revolução de 1932 - a epopea

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A

Aureo de Almeida Camargo

EpOPÉAo batalhão «14 de Julho}}.Photographia da guerra no

Sector Sul. Dos ltararés ao

Taquaral Abaixo. S. Paulo.

r933ICdiiorcs: LIVRARIA ACADEMICA - Largo do Ouvidor, 5-B - S. Paulo

SARAIVA & CIA.

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DO MESMO AUTOR

A IDÉA DA UNIVERSIDADE NO BRASIL (A sahir)

U~HVEnSIDADE (O PROBLElIIA DA UNIDADE NACIONAL)

sahir)

(A

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«Il n'est pas probable que nous

soyons battus, mais nous pourrons

perdre tout notre sang.»

("Lettres d'Étudiants AllemandsTués à Ia GUCITC", N.R.F., pg. 98).

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1\ I.IIi\'SO FERREIl\A DE CAMARGO - Iunccionario publico,\ !I(IE;'>I YRO ALVES SILVESTUE - bacharelando de direito:\IIV CAHNEIHO FERNANDES - estudante de direito1:1::;,\1\ PEX.1\A RA:\IOS - advogado

~~ ~n.\G'\ :\IAGALlL~liS. - estudante de engenharia.IIIS I:: JERONYMO V ASCONCELLOS - ehanffeur.IIIS,',: :\IAI\L\. DE AZEVEDO - advogado

i:7;'I';;"o--fuURO~ PENTEADO - engenheiro()t:T,\VIO SEPPI

- gymnasiano1',\111.0 BIFANO ALVES - commercioI:, 1111<::'5 FRAGA DE TOLEDO ARRUDA - gymnasiano

A' memoria dessa mocidade, damais velho,

°primeiro, contava 45

e o mais moço, o ultimo, 16 annos.

qual oannos,

~_.~-

Ninguem s'e esquc& do Hermes de Oli-veira CeGar, estudante de direito, morto emSão Paulo, companheiro daquelles lá de cima,todos do "14 de .Tulho".

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Homenagem ao

Coronel Brasilio Taborda,o campeão da luta no Sector Sul

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« . . . a epopéa que o voluntariado

paulista escreveu com o seu san"

gue através dos montes, ravinas,

quebradas, mattas e descampados

do Sector Subo

(Do prdacio do Coronel Taborda ao

«Palmo a Palmo» do Capitão AlvesBastos)

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E' a histol'ia pura e simples do batalhão "14 de Ju-lho", comprchendcndo a sua formação e a longa serie(le aventm'as e combates em que se viu envolvido desde

rtararé até o Taquaral Abaixo, numa larga faixa de ter-

reno justamente chamada de Sul paulista. Batalhão an-(larilho: percorreu mais de 1.DOO kilometros, de trem, de

caminhão, a pé.

Apanhado gC'ral da luta no Sector.

A c.statistica é uma sÓ: 3.500 paulistas (ás vezesmais, ús vezes menos) mal armados, contra 17.000 inimi-gos (ús vezes mais) bem armados. Meia duzia de ca-

nhões paulistas mal municiados contra mais de 50 ditos

IH'm municiados. Ardor combatente paulista igual a:1.500.000 contra ardor 17.000. (Assim mesmo S. Pauloperdeu a guerra!...)

Impressões do S. Paulo-1932, bem assim a indispen-savel opinião do Autor, aqui e aJli, sobre eoisas e aSSUITI-pl.05 pauJistas, a qUfll sÓ lhe poderá trazer para o corpo(pll]mõcs), e aos que eommungarem o mesmo ponto de

\' isi a, uma aragem especial e porventura diame.tralmenteo:,posta dos ares snlinos, qUe são purol;, purissimos. E'

o qUO se chama um auto-gaso, um auto-prazer. Ou uma

idiosinerasia do Autor para com os males alheios.

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,

A EPOPEA

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A MAIS sorridente mocidade do céo azul deS. Paulo resolveu fazer a guerra a 9 de

.Julho. Era inverno e todos softriam. Havia vio-leneia no céo e insulto nos homens. Porque in-.mItar a mocidade? E a guerra, seria ella a modode tambores e ba/isas bamboleantes, ou a mododo.~ Turene, pratos, colheres e o mais, tudo omais, de ferro e a ferro?

Ora, a guerra!

Um só peito para esta coisa unica: Por S.Paulo!

E porisso a guerra começou a 9 de Julho eS. Paulo viveu então (insistam sempre nas pala-vras doces) VIVEU ENTÃO mais de 400 annos,com escalas por Anchiela, ltmador Bueno, Andra-das santistas e Feijó; voltou a Anchieta, lembrou-se da 11;1onçãoe do Tiei é, e, milagre dos homens,abraçou, abraçou sim, S. Paulo abraçou a mo-cidade.

E a mocidade aos berros, pelas ruas: Meu bra-ço é raio!

E as ruas, em côro: E' raio, é raio!

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16 Aureo de Almeida Camargo

Foi então que aconteceu esta coisa inesperadaalé para os basbaql1es e adivinhadores de impre-vistos - UMA EPOPÉA.

Faz frio neste inverno paulista de 1932, e o solé novidade no espaço amplissimo do dia cinzentosombreado.

Evitae as sombras, amigos do bom socego! Osdias sombreados vivem á custa das sombras, assombras produzem versos melancolicos, cheirama rezas mysteriosas. O agoiro mora com o morcegoe o morcego vive nas sombras. Evitae-as! Algumacoisa passeia pelo ar, solta, descabellada. Talvezum feitiço escuro, senhores!

As mulheres que conhecem a direcção dos ven-tos bons e sabem como ninguem descobrir perigosnas pequenas nuvens negras, calaram-se de vez,desla /)C:::.Jlas o ar todas ellas sentem, os ouvidosadivinham rlllllO],(~Se.rlrava[}antes que se approxi-mam, enchem-se dI' e.rlranhc:::as as narinas. Por-que as pupilas s(~dilalum !:mlo? Esse barulho sur-do, tan-tan-[wz, (; do coruçiio, Ifl!l~ bale forte.

