ricardo aroxa - ensino de violao classico refletindo praticas pedagogicas
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I Frum de Educao Musica da Bahia Salvador, 01 a 03 de agosto 2012
O ensino de violo clssico: refletindo prticas pedaggicas
Resumo: A formao do instrumentista em nvel profissional tem sido considerada um
desafio por vrias questes, entre elas, o desvencilhar da influncia conservatorial a favor de uma formao musical e humana mais completa por demanda do prprio mercado de
trabalho. Este tem exigido competncias necessrias para a insero social de msicos que
trabalham com a prtica instrumental. Dentre elas a necessidade de saber lidar com uma
pluralidade de gneros, estilos de msica e perfis de instrumentista, alm dos conhecimentos
tcnico-musicais necessrios para sua expresso musical. O presente trabalho constitui-se
parte da pesquisa de mestrado em Educao Musical, e se prope a discutir prticas
pedaggicas presentes no ensino de instrumento em geral e no ensino sistemtico do violo.
Palavras-chave: Ensino de Violo. Ensino de instrumento musical; Prticas pedaggicas.
Introduo
Apesar de criticado, o modelo conservatorial, continua sendo fortemente influente
no processo de formao do instrumentista no Brasil, visto que o domnio tcnico e dedicao
prioritria ao instrumento ainda fazem parte do perfil do intrprete, seja ele solista ou no.
Todavia, como adaptao ao mundo moderno e contemporneo de mltiplos suportes de
apoio as diferentes linguagens artstica e especialmente msica, outras perspectivas
pedaggicas emergiram de prticas musicais diversas, como a msica popular urbana, e a
ascenso das tecnologias, que fomentaram novas estratgias de ensino e aprendizagem da
msica, constituindo, assim, novas bases para a pedagogia da performance instrumental.
Prticas pedaggicas no ensino de instrumento na contemporaneidade
Com vistas a lidar com essa realidade no mercado de trabalho atual, o ensino de
instrumento tem sido frequentemente investigado sob a tica no apenas da linguagem
musical, mas tambm da psicologia cognitiva e da pedagogia, principalmente, a fim de incitar
reflexes e, consequentemente, a produo de subsdios pedaggicos para o aperfeioamento
das habilidades necessrias a expertise1 da performance. Pesquisas essas que impulsionaram a
criao dos cursos de ps-graduao em msica e das duas maiores associaes de pesquisa
em msica no Brasil: a Associao Brasileira de Educao Musical (ABEM), e a Associao
Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Msica (ANPPOM). Estas fomentam a reflexo
1 Usarei o termo expertise com o sentido de alta qualidade.
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sobre todas as relaes que o homem cria com a msica e a partir dela, mesmo que no Brasil
ainda significativa a escassez de trabalhos que venham aliar o estudo sistemtico da
performance ao estudo de processos pedaggicos relacionados com a mesma (DEL-BEN;
SOUZA, 2007, p. 7).
possvel visitar algumas prticas pedaggicas de diversos autores do ensino de
instrumento, e, possivelmente, verificar mudanas nas antigas prticas do ensino do modelo
conservatorial nesses espaos.
De forma mais ampla, Zilmar Souza (2001) discute uma formao baseada nas
competncias, enquanto conjunto de conhecimentos [...], habilidades [...], e atitudes [...] a
favor de um ensino mais pleno e colaborativo. E para exemplificar, ele demonstra paradigmas
que se pretende superar a favor de outros, que se pretende implantar, como ilustra a tabela
abaixo:
Pressupostos para formao por competncias
Paradigma em superao Paradigma em implantao
Aula expositiva Problematizao
Professor especialista Professor facilitador
Disciplina isolada Interdisciplinaridade
Teoria versus prtica Contextualizao
Sala de aula Ambiente de formao
Contedo Competncia
Aprender Aprender a aprender
Avaliao Acompanhamento
Turmas homogneas Turmas heterogneas
Registro de notas Registo de resultados
TABELA 1: Pressupostos para a formao de competncias. Fonte: SOUZA, 2001, p.3.
Com essa proposta, j se percebe uma concepo de transferncia vertical do
conhecimento a ser superada ou, nas palavras de Paulo Freire na sua obra Pedagogia do
Oprimido (1987), uma espcie de educao bancria2; em contraposio a outra
horizontal, a ser implantada. Alm desse ponto, poder-se-ia levantar outros que corroboram
com uma sensvel mudana, como Professor facilitador, Contextualizao, Aprender a
aprender. Essa transferncia vertical, como mostrado, indica uma prtica em que a aula
2 Na concepo bancria [...] a educao o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e
conhecimentos [...] (FREIRE, 1987, p. 34).
