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Vitória da Conquista, Bahia, 02 à 07 de outubro de 2017
XVI Semana de Economia e II Encontro de Egressos de Economia da UESB
Natureza, Produção Econômica e o Futuro da Humanidade: uma correlação em
perspectiva
Modalidade: Artigo Completo
GT 06: Desenvolvimento Econômico, Economia Rural, Meio Ambiente e Sustentabilidade
Érico Rodrigo1
Sinopse
O presente artigo versa sobre as relações entre Natureza, Produção Econômica e perspectivas
para o Futuro da Humanidade. Começa com um resumo de história econômica, que vai até a
emersão do capitalismo. Ganha continuidade com o advento da Ciência Econômica, donde
focaliza autores como Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo e Stuart Mill. Aborda
ideias de futuro, com John Stuart Mill, John Maynard Keynes e Karl Marx; para enfim,
resenhar ideias de Georgescu-Roegen (na interpretação de André Sechin) Eli da Veiga (este,
destacado no estudo do Desenvolvimento Sustentável) e outros, no âmbito da temática
ambiental. Conclui, dentre outras coisas, pela defesa do meio ambiente e de perspectivas
futuras para a humanidade, no contexto da propriedade privada, embora apontando para o
prosseguimento do debate, com novos estudos a respeito.
Introdução
É verificável ser o meio ambiente algo fundamental para a história econômica da humanidade.
Afinal, foi com recursos naturais que se produziram os mais elementares objetos para as
primeiras civilizações, e até mesmo para os primeiros hominídeos. Com tais materiais, foram
possíveis alimentação, vestimentas, viagens, e outras tantas atividades do cotidiano, o qual se
tornou, aliás, tanto mais complexo quanto mais agrupados se tornaram os nômades e errantes
ancestrais humanos. A produção econômica coletiva, assim, não teria sido possível sem os
eles, muito menos a tão aludida Revolução Agrícola, responsável na história por grandes
ganhos de produtividade e acumulação de riquezas específicas no tempo e espaço, embora
1 Érico Rodrigo Mineiro Pereira; [email protected]; 77-988428463; Professor Assistente UESB∕FAT.
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ambos de pequena monta, até pelo menos o século XVI da era em que se vive, quando a
humanidade logra desenvolver sobremaneira a técnica e a ciência em prol de ganhos
econômicos maiores e ampliados: emergia o capitalismo.
Os desenvolvimentos posteriores de um contexto como este, mais adiante, foram responsáveis
por conformar uma ciência própria: a Ciência Econômica. A partir dos esforços teóricos e
práticos dos chamados Mercantilistas, passando pelos estudos mais elaborados dos fisiocratas,
chegou-se ao que a história econômica tratou por Escola Clássica, corrente de pensamento
pioneira e responsável por estudar e sistematizar um conjunto de ideias já gestadas de início
por pensadores dispersos na velha Europa. É passivo atribuir-se aos gregos os primeiros
conhecimentos acerca da temática econômica no Ocidente, uma exigência, aliás, da vida
cotidiana de tantos homens e mulheres entremeados à necessidade de sobrevivência em sua
época. Romanos e que tais lhes deram continuidade, embora por outros meios e métodos, num
mundo que foi se transformando aos poucos e desembocando no que se conheceu
principalmente a partir do século XV.
Como se pensou ou se deu a relação meio ambiente∕ recursos naturais nesses
aproximadamente trinta séculos de história econômica? Havia as mesmas condições e
premissas para se pensar questões como essa tanto antes quanto depois do século XV, se se
concebe este como de inflexão na história econômica ocidental? A emersão do capitalismo
trouxe novidades no uso dos recursos naturais, notadamente na questão técnica, científica e da
propriedade privada? Seja como for, o certo é que se chega ao século XXI com a discussão
ambiental em tópicos garrafais de preocupações várias, tanto de governos quanto de
intelectuais e acadêmicos. A partir disso, emergem os diferentes estudos e pontos de vista
interessados no assunto. Juntamente com eles, concepções novas quanto aos ritmos e métodos
de produção econômica, focalizados alguns na discussão sobre possibilidades futuras para a
humanidade. Esta sobreviverá? De que forma? Sob quais condições?
Metodologia
Para dar cabo deste artigo, utilizou-se o método histórico, por meio do qual se recontou a
história econômica da humanidade de maneira breve, iniciando-se do período anterior à nossa
era até o momento em que se deu a transição entre o feudalismo e o capitalismo. A partir daí,
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se visitou a Escola Clássica do pensamento econômico, pondo em destaque principalmente
Thomas Malthus e John Stuart Mill, autores que de alguma forma se destacaram na
contraposição “exiguidade de recursos naturais e quantitativo da populacional”, algo
importante para a ideia aqui desenvolvida. Em seguida, ideias de três pesquisadores das
Ciências Sociais – John Stuart Mill, John Maynard Keynes e Karl Marx foram resenhadas no
que tinham de questionamentos do presente e propostas para o futuro. Por fim, atualizou-se a
discussão produção econômica e meio ambiente, utilizando-se para isso ideias de Georgescu-
Roegen, Eli da Veiga e Luís Marques, estudiosos cujas marcas muito reverberam no debate
pertinente atual.