O rapido, o lcuc (~ () ('.1'irwzho andam juntos,

agoirentos, As sensaçÔcs de mÚl-estar costumamcausar Sllrprezas: suspenderam a vida.

E' o segredo que anda no ar? Respeitemoso ar.

E as ruas, que andamsias? Para a rua, todos!

repletas de almas va-

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A EPOPI1.4 17

Só uma coisa é sabida confortavelmente: ain-da e:risle uma felicidade cheia de campos, casas ebem-estar; um planalto longo, cahindo sem cere-monia junto ao mar, de um lado; rios que corremalevantados, lembrando incursões victoriosas: maismontanhas verdes, dos outros lados. Por força queé S. Paulo.

Girará ainda o mundo? Preces ligeira,~ combi-l/adas com o ciciar de labios indecisos fazem usrapidos assobios que existem em todos os silenciosde toda.~ as athmospheras, pagãs que sejam.

O imprevisto está para acontecer? Falem asi!JJ'(~jas,que estão cheias de orações paulista.').

I," a guerra? Fale o apostolo S. Paulo, o previ-tini/I': "Ila guerra por toda parte, em terra, nu mnr,IIUS I'sj,irifos".

I'jullus da guerra:I) S. l'aulo será nosso. Prazo: dentro de uma

S!:/IHlllIl.

2) S. /'(II/ju é nosso. Tempo: ha 400 annos.

O gOVI'l'l/O lallra proclamação:

"E' preciso, custe () que custa/', manter os pon-lus cardeaes paulis/as l/OS lugares".

As arvores das ruas se lil'rfilam, nlÍas:

"Nos lugares!"Onde está a alma paulista? No pico do .Jara-

!/uá vão descobrir Anchiela genufle.To, espreitando

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18 Aureo de Almeida Camar!/o

o fulUl'o. Elle vigia a vespera. No instante. o fuluroparece gritar aos quatro ventos:

"A mim. Anchiela!"O Tieté, de attitudes definidas e

corre pen.wlivo dentro das fronteirastodos estão atrás das divisas.

Já lIa sol, o céo azuleja.

definitivas,paulistas e

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Depois do Quartel,

embarque

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o batalhão "14 de Julho" nasceu como todasas coisas - predestinado a enfrentar uma vida delutas permanentes.

A principio, "Batalhão Dniversitario", o B. D.,porque na Faculdade de Direito e, depois, numgrupo-escolar, se misturou a mesma massa dos fu-turos bachareis, medicas, engenheiros e pharma-ceuticos.

Mais tarde, dois dias apenas, ainda B. D., por-que no pateo do 2,° Batalhão da Força Publica semisturou com os medicas, engenheiros, pharmaceu-ficas e bachareis, que alli se achavam, e mais aquel-1es outros que, não sendo futuros nem presentes,pertenciam contudo á mesma massa dos "doutoresc~1Hcivismo".

~o 2.° Bat. todos se conhecem, felizmente ospa~~os são iguaes, iguaes as meias-voltas e a vozd!' commando. Quando o patrão é um só,e com-1IIIIm o trabalho, todos os empregados se conhe-('('111-- a amalgama está feita, sob a chefia unica.

() commando sabe que o soldado á paizana11:'10 possue disciplina (um tal de fumar em for-III:I!) c zás:

Todos fardados, dentro de meia hora.1\1c',o fim da meia hora, o 2.° Bat., o quartel,

"('("0 virgem ficam a.Q par do nudismo integral

dtO :.00 l!olllClIS á procura de batinas numero 41.

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22 Allreo de Almeida Camargo

o dormitaria de um quartel é "standard":grande e comprido, cheio de camas de ferro e co-hertores vermelhos, os chamados cobertores desoldado. E' para o militar habituar-se com o côr,pensam alguns. Outros, que é a educação que co-lneca em casa. Como em todas as casas, os cober-torês cobrem as camas, e, salvo engano visual, oque se vê alli no 2.° Bat. é o proprio Mar V crmclho.

Em Vvest Point, em Saint Cyr, no 2.° Bat., avida é assim: Plaf, um travesseiro na cabeça, outroque se perde no comprido da sala. Um phantasmavermelho (dois cobertores emendados) se dcsmo-ralisa, ao perguntar "quem sou eu, quem sou eu".Máo veso dos phantasmas, a mania de se fazeremannunciar com perguntas desse genero. Está deita-do debaixo de 50 travesseiros. E' o Mar Vermelhoem tempestadc.

No canto esquerdo do patco discute-se tudo,inclusive gucrra. São 11 pessoas, ao todo, e somen-Il' duas, aliÚs dois irmãos, sustentam que Ludwig<'~111aiol' qlW Napoll':lo, Ludwig ganhou, porquc~ osil'llIãos ralalll alio l' ao 11U'Sl1l0 lcmj)o. A discussãosobre Call1ldos leve oull'o desfecho: Euclidcs daCUnhal'liIpaloll (a I'oda linha IIlll de menos) COIllAntonio Consclhei 1'0 Bom Jesus.

As outras rodas fazcm amizade, parentesco,reproduzem feitos occorridos em 22, 24 e 30. (Êta,Brasill) Alguns suspiram ao falar no 93, no Salda-nha, no Saraiva. . .

Um antigo sargento de Quitaúna conta que nasguerras e revoluções acontece vasarem-se vistas,quebrarem-se pernas ,e braços, pobres rins e figa-dos attingidos, alguma coisa que faz parte da gentee se põe ao largo no instante i. E pede um cigarro.

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,1 EPOPÉA 23

Os da roda accedem phosphoros, ao mesmo tempo.E' o B. U. a fazer fogo em cOlljUllctO, elle que tcma noção do momento opportuno, das opportuni-dades.

