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2018 10 ª edição | revista, atualizada e ampliada VOLUME ÚNICO RINALDO MOUZALAS JOÃO OTÁVIO TERCEIRO NETO EDUARDO AUGUSTO MADRUGA DE FIGUEIREDO FILHO PROCESSO CIVIL

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2018

10ª edição | revista, atualizada e ampliada

VOLUME ÚNICO

RINALDO MOUZALASJOÃO OTÁVIO TERCEIRO NETO

EDUARDO AUGUSTO MADRUGA DE FIGUEIREDO FILHO

PROCESSO CIVIL

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CAPÍTULO 1

NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

Sumário • 1. Constitucionalização do processo civil – 2. Modelo cooperativo de processo – 3. Normas fundamentais do processo – 4. Normas fundamentais em espécie – 5. Súmulas – 6. Enunciados do FPPC – 7. Enunciados da Enfam – 8. Enun-ciados do FNPP – 9. Enunciados do CJF – 10. Informativos – 11. Sinopse.

1. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO PROCESSO CIVIL

A constitucionalização do direito denota dupla faceta: a elevação de diversas disposições legais para o patamar constitucional, o que garante maior eficácia e proteção com tal estatura, bem como a incidência do conteúdo da Constituição sobre o sistema jurídico, fazendo com que as disposições infraconstitucionais sejam lidas e interpretadas sob a diretriz da constituição.

No campo processual, a primeira via se traduz com a constitucionalização das principais garantias processuais que estruturam o processo, o que se deu com a Constituição, que deli-neou um modelo constitucional de devido processo justo, a partir da cláusula geral do devido processo legal, princípio este que deve presidir todo e qualquer modelo de julgamento.

A segunda via se dá com o exame dos problemas processuais sob o enfoque dos princípios, diretrizes e valores constitucionais (filtragem constitucional), vertente notabilizada expressa-mente pelo primeiro artigo do Código, que determina que o “processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil”.

(MPE-PR. MPE-PR. Promotor Substituto. 2016 – ADAPTADA)1: Assinale Correto ou Incorreto: “A Constituição da República Federativa do Brasil serve, para o Direito Processual Civil, como critério de validade, sem influenciar a interpretação dos dispositivos legais”.

Questão de Concurso

(BIO-RIO. Prefeitura de Barra Mansa-RJ. Procurador Jurídico. 2016)2: Muitos autores defendem que o Novo CPC instaurou o neoprocessualismo, isso porque o art. 1º desse dispositivo prevê expressa-mente a submissão do processo ao Texto Constitucional, o que de certo não revela novidade, vez que a Supremacia da Constituição da República independe de norma infraconstitucional. Entretanto, preferiu o NCPC repetir expressamente alguns princípios consagrados no texto constitucional. Assim, analise os itens que seguem e assinale a opção CORRETA:

1. Gabarito: Incorreto2. Gabarito: Letra D

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I. O incidente de resolução de demandas repetitivas é um dos mecanismos para atender ao princípio da isonomia consagrado no Código de Processo Civil.

II. Ainda que verificada de plano a decadência, matéria que pode ser conhecida ex oficio, não poderá haver improcedência liminar do pedido sem a oitiva do Autor, sob pena de nulidade da decisão por ofensa ao princípio do contraditório.

III. A exigência de prévio pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável, como condição para propositura de ação de exibição de documentos, não ofende o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.

IV. O princípio da razoabilidade temporal não garante a celeridade processual, na verdade este dispositivo busca a obtenção dos melhores resultados possíveis, com a máxima economia de esforços, despesas e tempo. Esse princípio está intimamente ligado à efetividade do processo.

a) Apenas um item é falsob) Apenas um item é verdadeiroc) Apenas dois itens são verdadeirosd) Todos os itens são verdadeiros

(Consulplan – Cartórios – Remoção – TJ – MG/2017)3 Com relação às fontes do direito processual civil brasileiro, avalie as seguintes proposições:

I. O processo civil será interpretado conforme os valores e normas fundamentais estabelecidos na Consti-tuição da República Federativa do Brasil.

II. Os tratados internacionais em que o Brasil seja parte não são fontes para aplicação do direito processual civil.

III. A lei, os costumes, a doutrina e a jurisprudência são consideradas fontes do direito processual civil.IV. A doutrina e a jurisprudência são importantes fontes do direito processual civil, seja para a elaboração

das normas jurídicas, seja para a solução do litígio que se apresenta ao Poder Judiciário.Está correto apenas o que se afirma em:a) I, III e IV.b) II, III e IV.c) I, II e III.d) I e II.

2. MODELO COOPERATIVO DE PROCESSO

O CPC/2015 inaugura um novo modelo processual, chamado pela doutrina de coope-rativo ou comparticipativo, que representa uma nova forma de organização processual, ao redistribuir, de forma mais equilibrada, os poderes de condução do processo entre partes e o juiz. Ele surge exatamente para equiponderar as manifestações de inquisitividade (poderes do juiz) e de dispositividade (poderes das partes)4, sem, entretanto, repelir, por completo, os clássicos modelos adversarial e inquisitorial.

