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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE _________________________________________________________________________ A INDÚSTRIA PETROLÍFERA EM MACAÉ: CARACTERIZAÇÃO E POTENCIALIDADES DO SISTEMA PRODUTIVO LOCAL Roberto Cezar Rosendo Saraiva da Silva Tese apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ciências de Engenharia – área produção Orientador: Prof. Dr. José Ramón Arica Chàvez. Laboratório de Engenharia de Produção, Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF, fevereiro de 2004. _________________________________________________________________________

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE _________________________________________________________________________

A INDÚSTRIA PETROLÍFERA EM MACAÉ:

CARACTERIZAÇÃO E POTENCIALIDADES DO SISTEMA PRODUTIVO LOCAL

Roberto Cezar Rosendo Saraiva da Silva

Tese apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ciências de Engenharia – área produção

Orientador: Prof. Dr. José Ramón Arica Chàvez. Laboratório de Engenharia de Produção, Universidade Estadual do Norte Fluminense

– UENF, fevereiro de 2004. _________________________________________________________________________

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A INDÚSTRIA PETROLÍFERA EM MACAÉ: CARACTERIZAÇÃO E

POTENCIALIDADES DO SISTEMA PRODUTIVO LOCAL

Roberto Cezar Rosendo Saraiva da Silva

Tese apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ciências de Engenharia – área produção

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________________________

Prof. Jorge Nogueira de Paiva Britto (Doutor, Economia)-UFF

__________________________________________________________

Prof. Ailton Mota de Carvalho- (Doutor, Ciências Sociais)-UENF

___________________________________________________________

Prof. Luís Antônio Cardoso da Silva- (Doutor, Eng. de Produção)- UENF

___________________________________________________________ Prof. José Ramón Arica Chàvez (Doutor, Matemática Aplicada)-UENF

(Orientador)

CAMPOS DOS GOYTACAZES

Fevereiro de 2004

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“Dedico este trabalho ao meu Mestre, Amigo e Salvador Jesus Cristo”.

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“O Capitalismo, então, é, pela própria natureza, uma forma ou método de mudança econômica, e não apenas nunca está, mas nunca pode estar, estacionário. E tal caráter evolutivo do processo capitalista não se deve meramente ao fato de a vida econômica acontecer num ambiente social que muda e, por sua mudança, altera os dados da ação econômica (...). O impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina capitalista decorre dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria” (Schumpeter, 1984:112).

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AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que tem sido comigo em todos os momentos de

minha vida.

Sou imensamente grato ao professor José Ramon Arica Chaves, que me recebeu na

Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) de coração aberto e se prontificou a

me orientar, apesar das adversidades, em uma área de pesquisa então inexistente no

Laboratório de Engenharia de produção (LEPROD). O professor José Arica não mediu

esforços para que se criasse uma nova linha de pesquisa na área de “desenvolvimento

econômico local e inovação tecnológica”, compatível com minha formação de economista.

Estes esforços, compartilhados por mim e pelos então colegas de doutorado: Décio Coimbra,

Jaqueline e Alcimar das Chagas Ribeiro foram fundamentais para a concretização desta

pesquisa, e de mais três teses de doutorado dos colegas supracitados. O profissionalismo do

professor Arica e sua dedicação ao ensino e à pesquisa foram cruciais para minha evolução

acadêmica, enquanto professor e pesquisador.

Manifesto meus agradecimentos ao professor Ailton Mota de Carvalho. Aprovado

em concurso público para atuar como economista no Laboratório de Estudos da Sociedade

Civil e do Estado (LESCE) fui convidado pelo professor Ailton Mota, no ano de 2001, para

desenvolver pesquisas no Setor de Estudos Urbanos e Regionais (SEUR/LEEA). A inserção

em projetos de pesquisa sob sua coordenação, somado ao espírito acadêmico que

prevaleceu no SEUR, contribuíram respectivamente para o meu aprimoramento enquanto

pesquisador, e o conseqüente desenvolvimento deste trabalho. Minha passagem pelo

LEEA/SEUR permitiu ainda a agradável convivência com a pesquisadora e colega de

trabalho Maria Eugênia Totti, assim como com os dedicados alunos de iniciação científica

do prof. Ailton.

Manifesto especial agradecimento à aluna Verônica Vaz Mageste, que atuou como

minha assistente de pesquisa no projeto Configuração do Mercado de Trabalho da Região

Norte Fluminense: Mapeamento das Cadeias Produtivas e Alternativas de Geração de

Emprego. Este projeto foi financiado pela FAPERJ e coordenado pelo prof. Ailton Mota,

constituindo-se em peça fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa. Dentre as

cinco cadeias produtivas analisadas no referido projeto fiquei responsável pelo

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desenvolvimento das pesquisas sobre a cadeia produtiva do petróleo no Norte Fluminense.

A conciliação da pesquisa sobre a cadeia produtiva do petróleo e gás, com o

desenvolvimento da tese de doutorado, embora difícil, foi fundamental para a concretização

da última. Destaco ainda que o desenvolvimento da pesquisa sobre a cadeia produtiva do

petróleo e sua interação com a tese de doutorado contou com a inestimável participação de

meu orientador, prof. José Arica. Da mesma forma agradeço pela participação no referido

projeto às alunas Carla de Almeida Pontes e Ana Laura Feitosa Ribeiro, que muito

contribuíram na aplicação dos questionários junto às empresas offshore de Macaé.

Agradeço a colaboração da sempre atenciosa secretária do LEEA/SEUR, a Sra.

Márcia Regina Peruzzi, e dos motoristas Alessandro Vasconcelos Ferreira e Ronaldo Melo

Neves, responsáveis por nos conduzir em segurança, por diversas vezes, à Macaé. Devo

agradecer ainda ao diretor do Centro de Ciências do Homem (CCH), Prof. Arno Vogel, pelo

apoio ao desenvolvimento desta pesquisa e à secretária da Diretoria do CCH, Sra. Maria

Beatriz Boeschenstain, por seu profissionalismo.

Agradeço também à Universidade Candido Mendes-Campos, na figura de seu

diretor, Dr. Luiz Eduardo, e de sua Coordenadora Geral de Ensino, Professora Tânia

Aparecida.. Além do apoio financeiro para a realização de pesquisas no Rio de Janeiro, a

Instituição me liberou parcialmente das atividades docentes, o que muito contribuiu para a

finalização desta tese de doutorado.

Manifesto minha gratidão aos Srs. Erodice Gaudart - presidente da Associação

Comercial e Industrial de Macaé (ACIM); Paulo Longobardi – presidente do Grupo de

Empresas Prestadoras de Serviço da Indústria Petróleo e Afins (GEPS); Sr. Arísio Santarini

- Gerente de Operações da Petrobras UN-BC, por terem nos recebido de braços abertos e

terem colaborado com preciosas informações para o desenvolvimento deste trabalho de

pesquisa.

Não poderia deixar de agradecer ao professor Jorge N. Britto, da UFF, bem como os

professores Ailton Mota de Carvalho (UENF), Luiz Antônio da Silva (UENF) e José Arica

Chaves (UENF), pela participação em minha Banca Examinadora. As valiosas críticas e

sugestões feitas pela Banca, em muito contribuíram para o aprimoramento desta tese.

Agradeço ao meu pai Cezar Saraiva da Silva, in memorian, ao meu irmão Jorge

Augusto, in memorian, à minha mãe Roberta e à minha irmã Carla, cujos ensinamentos de

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coragem, perseverança e amor foram gravados em meu coração e muito me ajudaram a

crescer como pessoa.

Agradeço à Faperj pelo financiamento do projeto sobre as cadeias produtivas, na

figura do professor Wanderlei de Souza.

Por fim, agradeço imensamente à minha esposa Sagrario e ao meu filho César Lucas,

pelo grande amor, carinho e compreensão, tendo em vista os sacrifícios a eles impostos, por

conta do extenso tempo que tenho dedicado ao ensino e à pesquisa. Sem o apoio de minha

esposa e de meu filho, enfim, de minha família, esta conquista não teria sentido.

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ÍNDICE Capa 1 Banca examinadora 2 Dedicatória 3 Epígrafe 4 Agradecimentos 5 Índice 7 Lista de Quadros 11 Lista de Tabelas 11 Lista de Figuras 12 Listas de Gráficos 13 Resumo 14 Lista de Abreviaturas 16

A INDÚSTRIA PETROLÍFERA EM MACAÉ: CARACTERIZAÇÃO E POTENCIALIDADES DO SISTEMA PRODUTIVO LOCAL

Introdução 18

I- Revisão da literatura com ênfase nas abordagens relativas a aglomerados produtivos 28

1.0- Economias de aglomeração e externalidades 29 1.1- Aglomerados produtivos – Principais enfoques teóricos 30 1.2- Definições de aglomerados 34 1.2.1- Conceitos análogos relacionados a aglomerados 36 1.3- Ciclo de vida dos aglomerados 38 1.4- Revisão da literatura com ênfase nas abordagens relativas a aglomerados 41 1.4.1- A perspectiva da ortodoxia econômica 41 1.4.2- Os distritos industriais marshalianos 43 1.4.3- Teorias de localização espacial das atividades econômicas 46 1.4.4- Teoria dos encadeamentos 48 1.4.5- Os Modelos de Base Econômica, Multiplicadores Regionais e Causação Causal Cumulativa 52 1.4.6- Teoria evolucionária e as novas teorias do crescimento 55 1.5- As novas abordagens com enfoque no desenvolvimento local e regional 59 1.5.1- O Modelo Diamante de Porter 62 1.5.3- A abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação 66

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II- Referencial teórico e analítico 56 2.0- Referencial teórico e analítico – Introdução 74 2.1- Abordagem dos Sistemas Locais de Inovação 74 2.2- Classificação dos sistemas de inovação 77 2.2.1- Sistemas locais produtores de inovação 78 2.2.2- Regiões e localidades adaptadoras de tecnologia 81 2.2.3- Regiões com baixo desenvolvimento, atrasadas ou não adaptadoras de tecnologia 82 2.3- Referencial metodológico com ênfase em aglomerações periféricas 84 2.3.1- A abordagem estruturalista 84 2.3.2- Arranjos e sistemas produtivos locais 86 2.3.3- Empresas em rede e rede de empresas 88 2.4- Aglomerados produtivos- Forma ou Estrutura 90 2.5- Elementos para a construção do Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis 92

2.5.1- Considerações sobre os fatores intangíveis 94 2.5.2- Considerações sobre os fatores tangíveis 100 2.5.3- O Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis 105 2.5.3.1-Classificação da estrutura sócio-produtiva local 109

III- A indústria offshore de petróleo e gás natural 112 3.0- A indústria offshore de petróleo e gás natural 113 3.1- Indústria petrolífera: estruturas de mercado no contexto internacional 114 3.2- Aberdeen no Mar do Norte, proxis de um sistema local de inovação 117 IV-Caracterização do aglomerado petrolífero de Macaé: Análise mesoeconômica 121 4.0– Introdução 122 4.1- Macaé, aspectos históricos e geoeconômicos 125 4.2- Gênesis do Aglomerado Petrolífero de Macaé 128 4.3- Caracterização do Aglomerado Petrolífero de Macaé- Análise mesoeconômica 134 4.3.1- Investimentos 135 4.3.2- Abertura do setor petróleo e investimentos externos na BC 141 4.3.3-Infra-estrutura produtiva 144 4.3.3-1- Infra-estrutura offshore 145 4.3.3-2- Infra-estrutura onshore 147 4.3.3-3- Complexo de empresas offshore atuantes em Macaé 150 4.3.3-4- Localização geográfica das principais empresas offshore de Macaé 152 4.3.4 – Infra-estrutura financeira 154 4.3.5- Infra-estrutura física 157 4.4.5-1- Política fiscal em Macaé 162 4.3.6- Infra-estrutura do conhecimento 164

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4.3.7- Recursos humanos e mercado-de-trabalho 168 4.4.7-1- Evolução dos empregos formais em Macaé 172 4.3.8- Instituições de apoio 174 4.3.9- Fatores meta e macroeconômicos 176 4.3.10-Participação governamental 179 V- Caracterização do Aglomerado Petrolífero de Macaé: análise microeconômica 188 5.1- Introdução metodológica 189 5.2- Breves considerações sobre a cadeia produtiva offshore em Macaé 192 5.2.1- Cadeia produtiva das empresas offshore atuantes em Macaé 195 5.3- Mapa do Aglomerado Petrolífero de Macaé 200 5.4-Padrões de organização industrial das empresas offshore de Macaé 204 5.5- Elementos para análise de uma rede de firmas 209

5.5.1- Relações Interfirmas, formas de cooperação técnico-produtivas e estratégias competitivas 211

5.5.1-1 A nova política de contratações da Petrobras. 213 5.5.1-2 Reestruturação produtiva e o papel das pequenas empresas no aglomerado petrolífero de Macaé 217

5.6- Coordenação coletiva e a estrutura de governança 218 5.7-O papel da rede de ciência e tecnologia: base para cooperação tecnológica 221 5.7.1-Cooperação tecnológica na BC 223

VI- Classificação da Estrutura Sócio-produtiva de Macaé 226

6.0- Introdução metodológica 227

6.1- Qualificação dos fatores tangíveis e intangíveis 229 6.1.1- Fatores tangíveis 230 6.1.2- Fatores intangíveis 235

6.2- Metodologia aplicada à estrutura sócio-produtiva de Macaé 238

6.3- Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis - análise da estrutura sócio-produtiva de Macaé. 242 6.4- Considerações sobre a estrutura sócio-produtiva de Macaé 246 6.5- Conclusões 253

Bibliografia 240

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Apêndice I – Estudo de caso: A evolução do aglomerado produtivo em torno da Indústria Florestal da Finlândia 266 Apêndice II- Resultados dos questionários aplicados às empresas do aglomerado petrolífero de Macaé 270 Apêndice III-Dados estatítsticos: royalties, produção e reservas de petróleo e gás 288 Apêndice IV –Histórico da indústria petrolífera nos contextos internacional e nacional 289 1- A indústria do petróleo : breve histórico 289 2- Organização dos países produtores de petróleo OPEP 293 3 –A indústria do petróleo no Brasil- Histórico 295

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LISTA DE QUADROS Quadro I – Aglomerados maduros de produtos florestais na Suécia e Portugal 268 Quadro 1.1- Sumário de abordagens teóricas sobre aglomerações produtivas 32

Quadro 1.2- Diferença entre regiões de produção em massa e regiões que aprendem 61

Quadro 1.3 – Divergência nos sistemas nacionais de inovação nos anos 1980: América Latina e Sudeste Asiático 70

Quadro 2.0- Fases de desenvolvimento de um aglomerado produtivo 85

Quadro 2.1- Algumas formas de capitais intangíveis 100

Quadro 2.2- Fatores tangíveis e intangíveis 111

Quadro 3.1- Experiências Internacionais na organização da indústria de petróleo e gás 115

Quadro 4.1- Segmento exploração produção e refino da Indústria petrolífera no Brasil: Decomposição do vetor investimento e coeficiente De importações setoriais 137

Quadro 4.2- Modelo Aberto: Impactos diretos e indiretos induzidos 138

Quadro 4.3- Bacia de Campos: Infra-estrutura offshore 146

Quadro 4.4- Infra-estrutura e número de matriculas no ensino fundamental e Médio em Macaé – 2001 165

Quadro 4.5- Instituições e cursos de nível superior existentes em Macaé – 2003 167

Quadro 4.6- Arrecadação de ICMS em (1.000) R$ a preços corrente- Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras- 2000-2002 185 Quadro 4.7- Despesas realizadas por função de governo. Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras – 2001 187 Quadro 7.1- Países com a maior produção de petróleo do mundo- 2002 293 Quadro 7.2- Evolução da indústria petrolífera no Brasil, marcos regulatórios 1892/1997 295

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.0 – Indústria do Rio de Janeiro – variação percentual: 1991/2000 19

Tabela 1.1 Gasto bruto estimado em P&D como fração do PNB de países selecionados. 69

Tabela 4.1- Percentual de investimento da Petrobras por atividade: 1990/1998 140

Tabela 4.2- Investimentos da Petrobras no período 1999/2002 141

Tabela 4.3- Principais parcerias da Petrobras com empresas estrangeiras nas atividades de E&P na Bacia de Campos: Participação % 143

Tabela 4.4- Preços médios no mercado spot do petróleo tipos Brent e West 177

Tabela 5.1- Petrobras: meta de redução do número de contratos na UN-BC até 2007 215

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.0 - Ciclo de vida e tipologia dos aglomerados 39

Figura 1.1- Encadeamentos para trás 49

Figura 1.2- Encadeamentos para frente 50

Figura 1.3- Encadeamentos para frente, para trás e para os lados 50

Figura 1.4- Natureza circular e cumulativa de uma economia local 34

Figura 1.5- Modelo diamante de competitividade 63

Figura 2.0–Sistema empresarial de suporte à inovação 80

Figura 2.1- Modelo dos fluxos tangíveis e intangíveis 106

Figura3.1- Mapa do Reino Unido, com destaque para a cidade de Aberdeen 119

Figura 4.1- Mapa da cidade de Macaé 125

Figura 4.2- Principais reservatórios de petróleo e gás da Bacia de Campos 129

Figura 4.3- Complexo produtivo offshore da Bacia de Campos 147

Figura 4.4- Vista aérea do Porto de Imbetiba 148

Figura 4.5 - Reservatório de Marlim- Distância relativa à base de transporte 149

Figura 4.6- Estação de transferência de óleo e gás de Cabiúnas 150

Figura 4.7- Aglomerações de empresas offshore em Macaé: localização geográfica 153

Figura 5.1- Complexos e cadeias produtivas da Indústria offshore 193

Figura 5.2- Cadeia produtiva offshore segmento upstream 196

Figura 5.3- Mapa do aglomerado petrolífero de Macaé 202

Figura 5.4- Organização industrial das empresas offshore localizadas em Macaé 207

Figura 5.5- Principais empresas do aglomerado petrolífero de Macaé 209

Figura 5.6- Extensão do aglomerado petrolífero de Macaé: rede de ciência e tecnologia 222 Figura 6.1- Caracterização da estrutura sócio-produtiva de Macaé 245 Figura 7.1- Aglomerados maduros de produtos florestais da Suécia e Portugal 268 Figura 7.2- Reservas de petróleo segundo regiões geográficas e Blocos econômicos (bilhões b/d) – 2000 292

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 4.1- Produção de Petróleo na Bacia de Campos- RJ: 1999-1999. 139

Gráfico 4.2- Variação percentual da população residente de Macaé: 1997-2000 161

Gráfico 4.3- Indústria petrolífera em Macaé: projeção da demanda percentual por profissionais de nível básico – 2003/2005 170 Gráfico 4.4- Indústria petrolífera em Macaé: projeção da demanda percentual por profissionais de nível técnico- 2003/2005 170 Gráfico 4.5- Indústria petrolífera em Macaé: projeção da demanda percentual por profissionais de nível superior – 2003/2005 171 Gráfico 4.6- Evolução dos Empregos formais em Macaé:1995-2000. 172

Gráfico 4.7- Participação dos subsetores econômicos no emprego formal em Macaé 173 Gráfico 4.8- Taxa de crescimento do emprego formal no Brasil , RJ e Macaé 174 Gráfico 4.9- Preço do barril de petróleo tipo Brent x custo médio de produção em regiões selecionadas 178 Gráfico 4.10-Receitas de royalties a preços constantes dos municípios de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes-1998-2001 181 Gráfico 4.11-Receitas correntes a preços constantes em Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes- 1998-2001 182 Gráfico 4.12-Rio das Ostras- Receitas correntes x receitas de royalties a preços constantes 183 Gráfico 4.13-Campos dos Goytacazes – receitas correntes x receitas de royalties a preços constantes- 1998-2001 183 Gráfico 4.14-Macaé – receitas correntes x receitas de royalties a preços constantes – 1998-2001 184 Gráfico 4.15-Receitas correntes per capita – Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras- 1998-2001 186 Gráfico4.16-Receitas correntes de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes – 1998/2002 186 Gráfico 7.1– Finlândia, evolução do complexo florestal 267

Gráfico 7.2- Receita de royalties e participações especiais dos municípios de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes, a preços correntes- 1997/2001 288 Gráfico 7.3- Receitas de royalties petrolíferos de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes- 1998/2002 288

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RESUMO ROSENDO, Roberto, C. Universidade Estadual do Norte Fluminense, fevereiro de 2004; A Indústria Petrolífera em Macaé: Caracterização e Potencialidades do Sistema Produtivo Local. Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes. Professor Orientador: Prof. José Ramon Arica Chaves. A Bacia de Campos, localizada na região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, é responsável pela produção de 82,56% do petróleo do país e possui 83,3% das reservas nacionais provadas, sendo, portanto, considerada uma região muito rica neste recurso natural. Por sua vez, o município de Macaé tornou-se a base operacional da maior província petrolífera do país e vem vivenciando o ingresso de inúmeras empresas offshore como: prestadoras de serviço, provedores de insumos e empresas correlatas e de apoio, o que torna evidente a consolidação de uma aglomeração produtiva especializada em atividades de Exploração e Produção de Petróleo e Gás na cidade. A pesquisa tem por objetivo a análise da estrutura sócio-produtiva onde se insere indústria petrolífera de Macaé, tendo por base a perspectiva teórica e analítica do “desenvolvimento econômico baseado em clusters”. Busca-se, assim, identificar as facilidades, debilidades e potencialidades para que este complexo de empresas se torne um aglomerado industrial maduro, competitivo e diversificado, tendo como elemento-chave a mudança tecnológica. O desenvolvimento do trabalho parte dos seguintes pontos: (i) os elementos que contribuem para a dinâmica da indústria petrolífera de Macaé permitem conceber o município como se aproximando de um sistema produtivo local (SPL) ou, sistema de inovação imaturo; (ii) propõe-se o desenvolvimento de um instrumental analítico, em uma perspectiva sistêmica, que dê conta dos problemas de infra-estrutura - tão comuns a regiões e localidades de baixo desenvolvimento - e que integre, por sua vez, os elementos-chave que caracterizam o atual padrão de acumulação das economias capitalistas, tais como: tecnologia, conhecimento, rede de firmas, confiança e reciprocidade. O modelo proposto busca definir, respectivamente, a estrutura sócio-produtiva local de Macaé e seu estágio evolutivo; (iii) considera-se que, no longo prazo, a sustentabilidade do aglomerado petrolífero de Macaé e o dinamismo do sistema produtivo local dependerão (a) da organização industrial que prevalecerá no mesmo, destacando-se a forma de inserção das pequenas e médias empresas, tendo em vista as mudanças derivadas da nova política de contratações da Petrobras; e (b) da capacidade de inovação e diversificação das empresas, em particular das pequenas e médias, a fim de consolidar as bases para que Macaé se defina como um SPL com perspectivas de evolução para estágios sócio-produtivos mais adiantados. Palavras-chave: Petróleo, aglomerado petrolífero de Macaé, sistema produtivo local.

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ABSTRACT The Campos Basin, located in the north of Rio de Janeiro’s state is responsible for 82,56% of all oil produced in the country and owns 82,56 % of the national proven reserves being, therefore, considered a very rich region in this natural resources. In turn, the city of Macaé became the operational base of the biggest petroliferous province of the country and is seeing the ingression of a great number of companies offshore in its territory as: lenders of services, suppliers, and firms related with oil extraction ativities. As a result it is possible to observe the consolidation of a productive agglomeration specialized in activities of Exploration and Production of Oil and Gas in the city. The focus of this research is the characterization of Macaé’s petroliferous cluster and its socio-productive structure. The study has as theoretical perspective the framework of clusters as base to promote local economic development. It tries to identify the facilities and potentialities that can enable the cluster to become a mature industrial accumulation with strong chainings. The development of the research considers the following statements: (i) the elements that contribute for the dynamics of the petroliferous industry allow to conceive the city as a local productive system (LPS) or an immature system of innovation; (ii) it considers that it is possible to develop an analytical instrument in a systemic perspective, that incorporates the problems of infrastructure, so common in peripheral localities, as well as the key elements that characterizes the current standard of accumulation in capitalist economies: tecnology, knowledge, nets of firms, trust and reciprocity. The proposed Model searchs to define the socio-productive structure of Macaé and its evolutive stage; (iii) it is considered that the evolution and competitiveness of Macaé’s petroliferous cluster in the long run will depend on: (a) the industrial organization that will prevail in the cluster in the near future, where smal firms must have an crucial role in view of the changes derived from the new politics implemented for Petrobras since 2003; (b) on the capacity of innovation and diversification of the LPS and, in particular, of small and medium companies who participate in the cluster. Key words: Petroleum, Macaé petroliferous’cluster, local system of production.

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LISTA DE ABREVIATURAS APM - Aglomeado Petrolífero de Macaé

ANP – Agência Nacional do Petróleo

APs – Aglomerados Produtivos

BC- Bacia de Campos

CENPES- Centro de Pesquisas da Petrobras

COPPE- Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia

CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe.

CEFET- UNED Macaé – Centro Tecnológico Federal Unidade Macaé.

ESPM – Estrutura Sócio-Produtiva de Macaé

E&P – Exploração e Produção de petróleo e gás natural

GEPES – Grupo de Empresas Prestadoras de Serviços da Indústria de Petróleo e Afins.

FIRJAN- Federação das Indústrias do Estado do Rio de janeiro

IMMT- Instituto Macaé de Metrologia e Tecnologia

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

LENEP- Laboratório de Engenharia de Petróleo

NUPEM- Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé

ONIP – Organização Nacional da Indústria de Petróleo

Petrobras UN-BC – Petrobras unidade Bacia de Campos

PMEs – Pequenas e Média s Empresas

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

REDEPETRO-BC Rede de empresas do setor petróleo da Bacia de Campos.

RedeSiste – Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais.

SMS – Saúde, Meio ambiente e Segurança.

SRLI – Sistemas Locais e Regionais de Inovação.

SINDIPETO-BC Sindicato dos Petroleiros da Bacia de Campos

SLI – Sistemas Locais de Inovação

SPL- Sistemas Produtivos Locais

TCE-RJ – Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro

UENF- Universidade Estadual do Norte Fluminense

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A INDÚSTRIA PETROLÍFERA DE MACAÉ: CARACTERIZAÇÃO E POTENCIALIDADES DO SISTEMA PRODUTIVO LOCAL.

Introdução

O crescimento do setor petróleo tem se revelado fundamental tanto para o estado do

Rio de Janeiro quanto para os municípios no entorno da Bacia de Campos (BC), principal

província petrolífera do país. Dentre os municípios do Norte Fluminense, merece destaque

Macaé, que concentra, majoritariamente, a infra-estrutura produtiva de suporte para a

Exploração e Produção de petróleo e gás na BC. A Bacia de Campos, localizada na região

Norte do Estado do Rio de Janeiro é a maior produtora de óleo e gás natural do Brasil.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP)1 - dados de 31/12/2002 - a BC foi

responsável pela produção de 82,56% do petróleo brasileiro e detinha 83,3% das reservas

provadas. No tocante ao gás natural, semelhantemente ao petróleo, a província petrolífera

concentrou a produção de 44,35% do volume total produzido e detinha 48,54% do total das

reservas provadas de gás natural (ANP, 2004)2.

Este extraordinário crescimento da indústria petrolífera no Rio de Janeiro tem

implicado em dois efeitos positivos que contribuem para o dinamismo econômico do Estado

e municípios beneficiados com esta atividade industrial, a saber: (i) o incremento na

participação relativa da distribuição dos royalties petrolíferos, destacando-se os municípios

no entorno da BC, como Campos dos Goytacazes e Macaé; e (ii) o incremento da atividade

industrial como decorrência direta e indireta do setor petróleo (ver Tabela 1).

A Lei nº 9.478/97 que flexibilizou o monopólio das atividades de exploração e

produção (E&P) de petróleo e gás determinou ainda o incremento na participação

percentual dos royalties da união, estados e municípios, cuja alíquota passou de 5% para

10%. Como resultado, o total arrecadado no ano de 2000 foi de R$1,9 bilhão em royalties.

Ao estado do Rio de Janeiro, maior produtor nacional de petróleo e gás natural, juntamente

1 Entidade integrante da Administração Federal indireta, submetida ao regime autárquico especial, instituída como órgão regulador da indústria do petróleo, vinculado ao Ministério de Minas e energia através da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997 (lei do petróleo). 2 Ver produção e reservas de petróleo e gás no estado do Rio de Janeiro, dados estatísticos, Infopetro IE- UFRJ, site: http://www.ie.ufrj.br/infopetro/lng/pt/index.php.

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com seus municípios, destinou-se 41,0 % do total arrecadado (R$764.,8 milhões), cabendo

aos municípios fluminenses, 48,1% deste total, a saber, R$397 milhões. Do total que coube

aos municípios fluminenses, Campos dos Goytacazes e Macaé obtiveram as maiores fatias

(ANP, 2003). Quanto ao incremento na atividade industrial, deve-se sublinhar que, nos

últimos anos, a indústria extrativa mineral (puxada pelas atividades de E&P de óleo e gás)

tem sido responsável pelo dinamismo da indústria no Rio de Janeiro. A indústria extrativa

mineral apresentou então crescimento médio de 13,6% entre 1996 e 2000, contra um

crescimento negativo da indústria de transformação de - 1,7% na média do período. Isto

significa que o crescimento industrial do Rio de Janeiro seria negativo caso não contasse

com o ótimo3 desempenho da indústria extrativa do petróleo.

Tabela 1.0 – Indústria do Rio de Janeiro- variação percentual: 1991-2000 _______________________________________________________________________________

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

_________________________________________________________________________

Indústria em Geral -4,8 -3,4 3,4 4,3 0,3 4,2 1,8 7,2 6,1 6,7

Extrativa Mineral 2,1 -0,9 4,1 8,3 5,0 14,5 10,5 19,4 17,3 15,6

Ind. Transformação -2,4 -4,4 3,2 2,6 -1,9 -0,8 -3,0 -0,6 -2,6 -1,6

Fonte IBGE- PIM-PF (2000). Apud Carvalho (2001).

No contexto deste acelerado crescimento, Macaé encontra-se no epicentro da maior

província petrolífera do Brasil por ser a base de operações da produção offshore da Bacia de

Campos. “A partir de 1984, quando a produção de petróleo e gás se intensificou, 4.126

empresas se instalaram em Macaé, sendo 2.016 industriais e comerciais e 2.110 prestadoras

de serviço” (Sec. Fazenda de Macaé: 2003:2). Destaca-se que o crescimento na atividade

industrial de Macaé resulta, por um lado, dos crescentes investimentos realizados em E&P

na Bacia de Campos por parte da Petrobras e, por outro, do ingresso de inúmeras empresas -

sobretudo estrangeiras - atraídas pelas oportunidades de negócios na BC, como resultado da

quebra do monopólio detido pela Petrobras, a partir da Lei 9478. O expressivo crescimento

econômico verificado em Macaé e, em menor escala, em alguns municípios no entorno da

3 A contribuição das atividades relacionadas à exploração e produção de petróleo e gás realizadas na BC, no PIB do Rio de Janeiro, passou de 3,44% em 1996, para 11,22% em 1999 e 19,68 em 2001 (Cide, 200).

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BC, reflete a ocorrência de um novo4 ciclo de crescimento econômico na região Norte

Fluminense, determinado pela atividade petrolífera.

Este novo ciclo, agora fundamentado em atividades industriais, tem promovido uma

onda de industrialização em Macaé com impactos positivos que se refletem em municípios

vizinhos, como Rio das Ostras, Carapebus e Quissamã. Não obstante, além dos efeitos

multiplicadores determinados pelos investimentos da indústria petrolífera, os vultosos

recursos oriundos dos royalties repassados ao Rio de Janeiro e às prefeituras limítrofes à

BC, possibilitam o aumento dos gastos públicos reforçando o ciclo expansivo na região. No

caso de Macaé estes recursos vêm sendo direcionados para a criação de infra-estrutura

urbana, servindo como atrativo adicional ao ingresso de novas empresas para a localidade.

Nos últimos anos a discussão sobre aglomerações produtivas vem adquirindo

crescente relevância na literatura econômica5, especialmente heterodoxa6, como proxis do

desenvolvimento econômico local e regional, incorporando contribuições da economia da

inovação, economia industrial e geografia econômica (Santos et. al., 2002; Suzigan et. al.,

2001).

Nesse sentido, o elevado dinamismo da indústria petrolífera em Macaé, e a

considerável expansão do número de empresas e dos investimentos no município apontam

4 A região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro passou por dois grandes ciclos de crescimento econômico nos dois últimos séculos, começando a se caracterizar um terceiro ciclo no século XXI (Rosendo e Carvalho 2002). O primeiro ciclo expansivo ocorre na segunda metade do século XIX, com base na produção agroaçucareira, cujo modelo de produção , em moldes ainda pré-capitalista, fundamentava-se na mão-de-obra escrava e no aumento de produtividade representado pela introdução do engenho a vapor. O segundo ciclo de crescimento do Norte Fluminense, ocorre na primeira metade do século XX, também com base na agroindústria açucareira, agora em moldes capitalista, onde os ganhos de produtividade e o processo de acumulação de capitais ocorrem fundamentalmente por conta da introdução de grandes plantas industriais de processamento - as Usinas - e do trabalho assalariado no campo. Apesar de o Norte Fluminense ter se posicionado como um dos maiores expoentes na produção agroaçucareira do país, no início do século XX, o fato é que a referida indústria deteriora-se progressivamente a partir dos anos 1950, reduzindo-se drasticamente no final dos anos 1990, acarretando profundos impactos econômicos e sociais na região (ibid). 5 O conceito de aglomerados para autores na linha da economia de negócios, como Michael Porter, “representa uma nova maneira de pensar as economias nacionais, estaduais e urbanas e aponta para os novos papéis das empresas, dos governos e de outras instituições que se esforçam para aumentar a competitividade” (Porter, 1989:210). Neste sentido, desde a bem sucedida experiência das aglomerações industrias da Terceira Itália, várias têm sido as tentativas de reproduzir esta experiência nos mais variados ambientes e setores (Santos et. al., 2002:6). 6 Este interesse origina-se a partir das já mencionadas mudanças ocorridas principalmente a partir da década 1970 no ambiente competitivo das empresas, como decorrência das “pressões da competição global que força os produtores a inovarem continuamente e aumentarem a qualidade dos produtos existentes. Ao mesmo tempo, muitas firmas perdem a capacidade financeira, de adquirirem os recursos humanos e tecnológicos de que precisam. De forma crescente, formam relações flexíveis e independentes com outras firmas para criarem novas formas de aprendizado e de produção” (Acs, 2000:2).

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para a formação de um denso aglomerado produtivo especializado, definido por empresas

prestadoras de serviços em atividades de Exploração e Produção (E&P) de petróleo e gás

natural.

A pesquisa empreendida tem caráter exploratório e procura dar conta de três

objetivos fundamentais, a saber: (i) Caracterizar o conjunto de fatores que definem a

atividade petrolífera em Macaé buscando-se determinar em que sentido o tipo de

governança, modelo de competição e estrutura de mercado local, nacional e internacional,

influenciam na evolução do mesmo; (ii) classificar o estágio evolutivo em que o aglomerado

se encontra;e (iii) discutir a sustentabilidade do aglomerado petrolífero de Macaé no longo

prazo, quando a produção de petróleo e gás na Bacia de Campos entrar em declínio.

Quanto à caracterização da atividade petrolífera em Macaé abordam-se: sua história,

principais atividades econômicas, produtos, serviços, firmas, organizações públicas e

privadas, instituições e governança, buscando-se determinar a trajetória evolutiva da

estrutura sócio-produtiva local, bem como o padrão de competitividade que esta estrutura se

encontra atualmente, a fim de estabelecer as potencialidades e fragilidades inerentes a ela,

de modo a contribuir tanto para a compreensão de sua dinâmica, quanto para a

implementação de políticas que promovam sua evolução.

No que tange à classificação do estágio evolutivo da estutura sócio-produtiva7

definida pelo aglomerado de empresas petrolíferas em Macaé, consideram-se os seguintes

pontos: com base no modelo analítico proposto, definido como Modelo dos Fluxos

Tangíveis e Intangíveis, distinguem-se cinco estágios evolutivos8 que tipificam estruturas

produtivas concentradas geograficamente no espaço. A escala adotada contempla desde as

estruturas produtivas menos desenvolvidas, que se caracterizam pela baixa articulação entre

os agentes e pelas fortes deficiências relacionadas a infra-estruturas, até as estruturas

produtivas com elevado grau de desenvolvimento, caracterizadas como Sistemas Locais de

Inovação, onde variáveis como aprendizado, cooperação e confiança são fatores tidos

7 Deve-se salientar que o termo Aglomerado Petrolífero de Macaé (APM) é utilizado ao longo de boa parte do trabalho. No entanto, com base no modelo analítico proposto, esta nomenclatura é substituída pela terminologia Estutura Sócio-Produtiva Local (ESPL) e, após a classificação de seu estágio evolutivo, adota-se o termo Sistema Produtivo de Macaé (SPM). Destaca-se que a caracterização da Estrutura Sócio-produtiva de Macaé, no que tange aos aspectos econômicos e sociais, é empreendida nas esferas mesoeconômica e microeconômica, cujas análises são realizadas respectivamente nos capítulos 4 e 5.

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como determinantes para a capacidade de inovação tecnológica, competitividade e

desenvolvimento autosustentado de localidades e regiões.

Já a discussão a respeito da sustentabilidade da estrutura sócio-produtiva de Macaé

no longo prazo, a qual, como mencionado, se sustenta no aglomerado de empresas offshore,

ocorre na seção dedicada às conclusões desta pesquisa.

O excepcional momento econômico que o município de Macaé vive atualmente,

definido respectivamente pelos extraordinários investimentos na atividade petrolífera

offshore, pelo incremento do número de empresas do aglomerado, bem como pela

substancial elevação da arrecadação municipal, coloca-se como oportunidade histórica para

a implementação bem-sucedida de políticas visando a promoção e sustentabilidade de longo

prazo do sistema produtivo local. Com base no atual contexto da indústria petrolífera em

Macaé, três hipóteses norteiam o desenvolvimento deste trabalho:

A primeira hipótese é a de que, embora o município de Macaé se caracterize como

uma localidade de baixo desenvolvimento, é possível identificar elementos em sua estrutura

sócioeconomica que permitem compreendê-la como um sistema produtivo local9 (SPL) em

formação ou, como denominou Albuquerque (1999), um sistema de inovação imaturo.

Neste contexto, concebe-se que as metodologias tradicionalmente empregadas para a

análise de clusters não dão conta das mudanças engendradas no processo produtivo, fruto do

recente padrão de acumulação que se fundamenta respectivamente na “economia do

conhecimento” e nas “novas tecnologias da informação e comunicação” (TICs). Isto posto,

compreende-se que, do ponto de vista de uma abordagem sistêmica, o aglomerado de

empresas cujas atividades se articulam em torno da exploração e produção de petróleo e gás

está no centro da estrutura produtiva de Macaé, constituindo-se no elemento impulsionador

do desenvolvimento econômico local.

A segunda hipótese do trabalho é a de que é possível desenvolver um recorte

analítico10 em uma perspectiva sistêmica, que dê conta dos problemas de infra-estrutura -

8 São eles: (1) Aglomerado Produtivo; (2) Arranjos Produtivos; (3) Sistema Produtivo Local Adaptador de Tecnologias; (4) Sistema Produtivo Local Avançado (presença de inovações radicais e incrementais) e (5) Sistemas Locais de Inovação. 9 O conceito de Sistema Produtivo Local é discutido com maior profundidade no capítulo II. 10 Para o estudo de caso da aglomerado petrolífero de Macaé, propõe-se a utilização de um modelo analítico que procura integrar fatores estruturais (tangíveis) a fatores não mensuráveis pelos métodos tradicionais (intangíveis) de modo que se possa identificar as potencialidades e fragilidades de uma estrutura sócioprodutiva na esfera local. O modelo proposto, parte do pressuposto de que determinadas aglomerações

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tão comuns a regiões e localidades de baixo desenvolvimento - e que integre, por sua vez,

os elementos-chave que caracterizam o atual padrão de acumulação das economias

capitalistas. Nesse sentido, propõe-se um recorte metodológico que busca integrar fluxos

tangíveis e intangíveis, para a caracterização das infra-estruturas e dos elementos

fundamentais ao processo de inovação tecnológica e da competitividade, tendo como base

aglomerações produtivas localizadas em espaços geográficos de baixo desenvolvimento.

Este recorte metodológico é aplicado à análise da estrutura sócio-produtiva de Macaé, onde

se insere o aglomerado de empresas offshore, nas perspectivas mesoeconômica e

microeconômica.

A terceira hipótese do trabalho considera que a sustentabilidade do aglomerado

petrolífero no longo prazo e, por conseguinte, a possibilidade de se promover o

desenvolvimento econômico local de forma sustentável dependerá: (i) da organização

industrial que prevalecerá no mesmo, destacando-se a forma de inserção das pequenas e

médias empresas, tendo em vista as mudanças derivadas da nova política de contratações da

Petrobras; (ii) da capacidade de inovação e diversificação do sistema produtivo local e, em

particular, da capacidade de as pequenas e médias empresas offshore que atuam em Macaé

permanecerem no mercado. Tal hipótese tem por base a estrutura de organização industrial e

a hierarquia produtiva que vem se delineando na indústria petrolífera de Macaé, com

destaque para o papel desempenhado pelas grandes empresas,sobretudo pela Petrobras.

Com relação à hierarquia produtiva do aglomerado destacam-se três níveis, a saber,

no primeiro nível estão a Petrobras e demais operadoras; no segundo nível encontram-se as

grandes prestadoras de serviços – multinacionais, na sua grande maioria; e no terceiro nível

estão as empresas nacionais de pequeno e médio porte que, em geral, se caracterizam pelo

baixo nível tecnológico e reduzida capacidade de investimentos. Portanto, é factível pensar

que com a diminuição da produção petróleo e gás na Bacia de Campos as grandes

operadoras e grandes prestadoras de serviço tendam a diminuir suas atividades na região

migrando para outras províncias petrolíferas no Brasil ou no exterior. Concebe-se assim que

a consolidação de uma organização produtiva verticalizada, centrada majoritariamente nas

grandes empresas offshore, representa um grande risco para a sustentabilidade do

periféricas como a de Macaé, constituem uma estrutura sócio-produtiva subnacional. Estruturas socioprodutivas em localidades de baixo desenvolvimento apresentam, em geral, graus diferenciados de evolução, podendo avançar nos aspectos econômico, social e tecnológico.

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aglomerado e, conseqüentemente, para a sustentabilidade do sistema produtivo de Macaé no

longo prazo. Daí a importâcia no aprimoramento tecnológico e na diversificação produtiva

envolvendo as pequenas e médias empresas offshore.

Considera-se que as hipóteses acima expostas sobre o aglomerado petrolífero de

Macaé11 são complementares, e permeiam a discussão a respeito do desenvolvimento

socioeconômico sustentável do município. Nesse sentido as potencialidades inerentes à

evolução do sistema produtivo local de Macaé podem ser compreendidas de forma mais

clara quando se consideram alguns fatores dinâmicos que impulsionam a indústria

petrolífera em Macaé, a saber: (i) em Macaé, como já mencionado, está localizada a base

industrial das atividades de E&P de petróleo e gás na Bacia de Campos, sendo a mesma

responsável por 82,5% do petróleo produzido no país e 44,3% do gás natural, além de

possuir 83,3% das reservas provadas de petróleo do Brasil e 48,5% das de gás natural, com

duração estimada – face o grau de exploração atual – em torno de 18 anos. (ANP, 2004); (ii)

a expansão das atividades ligadas à Exploração e Produção na BC, tem se traduzido no

crescente ingresso de empresas industriais e de prestação de serviços para o município de

Macaé, dos mais variados portes e competências tecnológicas, atraídas pela prosperidade e

oportunidades da cadeia petrolífera; (iii) no plano internacional deve-se ressaltar o fato de a

indústria petrolífera no segmento upstream ser uma indústria internacionalizada, densa em

investimentos, com elevado grau de complexidade e de alto padrão tecnológico, o que

requer o desenvolvimento de infra-estruturas físicas e humanas compatíveis, além de uma

forte interação interfirmas para garantir a competitividade do setor; (iv) considera-se ainda a

crescente capacidade do estado do Rio de Janeiro e, mais particularmente, de Macaé no que

diz respeito à implementação de políticas industriais e criação de infra-estruturas vis-à-vis a

promoção do aglomerado. O incremento de recursos oriundos dos royalties e participações

especiais, bem como aqueles resultantes dos tributos tradicionais- incrementados pelo

dinamismo do setor petróleo - constituem-se em uma vantagem comparativa adicional,

11 Para efeito de comparação, considera-se o exemplo do aglomerado petrolífero offshore de Aberdeen, no Norte da Escócia, que, a partir de 1970, desenvolveu e implementou políticas industriais com a participação das empresas, instituições e governos local, municipal e federal, empreendendo importantes investimentos em infra-estrutura física e no desenvolvimento de recursos humanos voltados para a Exploração e Produção de petróleo e gás. Estas iniciativas foram acompanhadas de fortes investimentos em atividades de Pesquisa e deenvolvimento (P&D) e no estímulo à constituição de redes de firmas, facilitando assim a ocorrência de ondas de inovação tecnológica, o que permitiu ao aglomerado petrolífero de Aberdeen, receber o título de

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incomum à maioria das atividades produtivas desenvolvidas no país; (v) por fim, destaca-

se o fato de a principal e maior empresa atuante em Macaé, a Petrobras, ser líder mundial

em tecnologia de E&P em águas profundas e ultraprofundas, o que vem contribuindo para

que a estatal avance no ranking das maiores empresas petrolíferas do mundo ocupando

atualmente a sétima posição.

Do ponto de vista teórico-metodológico a análise da Estrutura Sócio-Produtiva de

Macaé contempla três recortes analíticos para dar conta das especificidades de aglomerados

produtivos em regiões de baixo desenvolvimento, a saber: a proposta aqui denominada de

estruturalista, na linha do trabalho de Nadvi (1995) e Ramos (1999);a perspectiva sistêmica

de análise de aglomerados conforme proposto por Mothe e Paquet (1998), Malecki (1997),

Cooke (1998), Lastres e Cassiolato, (2003); e a abordagem de redes de firmas proposta por

Britto (1999). Por sua vez, estas abordagens serviram de base para a construção do modelo

analítico proposto neste trabalho.

O recorte analítico proposto foi denominado de “Modelo de Fluxos Tangíveis e

Intangíveis”. Assim, a estrutura analítica foi desenvolvida de modo a compatibilizar

respectivamente os enfoques teóricos que privilegiam a estrutura produtiva e a organização

industrial, com as recentes abordagens, na linha evolucionária, no escopo dos sistemas

locais e regionais de inovação. Estas abordagens atribuem a fatores intangíveis tais como

conhecimento tácito, cooperação e reciprocidade os fundamentos do processo de inovação

tecnológica - proxis da competitividade de empresas, localidades e regiões.

Assim, a análise do aglomerado petrolífero de Macaé procura seguir a estrutura

metodológica proposta no Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis tendo por base a

utilização de (i) dados secundários, obtidos em fontes credenciadas sobre produção,

emprego, renda e outras variáveis socioeconômicas relevantes; (ii) dados e informações

primárias obtidas por meio da aplicação de questionários e entrevistas junto a empresas

offshore localizadasem Macaé.

O desenvolvimento do trabalho de tese se deu ao longo de seis capítulos:

O Capítulo 1 foi dedicado à revisão da literatura com ênfase nas abordagens relativas a

aglomerados produtivos. Neste capítulo abordam-se os conceitos de aglomeração e de

cidade européia do petróleo nos anos 1990, e tornar-se um centro de excelência mundial em tecnologia de E&P de petróleo e gás offshore.

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externalidade, enunciando-se as principais correntes teóricas sobre o assunto na atualidade.

Discutem-se, em seguida, as definições sobre aglomerados produtivos, além de conceitos

análogos como rede de empresas, pólos tecnológicos e cadeias produtivas. Apresenta-se

ainda uma breve revisão das principais abordagens sobre aglomerações produtivas, onde se

enfatiza a literatura especializada desde os distritos industrias marshallianos, passando-se

pelas teorias de localização espacial até chegar-se às abordagens recentes sobre o assunto.

No Capítulo 2 apresenta-se o referencial teórico e metodológico que é utilizado como

base para a construção do modelo analítico proposto: “Modelo dos Fluxos Tangíveis e

Intangíveis”, empregado na análise da Estrutura Sócioprodutiva de Macaé. O capítulo

inicia-se com a apresentação da abordagem dos sistemas locais de inovação, destacando-se

a dimensão local da atividade produtiva. Discute-se a classificação dos sistemas de inovação

onde se destaca o papel de regiões e localidades de baixo desenvolvimento no atual padrão

de acumulação. Abordam-se alguns dos principais enfoques voltados para a análise de

aglomerações produtivas características de localidades e regiões pouco desenvolvidas.

Nesse sentido apresenta-se respectivamente a abordagem Estruturalista, Ramos (1999); a

abordagem dos “Arranjos e Sistemas Produtivos Locais”, Lastres e Cassiolato (2003-a); e a

abordagem de “Rede de Empresas”, Britto (1999). As seções seguintes são dedicadas à

proposição do Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis, que privilegia a integração das

perspectivas de análise mesoeconômica e amicroeconômica.

No Capítulo 3 apresenta-se a indústria petrolífera no contexto internacional e

nacional. Faz-se, inicialmente, um breve histórico do surgimento da indústria no plano

internacional destacando-se a importância do petróleo e derivados para o capitalismo

moderno, Nas seções seguintes discutem-se o surgimento da indústria offshore; as estruturas

de mercado que tipificam a organização industrial da indústria petrolífera no contexto

mundial, e apresenta-se o aglomerado petrolífero de Aberdeen, no Mar do Norte, como um

exemplo de um Sistema Local de Inovação.

Com base no modelo analítico proposto, inicia-se no Capítulo 4 a discussão sobre a

Estrutura Sócio-Produtiva de Macaé, tendo por objetivo fundamental o delineamento dos

fatores estruturais que definem sua conformação. O enfoque da análise se dá na perspectiva

mesoeconômica procurando caracterizar o aglomerado no que tange os seguintes pontos:

infra-estrutura produtiva; infra-estrutura financeira; infra-estrutura física; infra-estrutura do

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conhecimento; recursos humanos e mercado de trabalho; instituições de apoio; fatores meta

e macroeconômicos que afetam o aglomerado; e a influência dos governos federal e estadual

em sua dinâmica.

O Capítulo 5 trata da organização industrial das empresas ligadas à atividade

petrolífera em Macaé. Neste capítulo, discute-se o contexto microeconômico do

aglomerado. Inicia-se apresentando a cadeia produtiva do segmento upstream passando-se

em seguida à apresentação do mapa do aglomerado petrolífero de Macaé, destacando-se

suas principais características. Discutem-se ainda os padrões de organização industrial das

empresas offshore, algumas interações que se estabelecem entre as empresas, destacando-se

os mecanismos de cooperação e aprendizado, o padrão de governança e o papel das

instituições de ciência e tecnologia no processo de inovação e difusão tecnológica no

contexto do aglomerado.

O Capítulo 6 é definido como capítulo conclusivo. Procura-se integrar o conjunto de

informações levantadas nos capítulos precedentes com as respostas obtidas a partir de

entrevistas e um questionário contendo 54 perguntas, aplicado a 13 empresas offshore12,

incluindo-se a Petrobras, que são responsáveis por mais de 50% das atividades do

aglomerado. Com efeito, procura-se sistematizar as informações meso e microeconômicas

apresentadas respectivamente nos Capítulos 4 e 5, utilizando-se o Modelo de Fluxos

Tangíveis e Intangíveis para definir a classificação do estágio evolutivo da estrutura sócio-

produtiva de Macaé. A partir dos resultados obtidos passa-se, então, às conclusões finais do

trabalho, com destaque para a discussão que envolve as perspectivas de sustentabilidde do

aglomerado petrolífero de Macaé no longo prazo, quando a produção de petróleo na BC

tende a entrar em declínio.

12 As respostas das perguntas inerentes aos questionários aplicados às empresas do Aglomerado Petrolífero de Macaé foram utilizadas, prioritariamente, no desenvolvimento dos Capítulos V e VI.

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CAPÍTULO I

REVISÃO DA LITERATURA COM ÊNFASE NAS ABORDAGENS RELATIVAS A AGLOMERADOS

PRODUTIVOS

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29

1.0- Economias de Aglomeração e Externalidades

“As vantagens que as empresas tanto públicas quanto privadas obtém ao

concentrarem-se no espaço são designadas pelos economistas de economias de aglomeração.

Em outras palavras, trata-se de ganhos de produtividade atribuíveis a aglomeração

geográfica de populações e de atividades econômicas” (Polèse, 1998:83). Considerando-se

que a fonte dos referidos ganhos de produtividade se verifica fora das empresas ou no

entorno das mesmas, em geral, se fala de economias externas ou de externalidades13. O

desenvolvimento de infra-estrutura física em meio às economias de aglomeração, tais como

comunicações, transporte, serviços diversos e etc, gera externalidades positivas, reduzindo

os custos de transação das empresas além de possibilitar maior acesso às informações sobre

o mercado (Malecki, 1997).

O conceito de externalidade é fundamental para se entender os ganhos de

produtividade que as empresas podem obter participando de aglomerados produtivos. Estes

ganhos de produtividade normalmente resultam em redução de custos e aumento de lucro

para as empresas. Com efeito, deve-se distinguir dois tipos de vantagens que as empresas

podem obter no âmbito interno e externo de sua atividade produtiva: (i) as economias

internas - que se devem a melhoria da tecnologia interna à firma, inclui equipamentos e

maquinarias além do aprimoramento do conhecimento e dos métodos de gestão - são a base

da atividade produtiva. No caso das economias externas, observa-se igualmente um ganho

de produtividade por parte das firmas, associada a uma certa localização geográfica. Por

definição, a origem dos ganhos se situa fora da empresa, fato que contribuirá para a redução

de seu custo médio por unidade produzida (Polèse, 1988:89).

As vantagens das economias de aglomeração vão além das interações transacionais,

que reduzem os custos das firmas, e do acesso às informações sobre o mercado.

13 A externalidade pode ser definida como sendo os efeitos determinados a terceiros, fruto de ações geradas por um indivíduo ou uma firma. A externalidade também é concebida como um “bem o qual não pode ser precificado”. Neste sentido as externalidades podem ser positivas ou negativas. Um exemplo de externalidade negativa é a poluição. As firmas produzem juntamente com os bens e serviços que são vendidos no mercado, um bem negativo não precificado, a saber, a poluição. Assim, na ausência de regulamentação governamental, as empresas produzem mais poluição do que o socialmente desejável. Por outro lado, uma ação não compensada que beneficia outro se constitui em uma externalidade positiva. Dois importantes exemplos de externalidades positivas são: a informação e as descobertas científicas. Com efeito, quando Henry Ford desenvolveu a “linha de montagem” muitas empresas se beneficiaram de sua inovação sem compensá-lo (Carlton & Perlof, 2000:115).

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Aglomerações localizadas ou constelações de empresas permitem a consulta, interação e

rápida resposta entre firmas, fator essencial para a competitividade de firmas que produzem

para nichos de mercado e que estão fora das indústrias de alta tecnologia (Davelar e

Nijkamp, 1989 - apud Malecki, 1997).

1.1- Aglomerados Produtivos-Principais Enfoques Teóricos

Nesta seção, apresenta-se a síntese das recentes abordagens sobre aglomerados

produtivos, suas diferenças e similaridades. O objetivo primordial desta seção é expor os

conceitos mais atuais sobre aglomerados, sendo que, na seção 1.2, que trata da revisão da

literatura sobre o assunto, apresentam-se as teorias que definem, sob ângulos diferenciados,

os clusters. Deve-se salientar, contudo, que os enfoques a serem apresentados nesta seção e

na seção 1.2 não são alternativos, e sim complementares.

Os desdobramentos teóricos e empíricos relacionados à caracterização de

aglomerados produtivos, bem como a necessidade de se combinar enfoques diferenciados

para sua análise, implica na utilização de outras categorias analíticas que fogem ao núcleo

duro da economia. Nesse sentido, dentre as várias categorias que compõem o estudo de

aglomerados, Suzigam et al. (2001) destacam cinco categoria: (i) “História- A mera

existência de uma aglomeração industrial em um dado local pode ser resultado de um

‘acidente histórico’. Da mesma forma, a evolução dos aglomerados produtivos é

freqüentemente determinada por processos evolucionários, assim como por engajamento

em trajetórias de sucesso; (2) Pequenos eventos- Inovações tecnológicas ou comerciais,

podem mudar a tendência de evolução dos aglomerados; (3) Instituições- Associações de

empresas locais, cooperativas, sindicatos e outras associações de trabalhadores têm papel

fundamental no desenvolvimento de aglomerados; (4) Contexto sócio-cultural-

Normalmente constituem a base para a existência de confiança e de liderança local, que são

essenciais para a construção institucional e a cooperação entre os agentes privados e estes,

com o setor público; (5) Políticas públicas- O apoio do setor público particularmente mas

não exclusivamente local é também fundamental para o sucesso de uma aglomeração

produtiva.”

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A partir de 1990, surge uma variedade de enfoques14 para tratar a questão dos

aglomerados produtivos. Estas abordagens procuram captar as mudanças que se verificam

no processo produtivo do capitalismo contemporâneo decorrentes, em grande medida, das

pressões impostas pelo processo de globalização. Tais abordagens têm como característica

comum o fato de associarem vantagens competitivas estáticas, decorrentes da aglomeração,

a vantagens competitivas dinâmicas, decorrentes da cooperação. Ou seja, estas abordagens

concebem que as “externalidades positivas”, inerentes ao aglomerado, são oriundas tanto de

fatores estruturais como institucionais. Entretanto, divergem no que concerne à lógica de

formação dos aglomerados e quanto ao papel da política econômica no desenvolvimento e

consolidação dos mesmos.

O Quadro 1.1, a seguir, apresenta um resumo dos enfoques teóricos recentes sobre

aglomerados. No que tange à formação de aglomerações produtivas, os enfoques

apresentados podem ser subdivididos em dois grupos: os que se estruturam como resultado

das forças de mercado e os que se desenvolvem com a participação ativa e planejada de

agentes públicos e privados. Assim, os enfoques da Nova Geografia Econômica e da

Economia de Negócios tratam dos aglomerados como sendo resultado das forças de

mercado. Não há muito espaço para a política econômica além de corrigir imperfeições de

mercado e implementar medidas gerais (horizontais) de política. Os outros três enfoques são

similares no sentido oposto. Os três enfatizam fortemente o apoio do setor público por meio

de medidas específicas de política e cooperação entre empresas no aglomerado (ibid.).

14 Estes enfoques têm muitos pontos em comum com a corrente teórica dos “Sistemas Locais e Regionais de Inovação” que atribui grande importância ao processo produtivo localizado, vis-à-vis os novos padrões de produção e de acumulação, impostos pelo avanço do capitalismo, onde as políticas públicas têm papel relevante (ver seção 2.1).

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Quadro 1.1- Sumário de abordagens teóricas sobre aglomerações produtivas

Abordagens Teóricas Formação do

Aglomerado

Papel do Governo

Nova Geografia Econômica (P. Krugman, 1998): Elaboradas a partir das contribuições pioneiras de Alfred Marshall. Aglomerações resultam de causação cumulativa induzida pela presença de economias externas locais. Economias externas são incidentais e a estrutura espacial da economia é determinada por processos do tipo mão invisível operando forças centrípetas e centrífugas.

Aglomerados são resultado das forças de mercado

Pouco espaço para a política econômica

Economia dos Negócios (M. Porter, 1989): enfatiza a importância de economias externas geograficamente restristas “concentração de habilidades e conhecimentos altamente especializados, instituições rivais, atividades correlatas e consumidores sofisticados” na competição internacional.

Aglomerados são resultado das forças de mercado. Estraté- gias locacionais são parte das estratégias de negócios e podem alterar a formação dos aglomerados.

O governo deve prover educação, infra-estrutura física e regras de concorrência.

Economia Regional (A. Scott, 1998): Geografia econômica e desempenho industrial estão interligados. Existe uma tendência endêmica no capitalismo em direção a densos aglomerados localizados. “Esses aglomerados são constituídos como economias regionais intensivas em transação que, por sua vez, são enlaçadas por estruturas de interdependência que se espalham por todo o globo”.

Coordenação extra-mercado.

Políticas públicas são essenciais na construção de vantagens competitivas localizadas

Economia da Inovação (D.B. Audretsch, 1998): A proximidade local facilita o fluxo de informação e spill-overs (disseminação) de conhecimento. Atividades econômicas baseadas em novo conhecimento têm grande propensão a aglomerar-se dentro de uma região geográfica.

Coordenação extra-mercado.

Políticas de desregulamentação que permita maior interação produtiva entre as empresas, no âmbito local e regional.

Pequenas empresas e distritos industriais (H. Schmitz, 1997;1999): Além das economias externas locais incidentais ou espontâneas, “existe também uma força deliberada em ação, qual seja, aquela decorrente de cooperação conscientemente buscada entre agentes privados, e do apoio do setor público”.

Decorre de ações do mercado, (não planejadas) e de ações coletivas (planejadas)

Políticas ativas visando o aumento da cooperação no aglomerado e criação de infra-estrutura

Fonte: adaptado de Suzigan et. al. (2001).

O conceito de “eficiência coletiva”, proposto na estrutura analítica de “Pequenas

Empresas e Distritos Industrias” por Schmitz concebe que economias locais marshallianas

são importantes para explicar aglomerações de empresas industriais. Entretanto, a

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abordagem neoclássica oferece uma explicação incompleta no seguinte sentido: (i)

usualmente as externalidades referem-se apenas à produção; contudo, economias externas

locais significativas, também podem estar presentes na distribuição e outros serviços

especializados, comuns aos aglomerados; e (ii) o mainstream trata as economias externas

normalmente como imperfeições de mercado.

O enfoque da eficiência coletiva ressalta a característica (enabling) ao invés de

incapacitante (disabling) ou de “falhas de mercado”, sobretudo as de natureza tecnológica

(Schmitrz, 1997; apud Suzigam et al., 2001). Deve-se ressaltar ainda que economias

externas puras são incidentais enquanto a cooperação e o apoio público são deliberados.

Nesse sentido “a cooperação entre empresas geralmente se concentra na produção

(cooperação interfirmas, redes, cooperação entre grupos distintos de empresas, por exemplo,

entre uma grande empresa e pequenas empresas fornecedoras), mas é comum também a

constituição de consórcios de P&D, de compras de marketing, de exportação e outros”. Por

fim, o enfoque da eficiência coletiva enfatiza o papel das organizações de ajuda mútua nas

aglomerações e o papel crucial do setor público por meio de políticas específicas, que deve

estar em sinergia com as ações privadas de ajuda mútua (ibid.).

A definição de aglomerados é inevitável e suscetível às particularidades de cada uma

das abordagens teóricas que tratam sobre o tema. Deve-se ressaltar ainda que existem

diferentes15 nomenclaturas utilizadas para denominar o fenômeno dos aglomerados

produtivos, as quais, em sua maioria, apresentam abordagens contendo diferenças teóricas e

metodológicas. Dentre as nomenclaturas mais utilizadas destacam-se: (i) Clusters (ou

aglomerados, em português)- usualmente utilizada na literatura da economia de negócios,

como proposto por Michael Porter; (ii) Complexos produtivos- termo utilizado pelos

pesquisadores da CEPAL para designar aglomerações produtivas onde, entre outros fatores,

se destaca a estrutura do aglomerado, ressaltando-se os encadeamentos para frente e para

trás; (iii) Distritos industriais16 Os distritos industriais são um tipo especial de aglomerado

15 Adota-se para uso corrente, na maior parte deste trabalho, a nomenclatura “aglomerados produtivos” (APs), destacando-se que o enfoque teórico e metodológico utilizado nesta pesquisa enquadra-se na linha evolucionária, como será visto no Capítulo 2. Enfatiza-se ainda que a nomenclatura Aps adotada para designar a indústria petrolífera de Macaé será alterada no capítulo 6 deste trabalho, após a classificação da Estrutura sócio-produtiva, conforme proposto no presente trabalho. 16 Os Distritos Industriais da 3a. Itália têm merecido particular atenção na literatura de Geografia Econômica e enquadram-se dentro das concepções mais recentes sobre distritos industrias, que representam uma evolução com vistas aos distritos Marshallianos do início do século XX.

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“redes locais de negócios onde um denso tecido social baseado em normas e valores

culturais compartilhados e uma elaborada rede de instituições facilitam a disseminação de

conhecimento e inovação, constituem um tipo específico de aglomerado e podem ser

denominados de ‘distritos industriais’ (Altenburg & Meyer-Stamer, 1999:1694). É neste

sentido que este formato de distrito, se encaixa bem no conceito evolucionista de “Sistemas

locais e Regionais de Inovação” (Acs.; Dela Mothe e Paquet, 2000).

1.2- Definições de Aglomerados

Nesta seção abordam-se algumas definições conceituais sobre aglomerados

produtivos (APs), destacando alguns dos principais enfoques teóricos em voga na literatura

sobre o assunto.

Um dos autores que tem se destacado no estudo de APs na literatura recente é

Michael Porter. A perspectiva de Porter fundamenta-se no estudo coordenado pelo autor

realizado ao longo de quatro anos sobre dez importantes países industrializados: Dinamarca,

Alemanha, Itália, Japão, Coréia, Cingapura, Suécia, Suíça, Reino Unido e EUA, cujo

enfoque residiu em observar os fatores que determinavam a manutenção da vantagem

competitiva em indústrias e segmentos de indústria relativamente sofisticados (Porter

1989:24).

Porter observou que a questão espacial era fundamental na determinação da

competitividade das empresas. Assim, agrupamentos de empresas geograficamente

concentrados “clusters”17, obtêm, na visão do autor, vantagens estáticas e dinâmicas

resultantes da redução dos custos de transação, mas também em função de fatores estruturais

17 Porter define aglomerados como sendo: “(...)um agrupamento geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares. O escopo geográfico varia de uma única cidade ou estado para todo um país ou mesmo países vizinhos. Os aglomerados assumem diversas formas, dependendo de sua profundidade e sofisticação, mas a maioria inclui empresas de produtos ou serviços finais, fornecedores de insumos especializados, componentes, equipamentos e serviços, instituições financeiras e empresas em setores correlatos. Os aglomerados geralmente também incluem empresas e setores como: distribuidores ou clientes, fabricantes de produtos complementares, fornecedores de infra-estrutura especializada, instituições governamentais e outras, dedicadas ao treinamento especializado, educação, informação, pesquisa e suporte técnico como universidades, centros de altos estudos e prestadores de serviços e treinamento vocacional e agências de normatização. Os órgãos governamentais com influência significativa sobre o aglomerado seriam uma de suas partes integrantes. Finalmente, muitos aglomerados incluem associações comerciais e outras entidades associativas do setor privado, que apóiam seus participantes” (Porter, 1999:211-212).

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e institucionais, que dinamizam a inovação e a competitividade das empresas nele inseridas.

É no contexto dos aglomerados que o autor propõe o difundido “Modelo Diamante de

Competitividade”, abordado com maior profundidade na seção 1.5.1.

Já o pesquisador Joseph Ramos, da Comissão Econômica para América Latina e

Caribe (CEPAL) associa os aglomerados a complexos produtivos18 definindo-os por meio

dos encadeamentos que se estabelecem entre firmas produtoras, de suprimentos e o

mercado. A abordagem cepalina de APs privilegia a estrutura, a especialização e a

eficiência coletiva.

De acordo com Ramos (1999:33), pode-se enumerar cinco razões para a formação

de complexos produtivos19 (i) a concentração de empresas em uma região atrai mais

clientes, com o que o mercado se amplia para todas, muito além do que ocorreria se as

empresas estivessem operando isoladamente; (ii) a forte competência a que dá lugar esta

concentração de empresas induz a uma maior especialização, divisão do trabalho e,

conseqüentemente, maior produtividade; (iii) a forte interação entre produtores, provedores

e usuários facilita e induz a um maior aprendizado produtivo, tecnológico e de

comercialização; (iv) as repetidas transações em proximidade com os mesmos agentes

econômicos geram maior confiança e reputação, o que redunda em menores custos de

transação; (v) a existência de complexos com consciência própria facilita a ação coletiva do

conjunto em prol de metas comuns tais como comercialização internacional, capacitação,

centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico P&D, campanhas de normas de

qualidade, etc.

18“Considera-se usualmente como complexo produtivo ou aglomerado, uma concentração setorial e/ou geográfica de empresas que desempenham as mesmas atividades ou atividades estreitamente relacionadas – tanto para trás, como os provedores de insumos e equipamentos, como para adiante e para os lados, para as indústrias processadoras e usuárias, assim como serviços e atividades estreitamente relacionadas – com importantes e cumulativas economias externas, de aglomeração e especialização (pela presença de produtores, provedores e mão-de-obra especializada e de serviços anexos específicos ao setor) e com a possibilidade de levar a cabo uma ação conjunta em busca da eficiência coletiva” (Ramos 1999:33). 19 Um dos AP’s mais conhecidos na atualidade é o Vale do Silício na Califórnia. Entretanto, há outros exemplos de aglomerados. No caso de países desenvolvidos destacam-se os distritos industriais de Emília Romagna (Itália) e Baden Wurttemberg (Alemanha), a Rota a 128 (Estados Unidos), os complexos em torno das indústrias de computadores na Irlanda e eletrônica na Escócia. Já nos países em desenvolvimento cabe mencionar a indústria de calçados em Novo Hamburgo (Brasil), de eletrônica e programas de computação em Bangalore (Índia), de instrumentos cirúrgicos simples em Sjalkot (Paquistão) e de microeletrônica no parque tecnológico de Hsinchu (Pronvíncia de Taiwan) (Ramos 1993:34).

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Por fim cabe a pergunta: o que se deve esperar encontrar em um aglomerado?

Suzigan20 et. al. (2001:5) enfatizam não apenas as economias externas geradas pelos fatores

que favorecem a especialização local, mas ressaltam ainda a importância da interação

interfirmas, da cooperação, bem como do suporte de instituições locais no desenvolvimento

de aglomerados competitivos. Destacam ainda a produção e difusão do conhecimento tácito

e formal, a confiança e a ação coletiva como elementos básicos.

1.2.1- Conceitos Análogos Relacionados a Aglomerados Produtivos

• Parques Tecnológicos

“São definidos como áreas, geralmente ligadas a algum importante centro de ensino

e pesquisa, com infra-estrutura necessária para a instalação de empresas produtivas baseadas

em pesquisa e desenvolvimento tecnológico” (Albagli e Brito, 2003:21).

“Os parques tecnológicos geralmente envolvem: (i) laços formais e operacionais

entre empresas, universidades e outras instituições de ensino e P&D (ii) estímulo à

transferência de tecnologia e à participação de firmas baseadas em tecnologia e outras

instituições de suporte; e (iii) a existência de uma função administrativa e a oferta de

serviços de suporte, tais como promoção das firmas e apoio para obtenção de

20 Na linha da abordagem dos sistemas de inovação, Suzigan et al. (2001) argumentam que: Além da presença de economias externas locais relacionadas a tamanho de mercado, concentração de mão-de-obra especializada, spillovers tecnológicos e outros fatores que favorecem a especialização local, algumas características adicionais costumam estar presentes em clusters. As mais importantes podem ser resumidas como a seguir: As empresas locais usualmente interagem por meio de linkages de produção, comércio e distribuição. Elas também cooperam em marketing, promoção de exportações, suprimento de insumos essenciais, atividades de P&D e outras. Entretanto, a despeito de ações conjuntas e cooperação, as empresas locais procuram manter um saudável equilíbrio entre competição e cooperação. As empresas locais geralmente se beneficiam do apoio de instituições locais. Lideranças locais usualmente coordenam ações privadas e públicas. E a existência de algumas formas de identidade política, social ou cultural constitui a base para a existência de confiança e compartilhamento de informações(ibid.).

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financiamentos e capital de risco. Além das empresas de base tecnológica, podem também

incluir incubadoras de empresas, laboratórios e centros de pesquisa” (ibid.).

• Pólos21 Tecnológicos ou Tecnópolis.

