à relação processual entre trabalhador e em-pregador é que o juiz poderá observar diretamente situações ou comportamen-tos por vezes impossíveis de alcançar perfeita expressão nas formas escritas.

Exige também o imperativo da equidade, que o juiz atue diretamente na relação processual, reequilibrando as partes, de modo que o trabalhador, que no mais das vezes é a parte que conta com a defesa menos aparelhada e também é a que possui menos recursos financeiros para angariar provas, não venha a sucumbir apenas em decorrência dessas suas fraquezas. Daí por que detém o juiz no processo do trabalho a condução inquisitorial, podendo determinar, indeferir, restringir ou ampliar provas (CLT, art. 765), requisitar diligências às autoridades competentes (CLT, art. 653, a) ou até aplicar sanções nas situações previstas em lei (CLT, arts. 652, d, e 730). A condução inquisi-torial, portanto, é outra regra de funcionamento do processo do trabalho, aplicável tanto na fase de conhecimento como nas demais, e que costuma equivocadamente ser apontada como princípio.

Outra regra de funcionamento que se conjuga com a oralidade e a condu-ção inquisitorial é a irrecorribilidade das decisões interlocutórias (CLT, art. 893, § 1º). Se é necessário, para que a oralidade prevaleça, que os atos processuais se concentrem em audiência, logicamente não se poderia conceber recurso das decisões interlocutórias6, que terminariam por atrapalhar a marcha processu-al ou até impedir que a solução definitiva viesse a dar-se de acordo com o juízo que resultasse das observações formadas pelo juiz em audiência.

6 Decisão interlocutória, de acordo com o art. 162, § 2º, do CPC, “é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente”.

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A celeridade, também usualmente destacada como um princípio do Di-reito Processual do Trabalho, não pode ser dita exclusividade dele, porquan-to multiplicam-se os ritos especiais e as reformas processuais buscando al-cançá-la em todos os ramos do processo. Basta para tanto lembrar que a Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004, acrescentou o inciso LXXVIII ao art. 5º da Constituição, assegurando a todos a duração razoável do processo “e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Ce-leridade hoje, se é princípio, não o é mais especificamente do Direito Proces-sual do Trabalho. Na verdade, parece alçada a garantia constitucional.

Costuma-se dizer ainda que a gratuidade seria outro princípio específico desta seara do processo. Sem razão, porém. Trata-se novamente de mera regra de funcionamento, válida somente até a prolação da sentença de co-nhecimento (CLT, art. 789, § 1º) e que existe para permitir a capacidade postulatória das partes (CLT, art. 791) e garantir o acesso mais amplo possí-vel dos trabalhadores à Justiça (CF, art. 5º, XXXV). Não seria razoável supor que o trabalhador e o empregador, em regra destituídos de conhecimentos jurídicos, não dependessem de advogado para postular em juízo e que este só se movesse a poder de dinheiro com o pagamento das custas. Seria um contrassenso que, logicamente, afastaria da Justiça uma boa parte dos pleitos que ela quotidianamente recebe.

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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AnotAções

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Jurisdição: Características

A jurisdição constituiu classicamente uma das funções de governo, jun-tamente com as funções executiva e legislativa7. A Constituição de 1988, em seu art. 2º, erigiu o Judiciário, que exerce a jurisdição, à altura de um dos Poderes da República, juntamente com o Executivo e o Legislativo, dizendo-os Poderes independentes e harmônicos. Essa independência e harmonia só podem ser bem compreendidas no sistema denominado de freios e contra-pesos, segundo o qual o exercício das funções de um poder controla a boa atuação dos demais. Não podem ser entendidas como separação absoluta, ou como inexistência de interseções entre as competências dos diversos Poderes, sabendo-se que se subordinam a uma finalidade comum que é o bom governo.

A jurisdição, como monopólio do Estado que é, reveste-se de natureza substitutiva, uma vez que se expressa na substituição da autotutela das partes, normalmente em litígio, pela atuação provocada, independente, imparcial e dotada de coerção do Estado-Juiz. A jurisdição é, em regra, iner-te, porque só atua quando provocada. É independente, porque não se sujei-ta, na aplicação do Direito, à interpretação que dele façam outros Poderes, instituições ou pessoas, curvando-se apenas às regras internas de distribui-ção de competência entre os diversos órgãos que a exercem. Não há hierarquia entre juízes ou entre os órgãos do Poder Judiciário, mas apenas regras de competência que delimitam o alcance da atuação de cada um deles.

A jurisdição deve ser imparcial, porque o juiz deve ser terceiro alheio aos interesses das partes em litígio, comprometido apenas com a efetivação dos valores e normas que estruturam o sistema jurídico. Se o juiz não é imparcial, já não é juiz, daí por que contaminada estará definitivamente sua atuação no caso.

A coerção está em que a atividade jurisdicional não se reveste de caráter meramente consultivo, não estando à disposição das pessoas para sanar simples dúvidas ou curiosidades interpretativas. A jurisdição atua de forma

7 Assim já se sabia desde a Antiguidade Clássica, bastando a referência à obra clássica de Aristóteles, A Política, ou, antes ainda, à República, de Platão.

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indelegável e inafastável, de modo que o juiz não pode deixar de implemen-tar a ordem jurídica, delegando suas funções a terceiros, nem a sua atuação pode ser afastada, fora dos limites da lei, por quem quer que seja. O juiz, decidindo, implementa coercitivamente o comando de sua sentença, se ne-cessário.

A jurisdição das relações de trabalho é constitucionalmente especializa-da como uma espécie de jurisdição de equidade, traço que produz algumas alterações significativas nas características gerais supramarcadas. A primei-ra delas está em que a inércia da jurisdição do trabalho é relativa, uma vez que diz respeito apenas à iniciativa do processo, que continua sendo das partes, conquanto sua condução seja de natureza inquisitorial.

A imparcialidade do juiz não está em manter uma postura fria e equidis-tante, aguardando a vinda dos elementos trazidos pelas partes para exercer seu mister, mas sim em intervir diretamente na relação processual para ree-quilibrar as partes em litígio, expressando essa sua imparcialidade na fide-lidade à efetivação do Direito do Trabalho. É claro que também aqui o juiz não se pode mover por preconceitos ou outros sentimentos reprováveis, assumindo uma postura paternalista em relação aos trabalhadores ou, no extremo oposto, tão rígida a ponto de converter-se em um novo órgão dis-ciplinar patronal.

No processo coletivo do trabalho, a jurisdição, ao prover em favor dos direitos transindividuais, tem aquela característica que se convencionou chamar de poder normativo, que nada mais é do que expressão do regular poder criador da jurisdição projetada naquela dimensão transindividual. Daí por que há quem, equivocadamente, enxergue nesse poder invasão pelo Poder Judiciário das funções típicas do Poder Legislativo.

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

RUSSOMANO, Mozart Victor. Direito processual do trabalho. Rio de Janeiro: José Konfino Editor, 1971.

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A Justiça do Trabalho na Organização Judiciária Brasileira

A primeira Constituição brasileira a cogitar da criação da Justiça do Trabalho foi a de 1934, não se tendo conseguido fazê-lo em sua vigência. Somente sob a Carta de 1937 logrou-se constituir a Justiça do Trabalho, então como órgão do Poder Executivo, ligada que era à estrutura do Ministério do Trabalho. Inserida no âmbito do Poder Judiciário pela Constituição de 1946, a Justiça do Trabalho contava então com a participação de representantes classistas, das classes trabalhadora e empregadora, de forma paritária, que exerciam a jurisdição em conjunto com os magistrados togados.

Tendo passado sem alterações substanciais pelos regimes constitucionais de 1967/69 e pelos primeiros anos da Carta de 1988, a conformação atual da Justiça do Trabalho somente começou a desenhar-se com a Emenda Consti-tucional n. 24, de 9 de dezembro de 1999, que extinguiu a representação classista.

No sistema jurídico brasileiro, historicamente, a Justiça do Trabalho foi concebida como órgão do Poder Judiciário da União, reservadas que foram determinadas questões atinentes às relações de trabalho para o exercício da jurisdição no âmbito da Federação, fora da competência residual normal-mente deixada aos Estados. A Justiça do Trabalho é Justiça federal especia-lizada, assim como também o são a Justiça Eleitoral e a Justiça Militar da União. Compõe com elas e com a Justiça Federal, cuja competência é geral, mas limitada pelo interesse da União no litígio, o Poder Judiciário da União.

São órgãos da Justiça do Trabalho, de acordo com o art. 111 da Constitui-ção, com a redação que lhe deram as Emendas Constitucionais ns. 24 e 45, o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e os juízes do trabalho, muito embora as causas decididas por ela, em tese, também possam subir em recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, III), que ainda exerce a sua competência originária e recursal ordi-nária nas outras matérias que digam respeito a essa Justiça e aos seus inte-grantes, de acordo com os demais dispositivos do referido art. 102.

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Cumpre mencionar também a competência do Superior Tribunal de Justiça, de acordo com o art. 105, I, d, da Carta, para apreciar eventuais con-flitos de jurisdição entre órgãos da Justiça do Trabalho e aqueles de outras Justiças. A competência, contudo, é excepcional e produto de escolha políti-ca do constituinte que, sendo diversas as Justiças envolvidas, deveria escolher um órgão para decidir o conflito e terminou preferindo o STJ, que nem por isso integra a estrutura da Justiça do Trabalho, não se podendo também extrair daí a equivocada impressão de que haja alguma vinculação hierár-quica entre o TST e aquela Alta Corte de Justiça.

É preciso lembrar igualmente a competência do Conselho Nacional de Justiça, de controle administrativo e financeiro, fora do âmbito jurisdicional propriamente, outorgada pelo § 4º do art. 103-B da Constituição, com redação da Emenda n. 45.

O TST, de acordo com o art. 111-A da Constituição, deve ser composto de 27 ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos, sendo (inciso I) um quinto dentre advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de 10 anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94, também da Carta, e (inciso II) os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura de carreira e indicados pelo próprio Tribunal Superior.

Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, 7 juízes, escolhidos, quando possível, na própria Região, dentre brasileiros com mais de 30 e menos de 65 anos, sendo também um quinto dentre advogados e membros do Ministério Público do Trabalho e os demais por promoção de juízes do trabalho, alternadamente, por antiguidade ou merecimento.

Há 24 Tribunais Regionais no país, assim distribuídos (CLT, art. 674): 1ª Região, correspondente ao Estado do Rio de Janeiro; 2ª Região, correspon-dente à Capital e Região Metropolitana de São Paulo, além de outros muni-cípios a que se refere a Lei n. 7.520, de 15 de julho de 1986; 3ª Região, Minas Gerais; 4ª Região, Rio Grande do Sul; 5ª Região, Bahia; 6ª Região, Pernam-buco; 7ª Região, Ceará; 8ª Região, Pará e Amapá; 9ª Região, Paraná; 10ª Região, Distrito Federal e Tocantins; 11ª Região, Amazonas e Roraima; 12ª Região, Santa Catarina; 13ª Região, Paraíba; 14ª Região, Rondônia e Acre; 15ª Região, com sede em Campinas (SP) e jurisdição nessa e nas demais cidades especi-ficadas na Lei n. 7.520/86; 16ª Região, Maranhão; 17ª Região, Espírito Santo; 18ª Região, Goiás; 19ª Região, Alagoas; 20ª Região, Sergipe; 21ª Região, Rio Grande do Norte; 22ª Região, Piauí; 23ª Região, Mato Grosso, e 24ª Região, Mato Grosso do Sul.

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Os órgãos do primeiro grau de jurisdição são denominados Varas do Trabalho (CF, art. 116), nas quais exerce jurisdição um Juiz do Trabalho e/ou Juiz do Trabalho Substituto (CLT, art. 656), ao contrário das antigas Juntas de Conciliação e Julgamento, que eram compostas, cada uma delas, de acor-do com a redação do art. 647 da CLT, não recebida pelo texto atual da Cons-tituição, de um juiz do trabalho, que as presidia, e de dois vogais ou juízes classistas, um representante dos empregadores e outro dos trabalhadores.

As garantias dos juízes do trabalho são aquelas do art. 95, da Constituição, com as vedações de seu parágrafo único. Regulamentando a matéria, naqui-lo que não se contrapõe à Constituição, foi recepcionada a Lei Complemen-tar n. 35, de 14 de março de 1979. A CLT, em seus arts. 654 a 659, contém normas que disciplinam também o exercício da magistratura do trabalho de primeiro grau.

A criação de cada uma das Varas do Trabalho se dá por lei, abrangendo sua competência todo o território da Comarca em que tenha sede, a qual só poderá ser estendida ou restringida também por lei federal (CF, art. 112, e CLT, art. 650). Nas Comarcas para as quais não haja Vara do Trabalho criada, a jurisdição é atribuída aos Juízes de Direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho (CF, art. 112, já citado, e CLT, art. 668).

Cada Vara do Trabalho conta com uma Secretaria, como serviço auxiliar do juízo, a qual tem os seus serviços chefiados por um diretor (CLT, arts. 710 e 712). Nas localidades em que há mais de uma Vara do Trabalho, há também um Distribuidor (CLT, arts. 713 a 715). Funcionam ainda como auxiliares dos juízos do trabalho os Oficiais de Justiça Avaliadores, de acordo com o art. 721 da CLT.

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

GIGLIO, Wagner; CORREA, Cláudia Giglio V. Direito processual do trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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Ministério Público do Trabalho

O Ministério Público, de acordo com o art. 127, da Constituição, é insti-tuição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, ao qual in-cumbe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. É regido por aqueles que a Constituição (art. 127, § 1º) denomina princípios institucionais, isto é, a unidade, a indi-visibilidade e a independência funcional.

O Ministério Público abrange aquele da União e os dos diversos Estados. O da União, por seu turno, é composto pelo a) Ministério Público Federal, b) Ministério Público do Trabalho, c) Ministério Público Militar e d) Minis-tério Público do Distrito Federal e Territórios, tudo de acordo com o art. 128 da Constituição.

As garantias dos membros do Ministério Público são análogas àquelas dos magistrados, assim como as vedações que também os atingem (CF, art. 128, § 5º, I e II), regulamentada a matéria pela Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993. A CLT, naquilo que não contravenha aos diplomas antes mencionados, foi recepcionada, ao dispor sobre o Ministério Público do Trabalho, nos arts. 736 a 754.

O Ministério Público possui amplos poderes e importantíssimas fun-ções institucionais, estas previstas no art. 129 da Constituição e entre as quais se têm destacado na seara trabalhista as de promover o inquérito civil e a ação civil pública para proteção dos interesses difusos e coletivos (inciso III, do referido artigo constitucional), matéria esta última regula-mentada pelo art. 83, III, da Lei Complementar n. 75, a Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, e o sistema processual do Código de Defesa do Consu-midor8.

8 Sobre o Ministério Público do Trabalho e a ação civil pública no processo do trabalho, o meu, já ci-tado, Sistema da ação civil pública no processo do trabalho, São Paulo: LTr, 2005.

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São órgãos do Ministério Público do Trabalho, de acordo com o art. 85 da Lei Complementar n. 75, o Procurador Geral do Trabalho; o Colégio de Procuradores do Trabalho; o Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho; a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho; a Corregedoria do Ministério Público do Trabalho; os Subprocu-radores Gerais do Trabalho; os Procuradores Regionais do Trabalho e os Procuradores do Trabalho.

Exerce o controle administrativo, financeiro e disciplinar do Ministério Público o Conselho Nacional do Ministério Público, instituído pelo art. 130-A da Constituição, com a redação da Emenda n. 45.

SUGESTÕES DE LEITURA

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008.

———. Ministério Público do Trabalho: doutrina, jurisprudência e prática. 3. ed. São Paulo: LTr, 2006.

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Competência Constitucional da Justiça do Trabalho

Sabendo-se que competência é forma de divisão do serviço judiciário e não da jurisdição, uma vez que esta é una e a detêm todos os juízes sobre todo o território nacional, são usualmente apontados os critérios pelos quais se divide essa competência: a) pela matéria; b) pela pessoa; c) pelo lugar; d) pelo valor ou e) por natureza funcional.

É intuitivo perceber, todavia, que os critérios acima enunciados o foram primordialmente por juristas de origem europeia, a maioria deles oriunda de países então sob regime unitário, que não cogitavam de um critério que na América parece anterior àqueles, que é o da divisão constitucional das competências entre os entes da Federação.

O Brasil é uma República Federativa (CF, art. 1º) e, como tal, impõe-se aqui, antes de outros critérios de divisão da competência, aquele da separa-ção entre os assuntos que tocarão à União e à sua jurisdição e aqueles outros que serão deixados aos Estados. Os assuntos sobre os quais a União tenha constitucionalmente estabelecido a sua jurisdição constituem reserva federal de competência, de natureza absoluta, que se antepõe à classificação clássica dos critérios de competência em razão da matéria, da pessoa etc.

Assim, a competência da Justiça do Trabalho deve ser ressaltada de na-tureza constitucional, prevista no art. 114 da Carta, não necessariamente em razão da matéria, como a seguir se verá.

O inciso I do referido art. 114 da Constituição, que é o mais abrangente em tema de competência da Justiça do Trabalho, prescreve serem da compe-tência dela “as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. O critério da origem da ação, que vai aí mais no seu sentido material, de pretensão, do que no pro-cessual, transcende as lições mais usuais dos manuais de processo.

Ao apontar para as pretensões que se inscrevem no âmbito social das relações de trabalho, a Constituição visivelmente abandonou o critério tra-dicional de fixação da competência em razão da matéria, que se dá pelo pedido e pela causa de pedir imediata, deslocando-o para o da causa de

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pedir mediata, assim entendida como os fatos sobre os quais se funda a pretensão. Uma ação só pode ser “oriunda” das relações de trabalho se os fatos em que se ampara inscreverem-se naquele âmbito social, não impor-tando aí se o pedido e o fundamento jurídico imediato são ou não próprios de Direito do Trabalho.

Cuidou a Constituição emendada de conformar-se à realidade da am-pliação da base objetiva do Direito do Trabalho, com o surgimento de várias formas novas ou revigoradas de relação de trabalho e a patente necessidade de tornar negociáveis alguns benefícios já outorgados aos trabalhadores, vale aí o neologismo, flexibilização. Em outras palavras, trata-se de constatar que a tutela trabalhista precisava tornar-se mais am-pla na direção horizontal e mais flexível naquela outra, vertical.

São agora da competência da Justiça do Trabalho todos os contratos ou relações, não apenas de Direito Social, mas também de Direito Privado, ou mesmo Público, quando o Estado se coloque em posição de particular ao contratar, cujo objeto precípuo seja a atividade humana, o trabalho entendi-do como atividade humana criativa ou transformadora do meio ambiente, prestado por uma pessoa física em caráter pessoal, mediante certa remune-ração. Em regra, são contratos de trabalho subordinado, objeto tradicional do Direito do Trabalho, e contratos de prestação de serviços autônomos ou parassubordinados, que antes inscreviam-se no objeto do Direito Civil ou na interseção deste com o Direito do Trabalho, tudo agora sob as malhas do primeiro e na competência da Justiça do Trabalho.

Não há razão para a suposta confusão dessas relações de prestação de serviços autônomos com contratos sob a égide do Direito do Consumidor. Não é nova a competência da Justiça do Trabalho para julgar ações entre prestadores de serviços autônomos e os tomadores desses serviços, bastando, para tanto, que se recorde a regra do art. 652, III, da CLT, que fala da com-petência nos dissídios resultantes de contratos de empreitadas em que o empreiteiro seja operário ou artífice.

Há, porém, argumentos ainda mais vigorosos. Primeiro, porque está-se a falar de norma constitucional emendada (art. 114, I, da Carta) que, logica-mente, tornaria não recebidas todas as demais que viessem a contrariá-la; não fosse assim, intuindo o caráter protecionista que é comum a ambos, o art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor já continha ressalva da qualificação como serviço das relações de caráter trabalhista ou, melhor ainda, só por extensão muito larga, poder-se-ia equiparar a figura da pessoa

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física prestadora pessoal de serviços àquela outra do fornecedor (art. 3º do CDC), sabendo-se que o Brasil, como Estado-Membro da Organização Inter-nacional do Trabalho, órgão filiado à ONU, está obrigado pelo Tratado de Versalhes, de 1919, que criou aquela entidade internacional, prescrevendo expressamente, em seu art. 427, o princípio diretivo de que o trabalho hu-mano não há de ser considerado como mercadoria o artigo de comércio9.

Supor que as relações de prestação pessoal de serviço por pessoas físicas qualificariam contratos à luz do Direito do Consumidor, fora da competên-cia da Justiça do Trabalho, em suma e com todo respeito aos que assim se posicionam, a par de configurar uma inconstitucionalidade, ou uma ilegali-dade à luz do próprio Código de Defesa do Consumidor, seria um verdadei-ro retrocesso histórico, a pôr abaixo todos os avanços civilizatórios alcança-dos pelo Humanismo na proteção ao trabalhador.

Exemplos de ações de competência da Justiça do Trabalho são aquelas entre empregado e empregador; entre trabalhador doméstico e seu empre-gador; entre trabalhador avulso e o tomador de seus serviços; entre o traba-lhador temporário e a empresa prestadora de serviços e a tomadora deles; entre o prestador de serviços autônomos e o tomador desses mesmos servi-ços, como no caso de um litígio entre o advogado e seu cliente, ou o médico e seu paciente, ou mesmo entre um representante comercial autônomo e a empresa que se valha desses seus serviços de representação.

Assentada a competência da Justiça do Trabalho na regra geral do inciso I do art. 114 da Constituição, cumpre dizer ainda algumas palavras sobre os demais incisos do referido dispositivo constitucional. Constitui novidade a regra do inciso III, quanto às ações sobre representação sindical, entre sindica-tos, entre sindicatos e trabalhadores e entre sindicatos e empregadores, questões que, antes da Emenda n. 45, por não se situarem a rigor na esfera entre empre-gado e empregador, sempre causaram celeuma sobre a existência ou não de competência da Justiça do Trabalho para julgá-las, tendo chegado em boa hora aquela regra constitucional para pôr uma pá de cal no problema.

É nova também a competência para as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho (inciso VII do art. 114), matéria de Direito Financeiro e Administrativo, correlata ao Direito do Trabalho, que sempre causou espécie não estar na competência da Justiça do Trabalho até então.

9 Confira-se, quanto ao tratado de Versalhes: Arnaldo Sussekind, Direito internacional do trabalho, 2. ed. atual. e ampl., São Paulo: LTr, 1987, p. 102.

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São recentes, muito embora não constituam exatamente novidades, as competências do art. 114 da Carta, incisos VI, para as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho, e VIII, para execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir.

A primeira, para julgar as ações de indenização por dano moral ou pa-trimonial decorrentes da relação de trabalho, se não se constituísse em evi-dente desdobramento lógico e especificação da regra do inciso I do art. 114, uma vez que tais ações não deixam de ser ações oriundas da relação de trabalho, certamente serviu para pôr fim à celeuma doutrinária e jurispru-dencial que era mantida sob a égide da redação original do referido art. 114, quando já se notavam duas grandes correntes, pelo menos, na decisão de conflitos de jurisdição entre a Justiça do Trabalho e Tribunais de Justiça Es-taduais, em acórdãos do Superior Tribunal de Justiça, com tendência pela competência da Justiça Estadual na matéria e, em acórdãos do Supremo Tribunal Federal, com entendimento pela competência da Justiça do Trabalho, que assim terminou prevalecendo com a explicitação que se fez no inciso VI em questão.

Tal tendência de entendimento, no Supremo Tribunal Federal, terminou consagrada, no que se refere à matéria de acidente de trabalho, com a edição da Súmula Vinculante n. 22, com o seguinte teor:

“A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da pro-mulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004”.

A segunda, para execução de contribuições previdenciárias decorrentes das decisões que a Justiça do Trabalho proferir, matéria depois sedimentada na Súmula 368, do TST, contém o nítido e louvável propósito de resguardar os interesses do trabalhador e da Previdência Social no recolhimento de todas as contribuições a ela devidas. Todavia, desde os primeiros momentos em que a novidade chegou à competência da Justiça do Trabalho, primeiro com a Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998, com a redação que deu ao então § 3º do art. 114, nos exatos termos em que hoje se contêm no referido inciso VIII do mesmo artigo, e depois com as alterações que a Lei n. 10.035, de 25 de outubro de 2000, promoveu em alguns dispositivos da CLT, para regulamentar essa competência, tem-se bradado, praticamente ao vento e com escassa ressonância, a grave mácula a princípios fundamentais que se esconde sob tais louváveis propósitos.

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É que a instituição de uma execução incidental de contribuições previ-denciárias no curso da execução dos créditos trabalhistas, se não se consti-tuísse, à evidência, em um retardo na celeridade que se deveria imprimir a esta última, quando atribuída a competência de ofício ao juiz para promovê-la, fere-se de morte antigo e fundamental preceito maior da separação entre as funções ou Poderes da República (CF, art. 2º), normalmente sublinhado como cláusula pétrea. As contribuições previdenciárias têm natureza para-fiscal e, portanto, tributária. Sabendo-se que cobrar tributos é função do Poder Executivo e de seus agentes, não cabe outorgar tal competência ao juiz do trabalho, membro do Poder Judiciário, e ainda mais quando ele, a estrito teor da lei, deveria mandar calcular e promover a cobrança das contribuições previdenciárias que decorressem das condenações que proferisse, mantendo também a competência para julgar eventuais embargos opostos pelo execu-tado contra a cobrança previdenciária (CLT, art. 884, § 4º).

É o homem juiz da sua própria exação, situação que incomoda desde as bases da formação do pensamento liberal no século XVIII e que, não obstante os bons propósitos que o justificam hoje, não poderia ter prevalecido, dada a grave mácula aos princípios da separação dos Poderes e da imparcialidade do juiz, se também não comprometesse a celeridade da execução trabalhista. Não fosse este brado quase isolado, que data já de anos10, a novidade parece defi-nitivamente incorporada ao ordenamento pátrio com a nova redação do refe-rido inciso VIII do art. 114, e com a também aparente confirmação da compe-tência de ofício na Súmula 368 do TST, quando diz que a Justiça do Trabalho é competente para “determinar” o recolhimento das contribuições fiscais.