3. Gabarito: Letra A4. Na acepção amparada para o estudo dos modelos processuais, que não adota maiores preocupações metodoló-

gicas, entenda-se por princípio dispositivo toda manifestação da liberdade das partes, seja qual for a intensidade. Em todas as tarefas processuais que são atribuídas às partes, seja na condução, seja na instrução do processo, visualiza-se manifestação do princípio dispositivo. Por outro lado, o princípio inquisitivo, nessa acepção, pode ser entendido como a manifestação dos poderes do juiz no curso do procedimento. Nessa linha, toda posição ativa,

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Cap. 1 • NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 49

No palco cooperativo, o processo não vai ser a fiel cristalização de uma ideologia, mas será um modelo de equilíbrio, que observa atentamente a tensão existente entre os paradigmas liberal e social e propõe uma terceira via integradora, que visa a concentrar as concepções mais acertadas de tais paradigmas, somadas às contribuições do fenômeno da constitucionalização do direito e do caldo cultural do Estado Democrático de Direito.

Alcança-se, então, a estabilidade com esse novo modelo, cuja estrutura se coaduna com as exigências e os anseios tanto da tradição do civil law como da do common law, pois distribui os poderes entre os sujeitos processuais de forma mais equilibrada e adequada.

À vista disso, chegou o momento de a cooperação assumir a sua função de locomotiva do processo civil moderno, sendo o ponto de equilíbrio na aplicação dos princípios dispositivo e inquisitório. Deve haver, então, uma coordenação entre tais princípios, na perspectiva do modelo cooperativo de processo. Evidencia-se que o princípio da cooperação5 não contradiz o princípio dispositivo ou inquisitivo, tampouco leva ao seu esvaziamento ou substituição, de tal modo que eles devem se articular e integrar a dinâmica do processo.

Questão de Concurso

(FMP/RS. Juiz de Direito do TJ-MT. 2014): Quanto à colaboração no processo civil, é correto afirmar que6:

a) é uma norma que determina que as partes têm o dever de colaborar entre si para o bom andamento do processo e não diz respeito à postura do juiz no processo.

b) é uma versão atualizada do princípio dispositivo em sentido material.c) é uma versão atualizada do princípio dispositivo em sentido processual.d) é a versão atualizada do modelo inquisitorial em sentido processual.e) Nenhuma das afirmações é totalmente correta.

Assim, a correta divisão das funções entre as partes e o tribunal que atenda aos reclames de um Estado Democrático de Direito é, sem dúvida, aquela que impõe que, ao longo de todo o iter processual, seja mantido um diálogo entre todos os sujeitos do processo, devendo este (o processo) ser entendido, essencialmente, como uma comunidade de trabalho ou de comunicação, que permita uma ampla discussão a respeito de todos os aspectos fáticos e de direito relevantes para o deslinde da causa.

3. NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO

A concentração das principais normas fundamentais do processo no corpo inicial do Código, opção adotada pelo legislador brasileiro, alinha-se com a tendência das recentes

seja no recolhimento da prova, assumindo o impulso oficial do processo, exercendo os poderes instrutórios de ofício, é manifestação de inquisitividade.

5. O princípio da cooperação surge, então, como uma enzima que irá otimizar a aplicação do princípio dispositivo e do inquisitório, expurgando os contornos excessivos ou as concepções pálidas. A máxima da cooperação tem, assim, o condão de criar uma atmosfera dialogal e cooperante em esferas que antes eram de monopólio apenas das partes ou do juiz.

6. Gabarito: letra E.

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reformas processuais, a exemplo do CPC português de 2013, a afirmar a operabilidade7, diretriz que propugna por praticidade, clareza e simplicidade no manuseio do texto legislativo.

O legislador, na elaboração dos textos que trazem as normas fundamentais do processo, utilizou-se preponderantemente da técnica legislativa aberta, método que edifica textos normativos intencionalmente fluidos, plásticos, capazes de possibilitar uma maior flexibilidade no processo de interpretação e construção do direito. Foram empregadas cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados.

Os autores do presente livro adotam a importante distinção propalada pela moderna hermenêutica jurídica entre texto e norma8. Concebe-se a norma como o produto, a síntese da interpretação do texto, ou seja, toda e qualquer aplicação normativa enseja uma prévia interpretação. Não se deve confundir o texto (objeto da interpretação) com a norma (resul-tado da interpretação). Nesse processo criativo, sublinha-se a necessidade de compreender e interpretar os textos a partir de um harmonioso diálogo entre o Direito Processual, a Teoria Geral do Direito, os Direitos Fundamentais e o Direito Constitucional.

Grande parcela das disposições colocadas no Código como normas fundamentais já é prevista na Constituição. Constitui o modelo constitucional de processo, sendo certo que, com base no fenômeno da constitucionalização do processo civil, elas já irradiavam seus valores no Código anterior e continuam a propagar-se no vigente.

