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EXPEDIENTE

Governo do Estado do Rio de JaneiroGovernador | Sérgio Cabral

Secretaria de Estado de Ciência e TecnologiaSecretário | Alexandre Cardoso

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo àPesquisa do Estado do Rio de Janeiro –FAPERJDiretor-presidente | Ruy Garcia MarquesDiretor Científico | Jerson Lima SilvaDiretor de Tecnologia | Rex Nazaré AlvesDiretor de Administração e Finanças | CláudioFernando MahlerRio Pesquisa. Ano 1. Número 2

3 | EVOLUCIONISMOCharles Darwin aporta de novo no Rio –Exposição retrata o trabalho do pai dateoria da evolução

6 | FÍSICAFronteira final do espaço – Raios cósmicosde alta energia teriam origem nos buracosnegros

9 | HISTÓRIAA memória restaurada – Arquivo Nacionalinveste na recuperação de documentos doperíodo joanino

12 | ENTREVISTARuy Garcia Marques avalia o que temsido feito em sua gestão e fala dos planospara este ano

15 | BIOFÍSICAEnsino e pesquisa: a perfeita união – OInstituto de Biofísica da UFRJ mantém vivoo lema de Carlos Chagas Filho

20 | PALEONTOLOGIARéptil na cabeça – Duas importantesdescobertas celebram a boa fase e dãovisibilidade a cientistas brasileiros

23 | SAÚDECombate sem tréguas – Pesquisa buscanovas substâncias para eliminar o Aedesaegypti

26 | ARTIGOA força dos edublogs na educação – Asecretária de Estado de Educação - RJ e ex-presidente do Proderj, Tereza Porto, fala doensino a distância

29 | CIÊNCIAS SOCIAISO rico universo de mulheres herbalistas daBaixada desvendado em vídeo

32 | ANTROPOLOGIAAinda não cansei de ser sexy – Pesquisarevela como alemãs, espanholas e brasileirasencaram o envelhecimento

35 | CULTURAEm cena os cem anos da Escola Estadual deTeatro Martins Pena – Uma série de eventoscelebra a data

37 | FAPERJIANASAcontecimentos que contaram com aparticipação da Fundação durante os últimosmeses de 2007 e início de 2008

38 | TECNOLOGIANa onda digital – Rio de Janeiro começa aimplantação da rede wireless e as primeirasantenas são instaladas em Copacabana e naBaixada Fluminense

Novo blindado vai às ruas – Protótipo deuma nova viatura alia segurança e confortopara policiais

40 | EDITORAÇÃOProduzindo diversidade – Confira algumasdas obras financiadas pela FAPERJ em 2007

Coordenação editorial | Vilma Homero ePaul Jürgens

Redação | Paul Jürgens, Roni Filgueiras,Vilma Homero e Vinicius Zepeda

Diagramação | Mirian Dias eAdrianne Mirabeau

Revisão | Marcelo Bessa

Mala direta e distribuição | Élcio Novis eViviane Lacerda

Ilustração da capa| Henry ChamberlainAcervo Arquivo Nacional

Capas | Mirian Dias e Adrianne Mirabeau

Gráfica | RCB Impressos

Tiragem |10 mil exemplares

Periodicidade |Trimestral

Avenida Erasmo Braga 118/6° andar,Centro, Rio de Janeiro RJTel.: 3231-2929. Fax: 3231-2944CEP 20020-000E-mail: [email protected]

SUMÁRIO

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3 | Rio Pesquisa - nº 2 - Ano IAno I - nº 2 - Rio Pesquisa | 2EDITORIAL

Início de ano é sempre época de novas perspectivas.É quando se começam a traçar planos, antigas idéiasdeixam o papel e muitas se concretizam em proje-

tos. Na FAPERJ, é também tempo de apresentar o quefoi feito durante os 12 meses de 2007, um período deinovações e mudanças. Foi o primeiro ano da gestão dodiretor-presidente Ruy Garcia Marques e também o pri-meiro em que a ciência e a tecnologia fluminenses pude-ram contar com aporte mais regular e substancial de re-cursos, repassados da arrecadação tributária do estado.Isso se traduziu em novos editais – entre eles, Difusão ePopularização da Ciência e Tecnologia, Pensa Rio, Priori-dade Rio, Melhoria do Ensino Público e InovaçãoTecnológica, citando somente alguns – e mesmo em umvolume maior de recursos para outros já existentes, comoo apoio à infra-estrutura das instituições de ensino e pes-quisa sediadas no estado, e Cientistas e Jovens Cientistasdo Nosso Estado, programas que passaram a contar comum número maior de bolsas visando ao atendimento dademanda altamente qualificada existente. É parte do quenos mostra a entrevista em que Ruy Marques revela, comentusiasmo e transparência, os seus planos e o que temsido realizado em sua administração.

É esse cenário – em que a C&T fluminense se mostracada vez mais atuante – que a Rio Pesquisa procura trazera seus leitores. São matérias diversas que contam, como ado tema de capa, como foi a chegada da Corte lusitana aterras da até então colônia brasileira, 200 anos atrás. Essadocumentação do período joanino, mais um capítulo danossa história, vem sendo alvo de medidas de preserva-ção no acervo do Arquivo Nacional e é disponibilizadaao público, em sua página na Internet.

Neste número, a revista focaliza o Instituto de BiofísicaCarlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio deJaneiro, uma das unidades mais produtivas da ciência emnosso estado, mostrando a sua estruturação atual e a di-versificação de sua atuação e de suas linhas de pesquisas.Segue-se uma biografia de seu criador, o grande cientistaCarlos Chagas Filho, que, a partir de 2001, teve o seunome associado à nossa FAPERJ – Fundação CarlosChagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio

de Janeiro, em uma das muitas e merecidas homenagensque recebeu e continua recebendo.

A paleontologia permanece em alta. A divulgação re-cente de dois achados importantes nos permitem co-nhecer as pecualiaridades do menor dinossauro do mundoe as características de um elo perdido dos crocodilosatuais. Ambos nos dão conta de que os investimentosfeitos na pesquisa são fundamentais para os resultadosque começam a aparecer. Entre outros assuntos, acom-panhamos a exposição em que os cariocas têm oportu-nidade de conhecer a dimensão humana de CharlesDarwin – o pai da teoria evolucionista – e avaliar oestudo que compara o comportamento diametralmenteoposto de brasileiras e alemãs, diante de um fenômenoinevitável, o envelhecimento.

Apresentamos a intensa revitalização que vem sendoimplementada na primeira escola de teatro da AméricaLatina, a Escola Estadual de Teatro Martins Pena que,neste ano, comemora, com muito orgulho, o seu primei-ro século de dedicação às artes cênicas. A aplicabilidadeda inovação tecnológica à melhoria da qualidade de vidada população fluminense pode ser visualizada pelo lan-çamento dos programas Orla Digital, iniciando pela praiade Copacabana, e Municípios Digitais, começando pelosmunicípios da Baixada fluminense. Ambos os progra-mas, com o apoio financeiro da FAPERJ e com imensopotencial de utilização por nossa sociedade, saíram do pa-pel e foram lançados neste início de 2008 pelo governadorSérgio Cabral e pelo secretário Alexandre Cardoso.

Não podemos deixar de agradecer os inúmeros e-mailsrecebidos pela redação e o grande número de solicita-ções para exemplares da revista. Eles dimensionam aenorme receptividade ao primeiro número da Rio Pesqui-sa, não apenas pelos especialistas dos vários ramos deconhecimento, mas também, e principalmente, pelo lei-tor leigo, que tem demonstrado interesse cada vez maiorpelos assuntos da ciência, da tecnologia e da inovação.Esperamos continuar estimulando esse interesse a cadanova edição e, para tanto, contamos com as avaliações esugestões de todos os leitores.

Charles Darwinaporta de novo no Rio

A exposição do naturalista inglês,em cartaz no Museu HistóricoNacional, reúne comentários doautor da teoria da evoluçãosobre a cidade

A exposição carioca trazmais de 400 artefatos,entre fósseis, documentos,filmes e espécies vivas

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Roni Filgueiras Entre os mais de 400 artefatos, al-guns fósseis de madeiras petrificadas,braquiópodes (conchas), corais re-centes e cefalópodes (moluscos) fo-ram cedidos pelo Departamento deGeologia do Instituto de Geociênciasda Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ). Esses itens fazemparte do acervo científico do futuroMuseu de Geologia, projeto do pro-fessor adjunto e chefe do Departa-mento de Geologia da UFRJ, EmílioVeloso Barroso, apoiado pela FAPERJdentro do edital Difusão ePopularização da Ciência e Tecnologiano Estado do Rio de Janeiro. “Éuma exposição bonita e didática; paranós é interessante estar junto de insti-tuições importantes”, avalia Barroso,cuja meta é inaugurar ainda este anoum museu de 400 metros quadradosno departamento.

Além do acervo da UFRJ, a mostrade Darwin, em cartaz desde janeiro,reúne documentos, filmes e espéciesvivas como sapos, iguanas e orquí-deas exóticas. O que a torna a maiscompleta exposição já realizada so-bre a vida e a obra do cientista. Numcenário cenográfico especialmentecriado para a exposição, o visitantepode ter idéia das espécies que po-voavam a Mata Atlântica à época emque Darwin esteve no país. Aqui, elecoletou insetos e chegou a visitar o

Pão de Açúcar. A viagem foi funda-mental para a formulação de suasidéias e a América do Sul, a inspira-ção que o levou a desenvolver suateoria da evolução, defendendo aadaptação, ao longo do tempo, dasespécies às condições do ambiente,e a sobrevivência dos mais aptos.

Promover a ciência:preocupação de Sangari

Um dos objetivos do empresárioBen Sangari, presidente do InstitutoSangari, é contribuir para a melhoriada educação pelo ensino de ciências.Fundador do instituto que leva onome de sua família (iranianosradicados na Grã-Bretanha), em2003, Sangari escolheu São Paulopara morar e tem parcerias com se-cretarias de educação em âmbito fe-deral, municipal e estadual em MinasGerais, Bahia, Paraná e, mais recen-temente, no Distrito Federal.

“Quando cheguei aqui, em 1997,queria criar uma solução para me-lhorar o desempenho dos alunos doensino fundamental”, afirma. Aexemplo de Charles Darwin,desconversa quando o assunto é re-ligião. “A vida é muito rica e diversapara ficar ligada estritamente adogmas. Tenho respeito pelas religi-ões, o ser humano é uma espécie es-

piritual, mas tenho uma ligação di-reta com Deus.”

A tal solução para a melhoria do en-sino, segundo Sangari, é a promo-ção da ciência. “Por que a ciência? Aciência está em todas as áreas denossa vida. Não conseguimos maispensar uma vida sem eletricidade,por exemplo. A ciência e a tecnologiaestão em tudo, na medicina, no en-tretenimento, seja você um fazendei-ro, um médico ou político. Além dis-so, vivemos numa democracia e umindivíduo só pode ter voz ativa nes-se sistema se tiver um bom nível deconhecimento e educação.”

Ele aponta o desinteresse dos alunosem sala de aula como um dos moti-vos para a evasão escolar no mundotodo, seja em países ricos ou pobres.“A forma como se ensina hoje pro-voca tédio nos alunos. Pesquisamosuma forma de reverter isso e acha-mos que trazer alunos e professorespara exposições de ciência é a me-lhor ferramenta para provocar a cu-riosidade pelo conhecimento e peloaprendizado”, diz. Até 2011, ele pla-neja trazer para o Brasil várias mos-tras com temas atuais, como a revo-lução genômica, Albert Einstein,água e mudanças climáticas. “Nossaexpectativa é atrair 12 milhões de pes-soas.” Darwin e a C&T agradecem.

Obsessivo, apaixonado, rigo-roso, perfeccionista. Umhomem que vivia cercado

de crianças e se dizia agnóstico paraa revolta de sua mulher e de seus pa-res. Desposou a prima num casamen-to arranjado, mas com quem desen-volveu uma relação de confiança eamor. Dedicado ao trabalho, sem-pre escrevia vigiado pela cadelinhaPolly. E sofria de ataques cada vez

mais sérios e constantes de umadoença nunca diagnosticada. Édentro dessa dimensão huma-na que a exposição “Darwin:Descubra o Homem e a Te-oria Revolucionária que Mu-

dou o Mundo” retrata o cientis-ta inglês que colocou de cabeça para

baixo a ciência ao criar sua teoria deevolução das espécies, afirmandoque o homem descendia dos maca-cos e que Deus não tinha nada a vercom isso.

Promovida pelo Instituto Sangari, re-presentante do prestigiado Museu deHistória Natural de Nova York, amostra tem curadoria de NilesEldredge, autor do livro Darwin: des-cobrindo a árvore da vida – considera-do uma das obras mais conceitua-das sobre o naturalista –, e fica em

A viagem à Américado Sul foi a

inspiração que olevou a desenvolver

sua teoria daevolução

Diversidade da fauna e flora latino-americana ajudou Darwin a elaborar suas idéias sobre a adaptação das espécies às condições do ambiente

cartaz no Museu Histórico Nacionalaté o dia 13 de abril; depois seguepara Brasília. Em São Paulo, o even-to arrastou um público recorde:mais de 175 mil visitantes em ape-nas dois meses. Mas a versão cario-ca chega mais robusta do que a edi-ção paulista: traz reproduções de te-las de Rugendas ilustradas com fra-ses de Darwin sobre a cidade do Rio,único estado visitado pelo cientistano Brasil e primeiro porto de de-sembarque de sua expedição a bor-do do Beagle. Um dos destaques en-tre as peças expostas é um fac-símilede uma das cadernetas em que elefazia anotações e o esboço de umaárvore evolutiva. Outra atração é aréplica do gabinete do pesquisador.

O cientista desembarcou no Rio em4 de abril de 1831 e chegou a alugaruma casa no bairro de Botafogo.“Pela manhã desembarquei com Earlnas escadarias do Palácio [Paço Im-perial]; nós então caminhamos pelasruas, admirando sua aparência ale-gre e povoada pelas cores alegres dascasas, ornadas por sacadas, pelas nu-merosas igrejas e conventos, pelonúmero de pessoas apressadas pelasruas, a cidade ganha uma aparênciaque é sinal da capital comercial daAmérica do Sul.” Foi assim queDarwin descreveu em seu diário aentão capital do Brasil.

Fotos: Divulgação / Instituto Sangari

EVOLUCIONISMO

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FÍSICA

O universo, tal qual o conhe-cemos, já não existe mais.Em novembro de 2007, a

revista Science divulgou sua novaconfiguração. A publicação america-na, uma das mais respeitadas do gê-nero no mundo, trouxe na capa umadas dez mais espetaculares descober-tas científicas neste início de século:a origem dos raios cósmicos de ener-gia mais alta, as partículas maisenergéticas conhecidas pela ciência,vinculando-os aos buracos negros.Segundo revistas de divulgação cientí-fica e especializadas, esta origem per-manecia como um dos maiores mis-térios da natureza.

De acordo com o estudo, batizadocomo Colaboração Pierre Auger,essas partículas vêm de galáxias pró-ximas à Via Láctea, dotadas dos cha-mados núcleos ativos em seus cen-tros. Os núcleos ativos de galáxias(AGNs, na sigla em inglês) são ali-mentados por buracos negrossupermassivos, que literalmente su-gam grandes quantidades de maté-ria ao seu redor e expelem partículasde energia.

O estudo foi desenvolvido no Ob-servatório Auger, o maior do planeta,na Argentina, por um time formadopor 94 instituições, de 17 países. Aequipe brasileira foi composta porCarlos Ourivio Escobar, do Institu-to de Física Gleb Wataghin da Uni-versidade Estadual de Campinas(Unicamp); Ronald Cintra Shellard,do Centro Brasileiro de PesquisasFísicas (CBPF) e da Pontifícia Uni-versidade Católica do Rio de Janei-ro (PUC-Rio); e Iuri Moniz Pepe, doInstituto de Física da UniversidadeFederal da Bahia (UFBA).

