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CENTRO UNIVERSITÁRIO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA - IESB RELAÇÕES INTERNACIONAIS DÉBORA RODRIGUES DOS SANTOS POLÍTICA NACIONAL BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS À LUZ DO PROTOCOLO DE PALERMO BRASÍLIA - DF 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA - IESB

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

DÉBORA RODRIGUES DOS SANTOS

POLÍTICA NACIONAL BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE

PESSOAS À LUZ DO PROTOCOLO DE PALERMO

BRASÍLIA - DF

2016

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DÉBORA RODRIGUES DOS SANTOS

POLÍTICA NACIONAL BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE

PESSOAS À LUZ DO PROTOCOLO DE PALERMO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Relações Internacionais do Centro

Universitário Instituto de Educação Superior

de Brasília – IESB, como requisito parcial para

obtenção do grau de Bacharel em Relações

Internacionais.

Orientadora: Msc. Francisca Javiera Gallardo

Conejera

BRASÍLIA - DF

2016

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DÉBORA RODRIGUES DOS SANTOS

POLÍTICA NACIONAL BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE

PESSOAS À LUZ DO PROTOCOLO DE PALERMO

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela

Banca Examinadora com vistas à obtenção do título

de bacharel em Relações Internacionais do Centro

Universitário Instituto de Educação Superior de

Brasília.

Brasília, DF 08 de junho de 2016.

Banca Examinadora

__________________________________________________

Profª MSc. Francisca Gallardo

(Orientadora)

__________________________________________________

Prof. MSc. Fabrício Lopes Paula

(Membro)

__________________________________________________

Prof. Dr. Weber de Lima Bonfim

(Membro)

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AGRADECIMENTOS

A Jesus Cristo cujo amor é fonte e inspiração da minha vida.

A toda a minha família, em especial a minha mãe, Ilma Rodrigues e meu pai, Manoel

Rodrigues, pelo amor, incentivo e investimento nos meus estudos.

À minha admirável orientadora, Professora Francisca Gallardo, pelo carinho, prestatividade

e orientação.

Aos professores do IESB, e ao coordenador Paulo Mafra pela dedicação em transmitir

conhecimento.

As colegas de turma pelo companheirismo.

E a todos aqueles que de alguma forma me ajudaram e incentivaram nessa jornada.

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“A mais premente necessidade do ser humano é a de ser humano.”

Clarisse Lispector

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por finalidade apresentar o fenômeno do

tráfico internacional de pessoas, a terceira modalidade criminosa mais lucrativa do mundo que

afeta milhões de pessoas, sobretudo mulheres e crianças. Nesse contexto o esforço global para

tratar desse crime organizado transnacional resultou na criação, em 2000, do principal

instrumento normativo internacional de prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas,

o Protocolo de Palermo, no entanto, sua efetividade é um desafio que começa com a

ratificação do Protocolo, que geram obrigações concretas, e sua internalização ao

ordenamento jurídico interno do país que o adere. O Brasil promulgou o Protocolo de

Palermo, em 2004, por meio do Decreto Presidencial nº 5.107, logo após ter depositado o

instrumento de ratificação junto à Secretária-geral da Organização das Nações Unidas,

assumindo o enfrentamento ao tráfico de pessoas como um tema relevante em sua agenda de

direitos humanos. Diante disso, é possível observar a influência direta do Direito

Internacional na produção de normas e políticas públicas brasileiras como a Política Nacional

de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que será objeto de análise desse trabalho a partir de

relatórios publicados pelo Ministério da Justiça do Brasil.

Palavras-chave: Tráfico Internacional de Pessoas. Protocolo de Palermo. Direito

Internacional. Políticas Públicas.

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ABSTRACT

The monograph aims to present international trafficking of people, the third most lucrative

criminal modality in the world that affects millions of people, especially women and children.

In this context the global effort to treat this transnational organized crime resulted in the

creation, in 2000, the main international instrument to prevent, suppress and punish

trafficking in persons, the Palermo Protocol, however, its effectiveness is a challenge that

begins with ratification of the Protocol, which generate specific obligations, and internalising

the domestic legal system of the country that adheres. The Brazil adopted the Palermo

Protocol in 2004, through Presidential Decree No. 5107, shortly after having deposited the

instrument of ratification with the Secretary-General of the United Nations, taking

confronting trafficking in persons as an important issue in its human rights agenda. Therefore,

it is possible to observe the direct influence of international law on the production standards

and Brazilian public policies such as the National Policy to Combat Human Trafficking which

will be analyzed in this work from reports published by the Ministry of Justice of Brazil.

Keywords: International People Trafficking. Palermo Protocol. International Law. Public

policy.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mapa das principais áreas de destino dos fluxos transregionais de tráfico e suas

significativas origens, 2010-2012.............................................................................................18

Figura 2 - Gráfico sobre o gênero das vítimas de tráfico, 2011................................................18

Figura 3 - Gráfico sobre as formas de exploração das vítimas de tráfico, 2011.......................19

Figura 4 - Gráfico sobre as formas de exploração entre vítimas de tráfico detectadas por

região, 2010 – 2012...................................................................................................................20

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tipificações penais relacionadas ao tráfico de pessoas e aos crimes correlatos......26

Tabela 2 - Número de vítimas do tráfico de pessoas e crimes correlatos entre 2011 a 2013...29

Tabela 3 - Perfil das vítimas de tráfico de pessoas – Sexo, Brasil, 2011 a 2013......................32

Tabela 4 - Estrutura do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Brasil

(2013-2016)...............................................................................................................................37

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DAC Divisão de Assistência Consular

DEPEN Departamento Penitenciário Nacional

DPF Departamento de Polícia Federal

DPRF Departamento de Polícia Rodoviária Federal

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MJ Ministério da Justiça

MRE Ministério das Relações Exteriores

MS Ministério da Saúde

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NETP Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

OIT Organização Internacional do Trabalho

OEA Organização dos Estados Americanos

ONU Organização das Nações Unidas

PAAHM Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante

PESTRAF Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins

de Exploração Sexual Comercial

PNETP Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

PR Presidência da República

SDH Secretaria de Direitos Humanos

SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública

SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SINESP Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e

sobre Drogas

SIT Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e

Emprego

SPM Secretaria de Políticas para as Mulheres

UNODC Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12

1 TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS ................................................................ 14

1.1 O HISTÓRICO DO TRÁFICO DE PESSOAS .................................................................. 14

1.2 A DEFINIÇÃO ATUAL DO TRÁFICO DE PESSOAS ................................................... 15

1.3 ASPECTOS GERAIS DO TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS ...................... 17

1.4 FATORES COLABORADORES PARA O TRÁFICO DE PESSOAS ............................ 21

2 TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL ............................................................................ 23

2.1 A INTERNALIZAÇÃO DO PROTOCOLO DE PALERMO AO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO ....................................................................................................... 23

2.2 A LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA SOBRE O TRÁFICO DE PESSOAS ........... 24

2.3 A REALIDADE BRASILEIRA SOBRE O TRÁFICO DE PESSOAS ............................ 27

2.3.1 O perfil das vítimas de tráfico de pessoas ................................................................... 30

2.3.2 O perfil do traficante e suas características ................................................................ 31

2.3.3 Indiciados e presos ......................................................................................................... 32

3 POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOA ...... 34

3.1 O I PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS ....... 34

3.2 O II PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS ...... 35

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 45

ANEXO A – DESCRIÇÃO DAS 115 METAS DO II PNETP............................................47

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda sobre tráfico internacional de pessoas, tema relevante para

as Relações Internacionais e para o Brasil por ser um país de origem, trânsito e destino de

vítimas do tráfico. O tráfico de pessoas é uma violação aos Direitos Humanos que afeta

milhões de pessoas além de ser a terceira modalidade criminosa mais lucrativa do mundo,

assim, o seu combate exige uma abordagem complexa e multidimensional.

Nesse contexto o esforço global para enfrentar esse problema resultou na criação do

Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado

Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial

Mulheres e Crianças, o principal instrumento normativo sobre a temática que traz a primeira

definição internacionalmente aceita de tráfico de pessoas. O Protocolo já foi aderido por mais

de 160 países inclusive o Brasil, com isso a hipótese deste trabalho se encontra na influência

direta do Direito Internacional na produção de políticas públicas no âmbito interno de um

país.

Neste sentido o objetivo geral deste trabalho visa analisar a efetividade da Política

Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e seus respectivos Planos Nacionais. Além

disso, os objetivos específicos buscam introduzir o arcabouço histórico e o marco legislativo

internacional sobre o tráfico humano; identificar a aplicação do Protocolo de Palermo no

âmbito jurídico do Brasil e avaliar as políticas públicas brasileiras de combate ao tráfico de

pessoas.

O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo será introduzido o

contexto histórico e o avanço da legislação internacional sobre o tráfico de pessoas, bem

como os aspectos gerais do tráfico e as causas que colaboram para ocorrência do crime na

atualidade.

O segundo capítulo será abordado a internalização do Protocolo de Palermo ao

ordenamento jurídico brasileiro e traçará um perfil do tráfico humano no Brasil com base no

Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: dados de 2013 do Ministério da Justiça.

Por último, será avaliado os Planos Nacionais I e II de Enfrentamento ao Tráfico de

Pessoas com amparo ao objetivo do Protocolo de Palermo, ou seja, na prevenção do crime,

punição dos criminosos e proteção das vítimas.

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A metodologia utilizada amparou-se na bibliográfica descritiva, com estudo de caso

dos efeitos da implementação dos Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

no Brasil. Para o alcance dos objetivos geral e específicos, a pesquisa terá uma abordagem

qualitativa para verificar a problematização do tráfico de pessoas submetendo o fenômeno a

análise e reflexão. Além disso, segue uma ordem cronológica dos acontecimentos históricos

que foi realizada mediante referências, organizando informações, dados coletados por sites,

artigos e livros, tanto impressos quanto eletrônicos.

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1 TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS

O primeiro capítulo do presente trabalho tem por objetivo explanar o contexto

histórico e o avanço da legislação internacional sobre o tráfico de pessoas, além dos aspectos

gerais do tráfico e as causas que colaboram para ocorrência do crime na atualidade.

1.1 O HISTÓRICO DO TRÁFICO DE PESSOAS

A escravidão antecede o tráfico de negros, surgindo nos primórdios da história da

humanidade, quando povos vencidos eram destinados a prestarem qualquer tipo de trabalho

aos seus conquistadores. Exemplo disso são as civilizações antigas do Egito, da Grécia e da

Roma. Damásio de Jesus cita que o problema do tráfico não é novo, e é comumente referido

de forma moderna de escravidão que persisti até os dias de hoje, problema antigo que o

mundo democrático pensava extinto1.

No Brasil o tráfico negreiro perdurou séculos e foi o último país americano a abolir a

escravidão. O motivo de tanta resistência para a libertação dos escravos era porque o Brasil

dependia de sua mão-de-obra para suas atividades econômicas desde meados do século XVI

até meados do século XIX. Depois que a Inglaterra aboliu em 1807 o tráfico nas suas

colônias, torna-se o defensor internacional da luta contra ele. Em 1808 a escravidão foi

considerada crime contra a humanidade e é sob influência ou pressão por parte da Inglaterra

que o Brasil quase meio século depois aboliu o tráfico negreiro.

Após a abolição da escravidão a preocupação mundial com os danos causados pelo

tráfico de pessoas teve como marco inicial a publicação do “Acordo Internacional para a

Repressão do Tráfico de Escravas Brancas”, em 1904, embora tenha tido uma aplicação

restrita, pois mostrava uma realidade limitada ao continente europeu2. Complementando o

Acordo de 1904, em 1910 foi formulada a “Convenção Internacional relativa à Repressão do

Tráfico de Escravas Brancas”, cujo acréscimo se deu no tocante a disposição de sanção aos

recrutadores de vítimas3. Outros instrumentos internacionais deram continuidade aos

anteriores como: a “Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres e

1 JESUS, Damásio Evangelista de. Tráfico internacional de mulheres e crianças – Brasil: aspectos regionais

e nacionais. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 15. 2 Ibid, p. 27/28.

3 Ibid, p. 27/28.

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Crianças”, realizada em Genebra em 1921; a “Convenção Internacional relativa à Repressão

do Tráfico de Mulheres Maiores”, também em Genebra em 1933. Sob a égide da Organização

das Nações Unidas ocorreu a “Convenção e Protocolo Final para a Supressão do Tráfico de

Pessoas e do Lenocínio”, em Nova York, em 1950. Essa convenção foi a primeira a

reconhecer que qualquer pessoa poderia ser vítima do crime de tráfico internacional de

pessoas.4

Mais tardar a “Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Direitos Humanos”

(Viena, 1993) e a “Conferência Mundial sobre a Mulher” (Beijing, 1995) reforçaram a ideia

de que o tráfico de seres humanos vai contra a dignidade e o valor inerente à pessoa humana e

liberdades fundamentais, e que é de interesse da humanidade combater tal crime.

