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A atual Diretoria tem realizado um tra-balho de congraçamento, de integração, aliada a novas estratégias de promoção do Indubrasil, tendo em vista que o histórico e notável gado demonstra uma real capaci-dade de ocupar espaços como melhorador dos rebanhos produtores de carne e leite, no Brasil e no mundo. O Indubrasil já foi o alicerce da História da Pecuária do Brasil; já foi exemplo de correção no Melhora-mento Genético; já foi exemplo de abne-gação de seus criadores, reduzindo os re-banhos, para melhor promover acertos de caráter zootécnico; vem sendo a bússola da pecuária de vários países.

Agora, promove o Primeiro Seminário Internacional e, para que o evento seja brilhante, esta edição da Revista INDU-BRASIL traz matérias com todos os temas que merecem discussão em plenário inter-nacional. Permite, então, que o Seminário não só discuta, como finalize com uma Carta de Intenções, inserindo-se no cená-rio mundial de produção de carne e leite.

O Indubrasil cumpre sua função de - como no passado - ser soberana nos cru-zamentos; rústica por sua genética mile-nar, enfrentando os climas gelados, tanto quanto os desérticos e tórridos; ser encan-tadora pela beleza; admirável pela docili-dade; desmamando crias saudáveis devi-do ao leite materno e produzindo animais longevos. Isso é a raça Indubrasil: esse é o trabalho dos indubrasilistas; esse é o tra-balho da ABCI e de todas as entidades da raça no mundo.

Presidente da ABCI - Associação Brasileira dos Criadores de Indubrasil

Palavra do Presidente

Roberto Fontes de Góes

DiretoriaPresidente: Roberto Fontes de Goes1° Vice Presidente: José Henrique Fugazzola de Barros2° Vice Presidente: Renato Miranda Caetano Borges1° Secretário: João Carvalho Pinto2° Secretário: Jairo André Gurczevsk1° Tesoureiro: Waldyr Barbosa de Oliveira Junior2° Tesoureiro: Elair BachiDiretor Internacional: Cláudio Silveira ResendeDiretora Relações Públicas e Marketing: Patricia Sibin GregórioConselho Fiscal: Luana Custódio Barros Conselho Fiscal: Cláudio Silveira ResendeConselho Fiscal: Rodrigo Caetano BorgesSuplente Conselho Fiscal: Acrisio Cruz NetoSuplente Conselho Fiscal: Henrique Cajazeira FigueiraSuplente Conselho Fiscal: Paulo Sergio de Ávila LemosConselho Técnico: Clarindo Irineu MirandaConselho Técnico: Enilice Cristina Cadetti Garbellini Conselho Técnico: Ivo Ferreira LeiteConselho Técnico: Marcos Brandão Dias FerreiraConselho Técnico: Paulo Sergio de Ávila Lemos----------------------------------------------------------------Escritório NacionalPça. Vicentino Rodrigues da Cunha, n. 110Parque Fernando Costa - Uberaba, MGFone: (34) 3336-4400e-mail - [email protected] - www.indubrasil.org.br

ABCI - Associação Brasileira dos Criadores de Indubrasil

Revista INDUBRASIL n. 04 - Maio - 2016Editor: Rinaldo dos SantosProjeto gráfico: Kelly Magalhães @designpbFotografias: Jadir Bison, José Maria Mattos, Rinaldo dos Santos, colaboradores/associados.Colaboradores editoriais: Clarindo Irineu de Miranda, Henrique Cajazeira Figueira, Roberto Fon-tes de Góes, Rodrigo Caetano Borges, José Henrique Fugazzola, Djenal Tavares Queiroz Neto, Jairo André Gurczevsk, Elair Bachi, Sergio Silveira FontelesIlustrações: Toninho Cartoon.

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INDUBRASIL

O ser humano destaca-se pela inteligência, que é a capacidade de reconhecer um problema, en-frentá-lo e resolvê-lo, de forma progressista. Os animais, em ge-ral, reconhecem um problema e preferem fugir. Alguns poucos re-solvem enfrentá-lo, apenas como instinto de preservação de seu território. Por isso, o ser huma-no evoluiu, saindo das cavernas, construindo cidades e hoje viaja pelo espaço. Para o Homem, os problemas continuam surgindo, e as soluções sempre levam para um futuro. A humanidade, portan-to, é o resultado do correto uso da inteligência.

Os caminhos - Algumas ve-zes, o Homem escolhe caminhos errados, mas logo muda de rumo - isso faz parte do aprendizado. Na pecuária, diante da imensidão dos campos, o fazendeiro usa as ferramentas que têm por perto. Assim, hoje o sucesso pode estar com uma raça, mas amanhã esta pode ser trocada por alternativas. O Brasil viveu 350 anos cultivan-do raças pirenaicas, europeias, ou britânicas. Era elegante exibir um touro Durham, importado da Ingla-terra “para salvar a pecuária brasi-leira” até 1850.

Havia, porém, além dos car-rapatos, outro problema insolú-vel: os animais europeus não se prestavam a puxar os carroções de café nas montanhas do Rio de Janeiro. Eles não aceitavam co-mando de marcha-a-ré e, então, eram inviáveis nas montanhas. Manuel Ubelhart Lemgruber vi-sitou um Zoológico na Europa e, por acaso, descobriu o Zebu, com

enorme giba que podia sustentar a canga dos carroções nas mon-tanhas fluminenses: poderia ser o milagre nos cafezais. Comprou os primeiros animais: eram Nelores, mas mostraram-se fracos para a região e situação. O Barão de Duas Barras descobriu que havia outros Zebus e descobriu o Guze-rá. Este deu certo nas montanhas e, além disso, produzia boa carne e muito leite.

Estava pronta a receita inicial do Indubrasil: Guzerá + Nelore, desde 1870 até 1920. Os primeiros 50 anos consolidaram um animal chamado “Zebu”, mestiço Guzo-nel, de grande porte, grande força, ideal para fabricar bois-de-carro, além de carne e leite. Surgiam animais de longas orelhas e logo os brasileiros passaram a avaliar o “Neozebu” pelo comprimento das orelhas. A partir de 1911 começou a chegar o Gir, destacando-se a partir de 1918. O Gir, cruzado com o Neozebu brasileiro, aumentou

Um futuro radiante, depois de longo aprendizado

Z E B U :GENÉTICA CAPAZ DE MUDAR.

* Média feita pelo estudo.Pesquisa desenvolvida pelo CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP) entre 2014 e 2015.

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ainda mais as orelhas, implantou o “gavião”, deu pujança de carnes, levando ao nascimento de “Indu-beraba”, com esplêndida carcaça para a época. Logo nasciam vá-rias alternativas de Zebus brasilei-ros: Induaraxá, Indugoiás, Indube-lém, Induporã. Depois de muitas discussões, prevaleceu o nome de Indubrasil, que era a mais lucrati-va imagem da pecuária brasileira, naquela época, pois tinha tudo: al-tura, comprimento, arqueamento, massa muscular, couro sobrando. O Indubrasil era um acerto.

Indubrasil, hoje - Se perguntar a um nelorista sobre qual raça é melhor para alguma região, ele imediatamente dirá que é o Nelo-re. Ele enxerga apenas a pecuária de largas vastidões. De fato, a pe-cuária extensiva tem como base o Nelore, pois a definição de gado certo é a soma de “Região + Situa-ção”. Caso a situação, porém, exi-gir que a pecuária se modernize, para produzir mais carne/leite em área cada vez menor, em menos tempo, com maior lucratividade,

no suceder das progênies, então o gado anelorado terá que mu-dar de fisionomia. A História hu-mana é uma máquina em eterno movimento, sempre procurando o melhor caminho. O gado de hoje não será o de amanhã, necessa-riamente, pois muda a “situação”.

No passado, o Guzerá foi o grande gado dos cafezais flumi-

nenses; depois o Indubrasil foi o grande gado; depois foi o Gir; agora vem sendo o Nelore; mas a evolução continua.

O momento de ocupação de largos espaços brasileiros já pas-sou e, agora, chegou o momento da racionalização: as fazendas se-rão menores, mais sustentáveis, exigindo produção de animais de múltiplas aptidões. Muitos já des-cobrem que o Indubrasil, acasa

lado com o gado anelorado, ga-rante o grande rendimento de car-ne, soma leite, mantém a rustici-dade. O Indunel é uma alternativa para novos tempos.

Afirma Fugazzola que “para a pecuária extensiva o Nelore é imbatível”. Com o crescimento da população humana, todavia, o lei-te torna-se importante e, então, o Indubrasil é solução, sem perder outras características do gado anelorado, na maioria das regiões.

Rodrigo Caetano Borges diz que “a razão escolhe o caminho certo. Toda raça tem suas vanta-gens e seus problemas, pois não é possível preencher as exigências de todas as regiões e de todas as situações - sempre com o mesmo gado. Cada região e cada situação exige um gado diferente. Assim, com o passar do tempo, mudam as situações e o gado do passa-do é descartado, para dar lugar

ao novo. O Indubrasil já pagou o preço do passado e, agora, surge como ferramenta de progresso”.

Clarindo é sintomático: “o In-dubrasil teve o maior rebanho do Brasil e pagou o preço por isso. Decaiu, por não ter adotado as modernizações, mas, agora já está com nível excelente e pode ajudar a nova situação da pecu-ária brasileira e do mundo”. O In-dubrasil, portanto, é uma história bonita, da superação de proble-

mas pelos homens.O gado do futuro - O bom lei-

te e a boa carne são produzidos no clima ensolarado, em regi-me de pasto. São esses fatores que garantem o equilíbrio entre o Ômega-3 e Ômega-6. Nos Esta-dos Unidos, muitas empresas de “Fast-Food” já se recusam a com-prar carne produzida no Hemisfé-rio Norte, devido ao descompasso entre os dois hormônios. Já se verificou que o animal confinado,

com rações artificiais e hormônios de crescimento, longe do pasto, pode ter um desequilíbrio de até 50 vezes entre os dois hormônios: um absurdo. O desequilíbrio pro-voca muitas doenças, incluindo o câncer. Por isso, os países ricos já buscam a pecuária do Brasil e logo estarão exigindo o boi-de-pasto. Vão exigir do Brasil o que não conseguiram fazer no Hemis-fério Norte.

O boi do futuro, então, será criado a pasto, de porte compa-tível, boa massa muscular, boa habilidade materna, garantindo muito leite para a cria. Terá tetas medianas, bainha curta. O bezerro será esperto, logo acompanhando a vaca. São as características que condenaram o Indubrasil, no pas-sado, pois não eram importantes. Agora - já corrigidas no novo In-dubrasil, indicam o gado do futuro.

O novo Indubrasil, portanto, é uma mostra da inteligência do Ho-mem que enfrenta problema e os soluciona, rumo ao futuro radiante.

O Indubrasil ocupa todos os biomas, com sucesso.

Animais típicos para o regime de campo

Jairo, com o filho Artur Telles Gorczevski,

de 6 meses

Jairo André Gorczevski, encantado com

a mansidao

Vovô Robertocom Maria Luisa em seu cavalo

Paola Gotz, da Fazenda Lobo Guara

Maria Eduardabrincando com seu

animal de estimalção

A raça é muito bem constituída por carcaça exemplar.

Meu Cantinho

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O Indubrasil nos bastidores da História

teiras tinha que ser muito rústico, andejo e muito barato. Um vaquei-ro deveria cuidar de, no mínimo, 1.000 vacas.

2) Início das Provas Zoo-técnicas - Foi o cientista João Barisson Villares que deu início, em 1952, às Provas de Ganho-de-Peso. Ninguém acreditava nessa novidade e o cientista teve que se contentar com gado barato, da época, o Nelore. As Provas mos-travam as vantagens de serem utilizados os reprodutores prova-dos. O Indubrasil, o Gir e o Guzerá não entraram nessas Provas - que promoveram largamente o uso do Nelore. Clarindo Miranda realça que o Professor Villares usou o que tinha em mãos, o Nelore; as demais raças preferiram ficar do lado de fora e, assim, ficaram para trás.

Rodrigo Caetano Borges lem-bra que as vantagens do Nelore, como facilidade de parto, capaci-

dade de perambular, habilidade materna, lepidez do bezerro, fo-ram decisivas diante do público. Era um gado melhor para o cor-te, nas fronteiras. Segundo ele, as Provas Zootécnicas só viriam a ter valor mais tarde. “Naquela época, o Indubrasil tinha tetas lon-gas, não ficava em pé ao nascer, o bezerro não era lépido - não era gado para as longínquas fron-teiras”. Ademais, logo depois da guerra, o Nelore era barato, ficava vivo, não exigia custeio como o In-dubrasil, etc.

O fato histórico é que os in-dubrasilistas estavam tão satis-feitos que nem perceberam que um novo mundo estava surgindo: dormiram no ponto. Os neloristas, com seu gado miúdo, apelidados de “veados desengonçados”, ocu-param as brechas. Na Exposição de 1944 havia apenas meia dúzia de Nelore, em Uberaba. Os nelo-ristas enxergaram o novo mundo, começaram as provas, rumaram

O Indubrasil foi o General da pecuária brasileira durante várias décadas, promovendo a abertura de grandes espaços. Depois, a pecuária mudou o rumo e o Indu-brasil ficou em segundo plano. Os principais motivos estão abaixo.

Henrique Figueira acha que to-das as alternativas abaixo descri-tas estão corretas e contribuíram para o rebaixamento da cotação do Indubrasil, no passado. “Mes-mo hoje” - continua - “muitos cria-dores têm dificuldade em enten-der que os dados de desempenho são importantes, pois o mercado modernizou-se, e vai continuar se modernizando, exigindo mais e mais avaliações genéticas e zoo-técnicas. O criador de Indubrasil ficou para trás por ser teimoso, por achar que o Brasil não iria se modernizar. A pecuária é uma ati-vidade como qualquer outra, exi-ge empresários com olho no lucro. A pecuária entrou na era das ava-liações e números, inicialmente na década de 1950, com Villares, mas, decididamente, na década de 1980”. Henrique conclui: “A falta de dados espalhou em todo Brasil uma visão e opinião nega-tivas sobre o Indubrasil. A culpa não foi do animal, mas dos criado-res que dormiram no ponto”.

