rio paraiba

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1 FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO – FAAP Centro Superior de Aperfeiçoamento Profissional – CENAP MDG Consultores Associados TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 924/98 – 7ª TURMA – CONTROLE DA POLUIÇÃO AMBIENTAL RIO PARAÍBA DO SUL, DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PROVOCADA PELA MINERAÇÃO DE AREIA. José Eduardo Jendiroba Teixeira, Eng.º Mec. Patrícia Cardoso Santiago, Eng.ª Mec. Kelly Fabiana Chacim Tronchini, Eng.ª Mec. Coordenação do curso: Prof. Carlos Eduardo Tirlone Orientação metodológica: Prof. Eduardo Ehlers São José dos Campos, novembro de 1.999.

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  • 1

    FUNDAO ARMANDO ALVARES PENTEADO FAAP

    Centro Superior de Aperfeioamento Profissional CENAP

    MDG Consultores Associados

    TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO

    924/98 7 TURMA CONTROLE DA POLUIO AMBIENTAL

    RIO PARABA DO SUL, DEGRADAO AMBIENTAL PROVOCADA

    PELA MINERAO DE AREIA.

    Jos Eduardo Jendiroba Teixeira, Eng. Mec.

    Patrcia Cardoso Santiago, Eng. Mec.

    Kelly Fabiana Chacim Tronchini, Eng. Mec.

    Coordenao do curso: Prof. Carlos Eduardo Tirlone

    Orientao metodolgica: Prof. Eduardo Ehlers

    So Jos dos Campos, novembro de 1.999.

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    FUNDAO ARMANDO ALVARES PENTEADO FAAP

    Centro Superior de Aperfeioamento Profissional CENAP

    MDG Consultores Associados

    A monografia: RIO PARABA DO SUL,

    DEGRADAO AMBIENTAL PROVOCADA PELA MINERAO DE AREIA;

    elaborada por:

    Jos Eduardo Jendiroba Teixeira, Eng. Mec.

    Patrcia Cardoso Santiago, Eng. Mec.

    Kelly Fabiana Chacim Tronchini, Eng. Mec.

    e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora, foi aceita pelo Centro Superior de Aperfeioamento Profissional e homologada como requisito obteno do Ttulo de Ps-Graduado em Engenharia de Controle da Poluio Ambiental.

    Data:

    Nota final:

    Banca examinadora:

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    Agradecemos a colaborao:

    Associao Comercial e Industrial de So Jos dos Campos Sindicato das Indstrias Extratoras de Areia do Estado de So Paulo

    Secretarias do Meio Ambiente de S. J. Campos e Jacare Cmaras Municipais de So Jos dos Campos e Caapava

    Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - Taubat

  • 4

    SINOPSE

    Esta monografia apresenta e discute a origem, desenvolvimento e estgio em que se encontra a degradao ambiental decorrente da minerao de areia no rio Paraba do Sul, no trecho Jacare Caapava. Incursiona pela histria do Vale do Paraba para encontrar a origem da devastao ambiental e analisar quais os principais estudos realizados para a regio. Faz uma apresentao dos fenmenos geomorfolgicos que afetam a bacia hidrogrfica e consequentemente o rio Paraba do Sul a fim de poder diferenciar fenmenos naturais de atividades antrpicas. Verifica a dependncia da regio metropolitana de So Paulo em relao aos minerais do Vale do Paraba. Dimensiona o negcio areia para a construo civil. Para avaliar o nvel de conscincia ecolgica dos empresrios da areia, foi-lhes aplicada uma pesquisa sobre gesto ambiental. Os conflitos originados da atividade mineral so apresentados e as imagens do satlite confirmam a motivao da sociedade na luta por um ambiente restaurado e equilibrado.

    Palavras chave: minerao de areia, degradao ambiental, rio Paraba do Sul, Vale do Paraba, mata ciliar, construo civil.

    ABSTRACT

    This monograph presents and discusses the origin, development and state in which one finds the environmental degradation due to the sand mining in Paraba do Sul river, in the Jacare Caapava section. It makes an incurtion into the history of the Paraba Valley to find out the origin of the environmental degradation and analyse which are the most important studies done for the region. It presents the main geomorphological phenomena that affect the hidrographic basin and consequently the Paraba do Sul river in order to differenciate natural phenomenon from antropic activities. It verifies the dependency of the metropolitan region of So Paulo in relation to the Paraba Valley minerals. It quantifies the business of sand to the civil construction. To appraise the level of the ecological conscientiousness of the sand entrepreneurs, a survey on environmental administration was undertaken. The conflicts originated from the mining activity are presented and the satelite images confirm the motivation of society in the fight for a restored and balanced environment.

    Uniterms: sand mining environmental degradation, Paraba do Sul river, Paraba Valley, ciliary forest, civil construction.

  • 5

    SUMRIO

    TTULO p. 1 INTRODUO 7

    1.1 Metodologia de elaborao desta monografia 7 CAPTULO I 11

    2 Generalidades 11 2.1 Classificao das condies do ecossistema 11 2.2 gua, recurso limitado 13 2.3 Apresentao da bacia do Paraba do Sul 21 2.4 Histrico da regio 25 2.5 Caracterizao dos recursos hdricos superficiais 39 2.6 Descrio da rea de trabalho 40 2.7 Clima 43 2.8 Vegetao 44

    CAPTULO II 46 3 Geomorfologia 46

    3.1 Introduo 46 3.2 Geomorfologia fluvial 47

    CAPTULO III 64 4 O construbusiness e a indstria de construo civil 64

    4.1 Introduo 64 4.2 A importncia econmica do Vale do Paraba 65 4.3 O consumo de agregados na construo civil 66

    CAPTULO IV 68 5 O negcio minerao 68

    5.1 O ambiente econmico 68 5.2 Indicadores da produo mineral 68 5.3 A minerao de areia 69 5.4 A engenharia mineral 74 5.5 Localizao de jazidas de areia 77 5.6 Aspectos legais e institucionais 77 5.7 O potencial areeiro do Rio Paraba do Sul 101 5.8 Identificao das mineradoras de areia 102

    CAPTULO V 107 6 O conflito de interesses 107

    6.1 A questo da energia 107 6.2 Minerao e meio ambiente 109 6.3 A extrao de areia no rio Paraba do Sul 111 6.4 O aproveitamento da areia no leito de rios 114 6.5 O planejamento ambiental 114 6.6 Recuperao das reas degradadas 115 6.7 Matas ciliares 120

    CAPTULO VI Monitoramento 126 CAPTULO VII Concluses 129 CAPTULO VIII Bibliografia 138 Anexos 149

  • 6

    RIO PARABA DO SUL, DEGRADAO AMBIENTAL

    PROVOCADA PELA MINERAO DE AREIA.

    Ns concordamos em respeitar, fomentar, proteger e reabilitar os ecossistemas da Terra, para assegurar a

    diversidade biolgica e cultural (Carta da Terra).

  • 7

    1 INTRODUO.

    1.1 Metodologia de elaborao desta monografia.

    1.1.1 Consideraes gerais.

    Esta monografia foi redigida em funo do curso de ps-graduao Controle da Poluio Ambiental visando a identificao das reas de degradao ambiental provocada pela minerao de areia no rio Paraba do Sul e da necessidade dos autores em relatar resultados das suas observaes de temas regionais. Para tal seguiu-se o fluxograma da figura 1:

    1.1.2 Levantamento de dados.

    Foram utilizados os seguintes meios:

    Pesquisa de mercado para caracterizao da gesto ambiental na lavra.

    Fotografias, imagens de satlite e documentao cartogrfica.

    Vistorias.

    Entrevistas.

    Pesquisa bibliogrfica.

    Foram obedecidos os seguintes critrios:

    a areia como insumo bsico na construo civil;

    o crescimento da demanda por obras civis e o conseqente aumento do consumo de areia;

    a interdependncia entre o rio Paraba do Sul, suas margens, a minerao de areia, a preservao do meio ambiente e em vrios trechos, a necessidade da recomposio do meio ambiente degradado.

  • 8

    Figura 1 - Fluxograma de atividades.

    Incio

    Definio do tema

    Estabelecimento dos objetivos

    Seleo da rea de estudos

    Reconhecimento da rea

    (vistorias)

    Trabalho de campo

    Inventrio das mineradoras

    Coleta de dados nos rgos

    governamentais Documentao

    fotogrfica

    Avaliao da degradao ambiental e dos conflitos

    Fim

    Lev

    anta

    men

    to bi

    blio

    grf

    ico

    , le

    gisla

    tivo

    e

    cart

    ogr

    fic

    o

    Monografia

  • 9

    1.1.3 Contedo do trabalho.

    No primeiro captulo, o da introduo, comenta-se o estoque de gua para uso humano disponvel, seu carter finito, o seu desperdcio e a ameaa de guerra pela sua posse. Apresenta-se a problemtica dos recursos hdricos no estado de So Paulo com nfase na bacia hidrogrfica do rio Paraba do Sul. Faz-se um histrico da regio e de seus projetos. A seguir caracterizam-se os recursos hdricos superficiais, descreve-se esta rea, caracteriza-se o seu clima e a sua vegetao.

    No segundo captulo, apresenta-se a geomorfologia e faz-se um resumo dos estudos geomorfolgicos da regio.

    No terceiro captulo, descreve-se as tendncias do construbusiness e da construo civil e o consumo de agregados com enfoque na areia.

    No quarto captulo apresenta-se a minerao brasileira em especial a minerao de areia. Conceitua-se a areia normal brasileira e a minerao de areia para a construo civil. Aborda-se os aspectos legais e institucionais da legislao que afeta a minerao de areia e a abertura de uma firma mineradora. Comenta-se o potencial areeiro do rio Paraba do Sul e as empresas mineradoras da rea de estudo.

    O quinto captulo analisa o conflito de interesses entre areeiros - construo civil - sociedade. Trata da recuperao das reas degradadas e seu monitoramento.

    No sexto captulo esto as concluses deste trabalho.

    No stimo captulo apresenta-se a bibliografia.

    Anexos a seguir.

    1.1.4 Objetivos do trabalho e justificativa.

    Este trabalho se prope a estudar a degradao ambiental provocada pela minerao de areia no rio Paraba do Sul e identificar os conflitos existentes.

    O estudo se justifica, pois, a bacia do rio Paraba do Sul tem sido motivo de preocupao dos setores de planejamento e dois grandes estudos foram realizados culminando no Plano Regional do Macro Eixo Paulista e no Macrozoneamento da Bacia do Paraba do Sul, sendo este ltimo aprovado pelo Decreto Federal n. 87.561 de 13 de setembro de 1.982.

    O Governo do Estado de So Paulo atravs da Secretaria da Agricultura e Abastecimento fez publicar no Dirio Oficial de 15.03.1.983, folha 40 a Resoluo S. A. A. n. 49 de 14.03.1.983 dispondo sobre a institucionalizao do Programa de Desenvolvimento Agrcola da Bacia Hidrogrfica do Rio Paraba do Sul no Estado de So Paulo PROVALE com os seguintes objetivos gerais:

  • 10

    a. Preservao das reas agricultveis; e, b. Implantao de tipologia agrcola condicionada capacidade de uso do solo

    harmonizada com as atividades resultantes do desenvolvimento urbano e industrial, de forma a compatibilizar-se necessidades scio-econmicas e proteo ambiental (Provale).

    Duas portarias do Ministrio do Interior, chamam a ateno, tabela 1:

    Tabela 1 - Portarias do Ministrio do Interior referentes bacia do rio Paraba do Sul.

    PORTARIA DATA DESCRIO GM/n. 086 04/06/1981 Classificao dos cursos dgua da Bacia Hidrogrfica do Rio Paraba do Sul.