Por fim, no ano de 2000, em Nova York, foi realizado a “Convenção das Nações

Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e Punição

do Tráfico de Pessoas, em especial mulheres e crianças”, também conhecido como Protocolo

de Palermo. Ele entrou em vigor internacional em 2003 e encontra-se aberto à adesão dos

Estados, em janeiro de 2016 já contava com 169 Estados-Membros e 117 signatários.5 Seus

objetivos são de caráter preventivo, punitivo e social, de recuperação e de tratamento das

vítimas com observância e respeito aos tratados de direitos humanos, e também a promoção

da cooperação entre os Estados a fim de tornar efetivos esses objetivos.

O Protocolo de Palermo traz a primeira definição internacionalmente aceita de tráfico

de seres humanos, houve um avançou na sua definição do crime, uma vez que o objeto de

proteção se estendeu para pessoas ou seres humanos, pois inicialmente a proteção se limitava

apenas às escravas brancas, e posteriormente para mulheres e crianças. Outro aspecto

importante refere-se à abrangência, até o advento do Protocolo de Palermo, a preocupação era

apenas com a prostituição, hoje o foco é a proteção de qualquer forma de exploração, seja ela

de índole sexual, laboral ou de remoção de órgãos, ocasionada pelo tráfico internacional.6

1.2 A DEFINIÇÃO ATUAL DO TRÁFICO DE PESSOAS

4 RODRIGUES, Thaís de Camargo. Tráfico internacional de pessoas para exploração sexual. São Paulo:

Saraiva, 2013, p. 62. 5 Disponível em:< https://treaties.un.org/Pages/ViewDetails.aspx?src=tREaty&mtdsg_no=XViii-12-

a&chapter=18&lang=en>. Acesso em: 25 fev. 2016. 6 RODRIGUES, op. cit., p. 63.

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O Protocolo de Palermo em seu artigo 3º define o tráfico de pessoas como:

a) o recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por

meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de rapto, de fraude, de

engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar ou

receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter

controle sobre outra pessoa, para o propósito de exploração. Exploração inclui, no

mínimo, a exploração da prostituição ou outras formas de exploração sexual,

trabalho ou serviços forçados, escravidão ou práticas análogas à escravidão, servidão

ou a remoção de órgãos;

b) O consentimento de uma vítima de tráfico de pessoas para a desejada exploração

definida no subparágrafo (a) deste artigo deve ser irrelevante onde qualquer um dos

meios definidos no subparágrafo (a) tenham sido usados;

c) O recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de uma criança

para fins de exploração devem ser considerados “tráfico de pessoas” mesmo que não

envolvam nenhum dos meios definidos no subparágrafo (a) deste artigo;

d) “Criança” deve significar qualquer pessoa com menos de 18 anos de idade.7

De acordo com essa definição, o crime de traficar pessoas tem três elementos

constitutivos referentes à forma (recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o

acolhimento de pessoas); os meios (ameaça ou uso da força ou outras formas de coação, rapto,

fraude, engano, abuso de autoridade ou situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de

pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade

sobre outra) e a finalidade que envolve diferentes formas de exploração.

Para que o Tráfico de Pessoas seja considerado crime é imprescindível a existência de

pelo menos um de cada dos três elementos constituintes do tráfico (forma, meio e finalidade),

por exemplo, a forma de recrutamento de uma pessoa por meio de ameaça para fins da

exploração sexual se configura crime de tráfico. Caso contrário a ocorrência isolada desses

elementos podem representar um delito específico na legislação criminal interna de um país.

No entanto, o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de

uma criança para fins de exploração serão considerados "tráfico de pessoas" mesmo que não

envolvam nenhum dos meios referidos na alínea “a” do artigo 3º do Protocolo de Palermo.

Embora o Protocolo não mencione outras finalidades da exploração ele deixa claro,

com o uso da expressão “no mínimo”, que esse rol é meramente exemplificativo8podendo

assumir quaisquer outras modalidades degradantes como casamentos forçados, adoções

ilegais, exploração da mendicância dentre outras. O Protocolo de Palermo cita basicamente as

7 Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas

contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em

Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-

2006/2004/Decreto/D5017.htm>. Acesso em 04 de maio 2016. 8 RODRIGUES, op. cit., p. 128.

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seguintes finalidades de exploração: a exploração sexual que para Guilherme Nucci deve ser

caracterizada como forma de retirada de vantagem em relação a alguém, valendo-se de fraude,

ardil, posição de superioridade ou qualquer forma de opressão;9 o trabalho ou serviços

forçados ou similares a escravidão que abrange uma gama de atividades de recrutamento,

abrigo e transporte da pessoa utilizando a força física ou ameaças, coerção psicológica ou

outros meios coercitivos para obrigar alguém trabalhar e o tráfico de órgãos que se caracteriza

pelo recrutamento ou recepção de pessoas vivas ou mortas ou dos respectivos órgãos por meio

de ameaça ou utilização da força ou recepção por terceiros de pagamentos ou benefícios no

sentido de conseguir a transferência de controle sobre o potencial doador, para fins de

exploração por meio da remoção de órgãos para transplante.10

1.3 ASPECTOS GERAIS DO TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS

O tráfico internacional de pessoas é um fenômeno de raízes históricas e práticas

modernas com incidência mundial, além de constituir a terceira modalidade criminosa mais

lucrativa no mundo, ultrapassada apenas pelo tráfico de drogas e contrabando de armas.11

Segundo dados fornecidos pelo Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas de 2014 do

Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o crime afeta praticamente

todos os país, em todos os continentes. Entre 2010 e 2012, foram identificados 152 países de

origem e 124 países de destino afetados pelo tráfico de pessoas, e pelo menos 510 rotas de

tráfico ao redor do mundo12

.

Observa-se de modo geral que os países de origem são menos desenvolvidos, local

onde se encontram as pessoas mais vulneráveis a esse tipo de crime. Os países de trânsito são

aqueles marcados por insuficiências de fiscalização em suas fronteiras. Já os países de

destino, em regra, são países mais desenvolvidos, ressaltando-se o crescente aparecimento de

países em desenvolvimento nessa categoria.

9 NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 2. Ed. São Paulo, Revista dos Tribunais,

2010, p. 144. 10

SIQUEIRA, Priscila; QUINTEIRO, Maria (Orgs.). Tráfico de Pessoas: Quanto vale o ser humano na

balança comercial do lucro?São Paulo: Ideias & Letras, 2013, p.46. 11

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de Pessoas Uma Abordagem para os

Direitos Humanos. 1. Ed. Brasília: Edição do autor, 2013, p. 26. 12

UNODC. Global report on trafficking in persons.2014, p. 7. Disponível em: <

http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/glotip/GLOTIP_2014_full_report.pdf>. Acesso em: 22 mar.

2015.

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Figura 1 - Mapa das principais áreas de destino dos fluxos transregionais de tráfico e suas significativas origens,

2010-2012

Fonte: UNODC, Global Report in Trafficking in Persons 2014, p. 7

Segundo o Relatório do UNODC de 2014 as informações sobre a idade e o sexo das

vítimas do tráfico de pessoas fornecidas por 80 países foram identificadas 31.766 vítimas

entre 2010 a 2012, dentre elas é possível notar que a grande maioria das vítimas são mulheres

e meninas e mais de 30% das vítimas detectadas são crianças menores de 18 anos de idade

como mostra no gráfico abaixo.

Figura 2 - Gráfico sobre o gênero das vítimas de tráfico, 2011

Fonte: UNODC, Global Report in Trafficking in Persons 2014, p. 5

Mulheres

49%

Homens

18%

Meninas

21%

Meninos

12%

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A fonte de lucro dos traficantes de pessoas esta nos diversos tipos de exploração das

vítimas. Os dois tipos mais freqüentes são a exploração sexual e o trabalho forçado com 53%

e 40% respectivamente. Apesar da baixa percentagem global, 0,3%, a remoção de órgãos se

enquadra nas formas de exploração. Além dessas finalidades de exploração o gráfico abaixo

ilustra que 7% correspondem a outros tipos de exploração que foram identificados durante a

elaboração do Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas de 2014, são eles: exploração mista

de trabalho forçado e exploração sexual, pornografia (incluindo via internet), casamentos

forçados, venda de bebês, adoção ilegal, combate armado e ritual. As informações da figura 3

foram fornecidas por 88 países e refere-se a um total de 30.592 vítimas de tráfico de pessoas

detectadas entre 2010-2012.

Figura 3 - Gráfico sobre as formas de exploração das vítimas de tráfico, 2011

Fonte: UNODC, Global Report in Trafficking in Persons 2014, p. 9

De acordo com a figura 4, a finalidade de exploração sexual é a principal forma de

tráfico de pessoas detectada nas regiões da Europa e Ásia Central e nas regiões da África e

Oriente Médio. Nas Américas, as categorias de trabalho forçado e exploração sexual são

praticamente iguais. Já nas regiões do Sudeste Asiático e Pacífico o tráfico para o trabalho

forçado é predominante no período de 2010 a 2012.

Exporação

sexual

53%

Trabalho

Forçado

40%

Outros

7%

Remoção

de órgão

0, 3 %

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Figura 4 - Gráfico sobre as formas de exploração entre vítimas de tráfico detectadas por região, 2010 – 2012

Fonte: UNODC, Global Report in Trafficking in Persons 2014, p. 9

Quanto à legislação que criminaliza o tráfico de pessoas conforme o Protocolo de

Palermo, de 173 países considerados nesta análise, 146 (85%) criminaliza todos os aspectos

do tráfico de pessoas explicitamente listados no artigo 3°, cerca de 10% dos países-membros

têm uma legislação parcial, isto é, esses países criminalizam o tráfico de pessoas

especificamente, mas a sua legislação só pode cobrir algumas vítimas (por exemplo, apenas

crianças, mulheres e / ou estrangeiros) ou determinadas formas de exploração (por exemplo,

exploração sexual) e apenas 5% dos países considerados (09 de 173) não tem uma legislação

que criminaliza especificamente tráfico de pessoas, ou mesmo algumas formas deste crime.13

É provável que os casos de tráfico podem ser processados nesses países, aproveitando outros

artigos do código penal, tais como a escravidão, o trabalho forçado, lenocínio, roubo de

criança ou outros. No entanto, é muito improvável que estes instrumentos são adaptados para

abordar a questão da assistência às vítimas. Além disso, as sanções para os traficantes podem

não ser proporcionais a gravidade dos crimes cometidos.

As regiões da África e Oriente Médio são as que mais precisam preencher a lacuna da

legislação penal, enquanto os países grandes e densamente povoados da Ásia e da América do

13 UNODC. Global report on trafficking in persons.2014, p. 7. Disponível em: <

http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/glotip/GLOTIP_2014_full_report.pdf>. Acesso em: 22 mar.

2015

53%

48%

26%

66%

37%

47%

64%

26%

10%

4%

10%

8%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

África e

Oriente Médio

Américas

Sudeste

Asiático

e Pacífico

Europa e

Ásia Central

Exploração

Sexual

Trabalho Forçado, servidão e escravidão Outras

formas de exploração

Remoção

de órgão

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21

Sul ainda têm legislação parcial, ou seja, nesses países existem pessoas desamparadas e

vulneráveis ao tráfico por não ter leis em conformidade com as normas internacionais, que

lhes proporcionariam proteção integral, como o Protocolo de Tráfico de Pessoas.14

O relatório também destaca que a impunidade deste crime continua um problema

grave, pois cerca de 40% dos de 128 países analisados relataram mais de 10 condenações, das

quais, cerca de 16% tinham mais de 50 condenações em pelo menos um dos anos de 2010-

2012 enquanto 15% não registrou uma única condenação. No geral não houve um aumento

perceptível na resposta da justiça global a este crime, deixando uma parcela significativa da

população vulnerável. A grande maioria dos países relatou um número relativamente estável

de condenações durante o período de 2010-2012, enquanto que apenas 13% viram um

aumento perceptível. No entanto, outros 10% dos países registraram tendências decrescentes

em relação ao mesmo período. Isto significa que a partir de uma perspectiva global, agregada,

a situação permaneceu inalterada.

1.4 FATORES COLABORADORES PARA O TRÁFICO DE PESSOAS

Infere-se que a problemática do tráfico de pessoas está presente em todas as regiões do

mundo e tem, entre suas causas, a ausência de direitos ou a baixa aplicação das regras

internacionais de direitos humanos, os fatores econômicos e sociais, a emigração irregular, a

discriminação de gênero e a instabilidade política e econômica em regiões de conflito, que

transformam as pessoas, em especial mulheres, crianças e adolescentes, em vítimas de

diferentes tipos de exploração. Para Damásio de Jesus, o crime de traficar pessoas cresceu nos

últimos anos por ser uma atividade que não exige grandes investimentos e gera altos lucros,

porque é muito mais rentável traficar pessoas do que as outras “mercadorias”, já que elas

podem ser “usadas” diversas vezes.15

14 Ibid, p. 7.

15JESUS, Damásio Evangelista de. Tráfico internacional de mulheres e crianças – Brasil: aspectos regionais

e nacionais. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 13/14.

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22

Conforme Maria L. Leal e Maria de F. Leal o tráfico de pessoas tem suas raízes no

modelo de desenvolvimento desigual do mundo capitalista globalizado e do colapso do

Estado, não só do ponto de vista ético, mas, sobretudo pela falta de atenção à questão social16

.

