rio de janeiro, 29 de abril de 2014 - ebc.com.br · depoimento de andrea neves da cunha prestado ao...

Rio de Janeiro, 29 de abril de 2014 Foto: Anibal Philot/ Agência O Globo

BOMBA NO JORNAL “EM TEMPO” Bomba destrói a redação do jornal “Em Tempo”,

em Belo Horizonte em 18/08/1978

ATENTADOS TERRORISTAS PRATICADOS COM A PARTICIPAÇÃO DE MILITARES

Entre 1980-1981, houve cerca de 40 atentados a bomba em todo o país.

BOMBA EM BANCA DE JORNAL Bomba destrói banca de jornal em Madureira, no Rio de Janeiro em 26/07/1980


Foto: Antonio Nery/ Agência O Globo


ATENTADO NA OAB Mesa de Lyda Monteiro, após a explosão da bomba na OAB-RJ, em 27/08/1980

D. Lyda Monteiro


Atentado contra o jornal O Estado de São Paulo Ocorrido às 18h07 do dia 14 de novembro de 1983. U m a b o m b a r e l ó g i o detonou dois botijões de gás no interior de um Voyage no estacionamento externo da empresa.

Fonte: Acervo do jornal O Estado de São Paulo

OPOSIÇÃO DE SETORES DAS FORÇAS ARMADAS À ABERTURA POLÍTICA EM CURSO “Perguntado se tem algo mais a declarar, respondeu que acredita que o episódio da bomba do Riocentro foi realizado por elementos extremistas, que não desejavam também a abertura política e que muitos destes estavam trabalhando nos Órgãos de Informações.”

Cel. Niderval da Rocha Lima (IPM/99, anexo 2, f. 1040)

OPOSIÇÃO DE SETORES DAS FORÇAS ARMADAS À ABERTURA POLÍTICA EM CURSO

Depoimento do Coronel Léo Frederico Cinelli (IPM/1999, f.1515)

O SHOW

ATENTADO NO RIOCENTRO (1981)

Captura de imagem de vídeo: CPDOC

Na noite sexta, dia 30 de abril de 1981, por volta das 21h20, explodiu uma bomba no Puma em que estavam o Capitão Wilson Luiz Chaves Machado e o Sargento Guilherme Pereira do Rosário. O carro, propriedade do Capitão, estava no estacionamento do Riocentro. Cerca de meia hora depois, outra bomba explodiu próximo à estação de força do Riocentro.

ATENTADO NO RIOCENTRO

Croqui do local da explosão (IPM/1999, f. 122)

ATENTADO NO RIOCENTRO

Croqui do local do carro estacionado (IPM/1999, f. 123)

Foto: Anibal Philot / Agência O Globo

PUMA APÓS A EXPLOSÃO DA BOMBA


Foto: IPM/1999, f. 437


Foto: IPM/1999, f. 439

Capitão Wilson Machado Sargento Guilherme Rosário

DEPOIMENTO DO CAPITÃO WILSON MACHADO

Termo de inquirição do Cap. Wilson Machado em 20/05/81 (IPM/1999, f. 231)

DOCUMENTAÇÃO DO PUMA

Cadastro de veículo e documentação de registro do automóvel modelo “Puma” (IPM/1999, fls. 1552 e 272)

BILHETE DE ESTACIONAMENTO NO RIOCENTRO

Talão de estacionamento do RIOCENTRO. Docs. fornecidos pelo Cel. Júlio Miguel Molinas Dias ao encarregado do IPM de 1981 (IPM/1999, f. 39)

Foto: IstoÉ, 13/05/1981

Depoimento Andrea Cunha

Depoimento de Andrea Neves da Cunha prestado ao Cel. Job Lorena em 27.5.1981 (IPM/1999, f. 331)

Depoimentos:

Depoimentos:

Termo de inquirição do Cabo do Corpo de Bombeiros JOMAIR DE OLIVEIRA em 13.05.81(IPM de 1999, f. 141)

Depoimentos:

Termo de inquirição da testemunha César Wachulec em 23.08.99 (IPM de 1999, f. 1091 e 1092).

Um mês antes:

Demissão do Cel. Dickson Grael, Diretor do Riocentro

Horas antes do atentado:

Troca do chefe da segurança do show, Ten. César Wachulec

No dia do atentado:

Fechamento, inclusive com cadeado, de 28 portões dos 30 de segurança do pavilhão do Riocentro

A PREPARAÇÃO DO ATENTADO

TROCA DE COMANDO DO 18º BATALHÃO

Um dia antes do Show no Riocentro o Coronel Sebastião Hélio Faria de Paula é retirado do comando do 18º Batalhão de Polícia.

