riscos ao capital humano na atividade de piscicultura

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. RISCOS AO CAPITAL HUMANO NA ATIVIDADE DE PISCICULTURA EM TANQUES-REDE

Jaqueline Chaves da Silva1 Luciano Fernandes Monteiro2 Marconi Freitas da Costa3

RESUMO O presente artigo teve como objetivo fazer um estudo junto s pisciculturas no entorno do lago Moxot, na bacia do So Francisco-BA, e identificar quais os riscos que comprometem a sade e segurana dos trabalhadores. Desta forma, a metodologia utilizada nesse artigo foi desenvolvida em trs etapas: (1) coleta de dados secundrios; (2) coleta dos dados primrios e; (3) anlise dos dados. O universo abordado no presente estudo foram os empreendimentos de pisciculturas existentes no entorno do lago Moxot, que totalizam cerca de 130 trabalhadores diretos e indiretos, na ocasio o tipo de amostra utilizada no estudo foi a noprobabilstica. Com os resultados identificados na pesquisa pode-se perceber que a atividade apresenta muita imaturidade relacionada sade e segurana do trabalho, porm os envolvidos tm conscincia de que devem adotar medidas que possam prevenir problemas futuros. Portanto, as condies de conforto e segurana dos ambientes de trabalho nas pisciculturas devem receber a mesma importncia que atribuda aos cuidados tomados com outras empresas, tornando-se tambm uma prioridade na busca da qualidade dos produtos e bem estar dos trabalhadores.

Graduada em Administrao pela Faculdade Sete de Setembro. E-mail: [email protected] 2 Doutorando em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande. Professor do Curso de Administrao da Faculdade Sete de Setembro. E-mail: [email protected] 3 Mestre em Engenharia de Produo pela Universidade Federal de Pernambuco. Coordenador e Professor do Curso de Administrao da Universidade Federal do Piau. E-mail: [email protected]

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. Palavras-Chave: Piscicultura, Riscos, Capital Humano, Sade e Segurana do Trabalho.

1. INTRODUOCom a crescente evoluo das tcnicas de produo em busca da qualidade e acompanhamento da tecnologia, o homem se tornou mquina para conseguir uma melhor produtividade e perfeio das atividades que executa. Com isso as organizaes perceberam que devem investir na capacitao e especializao dos seus colaboradores, entendendo ser essa uma forma de investimento a partir do momento que reconhecem que o seu capital humano uma das principais fontes da produo. Atualmente, uma situao mundial a necessidade que tm as organizaes de trabalho, no importando se do setor pblico ou privado, de reformularem suas estruturas e adotarem novas metodologias para o enfrentamento das questes vinculadas produo e qualidade dos servios prestados (GRIMALDI; SIMONDS, 1975). A proteo e a promoo da sade e da segurana nos postos de trabalho, aos poucos, vm ganhando espao nas agendas de discusses dos empresrios (HALE; GLENDON, 1997). A atividade produtiva pode deixar o homem exposto a diversos riscos de doenas e acidentes, que sem o monitoramento e controle podem vir causar a invalidez e at mesmo a morte. Outros agentes que afetam o bem-estar e a autoestima so: o analfabetismo, o alcoolismo, o tabagismo, a habitao inadequada, entre outras. Conforme Milkovich e Boudreau (2000) os riscos mais comuns para a sade humana so os acidentes fsicos e biolgicos, a exposio a substncias e s condies estressantes de trabalho. As causas dos acidentes e das doenas podem estar na funo de si, nas condies de trabalho ou no comportamento do empregado. Para evitar a ocorrncia desses problemas a melhor maneira investir na segurana dos colaboradores atravs da preveno, desenvolvendo aes de antecipao, reconhecimento, avaliao e controle dos riscos existentes no ambiente de trabalho. Conforme Tavares, (2005) as medidas de segurana no devem solucionar problemas de forma no sistemtica, isto , medida que surgem 65