“Uma das conseqüências da desco-berta é que se abre uma nova áreada astronomia para o conhecimentodo universo, a das partículas carre-

Roni Filgueiras

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Um dos grandes mistérios daastronomia, raios cósmicosde alta energia teriamorigem nos buracos negros

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gadas”, revelou Ronald CintraShellard. “Essas partículas têm umaenergia muito alta. Este mistério,o das fontes desses raios cósmicosde energia mais alta, existe há 40 anos.E o mais importante disso é que par-te significativa desses papers foi rea-lizada em outubro de 2007, no Rio,onde cientistas de diversos lugaresdo mundo se reuniram para escrevê-los”, comemorou o cientista.

As fontes dos raios cósmicos ultra-energéticos não estão distribuídas deforma homogênea no espaço. E secrê que grande parte das galáxias te-nha buracos negros em seus centros.No entanto, apenas uma pequenaparte delas tem um AGN. O meca-nismo pelo qual um AGN acelera par-tículas a energias 100 milhões de vezesmais altas do que aquelas atingidas pelomais poderoso acelerador de partícu-las na Terra ainda não foi decifrado.

Raios cósmicos são prótons e ou-tros núcleos atômicos que viajampelo universo a velocidades próxi-mas à da luz (300 mil quilômetrospor segundo). Quando se chocamcontra outros núcleos na atmosfera,criam uma cascata de subpartículas,denominadas chuveiros atmosféri-

cos, que se espalham por mais de 40km2 ao atingir a superfície terrestre.

Uma rede de 1,6 mil detectores departículas espalhados por uma áreacom 3 mil km2, equivalente a trêsvezes o município do Rio e respon-sável por registrar os chuveiros deraios cósmicos no ObservatórioPierre Auger. Além desses detectoresem terra, há 24 telescópios, desenha-dos para detectar a emissão da luzfluorescente transmitida pela passa-gem do chuveiro atmosférico na at-mosfera. Esta configuração de equi-pamentos torna o Auger um instru-mento particularmente poderosopara esse tipo de pesquisa.

“Os resultados que estamos apresen-tando inauguram uma nova era naastrofísica, a era da astronomia comraios cósmicos, por meio da qualpoderemos estudar fenômenos ex-tremos no domínio da assim cha-mada astrofísica relativística”, disseo físico Carlos Ourivio Escobar. Co-ordenador da Colaboração Augerno Brasil, o cientista participa doprojeto há 12 anos, desde o lança-mento da ação na Unesco, em Paris,em 1995. “É fascinante participar deum projeto desse alcance desde o

seu nascimento até o seu funciona-mento”, completou o físico brasi-leiro.

“É como você ter o privilégio espe-cial de ver o mundo com um olhardiferente, pela primeira vez, é atédifícil expressar”, complementa ofísico brasileiro Ronald Shellard, co-presidente do Conselho da Colabo-ração Auger. “Essa descoberta coma participação brasileira mostra queatingimos um grau de maturidadecientífica que comprova que pode-mos participar de qualquer pesqui-sa internacional.”

Além da FAPERJ, que está entre asinstituições que apoiam o projeto,colaboraram com a pesquisa: Con-selho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq),Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado de São Paulo(Fapesp), Centro Brasileiro de Pesqui-sas Físicas (CBPF), Pontifícia Univer-sidade Católica do Rio de Janeiro(PUC-Rio), Universidade de SãoPaulo (USP), Instituto de Física daUniversidade Estadual de Campinas(Unicamp), Universidade Estadual deFeira de Santana (UEFS), Universida-de Estadual do Sudoeste da Bahia(UESB), Universidade Federal daBahia (UFBA), Universidade Federaldo ABC (UFABC) e UniversidadeFederal Rio de Janeiro (UFRJ).

Foto: Divulgação/Observatório Auger

Observatório Pierre Auger: áreaequivalente a três vezes o tamanho domunicípio do Rio de Janeiro

Pesquisadores: Carlos OurivioEscobar, Ronald Cintra Shellard eIuri Moniz Pepe.Instituições: Universidade Estadualde Campinas (Unicamp); CentroBrasileiro de Pesquisas Físicas(CBPF); Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); Universidade Federal da Bahia(UFBA).

A memória restauradaArquivo Nacional investe na recuperação de suascoleções sobre período joanino

Em abril de 1808, o intendentede polícia Paulo FernandesVianna baixava a seguinte

proibição: os responsáveis por lan-çar às ruas águas servidas ou lixoseriam obrigados ao pagamento demulta ou a cumprir alguns dias deprisão. A determinação, que tambémincluía a inspeção das casas, particu-larmente as da região do Centro doRio, seguia as diretrizes de se estabe-

lecer uma nova ordem urbana, vi-sando transformar a cidade demodo a torná-la mais condizentecom seu novo status de Corte.Documentos como esses fazem par-te das várias coleções sobre o perío-do joanino (de 1808 a 1821) do Ar-quivo Nacional e constituem o mate-rial da pesquisa coordenada pela his-toriadora Cláudia Heynemann, que hádez anos estuda as coleções luso-bra-sileiras e, desde o ano passado, tem sevoltado para o período da chegada

da Corte de D. João VI ao Rio deJaneiro. “Visando às comemoraçõesdos 200 anos da Corte no Brasil, cria-mos em nosso site uma seção específi-ca. Nesse trabalho, que conta com oapoio da FAPERJ, fazemos cruzamen-to dos fundos, documentos e coleçõesdo acervo, visando indexar o materialselecionado sob o olhar da pesquisaacadêmica”, explica.

A historiadora explica que, desde2005, o arquivo vem promovendoeventos, publicando livros e revistas

Vilma Homero

Recuperação do acervo joanino do Arquivo Nacional é parte das comemorações dos 200 anos da chegada da Corte portuguesa

HISTÓRIA

Ilustração: Henry Chamberlain / Acervo Arquivo Nacional

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Ao contrário da imagem caricata,construída ao longo do séculoXIX, D. João VI foi um sobera-

no zeloso, preocupado em se manterbem informado. Se ele se mostrava umtanto lento para tomar decisões, pode-se atribuir tais cuidados à complicada si-tuação doméstica que vivia com a impe-ratriz Carlota Joaquina e a um panoramaexterno ainda mais difícil, com a Europapassando por circunstâncias políticascomo poucas vezes se viu no Ocidente.De um lado, havia a expansãonapoleônica e as pressões para que Por-tugal aderisse ao bloqueio continental, fe-chando seus portos à Inglaterra, país dequem era aliado e de quem dependia fi-nanceiramente. Do outro, era a própriaInglaterra que propunha a viagem paraterras brasileiras.

Como mostram os documentos e a fartacorrespondência que integram a coleção“Gabinete D. João VI”, pertencente aoArquivo Nacional, a situação européiafoi uma constante preocupação do re-gente, durante todos os anos de sua per-manência no Brasil. Em vista das come-morações dos 200 anos da vinda da Cor-te, a coleção vem passando por com-pleto tratamento de restauração. O pro-jeto, que conta com o Apoio a Acervos,da FAPERJ, conjuga técnica arquivística,a cargo de Beatriz Monteiro, responsá-vel pela Coordenação de DocumentosEscritos do arquivo e que também su-pervisiona o trabalho, e análise de con-texto, atribuição de relevância da docu-mentação e sua articulação com outrosacervos, o que vem sendo feito pelo his-toriador Luciano Figueiredo.

“Não é uma documentação inédita. Ad-quirida em 1952 na Europa pelo em-baixador Marcos Carneiro de Mendon-ça, a coleção foi doada após sua morte,em 1995, ao Arquivo Nacional”, falaFigueiredo. O acervo já havia sido deta-lhado pelo próprio Carneiro de Men-donça, que, logo após a aquisição, orga-nizou um catálogo, descrevendo em or-dem cronológica cada um dos docu-mentos que o compõem. “Embora omaravilhoso, o trabalho tem algumasimprecisões. E, em virtude do grandemanuseio, a documentação encontra-setambém em avançado estado de deteri-oração”, explica.Para reverter os danos, o Arquivo Na-cional está preparando um catálogo de-finitivo, o que envolve também uma aná-lise mais acurada, identificação, organi-

zação, conservação, acondicionamento,microfilmagem e digitalização da cole-ção, para permitir seu acesso virtual. Àmedida que for sendo trabalhado, omaterial será incorporado ao portal doarquivo, ficando disponível a pesquisa-dores e estudantes.

“De uns anos para cá, o Arquivo Nacio-nal vem dando atenção à documentaçãoluso-brasileira, particularmente em vistadas comemorações dos 200 anos da che-gada da família real. Esse foi o caso úni-co de uma Corte que se instalou a portantos anos numa colônia e depois vol-tou para a sua metrópole original”, con-ta Luciano. “A peculiaridade é que os do-cumentos contidos no Gabinete D. JoãoVI, sobretudo sua correspondência, têma característica de instruir o regente so-bre as mudanças políticas que a Europa

atravessava para que ele pudesse tomarsuas decisões”, conta Figueiredo.

Além das informações sobre a situaçãoeuropéia, em especial o movimento naEspanha ocupada, a coleção inclui osalvitres de seus ministros. “Como D.João não era o modelo de um homemdecidido, costumo brincar dizendo queisso consumia muito papel”, prossegue.

Para o historiador, o Gabinete D. JoãoVI é de particular importância. “Talvezesse seja um dos testemunhos mais fiéisde toda a tensão, do drama que o sobe-rano viveu. Há documentos em que elefala do desconforto que é viver no Rio– cidade que não era exatamente agra-dável de morar naqueles tempos de co-lônia –, outros sobre a pressão inglesasobre Portugal, e ainda os documentosprovenientes das demais colônias lusita-

nas, como Macau, Angola, Cabo Ver-de ou São Tomé. O que perpassa tudoisso é seu desejo de retorno a Portugal,já que sua volta era também uma ne-cessidade diante da preocupação emmanter o reinado, especialmente con-tra as investidas de seu irmão, D. Mi-guel”, esclarece o historiador.

Figueiredo explica ainda que, se em ter-mos políticos a vinda da Corte para oBrasil foi estratégica, no que se refere àdocumentação, isso criou um certo em-baraço para os dois países. Depois doretorno de D. João, muitos documen-tos foram levados de volta a Portugal, em-bora boa parte termine permanecendopor aqui, ainda mais depois da indepen-dência do Brasil. “Toda a documentaçãodo período joanino é marcada por essapeculiaridade”, resume.

Um soberano bem informado

Pesquisadores: Cláudia Heynemann,Luciano Figueiredo e Beatriz MonteiroInstituições: Arquivo Nacional eUniversidade Federal Fluminense (UFF)

e investindo na página O Arquivo Na-cional e a História Luso-Brasileira, ten-do criado a seção A Corte no Brasil,alimentada com diversas matérias detemas afins. “Em todas as iniciativas,compreende-se que as comemora-ções pelo bicentenário obedecem adois eixos que se comunicam: o daprodução historiográfica e o do tra-tamento técnico e conhecimento doacervo arquivístico conservado pelainstituição”, diz.

Esse trabalho não está voltado ape-nas para o pesquisador, que tantopode acessar no próprio site as emen-tas e comentários aos documentoscitados como pode fazer pedidos deconsulta a distância e buscar infor-mações na sede do Arquivo Nacio-nal. Ele também é direcionado aosprofessores de ensino médio e fun-damental, com dicas de temas a se-rem explorados em sala de aula. “Éum material com abordagem bem di-ferente do que usualmente aparece noslivros didáticos, com a vantagem de

que ainda permite ao aluno acesso aosdocumentos que disponibilizamos nonosso portal. Tudo isso dá uma visãomais dinâmica da história”, fala a pes-quisadora.

Para se ter uma idéia, apenas sobreo tema “Abertura dos Portos”, há81 ementas produzidas (34 delaspublicadas), quatro documentostranscritos e 32 novos verbetes;“Nova ordem na cidade”, sobre avida do Rio depois da instalação daCorte, há 39 ementas, quatro docu-mentos transcritos e 18 novos ver-betes. “O tempo das fábricas” foiainda mais profícuo: 120 ementasproduzidas, das quais 44 selecionadaspara publicação, cinco documentostranscritos e 29 verbetes. Para con-sultar, basta visitar o endereço ele-trônico www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br. O retorno atudo isso tem surpreendido. O sis-tema, recentemente adquirido, paracontabilizar o número de visitas apágina registrou que, de julho a de-

zembro do ano passado, ultrapas-sou-se a marca dos 41 mil usuários,que passearam por 212 mil páginas.“O site subsidia outras atividades,como exposições e o atendimentoao público. À medida que fazemosos acréscimos desse material, temosvisto também crescer os pedidos depesquisas sobre esse período”, ani-ma-se Cláudia.

O projeto tem a perspectiva de vá-rios desdobramentos. “Fala-se mui-to nas mudanças que a vinda daCorte trouxe para a colônia. Masprecisamos também entender que,embora diversos fatos da vida te-nham sido afetados diretamente pelachegada da Corte, muita coisa con-tinuou no ritmo de vida de colônia,já que certos costumes levam tem-po para ser alterados. Ao contráriode cidades européias, por aqui saía-se pouco às ruas, por exemplo, mui-to também devido à inexistência deopções de lazer. E isso só mudariaaos poucos, à medida que a própria

paisagem da cidade se transformas-se e que novos hábitos fossem in-corporados”, explica.

A farta documentação sobre a épo-ca inclui desde a numerosa conces-são de títulos de nobreza, mercês,pensões e donativos à Igreja até osdocumentos que integram a coleçãodo Gabinete D. João VI, ou as pro-clamações de D. Pedro I da coleçãoIndependência. Com a ajuda de doisbolsistas de Iniciação Científica e seisestagiários da Universidade do Es-tado do Rio de Janeiro (Uerj), Cláu-dia Heynemann pretende desenvol-ver pesquisas diversas com esse ma-terial. “Pensamos em reunir os ver-betes desenvolvidos para uso em salade aula em um glossário histórico.Primeiro, como uma seção do nos-so site e, mais tarde, como um livro”,revela a pesquisadora.

Entre os vários aspectos da vida pri-vada e costumes que podem ser es-tudados, um dos trabalhos será so-bre a história da indumentária, anali-

sando as modas, roupas e tecidos usa-dos desde o período colonial à épo-ca joanina. “Fazendo a comparaçãoentre os dois períodos, podemos veras vestimentas da época, os tecidosque começaram a ser importados, etraçar os novos hábitos incorpora-dos a partir da implantação da Cor-te no Rio”, diz.

Outro projeto em curso no ArquivoNacional é a transformação dos 96códices da Polícia da Corte em ar-quivo digitalizado em linguagem web.Isso permitirá que, em breve, essesdados possam também ser consul-tados no site do arquivo. “Estes vo-lumes compreendem o período en-tre 1808 e 1842 e são registros daentrada e da movimentação de es-trangeiros no país, como uma Polí-cia Federal da época. Nesses livros,lêem-se os dados pessoais, motivoda viagem e a descrição física de cadaestrangeiro recém-chegado, já quenão havia fotografia na época”, con-ta Mauro Lerner, coordenador de

Documentos Escritos do ArquivoNacional.

Segundo ele explica, nos anos 1970,com o apoio da Fundação CalousteGulbenkian, esses códices haviamsido transformados em fichasdatilografadas. Em 1996, foi feita adigitação e a passagem dessas fichaspara o computador, no sistema Mi-croIsis. Como o sistema está ultra-passado, por meio de um convêniocom o Centro de Estudos de Popu-lação, Economia e Sociologia daUniversidade do Porto e recursos daFAPERJ, o material está sendo digi-talizado. O trabalho, que já dura umano, está em fase de finalização, emvias de ser disponibilizado ao público.

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Ao tomar posse como dire-tor-presidente da FAPERJ,há pouco mais de um ano,

a única experiência de Ruy GarciaMarques com a instituição eram assolicitações de financiamento para aspróprias pesquisas. Doze meses maistarde, ele se entusiasma por ter con-seguido praticamente zerar a ina-dimplência no pagamento de auxíli-os e haver lançado um número re-corde de editais – ao todo foram17 no ano passado. Na entrevista aseguir, ele avalia o que tem sido fei-to em sua gestão e fala dos planospara 2008.

O ano passado foi movimentadopara a FAPERJ, que lançou um nú-mero inédito de editais e movi-mentou recursos bem maiores,em relação a anos anteriores. Foitambém o primeiro de sua ges-tão. Qual a sua expectativa aotomar posse e a sua avaliaçãoagora, passados 12 meses? Hámetas ainda não cumpridas?