O bloco constitucionalizado em 1988 possui como norma-mater o superprincípio do devido processo legal. No quadro abaixo, sintetiza-se o núcleo duro mínimo extraível dessa cláusula geral, que rege o processo civil moderno:

Art. 5º LIV Devido processo legal

Art. 5º, LV Contraditório

Art. 5º LV Ampla defesa

Art. 5º, LXXVIII Razoável duração do processo

Art. 5º, LX Publicidade

Art. 5º, caput Isonomia material

Art. 93, IX Motivação das decisões

Art. 5º, XXXVII Juiz natural

Art. 5º XXXV Inafastabilidade da jurisdição

Além do direito processual constitucional, que se lança sobre todo processo civil brasileiro, o CPC/2015 (primeiro editado após a Constituição de 1988) destaca um capítulo próprio para evidenciar as normas fundamentais do processo logo no corpo inicial do seu texto (dos arts. 2º a 12), que formam as linhas do processo civil contemporâneo, servindo como parâmetro interpretativo para os dispositivos do Código, como se observa abaixo:

7. A divisão do Código em Partes Geral e Especial, a simplificação das tutelas provisórias, a unificação de prazos e a reunião das normas fundamentais em capítulo próprio são exemplos que apontam para essa nova arquitetura plasmada na operabilidade.

8. Enunciado nº 370 do FPPC: norma processual fundamental pode ser regra ou princípio.

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Cap. 1 • NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 51

Art. 2º Dispositivo

Art. 3º Inafastabilidade da jurisdição e resolução consensual dos conflitos

Art. 4º Razoável duração do processo e primazia das decisões de mérito

Art. 5º Boa-Fé objetiva processual

Art. 6º Cooperação

Art. 7º Isonomia material

Art. 8º Dignidade da pessoa humana, proporcionalidade, razoabilidade, legalidade, publicidade e eficiência

Art. 9º Contraditório dinâmico/cooperação

Art. 10 Vedação às decisões por emboscada (surpresas)

Art. 11 Publicidade e fundamentação

Art. 12 Ordem cronológica

Essas disposições tonificam as disposições expressas na Constituição, com intuito simbó-lico e enfático, além de, às vezes, estrearem novos textos, que encampam outras normas fundamentais, que densificam o devido processo, como são exemplos a resolução consen-sual dos conflitos, o primado do mérito, a proibição das decisões por emboscada e a ordem cronológica.

Apesar da importância, reconhece-se o caráter meramente exemplificativo9 desse capí-tulo, pois existem outras normas fundamentais no próprio CPC/2015 (a exemplo das dispostas nos artigos 926 e 927) e na Constituição (como o juiz natural, o direito à prova e o devido processo constitucional) que, ilogicamente, não foram incluídas neste rol e, nem por essa razão, perderam o status de normas fundamentais do processo civil.

Esse capítulo inaugural é composto por normas-princípios e normas-regras. Enquanto os princípios são normas finalísticas, que propõem estados de coisas a serem atingidos, e são aplicáveis por ponderação, as regras são normas prescritivas de conduta, aplicáveis por subsunção.

4. NORMAS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE

a) devido processo legal (due process of law ou processo equitativo ou devido processo justo): encontra-se expresso na Constituição Federal, no artigo 5º, LIV. Esse dispositivo garante que nenhum sujeito de direito será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Assim, funciona como uma cláusula geral de proteção contra o arbítrio, de tal forma que todo e qualquer cidadão tem direito a um devido processo antes de sofrer qualquer sanção estatal que ofereça restrições em sua órbita jurídica. Ressalta-se que o parâmetro a ser observado pelo devido processo deve ser mais amplo: não apenas a lei, mas o sistema normativo como um

9. Enunciado nº 369 do FPPC: O rol de normas fundamentais previsto no Capítulo I do Título Único do Livro I da Parte Geral do CPC não é exaustivo.

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todo, razão pela qual a doutrina critica a nomenclatura utilizada pela Constituição e defende uma nomenclatura mais adequada (devido processo constitucional).

Questão de Concurso

(FUNDEP. Auditor/Conselheiro Substituto do Tribunal de Contas – TCE-MG. 2015)10: Sobre os princí-pios constitucionais explícitos e implícitos do Direito Processual, são dadas uma proposição 1 e uma razão 2.

1. O devido processo legal aplica-se, também, às relações jurídicas privadas. Na verdade, qualquer direito fundamental, e o devido processo legal é um deles, aplica-se ao âmbito das relações jurídicas privadas, PORQUE

2. A palavra processo, aqui, deve ser compreendida em seu sentido amplo: qualquer modo de produção de normas jurídicas (jurisdicional, administrativo, legislativo ou negocial). Desse modo, a atual Constituição Brasileira admite a ampla vinculação dos particulares aos direitos fundamentais nela erigidos, de modo que não só o Estado como toda a sociedade podem ser sujeitos desses direitos.

Assinale a alternativa CORRETA.a) A proposição e a razão são verdadeiras e a razão justifica a proposição.b) A proposição e a razão são verdadeiras, mas a razão não justifica a proposição.c) A proposição é verdadeira, mas a razão é falsa.d) A proposição é falsa, mas a razão é verdadeira.e) A proposição e a razão são falsas.

Existem duas facetas do princípio: a formal ou procedimental (procedural due process ou devido processo legal em sentido processual) e a material ou substancial (substantive due process ou devido processo legal em sentido material).

