rima com poesia

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Amar é humano e fácil, apenas é necessário um coração! Sentir o amor dos outros por nós é bem mais difícil, é próprio dos Deuses, são necessários dois corações... Por esta razão, estes poemas são dedicados a todos aqueles que eu amo e sobretudo aqueles, que de alguma forma, se sentem por mim amados. 1

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Autor: Fernando Jorge Costa [email protected]

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Page 1: Rima com Poesia

Amar é humano e fácil, apenas é necessário um coração! Sentir o amor dos outros por nós é bem mais difícil, é próprio dos Deuses, são necessários dois corações...Por esta razão, estes poemas são dedicados a todos aqueles que eu amo e sobretudo aqueles, que de alguma forma, se sentem por mim amados.

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Page 2: Rima com Poesia

PARTE UM

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Page 3: Rima com Poesia

COBARDE

Poltrão te mostras Inferno,Porque te escondes oculto

Armado e dizes que és terno!Não te cala impune o vulto

Cadavérico das trevas,Onde enlevado dominas

Onde entravado me levas,Cobrar-me das minhas sinas.

Não te despi nesse credo,Descrente mártir da crença

Senti-te puro de ofensa!Com passo que mal arredo,

Pensando-te paraísoDei-te pensar por instantes,Ho!, tumba vil dos errantes,

Dá-me o nocivo juízo:

Viverei com as lágrimas não derramadasEm sangue que por mim não tenho, oferendadas.

NOITE

Embalando o berçoRosário e terço

Oração na noite.Dormem os ponteiros

Esperando o açoiteDos tempos, inteiros.Dessa noite o fumo

Igual e sumo,Já claro no brilhoContinua baço,Ilumina o trilho

Nesse morto abraço.

Suplica uma vidaTrá-la depois de ida!Viva, depois de ida.

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Page 4: Rima com Poesia

NADA TE É COMPARÁVEL

Soubesse minha voz em Português correcto,Dizer-te sem receio de temer teu veto,

Que procuro e a ti nada tenho comparável,Que por ti nem a dor doente me é lesável.

Pudesse o coração meu tornear teus braços,Em graça o amor furtar desses carnais abraços,E com ou sem espada, capa ou véu tentar ser,

O que em torno de mim teus braços assim vão ter.Teu coração por mim não, jamais se compara

Ao que de preferência ele nunca amara,Ao amor desesperado que nele buscavaE no sacrificado prendar se escusava.

Desse ilhéu encantado quero o mapa, o instintoDesse outro amor jamais vivido, digo extintoDo castanho meloso, do amor teu nascente,

Rogo-te a petição de um olhar diferente.Dá-me da baioneta o fio te suplico,Por amor sem suplício me sacrifico,

Só queria da brisa o tom da voz estávelPara dizer a ti ninguém é comparável.

VERÃO DE OUTRORA II

Numa dolência atroz digo e sintoO coração sangrar, até lá quero

Amar-te em sonho por sangrento esmero,Nunca estancando o sangue, o amor que finto.

O amor nasceu, quem a cuidado o quer ter?Faremos nós de nossas mãos cautela,Vais minha mão possuir crente, vela

Para tomar vã extorsão do vil ser!

Nada me apraz neste mudar constante,Numa ruela de lugar distante

Procuro só, o ido Verão de Outrora.

Caminhos ínvios, manchados, sujos,Lágrimas vos hão-de limpar intrujos,Do sangue pelo sangue já sem hora.

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Page 5: Rima com Poesia

AS PENAS DO AMOR

Definha triste no ventoA pena órfã com que escrevo,Teu olhar que sorri de atrevo

Colorindo o sentimento.Flagela-me ainda essa penaQue me vai cirrando amena,Que mirrando sei que afloraPorque germinando chora.Emerge à tona sem guisa

Face prostrada ante a brisa,Abraçando a espuma ousadaDa tristeza instrumentada.Como das aves se apartaDa procela calma farta,

Embriona já desejoNa placenta do que ensejo.

ASILO ENVELHECIDO

Dragado amor porque razão te asilasNo desterrado já rebuço? O NiloOxida o turvo do imoral asilo,

Sorriso crespo que já não cintilas.

Onde os deixámos procurando casa,Nos deixarão lá a nós sós chorandoCientes da écloga deturpe amando,

Caruncho são, cansado e sem calasa.

A caridade ao quilo pão lhe chamam,Mais valerá os corações que enganam,Logo desseca em precaução, cuidado!

Sucata humana, não! Paredes nadas,Frias e forradas a prisões forjadas,Encarecendo o amargo sem amado.

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Page 6: Rima com Poesia

PORTUGAL

Quiseram-te chamar néscio país nosso,Sonharam de ti não sei que esponsal só vosso,Disso, de quê? De todos, por tudo esquecidoQuem és tu, Portugal de berço enriquecido?Guimarães é alcova de Henriques só, tão só

Nesta imensidão que és. Teu berço de embalar, marNavegante perdido nas montanhas em pó,

A ouvir medieval trova em rima, mas sem par.Da ladeira oceânica veio luz de oiro

Rubis enamorados desse bom agoiro,Enormes descobertas de novas jazidas

Negada ostentação ante tão novas vidas.Das ilhargas Beirãs, conflitos e tratadosCom o próximo sôfrego de sede por nós,

Enclave do sul, cauda avir dos avançados,Desaguas, procuras ver o que dá à foz.

PÉTALAS DE AMOR

Plantas de um campo fértil tragam vurmo,Vivendo em estações diversas voamPor florir diferentes que me ecoam,

Afluentes do enredo onde vos durmo.

Peço que me regueis em perdão sumoPor um beijo meu, tanto ou mais escoam

Em sulcos erodidos que me entoam,Da vossa boca um choro a que me assumo.

No vento expatriadas vão e sem cor,Rumo a um profundo zénite invejado

Pétalas do meu amor, por enquanto em flor.

Sopraram-me na pele como a ver-me,Híbridas e fingidas sem legado,

Rasgaram-se tentando no vão ter-me.

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Page 7: Rima com Poesia

ESPERANÇA

Range dentes em mim minha esperança,Feita corda nas minhas mãos vencilhas

Mal a seguro e trémulo, sem trilhasA vou deixando arder, alegre e mansa.

Deixou-me cuidadoso, na fiançaDe um coração que sei com muitas bilhas,Bilhas de amor até que volte em milhas,

Passageira na flor presa que dança.

Para isso quer um vórtice em som calmo,Bramido lancetado em que desalmo,

A lonjura cansada que ma afasta.

Porque sei malfeitora a despedida,Tentei dizer adeus antes da vida

No alvorecer de tudo, pouco agasta!

FLOR MARINHA

Dizem o vento hoje selvagem, brasaViva que não magoará a minha

Flor, mergulhada num jardim sozinha,De uma cabilda de daninhas casa.

O verdadeiro amor ficou, na vazaDa tempestade, que assolada vinhaMeu coração já assolando. A tinha

Querido amar, mas por amor me arrasa.

Desamparado procurava vidaNum coração, um lar humilde, farto

Nos que se dão em amor sem medida.

Procura sem ter esperança aparto,Para um lugar onde morrer ferida,

Eu lho recuso sem teimar, mas parto...

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Page 8: Rima com Poesia

POEMA DESCONHECIDO

Pedestal de ouro incensadoDe um vermelho incandescente,

És coração perturbadoNa confusão que é a mente.

Musa és e não te mereçoRei sou se me tens apreço,Não, não o sou! Só o aspiro

Como por amor suspiro.

Além túmulo residoProcurando-me perdido,

A antífona é quem me levaVoar no seu som que eleva.

Perderam mel as palavrasNo papel do tempo em lise,

Olvidarão o que lavrasSem aval que to amenize.

17 DE JUNHO DE 1998

Um pássaro voando também plana,Outro do mesmo bando é quem me encanta

Porque não desafina a voz que canta.Apuraivos ouvidos que é quem sana

A dor, que por ser tão pesada é lhana,De um calor sufocante que o ar espanta,

Turvo arrependimento que levantaSaudade de fazer com mesma gana.

Fugi de ti medonho ter terreno,Vivo agora em enxergas de outro feno,Sem espiga e sem pétalas de espinhos.

Era um mosteiro sem ter castidade,Venal até no crer, na caridade

Confusa, no babel destes caminhos.

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Page 9: Rima com Poesia

AMOR CÁRCERE

De preso estar ao maior bem que prezo,Enxergo cheio de estremunho, cedoEnxergo cheio de espantoso medo,A triste cárcere que mais desprezo.

É a tristeza da prisão e leso,O que me tem preso a esse amor tão ledo,

Tropeço em túneis de luzente enredo,Das orações que sem destino rezo.

Já dolemente imunidade quero,Para fugir e voltar rosa pura,

Levar a idade por acaso mero.

Precocemente quem de ti se cura,Prematuro é nesse alcançar que espero,

Eternamente procurar candura.

JUSTIÇA

A justiça são grandes veleidades,Palavras que nas ruas nunca andaram,

Fome e degradação as sei herdadesDesta mentira que ontem aclamaram.

Tal não é condenável, só verdadesQue deram ao papel, onde acalmaram

Numa ética que só joga saudades,Na berma social se acumularam.

Lembrar-te-ás filósofo da vida,Agora para todo o sempre, outroraAlguém a moldou pela falta tida.

Disparo na justiça fumeganteDe uma arma carregada, luz da aurora

Sumida na mão trémula, ofegante.

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Page 10: Rima com Poesia

FELICIDADE

Felicidade é luz que nada emana,Na prospecção temos sofrer, borbulhaCerto querer mais desejar, que pulha,

Só dá retalhos com a mão catana.

Felicidade é um viver, que irmanaCom longo braço um coruchéu de agulha,

Altivo instável, fraca chama de hulhaEm analepse, que a saudade sana.

Felicidade é inalar da rosa,Não só perfume mas a cor bacante,Que faz perder o rumo à mariposa.

Sim, só saudades tenho na verdade,Dessa felicidade inebriante

Que teve já morada em mim, saudade.

ANCORADO EM TI

Navegar, farto de rasgar a vesteA esse mar, tanto o nadei à deriva

Que mesmo não querendo em ti altivaMorada, cânforas de amor me deste.

Era o teu peito a cirandar, dissesteSer respirar mas não o aceito. EstivaTua nereide o amor pesado, esquivaDe mim o leva até que não me reste.

Jamais içar âncora vou, pesadaE infinita é a carga a ti legada,

Que me redoma o vento desse norte.

Aquece tuas mãos que dão amparoPrecipitando-se no estrondo raro

De me abraçar, sem atalhar a sorte.

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Page 11: Rima com Poesia

NÃO O IMPLORESQUE JÁ O TENS ...

Suspeita confessaste que atormentasMeu coração. O amor de que sobejaRaras vezes em mim preso o deseja,

Senão pelos teus dedos com que o tentas.

A ti todo se quer dar, como o atentasAté a estima quer levar, ou seja,

A mim. Mas não entendo, de bandejaTo entreguei pioneiro o que alimentas.

Eras desconhecida, facilmenteTe eterizava em sonho o brando manto,

Que na agrura sei doce realmente.

E agora teu serei e tu sereia,Minha serás ou só darás o encantoDo teu canto à bolina que tonteia.

A PONTE DA FELICIDADE

É repelente a inveja que te emprestam,Que em muitos por ti sobra. Em rede estreita

Faz o despoletar, da ponte eleitaOnde mergulhas os anzóis que restam.

São honras aclamadas que lhe prestam,Na entranha do mesmo caudal que espreita,

Um olhar esquecido que se deitaEm teu ser, nas areias que protestam.

Se é amor que por ti em mim arrasto,Esse sentir de desejar tão vasto,

Anunciem-me às lamas do desterro.

Vou sujar o incolor da água pura,Num branco lamacento que penduraA sua cor no verde ser de um erro.

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Page 12: Rima com Poesia

TEMPO PARA OUVIR

Brandura! Brandura! OuvidosQue não ouvis os sonidos

Da Natureza, calai-vosCom essas vagas de laivos.

Agasalhai-vos do ventoEscutai-o ciumento,

A furtar da chuva dadaA queda precipitada.

Abeirai-vos dos vidros da nossa janela,Vede-os sorrir com meus olhos na lapela.

Abri de contentamentoAo cantar de envolvimento,

Do pardal, da rebanhadaMugida na paliçada.

Não. Não a ouvis chamar por vós, ouve-vos ela.Machuca-vos agora a surpresa? Sois dela

Da multidão e perdidos,Mapas desaparecidos

Tende pressas e encontrai-vos,Tende brandura e escutai-vos.

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Page 13: Rima com Poesia

“BANG A DRUM”( Inspirado no tema do mesmo nome, incluído na banda sonora do filme “young Guns II, da

autoria de Jon Bon Jovi”)

Aprendi a rezar desesperado,Num nada deu do amor um santo, agrado

Afável ordenou-me num sorriso,O acreditar do coração e da alma

Algemando ao suor as mãos com calma,Ao bramir “assim seja”,... ao paraíso.

Reza pelos pecadoresReza pelos seus pecados,

Ora pelos perdedoresE pelos seus vencedores.Corta em sons aziumados

Ou doces se preferires,Os termos que proferires.

Diz algo teu pela morteDiz do teu mundo a verdade,

Dos inocentes a sorteRendida ao mal que é mais forte.

Por ti filho da saudadeE por mim se te lembrares,Vai se um irmão escutares.

Fala a pensar no futuroNão deixes ir o passado,Levar os heróis do puro

Para sempre sem auguro.Promessa?! Ele está cansadoDe quem as finge, mentiras

Agradáveis como liras.

Os que as fazem descrentes são, duvidamDa humildade do Céu. Como trucidam

A compaixão que tem! Porque eles nadaDe amor tecem, sovinas abatidos.Por fim, irás pedir pelos feridos

De amor, o choro da pessoa amada.

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Page 14: Rima com Poesia

“ TA PRAGMATA”( Expressão dos antigos gregos que genericamente significa: o poder nas mãos do Homem,

porque as coisas são aplicadas e/ou transformadas por si)

Trepa-me pelos poros este barroA subir, pela força da moldagem

Desfigurado, à força, em vassalagemPelo querer das minhas mãos o amarro.

Tão carinhosamente sou que esbarroNa sordidez do mais dito selvagem,Tentando joeirá-lo, sem passagem

Tomo nas mãos o vento com que o varro.

Alguns tombam da escada que lhes deram,Outros sobem a braços, salientes

Veias como vergões, não desesperam.

Temo o seu rompimento, pela vidaMenos que pelo amor, dele frementes

O há-des ter no tocar deles adida!

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Page 15: Rima com Poesia

PARTE DOIS

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Page 16: Rima com Poesia

SONHO

Acordo em sobressalto despertoDo suor falto de calor,

Chagando a ferida do incertoCom dedos raquíticos e vis

Ai! Levaste-me o sonho ainda em flor,Sacrificaste-o ao além dos senis.

Mas sou sonhador e sonhareiTer outro sonho e despertar,

De que jamais sereiO único a cair no sono

E de novo a sonhar,Do teu sonho ser dono.

Ob-roga-se-me a realidadeNum virtual fingimento,

De que o nosso amor tem a mesma idade.Salve desejo incendiadoDe pelo teu pensamentoSempre estar rodeado.

Nestas ruas em forma de vidaPor onde em fábula me arrasto,Neste viver de forma esquecidaApenas sonho com a realidade,Para quem o sonho é um vasto

Sonhar com a frivolidade.

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Page 17: Rima com Poesia

... de amor ele não sabe falar!

Ungiste de brilho bentoO equinócio das noites sem alento,

Neste tempo que anoiteceOnde o amor nunca adormece.

Viverei o dia eterno,Do suspiro terno

De boa sorte que a sorte me deuE nos teus lábios, reverbereceu.

Sei que não é condãoA indignidade da minha mão,

Nos teus cabelos curtosOnde vivem do meu amor furtos.Breves mas de encantos longos

Carinhos tónicos e ditongos,Onde procuro na terra do tarol

O mais belo tropical atol.

Vagueia no castanho do teu olharA doçura que impede o crespar,

Da água das lágrimas que te amuamOs ais de amor que lá flutuam.

Tartamudas são as palavrasQue tu minha caneta lavras.Saberás meu coração amar

Se de amor ele não sabe falar?

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Page 18: Rima com Poesia

SE ALGUM DIA EU PODER...

Corre-me a vidaComo o licor deste rio, perdida,

Osculando os pachorrentos penedosCom lágrimas de mil enredos.

Num sussurrante cascatearDe um solavanco sorriso penar,

Eles vão dizendo adeusAos perdidos olhares teus.

Assim navego euNo desejo que já não é meu,Das mulheres que tanto ameiE que por amor me afastei.

Sabes que continuo a amar,O azul do céu que se vem espelhar

No mel diamantíferoDos teus olhos, poder mortífero.

De que adiantaA veludosa manta,

Se são as estrelas que me aconchegamNos momentos que não chegam.Estas águas amam os penedos,

Por amor os afastamDo sofrer que arrastam,

Mas sabem que em tempos ledosPor ali voltarão a passar,Apedrejando-os de amorNuma pedrada sem dor,Para sempre se evaporar.

Julga-se a vida neste direito,De roubar a oferenda

que presenteou a lendade amor no teu leito.

Tu és mulherMas meu coração é rocha

Que da minha acracia debocha,Se algum dia eu puder...

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Page 19: Rima com Poesia

SERPENTEANDO

Afectos de castanha melodiaPelo verde estais enamorados,

Não da paisagem que antes vos acolhia,Mas do baú de carinhos antes estagnados.

Durante muito crespastes do mar o sal,Surripiando-lhe tuas lágrimas entristecidas

Pela sombra de um sol estival,Abrilhantadamente escurecidas.

Não tentes almejar tudoFugindo sempre do mesmo,

Esse silêncio estrondoso e mudoCom voz de contrário vantesmo.

Se te sentires perdida,É um novo princípio que chama

No destino da vida,Inflamada quando clama.

Não tenhas medo da serpenteQue te estrangula o coração,Ela é inimiga que não mente

Dos amigos que te recusam a mão.

Pede-lhe que te ensine a lutarSem veneno mas com a mente,

Com o calor do teu abraço a podes letarSe não aprenderes a amar a serpente.

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Page 20: Rima com Poesia

ESTUDANTE

Vaga no vago oceanoVaga a vida de um ano,Folhas, livros, papéis,

Fronteira dos boémios anéis.

Cinquentona a horaEnferma que chora,

Por um décimo de vidaQue logo enoja perdida.

Inerte a preguiçaDo sol que se enguiça,

Lesto no anoitecerDo futuro amanhecer.

Pelo asfalto caminhanteAbandona o vante,

Um marinheiro de laborEm cada porto um amor.

Enlutas o alferesA quem em lutas auferes,

Galhardetes e condecoraçõesPóstumas emoções.

Em lágrimas não rumasMas na calma das brumas,

Almas rochosasFlores que não rosas.

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Page 21: Rima com Poesia

RECORDAR

Recordo tão bem o ontemPeço encarecidamente que mo contem,

Esse tempo que julguei felizAcorrentado a uma candura petiz.