A esperança é que o Supremo Tribunal Federal, que é o guardião maior da Constituição, um dia possa examinar a matéria sob a ótica que aqui se dá a ela, e pronunciar as ditas inconstitucionalidades, recolocando as coisas nos seus lugares. Mantida que fosse a competência para a execução das contri-buições previdenciárias decorrentes dos julgados que proferisse, o correto seria que a Justiça do Trabalho, como de ordinário se faz também com as partes para liquidação de sentença, intimasse os representantes da Previdên-cia Social para que apresentassem os cálculos dos valores que entendessem devidos e, com esse impulso dado pelos representantes do INSS, se desse seguimento à execução.

10 V., a propósito, Eduardo Henrique Raymundo von Adamovich, Execução previdenciário-trabalhista?, Síntese Trabalhista, ano XII, n. 140, fevereiro de 2001, p. 148-151, e Revista da Escola da Magistra-tura da Justiça do Trabalho no Estado do Rio de Janeiro, ano I, n. 2, março de 2001.

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A regra do art. 114, IV, da Constituição, quanto à competência da Justiça do Trabalho para julgar mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição, primeiro serviu para sepultar antiga polêmica sobre a competência para julgar o habe-as corpus quando a autoridade supostamente coatora fosse juiz do trabalho. Discutia-se se a competência era da Justiça Comum ou da do Trabalho, tendo o reformador da Constituição, como se vê, optado por esta última hipótese.

Não obstante, a solução encontrada deu lugar a uma segunda questão, que foi a interpretação que se pretendeu dar ao mesmo dispositivo em con-jugação com a regra geral do inciso I e aquela outra do inciso IX, todos do art. 114 da Carta, para sustentar que teria passado também à Justiça do Tra-balho a competência criminal em matéria de relações do trabalho, para julgar, por exemplo, os crimes contra a organização do trabalho. Se Justiça do Tra-balho é competente para julgar o habeas corpus, o clássico remédio heroico do Processo Penal, também o seria para as ações penais oriundas das relações de trabalho, em larguíssimas pinceladas, era o que se dizia.

A competência criminal da Justiça do Trabalho além dos limites estritos do referido inciso IV do art. 114, entretanto, foi rejeitada pelo Supremo Tri-bunal Federal11. Sendo relevante notar, para excluir de vez a tese pela com-petência da Justiça do Trabalho para julgar os crimes contra a organização do trabalho, que permanece em vigor a regra do art. 109, VI, da Constituição, que não sofreu nenhuma modificação com a Emenda n. 45.

Ao tratar do processo coletivo do trabalho, pretendeu-se inovar com a referida Emenda n. 45. A primeira e positiva inovação foi o alargamento da competência da Justiça do Trabalho em matéria de greve. Agora, de acordo com a redação dada ao inciso II do art. 114 da Constituição, todas as ações que envolvam o exercício do direito de greve, são da competência da Justiça do Trabalho. Não apenas aqueles dissídios coletivos em que se discuta o caráter abusivo ou não de determinada greve, ao amparo do § 3º do mesmo artigo constitucional, mas também, por exemplo, uma ação possessória para garantir à empresa a posse de suas instalações invadidas ou ameaçadas de o ser por uma turba de grevistas, ou mesmo uma ação de indenização em face de um sindicato, movida por uma pessoa que tenha sofrido ferimentos decorrentes de violência no curso de manifestação grevista.

11 Em 1º de fevereiro de 2007, o Plenário do Supremo Tribunal Federal deferiu liminar nos autos da ADIn 3.684, da qual é relator o Min. Cezar Peluso e autor o Procurador-Geral da República, para, com efeitos ex tunc, atribuir interpretação conforme a Constituição aos incisos I, IV e IX, de seu art. 114, declarando que, no âmbito da jurisdição da Justiça do Trabalho, não está incluída a competência para processar e julgar ações penais. A decisão foi publicada no DOU de 9-2-2007.

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O entendimento anteriormente esposado com relação às ações possessó-rias tornou-se obrigatório com a edição da Súmula Vinculante n. 23, pelo STF, com o seguinte teor:

“A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação posses-sória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos traba-lhadores da iniciativa privada”.

O caráter positivo das novidades, todavia, pára aí. Em tema de dissídios coletivos, a faculdade de elegerem-se árbitros, contida no § 1º do art. 114, possibilidade já antes cogitada na redação originária da Carta, é mera porta aberta para o futuro, à espera de que as entidades sindicais assimilem e pratiquem esse meio alternativo de solução dos conflitos. A possibilidade, à evidência, se não depende de regulamentação, e admitindo-se a aplicação da Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996, certamente demandará a existên-cia de convenção de arbitragem, a qual deverá ter sido previamente celebra-da por acordo ou convenção coletivos, em tema que ainda não compõe a tradição da negociação coletiva no país.

Pior é a redação dada ao § 2º do art. 114 da Constituição. Abstraído o caráter, no mínimo, discutível de algumas formas gramaticais que emprega, o dispositivo se mostra de difícil compreensão, de evidente retrocesso e de óbvia inutilidade técnico-jurídica. Primeiro, não é factível imaginar que as partes, desavindas em negociação coletiva, por comum acordo, venham a ajuizar dissídio coletivo. A experiência da vida em sociedade ensina que um ou ambos os lados do conflito sempre resiste em dar-lhe solução, mormente se ela vier de um terceiro imparcial. A experiência, no futuro, demonstrará que o requisito do comum acordo para o ajuizamento do dissídio coletivo haverá de tornar-se letra morta. A emergência dos conflitos coletivos fará com que entrem portas adentro da Justiça do Trabalho, não cabendo a esta, à luz do art. 5º, XXXV, da Constituição, fechá-las às partes em conflito pela simples falta do pouco razoável requisito do comum acordo para o ajuiza-mento da demanda coletiva.

Não fosse assim, na suposição de que o chamado poder normativo da Justiça do Trabalho fosse uma simples escolha política do legislador, tentou- -se, ao afirmar que só se poderia decidir o conflito coletivo “respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencio-nadas anteriormente”, supô-lo extinto. O erro está em que o caráter quase- -normativo das decisões nos dissídios coletivos não decorre de escolha polí-tica do legislador, mas é efeito natural dos provimentos jurisdicionais no plano transindividual. É a natureza dos direitos difusos, coletivos e individuais ho-mogêneos que faz com que, quando tutelados, seus efeitos se espraiem por

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uma coletividade de pessoas nem sempre cogitada ao tempo do processo, assim como é o do caráter mais aberto da causa de pedir no processo coletivo a existência de opções políticas mais largas para o julgador, que importam logicamente no alargamento de seu chamado poder criador12.

Extinto que fosse declarado o poder normativo, até mesmo de forma expressa pelo legislador, o que não foi o caso, nem assim se poderia alcançar a finalidade pretendida de impedir o exercício do poder criador da jurisdição ao decidir os conflitos coletivos. Continuaria de pé toda a construção do processo coletivo civil, com a ação popular, a ação civil pública e o Código de Defesa do Consumidor, todos aplicáveis subsidiariamente ao processo do trabalho e dotados de instrumentos para alcançarem-se efeitos idênticos ou talvez até mais amplos do que aqueles aos quais se poderia chegar com o exercício do poder normativo da Justiça do Trabalho.

A competência do art. 114, V, da Constituição para julgar os conflitos de competência entre os órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o dispos-to no art. 102, I, o, e, embora não mencionado expressamente, também o que se contém no art. 105, I, d, todos da Carta, não envolve maiores novidades, sejam textuais ou interpretativas.

A regra do inciso IX do art. 114 parece constituir evidente superfetação da regra do inciso I do mesmo artigo, só podendo ser interpretada razoavel-mente como referente a controvérsias indiretamente ligadas às relações de trabalho, as quais dependeriam de leis específicas para ingressarem na com-petência da Justiça do Trabalho.

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

SILVA, Antônio Álvares da. Pequeno tratado da nova competência trabalhista. São Paulo: LTr, 2005.

12 Para maiores esclarecimentos sobre o tema, consulte-se o meu já citado Sistema da ação civil pú-blica no processo do trabalho, São Paulo: LTr, 2005, passim.

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AnotAções

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Competência Territorial. Prorrogação de Competência. Prevenção

Denomina-se competência territorial o critério pelo qual se distribui entre os juízes de uma mesma competência material e um mesmo grau de jurisdição o serviço judiciário concernente a determinada parcela do ter-ritório, a qual normalmente se chama comarca. Não se deve confundir repartição do serviço judiciário com repartição da jurisdição, pois esta todos os juízes a têm em todo o território nacional13.

Se o juiz de uma Vara do Trabalho do Rio de Janeiro declara que há con-trato de emprego entre determinada pessoa física e determinada empresa, esse contrato tem valor em todo o território nacional, dentro do qual tem força a anotação que porventura se venha a fazer na CTPS do trabalhador. Apenas os atos materiais de exercício da jurisdição, tais como os atos de comunicação e os atos de execução, é que estão circunscritos, por questões obviamente de ordem prática, à delimitação territorial do juízo.

A CLT trata da competência territorial nos dissídios individuais em seu art. 651. A regra geral do caput é que a competência se estabelece pelo local da prestação de serviços. Se o empregado trabalhou em Guarulhos(SP), a competência será de uma das varas dessa comarca; se o fez em São João Del Rei (MG), de uma das varas ou da vara dessa comarca será a competência. Não importa aí o local da contratação, que pode ter sido distinto.

A primeira exceção que se faz à regra geral é a do § 1º do art. 651 da CLT. Quando o empregado houver sido agente ou viajante comercial, assim en-tendido aquele trabalhador que representa a empresa em localidade distin-ta da sede desta, ou aquele cuja atividade profissional consiste em empreen-

13 Em abono da distinção, confira-se, por exemplo, a regra do art. 1º do CPC, que diz que “A jurisdi-ção civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece”.

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der constantes viagens a serviço, a competência será da Vara da localidade em que a empresa tenha agência ou filial à qual o mesmo empregado esteja subordinado. Na falta de agência ou filial à qual subordinado, a competência será da Vara da localidade em que o empregado tenha domicílio ou mesmo a da localidade mais próxima a ele.

A outra exceção é a regra do § 2º, também do art. 651 da CLT. Amparan-do o trabalhador brasileiro contratado aqui por empresa que aqui tenha sede ou filial, mas para trabalhar no estrangeiro, a referida regra faculta o ajuiza-mento da ação no Brasil, malgrado ocorrido o dissídio em agência ou filial fora do país, desde que não haja convenção internacional dispondo em con-trário. Diz-se facultativa14 a regra de competência, porque haverá também a jurisdição do país em que se der a prestação de serviços, a qual pode vir a incidir sobre o caso e, entendendo o trabalhador que ela possa ser-lhe ainda mais cômoda ou favorável, poderá escolher propor lá a ação.

O direito material aplicável, segundo preceito pacificamente acatado de Direito Internacional Privado, é a lei do lugar da prestação de serviços, su-jeita para aplicar-se no juízo brasileiro, aos rigores dos arts. 14 da Lei de Introdução ao Código Civil e 337, do CPC. A lei processual, quanto à prova dos fatos ocorridos no estrangeiro, deverá observar o art. 13 da Lei de Intro-dução ao Código Civil.

O trabalhador estrangeiro, domiciliado no Brasil, isto é, aquele que se-gundo as leis nacionais tenha a sua permanência no país, com ânimo defini-tivo, regularmente autorizada, também poderá beneficiar-se da referida regra do § 2º do art. 651 da CLT. Para tanto, não é necessária hoje digressão mais profunda. A regra do caput do art. 5º da Constituição equipara em direitos os brasileiros e os estrangeiros residentes no país. Logo, não se pode negar ao estrangeiro mais que residente, isto é, aqui domiciliado, o mesmo favor de acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, da Carta) que se dá pela referida norma consolidada a um nacional.

A terceira das exceções à regra geral é a do § 3º do art. 651 da CLT. Diz a norma que, em se tratando de empregador que promova atividades fora do lugar do contrato de trabalho, será assegurado ao trabalhador apresentar re-clamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação de serviços, já então em aparente contradição com a regra geral do caput, que despreza o local da contratação e firma a competência naquele da prestação de serviços.

14 Ajuizada a ação no estrangeiro, todavia, não estará afastada de vez a competência do juízo brasi-leiro, consideradas aí as regras dos arts. 90 do CPC e 769 da CLT.

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A solução da contradição, entretanto, é simples. Ao referir-se a empresa que promova atividades fora do lugar da contratação, a lei terá querido tratar, na verdade, daquela hipótese em que a própria atividade do trabalhador é, por definição, variável na localidade de sua realização, sem vinculação a uma determinada agência ou filial de base, caso em que seria aplicável a regra do § 1º, do mesmo art. 651 da CLT. Exemplos clássicos dessa terceira exceção são os trabalhadores em espetáculos circenses ou atividades artísticas.

A norma excepcional do § 3º do art. 651 da CLT, no entanto, não se apli-ca a trabalhadores que, contratados em uma localidade, são transferidos em caráter definitivo para outra, porque aí permanece em vigor a regra geral da localidade da prestação de serviços, escoimada qualquer dúvida novamen-te com a invocação da norma do § 1º do mesmo dispositivo consolidado. Ainda que persistente a variabilidade de local de prestação de serviços, esta última determinaria a competência da localidade da agência ou filial a que vinculado o empregado ao tempo da ação ou do fim do contrato.

Nos dissídios coletivos, sabendo-se que a representação sindical única por categoria é circunscrita a uma determinada base territorial (CF, art. 8º, II), a competência para propositura do dissídio é do Tribunal Regional em que si-tuada a mesma base territorial (CLT, art. 677). Quando, todavia, a entidade sindical representar trabalhadores de mais de uma Região, o dissídio coletivo passará à competência do Tribunal Superior do Trabalho (CLT, art. 702, I, b).

Tendo em vista que a competência territorial legalmente estabelecida é presumida mais favorável aos trabalhadores, à míngua de disposição legal específica a autorizá-lo, não se aceita foro de eleição contratual na Justiça do Trabalho.

A competência territorial, de acordo com a doutrina civilista que influen-cia a doutrina juslaboralista majoritária, é relativa e, portanto, diz-se também prorrogável. Proposta a ação perante juiz territorialmente incompetente e não arguindo o réu a incompetência, dir-se-á prorrogada a competência desse mesmo juiz, que a partir daí poderá prosseguir funcionando no pro-cesso até seus atos finais, sem qualquer nulidade. Esse fenômeno denomina-se prorrogação de competência15.

15 Sabendo-se que a competência territorial também costuma ser chamada competência de foro, uma interpretação do § 1º do art. 795 da CLT, sobretudo quando feita tendo em vista a capacidade pos-tulatória das partes assegurada pelo art. 791 do mesmo diploma legal, autoriza afirmar que a incom-petência relativa pode ser declarada de ofício no processo do trabalho. A doutrina majoritária, toda-via, interpreta a locução “incompetência de foro”, presente no primeiro dispositivo consolidado mencionado, como referência à incompetência em razão da matéria, que por definição é absoluta e, portanto, passível de ser conhecida de ofício pelo juiz.

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Propostas duas ações que tenham em comum o objeto ou a causa de pedir, elas serão reputadas conexas (CPC, art. 103). Havendo mais de um juiz de igual competência na Comarca e sendo cada uma delas distribuída (CLT, arts. 713 e 714, a) a juiz distinto, chama-se prevenção ao critério para reunião delas sob a condução do mesmo juiz, dizendo-se então prevento aquele que despachou em primeiro lugar (CPC, art. 106).

Nas reclamações trabalhistas, a prevenção se estabelece em favor do juiz a quem houver sido distribuída a primeira das duas ou mais reclamações conexas. Como, em regra, não há despacho ordenando distribuição, nem despacho liminar ordinatório, uma vez que o art. 841 da CLT determina que as reclamações sejam logo incluídas em pauta, com notificação das partes para a audiência, somente na qual o juiz haverá de tomar conhecimento do processo, não haveria como atender ao critério civilista do primeiro juiz a despachar. É prevento aquele a quem a primeira das reclamações conexas houver tocado por distribuição, condição que se afere a partir da data, ou, se necessário, até mesmo da hora de distribuição de cada uma delas.

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

GIGLIO, Wagner; CORREA, Cláudia Giglio V. Direito processual do trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

RUSSOMANO, Mozart Victor. Direito processual do trabalho. Rio de Janeiro: José Konfino Editor, 1971.

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Competência Funcional

Competência funcional, de acordo com o conceito de Chiovenda16, que foi o responsável pela sua introdução na doutrina italiana, da qual passou à brasileira, pode ser entendida de duas maneiras: a) quanto à distribuição das diversas funções que devem ser exercidas num mesmo processo entre diver-sos juízes ou órgãos jurisdicionais diversos, falando-se aí, por exemplo, em competência por graus de jurisdição; competência para cognição e para execução; competência para provimentos de urgência ou definitivos; b) quanto a atribuir-se ao juiz de determinado território a competência por entender-se encontrar lá mais facilidade ou eficácia para o exercício de suas funções.

A competência funcional, ao contrário da territorial, é absoluta e impror-rogável. No processo do trabalho, de acordo com o critério do item a, acima, pode-se dizer que a competência funcional se distribui entre os juízes de primeiro grau, os Tribunais Regionais e o Tribunal Superior do Trabalho. Cuidam os juízes de primeiro grau, em regra, do conhecimento e da execução das ações de sua competência originária; os Tribunais Regionais conhecem das decisões dos juízes do trabalho em grau de recurso ordinário, agravo de instrumento ou agravo de petição, bem como de ações de sua competência originária no processo individual, tais como os mandados de segurança e habeas corpus contra atos de juízes de primeiro grau e, no processo coletivo, os dissídios coletivos e as ações a eles incidentes. O Tribunal Superior do Trabalho conhece, nas hipóteses do art. 896 da CLT, em grau de recurso de revista, de decisões dos Tribunais Regionais; dos agravos de instrumento dos despachos denegatórios de seguimento a recursos de revista; de recursos ordinários das decisões da competência originária dos Tribunais Regionais, tanto em dissídios individuais como nos coletivos (CLT, art. 895, b) e de di-versas outras ações de sua competência originária, como os dissídios coleti-vos que ultrapassam o âmbito da jurisdição de um Tribunal Regional.

16 Giuseppe Chiovenda, Instituições de direito processual civil, v. II, trad. de Paolo Capitanio, com anotações de Enrico Tullio Liebman, Campinas: Bookseller, 1998, p. 223.

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Competência por Valor da Causa

Não vigora no processo do trabalho critério de fixação da competência de determinados órgãos jurisdicionais em razão do valor da causa. Há ape-nas normas que fixam o rito processual em decorrência desse valor, como é o caso do art. 852-A da CLT, com relação às causas cujo valor não exceda de 40 vezes o do salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação, que seguirão então sob rito dito sumaríssimo.

Há ainda as denominadas causas de alçada, de valor não superior a dois salários mínimos, previstas no art. 2º, §§ 3º e 4º, da Lei n. 5.584, de 26 de junho de 1970, cuja recepção pela Constituição de 1988 foi confirmada pela Súmu-la 356 do TST.

SUGESTão DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

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A Ação no Processo do Trabalho

O Código de Processo Civil de 1973 adota a teoria da ação e de suas condições, de Enrico Tullio Liebman, como se vê em seus arts. 267, VI; 295, II e III e parágrafo único, III; e 301, X. A teoria do célebre processualista ita-liano é chamada eclética, porque situa-se entre aquelas outras abstratista e concretista da ação, subordinando-a a três condições, especificamente, a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade ad causam17.

A CLT não contém nenhuma palavra sobre a teoria da ação e as explica-ções para tanto podem ser várias. A primeira e mais evidente é que, tendo sido editada em 1943, não poderia a Consolidação contemplar uma teoria que somente teria vindo a lume em famosa aula inaugural proferida por Liebman em 1949, na Universidade de Turim.

A segunda e mais consistente explicação é que a CLT, tendo consagrado a capacidade postulatória das partes e a condução inquisitorial do processo pelo juiz, teria erigido um sistema que prescindiria da referida teoria, uma vez que as deficiências da propositura da ação poderiam ser corrigidas em audiência, sob os benefícios da oralidade, quando não conduzissem inelu-tavelmente à improcedência do pedido, de uma forma que, na prática, não se distinguiria da extinção sem exame de mérito por deficiência de uma das condições da ação. Se o autor ou o réu são partes ilegítimas ad causam, ou não têm interesse ou o pedido é juridicamente impossível, em termos práti-cos, não há diferença no resultado da sentença que pronuncia tais deficiências extinguindo sem exame de mérito o processo ou julgando improcedente o pedido. Corrigidas que fossem tais deficiências numa outra ação futura, ela já seria distinta daquela cujo pedido antes fora julgado improcedente, de modo que uma em nada prejudicaria a outra.

17 Sobre a teoria eclética da ação, consulte-se Enrico Tullio Liebman, Manual de direito processual civil, trad. e notas de Cândido Rangel Dinamarco, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, v. 1, notas de tradução 103 e 106.

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A terceira e importante razão a ser considerada ainda sobre o silêncio da Consolidação quanto às condições da ação é que a lide tem importância meramente relativa em direito processual do trabalho. Aqui, ao contrário do processo civil, o autor propõe uma reclamação, cujo objeto precípuo é a efetivação do direito material do trabalho. Tal reclamação é de iniciativa dispositiva, porém de condução inquisitorial. Compete ao autor decidir se proporá ou não a reclamação, mas, uma vez proposta, o juiz, quando as partes estejam exercendo sua capacidade postulatória (CLT, art. 791) e em alguns temas de ordem pública mesmo quando estejam regularmente assis-tidas de advogado, tem poder de dar impulso ao processo (CLT, arts. 765 e 852-D, e Lei n. 5.584/70, art. 4º).

Em Direito Processual do Trabalho, por conta do quadro supra deline-ado, além do interesse das partes no provimento jurisdicional, há o inte-resse público na efetivação do Direito Objetivo do Trabalho, diferentemen-te do Direito Processual Civil, no qual, em regra, as partes têm a disponibilidade do direito de ação, seja quanto à sua propositura, seja quanto à sua condução, uma vez que o limite da atuação do Estado na solução dos conflitos privados de interesses meramente patrimoniais, es-quema sobre o qual foi construída toda a teoria desse ramo do processo, repousa no interesse das partes nos limites da lide que em juízo deduzem (CPC, arts. 128 e 460).

A utilidade da aplicação da teoria das condições da ação de Liebman ao Direito Processual do Trabalho, portanto, seria meramente relativa, revestida muito mais de um cuidado técnico-científico do que de implicações práticas para as partes em seus litígios, daí por que a CLT dela não teria cogitado nem ao tempo de sua edição, nem em legislação reformadora subsequente.

Classificam-se genericamente as ações no processo do trabalho como de dissídios individuais ou coletivos, consoante versem sobre direitos de natu-reza individual ou de categorias profissionais ou econômicas. As ações que, não tendo natureza de dissídios coletivos, versem sobre direitos transindi-viduais, assim entendidos os difusos, coletivos em sentido estrito e indivi-duais homogêneos (CDC, art. 81, parágrafo único), conquanto por definição tenham natureza coletiva em sentido amplo, são normalmente estudadas nos capítulos referentes aos dissídios individuais, uma vez que da compe-tência originária dos juízes de primeiro grau.

Os dissídios coletivos podem ser: a) de greve, quando versem sobre a abusividade ou não de movimentos da espécie em atividade essencial, com

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possibilidade de lesão do interesse público, por provocação do Ministério Público do Trabalho (CF, art. 114, § 3º, e CLT, art. 856, caput, parte final); b) de natureza econômica, quando tiverem por objeto a constituição, a manu-tenção ou a revisão de regras ou condições para reger os contratos de traba-lho dos integrantes de determinada categoria por determinado período; e c) de natureza declaratória ou jurídica, pelos quais se pede que a Justiça deli-mite a interpretação e o alcance de determinada e vigente norma coletiva ou legal aplicáveis às categorias em litígio.

Os dissídios individuais são regulados na CLT pelos arts. 837 a 855 e os coletivos pelos arts. 856 a 875.

As ações também podem classificar-se de acordo com as cargas decisórias que preponderantemente envolvam, sendo então divididas em declaratórias, constitutivas, condenatórias, mandamentais e executivas, conforme se des-tinem, respectivamente, a resolver crises de certeza, de constituição, de inadimplemento, de desordem jurídica objetiva ou de materialização de direitos. Todas as espécies regularmente conhecidas no Direito Processual do Trabalho18.

Exemplos são a ação declaratória da existência ou da inexistência da relação de emprego (CLT, art. 39); o dissídio coletivo de natureza econômica, que constitui novas regras para reger as relações de emprego em determina-da categoria; a ação que pede a condenação do empregador a pagar deter-minados títulos trabalhistas ao empregado, como indenização de aviso prévio, décimo terceiro salário e horas extras; a ação para proibir o empre-gador de realizar revistas íntimas em suas empregadas (CLT, art. 373-A, VI) e a execução de termos de conciliação pactuados perante comissões de con-ciliação prévia ou dos termos de ajuste de conduta celebrados pelo Ministé-rio Público do Trabalho (CLT, art. 876).

São cabíveis também no processo do trabalho ações especiais de raiz constitucional, respaldadas na adaptação de sua regulamentação no Direito Processual Civil ao Direito Processual do Trabalho. Assim, admitem-se o mandado de segurança (CF, arts. 5º, LXIX, e 114, IV, e Lei n. 1.533, de 31-12-

18 Discute-se ainda em doutrina se o nosso sistema jurídico admitiria ou não a referida classificação quinária das ações, sustentando alguns, por exemplo, que o provimento mandamental muitas vezes tem natureza de condenação em obrigação de fazer ou não fazer, razão pela qual tal categoria das ações mandamentais não se revestiria de utilidade científica. Todavia, com a menção expressa que fez a nova redação do art. 14 do CPC, mais especificamente em seu inciso V, dada pela Lei n. 10.358, de 27 de janeiro de 2001, instituindo o dever das partes de cumprir com exatidão os provimentos mandamentais, parece não haver mais dúvidas de que tal categoria de provimentos foi assimilada pelo ordenamento nacional.

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1951); o mandado de segurança coletivo (CF, art. 5º, LXX, b); o mandado de injunção (CF, art. 5º, LXXI); o habeas corpus19 (CF, arts. 5º, LXVIII, e 114, IV) contra ato de autoridade da Justiça do Trabalho que constranja ou ameace constranger ilegalmente ou com abuso de poder o direito de ir e vir de alguém; o habeas data20 (CF, art. 5º, LXXII), em caso, por exemplo, de servidor público celetista que pretenda ter acesso a dados seus guardados em banco de dados do empregador que ameace utilizá-los para prejudicar direito seu sem lhe dar conhecimento de seu conteúdo; a ação civil pública (Constituição, art. 129, III, Lei Complementar n. 75, de 20-5-1993, art. 83, III, e Lei n. 7.347, de 24 -7-1985)21. Discute-se o cabimento da ação popular (CF, art. 5º, LXXIII, e Lei n. 4.717, de 29-6-1965) no processo do trabalho22.

