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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO HISTÓRIA PATRIMÔNIO CULTURAL E TURISMO “A” JOSYNEYDE DANTAS CRUZ ÂNGELO RIBEIRA: DE BAIRRO ESQUECIDO, A REDESCOBERTO. NATAL 2007

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Page 1: RIBEIRA: DE BAIRRO ESQUECIDO, A REDESCOBERTO. · AGRADECIMENTOS Ao Senhor meu Deus, pois, quando amamos e acreditamos do fundo da alma em algo, sentimo-nos mais forte que o mundo

UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO HISTÓRIA PATRIMÔNIO CULTURAL E TURISMO “A”

JOSYNEYDE DANTAS CRUZ ÂNGELO

RIBEIRA: DE BAIRRO ESQUECIDO, A REDESCOBERTO.

NATAL 2007

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JOSYNEYDE DANTAS CRUZ ÂNGELO

RIBEIRA: DE BAIRRO ESQUECIDO, A REDESCOBERTO.

Monografia do curso de Pós-Graduação, Especialização em História, Patrimônio Cultural e Tu-rismo “A”. Orientadora: profª. Ms. MARLENE DA SILVA MARIZ

NATAL 2007

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JOSYNEYDE DANTAS CRUZ ÂNGELO

RIBEIRA: DE BAIRRO ESQUECIDO, A REDESCOBERTO.

Monografia apresentada à Uni-versidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obten-ção do título de Especialização em História, Patrimônio Cultural e Turismo “A”.

Aprovado em ___/___/_____ Nota: ____________

BANCA EXAMINADORA.

_____________________________

Marlene da Silva Mariz Profª. Ms Orientadora

Universidade Potiguar - UNP

______________________________ Marlúcia Galvão Brandão

Coordenadora do curso Universidade Potiguar -UNP TERMO DE AUTORIZAÇÃO

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Eu, Josyneyde Dantas Cruz Ângelo, Brasileira, casada, Turismóloga, resi-dente e domiciliado na Rua Demócrito de Souza Paiva, 815, na cidade de Natal, Estado do Rio Grande do Norte, portador do documento de Identi-dade: 262.392 – SSP/RN, CPF: 107.727.664.87, na qualidade de titular dos direitos morais e patrimoniais de autor da obra sob o título: Ribeira: De Bairro Esquecido, A Redescoberto, sob a forma de Monografia, a-presentada na Universidade Potiguar – UnP, em 11/10/2007, com base no disposto na Lei Federal nº. 9.160, de 19 de fevereiro de 1998. Sob a ori-entação da Profª. MS. Marlene da Silva Mariz, CPF:071.086.644.53.

1. ( ) AUTORIZO, disponibilizar nas Bibliotecas do SIB / UnP para consulta a OBRA, a partir desta data e até que manifestações em sentido contrário de minha parte determina a cessação desta autorização sob a forma de depósito legal nas Bibliotecas, bem como disponibilizar o título da obra na Internet e em outros meios eletrônico." 2. ( ) AUTORIZO, disponibilizar nas Bibliotecas do SIB / UnP, para consulta e eventual empréstimo, a OBRA, a partir desta data e até que manifesta-ções em sentido contrário de minha parte determina a cessação desta au-torização sob a forma de depósito legal nas Bibliotecas. 3. ( ) AUTORIZO, a partir de dois anos após esta data, a Universidade Po-tiguar - UnP, a reproduzir, disponibilizar na rede mundial de computadores - Internet e permitir a reprodução por meio eletrônico, da OBRA, até que manifestações contrária a minha parte determine a cessação desta autori-zação. 4. ( ) CONSULTE-ME, dois anos após esta data, quanto a possibilidade de minha AUTORIZAÇÃO à Universidade Potiguar - UnP, a reproduzir, dispo-nibilizar na rede mundial de computadores - Internet - e permitir a reprodu-ção por meio eletrônico, da OBRA. Natal, ____ de _____________ de 2007.

______________________________ Josyneyde Dantas Cruz Ângelo

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Dedico este trabalho ao meu marido, Marcos Alfredo Ângelo;

aos meus filhos Yuri Alexander Cruz Ângelo e Bruno Alessandro Cruz Ângelo;

e principalmente a minha mãe, Josefa Dantas Cruz ,

que me incentivaram, apoiaram com paciência e dedicação, amenizando as

dificuldades em minha jornada de forma muito especial.

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AGRADECIMENTOS

Ao Senhor meu Deus, pois, quando amamos e acreditamos do fundo da

alma em algo, sentimo-nos mais forte que o mundo e somos tomados de uma

serenidade, que vem da certeza de que nada poderá vencer a nossa fé. Esta

força estranha nos faz tomar a decisão certa, na hora exata e, quando atingi-

mos o objetivo, ficamos surpresos com nossa própria capacidade. Agradeço ao

ser supremo que me proporcionou mais essa vitória. Obrigada Senhor!

A orientadora Marlene da Silva Mariz, agradeço a possibilidade de trans-

formar o sonho em realidade; transmitindo seus conhecimentos e experiências,

me compreendendo e incentivando-me a seguir o meu caminho, expresso o

meu carinho e profundo respeito, que serão poucos diante do muito que me foi

oferecido...

Aos companheiros de turma e principalmente a Amiga Maria do Socor-

ro Lima Gomes, pelo carinho dedicação e companheirismo, por tudo que recebi

neste ano de aprendizado, ofereço-lhes a alegria da minha vitória, obrigada!

(Josyneyde Dantas Cruz Ângelo).

RESUMO

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O presente trabalho trata de um estudo sobre o bairro da Ribeira, em

Natal, um dos mais antigos onde se localiza o maior acervo de monumentos arquitetônicos do período de construção e povoamento da cidade. A Ribeira é considerado, portanto, um patrimônio histórico da cidade, por ser um bairro pi-oneiro e que, desde o período de consolidação do município até a II Guerra Mundial, concentrou toda a atividade econômica. Teve seu papel de destaque na sua formação e no desenvolvimento histórico da cidade.

Palco de grandes acontecimentos histórico, e freqüentado por pessoas da alta sociedade natalense e estrangeiros, o Bairro da Ribeira foi um dos pre-cursores para que Natal deixasse de ser província, tornando-se uma cidade de hábitos e mentalidade diferente, absorvendo dos estrangeiros muitos de seus hábitos e costumes A presença do porto, dava-lhe um ar de ostentação neste bairro que concentrava a riqueza da cidade.

No entanto, com o termino da II Guerra Mundial entra em decadência, o que irá culminar com seu abandono e consequentemente, descaracterização cultural e urbanística. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo tentar identificar a importância e o legado cultural que representa o Bairro da Ribeira para a cidade do Natal, como também a preservação de sua cultura e memória.

Através de investigações e leituras documentais de vários autores, veri-ficamos que entre os motivos da transformação paisagística e urbanística do bairro consta à saída dos americanos após a guerra, a transferência do comer-cio para a cidade alta, a migração das poucas famílias que ali habitavam como também e principalmente o discaso, como é tratado o patrimônio arquitetônico e cultural da cidade. Entretanto, devido ao valor histórico que o bairro possui, há necessidade de que sejam adotadas medidas principalmente governamen-tais de ações continuadas, no sentido que seja resgatado e preservado o pa-trimônio histórico cultural e arquitetônico do Bairro da Ribeira, despertando a necessidade de valorização do patrimônio e memória nacional.

Palavras chaves: Patrimônio histórico, cidade, história-cultura.

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ABSTRACT

The present work deals with a study on the quarter of the Ribeira, in Na-

tal, one of oldest where if it locates the biggest quantity of monuments architec-tural of the period of construction and to populate of the city. The Ribeira is con-sidered, therefore, a historic site of the city, for being a pioneering quarter and that, since the period of consolidation of the city until the World War II, the eco-nomic activity concentrated all. It had its paper of prominence in its formation and the historical development of the city.

Target of great events historical, and frequented for foreign people of the high natalense society and, the Quarter of the Ribeira was one of the precur-sors so that Native it left of to be province, becoming a city of habits and diffe-rent mentality, absorbing of the foreigners many of its habits and customs the presence of the port, gave a air to it of ostentation in this quarter that concentra-ted the wealth of the city.

However, with I finish it of the World War II enters in decay, what it will go to culminate therefore with its abandonment and, cultural and l to modify struc-tural. In this direction, this work has as objective to try to identify to the impor-tance and the cultural legacy that the Quarter of the Ribeira for the city of the Natal represents, as also the preservation of its culture and memory. Through inquiries and documentary readings of some authors, we verify that it enters the reasons of the environment transformation and structural of the quarter after consists to the exit of the Americans the war, the transference of I deal it for the high city, the migration of the few families who inhabited there as also and ma-inly discaso, as the patrimony is dealt with cultural architectural and the city. However, had to the historical value that the quarter possesss, it has necessity of that they are adopted measured mainly governmental of continued actions, in the direction that is rescued and preserved cultural the historic site and architec-tural of the Quarter of the Ribeira, activating the necessity of valuation of the patrimony and national memory.

Words keys: Historic site, city, history-culture.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................08

2. RIBEIRA ORIGEM E IMPORTANCIA. ..........................................................................22

3. RIBEIRA HOJE: DO ESQUECIMENTO A REVITALIZAÇÃO DO BAIRRO...........35

3.1 A RIBEIRA E SUA REVITALIZAÇÃO. ..............................................................................51

4. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ...............................................................................55

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho de pesquisa estuda e analisa situações, discute e identifica

a origem histórica do Bairro da Ribeira, confrontando com a situação atual. Da

mesma forma também enquadra o bairro como monumento histórico Cultural a

partir de conceitos básicos e referencias teóricos, se tratando, portanto de um

trabalho acadêmico com o objetivo de estudar o referido bairro a partir de uma

concepção de patrimônio cultural da cidade de Natal, retratando a Ribeira do

ontem, do hoje, a herança histórico–cultural do amanhã.

O Bairro da Ribeira uma das mais ricas estruturas arquitetônicas da ci-

dade do Natal, teve um papel de destaque na sua constituição e no desenvol-

vimento histórico da cidade. No entanto vinha sendo esquecido por parte dos

governos anteriores, e depois de sofrer abandono, foi também explorado de

maneira a descaracterizar suas origens, seus monumentos e praças.

Em conseqüência disso, vem perdendo com o passar dos anos as mar-

cas do seu passado e suas raízes. Entretanto, atualmente vem tendo por parte

do atual Administração Municipal um desejo que se materializa no sentido de

desenvolver ações canalizadas para a restauração e revitalização de forma

global, visando a requalificação e resgate da vida social, cultural e turística do

bairro, como tentativa de fazê-lo voltar à vida, a Ribeira de outrora. (DIÁRIO DE

NATAL. Cidade 2007).

O objetivo desse trabalho encontra-se na tentativa de retratar a impor-

tância, o legado cultural que é o Bairro da Ribeira para a cidade do Natal, e a

necessidade que seus valores históricos e culturais, como seus prédios, praças

e monumentos sejam preservados, no sentido de serem trabalhados de forma

responsável, mantendo a identidade e história da cidade, para que num futuro

próximo, possam continuar desfrutando de toda essa riqueza cultural onde foi o

berço de Natal.

Estudar o Bairro da Ribeira nos remete a questão de se teorizar tempo e

memória, haja vista, que estamos lidando com patrimônio que, por si só, possui

uma história e, constitui o elemento propulsor do desenvolvimento do bairro.

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Construir essa história implica pensar na idéia de tempo; na volta ao

passado; na noção de memória que é um dos eixos fundamentais para se en-

tender a história desses patrimônios e sua relação com a sociedade.

Este trabalho retrata três momentos: o primeiro momento, o passado em

que o conhecimento da sua história alicerça as bases atuais; o segundo mo-

mento, o presente, que expõe um cenário das condições atuais da Ribeira; e o

terceiro momento o estudo que envolve a realização de um sonho, a redesco-

berta do bairro que remete o homem à “reviver o passado”, de volta as suas

raízes históricas, procurando mostrar o valor do patrimônio do Bairro da Ribeira

dentro desse contexto, visualizando como o resgate desse passado pode trazer

de volta a Ribeira de outrora, despertando o sentido da afetividade, numa con-

vivência harmônica entre o passado, o presente e o futuro.

De acordo com HALBWACHS, (1990, p.55)

“O patrimônio construído coloca-nos em comunicação direta com um passado definitivo e irrevogável, construído pelo duplo trabalho da historiografia e da tomada de consciência histórica, das mutações operadas ao longo de percursos humanos.”

Os atributos presentes no hábito de reverenciar um patrimônio possuem

características de torná-lo imortal; valoroso por possuir o sentido de velhice

que, por sinal, é condição sine qua non para o seu reconhecimento.

É nesse prisma de aproximação com o passado que despertará no ho-

mem contemporâneo a necessidade de se valorizar o patrimônio, de ter refe-

rências materiais com o passado e, por conseguinte, criar raízes a um lugar. É

o tempo e a memória na construção de uma história.

Todavia, não é só o apreço as coisas do passado que manterão o ho-

mem em sintonia com a história. Será necessário despertar a consciência de

preservação, de manter viva a história desse patrimônio, cujo sentido se en-

quadra naquilo que chamamos de “materialização da memória”, constituindo-se

na adequação precisa de se manter viva as tradições e o patrimônio de um lu-

gar que, por conseguinte, serão exaltados e reverenciados ao longo da história.

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Esta pesquisa tem como base uma seleção de conceitos desenvolvidos

por autores, que em momentos diferentes, estabelecem uma ligação entre o

objeto de estudo e suas opiniões.

Como dados para as análises teóricas foram realizados levantamento

histórico do Bairro da Ribeira e sua inserção no meio urbano em diferentes pe-

ríodos, com o objetivo de compreender sua importância na vida social e urbana

da cidade. Completando as bases textuais, foi coletado material iconográfico

para ilustração.