História Econômica Geral: breves linhas
Muito tempo se deu desde que os seres humanos, após o momento em que deixam de lado a
vida nômade, passam a produzir suas necessidades materiais em locais específicos. Deste
passo à evolução das forças produtivas, e ao atingimento de excedentes econômicos nas
produções econômicas que realizavam, não demoraria muito, no entanto. Também se pode
concluir, neste contexto, das maiores facilidades para alimentar uma prole maior, do
desenvolvimento de atividades tipicamente econômicas como a troca de mercadorias, seja
diretamente ou por meios intermediários. Em certos momentos, aliás, houve, de fato, eventos
caracteristicamente econômicos, embora reduzidos em sua dimensão quantitativa. Referindo-
se à antiga sociedade, Hugon (1995) afirma que ...
Do século XII ao VIII antes de nossa era, conheceu a Grécia, tão somente,
uma vida econômica doméstica. Mas, após essa época, chamada “homérica”,
no período clássico do século V e, mais ainda, na era helênica dos séculos IV e
III a. C, observa-se o desenvolvimento de uma vida econômica propriamente
dita, ou seja, de uma vida econômica de trocas (HUGON, 1995, p. 30).
Sem embargo, Hugon (1995) afirma que enquanto o pensamento econômico do povo grego
foi subsumido na filosofia, o do romano, nas ideias políticas (Hugon, 1995). Ideias
econômicas, propriamente ditas, em função disso, restaram prejudicadas enquanto ideias
autônomas. Elas existiam, de todo modo, sob formas que viriam a ser tomadas pelos
modernos e transformadas. Dominavam na Grécia o geral sobre o particular, donde ficava em
segundo plano a ideia de bem-estar individual; a ideia de igualdade, de que derivaria a
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negativa a diferenças individuais de riqueza; finalmente, ideias de desprezo à riqueza.
Segundo filósofos Gregos, “A felicidade reside na virtude; a riqueza é um obstáculo à
felicidade; logo, deve-se desistir de obtê-la” (HUGON, 1995, p.32). Este autor, assim, atribui
a este tipo de pensamento a impossibilidade de “desenvolvimento da riqueza: nesse sentido é
essencialmente antieconômico (HUGON, 1995, p.33).
De forma bastante sucinta, Rima (1977) vai seguir este raciocínio, afirmando algo semelhante,
embora de outro modo.
Enquanto que a especulação do homem quanto ao seu meio ambiente
possa remontar aos tempos antigos, o desenvolvimento da análise
econômica é de origem relativamente recente. Com efeito, a emergência
da economia como campo específico de estudo, antes da última fase da
renascença, foi visivelmente impossível. Tudo militava contra: a
natureza e a amplitude limitada da atividade econômica, a dominação
do Estado e da Igreja, a força dos costumes e as crenças religiosas e
filosóficas que moldavam as atitudes prevalecentes quanto à atividade
humana para a aquisição da riqueza (RIMA, 1977, p.25).
Na continuidade de seu texto, este mesmo estudioso expõe pensamento no tocante à forma de
alocar recursos. De pronto, diz terem sido autoridades centrais os responsáveis por essa
alocação antes do século XVIII, o que é digno de nota, uma vez que mercantilistas e
fisiocratas, importantes do ponto de vista da evolução teórica e prática do pensamento
econômico, existiram anteriormente a este século, convivendo, certamente, com esse estado
de coisas. Nestes termos, pensadores econômicos clássicos, tão marcantes, se afastaram dos
primeiros (mercantilistas) e se aproximaram dos últimos (fisiocratas) em suas formulações e
ideias, debatendo com ambos, porém.
Não foi senão depois da evolução do sistema de mercado de alocação
de recursos que a Economia surgiu como um campo de estudo separado
(RIMA, 1977, p.33).
O período referente à era em que se vive conheceu outros marcos. Hugon (1995), após
discorrer sobre o período que vai do séc. XII aos séculos V, IV e III a.C (da economia
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doméstica aos períodos Homérico e Helenístico), transita ao que chama de primeira fase da
Idade Média – séc. V ao XI, d.C; caracterizada, a propósito, pela fragmentação resultante do
esfacelamento político e territorial romanos e vigência do feudalismo, “então na plenitude”
(HUGON, p.45). Tal período se caracteriza, segundo ele, pela dificuldade de transporte e
comunicação, que prejudica o comércio e as trocas. A moeda, antes relativamente
desenvolvida, perde em qualidade e espaço de circulação, dado o arrefecimento havido nas
atividades comerciais. Quadro histórico bem diferente acontecerá em seguida, entretanto.
Segundo esse mesmo autor, “a civilização vai reanimando-se, a partir do século XI, para
expandir-se do século XII em diante” (HUGON, 1995. p.45).
Partindo daí, e até o século XV, quando passam a prevalecer as chamadas ideias
mercantilistas e o escopo nacional para a realização de trocas comerciais, no contexto das
grandes navegações ao Novo Mundo, as mudanças passam a ser inúmeras e velozes. De
pronto, pode-se dizer do próprio desenvolvimento do comércio – de que foi exemplo também
o comércio mediterrâneo e os centros comerciais de Gênova, Pisa, Florença e Veneza
(HUGON, 1995). Destaquem-se, também, nesse quadro, em retrospecto, as Cruzadas
(HUBERMAN, 1986; HUGON, 1995). Estas favoreceram sobremaneira as trocas comerciais
ao propiciar grandes deslocamentos, os quais puseram em contato civilizações do ocidente e
do oriente. Juntamente a isso, o fomento às trocas e o incentivo à indústria por meio da
imitação (HUBERMAN, 1986). Ora, a reanimação referida da sociedade se dá (HUGON,
1995) também incentivada por interferências da Igreja na ordem social e política, pois ela
também se transformava internamente enquanto instituição milenar que era.