São ainda cabíveis no processo do trabalho, por adaptação de sua regu-lamentação processual civil, as ações cautelares, tais como o arresto (CPC, arts. 813 e s.) e o sequestro (CPC, arts. 822 e s.), a busca e apreensão (CPC, arts. 839 e s.), a produção antecipada de provas (CPC, arts. 846 e s.) ou o atentado (CPC, arts. 879 e s.), ou ainda ações cautelares inominadas, inciden-tais ou preparatórias, derivadas do disposto no art. 798, do CPC, que consa-gra o chamado poder geral de cautela do juiz.

É pacificado também o cabimento da tutela de urgência, por adaptação do sistema processual civil dos arts. 273 e 461 do CPC23.

Diversas outras ações ou procedimentos especiais civis, ditos de jurisdi-ção contenciosa, são também admitidas por adaptação, como a ação de consignação em pagamento24 (CPC, arts. 890 a 900); a ação de depósito (CPC, arts. 901 a 906); a ação de prestação de contas (CPC, arts. 914 a 919); as ações

19 É clássica sobre o tema a obra de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, História e prática do habeas corpus, 2 v., 2. ed., Campinas: Bookseller, 2003.20 Vale a referência a Júlio César Bebber, Mandado de segurança – habeas corpus e habeas data na Justiça do Trabalho, São Paulo: LTr, 2006.21 Sobre a ação civil pública no processo do trabalho, o meu já citado Sistema da ação civil pública no processo do trabalho, São Paulo: LTr, 2005.22 Manoel Jorge e Silva Neto, Proteção constitucional dos interesses trabalhistas difusos, coletivos e individuais homogêneos, São Paulo: LTr, 2001, p. 222/224, figura hipótese clara e factível de ação popular de competência da Justiça do Trabalho.

Para uma visão geral da ação popular, Rodolfo de Camargo Mancuso, Ação popular: proteção do erário, do patrimônio público, da moralidade administrativa e do meio ambiente, 5. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.23 Eduardo Henrique von Adamovich, A tutela de urgência no processo do trabalho: uma visão histó-rico-comparativa. Ideias para o caso brasileiro, Rio de Janeiro: Renovar, 2000.24 Acha-se consagrada, em processo civil, a obra de Antonio Carlos Marcato, Ação de consignação em pagamento, 6. ed. rev., São Paulo: Malheiros, 2001.

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possessórias25 (CPC, arts. 920 a 933); os embargos de terceiro26 (CPC, arts. 1.046 a 1.054); a habilitação incidental (CPC, arts. 1.055 a 1.062); a restauração de autos (CPC, arts. 1.063 a 1.069) e a ação ou procedimento monitório27 (CPC, arts. 1.102-A a 1.102-C).

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

GIGLIO, Wagner; CORREA, Cláudia Giglio V. Direito processual do trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

RUSSOMANO, Mozart Victor. Direito processual do trabalho. Rio de Janeiro: José Konfino Editor, 1971.

25 Vale conferir outro clássico do Direito Civil: Tito Fulgêncio Alves Pereira, Da posse e das ações possessórias, 9. ed. atual. por José de Aguiar Dias, Rio de Janeiro: Forense, 1995.26 Também no processo civil, Ruy Fernando Zoch Rodrigues, Embargos de terceiro, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.27 É proficiente o tratamento de Estêvão Mallet, Procedimento monitório no processo do trabalho, São Paulo: LTr, 2000.

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AnotAções

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c a p í t u l o 12

Dissídios Individuais

Sob a denominação de dissídios individuais, a CLT trata, em seus arts. 837 a 855, dos ritos processuais aplicáveis genericamente às ações que versem sobre direitos individuais ou sobre direitos transindividuais que não tenham natureza de dissídios coletivos. As ações daquela natureza que não tenham ritos especiais fixados em outras leis ou aquelas em que estes se mostrem incompatíveis com os princípios e regras gerais que governam o processo do trabalho (CLT, art. 769) hão de seguir, conforme o valor ou a natureza do pedido, um dos ritos previstos dentro do Capítulo IV do Título X da CLT.

Os dissídios individuais cujo valor não exceda de 40 salários mínimos seguem o rito sumaríssimo, previsto na Seção II-A, do referido Capítulo IV do Título X, da CLT, isto é, do art. 852-A ao 852-I, todos acrescentados pela Lei n. 9.957, de 12 de janeiro de 2000.

Os dissídios individuais que tenham por objeto a apuração de falta grave contra empregado garantido com estabilidade recebem a denominação de “inquérito para apuração de falta grave”28, seguindo o rito de que trata a Seção III do mesmo Capítulo IV do Título X, mais precisamente nos arts. 853 a 855 da CLT.

Não versando os dissídios individuais sobre apuração de falta grave, excedendo seu valor de 40 salários mínimos e não contando com legislação processual específica ou contrária ao princípio e regras de funcionamento do processo individual do trabalho, deverão eles conformar-se ao rito pre-visto nos arts. 837 a 852 da CLT.

12.1. As partes nos dissídios individuaisParte é conceito que se estabelece em referência a uma totalidade.

Partes no processo são aquelas pessoas que litigam entre si ou que preten-

28 Trata-se de reminiscência da chamada fase administrativista do processo do trabalho, encerrada com a Carta de 1946, que integrou a Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário, ao contrário das Cons-tituições de 1934, que sugeria a sua integração ao Poder Executivo e de 1937, que o fez expressa-mente. Inquérito é denominação mais própria de procedimento administrativo do que de ação judicial. Todavia, assim como diversos outros termos oriundos da mesma fase, acham-se definitivamente in-corporados à terminologia própria de processo do trabalho.

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dem a tutela do Estado-Juiz para determinada situação ou interesse jurí-dico.

Sabendo-se que a teoria do processo se estrutura sob o esquema de uma ou de várias relações jurídicas, a relação ou as relações jurídicas processuais, estas só existem entre pessoas. Daí por que a mesma teoria do processo se-para os níveis de capacidade a) para ser parte, que é inerente à pessoa e seu atributo maior, que é a personalidade; b) para estar em juízo, que reclama a capacidade civil, ou, no caso do processo do trabalho, contava, já antes do Código Civil de 2002, com a norma do art. 792 da CLT, autorizando a tanto os maiores de 18 anos; e c) postulatória, que se expressa na capacidade de postular em juízo, que é privativa dos advogados, de acordo com o art. 133 da Constituição e, no processo do trabalho, pode ser exercida pessoalmente por empregados e empregadores, para acompanharem os processos até o final (CLT, art. 791), exceção à regra geral que continua em vigor de acordo com as Súmulas 219 e 329, do TST, e o decidido pelo Supremo Tribunal Fe-deral nos autos da ADIn 1.127-8-DF.

Níveis de capacidade

a) para ser parte

b) para estar em juízo

c) postulatória

Não se deve confundir a denominação de parte com a pessoa ou seu atributo maior, que é a personalidade. Parte se é pela qualidade jurídica (legitimação) pela qual se é demandado e não pela própria condição gené-rica de pessoa ou em especial pela personalidade a ela atribuída.

O processo, como regra geral, tem duas partes: autor e réu, que nos dissídios individuais, também por reminiscência da fase dita administra-tivista do processo do trabalho, costumam ser chamadas reclamante e reclamado. A parte autora pode ser integrada por uma pluralidade de pessoas, quando é qualificada como litisconsórcio ativo. Assim também a parte ré, quando reúne várias pessoas, é caracterizada como litisconsórcio passivo.

Dependendo do regime das relações entre os litisconsortes, se facultativo ou necessário, ou do regime da decisão cuja natureza do direito dos mesmos litisconsortes determine, se comum ou necessário, ou ainda numa confor-mação mais complexa, envolvendo figuras de intervenção de terceiros que estabeleçam relações de antagonismo com os integrantes de uma ou de ambas as partes, o número de partes no processo pode deixar de ser dois,

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elevando-se em função do número de interesses antagônicos que se oponham no mesmo processo29.

Capacidade para ser parte nos dissídios individuais, têm-na todas as pessoas. O autor é chamado reclamante e o réu, reclamado. Empregador ou empresa e trabalhador podem ser reclamante ou reclamado, dependendo se figurem no polo ativo ou passivo da relação processual.

A capacidade para estar em juízo, como se viu acima, só a têm no pro-cesso do trabalho os maiores de dezoito anos. Os menores de dezoito e maiores de dezesseis e demais pessoas mencionadas no art. 4º do Código Civil podem reclamar, assistidos por seu responsável legal. Os absolutamen-te incapazes também poderão fazê-lo, porém, por seus representantes legais, isto é, seus pais, tutores ou curadores.

A capacidade civil é projeção da personalidade e, como tal, determinada pela lei civil. Sua expressão no processo é mera projeção daquela condição antes ostentada no plano material. Hoje há coincidência entre a maioridade civil (art. 5º) e a capacidade para estar em juízo no processo do trabalho (CLT, art. 792), assim como a autorização legal para trabalhar só é dada pelo art. 7º, XXXIII, da Constituição, na redação que lhe deu a Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998, a partir dos 16 anos, e, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14.

Assim, o único trabalho lícito aos menores de 14 aos 16 anos é aquele de aprendiz e, deste último marco aos 18 anos aqueles outros trabalhos que não se revelem noturnos, perigosos ou insalubres. Os menores de 14 a 16 anos, quando reclamem, por absolutamente incapazes (CC, art. 3º, I), deve-rão ser representados, e os maiores de 16 e menores de 18 anos deverão ser assistidos.

Generalizar a figura da representação para todos os menores de 18 anos no processo do trabalho, numa interpretação literal do art. 793, da CLT, é impor aos relativamente incapazes uma verdadeira capitis deminutio, saben-do-se que eles não são incapazes para todos os atos da vida civil, mas apenas para alguns deles ou à maneira de os exercer (CC, art. 4º).

Não dispondo o menor de dezoito anos de representante legalmente designado, a reclamação poderá ser feita pelo Ministério Público do Trabalho, pelo sindicato de sua categoria, pelo Ministério Público estadual ou até por

29 Sobre o conceito de parte, litisconsórcio, sua pluralidade e as repercussões que têm no processo: Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, 6. ed. rev. e atual., São Paulo: Malheiros, 2001. Também, do mesmo autor, Intervenção de terceiros, São Paulo: Malheiros, 2000.

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um curador nomeado em juízo, de acordo com o art. 793 da CLT. Sobrevindo a falta de representação no curso do processo ou colidindo os interesses do incapaz com os de seu representante, para evitar o perecimento de direito, o juiz poderá nomear curador especial (CPC, art. 9º, I), intimando em segui-da o Ministério Público do Trabalho a prosseguir na defesa dos interesses do incapaz.

Feita uma mais profunda e cuidadosa reflexão sobre o tema, é incompa-tível com o Direito Processual do Trabalho a regra do art. 9º, II, do CPC, na parte em que determina que se nomeie curador à lide para o réu revel cita-do por edital, sendo réu, no caso, o empregador. O art. 769 da CLT, prescre-ve que, nos casos omissos, o Direito Processual comum será aplicado sub-sidiariamente ao processo do trabalho, exceto quando incompatível com as normas deste.

O curador à lide, nomeado para o réu revel citado por edital, não está sujeito ao ônus de impugnação específica dos fatos narrados na petição inicial (CPC, art. 302, parágrafo único). Logo, sendo autor o trabalhador e réu o empregador citado por edital (CLT, art. 841, § 1º) e nomeasse o juiz curador especial para este último, ele poderia contestar por negativa geral, passando assim ao trabalhador o ônus de provar todos os fatos alegados na petição inicial, ônus o qual é sobejamente pesado e no mais das vezes muito difícil de o trabalhador dele se desincumbir, sabendo-se que não localizado o empregador revel, que é a pessoa que normalmente detém toda a docu-mentação das relações de trabalho (livros comerciais, livros de registro de empregados, recibos salariais, cartões de ponto, endereços dos demais tra-balhadores etc.).

As dificuldades que enfrentaria o trabalhador para produzir provas, no caso, chocam-se frontalmente com o princípio reitor do Direito Processual do Trabalho, que é o juízo de equidade. É iníquo transferir ao trabalhador a exaustiva procura por documentos, testemunhos ou outros quaisquer ele-mentos de prova, sendo ele normalmente carente de recursos financeiros e de tempo para dedicar-se a essa investigação e ainda mais quando isso se estará fazendo em favor de um empregador que se evadiu para local desco-nhecido, deixando aí já de cumprir obrigação legal das empresas, que é de dar contas ao registro público competente (Junta Comercial ou Cartório do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, conforme o caso) das suas mudanças de endereço e, no geral, de qualquer contribuinte, de informar à Receita Federal as mesmas mudanças.

No silêncio da CLT quanto à representação de outras pessoas, entretanto, aplicam-se, por compatibilidade e conforme o caso, as regras do art. 12 do

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CPC, valendo destacar, por merecedoras de tratamento específico, a repre-sentação dos dependentes do trabalhador falecido, a da empresa pelo pre-posto e a do trabalhador por um membro da mesma categoria ou pelo sin-dicato.

A Lei n. 6.858, de 24 de novembro de 1980, prevê em seu art. 1º que os valores devidos aos empregados e os saldos das contas do FGTS e do PIS- PASEP não levantados em vida pelos mesmos trabalhadores deverão ser pagos, em quotas iguais, aos seus dependentes habilitados perante a Previ-dência Social e, na falta destes, aos sucessores previstos na lei civil, indicados em alvará judicial, independentemente de inventário ou arrolamento.

Os dependentes legalmente habilitados perante a Previdência Social dos trabalhadores falecidos, portanto, podem reclamar em juízo os haveres des-se trabalhador independentemente de inventário ou arrolamento. Fazem-no em nome próprio e não do espólio. Quando absolutamente incapazes, por seus representantes, e, quando relativamente incapazes, assistidos por seus responsáveis legais.

Falecendo o trabalhador sem deixar dependentes perante a Previdência Social, os herdeiros, de acordo com a lei civil, poderão reclamar os haveres dele em juízo, porém, o juiz, por cautela, sendo a reclamação promovida por herdeiro que não reúna tal condição com aquela outra de inventariante do espólio, deve determinar sempre a notificação deste último, para evitar o prejuízo futuro aos direitos de outros eventuais herdeiros ou credores do mesmo espólio.

Falecendo o trabalhador no curso do processo, terá lugar a suspensão dele (CPC, art. 265, I), com a consequente habilitação incidental dos depen-dentes habilitados perante a Previdência Social ou, na falta destes, os suces-sores de acordo com a lei civil (CPC, arts. 1.055 a 1.062).

Se, ao contrário, falecer o empregador pessoa física, também haverá suspensão do processo (CPC, art. 265, I), devendo o espólio passar a ser re-presentado por seu inventariante (CPC, art. 12, V).

O art. 843, § 1º, da CLT faculta que o empregador se faça representar em audiência por gerente ou por um preposto que tenha conhecimento dos fatos e cujas declarações obrigarão a ele, empregador. O art. 74 do Código Comer-cial, que foi revogado pelo art. 2.045 do Código Civil de 2002, exigia nome-ação do preposto por escrito, pelo que se desenvolveu a praxe de as empre-sas apresentarem em audiência a denominada carta de preposto, pela qual nomeavam aquele que deveria representá-las naquele ato processual.

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A carta de nomeação do preposto, a rigor, deveria estar assinada por pessoa que, de acordo com os atos constitutivos da empresa, tivesse pode-res de gestão dela, pois, do contrário, a nomeação estaria irregular, sem que se pudesse saber se efetivamente passada no interesse da empresa prepo-nente.

A falta da carta de nomeação ou a irregularidade dela, a rigor, deveriam levar à presunção de ausência da empresa, com o arquivamento da reclama-ção, caso fosse autora, ou a revelia, caso fosse ré (CLT, art. 844). Os ritos dos dissídios individuais são sumário, sumaríssimo e de alçada, e todos eles não contêm previsão legal para suspensão ou adiamento da audiência por força de falta ou irregularidade de representação de uma das partes. Nem mesmo há norma que autorize a concessão de prazo para a apresentação futura da carta de preposição ou de sua regularização.

A doutrina e a jurisprudência, contudo, parecem ter assimilado, com força no art. 769 da CLT, a aplicação da regra do art. 13 do CPC, sem aten-tar para que a prática pode ser um excelente expediente para que algumas empresas – poucas, mas que existem – que estejam na posição de reclama-das e não se compenetrem dos deveres de lealdade e boa-fé que têm no processo, provoquem adiamentos de audiências ou, no mínimo, o retarda-mento do andamento do processo, sobretudo nos grandes centros urbanos do país, onde o intervalo entre uma sessão de audiência e outra pode che-gar a até um ano ou mais. Não se pode olvidar que há empresas que têm contra si inúmeras reclamações julgadas procedentes, total ou parcialmen-te, descrevendo um histórico de infração à legislação do trabalho o qual, logicamente, não autoriza que se lhes suponha a ingenuidade ou a casua-lidade em irregularidades que provoquem o retardamento do andamento dos processos.

Sabendo, é claro, que a maioria das empresas, na posição de rés, não agiria de má-fé, é que, não havendo requerimento específico de declaração de revelia por parte do autor, pode-se deferir um prazo para que seja sa-nado o defeito, sem que se prejudique o prosseguimento da audiência. A revelia e a cominação de confissão firmam presunção de natureza mera-mente relativa e, portanto, subordinam-se ao interesse da parte autora, à qual pode não ser conveniente uma solução do processo com base em simples e discutíveis ficções jurídicas, preferindo a solidez da vitória esco-rada na efetiva apuração da verdade real. Pode aí o autor renunciar às vantagens que a revelia e a confissão ficta lhe propiciariam, dizendo-o expressamente ou por singela concordância tácita com a concessão do dito prazo para sanar o defeito.

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A jurisprudência do TST, com a Súmula 377, exige que o preposto seja empregado da empresa, salvo quando se tratar de reclamação em face de empregador doméstico. A Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, em seu art. 54, faculta ao empregador de microempresa ou de empresa de pequeno porte a fazer-se substituir ou representar perante a Justiça do Trabalho por terceiros que conheçam os fatos, ainda que não possuam vínculo trabalhista ou societário.

O síndico representa os condomínios edilícios (CC, arts. 1.347 e 1.348, II) e o administrador, a massa falida, assim como também pode fazê-lo pessoa por ele contratada para representar a empresa em juízo (Lei n. 11.101, de 9-2-2005, art. 22, I, h e III, n).

No caso do empregador doméstico, provado o justo impedimento para comparecer à audiência, pode ser representado por qualquer membro maior e capaz da família, isto é, daquele núcleo que tenha domicílio comum (CF, art. 226), sabendo-se que o art. 1º da Lei n. 5.859, de 11 de dezembro de 1972, trata como empregador doméstico não apenas a pessoa, mas também a família.

As sociedades irregulares ou de fato são representadas por quem adminis-tre seus bens (CPC, art. 12, VII), assim como também se pode conceber a repre-sentação da pessoa jurídica regularmente constituída por quem, de fato, dete-nha poderes de gestão e mando sobre ela, não obstante seus atos constitutivos atribuam tais poderes a outras pessoas, desde que tais fatos restem devidamen-te comprovados em juízo. Se é possível a desconsideração da personalidade jurídica para efeito de responsabilização de seus sócios (CC, art. 50), também há de sê-lo para efeito de reconhecer quem de fato a represente em juízo.

Não podem os advogados cumular o exercício de seu ofício com o de preposto no mesmo processo. Proíbem-nos de fazê-lo o art. 3º do Regula-mento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB e o art. 23 do Código de Ética e Disciplina da OAB.

Não vigora em Direito Processual do Trabalho a regra do art. 133 da Constituição. As obrigações trabalhistas têm, em sua maioria, natureza alimentar, matéria que na tradição nacional, pela emergência que envolve, constitui exceção à exigência da postulação dos direitos em juízo por ad-vogado. Assim como nas situações extremas de proteção à liberdade de ir e vir (habeas corpus) ou à demanda civil de alimentos, a legislação tem au-torizado, como o faz o art. 791 da CLT, a capacidade postulatória das partes. O Supremo Tribunal Federal, ultimamente nos autos da ADIn 1.127-8-DF, concluiu que subsiste na ordem constitucional vigente a referida

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capacidade das partes. Também o fez, no mesmo sentido, o TST, com as Súmulas 219 e 32930.

O advogado, não obstante a capacidade postulatória das partes, pode atu-ar no processo do trabalho, quando constituído particularmente por uma delas, ou quando o faça assistindo trabalhador que é beneficiário da Justiça Gratuita (Lei n. 5.584/70, art. 14), ou até mesmo em causa própria. Pode o advogado fazer carga de autos (CLT, art. 778), bem como consultá-los livremente em se-cretaria (CLT, art. 779). Tem aplicação subsidiária ao processo do trabalho para regular a atuação dos advogados também a Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994.

Não podendo o trabalhador comparecer à audiência, poderá fazer-se representar por outro empregado que pertença à mesma profissão, ou pelo sindicato de sua categoria, de acordo com o art. 843, § 2º, da CLT.

12.2. Litisconsórcio e intervenção de terceirosA parte, como se viu no início do tópico precedente, pode ser integrada

por uma ou mais pessoas, assim como, a depender das figuras de intervenção de terceiros que se admitam e das relações que estes venham a estabelecer com as duas partes originárias, pode-se falar também em pluralidade de partes no processo. Admitida, por exemplo, a figura da oposição (CPC, arts. 56 a 61), o opoente haverá de constituir uma terceira parte, antagônica tanto ao réu como ao autor, que passarão a ser denominados opostos em relação a ele.

É bem aceita em doutrina e jurisprudência a classificação das espécies de litisconsórcio, também antes já referida31, que os subdivide da seguinte forma:

CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE LITISCONSÓRCIO

a) quanto ao regime das relações entre os litisconsortes

a.1) litisconsórcio facultativo

a.2) litisconsórcio necessário

b) quanto ao regime decorrente da na-tureza do direito em litígio

b.1) litisconsórcio unitário

b.2) litisconsórcio comum

30 A Súmula 425, do TST, procura impor uma restrição a essa capacidade postulatória das partes, limitando-a ao âmbito das Varas e dos Tribunais Regionais. A restrição é razoável, sabendo-se que os trabalhadores e empregadores, por si mesmos, dificilmente saberiam manejar as cada vez mais complexas e casuísticas hipóteses de cabimento de recursos e seus desdobramentos na instância extraordinária.31 Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, 6. ed. rev. e atual., São Paulo: Malheiros, 2001, p. 66-69.

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No primeiro caso, a.1), a reunião das pessoas em um mesmo polo do processo vem a dar-se unicamente por escolha delas, devendo, para tanto, satisfazer a uma as hipóteses do art. 46 do CPC, subsidiariamente aplicável ao processo do trabalho (CLT, art. 769); no outro, a.2), conquanto os fatos ou a natureza do direito em litígio não impusessem a reunião das pessoas em uma determinada parte, é a lei que o faz (CPC, art. 47, quando afirma que há litisconsórcio necessário quando, por disposição de lei ...)32.

O litisconsórcio será unitário (b.1), quando pela natureza da relação jurí-dica, ou do direito em litígio, o juiz deva proferir decisão uniforme para ambas as partes, bastando lembrar, por exemplo, o caso de interdição de um estabelecimento fabril, em decorrência de perigo iminente para os operários, que se peça em juízo, sendo dois os seus coproprietários. Em regra, a decisão deverá ser uniforme para ambos os condôminos, uma vez que indivisível o estabelecimento. A outra hipótese, do litisconsórcio comum (b.2), subordina-se à regra do art. 48, do CPC, pela qual os atos e omissões de um dos litiscon-sortes não prejudicarão, nem beneficiarão os demais integrantes do mesmo polo processual, uma vez que não há imposição da natureza da relação jurí-dica, nem do direito em debate de decisão uniforme para os litisconsortes.

Tendo em vista que uma classificação: a) diz respeito ao regime das rela-ções entre as partes e a outra, b), ao regime que a natureza da relação jurídica e/ou do direito em litígio impõe à decisão, é possível encontrá-las combina-das em situações tais que qualifiquem litisconsórcios facultativo comum, ou necessário comum, ou mesmo facultativo unitário, ou ainda necessário uni-tário. Haverá de dar-se exemplo de cada um no processo do trabalho.

Admite a CLT, em seu art. 842, figura de cumulação de ações, desde que haja “identidade de matéria” e se trate de empregados do mesmo estabele-cimento ou empresa. Esse dispositivo tem sido interpretado como franco autorizador do litisconsórcio facultativo comum, desde que se possa estabe-lecer uma identidade de causa de pedir (matéria) entre as ações que se pre-tenda cumular. É preciso aprofundar a análise, contudo.

Não se pode olvidar que os ritos dos dissídios individuais, como regra geral, são de natureza sumária, concebidos para a postulação individual.

32 Tem merecido críticas a redação do art. 47 do CPC, porque parece confundir sob a denominação única de litisconsórcio necessário essa figura com aquela outra do litisconsórcio unitário. No primeiro caso, a reunião das pessoas em um mesmo polo é determinação legal, ao passo que no segundo, do litisconsórcio unitário, é a natureza da relação jurídica ou do direito em discussão que determina, aí sim, uma decisão uniforme para todos os litisconsortes.

Para uma crítica mais precisa e aprofundada, consulte-se Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, cit., p. 140-141.

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Caso se entenda que a identidade de matéria exigida pelo art. 842 da CLT deva estabelecer-se tão somente na causa de pedir imediata, isto é, nos fun-damentos jurídicos da demanda, estar-se-á alargando por demais o permis-sivo legal, a ponto de trair o ideal de celeridade que norteia especialmente o Direito Processual do Trabalho e não deixa de ser um dos propósitos da cumulação de ações.

Se a identidade de ações vier a estabelecer-se apenas nos fundamentos jurídicos, isto é, quanto ao direito em debate, não havendo necessidade de decisão uniforme para os litisconsortes, na cogitada hipótese de litisconsór-cio facultativo comum, o que se teria, na verdade, seriam diversas ações superpostas, para instrução das quais o juiz deveria proceder necessaria-mente à investigação de diversos fatos distintos, pertinentes a cada um dos litisconsortes, multiplicando-se e acidentando-se indevidamente o andamen-to da reclamação, sujeita que estaria às exceções e incidentes provocáveis pelo reclamado em face de cada um dos litisconsortes.

