ricardo mendes de freitas - modelagem matemática em ecologia de populações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO LICENCIATURA PLENA EM FÍSICA AMBIENTAL Ricardo Mendes de Freitas Modelagem matemática em ecologia de populações biológicas Santarém 2013 Ricardo Mendes de Freitas

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Page 1: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO

LICENCIATURA PLENA EM FÍSICA AMBIENTAL

Ricardo Mendes de Freitas

Modelagem matemática em ecologia de populações biológicas

Santarém 2013

Ricardo Mendes de Freitas

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2

Modelagem matemática em ecologia de populações biológicas

Orientador: Prof. Dr. Rodolfo Maduro Almeida

Monografia apresentada ao Programa

de Física Ambiental da Universidade

Federal do Oeste do Pará, como

Trabalho de Conclusão do Curso de

Licenciatura Plena em Física

Ambiental.

Santarém 2013

Page 3: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

3

AGRADECIMENTO

Ao meu Deus por ter me dado sabedoria, força e vontade para vencer as

dificuldades durante o tempo de graduação. Aos meus pais Raimundo Alves de

Freitas e Cleonice Mendes Freitas. Em especial à minha mãe que esteve ao

meu lado, apoiando-me nessa jornada, um exemplo de amor incondicional.

Aos meus amados irmãos: Renan, Renata e Rony vocês são meus amores que

completam a minha vida.

Também agradeço a Luciane Nascimento, da turma de Física Ambiental

2010, que esteve presente nos momentos difíceis e me fez acreditar em minha

capacidade de vencer. Em especial ao orientador professor Rodolfo Maduro

Almeida, que me ajudou com paciência e contribuiu para minha formação

acadêmica.

A todos que diretamente ou indiretamente ajudaram-me nessa jornada,

dedico meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

O presente trabalho aborda a aplicação de dois paradigmas de modelagem matemática aplicados em ecologia de populações biológicas: a modelagem baseada em equações e a modelagem baseada em agentes para a interação presa-predador. A modelagem baseada em equações se preocupa em descrever o comportamento do fenômeno por meio de um sistema de equações diferenciais que relacionam as densidades populacionais de presas e predadores. O modelo de Lotka-Volterra é o modelo baseado em equações, e o ambiente de computação numérica MATLAB foi utilizado para explorar o modelo por meio de simulações numéricas. Já a modelagem baseada em agentes, parte da descrição do fenômeno a partir de suas partes constituintes. Desta forma, a entidade básica do modelo é o agente, que pode representar uma presa ou um predador, um conjunto de regras que definem o seu comportamento e a interação entre estes. Os agentes interagem em uma representação espacialmente explícita do ambiente. A simulação do modelo baseado em agentes consiste na aplicação das regras ao longo de passos discreto de tempo. Como resultado, temos um comportamento coletivo emergente, caracterizado pelo número de presas e de predadores que varia ao longo do tempo. O ambiente do software NetLogo foi explorado para simulação do modelo baseado em agentes. As simulações mostram que ambos os modelos conseguem representar bem o comportamento oscilatório evidente na dinâmica de interação entre populações de presas e predadores. Por fim, discutimos as vantagens e desvantagens das abordagens e, concluímos que a modelagem baseada em agentes leva vantagem em relação a modelagem baseada em equações, pela melhor capacidade em se incluir mais realismo ao modelo.

Palavras chaves: Modelagem matemática, ecologia de populações, presa-predador.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2-1: Representação do ambiente onde os agentes interagem. ............. 15

Figura 3-1: Janela principal do MATLAB. ........................................................ 19

Figura 3-2: Valores da população de presas e predadores ao longo do tempo para a condição inicial e os valores dos parâmetros ,

, , . .......................................................................... 21

Figura 3-3: Plano de fases do modelo de Lotka-Volterra para a condição inicial e os valores dos parâmetros , , ,

. ......................................................................................................... 21

Figura 3-4: Flutuações nas populações de lebres (snowshoehare) e seu efeito sobre a população de seu predador, o lince canadense (lynx). O gráfico é baseado em dados registrados pela empresa de comercio de peles de animais Hudson’s Bay Company. .................................................................................. 22

Figura 3-5: Plano de fases do modelo de Lotka-Volterra utilizando os valores de parâmetros , , , e diferentes valores de condições iniciais, conforme indicadas no gráfico. ...................................... 23

Figura 3-6: Valores da população de presas e predadores ao longo do tempo para a condição inicial e valores dos parâmetros ,

, e . ..................................................................................... 24

Figura 3-7: Comportamento da população de presas e predadores para , , , , . ................... 25

Figura 3-8:Comportamento da população de presas e predadores para , , , , . .............................. 25

Figura 3-9:Comportamento da população de presas e predadores para , , , , . .......................... 25

Figura 3-10:Comportamento da população de presas e predadores para a

condição inicial , , , e . ...... 26

Figura 3-11: Janela principal do software NetLogo. ......................................... 27

Figura 3-12: Comportamento da população de presas (linha azul) e predadores (linha vermelha) para uma simulação do modelo baseado em agentes

utilizando os valores de parâmetros , , , e diferentes valores para ( , , e ). .............................................. 28

