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CEI-ADVOCACIA PÚBLICA RODADA GRATUITA 27/02/2015 Página - 1 Prezado(a) aluno(a), é proibida a reprodução deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI possui um sistema de registro de dados que marca o material com o seu CPF ou nome de usuário. O descumprimento dessa orientação acarretará na sua exclusão do Curso. CEI-ADVOCACIA RODADA GRATUITA - 27/02/2015 PÚBLICA

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  • CEI-ADVOCACIA PBLICARODADA GRATUITA 27/02/2015

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    Prezado(a) aluno(a), proibida a reproduo deste material, ainda que sem fins lucrativos. O CEI possui um sistema de registro de dados que marca o material com o seu CPF ou nome de usurio. O descumprimento dessa orientao acarretar na sua excluso do Curso.

    CEI-ADVOCACIA

    RODADA GRATUITA - 27/02/2015

    PBLICA

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    CEI-ADVOCACIA PBLICARODADA GRATUITA 27/02/2015

    CORPO DOCENTE

    Carolina Blum Coordenadora do Curso e professora de direito econmico, financeiro e empresarial.Procuradora do Banco Central, lotada em Curitiba PR (aprovada em 10 lugar concurso 2013/2014). Graduada em Direito pela Universidade de Passo Fundo/RS. Ps graduando em Direito Empresarial. Aprovada tambm no concurso de Procurador Federal (2013/2014).

    Ana Carolina Andrade Carneiro Professora de direito penal e processo penal.Procuradora do Estado de Gois, lotada em Braslia. Ex-Defensora Pblica Federal (2010-2014), ex-Tcnica Administrativa do Ministrio Pblico da Unio (2007-2009). Bacharel em Direito pela Universidade de Braslia (prmio de aluno destaque). Autora do livro A iniciativa instrutora do juiz no processo penal e sua conformidade constitucional, pela editora conceito jurdico.

    Sadi Tolfo Junior Professor de direito constitucional e direito administrativo. Advogado da Unio, lotado em Braslia DF (concurso de 2012/2013). Especialista em Direito Pblico. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria/RS. Assistente da Coordenao-Geral de Assuntos Estratgicos da Consultoria Jurdica do Ministrio da Integrao Nacional.

    Camillo Piana Professor de direito processual civil e tributrio.Procurador da Fazenda Nacional, lotado em Canoas RS (concurso 2012/2013). Graduado em Direito pela Universidade de Passo Fundo/RS (2011/2012). Aprovado tambm nos concursos de Advogado da Caixa Econmica Federal (2012), Procurador e Assessor Jurdico do Municpio de Novo Hamburgo/RS (2012).

    Paulo Henrique Lopes de Lima Professor de direito ambiental.Advogado. Graduado em Direito pelo Centro Universitrio UNIEURO. Exerceu o cargo de Assessor de Procurador Regional da Repblica de 2008 a 2010. Ps graduando em Direito Ambiental. Aprovado nos concursos de Procurador Federal (2013/2014) e Procurador do Estado da Bahia (2013/2014).

    Vincius de Azevedo Fonseca Professor de direito internacional pblico e privado.Advogado da Unio, lotado na Procuradoria da Unio no Estado de Mato Grosso, onde atua no grupo de patrimnio pblico e probidade administrativa. Membro do Grupo Permanente de Atuao Proativa da Procuradoria-Geral da Unio. Integrante da Comisso Executiva da Escola da AGU no Estado de Mato Grosso. Bacharel em Direito pela Universidade de Caxias do Sul, com extenso universitria em Direito Internacional Pblico, Direito Internacional Privado e Direito Comunitrio pela Universidade de Coimbra. Aprovado nos concursos para Advogado da Unio 2012/2013 (3 lugar) e Procurador do Estado do Rio Grande do Sul 2011/2012 (8 lugar).

    Joo Eullio de Pdua Filho Professor de direito do trabalho, direito processual do trabalho e seguridade social.Advogado da Unio, lotado em Manaus (concurso 2012/2013). Foi Procurador do Estado de So Paulo (concurso 2012/2013). Graduado em Direito pela Universidade Federal do Piau. Ps-Graduado em Direito Pblico pela Universidade Federal do Piau, em convnio com a Escola Superior da Magistratura do Piau ESMEPI. Ps-Graduado em Direito Privado pela Universidade Federal do Piau, em convnio com a Escola Superior da Magistratura do Piau ESMEPI. Aprovado tambm nos concursos de Procurador do Estado do Piaui (2014/2015) e Procurador do Municpio de Teresina/PI (2010).

    Kherson Maciel Gomes Soares Professor de direito civil, agrrio e urbanstico.Advogado. Graduado em Direito pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Ps graduando em Direito Constitucional. Aprovado no concurso de Procurador do Estado de Rondnia.

    Mila Gouveia Hans Carvalho Professora de Jurisprudncia AplicadaGraduada em Direito pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Advogada, Professora, Coordenadora de Cursos Jurdicos, Ps-graduada em Direito Pblico, criadora do canal Mila Gouveia no Youtube. Autora de livros jurdicos pela Editora Juspodivm.

    COORDENAO DO CEI

    Caio Paiva Coordenador do Curso e professor de Processo Penal e Direitos Humanos Defensor Pblico Federal, especialista em cincias criminais, fundador do CEI, j foi professor dos cursos CEI-DPU, CEI-DPE/MG/RS e CEI-Jurisprudncia de Tribunais Internacionais de Direitos Humanos. Editor do site www.oprocesso.com

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    INSTRUES GERAIS

    Carolina Blum Coordenadora do CursoE-mail: [email protected]

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    SUMRIO

    QUESTES OBJETIVAS SEM O GABARITO COMENTADO...........................................................................5

    QUESTES OBJETIVAS COM O GABARITO COMENTADO..........................................................................9

    DIREITO ADMINISTRATIVO.........................................................................................................................9

    DIREITO CONSTITUCIONAL.......................................................................................................................14

    DIREITO AMBIENTAL...................................................................................................................................21

    DIREITO FINANCEIRO.................................................................................................................................25

    DIREITO ECONMICO................................................................................................................................27

    DIREITO TRIBUTRIO..................................................................................................................................28

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL.....................................................................................................................35

    DIREITO EMPRESARIAL..............................................................................................................................42

    DIREITO CIVIL...............................................................................................................................................44

    DIREITO INTERNACIONAL PBLICO.......................................................................................................47

    DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO......................................................................................................49

    DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL...........................................................................................................51

    DIREITO DO TRABALHO.............................................................................................................................53

    DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO...................................................................................................55

    DIREITO PENAL............................................................................................................................................57

    DIREITO PROCESSUAL PENAL..................................................................................................................62

    DIREITO AGRRIO.......................................................................................................................................65

    DIREITO URBANSTICO..............................................................................................................................68

    QUESTES DISSERTATIVAS..............................................................................................................................73

    DIREITO CONSTITUCIONAL......................................................................................................................73

    DIREITO FINANCEIRO.................................................................................................................................73

    PEA JUDICIAL...................................................................................................................................................75

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL.....................................................................................................................75

    JURISPRUDNCIA APLICADA...........................................................................................................................79

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    QUESTES OBJETIVAS SEM O GABARITO COMENTADO

    Treine os seus conhecimentos e depois, a frente, confira o seu desempenho lendo os comentrios dos professores sobre os enunciados.

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    1. A previso da criao de sociedade de propsito especfico para administrar parcerias pblico-privadas, e a criao de pessoa jurdica para gerenciar o contrato nos consrcios pblicos, constituem exemplos de personificao dos contratos administrativos.

    2. De acordo com a jurisprudncia do STF, por conta do princpio da vinculao ao instrumento convocatrio, as normas do edital que traduzam infringncia a qualquer diretriz do certame devem ser interpretadas em sua literalidade, ainda que constituam regras formais ensejadoras de vcios sanveis.

    DIREITO CONSTITUCIONAL

    3. Para efeito de reconhecimento como terra indgena, deve-se adotar como marco temporal de ocupao da terra pelos ndios a data da promulgao da Constituio, em 5 de outubro de 1988, afastando-se do conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios aquelas que eram possudas pelos nativos no passado remoto, ainda que configurada a situao de esbulho renitente por no ndios.

    4. Segundo a jurisprudncia do STF, no configura violao ao princpio da separao dos poderes a interveno do Poder Judicirio a fim de que seja implementada poltica pblica de acesso a cadeirantes em escola pblica, quando comprovada a prestao deficiente pela Administrao.

    DIREITO AMBIENTAL

    5. De acordo com a Lei 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao, indispensvel a existncia nas unidades de conservao de uso sustentvel de uma zona de amortecimento.

    6. Diante da especial proteo conferida s populaes indgenas, a Constituio Federal de 1988 no contempla a possibilidade de lavra de recursos minerais e da explorao de recursos hdricos em terras tradicionalmente ocupadas por ndios.

    DIREITO FINANCEIRO

    7. No tocante Lei Oramentria Anual, a Constituio Federal positivou o princpio da exclusividade, no intuito de evitar os chamados oramentos rabilongos.

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    DIREITO ECONMICO

    8. O Estado Liberal, forma de posicionamento econmico do Estado fortemente influenciada pelas lies de John Maynard Keynes, caracteriza-se pela adoo de uma poltica econmica planificada, baseada na valorizao do coletivo sobre o individual.

    DIREITO TRIBUTRIO

    9. A confisso de dvida fiscal por meio de pedido de parcelamento, por caracterizar ato voluntrio e inequvoco que importa em reconhecimento do dbito pelo devedor, autoriza a constituio do crdito tributrio ainda que expirado o respectivo prazo decadencial ou prescricional.

    10. Desde que existente prvia autorizao em convnio interestadual, admite-se a concesso, por lei estadual, de iseno tributria de ICMS relativamente a veculos adquiridos por Oficiais de Justia do respectivo estado-membro.

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    11. Na execuo de ttulo extrajudicial, tem se admitido que, diante da no localizao do executado, seja determinado o arresto executivo de seus bens por meio eletrnico, atravs do sistema Bacenjud.

    12. Em regra, sujeitam-se ao reexame necessrio as decises interlocutrias proferidas contra a Fazenda Pblica, bem como as sentenas terminativas nas demandas por esta propostas.

    DIREITO EMPRESARIAL

    13. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exerccio da empresa, por empresrio, ou por sociedade empresria. So exemplos consolidados na doutrina de bens integrantes do estabelecimento empresarial a clientela e o aviamento.