Não. Ao que parece, esta não é a melhor interpretação do art. 842 da CLT. A “identidade de matéria” a que se refere o legislador parece dever estar não na causa de pedir imediata (direito e seus fundamentos), mas na causa de pedir mediata, isto é, nos fatos sobre os quais se fundamenta o pedido, até mesmo porque a Consolidação nem sequer exigiu que o reclamante apresen-te os fundamentos jurídicos da demanda, o que se pode conferir com a simples leitura do seu art. 840, § 1º. Seria, no mínimo, extensiva a interpretação que enxergasse identidade de causa de pedir imediata apenas no art. 842.

Ponderado o caráter sumário dos ritos processuais trabalhistas de que trata a CLT, que de fato se abrevia e avantaja na instrução conjunta de diversas reclamações que versem sobre os mesmos fatos, é de perceber na “identidade de matéria” a que se refere o art. 842 ideia semelhante àquela que presidiu o legislador ao enunciar o conceito de origem comum, para os direitos indivi-duais homogêneos (CDC, art. 81, parágrafo único, III). O litisconsórcio de que cogita o artigo consolidado em debate é, na verdade, para reunião de litigan-tes que tenham direitos provenientes daquela origem comum, isto é, com identidade de causa de pedir mediata, a qual abrevia a instrução.

Pode dar-se, é claro, que a origem, os fatos sejam comuns, mas que o direito determine decisões distintas para cada um dos litisconsortes, mas aí a diferença haverá de estabelecer apenas no ato de julgar, quando já se terão tido as cogitadas vantagens na instrução. A hipótese será de litisconsórcio facultativo comum, de fato, mas presa à causa de pedir mediata.

Ocorrendo de serem idênticas as causas de pedir mediata e imediata para todos os litisconsortes, ter-se-ão satisfeitos com mais perfeição os propósitos

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do permissivo legal, não havendo, portanto, o que criticar aí. Ao que parece, não há campo fértil para o litisconsórcio facultativo comum quando não haja, ao menos, identidade de causa de pedir mediata entre as ações de cada um dos litisconsortes.

Outra hipótese interessante é a do litisconsórcio passivo entre a empresa tomadora e a empresa prestadora de serviços na ação que mova em face das duas o empregado desta última, com amparo na Súmula 331, IV, do TST, que estabelece a responsabilidade subsidiária da primeira pelos créditos traba-lhistas inadimplidos pela segunda.

Não há obrigatoriedade legal de o empregado mover a ação em face das duas empresas, pois bem pode promovê-la somente em face da prestadora de serviços, que terá sido sua efetiva empregadora se lícita houver sido a terceirização. Todavia, é comum que o faça em face de ambas as empresas, em resguardo do recebimento futuro de seu crédito em eventual fase de execução, e outras vezes há empregado que queira mover a ação somente em face da empresa tomadora, em geral uma empresa dotada de maiores recursos econômicos e financeiros.

Muito embora não haja norma legal que determine o litisconsórcio pas-sivo entre a empresa tomadora e a prestadora de serviços (litisconsórcio necessário) e não necessariamente se deva dar uma solução única para o li-tígio em face das duas rés (litisconsórcio unitário), pois o empregado pode não ter trabalhado todo o tempo para a mesma tomadora, ou até pode nem tê-lo feito para aquela em face da qual move a ação como suposta tomadora, parece ser obrigatório que, movida a ação em face da tomadora, forme-se o litisconsórcio passivo com a citação da prestadora de serviços.

É que, sendo a responsabilidade da tomadora de natureza subsidiária, ela só poderá ser efetivamente acertada se firmada também a da devedora principal. Não há como declarar-se a tomadora responsável subsidiária, sem que antes se tenha declarado, com o mesmo efeito vinculativo que é próprio da coisa julgada, a prestadora como devedora principal. O contrário seria imaginar a possibilidade de firmar em definitivo responsabilidade subsidi-ária sem que ainda o tivesse sido a principal.

Comanda o bom senso que se forme um litisconsórcio passivo entre to-madora e prestadora de serviços, para evitar o risco de decisões futuras conflitantes, ou até uma discussão sobre ineficácia da coisa julgada formada apenas em face da devedora subsidiária, se a dívida da prestadora de servi-ços fosse declarada, por exemplo, inexistente em outro processo tendo como autor ou até como réu o mesmo empregado.

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O litisconsórcio passivo que se deve formar aí, à evidência, não é unitário, porque pode haver o caso em que a dívida seja entendida como existente em face da devedora principal e inexistente em face da devedora subsidiária, não impondo a natureza do direito ou da relação jurídica, portanto, uma solução única para ambas as litisconsortes. O litisconsórcio no caso, ao que parece, é uma hipótese, por natureza, de litisconsórcio necessário comum, que decorre não da lei, mas do direito sumulado.

Pode-se anotar ainda, à guisa de exemplo típico do Direito Processual do Trabalho, o caso da fábrica cujo processo de produção promova a emissão de gases poluentes nocivos à saúde ou que envolva procedimentos empregando explosivos que ponham em risco a integridade física dos trabalhadores.

Se a empresa não cumpre as normas legais de Medicina e Segurança do Trabalho, não se há de negar a cada empregado a legitimação individual para promover ação pela interdição do estabelecimento ou mesmo para que se adotem os cuidados legalmente fixados. Negá-lo seria contrassenso dos mais atordoantes, sabendo-se que equivaleria a dizer ao trabalhador que ele depen-deria da ação do Poder Público, ou do Ministério Público, ou ainda das enti-dades sindicais para que promovessem as ações cabíveis em sua defesa, de-vendo até lá suportar a agressão à saúde ou o risco à sua integridade física.

Estabelecida que é tal legitimidade individual do trabalhador por seu inquestionável bom senso, pode ocorrer que numa mesma empresa dois ou mais trabalhadores, empregados no mesmo serviço e no mesmo local de trabalho, hajam por bem promover ação em litisconsórcio ativo em face da mesma empresa, para que cessem ou reduzam-se os malefícios ou con-trolem-se os riscos. Se o fizerem, é mais do que claro que a solução deverá ser única para eles, não se podendo promover a interdição da fábrica, ou a redução dos males ou até o controle dos riscos somente em relação a um determinado empregado e não quanto ao outro que trabalhe no mesmo serviço e local.

Será hipótese, portanto, de litisconsórcio ativo unitário. Mas, curioso, haverá de sê-lo também de litisconsórcio facultativo, uma vez que nada obrigaria a um ou mais empregados que agissem em concerto. É a pouco encontrada, mas existente hipótese de litisconsórcio facultativo unitário, presente também no Direito Processual do Trabalho.

Outros casos multiplicam-se, tanto no polo ativo como no passivo, deri-vados da enorme riqueza de situações fáticas e jurídicas que implicam as relações de trabalho, não havendo espaço nos lindes da presente obra para enfrentar tão rica casuística. Fica, pois, a nota exemplificativa dos casos julgados mais frequentes ou cientificamente mais interessantes.

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Abandonando-se o campo do litisconsórcio e saltando-se ao vizinho da intervenção de terceiros, é bom registrar desde logo o caráter infenso a elas que reinou por muito tempo no Direito Processual do Trabalho. Primeiro, porque disciplinadas nos arts. 56 a 80 do CPC, a maior parte das figuras ali concebidas não se ajustava mesmo à competência da Justiça do Trabalho, então restrita às relações de trabalho subordinado.

Outro motivo a alimentar a resistência ao cabimento da maior parte das figuras de intervenção de terceiros no processo do trabalho era o caráter predominantemente sumário dos ritos que aqui se aplicam, os quais ofere-ceriam algumas dificuldades para adaptação aos procedimentos exigíveis para processamento daquelas mesmas figuras.

Tratando daquela espécie de intervenção cujo cabimento sempre foi discutido com mais profundidade, que é a da denunciação da lide com am-paro no art. 70, III, do CPC, sempre invocada em casos de terceirização de mão de obra, quando demandado apenas o tomador de serviços para exigir a vinda da empresa prestadora de serviços ao processo, o TST já concluíra pelo seu não cabimento com a Orientação Jurisprudencial n. 227, depois cancelada em 18-11-2005.

A ampliação da competência da Justiça do Trabalho, determinada pela Emenda Constitucional n. 45, com efeito, alterou o quadro, levando logo ao cancelamento da mencionada Orientação Jurisprudencial, num claro sinal, dado por sua Comissão de Jurisprudência e de Precedentes Norma-tivos, de que o TST haveria de rever o seu posicionamento sobre o cabi-mento de algumas espécies de intervenções de terceiros no processo do trabalho.

Tendo ingressado no campo da competência da Justiça do Trabalho uma série de novos assuntos, como se viu acima no n. 7, já não há como deixar de se assimilarem algumas figuras de intervenção. É evidentemente difícil estabelecer uma casuística referente ao cabimento das diversas hipóteses de intervenção nos incontáveis casos sob jurisdição presente ou futura da Jus-tiça do Trabalho, podendo-se esperar apenas que alguma sistematização de caráter não exaustivo possa vir a ser elaborada com o tempo. Não obstante, a modificação mais sensível parece mesmo dizer respeito à figura de denun-ciação da lide antes rechaçada.

O cabimento de figuras de oposição (CPC, art. 56) ou de nomeação à autoria, (CPC, art. 62) continua sendo bastante discutível, uma vez que ha-verá de colocar-se ainda a questão da competência da Justiça do Trabalho sempre que temas envolvendo a posse ou a propriedade de bens forem le-vados à discussão.

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A denunciação da lide, nos casos do art. 70, I e II, do CPC, também ainda parece de difícil aplicação ao processo do trabalho. Assim como nos casos de oposição ou nomeação à autoria, as relações jurídicas em debate podem ter em um de seus polos, na condição de fâmulo da posse ou de comodatário por força de contrato de emprego, o empregado, mas esta sua relação à evi-dência não será objeto da demanda na intervenção, escapando ela, portanto, à competência da Justiça do Trabalho.

A denunciação da lide àquele que estiver obrigado pela lei ou pelo contrato a indenizar em ação regressiva o prejuízo do que perder a deman-da (CPC, art. 70, III), na verdade, é uma ação do denunciante em relação ao denunciado. Devendo, portanto, seu exercício revestir-se das mesmas formalidades que são próprias de qualquer ação, com a elaboração de uma peça de denunciação em apartado, que deverá satisfazer aos mesmos re-quisitos de uma petição inicial (CPC, arts. 282 e 283)33.

No processo do trabalho, como foi dito acima, a hipótese costuma re-vestir-se de interesse na ação que move o empregado terceirizado em face da empresa tomadora de serviços, denunciando esta a lide em relação à empresa prestadora de serviços que, tendo sido lícita a terceirização, terá sido a efetiva empregadora e, provavelmente, estará obrigada a indenizar-lhe, por contrato usualmente celebrado em relações da espécie, os valores que ela, tomadora, vier a pagar àquele empregado por força da Súmula 331, IV, do TST.

Muito embora haja quem sustente que a denunciação da lide é matéria de defesa no processo do trabalho e, portanto, deva ser apresentada na peça única de defesa, esta não parece ser a melhor técnica. A defesa é o ato do réu que rechaça o pedido do autor, não se dirigindo, em regra, a terceiro. A de-nunciação da lide lançada como matéria de defesa, no mais das vezes, reve-la-se inepta, uma vez que dificilmente caberá nos moldes de uma defesa, deixando faltar muitos requisitos indispensáveis à possível futura condena-ção do denunciado a indenizar o denunciante.

33 “A denunciação da lide é ação, pelo que a peça na qual for formulado o requerimento de denún-cia deve satisfazer às exigências dos arts. 282 e 283 do CPC” (STJ, 2ª Turma, REsp 19.074-RS, rel. Min. Adhemar Maciel, j. em 2-10-97, não conheceram, v. u., DJU de 20-10-97, p. 53020). Cf. Theo-tonio Negrão e José Roberto Gouvêa, Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 37. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 191.

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Melhor que a denunciação venha em peça apartada, satisfazendo aos mesmos requisitos que são seus no processo civil, por imperativo de legali-dade, uma vez que é do Código de Processo Civil que subsidiariamente se extraem as regras para aplicá-la ao processo do trabalho. Deve o juiz do trabalho que a receber e admitir, portanto, seguir a partir daí os trâmites previstos nos arts. 71 a 76 do CPC, com as adaptações que o litígio reclamar ao processo do trabalho, fazendo sempre ver às partes quando e como ha-verá de assegurar-lhes as indispensáveis oportunidades de contraditório e amplitude de defesa (CF, art. 5º, LV).

Pode caber ainda o chamamento ao processo, com amparo no art. 77, III, do CPC, sabendo-se que as figuras dos incisos I e II do mesmo artigo dizem respeito a contratos de fiança que usualmente não se discutem na Justiça do Trabalho.

A hipótese do art. 77, III, será aquela de uma das empresas integrantes de um grupo econômico demandada pelo empregado de outra do mesmo grupo por responsabilidade solidária em relação às obrigações trabalhistas para com ele (CLT, art. 2º, § 2º), podendo a reclamada, então, chamar ao processo as demais empresas integrantes do mesmo grupo, como codeve-doras solidárias.

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AnotAções

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12.3. Representação sindical ou a impropriamente denominada substituição processual

A Constituição prescreve, em seu art. 8º, III, que ao sindicato cabe a de-fesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. A redação do dispositivo consti-tucional não difere substancialmente daquela que antes já estava no art. 513, a, da CLT, salvo no ponto em que amplia a representação sindical, antes restrita, quanto aos interesses individuais, àqueles dos trabalhadores asso-ciados aos sindicatos.

A representação sindical é instituto próprio do Direito do Trabalho, que se projeta no Direito Processual do Trabalho. Situa-se a meio caminho entre a representação popular, política, que é exercida de acordo com a Constitui-ção (art. 1º, parágrafo único) em nome do Povo soberano e, no extremo oposto, o mandato civil, que tem natureza contratual e exige outorga espe-cífica do poder de representação ao representante, mandatário, pelo repre-sentado, mandante.

A representação sindical guarda elementos da representação popular, uma vez que os dirigentes sindicais são eleitos (CLT, art. 529 e s.) e também do mandato civil, sabendo-se que a Constituição (art. 8º, III) autoriza que por ela se representem também os interesses individuais dos trabalhadores.

O campo típico de exercício da representação sindical é a negociação cole-tiva (CF, arts. 8º, VI, e 7º, XXVI), cabendo ao sindicato em caráter precípuo, portanto, a representação dos interesses das categorias profissional, econômi-ca ou diferenciada (CF, art. 8º, II); não se podendo descuidar contudo que, frustrada a negociação coletiva, é facultado o ajuizamento de dissídio coletivo (CF, art. 114, § 2º), que pode vir a ser suscitado também pelo Ministério Públi-co do Trabalho em razão de greve em atividade essencial (CF, art. 114, § 3º).

As entidades sindicais são legitimadas também para a propositura de ação civil pública na Justiça do Trabalho, em defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dos trabalhadores, como resulta dos arts. 8º, III, da Constituição; 5º, da Lei n. 7.347/85; 82, IV, e 117, do CDC34.

A CLT confere legitimidade também às entidades sindicais para pleitea-rem em juízo adicionais de periculosidade ou insalubridade em favor de um, de um grupo de trabalhadores ou da categoria, de acordo com o art. 195, § 2º, da CLT.

34 V. o meu Sistema da ação civil pública no processo do trabalho, cit., p. 267-272.

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A atuação das entidades sindicais em juízo nos casos já lembrados, seja em dissídio coletivo ou dissídio individual, dá-se como representante da categoria, de um grupo de trabalhadores ou integrantes dela, ou de um único trabalhador ou integrante da mesma categoria. A representação pro-cessual das entidades sindicais, como se disse, é simples projeção da legiti-midade representativa que lhes é outorgada antes no plano jurídico material, não diferindo substancialmente a redação do art. 8º, III, da Constituição daquilo que já havia antes no art. 513, a, da CLT.

Não se vê razão, portanto, para a empolgação em qualificar a represen-tação sindical de substituição processual, conceito que pode até servir para explicar alguns pontos da atuação sindical no processo, mas que não é pró-prio nem adequado ao Direito Processual do Trabalho. Trata-se de conceito sintetizado pelo gênio da processualística civil alemã de fins do século XIX e início do século XX, que não guarda em suas raízes qualquer intimidade com o Direito do Trabalho e as relações jurídicas que lhe são peculiares. Mesmo na experiência do país de origem do conceito, a Alemanha, não há hoje norma equivalente ao nosso art. 8º, III, da Constituição, sendo a substi-tuição processual dos trabalhadores lá de natureza contratual e restrita aos trabalhadores associados aos sindicatos35.

No Supremo Tribunal Federal, todavia, vingou a tese de que o sindicato atua na condição de substituto processual, de acordo com o RE 193.503, julgado pelo Tribunal Pleno em 12 de junho de 2006, sob relatoria do emi-nente Ministro Joaquim Barbosa, decisão a qual, por sua consistência, pare-ce ter assumido caráter paradigmático para firmar a posição do Excelso Pretório na matéria.

12.4. Atos, termos e prazos processuais

12.4.1. Atos e termos processuaisÉ preciso saber distinguir o processo de seus autos. O primeiro é o enca-

deamento lógico de atos tendentes à tutela das pessoas e dos direitos na ordem jurídica. Já os autos constituem a documentação do processo, isto é, o orde-namento lógico e cronológico de documentos que demonstram e/ou certificam os atos que se sucedem em direção à finalidade de tutela das pessoas e dos direitos, com a entrega dos bens da vida almejados no processo.

35 Para mais detalhes sobre a polêmica, consulte-se o citado Sistema da ação civil pública no processo do trabalho, p. 248-267.

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Quando as partes comparecem em audiência, está-se no curso do pro-cesso; assim também quando um advogado comparece em secretaria para saber o andamento do feito, ou mesmo quando o oficial de justiça notifica as partes ou efetua a penhora. Os atos, que são emanações da personalidade das partes, do juiz e de seus auxiliares ou de terceiros que intervêm no pro-cesso, ocorrem no mundo dos fatos, devendo ser documentados ou não conforme o seu grau de importância para a finalidade de tutela das pessoas ou dos direitos.

A documentação dos atos processuais dá lugar às suas formas, as quais, encadeadas lógica e cronologicamente, materializam-se nos autos do processo. Estes ficam depositados nas secretarias das Varas do Trabalho competentes, sob responsabilidade dos diretores das mesmas secretarias (CLT, art. 777).

Os atos processuais podem ser classificados de acordo com as finali-dades que perseguem, tais como atos postulatórios, atos de mero expe-diente, atos probatórios ou atos decisórios. O processo de execução conhe-ce também atos expropriatórios, assim como o cautelar pode envolver atos assecuratórios ou antecipatórios.

Podem ser classificados também os atos processuais segundo as pessoas das quais provenham, tais como atos do juiz, de seus auxiliares, das partes ou de terceiros. De acordo com a pessoa que o pratique, pode-se classificar o ato conforme as finalidades que cada um dos atores do processo nele perse-guem. A secretaria da Vara do Trabalho, por exemplo, quando dá andamen-to ao processo, notificando as partes ou as testemunhas, pratica ato de expe-diente, que decorre de dispositivo de lei ou determinação judicial específica.

A documentação do processo tem por finalidade a (a) certificação ou a comprovação dos atos processuais e a sua (b) publicidade. O processo deve proporcionar a todos a certeza da existência e do teor dos atos que o confor-maram. A Constituição impõe, em seu art. 93, IX, que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário sejam públicos, e fundamentadas as decisões, sob pena de nulidade. O art. 770 da CLT foi recepcionado pela Carta, dizen-do que os atos processuais serão públicos, salvo quando o contrário deter-minar o interesse social, devendo realizar-se nos dias úteis, isto é, de segun-das a sábados, das 6 às 20 horas. A penhora pode realizar-se em domingo ou feriado, mediante autorização expressa do juiz (CLT, art. 770, parágrafo único). As audiências devem ser igualmente públicas, devendo realizar-se em dias úteis previamente designados, das 8 às 18h, não podendo ultrapas-sar 5 horas seguidas, salvo se houver matéria urgente (CLT, art. 813).

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O art. 771 da CLT exige que os atos e termos do processo sejam escritos a tinta, datilografados ou a carimbo. Quando a lei o determine, deverão ser assinados pelas partes, salvo se por motivo justificado não possam fazê-lo, hipótese em que, se não houver procurador legalmente constituído, serão assinados a rogo na presença de duas testemunhas (CLT, art. 772).

Os termos referentes à movimentação dos processos constarão de simples notas, datadas e rubricadas pelos chefes ou diretores de secretaria (CLT, art. 773), a quem compete também subscrever as certidões (CLT, art. 712, h).

ATOS DE COMUNICAÇÃO PROCESSUAL

Citação ato pelo qual se dá conhecimento ao réu da ação con-tra ele proposta, para, querendo, vir defender-se.

Intimação ato pelo qual se dá conhecimento às partes ou a ter-ceiros dos demais atos do processo.

OBSERVAÇÃO: A CLT, por reminiscência da chamada fase administrati-vista do processo do trabalho, emprega invariavelmente a palavra “noti-ficação”, tanto quando se refere a citação como a intimação.

As assentadas ou termos de audiência36 deverão ser lavrados pelo diretor de secretaria (CLT, art. 712, g) e assinados pelo juiz, que determinará a sua juntada aos autos no prazo de 48 horas da realização daquele ato (CLT, art. 851, § 2º).

O art. 13 da Constituição prescreve que a língua portuguesa é o idioma nacional, o qual deve ser empregado em todos os atos processuais (CPC, art. 156). Os documentos em língua estrangeira só poderão ser juntados ao pro-cesso se acompanhados de tradução firmada por tradutor juramentado (CPC, art. 157). Os depoimentos das partes e testemunhas que não souberem falar português será feito por meio de intérprete nomeado pelo juiz (CLT, art. 819).

36 A CLT emprega a palavra “ata”, em lugar de assentada ou termo de audiência, porque, quando editada, o juízo era colegiado, composto pelo presidente e dois vogais. Sabendo-se que “ata” é ex-trato da deliberação de órgão colegiado (ata de assembleia de condomínio; ata de assembleia de acionistas; ata de julgamento da comissão, câmara ou turma etc.), já não se justifica o seu emprego em relação às audiências das Varas do Trabalho. Conquanto o legislador não se tenha lembrado de corrigir a redação dos dispositivos da CLT em questão, isso não torna correto o uso da palavra “ata” para referir-se ao extrato de deliberação de juízo monocrático, o qual, na tradição jurídica brasileira, é denominado de assentada ou termo.

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A Lei n. 11.419, de 19 de dezembro de 2006, regula o uso do meio eletrô-nico (telemático) na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças processuais. No âmbito da Justiça do Trabalho, regu-lamenta essa lei a Instrução Normativa n. 30, do TST, com o sistema deno-minado e-Doc. O conceito fundamental para a transmissão eletrônica de peças processuais e seu processamento no mesmo meio é o de assinatura eletrônica, a qual é admitida pelo art. 4º da aludida Instrução Normativa, nas formas de a) assinatura digital, baseada em certificado emitido pelo ICP-Brasil, com uso de cartão e senha, ou b) assinatura cadastrada, obtida peran-te o TST ou Tribunais Regionais do Trabalho, com criação de login e senha37.

No Supremo Tribunal Federal o sistema foi chamado e-STF e foi regula-mentado pela Resolução n. 344, de 25 de maio de 2007, complementada pela Portaria n. 73, de 30 de maio de 200738.

12.4.2. Prazos processuaisDá-se o nome de prazo ao lapso temporal que medeia entre dois termos,

o inicial e o final. Sendo o processo uma cadeia lógico-cronológica de atos, fácil é perceber que os prazos são delimitações temporais que se impõem para a prática daqueles atos, as quais, aliadas à preclusão, firmam marcos para a evolução da marcha processual. Se fosse permitido às partes praticar os atos processuais quando bem quisessem, estaria comprometida a garantia da duração razoável do processo, alçada à altura de garantia constitucional pelo art. 5º, LXXVIII, da Carta, com a redação que lhe deu a Emenda Cons-titucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004.

Os prazos podem ser caracterizados em (a) peremptórios, que são impror-rogáveis, salvo motivo justo ou de força maior devidamente comprovada (CLT, art. 775, e CPC, art. 183), ou (b) dilatórios, os quais por definição podem ser fixados ou prorrogados pelo juiz segundo o seu prudente arbítrio. Podem também os prazos ser classificados de acordo com a fonte que os estabelece, caso em que são ditos (a) legais, aqueles fixados em lei; (b) judiciais, os quais a lei permite sejam estabelecidos ou alterados pelo juiz e (c) convencionais, aqueles que, não sendo de natureza peremptória, podem ser fixados por convenção das partes (CPC, art. 181). Não havendo preceito legal, nem fixação pelo juiz, será de 5 dias o prazo para prática do ato processual (CPC, art. 185).

37 O texto integral da Instrução Normativa n. 30 do TST pode ser encontrado em <www.jt.gov.br/sistema/edoc/legislacao/in30tst.htm>.38 Ambas disponíveis em <https://re.stf.gov.br/legislacao.php>.

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A consumação do prazo opera a preclusão temporal e extingue o di-reito da parte de praticar o ato (CPC, art. 183, primeira parte). A parte poderá renunciar ao prazo instituído exclusivamente em seu favor (CPC, art. 186), o que fará expressamente ou mediante a prática de ato logica-mente incompatível com aquele que deveria praticar no prazo (preclusão lógica), como no caso do reclamado que requer, ainda no prazo para re-curso ordinário, a expedição de guia para pagamento da quantia à qual foi condenado.

O juiz pode, em qualquer grau de jurisdição e justificadamente, exceder por igual tempo os prazos que a lei lhe assegure para a prática dos atos de sua competência (CPC, art. 187). A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as autarquias ou fundações de direito público federais, estadu-ais ou municipais que não explorem atividade econômica, de acordo com o art. 1º do Decreto-lei n. 779, de 21 de agosto de 1969, têm prazo em quádru-plo para elaborar sua defesa e em dobro para recurso. Assim também o Ministério Público (CPC, art. 188).

Os prazos são contados, no processo do trabalho, excluindo-se o dia do começo e incluindo-se aquele outro do seu vencimento; são contínuos e ir-releváveis, salvo motivo de força maior acima mencionado (CLT, art. 775). Aqueles que se vencerem em sábado, domingo ou feriado terminarão no primeiro dia útil seguinte a eles (CLT, art. 775, parágrafo único). Quando a notificação é feita ou publicada numa sexta-feira ou sábado, o prazo começa a ser contado somente a partir do primeiro dia útil subsequente (Súmulas 1 e 262, I, do TST).