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centrada no professor, quando o ideal seria um professor de instrumento cujo modelo de aula
seja mais centrado no aluno (HALLAM, 2006, p.165). E um modelo centrado no aluno, pode
ser sinnimo de: fazer sugesto de repertrio e deixar que ele escolha (NASCIMENTO, 2006,
p. 765); considerar suas potencialidades e respeitar suas limitaes (RAMOS; MARINO,
2002, p. 1); e que de alguma forma possibilite a autonomia de criao (SANTOS, 2009, p.
1179).
Em se tratando de repertrio, Ramos e Marino (2002) mostram que essencial que
o professor valorize a fase anterior leitura [...], [buscando uma] melhor adequao do
repertrio e da criao de atividades para que o ensino do instrumento seja prazeroso e esteja
em consonncia com cada etapa do desenvolvimento motor e cognitivo do aluno, [...]
inclusive fazendo uso de imitao como auxlio. Nesse sentido Robson Matos (2007),
defende em sua tese de doutorado uma possibilidade de formao do instrumentista a partir de
uma preparao tcnica por meio da prtica do Choro, evidenciando a relevncia de que
gneros populares tambm podem fornecer recursos tcnico-musicais e fazer parte da
constituio do material didtico para ensino do instrumento, que nesse caso o violo.
Pode-se tambm tentar a adaptao desses gneros populares em forma de arranjo
para o instrumento direcionado s necessidades do aluno, visto que, na tica de Ricardo
Freire, Maria Luiza Mendona e Sandra Freire (2004), a elaborao do arranjo no uma
atividade descontextualizada, pois o arranjador necessita imaginar a capacidade tcnica do
instrumentista que ir executar a msica e antever as possibilidades nos processo de
aprendizagem (p. 2).
Esses arranjos, ao ser transmitido pelo mesmo suporte do ensino tradicional, a
partitura, possivelmente incitaro a curiosidade do aluno em tentar relacionar os signos que se
encontram a sua frente, durante uma leitura musical, sua referncia sonora da msica antes
do estudo. Inclusive, quanto leitura, atualmente j se verifica uma conscincia
significativamente distinta do modelo conservatorial, em que tratada com um cdigo
abstrato que se esgota em si mesmo (PENNA, 1995, p.88). Regina Santos (2002) mostra
como a leitura musical se d concomitante a outros processos cognitivos, ratificando a
importncia do elo visual-aural para uma prtica mais completa do ensino de msica:
Acredita-se que a leitura musical engloba modalidades de escuta interna,
podendo esta ser efetuada por leitura silenciosa, por emisso vocal, ou ainda
por execuo instrumental, bem como combinaes e integraes dessas
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modalidades. (SANTOS, 2002, p.1)
Ao se ter conscincia de que os processos cognitivos no acontecem de forma isolada
na execuo musical, torna-se til imprimir uma abordagem interdisciplinar no ensino de
instrumento, a fim de aperfeioar equilibradamente as vrias habilidades necessrias na
performance. Nesta direo Darlan Nascimento (2006) utiliza em sua prtica, alm de
questes tcnico-idiomticas do instrumento, exerccios de percepo meldica, rtmica e
harmnica de forma analtica e reflexiva; e reflexes sobre o contexto histrico e esttico
das composies abordadas, com vistas em uma formao musical mais completa, onde os
educandos podem adquirir um maior leque de possibilidades para atuao [...] (seja em nvel
profissional, ou apenas como lazer) (NASCIMENTO, 2006, p. 765).
claro que, em se tratando de performance, alguns processos cognitivos tem fins
essencialmente mecnicos do corpo, porm a autoconscincia de quem os planeja e executa
que resulta na otimizao do ensino:
[...] otimizar o desempenho fsico-motor durante o perodo de preparao do
repertrio em termos de dispndio de tempo de trabalho, de gasto energtico
e de resultados sonoros prope-se, como procedimento de sustentao da
atividade msico-instrumental, a reflexo analtica. (PVOAS, 2002, p.1)
Questes tcnico-idiomticas normalmente so inquietaes de instrumentistas que,
ao se veem docentes e com vistas em conhecer melhor os limites dos alunos, compartilham
ferramentas pedaggicas com os pares.