As referências bibliográficas foram pesquisadas na literatura específica

do tema e em periódicos locais; os comentários sobre costumes e usos desse

bairro a partir do século XVIII, com os autores Carlos Lira, Jeanne F. Nesi, Jo-

ão Gothardo e principalmente Câmara Cascudo e outros nele citado.

A palavra patrimônio indica algo construído para ser uma representação do

passado histórico e cultural de uma cidade ou lugar. Faz-se importante ressal-

tar que como patrimônio Cultural e histórico, é também responsável pela conti-

nuidade e manutenção de tradições, corporificando seus ideais e valores, que

transcende as gerações. Conhecer sua história e suas origens incita ao patrio-

tismo e a atitude ética, além de estimular cada vez mais a busca de novos valo-

res patrimoniais e culturais. O Bairro da Ribeira com seu panorama nostálgico,

calmo e placidez das ruas, praças, cenários e monumentos “que encantam

quantos vejam pela primeira vez e, certamente será o reencontro saudoso para

os que tiveram o privilégio de vê-lo no passado”. (LIRA, 2001).

Os detalhes nas construções ainda existentes mostram que o bairro foi

palco de acontecimentos e transformações importantes para história da cidade.

Essas transformações se harmonizam, oferecendo uma documentação viva da

história da cidade.

Preservar os sinais do passado, identificados através dos seus prédios,

revelando detalhes construtivos e arquitetônicos, convivendo com o presente,

num processo de construção do futuro. Salvaguardar edifícios, assentamentos

urbanos, paisagens e demais aspectos de interesse e valor para a sociedade,

onde os moradores criam significados, símbolos e imagens, espaços particula-

res, resultado da memória, da produção e da técnica, mas, acima de tudo, re-

sultado de suas vidas. Como um testemunho social.

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A Constituição Brasileira datada de 1988 prevê que: “Se não há preser-

vação, ocorre à perda da identidade cultural”, o que significa dizer que há ne-

cessidade de preservar os nossos bens e valores culturais e históricos, para

conservação da nossa memória e identidade. Diante disso é conveniente que

se classifique e defina o que pode ser considerado como Patrimônio Histórico e

Cultural.

Nesse sentido, sabemos que a palavra Patrimônio pode assumir senti-

dos diversos. Originalmente esteve relacionado à herança familiar, mais dire-

tamente aos bens materiais. No entanto no século XVIII, quando na França, o

poder público começou a tomar as primeiras medidas de proteção aos monu-

mentos de valor para a história das nações, o uso de “patrimônio” estendeu-se

para bens protegidos por lei e pela ação de órgãos especialmente constituídos,

nomeando o conjunto de bens culturais de uma nação.

O conceito de cultura, por sua vez, identificava-se com o de civilização.

Ou seja, os valores culturais repousavam numa estrutura de avanço tecnológi-

co, em economias e sociedades dinâmicas, e a cultura era resultado desses

níveis, ainda que pudesse ser pensado dialeticamente como instrumento de

transformação da sociedade. O conceito de patrimônio passou, então a ser

uma coleção simbólica unificadora, que procura dar base cultural idêntica a

todos, embora os grupos sociais e étnicos presentes em um mesmo território

fossem diversos, passando a ser assim, de uma sociedade.

A construção do patrimônio cultural é um ato que depende das concep-

ções que cada época tem a respeito do que, para quem e por que preservar.

O patrimônio cultural representado por museus, monumentos, locais his-

tóricos e edificações, além do valor cultural e histórico a memória social aflora,

assim como portadora de historicidade refletindo, a valorização que a socieda-

de dá ao passado.

Pode-se afirmar que ele se identifica como o resgate de vestígios mate-

riais do passado, sendo um importante instrumento identificador de um povo,

pois é através dele que se pode saber acerca dos hábitos, usos e costumes,

representando o resgate das raízes, da memória e cultura de uma sociedade e

se constitui como, testemunho essencial das atividades humanas.

No que se refere ao Brasil, a preocupação com o patrimônio histórico e

arquitetônico foi muito posterior, iniciando-se na década de 1910, quando o

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país passava por uma crise política e de identidade. Várias foram às ocorrên-

cias que despertaram a preocupação com a defesa e preservação de um pa-

trimônio e identidade cultural. No sul do país, por exemplo, a expressiva pre-

sença de imigrantes freqüentando escolas, nas quais se ensinava em suas lín-

guas natais, parecia colocar em risco a unidade brasileira, o que de fato ocorri-

a. Ameaçada pelas disputas, então em pleno desenvolvimento, das oligarquias

estaduais pelo poder central. Outros fatores também somaram para trazer à

tona preocupações com a preservação da cultura brasileira; entre os quais, o

crescimento do nacionalismo, a ampliação das cidades e a valorização da arte

sacra colonial no mercado internacional. (RODRIGUES, 2001).

Em 1808, a chegada da corte portuguesa ao Brasil implicou no surgi-

mento de lugares de memória, como a Biblioteca Nacional e o museu Nacional,

que acabariam reforçados como instrumentos da constituição da nacionalidade

brasileira após a independência, quando em 1838, foram fundados o Instituto

histórico e Geográfico Brasileiro e o Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, com a

responsabilidade de colecionar e preservar os documentos para construção da

história do Brasil e da memória histórica nacional.

Na década de 1920, a preocupação em valorizar o que era brasileiro

tomou forma na produção dos intelectuais modernistas, como Mario de Andra-

de, meio de pesquisa etnográficas e da literatura. E ainda por projetos de lei de

criação de órgãos de proteção ao patrimônio apresentados ao legislativo fede-

ral e pela criação, na Bahia em 1927, e em Pernambuco em 1928, de inspeto-

rias Estaduais de Monumentos Nacionais, cuja atuação se limitou ao inventário

de bens locais.

Foi, entretanto, no conjunto de esforços realizados, em especial o dos

intelectuais modernistas de conhecer e recriar o Brasil, que se desenvolveu a

idéia de proteção ao patrimônio. A efetivação da idéia ocorreu no governo de

Getúlio Vargas (1930 a 1945) que, ao consagrar, pelo Decreto Lei nº. 22.928,

de 12 de junho de 1933, Ouro Preto como “monumento nacional”, demonstrava

conhecer o potencial simbólico dos bens culturais. Segundo designava o decre-

to, o destaque dado para a antiga capital de Minas Gerais se devia a fato de

ela ter sido palco de acontecimentos de alto valor histórico na formação de

nossa nacionalidade e de possuir velhos monumentos, edifícios e templos de

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arquitetura colonial, verdadeiras obras de artes, que merece defesa e conser-

vação. (RODRIGUES, 2001).

Em 1937, Vargas assinou o Decreto Lei nº. 25, que teve por base um

anteprojeto de Mário de Andrade, criando o Serviço de Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (Sphan), primeiro órgão federal dedicado à preservação. (A-

ZEVEDO, 1996).

O reconhecimento público desse valor se faria pelo tombamento, isto é,

pela inscrição do bem em um dos quatros livros do Tombo: arqueológicos, et-

nológico e paisagístico; histórico; das belas artes; e das artes aplicadas. O

tombamento, principal instrumento jurídico até hoje aplicado para impedir a

destruição de bens culturais. A medida legal para proteção do patrimônio. O

tombamento consiste num registro do bem num “livro de tombo”, em cujas pá-

ginas ficam anotados os bens considerados valiosos e sujeitos às leis de pre-

servação do patrimônio, o que implica não poderem ser demolidos nem modifi-

cados em seu aspecto externo ou em suas características originais, implicando

também que, num raio de 300 metros, nada pode ser modificado (infelizmente

na prática isso não ocorra).

O tombamento de bens particulares por parte do poder público leva au-

tomaticamente a uma perda do potencial de comercialização do terreno para

construção de prédios comerciais ou residenciais de alto padrão, sendo essa a

aspiração da maior parte dos proprietários de casarões antigos, principalmente

quando se trata de bens herdados, o tombamento passa a ser visto como um

fator negativo, uma ameaça ao patrimônio familiar. Muitos prédios são vítimas

de incêndios e derrubamentos criminosos por parte dos proprietários de bens

tombados ou em processo de tombamento. Outros proprietários simplesmente

abandonam o imóvel, alegando que se o poder público o tombou, deve ocupar-

se da restauração e manutenção e utilização do lugar. Resultando em imóveis

abandonados e deteriorados, provocando um efeito contrário ao esperado.

Cria-se um paradoxo, no qual o Estado tomba prédios históricos para protegê-

los da destruição rápida e da demolição. No entanto condena-os a destruição

lenta do abandono, sem poder obrigar os donos a tomar providências e sem

poder adotar medidas por falta de orçamento para tal.

É preciso salientar que o tombamento de prédios de valor histórico pres-

supõe apenas que eles não poderão ser alterados em sua aparência externa.

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Dentro, podem ser realizadas modificações, como: pode ser colocado ar-

condicionado, podem ser construídos banheiros etc. Pode-se construir uma

residência com o máximo de conforto, com a ultima tecnologia, mantendo a

fachada como era há 200 anos. Infelizmente, somente para uma minoria isso

significa status e chegam a pagar muito caro por propriedades como essas.

Sobre o assunto afirma Andrade (1981 p. 160).

“Até1960, ainda se acreditava que o patrimônio histórico deveria ser gerido pelo Estado, atendido por voluntários e visitado por escolares, até derruir em virtude da falta de manutenção.”

A preservação, no entanto, acaba sendo uma proposta que leva, muitas

vezes, a destruição gradativa do patrimônio por falta de condições financeiras

para obras de restauração ou de simples manutenção e de conservação é o

que, permite evitar a deterioração dos bens, protegendo-o dos efeitos do tem-

po.

Concordando com a afirmação acima, BARRETO (1995, p. 267), define:

“(...) a identidade de uma nação pode ser definida pelos seus monu-mentos – aquele conjunto de bens culturais associados ao passado nacional. Esses bens constituem um tipo especial de propriedade: a eles se atribuem a capacidade de evocar o passado e, desse modo, estabelecer uma ligação entre o passado, presente e futuro. Em ou-tras palavras eles garantem a continuidade da nação no tempo”.

No Brasil, a questão do patrimônio no que diz respeito a prédios, está

sendo gerida por órgãos oficiais como Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional), Fundação Pró-memória, Fundação José Augusto, Det (Divi-

são de Estudos e Tombamento), Unesco (Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura), Anac (Associação Nacional das Enti-

dades Culturais não lucrativas), Icomos (Conselho Internacional de Monumen-

tos e Sítios), e há um incipiente envolvimento da empresas privadas que come-

çou “oficialmente” a participar de projetos culturais a partir do projeto “Viva o

Centro”, que foi a recuperação de São Paulo.

Como também a reutilização de prédios considerados de valor histórico

por parte de empresas privadas ainda apresenta resistência nos meios intelec-

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tuais e oficiais, além de haver poucos projetos de particulares para a utilização

desses bens.

Até a década de 1960, poucas leis aprovadas no país tratavam da pre-

servação de bens culturais. A partir de então e principalmente na década de

1980, seu número cresceu refletindo o crescimento da preocupação da socie-

dade com o assunto sem que, contudo, se ampliassem às formas legais de

proteção adotadas.

Em 1970, os governadores, prefeitos e representantes de instituições

culturais presentes a um encontro promovido pelo ministério de Educação e

cultura, na capital do país, assinaram o compromisso de Brasília, no qual reco-

nheciam a necessidade de ações complementares à do órgão federal, para a

proteção do patrimônio e também recomendavam a proteção da natureza.

Muitos países implementaram políticas de preservação que tendem a

evitar que a especulação imobiliária acabe com as construções consideradas

históricas em sentido restrito, para evitar o contrabando e a venda legal de ma-

teriais arqueológicos, obras de arte e outros utensílios considerados patrimônio

nacional para grandes centros, museus ou coleções particulares.

Na convenção do Patrimônio Mundial da Unesco, em 1972, definiu-se

patrimônio cultural como:

. Monumentos: obras de arquitetura, escultura e pinturas monumentais, ele-

mentos ou estruturas de natureza arqueológica, inscrições, cavernas e combi-

nações destas que tenham um valor de relevância universal do ponto de vista

da história, da arte ou da ciência;

. Conjunto: de edificações: conjunto de edificações separados ou conectados,

os quais, por sua arquitetura, homogeneidade ou localização na paisagem, se-

jam de relevância universal do ponto de vista da historia, da arte ou das ciên-

cias.

. Sítios: obras feitas pelo homem ou pela natureza e pelo homem em conjunto

com a natureza, e áreas que incluem sítios arqueológicos que sejam de rele-

vância universal do ponto de vista da história, da estética, da etnologia ou da

antropologia.

Uma das advertências da convenção de 1972 foi estar o patrimônio cada

vez mais ameaçado de destruição, tanto pela deterioração normal, decorrente

de fatores naturais, a falta de conservação, restauração ou restauração malfei-

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ta, vandalismo, mudanças nas condições econômicas e sociais, que agravam a

situação, dentre os quais o turismo.

Em 1975, o Programa Integrado de Reconstrução das Cidades Históri-

cas, desenvolvido juntamente com numerosas atividades que procuravam am-

pliar as preocupações do órgão federal para além dos cuidados com as edifica-

ções, pretendia criar linhas de crédito especiais para a restauração de imóveis

destinados ao aproveitamento turístico, a concessão de incentivos tributários e

a formação de mão de obra especializada em restauro, além de outras medi-

das.

O crescimento da importância dada pelo poder público ao patrimônio,

fundamentava-se no reconhecimento de seu valor cultural e de sua potenciali-

dade como mercado de consumo cultural. Paralelamente uma parte da socie-

dade passava a valorizá-lo como fator de manutenção da qualidade de vida.