    DIREITO CIVIL

    14. A ocupao de bem pblico, quando irregular, no gera direito a indenizao pelas acesses feitas, tampouco direito reteno pelas benfeitorias realizadas, salvo se constatada a boa f do ocupante ou omisso na fiscalizao por parte do Poder Pblico.

    DIREITO INTERNACIONAL PBLICO

    15. O direito que os Estados tm de formular reservas a certas disposies de tratados internacionais no absoluto, encontrando limite em trs hipteses: 1) quando o prprio tratado expressamente veda a aposio de reservas ao seu texto; 2) quando o tratado prev que somente

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    determinadas reservas podem ser formuladas, como o caso do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional; e 3) quando a reserva for incompatvel com o objeto e a finalidade do tratado.

    DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

    16. A Organizao Internacional de Polcia Criminal (Interpol), como medida prvia e cautelar a processo de extradio e desde que comprove a existncia de ordem de priso proferida por outro Estado, possui legitimidade para apresentar pedido de priso cautelar de cidado estrangeiro ao Ministrio da Justia brasileiro, sendo competncia do Supremo Tribunal Federal o julgamento de tal pedido.

    DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL

    17. Segundo a Constituio Federal, a Seguridade Social possui carter contributivo, assim, seus

    destinatrios somente tero direito aos seus benefcios caso haja o pagamento de contribuies especficas.

    DIREITO DO TRABALHO

    18. No basta a constatao da insalubridade por meio de laudo pericial para que o empregado tenha direito ao respectivo adicional, sendo necessria a classificao da atividade insalubre na relao oficial elaborada pelo Ministrio do Trabalho.

    DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

    19. imprescindvel a participao do advogado do reclamado nas audincias de instruo e julgamento realizadas na Justia do Trabalho sob pena de decretao de revelia.

    DIREITO PENAL

    20. Para a caracterizao do crime de descaminho, necessria a constituio definitiva do crdito tributrio, tal como sucede com os crimes de sonegao fiscal propriamente ditos, previstos na L. 8.137/90.

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    21. Embora o juzo de tipicidade caiba acusao na condio de titular da ao penal, dado ao juiz, mesmo antes da sentena, adequar a capitulao legal do crime aos fatos narrados, de forma a viabilizar o exerccio de direitos pelo ru considerados de ordem pblica. Dessa forma, dado ao juiz, logo aps o juzo de admissibilidade, promover a desclassificao do crime, se vislumbrar que, nessa hiptese, o acusado poder ser beneficiado com sursis processual.

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    DIREITO AGRRIO

    22. imprescindvel a notificao do arrendatrio, no caso de alienao do imvel objeto de arrendamento rural a terceiros, tendo em vista seu direito de preferncia. O melhor norte para definio do preo a ser depositado pelo arrendatrio aquele consignado na escritura pblica de compra e venda registrada no cartrio de registro de imveis, ainda que inferior ao do contrato firmado entre o arrendador e o terceiro.

    DIREITO URBANSTICO

    23. O Estatuto da Metrpole estabelece diretrizes gerais para o planejamento, a gesto e a execuo das funes pblicas de interesse comum em regies metropolitanas e em aglomeraes urbanas institudas pelos Estados, normas gerais sobre o plano de desenvolvimento urbano integrado e outros instrumentos de governana interfederativa, e critrios para o apoio da Unio a aes que envolvam governana interfederativa no campo do desenvolvimento urbano.

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    QUESTES OBJETIVAS COM O GABARITO COMENTADO

    PROFESSOR: SADI TOLFO JUNIOR

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    1. A previso da criao de sociedade de propsito especfico para administrar parcerias pblico-privadas, e a criao de pessoa jurdica para gerenciar o contrato nos consrcios pblicos, constituem exemplos de personificao dos contratos administrativos.

    COMENTRIO

    muito comum que nas provas de concursos pblicos as bancas examinadoras tragam expresses que, a despeito de se referirem a temas habitualmente conhecidos, causam alguma confuso pela nomenclatura ou expresso conceitual adotada. Por isso, importante estar atento s novidades conceituais trazidas

    pela doutrina e jurisprudncia para evitar qualquer surpresa durante a prova.

    Uma expresso que pode gerar dvida a personificao dos contratos administrativos. Essa questo poderia muito bem aparecer tambm numa prova de segunda fase, ou at mesmo numa prova oral. Nesse caso, se voc jamais viu, ouviu, ou sequer ouviu falar do instituto, o que fazer?

    Bom, no h motivos para maiores preocupaes quando a essa expresso. muito provvel que voc j tenha tido contato com esse instituto, porm sem conhecer essa nomenclatura.

    A personificao dos contratos administrativos reflete inovao trazida na legislao administrativa com o surgimento de pessoas jurdicas especialmente criadas para gerenciar contratos administrativos. Por isso a ideia de personificao do contrato.

    A criao de sociedade de propsito especfico para administrar parcerias pblico-privadas um exemplo de personificao dos contratos administrativos. De acordo com o art. 9 da Lei 11.079/2004, antes da celebrao do contrato dever ser constituda sociedade de propsito especfico, incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria.

    Outro exemplo de personificao o consrcio pblico. Trata-se de pessoa jurdica formada exclusivamente por entes da Federao para estabelecer relaes de cooperao federativa, inclusive a realizao de objetivos de interesse comum, constituda como associao pblica, com personalidade jurdica de direito pblico e natureza autrquica, ou como pessoa jurdica de direito privado sem fins econmicos, na forma que dispe o art. 6 da Lei 11.107/2005:

    Art. 6o O consrcio pblico adquirir personalidade jurdica:

    I de direito pblico, no caso de constituir associao pblica, mediante a vigncia das leis de ratificao do protocolo de intenes;

    II de direito privado, mediante o atendimento dos requisitos da legislao civil.

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    Com a criao de pessoa jurdica especialmente para gerir e administrar o contrato administrativo, centraliza-se nesta pessoa jurdica os direitos e obrigaes contratuais, amenizando a responsabilidade dos contratantes.

    Isso, alis, o que enfatizou Maral Justen Filho, em parecer versando sobre a proposta legislativa de criao de consrcio pblico (disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_72/pareceres/consorcio_MarcalJustenFilho.pdf ):

    VI.1 A personificao do consrcio pblico e seus efeitos

    32. a figura do consrcio pblico personificado propicia o surgimento de sujeitos a quem sero investidas, de modo permanente e contnuo, a execuo de tarefas de competncia prpria dos entes federados.

    Por ser dotado de personalidade autnoma, esse ente estatal poder praticar atos em nome prprio, ser titular de um patrimnio especfico e participar diretamente de relaes jurdicas.

    33. O ponto diferencial entre o consrcio pblico e um convnio residir na dissociao entre a gesto da atividade e um dos sujeitos participantes do convnio o que exige melhor esclarecimento para evitar equvoco.

    33.1. Como exposto, o convnio propicia a atribuio de bens, recursos e pessoal de um ente federado para gesto por outro, em nome prprio. Situao similar se passa na hiptese de delegao.

    33.2. No caso de consrcio pblico, o fenmeno parcialmente similar. A diferena residir em que o sujeito investido na gesto, dos bens, dos recursos ser titular de personalidade jurdica prpria. Portanto, a delegao no se far em favor de um outro ente federado propriamente dito, mas em prol de uma entidade cuja gesto se far e conjunto entre os diversos entes federados.

    (grifos)

    Sendo assim, de acordo com o que foi visto acima, o item deve ser considerado CERTO.

    GABARITO: CERTO

    2. De acordo com a jurisprudncia do STF, por conta do princpio da vinculao ao instrumento convocatrio, as normas do edital que traduzam infringncia a qualquer diretriz do certame devem ser interpretadas em sua literalidade, ainda que constituam regras formais ensejadoras de vcios sanveis.

    COMENTRIO

    Jos dos Santos Carvalho Filho, ao dispor acerca do princpio da vinculao ao instrumento convocatrio, expe que:

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    A vinculao ao instrumento convocatrio garantia do administrador e dos administrados. Significa que as regras traadas para o procedimento devem ser fielmente observadas por todos. Se a regra fixada no respeitada, o processo se torna invlido e suscetvel de correo na via administrativa ou judicial.

    O princpio da vinculao tem extrema importncia. Por ele, evita-se a alterao de critrios de julgamento, alm de dar a certeza aos interessados do que pretende a Administrao. E se evita, finalmente, qualquer brecha que provoque violao moralidade administrativa, impessoalidade e probidade administrativa.

    Se o instrumento de convocao, normalmente o edital, tiver falha, pode ser corrigido, desde que ainda oportunamente, mas os licitantes devero ter conhecimento da alterao e a possibilidade de se amoldarem a ela.

    Vedado Administrao e aos licitantes o descumprimento das regras de convocao, deixando de considerar o que nele se exige, como, por exemplo, a dispensa de documento ou a fixao de preo fora dos limites estabelecidos. Em tais hipteses, deve dar-se a desclassificao do licitante, como, de resto, impe o art. 48, I, do Estatuto.

    (CARVALHO FILHO, Jos dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27 ed. So Paulo, Atlas, 2014. Pg 248).

    Seguindo essa diretriz, a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia j exteriorizou em diversas passagens a aplicao do referido princpio. Nesse sentido, observem os julgados abaixo colacionados:

    RECURSO ESPECIAL. LICITAO. LEILO. EDITAL. PRINCPIO DA VINCULAO DO INSTRUMENTO CONVOCATRIO. EDITAL FAZ LEI ENTRE AS PARTES.

    - O Princpio da Vinculao ao Instrumento Convocatrio se traduz na regra de que o edital faz lei entre as partes, devendo os seus termos serem observados at o final do certame, vez que vinculam as partes.

    (REsp 354.977/SC, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/11/2003, DJ 09/12/2003, p. 213)

    RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA. PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. AUSNCIA DE OPOSIO DE EMBARGOS DECLARATRIOS NA ORIGEM. LICITAO. DESCLASSIFICAO DA PROPOSTA. APRESENTAO DE CRONOGRAMA FSICO-FINANCEIRO SEM AS EXIGNCIAS PREVISTAS NO EDITAL. AFASTADA A NULIDADE DA PROPOSTA APRESENTADA PELA LICITANTE VENCEDORA.

    1. Diante de omisso ou obscuridade do acrdo, quanto sua estrutura, competiria ao recorrente opor embargos de declarao, a fim de esclarec-las, e no recurso

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    ordinrio (RMS 17.104/RJ, Rel. Min. Castro Meira, DJ 17.05.2004).

