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Risco de Reputação aplicado ao Setor Bancário: definição, mensuração e gestão. 1 Abertura: Everton P. S. Gonçalves – Assessor Econômico da ABBC Palestrante: Andres Cristian Machuca Westphal – Doutorando em Economia (UFRJ) e Servidor do Banco Central do Brasil.

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Risco de Reputação aplicado ao Setor Bancário: definição, mensuração e gestão .

1

Abertura: Everton P. S. Gonçalves – Assessor Econômi co da ABBC

Palestrante: Andres Cristian Machuca Westphal – Dout orando em Economia (UFRJ) e Servidor do Banco Central do Bras il.

Tópicos da Apresentação

I. Relevância

II. Aspectos Gerais

III. Riscos Bancários

2

III. Riscos Bancários

IV. Mensuração

V. Estratégias de gestão

12

“O risco de reputação é considerado o pior tipo de risco bancário a que uma instituição financeira está sujeita.”- SOPRANO et al. (2009). Measuring operational and reputational risk - A Practitioner’s Approach. Wiley.

“O risco de reputação é particularmente danoso para os bancos, uma vez que a natureza de seus negócios requer a manutenção da co nfiança de depositantes,

I. Relevância

natureza de seus negócios requer a manutenção da co nfiança de depositantes, de credores e do mercado geral.”- BANK OF INTERNATIONAL SETTLEMENTS (1997). Core Principles for Effective Banking Supervision. Bank of International Settlements. Basel Committee on Bank Supervision.

“A proteção da reputação de uma instituição finance ira é atualmente o maior desafio de gerenciamento de riscos enfrentado pelo seu conselho de administração.”- BROWN (2007). Understanding Reputational Risk: Identify, Measure, and Mitigate the Risk. Federal Reserve of Philadelphia, SRC Insights - Volume 12(2).

14

Pesquisa PricewaterhouseCoopers sobre administração de riscos na indústria de serviços financeiros:

Question: Wich of the following types of risk repre sent the greatest potential threat to your organization’s overall market value?

25%

25%

34%

31%

51%

41%

37%

19%

20%

5%

2%

2%

2%

3%

3%

Credit risk

Market risk

Reputational risk

Fonte: PricewaterhouseCoopers/Economist Intelligence Unit Survey, June-July 2004. Adaptado

7%

13%

14%

16%

18%

25%

23%

40%

57%

54%

40%

31%

51%

37%

24%

25%

33%

37%

16%

7%

2%

1%

7%

5%

3%

3%

3%

4%

2%

2%

0% 100%

Sovereign risk

Technology risk

Operational risk

Business risk

Regulatory risk

Greatest threat Major threat Minor threat Not a threat N/a

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Em Basiléia III, o risco de reputação é discutido e specificamente no processo de revisão de supervisão.- BANK OF INTERNATIONAL SETTLEMENTS (2009). Enhancements to the Basel II Framework (Pilar 2 / item III.C). Basel Committee on Banking Supervision.

Recomendações:

Identificar fontes potenciais de risco de reputação e mensurar o montante de recursos necessários para cobrir seus prejuízos;

Incorporar o risco de reputação ao processo de gestão de riscos, sendo devidamente tratado no ICAAP (Internal Capital Adequacy Assessment Process) e planos de contingência de liquidez.

Principais eventos:

i) patrocínio de estruturas de securitização, fundos mútuos de mercados monetários e fundos de investimento imobiliário;

ii) envolvimento com gestoras de recursos financeiros ou fundos de investimento que aplicam em ativos emitidos por entidades pertencentes ou patrocinadas pelos bancos.

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II. Aspectos Gerais

Não há na literatura de referência uma definição ún ica para o risco de reputação.

Risco atual ou prospectivo proveniente da percepção desfavorável da imagem do banco por seus clientes, contrapartes, acionistas ou órgãos reguladores. Em razão desta percepção, a capacidade do banco para estabelecer novas relações ou para atender às relações existentes é afetada, expondo o banco a possíveis perdas financeiras ou a um declínio em sua base de clientes.clientes.

- BANCO CENTRAL DO BRASIL (2008). Manual do Sistema de Classificação de Instituições Financeiras.

Perigo atual ou potencial para os lucros e o capital decorrentes da percepção desfavorável em relação a imagem da instituição financeira por parte dos clientes, contrapartes, acionistas, investidores e reguladores.

- COMMITTEE OF EUROPEAN BANKING SUPERVISORS (2005). Consultation Paper Application of the Supervisory Review Process under Pillar 2.