O desenvolvimento do comércio sob o amparo do metalismo iria trazer grandes
consequências. Cidades sofreriam transformações em função do novo tipo de atividade
econômica, em substituição ao mundo feudal. Um novo mundo emergia e se fortalecia. Pari
passu aos comerciantes, as cidades emergiam e iniciavam sua expansão. Da mesma forma,
um novo rol de acontecimentos se dava em consequência. Não mais os burgos, os quais
abrigavam pessoas em torno a um senhor feudal, e do qual retirava, por diversos meios, a
sobrevivência. Era a vez dos comerciantes. Estes, em suas viagens com mercadorias, paravam
para descansar à sombra dos muros construídos em proteção aos burgos. Com a quantidade
cada vez maior deles, surgiram outras necessidades, além de somente as básicas, a exemplo de
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comidas e assemelhados. Tal como os que já moravam internamente aos burgos, os
comerciantes levantaram também seus muros, maiores e mais longos que os anteriores
(HUBERMAN, 1986).
A partir do exposto, percebe-se claramente que a economia enquanto ideia e corpo autônomo
de pensamento careceu de sistematicidade em boa parte da história humana. Inicialmente
dominado por questões morais e políticas, o fato econômico perpassou sob essa roupagem um
mundo em transformação a partir da dissolução de sociedades antigas e emersão daquilo que
se convencionou chamar predominantemente de feudalismo. O mundo que agora emergia a
partir da decadência e dissolução do mundo feudal tinha características diferenciadas. Não
mais a terra, mas o comércio como valor maior em práticas sociais. A moeda conquista em
definitivo seu lugar, dada a dinamicidade econômica que agora fazia parte das sociedades.
John Maynard Keynes (1883-1946), segundo Szmrecsányi (1978), assim se pronuncia sobre o
estado de coisas do século XVI, em análise das conquistas materiais de sociedades humanas a
partir daquele momento e para o futuro:
Eu acho que a Idade Moderna começou com a acumulação de capital iniciada
no século XVI. Creio – por razões com as quais não sobrecarregarei esta
discussão – que isto foi devido inicialmente à alta dos preços e dos lucros,
resultantes do tesouro em ouro e prata que a Espanha trouxe do Novo Mundo
para o Velho. Daquele tempo até hoje, o poder da acumulação através dos
juros compostos, que parece ter estado adormecido por muitas gerações,
renasceu e renovou sua força. E o poder dos juros compostos em duas
centenas de anos é de monta a abalar a imaginação (SZMRECSÁNYI, 978,
p. 152).
A Emersão da Ciência Econômica: o pensamento clássico
Foi dito há pouco que as condições para a emersão de um campo científico próprio para o
estudo do fato econômico não estavam postas antes do advento do capitalismo, muito embora
autores estranhem o aparecimento tardio dos economistas, pois “o homem está às voltas com
o problema econômico desde antes do tempo dos faraós” (HEILBRONER, 1996, p. 19).
Conforme se viu, eram necessários o desfazimento das relações feudais, a emersão da moeda
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enquanto fenômeno econômico de dinamização das relações comerciais, e o próprio
crescimento e acumulação da riqueza privada, dentre outros, a fim de que as questões
econômicas fossem pensadas de maneira específica. De maneira peculiar. Neste contexto,
emergem estudiosos geniais, que exporão originariamente o assunto a partir de estudos
anteriores (HEILBRONER, 1996). Chamados de Clássicos, possuíam cada qual sua
característica diferenciadora, embora guardassem entre si, segundo comentadores, traços em
comum.
1. Preocupação com o crescimento econômico a longo prazo; 2.
Preocupação com o destino do excedente e com o modo pelo qual a
sua divisão entre as classes afeta o crescimento; 3. Afirmação de que a
economia é regida por leis naturais, auto-reguladoras, que levam à
harmonia social. Portanto, não há necessidade de intervenção do
Estado nas leis do mercado (laissez-faire) (ARAÚJO, 1995, p. 25).
Adam Smith (1723-1790), Thomas Malthus (1766-1834), David Ricardo (1772-1823) e John
Stuart Mill (1806-1873), os mais citados, iriam, assim, pensar esse novo e grandioso mundo,
no qual ideias morais, filosóficas e religiosas cederiam crescentemente lugar à voz da ciência
econômica. Mundo no qual mercantilistas e fisiocratas passaram a ser substrato teórico para o
avanço de entendimento acerca de assuntos então emergentes e agora tornados necessários
pela ascensão da burguesia enquanto classe social. Transformados em escola de pensamento,
iriam também se expressar diferentemente daqueles que os antecederam.
A escola clássica, cujos principais representantes são Adam Smith,
Ricardo, Malthus e John Stuart Mill, só pode ser compreendida se
levarmos em conta as condições institucionais e históricas em que
nasceu. Os clássicos sucedem os mercantilistas e fisiocratas,
representantes de duas correntes anteriores que, por não apresentarem
um corpo doutrinário completo e coerente, não constituíam escolas.