Fonte: GRAEL, Dickson M. Aventura, corrupção e terrorismo. 4ª ED. Petrópolis, Vozes, 1986, anexos.

Suspensão do esquema de policiamento da PMERJ. Ordem de serviço do 18º BPM determinando o policiamento.

Viagem a Brasília do Comandante-Geral da PMERJ, Cel. Nilton de Albuquerque Cerqueira. Na capital federal, o oficial determina a troca do Comando da PM e a suspensão do esquema de policiamento.

A PREPARAÇÃO DO ATENTADO

Fonte: GRAEL, Dickson M. Aventura, corrupção e terrorismo. 4ª ED. Petrópolis, Vozes, 1986, anexos.

Nota do Comando Delta à imprensa e a autoridades do Rio e Brasília (IPM/1999, f. 225)

IPM instaurado pelo Comandante do I Ex., Gen. Gentil Marcondes Filho.

“Tendo tomado conhecimento dos fatos que deram origem à morte do Sgt. GUILHERME PEREIRA DO ROSÁRIO e ferimentos graves no Cap. WILSON LUIZ CHAVES MACHADO, ambos deste Exército, no momento em que se encontravam em missão de serviço no Riocentro, determino seja (...) instaurado a respeito o devido Inquérito Policial Militar”.

(Portaria nº 01-CPJ, de 01/05/81)

A APURAÇÃO DO ATENTADO (IPM/1981)

ENTERRO DO SARGENTO ROSÁRIO

Foto: Arquivo / Agência O Globo

Da esquerda para a direita: coronel Job Lorena de Sant'Anna e generais Gentil Marcondes e Armando Patrício carregam o caixão do sargento Rosário

ENTERRO DO SARGENTO ROSÁRIO

Da esquerda para a direita: general Gentil Marcondes Filho, general Armando Patrício e coronel Job Lorena de Sant'Anna

Foto: Agência O Globo

MISSA DE 7º DIA DO SARGENTO ROSÁRIO

Foto: Alberto Jacob / Agência O Globo

Da esquerda para a direita: general Armando Patrício, coronel Job Lorena Sant'Anna e tenente-coronel Hilton Portela

Além de várias outras diligências, o Cel. Luiz Antônio do Prado Ribeiro ouviu onze pessoas nos doze dias em que esteve à frente do IPM.

Nº Especificação Data

1Termo de inquirição da testemunha JULIO MIGUEL MOLINAS DIAS

(Comandante do DOI)05/05/1981

2Termo de inquirição da testemunha NEWTON COSTA (Delegado de Pol ícia -‐

Diretor Gera l do DGIE)06/05/1981

3Termo de inquirição da testemunha JOAO ROBERTO ESTEVE KELLY (Radia l i s ta-‐

advogado -‐ Pres idente da RIOTUR e Diretor-‐Pres idente do RIOCENTRO)06/05/1981

4Termo de inquirição da testemunha GERALDO REIS CARVALHO (Engenheiro

Civi l -‐ Diretor Vice-‐Pres idente do RIOCENTRO) 06/05/1981

5Termo de inquirição da testemunha CESAR WACHULEC (Mi l i tar da Reserva

Remunerada, 2º Tenente -‐ Supervisor de Segurança do RIOCENTRO)06-‐07/05/1981

6Termo de inquirição da testemunha VALTER RIBEIRO VIANA (Mi l i tar, 2º

Sargento RM, do Segundo Grupamento de Incêndio -‐ Chefe da equipe de serviço de segurança contra incêndio na noite do evento)

07/05/1981

7Termo de inquirição da testemunha JOMAIR DE OLIVEIRA (Mi l i tar, Cabo do Corpo de Bombeiros -‐ Função de prevenção contra pânico e incêndio)

13/05/1981

8Termo de inquirição da testemunha CARLOS ALBERTO HENRIQUE DE MELLO

(Mi l i tar, 1º Sgt. da Aeronáutica -‐ lotado no DOI/IEX.)14/05/1981

9Termo de inquirição da testemunha FLAVIO ALEXANDRE DE LACERDA (Médico

plantonis ta contratado pelo RIOCENTRO, sem vínculo empregatício)14/05/1981

10Termo de inquirição da testemunha HIROHITO PERES FERREIRA (Soldado da

PM, servindo no DOI/I Ex.)15/05/1981

11

Termo de inquirição de SERGIO VALLANDRO DO VALLE (Funcionário da ELETROMAR S.A. que compareceu ao RIOCENTRO como espectador,

acompanhado da senhori ta ANDREA NEVES DA CUNHA. Transportou em seu carro o mi l i tar ferido até o HOSPITAL LOURENÇO JORGE)

