rey - parasitologia - 15

17
1 PARASITOLOGIA MÉDICA PARASITOLOGIA MÉDICA 15. NEMATÓIDES PARASITOS DO HOMEM 15. NEMATÓIDES PARASITOS DO HOMEM Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro

Upload: gi-oliveira

Post on 06-Aug-2015

86 views

Category:

Documents


21 download

TRANSCRIPT

Page 1: REY - Parasitologia - 15

1

PARASITOLOGIA MÉDICA

PARASITOLOGIA MÉDICA

15. NEMATÓIDES PARASITOS DO HOMEM

15. NEMATÓIDES PARASITOS DO HOMEM

Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de

Medicina e Saúde”, de

Luís ReyFundação Oswaldo CruzInstituto Oswaldo Cruz

Departamento de Medicina TropicalRio de Janeiro

Page 2: REY - Parasitologia - 15

2

OsNematóides

Caenorhabditis elegansMax-Plank-Gesellschaft/France Press, 7.out.2002

Page 3: REY - Parasitologia - 15

3

Os nematóidesOs nematóides são vermes cilíndricos, com

extremidades afiladas, ou filiformes quecompreendem mais de 500.000 espéciesdiferentes, a maioria de vida livre.

Cerca de 50 já foram encontradas comoparasitos do homem, das quais apenas umadúzia merece destaque por serem importantesagentes de doença.

São tipicamente organismos fusiformes oualongados, com simetria bilateral e sexos sepa-rados. Há dimorfismo sexual, com as fêmeasem geral maiores que os machos. Algumas sãopartenogenéticas, só produzindo clones.

Evoluem de ovo a verme adulto, passando por4 mudas ou ecdises, durante as quais trocamde cutícula e sofrem reestruturação interna.

O crescimento tem lugar entre as ecdises.Tamanho comparativo dos nematóides: a) Dracunculus

medinensis; b) Onchocerca volvulus; c) Wuchereria bancrofti; d)Ancylostoma duodenale; e) Trichuris trichiura; f) Enterobiusvermicularis; g) Trichinela spiralis; h) Strongyloides stercoralis;i) Ascaris lumbricoides (Segundo Piekarski, 1962).

Page 4: REY - Parasitologia - 15

4

Organização dos nematóides (1)A parede do corpo

Compreende 3 camadas, de fora para dentro: a cutícula, ahipoderme e a camada muscular.

A cutícula, segregada pela hipoderme, é muito simples edelgada nos menores nematóides. Mas complexa nos de maiorporte, quando apresenta várias camadas: desde a epicutículalipídica e impermeável, às camadas corticais, fibrilares,homogênea, fibrosas e, por último, a membrana basal.

É uma formação metabolicamente dinâmica que atua comoesqueleto externo, assegurando a forma do corpo e a proteçãodos órgãos internos, e dá apoio aos músculos para alocomoção.

A cutícula: a) camada cortical externa;b) cortical interna; c) fibrilar da matriz;d) homogênea da matriz; e) camadasfibrosas; f) membrana basal. (SegundoBird et al., 1957).

A cutícula (A) é descartada esubstituída por outra a cada mudaou ecdise do helminto.

Page 5: REY - Parasitologia - 15

5

Organização dos nematóides (2)

B, corte de uma célula muscular de Nippostrongylus: a) cutícula;b) hipoderme; c) estrutura de sustentação; d) miofibrilas; e)glicogênio; f) inclusões lipídicas; g) mitocôndrias; h) parte da fibramuscular não-contrátil; i) região contrátil; j) fibras implantadas nacutícula. (Segundo Lee, 1965).

A hipoderme (b) forra inter-namente a cutícula (a), podendoser celular ou sincicial.

Ela apresenta 4 espessamen-tos - os cordões longitudinaisdorsal, ventral e laterais, - ondecorrem nervos e canais excre-tores.

A musculatura é constituídapor fibras musculares alongadasde tipo especial, dispostaslongitudinalmente, com umaparte contrátil (d) junto àhipoderme e outra não-contratil(h), rica em mitocôndrias e emreservas nutritivas.