Esta divisão é arbitrária. Sob outros critérios, os fisiocratas, pelo
menos, poderiam ser considerados como a primeira escola da
economia (ARAÚJO, 1995, p. 21).
Estudando clássicos da época, Adam Smith (1723-1790) iria consolidar conhecimentos em
prol da formação dessa nova ciência (Heilbroner, 1996). A partir de seu contexto sócio-
político-econômico, afirma a não intervenção estatal, dada a ordem natural das coisas. A
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chamada “mão invisível” seria o amálgama responsável por manter coesa a sociedade,
segundo pensava, neutralizando os impulsos contraditórios e destruidores que constantemente
grassavam entre os homens. À sua pergunta sobre a causa da riqueza das nações, ele
respondia com o trabalho humano, sendo aquela maior ou menor a depender da forma como a
sociedade dividiria o processo de produção e à quantidade de trabalhadores “produtivos”
sobre os “improdutivos”. À situação degradante dos trabalhadores da época, e sobre o futuro,
ele respondia com a certeza da acumulação constante e progressiva do capital, que ao final
beneficiaria a todos (Araújo, 1988).
Thomas Malthus (1766-1834) se mostraria um estudioso interessante neste contexto,
principalmente pelas ideias diferentes que apresentava. Afirmava a existência de ricos e
pobres, atribuindo-a à “lei natural”. Ao lado disso, no âmbito de sua Teoria da População, a
pobreza e o sofrimento seriam inevitáveis, e sem qualquer modificação que pudesse ser feita
para extirpá-la. O “prazer sexual” “incontido” das pessoas levaria todos a uma situação de
crescimento incontrolável da população, o que tornaria insuficientes as terras disponíveis para
o plantio dos víveres necessários à sobrevivência humana. Contra Adam Smith (1723-1790),
negava que se ajustassem de maneira automática a oferta e a demanda econômicas, no que
afirmava a possibilidade da superprodução na economia (Hunt, 2005). “Foi em sua análise
dessas relações extraordinárias ou acidentais da oferta e da demanda que Malthus deu sua
contribuição mais importante e duradoura à teoria econômica” (HUNT, 2005, p.78).
David Ricardo (1772-1823) iria ler Adam Smith (1723-1790), no qual se inspiraria para
estudar economia política. Sua obra é considerada exemplar e rigorosa, motivo pelo qual iria
influenciar gerações e mais gerações de economistas, tanto os considerados revolucionários
quanto os conservadores. Sua Teoria da Renda supunha a terra como portadora de
rentabilidades diferentes, de um lado (Hunt, 2005). De outro, que a competição entre os
“fazendeiros capitalistas” acabaria por igualar as taxas de juros da economia. Ele não
desprezava totalmente a utilidade e a escassez das coisas como aquilo que lhes conferia valor,
mas afirmava principalmente o trabalho humano nessa prerrogativa. Na polêmica sobre a
superprodução, levantada por Malthus (1766-1834), afirmava o equilíbrio entre a demanda e a
oferta, que ajustaria “automaticamente os preços e a composição do produto agregado”
(HUNT, 2005, p. 109).
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De forma bastante peculiar, por fim, John Stuart Mill (1806-1873), o último dos clássicos a
serem aqui comentados, apresenta-se. E pode-se dizer tratar-se de um liberal de cepa
diferenciada, a começar por seu posicionamento quanto ao socialismo, no contexto do qual
defendia que a sociedade poderia ameaçar o direito da propriedade, caso esse, por sua vez,
ameaçasse a sociedade nos seus interesses comuns. Num outro ponto de suas exposições,
mostrou discordâncias quanto a dois de seus antecessores, segundo interpreta Hunt (2005):
Mill achava que quase todos os preços naturais eram determinados por sua
teoria do custo da produção baseada na soma. Diversamente de Smith e
Ricardo, abandonou a noção de que o trabalho estava por trás do valor de troca
de uma mercadoria. Valor, para Smith, significava, simplesmente, valor de
troca ou preço relativo. Ele não tinha qualquer noção de valor-trabalho.
Assim, não entendia por que Ricardo tinha buscado uma medida invariável do
valor (...) e a afirmava que essa busca feita por Ricardo era não só possível,
como também irrelevante, para a teoria do valor” (HUNT, 2005, p.181).
Entretanto, havia concordâncias suas muito importantes, principalmente quanto a David
Ricardo (1772-1823). Isso aparece com destaque na questão da tendência decrescente da taxa
de lucros no longo prazo. Tal como como aquele, John Stuart Mill (1806-1873) acreditava
que o aumento do quantum populacional, em decorrência do processo de acumulação
capitalista, majoraria os valores dos produtos alimentícios e a renda. Em decorrência, baixaria
os lucros (Hunt, 2005). A importância do autor ora brevemente resenhado se revela nas
consequências que trouxe para o futuro da teoria econômica. Seu pensamento originou a
teoria neoclássica marshaliana de linha “muito mais moderada” (HUNT, 2005, p. 178).
