roteiro de aula - revolução russa de 1917

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IP HISTÓRIA Disciplina : História Geral Professor : Josafá S. Lima CONTEÚDO – REVOLUÇÃO RUSSA Introdução – Em 1917 explodiu na Rússia uma revolução que instituiu o primeiro Estado socialista da história. Dessa revolução nasceu a União Soviética, que se tornou uma das maiores potências do século XX, rivalizando com os EUA. A Revolução Russa de 1917 é t ambém denominada de: Revolução Socialista ou Revolução Bolchevique. IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E SIGNIFICAÇÕES: - rompeu com a ordem capitalista vigente; - estabeleceu o primeiro Estado socialista da história; - a liderança operária assumiu o poder. A RÚSSIA PRÉ-REVOLUCIONÁRIA: Em termos políticos : governada pelo Czar ou Tzar (monarquia absolutista) que desde o século XVIII estava nas mãos da Dinastia Ramanov. Em termos religiosos: vigorava a Igreja Ortodoxa que tem sua origem na Civilização Bizantina, em meio ao governo de Justiniano e do Grande Cisma do Oriente. Em termos sociais : sociedade identificada com o Antigo Regime. No topo da pirâmide estava o Czar e seus familiares, logo abaixo uma classe privilegiada formada por uma nobreza rural/feudal – os Boiados (proprietária da maior parte das terras cultiváveis do país), membros do Exército e do clero ortodoxo (provinham da nobreza rural). Mais abaixo vinham: os Kulaks (camponeses proprietários), altos funcionários da administração pública e uma burguesia estrangeira. Na parte de baixo da pirâmide vinha um operariado incipiente, servos e camponeses pobres. O Império Russo reunia uma população de 175 milhões de pessoas até 1914 e bastante heterogênea, pois era formada por povos de diversas etnias, com línguas e tradições culturais distintas. Mais de 80% da população vivia no campo e em situação de miséria e de exploração. Em termos econômicos: O Império Russo tinha uma base de produção agrícola, apesar da falta de técnicas modernas para o plantio, e a produção agrícola insuficiente para atender às necessidades da população que vivia em situação de miséria. O Império teve uma industrialização tardia em relação à maioria dos países da Europa Ocidental. A industrialização na Rússia somente teve início a partir do final do séc. XIX e início do séc. XX (1891-1917). A RÚSSIA DOS CZARES Para compreender as causas da Revolução Russa, é fundamental conhecer o desenvolvimento básico das estruturas socioeconômicas na Rússia, durante o governo de alguns czares. I – Pedro, o Grande (1682-1725) Período marcado por conquistas territoriais, estruturação da administração pública e elevação de São Petersburgo a condição de capital do Império Russo. II – Governo de Alexandre II (1858-1881) – promoveu reformas modernizadoras no país: aboliu a servidão agrária, distribuiu terras para camponeses pobres, suspendeu a censura a livros e à imprensa, incentivou o ensino elementar e concedeu autonomia administrativa para algumas províncias do império. Apesar dessas reformas, grande parte da 1

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Page 1: Roteiro de Aula - Revolução Russa de 1917

IP HISTÓRIADisciplina: História GeralProfessor: Josafá S. Lima

CONTEÚDO – REVOLUÇÃO RUSSA

Introdução – Em 1917 explodiu na Rússia uma revolução que instituiu o primeiro Estado socialista da história. Dessa revolução nasceu a União Soviética, que se tornou uma das maiores potências do século XX, rivalizando com os EUA. A Revolução Russa de 1917 é também denominada de: Revolução Socialista ou Revolução Bolchevique.

IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E SIGNIFICAÇÕES:

- rompeu com a ordem capitalista vigente;- estabeleceu o primeiro Estado socialista da história;- a liderança operária assumiu o poder.

A RÚSSIA PRÉ-REVOLUCIONÁRIA:

Em termos políticos: governada pelo Czar ou Tzar (monarquia absolutista) que desde o século XVIII estava nas mãos da Dinastia Ramanov.

Em termos religiosos: vigorava a Igreja Ortodoxa que tem sua origem na Civilização Bizantina, em meio ao governo de Justiniano e do Grande Cisma do Oriente.