1) Surgimento de novas gra-míneas - O gado antigo vivia ao redor das casas grandes dos ca-fezais. O capim era o Gordura, o Angola, e outros. Quando surgiu o capim Jaraguá, grandes espa-ços puderam ser abertos para um gado de maior porte. O Indubra-sil dominou nesse período. Mais tarde, o capim Colonião - que já vinha se espalhando desde 1940 - ganhou formidáveis espaços, para melhor empregar as econo-mias da Segunda Guerra Mundial, quando a pecuária foi a nocaute. O gado para as longínquas fron-

O Indubrasil permitiu ao Brasil ocupar todos os espaços, na época.

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para os Sertões, viajaram para a Índia para buscar um novo san-gue, vislumbraram que o Governo iria prestigiar as novas frontei-ras (Sudene e Sudam). Eram os jovens pecuaristas que abriram uma nova realidade.

3) Implantação da Sudene e Sudam - que somaram mais de 2.000 propriedades agropecuá-rias no Nordeste e na Amazônia. Para abertura dessas proprieda-des o gado indicado era o Nelo-re, nos campos, e o Holandês, nas cidades, entre 1968 a 1988. Eram grandes propriedades, que somaram mais de 10 milhões de cabeças, registradas, no período.

O único gado que existia em pro-fusão, barato, era o Nelore. Com a Sudene e a Sudam, o Nelore tornou-se o campeão de Registro Genealógico, do dia para a noi-te. Nesse período também houve o uso maciço de raças brancas europeias (Chianina, Piemonte-sa, Marchigiana, Charolesa) para cruzar com o Nelore e formar as boiadas de corte, dando origem ao mito do “gado branco” que era, de fato, maior e mais pesado, de umbigo curto.

O Nordeste era um reduto de Indubrasil, tendo até um monu-mento na praça de Recife. O mito do “gado branco” de orelhas cur-tas chegou, pela Sudene, dando

para sêmen de gado europeu. O Zebu é o sucesso, dentro das por-teiras, mas o melhoramento gené-tico ainda continua sendo ditado, em boa parte, pelos financiamen-tos bancários: é o que provam os relatórios anuais da ASBIA.

O símbolo do folclore nordes-tino e amazônico é um boi ore-lhudo, ou de meia-orelha. Basta analisar “Garantido” e “Capricho-so”, bem como os bois-bumbás de antigamente, para ter a influência do Indubrasil. Hoje, o boi-bumbá já mostra orelhas curtas, contra-riando a origem. A importância do Indubrasil foi enorme, a ponto de ter um monumento próprio, em Recife. No Nordeste, o mestiço leiteiro era o Pardo-Suíço com Indubrasil, nos Sertões. Só mais tarde, entraria o Guzerá. A bacia leiteira de Batalha, em Alagoas, já fazia o 5/8 holandês, cruzando o importado com o nacional - algo jamais tentado em outra região - para se adequar ao clima das ca-atingas.

4) Avanço para novas fron-teiras agropecuárias do Centro-Oeste e Norte - onde somente a vaca Nelore tinha condições de habilidade materna. Fugazzo-la lembra que o avanço para as fronteiras já haviam sido feitos, no

passado, com a raça Indubrasil - no Mato Grosso e nas caatingas do Nordeste. Bem mais tarde, o Nelore iria despontar. “A barriga milagrosa era do Indunel, da dé-cada de 1960, quando acontece-ram as importações da Índia, com excelente Nelore e, ao mesmo tempo, começava o uso das raças brancas europeias. O ventre Indu-nel respondeu bem, com mestiços vigorosos e lucrativos. Depois, veio o mito do “gado branco” que persiste até hoje, em grande parte do território. Na base, porém, es-tava o ventre Indubrasil, branco.

Foi muito grande a publicida-de do gado branco, Nelore e eu-ropeus, por meio da Sudene e Sudam, durante 20 anos. O Indu-brasil não fez propaganda diante dessa avalanche.

Rodrigo Caetano lembra que, na verdade, o que interessa é o retorno do investimento. O Nelo-re era imbatível, na época: barato, com resposta garantida em regi-me de campo.

Clarindo recorda que, nas fron-teiras pecuárias, não era possível esgotar as vacas leiteiras, nem ficar usando mamadeira para be-zerros. O umbigo comprido pro-vocava ferimentos nos capins taludos. Nas épocas secas, os carrapatos utilizam os talos com-pridos para agredir os animais umbigudos. As longas orelhas, em boiadas de milhares de cabe-ças, sofriam acidentes. A boiada-de-corte ideal era anelorada; nem poderia ser outra e, com a conso-lidação dos territórios, as demais raças zebuínas poderiam ser utili-zadas, como já vem acontecendo.

O gado antigo usava a mão-de-obra das fazendas de café, po-dendo criar um “gado trabalhoso”, mas nas fronteiras teria que ser um “gado da preguiça”, ou seja, que economizasse mão-de-obra. Deu Nelore. Foi bom para o Bra-sil que estabeleceu um fantástico lastro anelorado para ser utilizado por outras raças, com excelente vigor híbrido.

5) A segunda infusão de san-gue Gir - foi problemática. Alguns dizem que reduziu a aptidão de carne do Indubrasil, na década de 1950; outros dizem que equilibrou os exageros do Indubrasil da épo-ca e também agregou valor leitei-ro ao Indubrasil. Rodrigo Caetano Borges diz que foi boa influência. “Vai crescer, agora. O antigo Indu-brasil ninguém quer mais. O Indu-brasil moderno deve-se à infusão do Gir. A cabeça mais girada é preferida à guzeratada. O animal apresenta mais costela, mais lei-

Animais bem constituídos, no campo.

lugar ao Nelore.Clarindo Miranda lembra que

foi um período de “guerra contra as orelhas longas”. Conta que, na Amazônia, ninguém tomava leite, preferindo o açaí, nas manhãs, quando a Sudam começou a im-plantar várias fazendas, ao redor de grandes cidades, para criar o gado Holandês - como também aconteceu no Nordeste. O leite de Zebu foi substituído pelo de Holandês; o gado orelhudo foi trocado pelo de orelhas curtas. As boiadas exibiam meia-orelha e continuariam encurtando essa característica que vinha do Indu-brasil.

Fugazzola lembra que o finan-ciamento público, ou bancário, acoberta distorções, quando se leva em conta a realidade climáti-ca e econômica do setor rural. Não existe, até hoje, um real casamen-to entre a qualidade do financia-mento e o que é verdadeiro para o campo. Lembra que a ABCZ, para corrigir essa distorção, vem promovendo o Progenética, distri-buindo tourinhos registrados, em feiras regionais.

A distorção continua até hoje, pois faltam 400 mil tourinhos re-gistrados e os relatórios da AS-BIA mostram que 50% das vacas são inseminadas com raças euro-peias. Isso porque o financiamen-to é garantido, desde que seja

Docilidade ao manejo; homogeneidade.

“Monumento ao Indubrasil, em Recife, de 1943. O touro-modelo foi FARRA-PO, de João Teobaldo de Azevedo”.

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te, menos perna, mais gavião, mais orelha, tetas menores”.

6) Preocupou-se com Porte e Peso, mas não com qualida-de da musculatura na carcaça - A tendência da época era que o maior deveria ser também o mais produtivo. O Nelore utilizou todas raças brancas para fazer o anelo-rado, o gado branco. O Indubrasil sofreu por isso.

Abatia-se boi com 5-6 anos, a tendência era o peso (25 arro-bas) e não a qualidade de carne. Era comum escutar: “Se tiver um cofre que cabe 1.000 notas, você vai guardar notas de 100 ou de 1.000 cruzeiros”? A boiada so-mente era vendida em momentos de picos econômicos e, por isso,

quanto mais arrobas tivesse, tan-to melhor. O fazendeiro segurava a boiada, como faz o cafeicultor moderno para vender no pico. O boi elogiado era aquele que “en-tortava o gancho do frigorífico e o focinho encostava no chão”.

No começo, o Nelore usado no Indubrasil não era grande: tinha orelha pesada, cabeça chata, car-nudo. Ao ser cruzado com o In-dubrasil, deu produtos com bom tamanho, boa ossatura e muita carne. Os neloristas colocaram em cena o “rendimento de carca-ça”, preconizando a redução de tudo que não tinha valor: cabeça, rabo, barbela, umbigo. O Nelore tinha defeitos: osso sacro alto, cernelha elevada, couro mínimo, celerípede, mas foi em frente. A

importação de 1962 trouxe ex-celentes Nelores que corrigiram a ossatura e a musculatura. Os neloristas nunca pararam de tra-balhar corretamente o gado, ten-do em vista o mercado mundial. E assim continuam até hoje.

Hoje, muitos já estão testando o Indubrasil no meio de boiadas aneloradas. No Mato Grosso do Sul, Milton Andrade (em Campo Grande), usa Indubrasil num reba-nho de 15.000 vacas aneloradas. Como ele, muitos outros produ-zem os touros próprios, de sangue Indunel, para garantirem grandes boiadas dentro do que elogiam os frigoríficos. O uso do Indubrasil é lucro para muita gente.

f) Preocupou-se com Porte, Peso, Beleza, mas não com Habi-lidade Materna -.

Inicialmente o que importava eram o Porte, a Beleza e o Peso. Ninguém se preocupava com Ha-bilidade Materna, porque não era importante. Clarindo lembra que, antigamente, a ossatura era muito grossa; o bezerro nascia pesado; crescia muito rapidamente, com ossatura sem formação e, por isso, era frágil. A vaca, por seu lado, tinha tetas longas, grossas, dificultando o acesso do bezerro. Não havia seleção para tais carac-terísticas.

Hoje, o correto é o bezerro nascer e logo procurar as tetas da vaca. O bezerro nasce com 30-34 kg, e em 5-20 minutos já levanta, de 30-60 minutos já mama. Um grande progresso. A média de sur-gimento de tetas grossas e longas não pode chegar a 10%, devendo se extinguir já na próxima geração.

Fugazzola lembra que “o ca-minho do meio é o da virtude”; os bichos grandes são inférteis, pela Lei da Natureza. Conta que os rebanhos de seu avô e de seu pai eram formados por gado de tamanho médio, cruzados de Par-do-Suíço com Nelore, tetas curtas. “Bicho graúdo só serve para mo-numento” - finaliza.

De norte a sul, em todos os climas, nota-se a influência do Indubrasil.

Animais de ótima constituição, no Sertão nordestino.

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Mewati:a raça-mãe do IndubrasilA FAO estima que existem

61 raças, ou grupamentos, de bovinos na Índia, sendo que ao redor de 30 raças são bem de-finidas, tendo base na literatura indiana. A Índia, com tamanha riqueza genética, corre perigo, pois os governos têm estimulado programas de cruzamentos com raças europeias, substituindo as

raças nativas por mestiças Jer-sey, Pardo-Suíça, Holandesa e outras raças. Alguns acusam os governos de corrupção, por esta-rem trocando a milenar fonte de combustível renovável para dar lugar aos combustíveis fósseis importados. (The Cow indiana abril-junho, 2006, p. 29).

A região - Mewat é uma região histórica ao sul da provín-cia de Haryana, mas com partes dentro da provín-cia de Rajasthan. Mewat não tem limites definidos, medindo 1.912 km2, com população de um milhão de habitantes. O nome Mewat deriva de “Mina vati”, que significa “terra abundante de pei-xes”. A História da região é ano-tada desde 500 aC. A lin-guagem é o Mewati.

Mewat é uma região semiá-rida; a economia é a agricultu-ra elementar, principalmente de sequeiro. A capital de Mewat é a cidade de Nuh. O distrito tem 1.200 aldeias, 500 em Harya-na, 600 em Rajasthan e mais 50 em Uttar Pradesh. O Gover-no de Haryana quer transformar um antigo lago seco, criando em seu lugar um grande açude de 72 hectares e vários outros.

O gado - Recebe o nome de Mewati, mas também de “Kosi”, que é nome da pequena cida-de no distrito de Mathura, onde acontece a histórica e famosa Feira de Gado, em que a raça Mewati é a estrela principal. Centros de criação: Gurgaon e Faridabad, na província de Haryana. Também em Alwar e Bharatpur, na província de Ra-jasthan. Também em Mathura,

1- Raça Mewati, na Índia (foto: Abel P. Borden, p. 50)

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distrito de Uttar Pradesh.O Mewati é um animal muito

resistente às secas. Poderoso no serviço e dócil. Muito utilizado na lavoura pesada, transportes (car-roças e carroções), e implemen-tos (tirar água de poços profun-dos, olarias, etc.). Normalmente, as vacas produzem pouco leite, mas os habitantes insistem em afirmar que é “muito boa” (“A Vaca indiana” - abril-junho, 2006, p. 35). As vacas normalmente têm tetas bem desenvolvidas, com produção entre 900 a 1.000 kg.

Descrição - O Mewati é as-

2 - O gado indiano está em muitos países. Aqui, em Mandalay, Myanmar (foto: www.123rf.com).

3 - Gado de rua, com longas orelhas (foto: asfarasi-cantell.com596).

4 - Touro Mewati, lembrando a raça Malvi. (foto: Animal Breeding Group, NDDB)

5 - Mewati, com pelagem de Gir (foto: alamy).

semelhado ao Haryana, mas apresenta algumas característi-cas do Gir; às vezes, apresenta traços da raça Malvi e também das raças Rath e Nagori, vizi-nhas. Geralmente, o Mewati é de cor branca, mas surgem ani-mais castanhos, com pescoço, ombros e quartos mais escuros. Ocasionalmente, surgem alguns com manchas, lembrando o Gir. O crânio é comprido e estreito, com a testa ligeiramente salien-te. Os chifres, pequenos, ou médios, saem para fora, para cima, para trás, para dentro, mas com grande variação. Os

olhos são proeminentes, às vezes rodeados por uma mancha muito es-cura. O focinho é largo e quadrado, com lábio su-perior grosso e saliente. O focinho é escuro como breu.

As orelhas são pen-dulosas, alongadas. Sur-gem animais com orelhas enormes, mas a maioria é de tamanho mediano e surgem orelhas curtas. Não há um padrão defini-do para as orelhas.

A cabeça e o pescoço são normalmente eretos, com certa elegância. O pescoço e toda a estrutura é forte, mas os membros são relativamente longos, dando impressão de se-rem fracamente constitu-ídos, com pernas finas,

redondas, mas com cascos gran-des e fortes, bem arredondados.

O peito é profundo, mas as costelas são planas, sem arque-amento.

A barbela, embora pendulosa, não é muito espessa. A bainha também é livre, leve, pouco pen-dente. A cauda é longa, a vas-soura quase atingindo os calca-nhares, naturalmente.