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. os acidentes, preciso que sejam metodicamente programadas e integradas na gesto da empresa. O processo de trabalho vem apresentando alteraes ao longo dos anos, tanto no seu aspecto tcnico, como nas relaes entre o empregador e o trabalhador, surgindo com isto, novas definies e condutas que deram e daro origem s discusses, conceitos e normas (MARTINS, 1999). Assim como qualquer outro tipo de atividade, as atividades rurais trazem riscos aos trabalhadores, devido principalmente a falta de recurso para investir na preveno, por ser, na maioria das vezes, de forma primria e artesanal, porm j esto estabelecidas na legislao atravs da Norma Regulamentadora NR. 31 relativa segurana do trabalho na agricultura, pecuria, silvicultura, explorao florestal e aqicultura. De acordo com Tavares (2005) todo empregador rural, quer seja ele pequeno, mdio ou grande, que desenvolva atividade que no seja com lavoura de subsistncia ou economia familiar, deve cumprir e fazer cumprir esta NR que se aplica a quaisquer atividades relacionada com atividades de produo na agropecuria onde so verificadas as formas de relaes de trabalho e emprego e o local das atividades. A piscicultura, assim como toda atividade rural apresenta riscos aos trabalhadores que nela atuam, sendo preciso reconhecer e identificar esses riscos para que possam ser controlados e avaliados. Nesse sentido, este trabalho prope um estudo quantitativo e qualitativo sobre os riscos a que esto expostos os trabalhadores da piscicultura em projetos localizados no entorno do lago Moxot. Assim como qualquer outra atividade de produo, a piscicultura vem se desenvolvendo e com isso exige novas tecnologias e especializao de mo-deobra. Segundo Kubitza e Lopes (2002, p.19), o cultivo de peixes no sistema intensivo em tanques-rede e gaiolas uma modalidade de piscicultura bastante difundida em todo o mundo, e que vem, recentemente, sendo praticada de forma mais intensiva em nosso pas. A piscicultura em tanques-rede uma atividade rentvel, apresenta baixo custo e maior rapidez de implantao, quando comparado aos outros sistemas de

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. cultivos e surgiu com o intuito de suprir a demanda de pescado em virtude da diminuio dos estoques naturais no meio ambiente. desenvolvida nos corpos hdricos, geralmente, com altas profundidades e totalmente exposta aos raios solares, assim como na pesca extrativa e nas atividades rurais, na piscicultura, os trabalhadores esto expostos a riscos de natureza fsica, qumica, biolgica e ergonmica. Uma preocupao constante so os problemas de postura, ou seja, ergonmicos, a exposio ao sol e principalmente os riscos de afogamentos os quais so inicialmente identificados na atividade, por ser uma atividade de produo rural e aqutica. Acredita-se que com o levantamento de tais questionamentos, focalizando suas origens e causas, bem como as medidas de controle, pode-se dar o primeiro passo para a busca de solues ou caminhos atravs dos quais os piscicultores possam se proteger e precaver para evitar que o seu trabalho lhes traga problemas futuros de sade. Nesse contexto, pode-se questionar: quais os riscos sade e integridade fsica que os trabalhadores esto expostos na atividade de piscicultura em tanques-rede?

2. REVISO DA LITERATURA 2.1 O capital humano na produoA produo de uma forma geral est ligada quantidade de insumos utilizados na produo e a quantidade de produtos obtidos, onde recentemente um novo fator de produo est sendo levado em considerao, caracterizado como contribuio que o capital humano. Esse novo componente tem uma grande contribuio na produtividade e eficincia da empresa, trazendo uma vantagem competitiva na otimizao do uso dos recursos que quando reconhecido pela organizao, por proporcionar grandes benefcios, tem-se melhorias na qualidade dos recursos humanos, ao aplicar recursos para investimentos nesta rea. Hackman e Oldham apud Morin (2001, p. 9) afirmam que as interaes, caractersticas de um emprego e as diferenas individuais influenciam a motivao, a satisfao e a produtividade dos trabalhadores.

