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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ ROSANGELA AGNOLETTO PEDAGOGIA EM AMBIÊNCIA ONLINE: POTENCIALIDADES E DESAFIOS NAS INTERAÇÕES ENTRE DOCENTES E ALUNOS Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

ROSANGELA AGNOLETTO

PEDAGOGIA EM AMBIÊNCIA ONLINE: POTENCIALIDADES E DESAFIOS NAS INTERAÇÕES ENTRE DOCENTES E

ALUNOS

Rio de Janeiro 2009

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ROSANGELA AGNOLETTO

PEDAGOGIA EM AMBIÊNCIA ONLINE: POTENCIALIDADES E DESAFIOS NAS INTERAÇÕES ENTRE DOCENTES E

ALUNOS

Dissertação apresentada à Universidades Estácio de Sá como requisito parcial para a obtenção grau de Mestre em Educação. Orientadora Prof. Dra Lina Cardoso Nunes

Rio de Janeiro 2009

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ROSANGELA AGNOLETTO PEDAGOGIA EM AMBIÊNCIA ONLINE:

POTENCIALIDADES E DESAFIOS NAS INTERAÇÕES ENTRE DOCENTES E ALUNOS

Dissertação apresentada à Universidades Estácio de Sá como requisito parcial para a obtenção grau de Mestre em Educação. Orientadora Prof. Dra Lina Cardoso Nunes _______________________________ Aprovada em BANCA EXAMINADORA _______________________________ Prof. Dra Lina Cardoso Nunes Universidade Estácio de Sá/RJ

_______________________________ Prof. Dr. Marco Silva Universidade Estácio de Sá/RJ ________________________________ Prof Dra Adriana Rocha Bruno Universidade Federal de Juiz de Fora/MG

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A Deus, o alfa e ômega, o princípio e o fim,

meu sustento, minha vida!

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AGRADECIMENTOS

Serei sempre profundamente grata à Prof Lina Cardoso Nunes, pela tarefa de me orientar intelectualmente, e por mostrar-nos a face humana diante dos

acontecimentos da vida, com muita dignidade e serenidade, não esquecendo por um só segundo de sua missão...EDUCAR!

Aos professores que, durante esse tempo, contribuíram com minha formação que

vai muito além do que a realização deste estudo. Foram grandes experiências!

Aos colegas mestrandos pelos momentos de partilha de saberes e infortúnios... de tudo sobram os momentos alegres!

Ao meu amigo de jornada Amadeu Marques, “irmão em orientação”, pela tarefa que

coube de me ouvir, ouvir e ouvir... Pacientemente!

Aos alunos que começaram comigo essa caminhada pelas TIC, aqueles que estão juntos neste momento, e aqueles que virão. Aprendizado contínuo!

Aos tutores que comigo partilham experiências, conhecimentos e interrogações

diante do novo que se apresenta cotidianamente.

A todos os amigos que souberam entender minhas ausências e com seus pensamentos e orações me fortaleceram.

Aos meus pais, Clarice e Antonio, pelo grande legado deixado para mim e meu

irmão: Educação

Ao meu amor Ricardo pelo apoio compreensivo, sem o qual eu não teria chegado até aqui! Espero poder retribuir toda a felicidade que me proporcionou!

Aos meus filhos, Flávia e William, de quem eu muito me orgulho e espero algum dia

poder recuperar tanto tempo que estive imersa em minhas introspecções... Creio ter extrapolado a cota permitida de ser uma mãe estressada!

Agradeço a todos que direta e indiretamente estenderam suas mãos para que essa jornada chegasse ao fim!

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“Estou convencido de que os nossos trabalhos podem prestar serviços à educação,

na medida em que vão além de uma teoria do aprendizado e permitem

vislumbrar outros métodos de aquisição dos conhecimentos. Isso é essencial.

Mas como não sou pedagogo, não posso dar nenhum conselho aos educadores.

A única coisa que posso fornecer são fatos. Além do mais, considero

Que os educadores estão em condições de encontrar por si mesmos novos métodos pedagógicos.”

Jean Piaget

“Eis o problema universal para todo cidadão: como adquirir a possibilidade de articular e organizar a informação sobre o mundo.

Em verdade, para articulá-las e organizá-las, necessita-se de uma reforma de pensamento”.

Edgar Morin

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RESUMO

Este trabalho de investigação tem como objetivo compreender como se constroem os processos interativos e comunicacionais em ambiência online para que favoreçam a construção individual e coletiva do conhecimento. O recorte teórico considerou autores que fundamentam o processo docência aprendizagem com teorias e conceitos revistos mediante o atual contexto da cibercultura.Foram analisados os aspectos interativos da ambiência pedagógica e que afetam as relações entre os todos os elementos que compõem a aula online.A pesquisa de campo trabalhou com uma população de sujeitos eminentemente ligados ao campo educacional, atuando como docentes com experiência no exercício da função online.O critério intencional de escolha foi feito tendo em vista a possibilidade de identificação das especificidades nas relações construídas entre os elementos que interagem nesse espaço de docência e aprendizagem. Para este propósito, foram aplicados dois instrumentos. Um questionário com questões fechadas para caracterizar o perfil do participante e outro questionário, com questões abertas, para o respaldo da problemática pesquisada. As respostas foram analisadas pelo balizamento qualitativo considerando a natureza ampla do campo de estudo: educação e suas interfaces com as teorias psicossociais e da comunicação. Os resultados apontam para a necessidade de se compreender como os alunos aprendem baseado no contexto vigente, e apontam também, para a potencialidade do uso pedagógico do computador na mediação das relações que se constroem em ambiente online, com ênfase no papel da docência na articulação dos diálogos, dos percursos didático-metodológicos e sensibilidade no tratamento às individualidades. Palavras - chave: Educação – Cibercultura – Interação – Mediação – Processo Docência Aprendizagem

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ABSTRACT

This work of investigation aims to understand how to build interactive and communications processes within online ambience and favor the individual and collective construction of the knowledge.The theoretical choose considered authors who substantiate the teaching apprenticeship process with theories and concepts revised by means of the current context of the cyberculture.There were analyzed the interactive aspects of the pedagogic ambience and what affect the relations among all the elements in the classroom online.The field research worked with a population of subjects eminently connected with the education field acting like teachers with service experience in the function online.The intentional criterion of choice was done having in mind the possibility of identification of the specificities in the relations built among the elements that interact in this space of teaching and apprenticeship.For this purpose, two instruments were applied. One questionnaire with questions to characterize the participants profile and other questionnaire, with open questions, to backup the problematic investigated.Such questions were analyzed by the qualitative aspects considering the dimensions of the study field: Education and its interfaces with the communication and psychosocials theories.The results point to the need of being understood how the students learn based in the actual context and pointing also to the potentiality of the pedagogic use of the computer in the mediation of the relations that are built within the online environment, with emphasis in the paper of the teaching in the articulation of the dialogs, the path didactic - methodological and the sensibility in the treatment of the individualities. Key Words: Education – Cyberculture – Interaction – Mediation – Teaching Apprenticeship Process

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Temas emergentes......................................................... 82

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Gênero dos sujeitos da pesquisa..................................... 71

Gráfico 2 – Faixa etária dos sujeitos................................................... 71

Gráfico 3 - Formação Acadêmica...................................................... 72

Gráfico 4 – Profissão .......................................................................... 72

Gráfico 5 – Regime de trabalho.......................................................... 73

Gráfico 6 – Local de acesso à internet................................................ 74

Gráfico 7 – Familiaridade com o uso da internet................................ 75

Gráfico 8 – Experiências em programas de computador ................... 75

Gráfico 9 – Total de horas/dia no uso do computador ....................... 76

Gráfico 10 – Sistema Operacional ..................................................... 76

Gráfico 11 – Aplicativos utilizados...................................................... 77

Gráfico 12 – Uso do computador além da docência........................... 77

Gráfico 13 – Realização de curso específico para docência online.... 78

Gráfico 14 – Tempo de docência presencial....................................... 79

Gráfico 15 – Tempo de docência nas interfaces online...................... 79

Gráfico 16 – Uso de AVA.................................................................... 80

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SUMÁRIO

PARTE I MARCO INTRODUTÓRIO ......................................................

13

CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DA PESQUISA ................................

14

1.1 TRAJETÓRIA PESSOAL ATRAVÉS DAS TIC .................................. 15

1.2 INTRODUÇÃO.................................................................................... 16

1.3 O TEMA/PROBLEMA.......................................................................... 18

1.4 OBJETIVOS....................................................................................... 19

1.5 JUSTIFICATIVA.................................................................................. 19

1.6 METODOLOGIA................................................................................. 20

1.7 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO........................................................... 23

PARTE II REFERENCIALTEÓRICO........................................................ 25

CAPÍTULO 2 – O MUNDO NA PALMA DAS MÃOS................................ 26

2.1 DA PEDRA AO CHIP: CULTURAS NUM CALDEIRÃO...................... 27

2.2 MÚLTIPLAS DIMENSÕES COMUNICACIONAIS: POTENCIALIDADES À VISTA NO CAMPOEDUCACIONAL.................

30

CAPÍTULO 3 – O CONHECIMENTO A UM CLICK DO MOUSE?....... 32

3.1 PROCESSO DOCÊNCIA E APRENDIZAGEM: TEORIAS E CONCEITOS ENTRELAÇADOS...............................................................

35

3.1.1 Piaget……………………………………………………………………. 36

3.1.2 Vygotsky………………………………………………………………… 39

3.1.3 Morin…………………………………………………………………..... 41

3.1.4 Ausubel e Novak………………………………………………………. 43

3.2 A EMERGÊNCIA DE UMA PEDAGOGIA ONLINE............................. 45

3.2.1 Media[ações], Inter[ações] e Dialogicidades............................... 48

3.2.2 Presença, silêncio e construção de relações sociais................. 52

3.2.3 Diálogo através do texto plural..................................................... 54

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3.3 ELEMENTOS DA AULA ONLINE: VELHOS ATORES EM PALCO NOVO........................................................................................................

55

3.3.1 Docência..........................................................................................

58

3.3.2 Interfaces Online...........................................................................

3.3.3 Metodologia e Didática..................................................................

60

62

3.3.4 Discência......................................................................................... 65

PARTE III - ANÁLISE DE DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS..........................................................................................

68

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS..........................................................................................

4.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS SUJEITOS.............................................

69

70

4.1.1 Caracterização Geral......................................................................

4.1.2 Perfil relativo ao uso do computador...........................................

70

74

4.1.3 Perfil relativo ao exercício da docência....................................... 78

4.2 ANÁLISE DAS RESPOSTAS A QUESTÕES ABERTAS................... 80

4.2.1Aspectos interativos na ambiência online.................................... 83

4.2.1.1 Interações/Relações/Mediação..................................................... 84

4.2.1.2 Presença/Participação................................................................... 87

4.2.1.3 Expressão escrita.......................................................................... 89

4.2.2 Elementos que compõem a ambiência pedagógica online. 92

4.2.2.1 Docência........................................................................................ 93

4.2.2.2 Interfaces Digitais.......................................................................... 97

4.2.2.3 Metodologia e Didática.................................................................. 99

4.2.2.4 Discência....................................................................................... 102

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PARTE IV – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS DE INVESTIGAÇÕES...................................................................................

106

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS............

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5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 5.2 PERSPECTIVAS................................................................................. REFERÊNCIAS......................................................................................... ANEXOS.................................................................................................... Anexo A - Questionário

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PARTE I – MARCO INTRODUTÓRIO

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CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não

conversa com quem não conhece [...] Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um feito muito maior que o simples fato de respirar.

PABLO NERUDA (1904 – 1974)

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1.1 TRAJETÓRIA PESSOAL ATRAVÉS DAS TIC

A realização do presente estudo é o resultado do espírito curioso e inquieto

que quase vinte anos antes ousou ter um computador pessoal em casa para

utilização educacional, morando ao norte do Espírito Santo, divisa com a Bahia. Eu

era então professora de História da Educação Básica e o computador era um belo

“COMPAQ 486”. Sons, imagens, hipertextos saltando daquela tela, nem tão plana

assim, e que ainda naquele momento, para mim, não passava de uma “super-

máquina-de-escrever”!

Lembro-me de ter lido em alguma revista uma notícia de que a internet em

breve seria uma realidade comercial, pois até então não passava de uma grande

experiência nos meios militares dos Estados Unidos e meios acadêmicos de

diversas partes do mundo. Como sempre procurei novas formas de ensinar e

aprender, rompendo paradigmas vigentes, aquilo mais me parecia um sonho, a

comunicação direta com o mundo!

Não tardou e aconteceu de fato e foi muito rápida a disseminação da internet,

óbvio que em meios bem restritos. Como acompanhava atentamente as notícias

soube de uma Feira de Informática que aconteceria em Vitória, e lá eles “venderiam”

o acesso. Vitória está situada cerca de uns 300 km da cidade onde morava. Lá fui a

tal Feira, conheci o tal “provedor” Tropical net, hoje extinto, entendi minimamente

como proceder para ter o acesso e voltei para casa com uns dez “disquetes” de

instalação. Detalhe: internet discada e interurbana! Deu tudo certo, não me lembro

de ter tido nenhuma dificuldade. Fui lendo o manual que o vendedor havia rabiscado

para mim num papel e fui instalando, sem medo...

Nem os bancos da cidade tinham internet...

Essa aquisição marcou o início de minha trajetória pelas tecnologias digitais e

na sala de aula fui ensaiando seu uso aos poucos, inserindo textos, resultado de

“buscas” ou até levando os alunos para minha casa, em grupos pequenos. Continuei

investindo e descobrindo novos usos do computador, e a essa altura minhas

incursões nos canais de pesquisa eram outras, pois já atuava na formação de

educadores da rede municipal. Ainda década de 90, a Universidade Federal do

Espírito Santo em parceria com a Secretaria Estadual e, Municipais de Educação,

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colocou em ação a meta ambiciosa de formação de cerca de doze mil professores

em exercício da profissão sem graduação superior, via tecnologias digitais e semi-

presença.

Ao inteirar-se do plano, a então Secretária de Educação do município, Maria

do Carmo Camenote Mendes, achou que eu seria a “pessoa certa” para ser a

orientadora da primeira turma de trinta professores. Fiz o curso de Especialização

em Orientação Acadêmica a Distância, oferecido pela Universidade Federal do Mato

Grosso como parte do programa em implantação. Funções pedagógicas,

psicológicas, burocráticas, desenho didático, material apropriado... Aspectos

calcados em Educação em suas concepções e teorias, mas dentro de um contexto

completamente novo para mim. Embora estudar a distância não fosse novidade no

Brasil, em meados da década de 90, formar-se em Pedagogia, através de tecnologia

digital de ponta, naquele “pedaço de mundo” era um sonho quase impossível...

Orientar aqueles cursistas foi uma experiência que mudou a minha vida para

sempre.

Continuei aprofundando as leituras sobre o uso do computador na Educação

e no meio do caminho virtual, à procura de um artigo, reencontrei Romero Tori, meu

companheiro de tênis e das trocas de sobremesa e longas conversas à sombra das

árvores da USP! Vinte e poucos anos passados, eu socióloga-educadora, cada vez

mais interessada no exercício da docência online, ele engenheiro-educador e

pesquisador das tecnologias interativas. Caminhos que se cruzaram em função das

interações online. Talvez essa seja a melhor marca do nosso tempo: poder reunir

num só espaço amigos e saberes. Passamos a trocar sistematicamente informações

sobre as tecnologias e seu uso.

A vida seguiu o rumo... Mudança de cidade, de estado... e num período meio

sabático resolvi experimentar o “outro lado” da moeda... Como aluna, fiz um curso

na modalidade online, e depois outro, e mais outro! Como bem disse meu professor

Sylvio Le Sueur, fui definitivamente “mordida pelo bichinho” da modalidade! O

Professor-tutor Sylvio me fez compreender a importância do afeto e da reciprocidade

na construção das relações com o aluno

Morando no Rio, aluna do curso Sala de Aula Interativa, de autoria do Prof.

Marco Silva, conhecê-lo pessoalmente naquele E-TIC chuvoso de 2007, foi só mais

um ajuste de percurso... Um estímulo e duas semanas depois fazia a prova para

ingresso no Mestrado da UNESA!

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Naquela mesma semana de ingresso no Mestrado, uma companheira virtual

de curso, achou que talvez eu pudesse fazer parte de um projeto de educação

através das tecnologias. Sem saber, Sonia Maria Marchetti me deu a mão para o

retorno às origens: formação de profissionais da educação pública através das TIC e

Angela Mello, coordenadora do projeto, atestou o convite dizendo: “Você começa na

semana que vem?” Um convite e a ampliação da jornada no exercício da docência

online.

Dez anos se passaram desde a minha primeira turma “a distância” e hoje a

percepção clara é que há muito mais entre a terra e o ciberespaço do que supõem

nossos nobres teóricos da Educação. Com meus mestres, coordenadores e

principalmente meus alunos, tenho aprendido que há muito a desvendar diante

dessa nova lógica comunicacional que abre as fronteiras do espaço, do tempo e da

cognição.

1.2 INTRODUÇÃO

Com o vertiginoso desenvolvimento das TIC - Tecnologias de Informação e

Comunicação digitais, o campo educacional também é alterado diante da

possibilidade de uma nova lógica comunicacional através da aula online. A

modificação ocorre não só na escola tradicional: escola – professor – aluno, como

nas relações de trabalho, no mundo corporativo: empresas – funcionários produtivos

e aprendentes. Neste início de século, parece que a idéia de estudar continuamente

é presente em todos os campos da vida.

Em 1995 cerca de dezesseis milhões de usuários conectados pelo mundo;

2000, mais de quatrocentos milhões de pessoas, e previsões apontam para mais de

dois bilhões a partir de 2010. Com a escalada exponencial de pessoas conectadas

na internet a ligação entre muitos com muitos marca um novo período na era da

Comunicação: a comunicação da sociedade global em rede (CASTELLS, 2006).

Século XXI, marco para muitas definições: respostas precisam ser dadas aos

questionamentos que surgem das novas relações mediadas pelas tecnologias. Não

se pode ir às respostas sem reconhecer a bricolagem cultural que nos trouxe a

máquina de ensinar e trabalhar, visto que nesta síntese o homem busca o melhor da

comunicação e o melhor das relações em todos os tempos vividos. As verdades e

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as certezas até aqui afirmadas se dissolvem na invisibilidade dos caminhos das

informações transmitidas inter-rede.

Com a experiência, Castells (2006) afirma que ao apropriar-se das tecnologias as

pessoas que as utilizam buscam sentido no seu uso, de acordo seus desejos e

necessidades. É próprio do saber-fazer humano transformar-se através das

linguagens, fato observado ao longo do processo evolutivo, histórico e biológico.

Internet é tecnologia de comunicação, então ao experimentá-la, o homem muda a

maneira de comunicar-se com o outro ao mesmo tempo em que a própria internet é

afetada.

Santaella (2004) afirma que essa modificação acontece porque as tecnologias

são mediadoras e a mediação não é uma propriedade em si das tecnologias, mas do

contexto das trocas simbólicas que emergem a partir da relação e socialização de

informações. A construção do conhecimento ocorre através de interações mediadas

e operadas por sistemas simbólicos, próprios do contexto vigente.

Ainda convivendo com rígidas referências do modelo educativo imposto

tradicionalmente, passamos a vislumbrar a possibilidade de novíssimas relações e

temporalidades conviventes sem o “chão concreto” da escola. Cenário onde se

instalam tensões e instabilidades próprias do continuum da defasagem cultural em

que se inserem os velhos novos atores. Os personagens em palco renovado são

professores e alunos à deriva na vastidão do mar de informações que se avolumam

sem controle, advindas da tela plana, não mais exclusivamente de páginas

impressas. Uma verdadeira revolução pós Gutenberg à procura de faróis e

ancoragem que balizem um novo fazer educacional.

1.3 O TEMA/PROBLEMA

O mundo complexificou-se diante do novo mestre e é possível que ele não se

reconheça gigante para tratar das questões deste tempo presente. Os muros

rompidos impactam em todos os campos da vida humana: social, econômico e

cultural. O trabalho docente está diretamente ligado a essas transformações e a

utilização do computador em sua prática, no que se refere à mediação da

aprendizagem, causa impacto na subjetividade humana, seja pela inserção do novo

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desconhecido e inexperiência no lidar, seja pelo confronto com a memória

subjacente vinculada a outra lógica comunicacional, meramente transmissiva e

unidirecional.

O processo docência e aprendizagem, mediado pelo computador, não é um

estudo à parte no âmbito da Educação e, como tal, está sujeito a todos os

questionamentos inerentes ao seu campo. Quando se aprofunda com mais afinco

nas relações que se estabelecem é possível deparar-se com um terreno movediço

de múltiplos significados e, também, muitas questões que aguardam as respectivas

respostas. O presente estudo pretende contribuir para reflexão do tema Educação,

através do viés pedagogia na ambiência online. A elaboração do trabalho é

delineada tendo em vista as relações mediadas pelo uso do computador e que

redundam em construção do conhecimento.

1.4 OBJETIVOS: Como objetivo geral desse estudo foi formulado: compreender as relações

estabelecidas entre docência e discência através dos processos comunicacionais e

interativos na ambiência online. Os objetivos específicos foram os seguintes: (a)

Identificar como são construídos os processos de comunicação interativa na

ambiência online; (b) Verificar como o docente identifica os diferentes estágios no

desenvolvimento da aprendizagem na ambiência online; (c) Analisar como o docente

contribui na construção individual e coletiva do conhecimento na ambiência online.

1.5JUSTIFICATIVA

O presente estudo tem como cenário as novas facetas culturais, que incluem

o uso do computador no cotidiano escolar, mas reconhecendo que os homens

sociais desde os primórdios das pinturas rupestres têm a capacidade inata da

comunicação e essa capacidade comunicacional vai sendo incorporada em todas as

esferas de convivência humana ao longo do processo evolutivo. Com a internet, a

docência e a aprendizagem são desmaterializadas na forma como foram concebidas

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e, essa adaptação a uma nova ambiência passa pela des-construção do saber antes

cristalizado em relações lineares e previsíveis.

A entrada dos computadores na esfera educacional tem causado

controvérsias, pois além dos questionamentos da validade do seu uso há ainda o

temor de que a máquina vá extinguir a figura do profissional professor. A

compreensão do trabalho docente mediado pelo uso do computador pretende

contribuir com a divulgação das vantagens e possibilidades de um novo fazer

pedagógico. Potencialidade que se baseia em paradigmas velhos conhecidos,

“como se aprende” e em conceitos emergentes que abordam a complexidade

humana e a aprendizagem significativa, discussões agregadas ao tempo presente.

Com as novas opções, as informações originam-se da multiplicidade de

fontes e espaços ainda mais diversos. Filtrar, ancorar, e acima de tudo lidar com

essa construção de conhecimento no campo educacional demanda uma nova

maneira de se relacionar com o “outro”, outro que também sofre o impacto

emocional nas afinidades e divergências. Nos encontros, na relação online,

sentimentos socialmente construídos assumem corpo sob novas formas de

expressão e vínculos se fortalecem na invisibilidade do contato.

A Educação mediada pelo uso do computador pode aprimorar nos novos

relacionamentos escutas ou olhares sensíveis aos alunos “distantes” fisicamente e,

aos problemas relacionados às relações interpessoais e intrapessoais que culminam

na melhoria do desempenho da aprendizagem. Um novo saber não só baseado no

plano pedagógico, didático ou tecnológico, mas no plano cultural, híbrido, e aberto a

novas hibridações, por onde circulam não só informações, mas trabalho, arte,

entretenimento, e mais do que nunca aprendizagens. O campo tem muito a ser

desvelado, e Alves-Mazzotti (2004) sinaliza que é possível trabalharmos temáticas

relativamente recentes como fontes de pesquisas e não nos eximirmos de evidenciar

e apontar novos caminhos que interfiram qualitativamente no cotidiano educacional.

1.6 METODOLOGIA

O campo de pesquisa foi tecido através da Análise de Conteúdo, referenciada

especialmente por Bardin (2002, p.11). “A opção por esse meio de análise foi feita

por tratar-se de um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis e

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em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a ‘discursos’ - conteúdos e

continentes -, extremamente diversificados”. Esse trabalho minucioso de desvendar

pistas, através das falas, como sugere a autora, está em consonância com as

tendências atuais quando se verifica a multiplicação nas aplicações.

