rodolfo montosa abril/2020 - ipilon · em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao pai (se...

82
Rodolfo Montosa Abril/2020

Upload: others

Post on 07-Jul-2020

7 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Rodolfo Montosa Abril/2020

Page 2: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

2

SUMÁRIO

Introdução................................................................................................. 3

1. Direcionamento da Oração................................................................. 5 1.1. Oração ao Pai....................................................................... 7 1.2. Oração em nome do Filho.................................................... 10 1.3. Oração dirigida pelo Espírito Santo ..................................... 12

2. Anatomia da Oração........................................................................... 14 2.1. Oração de louvor.................................................................. 15 2.2. Oração de gratidão............................................................... 17 2.3. Oração de confissão............................................................. 19 2.4. Oração de consagração....................................................... 21 2.5. Oração de petição................................................................ 24 2.6. Oração de intercessão......................................................... 27 2.7. Oração de adoração............................................................. 30 2.8. Oração de santificação......................................................... 34

3. Temperamento na Oração.................................................................. 38 3.1. Oração com o Eneagrama.................................................... 39 3.2. Oração com o DISC.............................................................. 44

4. Temperos da Oração......................................................................... 49 4.1. Oração na Palavra................................................................ 49 4.2. Oração perseverante............................................................ 51 4.3. Oração do "não"................................................................... 53 4.4. Oração do "sim".................................................................... 55 4.5. Oração relacional................................................................. 56 4.6. Oração contra a tentação.................................................... 59 4.7. Oração e solitude................................................................ 61 4.8. Oração e jejum................................................................... 63 4.9. Oração em línguas............................................................. 65

5. Exemplos de Oração........................................................................... 67 5.1. Oração de Jabez................................................................... 67 5.2. Oração de Gideão................................................................. 69 5.3. Oração pelo Pão................................................................... 71 5.4. Oração de Salmos ................................................................ 73 5.5. Oração de Jesus.................................................................... 75

Bibliografia............................................................................................... 81

Page 3: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

3

Introdução

Jesus era um homem de oração! A declaração, a mais explícita possível, é da lavra daquele que escreveu a Epístola aos Hebreus: Durante a sua vida aqui na terra, Cristo, em alta voz e com lágrimas, fez orações e súplicas a Deus, que o podia salvar da morte. E as suas orações foram atendidas porque ele era dedicado a Deus (Hebreus 5.7).

Orava antes de o dia nascer (Marcos 1.35a), mas também ao anoitecer depois de grandes acontecimentos (Mateus 14.23b). Orava antes de tomar importantes decisões (Lucas 6.12-13c), mas também após momentos de grande alegria (Lucas 10.21-22d). Orava pelas crianças (Mateus 19.13-15e), pelos discípulos (Lucas 22.31-32f) e também por nós (João 17.20g). Jesus orava antes das refeições (Mateus 14.19; 26.26), diante de profunda a Marcos 1.35 - Tendo-se levantado alta madrugada, [Jesus] saiu, foi para um lugar deserto e ali orava. b Mateus 14.22-23 (NVT) - Logo em seguida [à multiplicação dos pães e peixes], Jesus insistiu com seus discípulos que voltassem ao barco e atravessassem até o outro lado do mar, enquanto ele despedia as multidões. Depois de mandá-las para casa, Jesus subiu sozinho ao monte a fim de orar. Quando anoiteceu, ele ainda estava ali, sozinho. c Lucas 6, 12-13 - Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolo. d Lucas 10.21-22 (NVT) -Naquele momento, Jesus foi tomado da alegria do Espírito Santo e disse: Pai, Senhor dos céus e da terra, eu te agradeço porque escondeste estas coisas dos que se consideram sábios e inteligentes e as revelaste aos que são como crianças. Sim, Pai, foi do teu agrado fazê-lo assim. Meu Pai me confiou todas as coisas. Ninguém conhece verdadeiramente o Filho, a não ser o Pai, e ninguém conhece verdadeiramente o Pai, a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho escolhe revelá-lo. e Mateus 19.13-15 - Certo dia, trouxeram crianças para que Jesus pusesse as mãos sobre elas e orasse em seu favor, mas os discípulos repreendiam aqueles que as traziam. Jesus, porém, disse: “Deixem que as crianças venham a mim. Não as impeçam, pois o reino dos céus pertence aos que são como elas”. Então, antes de ir embora, pôs as mãos sobre a cabeça delas e as abençoou. f Lucas 22.31-32 - Então o Senhor disse: “Simão, Simão, Satanás pediu para peneirar cada um de vocês como trigo. Contudo, supliquei em oração por você, Simão, para que sua fé não vacile. Portanto, quando tiver se arrependido e voltado para mim, fortaleça seus irmãos”. g Na Oração Sacerdotal de João 17, Jesus orou por nós: 1. Por Proteção (17.15) Não peço que os tires do mundo, mas que os protejas do maligno; 2. Por Santificação (17.16-19) Eles não são deste mundo, como eu também não sou. Consagra-os na verdade, que é a tua palavra. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu os envio ao mundo. E eu me entrego como sacrifício santo por eles, para que sejam consagrados na verdade. 3. Por União (17.20-23) “Não te peço apenas por estes discípulos, mas também por todos que crerão em mim por meio da mensagem deles. Minha oração é que todos eles sejam um, como nós somos um, como tu estás em mim, Pai, e eu estou em ti. Que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. “Eu dei a eles a glória que tu me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu estou neles e tu estás em mim. Que eles experimentem unidade perfeita, para que todo o mundo saiba que tu me enviaste e que os amas tanto quanto me amas. 4. Por Revelação (17.24) Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde estou. Então eles verão toda a glória que me deste, porque me amaste antes mesmo do princípio do mundo.

Page 4: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

4

necessidade (João 11.41-42h), ou pedindo ao Pai que mandasse o Consolador (João 14.16i). Enquanto orava, o céu se abriu, foi cheio do Espírito Santo e ouviu palavras de amor do Pai (Lucas 3.21-22j). Enquanto orava, a aparência de seu rosto foi transformada, e suas roupas se tornaram brancas e resplandecentes (Lucas 9.29 - NVT). Enquanto orava intensamente, o suor dele se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra (Lucas 22.44). Jesus era, sim, um homem de oração.

Sendo Ele mesmo uma pessoa que levou a vida de oração à sério, ensinou-nos como deveríamos orar (Mateus 6.5-13), e orar sempre e nunca desanimar (Lucas 18.1). Quero, pois, convidá-lo à emocionante jornada na direção do Pai, inspirados em Jesus, guiados pelo Espírito Santo, Redescobrindo a Oração! h João 11.41-42 (NVT) - Então rolaram a pedra para o lado. Jesus olhou para o céu e disse: “Pai, eu te agradeço porque me ouviste. Tu sempre me ouves, mas eu disse isso por causa de todas as pessoas que estão aqui, para que elas creiam que tu me enviaste” i João 14.16-17 - E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. j Lucas 3.21-22 - Certo dia, quando as multidões estavam sendo batizadas, Jesus também foi batizado. Enquanto ele orava, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como uma pomba. E uma voz do céu disse: “Você é meu filho amado, que me dá grande alegria”.

Page 5: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

5

1. Direcionamento da Oração

O apóstolo Paulo resumiu o direcionamento de nossa oração dessa maneira: por meio dele [Cristo], ambos temos acesso ao Pai em um só Espírito (Efésios 2.18). O evangelista João, por sua vez, replicando as palavras de Jesus, escreveu a mesma ideia desta maneira: Naquele dia vocês não me perguntarão nada. Em verdade, em verdade lhes digo: se pedirem ao Pai alguma coisa em meu nome, ele lhes concederá. Até agora vocês não pediram nada em meu nome; peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa (João 16.23-24).

Observe o destaque: Até agora vocês não pediram nada em meu nome. Essa afirmação foi feita aos seus discípulos em meio ao anúncio de tempos de adversidade e perseguição. Durante esses tempos difíceis, Jesus orientou que eles deveriam pedir (Leia também: Lucas 11.9). Mas, a quem pedir? Em nome de quem pedir? Com qual objetivo pedir? Jesus traz um claro ensino para produzir alegria no coração do seu povo.

Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou o famoso Pai nosso (Mateus 6.9ss), começou orientando: Mas, ao orar, entre no seu quarto e, fechada a porta, ore ao seu Pai, que está em secreto (Mateus 6.6). Ao Pai ele agradeceu (Mateus 11.25), intercedeu (João 17.11) e abriu seu coração no momento mais difícil de sua vida (Mateus 26.39). Dirigir-se ao Pai exige muita confiança, razoável intimidade, total dependência e completa humildade. Assim deve ser toda oração que fazemos.

Também recomendou que o pedido deve ser feito em nome do Filho (em meu nome, ele lhes concederá). Acrescentar as palavras “em nome de Jesus” ao final das orações não pode ser visto como uma fórmula mágica. Orar em nome de Jesus é orar segundo a sua vontade: E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos (I João 5.14-15). É orar com sua autoridade: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados (Marcos 16.17-18). É também orar com propósito: vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda. (João 15.16) É orar para glorificar ao Pai: E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho (João 14.13).

Por último, o pedido deve ser feito no discernimento do Espírito Santo (peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa) O pedido tem que ser aquele que produz alegria plena, completa e verdadeira. Com muita lucidez, William Shakespeare disse: “Aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos.”

Page 6: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

6

A verdade é que nem tudo o que pedimos nos trará alegria. Por essa razão, precisamos de muito discernimento sobre como pedir. Percebendo isso, Tiago foi direto ao afirmar: nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres (Tiago 4.2-3). Por sua vez, Paulo declarou que não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis (Romanos 8.26). É o Espírito Santo quem guia nossa oração para que seja cheia de discernimento. Precisamos, pois, depender dele inteiramente para nos ensinar a pedir. (Medite: Mateus 26.39; 2 Coríntios 12.8).

A Trindade está envolvida na oração. Pedindo ao Pai, em nome do Filho, na direção do Espírito nos levará a orações respondidas. E orações respondidas trazem alegria completa e contagiante!

Page 7: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

7

1.1. Oração ao Pai

Tudo na vida de Jesus impressionava seus discípulos. Suas palavras doces, olhar penetrante, sorriso acolhedor, braços abertos, ouvidos atentos, milagres surpreendentes, atitudes compassivas, até seu silêncio falava alto. No meio dessa lista estonteante, sua vida de oração destacava-se e produzia tanto impacto que seus discípulos não puderam resistir ao pedido: Senhor, ensine-nos a orar (Lucas 11.1)!

Em sua resposta, Jesus ensinou que deveriam orar dizendo: “Pai nosso”. Surpreendeu ao apresentar Deus como Pai. Jesus não somente o chamava de Pai, mas de Aba Pai (Marcos 14.36), que, em aramaico, quer dizer “papai, paizinho, pai querido”. Estudiosos afirmam que em nenhum lugar na imensa riqueza de literatura devocional produzida pelo judaísmo antigo existe a expressão Aba como modo de se dirigir a Deus. A compreensão generalizada era de um Deus impessoal, distante, formal, rígido. Aliás, opinião de muitos ainda nos dias de hoje. Entretanto, Jesus abriu um novo horizonte de pessoalidade e aconchego para esse relacionamento com Aba.

Só pode chamar por Aba quem é filho. Óbvio, não? O fato relevante é que o escravo naqueles dias era proibido de se referir ao seu senhor com essa expressão. Daí o apóstolo Paulo ter ensinado: Porque vocês não receberam um espírito de escravidão, para viverem outra vez atemorizados, mas receberam o Espírito de adoção, por meio do qual clamamos: “Aba, Pai” (Romanos 8.15). Conclusão: preciso ser feito filho (João 1.12-13).

Só consegue chamar por Aba quem se percebe como filho. Estranho, não? O fato é que muitos dos filhos não compreendem essa realidade e vivem como estranhos ao Pai, apesar de serem filhos. O trabalho maravilhoso do Espírito Santo é revelar essa verdade, como continuou o apóstolo: O próprio Espírito confirma ao nosso espírito que somos filhos de Deus (Romanos 8.16). Conclusão: preciso perceber que sou filho (Mateus 3.17).

Só se habitua a chamar por Aba quem se posiciona como filho. Curioso, não? O fato é que muitos viram “adultos” e acham essa linguagem infantilizada. Grande tolice! Aos filhos fica estabelecido o direito de se aproximar com essa intimidade para todo sempre. Devemos chamar de Aba assim como Jesus, pois em nós está o Espírito de seu Filho, como está escrito: E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao nosso coração, e esse Espírito clama: “Aba, Pai” (Gálatas 4.6)! Conclusão: preciso assumir o posicionamento de filho íntimo do Pai (Romanos 8.17, 19).

Brennan Manning observa em seu livro O anseio furioso de Deus que Jesus está dizendo que devemos nos dirigir ao Deus infinito, transcendente e todo-poderoso com a intimidade, familiaridade e confiança inabalável que um bebê de poucos meses de idade experimenta sentado no colo de seu pai quando diz: papai!

Jesus apresenta o jeito certo de nos relacionarmos com Deus: com simplicidade, sinceridade pueril, confiança irrestrita e confortável familiaridade de um pequenino engatinhando no colo de Aba.

Page 8: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

8

Ainda sobre esse episódio quando os discípulos expressaram seu desejo de aprender a orar, segundo o evangelista (Lucas 11.1-13), Jesus atendeu a esse pedido ensinando-os a oração do Pai Nosso e contando, com humor, a parábola do amigo em apuros, nas seguintes palavras (NTLH): — Imaginem que um de vocês vá à casa de um amigo, à meia-noite, e lhe diga: “Amigo, me empreste três pães. É que um amigo meu acaba de chegar de viagem, e eu não tenho nada para lhe oferecer.” — E imaginem que o amigo responda lá de dentro: “Não me amole! A porta já está trancada, e eu e os meus filhos estamos deitados. Não posso me levantar para lhe dar os pães. Jesus disse: — Eu afirmo a vocês que pode ser que ele não se levante porque é amigo dele, mas certamente se levantará por causa da insistência dele e lhe dará tudo o que ele precisar. Por isso eu digo: peçam e vocês receberão; procurem e vocês acharão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todos aqueles que pedem recebem; aqueles que procuram acham; e a porta será aberta para quem bate.

Sua comparação é intencionalmente exagerada, como uma hipérbole. Aponta para três princípios a serem perseguidos no desenvolvimento de nosso relacionamento de oração ao Pai, em busca de uma verdadeira e progressiva espiritualidade:

O princípio da assistência (peçam). A situação nasce como um problema trivial, inesperado, mas simples de ser resolvido. A iniciativa é natural a bons amigos, mesmo que envolva um horário um pouco inadequado. Pedir faz parte de nosso relacionamento cotidiano com amigos, da mesma forma que deve fazer parte do relacionamento com o Pai. Alguns, porém, pensam que não devem pedir coisas simples ao Senhor, como que não querendo incomodar. Puro engano! Pedir exige humildade, dependência, reconhecimento das limitações, abandono de todo espírito de autossuficiência, orgulho, altivez. Pedir assistência faz parte do desenvolvimento de uma espiritualidade saudável.

O princípio da insistência (procurem). Surpreendentemente o amigo apresenta barreiras. Barreiras também fazem parte de nossa vida e funcionam como uma espécie de filtro que nos ajuda a separar o insignificante do importante. Além de pedir, Jesus ensina que devemos procurar, buscar. É um passo além que exige a aplicação de mais esforço. A insistência exige maior convicção, convencimento de que realmente estamos tratando de uma necessidade e não algo supérfluo e dispensável. Insistir no pedido conduz nosso coração ao prioritário e premente.

O princípio da persistência (batam). Mas se nem o simples pedido, ou a busca mais intensa resolveu, Jesus ensina que devemos ir além, eliminando qualquer desistência e fraqueza. Precisamos aprender a avançar em nosso relacionamento de oração com o Pai com persistência e perseverança. Aqui aprendemos a orar das entranhas, das profundezas de nosso interior. Fazemos isso com causas que realmente são importantes. Situações extremadas na vida nos conduzem naturalmente a esse comportamento. É isso o que Jesus quer e requer de nós.

Nos três níveis há uma promessa que seremos ouvidos. Isso deve gerar ousadia em nossa entrada diante do Todo-Poderoso (Hebreus 10.19-22). Jesus fez assim. Jesus nos ensinou

Page 9: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

9

assim. Assim devemos proceder. A boa notícia é que Jesus nos tem chamado de amigos (João 15.15). Melhor ainda, além de amigo, na sequência, Jesus nos coloca na posição de filhos: vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem (Lucas 11.13). Portanto, vamos nos achegar ao Pai, não importa a hora, nem a necessidade, mas cheios de confiança e fé.

Page 10: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

10

1.2. Oração em nome do Filho

Qualificação, acesso e afinidade. Essas três palavras podem resumir o significado de orarmos ao Pai, em nome de Jesus. Somente Jesus nos qualifica e, por isso, nos dá acesso à sala do trono de Deus, e nos inspira a falarmos em sintonia com seu coração. Vejamos melhor isso tudo.

Qualificação: nossa situação antes de Cristo era de total separação do Pai. Por causa de nosso pecado, não podíamos jamais entrar na presença de Deus com base em nosso próprio merecimento. Então nós precisávamos de um mediador para intervir por nós. A Bíblia claramente diz que esse mediador é Jesus Cristo, e não há nenhum outro além d’Ele (1 Timóteo 2.5). Quando oramos em nome de Jesus nos aproximamos de Deus com base nos méritos de Cristo.

Nós nos apresentamos diante do Pai vestidos da justiça de Seu próprio Filho. O escritor de Hebreus diz que, mediante Jesus, o Filho de Deus, nosso Sumo Sacerdote que está no céu e que se compadece de nós, podemos nos achegar confiantes junto a trono da graça a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hebreus 4.14-16). Portanto, é mediante a obra de Cristo que podemos nos aproximar de Deus em oração com toda confiança, na certeza de que Ele nos ouvirá.

Wayne Grudem diz que orar em nome de Jesus é ter nossos corações sempre conscientes de quem é o nosso Salvador, mediante o qual podemos orar ao Pai.

Acesso: o apóstolo Paulo resumiu da seguinte maneira: Em Cristo, temos ousadia e acesso a Deus com confiança, mediante a fé nele (Efésios 3.12). A respeito desse assunto, D.A. Carson explicou que orações em nome de Jesus são orações [...] em reconhecimento de que a única forma de se chegar a Deus [...] o único caminho é o próprio Jesus. Tim Keller afirmou que por conhecermos Jesus, por estarmos “em Cristo”, Deus concentra seu amor e atenção todo-poderosos em nós quando oramos.

É o próprio Senhor Jesus quem ensinou que devemos orar em seu nome. Já na semana de sua crucificação, Jesus disse aos seus discípulos: Tudo o que pedirdes em meu nome, eu o farei; de modo que o Pai seja glorificado no Filho. O que pedirdes em meu nome, eu o farei (João 14.13-14). Na sequência Ele também explicou que foi Ele quem escolheu seus discípulos e os designou para que dessem frutos permanentes; e mais uma vez repetiu: a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele lhes conceda (João 15.16). Depois, ainda uma vez mais Jesus afirmou: Se pedirdes alguma coisa ao Pai, Ele lhes concederá em meu nome. Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa (João 16.23-24).

Afinidade: orar em nome de Jesus significa fazer uma oração a Deus em concordância com a maneira de pensar e, por isso, pela autoridade de Jesus Cristo. Uma pessoa que verdadeiramente ora em nome de Jesus é aquela que se identifica com os propósitos de Cristo. Uma oração feita em nome de Jesus, de acordo com os princípios bíblicos, indica

Page 11: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

11

que a vontade da pessoa que ora está alinhada à vontade do Pai, assim como Jesus mesmo sempre esteve.

Quando oramos em nome de Jesus estamos dizendo: “Pai, lhe apresentamos esta oração sob a autoridade de nosso Senhor Jesus. O que pedimos nela também é algo que teu próprio Filho quer e nos autoriza a pedir, para que o objetivo final seja trazer mais glória ao teu nome”. W. Hendriksen explica isto dizendo que uma pessoa que ora em nome de Jesus da forma correta, jamais deseja alguma coisa que Cristo não queira.

Então a oração corretamente feita em nome de Jesus é respondida porque ela jamais será construída sob as bases do interesse próprio e do egoísmo humano; mas sempre estará fundamentada na causa do Reino de Deus. W. Hendriksen diz que uma oração no nome de Jesus Cristo é aquela oração que está em harmonia com aquilo que Cristo revelou sobre si mesmo. Logo, quando uma oração assim é respondida, o Pai é glorificado no Filho.

O apóstolo João escreve: E esta é a confiança que temos para com Ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, Ele nos ouve (1 João 5.14). Esse tipo de oração emana da fé; nela sempre está implícita a verdade de que é a vontade de Deus que deve prevalecer, e não a nossa. Na oração do Pai Nosso Jesus nos ensina a dizer: Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu (Mateus 6.10).

Então a verdadeira oração feita em nome de Jesus sempre estará de acordo com os propósitos de Deus. Portanto, muito mais do que apenas adicionar uma frase no final de uma oração, orar em nome de Jesus é comunicar ao Pai um pedido que o próprio Filho está de acordo.

Page 12: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

12

1.3. Oração dirigida pelo Espírito Santo

Um pouco antes de ascender aos céus, Jesus deu esta ordem aos seus discípulos: Não se afastem de Jerusalém, mas esperem a promessa do Pai, a qual vocês ouviram de mim. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vocês serão batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias (Atos 1.4-5). Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem (Atos 2.1-4).