No âmbito do que aqui se estuda, haveria espaço para pensamentos de utilização racional dos
recursos naturais? Caberia, quando se descortinavam ideias de explicação do mundo das
Revoluções Industriais, preocupações quanto à exiguidade daquilo que o meio ambiente
fornecia à força das máquinas advindas das revoluções técnicas? Alguém estaria se ocupando
com as consequências do poder das máquinas? Alguém estaria preocupado com as
consequências do poder das máquinas sobre as pessoas e o meio ambiente? Que novo mundo
emergiria de todo o estado de coisas aberto ao conhecimento humano pela revolução da
técnica e das forças produtivas? Haveria espaço para a existência de expressões como
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crescimento equilibrado do produto econômico? O fato é que a sociedade ocidental já não era
mais a mesma há algum tempo. A propriedade privada agora se fazia bastante presente. Os
clássicos estavam dando sua contribuição, iniciadora, por sinal, de um novo estado de coisas.
Pensamento Econômico e Perspectivas Futuras
De pronto, John Stuart Mill (1806-1873), setenta e dois anos depois de Adam Smith (1723-
1790) publicar sua obra-prima (“An inquiry into the nature and causes of the wealth of
nations”, 1776) projeta visão sobre o futuro do mundo de um modo um tanto diferente,
questionando acerca do sentido mesmo que a máxima do progresso invoca. Em seus
Princípios de Economia Política (1848), faz afirmação marcante e alvissareira, própria de
estudiosos que conseguem ir além do convencional. No caso, o contexto da Escola Clássica,
da qual fazia parte. Introduzindo a “condição estacionária”, também apontada por David
Ricardo (ARAÚJO, 1988, p. 42), ele afirma, no terceiro volume da obra.
§ 1. Os capítulos precedentes abrangem a teoria geral sobre o progresso
econômico da sociedade, no sentido em que esses termos são comumente
entendidos: o progresso do capital, o aumento da população e o progresso das
técnicas produtivas. Mas, ao observarmos qualquer movimento progressivo,
não em sua natureza ilimitada, a mente não se satisfaz com apenas traçar as
leis desse movimento; ela não pode deixar de fazer esta outra pergunta: para
que finalidade? Para que ponto último está tendendo a sociedade, com seu
progresso industrial? Quando o progresso cessar, em que condição podemos
esperar que ele deixará a humanidade? (MILL, 1988, p. 107).
Ora, quais são os sentidos do progresso, ele pergunta. Para onde se vai por meio dele? O que
se busca? Qual o custo disso tudo? Segundo seu raciocínio, uma população e um capitalismo
em constante crescimento implicariam custos importantes. Não seria gratuita a produção
constante e crescente de alimentos, por exemplo. Com ele, pode-se pensar também não ser
sem custo a produção constante e crescente de produtos industriais, desses que se consomem
aos bilhões atualmente mundos afora, diariamente, e que muitas vezes se acumulam em
quartinhos de fundos nem sempre frequentados, ainda que uma vez ao dia. Abordando outra
faceta humana, de outro lado, ele volta a perguntar: e a necessária solidão? E a desnecessidade
da natureza, que deve ser preservada? Como se resolverá?
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Sem dúvida, há lugar, no mundo, (...), para um grande aumento da população,
desde que o engenho humano continue a crescer. Mas, mesmo que esse
aumento populacional fosse inofensivo, confesso ver pouca razão para desejá-
lo. (...). Não é bom que o homem seja forçado em todos os momentos a estar
no meio de seus semelhantes. Um mundo do qual se extirpa a solidão é um
ideal muito pobre. (...). Por outro lado, não se sente muita satisfação em
contemplar um mundo em que não sobrasse mais espaço para a atitude
espontânea da natureza: um mundo em que se cultivasse cada rood (1∕4 de
acre) de terra capaz de produzir alimentos para serem humanos, um mundo em
que toda área agreste e florida, ou pastagem natural, fosse arada, um mundo
em que todos os quadrúpedes ou aves não domesticados fossem exterminados
como rivais do homem em busca de alimento, um mundo em que cada cerca-
viva ou árvore supérflua fossem arrancadas, e raramente sobrasse um lugar
onde pudesse crescer um arbusto ou uma flor selvagem, sem serem
exterminados como erva daninha, em nome de uma agricultura aprimorada
(MILL, 1988, p. 110).
Em As Possibilidade Econômicas de Nossos Netos (Szmrecsányi, 1978), John Maynard
Keynes (1883-1946) também faz comentários sobre o futuro, afirmando, desta feita, da
desnecessidade que a humanidade sentirá de continuar lutando pela sobrevivência, tal como
fazia em seu tempo. Ao invés disso, o intelectual que reformou o capitalismo no século XX,
por meio da ideia de Demanda Efetiva, herdada de Thomas Malthus (1766-1834), afirma que,
...
..., pela primeira vez desde sua criação, o homem enfrentará seu
problema real e permanente – como empregar a liberdade de
preocupações econômicas prementes, como ocupar o lazer que a ciência
e o juro composto lhe terão conquistado, para viver bem, sábia e
agradavelmente” (SZMRECSÁNYI, 1978, p. 156).