Figura 3-13: Comportamento da população de presas (linha azul) e predadores (linha vermelha) para uma simulação do modelo baseado em agentes

utilizando os valores de parâmetros , , , , , e diferentes valores para (2%, 3%, 4% e 5%). ...................... 30

Page 6: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

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Figura 3-14: Comportamento da população de presas (linha azul) e predadores (linha vermelha) para uma simulação do modelo baseado em agentes

utilizando os valores de parâmetros , , , ,

, , . ...................................................................... 30

Page 7: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 8

1.1 Introdução do problema ........................................................................ 8

1.2 Objetivo do trabalho ............................................................................ 10

1.3 Organização do texto .......................................................................... 10

2 ABORDAGENS PARA MODELAGEM DA DINÂMICA DE INTERAÇÃO

DO TIPO PREDAÇÃO ..................................................................................... 11

2.1 Modelo baseado em equações ........................................................... 11

2.2 Modelo baseado em agentes .............................................................. 14

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 19

3.1 Simulação do modelo baseado em equações ..................................... 19

3.2 Simulação do modelo baseado em agentes ....................................... 26

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 31

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 33

APÊNDICE A - MÉTODO DE RUNGE-KUTTA DE 4ª ORDEM .................... 35

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Introdução do problema

De uma maneira geral população biológica é qualquer grupo de organismos

de mesma espécie. A Ecologia de populações biológicas, com o objeto de

estudo um grupo de organismo, estuda as variáveis que determinam as

abundâncias e distribuições de uma população no tempo e espaço. O ambiente

local, fatores ecológicos e fatores biológicos de populações condicionam a

sobrevivência e a rapidez do seu crescimento (SOLOMON, 1980, ODUM,

1988).

Começaremos com a seguinte situação: imaginemos que queiramos

projetar ou predizer o crescimento de uma população com base em um valor

inicial da mesma e utilizando informações dos fatores que condicionam o seu

comportamento. A principal questão que surge é: que artifícios devem ser

utilizados para alcançarmos esse objetivo? Para respondermos essa questão,

de imediato, devemos estudar a população, identificar e quantificar os fatores

que condicionam o seu comportamento, e como estes fatores se encadeiam e

direcionam o comportamento da população. Em seguida devemos buscar uma

lei ou regra que relaciona ou mapeia, de forma explícita, os fatores

condicionantes com o comportamento da população. Uma questão essencial é

a identificação desse mapa que identifica o estágio anterior as regra ou lei para

condicionar o estágio posterior e este é o objetivo principal da modelagem

matemática em ecologia de populações biológicas.

Entende-se por modelagem o processo de construção de um modelo. Um

modelo é uma representação de um objeto ou fenômeno que necessita ser

estudado. Nesse sentido, o processo de criação de um modelo é uma arte, e

cabe ao modelador buscar os melhores mecanismos para entender o

fenômeno, e em seguida propor uma metodologia para a construção do

modelo. Um modelo, então, imita um fenômeno de situações reais o qual

necessita fazer previsões (ODUM, BARRET, 2011). Logo, um modelo

matemático busca representar, através de uma descrição matemática,

frequentemente definida por meio de uma função ou uma equação, um

fenômeno do mundo real (STEWART, 2009).

Page 9: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

9

O presente trabalho abrange um tema relevante e muito explorado por

ecólogos: a modelagem matemática como ferramenta para a criação de

modelos para o estudo da dinâmica de interação entre populações biológicas.

A primeira observação a ser feita é verificar quais fatores limitantes precisam

ser considerados no modelo, com o intuito de que ele se mostre adequado para

representar a dinâmica de interação entre as populações. Ou seja, para que o

modelo consiga aproximar o comportamento real das populações, devemos

basicamente saber como se comporta uma população em função das taxas de

natalidade, mortalidade, emigração e imigração.

O fenômeno definido como objeto de estudo deste trabalho é a interação

entre populações biológicas do tipo predação. O predatismo, ou predação é

uma interação entre espécies biológicas em que um ser vivo, o predador,

captura e mata um outro ser vivo, a presa, com o fim de se alimentar com a

carne dele (ODUM, 1988). Geralmente é uma relação interespecífica, ou seja,

uma relação que ocorre entre espécies diferentes. Os carnívoros são exemplos

de animais predadores. Por exemplo, o leão, o lobo, o tigre e a onça são

predadores que, caçam, matam e comem ovelhas, zebras, coelhos, alces,

capivaras e outros animais. Convêm, aqui, elencar os demais tipos de

interações interespecíficas encontradas na literatura ecológica, que são:

neutralismo, competição (por interferência direta e por recurso), amensalismo,

comensalismo, parasitismo, protocooperação e mutualismo (ODUM, 1988).

Este trabalho explora duas abordagens de modelagem matemática: a

modelagem baseada em equações e a modelagem baseada em agentes.

