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171 Sociedade & Natureza, Uberlândia, 19 (2): 171-190, dez. 2007 Rio Grande do Sul: uma proposta de regionalização geoeconômica Helena Brum Neto, Meri Lourdes Bezzi, Roberto Barboza Castanho RIO GRANDE DO SUL: UMA PROPOSTA DE REGIONALIZAÇÃO GEOECONÔMICA Rio Grande do Sul: a proposal of geoeconomic regionalization Helena Brum Neto Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências PPGGEO/CCNE/UFSM [email protected] Meri Lourdes Bezzi Professora Associada do Depto. de Geociências/CCNE/UFSM [email protected] Roberto Barboza Castanho Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal/FACIP/Campus de Ituiutaba [email protected] Artigo recebido para publicação em 28/05/2007 e aceito para publicação em 07/08/2007 RESUMO: A abordagem regional reflete a inter-relação sociedade-natureza em diferentes nuances a partir da construção do espaço geográfico. O enfoque da pesquisa foi definido em virtude dos obje- tivos propostos para a análise regional, uma vez que a mesma engloba os aspectos humanos e as relações que mantêm entre si na produção e reprodução do espaço. Tendo como foco central a questão regional gaúcha, propôs-se regionalizar o Rio Grande do Sul, considerando os as- pectos geoeconômicos. Tal proposição de estudo individualizou sete regiões geoeconômicas e sub-regiões, nas quais se desenvolveram as principais atividades produtivas do Estado, basea- das, principalmente, na agropecuária. Considerando as transformações impostas pelo capital, como agente reorganizador dos padrões espaciais e responsável pela sua flexibilização frente às exigências impostas pelo processo de globalização, procurou-se classificar as regiões geo- econômicas de acordo com a sua dinâmica e em função dos novos atores econômicos que se inserem neste espaço. Pôde-se observar, então, as semelhanças e singularidades materializadas no território gaúcho pelo acúmulo de práticas voltadas à produção econômica, estritamente atreladas à questão da identidade cultural em função da expressividade do regionalismo no Estado gaúcho. Palavras-chave: Rio Grande do Sul, Regiões Geoeconômicas, Desenvolvimento Local/Regional, Organização do Espaço, Agropecuária. ABSTRACT: The regional approach reflects the society-nature inter-relation in different nuances going from the onstruction of the geographical space. The focus of the research was defined from the objectives proposed for the regional analysis, once the same embodies the human aspects and the relations that mantain between each other in the production and reproduction of the space. Having as central focus the southern regional matter (in Rio Grande do Sul), it was proposed the regionalization of the state, considering its geoeconomical aspects. Such proposition of

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Sociedade & Natureza, Uberlândia, 19 (2): 171-190, dez. 2007

Rio Grande do Sul: uma proposta de regionalização geoeconômicaHelena Brum Neto, Meri Lourdes Bezzi, Roberto Barboza Castanho

RIO GRANDE DO SUL: UMA PROPOSTA DEREGIONALIZAÇÃO GEOECONÔMICA

Rio Grande do Sul: a proposal of geoeconomic regionalization

Helena Brum NetoMestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências PPGGEO/CCNE/UFSM

[email protected] Lourdes Bezzi

Professora Associada do Depto. de Geociências/CCNE/[email protected]

Roberto Barboza CastanhoProfessor Adjunto da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal/FACIP/Campus de Ituiutaba

[email protected]

Artigo recebido para publicação em 28/05/2007 e aceito para publicação em 07/08/2007

RESUMO: A abordagem regional reflete a inter-relação sociedade-natureza em diferentes nuances a partirda construção do espaço geográfico. O enfoque da pesquisa foi definido em virtude dos obje-tivos propostos para a análise regional, uma vez que a mesma engloba os aspectos humanos eas relações que mantêm entre si na produção e reprodução do espaço. Tendo como foco centrala questão regional gaúcha, propôs-se regionalizar o Rio Grande do Sul, considerando os as-pectos geoeconômicos. Tal proposição de estudo individualizou sete regiões geoeconômicas esub-regiões, nas quais se desenvolveram as principais atividades produtivas do Estado, basea-das, principalmente, na agropecuária. Considerando as transformações impostas pelo capital,como agente reorganizador dos padrões espaciais e responsável pela sua flexibilização frenteàs exigências impostas pelo processo de globalização, procurou-se classificar as regiões geo-econômicas de acordo com a sua dinâmica e em função dos novos atores econômicos que seinserem neste espaço. Pôde-se observar, então, as semelhanças e singularidades materializadasno território gaúcho pelo acúmulo de práticas voltadas à produção econômica, estritamenteatreladas à questão da identidade cultural em função da expressividade do regionalismo noEstado gaúcho.

Palavras-chave: Rio Grande do Sul, Regiões Geoeconômicas, Desenvolvimento Local/Regional,Organização do Espaço, Agropecuária.

ABSTRACT: The regional approach reflects the society-nature inter-relation in different nuances goingfrom the onstruction of the geographical space. The focus of the research was defined from theobjectives proposed for the regional analysis, once the same embodies the human aspects andthe relations that mantain between each other in the production and reproduction of the space.Having as central focus the southern regional matter (in Rio Grande do Sul), it was proposedthe regionalization of the state, considering its geoeconomical aspects. Such proposition of

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study divided seven geoeconomic regions and sub-regions, in which the main productiveactivities of the state were developed, based, mainly, in farming. Considering the transfor-mations imposed here by capital, as reorganizer agent of the spacial standards, and responsiblefor its flexibility, front to the requirements imposed by the globalization process, it was tried toclassify the geoeconomic regions according to its dynamics and according the new economicagents that are inserted in this space. It was possible to observe that, therefore, the similaritiesand singularities materialized in the state territory throught the accumulation of practicesturned to the economical production, strictly linked to the question of cultural identity becauseof the expression of regionalism in the Rio Grande do Sul state.

Keywords: Rio Grande do Sul, Geoeconomic Regions, Local/Regional Development, SpacialOrganization, Farming.

1. INTRODUÇÃO

A região se configura, atualmente, como amaterialização da complexa relação estabelecida en-tre sociedade e natureza. Portanto, reflete as simi-laridades e, ao mesmo tempo, as desigualdades im-postas pelos distintos níveis de desenvolvimentosocioeconômico. Parte-se do pressuposto de que oconhecimento da dinâmica regional permite concebera região como uma sucessão de estruturas e pro-cessos que, ao se modificarem no tempo, alteram asfunções das formas passadas, recriando novas formasregionais.

Os estudos relativos à questão regional per-mitem entender o presente, materializado pelasformas predominantes e mais significativas para umdeterminado recorte espacial, bem como, inferirsobre o futuro deste espaço, uma vez que o constanteconflito entre o velho e o novo proporciona transfor-mações, nas quais velhas formas se adaptam a novasfunções.

Salienta-se que os processos de regionali-zação devem ser constantemente revisados em vir-tude da dinâmica evolutiva das sociedades, podendogerar novos recortes espaciais. Pode-se dizer que,atualmente, um dos principais agentes reorgani-zadores do espaço é o capital, principalmente, seconsideramos a visão globalizante do mundo, queimpõe novos questionamentos à questão regional,

fundamentalmente, no que se refere à organizaçãodo espaço produtivo, fruto da complexidade socio-econômica.

Neste sentido, a proposta da regionalizaçãogeoeconômica para o Rio Grande do Sul resultou depreocupações pertinentes à abordagem regional e àglobalização que impõem constantemente mudanças,as quais se concretizam e reestruturam o espaçogaúcho.

Para tanto, os objetivos norteadores destapesquisa buscaram: (a) fornecer uma proposta deregionalização geoeconômica para o estado gaúcho;(b) espacializar, via geração de mapas e geotecno-logias, a proposta de regionalização geoeconômicado Rio Grande do Sul; (c) analisar o espaço produtivodas regiões geoeconômicas quanto aos seus princi-pais aspectos socioespaciais e (d) divulgar junto aoGoverno Gaúcho e nas unidades territoriais a propostade regionalização realizada para que as sugestõeselaboradas sejam consideradas e utilizadas para atingiro desenvolvimento local e/ou regional.