De acordo com Albagli e Britto (2003:21) “são definidos como grandes áreas com

infra-estrutura necessária para unidades produtivas que realizam atividades de baixa ou

grande escala, baseadas em pesquisa e desenvolvimento tecnológico.” Nestas áreas, são

oferecidos serviços que facilitam a obtenção de recursos tecnológicos e humanos de alto

nível, acesso a centros de investigação, bibliotecas e serviços de documentação

especializada e de contratação de projeto tecnológicos. Brito e Albagli (2003) enfatizam

ainda que as tecnópolis combinam em uma área pré-estabelecida, os seguintes grupos de

elementos: instituições de ensino e pesquisa; empresas avançadas tecnologicamente e

inovativas (maioria de pequenas e médias empresas); instituições e agências públicas e

privadas com a missão de garantir e fomentar o estabelecimento de acordos colaborativos

entre os agentes mencionados acima de forma a maximizar a criatividade e atividades

inovativas, assim como elevar a competitividade da região (ibidem).

• Cadeias Produtivas

Prochnik e Haguinauer (2001:1) enfatizam que “as cadeias produtivas resultam da crescente

divisão do trabalho e maior interdependência entre os agentes econômicos”. Já Brito e

Albagli (2003) definem cadeias produtivas como resultado do “encadeamento de atividades

econômicas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos

insumos, incluindo desde as matérias primas, máquinas e equipamentos, produtos

intermediários até os finais, sua distribuição e comercialização (Ibid., 2003:8). Uma cadeia

21 Deve-se destacar a contribuição de François Perroux na formação de pólos industriais. O aspecto da dominância foi importante para os pólos de crescimento. Uma firma ou indústria A é dita dominante sobre B se o fluxo de bens e seriviços de A para B é maior que o fluxo de bens e serviços de B para A. Uma grande firma ou indústria que tem um elevado grau de interação com outras e é dominante é chamada propulsora. O processo de desenvolvimento de uma firma ou indústria propulsora é denominado de polarização. Perroux e outros autores que escrevem sobre pólos de cresciemento tentam basear seus conceitos na noção de economias externas, aglomerações e linkages. Ver a este respeito (Polèse, 1988).

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produtiva pode ser de âmbito local, regional, nacional ou mundial e pode ser identificada a

partir da análise de relações interindustriais expressas em matrizes insumo-produto a partir

da análise das transações de compra e venda entre fornecedores e compradores em um

determinado ramo industrial (ibid.).

1.3- Ciclo de Vida dos Aglomerados

O ciclo de vida dos aglomerados22 está relacionado à sua capacidade de expansão,

diversificação e de inovação tecnológica como elementos fundamentais para determinação

de sua competitividade e sustentabilidade.

Porter (1999) relata sua experiência no desenvolvimento de aglomerados e indica

que podem levar dez ou mais anos para adquiri sua plenitude competitiva. A falta de

percepção do horizonte temporal relacionado ao estágio de amadurecimento de aglomerados

industriais contribui para a ineficiência de “programas de fomento a aglomerados”,

patrocinados por governos (Cunha 2002:26-32; Porter 1999:33).

Quanto à evolução dos aglomerados, Porter (1999:33) observa que “os aglomerados

em diferentes localidades freqüentemente evoluem para sub-especializaçãoes exclusivas,

sobretudo em termos de cobertura de segmentos de produtos, de aparato de fornecedores e

setores complementares e quanto às formas de competição predominante”.

No que se refere ao atual nível de desenvolvimento dos aglomerados latino-

americanos, Altenburg e Meyer-Stamer (1999) enfatizam que os aglomerados na América

Latina são heterogêneos e diferentes do modelo estilizado da academia e das ocorrências

dos Estados Unidos e da Europa. Isto significa que a evolução do ciclo de vida dos

aglomerados periféricos segue padrões diferentes daqueles localizados em regiões e

localidades avançadas, como se verifica em países cêntricos.

22 No apêncide I apresenta-se o ciclo evolutivo do bem sucedido Aglomerado Florestal Finlandês, o qual se desenvolve em torno da exploração de um recurso natural renovável.

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Figura 1.0 - Ciclo de vida e tipologia dos aglomerados Fonte: SRI Internacional e Cassaroto et al. (2002), apud Cunha (2002).

Alttenburg e Stamer (1999) argumentam ainda que os clusters podem ser

considerados como sistemas dinâmicos e, no caso da América Latina, podem ser tipificados

como (i) de sobrevivência, formados por micro e pequenas empresas; (ii) de produção em

massa; (iii) e os formados em torno de empresas transnacionais.

Pré-aglomerado Reduzido número de empresas, independentes e sem relacionamento

Aglomerado Emergente Com início de ligações interempresas e de concentração industrial (adensamento)

Aglomerado em Expansão Com aumento das ligações inter-empresas e inter-redes.

Aglomerado Ascendente Forte processo de ligação inter empresas e massa crítica de empresas.

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A Figura 1.0 representa os estágios evolutivos de uma aglomeração produtiva.

Quatro estágios de desenvolvimento do aglomerado são apresentados: (i) Pré-aglomerado -

caracteriza-se pela concentração espacial de um pequeno número de empresas que não

mantêm vínculos entre si; (ii) Aglomerado Emergente – neste caso, observa-se a presença de

pequenas, médias e grandes empresas em um número relativamente pequeno, com

estabelecimento de vínculos incipientes; (iii) Aglomerado em Expansão – observa-se o

aumento do número de empresas de pequeno médio e grande porte com paulatino

incremento dos vínculos entre as empresas que se estruturam na forma de redes23 (iv)

Aglomeração Ascendente - rede de firmas, grande volume de empresas, fortes

encadeamentos produtivos, para frente para trás e para os lados.

No que diz respeito ao caso dos paradigmáticos distritos industriais, Schmitz (1997,

p.16) observa que: “(...) os casos europeus (de distritos industriais e outras modalidades de

aglomeração de empresas) sofreram mudanças desde que atingiram a notoriedade. Parece

que, na década de 90, eles não estão tendo um desempenho tão bom quanto nas décadas de

70 e 8024.”

23 Britto (1999) ao tratar dos mecanismos de operação e das características estruturais de redes de firmas, destaca que a abordagem de redes pode ser utilizada para a análise de aglomerados. Nesse sentido, o recorte analítico de “Rede de Firmas” será abordado com maiores detalhes no capítulo II. 24 A abordagem dos Sistemas Locais de Inovação procura dar conta deste problema tendo em vista o fato de que o capitalismo avança para um novo padrão de acumulação, que se difere dos Modelos Fordista e Taylorista. No novo padrão de acumulação fatores intangíveis como confiança, cooperação produtiva e tecnológica, por exemplo, passam a ser determinantes para o sucesso de aglomerações produtivas e das firmas que as integram.

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1.4- Revisão da Literatura com Ênfase nas Abordagens Relativas a Aglomerados Produtivos.

Como já mencionado é importante enfatizar o fato de que as teorias sobre

aglomerados devem ser concebidas como sendo complementares e não alternativas. Na

verdade, a explicação quanto à formação e desenvolvimento dos aglomerados está

compreendida em um conjunto de teorias, características de áreas que se complementam.

As teorias expostas a seguir contribuem para a compreensão das seguintes questões: (i) Por

que se formam os aglomerados produtivos? (ii) Por que assumem a estrutura de um

aglomerado de empresas em determinadas localizações geográficas? (iii) Como reconhecer a

existência de um aglomerado? (iv) O que fazer para desenvolver o aglomerado e torná-lo

competitivo?

A revisão da literatura com enfoque em aglomerações produtivas joga luz sobre as

questões acima, tendo em vista o fato de que cada localidade região e país têm suas

especificidades socioeconômicas que influenciam diretamente no desenvolvimento de seus

aglomerados produtivos.

Antes de introduzir a revisão teórica é oportuno enfatizar que a literatura sobre

economias de aglomeração tem duas fontes principais: uma, de autores mais ligados à

geografia e planejamento regional, que enfatizam a proximidade dos mercados e da matéria

prima como fatores determinantes da aglomeração; e outra, de economistas que introduzem

a distinção entre vantagens competitivas estáticas resultantes da aglomeração e dinâmicas

resultantes da cooperação (Polèse, 1998; Higgins B.& Savoi D., 1997). As teorias

neoclássicas estão no primeiro grupo, enquanto as teorias heterodoxas encontram-se no

segundo grupo.

1.4.1 -A perspectiva da Ortodoxia Econômica.

A abordagem neoclássica25 deixa uma grande lacuna no que diz respeito à forma pela

qual se definem as aglomerações industriais, ou complexos produtivos. O ponto crítico da

ortodoxia econômica relaciona-se a pouca relevância atribuída à variável estratégica

“espaço” na análise socioeconômica. Nesta perspectiva, de acordo com Higgins e Savoie

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(1997), o mainstream tem considerado a questão do espaço em quatro aspectos essenciais, a

saber:

i) Do ponto de vista teórico a perspectiva ortodoxa (neoclássica) assume, de forma

explícita ou implícita, que o espaço é homogêneo. Entretanto, no plano real, a corrente

dominante reconhece a existência de diferentes espaços com diferentes dotações de recursos

físicos e humanos. Tais diferenças possibilitam o surgimento de oportunidades para a

especialização geográfica de acordo com a “lei das vantagens comparativas”. Tais

concepções, propostas inicialmente por David Ricardo, dão origem à Teoria do Comércio

Internacional e Intra-regional.

ii) No plano teórico, a maior parte das abordagens neoclássicas abstrai os custos

envolvendo transporte, e assume, explicita ou implicitamente, a mobilidade instantânea dos

fatores de produção e a inexistência de custos inerente a este processo. No plano real,

entretanto, admite-se a existência de custos de transporte e barreiras à livre mobilidade dos

recursos.

iii) Visto que nem os recursos nem as pessoas encontram-se distribuídos de forma

homogênea no espaço, faz-se necessária a escolha entre alternativas, no que tange à tomada

de decisão para determinar que atividades econômicas devem ser desenvolvidas e qual a

localização das mesmas. Questões como: proximidade de mercados (pessoas) e dos recursos

produtivos, bem como os custos de produção e custos de transporte, devem ser levados em

consideração para a tomada de decisão. “Mais recentemente, acesso a informação e a

inovações, foram acrescentadas à lista de considerações. O agregado destas decisões

determinará a localização das indústrias e das atividades econômicas, e também da

localização da população, a localização e tamanho das cidades e a hierarquia urbana”

(Higgins e Savoie,1997:5). Estas complexas interações dão origem à teoria da localização

neoclássica que é fortemente criticada pelo seu elevado grau de abstração26.

iv) Na análise da política pública, a economia neoclássica foi obrigada a reconhecer

a existência de diferentes espaços: estados-nação, estados, províncias, municípios e distritos.

Estas unidades detêm diferentes graus de poder e variados campos de atuação política:

25 A perspectiva neoclássica consolida-se no final do século XIX e início do século XX, com as obras de autores como: Léon Walras, Vilfredo Pareto, Alfred Marshall, dentre outros. 26 As teorias evolucionárias, notadamente as neoschumpeterianas, contrapõem-se aos paradigmas da teoria convencional, como será visto ao longo das seções seguintes.

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monetária, fiscal, comercial, comércio exterior, regulação salarial, uso da terra etc. Via de

regra, o mainstream desconsidera, no plano teórico, diferenças sociais, culturais ou políticas

entre espaços.

O que fica implícito na abordagem neoclássica, é que, respeitando-se os axiomas que

definem o modelo, a saber: livre mobilidade dos recursos; hergodicidade (pleno

conhecimento); grande número de pequenas empresas e produtos homogêneos, os

complexos industriais ou conglomerados de empresas surgem como resultado das decisões

individuais das firmas, vis-à-vis a maximização de lucros. Para permanecer operando no

mercado a firma individual precisa maximizar o lucro. O mercado define então, pelo livre

jogo das forças de oferta e demanda - via sistema de preços - a alocação eficiente dos

recursos produtivos.

O que determinaria então a aglomeração de empresas no sistema neoclássico, tendo

em vista o fato de o espaço, no plano teórico, ser concebido como homogêneo? De acordo

com o item (i) na verdade os espaços não são homogêneos. Na medida em que, de fato, os

espaços apresentam diferenças surge a possibilidade de ocorrência de vantagens

comparativas.

Depreende-se da construção neoclássica que, embora a teoria não assuma de forma

explícita, a oferta de fatores de produção como: terra, capital, trabalho, assim como a

existência, proximidade e tamanho do mercado consumidor influenciam diretamente na

localização geográfica27 e no número de empresas individuais que determinarão a formação

de um cluster em uma determinada região.

1.4.2- Os Distritos Industriais Marshalianos.

Embora Alfred Marshall inclua-se entre os mais proeminentes pensadores

neoclássicos, tendo recebido o título de “Chefe da escola neoclássica de Cambridge”, sua

27 Como veremos mais à frente, um dos fatores determinantes para a existência de aglomerações, de acordo com a abordagem neoclássica, é a ocorrência de imperfeições o mercado (falhas de mercado). Estas falhas de mercado proporcionam, por exemplo, a ocorrência de externalidades positivas, como o acesso de firmas geograficamente próximas inovações tecnológicas produzidas em uma região. Este é um importante fator que explica a formação de clusters, especialmente no que tange à sua trajetória produtiva e tecnológica.

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análise diferencia-se em vários aspectos da ortodoxia econômica tradicional28, em especial

no que se relaciona à organização industrial. Questões como a temporalidade do processo

produtivo, a percepção do espaço econômico como elemento crucial na atividade de

produção, e o papel da firma e da indústria no modo de produção capitalista, são alguns

exemplos que, juntamente com o conjunto teórico de sua obra, lhe conferem importante

distinção no campo do pensamento econômico moderno. Destaca-se ainda que muitos dos

conceitos adotados no estudo de organizações industriais – destacando-se as aglomerações

de empresas - foram criados por Marshall no início do século XX e são apresentados a

seguir.

Marshall (1982:232), enfatiza que a concentração da indústria em determinada

localidade é comum e que a mesma, facilita avanços na divisão do trabalho, nas artes

mecânicas e na tarefa da administração da empresa. Nesse sentido, a origem da

concentração industrial é caracterizada pelo autor tendo em vista os seguintes determinantes:

(i) condições físicas como a natureza do clima e do solo, a existência de recursos naturais

(matérias primas) nas proximidades do empreendimento, proximidade do mar ou acesso à

meios de transporte para o escoamento da produção, são fatores que influenciam de forma

decisiva a concentração de certas indústrias29; (ii) a influência de uma comunidade

abastada, dá lugar a uma procura de mercadorias de qualidade elevada e isso atrai

investimentos e mão de obra especializada; (iii) a ação pró-ativa de líderes empresariais e

governamentais no sentido de promover a vinda de determinados segmentos empresariais

para uma determinada localidade; (iv) o barateamento dos meios de comunicação, fretes,

transporte, tendem a concentrar determinadas indústrias em determinadas localidades.

Com relação às vantagens da concentração industrial30, Marshall (1982:234), destaca

quatro pontos: (i) A disseminação da tecnologia é potencializada quando a atividade

industrial é localizada. Com efeito, há um estímulo natural a implementação de novos

métodos de produção e de gestão. A concentração industrial propicia ainda o

aperfeiçoamento da mão de obra, contribuindo para que se crie um ambiente estimulante

28 As propostas teóricas de autores neoclássicos como Leon Walras, Vilfredo Pareto, Jevons e Mengel, que constituíram o cerne da estrutura neoclássica, “desconsideram” implícita ou explicitamente a variável tempo em suas análises. 29 Marshall (1982:232) exemplifica o caso das indústrias metalúrgicas Inglesas: “A indústria de ferro na Inglaterra procurou primeiro os distritos de carvão abundante e depois situou-se na vizinhança das próprias minas”.

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para a inovação tecnológica. Marshall, em sua reflexão a respeito das vantagens da

localização e concentração industrial, no que tange à disseminação de cohecimento, faz o

seguinte comentário:

“ Os segredos da profissão deixam de ser segredos, e, por assim dizer, ficam soltos no ar, de modo que as crianças absorvem inconscientemente grande número deles. Aprecia-se devidamente um trabalho bem feito, discutem-se imediatamente os méritos de inventos e melhorias na maquinaria, nos métodos e na organização geral das empresas. Se um lança uma idéia nova, ela é imediatamente adotada por outros, que a combinam com sugestões próprias e, assim, essa idéia se torna uma fonte de outras idéias novas” (Ibid, p.234);

(ii) a concentração de uma indústria em determinada localidade possibilita ainda o

surgimento de atividades subsidiárias. Tais atividades (desenvolvidas por indústrias

subsidiárias) fornecem à indústria principal, instrumentos, maquinários e insumos -

organizam o comércio, além de propiciar-lhe economias externas (externalidades positivas);

(iii) no que se refere ao mercado de trabalho, “(...) uma indústria localizada obtém grande

vantagem pelo fato de oferecer um mercado constante para a mão-de-obra especializada”

(Ibid, p.234). Por um lado, este fator minimiza problemas envolvendo a má qualificação da

mão-de-obra e possibilita, por outro, uma oferta mais elástica de trabalho especializado; (iv)

por fim, as economias de escala, decorrentes das vantagens inerentes às empresas

manufatureiras, são decorrentes da produção em larga escala. No que tange a localização

industrial, as empresas manufatureiras se diferenciam dos empreendimentos agrícolas e de

outras indústrias extrativas, como a mineração, petróleo, pesca, etc., visto que a distribuição

geográfica destas atividades é determinada pela natureza. A vantagem da indústria

manufatureira é o fato de a mesma poder escolher com maior grau de liberdade o lugar onde

vai operar. Não obstante, conforme enfatiza Marshall na produção manufatureira as

empresas maiores obtêm vantagens de escala frente à produção das empresas menores.

30 O termo originalmente utilizado por Marshall, “indústrias localizadas” tem uma conotação muito próxima da terminologia: “concentração industrial”, empregada nos dias atuais.

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1.4.3 -Teorias de Localização Espacial das Atividades Econômicas.

Embora seja evidente que as atividades econômicas e sociais desenvolvem-se em um

dado lugar do espaço geográfico, sendo comum sua concentração em algumas regiões ou

localidades deste espaço, as teorias clássicas e neoclássicas, como já mencionado, não

consideraram devidamente o fenômeno espacial. Segundo Ferreira, “os teóricos da

concorrência monopolística constituem uma exceção entre os economistas neoclássicos.31

Particularmente E.H. Chamberlain em ‘The Theory of Monopolistic Competition (…)’”

(1989, p.54).

Segundo Ferreira (1989), as teorias que abordam as localizações de atividades sócio-

econômicas podem ser subdivididas em: a) teorias que consideram os mercados

consumidores puntiformes, a saber, os consumidores se concentram em pontos discretos do

espaço geográfico e b) teorias que consideram os consumidores dispersos em áreas de

mercado de diversos tamanhos. Os autores que se destacam no primeiro grupo, que

consideram espaços puntiformes, são Alfred Weber e Johann Heinrc Von Thünen. Por sua

vez, os autores que se destacam no segundo grupo, que consideram áreas de mercado são

Augusto Lösch, Harold Hotelling, Tord Palander, Frank a Fetter, C. D Hyson e W.P. Hyson

e Edgar M. Hoover. Outras contribuições posteriores propostas por Walter Isard, Leon N.

Moses e David H. Smith, formam o conjunto das contribuições que constituem a base das

teorias da localização e da análise da organização espacial da economia32 (Ferreira, 1989,

p.69).

As teorias clássicas de localização tiveram sua origem nos trabalhos de Weber e na

maturação da economia neoclássica (Smith, 1981). Estas teorias procuram explicar, como já

mencionado, o porquê das atividades econômicas concentrarem-se em certas áreas e não se

distribuírem de forma aleatória (North, 1995; Krugman, 1995). As teorias de localização

31 Considera-se economistas clássicos, segundo a delimitação de Karl Marx: autores que vão de Sir William Petty (1623-87) a Ricardo (1722-1823) na Inglaterra, e de Bisguillebert (1646-1714) a Sismondi (1773-1842) na França (Meek 21:232). A delimitação proposta por Keynes ao grupo de pensadores pós David Ricardo, compreende a escola neoclássica – embora Keynes se referisse aos mesmos como clássicos. São eles: John Stwart Mill (1806-73), Walras (1834-1910), Marshall (1842-1924), Edgeworth (1845-1926), Pareto (1848-1923), Cassel (1866-1945). 32 Para uma análise dos principais modelos de localização espacial, ver os trabalhos de Ferreira (1989) e Polese (1998).

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enfatizam o peso relativo do custo de transporte no custo final33. Segundo estas teorias, os

custos de transportes explicam, em grande parte, o porquê de algumas atividades

econômicas concentrarem-se preferencialmente em torno dos recursos naturais ou na

proximidade dos mercados que vão abastecer. Entretanto, algumas atividades

manufatureiras, segundo algumas das teorias de localização espacial, podem se localizar de

forma dispersa no espaço (Ramos, 1998).

Um dos aspectos relevantes das Teorias de Localização Espacial é que estas

sublinham as interdependências da matéria prima e do produto gerado, bem como dos

subprodutos, os quais têm o processo de coordenação mais facilitado quando estão na

mesma localização. Pode-se citar como exemplo as empresas produtoras de aço inoxidável e

as siderúrgicas, cuja interdependência do processo produtivo induz à integração vertical da

produção. Caso similar ocorre com a pecuária, que processa vários produtos de forma

simultânea: carne fresca, produtos industriais e fertilizantes.

A crítica a estas teorias relaciona-se ao fato de que elas presumem que as firmas são

únicas, produzindo um único bem nas proximidades do mercado. A matéria prima aparece

como o único insumo crítico; trabalho, informação e outros insumos estão supostamente

distribuídos uniformemente no espaço, ou seja, estão disponíveis em todo o lugar. Nesta

perspectiva, a localização que proporciona a minimização de custos ou maximização de

lucros, é facilmente determinada (Smith, 1981).

“Uma das mais valiosas conclusões das teorias neoclássicas de localização diz

respeito ao princípio da aglomeração, a saber, que as firmas se beneficiam por meio dos

baixos custos de produção, por operarem próximas de outras firmas. O aumento da

produtividade decorre da densidade de capital físico e humano na área” (Ciccone e Hall,

1996; apud Malecki, 1997). Estas economias de aglomeração são denominadas de

economias de localização, quando contemplam firmas integradas na mesma indústria, ou

economias de urbanização, quando contemplam as economias de escala obtidas pelas

firmas, ao localizarem-se em uma área urbana (ibid).

É importante ressaltar que algumas atividades de processamento que se beneficiam

de economias de escala, como, por exemplo, os complexos petroquímicos de processamento

33 Neste sentido deve-se destacar as importantes contribuições de Walter Christaller que desenvolveu a Teoria dos Lugares Centrais. Ver a este respeito Polèse (1998).

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de minério e os complexos siderúrgicos, tendem a instalar-se em países onde exista um

mercado nacional amplo e mercados regionais próximos. Pode-se citar como exemplo as

indústrias canadense e australiana de processamento de minério, que atendem

respectivamente os mercados dos Estados Unidos e da Ásia (Ibid.).

1.4.4 – Teoria dos Encadeamentos.

A abordagem teórica relativa aos encadeamentos para frente e para trás, é bastante

relevante para explicar as aglomerações industriais, sobretudo em países em

desenvolvimento. A expressiva presença do Estado na economia dos países latino-

americanos, a partir da década de 1950, por meio de investimentos diretos e da constituição

de empresas estatais em setores industriais básicos, como energia, transporte, comunicações

etc, contribuiu para a formação de aglomerações com uma lógica muito particular de

acumulação, característica dos países em desenvolvimento.

Entende-se por encadeamento (ou efeito de encadeamento), uma seqüência de

decisões de investimentos que ocorrem com relativo grau de freqüência, no curso do

processo de industrialização e, de uma forma geral, do desenvolvimento econômico.

A teoria dos encadeamentos para trás e para frente de Hirschman (1957 e 1977)34 procura

mostrar como e quando a produção de um setor é suficiente para criar uma estrutura mínima

ou escala mínima para tornar atrativa as inversões em outros setores que o abastecem

(encadeamentos para trás), bem como nos chamados setores processadores e de distribuição

(encadeamentos para frente) (Ramos, 1999). Os encadeamentos adquirem relevância

quando uma inversão impulsiona ou torna rentável outra inversão na mesma região ou

localidade.

Hernandes (2002) enumera os condicionantes que implicam em pressões para que

haja investimentos em países de industrialização recente e os efeitos decorrentes de

encadeamentos para frente e para trás: i) uma empresa industrial em operação que depende

34O trabalho de Hirschman estruturou-se tendo por base a crítica ao modelo de crescimento econômico de Harrod Domar, o qual dependia somente do quociente capital produto e da disponibilidade de capital. De forma geral o conceito surgiu a partir da perspectiva contrária à abordagem neoclássica, a qual define que os fatores de produção: recursos naturais, capital, trabalho e tecnologia estão disponíveis e que necessitam tão somente serem alocados de forma eficiente. Em contraposição, Hirschman sustentava que o desenvolvimento econômico dependia não apenas da alocação eficiente dos recursos naturais e demais fatores de produção, mas também de provocar e incorporar para o desenvolvimento, recursos e capacidades que estão ocultos, disseminados ou mal utilizados ( Hernandes, 2002).

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inicialmente de importações, não apenas para aquisição de bens de capital e ferramentas,

mas também para aquisição de insumos, gerará pressões para a produção interna dos

últimos, e também para a implementação de uma indústria de bens de capital nacional. Esta

dinâmica se denominou de encadeamentos para trás, visto que a direção do estímulo que

induz à ampliação dos investimentos, ocorre para trás, partindo-se do produto final,

passando pelas matérias primas semiprocessadas que são utilizadas na fabricação do

produto, até as máquinas utilizadas no processo produtivo. Com efeito, o encadeamento para

trás é tipificado por meio da Figura 1.1, como se segue: ocorre um estímulo gerado pela

empresa (A), produtora de bens finais, a qual cria oportunidades para que haja investimentos

que possibilitem o surgimento da empresa (B), produtora de insumos para (A); as empresas

(A) e (B), por sua vez, criam oportunidades para que haja inversões que determinem o

surgimento da empresa (C), que deverá fornecer bens de capital, equipamentos e

ferramentas para (A) e (B), até então importados.

(2) (1)

(3)

Figura 1.1- Encadeamento para trás.

Fonte: elaboração própria.

Já o encadeamento para frente, relaciona-se às oportunidades de investimentos e

pressões para que haja inversões adiante da cadeia produtiva. Um exemplo simplificado é o

que se verifica na Figura 1.2. Assim, a empresa (A) que produz hipoteticamente o produto

“farinha de trigo35” cria oportunidades para que surjam empresas que processem a farinha

de trigo, para a produção de massas. Neste caso a empresa (D) compra farinha de trigo de

(A) para a produção industrial de massas. A produção de massas em escala industrial que

inicialmente atende às panificações cria oportunidades para que surjam empresas fabricantes

35 Note-se que a farinha de trigo é ao mesmo tempo um produto final e um produto intermediário (insumo) . No primeiro caso, é um produto final quando a farinha de trigo é vendida no mercado para a dona de casa. No egundo caso ela um insumo pois entrará no processo de produção para se transformar em novo produto com características particulares, como, por exemplo, biscoitos.

Empresa (C) Produtora

Bens de Capital

Empresa (B) Produtora de Insumos intermediários

Empresa (A) Produtora de Bens Finais

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de biscoitos. Assim, a empresa (E) especializada na fabricação de biscoitos, representa o

novo elo da cadeia que surge.

(1) (2)

Figura1.2- Encadeamento para frente.

Fonte: elaboração própria.

• Encadeamentos para frente, para trás e para os lados.

A Figura 1.3 apresenta os encadeamentos para frente, para trás e para os lados, em

torno da indústria produtora de farinha de trigo. Com efeito, o aglomerado produtivo

tende a tornar-se mais denso (maduro), na medida que se ampliam os encadeamentos

para frente, para trás e para os lados.

Figura 1.3- Encadeamento para trás, para a frente e para os lados. Fonte: CEPAL, Adaptado de Joseph Ramos, (1999).

Empresa (A) Fabricante deFarinha de

trigo

Empresa (D) Fabricante de Massas

Empresa (E) Fabricante de biscoitos

PRODUÇÃO DE FARINHA DE TRIGO

ENCADEAMENTO PARA OS LADOS

ATIVIDADES RELACIONADAS

- -Geração elétrica - -Processos de automação e

comercialização. - -Logística

ENCADEAMENTOS PARA FRENTE

• Produção de Biscoitos • Produção de Massas • Produção de

Macarrão • Produção de Pães

ENCADEAMENTO PARA TRÁS

• Insumos especializados - Químicos e biológicos para a produção de trigo. • Equipamentos e

Maquinaria - Máquinas agrícolas e ferramentas para plantar e colher o trigo - máquinas para moer e ensacar o trigo. • Serviços especializados - Consultoria em plantio - Institutos de pesquisa em biogenética, química do solo, etc

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Nesse sentido o grau de encadeamento para trás, será determinado pelo número, e

diversificação das empresas que produzem máquinas, ferramentas, serviços especializados

e insumos especializados, no âmbito local ou regional. Com relação aos encadeamentos para

os lados, é mister ressaltar que o crescimento da produção e do consumo de farinha de trigo

implica em pressões para que surjam atividades correlatas, criando assim oportunidades para

que surjam empresas que ofertem produtos e serviços em processos de automação,

comercialização, logística e energia etc. Por fim, deve-se ressaltar os encadeamentos para

frente, que representam a diversidade de produtos finais cujo insumo básico é a farinha de

trigo tais como biscoitos, massas diversas, macarrão, pães etc.

• Encadeamentos e Industrialização em Países em Desenvolvimento

A dinâmica dos encadeamentos, sobretudo os encadeamentos para trás, é

particularmente importante para que se compreenda a organização industrial dos países de

industrialização recente, dentre eles o Brasil. As políticas industriais na maioria destes

países - iniciadas na década de 1930, tendo seu auge na década de 1950 - tinham por base a

substituição de importações, com o Estado atuando diretamente como empresário, em

setores considerados básicos para a economia tais como energia, transporte, comunicações,

química, petroquímica etc. O propósito da intervenção governamental era complementar os

encadeamentos produtivos, sobretudo aqueles ligados às empresas de bens de capital e de

insumos intermediários, essenciais para o avanço do processo de industrialização. Um dos

problemas que tal dinâmica de industrialização apresentou aos países de industrialização

retardatária foi o grau elevado de concentração industrial e a verticalização do processo

produtivo.

Nesse sentido, segundo Hirschman (1958) o processo de substituição de importações

adotado em países de industrialização recente contrasta com o processo de industrialização

dos países capitalistas mais antigos que tiveram que proceder necessariamente de uma forma

mais equilibrada, a saber, tiveram que implantar de forma mais ou menos simultânea todas

as fases da industrialização: indústrias de bens de consumo finais, semi-finais e de bens de

capital.

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Hirschman destaca dois problemas com relação ao processo de industrialização por

meio de encadeamentos: i) o primeiro diz respeito à tendência a concentração da produção

industrial em uns poucos grupos verticalmente integrados, quase sempre com expressiva

participação de empresas estrangeiras; ii) o segundo relaciona-se com a evolução do

processo de substituição de importações, onde ficou patente que, muitas vezes, os

empresários privados preferiam continuar a importar insumos e bens de capital, em

detrimento da realização de investimentos em empresas substitutivas de importações que

complementassem a cadeia produtiva.

Um dos pontos-chave da abordagem de Hirschman diz respeito ao fato de que as

decisões de investimento, quando são implementadas de forma coordenada, minimizam os

custos e os riscos assegurando a rentabilidade de cada uma das demais inversões.

Naturalmente, abre-se espaço para o planejamento e, conseqüentemente, para a intervenção

governamental.36 Compreende-se assim que na abordagem de Hirschman há espaço para a

política industrial ativa. O governo atua tanto no campo macroeconômico, por meio de

políticas que favorecem a substituição de importações, como no campo microeconômico,

atuando como estado empresário no sentido de complementar o encadeamento produtivo

necessário à industrialização.

1.4.5- Os Modelo de Base Econômica, Multiplicadores Regionais e Causação Circular Cumulativa.

“De maneira sucinta, o modelo de Base Econômica estabelece que o nível de

produção e o nível de emprego da região dependem de suas atividades de exportação, as

quais, por sua vez, dependem da demanda externa37 e das vantagens comparativas da

região, consideradas pelo modelo como variáveis exógenas, sobre as quais a região não tem

controle.38” (Polèse, 1998:51). A relação deste modelo com as economias decorrentes da

36 A intervenção do estado na economia por meio de investimentos diretos em setores considerados básicos para o crescimento e desenvolvimento econômico, como: energia, siderurgia, transportes, etc. foi comum em muitos paises em desenvolvimento, a partir da década de 1930. Um exemplo típico de intervenção estatal no setor produtivo da economia brasileira, que gerou efeitos de encadeamento para frente e para trás, foi a construção da Companhia Siderúrgica Nacional no município de Volta Redonda - RJ, no início da década de 1940. 37 Tendo em vista o fato de as regiões não estarem isoladas do resto do mundo, a demanda pelos produtos e serviços de uma região determina então, de forma substantiva, se um lugar cresce ou declina (Malecki, 1997:16) 38 “(...) isto leva à idéia de abertura econômica da região. Como conclusão lógica: a região vive da demanda externa e deve adaptar-se a esta para sobreviver” (Ibid.).

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aglomeração ocorre, como será visto mais á frente, por meio dos efeitos de encadeamento

que são determinados em função da localização geográfica das atividades econômicas,

dentro de uma micro ou mesoregião

O modelo de base econômica define dois grupos de atividades, a saber: atividades

básicas (ligadas ao setor exportador e que permitem o ingresso de recursos para a região), e

atividades não-básicas (consideradas complementares, que servem de apoio às indústrias

que compõem as atividades básicas, essencialmente ‘serviços’). O setor exportador

(básico) produz em resposta à demanda exógena externa, enquanto que os serviços (setor

não-básico local) dependem inteiramente do tamanho e performance do setor básico. “Como

um modelo de demanda dirigida, o modelo de base econômica enfatiza a dependência de

uma região pela demanda externa gerada exogenamente à mesma e supõe que os fatores de

produção - os inputs necessários para a produção dos bens de exportação e serviços – são

infinitamente elásticos” (Malecki, 1997:17).

No contexto local ou regional, o crescimento econômico, na perspectiva do modelo

de base econômica, é fundamentalmente um processo de efeitos multiplicadores. Com

efeito, segundo Malecki (1997:16) “a produção e distribuição de bens e serviços cria

empregos locais e outras fontes de ganhos e oportunidades, que atraem e mantêm pessoas

em uma cidade ou região. O efeito multiplicador ou o número de empregos gerados,

mantidos ou criados pelos empregos básicos, é a forma padrão de estimação dos impactos

econômicos locais para as atividades de exportação”. Na verdade, este mecanismo

representa um indicador de competitividade. Como os trabalhadores despendem suas rendas

em serviços locais determinando que as firmas adquiram insumos e outros inputs, empregos

adicionais são criados por intermédio destes gastos. As novas atividades econômicas geradas

e seus efeitos multiplicadores expandem o setor de serviços na medida que o crescimento

econômico aumenta o tamanho da economia impulsionando, por sua vez, novas atividades

no setor de serviços, num esquema de causação circular cumulativa conforme proposto por

Myrdal (1957). Este processo circular e de causacão cumulativa, incorpora a dinâmica do

crescimento regional.

Do ponto de vista conceitual, o efeito multiplicador incorpora o processo onde os

setores estão conectados por intermédio de fluxos de dinheiro e de empregos. Os efeitos,

contudo, são primordialmente, senão exclusivamente, concebidos como crescimento e

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medidos pela renda, pelo fluxo de capitais e (especialmente) pelo volume de empregos, em

detrimento da concepção de desenvolvimento (Watkins, 1980).

A Figura 1.4 apresenta o fluxo circular para o modelo de base econômica, nas escalas

local ou regional, onde os efeitos multiplicadores determinam a taxa de crescimento

econômico ou de criação de empregos da região. Neste sentido, o processo se inicia quando

a localização de uma nova atividade econômica, e seus efeitos multiplicadores contribuem

para o surgimento de novas indústrias que pressionam, por sua vez, o setor de serviços que

também se expande.

Figura 1.4 – A natureza circular e cumulativa de uma economia local

Fonte: adaptado de Malecki (1977, p:16)

Os investimentos públicos e o aumento da população determinam, por seu turno, um

efeito multiplicador secundário, na medida que novos investimentos ingressam na economia,

tendo em vista a expansão do mercado determinado pelo aumento da demanda agregada

(Tiebout, 1962; Myrdal 1957).

Interações como informações administrativas, ingresso de matérias primas (inputs)

para a produção, finanças, serviços de transporte, processamento de dados e serviços de

transferência de informação, geram os efeitos multiplicadores, sendo que uma das questões

Localização de uma nova atividade econômica

Multiplicador inicial

Novas indústrias locais

Expansão do Setor terciário

Crescimento do emprego e da população urbana

Multiplicador secundário

Atração de capital e empreendimentos para atender à demanda crescente

Desenvolvimento de arranjos para economias de

escala

Governo Infra-estrutura

Urbana

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fundamentais é saber em que extensão estes efeitos são locais ou fluem para outros lugares

(Pred 1977; apud Malecki, 1977).

O processo de ‘causação circular cumulativa determinado pelos efeitos

multiplicadores do investimento e da renda, que ocorrem em torno da expansão da(s)

atividades básica(s), possibilitam o surgimento de aglomerados de empresas. Neste sentido,

o modelo de base econômica joga luz sobre o tema “economias de aglomeração”, além de

fornecer um instrumental analítico para a compreensão da formação de complexos

industriais. Segundo Maleki (1997:21) o modelo de base econômica busca responder à

seguinte pergunta: Qual base econômica é a melhor? Qualquer setor industrial pode atuar

como base econômica ou motor de uma economia. As exportações são, como já visto, a

máxima do modelo, destacando-se: i) os bens e serviços vendidos fora da região; ii) os bens

e serviços fornecidos localmente para turistas e pessoas de negócio; iii) os fluxos de capitais

que ingressam na região como pensões, empréstimos e outros investimentos que

incrementam a renda da região.

Complementando atividades econômicas primárias e manufatureiras, uma série de

atividades pode ser qualificada como básicas, a saber: aeroportos, universidades, grandes

shoppings centers regionais, bancos, seguradoras e firmas financeiras. Tradicionalmente,

atividades econômicas primárias como mineração, pesca, agricultura e extração madeireira

são consideradas básicas, entretanto outros setores surgem, determinando importantes

impactos no que tange ao crescimento econômico de regiões e localidades. Neste sentido,

atividades como turismo, setores de alta tecnologia e serviços, representam importantes

bases econômicas tanto para regiões como para nações (Ibid.).

1.4.6- Teoria Evolucionária e as Novas Teorias de Crescimento Econômico. A teoria econômica evolucionária tem por base o legado deixado por Joseph

Schumpeter, cujas obras mais marcantes foram a Teoria do Desenvolvimento Econômico

(1988), publicada originalmente em 1911, seguida por seu trabalho sobre ciclos econômicos

publicado inicialmente em 1939.

Schumpeter ressalta a importância da tecnologia e da capacidade empresarial

enquanto elementos-chave na explicação do dinamismo das economias capitalistas. Os

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conceitos de “destruição criadora”, “empresário inovador” e “mudanças radicais nas

combinações dos fatores de produção” (inovações)39 explicam, segundo o autor, o

dinamismo econômico das economias capitalistas.

Com efeito, decorre que países, regiões e localidades que investem no

desenvolvimento tecnológico possibilitam, na esfera microeconômica, o desenvolvimento de

complexos industriais dinâmicos cujo motor de crescimento encontra-se na elevada

capacidade de inovação e de produtividade que se desenvolve neles.

A teoria evolucionária se caracteriza por um enfoque mais verbal e apreciativo, que

desenvolve a análise em uma perspectiva sistêmica considerando os seguintes elementos: o

espaço local ou regional, a tecnologia como fator crucial na dinâmica capitalista além de

variáveis não mensuráveis pelos métodos convencionais, tais como cooperação, confiança e

reciprocidade. Com efeito, as recentes teorias na linha evolucionária valem-se de

importantes contribuições de Schumpeter e avançam nas proposições teóricas do autor onde

se define a tecnologia como sendo endógena ou interna aos modelos econômicos propostos.

Neste sentido, autores como “Nelson (1994a), Pack (1994), Petit (1995) e Romer (1994),

incluem investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), em infra-estrutura e em

capital humano através da educação, que, como contrapartida, geram spillovers e

externalidades, incluindo economias de escala e causação causal” (Malecki, 1997:43).

No que diz respeito às novas teorias do crescimento, em geral de origem neoclássica,

busca-se introduzir a “variável tecnologia” por meio de modelagens matemáticas que

procuram estabelecer as relações de causalidade que explicam o crescimento econômico. A

função de produção tradicional é substituída por uma função de produção que integra

variáveis como capital humano, pesquisa e capital físico.

39 Schumpeter (1998) define o conceito de inovação, como sendo a realização de novas combinações dos fatores de produção que acabam por influir no crescimento econômico de uma determinada economia. (Íbid:48) Isto posto, as formas de inovação tecnológica são exemplificadas por Schumpeter, por meio de cinco casos, como se segue: “1) Introdução de um novo bem- ou seja, um bem com que os consumidores ainda não estiverem familiarizados – ou de uma nova quantidade de bem. 2) Introdução de um novo método de produção , ou seja, um método que ainda não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de transformação que de modo algum precisa ser baseada numa descoberta cientificamente nova, e pode consistir também em nova maneira de manejar comercialmente uma mercadoria. 3) Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado em que o ramo particular da indústria de transformação do país em questão não tenha ainda entrado, quer esse mercado tenha existido antes ou não. 4) Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias primas ou de bens semimanufaturados, mais uma vez independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser criada. 5) Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio, por exemplo, pela trustificação ou a fragmentação de uma posição de monopólio” (Schumpeter 1988:48-49)

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Neste sentido, de acordo com Jones (1995) e Romer (1990) a função de produção

convencional40 (conforme definido na equação (1)), onde Q = a quantidade de produto, K =

Capital Físico e L = Trabalho, é estendida para incorporar a R= Pesquisa, K= capital físico,

e H= capital humano. Com efeito, a renda agregada (Y), ou produto agregado, passa a ser

função das variáveis mencionadas (conforme se define na equação (2)):

(1)

(2)

A tecnologia, entendida como a capacidade de inovação e criação de novos produtos,

novos métodos de produção e de novas formas de atuação no mercado, é o fator chave na

determinação de incrementos de produtividade. Conseqüentemente, o investimento em

desenvolvimento tecnológico coloca-se, então, como fator primordial nestes modelos para o

incremento da renda agregada de uma região. Não obstante, a capacidade de adaptação e de

geração de tecnologia em uma dada região ou localidade suscita o caráter endógeno da

variável tecnológica, enquanto fator de dinamismo destes modelos.

Um dos problemas que se apresenta nas novas teorias de crescimento econômico,

apontado por Romer (1994), diz respeito ao fato de que os dados sobre produção local de

tecnologia, ou de influxos de tecnologia, usualmente não estão disponíveis. Isto induz os

pesquisadores a utilizarem os investimentos em capital fixo como variável principal

constituindo-se em um fator que dificulta a análise de mudanças tecnológicas.

As teorias evolucionárias propriamente se distinguem dos novos modelos de

crescimento econômico em muitos aspectos, dentre os quais vale destacar a formalização

matemática. A diversidade de variáveis compreendidas bem como a dificuldade de modelar-

se os conceitos schumpeterianos fazem com que o modelo teórico evolucionário, como já

40 A função de produção convencional, definida pelo modelo de dois fatores, é aprimorada para medir a produtividade do capital (produção por unidade de capital) e trabalho (produção por unidade de trabalho) em uma economia. Neste particular, a variável tecnologia é integrada ao modelo de modo que a taxa de crescimento da quantidade produzida Q ao longo do tempo, pode ser atribuída à produtividade do capital (K) e do trabalho (L): q = ak+bl+ct, onde q, k, l e t são taxas de crescimento do produto, capital trabalho e tecnologia, (c) é o nível de progresso técnico e a e b são respectivamente as elasticidades de substituição entre capital e trabalho (Malecki 1997:37). Para uma análise do progresso tecnológico na abordagem neoclássica, veja-se: Kennedy and Thirlwall (1972).

Y= f (R,K,H)

Q = f (K , L)

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mencionado, se defina com base em uma estrutura analítica mais apreciativa e verbal. O

paradigma evolucionário neoschumpeteriano enfatiza ainda a importância das instituições

enquanto variável relevante na determinação do dinamismo das economias capitalistas. As

variações que ocorrem em países e regiões devido à diversidade institucional não se

restringem unicamente à questão tecnológica, mas passam pelas diferenças sociais, políticas,

econômicas e de valores que afetam a competitividade de nações, regiões e localidades. A

teoria evolucionária ressalta ainda a importância do sistema de contratos, na definição do

ambiente institucional.

Em comparação aos modelos neoclássicos, as teorias evolucionárias incorporam

explicita ou implicitamente, a diversidade de produtos, agentes, processos, instituições que

existem na economia. Sendo, portanto, formulações teóricas dinâmicas as quais, por

incorporar tal diversidade de variáveis, tornam-se difíceis de ser modeladas na perspectiva

de modelos de equilíbrio geral ou parcial, a exemplo dos modelos neoclássicos (Dosi e

Orsenigo, 1994).

Em contraposição às teorias neoclássicas de equilíbrio geral e parcial, é a

instabilidade (ou desequilíbrio) e a diversidade de fatores sócio-econômicos existente no

mundo real em que vivemos que constituem os pilares das teorias evolucionárias. A busca

pela retratação do processo de difusão tecnológica e a compreensão do processo de

acumulação de capacidades tecnológicas nas firmas e complexos industrias procuram

avançar nas concepções de Schumpeter, definindo então a escola neoschumpeteriana

(Silverberg 1990). Uma das vantagens dos modelos neoschumpeterianos é que estes tentam

formalizar suas estruturas teóricas de modo a reproduzir, da melhor maneira possível, os

fatos da realidade (Boyer, 1993). Exemplos da vertente evolucionária incluem os trabalhos

de Aghion e Howitt (1993), Dosi et. al. (1995), Nelson e Winter (1982) Chris Freeman

(1994).

Dentro da perspectiva evolucionária, como visto, as instituições desempenham papel

de grade relevância na explicação da dinâmica do crescimento econômico. O contexto

institucional, por sua vez, varia de país para país e de região para região (Nelson, 1981).

Nesse sentido, as diferenças entre países não se relacionam apenas à capacitação

tecnológica, mas também a valores sociais e o modo de pensar dos agentes econômicos de

uma nação.

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1.5 – As Novas Abordagens com Enfoque no Desenvolvimento Local e Regional.

O Capitalismo, conforme apontado por autores como Peter Drucker e Ikujiro

Nonaka, está entrando em uma nova era de criação do conhecimento e aprendizado

contínuo. Este novo sistema de capitalismo intensivo em conhecimento é baseado em uma

síntese de trabalho intelectual e de trabalho físico - uma mistura de inovação e produção

(Florida, 1998:19).

Nas organizações intensivas em conhecimento, inteligência, criatividade e trabalho

intelectual substituem o trabalho físico como fontes fundamentais de valor e de lucro. De

acordo com Florida (1998), a nova era do conhecimento faz uso da totalidade da capacidade

intelectual e criativa do homem. Tanto cientistas ligados às atividades de P&D, quanto

trabalhadores de chão de fábrica são fontes de idéias e de inovação contínua. Isto significa

que grupos de cientistas em P&D, engenheiros e trabalhadores de fábrica, tornam-se agentes

coletivos da inovação. As linhas entre os laboratórios e as fábricas tornaram-se indistintas

(Ibid: 21).

A nova era do capitalismo está tomando a forma de um sistema econômico

incrivelmente integrado, com cadeias globais de corporações transnacionais e elevados

níveis de investimentos diretos externos entre as nações. Tais investimentos são um veículo

para a difusão respectivamente de tecnologias avançadas assim como do “estado da arte” de

práticas gerenciais e são um poderoso colaborador para o fluxo global de tecnologia (ibid.).

Lastres e Cassiolato (2003:1) enfatizam que informação e tecnologia sempre foram

importantes na história da humanidade, contudo, a noção de “Economia do Conhecimento”

tem sido a tônica desde o pós-guerra. As evidências têm demonstrado que nas últimas

décadas a economia mundial voltou-se para atividades baseadas em conhecimento como

nunca antes. Lastres e Cassiolato (2003:1-2) apontam três grandes linhas nesta direção: (i) a

proporção de trabalho embutido nos bens tem se tornado menor que a proporção integrada à

produção, distribuição e processamento de conhecimento; (ii) cada vez mais, a utilização de

complexos conhecimentos codificados são necessários como elementos na agregação de

valores dos produtos e serviços; (iii) atividades intensivas em conhecimento estão crescendo

rapidamente e têm se colocado como o motor da expansão econômica recente.

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A mudança para o capitalismo intensivo em conhecimento vai além do negócio

particular e além das estratégias individuais das firmas. O novo estágio envolve o

desenvolvimento de novos inputs e uma infraestrutura mais integrada no nível regional onde

firmas individuais e complexos produtivos podem ser estruturados (ibid).

A natureza das transformações faz de regiões o elemento chave na economia global.

Em essência, globalismo e regionalismo são partes do mesmo processo de transformação

econômica (ibid).

Por que as regiões assumem esta importância? As mudanças inerentes ao processo

de produção ocorridas a partir de 1970, que se deram simultaneamente à emergência de um

novo paradigma tecnológico, a microeletrônica, implicou que as atividades produtivas,

tipicamente centradas no processamento de matérias primas naturais e na produção de bens

materiais, se tornassem atividades intensivas em conhecimento e informação (Acs et al.,

2000:38; Santos et al., 2002:7). Estas mudanças foram reforçadas pelo processo de

liberalização econômica, que desmantelou as tradicionais barreiras de comércio e

investimento (Mytelka & Farinelli, 2000).

Tendo em vista a nova dinâmica do capitalismo e as implicações para a

competitividade de empresas, regiões e países, novas teorias surgem, a partir do início dos

anos 1990, destacando a importância da estrutura em rede dos aglomerados, da cooperação,

do conhecimento tácito e formal, assim como da cultura inovadora que se estabelece em

uma região ou localidade, como elementos cruciais para a competitividade. Nestes enfoques,

evidencia-se a abordagem sistêmica dos fatores que influem a competitividade de empresas,

localidades e regiões.

Compreende-se que o capitalismo do início do século XXI ingressa em um novo

padrão de acumulação onde é possível distinguir-se dois tipos de regiões que tipificam dois

padrões de acumulação distintos: (i) as regiões de produção em massa, que se caracterizam

por apresentarem um conjunto de fatores que tipificam o padrão de acumulação fordista e

(ii) as regiões que aprendem, cujo padrão de acumulação é fundamentado no conhecimento

e na capacidade de inovação tecnológica, bem como na organização industrial na forma de

rede de firmas. O Quadro 1.2 a seguir apresenta as principais diferenças entre os dois

padrões de acumulação.

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Quadro 1.2- Diferenças entre regiões de produção em massa e regiões que aprendem

Regiões com Produção em Massa

Regiões que Aprendem

Base Para a Competitividade

Vantagem comparativa baseada em:

• Recursos Naturais • Trabalho Físico

Vantagem Sustentada baseada

em:

• Criação de conhecimento • Melhoramento contínuo

Sistema de Produção

Produção em Massa

• Trabalho físico como fonte de valor

• Separação da inovação e da produção

Produção baseada no conhecimento

• Criação contínua • Conhecimento como fonte

de valor • Síntese da inovação e da

produção Infra-Estrutura Manufatureira

Extensão das relações de suprimento

• Rede de firmas e sistema de suprimento como fonte de inovação

Infra-Estrutura Humana

• Baixa habilidade, baixo custo da mão-de-obra. • Força de trabalho Fordista • Educação e treinamento Fordista

• Trabalhadores do conhecimento

• Melhora contínua dos recursos humanos

• Educação e treinamento contínuo

Infra-estrutura Física e de Comunicação

Infra-estrutura domesticamente orientada

• Infra-estrutura física e de comunicações globalmente orientada.

Sistema Industrial de Governança

• Concorrência predatória • Arcabouço regulatório

estruturado no modelo comando e controle

• Relacionamento mutuamente dependente

• Organização em cadeias • Arcabouço regulatório

flexível Financiamento

• Garantias patrimoniais individuais

• Crédito concedido a empresas conhecimento intensivas, compartilhamento dos riscos.

Fonte: Adaptado de Richard Flórida (1998:25).

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Algumas características marcantes do recente padrão de acumulação acima descritas

são incorporadas em dois modelos teóricos, da década de 1980, que se tornaram muito

difundidos. O mais cohecido é o Modelo Diamante de Michael Porter que enfatiza sobretudo

fatores tangíveis e a organização industrial como base para a competitividade no espaço

local, regional e nacional. O outro arcabouço teórico ficou conhecido como a abordagem do

Sistema Nacional de Inovação, tendo como precursores autores como Richard Nelson,

Freeman e Giovani Dosi. Nessa abordagem privilegia-se o papel das instituições, os

investimentos em P&D, e os investimentos em capital humano como próxis da

competitividade das nações. A seção 1.5.1, a seguir, apresenta as duas abordages,

precedendo o Capítulo II que discorre sobre o referencial teórico adotado neste trabalho.

1.5.1- O Modelo Diamante de Porter

A abordagem sistêmica e o papel dos aglomerados produtivos na competitividade de

localidades, regiões e países, popularizou-se no final dos anos 1980 principalmente a partir

do influente trabalho de Michael Porter (1989), “Vantagem Competitiva das Nações”, onde

o autor constrói o difundido “Modelo Diamante de Competitividade Nacional”, tendo como

referencial analítico um conjunto de países industrializados (Malecki, 1997:44).

Porter optou por investigar os fatores da competitividade de países industrializados,

analisando as indústrias com importante participação no mercado internacional:

“Para investigar por que países conseguem vantagem competitiva em determinadas indústrias e as implicações disso para a estratégia das empresas e para as economias nacionais, realizei um estudo de quatro anos sobre dez importantes países industrializados: Dinamarca, Alemanha, Itália, Japão, Coréia, Cingapura, Suécia, Suíça, Reino Unido, EUA. (...) O enfoque principal da pesquisa foi o de conseguir e manter vantagem competitiva em indústrias e segmentos de indústria relativamente sofisticados” (Porter 989:24).

A Figura 1.5 apresenta o modelo simplificado de um sistema nacional de inovação

em um país industrializado. A interação dos fatores representados nos seis retângulos

possibilita o desenvolvimento de um ambiente produtivo com elevado grau de inovação e

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difusão tecnológica41. Neste processo, Porter destaca o papel dos aglomerados produtivos

enquanto elemento-chave no que se relaciona à competitividade das nações.

(5)

- Competição e ondas de inovação - Novas firmas podem emergir

(4) - Fornecedores e usuários entram em novas indústrias.

(1) (2)

- Infraestrutura (3) - Mão-de-obra especializada - Mercado doméstico

- Recursos tecnológicos - Integração com o - Recursos físicos mercado global - Recursos financeiros -Compradores sofisticados

- Fornecedores (6) - Fornecedores Especializados

- -Clusters industriais

Figura 1.5- Modelo Diamante de competitividade

Fonte: Adaptado de Malecki (1997)

Passa-se, a seguir, a uma breve descrição das relações estabelecidas no modelo de

Porter: o retângulo (1) “condição dos fatores de produção”, tipifica os fatores de produção

clássicos (terra, capital e trabalho) e é estendido para incluir fatores como a tecnologia e

infra-estrutra. O retângulo (2) “condições de demanda” , refere-se às condições do mercado

doméstico para os produtos ou serviços de uma indústria. Neste particular, consumidores

sofisticados estimulam as firmas a produzirem bens e serviços com elevado padrão de

41 No trabalho de Porter (1989) “A Vantagem Competitiva das Nações” as empresas e o ambiente institucional atuam de forma determinante na dinâmica do crescimento econômico do país. No entanto, a ênfase atribuída por Porter em seu modelo se dá essencialmente na esfera local e regional. A formação de clusters no espaço local e regional é percebida pelo autor como sendo crucial para explicar a competitividade das indústrias e conseqüentemente do país.

Estratégia da Firma, Estrutura e Rivalidade

Condição dos Fatores de produção

Indústrias relacionadas e

de suporte

Condições de demanda

Governo

Incertezas

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qualidade o que possibilita manter o padrão de competitividade dos produtos destas

empresas no mercado internacional. O retângulo (3) “relaciona-se aos aglomerados de

indústrias correlacionadas e de suporte”; a concepção por detrás dos aglomerados é que, se

eles são vinculados ao mercado internacional e são internacionalmente competitivos, então

serão capazes de transmitir as inovações tecnológicas e padrões de eficiência e qualidade,

por meio da cadeia de firmas que compõem o aglomerado. O retângulo (4) representa o

arcabouço legal, cultural e institucional que condiciona as estratégias das firmas no que

tange à estrutura e rivalidade.42

Porter adiciona ainda em seu modelo as variáveis Governo “retângulo (5)” e

incertezas “retângulo (6)”. No que diz respeito ao papel do governo, é indiscutível a

importância de suas ações no plano macroeconômico, propiciando a estabilidade dos

sistemas e no campo microeconômico, sobretudo na criação de infra-estrutura produtiva e de

regulamentações da atividade produtiva. Eventos relacionados a “incertezas” dizem respeito

a invenções, guerras, mudanças estruturais no setor interno e externo da economia que

afetam a demanda, a tecnologia e a produção. Quanto ao governo, Porter argumenta que, na

esfera macroeconômica, as políticas públicas, regulamentações, e os gastos públicos,

contribuem para influenciar - juntamente com os demais grupos de fatores supracitados - a

competitividade das nações.

• O papel das Firmas e dos Aglomerados Produtivos no Modelo Diamante de Porter

Para definir o papel das empresas no contexto de um sistema nacional de inovação,

Porter parte da definição do conceito de competitividade de uma nação como sendo o

elemento-chave para o aumento do nível de bem-estar econômico e social: “O principal

objetivo de um país consiste em proporcionar um padrão de vida elevado e crescente para

seus cidadãos. A capacidade para tanto depende da produtividade com que o trabalho e o

42 “A noção de competitividade da forma como os homens de negócio a definem gera pelo lado semântico, distorções com relação ao emprego da palavra “competitividade” no dia-a dia, vis-à-vis ao seu emprego no contexto da teoria econômica. Do ponto de vista da teoria econômica, competitividade está relacionado à mercados competitivos. Uma firma competitiva é aquela que maximiza lucros produzindo no ponto em que a receita marginal iguala-se ao custo marginal . O termo rivalidade procura exprimir a competição que se dá entre firmas no sentido de se atender a uma demanda limitada, por exemplo: se a firma A vende 100 unidade de produção para Jones, a firma B não pode satisfazer aquela parte da demanda de Jones” (Scherer e Ross 1990).

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capital atuam” (Porter 1999:172). Porter enfatiza ainda que o padrão de vida de um país

depende da capacidade de suas empresas de atingir altos níveis de produtividade (ibid).

Portanto, a competitividade de um país não seria definida, em última instância, por variáveis

macroeconômicas como a taxa de câmbio, a taxa de juros ou o saldo do balanço de

pagamentos. Embora tais variáveis influenciem a competitividade, Porter argumenta que a

resposta com relação aos padrões de produtividade de uma economia está em setores

específicos e segmentos setoriais, ou seja, está na esfera microeconômica, nas empresas e

indústrias (ibid.).

O que determinaria então padrões crescentes de produtividade nas empresas e setores

industriais? Porter argumenta que a produtividade das empresas está diretamente

relacionada à capacidade de inovação tecnológica das mesmas, que lhes permite reduzir

custos e melhorar a qualidade dos produtos, aumentando assim a competitividade no

mercado internacional. Uma vez conquistada a vantagem competitiva através de inovações,

a empresa terá condições de sustentá-la apenas através de um processo implacável de

melhorias contínuas (ibid:176).

A capacidade de inovação tecnológica das empresas, por sua vez, ocorre em

ambientes propícios, normalmente definidos em uma dada localização geográfica, onde se

formam aglomerados produtivos 43.

O caso do aglomerado produtivo da indústria ceramista italiana, concentrada em

torno da pequena cidade de Sassuolo, na região de Emilia Romagna, é utilizado para

explicar o funcionamento do modelo diamante. Nesse sentido “em 1987, as empresas

italianas eram líderes mundiais na produção e exportação de azulejos de cerâmica. Os

produtores Italianos de cerâmica respondiam então por 30% da produção mundial e por

quase 60 % das exportações globais” (Enright e Tenti, 1999:179).

A vantagem competitiva e sustentável de Sassuolo é explicada por Enright e Tenti

(1999:179) como decorrência da consolidação, a partir da década de 1950, de um robusto

aglomerado produtivo em torno da produção de azulejos, com um conjunto altamente

desenvolvido de fornecedores de máquinas e com outros setores de apoio concentrados na

43 Como visto na seção 1.0, as economias de aglomeração são fundamentais para que se desenvolva um ambiente inovador que contribua tanto para o aumento da produtividade quanto para a competitividade das empresas.

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localidade, produzindo materiais, serviços e infra-estrutura. A presença de setores correlatos

italianos de classe mundial também aumentou a força do país no setor (ibid.).

O trabalho de Porter (1989) exerceu grande influência na definição de políticas de

competitividade nas esferas nacional, regional e local,44 ao longo da década de 1990, onde

os estudos locais emularam sua análise (Kaufman et al., 1994). Na dimensão nacional, seu

trabalho recebeu críticas no que diz respeito à necessidade do modelo levar em consideração

fatores como: o comércio internacional, globalização, empresas transnacionais, indústrias de

serviço e tecnologia (Bellak e Weiss, 1993).

Por fim, vale ressaltar uma debilidade nos modelos que tratam de sistemas

subnacionais de inovação como o modelo de Porter: “Estes enfoques normalmente enfatizam

as várias infra-estruturas (física, humana, comunicações etc,) associadas com estes

sistemas. Estas questões não têm pouca importância, porém elas possibilitam uma visão

limitada dentro dos processos inerentes aos sistemas de inovação” (Mothe e Paquet,

1998:2). De la Mothe e Paquet referem-se ao fato de que tais abordagens enfocam muito

mais a estrutura dos sistemas locais e regionais de inovação (por eles definidos como

sistemas subnacionais) do que a forma de operação dos mesmos. Portanto, a questão social,

cultural e de aprendizado dos agentes econômicos normalmente não são priorizadas em

modelos que têm enfoque na estrutura dos sistemas em questão.

1.5.3- A Abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação

“Desde que Freeman (1987) cunhou o conceito de ´sistemas nacionais de inovação’,

sua abordagem tem ganhado grande reconhecimento dentro da literatura relacionada à

mudança e desenvolvimento tecnológico” (Oinas e Malecki, 1998). Além de Freeman,

44 Como será visto na próxima seção, no decorrer da década de 1990 evidencia-se a percepção generalizada de que o enfoque das políticas industriais e de competitividade deveriam estar centradas muito mais nas esferas local e regional, do que no âmbito nacional. Surgem então abordagens teóricas na linha dos chamados sistemas regionais e locais de inovação. O modelo de Porter (1990), por sua vez, passa então a ser adotado com enfoque na linha dos sistemas locais e regionais de inovação, com a particularidade de que, este, está voltado essencialmente para a estrutura do sistema em detrimento da forma. Ou seja, as inter-relações que favorecem a inovação tecnológica, sobretudo aquelas relacionadas à aprendizagem e a imersão social (embeddedness) não são priorizadas em seu modelo.

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autores como Beng-Äke Lundval e Richard Nelson estão entre os precursores45 desta

abordagem (ibid.).

Observa-se nesta teoria a forte presença de conceitos schumpeterianos e

neoshumpeterianos ligados à inovação tecnológica. Não obstante, a questão do espaço é

tratada como elemento fundamental, tendo em vista o fato de o sistema, que se define pela

interação da multiplicidade de variáveis que o compõe, definir-se em um espaço geográfico.

Assim, na perspectiva da abordagem dos sistemas nacionais de inovação, a exemplo das

novas teorias de crescimento econômico, os investimentos em infraestrutura física,

tecnologia, educação e pesquisa são cruciais para o crescimento econômico e o bem estar

social de nações, regiões e localidades.

Outra variável de grande importância na definição deste modelo teórico diz respeito

às instituições que têm papel de destaque na explicação do crescimento econômico. Deve-se

destacar o sistema educacional, financeiro, político, as organizações de classe etc. Neste

particular, a instituição governo merece destaque especial, tendo em vista a capacidade que

o Estado detém, no que tange à coordenação e desenvolvimento de políticas macro e

microeconômicas, que afetam o desempenho da indústria.

Richard Nelson introduz a idéia de sistema nacional de inovação com a seguinte

afirmação: “(...) a idéia de sistema nacional de inovação é uma forma de descrever e

analisar o grupo de instituições que moldam o crescimento econômico, para a extensão na

qual, se possa construir uma teoria do crescimento econômico onde a inovação tecnológica

seja o elemento-chave”(Nelson, 1987:12-15).

Nelson (2000:12) amplia o conceito de sistema nacional de inovação, buscando

categorizar a dimensão do significado das palavras que definem este arcabouço teórico: (i)

considera como sistema46 o grupo de instituições cuja interação determina uma

performance inovadora, no sentido de firmas que atuam no contexto nacional. O conceito de

sistema compreende um grupo de atores institucionais que juntos desempenham o papel

principal para influenciar a performance inovadora; (ii) o conceito de inovação adotado por

45 Feeman e Soete (1999:297) enfatizam no entanto, que as primeiras concepções sobre sistemas nacionais de inovação foram propostas inicialmente por Friedrick List, em meados do século XIX , em sua obra The National System of Political Economy (1841). 46 Nelson enfatiza que não existe a presunção em se achar que “o sistema foi, em algum sentido, conscientemente desenhado, ou mesmo que o grupo de instituições envolvidas trabalham conjuntamente de maneira suave e coerente” (Nelson, 2000:14).

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Nelson é amplo, leva em consideração mais do que os atores que atuam diretamente com

pesquisa e desenvolvimento. Assim, “(...) é importante entender que nem todas as

atividades e investimentos realizados por firmas na área de inovação são conduzidos em

laboratórios de P&D, ou classificadas como P&D” (ibid.:13). A extensão dos

investimentos em atividades inovadoras variam de indústria para indústria. Nelson enfatiza

então que “onde as firmas são pequenas ou a produção é mais personalizada, a maior parte

do trabalho inovador não pode ser contabilizado como P&D”; (iii) por fim, Nelson

reconhece que o conceito de sistema nacional pode ser, por um lado, muito amplo. Neste

sentido, considera que “o sistema de instituições que dão suporte à inovação tecnológica

em um campo, digamos farmacêutico, pode ter pouca interação com o sistema de

instituições que suportam a inovação em outro campo, digamos aeronaves”. Por outro lado,

o autor ressalta que muitas empresas transnacionais de relevada importância têm seus

departamentos de P&D localizados nos países onde estão suas matrizes. Então qual seria a

relevância de uma abordagem que trata de um sistema nacional? Nelson afirma que as

pesquisas implementadas nesta linha teórica buscam, na verdade, compreender o que há

efetivamente de nacional nos sistemas de inovação.

Apesar de os teóricos conceberem a abrangências das variáveis que compõem um

sistema nacional de inovação, sua constatação empírica fica limitada à observação de

algumas variáveis mensuráveis47. Com efeito, o cerne da discussão em torno do assunto

prioriza dois focos48 principais (i) de um lado, os investimentos das nações na consolidação

de redes que associam ensino e pesquisa; (ii) e de outro, a participação dos investimentos de

empresas públicas e privadas no desenvolvimento de pesquisas em institutos e laboratórios

especializados em P&D .

Com o passar do tempo, com o avanço da P&D em países centrais, ficou

evidente que o sucesso do processo de inovação e os conseqüentes ganhos de produtividade

não poderiam ficar restritos às chamadas inovações radicais, possibilitadas pelos

investimentos em P&D. Era necessário contar com uma categoria não menos importante de

inovações, definidas na literatura como inovações incrementais. “Em particular, inovações

47 Uma variável muito utilizada para medir a capacidade de inovação de um sistema nacional foi e continua sendo o número de patentes registradas em um país em um dado período.

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incrementais vinham dos engenheiros de produção, dos técnicos e do chão-de-fábrica. Elas

estavam estreitamente relacionadas a diferentes formas de organização do trabalho”

(Freeman e Soet, 1999:302). Desde então o número de engenheiros formados e atuantes bem

como o de técnicos, passou a ser uma variável relevante e mensurável na avaliação da

eficiência de sistemas nacionais de inovação. Por outro lado, as inovações incrementais

assumiam papel crucial no âmbito da interface que se fazia entre redes de firmas, indústrias

e mercado. A Tabela 1.1 apresenta os gastos em P&D de países selecionados, como

expressão das políticas industrias definidas no plano macroeconômico.

Tabela 1.1- Gasto bruto estimado em pesquisa e desenvolvimento como uma fração do PNB (%) - 1934-83 ___________________________________________________________

1934 1967 1983 1983 apenas P&D civil

___________________________________________________________ EUA 0.6 3.1 2.7 2.0

Europa* 0.2 1.2 2.1 1.8

Japão 0.1 1.0 2.7 2.7

URSS 0.3 3.2 3.6 1.0

__________________________________________________________

* Estimativa do peso ponderado de 12 países da Comunidade Européia. Fonte: (Freeman e Soete, 1999:300)

Freeman e Soet (1999:302) ainda comentam que:

“Mais à frente, muitos avanços nos produtos e serviços vieram da interação com o mercado e com firmas relacionadas como subcontratadas, fornecedoras de materiais e serviços (...) A P&D formais era usualmente decisiva na sua contribuição para as inovações radicais mas não era mais possível ignorar as muitas outras contribuições e influência no processo de mudança tecnológica no nível das firmas e indústria” (ibid. grifos adicionados)

Para finalizar esta breve exposição sobre sistemas nacionais de inovação,

apresentam-se os contrastes tipicamente presentes nos países de industrialização recente da

América Latina na década de 1980 em contraposição aos também países de industrialização

recente do sudeste asiático (Quadro 1.3). Na década de 1950 os chamados tigres asiáticos

48Referindo-se aos investimentos em P&D realizados nos anos 1950 e 1960, Freeman e Soete comentam: “ Isto queria dizer que o sistema de P&D era freqüentemente visto praticamente como a única fonte de inovação (Freeman e Soet, 1999:300).

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tinham um nível de produto relativamente baixo, da mesma forma ocorrendo com sua renda

per capita. Embora na década de 1960 e 1970 muitos países da América Latina e do Sudeste

Asiático fossem agrupados conjuntamente como “países de industrialização recente”, nos

anos 1980 um agudo contraste passou a ocorrer (ibid.).

Quadro 1.3.- Divergência nos sistemas nacionais de inovação nos anos 1980: América Latina e Sudeste Asiático

Sudeste Asiático América Latina

________________________________________________________________________________________

Expansão universal do sistema de educação, com Sistema educacional em deterioração com uma ampla participação da educação superior com elevado proporcionalidade menor de produção por número de graduandos em engenharia. engenheiro. Importação de tecnologia combinada com as mudanças Muita transferência de tecnologia, especialmente Técnicas locais e em estágios posteriores elevação dos dos Estados Unidos, porém baixo nível de P&D Níveis em P&D. e baixa integração com a transferência de Tecnologia. (%) como proporção do PNB investido em P&D em (%) como proporção do produto investido em atividades industriais eleva-se a um patamar superior atividades industriais permanece em um patamar a 50% do dotal dos investimentos em P&D inferior a 25% do total. Desenvolvimento de pesada infraestrutura em ciência Enfraquecimento da infra-estrutura em ciência e e tecnologia e, em estágios futuros, boa interação com tecnologia e pouca interação com a indústria. a P&D industrial Elevados níveis de investimento e principais fluxos de Declínio nos principais investimentos diretos Investimentos japoneses e tecnologia, com o yen forte norte americanos e geralmente baixos níveis de Nos anos 1980 e 1990. Forte influência dos modelos investimentos. Baixo nível de interação Japoneses de gestão e de redes de organização. tecnológica no âmbito internacional. Volatilidade dos investimentos internacionais. Pesados investimentos em infra-estrutura avançada Baixo desenvolvimento de comunicações de telecomunicações. modernas. Denso e rápido crescimento de indústrias eletrônicas de Indústria eletrônica fraca com baixa exportação elevada exportação e pouca aprendizagem com o mercado internacional ________________________________________________________________________________________

Fonte: Freeman e Sooete (1999:305)

No período 1965/1980, o produto nacional bruto dos países do Sudeste Asiático

cresceu a uma taxa média anual de 7,5% contra 5,8% da América Latina no mesmo período.