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Stakeholders:

clientes;

contrapartes;

fornecedores;

funcionários;

acionistas;

órgãos reguladores.

O risco de reputação representa uma categoria de ri sco mais evasiva com relação aos demais riscos bancários, pois:

i) quantificar os seus efeitos é complexo;

ii) mecanismos que geram este risco são difíceis de serem compreendidos.

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Fatores de risco (risco de reputação):

1) Financiamento de empresas que atuam em segmentos econômicos criticados pela mídia e organizações não-governamentais;

2) Participação direta ou indireta em ações que causam danos ao meio-ambiente;

3) Conduta empresarial em desacordo com os valores vigentes da sociedade;

4) Desempenho econômico-financeiro abaixo das expectativas de mercado;

5) Relacionamento conflituoso com clientes e contrapartes.

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III. Riscos Bancários

Taxonomias de riscos bancários

Riscos Bancários Crédito Mercado Liquidez Operacional Legal1 Estratégia2 ReputaçãoDuarte Jr. (2004) X X X X

Kaiser e Kohne (2006) X X X X X X

Walter (2006) X X X X X

FSA X X X X

FDIC X X X X X

FED X X X X X XFED X X X X X X

BACEN X X X X X X X

CBSB X X X X X X X

(1) Basiléia II considera o risco legal incluído no risco operacional.

(2) O Comitê da Basiléia de Supervisão Bancária (CBSB) não apresenta uma definição para o risco de estratégia, simplesmente destaca que não está incluído no risco operacional.

110

Classificação:

Risco Operacional

Risco de Crédito

Risco de Liquidez

Risco Legal

Riscos Financeiros

Riscos Não-Financeiros

Os riscos bancários primários podem ser divididos e ntre financeiros e não-financeiros.

Risco de Mercado

Risco de Estratégia

111

Risco de Crédito

Risco de Reputação

Risco de Liquidez

Risco de Mercado

Risco Operacional

Risco Legal

Risco de Estratégia

O risco de reputação é considerado um risco secundá rio, pois decorre dos riscos primários.

112

IV. Mensuração

A mensuração do risco de reputação é feita a partir de quatro tipos de fontes de dados:

Rede de informações

Ações cotadas em Bolsa Análise/modelagem

Ações cotadas em Bolsa

Entrevistas

Questionários

Análise/modelagem de dados

A análise/modelagem dos dados permite a formulação de indicadores de risco, estimação de perdas e identificação de relaç ões de causalidade.

112

4.1 - Rede de informações

Os indicadores de risco de reputação são formulados a partir da análise, classificação e tratamento dos dados coletados na r ede de informações.

Mídia impressa

Boletins informativos

Agências do governo

BlogsRede de

Website de ONG

Website de notícias

Televisão

Rádio

Rede de informações

Formulação de indicadores de

risco de reputação

Exemplos de empresas: EcoFact (RepRisk R) e Evolve24.

114

4.2 - Ações cotadas em Bolsa

Com base nos dados sobre o retorno de ações de banc os cotados em Bolsa é possível:

i) mensurar o impacto financeiro de um evento associado ao risco de reputação;

ii) calcular o capital necessário para cobrir este risco (VaRREP).

São necessários os seguintes dados (base diária):

Preço da ação do banco em análise

Valor do Índice Bovespa

Valor do Índice do setor bancário na Bovespa

Eventos associados ao risco de reputação (data de anúncio/divulgação)

Referências:- WALTER (2006). Risk and Conflicts of Interest in Banking and Finance: The Evidence so Far. Stern School of Business, New York University.

- CRUZ (2002). Modeling, Measuring and Hedging Operational Risk. Wiley Publication.

- SOPRANO, CRIELAARD, PIACENZA e RUSPANTINI (2009). Measuring Operational and Reputational Risk: A Practioner`s Approach. Wiley Publication.