Ambas são aplicadas na modelagem da interação entre presa e predador em

ecologia de populações biológicas. A modelagem baseada em equações busca

desenvolver um modelo matemático que captura as características do

fenômeno em estudo, identificando grandezas mensuráveis ou variáveis que o

descrevem, e obtendo um sistema de equações diferenciais ou parciais que

estabelecem a relação explícita entre elas (PARUNAK, 1998). Modelos

baseados em equações para a interação entre populações biológicas

quantificam a população em tamanho, normalmente em termos de densidade

populacional ou número de indivíduos. Já a modelagem baseada em agentes,

também conhecida como modelagem baseada em indivíduos, busca

Page 10: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

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desenvolver um modelo matemático que descreve o fenômeno de estudo a

partir dos seus elementos constituintes e das interações entre estes. Neste

caso, não temos equações que descrevem o comportamento do modelo. A

modelagem baseada em agentes apresenta uma lógica mais natural e intuitiva:

a população é, de fato, uma coleção de entidades discretas, ou indivíduos

(GIACOMINI, 2007). Estes modelos partem de uma representação de cada

indivíduo, a presa e o predador, das regras que definem o seu comportamento,

e de uma representação do espaço onde estes indivíduos interagem.

1.2 Objetivo do trabalho

O objetivo geral deste trabalho é explorar duas abordagens de modelagem

matemática para a dinâmica de interação entre populações biológicas do tipo

predação: a modelagem baseada em equações e a modelagem baseada em

agentes.

Como objetivos específicos, temos:

(i) Definir e delinear as duas abordagens de modelagem e como elas são

empregadas para modelar o fenômeno de estudo;

(ii) Explorar, por meio de simulações computacionais, os modelos

matemáticos visando apontar as vantagens e desvantagens de cada

uma das abordagens de modelagem.

1.3 Organização do texto

A estrutura e organização do texto são definidas pela sequência a seguir.

Os capítulos 1 e 2 apresentam as descrições das abordagens de modelagem

baseada em equações e modelagem baseada em agentes, e como elas são

aplicadas para modelar a dinâmica de interação entre populações do tipo

predação. Os capítulos 3 e 4 apresentam uma análise exploratória dos

modelos desenvolvidos por meio de simulações computacionais. E por fim, no

capítulo 5, a conclusão do trabalho aponta as principais características de cada

abordagem, suas vantagens e desvantagens.

Page 11: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

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2 ABORDAGENS PARA MODELAGEM DA DINÂMICA DE

INTERAÇÃO DO TIPO PREDAÇÃO

2.1 Modelo baseado em equações

A modelagem baseada em equações tem por objetivo principal buscar uma

relação explícita entre as variáveis dependente e independente que descrevem

e quantificam o fenômeno de estudo. Nosso interesse aqui é o de modelar a

dinâmica de populações biológicas. Ou seja, é encontrar uma função que nos

diga qual o tamanho da população ao longo do tempo no futuro: .

O tamanho da população (variável dependente) é função do tempo (variável

independente).

Ao invés de deduzirmos uma função que modele o comportamento da

população, é mais fácil modelar os fatores que levam uma população a

aumentar ou a diminuir de tamanho. A taxa de variação populacional é uma

importante variável que quantifica o comportamento dinâmico de uma

população biológica, e nos fornece o valor da velocidade de desenvolvimento

da população em qualquer instante tempo. É definida matematicamente pela

derivada da função que modela o tamanho da população em relação ao

tempo , . Se a taxa de variação for negativa, significa que a população

diminui ao longo do tempo. Se esta for positiva, significa que a população

aumenta ao longo do tempo. Se esta for nula, temos uma população em

estagnação.

Desta forma, o crescimento populacional pode ser modelado como:

onde e representam, respectivamente, as taxas de natalidade

[nascimentos/tempo] e de mortalidade [mortes/ tempo]. Se assumirmos que

estas taxas sejam proporcionais ao tamanho da população, e

, onde [nascimento/(indivíduo·tempo)] e [mortes/(indivíduo ·

tempo)] são as taxas de natalidade e mortalidade instantâneas, temos:

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A equação acima é o chamado modelo de crescimento exponencial, e nos

diz que se (taxa de natalidade instantânea excede a taxa de mortalidade

instantânea), a população cresce proporcionalmente a , e quanto maior a

população, mais rapidamente (exponencialmente) ela cresce. Para

encontrarmos a função , que modela o tamanho da população em um

instante de tempo , devemos resolver a equação diferencial.

Conforme se discutiu em essência modelar o comportamento de

populações usando o paradigma de modelagem baseada em equações, em

resposta, está em obter a equação diferencial que relaciona a taxa de variação

da população em função de fatores que influenciam no seu acréscimo ou

decréscimo. Porém, quando estamos lidando com interação do tipo predação,

temos mais de uma população. Além disso, existe uma influência mútua no

comportamento destas populações. A população de predadores depende da

população de presas, pois é de onde ela tira o alimento. A população de

predadores sofre influencia da predação. Assim, o modelo matemático para

representar o comportamento das populações envolvidas compreende um

sistema de equações diferenciais, onde cada equação diferencial modela o

comportamento de uma população.

Suponhamos o caso simples onde temos duas populações, uma

população de presas representada por indivíduos, e uma população de

predadores representada por indivíduos. As taxas de crescimento das presas

e predadores serão função das suas populações:

onde as funções e determinam quais fatores influenciam positivamente ou

negativamente na população de presas e predadores, respectivamente.