Um paradigma aparentemente superado de que essas questes no se esgotam nos
aspectos puramente tcnicos, como mostra Queiroz (2010, p. 200). Ele elenca, alm dos
aspectos tcnicos, vrios tpicos que considera relevante de se desenvolver na formao do
violonista, dentre eles: concentrao, estabelecimento de metas exequveis, constante
autoavaliao, uso de estratgias flexveis, e visualizao de um plano global. Uma das
fragilidades dessas publicaes sobre prticas pedaggicas instrumentais que em se tratando
de possveis solues para problemas tcnicos, autores, inconscientemente ou no, por vezes
expressam suas prticas como superiores a outras, deixando implcito um tom de discurso
normativo.
Grande contribuio, que no se constituiu em uma mudana em si, mas forneceu o
suporte para possveis reflexes na execuo das prticas a ascenso das novas tecnologias.
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Se antes a forma de interpretar e de transmitir o conhecimento de seu professor incentivava a
copi-lo, agora o aluno tem acesso a vdeos de vrias referncias de professores do
instrumento ministrando aulas e/ou interpretando, possivelmente, a mesma obra que ele est
estudando. Outra inovao so os cursos de msica distncia, sendo que as plataformas de
compartilhamento de arquivos, assim como o moodle, servem de sala de aula virtuais para
muitos que no podem ir at as capitais e/ou a grandes centros estudar msica. A ttulo de
exemplo pode-se citar os trabalhos de Gian Mendes e Paulo Braga (2007)3, e, mais
recentemente, de Bruno Westermann (2010)4.
Em virtude dos fatos mencionados acredito que os contextos de ensino de
instrumento vivem um perodo de transio. Enquanto o modelo conservatorial permanece
nas prticas de professores, em cuja gerao no se podia usufruir do suporte cientfico de
pesquisas que se tem hoje, os alunos destes demonstram prticas pedaggicas que prezam no
apenas pelos aspectos tcnicos, mas tambm humanos e contextualistas. Estas prticas, por
sua vez, no se encaixam mais na concepo de modelo enquanto conjuntos de prticas
fixas, visto que so pautadas conforme o contexto e as aspiraes do aluno.
Algumas consideraes sobre o ensino de violo na atualidade
O panorama do ensino e aprendizagem de instrumento tem apontado para a
necessidade de uma formao mais ampla do professor, e cada vez mais perto de uma
proposta condizente com o contexto e o interesse do aluno. E nesse contexto, quando eu ainda
era aluno, surgiu o interesse pelo objeto de pesquisa a que me propus dissertar: a leitura
primeira vista no violo.
Durante minha primeira formao, no Conservatrio Pernambucano de Msica
(CPM), sempre imaginei que a performance de violo se dava por meio do estudo repetitivo
de trechos musicais, at que se memorizasse toda a msica, e depois outra, etc.
Na preparao para o exame vestibular, dei-me conta que haveria, dentre as provas
especficas de msica, uma de leitura primeira vista. Ainda sem saber como seria discorrido
a prova, assim como seu sistema de avaliao, e, principalmente, como eu deveria me
3 MENDES, G.; BRAGA, P. Estrutura de programa e recursos tecnolgicos num curso de violo distncia. IN:
CONGRESSO DA ASSOCIAO NACIONAL DE PESQUISA E PS-GRADUAO EM MSICA, 17.,
2007, So Paulo. Anais... So Paulo: ANPPOM, 2007. p. 1-12. 4 WESTERMANN, B. Sobre o ensino de instrumentos musicais a distncia e a autonomia do aluno. IN: I
Simpsio Brasileiro de Ps-Graduandos em Msica. Anais... Rio de Janeiro: SIMPOM, 2010. p.148-156.
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preparar para tal exame, aceitei o desafio. Depois do certame, e j como aluno da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), senti curioso por descobrir os motivos pelos quais
fosse necessrio que at os ingressos possussem um grau de desenvolvimento nessa
habilidade (tanto quanto fosse possvel). Nesse momento entrei em contato com as primeiras
questes que delatavam lacunas na formao superior que eu havia buscado. Apesar de se
exigir a habilidade no exame vestibular, no havia disciplina que desenvolva a habilidade.