A pesquisa de campo, realizada na ambiência online, lócus de aplicação

amplo, conforme a sua natureza que toca o âmbito das intersecções da

comunicação, educação e fundamentos psicossociais, assume o caráter qualitativo

no intuito de compreender o fenômeno da aula online e os elementos que a

compõem, desvelando através das reflexões dos respondentes as peculiaridades

interativas nesse espaço de docência e aprendizagem. Bogdan e Bilken (1994)

referenciando especificamente a análise qualitativa apontam-na como instrumento

adequado para identificar comportamentos e atribuições de significados e também

como são construídos e/ou alterados nas experiências vivenciadas pelos sujeitos no

campo estudado.

Os sujeitos, por sua vez, objetos de estudo, são professores com histórico

profissional e formação acadêmica no ensino presencial e atualmente apresentam

familiaridade na docência online. Todos atuam em Instituições de Ensino Superior,

públicas e privadas, no Brasil e no exterior. A escolha foi proposital, tendo em vista

em que se procurou evidenciar especificidades comunicacionais dentro do espaço

de trabalho estudado, considerando os elementos subjetivos presentes em suas

próprias histórias. O “eu” que utiliza a linguagem como expressão, traz à tona

memórias arraigadas e singularidades, quando arguidos, como observa Bardin

(2002).

O ambiente online de educação é relativamente novo tanto na prática

docente/discente como foco de investigação de pesquisas, dada a utilização do

computador com maior ênfase a partir da década de 90, com o advento da web1 ao

público em geral. Tal aparato instrumental oscila entre a vilania e a “salvação da

lavoura”. Mormente subutiliza-se o seu uso, e potencialidades nem sempre são

consideradas, fato que não foi corroborado pelas respostas dos participantes da

pesquisa, analisadas neste estudo. Alves-Mazzotti (2002) alerta para o

desenvolvimento de trabalhos cujos resultados não são apropriados pelos

1 A World Wide Web (que em português significa, "Rede de alcance mundial"; também conhecida como Web e WWW) é um sistema de documentos em hipermídia que são interligados e executados na Internet.

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professores, tanto no que se refere à acessibilidade, como na assimilação de

estratégias que modifiquem o cotidiano. Desta maneira, cumpre relevância que os

resultados obtidos sejam situados à luz do universo representacional do sujeito

professor.

A análise das respostas dos indivíduos selecionados não descartou a

possibilidade de individualizar os sujeitos em suas trajetórias pessoais e

profissionais, bem como em suas destrezas comunicativas e técnicas mediante o

uso do computador. Para atender o propósito, foi utilizado inicialmente um

questionário, como instrumento exploratório, para analisar o perfil dos entrevistados.

O instrumento foi aplicado via correio eletrônico após elucidação prévia do caráter

da pesquisa e respectivas autorizações e assentimentos em colaborar. Rizzini

(1999) aponta vantagens nesse meio de coleta tendo em vista a possibilidade de

levantamento de dados não só quantitativos como qualitativos e, como a presente

pesquisa não pretendeu abordar um vultoso número de sujeitos, foi possível apurar

um melhor perfil dos entrevistados. A escolha do instrumento não foi aleatória

considerando-se a coleta de dados refinada dos perfis dos sujeitos diante de

formação acadêmica e localização geográfica diversas.

Nas questões abertas, segundo momento da investigação, objetivou-se a

análise mais apurada da construção dos processos comunicacionais e interativos no

exercício docente online. Com as respostas pretendeu-se compreender como são

construídas as relações mediadas pelo uso do computador. Segundo Rizzini (1999)

a entrevista aberta é o melhor instrumento para que as subjetividades sejam

manifestadas e, mesmo no campo virtual, as emoções, opiniões e conhecimento

afloram numa relação interpessoal menos dirigida. Considerando o risco de se

adentrar em campos subjetivos, ante a possibilidade de ocorrência de muitas

categorias de análise, tal fato não foi evidenciado conforme a coerência verificada

entre os temas e sub-temas emergentes.

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1.7 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Considerando o exposto, o problema deste estudo que implica em

compreender as especificidades dos constructos2 relacionais mediados pelo

computador foi organizado da seguinte forma:

No primeiro capítulo é construída a aproximação do percurso da pesquisadora

e o objeto de estudo, incluindo a justificativa, os objetivos e a metodologia utilizada

para dar conta do propósito. Espaço de estruturação do trabalho a partir da trajetória

pessoal; escolha de autores que articulam idéias em torno da construção do referido

problema; e, definição de campo/sujeitos capazes de referendar as referências

científicas citadas.

O segundo capítulo, que introduz o referencial teórico, trata-se do contexto

em que emergem as tecnologias digitais e as implicações possíveis com o novo

comunicacional instalado no campo educacional. Numa visão integrada, apesar da

apresentação de distintos autores, a revisão de literatura nesse aspecto buscou

demonstrar a evolução da temática nas diversas áreas e através dos estudos dos

autores referenciados o impacto que vem causando na vida das pessoas, sem

perder de vista o foco prioritário na Educação.

O terceiro capítulo, espinha dorsal, oferece os fundamentos teórico-

metodológicos escolhidos e faz ligação com o processo investigativo em si. Traz

autores que referenciam estudos do processo docência aprendizagem e nas

releituras de suas concepções e teorias encontram-se caminhos que subjazem o

atual momento da Cibercultura. Buscou-se a conexão entre autoridades clássicas no

assunto e estudos mais recentes que fazem jus ao momento e às indagações do

presente trabalho. Ainda nesse capítulo são identificadas as nuances construtivas

dos processos interativos e comunicacionais na ambiência online, bem como a

atuação dos elementos pedagógicos que a compõem.

No quarto capítulo é apresentado o perfil do sujeito da pesquisa, resultado do

questionário aplicado ao docente que exercita sua função na ambiência online.

2 Substantivo

cons.truc.to - masculino

1. Criação mental simples que serve de exemplificação na descrição de uma teoria. 2. (Psicologia) percepção ou pensamento formado a partir da combinação de

lembranças com acontecimentos atuais.

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Também são apresentados os dados coletados a partir das questões abertas

buscando-se relacioná-los, concomitantemente, às discussões teóricas que fazem

parte deste estudo.

O quinto capítulo tece considerações finais ao mesmo tempo em que sugere

novas perspectivas de investigação considerando que todo fim representa sempre

novos começos.

A execução da Pesquisa obedeceu às seguintes fases:

Fase 1 – Planejamento de trabalho baseado no Projeto de Pesquisa (versão 3), apresentado à disciplina Seminário de Dissertação; Fase 2 – Construção de referencial teórico; Fase 3 – Elaboração e aplicação dos instrumentos de investigação: questionário e questões abertas; Fase 4 - Classificação dos temas e sub-temas e análise dos dados obtidos; Fase 5 – Considerações finais e perspectivas futuras. A redação da dissertação começou a ser realizada em paralelo e a partir da Fase 2.

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PARTE II – REFERENCIAL TEÓRICO

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CAPÍTULO 2 – O MUNDO NA PALMA DAS MÃOS

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo E não, do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena. Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

ALBERTO CAIEIRO (Heterônimo de Fernando Pessoa)1888-1935

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2.1 DA PEDRA AO CHIP: CULTURAS NUM CALDEIRÃO

O Homem e o fogo, o homem e a roda, da pedra aos hieróglifos. O homem e

o cultivo e a criação de animais, o homem e as cidades, do papiro à prensa. O

homem e as chaminés das fábricas, o homem e o telex. O homem na Lua, no rádio

e na TV. O homem dividindo a menor partícula da matéria, o homem e o

computador. O homem no domínio espaço-temporal, o homem e o chip3. O homem

e seus artefatos no vai e vem do tempo. O homem se constitui indivíduo e sociedade

junto com a técnica. Da pedra ao bit4, conquista e sobrevivência negociadas, ora sob

o domínio, ora sob o controle, na multiplicidade de interações produzidas entre

homens de todos os tempos e espaços. O homem inserido no contexto cultural.

Na tentativa de compreender e caracterizar a Cultura, encontra-se referências

em Eagleton (2005), e observa-se que ao longo do processo histórico a expressão

se amplia ou se restringe. Entre o antropológico e o estético, entre uma noção

abrangente ou uma restrita, resumidamente, a cultura pode ser esclarecida como

complexo de valores, costumes, crenças e práticas que constituem o modo de viver

de um grupo social específico – inclui as expressões artísticas, linguagens, a moral,

as leis, os costumes e quaisquer outros hábitos adquiridos pelo ser humano. Pode-

se dizer que releva o contato implícito do mundo pelo qual as pessoas negociam

suas ações e comportamentos apropriados.

Entender os desafios atuais, a evolução da complexa relação humana com o

meio, segundo Lemos (2007, p.25) “nos obriga a buscar nas raízes do fenômeno

técnico a compreensão da cultura contemporânea”. O homem traz consigo histórias

impressas inerentes à sua constituição durante o tempo em que se fez e se refaz; do

tempo no qual se constitui humano ao lado de outros humanos. “Na entrada do

século XXI, a tecnologia e a sociedade não podem mais ser reduzidas às análises

3 [Ingl. Abreviatura de microchip, do pref. Ingl, micro.] Substantivo Masculino, Eletrônica 1 – V Circuito Integrado In. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0, corresponde à 3ª.. Edição impressa, Ed. Positivo, 2004. 4 [Ingl., comb. Das iniciais de bi (nary) (digi) t , ‘dígito binário’] Subst. Masculino. Inform. Unidade mínima da informação num sistema digital que pode assumir um de dois valores (ger. 0 ou 1).In: Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0 , corresponde à 3ª. Edição impressa. Ed. Positivo, 2004

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unilaterais que se desenvolveram durante os séculos da sociedade industrialista.”

(Idem)

A técnica acompanha o homem desde os primórdios de sua origem. A técnica

e o homem paripassu produzindo novas sínteses entre máquinas e humanos.

Atualizam-se as demandas e, a humanidade caminha alterando o rumo da História

com seus engenhos. Lemos (2007), descrevendo etapas transitórias pós Revolução

Industrial (eletricidade/petróleo, motor elétrico e químico) predominantes até meados

do século XX, observa que paradigmas emergentes (energia nuclear, informática,

engenharia genética) em função de uma sociedade de consumo planetarizada,

afetarão de forma radical a vida cotidiana, em todos os setores. Focaliza mais

detidamente o paradigma informático, que tem sua origem nos processos da guerra,

na década de 50, porém aprimorado e difundido a partir da década de 70, com o

computador pessoal e, expandido, com a disseminação da internet, na década de

90. Em paralelo, os processos comunicacionais se redimensionam.

A massificação do processo de comunicação é uma realidade inexorável.

Castells (2006) diz que não adianta o indivíduo dizer que não tem nada a ver com a

tecnologia, pois de qualquer forma a tecnologia atingirá todos os indivíduos que

vivem em sociedade. Definitivamente todos os ambientes sociais, de maneiras

diferenciadas, são influenciados pela presença das tecnologias de informação e

comunicação. Da economia à previsão do tempo; da moda ao Cult5; da saúde ao

entretenimento. Uma nova cultura solapando as existentes.

Nos idos da década de 90, Santaella (2004) observa os processos de

comunicação e cultura em aceleradas mudanças e a partir dessa percepção cunha a

expressão “culturas das mídias” para fazer uma distinção entre a lógica da “cultura

de massas” e a lógica da “cultura digital” que já começa a se avolumar em uso.

Embora parta de uma expressão difusa em significado, para melhor compreensão,

divide as “eras culturais” em seis: cultura oral, escrita, impressa, de massas, das

mídias e digital. Processos complexos, não lineares, um sobrepondo ao outro.

A cultura das mídias representa um mix de linguagens que em alguma

medida individualiza o usuário, a exemplo da manipulação de repertórios do

aparelho de vídeo-cassete ou a escolha intencional da música no walkman. O

5 Subst. Masculino. Estilo purístico, afetado. In: Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0, corresponde à 3ª. Edição impressa. Ed. Positivo, 2004

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diferencial da cultura digital é a convergência das mídias através do ciberespaço6,

“como a escrita, o alfabeto, a imprensa, o telefone, o cinema, o rádio a televisão [...]

e todos os mecanismos que foram criados até agora para criar e reproduzir signos”,

(LEVY, 2001, p.165), o que marca a diferença da mera convivência entre elas. A

cultura midiática, complexa e pluridimensional, capaz de articular diferentes formas e

gêneros, e por dar suporte a eles, figura como exemplo da pós-modernidade sem

que se tenha em definitivo, respostas e aspectos culturais demarcados. Se a própria

expressão cultura por si só é difusa dos significados às significações, de acordo o

período em questão, Cibercultura7 carrega em si a fluidez de uma época.

Por paradoxal que possa ser, de acordo com Castells (2006), nossas mentes

são processadoras de cultura no transcender de nossa vida. Fazemos combinações

e escolhas em hipertextualidade. Com os símbolos culturais moldamos um grande

quebra cabeças de encaixes representados pela nossa existência. A internet

reproduz esse processo, mas o hipertexto8 somos nós.

Veen e Vrakking (2009) apontam o caráter investigador da espécie humana

que nunca aceita o que tem para si, pois está sempre em busca de meios para

melhorar sua condição de vida. É pertinente dizer que para satisfazer esse desejo

incessante de melhorias experimenta aprendizagens dentro de contextos marcados

por costumes, crenças, ferramentas e técnicas que são passadas de geração à

outra e, de um povo ao outro, segundo Santaella (2003). O que não significa que o

acesso às informações, nos diversos tempos históricos se dá de maneira

homogênea e homogeneizante , ao contrário, o mundo vai se constituindo num

imenso caldeirão cultural, de diversidades e discrepâncias sociais. Uma rede

desconexa de “nós” que se interligam.

Vaz (2008) adverte que à medida que os encontros entre os “nós” dispersos

se dão, a dificuldade em saber quais foram os caminhos percorridos aumenta em

6 “[...] é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores”. (LEVY, 2001,p.17) 7 Por cibercultura parte-se da definição de Levy, (2001, p.17) (...) ”[...] conjunto de técnicas materiais e intelectuais), de práticas de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. 8 “O termo ‘hipertexto’ foi cunhado por Theodor Holm Nelson em 1964, para referir uma escritura eletrônica não-seqüencial e não-linear, que se bifurca e permite ao leitor o acesso a um número praticamente ilimitado de outros textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real. Assim o leitor tem condições de definir interativamente o fluxo de sua leitura a partir de assuntos tratados no texto sem se prender a uma seqüência fixa ou a tópicos estabelecidos por um autor. Trata-se de uma forma de estruturação textual que faz do leitor simultaneamente co-autor do texto final. (MARCUSCHI, 2009, p.1)

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igual proporção. O mundo na palma das mãos impõe a limitação do percurso

labiríntico da internet. O que implica, segundo Morin (2008c) em excesso de

informação e devido ao caos organizacional, em falta de conhecimento. Não basta a

decodificação ou acesso ilimitado às mensagens. A compreensão humana e toda

subjetividade implícita continuam imprescindíveis nas relações com o “outro”, pois

comunicação “remete ao estar junto” (MAFFESOLI, 2008, p.22).

O problema não está no volume fervilhante de informações, mas no que pode

acarretar uma busca sem rumo, objetivos ou “encontros”, então o que importa é o

que pode ser feito para filtrar e ancorar novos conceitos de maneira autônoma,

autoral e em convivência social, pois segundo Morin (2008c, p.19) “o fenômeno

comunicacional não se esgota na presunção da eficácia do emissor. Existe sempre

um receptor dotado de inteligência na outra ponta”. Talvez a Educação possa trazer

respostas adequadas aos novos desafios impostos.

2.2 MÚLTIPLAS DIMENSÕES COMUNICACIONAIS: POTENCIALIDADES À VISTA

NO CAMPO EDUCACIONAL

Castells (2006), Levy (2001) e Martin-Barbero (2006) ao discutirem os

fundamentos de uma sociedade em rede e os novos símbolos culturais introduzidos

no modus vivendi humano no campo social, cultural ou econômico, apontam que o

modus operandi, marcado pela lógica das interações mediadas pelo computador,

influencia irremediavelmente as relações sociais. Castells (2006) identifica três

grandes desafios em torno das redes e dos novos processos: o primeiro deles

vincula-se ao direito fundamental do ser humano – o da liberdade – quem controla o

quê na vastidão da rede. O segundo remete a outro direito, o da inclusão

democrática, o acesso não é homogêneo, exclusão que advém não só por questões

econômicas, mas também cognitivas. O terceiro é a capacidade em poder aprender

ao longo da vida, na escolha de informações e na construção autônoma do

conhecimento.

Donald (1997) ao descrever as diversas representações do homem desde

remotos períodos históricos, afirma que a representação simbólica é a principal

marca na evolução do homem em qualquer cenário e tempo em que ela passa a ser

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utilizada. Destaca três fases nessa evolução: na primeira, o homem desenvolve a

capacidade mimética; na segunda, a evolução léxica; e na terceira, profunda e

impactante, desenvolve a capacidade de ampliar a memória externamente. Essa

habilidade amplia o sistema simbólico cultural e por sua vez necessita cada vez mais

de processadores internos para dar conta da expansão da memória. Cita estudos

que demonstram que a manipulação do conhecimento armazenado eletronicamente

afeta individualmente as mentes que acionam os dispositivos de memória para

resolverem um problema.

Lemos (2008, p. 179), ao ressaltar que a apropriação do conhecimento “tem

sempre uma dimensão técnica (o treinamento e destreza na utilização do objeto) e

outra simbólica (uma descarga subjetiva, o imaginário)” atesta que as relações com

o conhecimento envolvem além desta capacidade técnica, a participação subjetiva.

Se a escrita no papel, papiro ou pedra já representou grande avanço na utilização da

memória externa da humanidade e nas habilidades cognitivas necessárias ao seu

manejo, a memória eletrônica, segundo Ramal (2000), dá um salto em velocidade e

quantidade, em espaço e tempo, no escrever, pensar e aprender, com a

possibilidade de coordenação de novas linguagens e movimentos. Dinamismo,

fluidez e metamorfose de representações simbólicas alteram a materialidade do

registro, relação com o texto e consequentemente com o saber. O corpo tem que

aprender movimentos novos: sincronização tátil-visual entre mouse, ícones e uso do

teclado, no lugar do caderno.

Coutinho (2008) analisando o sistema simbólico representado pelos meios

digitais, afirma que o indivíduo mobiliza variadas destrezas para dar conta de

diferentes capacidades de processamento cognitivo. Afinal, as linguagens adquirem

caráter múltiplo no processo interativo. Organização e aprendizado tornam-se muito

mais complexos com a introdução das variadas mídias. Uma nova alfabetização

visual é necessária ou pode-se falar em alfabetizações que além do visual inclui o

auditivo e o sensório-motor, impactando na formulação de pensamentos e

conseqüente na comunicação (DEMO, 2007a).

Martin-Barbero (2006) minimiza o caráter da inserção exclusivamente técnica

da máquina e releva a construção das novas relações através de processos

simbólicos apresentados muitas vezes de maneira difusa entre intenções puramente

educacionais ou, de bens e serviços. Segundo afirma, uma cultura cada vez mais

mundializada impõe desafios maiores à educação e, por conseqüência, ao equilíbrio

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das aprendizagens, pois enquanto os filhos das classes abastadas têm na própria

casa um ambiente informacional composto pelas tecnologias digitais, o mesmo não

se pode dizer das classes populares, embora o consumo tenha crescido em larga

escala nessa faixa de população,acesso que tem extrapolado a dependência do uso

nas escolas (se equipadas) e idas freqüentes a lan houses. O fato é que,

independente da classe que ocupam, os jovens da atualidade desenvolvem

rapidamente grande empatia cognitiva pelos novos audiovisuais digitais e

informáticos.

A partir dessa afirmação é possível inferir um caminho possível e viável para

os desafios atuais educacionais, reconhecendo esse viés característico da

juventude, pois “(...) somente através da assunção da tecnicidade midiática como

dimensão estratégica da cultura que a escola poderá inserir-se nos processos de

mudança que a nossa sociedade atravessa” (MARTIN-BARBERO, 2003, p. 67).

Claro que essa assunção deve deixar de ser apenas instrumental para ser

estruturante de novas posturas, atitudes e pensamentos. O computador pode ser

apenas um meio para aperfeiçoar a estética e a rapidez na produção de trabalhos,

mas pode também ser considerado sob a perspectiva da inovação técnica

totalmente inusitada, “que possibilita o processamento de informações e cuja

matéria-prima são abstrações e símbolos. O que inaugura uma nova fusão de

cérebro e informação”. (Idem, 2006, p. 57).

Primo (2007) adverte que muitos ficam inebriados com a técnica e não

percebem os impactos sociais, ou noutro extremo, outros, a despeito das

possibilidades construtivas, exageram ou deturpam os problemas que também

advém. O humano que se fez acompanhar pela técnica, não se fez novo em espécie

ao longo do processo evolutivo: é o mesmo humano, resguardadas as devidas

mudanças biológicas para se adaptar ao meio. Ele evolui com os novos

instrumentos, especialmente, os equipamentos de telecomunicações. Por ser uma

comunicação consciente, no dizer de Castells (2006), o homem muda a lógica da

comunicação e a condiciona ao seu bem viver. O processo histórico descreve o fato

e o fato impacta em todas as dimensões relacionais.

Chartier (1999), Morin (2008b) e Martin-Barbero (2004) ao focalizarem as

consequências da influência típica da prensa no campo educacional como os textos

impressos, linearidade nos conteúdos, transmissão mecânica e unidirecional e

submissão do leitor, destacam que a autonomia do aprendiz exige novas relações

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sociais de aprendizagem que produzam novos modos de ler, modificar e apropriar-

se do texto.

Conforme Valente (2009) a mudança pedagógica que prevê a passagem do

transmissionismo para a produção autônoma do conhecimento modifica a relação

com o saber, tendo em vista a dinâmica da sala de aula, a mediação do professor e

a maneira como os alunos passam a lidar com o conhecimento. Segundo Castells

(2006), o compartilhamento de novos códigos culturais, inseridos através do

processo de digitalização, depende de novos protocolos de coexistência e a

“capacidade de aprender a aprender ao longo da vida, obtendo a informação que

está digitalmente armazenada, recombinando-a e usando-a para produzir

conhecimento” por si só altera as senhas pedagógicas utilizadas até aqui. Essa nova

pedagogia é “baseada na interatividade, na personalização e no desenvolvimento da

capacidade autônoma de aprender e pensar” (CASTELLS, 2006, p.227)

Complementa Levy (2001, p.167) acerca dos novos suportes

comunicacionais: “emergem gêneros de conhecimento inusitados, critérios de

avaliação inéditos para orientar o saber, novos atores na produção e tratamento dos

conhecimentos”. O que de acordo com Veen e Vrakking (2009) obriga a escola e as

políticas que as regem a novas escolhas, novos desenhos organizacionais e maior

flexibilidade nas atividades de aprendizagem. As relações que os atores constroem

deverão basear-se na confiança e na aprendizagem significativa, pois a proximidade

aumenta entre eles, não exatamente física, mas emocional. Autonomia e

dependência andando juntas conforme diz Morin (2008a) ao explicitar a necessidade

do reconhecimento da construção do ser autônomo, porém inserido em meio

biológico, social e cultural.

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CAPÍTULO 3 – O CONHECIMENTO A UM CLICK DO MOUSE ?

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos. JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920-1999)

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3.1 PROCESSO DOCÊNCIA E APRENDIZAGEM: TEORIAS E CONCEITOS

ENTRELAÇADOS

Ao longo do século XX, teorias Epistemológicas e Psicológicas, dentre outras

áreas de conhecimento trazem luzes ao campo educacional. Piaget (1973a)

concebe o conhecimento construído entre sujeito e objeto de forma interativa e a

relação se complexifica na medida em que ocorrem múltiplos processos de

desequilíbrio, em busca de equilibração. Para Vygotsky, segundo Libâneo (2004), a

aprendizagem articula processos internos e externos mediados pela cultura sócio-

histórica cujo resultado é a internalização de signos. Ao mesmo tempo em que se

configura numa apropriação individual de conhecimento, implica necessariamente na

relação com outro dotado desse saber. Piaget e Vygotsky que vivem

temporalidades, focos e vetores diferentes em seus campos de trabalho, no

presente estudo contribuem para a compreensão dos processos que estão em

andamento.