Em setembro de 1998, por ocasião do cinqüentenário da Declaração U-

niversal dos Direito do Homem, um órgão da Unesco Organização das Nações

Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura, o Conselho Internacional de Mo-

numentos e Sítios (Icomos), divulgara um documento no qual reafirmava o di-

reito ao patrimônio Cultural como parte integrada dos direitos humanos. Todo

homem tem direito ao respeito aos testemunhos autênticos que expressam sua

identidade cultural no conjunto da grande família humana; tem direito a conhe-

cer seu patrimônio e dos outros; tem direito a uma boa utilização do patrimônio;

tem direito de participar das decisões que afetam o patrimônio e os valores cul-

turais nele representados; tem direito de se associar para a defesa e pela valo-

rização do patrimônio.

Nesse documento, há um ponto relevante e comum, o da identidade cul-

tural e da relação com o turismo, uma vez que esse implica a curiosidade de

conhecer o nosso e o patrimônio de outros países, o que é conhecer um aspec-

to de nós mesmos, e do “outro”, no conjunto cultural.

No Brasil a Unesco reconheceu como patrimônio da humanidade os cen-

tros Históricos de Ouro Preto (1980), Olinda (1982), Salvador (1985), São Luís

(1997), Diamantina (1999); Parque Nacional da Serra da Capivara (1991); a

Costa do Descobrimento (1999); o Santuário de Bom Jesus de Matozinho

(1985); o Plano Piloto de Brasília (1987); as Ruínas Jesuítico-Guaranis de São

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Miguel das Missões (1984); a reserva da Mata Atlântica de São Paulo e Paraná

(1999); e o Parque Nacional de Igaraçu (1986).

Conforme PLLEGRINI FILHO (1993, p.90),

“É necessário perceber que o Patrimônio Cultural além de ser visto como construções de grande valor histórico e cultural incluem tam-bém em sua expressão mais moderna, outros produtos do sentir, do pensar, e do agir humano.”

Para proteger o patrimônio dessas ameaças, são necessárias políticas

de preservação. Essas políticas espelham a ideologia dos que fazem as leis.

Determinando o que deve ser ou não preservado, refletindo valores e opiniões

sobre o quais os símbolos que devem permanecer para retratar determinada

sociedade ou determinado momento da história. Sendo assim, uma decisão

político-ideológica onde os grandes questionamentos sobre quem deveria ter

ou não autoridade para decidir tais questões ou quem zela por eles.

Durante 20 anos o que tem estado presente na literatura e nos congres-

sos sobre o tema é que a sociedade nesses casos deve ser ouvida mais am-

plamente nas questões de preservação, pois, com raras exceções o Estado

que legisla sobre esses bens raramente pode manter o patrimônio em bom es-

tado e os utensílios em espaços adequados, sejam eles museísticos ou não.” A

participação da comunidade pode ser vista como um direito humano” (MENE-

ZES, 1994), como um meio autônomo de opinar ou como a habilidade de gru-

pos de influenciar a direção e os resultados do desenvolvimento de programas

que afetarão os próprios participantes. Nos países subdesenvolvidos a situação

é ainda mais grave, no entanto esse fenômeno também atinge os paises ricos

igualmente.

Na opinião de Rodrigues (2001, p.91)

“O ideal é que a intervenção assuma um caráter educativo, pois a população-alvo é estimulada pelo agente externo a desenvolver a habilidade de diagnosticar e analisar seus problemas, decidir coleti-vamente sobre as ações para solucioná-los, executar tais ações e avalia-las, buscando, sempre que necessárias novas alternativas”.

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Intervenção pode ser entendida como uma ação ou um conjunto de a-

ções praticadas por pessoas (extencionistas, técnicos, etc.) que não pertencem

ao núcleo comunitário onde tal trabalho se realiza. O processo de intervenção

pode assumir um caráter convencional/ tutorial ou participativo/ educativo (RO-

DRIGUES, 2001, p.91).

Hoje essas comunidades já ganharam força, influência e capacidade de

intervenção em áreas de decisão antes zelosamente monopolizadas pelas pre-

feituras.

As políticas preservacionistas referentes ao patrimônio arquitetônico ten-

dem a resguardá-los no sentido estrito da palavra, isto é, muitas vezes deixan-

do os prédios fechados. Quando essas políticas são aplicadas a edificações

que já são propriedade do Estado, o problema se minimiza; no entanto quando

essas mesmas políticas são aplicadas a bens de particulares, os proprietários

não têm interesse em preservá-los, pois só assim poderão vender ou mesmo

modificá-los para outros fins imobiliários.

De acordo com Andrade (1952, p.106)

“Depois da Primeira Guerra Mundial, os Nortes Americanos aprovei-taram-se da destruição provocada pela guerra na Europa e comete-ram verdadeiros desmandos: no decorre dos anos 20, construções emblemáticas como, por exemplo, Grão Loede, em Essex e Agecroft Hall, em Lancashire, foram desmanteladas, transportadas e recons-truídas nos Estados Unidos”.

A ressignificação de prédios tombados e/ou históricos ou antigos tem

trazido outras conseqüências para a dinâmica de ocupação dos espaços urba-

nos, conseqüências que têm merecido críticas por parte de alguns segmentos

da comunidade acadêmica, ao passo que outros segmentos encontram mais

pontos positivos nesse processo.

A revitalização de bairros inteiros para consumo cultural e turístico, so-

bretudo em áreas centrais ou portuárias de cidades, também tem sido uma

forma de permitir a conservação das construções históricas existentes.

Nesse sentido, revitalização refere-se a uma reestruturação espacial profunda

em vários sentidos, refere-se a uma expansão da área física, à difusão do po-

der cultural, a um processo de transformação. Portanto, o processo não é ape-

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nas um processo de especulação imobiliária, ele representa um esforço coleti-

vo das classes médias.

A melhor opção para elidir a ação inexorável do tempo parece ser a con-

servação, que permite viabilizar economicamente a manutenção dos bens cul-

turais, móveis ou imóveis, e fundamentalmente a utilização dos bens como e-

quipamentos turísticos. Existem vários exemplos neste momento, no Brasil e

fora dele, como, as grandes coleções de arte oriental ou africana que foram

retiradas dos seus países de origem de forma ilegal. Prédios inteiros foram le-

vados da Europa para os Estados Unidos pedra por pedra. No Brasil, na déca-

da de 1980, foi grande notícia de devolução, por parte de um museu etnográfi-

co, de uma machadinha indígena considerada sagrada por seus verdadeiros

donos e que tinha sido retirada da tribo sem consentimento, como também, de

vários bairros que vinham sofrendo uma progressiva deterioração tanto no as-

pecto físico de seus prédios quanto no aspecto da ocupação por parte de de-

terminados segmentos da sociedade. Projetos turísticos levaram esses bairros

à revitalização. O Pelourinho, em Salvador (BA), o centro histórico do Recife

(PE), o centro de São Paulo e do Rio de Janeiro, o cetro de Nova York, o píer

de Chicago, a baía e o antigo porto de Boston, Puerto Madero em Bueno Aires,

Quality Hill em Kansas, Montpelier na França e muitos outros.

Projetos combinados do poder público com a empresa privada levaram

os investimentos nos referidos imóveis e a recuperação das características his-

tóricas (muitas vezes deturpada essas características) dos locais, a um deslo-

camento da população de baixa renda e à recuperação do lugar para o transito

e lazer dos habitantes da cidade, e, por conseqüência dos turistas.

As críticas ao projeto referem-se à sorte dos moradores. Antes da revita-

lização, os locais eram habitados por pessoas que tinham seus empregos e/ou

subemprego nas redondezas. A revalorização imobiliária leva a expulsão des-

sas pessoas de suas residências (geralmente alugadas), obrigando-as a procu-

rar moradia em bairros longínquos, com o conseqüente prejuízo de tempo e

custo de deslocamento e a perda dos laços e da própria história. Sem dúvida, a

revitalização coloca mais visibilidade nas desigualdades sociais, porque situam

ilhas de renovação em mares de decadência. (ANDRADE, 1989, p.188).

È importante ressaltar, o fato de que, juntamente com trabalhadores ho-

nestos, morava nos cortiços dos referidos centro, muitas pessoas que viviam

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de prostituição, do roubo ou do tráfico de drogas, como acontece em todos os

bairros pobres de todas as cidades. Sem dúvida que há prostituição e tráfico de

drogas também em bairros de classe média e alta, mas os efeitos nos espaços

públicos são diferentes. Essa população foi, sem dúvida, injustamente despo-

jada de seus direitos de cidadania por um regime político e econômico perver-

so, porém, cabe analisar se realmente, que deixando tudo como estava, conti-

nuasse alijando as outras parcelas da população da possibilidade de usufruto

desses lugares, aos quais também tem direito, pois fazem parte de sua história

e, como espaços públicos, são sustentados com impostos de todos eles. No

entanto esses processos de revitalização são lentos e seu sucesso está inti-

mamente ligado à participação de segmentos da sociedade civil voluntária ou

involuntariamente envolvidos. Por exemplo, no caso da Rua Bom Jesus, no

Recife, foi realizado um trabalho com os proprietários de lanchonetes, para

mostrar-lhes os benefícios que poderiam obter se investissem na reforma de

seus estabelecimentos. Como no caso, do centro de São Paulo que foi criada a

associação “Viva o Centro”, da qual participam pessoas físicas, bancos e em-

presas.

A revitalização de bairros também pode encontrar seus antecedentes

numa proposta museológica. Trata-se do projeto de “ação cultural ou comunitá-

ria” conduzida pelo Museu Arqueológico Nacional da Tunísia, na década de

1970, no qual à prática mostrou a necessidade de engajar a população quando

se quer efetivamente manter um projeto de restauração. Para isso é necessário

um trabalho de informação e conscientização sobre a riqueza cultural do bairro

e a necessidade de preservá-lo.

Nesse processo de revitalização, museólogos, arquitetos, urbanistas,

historiadores, cientistas sociais e teorólogos podem e devem formar equipes

multidisciplinares para um planejamento integral dentro da metodologia da

pesquisa participante, que pressupõe o envolvimento dos técnicos com os su-

jeitos da ação. Dependendo da ação alguns bairros revitalizados podem ser

transformados em site museums, que reúne as preocupações com patrimônio,

revitalização, museus e turismo. “A expressão pode ser traduzida como mu-

seus de sítios ou, ainda, “museu no local”, que são assim definidos pelo conse-

lho Internacional de Museus (Icom): Um museu concebido e implantado para

proteger a propriedade natural ou cultural, móvel ou imóvel, em seu local origi-

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nal, ou seja, preservada no local em que tal propriedade foi criada ou descober-

ta” (RODRIGUES 1998, p.144)

A manutenção do patrimônio histórico, em sentido amplo, faz parte de

um processo maior ainda, que são a conservação e a recuperação da memó-

ria, graças à qual os povos mantêm sua identidade: “A memória é um elemento

essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja

busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de

hoje, na febre e na angústia” (CAMARGO 2002, p. 476).

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2. RIBEIRA ORIGEM E IMPORTÂNCIA.

Como já foi discutido no capítulo anterior, o patrimônio histórico de uma

cidade deve despertar grande interesse, em virtude de resgatar a memória e

cultura da sociedade; o que passa a significar a identidade e memória popular,

tudo isso no campo da riqueza de um povo.

Preservar o patrimônio significa mantê-lo estático e intocado, ao passo

que conservar implica integra-lo no dinamismo do processo cultural, e só as-

sim, as gerações futuras poderão desfrutar da cultura e história da cidade.

A Ribeira é um dos bairros pioneiro da cidade de Natal e por esta razão,

patrimônio cultural da mesma, uma vez que nele se encontram raízes da histó-

ria da cidade. O bairro figura como resposta natural no contexto da cidade e

sua importância, para identificação do povo, com seu espaço e para a constitu-

ição da própria identidade da cidade, como o resgate do seu passado, uma

fonte inesgotável de conhecimento e valor histórico cultural.

Natal, capital do Rio Grande do Norte, um dos noves estados que fazem

parte da Região Nordeste do Brasil, está situada no Micro-Região Homogênea

do litoral e localiza-se na Meso-Região do Leste potiguar. Limita-se, ao Norte,

com o município de extremoz, ao Oeste, com Macaiba e São Gonçalo do Ama-

rante, ao Sul, com Parnamirim e ao Leste, com o Oceano Atlântico. Instituto

Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC, 1991) faz parte do rol de cidades

brasileiras que no contexto de uma economia fundada para cumprir um papel

específico na acumulação primitiva do antigo sistema colonial nasceu como diz

Souza (1989) “antes mesmo do campo” ou como afirma Cascudo (1955) “já

nasceu cidade”. Fundada em 25 de dezembro de 1599, foi transformada em

ponto de apoio para as conquistas do litoral setentrional.

A cidade, junto com a Fortaleza dos Reis Magos, que lhe deu origem,

passou a exercer a função de defesa do território conquistado pelos portugue-

ses, no final do século XVI. Natal se desenvolveu de forma lenta e relativamen-

te isolada do processo de ocupação do território potiguar. “O forte se erguia a

setecentos e cinqüenta metros da barra (rio Potengi), em cima de arrecife, ilha-

do nas marés altas. É o lugar melhor e mais lógico, anunciando e defendendo a

cidade futura” (CASCUDO, 1980, p.21-25).