O atual modelo de globalização centraliza a riqueza mundial nas mãos de uns poucos

privilegiados, deixando marginalizada uma massa imensa de excluídos do processo produtivo.

O resultado desse processo é a existência da extrema pobreza em diversas regiões do mundo,

daí surge à vulnerabilidade das pessoas, com baixas condições de vida e ausência de

oportunidade de trabalho, tornam-se presas fáceis das promessas de uma vida melhor para si e

suas famílias em empreitadas envolvendo o tráfico humano.

Outro fator determinante é a emigração indocumentada. Este meio pelo qual as

pessoas saem de seu país e tentam entrar, sem observância dos procedimentos legais, em

outro país que ofereça melhores condições de vida, colocam-se em alto grau de

vulnerabilidade para diferentes tipos de crime, tais como o contrabando de migrantes e o

tráfico de pessoas17

.

Em algumas regiões os conflitos armados, instabilidade política, econômica e civil

causam efeitos devastadores sobre mulheres e crianças. As mulheres são particularmente

vulneráveis a abusos sexuais e trabalhos domésticos forçados por parte de grupos armados18

.

Por fim, vale ressaltar a deficiência das leis. Leis brandas ou em desconformidade com

as diretrizes internacionais favorecem a consumação e crescimento do crime19

, na medida em

que torna custoso o combate e prevenção tanto na esfera interna de um país quanto em âmbito

internacional20

.

Apesar da legislação internacional de enfrentamento ao tráfico humano ter progredido

ao longo dos anos, sua eliminação eficaz ainda está longe de ser alcançada por diversos

fatores supracitados, instando os Estados a buscar mecanismos de cooperação internacional,

bilateral e multilateral para prevenção do crime, punição dos traficantes e proteção às vítimas.

16 LEAL, Maria Lúcia; LEAL, Maria de Fátima (Orgs.). Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e

adolescentes para fins de exploração sexual comercial – PESTRAF. Relatório Nacional – Brasil. Brasília:

CECRIA, 2002. 17

OIT. Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Brasília: OIT, 2006, p. 16. 18

OIT, loc. cit. 19

JESUS, op. cit, p. 20. 20

BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Política nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Brasília:

SNJ, 2 ed., 2008, p. 40.

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23

2 TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL

Este capítulo abordará o processo de internalização do Protocolo de Palermo ao

ordenamento jurídico brasileiro e traçará o perfil do tráfico de pessoas no Brasil com base no

Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas, dados de 2013 do Ministério da Justiça.

2.1 A INTERNALIZAÇÃO DO PROTOCOLO DE PALERMO AO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO

O Tráfico de Pessoas foi abordado na “Convenção das Nações Unidas contra o Crime

Organizado Transnacional”, realizada em 1999 na Itália, ganhando profundidade e

sistematização no Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime

Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas,

em Especial Mulheres e Crianças, elaborado em 2000 em Nova Iorque. Nesse mesmo ano o

representante do Brasil assinou o Protocolo de Palermo concordando com seu conteúdo. Após

a assinatura do Protocolo compete ao Congresso Nacional a autorização da ratificação do

mesmo. O processo administrativo percorre o seguinte trâmite:

O Ministério das Relações Exteriores traduz o texto negociado para o

português, prepara uma minuta da Mensagem Presidencial, faz a análise jurídica da

legalidade do texto e encaminha ao Presidente da República;

a Casa Civil da Presidência da República faz uma análise da legalidade e do

mérito do tratado, tecendo suas considerações;

o Presidente, estando de acordo, envia a Mensagem, acompanhada da

Exposição de Motivos à Câmara dos Deputados;

a Câmara aprova o tratado, remete em seguida ao Senado Federal;

o Senado aprova o tratado;

o Presidente do Senado promulga, então, um Decreto Legislativo, que é

publicado no Diário Oficial do Senado. Este ato representa o referendo do

Congresso Nacional;

o Poder Executivo ratifica o tratado, com o depósito do instrumento de

ratificação perante o órgão depositário. O Poder Executivo ratifica o tratado porque

ele é o único com competência para agir internacionalmente em nome do Estado.

Após a autorização pelo Congresso, o chefe do Poder Executivo, por meio do

Ministério das Relações Exteriores, procede à ratificação. A partir de então, o Brasil

se compromete perante os demais Estados-partes.

o Poder Executivo publica o Decreto Executivo, promulgando e

internalizando o tratado, a partir do momento em que este integrará a ordem jurídica

interna.21

Por meio do Decreto Legislativo nº 231, de 29 de maio de 2003 o Congresso Nacional

autorizou o texto do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime

Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas,

21 VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4ª. Ed. São Paulo: editora: Saraiva, 2014, p.68

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24

em Especial Mulheres e Crianças. Em 29 de janeiro de 2004, o Brasil depositou o instrumento

de ratificação junto à Secretaria-Geral da ONU,22

posteriormente, em 14 de março de 2004, o

Protocolo de Palermo foi promulgado pelo Decreto Presidencial do Governo Lula, nº 5.107,

assumindo o enfrentamento ao tráfico de pessoas com relevância em sua agenda de direitos

humanos.

No Brasil, tratado é internalizado com a promulgação do Decreto Executivo a partir de

então, seu texto é incorporado ao ordenamento jurídico nacional. O decreto executivo tem três

funções: a promulgação do tratado, a publicação oficial de seu texto e a executoriedade do ato

internacional, que passa, então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno.

Segundo Marcelo D. Varella o tratado ratificado e internalizado no Brasil integra o direito

interno e deve ser utilizado como qualquer outra norma infraconstitucional, regulando a

matéria à qual se destina. No Brasil, os tratados em geral têm força de norma

infraconstitucional, no entanto, os tratados de direitos humanos, quando aprovados na forma

de projeto de emenda constitucional, têm força de norma constitucional.23

2.2 A LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA SOBRE O TRÁFICO DE PESSOAS

Conforme a criminalização do tráfico de pessoas o artigo 5° do Protocolo de Palermo

prevê que os Países signatários deverão adotar medidas legislativas e outras que considere

necessárias de forma a estabelecer como infrações penais os atos descritos no seu artigo 3°,

quando tenham sido praticados intencionalmente.24

Embora houvesse uma adaptação na

legislação brasileira com a tipificação de conduta do tráfico de pessoas, essa modificação no

Código Penal (pela lei n. 12.015/2009) não atende a peculiaridade e a complexidade que

contemple as características do crime conforme a definição do Protocolo de Palermo em um

dispositivo específico, pois é restrita a conduta praticada contra vítimas traficadas

internamente e internacionalmente apenas para fins de exploração sexual.25

Entretanto, há

22 Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas

contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em

Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-

2006/2004/Decreto/D5017.htm>. Acesso em: 25 de junho de 2015. 23

VARELLA, op. cit., p. 88. 24

Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas

contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em

Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-

2006/2004/Decreto/D5017.htm>. Acesso em: 25 de junho de 2015. 25

SIQUEIRA, Priscila; QUINTEIRO, Maria (Orgs.). Tráfico de Pessoas: Quanto vale o ser humano na

balança comercial do lucro?São Paulo: Ideias & Letras, 2013, p. 224.

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25

outros tipos penais que são chamados correlatos ou subsidiários ao tráfico de pessoas, no

sentido de que se cometidos em paralelo ou com meio para alcançar o fim, que seria o tráfico

de pessoas e a exploração.

Tabela 1 - Tipificações penais relacionadas ao tráfico de pessoas e aos crimes correlatos.

TRÁFICO PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL E CORRELATOS

TIPO PENAL LEGISLAÇÃO CONDUTA

Tráfico internacional

Art. 231

Código Penal

-Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de

alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra

forma de exploração sexual; ou a saída de alguém que vá

exercê-la no estrangeiro.

-Agenciar, aliciar, comprar a pessoa traficada.

-Transportar, transferir, alojar a pessoa traficada tendo

conhecimento desta condição.

Tráfico interno

Art. 231-A

Código Penal

-Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro

do território nacional para o exercício da prostituição ou

outra forma de exploração.

-Agenciar, aliciar, comprar a pessoa traficada.

-Transportar, transferir, alojar a pessoa traficada, tendo

conhecimento desta condição.

Corrupção de menores Art. 218

Código Penal

-Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a

lascívia de outrem.

Favorecimento da

prostituição ou outra

forma de exploração

sexual de vulnerável

Art. 218-A

Código Penal

-Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma

de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos

ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o

necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la,

impedir ou dificultar que a abandone.

Favorecimento da

prostituição ou outra

forma de exploração

sexual

Art. 228

Código Penal

-Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de

exploração sexual, facilitá-la ou impedir que alguém a

abandone.

Art. 229

Código Penal

-Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento

em que ocorra exploração sexual, havendo, ou não, intuito

de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente.

Rufianismo

Art. 230

Código Penal

-Tirar proveito da prostituição alheia, participando

diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no

todo ou em parte, por quem a exerça.

Crimes contra a criança e

o adolescente

Art. 244-A ECA -Submeter criança ou adolescente à prostituição ou à

exploração sexual.

CORRELATOS AO TRÁFICO PARA FINS DE TRABALHO ESCRAVO

Redução a condição

análoga à de escravo

Art. 149

Código Penal

-Redução alguém a condição análoga à de escravo, quer

submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva,

quer sujeitando-o condições degradantes de trabalho, quer

restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão

de dívida contraída com o empregador ou preposto.

-Cercear o uso de qualquer meio de transporte por parte do

trabalhador, com fim de retê-lo no local de trabalho.

-Manter vigilância ostensiva no local de trabalho ou se

apoderar de documentos ou objetos pessoais do

trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Maus tratos

Art. 136

Código Penal

-Expor a perigo a vida ou a saúde de criança ou

adolescente, sob sua autoridade, guarda ou vigilância,

sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado.

-Frustar, mediante fraude ou violência, direito assegurado

pela legislação do trabalho.

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26

Frustração de direito

assegurado por lei

trabalhista

Art. 203

Código Penal

-Obrigar ou coagir alguém a usar mercadorias de

determinado estabelecimento, para impossibilitar o

desligamento do serviço em virtude de divida.

-Impedir alguém de se desligar de serviços de qualquer

natureza, mediante coação ou por meio de retenção de

seus documentos pessoais ou contratuais.

Aliciamento para o fim de

emigração

Art. 206

Código Penal

-Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de

levá-los para território estrangeiro.

Aliciamento de

trabalhadores de um local

para outro do território

nacional

Art. 207

Código Penal

-Aliciar trabalhadores para transporte dentro do território

nacional, com ou sem fraude ou cobrança de qualquer

quantia.

CORRELATOS AO TRÁFICO PARA FINS DE CASAMENTO SERVIL

Cárcere privado Art. 148

Código Penal

- Privar alguém de sua liberdade mediante cárcere

privado.

Redução à condição

análoga à de escravo

Art. 149

Código Penal

-Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer

submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva,

quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho,

quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em

razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.

CORRELATOS AO TRÁFICO PARA FINS DE REMOÇÃO DE ÓRGÃOS, TECIDOS E PARTES DO

CORPO HUMANO

Crimes contra a Lei de

Transplante

Art. 14 da

Lei n° 9.434/97

-Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou

cadáver com o fim de lucro ou sem a autorização do

doador ou responsável.

Crimes contra a Lei de

Transplante

Art. 15 da

Lei n° 9.434/97

-Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo

humano.

-Promover, intermediar, facilitar ou auferir vantagem com

a transação.

Art. 16 da

Lei n° 9.434/97

-Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos

ou partes do corpo humano de que se tem ciência que

foram obtidos de forma ilícita.

Art. 17 da

Lei n° 9.434/97

-Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do

corpo humano de que se tem ciência que foram obtidos de

forma ilícita.

CORRELATOS COM AS DIVERSAS MODALIDADES DE TRÁFICO DE CRIANÇA E

ADOLESCENTE

Crimes contra a criança e

o adolescente

Art. 238 ECA -Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a

terceiro, mediante paga ou recompensa.

Art. 239 ECA -Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao

envio de criança ou adolescente para o exterior com

inobservância das formalidades legais ou com o fito de

obter lucro.

CORRELATOS COM AS DIVERSAS MODALIDADES DE TRÁFICO DE ESTRANGEIRO

Fraude de Lei sobre

Estrangeiros

Art. 309

Código Penal

-Atribuir a estrangeiro falsa qualidade, para promover-lhe

a entrada em território nacional.

Crimes do Estatuto do

Estrangeiro

Art. 125,

Inciso XII da Lei

nº 6.815

-Introduzir estrangeiro clandestinamente ou ocultar

clandestino ou irregular.

Fonte: Secretaria Nacional de Justiça. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Dados de 2013. Brasília:

Ministério da Justiça, 2014, p. 11.

Dada a ausência de previsão legal das outras modalidades de tráfico de pessoas,

segundo o Protocolo de Palermo, são os tipos penais da tabela acima que podem ser aplicados,

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27

responsabilizando aqueles que pratiquem o tráfico de pessoas com outras finalidades que não

a exploração sexual.26

2.3 A REALIDADE BRASILEIRA SOBRE O TRÁFICO DE PESSOAS

O Brasil é um país de origem e destino do tráfico humano, vítimas brasileiras foram

encontradas na Suíça, Portugal e Espanha submetidas à exploração sexual, e no Brasil, foram

encontradas pessoas do Paraguai, Peru e Haiti submetidas à condição análoga a de escravo.