    2. A Administrao no pode descumprir as normas e condies do edital, ao qual se acha estritamente vinculada (Lei n. 8.666/93, art. 41). In casu, a recorrente deixou de atender a requisito previsto no edital, em clara ofensa ao princpio da vinculao ao instrumento convocatrio (art. 2 da Lei de Licitaes).

    4. No que concerne alegada necessidade de desclassificao da licitante vencedora, tampouco merece prosperar o recurso, diante da ausncia de nulidade de sua proposta, consoante esclarecido na Ata da Reunio de Julgamento das Propostas Financeiras.

    5. Recurso ordinrio no-provido.

    (RMS 15.190/RS, Rel. Ministro JOO OTVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/02/2006, DJ 20/03/2006, p. 222)

    (grifos)

    Pelo princpio da vinculao ao instrumento convocatrio, portanto, vedam-se violaes as regras editalcias, ficando a Administrao vinculada s normas e condies originalmente estabelecidas no edital, o qual faz lei entre as partes. Por ele, garante-se que as regras previstas no certame sero observadas por todos os participantes.

    Neste cenrio, a infringncia de uma diretriz da licitao, consagrada em norma prevista no edital, em tese, vai de encontro ao princpio acima telado, tornando a afirmao do enunciado correta.

    Entretanto, seguindo as regras de hermenutica, a aplicao de um princpio no pode ser tomada de forma absoluta, podendo ceder em face de outro princpio, a depender dos valores colocados em tela.

    o que ocorre, por exemplo, quando o interesse pblico, em cotejo ao princpio da vinculao ao

    instrumento convocatrio, requer que seja dada interpretao diferente da simples literalidade de uma clusula do edital.

    Nesse sentido, destaco o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:

    Se de fato o edital a lei interna da licitao, deve-se abord-lo frente ao caso concreto tal qual toda norma emanada do Poder Legislativo, interpretando-o luz do bom senso e da razoabilidade, a fim de que seja alcanado seu objetivo, nunca se esgotando na literalidade de suas prescries. Assim, a vinculao ao instrumento editalcio deve ser entendida sempre de forma a assegurar o atendimento do interesse pblico, repudiando-se que se sobreponham formalismos desarrazoados. No fosse dessa forma, no seriam admitidos nem mesmo os vcios sanveis, os quais, em algum ponto, sempre traduzem

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    infringncia a alguma diretriz estabelecida pelo instrumento editalcio.

    (STF, ROMS n 23.714-1/DF, Rel. Min. Seplveda Pertence, DJ de 13.10.2000.)

    Segundo entendeu o STF, numa ponderao de princpios, pode a vinculao ao instrumento convocatrio ceder em face de algum outro princpio de igual valor, sob pena de se tolher qualquer eventual interpretao do edital, mesmo aquela que se mostrar mais favorvel ao interesse pblico.

    Assim, se houver violao a regra eminentemente formal do certame, que constitua vcio sanvel, por exemplo, que no configure agresso a qualquer outro princpio licitatrio (como o da isonomia entre os licitantes, ou seleo da proposta mais vantajosa, por exemplo), e consista na melhor forma de atingir o interesse pblico, entende a jurisprudncia do STF que nesse caso o edital deve ser interpretado luz do bom senso e da razoabilidade, a fim de que seja alcanado seu objetivo, nunca se esgotando na literalidade de suas prescries.

    Seguindo esse entendimento o CESPE considerou errada, por exemplo, a seguinte assertiva no concurso do TRT da 21 Regio:

    Pelo princpio da vinculao ao instrumento convocatrio, tanto a administrao quanto os licitantes esto subordinados s regras do edital ou da carta-convite, razo pela qual a lei veda, em carter absoluto, modificao no instrumento convocatrio.

    Nesse contexto, o enunciado da questo posta anlise, quando afirma que as normas do edital que traduzam infringncia a qualquer diretriz do certame devem ser interpretadas em sua literalidade, ainda que constituam regras formais ensejadoras de vcios sanveis, tornam o item ERRADO.

    Para melhor exemplificar essa questo, imaginem, por exemplo, norma do edital de licitao que disponha

    que os preos dos itens unitrios devem ser preenchidos em planilha fornecida pelo rgo pblico por extenso, e a licitante acabe completando a planilha com os algarismos numricos correspondentes. Imaginem agora que essa licitante acabe apresentando a melhor proposta (muito mais vantajosa Administrao se comparada a da segunda colocada), sagrando-se vencedora do certame. razovel que ela venha a ser desclassificada posteriormente por descumprimento ao edital no caso de eventual impugnao? Estaria o interesse pblico sendo atingido se interpretada a norma do edital literalmente, desclassificando a licitante? Certamente que no.

    Tenham em mente que esse curso visa prepar-los para os concursos de advocacia pbica. Portanto, durante nossa preparao buscaremos orient-los para que, ao fim do curso, consigam responder aos questionamentos formulados pela banca examinadora com os olhos de advogado pblico, sempre buscando o interesse pblico primrio perseguido pela Administrao.

    GABARITO: ERRADO

    PROFESSOR: SADI TOLFO JUNIOR

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    DIREITO CONSTITUCIONAL

    3. Para efeito de reconhecimento como terra indgena, deve-se adotar como marco temporal de ocupao da terra pelos ndios a data da promulgao da Constituio, em 5 de outubro de 1988, afastando-se do conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios aquelas que eram possudas pelos nativos no passado remoto, ainda que configurada a situao de esbulho renitente por no ndios.

    COMENTRIO

    A Constituio Federal, no art. 231, 1, traz o conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios, nos seguintes termos:

    Art. 231. 1 - So terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios as por eles habitadas em carter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindveis preservao dos recursos ambientais necessrios a seu bem-estar e as necessrias a sua reproduo fsica e cultural, segundo seus usos, costumes e tradies.

    Compulsando a jurisprudncia do STF, observa-se que o conceito de terras indgenas resultado da conjugao de dois marcos definidos: um temporal, e outro da tradicionalidade da ocupao. Vejamos cada um deles.

    Com relao ao primeiro, por ocasio do julgamento do caso Raposa do Sol - Pet 3.388 (Rel. Min. CARLOS BRITTO, DJe de 1/7/2010), o Plenrio do STF assentou que o art. 231, 1, da CF/88 estabeleceu,

    como marco temporal para reconhecimento demarcao como de natureza indgena de terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios, a data da promulgao da Carta Constitucional, ou seja, 5 de outubro de 1988.

    Sendo assim, esto excludas do conceito de terras indgenas aquelas ocupadas por eles no passado, ou as que venham a ser ocupadas no futuro. Nesse sentido, segue abaixo trecho do voto mencionado:

    I o marco temporal da ocupao. Aqui, preciso ver que a nossa Lei Maior trabalhou com data certa: a data da promulgao dela prpria (5 de outubro de 1988) como insubstituvel referencial para o reconhecimento, aos ndios, dos direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Terras que tradicionalmente ocupam, atente-se, e no aquelas que venham a ocupar. Tampouco as terras j ocupadas em outras pocas, mas sem continuidade suficiente para alcanar o marco objetivo do dia 5 de outubro de 1988. Marco objetivo que reflete o decidido propsito constitucional de colocar uma p de cal nas interminveis discusses sobre qualquer outra referncia temporal de ocupao de rea indgena. Mesmo que essa referncia estivesse grafada na Constituio anterior. exprimir: a data de verificao do fato em si da ocupao fundiria o dia 5 de outubro de 1988, e nenhum outro. Com o que se evita, a um

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    s tempo: a) a fraude da subitnea proliferao de aldeias, inclusive mediante o recrutamento de ndios de outras regies do Brasil, quando no de outros pases vizinhos, sob o nico propsito de artificializar a expanso dos lindes da demarcao; b) a violncia da expulso de ndios para descaracterizar a tradicionalidade da posse das suas terras, data da vigente Constituio. Numa palavra, o entrar em vigor da nova Lei Fundamental Brasileira a chapa radiogrfica da questo indgena nesse delicado tema da ocupao das terras a demarcar pela Unio para a posse permanente e usufruto exclusivo dessa ou daquela etnia aborgine. ()

    Na mesma linha do voto citado a redao da smula n 650 do STF:

    Smula 650

    Os incisos I e XI do art. 20 da Constituio Federal no alcanam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indgenas em passado remoto.

    No que atine ao segundo marco, nos autos do RMS n 29.087, o Ministro Gilmar Mendes enfatizou que em complemento ao marco temporal (segundo o qual s so consideradas terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios aquelas ocupadas quando da promulgao da Constituio Federal de 1988), h o marco da tradicionalidade da ocupao. Acerca deste conceito, segue excerto do voto do Ministro abaixo colacionado:

    No basta que a ocupao fundiria seja coincidente com o dia e o ano da promulgao, preciso haver um tipo qualificadamente tradicional de perdurabilidade da ocupao indgena, no sentido entre anmico e psquico de que viver em determinadas terras tanto pertencer a elas quanto elas pertencerem a eles, os ndios. (voto Min. Ayres Britto, Pet. 3.388). Nota-se, com isso, que o segundo marco complementar ao primeiro. Apenas se a terra estiver sendo ocupada por ndios na data da promulgao da Constituio Federal que se verifica a segunda questo, ou seja, a efetiva relao dos ndios com a terra que ocupam. Ao contrrio, se os ndios no estiverem ocupando as terras em 5 de outubro de 1988, no necessrio aferir-se o segundo marco.

    Vistos os dois marcos, observa-se que a redao do enunciado afirma, num primeiro momento, que para efeito de reconhecimento como terra indgena, deve-se adotar como marco temporal de ocupao da terra pelos ndios a data da promulgao da Constituio, em 5 de outubro de 1988, afastando-se do conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios aquelas que eram possudas pelos nativos no passado remoto.

    Logo se nota que o enunciado est de acordo com o marco temporal definido pelo STF e descrito nos comentrios acima. Assim, primeira vista, no se observa qualquer erro na questo.

    Entretanto, ao afirmar que ainda que configurada a situao de esbulho renitente por no ndios permanecer a terra afastada do conceito de terras indgenas, a questo deve ser considerada errada.

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    Para melhor entendermos esse erro devemos analisar o conceito de esbulho renitente.