Ente 1980 e 1989, a taxa média de crescimento do produto dos países do Sudeste Asiático

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foi de 7,9%, enquanto os países da América Latina apresentaram no mesmo período uma

taxa média de crescimento do produto de 1,6%(ibid.).

Uma das explicações propostas por Freeman e Soet para a ocorrência de tamanho

contraste diz respeito ao fato de que alguns países asiáticos introduziram mudanças sociais

mais radicais, como reforma agrária e educação universal em contraposição a muitos países

da América Latina. Isto possibilitou que transformações estruturais e técnicas fossem

facilitadas em decorrência destas mudanças (ibid.).

• Debilidades da Abordagem Teórica dos Sistemas Nacionais de Inovação.

Uma das críticas à abordagem dos sistemas nacionais de inovação é que, embora seja

indiscutível o papel das políticas macroeconômicas, como, por exemplo, as de comércio

exterior, de ciência e tecnologia, industrial etc, sua eficácia, no que tange à promoção do

crescimento econômico, é vista por muitos autores como sendo cada vez mais reduzida49.

Em outras palavras, as políticas macroeconômicas cedem cada vez mais espaço para as

políticas e ações nas esferas local e regional no que se relaciona à promoção do crescimento

e do desenvolvimento econômico.

A percepção da importância das esferas local e regional no que tange à definição e

implementação de políticas econômicas ficou muito evidente ao longo dos anos 1990. Neste

sentido, tem-se colocado como fator crucial para esta mudança o avanço do processo de

globalização da economia mundial tendo como pano de fundo os pressupostos do Consenso

de Washington50. Este processo é permeado pela maior liberalização das economias

49 As políticas macroeconômicas de pleno emprego, de cunho Keynesiano, que caracterizaram os anos de ouro da economia mundial no pós 2a. Grande Guerra, também conhecidas como políticas de bem-estar social “Welfare State” sofreram severos ataques no início dos anos 1960 e 1970. A partir da crítica de economistas neoliberais como Milton Friedman e Robert Lucas, dentre outros, passou-se a questionar os elevados índices de desemprego e de inflação que passavam a permear as principais economias capitalistas, a partir dos anos 1960. Desde então, ganharam fôlego as prescrições neoliberais, em detrimento das políticas anticíclicas keynesianas. A forte intervenção estatal observada na economia no pós 2a. Guerra é vista como sendo responsável pelos processos de estagflação então verificados. Define-se então como prescrição de política macoreconômica a redução do grau de intervenção do Estado na economia, tendo como contrapartida, a liberalização comercial e financeira que expressam na verdade, a velha noção proposta por Adam Smith do mercado auto-regulável. Ver a Este respeito, Richard Froyen (2001, cap. 12 e13). 50 Consenso de Washington - trata-se da expressão cunhada pelo economista norte-americano John Williamson e refere-se a um decálogo de medidas liberalizantes e de ajustes sugeridos para reformas nos países em desenvolvimento, concebidas no âmbito de organizações sediadas ou vinculadas a Washington, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial (Lacerda et. Al., 1998).

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capitalistas com reflexos no incremento do grau de abertura comercial e financeira dos

países e sistemática redução da amplitude das políticas macroeconômicas definidas pelos

estados-nação.

A obra de Kenich Ohmae destaca exatamente as mudanças estruturais e institucionais

no capitalismo recente, com a diminuição do papel das políticas macroeconômicas vis-à-vís

e o aumento da importância das políticas e ações no âmbito regional. Sua obra “O fim do

Estado-Nação: a ascensão da economia regional (1995)” discorre sobre a nova dinâmica das

economias capitalistas onde a tecnologia, regiões e localidades têm papel central.

Por outro lado, deve-se destacar que a teoria dos sistemas nacionais de inovação não

explica de forma satisfatória, a causa de algumas regiões serem mais desenvolvidas que

outras dentro da mesma nação. Ou seja, não explica os desequilíbrios regionais. Não

explica ainda, de forma satisfatória, o porquê do surgimento de aglomerações industriais

em determinadas localidades, além de deixar, na maior parte das análises, uma lacuna no

que diz respeito aos fatores microeconômicos que determinam o dinamismo destes

complexos produtivos.

As críticas acima descritas, somadas às pesquisas desenvolvidas pelos teóricos dos

sistemas nacionais de inovação, deram lugar, no início dos anos 1990, a uma nova vertente

teórica, na linha evolucionária, definida como sistemas regionais e locais de inovação que

serão apresentadas no capítulo seguinte.

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CAPÍTULO II

REFERENCIAL TEÓRICO E ANALÍTICO

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2.0 – Referencial Teórico 2.1 – Abordagem dos Sistemas Locais de Inovação.

Com o avanço da globalização este novo ambiente competitivo intensivo em

conhecimento e comercialmente liberal provocou dois paradoxos fundamentais: (i) embora a

globalização possibilite maior acesso a informações, “as hierarquias limitaram as

habilidades de aprendizado e os mercados limitaram a capacidade de processamento das

informações de forma efetiva. Estes fatores determinaram a necessidade de se criar novas

formas de organização que eliminem estas falhas” (Acs et al., 2000); e (ii) verifica-se o

resgate da dimensão local na atividade produtiva. Embora paradoxal do ponto de vista da

globalização, a dimensão local coloca-se como elemento-chave no processo de

competitividade das empresas na medida que permite novas formas de organização

produtiva que possibilitam o aprendizado, o conhecimento e a mudança tecnológica (Acs et

al., 2000; Johnson e Lundval, 2000).

Com efeito, em um contexto onde a capacidade de inovação tecnológica coloca-se

como o sustentáculo da competitividade parte substancial do processo inovativo ocorre na

dimensão espacial local, que funciona como núcleo do conhecimento tácito. Nesse sentido,

Santos et al. (2002) colocam que (i) as inovações são geradas através de mecanismos

específicos de aprendizado formados por um quadro institucional local específico; (ii) as

decisões técnicas das firmas são dependentes de suas trajetórias, isto é, dependem não

apenas dos recursos tangíveis acumulados, como também de recursos intangíveis

desenvolvidos na coletividade como confiança e cooperação. Estes recursos (tangíveis e

intangíveis) são localizados no “espaço” socialmente construído; e (iii) o conhecimento

desenvolvido por meio das redes sociais e econômicas que se formam em torno das

atividades produtivas no espaço local é peculiar àquele espaço e, portanto, instransponível.

A nova dinâmica capitalista tem influenciado decididamente o processo de

acumulação, sinalizando para a necessidade do desenvolvimento de novos arcabouços

teóricos que dêem conta de tais transformações, contribuindo assim para a compreensão dos

novos fenômenos econômicos e sociais que emergem e, conseqüentemente, para a

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arquitetura e implementação de políticas que otimizem o bem estar econômico e social de

países, regiões e localidades.

Com efeito, a abordagem dos Sistemas Locais e Regionais de Inovação procura

integrar em seu arcabouço conceitual e teórico as recentes mudanças que tipificam o atual

estágio do capitalismo globalizado.

• Sistemas Locais e Regionais de Inovação51 - Fundamentos Teóricos

Desde a introdução do conceito de Sistemas Nacionais de Inovação52(SNI), proposto

por Freeman (1987), esta abordagem passou a obter grande reconhecimento dentro da

literatura sobre mudança e desenvolvimento tecnológico (Oinas e Malecki, 1999:9).

O conceito de Sistemas Locais e Regionais de Inovação (SLRI) é relativamente novo,

tendo sido cunhado a partir de 1992 (Cooke, 1998:2). As conclusões de Richard Nelson

(1993) de que não existia um modelo singular representativo de um Sistema Nacional de

Inovação, tendo em vista suas idiossincrasias tornava extremamente difícil o esforço de

pesquisa para dar conta de toda a complexidade da dimensão sistêmica das hipóteses do

SNI53. “Nos anos 1990, cientistas regionais passaram a integrar elementos de pesquisa que

vinham sendo trabalhados separadamente, tais como a existência de complexos tecnológicos

regionalizados (Saxenian, 1994) e arranjos produtivos de larga escala como as tecnópolis”

(Castells & Hall, 1994; Scott, 1999; apud Cooke, 1998). Por outro lado, a pesquisa em

algumas regiões procurava associar questões como cadeias de negócios, transferência de

tecnologia e qualificação da mão de obra como os principais pilares de um sistema local

(ibid).

51 Neste trabalho a nomenclatura sistema regional de inovação é substituída pela nomenclatura “sistema local de inovação”. A razão fundamental para este tratamento relaciona-se ao fato de (i) não haver qualquer discrepância teórica entre as duas nomenclaturas e, (ii) o fenômeno dos aglomerados produtivos ocorrerem no espaço localizado. Entretanto é importante enfatizar, que (...) “sistemas não são entidades definidas em torno de si mesmas, mas estão ligadas ao mundo externo por uma série de conecções (Amim e Trift, 19992, p.572) 52Oinas e Malecki (1999) e Santos et. al., (2002) enfatizam que os sistemas nacionais de inovação estão enraizados em subsistemas nacionais, na medida em que a região e o local são, juntamente com as firmas, os principais portadores de conhecimento tácito na era da economia do aprendizado. 53 Esta consciência não quer dizer que a escala nacional, enquanto contexto para processamento de atividades de inovação deixaria de desempenhar um importante papel no desenvolvimento tecnológico, tendo em vista fatores como: políticas públicas de âmbito nacional, oferta de capital de risco por parte do estado, outros atores nacionais, culturas nacionais e práticas industriais (Oinas e Malecki, 1999).

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“Foi mais recentemente, em 1994, com o tratalho Thomas Couchene, Charles David,

B. Ä Ludvall, John Naisbitt, Kenichi Ohmae, Annalee Saxeneian, e outros – e uma forte

tradição na geografia econômica e ciência regional e nos esforços pioneiros de Giacomo

Becattini, Geoges Benko, Gioacchino Garofoli, Allen Scott, Michael Storper, e muitos

outros – que crescente atenção foi dada à dinâmica e trabalhos relacionados à produção

aprendizado-orientada, e aos sistemas de inovação” (De La Mothe e Paquet, 1998:

prefácio).

De La Mothe e Paquet sugerem uma linha de estudos54 para a análise dos sistemas

locais e regionais de inovação, também denominados de sistemas subnacionais, através de

uma abordagem55 que privilegia três enfoques: (i) organizacional, evolucionário-cognitivo e

dimensões de proximidade (Ibid). Nesta concepção, os seguintes fatores são considerados:

“(i) a nova dinâmica cognitiva das regiões que aprendem caracterizando a existência de

sistemas locais e regionais de inovação; (ii) a grande importância da proximidade (em uma

variedade de sentidos) na especificidade do milieu cultural na explicação do sucesso ou

fracasso dos diferentes tipos de SLRI; (iii) o papel central desempenhado pelo processo de

investimentos, na emergência, crescimento e manutenção deste SLRI; (iv) o papel

catalizador das relações governo empresariado na explicação tanto do sucesso quanto do

fracasso destes casos; e (v) o processo inovador como forma de criação de valor56” (Ibid.).

54 De la Mothe e Paquet (1998) ressaltam algumas das fragilidades da abordagem dos sistemas locais e regionais de inovação como se segue: “Esta literatura gerada ao longo de alguns anos atrás, tem sido muito rica e substancial. Mas ela tem sido compartimentalizada em segmentos enraizados em diferentes estratégias. Alguns dos trabalhos tem sido baseados estritamente em estudos de caso e não têm gerado muito em termos de resultados generalizados. Outros trabalhos têm se dedicado à construção de modelos de interdependência espacial ou territorial, ou padrões de proximidade, de aprendizado ou processos cognitivos evolucionários. Finalmente, muitos trabalhos têm se concentrado na comparação entre duas áreas ou distritos, ou tem explorado grupos específicos de dados para gerar algumas correlações transversais entre variáveis econômicas, espaciais e organizacionais. Contudo, o resultado destas diferentes abordagens permanece desarticulado” (Ibid: 1). 55 Como veremos mais à frente, na seção 2.5 que define a metodologia que se propõe neste trabalho aplicável à análise do aglomerado petrolífero de Macaé, argumenta-se que os enfoques tradicionais utilizados para análise de aglomerações produtivas são insuficientes para dar conta das especificidades destas estruturas em regiões de baixo desenvolvimento. Destaca-se ainda que, a maior parte destas abordagens, desconsidera o atual estágio de desenvolvimento do capitalismo, onde a inovação tecnológica constitui-se na base do processo de competitividade. 56 “Tem sido reconhecido pelos formuladores de política, agências estatísticas e analistas econômicos que, em uma era de techno-globalizmo, a capacidade inovativa de regiões é de importância substancial” (De Lamothe e Paquet,1998:1).

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A abordagem dos Sistemas Locais e Regioniais de Inovação tem como elemento

fundamental o milieu local em vez das estruturas nacionais e regionais enfatizando a

importância do espaço cognitivo, onde os processos de capacitação e inovação tecnológica

ocorrem. Nesse sentido, John Ziman (1991) define o espaço cognitivo como “áreas

transversais construídas através de modelos de conexões de diferentes domínios de

diferentes campos no processo de inovação (ciência, tecnologia, marketing, etc) (De la

Mothe e Paquet 1998:3). Prevalece fortemente a noção de que em certas localidades que se

caracterizam como sistemas de inovação desenvolvem-se estruturas econômicas imersas em

processos sociais, na forma de redes. Nesta perspectiva, “algumas idéias científicas,

técnicas práticas e commodities comercializáveis são cognitivamente interconectadas no

sentido de que elas estão a um certo padrão de interdependência. O conjunto de nós e

conexões neste espaço cognitivo não é idêntico a um outro sistema de inovação (...)a

capacidade de aprendizado desta cadeia transversal é que determina sua capacidade de

transformação” (ibid).

2.2- Classificação dos Sistemas de Inovação

Oinas e Malecki (1999:10) definem três grandes grupos para classificar sistemas locais

de inovação, sendo que o terceiro relaciona-se a regiões periféricas: (i) sistemas locais que

são - em maior ou menor extensão que outras regiões - , produtoras de inovação ou

inovadores, as relações internas e externas, sobretudo as internacionais, têm grande

importância; (ii) sistemas locais que são adaptadores de tecnologia; (iii) localidades e

regiões periféricas que não conseguem sequer adaptar tecnologia e que, portanto, não se

enquadram na perspectiva de um sistema de inovação. Estas localidades e regiões periféricas

podem ser, então, denominadas de não-adaptadoras.

Não obstante, a literatura sobre o assunto tem buscado definir uma qualificação para

regiões e localidades em função de características específicas resultantes da capacidade de

aprendizado, produção de conhecimento e inovação tecnológica das mesmas. Estes lugares

podem então ser qualificados sob diferentes aspectos como ‘regiões que aprendem’,

‘milieus inovativos’, como ‘clusters’, ‘como distritos industriais’ ou, como ‘sistemas

produtivos locais’ (ibid).

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2.2.1- Sistemas Locais Produtores de Inovação

• Milieu Inovadores.

O conceito de milieu inovador é uma generalização da cultura tecnológica local.

Este conceito está relacionado à abordagem teórica definida como “sistemas regionais e

locais de inovação”. Em um milieu, confiança e reciprocidade são baseadas em um sistema

de regras implícitas ou normas culturais (ou modos sociais de regulação) assim como em

instituições que dão suporte à inovação e à flexibilidade. A capacidade de gerenciamento

acumulada e as competências tecnológicas e comerciais são passadas a outros (Malecki,

1997:153). Um milieu incorpora as interações necessárias de uma forma particular. Uma

localidade que constitua um milieu está definida por um grupo de relações que une, em

forma de redes, um sistema local de produção, um grupo de atores e suas representações e

uma cultura industrial (Camagni, 1995, p.195). “Alguns autores, entretanto, afirmam que

estas redes devem estar “imersas” (embbedded) em um “ambiente local” (milieu) que atue

como facilitador e estimulador das “interações coletivas” e que faça a ligação entre um

sistema de produção e uma cultura tecnológica particular” (Santos et al., 2002:8). O milieu

industrial ou o distrito industrial pode ser visto como uma comunidade de empresários de

associações interfirmas, organizações trabalhistas, instituições financeiras e agências

governamentais (Malecki, 1997).

Como exemplo de milieu inovadores, pode-se citar a indústria de semicondutores no

Vale do Silício, o complexo cinematográfico no sul da Califórnia e a região de Buden-

Württemberg na Alemanha (ibid).

• Distritos Industriais

O distrito industrial tem como uma de suas características marcantes a aglomeração

de pequenas e médias empresas em um determinado espaço, que normalmente está próximo

da matéria prima e/ou do mercado. O clássico distrito industrial marshalliano, assim

denominado porque foi identificado inicialmente por Alfred Marshall no início do século

XX, tem sua localização próxima aos centros urbanos principais.

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Malecki (1997:152) enfatiza que nem todas as aglomerações espaciais de pequenas

firmas no mesmo setor ou em setores relacionados definem um distrito industrial. Um

distrito industrial caracteriza-se por uma economia local dinâmica composta por firmas

progressistas, do ponto de vista tecnológico, que estão sempre dispostas tanto a receber

como a dar informações e, como firmas inovadoras, buscam continuamente informação e

mantém simultaneamente bons fluxos de informação interna (Sweeney, 1987).

Com efeito, a capacidade de inovar e de trocar informações e a cooperação que se

estabelece entre as firmas definem algumas das características necessárias para que

aglomerados de empresas de pequeno porte constituam aglomerações caracterizadas como

distritos industriais. Outro fator relevante que caracteriza o distrito industrial é a cultura

empreendedora e técnica dos agentes econômicos.

As indústrias que tipicamente se organizam na forma de distritos industriais, são as

de roupas, de móveis e materiais eletrônicos. Um exemplo clássico de distritos industriais é

o que se apresenta na Itália. Os distritos industriais italianos têm características comuns aos

distritos marshallianos serem, por exemplo, constituídos de pequenas firmas. Por outro

lado, os mercados dos distritos italianos são nacionais ou internacionais em contraposição

às firmas artesanais e à relação de dependência dos subcontratantes que se verifica nos

distritos industriais marshallinos. O grupo italiano Benetton, que comercializa produtos de

muitas empresas familiares é um exemplo típico (Bellussi, 1996).

• Regiões que Aprendem.

Regiões que aprendem são, na verdade, “milieus” ou “distritos industriais” com uma

característica marcante que as distingue, a saber: a ênfase existente nestas regiões na

resolução de problemas de forma coletiva, através de grupos de cientistas engajados em

P&D, engenheiros e trabalhadores da indústria que atuam coletivamente como agentes da

inovação (Florida, 1995). Assim, fatores como o desenvolvimento de um ambiente sócio-

econômico favorável à disseminação da informação e do aprendizado e à socialização dos

custos e benefícios advindos deste processo constituem a essência para que as assim

chamadas regiões que aprendem estejam na vanguarda da mudança tecnológica.

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80

Aprovação de

Programas Informação

Aconselhamento

Estratégias Propostas Refinamento político

Figura 2.0 - Sistema empresarial de suporte para a inovação

Fonte: After Joanneum Itereg, apud Cooke 1998.

Oinas e Malecki (1999:14) enfatizam a importância do conhecimento em uma região

que aprende: “o conhecimento industrial de uma região e suas habilidades são criados e

transmitidos para as gerações futuras, por meio da educação, treinamento e experiência

adquirida”. Por outro lado, o conhecimento como elemento fundamental na capacidade

inovadora em um sistema local não se restringe apenas ao conhecimento formal apreendido

nas escolas técnicas e universidades, mas abrange também o conhecimento tácito de práticas

econômicas e sociais desenvolvidos ao longo do tempo que são peculiares àquele ambiente

produtivo (ibid).

Informação Legitimação

Conselho diretor

Forum

Agência de Tecnologia

Pesquisa em Tecnologia

Comites de PME Assoc. Com. Indust. Comitê de IDE Cursos Técn e Prof. Câmara de Comérico Universidades

Conselho Diretor

Parceiros Sociais Comunidade de Pesquisa Empreendedores Governo Local Consultores em Câmara de Comércio. tecnologia

Fórum Cooperativo

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A Figura 2.0 apresenta um sistema empresarial típico do que se define como uma

região que aprende. Observa-se que a região ou localidade é estruturada nos moldes de uma

organização, onde as atividades produtivas, e aquelas relacionadas à inovação tecnológica,

como fator de competitividade da região, empresas e cidadãos nela inseridos são pensadas, e

executadas de forma colegiada e cooperativa

2.2.2- Regiões e Localidades Adaptadoras de Tecnologia.

A recente bibliografia sobre o assunto define como “sistemas produtivos” as

regiões ou localidades de baixa performance tecnológica. Estes sistemas são classificados

como sistemas produtivos locais adaptadores de tecnologia. Os sistemas adaptadores de

tecnologia têm como uma de suas características principais o fato de possuírem

aglomerações produtivas com baixa densidade em suas redes intra-regionais e extra-

regionais, o que dificulta a capacidade de inovação tecnológica destes lugares, bem como a

adaptação eficiente de tecnologia (Oinas e Malecki, 1999:22). Estas localidades e regiões,

estão em uma situação intermediária onde lutam, respectivamente, para tentar um

engajamento tecnológico e produzirem mudanças (ibid.). Os sistemas produtivos definidos

como adaptadores de tecnologia contrastam com os “sistemas locais inovadores” em

especial no que toca ao modus operandi do último, que é essencialmente cooperativo e

permite a inserção da pequena empresa. “Vale dizer, cooperação envolve a coordenação ex-

ante (qualitativa e quantitativa) dos planos das pequenas e médias empresas (PMEs)”

(Santos et al., 2002:11).

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2.2.3-Regiões com Baixo Desenvolvimento, Atrasadas ou não Adaptadoras de Tecnologia.

Os aglomerados produtivos57 localizados em regiões ou localidades pouco desenvolvidas58

são caracterizados como aglomerações produtivas informais, portanto não são incluídas no

contexto de “sistemas”. Estas aglomerações são tipicamente caracterizadas pela

precariedade da infra-estrutura produtiva, baixo nível tecnológico e de integração entre as

firmas. Com efeito, as principais debilidades inerentes a aglomerados em regiões informais

são (i) uma proporção maior dos setores que compõem o aglomerado são de atuação local,

sendo que, os aglomerados em geral são superficiais, dependendo basicamente de serviços e

tecnologias procedentes do exterior; (ii) a força de trabalho possui baixo nível de

qualificação sem que haja um sistema contínuo de aprendizado; (iii) as formas de

coordenação e o estabelecimento de redes e ligações inter-firmas são pouco evoluídas, sendo

que predomina a competição predatória, baixo nível de confiança entre os agentes e

informações pouco compartilhadas; (iv) a infra-estrutura do aglomerado é precária, estando

ausentes os serviços básicos de apoio ao desenvolvimento sustentado ao aglomerado, como

serviços financeiros, centros de produtividade e treinamentos, que elevam os custos de

produção deprimindo o lucro e afetando as expectativas dos agentes (Santos et al., 202:12;

Porter, 1999:245).

Isto posto, a precariedade relacionada à infra-estrutura física em regiões e localidades

periféricas, nos seus vários matizes, coloca-se como forte empecilho ao desenvolvimento de

aglomerados eficientes, uma vez que afeta de forma negativa as bases para a constituição de

um sistema local onde geração de conhecimento formal e tácito constituam a base para o

processo de inovação e competitividade. Nesse sentido, a estruturação de uma rede de

firmas densa em encadeamentos que possa beneficiar-se não apenas das economias de

57 Como mencionado na seção 1, um dos elementos-chave para o desenvolvimento das atividades produtivas em um aglomerado, diz respeito às economias externas provenientes da concentração de empresas em um determinado espaço geográfico. Não obstante, há autores como Sternberg (1996) que incluem a densidade urbana (tamanho da cidade) como fator crucial na determinação de aglomerados produtivos. Neste sentido, os aglomerados produtivos podem ser definidos como integrantes de um sistema de inovação (como visto acima) podem, contudo, pertencer a um sistema que atua muito mais como um adaptador de tecnoligias e, por fim, podem estar inseridos em um ambiente atrasado, também definido como “não adaptador de tecnologia”. 58 Diversos estudos no Brasil sobre aglomerações produtivas localizadas em regiões periféricas são desenvolvidos pela Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos Inovativos Locais– REDESISTE, coordenado pelos professores José Eduardo Cassiolato e Helena Lastres do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Ver Cassiolato et al. (2000).

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aglomeração, mas também de fatores como confiança, reciprocidade, cooperação, formação

de capital social e institucional - elementos fundamentais para a constituição de um sistema

de inovação - ficam comprometidos.

Problemas relacionados à escassez de infra-estrutura física tais como comunicações,

transporte, educação, financiamentos e investimentos - contribuem para a definição de um

tipo particular de organização industrial em regiões e localidades de baixo desenvolvimento,

que se caracterizam essencialmente pela demasiada integração vertical das empresas.

Markusen (1999) define este tipo particular de aglomerações industriais como “centro-

radiais59”. “Estas aglomerações caracterizam-se pela existência de uma (ou várias) grande(s)

empresa(s) que atua(m) como âncora(s) para a economia regional, enquanto os fornecedores

e as atividades relacionadas se dispersam em torno das firmas âncoras como os raios de uma

roda” (Santos et al., 2002:12).

As funções estratégicas (design, marketing, comercialização, desenvolvimento

tecnológico etc) são basicamente centralizadas na empresa âncora e, em menor extensão,

nos fornecedores de primeiro nível, enquanto as atividades produtivas são descentralizadas

para pequenas empresas altamente especializadas (ibid). A versão mais simples desta forma

de aglomeração conta com uma única grande firma que compra de fornecedores locais e

não-locais e vende, majoritariamente, para consumidores não-locais (em geral para o

mercado nacional e internacional). Neste caso os fornecedores encontram-se em uma

posição subordinada e são dependentes da empresa-âncora seja como mercado, seja como

fornecedora (ibid.).

59 Como se verá mais à frente a estrutura centro-radial é a que melhor se aplica ao aglomerado petrolífero de Macaé, onde a Petrobras – maior empresa petrolífera do país - atua como empresa âncora.

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2.3- Referencial Metodológico com Ênfase em Aglomerações Periféricas. 2.3.1- A Abordagem Estruturalista

O enfoque estruturalista 60 para o estudo de aglomerados tem como característica

principal a ênfase na estrutura, mais particularmente na densidade física do aglomerado, no

que se refere à formação de encadeamentos para frente, para trás e para os lados o que

equivale à sua estrutura em rede: nós e conexões. Dados os problemas relacionados à infra-

estrutura física, comuns à regiões de baixo desenvolvimento, esta abordagem deixa

implícito que os problemas estruturais de uma região ou localidade decorrente da

precariedade de infra-estruturas como transporte, educação, comunicação, energia,

financiamentos etc. inibem o desenvolvimento dos aglomerados.

O recorte analítico estruturalista para a análise de aglomerados produtivos (vertente

CEPAL) depreende que, em regiões periféricas, aglomerados com potencial de

desenvolvimento possuem, em geral, estrutura centro-radial - como definido por Markusen

(1999). Nesse sentido, (i) embora seu adensamento seja restringido por problemas de infra-

estrutura física, este enfoque concebe que a evolução do aglomerado se dá via integração

horizontal das firmas (encadeamento para frente e para trás) por meio de substituição de

importações, onde surge um importante espaço para a integração ao aglomerado de

pequenas e médias empresas; (ii) esta abordagem considera o processo de aprendizado e de

inovação tecnológica como sendo substancialmente determinados pelas particularidades do

modelo de organização industrial que se define no mesmo. Assim, as especificidades da

organização industrial de cada AP afetam o grau de interação que se estabelece entre

compradores, fornecedores e produtores, e conseqüentemente a capacidade de aprendizado e

de inovação do mesmo; (iii) o arcabouço institucional e de governança61 que envolve o

aglomerado é outro fator relevante a ser considerado com destaque para a participação do

Governo, de instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa, associações comerciais,

industriais e de classe; (iv) esta abordagem considera ainda a trajetória tecnológica do

60Ver a este respeito os trabalho de Khalid Nadvi (1995) “Industrial Clusters and Networks: Case Studies of SME”- UNIDO. 61 O termo governança é utilizado mais amplamente para designar as diversas formas pelas quais indivíduos e instituições públicas e privadas gerenciam seus problemas comuns (Albagli e Britto, 2003:15).

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aglomerado, ao conceber sua evolução histórica, e o grau de competitividade do mesmo

auferido por sua capacidade de exportação, sobretudo para o mercado internacional.

A partir da análise da evolução do complexo florestal finlandês62, o autor Cepalino

Joseph Ramos, partindo da abordagem estruturalista, postula que a formação de um

aglomerado produtivo maduro passa por quatro etapas conforme apresentado no Quadro

2.0. A primeira fase é caracterizada pela extração e exportação do recurso natural com um

processamento local mínimo indispensável. Quase tudo o mais se importa: o grosso dos

insumos, maquinaria e engenharia (salvo parte da Engenharia de Produção) (Ramos,

1999:41).

Quadro 2.0- Fases de desenvolvimento de um aglomerado produtivo

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ FASE I FASE II FASE III FASE IV ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 1. EXPORTAÇÕES Recurso natural Primeiro nível de Processamento mais Investimentos no em bruto. processamento especializado de primeiro exterior. nível. Segundo nível

de processamento. 2.INSUMOS Importados Substituição de Exportação de importações dos Insumos __________ principais insumos para o mercado nacional 3.BENS DE CAPITAL Importada Produção de baixa Exportação de maquinaria Exportação de (conserto local) tecnologia para básica para mercados máquinas de o mercado local menos sofisticados. todos o tipos Desenvolvimento de para mercados equipamentos mais sofisticados especializados. 4. ENGENHARIA - Produção Semi-importada Nacional Nacional ____________ - Desenho e Importada Parcialmente projeto Nacional Nacional Exportação - Consultoria Importada Parcialmente Nacional salvo Nacional as especialidades ___________

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Fonte: Joseph Ramos (1999).

62 Ver a este respeito Apêndice I.

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Em uma segunda fase, desenvolvem-se atividades de processamento e exportação,

por exemplo, indústria de polpa, cartão e papel e tem início o processo de substituição de

importações com a produção local de alguns insumos e equipamentos – tipicamente de

baixo conteúdo tecnológico - para o mercado nacional. Provisão nacionalizada de serviços

de engenharia para a produção e parcialmente local no que se refere a desenho (ibid:42).

Em uma terceira fase se começa a exportar alguns dos bens e serviços que foram

substituídos inicialmente, tais como insumos e maquinários básicos, a mercados pouco

exigentes como, por exemplo, países da ex-União Soviética depois da segunda guerra

mundial. Nesta fase, a engenharia é quase que totalmente nacional, e aumenta as

exportações de produtos processados de maior conteúdo tecnológico (ibid).

Na quarta fase, que para o complexo florestal finlandês começou em meados dos

anos 1970, se exporta praticamente tudo: produtos processados de grande variedade e

complexidade, insumos e maquinarias para mercados exigentes, serviços de engenharia de

desenho e consultorias especializadas. Uma característica desta fase é que as empresas

começam a investir no exterior, em suas respectivas atividades (ibid).

2.3.2- Arranjos e Sistemas Produtivos Locais

Os enfoques teóricos e metodológicos adotados para o estudo de aglomerados em

regiões de baixo desenvolvimento podem ser enquadrados nas duas vertentes mencionadas

anteriormente: as que privilegiam mais a forma de processamento do conhecimento e da

inovação tecnológica; e as que focalizam mais a estrutura - ênfase na constituição das redes

que definem a organização industrial dos aglomerados. Nesse sentido, apresentam-se, a

seguir, dois enfoques metodológicos aplicados ao estudo de aglomerados na América

Latina: A de Arranjos e Sistemas Produtivos Locais ASPLs (forma) e o enfoque

estruturalista de aglomerados, que tem por base teórica e analítica com destaque para os

encadeamentos para frente para traz e para os lados que definem o aglomerado.

O enfoque de ASPLs, segue a linha do arcabouço teórico dos Sistemas Locais e

Regionais de Inovação e tem sido aprimorado no sentido de incorporar as especificidades de

aglomerados produtivos em regiões de baixo desenvolvimento. Lastres e Cassiolato (2003-

c:2) distinguem dois tipos de aglomerados produtivos em economias periféricas:

aglomerados que detêm pouca ou nenhuma densidade tecnológica, tipificados como

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Arranjos Produtivos63 (AP); e aglomerados que apresentam elementos característicos de um

sistema de inovação, denominados de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais64 (SPs).

Lastres e Cassiolato (2003-b:10-12) enfatizam que o enfoque de ASPLs prioriza os

seguintes pontos no estudo de caso de aglomerações produtivas: “(i) caracterizar os arranjos

produtivos locais, sua história, principais atividades econômicas, produtos, serviços, firmas,

organizações públicas e privadas, instituições e governança ; (ii) Discutir as condições sob

as quais o aprendizado, a acumulação das capacidades produtivas e inovadoras e o uso

efetivo destas capacidades ocorrem; (iii) determinar em que sentido o tipo de governança,

modelo de competição e estrutura de mercado local, nacional e internacional, influenciam a

evolução do arranjo; (iv) investigar em que grau a competitividade dos arranjos é

sustentável e dinâmica, considerando-se a imersão social, articulação com o sistema local de

inovação, e principais elementos competitivos, tais como qualidade do produto, valor

adicionado, produtividade do trabalho; (v) examinar a influência do regime

macroeconômico dos anos 1990 e das políticas nacionais e locais, implícitas e explícitas na

evolução do arranjo”.

63 Arranjos produtivos locais -- “São aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes e outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento, engenharia; política, promoção e financiamento” (Lastres e Cassiolato 2003-a). 64 Sistemas Produtivos e Inovativos locais -- “São aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividde e do desenvolvimento local. Assim, consideramos que a dimensão institucional e regional constitui elemento crucial no processo de capacitação produtiva e inovativa. Diferentes contextos, sistemas cognitivos e regulatórios e formas de articulação e aprendizado interativo entre agentes são reconhecidos como fundamentais na geração e difusão de conhecimentos e particularmente aqueles tácitos. Tais sistemas e formas de articulação podem ser tanto formais quanto informais” (Ibid).

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2.3.3-Empresas em Rede e Rede de Empresas

Britto (1999) realiza uma importante contribuição para a sistematização65 e emprego

da tipologia de redes na literatura econômica. O enfoque proposto compreende, devido à

sua flexibilidade, a ênfase tanto na estrutura organizacional do arranjo quanto na forma ou

modus operandi66 do mesmo representando, portanto, um importante instrumento analítico e

metodológico para a compreensão de sistemas em diferentes estágios de evolução técnico-

produtiva.

Do ponto de vista da representação gráfica, “rede” pode ser definida como “um

conjunto de pontos ou nós conectados entre si por segmento (arcos) que viabilizam o

intercâmbio de fluxos – de bens, pessoas ou informações – entre os diversos pontos da

estrutura. Redes podem ser abstratas (redes sociais) ou concretas (redes de comunicação);

visíveis (rodovias ou ferrovias) ou invisíveis (redes de telecomunicações)” (Britto 1999:11-

27; Albagli e Britto, 2003:22).

Na literatura de Economia Industrial, as Redes constituem uma forma organizacional

passível de ser identificada em diversos tipos de aglomerações produtivas e inovativas; seu

enfoque revela, fundamentalmente, a forma de interação entre os diversos agentes (Albagli e

Britto, 2003:22). Nesse sentido é possível estabelecer uma diferenciação entre os

conceitos67 de firmas em rede e rede de firmas. Assim, de acordo Albagli e Britto

(2003:22-23) tais conceitos podem ser definidos: (i) Empresa em Rede - “o conceito de

empresa em rede refere-se a mudanças na organização interna da firma, decorrentes da

65 Ver a este respeito tese de doutoramento do autor intitulada “Características Estruturais e modus-operandi das Redes de Firmas em Condições de Diversidade Tecnológica” (Britto, 1999) 66 Considera o processo produtivo incorporando variáveis sociais e aspectos institucionais para explicar a organização produtiva em forma de redes. Nesse sentido, “ no caso das redes de firmas, é possível identifcar algumas particularidades das posições relativas ocupadas pelos agentes no interior do arranjo. Estas posições estão associadas a uma determinada ‘divisão do trabalho’ que conecta os diferentes agentes visando atingir determinados objetivos. A consolidação desta divisão de trabalho é uma conseqüência natural da diversidade de atividades necessárias à produção de determinado bem, envolvendo a integração de capacidades operacionais e competências organizacionais dos agentes, bem como a compatibilização integração de tecnologias incorporadas nos diferentes estágios da cadeias produtivas” ( Britto, 1999:18). 67 Estes conceitos, como veremos mais à frente, são fundamentais para a identificação do nível de organização e coesão de um aglomerado produtivo possibilitando perceber quão próximo ou distante a localidade em que o mesmo se encontra se distancia ou se aproxima de um sistema local de inovação.

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evolução da firma estrutura em múltiplas divisões independetes entre si (multi-divisional)

para um novo padrão de articulação entre as diferentes instâncias produtivas e

organizacionais pelo desenvolvimento de tecnologias de informação telecomunicação

(ibid); (iii) Rede de Empresas –“Refere-se a arranjos inter-organizacionais baseados em

vínculos sistemáticos entre firmas formalmente independentes, dado origem a um padrão

particular de governança que é capaz de promover uma coordenação mais eficaz de

atividades complementares realizadas por estas diversas empresa”s. No que tange à

formação das redes de firmas os autores destacam: “Essas redes nascem através da

consolidação de vínculos sistemáticos entre firmas, os quais assumem diversas formas:

aquisição de partes de capital, alianças estratégicas, externalização das funções da

empresa. “Estas redes podem estar relacionadas a diferentes elos de uma determinada

cadeia produtiva (conformando redes de fornecedor – produtor-usuário), bem como

estarem vinculadas a diferentes dimensões espaciais a partir das quais conforma-se redes

locais, regionais, nacionais e supranacionais ”(ibid).

Albagli e Britto (2003:23) definem ainda algumas das características que tipificam

uma rede de firmas e induzem à sua formação: (i) as redes de firmas são definidas pelo

agrupamento formal ou informal de empresas autônomas com o objetivo de realização de

atividades comuns, possibilitando que as empresas participantes se concentrem apenas em

suas atividades principais (core business); (ii) a atuação em rede é percebida como uma

alternativa eficaz para enfrentar o processo acelerado de mudanças nas relações

econômicas, sendo uma das modalidades de especialização flexível do setor produtivo; (iii)

esta forma de atuação inclui-se também nas estratégias atuais das grandes empresas

confrontadas com a exigência de maior capacidade inovativa, especialização e flexibilidade

produtiva; (iv) no caso da rede de fornecedores, é prática comum que os pequenos

fornecedores se concentrem em torno das grandes empresas para o fornecimento de insumos

e componentes específicos. A organização destas empresas na forma de redes pode

proporcionar-lhes experiências, conhecimento e novas formas de aprendizado, gerando um

conhecimento coletivo que amplifica a possibilidade de geração e difusão de inovações

tecnológicas e organizacionais”(ibid.).

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2.4 - Aglomerados Produtivos: Forma ou Estrutura?

A seção 2.4 inicia a discussão que balisa a construção do Modelo de Fluxos

Tangíveis e Intangíveis a ser aplicado na análise do aglomerado petrolífero de Macaé.

Nas seções precedentes objetivou-se realizar a revisão teórica dos principais

arcabouços que nortearam a análise de aglomerados de empresas e implementação de

políticas ao longo do século XX. Assim, buscou-se discutir as primeiras noções de distritos

industriais, como proposto por Alfred Marshall no início do século XX, até as abordagens

mais recentes que concebem a dinâmica tecnológica como sendo a base para

desenvolvimento sustentável de localidades, regiões e países. Dentre as abordagens mais

recentes, que procuram capturar a dinâmica industrial de aglomerados produtivos em um

capitalismo que se caracteriza por processos intensivos em conhecimento, Mothe e Paquet

(1998:1-3) destacam a existência de dois enfoques principais que tentam explicar os

determinantes da sustentabilidade e competitividade de aglomerações produtivas: (i)

construções teóricas e metodologias que enfatizam a estrutura e (ii) arcabouços que

enfatizam primordialmente o modus operandi destes sistemas, onde a inovação tecnológica

é vista como resultado da capacidade de aprendizado que se desenvolve em um dado espaço

cognitivo68.

No caso das abordagens que privilegiam a estrutura, embora se reconheça a

importância de fatores como a cooperação, reciprocidade e confiança na determinação da

eficiência do aglomerado acabam por colocar tais questões em um segundo plano,

enfatizando fatores tangíveis como a organização industrial, a disponibilidade de infra-

estrutura e as condições de inserção no mercado nacional e internacional como elementos

determinantes da competitividade e sustentabilidade do aglomerado.

Por sua vez, as abordagens que privilegiam a forma de processamento da inovação

tecnológica como elemento-chave para a sustentabilidade e competitividade de sistemas

produtivos locais, supõem implicitamente a inexistência de problemas relacionados à infra-

estrutura. Do ponto de vista metodológico as questões estruturais são, na maioria das

68 De acordo com Ziman, o conceito de espaço cognitivo é utilizado “para identificar áreas transversais construídas a partir de modelos de conecções entre diferentes domínios de diferentes áreas do processo de inovação (ciência, tecnologia, marketing, etc). Certas idéias científicas, técnicas aplicadas e commodities comercializáveis (...) estão cognitivamente interconectadas no sentido de que elas estão relacionadas em um certo padrão de interdependência” (Ziman 1991, apud: Mothe e Paquet, 1998:3).

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abordagens, relegadas a segundo plano. Fatores intangíveis como a capacidade cognitiva,

confiança e cooperação, definidos em um determinado espaço produtivo, são enfatizados na

explicação da capacidade inovativa das empresas do aglomerado e da localidade ou região.

Dentre as vertentes que enfocam a estrutura, merece destaque o modelo diamante de

Porter (1990), largamente difundido nos anos 1990 na implementação de políticas para

dinamização de aglomerados produtivos. Quanto às abordagens que enfocam a forma é

mister destacar o recorte analítico dos Sistemas Nacionais de Inovação e dos Sistema

Locais de Inovação, também conhecidos como subsistemas nacionais. Embora os principais

conceitos que norteiam os mencionados arcabouços teóricos tenham sido discutidos nas

seções anteriores, objetiva-se nesta etapa avaliar as possíveis contribuições destes enfoques

para a análise de aglomerações produtivas em regiões de baixo desenvolvimento.

Os dois enfoques merecem as seguintes considerações: (i) ambos têm em comum o

fato de retratarem o modus operandi de algumas das localidades e regiões mais dinâmicas

do planeta; (ii) ambos os enfoques consideram que o processo de criação de valor em um

capitalismo intensivo em conhecimento extrapola a dinâmica individual das firmas (o

espaço passa a ser determinante tanto para a obtenção de economias de aglomeração quanto

para o processo de difusão e de inovação tecnológica); (iii) o modelo de Porter enfatiza

primordialmente questões estruturais como infra-estrutra física (sistema educacional,

comunicações, transporte, financiamentos e investimentos), organização industrial

(existência de indústrias correlatas e de suporte de padrão internacional) e proximidade de

um mercado consumidor exigente (local ou regional); (iv) já a abordagem do Sistema Local

de Inovação supõe implicitamente, a inexistência de problemas relacionados à infra-

estrutura física. Ressalta o espaço cognitivo e o desenvolvimento de conexões em rede dos

diversos agentes econômicos e sociais, enquanto elemento-chave para o aprimoramento e

aplicação do conhecimento tácito e formal – base do processo de inovação tecnológica e do

aumento de produtividade.

O que dizer da aplicação destes modelos teóricos à realidade de regiões e localidades

de baixo desenvolvimento? Certamente, como enfatizado por Lastres e Cassiolato (2003-a),

há uma grande lacuna a ser preenchida para o desenvolvimento de enfoques teóricos e

metodológicos que dêem conta das especificidades inerentes a aglomerados característicos

destas regiões.

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92

A metodologia proposta a partir da Seção 2.5, busca integrar os fatores estruturais,

fundamentais para o desenvolvimento de aglomerados localizados em regiões periféricas,

aos fatores que tipificam os denominados sistemas de inovação.

2.5- Elementos para a Construção do Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis.

O conceito de aglomerados produtivos supõe a existência de vantagens de

aglomeração e de proximidade espacial, partindo da idéia simples de que as firmas

inovativas raramente encontram-se isoladas. Nesse sentido, o conceito de cluster pode ser

elaborado a partir de duas abordagens: (i) de baixo para cima “botton-up”, a partir das

firmas e de suas redes de interação; e (ii) e de cima para baixo “top-down”, a patir de

recortes regionais ou locais do conceito de sistema nacional de inovação”

(Albuquerque,2000: 3).

No que tange a discussão do caso brasileiro, duas mediações teóricas são requeridas

para o tratamento adequado de aglomerados industriais. Em primeiro lugar, o Brasil possui

subsistemas de inovação imaturos69; em segundo lugar, a dimensão continental do país, as

disparidades e diferenças regionais existentes e os sérios problemas de infra-estrutura

observados sinalizam para a necessidade de políticas ativas para o desenvolvimento de

aglomerados industriais em localidades e regiões de baixo desenvolvimento (Ibid).

No que diz respeito à construção de um arcabouço teórico que dê conta de “sistemas

locais de inovação”, Mothe e Paquet (1998:6) argumentam que “em um modelo

evolucionário, o processo de aprendizado e descoberta representa apenas uma lâmina da

tesoura. A outra lâmina é o mecanismo interativo com o contexto ou ambiente no qual a

seleção70 ocorre”. Os autores consideram ainda que (i) a inovação se dá por meio de

continua aprendizagem, sendo que a aprendizagem não ocorre em um vácuo sócio-cultural,

mas sim em ambiente que apresenta características de um milieu; (ii) sistemas de inovação

69 A abordagem dos Sistemas Locias e Regionais de Inovação concebe a existência de subsbsitemas, que estão comprendidos em um sistema nacional de inovação. No caso de economias de baixo desenvolvimento, a percepção da existência de subsistemas imaturos, parte igualmente do pressuposto da existência de um sistema nacional que influencia o processo produtivo nas esferas local e regional. 70 “Nelson e Winter sugeriram que o ponto-chave do processo de inovação, aprendizado e descoberta, bem como o processo de difusão tecnológica e inovações organizacionais, está relacionado ao conceito de ‘ambiente seletivo’, que é definido como o contexto que determina como o uso relativo de diferentes tecnologias muda ao longo do tempo” (Mothe e Paquet, 1998:6).

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93

são favorecidos pela existência de clusters regionais ou aglomerações de empresas

localizadas; (iii) evidencia-se a desconstrução das economias nacionais e o surgimento de

sistemas sub-nacionais ou sistemas locais onde ganha importância a esfera mesoeconômica.

Como esforço tentativo para a análise de aglomerações produtivas71 em localidades e

regiões de baixo desenvolvimento, propõe-se um recorte analítico-metodológico que busca

combinar respectivamente elementos da abordagem dos sistemas locais de inovação - que,

como visto, procura dar conta das variáveis essenciais à inovação tecnológica como proxis

do atual padrão de acumulação capitalista - a elementos teóricos da abordagem

estruturalista, que enfatiza as deficiências de infra-estrutura como fator negativo ao

desenvolvimento de aglomerações produtivas especializadas, bem como o padrão de

organização industrial predominante. Com efeito, ressalta-se que o recorte analítico-

metodológico proposto tem por fundamento o “desenvolvimento econômico local” baseado

em aglomerações produtivas especializadas “clusters”, sendo o mesmo denominado de

Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis.

A construção do Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis tem por base os autores

citados na revisão metodológica, e parte dos seguintes pressupostos: (i) o capitalismo

ingressa em um novo padrão de acumulação onde a capacidade de inovação tecnológica

coloca-se como elemento-chave no processo competitivo de empresas, localidades e regiões;

(ii) no recente padrão de acumulação, o espaço local passa a ser determinante para a

atividade produtiva, tendo em vista que as empresas adquirem vantagem competitiva de

escala e de escopo ao estarem inseridas em aglomerações produtivas em forma de rede

(rede de empresas) de modo que possam compartilhar experiências, conhecimento e novas

formas de aprendizado, o que favorece o processo de inovação; (iii) para que se desenvolva

um ambiente propício à inovação tecnológica no ambiente produtivo é fundamental que as

empresas que definem o aglomerado estejam articuladas “em rede”, ou seja, a setores de

infra-estrutura como transportes, tele-comunicações, saneamento, conhecimento etc.

Destarte, a eficiência organizacional do aglomerado estará intimamente ligada à estrutura

em rede do mesmo (ou seja, aos fatores tangíveis) e (iv) concebe-se que os elementos

essenciais ao processo de inovação tecnológica ocorrem em um espaço, ou sistema

71 A rigor, busca-se nesta etapa do trabalho desenvolver uma sistematização metodológica que capte os condicionantes que definem o atual padrão de acumulação capitalista, como proxis da inovação tecnológica e da competitividade aplicável à análise de aglomerações em regiões e localidades de baixo desenvolvimento.

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94

produtivo local. Portanto, entende-se que as relações de produção que são forjadas ao longo

do processo produtivo são permeadas pelas condições materiais, institucionais, históricas,

técnicas e econômicas nas esferas micro, meso e macroeconômicas. Estas relações de

produção formam capitais intangíveis como capital social, capital cognitivo e capital

sinérgico, essenciais ao processo de inovação tecnológica.

As seções 2.5.1 e 2.5.2 discutem respectivamente, os fatores intangíveis e tangíveis

que comporão o modelo proposto. A seção 2.5.3 articula os fatores dicutidos nas seções

precedentes, onde se procura estruturar o modelo analítico dos Fluxos Tangíveis e

Intangíveis.

2.5.1- Considerações Sobre os Fatores Intangíveis

A noção de economia do conhecimento retrata as observações que, desde o período

do pós-guerra, o capitalismo passou a basear-se crescentemente em atividades

conhecimento-intensivas. De acordo com Lastres e Cassiolato (2003-a), existem pelo

menos três linhas que sustentam esta argumentação: (i) a proporção de trabalho que constiui

bens intangíveis tornou-se menor que a proporção engajada na produção, distribuição e

processamento de tecnologia; (ii) cada vez mais a utilização de complexos conhecimentos

codificados são necessários enquanto elementos que agregam valor aos produtos e serviços;

(iii) atividades conhecimento-intensivas estão crescendo rapidamente e se tornaram o

coração da expansão econômica. Com o incremento das tecnologias de comunicação e de

informação, o conhecimento codificado passou a ser mais rapidamente produzido e

dinfudido pelo mundo. “Contudo, o conhecimento não codificado, a saber, conhecimento

tácito é crucial para decodificar informações, para fazer uso eficiente das novas tecnologias

e para gerar inovação tecnológica” (Ibid: 3). Deve-se destacar ainda que o conhecimento

tácito não codificado pode ser tranferido apenas por meio de aprendizado interativo, por

meio de processos sociais geograficamente localizados imersos em ambientes que têm

organizações sócio-econômicas específicas (ibid).

Na economia do conhecimento os capitais intangíveis assumem expressiva

importância e passam a ser elementos cruciais na determinação do crescimento econômico

local, funcionanto como base para a evolução do conhecimento tácito e formal.

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Com efeito, concebe-se que capitais intangíveis emergem de processos sociais e

econômicos que resultam na produção de elementos não mensuráveis pelos métodos

convencionais, fruto de relacionamentos, articulações e interações entre os agentes em um

espaço geograficamente delimitado, onde as instituições e o sistema de governança

assumem grande importância. O desenvolvimento de capitais intangíveis possibilita o

incremento de competências, habilidades e uma cultura peculiar, que favorece o

desenvolvimento do conhecimento tácito e formal, cruciais para o processo de inovação

tecnológica72, crescimento econômico e mudança social.

O desenvolvimento de certos tipos de capitais intangíveis como capital social, capital

humano, capital institucional, capital sinérgico e capital cognitivo são fundamentais para

explicar experiências positivas de aumento de bem-estar econômico e social em certas

regiões e localidades tanto de países desenvolvidos, quanto de países emergentes73. Isto

posto, a literatura especializada tem se debruçado cada vez mais para a análise dos capitais

intangíveis, concebendo-os enquanto elementos críticos para explicar os determinantes do

crescimento econômico auto-sustentado e duradouro, de países, regiões e localidades, no

atual estágio de desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo globalizado. Alguns

autores têm procurado articular teorias para explicá-los e, ao mesmo tempo, tentar

correlacionar sua influência na determinação do desenvolvimento socioeconômico.

Capital Social

De acordo com o Banco Mundial o “capital social refere-se a instituições,

relacionamentos e normas que moldam a qualidade e a quantidade das interações sociais da

sociedade” (Banco Mundial, 2004:1). Enfatiza ainda que “o capital social não é apenas a

soma de instituições que formam a base de uma sociedade, ele é a cola que as mantêm

unidas” e que, “crescentes evidências demonstram que a coesão social é crítica para as

sociedades prosperarem economicamente e para que o desenvolvimento seja sustentável”

72 Tendo em vista o conceito de milieu aplicado a localidades e regiões de países centrais, o mesmo é assim definido: “uma localidade que constitua um milieu está definida por um grupo de relações que une, em forma de redes, um sistema local de produção, um grupo de atores e suas representações e uma cultura industrial” (Camagni, 1995:195). 73 A este respeito, ver o trabalho de Jong-Wha Lee (2004) sobre “Crescimento Econômico e Desenvolvimento Humano na República da Coréia, 1945-1009”.

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96

(ibid). No centro das discussões e análises que envolvem o capital social, estão as relações

que se estabelecem com base na confiança, reciprocidade e cooperação.

No que tange à perspectiva econômica é mister ressaltar que o desenvolvimento do

capital social pode ser compreendido como sendo resultado da expansão e consolidação de

redes sociais, as quais resultam em processos de coordenação e cooperação mais eficientes,

contribuindo simultaneamente para a redução dos custos de transação e para o aumento da

produtividade no espaço econômico local. Neste sentido, “uma breve visão de capital social

considera que um grupo de associações horizontais entre pessoas, consistindo em cadeiais

sociais e normas de associação que têm efeito sobre a produtividade da comunidade e bem-

estar(...) cadeias ou redes sociais podem aumentar a produtividade reduzindo os custos de

se fazer negócios. O capital social facilita a coordenação e a cooperação (Banco Mundial,

2004:2).

Deve-se destacar ainda que, o capital social é fundamental no desenvolvimento dos

demais capitais intangíveis sendo que, o capital institucional e o capital sinérgico podem ser

compreendidos como desdobramentos do capital social

• Fatores Intangíveis

Capital Humano

A Teoria do Capital Humano74 é uma derivação da teoria econômica neoclássica e,

ao mesmo tempo, uma atualização do axioma liberal do indivíduo livre, soberano e racional.

O prestígio desta teoria é cíclico sendo que, com a crise do modelo taylorista-fordista, ela

ressurge, associada á redefiniação das relações de trabalho na empresa e do papel do sistema

educacional (Cattani, 2004:1).

De acordo com Cattani (2004:1), a Teoria do Capital Humano apresenta-se sob duas

pespectivas articuladas: (i) na primeira, a melhor capacitação do trabalhador apresenta-se

como fator de aumento de produtividade onde a qualidade da mão-de-obra obtida graças à

adequada formação escolar e profissional, potencializaria a capacidade de trabalho e de

74 Na década de 1960, Theodore Schultz, professor da Universidade de Chicago, retomando constatações de Edward Denison, publicou os textos que formalizaram a nova teoria. Seu trabalho teve repercussão mundial e lhe rendeu o prêmio Nobel de Economia em 1979 (Shultz, 1973).

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97

produção. Com efeito, acrécimos na qualificação da mão-de-obra implicaria em acréscimos

marginais na produtividade desta mão-de-obra, o que possibilitaria maiores ganhos para a

empresa e melhor remuneração para os trabalhadores; (ii) na segunda perspectiva, a Teoria

do Capital Humano destaca as estratégias individuais vis-à-vis os meios e fins, onde cada

trabalhador aplicaria um cálculo custo-benefício no que diz respeito à constituição do seu

“capital pessoal”. Assim, o trabalhador avaliaria se o investimento e o esforço empregados

em sua formação, seriam compensados em termos de melhor remuneração pelo mercado-de-

trabalho no futuro.

A Teoria do Capital Humano, proposta por Theodore Shults na década de 1960,

exerceu grande impacto no pensamento dos formuladores de políticas, sendo considerada

uma alternativa para se alcançar o desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades

sociais e aumentar a renda dos indivíduos. Nos anos 1990, Gary Becker, prêmio Nobel de

Economia em 1992, revitalizou a Teoria do Capital Humano, que sofrera pesadas críticas, na

medida em que o desemprego em países centrais aumentava, atingindo inclusive as pessoas

com nível de formação elevada. Becker utilizou a Teoria do Capital Humano para explicar

as diferenças salariais como sendo de responsabilidade dos trabalhadores. Segundo a

abordagem de Becker75, no que se refere à educação, quanto mais o indivíduo investisse na

sua autoformação, mais valor de mercado teria, porém, segundo Becker, os indivíduos são

desigualmente dotados. Para alguns a formação exigiria muito mais esforço que para outros,

chegando ao ponto em que o gasto de tempo e de esforços passariam a ser superiores aos

rendimentos prospectivos futuros. Cada indivíduo investiria até o ponto em que o

investimento deixasse de ser rentável (Cattani, 2004: 2).

A Teoria do Capital Humano reforçou a necessidade de investimentos tanto na

expansão da infra-estrutura educacional, quanto na melhoria da qualidade e universalização

do ensino, sobretudo nos países industrializados, evocando uma estreita relação entre a

oferta de condições de ensino e desenvolvimento humano. Nesse sentido, “em todas as

economias de mercado industrialmente avançadas, as pessoas estão dispendendo mais

75 A Teoria do Capitial em sua versão mais atualizada, fundamenta-se na crença de que todos os indivíduos têm condições de tormar decisões livres e racionais. Seguem-se duas conclusões deste axioma: a primeira é a de que as desigualdades sociais e as diferenças na distribuição de renda, são de responsabilidade do próprio indivíduo. A segunda conclusão, decorrente da primeira, é a de que o sistema educacional apenas responde às demandas educacionais, não tendo a função de promover a igualdade de oportunidades. Legitimam-se assim

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tempo em atividades educacionais como nunca fizeram antes. As matrículas nos níveis

básico e médio atingiram padrões de universalização na maioria dos países da OCDE nos

anos 1990, sendo que as matriculas nos cursos de graduação dobraram desde os anos

1970” (Livingstone 1997:10).

Apesar de haver pontos positivos e negativos vis-à-vis à Teoria do Capital Humano,

o fato é que as políticas voltadas para a melhoria da educação formal, tanto em termos

quantititativos quanto qualitativos têm se mostrado fundamental para o desenvolvimento da

capacidade cognitiva de localidades e regiões. A capacidade cognitiva nas esferas local e

regional coloca-se, por sua vez, enquanto elemento-chave na explicação da dinâmica do

desenvolvimento econômico no recente estágio evolutivo do capitalismo, que se define por

ser conhecimento-intensivo.

Capital Cognitivo

No capitalismo conhecimento-intensivo, a capacidade de aprendizado é fundamental

para o processo de inovação tecnológica, base para a competitividade de empresas,

localidades e regiões. Assim, “firmas em aglomerações territoriais podem desenvolver

vantagens competitivas, baseadas em atividades de inovação, que são resultado de um

processo de aprendizado interativo, fruto da imersão social e territorial” (Cooke e Asheim,

1998:145).

Cooke e Asheim (1998) destacam que autores como Lundvall e Johson utilizam o

conceito de ‘economia que aprende’ quando se refere ao paradigma técnico-econômico,

baseado nas TIC (tecnologias de tele-comunicações, computação e informação). Enfatizam

que é através da combinação das TIC, especialização flexível e inovação - como meios

cruciais de competição no novo paradigma técnico econômico - que a ‘economia que

aprende’ é estabelecida (ibid:149).

A abordagem evolucionária que permeia o arcabouço teórico dos sistemas de

inovação, considera os seguintes mecanismos de aprendizado, de acordo com Cooke (1998):

(i) aprendizado pela prática “learning by doing” - o aprendizado se dá pela repetição e

as propostas neoliberais de desmantelar a educação pública, transformando-a em um negócio submentida à lógica de mercado (Cattani 2004: 4).

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melhoramentos graduais; (ii) aprendizado pela utilização “learning by using” - assume-se

que as práticas são, em alguma extensão, emprestadas ou copiadas de algum lugar

implementadas e ajustadas no processo de uso; (iii) aprendizado por interação “learnigng by

interaction” - representa a aproximação de uma cultura de aprendizado bem desenvolvida.

Companhias de sucesso costumam estruturar seus projetos de desenvolvimento, com base

em grupos multifuncionais compostos por técnicos com elevadas habilidades e

competências diferenciadas; (iv) aprendizado pelo aprendizado – “learning by learning”-

neste estágio forman-se redes formais e informais de aprendizado, que estão socialmente

imersas no espaço local sustentanto assim uma cultura de conhecimento e inovação. A idéia

de um sistema de inovação permeia esta forma de aprendizado, onde o conhecimento é

aprimorado por meio de interações sociais, sobretudo no espaço local.

Enfim, o capital cognitivo pode ser compreendido como a capacidade desenvolvida

pelas pessoas em uma comunidade para decodificarem informações, assimilar

conhecimentos e coloca-los em prática. Com efeito, o capital cognitivo está relacionado ao

conhecimento tácito e ao conhecimento formal que se processa em um espaço local.

Capital Institucional

A proliferação de organizações públicas e privadas existentes na região, o seu

número, o clima de relações interinstitucionais (cooperação, conflito, neutralidade), o seu

grau de modernidade são fundamentais para o suporte a uma cultura empreededora e

inovadora nas esferas local e regional. O capital institucional está relacionado ao

desenvolvimento de instituições que surgem no bojo das redes sociais e que integram o

sistema de governança (hierarquia de poder) nos contextos local, regional e nacional.

Assim, a presença de instituições como: governos, sindicatos, associações de classe,

associações de moradores, organizações empresariais, organizações não governamentais

(ONGS), instituições de ensino e pesquisa pode favorecer ou restringir a dinâmica

socioeconômica local.

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Capital Sinérgico

Por fim discorre-se a respeito do capital sinérgico, o qual pode ser entendido como a

capacidade real ou latente de toda a comunidade para articular de forma democrática as

diversas formas de capitais intangíveis disponíveis nessa comunidade (Adad, 2003:13).

Pode-se entender ainda o capital sinérgico, como a capacidade dos agentes econômicos,

instituições e a sociedade civil articularem de forma conjunta, projetos que resultem em

benefícios para o conjunto da sociedade.

A Tabela 2.1, a seguir, apresenta o resumo dos principais capitais intangíveis que

compõem o modelo proposto.

Quadro 2.1 - Algumas formas de capitais intangíveis

Algumas Formas de

Capitais Intangíveis

Especificação

1- Capital Social O que permite aos membros de uma comunidade confiar um no outro e cooperar na formação de novos grupos ou em realizar ações em comum.

2- Capital Humano O estoque de conhecimento e habilidades que possuem os indivíduos que residem na região e sua capacidade para exercita-los.

3- Capital Cognitivo

Compreende a capacidade das pessoas em uma comunidade em decodificarem informações, assimilar conhecimentos e coloca-los em prática. O capital cognitivo está relacionado ao conhecimento tácito e ao conhecimento formal que se processa em um espaço local.

4- Capital Institucional As instituições ou organizações públicas e privadas existentes na região: o seu número, o clima de relações interinstitucionais (cooperação, conflito, neutralidade), o seu grau de modernidade.

5- Capital Sinergético Consiste na capacidade real ou latente de toda a comunidade para articular de forma democrática as diversas formas de capital intangível disponíveis nessa comunidade.

Fonte: S. Boisier, “ Conversaciones Sociales Y Desarrolo Regional” . Apud: Adad (2003:13).

2.5.2 – Considerações Sobre os Fatores Tangíveis

Embora o arcabouço teórico dos sistemas de inovação enfatize os fatores intangíveis

enquanto elementos-chave para explicar o recente padrão de acumulação das economias

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capitalistas, os determinantes relacionados à “velha economia” ainda são cruciais para a

dinâmica socioeconômica de regiões e localidades. Portanto, considerar a importância

relativa dos fatores tangíveis é fundamental para a compreensão do desenvolvimento

econômico local, particularmente em regiões de baixo desenvolvimento, onde a carência de

infra-estruturas, instituições organizadas, investimentos e acesso ao crédito são comuns.

Estes elementos influem direta e indiretamente na competitividade das empresas e definem

a “estrutura em rede do aglomerado”.

Para efeito do modelo proposto, considera-se como fatores tangíveis os fatores para

os quais existam mecanismos já definidos e consensualizados de mensuração. Em outras

palavras fatores que podem ser quantificados. Os fatores tangíveis76 são dividos em dois

grupos: (i) fatores que definem a estrutura em rede do aglomerado, tais como o conjunto de

infra-estruturas que permeiam o processo produtivo na esfera local, merecendo destaque as

infraestrutura do conhecimento e a infraestrutura produtiva; e (ii) a organização industrial

predominante no aglomerado77, definida pelo número de empresas que atuam no mesmo, a

correlação produtiva que se estabelece entre elas, ou seja, a existência de empresas

correlatas e de apoio, e sua localização geográfica.

Para a compreender o papel dos fatores tangíveis na vantangem competitiva de

empresas, localidades e regiões Porter (1989) distingue dois tipos de fatores: os básicos e os

adiantados. Os fatores básicos correspondem aos fatores de produtção tradicionais, incluem

recursos naturais, clima, localização, mão-de-obra não especializada e semi-especializada e

capital. Já os fatores adiantados “ou criados” incluem a moderna infra-estrutura de

comunicação de dados digitais, pessoal altamente educado como engenheiros, cientistas de

computação, institutos universitários e de pesquisa (ibid:93).

Porter destaca ainda que poucos fatores de produção são realmente herdados,

enfatizando que a maioria deles devem ser desenvolvidos com o tempo por meio de

investimentos. Em geral, os fatores básicos são herdados passivamente, e sua criação exige

um investimento privado e social modesto, ao contrário dos fatores criados, que se colocam

76 Como se verá na próxima seção, concebe-se que há uma estreita relação entre os fatores tangíveis e intangíveis, sendo que ambos influenciam-se mutuamente. 77 A organização industrial do aglomerado será tratada no Capítulo 5 que aborda o aglomerado petrolífero de Macaé na perspectiva microeconômica.

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como elementos-chave para a competitividade e sustentabilidade de empresas localidades e

regiões (Ibid.:94).

Uma segunda distinção implementada por Porter diz respeito a geaneralidade e

especialidade dos fatores de produção. Fatores generalizados como rodovias, mão-de-obra

com nível superior e disponibilidade de capital, podem ser utilizados em numerosas

indústrias. Porém, fatores especializados78 envolvem mão-de-obra com especializações

específicas, infra-estruturas com determinadas propriedades, base de conhecimento em

certos campos e outros fatores relevantes para um número limitado de indústrias, e até

mesmo para uma única indústria79 (Ibid: 95).

Com efeito, no âmbito dos fatores tangíveis privilegiam-se dois subgruposgrupos de

fatores que podem ser mensurados por métodos convencionais, fatores que podem ser

mensurados enquanto estoque e fatores que podem ser mensurados enquanto fluxo. (a)

fatores tangíveis mensuráveis enquanto estoque: infra-estruturas tais como: infra-estrutura

produtitiva, infra-estrutura financeira, infra-estrutura do conhecimento, infraestrutura física;

mão-de-obra qualificada e por fim, o número de instituições públicas e privadas que dão

suporte à atividade empresarial do aglomerado e (b) fatores que podem ser mensurados

enquanto fluxos: investimentos privados na atividade produtiva; fatores meta e

macroeconômicos que afetam a atividade produtiva do aglomerado - como, por exemplo,

impostos, incentivos ou elevação do preço do barril de petróleo no mercado mundial e os

gastos públicos em infra-estruturas diversas, que atendem à demanda do aglomerado, bem

como gastos públicos no sentido de desenvolver e fortalecer mecanismos de coordenação

no espaço produtivo local.

Tendo em vista a estruturação do Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis, faz-se a

seguir uma breve descrição dos fatores tangíveis, destaando-se os principais pontos de cada

um dos fatores selecionados, no que tange ao estudo do Aglomerado petrolífero de Macaé e

da estrutura sócio produtiva onde o mesmo está inserido. Destaca-se ainda que o estudo

mais detalhado de cada um dos fatores tangíveis aqui apresentados é realizao na análise

78 No que tange à hierarquia dos fatores, os adiantados e especializados são os mais impotantes para a competitividade e sustentabilidade não só do alglomerado produtivo, mas da localidade onde este está inserido, pois estão relacionados à capacidade de geração de conheciamento e de inovação tecnológica. 79A indústria petrolífera offshore no Brasil demanda o desenvolvimento de fatores especializados, tendo em vista seu elevado grau de complexidade.

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mesoeconômica doaglomeado petrolífero de Macaé, desenvolvida no Capítulo IV deste

trabalho.

• Fatores Tangíveis

(i) Investimentos – Trata dos fluxos de investimentos que afetam as atividades produtivas do

aglomerado, basicamente relacionadas a fluxos agregados de Investimentos, com ênfase

particular para o ingresso de “dinheiro novo” na formação bruta de capital, e investimentos

diretos externos (IDE).

(ii) Infra-estrutura produtiva do aglomerado - neste ponto busca-se evidenciar, o conjunto de

fatores de produção que compõem suas estrutura produtiva da indústria offshore tais como

plataformas, navios (indústria naval), passando pelo sistema de escoamento do óleo e do

gás produzido na Bacia de Campos. Particular atenção è dada às plantas indústrias, no que

tange à sua localização, bem como às plantas de indústrias relacionadas e as reservas

naturais de petróleo e gás natural.

(iii) Infra-estrutura financeira – Busca-se analisar o suporte financeiro que alicerça a

atividades industriais. No caso da indústria petrolífera, discutem-se dois tipos de infra-

estrutura financeira, a saber: aquela disponível às empresas de grande porte as quais, em

geral, demandam complexas operações de ‘project finance’ e a infra-estrutura financeira

disponível ou acessível a pequenas e médias empresas que participam da cadeia produtiva

do petróleo, as quais, normalmente sofrem maior restrição ao acesso a crédito. Analisa-se

também a disponibilidade de Instituições financeiras em Macaé e Região, bem como as

facilidades e debilidades para o acesso ao crédito com vistas ao investimento em atividades

vinculadas ao setor petrolífero na BC.

(iv) Infra-estrutura Física - Está relacionado aos recursos naturais, como a disponibilidade,

qualidade da terra e da água (recursos herdados), como também aos recursos criados. Neste

sentido, discute-se os investimentos em infra-estrutura física, especialmente no que se

refere a fatores como: transporte, comunicações, energia, centros de convenção, hotéis e

habitação, e o impacto que estas infra-estruturas determinam à eficiência produtiva do

aglomerado. (Neste item há extrema relevância no que respeita o papel do município

enquanto elemento-chave neste tipo de investimento. Ressalta-se o importante crescimento

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da capacidade financeira do município de Macaé, em particular como decorrência do

crescimento das receitas dos royalties municipal e participações especiais, bem como da

arrecadação tributária do município, que vem sofrendo grande incremento como decorrência

do boom de crescimento econômico determinado pela indústria petrolífera) .

(v) Infra-estrutura do conhecimento – Neste caso, é fundamental a observação do aparato

que contribui para o conhecimento formal e tácito que é produzido no âmbito do sistema

onde se insere o aglomerado. Compreende a infra-estrutura de ensino básico e de ensino

médio, e, principalmente, escolas técnicas, centros de qualificação da mão-de-obra,

universidades e cursos de engenharia, centros e institutos de pesquisa.

(vi) Mão-de-obra qualificada e Mercado de trabalho – Um dos principais problemas

enfrentados por regiões e localidades periféricas, diz respeito à dificuldade relacionada à

oferta de mão-obra qualificada. (No que tange o segmento upstream de E&P, em se tratando

de uma rede de produtos complexos, como visto, a demanda por parte das empresas

diretamente relacionadas com a atividade petrolífera é grande, em particular quando o

aglomerado está em expansão. Com efeito, Macaé vivencia esta dificuldade, tendo em vista

a carência de infra-estrutura de conhecimento ensino e pesquisa, não apenas na localidade e

região, mas, até mesmo, no âmbito nacional – fatores que influenciam na formação de mão-

de-obra qualificada).