Ora, bem observado, esses dois autores, de épocas diversas, conversam entre si por meio dos
textos e pesquisas que deixaram à posteridade. Ambos questionam a constante busca por
realizar produções econômicas progressivamente constantes, da qual ainda é exemplo a
moderna corrida da humanidade por riqueza. Mas sob motivos diferentes. Enquanto Mill
aponta que “uma condição estacionária do capital e da população” (MILL, 1988, p. 110)
“seria, no conjunto, uma enorme melhoria de nossa condição atual” (MILL, 1988, p. 108),
Keynes, diferentemente, pergunta, apontando os enormes progressos técnicos havidos desde o
século XVI:
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Qual foi o resultado? Apesar do enorme crescimento da população mundial,
que era preciso equipar com casas e máquinas, creio se elevou de umas quatro
vezes o padrão de vida médio na Europa e nos Estados Unidos. O crescimento
do capital deu-se numa escala muito além de uma centena de vezes do que
jamais existiu em qualquer período anterior. E de agora em diante, não
precisamos esperar um aumento tão grande da população”
(SZMRECSÁNYI, 1978, p. 153).
Ao que parece, John Maynard Keynes (1883-1946) faz reparos a Thomas Malthus (1766-1834),
David Ricardo (1772-1823) e (John Stuart Mill (1806-1873), (principalmente ao primeiro) nos
temores que estes possuíam quanto ao aumento da população e à quantidade de víveres e produção
necessários para a sobrevivência, afirmando, na primeira metade do século XX, que “... de agora em
diante, não precisamos esperar um aumento tão grande da população” (SZMRECSÁNYI, 1978, p.
153). Por sua vez, bem antes de John Maynard Keynes (1883-1946) frisar da oportunidade que teria o
ser humano de “... viver bem, sábia e agradavelmente” (SZMRECSÁNYI, 1978, p. 156), John
Stuart Mill (1806-1873) afirma que “uma condição estacionária do capital e da população não
implicaria uma condição estacionária do aperfeiçoamento humano” (MILL, 1978, p. 110). Segundo
ele,
Haveria o mesmo campo que sempre há para todos os tipos de cultura
intelectual, de progresso moral e social, o mesmo espaço para aprimorar a arte
de viver, e muito mais probabilidade de esse aprimoramento ocorrer, se as
inteligências deixassem de ser absorvidas exclusivamente pela preocupação de
prosperar na riqueza. Mesmo as técnicas industriais poderiam ser cultivadas
com a mesma seriedade e com o mesmo sucesso, com esta única diferença: em
vez de não servirem a outro propósito que não seja o aumento da riqueza, os
aperfeiçoamentos industriais produziriam seu efeito legítimo, o de abreviar o
trabalho” (MILL, 1978, p. 110).
Ora, em comum, esses dois importantes intelectuais dos séculos XIX e XX vislumbraram outro
mundo, não naturalizado pelas necessidades constantes de trabalhar e produzir
economicamente, processos que implicam, ao fim e ao cabo, o uso incessante de recursos
naturais, finitos que são por sua própria condição. Por vezes estariam alguns dos seres
humanos gozando de seu tempo livre, haja vista os ganhos de produção já conseguidos pela
humanidade com seu progresso técnico; noutras vezes, deleitando-se, para o mesmo fim, em
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campos verdes propositadamente deixados desnecessários aos fins produtivos, pois que
preservados por sua própria desnecessidade.
Por fim, cabe referência a autores que perscrutaram a questão ecológica noutros pensamentos.
Foster (2011), por exemplo, faz referência ao “metabolismo” que existiria entre o homem e a
natureza na visão marxista. “Mas uma “falha (rift) irreparável” surgiu nesse metabolismo em
decorrência das relações de produção capitalistas e da separação antagonista entre cidade e
campo” (Karl Marx apud Foster, 2011, p. 201). Cotejando o pensamento de Marx com o dele,
afirma que a crítica ao pároco Thomas Malthus (1766-1834) quanto à exiguidade dos recursos
naturais frente ao aumento da população “foi um dos temas centrais da economia política de
Marx desde 1844 até a sua morte em 1883 (FOSTER, 2011, p. 153). E vai mais além:
Foi este casamento da economia política com a teologia natural cristã –
materializada em Paley, Malthus e Chalmers – que tornou os párocos
naturalistas uma ameaça tão grande, não só à classe trabalhadora como
também a todas as perspectivas de unificação dos seres humanos com a
natureza. Uma oposição radical a estas visões iria pois desde o princípio
desempenhar um papel crucial no desenvolvimento da concepção materialista
de história de Marx e Engels (FOSTER, 2011, p.150).
A questão da propriedade aqui mereceria novamente uma referência, dada a forma como
entrou no pensamento de Karl Marx (1818-1883). Um sentido havia quando os recursos
naturais eram de uso comum, utilizados por todos os que dele necessitassem, ainda no marcos
das relações feudais. Outro passou a haver, a partir do momento em que esses mesmos
recursos naturais passaram a ser propriedade de alguém, que deles fazia uso a seu bel prazer e
segundo suas próprias condições. Abordando a necessidade de se estudar economia política,
Foster (2011) assim se refere a Karl Marx (1818-1883):
O artigo “Debate Sobre a Lei dos Roubos da Madeira”, escrito depois de se ter
tornado escritor, marcou uma reviravolta intelectual na sua vida. Esta, frisava
Marx, era “a questão realmente terrena em todo o seu tamanho natural”. Pela
primeira vez Marx encampou a causa dos pobres, e o fez com todo o fervor
que iria caracterizar a sua obra subsequente. Mais tarde ele recordaria este
momento como o primeiro em que se deu conta da sua “constrangedora” falta
de conhecimento de economia política e da necessidade de se dedicar ao
estudo dos assuntos econômicos (FOSTER, 2011, p.99).