Dessa forma, inicialmente, o Rio Grande doSul foi recortado em sete regiões geoeconômicas,em função da agropecuária, principal atividade eco-nômica das unidades territoriais do Estado. Poste-riormente, estabeleceram-se três regiões de acordocom a adaptação da proposta de regionalização deBacelar (1999), a qual individualizou: (a) regiões

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dinâmicas e competitivas no Rio Grande do Sul; (b)regiões em processo de reorganização espacial noestado gaúcho e (c) regiões com potencial poucoutilizado no Estado.

Inicialmente, fez-se o resgate referente àsmatrizes teórico-metodológicas que nortearam estapesquisa, centrada no conceito-chave de região, paraque se pudesse entender a evolução deste conceito esua atual concepção. Paralelamente, utilizou-se deconceitos chaves como regionalização, desenvol-vimento local/regional e identidade cultural paraexplicar a dinâmica socioespacial gaúcha em virtudeda expressividade do regionalismo no Rio Grandedo Sul, que tem sua identidade também vinculadaaos aspectos econômicos em algumas porções doseu território.

A partir do direcionamento proporcionadopela conceitualização da questão regional e do en-tendimento de região como uma resposta local aosprocessos capitalistas (Gilbert, 1988), pode-se definire delimitar as regiões do Rio Grande do Sul seguindocritérios geoeconômicos.

Desta forma, entende-se que a região, naatualidade, passa por dinâmicas impostas no terri-tório, via capital, que organiza, desorganiza e reor-ganiza o território. As regiões geoeconômicas pro-postas, foram então delineadas, entendendo a dinâ-mica que o conceito de região possui, o que levou arecortar o território gaúcho em sete regiões geoeco-nômicas. Para esta finalidade foi necessário entendertambém os processos naturais, históricos, culturaise, principalmente, os econômicos que forjam constan-temente a presença novos arranjos espaciais respon-sáveis pela introdução de novas cadeias produtivasno estado gaúcho.

Com esse suporte teórico, pode-se estabe-lecer conceitos, traçar parâmetros e indicadores deinvestigação, além de estruturar e propor a regiona-lização geoeconômica para o Rio Grande do Sul.

Outra etapa importante para o desenvol-vimento da pesquisa esteve atrelada ao resgate teórico,

enfatizando os aspectos histórico-culturais doterritório gaúcho. Este permitiu entender que adinâmica territorial está fortemente assentada noprocesso de ocupação e colonização do Estado, oqual é responsável pela organização de distintosarranjos geoeconômicos que refletem a formaçãoétnico-cultural, determinando as principais atividadeseconômicas que foram essenciais para o recorte dasregiões geoeconômicas.

No que se refere aos aspectos físicos, estesforam determinantes, uma vez que as potencialidadesfísico/naturais permitem, de formas diferenciadas, aação do homem e da tecnologia no território. Parasubsidiar as características naturais, elaborou-se oterceiro capítulo, que resgata os principais compar-timentos geológicos-geomorfológicos, além do climae solo. Estes aspectos são fundamentais, conside-rando-se que são elementos essenciais para as ativi-dades econômicas, servindo como fatores limitantespara a agricultura e à pecuária e, conseqüentemente,possibilitando de maneira distinta sua utilização.

Neste sentido, para regionalizar o territóriogaúcho, teve-se como diretrizes básicas atrelar osaspectos culturais que, sem dúvida, são responsáveispela estrutura econômica das regiões, aos econô-micos, recortando o Estado gaúcho em sete regiõesgeoeconômicas.

Paralelamente, considerou-se, também, pararealizar a regionalização, a heterogeneidade espacial,ou seja, a presença desigual do capital no setor pri-mário. Pode-se perceber que o Estado gaúcho estru-tura sua economia evidenciando regiões dinâmicas ecompetitivas, ao lado de outras, em processo de rees-truturação, ou então, estagnadas e/ou com potencialpouco utilizado. Esta diversidade do setor produtivoé resultante das diferentes formas de ocupação terri-torial, através das diversas correntes migratóriasocorridas no Estado gaúcho, as quais impuseramorganizações espaciais desiguais, em tempos distintos.

Neste contexto, as sete regiões geoeconô-micas estabelecidas tiveram origem, considerando-se, entre outros fatores, a dicotomia da sua estrutura

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fundiária, ou seja, a pequena e a grande propriedade;áreas com potencial industrial representativo; áreascom disponibilidade e outras com falta de mão-de-obra; áreas com potencial turístico; áreas privilegiadaspela presença da malha viária, áreas com escoamentoda produção e áreas com presença de novas cadeiasprodutivas como a da fruticultura e do florestamentoque buscam dinamizar, principalmente a Metade Suldo Rio Grande do Sul.

O laboratório de estudo desta pesquisaconstitui-se nos 496 municípios que compõem atual-mente o território gaúcho. Para cada unidade terri-torial foram coletadas informações referentes àsvariáveis que se faziam presentes na mesma, sendoeste o critério determinante para subsidiar o agrupa-mento dos municípios e posterior formação da regiãogeoeconômica que o mesmo viria compor. É impor-tante salientar que, na escolha das variáveis quecaracterizaram o município, o critério estabelecidofoi o de maior área plantada, sendo este, portanto, oelemento que levou a individualizar os recortesespaciais.

Embasado na fundamentação teórica, sele-cionou-se os critérios que nortearam a regionalizaçãogeoeconômica proposta, bem como as variáveis e osatributos que foram selecionados para esta regiona-lização. As variáveis utilizadas foram a área plantadados produtos selecionados, a produtividade e orendimento médio da produção. Além disso, se con-siderou, para análise, o PIB, a inserção do muni-cípio na economia do Estado, entre outros fatores.

Para esta fase, primeiramente, realizou-se acoleta de dados no site do IBGE (www.ibge.gov.br/@cidades), referente às variáveis selecionadas. Naagricultura, coletaram-se dados sobre área plantada(ha), quantidade produzida (tons.) e rendimentomédio (kg/ha). Há que se destacar que as variáveisreferentes à agricultura se subdividiram em lavourastemporárias e lavouras permanentes. Nas lavourastemporárias, as culturas mais significativas do Estadogaúcho foram: arroz, soja, trigo, milho, fumo, feijão,batata-inglesa e mandioca. Com relação à lavourapermanente, as variáveis selecionadas foram: uva,

maçã, banana, pêssego, laranja, tangerina. Já, napecuária, as variáveis de maior destaque foram:bovinos, suínos e aves (incluindo galos, galinhas epintos), considerando o número de cabeças pormunicípio.

Além disso, procurou-se demonstrar, emcada região geoeconômica, as áreas com maiores emenores rendimentos médios para cada produtodominante. Isto permitiu verificar que as unidadesterritoriais mais produtivas são aquelas que aliam aspotencialidades físico-naturais aos investimentostecnológicos.

Salienta-se que as informações referentes aoflorestamento basearam-se no eucalipto, pinus eacácia e foram coletadas em sites específicos sobrea temática, reportagens em jornais de circulação locale estadual, além de informações junto as prefeiturasdos municípios em que esta cadeia produtiva está seinserindo.

Definidas as variáveis, delineou-se a parteprática da pesquisa. A investigação baseou-se emfontes primárias realizadas através de trabalho decampo (entrevistas) junto aos municípios, aferindoas variáveis referentes à temática em estudo. Para-lelamente, utilizou-se de fontes secundárias atravésde dados estatísticos fornecidos pela Fundação deEconomia e Estatística (FEE); Fundação InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referenteao período de 2003/2004/2005; Secretaria de Plane-jamento dos Municípios; Secretaria de Agriculturados Municípios, Conselhos Regionais de Desen-volvimento (COREDES); Assembléia Legislativa doRio Grande do Sul e demais órgãos estaduais emunicipais.