Essa grande “movimentação” daFAPERJ se deveu ao substancial au-mento em seu orçamento advindo

do estado, que alcançou os R$ 200milhões. Se levarmos em considera-ção os valores efetivamente pagos,entre 2000 e 2006 a média de paga-mentos se situou em torno de R$ 90milhões, em comparação a cerca deR$ 190 milhões pagos em 2007.Tudo isso foi resultado da decisãodo governo do Estado do Rio emdestinar 2% de sua arrecadação tribu-tária líquida para a nossa Fundação.

Ao tomar posse, há pouco mais de12 meses, minha expectativa era derealizar uma distribuição justa de re-cursos para todas as áreas, visandoao financiamento de pesquisa bási-ca, o que é indispensável, mas tam-bém tendo forte preocupação coma pesquisa aplicada, aquela que, emum tempo menor, pode se reverterna melhoria da nossa qualidade devida. Abrangendo as duas modali-dades de pesquisa, achava tambémde importância indiscutível investirna divulgação científica e tecnológica,fazendo chegar ao cidadão leigo ainformação sobre os projetos finan-ciados e, efetivamente, prestandocontas à sociedade. É certo, contu-do, que, apesar de ter algumas idéiaspreliminares, eu não sabia, exatamen-te, como colocá-las em operação.

Até então, minha única experiênciacom a FAPERJ era na condição de“cliente”, buscando financiamentopara os meus projetos de pesquisa.Aprendi muito nestes 12 meses, masainda temos muito para caminhar.

Procuramos lançar editais em todas asáreas do conhecimento, de interessereal para a comunidade científica e parao Estado do Rio de Janeiro, estimu-lando o debate e a solução para temasde interesse municipal, regional e es-tadual. Com a evolução do sistemainFAPERJ, notadamente a partir dejulho de 2007, todos os projetos pas-saram a ser submetidos e avaliadoson-line, gerando agilidade, comodida-de e, sobretudo, transparência. Estafoi uma importante mudança que aFundação experimentou.

No fim de 2007, realizamos um se-minário para planejamento de nos-sas atividades para 2008, com a pre-sença de toda a diretoria da FAPERJe de todos os seus assessores. Nesseseminário, discutimos todas as ativi-dades realizadas, verificando o quefoi acertado e o que necessita ser in-troduzido ou aperfeiçoado.

É plausível que equívocos tenham sidocometidos, mas o que procuramos

seguir foi: (1) análise fundamentada nomérito dos projetos e na produçãocientífica do solicitante; (2) colabora-ção constante dos pesquisadores; e (3)introdução progressiva do critério deinteresse econômico e social para oEstado do Rio de Janeiro na avalia-ção dos projetos.

A entrada regular de recursos em2007 permitiu a continuidade depagamentos e de pesquisas. Háindicadores que sinalizem a ne-cessidade de recursos para áreasainda não atendidas? Há planospara o lançamento de novos pro-gramas?

Somente em junho tivemos a certe-za de que o orçamento da FAPERJseria substancialmente aumentado. Apartir daí, colocamos em prática oplanejamento para o ano de 2007.Foram 17 editais, entre os meses dejunho e dezembro. Desde o fim deagosto, foram julgamentos quase quesemanais, boa parte deles com co-mitês externos (por vezes com até30 pesquisadores, oriundos de ou-tros estados). Uma vez realizados osjulgamentos, tivemos toda a grandetarefa administrativa para prepararo empenho (visando ao pagamen-to) dos projetos contemplados.

Além dos inúmeros editais, verifica-mos que boa parte de auxílios con-templados no sistema “balcão” (flu-xo contínuo), desde 2001, ainda nãohavia sido paga. A quase totalidade

desses projetos foi reavaliada e logoprovidenciamos o empenho e pa-gamento da maioria deles. Infeliz-mente, os recursos são finitos, emuitos projetos considerados bonsacabaram não sendo atendidos. Con-tudo, eles podem ser reapresentadosnas novas chamadas, tanto pelo flu-xo contínuo quanto em editais.

Avançamos no fomento à ciência,mas também avançamos muito noque se refere ao financiamento à ino-vação tecnológica. Claramente, algu-mas áreas ainda não puderam sercompletamente atendidas. Precisa-mos manter um aporte financeirosubstancial e crescente para dotarmosas nossas instituições de ensino e pes-quisa da infra-estrutura necessária.

Alguns programas lançados necessi-tam de melhor estruturação e, porcerto, novos programas sempre ha-verão de ser lançados, requerendouma contínua adequação à realidadeda situação existente. De qualquerforma, acreditamos ter conseguidodistribuir, de uma forma mais am-pla, os recursos para fomento da ci-ência e da tecnologia, atendendo apraticamente todas as instituições deensino e pesquisa sediadas no esta-do, públicas ou privadas, e a quasetotalidade das áreas e subáreas deconhecimento. Em particular, as ci-ências humanas e sociais tiveram umaparticipação bastante expressiva ecrescente em 2007.

A política de lançamento de inúme-ros editais será mantida em 2008. Acre-ditamos que a apresentação de proje-tos para avaliação por pares seja a for-ma mais justa e transparente para adistribuição dos recursos existentes.

Novos programas serão lançados,como, por exemplo, os grupos depesquisa emergentes devem ser esti-mulados, da mesma forma que fi-zemos com os grupos já consolida-dos, por meio do edital Pensa Rio –2007; nossos hospitais universitários

precisam recuperar sua infra-estrutu-ra para pesquisa e assistência; e umaoutra necessidade é a de se pesquisare inovar no cuidado a pessoas comnecessidades especiais. Além desses,dentro de algumas áreas prioritárias,pensamos também em investir em pro-jetos de grande porte que reúnam apesquisa, a inovação tecnológica e adivulgação e popularização do conhe-cimento gerado.

Atualmente, inovação tecnológicatem sido considerada uma priori-dade para países, como o Brasil,que desejam diminuir o atraso queos separa das nações mais desen-volvidas. Editais como o Rio Ino-vação e o Inovação Tecnológicatêm tido surpreendente procura.Há perspectivas de se lançaremoutros programas ou de se au-mentarem os recursos para essesjá existentes? E o que tem sidofeito para levar esse esforço parao interior do estado?

O processo da criação pelo homempassa por uma seqüência natural: pelaobservação, pela observação sistemá-tica, pela criação de alicerces teóricose experimentais, pela consolidaçãodesses conhecimentos em teorias, e,finalmente, pela transformação dessesconhecimentos em produtos e proces-sos que atendam às necessidades e aosanseios dos cidadãos.

No Brasil, e em nosso estado, essecaminho foi perseguido por nossospesquisadores. Agora, vivencia-se a re-cente e relevante inclusão da cadeia pro-dutiva representada pelas empresas.

Creio que cumprimos dois estágiospreliminares que vêm apresentandoresultados concretos. O primeiro foirepresentado por um programa lan-çado pela FAPERJ nos anos de 2005e 2006, em importante parceria coma Financiadora de Estudos e Proje-tos (Finep), conhecido pela denomi-nação de Rio Inovação (I e II, res-pectivamente). Nesse programa, o

ENTREVISTA

Vilma Homero

Ruy Garcia Marques: “Acreditamos que a apresentaçãode projetos para avaliação por pares seja a forma mais justa etransparente para a distribuição dos recursos existentes”.

Fotos: Vinicius Zepeda

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Vilma Homero

Ensino e pesquisa:

BIOFÍSICA

pesquisador procurava uma empre-sa com uma idéia de inovação tecno-lógica. Dele surgiram 65 projetos,oriundos de dez municípios do nos-so estado. Os bons resultados alcan-çados pelos projetos já concluídosmostram o acerto das decisões to-madas nesse primeiro estágio.

O segundo estágio foi representadopelo edital de Apoio à InovaçãoTecnológica, que lançamos em 2007,e em que, inversamente, a empresadeveria procurar o pesquisador comum projeto de inovação. A FAPERJrecebeu um conjunto de 88 propos-tas (36 selecionadas), oriundas de 20municípios fluminenses. Dessas 88propostas, cerca de 50% vieram demunicípios situados fora da região me-tropolitana do Rio de Janeiro, caracte-rizando uma descentralização einteriorização das empresas candidatas.

Dando continuidade ao processo, oterceiro estágio será constituído peloprograma PAPPE-Subvenção (outraversão do programa Rio Inovação),também em parceria com a Finep,visando à capacitação e à melhoriada competitividade de micro e pe-quenas empresas sediadas no estado.O edital desse programa ainda estásendo avaliado pela Finep e espera-mos que possa ser lançado breve-mente. Serão disponibilizados R$ 30milhões, dos quais R$ 18 milhões sãooriundos da Finep e R$ 12 milhõesda FAPERJ, permitindo que as em-presas possam participar diretamen-te do processo de inovação tecno-

lógica, desenvolvendo projetos deprodutos e de processos de impac-to tecnológico e social, gerando em-pregos, aumentando a renda e con-tribuindo para a melhoria da qualidadede vida de nossa população.

Com esse novo edital, poderemos,efetivamente, alavancar o “mercado”da inovação tecnológica em todas asregiões do Rio de Janeiro. São os re-sultados dessas diversas modalida-des de programas que ditam a opor-tunidade de sua reedição ou de seuaprimoramento.

Em 2007, uma área como a doensino público mereceu o lança-mento de um edital específico(Apoio à Melhoria do Ensino naEscola Pública), sinalizando parauma estratégia de buscar soluçõese alternativas para as questões dasociedade fluminense. Para 2008,há previsão de lançamento de pro-gramas semelhantes? Se houver,voltados para que setores?

A julgar pela receptividade a esseprograma, podemos dizer que aopção por seu lançamento foi co-roada de sucesso. A grande maioriados projetos contemplados nesseedital ainda está sendo implemen-tada, somente permitindo que se tirealguma conclusão mais acertada apartir do fim de 2008. Apesar determos que aguardar esse tempo,presumimos que editais como essetêm que ser praticados, emboraeventualmente precisem de algumaperfeiçoamento.

Uma necessidade que se mostroupatente foi a da formação e treina-mento de professores dos ensinosfundamental e médio, aliado à ne-cessidade de montagem e equipa-mento de laboratórios, sobretudonas áreas de ciências e de matemáti-ca. Isso se tornou evidente pelosbaixos índices de aproveitamentoalcançados pela maioria de nossosalunos em exames nacionais de qua-lificação, realizados durante o ano de

2007. Assim, a FAPERJ está prepa-rando um edital para apoiar essasáreas, a ser lançado brevemente.

Uma das preocupações da Secre-taria de C&T fluminense tem sidodifundir e aproximar a ciência dasociedade. No âmbito da FAPERJ,como isso tem sido feito? O lan-çamento da revista Rio Pesquisaé uma estratégia para populari-zar a ciência? Há outras ações emvista?

Estimular a produção, a divulgação,a difusão e a popularização da ciên-cia e de tecnologia no Rio de Janeirotem sido uma constante preocupa-ção do governador Sérgio Cabral, dosecretário Alexandre Cardoso e daFAPERJ. É nossa obrigação ampliara divulgação e a discussão do conhe-cimento gerado com o apoio daFAPERJ, acompanhando os investi-mentos realizados com o dinheiropúblico. É esse o nosso dever!

A revista Rio Pesquisa tem uma im-portante missão a cumprir nesse par-ticular. Ela não é uma revista voltadaexclusivamente para os pesquisado-res, mas muito mais para a popula-ção leiga. Cada vez mais, queremosque ela atinja seu objetivo. Queremosque ela chegue a alunos e professo-res de todas as escolas públicas donosso estado, tanto do ensino fun-damental quanto do médio, e que, dasmãos deles, possa passar a seus fa-miliares e amigos. Para isso, precisa-mos da colaboração de todos, comidéias e sugestões que visem ao seurefinamento e evolução.

Na medida do possível, temos pro-curado participar de eventos queaproximem a FAPERJ da população,mostrando as nossas atividades, rea-lizações e planos. Devemos estar sem-pre atentos a situações que propici-em à FAPERJ atingir seu objetivopleno de valorizar e fomentar o sis-tema científico e tecnológico estadu-al, bem como promover a inter-ligação entre C&T e a sociedade.

a perfeita união

Os números impressionam! No Ins-tituto de Biofísica Carlos Chagas Fi-lho da Universidade Federal do Rio de

Janeiro (IBCCF/UFRJ), há mais de uma cente-na de linhas de pesquisa em andamento nos 43laboratórios que a instituição abriga. A pós-gra-duação já ultrapassou a marca de mil teses pro-duzidas ao longo de sua existência. Em 2008,espera-se que esses números aumentem, comoresultado das freqüentes reestruturações com queali se procura atender a necessidade de se iniciarnovos estudos e aglutinar trabalhos, driblandoos problemas de exigüidade de espaço para darconta da crescente produção.

Ali, o princípio de que “ensino e pesquisa cami-nham juntos” continua sendo seguido à risca, talcomo idealizou o criador do instituto, o cientistaCarlos Chagas Filho, em 1937, quando fundouo Laboratório de Biofísica nas dependências daentão Universidade do Brasil, atual UFRJ. “Atu-almente, destacam-se os estudos na área de célu-las-tronco, em oncologia, as pesquisas de diag-nósticos por biologia molecular e na área de do-enças infecto-parasitárias”, explica o biofísicoOlaf Malm, que há um ano ocupa o cargo dediretor do instituto. Muitos dos trabalhos desen-volvidos ali foram pontos de partida para roti-nas e procedimentos incorporados ao dia-a-diaclínico do Hospital Universitário ClementinoFraga Filho e de inúmeras outras unidades. “En-tre os centros de pesquisa do Centro de Ciênciasda Saúde (CCS) da UFRJ, o Instituto de Biofísicaé o que apresenta o maior número de estudosem interação com a área clínica do hospital”,acrescenta.

É esse padrão de qualidade que se procura manternão só por meio do intercâmbio com pesquisa-dores de instituições estrangeiras, mas também

com o rigor na contratação de docentes. Atual-mente, há 94 professores, a maior parte delesdoutores, e cada um responsável por liderar umaou mais linhas de pesquisa. “Ainda há um trânsi-to muito grande de cientistas estrangeiros poraqui. Como os franceses da Escola Franco-Bra-sileira, que periodicamente dão cursos no insti-tuto.” Da mesma forma, o grupo de biofísicaambiental, a que pertence o próprio Malm, reú-ne, em workshops promovidos a cada dois outrês anos, especialistas de todo o país, particu-larmente da região amazônica, onde funcionaum centro de pesquisa criado a partir de estu-dos desenvolvidos no IBCCF.

“O instituto também tem uma grande inserçãoem quase todos os estados do país. Isso se deve

No IBCCF, realizam-se importantes estudos sobre células-tronco, oncologia e nasáreas de diagnósticos por biologia molecular

Fotos: Vinicius Zepeda

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Diretor: Olaf MalmInstituição: Instituto de BiofísicaCarlos Chagas Filho/UFRJ

ao fato de que os pesquisa-dores que aqui fizeram suaformação, ou cursos de atua-lização, ao voltar para seus es-tados de origem, montam cen-tros de excelência, tendo oIBCCF como referência”, ex-plica Malm.

Seguindo tendência internaci-onal, a partir dos anos 1990,o Instituto de Biofísica passoua estruturar-se em programas,e não mais em departamen-tos. A mudança dá maior mo-bilidade e independência aospesquisadores, que passam atransitar mais facilmente entreos diferentes laboratórios. “Isso tam-bém favorece uma abordagem maisampla, a troca de experiências e a re-alização de trabalhos conjuntos oucomplementares. Nossos laboratóri-os são, na verdade, áreasmultiusuários, uma forma de ampli-ar a capacidade física, já que algunsdeles partilham o mesmo espaço eusam os mesmos equipamentos”, es-clarece.

Atualmente, o instituto conta com seteprogramas – Bioengenharia e Bio-tecnologia Animal; Biologia Celulare Parasitologia; Biologia Molecular eEstrutural; Ciências Ambientais eBiotecnologia; Fisiologia e BiofísicaCelular; Imunobiologia; e Neuro-biologia. “Mas, como essa estruturaé dinâmica, em 2008, eles passarão aser oito”, anuncia o diretor.