Page 13: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

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O modelo de Lotka-Volterra 1 (GOTELLE, 2009) é um sistema de

equações diferenciais de primeira ordem que modela a interação de predação

entre duas populações biológicas, e representa as funções e da seguinte

forma:

Os elementos que constituem as equações são descritos a seguir:

é o número de presas no tempo [indivíduos],

é o número de predadores no tempo [indivíduos],

é a taxa de variação de presas por unidade de tempo

[indivíduos/tempo],

é a taxa de variação de predadores por unidade de tempo

[indivíduos/tempo],

é a taxa de nascimento das presas [indivíduos nascidos/presa/tempo],

é a taxa de mortalidade dos predadores [indivíduos

mortos/predador/tempo],

é a eficiência na predação [indivíduos/presa/predador/tempo]

é a eficiência de conversão da predação sobre a população de

predadores [indivíduos/presa/predador/tempo].

Pela equação que modela o comportamento das presas temos que:

Analisando o primeiro termo da equação, vemos que os predadores são a

única força que limita o crescimento das presas. Ou seja, se , temos

que a população de presas crescerá exponencialmente, onde representa

a taxa intrínseca de crescimento da população das presas. Se fossemos

pensar pelo ponto de vista biológico, é como se a população de presas

tivesse alimentos em grande abundancia e o que controla o crescimento

exponencial de sua população é a ação dos predadores.

1Sistema de equações diferenciais proposto independentemente por Alfred J. Lotka (1880-1949) no ano

de 1925 e VitoVolterra (1860-1940) no ano de 1926.

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Analisando o segundo termo da equação, vemos que o potencial de

crescimento exponencial é contrabalanceado (sinal negativo) pelas perdas

que ocorrem na predação. O coeficiente mede a eficiência na captura da

presa. O produto é a resposta funcional do predador, que é a taxa de

captura de presas por predador.

Pela equação que modela o comportamento dos predadores temos que:

Analisando o segundo termo da equação, vemos que o predador se

alimenta somente das presas e não dispõem de outra fonte de alimentação.

Na ausência de presas, , a população de predadores decresce

exponencialmente, onde é a taxa de mortalidade.

Analisando o primeiro termo da equação, vemos que se observa

crescimento positivo somente quando a população de presas está presente.

O coeficiente é uma medida da eficiência da conversão. O produto

reflete a resposta das atividades de predação sobre a população de

predadores, ou seja, é a taxa de crescimento da população de predadores

em função da abundância de presas.

2.2 Modelo baseado em agentes

A modelagem baseada em equações preocupa-se em modelar a

dinâmica de populações a partir de um ponto de vista agregado ou holístico,

onde uma equação diferencial descreve a taxa de crescimento da população.

Já a modelagem baseada em agentes destina-se em modelar o fenômeno a

partir de uma perspectiva desagregada, dando ênfase nas partes constituintes,

como se comportam e se influenciam para definir o comportamento coletivo

(PARUNAK,1998).

A modelagem baseada em agentes tem suas raízes na Teoria de

Sistemas Multiagentes, uma subárea da Inteligência Artificial Distribuída (Macal

e North, 2009). É um paradigma de modelagem que descreve o fenômeno por

meio de uma estrutura de entidades que se relacionam dentro de um ambiente.

Cada entidade recebe o nome de agente. Segundo a definição de Russel e

Norvig (2004), um agente é uma entidade que pode perceber seu ambiente por

meio de sensores e agir sobre este por meio de atuadores. O agente possui um

conjunto de capacidades comportamentais que definem suas competências, e

Page 15: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

15

a autonomia necessária para utilizar suas capacidades comportamentais a fim

de se alcançar seus objetivos. O ambiente define a região ou espaço onde

estes agentes coexistem se relacionam e atuam. Um conjunto de regras define

o comportamento dos agentes e como eles interagem e atuam sobre o

ambiente onde coexistem.

Na modelagem da dinâmica e interação do tipo predação, temos dois

tipos de agente: o agente-presa e o agente-predador. O mundo ou ambiente

onde eles coexistem é representado por uma grade quadrada, conforme ilustra

a Figura 2-1. O mundo é povoado por um número predefinido de presas e

predadores. Os agentes podem mover-se livremente ao longo da grade. Em

cada quadrado podem coexistir uma ou mais presas ou predadores. Cada

agente possui um conjunto de regras que definem o seu comportamento.

O tempo é caracterizado por iterações ou passos discretos de tempo.

Para cada iteração , um conjunto de regras que define o

comportamento dos agentes é executado sistematicamente. Inicialmente,

quando , as populações de presas e de predadores são distribuídas

aleatoriamente ao longo do ambiente. Para uma dada iteração , as

seguintes regras sequenciais são executadas: busca por alimentos,

reprodução, morte e movimento. Inicialmente presas e predadores buscam por

alimentos no ambiente. Os predadores se alimentam de presas. As presas

podem se alimentar de algum tipo de alimento disponível no ambiente. Em

Figura 2-1: Representação do ambiente onde os agentes interagem.

Page 16: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

16

seguida, as regras que definem a reprodução e a morte são executadas. Por

último, presas e predadores se movimentam. Presas e predadores

movimentam-se aleatoriamente ao longo das quadrículas que constituem a

grade. Dado que esteja em uma quadrícula, a presa ou o predador pode

mover-se para qualquer uma das quadrículas vizinhas. A escolha da quadrícula

vizinha é aleatória.