A Constituição de 1988 consagra o devido processo legal nos seus dois aspectos, substantivo e processual, nos incisos LIV e LV, do art. 5º, respectivamente. […] Due process of law, com conteúdo substantivo – substantive due process – constitui limite ao Legislativo, no sentido de que as leis devem ser elaboradas com justiça, devem ser dotadas de razoabili-dade (reasonableness) e de racionalidade (rationality), devem guardar um real e substancial nexo com o objetivo que se quer atingir. Paralelamente, due process of law, com caráter processual – procedural due process – garante às pessoas um procedimento judicial justo, com direito de defesa. (STF. ADI 1.511-MC. DJU 06.06.03).

O sentido formal evidencia uma preocupação com a tutela processual, no sentido de que todos os cidadãos devem ter o direito de processar e ser processados de acordo com garantias processuais pré-determinadas. O conteúdo normativo do procedural due process compreende todas as normas processuais fundamentais delineadas, até então, no modelo constitucional de processo.

Questão de Concurso

(CAIP-IMES. Procurador – Consórcio Intermunicipal Grande ABC. 2015): Complete a lacuna inserta na frase a seguir, referindo-se a um dos princípios constitucionais do processo civil. O _________ apre-senta dois sentidos, significando “o conjunto de garantias de ordem constitucional, que de um lado

10. Gabarito: Letra A.

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Cap. 1 • NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 53

asseguram às partes o exercício de suas faculdades poderes de natureza processual e, de outro, legiti-mam a própria função jurisdicional”.11

a) princípio da paridade de armasb) princípio do devido processo legalc) princípio da fundamentação das decisões judiciaisd) princípio da inafastabilidade do Judiciário

Já o sentido material encontra embasamento em importante decisão do Supremo Tribunal Federal, que extrai do devido processo substancial os postulados da proporcionalidade e da razoabilidade, havendo uma nítida tropicalização da dimensão delineada nos Estados Unidos, pois se recepciona o instituto dando feições próprias autenticamente brasileiras.

Deve ser visto como uma garantia que todo cidadão tem de que todos os atos do poder público, além de respeitarem o trinômio vida, liberdade e propriedade, sejam elaborados com justiça, razoabilidade e racionalidade. Essa faceta veda a atividade legislativa abusiva e desarrazoada, a servir como limite às arbitrariedades cometidas pelo poder público.

Outrossim, ultrapassam-se as garantias meramente formais do processo (tutela processual), para abarcar o âmbito de aplicação e interpretação das normas jurídicas, que deve ocorrer mediante uma lógica do proporcional e razoável. Esse viés impõe que a atividade do juiz deve ser diretora e criativa, a atualizar e readequar os fatos e valores ao caso concreto e a promover a justiça material. É dessa perspectiva que se aduz o devido processo justo.

Essa concepção substancial é expressa no art. 8º do CPC, que evidencia a proporcionali-dade e a razoabilidade como postulados normativos a harmonizar as disposições do Código de Processo Civil. Do presente texto normativo se depreende que o postulado normativo da proporcionalidade será utilizado pelo Judiciário na aplicação dos demais princípios12.

Questão de Concurso

(CESPE. Procurador. TC-DF. 2013)13: Em uma acepção substancial, entende-se que o princípio do devido processo legal representa a exigência e garantia de que as normas processuais sejam razoáveis, adequadas, proporcionais e equilibradas, gerando uma correspondência com o princípio da propor-cionalidade, na visão de muitos estudiosos.

(CESPE. Analista Judiciário – Área Administrativa. TER-RJ. 201214): Na concepção formal, o devido processo legal corresponde à exigência e garantia de que as normas sejam razoáveis, adequadas, pro-porcionais e equilibradas; sob a perspectiva substancial, é o direito de processar e ser processado, de acordo com as normas preestabelecidas.

11. Gabarito: Letra B.12. Ressalta-se, ainda, que, nesse juízo lógico, o juiz deverá justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação

efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as remissões fáticas que fundamentam a conclusão, conforme a exigência de fundamentação legítima do § 2º do art. 489 do Código.

13. Gabarito: CORRETO14. Gabarito: INCORRETO

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(ESAF, CGU, Analista de Finanças e Controle. 200615): princípio da proporcionalidade é corolário do princípio do devido processo legal em sentido substancial (substantive due process clause).

Por último, vale ressaltar que o STF, partindo da premissa de que os direitos fundamen-tais têm eficácia direta e horizontal, decidiu que o devido processo legal é aplicável também às relações privadas. Assim, por exemplo, a exclusão do associado de uma cooperativa não prescinde do devido processo, com garantia de contraditório e ampla defesa (STF. RE 158.215/RS. DJ 07.06.96). Da mesma forma, o condômino não pode ser multado por descumprimento dos deveres previstos no art. 1.336 do CC/2002 sem lhe ofertar o devido processo prévio.

b) contraditório: está consagrado no art. 5º, inciso LV, da Constituição da República. Constitui garantia de ciência dos atos e termos processuais, com a consequente faculdade de falar sobre eles de modo que se possa, efetivamente, influenciar o(s) membro(s) do órgão julgador nas suas decisões. A aplicação desse preceito pode ser lida, em proporções reduzidas, como exercício da democracia participativa, em que se otimiza a participação dos interessados no processo e se alcança a legitimidade da prestação da tutela jurisdicional.