Em poucas palavras, ficou evidente que a primeira ação do Espírito Santo foi justamente impactar a vida de oração dos discípulos. Neste momento não abordaremos a questão da oração em línguas, pois será tratada em capítulo específico, mas é importante notar como a dinâmica de oração foi afetada.

De fato, nosso relacionamento com Deus passa necessariamente pela intimidade com a terceira pessoa da Trindade: o Espírito Santo. Ele não é uma força impessoal, uma energia ou algo semelhante, mas é uma pessoa. Sobre isso, vamos meditar um pouco.

A expressão “terceira pessoa”, longe de ser uma classificação de importância ou hierarquia, indica a sequência da revelação divina à humanidade. Apesar de participar desde antes da fundação do mundo, o Espírito Santo entrou em ação direta somente após a subida de Jesus Cristo aos céus: se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se porém eu for, eu vo-lo enviarei (João 16.7).

Sua natureza é divina. O Espírito Santo é Deus. Ele é um com o Pai e o Filho, iguais em poder e glória (2 Coríntios 13.14; Lucas 3.21-22). Por isso Ele tem todos os atributos divinos: é eterno (Hebreus 9.14), onipresente (Salmo 139.7-10) e onisciente (1 Coríntios 2.10-11). Teve sua participação ativa na Criação do Universo (Gênesis 1.2), na iluminação de tudo o que foi falado pelos profetas (1 Pedro 1.10-12) e em toda a obra de regeneração daquele que está em Cristo (Tito 3.5-6; João 3.1-7).

Algumas formas como ele se revelou nos ajudam a entende-lo melhor. Apresentou-se como Vento (João 3.8; Atos 2.2), mostrando seu grande poder invisível. Como Água (João 4.13-14; 7.37-39) revelou-se como a bênção transbordante de Deus vivificando o crente. Como Pomba (Lucas 3.22) manifestou sua mansidão. Como Selo (Efésios 1.13-14; 4.30) simbolizou a garantia de nossa salvação. Como Óleo (Hebreus 1.9; 1 João 2.20) mostrou como nos reveste para nos consagrar para o serviço de Deus.

A Bíblia nos mostra inúmeras facetas suas como pessoa. Ele tem vontade própria (Atos

Page 13: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

13

13.2; 16.6, 7; 1 Coríntios 12.11), toda sabedoria e conhecimento (Isaias 11.2; 1 Coríntios 2.11), alegria (Atos 2.13) e muito amor (Romanos 15.30). Vive nos crentes (João 14.17), ensina e faz lembrar de todas as coisas como ninguém (João 14.26), fala ao nosso coração (Atos 8.29) e testifica de Cristo (João 15.26). Uma grande atividade exercida pelo Espírito Santo é que intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Romanos 8.26). Ou seja, Ele não somente gera impacto em nossa vida de oração, como nossas vidas geram impacto nEle ao ponto de gemer de maneira intensa quando intercede por nós.

São muitos os nomes atribuídos a Ele na Bíblia: Espírito Santo (Atos 2.4); Espírito (Efésios 5.18; Marcos 1.10); Espírito de vida (Romanos 8.2); Espírito de graça (Hebreus 10.29); Espírito de adoção (Romanos 8.15); Espírito da glória de Deus (1Pedro 4.14); Espírito de inteligência (Isaías 11.2); Espírito de santidade (Romanos 1.4); Espírito Santo da promessa (Efésios 1.13); Espírito de Jesus (Atos 16.7); Espírito de Deus (Gênesis 1.2); Espírito do nosso Deus (1 Coríntios 6.11); Espírito Eterno (Hebreus 9.14); Espírito de vosso Pai (Mateus 10.20); Consolador (João 14.16 e 15.26); Espírito de Verdade (João 16.13); Espírito de Jesus Cristo (Filipenses 1.19); Espírito do Senhor (Juízes 14. 6; Isaías 40.13; Lucas 4.18); Espírito de Sabedoria (Isaías 11. 2); Bom Espírito (Salmos 143.10).

Mas nem sempre sabemos nos comportar diante dele. Aliás, muitas vezes nossa oração é que o Espírito Santo se una à “nossa jornada” de vida para “nos seguir” aonde quer “que nós formos”. Quanta arrogância! O Espírito Santo não pode ser simplesmente “adicionado” à nossa vida para continuarmos vivendo como antes. Não podemos mentir para ele (Atos 5.3), nem tenta-lo (Atos 5.9), nem resisti-lo (Atos 7.51), nem entristece-lo (Efésios 4.30), nem apaga-lo (1 Tessalonicenses 5.19), nem, muito menos, ultrajá-lo (Hebreus 10.29). Ao contrário, devemos buscar de todo coração, orando, ouvindo, adorando e amando a pessoa maravilhosa do Espírito Santo. O Espírito Santo é nosso maior guia e mestre na vida de oração.

Page 14: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

14

2. Anatomia da Oração

Segundo dicionários da língua portuguesa, a palavra Anatomia (do grego anatemnō, "cortar em partes") é o campo da biologia que estuda a organização estrutural dos seres vivos, incluindo os sistemas, órgãos e tecidos que os constituem, a aparência e posição das várias partes, as substâncias de que são feitos, a sua localização e a sua relação com outras partes do corpo.

Aproveitando o sentido dessa palavra, Anatomia da Oração é a expressão que está sendo utilizada aqui na busca de se entender as partes que compõem uma vida de oração saudável. É normal, por exemplo, relacionarmos a palavra oração ao ato de pedir ou interceder. Quando pessoas pedem que oremos por elas, normalmente querem dizer que precisam de nossa intercessão junto ao Pai por alguma necessidade específica. Certamente isso faz parte da oração, mas não é toda ela. Diante de um pedido desse tipo, se tão somente louvarmos e agradecermos a vida dessa pessoa e encerrarmos nossa “oração” com um amém após isso, com certeza causaremos estranheza. Verdade, ou não?

Na tentativa de definir a Anatomia da Oração, tenho percebido oito principais partes, que passo a classificar em quatro grandes grupos:

Anatomia da Oração

Grupo Partes Foco Promove Retira

Exaltação Louvor e gratidão Quem fez Alegria Tristeza

Rendição Confissão e consagração Quem sou Humildade Orgulho

Súplica Petição e intercessão Quem faz Confiança Medo

Contemplação Adoração e santificação Quem é Amor Dureza

Enquanto louvor é o reconhecimento da ação de Deus, gratidão é a resposta natural. Enquanto confissão é o reconhecimento de nossas vulnerabilidades, consagração é a resposta de rendição completa do nosso ser. Enquanto petição é o clamor natural pelas necessidades pessoais ao Senhor, intercessão é a resposta de sensibilidade de quem amadurece e se importa com outros também. Enquanto adoração é a expressão diante do reconhecimento do caráter de Deus, santificação é a resposta do mais profundo desejo de quem percebe os efeitos desse caráter em nosso mais profundo ser.

Page 15: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

15

2.1. Oração de louvor

Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.

(Apocalipse 4.11).

Disse Deus: “haja” e “houve”. Foi dessa maneira que Deus criou os céus, a terra e tudo o que neles há: deu vontade, declarou com sua palavra e tudo o que se vê veio à existência. Simples assim! Para onde nossos olhos se voltarem, teremos motivos para nos maravilharmos com a força, beleza, criatividade, variedade, precisão e funcionalidade da criação. Quer seja a olho nu, pelo microscópio ou pelo telescópio, veremos a perfeição e grandeza de Deus estampada por todo o lugar.

Ver a olho nu é suficiente para perceber maravilhas por todo lado. Um beija-flor batendo suas asas 80 vezes por segundo, a digital do dedo polegar única dentre sete bilhões de pessoas no mundo, a tartaruga nadando no oceano há mais de 150 anos, o guepardo correndo na savana a 115 km/h, um besouro puxando um objeto 1.141 vezes seu próprio peso corporal, uma oliveira do Líbano chegando a 6.000 anos de idade, o preciso movimento solar sendo acompanhado diariamente pelo girassol, o movimento das pequenas mãos de um bebê recém-nascido. Essa lista é interminável. Tudo na criação nos

Page 16: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

16

deixa estupefatos! Como declamou o salmista: Grandes são as obras do Senhor, consideradas por todos os que nelas se comprazem (Sl 111.2).

Ver pelo microscópio nos dá acesso ao maravilhoso mundo das células que compõem todo ser vivo. No ser humano são cerca de 100 trilhões células. Cada uma contém todas as informações necessárias para reproduzir-se e transmitir suas características à geração seguinte, que preveem tanto aspectos qualitativos de nossa composição (cor dos olhos, forma da boca etc.) quanto aspectos quantitativos (comprimento dos pés, tamanho do nariz etc.). Estão armazenadas em um cromossomo com 3044 genes distribuídos em 246 milhões de bases numa fita contínua de DNA. Se multiplicarmos todas as informações genéticas contidas em uma única célula por 100 trilhões de células, perceberemos que somos o maior complexo de informações existente na face da terra. Esta fita de DNA mede cerca de 1,5 metro, multiplicado pelo número de células, formaria uma fita de 150 trilhões de metros, suficiente para ir e voltar a distância da Terra ao Sol mais de 500 vezes. Por isso, mesmo sem acesso à tecnologia, revelado pelo Espírito Santo, o salmista declarou: Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe (Sl 139.13).

Ver pelo telescópio nos dá acesso ao Universo chamado Visível que, segundo os cientistas, demoraria 13 bilhões de anos para ir de uma ponta a outra viajando na velocidade da luz (300 mil km/s), com cerca de 10 bilhões de Galáxias Grandes, dentre as quais a Via Láctea, onde se encontra o sistema solar, constituído pelo sol com 99% da massa total, sendo 1% distribuído por nove planetas, dentre os quais a Terra, onde estamos localizados em alguma parte dela. É possível perceber a grandeza disso tudo em termos de distância, volume e quantidades? Admirado diante dessa paisagem, o salmista cantou: Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos (Sl 19.1).

Pense comigo: se uma obra de arte de uma linda paisagem é vendida por milhões, quanto deveria receber quem fez a paisagem? Se um cientista recebe um Prêmio Nobel por decifrar o código genético, que prêmio deveria receber quem criou a genética? Se uma agência espacial recebe o reconhecimento público por suas descobertas no universo, qual reconhecimento deveria receber quem criou o universo? Vamos nos deleitar no Deus de toda a criação e nos deixar maravilhar pelas suas grandes obras. Pois isso cantaremos na eternidade: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.

Page 17: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

17

2.2. Oração de gratidão

Sejam agradecidos a Deus em todas as ocasiões. Isso é o que Deus quer de vocês por estarem unidos com Cristo Jesus

(1 Tessalonicenses 5.18).

Cientistas têm descoberto que a gratidão é o traço emocional com maiores probabilidades de favorecer a saúde física e a recuperação de um doente. Um coração agradecido tem a possibilidade de ser um coração saudável, concluiu o pesquisador e professor universitário de psicologia Robert A. Emmons, depois de estudar o efeito da gratidão na superação do estresse e da hipertensão. Seus estudos comprovaram que o ato de agradecer melhora o sono, diminui a ansiedade e depressão. Mesmo sendo tão benéfica, parece que a gratidão tem sido negligenciada e até esquecida por muitos. Talvez, por isso, a orientação tão direta de Benjamin Franklin: Escreva suas mágoas em areia, sua gratidão em mármore. O professor Antônio Nóvoa, da Universidade de Lisboa, citando o Tratado de Gratidão de São Tomás de Aquino em sua obra Suma Teológica, resume que podemos expressar três diferentes níveis de gratidão nos relacionamentos. O primeiro nível é racional, cognitivo, do reconhecimento por algo que foi feito, pelo presente, pelo benefício recebido, fazendo parte do hábito de uma pessoa reconhecidamente “bem-educada”. Isso acontece quando

Page 18: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

18

agradecemos ao caixa que nos atendeu no mercado. Em inglês, usa-se a expressão thanks, ou em alemão, dank. O segundo nível é afetivo, do reconhecimento pela pessoa que fez, forneceu ou presenteou, quando não nos ligamos somente ao benefício, mas à pessoa promotora da graça. Um exemplo seria o agradecimento revestido de carinho de alguém reencontrando na vida adulta a professora que o alfabetizou. Em francês, usa-se a expressão merci, em espanhol gracias, ou em italiano grazie. O terceiro nível é obrigacional, do reconhecimento de uma dívida de quem recebe um favor a quem o faz. Essa gratidão é a mais profunda de todas, pois vincula, engaja, “obriga” o beneficiário à pessoa que o beneficiou. Com esse comprometimento deveria agradecer o filho aos pais que sempre se dedicaram ao seu cuidado e carinho. Agradeceria com a obrigação do vínculo vitalício. A língua portuguesa conseguiu captar essa intensidade com a expressão “muito obrigado”, no sentido que “fico-lhe obrigado”, ou seja, “passo, a partir deste momento, a ser seu devedor”.

Assim, quanto maior a intensidade da dedicação da parte de quem ofereceu o benefício, maior deveria ser a profundidade da gratidão do beneficiado. Pensando no extremo, nossa gratidão teria seu grau mais elevado caso alguém tivesse morrido no esforço de nos resgatar de um afogamento, ou incêndio, por exemplo. Não há como não nos sentir devedores a uma pessoa que tenha se sacrificado para nos salvar. Ora, quando percebemos e reconhecemos que Cristo deixou, espontaneamente, sua glória no céu para nascer entre nós e, porque nos amou tanto, morreu em nosso lugar para nos salvar, temos motivos para viver eternamente dizendo para Deus: muito obrigado! Nossa gratidão por Cristo nos vincula ao seu coração, nos torna devedores de seguir suas palavras, nos engaja em imitar seu exemplo e seguir seus passos. Quem aprende a gratidão pelo maior sacrifício jamais deixará passar o pequeno benefício. Quando aprendemos a agradecer em nível mais profundo, jamais deixamos despercebidas as pequenas situações de gratidão.

Por isso, agradeça a Deus por Cristo, acima de tudo, e às pessoas, em todo o tempo. Comece com palavras simples e prepare-se para os efeitos poderosos em sua saúde e em seus relacionamentos. Experimente. Afinal, não é a felicidade que nos faz agradecidos, mas a gratidão que nos faz felizes.

Page 19: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

19

2.3. Oração de confissão

Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos ... Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado

(Salmos 32.3-5).

Uma menina falou-me dias atrás: Você já mentiu alguma vez? Eu também. Isto nos faz mentirosos. Você já deixou de repartir um brinquedo ou um lanche com um amigo? Eu também. Isto nos faz egoístas. Você já levou consigo algum objeto que não era seu, mesmo que seja um lápis ou borracha? Eu também. Isto nos faz ladrões. Você já desejou que alguém sumisse de sua vida? Eu também. Isto nos faz assassinos. Perguntas que constatam que todos nascemos em pecado (Rm 3.23; 5.12), por isto seremos julgados e condenados (Rm 2.12; 6.23). Foi com esta consciência que o salmista descreve três momentos em sua vida. No primeiro momento, o salmista narra o drama de ter pecados não confessados (enquanto eu calei os meus pecados). Vivia uma vida de grande tormento: seu ossos envelheceram, teve gemidos todos os dias, perdendo o vigor e levando-o à sequidão do calor do verão. De fato, pecados não confessados causam morte (Gn 2.17; Ez 33.8-13; Rm 8.12-13), provocam irritação (1 Rs 16.2) e cansaço no Senhor (Is 43.24), nos separam dEle

Page 20: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

20

e interrompem nossas orações (Is 59.2; Sl 66.18), pois testificam contra nós (Is 59.12; Je 14.7), expõe nossa culpa (Sl 69.5), causam opróbrio, desonra e vergonha (Pv 14.34), sendo lembrados (Sl 25.7), castigados (Os 8.13; 9.9) e punidos por Deus (Am 1.3, 3, 9, 11, 13; 2.1, 4, 6; 3.2). Pecados não confessados nos embaraçam (Hb 12.1), nos desfalecem (Ez 33.10), nos consomem (Lv 26.39; Is 64.7; Ez 4.17), nos murcham como a folha e como vento nos arrebatam (Is 64.6), causando enfermidades na alma e no corpo (Sl 103.3; Tg 5.16), gerando problemas e calamidades na vida (Dt 28). Pecar e não confessar procede do diabo (1 Jo 3.8), endurece o coração (Hb 3.13) e escraviza (Jo 8.34).

No segundo momento, o salmista decide arriscar-se e passa a ter seus pecados confessados. Mas não é uma confissão da boca para fora. Sua decisão partiu de um coração cheio da convicção do pecado, sem cegueira nem falsas justificativas. Em seguida, seu coração estava dominado pela verdadeira contrição e arrependimento, pois sabia que sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado e que o Senhor não despreza o coração compungido e contrito (Sl 51.17; Is 57.15). Com o coração assim, seus lábios proferiram a confissão (confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões). Por ter sido sincera e verdadeira, sua confissão foi seguida da conversão do caminho, pois o que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia. (Pv 28.13). Jesus também disse à pecadora: vai e não peques mais (João 8.11).

De que adiantaria a confissão se não fosse ouvida por alguém santo, compassivo, com poder, autoridade e vontade de perdoar? Ora, Jesus foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. (Is 53.5) Sim, Jesus carregou nossos pecados (1 Pe 2.24), para nos livrar da lei do pecado (Rm 8.2), das consequências do pecado (Rm 6.23), justificando-nos dos pecados (Rm 6.7), salvando-nos de nossos pecados (Mt 1.21) e libertando-nos completamente do domínio do pecado (Rm 6.14-23). Não existe amor maior que este. Por isso, em Cristo, e somente por causa da obra de Cristo na cruz, os pecados confessados são pecados perdoados (Ex 34.7; 2 Sm 12.13; Cl 2.11; 1 Jo 1.9; 1 Jo 2.12) e remitidos, ou seja, dados como pagos (Mt 26.28; Mc 1.4; Hb 9.22). Em Cristo, nossos pecados sujos tornam-se brancos como a neve (Is 1.18) e como a lã (Is 1.18), sendo lançados pra trás pelo Senhor (Is 38.17), pra bem longe (Sl 103.12), pro fundo do mar (Mq 7.19). Em outras palavras, por causa de Cristo, os pecados confessados são cobertos (Sl 32.1; Rm 4.7), purificados (Hb 1.3; 1 Jo 1.7, 9), lavados (Ap 1.5), retirados de nós (1 Jo 3.5), esquecidos (Is 43.25; Hb 8.12; Hb 10.17), apagados (Is 44.22; At 3.19) e não mais nos levam à morte (Ef 2.1-10; Cl 2.13).

Há um poder espiritual tremendo liberado pela confissão. Quando o coração sincero confessa, grilhões são quebrados, cadeias rompidas, laços desfeitos, prisões arrebentadas. Essa libertação produz a alegria e a paz do Senhor. O que você está esperando? Vamos, pois, confessar com prontidão.

Page 21: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

21

2.4. Oração de consagração

Digo isto para o próprio bem de vocês, não para impor limitações, mas tendo em vista o que é decente e para que vocês possam se consagrar ao Senhor, sem distração alguma

(1 Coríntios 7.35).

Consagração é uma palavra usada para indicar um ato pelo qual uma pessoa ou objeto é separado para uma causa ou propósito sagrado. Pode indicar também um ato pelo qual um objeto, evento ou pessoa se torna memorável ou significativo.

Na Bíblia, diz-se de algo ou alguém consagrado quando é dedicado com exclusividade para o Senhor, para Seu serviço, para Sua comunhão, para Sua presença. Encontramos o povo de Deus consagrando de tudo:

pessoas (Êxodo 22.31) - várias pessoas e até famílias inteiras foram consagradas a Deus, no Antigo Testamento, mostrando assim sua dedicação total a Deus; o profeta Samuel foi consagrado desde o nascimento e viveu sua vida toda ao serviço de Deus.

trabalhos ou ministérios (1 Samuel 16.13) – reis, profetas e mais tarde líderes da igreja eram consagrados quando iniciavam funções; isso mostrava que tudo que

Page 22: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

22

iriam fazer seria para a glória de Deus e iriam fazer seu melhor para O obedecer em seu trabalho.

vestes sacerdotais e objetos (Êxodo 29. 29) - os utensílios do templo e as vestes dos sacerdotes no Antigo Testamento eram consagrados para serem usados exclusivamente no templo.

campos, animais, dinheiro, utensílios, lugares (Levítico 27.21; 2 Crônicas 29.33; Josué 6.19; Jeremias 31.40) – parte de todo o relacionamento de Deus com o povo de Israel girou em torno da terra prometida, a qual deveria ser consagrada e dedicada ao Senhor. Assim cabe a consagração de nossos campos, ou, no sentido figurativo, de todo ambiente que diz respeito à provisão e sustento de nossas vidas (emprego, empresa, profissão, negócio etc.).

ofertas (Deuteronômio 12.26) - dízimos e ofertas que eram entregues no templo eram consagrados porque serviam para o trabalho de Deus; da mesma forma, ofertas dadas à igreja são consagradas.

o(s) dia(s) (Neemias 8.9) - dias e festas religiosas importantes eram consagradas a Deus; as pessoas não se dedicavam a qualquer outro trabalho nesses dias, porque sua atenção estava toda centrada nas coisas de Deus

Neste sentido, não somente alguns dentre o povo foram consagrados ao Senhor, como os levitas ao sacerdócio, mas Deus sempre desejou que todo o povo fosse consagrado. Daí nascer expressões como reino de sacerdotes, nação santa, povo de propriedade exclusiva (1 Pedro 2.9; Êxodo 19.5-6; Deuteronômio 7.6; 14.2).