Os planos de crescimento não pa-ram por aí. Como, desde sua cria-ção, um dos objetivos é o de for-mar pesquisadores, o instituto sem-pre esteve mais voltado para os cur-sos de pós-graduação. “Nossa pós-graduação vêm mantendo, sem osci-lações, pontuações 6 e 7, as mais altasna avaliação da Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Ní-vel Superior (Capes). Essas notasmostram que conseguimos manterum nível de excelência ao longo de

todos esses anos. Na graduação, sem-pre procuramos oferecer disciplinaspara os cursos do CCS. Mas tam-bém expandimos com novos cursos.Com outros institutos do CCS, cria-mos há alguns anos um bachareladoem Ciências Biológicas – modalida-de Biofísica. Hoje, são cerca de 70disciplinas para a graduação, mas, até2010, nossa meta é chegar a 100”,estima Malm.

Com a proposta de difundir ciênciae apostar na descoberta de novos ta-lentos, o IBCCF promove, além doscursos de extensão universitária aber-tos para profissionais e estudantes daárea médica, aulas de atualização paraprofessores do ensino médio e pré-

De um lado, as paredes estão cobertas dediplomas. No outro, há fotos das quatrofilhas, do pai e do irmão. O escritório deCarlos Chagas Filho, o fundador do Insti-tuto de Biofísica da Universidade Federaldo Rio de Janeiro, transformado em mu-seu, permanece tal como ele deixou, em2000, ano de sua morte. Do gabinete queocupou por mais de 30 anos, à entrada doinstituto, ele fazia questão de acompanharas inúmeras pesquisas em andamento, con-versava com pesquisadores, estudantes efuncionários, rompendo a rígida hierarquiaque costuma prevalecer no mundo acadê-mico. Especialmente para um alguém de re-nome internacional, como ele.

Mas a trajetória do professor Carlos Cha-gas Filho desmente o clichê do cientistaenfurnado num laboratório, isolado do co-tidiano de meros mortais e encastelado natorre de marfim erguida pelo prestígio dopai – o médico Carlos Chagas, a quem sedeve a descoberta do Trypanosoma cruzi. Aocontrário, foi um ousado inovador, que, atéo fim de seus 89 anos de existência, mante-ve a curiosidade pela vida e pela ciência, como espírito de um grande humanista. Alguémcom interesses diversificados, que cultivavaamizades com os grandes nomes da ciênciainternacional, além de poetas, como ManuelBandeira e Vinícius de Moraes, escritores,como Pedro Nava e Jorge Amado, e com-positores, como Paulinho da Viola eDorival Caymmi.

Sem ver qualquer contradição entre religiãoe ciência, Chagas conseguia unir o espíritoinovador do cientista com o do católico fer-voroso. Nomeado pelo papa Paulo VI pre-sidente da Academia Pontifícia de Ciênciasdo Vaticano, exerceu o cargo durante 16anos, nos quais não só promoveu o pro-cesso de reabilitação, pela Igreja, de GalileuGalilei, como liderou a equipe de especia-listas que empreendeu pesquisas para datar

O médico Carlos ChagasFilho, fundador doInstituto de Biofísica,sempre manteve acuriosidade pela vida epela ciência, com oespírito de um grandehumanista

Um Aprendizde Ciência

iniciação científica para alunosem férias. “Cada vez é maioro número de nossos docen-tes envolvidos em divulgaçãocientífica. Seja no Espaço Ci-ência Viva, na Academia Bra-sileira de Ciências ou qualqueroutro ambiente do gênero”,diz. O próprio Malm lembracom orgulho que durante dezanos, teve seu nome no ex-pediente da revista CiênciaHoje, da Sociedade Brasileirapara o Progresso da Ciência(SBPC) como vários outrosprofessores do IBCCF. Osplanos de expansão, porém,

esbarram nas dificuldades que o ins-tituto, assim como a maior parte dasuniversidades e dos centros de pes-quisa do país, atravessa. O prédio doCCS, onde se instalou o IBCCF, ca-rece de manutenção e de verbas paraatender às variadas necessidades. “Te-mos dificuldades em manter os la-boratórios e equipamentos em bomnível de funcionamento. Os recur-sos para financiar as pesquisas aindasão restritos e insuficientes, em grandeparte obtidos por nossos pesquisa-dores sêniores. Ainda são poucas aslinhas de fomento direcionadas a jo-vens pesquisadores, como as que aFAPERJ disponibiliza. São proble-mas estruturais e históricos da ad-ministração pública e é preciso teridéias inovadoras para lidar comeles”, diz.

Uma das soluções usadas no institu-to é o rateio dos recursos obtidosentre os vários laboratórios. “Preva-lece entre os pesquisadores a solida-riedade. É impressionante como olegado do professor Carlos ChagasFilho parece fortemente estabeleci-do no instituto. A filosofia do nossofundador se mantém viva por aqui”,conclui o diretor Malm.

O princípio de que“ensino e pesquisacaminham juntos”continua sendoseguido à risca, talcomo idealizou ocriador do instituto,o cientista CarlosChagas Filho

À frente do Instituto de Biofísica, Olaf Malmcontinua fazendo parte do grupo depesquisas de biofísica ambiental

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Implantado na Universidade do Bra-sil, em 1937, o Laboratório deBiofísica logo desmentiu essa antigacrença, reunindo uma equipe expe-riente – nomes como Tito EnéasLeme Lopes, Lafayete RodriguesPereira, Almir de Castro e HerthaMeyer. “Quando ele descobria opotencial de alguém, tratava de in-vestir. Eduardo Penna Franca, porexemplo, ele foi buscar na Fiocruz,orientou a fazer especialização nosEstados Unidos e trouxe para o ins-tituto, onde lhe confiou a prepara-ção do primeiro laboratório deradioisótopos do Rio de Janeiro,para aplicações de traçadores radio-

ativos”, conta Malm. O crescimen-to das pesquisas desenvolvidas deuorigem a uma prática que logo setornaria comum: a colaboração en-tre instituições e o aproveitamentode estruturas biológicas característi-cas da ecologia nacional.

Em 1945, o laboratório transfor-mou-se no Instituto de Biofísica, atéque, em 1983, já nas dependênciasda UFRJ, na Ilha do Fundão, teveacrescido o nome de seu fundador,passando a chamar-se Instituto deBiofísica Carlos Chagas Filho. Paracontornar a dificuldade em obterrecursos, durante todo esse tempo,Carlos Chagas Filho jamais hesitou

em recorrer a seu próprio prestígio.Foi assim que, ao longo dos anos1950, conseguiu, fosse com a Fun-dação Rockfeller, fosse com empre-sários, como Guilherme Guinle ouquaisquer outros nomes e instituiçõesdispostos a colaborar, verbas e equi-pamentos – a maioria caros e inexis-tentes no país – para avançar nas pes-quisas e manter o padrão de quali-dade dos laboratórios. Também eraassim que, nas viagens que regular-mente fazia à Europa e aos EstadosUnidos, voltava invariavelmentecom especialistas convidados paracursos e conferências, e ainda con-seguia bolsas de estudo no exterior

para seus alunos. Com a ajuda de pa-rentes e amigos do Ministério das Re-lações Exteriores, ele também pro-curou solucionar a situação de pes-quisadores alemães, italianos e france-ses refugiados irregularmente no paísdurante a Segunda Guerra Mundial.

Carlos Chagas Filho manteve-se du-rante todo o tempo um ativo pes-quisador. Um de seus trabalhos maisimportantes foi em bioeletrogênese.Ele empenhou-se ainda em trazerpara o Brasil técnicas, como a cro-matografia, ultracentrifugação eeletroforese, desenvolvidas durantea Segunda Guerra. Sempre inova-dor, promoveu o primeiro curso de

a época de relíquias, como o SantoSudário, e ainda organizou um en-contro de cientistas de todo o mun-do para elaborar um documentopelo desarmamento nuclear.

“Os cursos de metodologia científi-ca de Carlos Chagas Filho eramdisputadíssimos. Todos os estudan-tes do CCS queriam ter o privilégiode ser alunos dele. Fui um desses alu-nos e acho que ele conseguia nos en-volver no universo da ciência, nospassando a vivência de suas pesqui-sas e do convívio com as mais ex-pressivas personalidades científicas”,lembra Olaf Malm, o atual diretordo IBCCF. A secretária Maria Luiza

de Almeida também tem boas re-cordações de seus nove anos de tra-balho com o cientista. “Quando ain-da estávamos no prédio da PraiaVermelha, o chá das cinco, após oexpediente, era tradição. O ambien-te era quase familiar, o momento emque se discutia sobre as pesquisas,mas também se conversava sobretodos os assuntos. O doutor Carlosmostrava interesse por todos, valo-rizava o ser humano e, com isso, con-seguia que cada um desse o melhorde si”, recorda.Carioca nascido em 1910, CarlosChagas Filho viveu a infância numacidade deliciosamente calma, como

conta em sua autobiografia Umaprendiz de cência. Seus primeiros con-tatos com a ciência foram as aulasde história natural e os bichos e plan-tas do quintal da casa número 148,na Rua Paissandu, onde a famíliamorava. Lá, ele conviveu com os ci-entistas estrangeiros que visitavam opai, e também aprendeu que suces-so e prestígio numa carreira científi-ca não significam necessariamentecompensações financeiras. A vidamodesta do pai, cientista aclamado,era um exemplo claro disso.

Entrar para a Faculdade de Medici-na foi a seqüência natural para quem,como ele, desde criança visitava os

laboratórios de Manguinhos, e era fi-lho e irmão de médicos. Evandro Cha-gas, o irmão mais velho, foi o criadordo Serviço Especial de GrandesEndemias (Sege), do InstitutoOswaldo Cruz. Aprovado em con-curso para professor da Universida-de do Brasil – como se chamava na-quele tempo a Universidade Federaldo Rio de Janeiro –, Carlos ChagasFilho passou uma temporada na Eu-ropa, elaborando seu grande sonho:criar um centro de pesquisas e ensinode padrão internacional. Um projetoousado para a época, em que o ambi-ente da universidade era incompatívelcom a pesquisa científica.

Fotos: Acervo particular

aplicação médica de radioisótopos efoi pioneiro em desenvolver traba-lhos com microscopia eletrônica. Sónão conseguiu isolar o receptor daacetilcolina, proteína-chave para cri-ar tratamentos contra o mal deParkinson e a miastenia gravis porque,àquela época, ainda não havia estru-tura de equipamento e de materialpara isso.

Considerado um homem de tratoagradável e um bom ouvinte, o cien-tista – que também empresta o nomeà FAPERJ (Fundação Carlos ChagasFilho de Amparo à Pesquisa do Es-tado do Rio de Janeiro) – acumuloucargos e títulos. Foi embaixador bra-

sileiro na Unesco, presidente do Co-mitê Especial das Nações Unidaspara Aplicação da Ciência e daTecnologia e fundador da AcademiaLatino-Americana de Ciências e Aca-demia de Ciências do Terceiro Mun-do. Era ainda doutor honoris causa de16 universidades nacionais e estran-geiras, comendador da Ordem Na-cional da Legião de Honra francesae membro da Academia Brasileira deLetras. Até seus últimos meses devida, não deixava de comparecer,pelo menos duas vezes por semana,ao instituto que havia criado.

Em um de seus últimos textos, agra-decendo o Prêmio FAPERJ que lhe

foi conferido pelo governo do esta-do em 1999, ele resume: “No terre-no da pesquisa, segui uma filosofiaque me parece importante para paí-ses como o nosso. Creio que conse-gui, pelo menos em grande parte,realizar o que queria: associar pes-quisa ao ensino, o que dobra ovalimento deste. Porém, não me con-sidero, de forma alguma, nem mes-mo com a recompensa que hoje meé dada, uma pessoa realizada, o queexplica o título de meu livro de me-mórias, Um aprendiz de ciência.”

“No terreno dapesquisa, segui umafilosofia... associarpesquisa ao ensino,o que dobra ovalimento deste”

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Em janeiro, mês em que a ex-posição sobre Darwin es-treou no Rio de Janeiro, duas

descobertas de novas espécies derépteis pré-históricos da pale-ontologia brasileira reforçam a teo-ria evolucionista do naturalista inglêsdo século XIX. O Nemicolopteruscrypticus está sendo apontado comoo menor fóssil de pterossauro já en-contrado. O espécime, um réptil voa-dor, que media 25 cm de aberturaalar, viveu há 120 milhões de anos e

foi encontrado na China por umaequipe local em parceria com doiscientistas brasileiros. Deste lado de cádo mundo, em São Paulo, paleon-tólogos brasileiros descobriam oMontealtosuchus arrudacamposi, um eloperdido entre os crocodilos primiti-vos e os atuais.

Descobertas como essas celebram aboa fase da paleontologia brasileira, es-pecialmente a fluminense. Segundo oprofessor Ismar de Souza Carvalho,coordenador do grupo de pesquisaque analisou Montealtosuchus, o “estudoque vem sendo realizado pelo Depar-

tamento de Geologia da Universida-de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)transcende a descrição de novas espé-cies, mas busca uma identidade para apaleontologia brasileira, revelando aomundo fósseis que possibilitarão umanova reflexão sobre a evolução dasespécies a partir do que possuímos emnosso território”.

A descoberta do Montealtosuchusarrudacamposi, um ancestral dos cro-codilos atuais, desfaz por completoum dos mais antigos mitos que ron-dam a espécie: a de que esses ani-mais nada ou pouco evoluíram aolongo dos séculos. “Afirmar isso éuma falácia; como todas as espécies,os crocodilos evoluíram e essa des-coberta reforça a tese”, afirmou opaleontólogo Felipe Mesquita deVasconcellos, integrante da equipe deIsmar e um dos autores da pesquisa.A afirmação foi feita durante a apre-sentação à imprensa do que está sen-do considerado o elo perdido doscrocodilomorfos, no Centro de Ciên-cias Matemáticas e da Natureza, daUFRJ, no fim de janeiro. O novo rép-til está sendo classificado como o res-ponsável pela revisão da história daespécie. “A relevância do M.arrudacamposi é enorme por apresen-tar características morfológicas quepossibilitam traçar as conexões dasespécies extintas e as espécies viven-tes”, definiu Carvalho.

Diferentemente de seus descenden-tes aquáticos, o M. arrudacamposi era

um predador totalmente terrestre, quemedia até 1,70 m, pesava entre 25 kg e50 kg e se alimentava de carcaças deanimais mortos. Ele viveu no períodoCretáceo Superior, há cerca de 85 mi-lhões de anos e era altamente adapta-do às condições de clima árido do in-terior de São Paulo durante o período.Era um animal gregário, possuía umacarapaça flexível e cauda que perma-necia na vertical, um tipo de proteçãocontra os predadores naturais. “Nolocal onde esse fóssil foi descobertoextremamente bem preservado, umaverdadeira jóia da paleontologia, tam-bém encontramos outros dois espé-cimes que morreram juntos”, expli-cou Vasconcellos. O cenário em queviveu o crocodilo era composto derios e pequenos lagos temporários, eo clima, seco e quente. Dinossauros,tartarugas aquáticas e crocodilomorfosterrestres eram os animais contempo-râneos do M. arrudacamposi, que su-cumbiram ao calor ou às inundações,foram soterrados e preservadoscomo fósseis.

O estudo dos paleontólogos Ismar deSouza Carvalho e Felipe Mesquita deVasconcellos, ambos do Departamen-to de Geologia da UFRJ, e SandraSimionato Tavares, do Museu dePaleontologia de Monte Alto (SP), lan-çou mão de métodos pouco comunsnuma pesquisa clássica anatômica,como a criação de um modelo virtual,a partir de uma tomografia de alta re-solução, feita numa clínica do Leblon.“Esses raios X seqüenciais possibilita-ram recriar um modelo virtual”, disseVasconcellos. “E o resultado tridi-mensional ajudou a reconstituir as es-truturas internas e externas do animal,como a topologia do cérebro, a fixa-ção muscular, que permitiu aprimoraros estudos biomecânicos, e a extensãoda abertura da mandíbula”, explicouo pesquisador.