Ressalta-se que os dados coletados foramtabulados em planilhas previamente elaboradas nosoftware Word, possibilitando, posteriormente, suainserção no software ArcView GIS 3.2a. Este possi-bilitou agregar os dados que foram a base para asetapas de análise, interpretação e espacialização dosmesmos. Paralelamente, foram sendo gerados osrecortes espaciais responsáveis pela formação das

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sete regiões geoeconômicas.

Para se recortar o espaço gaúcho em seteregiões geoeconômicas, obedeceu-se as seguintesetapas:

1. Coleta de dados no site do IBGE, referenteà produção primária do Rio Grande do Sul, comodados de área plantada, quantidade produzida erendimento. Selecionaram-se, na agricultura, as cul-turas mais significativas e, na pecuária (bovina, ovinaou aves), as mais significativas existentes nas uni-dades territoriais gaúchas;

2. Delimitação das regiões geoeconômicasque foram geradas considerando-se as culturas maissignificativas em área plantada e, na pecuária, onúmero de cabeças por município. Estes critériosforam base para se proceder ao recorte do espaçogaúcho;

3. Recorte Espacial das sete regiões geo-econômicas do Rio Grande do Sul:

(a) Região Geoeconômica 1 – Para se geraresta região, considerou-se a produção que predo-minou em quase todos os municípios, ou seja, o arroze a pecuária bovina, sendo, portanto, estes os pro-dutos que constituíram a matriz tradicional dessaregião. No entanto, a área plantada e número decabeças por município apresentaram-se bastantevariáveis. Para solucionar esta problemática, adotou-se como critério que os municípios que comporiama região geoeconômica seriam aqueles com expressãomais significativa naquela cultura e pecuária bovina.Desta forma, predominou, nesta região, a matriz tra-dicional que, conseqüentemente, foram os produtosresponsáveis pela formação desta região. No entanto,algumas unidades territoriais, além de apresentaremarroz e pecuária, coexistem com outras culturas. Talsituação nos conduziu a criar três sub-regiões: sub-região A, com predomínio da pecuária bovina, arroze soja; sub-região B, com predomínio da pecuáriabovina, do arroz e do fumo e a sub-região C, compredomínio da pecuária bovina, do arroz e do milho.

As três sub-regiões são também entendidascomo áreas de transição, considerando que asmesmas apesar de terem suas bases econômicasligadas aos produtos tradicionais que caracterizamhistoricamente a região, apresentam a inserção denovos produtos, os quais se identificam como arran-jos econômicos que são dinamizados por cadeiasprodutivas recentes que procuram inserir perspectivasà região geoeconômica como um todo. Comoexemplo, tem-se a sub-região A, na qual a soja coexis-te com a matriz tradicional (pecuária e arroz) edemonstra a transição para a região geoeconômica7, onde o principal produto primário é constituídopela soja, demonstrando que no espaço não hárupturas bruscas.

(b) Região Geoeconômica 2 – Foi geradapelo predomínio das culturas do fumo e do milho.Salienta-se que esta região não apresentou conti-güidade espacial, ou seja, originou dois recortesespaciais distintos, demonstrando que ocorre umadinâmica espacial onde as culturas são desenvolvidasem alguns municípios enquanto que, em outros, asmesmas não se fazem presentes. A descontinuidadeespacial, também entendida como transição, de-monstra a presença de outros produtos distintos damatriz tradicional da região geoeconômica 2, comoo arroz e a pecuária, que passam a coexistir junto aofumo e ao milho, constituindo-se, portanto, numaárea de transição entre os dois recortes espaciais queconstituem esta região.

(c) Região Geoeconômica 3 – Foi criadaconsiderando-se o predomínio das culturas do milho,seguida pela cultura da mandioca e da batata inglesa,além da fruticultura e, na pecuária, pela avicultura.

Esta região geoeconômica foi recortadalevando-se em conta a cultura predominante, o milho,que se faz presente de forma significativa em grandeparte das unidades territoriais. Em segundo lugar,tem destaque a cultura da mandioca, seguida dabatata-inglesa e das frutas (laranja, tangerina epêssego). Ressalta-se que esta região geoeconômicaé constituída por um número expressivo de muni-cípios que fazem parte da Região Metropolitana de

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Porto Alegre, na qual se localiza um dos principaispólos industriais gaúchos. Portanto, a expressividadedo setor primário desta região é menor à medida quese aproxima da Região Metropolitana, pois a eco-nomia dos municípios que a circunda está alicerçadaao setor secundário (químico, metal-mecânico,moveleiro, coureiro-calçadista, entre outros). Noentanto, como esta proposta de regionalização tevecomo critério o setor primário, foram consideradosos principais produtos da agropecuária desta região.Desta forma, fica evidente que o setor secundário sesobressai ao primário, o que explica a baixa produçãoagrícola dos municípios desta região. Entretanto, àmedida que se distancia da Região Metropolitana dePorto Alegre, as unidades territoriais passam a termaior expressão através do setor primário, consti-tuindo-se numa área de transição para as regiõescircunvizinhas (regiões geoeconômicas 2, 4, 5 e 6).

(d) Região Geoeconômica 4 – Foi geradapelo predomínio da cadeia produtiva da uva e, napecuária, pela presença da avicultura. Em relação asoutras regiões geoeconômicas, a 4 apresentou umasingularidade, caracterizando-se por ser uma dasregiões que se individualizou espacialmente atravésda lavoura permanente, baseada na uva. Tal fatojustifica-se por ser uma cultura característica dacolonização italiana que se apropriou economi-camente deste espaço via processo colonizador, quetinha estas áreas como prioritárias para as correntesmigratórias européias. Paralelamente à agricultura, aatividade pecuária também se faz presente atravésdas aves, criação típica das áreas coloniais do Estadogaúcho.

(e) Região Geoeconômica 5 – Foi estrutu-rada considerando-se o predomínio da cultura damaçã. Esta região foi individualizada como umrecorte espacial resultante da lavoura permanente. Éimportante salientar que a existência de outras culturasde menor expressividade, como é o caso da batata-inglesa, se fazem presentes, principalmente, nosmunicípios de São Francisco de Paula, Cambará doSul, entre outros, os quais fazem transição com aregião geoeconômica 3, na qual esta cultura apresenta-se como produto característico. A presença da soja,

principalmente nos municípios localizados a noroestedesta região constitui-se em outra transição, uma vezque a região 7 foi individualizada por esta cultura.

Outro elemento que caracterizou este recorteespacial e, portanto, o difere dos demais é a presençado florestamento, que é uma atividade importante,pois agrega valor na base econômica dos diversosmunicípios que compõem esta região geoeconômica.

A pecuária tem expressão significativa nestaregião através dos bovinos de corte. Ressalta-se queesta região caracteriza-se por municípios de maioresdimensões territoriais resultantes da presença dapecuária, atividade característica de seu processohistórico de formação econômico-territorial.

(f) Região Geoeconômica 6 – Foi geradapelo predomínio da cultura da banana, uma vez queesta cultura individualizou-se como produto-chavepara originar esta região geoeconômica. Além dabanana, também é expressiva a cultura do abacaxi edo palmito. O turismo evidencia-se como uma ati-vidade predominante na maior parte dos municípiosque compõem esta região, uma vez que se carac-terizam como municípios litorâneos, tendo no períodode veraneio sua economia voltada para esta atividade.

Salienta-se que a atividade turística agregavalores para a economia destes municípios princi-palmente nos períodos de férias (dezembro, janeiro,fevereiro e, também em julho), mas a base econômicada região está alicerçada nas culturas temporárias dabanana, do abacaxi e do palmito, que se constituemna base do setor primário desta região.

(g) Região Geoeconômica 7 – Foi estrutu-rada pelo predomínio das culturas de soja, trigo emilho e, na pecuária, pelos bovinos e aves. A culturada soja foi o principal fator para individualizar estaregião geoeconômica, pois predomina em áreaplantada na maioria dos municípios que a compõe.Também se apresentam como culturas expressivaso trigo e o milho. O trigo, constituindo junto com asoja o binômio trigo-soja é responsável pelo iníciodo processo de modernização no Rio Grande do Sul,

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a partir da década de 70. Por outro lado, o milho,bastante significativo nesta área e em outras do Estadogaúcho, destaca-se por ser uma alternativa à culturada soja, proporcionando até três safras anuais.