De acordo com a Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para

fins de Exploração Sexual Comercial (PESTRAF) no Brasil, publicada em 2002, existem

cerca de 240 rotas de tráfico de pessoas no país sendo que 131 rotas interligam o Brasil ao

exterior, com forte concentração na Região Norte, 78 rotas interestaduais e 32 rotas

intermunicipais. As rotas são estrategicamente construídas a partir de cidades que estão

próximas as rodovias, portos e aeroportos, oficiais ou clandestinos, que são pontos de fácil

mobilidade. Pode utilizar-se de vias terrestres, aéreas, hidroviárias e marítimas.27

Há uma precariedade muito grande com relação aos dados correspondentes ao tráfico

de pessoas, no entanto, existe um número considerável de fontes oficiais capazes de produzir

informações sobre o tema que são aqueles pertencentes ao campo da justiça e da segurança

pública, como a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça

através do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas

(SINESP), o Departamento de Polícia Federal (DPF), o Departamento Penitenciário Nacional

(DEPEN), o Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF). Além desses órgãos

também há outras instituições que possuem informações importantes sobre tráfico de pessoas.

São elas a Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores

(DAC/MRE), a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), a Secretaria de Políticas para as

Mulheres (SPM), a Coordenação-Geral de Vigilância de Doenças e Agravos não

Transmissíveis e Promoção da Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da

Saúde (MS), o Departamento de Proteção Social Especial da Secretaria Nacional de

26 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Consolidação dos

dados de 2005 a 2011. Brasília: Ministério da Justiça, 2011, p. 10. 27

LEAL, Maria Lúcia; LEAL, Maria de Fátima (Orgs.). Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e

adolescentes para fins de exploração sexual comercial – PESTRAF. Relatório Nacional – Brasil. Brasília:

CECRIA, 2002.

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28

Assistência Social (DPSE/SNAS/MDS) e Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério

do Trabalho e Emprego (SIT/MTE).28

Os dados sobre vítimas da tabela abaixo trazem informações diferenciadas na

abordagem quanto ao crime dc tráfico de pessoas. Enquanto os dados da DAC, SDH, SPM,

MDS e MS estão de acordo com a definição conceitual de tráfico de pessoas da Convenção de

Palermo, os dados das instituições da Segurança Pública e da Justiça Criminal- DPF e DPRF

trazem informações de acordo com a legislação penal brasileira.

Tabela 2 - Número de vítimas do tráfico de pessoas e crimes correlatos entre 2011 a 2013.

Ano/ Ator

estratégico DAC SDH/PR SPM/PR MS MDS MTE SENASP DPRF

2011 9 32 35 80 - 2.485 2 169

2012 8 170 58 130 292 2.750 71 547

2013 62 309 340 115 64 2.089 254 329

Fonte: Secretaria Nacional de Justiça. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Dados de 2013 (Adaptado

pela autora, 2016).

Em 2013, a Divisão de Assistência Consular registrou 62 vítimas de tráfico de

pessoas, sendo que 41 (66%) foram de tráfico para exploração sexual e 21 (34%) de trabalho

escravo. Dentre 41 casos de exploração sexual, 36 envolveram vítimas do sexo feminino e

cinco de sexo não informado. Nos casos de trabalho escravo, as vítimas do sexo masculino

foram maioria, sendo 11 casos cujas vítimas eram homens, 07 eram mulheres e 03 não havia

informação.29

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República registrou 309 vítimas,

por meio do Disque 10030

, cerca de dez vezes maior que o número de 2011 (32), e o dobro do

ano anterior (170). Os estados mais populosos foram os que tiveram os maiores números de

28 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas: Dados de 2013.

Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 10. 29

Ibid, p. 17. 30

O Disque Denúncia Nacional é um serviço de discagem direta e gratuita disponível para todo o Brasil. É

coordenado pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República. Sua função é encaminhar as

denúncias de violações contra direitos humanos em geral à rede de proteção e responsabilização local onde a

vítima se encontre, além de utilizar os dados para mapear as regiões mais críticas, possibilitando uma definição

das regiões prioritárias no estabelecimento de políticas públicas.

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29

vítimas de tráfico de pessoas em 2013, São Paulo com 51 vítimas, Minas Gerais com 35 e Rio

de Janeiro com 34.31

A Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República recebeu 340

denúncias de tráfico de pessoas e crimes correlatos por meio de relatos feitos ao Ligue 180.32

Observa-se que de 2012 para 2013 as denúncias aumentaram de 58 para 340. O Ministério da

Saúde contabilizou o atendimento de 115 vítimas sendo a grande maioria (82) vítimas do sexo

feminino. Já o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Forme registrou 64

atendimentos vítimas de tráfico de pessoas e crimes correlatos em todo território nacional.33

O Ministério de Trabalho e Emprego responsável por todos os registros de

trabalhadores resgatados na condição análoga à de escravo no Brasil, contabilizou, em 2013,

2.098 trabalhadores resgatados através das operações empreendidas pelo grupo especial de

fiscalização móvel, vinculado à MTE, assim como pelas equipes de fiscalização formadas nas

Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego. A concentração desses casos deu-se

principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, com 419 e 446 trabalhadores

resgatados no ano, respectivamente. Outros estados registraram além dos citados mais de uma

centena de trabalhadores resgatados nessas operações, caso dos estados do Pará, da Bahia, de

Goiás, do Rio de Janeiro, do Ceará e do Mato Grosso do Sul.34

Pode-se citar também a presença de estrangeiros com predominância de bolivianos na

indústria têxtil na cidade de São Paulo e região metropolitana, em situações de trabalho

escravo em 2013. Conforme a MTE também foi verificada a existência de trabalhadores

estrangeiros provenientes de países como Paraguai, Peru, Haiti e Argentina submetidos à

condição análoga à de escravo nos estados do Amazonas, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul,

Mato Grosso, Rondônia e Santa Catarina. O percentual de estrangeiros entre os trabalhadores

resgatados, que variava em uma margem de um a três por cento do total de trabalhadores,

31 Ibid, p. 21.

32 Em 2005, a Secretaria de Políticas para as Mulheres lançou a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180,

que tem como finalidade recebe denúncias, orientar e encaminhar para os órgãos competentes os casos de tráfico

de pessoas e de cárcere privado. Nos casos de violência contra mulher (doméstica, por exemplo), a central

orienta a mulher sobre seu direitos e sobre onde deve buscar ajuda e/ ou fazer a denúncia. 33

Ibid, p. 25. 34

Ibid, p. 28.

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30

saltou para 13, 35 em 2013, ou seja, 278 estrangeiros de um total de 2.089 trabalhadores

resgatados.35

De acordo com as informações existentes sobre tráfico de pessoas e crimes correlatos

ocorridos no ano de 2013, provenientes das polícias de 18 dos 27 unidades federativas, cuja

fonte é o Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública, houve 254 casos de vítimas

registradas nas delegacias das polícias civis, sendo São Paulo e Minas Gerais os estados que

tiveram o maior número de vítimas registradas, a forma de exploração mais comum foi a

sexual com 134 casos, somando-se os crimes de tráfico interno e internacional (52% das

ocorrências), e o trabalho escravo, que respondeu por 113 das 254 ocorrências registradas

(43,7% das ocorrências).

No ano de 2013, o DPRF detectou em suas operações 329 vítimas de tráfico de

pessoas para fins de exploração de trabalho escravo. Também vale ressaltar o projeto de

mapeamento de pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas

rodovias federais brasileiras, realizado pelo DPRF. Ambientes ou estabelecimentos onde os

agentes da Polícia Rodoviária Federal encontram características – presença de adultos se

prostituindo, inexistência de iluminação, ausência de vigilância privada, locais costumeiros de

parada de veículos e consumo de bebida alcoólica – que propiciam condições favoráveis à

exploração sexual de crianças e adolescentes. Em 2013, 590 crianças e adolescentes foram

resgatadas de situações de risco das rodovias federais brasileiras.36

2.3.1 O perfil das vítimas de tráfico de pessoas

O Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas de 2013 traz importantes informações

relativas ao perfil das vítimas de tráfico de pessoas retratadas nas denúncias recebidas pela

SDH. Com relação ao sexo das vítimas verifica-se uma concentração consideravelmente

maior de mulheres do que de homens em todos os anos. No ano de 2013 essa concentração de

mulheres foi muito superior que nos dois anos anteriores. Do total de casos em que o sexo da

vítima foi informado (184 do total de 309 casos do ano), 135 foram mulheres, o que

corresponde a 73,4% dos casos.37

35 Ibid, p. 28.

36 Ibid, p. 32.

37 Ibid, p. 34.

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31

Tabela 3- Perfil das vítimas de tráfico de pessoas – Sexo, Brasil, 2011 a 2013

SEXO 2011 2012 2013

Feminino 15 57 135

Masculino 11 46 49

Total válido 26 103 184

Não informado 6 67 125

Total 32 170 309

Fonte: Disque 100/SDH

Quanto à faixa etária, houve uma maior concentração de vítimas entre as crianças e

adolescentes, no ano de 2013, 177 de um total de 309 casos de vítimas de tráfico de pessoas

reportadas à SDH 162 estavam nas faixas entre recém-nascidos e 17 anos de idade. Também

constaram como vítimas nas denúncias feitas ao órgão 15 adultos distribuídos entre os 18 e 55

anos de idade. De acordo com os dados do MS, de 115 vítimas reportadas ao órgão 82 eram

do sexo feminino e as vítimas se concentravam entre 0 e 29 anos de idade.38

Nas denúncias feitas à SDH e o MS em 2013, a maior parte das vítimas foi reportada

pelos denunciantes como brancas, seguidas das pardas e das pretas. O MS também trouxe

informações sobre a escolaridade, considerando o total válido de dados (70 de 115), houve

uma concentração maior de vítimas (22 de 70) que concluíram entre a quinta e a oitava série

do Ensino Fundamental. Percebe-se também um número considerável de vítimas (16 de 70)

que ou são analfabetas ou concluíram no máximo até a quarta série do Ensino Fundamental.

Com relação ao estado civil das vítimas notificadas ao sistema de saúde, 42 vítimas de um

total válido (73 de 115) se declararam como solteiras e 25 casadas ou em união consensual. O

MS também reportou que a grande maioria das vítimas 99 de 115 residia em zona de

residência urbana.39

De acordo com as informações do MTE em 2013, a faixa etária dos trabalhadores

resgatados se concentrava entre os 18 e os 39 anos de idade, embora houvesse também uma

quantidade considerável de vítimas entre os 40 e os 64 anos e em menor proporção entre os 15

e 17 anos de idade. A grande maioria dos trabalhadores resgatados era do sexo masculino e

38 Ibid, p. 36.

39 Ibid, p. 37.

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32

como esperado, o grau de instrução dos trabalhadores resgatados era consideravelmente

baixo, a maior parte das vítimas concentra-se entre os analfabetos e os que possuem no

máximo até o quinto ano do ensino fundamental incompleto. Com relação à raça/cor da pele,

a maior proporção entre os trabalhadores resgatados era de negros (somando as categorias:

preta e parda, Mulata, Cabocla, Cafuza, Mameluca ou Mestiça de Preto com outra cor ou

raça), seguidos de amarelos e os brancos. O trabalho agropecuário era a principal ocupação

exercida pelos trabalhadores no momento em que foram resgatados pelas operações de

fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego. Também foi identificado um número

considerável de trabalhadores relacionados ao campo da construção civil e serviços.40

2.3.2 O perfil do traficante e suas características

Além dos dados relativos ao perfil das vítimas de tráfico de pessoas, já apresentados

anteriormente, há também informações sobre o perfil dos suspeitos do crime reportados pelos

denunciantes junto a Secretaria de Direitos Humanos.

As mulheres aparecem com maior frequência do que os homens como suspeitas de

serem autoras de crimes de tráfico de pessoas. Em 2013, foram apontadas como suspeitas 174

mulheres e 131 homens, no ano anterior, entretanto, haviam sido consideravelmente menor 99

mulheres e 91 homens. Com relação à faixa etária, houve uma grande concentração de

suspeitos distribuída entre os 18 aos 50 anos. De acordo com as denúncias, a maior parte dos

suspeitos era composta por brancos, seguidos dos negros e dos pardos. Outro dado importante

apontado pela SDH diz respeito o relacionamento existente entre vítima e traficante, de 398

de um total válido de 590 suspeitos do crime 285 foi apontado como um desconhecido, já o

número de conhecidos, em especial de parentes da vítima foram 82 suspeitos em 2013.41

2.3.3 Indiciados e presos

O Departamento de Polícia Federal apresentou as informações do número de

inquéritos instaurados sobre os crimes de tráfico internacional e interno de pessoa para fim de

exploração sexual (artigos 231 e 231-A do Código Penal) de todos estados brasileiro,

somados chega a 75 inquéritos instaurados com uma maior concentração de casos em alguns

40 Ibid, p. 40.

41 Ibid, p. 45.

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estados, como São Paulo (10) e Goiás (7) seguidos por Ceará (5), Roraima (5) e Paraná (5).