    GM/ n. 157 26/10/1982 Estabelece normas ao lanamento de efluentes lquidos contendo substncias no degradveis de alto grau de toxicidade decorrentes de quaisquer atividades industriais.

    Alm disso, a minerao de areia para a construo civil tem sido intensa, na regio, e a degradao ambiental conseqente j visivelmente agressiva em vrios trechos do Rio com vrios comprometimentos.

  • 11

    CAPTULO I

    2 Generalidades.

    2.1 Classificao das condies do ecossistema.

    Segundo Aurlio,

    ecossistema o conjunto dos relacionamentos mtuos entre determinado meio ambiente e a flora, a fauna e os microrganismos que nele habitam, e que incluem os fatores de equilbrio geolgico, atmosfrico, meteorolgico e biolgico.

    A classificao das condies do ecossistema est apresentado na figura 2.

  • 12

    Figura 2 - Classificao das condies do ecossistema. Fonte: Cuidando do Planeta Terra UICN/PNUMA/WWF in A Questo Ambiental e as Empresas SEBRAE.

    Auto-reguladoras. Grande proporo de espcies

    nativas em relao s introduzidas.

    Sistemas naturais Provimento de sistemas de sustentao da vida e da biodiversidade.

    Sistemas modificados

    Provimentos de servios de sustentao da vida e da biodiversidade. Produo

    sustentvel de recursos em estado selvagem.

    Sistemas cultivados

    Agricultura, plantio de rvores e aquiculturas sustentveis

    Sistemas construdos

    Desenvolvimento urbano adequado sustentabilidade.

    Reguladas pelo homem. Grande

    proporo de espcies

    introduzidas em relao s espcies nativas.

    Recuperao ou reabilitao

    Insu

    sten

    tv

    el

    Pote

    nci

    alm

    ente

    sust

    ent

    vel

    Sistemas degradados

  • 13

    Explicaes sobre a figura 2:

    1 As principais condies do ecossistema esto demonstradas nos quadros escurecidos: Sistemas naturais ecossistemas onde, at a 1 Revoluo Industrial (1.780 a 1.860), o impacto do homem no foi maior do que o de quaisquer outras espcies nativas, e no afetou a estrutura do ecossistema. A mudana climtica est excluda da definio, porque a mudana climtica causada pelo homem deve afetar todos os ecossistemas e eliminar todos os ecossistemas naturais como definidos aqui. Sistemas modificados ecossistemas onde o impacto humano maior do que quaisquer outras espcies, mas cujos componentes estruturais no so cultivados. A maior parte do planeta est modificada, incluindo as reas de terra e mar normalmente consideradas reas naturais. Por exemplo, florestas regenerativas, usadas para produo de madeira; pastagens naturalmente regenerativas usadas para criao.

    Sistemas cultivados ecossistemas onde o impacto humano maior do que o de quaisquer outras espcies, e cuja maioria de componentes estruturais cultivada. Por exemplo, fazendas, pastos formados artificialmente, plantaes, lagos para aqiculturas.

    Sistemas construdos ecossistemas dominados por edificaes, estradas, ferrovias, aeroportos, portos, barragens, minas e outras construes antrpicas. Sistemas degradados ecossistemas cuja diversidade produtiva e condio para habitao foram enormemente reduzidas. A degradao dos ecossistemas da Terra caracterizada por perda de vegetao e de solo; e a dos ecossistemas aquticos freqentemente caracterizada por guas poludas que podem ser toleradas por poucas espcies. 2 - As setas esquerda indicam que o declive de sistemas naturais para sistemas construdos representa uma mudana da condio auto-reguladora para a condio regulada pelo homem, um declnio na diversidade das espcies nativas, e um aumento na diversidade das espcies introduzidas. 3 As principais converses dos ecossistemas para condies diferentes so demonstradas pelas linhas grossas; outras converses importantes so indicadas por linhas finas. 4 As condies para existncia de ecossistemas potencialmente sustentveis encontram-se acima da linha pontilhada horizontal. Os usos potencialmente sustentveis de cada condio dos ecossistemas esto resumidos direita dos quadros escurecidos. Os usos de um ecossistema so sustentveis se forem compatveis com a manuteno do ecossistema naquela condio. Os usos insustentveis levam converso do ecossistema para uma outra condio. 5 A vida sustentvel exige a proteo dos sistemas naturais mais a produo sustentvel de culturas e criaes produzidas em sistemas cultivados mais o desenvolvimento de sistemas construdos, implementado com base nos interesses humanos e ecolgicos mais a recuperao ou reabilitao dos sistemas degradados.

  • 14

    2.2 gua, recurso limitado.

    Os oceanos constituem importantes reservatrios de gua, armazenando 97% das guas do planeta; os gelos representam cerca de 2,1%; as guas subterrneas totalizam 0,7% e mais, entre lagos doces e salinos (0,016%), umidade do solo (0,005%), atmosfera (0,001%), biosfera (0,0002%) e, nos rios, apenas 0,00009%. O total de evaporao da Terra e o total de precipitao que retorna Terra se eqivalem, mostrando que no h perdas no balano global: ambos atingem 496 x 1012 m3/ano, o que eqivale a uma profundidade de 97 cm/ano em termos mdios do planeta (Berner e Berner, 1.987).

    A Amrica do Sul o continente que apresenta os maiores valores de precipitao total (163 cm/ano), dos quais 93 cm/ano escoam na superfcie e 70 cm/ano retornam atmosfera (Budyco, 1.974).

    Figura 3 - Brasil, principais bacias hidrogrficas e a Bacia do Paraba do Sul.

    O Brasil tem a maior reserva hidrolgica do mundo, 14% da que pode ser consumida. Cada brasileiro possui, em tese, 34 x 106 l sua disposio. A escassez se

  • 15

    explica pela pssima distribuio da gua brasileira. Quase 80% se concentram na Amaznia, enquanto reas do agreste ficam mingua, figura 3. Apenas 10% do esgoto gerado tratado e 23,8% da populao (36 milhes de pessoas) no tem gua encanada. Quem tem a usa mal, tabela 2.

    Tabela 2 - Consumo de gua nos afazeres domsticos.

    CONSUMO DOMSTICO DE GUA (l) Higiene pessoal Lavar as mos

    Fazer a barba Escovar os dentes

    7 75 18

    Banho Ducha (15 min) Chuveiro (15 min)

    135 a 243 45 a 144

    Lavar loua Apartamento (15 min) Casa (15 min)

    117 243

    Lavar roupa Lavadora (5kg) Tanque

    135 117 a 279

    Regar jardim Durante 10 min 186 Lavar calada Durante 15 min 279

    Lavar carro Mangueira (30 min) Balde

    216 a 560 40

    Fonte: SABESP e Panorama Setorial da Gazeta Mercantil.

    Um agricultor nordestino gasta, em mdia, 18 x 106 l/ano para irrigar um ha, trinta vezes mais que um israelense, submetido a clima igualmente seco. Pelas contas do Ministrio do Planejamento, da gua tratada, distribuda populao, perdem-se at 40% dos 10,4 x 1012 l distribudos anualmente no Pas.

    Devemos considerar, tambm, que so abertos, anualmente, no Pas, entre 90.000 e 100.000 poos artesianos.

    A lei de direito da gua do Brasil o Cdigo de guas, de 10.07.1.934, considerado pela Doutrina Jurdica como um dos textos modelares do Direito Positivo Brasileiro. Em 08.01.1.997 foi sancionada a Lei Federal n. 9.433 que organiza o setor de planejamento e gesto, em mbito nacional, portanto, uma Lei de Organizao Administrativa para o setor de recursos hdricos. A bacia hidrogrfica adotada como unidade de planejamento.

    A Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1.997, criou o Conselho Nacional de Recursos Hdricos e atribuiu Secretaria dos Recursos Hdricos a funo de sua Secretaria Executiva, estabeleceu que a presidncia desse Conselho ser ocupada pelo titular da Pasta do Ministrio do Meio Ambiente, dos Recursos Hdricos e da Amaznia Legal, e proclamou os princpios bsicos, tabela 3. No seu Art. 1, V, define que a

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    bacia hidrogrfica a unidade territorial para implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos e atuao do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos.

    Tabela 3 - Princpios bsicos na Lei Federal n. 9.433/97.

    POLTICA NACIONAL DE RECURSOS HDRICOS Adoo da bacia hidrogrfica como unidade de planejamento.

    Usos mltiplos Reconhecimento da gua como um bem finito e vulnervel.

    Reconhecimento do valor econmico da gua. Gesto descentralizada e participativa.

    A Lei n. 9.433/97 tambm define cinco instrumentos boa gesto do uso da gua, tabela 4.

    Tabela 4 - Instrumentos da Lei n. 9.433/97.

    INSTRUMENTOS DA LEI n. 9433/97 Plano Nacional de Recursos Hdricos

    Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hdricos Cobrana pelo uso da gua

    Enquadramento dos corpos dgua em classes de uso (ver Resoluo CONAMA n. 20) Sistema Nacional de Informaes sobre Recursos Hdricos.

    A Lei Federal n. 9.433/97 tambm estabeleceu um arranjo institucional claro, baseado em novos tipos de organizao para a gesto compartilhada do uso da gua, tabela 5.

    Tabela 5 - Organismos criados pela Lei Federal n. 9.433/97.

    ORGANISMOS CRIADOS PELA LEI n. 9.433/97 Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    Comits de Bacias Hidrogrficas Agncias de gua

    Organizaes Civis de Recursos Hdricos

    Em 1.988 o governo federal lanou o Programa Nacional de Combate ao Desperdcio de gua que pretendia reduzir em 15% as perdas de gua economizando R$ 1,27 x 109/ano.

  • 17

    Aos 2 de setembro de 1.999 o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou o projeto de lei que cria a Agncia Nacional de guas (ANA). A ANA ter pela frente dois assuntos relevantes e atuais para serem tratados: as secas prolongadas, especialmente no Nordeste, e a poluio dos rios.

    So Paulo, aprovou uma poltica de recursos hdricos a partir do Plano Estadual de Recursos Hdricos e a incluso na Constituio Estadual de 1.987 de uma seo (II) especfica (Art. 205 a 213) para tratar da matria recursos hdricos. Criou-se o Conselho Estadual de Recursos Hdricos que props a Poltica Estadual de Recursos Hdricos (PERH), instituda pela Lei Estadual n. 7.663. Esta estabelece a cobrana pela gua, como uma commodity, e a criao de comits de bacias hidrogrficas, com representantes de todos os setores interessados e poder decisrio (Barbosa, 1997).

    A Secretaria de Recursos Hdricos Saneamento e Obras, criada pela Lei Estadual n. 8.275, modificada pela Lei Estadual n. 9.952, est montando o Projeto de Conservao e Revitalizao de Recursos Hdricos, para cuidar do setor rural, o maior usurio do Pas, respondendo por cerca de 70% do consumo total de gua e considerado tambm o maior poluidor. O soro do leite polui dez vezes mais que o esgoto domstico, com uma ao to nefasta para o meio ambiente quanto o vinhoto da cana-de-acar (Sasse, 1.998).

    A zona subsuperficial saturada ou zona fretica representa a fonte de gua fresca mais importante no mundo: 21% do total da gua doce do planeta ou 97% da gua doce no congelada. No Brasil estimou-se um volume armazenado de 111.661 km3. Este volume pouco utilizado por ns devido s condies climticas e geolgicas que favorecem uma grande ocorrncia de gua superficial, especialmente na Regio Sudeste, onde esto as grandes concentraes populacionais (Guerra e Cunha, 1998). A Lei Estadual n. 6.134 regulamentada pelo Decreto Estadual n. 32.955, dispe sobre a Preservao dos Depsitos Naturais de guas Subterrneas.