Existc no mundo das lcttras um conceito de'Vilde que colloca a vida perante a arte como imi-tadora desta, Imitação typo copia. Estivcsse eJledvo, c daria pulinhos de contentamento, ao saberque em 1932, em S. Paulo, no 2.° Bat. da milicia es-tadual, a vida de 500 homcns começava a reprodu-zir, expontaneamente algumas vezes, IDas de ma-neira fiel, a arte de Remarque, a se considerar comoarte um livro que ia tcr a sua segunda cdição igual'Ú primeira nos campos Sul de S. Paulo, na vida deIrincheira, nos dialogas e nos bombardeios aercos,qne forçosamente são iguaes em toda parte, mesmo11as manobras das exercitas.

Imitou-se Remarque, reproduziu-se Remar-'qne, Um escandalo essa rapaziada a se envelhecerIIIIIn unico dia de quartel, á custa de phrases phi-losophieas, que, bem distribuidas neste mundo,dt'\'criam ser da exclusividade da cabeça dos po-li Ij('()S, desses iIlustres provocadores e fazcdol'cS.I" gnerras e revoluções, eIles que misturam asllol':ls, os dias, os homens, a vida, jogando uns"IIlIlra os ontros, com uma displicencia que aspl'Op,'ias ambições não justificam, - os rcsponsa-n:..i:i (Idas situações (~le ~Ó eILes sabem c:riar emIII";() ~Lvolu~ia do cgalihQ, da posição, da vin,gancaIT(,:Ik:lda. Suo os taes de uma 80 cabeça e um só4'~; I, 1111:lgO.

Iklll:lrquc dirige o B. U. na manhã clars.. Po-1111;\111SI' I'<lrdados os que sorriem e verão que ellc14'111 III:tis :IlIlori.dadee prestígio em assumptos de

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24 Aureo de Almeida Camargo

caserna do que os mais rigorosos commandantesde pelotões.

Como este livro é uma reprodução fie] de fa-ctos idos e vividos, vale a pena contar que ,um sol-dado se chegou a um companheiro sentado 110 iso-lamento de um canto e lhe perguntou pelo silencio,pelo nome. "Eu sou Tjaden", (1) respondeu o iso-lado. Essas pequenas allucinações são conhecidaspor "arlimanhas do Remarque".

Ainda ha mais: a dislribuicão do armamcntocomeçou a ser feita ás 10 horas. .Os fuzis, desarchi-vaeIos de velhos caixões, natllra]mcnte depositadosem algum quarto escuro, tinham sido compradosá Allemanha, logo após a terminação da grandeguerra. O seu estado confirmava a origem e a ba-rulhada em que os mesmos se haviam mettido. Al-guns traziam uma cruz (ou mais de uma) feita acanivetc e com datas superpostas, 1916, 1917. Chei-ravam á Verdun. Quantos chegaram a suspirarpor um fuzil de um Paul Baeumer! (1)

E' preciso encarar com ca]ma um batalhão, queem sua totalidade analysara logica e grammatical-mente "Nada de Novo... ", recebendo, momentosantes de partir para-onde, f,uzis que porventura emChemin des Dames estiveram nas mãos dos Fritze dos Olto. Uma intoxicação completa, .essa poesiada guerra. A sciencia diz que não, que é torpor dosmomcntos difficeis. Seja.

Basta fechar os olhos para se encontrar noSommc, nos Dardanellos, no Fort Douamont, baio-neta calada. . .

Boatos de que o batalhão parte ás 11 horas.

(I) Personagem do "Nada de Novo..."

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EPOPÉ.1 25------..----.- .----------

Será para o Hio? Aqucllas horas os cstomagos irãoc:ompl~lar 20 horas de jejum. Arre!

Sfio tres companhias completas e mais algunspelotões. Vae tudo. Os antigos sorteados e os reser-vistas se fazem de sargentos e cabos. Commandan-le do B. D., Major Mario Range1.

O Ci?!:oE.el ~::!..l~HHLo~cOllllnandalÜe da Força,vem (lc:s{wdir-sc do filho e avisa que o destino éCampinas. Então se combate em Campjnas, ou ubatalhão precisa de treino, talvez a fronteira de:\linas? . . Quem sabe lá o que se passa em Minas?

14 horas hatidinhas. Commoção. As famíliaspresentes se agitam. Abraços até de quem a gentenão C

rillinhece. Ahi, batuta, toque aqui! Santinhos de

N. S. da Apparecida, que é paulista e padroeira doBrasi, stão sendo balançados, brilhantes, nos pei-tos empolados. Um camarada apprende ás pressasque o fuzil é obrigatoriamente carregado por talmiio no ombro correspondente. Em forma. A ban-da chega. E a banlleira. "O auri-vcrde tÚ'hi", pa-lavras do futuro cozinheiro. As ordens se succe-dcm - batalhão, companhia, pelotão. Para a rua,para Campinas, para Minas...

Saibam os que não conhecem a rua João Thc~o-doro que eUa é grande, larga, cheia de povo, dia 14.i\ guerra é delle: Viva este, viva aqucHe. Flores nofllzil, na mochila, no ombro, no peito, -- a pcrspe-clivu llc uma batalha de cravos c dc rosas. Banda,vivas, flores c gente quc ainda detesta as guerras,q 11:11!

N IIlll braço, o fuzil; noutro, Ullla caricia de111;'1('. 1':lla joga as flores, o pae engole em secco sen-

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26 Allreo de ..Ilmeida Camargo

timentos palernaes, as irmãs dão vivas. A familiaapesar de andar junta se entende pcrfeitamente,ora não! Filhas olham o pae qne partc, e el1c a el-Ias que ficam, -- um ducl10 á distancia, com em-pate na certa. Automoveis conduzem mulheres eocstas de flores juntas ao chauffeur. Vivas e flores.Um chauffcur joga o bOl1et por engano e alguemgrita: "Isto não é tourada"!