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Até o século XVII, Natal, como afirma Souza (1979), é “cidade apenas

no nome”. Com uma população muito pobre, pela inexistência de qualquer ati-

vidade econômica formal, tinha em 1810, quando da visita de um viajante in-

glês Henri Koster “três ruas que desembocavam na praça matriz, nenhum cal-

çamento e população de 600 ou 700 habitantes”. (In Cascudo, 1980, p.134)

A Ribeira um dos mais antigos focos da população e onde se concentra-

va a maioria dos prédios revestidos de importância histórica arquitetônico, artís-

tica e cultural da cidade; coloca-se como um instrumento de valorização da his-

tória local, particularmente o resgate da cultura natalense, conhecida também

como cidade baixa. Algumas de suas ruas ainda conservam acervo com carac-

terísticas original, ou originalmente preservado. Entretanto, a maioria deste a-

cervo esta sendo continuamente destruído por fatores como: envelhecimento e

falta de manutenção ou uso inadequado, que prejudicam suas características

originais. Ao longo dos anos, inúmeras transformações urbanas ocorreram,

moldando seu cenário atual.

Palco de grandes acontecimentos da história da cidade e fazendo parte

do bairro uma mistura de prédios antigos e modernos, largas avenidas de trá-

fego intenso que convivem com estreitas ruas e becos originários de época,

onde o bonde era o meio de transporte principal. Oferecendo um testemunho

vivo da nossa história. A origem do seu nome está ligada ao problema de “i-

nundações” periódicas, devido o movimento das marés que freqüentemente

alagavam os terrenos mais baixos. Somente alguns trechos ficavam a desco-

berto nas altas marés de janeiro. (ALVES et al, 1997).

Desde a sua fundação até o final do século XVIII, a Cidade Alta era o ú-

nico bairro da cidade de Natal, e somente a partir dessa fase, que começa a

expansão da cidade atingindo o hoje e conhecido Bairro da Ribeira, que na o-

casião, não passava de um terreno pantanoso e alagado em grande parte por

um braço do Rio Potengi.

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Como informa Cascudo: (1955, p. 197)

“As águas lavavam os pés dos morros. Onde está o Teatro Al-berto Maranhão tomava-se banho salgado em fins do século XIX. O português julgava estar vendo uma ribeirinha (...). O terreno era qua-se todo ensopado, pantanoso, enlodado. Apenas alguns trechos fi-cavam a descoberto nas marés altas de janeiro”.

Segundo o referido historiador o povoamento deste bairro deu-se de

maneira muito lenta, sendo a Ribeira uma zona de sítios onde moravam ape-

nas os guardas dos armazéns que vigiavam as mercadorias exportadas de

Pernambuco.

De acordo com Cascudo (1980, p.134) em 1810, o viajante inglês Henri

Koster deixou a seguinte impressão sobre a Ribeira.

“À tarde saímos passeando para ver a cidade baixa. É situada nas margens do rio potengi e as casas ocupam as ribas meridionais e não há, entre elas e o rio senão a largura da rua. Essa parte pode conter duzentos a trezentos moradores e ai residem os negociantes do Rio Grande”.

Convém observar que só em 1838 a Ribeira, possuía as seguintes ruas:

rua do Aterro (atual, Junqueira Aires), a Duque de Caxias, que hoje se chama

Silva Jardim e a rua da Alfa. Alfândega e a Chile, a partir de 1932, segundo

Cascudos (1980 p.134).

O Bairro da Ribeira, durante o período de consolidação do município até

a II Guerra Mundial, teve sempre como vocação natural o comércio. Em 1850

iniciaram-se a construção de prédios de pedra e cal na atual Rua Chile. Eram

armazéns que se erguiam destinados ao recebimento de mercadorias exporta-

das para Pernambuco.

Em 1869, o Presidente da Província, Pedro de Barros Cavalcante trans-

feriu a sede do governo, da Rua da Conceição na cidade Alta, para o prédio de

número 106, da atual Rua Chile. O velho palácio foi palco de grandes aconte-

cimentos políticos e sociais ocorridos no Rio Grande do Norte. Assistiu às pas-

seatas organizadas pelos abolicionistas, hospedou o Conde D’Eu, consorte da

Princesa Isabel, foi cenário da adesão norte-rio-grandense à proclamação de

República, em 1889. Em seguida foi residência, estabelecimento comercial e

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uma casa alegre de extraordinário movimento, o “Wander Bar”, muito freqüen-

tado pelos americanos na II Guerra Mundial. Tombado em nível Estadual, o

prédio foi doado pela Firma de Pesca Alto-Mar, do Recife, ao governo do Rio

Grande do Norte, sendo restaurado e sendo usado pelo Governo do Estado.

Cabe ressaltar que em 1897 foi realizado em Natal um censo demográfi-

co, pelo então vice-presidente da Intendência Municipal, Sr. Olympio Tavares e

contou com a ajuda de pessoas amigas, residentes nos bairros de Cidade Alta

e da Ribeira. Foram levantados os seguintes indicadores sociais: número de

casas e de habitantes, nacionalidade, sexo, estado civil, instrução, cor idade e

profissão.

O levantamento do Bairro da Ribeira contou com o apoio do Dr. Alberto

Maranhão, o major Pedro Avelino, tenente Oliveira Cascudo, Acadêmico Sérgio

Barreto, Capitão Francisco Rios, Bevenuto Lima, José Alves Morais Castro,

José Montei e Francisco Palma. O resultado do senso no bairro da Ribeira a-

presentou os seguintes resultados: total de domicílios 513; total de habitantes

1.826; número médio de pessoas por domicílio 3,97. Instituto Brasileiro de Ge-

ografia e Estatístico (IBGE-1991).

Nas ruas da Ribeira, circulavam personalidades civis e militares hospe-

dadas no Grande Hotel, o mais importante da época, que por trás de frondosa

árvore, escondia-se sua fachada, um dos símbolos da história potiguar, reinan-

do absoluto por mais de 30 anos desde a sua inauguração em 1939. As traves-

sas que levam nomes de países sul-americanos (Peru, Venezuela, Chile), a

antiga Rua das Virgens, os sindicatos portuários. Traços que a história da vida

deixou. Ali era concentrada toda a atividade econômica da cidade. A partir de

1902, com a instalação da comissão das Obras do Porto, foi iniciado o povoa-

mento das zonas norte e leste da Ribeira.

O desenvolvimento urbano do bairro foi impulsionado pela construção

do porto, cujas obras foram iniciadas no final do século XIX. As presenças do

porto e do Grande Hotel davam-lhe um ar de ostentação. Em 1904, foi inaugu-

rado o antigo Teatro Carlos Gomes, iniciando assim as atividades culturais da

Ribeira. No mesmo ano o Arquiteto Herculano Ramos foi contratado pelo então

Governador Tavares de Lira, para cuidar do ajardinamento da Praça Augusto

Severo. No ano seguinte (1905) foram inauguradas iluminações a gás de aceti-

leno nos dois principais bairros, a Ribeira e Cidade Alta.

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A partir da segunda metade do século XIX consolidou a sua função de

bairro comercial, povoado de grandes armazéns de mercadorias para a impor-

tação ou exportação para o exterior. Sua condição de empório de mercadorias

é resultado (e concomitante) da consolidação da economia algodoeira na pri-

meira metade do atual século. Significando que na produção do espaço urbano

de Natal a ação do estado e das políticas públicas também é decisiva na pro-

moção e financiamento de infra-estrutura urbana e serviços públicos como sis-

tema viário, transporte urbano, saneamento público, saúde; na Tavares de Lira,

abriram um FIRST AID (pronto socorro) destinado á profilaxia de doenças ve-

néreas a quem eram submetidas às prostitutas do bairro, pois, o Bairro da Ri-

beira foi reduto dos antigos cabarés das mulheres “Alegres” que carregavam na

alma amores fugidios. São famosos seus becos como o da “Quarentena”, con-

finadas as mazelas e sua pobre paisagem. Educação e lazer, onde funciona-

vam dois clubes-USO’s: o”Down Town” na Ribeira, destinado ao pessoal subal-

terno (soldados e marinheiros) e outro seleto, destinado à oficiais, era o “Beach

Club” em Petrópolis, e habitação para a população. Com a proliferação de

bares e casas de shows, hotéis, cinemas e cabarés, a alfândega, o porto e a

estação ferroviária. Como diz Pinto (1971, p.25) ”era o bairro mais movimenta-

do de Natal (...) [e] da maioria dos homens ricos”.

As atividades pertinentes à própria dinâmica urbana também surgiram

lenta e gradativamente, e somente do alvorecer da República é que a cidade

sofreu um surto de desenvolvimento e urbanização. Assim é que, entre 1900 e

1910 foram fundadas seis instituições de ensino (primário e secundário), inclu-

sive uma escola de música, além do Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Mara-

nhão), o Instituto Histórico e Geográfico e o Palácio do Governo. Também são

encontradas nesse período muitas realizações como construções de praças,

criação de novos bairros. No decorrer dos anos 20 foram fundados estabeleci-

mentos de ensino especializado: Escola de Comércio, Escola Profissional do

Alecrim (1922), Escola de Farmácia (1923), além de um Hospital. Todavia, co-

mo informa Santos (1989:85), “estes equipamentos e serviços se localizavam a

margem direita do Rio Potengi, destinando-se basicamente ao consumo das

classes dominantes”.

Final do século XIX, época na qual a Escola Francesa exercia grande in-

fluencia na literatura e nas artes em todo o mundo, a Ribeira começava a dar

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os primeiros passos ao desenvolvimento para, anos depois, tornar-se o princi-

pal centro comercial da cidade. Foi neste cenário que começou a ser erguido,

em 1898, o Theatro Carlos Gomes. O início da construção era considerado um

marco do progresso para a cidade. As obras na Praça Augusto Severo, o cora-

ção da Ribeira, tinham a direção do major Theodósio Paiva e a planta era do

engenheiro José de Barredo. Alguns registros históricos afirmam que em 1899

a obra foi interrompida, embora não relatem à razão. Quando Alberto Mara-

nhão assumiu o governo em 1900, em substituição a Ferreira Chaves as obras

foram retomadas. Em 24 de março de 1904, foi inaugurada com a peça “A

Promessa” de autoria do poeta norte-rio-grandense Henrique Casticiano o

Theatro Carlos Gomes, cujo nome homenageava o autor de uma consagrada

ópera brasileira. , O Guarany (PIRES, MEIRA, 1980:91).

Seguindo o estilo chalé, com 18,30 metros de largura por 78,60 de ex-

tensão, A edificação tinha composição clássica, ou seja, três portas enquadra-

das por colunas e na parte superior um frontão triangular. A fachada ainda era

adornada por uma escultura do francês Mathurin Moreau, denominada Arte.

Esta obra ainda compõe a fachada do teatro até hoje. Com essas característi-

cas o teatro permaneceu por seis anos. Ainda durante o governo de Alberto

Maranhão , em 1910, o prédio foi totalmente reformado. “Segundo registro,

(NESI, 1994) da antiga construção permaneceram apenas as paredes laterais.”

Foram quase dois anos de obra até o local ser inaugurado, em 19 de julho de

1912, com projeto do arquiteto Herculano Ramos. Em 23 de Agosto de 1953 o

teatro Carlos Gomes passou a chama-se Alberto Maranhão por campanha pu-

blicitária do teatrólogo Meira Pires que conquistou o apoio da sociedade e do

governo para mudar o nome do teatro.

A mudança concretizou-se mediante a lei de nº 744, baixada pelo então

prefeito Djalma Maranhão, sendo colocada uma placa luminosa na fachada em

solenidade onde estava escrito “Teatro Alberto Maranhão”. No governo de Di-

narte de Medeiros Mariz foi feito uma enorme restauração que durou de 1956 á

1960, pois o prédio se encontrava em ruínas e atendendo aos pedidos do Tea-

trólogo Meira Pires, que na época era superintendente do teatro. Nesta restau-

ração o Governo do estado gastou Cr$ 10 milhões, sem, no entanto, alterar a

sua arquitetura primitiva. (MARIZ. 1960:102).

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Fonte: Arquivo Diário de Natal

Teatro Alberto Maranhão, um símbolo da cultura potiguar, recebeu influência da arte

européia na sua arquitetura.

Com o passar dos anos o teatro também serviu para realizações de con-

venções políticas, formaturas de faculdades e colégios, Câmara Municipal e

Biblioteca Publicam (ambos instalados no Salão Nobre em diferentes perío-

dos), servindo também para bailes de carnaval, de 1949 até 1952. Os estragos

materiais foram enormes, pois, sumiram obras de arte e documentos que se

perderam ao longo dos anos. Em Dezembro de 1988, mediante a Lei de nº.

5.852, o teatro passou a ser órgão suplementar da Fundação José Augusto. A

casa de espetáculo mais antiga do Estado completou 100 anos no dia 24 de

março de 2004 (DIÁRIO DE NATAL/ O POTI, 2004).

Torna-se evidente que a expansão imobiliária não provocava a necessi-

dade do ordenamento físico da cidade. Ao contrário era a esperteza e ganância

das classes dominantes em alocar recursos externos e preparar a cidade para

o futuro (ou para seu próprio uso fruto).

.

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Fonte: Josyneyde D. C. Angelo

Praça Augusto Severo, até o contesto atual o único potiguar eleito. Inaugurada em 12/05/1913 em homenagem aquele que morreu em busca de um ideal. (2001)

Na primeira década do século XX, a Praça Augusto Severo, era conside-

rada um verdadeiro cartão Postal da cidade do Natal. Construída no governo

de Tavares de Lira, pelo arquiteto Herculano Ramos, italiano residente em na-

tal, no dia 15 de novembro de 1905. Foi a primeira grande praça pública cons-

truída em Natal, muito embora não seja a mais antiga. Foram gastos cerca de

62:446$861 contos de réis. Executaram os trabalhos centenas de flagelados da

seca de 1904.

Quando chovia forte a Ribeira se transformava num verdadeiro charco,

pois, para preservar a praça das enxurradas foram tiradas pedras dos arrecifes

e as ruas e contornos da praça foram calçados, assim como as ladeiras adja-

centes. O logradouro na época era freqüentado à noite por jovens da elite da

cidade. Seus canteiros eram arborizados, floridos, com muitas arvores bem

tratadas, a mais bela praça. Havia alamedas com peixinhos, vários canais e

pontes que dava um ar de romantismo ao local. No centro um coreto de madei-

ra, com base de alvenaria, onde a banda da polícia militar realizava retretas.