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. A teoria do capital humano trata o conhecimento e as capacidades tcnicas dos indivduos como uma forma de capital, uma vez que estes atributos so capazes de gerar benefcios futuros (LIMA; SOTO-URBINA, 2002). O capital humano pode ser considerado como um novo fato na organizao, pois muitas vezes depende do mesmo para que possa conseguir sua melhor produtividade gerando assim melhores lucros. As empresas necessitam perceber que os seres humanos em seu trabalho no so apenas pessoas movimentando ativos eles prprios so os ativos que podem ser valorizados, medidos e desenvolvidos como qualquer outro ativo da cooperao. [...] os sistemas criados para recrut-los, recompens-los e desenvolvlos, formam uma parte principal do valor de qualquer empresa tanto quanto ou mais que os outros ativos, como dinheiro, terras, fbricas, equipamentos e propriedade intelectual (PONCHIROLLI, 2000). As organizaes tm objetivos definidos e preparam suas estruturas para ating-los, estabelecendo hierarquias, normas e procedimentos, tipos de controle, seleo, treinamento e avaliaes de desempenho (GRIMALDI; SIMONDS, 1975). Para que as mesmas possam atingir seus objetivos elas precisam estar com seus recursos muito bem definidos e estruturados, e principalmente, seus colaboradores devem estar compromissados e engajados em atingir suas metas com eficcia e eficincia. Com tudo isso o homem fica submetido a cumprir normas e metodologias, para executar suas tarefas rotineiras j estabelecidas na escala de produo. Segundo Grimaldi e Simonds (1975) a natureza do trabalho a ser executado e o grau de risco vo exigir do empregado o desenvolvimento de habilidades particulares como prontido para iniciativas, em caso de emergncia, raciocnio rpido para uso de alternativas na soluo de problemas, concentrao para o domnio da situao e criatividade. Existe uma grande variedade de atividades em uma organizao voltadas para fortalecer a qualidade de relacionamentos entre empresa e empregados. Alguns so programas formais, como os procedimentos para resoluo de conflitos ou de conscientizao de sade e segurana (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000)

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. Com o crescimento das cidades, desenvolvimento urbano, aumento das necessidades da populao, das indstrias, postos de trabalhos e de trabalhadores, expandiu-se tambm as necessidades de melhores condies de trabalho. Com isso as empresas comearam a ser cobradas pela sociedade e Estado, e a partir da comearam a cumprir normas e leis que protegessem os seus trabalhadores de problemas de sade e reduo de acidentes que at ento estavam com uma incgnita do quantitativo. Segundo Hale e Glendom (1997) ao longo dos anos, o processo de trabalho, principalmente nas indstrias, tem sofrido mudanas muito grandes que acabaram por afetar sensivelmente o homem. A maioria das leis trabalhistas eram repressivas, e precisavam ser reformuladas para tentar diminuir o conflito entre assalariados e empregadores, surge ento, em 1 de maio de 1943, a Consolidao das Leis Trabalhistas CLT, e em 22 de dezembro de 1977, surge a Lei N. 6.514, que alterou o Captulo V, dedicando 47 artigos proteo do trabalhador (OLIVEIRA, 2007). Apesar do grande esforo das organizaes em reduzir os acidentes e as doenas ocupacionais, as ocorrncias ainda continuam acontecendo nas atividades laborais durante o desenvolvimento do ciclo produtivo nas empresas. Este desafio, cada vez mais estudado e perseguido pelas instituies, est diretamente ligado a fatores de falhas humanas e que requerem, cada vez mais, conscientizao, treinamentos e uma definida e eficaz poltica de segurana do trabalho. Os atos inseguros, que ocorrem de maneira consciente, inconsciente e circunstancial, destacam-se como os mais freqentes nos registros estatsticos das empresas, embora haja variaes facilmente visveis de uma empresa para outra (GRIMALDI; SIMONDS, 1975). Uma questo que se torna preocupante nas organizaes a questo cultural dos colaboradores principalmente nas atividades rurais, onde as pessoas j esto acostumadas s suas crenas, mitos, valores e afetos, sendo um pouco complicado adotar a poltica de segurana. importante ressaltar que no fcil eliminar crenas profundamente arraigadas. A interveno para modificar crenas faz parte do processo de desenvolvimento organizacional e feita por meio de trs instrumentos informao, 69