Referência básica:

Joshi, N. R., Phillips, R. W. (1953) Zebu gado da Índia e do Paquistão, Estudos Agricultura FAO No. 19, Publ. pela FAO, em Roma, 256 pp.

Orelha & Mansidão

Normalmente, animais de lon-gas orelhas, tendem à mansidão. As orelhas são alvos fáceis para os predadores e, então, o orelhu-do evita predadores. Nas fugas, as orelhas longas podem se ferir em galhos, porteiras, paredes e, então, o orelhudo evita as corre-rias. Tornam-se, por isso, mais mansos. Podem surgir animais ligeiros, lépidos, mas a regra é a

mansidão no andamento. Isso quer dizer que, se o Indu-

brasil tivesse orelhas curtas, seria bravo? Os fazendeiros não têm certeza, mas dizem que os bezer-ros de longas orelhas são - de fato - mais dóceis que nas demais raças.

Este assunto da Etologia merece um estudo mais amplo, pois alguns acham que a brave-

za é questão de manejo e não apenas de orelhas longas. Será, porém, que o bom martelo não ajuda a bater o prego, mais acer-tadamente? Que o bom forno não melhora o sabor do assado? Não é à toa que a Natureza fez os cães, gatos e coelhos de longas orelhas - e o Indubrasil - para serem “an-imais domésticos” muito aprecia-dos pela docilidade e poesia.

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Indubrasil multicolorido ?Diz o Padrão Racial da ABCZ:

“A pelagem do Indubrasil é branca, cinza e vermelha, uniforme, podendo as extremidades ser escuras. São permissí-veis: amarela uniforme; cinza

avermelhada e suas nuances; uma ou outra mancha não muito

definida ou carregada na cor, nas pelagens: branca, cinza e amarela. São desclassificantes: preta; pinta-da de preto; manchas no vermelho e no amarelo; sarapintado”.

Para se expandir em novos mercados, o Indubrasil pode fle-

xibilizar a coloração? A discus-são é aberta, pois em outros

países já ocorre a abertura de pelagens. “Um grande

erro do Indubrasil, no pas-sado, foi trabalhar com

emoção e não com a razão” - lembra Clarin-

do. Na modernidade, é preciso dar muita

atenção à razão, pois o mercado

é muito aber-to e compe-titivo. Não há, porém, consenso entre os

cr iadores sobre a pe-

lagem.Hen r i que

Figueira salienta que a multicor se-

ria até natural, uma vez que o Indubrasil foi

formado por raças com pelagens bem variadas.Fugazzola acrescenta que

o Indubrasil deve se abrir para as novidades, mesmo prestigiando a tradição. “É uma tendência moder-na; o multicolorido está no Nelore, no Paint-Horse; em muitas raças; faz parte da modernidade”. Ade-mais, explica que - quando se cruza

Black Indu Cow

o Indubrasil Vermelho com o tradi-cional, podem surgir variedades de pelagens, como o amarelo, o pinta-do com até três cores. É já comum encontrar bezerros com cabeça vermelha, lombo pouco avermelha-do, às vezes com manchas. Parece que, no clima tropical, a pelagem multicolorida garante a flexibilida-de perante o clima. No clima muito quente, destaca-se a branca; no clima um pouco mais frio destaca-se o animal mais escuro. Segundo Fugazzola, o clima é o comandante: ele escurece os animais, no inver-no; e os clareia no verão.

Afora isso, a pelagem é uma re-gra do Homem, e não propriamente do animal. As pessoas reúnem-se ao redor de uma mesa e ditam um Padrão Racial. Nada impede que se reúnam e mudem o Padrão, para que o animal tenha mais chances mercadológicas.

A discussão é aberta. Rodri-go Borges diz: “Não! Não convém abrir. O branco e vermelho são os padrões históricos; não há porque mudar, agora. É um perigo, pois - para fazer outra coloração - é pre-ciso misturar com sangue exógeno e vamos perder a tradição, ou seja, podemos perder todo o trabalho que foi feito até aqui”.

O Indubrasil, sendo um Neoze-buíno, tem a vantagem de poder re-alizar misturas, em busca de novas pelagens, principalmente se dentro do próprio Bos indicus. Não é pre-ciso deixar de um “zebu puro-san-gue” para ostentar toda gama de pelagens.

Clarindo Miranda apostrofa: “Não! Não podemos fugir de 100 anos de busca de um padrão. Hoje, o Indubrasil funciona bem sobre qualquer raça e dá certo: cabeça, rabo, orelhas, pelagem. Só a raça pura pode garantir isso. Quanto mais pura fora a raça, melhores se-rão os descendentes. A discussão de mudar a pelagem não é para agora, mas apenas para quando a raça tiver um enorme rebanho na-cional e mundial. No momento, há poucos rebanhos e essa discus-

são é de incrível inutilidade. O Indu-brasil não precisa acrescentar novas pelagens para con-quistar mercados. Precisa, sim, de mais rebanhos, com ou sem Re-gistro Genealógico. Afinal, quanto mais se abre a pelagem, criam-se nichos de “pets”, ou seja, de bibelôs, animais-de-estimação, mas com pouco a ver com o próprio mercado.

Rodrigo Borges também é taxa-tivo: “O Indubrasil já está feito; não precisa fazer mais nada”. Para ter uma nova pelagem se-riam necessários mais de 50 anos para fixação: um enorme tempo a ser considerado. Não é discussão para agora.

Novo mundo pe-cuário - Por outro lado, a FAO preco-niza que a África terá a maior expan-são pecuária do planeta, deven-do acontecer até o ano 2050 e lá muitas raças são multicoloridas. O Brasil e a África irão abastecer o mundo com carne e leite. A população africana irá dobrar, consti-tuindo um fabuloso mercado para a pe-cuária. Esse é um grande terreno para o Indubrasil.

Tendo em vis-ta a África e outros países, o Indubrasil poderia admitir va-riedades multicolori-das? Como já fez o Nelore? Como faz o Brahman? O Sindi poderá importar

HK Mr. America, nos EUA.

Indu Black, nos EUA.

Busy Bee Pedro, nos EUA.

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o Cholistani multico-lorido e também terá sua variedade pinta-da. Assim, o Nelore, o Gir e o Sindi teriam suas variedades pin-tadas. Todas as ra-ças do Brasil, menos o Indubrasil. Será que, de novo, o Indu-brasil vai ficar para trás, por não aceitar a modernidade?

Henrique Figuei-ra acredita que o In-

dubrasil poderia admitir pelagens multicoloridas, pintadas, malha-das, manchadas, lavradas, mas

nunca chitadas - pois as chitas são carac ter ís t i cas exclusivas do Gir. Ele enxerga uma grande abertura de mercado para os que desejam essas variedades, no Brasil e no mundo.

Fugazzola en-xerga o futuro: “Os criadores de pequenas e mé-dias propriedades querem um Zebu

Leiteiro, que tenha cara de Indu-brasil - agregando valor do Gir,

Guzerá e do Ne-lore - não impor-tando a coloração da pelagem. Os selecionadores, sim, continuariam com o Indubrasil tradicional, mas teriam que admitir que outros sele-cionem varieda-des de pelagens. Podemos produzir animais multico-loridos e exportar para quem tiver interesse. Temos a “indústria” nas

mãos e não devemos deixar que

os concorrentes produzam aquilo que podemos produzir. Alguém irá produzir Indubrasil multicolorido e nós teremos perdido esse merca-do. Afinal, não podemos impor so-bre o cidadão: cada um cria o que quer. A abertura trará nova gente, multiplicação de rebanhos, para todos os gostos. O Indubrasil é um Neozebuíno e, então, pode fazer da pelagem multicolorida, um trun-fo, uma vitória.

Clarindo vai longe, lembrando: “Quem coloriu o Nelore não foi para frente. Basta observar quan-tos novos rebanhos Nelores esco-lheram o pintado. Hoje são alguns poucos rebanhos para enfeitar porta de sede de fazenda. Como se fosse um capricho do selecio-nador. Se pelagem multicolorida fosse uma vantagem comercial, o Nelore estaria cheio de coloridos por todo lado, mas não é o que se vê: todo mundo prefere o Nelore branco. Eu sou radical, temos um padrão que sustentou a raça até hoje. O problema do Indubrasil nunca foi a cor, mas algumas ca-racterísticas que não se moderni-zaram, no passado, cuidaram das orelhas, mas se esqueceram dos aprumos, do umbigo, da quartela, das tetas, do úbere, etc. Hoje, po-rém, os modernos indubrasilistas já têm animais excelentes. Somos vitoriosos e o momento é de con-quistar mercados, ao invés de fi-car inventando modismos”.

A pelagem monocolorida é uma conquista, para facilitar a seleção. Não há motivo para complicar o que é fácil. O Padrão descreve: “do branco ao escuro, mas tudo definido”. Não convém aprovar medidas que levem a um retroces-so.

Existem muitos depoimentos de Indubrasil negro. Clarindo diz: “Eu vi Indubrasil a 10 graus negati-vos, nos Estados Unidos (fazenda de James Clean, Texas/Oklaho-ma), onde haviam animais total-mente pretos, como defesa diante do gelo. Também vi Indubrasil a 58 graus, na Tailândia (fazenda

Diamante Negro

Brahman-male (www.dreamstime.com)

Blac Indubrasil (blackbrahmans.com)

Spotted cow (blackbrahmans.com

Rsiamindu (board.kobalnews.com)

Spotted cow (blackbrahmans.com)

do Sr. Narong, ministro no país) - são vantagens de adequação.

O norte-ameri-cano, porém, é o “rei da mistura”, não se importa com raça-pura, ao usar o Bos indicus. Isso por-que o Bos indicus é um “adendo” e admite toda sorte de variações. Já nas raças con-tinentais (Here-

ford, Holandês, etc.) o norte-ame-

ricano não admite mudanças. O maior exemplo é o Holandês Ver-melho e Branco que não é aceito na maioria dos países. Para sorte do HVB o Brasil o acolheu e tem o maior rebanho do planeta, embo-ra a presença do HPB é maciça. Ou seja, o HVB nunca conseguiu um lugar de grande destaque, mesmo no Brasil.

A Filogenia ensina que não havia Bos indicus multicolorido, inicialmente. O Gir buscou sua pelagem multicolorida na Áfri-ca; o Nelore buscou nos anti-lopogíneos; o Cholistani foi for-mado por adoção da pelagem multicolorida do Gir.

Tailândia firma-se como comprador de Indubrasil

Normalmente, animais de lon-gas orelhas, tendem à mansidão. As orelhas são alvos fáceis para os predadores e, então, o orelhu-do evita predadores. Nas fugas, as orelhas longas podem se ferir em galhos, porteiras, paredes e, en-tão, o orelhudo evita as correrias. Tornam-se, por isso, mais mansos. Podem surgir animais ligeiros, lépi-dos, mas a regra é a mansidão no andamento.

Isso quer dizer que, se o Indu-brasil tivesse orelhas curtas, seria bravo? Os fazendeiros não têm certeza, mas dizem que os bezer-

ros de longas orelhas são - de fato - mais dóceis que nas demais raças.

Este assunto da Etologia merece um estudo mais amplo, pois alguns acham que a brave-za é questão de manejo e não apenas de orelhas longas. Será, porém, que o bom martelo não ajuda a bater o prego, mais acer-tadamente? Que o bom forno não melhora o sabor do assado? Não é à toa que a Natureza fez os cães, gatos e coelhos de longas orelhas - e o Indubrasil - para serem “an-imais domésticos” muito aprecia-dos pela docilidade e poesia.

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O gado bom, ouo gado melhor

O mundo é torpedeado com frases como: “o maior produtor de carne é o Brahman”; “o bovino mais eficiente é o Nelore”; “o mais versátil é o Guzerá”; “o maior é o Indubrasil”, etc. Nenhuma acumu-la as virtudes e seria ótimo se fos-se possível dizer: “o mais versátil, eficiente e de maior porte é o Indu-brasil, campeão produtor de car-ne”. Por que isso não é possível?

Todas as raças inventam re-frões, slogans, para sua propa-ganda, mas todas sabem que o melhor caminho é o do meio. Os extremos são inimigos da perfei-ção. Quando o animal é “ótimo”, então é inimigo do “bom”. Os ex-tremos acarretam subfertilidade, queda de rusticidade, perda em acabamento, no correr do tempo.

O Brahman tem fama, como raça, não como indivíduo. Os Es-

tados Unidos são o maior produtor de carne e não, necessariamen-te, o Brahman. Na média geral, o Nelore e o Indubrasil pesam mais, em carne limpa. Nas expor-tações de carne para a Venezue-la, oito frigoríficos abateram mais de 1.000 cab/dia; mais de 54 mil toneladas de carne. Muita gente dizia que o Nelore nunca chegaria ao Brahman, em carne. Quando viram as planilhas dos frigoríficos, os Nelores foram pouco melhor que o Brahman em rendimento de carcaça. O Nelore teve 52,2 % e Brahman deu 51,8%.

O Zebu tem menos carne no dianteiro que europeu, mas tem mais no traseiro. Isso é um trunfo. O que interessa é o comprimen-to das peças, significando filés e contrafilés maiores.

Um Chianina com carne seria

ideal; é o maior e mais alto do pla-neta, mas não é o maior produtor de carne.

O boi não precisa ser grande, nem pequeno, mas produtivo. Às vezes, é grande produtor de car-ne, mas não é o mais lucrativo, pois consome muito. O mais lucra-tivo é o que gera receita maior que a despesa. Interessa a produção “econômica” da fazenda e não o gigante. A receita é: maior produ-ção, em menor tempo, num ciclo de tempo, com economicidade. Também é importante observar o resultado da boiada no campo: não adianta criar animais que co-mem com cinco bocas, ou seja, a própria boca e mais as quatro pa-tas que estragam o capim.

Rodrigo Borges diz que o Indu-brasil não tem a precocidade que outras raças têm. Já melhorou

muito, mas não dá para comparar o nível de seleção, por enquanto. Faltam animais, faltam criadores, já reduzimos muitas característi-cas negativas, mas não fizemos tudo. O criador de Indubrasil não deve se preocupar em ser o maior, pois há coisas mais importantes, como a precocidade, a qualidade da carne, etc. O progresso rumo ao futuro é visível, pois o moderno Indubrasil já é um pouco mais bai-xo do que os antigos.