O recesso forense e as férias coletivas dos Ministros do Tribunal Superior do Trabalho suspendem os prazos recursais (Súmula 262, II, do TST). Ademais, a superveniência de férias suspenderá o curso dos prazos, que só recomeçarão a correr no primeiro dia útil após o término delas (CPC, art. 179).

O vencimento dos prazos será certificado nos autos pelos diretores de secretaria (CLT, art. 776).

Os prazos começam a correr a partir da data em que for feita pessoal-mente ou recebida a notificação, ou daquela em que for publicado o edital no jornal oficial ou naquele que publicar o expediente da Justiça do Trabalho, ou ainda daquela em que for afixado o edital na sede do juízo ou tribunal (CLT, art. 774). A notificação postal se presume recebida 48 horas após a sua expedição, se ela não for devolvida pelo Correio por não ser encontrado o destinatário ou por recusa em recebê-la (CLT, art. 774, parágrafo único). Constitui ônus da parte que alega a sua falta de recebimento ou a sua entre-ga após as aludidas 48 horas prová-lo (Súmula 16 do TST).

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Os mais usuais prazos processuais para atos das partes no processo do trabalho:

Prazo para elaboração de defesa pelo reclamado:

5 dias (CLT, art. 841, in fine)

Prazo para oferecimento da defesa em audiência:

20 minutos (CLT, art. 847)

Prazo para razões finais orais em audiência:

10 minutos (CLT, art. 850)

Prazo para recurso ordinário: 8 dias (CLT, art. 895, I e II)

Prazo para comprovação do reco-lhimento de custas:

após o trânsito em julgado ou, em caso de recurso, no mesmo prazo da sua interposição (CLT, art. 789, § 1º)

Prazo para agravo de petição: 8 dias (CLT, art. 897, a)

Prazo para agravo de instrumento: 8 dias (CLT, art. 897, b)

Prazo para pagamento do valor da condenação:

48 horas (CLT, art. 880)

Prazo para embargos à execução: 5 dias (CLT, art. 884)

Prazo para embargos de decla-ração:

5 dias (CLT, art. 897-A)

Prazo para ação rescisória: 2 anos (CLT, art. 836, e CPC, art. 495)

Prazo para manifestação sobre exceção de incompetência:

24 horas (CLT, art. 800)

Prazo para propositura de inqué-rito para apuração de falta grave:

30 dias (CLT, art. 853)

12.5. Defeitos dos atos processuais: nulidadesOs atos processuais constituem uma espécie do gênero dos atos jurídicos.

Estes se expressam normalmente em três planos: (a) existência; (b) validade e (c) eficácia, podendo apresentar defeitos e consequências peculiares a cada uma dessas dimensões, uma vez que a ordem jurídica pode estabelecer re-quisitos de fundo e de forma em relação a cada uma delas.

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O plano da existência é aquele do substrato fático do ato. Ato existente é aquele que se escora em substrato fático suficiente para fazê-lo entrar para o mundo jurídico. O ato inexistente não é e, por isso, não chega a ingressar no mundo jurídico; não é deficiente, porque, antes mesmo, nem sequer existe. A inexistência pode dar-se por carência absoluta de substrato fático, como ocorre no caso da sentença ou da petição sem assinatura, ou por abso-luta inabilidade dele para penetrar no mundo jurídico, de tal modo que, à primeira vista, não haverá quem duvide dela, como no caso de um negócio sobre um terreno na Lua.

A dimensão da validade entra em questão ao passo em que o ato satisfaz o requisito de existência. Existente o ato, há de se indagar da ocorrência ou não de vícios ou defeitos que levem a ordem jurídica a negar-lhe total ou parcialmente a validade. Há defeitos que o Direito considera a tal ponto graves que os tem por irrecuperáveis, irratificáveis, imprescritíveis e de nenhum efeito, sancionando-os com a sua nulidade. Outras vezes as defi-ciências são consideradas recuperáveis, parciais e de gravidade meramente relativa, levando, por conseguinte, à simples anulabilidade do ato.

Já o plano da eficácia entende com a produção de efeitos do ato. Por vezes, o ato existe, é válido, mas inábil a produzir efeitos, porque se pretende dele resultado ao qual ele não pode chegar, porque a ordem jurídica lhe comina a ineficácia como sanção. Exemplo clássico é a alienação de bens em fraude à execução, a qual, em regra, não é inexistente, nem nula ou anulável, mas sim-plesmente ineficaz em relação à execução em andamento (CPC, art. 593).

A CLT não cuida da categoria dos atos inexistentes, seja pela óbvia razão de que, assim o sendo, não produzem qualquer efeito, nem têm qualquer chance de serem convalidados; seja porque, ao tempo da sua edição, o Có-digo Civil de 1916 repelia tal classe de atos, entendendo que ela estaria abrangida por aquela outra dos atos nulos, igualmente privados de efeitos e irratificáveis.

Abstraída, portanto, aquela categoria dos atos inexistentes e passando-se às deficiências próprias do plano da validade dos atos processuais, há de se distinguir entre nulidades absolutas e aquelas outras relativas. As primeiras, por definição, são irratificáveis e, em regra, não convalescem no processo senão com a eficácia preclusiva da coisa julgada (CPC, art. 474). As nulidades relativas sujeitam-se a regras próprias para serem declaradas ou não.

A Consolidação trata, sob a denominação de nulidades, em seus arts. 794 a 798, na verdade, tão somente de nulidades relativas, uma vez que os pre-ceitos que enunciam tais artigos só se mostram compatíveis com deficiências dessa natureza. As nulidades absolutas, que são aquelas assim denominadas

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pela lei ou que firam matéria de ordem pública, continuam subordinadas às regras do processo comum, por força do art. 769, também da CLT, podendo ser declaradas de ofício pelo juiz a qualquer tempo, antes que se opere a aludida eficácia preclusiva da coisa julgada (CPC, art. 474).

A tônica geral, quanto às nulidades relativas, é a da instrumentalidade das formas processuais, da qual decorre a ideia central de que as formas têm apenas importância relativa nesta seara.

O primeiro preceito, inscrito no art. 794 da CLT, é o denominado do pre-juízo, pelo qual não há nulidade sem que desta resulte manifesto prejuízo às partes. Se não há prejuízo, não há nulidade, ainda que não se tenha obser-vado a forma prescrita para o ato processual.

O segundo princípio pode ser apelidado de da provocação, uma vez que a declaração das nulidades relativas, de acordo com a melhor interpretação do art. 795 da CLT, está sujeita à provocação da parte prejudicada39, que deverá fazê-lo na primeira oportunidade que houver para ela falar nos autos.

A incompetência em razão do lugar, no processo do trabalho, poderia ser declarada de ofício, não obstante seu caráter relativo. Daí por que a norma do art. 795, § 1º, da CLT ser interpretada em consonância com a capacidade postulatória que se outorga às partes (CLT art. 791). Entretanto, a doutrina majoritária interpreta a incompetência de foro a que se refere o primeiro dispositivo consolidado antes mencionado como uma referência à incompe-tência de razão da matéria, que é de natureza absoluta.

O terceiro preceito pode ser identificado no art. 796, a, da CLT, podendo ser dito da convalidação ou do aproveitamento. Não se declarará a nulidade se for possível suprir a falta do ato ou repeti-lo.

O quarto princípio é o que veda prevalecer-se a parte da própria torpeza, impedindo o art. 796, b, da CLT que venha a arguir a nulidade aquele que houver dado causa a ela.

O quinto pode ser chamado da extensão, sabendo-se que o art. 797 da CLT determina que o juiz que vier a pronunciar a nulidade especifique na sua decisão os atos aos quais ela se estende ou, em outras palavras, aqueles que se viram contaminados por ela.

O sexto e derradeiro dos princípios encerrados na CLT quanto às nuli-dades está em seu art. 798. Pode ser denominado da dependência lógica, pelo

39 A parte que deu causa à nulidade não pode argui-la, porque isto equivaleria a prevalecer-se de sua própria torpeza (CLT, art. 796, b).

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qual as nulidades só prejudicam os atos os quais dependam do ato viciado ou aqueles que sejam consequência dele.

12.6. Fase postulatória

12.6.1. Petição inicialO art. 840 da CLT admite duas formas de reclamação: (a) escrita, ou (b)

verbal. Esta última, apesar de menos frequente na prática, mostra-se mais avançada e de acordo com o pensamento científico mais atual, na medida em que proporciona o acesso mais direto do trabalhador à Justiça, de forma simples e imediata. O trabalhador comparece à sede da Vara do Trabalho ou Juízo de Direito com jurisdição trabalhista de sua comarca e manifesta sua reclamação, que é reduzida a termo, em duas vias datadas e assinadas pelo secretário ou escrivão (CLT, art. 840, § 2º).

A reclamação escrita segue também modelo mais simples, uma vez que precisa conter apenas a designação do juiz à qual é dirigida, a qualificação do reclamante e do reclamado, uma breve exposição dos fatos de que resul-te o dissídio, o pedido, a data e assinatura do reclamante ou de seu repre-sentante (CLT, art. 840, § 1º).

A identificação das partes na peça vestibular da reclamação é essencial, uma vez que constituirão no futuro os limites subjetivos da coisa julgada. Não raro, o trabalhador não conhece o nome completo de seu empregador (pessoa física) ou a correta razão social (pessoa jurídica) da empresa em que trabalha. Se a indicação contida na petição inicial permitir que se identifique bem o reclamado e seu endereço, sem qualquer dúvida, a reclamação pode-rá ter seguimento normal.

Em regra, não é necessária a exposição dos fundamentos jurídicos, porquanto vigora o preceito que se extrai da máxima narra mihi factum dabo tibi ius. Cabe ao reclamante narrar os fatos, devendo o juiz, que conhece o Direito, deduzir-lhes a qualificação jurídica. Se o reclamante, entretanto, opta por acrescentar àquela narrativa fática juízos de valor ou determina-das interpretações que faça da lei, de princípios ou da jurisprudência, de-verá aí expor suficientemente os fundamentos jurídicos de sua petição inicial, hipótese que atrai a aplicação subsidiária do disposto nos arts. 282 a 284 do CPC.

O pedido normalmente se faz pela indicação da denominação jurídica do título ou bem da vida almejado. Assim, pede-se, por exemplo, “aviso prévio”, que significa a condenação do reclamado a indenizar tal título, ou

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“anotação da CTPS”, que quer dizer declaração da existência da relação de emprego com a condenação do reclamado a promover as devidas anotações na CTPS do trabalhador. A praxe do foro trabalhista, em geral, aceita a prá-tica, desde que logicamente não ofereça dúvidas quanto ao títulos efetiva-mente postulados.

Tendo a Lei n. 9.957, de 12 de janeiro de 2000, instituído o rito sumarís-simo no processo do trabalho, por critério de valor da causa, isto é, sujeitan-do-se a ele aquelas que não excedam a quarenta vezes o salário mínimo vi-gente na data do ajuizamento da reclamação (CLT, art. 852-A), as petições iniciais escritas devem conter também designadamente o valor atribuído à causa, ou mesmo, segundo entendem alguns, a completa liquidação do pe-dido, item por item, por sua expressão monetária, de modo a permitir que se verifique a correta adequação ao rito processual.

Bem e melhor ponderado o problema, à luz da experiência já acumulada na aplicação do rito sumaríssimo; sabendo-se que a imposição de uma liqui-dação minuciosa do pedido, com a quantificação precisa de cada um de seus itens dificultaria bastante o acesso à Justiça (CF, art. 5º, XXXV) e praticamen-te inviabilizaria a reclamação verbal, uma vez que os juízos nem sempre contam com pessoal habilitado para elaborar os referidos cálculos com a rapidez que seria desejável para o bom andamento da reclamação, deve prevalecer o entendimento de que a designação do rito a ser seguido, se sumário comum ou sumaríssimo, se faz pelo valor final atribuído à causa na petição inicial.

Acrescem-se aos argumentos acima aquele de que é o reclamante o maior interessado no rápido andamento de sua reclamação e, se tem à disposição um rito mais expedito, o sumaríssimo, e prefere dar à causa um valor mais alto que fuja a ele, é porque opta pelo rito sumário comum. Os juízes que defendem que os ritos têm natureza de ordem pública e, portanto, não estão sujeitos à aludida escolha pelo reclamante, não têm alternativa que não de-terminar a minuciosa liquidação do pedido por este último.

Se a petição inicial, seja do rito sumário comum ou do sumaríssimo, não atender aos requisitos do art. 840, § 1º, da CLT, ou, conforme o caso, àqueles outros dos arts. 282 e 283, do CPC, a Súmula 263 do TST prevê que o juiz deve determinar a intimação do reclamante para que emende aque-la petição, em 10 dias, sob pena de indeferimento (CPC, art. 284). Se o re-clamante não atender à ordem do juiz ou o fizer de modo incompleto, a petição inicial será indeferida (CPC, art. 284, parágrafo único).

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Configura-se a inépcia da petição inicial em qualquer das hipóteses do art. 295, parágrafo único, do CPC. Nesse caso, o juiz também deve determi-nar a sua emenda ou substituição, para correção da deficiência, igualmente sob pena de indeferimento (CPC, art. 295, I).

Indeferida a inicial, o processo será julgado extinto sem exame de méri-to (CPC, art. 267, I).

Estando em termos a petição inicial, a secretaria, em 48 horas, remeterá a segunda via dela ao reclamado, notificando-o, com efeitos de citação, para comparecer à audiência, que deverá ocorrer na primeira data desimpedida, no mínimo 5 dias após as aludidas 48 horas (CLT, art. 841).

Se o reclamado criar embaraços ao recebimento da notificação postal ou se não for encontrado no endereço indicado na petição inicial, a citação po-derá ser feita por edital, publicado no jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou ainda, na sua falta, afixado na sede do juízo (CLT, art. 841, § 1º).

O reclamante será notificado da data da audiência no momento da pro-positura da reclamação ou por via postal (CLT, art. 841, § 2º).

Feita a citação, é defeso ao reclamante apresentar aditamento à petição inicial (CPC, art. 294). O aditamento difere da emenda, porque esta limita-se a consertar defeito da petição inicial e aquele acresce título, valor ou pedido não constante originariamente da mesma peça de ingresso.

Igualmente, feita a citação, não pode o reclamante modificar qualitativa ou quantitativamente o pedido ou a causa de pedir sem a concordância do reclamado (CPC, art. 264).

12.6.2. Distribuição, notificação do reclamado e abertura da audiênciaDistribuída a reclamação (CLT, arts. 783 e 786), a Secretaria da Vara pro-

cederá à notificação do reclamado para a audiência (CLT, art. 841, § 1º). A audiência deverá ter lugar na sede do Juízo, em dias úteis previamente fixa-dos, entre 8 e 18 horas, não podendo ultrapassar, em sua duração, 5 horas seguidas, salvo se houver matéria urgente (CLT, art. 813).

A audiência exige a presença do reclamante e do reclamado (CLT, art. 843), ao menos até que sejam interrogados (CLT, art. 848, § 1º). Nas recla-mações plúrimas (CLT, art. 842) ou nas ações de cumprimento (CLT, art. 872, parágrafo único) os empregados poderão fazer-se representar pelo sindicato de sua categoria (CLT, art. 843, parte final).

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O empregador pode fazer-se representar por gerente ou outro preposto que tenha conhecimento dos fatos e cujas declarações o obrigarão (CLT, art. 843, § 1º).

Os problemas e as diversas formas de representação do empregado e do empregador são examinados no item 12.1, acima.

12.6.3. Arquivamento ou reveliaA ausência injustificada do empregado à audiência dá lugar ao arquiva-

mento da reclamação (CLT, art. 844). A justificativa da ausência, logicamen-te, deve ser provada (CPC, arts. 183, § 1º, e 453, II) e apresentada antes que se profira a decisão de arquivamento ou julgamento à revelia. Se a audiência houver sido adiada, já apresentada a contestação, a ausência do reclamante à sessão de audiência em prosseguimento não dá lugar ao arquivamento (Súmula 9 do TST).

O emprego pela CLT do vocábulo arquivamento é reminiscência da chamada fase administrativista do processo do trabalho, quando a Justiça do Trabalho, sob a Constituição de 1937, integrava o Poder Executivo. Sua natureza jurídica pode ser comparada àquela de uma sentença de extinção sem resolução do mérito (CPC, art. 267), sabendo-se que ele não impede a propositura de nova reclamação, salvo a discutível hipótese de perempção (CLT, art. 732).

Conquanto o art. 732 da CLT comine a pena de interdição do direito de reclamar por seis meses ao empregado que deixar arquivar por duas vezes seguidas a mesma reclamação, o que permitiria dizer que faltaria, caso intentada uma terceira reclamação, pressuposto processual de cons-tituição e desenvolvimento válido do processo (CPC, art. 267, IV), tal pena esbarraria no princípio constitucional de acesso à Justiça (CF, art. 5º, XXXV), o qual não comporta restrições da espécie da presente.

A audiência pode, por diversos motivos, desde que julgados relevantes

pelo juiz (CLT, art. 844, parágrafo único), ser fracionada, designando-se nova

sessão para que prossiga. Se as partes ainda não houverem sido interrogadas

na oportunidade do adiamento, serão intimadas para serem ouvidas na

sessão em prosseguimento, sob pena de confissão. Nesta última hipótese,

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caso faltem sem justo motivo à nova sessão de audiência, será aplicada a elas

a cominação de confissão (Súmula 74, I, do TST).

A ausência do reclamado à audiência tem como consequência a revelia, com a cominação de confissão quanto à matéria de fato (CLT, art. 844). O reclamado sendo o empregador, deverá comparecer pessoalmente ou por preposto (Súmula 377 do TST). Não o fazendo, torna-se revel, ainda que seu advogado compareça (Súmula 122, primeira parte, do TST), uma vez que, no processo do trabalho, a revelia decorre da ausência da parte e não apenas da falta de apresentação de defesa.

Os atrasos também não são tolerados, como fica claro da leitura da Orien-tação Jurisprudencial 245, da SDI-I, do TST. A norma do art. 815, parágrafo único, da CLT, significa tolerância tão somente aos atrasos do juiz e não das partes e, ainda assim, os advogados para retirarem-se deverão aguardar não os 15 minutos lá referidos, mas os 30 a que alude o art. 7º, XX, da Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994.

Em caso de impossibilidade de comparecimento do reclamado por motivo de doença, o atestado médico comprobatório dela deverá mencio-nar especificamente a incapacidade de locomoção do mesmo reclamado, de acordo com a Súmula 122 do TST.

Configurada a revelia e cominada a confissão quanto à matéria de fato, não está dispensado o juiz de examinar a prova previamente constituída nos autos, a qual pode levar até mesmo à improcedência do pedido, com a com-pleta elisão da confissão ficta. Deve o juiz, entretanto, indeferir as provas que venham a ser requeridas após caracterizada a revelia, não constituindo cer-ceio de defesa essa sua decisão (Súmula 74, II, do TST).

12.7. Primeira fase conciliatóriaPresentes as partes, o juiz declara aberta a audiência, formulando pro-

posta conciliatória (CLT, arts. 846 e 764, § 1º). A fase conciliatória não se confunde com a do juízo arbitral que lhe seguirá, se ela não for bem sucedi-da. A fase conciliatória é estritamente oral e não se faz registro em assentada de audiência daquilo que é dito nela. As partes estão com o espírito desar-

mado e, para que se possa ter êxito na solução amigável do litígio, é preciso que não temam que tudo aquilo que digam possa ser considerado posterior-

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mente pelo juiz em desfavor delas. Assim, ainda que uma das partes confes-se na fase conciliatória, dessa confissão não se fará registro e será defeso ao juiz formar seu convencimento com base nela.

Na mesma linha, não cabe registrar em assentada de audiência os valores das propostas de acordo de cada uma das partes, para que possam servir como medida futura do quanto pudessem ter ou não razão naquela sua postulação. Constitui grave desserviço aos propósitos conciliatórios da Jus-tiça do Trabalho que o juiz assim proceda, pois é intuitivo que o autor ten-derá a superestimar as suas pretensões e o réu a minimizá-las, tornando sumamente difícil alcançar o objetivo da composição amigável.

Logrando-se a conciliação, é redigido o termo de acordo com as condições deste (CLT, art. 846, § 1º), entre as quais poderá constar aquela de satisfazer a parte inadimplente integralmente o pedido, limite que legalmente se esta-belece para a cláusula penal no acordo trabalhista, isto é, o equivalente à expressão econômica do pedido na petição inicial (CLT, art. 846, § 2º).

O acordo devidamente homologado pelo juiz tem força de decisão irre-corrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que em razão do mesmo acordo lhe forem devidas (CLT, art. 831, parágrafo único).

A falta da primeira proposta conciliatória, segundo a melhor doutrina, não constitui nulidade. As partes podem celebrar acordo a qualquer tempo, mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório (CLT, art. 764, § 3º). Se a instrução prosseguiu, logicamente, é porque não havia interesse das partes em celebrá-la, uma vez que, do contrário, é claro que uma delas ou ambas se teriam apressado em apresentar propostas de conciliação.

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AnotAções

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12.8. Resposta do reclamado: exceções; contestação e reconvençãoA CLT não distinguiu as espécies de defesa, como fez o art. 297 do CPC

(contestação, exceção e reconvenção). No processo do trabalho, a rigor, ela é oral e deve ser apresentada em 20 minutos (CLT, art. 847). Se o réu opta por apresentar defesa escrita, pode fazê-lo em peça única, sem necessidade de separá-la em cada uma das espécies do processo civil. Tem-se em mira a natureza de cada argumento, o qual não precisa nem mesmo receber do réu que postule em causa própria a denominação legal típica, uma vez que cabe ao juiz, debaixo da sua condução inquisitorial do processo, deduzir aquela sua natureza e dar processamento de acordo com a hipótese legal adequada.

Se o réu argúi a incompetência em razão do lugar, tal arguição é chamada exceção de incompetência. Configurada no art. 297 do CPC, como uma das espécies de resposta do réu, a exceção de incompetência, no processo civil, deve ser apresentada em petição apartada específica (CPC, arts. 299 e 307). No processo do trabalho, como não há norma legal no mesmo sentido e sa-bendo-se que a defesa, em regra, deveria ser oral (CLT, art. 847), nada impede que seja apresentada como um tópico de uma peça única de defesa.

A leitura do art. 799 da CLT leva à conclusão de que, apresentada a ex-ceção, suspende-se o feito, pelo que decidida ela, há de se reconhecer ao réu excipiente o direito de completar sua defesa perante o juiz ou juízo compe-tente.

O réu que argúi a exceção é chamado excipiente e o autor em face de quem ela é arguida, é denominado exceto. Uma vez arguida, tem por efeito determinar a suspensão do processo para o seu processamento (CLT, art. 799), abrindo-se vista dos autos ao exceto por 24 horas improrrogáveis, de-vendo a decisão ser proferida na primeira audiência ou sessão que se seguir (CLT, art. 800). O mesmo se diga quanto à exceção de suspeição (também arguição de impedimento).

Tendo em vista a capacidade postulatória das partes (CLT, art. 791), as quais necessariamente não detêm conhecimentos jurídicos, a incompetência em razão do lugar, que no processo civil tem natureza relativa e, por isso, depende de provocação das partes, no processo do trabalho, ao contrário, à luz do disposto no art. 795, § 1º, da CLT, poderia ser conhecida de ofício40.

40 Assim percebia já antes Mozart Victor Russomano, Comentários à CLT, v. II, 15. ed., Rio de Janeiro, 1993, p. 877, reconhecendo, no entanto, a preponderância do entendimento de que só se possa conhecer de ofício da incompetência absoluta (em razão da pessoa ou da matéria, por exemplo).

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A decisão que acolhe exceção de incompetência territorial, com remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, de acordo com o art. 799, § 2º, da CLT, na interpretação dada pela Súmula 214 do TST, é passível de recurso ordinário.

A CLT não distingue suspeição de impedimento entre os motivos que alinha em seu art. 801. Chama a todos de suspeição, como era usual entre nós até o advento do CPC. As causas de impedimento e suspeição alinhadas nos arts. 134 e 135 deste último acham-se assimiladas na praxe do foro tra-balhista e são nele aplicadas, arguidas uma ou outra das figuras por exceção (CPC, art. 304).

Não parece correto aplicar-se à decisão da exceção de suspeição no processo do trabalho o disposto no art. 313, parte final, do CPC. Os inci-dentes do processo do trabalho são resolvidos pelo próprio juiz, admitindo-se a apreciação do merecimento dessas decisões unicamente em recurso da decisão definitiva (CLT, art. 893, § 1º). Rejeitada que seja a exceção de sus-peição pelo juiz do trabalho, o processo prosseguirá em seus trâmites normais até decisão final (sentença), após a qual poderá a parte que se sentir prejudicada com a rejeição da exceção de suspeição, se assim enten-der, renovar o argumento como preliminar de recurso ordinário ao Tribunal Regional.

É importante não descuidar também que a exceção preclui se a parte já houver praticado algum ato pelo qual consinta na pessoa do juiz, ou se, já a conhecendo antes, não a tenha alegado naquela oportunidade primeira, ou ainda se, de propósito, procurou ocasionar o motivo da suspeição (CLT, art. 801, parágrafo único).

Contestação é o ato pelo qual o réu contrapõe-se ao pedido do autor, seja no plano processual ou naquele outro material. Por ela, o réu levanta suas defesas de ordem processual, preliminares (CPC, art. 301) ou prejudiciais (pres-crição bienal extintiva, por exemplo), ou suas defesas de mérito, com a negação dos fatos afirmados pelo autor ou a oposição de outros extintivos ou modifica-tivos deles; com a apresentação de exceções de direito material que privam de eficácia a pretensão do autor (pagamento ou prescrição quinquenal, por exem-plo). O réu tem o ônus de manifestar-se especificamente sobre os fatos afirma-dos na inicial, sob pena de vê-los presumidos verdadeiros e com exceção apenas daquelas hipóteses relacionadas nos incisos do art. 302 do CPC.

Toda a matéria de defesa deve ser deduzida pelo réu, de forma concen-trada, nessa única oportunidade, não se admitindo novas alegações poste-riormente, salvo aquelas dos incisos do art. 303 do CPC, bem como aquelas que o juiz, sob sua direção inquisitorial do processo (CLT, art. 765), entender

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por conhecer. Se o fundamento da inquisitorialidade é a equidade, pode o juiz, mesmo após preclusa a oportunidade processual própria e desde que ainda se esteja na fase de conhecimento, conhecer de novos argumentos ou provas trazidos tardiamente pelas partes, se com isso se alcançar solução mais justa para o litígio.