Acode-me ainda o dia em que partiPara o hoje rumo ao futuro que sorri,

Astutamente negando-me o nãoDeu-me guarida o cometa, em vão,

Oculto na sua luz feita véuJulgava rumar ao Céu.

Recordo tão bem o presenteA luz do cometa, cadente,Não sabendo se fica se vai

Do passado fadar as dívidas. Voltai!Tenho tanto para vos dizer,No vazio das palavras ler

O amor que antes não disse,O carinho que me permiti-se

Da quimera a realidade,Mas pereceu de tenra idade.

Recordo tão bem o futuroSe fico algo vai que não aturo,

Se vou algo ficaNuma fé carente que não se explica.

Serão lágrimas? Essa crençaQue chorei todos estes anos sem ofensa!

Mas é o coração que vai ficandoE fica, ao chamamento recuando,

Empunhando a tímida bravuraDe viver o amanhã que perdura.

CULTIVAR O AMOR..!

O orar a Deus do agricultorÉ chorar à Natureza,

A chuva que tarda, o calorPiroga de uma certeza,Alpaca leve do crescer,

Dos frutos do oiro, da terraEsbraseada que berra,

Ao perfume da correntezaQue vos quer ver, beber

Do lavrado rural que erra.21

Page 22: Rima com Poesia

CAMA DE ROSAS

Os espinhos do meu dormir,São aspérrima distância

Que nos separa com ferir,De um canto róseo a florir.Ouvi anjos a minha ânsia...

Rouxinóis! Afinai o cantarE em cuidados amanhecei,À barra dessa onde deitar

Em rosas a mulher que amar,Dulcíssima pétala eu a sei.

Queria eu ser simbiose, contigo irA teu lado, na instância

De um anjo da guarda sentir,O ladrilho que trilhas rir.

Ouvi anjos a minha ânsia...

UMA PALAVRA E UM OLHAR... OU FRASES QUE FALAM!

Ainda que eu faleAmaríssimo mal,

Acre tal como homemEm mim se consomem

Letras sapientes,As dos indulgentes

Que só outrora escrevi,No mundo as esqueci.

Debalde e perdidoDa rima esquecido,

Sem as ironiasProcuro alegrias,

Encontrei-as tristesNos outros, não as vistes?

Nada com instruçãoDita meu coração,Análgico e inculto,Qual ser disforme

Na morte conforme.

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Page 23: Rima com Poesia

CORAGEM

Quem sois vós?Vós que tendes coragem para acreditar

E corações para partilhar?Não vos conheço a voz!

Sois estranhosPorque estranho pareçoInsofrido e sem apreço,

Pelos caminhos castanhosDe um mapa sem fado

Esse que chamam coragem,Mais a procuramos em voragemSe a encontramos ao nosso lado.

Ela são sombras abandonadasQue cimentam muros demolidos

Ainda das fundações adidos,Como da corte de poeiras estagnadas.

És da espada a mão que a seguraE eu só, o metal amadeirado

Do sabre estropiadoBebendo cálices de amargura,

Refugiando os vergõesDa face abraçada

Aos braços da tua espada,Capturada como arpões

Por um chão que não me larga,Não me deixa levantarE eu deixo-me levar,

Filho bastardo na sua ilharga.

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Page 24: Rima com Poesia

AVÔ

Avô é ser rei de um regaço,Avô é de Deus, um abraço,

Avô é um senhor herói, senhorPríncipe principal, avô.Um instruído instrutor

Da vida que à morte expulsou,Da lassidão convidarMajólica do arvorar.

O amor de avô que entoaUm desejo,...

Um desejo que voaRumo ao arvorar do homem,

Ao som do realejoSem desvelos que o tomem,

Sem acordes escravosDos espinhosos cravos.

Inebria-se loucoPelo jovem borboto,

O avô donzel esqueceE mais se rejuvenesce.

AVÓ

Nosso berço primeiro,Primeiro regaçoÉ na avó pioneiroDado o primeiro abraço.Avó é um viveiroDe onde ele nasce escasso,Feliz dorido viverPara o coligir de um ser.

Nosso sofrer cimeiroÉ cimeiro embaraço,Para uma avó inteiroPreocupar tão baço.Sudário cocheiroEla é amarras de aço,Com que aloqueta o sofrerDesse por quem sofreu ao ter.

Um filho caminheiroDescalço sem dinheiro,

Exige da morte o perecerAvó, como bom é te ver.

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Page 25: Rima com Poesia

O UNIVERSO EM TORNO DE TI

Dar-te o claro azul,Da esmeralda coroa serranaDo desfraldado mar do sul,

Curto manto de pérolas em ti Joana.Acima calvas serras

Calmas nuvens,Alvo sangue de nobres guerras

Homem do mundo clamas, não tensPara ela suficiente,

Celestial cerúleo imponente.Solidário, empenhou Saturno

A riqueza dos seus anéis,Confiando-os a um vento soturno

Desabafou-lhes, não mais me pertenceis.Serenou triste o ventoNum perene soluçar,

Por não mais sentir o acalentoDo Universo aí a fulgurar.

Explodiu de raiva, em rajadasEscalou o infinito,

Desalojou a tristeza num gritoQue inflamou as estrelas fatigadas,

Sacudiu a giesta em flor,Onde ainda orvalhavamAs lágrimas da sua dor.

Como o magoavam!No tédio da convalescença,

Depressa entendeu estar na presençaDo prodígio coronário da Natureza,

Confiar o ceptro da belezaÀquela a quem ele oscula o rosto,

Enrubescendo o envaidecer do gosto.

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Page 26: Rima com Poesia

FOGO

Chama friaAragem que arrepia,

As peles suadasDas léguas galgadas

Pelos soldados da paz,Pela Natureza, seu capataz.

A árvore é uma frágil criançaQue à sorte afiançaUm dorso homicida,Rebento degenerado

O fósforo que roga apagado,Ser vivo sem coração, sem vida.

Não se cansaO rio de declamarVersos de criança,Para o fogo alertar:

“O Homem é dinheiro,Saciedade da Natureza

Decrépito viveiroDe poetas sem dor e sem tristeza,Senhores de palavras imerecidasAutores de cantatas esquecidas.”

O pinheirinho já não clama perdão,Clama só a ânsia altiva

De abraçar a Faia sua diva,Mas desfalece sem o desabafo do coração.

Assim o mundoDoente, moribundo,

Se há-de sufocar na avarezaQue sufoca os estomas da Natureza.

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Page 27: Rima com Poesia

TEZ RENASCENTISTA

Floresce a PrimaveraDesabrocha contente,

Quem lhe deraUm sol pungente!Receia a profecia

Do tempo que foi, que viráDo tempo da luz que não havia,

Do tempo da luz que não alumiará.Enxugam ainda a face

Os mantos de um céu florentino,Frescos de um tecto bizantino,

Dos retábulos onde nasceO ar que não vejo,A vida que desejo,

O amor que não beijo.

Floresce a rosaDesabrocha carente,

Quem lhe gozaA chuva ausente?

Sente um pesaroso envelhecerNa vacância de viver,Um tempo uxoricidaPândego de sua vida.

Não sente já o bulir do seu perfume,Desse aroma que lhe extorquiu

A terra, um vulto de lume,Génese que a sua mitose não viu

Na meiose do ensejo,Do homizio cortejo

De caminhar sem bordejo.

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Page 28: Rima com Poesia

GABAROLICE

À gabarolice chama-se regar,Tal garganta nunca há-de secar

Por aquilo que fez e não fez,Feliz se tal lhe causa satisfatez.

Sua alegria, a dos justos sacrifícioDe tanta paciência para tal vício,

Recitar tantas baboseirasDe qualquer sanidade tamanhas asneiras.

Um raio de sol no horizonte despontaE tanta água imprópria absorve,

Para uma nuvem que tudo ao mundo conta,Graça tanta de verdade na Terra chove.

Escoa-se sua garganta na seca da vergonha,Pelo que em si vai dor de traição

Corpo meu, minha mão,Nunca no fogo por tal te ponha.

Tão grande és tu ó mundoComo tamanho teu desconcerto,A justiça medalhas com aperto,

O falso esplendor com ufanos sem fundo.

Será justo haver justiçaSe justos sei não haver?

Esses que vão beberNuma gabarolice postiça!

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Page 29: Rima com Poesia

EMPIRICAMENTE

Quão difícil é descrever-te beleza tua,De olhar só o supérfluo posso contemplar,

O que só o creme das tuas mãos pode tocar,Pois a distância que nos separa raia na lua.

Quão difícil é sentir a luz do teu olhar,De tão escuro clareia o deslustre do meu coração,

Aquilo de teu sorriso grande estupefacção,Pois em mim vai num tumefacto esporar.

Quão difícil é amar sem sonhar,Que delícia, o coração nunca se enganava

Naquilo que com a mente sonhava,Neste escabelo sempre me hei-de anestesiar.

Quão difícil é fingir o ódio que esconde o amor,Se de teu rosto enrubescente quero o sabor,Aquilo que no coração tens, algema cupidal

Que prenda o esbravejar de uma calma tão trivial.

QUEM SEMEIA VENTOS...

O Céu está cinzento,Colorido a medo de um branco embirrento,

Pelo prostrar das folhas amarelecidasTapetado leito das colheitas idas.

Palco do seu folcloreAo som do vento que na encosta morre,

Do timbre áspero de uma crepitaçãoNa constante permuta de posição.

Fica a árvore mãeDespida, na nudez,

Numa calvície que a sustem,Numa latência ávida de surdez.

Mas ela só adormeceQuando cessam essas romarias,

Arrais de pequenos diasSobre o húmus que arrefece.

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Page 30: Rima com Poesia

MUSA MINHA

Coração meu, bomba e sentinelaZelosamente meu amor vigias,

Entre as mágoas escuras e os dias,De facho na mão sem vacilares na tua vela.

Teu folgo sanguíneo minha razão de ser,Teu fogo amoroso chama de viver,

O amor em ti é mais inflamávelQue um fluido ardente, afável.

Se a chama do fluido se suprimeTu nunca deixarás de iluminar,

Aquilo que por amor dizemos que é amar,Expressado enlevo que nos imprime!

Clarão maior expedes tuMusa minha, cegante,

Cega a vista e a vida sufocante,Na correnteza de um amormado amuo.

FAMILIAR ESTRANHEZA

A cada passo constrói o passo que caminha,A sacola nas costas salienta a dianteira formosura,

Bloqueamento meu, inoperância minhaAnte tamanho deslumbramento, em pequena estatura.

Cabelos de vago nome, loirosDe ao Sol fazerem consumir inveja,

Teorizam os cientistas do amor agoiros,Salientando na íris de um cego força que veja.

Noutra montanha se cinzelou a rocha de meu coração,Mas só se avascular fosse não sentiria por ti admiração,

Laboriosamente na minha insignificância se edifica um lamento,Excelsamente inaudível no cirandar do vento.

Indivisível é a massa rochosaDo bosque onde nidificam as aves do meu amor,

De tão sensível e maleável gozaDe uma dureza lacerada no tegumento protector.

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Page 31: Rima com Poesia

NÃO QUERO MAIS AMAR!

Não quero mais amar!Já alguém desabafou este suspiro de gostar.Sofrer de amor a todos dói, oh peste da vida,

Nela indolor, no coração tanta dor, profunda ferida.

A todos dói mas a mim de imensidão arrasa,Se não amo, odeio e a felicidade catapulto,O paraíso terreno da ventura eterna oculto.

Dilacera-me este dilema, como oxigénio em acesa brasa.

Como ele livre quer que eu seja,Mas em nós encarcerado viver nos deixa,

O amor simula tal osmoseNa vida que logo entra em metamorfose.

Mas, se desde a cela que a ateiaEla é devir constante,

Se na liberdade do mundo sem amar fica meia,Minha alma grita pela energia amante!

CAMÕES

Brincalhão eras tu Camões,Brincavas com os corações,Fazias versos de doces palavras,O ódio em amor transformavas.

Brandos carinhos teus sonetos,Bravura de opiniões, incautosOs Lusitanos eminenciaste mais altos,Quando nos legaste tua vida de espetos.

Como pobre se pode reclamarQuem em Terra não quiseram amar,No Céu fizeram um paraíso de louvoresQue em vida, só seus amores.

A este Inferno foste dadoCom a sina reflectida do destino, Partiste como miserável desgraçadoEm nossos corações como celestino.

PoetavasDa fonte que amavas,De bom na vida vivesteO amor que mereceste.

Senhor meu mestreCom a bucólica humildade campestre,Reconheço minha pequenezPerante vossa elevadez.

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Page 32: Rima com Poesia

ÉDEN

Olha que lindo aquele jardim!A terra molhada é como tu trigueira,

Corada pelo Sol que faz dourar a eira,Iluminar de brilho aquele jasmim.

A rosa vermelha brotou do meu coração,Lançou raízes do fundo do seu solo

Minha dor, seu berço e coloEstá de espinhos cravada no lençol do seu chão.

O cravo em nós cravadoRei das flores num trono de verdura sentado,

Sou eu e tu a ImperadoraDo meu sobrado rainha e senhora.

Que imponência se põe a prumo nesta esquadria?!Será eucalipto, será felicidade ou será carvalho?Tem as folhas deleitadas em gotas de orvalho,

No raiar matinal de uma térrea maresia.

PÉRSIA

Ocultos nossos ósculos,No biombo que são os olhos, meninas chorando pãoPor trás do véu dos seus óculos.

Escuros esperançadosVerdes mortalhados,Com o amor que jaz na PérsiaFulgente inércia.

Turba um clímax vaporosoTurbante amoroso,Esvai de tua boca luzCéu em que tudo reluz.

Sinto flutuantementeQue saudade ausente,Que flatulência oscilanteTapete ondulante.

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Page 33: Rima com Poesia

VÍCIOS

São vícios, são hábitos, socialismosQue salientam a síndroma inorgânica de egoismos,Deste retracto de autoria à sociedade incumbida.

São vícios sem solestícios no globo da vida.

Nuvens bailam sobre meu pensamento,Que lindas ao enlaçarem seu torneamento,

De tanto não sou digno sombra de alma pervertida.São vícios sem solestícios no globo da vida.

Tumulam em nossa mente que repugnância,Macabras conjecturas, falsidade por soberba ânsia,

Para no Império alheio procurar jazida.São vícios sem solestícios no globo da vida.

Furta-nos o pensamento a auto – superioridade,No seio de protótipos omniscientes, a sociedade,

Não é seu tecto para todos igual guarida?São vícios sem solestícios no globo da vida.

Não há júri nem juradosQue condenem tais pecados,

Pois são-nos inatos pela personalidade destruída.São vícios sem solestícios no globo da vida.

INFÂNCIA

Joga e brinca um menino,Na calçada joga a bola,No campo pontapeia e rebola,Da liberdade pela vida faz um hino.

Vai crescerAo amor se prender.Vive por inteiro a infânciaDe crescer não tenhas ânsia.

Um aperto irás sentir no coração,É o amor que não tem definição,É diferente do de pai e mãePor ele, teu coração chorará também.

São lágrimas que teu rosto invadem,Evadidas não sabes de que dorDigo-te que é de ardor,Da chama que alimenta sua viagem.

Que saudade do que não vivi,Tão cedo o amor de mim se apoderou,Do tanto que meu coração amouJamais me arrependi.

Page 34: Rima com Poesia

NASCIMENTO DO ALÉM

Chama da vela que tudo velas,Velas o defunto no nascimento do além,

O moribundo que para ele vai porque sequelas,A espiritual entrega também.

A Deus tudo se roga e em apertos se ora,Para qualquer saúde a vida é um céu infinito,Que não tem calendas nem para a morte hora,

Ruidosa é a sua fronteira, acanhada de tanto grito.

Das trevas soprou uma corrente escuraPara o Purgatório, aragem fria

Para o Inferno, amarra de tanta secura,Era só uma alma que o primaveril Céu pedia.

Por desengano se muda a vida desta passagem,A morte passou à frente dos olhos como uma miragem,

Então se percebe que nada aqui é nossa pertençaHomem vil, percebe isso antes da divina sentença.

Dos que ficam lágrimas correm,Não, não são de saudade, são de temor!...Pelo que de idêntico lhes virá, igual dor!

Acabada por aquela contra quem nada podem.

CIÚME OU TIRANIA

Não foi ciúme, não foi de ti querer hegemonia,Não foi esse fermento não foi tirania,

Foi um querer, de não querer por mais querer,Que catalisou esta reacção turbilhona do amor a crescer.

Tanto cresceu que irou o mar,Ergueu-se uma onda para o espelhar

Que logo ordenou que emudece-se o vento,Que me levassem a ti as aves por sustento.

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A EMOÇÃO DA CHUVA

Precipita-se a precipitação no solo,Lágrimas do coração de Apolo.Que veias são que as derramam

Na estação ventricular dos que amam?

Meu afecto também é nascenteDo quinhão repartido por todo meu ente,

Por cada dilatação jorram em toalhaAs que na contracção vazam da minha talha.

A torção dos beirados recita melancolia,Minhas pálpebras estão pesadas

Vão derramar o líquido da alegria,Fechar-se-ão ao mundo em suas entradas.

Começam por escurecerTer uma visão de céu nublado,

Emoção de um arrependimento caladoPela ofuscação do nosso amanhecer.

SER POETA

Ser poeta é ser superior,Viver a enaltecer o verdadeiro amor,É confidenciar ao papel o inaudível,Segredar o que só à dor é visível.

Ser poeta é idolatrar o indolatrável,Não ter fronteiras para amarÉ desejar o indesejável,Ter o espírito que a dor faz cantar.

Ser poeta é unicidade do coração,Submergir do mar do amor social,É ao fogo eterno condenar esse malSer exemplar, ditar essa condenação.

Ser poeta é amar para viver,Escalar o que só a ele é permitido ver,É sonhar a mulher do inacessível trono,Por intercessão do amor seu patrono.

Que lise me trespassariaSe não fosse poeta,

Fruto da confidência que em mim se acumularia,Pela clemência que só no papel é completa.

Page 36: Rima com Poesia

UMA VIDA NA BEIRA ALTA

Era uma aldeiaAnafada de tanto sentir,Pequena que já mais irá ruirNo coração, na ideiaQue guardo a sete chaves,Que nem a morte ma roubará.As casas, são quem casaráO belo e o simples, gravesAs faces do granitoMas de feição alegre,Mal tapam o frio que seguePor essas frinchas, envergonhaditoNão ousa entrarNo calor,No trabalho e no amorDesse rústico lar.Era a Beira – AltaAli a acenar à Estrela,Por isso os telhados ao vê-laSe curvaram, como que em falta,Obrigação de resguardarDas lágrimas suas,Os abeirados, as enxergas nuas,Quem lhes dera descansar.As serras eram um forteRodeando sua fortaleza,Dos campos a belezaJugada ao seu porte.Os seus caminhosEram a esplanada da cidade,Para namorar a mocidadeOu para trocar pergaminhos.Eram caminhosRasgados na pedra, pela caridadedos chinelos descalços de vaidade,Dos pés da Rosa escaninhos.

