richard harper.qxd (page 26)

3

Upload: truongnhu

Post on 09-Jan-2017

235 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Richard Harper.qxd (Page 26)
Page 2: Richard Harper.qxd (Page 26)

O ARTISTA PLÁSTICO NORTE-AMERICANO RICHARD HARPER REVELA,ATÉ AO DIA 22 DE JANEIRO, EM PARIS, OS SEUS MAIS RECENTESÓLEOS, COM UMA EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL NA GALERIA ALAINBLONDEL. DEIXAMOS AQUI ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

SOBRE ESTES SEUS ÚLTIMOS TRABALHOS.

www.galerieblondel.com

26

RICHARD HARPER

ESPÍRITO PERDIDOOpinião: Tiago Krusse

No texto informativo sobre a exposição de Richard Harper, que osresponsáveis da galeria parisiense Alain Blondel nos fizeremchegar, lemos que cada trabalho deste autor envolve todo um

ritual demorado e meticuloso. Olhando para estes óleos, os seus maisrecentes trabalhos, podemos desde logo imaginar toda a preocupaçãoque uma linha hiper-realista exige do seu autor. Tivemos também acessoa alguns dos estudos que Richard Harper produziu, onde nos aperce-bemos dos seus domínios de pintura. Os estudos revelam, acima de tudo,noções precisas de proporção e de profundidade. Nos trabalhos finaisreparamos então na existência de um salto muito grande no realismodestas séries de telas figurativas. Podemos então imaginar as agruras doartista durante o tal rito, sôfrego de tempo e de método, tal qual pa-ciência chinesa! Avançamos, talvez, questionando a técnica de tantaperfeição. Se ela está na forma e nos métodos da construção, que per-mitem criar esta ilusão fotográfica, onde fica o espaço para espírito daArte? As composições, tal como Harper as caracteriza são simples- ele diz minimais -, baseiam-se em corpos nus sobre fundos neutros.Não estamos aqui a colocar em causa a capacidade de desenho doartista, nomeadamente o domínio do desenho do corpo nu ou do bomuso dos óleos. O que colocamos em discussão é a forma como se con-segue tal realismo? São hoje públicas algumas das técnicas de projec-ção utilizadas por pintores conceituados ou até mesmo as referênciasao recurso de máquinas de impressão japonesas, que ainda estão noactivo no nosso tempo. O que pretendemos expressar, sem a intençãode chocar ou de desprezar, é que tamanho realismo só é possível atravésde mão-de-obra especializada e não passa disso mesmo, pois que,

Page 3: Richard Harper.qxd (Page 26)

Na página à esquerda,

em cima: “Marie Eve”, óleo s/tela. 2008;em baixo: “Jenny”, estudo a óleo. 2007

Nesta página,

em cima, “Christelle”, óleo s/tela. 2008;em baixo, “Valerie”, estudo a óleo. 2008

para nós, pintura é uma outra coisa! Se olharmos para os nus deRodin, tendo em conta o suporte trabalhado, podemos pensar emArte, na capacidade que alguns artistas têm de criar coisas belas. Orecurso a artefactos ou a sofisticadas tecnologias - métodos se qui-serem -, só acabam por retirar peso à verdadeira entrega do artista.Por muito que gostemos das telas de Richard Harper, só podemosdizer, no nosso entendimento, que elas carecem de substância, deespírito, de Arte?