Se o réu, por exemplo, após apresentar sua defesa, localiza perdido em uma gaveta de seu escritório o recibo de pagamento de todos os títulos re-clamados pelo autor, ainda não tendo sido proferida sentença, é justo que o juiz, conferindo oportunidade à parte contrária de sobre ele se pronunciar, admita a vinda desse documento aos autos, de modo a propiciar composição mais justa, equitativa, para a demanda.

A reconvenção, que é uma ação do réu em face do autor, em princípio, sofria resistência da doutrina e da jurisprudência trabalhistas para admiti-la. Os ritos sumários, como os trabalhistas, historicamente se mostram infensos às exceções dilatórias e, por isso, com muito mais razão, à recon-venção. Todavia, terminou prevalecendo a corrente que a aceita, restrita à matéria de competência da Justiça do Trabalho (CF, art. 114) e desde que haja compatibilidade de ritos processuais, ou opte o réu reconvinte, que seria por acaso beneficiado por outro mais célere, por seguir aquele comum trabalhista.

Apresentada a reconvenção, o juiz deverá suspender a audiência, com prazo mínimo de 5 dias (CLT, art. 841, parte final), para que o autor recon-vindo apresente sua defesa a essa reconvenção, sob pena de revelia e confis-são quanto à matéria de fato.

A ação (reclamação) e a reconvenção serão instruídas e julgadas em oportunidade única, nos autos do mesmo processo (CPC, art. 318).

12.9. Fase instrutória: provasProva, para os efeitos do processo, é demonstração de fato ou direito, a

qual pode fazer-se por todos os meios em direito admitidos, sem que haja hierarquia entre eles (princípio da liberdade das provas), desde que sejam lícitos (vedação de provas ilícitas – CF, art. 5º, LVI) e moralmente legítimos (CPC, art. 332).

É importante não descuidar, quanto à busca da verdade no processo, também das limitações que resultam dos incisos X, XI e XII do art. 5º da Constituição.

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Objeto de prova são os fatos ou direitos controversos ou cujo ônus de provar, não obstante a falta de controvérsia, a lei imponha a uma ou a ambas as partes. Não dependem de prova os fatos notórios (CPC, art. 334, I), nem aqueles em cujo favor milita presunção legal de existência ou veracidade (CPC, art. 334, IV).

Os fatos afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária (CPC, art. 334, II) ou aqueles outros admitidos no processo como incontro-versos (CPC, art. 334, III) são presumidos verdadeiros, desde que não se contraponham à razão ou à ciência. A afirmação do autor, não contestada pelo réu, de que é proprietário de um terreno na Lua, não faz logicamente presumir verdadeiro esse fato, nem atribui automaticamente esse direito ao mesmo autor.

À falta de normas jurídicas particulares a regerem a prova dos fatos, o juiz deve nortear-se pelas regras subministradas pela experiência da vida em sociedade, de acordo com a observação daquilo que ordinariamente acontece ou ainda da experiência técnica, ressalvada, no caso desta última, a prova pericial (CPC, art. 335).

O direito, em regra, se presume conhecido (iura novit curia), cabendo ao juiz, com a condução inquisitorial do processo que detém (CLT, art. 765), velar para que nenhuma das partes seja prejudicada pela falta de conheci-mento dos preceitos jurídicos. O advogado se presume tecnicamente habili-tado e, portanto, estando ele a assistir uma das partes, mitiga-se essa função do juiz antes destacada.

Pode ser objeto de prova quanto ao seu teor e à sua vigência, contudo, o direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, se o juiz assim o determinar à parte que o invocar (CPC, art. 337). O ônus da prova da exis-tência, do teor e da vigência das normas coletivas é da parte que as invocar (CLT, arts. 872, parágrafo único, e 614, caput e § 1º). O regulamento de em-presa e outras normas internas desta podem ser provados por documentos ou por outros meios em direito admitidos (testemunhas ou perícia, por exemplo).

A prova não é um dever, mas sim um ônus da parte. A distribuição desses ônus, no processo do trabalho, é feita pelo art. 818 da CLT. Não se confundem as posições processuais das partes (autor e réu) com a distri-buição dos ônus da prova. Ao autor cabe o ônus da prova dos elementos que constituem a causa de pedir do seu direito, dos fatos que tornariam apta a sua pretensão a lograr sentença favorável, ao passo que ao réu toca o ônus da prova das exceções, processuais ou de mérito, que opõe ao di-

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reito do autor, ressalvada a matéria de ordem pública, da qual o juiz co-nhece de ofício.

Não fosse assim, milita também no processo do trabalho a distribuição equitativa dos ônus probatórios das partes, considerando a maior aptidão que uma delas detenha para determinada prova (a chamada carga dinâmica da prova do processo coletivo civil – CDC, art. 6º, VIII), ou a regra in dubio pro misero, que é derivada do princípio da proteção. Instaurando-se objeti-vamente a dúvida de difícil solução no processo quanto à prova dos fatos, comanda essa última regra, que o juiz deva decidir em favor do trabalhador, que é, em geral, a parte mais fraca no processo do trabalho.

Quanto às espécies de provas, o interrogatório das partes é mencionado no art. 848 da CLT, podendo ocorrer de ofício ou a requerimento tanto de uma parte como da outra, sempre com a finalidade de obterem-se esclareci-mentos úteis à solução do litígio. Antes de meio de prova, o interrogatório é meio de defesa, pelo qual uma parte tem a oportunidade de expor a sua versão dos fatos e a outra o direito de interrogá-la quanto a eles, chamando a atenção para as inverdades, incorreções ou mesmo a confissão em que eventualmente incorra.

É usual que o interrogatório das partes se faça, à maneira do processo civil, sem que aquela que ainda não foi ouvida assista ao da outra. Todavia, não havendo regra específica quanto a isso no processo do trabalho e insi-nuando mesmo o reconhecimento da capacidade postulatória das partes (CLT, art. 791) que essa não poderia ser a regra nesta seara, não haverá nu-lidade se o juiz interrogar ambas as partes uma em presença da outra, ou mesmo se o fizer de forma cruzada, pedindo logo em seguida esclarecimen-tos a uma parte sobre cada uma das afirmações da outra.

A CLT trata, em seus arts. 819 a 825, 828 e 829, da prova testemunhal e sua produção. O problema mais delicado nesse ponto costuma ser a oitiva de depoimentos de testemunha que mantém ação em face do réu, ou que detém cargos de gestão e mando na empresa. No primeiro caso, o da teste-munha que mantém ação ainda não julgada em face do mesmo réu, a Súmu-la 357 do TST conclui pela inexistência de suspeição.

Não obstante, havendo identidade ou similaridade de objetos entre a ação da testemunha e aquela outra em instrução, parece evidente que pode haver um interesse comum da testemunha e da parte autora em fazer pre-valecer determinada versão dos fatos, sobretudo se uma indica a outra como sua testemunha, em testemunhos trocados mutuamente contra um mesmo réu. Depõe contra a moralidade e, por isso, não pode ser aceito (CPC, art. 332), o compromisso como testemunha de pessoa que mantém ação em face

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do mesmo réu, versando sobre fatos idênticos ou análogos àqueles sobre os quais também litiga com ele41.

Se for estritamente necessário e a parte interessada o requerer expressa-mente, poderá o juiz ouvir a testemunha impedida ou suspeita na condição de simples informante (CPC, art. 405, § 4º).

Os documentos devem vir com a petição inicial (CLT, art. 787) e, tratan-do-se de cópias, com observância do art. 830, também da CLT. Quando inti-mado o empregador a juntar aos autos aqueles documentos cuja confecção e guarda a lei lhe impõe, se ele, sem qualquer justificativa, deixar de fazê-lo, haverá presunção de veracidade dos fatos afirmados pela parte contrária que deveriam ser provados com esses documentos, como é o caso dos con-troles de horário e frequência (Súmula 338, I, do TST).

Só é documento, em regra, aquele manuscrito ou assinado pela parte contrária (CPC, art. 368), ou aquele que por costume não se assina (CPC, art. 371, III). Simples declarações assinadas por terceiros não provam os fatos que nelas se mencionam, mas apenas essas declarações que nelas se contêm, competindo ao interessado o ônus de provar esses mesmos fatos (CPC, art. 368, parágrafo único).

A prova pericial é realizada por um perito único, indicado pelo juiz, devendo este também fixar o prazo para apresentação do laudo. As partes podem indicar assistentes técnicos, os quais devem apresentar seus parece-res no mesmo prazo que o perito, sob pena de que sejam desentranhados dos autos (Lei n. 5.584/70, art. 3º, caput e parágrafo único, e CLT, art. 826).

A inspeção judicial está prevista nos arts. 440 a 443 do CPC, e pode ser aplicada subsidiariamente ao processo do trabalho, com a qual é compatível (CLT, art. 769) em razão da primazia da verdade real e do ideal de aproxi-mação do juiz em relação aos fatos que se provam no processo, para propiciar uma decisão o quanto mais possível fiel à realidade.

41 A 2ª Turma do STF, ao julgar o RE n. 220.329-1-MT, em 28 de novembro de 2000, tendo como relator o eminente Min. Marco Aurélio Mello, proferiu acórdão com a seguinte ementa, publicada no DJ de 20-4-2001, p. 139: “Prova testemunhal – Suspeição – Testemunhas em litígio com a parte considerado o objeto do processo. As testemunhas arroladas pelos autores que demandam contra o réu, considerado o objeto do processo, têm interesse no desfecho desta última, devendo serem tidas como suspeitas.

Prova testemunhal – Arcabouço. Inexiste vício a revelar transgressão ao devido processo quando a sentença condenatória lastreia-se em depoimento de testemunha do próprio réu muito embora fa-zendo alusão, também, aos depoimentos de testemunhas que demandam, considerado o mesmo objeto do processo”.

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O juiz pode indeferir as provas meramente protelatórias ou que caracte-rizem inútil superfetação em relação a outras já produzidas; pode também determinar as provas que entender necessárias à elucidação da verdade, tudo dentro da livre direção do processo que detém (CLT, art. 765). A prova teste-munhal pode ser indeferida nos moldes dos incisos I e II do art. 400 do CPC.

12.10. Razões finaisCom a produção de todas as provas requeridas e/ou determinadas de

ofício pelo juiz, encerra-se a fase probatória, após a qual as partes podem aduzir razões finais orais, pelo prazo de 10 minutos para cada uma delas (CLT, art. 850).

Não obstante a previsão legal de que sejam orais, a praxe forense tem admitido a apresentação de razões finais em memoriais escritos, com o de-ferimento de prazo às partes para tanto, desde que observada sempre a regra do contraditório, que impõe que fale primeiro o autor e por último o réu.

As razões finais destinam-se à arguição das nulidades posteriores à de-fesa, bem como a uma análise pelas partes das provas e demais elementos da causa, firmando cada uma delas então o seu derradeiro pleito ao juiz para solução do litígio. Não é necessário que as partes reafirmem seus argumen-tos, mas, de acordo com os fatos passados na instrução, elas podem reforçá-los com sua análise desses fatos, ou retirá-los em parte ou totalmente, quando os entenderem desde já vencidos.

Não podem as partes nessa fase, em regra, alterar o pedido, nem a defesa, de acordo com o art. 264, parágrafo único, do CPC. Todavia, para prestígio da economia processual e da simplicidade e instrumentalidade das formas, se houver convenção mútua e sem prejuízo das provas até então produzidas, não se vê impedimento para que o façam, hipótese em que a marcha processual deverá retroceder até a fase que a alteração reclame, respondendo as mesmas partes pelo atraso que isso causar na solução do litígio.

A desistência da ação só pode ocorrer com a concordância do réu (CPC, art. 267, § 4º), o qual deve necessariamente fundamentar a sua discordância, sob pena de que se entenda que incorreu em abuso de direito.

A renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação, como ato unilateral e incondicional que é, não depende do consentimento do réu, mas deve ser rati-ficada pelo autor de viva voz perante o juiz, de modo a evitarem-se constran-gimentos ou outros ilícitos que eventualmente podem levar o autor a tanto.

Também não podem as partes, salvo convenção mútua, juntar documen-tos ou acrescentar outras provas ao processo após encerrada a fase instrutó-

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ria. Sempre que admitida essa possibilidade, o que deve necessariamente ocorrer por decisão excepcional do juiz, a parte contrária àquela que produ-ziu a prova deve ter a mais ampla oportunidade de sobre ela se pronunciar e, se necessário, produzir outra prova em contrário a ela.

Tendo em vista a sua natureza facultativa, não gera nulidade a falta es-pontânea de oferecimento de razões finais por uma ou ambas as partes. Pode acarretá-la apenas o indeferimento pelo juiz da oportunidade legalmente assegurada às partes para esse efeito.

12.11. Segunda fase conciliatóriaOferecidas ou não as razões finais, antecede obrigatoriamente a pro-

lação da sentença ou o juízo arbitral a que alude o art. 764, § 2º, da CLT uma segunda fase conciliatória (CLT, art. 850), dentro da qual as partes, novamente de espíritos desarmados e tendo agora condições de avaliar as suas chances reais de vitória ou derrota com o processo devidamente instruído, são instadas pelo juiz a encontrarem uma solução amigável para o litígio.

A falta da menção em assentada de audiência à segunda proposta con-ciliatória pode acarretar nulidade absoluta, segundo determinada corrente de pensamento, uma vez que, sem ela, não se abriria a via arbitral para de-cisão do litígio pelo juiz com sua sentença (CLT, art. 764, § 2º). Todavia, é necessário refletir se o simples silêncio das partes sobre esse ponto e a falta da sua provocação em embargos de declaração já não seriam bastantes para rejeitar o argumento em eventual recurso ordinário da sentença, sabendo-se que, se as partes assim houverem permanecido, é porque efetivamente não terão tido interesse em conciliar-se.

Não obstante a instrução possa permitir antever o sucesso ou o insuces-so das partes em determinados pontos do litígio, a conciliação, com transação ou mesmo com renúncia, pode alcançar pontos de provável vitória ou impor o pagamento de título em que a derrota do autor pudesse parecer não menos evidente. Se a sentença é a fase processual de acertamento do direito das partes, não há como estabelecer uma espécie de estágio pré-sentencial de aferição dos direitos de cada uma das partes para efeito de crítica do acerto ou desacerto da conciliação. Esta há de obedecer, em regra, à vontade livre das partes, manifestada após os devidos esclarecimentos perante o juiz e pode atender a outras urgências ou circunstâncias que não aquelas expres-samente reveladas pelas partes nos autos.

Celebrada a conciliação, procede-se na forma do art. 831, parágrafo úni-co, da CLT. Não se logrando alcançá-la, o juiz proferirá a sentença no ato

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(CLT, art. 850, parágrafo único) ou designará data para tanto, contando-se o prazo para recurso a partir dela (Súmula 197 do TST).

Considerando que o juiz tem o prazo de 10 dias para elaboração da sen-tença, podendo esse prazo ser alargado por igual número de dias (CPC, art. 187), se ele não marcar data para a leitura de sentença em audiência ou se nas 48 horas subsequentes à data marcada não juntar aos autos a assentada de audiência contendo a sentença (CLT, art. 851, § 2º), o prazo para recurso dela somente será contado do dia que a parte receber a intimação da mesma sentença (Súmula 30 do TST).

12.12. Tutela de urgênciaA Constituição garante, em seu art. 5º, XXXV, o acesso à Justiça, e, no

inciso LXXVIII do mesmo artigo, a duração razoável do processo e a celeri-dade na sua tramitação, a qual deve ocorrer sob o império da legalidade e de acordo com as normas processuais previamente estabelecidas para tanto (incisos II e LIV, também do dito artigo constitucional).

Ocorre, contudo, que essa mesma ordem jurídica não deixa de constatar que há situações de emergência, de verdadeiro conflito entre o imperativo de satisfação de determinados direitos de elevada hierarquia constitucional e a satisfação daqueles preceitos acima destacados, não menos constitucionais, os quais podem bem resumir-se na garantia do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV).

Essa constatação impõe, por conseguinte, que a ordem jurídica encontre ela mesma, antes de mais nada, parâmetros para a solução desse conflito, dessa tensão que se estabelece entre o imperativo inadiável de satisfação de determinados direitos e a preservação das garantias que se resumem no devido processo legal. Para que este não reste arranhado, há de o próprio direito processual ocupar-se dessas situações de emergência, prevendo tam-bém para elas parâmetros, normas para a sua tutela.

Sabendo-se ainda que é logicamente impossível prever com antecipação quais são as diversas ordens de emergências que podem sobrevir e quais são os direitos e interesses porventura postos em perigo com elas, não pode a lei estabelecer aí mais do que parâmetros e requisitos de ordem geral. A tenta-tiva do legislador de nomear, classificar e estabelecer procedimentos para as diversas espécies de situações que podem ocorrer é evidentemente vã e, no mais das vezes, serve mais para impor entraves à efetividade da tutela juris-dicional de urgência do que para facilitá-la. Assumindo-se o risco de ouvir as críticas dos que se escoram em classificações rígidas e formalismos con-

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ceituais, em substância, a tutela de urgência bem pode resumir-se no poder geral de cautela do juiz, na forma do art. 798 do CPC.

Essa constatação decorre daquela outra de que não há diferença subs-tancial entre as diversas formas de tutela de urgência; há entre elas unica-mente diferenças formais ou de efeitos, mas não diferenças que neguem a filiação de todas as suas espécies a um tronco comum, que é o dos inter-ditos do pretor romano. Podem distinguir-se tutela cautelar e tutela ante-cipatória, atribuindo-se à primeira as funções de segurança e garantia da efetividade futura dos julgados e à segunda aquela outra de antecipação de parte dos efeitos desses julgados. Todavia, tornar efetivos no futuro ou antecipar parte dos efeitos dos julgados, em última análise, não deixam de ser gradações do poder de velar pelo respeito e à obediência ao proces-so como forma exclusiva de tutela estatal, vedada que é a autotutela de interesses.

Essa parcela do poder de império do Estado que se amalgama à jurisdi-ção, como que sob uma espécie de poder de polícia da efetividade dos jul-gados, é a expressão última de todas as formas de tutela de urgência, as quais serão mais ou menos satisfativas, ou mais ou menos antecipatórias dos efei-tos dos julgados na mesma proporção em que maiores ou menores forem os perigos e maiores ou menores forem as posições dos direitos em risco na hierarquia constitucional dos direitos. Quanto mais importante for o direito e maior for o perigo que correr, mais satisfativa será a tutela de urgência necessária para proteger-lhe a efetividade. O exemplo clássico é a pessoa que corre risco de morrer e pede ao juiz, por si ou por um representante legal, que autorize, liminarmente, a realização de determinado tratamento indis-pensável para salvar-lhe a vida e que o hospital em que está internado ou sua família por acaso se recusem a ministrar-lhe. Deferida a liminar, é claro que o direito estará satisfeito e toda a discussão futura que por acaso se es-tabelecer no processo já terá perdido a maior parte do seu sentido.

Tomado esse problema da emergência na tutela a alguns direitos em relação ao processo do trabalho, não é demais destacar que muito da cons-trução legislativa e doutrinária italiana que influenciou recentemente o le-gislador brasileiro na matéria tem raízes no processo do trabalho italiano, a partir da preocupação em tornar efetivo o mandamento do art. 4º da Cons-tituição daquele país, o qual determina que aquela República promova medidas para tornar efetivo o direito ao trabalho.

Partindo da ideia de que a demora na satisfação dos direitos dos traba-lhadores pelas vias processuais ordinárias representava, em último passo, verdadeira negação desses direitos, o cumprimento do mandamento cons-

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titucional envolveria, necessariamente, a concepção de mecanismos proces-suais que armassem esse direito de possibilidades de tornar-se efetivo e não se frustrar com essa demora do processo.

A compatibilidade das formas processuais de tutela de urgência com o direito processual do trabalho e os valores que o presidem, debaixo da gran-de preocupação com a celeridade na tutela dos direitos dos trabalhadores que tem por imperativo, torna inelutável a aplicação dessas espécies de tu-tela a esse ramo do processo.

A CLT, contudo, estribada na sumarização do rito processual que conce-beu para tutela nos dissídios individuais, praticamente silenciou sobre a tutela de urgência, desprezando a conjugação desses dois vetores que é imprescindível para a tutela processual dos direitos nos tempos atuais.

Se a sumarização dos ritos importa na abreviação destes, desde as suas formas canônicas do século XII, acreditando que com um estreitamento das fases nas quais se desenvolva o processo e a imposição de uma cognição mais direta e equitativa dos fatos pelo juiz possa alcançar a solução mais célere, a abreviação do aprofundamento dessa cognição pelo juiz, que é própria da sumarização da cognição, típica das tutelas de urgência, também não é menos necessária. Em verdade, é da conjugação de ambas as técnicas que têm sur-gido as soluções mais efetivas em favor da urgência na tutela dos direitos.

Assim, diante desse silêncio do legislador trabalhista, vem ocorrendo nos últimos 30 ou 40 anos um movimento tímido de reforma na CLT para nela inserir provimentos de urgência e ampla aplicação jurisprudencial, de cará-ter subsidiário ou supletivo, tanto do processo cautelar como, mais recente-mente, da antecipação de tutela nas formas em que os concebe o processo civil.

Medidas de natureza antecipatória inseridas pelo legislador na CLT, passíveis de serem deferidas até mesmo em caráter liminar, são aquelas do art. 659, IX, para tornar sem efeito transferência42, e X, para reintegrar no emprego dirigente sindical afastado, suspenso ou dispensado pelo empre-gador43. Aplicam-se também ao processo do trabalho as ações ou medidas

42 A Orientação Jurisprudencial 67, da SDI-II, do TST, assegura que não fere direito líquido e certo a concessão de liminar impeditiva de transferência de empregado com força no art. 659, IX, da CLT, o que afasta o cabimento de mandado de segurança em face de medida dessa natureza.43 A Orientação Jurisprudencial 65, da SDI-II, do TST, conclui que, ressalvada a hipótese do art. 494, da CLT, não fere direito líquido e certo a concessão de liminar de reintegração de empregado dirigen-te sindical com amparo no art. 659, X, da CLT, o que afasta o cabimento de mandado de segurança em face de medida dessa natureza.

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cautelares nominadas e inominadas44 previstas no Livro III, do Código de Processo Civil, especialmente o arresto (arts. 813 a 821), o sequestro (arts. 822 a 825), a busca e apreensão (arts. 839 a 843), a exibição (arts. 844 e 845), a produção antecipada de provas (arts. 846 a 851), a justificação (arts. 861 a 866), os protestos, notificações e interpelações (arts. 867 a 873), o atentado (arts. 879 a 881), as obras de conservação em coisa litigiosa ou judicialmente apreendida (art. 888, I) e a interdição ou demolição de prédio para resguardar a saúde ou a segurança nas relações de trabalho (art. 888, VIII, e CF, art. 114, I, na redação da Emenda n. 45).

Assim também aplica-se ao processo do trabalho o sistema de antecipa-ção de tutela dos arts. 273 e 461, §§ 3º, 4º, 5º e 6º, do CPC.

A Súmula 244, II, do TST acolhe a possibilidade de reintegração da em-pregada gestante injustamente despedida, o que, em outras palavras, suge-re que essa reintegração se dê em caráter antecipatório, considerando-se a probabilidade de o término do prazo da garantia de emprego do art. 10, II, b, do ADCT, ocorrer antes que se chegue a formar a coisa julgada no proces-so para permitir a execução definitiva.

A Súmula 414, I, do TST, conclui que a antecipação de tutela deferida na sentença não permite impugnação pela via do mandado de segurança, por poder sê-lo por recurso ordinário. O inciso II, da mesma Súmula, consagra o cabimento da dita ação mandamental se for deferida liminar ou antecipa-ção de tutela antes da sentença. A superveniência desta, como atesta o inciso III, também da referida Súmula, torna sem objeto o mandado de segurança que combatia a antecipação de tutela.

A Orientação Jurisprudencial 142, da SDI-II, do TST, conclui que não fere direito líquido e certo, a não ensejar mandado de segurança, o ato do juiz que antecipa a tutela jurisdicional, determinando a reintegração do empre-gado até a decisão final do processo, desde que demonstrada a razoabilida-de do direito subjetivo material, como nos casos de empregado anistiado pela Lei n. 8.878/94, aposentado, integrante de comissão de fábrica, dirigen-te sindical, portador de doença profissional, portador de vírus HIV ou de-tentor de estabilidade provisória prevista em norma coletiva.

44 A Orientação Jurisprudencial 63, da SDI-II, do TST, diz que “comporta a impetração de mandado de segurança o deferimento de reintegração no emprego em ação cautelar”. É importante, no en-tanto, ter em mente que essa Orientação foi publicada em época em que ainda não havia vindo a lume o § 7º do art. 273 do CPC, com redação da Lei n. 10.444, de 7 de maio de 2002, o qual instituiu legalmente a fungibilidade entre ações cautelares e medidas antecipatórias de tutela jurisdicional.

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A Orientação Jurisprudencial 66, da SDI-II, do TST, assenta que, nos tribunais, a competência para decidir o pedido de antecipação de tutela é do relator, devendo ele submeter sua decisão ao colegiado a que compita a apreciação definitiva da matéria na mesma corte na sessão imediatamente subsequente.

12.13. Sentença e coisa julgadaSentença, literalmente e nas origens do vocábulo, tem o seu significado

ligado a sentimento, parecer, forma de ver. Em definição clássica de Chio-venda, é “a provisão do juiz que, recebendo ou rejeitando a demanda do autor, afirma a existência ou a inexistência de uma vontade concreta de lei que lhe garanta um bem ou respectivamente a inexistência ou existência de uma vontade de lei que garanta um bem ao réu”45.

No processo do trabalho, os requisitos formais da sentença estão previs-tos no caput, do art. 832, da CLT, e a falta de cada um deles tem consequências diferentes. A sentença sem relatório é anulável, muito embora possa ser tida como válida se, apesar do vício, a descrição dos fatos do processo constar da fundamentação, suprindo com isso a deficiência do requisito legal.

A fundamentação é requisito essencial da sentença, por força do art. 93, IX, da Constituição. Sem ela, a sentença é nula. Concisão de estilo, não obs-tante, não significa nulidade. Se o juiz consegue, na expressão de uma única palavra, uma máxima latina, um princípio ou dispositivo legal sintetizar os fundamentos para o deferimento ou indeferimento do pedido do autor, nem por isso haverá nulidade.