Esse tesouro da paleontologia nacio-nal surgiu a partir da paixão de um ho-mem pelos dinossauros. Antonio Cel-

so de Arruda Campos se aposentoue começou a dedicar suas horas li-vres ao estudo dessa espécie pré-his-tórica. Foram 30 anos dedicados àpesquisa, que rendeu a criação de umMuseu de Paleontologia na pequenaMonte Alto. “Escavávamos o terre-no e, quando encontrávamos algo,eu ligava para a UFRJ”, lembra opesquisador. A parceria já deu fru-tos. E o mais extraordinário deles, ofóssil do M. arrudacamposi, veio àsuperfície em maio de 2004, em MonteAlto. A preparação levou quatro anos.

O réptil pré-histórico pertence à fa-mília Peirosauridae e o nome home-nageia a cidade de Monte Alto e oprofessor Antônio Celso de ArrudaCampos, paleontólogo responsávelpor importantes descobertas no es-tado paulista. Trata-se de um fóssilcom aproximadamente 80% do es-queleto perfeitamente preservado.Fósseis dessa espécie são raros, sen-do apenas encontrados em rochas doperíodo Cretáceo Superior da BaciaBauru, no interior do estado. O arti-go “Montealtosuchus arrudacamposi, a newpeirosaurid crocodile (Mesoeucrocodylia)from the Late Cretaceous AdamantinaFormation of Brazil”, que apresen-tou o fóssil ao mundo, foi publica-do na ZooTaxa, importante publica-ção da área.

O menor pterossauro domundo

Encontrado na localidade de Luz-hougou, perto da cidade Yaolugou,na província de Liaoning, noroesteda China, o Nemicolopterus crypticus re-presenta uma nova espécie de réptilvoador do grupo dos Pterodactyloidea,com adaptações nunca antesregistradas em pterossauros. Comapenas 25 cm de extensão de asas,ele viveu há 120 milhões de anos.“São os primeiros vertebrados adap-tados para um vôo ativo. Isto é, nãoeram apenas planadores e podiamsair voando do chão, por exemplo”,explica o pesquisador Alexander W.A. Kellner, do Museu Nacional/UFRJ. “Eles podem ser considera-dos como irmãos dos dinossauros,ou seja, os dois grupos tiveram umancestral em comum, mas divergi-ram, e cada grupo tem a sua própriahistória evolutiva”, prossegue.

Segundo Kellner, “cada vez mais opesquisador brasileiro apresenta con-tribuições de impacto não apenasregional, mas também mundial, con-tribuindo para o conhecimento cien-tífico que influenciará as pesquisas deum modo geral”. “O apoio regularque vem sendo dado pela FAPERJ,por meio do edital Cientistas do

Réptil na cabeçaDuas importantes descobertas de répteis primitivos,uma na China e outra em São Paulo, celebram a boafase e dão visibilidade à paleontologia brasileira

Roni Filgueiras

PALEONTOLOGIA

Ismar de Carvalho explica que o Montealtosuchus arrudacamposi era altamenteadaptado às condições de clima árido do interior de São Paulo no Cretáceo Superior

Foto: Vinicius Zepeda

A imagem do predador, recriada com o auxílio de um tomógrafo e o trabalho de artistas gráficos

Ilustração: Divulgação UFRJ

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rem animais voadores, os restos depterossauros são raríssimos no re-gistro geológico. Assim, novas des-cobertas, como a que acaba de serfeita, são fundamentais para que setenha uma melhor idéia de comoestes vertebrados alados evoluíramno decorrer do tempo.

O artigo “Discovery of a rarearboreal forest dwelling flying reptile(Pterosauria, Pterodactyloidea) from Chi-na” sobre a descoberta dos pesqui-sadores brasileiros e chineses ganhoudestaque na Proceedings of the NationalAcademy of Sciences, editada pelaNational Academy of Sciences ofthe United States of America. É aprimeira vez que pesquisadores bra-sileiros, em parceria com os colegaschineses, publicam um artigo relacio-nado à paleontologia nessa que éuma das principais revistas científi-cas do mundo.

A equipe do Museu Nacional tam-bém montou um pequeno cenário,procurando retratar a floresta queexistia há 120 milhões de anos nolocal onde o minipterossauro foiencontrado. Nesse cenário, são en-contradas uma réplica do esqueletoe outra em vida do Nemicolopterus,além da cópia do fóssil original noqual se baseou o estudo.

Segundo Kellner (foto acima), oNemicolopterus crypticus era adaptado paraa sobrevivência na copa das árvores

Fotos: Divulgação Museu Nacional / UFRJ

Escultura: Claudio N. Salema Ribeiro / Museu Nacional

Pesquisa busca novas substâncias para eliminar oAedes aegypti

Combate sem tréguas

Vilma Homero

SAÚDE

Pesquisa busca conhecer melhor o vetor para identificar as substâncias mais eficazes em eliminá-lo

Fotos: Genilton José Vieira / Fiocruz

Ele tem apenas de 5 a 7 milí-metros e listras brancas bas-tante características, mas se

tornou um desafio às autoridades desaúde do país. O Aedes aegypti, mos-quito transmissor da dengue, foi oresponsável por 536.519 casos dadoença registrados no país entre ja-neiro e novembro de 2007, 1.275deles na forma hemorrágica. Ou seja,200 mil a mais do que em 2006, como maior número de casos registradosna região Sudeste. Além desses da-dos, divulgados em dezembro peloMinistério da Saúde, as notícias de ca-sos de febre amarela, de pessoas quecircularam por algumas regiões ondehá risco de contágio pela forma sil-vestre da doença, também preocupa-ram as populações de alguns estadosdo país. Isso levou à intensificação docontrole aos focos de Aedes aegypti –que também é o vetor da forma ur-bana da febre amarela.

É uma luta sem tréguas, que se de-senvolve em várias frentes. Enquan-to de um lado permanece o com-bate aos possíveis criadouros doAedes aegypti, nos laboratórios os pes-quisadores buscam conhecer cadavez mais as características do vetorpara melhor combatê-lo. É exata-mente o que faz a bióloga DeniseValle, do Laboratório de Fisiologiae Controle de Artrópodes Vetores,do Instituto Oswaldo Cruz (Fio-cruz). Em sua pesquisa “Dengue noEstado do Rio de Janeiro, moni-toramento e determinação dos me-

canismos de resistência aos insetici-das químicos usados no programade controle do Aedes aegypti”, ela es-tuda diferentes populações de mos-quitos de diversos municípios brasi-leiros e o papel das enzimas respon-sáveis pela detoxificação de insetici-das, incluindo as enzimas esterases eGST (sigla para glutationa-S-transferase), na resistência aos inseti-cidas atualmente usados.

O estudo de Denise e sua equipese soma às pesquisas desenvolvi-das por especialistas de diferentesáreas – epidemiologistas, médi-cos, entomologistas e biólogos –,que subsidiam o Ministério daSaúde para traçar as estratégias doPrograma Nacional de Controleda Dengue (PNCD). Isso incluitrabalhos que buscam entender ascaracterísticas e o comportamentodo vetor, as formas de melhormonitorar seus criadouros e, natu-

ralmente, identificar as substânciasmais eficazes em eliminá-los.

Especialmente neste caso, de resis-tência a inseticidas químicos, seu la-boratório é referência nacional parao Ministério da Saúde e um dos in-tegrantes da Rede Nacional deMonitoramento da Resistência deAedes aegypti a Inseticidas (MoReNAa)– o mais amplo programa mundialdo gênero. No momento, a equipefinaliza uma pesquisa de produtosque neutralizam o inseto por atuarsobre seu metabolismo, tornando-oinofensivo. Esses produtos estão emfase final de testes, antes de entrar narotina do ministério para o comba-te à dengue.

“Fazemos uma integração entre pes-quisa acadêmica e prestação de ser-viços para o Ministério da Saúde, nadefinição de um programa de ges-tão integrada, que tem servido comomodelo não só para o combate ao

Nosso Estado, foi fundamental paraessas conquistas”, atesta. A pesquisada parte brasileira também foi finan-ciada pelo CNPq.

Durante vários meses em 2006, opesquisador trabalhou no estudo doNemicolopterus crypticus, encontradopor Xiaolin Wang e Zhonghe Zhou,ambos do Instituto de Paleontologiade Vertebrados e Paleoantropologia,de Pequim; e pela equipe brasileiracomposta por ele e Diógenes deAlmeida Campos, do Museu de Ciên-cias da Terra do Departamento Nacio-nal de Produção Mineral da UFRJ.

“Este achado traz uma nova teoria paraa evolução dos répteis voadores: a deque os grandes pterossauros, pratica-mente todos especializados para se ali-mentarem de peixes, teriam des-

Répteis voadores,os pterossaurossurgiram há 220milhões de anos eforam extintos daface da Terra há 65milhões de anos

cendido de forma diminutas, que vi-viam nas copas de árvores e se ali-mentavam de insetos”, afirmaKellner, que no fim do ano passadoapresentou outra descoberta depeso: o Futalongkosaurus dukei, o maiscompleto fóssil de um dinossauro eo terceiro maior do mundo, encon-trado na Argentina. Uma das adap-tações inéditas do Nemicolopteruscrypticus é a “expansão óssea nofêmur”, que seria destinada a ten-dões e músculos, fortificando as per-nas e resultando numa poderosa fer-ramenta para a sobrevivência nas co-pas de árvores das florestas.

O fóssil da nova espécie descobertaera um jovem. Fato comprovado,segundo Kellner, pelo nível deossificação. “Sua constituição óssea,com todos os elementos bem for-mados e ossificados, como os tarsaise o esterno, por exemplo, sugere quese trata de um jovem animal.” O bi-chinho não tinha dentes e, provavel-mente, o corpo era recoberto porestruturas semelhantes a pêlos. Onome deriva do grego nemos (que sig-nifica floresta), ikolos (traduzidacomo habitante, morador), pteros(asa) e kryptos (escondido). Em umatradução livre seria “o escondidomorador alado da floresta”. Por se-

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Pesquisadora: Denise ValleInstituição: Laboratório de Fisiologiae Controle de Artrópodes Vetores /Fiocruz

Aedes aegypti como também paraaplicação contra outros vetores, noBrasil e em outros países do Mer-cosul.” Ao analisar, entre 2001 e 2004,as populações de mosquito de váriosmunicípios brasileiros, o grupo deDenise pôde identificar as variações nasdiversas regiões do país, o que levou aRede MoReNAa a sugerir estratégiasespecíficas a cada uma delas.

“A constatação, no começo do ve-rão, de índices elevados de infestaçãopelo mosquito é um indicador derisco de surto de dengue. Por isso, oMinistério da Saúde costuma fazerlevantamentos de infestação a cadadois meses, e especialmente antes doverão (em geral no mês de outubro).O controle é voltado principalmen-te para a eliminação das larvas, evi-tando que cheguem às formas adul-tas, passíveis de transmitir a doen-ça”, fala a pesquisadora.

Confira a entrevista em que a pes-quisadora analisa a realidade docombate à dengue e as alternativasatualmente em estudo.

Rio Pesquisa – Pelos resultados desua pesquisa e pelos mapea-mentos já feitos dos focos e tiposde mosquito predominantes emdeterminadas regiões, a senhoratem sugerido medidas específicasa cada área do país. No caso doRio de Janeiro, quais são os tiposde mosquito prevalentes e quaisseriam as medidas mais adequa-das à realidade fluminense? E oque considera como os resultadosmais importantes ou surpreenden-tes de sua pesquisa?

Denise Valle – Basicamente, só háuma espécie de mosquito vetor dedengue no país, o Aedes aegypti (já queo Aedes albopictus ainda não foiincriminado como vetor no país). Oque varia são as populações do mos-quito, mais ou menos numerosas ecom características fisiológicas dis-tintas em função das condições exis-tentes de cada região e da pressão

que se faz para combatê-lo. Dosquatro sorotipos do vírus, existemtrês no Brasil. Mas a circulação des-ses sorotipos é bastante dinâmica. Noinício da epidemia de 2002, porexemplo, circulavam na cidade doRio de Janeiro principalmente os ti-pos 1 e 2, mas, no decorrer do sur-to, o tipo 3, detectado pela primeiravez no Rio em 2000, se disseminoue passou a ser responsável pela mai-oria dos casos. Nosso temor agoraé a entrada no país do vírus tipo 4,já presente em alguns países da Amé-rica Latina. O combate ao vetor, nocaso o Aedes aegypti, é uma das me-didas mais importantes dessa luta eprecisa ser efetivada durante todo oano. O importante é eliminar oscriadouros de larvas, evitando, assim,que elas se transformem em mos-quitos adultos e possíveis transmis-sores da doença. No Rio, é precisoum empenho maior e integrado dasvárias secretarias, à semelhança doque foi feito em Belo Horizonte,onde se criou um comitê de com-bate à doença, que reuniu, semanal-mente, os secretários municipais dePolítica Urbana, Saúde, Planejamen-to etc. Foi como eles abortaram umaepidemia no verão passado.

Rio Pesquisa – Apesar dos esfor-ços para controlar os focos demosquito, a dengue tem ressur-gido aparentemente em formascada vez mais danosas ao ho-mem, com o aumento dos casosde dengue hemorrágica. Que fa-tores, na sua opinião, levam aessa situação?

Denise Valle – A questão é que sóse contrai uma única vez cadasorotipo do vírus. Ao ter a doençapela primeira vez, o indivíduo ficaimunizado para sempre contra aquelesorotipo, mas apenas temporaria-mente contra os demais. Numa se-gunda vez, se vier a ser contamina-do por um sorotipo diferente, é pro-vável que o episódio seja mais gra-

ve. Em outras palavras, embora aindanão se conheça todos fatores respon-sáveis pelo desenvolvimento de den-gue para a forma hemorrágica, demodo geral, quanto mais episódiosda doença, maiores as chances decontrair a do tipo hemorrágico. Te-mos que trabalhar para não ter nopaís um perfil da doença semelhan-te ao asiático. Lá a dengue se trans-formou em doença de criança, o que

quer dizer que não há mais muitosadultos suscetíveis.

Rio Pesquisa – Recentemente, a fe-bre amarela também causou enor-me preocupação às diferentes po-pulações do país. Sabe-se que oAedes aegypti é o vetor da formaurbana da doença. Como evitarque essa enfermidade, que teveregistrados casos em alguns esta-dos brasileiros, evolua da formasilvestre e atinja as cidades?

Denise Valle – Aconselho a todoslerem recente nota técnica do Minis-

tério da Saúde, de janeiro deste ano.De acordo com a nota, o últimoregistro de febre amarela urbana noBrasil foi em 1942. Graças às medi-das de controle e à vacinação – avacina produzida pela Fiocruz temeficiência de mais de 90% e é válidapor dez anos –, a doença pôde serconsiderada erradicada no país. En-tretanto, quando uma epizootia –que é como se chama a ocorrência

de mortes de macacos relacionadasa uma mesma causa, como a pró-pria febre amarela – acontece nasproximidades de cidades, indica-sea intensificação das ações de controledo Aedes aegypti, que é o vetor trans-missor da doença no ciclo urbano.As mortes de macacos são o que sechama de “evento sentinela”.

De forma articulada com as Secre-tarias Estaduais da Saúde de Goiás,do Distrito Federal, de Minas Ge-rais e do Mato Grosso do Sul, o Mi-nistério da Saúde desencadeou uma

série de ações para impedir a ocor-rência de casos humanos de febreamarela nos municípios onde foramregistradas mortes de macacos.Entre as medidas, como a vacinaçãopara aqueles que estejam de viagempara áreas consideradas de risco, há arecomendação da imediata borrifaçãocom inseticida das áreas de cidadeslimítrofes a esses locais e outras açõesde redução de criadouros do Aedes

aegypti. Ainda segundo a nota, um co-mitê de peritos reunido pelo Ministé-rio da Saúde foi unânime em avaliarque a atual situação epidemiológica, nocaso da febre amarela, não é de riscode epidemia nem de reurbanizaçãoda doença no Brasil, devido às açõespreventivas e de controle adotadas,como bloqueio vacinal, e aos baixosíndices vetoriais médios. A experi-ência africana mostra que a transmis-são urbana pelo Aedes aegypti somenteocorreu com índices de infestaçãosuperiores a 40%.

Rio Pesquisa – Um dos focos desua pesquisa é a resistência doAedes aegypti aos efeitos dos in-seticidas usados. Como atua essemecanismo de resistência e quala importância da enzima GST nes-sa atuação?