Além disso, a Polícia Federal apresentou 268 inquéritos instaurados sobre o crime de redução

à condição análoga à de escravo (Art. 149) totalizando 343 inquéritos em 2013, não havendo

significativas alterações em relação ao ano de 2012, 348 inquéritos.42

Outra informação relevante sobre os procedimentos e encaminhamentos dados às

ocorrências de tráfico de pessoas são os dados das prisões realizadas relativas ao crime. A

principal fonte relativa a essa informação é o Departamento Penitenciário Nacional, que reúne

as informações prisionais de todas as unidades federativas do Brasil. De acordo com os dados

existentes, até o final do primeiro semestre de 2013 havia no sistema 36 presos por tráfico de

pessoas, sendo 27 homens (22 por tráfico internacional de pessoas e 05 por tráfico interno) e

09 mulheres (07 e 02, respectivamente).43

Através dos informes apresentados é possível notar a ausência de dados padronizados

em razão da inarmonia da definição do tráfico de pessoas previsto no Protocolo de Palermo e

a legislação penal brasileira. Além disso, o país sofre com a reduzida competência para

coletar dados devido à falta de recursos, coordenação ou falta de capacitação de profissionais.

Soma-se a isso o fato de que o tráfico de pessoas é uma das formas de criminalidade

subnotificada tornando difícil avaliar com precisão a realidade do tráfico de pessoas no Brasil.

42 Ibid, p. 48.

43 Ibid, p. 51.

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34

3 POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOA

Para cumprir com as obrigações previstas no Protocolo de Palermo o Governo

brasileiro em ação articulada com seus Órgãos públicos, a sociedade civil e as Organizações

Internacionais elaboraram os Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que

serão objetos de análise neste capítulo.

3.1 O I PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS

Por meio do Decreto Presidencial n° 5.948, de 26 de outubro de 2006, foi criada, no

Brasil, a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que tem por objetivo

estabelecer princípios, diretrizes e ações de prevenção e repressão ao tráfico de pessoas e de

atenção às vítimas, conforme as normas e instrumentos nacionais e internacionais de direitos

humanos e a legislação pátria. A Política Nacional instituiu o Grupo de Trabalho

Interministerial responsável pela elaboração do I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico

de Pessoas (I PNETP), publicado no dia 8 de janeiro de 2008 por meio do Decreto nº 6.347. O

referido plano foi previsto para execução em dois anos, cabendo ao Ministério da Justiça a

articulação de instituições do poder público, no âmbito das três esferas de governo e poder e,

no âmbito da sociedade civil diretrizes para seu cumprimento, a avaliação e o monitoramento

da execução do I Plano Nacional.

O I PNETP estabeleceu três eixos de atuação condizentes com Protocolo de Palermo.

No tocante à prevenção as prioridades foram: levantar, sistematizar, elaborar e divulgar

estudos, pesquisas, informações e experiências sobre o tráfico de pessoas; capacitar e formar

atores envolvidos direta ou indiretamente com o enfrentamento ao tráfico de pessoas na

perspectiva dos direitos humanos; mobilizar e sensibilizar grupos específicos e comunidade

em geral sobre o tema e diminuir a vulnerabilidade de determinados grupos sociais ao tráfico

de pessoas.44

No âmbito da repressão do crime e de responsabilização de seus autores o foco estava

em: aperfeiçoar a legislação brasileira relativa ao enfrentamento ao tráfico de pessoas e crimes

correlatos; ampliar e aperfeiçoar o conhecimento sobre a temática além de fomentar a

44 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas Brasília:

Ministério da Justiça, 2008, p. 13. Disponível em: < http://www.unodc.org/documents/lpo-

brazil//Topics_TIP/Publicacoes/2008_PlanoNacionalTP.pdf>. Acesso em: 25 de junho de 2015.

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cooperação entre os órgãos federais, estaduais e municipais envolvidos no enfrentamento ao

tráfico de pessoas para atuação articulada na repressão do crime e responsabilização de seus

autores; criar e aprimorar instrumentos para o combate ao crime bem como estruturar órgãos

responsáveis portal e fomentar a cooperação internacional para repressão ao tráfico de

pessoas. Já no eixo de atenção às vítimas o objetivo era: articular, estruturar e consolidar, a

partir dos serviços e redes existentes, um sistema nacional de referência e atendimento às

vítimas de tráfico.45

Decorrido o prazo de vigência do I PNETP e diante dos resultados das ações,

monitoradas e analisadas em um encontro nacional da rede de enfrentamento ao tráfico de

pessoas, ocorrido em Belo Horizonte, foram identificadas ações ainda pendentes para

efetivação, assim como outras demandas existentes. O resultado desse encontro foi a

continuidade de articulação entre instituições, incluindo Comitês Interinstitucionais, para o

fim de elaboração de um debate nacional sobre metas a serem revisadas e metas a serem

criadas para o II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (II PNETP).

3.2 II PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS

Em 2013, foi promulgado o Decreto nº. 7.901 que instituiu a Coordenação Tripartite

da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e o Comitê Nacional de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, responsáveis pela aprovação do II Plano Nacional de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e a instituição do Grupo Interministerial de

Monitoramento e Avaliação do II PNETP através da Portaria Interministerial nº 634, de

fevereiro de 2013.

O II PNETP visa ampliar e aperfeiçoar as medidas adotadas pelo I PNETP e para isso

ele conta com o Ministério da Justiça; a Secretaria de Políticas para as Mulheres da

Presidência da República; a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República;

Casa Civil da Presidência da República; o Ministério das Relações Exteriores; o Ministério da

Educação; o Ministério da Defesa; o Ministério da Cultura; o Ministério do Trabalho e

Emprego – Secretaria de Inspeção do Trabalho; o Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome; o Ministério da Saúde; o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;

o Ministério do Turismo; o Ministério do Desenvolvimento Agrário; a Secretaria-Geral da

45 Ibid, p. 16.

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36

Presidência da República; a Advocacia-Geral da União e a Secretaria de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial para sua execução além do apoio do Ministério Público

Federal e do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e

da União.

O II PNETP está estruturado em 05 linhas operativas que descrevem 14 atividades e

115 metas a serem cumpridas até 2016.

Tabela 4 - Estrutura do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Brasil (2013-2016)

Linha

Operativa 1

Linha

Operativa 2

Linha

Operativa 3

Linha

Operativa 4

Linha

Operativa 5

Atividade

1. A

09

Metas

Atividade 2. A 05 Metas

Atividade

3. A

25

Metas

Atividade

4. A

08

Metas

Atividade

5. A

04

Metas

Atividade 2. B 05 Metas

Atividade 2. C 04 Metas Atividade

4. B

03

Metas Atividade 2. D 19 Metas

Atividade 2. E 12 Metas

Atividade

4. C

04

Metas

Atividade 2. F 06 Metas

Atividade 2. G 07 Metas

Atividade 2. H 04 Metas

Fonte: Secretaria Nacional de Justiça. Avaliação sobre o progresso do II Plano Nacional de Enfrentamento

ao Tráfico de Pessoas (II PNETP). Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 10.

A Avaliação sobre o Progresso do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de

Pessoas de 2014, teve como base os dois primeiros anos de implementação do plano (2013-

2014) e já alcançou resultados significativos com progresso de 81,8% das atividades e com a

classificação de ótimo ou bom de 70% das metas avaliadas.

Das 115 metas existentes no II PNETP, apenas 07 não foram iniciadas e 108 já

iniciaram sua execução, sendo que 16 estão concluídas e as outras 92 metas estão em

andamento, destas, 22 são consideradas metas em situação contínua e/ou permanente. Em

relação aos resultados obtidos das 115 metas, segundo os indicadores de gestão do progresso

das metas, 54 metas estão com ótimo progresso, 28 metas estão com bom progresso e 15 estão

com progresso regular, verifica-se que 12 metas apresentam um progresso ruim e 02 metas

foram avaliadas com péssimo progresso.46

Um ponto de preocupação relatado no documento diz respeito à redução orçamentária

dos órgãos responsáveis pela execução do IIPNETP, conforme as 115 metas existentes, 74%

46 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Avaliação sobre o progresso do II Plano Nacional de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (II PNETP). Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 40.

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são consideradas orçamentárias e apenas 26% não são orçamentárias.47

Assim, os cortes

orçamentários poderão prejudicar o progresso das metas até finalizar o plano.

A primeira linha operativa refere-se ao aperfeiçoamento do marco regulatório para

fortalecer o enfrentamento ao tráfico de pessoas. A única atividade dessa linha operativa

destaca a relevância da produção de propostas normativas para o combate ao tráfico humano

que prevê dentre as 09 metas a elaboração e aprovação de projeto de lei específico sobre

tráfico de pessoas e punição mais rigorosa dos autores do crime, inclusive na aplicação da lei

de execuções penais para tais casos. Conforme a avaliação sobre o progresso do IIPNETP a

atividade 1.A possui 09 metas sendo todas de natureza não orçamentária, dentre elas 04 já

foram concluídas, 03 está em desenvolvimento, 01 é permanente e está em execução e 01

ainda não foi iniciada. Essa atividade apresentou 81% de progresso, sendo ótima a sua

classificação, devido às múltiplas ações desenvolvidas visando aperfeiçoar as legislações

existentes ou fomentar a criação de novos parâmetros jurídicos que culminem na promulgação

de leis adequadas para enfrentar o tráfico humano no Brasil. As metas 1.A.7 e 1.A.8 foram

classificadas quanto ao seu progresso como ruins, por não apresentar proposta para aplicação

de sanções administrativas a empresas e instituições financiadas ou apoiadas com recursos

públicos, inclusive as que executam grandes obras governamentais no Brasil, que tenham sido

condenadas em processos de tráfico de pessoas e por não ter uma estratégia desenvolvida para

internalização e regulamentação da Convenção das Nações Unidas para a Proteção dos

Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de suas Famílias, em tramitação no

Congresso Nacional.48

A segunda linha operativa é composta por 08 atividades que corresponde à integração

e fortalecimento das políticas públicas, redes de atendimento, organizações para prestação de

serviços necessário ao combate ao tráfico de seres humanos. A atividade 2.A dispõe de 05

metas, sendo que 01 já está concluída, 03 já foram iniciadas e estão em execução e 01 ainda

não foi iniciada. Das 05 metas existentes 04 são de natureza orçamentária e 01 não é

orçamentária. Essa atividade retratou uma ótima classificação de progresso de 95% em

relação à execução de ações previstas para o enfrentamento ao tráfico de pessoas de modo

integrado a Rede de Núcleos, Postos e Comitês e a integração junto às organizações da

sociedade civil. Atualmente existem 17 Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

47 Ibid, p. 40.

48 Ibid, p. 47.

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(NETP) sendo 16 Núcleos estaduais e 01 Núcleo municipal, 15 Postos Avançados de

Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM), 15 Comitês estaduais, regionais e/ou

distrital de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e 01 Comitê Nacional de Enfrentamento ao

Tráfico de Pessoas.49

A atividade 2.B também possui 05 metas, 02 já iniciaram e 03 são permanentes. Das

05 metas 03 metas são orçamentárias. Essa atividade apresentou um progresso de 96% quanto

ao desenvolvimento de mecanismos e sistemas de monitoramento público em relação às ações

de enfrentamento ao tráfico humano, alcançando um ótimo progresso. A atividade 2.B já

resultou a publicação de 04 relatórios de monitoramento do II PNETP e a implantação e

aperfeiçoamento da Rede de assistência social, da Rede de políticas para as mulheres e da

Rede de Núcleos e Postos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.50

A atividade 2.C tem 04 metas visto que 03 estão iniciadas e 01 é permanente. Das 04

metas estabelecidas 02 são orçamentárias. Essa atividade teve ótima classificação e mostrou

um progresso de 85% quanto à instauração de cooperação e acordos entre o Brasil e outros

países de fronteira com destaque para a implementação da Estratégia Nacional de Fronteira, a

inclusão da temática do tráfico de pessoas em operações das Forças Armadas (Operação

Ágata), a inclusão da temática do tráfico de pessoas em todas as reuniões das Comissões

Bilaterais, a realização da reunião de Altas Autoridades em Tráfico de Pessoas da

Organização dos Estados Americanos (OEA) para monitoramento do Plano Hemisférico e as

Declarações de entendimento e cooperação mútua entre Brasil, Argentina, Venezuela,

Paraguai, Uruguai, etc.51

A atividade 2.D é composta por 19 metas, 03 já foram concluídas, 13 estão iniciadas e

03 são permanentes. Das 19 metas estabelecidas 13 são orçamentárias e 06 não são

orçamentárias. A atividade 2.D mostrou um progresso de 84,2% com a implementação de

estratégias de integração dos sistemas nacionais para atendimento e reintegração das vítimas

do tráfico de pessoas como a inclusão do público vítima de tráfico nas diretrizes do Sistema

Único de Assistência Social, a inclusão dos relatos de tráfico nos sistemas da Central de

Atendimento “Ligue 180”, a inclusão do tema como diretrizes para o atendimento na área da

saúde e a parceria dos postos consulares com fim de identificação de casos de tráfico de