Page 6: REY - Parasitologia - 15

6

Organização dos nematóides (3)Sistema nervoso

Compreende um anel nervoso emtorno do esôfago, em conexão comalguns gânglios, e de onde partem 6ou 8 nervos longitudinais anteriores eoutros posteriores (f).

Eles inervam as papilas labiais e osanfídios, anteriormente; e no extremoposterior os deirídios e papilas geni-tais relacionados com o mecanismoda cópula.

A inervação dos músculos épeculiar nos nematóides, onde aporção não-contrátil da fibra (h) enviauma expansão em direção aostroncos nervosos dos cordõeslongitudinais.

Corte transversal de Ascaris (♀) na região faringiana: a) cutícula; b) hipoder-ma; c) cordão dorsal; d) campos musculares; e) cordão lateral; f) canal excretor;g) feixe nervoso; h) miocélula com prolongamento para o feixe nervoso;i) cordão ventral; j) feixe nervoso ventral; k) faringe; l) pseudoceloma.

Page 7: REY - Parasitologia - 15

7

Organização dos nematóides (4)Aparelho digestório

Todos os nematóides possuem umaparelho digestório semelhante,com a boca provida de lábios epapilas sensoriais, um esôfagomuscular (geralmente com um bulbodotado de mecanismo valvular) e umintestino simples, que termina noânus (♀) ou na cloaca (♂).

A extremidade anterior em diversosgêneros de helmintos nematóides: a)lábios b) cavidade bucal; c) esôfago;d) estiletes; e) dentes quitinosos.

Entretanto, a cavidade bucal apresenta dimen-sões e formas que caracterizam cada gênero oufamília, podendo ser rudimentar ou expandir-senuma cápsula bucal ampla e conter estruturaspungitivas para perfurar ou dilacerar os tecidos dohospedeiro.

O esôfago apresenta peculiaridades. Ele é umtubo muscular, sincicial, com bulbo provido deválvulas, e funciona como bomba peristáltica.

O intestino é formado por epitélio simples decélulas cúbicas, com microvilosidades; possui umamembrana basal e válvulas na união com o reto.

Este possui revestimento cuticular e um múscu-lo depressor que o mantém fechado.

Passagem do alimentopelo esôfago: p) lábio;q) alimento; r) válvulasbulbares.

Page 8: REY - Parasitologia - 15

8

Organização dos nematóides (5)Aparelho reprodutor

Nas fêmeas (A), é geralmenteformado por 2 ovários (j) eovidutos (k) contendo os óvulos(l); 2 úteros (m) e uma vagina(p), que termina na aberturavulvar (p).

Nos machos (B), o testículo équase sempre um tubo único,continuado pelo vaso deferente(t-u) que pode dilatar-se em umavesícula seminal. Segue-se ocanal ejaculador musculoso quese abre na cloaca. Os anexossão: as asas caudais (v), 1 ou 2espículos (x), e as papilas sen-soriais (y).

A, fêmea e B, macho: a) lábios; b) boca; c) canal do esôfago; d) bulbo médio;e) esôfago; f) anel nervoso; g) glândula e poro excretor; h) bulbo posterior; i) intestino;j) ovário anterior; k) oviduto; l) óvulos; m) útero; n) espermatozóides; o) ovos; p) vagina;q) oviduto; r) reto; s) ânus; t) testículo; u) deferente; v) asas caudais; x) espículo;y) papilas sensoriais; z) cauda.

Rhabditis

Page 9: REY - Parasitologia - 15

9

Organização dos nematóides (6)

Cavidade geral

É um pseudoceloma (semrevestimento epitelial) contendoum líquido que banha todos osórgãos.

Esse líquido transportanutrientes e oxigênio e funcionacomo um esqueleto hidrostáticomovimentado pelas contraçõesmusculares, necessárias a suacirculação e aos deslocamentosdo helminto.