Morin (2007) “banhado pelas luzes teóricas” apresenta os desafios da

complexidade humana entre as tensões de se aspirar à completude do

conhecimento e o reconhecimento do não acabado. Ultimamente seus estudos têm

buscado um elo entre mente, cérebro e computador, na tentativa de selecionar

dados que são significativos e passíveis de apreensão, ou na rejeição daqueles que

vicejam nas periferias. Ausubel e Novak (2004), por sua vez, trazem em

complementaridade a qualificação que tem estado em voga no processo de

aprender: aprendizagem significativa. Na realidade é conceito que subjaz não só à

construção e internalização de conhecimentos, como à autonomia do aprendiz

quando este ressignifica novas informações, transformando-as em novos saberes.

O objetivo desta seção é demonstrar a possibilidade de operacionalização de

elementos referentes a teorias solidamente construídas e conceitos emergentes em

consonância com o contexto da Cibercultura. Os autores citados apresentam

estudos e contribuições acerca da capacidade humana de aprender e no atual

contexto fundamentam o processo docência aprendizagem com o suporte das

tecnologias digitais.

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3.1.1 Piaget

Quem é o sujeito cognoscente para Piaget?

Para Ferreiro e Teberosky (1974) “tradutoras” da teoria de Piaget no que

concerne às relações que permeiam o ensino e aprendizagem, o sujeito aprendiz é

aquele que não se contentando com as interrogações que o mundo lhe impõe,

procura compreendê-las através de suas próprias ações, categorizando o

pensamento à medida que organiza sua relação com os objetos. Tal organização

resulta em assimilação, um marco piagetiano para explicar que a ação sujeito-objeto

não se dá diretamente, mas mediada pela conduta do próprio sujeito com o objeto.

Os estudos de Piaget (1973a) demonstram que o comportamento dos seres

vivos não é inato, nem é o resultado de condicionamentos. É construído numa

interação, no ir e vir, entre organismo e meio. Trata-se de uma relação dialética e de

simultaneidade e, dessa troca, surge uma nova realidade, (FRANCO, 1999). O

homem está fadado a interações complexas em função do seu grau de inteligência,

diferente dos animais que não se “comunicam” através de símbolos. Ao se

relacionar com um objeto físico ou social é capaz de colocar em ação processos

cognitivos e afetivos complexos, simultaneamente.

Piaget elenca os fatores que podem influenciar diretamente o

desenvolvimento do indivíduo:

Hereditariedade, a maturação interna; experiência física, a ação dos objetos; transmissão social, o fator educativo no sentido amplo; equilibração, do momento em que há três fatores, já é necessário que eles se equilibrem entre eles; mas ainda mais, no desenvolvimento intelectual, intervém um fator fundamental. É que uma descoberta, uma noção nova, uma afirmação etc. devem se equilibrar com as outras. (PIAGET, 1973a, p. 31)

Então, segundo a teoria construtivista interacionista piagetiana, o sujeito age

e é modificado pela ação do objeto, mas sob algumas determinações conforme ele

explica. Assim que um evento desequilibra os anteriores, um novo é construído

passando pelas fases da adaptação. É um processo de reelaboração constante.

Piaget (1973b, 77) afirma que “um esquema de assimilação é incessantemente

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submetido às pressões das circunstâncias e pode se diferenciar em função dos

objetos aos quais é aplicado”.

Por se tratar de enfoque epistemológico, Becker e Franco (1999) nos alertam

que reduzir a teoria de Piaget a um recorte pedagógico ou psicológico corre-se o

risco de perder a dimensão do seu trabalho, contudo a Epistemologia Genética, nas

últimas décadas, tem sido bastante adequada para o estudo dos fenômenos

cognitivos advindos com o uso da informática, especialmente ao considerar o

conhecimento como produto da interação “Piaget formaliza um instrumento

metodológico para pensar que o conhecimento se constitui na medida em que ele se

desfaz”. (Idem, 1999, p.7).

Franco (1999) aponta que o resultado da reflexão, que implica em novo

conhecimento, não se expressa pelo conteúdo em si mesmo e sim pela formalização

do sujeito sobre o objeto e, por objeto entende-se não só um elemento de natureza

material, mas uma idéia ou um encontro social. Então, sucessivamente renova-se o

pensar, cada vez mais independente do real o que caracteriza o pensamento

abstrato.

A cada etapa da abstração um novo sistema de relações é composto e com a

tomada de consciência novos conteúdos são agregados ou velhos excluídos

segundo a compatibilidade entre uns e outros já constituídos, (OLIVEIRA, 1999). Em

suma, para Piaget, segundo Becker (1999), o sujeito se torna mais sujeito quando

progressivamente aumenta a consciência de si mesmo através de sucessivas ações

mediadas pela linguagem, símbolos, outros sujeitos e meio social, o que permite

ampliar sua subjetividade.

Ao focalizar especialmente o processo de equilibração, Pozo (2002) destaca

duas características, a primeira o equilíbrio entre conhecimentos prévios e

adquiridos que se constituem e se ampliam quando a construção do conhecimento

supera fases cada vez mais complexas e, a segunda, conseqüente, quando essa

complexidade construtiva torna-se uma auto-referência do próprio conhecimento.

Então, os sucessivos desequilíbrios levam ao progresso do saber.

Piaget (1973b) distingue interações ou coordenações sociais que estão

presentes em todas as sociedades daquelas que são peculiares a uma cultura ou

um meio social restrito, e, conclui, genericamente falando, que “o organismo assimila

incessantemente o meio à sua estrutura ao mesmo tempo em que acomoda a

estrutura ao meio”, resultando dessas trocas a adaptação como fator de equilíbrio.

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(PIAGET, 1973b, p. 152).

Ora, uma primeira conclusão nos leva a crer que a tomada de consciência, é

fundamental no processo de aprender. Assim, em diferentes etapas da vida humana,

importa é que se fomente com atividades e mediação adequada essa consciência

para que possam ocorrer mudanças sucessivas e, melhor, de forma que o aprendiz

exerça cada vez mais controle sobre seu próprio processo.

Então se as sucessivas mudanças levam o aprendiz a estados “fecundos de

desequilibrações” (Idem, 1973b, p. 152), uma segunda conclusão é que em

ambiente coletivo e social os objetivos, interesses e conquistas comuns tornam a

tomada da própria consciência – do “um” entre todos e de “todos com todos”, na

vivência de múltiplas interações, uma possibilidade mais efetiva. Individualmente, os

conflitos cognitivos existem, mas se confrontados podem ter efeito mais produtivo na

construção não só individual, mas coletiva do conhecimento. Verifica-se uma

interdependência entre as interações inter e intra-sujeitos.

De acordo com La Taille (1992), Piaget distingue dois tipos de relações

sociais, a que se dá por meio de coação, quando um indivíduo é coagido à

submissão por meio de outro, portanto com pouca ou nenhuma chance de

participação na produção do conhecimento e a cooperação, na qual pelo menos dois

sujeitos coordenam operações, seja de troca de idéias, de argumentos ou de

posicionamentos o que reforça a tese então, de que a relação cooperativa, que

acontece sob o comprometimento mútuo, representa o nível mais elevado de

socialização.

Nesse aspecto cumpre ressaltar que sujeitos ao “estarem juntos” não

necessariamente colaboram ou cooperam entre si, ao contrário, podem entrar em

disputas destrutivas. Ou, solitariamente na frente de seus computadores, quando

continuam “ensimesmados” sem que aproveitem o potencial da concretude interativa

e colaborativa de estar só e ao mesmo tempo com o mundo. Chega-se a uma

terceira conclusão em conseqüência natural: o papel do “outro” mediador, o

professor, continua indispensável na condução do processo de ensinar e aprender,

ora atuando como integrador, ora como “dificultador” ao propor desafios, inclusive,

para que o aprendiz atinja maior autonomia e poder sobre seu próprio aprendizado.

Nesse caso, então, é desejável que “o professor deixe de ser um conferencista e

que estimule a pesquisa e o esforço, ao invés de se contentar com a transmissão de

soluções já prontas”. (PIAGET, 1980, p. 15).

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3.1.2 Vygotsky

Em tempos em que costumamos dizer que o homem se vê atônito diante da

complexidade que lhe é apresentada, o humano em suas dimensões plurais,

inserido neste tempo presente, recorre-se à teoria de Vygotsky, embora grande

parte formulada na década de 30, por ser capaz de redimensionar a historicidade

dos homens em interação com o seu contexto. Do ser humano bio-universal

piagetiano e implicações no campo educacional, passamos ao ser humano dono e

refém, ao mesmo tempo, de seu tempo e de sua história.

Na concepção de Vygotsky é através da linguagem que o homem constitui

suas funções mentais superiores, num processo inter-indivíduo para intra-indivíduo;

essa construção só se dá através das relações sociais. Percebe-se que “as formas

mais elevadas do intercâmbio humano só são possíveis porque o pensamento do

homem reflete a atualidade conceitualizada”, (VYGOTSKY, 1988, p.10). Dessa

maneira, é possível compreender o homem em seu contexto sócio-histórico.

Segundo Oliveira (1992) e Zanella (2001), o aspecto fundamental que

percorre toda a obra de Vygotsky e peculiar na atividade humana é o seu caráter

mediado. Esse aspecto se manifesta na relação dinâmica ao transformar o meio

social e também ser transformado. Ao mesmo tempo em que faz essa negociação

com elementos culturais é capaz de representar mentalmente sobre o mundo, o que

pressupõe a existência de sistemas simbólicos para sua operacionalização. A fonte

é a cultura, o exercício é a internalização e o resultado, o desenvolvimento do

sistema psicológico.

Baseado nesse pressuposto, Vygotsky atenta especialmente para a formação

de conceitos:

A formação dos conceitos é resultado de uma complexa atividade em que todas as funções intelectuais fundamentais participam. No entanto, este processo não pode ser reduzido à associação, à tendência, à imagética, à inferência ou às tendências determinantes. Todas estas funções são indispensáveis, mas não são suficientes se não se empregar o signo ou a palavra, como meios pelos quais dirigimos as nossas operações mentais, controlamos o seu curso e o

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canalizamos para a solução do problema com que nos defrontamos. (VYGOTSKY, 1988, p.43)

Segundo Oliveira (1992), a trajetória da palavra, expressa pela linguagem,

reflete o meio cultural de convivência. A formação de conceitos se dá pela

internalização da linguagem, um instrumento organizador do conhecimento, que

conforme aponta Vygotsky, (1987, p. 117) “[...] pode ser um paradigma para o

problema da relação entre aprendizado e desenvolvimento. [...]”

Com base nesse raciocínio, Vygotsky (1987) conclui que através da

organização do aprendizado chega-se ao desenvolvimento das funções

exclusivamente humanas e culturalmente situadas. Nessa seqüência, um conceito

vital em sua obra desponta: o conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, uma

marca em seu pensamento. Tal conceito, visto sob a perspectiva potencial, remete à

idéia de que os processos do conhecimento, em graus diferenciados, já estão

presentes nas estruturas dos indivíduos, porém necessitam de consolidação através

de colaboração ou ajuda, segundo (Oliveira, 1992).

De acordo com Zanella (2001), Vygotsky ao propor atividades mais

complexas para crianças que apresentavam níveis semelhantes de desenvolvimento

percebeu que com a interlocução de um “par mais experiente”, essa criança

conseguia executar tal problema, ao passo que a criança que não recebia ajuda não

conseguia resolver, dentro dos mesmos critérios, exceto pela presença do “par mais

capaz”.

O conceito de ZDP é bastante coerente com os princípios pautados em toda

obra de Vygotsky, visto que o sujeito apreende o mundo não de forma passiva, mas

ativamente, transformando e sendo transformado mutuamente. A implicação dessa

teoria para o campo educacional parece ficar bem evidente entendendo-se a

educação inserida em meio social.

Com os meios necessários, o indivíduo uno, no coletivo é capaz de

personalizar seu aprendizado e em decorrência, seu próprio conhecimento.

Desenvolvimento individual e ao mesmo tempo interdependente do contexto social.

Na interação com outros sujeitos sociais e psicológicos internaliza o que lhe é

significativo, portanto singular e em partilha com o “outro” próximo.

Oliveira (1992) ao interpretar o pensamento de Vygotsky nos processos

pedagógicos aponta para a necessidade de intencionalidade e deliberação de ações

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dirigidas ao aprendiz psicológico, porém membro de um clã, então socialmente

demarcado. Destaca o papel singular da educação formal através da escola na

construção dos sujeitos e sociedades considerando a “potencialidade do outro” no

desenvolvimento.

Tendo em vista então que o homem entra no universo cultural mediado pela

linguagem e esse mesmo homem está localizado num espaço-tempo, esse

postulado deve ser pensado à luz dos processos culturais emergentes para que sua

teoria embase novos paradigmas comunicacionais, assim um processo docência

aprendizagem que se atualiza de acordo os símbolos culturais vigentes.

3.1.3 Morin

Trazer Edgar Morin para o debate teórico das implicações do atual momento

da comunicação para o campo educacional é reconhecer como ele mesmo diz “que

toda e qualquer informação tem apenas um sentido em relação a uma situação, a

um contexto” (MORIN, 2009, p.1). Os fenômenos culturais, históricos, econômicos,

políticos estão imbricados e a educação se vale de outras ciências para respaldar

seus fenômenos estando colada aos processos comunicacionais, que por sua vez

também buscam interfaces em outros campos do saber (MORIN, 2008c).

Complexidade de saberes que se entrelaçam e se intersecccionam.

Levando em conta esse fato indissociável, cultura e conhecimento, Morin

aborda a crise que toma conta do século XX e vem se desenrolando até o presente

momento: a ciência recortada, fragmentada e dispersa (MORIN, 2008a).

Morin (2008b) também enfatiza a necessidade de se estudar os processos

cognitivos mais fecundos, pois além de ser identificado pela linguagem, o

conhecimento é fruto do pensamento e da consciência. Em diálogo com Piaget,

discute alguns limites de sua teoria que não buscou nas unidades celulares a fonte

do conhecimento, embora os tempos vividos por Piaget fossem outros. Esse

estudioso avançou em seu campo e nos legou uma teoria referência, entretanto, nos

tempos em que vivera e estudara a Biologia ainda não conhecia o mapeamento do

DNA e toda a complexidade celular.

Interpretando essa complexidade Morin contextualiza o pensamento capaz de

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dialogar com a realidade e a “tensão permanente entre a aspiração a um saber não

fragmentado, [...] e o reconhecimento do inacabado e incompletude de qualquer

conhecimento”. (MORIN, 2007, p.7). Da tensão do processo de aprender que supõe

[...] uma dialógica não somente do inato/adquirido, mas também do inato/adquirido/construído. Construir supõe um construtor: aprender supõe um a priori; adquirir supõe um inato. O aparelho neurocerebral é o construtor a priori dispondo da capacidade de aprender. [...] Assim pode instaurar-se a dialógica entre o aparelho cognoscente, portador do já conhecido (os esquemas inatos, as aquisições memorizadas) e o meio cognoscível, fervilhando de incógnitas. (MORIN, 2008, p. 69)

Segundo Pozo (2002), a aprendizagem requer uma multiplicidade de sistemas

de operacionalização oriundos da filogênese e da cultura em função da intrincada

rede de contextos presentes simultaneamente no cotidiano. São diversos “mundos”

no mesmo mundo e o indivíduo precisa articular e organizar idéias e pensamentos

para operar saberes na cultura que está inserido, cultura essa solapando outras

tantas em tempos e espaços também diversificados.

Voltando ao início, essa complexidade de demandas de aprendizagens

diversas está ligada ao próprio fluxo comunicacional, historicamente ligado à

evolução das tecnologias para difusão e apropriação da informação (POZO, 2002).

Na idéia de Morin, necessitamos de uma “reforma do pensamento” (MORIN, 2008b,

p. 20), pois não basta apenas dar conta da fragmentação dos saberes, o grande

desafio é saber como articulá-los nessa aparente “Babel” muito mais caótica do que

a referência de outrora. O momento demanda quantidade de fluxo e espaço-tempo

modificados, porém conviventes. Para lidar com esses desafios propõe uma “cabeça

bem feita” com aptidão para lidar com a problemática de maneira geral e que tenha

capacidade de organizar o que lhe faça sentido. (Idem, 2008, p. 21)

O pensamento de Morin acende um holofote sobre as teorias de Piaget e

Vygotsky em tempos onde os processos comunicacionais exigem rapidamente

novos perfis cognitivos. Se vivessem Piaget e Vygostky no tempo presente,

deveriam eles re-contextualizar suas teorias e pertinência de focalizações e vetores,

não em função dos princípios construídos, porém diante dos símbolos culturais

emergentes que afetam sobremaneira o aprender e o ensinar. Re-contextualização

que atenda à formação de “cabeças bem feitas” para lidarem com o complexo do

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cotidiano.

O impacto na educação segundo Morin (2008b) e Pozo (2002), não consiste

apenas em eliminar práticas reprodutivas e acúmulos conteudistas, trata-se de

orientar novas práticas ao aluno singular que convive no meio social, observando as

novas regras da cultura de aprendizagem, e para isso é preciso conhecer como os

alunos aprendem. Piaget e Vygotsky entram em cena novamente...

Morin (2008c) destaca ainda que a necessidade de relacionar-se com a

subjetividade do “outro” nunca esteve tão premente, pois a comunicação humana

exige compreensão, e esta vai muito além de simplesmente comunicar, depende da

identificação, da empatia e está na aceitação da multidimensionalidade do ser.

Quem busca a compreensão das dimensões múltiplas, não aceita recortes

unilaterais ou pensamentos reducionistas, não aceita, também, o processo

comunicacional como um pêndulo que recai nos extremos, receptor ou emissor, mas

entende que há uma relação de complexidade que inter-cruza diversas culturas,

histórias e bagagens. (MORIN, 2008a)

3.1.4 Ausubel e Novak

Em consonância com os teóricos apresentados anteriormente, dois autores,

Ausubel e Novak, serão considerados complementarmente sob um mesmo tema:

aprendizagem significativa. Ausubel, precursor da teoria, desenvolve seus estudos

na década de 60. Novak, na década de 70, amplia o trabalho dando um caráter mais

humanista, mas a partir de um dado momento, passa a atuar ao lado de Ausubel

(MOREIRA, 2009).

Para Palmero (2004) a ênfase da aprendizagem significativa recai sobre a

natureza da aprendizagem no que tange às condições para que se aprenda e os

respectivos resultados. Aborda também os elementos e as variáveis que a escola

oferece ao seu alunado para garantir aquisição, assimilação, e a retenção de

conhecimentos, de modo que se configure em significado para ele próprio, o aluno.

Entendendo que a própria força da expressão não oferece compreensão nela

mesma, aprendizagem significativa não implica necessariamente que a produção de

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significados seja tarefa simples, como as tarefas repetitivas (POZO, 2002). Por outro

lado, Palmero (2004), interpretando Ausubel afirma

[...] uma teoria de aprendizagem que seja realista e cientificamente viável deve ocupar-se do caráter complexo e significativo que tem a aprendizagem verbal e assim mesmo, com o objetivo de alcançar essa significação deve prestar atenção a todos e cada um dos elementos e fatores que o afetam e que podem ser manipulados para tal fim. (PALMERO, 2004, p.10)

Moreira (2009) complementa:

[...] é o processo através do qual uma nova informação (um novo conhecimento) se relaciona de maneira não arbitrária e substantiva (não-literal) à estrutura cognitiva do aprendiz. É no curso da aprendizagem significativa que o significado lógico do material de aprendizagem se transforma em significado psicológico para o sujeito. (MOREIRA, 2009, p.1)

As características “não arbitrárias” e “substantivas” subjazem à essência do

processo de aprendizagem significativa, pois por ser “não arbitrária” relaciona-se

apenas a conhecimentos prévios relevantes, chamados por Ausubel de subsunçores

e cuja função é dar suporte ou ancorar novas idéias e/ou conceitos. Assim,

“substantiva” porque o novo incorporado é a essência substantiva que pode ser

expressa de diferentes formas segundo a variação lingüística.

Então, sob essa perspectiva, o conhecimento prévio do aprendiz é condição

básica para uma nova idéia se relacionar de forma não arbitrária e substantiva,

dando origem, potencialmente, a novos significados, ancorados nos anteriores.

(PALMERO, 2004, MOREIRA, 2009)

Novak (1984) em complemento ao pensamento original de Ausubel, parte do

princípio que a aprendizagem humana produz uma mudança no significado da

experiência e as experiências, por sua vez, afetam a construção do conhecimento.

Três fatores atuando em conjunto contribuem para essa significação: pensamentos,

ação e sentimentos. Enfatiza que além das trocas de significados a relação também

deve se pautar nos sentimentos construídos e reconhecidos entre professores e

aprendizes.

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Segundo Moreira (2009) para Novak a aprendizagem significativa pressupõe

vontade e predisposição para aprender manifestando-se positivamente quando os

ganhos são perceptíveis ao aprendiz e, de forma negativa, quando o aprendiz não

está se adequando ao sistema de aprendizagem.

Observamos em Novak (1984) que uma vez em que os conhecimentos são

concebidos através de aprendizagens significativas tornam-se muito resistentes às

mudanças, os princípios são fortalecidos. Por isso, conclui que planejamento,

avaliação, ensino, currículo e contextos, imbricados, devem facilitar as ocorrências

das significações:

[...] os acontecimentos nas salas de aula são influenciados pelos estudantes, pelos materiais educativos, pelos professores, pelo clima social da escola e da comunidade, e por um grande número de interacções entre eles, variáveis com o tempo. Há uma enorme riqueza, quer na extensão quer na variedade dos acontecimentos do ensino e da aprendizagem que têm lugar nas salas de aula (NOVAK, 1984, p.28)

Pozo (2002) nos alerta que esses processos não são simples e se tornam

mais complexos gradativamente. Quanto mais sensíveis à complexidade do

aprender, em se tratando de professores e alunos, maiores exigências e demandas

para a cultura de aprendizagem e todos nela envolvidos.

Diante do exposto, ao adotar a teoria de Ausubel, Novak lhe dá novos

contornos, considerando além dos elementos que fazem parte do processo ensino

aprendizagem, a dimensão afetiva entre eles. (MOREIRA, 2009). Nesse sentido, as

relações entre docência, discência, currículo, didática e metodologia, ambiência,

devem considerar o aspecto relevado.

3.2 A EMERGÊNCIA DE UMA PEDAGOGIA ONLINE

O computador e a Internet alteram os processos comunicacionais. Uma nova

relação na transmissão/recepção do saber desponta na presencialidade online,

diferente da prática estabelecida do “olho no olho”. As relações que se constituem,

assumem caráter não só síncrono, tempo real, como assíncrono - tempos novos,

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resultado da interconexão mundial dos computadores, em espaço novo, segundo

Levy (2001), o ciberespaço. Essa comunicação na virtualidade “propaga a co-

presença e a interação de quaisquer pontos do espaço físico, social ou

informacional” (Idem, 1999, p.47), colocando em xeque a dimensão tempo até aqui

representada por passado, presente e futuro e desterritorializando a dimensão

espacial concreta de pontos de encontro tradicionalmente conhecidos, territórios

“sagrados” de informações construídas e resguardadas.

No entanto, o passado não foi capaz de trazer respostas prontas para o futuro

que chegou como também não enterrou arcaicas práticas pedagógicas meramente

transmissivas e exaustivamente condenadas: professor reproduz e o aluno

“aprende”. Não só ainda convivemos com tais práticas, como tentamos transportá-

las à nova lógica da comunicação prenhe de futuro, acreditando, não raro, que não

há especificidades a serem desveladas e trabalhadas na relação docência/discência.

Transportam-se “velhos” atores para novo ambiente. Um campo difuso se abre com

obstáculos e desafios, mas também potencialidades à vista. Questões relevantes e

emergentes aguardam a devida discussão sobre os interagentes que passam a

conviver em nova ambiência educativa.

Estudar, interagir, distante muitos quilômetros, ou em tempos diferenciados,

não é uma novidade nas relações entre docentes e discentes. A qualidade e o

encurtamento de distâncias, espaços e tempos em novos meios e conexões é o que

temos de novo nas relações interativas. A freqüência e o formato do diálogo, nesta

multi-máquina chamada computador, representam uma nova “pedagogia eletrônica”

com discussões e interações modificadas, ao mesmo tempo em que são ampliadas.