O modelo baseado em agentes, aqui explorado é o proposto por

Wilensky e Reisman (1997), e pode ser encontrado junto aos modelos de

exemplos contidos na documentação do NetLogo. Este modelo apresenta duas

variações:

Na sua primeira variação, os predadores e as presas percorrem

aleatoriamente um-a-um os pontos da grade, enquanto que os predadores

buscam por presas para se alimentar. Se, em uma dada iteração, o

predador se encontrar com uma presa no mesmo quadrado, ele a come. Ao

se alimentar de uma presa, o predador acumula uma energia, que o

mantém vivo. Esta energia acumulada definide um número máximo de

iterações que o predador pode ficar sem se alimentar. A cada iteração sem

comer, esta energia reduz-se. Se, a energia se esgotar, o predador morre.

Para representar o processo de natalidade, a cada iteração, cada presa e

cada predador possuem uma probabilidade para gerar um descendente.

Esta primeira variação de modelo apresenta um comportamento dinamico

interessante, porém, é instável.

A segunda variação do modelo inclui um alimento essencial para a

sobrevivencia das presas. Os quadrados da grade são preenchidos com

uma vegetação que é o alimento das presas. Ao comer a vegetação, a

presa acumula uma energia que a mantem viva. A cada iteração sem

comer, esta energia diminui. Quando a energia se esgota, a presa morre.

Se a vegetação de um quadrado foi consumida, ela rebrotará após um

determinado tempo. O comportamento do predador é o mesmo da variação

anterior. Esta variação apresenta-se mais complexa do que a primeira, e é

estável. Em ambas variações, há uma presa ou há um predador que acaba

de nascer, é atribuido um valor aleatório de energia inicial. Na inicialização,

Page 17: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

17

o alimento das presas é distribuido aleatoriamente sobre a grade, na

proporção de 50%.

A Tabela 2-1 exibe os parâmetros do modelo, seus símbolos, e suas

respectivas descrições.

Tabela 2-1: Descrição dos parâmetros do modelo baseado em agentes.

Parâmetro Símbolo Descrição

Vegetação?

(sim ou não) veg

Define a variação do modelo: variação 1

(sem vegetação) e variação 2 (com

vegetação).

População inicial de

presas (indivíduos) Define a população inicial de presas.

População inicial de

predadores (indivíduos) Define a população inicial depredadores.

Ganho de energia do

predador (iterações)

Define o número máximo de iterações em

que um predador pode ficar sem se

alimentar.

Ganho de energia da

presa (iterações)

Define o número máximo de iterações em

que uma presa pode ficar sem se

alimentar.

Taxa de reprodução de

predadores

(probabilidade/iteração)

Define a probabilidade, por iteração, em

que um predador pode dar origem a uma

nova espécie.

Taxa de reprodução de

presas

(probabilidade/iteração)

Define a probabilidade, por iteração, em

que uma presa pode dar origem a uma

nova espécie.

Tempo de rebrota da

grama (iterações)

Tempo de rebrota da grama em uma

quadrícula que foi pastoreada pela presa.

O modelo baseado em agentes busca representar, de maneira mais

simplificada e minimalista possível, a dinâmica da interação entre presas e

predadores do mundo real. Como resultado das regras que definem o

Page 18: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

18

comportamento dos agentes e a interação entre eles, um comportamento

coletivo emerge. O comportamento do modelo é caracterizado pelo tamanho da

população de presas e da população de predadores, em número de indivíduos,

evoluindo ao longo das iterações.

Page 19: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

19

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Simulação do modelo baseado em equações

Um estudo qualitativo do comportamento dinâmico do modelo de Lotka-

Volterra pode ser realizado utilizando a teoria dos sistemas dinâmicos

(FERRARA, 1995; BOYCE, 1999; SAVI, 2004). Neste trabalho iremos nos ater

apenas em simular o comportamento do modelo, ou seja, resolver as equações

do modelo, e obter os valores das populações de presas e predadores ao longo

do tempo.

A resolução do modelo de Lotka-Volterra é realizada via métodos

numéricos. Dentre os métodos numéricos testados, para resolvermos o sistema

de equações diferenciais ordinárias do modelo de Lotka-Volterra, escolhemos o

método numérico de Runge-Kutta de 4ª ordem. O APÊNDICE A traz uma breve

descrição deste método, aplicado na solução de um sistema de equações

diferenciais ordinárias de primeira ordem. Em todas as simulações realizadas

neste trabalho, foi utilizado o valor de passo de integração . A figura

3-1 apresenta o software MATLAB, versão 7.10.0, cujo ambiente de

computação numérica foi utilizado para a aplicação do método de Runge-Kutta

e visualização dos resultados. O MATLAB é um software de computação

numérica que realiza operações matriciais, constrói gráficos em duas ou três

dimensões, auxilia no processamento de sinais, além de possuir uma

linguagem de programação de alto nível que possui muitas bibliotecas de

funções especializadas.

Figura 3-1: Janela principal do MATLAB.