    Configura esbulho renitente aquelas situaes em que h um efetivo conflito possessrio, materializado por circunstncias de fato ou por controvrsia possessria judicializada que, mesmo iniciado no passado, ainda persista at o marco temporal para configurao da terra como indgena, vale dizer, a data da promulgao da Constituio de 1988 (por isso renitente, no sentido de contumaz, insistente, persistente...). Assim, se quando da promulgao da Constituio a terra no era ocupada pelos ndios porque haviam sido expulsos, em meio a um conflito possessrio, configurando um esbulho, a terra ser considerada indgena para os fins do art. 231, 1, da CF/1988.

    Ou seja, ainda que na data da promulgao da Constituio Federal de 1988 (marco temporal para caracterizao da terra como indgena, conforme decidiu o STF nos termos j explicados) a terra no seja ocupada pelos ndios, possvel que ela seja reconhecida como terra indgena se configurada uma situao de esbulho renitente. Isso foi o que decidiu o STF no ARE n 803.462 AGR recentemente julgado.

    Tenham em mente que para configurao do esbulho renitente indispensvel que o conflito possessrio, mesmo que iniciado antes da promulgao da Constituio Federal de 1988, persista quando do advento deste marco temporal. Vale dizer, no configuram esbulho renitente ocupaes da terra passadas ou desocupaes foradas ocorridas no passado.

    Sintetizando o que foi visto temos o seguinte quadro:

    a) Qual a regra acerca do conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios?

    S podem ser consideradas terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios se configurados os dois marcos definidos pela jurisprudncia do STF, quais sejam: o marco temporal (segundo o qual s so

    consideradas terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios aquelas ocupadas quando da promulgao da Constituio Federal de 1988) e o marco da tradicionalidade (segundo o qual deve haver efetiva relao dos ndios com a terra ocupada).

    b) Existe exceo a esta regra?

    Sim. Ainda que na data da promulgao da Constituio Federal de 1988 (marco temporal) a terra no seja ocupada pelos ndios, possvel que ela seja reconhecida como terra indgena se configurada uma situao de esbulho renitente.

    c) Qualquer conflito possessrio iniciado antes da promulgao da Constituio Federal de 1988 (marco temporal) configura esbulho renitente?

    No. Para que se configure o esbulho renitente indispensvel que o conflito possessrio, mesmo que

    iniciado antes da promulgao da Constituio Federal de 1988, persista quando do advento deste marco temporal. Ou seja, no configuram esbulho renitente ocupaes da terra passadas ou desocupaes foradas ocorridas no passado.

    Sendo assim, por todos os motivos vistos, o item deve ser considerado ERRADO.

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    GABARITO: ERRADO

    4. Segundo a jurisprudncia do STF, no configura violao ao princpio da separao dos poderes a interveno do Poder Judicirio a fim de que seja implementada poltica pblica de acesso a cadeirantes em escola pblica, quando comprovada a prestao deficiente pela Administrao.

    COMENTRIO

    O tema abordado no enunciado foi objeto de enfrentamento pelo STF nos autos do RE n 440.028. Na ocasio, o Ministrio Pblico do Estado de So Paulo havia ajuizado Ao Civil Pblica contra o Governo do Estado a fim de compeli-lo a promover as adaptaes necessrias em escola pblica para possibilitar o acesso de cadeirantes.

    Salientando o carter dirigente da Constituio Federal de 1988, o Tribunal traou no julgamento trs requisitos indispensveis para viabilizar a incurso judicial no campo das polticas pblicas, a saber:

    a) natureza constitucional da poltica pblica reclamada;

    b) existncia de correlao entre ela e os direitos fundamentais;

    c) prova de que h omisso ou prestao deficiente pela Administrao Pblica, inexistindo justificativa razovel para tal comportamento.

    No que atine aos dois primeiros requisitos, extrai-se dos artigos 227, 2; e 244, da Constituio, a natureza constitucional da poltica pblica reclamada no caso posto no enunciado (acessibilidade adequada aos portadores de necessidades especiais aos prdios pblicos):

    Art. 227. 2 - A lei dispor sobre normas de construo dos logradouros e dos edifcios de uso pblico e de fabricao de veculos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado s pessoas portadoras de deficincia.

    Art. 244. A lei dispor sobre a adaptao dos logradouros, dos edifcios de uso pblico e dos veculos de transporte coletivo atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado s pessoas portadoras de deficincia, conforme o disposto no art. 227, 2.

    Nesse mesmo sentido o art. 9, I, a, da Conveno de Nova York, que dispe sobre os direitos das pessoas com deficincia, aprovada pelo Decreto Legislativo n 186/2008 e promulgada pelo Decreto n 6.949/2009, incorporando-se ao ordenamento jurdico com status de emenda constitucional (pois preenche os requisitos previstos no art. 5, 3, da CF):

    Artigo 9

    Acessibilidade

    1. A fim de possibilitar s pessoas com deficincia viver de forma independente e

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    participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomaro as medidas apropriadas para assegurar s pessoas com deficincia o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio fsico, ao transporte, informao e comunicao, inclusive aos sistemas e tecnologias da informao e comunicao, bem como a outros servios e instalaes abertos ao pblico ou de uso pblico, tanto na zona urbana como na rural. Essas medidas, que incluiro a identificao e a eliminao de obstculos e barreiras acessibilidade, sero aplicadas, entre outros, a:

    a) Edifcios, rodovias, meios de transporte e outras instalaes internas e externas, inclusive escolas, residncias, instalaes mdicas e local de trabalho;

    Ressaltou o STF que a ausncia da lei a que alude os dispositivos colacionados no remove a eficcia dos preceitos. Isso porque, a dignidade da pessoa humana e a busca de uma sociedade justa e solidria

    constituem fundamento e objetivo da Repblica Federativa do Brasil (artigos 1, inciso III, e 3, inciso I). Alm disso, o art. 5, 1 e 2, estabelecem que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata, e os direitos e garantias expressos na Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte. Ademais, a despeito da ausncia de lei, o art. 5, XXXV, da CF, impede que o Judicirio deixe de apreciar qualquer leso ou a ameaa a direito.

    Do arcabouo normativo citado, extraiu o STF a existncia de direito pblico subjetivo de adequao dos edifcios pblicos a fim de possibilitar a locomoo dos portadores de necessidades especiais. Com relao s escolas pblicas, mais especificamente, o direito de acesso e permanncia na escola em igualdade de condies assegurado pelos artigos 205 e 206 da Constituio. Nesse contexto, qualquer barreira fsica que impea a acessibilidade de cadeirantes ao local os coloca em situao de desvantagem em relao aos demais cidados, em confronto ao mandamento constitucional.

    No plano infraconstitucional, o art. 2, pargrafo nico, I, e, da Lei n 7.853/1989, que dispe sobre o apoio s pessoas portadoras de deficincia, garante o exerccio dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de necessidades especiais, com a efetiva integrao social, nos seguintes termos:

    Art. 2 Ao Poder Pblico e seus rgos cabe assegurar s pessoas portadoras de deficincia o pleno exerccio de seus direitos bsicos, inclusive dos direitos educao, sade, ao trabalho, ao lazer, previdncia social, ao amparo infncia e maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituio e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econmico.

    Pargrafo nico. Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os rgos e entidades da administrao direta e indireta devem dispensar, no mbito de sua competncia e finalidade, aos assuntos objetos esta Lei, tratamento prioritrio e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuzo de outras, as seguintes medidas:

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    I - na rea da educao:

    (...)

    e) o acesso de alunos portadores de deficincia aos benefcios conferidos aos demais educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo;

    Por fim, quanto ao terceiro requisito, ressaltou o tribunal que a omisso ou prestao deficiente pela Administrao Pblica, inexistindo justificativa razovel para tal, autoriza a interveno do judicirio na implementao da poltica pblica. No caso especfico de acesso aos cadeirantes em escolas pblicas, por exemplo, ressaltou que nem mesmo a ausncia de portadores de necessidades especiais matriculados na escola pode ser arguida como justificativa para omisso, visto que referida ausncia pode ser o prprio motivo de no haver estudantes cadeirantes matriculados.

    Ressaltou que mesmo preenchidos os requisitos definidos pelo STF no julgado citado, a interveno judicial em polticas pblicas deve se dar da forma menos gravosa possvel, de forma a garantir o mnimo existencial. Nesse sentido se manifestou o STF:

    Em deferncia ao princpio da separao de Poderes, que funciona no apenas como uma tcnica de conteno do arbtrio, consoante sustentou o Baro de Montesquieu na clssica obra O Esprito das Leis, mas tambm como instrumento de racionalizao e eficincia no exerccio das funes pblicas, mostra-se indispensvel reconhecer que a interveno judicial em polticas pblicas deve ser realizada pelo meio menos gravoso possvel. Explico. Em regra, princpios constitucionais obrigam a Administrao Pblica a colocar em prtica uma poltica pblica abrangente que esteja voltada concretizao deles, sem, contudo, especificar qual . No se encontrando o Poder Judicirio aparelhado a tomar decises quanto eficcia das inmeras polticas disponveis para concretiz-los, h de reconhecer a prerrogativa do administrador em selecion-las. Essa situao, contudo, revela-se diferente se esto em causa prestaes relacionadas ao mnimo existencial ou obrigaes que, por fora dos prprios enunciados adotados pela Constituio e leis aplicveis, restringem as opes da Administrao, exatamente o que ocorre na situao em anlise, pelos motivos j veiculados. A doutrina chama a ateno para o fato, muitas vezes despercebido, de ser despiciendo evocar princpios constitucionais como separao de Poderes ou democracia quando o direito prestao positiva vem expressamente estampado na legislao ordinria. a situao que Ingo Wolfgang Sarlet denominou direitos derivados a prestaes (A eficcia dos direitos fundamentais, 2005, p. 302). Como afirmado, o direito buscado neste processo decorre diretamente dos princpios e regras constitucionais, o que , at mesmo, requisito para o acesso ao Supremo na afunilada via do recurso extraordinrio. Ainda que assim no fosse, h lei a dar respaldo pretenso inicial.

    Atentem para o tema abordado na questo, pois constantemente ele objeto de questionamento

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    em provas de concurso pblico. Recentemente, foi considerado errado o seguinte item da prova para Defensor Pblico do Estado do Pernambuco, aplicada neste ano:

    De acordo com o entendimento do STF, inadmissvel que o Poder Judicirio disponha sobre polticas pblicas de segurana, mesmo em caso de persistente omisso do Estado, haja vista a indevida ingerncia em questo, que envolve a discricionariedade do Poder Executivo.

    A possibilidade de interveno judicial em polticas pblicas j foi objeto de anlise pelo STF em outros julgados, conforme se pode extrair dos seguintes precedentes: AI n 708.667-AgR; AI n 835.956-AgR; AI n 809.018; RE n 634.643-AgR; e RE n 628.159-AgR.