    Dentro de vinte e cinco anos, aproximadamente, um tero da populao mundial enfrentar graves desabastecimentos de gua, aumentando o perigo de guerras pelos recursos hdricos, segundo a Organizao das Naes Unidas . Conflitos por causa de gua, guerras civis e internacionais, ameaam tornar-se um fator-chave do panorama mundial no sculo XXI (Houlder, 1.999).

    Praticamente todo o aumento de trs bilhes de pessoas na populao global esperado at 2.025 ocorrer em pases em desenvolvimento, onde a gua , com freqncia, escassa ou chega somente com a estao das chuvas, com furaces e enchentes, sendo drenada rapidamente pelo solo. A maior parte da gua potvel disponvel encontra-se em pases desenvolvidos, que s tm um quinto da populao mundial.

    Pesquisa recente (Houlder, 1.999) publicada pelo Instituto Internacional de Administrao dos Recursos Hdricos, um centro de pesquisa sediado na cidade de Colombo, no Sri Lanka, prev absoluta escassez de gua para 17 pases do Oriente Mdio, do Sul da frica e para regies mais secas do Oeste e do Sul da ndia e no norte da China. Outras vinte e quatro naes sofrero de extrema escassez de gua,

  • 18

    principalmente na frica subsaariana. Para estes pases improvvel um alvio da situao por causa da falta de recursos para o desenvolvimento de projetos de captao. A escassez ser particularmente danosa para a agricultura, que absorve entre 70% e 80% das reservas disponveis de gua.

    A Comisso Mundial para a gua no Sculo XXI, um grupo de estudos recm-formado com o apoio da ONU e do Banco Mundial, informa que a agricultura irrigada ter de atender a 70% do aumento da demanda de alimentos da populao mundial em 2.025. Mas mesmo que haja um grande aumento na eficincia da irrigao, a necessidade de gua crescer 17% mais do que o total disponvel hoje. Se no houver mudanas, a demanda ser ento 56% superior disponibilidade atual.

    Segundo a ONU, a escassez de gua agravada pela poluio, pelo uso ineficiente e pelo consumo insustentvel dos lenis subterrneos atravs dos poos artesianos. As reservas hdricas tambm so prejudicadas por sua administrao insuficiente e fragmentada, relutncia em tratar a gua como patrimnio econmico pblico e pela inadequada preocupao com a sade e questes ambientais.

    A ONU prev um forte aumento do nmero de mortes por males relacionados com a qualidade da gua atualmente so 5,3 milhes de bitos por ano e 3,35 bilhes de casos de doena por ano. Cerca de metade da populao dos pases em desenvolvimento sofre de doenas provocadas por gua contaminada. Segundo o Sistema nico de Sade (SUS), 70% dos leitos hospitalares esto ocupados por portadores de doenas hdricas (Lancia, 1.999).

    A Organizao Mundial da Sade (OMS) informa e alerta que a qualidade da gua est se tornando um problema crescente na Europa por causa da agricultura intensiva, da industrializao e da superexplorao dos recursos. Um em cada sete europeus, especialmente os habitantes da Europa Oriental, no tem acesso a gua potvel. Doenas medievais como clera, febre tifide e hepatite do tipo A esto retornando (Houlder, 1.999).

    A globalizao da questo ambiental teve incio com a 1 Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente realizada em junho de 1.972, em Estocolmo, movida pela degradao ambiental em todo o mundo que se refletia em uma poluio industrial, explorao de recursos naturais, deteriorao das condies ambientais e problemas sanitrios, dficit de nutrio e aumento da mortalidade. Problemas como efeito estufa e aquecimento global, chuva cida e aparecimento de buracos na camada de oznio so efeitos do processo de industrializao e da vida urbano-industrial. O desmatamento e as diversas formas de poluio ambiental tm acelerado a destruio da diversidade biolgica, sendo que 70% do que restou de toda a variedade de espcies de vida existentes no mundo concentram-se em apenas doze pases (Austrlia, Brasil, China, Colmbia, Equador, ndia, Indonsia, Madagascar, Malsia, Mxico, Peru e Zaire). O Brasil o quarto pas contribuidor para o efeito estufa, seguido dos EUA, da Comunidade dos Estados Independentes (antiga URSS) e China. Enquanto os trs primeiros emitem elevados valores de CO2 devido ao consumo de energia, o Brasil o maior emissor de CO2 proveniente da queimada de florestas.

  • 19

    O modo de vida da maioria das sociedades modernas, que estabelecem como meta o aumento da produo e do ritmo da produtividade, representa a causa fundamental. Essas questes mundiais s sero resolvidas com medidas efetivas tomadas em conjunto, entretanto, acordos entre pases como os da 2 Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), realizada em junho de 1.992, no Rio de Janeiro, nem sempre so eficazes, devido aos inmeros interesses econmicos e polticos em jogo.

    Um desafio atual, para as sociedades, constitui colocar em prtica a noo surgida no final da dcada de 1.980 sobre o desenvolvimento sustentvel, uma questo de puro bom senso que exigir mudanas na produo e no consumo e em nossa maneira de pensar e de viver.

    O W.B.C.S.D Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentvel, lanou, em 1.998, na Holanda, as bases do conceito de responsabilidade social corporativa:

    responsabilidade social corporativa o comprometimento permanente dos empresrios de adotar um comportamento tico e contribuir para o desenvolvimento econmico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de suas famlias, da comunidade local e da sociedade como um todo.

    Certos processos ambientais, como lixiviao, eroso, movimentos de massa e cheias, podem ocorrer com ou sem a interveno humana. Dessa forma, ao se caracterizar processos fsicos, como degradao ambiental, deve-se levar em considerao critrios sociais que relacionam a terra com seu uso, ou pelo menos, com o potencial de diversos tipos de uso (Guerra e Cunha, 1.996).

    medida em que a degradao ambiental se acelera e se amplia espacialmente, numa determinada rea que esteja sendo ocupada e explorada pelo homem, a sua produtividade tende a diminuir, a menos que o homem invista no sentido de recuperar essas reas.

    Comumente coloca-se a responsabilidade da degradao ambiental no crescimento populacional e, na conseqente presso que esse crescimento proporciona sobre o meio fsico. Pode ser uma causa, mas no a nica, nem a principal (Boyden e Hadley, 1.973). O manejo inadequado do solo, tanto em reas rurais, como em reas urbanas, a principal causa da degradao. As prprias condies naturais podem, junto com o manejo inadequado, acelerar a degradao. Chuvas concentradas, encostas desprotegidas de vegetao, contato solo-rocha abrupto, descontinuidades litolgicas e pedolgicas, encostas ngremes so algumas condies naturais que podem acelerar os processos.

    Mudanas ocorridas no interior das bacias de drenagem podem ter causas naturais, entretanto, nos ltimos anos, o homem tem participado como um agente acelerador dos processos modificadores e de desequilbrios da paisagem. O comportamento da descarga e da carga slida dos rios tm se modificado pela participao

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    antrpica diretamente nos canais, atravs de obras de engenharia, e, indiretamente, atravs das atividades humanas desenvolvidas nas bacias hidrogrficas (Guerra e Cunha, 1.996).

    O vale fluvial uma depresso alongada (longitudinal) constituda por um ou mais talvegues o canal mais profundo do leito de um curso de gua - e duas vertentes com sistemas de declive convergente. Pode ser conceituado, tambm, como plancie beira do rio ou vrzea.

    O perfil longitudinal do vale difere do perfil do rio porque o primeiro depende do gradiente da plancie. Em decorrncia, as formas do vale, com sees transversais em U ou V, resultam da interao do clima, relevo, tipo de rocha e estrutura geolgica.

    O rio, com seu talvegue, controla os processos de formao do vale, embora a sua influncia direta seja restrita calha e plancie de inundao.

    O fundo do vale pode ser entendido sob o ponto de vista dos tipos de leito, de canal e de rede de drenagem. Cada uma dessas fisiografias possui uma dinmica peculiar das guas correntes, associada uma geometria hidrulica especfica, geradas pelos processos de eroso, transporte e deposio dos sedimentos fluviais.

    A associao desses elementos da rede fluvial, com a altimetria e os controles estruturais, que originam importantes nveis de base regionais e locais, permite o desenvolvimento de um perfil longitudinal especfico, dinmico e em constante busca de um equilibrado balano entre descarga lquida, eroso, transporte e deposio de sedimentos. Desse modo o rio mantm certa proporcionalidade entre os diferentes tamanhos da sua calha, da nascente foz. Atividades humanas desenvolvidas em um trecho do rio podem alterar, de diferentes formas e escalas de intensidade, a dinmica desse equilbrio. So exemplos, as obras de engenharia como as construes de reservatrios e canalizaes, a substituio da mata ciliar por terras cultivadas, o avano do processo de urbanizao e a explorao de alvios.

    Uma das formas que o rio encontra para retornar ao equilbrio anterior refere-se intensa eroso das margens, assim como a mudana na topografia do fundo do leito.

    As formas do fundo do leito so criadas pela interao da descarga e dos sedimentos transportados. Canais com areias bem selecionadas, ou silte, tm suas prprias formas caractersticas. Ondas de areias, por exemplo, formam bancos transversos, em forma de lbulos, em plano. Essas formas instveis contrastam com os perfis dos rios de cascalhos formados pela alternncia de declives planos e ngremes das sees rasas e fundas respectivamente. Essas soleiras e depresses so caractersticas de rios de cascalhos que so eliminadas pelas obras de canalizao. So necessrios longos perodos de tempo para a reconstruo dessas formas.

    Os gros de areia provm, em sua grande maioria, da desagregao de rochas preexistentes, seguida de um transporte pelas guas ou pelo vento. So mais freqentemente constitudos por quartzo. Segundo a dimenso dos gros classifica-se em

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    areia grossa, mdia, fina e muito fina. A nomenclatura tambm leva em considerao a presena de outros elementos: areia feldsptica (ou arczio), miccea (ou psamito), aurfera, argilosa, etc.. As areias mesmo compactadas, apresentam grande porosidade e permeabilidade, que as tornam retentoras de gua. As areias silicosas muito puras (com 99,5% de silcio) so utilizadas em vidraria. Um solo arenoso contm pelo menos 80% de areia.

    2.3 Apresentao da bacia do Paraba do Sul.

    O estado de So Paulo tem relevo de planaltos ocupando quase a totalidade da sua superfcie, com exceo da baixada litornea. Este relevo corresponde aos trechos paulistas do Planalto Atlntico e do Planalto Meridional brasileiros, com 85% das terras estaduais situadas entre 300 e 900 m de altitude, anexo 4. Identificam-se cinco unidades morfolgicas: a plancie litornea, o planalto cristalino, a depresso tectnica do vale do Paraba do Sul, a depresso perifrica paulista e o planalto sedimentar, figura 4.

    A rede hidrogrfica do estado de So Paulo pode ser apreciada no anexo 6.

    Figura 4 - Relevo brasileiro e planaltos e serras do Atlntico-Leste-Sudeste.

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    A depresso tectnica do vale do Paraba do Sul, percorrida, no sentido SO-NE pelo rio Paraba do Sul est limitada a NO pela escarpa da serra da Mantiqueira. A SE, limitada pelas serras do Quebra-Cangalha e da Bocaina, esta, um bloco soerguido da serra do Mar, com altitudes que ultrapassam os 2.000 m. Sobre a serra da Mantiqueira destaca-se ainda o bloco elevado do macio de Campos do Jordo.