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. opinio de autoridades e exemplo de liderana (GRIMALDI; SIMONDS, 1975). Segundo Hale e Glendom (1997) pode-se dizer que da segurana e sade dos empregados que vai depender a produtividade, a qualidade do produto e os custos das empresas. Segundo Oliveira (2007), compete ao gestor tomar todas as providncias cabveis ao estabelecimento e as medidas necessrias proteo dos trabalhadores, assim dever estabelecer, em carter preventivo, desde as etapas de planejamento das instalaes e dos processos, uma srie de procedimentos no sentido de promover essa preveno e antecipar as perspectivas de um trabalho plenamente seguro, j que inerente atividade laboral a existncia de oportunidades de risco. A organizao dever tomar algumas providncias como: proceder identificao ou reconhecimento dos riscos; analisar os riscos (segundo sua natureza, de forma qualitativa e/ou quantitativa) e a exposio dos trabalhadores a estes (por meio de monitoramento contnuo); e, por fim, implantar medidas de controle e verificar a eficcia dessas medidas. As organizaes precisam encarar as pessoas como seu principal capital oferecendo a elas motivao, segurana, incentivos e principalmente respeito ao adotar uma poltica de sade e segurana do trabalho. Com todos esses requisitos a empresa s tem a ganhar, pois ter uma melhor produtividade e evitar problemas futuros principalmente com questes trabalhistas.

2.2 Sade e segurana do trabalhoDas primeiras mobilizaes de trabalhadores ainda no tempo da escravatura passando pelas iniciativas mdicas de sade ocupacional, at a publicao das Normas Regulamentadoras - NR, a segurana do trabalho trilhou um longo caminho [...]. O primeiro grande acidente de trabalho registrado oficialmente no Brasil aconteceu em Minas Gerais por volta de 1765, quando um dique erguido no leito de um rio cedeu e matou sessenta escravos que trabalhavam na extrao de pedras preciosas (OLIVEIRA, 2007). A segurana e o bem-estar dos empregados so uma preocupao antiga dos empregadores. No sculo passado as questes de segurana eram mais claras 70

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. [...] hoje em dia, o bem-estar dos empregados vai alm da preservao de sua integridade fsica. Entretanto, certas aes de cuidados ou atos irresponsveis de um empregado ou de seu chefe podem colocar em risco a sade, segurana ou o conforto de outra pessoa (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000). De acordo com Tavares (2005, p. 55), segurana do trabalho o conjunto de recursos e tcnicas aplicadas, preventiva ou corretivamente, para proteger os trabalhadores dos riscos de acidentes implicados em um processo de trabalho ou na realizao de uma tarefa. A segurana do trabalho corresponde a um conjunto de medidas tcnicas, educacionais, mdicas e psicolgicas utilizadas para prevenir acidentes, quer eliminando as condies inseguras do ambiente, quer instruindo ou convencendo as pessoas sobre a implantao de prticas preventiva (STELMAN, 1978). Uma das definies de segurana do trabalho informa que uma estrutura desenvolvida pelo trinmio integrado, empregado, empresa e nao (representada a pelos rgos do governo), onde esse trinmio tem o objetivo de zelar e garantir a integridade fsica e mental de todos, buscando tambm eliminar todos os fatores negativos que distorcem um processo de trabalho e impedem que se cumpra o programado. Segundo Grimaldi e Simonds (1975), segurana caracterstica a ser buscada nas pessoas e nos meios ou elementos de um processo produtivo do qual resultar uma produo por meio de trabalho. Dessa forma, h necessidade de desenvolver estes e aqueles para que possam oferecer a segurana de cada um destes da organizao [...] cada qual ter, de forma bem definida, seu papel na formao do todo da segurana no meio ambiente de trabalho. O processo de trabalho vem apresentando alteraes ao longo dos anos, tanto no seu aspecto tcnico, como nas relaes entre o empregador e o trabalhador, surgindo com isto, novas definies e condutas que deram e daro origem s discusses, conceitos e normas (MARTINS, 1999). Segundo Oliveira (2007) de acordo com a legislao brasileira, obrigao das empresas adotarem medidas de preveno e controle de doenas ocupacionais e acidentes de trabalho, portanto, os empresrios, principalmente os das Micros e Pequenas Empresas (MPEs), devem procurar orientao tcnica especfica nas 71

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. delegacias regionais do trabalho ou empresas de consultoria, visando a esse atendimento. preciso que os empresrios sempre tenham uma viso prevencionista desde a construo ou instalao do estabelecimento, pois todo estabelecimento novo deve passar por uma vistoria do Ministrio do Trabalho e Emprego MTE, para que possam garantir que o local no ir prejudicar a integridade fsica dos trabalhadores, ou seja, promovendo a segurana necessria para que os mesmos possam desempenhar suas funes de forma despreocupada.