É uma cultura mais resistente que a soja,suportando as estiagens que ocorreram no Estadona última década. Além disso, é uma cultura básicapara retroalimentar a cadeia produtiva da avicultura eda suinocultura, que tem se expandido de forma gra-dativa na porção centro-norte do Rio Grande do Sul.

É importante ressaltar que a região geoeco-nômica 7 foi recortada em duas sub-regiões atravésda pecuária bovina e das aves. A sub-região 7 A,resultou em uma descontigüidade espacial atravésda pecuária bovina, e constitui-se numa área detransição da região geoeconômica 1 (pecuária, arroz,soja), e da região geoeconômica 5 (maçã e pecuária).Esta sub-região resgata o processo histórico deocupação territorial destas regiões e que teve napecuária a sua base econômica, a qual foi, no decorrerdo tempo, via introdução do capital, atrelada àagricultura, a responsável pela presença das culturastemporárias da soja e do trigo.

A sub-região 7 B foi individualizada pelapresença da avicultura, atividade econômica típicade áreas coloniais, que tiveram seu processo decolonização originadas do desmembramento dasvelhas colônias gaúchas. Constituíam-se em áreas,na sua maior parte, devolutas, uma vez que por li-mitações físico-naturais dificultavam o desenvol-vimento de atividades agrícolas. Assim, estas áreasforam disponibilizadas pelas políticas governamen-tais da época às correntes migratórias européias.

É importante ressaltar também que esta sub-região apresenta uma diversidade produtiva, na qualestão inseridos a fruticultura e o feijão, além da matriztradicional, dada pela soja, trigo e milho.

4. Com base nos critérios adotados paraestabelecer este recorte espacial concretizaram-se assete regiões geoeconômicas do Estado gaúcho queforam espacializadas, representando a regionalização

final, composta de 7 regiões geoeconômicas e suassub-regiões.

5. Posteriormente, as sete regiões geoeco-nômicas foram reorganizadas, adaptando-se à regio-nalização de Bacelar (1999), em três regiões: regiõesdinâmicas e competitivas; regiões em processo dereorganização espacial e regiões com pouco potencialutilizado.

Quanto a etapa de elaboração dos mapas,utilizou-se o software ArcView GIS 3.2a, desde aconstituição do banco de dados até a elaboração doslayouts finais dos mesmos.

Assim, a primeira etapa consistiu-se na ela-boração do banco de dados, contendo as informaçõesreferentes aos municípios gaúchos no que tange àprodução agropecuária.

O banco de dados estruturado serviu de basepara estabelecer os cruzamentos entre as variáveispré-selecionadas, gerando os mapas de acordo comas variáveis que melhor regionalizaram os distintosespaços econômicos gaúchos.

Estruturado o banco de dados no softwareArcview, iniciou-se a organização dos mapas. Nestaetapa, primou-se pela categorização dos intervalos,tais como as cores das classes, os tipos de símbolosa serem usados, entre outros, permitindo, assim, avisualização dos mapas já espacializados de acordocom os dados inerentes a cada município.

Nesse sentido, de acordo com a variável aser espacializada, estipulou-se os intervalos de classesdesejados, sendo alguns casos de 5 e outros em 7classes, primando pela melhor representatividade davariável que estava sendo analisada.

A análise e interpretação dos mapas, com-postos pelas diferentes variáveis, realizou-se atravésde revisões bibliográficas e análise geográfica daespacialização dos mesmos, bem como a reflexãoacerca do conhecimento empírico da realidade doEstado Gaúcho.

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Posteriormente, fez-se o cruzamento dasvariáveis em estudo no software ArcView e, conco-mitantemente, analisou-se as mesmas com o intuitode identificar a espacialização das que melhor apre-sentaram uma regionalização econômica e espacialno Estado.

A partir deste cruzamento, passou-se a deli-mitar as regiões de acordo com dois critérios: (a)para o primeiro critério de delimitação das regiõesestabeleceu-se utilizar para todas variáveis da agri-cultura a área plantada e, para a pecuária o númerode cabeças; (b) O segundo critério constituiu-se nocruzamento de vários mapas, contendo variáveisdistintas, a fim de identificar a contigüidade daprodução agropecuária para posterior classificaçãodas variáveis de maior relevância em cada regiãodelimitada.

Considerando-se a regionalização proposta,realizou-se a análise e interpretação das regiõesgeoeconômicas geradas. Cada região foi interpretadae analisada através de uma visão sistêmica, que pro-curou inter-relacionar os aspectos físico-naturais,socioeconômicos, políticos e culturais. Esta interaçãosubsidiou a releitura do espaço gaúcho, demons-trando que a dinâmica territorial tem no capital seuprincipal agente econômico transformador.

Neste contexto, o capital permite que as re-giões se organizem e se reorganizem mediante suainserção, que ocorre de forma desigual e de acordocom as solicitações do mercado nas diversas escalas:local, regional, nacional e internacional e, que,conseqüentemente, são responsáveis pelos arranjoseconômicos que permitem a inserção de novascadeias produtivas. Estas, por sua vez, não devemser entendidas como fixas, uma vez que o espaçotem uma característica iminente que é a sua dinâmica.A exemplo disso, tem-se a cadeia do florestamentoinserida na região geoeconômica 1, desafiando, decerta forma, a presença secular da pecuária e doarroz.

Assim, estruturada essa regionalização,baseada em sete regiões geoeconômicas, acredita-se

que a mesma possa auxiliar a tomada de decisõesconsistentes para prever ações voltadas para odesenvolvimento do Rio Grande do Sul e, desta for-ma, integrá-lo no espaço nacional, auxiliando ainserção competitiva do Brasil no mundo em glo-balização.

É importante ressaltar que os problemasdetectados nas regiões geoeconômicas propostas des-tacam as desigualdades produtivas do setor primá-rio gaúcho demonstrando as áreas com dinâmica ecompetitividade, as regiões em reestruturação espaciale as com potencial pouco utilizado.

2. AS REGIÕES GEOECONÔMICAS DORIO GRANDE DO SUL

A configuração de uma região resulta em suaidentidade. Esta confere a mesma personalidade eunidade e, também, influencia na sua organizaçãoespacial, proporcionando-lhe funcionalidades dis-tintas. Portanto, a região é resultante dos laços que asociedade mantém com seu espaço. Assim, pode-seconsiderar seu caráter mutável, pois o espaço é di-nâmico e sua delimitação não pode ser rígida. Astransformações socioeconômicas que acompanhama evolução da sociedade refletem-se diretamentesobre sua base espacial, organizando-a e reorga-nizando-a, fazendo com que se configurem regiõescom diversas finalidades, de acordo com os pro-pósitos estabelecidos para realizar determinadorecorte espacial.

Neste sentido, esta proposta de regionali-zação recortou o Rio Grande do Sul em sete regiõesgeoeconômicas, baseadas na atividade agropecuária,uma vez que essa atividade constituiu-se, desde osprimórdios do seu processo de ocupação e coloni-zação, no principal agente organizador do espaço rio-grandense. (Figuras 1 e 2).

Desse modo, a região geoeconômica 1 indi-vidualizou-se em função da pecuária bovina de cortee das lavouras de arroz, que compõem o que sedenominou de matriz produtiva tradicional. Constitui-se na maior região em extensão territorial e na segunda

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em maior número de unidades territoriais (muni-cípios). Sua origem está atrelada ao processo deocupação e povoamento do Rio Grande do Sul, ba-seada na doação de sesmarias, as quais originaramos latifúndios pastoris do Estado. (Figuras 1 e 2).

A estrutura fundiária deste recorte espacialpermanece, na atualidade, fundamentada em grandespropriedades, como resquícios do passado estancieiroe charqueador. Entretanto, é significativa a presençadas lavouras comerciais, representadas principalmentepelas culturas de arroz e da soja. Salienta-se tambémque, na atualidade, esta região é palco de manifes-tações exercidas pelos movimentos sociais de lutapela terra (MST), que reivindicam uma distribuiçãomais eqüitativa da terra e lutam, inclusive, pela re-forma agrária.