15/05/1981

DEPOIMENTOS COLHIDOS PELO 1º ENCARREGADO DO IPM DO RIOCENTRO


DEPOIMENTO DO CORONEL LUIZ ANTONIO DO PRADO RIBEIRO


IPM/1999, f. 181.

Foto: Agência O Globo

CORONEL JOB LORENA EXPÕE RESULTADOS DE SUAS INVESTIGAÇÕES DURANTE IPM/1981

Durante a exposição, a imprensa foi impedida de fazer perguntas.

PERÍCIA IPM/1981

Laudo Pericial do Instituto Carlos Éboli, elaborado a partir de perícia em 01.05.81 (IPM/1999, f. 67)

PERÍCIA IPM/1981

Vista geral da subestação de energia elétrica constante em Laudo Pericial do Instituto Carlos Éboli. (IPM/1999, f. 71)

Principais conclusões e resultados do Relatório do IPM: A. “não há como inculpar os militares ocupantes do carro sinistrado”: “os militares atingidos pela explosão da bomba estavam em serviço”, cumprindo missão de informações por determinação superior;

B. “foram coletados indícios significativos de que os militares atingidos fossem já reconhecidos ou identificados por elementos da contrainformação de organizações extremistas”: “os agentes e órgãos de segurança do Exército encontram-se sob a mira da contrainformação de diversos grupos radicais”, que acompanhavam, inclusive, a movimentação do pessoal e dos veículos dos órgãos de segurança;


Principais conclusões e resultados do Relatório do IPM: C. em caráter de suspeição, como autores do atentado foram identificados a VPR e o MR-8, à esquerda, e o COMANDO DELTA, à direita: “há vários grupos radicais interessados em fazer uso de terrorismo”, inclusive por meio de ações armadas contra os órgãos de segurança e seus agentes; e,

D. a autoria do crime não foi esclarecida: “é plausível (...) concluir que os dois militares foram vítimas de uma armadilha ardilosamente colocada, por terceiros, no carro do capitão”.

(Excertos extraídos do Relatório do IPM de 1981, fls. 667-678)


Ao longo de toda a tramitação do IPM do Riocentro nas instâncias da Justiça Militar, o Procurador Geral da Justiça Militar, Dr. MILTON MENEZES DA COSTA FILHO, manteve estreita e constante comunicação confidencial com o Chefe do SNI, Gen. NEWTON CRUZ.

A TRAMITAÇÃO DO IPM/1981 NA JUSTIÇA MILITAR

Arquivo Nacional, AC_ACE_18320_81, Acervo SNI

Críticas ao IPM de 1981 feitas pelo Corregedor da Justiça Militar Crítica nº 1

Embora o relatório do IPM tenha pressuposto que os militares vitimados pela bomba no carro estivessem em serviço, não consta nos autos documento oficial nesse sentido.

“Não consta o documento relativo à saída dos militares nem depoimento do Chefe da Central de Operações, para se saber como o Cap. Wilson foi incluído na missão, porque o referido oficial declara que “recebeu ordem da chefia do Destacamento para cobrir o evento de trinta de abril, à noite, no Riocentro”. (Representação do Corregedor da Justiça Militar em 24/08/81. IPM de 1999, f. 758.

Grifos no original)



Contradição entre os resultados das primeiras perícias e as conclusões do relatório do IPM. Diferentemente da conclusão do IPM, que sugeria a colocação furtiva da bomba no carro, os primeiros laudos periciais indicavam que o epicentro da explosão ocorrera de encontro ao corpo da vítima, que estava certamente próxima à porta direita do Puma.

a) Perícia do local da explosão, realizada pelos criminais do Instituto Carlos Éboli, LUIZ CESAR VEIGA PIRES e ABELARDO CAMARA VEIGA (IPM/1999, f. 89).



Curiosamente, cerca de um mês após emitir o laudo acima, sendo inquirido como testemunha e à luz de fotografias e de novos elementos que lhe foram apresentados durante o depoimento, Luiz Cesar da Veiga Pires declara que:

“... o local mais provável do epicentro da explosão foi junto à porta direita, próximo ao encosto do banco”.