Estacão da Luz. Vão ordcnar alto. Não orde-naram. Ê Campinas? E Minas? Indagações, infor-mações, todas as palavras terminarIas em i'ies e cominterrogações n~ frente?'?? Ou passeio pela cidadeou Sorocabuna? Prompto, é 50rocabana. Revis tasolemnc. Depois, a plataforma, 11 carros vasios, amaioria 2." classc. Quc as viagens de 2." classe sãomais piHorescas. Sej am.

Vivas e abraços. Bolachas, sandwichs, cigarrose choc()lah~s e abraços. Noivos que se beijam comfuria guerreira, é o amôr. Carmin por toda parle,-.. o vehiculo do amÔr. Beijos, foi-se o carmin.O B. U. vae lcval-o para o {ront. E de uma arran-ca,rIa sÓ, alJral;a a 2." classc. E' um mar de lcn~;osa agitar-se, c, agora, o lrcm está na curva. )

A retaguarda dos qlle parliam igual á MulherPaulista. Em Catandllva, em S. Paulo, cm Iguape.Costurou pannos duros, fez aladuras ligeiras, emandou para a vanguarda o maior successo daguerra -o chocolatc. E, mais quc tudo, policioude lal forma o pensamcnto descontrolado da re-laguarda que se tornou o apoio dos quc; combatiame sobre o qual os soldados iriam descansar sauda-des, confiança, bem assim carinhos afastados, oscarinhos.

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.4 EPOPÉ,4 27

A Mulher Paulista sustentou a guerra aqui,am, acolá; esteve em toda parte com carinhos echocolates, criando a principio a illusâo de que aguerra era ele assucar.

Nas manhãs frias de Julho, sahiu de casa paralevar uma caricia, um adeus, um chocolate. Emtroca, a promessa de um troféo, um caco, dois ca-cos de granada.

E que doçura de carinhos! 011 conselhos quemandam prudcncin, remedios para os ventos en-canados, que doçura! Evitar as chuvas de inver-no, que são trahiçoeiras, Não se csquecer da c<m-tinencia aos ofI'kiacs. Lavar os pés semprc e es-eovar os dcntes para evitar infecções (ha quemdiga escorbuto). Quc a campanha é breve e nãoconycm expor-se demasiadamente, fazer bonito.

Todos os 18 almos estão reunidos na emoçãode um exercito feminino. Elles tiveram uma mes-ma vida, commum, igual, intensa e carinhosa, nacidade, no campo, emfim, nesse pedaço de telhae barro que se chama casa. Dentro da casa, na ci-dade ou no campo, - }lulher Paulista e 18 annos.

Agora chegou o momento da partida (alguemdisse "a desagregação da casa") e a Mulher Pau-lista vae ser a retaguarda, vae prometler a Deus,niar pcnitencias familiares de roupas e comidas,('Idar soffrer a guerra, viver a vanguarda. Os 18:l1I110Ssaherll disso e se commO\'C1n, - a primeira(lrDva de solidaricda(le <JlIr(~as guerras produzem.;':II('s não sabem chorar c isto lhes causa uma de-"('P(::IO que o instante não comporta. A retaguar-da. (lo!"Óm, chora nos olhos dos 18 annos, hehcndo-lI\('s a alegria, que é uma risada commnm, elas ti-(':1 ('111todas as hoccas. A risada da guerra, a pl:'i-IIH'II':! I'isada dos 18 annos~ ora a guerra!

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30 Aureo de AZmeida Camargo--' ~---

ciaes e 135 praças do 5.° R. C. D. que faziam par-te da vanguarda das forças paranaenses que seacha vam cm Scngés confraternizaram-se com asnossas ",

O official que os commandava declara aos jor-naes paulistas, dias depois: "Trazemos o primeiroabraço do Paraná á causa nacional". Era o pri-meiro e o ultimo).

Viva a Cavallaria de Castro! Durante cincominutos só aconteceu o exposto. O trem parte ra-pido. Dizem vae parar no quartel do 8.°, onde oB. U. passará a noite. Não parou, são 21 horas,ainda vae mais adcante. Bury, pequena para-da na cidadezinha destinada pelos fados e desem-penhar o papel que Itararé haveria de rejeitar.Vendas de Bury, em tua defeza acorreriam muitosdaquelles cuj o frio applacaste!

O trem obedec.e a um 'destino pre-fixado, ca-minha ligeiro e, quando corre muito, o soldadoadivinha (tem o direito de adivinhar) que é parachegar depressa, 'está para acontecer alg.uma coi-sa, Itararé costuma causar surprezas,..

Uma cesta de pão (era nUi j acá), o que se pôdearranjar em Bury, mal chega para uns 50. Besul-tado: os 50 ganham 1:>0 inimigos, é a fome. Nin-guem dorme, que o frio é intenso, jandlas fecha-das. Obrigado a fumar quem não fuma, para nãoser suffocado pela fumaça do vizinho. O comman-

noite de 13, o tenente do Exercito, Scvcrino 1\obrega, pro-curou e obtcve o major Garcia por intermcdio desse offj-cial, a adhesâo do esquaclriio que sOe achava em Sengés.A' noite, esse esquadrão com seus offieiacs c 150 praçaspassou para São PauJo," ("A Hevolução Constitucio-nalista", Herculano de Carvalho, pag, 149).

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EPOPILl 31

dantp. estÚ visitando a tropa, as janellas são aber-tas e esvasiam a fllmaçada, elle quer vêr o pessoal.

Tropa que lJae para liaral'é,Dormiu? Comeu? Não viu café...

A's 6 c meia horas o lrem dá com o costado emItararé. A manhã joga friagcm nas caras som no-lentas e.

"era uma vez o romance de uma noite.