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Natureza, Produção Econômica e Futuro da Humanidade
Decorrência do conhecimento acumulado em séculos de história, autores contemporâneos
atualizaram a problemática econômica, introduzindo de forma contundente a relação natureza,
produção econômica e futuro da humanidade. E o fazem com o pensamento centrado na
essencialidade dos recursos naturais, não somente enquanto insumos mas também para a
sobrevivência humana em suas necessidades históricas materiais. Cada qual a seu modo,
desfilam suas ideias, dentre outros, Georgescu-Roegen (1906-1994), segundo a leitura de
Andrei Cechin (2010); Luís Marques (2015), outro pesquisador da relação ambiente ∕
produção econômica da atualidade, em cuja obra aqui estudada condensa boa parte do
conhecimento contemporâneo na temática que expõe. E Eli da Veiga (2010), com a ideia de
Desenvolvimento Sustentável.
Juntos, esses pesquisadores, de épocas diversas, abordam certo posicionamento do
pensamento econômico frente ao meio ambiente, a necessidade de construir economicamente
o presente e de preservar condições mínimas de sobrevivência para gerações futuras e a
prerrogativa que possui a sociedade em prol da busca de saídas ao problema ambiental. E não
poderia haver momento mais oportuno do que o atual para trazê-los à baila. O elevado grau de
desenvolvimento das forças produtivas, com a consequente produção econômica em massa
conseguidos pelas sociedades atuais, trouxeram a questão do aquecimento global, que é a
elevação das temperaturas do planeta a níveis inéditos, segundo círculos científicos. Oportuno
e polêmico. O presidente do país mais rico do mundo, por exemplo, em campanha na qual se
elegeria, o tratou por “farsa”2.
Georgescu-Roegen (1906-1994), segundo a interpretação de Cechin (2010), elevava crítica
aos neoclássicos quanto à postura destes em isolar a economia do meio ambiente. Segundo o
romeno, toda a teoria econômica, de fato, concebeu uma economia separada das condições
naturais, fruto de um entendimento “mecânico”, baseado na “física da primeira metade do
século XIX. (...). As trocas entre indivíduos autointeressados levariam a economia ao
equilíbrio, em que todos estariam maximizando sua utilidade” (CECHIN, 2010, p.218). A
2 “Donald Trump deve tirar EUA de acordo climático, diz imprensa”. São Paulo. Folha de São Paulo, dia 31 de
maio de 2017. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/05/1888937-donald-trump-deve-tirar-eua-de-acordo-climatico-diz-imprensa.shtml >. Acesso a 13 de julho de 2017.
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humanidade, por isso, deveria buscar outras formas de existir, estando afastada a possibilidade
de um “crescimento econômico irrestrito.”
Georgescu nem sequer usou a expressão sistema, pois queria enfatizar que a
economia ocorre no tempo histórico. Tal processo requer entrada de energia e
materiais, e tem uma saída inevitável de resíduos. Nenhuma outra escola de
pensamento considerou a economia como um sistema aberto nesse mesmo
sentido material. Por isso, sua visão constitui realmente um rompimento com
o paradigma da economia, no próprio sentido dado por Thomas S. Kuhn ao
termo (...). Apesar de todas as divergências entre as diferentes escolas de
pensamento econômico - dos marxistas aos neoclássicos, dos keynesianos aos
shumpterianos, passando pelos institucionalistas, etc. - todas elas
compartilham uma visão de sistema econômico isolado do ambiente natural
(CECHIN, 2010, p.218).
Marques (2015), por sua vez, ressalta a falta de percepção de alguns quanto à iminência da
crise ambiental que se vive hoje e a impossibilidade de um capitalismo sustentável. Defende
abertamente o decrescimento econômico, no que se mudaria o dístico “mais excedente=mais
segurança”, utilizado hoje, por “mais excedente=menos segurança”. Desenvolve o conceito de
Estado-Corporação, justificando-o com a enorme quantidade de ativos hoje em mãos do
Estado (ele cita como exemplo o Estado Brasileiro e entidades como a Previ), o que
implicaria excluir essa entidade de qualquer solução para problemas ambientais, já que a
mesmo passa a defender interesses corporativos nem sempre condizentes com a defesa do
meio ambiente. Discorre, outrossim, sobre falhas do multilateralismo construído
mundialmente após o fim da Segunda Guerra Mundial, datando o fato em inícios do século
XX. Por fim, cita a sociedade civil como responsável pelas soluções possíveis.
A necessidade de mudanças no ritmo de acumulação, presente tanto em Georgescu-Roegen
(1906-1994) quanto em Marques (2015), vai encontrar em Eli da Veiga (2010) um ponto de
discordância. Em extensa discussão sobre cada uma das palavras contidas no termo
Desenvolvimento Sustentável, o qual aborda relações entre produção econômica e meio
ambiente com vistas à preservação dos mesmos para gerações futuras, ele irá dizer sobre boas
intenções e de que estamos vivendo sob um período de socialismo utópico. Este autor renega
a tese do decrescimento econômico. Apontando hipoteticamente para um novo período pelo
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qual estaria passando a humanidade, e mostrando-se cético quanto ao Desenvolvimento
Sustentável que se discute na atualidade ele afirma ...