A economia da região geoeconômica 1,embora baseada na matriz tradicional (pecuária decorte e arroz), teve a inserção de outras cadeiasprodutivas como a da soja, a do fumo e do milho.Estas culturas permitiram individualizar, neste recorteespacial, três sub-regiões geoeconômicas denomi-nadas, respectivamente de: 1A, 1B e 1C. Tal situaçãodemonstra sua dinâmica que busca aliar a tradiçãopecuarista às novas demandas do mercado, procu-rando capitalizar sua produção e, ao mesmo tempo,evitar a sua estagnação. (Figura 1).

Destaca-se também que esta região mantevesua forma de produzir no decorrer do tempo. En-tretanto, alterou sua função, visando a justificar amanutenção diante das exigências impostas peladinâmica do capital, que recorta distintamente oterritório gaúcho.

Figura 1. Regiões Geoeconômicas do RS.Fonte: Elaboração a partir do software ArcView 3.2a.Org.: Equipe técnica – NERA/2005

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A sub-região 1A demonstra a coexistênciada matriz tradicional (pecuária bovina e arroz) coma cultura da soja. Esta tem se expandido através dediversas lavouras no Estado e, constitui-se como umaárea de transição entre as regiões geoeconômicas 1 e7. Tal fato demonstra que no espaço não há rupturasbruscas e que as transformações espaciais ocorremmediatizadas pela potencialidade físico-natural aliadaao capital e à tecnologia que são assimiladas de for-mas distintas nesse recorte espacial.

No que diz respeito a sub-região 1B, estademonstra a coexistência da matriz tradicional(pecuária bovina e arroz) com o fumo. Situa-se nocentro-norte da região geoeconômica 1, entre os doisrecortes espaciais que individualizaram a regiãogeoeconômica 2. Compõe-se de municípios com for-

te influência do pólo fumageiro de Santa Cruz doSul, mas que não abandonaram as atividades ligadas àprodução de arroz e da pecuária bovina. (Figura 2).

A sub-região 1C, além da matriz produtivatradicional (pecuária bovina e arroz), tem comoterceiro produto o milho. Localiza-se na porção cen-tro-leste da região geoeconômica 1, caracterizada porsignificativa área plantada deste produto. (Figura 2).

Além das sub-regiões 1A, 1B e 1C, a regiãogeoeconômica 1 manteve porções de seu espaçovinculados somente à matriz tradicional (pecuária decorte e arroz). Esses espaços encontram-se dispersosem algumas áreas da região geoeconômica 1, nasquais não houve a inserção de novas cadeias pro-dutivas econômicas visando dinamizá-la.

Figura 2. Regiões e sub-regiões Geoeconômicas do RS.Fonte: Elaboração a partir do software ArcView 3.2a.Org.: Equipe técnica – NERA/2005

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Em contrapartida, a porção leste da regiãogeoeconômica 1, que abrange o litoral rio-grandensetambém compõe a matriz tradicional. No entanto,paralelamente a essas atividades, temporariamentedesenvolve-se a atividade turística, bastante signi-ficativa para os municípios desta região geoeco-nômica. Salienta-se que a presença da agropecuáriaé expressiva, sendo uma atividade responsável pelabase de sua economia, cabendo ao turismo umaatividade complementar, desenvolvida no período deveraneio.

A presença de novos arranjos econômicos,representados pelas cadeias produtivas da fruticulturae do florestamento, estão buscando dinamizar esterecorte espacial. A fruticultura surge como cadeiaprodutiva em expansão, com destaque para oscítricos, a uva, o pêssego e o figo. A presença destaatividade econômica foi incentivada por políticaspúblicas de financiamento, fomentadas pelo governoestadual, através do Programa Estadual de Incentivoà Fruticultura (PROFRUTA). Ressalta-se que estainiciativa tem apoio dos pequenos produtores ruraisque apostam na fruticultura como uma alternativapara dinamizar a Metade Sul do Estado.

Desse modo, novos pólos produtores dacadeia produtiva da fruticultura têm surgido noEstado, localizando-se, principalmente, no extremooeste e no centro-sul da região geoeconômica 1,representados pelos cultivos da uva e dos cítricos,principalmente a laranja e tangerina.

No que se refere ao florestamento, os inves-timentos têm se concentrado na porção oeste destaregião geoeconômica, principalmente nos municípiosque compõem a sub-região 1A. Esta atividadeeconômica caracteriza-se pelo investimento de gran-des grupos ligados à produção de celulose, como oGrupo Votorantin-Celulose e Papel (nacional), a Ara-cruz Celulose (nacional), e a Stora-Enso (sueco-finlandeza), que alicerçam sua produção no plantiode pinus e eucalipto em grandes áreas. Distintamentedo que ocorre com suas culturas agrícolas (arroz,soja, fumo e milho) que se inseriram neste recorteespacial, através do arrendamento das terras da pe-

cuária tradicional, o florestamento está sendo im-plantado em áreas próprias, adquiridas via desmem-bramento das grandes propriedades. Há o rompi-mento das práticas tradicionais de exploração desterecorte espacial, ou seja, as atividades pecuaristas elavoureiras cedem espaço para a posterior produçãode madeira, via inserção do capital.

Nesse contexto, individualizou-se a regiãogeoeconômica 1, marcada pela matriz produtiva dapecuária de corte e do arroz, associada às lavourasde soja, fumo e milho, as quais individualizaram trêssub-regiões geoeconômicas, juntamente com outrasatividades que vieram agregar valor a este espaçoprodutivo, como a fruticultura e o florestamento. Estasituação atesta que uma região não pode ter seuslimites fixos, uma vez que, na atualidade, a descon-tinuidade espacial também permite individualizarregiões e/ou sub-regiões, pois as ações humanastornam o espaço dinâmico, fazendo com que hajamudanças ao longo do tempo, mesmo em uma baseespacial com características semelhantes. Tal fatoreflete a dinâmica regional.

O segundo recorte espacial estabelecido parao Rio Grande do Sul constituiu a região geoeco-nômica 2, que foi individualizada pelas culturas dofumo e do milho. Possui uma peculiaridade em re-lação às demais, ou seja, caracterizou-se pela deli-mitação de duas áreas não contíguas no territóriogaúcho, demonstrando a dinâmica que, na atualidade,assumem a questão regional em decorrência daassimilação distinta do capital e da técnica emdeterminadas áreas. Portanto, cada vez mais, oespaço caracteriza-se por uma heterogeneidade queo distingue dos demais, ou seja, uma região geoeco-nômica de outra. Assim, estabeleceram-se dois re-cortes espaciais, um ao norte e o outro ao sul destaregião geoeconômica.

A característica essencial da região geoeco-nômica 2 está assentada na produção fumageira,principal geradora de renda e tributos aos municípiosque a compõe, uma vez que a mesma se constituiem um produto altamente rentável. Esta produçãodesenvolve-se em pequenas propriedades, com mão-

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de-obra familiar, em áreas de colonização alemã eitaliana. Salienta-se que esta cultura assumiu caráterempresarial à medida que a indústria fumageirapassou a organizar a produção, via pacote tecnológico,que fornece insumos e assistência técnica, além dagarantia de compra da produção. A maior con-centração da produção situa-se no entorno dasindústrias de beneficiamento, tendo como póloprodutivo Santa Cruz do Sul.

O milho surge como segundo produto emárea plantada nesta região geoeconômica, coexistin-do com o fumo. Constitui-se em um produto carac-terístico das áreas de colonização européia no RioGrande do Sul desde os primórdios de sua ocupação.Atualmente, o milho se faz presente, principalmentenas áreas mais declivosas desta região geoeconômica,juntamente com o fumo. É importante destacar,também, que a cultura do milho, tem tido, na últimadécada, uma expansão significativa em área plantadaem todo o estado gaúcho. Esta realidade é conse-qüência do melhoramento genético e da expansãoda avicultura na porção norte do Estado gaúcho.