O glicogênio constitui, para amaior parte desses helmintos, aprincipal reserva energética.Mas, na fase de vida livre,utilizam sobretudo os lipídios.

Eles são em geral aeróbiosfacultativos, ainda que muitosvivam em ambientes anaeró-bios.

Locomoção

Faz-se em geral com movi-mentos ondulatórios dorso-ventrais, que permitem odeslocamento nos tecidos e anatação em meio líquido.

Para isso concorrem acutícula elástica, a disposiçãolongitudinal das fibras muscu-lares e a presença do líquidocelômico sob pressão.

Page 10: REY - Parasitologia - 15

10

Fisiologia dos nematóides (1)Nutrição

Quanto à forma de alimentação,estes helmintos podem ser sepa-rados em 4 grupos:

1 - Os que vivem no interior dotubo digestivo de seu hospedeiro(Ascaris, Ascaridia, Enterobius, p.ex.), nutrindo-se de microrganis-mos e materiais aí existentes.

2 - Os que se alimentam damucosa do tubo digestivo (comoAncylostoma, Necator etc.) e sãodotados de cápsulas bucais comestruturas dilacerantes ou pungi-tivas para sangrá-la e sugá-la.

3 - Os da cavidade intestinal,(sem cápsula bucal) que pene-tram parcialmente nos tecidosda mucosa, produzem histólise easpiram o produto (Trichuris, p.ex.)

4 - Os que vivem nos tecidosdo hospedeiro, e aí sealimentam, causando histólise;ou ingerem sangue, linfa eprodutos inflama-tórios (como osestrongilóides, as filárias e aslarvas de várias espécies, aofazerem migrações peloorganismo).

As glândulas esofágicas e asdos segmentos iniciais do intes-tino do helminto ocupam-se dadigestão, enquanto a absorção éfunção dos demais segmentos.

Page 11: REY - Parasitologia - 15

11

Fisiologia dos nematóides (2)Reprodução

Os sexos são sempre separa-dos, mas em algumas espéciesde Strongyloides, p. ex., osmachos são raros, só promovema segmentação do óvulo ou sãodesconhecidos. A reproduçãofaz-se então por partenogênese,como ocorre na estrongiloidíasehumana.

OvosVariam quanto a forma e es-

trutura, podendo ter 3 envol-tórios:

- o mais interno, impermeávelà água, é de natureza lipídica;

- o 2º, quitinoso (e por vezesúnico), pode formar opérculos ourolhas polares.

- o 3º, que pode estar presente,é protéico e formado pela paredeuterina. Apresenta aspecto irre-gular bem característico.

Ascaris

25 µm

Trichuris

Necator

Page 12: REY - Parasitologia - 15

12

Ciclo biológico dos nematóidesDentro de seus envoltórios,

quando expulso pela fêmea, o ovopode encontrar-se na fase decélula única ou já encontrar-seem fase de segmentação, oramais, ora menos avançada.

Em geral, necessitam de algumtempo (muito variável) nas condi-ções do meio externo e empresença de O2 para embrionareme tornarem-se infectantes.

Mas há casos em que a larva jáestá formada ou é parida comotal pelas fêmeas, devendo sofreruma primeira muda para adquirircapacidade infectante.

As larvas de algumas espécieseclodem no solo, desde quecompletado seu desenvolvimentoe reunidas condições favoráveisde temperatura e umidade ambi-ente.

Mas só se tornam infectantesno 3º estádio larvário.

Os helmintos podem penetrarem seu hospedeiro, seja passiva-mente (sendo seus ovos ingeridoscom alimentos, água ou atravésdas mãos sujas), seja ativamente,como larvas, através da pele.

Larvas, como as das filárias,são veiculadas por insetos hema-tófagos.

Ovo de Necatorembrionado

Page 13: REY - Parasitologia - 15

13

Ciclo biológico dos nematóidesAs larvas desses helmintos

crescem de forma descontínua,devendo cada uma passar por 4mudas ou ecdises, isto é, aban-donar o revestimento cuticular efabricar nova cutícula em 4 mo-mentos determinados de seudesenvolvimento.