    A bacia hidrogrfica do rio Paraba do Sul em seus limites atravessa trs estados brasileiros: 24% correspondem sub-bacia paulista, estendendo-se desde a regio metropolitana de So Paulo at a divisa com o Rio de Janeiro; 37% compem o sudeste mineiro e os 39% restantes constituem a maior parte do territrio fluminense (DAEE, 1.977 e Vale Verde).

    O rio Paraba do Sul formado pelos rios Paraitinga e Paraibuna, anexos 6 e 7, nascendo o primeiro na Serra da Bocaina a 1.800 m de altitude e o segundo na Serra do Mar a 1.200 m de altitude (DAEE, 1.977; Alves, 1.997; Abranches, 1.999; Maia, 1.999). Apresenta uma disposio de exceo na rede hidrogrfica brasileira: formado inicialmente pela confluncia dos rios Paraitinga e Paraibuna que tem seus cursos na direo sudoeste na rea montanhosa da Serra do Mar, aps a confluncia, continua na direo O at as proximidades de Guararema, onde barrado pela Serra da Mantiqueira que o obriga a inverter completamente o rumo do seu curso, passando a correr para o NE e finalmente para L, at alcanar o oceano em So Joo da Barra, aps percorrer uma distncia de 1200 km, anexos 6, 7, 8 e 9.

    A Lei Estadual n. 10.020 dispe sobre a constituio de Agncia de Bacia e a Deliberao 21/98 sobre a criao de Agncia de Bacias. O rio Paraba do Sul e sua bacia, so federais, ento, todos os rios que o formam so federais tambm; mas as micro-bacias, no.

    Esse complicador vem sendo administrado pelo Comit das Bacias Hidrogrficas do Rio Paraba do Sul e Serra da Mantiqueira (CBH-PSM), criado em 25.11.1.994, anexos 8 e 9. Como a constituio de uma Agncia depende sempre da aprovao do Comit e tambm da adeso de 35% dos municpios cortados pelo rio, torna-se, ento, necessrio um acordo entre os estados de So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro que ser feito por meio do Comit para Integrao da Bacia Hidrogrfica do Rio Paraba do Sul (CEIVAP). O CEIVAP calcula que sero necessrios R$ 3,3 bilhes para a recuperao ambiental da rea total de 57 mil km2 da Bacia. O Banco Mundial est liberando para o Ministrio do Meio Ambiente recursos de US$ 800,000.00 do fundo do governo japons PHRD, para a elaborao de projeto de recuperao da bacia hidrogrfica do rio Paraba do Sul, denominado Projeto de Qualidade das guas e Controle da Poluio Hdrica (PQA) (Feijo, 1.999).

    A Agncia das Bacias Hidrogrficas do Rio Paraba do Sul e Serra da Mantiqueira deve entrar em operao a partir do ano 2.000. A proposta para sua criao ser encaminhada ao Conselho Estadual de Recursos Hdricos.

    A Agncia ter como principal objetivo colocar em prtica todas as decises tomadas pelo CBH-PSM, prestando apoio tcnico, financeiro e administrativo, alm de participar nas negociaes de recursos junto aos investidores.

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    Um levantamento abrangente da situao dos recursos hdricos brasileiros foi feito em 1.984/85 pelo ento DNAEE (Departamento Nacional de gua e Energia Eltrica) e indicava, na bacia hidrogrfica do rio Paraba do Sul, como problemas prioritrios, a necessidade de recursos hdricos para o sistema Light/Rio e grandes cargas orgnicas lanadas nas regies de So Jos dos Campos, Taubat, Volta Redonda e Juiz de Fora (Castro, 1.998).

    A Unidade de Gerenciamento de Recursos Hdricos (UGRHI) Bacia Hidrogrfica do rio Paraba do Sul, possui as seguintes caractersticas, tabela 6 e anexos 8 e 9:

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    Tabela 6 - Caractersticas da UGRHI Bacia Hidrogrfica do Paraba do Sul.

    CARACTERSTICA

    DESCRIO

    DIMENSO rea de drenagem (km2) Bacia do Paraba do Sul 14.396 Cursos dgua principais Rios: Paraba do Sul, Paraibuna, Paraitinga, Jaguari, Parate e Una

    Reservatrios Funil, Jaguari, Paraibuna-Paraitinga, Santa Branca

    1.990 1.401.000 Populao urbana (habitantes) 2.010 2.226.000

    Urbano 1.990 Urbano 2.010

    3,5 7,2

    Industrial 1.990 Industrial 2.010

    8,3 12,9 Demanda (m

    3/s) Irrigao 1.990 Irrigao 2.010

    8,2 30,9

    Demanda total (m3/s) 1.990 2.010 20,0 51,0

    Disponibilidade (m3/s) Q7,10 Qref. 71,0

    140,0

    Demanda/Disponibilidade hdrica superficial

    (Dem.total/Qref.) x 100 (%) 1.990 2.010 14,3 36,4

    Taubat 10 a 250 Disponibilidade hdrica subterrnea (m3/h) vazo potencial

    Aqfero Cristalino 5 a 40

    Urbana 85,4 Potencial Industrial 89,9 Urbana 58,1 Remanescente Industrial 8,3

    Potencial total 175,3

    Carga Poluidora (t DBO/dia) 1.990

    Remanescente total 66,4

    Municpios integrantes

    Aparecida, Arape, Areias, Bananal, Caapava, Cachoeira Paulista, Canas, Cruzeiro, Cunha, Guararema, Guaratinguet, Igarat, Jacare, Jambeiro, Lagoinha, Lavrinhas, Lorena, Monteiro Lobato, Natividade da Serra, Paraibuna, Pindamonhangaba, Piquete, Potim, Queluz, Redeno da Serra, Roseira, Santa Branca, Santa Isabel, So Jos do Barreiro, So Jos dos Campos, So Luiz do Paraitinga, Silveiras, Taubat, Trememb.

    Fonte: (1) DAEE; (2) PERH 1994/95 in htpp://www.recursoshidricos.sp.gov.br

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    O rio Paraba do Sul, por mais que lhe voltemos as costas, um elemento natural importantssimo do ponto de vista fsico, econmico e cultural para a comunidade do Cone Leste Paulista. A areia um dos insumos bsicos da construo civil e o rio Paraba do Sul fundamental na economia regional como fonte de abastecimento de gua e extrao de areia; alimentao e transporte foram relegados (Maia, 1.999).

    Na vrzea do rio Paraba do Sul encontram-se grandes trechos de reas de cultura irrigada. Ao longo desta vrzea esto tambm localizadas as principais cidades da regio, que tem apresentado uma crescente expanso nas ltimas dcadas. Assim, com exceo das reas urbanas que esto expandindo-se cada vez mais para as vrzeas, todo o restante da rea apresenta uma aptido do uso do solo bastante adequado utilizao agrcola das terras, anexos 14, 15, 16 e 17. Nos trechos de escarpa com relevos acidentados, muitos de altas declividades, um superpastoreio ou excessiva utilizao das terras com fins agrcolas, podem dar incio a processos erosivos.

    Deve-se atentar tambm o fato de que trechos de vrzea sendo ocupados com reas urbanas extremamente nocivo, pois, alm de no atenderem a vocao principal da vrzea que agrcola, impermeabiliza-a e gera resduos lquidos e slidos que podem contaminar, tanto os recursos hdricos superficiais como os subterrneos (Sausen, 1.991).

    Nossas casas ribeirinhas so construdas orientadas no sentido de que o rio seja o fundo do nosso quintal (Guidotti, 1.998); nossas cidades o tm como um estorvo ao seu crescimento e, por isso, suas margens so desprezadas e seu curso receptculo de esgotos ftidos que devero ser carregados sorrateiramente para a prxima cidade; nossas indstrias, enquanto puderam o envenenaram; a areia, indispensvel na construo civil, est ali, de graa, no quintal; os pescadores, ah ! os pescadores ainda insistem?

    2.4 Histrico da regio.

    O Vale do Paraba teria sido percorrido pela bandeira chefiada por Braz Cubas e Luiz Martins, que em 1.560 partiu de So Vicente procura de ouro. Entretanto, a primeira incurso, que documentadamente o percorreu na quase totalidade do trecho paulista, foi a comandada por Martim Correia de S. Destinava-se a auxiliar os guaians contra os tamoios, e partiu do Rio de Janeiro a 14 de outubro de 1.597 com 700 brancos e 2.000 ndios. Galgando a Serra do Mar por Parati, atravessou os campos de Cunha, alcanou o rio Paraba do Sul entre So Jos dos Campos e Pindamonhangaba, e da, cruzando a Mantiqueira, chegou at o rio Sapuca (Simes, 1.977). Ferno Dias Pais, o governador das esmeraldas partiu de So Paulo em 1.674, entrou pelo serto de Guaratinguet e da seguiu para Minas Gerais procura das esmeraldas (Pombo, 1.960).

    Durante todo o sculo XVI, at os fins do sculo XVII, o Vale do Paraba tornou-se passagem obrigatria de todos os que se dirigiam do Rio de Janeiro s Minas Gerais e So Paulo, atravs dos chamados Caminho Velho e Caminho dos Paulistas. Os bandeirantes deixando o rio Tiet, alcanavam o rio Paraba do Sul pela garganta de

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    So Miguel, descendo-o at Guapacar, atual Lorena, e dali passavam a Serra da Mantiqueira, aproximadamente por onde transpunha a Estrada de Ferro Rio e Minas, seguindo, ento, para Gois (Normano, 1.945). Ao longo desses caminhos foram surgindo ncleos humanos permanentes. Esses ncleos formavam-se tanto em volta de sedes de sesmarias (Taubat, 1.632; Paraibuna, 1.666; etc.), como dos locais de pouso de viajantes. Em fins do sculo XVIII j existiam as vilas de Taubat, Guaratinguet, Jacare, Pindamonhangaba, So Jos dos Campos (Regato, 1.994; Bondesan, 1.967), Cachoeira, Bananal, Caapava, Paraibuna, Paraitinga, todas muito pobres, produzindo apenas o necessrio para o prprio sustento.

    Na primeira dcada do sculo XIX, a cultura cafeeira j atinge o Rio de Janeiro, comeando no litoral: Angra dos Reis e Parati, da deslocando-se tambm para So Paulo: Ubatuba, Caraguatatuba e So Sebastio. Porm no Vale do Paraba que o caf prospera (Prado Jr., 1.959; Hildebrando, 1.959; Koshiba, 1.979).

    De 1.830 a 1.880, aproximadamente, toda energia econmica volta-se para o cultivo do caf, que ento vendido ao mercado europeu em expanso e sem concorrncia. Torna-se, por isso, o estabilizador da economia do Imprio, a ponto de se poder dizer, na poca, que o Brasil o Vale (Koshiba, 1.979).

    Por volta de 1.840 ano do incio da primeira fase do reinado pessoal de D. Pedro I - o Vale do Paraba produzia 80% do caf de todo o estado de So Paulo e sua produo rural representava 37% da produo do Estado. A partir de 1.850 o caf passou a ser o principal produto do Vale do Paraba, com a produo aumentando sempre at o fim do sculo. Foi uma poca de grandes riquezas em que o Vale do Paraba se sobressaiu politicamente, representado pelos bares do caf, membros da aristocracia rural do Segundo Imprio (1.840 1.889). A produo per capita atingiu, em mdia, 60% mais do que no resto do Estado (Simes, 1.977).

    O Imprio tinha, na escravido, o seu ponto principal de sustentao (Calmon, 1.958) e os senhores de engenho e os bares do caf constituem a camada dominante do Imprio, pela simples razo de que a economia escravista, monocultora e inteiramente voltada para o mercado externo. Dominando o poder econmico, detinham o poder poltico. O Imprio expressava, pois, os interesses dos senhores de engenho e dos bares do caf do Vale do Paraba. Ramos de fumo e caf ornamentavam o Escudo do Brasil Imprio.