49 Ibid, p. 48.

50 Ibid, p. 48.

51 Ibid, p. 49.

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39

pessoas. A atividade também apresentou avanços quanto à produção de documentos que

tratam do tema em distintas abordagens e nuances, sendo ótimo seu progresso.52

A atividade 2.E tem 12 metas, 09 estão iniciadas, 02 são permanentes e apenas 01 não

foi iniciada. Das 12 metas estabelecidas 09 são de naturezas orçamentárias. A atividade

apresentou um progresso de 73,2% em relação à implementação de mecanismos voltados à

repressão do tráfico de pessoas como a inclusão de defensores públicos nas instâncias dos

Comitês de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, a inclusão da temática do tráfico humano

em cursos de formação de policiais rodoviários, a formação de diretrizes e mecanismos de

monitoramento para o funcionamento dos Gabinetes de Gestão Integrada de Segurança

Pública, a inclusão de Oficiais de ligação e adidos da polícia federal em países estrangeiros,

caso haja necessidade da articulação com a Rede de Núcleos e Postos de Enfrentamento ao

Tráfico de Pessoas e a elaboração de projetos de Delegacia de Direitos Humanos para a

atuação da Polícia Federal nos crimes de tráfico de pessoas. No geral a atividade foi

classificada com boa por mais que as metas 2.E.7 e 2.E.8 fossem classificadas com ruins por

não ter Oficiais da Polícia Federal presentes nos países que recebem vítimas brasileiras de

tráfico de pessoas atuando como ponto de contato para a cooperação bilateral e multilateral na

repressão e responsabilização ao tráfico e por não ter delegacias especializadas de combate

aos crimes contra os direito humanos.53

Já a atividade 2.F possui 06 metas, 03 estão iniciadas, 02 são permanentes e 01 ainda

será iniciada. Das 06 metas existentes apenas 01 é orçamentária. Essa atividade apresentou

um progresso de 63,2% por isso foi classificada com progresso regular, pois existem poucas

ações e operações táticas voltadas ao combate de redes, pessoas e organizações que atuam ou

se beneficiam financeiramente, nacional e internacionalmente, do tráfico de pessoas além das

poucas ações voltadas à repressão do crime relatadas no âmbito do sistema de monitoramento

devendo ser priorizada até o fim do prazo do plano.54

A atividade 2.G é formada por 07 metas, 01 já foi concluída, 04 estão iniciadas e 02

são permanentes, todas elas são de natureza orçamentárias. Essa atividade demonstrou um

progresso de 74,2%, considerado bom progresso, embora existam poucas informações sobre o

52 Ibid, p. 50.

53 Ibid, p. 51.

54 Ibid, p. 52.

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número de serviços implementados e número de vítimas de tráfico de pessoas atendidas nos

serviços.55

Por fim, a atividade 2.H é composta por 04 metas, sendo que 03 estão iniciadas e 01 é

permanente. Dentre as 04 metas existentes 03 são orçamentárias. Houve um progresso de 80%

nessa atividade, classificada com um bom progresso, pois estão sendo implementados um

conjunto de ações e estratégias, advindas da realização da 1º Conferência Nacional de

Migração e Refugio voltadas à promoção da garantia de direitos de cidadãos estrangeiros

vítimas do tráfico humano no Brasil.56

A terceira linha operativa diz respeito à capacitação de profissionais, atores e grupos

sociais para o enfrentamento ao tráfico de pessoas, com atenção para regiões onde haja maior

incidência ou risco de casos. Essa linha operativa só tem uma atividade que dispõe de 25

metas das quais, 03 podem ser consideradas concluídas, 17 já foram iniciadas, 04 são

permanentes e apenas 01 ainda não foi iniciada. Dentre as 25 metas 22 são orçamentárias e 03

não são orçamentárias. A atividade 3.A apresentou um progresso de 83,2%, considerado um

bom progresso, embora as metas 3.A.14 e 3.A.15 tenham registrado uma classificação ruim

quanto a capacitação de profissionais atuantes nas áreas de atendimento nos principais

aeroportos do país e a capacitação das equipes de Saúde da Família para identificar e mediar

situações de violência doméstica como fator de vulnerabilidade ao tráfico de pessoas. No mais

têm sido desenvolvidas inúmeras ações voltadas à capacitação, à formação, à conscientização

e à sensibilização de profissionais dos mais diversos campos e das mais distintas áreas de

atuação no que tange ao enfrentamento do tráfico humano.57

A penúltima linha operativa é formada por 03 atividades, todas de natureza

orçamentária, que tem relação à produção, gestão e disseminação de informação e

conhecimento sobre o tráfico de pessoas. A atividade 4.A possui 08 metas, 01 já foi

concluída, 03 já foram iniciadas, 02 são permanentes e 02 não foram iniciadas. Essa atividade

apontou um progresso de 82,8% das ações voltadas à produção de pesquisas, análise de dados

e diagnósticos sobre tráfico humano, considerada com um ótimo progresso.58

55 Ibid, p. 53.

56 Ibid, p. 54.

57 Ibid, p. 55.

58 Ibid, p. 56.

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A segunda atividade tem 03 metas, 01 pode ser considerada concluída e 02 já foram

iniciadas. A atividade 4.B apresentou um progresso de 100% e já pode ser considerada como

atividade cumprida integralmente, especialmente, pelos conteúdos produzidos sobre o

enfrentamento ao tráfico de pessoas, pela realização de boas práticas e pelo perfil apresentado

de instituições que possuem experiências de enfrentamento ao tráfico humano, além disso,

estas foram premiadas. Já a atividade 4.C que dispõe de 04 metas, 01 concluída e 03 iniciadas,

apresentou um progresso de 75%, considerado bom devido ao desenvolvimento de

documentos e relatórios voltados a produção de dados sobre o tráfico de pessoas,apesar de

que seja necessário criar um sistema de dados, informatizado, integrado e multidisciplinar,

atualizado permanentemente pelos atores envolvidos para subsidiar a coordenação de ações e

intercambiar informações entre as diferentes organizações.59

A última linha operativa tem apenas uma atividade que concerne no desenvolvimento

e apoio de campanhas bem como estratégias comunicativas sobre o tráfico humano. Das 04

metas da atividade 5.A, 01 já foi concluída, 01 está iniciada, 01 é permanente e 01 ainda será

iniciada, todas elas são metas orçamentárias. Essa atividade foi classificada com boa e

apresentou um progresso de 73,2% de ações voltadas à disseminação de informações,

mobilização e realização de campanhas sobre o Enfrentamento ao tráfico de pessoas,

envolvendo vários órgãos públicos e organizações da sociedade civil.60

A Assembleia Geral da

ONU instituiu em novembro de 2013 o dia 30 de Julho como o Dia Mundial de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas onde foi marcada pela mobilização nacional através da

Campanha Coração Azul das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) em conjunto

com os Comitês Sociais e a Rede de Núcleo e Postos do Coração Azul contra tráfico humano.

A Semana de Mobilização pelo Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e as Campanhas de

enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes são outras mobilizações

nacionais realizadas até o momento.

Pode-se constatar que o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o

Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de

Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças foi um marco importante no tange a criação e

implementação de políticas públicas brasileira para combater o tráfico de pessoas. Conforme

59 Ibid, p. 59.

60 Ibid, p. 59.

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o Relatório Global do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNDOC), o Brasil está entre

os países que apresentaram avanços efetivos nas ações e na legislação sobre a temática.

Apesar do esforço brasileiro em cumprir as diretrizes internacionais no combate ao

tráfico humano, o país ainda enfrenta desafios ligados a demandas socioeconômicas,

educativas, direitos humanos e leis eficientes para minimizar a vulnerabilidade de pessoas.

Mediante complexidade e invisibilidade do crime o Governo brasileiro em cooperação com os

Organismos Internacionais e a sociedade civil já tem buscado soluções para essa problemática

com iniciativas promissoras.

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43

CONCLUSÃO

Na atual conjuntura mundial o tráfico de seres humanos afirma-se como um fenômeno

em ascensão, essa problemática tem, entre suas causas, a ausência de direitos ou a baixa

aplicação das regras internacionais de direitos humanos, fatores econômicos e sociais, como o

desemprego, a miséria, a falta de condições de vida digna, a busca por ascensão social e

melhores oportunidades de trabalho, e também fatores culturais, que transformam as pessoas,

em especial mulheres, crianças, em vítimas de diferentes tipos de exploração.

Classifica-se a hipótese levantada desse trabalho como verdadeira, devida à ratificação

do Protocolo de Palermo pelo Brasil, em 2004, junto à Secretaria-Geral das Nações Unidas.

Com isso o país já vem dando passos significativos, ao assumir o combate ao tráfico humano

em sua agenda de direitos humanos, e com a criação e implementação da Política Nacional de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e seus respectivos Planos Nacionais de Enfrentamento

ao Tráfico de Pessoas, no entanto, ainda há um grande caminho a ser percorrido até chegar

num patamar razoável de segurança mínima às vítimas e de justiça, com a responsabilização

dos autores do crime do tráfico de pessoas.

Não obstante, foi possível notar vulnerabilidades no II Plano Nacional de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas começando pela redução orçamentária dos órgãos

responsáveis pela execução do II PNETP, além da ausência de legislação adequada que

abranja o tráfico de pessoas para outros fins que não a exploração sexual e a falta de um

sistema integrado de registro e coleta de dados sobre tráfico de pessoas que permita uma visão

mais completa do crime na mesma medida da sua complexidade.

Desse modo os objetivos específicos desse trabalho foram alcançados, na medida em

que foram expostos dados da realidade do tráfico de pessoas no mundo e no Brasil. No

terceiro capítulo foi possível observar avanços e desafios a serem superados na execução do II

Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Diante disso, o objetivo geral

proposto também foi alcançado a partir do momento em que se pode avaliar a efetividade do

Plano Nacional de Enfrentamento ao tráfico de pessoas.

Por fim, pode-se constatar que embora a comunidade internacional e o Brasil estejam

empregando esforços significativos para a erradicação do tráfico de seres humanos, soluções

definitivas para o problema apenas surgirão quando a repressão ao crime organizado, a

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proteção e a assistência às vítimas estiverem aliadas a medidas econômicas e políticas

duradouras que mudem a face da desigualdade, da pobreza e das violações de direitos que

assolam a maioria da população mundial.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (II PNETP). Brasília: Ministério da Justiça, 2014.

BRASIL. Secretaria Nacional da Justiça. Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de

Pessoas. Brasília: Ministério da Justiça. 2008.

BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas:

Dados de 2013. Brasília: Ministério da Justiça, 2014.

Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das

Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e

Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5017.htm>. Acesso

em 29 mar. 2015.

JESUS, Damásio Evangelista de. Tráfico internacional de mulheres e crianças – Brasil:

aspectos regionais e nacionais. São Paulo: Saraiva, 2003.

LEAL, Maria Lúcia; LEAL, Maria de Fátima (Orgs.). Pesquisa sobre tráfico de mulheres,

crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial – PESTRAF. Relatório

Nacional – Brasil. Brasília: CECRIA, 2002.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de Pessoas Uma

Abordagem para os Direitos Humanos. 1. Ed. Brasília: Edição do autor, 2013, p. 26.

NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 2. Ed. São Paulo, Revista

dos Tribunais, 2010, p. 144

OIT. Tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Brasília: OIT, 2006.

RODRIGUES, Thaís de Camargo. Tráfico internacional de pessoas para exploração

sexual. São Paulo: Saraiva, 2013.

SIQUEIRA, Priscila; QUINTEIRO, Maria. Tráfico de Pessoas: Quanto vale o ser humano

na balança comercial do lucro?São Paulo: Ideias & Letras, 2013.

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46

UNODC. Global report on trafficking in persons. 2014. Disponível em:

<http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/glotip/GLOTIP_2014_full_report.pdf>.

Acesso em 22 mar. 2015.

VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 4ª. Ed. São Paulo: editora: Saraiva,

2014.

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ANEXO A – DESCRIÇÃO DAS 115 METAS DO II PNETP CONFORME

INDICADORES DE GESTÃO DO PROGRESSO E INDICADORES DE RESULTADO

115 metas do II PNETP Líderes da Meta Prazo de

implementação

Classificação

da meta,

conforme

indicadores de

gestão do

progresso da

meta

Classificação

da meta,

conforme

indicadores

de resultado

da meta

(n/a= não se

aplica)

1.A.1- Estratégia desenvolvida para viabilizar a aprovação do Projeto

de Lei nº 5.655, de 20 de julho 2009, de autoria do Poder Executivo,

que visa reformular o Estatuto do Estrangeiro.

DEEST/SNJ/MJ 2013-2014 ótimo ótimo

1.A.2 - Estratégia desenvolvida para viabilizar a elaboração e

aprovação de projeto de lei especifico sobre tráfico de pessoas. DEJUS/SNJ/MJ 2013-2014 ótimo ótimo

1.A.3 - Anteprojeto de lei elaborado para dispor sobre perdimento de

bens por crime de tráfico de pessoas, revertendo-os para a prevenção

e repressão ao crime e atenção às vítimas.

DRCI/SNJ/ MJ 2013-2016 bom ótimo

1.A.4 - Anteprojeto de lei elaborado para estabelecer punição mais

rigorosa dos autores do crime de tráfico de pessoas, inclusive na

aplicação da lei de execuções penais para tais casos.