“Uma maravilhosa fonte de bronze tendo no centro um plano elevado com uma

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Graciosa indiazinha apertando a cabeça de uma serpente, cuja boca jorrava

água”. (SEVERO NETO. 1985:114).

Em seu entorno já abrigou os principais estabelecimentos de ensino de

Natal, inclusive a tradicional Faculdade de Direito do Estado, construída no iní-

cio do século passado. Antes disso teve o colégio Pedro II, a escola Normal, a

escola Doméstica e o grupo Escolar Augusto Severo, inaugurado em 1908.

O Antigo prédio da Escola Doméstica iniciou sua construção quase sem

recurso, pois seu terreno foi doado pelo então governador do Estado Alberto

Maranhão, atendendo ao pedido dos que faziam a Liga de Ensino, como tam-

bém a um velho anseio da população, que já em 1834 havia solicitado por in-

termédio da Câmara Municipal um pedido ao presidente da Província, Basílio

Quaresma Torreão, a criação de uma escola feminina no Bairro da Ribeira,

construído em dois pavimentos, mantém sua fachada original, sofreu apenas

um acréscimo na fachada lateral direita, logo após a conclusão de suas obras,

o que não veio a prejudicar os traços e características. Apresenta uma fachada

de composição simétrica, com porta central em arco pleno, enquadrada por

colunas e ladeada por janelas em arco abatidas. A platibanda desenhada ar-

remata toda a cobertura e a valoriza, na parte central da fachada principal há

um frontal coroado por dois pináculos. Foi inaugurado no dia 7 de setembro de

1914, o que corresponde atualmente à secretaria Estadual de Saúde, situada

na Praça Augusto Severo, nº281.

Naquela época, pioneiro no Brasil e na América do Sul o ensino domés-

tico representava um templo de ensinamentos e uma oficina de proveitosos

labores. Para concluir o curso as alunas se submetiam a um exame escrito de

todas as matérias ensinadas, e preparavam alguns pratos que eram avaliados

por uma comissão julgadora, recebendo então seus certificados, as alunas a-

provadas.

Nos anos 20, a condição estratégica de maior projeção do continente vi-

vida pela capital potiguar coloca-a em contato direto com o mundo desenvolvi-

do, com o que de mais moderno existia em termos de comunicação e transpor-

te. Natal vive intensamente, nesse período, a infância da viação. Desde 1927 o

campo de pouso de Parnamirim (atual aeroporto Augusto Severo) recebe avi-

ões de todos os países que desenvolvem a aviação e tipos de aparelhos. Em

1929 funda-se, o Aero Clube de Natal. “Entre o céu e a terra, voando para Na-

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tal”, visando “um mundo sem distância” ocorre entre 1922 a 1939” os grandes

raides aéreos” (VIVEIROS, 1974, p.43-118).

Antes da II Guerra Mundial estava em execução o plano de Sistematiza-

ção Cidade de Natal, ou Plano Palumbo, considerado por urbanistas e arquite-

tos, ousado para as características que a cidade apresentava na época. Este

plano permitiu a ocupação do bairro de Tirol em 1929. Até a II Guerra Mundial

“não havia nenhum entusiasmo para construção de edifícios destinados ao co-

mércio e residências”. Apesar da preocupação do Estado em controlar a ex-

pansão física territorial da cidade com certa “visão de futuro”; bem como a faci-

lidade de captação dos recursos que a formulação e a implantação de Planos

Diretores requerem “a produção imobiliária se desenvolver de maneira lenta

como o próprio crescimento da cidade”. (PINTO, 1995, p. 3).

No início 1944, nessa época enquanto os apartamentos privados de Hi-

tler e mais de 500 mil edifícios berlinenses eram destruídos, em Natal o teatro

Carlos Gomes realizava uma manifestação antinazista. No teatro a movimenta-

ção era intensa. Constantemente, promoviam-se espetáculos de arte, apresen-

tando cantores e grupos teatrais, importantes companhias do sul do país eram

contratadas, o que incentivava no natalense o hábito de freqüentar o teatro. A

guerra e toda movimentação registrada em Natal muda consideravelmente a

fisionomia da cidade. Os enormes casarões são transformados em quartéis e

em clubes para os soldados. São construídas as bases Naval e aérea, além de

outras instalações militares. A movimentação das tropas, deslocadas de outros

países e de outras cidades brasileiras modificam os costumes e a moda dos

natalenses. Principalmente quando os norte-americanos se instalaram em Par-

namirim e Natal.

Em plena guerra, as empresas de diversões traziam companhias de tea-

tro e estrelas do cinema e do rádio para alegrar as tropas. Pessoas importan-

tes, autoridades ilustres, artistas e estrelas de Hollywood exibiam-se com natu-

ralidade, cintilavam nos cassinos e se embriagavam no grande hotel de 1943 a

1944. As noites até então pacatas da Natal provinciana passam a ser palco de

grandes acontecimentos sociais. Algumas pessoas ilustres como: Eurico Gas-

par Dutra (visita as tropas na Itália, em 1944) e passou por Natal. Franklin Roo-

sevelt (almoçou a bordo do destróier “Humboldt” em Natal, com o Embaixador

dos Estados Unidos, Jefferson Cafery e o então presidente Getúlio Vargas). As

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atrizes Marlene Dietrich e Bethe Davis e o ator Humprey Bogart. Mesmo duran-

te a guerra eram apresentados renovados artistas internacionais. (DIÁRIO DE

NATAL Cidade, 2004).

Segundo Cascudo (1980 p.170)

“Natal possuiu teatro de palha em1841 na Praça Gonçalves Ledo; em 1880, o Teatro Santa Cruz, situado na rua João Pessoa; e, no fi-nal do século XIX, artistas se apresentavam em armazé0ns da Ribei-ra improvisados em casas de teatro.”

Com a deflagração da segunda Guerra Mundial, a posição estratégica

da cidade de Natal e a utilização da Base Aérea de Parnamirim pelos aliados,

atraíram considerável fluxo migratório responsável por acelerado, embora fu-

gaz crescimento demográfico e econômico.

É conveniente destacar que durante a II Guerra Mundial, Natal viveu um

clima de falso progresso com a vinda de um grande contingente de militares e

civis de todas as partes do país e mais a construção da base Norte-Americana.

A cidade foi palco de uma euforia jamais vista na história do país. Natal uma

cidade provinciana se viu invadida por milhares de soldados e militares de alta

patente que vieram a capital, a fim de auxiliar na construção e aparelhamento

da Base Aérea de Parnamirim; para servir de apoio e proteção as costas brasi-

leiras. E encontrou a cidade despreparada (produtos, serviços e infra-

estrutura), para absorver esta atividade e este contingente populacional. O fato

é que ocorreu, assim, um desenvolvimento acelerado e desordenado, causan-

do um choque nos cofres públicos, um aquecimento da economia e como con-

seqüência a alta dos preços, juros altos, êxodo rural e lotação da área urbana

(um salto na história).

Com o término da II Guerra Mundial, aos poucos, a Ribeira foi caindo no

esquecimento e começou a se esvaziar, pois, com a volta dos americanos as

suas terras natais, chegaram às conseqüências como: a falta de emprego, que,

sem o soldo dos soldados a todo um declínio econômico. Esse desenvolvimen-

to era como se pode notar circunstancial.

Grande parte das casas comerciais fechou ou se transferiram para a ci-

dade Alta ou o bairro do Alecrim. Entrou em decadência, o que irá contribuir

para sua descaracterização cultural e urbanística, perdendo as marcas do seu

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passado glorioso. Na década de 60, a Ribeira teve raras intervenções do poder

público.

O projeto de drenagem da Ribeira foi elaborado em 1976 em convênio

com o DNOS (Departamento Nacional de Obras e saneamento), foi assinado

no mesmo ano pelo prefeito Vauban Bezerra. Foram investidos nessa obra

mais de trezentos milhões de cruzeiros. De acordo com DNOS, foram construí-

das 5.759 galerias, distribuídas em 690 pentagonais, 1.066 retangulares, 350

emissários e 3.653 circulares, além de 230 bocas de lobo, 112 poços de visita,

176 metros de corta água, 1.866 metros de tubos de 300 milímetros, 32 metros

de tubos de 400 milímetros de calhas. A drenagem abrangeu as “Avenidas Du-

que de Caxias, Deodoro, Cordeiro de Farias, Junqueira Aires (hoje Câmara

Cascudo), Rio Branco, Ruas Domingos Sávio, Felipe Camarão, Floriano Peixo-

to, Frei Miguelinho, General Bezerra, Juvino Barreto, Manuel Dantas, Nilo Pe-

çanha, Padre João Manuel, Princesa Isabel, Rua do Sul, Rua do Saneamento,

Seridó, São Tomé, Tavares de Lira, Ulisses Caldas, Vigário Bartolomeu, Tra-

vessa Aureliano e Deodoro e a Praça Augusto Severo.” (A REPÙBLICA, 1983)

em 1983, foram concluídos os projetos de drenagem e de esgotamento sanitá-

rio do bairro, acabando com os constantes alagamentos no período chuvoso.

A fim de movimentar o bairro após o horário comercial, fazendo reviver

os velhos tempos, boêmios e intelectuais natalenses, procuraram uma solução

para sua revitalização. Em 1993, o seminário Ribeira Velha de Guerra, discutiu

propostas para o bairro. Teve também o projeto Viva Ribeira, uma iniciativa

pública e privada que incentivava a revitalização. Todo esse movimento se in-

sere em uma proposta nacional de revitalização de bairros inteiros, para con-

sumo cultural e turístico, sobretudo em áreas centrais ou portuárias de cidades

o que, de certa forma também tem sido uma forma de permitir a conservação

das construções históricas existentes.

O bairro em questão recebeu homenagens em letras de músicas, crôni-

cas e livros. Oficializado como bairro pela lei nº. 251 de 30 de setembro de

1947, na administração do prefeito Sylvio Piza Pedroza, teve seus limites rede-

finidos na Lei nº. 433, de 5 de Abril de 1993, publicado no Diário Oficial em 07

de setembro de 1994.

O Bairro da Ribeira pode ser considerado como patrimônio histórico e

cultural da cidade, pela relevância que possui do ponto de vista histórico, como

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também, pelo conjunto de edificações que marcaram o desenvolvimento de

Natal.

Atualmente é impossível admitir que o bairro da Ribeira dos negociantes

da cidade, das serenatas ao luar e dos grandes carnavais tenha tido mais vida

nos tempos da iluminação de azeite ou de gás acetileno, dos chafarizes e dos

bondes a burro. A antiga Praça Augusto Severo era um verdadeiro bosque,

com arvores frondosas, jardins floridos e nostálgicos com bancos, uma cabana

de pedra rústica e um chafariz. Um pequeno braço do rio Potengi projetava-se

passando por baixo da pequena ponte dando-lhe um ar de romantismo as noi-

tes e tardes dos natalenses.

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3. RIBEIRA HOJE: DO ESQUECIMENTO A REVITALIZAÇÃO DO BAIRRO DA RIBEIRA.

A cidade cresceu e evoluiu com presença do contingente de militares

brasileiros e aliados. Após a guerra retomou seu ritmo pacato de acordo com

(CASCUDO 1980).

Apesar de o crescimento populacional apresentar índices maiores que o

crescimento econômico, já nos anos 80, as grandes regiões brasileiras de-

monstram sinais claros de arrefecimento no ritmo de crescimento populacional.

Segundo Ianni (1995 p.68).

“Essa diminuição é generalizada e reflete a desaceleração da migra-

ção entre as regiões, percebe-se apenas que as Regiões Norte e

Centro-Oeste apresentam taxas de crescimento considerados altas

em relação às demais”.

O crescimento das cidades, nas décadas anteriores, foi acelerado pela

migração rural-urbana, o que contribuiu para o Brasil, conhecesse um rápido

processo de urbanização, notadamente, nos anos 60/70. Esse processo, aliado

à crise econômica que assolou o país desde o início dos anos 80, contribuiu

para que as cidades apresentassem uma série de problemas como: o déficit

habitacional, poluição, desemprego, carência de infra-estrutura urbana (sane-

amento básico, coleta de lixo, transporte coletivo, telefonia, etc.), que influenci-

aram na deterioração das condições de vida. Como conseqüência, houve au-

mento da pobreza, da violência e os conflitos sociais tornaram-se ainda mais

freqüentes nesses lugares.

No entanto, no ano de 1985, na administração do Prefeito Marcos For-

miga houve a restauração da Praça Augusto Severo, sendo investido a impor-

tância de R$ 90 milhões de cruzeiros, proveniente do Governo Federal, através

do Projeto Cura II. Devido ao funcionamento da Estação Rodoviária e a instala-

ção do ambulatório do Inamps no prédio, onde, outrora, funcionava a Escola

Doméstica de Natal, aumentou consideravelmente o fluxo de pessoas circulan-

do na praça, e com isso atraindo muitos barraqueiros e vendedores ambulantes

que se instalaram nas calçadas do colégio Salesiano e da praça. A sujeira im-

perava em toda a área sendo necessário que fossem tomadas medidas cabí-

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veis no sentido de restaurar a dignidade deste logradouro, como a retirada das

barracas e todo o lixo acumulado em seu entorno. Foram construídos novos

bancos, novo passeio e jardins mais elevados para proteger as plantas. As ar-

vores antigas e frondosas foram preservadas, ganhando uma iluminação feéri-

ca à base de vapor de sódio. Foi construído do lado direito da Estação Rodovi-

ária pela prefeitura quatro quiosques, cada um com quatro boxes, destinados à

venda de alimentos. Sendo ali alocados alguns barraqueiros. Uma das pontezi-

nhas construída por Herculo Ramos, em 1905 foi preservada, ainda hoje, pode

ser vista pelos transeuntes. (DIÁRIO Projeto Ler, 2001).