Nos dias do Egito, o povo estava escravo em diversas dimensões na vida. Foi de Deus o plano para resgate e libertação sob a liderança de Moisés. Ao tirar do Egito, desejou que houvesse plena consagração de todo o povo para que fosse exclusivamente seu. Algumas áreas são destacadas no quadro abaixo:

Estratégia do Egito

Passagem bíblica Área de

Consagração

Ativismo Ex 5.7 “ajuntem palha” tempo

Sincretismo Ex 8.25 “façam isso aqui mesmo” culto

Nominalismo Ex 8.28 “orem por mim também” pessoal

Segregação Ex 10.11 “só os homens podem ir” família

Materialismo Ex 10.24 “ovelhas, cabras e gado ficarão” patrimônio

A consagração do nosso tempo nos impedirá que nós gastemos nossa vida com atividades que se assemelham a “ajuntar palha”, e andemos como quem aprende a remir o tempo. É combate ao ativismo louco, ou à ociosidade mórbida.

A consagração do nosso culto a Deus somente impedirá a mistura religiosa com o “Egito” (presente século) que mistura crenças e crendices, introduz ídolos e imagens, repete rezas e rituais vazios. É combate ao sincretismo que confunde e engana.

Page 23: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

23

A consagração pessoal deve ser sincera e verdadeira para que não nos tornemos crentes nominais, religiosos de fachada, correndo o risco de nos assemelharmos aos escribas e fariseus. É combate ao nominalismo infrutífero.

A consagração da família faz parte do propósito do Senhor de que todas as gerações sejam alcançadas, inseridas e envolvidas ativamente em seu reino. A salvação tem uma dimensão pessoal e alcance geracional. É combate à segregação e separação do que Deus mesmo uniu.

A consagração do patrimônio, ou de tudo o que envolve nossa jurisdição e domínio, faz parte do plano do Senhor, afinal, tudo o que temos vem do Senhor, por isso, nada melhor do que consagrar Àquele que é nossa única fonte de sustento e provisão. É combate ao materialismo de ter e acumular sem propósito de suprir e abençoar.

No Jardim do Getsêmani, Jesus orou este tipo de oração de consagração, submetendo-se e dedicando-se por completo: ...se queres...contudo, não se faça a minha vontade... (Lucas 22.42). Ele queria fazer aquilo que o Pai queria que Ele fizesse. Isso é oração de consagração! Nesse tipo de oração o alvo é fazer a vontade do Pai crucificando a nossa. Imagine se Jesus não tivesse feito essa oração?

Vamos, pois consagrar tudo o que somos e temos ao Senhor!

Page 24: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

24

2.5. Oração de petiçãok

“Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome. Até agora nada tendes pedido em meu

nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.” (João 16. 23-24).

k Petição é um requerimento formal a uma autoridade, baseada na lei ou na promessa. A oração de petição,

pois, é um tipo de oração na qual vamos a Deus, de acordo com a Constituição do Reino, a Bíblia, para apresentar nosso requerimento, ou pedido. As Escrituras nos encorajam a pedir, quando estamos em necessidade (Mateus.7.7-8; 11.24; 21.22; Filipenses 4.6). Sempre estamos peticionando, ou pedindo que Deus faça algo por nós. A oração de petição precisa ser uma oração imbuída de fé (Hebreus11:6; Tiago1.6). Nossa petição pode ser expressa de diversas maneiras e intensidades. Somos afetados pela gravidade do que passamos e de traços de nossa personalidade. Pode ser carregada de lamentação, lágrimas, clamor. Pode ser serena, objetiva e racional. É importante ressaltar que existem inúmeros exemplos na Bíblia de petições bem específicas: Eliezer, servo de Abraão, foi específico na sua petição (Gênesis 24.12-14); Ana foi específica na sua petição (1 Samuel 1.11, 27-28); o cego Bartimeu foi específico na sua petição (Lucas 18.41-43). Outras inúmeros exemplos são de pedidos baseados na Palavra: Neemias orou por sua terra respaldado na Palavra (Neemias1); Daniel orou em prol do seu povo respaldado na Palavra (Daniel 9); Davi orou por sua casa, de acordo com a Palavra (1Crônicas 17.11-15); Josafá venceu uma Guerra orando a Palavra (2 Crônicas 20.6-12); Salomão orou dedicando o Templo com base na Palavra (2 Crônicas 6.14-17).

Page 25: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

25

Até agora nada tendes pedido em meu nome. Essa afirmação foi feita aos seus discípulos em meio ao anúncio de tempos de adversidade e perseguição. Durante esses tempos difíceis, Jesus orientou que eles deveriam pedir (Leia: Lc 11.9).

Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirdes alguma coisa ao Pai) A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou o famoso Pai nosso (Mt 6.9ss), começou orientando: Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto (Mt 6.6). Ao Pai ele agradeceu (Mt 11.25), intercedeu (Jo 17.11) e abriu seu coração no momento mais difícil de sua vida (Mt 26.39). Dirigir-se ao Pai exige muita confiança, razoável intimidade, total dependência e completa humildade.

Também recomendou que o pedido deve ser feito em nome do Filho (ele vo-la concederá em meu nome). Acrescentar as palavras “em nome de Jesus” ao final das orações não pode ser visto como uma fórmula mágica. Orar em nome de Jesus é orar segundo a sua vontade: E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. (I Jo 5:14-15). É orar com sua autoridade: em meu nome, expelirão demônios ... se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados (Mc 16.17, 18). É também orar com propósito: vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda. (Jo 15:16) É orar para glorificar ao Pai: E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho (Jo 14.13).

Por último, o pedido deve ser feito no discernimento do Espírito Santo (pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa) O pedido tem que ser aquele que produz alegria plena, completa e verdadeira. Com muita lucidez, William Shakespeare disse: “Aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos.” A verdade é que nem tudo o que pedimos nos trará alegria. Por essa razão, precisamos de muito discernimento sobre como pedir. Percebendo isso, Tiago foi direto ao afirmar: nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres (Tg 4.2, 3). É o Espírito Santo quem guia nossa oração para que seja cheia de discernimento (Leia: Rm 8.26; Mt 26.39; 2 Co 12.8).

Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe (Salmos 126.4).

O Neguebe não é um rio, nem nome de homem, mas a denominação de uma região desértica, que fica no Sul da Palestina, abaixo da linha das cidades de Belém e Hebrom. Durante a estação das chuvas da região, especialmente na fase quando caem as chuvas torrenciais ou chuvas serôdias, as águas escorrem pelos montes até atingirem o deserto do Neguebe. As águas abundantes formam vários riachos que regam a área seca e, em poucos dias, o lugar que era feio, solitário e sem vida ganha outro aspecto. Os campos tornam-se úmidos e floridos, cobertos pela vegetação. A vida do lugar é restaurada. Os animais retornam e a paisagem torna-se bela. Com essa figura na mente, em meio ao

Page 26: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

26

louvor e gratidão, o salmista resolve pedir intensamente pela continuidade da obra de restauração do Senhor. Mas, por que devemos pedir?

Devemos pedir, pois faz parte do relacionamento. Deus inventou a oração e a instalou em nós. William James disse que “a razão pela qual oramos é que simplesmente não podemos evitar a oração”. De verdade, todos temos a intuição de buscar a Deus através da oração. Prova disso é que clamamos intensamente em momentos de extremo perigo. Mas, ao invés de enxergar a oração como uma disciplina, um sacrifício, ou um esforço para se obter um prêmio, devemos compreender que a oração é o desenvolvimento de um relacionamento natural com Deus. Esse ponto de partida é libertador, pois deixa de lado as muitas regras e modelos que impomos a nós mesmos, nascendo a perspectiva de um relacionamento prazeroso, verdadeiro, às vezes de lutas e entraves. Como disse Tim Stafford: “Não oramos para contar a Deus o que ele não sabe, nem para lembrá-lo do que esqueceu. Ele já cuida de tudo aquilo pelo que oramos. Quando oramos, ficamos perto de Deus.” Vale a pena nos relacionar!

Devemos pedir, pois precisamos do Senhor. Esse reconhecimento de dependência exige humildade da nossa parte. Aliás, não existe relacionamento com Deus com um coração soberbo. Humildade, contudo, não é autoestima negativa, mas a constante escolha de dar crédito a Deus, não a si mesmo, de depender de Deus, não de si mesmo, de voltar seus olhos para Deus, não para si mesmo. Humildade não significa se rastejar perante Deus, mas ter um vislumbre do quanto somos pequenos diante da grandeza de Deus. Somente por causa da humildade é que posso enxergar e admirar “quem Deus é”. O coração humilde também permite que eu enxergue “quem sou eu”. Oro porque preciso, porque dependo, porque sou frágil, porque sou vulnerável, porque sou pequeno, porque sou pobre e necessitado. A humildade reflete a verdade com precisão. O orgulho é mentira e engano. Vale a pena nos humilhar!

Devemos pedir, pois a petição nos insere na ação de Deus. Existem diferentes perspectivas da função da oração. O pagão dá ordens aos deuses e controla a ação. O hindu entrega-se passivamente à fatalidade e é controlado pela ação. Mas o cristão entra no que foi iniciado por Deus, participando da ação. A Bíblia nos ensina que a oração é o convite que o Senhor nos faz para nos relacionarmos com ele e participarmos da ação que Ele iniciou. Não comandamos Deus, nem nos anulamos, mas nos envolvemos ativamente no curso da história. A resposta do Senhor poderá ser “sim”, “não”, ou “espere”. Seja qual for, Ele não ignora nossa oração. Seja qual for, ele nos permite participar dela. Seja qual for, sempre será a melhor. Isso deve gerar em nós um coração cheio de confiança e fé. Vale a pena orar!

Já fomos restaurados, mas ainda existe uma obra em curso em nossas vidas. Não importa o tamanho do deserto que enfrentamos, assim como nosso Deus promove as torrentes no meio da região árida e seca do Neguebe, ele pode derramar chuva sobre nós.

Page 27: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

27

2.6. Oração de intercessão

— Simão, Simão, eis que Satanás pediu para peneirar vocês como trigo! Eu, porém, orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E você, quando voltar para mim, fortaleça os

seus irmãos. Porém Pedro respondeu: — Estou pronto para ir com o Senhor, tanto para a prisão como para a morte. Mas Jesus lhe disse: — Eu lhe digo, Pedro, que hoje, antes que

o galo cante, você negará três vezes que me conhece (Lucas 22.31-34).

Ao ler esse trecho do evangelho, algumas perguntas me vem à mente: Como Jesus soube dos planos de Satanás? Como Jesus previu a reação negativa que Pedro teria? Como poderia Jesus estar seguro que Pedro iria voltar para ele após o ter negado?

Esses questionamentos me levam a perceber que a intercessão de Jesus tinha um nível muito acima de todas as demais. Era certeira, profética, eficaz. Não jogava palavras ao ar. Não falava somente do presente, mas também do futuro. Era do tipo de intercessão que invade e rasga os céus. O texto revela algumas virtudes dessa intercessão de Jesus.

A intercessão eficaz discerne o mundo emocional e espiritual. No mundo emocional, o vacilo de Simão. No mundo espiritual, o ataque do inimigo. O texto começa com o que Jesus revelou: Simão, Simão, eis que Satanás pediu para peneirar vocês como trigo! Jesus começou essa conversa chamando-o de Simão, que significa “caniço, bambu, cana”. Assim como o caniço dobra-se facilmente diante dos ventos, Jesus já sabia o quanto Simão

Page 28: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

28

cederia facilmente perante pressões. Por isso mesmo, Jesus intercederia bravamente por ele. Jesus conhecia sua fragilidade, vulnerabilidade, medos, vacilos. Além disso, Jesus tinha claro discernimento do movimento do inimigo nas regiões espirituais. Não foi a primeira vez que demonstrou ter esse conhecimento. Após seu batismo, foi levado ao deserto onde foi tentado diretamente pelo diabo. Em outra ocasião, mostrou ter essa visão aberta do mundo invisível no regresso dos setenta discípulos, quando disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago (Lucas 10.18). O ato de peneirar o trigo refere-se basicamente à prática de sacudir repetida, rápida e violentamente o trigo na peneira. Jesus sabia muito bem toda a luta por que passariam seus discípulos que seriam duramente confrontados, atacados, provocados, levados à dúvida, à negação, à fuga (João 15.20, 21). Satanás pessoalmente estaria envolvido na missão de destruir a Jesus e todos os seus seguidores.

A intercessão eficaz fortalece a fé do abatido. Jesus declarou: Eu, porém, orei por você, para que a sua fé não desfaleça. Sua intercessão reconheceu o que estava em risco: a fé de Simão. Orou de maneira focada e assertiva. Foi direto ao ponto. Orou por livramento, assim como tinha ensinado na conhecida oração do Pai nosso: não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal (Mateus 6.13). Orou por Simão o que logo mais estaria orando no Jardim do Getsêmani por todos nós, na conhecida oração sacerdotal: Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal (João 17.15). Em última instância, toda intercessão é para livramento e fortalecimento.

A intercessão eficaz conquista a vitória. Jesus afirmou: E você, quando voltar para mim, fortaleça os seus irmãos. Não havia dúvida em seu coração que Pedro voltaria a ele. Aliás, duas expressões de Jesus preveem que haveria completa vitória na vida de Pedro. A primeira é a frase do Mestre “para que sua fé não desfaleça”, ou, em outras palavras, “para que sua fé prevaleça”. Ao passar tempo em oração, Jesus teve pleno conhecimento do que aconteceria a Pedro e aos discípulos e obteve a convicção de que, ao final, ele prevaleceria firme em sua fé e confiança em Deus. A segunda expressão “quando voltar para mim” pode ser traduzida como “uma vez que você tiver voltado aos seus passos”. Jesus também sabia claramente em seu coração que Pedro, depois de passar pela luta, voltaria aos caminhos do Senhor e fortaleceria seus irmãos na fé. A conversa ainda teria um segundo capítulo, não acabava por ali. Sua continuidade seria após a ressurreição, com a tríplice pergunta se Pedro o amava (João 21.15-19). Três seriam as negações. Três seriam as reafirmações. Cura completa haveria no futuro já prevista por Jesus. Primeiro era necessário que o amor fosse regenerado (Tu me amas?) para somente depois a missão ser apontada (Então cuida das minhas ovelhas). A vitória sempre tem o componente do resgate e também do propósito. O Senhor intercede por nós para que sejamos fortalecidos para fortalecermos aos outros.

A intercessão eficaz não nega e nem se desanima diante da realidade contrária. Jesus predisse: Eu lhe digo, Pedro, que hoje, antes que o galo cante, você negará três vezes que me conhece. Jesus começou a conversa chamando-o de Simão, mas terminou chamando-o de Pedro, relembrando a identidade daquele bem-aventurado que o tinha declarado como

Page 29: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

29

sendo o Messias (Mateus 16.17). Mesmo sendo tão enfático em sua afirmação, Pedro não reconheceu a seriedade do alerta, nem sua própria fraqueza. Ao contrário, respondeu que estaria pronto até para ser preso e morrer se fosse necessário. Pobre Pedro. Não acreditou que seria capaz de negar o próprio mestre quando fosse confrontado. Não se conhecia muito bem, muito menos a fragilidade de sua alma e a instabilidade de suas emoções. Pensava ser de ferro, mas era pura porcelana. Aparentava valentia, mas sua covardia ainda estava prestes a ser revelada. Falava alto e grosso, mas um choro de medo e desespero estava por invadir seu coração. Apesar de estar predizendo a trágica experiência pela qual Pedro passaria, Jesus não se faz de vítima. Preste bem atenção: Jesus está dizendo que intercederia por Pedro apesar de que Pedro teria uma atitude decepcionante e repreensível. Jesus mostra a maturidade plena desejável a todo intercessor que deve ter no outro maior consideração do que a si mesmo.

Jesus nos mostra que existe um nível de intercessão que se torna eficaz. Ele aponta o nível que viveu e também quer que vivamos. Não somente fez isso no passado, mas as Escrituras revelam que Jesus vive para interceder por nós ainda nos dias de hoje (Romanos 8.34; Hebreus 4.14, 15; 7.25; 9.24). As Escrituras também mostram que estamos assentados com Cristo nas regiões celestiais (Efésios 2.6) para o imitarmos em tudo (1 Coríntios 4.16; 11.1; Efésios 5.1; Filipenses 3.17; 1 Tessalonicenses 1.6; 2.14; 2 Tessalonicenses 3.7, 9). Somos, portanto, desafiados a praticarmos, como Jesus, a intercessão que rasga os céus.

Page 30: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

30

2.7. Oração de adoração

Adorem o Senhor na beleza da sua santidade; tremam diante dele, todas as terras (Salmos 96.9).

Adoramos a Deus por quem Ele é. À medida que o conhecemos, nasce em nós expressões de reverência, respeito, exaltação. Somos tomados de admiração, espanto, assombro, enlevo. Nosso corpo se inclina, nossos olhos brilham, nossos lábios se aquietam ou emitem sons de quem está estupefato, encantado, boquiaberto. Todo nosso ser responde rendendo-se ao amor do Pai, à beleza do Filho e ao poder do Espírito Santo.

Nossa adoração tem a intensidade diretamente proporcional à percepção e conhecimento pessoal dos atributos de Deus que são incontáveis, incomensuráveis, indescritíveis. Existem aqueles atributos incomunicáveis que dizem respeito à sua vida interna, tais como: sua existência autônomal, sua eternidadem, sua imutabilidaden, sua perfeição absolutao. Outros atributos são comunicáveis, pois dizem respeito à sua vida externa, tais como: os l Daniel 4.35; João 5.26; Salmos 94.8; Isaías 40.18; Atos 7.25; Romanos 9.19; 11.33, 34 m Salmos 90.2; 102.12; Efésios 3.21 n Tiago 1.17; Êxodo 3.14; Salmos 102.26-28; Isaías 41.4; 48.12; Malaquias 3.6; Romanos 1.23; Hebreus 1.11, 12 o Salmos 145.3; Mateus 5.48; Jó 11.7-10

Page 31: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

31

que aparecem na natureza, sua onipotênciap, onisciênciaq e onipresençar; aqueles que aparecem no mundo moral, como sua soberanias, santidadet, justiçau, veracidadev, fidelidadew; existem ainda aqueles que aparecem na esfera da graça, como seu amorx, bondadey e misericórdiaz.

Vamos explorar um de seus atributos: SOBERANIA. No dicionário da língua portuguesa, a palavra soberania está explicada como ‘autoridade suprema que detém o poder para fazer o que quer, sem restrições’. Como isso é forte! Tão forte que torna-se fácil ver que nenhum ser humano detém soberania. Esse é um atributo reservado exclusivamente para Deus.

Deus é soberano, pois tem vontade própria. Agostinho disse que “a vontade do Criador é a natureza de toda a coisa criada”. De fato, segundo a Bíblia, tudo deriva da vontade do Senhor: criação e preservação (Apocalipse 4.11; Hebreus 1.3), governo (Provérbios 21.1; Daniel 4.25, 35; Efésios 1.11), eleição e reprovação (Romanos 9.15ss), regeneração (Tiago 1.18), santificação (Filipenses 2.13; 1 Pedro 1.2), nossa vida e destino (Tiago 4.15; Atos 18.21; Romanos 15.32), o sofrimento de Cristo (Lucas 22.42) e dos crentes (1 Pedro 3.17), e até mesmo o menor dos detalhes da vida (Mateus 10.29). Sua vontade espelha seu caráter, por isso é boa, perfeita e agradável (Romanos 12.2).

De nada adiantaria ter vontade própria se ela estivesse sujeita a qualquer autorização ou limitação. Por isso, Deus é soberano, pois tem total liberdade. Somente Deus, em todo o universo, faz absolutamente tudo o que lhe agrada (Salmo 115.3). Faz o que quer, quando quer, como quer, sem qualquer risco de perder seu trono, sem precisar consultar, nem pedir permissão a ninguém. Ele não está debaixo de qualquer autoridade, nem qualquer condicionamento exterior a si mesmo. Absolutamente nada em toda a criação pode impedi-lo de fazer o que quer. O Senhor não pode ser resistido por nada ou ninguém (Salmo 8; 18; 19; 24; 29; 33; 104 etc.; Jó 5.9-27; 9.4ss; 12.14-21; 34.12-15; 36; 37; Romanos 9.19). Somente Deus tem essa liberdade ampla e irrestrita.

p Mateus 19.26; 1 Coríntios 1.18 q Salmos 139; Hebreus 4.13; Mateus 6.32, 33; João 3.19, 21 r Colossenses 1.17; Hebreus 1.2-3 s Isaías 55.11 t Levítico 19.2; 20.7 u Lucas 12.41, 48 v Levítico 23.19 w 1 Pedro 4.19 x 1 João 4.8; João 3.16; 14.23 y Romanos 2.4 z Efésios 2.4

Page 32: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

32

De nada adiantaria ter vontade totalmente livre de limitações se não fosse acompanhada do poder para ser executada integralmente. Por isso, Deus é soberano, pois tem todo o poder. As Escrituras o revelam como o Todo-Poderoso (Gênesis 17.1; 35.11; Êxodo 6.3; 2 Coríntios 6.18; Apocalipse 1.8). Ele mesmo faz a pergunta retórica: acaso, para o Senhor, há coisa demasiadamente difícil? (Gênesis 18.14) O anjo Gabriel afirmou à Maria que para Deus não haverá impossíveis (Lucas 1.37). O próprio Jesus declarou que para Deus tudo é possível (Mateus 19.26). Paulo afirmou que Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos (Efésios 3.20). Seu poder é infinito, não limitado a fazer o que já fez. O Senhor é capaz de fazer mais do que já fez, podendo chamar as coisas que não são como se já fossem, chamando à existência as coisas que não existem, fazendo com que exista o que não existia antes (Romanos 4.17). Para Ele todas as coisas são possíveis e nada é difícil (Zacarias 8.6; Jeremias 32.27; Lucas 18.27)

A soberania de Deus nasce com sua vontade própria, nunca limitada por nada ou ninguém, cumprindo-se totalmente por causa da sua onipotência. Definitivamente, o poder pertence a Deus (Salmos 62.11) e sua é a glória, a força e toda a soberania (Salmos 96.7; Judas 1.25; Apocalipse 4.11; 5.12; 7.12; 19.1). Motivos reais para nossa adoração eterna ao Soberano, afinal: Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus! (Salmo 62.11)

Vamos explorar um conhecido salmo: Salmos 96. Neste salmo, percebe-se esse movimento de oração que expressa respeito, admiração e reverência diante do Senhor. Dentre tantos atributos, o salmista destacou que Deus é glorioso (1-6) santo (7-9) e poderoso (10-13).