A parte dispositiva da sentença é aquela que efetivamente resolve o lití-gio e faz lei entre as partes (coisa julgada, de acordo com o art. 469, do CPC). A sua falta acarreta a própria inexistência do ato sentencial, uma vez que, sem ela, nada se decidiu efetivamente. A correção da deficiência, por sua natureza, só pode ocorrer por simples petição dirigida ao juiz para tanto, não cabendo embargos de declaração, ou, muito menos, recurso ordinário com o suposto fito de anular a imaginada sentença.

O prazo para cumprimento a que alude o art. 832, § 1º, da CLT, como requisito das sentenças, logicamente, diz respeito ao cumprimento espontâ-neo do julgado e é, na prática, de todo despiciendo. Não se refere ao cum-

45 Giuseppe Chiovenda, Instituições de direito processual civil, v. I, trad. de Paolo Capitanio, Campinas: Bookseller, 1998, p. 198.

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primento em fase de execução, porque para ela vigora o art. 880 da CLT, que fixa prazo de 48 horas para o cumprimento do julgado ou do acordo pelo réu citado na execução.

É essencial que a sentença disponha sobre as custas e a responsabilidade pelo seu pagamento, o que deve ser feito nos moldes dos arts. 789 a 790-A da CLT. A gratuidade de Justiça obedece aos moldes do art. 790, § 3º, da CLT, alcançando aquelas pessoas que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal ou aquelas outras que declararem, sob as penas da lei, não estarem em condições financeiras de pagar as custas do processo sem prejuízo do próprio sustento ou de sua família46.

A exigência do art. 832, § 3º, da CLT, satisfaz-se com a indicação das parcelas que são deferidas na sentença ou no acordo homologado, com as peculiaridades de cada uma delas. O limite da responsabilidade tributária que o juiz do trabalho fixe para cada uma das partes não é oponível à União, sabendo-se que não é atribuição dele, de acordo com o princípio da reserva da legalidade tributária (CF, art. 150, I), dispor sobre a incidência e a subje-tividade passiva de tributos. Terá efeitos meramente declaratórios essa de-liberação judicial e ainda estará sujeita a recurso da União, nos moldes do art. 832, § 5º, da CLT47.

A decisão homologatória de acordo é sujeita a recurso da União quanto à classificação como indenizatórias de determinadas parcelas pela convenção das partes, de acordo com o § 4º do art. 832 da CLT, o que lança insegurança sobre esse acordo e, a rigor, lhe retira o efeito de solução definitiva do litígio que a lei procura alcançar com a sua homologação pelo juiz. Melhor seria que a lei facultasse à União cobrar futuramente e em processo próprio as parcelas que entendesse devidas diretamente das partes.

Passando a falar de coisa julgada, cabe primeiro notar que coisa aí é causa, a res in iudicium deducta, o objeto sobre o qual se debruça o juiz e que se forma com a causa de pedir e o pedido do autor, a defesa processual e de

46 O requerimento de gratuidade de Justiça pode ser feito desde a petição inicial ou no curso do processo, de acordo com a Lei n. 1.060/50, mas, a rigor, só deve ser decidido pelo juiz com a senten-ça, sabendo-se que até lá vigora no processo do trabalho a regra de gratuidade, sem pagamento de custas para ambas as partes. Os emolumentos, que são devidos em razão da prática de atos que não são essenciais ao processo, mas de interesse mais propriamente da parte que os requer, são devidos de acordo com o art. 789-B da CLT e, conforme o caso, podem provocar decisão antecipada do re-querimento de gratuidade.47 Também no acordo celebrado após o trânsito em julgado da sentença, a renúncia ou transação de uma ou de ambas as partes sobre seus créditos trabalhistas ou demais convenções entre elas havidas não prejudicarão os créditos da União (CLT, art. 832, § 6º).

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mérito do réu, com os pedidos que a lei a ele autoriza, e a matéria de ordem pública da qual o juiz deve conhecer de ofício.

A decisão que se profira sobre esse objeto, sobre essa causa, preclusas as oportunidades recursais ou esgotadas elas, adquire aquela qualidade de imutabilidade de seus efeitos, nos limites em que proferida, a qual se deno-mina coisa julgada.

Dito isto, vem à baila a sua subdivisão em a) coisa julgada formal e b) coisa julgada material. De acordo com as clássicas lições de Pontes de Mi-randa, a “coisa julgada é formal quando não mais se pode discutir no pro-cesso o que se decidiu” e “coisa julgada material é a que impede discutir-se, noutro processo, o que se decidiu”48.

Ao falar de coisa julgada formal, fala-se da impossibilidade de discutir, no processo, aquilo que lá já se decidiu, ao passo que, ao falar em coisa jul-gada material, está-se a tratar daquela regra particularizada para o caso, cujo caráter definitivo é a mais alta das expressões.

A natureza continuativa das relações de trabalho e a sua inserção na di-nâmica das relações socioeconômicas põem em relevo, ao tratar-se da maté-ria nesta seara, o problema da alteração do decidido em razão da modifica-ção das condições de fato sobre as quais terá sido ditada essa decisão. A situação inscreve-se no art. 471, I, do CPC, para deixar claro que, nas relações de trabalho que prosseguem após decisão do litígio entre as partes, essa al-teração das condições de fato pode levar a que, em outro processo, seja no-vamente decidida questão já antes vencida.

Imagine-se, por exemplo, o direito assegurado ao empregado por sen-tença de perceber determinado percentual de comissões sobre a venda de determinada máquina produzida pela empresa em que trabalha. Tornando a evolução tecnológica obsoleta essa máquina e sendo ela substituída por outra, não há dúvida de que caberá rediscutir em juízo o direito do trabalha-dor às comissões sobre as vendas desta última.

Assim também se o trabalhador tem assegurado, por decisão judicial transitada em julgado, o direito à percepção de adicional de insalubridade

48 Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, t. V, Rio de Ja-neiro: Forense, 1974, p. 144.

A distinção, ao que parece, permite que se compreendam problemas que vão tão longe como aque-le do porquê de a ação rescisória haver de atacar antes de mais nada a coisa julgada formal, como insiste Pontes de Miranda, sabendo-se que, se esta não estiver formada, logicamente, não se abriria aquela outra via da ação rescisória.

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ou de periculosidade e a alteração das condições de fato no local de trabalho levam à eliminação total dos malefícios à saúde ou dos riscos que justificavam a percepção de um adicional ou de outro. Nada mais justo que o empregador mover ação em face do empregado para exonerar-se da obrigação que antes lhe fora imposta.

A sentença trabalhista, também em razão da natureza dos direitos de que cuida, pode muitas vezes produzir efeitos além das partes do processo em que foi proferida, em aparente desacordo com o previsto no art. 472 do CPC. Sabendo-se que é a natureza do direito assegurado pela sentença que dá o seu alcance subjetivo e que a vinculação de todos às sentenças de um modo geral é um fato, cingindo-se apenas a impossibilidade de voltar a discutir o decidido às partes no processo, fica clara a inexatidão, mesmo no processo civil, da última norma referida.

Se determinado empregado ajuíza ação pedindo que o juiz determine que seu empregador cesse a realização de atividade ou etapa produtiva contrária às normas de Medicina e Segurança do Trabalho e que lhe seja nefasta à saúde, a procedência desse pedido com a emissão de ordem judicial para que a atividade deixe de ser executada certamente beneficiará todos os demais trabalhadores com ela envolvidos, não se podendo dizer, portanto, que os efeitos da sentença estarão confinados aí às partes em litígio.

É importante efeito da coisa julgada a sua eficácia preclusiva, que saneia todas as nulidades e dá por deduzidas e repelidas todas as alegações e de-fesas que a parte poderia opor para o acolhimento ou a rejeição do pedido (CPC, art. 474).

Não produzem efeito de coisa julgada as sentenças proferidas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, suas autarquias ou fundações de direito público que explorem atividade econômica, sem que submetidas ao duplo grau obrigatório (Decreto-lei n. 779, de 21-8-1969, art. 1º, V), salvo quando presente alguma das hipóteses do inciso I, da Súmu-la 303, do TST.

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AnotAções

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12.14. Ação rescisóriaA ação rescisória está prevista no art. 836, da CLT, o qual a admite no

processo do trabalho na forma em que instituída no CPC, sujeita ao depósi-to prévio de 20% do valor da causa, salvo prova de miserabilidade jurídica do autor. As hipóteses em que é cabível são aquelas do art. 485 do CPC.

A ação rescisória é de natureza constitutiva negativa. Não é recurso, nem ação declaratória de nulidade da sentença rescindenda. Ela visa atacar a coisa julgada formal que impediria o reexame dessa sentença e permite o reingresso no processo que estava até então vedado, podendo-se alcançar como resultado a rescisão desse mesmo julgado.

Essa rescisão, contudo, não é seu fundamento precípuo. Há preocupação maior com o restabelecimento da justiça do que propriamente com a rescisão da sentença, uma vez que, além do juízo rescisório, admite-se o juízo rescin-dente, com a prolação, se necessário, de nova sentença.

Os legitimados para propor a ação rescisória são aqueles do art. 487 do CPC, que têm o prazo decadencial de dois anos, contado do trânsito em julgado da sentença rescindenda, para propô-la (CPC, art. 495).

O rito para processamento da ação rescisória está previsto nos arts. 488 a 494 do CPC, valendo destacar que o art. 489, na redação da Lei n. 11.280, de 16 de fevereiro de 2006, permite a concessão de medida cautelar ou tute-la antecipatória para suspender o cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo.

É grande a produção jurisprudencial em tema de ação rescisória. Podem ser anotadas, por exemplo, as seguintes Súmulas ou Orientações Jurisprudenciais que tocam nele ou com ele mantêm relação: a) STF, Sú-mulas 515, 514, 343, 295, 264, 252 e 249; b) TST, Súmulas 83, 99, 100, 158, 192, 298, 299, 303, 365, 397, 398, 399, 400, 401, 402, 403, 404, 405, 406, 407, 408, 409, 410, 411, 412 e 413; c) SDI-II, do TST, Orientações Jurisprudenciais 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 18, 19, 21, 23, 24, 25, 26, 28, 30, 34, 35, 38, 39, 40, 41, 69, 70, 71, 76, 78, 80, 84, 94, 97, 101, 103, 107, 112, 123, 124, 128, 131, 132, 134, 135, 136 e 146.

12.15. RecursosEstá razoavelmente assentado em doutrina e jurisprudência o enten-

dimento de que há no art. 5º, LIV, da Constituição, de forma implícita, a

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garantia do duplo grau de jurisdição, pela qual as partes teriam direito sempre a um segundo julgamento das causas submetidas ao Poder Judi-ciário.

Não fosse essa garantia do duplo grau uma construção doutrinária e jurisprudencial, uma vez que não consta expressamente do texto constitu-cional, o que leva algumas vozes autorizadas a dissentirem da maioria sustentando a inexistência dela, é importante não descuidar que a explicação corrente de que o recurso é o direito ao novo julgamento da causa não pare-ce a melhor, nem muito menos consentânea com as restrições que o legislador não raro impõe para tanto.

A melhor explicação do direito ao recurso parece ser o direito ao aperfei-çoamento do julgamento único da causa. Em vez de um grau de jurisdição necessariamente refazer e superpor o seu trabalho ao de outro, melhor seria que num processo de colaboração entre os diversos graus de jurisdição cada uma cuidasse de aperfeiçoar o julgado no ponto de sua maior especialidade. Assim, ao primeiro grau tocaria preponderantemente o exame da matéria de fato, que lhe está mais próxima; ao segundo, a verificação da correção da instrução e do respeito às garantias das partes, com a correta aplicação da lei e, à instância extraordinária, a qual, como o próprio nome sugere, não se pode oferecer em todos os casos, somente aqueles casos que transcendessem para o interesse coletivo ou geral, não se confinando estritamente aos das partes envolvidas no processo.

Não há substanciais diferenças entre os pressupostos recursais trabalhis-tas e aqueles outros do processo comum. Deve-se comprovar também a) legitimidade; b) interesse; c) cabimento; d) tempestividade e e) preparo, em moldes bastante semelhantes àqueles que se pedem no processo civil. Dife-rença de maior nota está somente na figura do preparo, com a exigência sui

generis do depósito recursal (CLT, art. 899, § 1º).

A legitimidade pode ser entendida como a pertinência subjetiva entre a

decisão atacada e a parte recorrente. O interesse, que de certo modo pode

confundir-se com a legitimidade, é a demonstração de um prejuízo jurídico

que a sentença recorrida possa causar ao recorrente. Cabimento é a previsão

legal do recurso, o qual, em regra, é único para aquela determinada espécie

de decisão. Se a parte avia recurso distinto daquele legalmente previsto para

a decisão atacada, não havendo erro grosseiro, entende a maioria da doutri-

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na e da jurisprudência49 que, de acordo com o denominado princípio da fungibilidade recursal, o juiz poderia recebê-lo sob a forma processualmen-te correta. A tempestividade é representada pela interposição do recurso dentro do prazo legalmente previsto para tanto.

O preparo, que no processo do trabalho deve fazer-se, conforme o caso, de acordo com os arts. 789, 789-A, 790 e 790-A, todos da CLT, é representado pelos tempestivos pagamento das custas processuais e sua comprovação nos autos do processo.

Constitui exigência legal sui generis, própria do sistema recursal traba-lhista e agregada ao preparo, a realização do depósito recursal, quando há condenação em valores pecuniários, de acordo com o art. 899, § § 1º, 2º e 7º da CLT.

Trata-se de garantia imprópria da execução futura, a qual, liquidada a conta, citado o réu, garantida a execução e não havendo embargos, deverá ser liberada para o exequente, de acordo com o referido § 1º do art. 899 da CLT, sem prejuízo da execução da quantia que a ele ultrapassar.

O depósito recursal é regulado pela Instrução Normativa n. 3, com as alterações introduzidas pela Resolução n. 168, de 9 de agosto de 2010. Quan-to à sua forma de comprovação, incide a Instrução Normativa n. 18/1999, também do TST. A Instrução Normativa n. 26/2004, do TST, trata da guia de recolhimento desse depósito.

As Súmulas 86, 99, 128, 161, 165, 170, 217 e 245 e as Orientações Jurispru-denciais 13, 140, 217 e 264, da SDI-I, do TST, cuidam do tema do depósito recursal ou outros a ele relacionados.

O Decreto-lei n. 779/69, em seu art. 1º, IV, dispensa de depósito recursal a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as autarquias ou fundações de direito público federais, estaduais ou municipais que não ex-plorem atividade econômica.

Os recursos no processo do trabalho, em regra, têm efeito meramente devolutivo, uma vez que é permitida a execução provisória até a penhora (CLT, art. 899). Em caso de dano iminente e de difícil reparação que a sen-tença sujeita a recurso possa causar à parte recorrente, é possível pedir ao juiz prolator dessa sentença, em caráter cautelar, a concessão de efeito sus-

49 Previsto no CPC de 1939, o princípio da fungibilidade dos recursos não foi repetido no CPC de 1973 e a sua sobrevivência nesse último sistema é uma construção da doutrina e da jurisprudência majori-tárias.

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pensivo ao recurso, assim como pode fazê-lo a mesma parte em ação caute-lar incidental ao recurso no tribunal.

O legislador trabalhista pretendeu restringir e simplificar a relação dos recursos cabíveis, de modo a manter-se fiel à celeridade e à efetividade es-pecialmente prometidas para a tutela jurisdicional nessa seara. Todavia, a doutrina e a jurisprudência, aliadas à organização interna dos tribunais (regimentos internos) cuidaram de alargar bastante as estreitas janelas cogi-tadas pelo legislador, as quais muitas vezes se assemelham a portas tão largas como aquelas do criticado sistema recursal processual civil.

A primeira e mais relevante ideia do legislador trabalhista foi vedar os recursos das decisões interlocutórias, de acordo com o art. 893, § 1º, da CLT. A jurisprudência reconheceu, contudo, ao menos três exceções à irrecorribi-lidade das decisões interlocutórias no processo do trabalho, com a Súmula 214 do TST. São os casos de decisões “a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT”.

Não fosse assim, as reclamações correicionais, previstas nos arts. 682, XI, e 709 da CLT, para cassar ou corrigir atos tumultuários ou teratológicos na condução dos processos e que teriam a natureza de mero direito de petição de caráter administrativo-jurisdicional (CF, art. 5º, XXXIV, a), têm sido usadas na prática com feições recursais, para reapreciar atos do juiz que detém a livre direção do processo (CLT, art. 765), funcionando assim à semelhança dos agravos de instrumento do processo civil.

Os regimentos internos de vários tribunais, por sua vez, preveem figuras de agravos regimentais contra as decisões de reclamações correicionais, se não se tivesse cogitado também do cabimento, em relação à decisão destes últimos agravos, de recurso ordinário ao TST, ao ponto de esse Tribunal, em sua composição Plena, editar a Orientação Jurisprudencial 5, vedando essa última possibilidade.

Se a irrecorribilidade das decisões interlocutórias tornou-se relativa com a Súmula 214 do TST e com as reclamações correicionais e os agravos regi-mentais delas cabíveis, a relação nominal dos recursos expressamente cabí-veis no processo do trabalho também não parece fiel aos propósitos anun-ciados pelo legislador.

São cabíveis, além da reclamação correicional, dos agravos previstos em leis especiais e nos regimentos internos dos tribunais:

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a) recurso extraordinário (art. 102, III, da Constituição);

b) embargos infringentes na Seção de Dissídios Coletivos do TST (art. 2º, II, c, da Lei n. 7.701/88);

c) embargos por divergência jurisprudencial no TST (art. 894, II, da CLT);

d) recurso ordinário (art. 895, I e II, da CLT);

e) recurso de revista (art. 896, a e b, da CLT);

f) agravo de petição (art. 897, a, da CLT);

g) agravo de instrumento (art. 897, b, da CLT, e Instrução Normativa n. 16 do TST) e

h) embargos de declaração (art. 897-A da CLT).

O recurso extraordinário deve ser interposto no prazo de 15 dias (CPC, art. 508); os embargos de declaração, em 5 dias (CLT, art. 897-A). Os demais recursos mencionados no parágrafo anterior devem ser interpostos no prazo de 8 dias contados da publicação ou da intimação postal da decisão contra a qual sejam cabíveis.

Além dos recursos já mencionados, não será demais lembrar ainda o recurso ordinário do art. 102, II, da Constituição, nas ações lá mencionadas, quando julgadas pelo TST. Há a reclamação para preservação de competên-cia e garantia da autoridade das decisões do STF (CF, art. 102, I, l), a qual não é propriamente um recurso, mas é usada como tal. Há o recurso do art. 539, II, a, do CPC, por adaptação para o TST, quando a competência originária tiver sido dos Tribunais Regionais. O recurso em sentido estrito, em duplo grau obrigatório (CPP, art. 574, I), da sentença que conceder habeas corpus e aquele outro voluntário da decisão que conceder ou denegar a mesma ordem (CPP, art. 581, X), de acordo com a competência prevista no art. 114, IV, da Constituição.

12.16. Cumprimento de sentença (execução)

12.16.1. LiquidaçãoLiquidação de sentença é o nome que se dá à fase preparatória da execu-

ção e de natureza constitutiva no processo do trabalho, na qual se adotam os procedimentos necessários a tornar líquida a obrigação estampada no título judicial. Sua natureza constitutiva é explicada por tornar líquido aqui-

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lo que antes não o era50. É fase que integra o processo de execução, na forma como posicionada topograficamente na CLT, isto é, no Capítulo intitulado “Da execução”.

No processo do trabalho conhecem-se também, de acordo com o art. 879, da CLT, as mesmas três espécies de liquidação (por cálculo, por arbi-tramento e por artigos) a que se referem os arts. 475-A a 475-F, do CPC, os quais se aplicam subsidiária ou supletivamente a esse ramo do processo sempre que omissas as disposições da CLT na matéria (CLT, art. 769).

A liquidação por cálculo deve ser procedida quando a determinação do valor da condenação depender unicamente de cálculo aritmético (CPC, art. 475-B). Neste caso, o credor apresentará a conta devidamente atualizada e indicando as contribuições previdenciárias incidentes que entender devidas, devendo ser intimado o devedor por seu advogado (CPC, art. 475-A, § 1º) para, querendo, contestar essa memória de cálculo.

Não contestando o devedor a memória ou concordando com ela expres-samente, tem-se que o cálculo se presume aceito pelas partes e correto, res-salvada ao juiz a determinação de eliminação de erros grosseiros ou ilegali-dades manifestas, ou mesmo a realização de conferência dele por seu secretário calculista (CPC, art. 475-B, § 3º). A concordância incondicional das partes com cálculos que não envolvam erros grosseiros nem ilegalidades manifestas pode ser interpretada como verdadeira conciliação na matéria, valendo a homologação desses cálculos pelo juiz como a de verdadeiro acordo, até mesmo porque não é proibido às partes celebrarem conciliação com objeto mais largo ou mais restrito do que o do julgado (CPC, art. 475-N, III, e CLT, art. 764, § 3º).

A liquidação por arbitramento deve ser procedida quando determinado pela sentença ou convencionado pelas partes (CPC, art. 475-C, I), ou quando o exigir a natureza do objeto da liquidação (CPC, art. 475-C, II). O arbitra-mento é realizado por perito nomeado pelo juiz, que deverá apresentar seu laudo no prazo por este último fixado (CPC, art. 475-D). Apresentado o laudo, será deferido o prazo de 10 dias para que as partes sobre ele se mani-festem, decidindo o juiz em seguida ou, caso necessário, marcando audiên-cia para produção de outras provas ou oitiva do perito (CPC, art. 475-D,

50 Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, t. IX, Rio de Janeiro: Forense, 1976, p. 506.

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parágrafo único). Para conferir maior objetividade ao trabalho do perito, ao nomeá-lo, é conveniente que o juiz já estabeleça os parâmetros do arbitramen-to e, se necessário, formule os quesitos aos quais o mesmo perito ficará obri-gado a responder. As partes também terão o direito de formular quesitos, os quais poderão ser deferidos ou não pelo juiz (CPC, arts. 421, § 1º, II; 425 e 426, I e II). Homologando o juiz o laudo, deverá mandá-lo ao seu secretário cal-culista para acréscimo de juros, correções monetárias e demais acessórios.

A liquidação deverá ser por artigos quando houver necessidade de alegar ou provar fato novo para determinar o valor da condenação (CPC, art. 475-E). Pode ocorrer liquidação por artigos quando o juiz reconhece ao empregado o direito de ser remunerado por comissões, condenando a empresa a pagá-las, sem precisar o percentual delas, nem os negócios sobre os quais efetiva-mente incidirão. Dependerá, portanto, da prova em liquidação por artigos da efetiva existência desses negócios, de suas características e do estabeleci-mento do percentual de comissões que eles gerariam a determinação do valor da condenação.

Considerando que o art. 475-F do CPC manda aplicar o procedimento comum, remetendo ao art. 272 do mesmo Código, na liquidação por artigos, a adaptação desse mandamento legal para torná-lo compatível com o proces-so do trabalho impõe que se aplique aqui, na mesma hipótese, o procedimen-to dos dissídios individuais e, somente se houver omissão da CLT no parti-cular, aplicar-se-á supletivamente aquele procedimento civil (CLT, art. 769).

Elaborada a conta de acordo com a espécie de liquidação que for adequa-da ao caso e os parâmetros que o juiz julgar corretos após as manifestações das partes, ele mandará acrescer juros, correção monetária e demais acessó-rios e, finalmente, poderá dar vista dessa conta definitiva às mesmas partes pelo prazo sucessivo de 10 dias, sob pena de preclusão (CLT, art. 879, § 2º). Silentes as partes, não poderão mais impugnar aqueles cálculos de liquidação no mesmo processo, operando-se a preclusão em seu desfavor.

Se as partes concordarem expressamente com os cálculos de liquidação, não envolvendo eles erros grosseiros nem ilegalidades manifestas, a homo-logação desse cálculo terá para as mesmas partes o valor de verdadeira transação, como se disse acima.

Seja qual for a espécie de liquidação adotada, ela deverá abranger também os cálculos das contribuições previdenciárias devidas (CLT, art. 879, § 1º-A). Se a empresa obrigada a descontar do empregado as contribuições previ-denciárias não o houver feito a tempo e modo, ficará responsável diretamen-te pelo valor que deixou de recolher (Lei n. 8.212/91, art. 33, § 5º).

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Liquidada a conta, o recolhimento das parcelas devidas à Previdência Social deverá ser feito nos prazos e nos moldes do art. 276, do Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999. O juiz deverá notificar o INSS (União) para que diligencie no interesse do recolhimento dessas contribuições, sabendo-se que é de duvidosa constitucionalidade a execução de ofício dessas parcelas tam-bém mencionada no art. 277 do referido Decreto n. 3.048/99. Viola o princí-pio da separação de Poderes (CF, art. 2º) a atribuição ao juiz de competência para atuar de ofício na exação tributária, função típica do Poder Executivo51.

A mesma intimação que é feita às partes por 10 dias para manifestar-se sob pena de preclusão também é prevista para a União (INSS), na forma do art. 879, § 3º, da CLT. Não obstante, o termo preclusão aí não pode ser inter-pretado literalmente, porque os representantes judiciais da União não detêm a disponibilidade daquelas que estão sendo cobradas. Se houver erro na quantificação das contribuições previdenciárias o único efeito que produzi-rá a aludida preclusão será diferir a cobrança da diferença favorável à União para oportunidade posterior ao encerramento da execução trabalhista.

Manifestando-se ou não as partes e a União sobre a conta definitiva de liquidação, o juiz decidirá, homologando ou não os cálculos. Se rejeitá-los, caberá às partes recomeçar a liquidação a partir da fase em que o juiz deter-minar para correção do erro ou vício que o levou a tanto. Se acolhê-los, ha-verá de homologá-los, mandando intimar as partes dessa sua decisão. Essa intimação não terá efeito de intimação para pagar, à maneira do procedimen-to introduzido no CPC pela Lei n. 11.232/2005, uma vez que a CLT tem norma expressa sobre a matéria em seu art. 880.