A vantagem do Indubrasil é que ele agregou o que havia de melhor

no Nelore, Guzerá, e Gir. O Nelore entrou com a habilidade materna; o Guzerá entrou com o arquea-mento das costelas e a rusticida-de; o Gir com o leite.

Por ser um Neozebuíno, a se-leção do Indubrasil será eterna, sempre melhorando, ou adaptan-

do alguma coisa à região, ou situa-ção. O Neozebuíno é maleável, pois tem o sangue de três raças.

Hoje, a habilidade materna já foi bem corrigida: tamanho das te-tas, tamanho dos bezerros, firme-za do bezerro ao nascer, umbigo, etc. O bezerro nasce com 30-34 kg, e em 5-20 minutos já levanta, de 30-60 minutos já mama. Um grande progresso.

Henrique Figueira deixa claro que “tamanho não tem tanta re-lação com precocidade. Nesse momento, é mais importante para o Indubrasil prestar atenção à pre-cocidade, qualidade e rendimento de carcaça, do que no tamanho.

Afinal, a ciência já provou há dé-cadas que o peso exagerado ao nascer é prejudicial. Por isso, o Angus colocou no Padrão Racial que o animal deve nascer ao redor de 25 kg e disparar no crescimen-to já fora do ventre materno”. Tam-bém lembra que o grande porte, não raramente, está relacionado com pouca longevidade e produ-tividade na idade adulta. “Não há mais motivo para elogios ao gran-de porte, pois o mais importante na pecuária é a visão empresarial, é o lucro e, para ele, é importan-te cortar custos desnecessários e, em boa parte, o grande porte é apenas custo” - conclui.

Indubrasil chitado é Grande Campeão

A exposição “Michigan State Fair” teve início no longínquo 1849. Cabe lembrar que, no Brasil, a pri-meira foi a Exposição Comemorativa da Abertura dos Portos, em 1908. Michigan tem, portanto, uma enorme tradição.

Em 2013, a Exposição passou a ser gerenciada pela iniciativa privada. Em 2014, a Exposição teve número recorde de expositores de gado. A grande novidade foi que o Campeonato Entre Todas as Raças foi um touro e uma vaca da raça Indubrasil.

Para os brasileiros, que já aboliram o Grande Campeonato Entre Todas as Raças, pareceria muito estranho, pois o Campeão é chitado, embora com as longas orelhas do Indubrasil. (foto: Brahman Journal)

Bom no seco, bom no verde.

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Cruzar o Indubrasil com o quê ?Historicamente, nas décadas

de 1940/50/60 o ventre mais utili-zado foi do Indubrasil, prestigiando touros Nelores. Agora já acontece o inverso: touro Indubrasil sobre vacas Nelore. A situação mudou, melhorou e o Indubrasil tem gran-de contribuição a dar à pecuária de campo.

Rodrigo Borges lembra que a cria do gado anelorado com touro Indubrasil será ótima, de maior, muito rústica, menos andeja, com boa precocidade.

Clarindo Miranda acha que o correto foi o que aconteceu no pas-sado e que deu tanta fama para o Nelore: o uso de touro Nelore so-bre vaca Indubrasil. O resultado é espetacular, mas hoje não há mais fartura de rebanhos de ventres Indubrasil. Por isso, o jeito é usar touro Indubrasil sobre vaca anelo-rada. O uso contínuo vai forman-do vacadas esplêndidas, no Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,

goiás, Sertão nordestino, sertão mineiro, etc.

Muitos criadores de gado de corte mantêm um pequeno lote de vacas Indubrasil para fazer pró-prios touros. São vacas excepcio-nais, orelhudas, com muito couro, ossatura forte e boa aptidão leiteira para as crias. Uma das vantagens é que o touro pode ser alternado entre os lotes, antes de chegar à idade de descarte.

Economicamente o ventre Ne-lore é mais producente, mais bara-to, mas qualquer receita utilizando Indubrasil vai dar certo. Na verda-de, depende da logística, ou seja, da região e da situação onde está a propriedade. O que determina a escolha do gado correto é o peda-ço do céu acima da cabeça e o pe-daço de chão abaixo dos pés.

Rodrigo Borges afirma que o Nelore é um gado fácil de parto, de criação, de bezerros firmes e sau-dáveis. O touro Indubrasil garante

progênies de maior porte, ossatu-ra forte, maior produção de carne, sem perder a rusticidade.

Novas alternativas

Alguns pecuaristas vão alter-nando as raças zebuínas na vaca-da de corte: ora usam o Indubrasil e suas filhas serão acasaladas com Guzerá. Depois retorna o touro Ne-lore sobre as netas. Existem mui-tas receitas praticadas nos campos brasileiros e, por isso, o país já é o maior exportador de carne. Bre-vemente será também o maior pro-dutor.

Henrique Figueira acha que ain-da vai durar um bom tempo o uso do touro Indubrasil sobre vacada anelorada, pois é a única que exibe ventres disponíveis para os cruza-mentos.

“Os resultados são muito bons e, então, a maioria vai continuar investindo nessa direção” - conclui.

O gado Indunel (Indubrasil + Nelore) é muito lucrativo.

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mamando as crias em julho de 2013. Eram 41 fêmeas, com peso de 215,4 kg. A planilha de ma-chos, de novembro e dezembro de 2012, desmamados em setembro de 2013, soma 30 animais, com peso médio de 202,4 kg - menos que as fêmeas. “São planilhas re-

alistas, do que está acontecendo no campo”, lembra Fugazzola. “Não adianta fantasiar, pois este é o dinheiro que leva a propriedade adiante” - finaliza.

Clarindo Miranda cita animais sendo desmamados, aos 6 me-ses, em cocho privativo ( “creep-

O Indubrasil e o desempenho no gancho

Indunel - Um lote de novilhos gordos, meios-sangues Indubra-sil/Nelore chama sempre a aten-ção. “É um gado maravilhoso, um brahmanizado”, cheio de carne. Clarindo Miranda diz que o meio-sangue é maior que os pais, ou seja, maior que o Nelore e o pró-prio Indubrasil, com rendimento ao redor de 55% a 55% de carcaça. Afirma, categoricamente, que o meio-sangue obtido de ventre Ne-lore é um pouco inferior ao produto obtido com ventre Indubrasil. Por isso, muitos criadores de Nelore estão adquirindo vacas Indubra-sil, ou fortemente indubrasiladas, para melhorar o peso dos lotes de novilhos.

Fugazzola mantém a tradição do avô e do pai, criando Indubra-sil, Nelore e Gir. Paga as contas, enviando lotes de novilhos para abate, regularmente. “São animais de campo, naturais, sem qualquer artifício”, garante. A planilha do dia 23 de julho de 2015, de sua Fazenda Amazonas, em Naviraí (MS), mostra 31 novilhos, com idade média de 33 meses, rendi-mento no gancho de 54,0%, peso médio de 529,23 kg, ou 19,05 ar-robas.

Desmama - Outra planilha mostra os nascimentos entre se-tembro e outubro de 2012, des-

feeding”), pesando 210-220 kg, na Bahia.

Indulando - Os Indulandos, na desmama, pesam entre 270-280 kg, aos 9 meses - afirma Rodrigo Borges. Clarindo lembra que os pesos do Indulando superam fol-gadamente o Girolando. Muitos machos Indulando são utilizados sobre vacadas leiteiras em peque-nas e médias propriedades, para melhorar a ossatura e peso da no-vilhada.

Mestiço europeu - Rodrigo Borges diz que não há necessi-dade de abater animais antes dos 30 meses. Há uma tendência de usar mais tecnologia e reduzir a idade de abate, mas por enquan-to não tem compensado. O pró-prio gado anelorado é abatido entre 24 a 36 meses. O uso de touro europeu (Limousin, Charo-lês, Aberdeen Angus, etc.) pode reduzir a idade de abate, pois os novilhos apresentam acabamento já a partir de 15 meses. A rigor, no Brasil, a média é o novilho co-mum, de pasto, atingir 17 arrobas é aos 24 meses. “Se alguém dis-ser que tem boiadas pesando 17 arrobas antes de 24 meses estará mentindo” - finaliza.

O Indubrasil em vacada Nelore.

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Os 10 Mandamentos na hora de comprar um IndubrasilO comprador está na portei-

ra. O que será que ele irá esco-lher? Quais são as prioridades do comprador? Afinal, o que o comprador mais deseja encon-trar no lote onde vai escolher

seus futuros animais? Em casos de exportações,

muitas vezes, os compradores querem animais de acordo com seu estágio cultural. Então, po-dem preferir animais com ca-

racterísticas raciais acentuadas, como o comprimento de orelhas e “gavião”.

A tabela mostra a ordem ano-tada pelos criadores de Indubrasil em seus currais.

A maratona do leite de ZebuQuando uma região atinge um

bom desempenho leiteiro, o Go-verno desestimula o uso de Zebu e estimula o de Taurino (Holandês, Jersey), como em São Paulo, Pa-raná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esse cenário pode mudar?

As opiniões são muito diver-gentes, entre economistas, po-líticos e pecuaristas. Henrique Figueira afirma: “Claro que pode mudar. Tudo pode mudar, na vida. Na verdade o que todos buscam é produtividade com lucratividade e sustentabilidade. Sem isso, qual-quer negócio vai morrer”.

Fugazzola acha difícil mudar: “Acho que não vai mudar, pois o Governo tem a mídia a seu favor e divulga ao povo que está acon-tecendo um melhoramento da pro-dução, o que realmente acontece. A produção aumenta, mas o nú-mero de produtores despenca. Só no Paraná foram mais de 40 mil. Entre São Paulo, Paraná, San-ta Catarina e Rio Grande do Sul, talvez 200 mil. Então, o Governo prejudica pequenos e médios cria-dores, mas favorece os consumi-dores urbanos e os oligopólios do leite. É uma aberração política, pois liquida milhares de empregos rurais. Resumo: o mesmo Gover-no diz que defende os pequenos produtores, mas está favorecendo os grandes laticínios”. Antigamen-te, em cada cidade havia um lati-cínio; mas todos foram fechados, para abrir caminho para os oligo-pólios do leite.

O fato é que o Governo ainda não assumiu o Brasil real. O leite das pequenas e médias proprie-dades é leite rico em proteínas, mas o Governo estimula o leite de gado taurino, com excesso de ra-ção, hormônios, e confinamento. Isso é muito ruim para a popula-ção que sequer é avisada.

O Governo, ao invés de esti-

mular um modelo brasileiro, optou pela importação do modelo euro-peu. O resultado é a contínua im-portação de animais que chegam ao Brasil, já com artrites e outras doenças. Depois, as vacas mal conseguem andar, ficam em gal-pões específicos, arejados, com a única função de produzir leite. São animais doentes, caquéticos, num clima tropical, produzindo um leite que também causa malefí-cios à saúde humana, durante três ou quatro lactações. Em poucos anos, são animais liquidados, des-truídos. Esse é o modelo europeu, enquanto no Brasil, a vaca Zebu leiteira vive mais de quinze anos, em lactação.

Latão de leite (Embrapa)

Mestiços de Indubrasil, bom de leite e de carne.

Leite de alta teor de sólidos, ideal para queijos.

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Vacas de bons úberes, nas linhagens selecionadas.

Antigamente, o leite era algo precioso, de gado Zebu, todo mundo bebia, sem preocupações, mas hoje, o gado europeu introdu-ziu 180 doenças no Brasil, incluin-do a alergia ao produto. Muitos médicos já condenam o uso do leite fluído, nas cidades, quando deveriam condenar apenas o leite de vacas equivocadas!

Insistir no modelo europeu é burrice política com ares científi-cos; é tirar dinheiro dos brasileiros para entregar a empresas multi-nacionais. Os bancos financiam essa tolice científica há muitas dé-cadas e também não aprenderam. Mais de 50% do sêmen utilizado

no Brasil é importado para vacas leiteiras europeias: um absurdo.

Rodrigo Borges diz: “Isso não irá mudar, pois a Genética neces-sária à produção de leite é muito cara e o Governo escolhe o cami-nho político, não se importando com os produtores. Ao Governo interessa o leite, já fora das por-teiras. As terras tornam-se muito caras e, para manter a pecuária, o gado precisa ser altamente pro-dutor, acima de 25 kg de leite/dia. Então, só mesmo taurinos. As ter-ras mais frias serão, sempre, do gado Holandês”.

Clarindo Miranda diz que há al-ternativa: “A tendência é melhorar a higiene e o preço do queijo vai

subir. Muita gente vai consumir lácteos, ao invés de leite fluído”.

Os dois leites

A Nova Zelândia descobriu o caminho, para benefício do produ-tor: produção de “leite fluído” - com gado taurino - e “leite indústria” - com gado mais rústico. O mesmo “modelo” poderia ser aplicado no Brasil. Os laticínios, hoje, pagam um “extra” para o teor de sólidos, mas poderia ser muito melhor.

Fugazzola afirma: “A Nova Ze-lândia achou seu caminho, que já é utilizado no Nordeste brasileiro há muito tempo. O Brasil criou

sistemas próprios, em Minas e São Paulo, com bezer-ro ao pé, durante os 500 anos des-de o descobrimen-to. Mudar esse regime é um equí-voco; é prejuízo para o fazendeiro. Uma vaca rústica produz o valor de três bezerros ao ano, ou seja, pro-duz o leite, a carne e o esterco. Nada melhor que isso. Tudo sem vene-

nos. O leite de Zebu tem acima de 4,5% de sólidos: uma riqueza; já o gado Holandês mal chega a 3,0%”.

Rodrigo Borges lembra que a maior parte do leite vem de mes-tiços, no resto do Brasil. A “geogra-fia pecuária” está traçada. Onde a rusticidade é exigi-da, produz-se leite com mais sólidos. No Brasil Central, o leite é produzi-do por mestiços abaixo de 3/4 de sangue europeu. No Brasil catin-gueiro e amazôni- Manejo leiteiro típico na maioria dos currais sertanejos.

Ordenha manual nos pequenos e médios rebanhos.

co o melhor seria ordenhar o Zebu puro. Na maior parte do Brasil ad-mite o meio-sangue; mas jamais subir para 3/4 europeu. Algumas poucas regiões podem admitir o 3/4 e até o 7/8. Cada região climá-tica tem sua própria solução: ficar fugindo dela é tolice. O Governo erra, tremendamente, ao subjugar o produtor de leite, algemando a produção.