Segundo Primo (2007) os meios digitais utilizados na educação demandam a

reflexão sobre os meios tradicionais com ou sem a mediação do computador,

ampliando questionamentos sobre potenciais pouco explorados. A instantaneidade

nas trocas, leitura hipertextual, textos imagéticos e sonoros desafiam alguns

conceitos teóricos anteriores à virtualidade. Valente e Mattar (2009) acrescentam

que é possível a obtenção de melhores resultados com o uso de tecnologias digitais

especialmente quando há um planejamento para isso, porém não necessariamente

o uso da tecnologia em si causa esse impacto, como se fosse um fim, nela mesma.

Observam ainda, que apesar de haver muitas possibilidades para melhorar o

desempenho no processo educacional, as mudanças e a adaptação às tecnologias

tem sido muito lentas, especialmente no meio acadêmico.

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A Educação mediada pelo computador é Educação e, como tal, a modalidade

não se esgueira ao território básico: como se aprende, como se ensina e todas as

questões que lhe cabem. Até aqui é discurso recorrente enterrar de vez práticas

transmissivas e reativas na aprendizagem. Diante do computador, professor e

máquina, aula postada. Quão sensível e conhecedor de processos cognitivos novos

ou já sabidos e teorizados é o professor para se posicionar nessa nova relação

dialógica e criar condições de autoria e co-autoria com seu alunado? Da prática oral

docente à prática multi-linguagem sensorial, mediada pela máquina, que novos

saberes serão necessários?

Primo (2007) adverte que a interação mediada pelo computador recebe um

tratamento eminentemente técnico da parte de alguns pesquisadores por depender

de uma estrutura tecnológica com linguagem própria. No entanto, conforme reforça

Moran (2009), a compreensão fundamental no jogo do aprender e ensinar é a

relação pedagógica entre humanos que se estabelece no decorrer do contato.

De acordo com Valente (2009), a inserção do computador no campo

educacional coincide com questionamentos acerca do papel do professor. A

máquina não veio para ocupar seu lugar, mas ampliar as possibilidades de

aprendizagem e potencialmente pode fazê-lo muito bem. Entre potencialidade e

concretude há muita discussão, estudos e possibilidades de assimilação das novas

práticas. Há novidades que emergem dos novos relacionamentos, como questões

de ordem sócio-emocionais que estão subjacentes às lembranças e hábitos

arraigados em confronto com as novas opções advindas com a cibercultura.

A partir dessas considerações, não resta dúvida que apesar do andamento

das mudanças e dos resultados que delas ainda podem surgir, países com

dimensões continentais como o Brasil são potencialmente beneficiados pelo avanço

do processo de interiorização e democratização no acesso às informações e, que

podem ser transformadas em conhecimento. Outra dimensão seria relevar os

aspectos comerciais e mercadológicos que também advêm e, exponencialmente,

podem expandir investimentos. Não é esse o foco deste estudo, mas sim as

relações comunicacionais em volume e qualidade geradas a partir dos novos meios.

De saída entendemos que ter os canais receptivos e abertos à nova

comunicação interativa, por si só não resolvem os questionamentos surgidos.

Segundo Demo (2009) o uso do computador tanto pode ser para o bem, como para

a má aplicação educacional. É preciso que além de fluência mínima para se lidar

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com o aparato tecnológico, algumas práticas copistas, reprodutoras e plagiadoras

devem ceder lugar à criatividade, autoria e autonomia do aprendiz e do professor.

Temos que considerar as circunstâncias advindas com o processo, reconhecer os

processos cognitivos da aprendizagem, identificar processos novos, ambos

fundamentados em teorias do conhecimento, e relacioná-los com a complexidade da

natureza humana superando os obstáculos.

3.2.1 Media [ações], inter9 [ações] e dialogicidades

Mediar, interagir e dialogar, dentre outras, representam três dimensões

inerentes ao processo educativo, e que no tempo presente pedem um novo

referencial teórico, pois conforme ressalta Primo (2007, p. 55) “o estudo do próprio

relacionamento mantido entre os interagentes apresenta uma complexidade que

escapa ao olhar dos estudos tradicionais“. Que “novo” olhar pode ser lançado nas

relações de ensino e aprendizagem construídas na cibercultura? Que novo fazer-

saber pode ser acrescentado ao exercício do trabalho docente? Que plus a

mediação pelo computador deve considerar na interação entre docente e discente?

De que maneira novos olhares lançados para a tela multimídia, que sincronamente

utiliza movimentos táteis, auditivos e visuais, impactam na relação docência-

aprendizagem? Como são construídos os diálogos que levam à aprendizagem

individual e coletiva? Essas questões são centrais, ao mesmo tempo em que

permeiam todo este estudo.

9 Não há consenso entre os estudiosos em relação à utilização da expressão interação e interatividade. Ora interação e interatividade são utilizadas como sinônimos; ora interatividade é vista em graus diferenciados, de menor para maior interatividade; ora interatividade é sinônimo de mero apelo mercadológico. A partir de Primo (2007), uma compreensão ligeira nos leva à significação da expressão interatividade na perspectiva da relação/diálogo entre humanos e máquina. Neste caso, aprendizes, professores e computadores. Interação remete ao diálogo na relação que se constrói entre os membros de um mesmo grupo. Como este estudo trata das relações entre sujeitos mediadas pelo computador as duas expressões fazem sentido. No entanto, como o foco principal são as relações construídas online, e para se evitar terreno pantanoso, pois tal distinção não é objetivo e sim a comunicação trocada entre humanos, que incluem o meio tecnológico, este estudo utilizará apenas a expressão (e semelhantes) interação, para efeito do significado de estar junto e diálogo na relação, como ele ocorre e que benefícios podem trazer ao processo ensino aprendizagem. Como bem disse Maffessoli (2008, p. 25) “novas palavras surgem para rotular velhas práticas ou velhas palavras são ressignificadas para caracterizar a nova força de práticas sempre existentes”.

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Entendendo que a relação de docência e aprendizagem envolve

necessariamente mais de um interagente e

[...] interagir não é algo que alguém faz sozinho em um vácuo. Comunicar não é sinônimo de transmitir. Aprender não é receber. Em sentido contrário que se insistir que interação é um processo no qual o sujeito se engaja. Essa relação dinâmica desenvolvida entre os interagentes tem como característica transformadora a recursividade. E para que isso seja compreendido é preciso observar o próprio conhecer como relação. (PRIMO, 2007, p. 72)

Reconhecer prioritariamente que o sujeito é fruto do meio em que convive,

carrega consigo o legado de gerações anteriores, dizer que esse sujeito nasce

predeterminado ao saber inscrito no seu código genético é negar as estruturas

cognitivas que se estabelecem no continuo aprendizado junto aos seus, durante sua

existência. Não há como separar esse sujeito da educação recebida, formal ou

informal e, segundo Tonus (2008), essa educação é inerente ao processo

comunicacional. O fato é que se ninguém se educa no vazio, como bem ressaltou

Primo (op. cit., 2007, p.72). Estamos fadados a sermos pessoas através das

interações que realizamos. Estamos sujeitos às influências extrínsecas e intrínsecas

à nossa capacidade de aprendizagem: “[...] o organismo assimila incessantemente o

meio à sua estrutura ao mesmo tempo em que acomoda a sua estrutura ao meio, a

adaptação podendo se definir como um equilíbrio entre tais trocas.” (PIAGET,

1973a, p.152).

São muitos os aspectos evidenciados no ensinar/aprender online que devem

ser considerados e muitos os dilemas a serem resolvidos. Obstáculos e desafios

para a aprendizagem construtivista, colaborativa e emancipatória estão postos para

serem discutidos no intuito de favorecer os alunos, objeto da aprendizagem. Não há

como apartar a relação interativa humana envolvida. Primo (2007) nos alerta para a

grande quantidade de estudos que se restringem apenas ao contexto favorável, ou

não, de infra-estrutura informática. Restringir o processo educativo ao simples

favorecimento da máquina pode reforçar a emergência de uma aprendizagem

realmente distanciada, na real acepção do termo se relegados as dimensões

pedagógicas que compõem o processo.

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Há tantos discursos na tentativa de superação do ensino – professor fala,

aluno aprende, quanto à prevalência da mesma, não só no ensino presencial como

na transposição ao virtual. Mais e mais cursos ofertados na rede apenas formatam

mecanicamente conteúdos e respostas para que o aluno fique na marcação de “x”,

de preferência de maneira mais solitária possível! Uma nova modalidade do

telecurso: da TV, para a tela do computador. Por mais atrativa que seja a aula,

continua meramente, a aula transmissiva, sem o plus da conversação dialógica e

interativa que promovam e garantam um relacionamento significativo entre o

professor e seus alunos, e os alunos entre si, cognitiva e afetivamente.

O professor, mediador, continua inserido no centro do palco ao escolher as

técnicas e os meios, objetivando seu fim, a melhor ensinagem. A construção do

projeto pedagógico online deve se pautar na colaboração e interfaces, não só

interdisciplinares, como multidisciplinares, também. Diversos profissionais, de áreas

até então fragmentadas e dispersas, precisam conversar sobre temas convergentes

na aprendizagem. A técnica pela técnica que não efetive princípios postos nas

relações pedagógicas de docência e aprendizagem e que não favorece o suporte

necessário na construção do percurso do aluno é acessória e estéril. Pedagogia e

Tecnologia devem se envolver mutuamente e se articularem no contexto de uma

proposta de fato interativa.

Primo (2007, p. 72), que em alguns momentos dialoga com a teoria

epistemológica do conhecimento de Piaget, sintetiza bem ao dizer que “estudar a

interação humana é reconhecer os interagentes como seres vivos pensantes e

criativos na relação”. O humano é quem deve ser valorizado na relação e não a

máquina que intermedia o contato. A afirmação coaduna com o objeto do presente

estudo acerca das mudanças decorrentes na docência/discência tendo a máquina

como meio, não como atriz principal. Ao enfocar a relação entre humanos, mediada

pelo computador enfatiza os comportamentos afetados nas trocas e em níveis

diferenciados, segundo a tomada de consciência individual. O resultado não é pré-

determinado o que pressupõe negociações constantes perante o novo.

Diante desses questionamentos e colocações, Silva (2006a, p. 75) afirma que

“o que está em evidência é a imbricação de uma modalidade de comunicação e uma

modalidade de aprendizagem” e sugere que a comunicação seja mudada, pois,

Modificar a comunicação implica modificar fundamentos de

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todo um sistema de ensino e não apenas aquilo que se passa no interior de cada sala de aula. Trata-se portanto de repensar o sistema em geral petrificado em uma concepção de ensino que se assemelha à fábrica em sua lógica.[...] trata-se de modificar o sistema no qual a instituição escolar não se apresenta como espaço de educação, mas como lócus de distribuição do saber-produto a clientes consumidores. (Idem, 2006a, p.76)

De acordo com Oliveira (2009) ajustar esse processo comunicacional através

das tecnologias digitais significa que existe a possibilidade de se mudar o que

outrora se constituiu em tempos demarcados pelos sinos tradicionais para o grupo e

indivíduo, simultaneamente, sem particularizar diferenças e tempos pessoais, para

uma outra lógica capaz de coadunar interesses e demandas individuais, e ao

mesmo tempo garantir uma construção social. Mediar nesse contexto pode ir muito

mais além, conforme aponta Vaz (2008, p. 229): “o mediador na internet aparenta-se

a um corretor que aproxima os singulares em sua singularidade”. Cada um então

pode encontrar a sua tribo e “falar a mesma linguagem”. Esse talvez seja um dos

melhores aspectos do ato de comunicar.

Oliveira (2009) e Vaz (2008) chamam atenção para o caráter da mediação

que deve criar estratégias para a convergência de informações e troca, garantindo

espaços democráticos de expressões e partilha. O que não significa a diminuição do

papel docente, ao contrário, traz a compreensão do “outro” na concepção de

Vygotsky (1988), promotor da articulação entre o conhecimento real e o potencial.

Considerando esse aspecto Xin e Feenberg (2009) identificam a potencial

existência, a partir de interações em comunidades online, de quatro instâncias: (a)

engajamento intelectual - processos cognitivos em atenção; (b) comunicação em

“solo” comum a todos participantes - partilha de pressupostos;(c) diálogo e

motivação – interação horizontal (referência aos diálogos socráticos ), mesmo não

sendo face-a-face, mas por escrito e em ambiência virtual; (d) e dinâmica grupal com

atuação de lideranças . Há um destaque para a liderança do professor, atento às

conversações para que elas fluam, ao mesmo tempo atuando como um ordenador

de regras. Acrescentam que essa liderança pode ser alternada em outros momentos

com os aprendizes sem prejuízo da autoridade do docente. Essas instâncias, após

interações sucessivas, através de negociações, acordos e desacordos propiciariam

mudanças e/ou reforços conceituais de aprendizagem em construção compartilhada

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e colaborativa. A teoria subjacente a essa construção está explicitada em Vygotsky

(1988) principalmente quando toca na atuação do “par mais capaz”.

Os pressupostos expostos potencializam a construção de uma sala de aula

na qual convive o aprendiz singular motivado a escolher dentre as múltiplas opções

oferecidas e o coletivo composto de outras tantas singularidades. O professor

distante do “mestre que dita” é o incentivador do diálogo e orientador nas

informações dispersas e expressas através da multiplicidade de linguagens.

3.2.2 Presença, silêncio e participação na construção das relações online

Levy (2001) ao descrever o princípio da interconexão para justificar a

existência de comunidades virtuais afirma que independente da vinculação

institucional ou distância geográfica uma comunidade se agrupa em torno de

projetos mútuos, conhecimentos e afinidades de interesses, e tais relações ao se

constituírem não dispensam a troca de emoções. Seja qual for a ligação, a moral

que se constitui é a da reciprocidade. Conflitos e harmonizações fazem parte das

interações como ocorre nas relações face-a-face.

Quanto à atuação no grupo formado, Okada e Almeida (2009) distinguem

dentre outras, três formas de participação em comunidades online: o silêncio

virtual, que se caracteriza pela ausência da fala do participante e em se tratando de

AVA10, aquele que não escreve, não interage. Pode até ser um potencial leitor,

porém não um participante ativo; o participante é aquele que se faz presente na

comunicação através das dúvidas, opiniões, saudações, críticas e outros com todo o

grupo; e a interação, expressa ação e reação entre os partícipes, num sentido maior

do que simplesmente participar, significa agregar ao diálogo um plus conversacional.

Recorrendo a Piaget (1973a, 1978), no que se refere à teoria da adaptação

através das múltiplas interações entre sujeito e objeto, e à construção da autonomia

em relação ao “outro”. A Vygotsky (1988), quando referencia a capacidade do

indivíduo de agir sobre o mundo, acomodando-se e se colocando qualitativamente

em relação à convivência social, percebe-se, diante de tempos e ritmos, que a

“presença” online está sujeita a uma série de variáveis possivelmente ligadas a 10 AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem

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fatores endógenos do sujeito ou a outras barreiras impostas que necessitam melhor

gerenciamento.

Conforme aponta Silva (2009) tais barreiras podem ser classificadas: pouca

clareza nos objetivos da proposta; má condução no gerenciamento do tempo

individual; temor à exposição (timidez ou sensação de incapacidade); falta de

adaptação ao uso correto das interfaces; mediação docente inadequada (ausência,

rispidez, desconhecimento do assunto, inabilidade na condução das interações,

etc.); ceticismo ou preconceito em relações a algumas opiniões; rigidez excessiva na

estruturação da comunidade; ausência de reconhecimento da parte do grupo; falta

de confiança no grupo; dificuldade de expressão, por escrito ou outra linguagem;

falta de entrosamento com os conteúdos aplicados ou a não validação destes.

Complexa como a natureza humana, complexo é o relacionar-se em grupos

de humanos mesmo em acordo com o interesse de participação. Não basta o “estar

junto online” para que ocorram trocas significativas e, inclusive, que ocorram,

considerando a possibilidade do silêncio. Essa intrincada rede de relações deve ser

pensada à luz de todos os elementos que compõem a ambiência: métodos, técnicas,

exercício da docência, diferenças entre aprendizes, favorecimento das interfaces,

tempos e temporalidades.

Conforme ressalta Almeida (2003) aprender e ensinar em ambientes online

requer o planejamento e a organização de situações em que sejam fomentadas as

interações significativas, e o docente em seu papel, atue como mediador, orientador,

“ouvidor” ou dinamizador de percursos favorecendo assim a aprendizagem do aluno

sem perder de vista a dimensão individual e coletiva do conjunto.

Andrade e Vicari (2006) apontam ainda, outro ingrediente que deve se fazer

presente na construção de relações, a afetividade, com a afirmação de que “o

ambiente de aprendizagem computacional deveria propiciar algum grau de

afetividade e motivação ao interagir com o aluno”. (ANDRADE E VICARI, 2006, p.

259) e, complementam, “[...] no momento em que os alunos adquirem confiança e

consideração por seus pares [...] as relações interpessoais começam a se formar.”

(Idem, 2006, p. 259)

A construção e partilha de idéias num grupo online requer a coerência e

equilíbrio na participação dos membros mesmo que haja alternância de lideranças

entre alunos e professores ou liderança compartilhada entre os participantes. O fio

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condutor é a manutenção do clima cordial e afetivo que em “solo comum” objetive a

efetivação da comunicação, diálogo e respectiva aprendizagem.

3.2.3 O diálogo através do texto plural

Soares (2002), ao definir processo de alfabetização – aquisição de

habilidades para leitura e escrita, e letramento – que focaliza aspectos sócio-

históricos impressos na aquisição da leitura e escrita, afirma que no atual contexto

da cibercultura novas práticas de leitura e escrita formalizam um novo tipo de

letramento, diferente daquele exclusivamente cunhado sobre o papel.

A cada tempo em que a escrita se fez presente seja na argila, na pedra ou no

papiro, mais tarde impressa através dos caracteres móveis de Gutenberg, ela exigiu

um espaço para que fosse manifestada. Atualmente esse espaço é representado

pela tela plana do computador. A cada representação, uma relação direta com o

leitor e/ou escritor. (SOARES, 2002). De acordo com Chartier (1999), o atual

contexto promove uma relação mais distanciada com a escrita do texto, diferente da

pena que exige uma relação corporal direta. Já a posição da leitura é

completamente original ao juntar possibilidades até então historicamente

distanciadas.

E continua afirmando

A revolução do texto eletrônico será, ela também, uma revolução da leitura. Ler num monitor não é o mesmo que ler num códice. Se é verdade que abre possibilidades novas e imensas, a representação eletrônica dos textos modifica totalmente a condição destes: à materialidade do livro, ela substitui a imaterialidade de textos sem lugar próprio; às relações de contigüidade estabelecidas no objeto impresso, ela opõe a livre composição de fragmentos indefinidamente manipuláveis; à apreensão imediata da totalidade da obra, viabilizada pelo objeto que a contém, ela faz suceder a navegação de muito longo curso, por arquipélagos textuais sem beira nem limites. (CHARTIER, 1994, p. 5)

Com a reconfiguração nos modos de leitura para além da alfabetização e

letramento Demo (2007b) sugere a expressão “alfabetizações”, correspondente à

pluralidade de práticas muito mais abrangentes do que havia na leitura/escrita

tipográfica: inserção de hiperlinks, imagens, sons, linguagens semióticas e icônicas,

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manipulação tátil para leitura e escrita, enfim, habilidades que envolvem um novo

saber-fazer intelectual. Marca da nova leitura/escrita é o hipertexto, um processo de

leitura que vai muito além do texto e sua linearidade, segundo Ramal (2000, p. 22) O

hipertexto se caracteriza por espaços que interconectados permitem “caminho para

outras janelas conectando algumas expressões com novos textos fazendo com que

estes se distanciem da linearidade da página e se pareçam mais com uma rede”,

naturalmente afetando nossa maneira de ler e conceber um texto.

De acordo com Santaella (2007) o leitor da cibercultura lê, escuta e olha ao

mesmo tempo em que continua fazendo escolhas, de um ponto a o outro, resultando

em combinações singulares. No entanto, o ato de escrever continua sendo base da

comunicação, mesmo em processos híbridos com acréscimos imagéticos, sonoros

ou icônicos. A centralidade do texto escrito continua indiscutível. Ressalte-se que a

interação entre sujeitos se dá prioritariamente pela escrita, que potencialmente pode

ser trabalhada na promoção da aprendizagem autônoma e coletiva, significativa e

colaborativa. Através da comunicação escrita se constroem relações dialógicas

afetivas e de compartilhamento.

Apesar da existência de editores de texto cada vez mais potentes, capazes de

evitar deslizes e gerando novos sinônimos, é a escrita reflexiva, característica da

assincronicidade, que demanda a construção de relacionamentos e/ou novos

saberes nas ações entre os sujeitos. Não basta escrever bem, o texto deve produzir

significados e sentidos.

3.3 ELEMENTOS DA AULA ONLINE: VELHOS ATORES EM PALCO NOVO

Aprendizagem, segundo Maturana (2001, 103) “vem de apreender, quer dizer,

pegar ou captar algo, [...], no entanto, não é a captação de nada: é o transformar-se

em um meio particular de interações recorrentes”. Até aqui observou-se que

subjacentes a essas interações há teorias e conceitos que implícita ou

explicitamente embasam condutas no ensino e que essas interações também estão

sujeitas a diversas variáveis que condicionam seu enredo. Fato é que alguns

elementos atuam direta ou indiretamente para que o processo docência

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aprendizagem flua, com maior ou menor ênfase, visto que não devem ser

considerados separadamente. Se este estudo o faz, é com mero intuito de

organização textual, pois não há pretensão de fragmentar a realidade complexa da

“sala de aula”.

De acordo com Novak (1984) não há como não reconhecer os quatro

elementos comuns nas experiências educacionais: professor, aluno, currículo e meio

de convivência social. A imbricação entre os componentes não deve ser subjugada.

Segue identificando as atuações e/ou funções

É obrigação do professor planificar a agenda de actividades e decidir qual o conhecimento que deve ser considerado e em que sequência. [...] espera-se que o professor tenha mais competência que o aluno na área em estudo. O aluno deve optar por aprender; a aprendizagem é uma responsabilidade que não pode ser compartilhada. O currículo compreende o conhecimento, as capacidades, e os valores da experiência educativa que satisfaçam critérios de excelência de tal modo que o convertam em algo digno de ser estudado. [...] O meio é o contexto no qual a experiência de aprendizagem tem lugar, e influencia a forma como o professor e o aluno compartilham o significado do currículo. (NOVAK, 1984, p 22)

Há condicionantes para que novas informações se transformem em novos

conceitos significativos. Além dos materiais, didática e metodologia, a ação

intencional dos sujeitos, bem como o meio, atuará sobremaneira sobre os processos

cognitivos de quem aprende ou, como afirmou Maturana (2001), quem aprende

transforma o meio à sua volta. Cada qual dentro do contexto tem responsabilidade

delimitada que se conecta no desenrolar de todo o processo. O acesso ao

conhecimento será sempre mediado através de sistemas simbólicos

contextualizados ao tempo/espaço em questão.

Para Veen e Wrakking (2009), o conhecimento está sob constante

negociação de acordo com as mudanças culturais e atribuição de significados pelos

indivíduos às informações, transformando-as em conhecimento segundo os

aspectos psicológicos, pois não são os meios que as significam, mas a interpretação

dada. Pozo (2002) ao afirmar que recentes estudos enfatizam que organizações

sociais devem favorecer a cooperação e a interação de alunos trabalhando em

objetivos comuns e cujo resultado redunda em melhor desempenho, faz crer que a

simples organização do trabalho afeta a aprendizagem. É natural que a intervenção

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do professor, consequentemente, também seja modificada segundo a proposta de

atividade.

No entanto, genericamente, alguns focos de resistência fazem crer que o

alardear da potencialidade interativa online não tem posto em evidência alguns

aspectos que devem ser levados em consideração na relação entre docentes e

alunos, tais como os aspectos culturais, memória arraigada do ensino tradicional

transmissivo em conflito com as novas possibilidades do aprender; supervalorização

de meio digital em detrimento do professor-humano-analógico; uso exacerbado da

máquina sem a orientação que filtre a informação, que trabalhe a autoria e co-

autoria inédita e não meramente reproduzida, recortada e colada; e, o próprio

letramento, agora contextualizado diante de novas práticas de leitura e escritas

digitais.