Fonte: Josyneyde D. C. Angelo

Pequena ponte mais antiga, imitando o Bambu Oriental executada por Emilio Florenti-no. Substituída por esta mais recente em alvenaria e concreto. Aquela desapareceu, esta se encontra hoje sobre o aterro da praça. (2001).

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De acordo com Severo Neto (1985),

Entre as casas comerciais da Natal provinciana, esta se destacou das demais, “pegada com o polytheana estava à loja Paris em Natal, um belo sobradão de balcões de ferro, onde o coronel Aureliano de Medeiros, com seus filhos Osvaldo e Ulisses, oferecia ao povo chi-que da cidade, toda sorte de artigos importados, que iam do pó de arroz ao extrato, do calçado ao chapéu de palhinha, feltro ou pana-má; do”foulard” de fina seda francesa aos cortes de pura casemira inglesa... “Paris em Natal” fazia esquina com a travessa que ia dar na Alfândega, hoje chamada Travessa Aureliano”.

O povoamento das zonas Norte e Leste da Ribeira tomaram grande im-

pulso a partir de 1902, com a instalação da “Comissão da Obra do Porto”. As

avenidas Tavares de Lira e Duque de Caxias (primitivamente conhecida como

a Campina da Ribeira) são as mais novas (ou mais antigas?). A Tavares de

Lira foi concluída no governo de Ferreira Chaves, em 1919. (NESI, 1994).

O Bairro da Ribeira, além destas duas avenidas citadas acima (Tavares

de Lira e Duque de Caxias), contava também com ruas importantes na época

como a Praça Augusto Severo, Travessa Aureliano, Frei Miguelinho, Rua Chile

(anteriormente Rua do Comércio), Rua Henrique Castriciano, Junqueira Aires,

Dr. Barata, entre outras. Nestas ruas se estabeleceram entre os anos de 1924

a 1989, comerciantes com suas lojas e firmas, que marcaram com sua presen-

ça a vida econômica e social da cidade. Inicialmente era também um bairro

residencial, com ruas como a Ferreira Chaves e Duque de Caxias onde habita-

vam muitas famílias de classe média. Nos anos 50 a residência do Cônsul e o

Consulado do Chile ficavam na Avenida Duque de Caxias. O Bairro da Ribeira

representava o centro comercial da cidade de Natal e somente depois é que

foram se transferindo para o bairro da Cidade Alta. A vida social também se

fixava na Ribeira, onde se localizavam o teatro, o cinema Politeama, a Praça

Augusto Severo, para os passeios dominicais, A Escola Doméstica, Bancos,

Jornal A República, a estação Ferroviária Great Westwern, livrarias, além das

lojas mais importantes da capital. (ANDRADE, 1989) No que se refere à densi-

dade demográfica de Natal, observa-se que com um crescimento populacional

acentuado, desde os anos 40, Natal chega, em 1980, a concentrar uma popu-

lação de 416.898 pessoas, (FIBGE, 1982), e em 1996, alcançou a marca de

656.887 moradores, segundo dados preliminares da contagem populacional

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realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesse

mesmo ano (FIBGE, 1997).

Os anos de 1980, e a partir de 1990, ficaram marcados na história brasi-

leira por um grande processo de recessão econômica que se fez presente em

âmbito mundial, com maiores reflexos nos paises subdesenvolvidos. A taxa de

crescimento do PIB brasileiro que alcançou 11,3 por cento, na época do “mila-

gre econômico” caiu para 7,1% entre 1973 e 1980 (ALVES, 1988) reduzindo-se

drasticamente para 1,3% ao ano entre 1981 e 1992, não acompanhando o

crescimento populacional do mesmo no período (81/92) que foi da ordem de

1,9% ao ano (ANDRADE, 1952).

Segundo o Arquiteto Haroldo Maranhão, que foi pioneiro na revitalização

da Ribeira, pois, nos anos 80 participou da restauração de cerca de 50 imóveis

no bairro, sendo também, um dos organizadores dos Muitos Carnavais quando

este foi transferido para Tirol e Ribeira.

A cidade de Natal possui, hoje, 35 bairros distribuídos em quatro Regi-

ões Administrativas, a saber: Norte, Oeste, Leste e Sul e uma área de 172

Km2, equivalente a 0,32 por cento da superfície Estadual. Instituto de Planeja-

mento Urbano de Natal (IPLANAT, 1996).

Um exemplo bem comum foi o da Capitania das Artes em 1992, locali-

zada no centro histórico de Natal, onde se abrigam as construções mais anti-

gas da cidade, o prédio foi transformado num avançado complexo artístico cul-

tural e de acordo com o jornal O Poti, a proposta conceitual é do Conselho Mu-

nicipal de Cultura e Turismo. O projeto arquitetônico desenvolvido pelo arquite-

to João Maurício preservou o frontal neoclássico e criou um arrojado contraste

com linhas modernas no seu interior. O prédio da Capitania das Artes tem seu

valor histórico, pois, já foi sede do Governo do Estado, Escola de Aprendizes

de Marinheiros e Capitania dos Portos. (O POTI. Cidade, 1992).

Nessa perspectiva, a fim de preservar e manter a memória viva deste lu-

gar, em 1994 foi elaborado um projeto de revitalização do Bairro da Ribeira, a

exemplo do que ocorreu na parte antiga cidade de Salvador. Assim, através de

uma parceria entre as Universidades do Rio Grande do Norte e Pernambuco,

juntamente com a prefeitura Municipal de Natal, com o apoio do Ministério da

Cultura, da Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) e da iniciativa privada, o

Prefeito Aldo da Fonseca Tinoco Filho (1993-1996), foi iniciada a execução do

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projeto de revitalização “Sítio Histórico da Velha Ribeira” (até o momento não

concluído), com o objetivo de incentivar a dinamização de sua vida econômica,

social e cultural, através da manutenção de seus recursos e valores, com a-

ções de reabilitação, revitalização e requalificação (ALVES, 1997).

O projeto de Revitalização do Bairro da Ribeira, seu sítio histórico com-

preende a Praça Augusto Severo, Avenida Duque de Caxias, Esplanada Silva

Jardim e o Rio Potengi. Das quarenta e cinco casas, cuja fachada seriam res-

tauradas, o mencionado prefeito inaugurou algumas fachadas na Rua Chile, foi

posta uma placa com os seguintes dizeres:

“Plano de Reabilitação Urbana da Ri beira Projeto Fachadas da Rua Chile”. Projeto Viva Ribeira Ministério da Cultura Ministro Francisco Correa weffort Embratur Prefeitura Municipal de Natal Prefeito Aldo da Fonseca Tinoco Filho Inaugurado: 20.12.1996.”

Este projeto importantíssimo encalhou nas malhas da burocracia oficial

foi vítima da tradicional descontinuidade administrativa brasileira. Em Abril de

1999. (DIÁRIO. Projeto Ler, 2001.).

Logo depois em 30 Dezembro de 1997, foi aprovada a Operação Urbana

Ribeira com a Lei de nº4. 932. (www.natal.rn.gov. /semurb/bairross/lesteribeira.

php.).

Artigo 1º _ Fica Aprovado a Operação Ribeira, compreendendo um conjunto

integrado de intervenção coordenada pela prefeitura, através do Instituto de

Planejamento Urbano de Natal – IPLANAT, com a participação do Poder Públi-

co, nos níveis Federal, Estadual e Municipal, dos proprietários, moradores, u-

suários permanentes e investidores, visando a recuperação e revitalização da

área do Bairro da Ribeira e adjacências, bem como determinando transforma-

ções urbanísticas, com participação de recursos públicos.

Artigo 2º _ Operação Urbana Ribeira tem como objetivo a promoção do de-

senvolvimento urbano; a melhoria da qualidade de vida de seus moradores e

usuários, o incentivo ao uso residencial, as atividades turísticas, culturais e ar-

tísticas, a valorização do patrimônio histórico cultural, arquitetônico e urbanísti-

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co, mediante a melhoria de infra-estrutura local e da qualidade ambiental da

área.

Artigo 3º _ A área objeto de intervenção da Operação Urbana é determina-

da pelo perímetro em planta descrito a seguir, composta pela Avenida do Con-

torno, Rua Juvino Barreto, Rua Princesa Isabel, Rua do Saneamento, Rua

Gustavo Cordeiro de Farias, Rua Felinto Elísio, Rua Silva Jardim, Avenida Du-

que de Caxias, Avenida Januário Cicco, Rua São João, Canto do Mangue e o

Rio Potengi.

Artigo 4º _ São Objetivos Específicos da Área de intervenção da Operação

Ribeira:

I - Normatizar e incentivar o melhor aproveitamento dos imóveis, em particu-

lar dos não construídos ou subutilizados;

II - Incentivar a recuperação e preservação patrimônio histórico, artístico ar-

quitetônico e ambiental urbano;

III - Ampliar e articular os espaços de uso público, em particular os arbori-

zados e destinados à circulação e bem estar do pedestre;

IV – Iniciar um processo mais amplo de melhoria da qualidade de vida e

condições urbana da área, inclusive dos moradores e habitantes de interes-

se social;

V – Fornecer diretrizes urbanísticas para a ocupação futura, considerando

as especificidades da área, a nível quantitativo, otimizando o aproveitamen-

to da infra-estrutura, e o nível qualitativo, garantindo a qualidade dos espa-

ços de vivência pública.

Infelizmente o objetivo principal dessas ações é de atrair maiores investi-

mentos por parte do setor produtivo, sejam nacionais ou estrangeiros, que a-

través de empreendimentos que venham gerar empregos, capital desenvolvi-

mento social e turismo em algumas aéreas e, principalmente lucro.

A revitalização de espaços públicos pode ser feita de várias maneiras

considerando-se os setores envolvidos e também suas variações: dentre elas

podemos citar o tratamento estético e funcional das fachadas das edificações,

a organização de espaço, seu uso racional a uniformização de estruturas, o

mobiliário urbano, também a valorização da paisagem e o apelo estético de

algumas áreas e edificações. Entretanto, o que observamos muitas vezes, é a

falta de inter relação entre o mobiliário, o entorno, a identidade cultural e suas

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referências urbanas, isto é, não são definidos traços de identidade nacional,

características referentes ao clima local, ao comportamento, á paisagem urba-

na, enfim, ao espírito da localidade, sem, contudo haver um comprometimento

do planejamento arquitetônico. Integrar o mobiliário urbano ao entorno, é uma

condição que faz com que o cidadão se sinta valorizado.

Na maioria das vezes isto acontece devido à falta de informações, conhe-

cimento não apenas de base técnica, mas também sócio cultural histórico ur-

bano e cognitivo e suas inter-relação com o meio ambiente e a paisagem, por

aqueles que projetam esses sistemas de imobiliário urbano devido à escassez

de material sobre o tema, desenvolvendo projetos que necessitam de orienta-

ção específica que lhe forneça a base de conhecimento necessário para atua-

rem com profissionais neste campo. A destruição de um prédio antigo, a res-

tauração inadequada de uma obra de arte ou simplesmente o ato de dar fim a

livros e fotos antigas é uma forma da apagar a história.

Fonte: Josyneyde D. C. Angelo

Antigo sobrado que substituiu o prédio de “A Republica” na Avenida Tavares de Lira. (2002).

Existem também além do descaso com os monumentos históricos os ca-

sos de roubo do Patrimônio histórico e público da cidade, como o busto da Pra-

ça Johon Kennedy e a ancora da Praça Almirante Tamandaré, são um retrato

da situação que se encontram alguns desses locais em Natal. A cidade que

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mantém em perfeita ordem os canteiros e praças localizadas em bairros nobres

e nos corredores por onde circulam os turistas é a mesma que relega ao aban-

dono sua história, contada pelas praças monumentos e estátuas. Cada um dos

locais guarda lembranças de seus tempos áureos, que correm o risco de se

perder pelas mãos do vandalismo e pela falta de incentivo do poder público.

Locais como a Pedra do Rosário, o cruzeiro da Igreja de Nossa Senhora do

Rosário dos Pretos encontram-se em estado lastimável. (DIARIO DE NTAL,

Cidade, 2002).

Outros bens públicos mais recente já nem existem mais, como o Monu-

mento ao Atleta do artista Manxa, localizado em frente ao Machadão (que por

pouco também não se acabou) e mesmo a Praça André de Albuquerque, que

passou por uma grande reforma no quarto centenário da cidade, encontra-se,

encontra-se com os bancos sem encostos, visivelmente serrados por vânda-

los.( DIÁRIO DE NATAL /O POTI CIDADES, 2002).

Também em 2002 teve o caso do o Grande Hotel, que na época, abrigava

o Fórum de Natal, que ali funcionou durante mais dez anos, e seu único arren-

datário o “Majo” Theodorico Bezerra, que residiu no hotel com a família durante

20 anos. Nos tempos áureos do Grande Hotel, o bairro da Ribeira fervia em

acontecimentos. Erguido em 1939 durante o governo de Rafael Fernandes, era

a única construção da época voltada realmente para hospedagem de visitan-

tes. O hotel possuía 74 quartos, sendo oito quartos com banho e oito aparta-

mentos (quatro com varanda). O restante dos quartos tinha banheiro coletivo.