115

[1] Cálculo de impacto financeiro:

T1 T2 J1 J2t=0

Janela de estimação Janela do evento

• Estabelecer modelo de regressão: RBanco= α +β1RIBOVESPA+β2RIndústriaBancária+ ε

• Estimar parâmetros: α’;β’ e β’ para [T ;T ] • Estimar parâmetros: α’;β’1 e β’2 para [T1;T2]

• Calcular NRBanco (Normal Returns) com α’; β’1; β’2; RIBOVESPA [J1;J2]; RIndústriaBancária [J1;J2]

• Calcular AR (Abnormal Returns): RBanco - NRBanco

• Calcular CAR (Cumulative Abnormal Returns): ∑AR para [J1;J2]

• Impacto financeiro = CAR(%) x (preço da ação) x (número de ações)

116

[2] Cálculo do Value at Risk (VaRREP)

• Estabelecer modelo de regressão: RBanco= α +β1RIBOVESPA+β2RIndústriaBancária+ β3RREP+ ε

RREP: variável dicotômica (valor “1” no caso de ocorrência de evento de reputação, caso contrário “0”)

• Aplicação de testes (erros de especificação do modelo).

• VaR : Y x β x Ω; sendo:• VaRREP: Y x β+ x Ω; sendo:

Y: valor de mercado do banco (no de ações x preço da ação)

β+ : tα/2 x Desvio Padrão (β’3RREP) ; com “t” (distribuição t-student)

Ω: volatilidade estimada do IBOVESPA no nível de confiança “α”

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4.3 - Entrevistas

Entrevistas com profissionais do banco permitem def inir um cenário de risco de reputação (evento hipotético que pode atingir o banco).

As seguintes informações sobre eventos associados a o risco de reputação devem ser coletadas:

i) freqüência por ano;

ii) média das perdas;ii) média das perdas;

iii) volume máximo de perdas.

Estimação das distribuições de freqüência e severid ade.

Combinando os dados de severidade e freqüência, obt ém-se por meio de simulação de Monte Carlo uma distribuição anual de perdas.

A partir da distribuição anual, o VaR REP é calculado com um nível de confiança de “ α”.

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4.4 - Questionários

Com base em dados colhidos por questionários é poss ível analisar a percepção de risco de reputação e identificar event uais relações de causalidade com outros riscos bancários.

Para isto, as percepções de riscos devem ser captad as por intermédio de um questionário com perguntas estruturas e pré-definid as (pesquisa survey).

Em seguida, os dados coletados devem ser analisados pela ferramenta estatística denominada “Modelagem de Equações Estru turais” (MEE).

119

Definição (MEE):

“Conjunto de técnicas estatísticas que inclui análise de caminho (AC) e análise fatorial confirmatória (AFC), integrando-as em um modelo de regressão estrutural, estimando, simultaneamente, os parâmetros de uma série de equações de regressão linear interdependentes.”

A MEE é uma ferramenta estatística de análise multi variada que permite a estimação de modelos complexos e o estudo de efeito s diretos e indiretos de causalidade. causalidade.

Exemplo:

Os riscos bancários primários (crédito, mercado, liquidez e operacional) exercem influência sobre o risco de reputação.

120

Modelo de regressão estrutural (diagrama de caminho ):

Risco de Reputação (F 5)

Risco de Liquidez (F 2)

Risco de Crédito (F 1)

X19

X18

X6

X5

X3

X2

X1

X17X4

Risco Operacional (F 4)

Reputação (F 5)

Risco de Mercado (F 3)

Liquidez (F 2)

X20

X15 X16X14X13X12

X21

X11

X10

X9

X8

X7

O modelo é representado por variáveis latentes (construtos não-observáveis) que só podem ser estimadas através de variáveis observadas (fatores de risco).

121

Variáveis observadas (fatores de risco):

X1: Inadimplência

X2: Concentração de empréstimos

X3: Renegociação

X5: Descasamento não-planejado do fluxo de caixa

X12: Fraudes

X13: Questões trabalhistas

X14: Falhas com clientes

X15: Práticas de negócios irregulares

X16: Falhas em transações

Risco de Crédito

Risco OperacionalX4: Recuperação de créditos

X6: Falta de liquidez de ativos

X7: Acesso ao mercado interbancário

X8: Perdas financeiras com ações

X9: Perdas fin. com taxa de juros

X10: Perdas fin. com câmbio

X11: Perdas financeiras com commodities

X16: Falhas em transações

X17: Financiamento controverso

X18: Danos ao meio-ambiente

X19: Conduta empresarial indevida

X20: Relacionamento conflituoso

X21: Desempenho econômico-financeiro abaixo das expectativas

Risco de Liquidez

Risco de Mercado

Risco de Reputação

122

Modelo de regressão estrutural (equações):