A integração de tecnologias digitais nos processos educativos não traz

grandes alterações em termos de concepções ou dos papéis desenvolvidos entre

professor e aluno, entretanto, como aponta Almeida (2003), as mudanças que se

originam das relações através dos novos meios precisam ser analisadas ao mesmo

tempo em que se configuram em maior potencialidade na aprendizagem ou quando

trazem limites à atuação dos atores.

Segundo Kenski (2004) e Demo (2009), as tecnologias digitais não vão

revolucionar o ensino e nem causar impacto profundo no campo educacional, pois

devem atuar como mediadoras nas relações entre alunos, professores e informação.

A forma como são utilizadas pelos interagentes é que redimensiona o saber ensinar

e o saber aprender trazendo desafios próprios. Isso implica em alterações de

estruturas verticalizadas professor-aluno e linearizadas no contato com a informação

quando processam conhecimento. Decorre não só em função do meio espacial e

tempos, mas do tratamento que é dado à comunicação. Da lógica pendular, ou

processo centrado no aluno, ou centrado no mestre, para uma lógica dialógica e

colaborativa entre todos-com-todos. Kenski (2004) segue dizendo:

[...] nesse processo interativo digital, a participação de todos é indispensável. Cabe ao professor orientar o processo, estimular o grupo para participar e apresentar opiniões, criar um clima amigável de envolvimento para que todos possam superar suas inibições de comunicarem virtualmente com seus colegas (Idem, 2004, p. 125)

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Os atores ressignificam suas práticas diante das potencialidades de um novo

aprender na ambiência online. O professor, mais do que nunca, ator imprescindível...

3.3.1 Docência

Quais as questões que emergem em relação ao exercício da docência online?

Qual a compreensão para o suporte à mobilização de processos cognitivos

mediados pelo uso do computador, considerando que a base de sua atuação se

define por escolhas que vão desde os fundamentos teóricos da aprendizagem aos

materiais adequados, gerenciamento dos diálogos e processo avaliativo?

Entende-se previamente que conhecer o contexto sócio-econômico e cultural

no âmbito que impacta a Educação possibilita a compreensão de novas relações

comunicacionais necessárias e que mobilizem o universo interior do humano para

poder realçarem a mediação docente, porque “toda ação social é voltada para o

outro, pouco importa se ele está fisicamente presente ou não. Essa característica da

ação é estritamente vinculada à linguagem, isto é, à comunicação, em sentido

amplo”. (TARDIF e LESSARD, 2005, p 248).

O ato educativo é um ato comunicacional e ainda que variados agentes

educacionais influenciem direta ou indiretamente não há como negar: a profissão

docente está no “olho do furacão”. O professor dirige-se ao ser humano,

interativamente, no curso do processo histórico. Tardif e Lessard (2005) focalizam o

caráter dialógico da profissão docente como sendo a essência do seu trabalho. Uma

ação que se volta ao “outro” de forma intencional, pois ensinar exige troca, exige

significação na troca. Assim, “a interatividade caracteriza o principal objeto do

trabalho do professor”, (Idem, 2005, p.235), desde o momento que se depara com o

aluno as comunicações vão ocorrendo, de súbito, planejadas ou imprevisíveis. Ora

voltadas para um indivíduo, ora para o grupo. Interação é pressuposto. Driblar o

desinteresse ou balbúrdia, ou os “ruídos” da lógica mecânica transmissiva de

conteúdos, aos arroubos criativos dos slogans construtivistas, uma intrincada e

caótica relação comunicativa e a aula acontece.

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No atual contexto, o uso do computador, disseminado no trabalho e lazer,

está presente em todas as cenas. As condições básicas para o exercício docente –

teóricas e práticas – nas relações que são mediadas pelo seu uso alardeiam o

rompimento da cultura transmissiva à disseminação do aprendizado de “todos-com-

todos” (SILVA, 2000), em qualquer tempo ou espaço, contudo, à medida que

“memórias” são superadas, pois segundo Coutinho (2008), na maioria das vezes, o

fracasso na utilização das tecnologias reside no fato dos professores adaptarem

seus antigos hábitos às inovações. Essa persistência se dá principalmente pelo

desconhecimento das potencialidades comunicacionais dos suportes digitais.

Normalmente, a crença que persiste é que são meros ferramentais, acessórios aos

conteúdos.

Morin (2008b) nos alerta para as trincheiras enfileiradas diante da resistência

ao uso das mídias e reafirma a necessidade de imersão nessa cultura para que seja

conhecido o “espírito” do tempo. Confirma Pozo (2002), o professor nesse atual

“espírito de tempo”, já não é mais o professor de tarefas unilaterais. Além de exercer

multi-tarefas, as nomenclaturas que recebe se diversificam ao mesmo tempo em que

se complexificam: de coaching, passando pela tutoria11; de “facilitador” a

“dificultador” de percursos. No meio do caminho também transitam desejos, ou a

falta deles nas relações que se formam e conformam simultaneamente.

Novak (1984) destaca a afetividade como reguladora nas relações entre

professor e aprendiz e correlação com a aprendizagem significativa. Reafirmam

Tardif e Lessard (2005): “o trabalho docente repousa sobre emoções, afetos, sobre a

capacidade não só de pensar nos alunos, mas também de perceber e sentir suas

próprias emoções” (TARDIF e LESSARD, 2005, p. 258)

Reivindicando Vygotsky (1988) e a teoria da ZDP12 Pozo (2002) usa a

metáfora de “andaimes” na construção do conhecimento. Eles estruturam a

construção e no momento oportuno podem ser retirados sob alegação de construção

segura. Para que as estruturas individuais sejam bem alicerçadas dentre o coletivo

de outras construções é necessário, segundo Morin (2008b), que se respeite cada

singularidade.

11 A expressão tutor será usada nesse estudo como sinônimo ou semelhante a professor. Visto que atualmente evoca uma função que pode apresentar-se de forma difusa em razão aos variados projetos online em andamento. 12 Zona do Desenvolvimento Proximal

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Segundo Ramal (2000), em tempos de tantos questionamentos sobre a

função social docente, talvez seja um momento de re-invenção da profissão com

base em valores há tanto tempo propalados: contribuir para a formação do aluno

como construtor ativo de seu próprio conhecimento e como colaborador no grupo em

que atua; dialogar através dos conteúdos sem fragmentar a realidade e

comprometer-se através de ensino na formação crítica tendo por parâmetro básico a

justiça social.

Mediado pelo uso do computador, o papel do professor potencializa uma nova

ordem: orientador, instigador, motivador do grupo e do indivíduo. O alunado pode

ser ampliado ou particularizado, de acordo o objetivo da tarefa ou acompanhamento

junto ao aprendiz. Formação, competências e habilidades determinarão as melhores

estratégias na utilização de interfaces das tecnologias digitais.

3.3.2 Interfaces13 Digitais

A sala de aula online, representada pelas interfaces digitais, conforme aponta

Silva (2006a) é espaço onde circulam as interações, os conteúdos, as atividades e

chave de acesso à memória externa digitalizada, amplificada como nunca antes na

história (DONALD, 1997)

De acordo com Santaella (2004) as interfaces digitais são capazes de mudar

profundamente as relações até aqui estabelecidas entre professor e aluno, pois os

canais tradicionais de comunicação são alterados através das participações,

intervenções ou natureza diversa (forma e conteúdo das mensagens. Dessa forma,

alunos e professores navegadores programam a rota necessária de acordo os

objetivos planejados.

Como em todo espaço educativo, porém, um elemento educativo não é um

fim em si mesmo, portanto não se chega aos fins pedagógicos exclusivamente

devido às características do ambiente. Os resultados implicam na ação humana que

13

Inf. Em computador ou sistema computacional, conjunto de componentes de hardware e de software que realizam a interação do usuário com os programas, para a entrada de dados e de solicitações, e para a visualização das respostas.

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articulam saber e experiência, teorias de aprendizagem e prática, além de formação

adequada para trabalhar com a técnica. (AMARAL e AMARAL, 2008).

O professor pode lançar mão de algumas interfaces que reforçam ações

cooperativas e colaborativas no contexto trabalhado, como já ressaltado. Teorias de

aprendizagem devem respaldar a escolha da melhor metodologia (ARAUJO, 2008).

De acordo com Resende (2004), em Piaget e Vygotsky encontramos os

fundamentos para a compreensão da construção do conhecimento dos sujeitos em

interação com o meio e demais sujeitos partícipes, embora sob perspectivas

distintas. Nas relações interativas os alunos podem refletir sobre a construção de

seu próprio conhecimento e organizar o pensamento para que novos sejam

agregados o que se configura no aprender a aprender. (Idem, 2004)

Esses pressupostos devem estar em consonância com a ambiência e

também, segundo Resende (2004)

Devem ser adequados à natureza do conhecimento; ao perfil dos alunos (novatos, intermediários ou especialistas); às condições de acesso pelos alunos (largura de banda, porte do equipamento e habilidade para operar diferentes softwares). Sobretudo, devem ser instrumentos auxiliares do processo construtivo do aluno e propiciar a contextualização e a descontextualização dos conteúdos abordados. Devem apresentar diversidade de linguagens (verbal e não verbal, estática ou em movimento, como áudio e vídeo e fotografia) e propiciar ao aluno enfoques múltiplos. (RESENDE, 2004, p.90)

Conforme exemplifica Almeida (2003), as interfaces utilizadas podem assumir

o caráter síncrono – tempo real, ou assíncrono que representa o tempo da

possibilidade de intervenção do interagente. Para que a construção do

conhecimento individual e grupal se efetive é fundamental que contribuam para

“favorecer a interatividade entendida como participação colaborativa,

bidirecionalidade e dialógica, além de conexões de teias abertas como elos que

traçam a trama de relações.” (SILVA, 2006a, p. 64)

Silva (2006b) ao criar e professorar um curso online destacou entre outras, as

interfaces chat, com característica síncrona e potencial de socialização e criação de

vínculos sociais e afetivos. É impulsionadora de diálogos, mas tem a limitação da

instantaneidade e rapidez. Já o correio, com característica assíncrona permite a

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construção cuidadosa do diálogo entre os interagentes. É adequado para a fala

individualizada entre professor e aluno. O Fórum que agrega a característica

assíncrona do correio, é uma interface rica em potencialidade conversacional e

colaborativa, pois permite o aprofundamento e reflexão nas mensagens que ocorrem

entre muitos ao mesmo tempo e em tempos diferenciados.

Os fóruns, segundo Arango (2003)

Facilitam a colaboração e a aprendizagem, potencializando os processos de aprendizagem para chegar ao conhecimento. Os alunos podem discutir durante os fóruns, compartilharem variados recursos e preparar-se para apresentações em grupo. Beneficiam-se mutuamente dos pontos de vista do professor e dos colegas.Com a observação sistemática, as intervenções podem evoluir e serem aprimoradas.(ARANGO, 2003, p.3)

De acordo com Sampaio e Kratochwill (2009) da mesma forma que os

participantes interferem nas mensagens, também recebem interferências alheias,

num constituir-se mútuo sem que a autonomia e autoria deixem de ser preservados.

Fica preservado o respeito à alteridade, individualidade e, do mesmo modo, à

coletividade, remetendo à perspectiva vygotskyniana de ZDP, quando “zonas”

criadas pelos participantes são capazes de articularem idéias e conhecimento. Pelos

fóruns, então, é possível acompanhar não só a evolução individual do aprendiz bem

como do coletivo participante.

Aparente caos ou ordem, ou ambos, segundo Xin e Feenberg (2009) essa

interface “combina a lógica da conversação informal com o discurso acadêmico”. O

fato é que a potencialidade dessa poderosa interface em relação ao grupo partícipe

deve exigir mais leituras e pesquisas; há uma preocupação maior com a escrita;

quebra da “timidez” e com isso maior número de participações; possibilita a

instrumentalização do processo avaliativo formativo além de aumentar os esforços

colaborativos. (SAMPAIO e KRATOCHWILL, 2009)

Arango (2003), entretanto adverte, assim como as demais interfaces

disponíveis, os fóruns por si só não garantem a aprendizagem. De acordo com o

planejamento para a atividade pode-se combiná-los com outras interfaces e/ou

tarefas para melhor resultados.

O exercício online tem demonstrado que é necessária a criação de ambientes

que possam permitir aos aprendizes sentirem-se acompanhados nos processos de

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criação de identidade e pertencimento ao grupo. Nesse sentido o feed-back do

docente ou liderança da comunidade online é fundamental.

3.3.3 Didática e metodologia

Conforme ressalta Libaneo (2009), a Educação, viabilizada pela Pedagogia é

uma prática cultural cuja mediação simbólica promove o desenvolvimento cognitivo,

afetivo e moral dos sujeitos. Através do trabalho docente, a significação dos

símbolos culturais pelos alunos permite que se desenvolvam novos conceitos e

ampliem suas capacidades. Entre saber do mestre e internalização do aluno criam-

se condições e meios para que se aprenda melhor, da maneira mais adequada.

Aprender, segundo Almeida (2003), envolve planejamento, desenvolvimento

de ações, correlações, filtragem e ancoragem de informações. Requer que tudo isso

se dê entre a reflexão conjunta entre pares com a garantia da respectiva autonomia

a autoria do indivíduo. No grupo as interações se conectam, avaliam, agregam,

combinam e excluem informações compondo uma rede de significados que vai muito

além da apreensão e construção individual.

Com a inserção das mídias digitais no cenário educacional um leque variado

de opções em aplicações didático-metodológicas se abre. Segundo Kenski (2009),

apesar de imensa variedade de mídias disponibilizadas a sua aplicação deve ser

considerada em função das características do projeto, perfil de alunos e objetivos a

serem atingidos, pois cada suporte é adequado à educação que se planeja e

concepções que se tem por princípios.

Assim como na atuação docente, na utilização dos meios, há uma enorme

tentação em transpor a lógica conteudista transmissiva para a tela plana do

computador representada por esse novo paradigma. No entanto, essa característica

“plana” tem a potencialidade de tornar-se um “relevo acidentado” expresso em sons,

imagens, leitura e escrita específicas e, hipertextualidade. De acordo com Amaral e

Amaral (2009) o aprender e o ensinar sofrem influência com esse novo cenário onde

o intercâmbio de trocas é cada vez maior, um desafio que instiga a formação

docente para melhor atuação.

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Para que se viabilize o aprendizado através dos meios metodológicos Pérez,

Barros e Sánchez (2009) afirmam que há uma complexidade que envolve os três

elementos presentes no processo: o aluno e suas singularidades; as demandas do

contexto atual que exigem do profissional criatividade e trabalho em equipe e

habilidade em várias linguagens comunicacionais; e os docentes, que vivem um

impasse diante da qualificação necessária para o exercício de sua função,

especialmente no que se refere ao uso de tecnologias digitais e respectiva

adequação didático-metodológica.

Considerando a complexidade que envolve esses três elementos a interação

entre os participantes é outro aspecto que imediatamente deve ser relacionado à

escolha metodológica. Segundo Kenski (2009) as mesmas atividades podem ter o

caráter individual ou trabalho em grupo, onde há maior interação e é justamente

esse o diferencial na aprendizagem, ir além dos conteúdos e conseguir alto grau de

sociabilidade.

Para Pérez, Barros e Sánchez (2009) os conteúdos que também passam por

modificações, devem se adequar às realidades cotidianas, adquirindo uma função

mais utilitarista. Resende (2004) afirma que as atividades planejadas devem permitir

ao aluno a responsabilidade sobre seu próprio percurso e para tal devem ser

estimulantes, práticas e criativas envolvendo o processo individualizado e coletivo

nas diversas reflexões. Ao mesmo tempo em que o grupo é envolvido em

cooperação, o contato é aberto ao mundo, a outros sujeitos e conhecimentos. Forma

e conteúdo coadunam nesse processo. Forma construída em bases pedagógicas e

conteúdos que articulem a construção do conhecimento viáveis e significativos.

Marca do novo “aprender a aprender”, é a navegação hipertextual, capaz de

remeter o leitor a percorrer o “caminho” segundo suas próprias escolhas,

configurando-se em percurso individualizado. Segundo Ramal (2000), o hipertexto

permite “tecer o caminho para outras janelas, conectando algumas expressões com

novos textos, fazendo com que estes se distanciem da lógica linear da página e se

pareçam mais com uma rede.” (RAMAL, 2000, p.24)

Almeida (2003) complementa

A representação de informações em hipertextos com o uso de distintas mídias e linguagens permite romper com as seqüências estática e lineares de caminho único, com início, meio e fim fixados previamente. O hipertexto disponibiliza um leque de possibilidades informacionais que permitem ao leitor interligar as informações

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segundo seus interesses e necessidades, navegando e construindo suas próprias seqüências e rotas. Ao saltar entre as informações e estabelecer suas próprias ligações e associações, o leitor interage com o hipertexto e pode assumir um papel mais ativo do que na leitura de um texto do espaço linear do material impresso. (ALMEIDA, 2003, s/p.)

O aprender e ensinar com suporte das tecnologias digitais deve ser

considerado sob a perspectiva comunicacional de novas formas simbólicas que vão

sendo inseridas e, novos movimentos cognitivos capazes de apreenderem,

“comunicarem” e interagirem com essas linguagens diversas, a exemplo do

hipertexto. Muitos desafios à vista, além da escrita, da leitura e da relação com

formas e conteúdos. Conforme adverte Kenski (2009), além de serem viáveis

financeiramente, as propostas pedagógicas devem ser criativas, contextualizadas e

devem oportunizar a autonomia do pensamento e criticidade, na convivência em

sociedade. Conclui que o outro grande desafio está na formação de habilidades e

competências dos profissionais de educação para lidarem com a variedade de

suportes midiáticos e que tenham em vista os objetivos educacionais para

consecução de seus fins.

3.3.4 Discência

Como toda tecnologia reflete uma linguagem simbólica, as gerações ou se

apropriam ou já “nascem” com o seu advento. O momento é de convivência entre

nativos e imigrantes digitais14. Não é regra, mas segundo a ordem cronológica

imposta, imigrantes docentes e alunos nativos digitais. Conforme apontam Pérez,

Barros e Sánchez (2009) essa lógica pressupõe a utilização das tecnologias em

aula pelos alunos, visto que no lazer e socialização extra-classe já são assimiladas

em larga escala.

14

Expressões cunhadas por Marc Prensky (2009): nativos digitais são aqueles segundo ele que nascem na

período no qual as tecnologias digitais já estão instituídas enquanto que os “imigrantes” são aqueles que

oriundos de outras gerações devem se adaptar a elas. PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants

Disponívelem:http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immig

rants%20-%20Part1.pdf> Acesso em 26 set 2009

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De acordo com esse novo perfil de aluno, Jonassen (2007) vê alterações no

encaminhamento da auto-aprendizagem e da aprendizagem grupal tendo em vista

que os meios digitais potencializam o trabalho entre pares que requer tanto a

participação ativa como a atitude reflexiva do sujeito. Percebe-se uma focalização

maior nos processos de aprender do que propriamente em seus resultados.

Segundo Valente (2003) o processo de “estar junto” virtual na aprendizagem

implica que uma série de intervenções possa circular entre todos com todos e, em

meio à reflexão entre elas, questões são resolvidas e/ou ampliadas ou novas

dúvidas geradas, o que demanda um suporte do colega aprendiz ou do professor.

Com isso, em circularidade, o grupo coopera entre si e potencialmente constrói

conhecimento à medida que assumem papel de construtores e não mais repetidores

de informações. (TONUS, 2008).

“Estar junto” também implica dizer convivência entre estilos de aprender

diferentes, pois conforme apontam Geller, Tarouco e Franco (2009) todo ato

educativo pressupõe a relação de pessoas com singularidades configuradas a partir

de cada história pessoal vivenciada e em acordo às considerações feitas sobre o

campo teórico vigente. Há que se levar em conta o aluno e suas características

pessoais para adaptação dos melhores meios e condições inerentes ao processo.

Há ritmos de estudo em diversos compassos e considerando-se o trabalho com as

tecnologias digitais, ritmos cognitivos em destrezas informacionais também

diferentes. Identificar os diversos estilos de aprender não é objeto deste estudo, no

entanto, essas diferenças devem ser avaliadas e contempladas no planejamento das

atividades e/ ou objetivos do projeto educativo, pois interferem nas relações

interativas e de aprendizagem.

Conforme Tonus (2008) e Jonassen (2007) o aluno que interage através de

interfaces digitais está exposto a um mix composto de linguagens multimídia, e seja

qual estilo cognitivo apresente, passa a ter um papel ativo em constantes

desequilíbrios e auto-regulação de sua aprendizagem em colaboração com seus

companheiros. Esse pensamento pode ser observado à luz da Epistemologia

Genética de Piaget (1973a) ou através de outro viés, a contribuição que nos traz a

Teoria de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky (1988). Passa pela complexidade

dos pensamentos em interação, Morin (2007), além de considerar a possibilidade da

apreensão significativa de conceitos, de acordo com Ausubel e Novak (1984).

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Valente (2003) também destaca o aspecto afetivo e emocional das relações

que se estabelecem através do computador quando imagens, sons e movimentos

traduzem uma linguagem de sentimentos muitas vezes relegados em função dos

aspectos racionais. Xin e Feenberg (2009) ratificam que esses sentimentos podem

ser manifestados na caracterização da fala assíncrona, capaz de ocultar timidez e

sensação de incompetência diante de colegas mais rápidos na exposição oral. Seja

qual for a manifestação, faces subjetivas e racionais caminham paripassu por todo o

processo educativo. Segundo Tonus (2008), em tempos digitais, a interação

potencializa maior humanização entre pares da comunidade.

Para Jonassen (2007), o resultado da construção do conhecimento pode levar

a um resultado original que revela o trajeto de suas experiências traduzido na autoria

do aprendiz. Reconhecer-se autor em participação grupal pode ser motivador e

estimulante e, de meros receptores passivos passam significar os conteúdos em

confronto a diferentes pontos de vista. Entretanto se as experiências teóricas e

práticas têm demonstrado o sucesso no desenvolvimento de grupos de

aprendizagem online, a realidade, segundo Pérez, Barros e Sánchez (2009),

apresenta barreiras a serem vencidas em vários níveis em relação à participação,

tanto de imigrantes, como nativos digitais. À medida que o processo de digitalização

avança verifica-se um número maior de cidadãos conectados, gerando parâmetros

para um novo tipo de inclusão, a inclusão digital. Portanto obstáculos e preconceitos

vão sendo vencidos e um novo paradigma cultural apropriado, alguns assumindo

mais ostensivamente e outros, de forma paulatina.

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PARTE III - ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

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CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

"... sentido e significado nunca foram a mesma coisa, o significado fica-se logo por aí, é direto, literal, explícito, fechado em si mesmo, unívoco, por assim dizer, ao passo que o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha de sentidos segundos, terceiros e quartos, de direções irradiantes que se vão subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem de vista; o sentido de cada palavra parece-me como uma estrela quando se põe a projectar marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos, perturbações magnéticas, aflições". JOSE SARAMAGO, 1922 - *

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4.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS SUJEITOS

Neste sub-capítulo serão apresentados os dados coletados na primeira etapa

da investigação por meio de questionário simplificado (ANEXOA). Os gráficos

disponibilizados têm por objetivo evidenciar os parâmetros.

Os sujeitos convidados a contribuir com a pesquisa pertencem a um universo

comum: todos são professores e todos exercitam a função docente em interfaces

digitais, seja em cursos específicos ou em cursos híbridos. O critério básico para a

participação, além do exercício online, foi vinculação a uma instituição de ensino.

Todos fazem parte de instituições de Ensino Superior, Públicas ou Privadas. Foram

selecionados a partir de conhecimento pessoal, profissional e indicação institucional.

Um total de quarenta respondentes15, formação e áreas acadêmicas distintas e,

dispersos geograficamente pelo Brasil.

4.1.1 Caracterização Geral Nesse item foi possível delinear dados que envolvem desde aspectos mais

gerais, como gênero, idade, profissão, período de trabalho, às características mais

individualizadas como a formação acadêmica.

15 Foram enviados cerca de 50 (cinquenta) instrumentos de pesquisa a serem respondidos, num espaço de 30 (trinta dias – julho/2009).