A cutícula cresce com o hel-minto, deixando este de crescerpouco antes de cada ecdise.

O desenvolvimento larvário éregulado por mecanismo neuro-endócrino, com produção dehormônios de crescimento emuda - ecdisonas -, que sãoterpenóides capazes de:

- promover a formação de novacutícula sob a velha;

- determinar a separação daantiga, por lise das camadasmais profundas;

- provocar o abandono dacutícula antiga e a retomada docrescimento.

Em alguns casos, a cutículavelha é conservada depois da 2ªmuda como uma bainha protetorada larva, que já não se alimentamas adquiriu poder infectante(como a L3 dos ancilostomídeos).

A 1ª muda pode ocorrer no ovo,a 2ª no solo e as outras noorganismo do hospedeiro.

Page 14: REY - Parasitologia - 15

14

Tipos de ciclo vitalHá nematóides cujo ciclo é

monoxeno e relativamente sim-ples, como o de Enterobius,cujos ovos embrionados passamde uma pessoa a outra, pelo ar,pelas mãos sujas ou alimentoscontaminados, eclodem no in-testino e aí mesmo evoluem paraa fase adulta.

Outros apresentam uma fasede vida livre e outra de vidaparasitária, como Strongyloides.Ou uma fase larvária no meioexterno durante a qual adquiremsua capacidade infectante, talcomo os ancilostomídeos.

Em ambos os casos são mono-xenos, pois admitem um só tipode hospedeiro.

Os nematóides heteroxenosrequerem 2 tipos de hospedeiros.

Eles parasitam, sempre na mes-ma ordem, ambos hospedeiros,como as filárias.

Ciclo biológico de Wuchereria bancrofi, que infecta o homem (1-4) e mosquitos do

gênero Culex (4-6).

Page 15: REY - Parasitologia - 15

15

Migração das larvasAntes de atingir a fase adulta,

muitos parasitos migram através doorganismo, quer tenha sido a penetra-ção cutânea, quer oral.

Larvas de Necator (L3) que entrampela pele vão pela circulação venosaou linfática ao coração e aos pulmões,onde tem lugar a 3ª ecdise (trajetoazul).

Penetram nos alvéolos e bronquí-olos, sendo arrastadas pela correntede muco da árvore respiratória até afaringe (fim do ciclo pulmonar) edeglutidas (trajeto vermelho).

Nos intestinos sofrem a 4ª e últimaecdise passando a vermes adultos.Seus ovos saem com as fezes.

Migração larvária pela circulação (trajetoazul) e pelos órgãos cavitários: árvorerespiratória, faringe, esôfago, estômago eintestinos (trajeto vermelho).

Page 16: REY - Parasitologia - 15

16

Migração das larvasOs ovos de Ascaris, que penetram por via digestiva, eclodem

no intestino, mas suas larvas invadem a mucosa, ganham acirculação e fazem o ciclo pulmonar, como foi dito. Só completamo desenvolvimento e alcançam a maturidade quando de novo nointestino.

Vários vermes adultos de Ascaris lumbricoides

eliminados por um paciente, após tratamento.

Page 17: REY - Parasitologia - 15

17

Leituras complementaresACHA, P.N. & SZYFRES, B. – Zoonosis y enfermedades

transmisibles comunes al hombre y a los animales. 2aedição. Washington, Organización Panamericana de laSalud, 1997.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas eParasitárias. Brasília, MS/FUNASA, 2000 [219 páginas].

REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro,Editora Guanabara, 2002 [380 páginas].

REY, L. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde.2a edição, ilustrada. Rio de Janeiro, Editora Guanabara,2003 [950 páginas].

REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, EditoraGuanabara, 2001 [856 páginas].

THIENPONT, D.; ROCHETTE, F. & VANPARIJS, O.F.J. –Diagnosing helminthiasis by coprological examination.Beerse, Belgium, Janssen Research Fondation, 1986.