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Itararé, Portas Sulde S. Paulo

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Itararé, séde de Comarca, EstaçãoFerroviaria, Telcgrapho, Correio, Distri-cto de Paz, Delegacia, Sub-delegacia, So-rocabana, população do Municipio 8.000.:Antiga CapeIla de Nossa Senhora daConceição de Itararé. S. Pedro de Ita-raré.

Kilometro 40U da E. F. S.I tararé: cano de pedra, subterraneo,

sumidouro.

Apodera-se de toda a tropa um sentimento deintenso apego á terra, o chamado posteriormente"~stanismo". São as portas de S. Paulo, essapequena cidade humilde nas suas casinhas, quevistas da estacão se assemelham ás casas de ma-deira do Monte Serrat santista, tal a multiplicida-de de côres aportuguezadas que apresentam. Im-pressão de cidade americana de fronteira, onde sepralicam crimes e contrabandos, tudo que cabeIltllJJa localidade de divisa. Engano da illlaginaçãotI\- cincma. São as lendarias portas de S. Paulo quealli estão, são os Itararés, a cidade, o rio, a bar-r:II1C:1.

- Qucm passar o umbral da porta, morre -511:-;11'111:1111os quc sabem defender a propria casa,1\ 11011ra, a ramilia.

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.111reo de Almeida Camargo

E é um evocar de historia paulista, no peque-no pedaço de terra fronteiri((a. E' o Rio Grandedo Sul L:onvulsionado no 9:3. Saraiva caudilho,ameaçando chegar á barraIlL:ao Em 30, a historianão se repetiu, consumou-se um desideratum, acombinação de ultima hora, o arranjo que se fazno escuro.

- Quem passar o umbral da porta, não morre.E era um jogar de flores aos homens de bota

e espora, os libertadores enganosos que se diver-tiam com a palavra Liberdade, como se estivessemnum torneio em que as prendas estão ao alcancedos mais espertos. Pegaram a prenda, esquecendo-se, porém, da elegancia recommendada pclo Livroda Cavallaria: guardaram-na comsigo, deixando 7milhões de espectadores boquiabertos, assim! o o o

No 32, as boccas estão fechadas (se estão!) eos dcntes rangem-rangem. "Bocca aberta, mordidalia certa". As boccas se abrirão dentro em breve,l1a hora de nÚs-todos, e. .. disputar-se-á a prendaCOlll os dcnt-cs, a mCSIIH\ prenda. E' o juramento in-timo c COIlIlIlIIIll do Balalhão Universitario, antea cidade que se V(~lá 110 alto, no morro afastadoda estação iJOO melros, esse marco com que a na-tureza prodigalizou o limite maximo do chamadoSul de So Paulo.

O inimigo jogará a sua força no Itararé; noItararé S. Paulo defenderá a sua honra. Basta só-mente que os senhores guardii3cs saibam cuidardas portas do thesonro.

O 13. Uo telegrapha para a família:"Chegámos bemo Clima magnifico. Calma.

Abraços "0

Dois officiacs da Co P. O. R., presentes, serãoos 111cdiaclores de paulistas e paranaenses, caso es-

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A EPOJ>ÉA 37-'---~--_.-\es demonstrem vontade de adherir. 11 e meiahoras, e o batalhão põe-se a marchar, depois desaber nulIo o entendimento com o inimigo. Os"irmãos do sul" são inimigos dos paulistas, depoisdas 11 e meia horas do dia 15 de julho de 32.

As poucas pessoas que aguardavam a chegadado batalhão, friam,ente, procuram acompanhar ospassos militares e vão ficando distanciados. Na ruacomprida a galgar a encosla, a longa fila dos re-cem-chegados, e, para qnem gosta de olhar paratrás e tem visão de conjundo, os 500 soldados ali-nhados são um longo e amarelIo milharal. Canta-se qualquer coisa com muito enthusiasmo. As casasnão são exclusivamente de madeira. Quasi nenhu-ma a curiosidade das calçadas e das janelIas -completa a indifferença popular. Seni. que existenestas paragens, cristali~,ada, a infiltração commu-mente chamada de fronleira, a que destróc os sen-timentos pela terra natal? Ou aqui se faz o jogoduplo, ou então é o pessoal que não se espanta como aparato militar tão commum á cidade, as vulga-('es manifestações de força. Na esquina, a pharma-cia bate palmas, o pharmaeeutico, a familia. Sorri-sos do B. U. e uma vontade collectiva de adoecerlia hora e gastar com o camarada. Comprar-se-áasslIcar candi mais tarde. As palmas estabelecem11111rapido contagio, uma moça sÓsinha palmeia as(..:tos dando pulos na calçada. Todos acham essaIIIO(;a bonita.

Já se sabe marchar sem causar magua ao vi-zillho da frente. Alto. Um largo, uma igreja, umj:JI'(lilll cercado, um theatro. O D. U. vae para esteIdlilllO, fechado desde 1930 (pobres r(ln.~ itararen-s('sl), l~ a lilJcrlação do pó começa pelas janel1as c

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portas escancaradas. O theatro ri áquclla saúdeinesperada que a manhã lhe presenteava, ao pal-co, á platéa, aos camarotes. Os soldados se instal-Iam nas duas ultimas divisões. No palco algUem ~

~

faz magicas e canta "I am deliciollS". Nas pal"cdes, . kescriptas a carvão, pesadas injurias a um partidopolitico. Nomes de mulher, nomes de homem. Umadata: 1930. Facil advinhar-se que gente extranhaandou enfeitando as paredes.

Uma lembrança terna, uma vontade de comer,a nostalgia do conforto á hora certa. Promessa dealmoço desfeita com a permissão de sahirem todosdo quartel. (Defendam-se como puderem é o sen-tido da permissão). A peregrinação pela cidade co-meça, 2$500, por dois ovos e uma cerveja, não ser-ve. Dois ovos, batatas e cerveja, 2$000, serve.