Page 20: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

20

Na solução numérica do modelo de Lotka-Volterra, partimos de valores

iniciais da população e um dado conjunto de valores dos parâmetros, e

obtemos os valores do tamanho da população de presas e predadores em

função do tempo. Tanto o tempo, quanto o tamanho da população são

expressos em valores adimensionais.

A Figura 3-2 mostra a solução do sistema para a condição inicial

e os valores dos parâmetros , , ,

. A solução mostra que o modelo de Lotka-Volterra capta a interação

entre as espécies por meio de flutuações, onde a dinâmica da população de

predadores é o reflexo da dinâmica da população de presas. O que determina

se uma população vai diminuir ou aumentar é o tamanho da outra população.

Um crescimento na população de presas é seguido por um crescimento na

população de predadores. Similarmente, um decréscimo na população de

presas é seguido por um decréscimo na população de predadores. O aumento

na população de presas reflete em uma abundância de alimentos para a

população de predadores, criando condições favoráveis para o aumento na

população de predadores. O aumento na população de predadores reflete uma

demanda maior por presas, a predação torna-se mais intensa e,

consequentemente, a população de presas tende a diminuir.

O comportamento cíclico de aumento e diminuição da população de

presas e predadores também pode ser caracterizado no gráfico da população

de predadores (eixo vertical) em função da população de presas (eixo

horizontal), denominado plano de fases. A Figura 3-53 mostra o plano de fases

para a condição inicial e os valores dos parâmetros ,

, , . O comportamento periódico da Figura 3-2 é

definido no plano de fases por uma trajetória fechada, chamada de ciclo limite,

e é centrado em torno do ponto de equilíbrio (

), que é a solução

para

e

.

Page 21: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

21

Figura 3-2: Valores da população de presas e predadores ao longo do tempo

para a condição inicial e os valores dos parâmetros ,

, , .

Figura 3-3: Plano de fases do modelo de Lotka-Volterra para a condição inicial

e os valores dos parâmetros , , ,

.

O artigo de Elton e Nicholson (1942) publica e analisa dados reais da

dinâmica de interação entre as populações do lince canadense e da lebre, que

foram observados desde 1820 até as primeiras décadas de 1900. Estes dados,

que foram registrados pela empresa de comércio de peles de animais Hudson’s

Bay Company, são um exemplo clássico do comportamento real da dinâmica

de interação entre presas (lebre) e predadores (lince canadense). A análise dos

dados mostra que a população de linces aumenta e diminui em resposta às

flutuações na população de lebres. Assim, quando as lebres são abundantes, a

população de linces se expande. Quando a população de lebres é reduzida,

1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.51

1.5

2

2.5

3

3.5

numero de presas

num

ero

de p

red

ad

ore

s

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22

linces são obrigados a caçar outros animais. Embora sejam capazes de se

alimentar de outros animais como esquilos, veados e raposas, o fato de serem

obrigados a caçar animais diferentes de lebres traz consequências sobre a

população de linces, que se reduz. A Figura 3-4 ilustra estes dados.

Figura 3-4: Flutuações nas populações de lebres (snowshoehare) e seu efeito

sobre a população de seu predador, o lince canadense (lynx). O gráfico é

baseado em dados registrados pela empresa de comercio de peles de animais

Hudson’s Bay Company.

No modelo de Lotka-Volterra, a amplitude das oscilações no

comportamento das populações de presas e predadores depende do valor da

condição inicial. Podemos perceber isto, realizando várias simulações do

modelo utilizando diferentes condições iniciais, para um mesmo conjunto de

valores de parâmetros. A Figura 3-5 mostra os ciclos limites do plano de fases

para diferentes condições iniciais e valores de parâmetros , ,

, . Os ciclos são centrados em (

) .

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23

Figura 3-5: Plano de fases do modelo de Lotka-Volterra utilizando os

valores de parâmetros , , , e diferentes valores

de condições iniciais, conforme indicadas no gráfico.

Uma crítica ao modelo de Lotka-Volterra é o fato de se assumir que, na

ausência de predação, a população das presas cresce exponencialmente, pois

possuem abundancia de alimentos. Modificações podem ser introduzidas para

reverter este problema. Uma delas consiste em introduzir no modelo um fator

inibidor, denominado capacidade de suporte, que representa a disponibilidade

de recursos limitados para a sobrevivência das presas.A

Figura 3-6, mostra o resultado de uma simulação do modelo utilizando a

condição inicial e os parâmetros , , e

. Na ausência de predação, , a população de presas cresce,

sem cessar, a uma taxa , e a população de predadores decresce a uma

taxa de , até se extinguir.

Page 24: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

24

Figura 3-6: Valores da população de presas e predadores ao longo do tempo

para a condição inicial e valores dos parâmetros ,

, e .

Como observado nas Figuras 3-7,3-8 e 3-9 se modificarmos a taxa de

natalidade das presas ( , e ), e mantermos constantes as

condições iniciais das populações, , e os demais parâmetros

( , , , o aumento no valor de , influenciaria na

abundância de alimento para os predadores, e, consequentemente,

influenciaria no aumento da população de predadores. As oscilações das três

figuras mostram-se com amplitudes diferentes, sendo maiores quando a taxa

de nascimento das presas é maior.