Denise Valle – Os principais inseti-cidas atualmente usados atuam so-bre o sistema nervoso central domosquito. Eles exercem a pressão deseleção sobre as populações de mos-quito: sobrevivem os mais resisten-tes. Até 2000, os únicos inseticidasusados em todo o país contra larvase mosquitos adultos eram à base deorganofosforados. Naquele ano, aRede MoReNAa verificou que aspopulações de mosquito estavamresistentes a essa classe de inseticidas.Passou-se então a empregar pire-tróides no controle de mosquitosadultos, nacionalmente. Hoje, noentanto, já observamos resistênciatambém aos piretróides. Por isso, omais importante é o combate contí-nuo aos focos de larvas. Já a GST,assim como as esterases e as mono-oxigenases, são enzimas detoxi-ficantes, responsáveis pela resistên-cia metabólica do mosquito. Nossolaboratório adaptou metodologiaque quantifica a atividade dessasenzimas em grande escala. Esse tra-balho foi validado pelo Centers forDisease Control americano e publi-cado sob a forma de livro (em par-ceria entre o Ministério da Saúde e aFiocruz) e de artigo, em revista cien-tífica internacional. Para cada popu-lação, são avaliadas seis enzimas si-multaneamente, em 120 mosquitosindividuais. Encontramos maior ati-vidade nas enzimas GST e esterases,e temos procurado relacionar esseresultado à resistência a organo-fosforados e a piretróides.

Foto: Thiago Belinato

A equipe estuda substâncias que atuam sobre o metabolismo do mosquito, tornando-o inofensivo

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mente –, o número de alunos cres-ceu 91% no ano passado. Em 2006,o Brasil bateu a marca de 2,279 mi-lhões de estudantes matriculados nes-se universo, contribuindo para a in-clusão social de portadores de neces-sidades especiais e indivíduos comdificuldades de locomoção.

De olho na capacitação ágil de seusquadros a menores custos, as empre-sas também descobriram o e-learninge hoje levam 1,5 milhão de profissi-onais de volta às salas de aula – destavez, virtuais –, provocando um cres-cimento estupendo nas atividades deEAD, favorecidas pela alta in-formatização do ambiente corpo-rativo: aproximadamente 1.200%, de1999 para cá.

Apesar de ainda padecer de uma fal-ta de critérios definidos para padro-nizar a avaliação de qualidade doscursos – nivelando as instituições deensino em nível mundial –, aferir asatisfação dos alunos ou ainda defi-nir o grau de interatividade e a for-ma adequada de apresentação doconteúdo, o EAD desenvolvido noBrasil é considerado de bom nível pe-dagógico, com um número razoávelde docentes formados e material di-dático bastante criativo. E não faltamexperiências nacionais bem-sucedidasna área, como a da Universidade Vir-tual de Roraima (Univirr), deRoraima, que, com apenas oito pro-fessores, oferece cursos pré-vestibu-lares a distância a interessados de 15municípios do interior, além da ca-pital Boa Vista, incluindo comunida-des localizadas em reservas indíge-nas. Além de contar com uma uni-dade de transmissão via satélite paratransporte e geração de aulas a partirde qualquer ponto do estado, o pro-jeto da Univirr ainda prevê o uso derecursos de videoconferência por IPe TV interativa em suas salas de aula.

Desempenho notável têm também aUniversidade Federal de Itajubá (Unifei)e o Centro de Educação Superior a

Distância do Estado do Rio de Janei-ro (Cederj), considerados pelo MECcomo instituições pioneiras e com ele-vado reconhecimento na área, tendosido contratados para realizar acapacitação de todas as instituições fe-derais do Sudeste envolvidas com aUniversidade Aberta do Brasil. OCederj opera por meio de uma par-ceria com as universidades públicas doestado do Rio, nas quais o ensinosemipresencial é oferecido (incluindoatendimento com tutores e aulas delaboratório), e conta com aproxima-damente 16 mil alunos de graduação.

Na outra ponta, professores e alunostêm inventado diferentes maneiras deproduzir e compartilhar melhor o co-nhecimento usando a Internet, empre-endendo esforços – muitas vezes, deforma voluntária – para difundir suasexperiências locais e aprimorá-las deforma colaborativa. Baseados nosweblogs, ou simplesmente blogs (“diá-rios na rede”, em tradução literal doinglês), que tiveram seu boom na dé-cada de 1990, e na linguagem wiki(sinônimo de interação total entre osusuários de um sistema, sobre a qualfoi construído o fenômeno Wikipédia),agora são os “edublogs”que come-çam a ganhar força por aqui, apósserem massificados na Inglaterra, emPortugal e nos Estados Unidos.

O objetivo é usar a plataforma paraque a turma realize trabalhos em con-junto, dinamizando as aulas das maisdiversas disciplinas e despertandonos alunos qualidades, como auto-nomia, curiosidade, cooperação, so-cialização, melhoria da qualidade daescrita, no relacionamento com pro-fessores e até aumento da auto-esti-ma, visto que gera o fator prota-gonismo dos registros deixados àdisposição de alunos de outras es-colas, cidades e países.

Além das listas on-line de comunida-des de professores e multiplicadoresque estão igualmente a serviço da di-vulgação de melhores práticas e do

Ensino a distância:

Quem ainda guarda a ima-gem das apostilas impres-sas, das fitas de áudio e

vídeo, e das avaliações dos alunos en-viadas exclusivamente pelo correiocomo símbolo dos cursos ministra-dos a distância se surpreenderá coma velocidade com a qual as novastecnologias vêm sendo incorporadasa essa modalidade de ensino. Depoisda franca popularização do e-learning(o ensino mediado pela Internet) edas videoconferências – utilizados, res-pectivamente, em 56% e 20,8% doscasos –, até os celulares do tiposmartphone e os ambientes virtuais, comoo Second Life, estão servindo de supor-te para as relações entre professores ealunos em busca de cada vez maisinteratividade e instantaneidade.

Tereza Porto

ARTIGO

a força dos edublogs na educação

Foto: Lewi Moraes

O objetivo é usar aplataforma para quea turma realizetrabalhos emconjunto,dinamizando asaulas das maisdiversas disciplinas edespertando nosalunos qualidades,como autonomia,curiosidade,cooperação,socialização...

A idéia de explorar a plataformatridimensional que virou sensação naInternet, esta sim, é uma soluçãorecentíssima, encontrada por institui-ções como o Senac São Paulo, parapermitir que os alunos, por meio deseus avatares (personagens), se rela-cionem no ambiente virtual com seustutores por meio de chats ou vídeo efaçam downloads do conteúdo do cur-so. No Senac, a ferramenta será usa-da justamente nas aulas de adminis-tração de ambientes virtuais e cria-ção de objetos.

Inovações como esta provam que oensino a distância (EAD), fundadono país na década de 1970, há mui-to abandonou a pecha de educaçãode segunda classe, antes restrita aosmódulos técnicos e supletivos, sen-do reconhecido pelo governo fede-ral como uma brecha real para levar

a informação aos rincões mais iso-lados do país e reduzir a desigualda-de de oferta de ensino superior lon-ge dos grandes centros urbanos.

Os números não negam a pujançadeste novo cenário: segundo dadosdo Anuário Brasileiro Estatístico deEducação Aberta e a Distância(Abraead/2007), publicado pelaAssociação Brasileira de Educaçãoa Distância (Abed) e pelo InstitutoMonitor em abril de 2007, um emcada 80 brasileiros estudou porEAD no ano passado, seja em cur-sos de graduação, de pós-graduaçãolato sensu, educação corporativa ounos inúmeros projetos existentes vol-tados para a capacitação de peque-nos e médios empresários. Só na gra-duação e na pós – que hoje ofere-cem 205 e 246 tipos de cursos a dis-tância em todo o país, respectiva-

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Tereza Porto é secretária deEstado de Educação - RJ e ex-

presidente do Centro de Tecnologiada Informação e Comunicação doEstado do Rio de Janeiro (Proderj)

nico – Serviço de Atendimento aoCidadão) e o amadurecimento doSistema Brasileiro de TV Digital Ter-restre, que prevê a concessão de ca-nais públicos com finalidade edu-cativa, terão um papel fundamental.

Outras ações oficiais recentes pro-metem dar novo gás ao segmentode EAD. Depois de formatar a es-trutura legal que dá base a essa ativi-dade e de criar a Universidade Aber-ta do Brasil (UAB), o MEC está pro-movendo a integração dos conselhosestaduais de educação com a esferafederal, com vistas a agilizar ocredenciamento dos cursos de edu-cação básica a distância (que sãocomplementares ao ensino regular)e elaborar referências de qualidadepara esse tipo de ensino. Segundo alista divulgada pelo MEC em 2007,após a primeira avaliação das insti-tuições ofertantes de EAD havia pre-visão de 174 pólos de apoiopresenciais vinculados à UAB entran-do em atividade em junho, e 291 pó-los até o fim desse mesmo ano –atingindo um total de 288 municípi-os brasileiros.

Enfim, trata-se de boas novas, em-bora seja longo e árduo o caminhorumo à real democratização do aces-so à banda larga no Brasil e àimplementação de um plano nacio-nal para o setor. O desafio de cons-truir um laboratório de informáticacom Internet rápida em cada escolapública do país em quatro anos,anunciado pelo Ministério das Co-municações, é um dos próximospassos do governo federal nesse sen-tido e deverá demandar investimen-to de R$ 1,6 bilhão. Quanto maiscedo a educação for encarada comoatividade prioritária para alavancar opotencial de inovação da economianacional, recebendo os recursos de-vidos dos fundos setoriais, e quantomenor for a brecha digital no país,mais proveitoso será o namoro en-tre o ensino e as novas tecnologias.

Curandeira éa vovozinha

Pesquisa revela ricouniverso de mulheresherbalistas da Baixada

As quintas-feiras são movimentadas na IgrejaNossa Senhora de Fátima, no bairro SantaMaria, em Belford Roxo, Região Metropoli-

tana do Rio. Na cozinha instalada nos fundos da paró-quia, a procura por remédios fitoterápicos não pára.Moradores da comunidade buscam medicamentos paratratar os mais diversos problemas de saúde e são aten-didos pelas integrantes do grupo Grão de Mostarda,mulheres acima dos 40 anos, cujo conhecimento sobreo uso de plantas medicinais as transformou em referên-cia no bairro. Elas também são objeto da pesquisa“Mulheres da Rede Fitovida: ervas medicinais, envelhe-cimento e associativismo” e do vídeo etnográfico“Curandeira é a vovozinha”, que a antropóloga e jorna-lista Mariana Leal, do programa de pós-graduação emCiências Sociais da Universidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), desenvolveu com apoio do programaBolsista Nota 10, da FAPERJ. “Em sua maioria, trata-se de mulheres que deixaram de ficar restritas ao espa-ço doméstico – onde muitas vezes não mais tinhamfunção por já haver passado da fase reprodutiva e nãoprecisarem mais cuidar dos filhos –, passando a serconsideradas como as detentoras de um saber. Sãoelas que identificam as plantas e conhecem a indicaçãode uso de cada uma delas”, explica Mariana. A pes-quisa procurou analisar aspectos culturais, práticas cu-rativas e transmissão de conhecimentos de um dosdiversos grupos que fazem parte da Rede Fitovida.Por meio da metodologia antropológica e do registroaudiovisual, o vídeo e a pesquisa mostram quem sãoessas mulheres, o que fazem e por que fazem.

O grupo escolhido foi o Grão de Mostarda. Assim comoas senhoras que o integram, existem muitas outras mulhe-res de idade, de camadas populares, que se reúnem emcozinhas comunitárias, em localidades de baixa renda.

Vilma Homero

CIÊNCIAS SOCIAIS

incentivo à educação continuada dosmestres via Internet, o rol de tecno-logias educacionais envolve ainda ostradicionais chats, ferramentas dewebquests e webgincanas, programastransmitidos via webcasting e podcastsproduzidos pelos próprios alunos apartir dos temas investigados.

Os requisitos para que todas essas prá-ticas atinjam o objetivo desejado, noentanto, não são nada simples. Ape-sar do expressivo uso da Internet parafins educacionais registrado entre ju-lho e agosto do ano passado peloNúcleo de Informação e Coordena-ção do Ponto Br (NIC.Br), entidadeimplementadora do Comitê Gestorda Internet no Brasil) – 64,39% dosque haviam acessado a web no perío-do –, há que se observar o alto graude exclusão digital apontado pela pró-pria pesquisa: apenas 27,82% dos en-trevistados eram internautas. A Pes-quisa Nacional por Amostra de Do-micílios do IBGE (março/2007), porsua vez, revelou a exclusão digital de79% dos brasileiros.

Falar em banda larga, então, pareceainda mais complicado, consideran-do a ausência de interesse econômi-co das telecoms de levar infra-estrutu-ra de rede em alta velocidade para ointerior. No Brasil, apenas 6,7% dosdomicílios possuem acesso à bandalarga, contra 25% na América doNorte e 27% na Europa Ocidental.Se falarmos em municípios, somen-te 1,6 mil dos 5,6 mil municípios bra-sileiros estavam cobertos por essatecnologia no fim de 2005, segundodados do Atlas Brasileiro de Teleco-municações 2006.

Nesse sentido, os projetos de cida-des digitais – como o desenvolvidopelo governo fluminense através doProderj, em parceria com prefeitu-ras e com empresas de base tecno-lógica da iniciativa privada –, a expan-são da rede Gesac (Governo Eletrô-

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Elas fazem parte dos 108 grupos quecostituem a Rede Fitovida, criada em2000 para transmitir conhecimentoe buscar soluções conjuntas para su-perar as dificuldades que todas en-frentam. Suas principais característi-cas são o trabalho voluntário e a ven-da de preparações medicamentosasa preço de custo. Mas, além de cui-darem de familiares e vizinhos comseus fitoterápicos, elas também reivin-dicam que o saber que detêm seja va-lorizado e reconhecido como partedo patrimônio cultural imaterial. “Esseconhecimento é passível de se per-der, de ser cada vez mais estigmati-zado como ignorância ou supersti-ção, numa esfera em que só a medi-cina pode ser detentora do saber”,fala a pesquisadora.

Para isso, as vovós andam se empe-nhando em inventariar o que sabem.Nesse sentido, a rede conta comapoio do Ministério da Cultura, pormeio do Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional(Iphan), e da Petrobras, que está fi-nanciando o inventário dessa tradi-ção popular. “Elas também estãocontribuindo com técnicos dos mi-nistérios do Meio Ambiente e da Saú-de, num trabalho ligado aopatrimônio genético vegetal e para oregistro nacional de fitoterápicos eplantas medicinais”, esclarece Mari-ana. Para a pesquisadora, a escolhado tema seguiu uma tendência natu-ral. “Sempre me interessei pelas op-ções alternativas, o que faz parte deminha postura com relação à saúde.Quando conheci o grupo, um mo-vimento reivindicatório de mulheresde meia-idade, achei inusitado, nomínimo curioso”, explica. “Tambémbusquei analisar as motivações indivi-duais dessas mulheres e percebi que,ao participarem dos grupos e dos en-contros da Rede Fitovida – em quehá troca de conhecimento e de expe-riências –, elas transformam sua pró-pria percepção, enquanto sujeitos em

processo de envelhecimento, res-significando alguns estigmas negativosda velhice”, diz.

Mariana conta que, a princípio, as vo-vós dos vários grupos tinham traba-lhos isolados, sem ter clara a impor-tância do que faziam, nem os cami-nhos que poderiam trilhar. “Elas viamsua atividade apenas como produçãode fitoterápicos. Mas, sem se encaixarnas normas da Agência Nacional deVigilância Sanitária (Anvisa), podiamser consideradas curandeiras e sujeitasàs penalidades da lei”, conta. Ao mes-mo tempo, essas mulheres começarama perceber no dia-a-dia o quanto seutrabalho era importante para as pes-soas que as procuravam, em sua mai-oria gente para quem grande parte dosremédios de farmácia tem preço

proibitivo. Mais do que apenas indi-car fitoterápicos, elas costumam ori-entar aqueles que as procuram comnoções básicas de saúde, higiene e ali-mentação. “Uma das primeiras per-guntas que as vovós do Grão de Mos-tarda fazem, por exemplo, é se o pa-ciente já procurou um médico. Casonão tenha procurado, elas orientam afazer uma consulta no posto de saúdeque funciona em frente à sede do gru-po. Três das integrantes do grupo, porsinal, são agentes de saúde”, falaMariana. Mas, principalmente, as se-nhoras ouvem as pessoas, que, muitasvezes, mais do que do medicamento,precisam de um atendimentohumanizado.