Hararé, - ruas compridas, compridissimas,casas baixas. Aqui e alli, homens e mulheres es-piando ádistancia, atrás dos vidros. Ha ironia emalguns olhos curiosos e uma vontade louca de xin-gar aquelle mysterio. Bolas! Uma venda onde se en-contram canivetes a 1$500. Custariam o dobro, nodia seguinte. Banhos oHerecidos expontaneamente,mais almoços graUs salvam, em algumas casas, ahospitalidade que estava tardando. Banhos publi-cas num quintal acolhedor, onde a alegria consis-te na eascatinha de um ribeirão claro e farto. Dápara oito ao mesmo tempo. A igrej a está cheia decrentes c outros mais rebeldes. "O perigo aproxi-ma o homem de Deus", sentellceia um soldado deoCldos. Não cabe mais ninguem.

No theatro-quartcl, as primeiras novidades;11111t!IJciam que o inimigo resolveu adherir. As se-gUl1das desmentem, que não. As terceiras azedam(k lal forma o optimismo conservado das primei-

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ras que já não se liga para nada. As quartas che-gam com fcição disparatada e assim hayeriam deser todas as outras no decorrer da campanha. A's15 c meia horas, churrasco e arroz. Boi velho e ar-roz queimado. As pragas são um goso. O jejumpercorre mais de volta e meia do relogio, de qnal-quer rclogio.

Nas trincheiras estão o 8.° B. r.. P. e dois es-quadrões de cavallaria. O Batalhiío Universitarioestá de rescn'a.

E pergunta-se:- Combater-se-à sobre o Itararé '?

"Acabamos de chegar á fronteira, o lugar maisproximo ao inimigo. A tropa entrincheirada temordem de não atacar, pois o comIllando conta comaclhesões. .rá sabemos de cúr as palavras a dizeraos novos amigos: "V ocês vieram depressa, não?"A maior parte da tropa está cOllvencicla de que nãose dará um tiro siqucr ncsta revolução, pclo me-nos nesta zona frontdriça. Os tiros, os ullieos, se-riam dados como saudação aos esperados camara-das. Assim tinhamos resoldclo. se assim resolv,esseon permittisse o commandante, que é quem fariao discurso de hÔas-vindas, verdadeira festa. Nadade novo no {roll/, repetimos pela manhã e Ú noite.Até agora nada, meus queridos paes".

o Boletim n.O 1, dando a relação da unidade,I"az sabc'r (!ue o sub-commalldante do batalhão é() :2." lIe. jofto Garcia de Olivcira.

Dislribuiç50 de tiros, 50 cartuchos para cada

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A 111'('0 de .1.1meida Camargo._-~" ~.._---_._--

soldado. Uma parte é suspeita, dizem que não func-eiona. A troca se faz a seguir.

Missa campal dia 16, dedicada ao batalhão,quc a ella assiste. Prégação. Um estudante irrevc-rentemente promove um pique-pique em honra aopadre officiante e todos acompanham a saudaçãoacademica. O commandante enruga a testa, massorri em seguida, porque o padl"e gostou e pediua letra, "para os meninos do cathecismo".

Um avião vermelhinho, que affirmavam ser deum particular e por elle dirigido, (3) vinha obser-vando o inimigo em frequentes incursõ'es, numtrabalho incessante. Mesmo á noite voava, e os de-baixo espiavam commovidos aquella luz verme-lha, pequena e mortiça, passeando na noite fria eclara, a mais alta sentinella de S. Paulo nos Ita-rarés.

A' noitc, o commandante Mario Rangel (4)recehe ordens de se recolher á Capital e passa ocomJIlando ao Maj ar José Gania:

"Tendo rc(~cbido ordens para me recolher áCapital, silllo cOllllllunicar-vos [IUCterei de deixaro COllllll:\lldo cio Balalhão "11 dc Julho". Aprovei-to a op]>orlullidadc ]>al':l aprescntar-vos as expres-sões do IIlCU "gl'<\(k(~iIIIcnlo pela conducta patrio-tica e disciplinada com que vos JIlantivcstes, obe-decendo aos llobrcs designios qu'c vos transforma-ram de homens pacificos c ordeiros cm força ar-mada e destemida. ComJIllmico-vos, outrosim, que

(3) Ttc. João Sylvio Hocltz.

(4) O depoimento prestado pelo major M. Hangel aoCommandantc da Força sobre a sua actuação em Itararéconsta do livro "A Revolução Constitucionalista", H. deCarvalho.

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fi(:arcis sob o commando do major José Garcia, aquem peço observardes a m'esma attcnção que medispcnsastes. Faço votos para o completo exito daIllissão para que viéstes, desejando-vos a victoriaque ha de ser nossa".

(Officialmente, o Batalhão Univ.ersitario seIransforma em "14 de Julho").

E o novo commandante:"Assumo nesta data o commando deste bata-

lhão, ficando dispensado desse serviço o 2.° tenen-Ie João Garcia de Oli veira, que l'eassumirá as suas1'1Incções. Determino que assuma o cargo de sub-commandante desta unidade o Capitão José Gue-des da Cunha". (5)

O quartel do 8.° está loealisado num predio pu-hlico e é nelle que se fazem as ligações com a trin-cheira, por intermedio de cavallarianos. Desde atarde de 16 que estes atravessam a cidade num ga-

(5) O Boletim do Bat., n. 3, de 20 de Julho, datadode Faxina, faria constar: "Do Major José Gan'ia: 1932. Ju-lho. A 11, seguiu para Jtapetininga. Na mesma datacommandando elemento do 8.° B. C. P. seguiu para Ha-rare, onde chegou a 12, pela madrugada, retomando aseslacõe.s da E. F. S. Paulo-Hjo Grande e Harare, que es-lavam occupadas pelo 3.° esq. do 5.° R. C. D., de Castro,I'araná. A 14, 6eguiu para Faxina afim de organisar oBat. "Faxina". A 16, seguiu para Hararé."