Clarindo Miranda afirma que a Economia da Nova Zelândia é completamente diferente da brasi-leira. O leite fluído ainda vai fun-cionar por muito tempo. O leite de caixa (longa-vida), em super-mercados, sofre com a deficiência de refrigeração e transportes. O Brasil está dando adeus ao leite-de-latão.

O pequeno produtor que não consegue se adaptar, vai produ-zir queijo, por algum tempo, mas logo irá desistir. Seus filhos não gostam de ver a pobreza dos pais e, então, desistem do trabalho, mi-gram, transformando-se em mão-de-obra barata para as cidades: um formidável desperdício da po-tencialidade rural.

Henrique Figueira informa que

Donzela do Cassu - Grande Campeã, Matriz Modelo, e no Torneio Leiteiro, Expozebu/2013. Atingiu 39 kg.

“existe uma gama de possibilida-des a serem exploradas pelo leite de Zebu. Existem pesquisas a res-peito disso. O leite de Zebu pode ser usado até como remédio, em certos casos. O leite do Indubra-sil é rico e pode ajudar nas contas das fazendas. É preciso aproveitar tudo que a pecuária pode dar”.

Manejo leiteiro tropical

O normal é produzir 70% do lei-te na primeira ordenha, com ape-nas um funcionário. Depois, sol-tam-se os bezerros com as vacas. O funcionário terá, então, mais sete horas para a lavoura e outros trabalhos. Se implantar a ordenha da tarde, para somar mais 30% do leite, irá precisar de um novo funcionário. O custo do novo fun-cionário inviabiliza a propriedade

que, logo a seguir, terá que optar: ou leite com vacas taurinas, ou la-voura.

O tropicologista Preston, ana-lisando o assunto, concluiu que a melhor opção é a criação de vacas que produzam entre 3,5 a 7,0 kg de leite com alta porcentagem de sólidos. O cientista diz que pode-se liberar o leite de domingo, para poupar o funcionário. Ou seja, a propriedade de clima rústico não pode ter vacas de alta produção de leite fluído. Preston afirma que - ao aumentar a produção de leite para 15, ou 20 litros/dia por vaca - a qualidade da renda (relação pasto/grãos, etc.) despenca. O ca-minho, portanto, estaria numa ex-ploração racional do gado tropical, o Zebu, mas isso exige postura política.

Hoje, com alta tecnologia, a

família (pai e filho na ordenha), consegue a média de 800 a 1.000 litros/dia. Depois, ambos traba-lham nos campos. A média é de 50 vacas, com pasto rotacionado e suplementação (silagem milho e ração). É comum ver boas fazen-das com manejo autossustentá-vel, vivendo de lavoura-pecuária, rebanho de 90 cabeças em 40 hectares e, ainda, arrendam áreas para soja.

Sem tecnologia, não há chan-ce de sobrevivência. O antigo ti-rador de leite, de 100 vacas, não consegue manter duas filhas na faculdade, ou pintar a casa a cada 5 anos. Para incorporar alta tecno-logia, irá atender os laticínios, com leite fluído e, então, o Zebu fica para escanteio, cada vez mais.

Fugazzola afirma que um dos problemas são as despesas par-ticulares, na cidade. Aqueles que moram apenas na fazenda, so-brevivem. É um modelo de vida, otimizando a economia com a existência humana, sem ambi-ções inúteis. O filho vai para a es-cola urbana, tem sua época de ser doutor, depois retorna para o cam-po, em busca de melhor “filosofia de vida”. Então, o Zebu leiteiro é o equilíbrio da existência simples, poética, frugal, mas feliz.

A vaca leiteira

Rodrigo Borges lembra que o Zebu, como o Indubrasil, sempre irá produzir carne e leite. Uma boa vaca pode pesar até 800 kg e produzir 30 kg de leite. Ou seja,

Vacas Indulandas, de alto valor genético.

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a vaca Zebu é formidável chance de riqueza. Cita a famosa “Don-zela do Cassú, com 39 kg em 24 horas, pique em sua 3a. lactação. Também lembra a recordista mun-dial, “Bela do Cassu”, com 46 kg (Torneio Leiteiro da Expozebu), na 2a. cria, com 5.048,4 kg e lacta-ção ainda em andamento. O Zebu pode produzir leite: basta o Gover-no permitir.

Clarindo Miranda diz que não dá para acreditar em Indubrasil Leiteiro, nem em Zebu Leiteiro, no atual regime globalizado. Se uma parte do Brasil tem condições para criar vaca europeia, então logo es-tará exportando leite para outros países. Nenhum empresário rural irá ordenhar vaca Zebu se pode

ordenhar vaca europeia. Clarindo afirma que “até pode haver Zebu Leiteiro, mas sempre será exce-ção dentro do mercado, pois o produto final que enche o balde será o cruzado”. A valorização das terras, a redução do tamanho das propriedades, obriga o produtor a procurar vacas de alta produti-vidade e ele acaba optando pelo gado europeu que tem os bancos à disposição.

Mesmo assim, o Zebu conti-nuará influenciando a maioria das propriedades leiteiras. Essa influ-ência é visível. Clarindo diz que a influência do Indubrasil é nítida nos cruzados leiteiros. “o animal

meio-sangue tem a orelha abaixo do olho; o animal 5/8 na altura dos olhos e o 3/4 acima dos olhos - quando o animal está em es-tado de alerta”.

O futuro do leite de Zebu no mundo

O gado taurino tem já 300 anos de seleção leiteira e o Zebu está apenas começando. Rodrigo Bor-ges é taxativo: “Não vejo futuro para o leite de Zebu, no mundo. O que se diz como “leite de Zebu”, na verdade, é de mestiços. Ora, o mesmo Zebu que produz um mes-

tiço leiteiro também irá produzir outro para abate. O Zebu puro-sangue ja-mais será capaz de abastecer cidades, no atual regime po-lítico e econômico. A Índia mantém o Zebu, ao lado de búfalos, e o resul-tado é uma imensa pobreza.

Clarindo Miran-da afirma que “o Zebu puro não tem vez na produção

mundial de leite, mas é o Zebu, no entanto, que produz os cruzados para leite”. Num regime sofistica-do, a vaca é europeia; num regi-me menos sofisticado, a vaca será mestiça; num regime mais rústico, a vaca será Zebu. O que determi-na a “vaca correta” é a região e a situação. As boas terras, de clima ameno, utilizarão o gado europeu; já as terras mais fracas permanecerão com o Zebu.

O leite de Zebu, por ser rico em só-lidos, vem de uma vaca que, biologi-

camente, nunca irá produzir muito leite. Quanto maior for a produção leiteira da vaca, menor será a pro-dução de sólidos. Para transfor-mar a vaca Zebu em produtora de leite fluído seria necessário mudar sua estrutura orgânica. Seria des-montar o que a Natureza levou mi-lênios para fazer.

Henrique Figueira é taxativo: “Toda zona tropical e também a temperada precisa do Zebu para produzir, satisfatoriamente. O Zebu não é apenas uma máquina leiteira, é uma ferramenta de bem-estar social, é fixador de popula-ção no campo, gerando renda e felicidade. Para nossa vantagem, o Indubrasil é a raça zebuína com maior capacidade de adaptação a altas e baixas temperaturas, como se pode analisar a história da raça nos Sertões nordestinos e nos Pampas gaúchos, bem como nas pré-florestas da Amazônia. É gado ideal para pequenas e médias pro-priedades”.

Fugazzola é otimista: “Diz um antigo provérbio indiano que uma vaca Zebu no quintal da casa é si-nônimo de vida longa. Hoje, a mo-derna ciência comprova a verdade do provérbio. Na época do café-

Boa habilidade materna.

com-leite, o custeio fundamental da fazenda era pago pelo leite. Continua assim na maior parte do Brasil. É o “caixa” mensal, ou se-manal, com o leite, o valor da cria e o esterco. O sistema permitia até o plantio de “lavouras brancas” (arroz, milho, mandioca), tudo ba-seado no dinheiro do leite. O res-to da renda era para aumentar o patrimônio, ou seja, para comprar novas terras. Naquela época, só

gente muito rica tinha 500 vacas de leite.

A carne que vem do leite

O que vale mais: o leite no balde, para consumo hu-mano, ou o leite transforma-do em carne, pelo alto peso do bezerro na desmama e, depois, aos 12 meses? O Brasil é um dos grandes produtores de carne, mas esconde o fato de que mais de 30 milhões de vacas lei-teiras produzem machos que vão para o abate, com

bom peso. Mais do que em muitos países. Então, a pecuária leiteira tem muito a ver com a produção de carne.

Henrique Figueira salienta: “Existem muitos lugares, eu diria até que se trata da maioria de pro-priedades brasileiras e em muitos países, que precisam de uma vaca que seja boa de leite e, ao mesmo tempo, possa produzir animais que

sejam aproveitados para o corte. É excelente maneira de complemen-tar a renda da fazenda. Também nas regiões longínquas, há muitos pecuaristas de corte que mantêm um lote de suas vacas mais leiteiras somente para produzir algum leite fluído e bastante queijo, para ven-der na cidade. São pecuaristas de corte, mas não excluem a chance de somar algum dinheiro produzin-do leite e queijo para seus funcioná-rios e até para o comércio. Então, o mercado para o leite é muito vasto, no mundo tropical e semitempera-do”. Concluindo, Henrique lembra: “É bom afirmar que, consultando o IBGE, é fácil verificar que todos os dados de leite do Brasil estão referi-dos a poucas centenas de laticínios e coletores de leite. Na maioria das cidades brasileira, nem laticínios há. No resto do mundo acontece a mesma coisa. Então, o mercado para vaca rústica leiteira é muito grande e isso não vai mudar facil-mente. Essa é a vaca de dupla apti-dão, especialmente Zebu”.

Avaliação Genética do Indubrasil

O resultado divulgado pela ABCZ dos últimos levantamen-tos estão nas Figuras abaixo.

Peso no Sobreano - No cômputo geral, o Indubrasil

Idade ao Primeiro Parto - O melhoramento é evidente, nos últimos anos, mostran-do o esforço dos criadores na

vai melhorando o peso ao So-breano. Por ser raça que está presente no clima Semiárido e também no extremo frio - no Brasil - os dados refletem as

variações que acontecem, em épocas diferenciadas no cor-rer do ano. No geral, porém, a raça vai progredindo, firme-mente.

Figura 7 - Tendência e médias genéticas da raça Indubrasil para peso no sobreano

Figura 8 - Tendência e médias genéticas da raça Indubrasil para idade no primeiro parto

aplicação das boas regras da Zootecnia. O Indubrasil desta-ca-se pelo pequeno intervalo entre a máxima e mínima: in-

dicando que desde o início das avaliações esta já era uma car-acterística muito elogiada na raça.

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O Indubrasil e o boi que o mercado está querendo

O mercado mundial está que-rendo um animal de “grande porte” e “grande massa muscular”. Com o surgimento de tecnologias, os países desejam um animal preco-ce, de bom acabamento, tanto em carne como em leite, que seja pro-duzido com sustentabilidade, ou seja, sem estragar o ambiente. Em resumo: a Economia quer maior produtividade, em menos tempo, em menor área, com progênies se-melhantes.

1) Será um tipo de Brahman? - Rodrigo Borges afirma que o ani-mal mundial terá uma fisionomia de um cruzado entre Indubrasil e Brahman, já visível nos Estados Unidos, Austrália e outros países. “O Indubrasil aumenta o porte, dá rusticidade. O Brahman dá acaba-mento de carne” - conclui.

Clarindo Miranda diz que, na Colômbia, o Brahman é menor que o do Brasil; já nos Estados Uni-dos, em média geral, é maior, mas tem nítida influência de taurinos. O Brahman mundial é uma colcha de retalhos; admite influências exó-genas até hoje. O Brahman tem o mesmo problema que o Indubrasil, ou seja, faltam fêmeas no mercado. Clarindo afirma que “o Indubrasil vai subir, cada vez mais, ocupando espaços que foram do Brahman, em muitos países”.

2) Será um misto de várias raças Zebu? - Fugazzola afirma que será um Neozebuíno, com ca-racterísticas brasileiras. Nem bai-xo, nem alto, nem muito arqueado, com as qualidades já aprovadas pelos brasileiros. Pode ser produzi-do através do PMGZ - CCG. Cabe aos indubrasilistas chegar a esse animal, rapidamente, pois é a raça que tem maior variedade genética já estabelecida. As outras raças es-tarão no começo (Gir, Guzerá, Ne-lore), tentando produzir aquilo que o Indubrasil já é. O animal do futuro poderá variar conforme a região, deverá ser ecologicamente corre-to, ou seja, terá mais pelos no Sul; mais barbela no Nordeste; mais glândulas sudoríparas na Ama-zônia; mais carcaça no Sudeste e Centro-Oeste, etc.). Enfim, será um Indubrasilado, com cara de Marta Rocha e Lampião - somando todas as versatilidades exigidas.

Rodrigo Borges diz que será um produto cruzado, comum, de tipo produtivo bem reconhecido, mas sem fixidez racial. Clarindo diz que é questão de cuidado: a tendência do mercado é obter resultados mais uniformes. Se misturar raças, os resultados não serão uniformes; o meio-sangue sempre é espetacular, mas não há sequência. Além disso, a vaca precisará de leite para a cria, para

Hoje, o mercado quer o animal “lucrativo”, para ser mantido num regime sustentável: isso é a moderna pecuária, em que o Indubrasil tem relevante papel.

O Indubrasil é compatível com todas as realidades brasileiras.

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38 39Bainha rejeitável Bainha com prolapso

melhorar a economicidade do empreendimento.

3) Será uma raça inde-pendente? Fugazzola lem-bra que, antes, havia o reba-nho sudestino puxando para o Brahman e o nordestino puxando para o Guzerá. Fi-cando no caminho do meio (Centro-Oeste) evoluiu em todos os sentidos. Seria um Indubrasil “moderno”, com flexibilidade para todas as alternativas econômicas e ecológicas possíveis. Raça única e unida, com incrível variabilidade genética, inve-jável. Clarindo conclui que os criadores tenderão a uti-lizar a ABCZ, que já tem es-trutura montada, com visitas periódicas e programadas às fazendas. No futuro, irá assumir os Registros do Gi-rolando, Guzolando, Indu-lando e outras variedades, ecótipo, ou raças, pois trata-se de questão de Economia, e não apenas de Zootecnia.