3. METODOLOGIAA pesquisa um processo investigativo metdico e disciplinado por meio do qual procuramos respostas para uma pergunta que foi previamente suscitada, de acordo com Gil (1999, p. 42) pode ser definida como um processo formal e sistemtico no desenvolvimento do mtodo cientfico, que tem como objetivo descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimento cientfico. Desta forma, a metodologia utilizada nesse artigo foi desenvolvida em trs etapas:

1 etapa: coleta de dados secundriosOs dados secundrios foram coletados atravs de anlise e reviso de fontes bibliogrficas, como livros, legislao, revistas, jornais, artigos, trabalhos acadmicos acerca do tema em estudo e estudos disponveis na internet. De acordo com Ruiz (2002) qualquer que seja o tema do trabalho cientfico, s poder ser devidamente discutido, analisado ou fundamentado se o autor se apoiar em conceitos ou teorias j consagradas e que estejam divulgadas em obras cientficas catalogadas.

2 etapa: coleta de dados primriosNesta etapa foi realizada uma busca de informaes, considerados dados primrios. Os principais mtodos de pesquisa de dados primrios so: a observao, 72

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. o levantamento com entrevista, a pesquisa qualitativa e quantitativa, e os experimentos. Para o levantamento das informaes necessrias foi realizada uma entrevista. Esse mtodo consiste no dilogo com o objetivo de apurar, de determinada fonte, de determinada pessoa ou informante, dados relevantes para a pesquisa em andamento, junto com a aplicao de formulrios, que tem a vantagem de poder ser aplicado simultaneamente a um grande nmero de informantes; seu anonimato pode representar uma segunda vantagem muito aprecivel sobre a entrevista (RUIZ, 2002). O formulrio de entrevista aplicado para o desenvolvimento deste estudo foi aplicado pelo entrevistador e sua estrutura foi com questes fechadas onde esse tipo de pergunta limita o entrevistado opo entre duas ou mais respostas apresentadas, das quais ele escolhe a que melhor descreve a sua opinio; e questes abertas, onde a pergunta no apresenta alternativa para a resposta, proporcionando ao respondente plena liberdade de resposta utilizando as suas prprias palavras possuindo uma justificativa e objetividade.

Seleo da amostraO que determina o tamanho da amostra so aspectos que englobam a quantidade de pessoas a serem entrevistadas, sexo, faixa etria, situao geogrfica, atividade realizada, etc. Segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 163) a amostra uma poro ou parcela, convenientemente selecionada do universo (populao), um subconjunto do universo. O universo abordado no presente estudo foram os empreendimentos das pisciculturas existentes no entorno do lago Moxot, que totalizam em 130 trabalhadores diretos e indiretos, na ocasio o tipo de amostra utilizada no estudo foi a no-probabilstica, pois o pesquisador pode, arbitrria ou conscientemente, decidir os elementos a serem includos na amostra (MALHOTRA, 2001, p. 305). A populao-alvo da pesquisa foi de 72% do universo correspondendo a 94 trabalhadores das pisciculturas existentes no lago Moxot.

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009.

3 Terceira etapa: anlise dos dadosA terceira etapa caracterizada pela verificao e anlise dos dados levantados, sendo essa etapa exploratria do estudo. Nessa fase so utilizados procedimentos estatsticos que possibilitem criar grficos, diagramas, tabelas e figuras que sintetizem as informaes obtidas. Surge a necessidade de apurar as informaes, analis-las e torn-las disponveis aos informantes para que estes manifestem suas reaes sobre a relevncia e a acuidade do que relatado. A tabulao foi feita atravs do programa Microsoft Excel 2003, disponvel em meio eletrnico, que possibilitou o tratamento dos dados numricos para a gerao de informaes representadas graficamente com a mensurao e anlise de cada grupo de questes em estudo. Segundo Lakatos e Marconi (2001, p.169), tabelas ou quadros um mtodo estatstico sistemtico, de representar os dados em colunas verticais ou fileiras horizontais que obedece classificao dos objetos ou materiais da pesquisa.