"Do capo .Tosé Guedes da Cunha: 1!J32, Julho. A 11,seguiu para Hapetininga. Na mesma data, como sub-comte. do Bat. organisado com elementos' do 8.0 B. C. P.,.~eguiu pal'a Hararé, onde chegou a 12, pela madrugada,onde o Bat. retomou as estações da E. F. S. Paulo-Rio(;I'ande e Harare, que estavam occupadas pelo 3.° esq. dori." n. C. D., de Castro, Paraná. A 14 seguiu para Fa-x i lia como sub-comte. do Bat. "Faxina". A 16, seguiuP:II":1 Harare, onde assumiu as funcções de sub-comte.desteBal. (11 de Julho)."

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II>I)(~suarento, deixando a impressão de que algode exlraordinado vae acontecendo além-além.

A 3.a Cia. passa a noite 16-17 naquellc quartel,de promptidão, e esta palavra, ouvida pela pri-meira v'ez, possue um timbre sombrio, desconheci-do. Ü 3.° pelotão parte pela manhã para as trin-cheiras, onde se combate. Os restantes da 3.a Cia.seguem mais tarde, visados pela artilheria inimi-ga. São collocados em linha de fogo, isto é, aguen-tando a fuzilada inimiga s,cm reagir pela falta deordens nesse sentido.

As corridas de cavallarianos se succedem commais frequencia, constituindo uma interrogaçãodolorosa para as l.a e 2." Cias. de reserva na cida-de. Um cavallariano mais dramatico atravessa afrente do quartel do "14" com phrases deste gene-1'0: "Romperam o flanco tal", "Uma desgraça..."De se morrer de angustia, ufa!

O dia 18 amanhece carrancudo como convémÚs coisas sombrias. A artilhcria inimiga, pela ma-nlt:í, visa o campo d(~ aviação, e, segundo se affir-mOlI 111:1is Ia ,'de, o q u a 1'1e I do "14". A cidade estásoffrelldo a IJJ;' pl>lIlaria dos canhõcs. (Pela ma-(lrugada UIII foguele solt:ldo por adeplos do ini-migo localisara o call1po da avia(;i"ío - a traiçãoanda no ar, diz('IJJ. . (~ o resultado foi a artilheriasobre Itararé. JÚ na vespera, a luz da cidade eraligada com surpreza gera I).

A 2." Cia., que na vespera se acantonara noGrupo Escolar Rio Branco, parte Ús 10 horas e to-ma posições no flanco esquerdo, na primeira li-nha, ao contrario do que se affirmava, "que erasegunda linha". Os tiros que re0ebeu e trocou como inimigo confirmavam a posição: garantir a ar-tilheria paulista, na 1." linha.

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Combate-se em Itararé.fi.. 1." Cia., á vista do bombaràeio, sahe para

:IS ruas e a cada estampido seguido de assobio1:111(,:a-s8por terra. Uma photographia qualquerIi!':lda nessa occasião provaria que os soldadosdormem de br,uços, posição incommoda, mas ne-c,('ssaria.

Espectaculo impressionante, o unico impres-sionante, esse de um automovel conduzindo umasenhora que chama pelo filho, pelos filhos, eramdois. Por cima do automovel, granadas assobian-do. Um mal-estar aos que assistem a tão arriscadocarinho maternal. Affliccão. Os ensinamentos da(:ampanha iriam mostrar> que as mães devem ficarlia retaguarda. Quem iria tomar conta lá de trás,se as mães paulistas fôssem com os filhos parao froni? Fiscalizem a retaguarda, mães paulistas.Combatam-na, se preciso. Mas permittam que osdo fronl imitem de longe a bravura daquellas quelem que ficar lá para trás, bem para trás. As guer-ras não se fazem s'em o concurso da retaguarda,IIlÜes paulistas!

A' hora do almoço o artilheiro inimigo vae al-moçar e a 1.a Cia. tambem. Alliviada, mas sem ap-pdite. O cozinheiro, soldado de uma serie de re-voluções, cstá zombando da tropa: "Quá, quá, quá.(J,llC dê a fome da meninada? quá, quá, quá".

Partida para as trincheiras. Alguns kilometrosdepois, dois ou tres, já se ouvem a matraca e o ca-Ilhfío bem pertinho. Não ha noção de perigo110"1.1" despreoccupado. Uma encosta, a ultimaen-costa, e alguns shrapnels que arrebentam a 100IlIctros da estrada palmilhada. E' o perigo, dizem.Ordem para carregar o fuzil (delicioso esse tem-po em que não se podia matar ou beber agua sem

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quc as ordens yiessem!) e um soldado a insistircm fazcl-o com o pente em posição vertical, pelaponta das balas. A situação ainda comporta umarisada, e ri-se.

Quinze horas, Cavallarianos, jogando com osultimas musculos da montaria, distrihuem (agoi-1'0 jamais perdoado) a noya da desgraça: "Estátudo perdido". "O inimigo \em ahi". Não era oinimigo, que viria folgadamente mais tarde, e simsoldados paulistas que abandonavam as posições:"São ordens"". E distribuem a munição quc~ ain-da possucnl aos hOlnens do "11", como se estiV1es-sem de partida, de licença. Dois officiaes tomamprovidencias de momento, para evitar que o aban-dono se realise totalmente, e um delles, RodrigucsAlves, empunha o parabcllum ameaçadoramente.;\Iuitos \'oltam, Pobre S. Paulo!