Rosa não era florQue digo? Era um jardim,De que todos queriam o saborDo aroma, era um frenesimÀ volta de Rosa,Todos os catraios a regavamNão passava sede de galanteios a prosa,Mas nela não se guardavam.Pois não era rosa,Eram seus olhos pétalas de um azulDe que azul era aquela glosa,Pestanas como as florestas do Sul.Que esbelta silvestreA elegância, O moreno lascivo que lhe vesteO trabalho desde tenra infância.Sim, que sendo filha,Boa filha de lavrador abastado,Jamais do calejar largou trilhaComo a todos fala com agrado,Desde o mais servente criadoÀ mais obediente rês.Era a menina da terra, fruto pousadoDe despeito, as demais só têm altivez,Faltam-lhes as mãos cuja tezAmpara suavemente sem tocar,A voz da sensatez Que aconselha sem falar.A chuva de Novembro tomou moradaCravelhando as portas da colheita,Convidando o gado ao pasto, sentadaRosa o guardava satisfeita.

Amanhecia cedoA pastorinha sem medo,Eram os lobos que a guiavamNa serra, a primeira que demandavam.Não temia as madrugadas friasAgasalhava-se nas quentes penedias,Que saudava cá do fundoA meio do íngreme caminho do mundo,Que os antigos respeitadosDiziam ter tido moldura nos passados,Romanos que por ali passaramPor longos dias pernoitaram

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Mas esses, os romanos,Nada diziam à Rosa, os fulanos.Por enquanto satisfeito,O gado levantava a eitoLogo todo “acarrava”,Luzia no Sol a hora de descerAté ao lameiro de erva a reverdecer,O bardo tomava dos animais a liberdadeDando a Rosa outra responsabilidade.Por essas alturasQue loucuras,O São Martinho lendárioEra quem ordenava o calendário.Mas antes, antes da jeropiga látegaDeram os castanheiros uma bátega,Que importa britar, abrirQue são muito recatados no sorrir,Os ouriços lacradosPela cicatriz dos segredos guardados.Mas quem já pedia atençõesEra mãe dos mais cremosos requeijões,A fornada de queijo do NatalQue no frio sua o manejo laborial.

Região demarcadaDo Queijo Serra da Estrela,Ovelha bordalesa ordenhadaNo raiar da matina, que ao vê-laAssim pelo seio acariciada,Mais lhe empina e enfeitaO embuste frontalQue deleitaO pastor do centro boreal.Já alimentada A ferrada,Da destilação brancaQue leva o criado, pesadaPela mão a gingar a anca,Às mãos da mãe de Rosa.Artífice dessa apetitosaAmálgama de coalhada,Faz ranger os azinchosDe flatulentos guinchos,Espremendo o soroPara a francela que porque choro,O deleita na panela grandeQue irá ao lume,Até que novo coalhar mande

Pelas enzimas que o une.Mexe Rosa, mexeQue não quero essa coaguladaGrossa, encortiçadaPara não haver cliente que me vexe!Era isto que da salmoeiraLhe gritava a mãeA ungir de sal, obreiraO fresco que já valia vintém.Ali ficava porque diasCintado, a chorar soro e arreliasQue o queijo, é um meninoDe muitas tropelias.Enquanto esperava cura,Filhos seus tomavam destinoRequeijões enfeitados de brancuraNo açafate de vime rendilhado.Lá vinha o armário esperado!Junto à lareiraResvés com o calor,Que ora era chamaOra se estendia em braseira,Porque o queijo quer-se coradoMas não em torpor.Depois, o Natal aclamaA feira rainha,Que na oliveira a ramaPerdeu os encantos da florinha.

Malabarista a azeitona,Ali a balouçar-seNos ramos flexionados, a dar-sePor severas estocadas à lona,Que na vara da nossa tradiçãoNão rangiam motores,Os braços eram detentoresDo que guardo hoje no coração.Eram castelaresAs oliveiras de então,Nos seus ramos, braços de ostentaçãoAcolhiam os homens lá nos ares.Em JaneiroHavia que tomar nos pés cuidados,Que os ramos antes purgadosVestiam-se de musgo traiçoeiro.Lá no chãoA azáfama também não descansava,Os toldos outra oliveira já chamavaHavia que tomar o negro filão.

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A azeitona é uma criançaComo gosta de saltar,Esperta lá se vai deitarJunto de Rosa que lhe afiança,As únicas mãos de suavidadeAs únicas que quer,Agora e no curtir que vier.Mas os porcos pediam piedadeNo arrabalde de casa,Roncavam pela vianda rasaQue já lá vinha a hora da verdade.

Pois é, despertava O Sábado gordo,Em casa de Rosa já estavaMadrugador o homem engodo,Sangrador carismáticoQuase fazia o animal esquecer a dor,Quase se pranteava apáticoSe por muito o agoniava sofredor.Era o mata bichoAntes do bicho matar,Na cozinha as mulheres em cochichoPreparavam sal e pão num alguidar.Firme, na mão grossaDe dedos firmes forjada,Procurava a faca sem moçaLonga e longamente afiada,O externo que havia de tocarPara o coração palpitanteDo animal alcançar.Ali, estirado ofeganteNo banco já manchado,Pelo sangue que escorriaPara o alguidar de pão e sal mesclado,Em gritos que a Terra ouvia,...Mas venha a “tranca”Que já toda a terra os conhecia.Havia que coruscar francaDe lume a palha centeia,Para o pêlo do animal chamuscarE a pele que então arqueia,Logo rudemente lavar.O bisturi assassinoVai sem debocheDebuxar, o defunto erguido a pinoQue as tripas ou eram de bocheOu para as morcelas.

Nos tabuleiros já esperavamCheias de alvura, belasToalhas que se lavavamEm águas cheirando a serra,Que mais lhe davamA pureza que se ferraNo asseado branco.Até à ribeiraIriam agasalhar o prantoDas vísceras, que à beiraDa correntezaSerão expurgadas.Bebendo levezaRegressam a casa já lavadas.Venha o almoço satisfeitoCanja e cozido,Que o que é nosso é feitoCom orgulho hoje perdido.A tarde Invernosa Era do mulherio,A água quente em agitação, nervosaJá chamava a fioAs morcelas cheias,Que hão-de depois defumarNo borralho que não lhes chega,A outras à que dar lugarQue não tarda já chama, da adegaO aroma correntezaDa carne em devinha d’alhos,Para o que será a riquezaDe outros fumeiros não falhos.Vá Rosa, isto é uma pressaLava e limpa a louçaQue amanhã, com promessaHás-de ir ao bailarico, moça.

O Sol ainda não eraSol de Primavera,Mas ao Domingo à tardeO largo era de alarde,Que a mocidade ansiosaNão espera formosa.Os mais velhos, saudososLá estavam briososDaquela sua juventude,Ao som do alaúde.Ainda em casaRosa de adrenalina rasa,

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Começava a dar corpo e que formaAo fato domingueiro que adorna.E se era lindo aquele fato,Não o era se por desacatoTemporal Rosa o esquecia,Um Domingo não o vestia,Era ela, ela que lhe dava cor,À blusa de chita o bajuladorPeito, à saia a modaO tornozelo arredondado e que roda,Na dança de roda que empoeiravaO ar, mas não sujavaO branco e a rendaDas suas meias, na sendaDe umas chinelas luzentesDoridas da dança, penitentes.Sua mãe marcava presençaPor precaução que se adensa,O grupo de pretendentesPor uma só razão confluentes,Tomar de Rosa a atençãoEra bom! Quem lhes dera o coração!Não te distraias borboletaGingando como uma roleta,Nos braços da brisa leveQue a trazer a corneta e a voz se atreve,Desses campos clementesPor novas sementes.

A canga, a charrua,O cambão nada descansou,Aos bois nada faltouNo lameiro já com a pele nua.Assente de força perante a aivecaLá deu a conhecer o avesso,Venha a grade de travessoDepressa que se seca.Antes da gradeSe espalhar por aqueles sulcosHavia que espalhar indultos,Na semente que invadeAs entranhasDaquele solo consagrado com estrume,Milho, abóbora e feijão era o costume.Já não lhe eram estranhos.Não se esqueciam as batatas,Os regos eram em oblíquoPara o regar ser profícuo,

Pequenas belgas e sensatas.Ali não, ali é sagrado,Ao cebolo está consagradoE ali ao lado, lá está o tomateiroDe braço dado com o pimenteiro.O vento assobiava a passearPor entre as searas maduras,Descompondo-as as vai despentearNum bailado de tonturas.

Ladeira foraDe manhã cedo se cantava,Abrilhantando o Sol que se levantava,Cadenciando a mão que devoraO centeio pela foice a segar,A quer segurar, ainda que tenteEla corta mais rente,Cega de fúrias pelo pão cortar.Vá lá pessoal,Apertai os aventaisTocai o lenço que apertaisE vinde, vinde ao ramalDa vida, o dejejuadoiroDivulga-se na toalha, que simplicidadeNão é miséria nem fome, é humildade.Boa, a broa de amarelo oiroHá-de ser, esteiraDo molho da chouriçaQue a ela se enriça,Era sempre lampeiraA primeira que Rosa tomava,O queijo da cura, a farinheira,Vamos ao presunto companheira!Que bem que cheirava.Vamos, ainda não vimos meta,Depois de carinhosamente deitadoO feno com ternura acamado,Havia que lhe dar erectaPosição, lindas bonecasDe um folclore estáticoNasciam de um chão apático,Varrido por mãos vivas como setasDisparadas pelo vento,Que com as bonecas brincavaPor vezes as sopravaNão lhes dando desprovimento,Os vencilhosQue se contorciam

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E nas mãos de Rosa se torciam,Eram-lhe grandes empecilhos.Já de costas, lusco-fusco,Não viram o engenho acenarUm adeus a quem há-de voltarPara o sugar brusco,Que era a vénia curvarDe ti engenho a arte,Ao fundo levar-teBeber para regar.

Os dias eram compridosAo longo de Julho e Agosto,As noites eram breves pedidosDe compaixão para com o desgostoDo dia, o murchar das plantasVergadas porque sedentes.Quem lhes vale? TantasBocas carentes,A semana vai-se arrastarE só dá uma “vela”.Quem lhes vela até lá o arDe frescura? Sim o sentinelaEngenho, içadoAmpara-se nos raios da aurora,É o primeiro e o último a ser molestadoPelo e com o pai de Rosa que a nora,Levam-na os bois.De tanto rodaremJá tontos e depois,Sossegarão até se cansaremDaquelas moscas canibais,Sugando-os à esturreiraEles cordiaisDão-lhe da cauda a beira,Convidando-as escorraçadasÀ pena de se exilaremDeles, porque como verdoadasSão se lhes ferrarem.O verão envelheceu depressa,Quem o viu? E quem o seguraEm Setembro? Rumando com pressaAo calor do sulDe quem é urdidura,A quem acende o azul.

Rosa acordou em sobressalto

Num desses dias, deu assaltoAo milharal um castanho,Anunciando o amanhoDa foice que logo lhe davam,Porque era festa que anunciavamE urgia que as neblinasJá eram nuvens meninas,A soldo procurando “caldeireiros”O véu dos outeiros.As batatas tomemos antesDa terra, que fulminantes São os homens de enxadasLado a lado empunhadas.Lindo o tapete que tecemAtrás de si o esquecem.Sucumbia finalmenteO definhar agoniado e penitente,Do milho então abraçadoPela foice antes do braçado.O Sol já pestanejavaSonolento já pouco brilhava,Quando o arraial tomou assentoNo escurecer do firmamento,Em torno do monte maceradoTombando do elevado.Tangeu-se pelas mãos figadaisQue queriam mais,Porque o milho rei brincavaCom elas jogavaÀ cabra cega,Assim não desalenta a estrafega.Descansai olhos femininosFocados em olhares masculinos,Ele há-de aparecerEm beijos sem malícia vermelhecer.Com gosto se despiamTodas as espigas que se riamCom grãos amarelos,Mas eram os negros elosQue os rapazes vasculhavam,Só assim osculavamAs faces de Rosa,Sempre a primeira, briosa.Eram espigas enegrecidasComo as uvas suicidasDa parreira, esperando a hecatombe,Que sobre elas tombeO harpejo carrasco dos pés,Que as rasoira de lés a lés.

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Os manguais romperam Já o sofrimento,Com que torturaram o tormentoDas espigas que tangeram,Sofrendo no arBailando com o vento, um coreografarIncerto que se retalhavaQuando o chão da laja tocava.Agora, é o Sol Que se vem municiar nesse paiolDe doirado, de luz e de imensidãoQue não alcança visão.Era quando se revolviamOs folhedos das videiras,Procurando os que haviamDe ser divino mel, bebedeirasDe açucares fermentadosPelos pés imbuidamente esmagados.Iminentemente intimidativas,Vinham tesourasTomar das vinhas e lavouras,De amor abastados sedativos.A noite era de festaNo lagar de granito sem fresta,Em abraços, arregaçados cantavamOs homens que as uvas pisavam,Também a eles esmagavamCom o peso do mosto.Que alegria naquele rostoDo vinho límpido a jorrarA pipa o há-de guardar,Para todas as actividades descritasO há-de chamar,Como chamam as almas aflitas.

Tudo o que dura acaba,O tempo passa, a existência correDesconvidando o passado que morre,Tomado pelo esquecimento que desaba.A melhor forma de perdoarÉ pedir perdão,Ao saudoso viver BeirãoPela vida a descaracterizar.Vida que me levouViver outro viver,Pediu-me para escrever

Estas palavras que legouÀ vida que deixou,Alguma da lembrançaDesses tempos de criança,O esquecimento a degolou.Não te esqueças tu papel,Do que me lembreiE altruisticamente te dei!A boa recordação não é felMas deli-se, com a vivênciaDesgasta-se na humidade do ar,Noutros ares não se irá decifrarNão têm para ela sapiência.São de muita genteAs Beirãs experiências,Tanta que não cabe nestas excrescênciasDe tinta. É deles o indulgentePerdão que peço,Se de algum afazer me esqueciNessa casa farta me perdi,A fugir do seu decesso.A nossa florPerfuma como nunca antes,Às faces de amor caminhantesDescoradas, emprestando a cor.Com tanto amorQue tem sem saber tanto abraço,Nem todos terão regaçoPara o colo da sua flor.

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PARTE TRÊS

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MANHÃ TRISTE

Amanhece por favor! Manhã tristeO raiar da luz no horizonte,

Parece tuas lágrimas cintilantesIluminando teu rosto iluminado.

Recusas o decesso da noite,Aquando da alegria do nascer

Da tristeza de acordar,Do sonho

Que as estrelas queriam sonhar.

Horizonte de júbilo,Tão depressa me abeiroTão depressa me aparto

E parto do porto desejado,Onde atracam os galeões

Do amor,Do rejúbilo,

Da magia de sentirO que eu sinto.

Amarei os sentimentos que não sinto?Deleitarei nos sonhos que não sonho?

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NADA TENHO A DIZER(Originais de Jon Bon Jovi, tradução livre de Fernando Figueiredo)

Nada tenho a dizer,Aqui sentadoObservando-te a dormir,Tentando adormecer na tua mente,SerUma espécie de sonho multicolor.Pensas ser feiaMas se és feia,Também o sou nos teus olhosOnde o céu tem um diferente azul.Se te pudesses ver a tiComo os outros te vêm,Desejarias ser tão bonita como tu própria.Como seria bom ser uma câmara,Fotografar-te na minha menteFazer um filme para te mostrar,O quão bela és para mim.Não sei se é ódioSe é amor,Apenas sei que cada uma destas palavrasÉ um pedaço do meu coração.Por vezes penso odiar-te,Apenas porque não consigo amar-me a mim mesmoE sei, que nunca conseguirei escapar-te.Pensas conhecer-meSó porque sabes o meu nome,Pensas ver-meSó porque vês todas as linhas da minha face,Dizes que me amasSó porque eu digo que te amo,Não interessa se o que eu digo, é na verdade, a verdade.Momentos há Em que Deus chama os seus anjos,É mais um bocadinho de amorQue parte do mundo.Nunca te esqueças,Quando tiveres fomeEu sinto-o dentro de mim,Se tiveres sede Bebe do meu amor e repete,Se chorares

Serei as tuas lágrimas,Porque meu coração sangraTodas as noites que dormes,Não sabendo se faço parte do teu sonho.Ás vezes penso,O amor pertence a alguémQue não tu e eu,Quando abro meu coraçãoE tudo o que consigo é sangrar,Não posso no entanto perder-me,Pois estarei a perder-te a ti.Devia ter reparado,Quando o Verão acabou nos teus olhosE disseste boa noite,Dizendo na verdade adeus.Foi então que a mãe me disse:Tu és louco!Eu disse-lhe que tinha de tentar,Pois todos os meus heróis morreram.Foi então que parti ambas as pernasQuerendo aprender a voar, Mas tudo o que conseguiFoi aprender a cair.Como é duro ver-te partir,Quem me deraQue este lugar que chamamos casa ardesse,Este lugar onde perdi minha alma e o teu amor.Hoje ouvi um senhor de idadeCantando velhas canções de esperança,Mas nada me disseram.Pedi então a Deus um favor,Que me ensinasse a morrer como Homem,Já que nunca me ensinou a viver como tal.Da maneira como me sinto hoje,Estou incapaz de escrever uma canção de amor,De cantar uma canção de esperança,Nada tendo a dizerTraduzi então estes versos,Que fazem da música A biografia da vida...

Page 46: Rima com Poesia

MATAR ÁFRICA

Foi num crepúsculo sombrioDe alvorada e desabafo,

Libaste o sabor agro da minha vida,Viste o meu sonho de lutarLutar contra o meu irmão,Lembrar o grito do Criador

Filho...! A tua única herança é a vingança.Sabes que é algo que não posso mudar,

O inimigo branco continua aqui,Quando no meu coração zangadoOuço alguém chorar com fome,Eu mato para presentear a arma.

Como te roguei e ordeneiEncarecidamente,

A carícia de te apartaresJá longe de presenteares uma arma,

Longe da minha vistaLonge da minha mente

Mas, sinto-te perto do coração.

É tão fácil quando não se ama alguém,Preocupa-nos ninguém e

Toda a gente,É apenas mais um alvo a abater.

Tomamos cárcere a presa,Jamais a faremos feliz

Deitando-a num leito de balas,Pêcas e de entranhas vazias

Quais espinhos de rosa,Que ferem as pétalas acamadas

Onde te deitei amor meu,Sentindo o que já não sinto

Porque sinto, que deixei de sentir.

Page 47: Rima com Poesia

DESPEDIDA

Morre sufocadaA miriade de cigarros que fumo,

No fumo mascarado pela dissipação.Mortifica-me a ânsia de que chegue o último,

Para então na cauda de tudoRecordar o nosso derradeiro olhar,A batida consentânea do coração

Na última cançãoQue te ouvimos cantar.

Desespero já na saudadeDo adeus próximo no próximo despertar.

Hei-de visitar as águas do rio que te viu nascer,Num dia de tempestade

Que desde entãoAssola meu coração.

Mãos abençoadas pela maldiçãoAs que te tocam o corpo,

Te repelem o coraçãoE te fazem moribunda, a agonia da alma.