Pelos corredores estreitos, discretas luminárias levavam ao restaurante, lugar

de reuniões políticas memoráveis depois que o “Major” Theodorico Bezerra as-

sumiu a presidência do Partido Social Democráticas (PSD), em 1948. Hoje

tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual, através da Fundação José Augus-

to, (mas não é tratado como tal), a espera de uma atitude que traga a história

política e da guerra ao conhecimento da população. O ressurgimento do Gran-

de Hotel é um apelo da sociedade que quer resgatar o cenário de vários acon-

tecimentos históricos da cidade. A saída do poder judiciário para sua sede pró-

pria no Bairro de Lagoa Nova, reacendeu uma discursão sobre qual o destino

do prédio histórico. A história não pode mais se perde do Grande Hotel. (DIÀ-

RIO DE NATAL, Cidade, 2002).

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Nesse mesmo ano o Diário de Natal, entrou em contato com cinco órgãos

estaduais para conversar sobre o destino do Grande Hotel, mas ninguém se

responsabilizou pelo prédio. A Fundação José Augusto foi contatada na época,

e seu presidente Woden Madruga informou que a responsabilidade da funda-

ção se restringia ao tombamento do prédio e as autorizações de reforma, a se-

cretaria de Educação e Cultura informou que não respondia pela hospedaria.

Em seguida a reportagem seguiu para o setor de patrimônio do Estado e no-

vamente foi negada a responsabilidade sobre o hotel, como também a secreta-

ria de Administração e ao Gabinete Civil, na Governadoria e a Secretaria de

Turismo. Natal precisa de políticas públicas de cultura arrojada, pois não é só

uma questão financeira, tem que haver um querer social, político e compromis-

so das instituições públicas para com o patrimônio material e imaterial que vêm

sendo relegado nos últimos tempos. Somando esforços e cobrando a respon-

sabilidade também dos poderes municipal e estadual e até de instituições, pois,

a história não pode se perder no tempo.

Um caso emblemático é o do obelisco localizado no final da Rua Tavares

de Lira, no Bairro da Ribeira. Considerado a ‘alma’ da Ribeira no auge da efer-

vescência comercial do bairro, a rua foi homenageada por Alberto Maranhão

durante seu segundo mandato como governador. Maranhão mandou buscar na

França o objeto, feito em granito e medindo cinco metros de altura. Na época

de sua inauguração era possível observar, nos quatro lados do monumento,

várias datas comemorativas do Brasil e do Estado, além dos brasões da Repú-

blica e do Império. Hoje, o s brasões encontram-se destruídos, restando so-

mente à efígie de Tavares de Lira e as letras ilegíveis. Na base um canhão sa-

be-se lá de onde enferrujado apontando para o rio Potengi. (DIÁRIO DE NA-

TAL/ O POTI. Cidade. 2003)

Em 2003 o abandono toma conta do prédio que serviu à antiga faculdade

de direito e Secretaria Estadual de Segurança. Construído no início do século

passado, o antigo prédio do Grupo Escolar Augusto Severo, localizado na Pra-

ça Augusto Severo, se encontra fechado há quase um ano, desde então a

construção histórica, segundo comerciantes da área, vem servindo de abrigo

para menores e moradores de rua. As portas foram reforçadas, algumas jane-

las foram retiradas e colocaram cadeados, mas nem assim, não impede a en-

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trada dos vândalos, o lixo acumulado e mato crescido ao seu redor sinalizam a

falta de manutenção do imóvel. (DIÁRIO DE NATAL, Cidade, 2003).

De acordo com (NESI, 2003),

“O prédio foi tombado pelo Estado através da fundação José Augus-to no início dos anos 90. Quando um prédio é tombado continua per-tencendo ao proprietário. Mas é necessária a autorização para se fa-zer qualquer intervenção com o objetivo de impedir que seja desca-racterizado ou demolido.”

Criado em 1978, pela Lei Estadual n.º.742, o Arquivo Público Estadual

tem como finalidade “assegurar a proteção dos documentos do poder público,

preservando os que tenham ou venham ater valor histórico”, de acordo com o

texto da própria lei. Localizado em uma área industrial, com difícil acesso a pe-

destres e pouca divulgação, o Arquivo Público do Estado, que guarda partes

importantes da história do Rio Grande do Norte, está esquecido pela grande

maioria da população. Na verdade, o arquivo não está esquecido. Ele simples-

mente não é conhecido. Desde o início do ano de 2003, apenas 66 pessoas

realizaram pesquisas nos documentos do arquivo.

O problema é que a lei não vem sendo cumprida. Instalado em um gal-

pão onde estão armazenados os acervos de documentos administrativos, peri-

ódicos históricos, como o jornal A República, e periódicos atuais, como o Diário

de Natal.

A principal preocupação diz respeito ao acervo do Arquivo a péssima

conservação e armazenamento dos documentos. “Tudo isso reflete o descaso

existente com a memória coletiva”. (DIÁRIO DE NATAL/ O POTI, 2003).

O Departamento Estadual de Imprensa (DEI), em 2004 organizou um

acervo de mais de 20 mil fotografias resgatadas do arquivo público. O material

que teria como destino o lixo, foi resgatado graças à intervenção do assessor

de empresa do governo do Estado, Rubens Lemos Filho. Uma equipe realizou

a catalogação do material separando por temas que envolvem prédios antigos

e históricos, praças, monumentos, autoridades políticas, hotéis, carnaval, fotos

de municípios do interior do Estado. (DIÀRIO DE NATAL Especial. 2004).

Todo esse material é um registro visual da História do Rio Grande do

Norte Visitas de personalidades importantes e flagrantes pitoresco como o Ex-

presidente João Batista Figueiredo, em visita á Capital, cumprimentando popu-

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lares na rua; o jornalista e diretor das organizações Globo, Roberto Marinho,

recebendo o título de doutor Honóris Causa pela UFRN; e a visita do Conde

Jean Enffans D’Avernas, embaixador da Bélgica ao então prefeito José Agripi-

no. Um acervo de uma Natal antiga, perdida no tempo e reencontrada em foto-

grafias. Hoje, imagens de Natal do início do século passado, tão raras quanto

procuradas, são pequenas obras de arte que desapareceriam como tantas ou-

tras.

Andar pelas ruas de Natal e tentar descobrir nelas paredes que conser-

vem resquícios de sua história não é uma tarefa fácil. Salvo alguns prédios que

agonizam e teimam em continuar resistindo como o Grande Hotel; o antigo pré-

dio da Escola Doméstica, onde funciono o prédio do Inamps; a Antiga Faculda-

de de Direito da UFRN,

Tentativa e roubo de monumentos, depredação e demolição de prédios

antigos, de arquitetura singular e a aplicação deficitária da legislação que deve-

ria proteger o Patrimônio Histórico. Some-se a tudo isso a ausência de incenti-

vo ao turismo cultural e ao desconhecimento, e até desvalorização do próprio

potiguar e do seu acervo e sítios históricos. Os museus são esquecidos. O po-

der público faz menos do que devia e o natalense pouco se interessa. O resul-

tado é uma enorme riqueza que fica esquecida ou passa despercebida.

Fatos demonstram bem essa realidade. Na cidade Alta, o busto em

bronze do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, foi roubado da praça

homônima, e no seu lugar foi colocada uma réplica. No mesmo bairro ali próxi-

mo, a estátua de Câmara Cascudo, diante do Memorial do folclorista, por pou-

co foi roubada. E nesse sentido, além da falta de consciência por parte da po-

pulação que picha e destrói, poderia se dizer que é a ausência de guardas mu-

nicipais nesses locais, que entre outras coisas tem como atributo cuidar do pa-

trimônio público, contribui para a dilapidação do patrimônio histórico.

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Fonte: Josyneyde D. C. Angelo

Esquina da Rua Doutor Barata com a Rua Aureliano Medeiros, patrimônio destruído.

(2002)

Casas são demolidas frequentemente, fachadas são modificadas, em

nome da modernização, como de o novo e o velho não pudesse co-existir, co-

mo em países que valorizam sua história, ou mesmo no Brasil, em tantas cida-

des, como Recife (PE), Ouro Preto (MG), e pelotas (RS), por exemplo. Tam-

bém em 2003, a villa Idezith localizada na Rua Juvino Barreto, na Cidade Alta,

foi demolida. A construção datava do início do século passado, e era a penúlti-

ma das construções nesse estilo, restando apenas a vila Platinique onde fun-

ciona a Escola Felipe Guerra. Outro exemplo é a Rua Pax, a única rua que

mantém o calçamento original.

Um exemplo de que a mobilização da sociedade pode ser usada de for-

ma a favorecer a preservação da sua identidade histórica e cultural, foi à luta

acontecida há alguns anos para impedir a demolição do casarão Doutor Barata,

situado na esquina das ruas Ulisses Caldas e Padre João Emanuel, onde fun-

cionou o Hotel Magestic. Para arquiteta (NESI, 2004), esse fato foi considerado

o primeiro exercício de cidadania cultural, num sinal de estima pelo patrimônio.

A casa não foi demolida. Em 2000, o prédio foi tombado e foi anunciado um

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projeto para restauração. Mas, desde então, o casarão permanece abandona-

do.

Em 2003, a Companhia das Docas do Rio Grande do Norte (CODERN),

tem um projeto de revitalização do porto de Natal, contribuindo para a revitali-

zação do bairro. O projeto tem um custo de R$ 20 milhões e prevê também a

construção de um terminal turístico para passageiros de cruzeiros que visitam a

cidade. (www.natal.rn.gov.br. /semurb/bairross/lesteribeira. php.).

Explica o Diretor Presidente José Walter de Carvalho,

“A ampliação do porto se faz necessária para a criação de linhas re-gulares de navegação, a chamada navegação de cabotagem, dentro do País incrementando a entrada e saída das embarcações. Para is-so necessita de 15 mil metros para guardar mais container”, lem-brando que essa área seria hoje, onde se localiza a comunidade de Maruim, que precisaria ser transferida para outro bairro, para isso contaria com o apoio do Estado e Governo Federal.

Na Ribeira, lugar onde tudo começou o estado de abandono de tantos

prédios que abrigaram vidas e construíramos os primeiros capítulos da história

da cidade. Desde a Rua Chile, que há alguns anos eferveceu com a tentativa

de revitalização do bairro, o edifício Bila na Avenida Duque de Caxias, vizinho

ao Procon Estadual, que se encontra em total estado de abandono, tendo ape-

nas o pavimento térreo ocupado. Na mesma avenida, um pé de castanholas,

cercado por uma mureta chama a atenção de quem passa. A arvore recebeu

do Mestre Câmara cascudo a denominação de a Árvore da Cidade, mas não

há placa que indique a história. (DIÁRIO DE NATAL, Cidade 2004).

Também em 2004 o Espaço Cultural Casa da Ribeira estava de portas

fechadas. O principal motivo alegado era a falta de uma política cultural que

viabilize a produção artístico-cultural local, o que vem provocando dificuldades

financeiras para a manutenção da casa e o acúmulo de dívidas. Fundada em

março de 2001, e apesar de ter sido construído com o patrocínio de empresas

através das Leis de incentivo Rounet e Câmara Cascudo, não recebe incentivo

financeiro, privado ou público, para manter o espaço. O sustento é proveniente

do aluguel de pautas do teatro e da sala de exposições. (DIÁRIO DE NATAL

Muito. 2004).

Mais um exemplo do descaso com o patrimônio público na Avenida Du-

que de Caxias, o antigo prédio da FAE, (Procuradoria do Estado) está vazio, no

entanto uma família ocupa o imóvel para que os vândalos não tenham acesso

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ao prédio. A casa se encontrava abandonada, os vidros das janelas foram rou-

bados, assim como as portas e até os vasos sanitários dos banheiros. As insta-

lações elétricas e hidráulicas foram totalmente deterioradas. Somente as pare-

des ainda conservam o revestimento de mármore. (TRIBUNA DO NORTE,

2004).

Em Abril de 2005 a Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (SE-

MURB) deu o primeiro passo no sentido de implementar o Projeto Ribeira- pro-

jeto esse que pretende revitalizar o bairro. A idéia é alavancar o processo de

reocupação do bairro da Ribeira e despertar o interesse natural do mercado

imobiliário conferindo uma nova dinâmica ao bairro. O hotel Central, localizado

na Rua Câmara Cascudo, é um prédio construído em 1930, encontra-se em

bom estado de conservação e ainda em funcionamento. Na época Florézia

Pessoa, Chefe do Departamento de Planejamento Urbano e Meio Ambiente da

Semurb afirmou que: ”já percebe que o mercado está começando a se interes-

sar pela Ribeira, com a construção de prédios residenciais no entorno do Sítio

histórico do bairro e instalação de escritório de serviços.” (DIÀRIO DE NATAL

Cidade, 2004),

Existe uma série de leis municipais que versam sobre a preservação das

áreas históricas de Natal, incluindo um macro-zoneamento que engloba a Ri-

beira e a Cidade Alta instituído desde 1994. Com isso, os dois bairros passa-

ram a ser áreas de operação urbana, um instrumento para redesenho do bairro

e dinamismo de seus usos de forma equilibrada, inclusive através de parcerias

entre as iniciativas públicas, privadas e comunidades. (DIÁRIO DE NATAL, Ci-

dade, 2004).

No ano de 2004 a opinião do coordenador do Centro de Cultura da Fa-

culdade Eloy de Souza-órgão setorial da Fundação José Augusto que cuidava

da preservação e reestruturação dos bens móveis e imóveis tombados pela lei

estadual, Dácio Galvão, a gestão pública tem que trabalhar dentro de princípios

básicos que norteiem uma política de reestruturação de bens móveis e imóveis,

mas, em contra partida, há a necessidade de parceria e cobrança da socieda-

de, através de sindicatos, associações, instituições, das mais diversas áreas.

(DIÁRIO DE NATAL. Cidade, 2004).

No entanto, para que o poder público desenvolva projetos nesse sentido

é preciso à criação de lei de operação urbana para cada área. Dez anos pas-

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sados, apenas a Ribeira possui essa lei. Segundo a integrante da equipe do

Setor de Patrimônio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo

(Semurb), a arquiteta Nelma Marinho de Bastos, ainda não foi criada a lei de

operação urbana para a Cidade Alta. (DIÀRIO DE NATAL, 2004).