3.1 Local de execuoA pesquisa foi realizada nas pisciculturas implantadas no lago Moxot, bacia do So Francisco, que cobre uma rea de 9.300 hectares de rea inundada, propcios piscicultura em tanques-rede como mais uma alternativa de renda a qual compatvel aos usos mltiplos do reservatrio.

4. RESULTADOS E DISCUSSES 4.1 Anlise da execuo das atividadesNessa etapa esto explanadas as questes relacionadas execuo das atividades essenciais na piscicultura em tanques-rede, bem como a situao do local de trabalho. Com relao funo desempenhada foram colocadas alternativas das seguintes funes: Arraoador responsvel pela alimentao dos peixes; Classificador est inserido na atividade de classificao dos peixes, ou seja, 74

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. separando-os por tamanho e peso; Tcnico responsvel pela produo, orientando e acompanhando os funcionrios e o proprietrio; Proprietrio dono da piscicultura; e, Outros resposta aberta. No Grfico 1 pode-se ver que 80% dos entrevistados esto inseridos na categoria outros, isso porque a maioria faz parte de associaes. Eles enquadramse em todas as funes, pois so proprietrios, tcnicos acompanhando a produo, arraoadores e classificadores fazendo assim rodzio de funo, vale ressaltar que os mesmo so orientados por dois lderes.

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009.

Grfico 1 Funo desempenhada pelos entrevistadosFUNO DESEMPENHADA

11%

6% 2% 1%

Arraoador Classif icador Tcnico Proprietrio

80%

Outros

Fonte: Pesquisa de campo realizada no perodo de 10/10 a 05/11/2008.

Nesse caso a metodologia de trabalho dos mesmos se aplica aos princpios da administrao que de acordo com a Escola Sociotcnica, que so representadas por grupos semi-autnomos, suas idias mestras so: que os envolvidos planejam e organizam seu prprio trabalho; fazem revezamentos, ou seja, executam todas as tarefas; tem autonomia, pois tomam a decises de programaes, mtodos, pedidos, etc.; e as recompensas so grupais. Segundo Tavares (2005, p. 49), um grupo semi-autnomo uma equipe de trabalhadores que realiza cooperativamente as tarefas que lhe so designadas, com baixo nvel de detalhamento e sem que seus cargos sejam predefinidos. Dos entrevistados tambm esto includos os que fazem os servios gerais, manuteno das estruturas e vigia. Foi percebido tambm que alguns proprietrios tambm participam ativamente das etapas de manejo. No Grfico 2, est representado o regime de horrio de trabalho, onde 96% trabalham em regime integral e 4% meio expediente, essa pequena parcela caracterizada por alguns diaristas que somente desempenham atividades de classificao e despesca, quando necessrio, por exigir uma maior quantidade de pessoas. Geralmente esses manejos so realizados no perodo da manh. Grfico 2 Horrio de trabalhoHORRIO DE TRABALHO

4% Integral Meio expediente 96%

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009.

Fonte: Pesquisa de campo realizada no perodo de 10/10 a 05/11/2008.

As atividades rotineiras (arraoamento e limpeza) so iniciadas das 7:00 s 11:00 e das 14:00 s 17:00, porm quando se tem atividades programadas (despesca e classificao) geralmente se tem o horrio corrido, pois uma vez que se est manejando com o peixe necessrio que o servio seja realizado de forma mais rpida para atenuar os estresse causado ao cardume. O Grfico 3 mostra que dos entrevistados 62% tem um tempo de descanso de 1 a 2 horas e os demais tem a variao de horrio isso porque ao iniciar uma despesca ou classificao o trabalho deve ser executado com pouco tempo de pausa para que o tanque-rede que est sendo manejado tenha seu trabalho concludo o mais rpido possvel. Grfico 3 Tempo de descansoTEMPO DE DESCANSO

6% 18%

4%

10%

Meia hora 1 hora 1 a 2 horas Mais de 2 hoas

62%

No tem

Fonte: Pesquisa de campo realizada no perodo de 10/10/ a 05/11/2008.