Continuo sem saberSe hei-de viver,

Mas recuso-me a dizerAinda que há força de alabardas,

Morrer, desistir,Viver morto

De pranto e horto.É lenta a morte

Que me vai fazendo viver,Procurando leito

No teu peito.

Page 48: Rima com Poesia

OLHOS VERMELHOS

Está a rua adormecidaDespida de gente,

Suspirando burburinhos.Agasalhada nas penas das aves

Empoleiradas nos beiradosElas lhe velam a solidão.

Eu e elaSempre fomos amigos do peito,

Nela vejo coisas que nunca serei,Tento ser coisas que nunca vi.

Procuro já o tempoEm que dentro de mim te indaguei,

Sentimento estranhoQue sinto nunca ter sentido,Esse de ver tua face cintilar

Nos grafitis escurecidos.Encontrei já esse tempo

Longo mas criança,Não precisou de mestres

Para tirocinar as mentiras sociais,Fundo nos teus olhos

Olhos vermelhos, vermelhos de chorar.

ÁS VEZES

Ás vezes, clamo por tempo,Para viver

Para dar-te o amor de que careces.Pensas de meu coração uma penedia,

Mas ele está escarpado e sozinho.Ás vezes, é tão áspero,

Presenciar a realidade que escasseiaPor detrás da nossa fantasia.

Ás vezes, clamo viver por minha conta,Sozinho, no meio da multidão,

Essa coreografia mutiladaDe pensamentos, de emoções comovidas

Estonteando danças repetidas.Ás vezes, é tão áspero

Quando o destino da nossa realidade,Parasita a fantasia.

Page 49: Rima com Poesia

IR

Vai poeta,Vai

Como um gato varando a noite,A passos largos entrepassados

Rumo à luz.Pairando nas ruas da vida

Procuras ódio e algum amor,Mas nunca será tarde

Para ti.O mal

Edifica o teu grito, mas tu continuas,Cansado eu sei,

Mas tu continuasPorque lá fora, algures

Alguém confia no idílio.

Vai poeta,Vai

Sê sincero para a tua dor,Tu és amante e não um louco,Escreves a chuva que te rodeia

E cantas a tempestade,Que teima em não amainar dentro de ti.

Não temendo irresponsávelPelo caminhar dos zéfiros,

Sempre serás escravo dos teus erros,Não deixando de lutar até ao fim

Pelo teu pedaço de terra,Um lugar para as rosas na tua campa,

Algum espaçoPara as lágrimas na tua face.

Page 50: Rima com Poesia

ORAÇÕES

Agonio numa tristeza pesarosaDesde que parti de ti,

Mas quero ser osculado pela morte,No dia em que te deixar partir

Da minha memória, do meu coração.Eu sei,

Os raios de sol enxugaram jáA veludo urdido de carícias,

A tua lágrima talismãMas ainda retumba em mim,

O grito da tua oração silenciosa.

Paguei já todos os meus preços,Rezei já todas as minhas orações,

Continuo a ouvir alguns sentimentosDizer-me que não têm razão para viver,

Que não têm nada mais para dar.Tu sabes,

O Tempo aportou e é tempoDas velas agasalharem os mastros,Da âncora repousar reflectidamente

Na maneira correcta,De escrever Amor...

Page 51: Rima com Poesia

CHORA CRIANÇA NEGRA, CHORA!

Chora criança negra, chora!Limpa com as tuas lágrimasO sangue dos teus irmãos,

Voluntários à forçaDa vontade dos outros.

Chora criança negra, chora!Eu sou o teu pior inimigo

Porque não posso ser o alimento que precisas,O rasgar do teu grito

Algum açúcar para o teu sonho.

Chora criança negra, chora!Não clames pelo Homem

Ele está muito ocupado para te audir,É tudo fama mas Jesus reza por ti,

Prostrado na tua sombra.

Chora criança negra, chora!Alguém rega os seus camposCom as lágrimas da tua dor,

Enquanto eu posso sentir o teu coração,Onde não encontro ressentimentos que saquear

Nem ódio para pilhar.Chora criança negra, chora!

Page 52: Rima com Poesia

VIDA SELVAGEM

Sentir- te – às arrefecerEsta noite na tua tarimba,

Quando o teu lado selvagemOuvir que chamas a morte,

Enquanto tentas esquartejar de esquecimentoO último pesadelo.

Sonhaste não teres espaço para o sonho,A minha mente não te entende

Mas o meu coração,Sabe o que queres dizer.

Os lábios do amor nunca te beijaram,Nunca ninguém te disse a verdade,

Para ti avisos são proibições,Quando vives um cessar fogo

Não estás na paz asilado,Vives antes uma guerra silenciosa, mas sangrenta.

Tu sabes criança da rua,Qualquer caminho que escolhas

Serás sempre o acusado.

Quando eles viramQue não havia nada para ver,

Roubaram-te a fantasiaNaquele momento demoníaco,

Furtaram-te a realidade.Agora, és tu quem vê

Que não há nada para ver,Deixaram-te a insanidadeDe quem não sabe sonhar,

Porque há muito te roubaram a fantasia!

Page 53: Rima com Poesia

FLORESTA EM CHAMASAlgo ardia

Do lado de fora da minha janela,Mortificava-me o interior

Já de si contorcido,Como nas labaredas

Os ferros do leitoQue foi de minhas raízes.

A inspiração dolorosaInflamava-se em mim,

Num combustível que insisto em não encontrar,Tive-o nas mãos

Naquele momento de purgatório,Mas não tomei

De assalto a frente, à frenteDe um calor que não era amor.

Como queria ser nuvem choraminga,Evadir-me destes poros sujos

Pelas cinzas adormecidas,Vir agora em teu socorro,Assear-te de verde festivo,

Mas temo serMais uma farpa mal apagada.

Sugou-te a terraAs raízes para sempre, como a mim...

Em breve de ti,Só restolho putrefacto

Que ainda assim,Não te embaciará a alma

Que lá continuará,Purgando o chão

Para almofadar novas sementes...Pudesse o gotear do orvalho,

Ou as lágrimas sincerasQue as crianças dão à luz,

Pela luz cadente e em chamasQue abate florestas,

O fogo apagar!Não haveria segredou-me a Faia,Conífera que não se enchoupa-se

E choupo,Que os seus largos braços não levanta-se.

O engenho e a picotaSoltariam ondas de satisfação,

Por saberemQue não mais precisariam

Saciar às árvores a sede de vida,Mas só

A sede da vida.

Page 54: Rima com Poesia

AMOR OU SEMELHANÇA

O bom e dorido amorQuer do amanhecer

O tempo que a noite levou,Como o bom, velhoE deleitado vinho

Da fermentação o estuar,Conforto dos espíritos amotinados.

Trago após trago,Eles tentam seduzir o relembrar

Do castanho do teu olhar,Um presente que Deus te deu

Mas que amaldiçoo-o,Porque de igual valor

Nada tenho para te dar.

Apesar de baços, nestes diasAs pessoas continuam a confiar nos espelhos,

Vêem-se a elas própriasNum ecrã de cinema,

Nada sendo o que pareceQuando os sonhos acordam.

Vivendo o que não sãoPodem realmente sentir o que lhes vai na alma,

Quem sabe um dia,Conseguirão ver a face dessa mesma alma.

FELECIDADE OU SOLIDÃO

O vinho é o único amigo da dor,Como o tempo não é amigo da distância

E a distância, não é amiga do amor.

Uma vez, assisti a uma lutaEntre a felicidade e a solidão,

Ambos contendores lutavam por um pedaço do teu amor.

Nenhum perdeu e ambos se perderamNum imensurável descampado,

Na refrega da batalha já muito além do meu coração.

Page 55: Rima com Poesia

APENAS UM

Hoje, sempre será ontemSempre será medo,

Ontem nunca será amanhãPorque amanhã é amor.

Por isso hoje tenho medo,Medo de conhecer

As razões da minha dor.Não o vejo, mas consigo senti-lo

Perto, a rondarNo outro lado da rua,

Do outro lado das minhas artériasComo um atirador furtivo.

As suas balasConseguem ferir-me tão perto,

Tão perto...

É aterradorMarchar sem corneta e sem tambor,

Lutar por nadaNesta guerra sem armas.

Cada vez que tomboNão tenho baioneta que me ampare a queda,

Fico de ouvidos pregados ao chão, vivoPodendo ouvir mães chorando pelos seus filhos,

Esses loucos que buscam felicidade no amor,Saindo com o coração chicoteado

E o fôlego vergastado.No fundo,

Tudo o que consigo ouvirSão os espíritos de Valhalla, tão perto,

Tão perto...

Page 56: Rima com Poesia

DANÇA DOS BRAVOS

Perdoa-me!Mas não olvides a crueldade

Em que te cravei,És a rosa que nunca roubei,

Pelo que os teus espinhos de açoNunca me fizeram sangrar.

Sou demasiado humano para lerO discurso das tuas sépalas,

Tão rendilhado como as tuas pétalas.Deixa-me entrar num templo,

Da Batalha, em Delfos ou num quarto ofegante de amor,Senão voltarei a dar assalto

Ao espinhar errante.

Não te aquietesQue eu também quis pedir perdão,

Pensando mais fácil,A dificuldade que me emprestaram

Os teus braços à volta do meu coração,Não me deixavam falar

Volatilizando o destilar do amor,Que para pedir perdão e perdoar

É imperioso amar.Há muito que o amor

Palmilhou a maratona em que vivemos,Era o último depois de uma amálgama de sentimentos,

Mas parecia tão rápido.

É uma armadilha,Mas um véu é mais que uma máscara

Não me deixando ver o amor nos teus olhos,Essa lenda que ouço desde o tempo heleno,

Erguida no mesmo mármore que o Pártenon,Feriu de sedução Deuses e homens bravos,

Rendidos ante a compreensão que é deixar-se seduzir.Por mim, não deixei cair a máscara,

Apenas a deixei para trásComo tantas outras vezes.

Também eu me escravejei a ti, nós somos escravosDançando nas ondasA dança dos bravos.

Page 57: Rima com Poesia

VERÃO ENVELHECIDO

O verão está a envelhecer,A sede do teu coração ajardinado

Está prestes a sucumbir,Onde tu és a rosa e eu o espinho

Somos ambos as asas do unicórnio.Amor,

É tudo o que esta terraOnde meu coração teceu raízes te pode dar,

Tu és a sua rainhaQuem me dera ser o seu rei,

Alguma água fresca em JulhoMas as lágrimas em que me esvaio,

São tão quentes.

Tanto amor nos teus olhos,Tanto jogo nas tuas mentiras

É sempre o mesmo,Eu não sei as regras

Mas jogo,Ontem e hoje

Derrotado ou vencido.

Quando tinha apenas dez anos,Disse-me uma voz

Que se eu queria ser um homem verdadeiro,Jamais poderia chorar

E sem resposta perguntei:“Como se fecham as portas ao verdadeiro amor?”

Nunca mais ouvi essa voz,Porque a sua grande verdade

Mentiu-lhe,Quando as lágrimas

Emergiram nos seus olhos,Lembrou o seu frio conselho

Mas era tarde,Já estávamos em Setembro.

Page 58: Rima com Poesia

MÚSICA TÍMIDALouvar a música!

Ouvir esse colorir na tela da vozDos versos do coração,

Dos pensamentos da emoção.Voz que tantas e tantas vezes

Não fala pela boca de quem a escreve,A quem gostaria de se fazer ouvir.

É muitas vezesTimoneira de um mavioso padecimento,

Sofrível o sufocar do coraçãoSobreposse de um silêncio rude,

Que fala na poesiaCerce sevícia longada,

Do longânime loquete da sua servidão.O culto do vate,

É a parede dupla de um gabinete amorosoOnde se consulta a timidez,

O papel vê tudo o que vai em nósJamais compreenderemos o que lhe confiamos.

A timidezÉ a própria Natureza no limite do som,

Que poeta o planger do PlatonismoE ausculta o plebeísmo do medo.

Quando ouço música,Dou comigo a prestidigitar a fantasia

Com as cores da melodia,Dos faiscados estalidos

Agonizados de uma guitarra em Dó penoso,Dum piano cujas teclas movem o mundo

Fazendo-o saltitar pleno de juventude.Liberto no riso leve e suado

Como leve soa um Sol,Sopeia todo o verde de uma planície

Planando todo o planalto,Ousa fazer-lhe cócegas

Subjugando-o numa vénia de suplício,Perdão penitencial

Duma bateria que põe a claro o bater do coração.A água que cruza

Esse campo de isostasia,É de um cristalino suave

Ávido de vida,Numa contramarcha de morteEm pedras salgadas, lenitivas,

Como na pirraça de um choro proselista,Efervescência amarga

Que ao invés de navegar o calcário,O perfura perecidamente como ao coração.

Page 59: Rima com Poesia

PEQUENA PRINCESA

Esta noiteO Céu ganhou uma nova estrela,

A rainha do coração do povo.Doce como a chama de uma vela,

Sempre serás a lutaDos que precisam lutar.

A tua influênciaFaz a diferença,

Contra a dor e a indiferença,Dor e indiferença.

HojeTiveste que partir,

Um moribundo te chamava algures.É uma criança chamada mundo

Quem clama o teu amor e carinho,Rainha do xadrez dos Deuses.

Nunca saberás nadaAcerca do último conto de fadas,Uma fada confidente nunca falha,

Nunca falha.

FinalmenteO Céu é paraíso

Com o azul dos teus olhos.É o princípio do fim,

A Terra está num leito de morteA idade da escuridão é a vingança.

Ontem, tinhas dezanove anos,Lembro a tua beleza tão tímida

A tua timidez tão doce,Tímida e doce.

Já mais poderei abrirOs portões do meu coração,A estas palavras que odeio

Porque vieram,Quando partiste.

Escrevo-vos em papel silêncio,Para que não vos apagueis com vossas lágrimas

Oh palavras do vácuo,Deixai a pequena princesa em paz,

Em paz.

Page 60: Rima com Poesia

TÃO PERTO DA DISTÂNCIA

O tempo está tão distanteE a distância tão perto De dizer adeus,De morrer mesmo,De tocar o céuAntes de o fazer,Antes de aprender a voar.O sonho falou-lhe mais alto,Tão altoQue não conseguiu ouvir a voz dos factos,Reflexo dos actos reflexosDesatentos,Que tenta coordenarQuando sorvida de amor.

Embora me seduzas longe,Através do ocaso frioCom um coração em forma de Sol quente,Bola de fogoQue te traga o fumo do cigarro,Embora Deus disponhaO amor,Que os nossos corações tentam construir,Jamais...! o toque da sua ordem divinaProibirá o meu coração de chorar,Sempre que os meus olhos brilhamNos olhos de outra mulher.Só a morte o drenaráMas então, serei eu quem passará a chorar.

OLHOS AZUIS

Podeis estar firmes de vósOlhos do mais azulado azul,Sempre como antesMe cortejareis heroicamente,No seio da plumagem do AzimuteEm que recolheis Vosso índigo ebúrneo,Que escondeisDa sedição das nuvens,Que ainda assimNão o ousam eclipsar,Mas depressa se sepultaSe sobre ele se derramam,Lençóis escurecidosEm leitos amargos.

Penareis em rotaçõesE translações inacabadas,Entre vossos irmãos planetários,Que vos adulam bela beleza naturalQue ainda em vós verdeja,Levada em braçadosPor braços que não cedem,Em vénias descaídas.Sois cavaleirosDe cara destapada,Que feris Como o gume da espada.Receio que sejais no amor que vos têm,Caleidoscópio giganteManipulado por cegos.

Page 61: Rima com Poesia

AO RITMO DA NOITE

Esta manhã,Quando dei à luz

De um sono que mal consegui dormir,Senti uma espécie de fobia

Estava gelado, sem arApesar do vazio dentro de mim,

Para onde olhei e viQue o meu coração já lá não estava.

Não, não o procurei,Sabia exactamente onde ele pernoitou,

No lugar onde acordasteCom alguém que não eu,

Mas nos meus braços.Perguntou-te ele

O que queria dizerEsse maldito anel na tua mão,Ele apenas se deixou perseguir

Quando seguiu o compromisso nos teus olhos,O meu carteado

Costumava ser um céu de estrelas,Quando tu jogaste a rainha dos corações

Alguém na outra equipa jogou o rei,Contra as lágrimasNa face da senhora.

Neste chão abanadoPelo trautear dos pés que dançam,

Por cada cerveja friaNa minha mão,

Há outra lágrima quente,Dançando nesse mesmo chão.

Page 62: Rima com Poesia

Tão engraçadoQuando o teu marido,Que se casou contigo

E não com os teus sentimentos,Fala de bebidas espirituais.

Ele bebe por prazer,Ama os teus sentimentos

Mas não te ama, na verdadeEle bebe para te ferir,

É essa a arma que envergaSempre, ao alcance de um disparo.

É por isto,Que todas as noitesDurmo à tua porta,

Com os meus ouvidosPor detrás das paredes,

Suplicando-te amorComo sou pobre.

QueridaPede-te ele que fiques,

Porque o último comboioJá partiu,

Digo-te euQue o autocarro está à espera,

Que não ouçasAs prometidas palavras de mudança,

Que as promessas anterioresJá desiludiram.

Sinto-te sempre tão ocupadaPara que possas dizer o meu nome,Sempre espezinhado noutros lábios

Que não conheço, que fecho à força de indiferença,Porque sem a razão de ouro

Que ondeia os teus.

Page 63: Rima com Poesia

ÚLTIMA GARRAFA

Acabei por pagarUm alto preço,

Pela última garrafa de whiskyNaquele bar,

Mas teve de ser,O papel chamava o conselho

Das palavras dentro do meu peito,Não sabendo quem conduzir a casa

Nessa noite.Não tenho agoraNada para beber,

A não ser estas lágrimas secasNa minha cara,

Quem me dera fazer aflorar maisA este “ring” de boxe,

Onde a fraquezaÉ tão forte.

Perguntaram-me os teus olhosO que queria eu de ti,

Os meus lábiosTentaram dizer-lhes a verdade,

Mas meu coraçãoNão lhes respondeu.No que lhe respeita,

Tenta conhecer-se a si mesmo,Para se odiar e ser

Quem te irá fazer feliz.Já não é uma pequena criança,Sem coragem para acreditar

Na última milha,Onde ninguém se interessou

Acerca das palavras certas nas suas orações.Todas as noites ele dizia:

“Deus, deixa os anjos viver!...”

Page 64: Rima com Poesia

CORAÇÃO

Como és feliz coração!Os teus caprichos,

Fisiologicamente enclausuradosNum viver coarctadoÀ cobiça espiritual,

Não te deixam perder pelo carnal,Amarás eternamenteFremente da alma,Truão do corpo,

És o investimento heurísticoDe sempre mondar o amor.

Graças a tiMuitos foram

Os que conheceram novos mundos,Além mar

Da Terra vivida,Além do horizonte do pensamento,Super – Ego sem voz de comando.

És um mito,Ordenas o amor

E deixas-te subjugar por ele,Teu nome retesa o arcoE lapida mais a flecha,

Encurtando a distância que os separaNão da vida,

Mas do olhar de ambos,Que escondes

Entre as flores desse jardim,Onde só os eleitos,

Têm o privilégio de olfactarA brisa perfumada do amor,

Olhar esseQue nos separa do frontão,

Que por amorAfronta a entrada,

A todo o veneno transparecente.És flora rica

De ambiente tropical,Tens humidade que brota

Do ebulir dos corpos em paixão,E o frio, teme a força do teu calor.