Vislumbra-se o contraditório sob dois ângulos: formal e substancial. O primeiro possui um viés estático e restringe-se a garantir a comunicação dos atos e a consequente possibilidade de as partes falarem e se manifestarem no processo. Portanto, o conteúdo do contraditório formal restringe-se ao binômio informação + possibilidade de reação.

O elemento informação será garantido por intermédio da comunicação dos atos proces-suais. O Código fornece duas formas: a citação, ato pelo qual o réu, executado ou interessado é convocado para integrar a relação processual e a intimação, que é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos do processo.

Questão de Concurso

(FGV. Agente Público. TCE/BA. 2013 – ADAPTADO): Suponha que em determinado processo de conhecimento que tramitava pelo rito comum tenha havido a juntada de importante documento pela parte autora sem que o Juiz, em momento seguinte, tenha intimado a parte adversa para que esta, tomando conhecimento da existência do documento, pudesse sobre ele se manifestar.

Assinale a alternativa que expressa o princípio processual de forma direta e efetiva violado pela hipótese descrita16:a) Princípio do Contraditório.b) Princípio do Juiz Natural.c) Princípio da Motivação das Decisões Judiciais.d) Princípio da Tempestividade da Tutela Jurisdicional.e) Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional.

15. Gabarito: CORRETO16. Gabarito: Letra: A.

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Cap. 1 • NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 55

Já a possibilidade de reação é o segundo passo e remete a um ônus processual da parte em reagir ou não ao ato do qual tomou ciência. O contraditório é respeitado, desde que se oportunize a reação, sendo possível, entretanto, que a parte concretamente não reaja17.

Esse binômio (informação + possibilidade de reação) é o núcleo mínimo do contraditório, que deve ser inicialmente garantido em todo processo devido.

Questão de Concurso

(FMP-RS. Juiz de Direito. TJ-MT. 2014 – ADAPTADO): Quanto ao direito ao contraditório no processo civil, é CORRETO afirmar que18:

a) esgota-se no direito de informação e no direito de reação a respeito das alegações de fato e das provas produzidas pelas partes.

b) também chamado de bilateralidade da instância, é um princípio que tem por titulares e destinatários apenas as partes no processo.

c) é o direito de ser informado, de reagir e de influenciar, tendo como titulares e destinatários apenas as partes no processo.

d) é o direito de ser informado, de reagir e de influenciar, tendo como titulares as partes e como destinatá-rio o juiz no processo.

e) nenhuma das afirmações é totalmente correta.

O primeiro vetor do contraditório no CPC é o art. 9º, que prescreve: “não se proferirá sentença ou decisão contra uma das partes, sem que esta seja previamente ouvida”.

De logo, identifica-se uma atecnia no texto normativo, pois, em tese, é possível que uma decisão judicial respeite o contraditório, mesmo que uma das partes não tenha sido previa-mente ouvida. Isso, porque o elemento reação é um ônus processual da parte, que pode ser exercido ou não. Assim, por exemplo, é possível que a parte seja intimada, tenha oportunidade de reação, mas não o faça, e, mesmo assim, o juiz decida, o que fará sem prejuízo algum ao contraditório. O processo contemporâneo é contumacial, de modo que a parte pode escolher não se manifestar, arcando com o ônus decorrente de sua escolha. Assim, por exemplo, o réu que opta por não contestar a ação deve suportar os efeitos da revelia.

Questão de Concurso

(CESPE. Auditor Federal de Controle Externo do TCU. 2011)19: “o princípio do contraditório é uma garantia constitucional ligada ao processo, mas não impõe que as partes se manifestem de maneira efetiva em relação aos atos do processo, bastando que a elas seja concedida essa oportunidade”

17. Um exemplo de violação dessa faceta do contraditório que pode se entrever é no caso de indisponibilidade do sistema de peticionamento eletrônico por motivos técnicos, mesmo que não seja o dia todo, no último dia do prazo para prática do ato processual. Nesse caso, o prazo para protocolar deve ser automaticamente prorrogado para o primeiro dia útil seguinte à resolução do problema, sob pena de violação do contraditório – na faceta possibilidade de reação (STJ. EDcl no AgRg no AREsp 400.167/SP. DJe 18.10.17).

18. Gabarito: Letra D.19. Gabarito: Correto.

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(CESPE. Analista-Advocacia. SEPRO. 2011)20: “conforme observa a melhor doutrina, para a concreti-zação do princípio do contraditório, o juiz deve estabelecer constante e intenso diálogo com as partes no processo, a fim de assegurar decisões de melhor qualidade”

Nada obstante, atente-se para as mitigações a essa regra geral que são tuteladas pelo Código. O contraditório é uma garantia processual que visa a escudar as partes durante todo iter processual contra eventuais abusos, não havendo sentido útil na sua ativação, nos casos em que a decisão favoreça a parte que não participou do contraditório. Nessa perspectiva, apresenta-se a teoria do contraditório inútil ou infrutífero, ao acentuar que a dispensa do contraditório em desfavor da parte vencedora não pode ensejar a decretação de invalidade de atos processuais.