Em termos sociais: sociedade identificada com o Antigo Regime. No topo da pirâmide estava o Czar e seus familiares, logo abaixo uma classe privilegiada formada por uma nobreza rural/feudal – os Boiados (proprietária da maior parte das terras cultiváveis do país), membros do Exército e do clero ortodoxo (provinham da nobreza rural). Mais abaixo vinham: os Kulaks (camponeses proprietários), altos funcionários da administração pública e uma burguesia estrangeira. Na parte de baixo da pirâmide vinha um operariado incipiente, servos e camponeses pobres. O Império Russo reunia uma população de 175 milhões de pessoas até 1914 e bastante heterogênea, pois era formada por povos de diversas etnias, com línguas e tradições culturais distintas. Mais de 80% da população vivia no campo e em situação de miséria e de exploração.

Em termos econômicos: O Império Russo tinha uma base de produção agrícola, apesar da falta de técnicas modernas para o plantio, e a produção agrícola insuficiente para atender às necessidades da população que vivia em situação de miséria. O Império teve uma industrialização tardia em relação à maioria dos países da Europa Ocidental. A industrialização na Rússia somente teve início a partir do final do séc. XIX e início do séc. XX (1891-1917).

A RÚSSIA DOS CZARES

Para compreender as causas da Revolução Russa, é fundamental conhecer o desenvolvimento básico das estruturas socioeconômicas na Rússia, durante o governo de alguns czares.

I – Pedro, o Grande (1682-1725) – Período marcado por conquistas territoriais, estruturação da administração pública

e elevação de São Petersburgo a condição de capital do Império Russo.

II – Governo de Alexandre II (1858-1881) – promoveu reformas modernizadoras no país: aboliu a servidão agrária, distribuiu terras para camponeses pobres, suspendeu a censura a livros e à imprensa, incentivou o ensino elementar e concedeu autonomia administrativa para algumas províncias do império. Apesar dessas reformas, grande parte da população camponesa ainda vivia em estado de miséria e exploração. Alexandre II acabou assassinado por opositores que lutavam pelo fim da monarquia.

III – Governo de Alexandre III (1881-1894) – retomou o antigo vigor absolutista, aliou-se aos grandes proprietários rurais, criou a polícia secreta da Ochrana que perseguia todos os opositores. No entanto, abriu a economia russa ao capital externo (alemão, belga e francês) e procurou impulsionar o processo de industrialização da Rússia. Apesar da repressão, com o crescimento do operariado, as ideias marxistas eram introduzidas no país por intelectuais socialistas preocupados em organizar a classe trabalhadora.

IV – Governo de Nicolau II (1894-1917) – abriu mais ainda a economia russa ao capital externo, implantou estradas de ferro e a indústria siderúrgica e iniciou a exportação de petróleo. Tudo isso teve como consequência: um grande êxito rural, ampliação do operariado e exploração extremada do operariado. Foi nessa conjuntura que houve um florescimento maior ainda das ideias marxistas, tendo em vista a exploração, miséria e fome dos trabalhadores que acabaram se organizando politicamente, fundando o Partido Operário Social-Democrata (de base marxista e que deu origem ao Partido Comunista Russo. Apesar de ter se organizado no exterior e ter sofrido dura perseguição no governo de Nicolau II por parte da Ochrana). Esse partido em 1903 dividiu-se em dois grupos:

I – Mencheviques –foram liderados por Plekhanov e Martov. Eram a minoria. Acreditavam que chegariam ao poder em meio ao desenvolvimento pleno do capitalismo e fazendo alianças com a burguesia. Chegaram a compartilhar o poder.II – Bolcheviques – Eram a maioria. Liderados por Lenin, defendiam que os trabalhadores somente chegariam ao poder pela luta revolucionária. Pregavam a formação de uma ditadura do proletariado, na qual também estivesse representada a classe camponesa. Trotsky também liderou os bolcheviques, depois de breve período entre os mencheviques.

O PROCESSO QUE DESENCADEOU A QUEDA DO CZARISMO NA RÚSSIA

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Page 2: Roteiro de Aula - Revolução Russa de 1917

O início se deu a partir da guerra entre a Rússia e o Japão (1904), em função de disputas no Oriente. Ao final, a Rússia foi derrotada e a situação socioeconômica do país agravou-se. Pois uma série de revoltas eclodiu em 1905, envolvendo operários, camponeses, marinheiros (revolta no navio Encouraçado Potemkin) e soldados do exército.

Líderes socialistas procuraram organizar os trabalhadores em conselhos (em sovietes), nos quais se debatiam as decisões políticas a serem tomadas. Possuíam estreitas relações. Eram uma espécie de extensão do Partido Operário Social-Democrata – Partido Comunista Russo.