Como és terreno fértil,Quando hibrídas por ti as sementes

E excomungas o daninho.

Page 65: Rima com Poesia

LUÍS VAZ DE CAMÕES

Olho para o buraco escuroDo meu desconhecer,

Conseguindo ouvir apenasO timbre desfocado da minha voz:

Quem foste tu?Quem foste tu?

Tu!Que puseste a salvo

Do esquecimento eterno os Portugueses,Nadando num mar confuso

De correntes sem Norte,Escoradas por escarpas

Cabisbaixas, envergonhadasPor darem abrigo a tais águas.

Quem me dera,Da ignorância

Como tu ser ilibado,Pela análise examinativa e experiencial

Da prática existencial.Pela bravura!

Terá tua vida sido assim,Desde o mais tenroVicejo de alforria,

Até ao edificar de um ImpérioDe tão certos secretários,

Papéis amarrotadamente esquecidosNum bolso, numa mão pensativa,

Para afogar o esquecimentoQue o mundo tinha de ti.

Foste imaculado,Na devoção à Pátria

Que ao mundo te deu,À Belém

Que ao mundo te entregou.

Page 66: Rima com Poesia

A REVOLTA DENTRO DE MIM

Eram rostos de quem partia,Mas que jamais partirãoDo meu coração.Ouvindo não sei que chamamentoQue lhes cegava de peso o rosto,Trocavam o seu viverPela vida,Emparedados entre o MundoE o Universo.O seu olhar,Que ora penetrava fundoO desconhecido,Ora pestanejava demoradamentePara segurar a imagem,A lágrima de quem ficou,Esse olhar tentavaDizer-me alguma coisa,Que não tendo tempo de ouvirMe revoltou,Porque receio fundamentadamenteNão poder atender.Na verdade,Só as grandes naçõesFazem as grandes revoluções,Mas penso não ser um grande HomemPara ter em mim uma grande revolta.Sei também, Que das grandes revoluções

Nascem nações ainda maiores,Como das revoltas revoltadasDo espírito Humano,Nascem almas De uma adamastora sensibilidade,Essas almasQue vi partir.Mas estarei então condenado,Ao rebentar eterno de pequenas vagas,Que assolam o meu cabo das tormentasEnfim,Ser a alma do Adamastor.Brado ante o fuzilamento,Que prefiro cerrar os dentesÀ dor de uma bala,Que um dia cicatrizará,Do que trazer na lapela do meu peitoUma flor,Que jamais provaráO albino da crespação,Porque o caule Me suga o néctar linfático,Enquanto o cáliceMe aperta as pétalas venenosas,Que jamais deixarei cair.Dessas flores,Cujo cheiro inebriaE se as cheiramos,Morremos.

As pequenas revoltas,Com disparos destas flores

Que na realidade,Ninguém irá cheirar

Mas espezinhar um dia,Ao contrário das grandes revoluções,

Não buscam a edificaçãoDe um ideal futuro,

Mas a destruição do passadoO seu veneno,

Mas também o seu antídoto.

Page 67: Rima com Poesia

ÍNTEGRO

Desejo,Na fraca lucidez

Dos momentos mais cortantes,A morte.

Porque não desejo antesO eriçar do meu tronco,

Duro como a integridade,Como o veio de uma rocha

Jamais esnocável,Ao ponto de esmurrar

Essa lâmina que nos retalha,Às vezes os sonhos,Às vezes o sofrer.

No rumorDa mente do poeta,

Na tinta imóvelA que dá forma

É fácil,Mas por vezes,

Também eleVai entregando a mão a esse sucedâneo,

Deixando falecer o corpo.

Page 68: Rima com Poesia

VALSA

Biltres, inconsequentes e desgovernadasQue fazeis?

Parai! Com os olhos fitos, paralisados,Gemendo indolores

Os bramidos da mudez,Vos ordeno que pareis!

Quietude vos peço.Não vedes ou

Não quereis ver,Que já a noite

Levou do Céu o azul,Vindes vós agoraNuvens de luto,

Dançar em torno da chamaQue apesar de tudo,Continua a seduzir.

De madrugada sereis nevoeiro,Orvalho empalidecido pela manhã,

A pingar como estalactitesDas minhas pestanas pesadas.

A custo, por inérciaVou abrindo os olhos,

Para finalmente verQue nunca mais te verei.

Não me choreis agoraCom a claridade o perdão,

Pois só sabe perdoarQuem já foi perdoado.Também o meu crime,

De alumiar a noiteQuando queria ser trevas,

De a apagarQuando queria ser luz,Jamais será redimido,Senão pela abdução

Da aurora aparecida do Sol,Que vos despiu o luto

Vestindo de claro a luz,Do dia que jamais

Me deixará adormecerNo fechar dos olhos,Pestanejando apenas

Ao chamamento dos teus.

Page 69: Rima com Poesia

CONHECESTE O FRIO...

Perguntaste-me o que era o frio.Disse-te que era ausência de calor,

Ter frio é perder calor!Para ti

Esta explicação não podia ser viável,Eu era o seu caso recalcitrante.

Tantas vezesHavias sorvido o sopro gélido do meu coração

E não, não era calor.Ficaste incendiada é certo,

Mas esse fogo foi crespado pelo teu calor,Que eu calor nunca tive.Ardes e vais sentir sede,

Serei então gota de orvalhoEsculpida pelo frio dentro de mim.

Até o frio me vais querer roubarQuando com ela saciares a tua sede.Saberás então a minha maior mágoa,

Ter-me condensado num jardim com muitas flores,Mas onde não havia rosas suficientemente bonitas para ti!

Page 70: Rima com Poesia

VISEU, 4 DA MANHÃ

Se eu soubesse sorrir ao teu olharE olhar para o teu sorriso,

Seria agora mais fácil sorrirmosEntre um beijo e outro,Um abraço e um adeus.

Por te amar tantoTive medo de me magoar,

Ferir-nos a ambos,De uma felicidade de sorrisos áureos

Que nos esforçamos fisiologicamente por mostrar,Pois que emocionalmente não existem.Sorrir, penso que foi o melhor caminho

Para mostrar as nossas lágrimas,Para chorar mesmo,

Sem que ninguém se atreva a limpá-las por nós.As rosas que te dei

Não eram da cor dos meus sentimentos,Nessa noite até o luar enrubesceu

E o Sol da manhã seguinte ficou pálido,O teu coração bateu mais forte,Só tu ficaste indiferente, alheia,Seguramente mais apaixonada.

Sonhador?!Se amar-te é isso,

Então sou-o,Se ser a personagem dos teus sonhos,

Já não sei...

Page 71: Rima com Poesia

FUGA

Se o nosso olhar fosse a nossa vozContinuaríamos a fugir um do outro?

Não podemos fugir Se vivemos um no outro,

Mas eu sou pobre e sem tecto,Papel sem texto,

Escritor sem pena,Poeta sem dor,

Enfim, um desalojado hospedado em ti.O mel dos teus olhos

Continua com o castanho mais doce, mas sem guaridaE eu sou o culpado

Do teu olhar ser o meu olharNos momentos em que tu me olhas

e eu te olho,mas não nos olhamos,

tu me desejas e eu te desejo,mas não nos desejamos.

Trocava todas as noites da minha vida pela tua presençaNo meu leito,

Escrever palavras de amor no teu peitoCom o suor confundido das nossas mãos,

Ouvir as queixas do teu dia a diaE pela magia do teu suspiro

Tecer pétalas de rosa.As mesmas palavras que escrevo no corpo de alguém

Que ainda que tente, não as sabe decifrar.Bradadas ao vento, o teu marido as ouve

E as declama para ti durante a noiteMas não as diz,

São só mais algumas palavras de que ele não sabe o significado,Mas sabe que tu mereces.

Não sei o que lamento mais,Não ter sido um dos teus segredos

Ou não ter sido confidente dos teus outros segredos.Já sei o que lamento,

Não saberes o segredo dos meus olhos,A maneira como eles te vêm...

Page 72: Rima com Poesia

A DOR QUE ROUBEI

Serei mercenário da dor dos outros?Digo que na realidade sou feliz

Sem na realidade saber o que sou!Nada de meu me dói

Finjo-me dorido se me magoasMas só a dor dos outros me estrima!Serei mercenário da dor dos outros?

Sinto-me estropiadoPelo olhar mutilado

dos que têm razão para chorar.A mãe indulgente

Que toma do filho a dor,As crianças altruístas

Que tomam dos adultos o sofrer.Eu que posso fazer?

Por ti, que posso fazer?Já sei!

Tomar pela coragemEm minha mão direita a espada da paixão,

Pelo sonhoEm minha mão esquerda o escudo do amor,

Lutar sem medo de morrerPois havendo amor para além da morte,

Continuarei a amar-te. Saberei então se eram os teus olhos que brilhavam,

Ou apenas reflectiam a luz dos meus.Na verdade, nem os meus brilhavam,

Apenas mostravam o saqueFurtado à chama que ardia dentro de mim.

Page 73: Rima com Poesia

VOU TENTAR O IMPOSSÍVEL!

Parece impossível!Tantas e tantas vezes o poeta tem medo de escrever!

Deve ser medo o que sinto agora,Medo de não dizer o que mereces,

De não escrever o que realmente sinto,Mas vou tentar, tenho de tentar!

O verdadeiro amorÉ como as águas de um rio,

Passam por nós num qualquer espaçoNum qualquer tempo,

Mas continuam a correr,Sem as vermos

Continuam-nos a levarOnde só elas ordenam.

Vão-se diluir nas águas do marOu será uma aguarelaEsboçada pelo Céu,Pintada pelo Sol?

Seja o que forElas continuam lá, escondidas,

Esperando voltar ao sítio de onde partiram.

Page 74: Rima com Poesia

1 DE SETEMBRO DE 1999

Os cupidos deviam estar distraídos,Talvez tivessem adormecido,

Não viram que te fizeste mulherE vieste até mim.

Não sei de qual deles eras mulher,Amante ou amor idílico,

Apenas sei que não eras feliz,Por isso vieste.

Continuas a olhar para trás,Recusas ver o futuro

Sobrevivendo no presente.Quis dar-te o que tinha,

Mas tu, julgando que já de alguém o tinhasQuiseste mais do que isso!

Perguntei-te o que seria mais que a vida, ou o amor.Ser mel quando tens pesadelos,Ser realidade quando sonhas,

Ser calor quando tens frio,Ser frio quando tens calor,Ser a vigília do teu sono,

Ouvir-te falar mesmo quando durmo!Nada disto tinha para te oferecer!

Implorei-te que me dessesOu mesmo me emprestasses algo do que pedias,

Para contigo o compartilhar!Nada disseste mas alguém disseQue há muito mo tinhas dado.

Page 75: Rima com Poesia

SE TU FOSSES UMA FLOR...

Se tu fosses uma flor...Qual serias?

E eu que seria?Ás vezes penso que seria o próprio jardim

Outras, o seu jardineiro.Qualquer uma das duas alternativas

Deixa angustiada a minha preocupação!Se fosse jardim

Seria pequeno para a tua beleza,Não teria solo para a força das tuas raízes,

A tua simpatia não teria oxigénio que respirar,Enfim,

Não teria flores suficientemente belas para te oferecer,A não ser tu própria!Se fosse o jardineiro,

Teria que me ocupar também de todas as outras flores do jardim,Não teria todo o tempo,

O tempo todo para admirar as tuas formas.Oh! Se pudesse capturar a tua alma

Através do brilho do teu olhar,Embrulhá-la no meu coração

E rematá-los com o meu amor!Tudo o que posso ser para ti é poesia,

Ainda assim,Com uma rima oculta e triste,

Receosa de não descrever toda a tua bondade.Por fim e pedindo ajuda ao Frank,

Tudo o que posso dizerÉ que cada uma das palavras anteriores, é um pedaço do meu coração,

Talvez tenha dito demasiado, mas não disse o suficiente,Porque cada uma das palavras anteriores, é um pedaço do meu coração!

Enfim, quem me deraUm dia poder roubar-te o meu coração!

Page 76: Rima com Poesia

SÓ AGORA?

Só agora que te amo, Sei o que é ser ilegal.

As leis biológicas prevêemE eu quero ser os teus lábios,

Mas as leis dos Homens não deixam.Se os meus lábios fossem os teus lábios,

Não deixariam que ele te beijasse,Que outros me beijassem,

As minhas palavras não seriam as dele, mas as tuas.Somos proscritos biológicos

Cumprindo as leis dos Homens.Falhámos!

As rosas que trocámosPrometeram que nunca iriam murchar,

Mas cresparam. Porquê?Dizemos que não sabemos,

Fingindo não saber das lágrimasQue sobre elas vertemos...

Apenas te chamo a atenção para um pormenor,As pétalas ficaram, vermelhas como sempre.

Page 77: Rima com Poesia

ACENO

Nessa manhã de Setembro,Deus perdeu um dos seus anjos

Perdeu-o para mim!Enquanto cavalgava

Ia limpando com lágrimasO pó oferecido à minha face pelo vento,

Carregando no meu cavaloQuilos de atenção para quem não merecia,Parei para dar passagem à tua carruagem,

Olhei o Universo pelo teu retrovisor,Observei os teus olhos castanhos,

Vi neles o meu olhar,Como ficou leve o meu cavalo nesse instante,Levaste toda a atenção porque a conquistaste,

Derrotaste um país de campos inférteis,Verdes por engano ou por tirania.Eras a democracia que procurava,

Vou para sempre viver em ti,Ainda que partilhe a bancada do teu coração

Com outro deputado.Como podes então ser tão tirana,

Governares todo o território do meu coração,Onde o povo faminto clama

Pelo alimento da tua presença,Mas és a sua imperatriz,

Acalmas os motins com o teu sorriso,A tua voz culta e sapiente,

Da tua carruagem acenando com a mão esquerda.

Page 78: Rima com Poesia

AMAR E/OU SER AMADA?

Agora,Foste tu quem foi permeável,Ao meu sinal, ao meu desejo,

Guardaste-o minimizando o seu valorNegando que o querias,Apenas precisavas dele!

Antes clamavas,Agora sabes como clamar,

Podes fazer da tua voz ondas electromagnéticas,Que no meu coração

Elas se farão a tua voz.Podes chamar por mim

Até ao fim do segundo 86 400Desse mesmo dia sem fim,

O primeiro, o último, o únicoDia das nossas vidas

Em que poderei bradar-te como minha,Prostrando o grito

Em que há muito afirmo ser teu.Todos sabem que não o amas,

Talvez te sintas amada...

Page 79: Rima com Poesia

À CONVERSA COM UM PORTÃO ENTREABERTO

HojeEstive à conversa com um portão entreaberto,

Foi ele quem me abordou,Reconheceu a tua imagem no meu olhar

E com a voz do ruído do seu correr embargada,Suspirou que estás cada vez mais bonita.

De onde a conheces? Perguntei.Invejei-o quando me disse

Que houve uma época Em que todos os dias passavas por ele.

Apesar de quase não reparares neleEle sempre te cumprimentava,

Negava a tua indiferençaContorcendo-se para te saudar,

Com a ajuda do arrepio que sentiaAs suas dobradiças choravam,

Escondidas algumas lágrimas de óleo.Perguntou-me quem é o responsável

Pela mancha de infelicidade no teu olhar,Disse-lhe que foram as minhas lágrimas

Quem manchou a fotografia,Não acreditou, pois lágrimas de amor não mancham,

Fazem brilhar...No adeus, contorceu-se e abraçou-me,

Depois vergou-se e tirou dos seus carris uma súplica,Que todas as semanas lhe trouxe-se no meu olhar

Novas fotografias de ti,Que te trouxe-se a ti própria,

Enquanto ele continua entreabertoComo a aliança que nos separa...

Page 80: Rima com Poesia

CONQUISTA

Senti-me o rei daquela noiteas luzes que rodavam em cima da minha cabeça

coroavam-me de glória, envolto num manto de fumo

jurei preservar a independência do meu território.Logo me propuseste parcerias amigáveis,

mas os teus beijosnão eram mais do que lanças

tentando ocupar os meus lábios e daí, encetar uma ofensiva até ao meu coração,

fazendo assim cair a capital.Negociámos o armistício durante toda a noite,

tendo a lua e as estrelas como únicas testemunhas,redigimo-lo nos nossos olhos

e selámo-lo com carícias.Mas eu não cumpri

a minha parte do acordofalhei, fraquejei,verme, cobarde,

não mereço governar este território,por isso to entrego.

Page 81: Rima com Poesia

Quem me dera saber quem és!

Finalmente descobri, Procurei, escavei, divaguei, delirei e encontrei-te,

Pobre de mim,Forasteiro numa terra de nacionalistas xenófobos,

Perseguido, espezinhado, torturadoPelos olhares,

Apenas, tão só, porque te livreiDa túnica de mulher feita que envergavas.

Deixai-me com esses fantasmasQue há muito havia enterrado e que libertei,

Quando tentei libertar-te das amarras que nos separam.De todas as lutas,

A mais fratricida e sangrentaAbriu chagas incomensuráveis no meu coração,

Na verdade já não tenho coração,Apenas uma fístula infectada e bolorenta.

Essa luta travei-a comigo mesmoE arranquei-o de mim como troféu

Que não soube guardar.Temo agora que o venhas reclamar

Por isso o procuro,Não, não fujo de ti como dizes,

Apenas o procuro para ti, Porque não me mereces sem coração.

Page 82: Rima com Poesia

Ansioso, estafado e sedento, o tempo calcorreou o próprio tempo,

atravessou segundos,correu pelos minutos,

subiu horas, rolou pelos dias,

descansou nas semanas,andou à boleia pelos meses,

até lançar amarras no fundo dos anos,não sem antes pagar ao desertoum peso de água e mil de sal,

o que fez com lágrimas,lágrimas salgadas,

as únicas que tinha e conhecia.Sempre lhe foi mais fácil dizer adeus,

começar de novo,pois que as amarras

tinham um preço demasiado alto.Por fim,

até o adeus lhe era difícil,preferiu só o deserto da solidão,

onde te conheceu,oásis mais vasto que o mar,

onde lhe deste a beber lágrimas,doces como o mel dos teus olhos,

droga inebriante em que viciaste o meu tempo.

Agora,correm-me nas veias essas lágrimas,

sem antídoto,estou viciado nas tuas lágrimas doces,

que bebo,estou viciado em ti!

Page 83: Rima com Poesia

NAUFRÁGIO

Ninguém me ensinou a navegar,para quê, se nem sou barco!

Mas foi um barco que me levou a vida,com medo que ele naufragasse,

prendi-me ao seu mastroe soprei-lhe as velas.

Apesar do cuidado, não pude evitar o choquecom o iceberg do meu coração

e ele afundou-se,bem fundo no seu peito.