(vii) Instituições de Apoio - No que tange às instituições de apoio, busca-se definir os

diversos tipos de instituição que dão suporte às atividades do aglomerado. Consideram-se,

assim, as instituições governamentais e não governamentais atuantes no aglomerado,

principais atividades desenvolvidas e possíveis reflexos determinados à atividade

empresarial pela atuação das mesmas.

(viii) Fatores Meta e Macroeconômicos – No caso dos fatores metaeconômicos relaciona-se

aos eventos que ocorrem fora do país, como guerras, acidentes etc, que afetam a atividade

produtiva local. No caso de fatores macroeconômicos, consideram-se as políticas

macroeconômicas do governo e seus efeitos sobre a atividade produtiva local.

(xi) Governo – Relaciona-se aos incentivos, regulamentações, políticas de investimento que

influenciam a dinâmica da atividade produtiva local.

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105

2.5.3- O Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis

A Figura 2.1 esboça de forma estilizada80 um sistema sub-nacional ou ou sistema

produtivo produtivo local81 que leva em conta a articulação de fatores tangíveis e

intangíveis: (i) o octógono “borda externa”, representa o espaço geográfico onde são

desenvolvidas as atividades econômicas e onde se estabelecem os relacionamentos sociais

vinculados ao processo produtivo; (ii) os círculos em branco representam as diversas infra-

estruturas (capitais tangíveis) necessários ao bom funcionamento do sistema produtivo, os

quais definem a “estrutura em rede” do aglomerado sendo portanto fundamentais para sua

eficiência; (iii) o círculo central, em amarelo, representa a estrutura organizacional do

aglomerado, ou seja, sua organização industrial, a qual em um sistema produtivo que

tipifique um sistema local de inovação, adquire a forma de rede de empresas com fortes

vínculos produtivos; (iv) por fim, os círculos em azul localizados dentro do octógono entre

sua borda e o círculo central, representam a formação de capitais intangíveis, ou seja,

capitais não mensuráveis pelas formas usuais, que emergem em um ambiente

socioeconômico particular, onde se destaca no modelo, o capital social, o capital sinérgico,

o capital cognitivo e o capital humano.

Deve-se observar que a representação gráfica do Modelo dos Fluxos Tangíveis e

Intangíveis procura expressar a concepção de que todos os círculos interagem no espaço

sócio-produtivo local definido pelo octógono, ou seja, os círculos que definem tanto os

capitais tangíveis, quanto os capitais intangíveis, bem como o circulo central, que representa

a organização das empresas no aglomerado (rede de firmas), interagem-se mutuamente. A

idéia é a de que – como já discutivo na Seção 2.0 do referencial teórico - elementos

80 Com relação à estrutura sócioprodutiva local, exemplificado pelo Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis (Figura 2.1), faz-se os seguintes comentários: Utilizando-se a analogia de Britto (1999) e Meyer-Stamer (1997) de hardware e software, considera-se que uma estrutura sócioprodutiva local se caracteriza pelo fluxo de capitais tangíveis e intangíveis, onde, os fluxos tangíveis – definidos pelo conjunto das infra-estruturas propostas recorte analítico, pode ser comparado ao hardware do sistema, enquanto que os fluxos intangíveis - definidos pelo conjunto dos capitais não mensuráveis por métodos usuais-, pode ser comparado ao software do sistema. 81 Note-se que denominamos propositalmente o recorte analítico de Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis, destacando fatore estruturais e não estruturais que influem na competitividade das pessoas, empresas e da localidade em análise. Com efeito, um dos objetivos da metodologia é proceder à análise de estruturas produtivas de localidades e regiões de baixo desenvolvimento.

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tangíveis e intangíveis que compõem o sistema produtivo local estão imersos “embebed82”

em um ambiente sócio-econômico geograficamente definido.

Fluxo de recursos intangíveis: imersão social, conhecimento e capacidade de inovação.

Fluxo de recursos tangíveis

Figura 2.1- Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis.

Fonte: Elaboração própria

82 O termo embebedness, cunhado na literatura recente da Economia da Inovação, é melhor traduzido na língua portuguesa como imersão socioeconômica.

GOVERNO Incentivos e Regulação

Capital Sinérgico

Capital Cognitivo

Capital Institucional

Capital Social

Capital Humano

Rede de Empresas Estratégia, rivalidade,

encadeamentos

Infra-estrutura Física: Transp. Comunicações,

Infra-estrutura Conhecimento

Infra-estrutura Financeira

Mercado-de trabalho local

Infra-estrutura produtiva do aglomerado

Fatores Meta e Macroeconômicos

Investimentos Invest. Diret

Instituições de apoio.

GOVERNANÇA

Adaptação/Inovação Tecnológica

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Fluxos Tangíveis

A qualidade e funcionalidade de cada uma das infra-estruturas que tipipificam os

fatores tangíveis83, assim como a sua adequação, funcionalidade, nível tecnológico e o grau

de articulação que se estabelece entre as mesmas, definem o Fluxo Tangível. O Fluxo

Tangível é graficamente representado pelas setas em negrito na borda externa do octógono

Figura 2.1.

Com relação aos fluxos tangíveis, deve-se destacar (i) a importância investimentos

diretos externos (IDE) 84 sobretudo em infra-estrutura produtiva, que possibilitam a

formação de aglomerações produtivas especializadas e o desenvolvimento de estruturas

organizacionais na forma de rede de firmas; (ii) deve-se destacar que os investimentos em

infra-estrutura produtiva (instalações, máquinas, equipamentos) criam demanda por

investimentos nas demais infraestruturas. Com efeito, a circularidade dos fluxos tangíveis

indica que a deficiência em uma ou mais infraestruturas compromete a eficiência do sistema

como um todo. Por outro lado, havendo um equilíbrio dos investimentos nas diversas infra-

estruturas, de modo a atender as demandas do sistema, então o mesmo será fortalecido como

um todo; (iii) o fluxo tangível pode ser positivo ou negativo. Será positivo quando o

conjunto das infra-estruturas que compõem o sistema produtivo local atenderem

minimamente às demandas para que o sistema opere de forma eficiente. Neste caso, um

fluxo positivo é representado pelas setas em negrito que giram em sentido horário. Por outro

lado, a inexistência ou deficiência em uma ou mais infra-estruturas, ou mesmo a baixa

adequação ou insuficiência para o conjunto de infra-estruturas que integram o espaço

produtivo local, podem determinar Fluxos Tangíveis negativos que seriam, neste caso,

representados pelo movimento das setas em negrito no sentido anti-horário.

Regiões e localidades com elevado desenvolvimento, em geral, não têm maiores

problemas com infra-estrutura. No entanto, no que tange a regiões e localidades de baixo

desenvolvimeto ocorre justamete o oposto. Portanto, avaliar as condições em que se

83 Fatores tangíveis podem ser ainda concebidos como capitais tangíveis. 84 Deve-se destacar a importância dos investimentos diretos externos (IDE) em sistemas produtivos locais, tendo em vista que tais investimentos representam, na verdade, o emprego de poupanças geradas em outras regiões ou países. IDE são fundamentais para o desenvolvimento de sistemas produtivos periféricos tendo em vista a escassez de poupança existente em regiões de baixo desenvolvimento.

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encontram as infra-estruturas definidas no espaço produtivo local é codição sine-qua-non

para a compreensão da dinâmica sócio-produtiva do subsistema.

Fluxos Intangíveis

Graficamente os Fluxos Intangíveis são representados pelas setas cinzas no interior

do octógono Fig. 2.1. Assim, a qualidade, a dimensão e o grau de interação dos capitais

intangíveis que operam, sobretudo, no interior do sistema produtivo local determinará fluxos

que podem ser positivos ou negativos. A estes fluxos denomina-se Fluxos Intangíveis. Os

Fluxos Tangíveis serão positivos se para o conjunto dos capitais tangíveis avaliados, a

saber, capital humano, capital cognitivo, capital social, capital institucional e capital

sinérgico atenderem minimamente às necessidades do sistema produtivo local. Assim, no

caso do fluxo ser positivo, as setas cinzas giram no sentido horário. Por outro lado, a

inexistência ou deficiência dos capitais intangíveis supracitados, pode determinar que o

Fluxo Intangível seja negativo. Neste caso as setas em cinza girariam no sentido anti-

horário. Com efeito, regiões e localidades de baixo desenvolvimento tendem a apresentar

baixa densidade na formação de capitais intangíveis o que contribui, quase sempre, para que

os Fluxos Intangíveis nestas estruturas sócio-produtivas sejam negativos.

Com relação aos Fluxos Intangíveis deve-se destacar que: i) os fluxos intangíveis são

formados pelo acúmulo de capitais não mesuráveis constituindo-se nos elementos-chave

para o processo de inovação tecnológica e, conseqüentemente, evolução econômica e social

do sistema. Sistemas locais com baixo nível de desenvolvimento têm a formação de capitais

intangíveis comprometida, destacando-se, quase sempre, a deficiência na formação de

capital humano85 e capital cognitivo. ii) Os capitais intangíveis e o Fluxo intangível deles

resultantes devem-se a) às relações sociais que se estabelecem entre os agentes produtivos e

demais agentes e instituições em um espaço local; e b) aos relacionamentos entre os

diversos agentes do sistema (empresas, instituições e governo) que definem um padrão de

85

Como defedeu os ganhadores do Prêmio Nobel Shultz (1973) e Gary Becker, idealizadores da Teoria do Capital Humano, os investimentos em infra-estrutura do conhecimento a qualidade e universalização das mesmas são fudamentais para a formação de capital humano em uma localidade, região ou país.

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“governança”, uma hierarquia de poder e uma cultura que são particulares do sistema

produtivo local em análise. Nesse sentido, sistemas produtivos onde os capitais intangíveis

são consistentes, propiciam uma estrutura de governança que favorece a cooperação e a

reciprocidade, elementos fundamentais para a geração de inovações e disseminação das

mesmas.

Merece destaque o padrão de organização industrial que se estabele no aglomerado

de empresas, que fundamenta a estrutura sócio-produtiva local. A organização industrial que

favorece o desenvolvimento de capitais intangíveis é representada pelo círculo maior no

interior do octógono – Fig. 2.1. Nesse sentido, uma organização industrial na forma de redes

de empresas, onde co-existam pequenas, médias e grandes firmas, em um ambiente voltado

para a cooperação, reciprocidade e confiança nas relações sócio-produtivas, ao mesmo

tempo em que expressam a exitência de capitais intangíveis, possibilitam a sua expansão.

2.4.3-1 Classificação86 da Estrutura Sócio-produtiva Local.

Uma Estrutura Sócio-Produtiva Local - ESPL Local pode ser considerada ou não um

Sistema Produtivo Local, ou mesmo um Sistema Local de Inovação, depedendo do grau de

evolução dos elementos que a compõem. Assim, concebe-se que uma ESPL

geograficamente localizada em uma região de baixo desenvolvimento pode evoluir. Com

efeito, a trajetória de uma estrutura sócio-produtiva pode se dar da seguinte forma: passar

de uma simples aglomeração de empresas para um sistema produtivo não-adaptador de

tecnologia passando , num estágio posterior, para um sistema adaptador de tecnologia e, no

estágio mais avançado, para um sistema produtor de tecnologia ou inovador. Isto dependerá,

por um lado, de como os agentes econômicos e sociais que interagem no sistema se

articulem87 – capacidade de coordenação - no sentido de aumentar a eficiência global do

sistema - e por outro lado, da magnitude e evolução respectivamente: (a) dos fatores

tangíveis e consequentemente dos Fluxos Tangíveis; (b) dos capitais intangíveis e

86 No capítulo VI procede-se à classificação da Estrutura Sócio-Produtiva de Macaé. 87 Neste sentido é importante enfatizar a necessidade de constituição de mecanismos de coordenação eficientes que envolvam a participação de agentes e instituições representativos dentro do sistema, e um mínimo de desenvolvimento dos capitais intangíveis. Neste ponto, deve-se ressaltar o papel do Governo, sobretudo os das esferas local e regional, na implementação de políticas que induzam tanto o desenvolvimento dos capitais tangíveis (infra-estruturas) quanto dos intangíveis.

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conseqüentemente dos Fluxos Intangíveis; e (c) Da orgaização industrial na forma de rede

de empresas, em um ambiente que permita a iserção das PMEs.

Com efeito, a partir da qualificação dos Fatores Tangíveis e Intangíveis, bem como

da organizaçãoindustrial prevalecente na ESPL, é possível determinar a intensidade dos

Fluxos Tangíveis e Intangíveis e estágio evolutivo em que esta estrutura sócio-produtiva se

encontra. Naturalmente, ao classificar-se cada um dos capitais tangíveis e intangíveis

analisados é possível identificar potenciais políticas com vistas ao fortalecimeto e evolução

do sistema como um todo.

Destaca-se ainda que uma das características intrínsecas ao recorte analítico proposto

é que ele procura retomar a discussão inicialmente proposta por Schumpeter (1911) no que

diz respeito ao papel da inovação tecnológica e seu impulso ao desenvolvimento

econômico88. Nesse sentido, ao se propor um fluxo circular onde é possível integrar a

inovação tecnológica, não apenas como resultado de novas combinações de fatores de

produção mas também pela formação e interação de capitais intangíveis no processo de

produção, torna-se possível compatibilizar as novas variáveis89 - que são fundamentais no

atual processo de acumulação - sem prescindir de variáveis tradicionais como o crédito, o

investimento e o lucro, na explicação do desenvolvimento econômico local.

88 A proposta metodológica dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis enfatiza o desenvolvimento econômico local. 89 Capital social, capital sinérgico, capital cognitivo e capital humano.

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Quadro 2.2- Fatores tangíveis e intangíveis

Fonte: elaboração própria.

FATORES TANGÍVEIS

FATORES INTANGÍVEIS

• Fatores de Produção -Capital produtivo do aglomerado -Capital financeiro -Mão de obra especializada -Infra-estrutura física (comunicações, transporte, energia) -Infra-estrutura de conhecimento (Densidade urbana)

• Capital institucional – desenvolvimento de instituições fortes e integradas no apoio às atividades produtivas que atuam no sentido de aumentar a eficiência produtiva do sistema, contribuindo para a geração de economias de escopo.

• Configuração da Indústria

-Articulação na cadeia -Desempenho e capacitação -Estratégia da Firma – Estrutura e Rivalidade. -Grau de complexidade (baixa ou elevada tecnologia)

• Capital social – desenvolvimento de relações fundamentadas na cooperação e reciprocidade entre as empresas e demais agentes e instituições do sistema. Desenvolvimento de relações baseadas na confiaça.

• Mercado -Tamanho e dinamismo, proximidade -Grau de sofisticação -Acesso a mercados Internacionais -Padrão de concorrência Internacional.

• Capital sinérgico – Capacidade de organização dos agentes produtivos, instituições governamentais e não governamentais tendo em vista o planejamento e implementação de ações em torno de objetivos comuns que melhorem a eficiência sócio-econômica de um dado subsistema produtivo

• Governança

-Regime de Incentivos e Regulação da Concorrência. -Aparato Legal, -Política Fiscal e Financeira -Polítca comercial -Papel do Estado- Regras de conduta e sistema de contratos internos ao subsistema produtivo.

• Capital humano - Estoque de conhecimento acumulado, tácito e formal, que definem as competências técnico-produtivas da força de trabalho em um determinado sistema produtivo.

Fatores meta e macroeocnômicos Relaciona-se essencialmente com o dinamismo dos mercados internos e externos, face à mudanças de ordem estrutural ou institucional que afetam a atividade produtiva.

• Capital cognitvo - relaciona-se à capacidade de aprendizado, sobretudo técnico produtivo, que se define em uma comunidade.

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CAPÍTULO III

A INDÚSTRIA OFFSHORE DE PETRÓLEO E GÁS

NATURAL

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3.0 - A Indústria offshore de Petróleo e Gás Natural

A indústria offshore nasce nos anos 50 no Golfo do México. Desde então ela se

expande para o Mar do Norte, que se torna a principal província offshore do planeta.

(Furtado 2003:1). O desenvolvimento dessa indústria tem sido acompanhado pelo aumento

das profundidades das lâminas d’água. O descobrimento de novas jazidas offshore está

ocorrendo em águas cada vez mais profundas, nas principais zonas produtoras do Golfo do

México, Mar do Norte, África, América do Sul e Ásia. Portanto, o aumento do potencial de

produção de petóleo requer que se desenvolvam tecnologias capazes de se produzir a

grandes profundidades (Bou de la Tour et al., 1986; apud Furtado, 2003).

De acordo com Furtado (2003), há projeções de que os hidrocarbonteos deverão

permanecer sendo a principal fonte de energia usada no mundo no horizonte dos próximos

20 anos. A participação destes é estimada em 56% do abastecimento mundial para o ano de

2020. Nesse contexto, o offshore desempenhará um papel cada vez mais importante na

determinação do montante das reservas e da produção mundial de petróleo (Ibid.).

No que tange à evolução tecnológica da indústria petrolífera, deve-se destacar que a

produção offshore requer, por natureza de sua atividade, intensivos investimentos em

tecnologia, implicando novos produtos e processos de produção, além de permanente

qualificação da mão-de-obra, na medida que a produção avança para águas mais profundas.

No Brasil a indústria offshore tem seu dinamismo assegurado com as descobertas

ocorridas na Bacia de Campos, a partir de meados da década de 1970, sendo que a produção

offshore de petróleo responde, como já mencionado, por mais de 82% da produção nacional,

o que demonstra a importância deste segmento da indústria no que tange ao

desenvolvimento local – com destaque para os municípios no entorno da Bacia de Campos -

e regional, tendo como contrapartida a dinâmica industrial que esta atividade proporciona ao

estado do Rio de Janeiro. Com efeito, deve-se destacar que o desenvolvimento produtivo e

tecnológico da indústria petrolífera no Brasil se deve, por um lado, às abundantes reservas

marítmas de petróleo e gás existentes na BC - que constitui uma importante vantagem

comparativa natural - e por outro, aos esforços pioneiros da Petrobras nas atividades de E&P

offshore.

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3.1- Indústria Petrolífera: Estruturas de Mercado no Contexto Internacional.

Como já mencionado, o processo de produção de petróleo e derivados é subdividido

em dois grandes grupos: o segmento upstream, que compreende os processos de exploração

e produção; e o segmento downsrtream, que engloba o refino e distribuição dos subprodutos

do petróleo.

O modelo de organização industrial é determinante para que se formem aglomerados

produtivos especializados, maduros e competitivos, o que contribui para o desenvolvimento

auto-sustentado de localidades e regiões. Assim, a formação de aglomerados maduros passa,

como visto no Capítulo 1, pela estruturação de fortes encadeamentos para frente, para trás e

para os lados; pela diversificação produtiva com base em inovações tecnológicas; e pela

horizontalização do processo produtivo, através de mecanismos que permitam a participação

de forma competitiva de pequenas e médias empresas no processo.

O Quadro 3.3 mostra, em grandes linhas, os modelos de organização industrial da

indústria petrolífera em algumas das principais regiões produtoras do mundo. Os quatro

modelos apresentados podem ser divididos em dois subgrupos: subgrupo (i) de organizações

produtivas características de regiões com baixo desenvolvimento e subgrupo (ii)

organizações produtivas típicas de regiões centrais. No subgrupo (i) estão definidos os

modelos do Oeste da África e do Golfo Pérsico; no subgrupo (ii) estão definidos os modelos

do Mar do Norte e do Golfo do México.

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Quadro 3.1- Experiências internacionais na organização da indústria offshore de petróleo e gás

Fonte: Rappel (2001).

Os modelos de organização industrial da indústria petrolífera do Oeste da África,

bem como o do Golfo Pérsico têm em comum o fato de estarem relacionados a regiões de

baixo desenvolvimento. Países que se enquadram nestes modelos, em geral, dependem

fortemente de suprimentos, bens de capital e serviços externos. Este fato aponta para a

inexistência ou produção insuficiente de bens e serviços que revelam, na verdade, a falta de

complementaridade na cadeia produtiva dos respectivos complexos industriais de cada país.

Como forma de suprir possíveis deficiências produtivas, em especial a incapacidade por

parte de empresas-chave em desenvolverem atividades empresariais imprescindíveis ao

complexo industrial é comum, em regiões de baixo desenvolvimento,90 uma forte

intervenção governamental. Isto é observado, por exemplo, no modelo do Golfo Pérsico,

90 Com relação às aglomerações produtivas pouco desenvolvidas, deve se ter em conta que as especificidades dos ambientes sócio-econômicos de regiões em desenvolvimento, são determinantes na conformação de aglomerações locais. De acordo com Santos, et. al. (2002:6), deve-se reconhecer as especificidades destes arranjos localizados em países periféricos, onde (a) as capacitações inovativas são, via de regra, inferiores às dos países desenvolvidos; (b) o ambiente organizacional é aberto e passivo, (c) o ambiente institucional (e) macroeconômico é mais volátil e permeado por constrangimentos estruturais; e (d) o entorno do sistema é basicamente de subsistência, apresentando densidade urbana limitada, baixo nível de renda per capita, baixos

Modelo PAÍSES

CARACTERÍSTICAS

Oeste da África

-Nigéria -Angola

-Mercado semi-aberto -Forte dependência de fornecimentos externos e de serviços -Média interferência governamental

Golfo Pérsico

-Países Árabes -Venezuela -México

-Mercado Fechado -Upstream e dowstream estatizados -Forte dependência de fornecimento externo de bens e serviços -Alta interferência governamental

Mar do Norte

-Noruega -Reino Unido

- Mercado aberto. - Ampla cadeia de suprimento local. - Baixa interferência governamental

Golfo do México

-Estados Unidos -Canadá

-Mercado aberto -Upstream terceirizado -Ampla cadeia de suprimento local - Baixa interferência Governamental

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onde estão compreendidos os países árabes, a Venezuela e o México. Já no Modelo do

Oeste da África observa-se uma relativa abertura de mercado, que se encontra em processo

de expansão, prevalecendo ainda uma considerável dependência de fornecimento externo de

bens e serviços. No que tange ao papel do governo a intervenção governamental é de nível

médio ensejando a maior liberalização das políticas voltadas para esta indústria.

Os países que se enquadram neste modelo, como é o caso da Nigéria, Angola e

Brasil, passam – desde meados dos anos 1990 - por uma fase de ajustamento em termos da

regulamentação das atividades petrolíferas. No caso do Brasil, a redução da intervenção do

Governo na referida indústria traduziu-se no processo de flexibilização do monopólio do

petróleo – exercido até 1997 pela Petrobras-; na abertura do mercado às empresas

estrangeiras no segmento upstream; e pela participação mais efetiva do Estado na

regulamentação das atividades petrolíferas com a criação da ANP.

No que se refere aos modelos do Mar do Norte e do Golfo do México, destacam-se

países que se caracterizam por elevados níveis de desenvolvimento sócio-econômico tais

como Noruega e Reino Unido (Mar do Norte); Estados Unidos da América e Canadá (Golfo

do México)91. As empresas que compõem os aglomerados formados em torno da indústria

petrolífera destes países estão integradas de forma mais horizontal tendo em vista a ampla

cadeia de suprimentos local e regional de bens e serviços que atendem à indústria. Outro

aspecto relevante diz respeito ao fato de as indústrias petrolíferas do Mar do Norte e do

Golfo do México adotarem em seus modelos de organização industrial a abertura de

mercado. Corrobora neste sentido o fato de países como os EUA, Canadá, Reino Unido e

Noruega possuírem aglomerados maduros e com elevado grau de inserção no mercado

internacional, fato este que possibilita abrirem seus mercados à competição em bases

sustentáveis, sem maiores prejuízos para a indústria local. Na verdade, os aglomerados

petrolíferos destes países, além de atenderem à demanda interna, exportam bens e serviços

para no resto do mundo, estando em geral, incluídos na fase IV proposta por Ramos (1999);

ver Quadro 2.0.

níveis educacionais, reduzida complementaridade de serviços com o pólo urbano e frágil imersão social (Ibidem) . 91Deve-se destacar que a produção petrolífera de países como Reino Unido e Noruega são tipicamente offshore, os Estados Unidos da América e o Canadá possuem produção terrestre, sendo a região do Golfo do México a principal responsável pela produção offshore dos EUA.

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117

A estrutura produtiva da indústria petrolífera offshore em países como a Noruega92,

Reino Unido e Estados Unidos concentra-se em algumas cidades de alto desenvolvimento

que atuam não somente como base operacional das atividades de E&P, mas contribuem para

a formação de verdadeiros sistemas locais de inovação. Nestes “sistemas de inovação” a

cultura tecnológica, o aprendizado, o ambiente institucional as infra-estruturas e as

regulamentações que privilegiam a industria local contribuem para o desenvolvimento auto-

sustentado destas cidades. Neste sentido, cidades que tem como principal atividade

econômica a indústria petrolífera offshore como Lousiana nos EUA e Aberdeen na Escócia

enquadram-se neste contexto e podem servir como parâmetro para a análise de arranjos

produtivos como ocorre em Macaé. Com efeito, apresentam-se, a seguir, alguns fatores que

contribuíram para que a cidade de Aberdeen conquistasse o títuto de cidade européia do

petróleo e gás.

3.2 - Aberdeen no Mar do Norte - proxis de um Sistema Local de Inovação.

Alguns aglomerados produtivos que se formam em torno da atividade petrolífera,

como os que se encontram nos países citados acima, integram verdadeiros sistemas locais e

regionais de inovação, ver a seção 2.1, “sistemas locais de inovação”, Capítulo 1. Um

exemplo típico de um aglomerado maduro em torno da atividade petrolífera, encontra-se na

cidade de Aberdeen, no noroeste da costa da Escócia, Mar do Norte93.

De um lado, as características que definem o aglomerado petrolífero de Aberdeen

aproximam esta cidade das concepções teóricas que tipificam um sistema local de inovação.

Por outro, a importância de se fazer uma breve menção a este aglomerado, diz respeito ao

fato de ele possuir duas particularidades94 que interessam ao desenvolvimento desta

92 “A Noruega possui aproximadamente 50% das reservas de petróleo e gás ainda existentes na Europa ocidental. Em 2002 a Noruega exportou uma média de 3,1 milhões de barris de petróleo por dia, o que fez do país o terceiro maior exportador de petróleo bruto do mundo, depois da Arábia Saudita e da Rússia. Da mesma forma a Noruega ostenta a posição de 4º maior exportador de gás do mundo ficando atrás da Rússia, do Canadá e da Argélia. Para se ter uma idéia da importância da indústria petrolífera para a Noruega, as vendas de petróleo e gás representaram em 2002, cerca de 44% do total das exportações norueguesa e a participação relativa da indústria petrolífera no PIB foi de 19%” (Ministério de Comércio Norueguês, 2004:3). 93 A produção de petróleo no Mar do Norte é essencialmente offshore e tem como principais produtores a Noruega e Reino Unido, que detêm respectivamente a 6a. e 11a posições do ranking mundial (ver Quadro 7.1, Apêndice IV). 94 A aglomeração em torno da atividade petrolífera em Macaé no estado do Rio de Janeiro possui as duas características apontadas para a cidade de Alberdeen na Escócia. No entanto, é mister ter em conta que as

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pesquisa, a saber: (i) trata-se de um aglomerado petrolífero maduro, organizado com base na

exploração, desenvolvimento e produção de petróleo offshore e (ii) este aglomerado está

geograficamente concentrado em uma cidade costeira, Alberdeen, tornando-se referência

internacional em produção e desenvolvimento de tecnologias em E&P e outras atividades

correlacionadas à indústria petrolífera.

A cidade de Aberdeen é conhecida há muito como a capital européia do petróleo e

gás offshore, tendo se consolidado como centro de atividades para a Exploração e Produção

no Mar do Norte. A atividade petrolífera em Aberdeen responde pela geração de mais de

40.000 empregos no noroeste e na costa da Escócia (Brasil Engergia, 2002, p.164).

Nas últimas décadas Aberdeen vem se consolidando como um centro de negócios

envolvendo petróleo e gás na Europa. Com efeito, muitas empresas multinacionais têm suas

sedes européias lá. A cidade também detém grande expressão na prestação de serviços e

consultorias internacionais em áreas-chave como saúde e segurança, gerenciamento de meio

ambiente e controle da poluição, sobrevivência offshore treinamento técnico e

gerenciamento. Como resultado da excelência do aglomerado na prestação de serviços

envolvendo atividades petrolíferas, a maior parte das atividades de planejamento,

desenvolvimento e exploração de petróleo e gás do Reino Unido está concentrada nessa

cidade (ibid.).

A aglomeração de empresas em torno da indústria petrolífera em Aberdeen, “tem

criado um ambiente de grande energia, no qual inúmeras inovações tecnológicas

provenientes de empresas de todos os tamanhos têm sido observadas” (ibidem). Contribui

para isto o fato de o Mar do Norte ter se tornado uma região madura na produção de

petróleo, o que, para a continuidade do processo de exploração, desenvolvimento e

produção, exige sofisticados métodos de trabalho e desenvolvimento de novas tecnologias

para as atividades marinhas e correlatas. As empresas de Aberdeen estão na vanguarda do

desenvolvimento tecnológico. As inovações ocorrem em diversas áreas incluindo

interpretação sísmica, perfuração e medição de poços, projeto de convés e processamento

(ibid.).

características que definem o aglomerado produtivo em Macaé diferenciam-se substancialmente daquelas encontradas em Alberdeen, sobretudo pelo fato de o aglomerado em Macaé ser um aglomerado em formação, em uma região de baixo desenvolvimento, ao contrário de Aberdeen.

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Figura 3.1 – Mapa do Reino Unido com destaque para a cidade de Aberdeen Fonte: Petrobras (2003)

As recentes inovações em Aberdeen vêm contribuindo (i) para alongar a vida útil de

alguns dos mais antigos campos do Mar do Norte, como, por exemplo, o campo BP Forties.

Por volta do ano de 1975 a expectativa de retorno deste reservatório, isto, é, o que se

conseguiria extrair do poço, era algo em torno de 40% do petróleo lá existente e a

estimativa do ciclo de vida do reservatório girava, em torno de 15 anos. No ano de 2002

esta expectativa subiu para 70%, com cada 1% representando um volume de 40 milhões de

barris; (ii) as novas tecnologias para a produção de petróleo em águas profundas

desenvolvidas em Aberdeen têm permitido o desenvolvimento de campos anteriormente

abandonados, como o de Argyll, desativado em 1992 após ter produzido 100 milhões de

barris. Sua reativação está prevista para o ano de 2003; (iii) novos recordes têm sido

estabelecidos no que concerne à exploração e produção de petróleo em poços de Alta

Pressão e Alta Temperatura (HPHT). Campos HPHT propiciam muitos desafios para o seu

desenvolvimento eles são mais profundos e próximos das altas temperaturas do centro da

terra. Com efeito, muitos aspectos do desenvolvimento são difíceis, novos materiais e novas

técnicas têm de ser usadas tanto na perfuração quanto no controle de poços (ibidem)

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O ambiente inovador verificado em Aberdeen deve muito ao sistema de governança

que se consolidou na cidade. Neste sentido, deve-se destacar o importante papel

desempenhado pelo “Conselho Municipal de Aberdeen95” que tem como um de seus

objetivos, desenvolver alianças estratégicas internacionais para promover oportunidades

recíprocas de negócio e transferência de “Know How” entre Aberdeen e regiões

internacionais.

Enfim, Aberdeen constitui-se em um exemplo de cidade bem-sucedida do ponto de

vista econômico e social, cujo dinamismo se alicerça essencialmente no aglomerado

produtivo voltado para as atividades petrolíferas offshore. É importante enfatizar que a

aglomeração produtiva de Aberdeen se insere no modelo teórico dos sistemas locais e

regionais de inovação apresentados no capítulo no Capítulo II seção 2.1, apresentando

características sociais e econômicas que possibilitam definir a cidade como um milieu.

95 “Em 27 de março de 2000, o Conselho Municipal de Aberdeen assinou um memorando de cooperação com o governo estadual do Rio de Janeiro, com o objetivo de promover, desenvolver e fortalecer o relacionamento entre as partes para o benefício econômico e comercial das duas áreas” (Brasil Energia, 2002 p.164)

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CAPÍTULO IV

CARACTERIZAÇÃO DO AGLOMERADO PETROLÍFERO

DE MACAÉ: ANÁLISE MESOECONÔMICA

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4.0- Introdução

Nos anos 1970, a Petrobras instalou na BC uma monumental estrutura tecnológica e

industrial que constitui hoje um dos maiores e mais modernos pólos de petróleo do mundo

(Mansur, 2003:1). A estrutura operacional em atividade na Bacia de Campos, tendo por

base a cidade de Macaé, é considerada a maior do gênero já montada por uma única empresa

em toda a história mundial do setor petróleo. Esse complexo, que já proporcionou ao país o

privilégio de receber por duas vezes o maior prêmio da indústria internacional de petróleo, é

constituído por centenas de plataformas e embarcações de vários tipos e dimensões,

milhares de quilômetros de dutos e de válvulas no fundo do oceano, plantas de

processamento de óleo e gás, laboratórios e unidades para apoio técnico e administrativo

(ibid.).

Desde as primeiras descobertas petrolíferas na década de 1970 na BC, o crescimento

na atividade industrial de Macaé, enquanto base operacional da maior província petrolífera

do país, passou a ser impulsionado por dois fatores principais (i) pelos crescentes

investimentos realizados pela Petrobras em E&P e (ii) pelo ingresso de inúmeras empresas -

sobretudo estrangeiras - atraídas pelas oportunidades de negócios, a partir de 1997, como

resultado da quebra do monopólio detido pela Petrobras, com o advento da Lei 9478 de

1997.

Em pouco mais de três décadas o município de Macaé presenciou a mudança de sua

base produtiva de uma estrutura tipicamente agro-pastoril, para uma estrutura industrial e de

prestação de serviços.

Destarte, a investigação sobre o aglomerado petrolífero de Macaé, realizada no

capítulo IV, parte dos seguintes pressupostos: (i) a indústria petrolífera da Bacia de Campos

caracteriza-se, respectivamente, pela densa infra-estrutura offshore, (constituída de

expressivo número de plataformas, navios, dutos, etc), e pela infra-estrutura onshore. No

que tange à infra-estrutura onshore, destaca-se o aglomerado petrolífero de Macaé,

constituído por inúmeras empresas prestadoras de serviços, industriais e comerciais, ligadas

às atividades de E&P na BC; (ii) por sua vez, considera-se que a expansão do aglomerado

petrolífero (infra-estrutura onshore) mantém estreita relação com o aumento dos

investimentos para a expansão das atividades de E&P (infra-estrutura offshore); (iii)

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Pressupõe-se que o aglomerado petrolífero de Macaé expande-se em uma localidade de

baixo desenvolvimento, o que impõe restrições de ordem estrutural, institucional e

tecnológica; (iv) por outro lado, concebe-se que a indústria petrolífera na Bacia de Campos

caracteriza-se por ser dinâmica, densa em investimentos e em inovações tecnológicas,

vivendo um período de franca expansão. Neste contexto, em um processo onde se verifica

a expansão do aglomerado, é factível pensar-se na implementação de políticas com vistas ao

desenvolvimento de infra-estruturas que reforcem sua competitividade e sustentabilidade de

longo prazo.

Seguindo a proposta metodológica definida no Modelo dos Fluxos Tangíveis e

Intangíveis, enunciada no Capítulo II96, inicia-se97 neste capítulo a discussão sobre o

Aglomerado Petrolífero de Macaé tendo por objetivo fundamental o delineamento das infra-

estruturas e fatores estruturais que definem sua conformação, em uma perspectiva

mesoeconômica não sendo, portanto, o propósito deste capítulo o aprofundamento dos temas

propostos. Nesse sentido, busca-se categorizar e qualificar cada uma das infra-estruturas e

fatores propostos no modelo supracitado tendo por base estatísticas obtidas de fontes

secundárias como: CIDE, RAIS, ANP, dentre outras, e os questionários aplicados às

empresas do setor. Maior ênfase é atribuída aos investimentos - sobretudo os realizados

pela Petrobras - nas atividades offshore da BC, bem como os investimentos onhshore que se

defiem enquanto desdobramento dos primeiros.

O Capítulo é desenvolvido na seguinte ordem: na seção 4.1 apresentam-se alguns

aspectos históricos e geo-econômicos considerados relevantes para a formação do

município; na seção 4.2 discute-se a formação da indústria petrolífera na Bacia de Campos

com destaque para o Aglomerado Petrolífero de Macaé; na seção 4.3 analisam-se,

respectivamente, as seguintes infra-estruturas e fatores que influenciam na dinâmica do

APM, a saber, investimentos em infra-estrutura onshore e offshore; infra-estrutura física,

96 O Capítulo 5 é destinado à análise microeconômica do aglomerado, com ênfase em sua organização produtiva. 97 A caracterização dos fatores tangíveis constitui-se na primeira etapa da aplicação do Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis. A segunda etapa é desenvolvida no Capítulo V, quando se analisam os fatores microeconômicos e a constituição de uma rede de empresas para a definição do aglomerado. A última etapa da metodologia proposta, desenvolvida no Capítulo 6 avalia os Fluxos Tangíveis e Intangíveis definidos pelo conjunto das infra-estruturas analisadas, bem como pela articulação em rede das empresas do aglomerado. Nesta etapa propõe-se um mecanismo de classificação no que tange ao grau de evolução do APM, quando então se discute as principais conclusões do trabalho e discute-se a sustentabilidade de longo prazo desta estrutura sócioprodutiva.

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compreendendo-se como tal o conjunto de infra-estruturas urbanas que afetam o

desempenho das empresas; infra-estrutura financeira; infra-estrutura do conhecimento,

compreendida como o sistema educacional e o conjunto de instituições que articulam uma

rede de ciência e tecnologia que atendem às empresas offshore atuantes em Macaé; recursos

humanos e mercado-de-trabalho – enfatiza-se a evolução dos empregos formais em Macaé e

a carência de mão-de-obra especializada formada na localidade e região; fatores meta e

macroeconômicos – discute-se os fatores que influenciam na viabilidade econômica dos

empreendimentos petrolíferos na BC, no longo prazo; participação governamental - discute-

se em grandes linhas a política industrial voltada para o segmento upstream no Estado do

Rio de Janeiro.

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4.1-Macaé - Aspectos Históricos e Geo-econômicos

O município de Macaé está localizado no norte do estado do Rio de Janeiro e possui

uma área total de 1.229,1 km2 correspondentes a 12,6% da área da Região Norte Fluminense

e o seu litoral está nas proximidades da Bacia de Campos98.

Sua população, de acordo com o censo do IBGE (2000)99, era de 131.550 habitantes,

correspondente a 18,9% do contingente da Região Norte Fluminense. A densidade

demográfica era então 107,0 habitantes por km2 , contra 71,4 habitantes por Km2 da região

norte e 327,5 habitantes por Km2 da região metropolitana do Estado.

Figura 4.1- Mapa da Cidade de Macaé

Fonte: Banco de Imagens da Prefeitura Municipal de Macaé.

No ano de 1813 Macaé foi elevada à condição de vila sob o nome de São João do

Macaé, tendo então tido seu território desmembrado dos atuais municípios de Cabo Frio e

Campos dos Goytacazes, passando à categoria de cidade em 1846.

98 Ver Gráfico 4.2, “ Variação percentual da população residente em Macaé” .

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A partir do século XVII, o alicerce da economia Norte Fluminense, inclusive a de

Macaé, fundamentou-se no cultivo da cana de açúcar e na produção de açúcar e aguardente.

A localização estratégica de Macaé possibilitou, desde os primórdios da colonização da

região, que a cidade servisse de entreposto comercial entre os municípios do Norte

Fluminense, com destaque para Campos - centro hegemônico da região -, e o Rio de

Janeiro100. Por Macaé passava inicialmente a produção de açúcar, aguardente, charque e

gado vivo.

A partir da segunda metade do século XIX verifica-se o avanço do processo de

industrialização no campo, que se manifestou particularmente na indústria açucareira. A

introdução da máquina a vapor e de novas tecnologias de produção culminou com a

implantação de grandes usinas açucareiras aumentando substancialmente a escala de

produção de açúcar. Paralelamente, a região aumentava sua produção agrícola com destaque

para o algodão, arroz, frutas e também café (Rosendo e Carvalho, 2002:24-31).

O ciclo expansivo verificado na segunda metade do século XIX, induzido pela

indústria açucareira, sinalizava para a necessidade de investimentos em sistemas de

transporte mais eficientes tendo em vista a melhoria do escoamento da produção. Nesse

sentido, Macaé reforçava sua importância histórica enquanto porta de entrada para o Norte

Fluminense com a construção do Canal Campos-Macaé. “O canal artificial possuía 109

quilômetros de extensão e fora construído para auxiliar no escoamento da produção, que era

transportada até o Rio de Janeiro a partir do porto de Imbetiba, chegando a operar, até 1875,

com cinco barcos a vapor” (TCE-RJ, 2002:6). Em janeiro de 1875 é inaugurada a ferrovia

Campos-Macaé, que concorreria diretamente com o transporte fluvial. A partir desta data, o

transporte da produção regional se fez a partir de via férrea.101

Até o início do século XX, a economia do município se fundamentava na produção

de cana-de-açúcar, café, na pecuária e na extração do pescado. No período republicano, a

cidade foi mantida como sede do município de Macaé, embora tenha sofrido várias

alterações na malha distrital. Os distritos de Conceição de Macabu e Macabuzino vieram a

99 IBGE, Censo Demográfico de 2000. 100 Note-se que o Rio de janeiro constituiu-se, a partir do início do século XIX, no principal centro econômico e político do país. 101 O surgimento da estrada de ferro tornou o transporte marítimo antieconômico contribuindo para que o porto que dinamizava a atividade comercial de Macaé fosse desativado em 1904 (Júnior et al., 1990:44).

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constituir o município de Conceição de Macabu, em 1952; já Carapebus e Quissamã

ganharam autonomia municipal mais recentemente.

A partir de 1974, com a descoberta de petróleo na região e com a chegada da

Petrobras, Macaé passou a viver um novo momento econômico marcado, sobretudo, por um

processo contínuo de expansão da atividade petrolífera que implicaria em importantes

transformações econômicas e sociais no município.

A evolução da atividade petrolífera em Macaé pode ser apontada como uma das

fortes razões para a ocorrência de importantes mudanças no Município. Nesse sentido, a

presença da Petrobras em Macaé, desde os anos 1960, e a evolução da atividade petrolífera

vem alterando de forma significativa a estrutura econômica de Macaé, além de influenciar

aspectos sociais e políticos que afetam o desenvolvimento econômico local.

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4.2- Gênesis da indústria Petrolífera na Bacia de Campos.

A história do aglomerado petrolífero em Macaé102 começa com as primeiras

atividades de exploração na Bacia de Campos103 iniciadas pela Petrobras104 em 1968, que

resultariam na definição de uma densa infra-estrutura produtiva e em uma ampla rede de

empresas articuladas à atividade de E&P de petróleo e Gás natural, no início do século

XXI105.

Estas atividades tiveram prosseguimento com “os levantamentos de reconhecimento

sísmicos e gravimétricos que redundaram na perfuração de sete poços antes da descoberta

de petróleo, em vazões comerciais no final de 1974, pelo poço pioneiro IRJS-9-A106, situado

em lâmina d’água de 100 metros”. (Petrobras 2003(a); Mansur 2003:8) Esse poço deu

origem ao Campo de Garoupa, o primeiro da maior bacia petrolífera do país, e que produz

óleo e gás natural até os dias de hoje (ibid.).

Apesar dos esforços empreendidos, desde 1968, na BC a primeira descoberta

comercial ocorreria seis anos mais tarde, no Campo de Garoupa, em 1974107, por meio do

poço RJS-9 ; onde a atividade produtiva tem início de fato em agosto de 1977108, no campo

102 A instalação da Petrobras em Macaé e a expansão da atividade petrolífera em seus domínios podem ser atribuídas a dois fatores locacionais básicos: (i) a vantagem natural conferida ao município em função do porto de Imbetiba, que representou desde o início das atividades petrolíferas, um grande facilitador na logística da empresa; (ii) a proximidade de Macaé da Bacia de Campos e, principalmente, do Rio de Janeiro. Estes fatores locacionais corroboraram para que Macaé fosse escolhida como a base de operações da Bacia de Campos, em detrimento de outro forte concorrente, o município vizinho de Campos dos Goytacazes. 103 A área sedimentar conhecida pelo nome de Bacia de Campos tem cerca de 115 mil quilômetros quadrados e se estende do Espírito Santo (próximo a Vitória) até Cabo Frio, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro. Em terra, os limites da bacia podem ser definidos pelos morros que a cercam (Petrobras, 2003). 104 É mister ressaltar que todo o esforço empreendido para o desenvolvimento das atividades petrolíferas na Bacia de Campos e a conseqüente definição da base operacional em Macaé deveu-se ao pioneirismo da Petrobras – empresa estatal brasileira, fundada no Governo de Getúlio Vargas, no ano de 1953. 105 Até a flexibilização do monopólio do petróleo, através da lei 9.478 de 6 de agosto de 1997, a Petrobras foi responsável pelo desenvolvimento de toda a infra-estrutura produtiva da BC, tendo sido ainda responsável pela contratação e subcontratação de inúmeras empresas de bens e serviços que viriam a constituir, mais tarde, o complexo de empresas sediadas em Macaé, que dariam suporte às atividades de E&P na Bacia de Campos. 106 Antes desse poço, a Petrobrás já havia localizado indícios de óleo no poço I-RJS-7, em vazão não comercial. 107 “Em 1970, o desenvolvimento tecnológico da exploração e produção já permitia efetuar levantamentos de superfície até a cota de 200 metros, o que, na época, era considerado águas profundas pela indústria do petróleo. Não se pensava ainda em águas de mil a dois mil metros, tecnologia hoje dominada pela Petrobras” (Mansur, 2002:6). 108 “Em julho de 1975, sete meses após a descoberta do primeiro campo - Garoupa -, a Companhia criou um órgão específico para a área. Nascia a Assessoria Especial da Bacia de Campos (Ascam), que começou com apenas três engenheiros, incumbidos pela diretoria de implantar o sistema submarino de Garoupa/Namorado, em águas de 170 metros. Com profissionais recrutados de outros órgãos, formou-se uma pequena equipe de 15

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de Enchova, o segundo a ser descoberto, em lâmina d’água de 120m (Petrobras, 2003).

Figura 4.2- Principais reservatórios da Bacia de Campos Indicador de profundidade da lâmina d’água Fonte: Banco de Imagens da Petrobras

“A partir de 1980 foram descobertos diversos outros campos menores. Como os

levantamentos de superfície (sísmica) indicavam a existência de grandes estruturas

favoráveis à ocorrência de petróleo em lâminas d'água superiores a 200 metros de

profundidade, a companhia partiu para conquistar essas novas fronteiras. O desafio logo

surtiria efeito com a descoberta, em 1981, do primeiro campo gigante do país - Albacora -

em águas além dos 200 metros de profundidade. Posteriormente foram localizados outros

dois campos gigantes: Marlim e Barracuda. Estudos recentes indicam que 50% das reservas

ainda por se descobrir no Brasil se situam em águas profundas. A previsão é de que, em

2004, cerca de 85% da produção nacional de petróleo venha de campos nessas áreas”

(Petrobras gecam, perguntas BC).

pessoas, embrião do que é hoje a grande cadeia operacional e de negócios da Bacia de Campos. O grupo cresceu, acompanhando as sucessivas descobertas de novos campos, e deu origem ao Grupo Executivo de Desenvolvimento da Bacia de Campos” (Petrobas-Gecam, 2003 (a)).

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Desde então as descobertas de reservatórios na Bacia de Campos foram recorrentes,

devendo-se enfatizar os campos de Albacora (1981), Marlim (1985), Marlim do Sul (1987),

Marlim do Leste, Barracuda e Caratinga (1987), Espadarte (1994) e, mais recentemente,

Roncador (1996) (Ibid). Tais descobertas contribuíram para que a Bacia de Campos se

tornasse a maior província petrolífera109 do país, estando entre as maiores do mundo.

A grandeza dos investimentos realizados pela Petrobras na BC e os esforços no

aprimoramento tecnológico desenvolvidos pela empresa ao longo de trinta e cinco anos

trariam resultados surpreendentes. Referindo-se à infra-estrutura produtiva implementada

na Bacia de Campos Mansur (2003:1) comenta: “(...) a Petrobras instalou, naquela área,

uma monumental estrutura tecnológica e industrial que constitui, hoje, um dos maiores e

mais modernos pólos de petróleo do mundo”. E complementa: “a estrutura operacional em

atividade na Bacia de Campos é considerada a maior do gênero já montada por uma única

empresa em toda a história mundial do setor petróleo” (ibid).

A potencialidade petrolífera da BC levou a Petrobras a implementar esforços

contínuos tanto na área tecnológica quanto no desenvolvimento de infra-estrutura produtiva,

o que requeria a estruturação de uma base de operações que pudesse dar conta da

complexidade e grandiosidade que envolvia a atividade petrolífera na região. Com efeito,

um número substancial de empresas passou a se instalar em Macaé desde o início dos anos

1970, muitas das quais ligadas diretamente à atividade petrolífera, outras, por seu turno,

atraídas pelas oportunidades geradas pela indústria.

Os crescentes investimentos públicos - especialmente em infra-estrutura urbana - e

privados, direcionados à atividade petrolífera, contribuíram para que a cidade tipicamente

rural, que tinha por base econômica a pesca e a agropecuária, presenciasse profundas

mudanças estruturais que alteraram radicalmente seu perfil econômico. Nesse sentido, entre

1970 e 1983, verificou-se a instalação de 192 empresas comerciais e industriais e 176

empresas prestadoras de serviço na cidade. A partir da consolidação da BC como principal

província petrolífera do país nos anos 1980 e a intensificação da produção de petróleo e gás

109 Possui uma área de 115.000 km2 com lâmina d’ água variando de (50 m até 3.400 m).

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nos anos 1990, observa-se, considerando-se o período 1984/2002110, que 4.126111 empresas

se instalaram no município. Destas, 2.016 eram comerciais e industriais e 2.110 prestadoras

de serviço (Secretaria de Comunicação de Macaé, 2002).

Motta e Albuquerque (2000: 21-22), e Britto (2002) utilizando a metodologia de

superposição para a identificação de aglomerações produtivas especializadas, identificam as

cidades de Macaé e Mossoró como clusters verticais, especializados na extração de petróleo

e gás natural. Na mesma linha, utilizando a metodologia que emprega o Índice de

Quoeficiente Locacional (QL) associado ao o Índice de Participação Relativa (PR) para

identificação de aglomerações produtivas especializadas no município de Macaé112, Terra

(2003) chega aos seguintes resultados:

“(...) observa-se que em Macaé os setores de maiores QL são os de ‘serviços relacionados com a extração de petróleo’, que apresenta QL de 297,81 e PR de 52,5%; seguido da ‘extração de petróleo e gás natural’ com QL de 277,43 e PR de 48,9%; ‘ transporte marítimo de cabotagem de longo curso’ com QL de 85,66 e PR 15,1 ; ‘fabricação de máquinas e equipamentos para a indústria de extração mineral’ com QL de 34,59 e PR de 6,1%; ‘construção e reparação de embarcações’, com QL de 18,90 e PR de 3,3%; ‘transporte dutoviários’ com QL de 14,59 e PR de 2,5% e ‘ outros transportes aquaviários com QL de 13,76 e PR de 2,4%. Portanto, a presença de vários elos da cadeia produtiva do petróleo permite concluir que Macaé vem se tornando um ‘aglomerado especializado’ neste setor” (Terra, 2003:298).

110 Deve-se ressaltar a importante mudança institucional que representou a Lei 9.478 de 6 de agosto de 1997, que determinou a flexibilização do monopólio da atividade petrolífera, até o ano de 1997 exercido pela Petrobras. 111 Apesar da precariedade das informações disponíveis com relação à cronologia da instalação de empresas ligadas à atividade petrolífera em Macaé é notório que, a flexibilização do monopólio do petróleo, Lei 9.478, contribuiu para a vinda de empresas ligadas à atividade de petróleo para Macaé. 112 “Adotando-se como base o total de empregados registrados (EMP) em cada município informado pela RAIS, o cálculo do QL é realizado conforme a fórmula a seguir: QL= (EMPij / EMPj) ÷ (EMP iBR/ EMP BR) onde: EMPij = Total de empregados do setor i no município j; EMPj = total de empregados no município j; EMPiBr = total de empregados no Brasil. A interpretação do valor do indicador QL baseou-se numa comparação entre especializações, podendo resultar em 3 situações: (i) Quando Ql= 1, a especialização do município j em atividades do setor i é IDÊNTICA à especialização do conjunto do Brasil nas atividades deste setor; (ii) Quando QL>1, a especialização do município j em atividades do setor i é SUPERIOR à especialização do conjunto do Brasil nas atividades desse setor; (iii) Quando QL< 1, a especialização do município j em atividades do setor i é INFERIOR à especialização do conjunto do Brasil nas atividades desse setor” (Terra, 2003:292-293). De acordo com Terra (2003) O índice de Participação Relativa – PR foi obtido dividindo-se o total de empregados do setor em cada município da área de estudo, pelo total de empregados do setor em nível nacional, conforme a fórmula PR= EMPij / EMP iBR Onde EMP ij = total de empregados do setor i no município j; EMP iBR = total de empregados do setor i no Brasil” (Terra, 2003:298).

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132

O grande número de empresas associadas direta e indiretamente à atividade

petrolífera que se fixaram em Macaé por conta do boom do petróleo mudou

substancialmente a estrutura produtiva da cidade conferindo-lhe uma nova dinâmica

socioeconômica. Não obstante, o complexo produtivo articulado pela Petrobras na BC,

somado aos avanços tecnológicos produzidos pela empresa e suas parceiras para a E&P de

petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas, caracteriza o esforço tecnológico

empreendido no setor e que se traduziu, nos anos 1990, no reconhecimento internacional da

liderança mundial da Petrobras em tecnologia de E&P de petróleo em águas profundas.113.

O complexo produtivo, envolvendo empresas sediadas especialmente em Macaé,

somado à infra-estrutura produtiva da BC (instalações, plataformas, navios, gaseodutos e

oleodutos) contribuiu para que a referida província petrolífera fosse responsável, ao final do

ano de 2002, pela produção de 82,56% do petróleo brasileiro e detivesse 83,3% das reservas

provadas. No tocante ao gás natural, semelhantemente ao petróleo, a BC concentrou a

produção de 44,35% do volume total produzido, e detinha 48,54% do total das reservas

provadas de gás natural (dados de 31/12/2002; ANP, 2004)114.

As reservas detidas pela Petrobras115, na Bacia de Campos, têm tempo estimado de

duração 17,5 anos – dada a tecnologia aplicada atualmente para a extração de petróleo e gás

segundo critérios da SPE (Petrobras, 2003).

No que tange ao aspecto tecnológico, considerando-se a incontestável importância da

Petrobras, deve-se destacar que os trabalhos da Estatal na área de E&P se situam na

liderança mundial, tanto no segmento exploratório como no desenvolvimento da produção.

A partir de 1984, a Bacia de Campos começou a mostrar seu completo potencial,

com a descoberta de campos gigantes em águas profundas que, à época, variavam de 300 a

mais de 1.000 metros de lâmina d’água. A evolução tecnológica da Petrobras e o avanço nas

atividades de E&P em águas cada vez mais profundas deve-se, em grande parte, às

experimentações realizadas no Campo de Marimba. Descoberto em 1985, o Campo de

113 A evolução tecnológica para exploração e produção de petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas passaria pelo desenvolvimento de Sistemas de Produção Fixos e Sistemas de Produção Flutuante, sendo que, estes últimos, conduziram ao desenvolvimento de Sistemas de Produção Submarinos113 (Petrobras 2003). 114 Vide no Anexo 3, tabelas sobre a produção e reservas de petróleo e gás no país - dados de 31/12 2002- consultados no site da ANP levantados em janeiro de 2004. 115 Reservas nacionais pertencentes à Petrobras, incluindo-se às reservas de petróleo e gás da Bacia de Campos tem uma duração estimada da ordem de 18.1 anos, segundo os critérios da (Sociedade de Engenheiros de Petróleo (Relatório Anual da Petrobras, 2001:13).

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133

Marimbá está localizado em lâminas d’água que variam entre 350 e 650 metros e pode ser

considerado o laboratório onde a tecnologia de produção em águas profundas “Sistema

Flutuante de Produção com Semi-Submersível116” foi testada e colocada em produção na

Bacia de Campos (Ibid).

Na atividade de exploração, o índice de sucesso de poços pioneiros (primeiro poço

em uma estrutura) na Bacia de Campos é um dos mais elevados no mundo, atingindo na

média do período 1970/2002 cerca de 30%, o que significa uma descoberta de petróleo em

cada três poços perfurados. Quando se compara o índice de sucesso de poços exploratórios,

ou seja, os poços pioneiros mais os poços de delimitação este índice alcança 50%,

considerado o mais elevado do mundo, acima dos índices de regiões geologicamente

similares como o Mar do Norte e Golfo do México. Na atividade de desenvolvimento da

produção, a Petrobras vem conquistando diversos prêmios por sua tecnologia de produção

em águas profundas, sendo a única empresa a receber, por duas vezes (1992 e 2001), o

maior troféu mundial do setor, o Distinguished Achievement Award, conferido pelo evento

internacional mais importante da atividade, a Offshore Technology Conference” (Petrobras

2003-b).

124 Instalado em 1986, o sistema consiste de uma plataforma semi-submersível (P-15) situado em lâminad’água de 243 metros que recebe e processa a produção de 11 poços com completação submarina. Um dos poços desse sistema, o 1-RJS-24, estabeleceu o recorde mundial de completação submarinam, em abril de 1985, a 385 metros. Em 1988, o 3-RJS-376 entrou em produção em lâmina d’água de 492 metros, estabelecendo novo recorde mundial (Petrobras, 2003-b).

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134

4.3- Caracterização do Aglomerado Petrolífero de Macaé- Análise Mesoeconômica

Apesar do grande dinamismo da indústria petrolífera, o município de Macaé

apresenta ainda um conjunto de fatores que o caracterizam como uma localidade de baixo

desenvolvimento. A deficiência em diversos tipos de infraestrutura e de fatores que afetam

diretamente a atividade produtiva contribui para a ocorrência de ineficiências estáticas e

dinâmicas que afetam a evolução produtiva e tecnológica do aglomerado petrolífero,

conspirando de forma negativa para a sustentabilidade do mesmo no longo prazo.

A seção 4.3 desenvolve a análise mesoeconômica da estrutura sócio-produtiva de

Macaé tendo por base os fatores tangíveis definidos no Modelo de Fluxos Tangíveis e

Intangíveis apresentado na seção 2.5 do Capítulo II. A seção 4.3 é dividida em dez

subseções que abordam respectivamente os seguintes temas: nas subseções 4.3.1, 4.3.2 e

4.3.3 discute-se respectivamente os investimentos no setor petróleo e seus impactos na

estrutura produtiva onshore e offshore da BC. A seção 4.3.4 aborda a infra-estrutura

financeira e os determinantes relacionados ao financiamento para as empresas offshore de

Macaé. Na seção 4.3.5 discute-se a infra-estrutura física que dá suporte ao aglomerado, com

destaque para os investimetos em infra-etrutura urbana e a política fiscal do governo

municipal. Na seção 4.3.6 analisa-se a infra-estrutura do conhecimento que possibilita o

desenvolvimento de capital humano e o processo de inovação tecnológica em Macaé. Na

seção 4.3.7 discute-se o mercado-de-trabalho da indústria offshore em Macaé, assim como a

evolução dos empregos formais no município. Na seção 4.3.8 apresenta-se as principais

instituições de apoio que dão suporte às atividades do APM. A seção 4.3.9 aborda os alguns

fatores meta e macroeconômicos que são cruciais na determinação da dinâmica da atividade

petrolífera em Macaé. Por fim, a Seção 4.3.10 discute o papel do Governo na definição da

estrutura sócio-produtiva de Macaé, destacando-se o incremento da capacidade finaceira dos

municípios de Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras, em função das receitas dos

royalties petrolíferos.

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135

4.3.1-Investimentos

A evolução do aglomerado petrolífero de Macaé mantém estreita relação com a

ampliação do complexo petrolífero da Bacia de Campos. As contínuas descobertas de novas

reservas petrolíferas e a necessidade de utilização de tecnologias mais avançadas para

aumentar a produtividade dos poços em operação, aliadas ao objetivo de o país tornar-se

auto-suficiente na produção de petróleo para atender a demanda do mercado interno, têm

implicado em pesados investimentos em infra-estrutura produtiva, conduzidos

majoritariamente pela Petrobras na BC desde os primórdios. O resultado destes

investimentos tem se traduzido em um expressivo aumento da produção de óleo e gás ao

longo dos últimos anos.

Sendo a Bacia de Campos responsável por 81% do petróleo produzido no país, qual

o montante de investimento a ser realizado para aumentar a produção de petróleo em um

dado percentual? Como desdobramento desta pergunta pode-se fazer as seguintes

indagações: (i) qual o montante de investimentos que tem sido realizado na Bacia de

Campos, para manter uma taxa média de crescimento da produção de petróleo e gás,

superior a 7% ao ano? e (ii) Qual a participação do Município 117 nos resultados destes

investimentos, tendo em vista o fato de Macaé se caracterizar por concentrar o aglomerado

de empresas que constitui a base para as atividades de Exploração e Produção da Bacia de

Campos?

No contexto das diversas cadeias produtivas que compõem a atividade de E&P na

BC merece destaque a concentração de empresas prestadoras de serviço, que tipificam o

Aglomerado Petrolífero de Macaé. A maior parte destas empresas está envolvida

basicamente118 com atividades de serviços relacionadas à operação do complexo petrolífero

da BC, onde a Petrobras desempenha papel central, considerando-se a estrutura hub and

spoke predominante no arranjo.

117 A resposta à última pergunta constitui-se em um dos objetivos principais da pesquisa e será desenvolvida nos capítulos seguintes. 118 Como será discutido no capítulo V, foi possível verificar a ocorrência, ainda incipiente, da instalação no aglomerado petrolífero de Macaé, de algumas empresas manufatureiras de baixo e médio conteúdo tecnológico.

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136

O modelo de Kupfer et al. (2000)119 ao estimar um “vetor investimento” para a

indústria do petróleo e gás no Brasil120, tendo em conta as atividades de exploração,

produção e refino, fornece parâmetros que possibilitam estabelecer comparações

relacionadas ao impacto dos investimentos no segmento upstream, e seus efeitos sobre o

aglomerado petrolífero de Macaé121.

Para a construção do referido vetor investimento elaborou-se uma matriz onde se

buscou decompor o investimento122 para os principais produtos relacionados às atividades

de exploração, produção e refino (E&P, R) de petróleo, como apresentado no Quadro 4.1.

Observando-se o Quadro 4.1, nota-se a importância dos serviços na composição dos

investimentos em E&P. Assim, serviços ligados ao setor “Petróleo e Gás” como perfuração,

perfilagem e cimentação de poços, respondem por 17,7% dos investimentos; bem como

“serviços prestados às empresas” como consultorias, serviços jurídicos, informática,

segurança e outros, respondem por 14,86% dos investimentos totais.

119 O trabalho coordenado por David Kupfer, teve a participação dos pesquisadores Lia Haguenauer, Carlos Eduardo F. Young e Aléxis T. Dantas. O estudo, solicitado pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo - ONIP procurou, como afirmam os autores, quantificar os impactos econômicos decorrentes dos investimentos previstos na exploração, produção e refino de petróleo no Brasil. Através do uso de técnicas de insumo-produto o trabalho buscou avaliar impactos diretos, indiretos e ainda o efeito renda da expansão do setor petróleo na economia brasileira sobre produção, renda, emprego, arrecadação tributária, balança comercial e meio ambiente. (Kupfer et al., 2000). 120 Envolve a decomposição do investimento em E&P, R que se estende por toda a cadeia produtiva voltada para o segmento upstream, que engloba indústrias e segmentos industrias e agro-industriais diversos dentro e fora do Brasil. 121 Considerando o fato de a BC absorver a maior parcela dos investimentos do segmento upstream no Brasil, é possível estabelecer os possíveis impactos destes investimentos sobre o aglomerado petrolífero de Macaé, tomando-se como parâmetro, o modelo de Kupfer et. al. (2000). 122 Os autores apresentam uma lista mais abrangente dos principais produtos por atividade em cada setor matriz nos anexos do trabalho ver Kupfer et. al. (2000).

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137

Quadro 4.1-Segmento exploração, produção e refino da indústria petrolífera no Brasil: decomposição do vetor investimento e coeficiente de importação setorial

Código Nome do Setor Principais Produtos Decomposição do

Investimento %

% Importado

13 Peças e outros veículos

Embarcações peças e acessórios (indústria naval)

27,9% 80%

3 Petróleo e Gás Perfuração, perfilagem e cimentação de poços

17,7% 50%

40 Serviços prestados à empresa

Levantamento geofísico, serviços técnicos especializados

14,86% 17,5

9 Máquinas e equipamentos

Serviços de instalação industrial, turbinas, turbo-compressores e árvores de natal molhada

14,43% 50

10 Material elétrico Geradores, linhas flexíveis, cabos elétricos

6,46% 30

5 Siderurgia Tubos e perfis de aço 5,74% 10 34 Construção civil Construção civil 5,62% 0 11 Equipamentos

Eletrônicos Sistema de medida e controle, (instrumentação) computadores

3,57% 60

7 Outros metalúrgicos

Tanques, obras de calderaria pesada, estruturas metálicas, peças fundidas e forjadas

2,16 20

19 Químicos diversos

Explosivos, preparados químicos 0,69% 0

38 Instituições financeiras

Seguros 0,5 0

9 Metalurgia não ferrosos

Tubos, conexões, fios e cabos não revestidos de cobre e alumínio.

0,10 0

21 Artigos Plásticos Tubos cordas e peças de plástico 0,08 0 36 Transporte Afretamentos 0,05 0 Fonte: kupfer et al. (2000), a partir de dados da Petrobras, ONIP, PUC/ANP

Não obstante, serviços relacionados ao setor “máquinas e equipamentos” como:

turbinas, árvores de natal molhadas, compressores respondem por outra parcela importante

dos investimentos: 14,43%. As evidências têm demonstrado que o desenvolvimento das

atividades de E&P requerem a presença física de empresas prestadoras de serviço,

implicando na localização de plantas industriais nas proximidades do complexo produtivo,

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138

como ocorre em Macaé123. Assim é inexorável que o aumento dos investimentos em E&P

na BC induza a investimentos significativos no desenvolvimento de infra-estrutura

operacional, basicamente serviços industriais e relacionados, o que impulsiona a expansão

do aglomerado.

Uma primeira aproximação, no que tange ao impacto dos investimentos na evolução

do aglomerado petrolífero de Macaé, pode ser inferida tendo por base os impactos diretos,

indiretos e o efeito renda da expansão do setor petróleo na economia brasileira, tendo em

vista a produção, renda, emprego, arrecadação tributária, balança comercial e meio ambiente

(emissão de poluentes), conforme proposto por Kupfer et. al. (2000):

Quadro 4.2- Modelo aberto: impactos diretos e indiretos induzidos

Em US$ milhões

Valor da Produção

Impostos Importação Pessoal Ocupado

(nº)

Renda

Induzidos pelo Investimento (A) Economia Aberta

3.330 536 1646 87.915 1629

Induzido pela produção (B)

Direto 309 13 -305 1.315 194 Induzido 184 10 7 6.004 97 Royalties 14 Total 493 37 -298 7.319 291

Total (A+B) 3.823 573 1.348 95.234 1.920

Fonte: Kupfer et. al., (2000)

O modelo deriva um vetor investimento124 a partir das informações contidas no

Quadro 4.2, da ordem de US$ 5 bilhões, dos quais US$3,7 bilhões destinados às atividades

de exploração, produção e refino de petróleo. O modelo considera que, o investimento de

US$3,7 bilhões é capaz de induzir um aumento de 5% na produção doméstica de petróleo

(Kupfer et. al., 2000:16).

123 A seção 443.4 discute a expansão geográfica do aglomerado petrolífero de Macaé que ingressa na jurisdição de outros municípios, como, por exemplo, Rio de Ostras. 124 A ausência de informações diretas a cerca do destino dos gastos referentes a investimentos específicos do setor petróleo implicou a utilização de um amplo conjunto de dados que, indiretamente, permitiram a estimação de um vetor investimento para o setor ( Kupfer at. al., 2000:11).

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139

O Quadro 4.2 apresenta os impactos simulados pelo modelo para a economia

brasileira – considerando-se a hipótese de uma economia aberta e com governo - para

variáveis como valor da produção, impostos, importação, número de pessoas ocupadas e

renda. Dois tipos de impactos são avaliados: os induzidos diretamente pelo investimento em

atividades de exploração, produção e refino de petróleo e gás (E&P,R); e os efeitos

induzidos pela produção resultante destes investimentos125.

O esforço de investimentos realizados na década de 1990 pela Petrobras em

atividades de E&P foram substanciais. Estes investimentos em infra-estrutura produtiva,

bem como em atividades meio como, por exemplo, serviços especializados contribuíram

para que a Bacia de Campos crescimento médio de 7,8% ao ano da produção de petróleo

conforme se observa no Gráfico 4.1.

Produção de Petroleo -Bacia de Campos, RJ -1990/1999 em milhares de m3

0

20.000.000

40.000.000

60.000.000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Gráfico 4.1- Produção de petróleo Bacia de Campos – 1990/1999.

Fonte: ONIP

A busca em atingir a meta definida pela Petrobras, a saber: a de o país atingir a

autosuficiêcia na produção de óleo até o ano de 2005, tem se traduzido em robustos

investimentos por parte da empresa, principalmente no segmento de E&P. Estes

investimentos, como já mencionado, impulsionam a extensa e diversificada cadeia produtiva

do setor, expandindo a infra-estrutura offshore implicando em investimentos de magnitude

semelhante em infra-estrutura onshore.

125 Deve-se destacar alguns pontos importantes no que diz respeito aos resultados da simulação: (i) Os impactos diretos induzidos pelos investimentos (A) somados aos impactos induzidos pela Produção (B), geram uma renda total de US$1.920 milhões e um volume de emprego total de 95.234; (ii) Mais da metade do valor gerado pelos efeitos induzidos pelo investimento (A) a saber, US$1.646 milhões, cerca de 49,4%, vão para o

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140

A Tabela 4.1 apresenta a distribuição percentual dos investimentos totais da

Petrobrás, no período 1990-1998. Do total investido pela empresa, 62% - considerando-se a

média do período - foram destinados às atividades de E&P. Portanto, fica evidente que

dada a expressividade da Bacia de Campos na produção de petróleo do país a maior parcela

dos investimentos em E&P da Petrobrás são direcionados para a mesma.

Tabela 4.1-Percentual de investimento da petrobras por atividades: 1990 -1998

Ano/Atividade E&P Petrobras

Refino Transporte Outros Total

1990 66,3 9,1 12,2 12,4 100 1991 72,3 11,9 11,0 4,8 100 1992 72,4 11,1 11,6 4,9 100 1993 74,3 10,0 7,7 8,0 100 1994 70,0 8,9 11,3 9,8 100 1995 55,4 14,1 20,4 10,1 100 1996 57,8 20,3 12,7 9,2 100 1997 60,4 22,1 10,0 7,5 100 1998 34,2 8,8 23,6 33,4 100

Fonte Petrobras, apud: Kupfer et al. (2000).

De acordo com o Relatório Anual da Petrobras (RAP), no Brasil a “Petrobras tem

investido prioritariamente no desenvolvimento da sua capacidade de produção de óleo por

meio de recursos próprios e fundos obtidos através de projetos de financiamento project

finance” (Petrobras, 2001:79). Assim, com o novo marco regulatório estabelecido a partir

de 1997, as majors do setor petrolífero internacional têm sido atraídas para atuarem,

sobretudo na forma de parceria com a Petrobras, em projetos de desenvolvimento de áreas

onde a empresa detém reservas já descobertas com grande potencial comercial.

exterior na forma de importação de bens e serviços. O que implica na existência de um importante espaço na indústria nacional, para a substituição de importações.