Essas leis definem a altura que as construções devem ter os critérios pa-

ra a modificação em fachadas, entre outras coisas, cabendo a semurb proceder

à fiscalização do cumprimento dessas leis.

O discaso depois de tantos debates continua, em 2007, a destruição da

centenária ponte da antiga Praça Augusto Severo no Bairro da Ribeira, um dos

últimos resquícios que ainda sobrevivia ou agonizava da antiga e bela praça de

outrora foi finalmente demolido!...

No entanto existe um projeto que prevê a construção de uma réplica no

local. Historiadores reclamam da falta de debate sobre a reforma. (TRIBUNA

DO NORTE, 2007).

Hoje, lembranças do Brasil trazem imagens de uma Natal antiga, perdida

no tempo e reencontrada somente em fotografias antigas de álbuns de recor-

dação ou em cartões postais. Numa época sem televisão ou rádio, de cinema

engatinhando e em que a arte fotográfica era trabalho só para profissional, o

cartão-postal funcionava como importante meio de comunicação. Hoje imagens

de Natal do início do século passado, tão raras quanto procuradas, são peque-

nas obras de arte. (DIÁRIO DE NATAL. O Poti. 2004).

O Brasil é conhecido como um país sem memória, a falta de memória

dos jovens permeiam o Rio Grande do Norte. Não raro encontramos pessoas,

principalmente jovens, que não conhecem o passado da cidade onde vivem.

prova disso são os feriados nacionais que, para muitos, são apenas sinônimos

de dia de folga, poucas pessoas sabem explicar o que a data significa e a im-

portância dela para a história da qual fazemos parte. Por exemplo, quase não

se fala no aniversário do Estado, que coincide com o nascimento jurídico do

Brasil, o 7 de agosto. O processo de resgate desta data histórica não é recente.

Luís da Câmara Cascudo e Nestor Lima já tinham tratado dessa questão em

1890. Em 2000, o então deputado Estadual Valério Mesquita apresentou á As-

sembléia Legislativa o projeto de lei para instituição do aniversário do RN, sen-

do a proposta aprovada como demonstra a Lei de nº7. 831, de 30 de Maio de

2000. A data foi sugerida tendo como base o fato histórico mais importante o-

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corrido em território potiguar, que foi a colocação do Marco de Touros, conside-

rado o registro de nascimento do Brasil por se tratar do primeiro marco de pos-

se colonial fincado em terras brasileiras por Portugal. (JORNAL DE HOJE. Di-

versão e Arte, 2007).

Pela primeira vez a data foi comemorada com uma solenidade cívica cul-

tural (em outras oportunidades, em 2000 e 2004, foi comemorada em cerimô-

nias menos expressivas). (DIÁRIO DE NATAL. Natal. 2007).

Concordando com Souza (1981, p.7).

‘’Os norte-rio grandenses, não podemos ficar indiferen-tes;seria até humilhante consentir no perecimento dos bens culturais do passado.O Rio Grande do Norte não é, apenas um Estado que produz sal, algodão e possui inesgotáveis ja-zidas de sheelita.Por que ficarmos tão desvanecidos com a boniteza de nossas praias, onde o forasteiro chega, chupa caju entre goles de ‘’pinga’’, e vai embora dizendo ter ‘’co-nhecido o Rio Grande do Norte?”Os monumentos históricos e artísticos do Estado devem constituir, também, um atrativo para os que nos visitarem,pela localização pitoresca em que alguns se encontram,ensejando magníficos passeios, através desta hospitaleira terra potiguar’’.

Esse desdém pela história do Estado, no entanto, não é culpa somente

das entidades culturais e do poder público. È culpa também dos jornalistas, dos

artistas e intelectuais. A Rua Chile, que já foi a mais povoada de Natal em 1897

(composta por 90 casas e 284 habitantes), ou seja, há pouco mais de um sécu-

lo, vive hoje uma agonia sem fim. Aquele que se dispuser a dar uma volta na

cidade olhando para seus monumentos, seus prédios históricos, terá alguns

deslumbramentos, mas muita vergonha. (DIÁRIO DE NATAL, Muito, 2002).

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3.1 A RIBEIRA E SUA REVITALIZAÇÃO:

Com o passar dos anos a Ribeira passou a ser um bairro esquecido e va-

zio. Sendo assim lembrado pela maioria de seus moradores. No entanto, “a

imagem negativa está sendo abandonada, tendo em vista que o projeto de revi-

talização da Ribeira já é uma realidade. Um sonho antigo, de transformar o

bairro num ponto turístico da cidade, fica cada dia mais próximo de se concreti-

zar”. (DIÁRIO DE NATAL Cidade, 2007).

A “Operação Ribeira Viva”, idealizada pela prefeitura de Natal prefeito

Carlos Eduardo sancionou o Projeto de Lei complementar sobre a Operação

Urbana Ribeira em solenidade realizada em 04/01/ 2007, no Palácio Felipe

Camarão. O Projeto foi sancionado depois de ampla discussão e aprovação

pela Câmara Municipal. Entre outras vantagens, o projeto oferece incentivo

fiscal para a recuperação de imóveis e manutenção de patrimônios construí-

dos. A sanção da Lei complementar representa importante passo dado pela

Prefeitura para a reabilitação da Ribeira que já dispõe de uma boa infra-

estrutura para receber novos investimentos e moradias.

Para a viabilização da proposta, a Prefeitura aumenta os prazos e descon-

tos no pagamento do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e no Imposto

Sobre Serviços (ISS) para quem for investir no bairro. Além dessas vantagens,

será dada a isenção da taxa de licenças decorrentes da localização de estabe-

lecimento e da execução de obras ou serviços de engenharia e urbanização de

áreas.

O prefeito atual, Carlos Eduardo se mostrou confiante com a proposta

ressaltando o empenho dos técnicos das secretarias (SEMURB) Secretaria do

Meio Ambiente e Urbanismo, (STTU) Secretaria Municipal de Transporte e

Transito Urbano, (SEMUT) Secretaria Municipal de Tributação e (SEMSUR)

Secretaria de Serviços Urbanos que atuam mais diretamente no projeto de re-

abilitação do bairro. “A Ribeira tem água, transporte, asfalto e luz, buscamos

ações para finalmente resgatar a Ribeira, berço histórico de Natal, que agora

poderá se tornar um bairro vivo; Chegamos ao ponto em que podemos dizer

com segurança que temos capacidade de fazer à reabilitação da Ribeira”, fri-

sou Carlos Eduardo.

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As pessoas que optarem em se instalarem na Ribeira para morar ou mon-

tar algum negócio serão beneficiados com isenção e descontos de impostos,

como o IPTU e o ISS. O benefício será concedido para os proprietários de imó-

veis que efetuarem restauração total ou parcial, como também a conservação

dos imóveis já restaurados.

Para quem restaurar totalmente o imóvel terá a isenção do IPTU durante

15 anos, e não apenas quatro anos como era anteriormente. Nos casos em

que o proprietário optar por realizar a restauração parcial, a isenção sobe de

três para dez anos. Os que optarem por recuperar uma subunidade (comparti-

mento) também será beneficiado com cinco anos de isenção. Já para os imó-

veis restaurados anteriormente, o percentual de desconto na alíquota do IPTU

sobe de 25 para 30%.

A nova Lei também irá beneficiar os empreendedores de prestação de

serviços que terão uma redução na cobrança do Imposto Sobre Serviço (ISS)

que pode chegar até 60%. Para isso, os imóveis terão que serem restaurados

pelos proprietários ou serem destinados a atividades de diversão pública. Nos

demais casos, a redução é de 30% no valor recolhido. Essa iniciativa contem-

pla atividades que vão desde hospedagem, entretenimento, turismo e arte até

serviços de informática, vestuário, comunicação, cultura e lazer. Apesar dos

incentivos fiscais, a secretária de Meio Ambiente e Urbanismo, Ana Mirian a-

credita que o sucesso dos empreendimentos está diretamente relacionado com

a proposta de instalação de novas moradias na Ribeira. “Foi dado o ponta pé

inicial, resto é por conta do mercado”, afirmou a Secretária.

O Projeto de reabilitação e revitalização da Ribeira foi concebido através

de pesquisas e intercâmbio com o governo francês, que tem experiência em

resgatar pontos históricos. As preocupações com o crescimento ordenado e a

qualidade do bairro são premissas que foram levadas em conta para a elabora-

ção do Projeto e conta com mudanças no entorno do Teatro Alberto Maranhão.

A criação de um Centro Turístico no lugar da rodoviária da Ribeira, a

construção do Mercado do Peixe, que já foi concluído, e a construção da Praça

do Sol, no Canto do Mangue, reforma do mercado das Rocas e adequação dos

canteiros da Avenida Duque de Caxias, com acessibilidade para os portadores

de necessidades especiais, também integram a proposta de reabilitação da

Ribeira.

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O projeto também prevê a construção do Museu de Cultura Popular Djal-

ma Maranhão, do mercado modelo, sede do Balé Municipal além da reurbani-

zação da Avenida do contorno e os incentivos fiscais para quem realizar inves-

timentos na região. A antiga Estação Rodoviária Presidente Kennedy ganhou

plataformas de embarque e desembarque e abrigos para passageiros. Com

essas iniciativas, a Prefeitura resgata o patrimônio histórico, cultural, arquitetô-

nico e urbanístico do velho bairro da Ribeira.

Quanto às novas moradias da Ribeira, Márcio Guedes, chefe do departa-

mento de Planejamento da STTU, afirmou que existe um plano de arrendamen-

to familiar que já cadastrou cerca de 6.500 famílias. Esse programa foi elabo-

rado pela Caixa Econômica Federal com o objetivo de promover a revitalização

de Sítios históricos através da preservação patrimonial e desenvolvimento ur-

bano. O programa vem sendo desenvolvido no Bairro da Ribeira, por este se

enquadrar no perfil de atuação da instituição (área central dotada de infra-

estrutura, mas com habitabilidade degradada, sendo possível a recuperação).

A revitalização do Bairro da Ribeira não envolve só as iniciativas de enti-

dades governamentais, mas também produtores culturais, arquitetos, historia-

dores, que também apostaram no ressurgimento das potencialidades da Ribei-

ra, embora a habitação seja o pré-requisito para as demais iniciativas.

Para a Caixa Econômica Federal e a Semurb todos os projetos são váli-

dos, mas a habitação é a prioridade. Neste sentido, as duas entidades gover-

namentais estão trabalhando em cima de três projetos: Programa de reabilita-

ção de Sítios Históricos: Programa de Reurbanização de Áreas Centrais e o

Projeto Reabitar. Todos eles têm linha de financiamento popular pela Caixa

Econômica Federal e contam com a participação do governo Francês, como foi

dito anteriormente, que estão oferecendo assistência técnica para as pesqui-

sas.

Faz parte do programa cinco imóveis que foram escolhidos para a Reabili-

tação. Entre os imóveis estudados pela Caixa para serem restaurados, e em

seguida reabitados, todos em péssimo estado de conservação, ou em ruínas. A

Caixa estima que a recuperação de cada imóvel custe cerca de 400 mil. O

banco Federal comprara os prédios dos seus antigos proprietários, e após se-

rem restauradas as partes hidráulica, elétrica e sanitária eles seram vendidos

através da linha de financiamento popular da Caixa.

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Este estudo de viabilidade dos imóveis começou na ser feito ainda no iní-

cio do ano de 2006 e catalogou 220 imóveis em todo o bairro da Ribeira. D os

220 pré-selecionados, 40 foram escolhidos para uma triagem final. Dos 40 imó-

veis, apenas Cinco prédios serão adquiridos pelo Programa de Reabilitação

das Áreas Urbanas. A Caixa Econômica não acredita em especulação, pois as

casas estão em péssimo estado de conservação. Entre os quais o Edifício Se-

verino Bila, na Avenida Duque de Caxias nº110, que foi construído na década

de 1950 e mantém o uso misto, como foi originalmente projetado. O pavimento

térreo é ocupado por serviços e o pavimento superior é destinado à habitação,

o Edifício Paris, na Avenida Duque de Caxias nº110, Edifício Nova Aurora, na

Rua Dr. Barata nº241, sobrado em ruínas, na Avenida Tavares de Lira nº57,

Edifício Mossoró, Rua Sachet nº101, Edifício Galhardo, Rua Chile c/ Travessa

Venezuela nº161.

O descaso como são tratados os prédios e equipamentos arquitetônicos

antigos, poderia ser comparado a alguém que ao invés de conservar velhas

fotografias de família, de vez em quando, abrisse o álbum e simplesmente às

jogasse janela a fora. O Bairro da Ribeira necessita de espaços que estimule

experiências e exposições de novas idéias na área das artes no geral. É nesse

contexto que entra a interpretação de patrimônio, como aliada no processo de

preservação, resgate das tradições e manutenção da memória local. O que se

vê são situações fragmentadas, isso implica numa falta de política arrojada,

pois, não é só uma questão financeira, tem que haver um querer social e políti-

co, pois, são baseados nisto que, diversos estudiosos vem se preocupando em

tornar pública a importância da preservação, conservação e planejamento de

forma concreta e permanente. Cada vez mais para garantir e de certo modo,

convencer a comunidade da importância da preservação e os planejadores ne-

cessita mostrar, com exemplos reais, que com a revitalização a cultura é refor-

çada e que todos serão beneficiados, isso é a busca de compatibilizar o aten-

dimento da necessidade sociais e econômicas do ser humano com a necessi-

dade de preservação do ambiente, dos recursos naturais, da cultura e costu-

mes, de modo que assegurem minimizar cada vez mais a degradação dos mo-

numentos e descaracterização dos prédios e ruas históricas do bairro da Ribei-

ra.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

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