Conclusão

Henrique Figueira con-clui: “O mercado pecuário já evoluiu; não há mais tanta gente procurando animais de grande porte. No mundo moderno, tempo é dinheiro; pecuarista não viaja mais a cavalo, mas de caminhonete. Não adianta ter um rebanho com vacas enormes que só vão parir de 24 em 24 meses - sen-do otimista. Ninguém mais quer isso. Vaca tem que parir todo ano, se possível. Ninguém mais quer um touro, no campo, pesando 1.000 kg. Isso é o “peso potencial”, ou seja, o peso para ser exibido em expo-sições, mas não é o “peso prático”, do dia-a-dia, em trabalho, no campo. Touro

acima de 1.000 kg não dá conta do recado, não consegue andar atrás das vacas, não suporta o calor, além de outros problemas. Touro gran-de é crendice do passa-do; teve seu tempo; teve seu mérito; mas hoje é carta fora do baralho. Touro grande só serve para propaganda”.

O mercado não admi-te mais a o “fancy cattle”, ou “gado-fantasia”, gran-dalhão, para encher os olhos, mas que não con-segue encher o bolso, se

colocado no campo. Não adianta ter um rebanho de animais que neces-sitam de muito volume e riqueza de alimentação. Afinal, o Zebu, se trata-do de maneira artificial, acabará dando uma res-posta equivocada: ele é um animal de campo e ali deve ser observado. Ficar observando Zebu em cocheira é uma ano-malia, obsessão do pas-sado, tarefa dos antigos mascates que tinham que preparar os animais para a venda. Hoje, tudo é diferente: o mercado compra lotes inteiros,

analisando números de desempenho.

O mercado quer aná-lises de “massa muscu-lar”, qualidade de carne, precocidade de carca-ça, precocidade sexual, precocidade de acaba-mento: são fatores mo-dernos, que interessam ao mundo inteiro. Hen-rique Figueira acha que “o Indubrasil tem que se filiar, rapidamente, a tudo isso, pois é exata-mente o que o merca-do está querendo, cada vez mais”.

Bainha do Indubrasil - uma reflexãoAntigamente, o Zebu vito-

rioso tinha que ser o oposto do gado europeu, que sucumbia diante do calor e dos carrapa-tos. Muita gente reconhecia a “pureza” do Zebu pela quan-tidade de couro, pois o gado europeu era atarracado, sem couro, com orelhas também curtíssimas.

O Zebu tinha que ter muito couro e, então, as orelhas mui-to longas eram um elogio no animal grandalhão. Também o umbigo era sinônimo de “mais área”.

Mais tarde, o Brasil adotou o capim Colonião e começou a desbravar terras longínquas. O Indubrasil retraiu-se, nas terras antigas de capim Jaraguá, en-quanto o Nelore, mais barato, podia ser enviado para o papel de “bandeirante”. Para valorizar a nova tendência, as acusações contra o “velho gado” ganharam força: o grande tamanho era tí-pico de gado subfértil; a gran-

de altura indicava um animal inadequado; as orelhas longas eram alvo de predadores; o um-bigo longo era cenário de mui-tas infecções; as crias nasciam molengas, exigindo cuidados.

O umbigo longo foi adotado como bandeira para os críticos interessados na demolição do Indubrasil. As fêmeas foram uti-lizadas em cruzamentos com Nelore. O Indubrasil perdeu o trono de “imperador”.

Hoje, a pecuária evoluiu e todos querem um umbigo cor-rigido (de curto a médio), com ângulo correto. Não adianta o animal ter um umbigo curto e pendular; a angulação correta é importante.

Paradoxalmente, com a as-censão do Gir leiteiro, os cur-rais passaram a disseminar as crendices do passado. É comum escutar que “umbigo comprido é característica de leite”. Assim, o umbigo com-prido está de volta, principal-mente nos currais leiteiros.

O Indubrasil, porém, apren-deu a lição. Não há mais In-dubrasil com umbigo abaixo dos jarretes. O Indubrasil vai melhorando, rapidamente, enquanto outras raças fazem de conta que não enxergam os umbigos crescendo, talvez devido aos cruzamentos. Cla-rindo Miranda diz que é visí-vel o “pioramento” do umbigo, no Nelore e no Gir, sobrando também para o Guzerá. Estas raças já deveriam ter aboli-do, definitivamente, o umbigo longo, mas estão admitindo o encompridamento, estranha-mente.

Fugazzola vai longe e diz que o Indubrasil já reduziu o umbigo. “Nas pistas de Expo-sições, o Indubrasil ganha de muito Gir, de muito Guzerá e

Bainha ideal

Bainha aceitável

Bainha indesejável (Bainha (Foto: dpi.nsw.gov.au)

Bainha condenável

Nos sertões, o Indubrasil é bem visto.

Nos Cerrados, o Indubrasil tem lugar apreciado.

A pelagem vermelha tem muitos adeptos.

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até de um bocado de Nelore”. Proclama: “Eu topo o desafio, com meu gado. Todos os indi-víduos com umbigo classifica-dos entre 1 e 3, ou seja, 50% do trajeto até o jarrete”.

Rodrigo Borges diz que, hoje, não há mais umbigo lon-

go, na fazenda. No cenário nacional, segundo ele, o me-lhoramento do Indubrasil foi acima de 90%, em termos de comprimento de umbigo.

Clarindo lembra que o pro-blema não é apenas o com-primento, mas também o pro-

lapso. “Já está começando no Nelore; cada ano surgem mais animais com prolapso, mesmo com umbigos curtíssimos. O prolapso é um problema muito grave. É mais fácil curar pro-lapso de umbigo longo do que de umbigo curto” - conclui.

1) Perspectivas imediatas

Variabilidade genética - A raça fez um notável trabalho de corre-ção fenotípica e, hoje, apresenta animais de excelente qualidade. Sem dúvida, o gado da atualida-de é muito superior ao de 50 anos atrás. Sendo um Neozebuíno, o Indubrasil é resultado da união de todas as demais raças zebuínas. A ABCZ vem praticando o CGC (Carta Controle de Genealogia) para formar um Neozebuíno e o In-dubrasil é parte importante. A raça Indubrasil está com pouca variabili-dade genética e várias alternativas estão sendo estudadas.

Rebanhos - São poucos criado-res, todos com gado excelente. Fal-tam fêmeas, pois a demanda pelo Indubrasil está crescendo muito ra-pidamente. As boiadas aneloradas, nas fronteiras de desenvolvimento, já começaram a divulgar os bons resultados do uso do Indubrasil. O uso de sêmen sexado pode acele-rar a produção de fêmeas. A FIV - Fertilizanção in Vitro garante um salto numa única geração.

Animal moderno - O moder-no Indubrasil é de dupla aptidão, com linhagens para carne e outras para leite. Os animais frequentam a mesma pista de julgamento. A produtividade do Indubrasil é de atingir 18 arrobas entre 24-30 me-ses. A vaca produz entre 3,5 a 6,0 litros de leite, em regime de pasto, com lactação entre 270-300 dias, desmamando um bezerro saudá-vel. As linhagens leiteiras podem apresentar produtivida-de muito superior. Ani-mal longevo, com vida produtiva acima de 15 anos.

O animal moderno apresenta tetas curtas; o úbere não é pendu-loso; o bezerro nasce pesando entre 28 a 36 kg; mama sozinho; logo está andando. Hoje, o novo Indubra-sil é ferramenta a favor da pecuária nacional. “Bezerro que levanta e logo mama: esse é o caminho da pecuária” - finaliza Clarindo.

Cruzamentos - É normal ava-liar os resultados de cruzamen-tos com Nelore (Indunel), Holan-dês (Indulando), com Brahman (Indubrahman) e Itapetinga (Par-do-Suíço) no próprio curral. As vendas são imediatas e, por isso, os animais cruzados sequer che-gam ao Registro Genealógico. Outros mestiços são com as ra-ças: Aberdeen, Hereford, Limou-sin, Charolês.

As perspectivas do Indubrasil

Indubrasil Vermelho em destaque

Melhorando o Brahman

Os Estados Unidos comenta que há uma “febre vermelha” no gado Brahman (Albert Banuet, em

TRIQUI - é o touro importado do México em 2013, para a But-ler Farms, nos Estados Unidos. Foi Campeão Internacional Indubrasil em 2013, em Acapulco. Tem lotes de fêmeas Indubrasil e também fêmeas Brahman. (foto: butlerfarms.us)

“A epidemia do Red Brahman”, re-vista Brahman Journal, 30 de abril, 2015), em grande parte promovida

pela importação de sêmen de Indubra-sil. Além do Brah-man vermelho, há o próprio Indubrasil vermelho, nos Es-tados Unidos e tam-bém na Austrália. Outros países tam-bém apreciam a col-oração vermelha, originada no Brasil.

A pelagem ver-melha, portanto, tem um vasto mer-cado a ser explo-

rado e ainda há muito sêmen raro guardado em botijões, garantindo a vitalidade diante do futuro.

... que a moderna pecuária deseja a maior produção possível no menor espaço de tempo, com melhor qualidade, com garantia de transmissão às progênies futuras? Isso tem nome: “sustentabilidade”.

... que a humanidade é um eterno aprendizado? Por isso, quando os criadores rejeitaram as Provas Zootécnicas, na década de 1950, levaram um “tombo”. Hoje, todas as raças zebuínas praticam Provas e fazem pesquisas paralelas. O mundo moderno é “caçador de infor-mações”. Por isso, o moderno Indubrasil é muito diferente do antigo.

... que a raça mais famosa, para corte, no mundo, é a Angus? É muito interessante que o Padrão Racial do Angus determina que o bezerro deve nascer com peso ao redor de 25 kg. Exatamente: ape-nas 25 kg. O bezerro deve nascer pequeno e disparar, imediata-mente, no crescimento, já fora do ventre materno. Ensinamento que serve para todas as raças: nascer pequeno não é defeito. O defeito é não disparar no crescimento...

Você sabia ... ? Você sabia ... ?

Você sabia ... ?

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O Indubrasil pode viabilizar o aumento do desfrute pecuário em cada região, por ser um Neozebuí-no já levando consigo o vigor de três raças: Nelore, Guzerá e Gir. É uma economia de tempo.

Muitos pecuaristas já estão utilizando touro Indubrasil sobre vacas Nelore, para fazer seus pró-prios reprodutores nas grandes vacadas. O Indubrasil já vai dispu-

tando espaço, ao lado de outras raças.

Tecnologia - Para efeito de divulgação, o Indubrasil vai reu-nindo dados estatísticos de de-sempenho, em Torneios Leiteiros, Provas de Carcaça e de Abates. “Quando os animais valiosos re-cebem um preço superior, tudo melhora” - esclarece Clarindo. Na atualidade, o preço do Indubrasil

está muito bom.

2) Perspectivas de Médio Prazo

Espalhar modernos ani-mais para todas as regiões.

Promover os cruzamen-tos com muitas raças.

Congregar os países que já criam Indubrasil, como o México, Estados Unidos, Tailândia, Camboja, América Latina e África.

Preparar caminho para modernidade: leilões, cru-zamentos, no Brasil. Mesmo

para exterior. Mudar a literatura da tradição

para modernidade.

3) Perspectivas de Longo Prazo

Consolidar cruzamentos com outras raças zebuínas, mantendo o Bos indicus. Na Índia, houve grande uso de raças europeias, estragando o celeiro de animais de utilidade para o Brasil. No futuro, o Brasil terá que reformar a pureza genética do gado da própria Índia. Caberá ao Brasil devolver à Índia sua “vaca sagrada”, de absoluta pureza genética.

O sonho seria conquistar os ze-buzeiros para produção de Neoze-buínos como alternativa mais válida para o futuro da humanidade - em vários países.

A Associação vai observar as bases do sucesso: congregar os criadores, estabelecer metas para o corte e para o leite, es-tabelecer política de promoção nacional e internacional.

O bom ano de 2016

2015 foi ano de destaque históri-co, com os criadores investindo em várias frentes, ao mesmo tem-po. O Indubrasil esteve presente em grandes exposições, como a Expozebu, a Expointer, a Expo Nordestina - ganhando novos ter-ritórios. A ABCI introduziu o pro-grama oficial do PMGZ (Programa

de Melhoramento Genético do Zebu), em parceria com a ABCZ.

O ano de 2016 poderá ser o ano do “diagnóstico”, em que os criadores analisarão todas as virtudes e todas as alternativas de progresso para a raça, du-rante o Seminário Internacional, em Maio.

... que o boi do futuro será de porte médio a grande, mas não graúdo? Terá habilidade materna, tetas medianas, bainha curta, com crias es-pertas. O cruzado do moder-no Indubrasil garante todas essas virtudes.

Você sabia ... ?

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O Indubrasil do quase-tudoO Indubrasil - Rodrigo Borges

diz que o Indubrasil já chegou num ponto de excelência, como animal, e esta é a base do futuro. “É o ani-mal que todos desejavam, mas que no passado não era importante ser produzido, pois não havia concor-rência”. Hoje, o Indubrasil somou conhecimentos de outras raças, somou virtudes, excluiu problemas, com todas as vantagens de ser um Neozebuíno. Esse trabalho de me-lhoramento é histórico, é uma con-quista dos brasileiros. O moderno Indubrasil apresenta umbigo bom, leite bom, carcaça boa, rusticidade boa, versatilidade boa, habilidade materna boa. O que mais poderia ser desejado?

Clarindo Miranda lembra que o Indubrasil tolera pasto ruim, como sempre. “O Sertão nordestino é exemplo de animais orelhudos, até hoje, mesmo depois de décadas seguidas de descaso e descrédi-to. Havendo comida, na caatinga, o Indubrasil moderno vai tão bem quanto em outras regiões do Bra-sil. Historicamente, o Indubrasil já dominou os Sertões. O problema do Nordeste são as secas, que li-quidam as tradições. As secas en-fraquecem os velhos proprietários; cedendo aos novatos que acredi-tam poder enfrentar o flagelo, ape-nas mudando o gado. Também eles aprenderão, em cada seca, os valo-res de um bom Zebu.

Fugazzola informa que o Indu-

mercado, tanto no Brasil, como no Exterior. A maior divulgação de um produto é o próprio comprador, ou seja, o usuário que deseja boia-das cada vez mais lucrativas.

O indubrasilista - Fugazzola lembra que chegou o momento de união dos criadores, relegan-do as pequenas diferenças que provocam grandes divergências, sem acrescentar vantagens para

a raça. “Raça vitoriosa é raça feliz, empolgan-te, criando uma cultura própria, respeitando as tradições, mas adotando todas as tecnologias rumo ao futuro” - conclui.