Apesar de ainda estar preso ao mastro,fiquei para trás, perdido, náufrago,

na ilha imaginária do meu pensamento.No seio das tempestades que assolavam esta ilha,

a alucinação trazia-me na tua voz,as palavras que há muito, muito tempo,

havia colocado dentro de garrafas e lançado ao mar.Pensei seres o barco que me vinha resgatar,

mas estavas só a pernoitar na insónia do meu pensamento,onde o doce toque do teu fantasma

acariciava as ondas do mar,como o mar acariciava as tempestades da minha alma.

Muitas vezes roguei a Deus,mas para quê

se nem o seu próprio filho ele conseguiu salvar.Só lamento que não tenhas deixado a vela

onde reuniste os versos soltos do meu coração.

Page 84: Rima com Poesia

TUDO SOBRE TI

Hoje sentei-me para escrever tudo sobre ti,chama-lhe ambição, sonho, querer ou desejo,

eu chamo-lhe apenas destino.Desfolhei todo o Dicionário da Língua Portuguesa,

os Dicionários de todas as Línguas,não encontrei palavras com sapiência suficiente para te definir,

desabafei com o dicionário dos poetase ele segredou-me que apenas uma palavra,

apenas uma, poderia falar de ti: Mulher.Foi necessário conhecer-te

para ser o único homem a saber o significado desta palavra.Disse-me também que gostaria de te conhecer,pois só assim, poderia apagar das suas páginas

a dor e os seus sinónimos,na dúvida, talvez deixasse o ciúme,

apenas por te saber tão desejada por mim.Talvez nunca possas ser a minha mulher,

mas serás sempre a Mulher da minha vida!

Page 85: Rima com Poesia

MAPEAR O TEU CORPO

Encontrei um mapa

Um mapa que diziam ser uma lenda,

De um local belo, aprazível e fértil,

Não, não é o mapa da Atlântida,

É o mapa do teu corpo.

Resolvi conhecer esse local

Meio desnorteado e sem bússola,

Tendo-te apenas como sorte

A Norte do meu destino.

Comecei por soprar a areia dourada dos teus cabelos,

Peguei numa mão cheia

E deixei-a escorregar por entre os dedos,

Que suavidade, que brilho e que aroma.

De seguida,

Subi as serranias do teu peito e gritei por ti,

Ordenei ao vento que gritasse comigo,

Às aves que levassem a nossa voz,

Amo-te, quero-te.

Sentei-me contemplando a vastidão do teu Universo,

Esperando ouvir o eco destas palavras na tua boca.

Desci às planícies do teu ventre,

Deitei nelas a minha cabeça,

Repousei e adormeci.

Sonhei estar encurralado numa gruta,

Mas não me senti prisioneiro, tinha alguma liberdade,

Uma vontade de fugir que me impelia para fora

E a tua voz de queixume prazenteiro,

Que me chamava para dentro.

Fiquei confuso, mas optei pela reclusão.

Querias apenas salvar-me e proteger-me,

Guardando-me dentro de ti,

Tu e eu seremos apenas um.

Page 86: Rima com Poesia

ERÓTICO

Treme já o transpirarFruto ignóbil do medo,Da ansiedade de amarNum tempo ledo,De beijos e caríciasConsanguíneas sevícias.Teus lamentosSão uma acha de lume,Que nossos corpos uneEm bródios desatentos.A TerraNão é mais o nosso mantoMas o Éden do encanto,Segredos, que um lençol encerra.Numa volúpia volátilSerenamos além do versátil,Pousamos além, além da fímbria da vidaQue já não vivemos, esquecida.Ergástulo tua fustaDo canonizar de minha alma,Venial a augusta calmaDo fuste, que a furta e degusta.Em delíquio adormece já a mente,De tuas serranias uma torrente,Inamovíveis capitososRibeiros airosos.

Page 87: Rima com Poesia

(Re)Encontro

Vi a noite despedir-se do dia,

Pedi-lhe permissão para a acompanhar,

Calada, apontou-me a lua cheia como guia,

Então sorriu com o luar

Como consentimento

E com sentimento.

O que fazia por aquelas paragens

Perguntei por entre as quentes aragens,

Procurava o dia

Cuja partida consentia.

Não percebi, certamente pelo cansaço,

Sugeriu-me o orvalho como regaço

E as estrelas como agasalho.

Adormeci sem atalho

E voei a bordo da minha imaginação,

Fui bem longe sem sair do meu coração,

Onde te encontrei repousando

Da viagem que te trouxe do paraíso,

No espaço remando

Para me levares sem aviso.

A minha canoa havia encalhado

Ia no meu coração algo muito pesado,

Todo o meu amor por ti.

Salvaste-me, sobrevivi,

Coloquei-te na mão

O meu coração,

Implorei-te que me levasses o olhar

Para não te ver partir,

Olhar para trás com sentir,

Mas que me deixasses lágrimas para chorar.

Supliquei-te aparto da audição

Para te não ouvir dizer adeus,

Page 88: Rima com Poesia

Deixa-me os suspiros teus

Mas recuar, não, não quero esse chão.

As mão já me arrefecem,

Como posso remar? Os dedos enlouquecem,

De um lado para o outro, ficam duros,

Vai, sobrevive! Estou em apuros,

Porque sem teu viver

Morrerei sem chegar a ser!

Page 89: Rima com Poesia

BOLAS DE FOGO

Inacabadas são as noites

Em que partes sem nunca chegares.

Olho para elas, vejo bolas de fogo

E fico com o olhar lancetado,

Pelos punhais de saudade que exalam.

Então, fecho os olhos

Não, não! Continuo a vê-las

Dentro de mim, que adianta?

Elas habitam dentro de mim,

Essas saudades que já se empurram umas às outras,

Partem então para povoar o Universo

Mas ninguém as conhece,

Porque saudade, sentir a tua falta,

É apenas uma maneira diferente de dizer amor.

Também as malditas te amam

E têm ciúmes do meu amor,

Aliaram-se ao anjo negro

Colonizaram os teus lábios

Impediram-me de te beijar.

Nunca vencerão as malditas!

Page 90: Rima com Poesia

O AMOR VENCEU A FORÇA DA GRAVIDADE

A lua cheia, pesarosa, pesada,

Quis por à prova a força da gravidade,

Chamou-me com um sussurro mansinho,

Acenou-me com um gesto leve,

As estrelas sorriram atrevidas, sensuais,

Fui, procurava-te, tinha que ir,

Imaginava-te lá, deitada nas manchas negras,

Imaginava-te lá, com o teu body preto.

Era uma armadilha,

Mal assomei o ventre das suas crateras,

Ordenou ao luar que se fechasse,

Trancasse, amarrasse e electrificasse,

Todos os portões, estava preso.

Porquê eu? Porquê eu!

Eu num mar de lágrimas do seio,

De uma humanidade de biliões, crescente.

Percebi,

São minhas as lágrimas mais verdadeiras,

É meu o amor maior

E a lua queria testar a força da gravidade.

Aparentemente, resistiu à aparência dessa força,

Mas toda ela já tremia, abalada,

Não de frio, em ebulição,

Mas queria mais, a cientista.

Pôs-me na cela a nossa cama,

Os nossos lençóis, massacrados e suados,

Embrenhei neles os meus dedos,

Encontrei sinais de ti,

Fios de seda aloirados,

Page 91: Rima com Poesia

Encostei neles os meus ouvidos,

Ouvi a rima dos nossos corações,

Escutei a rima do nosso respirar,

Sussurrei a rima dos nossos gritos de prazer.

Cravei neles os meus olhos,

Espreitei as nossas carícias,

Os nossos pés enlaçados,

Mas não, tu não estavas lá.

De repente, tudo estremeceu,

A lua sobressaltou-se

Implorando-me que partisse!

Ela já não aguentava, ia cair!

Vai, imploro-te que vás,

O teu amor é mais forte, tão mais forte

Que a força da gravidade,

Que todas as forças do Universo,

É Carla o seu nome, não é?

Quis saber antes de eu partir!

Sim é, respondi com uma lágrima!

Vai, vai…

Page 92: Rima com Poesia

ACORDAR DE UM COMA PROFUNDO

Sentei-me para escrever,

Se escrever eu sei longe de ti,

Levantei-me para te lembrar,

Mas nem por um nanosegundo te esqueci!

Vou ser condenado a um fogo cruel,

Daqueles que ardem e não consomem,

Dói mais, vive mais, respira mais,

Olho para o dicionário e as palavras somem,

Não sei dizer tudo o que mereces

Porque devo-te tudo o resto,

O sentimento que vivo, a vida que sinto,

Até do escrever o gesto.

Era amnésico meu coração,

Contigo, lentamente,

Acorda do coma em que viveu,

As palavras que lhe dedicas, lê-as atentamente,

Deixa-as desmemoriadas

Para recuperar a sua própria memória,

Escrever coisas sentidas e com sentido

Encontrar nelas a sua própria história.

Page 93: Rima com Poesia

SUICIDIO DO CORAÇÃO

O meu coração tentou enforcar-se,

O tonto, gostou tanto do nosso amor

Que fortemente o cingia,

Comprimido contra si próprio,

O tonto, como é bom o nosso amor!

Apertou-se a si próprio,

Mas não se sentia agradado e não percebia,

O tonto, que nada tem a força do nosso amor!

E tudo, tudo

Com ciúmes do vento,

O vento que te liba o perfume,

O vento que te acaricia por baixo das tuas vestes,

O vento com poeira que te faz chorar,

O vento que se roça nas tuas unhas,

Para se arranhar como tu me arranhas.

Page 94: Rima com Poesia

MULTIDÃO DE SAUDADES

O Mundo baloiça em roda de si mesmo,

A Terra baila em torno do Sol,

Tu danças em torno do Universo.

Quem agita mais esta multidão?

Tu és a energia potencial

Transformada em energia cinética,

O Mundo pára e a Terra estanca

Para te verem dançar,

Mas a multidão continua agitada

Redemoinhando à procura de si mesma,

Encontrar-se-á se te encontrar,

Portanto és tu quem agita a multidão

Dos sentimentos de amor

Que calcorreiam as minhas veias.

Outras multidões há,

Não se lhe comparam,

Pessoas com corpos,

Corpos sem pessoas,

Sem alma ou à procura dela,

As multidões do dia-a-dia

Onde me agito sem ti,

Com as mãos mutiladas

Porque os meus dedos não podem abraçar os teus.

Não, não procuro a minha alma,

Procuro-te a ti, só a ti,

Porque tenho a minha alma em ti,

Tens a tua alma em mim.

Reconheci-te num baile de máscaras,

De incomensuráveis bailarinos,

Onde debutei e revivi para sempre,

Mas não te encontro nesta multidão,

Os teus pés não acariciam as pedras desta calçada,

Page 95: Rima com Poesia

Outras pedras se aprazem com eles,

Noutra multidão me procuras certamente.

Tu e eu havemos de reunir novamente,

Os nossos corpos e o nosso olhar,

Fazendo descansar a multidão dos nossos sentimentos.

Page 96: Rima com Poesia

POESIA OU AMOR?

Li todos os poemas de amor,

Reli as suas entrelinhas,

Desci e voltei a subir

A escadaria das suas rimas,

Mas não, nenhum deles,

Nem uma só palavra se mostrou meritória de ti!

Tentei eu escrever, mais uma vez,

As palavras nada poderiam dizer de ti,

Por mais que tentasse,

Que forçasse a mão trémula,

Era uma questão de tinta,

É sempre a mesma tinta em todos os poemas!

É com sangue soprado a fogo,

O meu sangue, o meu amor

Que tenho de escrever-te,

Talvez apenas uma pintura abstracta,

Mas estão lá o amor e a vida,

É disso que falam os poemas, não é?

Talvez assim acredites,

As minhas palavras ganhem reputação a teus olhos,

A disposição de chorar por ti seja aceite,

A vontade de morrer por ti

Seja lavrada nos nossos lençóis,

Um tratado de amor eterno

Assinado com o nosso suor.

Em 15/ 08/ 2005

Page 97: Rima com Poesia

VIDAS PASSADAS

Reencarnei no nosso amor,

Descarnei a minha alma,

Esfoliei o coração dos prazeres mundanos!

Reencarnar num amor fortificado,

Que não cede, proibido, cheio de sede,

É o preço venial que tenho a expiar,

Pela ferida chagada que terei aberto em ti,

Nessa outra vida, vidas,

Que não terei vivido

Por não te ter esquecido,

Sem nunca te ter encontrado.

Perdoa-me amor esse mal,

Que mal parecido esse mal!

Desenhava mapas do mundo,

Encantado com a geometria das belas formas

Dos continentes e das ilhas,

Como não te descobri? Ilha maior que um continente!

Agora que te encontrei,

Já não retrato nem continentes nem ilhas,

Retrato a incontinência deste coração

Que te ama, carnando por ti!

Dizes fazer do pouco muito,

Peço-te que por uma vez

Me faças muito,

A teus olhos talvez pouco,

Concede-me exílio eterno

No teu coração terno,

Até ao poente desta vida

E das que havemos de viver.

Não quero envelhecer

Nem voltar a nascer,

Sem a tua perfeita geometria facial,

Page 98: Rima com Poesia

Prefiro auto proclamar a minha morte

Num purgatório exicial. Em 20/ 08/ 2005

Page 99: Rima com Poesia

PRIMEIRO BEIJO

Senti-me o rei daquela tarde,

O sol rodava em cima da minha cabeça

Coroando-me de glória.

Soprando levemente o seu calor

Derreteu o gelo do meu coração.

Este milagre era fácil para ele,

Mas o gelo era quente e mole

Perto do meu coração empedernido,

Verdadeiro condensado de Bose-Einstein.

Foste tu quem o ajudou!

Ainda que as estrelas e a lua,

Tivessem vindo lá do outro lado do mundo

Deixando-o às escuras,

Bailar em torno do Sol,

Foste tu, tu quem o ajudou,

Quem me tornou novamente água viva.

As nuvens que me envolviam

Foram-se dissipando,

Deixando para trás uma neblina,

Só para evitar o choque

Dos meus olhos voltarem a ver a luz,

Assim, tão repentina e tão clara.

Carinhosamente,

Tuas mãos sopraram essa neblina,

Desnudando-me o peito.

Cerrando os dentes,

Jurava ainda preservar a independência

Do meu território,

Como parcerias amigáveis,

Os teus beijos não eram mais do que lanças,

Tentando ocupar os meus lábios

E daí, encetar uma ofensiva até ao meu coração,

Page 100: Rima com Poesia

Fazendo cair a minha capital.

Negociámos o armistício durante dias,

Tendo essas recordações como únicas testemunhas,

Redigimo-lo nos nossos olhos

E selámo-lo com carícias.

Por mereceres governar o território do meu coração,

O conquistaste,

Dele fiquei apenas com o amor,

Para eu próprio tu oferendar.

Em 10/ 09/ 2005

Page 101: Rima com Poesia

FIM DO MUNDO

Muitos profetas,

Muitas palavras

Ponderaram já sobre o fim do mundo,

Fome, peste e guerra,

Água, vento e fogo.

A minha alma já teve fome de amar

E o mundo ficou,

Sentiu a peste de dar amor sem amar

E o mundo aguentou,

Guerreou fratricidamente por ilusões

E o mundo sangrou,

Nadou nas minhas lágrimas

E o mundo não se afogou,

Sentiu o vento gélido da solidão

E o mundo não se agastou,

Aqueceu-se em chamas ténues

E por isso as apagou.

Lamento contrariar a sabedoria popular

Mas não é assim que o mundo acaba.

Eu senti-o acabar

Com a respiração ofegante,

As palavras embargadas,

O olhar trémulo,

Os músculos enrijecidos,

A força paralisada,

Naquele dia triste

Em que quiseste saquear-me,

Levar-me o mundo para o destruíres,

Naquele dia em que te reclamaste a ti própria,

Em que quiseste levar-te de mim,

Para nunca mais voltares.

Na tua crueldade,

Page 102: Rima com Poesia

Quiseste enterrar-me vivo

Com as tuas lembranças materiais!

As memórias não as podias levar

E essas, meu amor,

Eram suficientes para me fazerem penar

Eternamente no purgatório,

Causando pena ao próprio Inferno. Em 27/ 08/ 2005

Page 103: Rima com Poesia

ESSE DIA 6 DE JUNHO DE 2005

Nesse dia de Primavera,

Deus perdeu um dos seus anjos,

Perdeu-o para mim!

Quando me sentei naquela mesa,

Tinha aportado de uma longa cavalgada pela vida,

Limpando com lágrimas

O pó oferecido à minha face pelo vento,

Carregando no meu cavalo

Quilos de atenção para quem não merecia,

Parei para dar passagem à tua moto,

Olhei o Universo pelo teu retrovisor,

Observei os teus olhos castanhos,

Vi neles o meu olhar,

Como ficou leve o meu cavalo nesse instante,

Levaste toda a atenção porque a conquistaste,

Derrotaste um país de campos inférteis,

Verdes por engano ou tirania.

Eras a democracia que procurava,

Vou para sempre viver em ti,

Ainda que partilhe a bancada da tua vida

Com outro deputado.

Como podes então ser tão tirana,

Governares todo o território do meu coração,

Onde o povo faminto clama

Pelo alimento da tua presença!

Mas és a sua imperatriz,

Acalmas os motins com o teu sorriso,

A tua voz culta e sapiente,

Os teus discursos em forma de mensagens,

Da tua moto acenando com o olhar.

Em 1/ 10/ 2005

Page 104: Rima com Poesia

SEM ABRIGO

Era Primavera nas leis dos Homens,

Mas Inverno Rigoroso no meu íntimo,

Órfão, mendigo sem abrigo,

Agasalhando a alma

Em emoções desleais às leis do amor!

Agasalho roto,

Esfarrapado pelas minhas unhas

Que se procuravam cravar na vida,

Estava nu é certo,

Mas tinha que enganar o frio,

Não podia ceder perante ele,

Fingia-me aquecido

Sendo hipócrita comigo mesmo,

Para não lhe dar o prazer

De me espezinhar calorosamente.

Foi assim,

Indigente, com fome e frio,

Que bati à porta das tuas mãos,

Convidei-te a sair de ti,

Para vires dançar no meio da chuva!

Recusaste, talvez com medo da tempestade,

Talvez também estivesses molhada,

Talvez também procurasses abrigo!

Foi então que vi,

Deixastes entreabertos os teus lábios,

Entraste em mim, entrei em ti

Sem forçar o esforço,

Construímos um abrigo

Que já provou a sua força

Nas quatro estações do amor,

Vivemos ardentemente Primaveras e Verões,

Já suportámos algumas tempestades de Outono

E resistimos ao Inverno da distância. Em 8/ 10/ 2005

Page 105: Rima com Poesia

SONHO

(A Propósito da incerteza de poder ver-te…)

Acordei num sobressalto desperto

Com suor falto de calor,

Chagando as feridas

Da certeza incerta de poder ver-te.

Chega autoritária e arrogante,

Certa incerteza errante,

Para com dedos raquíticos e vis

Levar-me o sonho ainda em flor,

Sacrificá-lo aos além dos senis.

Mas sou sonhador e sonharei

Ter outro sonho e despertar,

Ser o único a cair no sono

E de novo sonhar,

Do teu sonho ser dono.

Salve desejo incendiado

De pelo teu pensamento

Sempre estar rodeado.