A maioria das etapas de manejo realizada a cu aberto o que implica a constante exposio ao sol. O Grfico 4 mostra que 47% dos contemplados entrevista passam de 6 a 8 horas expostos ao sol, podendo concluir que os mesmos 77

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. trabalham em regime integral. Mostra-se tambm uma grande parcela que ficam mais de 08 horas expostos ao sol. Grfico 4 Tempo de exposio ao solTEMPO DE EXPOSIO AO SOL

29%

12% 12% 2 a 4 horas 4 a 6 horas 6 a 8 horas mais de 8 horas 47%

Fonte: Pesquisa de campo realizada no perodo de 10/10 a 05/11/2008.

As temperaturas mdias na regio do lago Moxot, variam entre 30 a 36C, e o ndice de raios ultravioletas, entre 10 a 13, numa escala que varia do 1 ao 14. Assim, o trabalhador rural desta regio est exposto a um desconforto trmico intenso e a incidncia solar extrema, fato este, que pode ocasionar srios riscos de danos pele. De acordo com Oliveira (2007) em condies de forte incidncia solar e em pases de clima tropical - como o caso do Brasil - muito provvel que este agente fsico - o calor do sol - torne-se uma preocupao [...] entre as atividades que expem os trabalhadores luz solar, durante a jornada de trabalho, destacando-se a agricultura, pesca, construo civil, ambulantes, jardinagem, minerao, entre outras. O ndice Ultravioleta - IUV representa o valor mximo dirio da radiao ultravioleta, isto , no perodo referente ao meio-dia solar, o horrio de mxima intensidade de radiao solar. O IUV apresentado como um nmero inteiro. De acordo com recomendaes da Organizao Mundial da Sade - OMS, esses valores so agrupados em categorias de intensidades, conforme mostra o Quadro 1.QUADRO 1 Enquadramento dos ndices ultravioletasCATEGORIA NDICE ULTRAVIOLETA

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009.BAIXO MODERADO ALTO MUITO ALTO EXTREMO 11Fonte: Ministrio de Cincia e Tecnologia

De acordo com a NR 21, item 21.2, so exigidas medidas especiais que protejam os trabalhadores contra a insolao excessiva, o calor, o frio, a umidade e os ventos inconvenientes. A radiao UV pode danificar os olhos assim como a pele. Um estudo recente foi feito com pescadores que permaneciam muito tempo na gua e estavam expostos no somente luz direta, mas tambm luz refletida do sol. Os pescadores que no protegiam seus olhos do sol tiveram mais de trs vezes a incidncia da forma mais comum de catarata do que aqueles que protegiam seus olhos regularmente (OLIVEIRA, 2007). A exposio forte radiao solar pode ocasionar danos irreparveis ao piscicultor caso no sejam tomadas as medidas de controle cabveis, como queima do couro cabeludo, doenas de pele e queima da retina dos olhos, devido a intensa luminosidade causada pela refrao solar na gua. Muitos trabalhadores procuram alguma forma de se proteger do sol. Na pesquisa foram apontados o uso de chapu ou bons, roupas compostas com manga longa e cala comprida e protetor solar, inclusive muitos deles cobrem at o rosto para se proteger totalmente do sol, e improvisam um chapu modelo rabe. Grfico 5 O que os entrevistados usam para se proteger contra o solPROTEO SOLARChapu ou bon Roupas compostas P rotetor solar 7% 13% 0% 5% Chapu e roupas compostas Chapu e protetor Todos Nada

40% 7%

28%

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Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009.Fonte: Pesquisa de campo realizada no perodo de 10/10 a 05/11/2008.

Uma das questes que podem prejudicar a adoo de medidas de segurana no meio rural a resistncia dos trabalhadores para utilizar os EPIs, porm, pode-se observar que somente uma pequena parcela no se protege. Uma outra questo a ser levantada a umidade, pois a piscicultura uma atividade aqutica e traz aos piscicultores constante contato com a gua. O Grfico 6 mostra que 53% dos entrevistados no tm contato direto com a gua, isso porque nas etapas de manejo que h muitos respingos e usam capas protetoras ou aventais.Grfico 6 Tempo em que o entrevistado passa em contato com a gua molhando-seTEMPO EM CONTATO COM A GUA

13%

2%

0 menos de 2 horas

22% 10%

2 a 4 horas 53% 4 a 6 horas acima de 6 horas

Fonte: Pesquisa de campo realizada no perodo de 10/10 a 05/11/2008.