    A abolio do trfico negreiro em 1.850 (Gouveia, 1.955), porm, representa um duro golpe hegemonia daquela camada social. Sua situao se agrava aps a Guerra do Paraguai (1.865 1.870) quando a luta pela abolio da escravatura se coloca no centro dos debates polticos. A Lei urea (1.888), enfim, solapa o prprio fundamento sobre o qual se assentava o regime imperial brasileiro (Koshiba, 1.979).

    As terras, intensamente exploradas, se exauriam, e o nico motivo que ainda as tornava economicamente rentveis o trabalho escravo foi eliminado.

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    A proclamao da Repblica, em 1.889, vem atender os interesses dos grandes fazendeiros de caf, paulistas, mineiros e fluminenses. A Repblica Velha , por isso, a Repblica do Caf.

    No entanto, desde 1.895, a economia cafeeira comeava a mostrar sinais de crise: superproduo e queda de preo. Em 1.906, a crise atingiu seu ponto culminante. A safra de caf desse ano ultrapassou os 20 milhes de sacas, para um consumo mundial inferior a 16 milhes, enquanto os preos continuavam a cair. Em fevereiro, reuniram-se em Taubat (Nosso Sculo, 1.985) os governadores de So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e firmam um acordo conhecido como Convnio de Taubat (Bello, 1.959) e decide-se que a fim de evitar a queda de preo, os governos estaduais interessados devem contrair emprstimos no exterior para adquirir parte da produo que excede o consumo do mercado internacional. Inicia-se, assim, a poltica da valorizao do caf.

    Desde a, o caf, no Brasil, esteve continuamente sobre um sistema de defesa: em 1.906 ele foi limitado pelo estado de So Paulo e um grupo de negociantes de Nova York; em 1.927, j era composto de uma frente nica de todos os estados produtores de caf do Brasil. O plano de 1.906 foi temporrio e da mesma forma o foram os de 1.917 e 1.921 (Normano, 1.945). A crise cafeeira aliviada em 1.918 com a geada e o fim da I Grande Guerra.

    De 1.898 a 1.919 a poltica do caf-com-leite mantm-se inabalvel.

    Em 1.927 a porcentagem da exportao de caf comparada com a exportao brasileira total era de 70,6%.

    Em outubro de 1.929, ocorre o crash da Bolsa de Nova York e a cafeicultura mergulha em profunda depresso. O valor de venda do caf cai em 30%. No h mais crdito externo. Est suspenso o financiamento interno. Banco e agiotas executam hipotecas sobre fazendas de caf e elas transferem-se da posse de famlias quatrocentonas para a de sitiantes, imigrantes e seus filhos (Donato, 1.982).

    As levas de imigrantes europeus que comeavam a afluir no incio deste sculo, procuravam outras regies do Estado, ainda inexploradas. As terras cansadas das colinas foram dominadas pelos pastos e a pecuria passou a constituir, desde ento, a maior riqueza da regio. As plantaes passaram a dominar nas vrzeas, onde se desenvolveu a produo do arroz a partir de 1.920, passando a principal produto agrcola da regio; esta produo, entretanto, estava sujeita s enchentes peridicas do rio Paraba do Sul. A produo do Vale do Paraba passou a constituir apenas 5% da produo do Estado, e a produo per capita chegou a 29% abaixo da mdia estadual.

    A populao do Vale do Paraba, que de 1.840 a 1.920 cresceu em progresso aritmtica, na razo de 3.700 habitantes por ano, chegou a decrescer entre 1.920 e 1.930. Surgem as cidades mortas descritas por Monteiro Lobato. Somente a partir de 1.950 voltou a apresentar um nvel de crescimento razovel, com taxa de 12.500 habitantes por ano. A partir dessa poca teve incio um rpido desenvolvimento industrial, que se tornou possvel graas excepcional localizao geo-econmica, abundncia de energia eltrica e s facilidades de transporte. Cidades como Aparecida, Cruzeiro, Guaratinguet,

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    Jacare, Lorena, Pindamonhangaba e Taubat, quase que duplicaram de populao entre 1.950 e 1.960, sendo que em So Jos dos Campos, nesse perodo, a populao passou de 25.892 para 56.882 habitantes.

    A populao total dos trinta e dois municpios, que era de 449.732 habitantes em 1.950, passou para 574.036 em 1.960 e 792.461 em 1.970, isto , aumentou de 27,7% em dez anos e 76,5% em vinte anos. A populao urbana passou de 344.563 habitantes em 1.960, para 584.816 em 1.970, com aumento de 70% em 10 anos, representava 44,6% da populao total em 1.950, passou a representar 60% em 1.960 e 74% em 1.970.

    Esse crescimento vertiginoso das cidades, devido rpida industrializao, trouxe desenvolvimento, mas, tambm, inmeros problemas, entre eles, a poluio do ar, das guas e do solo, para cuja soluo h ainda necessidade de medidas urgentes e em alguns casos bem radicais.

    Por outro lado o setor agropecurio no acompanhou o surto de desenvolvimento aumentando ainda mais a diferena que j existia entre o setor primrio e o secundrio.

    A forte extrao mineral no Vale do Paraba teve seu incio na dcada de 50 com o predomnio da extrao no leito do rio por pequenas empresas e baixo impacto ambiental.

    Devido ao crescimento da demanda por agregados para a construo civil, a explorao de areia no Vale do Paraba acompanhou-a para atender o mercado regional e da Grande So Paulo, tomando a frente o municpio de Jacare por se localizar numa grande jazida de boa qualidade e perto do mercado consumidor. Novas necessidades surgiram na dcada de 70, esgotando a capacidade de extrao de areia no leito do rio, aparecendo, assim, as primeiras cavas s margens do rio Paraba do Sul, que foram crescendo de maneira desordenada e sem critrios.

    O municpio de So Jos dos Campos est na altitude 600 m s.n.m., na latitude 23 1046, longitude 45 5313, tem rea de 1.102,2 km2 e foi criado em 1.767; o municpio de Jacare est na altitude 567 m s.n.m., na latitude 23 1819, longitude 45 5757, tem rea de 461,1 km2 e foi criado em 1.653; o municpio de Caapava est na altitude 560m s.n.m., latitude 23 0603, longitude 45 4225, tem rea de 370,8 km2 e foi criado em 1.855 e Eugnio de Melo est na altitude 565 m s.n.m., na latitude 23 0820, longitude 45 4709 (IBGE, 1.995).

    2.4.1 Os planos do DAEE.

    Com a finalidade de promover a recuperao econmica da bacia hidrogrfica do Vale do Paraba, no seu trecho paulista, pelo aproveitamento racional dos seus recursos naturais, o Governo do Estado criou, em 1.938, o Servio de Melhoramento do Vale do Paraba, que deu incio ao planejamento do Vale do Paraba.

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    Em 1.951 esse Servio foi incorporado ao Departamento de guas e Energia Eltrica (DAEE), ento criado. A partir da, os trabalhos passaram a se reger pelos princpios do planejamento regional, com base no aproveitamento mltiplo dos recursos hdricos.

    As diretrizes do planejamento de reerguimento regional, calcadas em grande parte naquelas do Vale do Tennessee, foram elaboradas por uma equipe de tcnicos do DAEE e da Secretaria da Agricultura, em 1.952 e tinha como suporte o Art. 17 do Ato das Disposies Transitrias da Constituio do Estado de So Paulo de 1.947.

    O Tennessee um rio dos Estados Unidos da Amrica, afluente do Ohio (margem esquerda), com 1.600 km de extenso. As obras realizadas em seu curso, no perodo do New Deal do Presidente Franklin Delano Roosevelt, levaram construo de uma trintena de barragens, destinadas principalmente a regularizar o dbito, permitir a navegao e fornecer hidroeletricidade, o que favoreceu a industrializao em seu vale.

    Esse plano de aproveitamento mltiplo dos recursos hdricos, atividade bsica do DAEE, era constitudo dos seguintes itens:

    a. Uso racional das bacias hidrogrficas. b. Defesa contra inundaes. c. Abastecimento de gua. d. Navegao. e. Produo de energia eltrica. f. Irrigao. g. Controle de poluio. h. Drenagem. i. Uso recreativo dos recursos de gua. j. Caa e pesca. k. Controle de sedimentos. l. Controle de insetos. m. Educao e assistncia social.

    2.4.1.1 O plano hidroeltrico.

    Foram elaborados vrios planos de regularizao de vazo do rio Paraba do Sul com a finalidade de produzir energia eltrica, tanto por particulares como por entidades governamentais.

    O primeiro plano do DAEE de regularizao das vazes objetivando o aproveitamento hidroeltrico aquele relativo concesso de 1.954, constitudo de seis reservatrios com capacidade de 4 bilhes de m3 e a derivao das guas do Alto Paraba do Sul para a vertente ocenica. Previa esse plano uma potncia instalada global de 740 MW. Posteriormente, foram elaborados outros planos, nos quais sempre se procurou dar melhor utilizao aos recursos hdricos disponveis.

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    Com a revogao da concesso em 1.966, foi eliminado do plano o desvio das guas para a vertente martima e consequentemente cancelada a construo da usina de Caraguatatuba.

    Em 1.971, foi assinado um Convnio entre o Governo Federal, Light Servios de Eletricidade S/A, Estados do Rio de Janeiro e So Paulo, para a construo dos reservatrios do Alto Paraba do Sul, com responsabilidade financeira maior da Light (41%), iguais para a Unio e o estado de So Paulo (24,5%) cada e menor para o estado do Rio de Janeiro (10%).

    Foram construdas as barragens: Paraibuna, Paraitinga, Santa Branca, Jaguari e Funil, anexo 6.

    Esses planos (DAEE, 1.973 e GESP, 1.975) sempre consideraram os fatores inerentes aos diversos usos e controles das guas, a saber: defesa contra inundaes, abastecimento de gua, navegao, produo de energia eltrica, irrigao, controle de poluio, drenagem, pesca e uso recreativo.

    As principais caractersticas do plano foram a sua flexibilidade e o elevado grau de regularizao, que atinge quase 100% nas cabeceiras do rio.

    Nos reservatrios seriam deixadas bordas livres, cuja capacidade de armazenamento resultante constituiria reserva suplementar para o controle de enchentes.

    2.4.1.2 Plano hidro-agrcola.

    Este foi um estudo mais geral, levou em considerao o Plano de Regularizao existente na poca, o plano de endicamento do rio Paraba do Sul e de corte de meandros, estes dois ltimos elaborados pelo Departamento de Obras de Saneamento e fez todo o estudo de aproveitamento das terras de vrzeas e de colinas para fins agrcolas. O estudo se aprofundava em consideraes de ordem econmica, hidrulica e agronmica.

    As reas de vrzeas do rio Paraba do Sul tem 50.000 ha e as vrzeas dos seus afluentes somam 15.000 ha. Para proteo das vrzeas do Paraba do Sul contra as inundaes peridicas que as assolavam foi prevista a construo de diques marginais que delimitam quarenta e uma reas protegidas denominadas polders, com superfcie total de 35.000 ha. O comprimento total dos diques seria de cerca de 300 km.

    Antes da construo dos diques foi prevista a retificao do rio Paraba do Sul por meio do corte de meandros. Com estes cortes entre as cidades de Jacare e Cachoeira Paulista, a declividade mdia passaria de 19 para 28 cm/km, anexo 13.

    Internamente, nas reas protegidas, era prevista a construo das obras hidroagrcolas, isto , as de irrigao e drenagem.