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141

Tabela 4.2 - Investimentos da Petrobras: 1999/2002 US$Milhões ATIVIDADES

Mercado Doméstico 1999 2000 2001 2002 Exploração e Produção (A) 2,398 2,581 2,866 3,156 Suprimentos 521 569 642 945 Gás e Energia 956 50 192 - Total 3,875 3,200 3,700 3,801 Financiamento de Projetos ano de 2001: Albacora Espadarte/Voador/Marimba-EVM, Cabiúnas Companhia Petrolífera Marlim , Outros Total US$815,00 milhões Fonte: Relatório Anual da Petrobras (2001 e 2002)

4.3.2 - Abertura do Setor Petróleo e Investimentos Externos na BC

Por outro lado, o processo de abertura estrutural da economia brasileira, intensificado

na segunda metade da década de 1990, teve uma característica peculiar no que tange o setor

petrolífero nacional. Ficou caracterizado o franco predomínio da Petrobras, resultado dos

longos anos de competências acumuladas nos principais segmentos da indústria petrolífera

que lhe possibilitou um amplo diferencial competitivo no mercado nacional. Assim, “o

razoável porte das barreiras econômicas a ser enfrentadas pelos investidores interessados,

especialmente no upstream (exploração e produção), conduziu a estratégia das operadoras

internacionais a se associarem com a estatal que detém o conhecimento das bacias

sedimentares brasileiras e do ambiente sistêmico e empresarial do país” (Alveal, 2003:8).

O investimento das majors126 na Bacia de Campos, bem como a associação de

muitas delas com a Petrobras, tem sido intenso e resulta de quatro fatores essenciais (i) o

novo modelo regulatório instituído pela lei 9.478, que possibilitou a abertura do mercado

126 Deve-se, contudo, destacar dois momentos que caracterizam os investimentos no segmento E&P na BC. O período anterior a 1997, quando a Petrobras exercia o monopólio das atividades de E&P, e o período que caracteriza a quebra do monopólio instituído pela Lei 9.478 de 6 de agosto de 1997. No primeiro período, as atividades de E& P eram exercidas essencialmente pela Petrobras, que respondia pelos investimentos em E&P na BC. A partir de 1997, os investimentos assumem uma nova dinâmica tendo em vista a abertura do mercado. Dois aspectos devem ser destacados no que concerne aos investimentos realizados em E&P a partir de 1997: (i) o ingresso no país de grandes petroleiras internacionais, como a Totalfina-Elf, a Shell, e a YFP, por exemplo, atraídas pelo novo marco regulatório e pelas promissoras oportunidades de investimento, particularmente na BC, que, em geral, têm sido realizados em parceria com a Petrobrás; (ii) deve-se destacar que a mudança no marco regulatório do setor vem atraindo para o país, elevado número de fornecedores especializados de padrão internacional, muitos dos quais têm fixado plantas industriais em Macaé contribuindo para o adensamento do aglomerado petrolífero.

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142

nacional para o segmento upstream, por meio da concessão de blocos para as atividades de

exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural, através de leilões

conduzidos pela Agência Nacional do Petróleo -ANP; (ii) o fato de a Bacia de Campos ser a

maior província petrolífera do país, onde novas descobertas de petróleo e gás são anunciadas

pela Petrobras periodicamente, aumenta respectivamente a probabilidades de sucesso e as

expectativas dos investidores estrangeiros quando se trata de novas explorações; (iii) a

existência de reservas de petróleo e gás de grande potencial comercial, já descobertas na

Bacia de Campos pela Petrobras, mas necessitando de robustos investimentos para o

desenvolvimento da produção; (iv) com relação à capacidade da Petrobras de atrair parceiros

estrangeiros para a participação em projetos conjuntos, deve-se salientar que, desde sua

fundação no ano de 1953, até os dias atuais, a estatal desenvolveu vasto conhecimento

sobre a bacia sedimentar brasileira, bem como sobre o mercado petrolífero nacional em

seus distintos segmentos; não obstante, a empresa avançou tecnologicamente desenvolvendo

inúmeras competências em exploração e produção de petróleo e gás em águas profundas e

ultraprofundas, tendo conquistado a liderança mundial neste segmento.

Com efeito, os fatores acima têm contribuído para que operadoras de grande e médio

porte - sobretudo empresas estrangeiras - invistam na Bacia de Campos, tanto em parceria

com a Petrobras quando individualmente ou em parceria com outras empresas do setor ( ver

Tabela 4.3). Tais investimentos em E&P implicam na necessidade crescente de

investimentos complementares na base operacional da BC, o que contribui para explicar a

fase de crescimento que permeia o aglomerado petrolífero de Macaé.

A Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP) estima que os

investimentos a serem realizados no Brasil até o ano de 2010, incluídas empresas

fornecedoras de equipamentos e infra-estrutura para setores de petróleo e gás chegarão a

casa dos US$100 bilhões. A “Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base

por sua vez, desenvolveu estudos que estimam que, desse total, US$34,2 bilhões serão

investidos no país até o ano de 2006. A maior parte destes recursos destina-se ao mercado

que dá suporte às atividades desenvolvidas na Bacia de Campos” (Vasconcelos, 2003:18).

Por outro lado, a Petrobras estima investir, entre 2003 e 2007, o montante de US$15 bilhões

na Bacia de Campos sinalizando grandes oportunidades de investimento para empresas

relacionadas às atividades e E&P, sobretudo as grandes operadoras e prestadoras de serviço,

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143

nacionais e estrangeiras, que são atraídas a estabelecerem suas empresas especialmente em

Macaé (Ibid)

Tabela 4.3- Principais parcerias da petrobras e participação exclusiva de empresas estrangeiras nos blocos leiloados pela ANP

(+) Concessões da Petrobras (art. 33 Lei do Petróleo) (*) Empresas que lideram o consórcio. Fonte: ANP, Petrobras. Apud: TN Petróleo (2003)

Blocos

Parcerias com a Petrobras na Concessão de Blocos

Participação %

Blocos Participação % de

Empresas Estrangeiras

BC-2 (0) TotalFinaElf* 35%, Petrobras 35%, Shell 15%, Enterprise 15%

BM-C-4 (1)

Agip* 55%, YFP 45%

BC-9 (0) Unocal* 35%, Petrobras 35%, YFP 10%, Japex/Marubeni 20%

BM-C-5 (++)

Chevron Texaco 100%

BC-10 (0) Shell* 35%, Petrobras 35%, Esso 15%, Móbil 15%

BM-C-7 (+++)

Pan Canadian 100%

Frade + 511 (0)

Chevron Texaco* 42,5%, Petrobras 42,5%, Nissho Iwai 12,8%, Odebrech 2,3 %

BM-C-8

Devon* 45%, SK 40%, Odebrech 15%

BC-20 (0) Petrobras* 50%, Cheron Texaco 50%

BM-C-10 Shell100%

Bijuporá/ Salema (0)

Enterprise* 55%, Petrobras 20%, Odebrech 25%.

BM-C-15 Ocean Energy Inc* 65%, Amerada Hess Corporation 35%

BM-C-3 (1) Petrobras*40%, Agip 40%, YFP 20%

BM-C-19 Wintershall 100%

BMC-14 Total Fina Elf S. A. 30%, Petrobras 25% Enterprise Oil plc 22,5%, Shell Brasil S.A 22,5%

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144

4.3.3- Infra-estrutura Produtiva do Aglomerado Produtivo de Macaé.

Esta seção procura caracterizar a estrutura produtiva da Bacia de Campos. A

discussão do complexo petrolífero127 é definida em termos da infra-estrutura produtiva

offshore e onshore. No caso da infra-estrutura offshore, descreve-se brevemente o complexo

produtivo da BC, constituído por plataformas, navios, gasodutos e oleodutos, sistema de

transporte etc. Com relação à infra-estrutura onshore, busca-se caracterizar o conjunto de

empresas localizadas em Macaé que definem o aglomerado .

A dimensão da infra-estrutura de produção offshore da Bacia de Campos mantém

uma estreita relação com o crescente número de empresas ligadas direta e indiretamente ao

setor petróleo, que atuam em Macaé. Em outras palavras, podemos então afirmar que, de

um lado, a Bacia de Campos compõe-se de uma infra-estrutura de produção offshore,

composta de plataformas, gasodutos e oleodutos, linhas flexíveis, navios tanque, etc, que

possibilitam a expressiva produção de petróleo e gás. Por outro lado, o complexo offshore

da BC tem requerido o desenvolvimento de um conjunto de infra-estruturas onshore,

particularmente o desenvolvimento de uma base de operações constituída de inúmeras

empresas industriais, de prestação de serviços, provedores de insumos e bens de capital e

atividades de apoio, como se verifica no município de Macaé – base operacional da BC. A

expansão destas empresas e, conseqüentemente, do aglomerado petrolífero de Macaé, têm

sido induzidos basicamente pelos investimentos para aumentar a capacidade produtiva da

infra-estrutura offshore. Portanto, pode-se afirmar que o aumento da capacidade de produção

offshore implica necessariamente em aumento da capacidade produtiva onshore.

Considerando-se as atividades diretamente relacionadas a E&P, concentram-se em

Macaé empresas industriais e de serviços. As empresas industriais, em menor número no

aglomerado, desenvolvem atividades relacionadas a pequenos reparos e produção de bens

envolvendo baixa complexidade com destaque para a indústria de construção civil, que atua

mais diretamente no atendimento das demandas do complexo, o de reparo de peças, motores

127 O termo complexo será utilizado para denotar o conjunto de infra-estruturas de produção onshore e offshore que tipificam o aglomerado petrolífero de Macaé.

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145

e embarcações. As prestadoras de serviço128 constituem-se, por sua vez, na maior parcela

das empresas atuantes no aglomerado e atuam basicamente nas seguintes áreas (i)

Exploração: levantamentos geofísicos, serviços técnicos especializados tais como

transporte, montagem de equipamentos, sísmica, avaliação de poços, dentre outros; (ii)

Desenvolvimento: serviços envolvendo perfuração, simentação de poços, perfilagem,

serviços de instalação industrial tais como: turbinas, turbo-compressores e árvores de natal

molhada, geradores, linhas flexíveis, cabos elétricos; (iii) Produção: serviços envolvendo a

extração de petróleo e gás relacionados com suporte técnico à plataformas, navios tanque,

oleodutos e gasodutos.

4.3.3-1 - Infra- Estrutura offshore da BC

A Bacia de Campos possui uma das melhores infra-estruturas produtivas offshore do

mundo129. O desenvolvimento e emprego de novas tecnologias de exploração e produção e o

emprego de equipamentos de última geração, têm contribuído respectivamente para que a

Petrobras bata recordes sucessivos de produção a grandes profundidades e descubra novas

jazidas de petróleo e gás.

A maior província petrolífera do país, possui uma das maiores e mais modernas

infra-estruturas offshore em E&P do mundo, ver Quadro 4.3. Com 41 plataformas entre

fixas e flutuantes, 14 sistemas de produção flutuantes (FPS), 4.400 Km de redes de

oleodutos e gasodutos, a Petrobras atua em trinta e oito campos petrolíferos na Bacia de

Campos (ver Figura 4.3), tem uma “produção diária de 1.247.000 barris de petróleo, que

representa 81% de toda a produção de óleo do país” (Petrobrás, 2003).

128Não obstante deve-se enfatizar ainda a presença de atividades de suporte que caracterizam o aglomerado como serviços comerciais relacionados à venda de insumos, bens de capital, desembaraço aduaneiro, importação, serviços jurídicos, dentre outros, ligados às atividades petrolífera na BC. 129 Deve-se destacar que o complexo offshore da Bacia de Campos contribui de forma significativa para que o país esteja entre os 20 principais produtores de petróleo do mundo, ocupando a 15a. Posição conforme apresentado no quadro 3.1 do Capitulo 3.

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146

Quadro 4.3 - Bacia de Campos Infra-estrutura offshore: 2002.

Fonte: Tn Petróleo TB Petroleum (2002) - Infra-estrutura em fevereiro e março de 2001 e (*) Petrobras (2003)

O complexo petrolífero da Bacia de Campos é o maior já construído por uma única

empresa em todo o planeta sendo que o mérito da Petrobras vai além, considerando-se os

importantes avanços tecnológicos que a empresa tem promovido nas atividades de E&P em

águas profundas e ultraprofundas, contribuindo assim para a modernização e eficiência

produtiva deste complexo offshore.

� Descoberta em 1974 (poço 1-RJS-9A) - GAROUPA (*)

� Área: 115.000 km2 (50 m até 3.400 m de LDA) (*)

Reservas totais Provadas Prováveis Óleo e Condensado-------------------------7.21 bilhões bbl (11.7 bilhões bbl) Gás Natural -------------------------------- 101.6 bilhões m3 (174.3 bilhões m3 )

• Produção Diária

• Óleo e Condesado ---------------------------------------- PETRÓLEO: 1.247.000 bpd ;

� Gás Natural -----------------------------------------------18.9 milhões m3

/dia (47% produção brasileira).

� Sistemas de Produção Flutuantes FPS ----------------14(*) • Plataformas de produção (Fixas e Flutuantes)------41(*) • Árvores de Natal--------------------------------- 388 • Minifolds-------------------------------------------60 • Linhas Flexíveis----------------------------------2.526 Km • Umbilicais----------------------------------------1.666 km � Redes de oleodutos e de gasodutos: 4,400 Km (*)

• Campos de produção -----------------------------38 • Poços Perfurados---673 exploratórios; 732 exploráveis. Total:1.405

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147

Figura 4.3 - Complexo produtivo offshore da Bacia de Campos.

Fonte: TN Brasil (2002)

4.3.3-2- Infra-Estrutura Operacional Onshore da Bacia de Campos.

A infra-estrutura produtiva onshore que constitui o complexo produtivo da Bacia de

Campos está defininida pelo conjunto de empresas industriais e de prestação de serviços

que caracterizam o aglomerado, bem como pelo conjunto de infra-estruturas que

possibilitam as atividades operacionais onshore e offshore. No que tange às infra-estruturas

de produção onshore, deve-se destacar aquelas ligadas à logística. Neste contexto o

transporte de cargas, suprimentos, técnicos e engenheiros, assim como do óleo e do gás

produzidos, são de vital importância para o sucesso das atividades offshore na Bacia de

Campos.

Tendo em vista o fato de muitas das plataformas estarem localizadas a grandes

distâncias da costa, navios e embarcações menores são utilizados principalmente para o

transporte de cargas e suprimentos, enquanto que o transporte aéreo, por meio de

helicópteros é utilizado no trajeto de ida e volta de técnicos e engenheiros às plataformas de

petróleo.

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148

Para atender os objetivos da Petrobras, que estima passar dos atuais 1,2 milhão barris

de petróleo dia para 1,6 milhão em 2005, importantes investimentos têm sido programados

na logística da empresa. No caso do óleo, a ampliação da malha dutoviária de escoamento

atenderá o crescimento da demanda por escoamento previsto até 2010, quando os campos de

Roncador, Marlim Sul e Marlim Leste atingirem seu pico. Com o crescimento da produção,

por meio de novas plataformas de perfuração e produção, torna-se necessário aumentar o

transporte de pessoas e cargas – granéis líquidos e sólidos e cargas secas. “Esta necessidade

fez a Petrobrás criar os Planos de Renovação da Frota de Helicópteros e Embarcações. Os

dois projetos devem ser concluídos em 2006 e estão sendo implementados de forma

gradativa” (Vasconcelos, 2003:33).

Calcula-se que em 2005 estejam sendo escoados por navio, 880 mil barris/dia de

óleo, sendo os restantes 720 mil barris/dia, transportados através de oleodutos. No que diz

respeito às embarcações que transportam pessoas e cargas como gasolina, óleo diesel e

cimento, a Petrobrás tem contrato com empresas para a substituição de 22 embarcações das

105 que atendem a Bacia de Campos.

Fiugura 4.4 – Vista aérea do Porto de Imbetiba – Macaé

Fonte: Banco de Imagens da Petrobras (2003).

No contexto da logística da Bacia de Campos, o Porto de Imbetiba desempenha

papel-chave para as atividades da Petrobrás, tendo se constituído em um dos fatores

determinantes para que a empresa escolhesse o município como base operacional da BC.

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149

Mais de 80% dos atracamentos de navios e embarcações que transportam suprimentos, e

equipamentos para as plataformas da BC ocorrem nesse Porto, ver Figura 4.4. Neste sentido,

“são transportados mensalmente para as plataformas da BC cerca de 230.000 toneladas de

carga e 4,5 mil pessoas” (Vasconcelos, 2003).

Além do Porto de Imbetiba, tornou-se fundamental o transporte aéreo pela rapidez e

eficiência que representava no envio de pessoas e suprimentos para as dezenas de

plataformas instaladas na BC. Transporta-se atualmente, uma média de 40 mil passageiros

por helicópteros que levantam vôo do aeroporto de Macaé e do heliporto de Campos, para

atender à demanda de transporte, sobretudo da Petrobras.

A necessidade de reduzir custos de transporte, tendo em vista a descoberta de

campos gigantes como o de Roncador na costa campista, levou a empresa a construir um

heliporto em Campos dos Goytacazes com o objetivo primordial de encurtar o trajeto da

costa para as plataformas marítimas. Como se observa na Figura 4.5, a distância do heliporto

de Macaé para as plataformas localizadas em reservatório com lâmina d’àgua entre 1000 e

2000 m, como é o caso de Marlim, é de 175 Km. Partindo-se do heliporto construído pela

Petrobras no município de Campos dos Goytacazes a distância é de 155Km, o que resulta

em uma diferença de 40 Km para trajetos de ida e volta. Em termos de custos envolvendo,

sobretudo, o transporte aéreo para as plataformas, os ganhos são muito significativos.

Figura 4.5- Reservatório de Marlim: Distâncias relativas às bases de transporte.

Fonte: Banco de imagens da Petrobras (2003).

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150

No que tange ainda à infra-estrutura operacional onshore da Bacia de Campos é

importante ressaltar os seguintes complexos de produção da Petrobras: a estação de

armazenamento e tranporte de gás natural e óleo de Cabiúnas, assim como o Parque de

Tubos130, ambos da Petrobras.

Figura 4.6- Estação de Transferência de Cabiúnas – Macaé

Fonte: Banco de imagens da Petrobras (2003)

Sendo responsável por 43% da produção de gás natural do país, a unidade de

Cabiúnas coloca-se como elemento-chave no que tange ao armazenamento e transporte

deste produto e escoamento de óleo para alguns dos principais centros consumidores do

país. Atualmente, 80% do escoamento do petróleo na região, cerca de 900 mil barris/dia, é

feito por meio de navios aliviadores, e apenas131 20% (250 mil barris/dia) são transportados

por dutos (Vasconcelos, 2003:34).

4.3.3-3 - Complexo de Empresas offshore Atuantes em Macaé.

Como parte da infra-estrutura produtiva da Bacia de Campos destaca-se o crescente

número de empresas localizadas em Macaé, que atuam direta e indiretamente em atividades

relacionadas a E&P offshore de petróleo e gás. A abertura do Mercado em 1997, lei do

Petróleo, contribuiu para acelerar o ingresso de novas empresas de padrão internacional,

130 O parque dos tubos, localizado em Macaé, funciona como um imenso depósito de equipamentos, tubulações e materiais diversos, que são transportados para as plataformas marítimas, através do porto de Imbetiba. Constitui-se, portanto, em elemento fundamental na logística da Petrobrás UN BC. 131 Para minimizar este problema, a Petrobras está contratando projetos para o desenvolvimento de oleodutos o qual, em sua fase inicial, tem orçamento previsto superior a U$500 milhões (ibid).

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151

que vêm fixando suas bases em Macaé. Nesse sentido os investimentos previstos pela

Petrobras para os próximos anos em E&P, associado aos investimentos das operadoras

internacionais – têm contribuído fortemente para a evolução do aglomerado petrolífero de

Macaé.

Instaladas em Macaé encontram-se empresas de diversos ramos ligados direta e

indiretamente às atividades de E&P. Merecem destaque as grandes operadoras como a

Petrobras, Shell, Total Fina Elf, Exon Mobil, dentre outras que demandam bens e serviços

em diversas fases do processo de E&P na BC. Deve-se mencionar ainda as empresas

comerciais, prestadoras de serviço e industriais. No caso das empresas comerciais destacam-

se aquelas especializadas na venda de equipamentos elétricos, eletrônicos, metalúrgicos, de

construção civil, de segurança do trabalho, de máquinas e equipamentos de pequeno e médio

porte, de ferramentas, e etc. As empresas prestadoras de serviço dividem-se em dois

subgrupos: as grandes prestadoras de serviço, caracterizadas, em geral, pelo elevado aporte

tecnológico e de capital, responsáveis pelos grandes contratos junto às operadoras atuantes

na BC, com destaque para a Petrobras; e as pequenas e médias empresas indústrias e de

prestação de serviços, caracterizadas pelos baixos níveis tecnológicos e de aporte de capital.

Com relação às empresas de grande porte - com destaque para a Petrobras132 e

empresas multinacionais -, estas estão diretamente envolvidas com projetos complexos

envolvendo as principais fases da atividade petrolífera na BC, a saber: exploração,

desenvolvimento e produção de petróleo e gás. Na área de exploração, tais empresas atuam

desenvolvendo serviços como: trabalhos de sísmica 3D, perfuração de poços, transporte e

aluguel de plataformas. Na fase de desenvolvimento da produção destacam-se empresas que

prestam serviços relacionados à colocação de árvores de natal, instalação de dutos de óleo e

gás, minifolds, bombas elétricas, instalação de plataformas fixas e flutuantes, reparos navais,

etc. Com relação à produção propriamente destacam-se empresas que atuam na área de

projetos de produção, serviços de engenharia elétrica, de sistemas de informação, mecânica,

reparos navais, acondicionamento e transporte de óleo e gás. Em todas as três áreas

destacam-se as empresas especializadas na prestação de consultorias, inclusive na

132 A Petrobras enquanto empresa dominante (âncora) é responsável pela maior parcela da demanda de bens e serviços na BC.

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152

elaboração de projetos, nas áreas de engenharia, meio ambiente e financeira “project

finance”.

Já as empresas de pequeno e médio porte atuam, normalmente, em sistemas de

subcontração133 nas áreas de construção civil, caldeiraria, soldagem, pequenos reparos,

usinagem, pintura, hotelaria, catering etc. Estas empresas, em geral, atuam em segmentos

que atendem a indústria petrolífera, onde a complexidade das operações, o nível tecnológico

e o montante dos investimentos para o desenvolvimento do negócio são relativamente

baixos.

4.3.3-4-Localização Geográfica das Empresas do Aglomerado.

As empresas que constituem o aglomerado petrolífero de Macaé se concentram em

três bairros ou áreas industrias: Imboassica, Novos Cavalheiros e Parque dos Tubos. A

maior empresa do aglomerado é a Petrobras134, cuja sede está localizada no bairro de

Imbetiba, próximo ao porto que recebeu o mesmo nome. A localização da Petrobras é

privilegiada pela existência de infra-estruturas físicas como o porto de Imbetiba e o

aeroporto de Macaé.

Do ponto de vista da localização geográfica pode-se distinguir alguns padrões

relacionados à concentração de empresas de pequeno, médio e grande porte que definem o

aglomerado petrolífero de Macaé135, conforme se observa na Figura 4.7.

133 Elementos que tipificam o sistema de governança que envolve os mecanismos de coordenação inerentes ao APM são apresentados na análise microeconômica, Capítulo V. 134 As infra-estruturas de produção onshore - definidas especialmente pela maior e mais antiga operadora da BC, a Petrobrás, ao longo das últimas décadas em Macaé - vão influenciar decididamente na localização das aglomerações de empresas de suporte à atividade petrolífera no município, que passam a se situar em torno das principais áreas industriais ocupadas pela estatal, a saber, Parque dos Tubos, em Imbetiba (sede da Petrobras) e no Complexo de Armazenamento e Processamento e Transporte de Gás natural da Petrobras - Cabiúnas. 135 É importante ressaltar, que o APM avança para os municípis vizinhos à Macaé, como Rio das Ostras, Campos e Carapebus estando articulado ao Rio de Janeiro com a participação de diversas indústrias de bens e serviços, instituições governamentais e não governamentais, além de instituições de ensino e pesquisa. Este assunto será retomado no próximo capítulo.

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153

Figura 4.7–Aglomerações de empresas offshore de Macaé: localização

geográfica Aglomerações industriais Fonte: TN Brasil (2002)

No que tange às pequenas empresas destaca-se que estas se concentram basicamente

nas áreas periféricas da cidade, onde é possível observar a ausência de toda sorte de infra-

estrutura, inclusive saneamento básico. Estas concentrações industriais ocorrem na periferia

do bairro de Imbetiba, bem como na entrada da cidade de Macaé, e na proximidade do

centro da cidade - no entorno do aeroporto de Macaé.

As empresas de grande e médio porte, por sua vez, concentram-se essencialmente no

bairro de classe média alta, Novos Cavalheiros, bem como na região do chamado Parque

dos Tubos - nas margens da rodovia Amaral Peixoto. A Rua Professor Aristeu F. da Silva,

por exemplo, localizada no bairro Novos Cavaleiros, concentra mais de 350 empresas de

médio e grande porte, sobretudo multinacionais, especializadas na prestação de serviços em

E&P offshore. No bairro Novos Cavalheiros encontram-se as filiais de algumas das maiores

empresas offshore do mundo como Halliburton, Schlumberger, Transocean, Precision

Internacional, DVN, dentre outras.

No bairro Parque dos Tubos localiza-se a divisão de tubulações da Petrobrás e o

depósito de equipamentos e materiais da empresa. Observa-se ainda a presença de empresas

Novo Cavalheiro

Parque dos Tubos

Imboassica

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154

de atuação internacional como a Lousianna Drilling, Petroserv, Weatherford, Cooper

Cameron.

4.3.4- Infra-estrutura Financeira

Neste ponto busca-se analisar o suporte financeiro que alicerça a atividade

petrolífera da Bacia de Campos. Discutem-se dois tipos de infra-estrutura financeira, a

saber: aquela disponível às empresas de grande porte as quais, em geral, demandam

complexas operações de ‘project finance’ e a infra-estrutura financeira disponível ou

acessível a pequenas e médias empresas que participam da cadeia produtiva do petróleo as

quais, normalmente, sofrem maior restrição ao acesso a crédito. Por fim analisa-se a

disponibilidade de Instituições financeiras em Macaé e Região, bem como as facilidades e

debilidades para o acesso ao crédito com vistas ao investimento em atividades vinculadas ao

setor petrolífero na BC.

Schumpeter argumenta que o crédito é fundamental para que haja o progresso

tecnológico, o qual é visto como fundamento para a ocorrência do desenvolvimento

econômico. Isto posto, “a criação de poder de compra caracteriza, em princípio, o método

pelo qual o desenvolvimento é levado à cabo num sistema com propriedade privada e

divisão do trabalho” (Schumpeter, 1988:74).

As economias capitalistas passaram por grandes transformações ao longo do século

XX, determinando importantes mudanças no sistema bancário-financeiro e,

conseqüentemente, no sistema de crédito136 às empresas. Com a globalização, observa-se o

avanço da financeirização137 das economias capitalistas, que se reflete em operações de

crédito cada vez mais desvinculadas da órbita monetário-creditícia, centrando-se

fundamentalmente na órbita financeira-creditícia (Rosendo, 1998:28). A alavancagem do

136 “ A questão fundamental a ser enfatizada é que, as mudanças institucionais ocorridas desde a publicação da “Teoria Geral” de Keynes (1936), até os dias atuais, implicaram na transformação do Sistema Capitalista que à sua época fundamentava-se essencialmente no crédito com base no lastro monetário, passando, no período recente, à um sistema onde o crédito está essencialmente baseado em operações financeiras, ou seja, transações com quase moedas o securieties (Rosendo, 1998:28). 137 O processo de financeirização das economias capitalistas se manifesta na crescente fusão entre a moeda e a poupança financeira (...). Em outras palavras, os contatos em moeda, representativos dos débitos que são liquidados através do sistema financeiro para a manutenção da produção, do consumo e do investimento, (ocorrendo o último com base no fundo finance), não mais se diferenciam do estoque de riqueza acumulada líquida, ou seja, do dinheiro financeiro que circula no interior do sistema bancário-financeiro (Ibid).

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155

crédito deixa de ocorrer no mercado monetário M1 e passa a ocorrer com maior intensidade

no mercado financeiro M3 (Ibid).

Este processo de financeirização das economias capitalistas evidencia três

características básicas: (i) mercados futuros e de derivativos, que atuam também enquanto

mercados secundários, ao exercerem atividades no campo da securitização, os quais

conseguem, geralmente, canalizar poupanças a custos mais baixos que os créditos

tradicionais providos por bancos; (ii) como resultado, instituições de porte maior têm acesso

à financiamentos via “securitizations” a custos mais baixos, enquanto empresas menores

ficam limitadas aos bancos, cujos empréstimos, inexoravelmente, implicarão em custos

financeiros maiores; e (iii) a concessão de crédito para empresas menores aumenta a

probabilidade de inadimplência para os bancos, ou seja, eleva o risco do crédito, o que

determina spreads mais elevados para o tomador final (Rosendo, 1998:26-27).

A estrutura financeira que atende o aglomerado petrolífero de Macaé possui muita

das características mencionadas acima, particularmente no que se refere às empresas de

atuação multinacional. O acesso ao crédito por parte das firmas que operam no aglomerado

pode ser qualificado em dois grupos: (i) o de empresas de atuação internacional de grande

porte, como é o caso da Petrobrás e grandes empresas offshore, que têm acesso a créditos

junto ao mercado financeiro internacional securitizado, bem como às agências nacionais de

financiamento de longo prazo, como o BNDES; e (ii) o de empresas de médio e pequeno

porte nacionais que não acessam o mercado internacional, ficando restritas à demanda de

crédito junto aos bancos comerciais tradicionais a custos muito elevados para o padrão

internacional, o que dificulta o investimento de longo prazo e a capacitação tecnológica.

Deve-se enfatizar que, de acordo com as entrevistas realizadas com as pequenas

empresas138 do aglomerado, foram observados os seguintes impedimentos ao acesso a

créditos, junto às instituições financeiras que atuam dentro e fora do município de Macaé:

(i) falta de informações sobre as linhas de crédito disponíveis e os procedimentos

138 Destacam-se a contribuição dada para a realização das entrevistas com as PMEs do aglomerado petrolífero de Macaé Entrevista pelo Sr. Paulo Longobardi, presidente do Grupo das Pequenas Empresas Prestadoras de Serviço da Indústria de Petróleo em Macaé- GEPES). Em sua participação o sr. Paulo ressaltou que as pequenas empresas, de forma geral, não conseguem acesso à créditos junto à bancos de fomento como o BNDES, à taxa de juros condizentes para investimentos em Bens de Capital e ampliação das plantas de produção. Os investimentos para ampliação da capacidade produtiva e inovação tecnológica são, quase sempre, realizados com capital próprio das empresas, o que coloca as PMEs em situação muito delicada face às dificuldades que enfrentam para a realização de poupança para investimento.

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156

necessários para demandá-los; (ii) elevadas taxas de juros, prazos incompatíveis para

financiamentos de longo prazo, elevadas contrapartidas de garantia para obtenção de

empréstimos; (iii) grande burocracia para acesso a créditos junto ao BNDES; (iv)

inexistência de uma política de crédito para o setor petrolífero que atenda às pequenas e

médias empresas.

Com efeito, a maior parte das empresas de pequeno e médio porte conta basicamente

com escassos capitais próprios para a realização de investimentos principalmente em

capacidade produtiva e tecnologia, o que afeta a competitividade das mesmas.

No que se refere às grandes empresas que têm acesso ao sistema de crédito no

mercado financeiro internacional, deve-se destacar a prática comum de project finances para

a captação de fundos no mercado internacional tendo em vista a realização de investimentos

pesados, normalmente em infra-estrutura de produção com caráter de longa maturação.

Nestes casos, a captação de fundos de longo prazo se dá basicamente no mercado

securitizado e conta com participação de grandes instituições financeiras que atuam,

normalmente, como agentes intermediários tendo em vista a concretização do projeto para a

obtenção de financiamento.

Como exemplo de como as grandes empresas que atuam no aglomerado captam

recursos de longo prazo para financiar investimentos em infra-estrutura, apresenta-se as

bases do projeto de financiamento para a expansão da capacidade de armazenamento e

escoamento de gás da Bacia de Campos através do complexo de Cabiúnas em Macaé.

Os investimentos previstos são da ordem de US$ 800 milhões para aumentar o

processamento da Petrobras em mais de 10 milhões de m3/dia, possibilitando um maior

aproveitamento do gás natural produzido na Bacia de Campos e a redução de sua queima –

de 34% para 11% da produção da região. O denominado Projeto Cabiúnas139 teve sua

primeira fase concluída em outubro de 2003, com a entrada em operação da unidade de

recuperação de líquidos (URL) de Cabiúnas. A URL, com capacidade de 4,5 milhões de

m3/dia de gás, integra o conjunto de obras a serem realizadas até 2005 e que vai aumentar a

capacidade de processamento da estatal em 10,8 milhões de m3/dia – o equivalente ao

139 À exceção da parte offshore, a cargo da área de engenharia da Petrobras, todas as obras do projeto Cabiúnas estão sendo executadas pelo consórcio Toyo-Setal, formado pela Toyo Engineering Corporation e pela Setal Construções (Vasconcelos, 2003:33).

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157

consumo dos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul somados ( Vasconcelos,

2003:33).

Os recursos para o projeto140, cujo investimento total chega a US$800 milhões vêm

do Japan Bank for International Cooperation, das tradings Mitsui e Sumitomo e de 11

bancos internacionais, liderados pelo Bank of Tokyo Mitsubishi. O financiamento, fechado

pela Petrobras no início de 2000, foi estruturado no sistema de aluguel (leasing operacional

internacional), com prazo de dez anos. Para viabilizar a operação, foi criada uma Sociedade

de Propósito Específico-SPE, denominada Cabiúnas Cayman Investment Company, que

ficará responsável pela captação de recursos e pelo arrendamento operacional dos ativos à

estatal. Após o pagamento, os ativos serão transferidos para a petroleira (ibid).

4.3.5- Infra-estrutura Física

Entende-se como infra-estrutura física, o conjunto de infra-estruturas urbanas, que

possibilitam à localidade, de um lado, o avanço na formação de redes sociais e, de outro, as

condições estruturais e institucionais para o desenvolvimento de redes de empresas. Tendo

em vista o fato de Macaé ser uma localidade de baixo desenvolvimento, o município

apresenta ainda muitas deficiências relacionadas à sua infra-estrutura urbana, que atuam de

forma negativa na dinâmica do aglomerado. Por outro lado, há de se destacar o empenho da

Prefeitura Municipal de Macaé nos últimos anos no sentido de minorar as deficiências

existentes em vários segmentos passíveis de atuação do Poder Público Municipal .

Macaé possui um número total de 47.666 domicílios141 com uma taxa de ocupação

de 80%. Dos 9578 domicílios não-ocupados, 25% têm uso ocasional. A cidade possui ainda

12 agências de correios, 8 agências bancárias, 31 estabelecimentos hoteleiros e 6

equipamentos culturais (cinema, teatro, museu e/ou bibliotecas)” (Mello et. al., 2002:9).

140 Por outro lado, a demanda de gás no estado do Rio de Janeiro tende a aumentar com a entrada e operação das novas usinas do Programa Prioritário de Termelétricas (PPT). Somadas às plantas Macaé Merchant e Eletrobolt já em operação, as térmicas Norte Fluminense e Termorio foram programadas para operar em 2003, o potencial de consumo do segmento aumenta para 12,6 milhões de m3/dia – maior que o volume de gás a ser recuperado com a conclusão do Queima Zero. A tendência também é verificada em Minas Gerais, onde a previsão é de um acréscimo de 1 milhão de m3/dia no segmento de geração entre 2002 e 2003 (Vasconcelos, 2003:33). 141 As habitações precárias e o crescimento das favelas são um dos principais problemas enfrentados por Macaé atualmente.

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158

No aspecto transporte rodoviário142, as ligações da sede municipal de Macaé são

feitas por duas rodovias e uma ferrovia. A RJ-106 percorre todo o litoral, de Rio das Ostras

a Carapebus, atravessando o centro da cidade. A RJ-168 corta o município de leste a oeste,

acessando a BR-101 (Mello et. al., 2003:32).

Quanto às comunicações observa-se no município o desenvolvimento de uma infra-

estrutura moderna de comunicação via satélite, que articula as bases onshore das diversas

empresas industriais e prestadoras de serviço às plataformas e navios localizados na Bacia

de Campos. O sistema de comunicações adotado pelas empresas do setor é sem dúvida um

dos mais modernos do mundo. Quanto ao sistema de comunicações do Município merece

destaque a expansão nos serviços telefônicos com a expansão do número de telefones

públicos e aumento do número de telefones residenciais. Merece destaque ainda a presença

no município da empresa de telefonia Vésper, especializada em telefonia móvel.

No que se refere à infra-estrutura de saúde, Macaé possui 3 hospitais, 55 clínicas

cirúrgicas e 133 clínicas médicas. O município possui uma média de 2,12 leitos por cada

1.000 habitantes, o que reflete uma situação razoável da infra-estrutura de saúde (ibid).

A infra-estrutura típica de uma cidade historicamente rural defrontou-se então com

rápido avanço da indústria petrolífera, que se acelerou a partir de 1997, com a quebra do

monopólio da Petrobras e ingresso de novas empresas prestadoras de serviço e operadoras

transnacionais. Isto posto, a forte expansão do aglomerado petrolífero de Macaé, em um

ritmo mais acelerado que os investimentos em infra-estrutura urbana, tem criado

dificuldades para sua expansão e eficiência, gerando sérios transtornos para a empresas que

atuam no município.

A carência de diversos tipos de infra-estrutura, tanto em qualidade quanto em

quantidade, refletem-se de forma negativa na eficiência produtiva do aglomerado. Apesar

da fartura de recursos por parte do poder público municipal, as empresas, principalmente as

de grande porte, reclamam de diversos tipos de deficiências. As principais queixas, de

acordo com as entrevistas realizadas ao longo da pesquisa143, recaem sobre a insuficiência

da malha viária, a carência de saneamento básico e a deficiência de transporte coletivo.

142 As empresas entrevistadas, sobretudo as grandes, reclamam da precariedade das vias internas à cidade. Com efeito, não é incomum, quando do transporte de máquinas e equipamentos de grande porte pelas ruas da cidade, fios elétricos serem arrancados e o trânsito tornar-se um caos. 143 Ver Apêndice II.

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159

Deficiências em infra-estrutura urbana, como saúde, transporte, educação, habitação

dentre outros, são fatores fundamentais no que concerne a evolução de um sistema de

produção local. Tendo em vista o levantamento das carências particularmente em infra-

estruturas, a Fundação CIDE implementou um índice denominado IQM-Carências144 que

procura avaliar as principais deficiências que afetam a qualidade de vida das pessoas

residentes nos noventa e um municípios do Estado do Rio de Janeiro analisados. O índice

total oscilou entre 32,4% (Rio de Janeito) e 54,0% (Japeri). Quanto mais alto o percentual

apurado no índice, maior o seu nível de carência (Mello et. al., 2002:22).

A aplicação do indicador proposto pelo CIDE se dá com base em três níveis da

pirâmide que serviu de base para os cálculos. Nesse sentido, obteve-se os seguintes

resultados referentes à Macaé: (i) com relação ao primeiro nível da pirâmide145 do IQM-

Carências, que avalia as necessidades básicas e de sobrevivência do cidadão, Macaé está em

87º lugar no Estado, com a marca de 44,9%; (ii) com relação ao segundo nível da pirâmide

do IQM-Carências, que avalia o aumento de oportunidades de ascensão social, constituindo-

se assim em um nível intermediário, em que estão incluídos indicadores de um maior

progresso, o município está em 81º lugar no Estado, com a marca de 52%; Por fim, com

relação ao 3º nível, que representa o auto-desenvolvimento e a auto-satisfação,

representando o topo da pirâmide onde todos deveriam chegar, Macaé está em 84º lugar no

Estado, com a marca de 46,9% (CIDE, 2001).

A empresa FMC CBV investe em Macaé há 20 anos, mas os problemas de infra-

estrutura já fizeram a empresa refletir sobre a possibilidade de mudança para o município

vizinho de Rio das Ostras. “De acordo com o gerente da base de Macaé, José Renato

Marins, a área onde está instalada a empresa, no Codin (Companhia Distrito Industrial do

144 O índice de Qualidade dos Municípios “Carências”, publicado pela fundação CIDE 2001, “define a graduação da qualidade de vida em educação; saúde; habitação e saneamento; mercado de trabalho; comércio; segurança; transportes; comunicação; esporte, cultura e lazer; participação comunitária; e descentralização administrativa”(Mello et. al., 2002:21). 145 Com relação às maiores carências do primeiro nível da pirâmide em Macaé, destacam-se: (i) infra-estrutura das escolas 65%; (ii) Mortalidade infantil 66,7%; Direito à vida 81,1%; Acessibilidade 87,6%. Com relação às carências do 2º nível destacam-se: (i) Instruções de adultos 84,8%; (ii) dependências escolares 94,2%; (iii) Disponibilidade de leitos 53,8%; (iv) Favelas 100%; (v) Tempo de permanência no emprego 57%; (vi) Direito à integridade física 50,4%; (v) Rendimento do Trabalho 52,3%; (vi) existência e funcionamento de conselhos municipais 50,0. Por fim, com relação ao 3º nível as maiores carências são (i) Instruções de Jovens 88,7%; (ii) Ensino superior Mestrado e Doutorado 75,0%; (iii) Procedimentos assistenciais de alta complexidade 72,7%;(iv) Equipamentos esportivos culturais de informação e lazer 70%; (v) Direito à propriedade 56,6%;(vi) Transporte particular 59,0 (vii) Rendimento 70,6 (ibid).

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160

Rio de Janeiro), em Cabiúnas, deveria funcionar como um verdadeiro pólo industrial, já que

também abriga a unidade de transferência e processamento de óleo e gás da Petrobras, a

AGIP, a Nacional Gás Butano e a AGA” (Vasconcelos, 2002:26). Na ausência do poder

público este grupo de empresas criou o Plano de Ajuda Mútua (PAM), onde as próprias

empresas se estruturam com ações compartilhadas para o suporte de suas atividades (ibid)

Os problemas mais comuns reclamados pelo grupo de empresas que desenvolveram

o PAM são a falta de do abastecimento de água e o transporte deficiente. Outro sério

problema que incomoda os empresários do setor offshore, tanto os localizados em Cabiúnas

quanto em Parque dos Tubos e Imboassica – os principais pontos industriais do município –

é a precária logística de transporte em Macaé. A malha viária não comporta o transporte de

grandes peças e equipamentos, transformando muitas vezes o trânsito da cidade em um

verdadeiro caos, danificando inclusive as instalações elétricas da cidade (Ibid).

Se as grandes empresas sofrem com problemas de infra-estrutura urbana, a questão

se agrava quando se trata das pequenas empresas. As áreas onde estão localizadas estas

empresas, embora na proximidade do centro da cidade, caracterizam-se, em geral, por

grande carência de infra-estrutura. Verifica-se a falta de saneamento básico, tais como água

e esgoto, muitas ruas carecem de calçamento e pavimentação e os transportes são um grande

empecilho no deslocamento da mão-de-obra. Se por um lado, as grandes empresas

conseguem – quando lhes é conveniente – desenvolver individual ou conjuntamente ações

para minimizar a deficiência de infra-estrutura como compra de água potável, aluguel de

ônibus para o transporte da mão-de-obra, contratação de segurança patrimonial privada etc.,

o mesmo não se pode dizer com relação às pequenas empresas.

Outra questão fundamental que se coloca como problema para o desenvolvimento do

aglomerado em Macaé, diz respeito à crescente especulação imobiliária que vem

inflacionando sobremaneira o preço dos terrenos industriais e dos imóveis na cidade,

refletindo a inoperância do poder público, sobretudo municipal, no que tange às políticas

voltadas para o ordenamento do solo.

Um dos principais problemas relacionados à infra-estrutura urbana que afeta a cidade

de Macaé atualmente, diz respeito ao déficit habitacional que vem se agravando em função

da expansão do fluxo migratório para a cidade, ver Gráfico 4.2. O elevado fluxo migratório

para Macaé tem afetado principalmente a população de baixa renda. As oportunidades de

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161

emprego sinalizadas pela indústria petrolífera têm provocado a aglutinação de contingentes

populacionais em áreas periféricas da cidade, que constroem habitações rústicas, em geral

aquém dos padrões mínimos de segurança e conforto, em localidades onde a infra-estrutura

urbana é muito precária. O resultado é o adensamento de favelas, que apresenta o maior

índice de carência no município, 100% de acordo com o IQM-Carências (CIDE, 2001). Tal

fato contribui com o agravamento dos problemas sociais daí decorrentes como violência

urbana, tráfico de drogas, prostituição, especulação imobiliária etc.

Variação Percentual acumulada da população residente em Macaé e Regiões do RJ: 1997-2000

0

5

10

15

20

1997 1998 1999 2000

Fonte Cide 2001; Ano base:1996

Variação %

Reg. Metrop.

Rio de Jan.

Norte Flum

Macaé

Gráfico 4.2- Variação percentual da população residente em Macaé - 1997/2000 Fonte: CIDE.

A especulação imobiliária, resultado de uma demanda que supera em muito a oferta

de imóveis tem contribuído para elevar fortemente o custo de vida em Macaé com impacto

maior para a população de baixa renda. Por outro lado é possível observar uma nítida

segregação espacial na cidade no que tange aos locais escolhido para moradia por parte de

funcionários e executivos de classe média e classe alta, ligados principalmente à empresas

offshore. Com efeito, a maior demanda por imóveis para aluguel e compra ocorrem nos

bairros mais nobres da cidade: Imbetiba, Praia Campista, Cavaleiros e Cancela Preta. O

aluguel de um imóvel residencial nestes bairros varia entre R$1.000,00, podendo chegar a

R$10.000,00.

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162

4.3.5.1 Política Fiscal

Macaé é atualmente um dos municípios mais prósperos do país apresentando

crescimento econômico muito acima da média. De acordo com a secretaria de Fazenda de

Macaé, estima-se que em 2003 o PIB municipal cresça a uma taxa entre 13 e 15%, contra

um crescimento médio do país estimado em pouco menos de 1%. O município conta com

um expressivo superávit fiscal que é resultado de uma arrecadação milionária e das receitas

oriundas dos royalties do petróleo. Concebe-se que estes recursos podem, se devidamente

aplicados, minimizar ou mesmo eliminar, em alguns casos, os sérios problemas de infra-

estrutura – inclusive básica - e condições sócio-econômicas precárias, de regiões periféricas

como se verifica em Macaé.

O fato de sediar grande parcela da estrutura administrativa e operacional da maior

província petrolífera do país e de estar localizada geograficamente na Bacia de Campos

confere a Macaé um duplo benefício que vem contribuindo para o rápido crescimento da

economia local. Em primeiro lugar, há de se destacar os efeitos multiplicadores dos

investimentos das empresas privadas e da Petrobras e os impactos positivos então

determinados na economia local, sobretudo no que se refere aos níveis de renda e de

empregos. Em segundo lugar, com o crescimento do aglomerado petrolífero, é mister

enfatizar o expressivo crescimento das receitas municipais, incrementadas pelo aumento da

arrecadação dos tributos tradicionais e, principalmente, pelos royalties petrolíferos e

participações especiais146. O aumento do superávit financeiro do município contribui para a

implementação de políticas fiscais expansionistas voltadas, sobretudo, para o investimento

em infra-estrutura. Os resultados destes efeitos refletem-se na extraordinária evolução do

orçamento municipal que passou de R$67 milhões em 1997 para um valor superior a R$220

milhões em 2002 o que representa uma variação percentual na casa dos 328% no período

(Vasconcelos, 2002:24).

O desempenho da arrecadação de Macaé se deve ao incessante volume de negócios

que se realizam em torno da atividade petrolífera. De acordo com a Secretaria de Fazenda

de Macaé, somente a Petrobras paga em média R$1milhão de ISSQN (Imposto Sobre

146 O município de Macaé é o segundo maior receptor de royalties do país, atrás apenas do município de Campos dos Goytacazes.

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163

Serviço de Qualquer Natureza). O ISSQN é uma das fontes mais expressivas de arrecadação

do município, sendo que a atividade petrolífera contribui com 70% da arrecadação deste

imposto. As atividades de construção civil, por sua vez, contribuem com 15%, a hotelaria

com 6% e atividades diversas com 9% (Ibid). Não obstante, o município vem obtendo

ainda expressivo crescimento na arrecadação de impostos como: ICMS (Imposto Sobre

Circulação de Mercadorias) e IPI (Imposto Sobre Produtos Industriais).

Para atender às exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) a prefeitura

elaborou a revisão do Código Tributário Municipal, criando vários instrumentos para coibir

a sonegação. Ao mesmo tempo, ampliou os incentivos fiscais destinados a atrair novos

empreendimentos (Vasconcelos, 2002:24). O artigo 160 da Lei Complementar 028/2001

concedeu redução de 50% na alíquota de ISSQN por serviços prestados por qualquer pessoa

física ou jurídica a Petrobras ou empresas afins ainda que através de subcontratação. O

mesmo redutor de 50% foi igualmente concedido, pelo prazo de 24 meses, para quaisquer

atividades de empresas prestadoras de serviços instaladas em Macaé a partir de janeiro de

2001(ibid.).

Na maioria das cidades periféricas observa-se, em relação à necessidade de

investimentos em infra-estrutura física, a precariedade de mecanismos como planejamento

urbano e políticas de execução plausíveis e, principalmente, a escassez de recursos

públicos. Até recentemente estes fatores eram evidentes em Macaé e contribuíam para

explicar as deficiências em infra-estrutura na cidade. A deficiência no planejamento urbano

e a carência de mecanismos de execução e controle do abundante orçamento de Macaé são

problemas ainda por resolver. Assim, a partir do ano de 2000, a necessidade de um efetivo

planejamento urbano e de investimentos adequados em infra-estrutura passaram a ser

percebidos pelo poder executivo147 do município como fatores fundamentais148 para

alimentar os investimentos das empresas offshore e a expansão acelerada do aglomerado

petrolífero.

147 A expansão dos cursos de pós-graduação na região Norte Fluminense, parece estar contribuindo não apenas para a capacitação tecnológica de muitos dos executivos que atuam em cargos-chave na prefeitura de Macaé, mas também indica estar contribuindo fortemente para a ocorrência de uma mudança cultural por parte destes atores. 148 Nesse sentido, estão sendo implementadas regulamentações para o ordenamento do solo através do “Estatuto de Macaé”, que prevê diretrizes de empreendimentos urbanísticos, aprovação de projetos de parcelamento e de edificação, realização de vistorias e expedição de termos e verificação de obras (Diniz, 2002:36).

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164

4.3.6-Infra-estrutura do Conhecimento.

Nas economias capitalistas globalizadas, os investimentos em educação e na

produção de conhecimentos e na formação de uma rede de ciência e tecnologia são

cruciais para o desenvolvimento de um sistema local e regional de inovação. Estes fatores

estão diretamete relacionados com formação de capital humano e contribuem

decididamente para a ocorrência de incrementos de produtividade e ganhos de

competitividade - fatores determinantes para o desenvolvimento econômico sustentável de

localidades, regiões e países – além de possibilitar a redução das desigualdades

econômicas e sociais . Esta subseção discute a infra-estrutura educacional e de produção

de conhecimento que atende às empresas offshore atuantes em Macaé.

Pode-se dividir a infra-estrutura do conhecimento em duas vertentes: (i) de um lado o

sistema educacional, que compreende escolas de nível básico e médio, escolas técnicas,

cursos de nível superior; (ii) de outro a infra-estrutura para a produção de conhecimento,

compreendida aqui como o conjunto de instituições que articulam o desenvolvimento de

uma rede de ciência e tecnologia, compreendendo cursos universitários e técnicos

sobretudo nas áreas de engenharia que integrem: projetos de iniciação científica, cursos

de pós-graduação stricto sensu, centros e institutos de pesquisas.

A seção destaca instituições de ensino e pesquisa como a Universidade Estadual do

Norte Fluminense, através do Laboratório de Engenharia de Petréoleo-LENEP, localizado

em Macaé; bem como laboratórios públicos e privados localizados em Macaé que dão

suporte às atividades offshore na Bacia de Campos.

A infra-estrutura do conhecimento que dá suporte ao aglomerado petrolífero de

Macaé, situada na referida cidade e nos municípios do entorno, ainda é muito incipiente.

Deve-se destacar que a maior parte da mão-de-obra qualificada, sobretudo de escolaridade

de nível superior, procede dos grandes centros do país: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas

Gerais e também do exterior 149.

Incluída no grupo de cidades brasileiras caracterizadas por indicadores de baixo

desenvolvimento, Macaé passou a vivenciar, no período recente, um grande surto de

crescimento econômico cujo motor é a indústria petrolífera. Diante desta promissora

149Ver resultado dos questionários aplicados a empresas do APM, no apêndice II.

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165

perspectiva, Macaé e região se vêem diante de um grande desafio, a saber, construir um

sistema educacional eficiente e investir no desenvolvimento de uma infra-estrutura de

conhecimento buscando integrar-se à rede de ciência e tecnologia já bem definida na capital

do Estado do Rio de Janeiro150.

• Ensino Fundamental e Médio

Considerando-se o ano de 2000, a taxa de pessoas não alfabetizadas no município

foi de 7,3%, acima dos índices de analfabetismo do município de Niterói, de 3,4 % e do

município de São Gonçalo, 3,6% (TCE, 2002).

Quadro 4.4 - Infra-estrutura e número de matrículas no ensino fundamental e médio de macaé: 1998-2001.

Ensino Fundamental Ensino Médio

Ano Nº de

unidades

Nº de

Professores

Nº de

Matrículas

Nº de

unidades

Nº de

Professores

Nº de

Matrículas

1998 80 1184 23.210 16 389 6.741

1999 97 1382 26.327 16 439 7.149

2000 102 1499 26.124 17 543 7.817

2001 100 1551 26.491 19 584 7.988

Fonte: TCE (2002)

Com relação ao ensino básico, observa-se que entre 1998 e 2001, houve um aumento

de 30,9% no quadro docente, e de 14,1 % no número de matrículas. Com relação ao número

de unidades que atendem ao ensino básico, houve um incremento de 25%, o que reflete

investimentos, sobretudo do setor público nesta área. No que se refere ao ensino médio,

houve um substancial aumento no quadro de professores, da ordem de 50,1% e de 18,75%

no número de unidades de ensino. Já as matrículas cresceram 18,4%.

150 Na seção 5.7 do próximo capítulo, se discute a necessidade de se construir uma robusta rede de ciência e tecnologia com base em Macaé e extendendo-se para outros municípios do Norte Fluminense, como Campos, enquanto uma das condições fundamentais para a definição das bases de sustentabilidade do aglomerado petrolífero de Macaé no longo prazo, quando a produção de petróleo entrar em declínio.

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166

Os números acima refletem uma maior preocupação por parte do Município, no

sentido de fortalecer o sistema educacional, no que tange aos níveis básico e médio.

Entretanto, a taxa de repetência no ensino fundamental, ano de 2000, ainda é alta, da ordem

de 12, 7%, contra 12,4% da Região Norte Fluminense (TCE, 2002:32). No ensino médio, as

taxas de repetência verificadas no município, no ano de 2000, foram de 9,1%, contra 10,2%

do Norte Fluminense.

• Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa

A rede de ensino superior de Macaé é muito incipiente sendo insuficiente para

atender à demanda local, o que provoca o fluxo de inúmeros estudantes para a realização de

cursos principalmente em Campos dos Goytacazes e Rio de Janeiro. Macaé conta com a

participação das seguintes instituições de nível superior: unidade avançada da Universidade

Federal Fluminense, Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora-FSMA, Faculdade de Filosofia

Ciências e Letras de Macaé, Universidade Estácio de Sá e Centro Federal Tecnológico–

CEFET, ver Quadro 4.5.

No que tange à oferta de cursos na área de petróleo e gás, merece destaque o

CEFET-Campos, Unidade Macaé, e o Laboratório de Engenharia de Petróleo (LENEP)151,

da UENF.

O CEFET152 através de sua unidade avançada em Macaé tem sido o grande

responsável, juntamente com o CEFET Campos pela formação de técnicos altamente

especializados, que atendem de forma eficiente a demanda da Petrobrás e demais empresas

offshore em Macaé.

151 Devido a questões burocráticas, o LENEP, embora tenha sua localização física em Macaé, consta formalmente como estando localizado em Campos dos Goytacazes, onde está a sede da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). 152 Buscando atender mais de perto às necessidades do aglomerado petrolífero de Macaé foi inaugurada em 1993, a Unidade de Ensino Descentralizada (UNED Macaé) do CEFET, situada a 110 km da Unidade Sede localizada no município de Campos dos Goytacazes - RJ. Esta unidade é um pólo avançado resultado de anos de trabalho da instituição. Com uma área construída em terreno doado pela Prefeitura local, através de

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167

Quadro 4.5- Instituições e cursos ministrados em macaé-RJ - 2003

Curso / Habilitação Instituição Cidade/UF

ADMINISTRAÇÃO Universidade Federal Fluminense - UFF MACAE-RJ

Administração Universidade Estácio de Sá - UNESA MACAE-RJ

ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR DE 1º E 2º GRAUS

FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE MACAÉ - FAFIMA

MACAE-RJ

CIÊNCIAS CONTÁBEIS Universidade Federal Fluminense - UFF MACAE-RJ

Comunicação Social Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora - FSMA

MACAE-RJ

Direito Universidade Federal Fluminense - UFF MACAE-RJ

DIREITO - CAMPUS MACAÉ Universidade Estácio de Sá - UNESA MACAE-RJ

LETRAS FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE MACAÉ - FAFIMA

MACAE-RJ

LINGUA PORTUGUESA E RESPECTIVAS LITERATURAS

FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE MACAÉ - FAFIMA

MACAE-RJ

MAGISTÉRIO DAS MATÉRIAS PEDAGÓGICAS DE 2º GRAU

FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE MACAÉ - FAFIMA

MACAE-RJ

PEDAGOGIA FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE MACAÉ - FAFIMA

MACAE-RJ

PORTUGUÊS/INGLÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS

FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE MACAÉ - FAFIMA

MACAE-RJ

Publicidade e Propaganda Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora - FSMA

MACAE-RJ

Radialismo Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora - FSMA

MACAE-RJ

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora - FSMA

MACAE-RJ

Tecnologia em Indústria de Petróleo e Gás Natural

Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos - CEFET

MACAE-RJ

Turismo Universidade Estácio de Sá - UNESA MACAE-RJ

Fonte: INEP (2003)

Já a Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF, através do Laboratório de

Engenharia e Produção de Petróleo-LENEP, tem contribuído de forma significativa para a

indústria petrolífera no Brasil e particularmente em Macaé, por meio da formação de

profissionais de elevada competência, bacharéis, mestres e doutores na área de E&P de

petróleo e gás. Merece destaque ainda o desenvolvimento de pesquisas científicas de ponta,

realizadas no LENEP, que contribuem para o avanço da indústria na região. Nos casos dos

cursos técnicos merece destaque a contribuição do CEFET- Campos, que há décadas vem

formando técnicos de nível médio nas áreas de mecânica, elétrica, química, dentre outros

convênio firmado entre MEC/SEMTEC/ETFC e PETROBRÁS consolida, a cada dia que passa, seu projeto educativo como pólo avançado do CEFET Campos, atendendo a toda baixada litorânea.

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168

cursos, cuja mão-obra tem sido, em grande parte, aproveitada pela indústria petrolífera em

Macaé.

No entanto, o pólo científico e tecnológico da indústria petrolífera da Bacia de

Campos tem sua base estruturada no Rio de Janeiro. Na verdade, os municípios do Rio de

Janeiro bem como o de Niterói, localizados a 180 Km de Macaé são parte do aglomerado

petrolífero onshore do BC, onde se situam indústrias produtoras de bens de capital e de

bens e serviços diversos que atendem parte das demandas da indústria petrolífera. No que

tange à infra-estrutura de ciência e tecnologia voltada para a indústria offshore da BC,

destaca-se o Centro de Pesquisas da Petrobras CENPES, localizado no campus da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que congrega mais de 1.800 profissionais,

incluindo técnicos e pesquisadores.

4.3.7- Recursos Humanos e Mercado de Trabalho.

Um dos principais problemas enfrentados por regiões e localidades com baixo

desenvolvimento, diz respeito à dificuldade relacionada à disponibilidade de mão-de-obra

qualificada. No que se refere ao segmento upstream (E&P) em se tratando de uma indústria

que se caracteriza pelo desenvolvimento de produtos complexos, a demanda por recursos

humanos de elevada qualificação é condição sine qua non para o desenvolvimento de suas

atividades.

O grande número de empresas associadas direta e indiretamente à atividade

petrolífera que se fixaram em Macaé mudou substancialmente a estrutura produtiva da

cidade com reflexos diretos sobre a demanda por mão-de-obra especializada nos níveis,

básico, médio e superior.

Desde então, considerando-se o fato de o aglomerado estar em expansão, uma das

grandes dificuldades enfrentadas pelas empresas offshore que atuam em Macaé tem se

traduzido na disponibilidade de mão-de-obra especializada para atender às demandas das

atividades petrolíferas, conforme identificado nas entrevistas realizadas com as empresas

atuantes no município153.

153 Ver resultado do questionário aplicado à empresas do APM no Apêndice II, perguntas de 6 à 14.

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169

A Rede PETRO-BC154, através do Grupo de Produção Integrada GPI/COPPE &

EE/UFRJ, analisaram a questão da formação e qualificação dos recursos humanos para o

setor de Petróleo e Gás na região Norte Fluminense. Nesse sentido, estruturou-se um grupo

específico de trabalho que empreendeu esforços para a identificação e projeção de demanda

formativa, bem como o levantamento das perspectivas de contratação de profissionais

qualificados ou em fase de qualificação (GPI/COPPE, 2003). “No processo de diagnóstico,

102 (cento e duas empresas) foram entrevistadas, a fim de identificar uma série de

características da cadeia já estabelecida na região” (Rede PETRO-BC, 2003). No que tange

à necessidade de mão-de-obra especializada para atender o aglomerado petrolífero na região,

projetou-se a demanda “acumulada” para o período 2003/2005, com os seguintes resultados:

demanda projetada para mão-de-obra especializada de nível básico – aproximadamente

3.750 vagas; demanda projetada155 para mão-de-obra especializada de nível médio:

aproximadamente 3.850 vagas; demanda projetada para profissionais de nível superior:

aproximadamente 800 vagas (ibid).

Segundo os níveis de formação, a pesquisa empreendida pelo GPI/COPPE,

identificou ainda o percentual das especializações mais demandas da indústria petrolífera na

região, que se concentra essencialmente no município de Macaé. O Gráfico 4.3 apresenta a

projeção da demanda para profissionais de nível básico, segundo as especializações mais

requeridas. Depreende-se que as especializações mais demandadas no Aglomerado

Petrolífero de Macaé são caldereiro - 25%; soldador – 17%; eletricista e pintor, com 12% da

demanda total estimada.

154 A gestão da Rede é feita principalmente a partir de ações coordenadas por uma Secretaria Executiva, tendo como linhas de orientação as deliberações de um Grupo Executivo constituído por empresas e instituições. O Grupo Executivo da PETRO BC foi composto por 16 empresas, além de 12 representantes de universidades e outras instituições de apoio. Esse conjunto de empresas e instituições definiu 3 empresários como representantes do Grupo Executivo da Petro BC para o seu primeiro ano de atividades (Rede PETRO-BC, 2003). 155 Deve-se enfatizar que tais informações foram obtidas no relatório sintético da Redepetro-BC, sendo possível ter ocorrido algum desvio na transposição das informações do relatório parcial para este trabalho tendo em vista o fato de muitos dos dados terem sido apresentados por meio de gráficos.

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170

Macaé: Projeção da Demanda por

Profissionais de Nível Básico

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%

1

Percentual

Mecânico Industrial

Supervisor de Caldeiraria

Outros profissionais

Montador de Caldeira

Ajudante Operacional

Operador de Guindaste

Pintor

Torneiro Mecânico

Eletricista

Soldador

Caldeireiro

Gráfico 4.3-Indústria petrolífera em Macaé: projeção da demanda percentual por profissionais de nível básico- 2003/2005

Fonte: Pesquisa GPI-COPPE, apud Rede PETRO BC (2003).

No que tange aos profissionais de nível técnico, Gráfico 4.4, observa-se que há uma

melhor distribuição entre as especialidades requeridas, com destaque para as seguintes

especializaçãoes: instrumentista- 26%; técnico em mecânica: 9%; eletrotécnico: 6% e

técnico em planejamento 5%.

Macaé: Demanda por Profissionais

de Nível Técnico

2% 2%2% 5% 4% 5% 9%

5%

26%

2%

38%

Instrumentista

Técnico em automação

Técnico em mecânica

Eletrotécnico

Projetista

Técnico em planejamento

Técnico em metrologia

Inspetor de solda

Inspetor de Ultra som

Inspeto de fabricação

Outros Profissionais

Gráfico 4.4- Indústria petrolífera em Macaé: projeção da demanda

percentual por profissionais de nível técnico - 2003/2005. Fonte: Pesquisa GPI-COPPE, apud Rede PETRO BC (2003).

Quanto à demanda por profissionais de nível superior, o Gráfico 4.5 revela dois

fatores importantes: (i) identifica-se de forma mais direta, a demanda por profissionais das

diversas áreas de engenharia que atendem as necessidades da indústria offshore; (ii) 58% da

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171

demanda por profissionais de nível superior estão distribuídas entre profissionais atuantes

em outras áreas de engenharia; profissionais das áreas de gestão oriundos dos cursos de

Economia, Administração e Contábeis; profissionais ligados à área médica, ambiental, etc.

Macaé: Demanda por profissionais

de nível superior

58%

1%

3%

2%

9%

2%

4%

21%

EngenheiromecânicoEngenheiro deautomaçãoEngenheiro dePlanejamentoEngenheiroEletricistaEngenheiro Civil

EngenheiroEeletrônicoEngenheiroQuímicoOutrosprofissionais

Gráfico 4.5- Indústria petrolífera em Macaé: projeção da demanda percentual por profissionais de nível superior: 2003/2005.

Fonte: Pesquisa GPI-COPPE, apud Rede PETRO BC (2003).

Merecem destaque as seguintes especializações com maior demanda: engenheiro mecânico-

21%; Engenheiro eletricista - 9%; engenheiro de automação- 4% e engenheiro eletrônico:

3%.

A seção 4.3.7-1, a seguir, discute a expressiva evolução dos empregos formais em

Macaé. A taxa de crescimento do emprego formal no município tem se apresentado como

uma das mais elevadas do país, sendo que tal desempenho deve-se principalmente ao

dinamismo da indústria petrolífera, que tem estimulado o crescimento dos demais setores da

economia local.

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172

4.3.7-1- Evolução dos Empregos Formais em Macaé.

O Gráfico 4.6 mostra a evolução do emprego formal no município de Macaé, no

período 1995/2000. A evolução dos empregos formais156, diretos e indiretos em Macaé foi

marcante a partir do ano de 1995, passando de 22.669 para 41.909, no ano de 2000, ver

Gráfico 4.3. Uma taxa de crescimento surpreendente, “da ordem de 85%” em termos

absolutos no período (Rosendo et. al., 2003:2). Comparando este resultado com o Gráfico

4.1 (produção de petróleo no RJ, 1990/1999) percebe-se que, para o período 1995/1999, a

produção de petróleo da Bacia de Campos passou de 27.13 milhões de metros cúbicos em

1995 para 49.11 milhões em 1999, representando crescimento absoluto de “81% no

qüinqüênio”. Depreende-se então haver uma forte correlação entre os empregos formais em

Macaé e o ciclo expansivo determinado pelos investimentos da industria petrolífera na

Bacia de Campos.

Estudo Comparativo da Evolução do Emprego Formal - Macaé Mês de

Referência: Dezembro

22.669

31.496

36.413

41.989

30.23627.943

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

45.000

50.000

1995 1996 1997 1998 1999 2000

Ano

Nº Empregos

Macaé

Gráfico 4.6 - Evolução dos empregos formais em Macaé, 1995-2000

Fonte: RAIS Como já mencionado, o crescimento dos empregos formais em Macaé pode ser

explicado, em boa parte, pelo fato de o município constituir-se atualmente em um

importante cluster industrial, tendo estruturado uma moderna infra-estrutura operacional

156 Considera-se que a indústria petrolífera influencia de maneira decisiva a maior parte das atividades econômicas em Macaé, que são extremamente dependentes do dinamismo do setor. Percebe-se assim que mesmo os empregos formais que aparentemente não possuem uma relação com a atividade petrolífera são por demais influenciados pela mesma.

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173

que o coloca, em termos logísticos, como a principal base operacional da produção e

exploração de petróleo do país. Macaé congrega, além da Petrobrás, um número expressivo

de empresas prestadoras de serviços ligadas direta e indiretamente ao segmento de E&P. Por

outro lado, o dinamismo que a indústria do Petróleo vem proporcionando à economia local

tem estimulado o incremento dos investimentos privados e públicos (sobretudo do governo

municipal) ensejando a ocorrência de um novo ciclo de crescimento econômico na região

(Rosendo et. al., 2003:3).

Os dados relativos ao PIB157 por setores em Macaé indicam que as atividades

econômicas no município são fortemente influenciadas pelo setor petrolífero. Destarte, os

empregos formais relacionados a atividades que estão relacionadas de forma direta e

indireta com a indústria do petróleo indicam uma forte correlação com a dinâmica da

indústria petrolífera. O Gráfico 4.7 apresenta os principais sub-setores que compõem a

estrutura produtiva de Macaé e a respectiva participação do emprego formal nos mesmos.

Participação dos Sub-setores Econômicos no Emprego

Macaé - 2000

9.689

6.347

4.0793.255 2.958

8.016

4.807

100

79,572

63,753,2

41

24,7

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

Extração

Mineral

Com

ércio

Adm

. de

Imóveis e

outros

Com

ércio

Varejista

Transp. E

Com

unicação

Alojamento e

Alim

entação

Const. Civil

Sub-Total-

Outros

Sub-setores Econômicos

Nº Empregos

0102030405060708090100

Média Anual

% Acumulado

Gráfico 4.7 - Participação dos subsetores econômicos no emprego, Macaé –2000. Valores calculados a partir da média dos 12 meses do ano 2000. Fonte: CAGED – Ministério do Trabalho e do Emprego, apud: Silva Neto (2001)

157 Ver CIDE (2001), “Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro”, seção de Contabilidade Social, séries temporais do PIB real do município de Macaé por setores.

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174

Os principais subsetores geradores de emprego em Macaé são o extrativismo mineral

(extração de petróleo) com 24,7% do total comércio e administração de imóveis com 16,2%;

comércio varejista com 12,3%; transportes e comunicação com 10,4%; alojamento e

alimentação com 8,3%; construção civil com 7,6%. Estes seis principais subsetores geram

79,5% dos empregos de Macaé (Silva Neto, 2001)

Para se ter uma idéia da surpreendente evolução dos empregos formais em Macaé

destaca-se o período 1999/2000. O município apresentou 15,31% mais empregos formais

em dezembro de 2000, em relação a dezembro 1999, representando uma oferta de 5.576

novos postos de trabalho.

O extraordinário crescimento dos empregos formais em Macaé no ano de 2000 fica

mais evidente quando comparado à taxa de crescimento do Estado do Rio de Janeiro e do

País no mesmo ano. Como se observa no gráfico 4.5 a criação de novos postos de trabalho

em Macaé é quase cinco vezes superior a média nacional de 3,20% e quase seis vezes

superior a média do estado do Rio de Janeiro de 2,65%.

3,2 2,65

15,31

0

5

10

15

20

taxa de crescimento (%)

Brasil EstadoRJ

Macaé

Taxa de crescimento do Emprego Formal

(dez/2000 em relação a dez/1999)

Gráfico 4.8 Taxa de crescimento do emprego formal no Brasil, Rio de Janeiro e Macaé Fonte: CAGED.

4.3.8-Instituições de Apoio

O número de instituições que integram o aglomerado petrolífero de Macaé vem

crescendo de forma sistemática desde o ano de 1997, quando entrou em vigor a Lei do

Petróleo. A maior parte das instituições que atuam dando algum suporte às atividades

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175

petrolíferas em Macaé está em processo de consolidação. Apesar de a maioria delas ter

poucos anos de existência no município deve-se destacar o fato de que (i) estão em expansão

e (ii) têm exercido considerável influência no processo de governança do aglomerado

petrolífero de Macaé. No entanto uma questão relevante apontada pelo Sr. Arísio (gerente

de operações da Petrobrás UN-BC) e identificada na aplicação dos questionários às

empresas do aglomerado é baixa158 integração (sinergia) existente entre estas instituições.