Nessa instituio, percebi que meu professor de instrumento lia muito bem,
praticamente tudo que lhe era posto frente, e expus minha dvida, ento me disse que apesar
de ter uma disciplina para isso, ele incentivava que os alunos praticassem leitura musical
diariamente, alegando como objetivo, que se poderia conhecer muito mais msica, e que o
tempo em que se passa preparando cada pea inversamente proporcional ao nvel de
desenvolvimento da habilidade da leitura. Assim, percebi a importncia desta, porm ainda
no conhecia nada alm da prtica assistemtica de ler o maior nmero possvel de obras
musicais, como estratgia de aprendizagem. Como se o tempo fosse o nico meio para
aperfeio-la.
Durante todo o curso percebi uma abordagem de ensino muito mais reflexiva do que
antes, em praticamente todas as disciplinas e, paralelo a isso, reavaliava tudo o que tinha
aprendido no CPM tornando meus estudos no instrumento muito mais imbudos de questes
do tipo: Como fazer melhor?, Porque fazer melhor?, e O que tocar melhor?,
incitando-me a, alm de estudar vrias horas por dia, chegar a um objetivo mais rpido,
consciente, e de forma mais eficaz. Hoje entendo como prtica deliberada5 e metacognio
6.
Depois de formado, ingressei como docente deste instrumento no mesmo
conservatrio que outrora fui aluno, atravs de concurso pblico, e percebi como a tradio
conservatorial continua presente nas prticas pedaggica desse contexto.
Como se tratava de aulas de instrumento procurei por caminhos mais pertinentes para
cada aluno, por vezes ensinando como me ensinaram, outras vezes utilizando ferramentas
didticas que acumulei por meio dessas prticas deliberadas e metacognio (como numa
autodescoberta da tcnica), a depender do perfil do aluno, aliado sempre a questes de
histria, esttica, teoria e percepo musical.
5 atividades altamente estruturadas com a meta explcita de testar algum aspecto da performance
(WILLIAMON; VALENTINE, 2000, p. 355). 6 pensar sobre o prprio pensamento; aprender a aprender (HACKER, 1998, p.3, traduo minha).
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Como docente constatei que o perfil elitista do aluno, que muitas vezes no visava
fins profissionais com a msica, era que indiretamente direcionava minhas prticas e, ao
mesmo tempo, rompia com o prprio currculo do curso, cujo repertrio constitui-se de obras
europeia e norte-americana. Percebi essa distncia entre realidades e assim, fazia com que os
alunos se desmotivassem mais facilmente com a continuidade do estudo instrumental.
Concordo com Risaelma Moura (2007) ao afirmar que atualmente, sua escolha [do
repertrio] tem dependido das necessidades e expectativas das novas demandas sociais,
ento resolvi buscar outros caminhos de ensino.
Talvez a proposta de arranjos para violo solo, de msicas populares poderia ser
proveitosa nesse caso, mas a prpria habilidade de ler no deixavam os alunos degustarem a
msica, visto que esta tarefa se tornava rdua e fragmentada, sem o mnimo de desenvoltura
na leitura. Ento me perguntei por que no tentar encontrar meios pedaggicos eficientes para
proporcionar uma aproximao mais gil do aluno com a notao musical?
Procurando subsdios cientficos, alm dos j citados, a respeito da leitura musical,
encontrei em Regina Antunes Teixeira dos Santos um referencial, no Brasil, para o que eu
ainda nem entendia como pedagogia do instrumento, mas que compartilho de vrias
prticas, e, que por coincidncia, tambm j estudou sobre o desenvolvimento da leitura
musical. Quando aluno, j sabia que a autoconscincia das prticas e exerccios era uma boa
chance de lograr xito em algo, mas como professor, nesse espao, precisava buscar a
conscientizao do aluno para engajar-se em seu prprio processo de aprendizagem, sendo
ao mesmo tempo atuante e observador crtico desse processo (SANTOS, 2002, p. 1).
Ao se ter em mente que o contexto musical, aspiraes pessoais, o tempo de estada
do aluno na instituio so variveis; que o professor tem o papel fundamental de
intermediar a busca do conhecimento pela facilitao da aprendizagem (HALLAM, 1998
apud HARDER, 2008, p.128); que uma primeira meta educacional de qualquer disciplina o
desenvolvimento de um aprendiz independente (GREGORY, 1972, p. 1, traduo minha);
inevitavelmente passei a vislumbrar a leitura musical como componente indispensvel para a
conquista da autonomia musical do aluno (SANTOS, 2002, p. 1).