Porm, 22% passam de 2 a 4 horas em conato direto com a gua, estes so os que fazem reparos nos tanques-rede, trabalhando dentro do rio e os que no usam a capa protetora nas etapas de manejo tais como classificao e biometria da produo. Para os trabalhadores que fazem inspeo nos tanques, sendo preciso mergulhar ou fazer alguma atividade dentro do rio, para esses prescrito o uso de macaco impermevel, para que no venha a ter futuros problemas de sade. Apesar de todos os empreendimentos de cultivos terem a caracterstica de estarem instalados em meandros do lago, a profundidade nestes locais variam entre 80

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. 5 a 10 metros de lmina dgua o que suficiente para causar o afogamento do trabalhador, sendo para isso imprescindvel que o trabalhador saiba nadar. Atravs do questionrio utilizado, percebe-se no Grfico 7 que 86% dos entrevistados sabem nadar, entretanto, cerca de 14% no sabem nadar e se expem diariamente ao perigo. Grfico 7 Saber nadarSABE NADAR

14%

Sim No

86%

Fonte: Pesquisa de campo realizada no perodo de 10/10 a 05/11/2008.

Alguns empreendimentos piscculas possuem coletes salva-vidas, mas no muito comum o uso contnuo dos mesmos, conforme mostra o Grfico 8. Dessa forma, o colete salva-vidas um dos principais Equipamentos de Proteo Individual (EPIs), a ter sua adoo em carter obrigatrio, uma vez que o trabalhador est, em grande parte do tempo, exposto ao perigo do afogamento. Grfico 8 Uso de colete salva-vidasCOLETE SALVA-VIDAS

15%

Sim No

85%

Fonte: Pesquisa de campo realizada no perodo de 10/10 a 05/11/2008.

O colete, segundo a Norma, deve ser vestido no trabalhador quando o mesmo estiver exposto a altas profundidades, principalmente no arraoamento 81

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. realizados em canoas. Nesse processo de arraoamento o trabalhador fica exposto a fortes ventos, correndo o risco da embarcao virar, e se o colete no tiver vestido, ele no ter tempo para vesti-lo em algum acidente. Este equipamento deve ser utilizado como EPI para arraoadores em canoas e EPC, para os demais que usem eventualmente, principalmente ao sair na embarcao e dever ser fornecido tambm a visitantes.

5. CONCLUSOO investimento no capital humano de bastante relevncia para as organizaes, porm ainda existe um grande desafio para a realidade das pequenas e mdias pisciculturas brasileiras. H grandes obstculos para se implementar aes sustentveis de melhoria das condies de trabalho e meio ambiente em empresas de pequeno porte. Com os resultados adquiridos na pesquisa pode-se perceber que a atividade apresenta muita imaturidade relacionada a sade e segurana do trabalho, porm os envolvidos tem conscincia de que devem adotar medidas que possam prevenir problemas futuros. preciso se fazer um trabalho de conscientizao da importncia da implantao da poltica de segurana, tanto para o gestor como para o trabalhador cada um cumprindo com o seu papel, para que posteriormente, alguns procedimentos, que definimos como medidas de preveno e controle podem ser adotadas no intuito de prevenir, atenuar ou extinguir os riscos. As condies de conforto e segurana dos ambientes de trabalho nas pisciculturas devem receber a mesma importncia que atribuda aos cuidados tomados com outras empresas, tornando-se tambm uma prioridade na busca da qualidade dos produtos e bem estar dos trabalhadores. importante ressaltar que qualquer gasto com segurana representa um investimento na qualidade de vida do trabalhador, e na sua capacidade produtiva e que tais investimentos evitaro possveis gastos com indenizaes e demais transtornos para a empresa. Na execuo deste, percebeu-se tambm a quase inexistncia de uma legislao mais especfica para a atividade, sendo necessrios maiores 82

Revista de Administrao e Negcios da Amaznia, v.1, n.1, mai./ago. 2009. investimentos em pesquisas de campo e bibliogrficas para a construo destas leis, e interesse da classe e governantes, uma vez que a atividade vem sendo desenvolvida em todo o pas e a prtica da segurana para estes trabalhadores feita de forma aleatria, sem acompanhamento tcnico. Tais fatos justificam tambm a pouca divulgao de ndices a respeito de acidentes e vtimas da atividade.

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