Adoramos a Deus por causa da sua glória e majestade. Ao contrário dos pagãos que adoram ídolos, obras das mãos humanas, inúteis e corruptas (Salmo 115.4-8), nós adoramos o Deus vivo e verdadeiro, que fez os céus (96.5), revestido de glória e majestade, de força e de formosura no seu santuário (96.6).

Adoramos a Deus na beleza da sua santidade. O Deus verdadeiro que está presente no coração dos seus filhos e na comunhão do seu povo, onde recebe adoração, é também alto, sublime, habita na eternidade e se chama santo (Isaias 57.15), totalmente distinto de tudo o que ele criou. Diante dele todos tremem, mas, em Cristo, podemos adorá-lo na beleza da sua santidade (96.9) com os corações cheios de alegria. Na adoração, atribuímos a ele glória e força e lhe oferecemos ofertas na intimidade da sua presença (96.7-8).

Adoramos a Deus, o rei universal. Somos o povo da aliança que já desfruta o governo justo e amoroso do Pai celestial, ainda que a sua soberania não seja reconhecida por todos. Por isso, aliamos à adoração o anúncio dentre as nações de que “reina o

Page 33: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

33

Senhor. Ele firmou o mundo para que não se abale e julga os povos com equidade” (96.10). Anunciamos, também, “entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas” (96.3). A adoração torna-se universal (96.11-12), com alegria, na presença do Senhor, porque vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, consoante a sua fidelidade (96.13).

Nossa adoração sempre será marcada por cântico novo (96.1), pois refletirá nossa percepção dAquele a quem estamos destinados a conhecer e admirar em toda a eternidade.

Page 34: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

34

2.8. Oração de santificação

Santificai-vos, porque amanhã o SENHOR fará maravilhas no meio de vós (Josué 3.5).

Para alguns, santidade é algo antiquado e retrógrado, motivo para desprezo de sua importância. Para outros, santidade é legalismo moralista, uma longa lista de proibições, motivo para arrogância do tipo: “sou mais santo que você”. Existem, ainda, aqueles que enxergam santidade como perfeição inatingível, motivo para total desânimo na caminhada. Contudo, para Deus, santidade é ser separado para Ele, exclusivo para comunhão e intimidade. Ele não quer um pedaço de nossos corações. Ele nos quer por inteiro. O ordem dada por Deus deixa claro que a santidade é possível (Santificai-vos) Josué demanda do povo uma atitude prática, um posicionamento real. Deveriam abster-se da idolatria, das perversidades e de tantas práticas não compatíveis com Deus. Na teoria, é fácil de entender, mas na prática, um grande desafio para viver. A pergunta vem à mente: é realmente possível ter uma vida em santidade? Observe, por exemplo, a vida de José, filho

Page 35: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

35

de Jacó, para testificar que, mesmo escravo, traído por seus irmãos, expulso de sua terra natal, submetido a duras tentações, viveu uma vida separada ao Senhor (Gênesis 37-50). Essa é a atitude desejávelaa.

O texto ensina que a santidade é em todo o tempo (porque amanhã). A santidade é para cada dia. Em outras palavras, a santidade do passado não serve para o dia de hoje. Nem devemos pensar que é para um futuro, talvez quando ficar mais velho. Muito menos devemos considerar que a santidade de uma geração se aplica à próxima geração. A santidade é para o dia que se chama hoje. A vida é dom de Deus e deve ser vivida em todo tempo de acordo com Seus termos e Sua vontade. Cabe-nos vigiar e orar em todo tempo (Mt 24.42; 25.13; 26.41) A pergunta vem à mente: O que deve ser feito quando caímos em pecado? Observe, por exemplo, a vida do rei Davi que, mesmo pecando contra Deus e seu fiel guerreiro Urias, arrependeu-se (Salmos 51) e encontrou o perdão. Essa é a atitude de consertobb.

Por último, o texto traz a promessa que a santidade traz grandes benefícios (o SENHOR fará maravilhas no meio de vós). Perceba que o texto indica que a santidade é devida porque o Senhor fará maravilhas, e não para que o Senhor faça maravilhas. A santidade nos permite participar das maravilhas que o Senhor fará. Enquanto o caminho do pecado conduz à escravidão, a santidade conduz à liberdade. Escravidão produz profunda tristeza. Liberdade produz júbilo e alegria. O pecado restringe nossa participação da ação de Deus. A santidade nos insere na agenda de Deus. Pecado nos distancia do Senhor. Santidade é estar na presença dEle. A pergunta vem à mente: o que ganho sendo santo? Observe a vida de Jó: mesmo sofrendo tanto, manteve-se fiel e íntegro, testemunhando os benefícios do Senhor (Jó 42.10-17). Essa é a atitude vencedoracc.

O Novo Testamento deixa o assunto mais claro. Por causa da ação de Cristo, o pecado não mais tem domínio sobre nós (Rm 6.12-14; 1 Co 10.13). Porque não mais somos escravo do pecado, em Cristo podemos decidir por uma vida de consagração do corpo, pensamento, palavras e atitudes. Em Cristo, fomos feitos santos para andarmos em santidade.

Sejam santos, porque eu sou santo 1 Pedro 1.16 (Lv 11.44-45, 19.2).

aa 1 Pedro 1.15 Pelo contrário, sejam santos em tudo o que fizerem, assim como Deus, que os chamou, é santo. bb 1 João 2.1 Meus filhinhos, escrevo isso a vocês para que não pequem. Porém, se alguém pecar, temos Jesus Cristo, que faz o que é correto; ele nos defende diante do Pai. cc 2 Coríntios 7.1 Meus queridos amigos, todas essas promessas são para nós. Por isso purifiquemos a nós mesmos de tudo o que torna impuro o nosso corpo e a nossa alma. E, temendo a Deus, vivamos uma vida completamente dedicada a ele.

Page 36: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

36

Santidade é a principal virtude do caráter de Deus. Seus atributos são infinitos, mas essa palavra é a única relatada como sendo cantada continuamente diante do trono de glória, de maneira repetida. Não lemos que é cantado “fiel, fiel, fiel”, nem “verdadeiro, verdadeiro, verdadeiro”, apesar de ser totalmente fiel e totalmente verdadeiro. Lemos, contudo, que a adoração mais conhecida dos anjos é quando cantam: “Santo, Santo, Santo!”

Foi justamente essa maior virtude que o próprio Deus declarou sobre nós: sejam santos, porque eu sou santo.

Ora, seria essa frase uma exigência, ou uma afirmação? Historicamente temos lido essa frase na perspectiva da exigência, da obrigação, da condição, do requisito imposto por Deus para nós, talvez pelo fato de estar conjugado no modo imperativo. Da mesma maneira, as primeiras palavras de Deus registradas na Bíblia foram no imperativo: haja luz! Só houve luz, pois o Senhor é a fonte da luz. Isso inspira uma releitura mais ampliada, leve e natural, transformando-a em uma afirmação que poderia ser interpretada assim: porque eu sou santo, vocês serão santos. Ou então, vocês somente conseguem ser santos, porque eu sou santo, ao mesmo tempo que o fato de eu ser santo é o que os torna santos. Em outras palavras, sabemos que através de Jesus fomos gerados para sermos santos para todo o sempre!!!

Para ampliar um pouco mais a compreensão da amplitude e do impacto dessa vocação, vamos entender melhor a palavra “santo”.

Santo é puro. Puro é a ausência de mistura. O ouro, por exemplo, é medido por quilate. Uma barra de 24 quilates significa que é inteira de ouro. Puro ouro. Uma barra de 16 quilates, por exemplo, significa que tem 16 partes de ouro e 8 partes de outro metal. Não é mais puro. Quanto mais puro, maior será o brilho. Em analogia, um ouro santo (puro) é o que tem maior valor.

Santo é íntegro. Íntegro é inteiro, integral. Os alimentos integrais, por exemplo, são aqueles grãos e cereais que não foram afetados por algum processo (via de regra industrial) de refinamento retirando cascas e películas protetoras e, por isso, conservam todos os nutrientes originais, sendo rico em vitaminas, minerais e fibras. Muito valor ao sabor em detrimento da saúde. Em analogia, alimento santo (integral) é muito mais saudável.

Que lindo perceber que o desejo de Deus é sermos puros e inteiros da mesma natureza que ele tem. Com base nisso, nossa compreensão do plano de Deus para sermos santos pode ampliar com outras palavras: santo é íntegro, integral, inteiro, pleno, total, todo, completo, uno, sólido, denso, consistente, intenso, espesso, puro, incontaminado, imaculável, impecável, indefectível etc. etc.

Dessa maneira, fica mais fácil compreender o que significa ser santo. Por exemplo, pai santo é ser pleno, presente, inteiro, completo, consistente, intenso etc. Pense em uma mãe, um filho, um irmão, uma dona de casa, um profissional, um empresário. Qualquer que seja

Page 37: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

37

o papel em sua vida, podemos ouvir o Senhor dizendo: sejam plenos, porque eu sou pleno, sejam inteiros, porque eu sou inteiro, sejam puros, sem mistura, cheios de mim!!!

Somos chamados à plenitude, integridade, à santidade.

Isso também diz respeito à liderança, ao propósito que temos nessa vida, nesta geração. É tempo de sermos líderes santos, puros, inteiros, plenos. Cheios do Espírito Santo, plenos dos dons, intensos em ousadia, livres para avançar. Assim seremos líderes santos, porque Ele é santo!

Page 38: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

38

3. Temperamento na Oração

O temperamento é a parte constitucional do nosso caráter e indica, segundo Freedman e Kaplan, a propensão intrínseca e constitucional de reagir de determinada maneira a estímulos diferentes.

Existem várias classificações do temperamento que indicam aspectos predeterminados da pessoa, mesmo que com certa imprecisão. Isso pode ser muito útil na ajuda de percebermos melhor como somos e como reagimos em determinadas circunstâncias.

A antiga tipologia desenvolvida por Hipócrates ganhou muita popularidade entre cristãos com o livro Temperamento controlado pelo Espírito Santo, de Tim La Haye: melancólico, colérico, sanguíneo e fleumático. Muitos foram ajudados a partir da descrição de cada perfil ao perceberem melhor suas forças e fraquezas de temperamento.

Outra classificação clássica, menos conhecida, porém mais atual, foi desenvolvida pelo polêmico psiquiatra Carl Gustav Jung (1875-1961) em seu trabalho Tipos Psicológicos, que fundou a psicologia analítica. Ele criou alguns dos mais conhecidos conceitos psicológicos, incluindo o arquétipo, o inconsciente coletivo, o complexo, e a sincronicidade. A classificação tipológica de Myers Briggs (MBTI), um instrumento popular psicométrico, foi desenvolvido a partir de suas teorias.

Contudo, para o presente estudo, utilizaremos o Eneagrama e o DISC, dadas a popularidade e facilidade de visualização desses métodos, mesmo que cientificamente imprecisos. O propósito dessa utilização está focado em ampliar a percepção de que nosso temperamento afeta a maneira como oramos.

Page 39: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

39

3.1. Oração com o Eneagrama

O Eneagrama é um sistema que identifica 9 tipos essenciais de personalidade presentes na natureza humana. Cada um de nós possui um pouco dos 9 tipos, mas sempre temos um tipo dominante.

Ao identificar o seu tipo você pode se aprofundar nas questões, características e padrões da sua personalidade e compreender como pode desenvolver relacionamentos mais saudáveis com as pessoas ao seu redor e consigo mesmo.

O quadro abaixo resume as principais características dos tipos eneagramáticosdd: Tipo Tipo Eneagramático Ponto de Fixação Motivador Vício Ideia Sagrada Compulsão Neurótica

1 Perfeccionista, Reformista A organização Ser correto Ira Independência Perfeccionismo/Crítica

2 Prestativo, Manipulador Os outros Ser querido Orgulho Altruísmo Bajulação

3 Realizador, Competitivo A auto-imagem Ser admirado Ganância Reconhecimento Mentira/Ambição

4 Individualista, Romântico As formas Ser diferente Inveja Origem Insatisfação

5 Observador, Pensador O conhecimento Ter conhecimento Avareza Onisciência Isolamento

6 Guardião, Questionador A confiança Estar seguro Medo Lealdade Dúvida

7 Entusiasta, Impulsivo A diversão Ter satisfação Gula Desejo Improvisação

8 Estrategista, Confrontador A justiça Ser respeitado Luxúria Verdade Vingança

9 Mediador, Preservacionista O corpo Estar tranqüilo Preguiça Despreocupação Indolência/Apatia

O estudo do Eneagrama pode ser organizado em três centros: Instintivo (ações), Emocional (emoções) e Mental (pensamentos). O estudo também pode ser classificado em três diferentes eixos: extrovertido, ambivalente e o introvertido. O quadro abaixo resume o cruzamento dessas classificações:

Extrovertido Ambivalente Introvertido

Instintivo Estrategista Mediador Perfeccionista

Emocional Prestativo Realizador Individualista

Mental Entusiasta Guardião Observador

EIXO

CEN

TRO

3.1.1. Tipo 1 – Perfeccionista

Idealistas, éticas e seguidoras de princípios, possuem um senso muito claro do que é certo ou errado. Sempre lutam para melhorar as coisas, mas têm medo de errar. São organizadas, ordeiras e meticulosas, mas podem se tornar muito críticas e tender ao perfeccionismo. Costumam ter problemas com a impaciência e a raiva reprimida. Quando dd

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Eneagrama_de_Personalidade

Page 40: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

40

estão em sua faixa saudável, essas pessoas são criteriosas, ponderadas, realistas e moralmente heroicas.

Sua oração: Seu louvor poderá ser bastante sincero e verdadeiro, assim como a sua gratidão, dado que aprecia as obras de Deus. Sua confissão tende a dois extremos: ser mais natural de acordo com sua maturidade espiritual, ou por ter uma personalidade muito crítica que acaba não se perdoando, apesar da graça e misericórdia disponíveis através de Jesus Cristo. Isto ocorrendo, pode “bloquear” sua consagração em função do orgulho e falta de humildade para aceitar o perdão de Cristo. Sua petição e intercessão tendem a ser mais objetivas e diretas, com alguma tendência a “dar uma ajuda a Deus”. Na adoração e santificação tende a ser mais formal e racional.

3.1.2. Tipo 2 – Prestativo

São compreensivas e voltadas para o lado interpessoal. São amigáveis, generosas, empáticas, sinceras e afetuosas. Mas também podem ser sentimentalistas e bajuladoras, se esforçando para agradar aos outros a qualquer preço. Valorizam estar perto dos demais e, por isso, tentam se tornar necessárias. Têm dificuldade em cuidar de si mesmas e identificar suas necessidades, colocando o outro em primeiro lugar. Quando estão em sua faixa saudável, são altruístas, desprendidas e amam a si mesmas e aos demais incondicionalmente.

Sua oração: : Tende a ter facilidade no louvor e na gratidão. Os espiritualmente maduros aceitam melhor a exortação, mas precisam se cuidar no que diz respeito a depressão e necessidade de aceitação (tanto de Deus como do próximo). Isto pode facilitar na sua confissão (ex. Salmos 51) e consagração. Por ser altruísta, tem mais facilidade em interceder pelos outros e suas necessidades pessoais tendem a ficar em segundo plano. É adorador nato, mas a busca pela santificação é grande desafio.

3.1.3. Tipo 3 – Realizador

São seguros de si, adaptáveis, movidos pelo sucesso e encantadores. São muito ambiciosos e estão sempre prontos para agir, mas podem se deixar orientar demais pelo status e pela ideia de progredir na vida. Se preocupam com a própria imagem e com o que os outros pensam ao seu respeito. Seus problemas geralmente são a paixão excessiva pelo trabalho e a competitividade. Quando estão em sua faixa saudável, são autênticos e inspiram as pessoas como modelos.

Sua oração: Tendência a ter atitude de louvor pelos benefícios recebidos diretamente e menos por aqueles mais “genéricos”. Como é mais independente, momentos de gratidão pode ser um desafio a ser vencido. Quando tem comportamento mais adepto da auto suficiência, será mais resistente à confissão e arrependimento, o que pode implicar algum bloqueio na consagração. Tem mais facilidade na petição por temas pessoais onde busque

Page 41: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

41

força para superação. Já na intercessão necessita de disciplina. Não tem facilidade para adoração contemplativa e nem sempre percebe a necessidade de santificação.

3.1.4. Tipo 4 – Individualista

São introspectivos, atentos a si mesmos, sensíveis, calmos e reservados. São honestos e não têm medo de se revelar, mas estão sujeitos a flutuação de humor e inibições. Sentem-se vulneráveis e cheios de defeitos, mas ao mesmo tempo podem agir como se não estivessem sujeitos às mesmas leis dos demais. Seus problemas mais comuns são o comodismo e o sentimento de pena de si mesmo. Quando estão em sua faixa saudável, são criativos e inspirados, capazes de se renovar e transformar as próprias experiências.

Sua oração: Seu louvor tende a ser mais internalizado, assim como na forma de expressar gratidão , com tendência a ter lutas interiores em função de sua resistência a atuar dentro do “padrão” das outras pessoas no que se refere a ritmo e prioridades, por exemplo. Pode ter momentos em que “prefere” lutar para resolver um pecado ao buscar a confissão. Sua força estará na consagração e no profundo desejo de santificação. Sua petição pode se caracterizar por situações mais do presente e a intercessão, por serem menos sensíveis a necessidade do outro, requer exercício de prática.

3.1.5. Tipo 5 – Observador

São concentradas, curiosas, alertas e observadoras. Conseguem se abstrair de tudo e se concentrar no cultivo de ideias e dons complexos. Muitas vezes são excessivamente dedicadas aos seus pensamentos e processos imaginários e podem se mostrar distantes e irritados. São independentes e inovadores, mas tendem ao isolamento e excentricidade. Quando estão em sua faixa saudável, são pioneiras e visionárias que vivem adiante de seu tempo e veem o mundo de forma inteiramente nova.

Sua oração: Seu louvor é de alguém atestou a ação de Deus em sua vida. Por ser mais resistente e analítico, sua confissão pode trazer um peso maior do “eu pequei” frente a Deus. Sempre está pronto a perdoar, mas nem sempre aceita receber perdão. Poderá ter dificuldade nas petições mais pragmáticas e simples da vida, sua intercessão tende a ser detalhada e disciplinada. Sua força estará na adoração, até porque sua sensibilidade e percepção são muito aguçadas.

3.1.6. Tipo 6 – Guardião

São responsáveis, dedicadas e valorizam a segurança. São esforçadas e dignas de confiança, mas podem ser defensivas, muito ansiosas e capazes de se estressar facilmente. Costumam ser indecisas e cautelosas, mas também podem se mostrar desafiadoras e rebeldes. A insegurança e a desconfiança são os seus problemas mais comuns. Quando estão em sua faixa saudável, são dotadas de estabilidade, autoconfiança e defendem corajosamente os mais necessitados.

Page 42: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

42

Sua oração: Seu louvor tem mais facilidade em reconhecer a ação de Deus, pois é natural para o Guardião a busca de apoio e aprovação. Sua petição será o carro chefe da oração. Igualmente poderá se destacar nas intercessões.

3.1.7. Tipo 7 – Entusiasta

São espontâneos, otimistas, versáteis e brincalhões. Sempre ocupados, podem ser dispersos e pouco disciplinados, assumindo mais responsabilidades do que podem dar conta. São joviais e práticos, sempre em busca de novas emoções. Essa busca pode levá-los a não terminar o que começaram, exaustos pelo excesso de atividade. Seus maiores problemas são a impulsividade e superficialidade. Quando estão em sua faixa saudável, se concentram em metas louváveis, se realizando e se tornando alegres e gratos.

Sua oração: : Seu louvor e gratidão serão exuberantes. Sua confissão será mais desafiadora por ser mais resistente a reconhecer o pecado. Uma vez reconhecido, o fará com alegria. É mais espontâneo e desejoso na petição do que na intercessão.

3.1.8. Tipo 8 – Estrategista

São fortes, dominadores, firmes, seguros de si e assertivos. São protetores e decididos, mas podem ser orgulhosos e controladores. Muitas vezes se mostram intimidadores e entram em disputas. Possuem dificuldade em compartilhar a intimidade. Quando se encontram em sua faixa saudável, são mestres do autodomínio e usam sua força para melhorar a vida dos outros, deixando sua marca no mundo.