12.16.2. Citação, penhora e avaliaçãoA execução no processo do trabalho é mais frequentemente de títulos

judiciais, isto é, sentença, acórdãos dos tribunais ou acordos homologados pelo juiz, não obstante o art. 876, da CLT, na redação dada pela Lei n. 9.958, de 12 de janeiro de 2000, permita a execução de duas espécies de títulos

51 Na prática, com a edição da Portaria n. 176, de 19 de fevereiro de 2010, pelo Ministro da Fazenda, os juízes do trabalho, na hipótese de dispensa de manifestação a que se refere essa Portaria, acabam não tendo alternativa e cobram de ofício as contribuições previdenciárias devidas. Notificados, os representantes da Fazenda estarão dispensados de manifestar-se e a sua inação, logicamente, levaria à falta de cobrança dos tributos se o juiz permanecesse fiel à evidente inconstitucionalidade da im-posição de execução de ofício das contribuições previdenciárias. O resultado seria ainda pior para o Estado Social de Direito. Melhor, nesta hipótese, que se contorne a evidente inconstitucionalidade antes mencionada do que deixar os trabalhadores privados dos recolhimentos que o sistema previ-denciário, de natureza contributiva (Constituição, art. 201), exige deles e de seus empregadores.

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extrajudiciais: a) os termos de ajuste de conduta firmados perante o Minis-tério Público do Trabalho e b) os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia.

A execução dos títulos judiciais deve processar-se nos mesmos autos em que o processo de conhecimento e, mercê da inquisitorialidade que é própria do processo do trabalho, pode ser promovida não apenas pelo interessado, mas até mesmo de ofício pelo juiz competente (CLT, art. 878) ou, em se tra-tando de decisões dos Tribunais Regionais, também pelo Ministério Público do Trabalho (CLT, art. 878, parágrafo único).

Considerando que o processo de execução de títulos judiciais trabalhistas é uma mera continuação do processo de conhecimento, pode-se afirmar que não existe autonomia estrutural da execução nessa seara; há apenas autono-mia funcional dela, a qual continua a ser, como espécie singular de atividade jurisdicional tendente a uma finalidade própria que é a de efetivação, mate-rialização do comando sentencial, diferente do processo de conhecimento.

A inexistência de autonomia estrutural da execução de títulos judiciais no processo do trabalho permitiria aplicar-se aqui sistemática análoga àque-la concebida para o processo civil a partir da Lei n. 11.232, de 22 de dezembro de 2005, a qual, alterando a redação e inserindo vários novos dispositivos no CPC, passou a conceber também lá uma forma de execução estrutural-mente ligada ao processo de conhecimento. Em outras palavras, se o proces-so é o mesmo, figurando a execução como mera continuação, mera fase de cumprimento da sentença de conhecimento (execução sincrética), não have-ria por que falar em nova “citação” na execução, bastando, na oportunidade própria, a simples intimação do réu para pagar ou cumprir a obrigação.

Não obstante, a CLT, de forma anacrônica, mantém a exigência de citação do executado em seu art. 880, formalidade no mais das vezes inútil, que serve apenas para que alguns réus se ocultem maliciosamente e dificultem o andamento dos processos. Tratando-se, contudo, de exigência legal e de ato tão importante como a citação, não se vê como se possa arredá-la sem abrir oportunidade para outras alegações e expedientes ainda mais proble-máticos do que aqueles de que se podem valer alguns réus para dificultar a regular citação. Enquanto houver essa exigência inscrita de forma tão clara no art. 880, da CLT, não haverá como ignorá-la, nem como aplicar-se subsi-diariamente ao processo do trabalho a sistemática do art. 475-J do CPC. São conhecidas lições de hermenêutica aquelas de que a lei não contém palavras inúteis; que é defesa a analogia ou a extensão dos comandos legais in malam partem (para prejudicar uma ou ambas as partes) em matéria de penas (mul-tas, inclusive) e é da letra do art. 769 da CLT que o processo comum aqui só se aplique em caso de omissão da legislação trabalhista.

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Na execução trabalhista aplicam-se primeiro os dispositivos da própria CLT e, na sua falta, aqueles da Lei n. 6.830/80, de acordo com o art. 889, também da CLT. Somente na omissão da última lei referida é que se aplicam subsidiariamente à execução trabalhista os dispositivos do Código de Pro-cesso Civil (CLT, art. 769).

Nesses termos, até que sobrevenha modificação expressa no texto legal, não parece possível desprezar o procedimento inscrito no art. 80 da CLT. Requerida a execução, o juiz mandará expedir mandado, que já não será unicamente de citação, mas também de penhora e avaliação, para que se cumpra a decisão ou acordo na forma avençada ou, tratando-se de pagamento em dinheiro, aí in-cluídas as contribuições sociais devidas à União, para que o devedor, citado, faça o pagamento em 48 horas ou garanta a execução, sob pena de penhora.

Se não pagar, o executado poderá garantir a execução com depósito em dinheiro ou nomear bens à penhora, caso em que deverá observar a ordem de preferência estabelecida no art. 655 do CPC, tudo de acordo com o art. 882 da CLT. Oferecidos os bens à penhora, o juiz mandará ouvir o exequen-te, o qual poderá aceitar ou recusar a penhora desses bens, devendo o juiz, neste último caso, decidir se acolhe ou não a nomeação. Acolhendo-a, man-dará lavrar o auto de penhora, com depósito e avaliação. Recusando-a, mandará que se proceda na forma do art. 883 da CLT.

Também se não pagar o executado, nem nomear bens à penhora, incidi-rá o mesmo art. 883 da CLT, devendo o oficial de justiça proceder à penhora de tantos bens quantos bastem ao pagamento da importância da condenação acrescida de custas, juros de mora e demais encargos, além das contribuições sociais devidas à União.

A penhora consiste na apreensão do bem do patrimônio do devedor, no seu desapossamento e na sua entrega a um depositário (CPC, art. 666), o qual deverá conservá-lo como se fosse seu, à disposição do juízo da execu-ção52. Quanto aos dias e horários de sua realização, a penhora deverá ter em vista as disposições do art. 770 da CLT. Na escolha dos bens para penhora deverá ser observado que há bens absolutamente impenhoráveis (CPC, art. 649) e bens relativamente impenhoráveis (CPC, art. 650), assim como aque-les protegidos pelos ditames da Lei n. 8.009, de 29 de março de 1990.

52 A prisão do depositário infiel já não é admitida, uma vez que contraria o art. 7º, 7, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), mandada cumprir pelo Decre-to n. 678, de 6 de novembro de 1992. Se o depositário deixar que se percam os bens depositados, responderá pelo equivalente em dinheiro a eles mais os prejuízos que essa perda ocasionar, podendo ainda incorrer nas sanções do art. 14, V, e parágrafo único, do CPC. Tal entendimento encontra-se consagrado na Súmula Vinculante n. 25 do STF.

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O art. 655-A do CPC, na redação da Lei n. 11.382/2006, autoriza a deno-minada penhora on line, a qual vem se tornando o método mais usual de penhora no processo do trabalho, através do sistema denominado BACEN-JUD, em convênio com o Banco Central do Brasil. Pode ser realizada a re-querimento da parte interessada ou por determinação de ofício pelo juiz (CLT, arts. 765, 769 e 878, e Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral do TST, art. 53).

A eventual impenhorabilidade da quantia penhorada on line constitui ônus de alegação do executado (CPC, art. 655-A, § 2º). O art. 58, da Conso-lidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral do TST, faculta ao executa-do indicar conta bancária única, mediante cadastro prévio, para sofrer todas as penhoras que contra ele sejam dirigidas.

A penhora de bens imóveis deverá ocorrer mediante registro no Registro de Imóveis, de acordo com o art. 167, I, 5, da Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973.

A avaliação é procedida no ato da penhora pelo Oficial de Justiça Ava-liador de acordo com os arts. 721, da CLT, e 680 e 681, do CPC, salvo quando ele não detiver conhecimentos para tanto (CPC, art. 475-J, § 2º).

12.16.3. Embargos à execução e impugnação do exequenteOs embargos à execução, no sistema da CLT, têm natureza de defesa do

executado, como hoje também a tem, no processo civil, a impugnação de que trata o art. 475-L, do CPC, na redação da Lei n. 11.232/2005.

O executado, garantido o juízo, tem legitimação para opor embargos à execução no prazo de 5 dias, contados do aperfeiçoamento da penhora e de sua intimação a ele. Neste momento, também se há de reconhecer a mesma legiti-mação a todas as pessoas apontadas como devedoras no título executivo ou assim denominadas por decisão judicial superveniente no processo de execução.

Esse prazo para opor embargos somente começa a correr com a integra-lização da garantia da execução. Não se admitem embargos à execução antes desse momento por norma expressa do art. 16, § 1º, da Lei n. 6.830/80.

Também por força do art. 16, § 1º, da Lei n. 6.830/80, aplicável de acordo com o art. 889, da CLT, não se admite a denominada exceção de pré-execu-tividade no processo do trabalho. É admissível unicamente a objeção de pré-executividade, mais restrita que a exceção, sabendo-se que é limitada à matéria que é conhecível de ofício pelo juiz também no processo de execução (a liquidez e a certeza do título executivo, por exemplo).

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A matéria que pode ser alegada em embargos à execução é não somente aquela do § 1º do art. 884 da CLT, como também aquela do art. 16, § 2º, da Lei n. 6.830/80, com as restrições do § 3º, do mesmo artigo, tudo melhor explicitado no art. 475-L do CPC, também de aplicação subsidiária ao pro-cesso do trabalho, o qual relaciona como matérias alegáveis em impugnação ao cumprimento de sentença: (I) falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia e, logicamente, se o réu não foi antes validamente notificado dessa decisão; (II) inexigibilidade do título; (III) penhora incorreta ou ava-liação errônea; (IV) ilegitimidade de partes; (V) excesso de execução (v. CPC, art. 743) e (VI) qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, optando nesses casos por restringi-las àquelas posteriores ou supervenientes à sentença.

Caso a execução seja de títulos executivos extrajudiciais, essa matéria de defesa se amplia bastante. Será lícito deduzir qualquer matéria que também o seria fazer como defesa no processo de conhecimento (CPC, art. 745, V).

Para o exequente poder impugnar a execução, sua insatisfação com a conta de liquidação deverá ter sido marcada na oportunidade do art. 879, § 2º, da CLT, sob pena de perder a ocasião de fazê-lo na mesma época dos embargos à execução.

A impugnação tem a mesma natureza dos embargos, sabendo-se que nela o que quer o exequente é acrescer ou alterar o mandado de execução. Pode haver também impugnação do executado à conta de liquidação das cotas previdenciárias, assim como a União pode apresentar impugnação para elevar ou adequar os cálculos dessas cotas aos ditames legais que entenda aplicáveis ao caso.

O prazo para a impugnação do exequente começa a correr do mo-mento em que este tomar conhecimento inequívoco da garantia do juí-zo. Seja por intimação específica ou por comparecimento espontâneo em secretaria.

Os embargos e a impugnação à liquidação serão julgados na mesma sentença (CLT, art. 884, § 4º), devendo os autos irem conclusos ao juiz para fazê-lo em 5 dias, se não houver necessidade de audiência para oitiva de testemunhas ou peritos, ou ainda outras providências instrutórias (CLT, art. 885).

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12.16.4. Procedimentos de expropriação; embargos à arrematação e à adjudicação; adjudicação e remição

Ultrapassada a fase de defesa do executado, com a preclusão do prazo para embargos e impugnação da liquidação ou o trânsito em julgado da sentença que se proferir neles, segue-se a fase de alienação dos bens penho-rados, para pagamento do credor.

Tendo sido a penhora em dinheiro, essa fase fica logicamente prejudica-da, promovendo-se a expedição de mandado de pagamento em favor do credor e da Fazenda Pública, conforme o caso.

Se a penhora houver recaído em outras espécies de bens do executado, impõe-se a fase de alienação. A praça é o primeiro método de alienação de que trata a CLT. Nela, os bens são apregoados por servidor indicado pelo juiz, normalmente no átrio do foro.

O edital de praça é publicado no diário oficial, com 20 dias de antecedên-cia, e pode também ser pendurado no quadro próprio para editais, se exis-tente no foro.

A intimação das partes da praça não é obrigatória, mas sujeita ao prudente arbítrio do juiz (CLT, art. 765). Pode ser necessária, no entanto, essa intimação, como no caso do cônjuge ou convivente na praça de bens imóveis, se eles não estiverem participando do processo, sabendo-se que o prazo de 5 dias para embargos de terceiros começa a correr com a arrematação (CPC, art. 1.048).

Vencerá a praça o lance de maior valor, cujo lançador deverá efetuar o depósito imediato de 20% desse valor, completando-o por si ou por seu fiador em 24 horas. Se o arrematante não pagar nesse prazo o restante do preço da arrematação, perderá o sinal em favor da execução.

O lance vil deve ser rejeitado (CPC, art. 692), como recomendam as regras de moralidade do processo. O juiz deve tornar sem efeito (CPC, art. 694, § 1º, V) a praça com ele efetuada, não sendo ele superior a pelo menos 50% do valor da avaliação dos bens penhorados, salvo casos excepcionais em que esses bens se mostrem de difícil comercialização ou já deteriorados.

A arrematação se torna perfeita com a assinatura do seu auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo serventuário ou leiloeiro, oportunidade a partir da qual é considerada irretratável (CPC, art. 694). Com o integral pagamento dela, a propriedade dos bens arrematados passa ao arrematante, devendo o juiz determinar a expedição da carta de arrematação, mandado de entrega ou outros atos que se façam necessários unicamente para esse efeito.

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Não havendo lance na praça ou sendo ela tornada sem efeito, se o exe-quente o requerer, a alienação dos bens poderá ser feita por leilão, a ser conduzido por leiloeiro nomeado pelo juiz (CLT, art. 888, § 3º).

A adjudicação dos bens penhorados ao exequente pode ocorrer na forma do art. 24, I ou II, a, da Lei n. 6.830/80. Já a adjudicação em igualda-de de condições com o melhor lance (Lei n. 6.830/80, art. 24, II, b), só pa-rece possível se o lance não for vil, e, assim mesmo, não no prazo de 30 dias estabelecido naquela lei especial, o qual seria contrário à celeridade que é própria da execução trabalhista. É razoável aceitar-se o prazo para adjudicação nas 24 horas que são previstas para assinatura do auto de arrematação pelo juiz.

É discutível o cabimento de embargos à arrematação ou à adjudicação no processo do trabalho, à falta de previsão na CLT e na Lei n. 6.830/80. Aqueles que aceitam essas espécies de embargos agarram-se no art. 746 do CPC.

A remição, de acordo com o art. 13, da Lei n. 5.584/70, só será deferida ao executado se ele oferecer preço igual ao valor da condenação, o qual abrange, logicamente, as custas, emolumentos, contribuições sociais e outras despesas da execução.

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

MARTINS, Sergio Pinto. Comentários à CLT. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

RUSSOMANO, Mozart Victor. Direito processual do trabalho. Rio de Janeiro: José Konfino Editor, 1971.

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AnotAções

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Dissídios Coletivos e Ações Coletivas Civis Subsidiárias

Dissídios coletivos são ações coletivas típicas do Processo Coletivo do Trabalho e têm por fim criar ou fixar novas condições de trabalho (dissídios econômicos), ou acertar a interpretação de normas já existentes (dissídios jurídicos), para as relações no plano transindividual das categorias profis-sionais e econômicas por certo período de tempo.

Os dissídios econômicos têm por finalidade estabelecer ou redefinir as condições de trabalho entre as categorias de trabalhadores (profissionais, ou diferenciadas) e as de empregadores (econômicas) por certo período de tempo.

Já os dissídios jurídicos buscam fixar a interpretação de determinadas cláusulas de normas coletivas ou mesmo de normas legais que suscitem dúvidas na sua aplicação às relações entre aquelas categorias antes mencio-nadas53.

Deve-se diferenciar também os dissídios coletivos das demais ações co-letivas civis aplicáveis ao processo do trabalho. O melhor critério para fazê-lo é o do interesse, o qual se pode estabelecer entre a causa de pedir, o litígio que provoca a atividade jurisdicional e a providência, o pedido, que se en-tende cabível para tutelá-la.

Assim, não se pode descuidar que os dissídios coletivos de natureza econômica são ações de caráter constitutivo, pelas quais constituem-se novas ou se mantêm antigas regras para as relações transindividuais de trabalho entre as categorias em causa.

Os dissídios jurídicos são de natureza meramente declaratória. Não criam novas normas, nem reafirmam a vigência de antigas. Somente fixam, acertam a interpretação que se deve dar àquelas que compõem a causa de pedir desses dissídios.

53 A Orientação Jurisprudencial 7 da SDC, do TST, esclarece que o dissídio coletivo de natureza jurídi-ca não se destina à interpretação de normas de caráter genérico.

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Se os dissídios podem ser de natureza constitutiva (econômicos) ou de-claratória (jurídicos), as ações coletivas civis54 aplicáveis subsidiariamente ao processo do trabalho admitem todas as cargas possíveis ou combináveis em Direito (CDC, art. 83).

Nos dissídios coletivos, assim como nas ações coletivas civis aplicáveis ao processo do trabalho, os direitos tutelados se espraiam na dimensão das coletividades envolvidas, o que projeta as decisões que os tutelam na mesma dimensão, daí por que se fale no chamado poder normativo da Justiça do Trabalho nos dissídios coletivos ou, mais modernamente, nos efeitos ultra partes ou erga omnes da coisa julgada naquelas ações coletivas civis.

Se os direitos transindividuais são indivisíveis, como nos casos dos direitos difusos (CDC, art. 81, parágrafo único, I) e coletivos em sentido estrito (CDC, art. 81, parágrafo único, II), e se os direitos individuais homogêneos, muito embora de originária divisibilidade, são tratados coletivamente para efeitos processuais em razão de sua origem comum (CDC, art. 81, parágrafo único, III), fica fácil compreender que as decisões que se profiram quanto a esses direitos projetam-se nas dimensões de todos os interessados na sua tutela.

Essa e não outra a razão pela qual se diz que os direitos difusos ou indi-viduais homogêneos, quando tutelados, projetam os efeitos dessa decisão erga omnes (CDC, art. 103, I ou III, conforme o caso) e os direitos coletivos difundem-na ultra partes nos lindes do grupo (CDC, art. 103, II).

Se a coisa julgada possui esse efeito de difusão, não é demais salientar também que o objeto das ações coletivas, assim como o dos dissídios, é mais largo do que o das ações individuais de um modo geral. Discutem-se as questões num plano mais abstrato e aberto, que é o das relações transindi-viduais. Logo, o poder criador do juiz também se amplia.

À conjunção desse efeito criador ampliado com a difusão da coisa julga-da é que se dá o nome de poder normativo da Justiça do Trabalho nos dissí-dios coletivos, o qual aparece de igual maneira nas ações coletivas civis.

Ao contrário do que se costuma difundir usualmente, o poder normativo não é uma escolha política do legislador, ao outorgá-lo à Justiça do Trabalho, mas sim uma decorrência da estrutura mesma dos direitos no plano transin-dividual, daí por que não seja lícito cogitar-se da sua extinção.

54 A ação civil pública pode ser promovida no processo do trabalho pelo Ministério Público do Traba-lho, nos moldes do art. 83, III, da Lei Complementar n. 75, e da Lei n. 7.347/85, a qual também serve de base para a propositura da mesma espécie de ação pelas entidades sindicais em defesa dos interesses transindividuais dos trabalhadores (art. 8º, III, da Constituição).

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O art. 114, § 2º, da Constituição, na redação da Emenda n. 45, passou a exigir o comum acordo entre as partes da negociação coletiva para o ajui-zamento dos dissídios e procurou limitar a atuação do Poder Judiciário na matéria a respeito das disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

Duas interpretações são possíveis, pelo menos. A primeira, que parece melhor e não merece críticas mais ácidas, é que se pode entender que a per-sistência ou a invencibilidade do impasse na negociação coletiva significa condição para o ajuizamento dos dissídios e que a Justiça, ao julgá-los, este-ja obrigada a observar a tutela mínima assegurada aos trabalhadores e a não se descuidar do cabedal de direitos já antes conquistado em negociação da mesma natureza.

A segunda, de todo censurável à luz do art. 5º, XXXV, da Constituição e dos princípios da vedação de retrocesso ou da melhoria da condição social dos trabalhadores, inscritos no caput do art. 7º, também da Carta, poderá ler no dispositivo que só será possível levar o dissídio a juízo com a concordân-cia de ambas as partes envolvidas na negociação coletiva e, mesmo assim, para obter sentença normativa que não poderá ultrapassar das disposições legais mínimas e dos direitos já conquistados em negociações anteriores. Seria a absurda consagração do exercício da jurisdição coletiva do trabalho, em última análise, à vontade de apenas uma das partes da negociação cole-tiva e a atribuição de força a essa parte para, com isso, impedir que essa mesma negociação conduzisse a avanços em favor dos trabalhadores.

Devido a esse problema da nova redação do art. 114, § 2º, da Constituição, não se pode descuidar também do estabelecido na Súmula 190, do TST, a qual impede que esse Tribunal, no exercício do poder normativo constitu-cional, crie ou homologue condições de trabalho que o Supremo Tribunal Federal julgue iterativamente inconstitucionais.

Não obstante as considerações anteriormente expendidas, assentou-se no TST o entendimento de que a exigência pura e simples do comum acor-do, na feição de um pressuposto processual sui generis, não é inconstitucio-nal. Neste sentido, por exemplo, os respeitáveis acórdãos de números TST- -RODC-20401/2007-000-02-00.0, de relatoria do eminente Ministro Eizo Ono, e TST-RODC-1163/2008-000-03-00.9, sob relatoria do célebre Ministro Walmir Oliveira da Costa, ambos atestando essa tendência daquela Alta Corte e o último ressalvando seu entendimento pessoal de que a recusa do comum acordo, para não configurar abuso de direito, deveria ser fundamentada.

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Afastada essa questão polêmica do comum acordo, é igualmente importan-te destacar que ambos os julgados contêm importantes lições sobre a natu-reza do poder normativo da Justiça do Trabalho, reconhecendo a sua natu-reza legislativa.

Os dissídios coletivos são instaurados, de acordo com o art. 856 da CLT, por uma peça processual que tem a denominação de representação e, para alguns autores, deve ter a forma de uma petição inicial do processo civil (CPC, arts. 282 e 283).

A forma dessa representação, entretanto, de acordo com o art. 858 da CLT, é mais simples que a de uma petição inicial do processo civil. Não exige a lei trabalhista fundamentação jurídica, nem requerimento para citação do réu. Os motivos do dissídio são os fatos da causa de pedir e a descrição do esta-belecimento ou atividade são para verificar o enquadramento sindical. O pedido se confunde com as “bases para conciliação”, as quais, de um modo geral, representam as cláusulas que se querem ver editadas para regular as relações das categorias litigantes no período futuro em discussão.

A legitimação ativa das entidades sindicais deriva primeiro do art. 8º, III e VI, da Constituição, observando-se, em segundo lugar, os limites e requi-sitos dos arts. 857 e 859 da CLT55. A pauta de reivindicações deve estar regis-trada na ata de assembleia de trabalhadores que autoriza a atuação da enti-dade sindical (Orientação Jurisprudencial 8, da SDC do TST).

O Ministério Público do Trabalho pode propor o dissídio, em caso de greve em atividade essencial com possibilidade de lesão ao interesse públi-co (CF, art. 114, § 3º, na redação da Emenda n. 45). O mesmo se diga se houver risco de lesão a direitos difusos ou de outras coletividades distintas das categorias em litígio, ou risco de lesão a interesses coletivos ou indivi-duais homogêneos, até mesmo das categorias em litígio, quando haja neles relevância social que justifique a atuação também do Ministério Público em outras figuras de ações coletivas. Para todos esses casos, bastaria a referência ao art. 83, III, IV, V, VIII e IX, da Lei Complementar n. 75.

Apresentada a peça vestibular do dissídio, que é dirigida ao Presidente do Tribunal competente, este designará audiência de conciliação, dentro do prazo de 10 dias, determinando a notificação das partes na forma do art. 860 da CLT.

55 No caso de dissídio coletivo em face de uma determinada empresa apenas, a Orientação Jurispru-dencial 19 da SDC, do TST, reconhece a legitimidade das entidades sindicais, desde que autorizadas pelos trabalhadores envolvidos no conflito, isto é, os empregados dessa mesma empresa.

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Se na audiência ocorrer o acordo entre as partes, este será submetido pelo Presidente ao Tribunal para homologação na primeira sessão seguinte a essa mesma audiência (CLT, art. 863). Não havendo acordo ou não comparecen-do uma ou ambas as partes, o Presidente então determinará as diligências que entender cabíveis e mandará ouvir o Ministério Público do Trabalho, encaminhando o processo em seguida para julgamento (CLT, art. 864).

No curso do dissídio, de acordo com o art. 865 da CLT, o Presidente do Tribunal ou relator dessa ação tem o poder de polícia para lidar com as ameaças de perturbação da ordem que a atuação das entidades envolvidas puder gerar (manifestações públicas desordeiras, greves abusivas e violentas etc.). Logicamente, a ele também se há de reconhecer o poder geral de cau-tela (CPC, art. 798) e o de antecipação de tutela (CPC, arts. 273 e 461, e CLT, art. 878).

A decisão do dissídio pelo Tribunal ou Seção encarregada dos dissídios coletivos (Lei n. 7.701, de 21 de dezembro de 1988, arts. 1º, 2º, I, a, e 6º) tem a denominação de sentença normativa, vigorando nos termos do art. 867, parágrafo único, da CLT.

A sentença normativa, o acordo em dissídio coletivo ou os acordos ou convenções coletivos não cumpridos poderão ser objeto de uma ação de cumprimento (CLT, art. 872, parágrafo único), a qual é processada da mesma forma que um dissídio individual e visa obter a condenação do empregador a cumprir aquela norma coletiva, de acordo com a doutrina e jurisprudência majoritárias, conquanto, com força em corrente minoritária, se possa preco-nizar a força executiva dessa espécie de ação.

Uma vez que as prestações e condições de trabalho fixadas na sentença normativa devem vigorar para o futuro e enquanto perdurarem as condições de fato que as autorizaram, assim como as demais sentenças de um modo geral, o art. 873 da CLT autoriza a sua revisão depois de decorrido um ano de sua vigência.

SUGESTÕES DE LEITURA

ADAMOVICH, Eduardo Henrique Raymundo von. Comentários à CLT. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

———. Sistema da ação civil pública no processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2005.

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VIANNA, Oliveira. Problemas de direito corporativo. Rio de Janeiro: José Olym-pio, 1938.

MARTINS FILHO, Ives Gandra. Processo coletivo do trabalho. São Paulo: LTr, 2003.

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AnotAções

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