Por isso, o legislador admite determinados procedimentos sem ativação inicial do contra-ditório para a parte favorecida, como no caso do indeferimento da petição inicial (art. 330, CPC) e da improcedência liminar do pedido (art. 332, CPC), situações em que a decisão judicial é favorável à parte que não é citada.

No entanto, se a parte autora vencida recorrer da decisão, surgirá o dever da imediata ativação do contraditório, somado ao importante instrumento do juízo de retratação (possi-bilidade de o juiz modificar sua decisão em razão do empréstimo de efeito regressivo ao recurso), que viabilizará que a parte contrária exerça o seu contraditório de forma postergada na mesma instância em que foi proferida a decisão.

O contraditório postergado não significa alijamento da referida garantia processual, mas apenas uma inversão do procedimento, deslocando o contraditório para momento superve-niente. As tutelas provisórias são campos férteis para sua aplicação. Elas podem ser conferidas por intermédio do contraditório padrão21, mas podem também ser concedidas liminarmente, desde que preenchidos determinados requisitos, caso em que o contraditório será diferido22.

O contraditório postergado pode ocorrer, por exemplo, nas situações dos três incisos do parágrafo único do art. 9º do CPC, quais sejam: nas tutelas provisórias de urgência; nas hipóteses de tutela de evidência dos incisos II e III do art. 311; na decisão prevista no art. 701 do CPC (despacho inicial da ação monitória).

Feitas tais considerações acerca do aspecto formal, concentram-se, agora, as atenções à faceta dinâmica ou substancial do contraditório.

A partir de tal enfoque, o juiz deve ativar o contraditório a todo momento, dando opor-tunidades reais e efetivas de influência sobre as questões que compõem o objeto do processo, parificando as chances das partes no curso do processo. Esse viés relaciona-se ao poder das partes de influenciar, efetivamente, na formação da convicção do julgador, contribuindo na

20. Gabarito: Correto.21. O contraditório padrão segue um procedimento base como regra geral: 1) petição inicial (pedido); 2) contradi-

tório-comunicação (citação da parte contrária); 3) contraditório – possibilidade de influência (defesas do réu); 4) decisão judicial motivada. É essa arquitetura que é aplicada, indubitavelmente, na maioria dos casos.

22. O contraditório diferido segue o seguinte procedimento: 1) petição inicial; 2) decisão judicial provisória; 3) ativa-ção do contraditório diferido (informação + poder de reação); 4) decisão judicial definitiva motivada.

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Cap. 1 • NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 85

disposição relativo às faculdades, direitos ou poderes processuais. Vislumbra-se nesse ponto, interação com o princípio da congruência (correlação ou adstrição), o qual impõe às partes a incumbência de estabelecer a moldura fática que delimitará a atuação do magistrado.

Questão de Concurso

(VUNESP. Juiz de Direito. TJ-MT. 2009 – ADAPTADA)84: O princípio dispositivo em sentido material diz respeito à possibilidade de a parte dispor do direito tutelado e, em sentido formal, refere-se à possi-bilidade de a parte dispor das faculdades, direitos ou poderes processuais.

(FCC. Juiz Substituto. TJ-RR, 2015. ADAPTADO)85: O princípio da congruência, decorrência própria do princípio dispositivo, não incide no tocante às questões de ordem pública, que o juiz deve examinar de ofício, por incidência do princípio inquisitório.

(CESPE. Procurador do Estado. PGE-BA. 2014)86: Em razão do princípio iura novit curia, não há ofensa ao princípio da congruência caso o juiz decida a causa atribuindo aos fatos invocados na inicial conse-quências jurídicas não deduzidas na demanda.

A segunda parte do art. 2º do Código notabiliza o impulso oficial, porque, uma vez dado início ao processo, ele se conduz por impulso oficial. Uma vez instaurado o processo, ele se rege por impulso oficial, cabendo ao magistrado a realização de atos necessários ao desen-volvimento do procedimento em geral, para que, só assim, o processo atinja os seus objetivos.

Afirma o impulso oficial a execução da sentença da prestação de fazer, não fazer ou dar coisa distinta de dinheiro, expressas nos artigos 536 e 538 do CPC, que se operam sem a necessidade de pedido da parte.

Todavia, o impulso oficial também comporta exceção, como ocorre na execução de sentença que impõe prestação de pagar quantia, caso que se submete à necessidade de pedido do exequente (art. 513, § 1º, CPC).

5. SÚMULAS

Súmulas do STF

704. Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por conti-nência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

Súmulas do STJ

358. O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.434. O pagamento da multa por infração de trânsito não inibe a discussão judicial do débito.