    Sendo assim, considerando todos os argumentos colocados acima, o item deve ser considerado CERTO.

    Concluda a anlise da questo proposta, vimos que possvel a interveno judicial em polticas pblicas, como o prprio STF admitiu nos precedentes citados. Nada obstante, o foco do nosso curso a preparao para concursos de advocacia pblica, atividade na qual, na maior parte dos casos, estamos do outro lado do front, tendo de defender a poltica pblica questionada.

    Por conta disso, trago abaixo alguns argumentos que podem servir de grande valia numa prova de advocacia pblica, principalmente em eventual segunda ou terceira fase do concurso, quando demandados a questionar a interveno judicial em determinada poltica pblica.

    Um destes argumentos consiste em sustentar que alguns direitos sociais esto consagrados em normas de eficcia negativa, e, portanto, possuem est espcie de eficcia (negativa), sendo inaptos a gerar direitos subjetivos.

    Outro argumento consiste em sustentar que a interveno judicial seria antidemocrtica e violaria a separao dos poderes. Isso porque, grande parte dos direitos sociais esto consagrados na Constituio de forma genrica. aquilo que a doutrina costuma chamar de Textura Aberta (ou Open Texture). Isso permite ao poder pblico, dentro da competncia que lhe foi constitucionalmente atribuda, escolher a forma e o momento mais adequado para a sua concretizao, cotejando as prioridades a serem atendidas na persecuo do interesse pblico. Ao exercer essa atribuio, o Judicirio estaria sendo antidemocrtico e violando a separao dos poderes, visto que no foi constitucionalmente escolhido para esse fim.

    Por fim, outro argumento a ser sustentado, e que no pode deixar de ser arguido em eventual caso concreto sobre interveno judicial em polticas pblicas que lhes forem colocados apreciao, envolve a teoria da reserva do possvel.

    De acordo com a teoria, na implementao de polticas pblicas s se pode exigir do Estado aquilo que razoavelmente possvel a ele executar. Nesse cenrio, a prestao exigida deve ser analisada sob o crivo de trs dimenses diferentes:

    1) Possibilidade ftica: Deve-se analisar a disponibilidade de recursos necessrios satisfao dos direitos prestacionais. Por esta dimenso, a pretenso universalizada, no somente em face da

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    pessoa demandante, mas de todas as demais que estiverem na mesma situao.

    2) Possibilidade jurdica: Deve-se analisar a existncia de autorizao oramentria para cobrir as despesas, assim como as competncias federativas para o cumprimento da prestao demandada.

    3) Razoabilidade da exigncia e proporcionalidade da prestao: Deve ser analisado se razovel ou no exigir do Estado aquele tipo de prestao.

    GABARITO: CERTO

    PROFESSOR: PAULO HENRIQUE LOPES DE LIMA

    DIREITO AMBIENTAL

    5. De acordo com a Lei 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao, indispensvel a existncia nas unidades de conservao de uso sustentvel de uma zona de amortecimento.

    COMENTRIO

    De acordo com o art. 2, I, da Lei do SNUC (Lei 9.985/2000), entende-se por unidade de conservao o espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, com objetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial de administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo. As unidades de conservao dividem-se em: (a) unidades de proteo integral; (b) unidades de uso sustentvel. As unidades de conservao de proteo integral compreendem as seguintes modalidades: I - Estao Ecolgica; II - Reserva Biolgica; III - Parque Nacional; IV - Monumento Natural; V - Refgio de Vida Silvestre. As unidades de conservao de uso sustentvel, de seu turno, apresentam-se sob as seguintes formas: I - rea de Proteo Ambiental; II - rea de Relevante Interesse Ecolgico; III - Floresta Nacional; IV - Reserva Extrativista; V - Reserva de Fauna; VI Reserva de Desenvolvimento Sustentvel; e VII - Reserva Particular do Patrimnio Natural.

    De um modo geral, tanto as unidades de conservao do grupo de proteo integral quanto s do grupo de uso sustentvel tero uma zona de amortecimento, definidas pelo art. 2, XVIII, da Lei 9.985/2000 como o entorno de uma unidade de conservao, onde as atividades humanas esto sujeitas a normas e restries especficas, com o propsito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade. Essas zonas de amortecimento sero fixadas inclusive a definio casustica de sua extenso no ato de criao da unidade ou em momento posterior, ouvidos os proprietrios ou possuidores afetados.

    Note-se, porm, que nem todas as unidades de conservao da natureza devem possuir zona de amortecimento. Nos termos do art. 25 da Lei 9.985/2000, esto excludas da obrigatoriedade de manuteno do mencionado entorno especialmente protegido a rea de Proteo Ambiental e a Reserva Particular do Patrimnio Natural, espcies de unidades de conservao de uso sustentvel.

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    A propsito do tema, relevantes so as lies de Paulo Affonso Leme Machado:

    A limitao ao direito de propriedade pode ser imposta nas zonas de amortecimento e nos corredores ecolgicos, de tal ordem que no inviabilize a propriedade, sob pena de acarretar apossamento administrativo com o consequente dever de indenizar o proprietrio, por parte do Poder Publico como afirma SaintClair Honorato Santos.

    Dos 12 tipos de unidades de conservao, somente dois no esto obrigados a ter zonas de amortecimento (art. 25 da Lei 9.985). Esto obrigadas a estabelecer essas zonas: a Estao Ecolgica, a Reserva Biolgica, o Parque Nacional, o Monumento Natural, o Refgio de Vida Silvestre, a rea de Relevante Interesse Ecolgico, a Floresta Nacional, a Reserva Extrativista, a Reserva da Fauna e a Reserva de Desenvolvimento Sustentvel.

    No esto obrigadas a instituir zonas de amortecimento a rea de Proteo Ambiental e a Reserva Particular do Patrimnio Natural.

    E perfeitamente compreensvel que as dez unidades de conservao mencionadas no possam realizar plenamente seus objetivos, se no houver uma separao gradativa entre o meio ambiente antropicamente trabalhado e o meio ambiente natural. A expresso zona de amortecimento um espao destinado a diminuir ou enfraquecer os efeitos das atividades existentes na rea circundante de uma unidade de conservao. (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 21 ed. rev., ampl. e atual., de acordo com as Leis 12.651, de 25.5.2012 e 12.727, de 17.10.2012 e com o Decreto 7.830, de 17.10.2012 So Paulo: Malheiros, 2013, p. 991).

    Assim, embora seja relevante a existncia de uma zona de amortecimento na maioria das unidades de conservao da natureza institudas pela Lei 9.985/2000, no se pode afirmar ser indispensvel, de modo generalizado, a existncia de tal entorno especialmente protegido, porquanto excetuadas de tal

    regramento a rea de Proteo Ambiental e a Reserva Particular do Patrimnio Natural.

    Logo, incorreta a assertiva.

    GABARITO: ERRADO

    6. Diante da especial proteo conferida s populaes indgenas, a Constituio Federal de 1988 no contempla a possibilidade de lavra de recursos minerais e da explorao de recursos hdricos em terras tradicionalmente ocupadas por ndios.

    COMENTRIO

    De fato, as populaes indgenas so objeto de ampla proteo constitucional, merecendo destaque o

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    tratamento especial dado pelo Captulo VIII do Ttulo da Ordem Social da Constituio Federal de 1988. Note-se, contudo, que h tambm em outros pontos do texto constitucional dispositivos relacionados proteo dos direitos dos ndios, a exemplo da previso do art. 210, 2, da Lei Maior: O ensino fundamental regular ser ministrado em lngua portuguesa, assegurada s comunidades indgenas tambm a utilizao de suas lnguas maternas e processos prprios de aprendizagem.

    No que se refere proteo das terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios, deve-se partir do pressuposto de que a Constituio Federal de 1988 consagrou o instituto jurdico do indigenato, ttulo congnito conferido aos ndios, por meio do qual so asseguradas a posse permanente e usufruto exclusivo da terras por eles habitadas, em moldes distintos da ocupao e da posse civis, no lhes sendo, portanto, conferido o domnio dessas terras, que so bens da Unio, nos termos do art. 20, inciso XI, da CF/88. Nesse sentido, inclusive, o disposto no art. 231, caput e 1 e 2, da Constituio Federal, in verbis:

    Art. 231. So reconhecidos aos ndios sua organizao social, costumes, lnguas,

    crenas e tradies, e os direitos originrios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo Unio demarc-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

    1 - So terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios as por eles habitadas em carter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindveis preservao dos recursos ambientais necessrios a seu bem-estar e as necessrias a sua reproduo fsica e cultural, segundo seus usos, costumes e tradies.

    2 - As terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

    (Destacamos)

    No obstante todo o arcabouo jurdico-constitucional que opera de modo protetivo, no correto entender ser absolutamente vedado o desenvolvimento de atividades de explorao de recursos naturais em terras indgenas. Isso porque a prpria Constituio Federal admite tal possibilidade, desde que observados alguns requisitos essenciais, expressamente dispostos nos pargrafos 3 e 6 do mesmo art. 231 supracitado:

    Art. 231.

    (...)

    3 - O aproveitamento dos recursos hdricos, includos os potenciais energticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indgenas s podem ser efetivados com autorizao do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participao nos resultados da lavra, na forma da lei.

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    4 - As terras de que trata este artigo so inalienveis e indisponveis, e os direitos sobre elas, imprescritveis.

    5 - vedada a remoo dos grupos indgenas de suas terras, salvo, ad referendum do Congresso Nacional, em caso de catstrofe ou epidemia que ponha em risco sua populao, ou no interesse da soberania do Pas, aps deliberao do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hiptese, o retorno imediato logo que cesse o risco.

    6 - So nulos e extintos, no produzindo efeitos jurdicos, os atos que tenham por objeto a ocupao, o domnio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a explorao das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse pblico da Unio, segundo o que dispuser lei complementar, no gerando a nulidade e a extino direito a

    indenizao ou a aes contra a Unio, salvo, na forma da lei, quanto s benfeitorias derivadas da ocupao de boa f.

    7 - No se aplica s terras indgenas o disposto no art. 174, 3 e 4.

    (Destacamos)

    A possibilidade condicionada de explorao em terras indgenas reforada, ainda, pelo teor do art. 49, XVI, da Constituio Federal, que assim dispe:

    Art. 49. da competncia exclusiva do Congresso Nacional:

    (...)