Destacam-se as seguintes instituições que atuam no aglomerado petrolífero de

Macaé, dando algum tipo de suporte às atividades offshore realizadas pelas empresas: (i) o

Grupo de Empresas Prestadoras de Serviço da Indústria de Petróleo e Afins (GEPS) –

Integrante da Associação Comercial e Industrial de Macaé (ACIM). O GEPS reúne

basicamente pequenas empresas prestadoras de serviços para a indústria offshore em Macaé,

tendo surgido como mecanismo para articular os interesses das pequenas empresas do

aglomerado face, principalmente, às mudanças no sistema de contratação da Petrobrás, que

tem afetado diretamente as pequenas empresas; (ii) o Sindicato dos Petroleiros da Bacia de

Campos (SINDIPETRO-BC) – além da questão salarial dois pontos chamam a atenção na

atuação do SINDIPETRO-BC: a preocupação com a redução do número de acidentes de

trabalho, a exemplo do ocorrido com a Plataforma P-36 que resultou na morte de onze

petroleiros, e a preocupação com ingresso de técnicos estrangeiros, que competem com

mão-de-obra local; (iii) a Rede de Fornecedores para a Indústria Petrolífera da Bacia de

Campos (RedePETRO-BC) – Trata-se de uma iniciativa da Secretaria de Indústria e

Comércio de Macaé, articulada ao SEBRAE-Macaé no sentido de formar uma rede de

fornecedores de bens e serviços nos municípios da Bacia de Campos. O projeto tem por

objetivo, estruturar uma rede de pequenas e médias empresas offshore nos municípios da

Bacia de Campos, de modo a garantir a competitividade das mesmas em um cenário de

mudanças radicais – como observado no aglomerado petrolífero de Macaé - que afetam

negativamente as firmas menores; (iv) a Organização dos Municípios Produtores de Petróleo

e Gás da Bacia de Campos (ONPETRO) - reúne oito municípios159 que fazem parte da

Bacia de Campos: Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, Cabo Frio, Carapebus, Búzios São

158 A baixa sinergia entre as instituições de apoio compromete a formação de capitais intangíveis. Voltaremos a este ponto nos capítulos V e VI.

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176

João da Barra e Campos. Esta organização tem como objetivo fundamental, zelar para que

os municípios da Bacia de Campos potencializem os benefícios da indústria do petróleo na

região. Questões envolvendo a defesa do pagamento de royalties e, recentemente, a luta

política pela instalação de uma refinaria de petróleo na região Norte Fluminense são pontos

de destaque na pauta de atuação da ONPETRO; (V) Câmara de Comércio Internacional de

Macaé (CACIM) - atua de forma a promover e viabilizar o comércio internacional junto às

empresas offshore de Macaé que importam grandes quantidades de bens e insumos para

atender às necessidades do processo produtivo no aglomerado.

4.3.9 - Fatores Meta e Macroeconômicos

Um dos fatores metaeconômico tido como fundamental para as atividades offshore

na Bacia de Campos diz respeito ao tempo estimado para a permanência da utilização de

combustíveis fósseis. Especialistas que participaram do “World Petroleum Congress” na

sua 17a. edição, ano de 2003, no Rio de Janeiro, estimam que os combustíveis fósseis,

como os derivados do petróleo, têm o seu ciclo de vida garantido por pelo menos mais 40

anos, quando então novos substitutos do petróleo deverão estar influenciando de forma mais

direta sua produção e consumo.

Outra variável de suma importância na esfera metaeconômica relaciona-se ao preço

do barril de petróleo que é estabelecido no mercado internacional, ver Tabela 4.4.

Com efeito, dado o custo médio de produção de um barril de petróleo em uma dada

região, a lucratividade da indústria tende a ser tanto maior quanto mais elevados forem os

preços internacionais dos hidrocarbonetos e menores os custos de produção por barril. Os

custos de produção podem ser definidos como o custo de manter e operar poços de petróleo,

maquinários e equipamento depois que o hidrocarboneto foi encontrado, adquirido e

desenvolvido para a produção. Os custos de produção variam em função das estruturas

geológicas e das características de cada campo petrolífero: tamanho, profundidade, pressão e

proporção de petróleo e gás nautural (CEPAL, 2001:141).

159 Os municípios são representados por seus respectivos prefeitos sendo que no biênio 2002-2003, a ONPETRO elegeu como presidente da Instituição o Prefeito do município de Campos dos Goytacazes Arnaldo Viana.

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177

Tabela 4.4 - Preços médios no mercado spot dos petróleos dos tipos Brent e West

Texas Intermediate (WTI) - 1993-2002 Preços médios no mercado spot de petróleo (US$/b) Petróleo

1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Brent1 17,00 15,81 17,04 20,66 19,10 12,74 17,87 28,39 24,46 24,99

WTI 18,37 17,11 18,31 22,09 20,34 14,16 19,09 30,06 25,63 25,89

Fonte: Platt´s Crude Oil Marketwire, apud anuário estatístico ANP, 2004. Nota: Dólar em valor corrente.

1Os preços médios do petróleo Brent foram calculados a partir dos preços Brent Dated.

Países com expressivas reservas de petróleo detêm, em geral, vantagens

comparativas naturais na produção de hidrocarbonetos. Os países da OPEP apresentam-se

com os custos de produção mais baixos da indústria petrolífera. “Assim, os custos de

produção na Arábia Saudita, Iraque e Kwait se situam entre US$1,50 a US$2,00 o barril,

equivalente aos custos da estatal Petroleos da Venezuela S.A (PDVSA), os custos de

produção dos Estados Unidos são de US$3,05 e na china cerca de US$6,90 o barril” (Ibid).

Os custos de produção da Petrobras variam entre US$3,00 a US$3,50 o barril enquanto que

na Argentina os custos são de US$2,50. Por sua vez, os custos de produção das empresas

transnacionais ( majors) variam entre US$3,00 e US$6,00 o barril.

Além dos custos de produção da indústria petrolífera, também é comum a utilização

dos custos de exploração e desenvolvimento que se definem como o custo de se encontrar

novas reservas de petróleo – o que inclui as atividades de risco, assim como as inversões

destinadas ao desenvolviamento dos campos para a produção de petróleo. Estes custos são,

em geral, mais altos que os custos de produção. Com efeito, a região com menor custo total

de produção é o oriente médio, com custos totais em torno de US$4,00 o barril. No caso da

América Latina estes custos se situam entre US$4,00 a US$7,00 o barril (incluindo-se o

custo da exploração offshore do Brasil). Por sua vez, as principais ETNs têm custos maiores

que se situam entre US$6,00 e US$11,00 o barril, enquanto que nos EUA o custo total

médio oscila em torno de US$9,70 o barril (Ibid: 142).

Gráfico 4.9- Preço do barril de petróleo tipo Brent X custo médio de produção em

regiões selecionadas – 1993/ 2002

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178

Preço do barril de petróleo X Custo médio de produção em

regiões selecionadas

0

5

10

15

20

25

30

1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Período

Preço em dólares

Preço bp.tipobrent

CMe PaísesÁrabes

CMe A . Latina

CMe ETN

CMe EUA

Fonte: Elaboração própria. Dados brutos, ANP 2004 (variação do preço do barril tipo Brente) e CEPAL 2001

(Custo médio de produção em regiões selecionadas). Nota: dólar em valores correntes e (Cme) custos médios supostos constantes ao longo do período. O Gráfico 4.9 correlaciona os custos médios de produção por barril de petróleo

(custo de produção somados aos custos de exploração e desenvolvimento em regiões

selecionadas) ao preço do barril de petróleo tipo Brent, no período 1992/2002. A diferença

entre o custo médio e o preço do barril reflete a margem bruta de lucros das atividades

petrolíferas, vis-à-vis as regiões selecionadas.

Do ponto de vista macroeconômico, como já mencionado, a indústria offshore no

Brasil sofreu nos últimos anos profundas mudanças estruturais como resultado do recente

marco regulatório do setor que culminou com a quebra do monopólio das atividades de E&P

exercidos até etão pela Petrobrás – Lei nº 9478/97. A nova lei implicou, por um lado, no

ingresso de inúmeras empresas estrangeiras em diversos segmentos voltados para a

produção de bens e serviços do segmento de E&P no Brasil e, por outro lado, determinou

que a Petrobras assumisse uma nova postura frente ao novo padrão de concorrência que se

estabelecia, o que determinou dois desdobramentos importantes: (i) adoção de metas mais

ousadas no sentido de melhoria da eficiência produtiva da estatal, com ênfase nos

investimentos para o aprimoramento tecnológico em atividades de E&P em águas profundas

e ultraprofundas, buscando-se a auto-suficiência na produção de petróleo até o ano 2005 e

(ii) a busca pelo aumento da competitividade e maior inserção no mercado internacional,

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179

tendo como contrapartida, respectivamente, a adoção de processos de racionalização

produtiva160 e o aumento dos investimentos em ativos no exterior.

Não obstante, deve-se destacar o ambiente de maior estabilidade macroeconômica a

partir de 1994, com a introdução do Plano Real que somado às mudanças positivas no marco

regulatório, têm contribuindo para o desenvolvimento de um ambiente favorável aos

investimentos diretos externos na indústria petrolífera brasileira, com impactos visíveis no

município de Macaé.

4.3.10- Participação Governamental

No âmbito do governo Federal, com relação à política para a indústria petrolífera no

segmento upstream, deve-se destacar: (i) a mudança no marco regulatório com a lei 9478/97

e (ii) no bojo das novas regras de para o desenvimento das atividades de E&P no Brasil,

destaca-se as novas definições da ANP que determinam conteúdos mínimos de participação

de nacionais em projetos envolvendo o desenvolvimento e produção de bens e serviços para

a indústria offshore.

No caso do Governo do Estado do Rio de Janeiro, merece destaque a atuação da

Secretaria de Indústria Comércio e Setor Naval, que tem procurado dar incentivos à cadeia

produtiva da indústria petrolífera no Estado. Por seu turno, a indústria naval concentrada nos

municípios do Rio de Janeiro e Niterói - após décadas de estagnação tem se sobressaído,

devido ao aumenta da demada impulsionada pela indústria petrolífera. Não obstante, a

indústria naval, tem recebido importantes incentivos (financeiros e fiscais) por parte do

governo do estado do Rio de Janeiro, o que tem contribuindo para impulsionar o setor cujo

reflexo pode ser percebido no grande número de encomendas de novas embarcações e

serviços de reparos em plataformas e navios-tanque, que se dá principalmente por parte da

Petrobrás UN-BC. Já a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro tem

contribuído mais diretamente para a eficiência do aglomerado, por meio de investimentos e

160 O processo de racionalização produtiva, adotado pela Petrobras será discuto com maiores detalhes no Capítulo V. Ressalta-se que a adoção de métodos de racionalização produtiva empregados pela estatal têm contribuído para a diminuição do número de empresas que produzem bens e prestam serviços para atender às demandas da Petrobras no segmento de E&P, com impacto negativo, sobretudo para as PMEs. Paradoxalmente, a ANP tem determinado o crescente aumento dos índices de nacionalização dos bens e serviços demadados pela indústria no Brasil. Estes fatores têm determinado mudanças importantes na cadeia produtiva do segmento upstream no país.

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180

apoio à ciência e à pesquisa junto ao Laboratório de Engenharia e Produção de Petróleo-

LENEP, localizado em Macaé. O LENEP, como já mencionado, vem qualificando profinais

dentro dos mais rigorosos padrões internacionais, em nível de graduação, mestrado e

doutorado, contribuindo assim para suprir as exigentes demandas do setor petrolífero em

Macaé por mão-de-obra com elevada qualificação.

No que tange à capacidade financeira dos municípios no entorno da Bacia de

Campos, deve-se destacar a crescente importância dos royalties do petróleo na participação

relativa das receitas municipais. Nesse sentido, apresenta-se a seguir a evolução das receitas

dos principais municípios receptores de royalties petrolíferos do Estado do Rio de Janeiro, a

saber, Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras vis-à-vis à evolução das receitas

correntes dos respectivos municípios. Destaca-se o fato de os dois municípios com maior

receita de royalties provenientes do petróleo no país, Campos e Macaé, estarem localizados

no Norte Fluminense, e a consequente influência do crescimento econômico econômico dos

mesmos na região.

O gráfico 4.10 apresenta a evolução das receitas dos royalties do petróleo e

participações especiais, a preços contantes -ano base 1998 - para os municípios de Campos

dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras para o período 1998/2001. O munípio que teve

maior expressão na evolução das receitas de royalties dentre os demais foi Rio das Ostras161,

que apresentou crescimento real de 3.165,23%, passando de R$ 1,9 milhões em 1998 para

R$63,6 milhões em 2001. O município de Campos dos Goytacazes apresentou igualmente

um expressivo crescimento real nas receitas dos royalties e participações especiais da ordem

de 2.366,37% no período em questão. Os valores das receitas de royalties para Campos

deflacionados pelo IGPM da Fundação Getúlio Vargas foram respectivamente de R$5,8

milhões em 1998 e R$ 143,6 milhões em 2001, devendo-se destacar ainda que, em termos

absolutos, estes valores são por demais significativos. Já a evlolução das receitas dos

royalties e participações especiais de Macaé foi igualmente expressiva, ou seja, 1.979,05%

em termos reais no período em análise, tendo passado de R$ 3,8 milhões em 1998 para 79,9

milhões em 2001.

161 Como já salientado, o município de Rio das Ostras faz fronteira com Macaé, integrando a Bacia de Campos, o que explica sua expressiva participação na distribuição dos royalties no conjunto dos municípios fluminenses. Ver apêndice III- Gráfico III.1- Receitas de royalties e participações especiais de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes, a preços correntes – 1998/2002.

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181

Gráfico 4.10 -Receita dos royalties a preços constantes dos unicípios de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes- 1998-2001.

Receita dos royalties do petróleo a preços constantes, nos

municípios de Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das

Ostras - 1998/2001 - Ano base: 1998=100 em (1.000) R$

1.949

5.822

14.749,38

29.107,41

40.675

46.929,19

143.592,00

3.842,00

113.889,44

64.897,39

63.639,36

79.877,18

0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 160.000

Rio das Ostras

Macaé

Campos

2001

2000

1999

1998

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE Deflator: IGPM da Fundação Getúlio Vargas. Este resultado conferiu a Macaé a 3a. posição no que se refere à evolução das receitas de

royalties - comparado aos outros dois municípios.

A título de comparação destaca-se que os royalties auferidos pelo estado do Rio de

Janeiro foram igualmente significativos tendo evoluído em termos reais em 1.251,47% entre

1998 e 2001. As receitas, deflacionadas pelo IGPM, obtidas pelo Estado no período em

questão foram respectivamente R$37,3 milhões em 1998 e R$ 504,03 milhões em 2001.

É mais do que certo que as receitas dos royalties produziram grande impacto nas

receitas correntes162 dos municípios supracitados. O Gráfico 4.11 apresenta a evolução real

das receitas correntes dos municípios de Campos, Macaé e Rio das Ostras, para o período

1998/2001, tomando-se o ano de 1998 como ano base. Rio das ostras obteve um crescimento

real de 346% em suas receitas correntes no período em questão, contra um crescimento real

de 204,8% verificado em Campos dos Goytacazes e de 137,67% observado em Macaé.

162 As receitas correntes englobam as receitas tributárias de taxas e contribuições arrecadas pelos municípios assim como os repasses de impostos e transferências dos governos estadual e federal, incluindo-se os royalties petrolíferos. Ver Apêndice III, Gráfico III.1 – Receitas correntes de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes- 1998/2002.

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182

Gráfico 4.11- Receitas correntes a preços constantes em Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes – 1998/2001

Receitas correntes a preços constantes em Rio das Ostras,

Macaé e Campos dos Goytacazes- 1998/2001.

Ano Base: 1998=1000 (1.000) R$

20.902

65.494,00

83.143

30.659,45

76.885,10

80.447

65.589,5593.309,32

155.660,08

123.336,15

199.382,80253.436,90

0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000

Rio das Ostras

Macaé

Campos dosGoytacazes

2001

2000

1999

1998

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE. Deflator IGPM da Fundação Getúlio Vargas Comparam-se a seguir, as receitas correntes a preços constantes às receitas dos

royalties do petróleo e participações especiais igualmente a preços constantes, auferidas

respectivamente pelos municípios de Rio das Ostras, Campos e Macaé, conforme

apresentado nos Gráficos 4.12, 4.13 e 4.14. Esta comparação permite avaliar a importância

das receitas dos royalties nas receitas correntes dos respectivos municípios.

Como se observa no Gráfico 4.12, as receitas de royalties e participações especiais

que representavam 9,32% das receitas correntes, no ano de 1998, passam a representar 68,2

% das receitas correntes do município no ano de 2001. O que demonstra a fortíssima

correlação existente entre as receitas correntes e as receitas de royalties em Rio das Ostras.

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183

Gráfico 4.12 – Rio das Ostras - receitas correntes x receitas de royalties a preços constantes – 1998/2001

Rio das Ostras - Receitas correntes x receita de

royalties a preços contantes. 1998 = 1000 (1.000) R$

20.90230.659

65.589

93.309

63.639

46.929

14.7491.949

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

1998 1999 2000 2001

ReceitasCorrentesRoyalties

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE Deflator: IGPM da Fundação Getúlio Vargas. No caso de Campos dos Goytacazes, as receitas de royalties e participações

especiais no ano de 1998, representavam 7,0% das receitas correntes do município, sendo

que no ano de 2001 os royalties passaram a contribuir com mais da metade das receitas

correntes do município, ou seja, 56,6%; ver Gráfico 4.13.

Gráfico 4.13 -Campos dos Goytacazes, receitas correntes x receitas de royalties a preços constantes 1998/2001.

Campos - receitas correntes x receitas de royalties a

preços constantes. Ano base 1998 = 100. (1.000) R$

83.143 80.447

199.382

253.436

143.592113.889

40.675

5.8220

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

1998 1999 2000 2001

Receitas correntes

Royalties

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE. Deflator IGPM da Fundação Getúlio Vargas.

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184

No caso de Macaé, as receitas dos royalties e participações especiais que

representavam 5,8% das receitas correntes do município em 1998, passaram a representar

51,3 % das receitas correntes no de 2001. Esta correlação entre royalties e receitas

correntes em Macaé, embora muito significativa, demonstra que 48.7 % das receitas

correntes do município provêm de outras fontes que não os royalties, ver Gráfico 4.14.

Gráfico 4.14 Macaé – receitas correntes x receitas de royalties a preços constantes –

1998/2001.

Macaé - receitas correntes x receitas de royalties a preços

constantes. Ano base 1998 = 100 (1.000) R$

65.494 76.885

123.336

155.660

3.84229.107

64.89779.877

0

50.000

100.000

150.000

200.000

1998 1999 2000 2001

Receitas Correntes

Royalties

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE. Deflator IGPM da Fundação Getúlio Vargas.

Um dos fatores que ajudam a explicar o dinamismo das receitas não provenientes dos

royaties em Macaé diz respeito à intensa atividade das empresas offshore no município, com

destaque para a Petrobras, que possibilitam a geração de duas receitas extremamente

importantes para o município, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias -ICMS e o

Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza- ISSQN.

O Quadro 4.6 apresenta o valor arrecadado de ICMS nos municípios de Campos,

Macaé, Rio das Ostras, bem como os valores arrecandos para a Região Norte Fluminense.

Deve-se destacar que no período 2000/2002, Macaé apresentou um aumento na arrecadação

de ICMS de 148,15%, que foi acompanhado pelo aumento de 136,4% na arrecadação do

município fronteiriço de Rio das Ostras. Já a arrecadação de Campos dos Goytacazes,

apresentou um modesto crescimento de 18,7%. Contudo é mister enfatizar o fato de Macaé

ter participado, no ano de 2002, com 58% do total da arrecadação de ICMS da região Norte

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185

Fluminense, o que demonstra o vigor da indústria petrolífera no município que se reflete no

aumento da circulação de mercadorias e consequente arrecadação de ICMS.

Quadro 4.6 - Campos, Macaé e Rio das Ostras, Arrecadação de ICMS em

(1.000) R$ - preços correntes - 2000/2002. 2000 2001 2002 Campos 22.222 22.282 26.397 Macaé 59.084 116.471 146.616 Rio das Ostras 8.205 12.614 19.399 Região Norte Flum. 126.462 178.314 253.038 Fonte CIDE.

Para se ter uma idéia da capacidade de gastos do setor público municipal, apresenta-

se a seguir as “receitas correntes per capta” dos municípios com maior receita de royalties

do Estado do Rio de Janeiro tendo em vista sua proximidade com áreas produtoras da Bacia

de Campos. Com efeito, observa-se no Gráfico 4.15 que tanto o estado do Rio de Janeiro

como os municípios de Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras tiveram

crescimento real nas receitas correntes per capta, no período 1998/ 2001. Nesse sentido,

considerando-se uma inflação acumulada de 45,74%, no período em questão, de acordo com

o IGPM da Fundação Getúlio Vargas, verifica-se que os municípios analisados, incluindo o

Estado do Rio de Janeiro, tiveram crescimento real em suas respectivas receitas per capita.

Considerando-se os valores absolutos das receitas per capta no ano de 2001, destacaram-se

os seguintes municípios por ordem decrescente: (i) o município com maior arrecadação foi,

pela ordem, Rio das Ostras, cuja receita per capita passou de R$649,45 em 1998 para R$

3.524,91 crescimento nominal de 443%; (ii) em segundo lugar destacou-se Macaé que

apresentou uma evolução da receita per capita de R$530,00 em 1998 para R$1.655,20 em

2001, crescimento nominal de 212%; (iii) Em terceiro Lugar vem Campos dos Goytacazes

cuja receita per capita evoluiu de R$207,93 em 1998 para R$ 899,5 , crescimento nominal

de 332,6% superior ao de Macaé. No caso do Estado do Rio de Janeiro, verifica-se um

crescimento das receitas per capita de R$ 409,9 em 1998 para R$658,9 em 2001,

crescimento nominal de 60,75%, portanto, superior à inflação do período.

Gráfico 4.15- Receitas correntes per capta, Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes,

Macaé e Rio das Ostras – 1998/2001 em R$

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186

Receitas correntes per capta : Rio de Janeiro, Campos dos

Goytacacazes, Macaé e Rio das Ostras - 1998/2001

649,45207,93409,9 530

3.524,91

899,5

1.655,20

658,9

0

1000

2000

3000

4000

Rio deJaneiro

Campos Macaé Rio dasOstras

1998

1999

2000

2001

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE.

Um dos principais efeitos do aumento real das receitas per capita dos municípios

supracitados, tem se traduzido no aumento dos gastos em infra-estrutura. O Quadro 4.7

apresenta a distribuição das despesas por função do Governo para os municípios de Campos

dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras. Deve-se destacar que os três municípios têm

concentrado seus investimentos nas áreas de Adminstração e Planejamento, Educação e

Cultura, Habitação e Urbanismo, Saúde e Saneamento e Transporte.

Gráfico 4.16- Receitas correntes de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes –

1998/2002 em (R$ 1.000)

Receitas correntes de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos

Goytacazes - 1998/2002

3.842 5.82234.958 48.851

85.697

150.391116.413

209.271

138.449

184.233

1.94917.714

61.97092.748

306.357

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

Rio das Ostras Macaé Campos dos Goytacazes

1998

1999

2000

2001

2002

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE

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187

No que tange à Macaé deve-se destacar a maior participação relativa das despesas

em habitação e urbanismo, a saber, 18,9%, contra 9,4% verificada em Campos, e 13% em

Rio das Ostras. Destarte, comparado aos demais municípios, Macaé se destaca nos gastos

relativos à saúde e saneamento, ou seja, 17,7%, contra 14,0% de Rio das Ostras e 13,5%

de Campos. Por fim é mister ressaltar a baixa prioridade atribuída por Macaé no que tange

às despesas com transportes que teve participação relativa de 4,4%, contra 17,2% em

Campos e 20% em Rio das Ostras. Ressalta-se ainda que Rio das Ostras investiu em 2001,

10% de seu orçamento na agricultura.

Quadro 4.7- Despesas realizadas por funções do governo, Campos, Macaé e Rio das Ostras – 2001 em valores absolutos e (%).

Municípios Total Administração

e planejamento

Educação e Cultura

Habitação e

urbanismo

Saúde e Saneamento

Transp Outros

Campos dos Goytacazes

355.016

(100%)

85.985

(24.2%)

81.648

(23%)

33.412

(9,4%)

47.791

(13,5%)

61.210

(17,2%)

44.970 (12,7%)

Macaé 194.350

(100%)

42.839

(22%)

46.948

(24,1%)

36.707

(18,9%)

34.339

(17,7%)

8.438

(4,4%)

25.079 (12,9%)

Rio das Ostras

91.457

(100%)

10.152

(11,1%)

18.545

(20.2%)

11.835

(13%)

12.823

(14%)

18.466

(20%)

19.636 (21,4%)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE

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188

CAPÍTULO V

CARACTERIZAÇÃO DO AGLOMERADO PETROLÍFERO

DE MACAÉ: ANÁLISE MICROECONÔMICA

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189

5.1- Introdução Metodológica.

Neste capítulo, desenvolve-se a análise do aglomerado petrolífero de Macaé em uma

perspectiva microeconômica. Busca-se depreender as relações estabelecidas entre pequenas,

médias e grandes empresas, tendo como referencial analítico mais amplo os seguintes

formatos de organização industrial: (i) o de aglomerado industrial, caracterizado por

empresas geograficamente concentradas e setorialmente especializadas; e (ii) rede de

firmas, caracterizada pela integração horizontal de empresas, que se articulam

principalmente por meio de relações de confiança e reciprocidade (Nadiv, 1995; Britto,

1999).

Na análise do aglomerado petrolífero destaca-se a estrutura centro radial, de acordo

com a classificação proposta por Markusem (1999), onde a Petrobras desempenha papel

central em uma estrutura de produção verticalizada. Tendo em vista tratar-se de uma região

de baixo desenvolvimento, ênfase particular é dada à participação das pequenas e médias

empresas na dinâmica e sustentabilidade de longo prazo da estrutura sócio-produtiva local.

Considera-se o potencial papel das PMEs na geração de renda e emprego, bem como na

disseminação da inovação tecnológica e sustentabilidade e competitividade do aglomerado

no longo prazo.

Uma amostra de 30 empresas offshore, prestadoras de serviço do arranjo petrolífero

de Macaé, incluindo empresas provedoras de insumos, foi selecionada com base no cadastro

revista especializada TN Brasil e do cadastro de empresas da Federação das Indústrias do

Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN). Da amostra selecionada, 18 empresas participaram,

sendo que quatro realizaram apenas entrevistas, sem a utilização de questionários, e doze

realizaram entrevistas estruturadas, a saber, respondendo simultaneamente a um

questionário de quarenta e nove perguntas, dividido em duas partes163: (i) a primeira parte

do questionário buscou avaliar a percepção dos entrevistados com vistas ao conjunto de

infra-estruturas discutidas no capítulo IV; e (ii) a segunda parte do questionário164 procurou

identificar questões relativas à organização industrial no aglomerado, bem como formas de

163 Ressalta-se que as informações obtidas nas entrevistas e na aplicação dos questionários serão utilizadas mais plenamente no Capítulo 6, na aplicação do Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis com vistas à classificação da estrutura sócio-produtiva em que se insere o Aglomerado Petrolífero de Macaé.

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190

cooperação, inovação tecnológica e fatores determinantes para a competitividade local.

Destaca-se que as informações obtidas na segunda parte do questionário contribuíram, de

forma mais sistemática, para a realização deste capítulo.

As entrevistas e aplicação de questionários foram realizadas nos meses de outubro,

novembro e dezembro de 2003 com executivos e diretores de algumas das principais

empresas offshore de Macaé e propiciaram a obtenção de informações quantitativas e

qualitativas sobre a atuação destas firmas no mesmo. O objetivo das entrevistas foi o de

detalhar a cadeia vertical de prestadores de serviço ligados principalmente à Petrobras e às

recém-chegadas operadoras que passaram a atuar em Macaé, bem como a inserção das

pequenas e médias empresas na estrutura do aglomerado considerando-se ainda as

importantes mudanças que a indústria petrolífera em Macaé vem vivenciando nos últimos

anos.

As entrevistas somadas às respostas do questionário possibilitaram uma visão

ampliada das relações que se estabelece em Macaé, entre a Petrobras e demais operadoras, e

destas com as prestadoras de serviços de grande, médio e pequeno porte. Participaram das

entrevistas estruturadas com respostas aos questionários as seguintes empresas dos

aglomerado165: Petrobras UN-BC; SUPERQUIP Representações Comerciais; Marine

Operações de Robótica; Slumberger; MPE – Engenharia e Montagem de gás e óleo;

Alphatec Soldagem e Calderaria; Polar Material Elétrico; Petroenge Petróleo Engenharia e

Manutenção; Globomar Coméricio LTDA; Clariant Tratamento de Produtos Químicos; Q

&B Serviços Ltda – Perfuração e Produção; Transocean; Associação Comercial e Industrial

de Macaé (ACIM) e Grupo de Empresas Prestadoras de Serviços da Indústria de Petróleo e

Afins (GEPES).

Deve-se destacar ainda, a grande representatividade de empresas como a Petrobras,

Slumberger e Transoceam dentre outras entrevistadas, cujo volume de transações e de

faturamento, estima-se que superam 50% do conjunto do aglomerado.

164 A definição da segunda parte do questionário aplicada às empresas offshore de Macaé utilizou, com pequenas modificações, o questionário elaborado por Borges et.al. (2003). 165 Embora se trate de uma amostra relativamente pequena, tendo em vista o número de empresas que atuam no aglomerado, procurou-se selecionar empresas e instituições com grande representatividade na indústria local offshore, de modo que se pudesse delinear as impressões das mesmas sobre a dinâmica, competitividade e sustentabilidade da estrutura sócio-produtiva local.

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191

Particular atenção é atribuída aos impactos decorrentes das mudanças regulatórias

impingidas pela Petrobras UN-BC no que tange às novas regras de contratação de empresas

fornecedoras de bens e prestadoras de serviços – o que vem forçando a reestruturação do

aglomerado, em um processo que tem se caracterizado, sobretudo, por fusões e

concentrações das atividades empresariais.

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192

5.2- Breves Considerações Sobre a Cadeia Produtiva offshore em Macaé.

Um dos recortes metodológicos utilizados para a análise de indústrias e segmentos

industrias é o de cadeias produtivas. Conceitua-se cadeia produtiva como o conjunto das

atividades, nas diversas etapas de processamento ou montagem, que transforma matéria

primas-básicas em produtos finais (Haguenauer et. al., 2001:6). No entanto, em uma

estrutura industrial com razoável grau de desenvolvimento, torna-se impraticável a

delimitação de cadeias produtivas no sentido estrito, tendo em vista a interdependência geral

das atividades, além da possibilidade de substituição de insumos (ibid.).

Com efeito, embora não se pretenda utilizar neste trabalho a metodologia de cadeias

produtivas para a análise de uma indústria extremamente complexa como a petrolífera, sua

noção é de suma importância para a conceituação de complexos industriais, “definidos como

o conjunto de cadeias produtivas que têm origem nas mesmas atividades ou convergem

paras as mesmas indústrias ou mercados” (ibid:6). O recurso analítico e metodológico

empregados parte da percepção de que “em cada cadeia produtiva encontram-se indústrias

estreitamente relacionadas por compras e vendas correntes, constituindo os principais

mercados e/ou fornecedores das demais atividades participantes” (ibid.). Quando se adota o

conceito de cadeias produtivas, um dos principais problemas que emerge diz respeito à

delimitação das fronteiras pertinentes à cadeia que se quer estudar. A proposta adotada por

Haguenauer et al. (2001) em seu estudo para contornar este problema contempla, enquanto

recurso analítico, o agrupamento das cadeias produtivas em macro, meso e micro-complexos

industriais.166

Para se empregar o conceito de cadeia produtiva na indústria petrolífera deve-se

considerar que a mesma está subdivida em dois grandes segmentos, a saber, o upstream –

que envolve as atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás

natural, e o dowstream - que envolve as atividades de refino, petroquímica e distribuição de

derivados de petróleo e gás natural. Tal complexidade determina que a indústria petrolífera

permeie alguns dos principais complexos produtivos modernos, tais como o metal mecânico,

elétrico, naval, eletrônico, de comunicação, químico, dentre outros. Cada um destes

166 O trabalho de Haguenauer et al. (2001) analisa a evolução das cadeias produtivas da indústria brasileira na décadas de 90, observando o comportamento de macro-complexos e micro-complexos industriais para avaliar a competitividade de determinados segmentos industriais.

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193

complexos, por seu turno, compreende inúmeras cadeias produtivas que, muitas das vezes,

se entrelaçam com vistas à produção de bens e serviços voltados para atender as diversas

etapas do processo de produção dos segmentos upstream e dowstream.

Considerando-se o segmento upstream da indústria petrolífera, a Figura 5.1

apresenta, de forma estilizada, os complexos produtivos e a articulação das cadeias

produtivas que definem o referido segmento, até chegar-se às atividades de Exploração e

Produção propriamente – caracterizadas essencialmente pela prestação de serviços -, onde se

insere a maior parcela das empresas do Aglomerado Petrolífero de Macaé.

(1)

(2)

(3)

(4)

Figura 5.1- Complexos e cadeias produtivas da indústria offshore de petróleo e gás.

Fonte: Elaboração Própria

A Figura 5.1 apresenta alguns complexos industrias selecionados, que caracteriza a

base de onde brotam inúmeras ramificações que definem as cadeias produtivas que

Complexo Metalmecânico

Complexo Naval

Complexo Elétrico

eletrônico e de comunicação

Cadeias de produtos siderúrgicos

Máquinas e ferramentas, tubos de aço

Cadeiais de equipamentos de transporte e produção de óleo e gás.

Plataformas e

Navios

Cadeias de componentes elétrico-eletrônicos

Produtos elétricos eletrônicos e de comunicação (softwares)

Complexo Químico e

Petroquímico

Cadeias de componentes sintéticos, plásticos, e outros.

Graxas, lubrificantes, produtos sintéticos

E&P de petróleo e gás natural

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194

congregam a estrutura produtiva dos segmentos de E&P no país. Dos principais complexos,

a saber, Metal-mecânico, Naval, Eletro-eletrônico e de Comunicações, Químico e

Petroquímico, indicados pelo nº (1) derivam respectivamente as seguintes cadeias

produtivas, indicadas pelo nº (2): produtos siderúrgicos, equipamentos de transporte e de

produção de óleo e gás, componentes elétrico e eletrônicos, componentes sintéticos,

plásticos e outros. Neste ponto destaca-se a interdependência entre as cadeias para a

respectiva produção, sobretudo de bens em (3), como: máquinas, ferramentas e tubos de aço,

plataformas e navios, produtos elétrico-eletrônicos e de comunicações, graxas, lubrificantes

e sintéticos. Por fim, destacam-se as atividades em E&P, caracterizadas essencialmente pela

prestação de serviços em montagem, operação, manutenção de equipamentos, além de

serviços técnicos especializados para o desenvolvimento da etapa final da cadeia do

segmento upstream, subgrupo (4).

Isto posto, algumas considerações são tecidas vis-à-vis a cadeia produtiva do

segmento upstream envolvendo a Bacia de Campos.

(i) A Petrobras é a principal contratante de bens e serviços da cadeia produtiva

offshore, sendo que a empresa demanda cerca de “R$ 108 milhões anualmente em compras

de até R$30 mil e serviços de até R$100 mil, contratados de 2.825 pequenos fornecedores

nacionais cadastrados do país e do exterior, 908 contratações de serviços vigentes com

482 médias e grandes empresas167 R$ 840 milhões contratados anualmente em bens dos

276 grandes fornecedores da estatal” (Macedo, 2002:41);

(ii) As cadeias produtivas que integram os complexos industriais que atendem o

segmento upstream, conforme apresentados na Figura 5.1, apresentam considerável grau de

interdependência. A utilização de um variado número de componentes para a produção de

bens costumizados requer a integração destas cadeias em diferentes fases do processo

produtivo, possibilitando assim a geração de produtos complexos de elevado conteúdo

tecnológico, como plataformas, máquinas e equipamentos voltados para a atividade

offshore;

(iii) Muitos equipamentos, ferramentas, máquinas e serviços que atendem o mercado

upstream e, em particular, às demandas da maior província petrolífera brasileira, a Bacia de

167 Para a contratação de bens e serviços junto às médias e grandes empresas, a Petrobras possuía em 2003 R$19,85 bilhões em carteira (Macedo, 2002:41).

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195

Campos, são produzidos fora do país; o que significa que parte ainda considerável da cadeia

produtiva se encontra fora do espaço nacional168. De acordo com as respostas obtidas nos

questionários aplicados às empresas offshore de Macaé, as PMEs demandam bens e serviços

fundamentalmente do mercado nacional, sendo o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais as

principais regiões fornecedoras. A Petrobras assim como as grandes empresas

multinacionais do setor, demandam bens e serviços do exterior em montantes ainda

significativos (ver Tabela 4.2, Capitulo IV);

(iv) Por fim, é mister enfatizar que a cadeia produtiva offshore pode ser subdivida ainda em

dois subgrupos: a) o subgrupo das empresas produtoras de bens, que atuam ao longo da

quase totalidade da cadeia e b) o subgrupo das empresas offshore prestadoras de serviços,

que atuam na ponta da cadeia produtiva do segmento upstream. Com efeito, verifica-se

uma estrutura peculiar na etapa da cadeia produtiva pertinente ao subgrupo das empresas

prestadoras de serviços, ver Figura 5.1, subgrupo (4). Este segmento congrega as grandes

operadoras que se articulam às grandes, pequenas e médias empresas offshore para o

desenvolvimento das atividades de E&P;

Uma particularidade desta etapa da cadeia produtiva é que grande parte das empresas

prestadoras de serviços atua nas proximidades dos campos petrolíferos, fundamentalmente

por questões de logística. No caso da Bacia de Campos, como já mencionado, o município

de Macaé tornou-se a base operacional para o engajamento destas empresas nas atividades

de E&P, caracterizando uma aglomeração de empresas especializadas.

5.2.1 - Cadeia Produtiva das Empresas Offshore Atuantes em Macaé

Nesta etapa do trabalho é apresentada, de forma sintética, a cadeia produtiva

relacionada às atividades de Exploração, Desenvolvimento e Produção de petróleo e gás,

características da indústria petrolífera offshore da BC, ver Figura 5.2 .

168 Destaca-se que governo federal vem intervindo no mercado petrolífero brasileiro definindo conteúdos mínimos de produtos nacionais que devem ser adquiridos pelas grandes operadoras que atuam no país. Estes conteúdos estão embutidos nas regras para participação das operadoras, nos leilões de blocos exploratórios promovidos pela ANP.

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196

(1)

(2)

(3)

(4)

(5) (6) (7)

Figura 5.2 - Cadeia produtiva offshore , segmento upstream

Fonte: Elaboração própria, baseada em Thomas (2001).

Prospecção de Petróleo

Métdos Geológicos

Métodos Potenciais

Métodos Sísmicos

Geologia de Superfície Aerofotogrametria e fotogelogia Geologia de Superfície

Gravimetria Magnetometria

Sísmica 3D Sísmica 4d Sísmica de Poço

Perfuração

Equipamentos de Perfuração

Colunas de Perfuração

Operações de perfuração

Avaliação de Formações

Perfilagem de poço aberto

Teste de pressão em poços

Perfilagem de produção

Completação

Equipamentos de produção

Condicionamento do poço

Cimentação (avaliação)

Inst. da coluna de produção

Produção do Poço

Reservatórios

Elevação e Transporte

Proc. primário de Fluidos

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197

Como se observa na Figura 5.2 a cadeia produtiva que define as atividades de E&P

de petróleo e gás natural, compreendem basicamente atividades fundamentadas na prestação

de serviços. Nesse sentido faz-se uma breve menção aos principais169serviços que compõem

as etapas de Exploração, Desenvolvimento e Produção de petróleo e gás, que se verificam na

Bacia de Campos.

• Exploração ou Prospecção de Petróleo e gás natural

“A descoberta de uma jazida de petróleo em uma nova área é uma tarefa que envolve

um longo e dispendioso estudo e análise de dados geofísicos e geológicos das bacias

sedimentares. Somente após exaustivo prognóstico do comportamento das diversas camadas

do subsolo os geólogos e geofísicos decidem propor a perfuração de um poço, que é a etapa

que exige maior investimento em todo o processo de prospecção” (Thomas 2001:56).

O processo exploratório170 de petróleo e gás envolve um programa que objetiva um

estudo geológico com o propósito de reconstituir as condições de formação e acumulação de

hidrocarbonetos. Para esse fim, o geólogo elabora mapas de geologia de superfície com o

apoio da aerofotogrametria e fotogeologia, infere a geologia de superfície a partir dos mapas

de superfície e dados de poços como também analisa as informações de caráter

paleontológico e geoquímico. Nesse sentido, a prospecção de petróleo e gás envolve a

utilização de métodos científicos que demandam a utilização de profissionais de elevada

especialização e equipamentos sofisticados em um processo hierárquico que segue, em

geral, o esquema apresentado na Figura 5.1 (1), com destaque para os métodos geológicos,

potenciais e sísmicos.

169 Para um estudo mais aprofundado a respeito das etapas que constituem o processo de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás, ver a obra organizada por Thomas (2001) “Fundamentos de Engenharia do Petróleo”. 170 Um programa de prospecção visa fundamentalmente a dois objetivos: (i) localizar dentro de uma bacia sedimentar as situações geológicas que tenham condição para a acumulação de petróleo; e (ii) verifica qual, dentre estas situações, possui mais chance de conter petróleo (Thomas 2001:24).

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198

• Perfuração

A perfuração de um poço de petróleo é realizada através de um sonda. Na

perfuração rotativa, as rochas são perfuradas pela ação da rotação e o peso aplicado a uma

broca existente na extremidade de uma coluna de perfuração, a qual consiste basicamente de

comandos (tubos de paredes espessas) e tubos de perfuração (tubos de paredes finas)

(Thomas 2001:56). Os resíduos oriundos dos fragmentos de rocha são removidos

continuamente através de um fluido de perfuração ou lama. O fluido é injetado por bombas

para o interior da coluna de perfuração através da cabeça de injeção retornando à superfície

através do canal que se forma entre a cabeça do poço e a coluna. Ver Figura 5.1(2)

• Avaliação de Formações

“Denomina-se ‘Avaliação de formações’ as atividades e estudos que visam definir em

termos qualitativos e quantitativos o potencial de uma jazida petrolífera, isto é, a sua

capacidade produtiva e a valoração das suas reservas de óleo e gás (Thomas, 2001:122).

A avaliação de formações baseia-se principalmente na perfilagem a poço aberto, nos testes

de formação a poço aberto nos testes de pressão a poço revestido e na perfilagem de

produção (ibid.). Apesar de indícios obtidos durante a perfuração e a perfilagem indicarem

a presença de hidrocarbonetos na formação. Isto não significa que possam ser produzidos

economicamente. De acordo com Thomas (2001), somente o teste de formação, ou seja

somente a colocação do poço em fluxo poderá confirmar com segurança a presença de

hidrocarbonetos na formação e fornecer dados a respeito das condições do fluxo nas

imediações do poço (ibid.:122). Ver Figura 5.1 (3)

• Completação

Ao terminar a perfuração de um poço é necessário deixá-lo em condições de operar, de

forma segura e econômica durante toda a sua vida produtiva. Ao conjunto de operações

destinadas a equipar o poço para produzir óleo ou gás (ou ainda injetar fluídos no

reservatório) denomina-se completação (Thomas 2001:139). Nesta etapa do processo de

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199

produção, um grande número de procedimentos técnicos e operacionais é necessário para

que se realize com sucesso a produção de petróleo e gás, a saber: (i) equipamentos de

produção - equipamentos que junto com a coluna de produção possibilitam a extração de

petróleo e gás. Para a implantação destes equipamentos é necessário cumprir algumas etapas

que requerem serviços especializados como avaliação da cimentação do poço, instalação da

coluna de produção e procedimentos operacionais para a produção. Deve-se destacar que,

no caso da produção offshore em águas profundas um dos principais equipamentos de

produção utilizados são as chamadas árvores de natal molhadas171 (ANM). Ver Figura 5.1

(4)

• Reservatórios

A engenharia de reservatórios se preocupa basicamente com a retirada dos fluídos do

interior das rochas, de modo que eles possam ser conduzidos até a superfície. São estudadas

na engenharia de reservatórios a caracterização das jazidas, as propriedades das rochas, as

propriedades dos fluídos nelas contidos, a maneira como estes fluídos interagem dentro da

rocha, as leis físicas que regem os movimentos dos fluídos no seu interior, com o objetivo de

maximizar a produção de hidrocarbonetos com o menor custo possível (Thomas 2001:122).

A engenharia de reservatórios tem ainda por objetivo a estimativa das reservas, que pode ser

denominada como o volume de fluídos que se pode retirar do reservatório até que ele chegue

a condição de abandono. Define-se como volume recuperável172 a quantidade de óleo e/ou

gás que se espera produzir de uma acumulação de petróleo. Ver Figura 5.1(5)

• Elevação

Quando a pressão nos reservatório é suficientemente elevada os fluídos nele contido

alcançam livremente a superfície dizendo-se que são produzidos por elevação natural.

Quando a pressão interna do reservatório é baixa é necessário que se utilizem métodos

171 A árvore de natal molhada é um equipamento instalado no fundo do mar, constituído basicamente por um conjunto de válvulas tipo gaveta, um conjunto de linhas de fluxo e um sistema de controle interligado a um painel localizado na plataforma de produção (Thomas 2001:161). 172 Em geral, o volume recuperado de uma acumulação de petróleo é inferior a 40% do volume total do reservatório.

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200

artificiais para que o mesmo alcance a superfície como a injeção de gás, injeção de água,

bombeio mecânico e bombeio por cavidades progressivas.Ver Figura 5.1(6)

• Processamento Primário de Fluídos

Nesta etapa do processo de produção, os fluídos que chegam à superfície são canalizados

para equipamentos de processamento nas próprias plataformas de petróleo navios tanque

ou unidades terrestres173. O processamento de fluídos consiste na separação do óleo e do

gás que, em geral encontram-se misturados à água do mar. Após processado, o óleo e o gás

são transportados pela malha de oleodutos e gasodutos174 ou por meio de navios tanque até

as refinarias localizadas, em geral, próximas aos grandes centros consumidores.Ver Figura

5.1 (7).

5.3- Mapa do Aglomerado Petrolífero de Macaé.

Até o ano de 1997 a Petrobras monopolizava as atividades de E&P no país e

conseqüentemente, em sua maior província petrolífera, a Bacia de Campos. Entretanto, esta

realidade muda com o advento da lei 9.478, de agosto de 1997, que promove a abertura do

setor petróleo no Brasil. Como já mencionado, esta mudança institucional estimulou o

ingresso de inúmeras empresas estrangeiras offshore, de padrão internacional como

operadoras, provedores de insumos, empresas prestadoras de serviços e produtoras de bens

de capital, com reflexos diretos no aumento do número de empresas atuantes em Macaé.

Com efeito, enquanto base operacional da Bacia de Campos, o município de Macaé, no

estado do Rio de Janeiro presencia, a partir de 1997, um grande influxo de empresas

estrangeiras e nacionais contribuindo para que se cristalizasse naquela localidade uma

aglomeração industrial especializada em atividades offshore.

No que diz respeito à organização industrial do arranjo é mister enfatizar que a

indústria petrolífera offshore está compreendida no rol das indústrias de elevado grau de

complexidade o que implica, por seu turno, em “relacionamentos produtivos peculiares à

173 A estação de tratamento de Cabiúnas em Macaé constitui-se em uma unidade de processamento de óleo e gás a qual está articulada ao complexo produtivo offshore da Petrobras na Bacia de Campos. 174 Ver a respeito da infra-estrutura produtiva offshore da Bacia de Campos, seção 4.3.3-1, Capítulo IV.

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201

geração de produtos complexos, de caráter único e customizado, que requerem a integração

de diferentes sistemas e componentes” (Britto, 1999:246).

Considerando-se a densa malha de produtos e serviços que permeiam a cadeia

produtiva que envolve as atividades offshore em E&P Bacia de Campos, deve-se questionar

como as empresas offshore e empresas que dão suporte à atividade petrolífera interagem no

contexto do arranjo produtivo de Macaé ?

Como já mencionado, o aglomerado petrolífero de Macaé encontra-se na fase final

da cadeia produtiva offshore, isto é, as empresas nele inseridas desenvolvem basicamente

serviços, intensivos em engenharia e atividades técnicas envolvendo a integração de

sistemas e componentes complexos, manutenção de equipamentos, sistemas operacionais e

serviços associados ao desenvolvimento das atividades offshore.

O aglomerado petrolífero de Macaé, representado na Figura 5.3, fornece uma visão

geral dos grupos de empresas, assim como das instituições que o constitui. Neste sentido,

cerca de 1200 empresas e um número superior a 15 instituições definem o aglomerado, que

emprega aproximadamente 42.000 trabalhadores formais em atividades ligadas direta e

indiretamente à extração de petróleo e gás.

Estas empresas estão instaladas principalmente na região urbana de Macaé e podem

ser divididas em dois grandes grupos: (i) empresas diretamente ligadas às atividades

offshore, tais como prestadoras de serviço e provedores de insumos, representados na parte

superior da figura; (ii) empresas que atuam em atividades de suporte, tais como trasnporte,

construção civil, alojamento e alimentação. No lado direito da Figura 5 representa-se o

grupo de instituições de apoio que dão suporte ao aglomerado, além do conjunto de

instituições, sediadas em Macaé e no Rio de Janeiro, responsáveis pelo desenvolvimento das

atividades de ciência e tecnologia ligadas às atividades petrolíferas na BC.

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202

Encadeamentos para Trás

Instituições de Apoio

Rede de Ciência e Tecnologia

Encadeamentos para Frente

Fig 5.3: Mapa do aglomerado petrolífero de Macaé Instituições sediadas no município do Rio de Janeiro Fonte: Elaboração própria.Número de empresas e de empregados estimados

AGLOMERADO

PETROLÍFERO DE MACAÉ 30.000

TRABALHADORES 1.200 empresas

SEC. IND e COM. MACAÉ.

GEPS/ACIM

REDEPETRO/ SEBRAE

C. DES. MACAÉ

CALDERARIA, PINTURA E REPAROS 164 unidades/ 3000 func.

DESENVOLVIMENT0 COMPLETAÇÃO Árvores de natal Risers, dutos flexíveis, minifolders 30 unidades 1000 funcionários

MONTAGEM DE EQUIPAMENTOS E MANUTENÇÃO EM PLATAFORMAS : 270 unidades

Prospecção de Petróleo 20 Empresas 3.000 Trabalhadores

ENGENHARIA DE RESERVATÓRIOS 10 unidades 200 funcionários

CENPES/Petrobras

ONIP

COPPE

FORNECEDOR ES DE INSUMOS E BENS DE CAPITAL. 100 unidades

TRANSPORTE E COMUNICAÇÕES 80 unidades 5.500 trabalhadores

CONSTRUÇÃO CIVIL 76 unidades 4.100 trabalhadores

ONPETRO

PROCESSAMENTO e TRANSPORTE DE ÓLEO E GÁS 20 unidades 800 funcionários

PRODUÇÃO BACIA DE CAMPOS ano 2003

1,247.000 barris de petróleo/dia 2,6% do PIB nacional

Alojamento e alimentação 260 unidades 4.500 trabalhadores

NUCEM

CEFET

LENEP/UENF

IMMT

PUC-RJ

PETROBRAS + 11 operadoras

11.000 Funcionários

Outras atividades 200 unidades

CETEPETRO

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203

com base em dados do IBGE (2000), e CAGED (2000).

No centro do aglomerado, dada a estrutura de produção hub-and-spoke “centro

radial” que caracteriza a atividade de E&P está a Petrobras, maior operadora do país, bem

como outras doze175 operadoras “majors”. Somente a Petrobras possui em seu quadro

funcional na Bacia de Campos cerca de 8.000 funcionários, sendo que, no conjunto das

operadoras atuantes em Macaé, estima-se176 um total de 11.000 funcionários.

No entorno da Petrobras e demais operadoras177 define-se o conjunto de empresas

que, na estrutura de produção de petróleo e gás da BC, caracterizam os encadeamentos para

trás e um outro conjunto de empresas que definem os encadeamentos para frente.

No que diz respeito aos encadeamentos para trás, destacam-se as atividades

desempenhadas por empresas de prestação de serviço que são contratadas diretamente pela

Petrobras e pelas outras operadoras atuantes na Bacia de Campos. Na verdade, como já

mencionado, tanto a Petrobras como as demais operadoras e prestadoras de serviço atuam

na Bacia de Campos ao longo das etapas finais da cadeia produtiva offshore. Isto significa

que a maior parte das etapas da cadeia produtiva que determinam os encadeamentos para

trás da indústria offshore, se desenvolve fora do aglomerado petrolífero de Macaé,

compreendendo a produção de bens, insumos e serviços em outras regiões do país como, por

exemplo, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Não obstante, os encadeamentos para

trás vão além das fronteiras brasileiras quando se trata da importação de bens de capital,

serviços e equipamentos complexos, tais como plataformas, navios-tanque, peças, e

equipamentos diversos (ver Quadro 4.1).

175 Total Fina Elf, Shell, Enterpise, Esson Móbil, Pan Canadian, Wntershull, Devon, Chevron, Texaco, Agip, Unocal, Ocena Energy INC. 176 Estimativa realizada com base em informações do SINDIPETRO Norte Fluminense, e entrevistas com empresas do setor. 177A partir da lei 9.478 de agosto de 1997, as atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural passam a ser exercidas mediante contratos de concessão, precedidos de licitação, na forma estabelecida pela lei supracitada. É criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que passa a ser responsável pela administração dos direitos de exploração e produção de petróleo e gás natural em território nacional, nele compreendidos a parte terrestre, o mar territorial, a plataforma continental e a zona econômica exclusiva pertencentes à União (Ibid).

FAPERJ

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204

5.4 -Padrões de Organização Industrial das Empresas offshore em Macaé

No final dos anos 1980 torna-se evidente a importância estratégica da Bacia de

Campos enquanto principal província petrolífera do país e a necessidade de a Petrobras se

capacitar tecnologicamente para as atividades de E&P em águas profundas e ultraprofundas.

Ainda nos anos 1980 grande parte dos serviços envolvendo exploração, desenvolvimento e

produção na Bacia de Campos eram realizados pela própria Petrobras, com a parceria de

algumas experientes empresas offshore, como, por exemplo, a Schlumberger e a

Hallibourton178. Neste período, as atividades envolvendo E&P na Bacia de Campos eram

muito concentradas, havendo uma tímida participação de pequenas e médias empresas locais

em serviços de apoio.

No início dos anos 1990, a Petrobras se adapta aos contornos da nova política

industrial implementada no governo Collor de Melo, que se caracterizou pelo processo de

abertura comercial e financeira do país. As empresas privadas e públicas ingressam então

em um processo de racionalização produtiva visando o aumento da eficiência competitiva,

cujos desdobramentos mais visíveis foram: a implementação de “programas de qualidade”,

descentralização do processo decisório e terceirização de atividades produtivas. Neste

contexto a Petrobras dá preferência aos fornecedores nacionais aumentando, no caso da

Unidade BC, sediada em Macaé, a participação de pequenas e médias empresas nos

contratos de prestação de serviços.

No entanto, com a vigência da lei do petróleo, de agosto de 1997, que flexibilizou o

monopólio exercido até então pela Petrobras nas atividades de E&P, o número de empresas

offshore sediadas em Macaé passou a crescer de forma substancial, dando novos contornos à

organização industrial até então vigente. Assim, entre 1997 e 2003, vem se consolidando

uma nova dinâmica industrial em Macaé, onde é possível identificar-se a presença de três

grupos distintos de empresas atuantes no aglomerado, a saber (i) as majors ou grandes

operadoras como, por exemplo, a Petrobras, YFP e Shell; (ii) as grandes empresas

prestadoras de serviço tais como a Halliburton e Schlumberger e Transocean; e, por fim,

(iii) o grupo das pequenas e médias empresas nacionais prestadoras de serviços.

178 Ambas as empresas citadas prestam serviços em diferentes etapas que envolvem as atividades offshore de exploração, desenvolvimento e produção.

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205

O primeiro grupo, das operadoras, é constituído por empresas transnacionais, de

grande porte, que atuam em diversos segmentos da indústria petrolífera, tanto no upstream

quanto no dowstream. No caso da Bacia de Campos o destaque é para a Petrobras, que

detem mais de 80% dos ativos de produção offshore. Das onze operadoras que atuam em

Macaé pelo menos nove desenvolvem projetos de E&D em associação com a Petrobras, com

exceção da operadora Shell que opera sozinha uma área promissora na BC. O segundo

grupo de empresas que atua na Bacia de Campos são as prestadoras de serviços

transnacionais. Tratam-se, em geral, de grandes empresas de padrão internacional que

atuam no desenvolvimento de produtos e serviços costumizados, de elevado grau de

complexidade, envolvendo as atividades de exploração, desenvolvimento e produção.

Empresas como Hallibourton, Slumberger, Weatherfod e Pride estão inseridas neste

contexto, e dividem com outras grandes empresas do setor o mercado da BC. O terceiro

grupo de empresas sediadas em Macaé são as prestadoras de serviço de pequeno e médio

porte que atuam na indústria offshore da BC. A característica principal deste grupo de

empresas é o baixo nível tecnológico requerido para o desenvolvimento das atividades em

E&P e o pequeno aporte de capital que dispõem para investimentos em inovação

tecnológica e qualificação da mão-de-obra. Estas empresas participam no mercado

principalmente por mecanismos de subcontratação179, atuando junto às grandes prestadoras

de serviço, as quais detêm junto à Petrobras – principal contratante da BC - e demais

operadoras, os grandes projetos de engenharia e serviços correlatos da BC. Não obstante, as

pequenas e médias empresas prestadoras de serviços detêm, em menor escala, contratos

para prestação de serviços diretamente180 a Petrobras. Neste grupo destacam-se empresas

que atuam em serviços de mecânica, elétrica, soldagem, catering, transporte de cargas,

pintura, pequenos reparos e metalurgia.

Deve-se destacar ainda que o grande afluxo de empresas estrangeiras para Macaé,

verificado nos últimos anos, tem contribuído para reforçar a estrutura de mercado

oligopolista que é predominante nas atividades de prestação de serviço offshore. Esta

179 A celebração de contratos de prestação de serviços diretamente com a Petrobras, por parte das pequenas e médias empresas do aglomerado torna-se cada vez mais difícil por conta da nova política de contratação adotada pela estatal, que passou a vigorar no primeiro semestre de 2003. Voltaremos a este assunto na seção 5.5.1-1. 180 Como será visto mais à frente, a nova política de contratação da Petrobras tende a diminuir o volume de contratação de pequenas e médias empresas.

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206

dinâmica pode ser explicada, em grande parte, pelo padrão de organização da indústria

petrolífera internacional. Com efeito, o segmento upstream da indústria offshore de regiões

como o Golfo do México, Mar do Norte e Norte da África possuem, em geral, estruturas

oligopolizadas.

Nesse sentido deve-se destacar duas questões: (a) a produção offshore demanda

vultosos investimentos em infra-estrutura produtiva e em tecnologia181. Assim, na medida

que a indústria avança para a exploração e produção de petróleo em águas mais profundas,

como ocorre na BC, novos equipamentos, métodos e técnicas de se explorar e produzir

petróleo e gás são requeridos e; (b) a prestação de serviços diretamente relacionados às

atividades offshore: exploração, desenvolvimento e produção requerem, portanto, elevados

investimentos em P&D182, em máquinas e equipamentos, exigindo ainda contínua

qualificação da mão-de-obra que permeia um sistema de divisão do trabalho de elevada

interdependência técnica. Estes fatores implicam em escalas elevadas de produção induzido

à internacionalização183 da indústria.

Com efeito, organização industrial offshore que se define atualmente em Macaé,

caracteriza-se pelo forte domínio das grandes empresas multinacionais prestadoras de

serviço com especialização em atividades como perfuração, completação, transporte, dutos,

manutenção etc, com amplo domínio da empresa central do aglomerado, a Petrobras, que

domina e centraliza asatividades de E&P na Bacia de Campos. Com efeito, a organização

industrial caracteristicamente oligopólica prevalecente no aglomerado petrolífero de Macaé

define-se pelo esquema centro radial proposto por Markusem (1999).

A Figura 5.4 apresenta de forma estilizada a atual organização das empresas offshore

sediadas em Macaé. Como se pode observar, a organização industrial do aglomerado

petrolífero de Macaé define-se por uma estrutura hierárquica, onde a Petrobras e onze

operadoras - enquanto empresas centrais - estabelecem uma integração vertical com as

grandes empresas prestadoras de serviço, as quais, por sua vez, subordinam as pequenas e

181 Não obstante deve-se ressaltar que com as tecnologias convencionais extrai-se, atualmente, um volume inferior a 40% do óleo contido nos reservatórios. Portanto, maciços investimentos em novas tecnológias são requeridos para aumentar-se a produtividade e a capacidade de óleo a ser extraído do volume total existente no reservatório. 182 Tais investimentos estão voltados sobretudo para o desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos que, em geral, estão atrelados à soluções complexas e costumizadas.

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médias firmas. As principais atividades desenvolvidas pelas grandes empresas relacionam-se

ao desenvolvimento de projetos, de elevada complexidade com vistas às atividades de

exploração, desenvolvimento, produção e manutenção offshore. Já as pequenas empresas

atuam em geral, por meio de sub-contratação, desenvolvendo a prestação de serviços

especialmente na área técnica como: calderaria, mecânica e pequenos reparos de

equipamentos, plataformas e embarcações.

Figura 5.4- Organização industrial das empresas offshore localizadas em Macaé Empresas Offshore de Grande Porte (Em geral Multinacionais) Empresas de pequeno e médio porte. Fonte: Elaboração Própria

183 Em mercados offshore como os do Golfo do México, Mar do Norte e Norte da África, Ásia e Brasil (BC) é comum encontrar empresas prestadoras de serviço de grande porte atuando simultaneamente em dois ou mais mercados dos supracitados.

Empresas Offshore Ligadas à Exploração

Empresas Offshore Ligadas à

Desenvolvimento

Empresas Offshore Ligadas à Produção

Empresas Offshore

Manutenção

Calderaria Reparo de plataformas e embarcações

Mecânica e pequenos reparos

Provedores de insumos e equipamento

s

Consultoria Outros

PETROBRAS +

11 operadoras

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Participam ainda do aglomerado, pequenas e médias empresas no fornecimento de

insumos e bens para a indústria offshore, com destaque para o substancial crescimento das

representações comerciais de grandes fornecedores offshore de padrão internacional. No

grupo das pequenas e médias empresas encontram-se ainda as firmas de consultoria e

aquelas que atuam em atividades de suporte tais como construção civil, hotelaria e

alimentação.

Sendo a Petrobras a empresa central no aglomerado, questiona-se qual a relação das

PMEs com a estatal? A dinâmica das empresas do aglomerado, particularmente das

pequenas e médias, vem sofrendo, recentemente, forte impacto decorrente das mudanças

regulatórias, implementadas pela Petrobras184. Tais mudanças são fruto do novo sistema de

contratações de fornecedores implementado pela estatal que tem definido critérios mais

rigorosos vis-à-vis à melhoria do padrão de qualidade e eficiência de bens e serviços

contratados pela empresa185. Apesar da referida mudança que afeta principalmente as

pequenas e médias empresas, estas ainda mantêm um vínculo direto com a Petrobras-

unidade BC, como representado na Figura 5.4, pela seta tracejada.

No que tange à localização industrial, a maior concentração de empresas offshore de

Macaé ocorre no bairro Novo Cavalheiro, onde se verifica um número superior a 300

estabelecimentos. Neste bairro, assim como nos bairros de Imboassica e Parque dos Tubos,

ocorre a predominância de grandes empresas, sobretudo multinacionais186, ver Figura 5. 5.

184Deve-se destacar que, por produzir mais de 80% do petróleo no país a estrutura produtiva de suporte à produção da Bacia de Campos, localizada em Macaé, é, sem dúvida, a que sofre maior impacto com a nova política de contratações da Petrobras com desdobramentos que induzem a concentração e fusão por parte das empresas (sobretudo as grandes) e redefinição da inserção produtiva por parte das PMEs com elevados riscos de que as estas deixem de operar neste mercado. 185 Esta questão será abordada com maior profundidade nas seções a seguir que enfatizam o processo de governança no aglomerado. 186 Como já observado, as empresas mais representativas do aglomerado são estrangeiras com exceção, de algmuas empresas nacionais de destaque como a Queiroz Galvão, Odbrecht e a propria Petrobras, que se distinguem por serem empresas de padrão internacional.

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Figura 5.5- Principais empresas do aglomerado petrolífero de Macaé

Fonte: Reproduzido da TN Brasil (2002).

Soma-se ao conjunto de empresas mencionadas, a planta de transferência de óleo e

gás da Petrobras em Cabiúnas e um grupo de pequenas e médias empresas que se

concentram nos bairros de Lagomar e Imboassica. Nesse sentido, a Figura 5.5 apresenta a

localização geográfica das principais empresas do aglomerado187, como também as

identifica (ver nota de rodapé nº 3188).

5.5- Elementos para Análise de uma Rede de Firmas.

Apresentam-se aqui, os principais elementos que caracterizam o modus operandi de

uma rede de firmas. A discussão proposta nesta seção, procura avançar na análise

microeconômica do aglomerado petrolífero de Macaé, e joga luz a respeito da formação de

187 Relação das principais empresas por ordem numérica crescente: 1- ABB; 2- ABS do Brasil; 3- Baker Hughes; 4- BJ Services; 5- Brasril Sociedade de Perfuração; 6- Cooper Cameron; 7- DNV; 8- Engeman; 9- GE do Brasil S/A Nuevo Pignone; 10 Halliburton; 11-IOSS; 12 Kvaener; 13- Louisianna Drilling; 14- Maersk; 15- Marine; 16 National Oilwell do Brasil; 17- Noble do Brasil; 18- Odebrecht; 19 Oil States; 20- Orteng Services; 21- Petrobras; 22- Petroserv; 23- Poland; 24- Precision International; 25- Pride do Brasil; 26- Q&B; 27- Queiroz Galvão; 28- SBM; 29- Schachin Petróleo; 30- Schlumberger; 31- Ssmith International; 32- Stolt Offshore; 33- SperQuip; 34- Transocean Sedco Forex; 35- Varco; 36 Weatherford (Tn Brasil, 2002).

Parque dos Tubos

Novo Cavalheiro

Imboassica

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capitais intangíveis, resultado, principalmente, da interação entre as empresas e da

estruturação de uma rede de ciência e tecnologia voltada para indústria offshore na BC.

De acordo com Britto (1999) “As redes de firmas são constituídas não apenas por

atores ou agentes, mas também por determinados recursos e atividades por eles

mobilizados. Ao nível da rede é possível observar a integração de múltiplas atividades, tais

como produção, comercialização, P&D, etc, as quais geram uma interdependência

funcional – refletida numa determinada divisão do trabalho – que reforça a coesão do

arranjo ao longo do tempo” (ibid.:153). Assim, a definição de um sistema produtivo cujas

empresas se articulam em rede, requer que sejam moldados um conjunto de

interdependências técnico-produtivas, relacionadas tanto ao processo de produção e

comercialização stricto-sensu, quanto à uma rede de ciência e tecnologia que dá suporte às

atividades-chave do sistema.

Pressupõem-se ainda que o grau de coesão de uma rede de empresas seja permeado

por um conjunto de fatores de ordem sócio-cultural, como o desenvolvimento de uma

cultura empreendedora, o desenvolvimento de relações fundamentadas na confiança e

reciprocidade entre as empresas.

Não obstante, no que tange ao modus operandi de uma rede de firmas é mister

enfatizar ainda a existência de três dimensões básicas que devem ser analisadas, de acordo

com Britto (1999:155): “(i) um processo de cooperação técnico produtiva entre firmas –

onde devem-se considerar os instrumentos mobilizados para incrementar a eficiência e a

flexibilidade operacional ao nível da rede vis-à vis a obtenção de ganhos de escala e de

escopo; (ii) um processo de coordenação coletiva das ações adotadas pelas empresas -

devendo-se considerar os instrumentos mobilizados e a estrutura de poder que permeia o

sistema, bem como as formas de governança188 inerentes ao mesmo; e (iii) um processo de

cooperação tecnológica entre as empresas, associado à realização de esforços inovativos de

maneira conjunta - devendo-se analisar como a integração de competências complementares

favorece o desenvolvimento de instrumentos de aprendizado por interação entre os membros

da rede, proporcionando estímulos adicionais à geração e difusão tecnológica”.

188 “O conceito de governança refere-se às diversas formas pelas quais indivíduos e instituições públicas e privadas gerenciam seus problemas comuns, acomodando interesses conflitantes ou diferenciados e realizando ações cooperativas. Diz respeito não só a instituições e regimes formais de coordenação e autoridade, mas também a sistemas informais” (Albagli e Britto, 2003:15).

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211

As três subseções que se seguem procuram discutir as dimensões acima apresentadas

buscando, assim, contribuir para a compreensão do modus operandi do aglomerado

petrolífero de Macaé. Nesse sentido, procura-se avaliar inicialmente o processo de

cooperação técnico produtiva, na subseção 5.5.1, discutindo-se a relação interfirmas,

cooperação e estratégias competitivas adotadas pelas firmas do aglomerado. A subseção

5.5.2 avalia o processo de coordenação coletiva e a estrutura de governança predominante

no aglomerado. Já a subseção 5.5.3 procura identificar as ações de cooperação tecnológica

entre as empresas sediadas em Macaé, bem como a atuação do aparato de ciência e

tecnologia na promoção de inovações tecnológicas que contribuam para o dinamismo

competitivo do aglomerado.

5.5.1- Relações Interfirmas, Formas de Cooperação Técnico-Produtivas e Estratégias

Competitivas.

Uma das questões fundamentais para se entender a dinâmica de um aglomerado

produtivo, diz respeito às relações que as empresas estabelecem entre si e como tais relações

estimulam a melhoria das competências tecnológicas, da tecnologia per si, e dos produtos e

serviços (Nadivi, 1995:13).

No APM a constituição de uma estrutura hierarquizada de prestadores de serviço sob

a coordenação da Petrobras, envolvendo grandes e pequenas empresas, resulta em grande

parte das mudanças verificadas na indústria offshore internacional, onde a maior parte das

operadoras reorganizou o processo de compras com especialização e centralização das

atividades, envolvendo critérios cada vez mais rígidos para a seleção de fornecedores189.

No âmbito mundial a indústria petrolífera offshore vem adotando novos procedimentos para

a seleção e desempenho dos fornecedores de sistemas, componentes e serviços que integram

os complexos projetos envolvendo as atividades de exploração, desenvolvimento e

produção.

A recente dinâmica da indústria petrolífera internacional sofre a influência dos

seguintes fatores: (i) da necessidade das operadoras aumentarem a eficiência produtiva

determinada, sobretudo, pelo acirrado processo competitivo que se estabelece na referida

189 Esta tendência pode ser observada ainda em algumas montadoras de automóveis, como vem ocorrendo com a empresa Fiat do Brasil, conforme identificado em estudo de caso realizado sobre o “Arranjo Produtivo da Rede Fiat de Fornecedores” por Borges et al.(2003).

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indústria; e (ii) da necessidade das majors em cumprirem exigências cada vez mais rígidas

das autoridades ambientais, com relação a padrões de segurança relacionados ao meio

ambiente, condição sine qua non para o início e desenvolvimento das atividades produtivas

offshore. Desta forma, as operadoras têm buscado concentrar suas atividades no

planejamento, desenvolvimento, integração e fiscalização de projetos ao longo da cadeia de

serviços, como apresentado na Figura 5.1, seção 5.2.

A partir do novo marco regulatório definido pelas regras estabelecidas para a

atividade petrolífera no Brasil pela ANP, lei do petróleo de 1997, a Petrobras190 estabelece

como mesta estratégica para a 1a. década do século XXI, o objetivo de ser a empresa líder

no setor energético da América Latina. Desde então a estatal ingressa definitivamente no

novo padrão competitivo que se delineia para a indústria petrolífera mundial lançando-se no

mercado como uma empresa de energia191. Tendo em vista a recente dinâmica da indústria

petrolífera nacional, a Petrobras passa então a adotar novos procedimentos no sentido de

otimizar seu processo produtivo e alcançar metas crescentes de produtividade, onde se

destaca o segmento upstream que absorve a maior parcela dos investimentos da empresa.