“Dada à fragilidade da estrutura so-cial, as vovós cumprem um papel

de transmissão de informações pre-ventivas de saúde, o que é fundamen-tal nas comunidades em que vivem”,explica Mariana. Para cada uma des-sas mulheres, a grande motivação éa sociabilidade. “Elas renovaram seustatus, em vez de ‘velhas’ passaram aser vistas como detentoras de um sa-ber. Com isso, elas fogem da solidão,ganham um novo papel na comuni-dade e consolidam uma nova identi-dade positiva”, conta.

No caso das dez mulheres do Grãode Mostarda, várias já se envolviamcom atividades ligadas à comunida-de, fosse o círculo bíblico, o clubede mães ou a associação de mora-

dores local. Elas também contaramcom o apoio importante do agrôno-mo Márcio Matos, que faz trabalhosde agricultura urbana; da homeopataSuzana Nogueira, voluntária em comu-nidade de São Gonçalo; de Sonia Re-gina Ferreira Martins, que estava en-volvida em trabalho na paróquia deQueimados; e de Beth Martins, umadas coordenadoras do grupo. “Essaslíderes tiveram um papel importantena criação da rede”, diz.

A estrutura que o grupo conseguiumanter impressionou a pesquisadora:na cozinha comunitária, elas usam lu-vas e toucas, balança de precisão, po-tes estéreis para acondicionar as tintu-ras fora do alcance da luz e receitas sis-tematizadas. As plantas, que saem dahorta cuidada pelas mais velhas dogrupo, são colocadas em infusão paradelas se extrair a tintura. Essa tinturaé que servirá de base para todas asformas de medicamento que se qui-ser preparar: xaropes, pomadas, cre-mes, ou a própria tintura. “As mulhe-res do Grão de Mostarda têm noçãodos limites do tratamento. Orientampara os cuidados que se deve ter comcertas plantas consideradas tóxicas,como a arnica e o confrei. Alergia,por exemplo, elas sabem que não têmcomo ser tratadas com plantas”, diz.

Mariana também observa que asmulheres do grupo mostram sua

Pesquisadora: Mariana LealInstituição: Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais /Uerj

crença na medicina alternativa, semqualquer discurso religioso. “Não temaquela história de rezas, espinhela ca-ída ou ventre virado. Na troca de ex-periência com outros grupos, elas ago-ra estão aprendendo bioenergética esobre o uso terapêutico da argila”,anima-se a pesquisadora.

Tamanha riqueza de experiências foi re-gistrada pela câmera de Mariana, queseguiu as pegadas do antropólogo JeanRouch, um dos fundadores da mo-derna antropologia visual. Para Rouch,os grupos não são apenas objeto deestudo, mas sujeitos com voz nesse pro-cesso. No vídeo, uma das mulheres che-ga a afirmar, entusiasmada: “Agora,com a atual onda de naturalismo, aspessoas têm valorizado mais estes re-cursos alternativos”.

Para Mariana, usar o audiovisual napesquisa antropológica permite com-partilhar com o espectador uma ri-queza de detalhes, o que nenhum tex-to seria capaz de dar conta. “Esse tipode produto final faz com que o co-nhecimento produzido possa supe-rar os muros da academia e circularmais facilmente pela sociedade”.

Fotos: Mariana Leal

Cultivadas na horta comum, as ervas são transformadas em remédios vendidos à comunidade

Tinturas, extratos e infusões sãopreparados com cuidado e

embalados em garrafas

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Mirian Goldenberg não apa-renta seus 51 anos. Temmãos de moça de 20,

olhos claros e vivos de menina e ros-to suave de quem aparenta 30 e pou-cos anos. Magra, estatura média,ativíssima, casada e apaixonada porsua profissão, essa professora do De-partamento de Antropologia Cultu-ral e do Programa de Pós-Gradua-ção em Sociologia e Antropologia doInstituto de Filosofia e Ciências So-ciais da Universidade Federal do Riode Janeiro credita sua boa forma ejuventude à genética. Nunca fez plás-tica, não usa artifícios derma-tológicos (no máximo, lança mão deum filtro solar, hábito recentementeadquirido para suas caminhadas naorla), não faz ginástica e nem regime.Mulheres de classe média, economi-camente independentes, com forma-ção de nível superior, habitantes dosgrandes centros urbanos brasileiros,como a própria Mirian, diriam que setrata de uma moça pouco vaidosa.

Autora de livros que abordam o temade gênero (entre eles, Infiel: notas deuma antropóloga, De perto ninguém é nor-mal, Os novos desejos, Nu e vestido, Todamulher é meio Leila Diniz, A outra), elaadmite que a chegada da maturidadecomeçou a ocupar sua mente quan-do completou 40 anos. Afinal, o quesignifica envelhecer para a brasileira?Com certeza, algo muito diferente doque significa para uma espanhola. Ediametralmente oposto do que sig-nifica para uma alemã. “Ser umamulher mais velha no Brasil não é omesmo que ser madura na Alema-nha”, atesta a professora, cuja últimapesquisa sobre as relações do corpona sociedade brasileira engendrou olivro O corpo como capital.

Quando apresentou conferências so-bre o tema na Espanha e na Alema-nha, aproveitou para fazer uma ou-

tra pesquisa, dessa vez sobre gênero,envelhecimento e corpo. Descobriu,estarrecida, que, para as alemãs, en-velhecer significa muito mais quedecrepitude. “As mulheres com maisde 50 anos na Alemanha, têm esco-lhas, elas não se preocupam em termarido, elas se consideram no augeda vida, contabilizam suas realizaçõese planejam projetos para o futuro.”Mirian enfatiza que selecionou gru-pos muito específicos nos três paí-ses pesquisados. “Realizei sete gru-pos de discussão com mulheres en-tre 50 e 60 anos, de classe média,com nível universitário, inseridas nomercado de trabalho.”

Após os encontros na Europa, elaadmite que voltou ao Brasil “em cri-se existencial”. “Na Alemanha, vimulheres determinadas, que promo-vem a autovalorização, poderosas,coisa que não observo aqui”, desa-bafa. “No Brasil, a auto-imagem fe-minina está calcada no tripé corpo-marido-filhos, valores fundamentaispara a brasileira”, afirma. “Quandochega aos 50, ela percebe que o cor-po está decaindo, o marido estáprestes a ir embora ou em busca demulheres mais jovens e os filhos es-tão saindo de casa”, enumera Mirian,que diz que sua pesquisa é tambémuma forma de militância política.“Pretendo minimizar o estigma as-sociado a uma fase natural da vida e

ver por que razão no Brasil isso sedá de uma forma tão negativa.”

Uma das razões para esse des-com-passo, de acordo com Mirian, esta-ria na instabilidade econômica naci-onal. “Na Alemanha, o idoso se sen-te apoiado pelo Estado, existe umsenso de autonomia, ele sabe que vaificar amparado, não ficará decrépitoe abandonado. Uma brasileira queentrevistei na Alemanha me disse quelá aprendeu a ser autônoma, maisindependente. As alemãs têm isso enós não. A brasileira se sente e se colo-ca como vítima e recorre a redes derelações para amenizar este desampa-ro.” Segundo Mirian, as alemãs vêemo comportamento de suas contem-porâneas brasileiras com um certo sen-timento de indignação. “Elas acredi-tam que precisar de um homem, sertão dependente do olhar e do aval mas-culino, é falta de dignidade.” O que apesquisadora testemunhou na relaçãoentre homens e mulheres numa dasmaiores potências econômicas daEuropa e do mundo é baseado naigualdade de gêneros.

Depois de fazer conferências em oitouniversidades na Alemanha, em ju-nho e julho de 2007, a antropólogaseguiu para uma série de apresenta-ções e discussões sobre o tema“Corpo, Gênero e Sexualidade naCultura Brasileira”, na Universidadede Tarragona, na Espanha. Lá, elapromoveu novas rodadas de entre-vistas. “As espanholas valorizammuito a família, lá também é funda-mental o trabalho, mas a família épreponderante. Na Alemanha, otema fundamental feminino é a ge-rência da vida. Não ter filhos, naAlemanha, é uma escolha tão legíti-ma quanto ter.”

Para Mirian, o que viu nos dois paí-ses foram posições mais igualitá-riase uma indistinção de gêneros. “Vi ho-mens e mulheres dividindo e incor-porando suas tarefas de casa. Na

Roni Filgueiras

No Brasil, a auto-imagem femininaestá calcada notripé corpo-marido-filhos, valoresfundamentais paraa brasileira

A antropóloga MirianGoldenberg revela comoas mulheres naAlemanha, na Espanha eno Brasil encaram oprocesso deenvelhecimento

Ainda não canseide ser S E X Y

ANTROPOLOGIA

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cam determinados atributos e com-portamentos, construindo-se entãoum corpo específico para cada so-ciedade. No caso da sociedade bra-sileira, não é à toa que os corpos dig-nos de imitação são os das mode-los, atrizes e apresentadoras de TV.“A brasileira parece querer ser sexyaté morrer, busca paralisar o corpoe o rosto nos 30 anos, mas tambémparalisa uma postura de ser mulher.Se não despertar desejo, ela encaraisso como um fracasso, pois sermulher, no Brasil, é ser sexy.” Umadas razões para isso estaria na pró-pria dinâmica da formação do povobrasileiro por meio da união de cor-pos sexualizados – o do coloniza-dor e o da colonizada, afirma, utili-zando as idéias de Gilberto Freyreem Casa grande & senzala.

Mirian Goldenberg concordou comuma espanhola que, após a sua pa-lestra, defendeu que o corpo é umcapital tão valioso quanto os outros,apesar de ser tão duramente critica-do pelas feministas e intelectuais:“Quem disse que esse capital, o cor-

Pesquisadora: Mirian GoldenbergInstituição: Instituto de Filosofia eCiências Sociais / UFRJ

Alemanha e na Espanha, entre oscasais que entrevistei, são os homensque cozinham, eles gostam e preferemessa tarefa. Acho até que merece umestudo mais apro-fundado essa esco-lha pela cozinha. E eles invariavelmen-te são elogiados como cozinheiros porsuas mulheres e se ocupam de tudoque diz respeito à cozinha: da lista domercado às compras.”

Academia de ginástica, botox, laser,tratamentos de radiofreqüência con-tra estrias, celulite, rugas e até inter-venções mais invasivas para apagaros sinais do tempo são as preocu-pações que rondam a cabeça dasbrasileiras, como enumera Mirian.“Enquanto isso, as alemãs se preo-cupam com a saúde e a qualidadede vida, quase não consomemmaquiagem, não pintam os cabelosbrancos, não fazem cirurgia plásticae se afirmam como emancipadas, ooposto radical das brasileiras”, diz.

A autora trabalha aqui o conceito de“imitação prestigiosa” de MarcelMauss. Segundo o sociólogo e an-tropólogo francês do século XX, “oconjunto de hábitos, costumes, cren-ças e tradições que caracterizam umacultura também se refere ao corpo”.Ou seja, existe uma construção cul-tural dos corpos, em que se desta-

po jovem e saudável, não é realmenteum capital tão importante quanto osoutros, ou seja, da mulher que viveda aparência tanto quanto a intelec-tual que vive das idéias?” No entan-to, seu objetivo é tocar nesta feridaaberta que causa tanto mal-estar en-tre as brasileiras. O ideal não existe,responde Mirian, mas envelhecer nostristes trópicos é ser estigmatizado.“Como brasileira, me senti destituí-da de poder porque no meu paísenvelhecer é uma perda de capital.Por que não posso viver, conquistarcoisas e não sofrer por causa do es-tigma de estar envelhecendo?” Aantropóloga aponta o que conside-ra uma falácia nacional: o discursovitimizado da brasileira, principal-mente quando se queixa da falta deparceiros. O maior medo feminino,o de ser abandonada por marido navelhice, no fim, pode se revelar umalibertação. “Quando a velhice e oabandono acontecem, muitas mulhe-res se descobrem e administram bema solidão e falam, finalmente, de umaliberdade conquistada.” Paradoxal?Uma discussão que ainda vai darmuito pano para mangas.

Em cenaos cem anos da EscolaEstadual de Teatro Martins Pena

Cena de Prometeu: peças sãotrabalho de conclusão de curso

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Em janeiro de 2008, a EscolaTécnica Estadual de TeatroMartins Pena comemorou

um século dedicado às artes cênicas.A instituição, que desde 2006 foitransferida para a Secretaria de Ciên-cia e Tecnologia, tutelada pela Fun-dação de Apoio a Escola Técnica(Faetec), vem celebrandro a datacom uma série de eventos.

“Estamos produzindo um livro coma memória da escola, que será lan-çado em junho, e também umdocumentário, que será finalizado nofim de 2008”, revela Marcelo Reis,diretor da escola há 14 meses. “Te-mos também um grupo de estagiá-rios de unidades da Faetec trabalhan-do na montagem do Centro deMemória, que, num segundo mo-mento, será o Centro de Referênciado Teatro Brasileiro”, adianta Reis.

Mas os preparativos da festa come-çaram em 2007, com uma série deintervenções na infra-estrutura e nocurrículo da escola. “Os recursos daFAPERJ geraram a informatizaçãogeral da escola”, comemora o dire-tor. “Hoje temos 15 computadoresem rede, antes só havia dois,reestruturamos o teatro de arena, embreve montaremos um home studio,uma espécie de estúdio para grava-ção de trilhas sonoras para as peçasque montamos, como A las cinco dela tarde, de Gabriel García Lorca, epara o curso de direção musical”,enumera Reis. “Tecnologia não é sónanochip; ela também se aplica ao cor-po, e na pedagogia moderna nin-guém entende uma escola sem com-putador”, diz o diretor.

“Em meados de dezembro, come-çamos as reformas e ampliações doprédio com recursos do governo do

estado no valor de R$ 266 mil”, dizMarcelo, que ainda está buscandoapoio da Petrobras, do BNDES, doMinistério da Cultura e da Eletrobráse fechando parcerias com o Institu-to Rio Branco e com a AcademiaBrasileira de Letras (ABL) – da qualMartins Pena é patrono. Além de salasde aula equipadas, há uma nova salade vídeo equipada com home theater euma biblioteca com cerca de 3.500 tí-tulos, incluindo 1.500 peças de teatro.O prédio de número 14 da rua Vintede Abril, no Centro, abriga ainda oTeatro Luiz Peixoto, de palco italia-no, construído em 1957, e o Teatrode Arena Armando Costa, de 1985.“Este ano, 2008, o teatro foi refor-mado, na sua parte elétrica ecenotécnica”, conta Marcelo Reis.

O ingresso ocorre apenas por con-curso. Há 40 vagas para o curso quetem duração de 2.400 horas em cin-co períodos e é voltado para quemjá tem o ensino médio. A inscrição éfeita exclusivamente pelo sitewww.faetec.rj.gov.br/concurso2008.A Martins Pena foi a primeira escolade teatro criada na América Latina,fundada em janeiro de 1908 por Co-elho Neto, que a dirigiu por 25 anose também foi seu primeiro diretor.O Theatro Municipal, o Instituto deEducação, uma sala na Avenida

Roni Filgueiras Venezuela e o Teatro João Caetanoforam alguns de seus endereços pro-visórios. Desde 1950, funciona per-manentemente no prédio tombadocomo patrimônio histórico nacionalda rua Vinte de Abril, onde nasceuo barão do Rio Branco. A escola,que teve vários nomes, como Esco-la Dramática Municipal, Escola Co-elho Neto, Escola de Teatro e Cine-ma, passou a ser chamada de Esco-la de Teatro Martins Pena em 1953.Desde a sua inauguração, já fizeramparte do corpo docente: CecíliaMeirelles, Viriato Correia, GustavoDória, Fernando Pamplona, Junitode Souza Brandão, Aderbal FreireFilho, Alcione Araújo, Paulo José,Edu Lobo, Denise Stocklos. E foidirigida por Oduvaldo Viana, JoséWilker, Anselmo Vasconcellos, Ma-ria Tereza do Amaral e Marília Trin-dade Barboza, entre outros. Algunsatores que passaram pela instituição:Procópio Ferreira, Sadi Cabral, Te-reza Rachel, Almir Cabral Pestana,Carlos Lacerda, Jayme Periard,Denise Fraga, Ilya São Paulo, CarlosMachado da Silva, Joana Fomm, Cláu-dia Gimenez, Maria Ceiça e outros.