    XVI - autorizar, em terras indgenas, a explorao e o aproveitamento de recursos hdricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;

    Deve-se rememorar, ademais, que, uma vez autorizada a explorao e o aproveitamento dos recursos

    hdricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais em terras indgenas, competir Unio promover o licenciamento ambiental correspondente, nos termos do art. 7 da Lei Complementar 140/2011:

    Art. 7o So aes administrativas da Unio:

    (...)

    XIV - promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades:

    (...)

    c) localizados ou desenvolvidos em terras indgenas;

    (...)

    (Destacamos)

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    Interessante, ainda, a observao sobre o tema feita pelo professor Frederico Amado, em sua obra de Direito Ambiental Esquematizado:

    De acordo com o artigo 3.-A do antigo Cdigo Florestal, inserido pela MP 2.166-67/2001, a explorao dos recursos florestais em terras indgenas somente poder ser realizada pelas comunidades indgenas em regime de manejo florestal sustentvel, para atender a sua subsistncia, respeitados os arts. 2. e 3. deste Cdigo.

    Contudo, a Lei 12.651/2012, que aprovou o novo Cdigo Florestal brasileiro, no tratou expressamente do tema, deixando de reproduzir a mencionada redao do Cdigo revogado.

    Apesar disso, entende-se que possvel que os ndios promovam a explorao dos recursos naturais florestais de suas terras, mas apenas podero fazer de maneira sustentvel, e no predatria.

    (...)

    Vale ressaltar que inexiste norma jurdica que isente os ndios do processo administrativo de licenciamento ambiental como condio para praticar atividades lesivas ao meio ambiente, devendo os ndios respeitar reas de preservao permanente e demais restries ambientais, bem como obter licenas ambientais com a assessoria da FUNAI.

    De resto, impende lembrar que as terras indgenas no podero ser alvo de

    contrato de concesso florestal, na forma do artigo 11, IV, da Lei 11.284/2006. (AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense; So Paulo: Mtodo, 2013, pginas 832 e 833)

    Portanto, muito embora as populaes indgenas gozem de proteo constitucional, tendo-se em vista a preservao de seus usos, costumes e tradies e a capacidade de manter as condies ambientais nas reas por elas tradicionalmente ocupadas, no se afasta a possibilidade de explorao de recursos naturais a exemplo do potencial energtico e a lavra de minerais desde que mediante aprovao do Congresso Nacional, observadas as demais prescries constitucionais.

    Logo, incorreta a assertiva.

    GABARITO: ERRADO

    PROFESSORA: CAROLINA BLUM

    DIREITO FINANCEIRO

    7. No tocante Lei Oramentria Anual, a Constituio Federal positivou o princpio da

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    exclusividade, no intuito de evitar os chamados oramentos rabilongos.

    COMENTRIO

    A elaborao do oramento, por parte do Estado, conduzida e delimitada por diretrizes de direito financeiro consubstanciadas em diversos princpios oramentrios, dentre os quais se destaca o da exclusividade. Preceitua o art. 165, 8, da Constituio Federal, que A lei oramentria anual no conter dispositivo estranho previso da receita e fixao da despesa, no se incluindo na proibio a autorizao para abertura de crditos suplementares e contratao de operaes de crdito, ainda que por antecipao de receita, nos termos da lei. Trata-se, pois, da positivao do mencionado princpio.

    Tal vedao constitucional decorre do mau hbito dos legisladores brasileiros, anteriores a 1926, de encartarem no texto oramentrio normas autorizativas de aumento do funcionalismo pblico e outras estranhas ao assunto. (SEIXAS FILHO, Aurlio Pitanga. Limites oramentrios da administrao pblica, 1993, p. 159)

    A redao do dispositivo constitucional deixa claro, portanto, que a Lei Oramentria Anual instrumento que compreender os oramentos fiscal, de investimento e da seguridade social no poder conter dispositivo que no seja relacionado fixao de despesa e previso de receita, incluindo matrias de natureza no-financeira (por exemplo, emendas criando novos tributos), s quais se d o nome de caudas oramentrias ou oramentos rabilongos.

    A exclusividade, portanto, foi positivada no art. 165, 8, da Constituio Federal com intuito de afastar da LOA a incluso dos oramentos rabilongos, de modo que no seja desvirtuado o seu objeto, consistente na previso de receitas e na fixao das despesas. Note-se, por oportuno, um detalhe que pode passar despercebido como peguinha de prova: a LOA prev as receitas, porquanto incerto o resultado da arrecadao, mas fixa as despesas, pois o Estado deve ter o controle dos seus gastos.

    Por fim, deve-se atentar s duas excees ao princpio da exclusividade, previstas na parte final do art. 165, 8: as autorizaes para a abertura de crditos suplementares e contratao de operaes de crdito, ainda que por antecipao da receita. Nesse sentido, conforme Leciona Kiyoshi Harada:

    no se pode dizer que a abertura de crditos suplementares ou as operaes de crdito sejam matrias estranhas ao oramento. Os primeiros porque se destinam ao reforo da dotao oramentria existente; as segundas porque toda e qualquer contratao de crdito tem natureza de antecipao de receita oramentria. (HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributrio. 14. ed. So Paulo: Atlas, 2005, p. 92)

    Por todo o exposto, mostra-se correta a assertiva.

    GABARITO: CERTO

    PROFESSORA: CAROLINA BLUM

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    DIREITO ECONMICO

    8. O Estado Liberal, forma de posicionamento econmico do Estado fortemente influenciada pelas lies de John Maynard Keynes, caracteriza-se pela adoo de uma poltica econmica planificada, baseada na valorizao do coletivo sobre o individual.

    COMENTRIO

    Prezados, um importante ponto de estudo no que diz respeito origem e evoluo do Direito Econmico a adequada compreenso das formas de posicionamento econmico do Estado. De acordo com a melhor doutrina, podemos identificar as seguintes formas econmicas: Estado Liberal, Estado Intervencionista (econmico, social e socialista) e Estado Regulador.

    Pois bem, a assertiva proposta est errada, porquanto faz um mix de conceitos envolvendo aspectos relacionados ao Estado Intervencionista e no ao Estado Liberal.

    O primeiro erro evidente encontra-se na afirmao de que o Estado Liberal fortemente influenciado pelas lies de John Maynard Keynes. Na verdade, a doutrina de Keynes serve de diretriz ideolgica para o Estado Intervencionista sob o vis econmico. Nesse sentido, ensina Leonardo Vizeu Figueiredo:

    Este modelo intervencionista [intervencionista econmico] fortemente influenciado pelas doutrinas de John Maynard Keynes, que em sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda11 exps suas teses sobre economia poltica, demonstrando que o nvel de emprego e, por corolrio, do desenvolvimento socioeconmico, se deve muito mais s polticas pblicas implementadas pelo

    governo, bem como a certos fatores gerais macroeconmicos, e no meramente ao somatrio dos comportamentos individuais, microeconmicos dos empresrios. Keynes solucionou matemtica ou econometricamente, por meio de seus estudos, a teoria das polticas de interveno na economia, tratando-a como um todo matricial e sistmico, sujeitas a correes constantes, dentro de necessrias aes de desenvolvimento integrado.

    Teve como exemplificao maior nos Estados Unidos da Amrica, inicialmente com a legislao antitruste e, posteriormente, com o New Deal, concebido, planejado e executado por Franklin Delano Roosevelt. (FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Lies de direito econmico. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014)

    O Estado Liberal, de seu turno, fruto da doutrina do filsofo escocs Adam Smith, com a sua Teoria da mo invisvel do mercado, que assenta a autorregulao da economia, de modo a prevalecer os agentes econmicos mais aptos, sendo naturalmente eliminados os menos eficientes.

    Ademais, a adoo de uma poltica econmica planificada, baseada na valorizao do coletivo sobre o individual nada tem a ver com o Estado Liberal, mas caracterstica do Estado Intervencionista Socialista,

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    em que o Poder Pblico passa a ser o centro exclusivo para deliberaes referentes economia. O grande trao distintivo deste modelo, em relao ao Estado Intervencionista Econmico e ao Estado Intervencionista Social (tambm denominado Estado Providncia ou Welfare State), ainda segundo as lies do professor Leonardo Vizeu, est no fato de que:

    o socialismo prega a coletivizao dos fatores de produo, substituindo-se a liberdade de concorrncia e a livre-iniciativa pela planificao econmica estatal, centralizado em torno do Poder Pblico, rejeitando-se, sistematicamente, a autonomia das decises privadas no processo de conduo poltica da vida econmica e social da Nao. (FIGUEIREDO, Op. Cit.)

    O modelo de Estado Liberal, diferentemente do que afirma a questo, se assenta no postulado da livre-iniciativa, no princpio da autonomia da vontade, no dirigismo contratual e no carter absoluto dos direitos privados, afastando-se da competncia estatal a interferncia no sistema econmico, sendo de

    sua alada somente a manuteno da ordem interna e a defesa das fronteiras. Assim, enquanto no Estado Intervencionista o Poder Pblico interfere no mercado, em maior ou menor medida, o Estado Liberal marcado por uma forte postura abstencionista ou absentesta.

    Quanto ao mencionado Estado Regulador, trata-se de modelo que retoma os ideais do liberalismo, sem, contudo, abandonar a necessidade de sociabilidade dos bens essenciais, a fim de se garantir a dignidade da pessoa humana.

    GABARITO: ERRADO

    PROFESSOR: CAMILLO PIANA

    DIREITO TRIBUTRIO

    9. A confisso de dvida fiscal por meio de pedido de parcelamento, por caracterizar ato voluntrio e inequvoco que importa em reconhecimento do dbito pelo devedor, autoriza a constituio do crdito tributrio ainda que expirado o respectivo prazo decadencial ou prescricional.

    COMENTRIO

    Atualmente, tranquilo o entendimento de que a confisso de dvida, por meio de parcelamento da dvida fiscal, amolda-se ao disposto no art. 174, V, do Cdigo Tributrio Nacional, com a importante consequncia de interromper a fluncia do prazo prescricional:

    Art. 174. A ao para a cobrana do crdito tributrio prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituio definitiva.

    Pargrafo nico. A prescrio se interrompe:

    (...)

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    IV - por qualquer ato inequvoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do dbito pelo devedor.

    Nesse sentido a jurisprudncia:

    TRIBUTRIO. EXECUO FISCAL. VIOLAO DO ART. 535 DO CPC. INEXISTNCIA. PARCELAMENTO. CAUSA INTERRUPTIVA DA PRESCRIO. ART. 174, PARGRAFO NICO, INCISO IV, DO CTN. ATO INEQUVOCO DE RECONHECIMENTO DO DBITO. (...)