A partir de 1990, buscando ajustar-se ao processo de abertura estrutural da economia

brasileira iniciado no Governo Collor, a Petrobras UN-BC intensifica a terceirização de

muitas atividades até então desenvolvidas pela empresa no segmento de E&P, concentrando

sua mão-de-obra própria em áreas estratégicas como planejamento, contratação de bens e

serviços, desenvolvimento, acompanhamento de projetos de E&P, controle da produção de

petróleo e gás nas plataformas e transporte de óleo e gás (oleodutos, gasodutos e navios

tanque). Muitos serviços nos segmentos exploração, desenvolvimento e produção foram

terceirizados. Por exemplo, atualmente, a Petrobras raramente perfura um poço de petróleo.

Empresas especializadas como Hallibourton, Transocean e Schlumberger que atuam em

Macaé são contratadas para realização deste e outros serviços correlatos. Estes

190 As competências operacionais e mercadológicas adquiridas ao longo de quase cinqüenta anos de monopólio da Petrobras nas atividades de E&P, associado ao novo modelo regulatório que manteve as áreas que vinham sendo exploradas e desenvolvidas pela empresa, garantiram-lhe um amplo domínio no segmento upstream após a abertura do mercado. 191 As grandes operadoras mundiais, inclusive a Petrobras, passam a assumir, a partir de meados dos anos 1990, o conceito de empresas de energia. A prática deste novo conceito se reflete na diversificação atividades tradicionais das grandes operadoras, nos segmentos upstream e dowstream, que passam a atuar ainda no ramo de geração e fornecimento de energia elétrica através de investimentos em termoelétricas, movidas a gás natural.

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213

procedimentos resultaram em ganhos de escala com a racionalização de custos e do tempo

de desenvolvimento dos projetos.

5.5.1-1 A Nova Política de Contratações da Petrobras.

O aumento dos investimentos da Petrobras UN-BC em atividades de E&P,

associado aos novos procedimentos de produção adotados, criou – como visto – um

promissor mercado offshore em Macaé, que tem atraído um grande número de empresas de

grande, médio e pequeno porte, contribuindo para a expansão do aglomerado. Estes fatores

se refletiram no substancial aumento do número de contratos celebrados pela Petrobras que,

a partir do ano de 2002, passou a adotar novos critérios de contratação.

A reorganização nos procedimentos de contratação por parte da Petrobras vem

determinando importantes mudanças nas relações que a empresa estabelece com os

fornecedores de bens e serviços ao longo de toda a cadeia produtiva. As novas exigências

têm causado impactos diretos nas economias local, regional e nacional, tendo em vista a

importância da indústria petrolífera na composição do PIB nacional e da região Norte

Fluminense. Assim, o novo sistema de contratação da Petrobrás “é implementado com o

objetivo de reduzir o número de contratos, evitar a participação de empresas que

apresentem risco de falência, aumentar a segurança das operações, diminuir processos

trabalhistas, elevar a qualificação profissional da massa contratada e garantir um

resultado operacional eficaz” (Vasconcelos, 2002:24).

A ênfase na melhoria da seleção para contratação é uma política global da estatal,

definida para ser implementada por todas as suas unidades no país. Contudo, como a gestão

é partilhada por regiões administrativas, cada unidade de negócio moldou a própria política

de contratação de acordo com as suas necessidades específicas. Destaca-se que nesse

processo a Petrobrs UN-BC recebe o maior impacto dentro da nova padronização, pois é a

que arregimenta maior número de contratos na companhia face a expressiva produção de

óleo e gás que se verifica na BC. Nesse sentido, no final do ano de 2002 a UN-BC tinha em

carteira 593 contratos, em sua grande maioria na área de prestação de serviços. O

gerenciamento de tamanho volume de contratos passou a afetar a eficiência produtiva da

Unidade.

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A mudança no sistema de contratação da UN-BC buscou aumentar

competititividade, flexibilidade além da redução de custos da estatal. Teve início no ano de

2002 pelos serviços considerados prioritários, distribuídos em quatro grandes famílias:

Manutenção, Hotelaria, Construção e Montagem, e Operação e Manutenção de Guindastes

(Vasconcelos, 2002:24-25).

De acordo com informações obtidas na entrevista realizada com o gerente de Suporte

Operacional da Bacia de Campos192, as principais mudanças alteram a forma de selecionar e

acompanhar o desempenho das prestadoras193 de serviço no que diz respeito aos aspectos

trabalhistas, sociais, econômico-financeiros, técnicos, de segurança e meio-ambiente. “A

medição do desempenho de empresas prestadoras de serviços e similares foi padronizada e

adotou-se a padronização e avaliação dos contratos através de itens de controle idênticos”

(ibid.). O Boletim de Avaliação de Desempenho (BAD) é o documento que habilita as

empresas a ingressarem no quadro de fornecedores da estatal. Para tal, exige-se uma

avaliação pelo menos regular por uma empresa de consultoria contratada, onde são

auditados dez requisitos legais, todos eliminatórios; nove econômico-financeiros (alguns

eliminatórios); 33 técnicos abrangentes e específicos; 25 aspectos de SMS194 (ibid).

O processo de seleção de fornecedores considera, além do preço, os fatores acima

mencionados. Para a Petrobras deixa de valer a política do “menor preço” para ser adotada a

política do “melhor preço195”, ou seja, o preço do produto ou serviço que viabiliza a

condução do contrato, por parte do fornecedor, de maneira eficiente, dentro dos prazos

estabelecidos. A Petrobras vem tendo problemas com fornecedores que cotam seus preços

em níveis baixos o que gera dificuldades para dar prosseguimento nos contratos, sendo que

os maiores problemas ocorrem na área trabalhista, na forma de ações contra a Estatal196.

192 Sr. Arísio Santarini. 193 De acordo com o gerente de operações da Petrobras, Sr. Arísio Stanzani, uma empresa especializada em consultoria, a “Adeloid” foi contratada para auditar os critérios de seleção dos fornecedores de bens e serviços da Petrobras. 194 A sigla SMS – Segurança, Meio Ambiente e Saúde relaciona-se à certificação conferida pela auditoria da Petrobras às empresas que desejam ser cadastradas em sua lista de fornecedores. As empresas que não conseguem passar pela auditoria recebem um relatório expondo as suas “não conformidades”. Se corrigirem as pendências que devem ser reavaliadas em uma outra auditoria são integradas na lista de fornecedores da Petrobras e podem assim participar dos processos licitatórios. 195 Para facilitar a avaliação do melhore preço, a Petrobras padronizou a Planilha de Orçamentação, onde faz-se uma minuciosa previsão dos custos que incorrerão ao longo da duração do contrato (Vasconcelos,2002:26). 196 A Petrobras UN-BC enfrenta diversos processos trabalhistas oriundos de trabalhadores de outras empresas que prestam serviço nas dependências da Estatal.

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A certificação tem se colocado como uma das principais exigências do mercado

offshore o que impacta diretamente no custo das empresas. A nova política de contratação

da Petrobras exige a certificação e a qualificação da mão-de-obra contratada, especialmente

nas denominadas “funções críticas”, a saber: serviços prestados à empresa nas áreas de

manutenção, hotelaria, O&M guindaste; construção e montagem. Todo este processo visa,

principalmente (i) reduzir o número de contratos e garantir a eficiência produtiva da

empresa; (ii) minimizar riscos de acidentes; (iii) reduzir o não cumprimento de contratos por

parte dos fornecedores de bens e serviços e (iv) reduzir as ações trabalhistas contra a

empresa (ibid).

Tabela 5.1- Petrobras - meta de redução do número de contratos na UN-BC até 2007

Redução do Número de Contratos da UN-BC

Família Nº de contratos atual Nº de contratos futuros

Manutenção 43 09

Hotelaria 66 10

O&M Guindastes 26 10

Construção e Montagem

86 10

Total 221 39

Fonte: Vasconcelos (2002).

Além das exigências junto às prestadoras de serviços para garantir a eficiência da

mão-de-obra contratada que atua em projetos da Petrobras, mesmo de posse de certificados

de qualificação profissional, os trabalhadores serão submetidos a provas teóricas e práticas

em situações que simulem as operações offshore da empresa.

Outra mudança importante diz respeito à estrutura dos contratos que passam a ser

formatados com base em dois parâmetros (i) passam a ser mais amplos, ou seja, deverão

abranger um leque maior de atividades, de modo que todos os serviços similares em um

determinado projeto passam a fazer parte de um mesmo pacote. Surge assim a figura dos

supercontratos; (ii) a estatal decidiu por alongar o prazo de duração dos contratos da UN-

BC, que passarão a ter duração de cinco anos, podendo ser renovado.

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No contexto das mudanças propostas, a estratégia da Petrobras em adotar contratos

mais amplos implica que estes não serão mais por plataformas, mas sim por ativos – espécie

de áreas administrativas que abrangem campos inteiros, congregando várias unidades

marítimas (Ibid.).

De acordo com a gerência de operações da Petrobras UN-BC, o novo sistema de

contratações está sendo implementado de forma gradual. Assim, até que as empresas das

quatro famílias de serviços selecionados (serviços críticos) comecem a operar através de

contratos de cinco anos, “contratões”, a estatal estará operando com contratos transitórios

entre dois e três anos de modo que, os contratos de cinco anos, iniciem-se juntamente com a

implementação integral dos novos critérios197.

As mudanças implementadas pela Petrobras afetam a maior parte das empresas que

atuam no aglomerado petrolífero. Tais mudanças determinam a adoção de novas estratégias

competitivas que se traduzem, por um lado, em fusões e aquisições e, por outro, reforça –

enquanto estratégia de sobrevivência - os vínculos de cooperação, sobretudo por parte das

pequenas empresas. No caso das grandes empresas offshore, na grande maioria

multinacionais, o ambiente em mutação as tem induzido a promover grandes fusões.

Empresas de variados portes estão se unindo através de consórcios, joint ventures, aquisição

de ações etc, buscando atender aos critérios de seleção definidos pela Petrobras, sobretudo

os relacionados aos aspectos econômico-financeiros.

Destacam-se alguns exemplos do processo de fusões que vêm ocorrendo no mercado

offshore de Macaé – especialmente a partir do novo sistema de contratações adotado pela

Petrobras -, a saber: a empresa Q&B integrou-se com Offshore Crane; a Santos Barbosa

com Would Group; a BSM com Sparows Offhore Services e a AC Engenharia com

Promon (Vasconcelos, 2002:27).

197 Desde o início de 2003, a Petrobras vem licitando contratos dentro dos novos critérios propostos. A estimativa é a de que a partir de 2005 a estatal ajuste os contratos de forma que o modelo de períodos longos comece de forma uniforme.

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217

5.5.1-2 Reestruturação Produtiva e o Papel das Pequenas e Médias Empreas no Aglomerado Petrolífero de Macaé.

É notório o papel de pequenas e médias empresas na geração de emprego e renda e

sustentabilidade sócio-econômica de localidades e regiões. O novo modelo de contratação

da Petrobras, chega em um momento em que o aglomerado petrolífero de Macaé está em

franca expansão. As novas regras afetam as empresas de uma forma geral, porém o impacto

nas firmas de pequeno e médio porte se faz sentir com maior ímpeto, tendo em vista as

fragilidades que tipificam as pequenas e médias empresas tais como reduzido capital para

investimentos, baixo nível de organização administrativa e mão-de-obra com pouca

qualificação. A nova política de contratações da Petrobras UN-BC atinge as PMEs em pelo

menos três pontos: (i) no novo formato, quando o sistema estiver funcionando plenamente,

isto é, os contratos de cinco anos forem generalizados, as PMEs praticamente deixarão de

prestar serviços diretamente à Petrobras ; (ii) isto porque o critério econômico financeiro,

um dos critérios determinantes para a participação no processo de licitação da estatal, é

propositalmente elevado, o que exclui as PMEs dos processos licitatórios; (iii) obriga as

PMEs a um rápido processo de reestruturação produtiva que, em geral, é muito oneroso.

Com efeito, a necessidade de recursos adicionais para atender os novos critérios definidos

pela Petrobras se dá pari passu ao aumento das restrições para a participação direta das

PMEs como fornecedores diretos da estatal.

Se por um lado as novas exigências tendem a aumentar a eficiência produtiva da

indústria offshore em Macaé, abrangendo inclusive melhoria das condições salariais, de

saúde ocupacional e de segurança dos trabalhadores, por outro lado, cria-se uma grande

incerteza no mercado no que diz respeito a forma de inserção das PMEs na nova estrutura

organizacional que se molda no aglomerado.

A consolidação do novo modelo tende inexoravelmente a produzir uma maior

verticalização na cadeia de serviços no aglomerado offshore de Macaé e aumentar os ganhos

relativos das grandes empresas em detrimento das pequenas e médias.

A expectativa dos mentores do novo modelo é a de que as PMEs possam se

qualificar de modo a atuarem como subcontratadas das grandes. Entretanto, quanto à

possibilidade acima mencionada, a incerteza emerge fundamentalmente por conta das

seguintes questões: (i) as restrições financeiras para a capacitação das PMEs do aglomerado

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e (ii) a necessidade de se construir novos relacionamentos produtivos com as grandes

empresas, em geral multinacionais, que serão fornecedores diretos de bens e serviços junto

a Petrobras UN-BC e (iii) a magnitude do impacto que tais mudanças trará à dinâmica do

aglomerado, especialmente no que diz respeito à renda, ao emprego e principalmente no que

se relaciona à sua sustentabilidade de longo prazo, quando a produção de petróleo entrar em

declínio.

Se por um lado as mudanças que vêm ocorrendo no APM aumentam as incertezas

dos agentes, por outro é possível observar o desenvolvimento de mecanismos de

coordenação que surgem no sentido de dar maior estabilidade ao ambiente microeconômico

e minimizar as incertezas.

No que tange as principais estratégias que vêm sendo utilizadas pelas pequenas e

médias empresas do setor destacam-se (i) a busca pela diversificação de suas atividades

produtivas, sobretudo aquelas que requerem menor investimentos, como por exemplo, a

atuação no segmento de representação comercial; (ii) articulação interempresas no sentido

de se atender os requisitos mínimos de econômico financeiros para participação das

licitações da Petrobras ou poder atuar no mercado por meio de subcontratações; (iii)

investimentos na qualificação da mão-de-obra e na padronização de procedimentos técnicos

para obtenção das certificações exigidas pelo mercado.

5.6- Coordenação Coletiva e Estrutura de Governança.

Buscando a eficiência do novo processo de contratação, a Petrobras procurou, a

partir de 2002, estabelecer um conjunto de ações de suporte à implantação da nova política

como se segue: (i) ampla divulgação junto aos executivos municipais e empresas

contratadas, sobre as razões da mudança e etapas do processo; (ii) montagem de oito centros

de qualificação e certificação em Macaé - sendo estes últimos o SENAI e o CEFET-,

voltados para atender as empresas prestadoras de serviço nas funções críticas identificadas

pela Petrobras: calderaria, eletricidade, instrumentação e mecânica; (iii) realização de

parcerias com o poder público para a implantação de programas para a melhoria da

escolaridade; (iv) aceitação de sub-contratação, de serviços considerados não essenciais; (v)

aceitação por dois anos de consórcios oficialmente estruturados – possibilitando ainda que

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temporariamente – a inserção de médias empresas no fornecimento direto à Petrobras; (vi)

ampliação de incentivo ao programa QualiRio.

No que tange às instituições que dão suporte ás atividades offshore na Bacia de

Campos deve-se destacar a Organização Nacional do Petróleo (ONIP), que tem

desempenhado relevante papel junto às empresas que atendem à industria de petróleo e gás

sobretudo às PMEs. Nesse sentido, quase 40 % do disputado cadastro de Fornecedores de

Bens e Serviços da ONIP é formado por empresas de até 100 funcionários com faturamento

anual de até R$1,2 milhão (Macedo, 2002:40).

Pertencer ao cadastro198 da ONIP representa tornar-se um fornecedor com

credibilidade no mercado. Para isso é preciso que o empresário realize cursos de

capacitação de modo a estar preparado a enfrentar as inúmeras exigências do mercado

offshore. Com efeito, em 2001, foi lançado o “Programa Competitividade é a Nossa

Plataforma”, pelo sistema Sebrae em parceria com a ONIP e os Ministérios da Ciência e

Tecnologia.

No Norte Fluminense os cursos foram implementado em setembro de 2002 com o

nome de “Programa de Capacitação de Fornecedores da Cadeia Produtiva de Petróleo e

Gás”199 quando o SEBRAE-RJ e a Prefeitura de Campos iniciaram as aulas de capacitação

para 13 empresas. Em Macaé o curso foi introduzido no mesmo período, com a participação

inicial de 15 empresas nas dependências da Associação Comercial e Industrial de Macaé

(ACIM).

Além da capacitação dos fornecedores, o programa supracitado tinha ainda como

meta a realização de um diagnóstico sobre a demanda do mercado na Bacia de Campos,

buscando-se traçar um diagnóstico das empresas que atuam na cadeia produtiva da indústria

petrolífera na região. O resultado da pesquisa, encomendado à Fundação Coppetec da UFRJ,

tinha por objetivo o desenvolvimento de ações integradas das entidades que compõem a

Câmara de Desenvolvimento de Macaé, visando fortalecer a cadeia produtiva do petróleo na

região. O diagnóstico da cadeia produtiva constitui-se então na base para o

198 Trata-se de um catálogo virtual disponível na home page da ONIP que reúne empresas nacionais e estrangeiras, qualificadas para atender às demandas da indústria petrolífera no país. 199 O programa utiliza um sistema integrado de gestão empresarial com ênfase nos indicadores de qualidade, meio ambiente e segurança no trabalho e saúde ocupacional. As MPEs que necessitam de apoio tecnológico são encaminhadas ao PATME (Programa de Apoio Tecnológico ás Micro Empresas) que conta com 70% de recursos financeiros do SEBRAE.

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desenvolvimento de um projeto mais amplo do SEBRAE voltado para a formação de um

“arranjo produtivo local200” de petróleo e gás com base em Macaé onde está a maior

concentração de empresas offshore e afins (Macedo, 2002:41). No final de 2003, era

lançada no Centro de Convenções de Macaé a Rede de Empresas do Setor de Petróleo da

Bacia de Campos – REDEPETRO-BC. A REDEPETRO-BC surge então através de uma

parceria entre a Secretaria de Indústria e Comércio da Prefeitura de Macaé e o SEBRAE/RJ,

sendo operacionalizada pelo Grupo de Produção Integrada GPI/COPPE &EP/UFRJ, além de

uma equipe de colaboradores da Região da Bacia de Campos, contando ainda com o apoio

da Petrobras UN-BC e E&P, além da Câmara de Desenvolvimento de Macaé.

Deve-se destacar que o desenvolvimento de novas instituições201, o

compartilhamento de responsabilidades e a atuação conjunta das mesmas com vistas à

melhoria do processo produtivo no aglomerado petrolífero de Macaé revelam

respectivamente a formação de capitais intangíveis tais como: capital social, relacionado ao

desenvolvimento de atividades por parte dos agentes de forma cooperativa, baseados na

confiança e reciprocidade, e capital sinérgico, relacionado à capacidade dos agentes

desenvolverem ações pró-ativas conjuntamente, com vistas a objetivos comuns.

No contexto das mudanças apontadas na seção anterior ressalta-se ainda a formação

do Grupo de Empresas Prestadoras de Serviço - GEPS que surge como movimento natural a

partir da percepção por parte das PMEs dos impactos negativos gerados a partir da

implementação da nova política de contratações por parte da Petrobras.

200 Arranjo produtivo na visão do superintendente do SEBRAE é definido como “uma espécie de distrito industrial, semelhante aos existentes no Norte da Itália , que conta com a articulação de forças da iniciativa privada e do poder público para se desenvolver. A estratégia é concentrar numa mesma área, micro e pequenas empresas de um mesmo segmento, para que possam competir harmoniosamente, cooperando entre si e fortalecendo-se mutuamente para conquistar os mercados nacional e internacional” (Macdeo 2002:41). 201 Em entrevistas realizadas com 13 empresas de pequeno, médio e grande porte, atuantes no aglomerado as instituições de apoio com as quais as empresas entrevistadas mantêm maior vinculo são, por ordem de

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221

5.7 – O Papel da Rede de Ciência e Tecnologia - Base Para a Cooperação Tecnológica

Discute-se nesta seção, a questão da cooperação tecnológica e a possibilidade de

estruturação no espaço local de Macaé de uma rede de ciência e tecnologia, dotada de uma

sólida infra-estrutura de ensino e pesquisa. Esta discussão joga luz sobre uma das hipóteses

desta pesquisa, a saber, a classificação da estrutura sócio-produtiva de Macaé enquanto um

sistema de inovação imaturo202. Assim, ao se analisar a formação de uma rede de ciência e

tecnologia no espaço local de Macaé e região de entorno, pretende-se identificar as bases

que fundamentam a presença de dois capitais intangíveis que complementam o Modelo de

Fluxos Tangíveis e Intangíveis apresentado no Capítulo II: capital cognitivo e capital

humano.

Como discutido no Capítulo II, no recente paradigma técnico-produtivo que permeia

as economias capitalistas, o conhecimento tácito e o comhecimento formal são fundamentais

na explicação da dinâmica tecnológica – fator crucial para a competitividade e

sustentabilidade de empresas, localidades e regiões. Este conhecimento é adaptado e/ou

produzido em um espaço sócio-cognitivo, definido pelo conjunto de infraestruturas,

instituições, relações de poder, condições econômicas, sociais, culturais e políticas. A

definição de uma sólida infra-estrutura do conhecimento e de uma rede de ciência e

tecnologia203 é fundamental para formação de capital intagíveis como capital humano, que

pode ser entendido como conhecimento acumulado no indivíduo, e de capital cognitivo,

entendido como a habilidade em aprender e reter conhecimento ou “aprender a aprender”.

Na discussão sobre aglomerados é importante enfatizar que os mesmos não se

restringem a uma determinada localidade ou mesmo região. Eles podem se prolongar para

outras localidades e/ou regiões, ou mesmo interagir com outras aglomerações especializadas

de empresas. Isto é o que ocorre com o aglomerado petrolífero de Macaé tendo em vista que

o mesmo se integra a aglomerações especializadas de outras regiões, como Rio de Janeiro e

preferência: (i) Associação Comercial de Macaé empatada em 1º lugar com REDEPETO- BC/SEBRAE, seguida da FIRJAN em 2º lugar, do GEPS em 3º e da ONIP. Ver anexo II, pergunta 31. 202 Procura-se estabelecer um sistema de classificação no Capítulo VI, onde se emprega o Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis na análise do estágio evolutivo do Aglomerado Petrolífero de Macaé. 203 A despeito do espaço cognitivo - onde se desenvolve o conhecimento tácito e se aplica o conhecimento formal em meio ao desenvolvimento de uma cultura empreendedora, uma rede de ciência e tecnologia não está, a rigor, limitada ao espaço geográfico local. Ela pode ser definida por meio de vínculos (relacionamentos

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Macaé, que produzem bens e serviços para atender às demandas da indústria petrolífera na

Bacia de Campos. Nesse sentido, três segmentos que atendem à indústria offshore na Bacia

de Campos, os quais se localizam no Rio de Janeiro, merecem destaque: (i) a indústria

naval que atende às demandas do segmento upstream de petróleo e gás; (ii) uma indústria de

bens de capital e de serviços; e (iii) a rede de ciência e tecnologia voltada para a referida

indústria que vem se desenvolvendo a passos largos no Rio de Janeiro desde o final dos anos

1960. No que diz respeito à definição da rede de ciência e tecnologia cumpre destacar as

seguintes instituições localizadas no Rio de Janeiro: o Centro de Pesquisas da Petrobras-

CENPES, que conta com mais de 1600 técnicos e pesquisadores, é responsável pelo

desenvolvimento das principais inovações tecnológicas da Petrobras no segmento de E&P

com registro de inúmeras patentes; a Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em

Engenharia – COPPE que realizou ao longo dos últimos 25 anos mais de 1000 contratos de

pesquisa para a Petrobras; a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro -PUC-Rio,

que desenvolve igualmente projetos de pesquisa para a Petrobras na área de E&P (ver Figura

5.6).

Figura 5.6 - Extensão do Aglomerado Petrolífero de Macaé – rede de ciência e tecnologia (2) ANP; (4) Coppe/UFRJ; (15) Petrobras CENPES.

Fonte: reproduzido da TN Brasil (2002).

específicos) entre instituições de ensino e pesquisa localizadas em áreas geográficas distintas cuja distância se reduz cada vez mais por conta das tecnologias da informação e da comunicação.

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223

No que tange à infra-estrutura de uma rede de ciência e tecnologia voltada para as

atividades offshore na BC, Macaé conta com presença das seguintes instituições: LENEP-

Laboratório de Engenharia e Exploração de Petróleo da Universidade Estadual do Norte

Fluminense (UENF) – desenvolvido em parceria com a Petrobras constitui-se em um centro

de pesquisa de excelência, oferecendo ainda cursos de pós-graduação em nível de mestrado

e doutorado; (ii) IMMT- Instituto Macaé de Metrologia e Tecnologia – desenvolvido pela

prefeitura municipal com apoio do Instituto Nacional de Metrologia - INMETRO; (iii)

Projeto Bompetro – constitui-se em um laboratório de geoprocessamento constituído em

parceria com o Observatório Nacional, desenvolve mapas digitalizados para o

gerenciamento municipal e empresas interessadas; (iv) NUPEM- Núcleo de Pesquisa

Ecológica de Macaé – fruto de uma parceira entre a Petrobras e o Instituto de Biologia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (Terra, 2003). Isto significa que a infra-

estrutura de ciência e tecnologia está se expandindo em Macaé.

Além da infra-estrutura em expansão, o desenvolvimento de pesquisas com foco

comum na área de petróleo e gás, o intercambio de conhecimentos entre alunos, técnicos,

professores e pesquisadores das instituições acima citadas reforçam a percepção quanto a

existência de uma rede de ciência e tecnologia direcionada às atividades de E&P no RJ;

voltada, principalmente, para atender às demandas da BC.

5.7.1-Cooperação Tecnológica na BC.

Quanto ao processo de cooperação e aprendizado técnico produtivo, deve-se destacar

os seguintes pontos: (i) é possível identificar os quatro processos de aprendizado propostos

por Rosenberg (1982) - a saber: “learning by doing; learning by using; learning by

interaction; learning by learning”- no processo produtivo da indústria offshore na BC que

requer, como já mencionado, elevado conteúdo tecnológico por tratar-se de uma indústria

complexa.

O relacionamento cooperativo nas atividades da BC é uma constante. A Petrobras,

por exemplo, define o planejamento operacional de uma série de procedimentos offshore

que devem ser implementados pelas empresas contratadas dentro dos parâmetros

previamente definidos. Isto requer o desenvolvimento de atividades em conjunto ensejando

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o processo de aprendizagem por interação. Empresas como Schlumberger e Hallibourton

que atuam na Bacia de Campos há vários anos prestando serviços para a Petrobras,

necessitam, não raro, desenvolver produtos e serviços específicos para atender demandas

específicas da estatal. Este é o caso, por exemplo, da necessidade de desenvolvimento de

novas tecnologias tanto por parte da operadora quanto das contratadas, na medida que se

avança nas atividades de E&P em águas cada vez mais profundas. Em síntese, as relações de

cooperação produtiva que se estabelecem nas atividades offshore de E&P implicam no

aprendizado coletivo que viabiliza o processo de inovação tecnológica. Deve-se destacar

ainda que na indústria offshore, onde a inovação tecnológica é uma constante, as grandes

empresas (prestadoras de serviços e operadoras) possuem departamentos de P&D.

A realidade é diferente no processo produtivo onshore do aglomerado petrolífero de

Macaé. De acordo com os resultados obtidos por meio da pesquisa de campo, realizada com

13 empresas do aglomerado, as relações de cooperação204, por ordem de importância, se

estabelecem respectivamente entre (i) concorrentes; (ii) sindicatos e associações e (iii)

clientes. De acordo com as informações obtidas através da aplicação dos questionários205 ,

as principais razões que levam as empresas a manterem relações de cooperação com outras

empresas ou instituições do arranjo são: (a) contatos e trocas de informação (b)

fortalecimento da empresa ou setor e, (c) com a mesma freqüência, formulação de projetos

em grupo.

No que diz respeito ao capital humano que integra a estrutura sócio-produtiva de

Macaé os seguintes fatores devem ser destacados: (i) de um lado, a presença de grandes

empresas multinacionais que possuem em seus quadros mão-de-obra com elevado grau de

qualificação206, investimentos em P&D e qualificação técnica da mão-de-obra; (ii) de outro

as empresas nacionais de pequeno e médio porte que contam com mão-de-obra de

qualificação relativamente baixa, têm dificuldade ao acesso a centros de qualificação e

formação profissional, além da falta de apoio tecnológico.

204 Pergunta nº42 do questionário. 205 Ver apêndice III. 206 Deve-se destacar, entretanto, que a mão-de-obra de estrangeiros que atuam nas empresas multinacionais não ultrapassa a 30% do total da mão-de-obra empregada na indústria. No entantanto, como as grandes empresas estrangeiras são grades empregadoras de mão-de-obra no aglomerado, o quantitativo de técnicos estrangeiros que trabalham em Macaé é significativo.

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225

Como visto no Capítulo VI, a formação de capital humano é comprometida na

estrutura sócio-produtiva de Macaé pela insuficiência de instituições de ensino e pesquisa

vis-à-vis ao atendimento adequado das demandas das empresas do aglomerado. No que

tange ao capital cognitivo, as pesquisas na linha da abordagem dos sistemas de inovação têm

demonstrado que a migração de trabalhadores207 qualificados entre as empresas é um

importante fator de indução da capacidade de aprendizado e da troca de informações

(Saxeian, 1998).

Em Macaé, o rodízio de trabalhadores nas grandes empresas e mesmo nas pequenas e

médias é pequeno, se comparado sistemas produtivos mais dinâmicos, como os existentes

nos países cêntricos. Entretanto, o questionário aplicado às empresas indica que as principais

fontes de informações para promover inovações são obtidas através de troca de informações

com os clientes e participação em congressos.

Com efeito, convivem lado a lado no aglomerado, a nata da indústria offshore

internacional, representada pelas grandes empresas multinacionais, detentoras de elevada

capacidade inovativa, e, as pequenas e médias empresas que sofrem com a falta de infra-

estrutura e de recursos para a realização de investimentos em capacitação tecnológica e

qualificação da mão-de-obra, em um mercado extremamente dinâmico e competitivo.

207 Ver a este respeito o trabalho de Saxenian (1998).

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CAPÍTULO VI

CLASSIFICAÇÃO DA ESTRUTURA SÓCIO-PRODUTIVA DE MACAÉ

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6.0-Introdução Metodológica

No Capítulo VI avança-se na metodologia de estruturação do Modelo dos Fluxos

Tangíveis e Intangíveis tendo por objetivo a classificação do estágio evolutivo da estrutura

sócio-produtiva em que se insere a indústria petrolífera localizada em Macaé. A segunda

parte do capítulo é dedicada às conclusões sobre o estudo. Destarte, a estruturação do

modelo analítico proposto é desenvolvida na seguinte seqüência: (i) as análises meso e

microeconômicas, realizadas respectivamente nos Capítulos IV e V, e as informações que

resultaram da aplicação dos questionários e entrevistas com as empresas do aglomerado, são

sistematizadas, de forma a permitir a qualificação de cada um dos fatores tangíveis e

intangíveis que compõem o modelo; (ii) após a qualificação dos fatores tangíveis e

intangíveis, avança-se no desenvolvimento do modelo buscando-se qualificar cada um dos

fluxos tangíveis e intangíveis; (iii) a terceira etapa consiste em qualificar a estrutura

produtiva em que se insere o Aglomerado Petrolífero de Macaé e classificar seu estágio

evolutivo, com base em uma hierarquia definida “ad hoc”, fundamentada na literatura

especializada sobre o assunto, apresentada no referencial teórico do Capítulo 2, na linha dos

Sistemas Locais e Regionais de Inovação.

Ainda no aspecto metodológico é mister fazer as seguintes considerações: (i) a

qualificação dos fatores tangíveis e intangíveis assim como de seus respectivos fluxos é

realizada com base em dados obtidos em fontes secundárias e primárias (questionários e

entrevistas) pressupondo-se que seja realizada por um ou mais especialista(s); (ii) os

julgamentos que definem a qualificação de cada uma das variáveis propostas no Modelo, são

realizados com base em uma escala de cinco notas que variam de 1 à 5; (iii) os critérios

utilizados para julgamento dos fatores supracitados baseiam-se nos estudos empreendidos

nos capítulos IV e V, em estudos sócio-econômicos realizados pelo CIDE e nos padrões de

desenvolvimento sócio-produtivo local da cidade de Aberdeen, na Escócia, concebida como

referência internacional na produção de petróleo offshore, cujas características sócio-

podutivas tipificam um ‘sistema local de inovação maduro’ fundamentado na indústria

petrolífera offshore; (iv) tendo em vista a simplificação do modelo, optou-se por utilizar a

média aritmética simples, para determinar a intensidade do Fluxo Tangível e do Fluxo

Intangível, definidos por seus respectivos fatores; (v) Com base nos valores obtidos

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emprega-se a mesma metodologia (média aritmética simples) dos valores obtidos no cálculo

dos Fluxos Tangível e Intangível, com vistas à definição do estágio evolutivo da estrutura

sócio-produtiva local em análise. A opção por este procedimento teve por objetivo facilitar

a compreensão do modelo proposto, em deterimento da utilização de métodos mais

sofisticados utilizdos para hierarquizar decisões, como, por exemplo, o Analystic Hierarchy

Process (AHP) ou Electre III208. A metodologia utilizada para o cálculo dos fluxos buscou

priorizar as inter-relações das variáveis que compõem o modelo. Considerando-se ainda a

classificação do estágio evolutivo da estrutura sócio-produtiva local de Macaé, ressalta-se

que a nomenclatura aglomerado, no sentido em que foi empregada ao longo da maior parte

deste trabalho, a saber: representando tão somente uma aglomeração de empresas, vai

ceder lugar para uma nova nomenclatura – proposta na metodologia do Modelo dos Fluxos

Tangíveis e Intangíveis- adequada ao estágio evolutivo da estrutura sócio-produtiva em que

se insere a indústria offshore de Macaé.

No que diz respeito aos questionários aplicados às empresas do aglomerado é

oportuno tecer as seguintes considerações (i) as perguntas foram estruturadas em duas

partes. A primeira parte do questionário teve por objetivo avaliar a percepção das empresas

com vistas às diversas infra-estruturas definidas no modelo proposto; a segunda parte do

questionário procurou avaliar a percepção das empresas com relação à organização

industrial do aglomerado, interação entre as empresas, sistema de governança, a presença ou

desenvolvimento de capitais intangíveis como capital social, capital sinérgico, capital

cognitivo e capital humano; (ii) é mister salientar ainda que os executivos que responderam

aos questionários possibilitaram ainda a realização de entrevistas estruturadas, ou seja, as

informações concedidas pelos entrevistados foram muito além das perguntas contidas nos

questionários, o que contribuiu para enriquecer o conhecimento sobre a dinâmica do APM;

(iii) com relação às entrevistas propriamente, ou seja, sem a utilização de questionários,

cumpre destacar as relevantes informações prestadas pelo Sr. Arísio Stanzani, gerente de

operações da Petrobras UN-BC, Sr. Erodice Gaudard - presidente da Associação Comercial

e Industrial de Macaé-ACIM, e pelo Sr. Paulo Longobardi – presidente do Grupo de

Empresas Prestadoras de Serviço da Indústria de Petróleo e Afins - GEPS.

208 Trata-se de métodos que qualificam e hierarquizam prioridades, com base em critérios previamente definidos como auxílio ao processo de decisório.

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6.1- Qualificação dos Fatores Tangíveis e Intangíveis A construção do Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis aplicado à análise da

estrutura sócio-produtiva de Macaé, onde está inserido o aglomerado de empresas offshore,

segue os seguintes procedimentos: (i) faz-se um breve resumo das informações que tipificam

cada um dos fatores tangíveis e intangíveis que definem a estrutura sócio-produtiva de

Macaé, discutidos nos Capítulos IV e V; e (ii) em seguida busca-se qualificar cada um dos

fatores tangíveis e intangíveis atribuindo-lhes notas. Nesse sentido, uma escala de notas que

variam de 1 a 5 é utilizada para a qualificação dos fatores que compõe o modelo na seguinte

ordem: 1- péssimo; 2-fraco; 3-regular; 4-Bom; 5-ótimo. Para o julgamento209 de cada um

dos fatores utiliza-se como critérios (a) padrões sócio-econômicos210 considerados ideais,

definidos por instituições nacionais e internacionais que, em geral, são comuns em

localidades e regiões de elevado desenvolvimento – que tipificam sistemas locais de

inovação; e (b) nesse sentido, utiliza-se como paradigma a cidade petrolífera de Aberdeen,

na Escócia, que tipifica um sistema local de inovação maduro, estruturado com base em uma

aglomeração de empresas voltadas para a atividade offshore; e (c) considera-se que o

desenvolvimento deste trabalho permite ao pesquisador atuar como um especialista sobre o

APM, de modo a fazer os julgamentos com vistas à qualificação dos fatores tangíveis e

intangíveis.

No que diz respeito aos fatores tangíveis, deve-se ressaltar que a idéia fundamental

é a de destacar as variáveis que podem ser medidas ou estimadas vis-à-vis os impactos

determinados à dinâmica sócio-produtiva do aglomerado em estudo - tendo em vista caráter

predominantemente mesoeconômico de análise. No caso do Governo, por exemplo, é

possível medir ou estimar impactos de medidas tomadas nas áreas: fiscal, monetária e

regulatória “sobre a atividade econômica local”, envolvendo as três esferas do poder

público: Municipal, Estadual e Federal. O mesmo vale para o caso dos fatores meta e

209 É inevitável que a qualificação (julgamento) de fatores tangíveis e intangíveis contenham algum grau de subjetividade. No entanto, supõem-se que os julgamentos realizados por um especialista - uma vez definidos os critérios que atendam preceitos científicos - minimize este problema. Nesse sentido, concebe-se que a pesquisa empreendida até aqui possibilita ao autor assumir uma posição de especialista, capacitando-o a realizar os julgamentos de valores no que tange aos fatoes tangíveis e intangíveis. 210 Neste caso, os padrões que são considerados relacionam-se ao grau de desenvolvimento dos fatores tangíveis e intangíveis apresentados no Modelo proposto, que permitem avaliar a evolução da estrutura sócio-produtiva local.

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230

macroeconômicos. Neste sentido, mudanças no preço internacional do petróleo,

ocasionados, por exemplo, por guerras ou pelo estabelecimento de cartéis, podem ser

medidos pelos impactos determinados à atividade petrolífera na esfera local.

Quanto aos fatores tangíveis são avaliados investimentos; infra-estrutura produtiva

do aglomerado; infra-estrutura financeira; infra-estrutura física; infra-estrutura do

conhecimento; recursos humanos e mercado-de-trabalho; instituições de apoio; fatores meta

e macroeconômicos e governo.

No caso dos fatores intangíveis, as entrevistas e os questionários foram essenciais

para qualifica-los. No caso dos questionários aplicados às empresas offshore em Macaé,

tomou-se cuidado para que boa parte das perguntas pudesse revelar a existência e o grau

destes capitais. Com efeito, são analisados os seguintes capitais intangíveis: capital social,

capital humano, capital sinérgico, capital cognitivo e capital institucional. Ressalta-se ainda

que a qualificação dos capitais intangíveis requer a compreensão da lógica relativa à

organização industrial da indústria petrolífera em Macaé, mais particularmente, de sua

arquitetura na forma de rede de firmas, e a estrutura em rede prevalecente no espaço

produtivo local – como discutido nos capítulos IV e V.

6.1.1- Fatores Tangíveis

Investimentos - Entre 1970 e 2000 a Petrobras estima ter investido US$80 bilhões nas

atividades de E&P da Bacia de Campos. ONIP estima que até o ano de 2010 serão

investidos no país US$100 bilhões na indústria petrolífera nacional. A Petrobras, maior

empresa petrolífera atuante no país prevê através de seu plano estratégico um investimento

total de US$34,3 bilhões, no período 2003/2007, sendo que o segmento upstream ficará com

a maior parcela, US$ 18 bilhões. Deste montante, a Bacia de Campos deverá absorver a

maior parcela destinada a E&P estimado em valor superior a US$ 14 bilhões.

Isto sem contar os investimentos das operadoras estrangeiras na BC, que no conjunto deve

se aproximar dos investimentos da Petrobras no período citado. (Qualificação: Nota 5).

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231

Infra-estrutura produtiva onshore e offshore - Como discutido no capítulo IV, a Bacia de

Campos possui uma das maiores e mais modernas infra-estruturas de produção offshore do

mundo. Este fabuloso parque industrial marítimo, que conta com 41 plataformas fixas e

flutuantes, além de 388 árvores de natal e mais de 4.400 Km de oleodutos e gaseodutos é

resultado de investimentos bilionários por parte da Petrobras, desde meados dos anos 1960.

No que tange à infra-estrutura onshore pode-se afirmar que o complexo de empresas

offshore localizadas em Macaé está em processo de expansão. De acordo com a Secretaria

Municipal de Fazenda de Macaé, somente no período 2002 e 2003, mais de 1.550 empresas

se instalaram no município. Empresas de pequeno, médio e grande porte, nacionais e

estrangeiras, ligadas direta e indiretamente à atividade offshore, escolhem Macaé como base

operacional de suas atividades, tendo em vista, principalmente, as economias de escala e de

escopo que se verificam no referido aglomerado petrolífero. (Qualificação: Nota 4).

Infra-estrutura financeira211 - Deve-se destacar que 53% dos entrevistados identificam a

existência de políticas de crédito voltadas para as empresas, contra 38,5 % que afirmam

desconhecer a existência de apoio creditício às empresas do aglomerado. Perguntado se tais

políticas atendem às necessidades da empresa, 23,1% das empresas responderam que sim,

contra 70% que disseram que não ou não responderam. Perguntado ainda com relação a

capitais de terceiros utilizados na realização de investimentos 76,9% das respostas foram

que não, contra 15% de empresas que utilizam entre 26 e 75% de capitais de terceiros para a

realização de investimentos. As empresas, sobretudo as pequenas e médias identificam as

taxas de juros praticadas como o principal fator que restringe o acesso ao crédito.

(Qualificação: Nota 2).

Infra-estrutura física (urbana) – O vertiginoso crescimento econômico de Macaé, estimado

em 14% para o ano de 2003, de acordo com Secretaria de Fazenda de Macaé, tem sido

acompanhado, por um lado, por um expressivo crescimento populacional e, de outro, pelo

aumento do número de empresas. O crescimento do número de favelas e as queixas das

211 Como já ressaltado as empresas multinacionais e a própria petrobras não partilham das dificuldades enfrentadas pelas pequenas e médias empresas do aglomerado pois, as primeiras, conseguem captar recursos no mercado financeiro internacional tendo para a realização de investimentos a taxas de juros extremamente atrativas e przos de carência elásticos.

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232

empresas demonstram que a demanda por infra-estrutura urbana tem superado em muito a

oferta. Entretanto, o substancial crescimento das receitas do município, advindas

principalmente dos royalties do petróleo e participações especiais, garante-lhe uma

excepcional capacidade financeira, o que possibilitando ao Governo Municipal a realização

de vultosos investimentos em infra-estrutura urbana. No biênio 2003-2004 foram

programados investimentos da ordem de R$300milhões com o objetivo de minimizar os

problemas urbanos da cidade. Apesar do empenho da administração pública municipal a

infra-estrutura urbana de Macaé é precária frente às crescentes demandas determinada pelo

ciclo expansivo da indústria petrolífera. (Qualificação: Nota 2)

Infra-estrutura do conhecimento – a infra-estrutura do conhecimento em Macaé ainda é

muito precária tanto no que diz respeito à qualidade e à quantidade. Apesar da importante

contribuição do LENEP/UENF, deve-se destacar a precariedade das Instituições de Ensino e

Pesquisa nas áreas de engenharia voltadas para as atividades de E&P no município.

Ressalta-se a ainda pequena participação das Instituições públicas de Ensino estaduais e

federais, evidenciando a inexistência de um projeto integrado, voltado para o

desenvolvimento científico e tecnológico da indústria petrolífera na região. (Qualificação:

Nota 2)

Recursos Humanos e Mercado de Trabalho - Apesar da importância do LENEP/UENF e

do CEFET-Macaé, que oferecem cursos de engenharia na área de petróleo, uma parcela

ainda muito restrita de engenheiros que atuam nas empresas entrevistadas são formados na

região. De acordo com as respostas do questionário e entrevistas realizadas, este número é

inferior a 23%, sendo que a maior parcela de engenheiros que atuam em Macaé são oriundos

das grandes metrópoles do país, entre 50% e 70%. Por outro lado, considerando-se o

grande número de empresas multinacionais atuantes em Macaé, o número de engenheiros

estrangeiros no município oscila entre 10 e 20%. do total. Com relação aos trabalhadores

de nível técnico, deve-se destacar a contribuição do CEFET-Campos e do CEFET-Macaé.

No quadro técnico do APM, estima-se que cerca de 40% do pessoal tenha se qualificado na

região Norte Fluminense ou no Estado do Rio de Janeiro, 50% dos técnicos que atuam em

Macaé especializaram-se em outras regiões do país, sendo que entre 10 e 20% são

estrangeiros. Perguntou-se às empresas que tipo de instituições eram necessárias para a

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233

qualificação da mão-de-obra no aglomerado, com possibilidade de resposta para mais de

uma opção, obteve-se os seguintes resultados: 12 empresas das 13 que responderam o

questionário consideraram a necessidade de novas instituições de nível técnico 92,3%; 8

empresas, 61,5%, consideraram a necessidade de expansão do ensino (médio e superior),

principalmente cursos de engenharia, e 4 empresas, 30,8% consideraram a necessidade de

expansão dos Institutos de pesquisa. (Qualificação: Nota 2).

Instituições de apoio - O número de instituições de apoio à atividade petrolífera em Macaé,

cresceu de forma substancial nos últimos anos. Observa-se não só o incremento do número

de instituições, mas a participação mais efetiva das mesmas no apoio às empresas que atuam

no aglomerado petrolífero de Macaé. Perguntado com quais instituições de apoio as

empresas mantinham vínculo, com possibilidade de resposta para mais de uma alternativa,

as seguintes instituições se destacaram: Empatados a Associação Comercial de Macaé

ACIM, e Redepetro (Sebrae) ambos com 69,2% de freqüência nas respostas Em segundo

lugar a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro FIRJAN, com 61,5% , seguido do Grupo

de Empresas Prestadoras de Serviços da Indústria de Petróleo e Afins- GEPS, com 53,8%, e

da Secretaria de Indústria e Comércio de Macaé com 30,8%. Os principais vínculos

estabelecidos entre as empresas e as instituições de apoio se dão por meio do suporte

técnico em atividades produtivas 61,5% e suporte técnico em atividades administrativas em

segundo plano, com 38,5%. (Qualificação: Nota 3)

Fatores meta e macroeconômicos - Do ponto de vista metaeconômico, as tendências são

bem favoráveis: (i) o petróleo continuará a ser uma fonte energética muito utilizada nos

próximos 40 anos; (ii) o preço do barril de óleo no mercado internacional oscila em torno

dos US$27,00 para um custo técnico de produção na Bacia de Campos inferior a US$6,00 .

Do ponto de vista macroeconômico deve-se destacar (a) o cenário de estabilização de preços

que prevalece na economia desde 1994; (b) os avanços no processo de regulamentação da

atividade petrolífera (c) o aumento dos percentuais mínimos de nacionalização no

fornecimento de bens e serviços, que em 2010 deverá estar em torno de 90%. Com relação

às empresas entrevistadas, 61,5% consideraram a evolução do mercado mundial de petróleo

no médio e longo prazo favorável, contra 15,4% que consideram que o mesmo ficará estável

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234

e 7,7% desfavorável. No que se refere as perspectivas quanto ao cenário macroeconômico

para a indústria petrolífera no país no médio e longo prazo, 84,6% das empresas

entrevistadas o consideram favorável, contra 7,7% que consideram que o mesmo ficará

estável. (Qualificação: Nota 4).

Governo - Considerando-se as três esferas de governo, deve-se destacar (i) quanto à atuação

do governo federal: a importante mudança institucional determinada pela implementação da

lei nº 9.478 de 6 de agosto de 1997, que implicou a quebra do monopólio da Petrobras nas

atividades de E&P e possibilitou o aumento dos IDE nas atividades de E&P na Bacia de

Campos. Como resultado, houve um incremento substancial no número de empresas ligadas

direta e indiretamente às atividades offshore, que passaram a atuar na Bacia de Campos,

tendo Macaé como base operacional. Outra questão importante relacionada à

regulamentação proposta pelo governo Federal, através da ANP, diz respeito aos índices

mínimos de nacionalização de bens e serviços que, a partir das licitações dos novos blocos,

deverão ser de pelo menos 60%, com incremento gradual previsto para os próximos anos,

que deverá atingir 90% até o final da década; (ii) quanto ao governo estadual, deve-se

destacar o maior esforço empreendido com vistas aos incentivos e políticas voltadas para a

indústria naval Fluminense, concentrada essencialmente nos municípios do Rio de Janeiro e

Niterói. Deve-se destacar ainda o Projeto de Lei nº 407 aprovado pela Assembléia

Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que estabelece alíquota de 18% de ICMS sobre a

extração do óleo cru produzido no Estado. Esta lei foi sancionada pelo governo estadual em

15 de junho de 2003. A lei provocou uma crise entre o governo do Rio de Janeiro e

empresas do setor lideradas pela Petrobrás,212 criando incertezas com relação ao rumo dos

investimentos a partir de 2004. Como ponto negativo deve-se enfatizar a ausência de

políticas voltadas para a dinamização da estrutura-sócio produtiva de Macaé, seja pela

criação de infra-estruturas que possibilitem o aumento da eficiência do aglomerado, seja

pela precariedade de políticas, sobretudo na área de ciência e tecnologia, com vistas à

expansão e sustentabilidade do aglomerado; (iii) a despeito dos governos federal e estadual,

o governo municipal tem buscado incentivar de forma mais direta o desenvolvimento do

212 Atualmente, a Petrobras vende petróleo bruto para as refinarias de outros estados sem pagar o ICMS. O tributo é cobrado, mais tarde, sobre o valor total do óleo já transformado em combustível e a arrecadação fica integralmente com o estado onde o óleo é refinado (Macedo, 2003:23).

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235

aglomerado petrolífero de Macaé, com destaque para a redução do Imposto Sobre Seviços

de Qualquer Natureza ISSQN em 50% para atividades relacionadas à indústria offshore.

Com relação à tributação aplicada sobre a atividade petrolífera 65% das empresas que

responderam o questionário e a consideraram elevada, 23% a consideraram abusiva e

15,4% adequada. Apesar de não haver indícios de políticas explícitas de promoção do

aglomerado petrolífero de Macaé por parte dos governos Federal e Estadual, sendo restrita a

atuação do governo municipal neste sentido, deve-se destacar a importância da lei federal

“lei do petróleo” que vem contribuindo para alavancar os investimentos na BC e estimular

a expansão do aglomerado, tendo em vista que facilitou os investimentos diretos externos –

IDE, no município. (Qualificação: Nota 3).

6.1.2- Fatores Intangíveis

Capital cognitivo - A indústria petrolífera offshore caracteriza-seporser intensiva em

tecnologia e de elevada complexidade, o que requer o desenvolvimento permanente das

competências cognitivas, tendo em vista a constante necessidade por parte da mão-de-obra

de adaptar-se a novos equipamentos, rotinas, processos e procedimentos. Tal necessidade é

fruto respectivamente da adequação às novas tecnologias, na medida que as atividades em

E&P avançam para profundidades maiores na BC, bem como das exigências determinadas

por órgãos reguladores, cada vez mais rigorosos quanto a implementação de normas de

Saúde, Meio ambiente e Segurança - SMS. Avaliou-se para o conjunto das empresas que

atuam no aglomerado que o grau de desenvolvimento do capital cognitivo é regular.

Entretanto, há a ocorrência de elevado nível de capital cognitivo em empresas com

expressivo número de funcionários, como a Petrobras, Schlumberge e Transocean, por

exemplo. Com relação ao desenvolvimento do capital cognitivo, a aplicação do questionário

revelou os seguintes resultados: indagadas se as empresas possuíam funcionários que

migram de outras empresas da mesma área de atuação, 84,% das firmas disseram que sim,

contra 15,4% que não. Com relação à freqüência de participação das empresas entrevistadas

em feiras e eventos na área, obteve-se o seguinte resultado muita freqüência:61,5%, média

freqüência: 30,8%, baixa freqüência:7,7%. (Qualificação: Nota 3).

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236

Capital institucional - Como já mencionado observa-se surgimento de um grande número

de instituições de apoio na localidade de Macaé. Com efeito, tem sido possível identificar o

desenvolvimento de ações concretas por parte destas instituições no que tange ao apoio das

empresas do aglomerado, sobretudo no que tange ao suporte às atividades produtivas das

empresas do aglomerado, com especial atenção para as pequenas e as médias. Como já

mencionado, merece destaque a atuação da Redepetro-SEBRAE, do GEPES, da Câmara de

Desenvolvimento de Macaé, da ACIM e da FIRJAN. Apesar do crescente número de

instituições de apoio no aglomerado, destaca-se que a maior parte das referidas instituições

ainda estarem em processo de consolidação, tendo em vista o fato de terem uma atuação

recente no aglomerado213. (Qualificação: Nota 3).

Capital humano - Para o conjunto do aglomerado é fraco, entretanto, como representado

pelas esferas em vermelho, verde e azul na Figura 6.1, as empresas de maior nível

tecnológico, atuantes no aglomerado, sobretudo as multinacionais e a Petrobras, apresentam

elevados níveis de capital humano. Como mencionado, o desenvolvimento de capital

humano no aglomerado é muito prejudicado pela escassez de instituições de ensino de nível

técnico e superior. (Qualificação: Nota 2).

Capital social - Perguntou-se aos empresários que respoderam o questionário, como eles

percebiam a evolução das atividades de suas empresas em cooperação com outras empresas

nos últimos cinco anos. Assim, 61,5% das empresas responderam que aumentou, 15,4%

responderam que estagnou 7.7% responderam que diminui e 15,4% não responderam. As

principais causas que levam ao desenvolvimento de atividades cooperativas de acordo com

as empresas entrevistadas são as seguintes: (i) Mudanças contratuais relacionadas à

diminuição do tempo de contratação, que se soma à queda no volume de vendas; (ii)

aumento da produtividade; (iii) redução do risco; (iv) desenvolvimento técnico profissional

da empresa; (iv) busca pelo aumento da competitividade (v) fazer frente à concorrência das

empresas do Espírito Santo que recebem fartos incentivos fiscais. Por outro lado é

importante enfatizar que a participação das pequenas e médias empresas do aglomerado em

213 Com exceção da FIRJAM, ACIM e SEBRAE que vêm desenvolvendo trabalho de apoio às empresas offshore há vários anos.

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atividades junto às plataformas de petróleo induz, no contexto da divisão do trabalho que se

estabelece uma articulação cooperativa. Mesmo assim, para o conjunto do aglomerado o

capital social é fraco. Contudo, como ressaltado nas seções anteriores, observa-se uma forte

cooperação técnico-produtiva com o desenvolvimento de fortes laços de confiança e

reciprocidade entre a Petrobras e as grandes prestadoras de serviço, bem como com as PMEs

que atuam junto à estatal ao longo de muitos anos. (Qualificação: Nota 2).

Capital sinégico - A capacidade do desenvolvimento de ações conjuntas em prol do

aglomerado ainda é tosca. O sistema de governança que prevalece na estrutura produtiva de

Macaé é fortemente influenciado pela Petrobras que exerce um grande poder de definição

das normas, condutas, práticas empresariais, sistemas de contratação, padrões técnicos,

econômicos e financeiros que regem a conduta das empresas petrolíferas no município.

Portanto, o poder de barganha para a definição e implementação de projetos, assim como a

determinação de regras, condutas e procedimentos por parte das empresas do aglomerado

muito assimétricos, haja vista que a Petrobras detém a hegemonia do processo decisório na

estrutura produtiva local de Macaé. Por outro lado, a indefinição e a baixa densidade de

políticas públicas voltadas para a consolidação do aglomerado, revela a pequena presença do

poder público em seu processo de governança. Contudo, observa-se o surgimento de

instituições de apoio, como por exemplo, a REDEPETRO–BC e o Grupo de Empresas

Prestadoras de Serviços da Indústria do Petróleo e Afins – GEPES, cuja ênfase está voltada

à maior inserção das PMEs nas atividades produtivas do aglomerado. Apesar do avanço no

número de instituições de apoio em Macaé deve-se ressaltar a baixa capacidade sinérigica

que instituições e empresas (especialmente as PMEs) ainda apresentam, no sentido de

desenvolver ações conjuntas voltadas, sobretudo, para reduzir a assimetria de poder

prevalecente no aglomerado. Por outro lado é mister destacar que no campo produtivo há

forte articulação entre a Petrobras e demais empresas214, com destaque para as grandes,

tendo em vista que a maior partes das atividades de E&P desenvolvidas pela Petrobras são

terceirizadas. (Qualificação: Nota 2).

214 Ver Figura 6.1. O capital social do aglomerado é representado pela cor amarela, e as circunferências vermelha, verde, e azul são utilizadas para identificar a forte presença de capital social em determinados segmentos da estrutura sócio-produtiva de Macaé.

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238

6.2- Metodologia Aplicada à Qualificação da Estrutura Sócio-Produtiva de Macaé.

Nesta seção, desenvolve-se uma metodologia simplificada para a qualificação da

estrutrua sócio-produtiva fudamentada na indústria petrolífera de Macaé (ESPM). Em

outras palavras busca-se classificar o estágio evolutivo do aglomerado de empresas offshore

atuantes no município. Nesse sentido, após os julgamentos dos fatores tangíveis e

intangíveis, desenvolvidos na seção anterior tem-se, como segunda etapa do processo, a

qualificação do Fluxo Tangível assim como do Fluxo Intangível. A terceira e última etapa

de estruturação do modelo é a classificação da estrutura sócio-produtiva local que se dá,

igualmente, aplicando-se a média aritmética simples ao resultado dos dois Fluxos, cujo

resultado final é comparado à uma tabela de valores classificatória, definida com base na

literatura especializada sobre o assunto.

Com efeito, algumas hipóteses são necessárias para a estruturação do Modelo: (i)

considera-se que tanto os fatores tangíveis quanto os fatores intangíveis de produção

possuam o mesmo peso, ou seja, o mesmo grau de importância no contexto dos respectivos

fluxos a que pertencem; (ii) da mesma forma, considera-se que tanto o Fluxo Tangível,

quanto o Fluxo Intangível possuam igual peso, ou importância equivalente. Desta forma,

um fluxo não se sobrepõe ao outro; (iii) todos os fatores, tangíveis e intangíveis acabam por

influenciar o sistema como um todo, sendo que a organização industrial e arquitetura da rede

de firmas são cruciais na explicação, sobretudo, dos fatores intangíveis e na dinâmica do

sistema; (iv) o estágio evolutivo da estrutura sócio-produtiva local, resulta da média

aritmética simples dos resultados dos Fluxos Tangível e Intangível.

O primeiro passo no desenvolvimento da análise foi realizado na seção anterior onde

se buscou qualificar os nove fatores215 que definem os fluxos tangíveis (FLt) e os cinco

fatores que definem os fluxos intangíveis, atribuindo-lhes notas que variaram de 1 a 5. O

segundo passo consiste na qualificação dos Fluxos Tangível e Intangível pertinentes à

estrutura sócio-produtiva de Macaé.

215Os critérios para a qualificação dos fluxos tangíveis devem basear-se essencialmente em informações que definam “estoques e fluxos reais”. Para tanto a pesquisa que precede a qualificação de cada um dos fatores, requereu a utilização de informações obtidas em fontes primárias e secundárias com base em estatísticas oficiais e informações de fontes confiáveis.

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239

• Cálculo do Fluxo Tangível

Após o julgamento de cada um dos fatores tangíveis (Ft) - subseção6.1.1-, num total

de nove, considera-se que eles têm pesos equivalentes e parte-se para o cálculo do Fluxo

Tangível (FLt) utilizando-se a seguinte fórmula:

{ }

9

1 , 1,..., 5 , 1,...., 99

iji

j

FtFLt onde Ft para cada i== ∈ =

∑ (1)

Onde: FLt = Fluxo Tangíveis Ft = Fatores tangíveis i = representa cada um dos fatores tangíveis variando de 1 à 9 j = representa as notas atribuída a cada um dos fatores tangíveis, que variam de 1 à 5. Assim, a qualificação do FLt é obtida pela média aritmética simples dos valores

atribuídos a cada um dos fatores tangíveis. O Fluxo Tangível, por sua vez, terá como

resultado valores que variam entre 1 e 5, sendo o mesmo qualificado como: 1- péssimo, 2-

fraco, 3- regular, 4-bom e 5- ótimo.

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240

• Cálculo do Fluxo Intangível

Após a qualificação dos fatores intangíveis216 (Fi) calcula-se o Fluxo Intangível (Fli)

que caracteriza a estrutura sócio produtiva local. Os procedimentos são idênticos aos

utilizados para o cálculo do Fluxo Tangível. Assim, após a qualificação de cada um dos

fatores intangíveis, calcula-se o Fluxo Intangível aplicando-se a formula abaixo:

{ }

5

1 , 1,...,5 , 1,....,55

iji

j

FinFLi onde Fin para cada i== ∈ =

∑ (2)

Onde: FLi = Fluxo Intangível Fin = Fatores intangíveis onde: i = representa cada um dos fatores intangíveis variando de 1 à 5. j = representa as notas atribuída a cada um dos fatores tangíveis, que variam de 1 à 5. O Fluxo Itangível, por sua vez, terá como resultado valores que variam entre 1 e 5,

sendo o mesmo qualificado como: 1- péssimo, 2- fraco, 3- regular, 4-bom e 5- ótimo.

• Classificação da Estrutura Sócio-Produtiva Local- ESPL O terceiro passo diz respeito à classificação do estágio evolutivo da estrutura sócio-

produtiva em que se insere a indústria petrolífera de Macaé217. Nesta etapa utilizam-se os

resultados obtidos na qualificação dos Fluxos Tangível e Intangível para a definição do

estágio evolutivo da Estrutura Sócio-Produtiva Local (ESPL). Supondo-se que ambos os

216 A qualificação dos fatores intangíveis leva em consideração os seguintes pontos: (i) a organização industrial prevalecente no aglomerado, observando-se os encadeamentos e a possível constituição de uma rede de firmas; (ii) os relacionamentos que se estabelecem entre firmas, instituições e a comunidade; e (iii) a estrutura em rede do aglomerado. 217 Nesta etapa abdica-se da nomenclatura aglomerado produtivo passando-se a utilizar a nomenclatura Estrutura Sócio-Produtiva Local. A idéia é tipificar o aglomerado como a forma mais elementar no contexto de um sistema inovativo local, o qual, por sua vez, tipifica o estágio socioeconômico mais avançado na hierarquia proposta neste trabalho.

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241

fluxos têm o mesmo grau de importância, a classificação da ESPL é obtida pela média

aritmética simples dos resultados apurados para os Fluxos Tangível e Intangível, de acordo

com a fórmula abaixo:

2

F L t F L iE S P L q

+= (3)

Onde :

ESPLq = Qualificação da Estrutura Sócio-Produtiva Local.

FLt = Fluxo Tangível

Fli = Fluxo Intangível

Abaixo se define uma estrutura de classificação de estruturas sócio-produtivas locais

-ESPL, baseada na classificação de Sistemas Produtivos proposta por Oinas e Malecki

(1999:10), bem como nas definições da Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais-

RedeSist, conforme definido em Lastres e Cassiolato (2003-a) e Britto (1989). O resultado

obtido na qualificação da ESPL irá variar entre 1 e 5, sendo classificado com base nos

seguintes níveis:

1- Aglomerações de empresas: Inexistência de estrutura em rede ou de rede de empresas, o

grupamento de empresas apresenta-se com vínculos pouco significativos.

2- Arranjo produtivo local - É possível observar-se: infra-estrutura em expansão, capitais

intangíveis em formação, rede de firmas em formação. Os vínculos entre empresas,

instituições e demais agentes locais são significativos.

3- Sistema produtivo local adaptador de tecnologia: Caracteriza-se por apresentar infra-

estruturas com razoável grau de desenvolvimento, capitais intangíveis em evolução;

rede de firmas e estrutura em rede em processo de consolidação. Articulação sistêmica

no espaço local dos fatores tangíveis e intangíveis. O sistema se caracteriza ainda pela

consolidação e expansão dos vículos entre empresas, governo e instituições e pela

evolução no processo de governança. Pode ser concebido como um sistema de inovação

imaturo.

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4- Sistema produtivo local com focos de inovação: Representa um estágio mais avançado

do Sistema Produtivo Local, onde se observa a presença de infra-estruturas bem

desenvolvidas, capitais intangíveis definidos, rede de firmas bem estruturadas. Neste

estágio evolutivo o sistema caracteriza-se por apresentar elevada capacidade de

adaptação de tecnologia, além de desenvolver inovações incrementais e se observar

focos de inovação radical. Este estágio se caracteriza pela definição de uma sólida rede

de ciência e tecnologia voltada para atender às empresas especializadas na atividade-

chave do aglomerado produtivo que permeia o sistema. Destarte, nesteestágio o sistema

se caracteriza por um processo de governança menos assimétrico, permitindo a

inserção e efetiva participação de PMEs no processo produtivo – por meio de vínculos

de cooperação- contribuindo para a diversificação produtiva e a sustentabilidade do

sistema com base na expansão do conhecimento e na inovação tecnológica.

5- Sistema local de inovação: Caracteriza-se por apresentar infra-estruturas bem

desenvolvidas, possuir rede de empresas e estrutura em rede bem definida além de uma

rede de ciência e tecnologia consolidada sendo que a dinâmica do sistema, ou seja, sua

capacidade de inovação, fundamenta-se essencialmente na evolução dos capitais

intangíveis e em um sistema de governaça com baixa assimetria. Tipifica uma localidade

ou região que aprende.

6.3- Modelo de Fluxos Tangíveis e Intangíveis: Qualificação da Estrutura Sócio-Produtiva de Macaé.

A seção 6.3 tem por objetivo qualificar o estágio evolutivo da ESP de Macaé. Nesse

sentido, empreende-se respectivamente os cálculos dos valores do Fluxo Tangível e

Intangível para, em seguida, passar-se a qualificação da estrutura sócio produtiva de Macaé.

(1) Qualificação dos Fatores Tangíveis

Como apresentado na seção 6.1.1 a qualifiação dos nove fatores tangíveis tiveram

respectivamente as seguintes notas: Investimento:5; infra-estrutura produtiva do

aglomerado:4; infra-estrutura financeira:2; infra-estrutura física:2; infra-estrutura do

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243

conhecimento:2; recursos humanos e mercado-de-trabalho:2; instituição de apoio:3; fatores

meta e macroeconômicos:4; governo:3.

(1.1) Cálculo do Fluxo Tangível

{ }

9

1 , 1,..., 5 , 1,...., 99

iji

j

FtFLt onde Ft para cada i== ∈ =

FLt = 27 = 3,0 9

(2) Qualificação dos Fatores Intangíveis:

Como discutido na seção 6.1.2, os cinco fatores intangíveis receberam as seguintes

notas: Capital Cognitivo:3; Capital Institucional:3; Capital Humano:2; Capital Social: 2;

Capital Sinérgico:2;

(2.1)-Cálculo do Valor do Fluxo Intangível

{ }

5

1 , 1,...,5 , 1,....,55

iji

j

FinFLi onde Fin para cada i== ∈ =

FLi = 12 = 2,4 5 (3) Qualificação da ESP de Macaé

2

F L t F L iE S P M q

+=

ESPM = 3,0 + 2,4 = 2,7 2

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244

A avaliação com base na metodologia proposta gerou os seguintes resultados na

análise da estrutura sócio-produtiva de Macaé: No que se refere ao fluxo de fatores tangíveis

obteve-se como resultado a qualificação FLt = 3,0 , significando um nível regular. Este

resultado é representado na Figura 6.1 pelas setas em azul – caracterizando assim fluxos

que tipificam um sistema produtivo local adaptador de tecnologia. Por outro lado, na análise

dos fluxos intangíveis, que avalia alguns dos elementos essenciais ao processo de inovação

tecnológica, como cooperação, confiança e reciprocidade, obteve-se qualificação FLi= 2,4.

Com uma qualificação abaixo de 3, os fluxos dos fatores intangíveis são representados na

Figura 6.1 pelas setas em amarelo, significando que os fluxos determinados pelos fatores

intangíveis ainda são baixos; isto é, aquém dos requeridos para que se conceba que a

estrutura sócio-produtiva local seja definida como um “sistema produtivo local”.

Contudo, no que tange à qualificação da estrutura sócio-produtiva de Macaé

(ESPMq) como um todo, o resultado obtido foi ESPMq = 2,7 , o que significa que o

conjunto dos fatores tangíveis e intangíveis assim como o conjunto de empresas que

compõem o aglomerado petrolífero de Macaé, “estão em um processo de transição para a

definição de um sistema produtivo local -SPL, muito próximo, portanto, da qualificação 3,

proposta no modelo. Por este motivo representa-se o interior do octógono com a cor azul

claro”, ver Figura 6.1.

A Figura 6.1 sistematiza a qualificação da estrutura sócioprodutiva de Macaé que

tem por base o aglomerado petrolífero que dinamiza economicamente a cidade. Utilizam-se

as seguintes cores com vistas à representação das notas atribuídas a cada um dos fatores e a

cada um dos fluxos – tangível e intangível - analisados: qualificação 1- péssimo (cor

branca); qualificação 2- fraco (cor amarla); qualificação 3- regular (cor azul); qualificação

4- bom (cor verde); qualificação 5- ótimo (cor vermelha).

No núcleo do octógono representa-se a rede de firmas que se forma em torno da

Petrobras, caracterizada pela maior das circunferências em vermelho. O conjunto de

empresas e suas articulações definem uma rede de empresas peculiar, que tipifica o APM.

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245

ESPM = 2,7

Fluxo de fatores tangíveis Fluxo de fatores intangíveis Escala de valores: (1) PÉSSIMO

(2) FRACO (3) REGULAR

(4) BOM (5) ÓTIMO

Figura 6.1- Caracterização da Estrtura Sócio-produtiva de Macaé

Fonte: Elaboração Própria

GOVERNO Incentivos Regulação

Capital Sinérgico

Capital Cognitivo

Capital Institucional

Capital Social

Capital Humano

Rede de Empresas

Infra-estrutura Urbana: Transp. Comunicações

Infra-estrutura Conhecimento

Infra-estrutura Financeira

Recursos Humanos

Infra-estrutura produtiva do aglomerado

Fatores Meta e Macroeconômicos

Investimentos e IDE

Instituições de apoio.

GOVERNANÇA

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246

Na borda externa encontram-se os nove fatores tangíveis qualificados previamente.

A participação de cada um destes “fatores tangíveis” na estrutura sócio-produtiva local

determina a intensidade do “Fluxo Tangível”, caracterizado pelas setas em azul, localizadas

no lado externo da figura geométrica. Internamente ao octógono encontram-se os cinco

“fatores intangíveis” já analisados. Da mesma forma, a participação de cada um dos fatores

intangíveis na estrutura socioprodutiva local determina a intensidade do “Fluxo Intangível”,

representado pelas setas no interior do polígono.

A interação dos três grupos mencionados, a saber: fatores tangíveis, fatores

intangíveis e rede de firmas, definem o estágio evolutivo218 da ESP de Macaé, que é

representao no ciculo central da Figura 6.1 (rede de firmas), pela cor azul claro,indicando a

passagem da ESPL do estágio de “arranjo produtivo” para o estágio de “sistema produtivo

local”. Destaca-se ainda um quarto elemento na estrutura socioprodutiva local que é o

“processo de governança” . O processo de governança é ingualmente qualificado com notas

que variam de 1 a 5. No caso da estrturua socioprodutiva de Macaé a qualificação do nível

de governança prevalecente é identificado pela cor amarela, na região definida entre a borda

do octógono e o círculo central no interior do mesmo (rede de empresas). A seção 6.4

analisa, em perspectiva sistêmica, a estrutura socioprodutiva de Macaé, cujo dinamismo

tem se sustentado na evolução do aglomerado de empresas petrolíferas no município.