Rodrigo Borges tam-bém lembra a importância da união. Um gado corre-to é a soma de Região + Situação e, então, muitos núcleos devem se formar, cada um com suas vitó-

brasil precisa somar Pro-vas Zootécnicas, tanto para carne como para leite. “As Provas ace-leram o melhoramento genético e são poderosa fonte de divulgação” - conclui.

Também os produtos cruzados precisam de mais atenção, por parte da Associação, poden-do constituir nichos de

rias. “Que cada vitorioso de sua região, faça sempre uma festa agregadora, reunindo todos para festejar: esse é o caminho”.

Clarindo Miranda afirma que o Indubrasil tem uma brilhante his-tória que merece ser conhecida e contada, de boca em boca. Não foi um gado “do passado”, mas foi o gado que possibilitou muita gente ficar rica, no passado. Era o gado do momento. Hoje, o gado do mo-mento é de umbigo curto, sem prolapso, com muito couro, mui-to peso, muita carne, precoce, de boa habilidade materna. Ora, é o próprio Indubrasil, com cara nova, moderna, usando novas tecnolo-gias, novas Genéticas, aplicando

tudo que se sabe sobre Ciência pecuária. Deixou para trás um fa-buloso período em que vigoravam crendices, superstições, e hoje vai somando novos conhecimentos que serão a nova tradição para o futuro. Essa, sim, é a história que merece ser contada: o Indubrasil é a alma do próprio Brasil”.

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O Indubrasil nos Pampas gelados

O Indubrasil chegou ao Rio Grande do Sul há muito tempo, mas não houve registro oficial de seleção sistemática, pois não havia escritório da ABCZ local. O boi de orelhas longas, vin-do do Triângulo Mineiro, voltou a ganhar notoriedade gaúcha quando o criador Elair Bachi, de Paim Filho, no Noroeste do Es-tado, começou a criar no Sítio Tio Fiorindo, sendo o primeiro criador gaúcho a registrar o In-dubrasil na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Elair começou com seis animais e, hoje, já são quase cem. Entre eles, Grandes Campeões das pistas da Expointer. Elair já é tradicional campeão da Expoin-ter e, agora, junto com Jairo An-dré Gorczevski, adquiriu o touro Tupi da Natureza, na ExpoZebu que, logo em seguida, sagrou-se o Grande Campeão no RS. Em 2015, Lúdica da Natureza, propriedade do Fazenda Lobo

Guará, foi a Grande Campeã da Expointer.

Ventos cortantes - Jairo, da Fazenda Lobo Guará, na Serra gaúcha, está situado na região dos Campos de Cima da Serra, no Município de Muitos Capões (RS) próximo a Vacaria. É região de muito frio e ventos cortantes. Ali os animais já enfrentaram 6 graus negativos. Normalmente a época de frio mais intenso co-meça da metade de abril, alon-gando-se por maio, junho e julho. Depois, começa a esquentar, mas acontecem geadas até o dia de Finados (2 de novembro).

O Indubrasil, no RS, enfren-ta temperaturas negativas todo ano. Os animais já pegaram neve e, em seguida, calor ex-tremo. Jairo observou que, no Inverno, o Indubrasil muda sua coloração. Adapta-se, passando do branco para outra tonalidade, bem mais escura. Os pelos ficam mais compridos. Surgem, ou au-

mentam os pelos nas orelhas e no úbere.

Jairo conta que viu casos de orelhas “queimadas”, bem como de extremidades da barbela: o frio é muito forte, os ventos são, de fato, cortantes. O couro dos animais parece que fica mais duro, para suportar o frio. O tem-peramento do animal também se modifica: fica mais amuado, mais taciturno, evitando respirar os ventos cortantes gelados.

Nos dias muito frios, os ani-mais escondem-se no mato, para evitar os ventos; saem apenas para comer. Na região há muitos “capões de matos” de araucárias;

explicando o nome de “Muitos Capões”. Estes matos são um alívio para o gado. Os animais agrupam-se, naturalmente, ten-tando dividir o calor do corpo. As vacas deitam ao redor das crias, para aquecê-las, hábito também de outros animais. Espertamen-te, os animais jamais colocam a cara na direção do vento; sem-pre se protegendo da frieza e das águas geladas.

O indubrasil - comparado com o europeu - sofre mais que o gado europeu, no inverno, como esperado. Afinal, o Indubrasil é um Zebu, ou seja, tem 30% a mais de glândulas sudoríparas que, no inverno, são extrema-mente judiadas. Também o sis-

tema de irrigação sanguínea do Zebu é periférico, enquanto do gado europeu é mais profundo, justamente para enfrentar o frio. O Zebu não é uma máquina or-gânica para clima extremamente frio, por isso é mantido, como os demais animais, em regime de boa alimentação, para compen-sar. Nossa região, porém, não é “extremamente fria”, mas ape-nas “fria” e, então, o Indubrasil tem se comportado muito bem.

No pico do Verão, há dias em que a temperatura atinge 40 graus e, então, o gado europeu sofre, enquanto o Indubrasil pa-rece fazer festas. A integração do gado europeu, com o Indu-

brasil, no Rio Grande do Sul, portanto, é uma boa “escola” para analisarmos o desempenho do Bos taurus e do Bos indicus. No geral, somando anos muito

gelados, de ventanias, com ou-tros de calor, temos verificado que o Indubrasil leva vantagem, pois sofre, sim, no frio, mas se recupera, facilmente, quando

chega o calor.Nutrição - Todos os animais

recebem a mesma alimentação, não importando a raça: Gir Lei-teiro, Holandês, Indubrasil. Ape-nas os animais destinados à venda recebem algum cuidado melhor, durante o dia. Todos os animais permanecem no pasto e, somente à noite, são recolhidos para baias cobertas.

O manejo normal é o de inte-gração lavoura-pecuária e, por isso, de maio a outubro, os ani-mais ficam na pastagem de aveia e resteva de milho e soja. É um tempo de abundância de pasto e, em outubro, quando saem desse regime, os animais estão muito gordos.

No verão, surgem dificulda-des para a alimentação do gado. Vão para piquetes menores de Tífton. Caso não haja chuva, en-tão é preciso complementar com silagem.

O Indubrasil vai conquistando o extremo sul.

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Cruzamentos - As proprieda-des, na região, são pequenas, ao redor de 50-100 hectares, man-tendo ao redor de 100 animais. Jairo diz que produz 500 litros de leite e, em 2017, vai chegar a 1.000 - com suas vacas Indulan-das e Girolandas. Os tourinhos são vendidos para fazendeiros da Serra, para cruzamentos. Também vem crescendo o uso do touro Indubrasil sobre vacas Angus, com notáveis resultados, “mas sequer temos condição de atender a tamanha demanda, pois seriam necessários muitos animais”.

Jairo conta: “Comecei há pou-co tempo o cruzamento de touro Indubrasil com vacas Holande-

sas e estamos bem oti-mistas, pois as Indulan-das demonstram muita rusticidade, capacida-de de ganho-de-peso e são muito mansas. Como esperado, estão mostrando muita força leiteira, principalmente quando comparadas com as Girolandas, que também mantemos nas mesmas condições. As novilhas, bem como os tourinhos Indulandos, no quando geral (in-verno-verão) parecem ser mais rústicos que as Girolandas. A grande diferença é o ganho-de-peso que, visivelmente, é muito maior no Indulando que no Giro-

lando.Embora mui-

ta gente acredite na dupla aptidão do Indubrasil, a aposta mais for-te é mesmo na carne. O Zebu leiteiro é para ajudar o custeio da fazenda, mas a contribuição do Zebu na pro-dução de car-

ne é muito mais evidente, muito maior. Edon Rocha Braga, Res-ponsável Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) no Rio Grande do Sul, garante que “o caminho para o Indubrasil é o cruzamento indus-trial com as raças europeias”. Um exemplo é Vitor Hugo Fin, in-dubrasilista, da Cabana Zebusul, em Gravataí, com criação desde 1997 e que acredita que o Indu-brasil tem como função essen-cial produzir carne.

É um gado muito bom para cruzamentos. Temos clientes que estão cruzando o Indubrasil com o Angus e obtido resultados muito bons, com mais peso e qualidade, conseguindo escapar do carrapato e ganhando muito peso. Além disso, é um gado que

enfrentamos em janeiro”. Os be-zerros nascem e logo estão su-bindo e descendo os morros da propriedade. “É uma seleção na-tural para rusticidade”, comenta.

Os criadores da raça mantêm a chama acesa da pesquisa, da presença na Expointer, de via-gens a Uberaba, atualizando conhecimentos e trocando infor-mações. Confessam estar muito otimistas quanto ao Indubrasil e, principalmente, quanto aos cru-zamentos. “O Indulando vai bem e os cruzamentos de corte dão re-sultados fantásticos” - garantem.

A data magna da Fazenda Lobo Guará será 2017 (31 de de-zembro), quando atingir os 1.000 litros de leite/dia e as terras es-tiverem totalmente formadas. Será, então, uma propriedade autossustentável, com Indubra-sil, pronta para receber amigos e mostrar que é possível, sim, criar Zebu, ao lado do europeu, no cli-ma gelado dos Pampas.

surpreende pela beleza e mansi-dão, conta Vitor.

Futuro - “Nunca escolhi ani-mais baseado no tamanho das orelhas, mas em fatores funcio-nais, como a docilidade. Agora, com visão mais criteriosa, tam-bém escolho animais precoces e leiteiros”. Ao mesmo tempo, Elair e Jairo informam que os gaúchos apreciam, sim, animais de gran-de porte e também grandes ore-lhas. “Se o animal for moderno, bem constituído, o grande porte e grandes orelhas serão atribu-tos positivos, a mais”.

Em 2011, Elair expôs seis ani-mais para mostrar que o Indubra-sil gaúcho tem tudo para ganhar espaço.

Em 2015, fortes chuvas difi-cultaram a preparação dos ani-mais para a Expointer e Elair teve trabalhar “em cima do barro”, dia após dia. “Aqui, o Indubrasil mostra sua rusticidade, de fato: ele aguenta chuva, frio, anda no barro, e o calor de 40 graus que

O Indubrasil vai conquistando o extremo sul.

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O Indubrasil e o tropeção do passado

“Não, o Indubrasil não foi um erro” - afirma Clarindo Miran-da. Pelo contrário, foi um acerto naquele tempo; foi um estágio na História. O gado vitorioso é a soma de “região + situação”. Ora, antigamente a situação era outra e as regiões também eram outras. Então, para bem analisar a Histó-ria é preciso compreender cada momento.

No passado, o ruralista tinha outra fonte de renda: madeira, agricultura, etc. Estava derruban-do mato para implantar a fazenda e, então o gado devia ser “bandei-rante”. Não importava se o gado fosse orelhudo, umbigudo, etc., pois o importante era ficar vivo, enfrentando os carrapatos.

Mais tarde, com a terra já lim-pa, a pecuária pode saltar de po-

sição. Ao invés de melhorar o gado antigo, indubrasilado, o pecuarista preferiu cruzar o pequeno e barato Nelo-re, com raças brancas eu-ropeias. Deu certo, produ-zindo milhões de cabeças em pouco tempo. Foi um tombo

para o Indubrasil e o Gir que per-maneceram perto das antigas fa-zendas, enquanto o “novo mundo” era conquistado pelo Nelore. Ora, o Nelore fez - a partir de 1970 - o que o Indubrasil havia feito desde a década de 1920: ocupar novos territórios.

Historicamente, o Guzerá do-minou a pecuária de 1870 a 1920; o Indubrasil de 1920 a 1970; o Ne-lore deverá chegar a 2020. Todas com 50 anos de duração. São ci-clos da pecuária desbravadora. O Gir ocupou um nicho específico, desde 1940, junto de proprieda-des menores, produzindo leite e carne ao mesmo tempo.

Rodrigo Borges lembra que “antigamente, com todos os pro-blemas, o Indubrasil enchia os pavilhões”. O Nelore teve o ventre Indubrasil para se expandir. Na verdade, a pujança da moderna pecuária foi alicerçada sobre o In-dubrasil.

O Indubrasil pagou o preço da

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formação cultural do povo brasilei-ro, do marasmo típico do campo naqueles tempos. Quando a “civili-zação do Indubrasil” estava enve-lhecida, surgiu o Nelore, com ou-sadia, aventurando-se para novos mundos. A História é a sucessão da luta de novos contra velhos, sempre. Se os velhos não cedem espaço aos novos, serão derruba-dos por eles.

Fugazzola afirma que “não houve erro”, mas apenas uma mudança na direção da seleção. Hoje, o Gir tem sucesso no leite, mas durante muito tempo o seu

sucesso era a carne. De fato, du-rante a 2a. Guerra Mundial, o Fri-gorífico Anglo pagava mais caro pela carne de Gir, por ser a me-lhor do país. As épocas mudam; as situações mudam.

O Homem faz e o Homem des-faz: quando derruba florestas, a madeira sobe de preço e, então, surgem outros que irão plantar florestas. Na pecuária acontece o mesmo: para abrir novas fron-teiras, o gado deveria ser barato, sem longas orelhas, sem umbigo longo, sem tetas longas. O In-dubrasil tornou-se um “gado do passado”.

Reduzindo o rebanho nacional, os criadores trataram de “moder-nizar” o Indubrasil. Hoje, há ani-mais courudos, de longas orelhas e umbigo corrigido. A beleza inclui a funcionalidade, exigindo o equi-líbrio. Num rebanho pequeno, a consanguinidade tanto é mágica para o bem, como feitiço para o mal. Sabendo usar, provoca uma revolução a favor de um lucrativo novo tempo. O Indubrasil moderno é prova dessa mágica.

Hoje, o Indubrasil é um gado que continua graúdo, de umbi-go curto, tetas medianas, muito couro, ossatura forte, excelente carcaça, com linhagens leiteiras. Um grande gado para abrir frontei-ras em outros países que exigem gado de dupla aptidão.

Famosa na Tailândia

Essa é Carena, notável vaca Indubrasil, que faz sucesso na Tailândia. Os criadores, mesmo sendo recentes, já promovem muitas festas, feiras, e shows, destacando o grande porte da raça. Carena pertence à D-8 Farm.