Sua oração: Sua petição será forte e em tom determinado. Sua intercessão será no raio do alcance de sua influência direta. Terá dificuldade em orar por aquilo que não tem relação direta consigo, assim como o reconhecimento de assuntos para confessar também será um desafio.

3.1.9. Tipo 9 – Mediador

São receptivas, descomplicadas, constantes e de fácil convivência. Possuem bom gênio, bom coração, mas podem exagerar na disposição de ceder para manter a paz. Em sua ânsia de evitar conflitos, podem ser complacentes demais, tentando minimizar todos os empecilhos que surgem. São teimosos e passivos. Quando estão em sua faixa saudável, são dedicados a aproximar as pessoas e resolver mal-entendidos.

Sua oração: Seu mundo é feito de muita gratidão e consagração. Sua petição pode ficar prejudicada em função de em muitas ocasiões aceitar as coisas como estão (acomodado). Já na intercessão tende a ter mais iniciativa. Sua alegria poderá ser delicadamente expressa no louvor e adoração.

Page 43: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

43

Com base na descrição de cada tipo acima, preencha o quadro abaixo inserindo “+” para a parte da oração mais forte, “-“ para a parte mais desafiadora e “+/-“ para a parte que considere neutra.

Não há exatamente resposta certa ou errada. O que interessa é o processo de reflexão e análise que decorre desse exercício. Após isso, veja com quem mais você se identifica. Ao se identificar com um (ou mais) perfil (is), certamente descobrirá as áreas na vida de oração que são oportunidades para seu crescimento.

Pers

onal

idad

e

Louv

or

Gra

tidã

o

Conf

issã

o

Cons

agraçã

o

Petiçã

o

Inte

rces

são

Ado

raçã

o

Sant

ific

ação

Perfeccionista

Prestativo

Realizador

Individualista

Observador

Guardião

Entusiasta

Estrategista

Mediador

Legenda do quadro: + é forte, - é fraco e +/- é neutro.

Page 44: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

44

3.2. Oração com o DISC

Avaliação DISC é uma teoria postulada pelo psicólogo Dr. William Moulton Marston em seu livro "Emotions of Normal People" (1928). Para o Dr. Marston, existem quatro tipos básicos de comportamentos previsíveis observados nas pessoas e tais respostas comportamentais ocorrem a partir da combinação de duas dimensões: uma interna (referente à percepção do poder pessoal no ambiente) e outra externa (percepção da favorabilidade do ambiente). Como resultantes desta matriz temos os seguintes fatores: Dominância (D), Influência (I), Estabilidade (S) e Conformidade (C) - variações nestes termos podem ocorrer em função do referencial utilizado.

3.2.1. Dominância (D):

Pessoas com alta pontuação no fator "D" são muito ativas ao lidar com problemas e desafios. Descritas como egocêntricas, diretas, ousadas, dominadoras, exigentes, enérgicas, determinadas. Já baixas pontuações “D” indicam pessoas mais moderadas e conservadoras, descritas como discretas, realistas, conservadoras, pacíficas, precavidas e modestas.

Sua oração: mais diretivo, sabe muito bem o que quer. Não tem muita paciência, é objetivo, um pouco “agressivo”, às vezes. Não quer perder tempo com detalhes, normalmente; seguro, prático, vai direto ao assunto. Manda, ao invés de pedir; fala mais do que escuta; usa frases curtas e assertivas; emite suas opiniões de maneira clara.

Em geral, terá mais foco em pedidos e resultados, que serão marcados por forte senso de urgência. Tem facilidade em agradecer os pedidos alcançados e louvar a Deus pelos seus feitos e ações, mas vai ter dificuldade para lidar com o “Não” ou “Espera” de Deus por ser imediatista. A confissão não será o forte. Terá dificuldade em orações contemplativas e de adoração. Será impaciente com orações de outras pessoas que não sejam diretas, francas, abertas, focadas e competentes. Poderá mostrar falta de empatia e sensibilidade com outras pessoas, prejudicando a intercessão.

3.2.2. Influência (I):

Pessoas com altos escores de "I" gostam de influenciar os outros através de conversas e atividades e tendem a ser emocionais. São descritas como entusiastas, persuasivas, convincentes, amistosas, comunicativas, confiantes e otimistas. Já aqueles com baixos escores de "I" influenciam mais por dados e fatos e não com sentimentos, sendo descritos como reflexivos, seletivos, factuais, recatados, desconfiados, pessimistas.

Sua oração: mais interativo. Normalmente alegre, sorridente e muito comunicativo. Não gosta de rotinas. Bastante falante, um pouco desorganizado. Gosta de orar em grupo e em geral é muito emotivo. Expressa com facilidade o que sente e percebe.

Terá grande facilidade em louvar e agradecer. Como interage muito facilmente com outras pessoas, interceder poderá ser bem natural. Sua adoração será bem espontânea e de

Page 45: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

45

grande envergadura. Será um pouco difícil para confissão, pois terá certa dificuldade em reconhecer erros, dada sua elevada autoconfiança, podendo prejudicar sua consagração.

3.2.3. Estabilidade (S):

Pessoas com altos escores em "S" apreciam um ritmo constante, segurança e não gostam de mudanças súbitas. São indivíduos descritos como pacientes, confiáveis, calmos, leais, persistentes, gentis, previsíveis. Já baixos escores em "S" estão relacionados ao apreço por mudança e variedade e tais indivíduos são descritos como móveis, alertas, inquietos, impetuosos, espontâneos, impacientes e até mesmo impulsivos.

Sua oração: mais quieto que a média da congregação, dificilmente alguém ouvirá sua voz. Sua fala em um volume bem baixo não reflete a ausência de oração.

Gosta de adotar programas e planejamento de oração. Sua organização pode ajudar em muito sua perseverança. Quando reúne-se em grupo, será um bom observador de todo o movimento, ouvindo atentamente cada expressão dos demais. Sua introversão e dificuldade de falar em público poderá gerar constrangimento se for conduzido ao “microfone”. Sua confissão poderá ser exagerada pelo senso de auto cobrança pessoal. Eventualmente ficará indeciso quanto às petições influenciado pelo pensamento de não querer incomodar a Deus.

3.2.4. Conformidade (C):

Pessoas com alto escore em "C" valorizam aderir a regras, regulamentos e estrutura. Gostam de atuar com qualidade e fazer certo desde a primeira vez. São descritas como disciplinadas, cautelosas, sistemáticas, precisas, analíticas, perfeccionistas e lógicas. Já os com baixos escores em "C" tendem a desafiar regras e buscam independência. Descritos como independentes, obstinados, voluntariosos, teimosos, rebeldes, arbitrários e indiferentes a detalhes.

Sua oração: pensa muito antes de falar, detalhista em seu raciocínio e percepção. Seu comportamento mais formal dá preferência a ambientes mais quietos e controlados.

Seu pensamento analítico pode leva-lo a ser muito questionador perante o Senhor e crítico com outros. Suas orações podem ser cheias de perguntas.

Dificilmente ficará confortável em ambientes muito espontâneos e sem a programação pré-estabelecida. Sua adoração poderá ser muito sistematizada, não dando muito lugar à espontaneidade de expressão. Sua confissão poderá ser exageradamente cobradora de si mesmo.

Page 46: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

46

Estas quatro dimensões podem ser agrupadas em uma grade. Nesta matriz, a dimensão vertical representa um fator de "comportamento ativo" ou "comportamento receptivo", enquanto a dimensão horizontal representa "ambiente percebido como desfavorável" versus "ambiente percebido como favorável".

DOMINÂNCIAMotivação para conquistar objetivos

Senso de urgência – iniciativarapidez de decisão

objetividade – determinaçãopioneirismo – assumir riscosfazer as coisas à sua maneira

INFLUÊNCIAMotivação para relacionar-se

sociabilidade – empatia – otimismofacilidade de comunicação

entusiasmo – persuasãoflexibilidade – autoconfiança

capacidade de improviso

CONFORMIDADEMotivação para fazer com perfeição

precisão – atenção a detalhesaderência a regras e procedimentos

alta qualidade – cautelacapacidade de análise – observação

racionalidade

ESTABILIDADEMotivação para sentir-se seguro

ponderação – cautela – prevençãoavaliar o impacto das ações

paciência – persistência – rotinaequilíbrio emocional – amabilidade

saber ouvir - prestatividade

D I

C S

Assertividade

Ponderação

Co

ntr

ole

Ab

ertu

ra

Mais Ativos

Mais Receptivos

Vo

ltad

o a

Tar

efas

Vo

ltad

o a

Pes

soas

Page 47: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

47

TESTE DISC Preencha as linhas de acordo com o seu estilo de comportamento com números de 4 a 1, sendo 4 para o mais representativo e 1 para o menos. Não pode repetir os valores e a tabela deve ser preenchida na horizontal, da primeira para a última linha. Não escolha o que você gostaria de ser, mas sim o que você REALMENTE É! Seja honesto!

Característica Nota Característica Nota Característica Nota Característica Nota

Direcionado Influente Estável Cuidadoso

Confiante em si Otimista Deliberado Contido

Aventureiro Entusiasmado Previsível Lógico

Decisivo Aberto Paciente Analítico

Desafiador Impulsivo Equilibrado Preciso

Incansável Emotivo Protetor Contestador

Competitivo Persuasivo Acomodado Curioso

Assertivo Falador Modesto Educado

Experimentador Sedutor Fácil de conviver Consistente

Rigoroso Sensível Sincero Perfeccionista

Total D Total I Total S Total C

Some as colunas para identificar o resultado do seu perfil. Plote o resultado no diagrama abaixo com o total de cada tipo (DISC) e ligue os pontos:

10 20 30 40

D

I

S

C

Page 48: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

48

Com base na descrição de cada tipo anteriormente exposto segundo o método DISC, preencha o quadro abaixo inserindo “+” para a parte da oração mais forte, “-“ para a parte mais desafiadora e “+/-“ para a parte que considere neutra.

Não há exatamente resposta certa ou errada. O que interessa é o processo de reflexão e análise que decorre desse exercício. Após isso, veja com quem mais você se identifica. Ao se identificar com um (ou mais) perfil (is), certamente descobrirá as áreas na vida de oração que são oportunidades para seu crescimento.

Pe

rso

na

lid

ad

e

Lou

vor

Gra

tidã

o

Co

nfi

ssã

o

Co

nsa

graçã

o

Pe

tiçã

o

Inte

rce

ssã

o

Ad

oraçã

o

Sa

nti

ficaçã

o

Tipo D

Tipo I

Tipo S

Tipo C

Legenda do quadro: + é forte, - é fraco e +/- é neutro.

Page 49: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

49

4. Temperos da Oração

Essa seção é uma coletânea de artigos de variados temas ligados à oração que trazem em si uma riqueza de temperos para ampliar nossa sensibilidade ao assunto e inspirar nosso crescimento e amadurecimento no exercício desse maravilhoso e misterioso recurso dado por Deus que é a oração.

4.1. Oração na Palavra

O vida do profeta Jonas foi muito relevante para sua geração e para muitas outras posteriores. Foi o mais citado por Jesus (Mt 12.38-42; 16.4; Lc 11.29-32), sendo uma vida que apontou para a própria missão de morte e ressurreição de Cristo. Em resumo, sua história aponta três principais locais: Deus o chamou para ir pregar em Nínive, ele pegou o barco para Társis, mas a grande mudança em seu coração aconteceu no fundo do mar, dentro de um grande peixe.

A cidade de Társis já era conhecida desde o tempo do rei Salomão que de lá trazia navios com ouro, prata, marfim, macacos e pavões (1 Rs 10.22). Era um porto distante, identificado pelos estudiosos como sendo Gibraltar, a porta para a Espanha. Um lugar exótico para a época, idealizado como uma terra glamorosa, de riquezas e esplendores, com o encanto do desconhecido, algo que despertava no coração de qualquer um a cobiça pelo ter e pelo conquistar. Mas curiosamente, a resposta de Jonas é dada após um chamamento específico. Deus me chama, mas eu escolho o destino. Há uma rebeldia expressa. Pregar para os pagãos de Nínive, ou para os nobres de Társis? Társis representa um grande perigo às motivações das nossas decisões.

Se a função de Társis é afastar e fugir, o ventre do peixe, por sua vez, enquadra e aproxima. O clímax da espiritualidade do profeta acontece dentro do peixe, naquele ambiente viscoso, insalubre, fétido e profundamente desconfortável. Ali, ele entrega-se totalmente ao Senhor. Sua motivação é transformada, seu desejo de viver para o Senhor renasce. Sua oração retoma o centro de sua vida. Suas palavras refletem que não era um novato, mas um ministro de Deus muito experiente. Recita pelo menos 15 trechos de Salmos. Mostra que sua escola de conhecimento da Palavra de Deus vem à mente subindo do coração na hora da provação. É finalmente ajustado em suas intenções e reafirma seu compromisso e aliança com Senhor. O ventre do peixe representa a benção do tratamento de Deus em momentos críticos. Vejamos um pouco mais atentamente como Jonas fez sua oração na Palavra no capítulo 2 de seu livro:

Page 50: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

50

1Então Jonas, do ventre do peixe, orou ao Senhor, seu Deus, 2e disse: “Na minha angústiaee, clamei ao Senhorff, e ele me respondeu ;do ventre do abismo, gritei, e tu ouviste a minha voz. 3Pois me lançaste nas profundezasgg, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas passaram sobre mimhh. 4Então eu

disse: ‘Estou excluído da tua presençaiijj; será que tornarei a ver o teu santo templokk?’” 5“As águas me cercaram até a almall, o abismo me rodeou; e as algas se enrolaram na minha

cabeça. 6Desci até os fundamentos dos montes; desci até a terra, cujos ferrolhos se fecharam atrás de mim para sempre. Tu, porém, fizeste a minha vida subirmm da

sepulturann, ó Senhor, meu Deus! 7Quando, dentro de mim, desfalecia a minha almaoo, eu me lembrei do Senhor; e subiu a ti a minha oração, no teu santo templopp.m8Os que adoram

ídolos vãosqq abandonam aquele que lhes é misericordioso. 9Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrifício; o que prometi cumprireirr. Ao Senhor pertence a

salvaçãoss!” 10E o Senhor falou ao peixe, e este vomitou Jonas na terra.

Após essa marcante experiência de oração guiado pela Palavra, Jonas segue seu chamado. O rei de Nínive convoca todo o povo para que clamem a Deus com todas as forças e deixem seus maus caminhos e a violência. Ao final, temos a história de conversão coletiva sem muitos precedentes. Cerca de 120.000 pessoas convertidas a partir de uma pregação que atingiu diretamente seus corações. Pecadores que se arrependem verdadeiramente e o nome do Senhor é glorificado.

ee Salmos 18.6 Na minha angústia, invoquei o Senhor; gritei por socorro ao meu Deus. Do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor chegou aos seus ouvidos. ff Salmos 120.1 Na minha angústia, clamo ao Senhor, e ele me ouve. gg Salmos 18.4-5 Laços de morte me cercaram; torrentes de perdição me impuseram terror. Cadeias infernais me envolveram, e tramas de morte me surpreenderam. hh Salmos 42.7 Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas cachoeiras; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. ii Salmos 31.22 Eu disse na minha pressa: “Estou excluído da tua presença.” Mas tu ouviste a voz das minhas súplicas, quando clamei por teu socorro. jj Salmos 139.7 Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? kk Salmos 5.7 Eu, porém, pela riqueza da tua misericórdia entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor. ll Salmos 69.1-2 Salva-me, ó Deus, porque as águas me sobem até a alma. Estou atolado num profundo lamaçal, que não dá pé. Entrei em águas profundas, e estou sendo arrastado pela correnteza. mm Salmos 16.10 Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. nn Salmos 30.3 Senhor, da sepultura fizeste subir a minha alma; preservaste-me a vida para que não descesse ao abismo. oo Salmos 142.3 Quando dentro de mim esmorece o espírito, tu sabes o caminho por onde devo andar. No caminho em que ando, ocultaram uma armadilha para mim. pp Salmos 18.6 Na minha angústia, invoquei o Senhor; gritei por socorro ao meu Deus. Do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor chegou aos seus ouvidos. qq Salmos 31.6 Tu detestas os que adoram ídolos vãos; eu, porém, confio no Senhor. rr Salmos 50.14 Ofereça a Deus sacrifício de ações de graças e cumpra os seus votos para com o Altíssimo. ss Salmos 3.8 Do Senhor é a salvação. A tua bênção esteja sobre o teu povo!

Page 51: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

51

4.2. Oração perseverante

Jesus lhes contou uma parábola para mostrar que deviam orar sempre e nunca desanimar: — Em certa cidade havia um juiz que não temia a Deus, nem respeitava ninguém. Havia também, naquela mesma cidade, uma viúva que sempre o procurava, dizendo: “Julgue a

minha causa contra o meu adversário.” Por algum tempo, ele não a quis atender, mas depois pensou assim: “É bem verdade que eu não temo a Deus, nem respeito ninguém.

Porém, como esta viúva fica me incomodando, vou julgar a sua causa, para não acontecer que, por fim, venha a molestar-me.” Então o Senhor disse: — Ouçam bem o que diz este juiz iníquo. Será que Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo a vocês que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando o Filho do Homem vier, será que ainda encontrará fé sobre a

terra? (Lucas 18.1-8)

Nesta narrativa do evangelho de Lucas, Jesus contou uma parábola para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar. Além do amigo insensível, do pai que dá pedra para o filho comer, agora é a vez da figura chocante de um juiz que não temia a Deus, ímpio, injusto, sem compaixão, que se aborrecia de cumprir sua função de ofício, não se importava com as pessoas e detestava ser importunado. A parábola torna-se, em certo sentido, escandalosa, pois o Mestre compara esse juiz ao próprio Deus. E é nesse contexto que Cristo ensina a importância da oração persistente. Mas qual a razão da persistência?

A persistência nos aproxima de Deus (v.3a “uma viúva que se dirigia continuamente ao juiz...”). Exatamente por não ser atendida, aquela mulher tinha que permanecer diante da presença daquele injusto juiz. Percebia cada movimento da corte, cada pessoa que se aproximava. Tudo mudava ao seu redor, mas não sua súplica e clamor. Ao contrário do que se imagina, quando perseveramos na oração, não fazemos Deus presente, mas nos tornamos presentes. Nossa consciência de Deus cresce, nossa percepção se dilata. Quando queremos alguma coisa na vida, insistimos, brigamos, lutamos, colocamos tudo o que somos e temos naquela direção. É esse mesmo caráter que Deus quer ver em nossa oração. Esse deve ser o espírito da oração (Lucas 11.9-10; João 16.23-24). Quando insistimos, nos aproximamos, interagimos, concentramos toda nossa atenção em Deus, focalizamos nosso coração no Senhor. Pequenos pedidos não têm esse poder de nos atrair à presença do Altíssimo. Mas a oração que exige persistência nos conduz à presença do Eterno. A boa surpresa é que, na oração persistente, procuramos a dádiva, mas encontramos o Doador.

A persistência indica a seriedade do assunto (v.3b “Faze-me justiça contra o meu adversário.”). Aquela viúva resiste a tudo e a todos, rompe as barreiras discriminatórias e intimidadoras, porque tinha um pedido muito sério a fazer. Sejamos sinceros que muitas de nossas orações tratam de assuntos sem importância, passageiros, fúteis, inúteis e superficiais. Em sã consciência, não insistimos nestes. Aliás, que bom que Deus não nos atende em tudo o que passou por nossa mente e coração e se transformou em um pedido.

Page 52: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

52

A perseverança depura e aperfeiçoa (Tiago 1.2-4), traz discernimento e consciência, forjando nosso caráter e gerando esperança (Romanos 5.3-4). Porque nos aproximamos de Deus, à medida que persistimos, somos influenciados pelo Senhor na maneira como enxergamos o mundo ao redor, nosso contexto, nossa vida, nossas motivações e nossos próprios pedidos. Percebo que Deus vê minha necessidade mais claramente que eu mesmo. A boa surpresa é que, na oração persistente, queremos mudar o coração de Deus, mas temos o nosso transformado.

A persistência alcança resultados poderosos (v. 5 vou fazer-lhe justiça). Finalmente o injusto juiz atende ao clamor da viúva. Não aguentava mais ser importunado, golpeado, socado. Esse é o sentido da expressão que Jesus usou: o juiz foi nocauteado. Uma pobre viúva nocauteando o poderoso juiz. Que contraste! Mas é isso que Jesus nos ensina a respeito do poder da oração persistente. Em toda a Bíblia encontramos os heróis da fé em suas lutas na oração, tantos salmos importunos e tantos lamentos proféticos. Ao comentar essa parábola, Helmut Thielicke conclui que “Deus está oferecendo à igreja em oração uma parte do governo do mundo, nada menos que isso”. A oração persistente sempre terá resultados poderosos mesmo que nem sempre o que esperamos. Às vezes, como Pedro, oramos por alimento, e somos curados de racismo (Atos 11.5-18), ou, como Paulo, oramos por cura, e recebemos humildade (2 Coríntios 12.7-9). A boa surpresa é que, na oração persistente, quando tudo parece inerte, liberamos a ação de Deus.

Devemos persistir em oração contra a persistente tentação, injustiça social, opressão, crimes hediondos, tráfico sexual, aborto, terrorismo e incontáveis outros motivos. Ao verem tanta maldade, muitos têm enxergado Deus como esse juiz distante e sem compaixão. Mas o Senhor diz claramente que Deus fará justiça aos que clamam a ele dia e noite. A oração persistente é o caminho que devemos trilhar para que, quando o Filho do homem vier para implantar definitivamente seu Reino, ele encontre fé na terra!