Nestas ruas em forma de vida

Por onde em fábula me arrasto,

Neste viver de forma esquecida

Apenas sonho com a realidade,

Apenas sonho contigo,

Realidade mais doce que o sonho!

Em 3/ 9/ 2005

Page 106: Rima com Poesia

MAPEAR A TUA ALMA

Saí do teu coração sem o abandonar,

Pé ante pé,

Com o silêncio cúmplice

Do seu bater!

Estava decidido a mapear a tua alma,

Bati à porta com carícias

E a minha própria voz deu-me permissão para entrar!

Entrei, percebi que a minha voz

Veio de longe, muito longe,

Convidar-me a entrar.

Uma vez lá dentro,

Percebi o significado da palavra enorme,

Era inglório tentar mapear a tua alma,

Agora tinha que fazer um outro mapa,

Para me encontrar a mim e à minha voz

Na vastidão da minha alma!

Tomei a boleia do meu coração,

Visitei o bom e o bem

Que pensei nunca existirem,

Deste-me a beber alguma da chuva

Com que regas as tuas férteis planícies,

Estava abrigado no meu coração

Que me transportava pela tua alma,

A chuva escorria

Limpando as minhas feridas sem sangue,

Acariciando as janelas das minhas aurículas,

Batendo à porta dos meus ventrículos.

Não resisti e saí para fora,

Bebi esse doce néctar,

Rebolei-me nele e adormeci.

Regressou o Sol e acordou-me,

Mas não veio sozinho,

Page 107: Rima com Poesia

Fazia-se acompanhar dessas nuvens alvas,

Com ar palaciano que emolduram os céus,

Cheias da chuva que amam

Mas que não podem derramar!

Senti-me como elas,

Já que estou a transbordar de amor por ti,

Amo esse amor como te amo a ti,

Conquistei o teu amor

Mas não te posso conquistar a ti…

Clamei aos ventos, tempestades e furacões,

Que fossem transformar o mundo feio e triste,

Esse mundo fora da tua alma e do teu coração,

Onde longe de ti aprendo a morrer,

Mas que nunca agitassem o céu em que me fazes viver,

Perdido de amor por ti

Na tua alma e no teu coração!

Vou esperar por ti

Nestas nuvens almofadadas,

Vou enlaça-las e fazer delas lençóis,

Os nossos lençóis da eternidade.

Enfim, vou ficar perdido para sempre na tua alma!

Mesmo que algum dia me queiras expulsar,

Não deixarei, hei-de resistir,

Fugitivo dentro de ti,

Escondido com vergonha de mim próprio,

Por não merecer o paraíso!

Em 22/ 10/ 2005

Page 108: Rima com Poesia

O COFRE DOS TEUS SEGREDOS

Acariciando os meus pés na areia molhada,

Os meus olhos caminham pela imensidão do mar,

À procura de águas calmas onde me sentar,

Mas todo ele é revolta e saudade,

Ciúme e tempestade,

Pelo tempo incontável que passas comigo.

Sentei-me aqui na areia

Molhada pelas lágrimas da minha saudade,

Esperei que ele viesse até mim,

Depois de acalmar, o mar.

Em esforço se impelia para mim

Rebolando-se sobre si mesmo

(lembrei-me do teu ventre vibrante de prazer),

Mas algo mais forte o violentava

e constrangido, recuava.

O meu olhar mudo

Continuou a chamá-lo,

Cerrei os meus olhos

Como quem cerra os lábios para beber,

Queria tragar toda a sua força,

Saciar com ela a minha alma,

Onde eu poderia mergulhar

E desvendar, quem sabe decifrar,

Todos os segredos que confiaste ao mar.

Mas, foi a promessa que ele te fez

Que não o deixava vir até mim,

Prometeu-te segredo eterno,

Sacrificou a sua calma

Para viver as tempestades por ti,

Confiou-te a suas alma

Para seres maior que ele!

Abri os olhos,

Page 109: Rima com Poesia

Ele não veio,

Mas mandou-me algumas palavras

Escritas nas nuvens que alimenta:

Não olvides jamais

Que ela é toda a minha água

E tu, apenas,

O ignóbil sal dissolvido nela”.

Olha Amor,

As nuvens estão a enviar-me as suas lágrimas

Confundir-se com as minhas,

Mas não me vieram acariciar,

Também não vieram por vir,

Vieram, apenas,

Para sentir o toque das tuas mãos na minha pele.

Vou voltar para ti amor,

Porque és o mar

Onde quero dissolver todos os meus segredos!

Em 29/ 10/ 2005

Page 110: Rima com Poesia

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO TEU SONHO

Não era mais uma noite,

Tão pouco uma noite a mais,

Porque toda a minha vida era noite!

Neste quarto revestido com trevas,

Cheio de mim, vazio de tudo,

Porque tudo em mim era vazio,

Conversava com as sombras da minha solidão,

Só elas me faziam companhia

Enquanto me aconchegava nos espinhos do meu lençol.

Gostava da dor com que me lancetavam,

Pois era então que as sombras me consolavam,

Partilhavam das minhas ideias

E como isso me fazia feliz,

Saber que outros, uma multidão

Partilhava das minhas crenças,

Crente dos valores e da falta de valor que eu tinha,

Nada valia a meus próprios olhos:

Os elogios soavam-me a insultos,

As ofensas a louvores.

Sabiam de todas as minhas penas,

As penas que tinha de mim

E cansadas,

Vieram devolvê-las.

Com elas me vesti,

Não a alma, mas o corpo.

As mais duras deram-me asas

E nessa noite aprendi a voar,

Pensando que iria aprender a cair,

Mas fui, tropeçando nos meus medos, fui!

Voei cada vez mais alto,

Larguei as nuvens que me envolviam,

Page 111: Rima com Poesia

Encontrei a lua cheia

Cheia de brilho e esplendor,

Apontou-me um caminho

Que segui sôfrego,

Para me livrar de mim,

Para me entregar!

Esse caminho de luz

Aninhava-se sorvido nas paredes do teu quarto,

Janelas transparentes como o teu coração,

Onde pousei desajeitado,

Pois era a primeira vez que voava

E pousava no amor.

Foi então que percebi,

Eu não passava de um pássaro,

Uma ave de mau agoiro!

Quando me beijaste transformei-me em mim,

Desapareceram quase todas as minhas penas

E as que ficaram,

Foi apenas para voltar a escrever,

Melhor,

Para começar a escrever acerca do amor!

Quem me acompanha agora

Nas paredes brancas do meu quarto,

É o eco dos teus gemidos,

O vigor dos teus gestos de prazer,

A canção que tu cantas

E que apenas eu posso ouvir,

É a tua presença, mas também a tua ausência,

És tu, o sentir do meu amor por ti,

O sentimento do teu amor por mim!

Em 5/ 11/ 2005

Page 112: Rima com Poesia

PERGUNTAS

Está o Universo escrito em perguntas,

Essas que os Homens da razão tanto gostam,

São muitas as respostas para elas,

Algumas vivem, outras sobrevivem

No coração da mente,

Na mente do coração,

Mas como gostavam de as colocar em prática,

De as testar e divulgar ao mundo.

São Homens da razão é certo,

Mas é o coração quem os alimenta,

Olha amor o caso de Alfred Wegener,

Cientista alemão do início do século XX.

Lutou calorosamente

Até ao gelo da sua morte na Gronelândia,

Por uma resposta que então

Quase todos bramiram por disparatada,

Mas décadas passadas no gelo da sepultura,

Todos aplaudiram calorosamente.

Sabemos hoje

Que a emoção não vive sem a razão,

Tão pouco

A razão sem a emoção.

Na tua busca,

Perguntaste-me o que iríamos fazer?

Com tanto sentimento?

Com tanto amor?

Talvez não seja essa a pergunta, amor!

Talvez devamos perguntar

O que vai fazer connosco esse sentimento,

Esse amor?

Trazer ansiedades, incertezas e medos,

É certo, já os sentimos,

Page 113: Rima com Poesia

Vontade de viver, abraçar o mundo,

Conquistar a imortalidade do amor

Paralisando o tempo,

Também nos orgulhamos disso!

Mas pensa em Alfred Wegener,

Seria ele hoje lembrado se tivesse cedido ao medo?

Se tivesse calado a sua resposta?

É certo que respondi, tentei responder!

Não sei se o que querias ouvir,

Mas respondi

O que sentia e sinto,

O sentir que sentes e que me alimenta,

Pois é em ti que está a resposta!

Não a procures desesperadamente,

Podes assustá-la,

Mostra-lhe antes o amor que me dás

E ela virá ao teu encontro!

Chicoteando-me de prazer,

Fizeste-me jurar que nunca me perderias,

Mas foste tu,

Que afugentando a resposta

Me implorou para te perder de mim próprio!

Tu,

A segunda mãe que Jesus escolheria,

Quiseste deixar órfão o nosso amor!

Agora,

Sou eu quem pede para jurares,

Mais do que o nunca me perderás,

O nunca me deixarás,

Para trás!

Em 1/ 10/ 2005

Page 114: Rima com Poesia

AMOR

Amor,

Palavra pequena, fácil, useira e vezeira

Em muitas bocas,

Em poucos corações.

Estranho sentimento este

Que antes de ti me era estranho,

Que confundia o próprio dicionário:

“sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos;

objecto da nossa afeição;

paixão, afecto, inclinação.”

Tanto! Numa palavra tão pequena!

Perante tal emaranhado,

Não me contemplava perante a desordem do coração,

Analfabeto e sem dicionário.

Porque tu me ensinaste,

Hoje sei que amar

É querer de alguém os braços

Confundidos nos nossos abraços,

É querer de alguém os lábios

Na nossa boca, beijos saborosos e sábios,

Palavras tecidas em ternura

Escritas no olhar com candura,

É iluminar o coração

Com o brilho desse olhar,

Para sempre o acompanhar

Para sempre nos guiar!

Amor é tudo o que eu quero,

Que nós quisermos!

Obrigado, eternamente grato meu amor,

Por seres a professora do meu coração,

Por lhe ensinares o amor!

Em 19/ 11/ 2005

Page 115: Rima com Poesia

…serias o jardim!

Quando te perguntei que flor eras,

Julgaste não ser jardim

Para nenhuma das palavras desse poema,

Agora sei que és uma rosa,

Jardim de pétalas sem espinhos,

És a flor que alimenta todas as flores,

A cor onde vem beber o arco-íris,

A suavidade que lustra a seda,

O toque que excita o veludo,

A limpidez que purifica a água,

A força que lapida o diamante

E lhe sopra o brilho,

Eras a minha sede,

Agora és o meu alimento.

Sou a abelha a que deste guarida,

Saciaste-me com as sementes do teu coração,

O néctar das tuas entranhas,

O prazer do teu ventre,

A biblioteca do teu pensamento.

É escarpado o caminho

Da congosta que tenho que voar,

Para te ver, para te encontrar,

Como o Homem sabe que Marte existe,

Sem o tocar, sem nele pisar,

Mas sabe o dia…

Um dia nele vai caminhar,

Lado a lado

Pelas ruas da vida.

Em 19/ 11/ 2005

Page 116: Rima com Poesia

Querer tanto … é AMAR!

(Comentário a “O que eu quero”)

Não, Amor

Não, por clemência ou dolorosa piedade,

Não me peças para te amar como tu me amas,

És tão generosa no amor, na vida,

Pede-me para te amar mais do que tu me amas!

Mas não,

Não me peças para te amar infinitamente,

Vida após vida, eternamente,

Porque esse é o meu sonho

E podes molestá-lo

Com a dúvida por detrás do teu pedido!

Esse que sonhei estar a sonhar quando te conheci,

Esse é o meu sonho eterno e infinito,

Que quero realizar noite após noite,

Em cada palavra traduzida em carinhos,

Em cada toque sussurrante de prazer,

Desejo pirómano de te possuir.

Esse é o meu sonho eterno e infinito,

Que quero realizar dia após dia,

Em cada telefonema que toca na alma,

Em cada mensagem que fala ao coração,

Em cada lágrima que sufoca as algemas que nos prendem,

Em cada preocupação que partilhamos,

Em cada solução das nossas brigas,

Lado a lado pelas ruas

Da vida pela vida

Desses que são os frutos do teu ventre,

Com sumo da tua alma e do teu coração!

Não, não penso em ti só quando fecho os olhos,

Penso e vivo por ti todos os nanosegundos,

Todos os micrómetros dos passos da vida,

Page 117: Rima com Poesia

Sinto a tua falta,

Mesmo quando estás por perto,

Não por me faltares com algo,

Mas porque sei que terás de partir!

Em 26/ 11/ 2005

Page 118: Rima com Poesia

…PARA SEMPRE

(Comentário a “E o Sonho Acontece”)

És a minha inspiração

No amor e no ciúme que partilho com a lua,

És a sua inspiração

E só por isso

Quando te sentes só,

Ela é capaz de desenhar para ti o meu rosto,

Também te ama

Mas sabe que é a mim que amas!

Lágrimas e sorrisos

Urdem-se na contradição do amor,

Mas neste amor que sinto, verdadeiro,

Não há contradição nas lágrimas e nos sorrisos,

Choro por ti, como nunca chorei por mim,

Mas como não fazê-lo?

Também me emprestas o sorriso,

É quando rasgo a boca

Trespasso os lábios com a língua

Que se desfralda humedecendo-os,

À espera que a lágrima chegue

Para a beijar como te beija.

É possante o grito do teu coração

Quando chamas por mim,

Tão intenso mas tão carinhoso

Que acorda o meu sonho,

Fazendo-me sonhar embalado

Voando em bandos de asas

Das aves que acordaram com o teu grito,

Fazendo-me sonhar embalado

Rebolando em tapetes de folhas

Das árvores que se despiram com o teu grito!

Deixo-me rebolar com o tempo,

Page 119: Rima com Poesia

Os anos com os meses,

Os meses com as semanas,

As semanas com os dias,

Os dias com as horas,

As horas com os minutos,

Os minutos com os segundos

E O SONHO ACONTECE!

Acontece na areia do nosso mar,

Nos lençóis do nosso suor,

Nos dias da nossa vida,

No amor dos nossos dias,

Na paixão das nossas noites,

Fazendo ondas nos nossos lençóis

Como o mar faz na areia!

Em 08/ 12/ 2005

Page 120: Rima com Poesia

TAMBÉM TENHO SEDE!

(Comentário a “SEDE…”)

Clemência amor,

Clemência te peço,

Te implora o meu coração

Na guilhotina da saudade,

Estou paralisado, só ele bate,

Porque não posso ser para ti,

O que para ti posso e quero ser…

Não chames a tua alma

Necessito da sua força,

A força com que sopra as ondas do mar,

A força com que ondeia os nossos lençóis,

Necessito da sua ternura,

A ternura com que afaga os meus olhos,

A ternura com que fortalece o meu ser!

Pecaste, vem reclamar a tua penitência,

Rasgaste a seda da tua pele

Cravando-lhe as tuas unhas,

Deixa que seja o meu toque

A cravar-se na tua pele,

Retalhando-a com força,

Deixa que seja o meu toque

A tecer novamente a tua pele,

Entrelaçando-a com ternura!

Germinei em teu peito,

Também tenho sede,

Vontade de beber tudo o que vem de ti,

Até a própria sede!

Plantado em teu peito,

Também tenho fome,

Mais do que vontade de comer,

Vontade de te guardar

Para sempre,

Vontade de te ter a meu lado,

Para sempre!

Em 19/12/2005

Page 121: Rima com Poesia

VOU ENVELHECER…A TEU LADO!

Estou a envelhecer AMOR,

Sempre tive certo medo receoso

De nunca encontrar a velhice,

Mas logo a seguir

Temia encontrá-la a sós comigo,

No imenso deserto da solidão!

No oásis do teu coração,

No sol do teu sorriso,

No calor do nosso amor,

Na areia dos nossos lençóis,

Nas dunas do teu corpo,

Nos suspiros dos nossos actos de paixão,

Mão na mão contigo,

Encontrei o mapa da velhice,

Também já não temo encontrá-la,

Porque estarei acompanhado por ti!

Estou a crescer,

Fizeste fermentar em mim o dom do amor,

Fizeste-me verdadeiramente Homem,

Que Homem não era

Tão pouco selvagem primitivo,

Pois que o medo

É a nossa emoção mais primitiva,

Imortalizado no nosso cérebro reptilíneo,

É a emoção que herdámos dos répteis.

Agora,

Percebo também o espírito do Natal,

Concebi-te dentro de mim

Fazendo-me nascer para mim próprio,

Regressando a casa, a mim,

Caminhando para ti,

Com os meus dedos

Page 122: Rima com Poesia

Por entre os teus cabelos enriçados ,

Com a minha língua

Contornando os teus lábios,

Auscultando a força do teu coração!

Em 22/ 12/ 2005

Page 123: Rima com Poesia

FOI UMA ESTRELA QUE ME GUIOU ATÉ TI!

Foi há dois mil anos,

Uma estrela de cadência fulgurante

Guiou os reis magos até Jesus,

Jesus, sinónimo de amor,

Aconchegado em palhas secas

Fez brotar a água fresca do seu amor.

O mundo bebeu dessa água,

Impregnou-se do seu amor

E não mais voltou a ser o mesmo.

Este ano abeira-se do último suspiro,

Mas foi nele que comecei a suspirar

De amor, de saudades,

De saudades, de amor…

Ergui-me do buraco negro onde me escondi

Com vergonha de mim mesmo,

Eram negras as profundezas

Daquilo que me mostraste

Ser o meu coração.

Como a luz se algema aos buracos negros,

O meu coração não libertava o amor!

Foi em Junho

Que a estrela se voltou a incendiar,

Tinha a mesma cadência fulgurante

A mesma luz de à dois mil anos,

Cegou de brilho o buraco negro que me aprisionava,

Libertou-me e guiou-me

A ti, sinónimo de amor,

Alimentaste-me de amor

E não mais voltei a ser o mesmo.

Mas estou triste nesta quadra,

Contemplando um quadrado de paredes frias,

Vazia a moldura de uma fotografia

Page 124: Rima com Poesia

Que gostava de preencher contigo,

Amparando no nosso abraço

O primeiro grito de Jesus,

Que voltou a nascer para o mundo

E para mim!

Em 27/ 12/ 2005

Page 125: Rima com Poesia

SOU TEU

(Comentário a “Sou tua”)

Na vitória conquistada

Do teu amor por mim,

Do nosso amor,

Sei que por vezes te sentes vencida,

Porque não podes abraçar,

Erguer o troféu

Perante o público que te aplaude

E o que se corrói de inveja.

Por mais que a espada

Da saudade ansiosa pese

E o escudo protector do segredo se arraste,

Não deixes nunca de me procurar,

Estarei sempre lá

Onde sabes que eu estou.

Não tenho o brilho da prata

Nem a beleza do ouro,

Sou apenas uma taça de cobre,

Mas a transbordar de amor.

Vem, acaricia-me com o teu olhar,

Olha-me com as tuas mãos,

Abraça-me com os teus lábios

E bebe desse amor que é teu,

Percorre-me com a tua língua

Alcança aquela gota

Que escorre por mim,

Guarda-me no cofre do teu coração,

Tranca-o zelosamente,

Verifica que ninguém o poderá assaltar,

Deita fora a combinação da chave

E esquece-a!