84. Gabarito: Correto.85. Gabarito: Correto.86. Gabarito: Incorreto.

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PROCESSO CIVIL – Rinaldo Mouzalas • João Otávio Terceiro Neto • Eduardo Madruga86

6. ENUNCIADOS DO FPPC

82. É dever do relator, e não faculdade, conceder o prazo ao recorrente para sanar o vício ou complementar a documentação exigível, antes de inadmitir qualquer recurso, inclusive os excepcionais.83. Fica superado o enunciado 115 da súmula do STJ após a entrada em vigor do CPC (“Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos”).104. O princípio da fungibilidade recursal é compatível com o CPC e alcança todos os recursos, sendo apli-cável de ofício.224 A existência de repercussão geral terá de ser demonstrada de forma fundamentada, sendo dispensável sua alegação em preliminar ou em tópico específico.273. Ao ser citado, o réu deverá ser advertido de que sua ausência injustificada à audiência de conciliação ou mediação configura ato atentatório à dignidade da justiça, punível com a multa do art. 334, § 8º, sob pena de sua inaplicabilidade.278. O CPC adota como princípio a sanabilidade dos atos processuais defeituosos.281. A indicação do dispositivo legal não é requisito da petição inicial e, uma vez existente, não vincula o órgão julgador.282. Para julgar com base em enquadramento normativo diverso daquele invocado pelas partes, ao juiz cabe observar o dever de consulta, previsto no art. 10.297. O juiz que promove julgamento antecipado do mérito por desnecessidade de outras provas não pode proferir sentença de improcedência por insuficiência de provas.303. As hipóteses descritas nos incisos do § 1º do art. 499 são exemplificativas.369. O rol de normas fundamentais previsto no Capítulo I do Título Único do Livro I da Parte Geral do CPC não é exaustivo.370. Norma processual fundamental pode ser regra ou princípio.371. Os métodos de solução consensual de conflitos devem ser estimulados também nas instâncias recur-sais.372. O art. 4º tem aplicação em todas as fases e em todos os tipos de procedimento, inclusive em incidentes processuais e na instância recursal, impondo ao órgão jurisdicional viabilizar o saneamento de vícios para examinar o mérito, sempre que seja possível a sua correção.373. As partes devem cooperar entre si; devem atuar com ética e lealdade, agindo de modo a evitar a ocor-rência de vícios que extingam o processo sem resolução do mérito e cumprindo com deveres mútuos de esclarecimento e transparência.374. O art. 5º prevê a boa-fé objetiva.375. O órgão jurisdicional também deve comportar-se de acordo com a boa-fé objetiva.376. A vedação do comportamento contraditório aplica-se ao órgão jurisdicional.377. A boa-fé objetiva impede que o julgador profira, sem motivar a alteração, decisões diferentes sobre uma mesma questão de direito aplicável às situações de fato análogas, ainda que em processos distintos.378. A boa fé processual orienta a interpretação da postulação e da sentença, permite a reprimenda do abuso de direito processual e das condutas dolosas de todos os sujeitos processuais e veda seus comporta-mentos contraditórios.372. O art. 4º tem aplicação em todas as fases e em todos os tipos de procedimento, inclusive em incidentes processuais e na instância recursal, impondo ao órgão jurisdicional viabilizar o saneamento de vícios para examinar o mérito, sempre que seja possível a sua correção.377. A boa-fé objetiva impede que o julgador profira, sem motivar a alteração, decisões diferentes sobre uma mesma questão de direito aplicável às situações de fato análogas, ainda que em processos distintos.

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Cap. 1 • NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 87

378. A boa fé processual orienta a interpretação da postulação e da sentença, permite a reprimenda do abuso de direito processual e das condutas dolosas de todos os sujeitos processuais e veda seus comporta-mentos contraditórios.574. (arts. 4º; 8º) A identificação de vício processual após a entrada em vigor do CPC de 2015 gera para o juiz o dever de oportunizar a regularização do vício, ainda que ele seja anterior.

7. ENUNCIADOS DA ENFAM

1. Entende-se por “fundamento” referido no art. 10 do CPC/2015 o substrato fático que orienta o pedido, e não o enquadramento jurídico atribuído pelas partes.2. Não ofende a regra do contraditório do art. 10 do CPC/2015, o pronunciamento jurisdicional que invoca princípio, quando a regra jurídica aplicada já debatida no curso do processo é emanação daquele princípio.3. É desnecessário ouvir as partes quando a manifestação não puder influenciar na solução da causa.4. Na declaração de incompetência absoluta não se aplica o disposto no art. 10, parte final, do CPC/2015.5. Não viola o art. 10 do CPC/2015 a decisão com base em elementos de fato documentados nos autos sob o contraditório.6. Não constitui julgamento surpresa o lastreado em fundamentos jurídicos, ainda que diversos dos apresen-tados pelas partes, desde que embasados em provas submetidas ao contraditório.7. O acórdão, cujos fundamentos não tenham sido explicitamente adotados como razões de decidir, não constitui precedente vinculante.8. Os enunciados das súmulas devem reproduzir os fundamentos determinantes do precedente.9. É ônus da parte, para os fins do disposto no art. 489, § 1º, V e VI, do CPC/2015, identificar os fundamentos determinantes ou demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendi-mento, sempre que invocar jurisprudência, precedente ou enunciado de súmula.10. A fundamentação sucinta não se confunde com a ausência de fundamentação e não acarreta a nulidade da decisão se forem enfrentadas todas as questões cuja resolução, em tese, influencie a decisão da causa.42. Não será declarada a nulidade sem que tenha sido demonstrado o efetivo prejuízo por ausência de aná-lise de argumento deduzido pela parte.55. Às hipóteses de rejeição liminar a que se referem os arts. 525, § 5º, 535, § 2º, e 917 do CPC/2015 (excesso de execução) não se aplicam os arts. 9º e 10 desse código.