  • 31

    2.4.1.3 Os estudos sanitrios.

    Em relao ao problema sanitrio, vrios estudos foram realizados, alguns especficos e outros mais abrangentes, tendo recebido inicialmente colaborao do antigo Departamento de Obras Sanitrias, DOS.

    Oportuno mencionar aqui os estudos, o projeto e a construo da Lagoa de Oxidao de So Jos dos Campos, executados com sucesso em colaborao com o Servio Especial de Sade Pblica.

    Posteriormente, as atribuies foram transferidas ao FESP e mais recentemente CETESB com as quais o DAEE vem mantendo estreita colaborao no sentido de dar soluo ao problema sanitrio do rio Paraba do Sul que um dos maiores desafios aos tcnicos nele engajados.

    2.4.1.4 Outros estudos.

    Foram realizados inmeros estudos, sejam no campo da economia, da sociologia, da agricultura, da hidrologia, etc., sempre com o objetivo de considerar sistematicamente o conjunto gua, solo e o homem.

    Relativamente difcil dividir esquematicamente as terras do Vale do Paraba em trs tipos: a vrzea, o tercirio e o arqueano. No uma terminologia geologicamente correta, porm, para os nossos propsitos a mais conveniente.

    As vrzeas, localizam-se junto s margens do rio, so terras planas, ricas e apropriadas agricultura. So por outro lado, inadequadas para uso urbano, por apresentarem elevada umidade e fraca resistncia mecnica. S se justificaria a utilizao desses terrenos para cidades ou indstrias se no houver outras reas para essa finalidade.

    As terras do tercirio tipicamente de colina, so adequadas para pastagens, fruticultura, reflorestamento, cidades e indstrias, dependendo da natureza do solo e de sua declividade (GESP, 1.977).

    O arqueano, em geral de grande declividade, deve destinar-se principalmente ao reflorestamento (GESP, 1.975).

    Essa diviso de uso seria a mais adequada e natural, entretanto a acelerada industrializao e conseqente crescimento urbano, est provocando a invaso das vrzeas para uso urbano e industrial, cuja explicao salvo raras excees, decorrente de especulao imobiliria.

    Assim, uma questo de disciplinamento do uso do solo, a preservao do uso das vrzeas para a agricultura, anexos 14, 15 e 16.

  • 32

    Por outro lado, deve-se notar que a populao do macro-eixo Rio-So Paulo, est mais exigente de produtos hortcolas. Para produzir esses alimentos, reservar as vrzeas do Paraba do Sul, parece ser medida das mais sensatas.

    Devemos, tambm, evitar o uso predatrio das vrzeas acarretado pela extrao desordenada da areia e do barro que poder inutiliz-las irreversivelmente.

    2.4.2 A questo da navegao do rio Paraba do Sul.

    A navegao no rio Paraba do Sul, embora tenha sempre constitudo problema vivamente sentido (Guidotti, 1.998), no tinha sido objeto de estudo sob o ponto de vista das possveis solues tcnicas, desde que se excetuem algumas sondagens preliminares sobre a parte final do rio, na zona de So Joo da Barra que, todavia, no chegaram a concluses concretas.

    Novo estudo individualizou as linhas essenciais tcnico-econmicas de interveno; as relativas concluses podero servir de base para a soluo definitiva do problema.

    Considerando o volume de trfego previsto para 1.980 e o tipo de carga a ser transportada (na maior parte minrios), julgou-se oportuno prever, na poca, em carter hipottico, a composio de uma frota fluvial constituda essencialmente de comboios de 6.000 t (excluindo o empurrador). As caractersticas de tais comboios seriam, tabela 7:

    Tabela 7 - Caractersticas dos comboios.

    DESCRIO CARACTERSTICA Nmero de chatas por comboio 4 (aclopadas) Meio propulsor Empurrador Comprimento das chatas 60 m Largura das chatas 12 m Tonelagem das chatas 1.500 t Comprimento do empurrador 60 m Comprimento total do comboio 180 m Calado com carga total do comboio 2,50m Fonte: IBRA/ITALCONSULT.

    Para as obras bsicas que possibilitariam a navegabilidade do rio Paraba do Sul o rio foi subdividido em nove trechos dos quais destacamos o trecho I, de So Jos dos Campos at Cruzeiro.

    O desnvel total a ser vencido pela navegao entre estas localidades seria de 48 m. Neste primeiro trecho, com 155 km de extenso, a navegao fluvial utilizaria o leito do rio Paraba do Sul retificado conforme planos do Departamento Nacional de Obras de Saneamento, cuja declividade mdia ficaria em torno de 37 cm/km, anexo 13.

  • 33

    Em virtude da exiguidade das descargas no perodo de estiagem, constatou-se que aquela declividade mdia devia ser reduzida para se obter o tirante de 3,50 m necessrio ao trfego normal de embarcaes e comboios, como ficou acima especificado.

    Assim, no estudo, previu-se a adoo das seguintes providncias que, em virtude do carter preliminar desta fase, possuam apenas valor indicativo: construo de seis barragens mveis de pequena altura de reteno, munidas de eclusas submergveis durante as enchentes; dragagem e/ou derrocamento do leito do rio para a formao do canal navegvel com dimenses adequadas, particularmente nos trechos situados fora do remanso provocado pelas barragens mveis; construo de dique longitudinal (em rip rap), paralelo caixa do rio, destinado formao do canal navegvel nos trechos em que a profundidade do leito natural dispensa a dragagem ou o derrocamento.

    Previa-se, tambm, a construo de nova ponte ferroviria e de quatro pontes rodovirias admitindo que outras tantas obras existentes devam ser demolidas para permitir o trfego normal das embarcaes, mesmo durante as cheias.

    A tabela 8, apresenta o plano completo.

    Tabela 8 - Elementos caractersticos do plano de navegabilidade do rio Paraba do Sul.

    COTAS N. A. (m.s.n.m.) TRECHO N. SUBDIVISO EM TRECHOS

    Inicial Final

    DESNVEL (m)

    COMPRIMENTO (km)

    1

    De S. J. Campos at Cruzeiro

    554,0

    496,0

    58,0

    155 2 De Cruzeiro at o reservatrio

    do Funil 496,0 466,5 29,5 52

    3 De reservatrio do Funil at Itatiaia

    466,5 390,5 76,0 7

    4a De Itatiaia at Volta Redonda 390,5 364,0 26,5 67 4b De Volta Redonda at Santa

    Ceclia 364,0 353,0 11,0 41

    5 De Santa Ceclia at a barragem de Anta

    353,0 264,5 88,5 111

    6 De Anta at a barragem de Sapucaia

    264,5 177,5 87,0 14

    7 Desde o reservatrio de Simplcio at o de Itaocara

    177,5 82,0 95,5 83

    8 Desde a barragem de Itaocara at So Fidelis

    82,0 19,0 63,0 40

    9 Desde So Fidelis at o Oceano Atlntico

    19,0 0,0 19,0 86

    Total 554,0 656 Fonte: IBRA, 1967.

  • 34

    No aspecto de consumo energtico, para transportar 1 t de carga ao longo de 1.000 km, a hidrovia gasta 3,6 l de combustvel; a ferrovia, 9 l e a rodovia 18 l. Um comboio de 6.000 t alivia da estrada, a viagem de 220 carretas (Riva, 1.998).

    2.4.3 Anlise do CODIVAP.

    Em 1.971 o CODIVAP Consrcio de Desenvolvimento do Vale do Paraba, fez uma compartimentao geo-ecolgica resultando a tabela 9.

    Tabela 9 - Tentativa de compartimentao geo-ecolgica.

    REGIO GEOSISTEMA FACIES Atlntico 1. Planalto de Campos do Jordo

    Serra 2b Face SW 2 a Face SE Mantiqueira

    Cristas 3. Cristas paralelas

    Fossa do Paraba Vale Mdio do Paraba 1. Vrzea 2. Colinas marginais

    da Bocaina 2b Vertente Norte 2a Planalto da Bocaina

    do Paraitinga 1b Serra do Quebra-Cangalha 1a Vales do Paraibuna, Paraitinga, e Paraba Superior 1c Borda do Planalto

    Planalto Atlntico

    Paulistano 3. Planalto Paulistano

    Sua anlise ecolgica referia-se, ento, ao estudo de trs campos fundamentais, o do potencial ecolgico, o da explorao biolgica e o da ao antrpica (CODIVAP, 1.971).

    Fossa do Paraba.

    o compartimento bsico na rea em foco: apresenta o maior ndice de urbanizao e abriga os ncleos normativos da rede urbana regional. Abriga praticamente toda atividade industrial da rea e constitui-se no eixo de circulao das duas maiores metrpoles brasileiras: Rio de Janeiro e So Paulo. Apresenta a maior concentrao da explorao agrcola, incluindo a expresso paisagstica mais definida comercialmente: o arroz da bacia de Taubat. A vrzea de Taubat corresponde a 9,2% das vrzeas do estado de So Paulo.

    Das vrzeas do rio Paraba do Sul foram colhidas na safra de vero de 1.999, cerca de um milho de sacas de arroz (50 kg). Esta safra colhida pelos produtores foi a primeira com sinal de revitalizao no setor por causa do aumento da rea plantada,

  • 35

    de 10 mil ha para 11,3 mil ha neste ano, o primeiro crescimento registrado nos ltimos cinco anos na regio. A estimativa da produo feita com base na produtividade mdia de arroz irrigado do estado de So Paulo calculada pela Secretaria Estadual da Agricultura, cuja estimativa era de 84 sacas (50 kg) por ha de arroz irrigado.

    O aumento na rea plantada de arroz irrigado na regio ocorreu por causa da alta no preo do arroz entre 1.997 e 1.998 causado pela diminuio da produo em pases do oriente, os maiores produtores mundiais. De olho na melhor cotao no mercado internacional do produto nos ltimos anos, chegando a US$ 19 a saca no ano passado, os produtores do Vale do Paraba inverteram o ciclo de declnio na rea plantada, que chegou a ser de 25.000 ha no passado. Em Guaratinguet e Pindamonhangaba, dois dos maiores produtores na regio, a saca de 60 kg est cotada a R$ 17 (preo mdio recebido pelos produtores em abril de 1.999) (Oliveira, 1.999).

    Ecologicamente, a distino fundamental feita na fossa, referiu-se a:

    rea das colinas marginais.

    O vale propriamente dito: terraos e a vrzea.

    Na bacia do Paraba do Sul, a maior concentrao de vrzea ao longo do canal principal do rio (Ivancko, 1.985). Deve-se reconhecer, contudo, que esta faixa, relativamente estreita e longa, deve, sem dvida alguma, ser decomposta em vrios setores, cujos critrios so de natureza geo e scio-econmica, anexos 19 at 25.

    Sistemas da fossa do Paraba.

    Vale propriamente dito. Constitudo por alguns nveis de terraos e pela vrzea com toda sua riqueza de feies morfolgicas tpicas: meandros vivos e mortos, diques marginais, etc.. O aproveitamento urbano e agrcola (irrigao) exige estudos de detalhe capazes de revelar os aspectos fundamentais para um planejamento mais racional do espao urbano e do uso do solo.

    As colinas marginais. A diviso no segue limite geolgico, uma vez que as colinas em diferentes nveis escalonam-se nos terrenos sedimentares da Bacia de Taubat e passam aos terrenos de embasamento pr-cambriano do p da Serra da Mantiqueira. Muitas vezes destinadas atividade pecuria que se implantou aps a fase do caf, que havia deixado os solos esgotados e submetidos `a eroso acelerada, este sistema apresenta forte movimentao.