Page 53: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

53

4.3. Oração do “não”

Três vezes orei ao Senhor, pedindo que ele me tirasse esse sofrimento (espinho na carne) (2 Coríntios 12.8).

Sei que esse é o tipo de reflexão não muito popular. Não queremos ouvir pregações que dizem que o “não” é uma possibilidade. Parece-nos que a fé somente é válida se seguida do “sim”. Acontece que grandes servos de Deus receberam um “não” como resposta. Apesar de mais de quarenta anos servindo ao Senhor, Moisés não atravessou o Jordão (Dt 34.1-4); apesar de uma semana de jejum e oração, o rei Davi não teve seu filho curado ( 2 Sm 12.14-23); mesmo orando pedindo pela morte, o profeta Elias subiu em uma carruagem de fogo (1 Rs 19.1-4; 2 Rs 2.11); mesmo pedindo para não morrer, Jesus não foi poupado da cruz (Mt 26.39, 42; Rm 8.32). Com Paulo e tantos outros não foi diferente. Teve seu pedido negado. O que o “não” de Deus nos ensina?

O “não” nos ensina da soberania de Deus. Apesar da longa folha de serviços de Paulo, Deus não se viu obrigado a dizer “sim” ao seu pedido insistente. Se Deus fosse obrigado a responder com “sim” às orações, mesmo que razoáveis e justas, não seria Deus. Oração não é um tipo de magia que, seguida a fórmula, assegura-se o resultado. Nem é um tipo de escambo, que cumpridas as condições, atinge-se o objetivo. Oração é um relacionamento com Aquele que é soberano em sua vontade, tem poder para fazer o que quer, quando quer, do jeito que quer. Lidamos com o mistério do silêncio, da aparente demora, de decisões não esperadas, nem compreendidas. Aliás, se pudéssemos compreender a Deus em todas as suas decisões, ele não seria Deus. Nada melhor que um “não” para nos dar consciência de quem é verdadeiramente Deus.

O “não” nos ensina da vulnerabilidade humana. A igreja de Corinto tinha pessoas que estavam medindo seu nível de espiritualidade contando vantagens sobre os demais pelos muitos dons que manifestavam, muitas línguas estranhas que falavam, muitas curas que executavam. Paulo, após catorze anos de segredo, revela que tinha sido arrebatado ao paraíso, e ali ele ouviu coisas que palavras humanas não conseguem contar (v.1-3). Ou seja, ninguém tinha experiências espirituais tão profundas como ele. Consciente da vulnerabilidade ao orgulho e outras mazelas, compreendeu: para que não ficasse orgulhoso demais por causa das coisas maravilhosas que vi, eu recebi um espinho no meu corpo (v.7). Nada melhor que um “não” para nos proteger de qualquer orgulho espiritual, ou da sensação de sermos melhor que outros.

O “não” nos ensina da maravilhosa graça. Em sua oração, Paulo ouviu o Senhor falar claramente: A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco. (v.9a) A graça do “sim” que transporta para o paraíso é a mesma graça do “não” que mantém o espinho na carne. O “não” é a graça para nos manter na graça. O “não” de Deus não é ato de insensibilidade, desprezo, ou desinteresse do Senhor por nós. Ao contrário, quando o Senhor diz “não” é para nosso próprio bem, mesmo que esteja além da nossa compreensão. Paulo entendeu tão profundamente a bênção do “não”,

Page 54: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

54

que chegou a declarar: eu me sinto muito feliz em me gabar das minhas fraquezas, para que assim a proteção do poder de Cristo esteja comigo (v.9b). Nada melhor que um “não” para nos fazer agarrar com todas as forças na real dependência da graça do Senhor diante de nossas limitações e fraquezas.

O que é um espinho? Algo pequeno que nos incomoda muito. Algo para nos esbofetear, algo para nos lembrar que somos mortais, algo para nos fazer depender do Senhor. Todos enfrentamos espinhos na carne que não serão tirados, mas servirão para desenvolver perseverança até nosso completo amadurecimento. Tudo o que vem dos céus é bênção para nossas vidas, quer seja na forma de “sim”, quer seja na forma de “não”.

Page 55: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

55

4.4. Oração do “sim”

Quanto a mim, porém, Senhor, faço a ti, em tempo favorável, a minha oração. Responde-me, ó Deus, pela riqueza da tua graça; pela fidelidade em

socorrer. Porque o Senhor responde aos necessitados e não despreza os seus (Salmos 69.13, 33).

O Pr. Messias Anacleto Rosa ao meditar neste texto, concluiu: não é porque merecemos ou porque somos ou fizemos algo que nossas orações são respondidas, mas somente pela riqueza da graça do Senhor. A graça é a chave na oração. Neste pequeno texto, podemos notar alguns princípios de como o salmista se aproxima do Pai com uma oração que certamente será respondida.

A oração respondida nasce naturalmente (Quanto a mim, porém, Senhor, faço a ti, em tempo favorável, a minha oração). Deus inventou a oração e a instalou dentro de nós. Isso fica muito evidente quando passamos por uma angústia muito profunda. Nossas entranhas clamam por Deus. Voltamos toda nossa energia e atenção ao redentor de nossas vidas. A oração é, portanto, algo que deve ser encarado de maneira mais natural. Mais prazer e relacionamento, que obrigação e enfado. Mais intimidade que superficialidade. Aliás, definir oração como disciplina dá o ar de sacrifício – como um esforço para se conquistar um prêmio. Definir oração como relacionamento deixa tudo num campo mais natural. Vamos deixar fluir em nossas vidas o relacionamento de intimidade com o Pai para o qual fomos chamados.

A oração respondida exige coração humilde (Responde-me, ó Deus, pela riqueza da tua graça; pela fidelidade em socorrer). Não existe relacionamento com Deus com um coração soberbo. Humildade, contudo, não é autoestima negativa, mas a constante escolha de dar crédito a Deus, não a si mesmo. Humildade não significa rastejar perante Deus, mas ter um vislumbre do quanto somos pequenos diante da grandeza de Deus. Somente por causa da humildade é que posso enxergar e admirar “quem Deus é”, ao que se chama adoração. O coração humilde também permite que eu enxergue “quem sou eu”, o que me leva naturalmente ao que se chama confissão. Oro porque preciso, porque dependo, porque sou frágil, porque sou vulnerável, porque sou pecador. A humildade reflete a verdade com precisão. O orgulho é mentira e engano. Vamos, pois, discernir e abandonar todo tipo de orgulho em nossos corações.

A oração respondida nos insere na ação de Deus. (Porque o Senhor responde aos necessitados e não despreza os seus prisioneiros) Existem diferentes perspectivas da função da oração. O pagão dá ordens aos deuses e controla a ação. O hindu entrega-se passivamente à fatalidade e é controlado pela ação. Mas o cristão entra no que foi iniciado por Deus, participando da ação. A Bíblia nos ensina que a oração é o convite que o Senhor nos faz para nos relacionarmos com ele e participarmos da ação que Ele iniciou. Não comandamos Deus, nem nos anulamos, mas nos envolvemos ativamente no curso da história. A resposta do Senhor poderá ser “sim”, “não”, ou “espere”. Seja qual for, não nos

Page 56: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

56

deixará sem resposta. Seja qual for, ele nos permite participar dela. Seja qual for, sempre será a melhor. Isso deve gerar em nós um coração cheio de confiança e fé. Vale a pena orar. Bendito seja Deus que não me rejeita a oração, nem aparta de mim a sua graça. (Sl 66.20) Pela graça, orações são respondidas, pois nascem de nosso relacionamento com o Senhor, fruto de um coração humilde que tem o privilégio de ser inserido na ação de Deus. Vamos, pois, orar com a confiança que seremos ouvidos e atendidos.

Page 57: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

57

4.5. Oração relacional

“Em certo sentido, só existem dois problemas: Deus não age do jeito que queremos e não ajo do jeito que Deus quer. A oração é o ponto onde esses temas convergem.” Philip Yancey

Para começo de conversa ...

“A razão pela qual oramos é que simplesmente não podemos evitar a oração.” William James

“A oração é uma expressão de que somos uma incompletude vivente, um vão, um vazio pedindo preenchimento.” Thomas Merton

A oração deve ser vista como algo natural. Deus inventou a oração e a instalou dentro de nós. Isso fica muito evidente quando passamos por uma angústia muito profunda. Nossas entranhas clamam por Deus. Voltamos toda nossa energia e atenção ao redentor de nossas vidas. A oração é, portanto, algo que deve ser encarado de maneira mais natural. Mais prazer e relacionamento, que obrigação e enfado. Mais intimidade que superficialidade.

Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele; nisto procedeste

loucamente; por isso, desde agora, haverá guerras contra ti. 2 Crônicas 16:9

Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus. Salmos 51:17

Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o

contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos. Isaías 57:15

Na raiz do que Deus quer enxergar em nós está um coração humilde. Não existe relacionamento com Deus com um coração soberbo. Humildade, contudo, não é autoestima negativa, mas a constante escolha de dar crédito a Deus, não a si mesmo, por seus dons naturais e usar esses dons para servir a Deus. Humildade não significa rastejar perante Deus, mas ter um vislumbre do quanto somos pequenos diante da grandeza de Deus. Somente por causa da humildade é que posso enxergar e admirar “quem Deus é”, ao que se chama adoração. O coração humilde também permite que eu enxergue “quem sou eu”, o que me leva naturalmente ao que se chama confissão. Oro porque preciso, porque dependo, porque sou frágil, porque sou vulnerável, porque sou pecador. A humildade reflete a verdade com precisão. O orgulho é mentira e engano.

Page 58: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

58

“Então dois dos visitantes saíram, indo na direção de Sodoma; porém Abraão ficou ali com Deus, o SENHOR. Abraão chegou um pouco mais perto e perguntou: —Será que vais destruir os bons junto com os maus?

Talvez haja cinqüenta pessoas (45,40, 30, 20, 10) direitas na cidade...” Genesis 18.22-33

Existem diferentes perspectivas da função da oração. O pagão dá ordens aos deuses e controla a ação. O hindu entrega-se passivamente à fatalidade e é controlado pela ação. Mas o cristão entra no que foi iniciado por Deus, participando da ação.

Que palavras usar? Mais importante que nossas palavras bem colocadas, Deus enxerga nosso coração.

“Orar com palavras ou sem palavras, isso não faz diferença nenhuma para Deus, só para nós.” Ole Hallesby, teólogo

norueguês.

Como começar? Tudo começa com a confissão (verdadeiro eu/ baixar a guarda/ abrir-se a quem nos conhece totalmente). A confissão nos faz de quem somos diante de um Deus absolutamente perfeito. Reconhecer meu lugar diante de Deus restaura o estado do Universo antes do pecado.

“A oração que precede todas as outras é a seguinte: seja o verdadeiro eu aquele que fala e o verdadeiro Tu aquele a quem

falo.” C.S.Lewis

“Precisamos colocar diante do Senhor o que está dentro de nós, não o que deveria estar.” C.S.Lewis (em outras palavras, confidenciar o que

Ele já sabe.)

“Eu sou humano e Tu és Deus! O ser humano não é alguém que, de vez em quando, comete um erro, e Deus não é alguém que, de vez em quando, perdoa.

Os seres humanos são pecadores e Deus é amor.” Henri Nouwen

“Num mundo que glorifica o sucesso, admitir a fraqueza desarma o orgulho ao mesmo tempo em que nos prepara para receber graça.”

Philip Yancey

“Deus, se essa gente soubesse sobre mim o que tu sabes, eles não dariam atenção a uma só palavra do que eu digo.” Pastor Haddon Robinson antes de seus

sermões.

Page 59: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

59

4.6. Oração contra a tentação

e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal (Mateus 6.13); vigiem e orem, para que não caiam em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas

a carne é fraca (Mateus 26.41).

Jesus não ensinou a orar pedindo para não haver tentação. Ao contrário, ele assume que as tentações virão. Seu ensino foi para que oremos para não cair em tentação, pedindo ao Pai que nos livre do mal. nosso pedido é de alguém que sabe que somente poderá permanecer em pé pela graça que existe em Cristo.

A palavra tentação (peirasmos) significa o ato de tentar, testar, provar. Desde o Antigo Testamento lemos que o Senhor, nosso Deus, nos prova para sabermos se o amamos de todo o coração e de toda a alma (Deuteronômio 13.3). Essa prova revela o que está realmente em nossos corações (Deuteronômio 8.2).

Para começo de conversa, é necessário perceber a tentação (vigiem). Na verdade, Deus mesmo a ninguém tenta (Tiago 1.13). Somos, sim, tentados por Satanás (Lucas 4.2; 1 Pedro 5.8) que se utiliza das coisas corruptíveis do mundo (1 João 2.15-17) para nos seduzir a partir da cobiça que existe em nossas vidas (Tiago 1.14). Quando o apóstolo João identificou o que há de corruptível no mundo, ele identificou três grandes dimensões da tentação. Veja o quadro comparativo a seguir:

Todos estamos vulneráveis em alguma(s) área(s) de nossas vidas. Exatamente nesta(s) área(s) é que somos tentados. Quem nos convence de todo o pecado, de todas as vulnerabilidades é o Espírito de Deus (João 16.8).

Você consegue identificar e perceber qual a sua vulnerabilidade?

Após essa percepção, é necessário resistir a tentação (orai) Muitas vezes percebemos a área de luta, mas não conseguimos evitar ou sentimo-nos fracos demais para resistir.

João Envolve Ligado ao Adão e Eva Jesus

1 João 2.16

Gênesis 3.1-7 Lucas 4.1-13

concupiscência da carne

atos e palavras

corpo “não morrerão” “transforme pedra em pão”

concupiscência dos olhos

desejos e cobiças

alma “seus olhos se abrirão”

“mostrou-lhe os reinos”

soberba da vida

orgulho e arrogância

espírito “serão como Deus”

“joga-te daqui ... ordem aos

anjos”

Page 60: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

60

Pensamos de verdade que é impossível vencer. Precisamos aprender a combater. A primeira verdade libertadora é que Deus nunca permite tentações além das nossas forças (1 Coríntios 10.13). Ou seja, existe a real possibilidade de obtermos total vitória sobre a tentação. A segunda verdade libertadora é que Jesus passou por todo o tipo de tentação, porém sem pecado. Como passou pelas lutas mais intensas, ele tem a sensibilidade para se compadecer (Hebreus 4.15) e interceder por nós (Hebreus 9.24). A terceira verdade libertadora é que temos à disposição as mesmas armas poderosas (2 Co 10.4,5) que Jesus utilizou: a oração (Mateus 26.41), a palavra (Salmos 119.11; Lucas 4.4, 8 e 12) e os irmãos na fé (Mateus 26.37).

Você está se utilizando dessas armas que são poderosas em Deus (2 Coríntios 10.4, 5)? Como resultado, pelo poder que há em Cristo, é totalmente possível vencer a tentação. Quando ficamos alertas (vigiai), percebendo as tentações e nos posicionamos firmes para resistir, utilizando-nos das armas espirituais que Cristo usou (orai), a vitória é certa! Somente em Cristo somos conservados íntegros e irrepreensíveis em nosso corpo, alma e espírito (1 Tessalonicenses 5.23) resistindo firmes às provas e testes (Tiago 4.7, 1 Pedro 5.9), até o dia que o tentador será totalmente esmagado debaixo de nossos pés (Romanos 16.20). Em Cristo temos vitória sobre o mundo (1 João 5.4, 5).

Você já percebeu como teve vitórias em áreas que pareciam impossíveis? Percebeu vitórias na vida de irmãos na fé?

Todos temos lutas, provações, problemas, dificuldades, responsabilidades. Jesus sabe muito bem disso tudo. Por isso, nos ensinou o caminho para que aprendemos a enfrentar as adversidades e usá-las a nosso favor.

Page 61: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

61

4.7. Oração e solitude

Ele, porém, se retirava para lugares solitários e orava (Lucas 5.16). Se por um lado, é fácil perceber a importância e os benefícios de uma vida saudável de comunhão com outras pessoas, falta-nos, muitas vezes, tempo de qualidade a sós. Muito diferente da solidão que todos temem e não é saudável, a solitude é o estado de privacidade de uma pessoa na presença de Deus. É um tempo de reflexão, meditação e busca de consciência de si mesmo e do mundo ao redor, aquietando-se para ouvir a voz do Senhor, conhecendo-se e fazendo-se conhecido ao Pai Celestial. Pode até acontecer em meio a uma multidão, contudo é mais comum nos momentos de isolamento voluntário.

Assim como Jesus foi exemplo de uma vida de comunhão e relacionamentos com as pessoas com muito amor, interesse e profundidade, no outro extremo viveu com excelência momentos de solitude. Cultivou a solitude antes e depois de eventos significativos em sua vida.

Antes de começar seu ministério, Jesus passou quarenta dias sozinho no deserto. Ali foi guiado pelo Espírito Santo a uma profunda comunhão de oração. Tinha na Palavra de Deus sua única regra de fé e prática, com a qual pode enfrentar seu grande inimigo no momento de tentação, como diz a Bíblia: E logo o Espírito o impeliu para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás. (Marcos 1.12, 13a)

Antes de importantes decisões, como a escolha de seus doze discípulos, passava tempo sozinho no monte deserto. Buscou, assim, discernimento e direção do Pai, como está escrito: Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos. (Lucas 6.12, 13)

Antes de sua morte de cruz, enquanto se preparava para sua mais sublime obra, Jesus buscou a solitude do jardim do Getsêmani, assim narrado: Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade. (Mateus 26.42)

Depois de uma notícia muito difícil, quando soube da morte de João Batista, Jesus retira-se para se recompor. Era seu parente e predecessor. Sabia de seu caráter, santidade, fidelidade. Foi um momento bem difícil. A solitude era necessária, como narrou o evangelista: Jesus, ouvindo isto [sobre a morte de João Batista], retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à parte. (Mateus 14.13a)

Depois de uma longa noite de trabalho atendendo grande multidão, Jesus busca o momento a sós com Deus para se restabelecer: Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto, e ali orava. (Marcos 1.35)

Depois de ser canal do poder de Deus buscou seu tempo de reclusão. Assim aconteceu após a alimentação miraculosa dos cinco mil, como está escrito: E, despedidas as

Page 62: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

62

multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só. (Mateus 14.23) Não existe qualquer outra pessoa que alguém viva mais tempo junto do que consigo mesma. Por isso, todo indivíduo precisa aprender a estar sozinho. Cristo nos ensina o caminho da solitude saudável, na direção e inspiração do Espírito Santo, antes e depois dos acontecimentos mais marcantes da vida. Comece com alguns minutos por dia, em oração, com a companhia da Bíblia, e aguarde experiências maravilhosas. Desligue seu celular. Desligue-se das redes sociais. Ligue-se no seu mundo interior. Ligue-se no Senhor. Cuide disso!

Page 63: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

63

4.8. Oração e jejum

Quando eles chegaram para junto da multidão, um homem se aproximou de Jesus, ajoelhou-se e disse: — Senhor, tenha pena do meu filho, porque ele tem convulsões e sofre

muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras tantas cai na água. Apresentei-o aos seus discípulos, mas eles não puderam curá-lo. Jesus exclamou: — Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei com vocês? Até quando terei de suportá-los? Tragam o

menino até aqui. E Jesus repreendeu o demônio, e este saiu do menino; e, desde aquela hora, o menino ficou curado. Então os discípulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram em particular: — Por que motivo nós não pudemos expulsá-lo? Jesus respondeu: — Por causa da pequenez da fé que vocês têm. Pois em verdade lhes digo que, se tiverem fé

como um grão de mostarda, dirão a este monte: “Mude-se daqui para lá”, e ele se mudará. Nada lhes será impossível. [Mas esse tipo de demônio só pode ser expulso por meio de

oração e jejum.] (Mateus 17.14-21)

Nesta narrativa de Mateus vemos uma situação embaraçosa que os discípulos de Jesus não puderam resolver. Ao tentarem entender o que havia passado, encontraram a seguinte explicação do Mestre: “Mas esse tipo de demônio só pode ser expulso com oração e jejum” (v 21 NTLH).

Jesus identifica que o motivo de não terem conseguido expulsar o demônio era porque não tinham fé suficiente, ou seja, não confiaram suficientemente no poder de Deus. Não confiaram porque não conheciam. Não conheciam, porque não tinham intimidade. Não tinham intimidade, porque não gastaram tempo para tal. E é aqui que reside o principal motivo do jejum acompanhado de oração: ele nos faz concentrar em Deus e nos aprofundar num tipo de relacionamento que as diversas distrações da vida nos impedem de desenvolver.

Jejum não é dieta para equilíbrio do organismo, regime para emagrecimento, prática ascética (ritual) para adquirir evolução espiritual, penitência para pagamento de pecados, aparência de espiritualidade, greve de fome para chamar a atenção, nem meio para barganhar uma bênção de Deus. O jejum é uma disciplina que nos conduz a fixarmos nossa atenção em Deus, nos ajuda a discernir coisas que nos controlam, nos deixa mais sensíveis às coisas espirituais, e sempre está vinculado à oração, para o que devemos dedicar tempo adequado.