    2. Como se v da simples leitura do art. 174, pargrafo nico, inciso IV, do CTN, a prescrio ser interrompida por qualquer ato inequvoco que importe em reconhecimento do dbito. Logo, o parcelamento, por representar ato de reconhecimento da dvida, suspende a exigibilidade do crdito tributrio e interrompe o prazo prescricional, que volta a correr no dia em que o devedor deixa de cumprir o acordo.

    3. O Tribunal de origem afirmou que a embargante no s aderiu ao programa, como efetuou o pagamento de no mnimo vinte parcelas, amortizando R$ 9.528,92, sendo o benefcio posteriormente rescindido por inadimplemento, o que caracteriza, como ato inequvoco, conforme dispe o pargrafo nico, do art. 174 do CTN. (AgRg nos EDcl no AREsp 565.449/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/12/2014, DJe 03/02/2015)

    Com efeito, comum que leis que concedam parcelamento aos contribuintes condicionem o ingresso destes, no programa, ao expresso reconhecimento do dbito que se busque parcelar.

    Nada obstante, possvel vislumbrar a situao em que o contribuinte, inadvertidamente, buscando parcelar crdito j decado ou prescrito, firme expressamente termo reconhecendo a exigibilidade deste.

    Tal conduta teria o condo de reavivar o crdito antes fulminado pela decadncia ou prescrio?

    A resposta negativa, conforme se infere do seguinte entendimento do Superior Tribunal de Justia firmado em sede de recurso representativo da controvrsia:

    DIREITO TRIBUTRIO. IMPOSSIBILIDADE DE CONSTITUIO DE CRDITO TRIBUTRIO COM BASE EM CONFISSO DE DVIDA REALIZADA APS A EXTINO DO CRDITO PELA DECADNCIA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). No possvel a constituio de crdito tributrio com base em documento de confisso de dvida tributria apresentado, para fins de parcelamento, aps o prazo decadencial previsto no art. 173, I, do CTN. A decadncia, consoante disposto no art. 156, V, do referido diploma legal, forma de extino do crdito tributrio. Sendo assim, uma vez extinto o direito, no pode ser reavivado por qualquer sistemtica de lanamento ou autolanamento, seja ela via documento

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    de confisso de dvida, declarao de dbitos, parcelamento seja de outra espcie qualquer (DCTF, GIA, DCOMP, GFIP etc.). Isso porque, alm de no haver mais o que ser confessado sob o ponto de vista jurdico (os fatos podem ser sempre confessados), no se pode dar confisso de dbitos eficcia superior quela prpria do lanamento de ofcio (arts. 145 e 149), forma clssica de constituio do crdito tributrio da qual evoluram todas as outras formas; lanamento por declarao (art. 147), lanamento por arbitramento (art. 148) e lanamento por homologao (art. 150). Se a administrao tributria, de conhecimento dos mesmos fatos confessados, no pode mais lanar de ofcio o tributo, por certo que este no pode ser constitudo via autolanamento ou confisso de dvida existente dentro da sistemtica do lanamento por homologao. Dessa forma, a confisso de dvida para fins de parcelamento no tem efeitos absolutos, no podendo reavivar crdito tributrio j extinto. REsp 1.355.947SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/6/2013.

    Vale notar, ademais, que a prescrio no direito tributrio, diferentemente do verificado no direito civil, extingue o prprio crdito (art. 156 do CTN), e no apenas a pretenso de exigi-lo:

    PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRIBUTRIO. CRDITO PRESCRITO. PARCELAMENTO. CIRCUNSTNCIA QUE NO IMPLICA RENNCIA PRESCRIO.

    1. No obstante o fato de que a confisso espontnea de dvida seguida do pedido de parcelamento representa um ato inequvoco de reconhecimento do dbito, interrompendo, assim, o curso da prescrio tributria, nos termos do art. 174, IV, do CTN, tal interrupo somente ocorrer se o lapso prescricional estiver em curso por ocasio do reconhecimento da dvida, no havendo que se falar em renascimento da obrigao j extinta ex lege pelo comando do art. 156, V, do CTN. (REsp 1252608/MG, 2 Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 24.2.2012). 2. Agravo regimental no provido. (AgRg no REsp 1297954/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/09/2012, DJe 14/09/2012)

    GABARITO: ERRADO

    10. Desde que existente prvia autorizao em convnio interestadual, admite-se a concesso, por lei estadual, de iseno tributria de ICMS relativamente a veculos adquiridos por Oficiais de Justia do respectivo estado-membro.

    COMENTRIO

    Quanto ao imposto sobre circulao de mercadorias de servios (ICMS), o constituinte, buscando

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    minimizar os deletrios efeitos da guerra fiscal entre os estados componentes da federao, condicionou a concesso de benefcios fiscais deliberao consensual em convnio a ser firmado pelos mesmos, conforme se percebe do art. 155, 2, XII, g, da CF:

    Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:

    ()

    II - operaes relativas circulao de mercadorias e sobre prestaes de servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao, ainda que as operaes e as prestaes se iniciem no exterior;

    (...)

    2 O imposto previsto no inciso II atender ao seguinte:

    ()

    XII - cabe lei complementar:

    ()

    g) regular a forma como, mediante deliberao dos Estados e do Distrito Federal, isenes, incentivos e benefcios fiscais sero concedidos e revogados.

    A Lei Complementar n 24/1975, que estabelece regras para a celebrao, entre Estados e Distrito Federal, dos convnios necessrios concesso de isenes e outros benefcios atinentes ao ICMS, foi recepcionada pela referida disposio constitucional, sendo possvel dela extrair, conforme os ensinamentos do professor Mauro Rocha Lopes (Direito Tributrio, 2012, pgs. 459/460) essas importantes disposies:

    (i) os convnios sero celebrados em reunies para as quais tenham sido convocados representantes de todos os Estados e do Distrito Federal, sob a presidncia de representantes do governo federal (art. 2);

    (ii) as reunies se realizaro com a presena de representantes da maioria das Unidades da Federao (art. 2, 1);

    (iii) a concesso de benefcios depender sempre de deciso unnime dos Estados representados; a sua revogao total ou parcial depender de aprovao de quatro quintos, pelo menos, dos representantes presentes (art. 2, 2);

    (iv) os convnios podem dispor que a aplicao de qualquer de suas clusulas seja limitada a uma ou a algumas unidades da Federao (art. 3);

    (v) dentro do prazo de 15 (quinze) dias contados da publicao dos convnios no Dirio Oficial de Unio, e independentemente de qualquer outra comunicao, o Poder Executivo de cada unidade da Federao publicar decreto ratificando ou no os convnios celebrados, considerando

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    ratificao tcita dos convnios a falta de manifestao no prazo assinalado neste artigo (art. 4);

    (vi) os convnios ratificados obrigam todas as unidades da Federao inclusive as que, regularmente convocadas, no se tenham feito representar na reunio (art. 7).

    Como tem entendido o STF em sua iterativa jurisprudncia, a exigncia de que benefcios fiscais do ICMS sejam aprovados por deciso unnime dos Estados representados tem o inegvel escopo de coibir a chamada guerra fiscal entre os entes tributantes, prtica repudiada pela ordem constitucional:

    AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. TRIBUTRIO. ISENO FISCAL. ICMS. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL. EXIGNCIA CONSTITUCIONAL DE CONVNIO INTERESTADUAL (CF, ART. 155, 2, XII, g). DESCUMPRIMENTO. RISCO DE DESEQUILBRIO DO PACTO FEDERATIVO. GUERRA FISCAL. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. CONCESSO DE ISENO OPERAO DE AQUISIO DE AUTOMVEIS POR OFICIAIS DE JUSTIA ESTADUAIS. VIOLAO AO PRINCPIO DA ISONOMIA TRIBUTRIA (CF, ART. 150, II). DISTINO DE TRATAMENTO EM RAZO DE FUNO SEM QUALQUER BASE RAZOVEL A JUSTIFICAR O DISCRIMEN. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. PROCEDNCIA DO PEDIDO. 1. O pacto federativo reclama, para a preservao do equilbrio horizontal na tributao, a prvia deliberao dos Estados-membros para a concesso de benefcios fiscais relativamente ao ICMS, na forma prevista no art. 155, 2, XII, g, da Constituio e como disciplinado pela Lei Complementar n 24/75, recepcionada pela atual ordem constitucional. 2. In casu, padece de inconstitucionalidade formal a Lei Complementar n 358/09 do Estado do Mato Grosso, porquanto concessiva de iseno fiscal, no que concerne ao ICMS, para as operaes de aquisio de automveis por oficiais de justia estaduais sem o necessrio amparo em convnio interestadual, caracterizando hiptese tpica de guerra fiscal em desarmonia com a Constituio Federal de 1988. 3. A isonomia tributria (CF, art. 150, II) torna invlidas as distines entre contribuintes em razo de ocupao profissional ou funo por eles exercida, mxime nas hipteses nas quais, sem qualquer base axiolgica no postulado da razoabilidade, engendra-se tratamento discriminatrio em benefcio da categoria dos oficiais de justia estaduais. 4. Ao direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 4276, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 20/08/2014)

    (...) 8. A concesso unilateral de benefcios fiscais relativos ao ICMS, sem a prvia celebrao de convnio intergovernamental, nos termos do que dispe a LC n 24/75, recepcionada inequivocamente consoante jurisprudncia da Corte, afronta ao disposto no artigo 155, 2, XII, g, da CRFB/88. 9. O comando constitucional contido no art. 155, 2, inciso g, que reserva lei complementar federal regular a forma como, mediante deliberao dos Estados e do Distrito Federal, isenes, incentivos e benefcios fiscais sero concedidos e revogados aplicado, in casu,

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    revela manifesta a inconstitucionalidade material dos dispositivos da Constituio cearense que outorga incentivo fiscal incompatvel com a CRFB/88. Precedentes: ADI 84, Rel. Min. ILMAR GALVO, Tribunal Pleno, julgado em 15/02/1996, DJ 19-04-1996). 10. A outorga de benefcios fiscais relativos ao ICMS, sem a prvia e necessria celebrao de convnio entre os Estados e o Distrito Federal manifestamente inconstitucional. Precedentes: ADI 2906/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, 1.6.2011; ADI 2376/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, 1.6.2011; ADI 3674/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, 1.6.2011; ADI 3413/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, 1.6.2011; ADI 4457/PR, rel. Min. Marco Aurlio, 1.6.2011; ADI 3794/PR, rel. Min. Joaquim Barbosa, 1.6.2011; ADI 2688/PR, rel. Min. Joaquim Barbosa, 1.6.2011; ADI 1247/PA, rel. Min. Dias Toffolli, 1.6.2011; ADI 3702/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 1.6.2011; ADI 4152/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 1.6.2011; ADI 3664/RJ, rel. Min. Cezar Peluso, 1.6.2011; ADI 3803/PR, rel. Min. Cezar Peluso, 1.6.2011; ADI 2549/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1.6.2011. (ADI 429, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 20/08/2014)

    Como anotado pelo Min. Seplveda Pertence, quando do julgamento da ADI 2377 MC: As normas constitucionais, que impem disciplina nacional ao ICMS, so preceitos contra os quais no se pode opor a autonomia do Estado, na medida em que so explcitas limitaes. O propsito de retaliar preceito de outro Estado, inquinado da mesma balda, no valida a retaliao: inconstitucionalidades no se compensam.