Com a ausência de mortes na população de predadores, com o passar

do tempo, a população de predadores tende a se estagnar, e a população de

presas se extingue. A Figura 3-10 mostra este comportamento para as

condições iniciais , e parâmetros , , e

. Partindo de um valor inicial , e sem mortalidade ( ), a

população de predadores responde à abundância de presas, até se estagnar.

Com a ação constante da predação, sem que haja um fator limitante, a

população de presas se extingue após certo tempo.

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25

Figura 3-7: Comportamento da população de presas e predadores para , , , , .

Figura 3-8:Comportamento da população de presas e predadores para , , , , .

Figura 3-9:Comportamento da população de presas e predadores para , , , , .

Page 26: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

26

Figura 3-10:Comportamento da população de presas e predadores para a

condição inicial , , , e .

3.2 Simulação do modelo baseado em agentes

A simulação do modelo baseado em agentes é realizada utilizando o

software NetLogo (WILENSKY,1999), um software que possibilita a

representação computacional e simulação de modelos baseados em agentes,

utilizando uma linguagem de alto-nível para descrição dos modelos. A

linguagem de programação permite o fácil desenvolvimento de interfaces

gráficas como botões e barras que possibilitam o ajuste dos parâmetros do

modelo, uma janela que permite visualizar o comportamento do modelo, e

gráficos que exibem os resultados do modelo. A Figura 3-11 exibe a janela

principal do NetLogo.

Conforme descrito na Seção 2.2, existem duas variações para o modelo

baseado em agentes utilizados neste trabalho. Na primeira variação, a

dinâmica de população de presas é condicionada apenas pela taxa de

natalidade das presas, e pela ação da predação. Já a dinâmica de população

de predadores é condicionada pela taxa de natalidade dos predadores, e pelo

consumo de presas.

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27

Figura 3-11: Janela principal do software NetLogo.

De modo geral, esta variação apresenta dois comportamentos distintos:

no primeiro, após um certo tempo, a população de presas se extingue e,

imediatamente, a população de predadores se extingue; e no segundo, a

população de presas e de predadores crescem exponencialmente. Este

comportamento pode ser evidenciado observando os gráficos da Figura 3-12,

onde foram realizadas um total de quatro simulações, utilizando diferentes

valores da taxa de reprodução de presas. Para as simulações foram utilizadas

as condições iniciais das populações de presas , e de predadores

, os predadores se reproduzem a uma taxa e possuem ganho

de energia por presa comida de , e diferentes valores da taxa de

reprodução das presas, que são, , , e .

Percebe-se nas simulações que existe um limiar de taxa de nascimento

das presas, acima do qual, ocorre a superpopulação. Para valores abaixo deste

limiar, que são , e , a população de predadores

responde ao crescimento da população de presas, porém, a ação predatória

induz a extinção da população de presas. Já para um valor de taxa de

reprodução de presas acima deste limiar, que é , ocorre o fenômeno

de superpopulação, onde a população de presas consegue suportar a ação

predatória e ambas crescem exponencialmente.

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28

(a) (b)

(c) (d)

Figura 3-12: Comportamento da população de presas (linha azul) e predadores

(linha vermelha) para uma simulação do modelo baseado em agentes

utilizando os valores de parâmetros , , , e

diferentes valores para ( , , e ).

Este eminente comportamento instável da primeira variação do modelo se

dá pela ausência de uma característica essencial para a dinâmica de

populações biológicas, a chamada capacidade de suporte. A capacidade

suporte é um fator que limita o crescimento populacional descontrolado de uma

população, assumindo que o habitat possui recursos limitados para suportá-la.

Desta forma, ao incluirmos a capacidade de suporte no modelo, a competição

por comida é um fator que limita o crescimento das populações, mantendo-a

estabilizada, controlando a possibilidade de superpopulação.

A segunda variação do modelo baseado em agentes inclui a capacidade de

suporte. Supõe-se que a grama seja a única fonte de alimento das presas. Se

uma presa encontra grama em um dado quadrado, ela a consome, e

incrementa sua energia, de acordo com o parâmetro ganho de energia da

presa ( ). A grama possui uma dinâmica de rebrota, controlada pelo

parâmetro tempo de rebrota da grama ( ). Desta forma, quando a população

de presas começa a crescer, a demanda por grama cresce, as presas passam

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29

a consumir cada vez mais este recurso, que é limitado. À medida que se torna

mais escasso, consequentemente, a população de presas decresce, pois

começam a morrer de fome. A população de predadores oscila sempre em

resposta à quantidade de presas disponíveis. Quanto mais presas disponíveis,

a população de predadores encontra condições de crescer. Quando se tornam

mais escassas, a população de predadores decresce, pois a escassez de

alimentos a reduz.

Para avaliarmos o efeito da capacidade de suporte, utilizamos os mesmos

valores de parâmetros das simulações apresentadas na Figura 3-12, utilizando

diferentes valores da taxa de reprodução de presas, incluindo a capacidade de

suporte, que é presença de grama, o alimento essencial para sobrevivência

das presas. O tempo de rebrota da grama é de iterações. Na

inicialização, a grama é distribuída aleatoriamente ao longo dos quadrados da

grade, ocupando 50% do habitat. Ao consumir uma grama, a presa recebe um

ganho de energia de iterações. A Figura 3-13 exibe os resultados das

simulações.