... que a SUDENE e a SUDAM estimu-laram a fixação de mais de 10 milhões de cabeças, registradas, nas fronteiras do Nordeste e da Amazônia? Os ban-cos financiavam apenas o gado branco de orelhas curtas e, perto das cidades, financiava a raça Holandesa. O Indu-brasil pagou um preço muito caro, por ter orelhas longas, na ocasião. Nestas regiões, porém, o gado “meia-orelha” continuou vigorando, até hoje.

Você sabia ... ?

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Os Campeões da CarneOs Estados Unidos são o maior

produtor de carne, seguidos pelo Brasil e pela União Europeia. Os

O mundo produz carne sufi-ciente para 5,56 kg por pessoa. Hong-Kong é a região que mais consome carne, per cápita, se-guida pela Argentina e Uruguai. Hong Kong consome 55,79 kg por pessoa. O país de menor consumo é o Congo, com 0,45 kg por pessoa.

1) Maiores produtores de carne (de gado)

2) Campeões de consumo per cápita

Estados Unidos produzem cerca de 19% da carne mundial; o Brasil produz 16%; a China produz 12%.

Somando Estados Unidos, Brasil e União Europeia tem-se 48% da carne produzida no mundo.

O Brasil atingiu o patamar de Maior Exportador de Carne de gado, mas a posição não é sóli-da, disputada pela Austrália, anti-ga detentora do título. Já a Índia é a Maior Exportadora de Carne Vermelha, incluindo os búfalos. Quatro países exportam mais de

3) Maiores Exportadores do Mundo

um milhão de toneladas (métricas) de carne: Ín-dia, Brasil, Austrália e Es-tados Unidos. Em 2015, a Austrália sofreu queda menor que o Brasil, ocu-pando o posto de Maior Exportadora.

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O mundo tem 7 bilhões de cabeças, em 2016. O rebanho mundial, em 2016, é de 971.482 milhões de cabeças, cresci-

4) Maiores rebanhos do mundo

mento de 7,032 milhões acima de 2015.

O rebanho da Austrália, em 2016, caiu 1,45 milhões de ca-

beças. O rebanho do Brasil, em 2016, aumento 6,058 milhões de cabeças, foi o maior aumento no planeta.

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Indubrasil - o bovino indiano do BrasilHoje a seleção do Indubrasil pas-

sa pelo caminho do meio, o caminho da união do melhor Zebu indiano com o melhor de cada região brasileira, levando a animais produtivos para carne, leite e trabalho. Como brinde: excelente conversão alimentar e rus-ticidade, provadas em todo território nacional.

É impressionante observar como o Indubrasil parece com o povo de sua região, pois é talhado pelo meio ambiente, em luta diária pela sobrevi-vência da espécie.

Do Nordeste, entre as boas qua-lidades, destaca-se a rusticidade: in-divíduos de grandes cupins, para ar-mazenamento de água e energia em forma de gordura; cabeça mais agu-zeratada; estrutura óssea volumosa; orelha menos gavionada; barbelas soltas para boa ventilação e dissipa-ção do calor; pernas grandes e fortes, em equilíbrio para caminhadas e su-peração de obstáculos na busca de alimentos na caatinga.

A produção de leite, em condições deficitárias extremas, como a seca de 2012/2013, gera animais de excelen-te conversão alimentar. O Indubrasil é aguerrido, lutador, como seus criado-res, das linhagens de Djenal, Roberto Góes, João Pinto, Acrísio. Na costa do cacau e dendê, a qualidade de animal de trabalho, penetrando na floresta, buscando o alimento para si e para o homem, como o gado de Alex Portela, Genuíno, João Newton (Bahia).

O pessoal do Nordeste deu sus-tentação financeira ao Indubrasil.

No Norte e Centro-Oeste, o aven-tureiro Indubrasil desbravou a floresta e o Cerrado, como uma criança pas-seia pelos jardins da Natureza. Na fartura das novas terras ressaltam suas qualidades: animais de médio a grande porte, carcaça larga, profunda e precoce; umbigo e tetas corrigidas. Com seus cruzamentos, como o ca-boclo, o mulato e o cafuso, leva carne e leite às fronteiras de um novo Bra-sil. Utilizando as qualidade de grande caminhador embrenha pela floresta, levando mantimentos e sementes de

pastagens, abrindo e formando novas áreas. Em Tocantins: Torres Homem. Em Goiás: Pedro Lemos. Antônio Martins de Barros: no Mato Grosso do Sul e Rondônia.

No Sul, absorve a tenacidade dos gaúchos, a resistência ao frio e ao vento minuano que sopra, insisten-temente, habilidade de resistência ao frio, já comprovada em criatórios americanos, na divisa do Texas e Arkansas, onde vai cruzando com ra-ças taurinas, acrescentando tamanho e rusticidade na produção de carne e leite. Destaques para o trabalho da Associação Gaúcha de Zebu, Natan, Alair e outros.

O Sudeste mandava gado, de va-por, para o Nordeste - lá pelas década de 30 e 40. O Indubrasil conserva as tradições das pessoas. Em Minas Ge-rais: linhagens leiteiras como a 55 de Dona Albertina. Touro Indu 55 muito leiteiro, carne e morfologia, com bons aprumos, cabeça mais girada e ore-lhas gavionadas. Clarindo Miranda, Dr. Renato Borges, os Lemos, com destaque para Paulo Lemos.

A migração nordestina para São Paulo traz o Indubrasil em sua baga-gem que, com árduo trabalho, cons-trói um Estado e um gado. Exemplo: Espinho Preto, Santa Terezinha. O espírito empreendedor, aliado à técni-ca rural dos modelos de produção in-

José Henrique Fugazzola

tegrada, absorve a totalidade da raça: trabalho, esterco, leite e corte.

Trabalho sobre carros-de-boi. O esterco é levado aos cafezais. O café consolida São Paulo. Na integração do café com leite, uma vaca Indubrasil produz três bezerros por ano.

O primeiro é o próprio bezerro, utilizado para reprodutor, trabalho ou corte.

O segundo é o leite. O terceiro é o esterco para os ca-

fezais, canaviais, cereais, hortaliças, em perfeita integração orgânica entre lavoura e pecuária como nos criató-rios de José Henrique Fugazzola de Barros e Valdir Junqueira.

Em Uberaba, a Associação Brasi-leira dos Criadores de Indubrasil pro-move a união de todas as linhagens das diversas regiões do Brasil. Na pesquisa e genética avançada, parce-rias da ABCI com a Universidade de Uberaba, Faculdade de Zootecnia de Uberaba e também com a Embrapa, no novíssimo Centro de Tecnologia do Zebu Leiteiro, em Brasília, produ-zem gado do caminho do meio, que serve de Norte a Sul, de Leste a Oes-te, ao país e ao mundo.

Através dos anos de inspiração, com diligentes práticas de trabalho - como a integração orgânica entre la-voura e pecuária - com trabalho, res-peito, amor e união de regiões como o Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste; tanto quanto de países como Índia, Tailândia, Brasil, México, Costa Rica, Panamá, e outros so-mando 24, o Indubrasil vai ampliando sua influência na moderna pecuária.

A união de raças: Nelore, Guzerá e Gir abriu o caminho; mostrou que o Neozebuíno Indubrasil é uma grande vitória para a pecuária mundial, a pon-to de todos poderem dizer que “nós e a Mãe Natureza somos um”, com pra-to cheio de nobres proteínas produzi-das com sustentabilidade. As outras raças zebuínas seguem o mesmo caminho aberto pelo Indubrasil: este é o venturoso patrimônio cultural do Zebu para o mundo. (Uberaba, 13 de março de 2016).

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Indubrasil em Festa

Roberio e Roberto

Henrique Figueira, Djenal e Roberto

Dr Joao e Roberto Paula com seu filho e Roberto

Mario Marcio e Roberto Sergio Fonteles e Roberto Roberio Com sua familia e Roberto

Otacilio e RobertoSergio Fonteles esposa e sua

filha e Roberto

Roberio Neves com seu filho Davi e Roberto

Henrique Figueira e Roberto Márcia e Roberto

Rodrigo Caetano e esposa Claudia Leonel e amiga

Luana e Estelar

Estelar, Lia e amiga Confraternização Indubrasil Ano 2015

Josakian,Fred,Adaldio, Claudio Paranhos e amigosConfraternização Indubrasil Ano 2015

Eduardo de Paiva e Clarindo Miranda

Daliene,Renata Thomazi, Ana Carolina

Carlos Cavalari,Jose Henrique Fugazola

Dona Diva, Claudia Leonel e Helena

Márcia,Sandra e sua NoraJose Henrique Fugazola e

Renato CaetanoAntônio João com seu filho

e Roberto

Claudio Silveira, Sergioe Roberto

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O Indubrasil no Semiárido

Na História, o Indubrasil foi um “achado”: os brasileiros cruzaram Guzerá com Nelore e obtiveram um poderoso Zebu (Indunel) para arrastar carroções nas montanhas fluminenses, para os trabalhos no campo, para produzir leite e carne. Era o gado certo para o momento certo e região certa. Depois, houve a Abolição da Escravidão, a Pro-clamação da República, a grande geada paulista e, em 1911, come-çou a chegar o Gir. Se o cruza-mento de duas raças já fizera su-cesso, os brasileiros começaram a cruzar com a terceira, que estava chegando da Índia. Novamente, os brasileiros tiveram vitória: o animal lucrou em pujança muscular e ap-tidão leiteira e, como presente, ga-nhou longas orelhas, jamais vistas e acreditadas. Logo, as orelhas do novo gado transformaram-se no símbolo da excelência, ganhando vários nomes: Induberaba, Indu-araxá, Induporã, Indubelém, etc.. Iria prevalecer o nome Indubrasil.

O Super Boi - O Brasil inteiro festejou o novo Zebu, de braços abertos. Afinal, era o maior, o mais possante, o melhor, já surgido no Brasil. Como todos os outros ze-buínos, ele tinha 90% de vantagem

no enfrentamento aos carrapatos que liquidava o gado europeu des-de o já longínquo descobrimento. O Zebu era a salvação da pecuá-ria brasileira, depois de quase 400 anos de Pedro Álvares Cabral.

No Nordeste, o Indubrasil logo ganhou destaque, pelo grande porte, pela rusticidade diante da

seca, pela produtividade dos mes-tiços nos currais leiteiros. Os Ser-tões logo estavam cheios de gado apresentando “meia-orelha”, sinal da influência do vigoroso Zebu.

De 1925 a 1985, sempre foi ní-tida a influência no gado mestiço sertanejo de longas orelhas. De-pois, com a pressão exercida pela SUDENE, o gado começou a en-curtar as orelhas, mas os antigos sertanejos guardaram na memória os bons tempos do gado muito rústico, manso, e motivo para mui-tas cantorias e cordéis na cata do algodão e na “Civilização do Cou-ro”.

A glória sertaneja - O Nordes-te teve glórias com o Indubrasil, com longas boiadas enchendo os olhos, ao passarem pelos povoa-dos empoeirados. Os nordestinos produziram o Indubrasil Vermelho, em Pernambuco, logo se esten-dendo para a Bahia e Sergipe. Uma novidade que logo estaria

“A raça tem, agora, que

multiplicar a semente que já é excelente.”

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sendo exportada para os Estados Unidos e, hoje, avermelha o gado de corte também na Austrália e outros países.

Era tão marcante o valor do Indubrasil que os criadores er-gueram, no Parque de Exposição de Recife, na praça principal, um monumento ao touro valoroso. Era o único monumento a um boi, no Brasil. (Mais tarde, Pavilhão e Bombaim dividiriam essa glória, na forma de monumentos).

Ali, no Ceará, o gado teve ori-gem com matrizes compradas na Bahia, nos finais de 1950 e início de 1960.

40ºC - Sérgio Fonteles, do Ce-ará, diz que num calor de 40oC o Indubrasil mantém sua faina diá-ria, sem demonstrar qualquer mu-dança no temperamento. “Os be-zerros nascem pesando entre 28 a 30 kg, com partos fáceis. Logo estão mamando, sem uso de ma-madeira”.

Fonteles utiliza inseminação artificial e monta controlada, no Semiárido, salientando que os re-sultados são bons, mesmo sem qualquer medicação, ou hormô-nios. “Os sertanejos dizem que o Sol é um santo remédio para o gado; a gente acaba acreditando que é mesmo” - adianta.

Mesmo no pique do sol, a mor-talidade normal é menor que 1%, ou praticamente nada. As terras são de argila branca, típicas das grandes plantações de caju, no Nordeste. Não é raro ver a “pecu-ária de dois andares”, na região,

ou seja, “gado por baixo e caju por cima”. O gado, para ser econômico, pas-sa o ano inteiro no pasto; apenas os destinados às exposições per-manecem confi-nados por alguns meses.

Houve tem-po de tumulto, na criação, pois surgiram várias alternativas pe-cuárias na déca-da de 1960, mui-to divulgadas no cenário e, como consequência, o mercado enco-lheu em 1970, 1980 e 1990. “Foi ruim, porque o dinheiro sumiu; mas também foi bom, pois exigiu uma reflexão profunda sobre o destino da raça. Não se poderia jogar fora um gado com quase 80 anos de seleção no Brasil e, então, percebemos que - ao invés de perder o trem da História, deveríamos, sim, embar-car também no mesmo trem. Tra-tamos, então, de acrescentar as qualidades que o mercado estava elogiando nas novas alternativas pecuárias, ou seja, tratamos de modernizar o Indubrasil.

Futuro - Hoje, os mestiços de Indubrasil são encontrados em

todo o Semiárido, sendo gado con-siderado de fácil manejo e grande rusticidade. Diz Fonteles que, du-rante 50 anos em sua propriedade, o gado sempre cor-respondeu, com bezerrada sadia, de bom porte, e notável nos cru-

zamentos. “Quem usa Indubrasil, sempre vai usar, mesmo quando mistura com outras raças zebuí-nas” - lembra.

A fazenda pratica Fertilização in Vitro (FIV) para ganhar tempo, tendo em vista o gado mais mo-derno possível, já. O mercado não espera” - saliente Fonteles. As vendas acontecem em todo Cea-rá, Piauí, Maranhão, norte do País e vários Estados nordestinos. “A raça tem, agora, que multiplicar a semente que já é excelente. O mercado está esperando. Os an-tigos indubrasilistas ergueram a glória da raça e cabe a nós, agora, mantê-la, nesse novo patamar a que chegamos, com sucesso” - fi-naliza.

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