6.4- Considerações Sobre a Estrutura Sócio-produtiva de Macaé. O Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis propõe que todos os fatores se

influenciam mutualmente, na medida em que estão imersos em um espaço geograficamente

localizado, como representado pelo octógono - Figura 6.1. A representação gráfica da

estrutura sócio-produtiva local procura, assim, expressar tanto a integração sistêmica dos

fatores analisados, como a dinâmica inovativa local e o processo de governança, tendo por

base o aglomerado petrolífero de Macaé. Os resultados da aplicação do Modelo ao caso de

Macaé são estilizados na Figura 6.1, onde se consideram quatro níveis de análise: (i) fatores

218 Conforme hipótese do modelo proposto, a interação dos fluxos tangíveis e intangíveis possibilita a classificação do estágio evolutivo da estrutura socioprodutiva local, que no caso de Macaé, como discutido, aproxima-se de um Sistema Produtivo Local.

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247

tangíveis; (ii) fatores intangíveis; (iii) rede firmas prevalecente no aglomerado; (iv)

processo de governança e classificação da estrutura socioprodutiva.

(i) Fatores Tangíveis - Destaca-se a importância do fator (investimentos e investimentos

diretos externos), que obterve qualificação em nível “otimo”, cor vermelha e o fator (infra-

estrutura produtiva do aglomerado) que obterve qualificação em nível “bom”, cor verde.

No que tange aos investimentos merece destaque os efetuados pela Petrobras, assim como os

investimentos diretos externos - IDE relizados pelas majors e prestadoras de serviço

estrangeiras do setor. Desde a implantação da lei do petróleo em 1997, tais investimentos

têm sido responsáveis por grande parte do dinamismo econômico do sistema. Não obstante,

o investimento do ponto de vista macroeconômico, tradicionalmente é desdobrado na

compra de capital fixo (máquinas, equipamentos e instalações) e de capital variável (mão de

obra, insumos e serviços)219. Ao longo da cadeia produtiva do petróleo e gás que atende à

Bacia de Campos, deve-se destacar os investimentos que se traduzem em infra-estrutura

offshore e onshore. Como já mencionado os investimentos onshore são reflexo das

inversões no aumento da capacidade produtiva offshore da BC, o que implica na expansão

do aglomerado de empresas petrolíferas de Macaé.

Os fatores recursos humanos e mercado-de-trabalho; infra-estrutura do

conhecimento; infra-estrutura urbana; tranporte; comunicações e infra-estruruta financeira

apresentam-se, respectivamente, com nível de qualificação “fraco” - cor amarela. Com

relação a estes fatores deve-se destacar que (a) os investimentos em infra-estrutura urbana

estão em expansão, sobretudo pela elasticidade da arrecadação do Município de Macaé, em

função dos royalties e pela visão empreendedora que parece permear a administração

pública municipal desde 1997; (b) os investimentos na formação de recursos humanos e na

criação de infra-estrutura do conhecimento seguem em ritmo inferior à evolução da

demanda da indústria petrolífera em Macaé. Nesse sentido, a inexistência de esforços de

investimentos integrados por parte dos governos municipal, estadual e federal, visando não

apenas a qualificação da mão-de-bra local mas, principalmente, a estruruturação de uma

sólida rede de ciência e tecnologia são determinantes para explicar tal qualificação; (c) já o

219 A estes fatores pode-se acrescentar os investimentos em tecnologia, ou seja, em conhecimento - “Know How”.

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248

fator infra-estrutura financeira apresenta-se igualmente com um nível de qualificação

“fraco”, representando o baixo suporte financeiro, sobretudo às PMEs. Entretanto, observa-

se no interior da elipse que define a estrutura financeira (Fig.6.1), uma pequena

circunferência na cor verde, qualificação “boa”, representando o fato de que empresas

offshore de grande porte que atuam em Macaé têm acesso a recursos financeiros de forma

discricionária, isto é, consegem captar recursos no mercado financeiro internacional a taxas

de juros menores que as praticadas no país.

Por fim, complementam os fatores tangíveis os Meta e Macroeconômicos,

qualificação “bom” - cor verde, tipificados especialmente pelas boas perspectivas do

mercado petrolífero internacional no longo prazo, e os fatores Governo e Instituições de

Apoio, qualificação “regular”- cor azul. No caso das instituições que dão apoio à atividade

petrolífera é mister ressaltar o significativo crescimento quantitativo e qualitativo destas

organizações. No caso do Governo, merece destaque a regulamentação definida pela Lei do

Petróleo por parte do governo federal; os incentivos, sobretudo à indústria naval, por parte

do gover estadual; e os investimentos em infra-estrutura urbana por parte do governo

municipal de Macaé. Portanto, como demonstrado na seção 6.3, os fatores mencionados

proporcionam um fluxo tangível de nível regular, representado pelas setas em azul.

(ii) Fatores Intangíveis – como discutido no capítulo II, o desenvolvimento de capitais

intangíveis possibilita o incremento de competências, habilidades e uma cultura peculiar,

que favorece o desenvolvimento do conhecimento tácito e formal, cruciais para o processo

de inovação tecnológica220, crescimento econômico e mudança social. Dos cinco fatores

intangíveis que integram o modelo (Fig.6.1), três têm qualificação de nível fraco, cor

“amarela”, sendo eles: capital humano, capital social e capital sinérgico. Com relação a estes

três fatores intangíveis é mister destacar que (a) com relação ao capital social, embora se

apresente com nível fraco para o sistema produtivo de Macaé como um todo se observa

focos de coesão social nos níveis: regular, bom e ótimo, representados respectivamente

pelos círculos na cor azul, verde e vermelho, no interior da elipse que tipifica o Capital

220 Tendo em vista o conceito de milieu aplicado a localidades e regiões de países centrais, o mesmo é assim definido: “uma localidade que constitua um milieu está definida por um grupo de relações que une, em forma de redes, um sistema local de produção, um grupo de atores e suas representações e uma cultura industrial” (Camagni, 1995:195).

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249

Social. Estes focos de coesão social são definidos basicamente pelos relacionamentos

estabelecidos através da rede vertical que estabelece entre a Petrobras e empresas

prestadoras de serviço, com destaque para as grandes empresas que desenvolvem serviços

em parceria com a estatal forçando uma maior coesão social; (b) no que tange ao Capital

Humano verifica-se uma situação próxima a que ocorre com o capital social. Assim, para o

conjunto do sistema, o capital humano apresenta-se com uma qualificação fraca, entretanto,

observa-se a presença de níveis regular, bom e ótimo de capital humano concentrados

essencialmente na rede de firmas em torno da Petrabras. Com efeito, tendo em vista a

complexidade das atividades de E&P, a presença de técnicos de nível médio, altamente

qualificados, e de profissionais de nível superior, sobretudo engenheiros com elevada

especialização, ajudam a explicar as perculiaridades do Capital Humano no aglomerado; (c)

já o Capital Sinérgico, de acordo com Adad (2003:13) consiste na “capacidade real ou

latente de toda a comunidade para articular de forma democrática as diversas formas de

capitais intangíveis disponíveis nesta comunidade”. Neste aspecto o capital sinérigico

apresenta-se com qualificação fraca, existindo, contudo, foco regular de capital sinérgico no

sistema. Este foco é representado pelo circulo de cor azul no interior da elipse que

caracteriza o capital sinérgico, indicando o crescimento de mecanismos de coordenação

coletiva no aglomerado, destacando-se a atuação de algumas instituições: SEBRAE, a Rede-

PETRO, ACIM, GEPES e Secretaria de Indústria e Comérico de Macaé.

Dois fatores intangíveis apresentam-se com qualificação regular - cor azul, são eles,

o capital intitucional e o capital cognitivo. No que se refere ao capital institucional, a

qualificação regular é atribuída pelo crescimento quantitativo e qualitativo das instituições

de apoio à indústria petrolífera em Macaé. Quanto ao capital cognitivo, deve-se fazer as

seguintes considerações (a) de um lado, a expansão da indústria petrolífera tem contribuído

para o incremento, relativamente modesto, dos investimetos públicos e privados em

instituições de ensino e pesquisa (conhecimento formal). Por outro lado, as interações que se

estabelecem no plano da rede de firmas são determinantes para o avanço da capacidade

cognitiva do sistema como um todo, contribuindo para a disseminação de prática que levam

ao aprendizado coletivo (conhecimento informal). Mais especificamente no âmbito da rede

de firmas que define o aglomerado petrolífero de Macaé observa-se focos de capital

cognitivo com qualificação boa e ótima. Tais níveis ocorrem no âmago das relações inter-

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250

firmas do APM, sobretudo entre as empresas com elevada capacidade de inovação

tecnológica. Conforme discutido na seção 6.3 o fluxo intangível que se define no sistema é

representado pela cor amarela indicando uma qualificação fraca.

(iii) Rede de Firmas - neste nível de análise o foco é basicamente microeconômico e procura

dar conta tanto da organização industrial prevalecente no aglomerado, quanto das inter-

relações que se estabelecem entre as empresas. Como se vê na Figura 6.1, a organização

industrial prevalecente no aglomerado é do tipo centro radial, onde a Petrobras está

representada pelo círculo maior representado pela cor vermelha - qualificação ótima. No

contexto da rede vertical que se se define em torno da Petrobras, a cor vermelha indica que a

empresa possui atributos essenciais em quantidade e qualidade, peculiares à empresas que

atuam em sistemas locais de inovação. Na indústria offshore, empresas com qualificação

ótima – cor vermelha, em geral, são multinacionais de grande porte, com elevada capacidade

tecnológica e poder de inovação, sendo ainda competitivas internacionalmente. Em torno da

petrobras estão empresas de suporte e prestadoras de serviço caracterizadas por círculos

menores nas cores vermelho, verde e azul. A qualificação “bom”, cor verde, indica a

participação de empresas com importante capacidade tecnológica, que se caracterizam por

adaptar e não produzir tecnologia. A qualificação regular – cor azul, indica a presença de

empresas com capacidade tecnológica restrita, com baixa penetração no mercado

internacional e que desenvolvem atividades menos complexas que exigem um grau menor

de esforço tecnológico. Já a qualificação fraca – cor amarela, indica a presença de empresas

na estruturação da rede com baixo nível tecnológico, pouco capital, e inserção periférica no

aglomerado. Já a qualificação “péssimo”, cor branca, indica a presença de empresas que

atuam à margem do aglomerado, desenvolvendo atividades ligadas à indústria petrolífera de

forma rudimentar, por meio da utilização de mão-de-obra pouco qualificada atuando na

prestação de serviços de baixíssima complexidade como, por exemplo, funilaria, pintura,

pequenos reparos, etc. No grupo das empresas com qualificação fraca e péssima encontram-

se a maioria das PMEs que atuam no aglomerado.

Com relação à estruturação da rede de firmas propriamente, deve-se destacar que as

empresas mais próximas a Petrobras, em geral, as grandes prestadoras de serviço

multinacionais possuem ligações fortes entre si e com a Petrobras, tendo em vista que, em

geral, precisam desenvolver atividades de forma cooperativa. Não obstante, estas empresas

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251

subcontratam empresas menores e estas, em muitos casos, fazem o mesmo subcontratando

ou realizando parcerias para o desenvolvimento de atividades específicas.

Este tipo de articulação entre as empresas define uma rede verticalizada de firmas

onde as empresas de menor tamanho ou baixo conteúdo tecnológico ficam restritas à uma

atuação periférica na estrutura da rede. Tal fato revela então a baixa conexão com as demais

empresas do aglomerado. Nesse sentido, como apresentado na Figura 6.1, empresas

representadas pelos círculos brancos apresentam pouca ou nenhuma ligação com a rede de

empresas que definem o APM.

(iv) Processo de governança - as relações que definem o processo de governança no

contexto da estrutura socioprodutiva local de Macaé são influenciadas, sobretudo, pelos

fatores meso e microeconômicos discutidos nos capítulos V e VI deste trabalho. No entanto,

particular atenção deve ser dada à forma como se estrutura a rede de firmas e como tal

articulação afeta e é afetada pelos capitais intangíveis na determinação do processo de

governança no aglomerado, o qual, como visto, é fundamental para a competititividade e

sustentabilidade da indústria local no longo prazo. Com efeito, o processo de govenança que

permeia a estrutura socioprodutiva de Macaé, recebeu qualificação “fraco”, cor amarela,

coforme se observa na Figura 6.1. Tal qualificação é fruto de dois fatores fundamentais (i) a

estrutura centro radial que prevalece no aglomerado, que define uma rede de empresas

verticalizada onde a Petrobras apresenta-se como empresa âncora, definindo uma relação de

poder muito assimétrica no contexto sócioprodutivo local e (ii) como derivação da

assimetria exposta ressalta-se a nova política de contratação da estatal que implica na

drástica reduação da participação das pequenas e médias empresas nas atividades ligadas

direta e indiretamente à E&P. Assim, decorre daí dois efeitos negativos que

compromentem a sustentabilidade e competitividade da estrutura socioprodutiva de Macaé

no longo prazo, a saber, (a) por um lado, as empresas de pequeno e médio porte, de menor

tecnologia e já articuladas à rede, diminuem seus vínculos produtivos com a mesma, visto

que não conseguem atingir os requisitos mínimos de qualidade, produção, capital,

qualificação da mão-de-obra, e etc,. definidos pela empresa âncora, a Petrobras; e (b) por

outro lado, observa-se uma maior verticalização da estrutura produtiva do aglomerado de

empresas o que implica na descapilarização da rede de empresas, com prejuízos concretos

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252

para a formação de capitais intangíveis, para a disseminação de uma cultura inovadora,

enfim para o desenvolvimento socioeconômico local auto-sustentado.

Por fim, no que tange à classificação da estrutura socioprodutiva de Macaé, como

visto na seção 6.2, obteve-se um resultado próximo a regular, qualificação 2,7 que nos

permite consider que Macaé aproxima-se de um sistema produtivo local. Nesse sentido

pode-se afirmar que o município passou da fase de uma aglomeração de emrpresas para a

fase de arranjo produtivo local, estando a ingressar no estágio de sistema produtivo local.

Este estágio é tipificado pela cor azul claro no núcleo do octógono, representando a

mundaça de estágio evolutivo.

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253

6.5- Conclusões

(i) Macaé está no epicentro de um novo ciclo econômico que se define na região Norte

Fluminense, determinado pelos vultosos investimentos do segmento upstream na Bacia de

Campos e pelas crescentes receitas de royalties e participações especiais, fruto do

incremento da produção de petróleo e gás na Bacia de Campos. Nesse contexto, o

município desenvolveu-se como base operacional das atividades de E&P na BC,

contribuindo para desenvolvimento de um robusto aglomerado de empresas especializadas

em atividades de E&P offshore. Esta situação privilegiada traz em seu bojo grandes

oportunidades para o desenvolvimento econômico sustentável do município.

(ii) Mais que identificar a existência de uma aglomeração produtiva especializada, a

utilização do Modelo dos Fluxos Tangíveis e Intangíveis demonstra que a estrutura

socioprodutiva que vigora atualmente em Macaé, permite compreender o município como

um Sistema Produtivo Local em formação. O modelo possibilita a identificação das

fragilidades e potencialidades observadas na estrutura sócioprodutiva de microregiões

consideradas como sendo de baixo desevolvimento, além de propor uma estrutura analítica

com vistas à classificação de seu estágio evolutivo. Os resultados da aplicação do Modelo

ao caso de Macaé são estilizados, onde se consideram quatro níveis de análise: (a) fatores

tangíveis (esferas macro e mesoeconômicas); (b) fatores intangíveis; (c) rede firmas

prevalecente no aglomerado; e (d) processo de governança e classificação da estrutura

sócioprodutiva, estes últimos na esfera microeconômica.

(iii) Quanto ao processo de governança que se estabelece atualmente no “sistema produtivo

de Macaé” é importante fazer as seguintes considerações, tendo em vista a nova política de

contratações da Petrobras: a) É incontestável que as majors de um setor internacionalizado

como o do petróleo estejam passando por processos de reestruturação produtiva, com

objetivo de melhorar a competitividade. E a Petrobras, estando entre as sete maiores

empresas no mundo neste segmento não poderia deixar de acompanhar esta tendência. No

entanto, a mudança no sistema de contratação de fornecedores de bens e serviços, proposto

pela estatal, determina um impacto muito grande no sistema produtivo de Macaé, por este

concentrar a maior parcela das empresas petrolíferas que atuam no país. O novo sistema de

contratação implementado pela Petrobras, em vigor no SPL de Macaé desde o início de

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254

2003 possui dois princípios fundamentais que já começam a provocar uma grande

reestruturação produtiva no aglomerado, a saber: (i) redução do número de contratos com as

prestadoras de serviços; (ii) aumento dos padrões de eficiência produtiva e de SMS. Tais

medidas têm um impacto direto nas empresas, sobretudo nas PMEs, que deixarão de prestar

serviços diretamente a Petrobras até o final de 2007, devido aos elevados critérios

econômico-financeiros determinados pela estatal. Tal reestruturação, ao afetar

principalmente as PMEs contribui para reduzir a capilaridade da “rede de empresas”

compromete a formação de capitais intangíveis, tão essenciais ao processo de inovação

tecnológica e, conseqüentemente, o desenvolvimento econômico local. Por outro lado,

deve-se destacar que tais medidas vêm gerando processos de fusões e concentrações no

aglomerado, o que certamente provocará alterações importantes na distribuição de renda e

no nível de empregos do SPL.

A nova política de contratação da Petrobras para a UN-BC reflete ainda a

desarticulação dos formuladores de políticas e, principalmente, a incompreensão dos

mesmos vis-à-vis às potencialidades que o desenvolvimento do SPL de Macaé representa

para a região Norte Fluminense e para o estado do Rio de Janeiro, considerando-se que a

referida cidade é a base operacional de uma das maiores províncias petrolíferas do mundo.

Não obstante, é mister ressaltarque o desenvolvimento de sistemas locais de

inovação com base na indústria offshore em países como a Noruega, Canadá, EUA e

Reino Unido, se deu às custas de pesadas regulamentações e de incentivos diversos no

sentido de promover a indústria local. Nesse sentido, “em 1973, criou-se no Reino Unido,

um órgão governamental denominado Offshore Suppllies Office (OSO), para a articulação

com as operadoras visando ampliar o fornecimento local. Um ano depois foi assinado um

Memorandum of Understanding (MOU), com a United Kingdom Offshore Operators

Association (UKOOA) para garantir bases competitivas e oportunidades justas e plenas aos

fornecedores locais” (Macedo,2003:20). No Canadá, as atividades petrolíferas são reguladas

por órgãos estaduais, como o New Scotia Offshore Petroleum Board, responsável pelas

atividades offshore na província de Nova Escócia. “Um exemplo do controle exercido sobre

as operadoras é a obrigatoriedade de informar ao órgão sobre a pré qualificação de

fornecedores, a execução da concrrência para aquisição de bens e serviços e a assinatura

de contratos e colocação de compras. A operadora deve receber aprovação do órgão para

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255

todas as atividade relacionadas à aquisição de bens e seviços cumo valor exceda

US$ 33.000”(Ibid). Além da regulamentação que beneficia o fornecedor de bens e serviços

local, é importante destacar os pesados investimentos das municipalidades e dos governos

estaduais destes países, na promoção de seus respectivos sistemas produtivos com destaque

para o desenvolvimento de infra-estruturas necessárias à indústria local - principalmente

aquelas relacionadas à formação técnica e profissional na área de petróleo e gás - bem como

o desenvolvimento de centros e institutos de pesquisa voltados para o processo de inovação

e de competitividade das empresas locais, como ocorre na cidade de Aberdeen, Escócia.

(iv) Considera-se que a sustentabilidade do sistema produtivo de Macaé no longo prazo e a

possibilidade de se promover o desenvolvimento econômico local de forma sustentada

dependerá: (a) da organização industrial que prevalecerá no mesmo, destacando-se a forma

de inserção das pequenas e médias empresas, tendo em vista as mudanças derivadas da nova

política de contratações da Petrobras; e (b) da capacidade de inovação e diversificação

produtiva, principalmente das pequenas e médias empresas que atuam no aglomerado, que

tendem a permanecer integrando o mesmo quando a produção de petróleo e gás entrar em

declínio. Com efeito, o papel a ser desempenhado pelas PMEs para a sustentabilidade e

competitividade não só do aglomerado petrolífero mas de todo o Sistema Produtivo Local de

Macaé, relaciona-se à estrutura de organização industrial e a hierarquia produtiva que vem

se delineando no município, onde se observa a preponderância das grandes empresas

transnacionais. Com relação à hierarquia produtiva do aglomerado destaca-se, no primeiro

nível, a Petrobras e demais operadoras; no segundo nível as grandes prestadoras de serviços,

multinacionais em sua grande maioria; e no terceiro nível as empresas nacionais de pequeno

e médio porte que, em geral, se caracterizam pelo baixo nível tecnológico e reduzida

capacidade de investimentos. Portanto, é factível pensar que com a diminuição da produção

petróleo e gás na Bacia de Campos as grandes operadoras e grandes prestadoras de serviço

tendam a diminuir suas atividades na região e a migrarem para outras províncias petrolíferas

no Brasil ou no exterior. Concebe-se assim que a consolidação de uma organização

produtiva verticalizada, centrada majoritariamente nas grandes empresas offshore,

representa um grande risco para a sustentabilidade do sistema produtivo de Macaé no longo

prazo.

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(v) No que diz respeito a sustentabilidade do aglomerado no longo prazo, quando é certo que

produção de petróleo e gás irá diminuir na região, os seguintes pontos devem ser

considerados: (a) Do ponto de vista mesoeconômico, ressalta-se a necessidade de haver

maior sinergia entre os governos do Estado do RJ e o de Macaé, no sentido do

desenvolvimento de políticas industriais que promovam a atividade produtiva no

aglomerado. O aprimoramento da estrutura em rede da indústria petrolífera de Macaé, ou

seja, criação de infra-estruturas, principalmente as especializadas como infra-estrutura do

conhecimento (rede de ciência e tecnologia local e regional), e outras voltadas para a

formação de capital humano, constituem-se em ações que estão na alçada do poder público.

As extraordinárias receitas obtidas com os royalties do Petróleo, assim como as receitas

tributárias advindas desta atividade produtiva constituem-se, para os governos de Macaé e

do estado do Rio de Janeiro, em uma oportunidade histórica no que tange o

desenvolvimento das infra-estruturas essenciais ao desenvolvimento econômico

autosustentado de Macaé, e conseqüentemente da indústria petrolífera offshore no Rio de

Janeiro. (b) Do ponto de vista microeconômico enfatiza-se a importância de se promover o

desenvolvimento de mecanismos que facilitem o processo de coordenação entre as empresas

de modo que o sistema de governança prevalecente no aglomerado possibilite a expansão

dos capitais intangíveis. Com efeito, para reduzir a assimetria de poder existente entre

Petrobras e demais empresas e agentes do SPL de Macaé, no sentido de favorecer a

sustentabilidade do sistema no longo prazo, é mister o desenvolvimento de mecanismos de

coordenação nas esferas local e regional onde se concentra o processo produtivo.

(vi) O Brasil, por sua vez, possui uma imensa costa com amplas bacias sedimentares.

Desprezar a oportunidade histórica de realizar ações no sentido de contribuir para que

Macaé se torne em um SPL com elevada capacidade inovadora e tecnológica, pode ser um

erro irreparável no futuro próximo, o que determinará graves conseqüências tanto para o

Norte Fluminenese quanto para o Estado do Rio de Janeiro.

Se Aberdeen foi planejada para ser a capital européia da indústria offshore, por que não

pensar o mesmo para Macaé?

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266

Apêndice I

1- Estudo de Caso: A Evolução do Aglomerado Produtivo em Torno da Indústria Florestal da Finlândia221.

Como exemplo do ciclo evolutivo de um complexo222 produtivo maduro, em torno

da exploração de recursos naturais apresenta-se a seguir, o caso da indústria florestal da

Finlândia (Ramos, 1999; Rouvinen, 1996). Este aglomerado é completo e profundo, e

representa 25% das exportações totais da Finlândia mais de US$5milhões, comparado a algo

em torno de US$2 milhões do incipiente mais importante aglomerado florestal do Chile

(ibid).

O aglomerado madeireiro finlandês se forma em torno de uma atividade com forte

vantagem comparativa natural, a extração de madeira. Neste aspecto, a Finlândia conta: i)

com amplas reservas e plantações de bosques, da ordem de 400-600 m3/por habitante em

comparação com 25-50 m3 no resto do mundo; (ii) os bosques finlandeses estão próximos

do mar, o que reduz os custos de transporte iii) os bosques estão próximo de um mercado

consumidor importante, a Europa (ibid.).

O Gráfico I mostra a evolução das exportações provenientes do complexo florestal

finlandês durante o século XX. Como se observa, até a década de 1920 as exportações eram

constituídas essencialmente de produtos primários, com baixa elaboração como: troncos e

madeiras serradas. Com o passar do tempo estas atividades foram se diversificando e o país

passou a exportar madeiras aparelhadas, móveis e outros produtos manufaturados de

madeira.

Um grande salto ocorrido no complexo produtivo da indústria florestal da Finlândia,

se deu a partir da década de 1930. Desde então o país passou a exportar celulose e diversos

tipos de papeis, cartões e produtos derivados da madeira. Com efeito, a evolução do

221 A apresentação do complexo da indústria florestal finlandesa é proposta por (Rouvinen, 1996) e aqui exposta com base no trabalho de (Ramos, 1999). Deve-se ressaltar que a organização produtiva deste tipo de aglomeração, além de poder variar de país para país e mesmo de região para região, não pode ser concebida como a organização ideal representativa de aglomerados em torno da extração de recursos naturais. A idéia fundamental deste exemplo é tão somente apresentar os principais determinantes de um “aglomerado maduro”. 222 Complexo produtivo pode ser entendido aqui como macro-complexo, ou seja, conjunto de aglomerados produtivos localizados por vezes em localizações geográficas com certo grau de dispersão, dentro de uma macro-região.

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267

processo de produção associado a um ambiente inovador, gerou encadeamentos para trás,

possibilitando a estruturação de uma sólida indústria de bens de capital voltada para a

produção de máquinas e ferramentas para atender as diversas demandas internas (Ramos,

1999:41).

Exportações em Milhões de US$ Prod. Quím. 5000 Máquinas p/ 4000 complexo flor. 3000 Polpa, cartão e papel 2000 1000 Troncos, madeiras serradas Móveis e produtos de madeira 1900 1920 1950 1970 1996

Gráfico 7.1- Finlândia: Evolução do Complexo Florestal Fonte: Rouvinen (1996)

Estes equipamentos, no início da estruturação do aglomerado eram importados. As

décadas de 1940 a 1950 foram intensas em processos de substituição de importações. Já na

década de 1960, as máquinas e ferramentas produzidas no país passam a ser exportadas, bem

como insumos e serviços especializados. A exportação de produtos de maior conteúdo

tecnológico, contribuíu para que ocorresse um importante salto na consolidação do

complexo produtivo no país. A diversificação produtiva permitiu que, em meados dos anos

1970, a Finlândia exportasse produtos químicos, também ligados às diversas fases do

processo de produção relacionados ao complexo produtivo da industria florestal (ibid).

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268

Figura 7.1 -Aglomerados maduros de produtos florestais na Suécia e Portugal.

Produtos Químicos para a fabricação de papel

Prevenção de Incêndios Florestais

Máquinas de colheita

Lâminas para serras

industriais

Consultoria em engenharia

Celulose

Aglomerado de Produtos Florestais da Suécia – Macrocomplexo

Derrrubada e corte de árvores

Máquinas para serrarias

Silvicultura

Máquinas e equipamentos para celulose

e papel

Lascas de Madeira Serrarias Cortiça

Papel Fraldas e

Produtos de Higiênie

Reciclagem Materiais

de construção

Outros produtos de madeira

Papelão e Embalagens de papel Casas pré-

fabricadas Móveis de Madeira

Aglomerado de Produtos Florestais de Portugal

Macrocomplexo

Produtos Químicos para a fabricação de papel

Consultoria em engenharia

Máquinas e equipamentos para celulose

e papel

Prevenção de Incêndios Florestais

Celulose

Derrrubada e corte de árvores

Lascas de

Madeira

Fraldas e Produtos de Higiênie

Reciclagem Papelão e Embalagens de papel

Máquinas de colheita

Lâminas para serras industriais

Máquinas para serrarias

Silvicultura

Serrarias Cortiça

Materiais de construção

Outros produtos de madeira

Casas pré-fabricadas

Móveis de Madeira

Gráficas

Máquina para processam

Gráficas

papel

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269

Setor internacionalmente competitivo. Elo fraco Elo moderado Elo forte Figura 7.1-Aglomerados de produtos florestais, Suécia e Portugral, apud (Porter, 1989).

A Figura 7.1 apresenta, de forma estilizada, os macrocomplexos florestais da Finlândia e

Portugal, definidas respectivamente como regiões de alto e médio desenvolvimento.

Observa-se que a maior parte dos setores que compõem o macrocomplexo finlandês são

internacionalmente competitivos, não ocorrendo o mesmo com Portugal. Não obstante, há

de se destacar como um dos fatores de competitividade do complexo florestal finlandês, as

fortes ligações que se estabelecem entre os setores que o integram.

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270

Apêndice II

1-Resultados dos questionários aplicados às empresas do Aglomerado Petrolífero de Macaé.

Número de empresas que responderam ao questionário: 13 Número de empresas e instituições que participaram de entrevistas : 5

1- Como a empresa se define em relação a tamanho ?

Tamanho

Pequena Média Grande TOTAL

Qt. cit. Freq.

4 30,8% 4 30,8% 5 38,5%

13 100% 2- Qual a origem do capital presente na empresa ?

Capital

Nacional privado Nacional público (estatal) Estrangeiro Misto TOTAL

Qt. cit. Freq.

10 76,9% 0 0,0% 2 15,4%

1 7,7%

13 100%

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271

3- Quais fatores abaixo são determinantes para a localização dessa empesa nesse bairro ?

Localização

Infra-estrutura física Infra-estrutura de serviços Disponibilidade de mão-de-obra Qualidade da mão-de-obra Custo da mão-de-obra Existência de programas governamentais Proximidade com Universidades/Centros de pesquisa Proximidade da matéria-prima Proximidade com clientes/consumidores Outros: TOTAL

Qt. cit. Freq.

9 69,2% 3 23,1% 2 15,4% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0%

10 76,9% 3 23,1% 13

4- Com relação à infra-estrutura de produção, indique a origem dos bens de capital e equipamentos utilizados pela empresa.

Origem dos bens de Capital

Local (Macaé) Estadual (RJ) Nacional - Citar outros 3 Estados (*) _________________ Internacional - Citar outros 3 países (**) (**_______________ TOTAL

Qt. cit. Freq.

4 30,8% 2 15,4% 4 30,8% 3 23,1% 13 100% (*

Estados mais citados (ordem decrescente) : SP ; MG ; PR ;BA (**)Países mais citados (ordem decrescente) : EUA ;Ingraterra ; Escócia ;Itália ;Alemanha

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272

5-Qual a localização dos distribuidores de bens de capital para compra?

Localização dos distribuidores de bens de capital

Local (Macaé) Estadual (RJ) Nacional – Citar Estados(*) Internacional – Citar Países (**): TOTAL

Qt. cit. Freq.

6 46,2% 4 30,8% 10 76,9% 6 46,2% 13

(*) Estados mais citados (ordem decrescente): SP; MG;BA (**) Países mais citados (ordem decrescente): EUA; Inglaterra; Itália; Noruega; França; Escócia; Alemanha; Japão. 6- Qual o perfil de mão-de-obra qualificada presente nessa empresa ?

Perfil mão-de-obra

Escolaridade formal de Ensino Básico Escolaridade formal de Ensino Médio Escolaridade formal de Nível Técnico Escolaridade formal de Nível Superior Pós-Gradução lato sensu Mestrado Doutorado TOTAL

Qt. cit. Freq.

7 53,8%

10 76,9% 9 69,2% 9 69,2% 4 30,8% 4 30,8% 3 23,1% 13

7- Com relação à mão-de-obra qualificada em nível superior, qual a origem da formação dos profissionais (principalmente engenheiros)?

Origem qualificação engenheiros

Não resposta Local (Macaé) Estadual (RJ) Regional Nacional(*) Internacional (**) TOTAL

Qt. cit. Freq.

2 15,4% 3 23,1% 5 38,5% 1 7,7% 8 61,5% 2 15,4% 13

(*) Estados mais citados (ordem decrescente): SP, MG (**) Países mais citados (ordem decrescente): EUA; Inglaterra

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273

8- Com relação à mão-de-obra qualificada de nível técnico especializado, qual a origem da formação dos profissionais?

Origem qualificação técnica

Local (Macaé) Estadual (RJ) Regional Nacional(*) Internacional (**) TOTAL

Qt. cit. Freq.

5 38,5% 6 46,2% 2 15,4% 8 61,5% 2 15,4% 13

(*) SP, MG, CE (**) Inglaterra, EUA e França. 9- Quais os meios utilizados pela empresa para contratação de mão-de-obra?

Contratação

Empresas de recursos humanos Anúncios em jornais Banco de currículuns Indicação Outros TOTAL

Qt. cit. Freq.

8 61,5% 4 30,8% 5 38,5% 6 46,2% 2 15,4%

13 Outros : (i) Balcão Ministério do Trabalho; (ii) Concursos. 10- Esta empresa trabalha com mão de obra terceirizada? Mão-de-obra terceirizada

Sem resposta Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 6 46,2% 6 46,2% 13 100%

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274

Infra-estrutura do conhecimento 11- No que diz respeito a cursos rápidos de nível técnico, quais os principais locais para treinamento da mão-de-obra?

Treinamento

Na empresa Instituições locais Instituições nacionais Instituições do Exterior TOTAL

Qt. cit. Freq.

10 76,9% 10 76,9% 3 23,1% 4 30,8%

13 12- Existe interação entre as empresas e instituições locais e regionais de ensino e pesquisa, por exemplo: UENF, CEFET,CENPES e COPPE? Através de que?

Interação entre as empresas

Formandos Consultorias Pesquisa e Desenvolvimento Parcerias Outros Não há interação TOTAL

Qt. cit. Freq.

5 38,5% 2 15,4% 2 15,4% 4 30,8% 1 7,7% 5 38,5%

13 Outro: contratações de serviços 13- Que tipo de instituições e as respectivas áreas, são necessárias para que haja qualificação da mão-de-obra?

Instituições necessárias

Pesquisa Ensino Técnico TOTAL

Qt. cit. Freq.

4 30,8% 8 61,5%

12 92,3% 13

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275

14- Qual o maior impedimento (barreira) pra que as empresas se relacionem e utilizem a infra-estrutura de conhecimento existente?

Barreiras para a utilização da infra-estrutura do conh.

Sem resposta Falta de conhecimento sobre as instituições exitentes Falta de recursos Dificuldade de estabelecer parcerias Outros

TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 7 53,8% 1 7,7% 4 30,8% 5 38,5%

13 Outros: distância dos centros universitários e carência de instituições de ensino. Infra-estrutura financeira 15- No que se relaciona a investimentos, qual a proporção de capital de terceiros (empréstimos e financiamentos) utilizados por esta empresa?

Capital de terceiros

Sem resposta Nenhum Até 25% De 26% a 50% De 51% a 75% Mais de 76%

TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7%

10 76,9% 0 0,0% 1 7,7% 1 7,7% 0 0,0% 13 100%

16- A empresa dispõe de linhas de créditos junto a instituições financeiras?

Crédito

Não Local (Macaé): Bancos Comerciais sediados no Brasil Bancos Extrangeiros Outros TOTAL

Qt. cit. Freq.

6 46,2% 4 30,8% 1 7,7% 2 15,4% 13 100%

Outros: (i) Carta de Crédito por parte das empresas ; (ii) Mercado de capitais internacional

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276

17- Para respostas negativas apontar qual(is) impedimentos (s) são presentes.

Impedimentos à obtenção de créditos

Não resposta Número insuficiente de intituições financeiras Falta de divulgação das linhas de crédito disponíveis Poucas opções de linhas de crédito direcionadas Inexistência de linhas de crédito Taxas de juros proibitivas Outros TOTAL

Qt. cit. Freq.

5 38,5% 1 7,7% 1 7,7% 1 7,7% 0 0,0% 5 38,5% 3 23,1% 13

Outro: processo políticos 18- O que deveria ser feito para que o acesso a estas instituições fosse facilitado? 1 : Maior intercâmbio com as empresas estrangeiras 2 : As empresas deveriam se juntar para tentar um acordo 4 : Diminuição da taxa de juros 6 : Diminuição da taxa de juros 7 : Controle externo à liberalização das linhas de crédito (auditoria) 10 : Política de crédito para pequenas empresas 19- Há algum tipo de política de crédito destinada às pequenas e médias empresas?

Política de crédito

Não resposta Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 7 53,8% 5 38,5% 13 100%

20- Se essas políticas de crédito destinadas às empresas existem, elas atendem às necessidades das mesmas?

Adequação

Não resposta Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

6 46,2% 3 23,1% 4 30,8%

13 100%

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277

21- Por realizar atividades em Macaé, essa empresa se beneficia de alguma política de incentivo fiscal?

Incentivo fiscal

Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

6 46,2% 7 53,8% 13 100%

22- E por exercer alguma atividade ligada a Petrobras essa empresa se beneficia de algum tipo de incentivo? Benefício por prestar serviço à Petrobras

Não resposta Sim Não TOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 6 46,2% 6 46,2%

13 100% 23- Em caso positivo quais benefícios?

benefícios

Não respostaRedução de ISSRedução de ICMSRedução de IPIOutros ____________________

TOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

5 38,5% 6 46,2% 1 7,7% 0 0,0% 1 7,7%

13 100%

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278

24- Qual a percepção da empresa com relação à tributação que é aplicada sobre a atividade petrolífera?

Tributação

Abusiva Elevada Adequada Baixa Indiferente TOTAL

Qt. cit. Freq.

3 23,1% 8 61,5% 2 15,4% 0 0,0%

0 0,0%

13 100% 25- É cobrado da empresa algum programa ou benefício no que diz respeito à saúde, alimentação ou meio ambiente?

Benefício

Não resposta Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 8 61,5% 4 30,8% 13 100%

26- Que tipo de impacto a empresa pôde observar com a lei 9.478/97 (conhecida como lei do petróleo)?

Impactos

Não houve impactos Houve impactos positivos (Quais:_______________________________) Houve impactos negativos (Quais:_______________________________) TOTAL OBS.

Qt. cit. Freq.

6 46,2% 6 46,2% 2 15,4% 13

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279

27- Com quais instituições de apoio a empresa mantém vínculo?

Vínculos com instituições de apoio

Não resposta Câmara de comércio Internacional Câmara de desenvolvimento de Macaé Associação Comercial de Macaé GEPS Rede Petro (SEBRAE) Secretaria de Indústria e Comércio de Macaé FIRJAN ONIP IBP Outros TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 3 23,1% 3 23,1% 9 69,2% 7 53,8% 9 69,2% 4 30,8% 8 61,5% 6 46,2% 2 15,4% 2 15,4% 13

Outro vínculo: ABEIND 28- Que tipo de vínculo a empresa mantém com as instituições indicadas?

Tipo de vínculo

Não resposta Suporte técnico em atividades administrativas Suporte técnico em atividade produtivas Assessoria em comércio exterior Outros TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 5 38,5% 8 61,5% 0 0,0% 3 23,1%

13 Outros vínculos: (i) Comércio Interno; (ii) Rede de Informação. 29- Com relação às instituições indicadas, como a empresa as classifica?

Atuação das Instituições indicadas

Não resposta Sem atuação Baixa atuação Média atuação Boa atuação Atuação excepcional TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 0 0,0% 1 7,7% 6 46,2%

5 38,5% 0 0,0% 13 100%

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280

30- Com relação à sinergia das instituições mencionadas na pergunta 38, qual a percepção da empresa? Não respondeu 2 15,4 1- as instituições não conseguem desenvolver atividdes em conjunto

1 7,7

2- As instituições desenvolvem poucas atividades em conjunto

4 30,8

3- As instituições desenvolvem algumas atividades em conjunto

3 23,1

4- As instituições têm grande sinergia, isto é, além de desenvolverem atividades próprias, conseguem desenvolver atividades de forma conjunta.

3 23,1

TOTAL 13 100 Fatores meta e macroeconômicos 31- Como a empresa vê a evolução do mercado mundial de petróleo no médio e longo prazo?

Evolução do mercado mundial

Favorável Estável Desfavorável Não possui opinião formada TOTAL

Qt. cit. Freq.

8 61,5% 2 15,4% 1 7,7%

2 15,4% 13 100%

32- Como a empresa vê o cenário macroeconômico nacional para a atividade petrolífera no médio e longo prazo? Cenário macroeconômico nacional

Não resposta Favorável Estável Desfavorável Não possui opinião formada TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7%

11 84,6% 1 7,7% 0 0,0% 0 0,0%

13 100%

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281

Questionário microeconômico

33- Qual o tipo de contrato efetuado por esta empresa? Tipo de contrato efetuado

Formal Outros _______________ TOTAL

Qt. cit. Freq.

11 84,6% 2 15,4% 13 100%

34- Qual a média de duração dos contratos efetuados por esta empresa? 1 : 30 dias 2 : De 3 a 5 anos 3 : de 3 a 5 anos 4 : 5 anos 5 : 2 anos 7 : 1,5 anos 8 : 30 dias 9 : 2 a 3 anos 10 : 30 dias 12 : 1 ano 13 : 2 a 3 anos 35- Esta empresa presta serviço diretamente para a Petrobras?

Petrobrás

Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

11 84,6% 2 15,4% 13 100%

Capital social 36- Essa empresa estabelece (ou estabeleceu nos últimos 5 anos) relações de cooperação com outras empresas ou instituições?

Capital social

Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

11 84,6% 2 15,4% 13 100%

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282

37- Para resposta positiva indicar o tipo de empresas e/ou instituições com as quais esta empresa mantm ou manteve relações de cooperação nos últimos cinco anos.

Instituições/Cooperação

Não resposta Clientes Concorrentes Fornececedores de Insumos Fornecedores de Equipamentos Centros Tecnológicos Universidades Sindicatos e Associações Órgãos Públicos Outros ___________________________ TOTAL

Qt. cit. Freq.

1 7,7% 5 38,5% 8 61,5% 1 7,7% 4 30,8% 2 15,4% 4 30,8% 6 46,2% 4 30,8% 1 7,7%

13 38- Qual o principal motivo, ou finalidade que leva essa empresa a manter relações de cooperação com outras empresa ou instituições do arranjo?

Capital social e sinergia

Não resposta Formulação de projetos em grupo Realização de eventos e feiras Cursos e Seminários Definição de contratos em grupo Apoio na aquisição de isumos e/ou equipamentos Fortalecimento da empresa ou setor Contatos e troca de informações Outros: TOTAL

Qt. cit. Freq.

2 15,4% 8 61,5% 4 30,8% 3 23,1% 3 23,1% 3 23,1% 8 61,5% 9 69,2% 0 0,0%

13

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283

39- De uma maneira geral, nos últimos cinco anos pode-se dizer que o número das atividades efetuadas em conjunto de maneira cooperativa por esta empresa, sofreu?

Capital Social e Sinergia

Não resposta Aumento Estagnação Diminuição TOTAL

Qt. cit. Freq.

2 15,4% 8 61,5% 2 15,4% 1 7,7% 13 100%

40- Por quê? 1 : Mudanças contratuais no que diz ao tempo de duração, associado à queda no volume de

vendas. 2 : Eles estão se ajudando, está havendo cooperação. 3 : Aumento da produtividade relacionada a exploração e produção. 4 : Com consórcios mais abrangentes o risco é dividido 5 : Pelo desenvolvimento tecnológico profissional da empresa. 6 : Falta de interesse. 7 : Adequação ao mercado. 9 : Resultados obtidos por levantamentos obtidos 10 : Mercado de Macaé sofre concorrência com o do ES, face aos incentivos fiscais, concedidos no referido Estado. 11 : Adequação ao mercado. 13 : Lei do Petróleo obrigou a um maior envolvimento da Petrobras em ações sociais.

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284

Inovação tecnológica 41- Indique as principais fontes de informação utilizadas para promover inovações.

Inovação

Departamentos de P&D da empresa situados no país ou no exterior Consultorias especializadas localizadas no país

Consultorias especializadas localizadas no exterior

Universidades e Centros Tecnológicos Aquisição de novos equipamentos fornecidos localmente Aquisição de novos equipamentos oriundos de fornecedores externos Publicações especializadas Troca de infomações com clientes

Troca de informações com fornecedores Troca de informações com empresas do setor

Congressos e feiras com. e indust. realizadas no país. Congressos e feiras com. e ind. do setor realizadas no exterior. TOTAL

Qt. cit. Freq.

5 38,5% 4 30,8% 2 15,4% 3 23,1% 2 15,4% 5 38,5% 9 69,2% 11 84,6% 9 69,2% 5 38,5% 11 84,6% 7 53,8% 13

42- Qual a maior dificuldade enfrentada por esta empresa para realizar inovações? 1 : Cultura atrasada da ind. petrolífera na B. de Campos. 2 : Cooperação entre o próprio setor. 4 : Legislação - importar pessoal e equipamentos. 5 : Não há dificuldade. 8 : Falta de capital. 10 : Não há problemas específicos. 11 : Provar que a inovação vai funcionar. 12 : Custo, cliente quer inovações caras sem pagar por elas. 43- Através de quais destas formas se dá o desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias?

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285

43- Através de quais das formas abaixo se dá o desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias?

Inovação Tecnológica

Aquisição de máquinas compradas no mercado nacional Aquisição de máquinas compradas no mercado internacional Em cooperação com fornecedores de equipamentos Em cooperação com fornecedores de insumos Em cooperação com empresas usuárias Em cooperação com outras empresas concorrentes Em cooperação com outras organizações (de ensino e pesquisa, entidades de apoio set. Nas unidades de produção da empresa Através de intercâmbio de pessoal com a matriz Outros _________________ TOTAL

Qt. cit. Freq.

6 46,2% 6 46,2% 7 53,8% 4 30,8% 4 30,8% 3 23,1% 4 30,8% 5 38,5% 3 23,1% 1 7,7% 13

Capital cognitivo 44-Com relação à participação em feiras e eventos na área, essa empresa procura estar presente com: Sinergia e Capital Cognitivo

Muita frequência Média frequência Baixa frequência TOTAL

Qt. cit. Freq.

8 61,5% 4 30,8% 1 7,7%

13 100% 45-Há centros de treinamento e/ou qualificação integrados, onde ocorra o encontro de empresários e/ou funcionários? Capital Cognitivo

Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

9 69,2% 4 30,8% 13 100%

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286

46- Esta empresa possui funcionários que migraram de outras empresas da mesma área de atuação? Capital Cognitivo

Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

11 84,6% 2 15,4%

13 100% Capital Humano 47-A empresa possui políticas de aprimoramento/qualificação de seus funcionários?

Capital humano

Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

13 100% 0 0,0%

13 100% 48- A empresa se responsabiliza pelos custos dessa qualificação/aprimoramento de seus funcionários? Capital humano

Sim Não TOTAL

Qt. cit. Freq.

13 100% 0 0,0%

13 100%

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287

Competitividade 49- Quais fatores abaixo são considerados determinantes para manter a capacidade competitiva desta empresa no mercado?

Competitividade

Qualidade da máteria-prima Qualidade da mão-de-obra Custo da mão-de-obra Nível tecnológico dos equipamentos Inovações de produto Novas estratégias de comercialização Aquisição de certificados Capacidade de investimento da própria empresa Outros TOTAL

Qt. cit. Freq.

10 76,9% 13 100% 2 15,4% 9 69,2% 7 53,8% 9 69,2% 9 69,2%

10 76,9% 1 7,7%

13

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288

Apêndice III – Dados Estatísticos

Gráfico 7.2-Receitas correntes dos municípios de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes, a preços correntes – 1997/2001.

Receitas correntes de Rio das Ostras, Macaé e Campos -

1997/2001. Preços correntes (1.000) R$

65.49492.339 96.61786.611

162.905

263.285

135.984

226.859

369.359

67.39454.238

16.041

83.147

20.90236.822

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

Rio das Ostras Macaé Campos

1997

1998

1999

2000

2001

Inclui o total das receitas tributárias e de repasses obtidas pelos municípios em cada ano Fonte: ANP e Secretaria de Estado da Receita, apud Cide.

Gráfico 7.3-Receitas de royalties de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos Goytacazes – 1998/2002 a preços correntes.

Receitas correntes de Rio das Ostras, Macaé e Campos dos

Goytacazes - 1998/2002

1.949 3.842 5.82217.71434.958 48.85161.970

85.697

150.391

92.748116.413

209.271

138.449

184.233

306.357

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

Rio das Ostras Macaé Campos dos Goytacazes

1998

1999

2000

2001

2002

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CIDE.

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289

Apêndice IV- Histórico da Indústria do petróleo no contexto internacional e nacional

1- A Indústria do Petróleo: Breve Histórico.

A palavra petróleo é derivada do latim Petra (pedra) e Oleum (óleo). O petróleo,

conhecido no passado como óleo de pedra é uma substância oleosa, inflamável, menos

densa que água, cheiro característico e de cor variando entre o negro e o castanho escuro, de

origem orgânica, sendo uma combinação de moléculas de carbono e hidrogênio (Barsa

2000: 300).

Admite-se que esta origem esteja ligada à decomposição dos seres que compõem o

plâncton - organismos em suspensão nas águas doces ou salgadas tais como protozoários,

celenterados e outros - causada pela pouca oxigenação e pela ação de bactérias. Estes seres

decompostos foram, ao longo de milhões de anos, se acumulando no fundo dos mares e dos

lagos, sendo pressionados pelos movimentos da crosta terrestre e se transformaram na

substância oleosa que é o petróleo (Ibid). Já na antiguidade o petróleo era conhecido. O

antigo testamento menciona o petróleo diversas vezes. Estudos arqueológicos demonstram

que foi utilizado há quase seis mil anos. Nabucodonosor usou o betume nas construções dos

celebres Jardins suspensos da Babilônia. Na época moderna, há pouco mais de um século,

era utilizado como lubrificante, medicamento laxativo e linimento. Na fase em que era

usado apenas na iluminação, a gasolina, considerada um material explosivo e perigoso, era

jogada fora, sendo aproveitados os querosenes e os óleos lubrificantes”(Ibid.).

A moderna indústria petrolífera data de meados do século XIX. O primeiro poço de

petróleo foi perfurado no ano de 1859 no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos da

América, pelo norte americano Edwin L. Drake. Esta data passou a configurar então como

sendo o marco do início da indústria do petróleo. No início, o petróleo ou “óleo de pedra”,

como era chamado, era utilizado basicamente para a produção de remédios. Com o tempo,

observou-se que, uma vez destilado223, o óleo produzia um fluído que podia ser utilizado nos

lampiões para iluminação. Os empreendedores que investiram na perfuração do primeiro

poço de petróleo acreditavam que o “óleo de pedra” competiria em igualdade de condição

com os óleos de carvão, que estavam ganhando mercado na década de 1850. O grupo

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290

entendia que, se obtido em quantidade satisfatória, poderiam introduzir este novo produto,

no mercado de óleos combustíveis para iluminação a preços módicos (Menezello, 2000;

Barsa, 2000).

• Século XX, a era do Petróleo.

Até o final do século XIX os Estados Unidos dominavam o mercado mundial de

petróleo.A companhia americana Standard Oil224 tendo à frente seu proprietário John

Rockfeller, optou, inicialmente, pelas atividades de transporte e refino de petróleo

“segmento dowstream” onde se tornou um quase monopólio, em fins dos anos 1870 (Ibid).

No final da década de 1890, a Standard Oil constituiu-se em um quase monopólio nos EUA,

concentrando mais de 90% das atividades do mercado petrolífero. Por essa época o Grupo

Nobel – detentor de capitais russos e suecos - dava início à exploração das jazidas225 do

Cáucaso, e em pouco tempo, ameaçava a supremacia norte-americana. Uma terceira

empresa a Royal Dutch-Shell, de capital anglo-holandes, expandiu-se rapidamente antes da I

Guerra Mundial e passou a controlar a maior parte das reservas conhecidas do oriente

Médio. A Royal Dutch-Shell ao dar grande importância aos processos de exploração e

produção de petróleo, obteve vantagens comparativas vis-à-vis as empresas americanas,

obtendo concessões nos Estados Unidos e México (Junior, 1989).

Dois fatores de grande relevância evidenciaram a importância estratégica do petróleo

no início do século XX: a emergência da indústria automobilística e a utilização do petróleo

para fins militares226 (ibid.). A revolução nos métodos de produção possibilitou a produção

223 O químico Benjamin H Sulliman Jr. descobriu que a simples destilação por meio do aquecimento permitia que o petróleo fosse separado em diversos produtos individuais. (Andersosn, 1984:8). 224 Em 1899, a Standard Oil, que havia se constituído em um truste, foi dissolvida e convertida na holding Standard Oil Company of New Jersey. Como a holding não parava de crescer, tornando-se um monopólio natural, em 15/05/1911, foi ordenada a dissolução da holding Standad Oil, pela Suprema Corte americana, com o objetivo de restabelecer os preceitos fundamentais que norteiam a livre concorrência em uma economia de mercado (Anderson, 1984:20). 225 Ao contrário do que se pensa, o petróleo não permanece na rocha que foi gerado - a rocha matriz - mas desloca-se até encontrar um terreno apropriado para se concentrar. Estes terrenos são denominados bacias sedimentares, formadas por camadas ou lençóis porosos de areia, arenitos ou calcários. O petróleo aloja-se ali, ocupando os poros rochosos como forma de "lagos". Ele se acumula formando jazidas. Ali são encontrados o gás natural, na parte mais alta, e petróleo e água nas mais baixas (ibid). 226 Contudo, é na esfera militar que o petróleo revela sua importância estratégica. Foi na primeira guerra mundial que se utilizou o primeiro submarino com motor a diesel, tendo surgido na mesma época, o avião com motor a querosene. Daniel Yergin conta uma história interessante a respeito da ascensão do petróleo na

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291

em série de automóveis, o que permitiu a redução de custos tornando-os acessíveis a

contingentes expressivos da população. Contribuiu para a expansão da indústria

automobilística o fato de os combustíveis derivados de petróleo serem relativamente baratos.

Se por um lado a expansão da indústria automobilística impulsionava a expansão da

industria petrolífera, por outro, na medida que novas jazidas eram descobertas investia-se

com maior segurança em tecnologias que dependiam do petróleo como fonte energética.

Constituía-se assim um ciclo virtuoso onde o petróleo consolidava-se como insumo

essencial e imprescindível para o desenvolvimento econômico das nações capitalistas.

No fim da década de 1920, a descoberta de um grande campo petrolífero no Iraque

transformou o país no segundo maior produtor do Oriente Médio, atrás da Arábia Saudita.

No ano de 1935, inaugurou-se o primeiro dos grandes oleodutos, entre o oriente médio e o

mediterrâneo (Barsa, op. cit.:300).

Em 1928, a Venezuela passou a ocupar o 2º lugar na produção mundial de petróleo.

A partir da década de 1950, houve uma tendência a um maior rigor no que tange às

regulamentações para a produção, exploração e refino de petróleo por parte das empresas

estrangeiras. Isto posto, as regras de concessão para exploração, produção e refino, variavam

consideravelmente de país para país. Alguns países, como o Canadá e a Venezuela,

adotaram o sistema de concessão de áreas limitadas. Outros optaram por permitir a

exploração indiscriminada, em troca do pagamento de royalties, de montante variável de

uma área para outra, às vezes somando exigências como a construção de refinarias utilização

de mão-de-obra nacional etc. Outro sistema adotado era o da divisão de lucros em partes

iguais entre o governo e os concessionários. Este modelo de regulamentação, aplicado na

Venezuela a partir de 1943, logo foi adotado pela maioria dos países em desenvolvimento.

A partir da década de 1950 tornaram-se produtores na Ásia: a Indonésia, Bornéu e

Nova Guiné. Na América Latina, o Brasil, a Argentina, Colômbia, Peru e Bolívia. A antiga

União Soviética e também a África passaram a desenvolver a produção de petróleo e gás

natural em escala comercial (Barsa, 2000: 300-303).

economia mundial, no início do século XX. Coube a Winston Churchill, então primeiro ministro lorde do almirante da Marinha Real Britânica, decidir, em 1911, pela substituição do carvão inglês pelo petróleo do oriente médio como combustível dos navios britânicos – provavelmente o maior símbolo militar do principal império daquela época. “Entregar irreversivelmente à Marinha ao petróleo, era, na verdade, preparar-se para enfrentar um mar de problemas”, afirmou Churchil (Yergin, 1993)

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292

Figura7.2-Reservas de petróleo segundo regiões geográficas e blocos econômicos (bilhões b/d) -2000

Nota: reservas em 31/12/2000. Fonte: ANP: ANP, BP. Amaco apud Banco de Imagens da Petrobras (2003) Os avanços tecnológicos e a importância estratégica e econômica do gás natural e,

especialmente do petróleo, enquanto fonte energética e insumo para outras indústrias,

implicou na intensificação dos esforços envidados pelos países produtores e potencialmente

produtores no sentido de descobrir novas jazidas. Com efeito, concomitantemente ao

aumento da produção mundial de petróleo, verificado a partir da década de 1950, se deu o

aumento das reservas provadas, como exposto na Figura 7.2.

Uma breve análise Figura 7.2 acima joga luz sobre a grande vantagem comparativa

da região do Oriente Médio, face às demais regiões geográficas e blocos econômicos do

planeta. A região do Oriente Médio detém aproximadamente 2/3, ou seja, 65,3 %227 de

todas as reservas provadas de petróleo do mundo. Note-se que continentes como o Sul

Americano, Norte Americano, Europeu, Africano, Asiático e a macroregião pertencente à

antiga União Soviética, somadas, detém apenas 34,6% das reservas provadas.

227 Esta imensa vantagem comparativa na produção de petróleo por parte dos países produtores do oriente médio, explica, em grande medida, o porque desta região ter sido palco de tantos conflitos armados ao longo o século XX.

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293

Quadro 7.1- Países com a maior produção de petróleo do mundo -2002

Fonte: World Oil and gas Review 2002, apud Brasil Energia (2002, p.32) .

O Quadro 7.1 apresenta o ranking mundial dos países produtores de petróleo. Deve-

se destacar os seguintes pontos: a expressiva produção da Arábia Saudita, 1º lugar no

ranking mundial, e relativamente baixa produção do Iraque e demais países do Oriente

Médio, onde se concentram quase 2/3 das reservas mundiais. No que diz respeito aos países

latino-americanos merece destaque a Venezuela, 8º lugar no ranking, e o Brasil que ainda

apresenta uma produção tímida, ostentando a 15a posição, dada a potencialidade das bacias

sedimentares brasileira.

PAÍS PRODUÇÃO (milhões de barris/dia)

PAÍS PRODUÇÃO (milhões de barris/dia)

1-Arábia Saudita 8.528 9-Canadá 2.749

2- EUA 8.091 10- Emirados Árabes Unidos

2.550

3-Rússia 7.014 11- Reino Unido 2.540

4- Irã 3.775 12- Iraque 2.377

5- México 3.560 13- Nigéria 2.223

6-Noruega 3.408 14-Kuwait 1.838

7-China 3.297 15-Brasil 1.589

8-Venezuela 3.137 16-Argélia 1.486

TOTAL 58.16358.16358.16358.163

TOTAL MUNDIAL 75.22675.22675.22675.226

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294

2- A Organização dos Países Produtores de Petróleo OPEP

Em setembro de 1960, por iniciativa dos grandes produtores do Oriente Médio

(Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait) bem como da Venezuela, foi fundada a Organização

dos Países Produtores de Petróleo (OPEP). Em 1973, após a 4a guerra entre árabes e

israelenses, a OPEP decidiu reduzir as quotas de produção, embargar exportações para os

EUA e Europa, o que triplicou o preço do óleo crú (Barsa, 2000:298-299). Este fato

mostrou o quanto o ocidente era dependente do óleo do oriente médio.

Desde então, os aumentos sucessivos de preços determinados pela OPEP levaram os

países importadores a uma revisão de sua política energética, como controle vigoroso de

consumo, utilização de fontes alternativas de energia e, quando possível, como foi o caso do

Brasil, incremento da exploração de suas jazidas228.

Em meados da década de 1990229 a OPEP contava com 12 membros. Além dos doze

membros originais filiaram-se ao organismo os seguintes países: Indonésia, Líbia, Qatar,

Argélia, Abu Dnabi, Nigéria, Equador e Gabão. Estes países juntos controlavam dois terços

das reservas mundiais de petróleo (ibid.).

228 Cerca de 82% da produção de petróleo do Brasil é realizada na Bacia de Campos, em processos de exploração e produção offshore , em lâminas d’água superiores a 1000 m. 229 A política característica de um cartel, como é o caso da OPEP, pautou-se desde a sua fundação, por limitar a oferta de petróleo, elevando assim o preço do barril no mercado internacional. Visto que a demanda de petróleo é relativamente inelástica no curto e médio prazo, reduções na oferta repercutem de imediato nos preços internacionais do barril, aumentando assim a margem de lucro de países e empresas produtoras.

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295

3 - A indústria de Petróleo no Brasil – Histórico

As primeiras atividades envolvendo o petróleo no Brasil começam na Bahia, onde,

no ano de 1858, o decreto230 nº 2266 assinado pelo Marquês de Olinda concede a José

Barros Pimentel o direito de extrair material betuminoso para a fabricação de querosene de

iluminação em terreno às margens do Rio Marau, na província da Bahia (Almanaque Terra,

2003:1-3)

Quadro 7.2- Evolução da indústria petrolífera no Brasil, marcos regulátórios –1892/1936

Primeira Fase: 1892-1936

Com as explorações sob o regime de livre iniciativa. Neste período, a primeira sondagem profunda foi realizada entre 1892 e 1896 no Município de Bofete, no Estado de São Paulo;

Segunda Fase: 1938 -1953

Nacionalização das riquezas do subsolo brasileiro pelo Governo Federal e a criação do Conselho Nacional do Petróleo, em 1938

Terceira Fase:1953 a 1974 - Substituição de Importações

Estabelecimento do monopólio estatal, durante o Governo do Presidente Getúlio Vargas que, a 3 de outubro de 1953, promulgou a Lei 2004, criando a Petrobrás. Desde então o processo de extração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás no país passaram a ser monopólio pela PETROBRAS.

1974 Quarta Fase Início da produção de petróleo na Bacia de Campos

Quinta Fase: 1974 -1989

Novos procedimentos por parte da Petrobras: no início da década de 1980 a Petrobras adota um novo modelo que passa a priorizar a nacionalização de tecnologia e de fornecimento de bens e serviços para a indústria petrolífera no país

Sexta Fase: 1990 Início dos anos 1990, a Petrobras se adapta aos contornos da nova política industrial: Com o processo de abertura comercial e financeira, a Petrobras dá preferência aos fornecedores nacionais.

Sétima Fase: 1997 Flexibilização do monopólio do petróleo conforme a Lei 9478, de 6 de agosto de 1997. Ingresso de empresas estrangeiras no setor petróleo e gás natural, nas diversas fases do processo que envolve a exploração, desenvolvimento, e produção e transporte. Petrobras se lança no mercado como empresa do ramo de energia, em contraposição ao conceito anterior de empresa petrolífera.

Fonte: adaptado do Almanaque Terra (2003:1-3).

230 Ver a este respeito a obra “Comentários à Lei do Petróleo” de Menezzello (2000).

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296

Em 29 de julho de 1938, já sob a Jurisdição do recém-criado Conselho Nacional de

Petróleo - CNP, é iniciada a perfuração do poço CNPM-163, em Lobato, município Baiano,

que viria a ser o descobridor de petróleo no Brasil. Apesar de o poço ter sido considerado

antieconômico foi de importância fundamental para o desenvolvimento da atividade

petrolífera no estado da Bahia. A partir dos resultados deste poço há uma grande

concentração de esforços na Bacia do Recôncavo, resultando na descoberta do primeiro

reservatório comercial de petróleo do país, o Campo de Candeias, em 1941 (ibid.).

No dia 3 de outubro de 1953 é sancionada a Lei 2.004, que estabelece o monopólio

da União Federal sobre as atividades integrantes da indústria do petróleo, que compreende:

(i) pesquisa e lavra de jazidas de petróleo e outros hidrocarbonetos fluidos e gases raros

existentes no território nacional; (ii) refinação de petróleo nacional ou estrangeiro; (iii)

transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional, ou derivados de petróleo

produzidos no país; (iv) transporte por meio de dutos, de petróleo bruto e seus derivados,

assim como de gases raros de qualquer origem (Petrobras, 2003). Não obstante, a lei 2004

estabelece, também, que a União Federal está autorizada a constituir a Petróleo Brasileiro

S.A – Petrobras, como empresa estatal de petróleo para a execução do monopólio e de

quaisquer atividades correlatas ou afins àquelas monopolizadas. A Petrobras é então

constituída em 12 de março de 1954, durante a 82a Sessão Extraordinária do Conselho

Nacional do Petróleo (CNP). Em 2 de abril de 1954 o Governo Federal aprova a decisão

como o Decreto nº 35.308 (ibid.).

Devido a importância estratégica do petróleo muitos países da América do Sul, do

Oriente Médio, da Ásia e da África abdicaram do regime de concessão de áreas de

exploração a empresas multinacionais, que pouco deixavam para os países produtores.

Países como o México, Brasil, Venezuela e os do Oriente Médio adotaram um novo regime

que se baseou na estatização das atividades essenciais relacionadas à indústria do petróleo.

O início da década de 1950 corresponde ao período em que se intensifica o processo

de substituição de importações no Brasil. A criação da Petrobras faz parte do plano do

Governo de consolidar as indústrias de base231, visando a complementação do parque

industrial nacional. A implementação da indústria automobilística no Governo Juscelino

231 As indústrias de base correspondem às indústrias que produzem insumos intermediários como cimento, aço, petróleo e derivados. São assim denominadas, pelo fato de seus produtos serem utilizados como insumo no processo produtivo das demais indústrias.

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Kubtscheck (1956-1961) e o avanço do processo de industrialização que se segue aumenta

de forma substancial o consumo de petróleo e derivados no Brasil reforçando a importância

estratégica da Petrobras no que tange ao desenvolvimento econômico232 do país.

Tendo sido pioneira na formação da indústria petrolífera no Brasil, a Petrobras

enfrenta restrições estruturais233 importantes como a falta de equipamentos e de tecnologia.

A estruturação da indústria petrolífera no país segue então o modelo de substituição de

importações, de modo que as metas que se buscavam atingir naquele período, eram as de se

obter, por meio de empresas sediadas no Brasil (nacionais e estrangeiras), crescentes

volumes de insumos, maquinários, equipamentos e tecnologia que deveriam ser utilizados

na indústria petrolífera (Petrobras, 2003).

No início da década de 1980 a Petrobras adota um novo modelo que passa a

priorizar a nacionalização de tecnologia e de fornecimento de bens e serviços para a

indústria petrolífera no país. Neste sentido, além da substituição de importação de itens

prioritários este novo sistema, denominado de “Sistema de Nacionalização”, passa a buscar

fornecedores alternativos e uma maior autonomia de decisão da empresa nos aspectos

tecnológico e industrial (Ibid.).

Com o avanço da indústria de petróleo no país a demanda por materiais altamente

sofisticados é crescente. Isto se dá pelo fato de a exploração e produção de petróleo e gás

natural ter se concentrado no mar234, muito mais do que em terra, em particular após as

descobertas de petróleo na Bacia de Campos- RJ, a partir de meados de 1970.

No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, os formuladores de política,

empresários e economistas profissionais chegam ao consenso de que o processo de

substituição de importações teria se esgotado enquanto mecanismo dinamizador da

economia nacional. Percebe-se então que, face ao avanço do processo de globalização, as

empresas brasileiras estavam perdendo oportunidades no mercado internacional devido à

falta de competitividade da maior parte das indústrias. Com efeito, havia um razoável

consenso no meio político e acadêmico de que país deveria sofrer reformas políticas

232 Como registrado, a indústria do petróleo no Brasil formou-se com base no monopólio exercido pela Petrobras. 233 Nos anos 1950 e 1960, com o início das atividades do setor petróleo no país, a Petrobras deu início à construção das primeiras refinarias (Petrobras 2003).

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orientadas ao mercado, que privilegiassem uma nova política industrial, com intuito de

aumentar respectivamente a competitividade e a inserção das empresas no mercado

internacional (Baumann, 1999:13; Lacerda et. al., 2002).

Neste sentido, desenhava-se, no início dos anos 1990, o novo contorno da política

industrial235 a qual é “explicitada na Exposição de Motivos da Media Provisória 158,

publicada em 15 de março de 1990” (Lacerda et al., 2002:191). O objetivo central da nova

política industrial, apontado no documento, era “o aumento da eficiência na produção e

comercialização de bens e serviços, com base na modernização e reestruturação da

indústria” (ibid.).

A Petrobras assim como outras empresas brasileiras, se inserem na nova política

industrial e de comércio exterior que contempla as seguintes estratégias, segundo Guimarães

(1995), apud Lacerda et. al (2002:190-191):

(i) Redução progressiva dos níveis de proteção tarifária; eliminação da distribuição

indiscriminada e não-transparente de incentivos e subsídios; e fortalecimento dos

mecanismos de concorrência. (ii) Reestruturação competitiva da indústria mediante adoção

de mecanismos de coordenação, de instrumentos de apoio creditício e de fortalecimento da

infra-estrutura tecnológica. (iii) Fortalecimento de segmentos potencialmente competitivos e

desenvolvimento de novos setores, por meio de maior especialização da produção. (iv)

Exposição da indústria à competição internacional, visando maior inserção no mercado

externo, melhora da qualidade e preço no mercado interno, e aumento em setores

oligopolizados. (v) Capacitação tecnológica da empresa nacional, através de proteção

tarifária seletiva às indústrias de tecnologia de ponta e do apoio à difusão das inovações nos

demais setores.

A nova política industrial possibilitou avanços importantes para a indústria

petrolífera brasileira, tendo à frente a Petrobras como empresa líder. O mercado interno, por

sua vez, já atendia a 94% das necessidades da Petrobras no início dos anos 1990 (Petrobras,

2000). Não obstante, a produção de petróleo no país passou a quebrar recordes sucessivos

234 A exploração e produção de petróleo e gás natural em lâminas d’àgua cada vez mais profundas exigia recursos tecnológicos que, muitas das vezes, não estavam disponíveis sequer em países desenvolvidos (Petrobras, 2003 a.). 235 “As bases da nova política estavam fortemente focadas na questão da competitividade, em contraponto às políticas adotadas anteriormente, que objetivavam a expansão da capacidade produtiva mediante o incentivo à substituição de importações” (Lacerda et al., 2002:190).

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anualmente, em especial devido às continuas descobertas que ocorreram em águas

profundas e ultraprofundas, a partir de meados dos anos 1970. Desde então, a produção

assim como as reservas de petróleo e gás no Brasil, sob controle da estatal Petrobras, seriam

predominantemente offshore.

O ano de 1997 representa um novo marco na indústria petrolífera do país. A

implementação da Lei Nº 9.478, de 06-08-1997, dispõe sobre a política energética nacional,

as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política

Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências (Menezeello.

2000:59). A Lei do Petróleo, como ficou conhecida, parte da concepção de que, no Brasil, a

indústria do petróleo e gás natural atingira a maturidade e, portanto, poderia ser aberta à

concorrência de modo a possibilitar novos investimentos e permitir uma interação

equilibrada entre o Estado e a iniciativa privada (Ibid.). A nova Lei cria ainda a Agência

Nacional do Petróleo, responsável pela regulação das atividades inerentes ao petróleo, gás

natural e derivados.

A questão marcante da nova Lei diz respeito à quebra do monopólio da Petrobras nos

processos de exploração, desenvolvimento, produção e transporte de óleo e gás. A quebra do

monopólio da estatal possibilita então o ingresso de empresas estrangeiras no país,

determinando mudanças236 estruturais e institucionais na indústria petrolífera nacional.

236 A nova realidade que se impõe à indústria petrolífera nacional abre novas oportunidades e, também, desafios, para as empresas nacionais e estrangeiras que disputam este promissor mercado no Brasil, conforme discussão apresetada nesta tese.