8. ENUNCIADOS DO FNPP

44. A incidência do CPC no processo administrativo estadual, distrital ou municipal depende de expressa opção da legislação da respectiva unidade federada.61. A expressão “ausência de normas” do art. 15 do CPC deve ser interpretada, em âmbito federal, não apenas como a inexistência de lei que regule o processo administrativo, como também a ausência de colisão entre o CPC e a norma específica.

9. ENUNCIADOS DO CJF

1. A verificação da violação à boa-fé objetiva dispensa a comprovação do animus do sujeito processual.2. As disposições do CPC aplicam-se supletiva e subsidiariamente às Leis nº 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009, desde que não sejam incompatíveis com as regras e princípios dessas Leis.3. As disposições do CPC aplicam-se supletiva e subsidiariamente ao Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

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10. INFORMATIVOS

Informativos do STJ

Contraditório. Juntada. Documento.[…] se à parte não é conferida oportunidade de se pronunciar a respeito de documento relevante para a demanda, é evidente que o processo é nulo, por respeito ao indeclinável contraditório, sendo também esse o entendimento jurisprudencial. […] REsp 785.360-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/10/2008. 3ª T. (Info. nº 372).

Intimação. Baixa. Autos.A decisão que conheceu do agravo de instrumento e deu provimento ao especial para afastar a prescrição decretada foi reconsiderada para que o estado membro em questão, sucessor do banco réu e não citado nos autos, fosse intimado para responder àqueles recursos. Contudo, o estado opôs embargos de declaração, pretendendo que os autos retornassem às instâncias ordinárias para que lá ele apresentasse as respostas aos recursos. Ocorre que não há razão para que se proceda ao pretendido retorno dos autos tão somente para a apresentação de defesa, visto que isso acarretaria injustificado e desnecessário dispêndio de custas e tempo, além de velada afronta aos princípios constitucionais da razoável duração do processo, da celeridade e da economia dos atos processuais. Frise-se que a apresentação da defesa no momento processual em que a causa se encontra não implica prejuízo ao recorrido, que tem acesso amplo aos autos e às suas peças recursais. […]. AgRg nos EDcl no Ag 1.108.525, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. 14.4.2011. 4ª T. (Info 469)

Boa-fé objetiva. Venire contra factum proprium.[…] É imperiosa a proteção da boa-fé objetiva das partes da relação jurídico-processual, em atenção aos princípios da segurança jurídica, do devido processo legal e seus corolários – princípios da confiança e da não surpresa – valores muito caros ao nosso ordenamento jurídico. 9. Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o termo final do prazo convencionado. Por óbvio, não se pode admitir que, logo em seguida, seja praticado ato processual de ofício – publicação de decisão – e, ademais, considerá-lo como termo inicial do prazo recursal. 10. Está caracterizada a prática de atos contraditórios justamente pelo sujeito da relação processual responsável por conduzir o procedimento com vistas à concretização do princípio do devido processo legal. Assim agindo, o Poder Judiciário feriu a máxima nemo potest venire contra factum proprium, reconhecidamente aplicável no âmbito processual. Precedentes do STJ. 11. Recurso Especial provido.” (REsp 1306463/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 11/09/2012).

11. SINOPSE

NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

Constitucionalização do Processo Civil

A constitucionalização do direito denota dupla faceta: a elevação de diversas normas legais para o patamar consti-tucional, o que garante maior eficácia e proteção com tal estatura, bem como o movimento contrário, que indica

a incidência do conteúdo da constituição sobre os ordenamentos jurídicos, fazendo com que o tecido normativo infraconstitucional seja lido e interpretado sob a ótica das regras e dos princípios constitucionais.

Modelo Cooperativo de Processo

É uma nova forma de organização processual que redistribui de forma mais equilibrada os poderes e as faculdades processuais entre partes e o juiz, a formar uma comunidade de trabalho entre os sujeitos processuais.

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Cap. 1 • NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 89

Normas Fundamentais do Processo Civil

Segue o rol meramente exemplificativo de normas fundamentais (princípio e regras) que estruturam os pilares estruturantes do CPC/2015. São elas: a) princípio do devido processo legal; b) princípio do contraditório dinâmico; c) princípio da ampla defesa; d) princípio da razoável duração do processo; e) princípio da ampla publicidade; f) princípio da isonomia; g) princípio da motivação das decisões judiciais; h) princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional; i) princípio do juiz natural; j) princípio duplo grau de jurisdição; l) princípio da cooperação; m) princípio da primazia das decisões de mérito; n) princípio da boa-fé processual; o) regra da ordem cronológica; p) princípio do impulso à autocomposição do litígio; q) princípio da eficiência; r) princípio da efetividade; s) princípio dispositivo.