... que as sociedades industriais estão entrando em uma nova fase de sua
evolução. E que essa transição será tão significativa quanto aquela que tirou as
sociedades europeias da ordem social agrária e levou-as à ordem social
industrial. Ao mesmo tempo, as diversas versões sobre o “desenvolvimento
sustentável” parecem estar muito longe de delinear, de fato, o surgimento
dessa nova utopia de entrada no terceiro milênio. Esse é o enigma que
continua à espera de um Édipo que o desvende”” (VEIGA, 2010, p.208).
Comentários Finais
Tal como se percebe, a temática ora estudada – Natureza, Produção Econômica e Futuro da
Humanidade, atravessa séculos de história, seja pela presença e necessidade representadas
pelos recursos naturais na vida de sociedades ocidentais, seja por representarem, de fato,
substrato teórico e base sobre a qual se erigiram ideias e pensamentos em economia. Isso
ganha tanto mais força quanto mais organizado se torna o corpo de concepções econômicas,
tal como foi o caso que se deu com a emersão da Ciência Econômica. Depreende-se que
pensadores clássicos levaram em conta, para suas reflexões, o meio ambiente, muito embora
sem muita radicalidade, no quadro do que aqui foi pesquisado. Exceção se faça a Thomas
Malthus e John Stuart Mill, que abordaram de maneira mais incisiva o assunto, cada qual à
sua maneira, fazendo suscitar suas respectivas polêmicas.
Enquanto o pároco inglês focalizava a já conhecida tese da inadequação entre número de
pessoas e quantidade de víveres suficientes para o abastecimento, dado o vício que teriam os
pobres de se reproduzirem em demasia e a exiguidade de terras, o segundo frisava a
importância da desnecessidade da natureza, prevenindo contra a produção econômica em toda
a terra disponível. Segundo este pesquisador, deveriam restar terras ociosas, tanto para o
deleite, quanto para permitir a indispensável solidão ao ser humano. A John Maynard Keynes
e Karl Marx couberam papeis diferenciados. A pleno Século XX, aquele iria, talvez numa
continuidade a John Stuart Mill, afirmar o ser humano em outras nuances que não somente a
econômica. Para ele, os ganhos de produção e avanço da produção técnica já conseguidos o
permitiriam, o que afastava a necessidade de se estar constantemente produzindo.
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A Karl Marx coube o papel crítico e de transformação. A partir dos estudos que fez do modo
de produção que emerge notadamente a partir do século XV, denuncia a cisão perpetrada
pelas relações sociais no metabolismo que houvera entre ser humano e meio ambiente, no que
aponta o advento da propriedade privada. Com esta, os recursos naturais passam a ser posse
de alguém, que deles se apropriam da forma como lhe apraz, afastando ao mesmo tempo
desse usufruto os camponeses quanto ao uso de terras que eram comuns. O pensador ora em
comento dirige crítica central a Thomas Malthus, apontando as origens de seu pensamento,
limitado, em sua visão, para dar conta dos complexos fenômenos existentes entre população e
meios de sobrevivência. A polêmica suscitada por Thomas Malthus, no entanto, iria subsistir,
tal como subsistiu o próprio modo de produção sob o qual frutificou. Mereceria forte crítica,
porém, sob John Maynard Keynes, o qual afirma que a população não cresceria mais tanto
quanto antes, a partir de certo momento.
Mais modernamente, a temática permanece, mas transformada por novos acontecimentos.
Círculos científicos, com frequência cada vez maior, alertam para o aquecimento global, que
seria a elevação da temperatura média da terra a níveis inéditos na história. Ainda no início do
Século XX, Georgescu-Roegen alertava para o posicionamento isolado da ciência econômica,
dada a influência da física mecânica, o que teria causado uma produção econômica de costas
para os recursos naturais e sua exiguidade. Luís Marques, utilizando-se inclusive do
pensamento georgesquiano, denuncia o elevado grau de destruição da natureza ao longo dos
Séculos XX e XXI e afasta o Estado da solução, uma vez que o mesmo passara a defender
interesses contrários ao meio ambiente, haja vista suas corporações. Por fim, Eli da Veiga,
que apresenta o conceito de Desenvolvimento Sustentável e discorda da ideia de
decrescimento econômico, defendida neste contexto.
Afora as muitas pesquisas que ainda podem e devem ser feitas acerca da presente temática,
algumas conclusões já são possíveis. Primeiramente, até por sua recorrência, é clara a
correlação natureza, produção econômica e futuro da humanidade. Em segundo lugar, é
histórica também. Ao que se viu, nem sempre se deu da mesma forma a apropriação dos
recursos naturais pelos seres humanos. E nem sempre as necessidades foram as mesmas e na
mesma quantidade. Terceiro, a produção econômica, sendo histórica, deve merecer especial
atenção, tanto em sua própria historicidade, quanto em suas relações futuras e de
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consequência para o ser humano. Quarto, o conceito de desenvolvimento sustentável é apenas
a face moderna de uma preocupação relativamente antiga, sendo insuficiente até mesmo para
um dos seus maiores divulgadores, em sua ideia de terceiro milênio. Por fim, a necessária
perspectiva de futuro da humanidade, tendo por base, de outro lado, a propriedade privada.
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VEIGA, J.E. Desenvolvimento Sustentável – o desafio do século XXI. Rio de Janeiro,
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