Nesse sentido, a região geoeconômica 2caracteriza-se por ter uma produção altamenterentável, via fumicultura, consorciada com outrosprodutos agrícolas de caráter secundário, como omilho, a avicultura e a suinocultura.

A região geoeconômica 3 tem sua base eco-nômica assentada na cultura do milho e, na pecuária,pelas aves e suínos. No entanto, estas atividadescoexistem em grande parte da região com as lavourasde mandioca, batata (em menor proporção) e fru-ticultura. Tal situação deve-se ao fato desta regiãoabranger, principalmente, as áreas iniciais de colo-nização do Estado, caracterizadas pela diversificaçãoda produção agropecuária, que, inicialmente, tinhacaráter de subsistência. Seguindo a orientação dasdemais regiões coloniais, a estrutura fundiária estábaseada na pequena propriedade, com mão-de-obrafamiliar, uma vez que os imigrantes europeus,principalmente os alemães e os italianos, receberampequenos lotes de terra para cultivar.

No que se refere à pecuária, destacam-se osrebanhos suínos, bovinos (leite), e as aves. A atividadepecuarista desenvolveu-se na região geoeconômica3, caracterizando-se por se adaptar às pequenas áreas,sendo mais concentradas, em virtude da pequenaextensão das terras voltadas para a agricultura fa-miliar. Portanto, este espaço produtivo difere doespaço que configurou a região geoeconômica 1,constituindo-se em moldes produtivos distintos,baseados em origens históricas, atividades econô-micas e estruturas fundiárias peculiares, estabele-cendo um contraponto na organização socioeco-nômica do Rio Grande do Sul.

Cabe ressaltar que a porção sul da regiãogeoeconômica 3 abrange alguns municípios quecompõem a Região Metropolitana de Porto Alegre,que tem a sua economia assentada no setor secun-dário (indústrias têxtil, moveleira, siderúrgica, me-tal-mecânica, calçadista, componentes elétricos equímica), e terciário, via prestação de serviço. En-fatiza-se que, em geral, estes municípios têm suaprodução primária menos significativa se comparadosaos demais setores produtivos desse recorte espacial.

Destaca-se, também, que a atividade turísticaé desenvolvida plenamente na Serra Gaúcha que sebeneficia da paisagem natural, composta por vales emontanhas, aliada ao fator sócio-cultural que atransformou, ou seja, descendentes de alemães e ita-lianos, imprimiram seus traços característicos ao meio,conferindo-lhe uma identidade cultural peculiar. Estaatividade econômica, o turismo, proporciona serviçosdiversificados aos turistas, além de servir como fontede emprego para a população local. Desse modo, aregião geoeconômica 3 individualizou-se através daagropecuária colonial e da indústria e serviços emgeral, configurando uma particularidade regionalsignificativa no que tange ao seu espaço produtivo.

A região geoeconômica 4 caracterizadacomo área de imigração tipicamente italiana, indi-vidualizou-se, tendo como produto principal a uva,constituindo-se no pólo vitivinicultor do Rio Grandedo Sul. As videiras se constituem em uma paisagempeculiar nessa porção do espaço gaúcho, pois cobrem

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desde as áreas mais declivosas até os vales inter-montanos da região geoeconômica 4. Os parreiraisformam uma paisagem típica na qual estão localizadasas vinícolas que fazem parte de uma rota turística,denominada Rota do Vinho.

Além da produção primária, outras atividadesse concretizam e contribuem para a sua dinâmicasocioeconômica, como o turismo e a indústria. Sa-lienta-se que os aspectos físico-naturais, formadospelo conjunto de vales e montanhas, aliados aos as-pectos históricos da colonização, preservam os traçosculturais das etnias que vieram compor o Rio Grandedo Sul. Destacam-se, principalmente, os códigosculturais da imigração italiana, formando uma paisa-gem singular, bastante requisitada pelos turistas. Alémcomo a relevância do parque industrial, segundamaior concentração do Estado, formado em funçãodas cadeias produtivas da uva e do turismo. Paralela-mente, instalaram-se, nessa região geoeconômica, asindústrias têxteis, (que suprem as “famosas malhariasda Serra gaúcha”), de calçados, de bebidas (vinícolas)e moveleiras, além das indústrias metal-mecânicas.

A diversificação da produção confere a esterecorte espacial inúmeras possibilidades de dinamizara economia dos municípios que a compõe, criandooportunidades e viabilizando o pleno desenvolvimentogeoeconômico.

A produção agrícola da região geoeconômica5 caracteriza-se como um dos setores mais produtivoseconomicamente, com ênfase para o cultivo da maçã.Juntamente com as regiões 4 e 6, a região geoeco-nômica 5 individualizou-se, tendo como base culturaspermanentes, situação que as distinguem dos demaisrecortes espaciais estabelecidos via lavoura empre-sarial. O maior produtor estadual de maçã é o muni-cípio de Vacaria e, que no plano nacional, ocupa osegundo lugar. Além da maçã, se fazem presentes aslavouras de milho e, mais ao noroeste desta região, asoja, constituindo uma área de transição entre asregiões geoeconômicas 5 e 7. Salienta-se também, ainstalação de indústrias de beneficiamento em virtudeda produção primária, como fábricas de sucos parabeneficiamento da maçã, além de uma significativa

frota de transporte rodoviário para escoamento daprodução.

A configuração natural da paisagem, com-posta pelas maiores altitudes do Estado, aliada àestação de inverno e a probabilidade de ocorrênciade neve, fenômeno raro no Brasil, viabiliza a ati-vidade turística nesse recorte espacial. Trata-se, por-tanto, de uma atividade expressiva para a economiadessa região geoeconômica, com destaque para oconjunto de canyons (Itaimbezinho, no Parque Na-cional dos Aparados da Serra), trilhas e cascatas, oque garante atrações durante o ano todo, não de-pendendo unicamente da estação mais fria.

No que se refere à região geoeconômica 6seu recorte espacial caracterizou-se em função daprodução da banana. A produção da banana é bas-tante significativa para os municípios que compõemesta região geoeconômica, constituindo-se na baseda economia ao longo do ano e responsável pela suainserção e manutenção no mercado consumidor locale regional. Além da banana, destacam-se as culturasdo abacaxi e do palmito, como uma alternativa paradiversificar a produção desta região geoeconômica,o que possibilita agregar renda ao pequeno produtorrural. Por se tratar de municípios litorâneos, duranteo período de veraneio, há um incremento na eco-nomia local via atividade turística. O turismo cons-titui-se numa atividade geradora de renda para oshabitantes desta região geoeconômica, dinamizandoa economia e proporcionando novas perspectivas dedesenvolvimento local/regional/nacional. No entanto,tal atividade é mais significativa no verão, ou seja,ao longo do ano a produção primária é a principalresponsável pela sua organização socioeconômica.

A região geoeconômica 7 foi originada,tendo como base econômica as culturas da soja, dotrigo e do milho, que constituem a sua matriz pro-dutiva tradicional. Distintamente do que ocorreramnas demais regiões em que se fez necessário fazersubdivisões, a região geoeconômica 7 individualizouduas sub-regiões. A sub-região 7A caracterizada pelapecuária com a bovinocultura e a sub-região 7B pelaavicultura.

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Salienta-se que a porção sudoeste destaregião geoeconômica compõe a sub-região 7B, quefaz divisa com a sub-região 1A (região geoeconômica1), e é composta pelos maiores municípios em termosde extensão territorial, bastante ligados à atividadepecuarista. Em contrapartida, a porção norte detémos menores municípios que compõem a sub-região7B, em geral, formada através do processo decolonização, via Novas Colônias. Salienta-se que ocaráter minifundiário é mantido até a atualidade, bemcomo a diversificação da produção primária, que,além da matriz produtiva tradicional, alia a suaprodução a fruticultura e a avicultura.

Nesse contexto, recortou-se o Rio Grandedo Sul em sete regiões geoeconômicas e suasrespectivas sub-regiões, nas quais se desenvolvemas principais atividades produtivas do Estado, emconstante dinâmica, tendo em vista as transformações

impostas pelos mercados nacional e internacional e,principalmente, pelo capital.