A Bíblia nos traz inúmeros motivos para realizarmos jejum. O jejum pode ser feito como sinal de arrependimento (Deuteronômio 9.18), como sinal de luto (1 Samuel 31.13; 2 Samuel 1.12; 3.35), acompanhando um momento de intercessão (2 Samuel 12.15-23), em tempo de grande batalha (2 Crônicas 20.3), em busca de entendimento e discernimento das situações (Daniel 10.3,12), pedindo pelo cumprimento de uma missão (Esdras 8.21), clamando por um livramento nacional (Ester 4.16), ou em momento de intercessão por doentes (Salmo 35.13). Existe até o jejum contrário, ou seja, pessoas más que fazem jejuns contra a vontade e os servos de Deus (1 Reis 21.9; Atos 23. 12, 14), mas o que

Page 64: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

64

Deus aceita é aquele que pede uma mudança de coração e de atitudes (Isaias 58.3-7), para rasgar os corações e não os vestidos (Joel 2.13), caso contrário o próprio jejum seria rejeitado por Deus (Jeremias 14.12; Zacarias 7.5). Jejum pode variar de um dia (1 Samuel 14.24; 2 Samuel 3.35) a uma noite (Daniel 6.18), três dias completos (Ester 4.16), sete dias (1 Samuel 31.13), ou quarenta dias (Êxodo 34.28; Deuteronômio 9.9; 1 Reis 19.8) O jejum pode ser coletivo (Joel 1.14; Jonas 3.5) ou individual (Neemias 1.4), alimentar ou de atividades (2 Samuel 12.16), parcial (Daniel 10.3) ou total (Ester 4.16), periódico (Ester 9.31; Zacarias 8.19) ou único (Joel 2.12).

João Batista ensinou seus discípulos a jejuar com frequência (Marcos 2.18; Lucas 5.33). Jesus disse que seus discípulos jejuariam quando o noivo fosse tirado do meio deles (Mateus 9.14-15; Marcos 2.18-19; Lucas 5.33-35). De fato, o apóstolo Paulo é um dos exemplos de alguém que fez muito jejum (Atos 9.9; 13.2- 3; 27.33; 2 Coríntios 11.27). Jesus também advertiu para que fosse lavada a face e que se ungisse a cabeça, a fim de que o jejum não fosse visto pelas pessoas, mas por Deus que vê em secreto (Mateus 6.16-18), ou seja, quando jejuamos estamos obedecendo a esse princípio espiritual afirmado e confirmado por Cristo.

De fato, muitas situações em nossas vidas precisam que a oração esteja acompanhada pelo jejum. Jesus mesmo teve um longo período de quarenta dias e quarenta noites de jejum e oração (Mateus 4.2), enfrentando pessoalmente Satanás. Vamos, portanto, orar e jejuar, pois a vitória certamente virá!

Page 65: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

65

4.9. Oração em línguas

É plenamente possível orar com a mente alcançando o coração do Pai, em nome do Filho, dirigida pelo Espírito Santo. Por orar com a mente refiro-me à oração em idioma inteligível, conhecido de quem ouve, como a língua pátria (português, por exemplo). Contudo, é importante reconhecer que nem sempre a oração com a mente entra verdadeiramente na presença de Deus por uma série de razões, como exemplo: quando oramos com a boca, mas nosso coração está distante do Senhor (Isaías 29.13; Mateus 15.8); quando oramos por interesses pessoais (Tiago 4.3); quando acalentamos pecado em nossos corações (Salmos 66.18); quando usamos de vãs repetições (Mateus 6.7); quando duvidamos (Tiago 1.6-7); quando os maridos não honram suas esposas (1 Pedro 3.7).

Por outro lado, a oração em línguas sempre será eficaz por ser um dom dado, diretamente inspirado e dirigido pelo Espírito Santo. Por isso, é perfeito e desejável. Quem fala em línguas fala a Deus, fala com Deus, ou, em outras palavras, fala a linguagem de Deus, fala mistérios (1 Coríntios 14.2).

Nem todos falam em línguas (1 Coríntios 12.30), o que não diminui nem aumenta o valor de ninguém, pois é dado por vontade e propósito do Espírito Santo, e distribuído para um fim proveitoso. É um engano pensar que quem fala em línguas é mais espiritual do que quem não fala. Conheço muita gente espiritualmente madura, cheia do Espírito, mas não oram em línguas. Por outro lado, conheço pessoas que oram em línguas mas não tem um bom testemunho.

O dom de línguas sem interpretação tem por principal objetivo a edificação pessoal (1 Coríntios 14.4; Judas 1.20) . Isso o torna recurso poderoso para fortalecimento individual. Equivocadamente, pelo fato de edificar somente a si quando não há interpretação, algumas pessoas pensam que o dom é um pouco, digamos, “egoísta”. Esse discurso é equivocado. Ora, se eu não estiver edificado, como poderei edificar a outros? Paulo classifica o dom de profecia como sendo superior pelo fato de edificar a igreja. Isso é corretíssimo. Ao mesmo tempo, Paulo afirma que gostaria que todos orassem em línguas, pois todos estariam edificados e, assim, poderiam promover mútua edificação. Ora, em momento algum Paulo desvaloriza o dom de línguas. Apenas deixa claro que o motivo maior e superior de um dom é a edificação do outro.

Quando interpretadas, as línguas alcançam o objetivo de edificação do outro (1 Coríntios 12.10; 14.5, 13). Por esse motivo, Paulo incentiva que devemos pedir a Deus o dom para interpretá-las. Ou seja, nem todos que oram em línguas interpretam. Um dom é falar, e outro é interpretar. Nesse sentido, quando as línguas são interpretadas ficam parecidas com a profecia. Podem também trazer alguma palavra de conhecimento, ou palavra de sabedoria, assim como podem trazer alguma palavra de cura, libertação, direcionamento. Enfim, línguas interpretadas trarão aquilo que o Espírito Santo tem para o momento.

Page 66: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

66

O dom de línguas sem interpretação viabiliza horas mais extensas de oração, o que Paulo chamou de orar em todo tempo no Espírito (Efésios 6.18). Conseguimos fazer outra atividade que exige nossa atenção e raciocínio, orando em línguas ao mesmo tempo. Por exemplo, é possível ao estudante assistir à aula e orar simultaneamente. De igual forma, o motorista, cozinheiro, corredor etc. Sempre que não estivermos desenvolvendo uma atividade que envolva interação simultânea que exija o uso da fala, será possível orar baixo em línguas. Tenho tido diversas experiências de participar de reuniões, orando simultaneamente em línguas. Faço isso discretamente, sem emitir sons, movendo os lábios de maneira quase imperceptível. Isso é muito bom.

O dom de línguas não substitui orar com a mente (1 Coríntios 14.15). Paulo deixa claro que devemos orar com a mente e com o espírito, cantar com a mente e cantar com o espírito. O uso de nossos pensamentos na construção e articulação de palavras e frases também é instrumento poderoso usado por Deus. Não é porque passamos a falar em línguas que falar em português ficaria diminuído.

Diferentemente do que muitos praticam, oração em línguas não deve ser feita em voz alta, mas silenciosamente. A única exceção é quando há interpretação por outra pessoa. Nesse caso, por motivo óbvio, como o outro precisa ouvir para poder interpretar, a oração em línguas deve ser em voz alta. Percebo que, na prática, as pessoas se empolgam e passam a orar em voz bem elevada. Sem interpretação, o ensino paulino é claro: fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus (1 Coríntios 14.28).

Por último, mas não menos importante, orar em línguas não deve ser proibido (1 Coríntios 14.39). A quem interessa proibir algo que vem do Espírito Santo de Deus? É claro que ao inimigo. Por isso percebo que existe muita confusão e medo em torno desse tema. Quem perde? É claro que toda a igreja. Por isso, precisamos resgatar o orar em línguas com equilíbrio e ordem, mas também com intencionalidade e ousadia.

O dom de línguas não é exclusivo dos judeus (Atos 2.4), mas também foi derramado sobre os gentios (Atos 10.45-46). De igual forma, não é exclusivo dos pentecostais nem dos profetas ou pastores. Esse dom, assim como outros, é dado pelo Espírito Santo a quem lhe aprouver (1 Coríntios 12.11).

Page 67: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

67

5. Exemplos de Oração

Nesta seção, analisaremos apenas algumas orações da Bíblia. Essa amostra dará inspiração para lermos as Escrituras com o olhar que quer aprender com inúmeros homens e mulheres que tiveram sua vida e realidade transformadas por causa da oração.

5.1. Oração de Jabez

Foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; sua mãe chamou-lhe Jabez, dizendo: Porque com dores o dei à luz. Jabez invocou o Deus de Israel,

dizendo: Oh! Tomara que me abençoes e me alargues as fronteiras, que seja comigo a tua mão e me preserves do mal, de modo que não me sobrevenha

aflição! E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido (1 Crônicas 4.9, 10).

Na cultura judaica, o nome representa uma marca na vida que pode vir a traduzir o caráter da pessoa. Imagine-se, desde pequeno, sendo chamado de “dor” pela própria mãe, pelos irmãos, amigos e vizinhos. Seu nome podia ter gerado revolta, ou profundo desprazer. Mas, ao invés ser conhecido pela “dor”, Jabez foi reconhecido como alguém “ilustre”. Segundo o dicionário, ilustre significa: esclarecido, distinto, notável; que brilha ou se distingue por qualidades louváveis; fidalgo, nobre. O texto indica que sua nobreza tinha raízes no relacionamento com o Senhor. Era um homem de fé que invocava o Deus de Israel!

Jabez começa sua oração de maneira confiante: Oh! Tomara que me abençoes. Jabez vivia no meio do povo que tinha retornado do exílio na Babilônia. Tinham muitas promessas das bênçãos de Deus, mas estavam em meio a muitas dificuldades. Tudo estava por acontecer. Dificuldades financeiras, oposição de estrangeiros e conflitos domésticos marcavam a vida naqueles dias. Mas seu coração não se fixou nas circunstâncias. Aproximou-se do Senhor com expectativas, sem duvidar, pois conhecia o coração do Pai (Hb 11.6). Ele ouviu profetas, cantou os salmos, ouviu conselhos de sabedoria e simplesmente creu.

Jabez desenvolve sua oração de maneira aberta: e me alargues as fronteiras. Ao invés de algo específico, seu pedido foi bem genérico. Fronteiras alargadas falam de barreiras quebradas, limites estendidos e área de influência ampliada em várias dimensões e direções. Certamente é uma oração ousada. Deus nos abençoa para avançarmos em novos territórios, muito além do nosso pequeno mundo que gira, por vezes, ao redor do umbigo. Ele quer nos ver alargando nossa mente e coração, assim como nossos relacionamentos e influência. Deus nos abençoa para nos fazer abençoadores para além das fronteiras. Nosso Deus pode alargar nossas fronteiras, pois Ele não tem qualquer fronteira!

Jabez conclui sua oração de maneira humilde: que seja comigo a tua mão e me preserves do mal, de modo que não me sobrevenha aflição. Reconhecia de suas

Page 68: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

68

fragilidades, fraquezas e vulnerabilidades. Por isso, sabia o quanto dependia da ação de Deus, quer seja de maneira direta (1 Cr 21.14, 15; 2 Cr 36.16, 17), ou indireta (2 Cr 18.33; 20.23). Ele ora pela preservação e pelo livramento. Poderia muito bem ter orado assim: não me deixes cair em tentação, mas livra-me do mal (Mt 6.13), não peço que me tires do mundo e sim que me guardes do mal ( Jo 17.15). Aliás, se tem algo que não combina com oração é um coração orgulhoso e autossuficiente. Os que têm coração quebrantado, contrito e compungido jamais serão desprezados pelo Senhor (Sl 51.17).

A Jabez não faltou confiança, nem abertura, nem humildade. Aliás, quando um desses elementos não está presente, certamente nossa oração não passará do teto. Assim como Jabez, o Senhor quer escrever uma linda crônica de nossa vida de oração com o mesmo final feliz: Deus lhe concedeu o que tinha pedido.

Page 69: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

69

5.2. Oração de Gideão

Disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel por meu intermédio, como disseste, eis que eu porei uma porção de lã na eira; se o orvalho estiver somente nela, e seca a terra ao redor, então, conhecerei que hás de livrar Israel por meu intermédio, como disseste. E assim sucedeu, porque, ao outro dia, se levantou de madrugada e, apertando a lã, do

orvalho dela espremeu uma taça cheia de água. Disse mais Gideão: Não se acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só esta vez; rogo-te que mais esta vez faça eu a prova com a lã; que só a lã esteja seca, e na terra ao redor haja orvalho. E Deus assim o fez naquela noite, pois só a lã estava seca, e sobre a terra ao redor havia orvalho (Juízes 6.36-40).

Mais uma vez, o povo estava distante de Deus, fazendo o que era certo aos seus próprios olhos, mesmo sendo mau perante o Senhor (6.1). A consequência não poderia ser outra senão sofrimento e opressão. Desta vez, sob o domínio dos midianitas, o povo foi saqueado, feito escravo, sofreu a miséria da falta de sustento. A história se repete: sempre que nos afastamos do Senhor e de sua Palavra, inevitavelmente sofremos consequências duras e indesejáveis. Em meio à trágica situação, os filhos de Israel clamaram ao Senhor. Como nosso Deus é cheio de misericórdia, respondeu enviando um profeta para dar palavra de esperança (6.8-9). A partir disso, nasce a linda história da oração de Gideão demonstrando seu relacionamento pessoal, relevante e genuíno com o Senhor.

Sua oração mostra relacionamento pessoal, pois o Senhor se faz presente: veio o Anjo do SENHOR, e assentou-se (6.1). A visita pessoal do Anjo do Senhor (6.11-21) deixou clara sua palavra e vontade para Gideão. Aliás, o engajamento do líder nasce da escolha de Deus e não de um projeto pessoal de Gideão. Não foi um monólogo, mas um diálogo. Sem a presença de Deus, orações são palavras soltas no ar, sem efeito qualquer na vida. É importante observar que, segundo a Bíblia, algumas situações interrompem esse relacionamento verdadeiro e pessoal, tais como: desrespeito ao cônjuge (1 Pe 3.7), desprezo aos pobres (Pv 21.13), falta de perdão (Mt 5.23, 24; 2 Co 2.10, 11), egoísmo (Tg 4.3, 4), pecado (Is 59.2; Sl 66.18; 1 Co 11.28-31) e incredulidade (Tg 1.6, 7). A boa notícia é que a obra de Jesus na cruz rasgou o véu que nos separava, dando completo e verdadeiro acesso ao Pai (Mt 27.51; Hb 10.19ss) e sua Palavra já foi totalmente revelada para nos dar toda orientação na vida (2 Tm 3.16).

Sua oração mostra relacionamento relevante, pois seu conteúdo gira em torno da missão de Deus dada a Gideão: se hás de livrar a Israel por meu intermédio (6.36). O movimento do Senhor é sempre para trazer libertação e salvação do seu povo. Neste sentido, é necessário compreender que não estamos vivendo simplesmente para nós mesmos, mas, no Senhor, temos uma causa real, uma missão, uma vida que pode e deve ser alinhada com a agenda de Deus. Neste sentido é que a conversa que Ele tem com Gideão culmina nas palavras: Vai nessa tua força e livra Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu? (6.14) A boa notícia é que Jesus nos deixou uma clara missão

Page 70: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

70

ao redor da qual sempre desenvolverá conosco um relacionamento relevante: ser e fazer discípulos de Cristo (Mt 28.19).

Sua oração mostra relacionamento genuíno, pois Gideão apresenta sua incerteza com pureza de coração: rogo-te que mais esta vez faça eu a prova com a lã (6.39). Ousadamente, talvez à beira da inconsequência de o Senhor acender contra ele a sua ira, Gideão insiste em provas que confirmem aquela direção dada pelo Senhor. Sabia que o desafio seria muito grande. Em hipótese alguma sua atitude autoriza qualquer tipo de “bingo bíblico”, “roleta gospel”, “cara ou coroa espiritual” como forma de determinar a vontade de Deus através de sinais. Ao contrário, percebe-se que um homem cheio do Espírito (6.34 o Espírito do SENHOR revestiu a Gideão) sofre com dúvidas, dificuldades de discernimento, vulnerabilidades da fé, fragilidades na confiança no Senhor. Sua franqueza e transparência inspiram orações sem falsidade e uma busca exaustiva e intencional para se ter certeza da direção divina. Ao atender pacientemente, o Senhor mostra que não houve reprovação ao gesto. A boa notícia é que Jesus continua sendo gentil e amoroso com todo aquele que se aproxima dele dizendo: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé! (Mc 9.24)

O resultado final dessa oração pessoal, relevante e genuína foi a vitória contundente sobre a grande multidão do exército dos midianitas (6.5) com apenas com 300 homens, seguindo-se 40 anos de paz e prosperidade de Israel (8.28). O livramento vem do Todo-Poderoso que se importa com seu povo.

Page 71: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

71

5.3. Oração pelo Pão

Lemos, em Mateus 6.6-13, a conhecida oração do Pai Nosso. O destaque aqui é pelo seguinte pedido que Jesus nos ensinou a fazer: pão nosso de cada dia nos dá hoje. Esse pedido inspira três princípios: 1. O princípio da moderação e do equilíbrio (o pão). Jesus ensina a pedir pelo pão. Todos nós temos necessidades materiais para nossa sobrevivência e sustento. Ele incentiva que apresentemos diante de Deus essas petições. Deus sempre manifestou seu cuidado com a alimentação do seu povo ao longo da história bíblica. Veja alguns exemplos:

Nos dias de José, Deus orientou sobre guardarem o alimento para os anos de escassez (Genesis 41.33-36,49);

Nos dias do êxodo do Egito, Deus enviava o maná diário (Êxodo 16.4 e 8);

Nos dias de Rute Deus enviava o alimento (Rute 1.6);

Nos dias de Jesus, multiplicou os pães duas vezes (Marcos 6.35-44; 8.6-10);

Nos dias de Paulo a provisão vem acompanhada pelo “trabalho tranquilo” (1 Tessalonicenses 4.11 e 2 Tessalonicenses 3.11,12).

Contudo, devemos pedir o que é essencial (pão) e não coisas supérfluas. Isso implica que nossas solicitações precisam estar voltadas a nossas necessidades e não a meros desejos e caprichos. É claro que em uma sociedade de consumo, muitas vezes os desejos ganham a força das necessidades. Precisamos discernir do que podemos abrir mão para viver. A crise mundial que vivemos nos dias de hoje nasceu com o excesso de gastos supérfluos. Emprestaram o dinheiro que não tinham para gastar com o que não precisavam. Conta-se a história de um convidado que chega para passar uns dias em oração no monastério. Ao ser amorosamente recebido, é encaminhado para sua simples acomodação. Neste momento o monge fala com ele: ‘faça-me saber se estiver faltando alguma coisa, pois ensinarei você a viver sem isso.’ Agur fez a seguinte oração: “não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus“ (Provérbios 30.8b-9). 2. O princípio da confiança e dependência (de cada dia dá-nos hoje). Jesus ensina a pedir para o dia de hoje. Com isso Jesus não está condenando a atitude de sermos precavidos e fazermos provisão para o futuro, até porque muitos são os textos que nos orientam nesta direção (Genesis 41.33-36; Provérbios 6.6-8). Sua exortação é que não sejamos ansiosos pelo futuro, como que se o Pai Celeste não existisse ou não estivesse se importando (Mateus 6.25-32). Pedir pão não é incomodar a Deus, não é algo minúsculo, mas é um reconhecimento da dependência de Deus para todas as coisas. Quando compartilho com Deus o meu pedido, isso tira de mim a ansiedade, pois estou repartindo com Deus o meu problema. Jesus fala para fazermos isso, mostra a maneira como o Pai

Page 72: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

72

quer se relacionar conosco. Lemos em Gênesis 3.8 que Deus andava no jardim e tinha conversas com Adão e Eva. Mas naquele dia, ao perceberem que o Pai chegava - pois reconheciam sua voz, seus passos, seus sons - eles se esconderam. Em certo sentido, o pecado é a tentativa de viver a vida buscando a autonomia, a não dependência de Deus. Segundo Filipenses 4.6-7 e 19, o antídoto da ansiedade é a petição de todas as nossas necessidades. Definitivamente só aprendemos a descansar quando nosso coração é invadido pelo confiança e dependência de Deus em todas as coisas.

3. O princípio da sensibilidade e generosidade (nosso). Jesus ensina a pedir para a coletividade: “dá-nos” e não “dá-me”. Nossa oração não deve estar voltada somente às nossas necessidades. Estamos ligados em uma comunidade com muitas pessoas que preciso me importar e me interessar. Minha sensibilidade ao outro me levará à oração. Minha generosidade me levará à colaboração. O fato é que a oração aponta para a realidade que precisamos uns dos outros. O apóstolo Paulo exortou com veemência à igreja de Filipos: não tenham em vista somente os seus interesses (Filipenses 2.4). Também escreveu o mesmo para a igreja que se reunia na cidade de Corinto (1 Coríntios 10.24, 33 13.5). No mesmo espírito do apóstolo Paulo, “enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gálatas 6.10).

Pedir pão a Deus é nobre sinal de fé, mas mendigar pão ao próximo é humilhante. Nas palavras do salmista, “fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Salmos 37.25).

Vamos crescer nesta oração!

Page 73: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

73

5.4. Oração de Salmos (um exemplo)

Oração diante dos montes

Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez o céu e a terra. (Salmos 121.1, 2)

O livro de Salmos nos ensina a como nos expressarmos diante de Deus. Chorando ou sorrindo, com pesar ou com leveza, lamentando ou louvando, encontramos nas páginas do saltério a alma rasgada, o peito aberto, o coração transparente, o espírito sincero. Salmos 121 é um lindo poema recitado ou cantado nos momentos das viagens e peregrinações, especialmente quando se dirigiam a Jerusalém para adorarem ao Senhor no Templo. Algumas atitudes brotam na oração de quem busca ao Senhor na caminhada da vida.