    Quanto ao mais, recentemente o Supremo Tribunal Federal teve a oportunidade de assentar a inconstitucionalidade, por duplo fundamento, de determinada lei estadual concessiva de iseno fiscal operao de aquisio de automveis por oficiais de justia: (a) primeiramente porque inexistente, na hiptese, o j estudado convnio interestadual a ser firmado no mbito do CONFAZ; e (b) tambm por vislumbrar na norma violao ao postulado da isonomia tributria.

    Eis o precedente:

    AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. TRIBUTRIO. ISENO FISCAL. ICMS. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL. EXIGNCIA CONSTITUCIONAL DE CONVNIO INTERESTADUAL (CF, ART. 155, 2, XII, g). DESCUMPRIMENTO. RISCO DE DESEQUILBRIO DO PACTO FEDERATIVO. GUERRA FISCAL. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. CONCESSO DE ISENO OPERAO DE AQUISIO DE AUTOMVEIS POR OFICIAIS DE JUSTIA ESTADUAIS. VIOLAO AO PRINCPIO DA ISONOMIA TRIBUTRIA (CF, ART. 150, II). DISTINO DE TRATAMENTO EM RAZO DE FUNO SEM QUALQUER BASE RAZOVEL A JUSTIFICAR O DISCRIMEN. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. PROCEDNCIA DO PEDIDO. 1. O pacto federativo reclama, para a preservao do equilbrio horizontal na tributao, a prvia deliberao dos Estados-membros para a concesso de benefcios fiscais relativamente ao ICMS, na forma prevista no art. 155, 2, XII, g, da Constituio e como disciplinado pela Lei Complementar

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    n 24/75, recepcionada pela atual ordem constitucional. 2. In casu, padece de inconstitucionalidade formal a Lei Complementar n 358/09 do Estado do Mato Grosso, porquanto concessiva de iseno fiscal, no que concerne ao ICMS, para as operaes de aquisio de automveis por oficiais de justia estaduais sem o necessrio amparo em convnio interestadual, caracterizando hiptese tpica de guerra fiscal em desarmonia com a Constituio Federal de 1988. 3. A isonomia tributria (CF, art. 150, II) torna invlidas as distines entre contribuintes em razo de ocupao profissional ou funo por eles exercida, mxime nas hipteses nas quais, sem qualquer base axiolgica no postulado da razoabilidade, engendra-se tratamento discriminatrio em benefcio da categoria dos oficiais de justia estaduais. 4. Ao direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 4276, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 20/08/2014).

    Assim, possvel afirmar que, ainda que existente o convnio chancelando a referida benesse fiscal na hiptese, inconstitucional materialmente seria a mesma por conta de afronta ao postulado da isonomia, da que incorreta a assertiva da questo.

    Na ocasio do julgado, ainda rememorou o Min. Luiz Fux a jurisprudncia do STF que tem invalidado benefcios fiscais concedidos a determinadas categorias do funcionalismo pblico sem qualquer amparo na razoabilidade, citando nessa toada os seguintes precedentes:

    AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 271 DA LEI ORGNICA E ESTATUTO DO MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE --- LEI COMPLEMENTAR N. 141/96. ISENO CONCEDIDA AOS MEMBROS DO MINISTRIO PBLICO, INCLUSIVE OS INATIVOS, DO PAGAMENTO DE CUSTAS JUDICIAIS, NOTARIAIS, CARTORRIAS E QUAISQUER TAXAS OU EMOLUMENTOS. QUEBRA DA IGUALDADE DE TRATAMENTO AOS CONTRIBUINTES. AFRONTA AO DISPOSTO NO ARTIGO 150, INCISO II, DA CONSTITUIO DO BRASIL. 1. A lei complementar estadual que isenta os membros do Ministrio Pblico do pagamento de custas judiciais, notariais, cartorrias e quaisquer taxas ou emolumentos fere o disposto no artigo 150, inciso II, da Constituio do Brasil. 2. O texto constitucional consagra o princpio da igualdade de tratamento aos contribuintes. Precedentes. 3. Ao direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do artigo 271 da Lei Orgnica e Estatuto do Ministrio Pblico do Estado do Rio Grande do Norte --- Lei Complementar n. 141/96. (ADI 3260, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 29/03/2007)

    RECURSO EXTRAORDINRIO. CONSTITUCIONAL. TRIBUTRIO. REMUNERAO DE MAGISTRADOS. IMPOSTO DE RENDA SOBRE A VERBA DE REPRESENTAO. ISENO. SUPERVENINCIA DA PROMULGAO DA CONSTITUIO FEDERAL DE 1988. ISONOMIA TRIBUTRIA. INSUBSISTNCIA DO BENEFCIO. 1. O artigo 150, inciso II, da Constituio Federal, consagrou o princpio da isonomia tributria, que

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    impede a diferena de tratamento entre contribuintes em situao equivalente, vedando qualquer distino em razo do trabalho, cargo ou funo exercidos. 2. Remunerao de magistrados. Iseno do imposto de renda incidente sobre a verba de representao, autorizada pelo Decreto-lei 2.019/83. Supervenincia da Carta Federal de 1988 e aplicao incontinenti dos seus artigos 95, III, 150, II, em face do que dispe o 1 do artigo 34 do ADCT-CF/88. Conseqncia: Revogao tcita, com efeitos imediatos, da benesse tributria. Recurso extraordinrio no conhecido. (RE 236881, Relator(a): Min. MAURCIO CORRA, Segunda Turma, julgado em 05/02/2002)

    GABARITO: ERRADO

    PROFESSOR: CAMILLO PIANA

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    11. Na execuo de ttulo extrajudicial, tem se admitido que, diante da no localizao do executado, seja determinado o arresto executivo de seus bens por meio eletrnico, atravs do sistema Bacenjud.

    COMENTRIO

    A execuo por quantia certa fundada em ttulo executivo extrajudicial ocorre por meio de processo autnomo na forma do disposto nos arts. 646 e segs. do Cdigo de Processo Civil.

    Didaticamente, e conforme os ensinamentos do professor Fredie Didier Jr., o referido procedimento executivo pode ser dividido nas seguintes fases:

    (i) uma fase inicial: com a propositura da demanda executiva e a oportunizao de prazo ao executado para o cumprimento voluntrio da prestao que lhe exigida; e

    (ii) a fase da execuo propriamente dita, em que so engendradas providncias para a satisfao compulsria da prestao exigida.

    A fase inicial preliminar em relao subsequente, de modo que, havendo pagamento voluntrio por parte do executado, a fase de execuo forada sequer tem incio.

    Com efeito, apresentada a inicial executiva, e desde que sobre ela o magistrado tenha feito um juzo positivo de admissibilidade, o executado ser citado pessoalmente (por mandado a ser cumprido pelo Oficial de Justia), podendo adotar, em regra, algumas das seguintes posturas:

    (i) pagar voluntariamente o dbito em 3 dias, conforme autoriza o art. 652 do CPC, beneficiando-se, em contrapartida, com a sano premial do pargrafo nico do art. 652-A do CPC, isto , com a reduo, pela metade, da verba honorria a ser paga ao exequente;

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    (ii) no pagar e apresentar embargos do devedor, no prazo de 15 dias, contados da data da juntada aos autos do mandado de citao (art. 738, CPC);

    (iii) requerer, no prazo de 15 dias para apresentao de embargos, o parcelamento do valor em execuo na forma do art. 745-A do CPC;

    (iv) no pagar nem apresentar embargos ou qualquer defesa.

    Ressalta-se que os comentrios e consideraes at aqui expendidos dizem respeito execuo de ttulo extrajudicial prevista no Cdigo de Processo Civil, e no a procedimentos executivos especiais, como aquele previsto na Lei n 6.830/80, que cuida da execuo fiscal, a qual possui peculiaridades derrogatrias do regime comum do CPC (p.ex.: impossibilidade de apresentao de embargos sem garantia do juzo; possibilidade de citao pelo correio; prazo de 5 dias para pagamento, etc).

    Com efeito, comum a hiptese em que o executado no seja encontrado para realizao do ato citatrio, hiptese em que o Oficial de Justia poder arrestar-lhe tantos bens quantos bastem para garantia da execuo, conforme dispe o art. 653 do CPC:

    Art. 653. O oficial de justia, no encontrando o devedor, arrestar-lhe- tantos bens quantos bastem para garantir a execuo.

    Pargrafo nico. Nos 10 (dez) dias seguintes efetivao do arresto, o oficial de justia procurar o devedor trs vezes em dias distintos; no o encontrando, certificar o ocorrido.

    Comentando o referido artigo da lei:

    Embora o dispositivo fale em arresto, a providncia de que cuida no idntica ao arresto cautelar de que falam os arts. 813 e 814 do CPC. Com efeito, para que o oficial de justia possa arrestar os bens do executado, na forma do art. 653 do CPC, no se exige a caracterizao da situao de perigo de insolvncia. suficiente, para tanto, que (i) o devedor no seja encontrado, como j se viu, pouco importando se no foi localizado por esquivar-se intencionalmente citao ou por fora to-somente das circunstncias e (ii) o oficial de justia constate a existncia de bens penhorveis.

    O instituto previsto no art. 653 cuida, em verdade, de uma espcie de pr-penhora, e assim ele comumente conhecido na dogmtica processual. Recebe essa designao porque o que ele viabiliza, a rigor, a antecipao dos efeitos de uma futura penhora. Dentre eles, tem-se a atribuio, ao exequente, do direito de preferncia na participao do produto da expropriao do bem constrito (art. 6