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Gráfico 1 – Gênero dos sujeitos da pesquisa

Gráfico 2 – Faixa etária dos sujeitos

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Gráfico 3 - Formação Acadêmica

Gráfico 4 - Profissão

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Gráfico 5 – Regime de Trabalho

Interpretando os gráficos apresentados acima foi possível inferir que há um

predomínio entre os sujeitos respondentes do sexo feminino; a faixa etária

predominante é uma faixa intermediária, a maioria dos sujeitos corresponde a um

perfil com certa maturidade e vivência, seja no aspecto pessoal ou profissional.

Interessante observar que na resposta sobre a profissão cerca de 25% dos

entrevistados se intitulam professor-tutor. Uma nomenclatura utilizada

predominantemente no exercício da docência online, embora muito difusa em seu

significado em função da diversidade de projetos em andamento e profissionalmente

não ter algum tipo de reconhecimento legal. No geral, utilizam o computador uma

média de quatro a oito horas por dia, o que configura uso expressivo. Detalhe que

chama a atenção é a diversidade de áreas de formação e graduação de origem16

culminando com o doutorado.

16 O gráfico 4 objetivou demonstrar a formação genérica dos participantes porém no formulário foram especificadas as áreas de atuação: Graduação, um psicólogo; Especialização nas áreas de Educação e Geografia;Mestrado, predominantemente em Educação mas também em Engenharia Elétrica, Artes e Tecnologia, Design, Engenharia Civil e Economia; no Doutorado houve maior diversificação: Sistemas de Informação, Sociologia; Design; Arquitetura Antropológica; Educação;

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4.1.2 Perfil relativo ao uso do computador

Os gráficos a seguir trazem informações acerca do uso específico do

computador, nos aspectos de familiaridade e expertise, em relação ao número de

horas utilizado e detalhamento de aplicativos e/ou programas mais comuns entre os

participantes da pesquisa.

Gráfico 6 – Local de acesso à internet

Comunicação e Semiótica;Periodontia;Ciências da Computação, Realidade Virtual, Biologia Celular, Arquitetura e Urbanismo,Engenharia Elétrica

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Gráfico 7 – Familiaridade com o uso da internet

Gráfico 8 – Experiências em Programas

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Gráfico 9 – Total do horas/dia no uso do computador

Gráfico 10 – Sistema Operacional

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Gráfico 11 – Aplicativos

Gráfico 12 – Outros usos do computador

Os gráficos apresentados nesta seção demonstram a proximidade que o

docente respondente tem em relação ao uso do computador. A grande maioria dos

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entrevistados tem acesso em suas próprias casas, no geral a familiaridade é alta,

muito acima da média, tanto no acesso à internet bem como no uso de programas e

aplicativos. É recorrente entre os entrevistados o trabalho com textos, planilhas e

apresentações. O número de horas gastos no geral também é bem expressivo, de

quatro a oito horas diárias. Outro detalhe que chamou à atenção foi o uso por 100%

dos participantes do sistema operacional Windows visto que no meio acadêmico há

um grande apelo para o uso de sistemas livres.

4.1.3 Perfil relativo ao exercício da docência

Esse item observou maior detalhamento sobre a atuação docente. Em tempos

de atuação presencial e atuação online. Também foi abordado o uso de AVA no

trabalho com os alunos.

Gráfico 13 – Realizou curso específico para docência

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Gráfico 14 – Tempo de atuação

Gráfico 15 – Tempo de exercício na docência em interfaces

até 5

62%

6 a 10

38%

11 ou +

0%

0%

Tempo de Docência online

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Gráfico 16 -AVA’s

Embora a diferença não seja bastante expressiva há um equilíbrio nos

docentes que fizeram cursos específicos para a atuação online e aqueles que não

fizeram. Conforme os dados dos perfis mais genéricos apontavam é um docente

experiente, pois no geral atua há mais de dez anos como professor e há bem menos

tempo com as tecnologias digitais visto que seu uso só foi disseminado em tempos

mais recentes. Em relação ao AVA, 100% dos entrevistados trabalham ou já

trabalharam com o Moodle17, porém reconhecem contato com outros.

4.2 ANÁLISE DE RESPOSTAS A QUESTÕES ABERTAS

Esta pesquisa qualitativa contou com a WEB como veículo para a coleta de

dados. Observou-se de saída, as vantagens na abordagem de profissionais que

presencialmente seriam de difícil acesso, seja pela dispersão geográfica ou pela

dificuldade em contatá-los pessoalmente em decorrência da natureza de seus

trabalhos. Outra vantagem, se considerarmos as características da pesquisa em

17 Moodle é um sistema de administração de atividades educacionais destinado à criação de comunidades online, em ambientes virtuais voltados para a aprendizagem.

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campo presencial, é a flexibilidade do tempo para responder e refletir sobre as

questões propostas.

Os dados coletados a partir das questões abertas foram analisados através

da técnica de Análise Temática, proposta por Bardin (2002) seguindo as seguintes

etapas: constituição do corpus; leitura flutuante; composição das unidades de

análise; recortes e codificação; escolha de categorias. O tratamento dos resultados

compreendeu a inferência e interpretação. O conjunto disforme, ora com

regularidades, ora com pensamentos únicos e, incomparáveis, contribuíram para as

correlações na sistematização entre a prática e a teoria. (Idem, 2002)

Diante do aparente caos proporcionado pelos sujeitos, e suas falas,

elementos começam aparentemente a saltar aos olhos e, outros tantos, meio difusos

ainda, aguardam para serem desvelados. Assim se desenha o primeiro momento

tendo em mãos a impressão das variadas representações dos sujeitos. Momento de

organizar os diversos “eus”, explicitados pela palavra escrita. Um momento, segundo

Bardin (2002) que olhos argutos e atentos mergulham nas linhas e entrelinhas

flutuando por entre as palavras, frases e pontuações, à exaustão.

Mas o que dizem, ou não dizem, ou poderiam ter dito de outra maneira as

pessoas que emprestaram suas vozes ao texto escrito? “[...] Como é que as

palavras, as frases e as seqüências se encadeiam entre si? Qual a lógica discursiva

do conjunto? Será que posso resumir a temática de base e a lógica interna

específica da entrevista.” Bardin (2002, p. 94) vem ao encontro dos dilemas iniciais

e se conecta também aos questionamentos. Tanto mais se lê o conjunto, percebe-se

que individualidades em determinado momento se coadunam, noutro momento,

seguem outras direções, No entanto, sem dúvida alguma, imbricadas dentro mesma

temática como que ligadas por uma teia invisível.

Embora tenha havido grande coesão nas respostas dos sujeitos entrevistados

foi tarefa complexa isolar e classificar os elementos em mesma categoria, seguindo

ainda orientações de Bardin ((2002). Os elementos que saltavam à vista teimavam

em entrelaçarem-se uns aos outros. A sequência de leituras possibilitou a

dissecação dos períodos em sucessivas etapas até que chegassem a uma unidade

comum. O caminho foi reconstruído inversamente para que alguns elementos

aparentemente “soltos” não ficassem a esmo, porém re-classificados em novas

“caixas categoriais” e para tais caixas foram observadas as seguintes qualidades:

exclusão mútua – elementos isolados; homogeneidade – categorização sob

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princípios; pertinência – relativa ao referencial teórico e questão de análise;

objetividade e fidelidade – definição clara das variáveis; produtividade – resultados

promissores, (Idem, 2002).

Novas leituras e releituras compuseram a rota que delineou a construção da

pesquisa de modo que as falas dos sujeitos estivessem em consonância e

observância ao problema e objetivos.

A freqüência recorrente foi determinante na definição do isolamento de alguns

temas, e relativas inferências que pudessem agregar novos subsídios ao estudo.

Após as indagações e tratamento dado ao material de análise, os temas que se

repetiam foram registrados no quadro a seguir sob duas temáticas abrangentes.

Quadro 1 – Temas emergentes

TEMAS

SUBTEMAS

4.2.1 – Aspectos interativos na ambiência pedagógica online

4.2.1.1 - Interações/Relações/Mediação 4.2.1.2 - Presença /Participação 4.2.1.3 - Expressão escrita

4.2.2 – Elementos que compõem a ambiência pedagógica online

4.2.2.1 – Docência 4.2.2.2 - Interfaces Online 4.2.2.3 - Metodologia e Didática 4.2.2.4 - Discência.

Diante do exposto, os temas são definidos, “unidades de significação que se

liberta naturalmente de um texto analisado”, conforme explicita Bardin (2002, p.131).

Denotam explícita ou implicitamente conceitos e teorias, enfocados pelos

participantes. A importância da emergência temática consiste em desvelar “núcleos

de sentido” que se relacionam tanto aos assuntos abordados no referencial teórico

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como nas questões abertas levantadas na fase de campo, conforme análises e

interpretações feitas na seqüência.

4.2.1 – Aspectos interativos na ambiência online

Esse tema mais abrangente emergiu tendo em vista a identificação de

aspectos comunicacionais e concepções de aprendizagem embutidas no saber fazer

docente e que envolvem o exercício da pedagogia online, tendo em vista a

possibilidade de afetarem as relações que se estabelecem entre os atores

envolvidos no processo. Segundo Morin (2008) há uma emergência na reforma do

ensino, e esta deve se dar pela reforma do pensamento. Pensamento esse

“reformado” através dos símbolos culturais, resultado em potencial de um novo

aprender e ensinar .

Os sujeitos que interagem estão imbuídos do “espírito” do tempo e as

relações constroem-se considerando os aspectos biológico, físico e subjetivo, tendo

os símbolos culturais por mediadores, com o pé fincado na historicidade de sua

permanência e transição.

Mudar a lógica educacional imposta desde tempos anteriores implica em

modificar fundamentos arraigados em processos comunicacionais superados,

conforme aponta Silva (2006a). Dar vez, voz e lugar à construção do diálogo

coletivo, e que ao mesmo tempo valoriza o autor singular, é potencializar o

surgimento de uma sala de aula verdadeiramente interativa, na real acepção do

termo, como sugerem os sujeitos da pesquisa, em princípio, destacados:

KF- O docente online precisa ter certa “intimidade” com as tecnologias. Precisa dar a voz aos alunos, sair do centro das atenções, devido às novas formas de comunicação que os ambientes virtuais proporcionam. Onde aprendizes não são mais passíveis a mensagens fechadas.

FB- [...] tendo em vista as especificidades do ambiente virtual percebo que a principal diferença reside no estabelecimento do relacionamento entre os envolvidos (professor e alunos, alunos e alunos). A ausência de contato visual, a atemporalidade que esse ambiente permite, as trocas através da linguagem escrita, enfim,

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estas peculiaridades do ambiente virtual diferenciam a docência online da docência presencial, exigindo do docente maiores habilidades em termos de comunicação e relacionamento.

As falas observam os desafios que se impõem ao processo docência/

aprendizagem em ambiência online: o professor leva sua historicidade, sua

formação e toda influência que exerce não é neutra,18 embute teorias e conceitos

que direcionam sua prática e “comunicam” suas intenções pedagógicas.

As relações que vão sendo construídas pressupõem “trocas” e a ambiência

online potencializa uma comunicação dialógica entre os participantes19, mas para

tanto precisa ser contextualizada segundo as possibilidades e peculiaridades das

tecnologias digitais.

A aula flui, os atores estão na cena das aprendizagens: a forma, o conteúdo,

a atuação docente e discente nas interfaces online exigem um novo comunicacional.

A concatenação dos elementos20 presentes na ambiência online para que se esse

“novo” se sobreponha a práticas meramente transmissivas de conteúdo é a chave

que este estudo se propôs a discutir e compreender.

4.2.1.1 – Interações/Relações/Mediação

Neste sub-tema, os sujeitos da pesquisa revelam a complexidade das

relações que se estabelecem no processo educativo mediado pelo uso do

computador. Primo (2007) adverte que o processo interativo pressupõe

comunicação e esta se efetiva na recursividade, no diálogo engajado, na dinâmica

do ir e vir entre os interagentes envolvidos. Agrega-se conhecimento através da

relação com o “outro” no tempo e espaço vivenciado.

Vaz (2008), em outra observação, atenta para a perda da centralidade de

papéis nas relações online, afirmando que em vez de um, podem ser produzidos

vários centros de mediação num mesmo grupo formado. Martin-Barbero (2004), em

complementaridade relativa às transformações nas relações com o saber, reafirma

18 Ver Seção 3.1 referencial teórico deste estudo. 19 Ver seção 3.2 , idem. 20 Ver seção 3.3 , ibidem.

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uma das mais profundas marcas do nosso tempo: “disperso e fragmentado é como o

saber escapa dos lugares sagrados, que antes o continham e o legitimavam, e das

figuras sociais, que o detinham e o administravam “( MARTIN-BARBERO, 2004, p.

59).

Segundo Lemos (2001), um processo comunicacional, dialógico, pressupõe a

ação dos participantes modificando o contexto do grupo e todos possuem o direito

de agir para influenciarem no processo. O que Primo (op.cit., 2007) chama de

interação mútua, marcada pela negociação e alterando as relações que se

constroem, conforme atestam os participantes

ML - O ambiente virtual de aprendizagem difere do presencial em diversos aspectos: este novo meio caracteriza-se por ser assíncrono, não-presencial e, todos os participantes interagem numa relação de todos-para-todos. Na educação presencial, a interação se dá nos formatos um-para-um, um-para-todos, todos-para-todos, mas ela dependente de tempo e lugar. Na educação por meio virtual o falar e ouvir ocorrem por meio de texto, por meio de uma mídia tecnológica.

CF- Ambientes virtuais são lugares de diversos atores. A sala de aula presencial pressupõe uma organização hierárquica de transmissão do conhecimento na qual o professor é o grande ator(não necessariamente, mas assim predomina). A lógica da aprendizagem deve ser invertida em ambientes virtuais, não existe apenas um disseminador do conhecimento. A figura do mediador (professor) têm que ocupar um lugar pequeno, discreto, enquanto muitos ocupam o lugar de aprendizes e professores.

CA- As relações são construídas desde o primeiro contato com os alunos. Adoto uma postura participativa e colaborativa, que geralmente facilita a aproximação e a construção do diálogo com os alunos. Percebe-se a existência de maior diálogo e maior questionamento por parte dos alunos que no ensino presencial.

Percebe-se pelos relatos que há uma ação de “aproximação” intencional para

se estabelecer as relações sociais de aprendizagem. A outra percepção clara é a de

que a ambiência online requer tratamento diferenciado para que essa aproximação

aconteça, exatamente por conta da distância física.

Os autores citados na seção 3.1 deste estudo, exceto por Edgar Morin, não

vivenciaram a possibilidade de observarem os dispositivos tecnológicos digitais

modificando o meio e a capacidade interativa, no entanto suas teorias norteiam a

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atuação mediadora na compreensão do aprendizado humano e as questões que são

ligadas ao processo de aprender, por isso o seu entendimento é de extrema

relevância no planejamento de ações educativas no atual contexto.

JM- As relações de afetividade, por exemplo, são verdadeiramente pontos a favor do tutor e aluno. A internet facilita isso. Comunicamos e criamos sinais de afetividade com quem nos corresponde. O tutor, mediador, sabe conduzir esse ponto pelo lado positivo das tarefas a serem cumpridas.

AC- As relações sociais de aprendizagem ocorrem por meio de construção colaborativa, participação ativa, comunicação bidirecional, construção de diálogo. Estas relações são possibilitadas tanto pela configuração que é dada ao ambiente, quanto ao grau de liberdade que o docente tem de participar, mediar e colaborar com a construção proposta para os alunos.

FA- É importante possibilitar as trocas de experiências personalizadas de alunos, num ambiente de relações simétricas entre professor e alunos onde todos podem produzir e acessar os conteúdos

SA- A comunicação pode ser em ambiente coletivo, onde uma mensagem é compartilhada com todos, ou em ambiente mais privativo. É preciso que se estabeleça uma conquista de confiança mútua para que a comunicação ganhe espontaneidade e flua com muita naturalidade.

SB- Uma relação em que ambos fazem parte do processo de ensinar e aprender, ou seja, o aprendizado é recíproco. Quando existe reciprocidade, o diálogo é bem maior e deve haver maior atenção por parte do docente aos estilos de aprendizagem.

As falas dos sujeitos participantes encontram eco em Silva (2006a) que

sugere que a comunicação seja mudada, tendo como referência um plus

comunicacional entre todos com todos, pois a ambiência online potencializa a

relação tanto do aprendiz individualizado com vez e voz, dentro do coletivo, como a

participação do professor que colabora com a construção do conhecimento

articulando as possibilidades do ambiente de acordo as singularidades dos mesmos.

Em Primo (2007) referencia-se a advertência de que muitos têm se dedicado

à exaltação da técnica, em detrimento dos humanos que se relacionam via máquina.

Essa relação de crescimento mútuo pode ser fundamentada em Vygotsky (1988)

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quando este afirma que os homens constituem suas funções mentais superiores

através da mediação da linguagem e dos símbolos culturais de sua época. Em Morin

(2008a) e Piaget (1973a) o respaldo encontrado é a necessidade de se aprofundar

em processos cognitivos subjetivos que revelam a consciência do ser e a

complexidade na construção conceitual.

4.2.1.2 - Presença /Participação

Há uma moral implícita na construção de relacionamentos online: a moral da

reciprocidade (LEVY, 2001). Grupos se formam em função de interesses comuns, o

que não significa dizer navegar sob céu límpido e sem nuvens carregadas.

Relacionar-se com o outro implica convergência e divergência; presença e

afastamento; afeto e indiferença; motivação e desânimo. A construção

compartilhada de saberes requer equilíbrio nas participações, coerência, conquista

da confiança e liderança sensível e perspicaz diante dos desafios impostos.

Na ambiência online, para que as trocas ocorram, todos os elementos devem

ser dispostos analogamente como num tabuleiro de xadrez e, cada movimentação

estudada e elaborada para a consecução de sua finalidade, movimentos previstos

ou não, entretanto, assentados sobre uma base planejada. Santaella (2004)

reafirma a tese reforçando a necessidade dos usuários participantes adquirirem

competência técnica para lidarem com as interfaces e seus dispositivos simbólicos.

Deste modo estarão aptos a efetivarem relações de partilha e cooperação.

Já Almeida e Okada (2009) chamam a atenção para formas distintas de

participação denotando presença ou a falta dela. O silêncio é sempre uma incógnita,

pois pode representar um leitor em potencial, “ouvinte” do grupo, ou uma pessoa

que simplesmente se afasta. A participação pode demonstrar o simples “estar

juntos” ou, ao acrescentar “falas”, “colaborarem juntos”. O mediador, através do

planejamento e intervenções é capaz de harmonizar as relações sem perder de vista

a atuação individual no grupo (ALMEIDA, 2003)

De acordo com os participantes desta pesquisa:

MC- As relações no ambiente virtual são mais próximas e freqüentes devido às participações, especialmente nos fóruns que estimulam o

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hábito de se manifestarem e apresentarem idéias, mesmo que contrárias ao outro interlocutor.

RT- A falta de presença física deve ser compensada por outros tipos de proximidade. E a interatividade é uma das formas mais eficientes de se aproximar aluno-professor, aluno-aluno, aluno-conteúdo.

FB- O distanciamento físico altera a relação, podendo ora dificultá-la e ora facilitá-la. Dificulta, pois o estabelecimento de um contato amigável e direto pode ser prejudicado pela não existência do visual. A linguagem corporal é abolida do relacionamento. Por outro lado facilita, pois parece que tal distanciamento muitas vezes gera uma menor percepção do “poder” do professor, aproximando docente e alunos, desconstruindo hierarquias.

LS- Barreiras de timidez são mais facilmente transpostas, o que promove maior interatividade. O fato de existir um ambiente assíncrono permite que as idéias sejam melhor formuladas. Penso que seja menos “atropelado” que a aquisição de conhecimento pelo método convencional.

SA- O docente para estabelecer um processo de igualdade precisa tratar desigualmente os desiguais. Assim, aprimorar uma espécie de “escuta sensível”, para compreender as necessidades de cada aluno e estimular com mais acerto o seu empenho, notadamente respeitando sua autonomia.

AC- Buscando conhecer um pouco de cada turma e de cada aluno, para reconhecer suas especificidades em relação à aprendizagem. Acompanhar constantemente o processo construtivo de cada aluno, para que possa identificar seus avanços/retrocessos, buscar estabelecer diálogo com todos e individualmente com cada um (conquistando a confiança e apresentando-me sempre de forma gentil, amável, positiva, amistosa, mas também estabelecendo os limites de respeito, netiqueta e conduta aceitável dentro do ambiente virtual).

RC- Acredito que a relação de proximidade ou de afastamento depende muito do docente e também do layout do ambiente: as relações se estabelecem desde as boas vindas e ao longo do curso através dos incentivos, propostas de fóruns, atividades, interesse pelo individual e coletivo ao mesmo tempo.

Certamente as falas dos respondentes, no que concerne a participação ou

presença online, remetem à idéia de “aproximação”, proximidade ou “estar juntos”.

Há um evidente destaque na atuação do docente como mediador entre os diferentes

que se “encontram” em comunidades online. Almeida (2003) destaca a importância

do planejamento de situações que promovam interações significativas, pois o fato de

“estarem juntos”, em ambiente favorável, não indica que as trocas ocorrerão

naturalmente. Pelo contrário, em se tratando de grupo com distintas vozes, há que

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se considerar as singularidades, e através da interação intencional e planejada,

quebrar a barreira da distância e harmonizar vozes dissonantes para que possam ter

participação equilibrada, sentindo-se próximos.

FA- Percebo a evolução do aprendizado através das produções e participações. Sempre que possível estabeleço canais individuais de contato que favorecem a identificação das dificuldades de cada aluno. Além disso, sempre reforço que o aprendizado é de responsabilidade do aluno, logo cabe a ele sinalizar suas dúvidas, ansiedades, insatisfações etc. Logo é comum que os próprios alunos, pois trabalho com jovens e adultos, manifestem seus desafios e com isso forneçam a mim a visão dos diferentes estágios nos quais a turma se encontra.

CA- Percebo que o aprendizado avança pelo tipo de pergunta que fazem em relação aos conteúdos estudados e às atividades propostas. Pela elaboração das respostas e das participações nas discussões dos fóruns. Pelas mensagens que postam no mensageiro do ambiente. Ou, em alguns cursos, pela construção do portfólio.

VV- Um aspecto é a possibilidade do encontro, mesmo que esse se dê entre pessoas geograficamente distantes. Outro, é em relação aos pouco expressivos, neste caso, é uma ferramenta eficaz para a socialização, pois ficam mais à vontade para expor suas opiniões.

LS- A presença constante do professor no ambiente virtual, a acessibilidade do professor é condição absoluta para o estímulo à busca do conhecimento e o bom aprendizado.

GC- Sempre por meio do incentivo constante à participação de todos. Cuidando para que todos se sintam igualmente avaliados e independente do nível de respostas, procurar dar um feedback que favoreça o interesse em melhorar a participação, na tentativa de evitar a evasão. FB – Esse exercício de ensino aprendizagem “desterritorializa” os grandes centros tradicionais de saber.

Novamente os respondentes enfatizam a possibilidade em ambiência online

de individualização do processo ensino aprendizagem, espaço onde os “diferentes”

podem se encontrar em território democrático livre de barreiras que afetam o

relacionamento interpessoal como a timidez, por exemplo; e, os mais “falantes”,

serem mais comedidos, mediante a interferência do professor, para que haja

equilíbrio em colaboração e cooperação mútua. O ambiente, nesse caso, assume o

caráter construtivo.

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4.2.1.3 – Expressão escrita

Conforme aponta Santaella (2004) e Soares (2009), o leitor e escritor das

mídias digitais passam a utilizar outros mecanismos muito diferentes daqueles

usados para a leitura e escrita linear, um novo letramento digital vai se configurando

entre os participantes da navegação pelo computador.

Martin-Barbero (2004) afirma que a educação refugiada ainda na prensa de

Gutemberg, critica ou teme os novos modos de ler, ver e escrever sedutores aos

jovens que aderem às novas mídias. Atribuem a elas o super-poder do canto mítico

das sereias de subvertê-los do mundo do livro impresso, talvez por ser muito mais

fácil do que encarar a necessidade de organizar as diferentes linguagens hoje

postas, em seu cabedal curricular.