Então, procurou-se classificar as regiõesgeoeconômicas do Rio Grande do Sul de acordo coma sua dinâmica, em função dos novos atores econô-micos que se inserem neste espaço produtivo. Assim,adaptou-se a proposta de regionalização de Bacelar(1999), a qual individualiza três tipos de regiões: (a)as regiões dinâmicas ou competitivas; (b) as regiõesem processo de reorganização econômica e (c) asregiões com potencial pouco utilizado. Desta forma,as regiões dinâmicas ou competitivas do territóriogaúcho são caracterizadas pelas regiões geoeconô-micas 3 e 4. (Figura 3).

A região geoeconômica 3 caracteriza-se porser uma região dinâmica e competitiva, pois apresentana sua estrutura regional os três setores produtivos:

Figura 3. Regiões Geoeconômicas Dinâmicas e Competitivas do RS.Fonte: Elaboração a partir do software ArcView 3.2a.Org.: Equipe técnica – NERA/2005

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primário, secundário e terciário. A região geoeco-nômica 4 também individualizou um espaço dinâmicoe competitivo, tendo na cadeia produtiva da fruti-cultura, representada pela uva, seu principal agentedinamizador, além de desenvolver o setor secundário,no qual situa-se o segundo pólo industrial em im-portância no estado gaúcho, e da atividade turística.Esta atividade econômica possibilita desenvolver estaregião e estimula a oferta de empregos, caracteri-zando-se como uma das regiões mais dinâmicas doRio Grande do Sul. (Figura 3).

Seguindo a classificação proposta por Ba-celar (1999), as regiões geoeconômicas 1 com assuas respectivas sub-regiões 1A, 1B e 1C, a regiãogeoeconômica 2 e a região geoeconômica 7 e suassub-regiões 7A e 7B foram agrupadas como regiões

em processo de reestruturação econômica. (Figura4). Desse modo, a região geoeconômica 1, comoum todo, enquadra-se como região em processo dereestruturação econômica, pois, recentemente, novasdinâmicas tem se inserido neste recorte espacial, viafruticultura e florestamento. Tal situação configuranovas funções às velhas formas que compõem estaporção do espaço e demonstra as que, na atualidade,a paisagem é composta tanto pelas atividades pro-dutivas mais tradicionais, como a pecuária e as la-vouras de arroz, quanto pelas lavouras de soja, vianova expansão desta cultura e, mais recentemente,pela fruticultura e pelo florestamento. São justamenteestas cadeias produtivas recentes que buscam odesenvolvimento desta região geoeconômica.

Entretanto, tendo em vista a dimensão desta

Figura 4. Regiões e Sub-regiões Geoeconômicas em Processo de Reestruturação Econômicano RS.Fonte: Elaboração a partir do software ArcView 3.2a.Org.: Equipe técnica – NERA/2005

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região geoeconômica e sua conseqüente divisão emsub-regiões geoeconômicas, fêz-se necessárioressaltar algumas porções deste espaço produtivo rio-grandense, que permanece como áreas sub-utilizadas.Tal fato é decorrente da sua utilização baseada namatriz produtiva tradicional, pecuária de corte e arroz,onde se convencionou denominá-las de áreastradicionais. Desse modo, individualizaram-sealgumas áreas nesta região geoeconômica com estascaracterísticas, situando-se na porção oeste, centro-norte e nos extremos leste e sul do Rio Grande doSul.

É importante destacar também, que sãoporções do espaço regional com as maioresdificuldades para se inserirem no mercado produtivo.Apresentando áreas com baixos potenciais produtivos,decorrentes das condições limitantes dos aspectosfísico-naturais; da baixa densidade demográfica; dosproblemas estruturais de oferta de emprego; dadeficiente infra-estrutura da malha viária; da baixainserção e uso de tecnologias, além da baixarentabilidade dos produtores rurais.

Portanto, faz-se necessário a inserção denovas atividades que visem a dinamizar estas porçõesdo espaço da região geoeconômica 1, ou mesmo,incrementar as já existentes. Para tanto, deve-seviabilizar a utilização de tecnologia de ponta para aagropecuária existente, na busca de se obter maiorcompetitividade econômica, bem como a sua inserçãono contexto regional como um todo, que passa naatualidade por um processo de reestruturação.

A região geoeconômica 2 insere-se comouma região em processo de reorganização espacial,uma vez que foi individualizada pela cultura do fumo,que tem apresentado, no decorrer do tempo, umaexpansão significativa em área plantada e produção,sendo uma cultura que se utiliza de alto suportetecnológico. (Figura 4).

Além disso, o fumo é uma das culturas commaior rentabilidade no mercado, com incentivo dasmultinacionais que organizam esta cadeia produtiva,via pacote tecnológico. Caracteriza-se, também, por

ser uma área polarizadora de empregos,principalmente nas indústrias fumageiras, e tambémde serviços relativos a esta produção.

A região geoeconômica 7, subdividida emsub-regiões 7A e 7B, caracterizou-se como umaregião em processo de reorganização espacial. Talreestruturação espacial ocorre frente às novasdinâmicas econômicas viabilizadas para esta regiãoatravés da expansão da cadeia produtiva das aves edo milho, da presença recente da cadeia produtivada fruticultura e do revigoramento da cultura da soja,via transgênicos. Por ser a maior região em númerode municípios, é explicável que a sua reestruturaçãoseja bastante dinâmica, pois o capital e a tecnologiasão assimilados de formas distintas pelos recortesespaciais, criando e recriando arranjos econômicos.

A terceira classificação reagrupou as regiõesgeoeconômicas 5 e 6, e foram consideradas comoregiões com potencial pouco utilizado. (Figura 5). Aregião geoeconômica 5 é caracterizada pela pecuáriade corte e pela maçã e constitui-se em uma regiãocom potencial pouco utilizado, em conseqüência dassuas potencialidades físico-naturais sub-aproveitadas.Desta forma, tem-se as pequenas propriedades, comseu espaço produtivo bem utilizado, através do cultivoda maçã. Por outro lado, a pecuária desenvolvidaem médias e grandes propriedades necessita semodernizar para que possa buscar mercados maisdinâmicos, necessitando da incorporação de novastecnologias para dinamizar sua produção. (Figura 5).

A região geoeconômica 6, individualizadapela presença da banana, caracterizou uma regiãocom potencial pouco utilizado. Tal fato éconseqüência da sub-utilização do seu espaçoprodutivo pela cultura da banana, além da presençado palmito e do abacaxi. Da mesma forma que aregião geoeconômica 5, o potencial turístico necessitaser melhor aproveitado, pois a porção litorânea tempresença significativa de turistas apenas nos períodosde veraneio.

É importante salientar que as paisagensapresentam singularidades que são expressas através

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das belezas naturais aliadas ao processo colonizador.Tal configuração do espaço evidencia um potenciala ser melhor explorado, a exemplo das regiõesgeoeconômicas 3 e 4. Para tal, é necessário investirem um amplo planejamento que priorize a infra-estrutura básica para o desenvolvimento do turismo.

Nesse contexto, diante da atual configuraçãodo espaço Rio-Grandense, procurou-se classificar assete regiões geoeconômicas estabelecidas em trêscategorias quanto as suas potencialidades para o de-senvolvimento socioeconômico. Obviamente, a dinâ-mica do espaço, aliada as particularidades locais, nãopermite que este desenvolvimento seja homogêneoe compreenda todo seu contexto regional, o queSantos (1994) denomina de rugosidades do espaço.

No entanto, o homem, enquanto agente

transformador do espaço, procura minimizar asdiferenças sempre na busca de se obter o almejadodesenvolvimento regional. Dessa forma, as particu-laridades culturais, que compõem cada grupo social,o torna singular em relação aos demais, bem comoas suas manifestações em relação a sua base espacial.Nesse sentido, ao se analisar o espaço, deve-se con-siderar os agentes que o transformam, em todos osaspectos responsáveis por suas atitudes e que, con-seqüentemente, se materializam no espaço.