(Termo de inquirição do perito Luiz Cezar da Veiga Pires em 26/05/1981.

IPM/1999, f. 312)



b) Laudo Pericial nº 014/81, referente à ocorrência 86/81, de local de explosão com morte, elaborado pelos peritos Cap. MÁRCIO NASSER e 2º Sgt. HORÁCIO NELSON MENDONÇA do PIC do 1º BPE (IPM de 1999, f. 111).



No laudo complementar ao de nº 014/81, os peritos 1º Ten. GERALDO ALVES PORTILHO JUNIOR e 2º Sgt. HORACIO NELSON MENDONÇA concluem, de modo diverso ao anterior, “que o epicentro da explosão se encontrava, provavelmente, muito próximo ou mesmo encostado à referida porta direita” (IPM de 1999, f. 204).



c) O laudo cadavérico também aponta que o núcleo da explosão ocorreu no colo do Sgt. ROSÁRIO. O fato de as costelas permanecerem intactas exclui a possibilidade do impacto lateral direito.


LAUDO CADAVÉRICO – SARGENTO GUILHERME DO ROSÁRIO

IPM/1999,f. s/n

Pressões sobre o Ministro Almirante Júlio de Sá Bierrenbach Logo após proferir seu voto, na discussão sobre o arquivamento do IPM do Riocentro, o STM realizou uma sessão secreta, convocada pelo Ministro REINALDO MELLO DE ALMEIDA, de modo a que:

Pudessem os Ministros oriundos do Exército manifestar, de forma veemente, sua revolta contra o modo profundamente desrespeitoso como foram tratados pelo Exmo. Sr. Ministro Bierrenbach, os chefes militares e por extensão o Exército, durante sua manifestação em Sessão pública.

(Nota para a Imprensa do Ministro Gen. Ex. Carlos Alberto Cabral Ribeiro.

Ref.: Arquivo Nacional, AC_ACE_19435_81, Acervo do SNI)

Posteriormente, após a divulgação pública do relatório e voto de Bierrenbach, o Ministro Gen. Ex. Carlos Alberto Cabral Ribeiro divulgou nota à imprensa.


O ATENTADO QUE NÃO ACONTECEU (PREPARATIVOS PARA UM ATENTADO NO RIOCENTRO EM 1980)

Depoimento do Major Edson Sá Rocha (IPM/1999 f.832)

O ATENTADO QUE NÃO ACONTECEU (PREPARATIVOS PARA UM ATENTADO NO RIOCENTRO EM 1980)

Depoimento do Cel. Romeu Antônio Ferreira, Chefe da Central de Operações da Informações (IPM/1999 f. 1773)

REPORTAGENS SOBRE O CASO RIOCENTRO GANHADORAS DO PRÊMIO ESSO ENTRE 1981 E 1999

1999

1981

PEDIDOS DE REABERTURA DO IPM DO RIOCENTRO

1º Pedido (1985) - Representação nº 1054-4. (Pedido formulado pelos advogados Hugo de Albuquerque Wanderley e Altamiro Fiel D’Oliveira, em nome do coronel da reserva Dickson Melges Grael).

Fundamento(s): revelações contidas no livro lançado pelo coronel Dickson Melges Grael. Detalhamento:

(i) Testemunhos do tenente da reserva Cesar Wachulec e do diretor-técnico do Riocentro, Nilton Nepomuceno, afirmando terem presenciado a retirada de duas bombas desativadas no banco traseiro do Puma OT 0279 (automóvel que explodiu, vitimando o Sgt. Rosário).

(ii) Testemunho do segurança José Geraldo de Jesus, o “Candonga”, que teria presenciado a retirada de outras bombas do palco do “show 1º de maio”.

2º Pedido (1987) - Representação nº 1061-7. Fundamento(s): Entrevistas e depoimentos de militares envolvidos no episódio e que estavam lotados nos altos escalões das Forças Armadas. 3º Pedido (1996 e 1999) – Fundamento(s): As investigações foram reabertas pela iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Em razão dos trabalhos desenvolvidos pela CDH/CD, o Ministério Público Militar requisitou, em 25 de junho de 1999, a apuração dos fatos ocorridos em 30 de abril de 1981.


IPM/1999, f. 6


Fonte: Processo PGR nº 08100.007174/96-39

O IPM foi instaurado em julho de 1999, pela Portaria nº 008/99-CP, tendo como encarregado o General Sérgio Ernesto Alves Conforto.