    Na regio (fossa do Paraba), as chuvas so diminudas entre os dois sistemas orogrficos Mar e Mantiqueira, anexos 11 e 12. Contudo a intensidade das chuvas tem muita importncia a considerar os gradientes das colinas, j sulcadas por eroso, ajudada ainda pelo pisoteio do gado e sem cobertura da floresta que originalmente as recobria. Nos terraos e vrzeas h que se considerar a existncia de manchas locais de campos e serrados (So Jos dos Campos). Em meio a uma regio mida de floresta do Brasil de Sudeste, os pequenos enclaves de padres vegetais prprios de outras reas, tem ntimas ligaes com flutuaes climticas postopliocnicas. So fatos importantes no uso da terra, que s podem ser equacionados em estudos de detalhe. A individualidade

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    climtica da fossa tambm flagrante: dentro do Vale define-se o perodo seco, no observado na Serra do Mar e Mantiqueira. A prpria natureza do Vale encaixado entre dois planaltos anexo 18, confere importncia ao estudo da nebulosidade, trmica vertical, etc., sem estes estudos de detalhe, nada se poder saber sobre as condies de predisposio poluio que uma industrializao elevada poderia condicionar. A regio atravessada pelo rio Paraba do Sul est localizada dentro da provncia geomorfolgica conhecida como Planalto Atlntico Brasileiro. Esta uma regio de terras altas, constituda principalmente por rochas cristalinas Pr-Cambrianas e Cambro-Ordovinianas, cobertas por bacias sedimentares. Nesta o vale do rio constitui-se em uma longa depresso cuja origem est relacionada a movimentos tectonicamente depressivos, que sofrem processos de sedimentao dentrtico-lacustre em camadas dispostas horizontalmente (Formao Taubat e Aluvies Quaternrios), anexos 5 e 19.

    Zona do Planalto de Paraitinga.

    Caracteriza-se pela estrutura cristalina complexa, com predominncia de um relevo conhecido como Mar de Morro, ou seja, um relevo que se assemelha a um conjunto de colinas maturamente dissecadas em forma de meias laranjas. Destaca-se tambm a presena de longas serras longitudinais, geralmente na direo N/NE (Alvarez V., 1.996).

    As altitudes que chegam a 1.300 m decrescem para a direo W/SW. Em vrios pontos as amplitudes locais variam entre 200 a 300 m e os rios apresentam ento corredeiras e cachoeiras, com plancies aluvionares pouco desenvolvidas exceo feita ao rio Paraibuna, entre Paraibuna e Bairro Alto, e alguns de seus afluentes.

    Dentro do Planalto de Paraibuna destacam-se algumas regies tais como a Morraria de Paraitinga, expressivamente destacado pela predominncia de seu relevo de morros paralelos, com pouca influncia estrutural remanescente, pois representa uma fase geomorfologicamente mais evoluda, anexo 18 (Alvarez V., 1.996).

    A regio que separa as morrarias do Paraitinga e do Paraibuna constitui-se num conjunto de serras alongadas que funcionam como divisor de guas. O Planalto de Paraitinga constitudo de morros de serras restritas, orientado pelas estruturas migmatticas.

    Zona do Mdio Vale do Paraba.

    A Zona do Mdio Vale do Paraba uma depresso alongada, com relevo de colinas, baixos morros e plancies da vrzea com cerca de 200 km de extenso.

    O rio Paraba do Sul atravessa a bacia com um curso extremamente sinuoso, desenvolvido em ampla e contnua vrzea, cuja largura que varia de 2,5 a 6,0 km excede de muito a faixa de meandros, anexo 18.

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    A Bacia do Paraba do Sul constituda, tambm de areias, argilas e cascalhos que ocorrem no topo, e, folhelhos papirceos e pirobetuminosos com areias intercaladas, na parte basal. Estes folhelhos esto presentes principalmente na rea de Taubat a Pindamonhangaba, anexo 18 (Ribeiro, 1.964). O solo da Bacia de Taubat tem sido estudado pelo Instituto Agronmico da Secretaria da Agricultura desde 1.936 (Hackett, 1.962).

    A espessura dos sedimentos cenozicos, nessa bacia, grande e varivel em funo do embasamento cristalino. Numa perfurao para captao de gua subterrnea realizada a pedido da Prefeitura Municipal de Taubat chegou-se at 500 m sem atingir o embasamento (Mezzalira e Torres, 1.977 e Frangipani e Pannuti, 1.965).

    Segundo Freitas (1.957):

    os sedimentos quaternrios estariam em nveis mais elevados que os das vrzeas e estariam separados dos sedimentos tercirios por uma camada de seixos; cita tambm a existncia de superfcie de eroso e depsitos aluvionais. Descreve, tambm, trs estgios fisiogrficos para o Quaternrio. O mais novo a larga plancie varzeana, sendo que terraos de 10 a 15 m constituem o estgio intermedirio e numa altitude de 20 a 25 m, temos o mais velho nvel de terraos.

    Provavelmente o fato do rio Paraba do Sul apresentar inmeros meandros formados em sedimentos inconsolidados a causa pela qual a vrzea apresenta-se com o desenvolvimento observado. Tudo isto surge em conseqncia do baixo gradiente apresentado pelo rio: 0,186 m/km, anexo 13 (Rachocki, 1.981).

    Levantamentos mostraram que normalmente os sedimentos das vrzeas apresentam cor cinzenta e quanto granulometria existe toda gama, desde as argilas mais finas at os cascalhos.

    Por outro lado o levantamento de solos feito pelo Instituto Agronmico de Campinas indicou o aparecimento de sedimentos de textura rudcea por baixo da argila, o que fato comum nos aluvies. Indicou ainda que o Paraba do Sul corre ladeado por estreitos de sedimentos argilosos deixando grandes e extensas reas, at as primeiras barrancas do Tercirio, de solos orgnicos formados por acmulo em condies anaerbicas de restos vegetais. Tais solos formam bacias locais, fechadas, que recebem pouca contribuio de matria mineral carreada nas enchentes.

    Prximo estao do Limoeiro, nas margens do Paraba do Sul, fez-se a extrao de cascalho e areia. Trata-se de material mal selecionado e que apresenta tambm mau arredondamento. Como esta rea est relativamente prxima do incio do curso do rio dentro da rea sedimentar provvel que seja esse o primeiro material que as guas depositam. A medida que escoa vai depositando material mais fino.

    Na estrada de Santa Branca, no km 98, prximo a Jacare encontrou-se um depsito de seixos (Frangipani e Pannuti, 1.965).

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    No municpio de Caapava, prximo estrada da pedreira da General Motors identificou-se solo podzolizado com cascalhos (MA, 1960 e Moniz, 1.972).

    As argilas da bacia terciria do rio Paraba do Sul, em certo trecho nos estados de So Paulo e Rio de Janeiro foram depositadas num lago que em certa poca represou as guas entre as encostas das Serras da Mantiqueira e do Mar. Isso permitiu a sedimentao ali dos detritos finos resultantes da classificao dos produtos da alterao das rochas circunvizinhas, constitudas principalmente por granitos, gnaisses, sienitos, filitos e quartzitos. Parte do material depositado foi constitudo de matria orgnica na forma de colnias de algas que proliferaram nas guas tranqilas daquela represa natural e se juntaram periodicamente s lamas do fundo, dando origem s camadas pirobetuminosas.

    Entre os horizontes argilosos com elevada proporo de querognio, encontram-se argilas de fraca porcentagem de matria orgnica e at mesmo camadas de argila pura que se apresentam de coloraes creme, verde, cinza ou rsea.

    Tem-se verificado que esse produto constitudo por material argiloso isento de areia grossa, com aprecivel tendncia higrfila, contendo certa proporo de potssio e revelando propriedades inerentes s argilas montemorilonticas. Tem sido mencionadas como tagus, segundo a nomenclatura paulista e j vm sendo usadas h muito para uso em cermica. Alguns horizontes tm argilas com elevada capacidade de troca de bases e por isso vem sendo usadas como terra fuller para clarificao de leos vegetais.

    Os tagus do Vale do Paraba mostram um teor de material insolvel em cido sulfrico (areia fina e feldspato fino) da ordem de 20% (variando de 12% a 30%), de 1% a 2% de lcalis, predominando o potssio e uma relao molecular de slica para alumina entre 2 e 3 (Abreu, 1.960).

    A gua subterrnea, na rea de estudo, no Vale do Paraba, , de modo geral, de boa qualidade, podendo ser utilizada para o abastecimento pblico, irrigao e na grande maioria das indstrias sem necessidade de tratamento. Devido aos mtodos de construo dos poos e s caractersticas dos sedimentos, durante os primeiros tempos de bombeamento normalmente a gua apresenta turbidez aprecivel e carreia certa quantidade de areia, que se reduzem a medida que o desenvolvimento do poo vai se completando. Nos casos em que o isolamento superficial no foi efetuado adequadamente possvel haver contaminao do poo por fontes externas de poluio (Frangipani e Pannuti, 1.965).

    Distingue-se trs regies de colinas tercirias nesta regio:

    Da extremidade sudoeste da Bacia de Jacare, com colinas mais elevadas semelhantes as elevaes do cristalino.

    De So Jos dos Campos a Pindamonhangaba, com colinas mais extensas, cujos altos correspondem a um plat que definiria o nvel superior da sedimentao da bacia.

    Pindamonhangaba at Cruzeiro com colinas suavizadas dando aspecto de tabuleiro.

    Os sedimentos Tercirios localizam-se entre os sedimentos de vrzea e as rochas do Complexo Cristalino. Na regio direita do rio Paraba do Sul estendem-se de

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    maneira contnua desde Jacare at Taubat, formando uma faixa sedimentar de 10 km de largura em mdia. J na regio esquerda no se observa tal continuidade, uma vez que at a altura de So Jos dos Campos a vrzea est encostada diretamente no Cristalino, salvo em pequenos trechos, e somente dali para diante que os sedimentos Tercirios comeam a aflorar de maneira contnua, tendo o mximo em rea aflorante nas proximidades de Caapava (Fragipani e Pannuti, 1.965).

    2.5 Caracterizao dos recursos hdricos superficiais.

    2.5.1 Utilizao dos recursos hdricos.

    A utilizao de recursos hdricos estaduais requer um profissional devidamente registrado no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CREA e autorizaes emitidas pelo Departamento de guas e Energia Eltrica DAEE. A autorizao para esse fim decorre da Constituio Federal e da Estadual. A primeira determina que as guas superficiais ou subterrneas, fluentes, emergentes e em depsitos so bens do Estado. A Carta Estadual dispe sobre medidas para a utilizao racional desses recursos.

    O decreto 41.258, de outubro de 1.996, regulamentou, em So Paulo, o uso dos recursos hdricos, as infraes e as penalidades. Em razo disso, o DAEE, atravs da Portaria n. 717, de dezembro de 1.996, aprovou as normas e estabeleceu procedimentos a serem observados para que qualquer usurio possa solicitar a outorga de uso dos recursos. J a Deciso Normativa n. 059, do CONFEA, determina que os profissionais legalmente habilitados para atuarem como responsveis tcnicos pelo planejamento, pesquisa, locao, perfurao, limpeza e manuteno de poos tubulares para captao de gua subterrnea, devero estar devidamente registrados no CREA. Profissionais com atribuies constantes no Decreto n. 23.569/33, devero submeter seu currculo escolar anlise da Cmara Especializada de Geologia e Minas.

    2.5.2 Vazo.

    Os dados de vazo do rio Paraba do Sul so obtidos atravs da operao de uma rede de postos fluviomtricos, onde se efetuam leituras em escalas linimtricas convertidas posteriormente em sries de vazes, anexos 10, 11 e 12.