Pode-se dizer, então, que o Rio Grande doSul teve suas bases históricas atreladas aos distintosprocessos de ocupação, povoamento e colonização,os quais são os responsáveis diretos pela organizaçãodo seu espaço produtivo e, em conseqüência, peloseu desenvolvimento econômico. Os níveis de desen-volvimento atuais nada mais são do que respostas

Figura 5. Regiões Geoeconômicas com Potencial Pouco Utilizado no RS.Fonte: Elaboração a partir do software ArcView 3.2a.Org.: Equipe técnica – NERA/2005

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ao processo de desenvolvimento pelo qual o EstadoGaúcho tem passado no decorrer do tempo e queresultaram nas sete regiões geoeconômicas indivi-dualizadas nesta proposta de regionalização.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A regionalização geoeconômica do RioGrande do Sul individualizou sete regiões geoeco-nômicas e sub-regiões, nas quais se desenvolveramas principais atividades produtivas do Estado, ba-seadas, principalmente, na agropecuária. Consi-derando as transformações impostas pelo capital,como agente reorganizador dos padrões espaciais eresponsável pela sua flexibilização frente às exigênciasimpostas pelo processo de globalização, procurou-se classificar as regiões geoeconômicas de acordocom a sua dinâmica e em função dos novos atoreseconômicos que se inserem neste espaço.

Dessa forma, no estado gaúcho, configuram-se como regiões dinâmicas e competitivas as regiõesgeoeconômicas 3 e 4, situadas, respectivamente, naporção nordeste do Estado. A região geoeconômica3 enquadra-se nesta classificação, pois apresenta asua estrutura regional baseada nos três setores pro-dutivos. O primário, individualizado pelas culturasdo milho, da mandioca e, na pecuária, pelas aves,com crescimento significativo. O secundário, ondese concentra o maior pólo industrial do Rio Grandedo Sul, representado por um amplo parque industrial,com finalidades distintas. O setor terciário, princi-palmente, na porção que abrange a Região Metro-politana de Porto Alegre, configura-se como pólo deserviços em geral. É importante destacar que estaregião geoeconômica é caracterizada como a maisdinâmica e competitiva do Estado gaúcho, emboraseu espaço produtivo esteja saturado, necessitandodesconcentrar seu parque industrial e expandir suamalha rodoviária.

A região geoeconômica 4 individualizou umespaço dinâmico e competitivo, tendo na cadeiaprodutiva da fruticultura, representada pela uva, seuprincipal agente dinamizador. Paralelamente, apre-senta o setor secundário desenvolvido, no qual se

localiza o segundo pólo industrial em importância doEstado gaúcho, situado no entorno de Caxias do Sul,com ênfase para a indústria moveleira, calçadista edo vestuário. Outra forma de organização espacialdesta região geoeconômica é representada peloturismo.

No que se refere às regiões em processo dereestruturação econômica, tem-se a região geoeco-nômica 1, com as sub-regiões 1A, 1B e 1C, a regiãogeoeconômica 2 e a região geoeconômica 7 com assub-regiões 7A e 7B. A região geoeconômica 1enquadra-se nesta classificação, pois, recentemente,novas atividades têm se inserido, neste recorte espa-cial, via fruticultura e florestamento. Tal situação con-figura novas funções às velhas formas que compõemesta porção do espaço e demonstra que, na atuali-dade, a paisagem é composta tanto pelas atividadesprodutivas tradicionais, como a pecuária e as lavourasde arroz, como pela lavoura de soja, via nova ex-pansão desta cultura e, recentemente, pela fruticul-tura e pelo florestamento.

A região geoeconômica 2 insere-se nestecritério por ser uma região em processo de reor-ganização espacial, uma vez que foi individualizadapela cultura do fumo, que tem apresentado, no de-correr do tempo, uma expansão significativa em áreaplantada e produção, utilizando-se de alto suportetecnológico. Caracteriza-se, também, por ser umaárea polarizadora de empregos, principalmente nasindústrias fumageiras, de serviços relativos a estaprodução.

A região geoeconômica 7, com suas sub-regiões 7A e 7B, também se insere neste critério declassificação. A reestruturação espacial ocorre frenteàs novas dinâmicas econômicas, viabilizadas atravésda expansão da cadeia produtiva das aves e do milho,da presença recente da cadeia produtiva da fruticulturae do revigoramento da cultura da soja, via trans-gênicos. Por ser a maior região em número de mu-nicípios, é explicável que a sua reestruturação sejadiversificada, pois o capital e a tecnologia sãoassimilados, de formas distintas pelas unidadesterritoriais, criando e recriando arranjos econômicos

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singulares. Observa-se que as regiões geoeconômicasque se enquadram nesta classificação tem permitidoa inserção de novos atores econômicos, os quais sãoresponsáveis pela sua dinamização frente a matriztradicional que a compõe, proporcionando novasalternativas para subsidiar o desenvolvimento local/regional.

Como regiões com potencial pouco utilizadotem-se as regiões geoeconômicas 5 e 6, localizadas,respectivamente, na porção nordeste e no leste doRio Grande do Sul (litoral). A região geoeconômica5 tem seu espaço produtivo caracterizado pelapecuária de corte e pela cultura da maçã e constitui-se em uma região com potencial pouco utilizado, emconseqüência das suas potencialidades físico-naturaissub-aproveitadas.

No que se refere à região geoeconômica 6,individualizada pela cultura da banana e da presençado palmito e do abacaxi, sua inserção, nestaclassificação é conseqüência da sua sub-utilizaçãoem decorrência das potencialidades naturais. Damesma forma que a região geoeconômica 5, opotencial turístico necessita ser dinamizado, pois aporção litorânea tem presença significativa de turistasapenas nos períodos de veraneio. É importantesalientar que as paisagens apresentam singularidadesque são expressas através das belezas naturais aliadasao processo colonizador.

Tal configuração do espaço evidencia umpotencial a ser explorado mais significativamente, aexemplo das regiões geoeconômicas 3 e 4, localizadasna Serra gaúcha. Para tanto, é necessário investirem um planejamento que priorize a infra-estruturabásica para o desenvolvimento do turismo e incentivara intensificação da produção (através do fomentovia políticas públicas), aliada a uma diversificaçãocom produtos que proporcionem rentabilidade aoprodutor, permitindo ao mesmo agregar valor a suaprodução o ano todo.

Neste contexto, infere-se que a proposta deregionalização que recortou o Rio Grande do Sul emsete regiões geoeconômicas proporcionou uma visão

geral do espaço produtivo gaúcho quanto as suasprincipais atividades econômicas, com ênfase paraos produtos que caracterizam tais regiões e que cons-tituem as matrizes produtivas tradicionais.

Assim, estruturadas as sete regiões geoeco-nômicas, fez-se uma releitura do espaço produtivogaúcho, acreditando-se que a mesma possa subsidiara tomada de decisões que promovam ações voltadasao desenvolvimento local/regional do Rio Grande doSul, minimizando, desta forma, as desigualdadesregionais.

Embora o processo de regionalização pressu-ponha uma generalização, pois se observa o espaçocomo um “todo”, no qual algumas particularidadesnão se salientam, procurou-se minimizar tal situaçãocom o aprofundamento de algumas questões in-trínsecas ao contexto regional. Para tanto, procurou-se enfocar as particularidades regionais através dassub-regiões geoeconômicas, as quais foram indi-vidualizadas em virtude da coexistência de algunsprodutos que visam a dinamizar tais espaços.

Assim, ao mesmo tempo em que se procuroudemonstrar, de forma geral, como se estrutura oespaço produtivo gaúcho, também, salientou-se aatual inserção de algumas dinâmicas produtivas quetendem a promover o desenvolvimento local/regional(florestamento e fruticultura), pois apresentam possi-bilidades de reestruturação de um espaço tradicionalda pecuária no Rio Grande do Sul, como a Campanhagaúcha.

Obviamente que um estudo mais detalhadosegue-se a este, objetivando, justamente, aprofun-dar a visão geográfica das regiões geoeconômicasgaúchas, salientando as semelhanças e diversidadestecidas ao longo do processo evolutivo da sociedadegaúcha em sua relação com a natureza.

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