Diretor: Marcelo ReisInstituição: Escola Técnica Estadualde Teatro Martins Pena

CULTURA

Estudantes da Martins Pena:revitalização da escola contou com

recursos da Fundação

Fotos: Marcelo Reis

Rio Pesquisa

Quatro dias antes do Natal de 2007,o lançamento da revista Rio Pesquisamovimentou o auditório da Acade-mia Brasileira de Ciências (ABC). Oevento contou com a presença dosecretário de C&T do Rio de Janei-ro, Alexandre Cardoso, do diretor-presidente da FAPERJ, Ruy GarciaMarques, e de representantes de di-versas entidades e da comunidade ci-entífica, que lotaram o evento naABC. A publicação, cujo objetivo édivulgar a pesquisa e a formação ci-entífica e tecnológica necessárias aodesenvolvimento sociocultural doEstado do Rio de Janeiro, tem peri-odicidade trimestral e tiragem de 10mil exemplares.

Voltada não só para a comunidadecientífica, a Rio Pesquisa visa principal-mente alcançar o público leigo inte-ressado nos assuntos da ciência. Arevista, de 40 páginas, é produzidapela equipe de jornalistas da FAPERJ.Na mesma ocasião, foi apresentadoo livro Cientistas e jovens cientistas do nossoestado, publicação que traz o resumodos projetos dos pesquisadores con-templados nos editais Cientistas doNosso Estado e Jovem Cientista doNosso Estado de 2007.

Bolsa nota 10

Já nos primeiros dias do ano, a Fun-dação anunciou o lançamento de seuprimeiro edital, o programa BolsaNota 10. As inscrições estiveramabertas pouco mais de um mês, en-tre os dias 21 de janeiro a 29 de feve-reiro. O programa, que tem comoobjetivo incentivar os melhores alu-nos de programas de excelência – ní-veis 5, 6 e 7 na avaliação da Capes –,concede bolsas a alunos de mestradoe doutorado dos cursos de pós-gra-duação stricto sensu do Estado do Riode Janeiro.

As inscrições feitas em janeiro e fe-vereiro valem para as bolsas com vi-gência no mês de março de 2008. Jáas inscrições feitas entre 9 de junho e29 de julho de 2008 serão para bol-sas que estarão em vigor a partir deagosto deste ano. A cota de bolsaspara cada programa é anual: cursosde mestrado nível 5 podem indicardois bolsistas de mestrado; cursosnível 5 de mestrado e doutoradopodem indicar um bolsista demestrado e outro de doutorado; cur-sos nível 6 podem indicar dois bol-sistas de mestrado e um de doutora-do; finalmente, cursos nível 7 podemindicar dois bolsistas de mestrado e

FAPERJIANAS

dois de doutorado. As solicitaçõesdevem ser feitas on-line e os docu-mentos devem ser entregues em có-pia impressa na sede da FAPERJ,dentro das datas estabelecidas peloedital.

Rede Rio/FAPERJ commaior alcance

A partir de 2008, a Rede Rio deComputadores/FAPERJ – que in-terliga universidades e centros depesquisa sediados no Estado do Rio– dará um salto em sua capacidadede transmissão de dados. “Amplia-da em mais de duas mil vezes, ela pas-sará dos atuais 1Gbit/s (1 bilhão debits por segundo) para 1.96 Tbit/s (1,96trilhões de bits por segundo), graças àtecnologia DWDM (dense wavelengthdivision multiplexing)”, com financia-mento direto da FAPERJ, explica seucoordenador geral, Luís Felipe Ma-galhães de Moraes. A afirmaçãoocorreu durante o Ciclo de Pales-tras da Rede Rio, dia 11 de dezem-bro de 2007, na Academia Brasilei-ra de Ciências.

O coordenador nacional das RedesComunitárias de Educação e Pes-quisa (Redecomep), José Luiz Ribei-ro, falou sobre a implantação das re-des metropolitanas comunitárias em26 cidades no território brasileiro,que abrigariam pontos de presença(PoPs) do backbone (enlaces que in-terligam os principais pontos darede por meio dos quais as demaisinstituições ganham acesso àInternet) da Rede Nacional de En-sino e Pesquisa (RNP), o que signi-fica uma cobertura nacional. No casodo Rio, ao completar 15 anos emmaio de 2007, a Rede Rio assumiua coordenação do comitê gestor daRedecomep.

Autoridades e comunidade científica prestigiaram o lançamento da revista da FAPERJ

Foto: Vinicius Zepeda

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A rede de Internet em bandalarga a céu aberto, com aces-so totalmente gratuito, mais

conhecido como wi-fi, instala suas pri-meiras antenas no estado ainda esteano: em maio, começa em Copa-cabana e, em julho, na BaixadaFluminense. Os dois projetos tive-ram lançamento em janeiro e con-tam com financiamento da FAPERJ.O Orla Digital foi anunciado oficial-mente no dia 3 de janeiro, na praiade Copacabana, com a presença dogovernador Sérgio Cabral, do vice-governador Luiz Fernando Pezão,do secretário de Ciência e Tecno-logia, Alexandre Cardoso, e do di-retor-presidente da FAPERJ, RuyGarcia Marques. No dia 28, foi a vezdo Baixada Digital, lançado pelovice-governador Luiz FernandoPezão em evento no palco do Tea-tro Raul Cortez, na Praça do Pacifi-cador, Centro de Duque de Caxias.

Segundo explicou o secretário deCiência e Tecnologia, Alexandre Car-doso, em Caxias, o programa visa à

implantação e à disponibilização deuma rede de Internet em banda lar-ga sem fio, gratuita, que permitiráque cada cidade da Baixada se trans-forme em um município digital. Oprojeto do governo do estado tam-bém vai prover conteúdo à redewireless (sem fio). Segundo o secretá-rio, ao utilizar tecnologias que per-mitem a transmissão de dados e ima-gens em alta velocidade, o BaixadaDigital inserirá a região no maior es-paço de cobertura pública contínuada América Latina.

Os moradores da Baixada poderãoacessar a Internet gratuitamente apartir de julho. “Vamos disponibilizarprogramas de saúde pública, de edu-cação a distância, de incentivo à qua-lificação profissional etc. Sem neces-sitar de deslocamento, quem moraem Saracuruna, em Vila de Cava ouno Lote 15, enfim, em qualquer lu-gar da Baixada, vai poder fazer, porexemplo, um curso de qualificaçãoprofissional sem sair de casa. Isso sóvai se tornar possível com um projetocomo este, que democratiza as açõesde qualidade”, realçou Cardoso.

Na onda digital

O Baixada Digital alcançará os mu-nicípios de Duque de Caxias, NovaIguaçu, Belford Roxo, São João deMeriti, Nilópolis, Mesquita, Magé,Guapimirim, Queimados, Japeri eParacambi. Mas o plano é estendera parceria às prefeituras de todos osmunicípios do estado. “Nenhum pre-feito irá se omitir de participar deum projeto desses”, aposta Cardo-so, acrescentando que esse é o pri-meiro passo para que o Rio de Ja-neiro se transforme no primeiro es-tado digital do país. “Este é o tercei-ro maior projeto do gênero no mun-do, atrás apenas dos implantados naChina e no México. Os moradoresda Baixada vão se transformar emverdadeiros cidadãos do mundo”,proclamou Cardoso.

O coordenador do projeto, FranklinDias Coelho, da Universidade Fede-ral Fluminense, comparou a rede deInternet sem fio a estradas de roda-gem. “Estamos construindo estradasdigitais que vão cruzar os municípi-os do estado”, ilustrou.

No Orla Digital, o sinal, que inicial-mente deverá ficar restrito à Aveni-da Atlântica, à beira-mar, poderáeventualmente ser captado tambémpor aqueles que circularem nas pri-meiras duas quadras do bairro a par-tir da praia, até a avenida Nossa Se-nhora de Copacabana. Segundo ogovernador Sérgio Cabral, ao per-mitir o acesso à Internet a custo zero,a medida contribui para a democra-

Novo blindado vai às ruas

Um veículo blindado, que embreve poderá ser realidadeno dia-a-dia das forças de

segurança do Estado do Rio teve seuprotótipo concluído, em dezembrode 2007, pelo Centro Tecnológicodo Exército (CTEx), no bairro deGuaratiba, Zona Oeste carioca, foiapresentado à direção da FAPERJpelo general Aléssio Ribeiro Souto.Trata-se de uma viatura blindada tá-tica leve (VBTL), com um projetoracional e mais confortável, que po-derá patrulhar as ruas e ser usado nodeslocamento de detidos.

Desenvolvida no CTEx, sob a co-ordenação do major Paulo RobertoRocha Aguiar, com apoio da FA-PERJ e com base em informaçõesobtidas na Secretaria de Estado deSegurança, a VBTL tem ar-condi-cionado, blindagem resistente a tirosde fuzil e pode transportar seis deti-dos e cinco policiais. Os policiais sãoseparados dos detidos por uma pa-rede blindada com visores. O carroconta ainda com uma divisão quepermite separar homens de mulheres.

Esse protótipo foi desenvolvido apartir de visitas técnicas a batalhõesda Policia Militar, onde foram le-vantados os principais itens de se-gurança que os policiais queriamver considerados e postos em prá-tica nas patrulhas. Mesmo usandocoletes à prova de balas, as forçasde segurança correm o risco deserem alvejadas por projéteis, umavez que as viaturas do tipo Patamonão apresentam blindagem algu-ma. Pode, no futuro, se tornar aviatura policial de referência nãosó no Estado do Rio de Janeiro,assim como em todo o país, nopatrulhamento de ruas.

O novo veículo influirá positivamen-te no desempenho do policial gra-ças à junção da segurança e do con-forto que ele traz em sua concepçãooriginal. No início de 2008, o go-verno do estado, por meio das se-cretarias de Segurança, de Planeja-mento e Gestão, e de Ciência eTecnologia, discute prazos para queo atual protótipo possa ser aperfei-çoado e produzido.

Viatura alia segurança e confortopara policiais

tização da informação, o que terá re-percussão em outras áreas, comoeducação e segurança, além de ne-gócios e turismo. “Vejam o exem-plo do município de Piraí. Compouco mais de 25 mil habitantes, eleé hoje o oitavo município fluminenseem arrecadação, passando de R$ 30milhões para R$ 95 milhões anuais,após a instalação do projeto Piraí Di-gital, que levou a Internet banda largaa toda a cidade, incluindo a zona ru-ral”, exemplificou o governador.

Presente aos dois lançamentos, opresidente da Fundação, Ruy GarciaMarques, parabenizou a iniciativa.“Esses projetos, que se estenderão aoutros pontos da cidade e do esta-do, certamente servirão como mo-delo para implantação de serviçossimilares em muitas outras cidades eestados brasileiros”, disse. Os pro-jetos são fruto de convênio firma-do entre o governo do estado, aRede Rio – mantida e financiada pelaFAPERJ – e a Coppe/UFRJ. Oobjetivo é estendê-lo a outros mu-nicípios do estado ao longo dos pró-ximos 18 meses. O investimento to-tal foi orçado em R$ 43 milhões econtribui com os recursos de con-vênios com outros órgãos de fo-mento à C&T. Os gastos com a ins-talação da rede do Orla Digital en-tre o Leme e o Posto Seis deverãoalcançar cerca de R$ 1 milhão.

“Uma das grandes funções daFAPERJ é a de se preocupar sempreem propiciar a interligação entre aciência, a tecnologia e a sociedade, e énesse sentido que vimos trabalhando.Com o projeto, que se estenderá aoutros pontos do estado, o Rio deJaneiro está inovando, mostrando par-te do seu grande potencial e possibili-tando a melhoria da nossa qualidadede vida”, afirmou Marques.

Paul Jürgens*

O governo do Estado do Rio de Janeiro começa arealizar a implantação de rede wireless

Para o governador Sérgio Cabral, o acesso àInternet a custo zero contribui para ademocratização da informação

* Com informações da Coordenação deComunicação Social do Governo do Estado do Riode Janeiro

TECNOLOGIA

Fotos: Vinicius Zepeda

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Filosofia, história política brasileira ou es-tudos que dissecam as questões da Améri-ca Latina. O ano passado foi produtivo nosetor de Editoração da FAPERJ. As solici-tações de auxílio para publicação de obras –

Produzindo diversidade

Cientistas e jovens cientistas donosso estadoA publicação traz a listagem dos contempla-dos nos editais Cientistas do Nosso Estadoe Jovens Cientistas do Nosso Estado de 2007.Acompanha o nome de cada um dos pesqui-sadores listados, a instituição à qual estão vin-culados, bem como um resumo do estudo

em desenvolvimento. O rigoroso processo de seleção dos editaisexige produção científica ou tecnológica de alta qualidade, bemcomo reconhecida liderança nas respectivas áreas.

Número de páginas: 255Publicação: FAPERJ

Karl Marx - Friedrich EngelsA ideologia alemã

A articulação de categorias essenciais dadialética marxista emerge, madura, à superfí-cie. E surge sob a rica forma da negação e dasuperação, em que a crítica à sua ideologia –nesse caso, dos neo-hegelianos de esquerda –,forja simultaneamente as novas categorias que

transformarão a teoria e a realidade concreta sobre as quais ela seconstrói.

Coordenação: Emir SaderEditora: Boitempo EditorialNúmero de páginas: 614

América Latina... uma luz nofim do túnel... O livro reúne cinco sucintos estudos de paí-ses como Colômbia, Equador, México,Paraguai e Peru, recuperando aspectos consi-derados centrais de sua história. O estudofoca particularmente os últimos 30 anos,momento em que o neoliberalismo passou

a assolar de maneira avassaladora as formações sociais latino-americanas selecionadas.

Autor: Jorge NatalEditora: Armazém das LetrasNúmero de páginas: 178

EDITORAÇÃO

livros, CDs e DVDs, ou vídeos – abrange-ram uma enorme variedade de temas,muitos deles pouco explorados pelos es-critores. Com isso, a Fundação mantém-secumprindo um importante papel edito-

rial: divulgar a produção de pesquisas que,embora possam ter pouco apelo comercial,representam relevante contribuição cientí-fica. Confira alguns dos títulos publica-dos em 2007.

As metrópoles e a questãoAs metrópoles e a questãoAs metrópoles e a questãoAs metrópoles e a questãoAs metrópoles e a questãosocial brasileirasocial brasileirasocial brasileirasocial brasileirasocial brasileiraDesigualdades, favelas e periferias, e violên-cia são conseqüências necessárias do tama-nho das nossas metrópoles? Para respon-der, os organizadores deste livro levantamcomo argumento central a disjunção entreeconomia, sociedade e território, que carac-

teriza a nossa expansão periférica na economia capitalista.

Organizadores: Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro e Orlando Alves dosSantos JuniorEditora: RevanNúmero de páginas: 340

JangoComo, quando e porque se depõeum presidente da República(DVD)

O filme retrata a vida política brasileira dosanos 1960, tendo como fio condutor a bio-grafia do presidente João Goulart, sua as-censão e queda, até a morte no exílio. Areconstituição foi traçada a partir de material

de arquivo e entrevistas com personalidades, como AfonsoArinos de Melo Franco, Raul Ryff, general Antonio CarlosMuricy, Leonel Brizola, Celso Furtado e Frei Betto, entre outros.

Direção: Silvio TendlerProdução: Caliban Produções Cinematográficas

Nas ondas da modernizaçãoO rádio e a TV no Brasil de 1950a 1970

Uma pesquisa desenvolvida em profundi-dade nos arquivos, publicações, memórias,bancos de dados e registros informais, en-tre Rio de Janeiro, São Paulo e Cidade doMéxico. O resultado é a recuperação da his-

tória da chegada da mídia sonora e audiovisual ao Brasil.

Autor: Amara RochaEditora: AeroplanoNúmero de páginas: 219

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