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A natureza domada, objetiva apresentar a vida e a obra do consagrado paisagista/pintor, destacando seus trabalhos paisagísticos em Brasília, além de sua relação multidisciplinar com a pintura, botânica e tantas outras áreas do conhecimento em que atuava.

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Page 1: Roberto Burle Marxa natureza domada
Page 2: Roberto Burle Marxa natureza domada

Filipe Valentim Afonso

Surama Batista Vieira da Costa

Roberto Burle Marx a natureza domada

Page 3: Roberto Burle Marxa natureza domada

Resumo

A pesquisa Roberto Burle Marx: A natureza domada, objetiva apresentar a vida e

a obra do consagrado paisagista/pintor, destacando seus trabalhos paisagísticos

em Brasília, além de sua relação multidisciplinar com a pintura, botânica e tantas

outras áreas do conhecimento em que atuava. Através de uma pesquisa

bibliográfica notou-se que na capital do país ele sintetizou suas características

modernas, como o uso recorrente de cores, plantas nativas e água, apenas em

obras pontuais que dialogavam harmonicamente com a arquitetura proposta por

Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. No entanto, percebeu-se que apesar do

importante legado seus jardins têm sofrido com o descaso e incompreensão o

que os leva ao abandono.

Palavras-chave: Marx, jardim, paisagista, pintor

Abstract

The research Roberto Burle Marx: the tamed nature, aims to point the life and

work of renowned landscape artist / painter, emphasizing his landscaping works in

Brasilia as well as his multidisciplinary relationship with painting, botany and many

others areas of knowledge where he operated. Through a literature search was

noted that in the capital he summarized his modern features, such as the recurrent

use of colors, native plants and water, only in punctual works that supplemented

harmoniously the architecture proposed by Lúcio Costa and Oscar Niemeyer.

However, it was realize that despite the important legacy of his gardens they have

suffered from neglect and misunderstanding which led to abandonment.

Key words: Marx, garden, landscape artist, painterAterro do Flamengo, Rio de Janeiro

Page 4: Roberto Burle Marxa natureza domada

Introdução

Este trabalho objetiva apresentar o versátil artista Roberto Burle Marx,

destacando suas obras paisagísticas em Brasília, cuja construção completa 50 anos.

Através da pesquisa bibliográfica procurou-se compreender o personagem em

questão, sua vida, sua obra, suas peculiaridades, e lançar, assim, um olhar alternativo

sobre o paisagismo que ele criou para a capital do país. Inicialmente fez-se uma

seleção de imagens de suas obras e em seguida, coletaram-se textos de diversas

autorias e fontes para registrar as principais idéias que fundamentam este artigo.

Burle Marx, nascido em 1909, desde criança demonstrava interesse por

plantas e artes sendo constantemente incentivado por seus pais. Em 1928 viaja à

Alemanha onde, numa visita ao Jardim Botânico de Dahlen, descobriu a beleza das

plantas brasileiras. De volta ao Brasil passa a cultivar e catalogar plantas no quintal

de sua casa e consolida seus estudos de pintura.

A pedido de seu vizinho e amigo, Lúcio Costa, Marx projeta seu primeiro

jardim usando plantas típicas tropicais e uma estética revolucionária que remete à

pintura abstrata. Desde então se dedica a um paisagismo relacionado com pintura,

criando uma nova forma de pensar o jardim, influenciando a posterioridade no âmbito

nacional e internacional.

Roberto Burle Marx

Page 5: Roberto Burle Marxa natureza domada

Roberto Burle Marx: a natureza domada

O paisagista Roberto Burle Marx, que também atuou na pintura,

botânica, cenografia, arquitetura, escultura e música, conseguiu relacionar todas

suas expressões artísticas com o jardim. Logo, as imagens de suas obras se

constituíram em elementos importantes para a elaboração do trabalho.

Nos projetos de Burle Marx, os jardins obra-de-arte, os murais e as esculturas

integram o conjunto urbanístico e arquitetônico em um só texto. A seriedade no

conhecimento dos espécimes e pesquisa constante da técnica permitiu que o artista

Burle Marx mudasse a identidade dos nossos jardins e criasse um jardim

brasileiro.(CRUZ, 2006)

Dessa forma, fica claro o caráter inovador do jardim e das ferramentas

que utilizava para sua construção, as quais segundo Oliveira (2000) “são um

apurado poder de observação, uma ampla abertura ao desconhecido, uma

imperativa necessidade de colocar seu jardim como obra de arte [...].” A

interdisciplinaridade de Burle Marx permitiu a criação de um jardim com caráter

pictórico, que conforme Kato (2008) trata-se de um pensamento visual sintonizado

com as criações em tela. Kato, no mesmo artigo, ainda afirma que apreciar esse

jardim é perceber seus contrastes, texturas e volumes.

Burle Marx ainda realizou pesquisas científicas no campo da botânica

onde descobriu diversas espécies nomeando pelo menos 14, além de ter criado um

novo gênero, o Burlemarxia spiralis. A ligação com a botânica e a flora brasileira

também se deu na defesa à preservação ambiental. Marx aproveitava todas as

oportunidades para alertar sobre o desmatamento: “[...] a cada nova entrevista,

cada nova premiação, voltava à carga, cobrando ora o combate ao desmatamento,

ora a criação de mais áreas verdes nas cidades, ora a conservação de sua própria

obra”, conforme explica Jelin (2009).