DEJUS/SNJ/MJ 2014 ótimo ótimo

1.A.5 - Proposta de ato normativo elaborada para regulamentar a atividade e o funcionamento de agências de casamentos e de

recrutamento, introdução e colocação de trabalhadores, estudantes e

esportistas, no Brasil e no exterior.

MTE 2014 ótimo regular

1.A.6 - Ato normativo elaborado e publicado para redefinir

competências dos Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas,

dos Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante e Comitês de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

DEJUS/SNJ/MJ 2014 bom regular

1.A.7 - Proposta apresentada para aplicação de sanções

administrativas a empresas e instituições financiadas ou apoiadas

com recursos públicos, inclusive as que executam grandes obras governamentais no Brasil, que tenham sido condenadas em processos

de tráfico de pessoas.

MPOG 2015 ruim n/a

1.A.8 - Estratégia desenvolvida para internalização e regulamentação da Convenção das Nações Unidas para a Proteção dos Direitos de

Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de Suas Famílias, em

tramitação no Congresso Nacional.

DEEST/SNJ/MJ 2015-2016 ruim n/a

1.A.9 - Estratégia desenvolvida para internalização e regulamentação

da Convenção nº 189 da Organização Internacional do Trabalho,

sobre Trabalho Doméstico

MTE 2016 ótimo n/a

2.A.1 - Estratégia de institucionalização de Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, dos Postos Avançados de

Atendimento Humanizado ao Migrante e Comitês de Enfrentamento

ao Tráfico de Pessoas implementada nos termos do novo marco normativo previsto na meta 1.A.6

DEJUS/SNJ/MJ; SPM

2013-2016 ótimo n/a

2.A.2 - Dez novos Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante criados.

DEJUS/SNJ/MJ 2014-2016 bom n/a

2.A.3 - Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

implementado. DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 ótimo ótimo

2.A.4 - Um Encontro Nacional da Rede de Enfrentamento ao Tráfico

de Pessoas realizado. DEJUS/SNJ/MJ 2016 Meta a iniciar Meta a iniciar

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2.A.5 - Reuniões técnicas para planejamento e preparação de ações

articuladas entre Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas ou Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante

realizadas.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 ótimo n/a

2.B.1 - Monitoramento sistemático das ações de assistência social relacionadas ao enfrentamento ao tráfico de pessoas realizado por

meio do Censo do Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

MDS (DGSUAS) 2013-2016 ótimo ótimo

2.B.2 - Mecanismo para monitoramento da atuação da rede voltada

ao atendimento e proteção às vítimas criado e implantado. SDH; SPM 2014-2016 bom n/a

2.B.3 - Mecanismo de monitoramento da atuação de Núcleos de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Postos Avançados de

Atendimento Humanizado ao Migrante criado e implantado

DEJUS/SNJ/MJ 2014-2016 ótimo ótimo

2.B.4 - Análises sobre a atuação do Central de Atendimento a Mulher (Ligue 180) e do Disque Direitos Humanos (Disque 100) no

enfrentamento ao tráfico de pessoas realizadas e divulgadas.

SPM; SDH 2014-2016 ótimo ótimo

2.B.5 - Monitoramento e avaliações participativas periódicas sobre a

implementação do II PNETP realizadas.

DEJUS/SNJ/MJ;

SPM; SDH 2014-2016 ótimo n/a

2.C.1 - Estratégia de integração de atores que atuam nas áreas de fronteiras, incluídas as Forças Armadas, para o enfrentamento do

tráfico de pessoas elaborada.

SENASP/MJ; DPF/

MJ; MD 2013-2016 ótimo ótimo

2.C.2 - Projetos de cooperação implementados com países fronteiriços ou que funcionem como rotas de tráfico de pessoas,

estabelecendo procedimentos e ações de colaboração mútua.

MRE; DEEST/SNJ/MJ;

DRCI/SNJ MJ

2013-2016 bom n/a

2.C.3 - Proposta de criação e fortalecimento de políticas regionais e

de fomento à cooperação para o enfrentamento ao tráfico de pessoas

no âmbito do Mercosul elaborada.

DEJUS/ SNJ/ MJ 2013-2016 bom n/a

2.C.4 - Tema da repressão ao tráfico de pessoas incluído nas agendas

dos mecanismos de diálogo bilateral com países vizinhos, sobre

combate ao crime organizado transnacional, inclusive das Comissões Mistas Bilaterais sobre Drogas das quais o Brasil participa, sempre

que o acordo que instituiu a respectiva Comissão permitir o

tratamento de crimes conexos.

MTE (COCIT) 2013-2016 bom n/a

2.D.1 - Protocolo nacional para atendimento a vítima criado e

implementado.

DEJUS/ SNJ/MJ; SPM; SDH

(PPCAM e

PROVITA)

2015-2016 ótimo ótimo

2.D.2 - Dotação orçamentária para custear o retorno das vítimas às

comunidades as quais desejem regressar incluída nos projetos de leis

orçamentárias.

MRE 2013-2016 regular n/a

2.D.3 - Disque 100 e Ligue 180 ampliados, internacionalizados e divulgados.

MRE; SDH; SPM 2015-2016 ótimo n/a

2.D.4 - Serviços públicos às pessoas vítimas de tráfico ofertados na

Rede de Centros de Referência Especializados de Assistência Social - CREAS

MDS (SNAS) 2013-2016 ótimo ótimo

2.D.5 - Organizações da sociedade civil e redes que trabalham na

atenção, proteção e assistência especializada as vítimas do tráfico de pessoas apoiadas técnica e financeiramente.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 ótimo bom

2.D.6 - Serviços de acolhimento institucional assegurados pela

política de assistência social para pessoas vítimas de tráfico, criados

e fortalecidos, em parceria com setores governamentais e não

governamentais.

MDS

(SANAS/DPSE);

DEJUS/ SNJ/ MJ;

SPM; SDH

2013-2014 ótimo bom

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2.D.7 - Estratégia para a incorporação do tema do tráfico de pessoas

no atendimento do Sistema Único de Saúde – SUS criada. MS 2013-2016 bom n/a

2.D.8 - Inventário nacional de serviços de acolhimento temporário

que atendem ou podem atender vítimas de tráfico de pessoas

realizado.

MDS (SNAS/DPSE) 2016 bom n/a

2.D.9 - Consulados brasileiros no exterior instruídos com relação atualizada de casas-abrigo para o atendimento emergencial de

vítimas brasileiras de tráfico de pessoas.

MRE (DCB) 2013-2016 regular n/a

2.D.10 - Ações de inclusão produtiva e de enfrentamento à evasão escolar de populações vulneráveis ao tráfico de pessoas realizadas,

em particular lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

SDH; MEC (SECADI; SETEC);

MTE

2014-2016 bom n/a

2.D.11 - Estratégia para a sensibilização dos municípios para que

estruturem melhor as redes locais de acolhimento implementada. MDS (SNAS/DPSE) 2013-2016 bom n/a

2.D.12 - Manual voltado para operadores de redes e serviços de

enfrentamento ao tráfico de pessoas com procedimentos de como

identificar, fiscalizar e reportar devidamente a incidência do crime e situações de vulnerabilidade ou vitimização produzida e disseminada.

DEJUS/SNJ/MJ 2013 ótimo ótimo

2.D.13 - 100% das pessoas identificadas como vítimas brasileiras de

tráfico no exterior atendidas e com sua situação monitorada. MRE (DCB) 2013-2016 ruim n/a

2.D.14 - Ficha de notificação de violência doméstica, sexual e outras

violências estabelecida como instrumento para disparar as ações de proteção e atendimento às vítimas de tráfico de pessoas e as ações de

responsabilização dos autores.

MS (CGDANT) 2014-2016 bom n/a

2.D.15 - 100% das vítimas que entram na rede de atendimento

recebendo devida orientação e encaminhamento jurídicos, inclusive

sobre medidas para a proteção legal e reparação civil de danos

materiais e morais.

DPU/MJ 2014-2016 ótimo n/a

2.D.16 - Campo que contemple as vítimas de tráficos de pessoas incluído no Cadastro Único para Programas Sociais - Cadúnico.

MDS (SENARC) 2016 péssimo péssimo

2.D.17 - Programa DST/AIDS com o tema tráfico de pessoas

incorporado, estimulando planejamento intersetorial de suas atividades.

MS 2014-2016 ótimo n/a

2.D.18 - Consulados brasileiros no exterior, inclusive os itinerantes,

reforçados, com voluntários recrutados e atividades voltadas à

assistência, inclusive jurídica, a vítimas brasileiras de tráfico de pessoas.

MRE (DCB) 2013-2016 bom n/a

2.D.19 - Vinte Centros de Referência Especializados de Atendimento

à Mulher qualificados para promoverem atenção às vítimas do tráfico

de pessoas e integrados à rede de atenção e proteção dessas vítimas.

SPM 2015-2016 ótimo n/a

2.E.1 - Estruturas e programas para fortalecer a repressão aos crimes

do tráfico de pessoas nas Superintendências Regionais do

Departamento de Polícia Federal criados.

DPF/MJ 2014-2016 bom n/a

2.E.2 - Pessoas que colaboram com processos de repressão e

responsabilização do tráfico de pessoas, de acordo com seus perfis e

necessidades, integradas no programa de proteção às testemunhas.

SDH 2015-2016 regular n/a

2.E.3 - Proposta para as Defensorias Públicas se integrarem à rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas como interlocutoras e agentes de

encaminhamento, promoção e difusão de informação e conhecimento

sobre o tema elaborada.

DPU/MJ 2014-2016 ótimo bom

2.E.4 - Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas criado e

implementado SDH; SENASP/MJ 2015 bom n/a

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2.E.5 - Fiscalização em estradas, rodovias, portos e aeroportos do

país, e a verificação da existência de documentação comprobatória de vínculo parental ou legal de crianças e adolescentes com os

respectivos transportadores regularmente realizada.

DPF/MJ; DPRF/MJ 2013-2016 bom ótimo

2.E.6 - Estratégia elaborada para o fortalecimento da atuação dos Gabinetes de Gestão Integrada de segurança pública - GGIs no

enfrentamento ao tráfico de pessoas.

SENASP/MJ 2014-2016 ótimo n/a

2.E.7 - Oficiais da Polícia Federal presentes nos países que mais

recebem vítimas brasileiras de tráfico de pessoas atuando como ponto de contato para a cooperação bilateral e multilateral na

repressão e responsabilização ao tráfico de pessoas.

DPF/MJ 2013-2016 ruim n/a

2.E.8 - Delegacias especializadas de combate aos crimes contra os direitos humanos criadas no âmbito das Superintendências da Polícia

Federal, com capacidade para atender a crimes de tráfico de pessoas.

DPF/MJ 2015 ruim n/a

2.E.9 - Encontros entre os diversos órgãos de repressão, nacionais e internacionais realizados anualmente.

DPF/MJ 2013-2016 bom n/a

2.E.10 - Protocolos e convênios estabelecidos e acordados entre os

órgãos de repressão e responsabilização aos crimes, nos níveis

internacional e nacional, em âmbito federal, estadual, municipal.

DPF/MJ 2016 regular n/a

2.E.11 - Programas de investigação e monitoramento do aliciamento

de vítimas de tráfico de pessoas pela rede mundial de computadores

ampliados e implementados.

DPF/MJ 2013-2016 ótimo n/a

2.E. 12 - Estratégia desenvolvida para que 100% dos Estados tenham pelo menos um oficial designado à função de responsável, em sua

respectiva corporação policial, para o intercâmbio de informações

entre os diferentes atores envolvidos no tráfico de pessoas.

DPF/MJ 2013-2016 bom bom

2.F.1 - Estratégias de cooperação para assegurar a fiscalização

administrativa municipal e o cumprimento da legislação vigente

sobre funcionamento de bares, casas de shows, hotéis e estabelecimentos análogos, visando à restrição ou perdimento da

autorização de funcionamento do local em decorrência da

constatação de envolvimento no crime de tráfico de pessoas implementadas.

SENASP/MJ 2014-2016 bom n/a

2.F.2 - Monitoramento e prevenção ao tráfico de pessoas nas

localidades das grandes obras governamentais de infraestrutura,

mineração e energia realizado.

SDH; SG/PR; MTE Sem prazo

determinado ruim n/a

2.F.3 - Parcerias com associações de despachantes e advogados no

exterior que atuem com a população potencialmente vulnerável ao

tráfico de pessoas para conscientização sobre o crime e intercâmbio de informações estabelecidas.

MRE 2013-2016 bom n/a

2.F.4 - Estratégia para assegurar trâmite mais ágil dos procedimentos

de cooperação internacional implementada. DRCI/SNJ/MJ 2014-2016 regular n/a

2.F.5 - Agenda de trabalho conjunta com atores nacionais e

internacionais do setor de agências de viagens e a entidade de âmbito

nacional que congregue as agencias de viagem do Brasil criada e implementada.

MTUR 2014-2015 ruim n/a

2.F.6 - Estratégia integrada de visibilidade das ações de repressão e

responsabilização para gerar exemplaridade institucional, legal e de procedimentos, além de formar opinião pública nacional contra o

tráfico de pessoas implementada.

DPF/MJ Sem prazo

determinado bom n/a

2.G.1 - Fornecimento de documentação civil à população das áreas

com maior vulnerabilidade ao tráfico de pessoas assegurado de forma célere.