A escrita registrada assincronamente segundo Ramal (2000), exerce dupla

função: relativiza o papel da memória e aumenta o grau de reflexão como se fosse

um auxiliar cognitivo do sujeito. Acresce-se ao fato, a potencialidade de poder

associar a maior memória externa de todos os tempos. (DONALD, 2009),

Os participantes ao tratarem da escrita assim se pronunciam:

RC – [...] pude perceber um crescimento de meus orientandos durante o processo de orientação (quatro concluíram mestrado e dois concluíram doutorado). Os textos foram lidos por mim, comentados com notas de revisão e bilhetes que falavam de impressões gerais sobre o trabalho. Alguns deles, por seu turno, respondiam minhas mensagens comentando em cima das observações e utilizando recurso de cor no texto para estabelecer uma espécie de diálogo com o que eu havia escrito. Construímos muitos textos conjuntos.

RE - Segundo minha experiência, orientar a distância foi um aprendizado rico e que valeu a pena. O que mais me chamou a atenção foi a necessidade que tive de organizar minhas idéias para poder comentar por escrito os textos enviados por meus alunos. As mensagens que recebi deles também foram ótimas e cresceram em qualidade ao longo do processo de troca de correspondências.

DM – Eu identifico um aluno pela forma de escrita, as idéias expressas e as reflexões feitas. Além da rapidez e facilidades de uso técnico.

MC – Eu avalio as participações, pelo domínio da escrita, pelos comentários em cima de temas propostos, pela experiência profissional.

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IR - No entanto, por usar esses meios de comunicação, (chats, fóruns e email) os alunos devem refletir melhor sobre o que escrevem, estabelecendo melhorias na redação e na parte cognitiva.

Soares (2002) nos lembra que nem bem compreendido o conceito de

letramento na cultura da escrita no papel, agora deve ser contextualizado no âmbito

da cibercultura. A cultura é mantenedora de sistemas simbólicos que propiciam a

construção do “mundo” através de seus membros que criam e ressignificam

conceitos e informações. Num mundo digitalizado elas se intercruzam sem as

barreiras de tempo e espaço. Considerando que o letramento é uma condição em

que indivíduos letrados efetivamente exercem as práticas de leitura e escrita, para

que exerçam tais habilidades em ambiente online, também lhes é conferida condição

especial de inserção social, configurando-se num letramento digital (idem). Alteram-

se as formas de ler e escrever e modificam-se as construções das relações,

conforme apontam os respondentes:

FB - Semelhante ao que ocorre no ambiente presencial, leva-se um tempo para se estabelecer uma relação saudável e de confiança tal como deve ser a relação docente/discente. Porém dependendo do perfil da turma, no ambiente virtual essa relação parece se estabelecer de forma mais rápida, porém sempre influenciada pela ausência do visual e predomínio da linguagem escrita. CH - A avaliação de cursos a distancia é feita de acordo com os objetivos traçados pelos gestores e professores do curso. A escrita como forma de expressão nos cursos a distancia faz com que possamos identificar quem participa e quem fica no silencio virtual. A interação através da escrita possibilita a construção de espaço coletivo e colaborativo .

A ausência física do contato tem permitido, segundo os depoimentos dos

participantes, que o texto escrito adquira uma dimensão plural ao “falar” através da

formatação (cores, pontuação, inserções pictóricas) mesmo que tenha um caráter

mais formalizado perante o grupo.

A possibilidade de comunicar-se através da escrita somada à

assincronicidade, típica da ambiência virtual, remete à maior reflexão do

pensamento, lido e escrito. O tempo, nesse caso, elemento a favor da aprendizagem

contribui para o processo de assimilação e acomodação conceitual. (PIAGET, 1973).

O leitor escritor intermediado pela tela do computador escolhe os meios e

caminhos. Se com o texto impresso a direção que os olhos percorrem ou que a

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caneta desliza são previsíveis, mesmo com acréscimos outros (gravuras, imagens,

cores), os recursos disponibilizados pelas interfaces online ou internet permitem por

um lado uma ampla gama de expressividade, por outro, o aluno deve fazer escolhas

,não aleatórias, intencionais, determinando uma finalidade. Nesse caso, para uma

construção relacional através da escrita (com sons, vídeos, imagens, hipertexto, ou

outro, ou vários integrados) um novo letramento é exigido.

4.2.2 – Elementos que compõem a ambiência pedagógica online

O segundo tema, que abrange os elementos que compõem a ambiência

online, emerge da necessidade de abrigar os núcleos de sentido temáticos

apontados pelos participantes da pesquisa, segundo Bardin (2002). No entanto, por

paradoxal que possa parecer, a categorização implica o isolamento dos elementos

como forma de organização e ordenação dos recortes das falas dos sujeitos, mas

não condiz com a inter-relação dos mesmos conforme se evidenciou nas respostas

coerentes e encaixadas. (Idem, 2002).

De acordo Novak (1984), há uma imbricação nos elementos que compõem a

sala de aula e nas relações que se estabelecem todos se afetam mutuamente

(POZO, 2002). As falas dos respondentes respaldam a afirmação.

Outro paradoxo que pode ser apontado é a ruptura da centralidade do papel

do professor no cenário da sala de aula, e por outro lado, sua valorização enquanto

sujeito que se relaciona com aprendiz coordenando o processo interacional e a

arquitetura do percurso de aprendizagens (SILVA, 2000).

Essas considerações se refletem nas falas dos sujeitos:

FB - Entendo que não há como falar de educação online sem considerar estes três pilares: ambiente (recursos) mais conteúdo (informações, conhecimento) mais docência (pessoas e método).

DM – [...] todos os elementos são integrados e fazem parte de uma ambiência pedagógica.

MC - A afinidade entre docentes e aprendizes me parece ser fundamental para uma boa aprendizagem. A existência de uma identidade (por exemplo, de’ ideal’ de educador) de início já estabelece vínculos quase que afetivos e torna mais fácil e simples toda a comunicação. Por outro lado, um só elemento não garante

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sucesso em aprendizagem. O conjunto deles é que vai propiciar um melhor aproveitamento.

KM - Todos os elementos estão imbricados e são fundamentais para a aprendizagem mas é claro que o professor “orquestra” a aula.

JN – [...] todos os elementos são integrados e fazem parte de uma proposta pedagógica que embute teorias e conceitos.

RV - Não é possível apontar elementos. Todos são importantes diante da diversidade de assimilação do ser humano e em cada contexto.

SB - Acredito que o uso correto das interfaces; um desenho didático que viabilize a distribuição dos conteúdos; uma docência qualificada e uma equipe multidisciplinar igualmente treinada são os elementos que possibilitarão um aprendizado de qualidade, ou seja, o conjunto interligado.

SA - Conteúdo, docência, plataforma de ensino, modelo pedagógico e modelo comunicacional com professores tutores, contextualizam a qualidade de curso. Acho, no entanto, que a dedicação e o carinho de um professor para com os seus alunos, oferecendo-lhes uma presença virtual constante e respondendo com rapidez suas postagens, são atitudes que se destacam para que ocorra a aprendizagem com mais segurança.

O tema focalizado relaciona-se às falas dos sujeitos na consideração de

elementos que possam sobressair para que se efetive a aprendizagem. Os

participantes enfatizam que há uma intersecção entre eles. Há um destaque, no

entanto, para o docente como tendo um papel decisivo na organização dos

conteúdos e na mediação dos grupos, conforme Ramal (2000), porém nenhum

reconhecimento que lhe posicione como sendo o ator principal. Mais amiúde, o

exercício de sua função é destacado no sub-tema descrito na sequência.

4.2.2.1 – Docência

O docente online que se reinventa na profissão e que traz consigo uma

memória de sala de aula exercida em outro ambiente, ou muitas vezes é presente

nos dois, em complementaridade e hibridismo, perde a centralidade no processo tal

qual evidencia Pozo (2002) e Veen e Vrakking (2009), contudo não perde a

importância e a presença física ou virtual conforme profetizaram muitos que

alardearam sua extinção com a inserção do uso do computador em sala de aula.

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A despeito da imbricação dos elementos que compõem a ambiência online, o

professor continua no papel de destaque através da palavra escrita que traduz

sensibilidade, articulação, apoio pedagógico ou emocional , sem sobreposição ao

“outro”, como orientador do processo, conforme são ressaltados os aspectos de sua

função através das falas:

SM - O tutor tem o poder de mediação entre o conteúdo e o raciocínio do aluno, fazendo-o desenvolver o raciocínio pela união das várias conexões mentais, que facilitam a construção de uma nova maneira de ver o conteúdo a ser aprendido. Abre-se assim um novo mundo para o aluno.

PM - Realizando um intenso trabalho de mediação, estímulo e instigação para um pensamento e posicionamento crítico dos alunos, individualmente e coletivamente.

IA- Através da mediação pedagógica, provocando, problematizando, instigando a discussão, procurando provocar a curiosidade e evitando dar respostas prontas. LC - No que diz respeito ao papel do educador na educação a distância, sem prejuízo da autonomia, sabe-se que este deve mediar o processo de ensino-aprendizagem, oferecendo métodos e técnicas que visam facilitar a aquisição de um dado conhecimento. A prática docente pode e deve utilizar-se de várias estratégias de aprendizagens com o intuito de perpetuar a motivação para o ensino e alcançar a excelência cognitiva do aprendiz.

Percebe-se pelas respostas dos sujeitos respondentes a ênfase no papel do

docente como mediador que aproxima os alunos dos outros alunos e todos ao

conteúdo, engajando-os num movimento de aprendizagem que avança. Diante

dessa perspectiva, é clara a postura transcendente que deve manter em sua

atuação, pois valer-se apenas de respostas reativas no atendimento das demandas

dos alunos, seria empobrecedor para o seu trabalho.

O docente contribui na formação de rotinas de estudo, visto que o trabalho

assíncrono requer disciplina e planejamento; oportuniza aos seus alunos a reflexão

auto-avaliativa através de constantes feed-backs; e enxerta informações adicionais

conforme a situação de reforço ou ampliação de conhecimentos.

CG - (1) A capacidade de expressão escrita do docente deve ser bem aprimorada, pois a maior parte da comunicação é desta forma; (2) É preciso incentivar a participação da turma em grande parte do

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tempo; (3) O tempo despedido em uma classe virtual é superior ao de uma classe presencial.

KF- O docente precisa saber quem são os seus alunos, precisa entender como eles aprendem. Entender como ajudá-los em seu desenvolvimento como participante reflexivo.

RT- O docente deve ser percebido como presente e atuante, desempenhando diversos papéis, como tutor, orientador, moderador, animador, avaliador etc. O feedback deve ser constante. Considero muito importante, no entanto, que o tutor/docente evite se colocar no centro das atenções e provoque as interações entre os próprios alunos, interferindo apenas em momentos chave das discussões.

MC - Iniciar o trabalho em cima de conhecimentos básicos, pré estabelecidos e julgados de domínio dos alunos.Ter objetividade nos questionamentos propostos.Orientar pesquisas em fontes de fácil acesso.Tornar perceptível para o aprendiz a importância da organização e disciplina necessárias em cursos online.

AS - Os principiantes precisam de um apoio considerável para não desistirem, não sabem lidar muito bem não apenas com a “informática” mas com a liberdade/autonomia que um curso EAD oferece. Acaba se perdendo na administração do tempo e organização em geral. Nessa fase o professor precisa ser muito paciente, mas não conivente. Em seguida, o aluno vai conquistando pouco a pouco sua autonomia, organiza-se melhor e administra razoavelmente bem o seu tempo, não deixando atividades se acumularem, e já interage com o professor e com seus colegas com um desembaraço muito interessante. Ficamos felizes quando participamos desse processo e vendo o aluno vencer suas inibições iniciais.

ML - Acho que é preciso uma perspicácia grande por parte do docente para estabelecer uma boa comunicação com os alunos no ambiente virtual. Deve procurar inicialmente conhecer os alunos e, para tanto, também se expor de forma a ser reconhecido como pessoa acessível, pronta para auxiliar os alunos, descobrir o que motiva os alunos, quais são seus pontos fortes e dificuldades.

VV – O professor deve ter uma boa relação com os participantes, nem para mais nem para menos; conhecimento sobre o conteúdo e uso adequado das tecnologias de comunicação Equilíbrio em todos eles.

LM - Como docente posso contribuir para a aprendizagem a construção coletiva e colaborativa do conhecimento por meio de propostas de leituras, promoção de debates motivadores, incentivos permanentes, envio de materiais diversos e interessantes.

TR - Diferenças trazem muitos aspectos que podem ser explorados de forma positiva pelo tutor, tais como: despertar curiosidades mútuas entre os participantes, incentivar a troca de experiências e a colaboração; explorar os conhecimentos complementares etc.

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Nas falas anteriores, como nas que vem a seguir, percebe-se um fio condutor na

especificidade da prática docente online: o “poder” comunicacional do professor que

influencia todo o processo educacional.

SB - Dar aos alunos que não estão no mesmo nível, uma atenção particular, de forma a levá-los a alcançar o mesmo nível que os outros. Motivar o grupo a interagir com todos e de certa forma incentivar a ajuda entre o grupo. Mostrar a importância do trabalho em grupo e da colaboração em grupo. Todos têm algo a somar e quem sabe um pouco mais, pode ajudar quem sabe menos, sem que com isto estes se sintam menos qualificados. É um processo difícil, mas que com a ajuda e boa vontade de todos pode dar muito certo.

KF- Proporcionando debates e “cavando” novas questões para a discussão plural, onde que todos possam contribuir de acordo com sua experiência profissional e/ou pessoal.

KM - Instigo, provoco, trago novas questões e perspectivas daquele mesmo conteúdo em processo.

DM – Exerço bem a função docente facilitando exercícios que os alunos tenham que trabalhar com outros alunos, mas dentro das suas individualidades e não especificamente em grupo, esta é a chave para desenvolver a competência de colaboração.

ER - Tanto em sala de aula como na situação a distância eu considero importante que o professor promova discussões, tomando cuidado para que elas não saiam do tema da aula, mas permitindo pequenos desvios que colaboram na compreensão dos tópicos. Procuro fazer isso através de perguntas, que podem ser podem simplesmente pedir a opinião de outro aluno, ou conduzir o raciocínio, quando o objetivo é chegar a um consenso, ou ainda desenvolver abordagens variadas, quando queremos mostrar a diversidade de pensamento.

CC - Acho que diante de tanta diversidade, os professores devem encontrar ou estabelecer assuntos, temas em comum, para que os alunos possam contribuir com as singularidades que cada um traz consigo, conhecimento tácito a favor do conhecimento que é ensinado na escola. Entretanto, encontrar um ponto em comum pode ser atividade sensível por parte do professore ou uma tarefa para a própria turma dentro de seu repertório.

AS - Trabalhando com os alunos em regime Todos-com-Todos, em processo de co-autoria na construção do conhecimento, em regime de Ensino/Aprendizagem mútua.

Os sujeitos, ao considerarem a atuação docente, referendam a teoria de

Vygostky (1988) sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal ao remeterem à idéia

do “outro” colaborador na aproximação de conceitos prévios a conceitos novos e,

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também, referendam Ausubel e Novak (apud Palmero, 2004), quando afirmam que

as relações de novos conceitos ligados a conhecimentos pré-existentes nas

estruturas dos alunos é condição fundamental para a aprendizagem significativa.

Outro destaque nas falas toca a questão do professor na contribuição da

autonomia dos alunos quando são incentivados à pesquisa e esforço. (PIAGET,

1980). Tal fato é possibilitado, principalmente através do conhecimento de como os

alunos aprendem (MORIN, 2008b).

4.2.2.2 - Interfaces Online

As interfaces online substituem o espaço físico conhecido até então desde

que a Educação foi formalizada na concretude dos prédios escolares. Na

especificidade do espaço online, as possibilidades interativas aumentam, pois é

possível associar múltiplas linguagens, diferentes formatos de atividades, tempos e

temporalidades convivendo juntos e acesso concomitante ao armazenamento

externo da memória, através da internet.

Na base de atuação dos atores – professores e aprendizes – viabilizam-se

potencialmente as mudanças nas relações entre eles através da substituição dos

canais comunicacionais tradicionais. (SANTAELLA, 2004).

O uso das interfaces por professores respaldados em determinadas

concepções de aprendizagem contribui para a construção colaborativa e significativa

dos sujeitos aprendizes, conforme apontam os respondentes da pesquisa:

KF – [...] a identificação do avanço da aprendizagem ocorre claramente através das atividades realizadas nos fóruns, mensagens individuais enviadas pelos alunos e chats. JN – É possível verificar avanço no conhecimento através da evolução de seus trabalhos, pela participação nos fóruns.

GM – a relação ideal que promove o conhecimento deveria estar baseada na eficaz utilização das ferramentas de colaboração disponíveis. Por exemplo, estimular a troca através dos fóruns, chats, e-mails, grupos de discussão, principalmente fóruns.

SB- O uso correto das interfaces digitais, viabilizam as interações e propiciam o aprendizado colaborativo.

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JN – As interfaces são utilizadas para o estabelecimento de relações de confiança e atendimento às individualidades.

IA – Os fóruns são espaços apropriados para a colaboração entre os alunos.

LS - Em minha opinião os fóruns, aliados ao material previamente disponibilizado (arquivos em power point, podcast e outros) permitem o avanço na aprendizagem. Nos fóruns o assunto é discutido, propiciando espaço colaborativo de verdadeiro aprendizado. Os demais elementos que compõem o uso do ambiente virtual auxiliam na consolidação do conhecimento.

PM - Acredito que o ambiente virtual precise de uma interface e uma dinâmica que corresponda à linguagem própria do suporte tecnológico e de docentes que exerçam o papel de mediar e de promover o ritmo do aprendizado. Tanto a linguagem empregada na comunicação do conteúdo, quanto a dinâmica do docente em conduzir o curso são fundamentais.

CF – Não só interfaces de AVA, mas a Internet tem imensas possibilidades interativas. Também o vídeo é importante, mais importante ainda quando são os próprios alunos que fazem os vídeos através de celulares ou câmeras fotográficas e o editam e publicam no YouTube.

MC - As interfaces precisam de orientações específicas do docente, ,para suprir as necessidades de cada aprendiz e proporcionar maior riqueza nos fóruns de debates .

FA - Tenho pesquisado o uso ferramentas da chamada WEB 2.0 com API abertas, softwares abertos, conteúdo abertos com a licença Creative Commons. Sistemas PLE (Personal Learning Environments ou Ambientes de Aprendizagem Pessoal) de natureza aberta e construtivista, cujo o desafio “organizar a confusão”, integrando recursos e conteúdos e dando sentido a eles.

De acordo com as observações dos sujeitos da pesquisa há destaque

expressivo para interface fórum em seu potencial interativo e colaborativo na

construção do conhecimento. Conforme sua característica de reunir as opiniões

diversas do grupo pode conferir processos de desequilibração para acomodação de

novos conceitos (PIAGET, 1973a); acolhe o “outro” na perspectiva da ZDP

(VYGOTSKY, 1988); como um jogo de peças, remonta os fragmentos dos saber,

através da construção dialógica do grupo (MORIN, 2008a) e solidifica “terreno

comum” de conhecimentos prévios para que novos e significativos sejam agregados

(NOVAK, 1984).

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4.2.2.3 - Didática e Metodologia

Segundo Kenski (2009), o planejamento é pressuposto na atividade docente,

contudo, atendendo às peculiaridades da ambiência online, os conteúdos também

devem sofrer modificações no formato para atendimento do indivíduo e ao mesmo

tempo do grupo. A possibilidade de inserção de um mix de linguagens imagéticas,

sonoras, visuais e textuais sugere apropriação e formatação adequadas. O percurso

através do hipertexto traz consigo a marca da individualização do processo. No

entanto, conforme já aventado, é mais um elemento que não fala por si só,

prescinde dos elos que o liga aos outros em harmonia e combinação.

Os sujeitos destacam:

ER - A primeira diferença está com relação ao planejamento, que deve ser muito mais elaborado, pois existe pouca possibilidade de improvisação.Embora nas aulas presenciais seja necessário a elaboração de atividade participativas, ela pode ser somente expositiva; no caso da aula a distância é fundamental o planejamento das atividades que os que os alunos farão entre si.A atividade didática exige que os professores fiquem atentos aos diversos sinais que indicam o andamento do processo de aprendizagem; na aula virtual os sinais são outros, é necessário uma aprendizagem para isso, o que não é fácil.

JN – A construção didática implica um novo relacionamento com o aluno.

SM - Considero que para ser um docente criativo e eficaz, em atividades de aprendizagem em ambiente virtual, exige muito mais formação pedagógica e conhecimentos tecnológicos do que podemos imaginar. Na minha opinião, o bom tutor tem que aliar a sua criatividade em relação à metodologia para estimular seus alunos a se interessarem constantemente pelas atividades propostas no curso, somando-se a isto o conhecimento profundo da área de estudo que é formado.

BD – Dificuldades apresentadas podem ser amenizadas com materiais de diferentes formatos e formação de grupos de ajuda mútua.

IR – As aulas carecem de melhor preparação metodológica nos AVA. Tudo deve ser muito bem pensado, elaborado e planejado.

RC - Não há dúvida que o fato de estar “a distância” requer novas estratégias para realizar uma orientação. Orientar olho no olho é mais fácil e a construção de argumentos vai acontecendo ao longo da conversa. A distância é bem diferente, pois o olho no olho precisa ser substituído por envio de textos claros e bem estruturados. Mesmo

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a conversa por skipe não é a mesma coisa que a presencial. Creio que os limites da conexão influenciam o modo com falamos e trocamos idéias.

CG - Acho que o primeiro estágio é a familiarização com o ambiente virtual de aprendizado, a ferramenta propriamente dita, depois é a familiarização com o aprendizado online, pois aprendemos a estudar através do “quadro negro” e “papel”. Acho que depois disto o aluno tem que ativar a sua curiosidade em pesquisar os materiais e outras fontes.

GC - Um plano de ensino bem elaborado com objetivos definidos e passíveis de serem alcançados; metodologia de ensino elaborada com recursos já disponíveis e professores treinados para a sua manipulação; além de critérios de avaliação expostos com clareza. O conhecimento sobre o conteúdo programático e a habilidade em lidar com os recursos tecnológicos disponibilizados, além da execução do programa dentro do prazo pré-estabelecido geram credibilidade, favorecem a participação individual, a interação e em conseqüência, o processo de aprendizagem.

Os respondentes explicita ou implicitamente remetem-se à organização do

trabalho nas interfaces digitais. Uma didática digital, que objetive a construção de

conhecimentos demanda um planejamento que propicie o uso adequado de

metodologias e recursos, pois diante do explanado até o momento, trata-se de

ambiência com linguagens, tempos, espaços e memória específicos. Tal

planejamento pressupõe o conhecimento da capacidade do uso das tecnologias

bem como fundamentos teóricos que norteiam a tomada de decisões para que a

perspectiva potencializadora redunde em avanço de conhecimento

FA - É importante não utilizarem um modelo de organização que segue os padrões comuns da educação como planejamento dos cursos em módulos estanques. O excesso de sistematização da educação empobrece “engessa” a possibilidade de uma educação mais dinâmica nos seus conteúdos, e padroniza de maneira de maneira prejudicial as estratégias didáticas e experiência pessoal que cada professor pode oferecer. Valorizar a contribuição dos alunos e professores em trazer novos temas e abordagens parece ser algo importante.

ER – [...] considero fundamental a elaboração de uma atividade de aquecimento para a aprendizagem, que deve envolver a apresentação de situações-problema que incentivem os alunos a participar. Essas situações devem vir do cotidiano dos alunos.

AC - Considerando o ambiente virtual, creio que sejam importantes para a aprendizagem a forma como o conteúdo é apresentado, a qualidade dos conteúdos e das atividades propostas, mas

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principalmente como o docente se coloca diante da turma e conduz os processos de mediação da aprendizagem.

KF - É muito importante, no meu ponto de vista, todo o cuidado no processo conteúdo X tempo. Existem cursos que acreditam por se tratar de uma modalidade a distância, o aprendiz tem todo o tempo para realizar inúmeras leituras, acarretando desistência no curso. Outro ponto importante é a comunicação dentro do ambiente virtual, o docente deve procurar um meio de envolver os alunos nas atividades e nas avaliações.