Percebe-se nas simulações apresentadas na Figura 3-13, que a estabilidade

das populações ocorre para um valor de taxa de reprodução acima de um

limiar. Existe um limiar para , que define as chances da população de

predadores se manter. O valor de relaciona-se com a abundância mínima de

presas. Dependendo do valor de , pode haver uma quantidade tão baixa de

presas que, consequentemente, a população de predadores entra em extinção,

por escassez de alimento. Para valores abaixo deste limiar, por exemplo, para

(Figura 3-13(a)) e (Figura 3-13(b)), existe possibilidade da

população de predadores se extinguir. Quando , a população de

predadores se extinguiu imediatamente após à abundancia mínima de presas

ser atingida. Quando , as chances da população de predadores se

extinguir foram menores que no caso para , porém, a população de

predadores se extinguiu após o terceiro ciclo populacional. Acima deste valor

limiar para , por exemplo, para (Figura 3-13(c)) e (Figura

3-13(d)), os ciclos populacionais se mantêm estáveis ao longo do tempo. Para

todas as simulações, tanto na presença, quanto na ausência de predadores, a

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população de presas manteve-se estabilizada, controlada pela capacidade de

suporte do habitat. Mesmo com um valor elevado de taxa de reprodução das

presas, por exemplo, , a estabilidade dos ciclos populacionais se

mantém, conforme podemos observar no gráfico da Figura 3-14. Isto mostra a

importância da capacidade de suporte para controlar a estabilidade da

dinâmica de populações biológicas.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 3-13: Comportamento da população de presas (linha azul) e predadores (linha

vermelha) para uma simulação do modelo baseado em agentes utilizando os valores

de parâmetros , , , , , e diferentes

valores para (2%, 3%, 4% e 5%).

Figura 3-14: Comportamento da população de presas (linha azul) e predadores

(linha vermelha) para uma simulação do modelo baseado em agentes

utilizando os valores de parâmetros , , , ,

, , .

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi apresentar e comparar duas abordagens de

modelagem matemática para a dinâmica de interação entre populações

biológicas do tipo predação. As duas abordagens possuem enfoques

diferentes. A modelagem baseada em equações se fundamenta em um

enfoque holístico e agregado, onde um sistema de equações diferenciais

descreve o comportamento das populações biológicas, que é representada por

variáveis de estado contínuas (as densidades populacionais de presas e de

predadores). Já a modelagem baseada em agentes fundamenta-se em um

enfoque discreto, explícito e desagregado, onde a dinâmica das populações

biológicas é descrita a partir das representações dos indivíduos envolvidos no

processo (presas e predadores), das regras que definem os seus

comportamentos, e das regras que definem a interação entre eles.

Pudemos observar que ambas as abordagens conseguem descrever o

comportamento cíclico da dinâmica de interação entre presas e predadores.

Para GIACOMINI(2007), modelos simples, como aqueles derivados de Lotka-

Volterra, embora sejam matematicamente tratáveis, são úteis para uma

investigação teórica inicial. A ecologia demanda por modelos mais realistas,

voltados para o complexo conjunto de objetos estudados pela Ecologia. Neste

sentido, os modelos baseados em agentes são promissores para a realização

desta tarefa, pois são extremamente flexíveis e conceitualmente poderosos.

Embora o modelo baseado em equações de Lotka-Volterra apresente

limitações, existem inúmeras parametrizações e modificações que possibilitam

superá-las, incluindo mais realismo no seu comportamento (GIACOMINI,

2007). No entanto, quanto mais realismo é introduzido nas equações, o

tratamento matemático torna-se mais difícil. Outro limitação é a dependência

de um método numérico para solucionar suas equações. Dependendo do nível

de realismo introduzido, podem aparecer instabilidades no processo de solução

numérica das equações.

Por ser de natureza explícita e desagregada, a modelagem baseada em

agentes leva uma vantagem sobre a modelagem baseada em equações. Os

modelos baseados em agentes são modelos de simulação. A simulação

consiste na execução das regras que o definem e esta independe de métodos

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32

numéricos. Além de descrevemos os indivíduos como são, por meio de

parâmetros, regras de comportamento e regras de interação, a representação

espacialmente explícita do habitat facilita a inclusão de realismo biológico no

modelo. Poderíamos investigar o efeito da ação antrópica sobre a dinâmica de

interação das populações biológicas, explicitando a ação do homem

interferindo na abundancia de presas, como por exemplo, o caso da caça.

Poderíamos avaliar o efeito da construção de uma estrada, onde a paisagem

resultante torna-se fragmentada, e os animais podem morrer ao tentar

atravessá-la. Desta forma, dependendo da natureza do problema que se

deseja modelar, os modelos baseados em agentes são mais propensos às

modificações visando sofisticação na representação da realidade, mostrando-

se, portanto, mais adequados.

Page 33: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

33

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 35: Ricardo Mendes de Freitas - Modelagem Matemática em Ecologia de Populações

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APÊNDICE A - MÉTODO DE RUNGE-KUTTA DE 4ª ORDEM

Dados Defina o intervalo de integração h e o número de iterações do k;

Para n = 1,2,...,k faça:

)

)

)

)