X1 = β1F1 + E1

X2 = β2F1 + E2

X3 = β3F1 + E3

X4 = β4 F1 + E4

X5 = β5 F2 + E5

Variáveis observadas

X12 = β12F4 + E12

X13 = β13F4 + E13

X14 = β14F4 + E14

X15 = β15F4 + E15

X16 = β16F4 + E16

F2 = β22F1 + β23F3 + erro residual

F5 = β24F1 + β25F2 + β26F3 + β27F4 + erro residual

Variáveis latentes

X5 = β5 F2 + E5

X6 = β6 F2 + E6

X7 = β7F2 + E7

X8 = β8F3 + E8

X9 = β9F3 + E9

X10= β10F3 + E10

X11= β11F3 + E11

X16 = β16F4 + E16

X17 = β17F5 + E17

X18 = β18F5 + E18

X19 = β19F5 + E19

X20 = β20F5 + E20

X21 = β21F5 + E21

Cada seta do modelo no diagrama de caminho corresponde a um coeficiente de regressão (βi).

O erro de mensuração (Ei) corresponde à variância de “X” não explicada pela variável latente.

123

Cada variável observada corresponde a um item do qu estionário, que é mensurada a partir de uma escala Likert.

Neste tipo de escala, indica-se o grau de concordân cia ou discordância em relação a uma afirmativa. Por exemplo:

1. O risco de inadimplência das operações de crédito celebradas com empresas é elevado.

Discordo Totalmente

Discordo Não Discordo / Nem Concordo

Concordo Concordo Totalmente

Não existem itens no questionário diretamente relac ionados com uma variável latente.

124

A partir das equações do modelo e dos dados coletad os pelo questionário é possível estimar os coeficientes de regressão do mo delo.

Duas matrizes de variância-covariância são formuladas: i) reproduzida (função dos parâmetros do modelo); e ii) observada (dados do questionário). Com base nestas duas matrizes, os coeficientes de regressão são estimados.

Resultados:

1) Variáveis observadas mais relevantes para cada risco bancário;

2) Variáveis latentes que exercem maior influência sobre o risco de reputação;

3) Evolução da percepção de risco dos agentes (aplicação do questionário junto a uma amostra da mesma população em dois períodos distintos).

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V. Estratégias de Gestão

Em geral, a gestão do risco de reputação é feita a partir do monitoramento de “questões” divulgadas pela mídia e análise de sua i nfluência sobre a reputação do banco.

A gestão de questões é aplicada de forma sistemátic a nos bancos de grande porte e é executada pela estrutura de comunicação c orporativa, que:

i) analisa o conteúdo dos meios de comunicação (questões relevantes para o banco);

ii) projeta a dinâmica futura das notícias selecionadas e estimação dos seus potenciais efeitos sobre a reputação;

iii) formula um plano de comunicação (influência da notícia sobre as expectativas dos stakeholders).

Recentemente, os bancos aprimoraram a gestão do ris co de reputação ao formularem uma política de risco específica.

126

O objetivo da política de risco de reputação é iden tificar de forma pró-ativa e avaliar eventos de risco, com um elevado impacto na reputação, antes que eles ocorram.

Estabelecer uma estrutura interna responsável pela aprovação de financiamentos, projetos, produtos ou investimentos que são sensíveis aos risco de reputação.

Estruturas de risco existentes são insuficientes pa ra gerenciar o risco de reputação, uma vez que:

i) práticas de gestão focam o impacto direto de eventos em termos de prejuízos financeiros no curto prazo;

ii) estruturas existentes tendem a ter uma visão estreita dos riscos.

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Estrutura de gerenciamento

O risco de reputação deve ser gerenciado por intermédio de uma estrutura organizacional que se estende junto às práticas de governança existentes e define claramente os papéis e responsabilidades de cada agente:

Elementos-chave:

1) Incorporar a gestão do risco de reputação em funções já existentes e atribuir a responsabilidade ao conselho de administração, diretoria, unidades de negócios e de controle de risco;

2) Assegurar que o risco de reputação é um componente-chave nas decisões de negócios estratégicas do banco (plano sucessório; novos produtos/serviços; fusões e aquisições);

3) Formulação de indicadores de risco de reputação é fundamental para a gestão do risco de reputação.

128

Exemplo:

Comitê de Risco de Reputação

Auditoria Interna

Diretor-Presidente / Conselho de Administração

Unidades de Negócios

Comitê de Riscos

Unidade de Controle de Riscos

Unidades de Negócios

Unidade de Comunicação

Unidade de Controle de

Riscos

129

FIM

Obrigado pela participação !

Andres Cristian Machuca Westphal

E-mail: [email protected] / andres.westpha [email protected]

Tel.: 21 9352-7008