RC - Creio que o curso a distância tem características bem diferentes do curso presencial. Assim sendo, o aluno deste primeiro precisa ser olhado de forma diferenciada, com estratégias pedagógicas distintas. O processo de aprendizagem destes alunos ocorre a partir de conteúdos/atividades que chegam até ele por meio de uma máquina. A presença do professor não é percebida diretamente, o tempo e o espaço passam a ter outros referenciais. O elemento mais importante em um aula/curso/atividade proposta para funcionar em um ambiente virtual é a qualidade e propriedade do material que é preparado para a apresentação do conteúdo neste ambiente.

CV - Um modo seria pela criação de um “solo” comum a todos. Mas cada caso (conteúdo, contexto social e institucional, etc.) deve contar com meios diferentes e específicos.

Conforme apontam os respondentes, a disponibilização do material didático,

bem como a metodologia empregada pode ser determinante para a participação do

aprendiz. O docente deve se pautar na determinação e na escolha das intervenções

didático-metodológicas bem como na administração do tempo para sua inserção

e/ou realização.

O fator tempo pode assumir duas dimensões distintas: a favor do aluno

quando as atividades assíncronas possibilitam o uso do tempo pessoal, que pode

não coincidir com os outros “tempos” individualizados. A dimensão individualizada

do tempo, em outro viés, também permite a reflexão, própria e da participação do

outro resultando em intervenções mais elaboradas. Por outro lado, o tempo, deve

ser bem marcado para que o aluno não se perca na invisibilidade concreta das

horas.

Outro aspecto fundamental ressaltado que também deve ser visto sob dois

prismas é o cuidado na familiarização da ambiência que pode significar tanto a

necessidade de avaliar os conhecimentos prévios do aluno para construir uma base

comum, como a sua adaptação no ambiente com intuito de estabelecer vínculos de

confiança e socialização.

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4.2.2.4 - Discência.

Jonassen (2007), Valente ( 2009) e Tonus (2008) observam muitas vantagens

em relacionamentos grupais através das interfaces digitais. Questões em

circularidade passam e repassam, sintetizadas ou agregadas, ampliadas ou

descartadas; oriundas de um processo reflexivo individual ou construída a partir das

muitas intervenções. Por trás do texto escrito há uma ambiência favorável de

construtores e não mais de reprodutores de informação sem significado.

Numa perspectiva biológica, Piaget (1973b), demonstra a partir de seus

estudos que o comportamento dos seres vivos é construído na relação com o meio,

dialeticamente. A cooperação com o outro, sob interação mútua, é o grau mais alto

da socialização. (LA TAILLE, 1992).

Vygotsky (1988), numa perspectiva psicossocial, atesta que o sujeito aprende

com o mundo, transformando-o mutuamente. No meio social o aprendiz personaliza

seu percurso e compartilha o resultado da assimilação conceitual.

Ao destacar o pensamento que convive no meio cultural Morin (2008b)

descreve a permanente tensão entre o fragmento e a incompletude do saber. O

aprendiz portador de esquemas inatos recebe num processo de construção do

conhecimento as incógnitas advindas dos relacionamentos vivenciados.

Para Ausubel (apud Palmero, 2004), aprender significativamente não é tarefa

simples como a expressão sugere. A complexidade das condições simbólicas e

verbais impostas ao alunado, bem como todos os outros elementos que afetam a

aprendizagem deve ser motivo de atenção na objetivação de uma aprendizagem

realista, significativa e viável.

Na tentativa de compreender a construção social e individual do

conhecimento, os respondentes referem-se ao aluno:

IR - Os alunos mais tímidos na aula presencial tendem a se soltar mais em AVA, melhorando sua participação, com discussões e pontos de vista. Por outro lado, pode haver o aumento da impessoalidade se o mediador não orientar bem o grupo.

CF - Quando se disponibiliza o ambiente virtual é importante pensar na troca principalmente entre os próprios alunos e não mais no professor como disseminador do conteúdo.

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RA – O aluno mostra que aprendeu: através da interação com outros alunos, da prontidão nas respostas, da colocação de novos conceitos, na qualidade das respostas, no tipo de dúvidas colocadas.

SA –[...] Quando ele participa ativamente no curso, não apenas trazendo suas reflexões sobre as atividades que lhe foram incumbidas, mas por sua interatividade com os colegas, com espontaneidade, alegria, responsabilidade, tornando-se um verdadeiro companheiro de todos, e costumo caracterizá-lo como um “aluno dinamizador”, sim, porque ajuda muito em tornar o curso dinâmico e interessante.

RE – [...] a troca sincera de respostas ao longo do curso, pois você consegue criar vínculo com o aluno Troca entre alunos, pois conseguem se complementar e aprender juntos com sua diversidade de conhecimento.

RB- [...] Inserção de todos os alunos, complementado as citações dos alunos, encadeando e ‘linkando’ as citações entre os alunos, “aproveitando” as respostas de alunos para “puxar” os temas, sugerindo referências bibliográficas e leituras, fazendo elogios explícitos e coletivos, “dando puxões de orelha” e orientações de modo particular/reservado/individual.

As respostas evidenciam a importância do “outro” nas trocas que

acrescentam mutuamente saber. Para Vygotsky(1988) o homem constitui suas

funções mentais superiores através das negociações simbólicas mediadas pelo

meio, num processo intra e interpessoal que transforma o contexto social ao ser

transformado.

Reforça-se aqui o papel da mediação que articula “os pares” para o

crescimento mútuo, pois como já foi dito, por si só, os grupos não avançam ou

demorariam mais a organizarem-se sozinhos ou ainda poderiam entrar em

retrocesso como alerta Zanella (2001). Cabe, portanto, ao mediador indicar as ações

necessárias para que o processo avance.

AC – Observo que o aluno “cresce” analisando sua participação nos fóruns, na interação que estabelecem com os colegas e a forma como constroem o diálogo com a tutoria. Na execução das atividades, não apenas com relação a prazo e o cumprimento da tarefa, mas o quanto extrapolam, e mostram que podem ir além, que pesquisaram. Participação de chats e wikis.

RV - Os alunos inicialmente me parecem muito mais temerosos/desconfiados, em relação ao processo de ensino-aprendizagem, o que coloca como um desafio importante para o docente online.

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FA - É preciso quebrar a relação assimétrica entre professor aluno. [...].É preciso quebrar esta assimetria e usar ferramentas que permitam incentivar uma maior relação horizontal aluno x aluno.

RT –[...] Fazer com que os alunos se sintam numa comunidade e cooperem entre si é de grande relevância para o sucesso do ambiente virtual, uma vez que a “frieza” de um ambiente virtual pode facilmente desmotivar os estudantes. Conteúdos bem elaborados e interativos também são importantes, principalmente em áreas de exatas, pelo fato de que nessas áreas os conteúdos costuma ser de difícil assimilação. O desenvolvimento de projetos em grupo é uma boa forma de aumentar o comprometimento e envolvimento dos alunos.

LC – [...] a autoaprendizagem é um mecanismo individual que requer posicionamento, comprometimento e responsabilidade para, então, desfrutar das possibilidades ofertadas pela tecnologia educacional. Entretanto, a mesma é constituída também coletivamente, pois depende de uma instituição educacional empenhada a cumprir de forma eficiente seu papel, fornecendo-lhe aparatos necessários. Os relacionamentos interpessoais e as trocas de conhecimentos também motivam e aceleram aprendizagens e, por isso, são indispensáveis. Nesta instância, o educador é visto como mediador e facilitador do processo de aprendizagem, já que não limita o educando quando nas elaborações e sistematizações de seus conhecimentos, pois a tecnologia é utilizada de forma sustentável para a educação.

CH - A diferença de faixa etária no ambiente virtual é salutar, pois os mais novos contribuem com os conhecimentos da tecnologia e os imigrantes virtuais (mais velhos) contribuem com o conhecimento mais formal.

LR - Posicionar-se enquanto aprendiz pertencente à educação a distância também abarca a dimensão afetiva do indivíduo, pois o sucesso de uma missão educacional está intrinsecamente relacionado com a percepção dos resultados advindos do esforço e da autodeterminação, além de fortalecer sua autoconfiança, pois aprender autonomamente desfocaliza a visão passiva do educando. Quando um estudante recebe informações que o levam a pensar que o seu sucesso se justifica pela conjunção das suas capacidades com dispêndio de esforço este desenvolve a sua percepção de auto-eficácia, melhora a qualidade de sua execução e, de acordo ainda com a teoria cognitivo-social, eleva o seu estado de motivação.

JN – Facilitar atividades que os alunos possam trabalhar com outros alunos, mas dentro de suas individualidades e não somente em grupo. Esse é o caminho para o desenvolvimento da competência de colaboração.

Segundo grande parte das falas dos sujeitos não há como conceber as

relações construídas pelos discentes que não seja a partir de trocas colaborativas e

cooperativas. Nas trocas engajadas o aluno se apropria “do outro” no que lhe for

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pertinente ao prévio já estruturado ao mesmo tempo em que dá ao outro, também,

segundo estruturas prévias já construídas. O papel do professor como articulador

nesse conjunto de construções é fundamental e o ambiente deve favorecer o

trabalho.

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PARTE IV – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

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CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS

Caminhante, as tuas pegadas São o caminho e nada mais;

Caminhante não há caminho, O caminho faz-se ao andar. Ao andar faz-se o caminho

E ao olhar-se para atrás, Vê-se a senda que jamais,

Se há-de voltar a pisar. Caminhante não há caminho,

Somente sulcos no mar. ANTONIO MACHADO 1875 1939

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5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS As palavras de Morin (2008c) são significativas para o presente estudo ao

expressar que a construção do conhecimento passa muitas vezes pela tentativa de

juntar uma diversidade de fragmentos dispersos e ao final, sente-se a tensão da

certeza da incompletude e do inacabado. Um patchwork21 harmônico na combinação

de cores e ligação de formas, construído na provisoriedade típica da concepção do

conhecimento cientifico dinâmico, transitório, real, complexo e impregnado de

historicidade.

Considerando essa transitoriedade, sem os rompantes arrogantes da certeza

de quem tem todas as respostas é o momento de olhar para trás e ver a costura

feita iniciada com a construção do problema, passando pelos objetivos, o

adentramento no campo e em paralelo as escolhas por entre caminhos e desvios do

corpus teórico. Momento de cautela e zelo, virtudes que balizaram esta construção.

O procedimento de análise temática de conteúdo permitiu alcançar as metas

estabelecidas no início deste estudo. Com o objetivo geral desta investigação,

procurou-se compreender as relações estabelecidas entre docência e discência

na ambiência online e, o caráter qualitativo da análise possibilitou identificar a

intrincada rede de relações que acontece na aula, fato esmiuçado nas falas dos

docentes respondentes familiarizados com esse ambiente no ensino.

Logo de início, através dos relatos dos sujeitos, foi possível observar que a

construção dialógica em ambiência online revela a complexidade nas interações

entre humanos que se encontram agrupados para um determinado fim. O ambiente

requer um novo tipo de formalização na inserção de conteúdos, formas, linguagens

adequadas, e mediação atenta e preparada que propicie o avanço na aprendizagem.

A aproximação entre os elementos deve ocorrer, desde o primeiro momento, sempre

relevando os humanos no processo, tendo a máquina como meio.

Assim, o objetivo geral começou a ser delineado com a caracterização pelos

respondentes das diferenças encontradas no exercício da docência nas ambiências

presencial e online. Na sequência, conforme identificaram as especificidades em

21 Tecido feito de retalhos de várias cores, padrões e formas, costurados entre si, formando desenhos geométricos

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cada ambiente, passaram a discorrer sobre os aspectos que se destacam nas

relações sociais de aprendizagem.

Desta forma, contribuem para desvelarem os objetivos específicos do estudo,

sendo o primeiro a identificação de como são construídos os processos de

comunicação interativa na ambiência online, um pressuposto na relação entre

docentes e aprendizes, independente do espaço em que se dê. O Capítulo 3 expõe

teorias e conceitos que permitiram fundamentar o processo docência aprendizagem

no contexto da cibercultura e compreender as ações necessárias a serem

empreendidas, tendo em vista que o ato educativo não é neutro e embute

concepções no processo de aprender.

O docente mediador promove o engajamento significativo na dimensão

individual e coletiva sendo que a palavra dada ao sujeito desta pesquisa merece

destaque ao associar a docência com teóricos que fundamentam o saber-fazer no

processo. Implícita ou explicitamente tais vozes quase que em uníssono ressaltam a

necessidade de se compreender como o aluno aprende para uma melhor

intervenção e aproximação o que implica embasar as práticas à luz de princípios

teóricos construídos e atualizados considerando-se processos culturais emergentes.

A aproximação pede “presença” e a presença é senha para que se desfaça a

sensação de distância. Nesse aspecto, a participação do docente mediador é

fundamental na articulação nas demais participações ou ausência delas, quando o

silêncio prevalece. Nas trocas individualizadas é possível entender “porquês” para a

orientação de novas estratégias que promovam trocas significativas. O grupo

formado tem personalidade própria, mas a individualização do processo é

fundamental para que as interações ocorram e, tanto o trato individual, como

coletivo fundam-se no planejamento e re-planejamento de ações, quando for o caso.

Nas trocas engajadas, o sujeito desta pesquisa demonstra que é possível

identificar diferenças, entre os membros de um grupo, no desenvolvimento da

aprendizagem, na ambiência online, respondendo o segundo objetivo específico.

Além das teorias de aprendizagem, ao longo do capítulo 3 foi realizada uma costura

teórica que permitisse a compreensão do desempenho do aluno observado através

da potencialidade da multi-linguagem que a máquina proporciona, considerando

prioritariamente, a relação pedagógica entre humanos.

Novos modos de ler, ver e “ouvir” alteram a linearidade do texto escrito, no

entanto, o texto plural e hipertextual comunicam o avanço, as dúvidas e as reflexões

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significativas e na possibilidade do “erro”, o aprendiz, lê o “outro” e no outro se refaz,

refazendo construção do conhecimento. O outro é o colega, ou o professor, pois

este último perde a centralidade do papel.

Através da mediação que gerencia as variadas inserções do “texto plural”, das

falas individuais e de outras que agregam novos conceitos ou revisão de antigos, o

docente pode contribuir na construção individual e coletiva do conhecimento

na ambiência online, foco do terceiro objetivo específico.

As interações ocorrem em ambientes de aprendizagem organizados para tal

finalidade e há um grande destaque para a interface fórum e seu grande potencial

na construção e compartilhamento do conhecimento. A interface é capaz de

demonstrar o avanço do aluno na aprendizagem, associada ou não a atividades e

outros exercícios propostos.

Os respondentes consideram também, que o uso do computador através das

interfaces digitais amplia potencialmente, e em escala elevada, as possibilidades de

autonomia e autoria do sujeito aprendiz, num processo coletivo e colaborativo entre

todos, ao mesmo tempo. Em outros momentos caracteriza a aprendizagem

individualizante na assimilação solitária e também necessária ao aprendiz. No

entanto há sempre o destaque ao professor competente, articulador entre meio e

discente, conteúdos e aplicação, propositor de desafios e sensível às vozes

diferenciadas.

Então, ao exercitar essas competências, não é suficiente ao professor apenas

conhecimentos teóricos. Ele deve desenvolver também habilidades no campo

comunicacional adquirindo fluência técnica, capacidade pedagógica para adequar

linguagens diversas a contextos não menos diferenciados, num ambiente acolhedor

e de confiança mútua. O espaço é de partilha e compreensão e a aproximação é

justificada pela ZDP.

Com o desenvolvimento desta investigação constatou-se que são muitas as

potencialidades e em igual proporção os desafios nas relações que se

estabelecem em ambiência online. O ambiente pode propiciar um novo

comunicacional, contudo o processo não transcorre automaticamente. O professor

carrega na bagagem sua história, sua formação, teorias e conceitos bem ou mal

assimilados e leva também uma lógica de comunicação que embute todo o poder e

saber na centralidade de seu papel a desempenhar, embora muitas vezes saiba que

esse não é bom caminho que favoreça a aprendizagem. É esse professor que ousa

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o trabalho na distância física do seu aluno e para tanto necessita adequar-se às

especificidades do meio.

Outro aspecto importante a reforçar é que o avanço das tecnologias digitais

impacta em todos os campos da vida e como a educação não está à margem, os

atores do processo docência e aprendizagem estão na dinâmica das atualizações do

contexto e o fato influencia as interações que ocorrem no encontro das pessoas que

formam as comunidades de aprendizagem.

O aluno co-produtor, partícipe do espaço digital, deve marcar sua presença

através da atuação que traga um plus dialógico, compartilhando idéias e

pensamentos elaborados na interação com o “outro” e com o conhecimento. Então

cabe ao docente o critério de escolha do melhor percurso didático-metodológico

adequado às características das interfaces, considerando que nenhum elemento fala

por si só e que há uma imbricação nítida entre eles. Outros dois fatores

fundamentais a serem considerados entre o leque de opções de ações é a avaliação

do uso do tempo, como fator que pode agir contra ou a favor do aluno e, também, os

conhecimentos prévios deste, que o distingue dos demais participantes e é pré-

requisito para que avance construindo conceitos de forma significativa.

A reinvenção da sala de aula em ambiência online aponta as condições

necessárias para a superação do professor que reproduz e aluno que passivamente

atesta que aprendeu com o falar-ditar que não lhe trouxe nenhum significado,

apenas acúmulo de vazios. Renovar o saber-fazer através da aula online passa pelo

que Ramal (2000) definiu como a retomada de valores pautados na democracia, na

justiça e na dignidade humana, quando a aula é capaz de incluir a “todos” envolvidos

no processo.

A sala de aula em espaço renovado subjaz o reconhecimento do avanço

tecnológico alterando a lógica comunicacional no espaço educativo e repercutindo

nos atores do processo docência aprendizagem, pois o docente enquanto “arquiteto

cognitivo” também deve se reconhecer enquanto sujeito em estado de permanente

adaptação e atualização do contexto social.

Diante das reflexões, ao finalizar, acredito ter podido responder as

inquietações que geraram o problema compreendendo as relações que se

estabelecem na ambiência online, entre docentes e aprendizes. Consciente de

que cada grupo tem uma dinâmica própria, momentos diferenciados e influências

psicossociais e que computador, aluno e professor é um tripé afetado por

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incontáveis variáveis, em momento algum podemos dispensar a reflexão sobre a

prática e os vieses acarretados.

5.2 PERSPECTIVAS FUTURAS DE INVESTIGAÇÃO

Ao concluir este estudo vislumbra-se a abertura de muitas direções

investigativas sendo que a primeira delas, a meu ver, consiste em continuar a linha

de investigação na contextualização de teorias educacionais à luz dos processos

culturais ermergentes que são modificados por padrões comunicacionais digitais e

as possibilidades educativas que advém dessas alterações.

Uma questão que foi levantada e não abordada, pois não se tratava do foco, a

dimensão político-profissional da atuação docente em ambiência online, quer seja

pelas atribuições conferidas ou nomenclaturas que recebe para além de professor

(tutor, orientador, professor-tutor e outras), um estudo pertinente a ampliação da

atuação do docente.

Outra temática relevante e que passa ao largo desta pesquisa é a questão

avaliativa, que tal como a relação interativa entre docência e discência, rompendo

hierarquias, é processo que também deve se pautar em novo paradigma marcado

pela participação ativa do aluno.

O aluno que participa e constrói o diálogo também é autor e co-autor na

construção do percurso didático-metodológico ao lado do docente. Tal possibilidade

aponta para a utilização, modificação e construção de Objetos de Aprendizagem

justificada pela própria natureza inconclusa e reutilizável dos objetos armazenados

em muitos repositórios de conteúdos espalhados pelo ciberespaço, outra linha de

investigação viável.

Por fim, uma outra alusão feita com bastante destaque nesse estudo, foi a

necessidade de se atender individualmente às singularidades. Seria pertinente

investir em linhas de pesquisa que estudem a adequação das diferentes linguagens

e interfaces digitais a estilos de aprendizagens personalizados, o que potencializaria

ainda mais a boa aprendizagem dos alunos.

Volto à epígrafe que iniciou esta seção, através dos versos de Machado, o

caminho foi feito com horizonte que se descortina pela frente e por inacabado que

seja o resultado trouxe a serenidade do dever cumprido!

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ANEXOS

Anexo A – Questionário questões fechadas e abertas.

Você está convidado (a) a responder este questionário/entrevista, anonimamente, que fazem parte da coleta de dados da pesquisa “Novos Processos Cognitivos e Docência Online (Título Provisório), sob responsabilidade da pesquisadora Prof.ª Rosangela Agnoletto, Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) -- UNESA RJ.

Caso você concorde em participar da pesquisa, leia com atenção os seguintes pontos:

a) você é livre para, a qualquer momento, recusar-se a responder às perguntas que lhe ocasionem constrangimento de qualquer natureza;

b) você pode deixar de participar da pesquisa e não precisa apresentar justificativas para isso;

c) sua identidade será mantida em sigilo;

d) caso você queira, poderá ser informado (a) de todos os resultados obtidos com a pesquisa, independentemente do fato de mudar seu consentimento em participar da mesma.

Caracterização geral: 1. Nome:

2. Sexo: ( ) F ( ) M

3. Faixa Etária:

( ) 20- 30 anos

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( ) 31- 40 anos

( ) 41- 50 anos

( ) 50 anos ou mais

4. Profissão que exerce: ____________________________________

5. Área de formação acadêmica (graduação) : ___________________

Área de especialização: ___________________________________

Área do seu mestrado: ____________________________________

Área do seu doutorado: __________________________

6. Regime de Trabalho:

( ) Manhã

( ) Tarde

( ) Noite

( ) Manhã/Tarde

( ) Manhã/Tarde/Noite

Relativo ao uso do computador:

7. Onde costuma acessar a Internet (pode marcar mais de uma resposta):

( ) casa

( ) trabalho

( ) Lan House

( ) Outro:

8. Em relação à sua familiaridade na utilização da Internet, você se considera:

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( ) Pouco Experiente

( ) Razoavelmente Experiente

( ) Muito Experiente

( ) Profissional Expert

9. Sua experiência com os programas de computador:

( ) Alguma experiência

( ) Experiência moderada

( ) Experiência moderadamente alta

( ) Experiência alta

10. Quantas horas por dia você navega na Web?

( ) 1-3 horas ( ) 4-8 horas ( ) mais de 8 horas

11. Que tipo de sistema operacional você utiliza?

( ) Windows ( ) Macintosh ( ) Linux/ Unix ( )

Outros: ____________

12. Que tipo de aplicativo você está acostumado a utilizar?

( ) Processadores de texto (como o Word)

( ) Planilhas (como o Excel)

( ) Banco de dados (como Access)

( ) Apresentação (como Power Point)

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( ) Gestão de projetos (como MS Project)

( ) Editoração eletrônica (como CorelDraw)

( ) CD-ROM/ Multimídia

( ) Outros: _________________________

13. Além da docência, você utiliza o computador tipicamente para quê?

( ) Internet

( ) Jogos e entretenimento

( ) Gráficos/ desenho

( ) Finanças/ contabilidade

( ) Banco de dados

( ) Processamento de textos

( ) Suporte à decisão

( ) Programação

( ) Outros: ___________________________

Relativo à docência online:

14. Realizou algum curso específico para a Docência Online?

( ) Sim ( ) Não

Qual?

15. Já lecionou na modalidade presencial?

Por quanto tempo?

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( ) até 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( )11 anos ou mais

16. Há quanto tempo é docente online?

( ) até 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) 11 anos ou mais

17. Trabalha em algum AVA ( ambiente virtual de aprendizagem) específico? Qual?

Questões abertas:

1. Em relação ao ambiente virtual, como você identifica as diferenças no exercício da docência em relação ao ambiente presencial?

2. Considerando as especificidades do ambiente virtual, quais os principais aspectos a serem destacados na relação social de aprendizagem?

3. Como você identifica as características dos alunos e seus diferentes estágios de conhecimento ou aprendizagem, no ambiente virtual?

4. Como você percebe que o aluno “avançou” nos conhecimentos?

5. Para você, como se estabelecem as relações entre docentes e alunos, nos processos de comunicação no ambiente virtual?

6. Considerando elementos que compõem o uso do ambiente virtual em sala de aula, quais os elementos se sobressaem mais para que ocorra aprendizagem? Por quê?

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7. Considerando alunos em níveis diferenciados de conhecimento (faixa etária, área de conhecimento, especificidades culturais, por exemplo) como você contribui para a construção coletiva e colaborativa do conhecimento?

Obrigada pela participação!

Rosangela Agnoletto