    As sries histricas anteriores a 1.952 foram registradas pelos postos, podendo ser utilizadas para determinar vazes estatsticas mnimas, por abrangerem um perodo em que as vazes neste trecho paulista ainda no apresentavam alteraes pela operao do reservatrio de Santa Branca (Bandini, 1.954).

    As vazes so encontradas nos Boletins Fluviomtricos, de vrios postos, publicados pelo DAEE Departamento de guas e Energia Eltrica e o DNAE Departamento Nacional de guas e Energia compreendendo diversos perodos histricos, no simultneos, que em carter preliminar e a nvel de planejamento, tornam-se importantes indicadores das colees hdricas da regio.

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    Verifica-se que vrias so as fontes afluentes, destacando-se pela contribuio de vazo o rio Jaguar, seguido pelos rios Piquete, Bocaina e Buquira.

    2.6 Descrio da rea do trabalho.

    A bacia hidrogrfica do rio Paraba do Sul, mede 62.500 km2, dos quais possui uma rea de drenagem no estado de So Paulo de 14.396 km2, 21.200 km2 constituem parte do sudeste mineiro e o restante 27.070 km2, pertence ao estado do Rio de Janeiro.

    Praticamente toda a bacia integra o Sudeste do Planalto Cristalino Atlntico, mostrando em seu relevo, uma sucesso de cuestas e vales paralelos linha da costa. No trecho paulista, o compartimento topogrfico mais importante o da Bacia Sedimentar Terciria, aninhada entre as escarpas da Serra da Mantiqueira, ao Norte, e das Serras do Quebra Cangalha e do Jambeiro, ao Sul; anexo 8.

    O curso do rio Paraba do Sul apresenta quatro trechos bem distintos e caractersticos (Leo, 1.956 e Simes, 1.977), anexo 13:

    Das nascentes at a cidade de Jacare percorre terreno arqueano, o regime torrencial e as declividades so elevadas, 4,9 m/km.

    De Jacare at Cachoeira Paulista trecho das vrzeas paulistas ou da bacia sedimentar, apresenta uma declividade muito suave, os nveis das vrzeas e dos baixos terraos de 551 a 552 m e 559 a 562 m, respectivamente, em Jacare descem num percurso de quase 200 km para 512 a 517 m e 518 a 525 m em Cachoeira Paulista. O curso bastante sinuoso apresentando sucesso de numerosos meandros. As vrzeas paulistas, que se estendem por uma superfcie de 50.000 ha, so constitudas por terrenos sedimentares.

    De Cachoeira Paulista at So Fidelis trecho encachoeirado, onde as declividades so outra vez elevadas.

    De So Fidelis at a foz trecho de plancie, com baixas declividades. Os terrenos percorridos so aluvionares.

    A figura 5 posiciona a regio no estado de So Paulo.

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    Figura 5 - Mapa do estado de So Paulo e o rio Paraba do Sul. A seo transversal, sem escala, a que se v na figura 6.

    Figura 6 - Seo transversal tipo do Vale do Paraba.

    Oceano Atlntico

    Serra do Mar

    Rio Paraba do Sul

    Serra da Mantiqueira

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    Por razes financeiras limitamos o estudo ao trecho do rio Paraba do Sul compreendido entre Jacare e Caapava, figura 7.

    Fonte: Infoguia.

    Figura 7 - Trecho Jacare - Caapava do rio Paraba do Sul.

    2.6.1 Caracterizao fsica da regio.

    Em decorrncia da posio geogrfica do estado de So Paulo (atravessado pelo trpico de Capricrnio) e da ao das massas de ar (sobretudo a polar atlntica e a tropical atlntica, predominam os climas de tipo tropical, figura 8.

    No estado de So Paulo as florestas (latifoliada tropical ou mata da bacia do Paran no planalto ocidental, e latifoliada tropical mida da encosta ou Mata Atlntica, no planalto cristalino) recobriam originalmente cerca de 80% da sua superfcie (nas regies mais elevadas, como na Mantiqueira e na Bocaina, com ocorrncia da araucria ou pinheiro-do-paran). Devastadas com o avano da ocupao agrcola, restam menos de 5% da rea original, basicamente na encostas da serra do Mar. O cerrado, que correspondia a pouco mais de 15% da cobertura vegetal primitiva, ocorria em manchas dispersas, nas reas de solos mais pobres da depresso perifrica e do planalto ocidental. Os campos (1,5% da superfcie estadual) aparecem na poro sul da depresso perifrica como extenso dos campos gerais paranaenses, e nas reas mais elevadas do planalto, como na Mantiqueira, onde ocorrem associados a capes de araucrias, anexo 15 (Wettstein, 1.970 e Eiten, 1.983).

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    Figura 8 - Brasil, vegetao e o Parque da Serra da Bocaina (24).

    2.7 Clima.

    Devido a configurao geomorfolgica do Vale do Paraba, isolado por duas grandes cadeias de montanhas, a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira, aliada ainda a influencia da proximidade do litoral, esta rea possui uma feio climtica especial.

    A rea do Vale do Paraba, da Mantiqueira, Litoral e Planalto Atlntico Norte, incluem-se nos climas controlados pelas massas de ar tropical e polar e no sub-grupo do clima tropical mido das costas orientais e subtropicais dominados largamente pela massa tropical.

    O regime de ventos do Vale do Paraba mostra uma predominncia de calmarias e, secundariamente, ventos de NE. Eventualmente registram-se ventos de SE ou SW. Ocasionalmente quedas dos totais pluviomtricos, diminuio dos dias de chuvas e abaixamento da temperatura, com eventuais formaes de geadas (Coltrinari, 1.975).

    Pode-se ressaltar as caractersticas da dinmica climtica regional:

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    A posio da regio como limite zonal entre dois grandes domnios climticos: o controlado por massas equatorianas e aquele por massas polares, em sistemas alternados, o que apresenta grande participao da atividade frontal da gnese regional das chuvas.

    As barreiras representadas pelo relevo acidentado do Alto Vale e ainda pela Serra da Mantiqueira, alm de atenuarem o avano das correntes perturbadoras, submetem a faixa deprimida do Mdio Vale a uma condio de abrigo, favorecendo elevada freqncia de calmarias, o que poder ocasionar srios problemas de poluio atmosfrica, em casos de indstrias mal localizadas ou sem correto controle de emisso.

    A faixa que corresponde ao fundo do vale apresenta menor umidade e temperatura mais elevadas entre as Serras do Mar e Mantiqueira. Os valores pluviomtricos anuais chegam at 3.000 mm nas serras e decrescem em direo ao vale para 1.100 e 1.400 mm, chegando mesmo, em certos trechos a ndices inferiores a 1.100 mm, pois quando a massa atlntica chega ao vale ela j aliviou boa parte de sua umidade atravs da precipitao na subida da Serra do Mar pelo lado litorneo, anexos 11 e 12.

    Como as temperaturas so mais elevadas no vale, e decrescem no sentido das cotas mais altas, tambm a evaporao se comporta da mesma forma e as acompanha no mesmo sentido. Assim, os balanos hdricos anuais podem apresentar pequenos dficits de umidade nos meses de inverno, onde as precipitaes so geralmente menores que a evaporao. Para as regies semi-montanhosas h um excedente hdrico, sem dficit de inverno ou anual.

    O clima reinante na rea o Tropical Sub-Quente mido com trs meses secos. Possui pelo menos um ms com temperaturas mdias inferiores a 18C, sendo junho e julho o perodo mais frio. Na Regio da Serra da Mantiqueira, no Alto do Planalto que corresponde a uma pequena faixa do territrio paulista (Campos do Jordo) destaca-se por um clima muito salubre.

    Toda a rede hidrogrfica do rio Paraba do Sul est sob influncia das chuvas de vero, sendo os meses de dezembro, janeiro e fevereiro os mais chuvosos.

    2.8 Vegetao.

    2.8.1 Vrzea.

    Ao longo da vrzea do rio Paraba do Sul, encontram-se pequenas manchas de vegetao remanescente, a maioria delas sendo de vegetao secundria, ou seja, aquela que ressurge aps a retirada da vegetao original (Wettstein, 1.970). A antiga mata galeria ou ciliar que se formou ao longo do rio, constituda agora por rvores de pequeno porte, arbustos e vegetao tpicas de terrenos alagadios. Estas poucas manchas esto localizadas entre os municpios de So Jos dos Campos e Taubat e entre Aparecida e Guaratinguet, anexos 15, 16 e 17.

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    Existem tambm em terrenos limtrofes a rea de vrzea, grandes reas destinadas ao reflorestamento, especialmente de eucaliptos e pinus, localizados entre Pindamonhangaba e Roseira e tambm prximo a Trememb (GESP, 1.975).

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    CAPTULO II

    3 GEOMORFOLOGIA.

    3.1 Introduo.

    Geomorfologia a cincia que estuda as formas do relevo terrestre (Christofoletti, 1.974).

    Encostas, topos ou cristas e fundos de vales, canais, corpos de gua subterrnea, sistemas de drenagem urbanos e reas irrigadas, entre outras unidades espaciais, so interligadas como componentes de bacias de drenagem. A bacia de drenagem uma rea da superfcie terrestre que drena gua, sedimentos e materiais dissolvidos para uma sada comum, num determinado ponto de um canal fluvial. O limite de uma bacia de drenagem conhecido como divisor de drenagem ou divisor de guas. Uma determinada paisagem pode conter um certo nmero de bacias drenando para um reservatrio terminal comum como os oceanos ou mesmo um lago. A bacia de drenagem pode desenvolver-se em diferentes tamanhos, que variam desde a bacia do rio Amazonas at bacias com poucos metros quadrados que drenam para a cabea de um pequeno canal erosivo ou, simplesmente, para o eixo de um fundo de vale no-canalizado. Bacias de diferentes tamanhos articulam-se a partir dos divisores de drenagem principais e drenam em direo a um canal, tronco ou coletor principal, constituindo um sistema de drenagem hierarquicamente organizado (Guerra e Cunha, 1.998).

    Pelo pensamento sistmico, a bacia de drenagem, enquanto uma unidade hidrogeomorfolgica, constitui um exemplo tpico de sistema aberto na medida em que recebe impulsos energticos de foras climticas atuantes sobre sua rea e das foras tectnicas subjacentes, e perde energia por meio da gua, dos sedimentos e dos solveis exportados pela bacia no seu ponto de sada. A organizao interna do sistema bacia de drenagem, isto , os elementos de forma e os processos caractersticos, influencia as relaes de entrada e sada. Assim, mudanas externas no suprimento de energia e massa conduzem a um auto-ajuste das formas e dos processos, de modo a ajustar essas mudanas. O princpio de auto-ajuste no desenvolvimento do relevo apontado como um membro do sistema pode influenciar todos os demais, ento, cada membro influenciado por todos os outros. H uma interdependncia por meio do sistema (Chorley, 1.962).

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    O trabalho erosivo nas faces de exfiltrao (pontos de interseo do lenol dgua com a superfcie; tneis ou dutos associados ao biognica nos solos; bordas e canais ou cortes de estrada) pode conduzir formao de canais e vales e, posteriormente, expanso de redes de drenagem canalizadas. Trabalhos realizados no Vale do Paraba confirmam a importncia dos mecanismos erosivos pela ao dos fluxos dgua subsuperficiais e apontam esta regio como exemplo tpico da paisagem geomorfolgica prevista no modelo dunneano de evoluo de relevo por mecnica de eroso subsuperficial (Dunne, 1.990).

    As descontinuidades lito-estruturais do substrato geolgico na regio estudada atuam no controle das propriedades hidrulicas e mecnica das rochas, destacando o fraturamento como zonas de alvio de presso piezomtrica. A exfiltrao da gua por meio de fraturas