Convicto de iniciar trabalhos preliminares e, por enquanto, intuitivos do ensino para
o desenvolvimento da leitura primeira vista, percebi que a viso dos alunos e de vrios
professores da instituio verossmil com as do modelo conservatorial: a do aluno que
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pensa ser necessrio ter dom para ler partitura com relativa fluncia, e a do professor que
prega a expertise na performance como sinnimo de tocar de memria.
Dessa postura resultam prticas de encarregar o aluno de estudar uma obra,
encarando a representao grfica como um cdigo, um enigma, que deve ser desvendado
num prazo fixo. Comecei a motivar os alunos a praticar leitura com exerccios meldicos
bsicos em solfejo e depois, no instrumento. Propus uma pequena seleo de exerccios
sabendo que j lhes seria difcil de memorizar tudo, ento reforcei que escolheria
aleatoriamente trs deles para fazer leitura em sala de aula semanalmente. Desta forma
pretendia que no memorizassem uma sequncia de melodias. Para isso se faz necessrio ter
previamente uma leitura panormica do material, sem procurar memoriza-lo, sem repetir
notas que tenha errado eventualmente, tentando manter o andamento e os olhos na partitura,
dentre outras dicas.
Apesar de uma prtica intuitiva, sem saber dos provveis resultados, tinha em mente
que a memria de curto prazo (ou memria de trabalho) dos alunos precisava ser aguada,
com um fluxo de informaes (ritmo, melodia, harmonia, expresso) progressivamente maior,
para que seja capaz de interpretar qualitativamente a msica expressa atravs de smbolos em
uma partitura e no apenas execut-la de maneira mecnica 7e tenha a autonomia de ler e
escolher as obras que lhe interesse mais, e a mim, como professor, cabe contribuir como
possvel, com aspectos tcnicos e musicais, por vezes enfatizando um mais do que outro, mas
com o objetivo final de mant-los equilibrados.
Nessa direo, concordamos com Keith Swanwick (2011) quando diz que temos
que ensinar o aluno a dominar tecnicamente o instrumento, mas tambm temos que ajud-lo a
tocar de forma musicalmente expressiva, ou seja, utilizar a tcnica a servio da musicalidade.
Definitivamente no concordamos com o irreflexivo modelo conservatorial em que est
presente a transmisso do conhecimento que deve ser rigorosamente lgico, sistematizado e
ordenado, expressando verdades que pairam sobre a sociedade e os indivduos (CAMPOS,
2009, p. 52), pois cada aluno exigir uma estratgia de aprendizagem, mesmo que algumas
delas possam, por vezes, servir a mais de um.
Considero perfeitamente vlido as propostas de ensino coletivo de instrumento
enquanto objeto de musicalizao mesmo que o tema a que me propus investigar tenha sido
7 Idem, ibidem.
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por mim enfatizado sob a tica do ensino tutorial, onde o estudo em grupo de msica de
cmara poder vir a servir de ferramenta para o desenvolvimento da mesma. Para corroborar
com a ideia Moraes mostra:
H algumas dcadas, o ensino instrumental em grupo tem sido praticado e
avaliado em pases como a Inglaterra e os Estados Unidos, onde os objetivos
dos professores no so mais a comprovao da eficincia do mesmo, mas a
sistematizao atravs de metodologias e materiais didticos especficos.
(MORAES apud FIGUEIREDO; CRUVINEL, 2001, p. 3)
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Concluses
Concluo essa pequena discusso sem a pretenso de esgot-la, mostrando que o
ensino de instrumento passa por um perodo de transio, que acredito ser para melhor. Cada
vez mais percebem-se abordagens contextualistas no ensino de instrumentos tradicionais,
mesmo que o violo, no Brasil, seja um caso a parte:
Sendo um instrumento sempre ligado ao popular, o violo foi excludo por
vrias dcadas das escolas especializadas e das salas de concerto. Com isso,
o violo era aprendido e ensinado quase que em sua totalidade de maneira
autodidtica. (FIGUEIREDO; CRUVINEL, 2001, p. 2)
Concordo que o material pedaggico pode ser proveniente do prprio aluno. E para
isso faz-se necessrio saber lidar com as idiossincrasias do pensamento e comportamento
humano, desejos e aspiraes, frente ao contexto cultural em que ele est inserido, e nesse
caso, ao transmitir e se apropriar da msica.
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