SENASP/MJ; SDH 2014 bom bom

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2.G.2 - Serviços de assistência social e atendimento à saúde ofertados

nos municípios onde estão sendo construídas grandes obras governamentais capacitados para atuar no enfrentamento ao tráfico

de pessoas.

MS; MDS (SNAS) 2014-2016 regular bom

2.G.3 - Programa para a promoção da reinserção social produtiva e acompanhamento de vítimas do tráfico de pessoas implementado.

MTE; MEC (SETEC)

2016 ótimo n/a

2.G.4 - Entidades representativas de empregadores e trabalhadores,

das unidades do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, do

Departamento de Polícia Federal, do Ministério do Trabalho e Emprego e outras instâncias relacionadas ao tema, nas localidades

geográficas com maior vulnerabilidade ao tráfico de pessoas,

informadas sobre a obrigatoriedade da solicitação da certidão liberatória para o transporte interestadual de trabalhadores.

DPRF/MJ; MTE 2014-2016 ruim n/a

2.G.5 - Mecanismo para o monitoramento da emissão da certidão

liberatória para o transporte interestadual de trabalhadores criado e implementado.

MTE 2014-2016 regular n/a

2.G.6 - Projeto piloto para a criação de um centro público de

intermediação de mão de obra rural em município identificado como foco de aliciamento para o trabalho escravo implementado.

MTE 2016 bom n/a

2.G.7 - Serviço de abordagem social da população em situação de

rua, para identificar possíveis vítimas do tráfico de pessoas nas

localidades de maior vulnerabilidade implementado.

MDS (SNAS/DPSE) 2013-2016 ótimo n/a

2.H.1 - Mecanismo para articular a ação das diferentes autoridades

públicas brasileiras relacionadas a vítimas estrangeiras de tráfico de

pessoas em território nacional criado.

DEEST/SNJ/MJ 2014-2016 bom n/a

2.H.2 - Atenção assistencial e orientação jurídica a vítimas estrangeiras do tráfico de pessoas assegurada, respeitados os seus

direitos e garantida eventual escolha de permanência no país.

DEEST/SNJ/MJ;

DPU/MJ 2013-2016 ótimo n/a

2.H.3 - Isenção dos encargos relativos à sua regularização no país concedida às vítimas estrangeiras em situação de tráfico de pessoas

no Brasil.

DEEST/SNJ/MJ 2015-2016 bom n/a

2.H.4 - Estratégia desenvolvida para viabilizar, por meio de ato

normativo adequado, que os pedidos de permanência para estrangeiros vítimas de tráfico de pessoas no Brasil, solicitados pelas

Defensorias Públicas sejam encaminhados às autoridades

competentes, que poderão autorizá-lo de imediato.

DEEST/SNJ/MJ;

DPU/MJ 2013-2014 regular ruim

3.A.1 - Matriz de formação em enfrentamento ao tráfico de pessoas

elaborada e implementada. DEJUS/SNJ/MJ 2014-2016 ótimo regular

3.A.2 - Tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas inserido nas diretrizes curriculares de Educação em Direitos Humanos a serem

publicadas pelo Conselho Nacional de Educação e homologadas pelo

Ministério da Educação.

MEC (SECADI) 2013-2016 ótimo ótimo

3.A.3 - Material voltado para comunidade escolar sobre enfrentamento ao tráfico de pessoas com abordagem de gênero,

diversidade sexual e etnicorracial produzido e disseminado .

MEC (SECADI) 2014-2016 bom n/a

3.A.4 - Material voltado para profissionais de educação sobre Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas com abordagem de gênero,

diversidade sexual e etnicorracial produzido e disseminado nas

escolas.

MEC (SECADI) 2014-2016 bom n/a

3.A.5 - Projetos anuais de capacitação realizados com organizações da sociedade civil e com órgãos públicos, alcançando profissionais

da rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas, apoiados.

DEJUS/SNJ/MJ;

SPM 2013-2016 bom n/a

3.A.6 - Tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas incluída na

matriz curricular nacional de formação dos profissionais de

SENASP/MJ 2013 ótimo bom

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segurança pública.

3.A.7 - Formação continuada dos recursos humanos dos Núcleos de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante e Comitês voltados aos temas

relacionados ao tráfico de pessoas, tais como globalização, racismo,

gênero, homofobia, migração e direitos humanos, realizada.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 ótimo bom

3.A.8 - Cursos de formação e atualização para servidores públicos que atuam nas áreas de fronteiras com o tema do enfrentamento ao

tráfico de pessoas inserido.

SENASP/MJ 2014-2016 ótimo bom

3.A.9 - Cinco oficinas regionais de capacitação sobre o trabalho escravo e sua relação com o tráfico de pessoas realizadas junto às

redes regionais e estaduais de enfrentamento ao tráfico de pessoas.

SDH;

DEJUS/SNJ/MJ 2015-2016 Meta a iniciar Meta a iniciar

3.A.10 - Tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas incluído nos

cursos realizados no âmbito do Programa Nacional de Capacitação e Treinamento para o Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro

– PNLD, como parte da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção

e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA).

DRCI/SNJ/MJ 2015-2016 bom n/a

3.A.11 - Cinco oficinas regionais de capacitação de profissionais e

agentes de segurança pública no tema do enfrentamento ao tráfico de

pessoas realizadas.

SDH; SENASP/MJ 2014 ruim bom

3.A.12 - Dez projetos de formação sobre prevenção ao tráfico de

pessoas apoiados.

SDH; SENASP; DEJUS/SNJ/MJ;

SPM

2014-2016 ótimo bom

3.A.13 - Capacitação dos profissionais de saúde no tema do

enfrentamento ao tráfico de pessoas realizada

MS/SAS/DAPES

(Saúde da Mulher, Saúde da Criança,

Saúde Mental,

Programa de Humanização,

Saúde do Homem,

Saúde no Sistema Penitenciário, Saúde

do Adolesc e Jovem) e SVS

2014-2016 regular n/a

3.A.14 - Capacitação dos profissionais atuantes nas áreas de atendimento nos principais aeroportos do país no tema do

enfrentamento ao tráfico de pessoas realizada, com vistas à

integração com o serviço de recepção a pessoas deportadas ou não-admitidas.

DEEST/SNJ/MJ 2014-2016 ruim n/a

3.A.15 - Capacitação das equipes de Saúde da Família para

identificar e mediar situações de violência doméstica como fator de vulnerabilidade ao tráfico de pessoas realizada.

MS/SAS/DAB/SVS

(saúde da família) SPM

Sem prazo

determinado ruim n/a

3.A.16 - Capacitação de agentes multiplicadores na promoção dos

direitos da mulher e a relação com o tráfico de pessoas realizada. SPM 2014-2016 ótimo n/a

3.A.17 - Capacitação dos serviços de atendimento à mulher (Centro

de Referência de Atendimento à Mulher) em abordagens no

atendimento às vítimas de tráfico de pessoas realizada.

SPM 2015-2016 ótimo n/a

3.A.18 - Programa permanente de formação consular com ações de

intercâmbio de experiências sobre o tráfico de pessoas incorporadas. MRE (DCB) 2016 ótimo n/a

3.A.19 - Capacitação dos profissionais do Sistema Único de

Assistência Social - SUAS envolvidos, direta ou indiretamente, com

MDS (SAGI) 2015-2016 bom n/a

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o tráfico de pessoas realizada no tema.

3.A.20 - Capacitação dos operadores do sistema de garantia de

direitos da criança e do adolescente no tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas realizada no tema.

SDH 2015-2016 regular n/a

3.A.21 - Cursos de formação continuada de Educação em Direitos

Humanos para profissionais da educação com tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas incluído.

MEC (SECADI) 2013-2016 ótimo n/a

3.A.22 - Currículos dos cursos para servidores públicos da Escola

Nacional de Administração Pública – ENAP com componente

específico sobre tráfico de pessoas incluído.

MPOG 2014-2016 regular n/a

3.A.23 - Capacitação e sensibilização de trabalhadores e

empregadores da cadeia produtiva de serviços e produtos do setor de

turismo, e do setor de transportes aéreo, terrestre e marítimo, no tema do enfrentamento ao tráfico de pessoas realizadas.

MTUR 2013-2016 regular n/a

3.A.24 - Credenciamento de Instituições de Ensino Superior – IES

pela estratégia da Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança

Pública – RENAESP, ampliado em 10% em relação ao número de instituições credenciadas no período abrangido pelo I PNETP.

SENASP/MJ 2013-2016 regular n/a

3.A.25 - Servidores do sistema de justiça e do Ministério Público que

trabalham com o tema do tráfico de pessoas priorizados na inserção em programas de capacitação.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 ótimo n/a

4.A.1 - Diagnóstico Nacional sobre o Tráfico de Pessoas, suas

dinâmicas e modalidades realizado e disseminado.

DEJUS/SNJ/MJ;

SPM; SDH 2014-2016 ótimo n/a

4.A.2 - Investigação ou análise que identifiquem a relação entre

tráfico de pessoas e a vulnerabilidade de grupos populacionais

caracterizados: (i) por sua procedência geográfica; (ii) por sua etnia e raça (população indígena e população afro-descendente); (iii) por sua

orientação sexual e identidade de gênero; (iv) por serem mulheres;

(v) por serem crianças ou adolescentes; (vi) por serem profissionais do sexo, específicos desenvolvida e disseminada.

SDH/PR; SPM 2015 Meta a iniciar Meta a iniciar

4.A.3 - Investigação ou análise sobre tráfico de pessoas em regiões

de fronteiras desenvolvida e disseminada. DEJUS/SNJ/MJ 2013 ótimo regular

4.A.4 - Edições realizadas bianualmente dos Prêmios “Libertas:

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas” e “Simone Borges”, para premiar estudos, pesquisas e boas práticas.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2015 ótimo n/a

4.A.5 - Investigação ou análise com egressos, e presos, no Brasil e

em países de maior incidência de tráfico de pessoas, para

monitoramento de situações de migração irregular e identificação de

possíveis vítimas de tráfico de pessoas, desenvolvida e disseminada.

DEEST/SNJ/MJ 2016 ótimo n/a

4.A.6 - Investigação ou análise que identifique a vulnerabilidade a

doenças sexualmente transmissíveis e sua relação com o tráfico de pessoas desenvolvida e disseminada.

MS (DST) 2016 ruim n/a

4.A.7 - Investigação ou análise que identifique as relações entre

tráfico de pessoas,migração e trabalho, com recorte raça, etnia,

gênero e violação de direitos desenvolvida e disseminada.

MTE; DEEST/SNJ/MJ

2016 bom n/a

4.A.8 - Investigação ou análise sobre a relação entre as novas

tecnologias de comunicação, as redes sociais virtuais e o tráfico de

pessoas desenvolvida e disseminada.

DPF/MJ; DEJUS/SNJ/MJ

2014 regular n/a

4.B.1 - Feira nacional de boas práticas para troca de experiências realizada.

DEJUS/SNJ/MJ 2014 ótimo ótimo

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4.B.2 - Série “Cadernos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil” publicada.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 ótimo ótimo

4.B.3 - Mapeamento de serviços existentes, instituições

governamentais e não-governamentais envolvidas com o tema realizado, publicado e disseminado, com versão na rede mundial de

computadores.

DEJUS/SNJ/MJ 2013 ótimo bom

4.C.1 - Mecanismo de integração das informações dos bancos de dados e harmonização de protocolos de coleta e análise de dados

implementado.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 ótimo n/a

4.C.2 - Sistema de informações criado e utilizado pelos Núcleos de

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante como o canal principal de

intercâmbio de dados.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 regular n/a

4.C.3 - Matriz de indicadores comuns sobre a situação do tráfico de pessoas nacional e internacional criada.

DEJUS/SNJ/MJ 2013 ruim n/a

4.C.4 - Relatório público do sistema de informações sobre o

enfrentamento ao tráfico de pessoas realizado e publicado anualmente, inclusive com versão na rede mundial de computadores.

DEJUS/SNJ/MJ 2013-2016 ótimo ótimo

5.A.1 - Campanha nacional sobre tráfico de pessoas realizada durante os grandes eventos.

SESGE/ MJ;

ACS/MJ; DEJUS/SNJ/MJ;

MTE

2013-2014 ótimo ótimo

5.A.2 - Critérios condicionantes estabelecidos nos editais de fomento à cultura, para a divulgação do enfrentamento ao tráfico de pessoas

de acordo com a linguagem do projeto a ser financiado.

MINC 2014-2016 péssimo n/a

5.A.3 - Campanha nacional de conscientização e sensibilização para erradicação do trabalho escravo realizada.

SDH 2016 Meta a iniciar Meta a iniciar

5.A.4 - Campanha nacional de prevenção ao tráfico de pessoas

realizada.

SEPPIR; SPM;

MDA; DEJUS/SNJ/MJ;

MTE; DPF/MJ;

MTUR

2013-2014 ótimo ótimo

Fonte: Secretaria Nacional de Justiça. Avaliação sobre o progresso do II Plano Nacional de Enfrentamento

ao Tráfico de Pessoas (II PNETP). Brasília: Ministério da Justiça, 2014.