Nicolau II, diante dessa situação prometeu grandes reformas no país através do “Manifesto de Outubro” (instalação de um governo constitucional, fim do absolutismo, eleições para o parlamento ou Duma, e uma nova constituição para o país). Porém, ao final da guerra, Nicolau II não cumpriu as promessas feitas. A Ochrana desarticulou todas as forças oposicionistas. Ao final, a Revolta de 1905 serviu como um ensaio geral para a revolução.

A QUEDA DO CZAR E O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO

Mesmo abatida pelos reflexos da derrota militar frente ao Japão, a Rússia envolveu-se em outro grande conflito, a Primeira Guerra Mundial. Foi o estopim para a queda de Nicolau II. Dentre os fatores da queda, merece destaques:

A derrota da Rússia para o Japão

O não cumprimento das promessas em meio ao Manifesto de Outubro

O Domingo Sangrento

A continuação da Rússia na Primeira Grande Guerra

Em 15 de março de 1917, o conjunto das forças políticas de oposição (liberais burguesas e socialistas, os mencheviques) conseguiu depor o czar Nicolau II, dando início à Revolução Russa.

ETAPAS DA REVOLUÇÃO RUSSA

A Revolução Russa pode ser dividida em, pelo menos, três grandes fases:

I – Revolução Branca – ocorreu de março a novembro de 1917. Após a derrubada do czar, instalou-se um governo provisório, comandado pelo príncipe Lvov, tendo Kerensky como ministro da guerra. Era um governo de caráter liberal burguês, que procurou realizar algumas reformas inadiáveis: limitação da jornada de trabalho para oito horas e separação da Igreja do Estado.

Este governo também contou com a participação dos mencheviques. Lênin, que estava na Suíça, regressou imediatamente à Rússia, pregando a formação de uma república dos sovietes, bem como a nacionalização dos bancos e da propriedade privada. Seu principal lema era: “Todo poder aos sovietes”. Durante esse período, as ordens do governo eram discutidas nos sovietes e nem sempre cumpridas. Em julho, Kerensky tornou-se chefe

do governo (primeiro-ministro), mantendo a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, o que era extremamente criticado pelos socialistas. Eram enormes as perdas humanas sofridas pela Rússia nessa guerra, que os socialistas diziam só interessar às potências imperialistas.

Lênin via na Rússia a existência de condições históricas que permitiam a eclosão da Revolução Socialista, principalmente depois que a Primeira Guerra Mundial arruinou a estrutura de poder que sustentava o Estado imperial russo.. Tendo em mente a preparação da Revolução Socialista, Lênin empenhou-se em organizar o Partido Bolchevique, formando membros disciplinados que deveriam estar conscientes de seu papel de “vanguarda do proletariado”. O Partido elegeria uma direção centralizadora, que imporia vigorosa disciplina interna em seus quadros, para evitar a difusão de “desvios” ideológicos em relação à doutrina marxista.

II – Revolução Vermelha - no dia 07 de novembro de 1917, os bolcheviques cercaram a cidade de Petrogrado, onde estavam sediados os membros do governo provisório. Muitos foram presos, mas Kerensky conseguiu fugir. Os sovietes da Rússia delegaram o poder governamental ao Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lênin. Sem demora, esse Conselho tomou uma série de medidas de impacto revolucionário, como:

Pedido de paz imediata – foi assinado, com a Alemanha, o Tratado de Brest-Litovsk (A Rússia retirou-se da guerra)

Confisco das propriedades privadas – grandes propriedades foram tomadas dos aristocratas e da Igreja Ortodoxa, para serem distribuídas entre o povo.

Declaração do direito nacional dos povos – o novo governo comprometeu-se a acabar com a dominação exercida pelo governo russo sobre regiões como a Finlândia, a Geórgia, a Armênia etc.

Estatização da economia – o novo governo passou a intervir diretamente na vida econômica, nacionalizando diversas empresas.

III – Guerra Civil - As forças políticas ligadas ao antigo regime que predominava na Rússia, ao tempo do czar, uniram-se numa organização contra revolucionária para derrubar o poder conquistado pelos bolcheviques. Formou-se um Exército Branco, liderado pela antiga classe dominante russa, contando com o apoio de países como Inglaterra, França e Japão, que temiam as repercussões da Revolução Socialista. Por meio do Exército Vermelho, liderado por Trotsky, os bolcheviques mostraram-se preparados para resistir aos ataques dos contra-revolucionários. No início de 1921, encerrava-se a guerra civil, com a vitória do Exército Vermelho. O Partido Bolchevique, que desde 1918 havia alterado sua denominação para Partido Comunista, consolidava sua posição no governo do Estado.