IPM DE 1999

IPM DE 1999

Durante o IPM de 1999, foram realizadas 57 oitivas. A investigação de 1999 revelou as tentativas de cerceamento à condução do inquérito anterior durante o período em que o Cel. Luiz Antônio do Prado Ribeiro esteve à frente dos trabalhos e detalhes da má condução das investigações pelo Cel. Job Lorena, o segundo encarregado do IPM/81.

IPM DE 1999

O primeiro encarregado do IPM de 1981, Cel. Luiz Antônio do Prado Ribeiro, ao prestar declarações ao Gen. Ernesto Conforto, encarregado do IPM de 1999, relevou que sofreu para conduzir, de forma parcial, as investigações em 1981.

IPM/99, f. 1132 e ss

IPM DE 1999

IPM/99, f. 1132 e ss

IPM DE 1999

Em seu depoimento no IPM de 1999, o General de Brigada Engenheiro Militar Perito Iberê Mariano destacou as pressões sofridas:

IPM/99, f. 1043

IPM DE 1999

O conhecimento de explosivos do Sgto. Rosário é relatado pelos colegas.

Depoimento do perito 3º Sargento Joaquim Lima Barreto no IPM/1999, f. 1656

IPM DE 1999

Críticas constantes no relatório do IPM de 1999 à investigação realizada durante o IPM de 1981:

CRÍTICAS AO IPM/81

IPM DE 1999

Conclusões do relatório do IPM/99:

IPM/99, f. 2131 e ss

CADEIA DE COMANDO DO ATENTADO NO RIOCENTRO

2012: Dossiê Molinas

Em novembro de 2012, foram entregues à CNV, pelo governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, em cerimônia pública no Palácio Piratini, documentos que estiveram sob o poder do coronel JÚLIO MIGUEL MOLINAS DIAS, ex-comandante do DOI do I Exército, no Rio de Janeiro. Os documentos foram apreendidos pela Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, após o assassinato do coronel Molinas em 1º de novembro de 2012. Parte da documentação refere-se a detalhes relevantes do caso Riocentro. São memorandos datilografados e manuscritos, com registro de ordens e telefonemas com a finalidade de evitar que fatos viessem à tona e

mostrassem o envolvimento de militares no atentado.

Excertos do dossiê: No alto da primeira página está escrito “{placa OT-0297}”. Refere-se ao Puma GTE, placa fria OT-0279, de propriedade do então capitão WILSON LUÍS CHAVES MACHADO, o “doutor Marcos”.

Intervalo do jogo Grêmio x S. Paulo, telefonema do Ag. Reis: Disse que um Cb BM telefonara avisando que houvera um acidente com explosivo com uma vítima.

Deu o nome quente Dr. MARCOS. Logo a seguir o Dr. Wilson telefonou p/ avisar sobre o atentado, dizendo que

viria p/ Órgão. Eu disse que já estava pronto p/ deslocar-me. Por volta 10.30h cheguei ao Órgão e perguntei ao Ag. Reis se o Dr. Wilson já

chegara, obtendo resposta afirmativa.

Dirigi-me a vaga n° 1 do Cmdo. O Dr. Wilson estava nas operações chegou logo a seguir. O Ag. Reis que já chegara avisou que recebera outro telefonema do mesmo elemento dizendo que 1 Sgt estava morto no local, irreconhecível.

Excertos do dossiê: 11.30h – O Globo estouraram duas bombas no estacionamento, destruindo 2 carros, uma sendo 10 min após a outra. No 2º. carro não houve vitimas. 4 – G Torres de Melo 11.30h – Dr. Araujo telefonou para saber o quê houve. 11.30h - Dr. Carmelo: Hosp. Miguel Couto - Dr. Wilson está sendo operado: vísceras do lado de fora. Estado grave. Carro puma. Às 23h45h anotou: "Comunicado ao Cel. CINELLI". O Cel. Cinelli em depoimento ao Procurador-Geral da Justiça Militar Kleber de Carvalho Coêlho no IPM de 1999 (volume I fl. 248), disse que somente tomou conhecimento de um militar morto e outro ferido no dia seguinte:

Excertos do dossiê:

As anotações prosseguem, em ordem cronológica: 11.50h – Miranda: dentro do Puma. O Robot está morto. Tem uma granada que estava no carro e botaram no chão. Parece que carro estava em movimento 12.30 – Cel Afonso: Gen. Gentil sabia? 12.40h - Cel Cinelli - Falamos sobre a ida da perícia da PE à paisana e a retirada do Corpo. Às 2 horas da madrugada do dia 1 de maio de 1981, Hélio informa que a documentação recolhida no local está em poder dele; que a documentação do Dr. Marcos, que é o codinome do então capitão Wilson Luiz Chaves Machado, já está com o Dr. Áureo. Há, ainda, o registro de que: "foi solicitado Info o n° de bombas que explodiram e a seqüência das explosões.“ De 12.30 às 16.20 Molinas escreveu: "Cemitério e Hospital - Durante esse tempo foram tomadas as providências constantes do Anexo A, pelo Dr. Wilson". Às 17.00 disse: "Fui para casa".

Excertos do dossiê: No sábado, dia 2, Molinas chegou ao DOI às 08.30. Tem ciência do estado de saúde do "Dr. Marcos"; recebeu o carro do "Dr. Marcos", pelo memorando n° 033/016/81 da 16a Delegacia "para complementação da perícia". E anotou: "O carro foi recebido em caminhão fechado por volta das 23 h. de 01 Mai". Domingo: De 10.45 às 11.15, Molinas visita os familiares do "Dr. Marcos" e de 11.40 às 12.20 visita os familiares do agente "Wagner". Às 15.50 anotou que "Ag. HUGO informou que a segurança do RIOCENTRO está comentando que o atentado seria nosso" (grifo do original) e às 15.55 Molinas imediatamente ligou ao Dr. Borges Fortes sobre isso.

Excertos do dossiê: Há folha avulsa, com caligrafia diferente daquela do coronel Molinas com afirmações tópicas, a saber: -"Borges Fortes - fez ligação para acertar perícia entre PE e Dr. Pinheiro SSP (por ordem do Cmt Ediberto). -Cmt Doi e Cmt I Ex foram a enterro e hospital -Borges Fortes ficou de confirmar onde se encontra o carro de Marcos -Foi feito contato com a S Seg. para localizar o carro de Wagner e comunicar ao DOI (carro roubado). Existe uma equipe de sobreaviso para "puxar" o carro." “Foi mandado ao I Ex (cel Cinelli) as fotografias das placas com “VPR” para aproveitamento na imprensa.” v O objetivo dos agentes com as pichações era atribuir a autoria do atentado à VPR.

Excertos do dossiê: Em 13 de maio de 1981, Molinas, em manuscrito, registrou: "Guarany Wagner é técnico em explosivo? Não Qual o curso ou estágio que fez? Nenhum. É auto-didata Bira Quais os carros que estavam fora a 30 de Abr? Áureo Qual a missão? Wagner - técnico em explosivo."

CONCLUSÕES PRELIMINARES

• O atentado do Riocentro insere-se no contexto de outras bombas que foram detonadas entre 1980 e 1981 no Brasil;

• As explosões no Riocentro foram fruto de um minucioso e planejado trabalho de equipe, que contou com a participação de militares, especialmente de agentes ligados ao I Exército (predominantemente do DOI-Codi e da 2ª Seção) e ao SNI;

• Há fortes indícios de que o planejamento da operação tenha contado com o conhecimento e comando de altas autoridades militares, notadamente do I Exército;

• O IPM de 1981, supostamente destinado a apurar as responsabilidades sobre o atentado, a partir de sua condução pelo coronel Job Lorena de Sant’Anna, foi manipulado com vistas ao estabelecimento de conclusões pré-definidas, tendentes a: (i) posicionar o capitão Wilson Machado e o sargento Rosário como vítimas; e (ii) encaminhar as investigações a uma conclusão de indefinição da autoria do atentado;

CONCLUSÕES PRELIMINARES

• As autoridades que questionaram a lisura dos procedimentos apuratórios conduzidos sofreram pressões, reprimendas, com repercussão, inclusive, em suas carreiras militares. É o caso do coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro e do almirante Júlio de Sá Bierrenbach.

• Os idealizadores do atentado visaram atribuir sua autoria a grupos armados de resistência ao regime, o que não se sustentou diante de um conjunto robusto de provas e indícios;

• Devido a falhas na execução do plano, o resultado do atentado não foi tão devastador quanto poderia ter sido.

rio de janeiro, 29 de abril de 2014 - ebc.com.br · depoimento de andrea neves da cunha prestado ao...

Documents