O salmista inicia indicando sua firme atitude de enfrentamento diante dos montes (Elevo os olhos para os montes). Para o viajante da época, os montes representam riscos de enfrentar salteadores, assassinos, animais selvagens, emboscadas, trilhas perigosas, sol escaldante, noite fria, enfermidades, tempestades, fome, sede. Poderia desviar seu olhar, ignorar, negar, omitir, esconder-se, ou até fugir. Decide, entretanto, levantar seus olhos ao que lhe desafia, provoca, afronta, tenta, mete medo. Decide olhar de frente, encarar.

Essa atitude não é fácil. Perceba que grandes personagens da fé tiveram dificuldade de enfrentar suas montanhas. Ao contrário, temeram, choraram, fugiram. Moisés temeu faraó, Elias correu para a caverna, Jonas fugiu para Társis, Pedro negou, só para citar alguns. Mas, ao fim, aprenderam a enfrentar “montes”.

Qual é o “monte” em sua jornada? Reconheça-o e o olhe de frente. Declare-o em sua oração!

Ao mesmo tempo que enfrenta, o salmista mostra atitude de vulnerabilidade diante de suas próprias limitações (de onde me virá o socorro?). Eleva seus olhos, mas não bate no peito dizendo “pode vir”. Não confia em seus recursos escassos, nem em suas estratégias. Tampouco despreza a força do seu inimigo, nem ignora as emboscadas do caminho selvagem, nem as armadilhas escondidas no terreno minado na trajetória. Ao contrário, está consciente de que depende de alguém o socorrendo, precisa receber proteção, orientação e força. Sente e mostra sua vulnerabilidade. Conhece e reconhece sua fraqueza. Precisa de socorro!! Foge da posição de orgulho e defensiva. Está quebrantado e consciente de sua vulnerabilidade.

Essa atitude não é fácil. O coração orgulhoso e defensivo nega suas imperfeições e falhas. Focaliza suas áreas “positivas”, fortes e bem sucedidas. Por isso, diante de questionamentos, ofende-se com facilidade em defesa pessoal. Já o coração quebrantado e vulnerável torna-se transparente, expõe-se às pessoas certas, admite seus limites abertamente e está acessível ao socorro. Não se pode obter socorro sem reconhecer que

Page 74: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

74

se precisa. Aliás, mostrar-se vulnerável parece fraqueza, mas, na verdade, exige muita coragem.

Quais são suas vulnerabilidades? Clame por socorro em sua oração!!

Sua pergunta lançada ao ar não fica sem resposta. Seus lábios declaram sua atitude de confiança e fé diante do Senhor (O meu socorro vem do SENHOR). Mas não é qualquer tipo de fé, senão aquela que transporta ou transpõe as montanhas, aquela que agrada a Deus, aquela confessada publicamente, aquela fé que não duvida, aquela fé íntima.

Essa atitude não é fácil. Contudo, o salmista percebe com todos os seus sentidos que o Senhor é soberano (v.2 fez o céu e a terra), o Senhor está alerta (v. 3-4 Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda. É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel.), o Senhor está muito perto (v.5 o SENHOR é a tua sombra à tua direita), o Senhor conduz em todo tempo (v.6 De dia não te molestará o sol, nem de noite, a lua.), o Senhor é maior que todo mal (v.7a O SENHOR te guardará de todo mal), o Senhor ministra o emocional (v.7b guardará a tua alma), e, finalmente, o Senhor o tem em seu plano eterno (v.8 O SENHOR guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre). Loucura seria não confiar!

Como está sua confiança no Senhor? Alimente sua fé com as promessas da Palavra durante sua oração.

Os montes estão aí, diante dos nossos olhos. Não precisamos teme-los, nem fugir deles. Ao contrário, devemos enfrentá-los, sabendo de nossas vulnerabilidades. Nossa fé e confiança no Senhor vão nos fazer transportar ou transpor os montes.

Page 75: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

75

5.5. Oração de Jesus

Deus estabeleceu três ofícios de extrema importância na constituição do povo de Israel: o profeta (como Natã, 2 Sm 7.2), o sacerdote (como Abiatar, 1 Sm 30.7) e o rei (como Davi, 2 Sm 5.3).

O profeta, em síntese, era o responsável por trazer as palavras de Deus ao povo. Era o representante de Deus diante do povo, denunciando o pecado, a injustiça e, muitas vezes, predizendo fatos a acontecer. Dava orientações e direções genéricas ao povo, mas também específicas a determinadas pessoas.

O sacerdote, por sua vez, era o encarregado de fazer os sacrifícios perfeitos e aceitáveis diante de Deus para expiação dos pecados do povo. Era o representante dos homens diante de Deus, oferecendo, também, orações e louvores a Deus em favor do povo. Colocava-se como defensor dos interesses dos homens, intercedendo por suas causas, buscando alcançar graça e favor de Deus.

O rei tinha por principal função governar o povo, debaixo das direções e orientações de Deus. Era o representante de Deus para promover justiça, equidade, bem estar social, defendendo o povo contra os inimigos.

Esses três ofícios são prefigurações das principais funções desempenhadas por Jesus Cristo. Como Profeta, ele revela Deus para a humanidade, transmitindo os padrões e propósitos divinos ao homem. Como Sacerdote, ele foi o escolhido para ser o mediador entre Deus e o homem, oferecendo sacrifício do cordeiro imaculado – ele mesmo, bem como fazendo intercessão pelos homens. Como Rei, ele governa a Igreja e o próprio Universott.

Estaremos focalizando os aspectos vinculados à vida de oração de Jesus como o veículo de cumprimento de seu ofício de Sacerdote.

Jesus na Terra

Analisar a vida de Jesus nos tempos que esteve em nosso meio, aqui no planeta Terra, é uma experiência fascinante e desafiadora. Sua missão era a de entregar-se em favor de toda a humanidade pecadora e, por isso, impedida de conhecer e relacionar-se com Deus. Sua agenda deu prioridade à manifestação das várias expressões do Reino de Deus através de seu maravilhoso ensino e dos impactantes sinais e prodígios que se fizeram em nosso meio. Sua rotina valorizou a comunhão com seus discípulos e com o Pai, através da oração.

tt GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1a. Edição. São Paulo, SP. Ed. Vida Nova, 1.999, pág. 523.

Page 76: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

76

Sua vida de oração

Como homem, Jesus experimentou todas as limitações dessa natureza terrena. Entretanto, sua trajetória exigiria alguém com capacidades sobrenaturais para superar todos os riscos e barreiras que enfrentaria para atingir seus objetivos. Teria sido morto quando criança, passado fome no deserto, envergonhado no episódio da cobrança dos tributos, ridicularizado pelos fariseus, tudo se não fosse a ajuda de Deus.

No início de seu ministério, logo após o seu batismo por João Batista, as Escrituras revelam que, “estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele.” (Lc 3.21). A partir daí, sempre vamos ver a correlação forte e inseparável entre a atitude de oração de Jesus e a operação do poder de Deus.

A oração era o principal canal que Jesus tinha para ter comunhão com seu Pai Celestial. Nesse episódio do batismo, Jesus ora num momento de entrega e consagração de sua vida. A resposta pública do Pai é que tem em Jesus um filho amado, em quem se compraz, indicando que existe um histórico de relacionamento entre Jesus, homem, e Deus, Pai. Até aqui, Jesus não havia iniciado seu ministério, ou seja, o prazer que Deus revela ter na vida dele não estava relacionado ao trabalho que Jesus estaria por começar. A alegria de Deus Pai vinha da intimidade de relacionamento que tinha com Jesus, filho.

Se havia comunhão verdadeira entre eles, a oração de Jesus estava longe de ser um mero ritual de espiritualidade, como de muito fariseus que a faziam publicamente. Oração era conversa entranhável, estreito contato, particular trato, fonte de afeição e confiança, confundindo-se com a própria vida de Jesus. Na oração, seu coração fundia-se ao coração do Pai. Seus pensamentos, intenções, valores e propósitos tornavam-se um, expresso na declaração “eu e o Pai somos um”. Vemos que não era à toa que Jesus muitas vezes fugia da multidão para lugares solitários (Lc 5.16). Sua fuga era de alguém que tinha saudades da intimidade do Pai.

Não houve outro que tenha desfrutado tanto da comunhão com o Pai como Jesus. Isso é percebido claramente na declaração “ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar”. O relacionamento entre Jesus e o Pai é únicouu.

A oração era também uma atitude prática de reconhecer a personalidade e o poder de Deus. Quando Jesus orava, era como estar declarando permanentemente sua dependência do poder do Espírito Santo. Na verdade, ele dependia desse poder. CHAMPLIN afirma que “a oração vale-se do poder de Deus, pelo que também se diz que a oração modifica as coisasvv”. Jesus valia-se desse poder através da oração. A oração era canal objetivo e eficaz para mudar as coisas. Os milagres, sinais, prodígios e maravilhas foram operados através de Jesus, a partir do poder do Espírito Santo de Deus, conquistados na vida de oração que Jesus tinha com o Pai.

uu KEELEY, Robin. Fundamentos da Teologia. São Paulo, SP. Ed. Vida, 2.000, pág.71 vv CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 4a. Edição. São Paulo, SP. Ed. Candeia, 1.997, volume 4, pág. 604

Page 77: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

77

A oração era, também, fonte objetiva de direção de Deus na vida de Jesus. É interessante observar que Cristo não era surpreendido por nada; nem pelos milagres, nem pelas pessoas. Após a oração do Getsêmani, Jesus volta aos discípulos e diz “eis que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores” (Mt 26:45). Esse episódio indica que, durante o período de oração, ele tem a completa revelação do momento que antecede sua morte. Através da prática ininterrupta de ouvir a voz de Deus, ele era totalmente dirigido para completar com sucesso sua missão.

Dentre todos os aspectos da oração na vida de Jesus, o que mais é enfatizado pelos evangelistas é o da intercessão. É aqui que Jesus inicia seu ofício de sacerdote, representando os homens perante Deus, clamando por graça e favor. A maior oração publicada de Jesus é chamada de “Oração Sacerdotal”, pois, em essência, ele se posiciona como quem roga pelos seus.

Antes de sua morte, Cristo anuncia a Pedro que este iria traí-lo. Na verdade, disse a Pedro que Satanás queria peneirá-lo como trigo, mas Cristo havia rogado ao Pai para que não desfalecesse na fé. Alguns comentaristasww sugerem que Satanás teria pedido a morte de Pedro por ter participado do questionamento de quem seria o maior no reino de Deus. Enquanto Satanás aparece como o acusador, Cristo posiciona-se como advogado defensor, ou intercessor.

Seu ofício sacerdotal

No Antigo Testamento, o sacerdote era o homem escolhido, separado e devidamente preparado para ser o mediador entre o homem e Deus. Seu ofício era cumprido oferecendo sacrifícios e fazendo intercessão.

Cristo ofereceu a si mesmo como sacrifício perfeito, aniquilando por vez o pecado (Hb 9.26). Esse sacrifício foi definitivo e completo, jamais necessitando que seja repetido, conforme nos ensina o autor de Hebreus. Dessa forma, Jesus preencheu tudo o que estava tipificado no Antigo Testamento, sendo tanto o sacrifício quanto o sacerdote que oferecia o sacrifício.

É evidente que a obra intercessora de Cristo não deve dissociar-se de seu sacrifício expiatório. A intercessão apresenta-se como um ato contínuo ao sacrifício. A intercessão sem sacrifício jamais seria ouvida. O sacrifício sem intercessão seria uma obra incompleta. Porém, comparado com o sacrifício de Cristo, seu ministério de intercessão recebe pouca atenção por parte dos estudiososxx .

De acordo com o dicionário Webster, interceder significa “ir ou passar entre; atuar entre dois partidos com a intenção de reconciliar aqueles que divergem ou contendem; interpor- ww Matthew Henry's Commentary on the Whole Bible: New Modern Edition, Electronic Database. Hendrickson Publishers, Inc., 1.991. xx BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 3a. Edição. Ed. T.E.L.L., 1.974

Page 78: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

78

se; mediar ou fazer intercessão; mediaçãoyy.” Nesta definição, percebe-se que o conceito de intercessão pode ser traduzido por mediação.

Segundo SHEETSzz, a intercessão de Cristo não é simplesmente uma oração feita, mas sim toda uma obra de mediação entre Deus e o homem. O apóstolo Paulo nos diz que “há somente um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos” (1 Tm2.5, 6). Sua intercessão, então, é um ato de interpor-se diante do Pai para apresentar,como justos e aceitáveis, cada um daqueles que o tem por Senhor e Salvador. O apóstolo João declarou que, “se alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; o qual é a propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 2.1, 2). Ambos os textos citados correlacionam o sacrifício com a intercessão.

Ao mesmo tempo, a intercessão não é uma subdivisão da oração, nem a oração está subordinada à intercessão. Temos que a oração de Jesus pode expressar também seu papel de intercessor, mas não exclusivamente. Do outro lado, a intercessão completa não acontece somente por causa da oração. É necessária toda a obra sacrificial para que Cristo esteja devidamente qualificado como intercessor, ou mediador. A oração de intercessão é uma extensão da obra de intercessão de Cristo. A intercessão é um dos alvos de oração praticado por Jesus. Sua vida de intercessão começou na Terra, mas somente é completa no céu após a consumação de toda a sua obra sacrificial. Nos céus, Jesus torna-se por completo qualificado para interceder pelos homens.

Jesus nos céus

Assim como o sumo sacerdote, uma vez ao ano, adentrava o Santo dos Santos oferecendo um sacrifício diante de Deus, Cristo adentrou o Lugar Santíssimo da presença de Deus, no próprio trono dEle, com seu sacrifício completo, perfeito e todo suficiente e ofereceu-se ao Pai. Cristo agora é o “grande sumo sacerdote que penetrou os céus” (Hb 4.14) e que compareceu na presença de Deus em nosso favor (Hb 9.24). Ele é o representante de seu povo que restaura a presença do homem diante de Deus. Ele é aquele que reconcilia o relacionamento da humanidade salva com o Pai Celestial. Um dos grandes benefícios do cristão, por consequência, é poder, a partir desta obra de Cristo, chegar-se diante de Deus, a fim de receber misericórdia e achar graça para socorro em ocasião oportuna (Hb 4.16).

O autor de Hebreus revela que Jesus está vivendo sempre para interceder pelos seus salvos (Hb 7,25). O apóstolo Paulo confirma o mesmo ensino quando diz que Cristo é aquele que está à direita de Deus, nos céus, e também intercede por nós (Rm 8.34). Jesus continua sendo sacerdote, trabalhando e intercedendo em favor da humanidade. Ele tem sacerdócio perpétuo e contínuo, na condição de onipotência, sabendo sobre tudo e todos.

Sua petição a Deus não é como da criatura para o criador, mas como do filho para o pai. É o único que tem esse tipo de relacionamento. A consequência é que existe total autoridade yy The Consolidated Webster Encyclopedic Dictionary. Chicago. Consolidated Book Publishers, 1.954, p. 384 zz SHEETS, Dutch. Oração Intercessória. Belo Horizonte, MG. Ed. Atos, 1.999, pág. 44

Page 79: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

79

na Terra, pois ele venceu o pecado, a morte e Satanás. Sua oração intercessória nunca falha. Mesmo quando na Terra, a oração de Jesus sempre foi ouvida pelo Pai, cumprindo integralmente sua missão.

Mas por quem Jesus intercede? Ora, se a intercessão é ato subsequente ao sacrifício, logo ela refere-se a todos os que foram purificados pelo derramamento de seu sangue, e por eles exclusivamenteaaa. Na oração sacerdotal, segundo o evangelista João, Jesus orou dizendo: “não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17:9) e também “não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra” (Jo 17:20). Assim, Cristo inclui todas as gerações futuras à sua.

Qual, então, é o conteúdo de sua intercessão? Certamente muitas são as coisas que ele tem de pedir em sua oração intercessória. Temos algumas pistas que indicam que Jesus intercede pelos eleitos que ainda não o aceitaram, para que sejam trazidos a um estado de graça; por aqueles que já o aceitaram para que recebam perdão de seus pecados diários; pelos crentes para que sejam guardados das acusações e tentações de Satanás; pela santificação permanente dos cristãos; para que os serviços do povo de Deus sejam aceitos; e, também, para que possam entrar em sua herança perfeita nos céusbbb.

O sacrifício está consumado. A intercessão ainda permanece, mesmo nos céus. Entendendo oração por conversa com Deus, e intercessão por mediação, podemos dizer que hoje Jesus está continuamente conversando com Deus, interpondo-se como mediador a favor de todos os cristãos que vivem na Terra. O conteúdo principal de sua conversa com Deus, segundo as Escrituras, é a respeito do homem. Ele ainda não pode descansar deste ofício, pois seu Reino já está presente, porém ainda não é uma realidade completaccc.

Conclusão

Pensar que Jesus está orando continuamente em favor de todo aquele que nEle crê, que o tem por Salvador e único Senhor de sua vida, é algo que deve dar conforto e muito ânimo. Ele sempre ora em acordo com a vontade do Pai, de maneira que sua oração é sempre eficaz, sendo sempre atendida. Nas palavras de BERKHOF:

“É um consolo pensar que Cristo está orando por nós, mesmo quando somos negligentes em nossa vida de oração; que ele está apresentando ao Pai aquelas necessidades espirituais que não estavam presentes em nossa mente e que nós com frequência deixamos de incluir em nossas orações; e que ele ora por nossa proteção contra os perigos dos quais não temos nem sequer consciência, e contra

aaa op.cit. BERKHOF, pág.479 bbb idem BERKHOF, pág. 480 ccc op.cit. KEELEY, pág.61

Page 80: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

80

os inimigos que nos ameaçam, apesar de não os percebermos. Ele está orando para que nossa fé não se acabe e para que no final possamos chegar à vitória.”ddd

Ao mesmo tempo, Jesus nos deixou um exemplo a seguir. Toda a sua vida foi vivida de tal forma que pudéssemos, ou, pelo menos, tentássemos imitá-lo. O apóstolo Paulo desafiou seus discípulos e irmãos a serem seus imitadores, assim como ele era de Cristo. Isso inclui sua instrução de orar sem cessar, de apresentar diante de Deus todas as petições, deixando de lado toda a ansiedade. Assim, o modelo de vida de oração que Jesus praticou deve ser seguido por todo aquele que se diz seu discípulo. Se Jesus, que é o Cristo, orava continuamente para comunhão com o Pai, para buscar direção e poder em seu ministério, intercedendo por todo aquele que se tornou filho de Deus, quem somos nós para não imitá-lo?

Assim, temos na vida de oração de Jesus duas principais conclusões: (1) a segurança de alguém que está sempre intercedendo por nós; e (2) o exemplo prático e simples a ser seguido de uma vida de oração contínua na presença de Deus.

ddd BERKHOF, Luis. Systematic Theology, pág. 403. Apud op.cit. GRUDEM, pág. 527.

Page 81: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

81

Bibliografia ÁVILA, Teresa de. Vida de Oração: para quem deseja conhecer Deus na intimidade. Brasília: Palavra, 2007.

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática, Ed. T.E.L.L., 1974.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Candeia, 1997.

CHO, Paul Young; MANZANO, R. Whitney. Oração, a chave do avivamento. Curitiba: Betânia, 2019.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.

HOUSTON, James. Orar com Deus. São Paulo: Abba, 2003.

KEELEY, Robin. Fundamentos da Teologia. São Paulo: Vida, 2.000.

KELLER, Timothy. Oração: experimentando intimidade com Deus. São Paulo: Vida Nova, 2016.

LEWIS, C.S. Lendo os Salmos. Viçosa: Ultimato, 2015.

MARSTON, William M. As emoções das pessoas normais. São Paulo: Success for You, 2014.

MARTINEZ, Pablo. Oração, uma questão pessoal: como a personalidade afeta sua comunicação com Deus. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2014.

PETERSON, Eugene. A vocação espiritual do Pastor: redescobrindo o chamado ministerial. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

SHEETS, Dutch. Oração Intercessória. Belo Horizonte: Atos, 1999

SPRANGER, Eduard. Tipos de Pessoas. São Paulo: Success for You, 2016.

TOZER, A. W. Experimentando a presença de Deus: ensinamentos da carta aos Hebreus. Rio de Janeiro: Graça, 2015.

YANCEY, Philip. Oração: ela faz alguma diferença? São Paulo: Vida, 2007.

Page 82: Rodolfo Montosa Abril/2020 - IPILON · Em primeiro lugar, o pedido deve ser feito ao Pai (se pedirem ao Pai alguma coisa). A oração de Jesus sempre foi feita ao Pai. Quando ensinou

Redescobrindo a Oração

82

Bibliografia Digital: JAMIESON, Fausset, and Brown Commentary, Electronic Database. Copyright (c) 1997 by Biblesoft.

KEIL & DELITZSCH Commentary on the Old Testament: New Updated Edition, Electronic Database. Copyright (c) 1996 by Hendrickson Publishers, Inc.

MATTHEW HENRY'S Commentary on the Whole Bible: New Modern Edition, Electronic Database. Hendrickson Publishers, Inc., 1.991.

The Consolidated Webster Encyclopedic Dictionary. Chicago. Consolidated Book Publishers

The Consolidated Webster Encyclopedic Dictionary. Chicago. Consolidated Book Publishers, 1.954, p. 384

The Wycliffe Bible Commentary, Electronic Database. Copyright (c) 1962 by Moody