A CRIAÇÃO DA UNIÃO SOVIÉTICA

Terminada a guerra civil, a Rússia estava completamente arrasada, com graves problemas para recuperar sua produção agrícola e industrial. Visando promover a

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Page 3: Roteiro de Aula - Revolução Russa de 1917

reconstrução do país, Lênin criou, em fevereiro de 1921, a Comissão Estatal de Planificação Econômica (GOSPLAN), encarregada da coordenação geral da economia do país.

Pouco tempo depois, em março de 1921, adotou-se um conjunto de medidas conhecidas como Nova Política Econômica (NEP), que promoveu, basicamente, certo retorno as formas econômicas capitalistas. Entre as medidas tomas pela NEP destacam-se: liberdade de comércio interno, liberdade de salário aos trabalhadores, autorização para o funcionamento de empresas particulares e permissão de entrada de capitais estrangeiros para a reconstrução do país. O Estado Russo continuou, no entanto, exercendo controle sobre setores considerados vitais para a economia: o comércio exterior, o sistema bancário e as grandes indústrias de base.

A DITADURA COMUNISTA E A FUNDAÇÃO DA URSS

Em 1921, o Partido Comunista impôs uma verdadeira ditadura partidária, proibindo toda oposição ao regime socialista. Em abril de 1922, Stalin foi nomeado secretário-geral do Partido, encarregando-se de combater as oposições políticas e de garantir os postos importantes da administração estatal para pessoas da inteira confiança do regime.

Em dezembro de 1922, foi organizado um congresso geral de todos os sovietes, ocorrendo à fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O Governo da União, cujo órgão máximo era o Soviete Supremo (Legislativo), passou a ser integrado por representantes das diversas repúblicas.

Competia ao Soviete Supremo eleger um comitê executivo (Presidium), dirigido por um presidente a quem se reservava a função de chefe de Estado. Competiam ao governo da União as grandes tarefas relativas ao comércio exterior, política internacional, planificação global da economia (toda a produção econômica é dirigida pelo Estado), defesa nacional etc. Paralelamente a essa estrutura formal, estava o Partido Comunista, que controlava, efetivamente, o poder na URSS.

A ASCENSÃO DE STALIN

Lênin, o fundador do primeiro Estado socialista, morreu em janeiro de 1924. Teve início, então, uma grande luta interna pela disputa do poder soviético. Num primeiro momento, entre os principais envolvidos nesta disputa pelo poder figuravam Trotsky e Stalin.

Trotsky defendia a tese da revolução permanente, segundo a qual o socialista somente seria possível se fosse construído em escala internacional. Ou seja, a revolução socialista deveria ser levada à Europa e ao mundo. Opondo-se à tese trotskista, Stalin defendia a construção do socialismo em só país. Pregava que os esforços por uma revolução permanente comprometeriam a consolidação interna do socialismo na União Soviética. A tese de Stalin tornou-se vitoriosa. Foi aceita e aclamada no XIV Congresso do Partido Comunista. Trotsky foi destituído de suas funções como

comissário de guerra, expulso do Partido e, em 1929, deportado da União Soviética. Tempos depois, em 1940, foi assassinado no México, a mando de Stalin.

A BUROCRACIA E O TERROR

A partir de dezembro de 1929, Stalin converteu-se no ditador absoluto da União Soviética. O método que utilizou para a total conquista do poder político teve como base sua habilidade no controle da máquina burocrática do Partido e do Estado, bem como a montagem de um implacável sistema de repressão política a todos os opositores. Desse modo, Stalin conseguiu eliminar do Partido, do Exército e dos principais órgãos do Estado todos os antigos dirigentes revolucionários, muitos dos quais tinham sido grandes companheiros de Lênin. Depois de presos e torturados, os opositores de Stalin eram forçados a confessar crimes de espionagem que não haviam praticado. E, assim, conhecidos patriotas eram executados como traidores da pátria. Era a farsa jurídica que caracterizou as chamadas depurações stalinistas.

Durante todo o período stalinista (1924-1953) calcula-se que o terror político soviético foi responsável pela prisão de mais de cinco milhões de cidadãos e pela morte de mais de um milhão de pessoas.

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