Sinto-me seguro no teu coração,

Page 126: Rima com Poesia

Mas oxido com medo, muito medo,

Que alguém, ou a distância ansiosa,

Faça a minha trasladação

Para a vitrina triste das memórias.

Em 7/ 1/ 2006

Page 127: Rima com Poesia

PRECISO DE TI

Tenho precisão de ti,

Que o teu amor me venha beijar

Como o Sol beija o mar

Abraçando-o ao deitar,

Mas não te encontro

Fora de mim,

Não é lá que estou

Que tu estás!

Tenho que lancetar o meu peito,

Deixar esvair todo o meu sangue,

Porque ai sei que te posso encontrar,

A luz do teu olhar

Pode beijar o meu sangue,

Como o Sol beija o mar

Abraçando-o ao deitar.

Vem por favor

Rasgar-me as veias,

Faz-me morrer para a morte

Viver numa hemorragia de amor.

Vem saciar os meus olhos,

Dá-lhes a beber toda a tua luz

Que o Sol cegou e nada vê,

Nada deixa ver.

Chamo pela lua

Que nada responde,

Foi guiar o Sol

Deixou-me aqui sozinho.

Em 7/ 1/ 2006

Page 128: Rima com Poesia

CRIME PASSIONAL

Toma AMOR o meu coração

Guarda-o com carinho,

É a única coisa de mim

Que merece ser guardada,

Quem me dera que fosse uma coisa única!

Há quem o considere assassino

Atenuado criminoso passional

Que por amor me degolou,

Lá está ela, a minha cabeça

No desterro das almas impuras,

Bamboleando no cimo de uma árvore cadavérica,

Clamando pela pressa dos necrófagos

Também eles de mau agoiro,

Até que chegue o quebra-ossos

E limpe todas as migalhas,

Daquilo que em vida

Demasiado viva,

Não passou de poeira esmigalhada!

Demasiado viva

Traiu demasiado o meu coração

Não cumprindo as suas ordens,

Dizendo o contrário do que ele lhe ordenara.

Agora tens só o meu coração

Sem cabeça, analfabeto,

Com as cordas vocais mudas

E sem mãos para escrever,

Mas poderás sempre encontrar os seus poemas

Nas lágrimas que ele chora.

Em 13/ 01/ 2006

Page 129: Rima com Poesia

ESCULTURA RESSUSCITADA

És a escultura ressuscitada

Que habitou a minha mente,

Antes de viver no meu coração.

Desde que o pó

Se desfigurou para me dar forma,

Tu viveste lá

Na minha mente,

Escondida, memorizada, marmorizada

Na imagem que sempre procurei.

Como te olhava só

Pelo recanto dos meus olhos sozinhos,

Procurava-te em cada sala vazia

Do vazio do meu coração,

Mas estavas só,

Ainda na minha mente.

Cada vez que chamava por ti,

O eco vazio do meu coração

Soprava-me o teu gemer,

Mais uma fenda que abrias

Na rocha em que te escondias.

Voltei atrás,

Olhei com mais atenção

Aquela forma que estava na minha mente.

Sofregamente a fui despindo,

A cada lágrima minha que sulcava as suas formas

Tornava-se mais nítida,

Confundindo-se com as tuas lágrimas

Que também te ajudaram a moldar.

O meu coração, esse,

Quando te contemplava

Através do recanto dos meus olhos,

Batia estonteado como um martelo pneumático,

Page 130: Rima com Poesia

Tentando esmurrar a nuvem que te envolvia

E te roubava a nitidez.

Ignorante de sentimentos

Não percebia que era pelo calor,

Pelo amor, não pela força,

Que haveria de dissipar esse nevoeiro.

Os meus dedos, quais guilhos,

Tentavam ingloriamente

Enxertar-se em ti.

Todos fracassaram

Quando tentaram esculpir-te.

Usei então o meu olhar

O recanto de cada canto dos meus olhos,

Estremeceste, tomaste-me os dedos

Quebraste o que não eras,

Esculpiste o que és,

Foi então que afloraste na minha vida

Dando vida ao meu coração!

Nadaste no meu sangue,

Desceste a veia cava superior

E vieste anichar-te no meu coração,

Plantaste-lhe no útero

Um embrião chamado amor,

Embrião que cresce todos os dias,

Todos os dias chora outras lágrimas

O seu líquido amniótico,

Potáveis para o coração,

Límpidas, cristalinas.

Em 20/01/2006

COMENTÁRIO A DE VOLTA À VIDA

Quando digo que não tenho talento para comentar, não é desculpa, é verdade!

Mas vou tentar… As tuas palavras esculpidas neste poema, fizeram-me lembrar os

primeiros tempos, após ter-te conhecido. Não nego que o teu corpo me incendiou (és

Page 131: Rima com Poesia

uma pirómana), mas o que via dentro dele, através dos teus olhos, da tua voz, dos teus

gestos e das tuas atitudes, figurava-se ainda mais encantador. Tornaste-te uma droga

para mim, cada dose era sempre insuficiente e queria sempre mais, como qualquer

dependente, mais e mais, morrendo de medo de não ter a dose do dia seguinte! Ainda

hoje, esse medo se cruza com a minha sombra! Tinha tanta vontade de te descobrir

como receio! Para terminar, deixa-me só salientar uma coisa: nada do que te orgulhas de

ter conquistado a meu lado o deves a mim, eu fui apenas a motivação, a inspiração, mas

foste tu a escultora… CARNADO PARA SEMPRE

Page 132: Rima com Poesia

PALAVRAS INCÓGNITAS

És todas as palavras de amor que já escrevi,

Todas as que nunca saberei escrever em papel,

As que já gravei no meu pensamento,

As que nunca saberei gravar nos troncos das árvores,

As que tatuei no meu peito,

As que nunca saberei tatuar nas paredes,

As que já sussurrei no teu ouvido,

As que nunca saberei sussurrar ao vento.

A todas as palavras incógnitas,

Essas que nunca saberei,

Que se despeçam da ausência de fugir

Porque para ti as guardei,

Todos estes anos-luz sem te conhecer,

Numa vida sem luz

Em sentimentos sem brilho.

Sei-as em mim, mesmo que as não saiba

Escrever, gravar, tatuar ou sussurrar,

As desenharei a fogo no teu coração

Cinzelando cada letra

Com os meus dedos incandescentes,

Enrubescidos pelo fogo do meu coração.

Em 04/ 02/ 2006

Page 133: Rima com Poesia

TORTURA

A inquisição assomou dentro de mim

No seu santo ofício de me torturar,

Condenado a ir para Norte

Desnorteado de saudade.

Acorrentado à rosa-dos-ventos,

Os meus pés a Norte

Para onde se arrastam,

O braço esquerdo no Nascente

Dizendo-te adeus,

O braço direito no Poente

Soprando-te beijos,

A cabeça no Sul

Pensando em ti.

À voz do carrasco,

Os pontos cardeais insuflam a distância

Cada vez mais longínqua,

Tentando esquartejar-me,

Ouço as ondas do mar

Que chicoteiam os cavalos

Em que o vento cavalgueia,

Empurrando os pontos cardeais

Para tão longe,

Que os quatro se fundem, algures…

Por estares tatuada nos meus olhos,

A lua cheia já me cegou

De tanto olhar para ti,

Não posso mais escrever!

Braga, 10/ 02/ 2006

Page 134: Rima com Poesia

PELE, SUOR…CARNE E SANGUE!

Minhas mãos cingidas à tua pele,

Meus dedos marejando no teu suor,

Descobrindo sensações que penetram a alma

Como um oceano profundo

Transbordante de sentimentos.

Os grãos de areia da praia são incontáveis

Como incontáveis os segredos

Os medos que partilhei com eles.

Neles enterrava os meus dedos

Escavados pelas tempestades

Que abatido me consumiam.

A tua pele restituiu a carne aos meus dedos

E do teu suor

Eles beberam sangue transbordando de amor.

Se hoje enterrar os meus dedos na areia,

Como arpões ela os sugará,

Ficarão presos como âncoras,

Será ela a sugar toda a minha carne

A libar todo o meu sangue,

Porque é a tua carne

O teu sangue,

És o corpo pelo qual ela se estendeu,

Para ficar sempre cingida à tua pele.

Não, não posso ancorar na areia,

Os raios de sol perseguem-me

Como uma matilha que se espraia,

Cercam-me como tangentes

Esgrimem-se como lanças,

Querem raptar-me

Mas não é a mim que querem,

Nada tenho para lhes abonar

A não ser a condição de refém,

Page 135: Rima com Poesia

A quem eles pouparão

Em troca do dourado dos teus cabelos,

Esse loiro que eles tanto invejam.

Em 25/ 02/ 2006

Page 136: Rima com Poesia

Se algum dia a inspiração me desamparar,

Vem comigo procurar as palavras que não encontrar,

Empresta as tuas cordas vocais à minha alma,

A tua voz que tanto me acalma,

Mas o que escrevo,

Com a humildade de quem ama me atrevo

A dizer, que vai muito além,

Ainda que fique aquém

De ser um bom poeta,

Vai muito além da meta

Das palavras, dos poemas, das rimas,

São fotografias da minha alma, que animas

De vida, sem medo de viver

Se de respirar eu me esquecer,

Asfixia-me no teu beijo,

Afoga-me de ar no sopro do teu desejo

E se ainda assim eu morrer,

Faz a minha cremação no fogo do teu ser,

Guarda as cinzas em teu coração,

As cinzas que sempre te amarão!

Em 04/ 03/ 2006

Page 137: Rima com Poesia

MUNDOS

(Antes de ti e contigo)

Aqui estou eu sentado

Mais uma vez,

A mesma cadeira, a mesma secretária,

Mas são maiores

A vontade de escrever e o amor que a inspira!

Antes de dar liberdade ao pensamento e à mão

Para colonizarem o papel com palavras,

Detive-me por segundos

A olhar o mundo pela minha janela,

Tão exíguo esse mundo lá fora

Que se o quisesse ver,

Seria obrigado a abrir a janela,

Fazer romper a minha cabeça

Por entre a multidão de ar repousado no exterior,

Desfraldar em gestos desatentos

Com a cabeça bamboleante,

Mas se quisesse ir mais além,

Por mais além que procurasse,

Chamasse, acenasse, alcançasse,

Continuaria sem ver, a olhar

Para um pouco menos que quase nada.

Tudo o que hoje vejo

Está dentro de mim,

A vontade de viver e te viver,

Te fazer viver por ti, por mim e por eles…

Esses dois mundo maiores do que nós!

Por ti e por eles,

Ajudar a melhorar o mundo lá fora,

Nem que seja só da parte de fora da minha janela,

Onde tenho agora por companhia

Dois pardais que se namoram,

Page 138: Rima com Poesia

O devir dos automóveis numa estrada,

Conduzindo pessoas à multidão

Onde procuram o que só, muitas vezes a sós,

Dentro deles podem encontrar.

Também o Sol se vem aninhar no meu peito,

Buscar calor na estrela do amor

Que ilumina e acalenta o mundo dentro de mim.

Era minha intenção escrever um poema,

Aqui na mesma cadeira, na mesma secretária,

Um poema daqueles, que um dia,

Todos pudessem declamar,

Acabei por escrever um poema vivido,

Para continuarmos a viver

Eu, tu, eles…

Era sobre aquele dia,

Eu queria escrever sobre aquele dia,

Em que vieste ensinar-me a beijar,

Não com os lábios, com a boca ou com a língua,

Mas com o coração,

Movimentando e entrelaçando os sentimentos.

Já não consigo escrever sobre datas especiais,

Porque contigo

Todas as datas são especiais!

Em 10/ 03/ 2006

Page 139: Rima com Poesia

SANTARÉM

Na nossa viagem longada

Por sítios esparsos em contracção,

Pequenos para um amor de mais fremente,

Fomos fundear nas águas do Tejo,

Nesse vale que inspirou outras viagens1

De poetas maiores que eu,

Mas se poesia é sinónimo de dor,

Então eu sou um grande poeta

Moribundo agonizante de saudade

Da saudade que antes sentia,

Que de tão febril

Ensandecido julgava morrer,

Mas vivi para sentir uma saudade maior,

Esta que fundiu o aço

Das nossas mãos, dadas

Pelas ruas abraçadas,

Como se davam nossos braços

Em flamejantes abraços,

Oferendas, nossas mãos nos despiram,

Enquanto nossos olhos

Declamavam poemas de amor,

Os ouvidos compunham recitais de paixão,

As bocas, tremendo ziguezaguearam

Pelo corpo do nosso prazer.

As águas do Tejo ancoraram,

Como um jogo de espelhos

Fotografaram os nossos momentos,

A noite limpou-se

Despojando-se das estrelas,

Para que nela, qual tela,

A lua cheia pintasse os nossos momentos.

1 Refere-se às Viagens na Minha Terra de Almeida Garret

Page 140: Rima com Poesia

A Terra parou de girar,

Ficou atenta a cada gota de suor

Foragida da nossa ebulição,

Sorveu-as no seu ventre,

Aqueceu as entranhas do seu núcleo

Que agora, cálido como nunca,

Se contorce em correntes de convecção,

Como se contorce meu coração

Em taquicardia que só teu abraço acalma.

É uma criança a quem deste luz,

Que se sobressalta no medo

Do escuro da tua ausência.

Não, não quer adormecer

Mas quer que o embales,

Como os limpa pára-brisas

Embalaram minhas lágrimas

Na viagem de regresso,

Que será sempre um ponto de partida,

Para a viagem…

Em 17/ 03/ 2006

Page 141: Rima com Poesia

PRIMAVERA CHO(U)R(V)OSA

No regaço da Primavera

Erguem-se flores em tua direcção

Gera o ar entrançados do seu aroma

Mão na mão bailam contorcidas

Soma de rendilhados como teus braços

Perdidos na cintura do ar

Passos sem coreografia desenho no chão

Procurar a hipnose dos teus movimentos

Coração e braços meus em ti quero

Momentos eternos abraçar a dança

Espero a música mudar o ritmo acelerar

Esperança mudança mudança e esperança

Esperar quero mandar na espera

Lembrança que me remete a saudade

Desespera a loucura em mim

Há-de sublimar-se no fogo do AMOR

Assim como se sublinha em minha face

Dor da tua ausência

Enlace o vento todas as flores que puder

Anuência lhes dão meus braços para tas entregar

Mulher jardim de flores sivestres

Cuidar de ti em ti quero!

Em 25/ 03/ 2006

Page 142: Rima com Poesia

SENTIMENTO PASCAL

Bem vindo sou

Porque me admitiste há tua presença,

Nicho divinal de que não sou digno

Por mais dignidade que copie de ti,

Sou um pobre mendigo de amor

Ao teu cuidado, albergado

No coração do Olimpo, o teu,

Onde ao não entrar temi entrar

E ao entrar tremi,

Tremi pelo frio que já não tinha,

Mas tinha deixado retalhadas

As feridas da minha alma.

Limpaste-me as feridas

Pagando um preço caro, é certo,

O teu coração que restituiu

A carne e o sangue

À besta dorida que eu era!

Homem sou agora,

Nessa carne me deste inteligência

Nesse sangue me deste amor.

Com a inteligência

Irei na distância procurar caminhos

Próximos, tristes pela fugaz proximidade,

Atalhos para me prostrar ante teu corpo,

Avenidas para repousar em tua alma.

Com o amor enrubescido de paixão,

Vou dizer, gritar, clamar, bradar,

Arrombar a porta dos Deuses

Profanar com cólera o seu sossego,

Só para lhes segredar

O quanto te amo!

Em 14/ 04/ 2006

Page 143: Rima com Poesia

ORIGEM

Corre-te nas veias essa água

Do mar imenso

Banha os socalcos das tuas células

Como os socalcos da Terra

Que nas praias se ajoelha diante dele

Como que conversando com Deus

Ou consigo própria

Assim vais tua diante dele

Caminhando pelos teus pensamentos

Provocando-lhe calafrios

Lá bem nas profundezas do céu onde nasce

E todo ele tremendo

Vem em ondas ajoelhar-se perante ti

Beber força em ti

Oferecer em troca as suas ondas

Orações vibrantes

Que vibram desde lá

Onde o mar beija o horizonte

E acaricia a face do céu

Em 28/ 04/ 2006

Page 144: Rima com Poesia

RENASCIMENTO

Nascemos para renascer

Voltarmos a nascer a cada dia

A cada acordar

Em que meus dedos contornam teu corpo

Esculpindo-te no ar

Pintando-te nos lençóis,

Como se estivesses a meu lado!

Vem, verte sobre mim

A humidade do teu suor,

Faz-me desabrochar

Como a rosa que juntos plantámos,

Da qual tu és as pétalas

De púrpura ardente,

O aroma inefável

Que afável abraça o ar!

E eu que sou?

Os espinhos lancinantes

Que romperam as pétalas,

As pétalas de que eram guardiães,

Traidores cobardes

Sem força, prostrados

Na vontade de te vingarem,

Rompendo-se a si próprios!

Em 15/ 06/ 2006

Page 145: Rima com Poesia

PROCURA

As mãos dormentes

Suspiravam pelas palavras latentes

Que o coração em silêncio declamava

Como que rezando, esperava…

O milagre de voltar a escrever

Orações de amor que só o teu sabe ler!

És a professora, o dicionário

A voz em compasso quaternário,

És quem me ensinou das letras o torneamento,

Das palavras o sentimento!

Mestre, confesso-me aluno da lição da vida

Da minha sina sem ti perdida

Senti que sem ti nada senti,

Vendo ceguei e nada vi

Falando emudeci e nada disse

Minha alma para que se ouvisse

Procurando a tua caminhou

Abraçando-a novamente se levantou.

Em 05/ 07/ 2006

Page 146: Rima com Poesia

SAUDADE…SEMPRE!

Com os corações

veremos o invisível,

sentiremos mandar no difícil

que, ás vezes, se mascara de impossível,

só para abalar o escuro silêncio da saudade

à espera que o sol nasça realidade

sentir saudades da saudade

talvez não, não de certo,

porque saudades sinto

sempre que não estás a

ao alcance dos meus olhos

aconchegando o meu abraço,

abraçando os teus lábios aos meus,

acariciando tua língua na minha,

fundindo nossos dedos

como é funda a saudade!

Fecho os olhos

E as luzes não se apagam,

És a luz vital

Com brilho de cristal!

Só se vê bem com o coração,

O meu sempre te olha

Pulsando a cada abraço teu,

Sempre te beija

Língua na língua,

Dedos nos dedos.

Em 02/ 09/ 2006

Page 147: Rima com Poesia

AO LONGE, EM MIM!

Vejo-te numa nuvem alta

Com porte altivo

O mesmo do amor que cultivo!

Beijo-te em pensamento

Pensando-te cravada em mim

Como cravavas tuas unhas num fim

Que, enfim, não terminava!

Desejo-te em sentimento

Que arde com medo de ser ardente

Tanto, que evapore da tua mente

A nuvem em que ainda vens,

Lá ao longe, até mim!

Em 23/ 11/ 2006