Sítio Burle Marx, Rio de Janeiro

Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro

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Burle Marx e Brasília

O plano piloto de Lúcio Costa para Brasília foi criticado por Burle Marx, pois

não possuía um projeto paisagístico em grande escala. Apenas alguns projetos de

praças e jardins para prédios públicos foram realizados por Marx após a construção da

cidade. Nessas obras, ele pensava na efemeridade dos jardins, levando em

consideração as mudanças imprevisíveis da natureza e as estações do ano, dessa

forma soube adaptá-las a peculiaridades, mais especificamente, ao clima seco do

cerrado.

Nesses jardins procura compensar o clima seco com a vasta utilização da água,

desenvolvendo canteiros semelhantes a ilhas de vegetação [...] Além disso, o uso de

cascatas e lagos propiciam explorar os reflexos das linhas arquitetônicas de Oscar

Niemeyer, aumentando a sensação volumétrica nos terrenos planos da cidade, como

vemos na combinação de arcos e espelhos d’água do jardim do edifício do Ministério das

Relações Exteriores. (SIQUEIRA, 2004, p. 92)

Além dos jardins do Ministério das Relações Exteriores ou Palácio do

Itamaraty (1965) também são de sua autoria a Praça dos Cristais ou Praça Cívica

(1970) que possui formas geométricas dinâmicas remetendo a cristais anteriormente

encontrados na região. Nesta praça foram utilizados 53 espécimes incluindo o buriti,

espécie de palmeira típica, que consolidava seu caráter modernista. Em 2007, iniciou-

se um processo de revitalização do projeto original da praça, tornando-a um exemplo de

preservação.

No Palácio da Justiça, Burle Marx sintetiza em seu jardim as características

de adequação ao clima de Brasília, como o uso da água. Já os jardins internos e

externos do Teatro Nacional integram-se harmonicamente com a arquitetura de

Niemeyer e os painéis de Athos Bulcão. Outras obras em Brasília são: Os jardins

externos do Palácio do Jaburu e do Tribunal de Contas da União.

Palácio do Itamaraty

Praça dos Cristais

Palácio da Justiça

Page 7: Roberto Burle Marxa natureza domada

Apesar do valor de seus jardins, alguns deles, no decorrer dos anos,

têm sofrido com o falta de manutenção e com as modificações realizadas sem

nenhum critério. Reiterando a necessidade de cuidado com as obras Dourado

(apud JELIN, 2009) ensina que "paisagismo é arte efêmera. Se você não tiver um

cuidado sistemático, desaparece".

O ato de conservar os jardins de Burle Marx depara-se com

dificuldades, por que o mesmo pouco escreveu sobre eles. Outro obstáculo é a

ausência de conhecimento da população acerca da autoria dos jardins e da

importância deles para o paisagismo moderno. A Praça das Fontes, localizada no

Parque da Cidade, é um exemplo do descaso, pois o projeto original encontra-se

totalmente descaracterizado.

Considerações finais

Conclui-se que a grande inovação, a nível nacional e internacional, de

Burle Marx foi combinar artes e ciências e depois aplicá-las em uma paisagem sui

generis, capaz de emocionar o espectador com suas cores e texturas. Além disso,

quebrou antigos padrões estéticos de conceber o jardim. As fontes italianas, os

caminhos sinuosos ingleses e a simetria francesa deram lugar a plantas, formas e

cores inusitadas. Esses elementos singulares alcançaram vários estados e países,

mas em Brasília todos eles foram sintetizados. Deste modo, fica evidente a

importância da preservação do legado de Burle Marx na capital do país.

Teatro Nacional

Praça das Fontes

Page 8: Roberto Burle Marxa natureza domada

Referências

GIL, Antonio C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

CRUZ, José Armênio Brito. O jardim paisagem. Hoje ontem, São Paulo, n. 4, jun 2006.

Disponível em:<http://www.vitruvius.com.br/documento/hojeontem/hojeontem_04.asp>

Acesso em: 02 abril 2010

JELIN, Daniel. Abandono e incompreensão ameaçam legado de Burle Marx: No centenário

de nascimento do célebre paisagista, especialistas cobram atenção a sua obra. Estadão,

São Paulo, 03 agosto 2009. Disponível em:

<http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,abandono-e-incompreensao-ameacam-

legado-de-burle-marx,413001,0.htm>

Acesso em: 02 abril 2010

KATO, Gisele. Muito Além dos Jardins. Revista Bravo!, dezembro 2008.

Disponível em:

<http://bravonline.abril.com.br/conteudo/artesplasticas/artesplasticasmateria_407123.shtml?

pagina=1>

Acesso em: 03 abril 2010

OLIVEIRA, Ana Rosa de. A construção formal do jardim em Roberto Burle Marx.

Arquitextos, São Paulo, 01.002, Vitruvius, jul 2000.

Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.002/1000>.

Acesso em: 02 abril 2010

SIQUEIRA, Vera Beatriz. Espaços da arte brasileira/ Burle Marx. 1 ed. São Paulo: Cosac

Naify, 2004.