AI." Cia. toma posição em campo aberto, áspressas, atrás de um ou outro cupim, atrás de umou outro palmo de lerra amontoado sabe Deuscomo. (E' evidente a confusão reinante do ladopaulista), :'Ilais larde diriam que o "1.1" estava ga-r~1IIlindo a r('lir~l(la. qlH: It~lrar(~ estava perdida ccom ('lia a vI'rgoldw dos que pnssaram para o ini-Jlligo Ú custa dI' klll:OS brancos sacudidos, os ven-dilhões. Nas triuchl'iras. () pl'sso:d da :1." Cia. COlll-bate a par com a Fon:a I'lIldil'a. SI'II! comida e semagua, mais de dia, 3li horas. ).: :1 J.etirada se faz, a2." Cia, a garantir o recuo dos c:ln!J()('s de MaltoGrosso. São 15,45.

Chorem, senhores da retaguarda, <II1Ca tropade Itararé está chorando, os commandantcs, os sol-dados. Um mixto de odio e pezar. Abriram-se asportas de S. Paulo, senhores de S. Paulo! Pudes-sem cllas ser sustentadas com lagrimas...

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o "Cavalleiro de Itararé" já não é uma figu-ra lendaria, ameaca das mães ás criancas endia-bradas, uma qualq'uer coisa com feição do Apoca-liIJse, e sim urna realidade, tomou forma humana.E vem ahi, pelas portas. Correi, crianças,..

Itararé cahiu! (6)O espirito de opprcssão das retiradas, a an-

gustia do abandono, mais o aperto de coração, quese reflccte escandalosamente nos olhos e no silen-cio acabrunhador, fazem a retirada de Itararé,tudo no malfadado 18 de Julho, o decimo da revo-lução paulista.

A ultima tropa do "H de Julho" leva comsigoum ou outro fuzil encontrado sem o ferrolho notheatro-quarlel, um ou outro sacco de mantimen-to abandonado. Os passaros, quando emigram, sódcixam o ninho,.. Essa mesma tropa affirmavahoras depois que, á sua passagem pela cidade,muita cara ostentava satisfação, alegria, por de-trás dos vidros. . . Era o pessoal do jogo duplo, dascaras duplas.

Ainda se ouvem tiros de artilheria, muniçãosem alvo, sem finalidade. Uma vontade de gritaraos inimigos:

- Nós já sahimos! Agora avancem! A casa ésua!

Soldados embarcam, peja estrada de ferro.Soldados seguem para Faxina, pela cstraeb de ro-dagem. Os primeiros se reunem na estação proxi-ma, Ibity, distante 6 kilometros, e parte continúa

(G) "Itararé, a invicta, cahia num passe de magia

\

('() adversario mesmo, esbarrava pprplexo ante a facili-

d:td(' do triumpho." ("Palmo a Palmo", Capo A. Bastos,p:lg. 30).

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4(i i\llrco de /11mcida Camar{JO

viagem. Corre que os soldados vão voltar paraI lararé, não voltaram.

Ao longe, a cidade do infortunio. E os fogos,lá e acolá, vistos de Ibity, são os unicos lumes danoite desgraçada. Os olhos prégados naquelle pe-daço abandonado de terra paulista choram porpesar, por odio. Uma noite de amarguras em Ibity.Ha gosto de fel até no ar qne s'e respira.

"Um mujik responde ao Tribunal Criminal:- Sei lá se amo os dedos de minha mão. Nem

penso nclles. Mas fazei ensaio de m'os cortar e ve-reis. . . "

De S. Paulo cortaram muito mais. Um braco?Dois braços? Cuidado com o coração paulista, ~lleestá sangrando, entraram-lhe pelas portas a den-tro, pelo corpo moço e sadio, e agora vão tentarrevolver-lhe as entranhas, cuidado!

"O General Bertoldo Klinger, Com-mandante Geral das tropas constitucio-nalislas, esteve na noite de quinta fei-ra (21) em visila Ú frenle de Itararé.POI' df'lcl'luilla<Jío de S. Excia. essa fren-k foi </Pslocada par:! BuI'Y, afim de me-lhol'al' as cOIHli<:,ijes eslralegicas paramanobras que es(Úo phll1cjadas e pro-porciona I' Ús II'0pas 11111<ksl:allço Illere-cido após varios dias de luta".

(Communieado offieial ,do (lia 22, 11 horas).

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~;Yt~./

Faxina-Itapetininga

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Os gaúchos no Fundlio ('''':11

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A viagem Ibity-Faxina é feita em gondolas ecarros de bagagem. Até a machina vae superlota-da! Frio de rachar. Ausencia completa de anedo-ctas, no momento substituidas por lamentações detodo genero, - uma perna que dóe, uma pisada, osuor, Itararé. .. E' o comboio dos J eremias.

Madrugada alta, Engenheiro :\flaia, e a machi-na, que mal andava, pára sem dar socco. Sede efome, ao mesmo tempo. Não ha agua na estação, eo machinista a negar, por neoessidade, mais de 30canecas, a machina quasi sécca. Depois se espre-guiça, lenta, desacoroçoada, e vae numa lenga-lenga de andar cansado. Noutros tempos se diriaqlle era volLa de farra nocturna. A noite é um ne-voeiro ,de abatimento, a pior talvez, no genero, dasqll\~ n "14" passaria na campanha mal começada.

Agora é manhãzinha e o trem joga o desani-11111 Iwm em cima da estação de Faxina, kilometro::10 d:1 Sorocabana. Está chegando tropa de S. Pau-lo, hombeiros, o batalhão "Borba Gato", um car-I'() dlcio de armamento e munição, e ha promessadI' s:lln'cs c novos fuzis.

IH dc Julho. O "14", completo, em marchapll r:l a cidade, distante da estação tr'es kilometros.f\ IIlardla do slIor e do prégo. Já se avista Faxina,() P()Vo 11:1(~nt r<lda da cidade. Como apresentar-seIIC'I'IIIII(' e:ll(', a tropa que guardava as portas de S.

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50 AIlI'eo de .4lmeida Camargo

Paulo? E' preciso disfarçar o abaUmento, não im-prc~)sionar mal aquclla gente que está desejando!)();Js-villdas ao lJaLalhão, braços para o ar. Umacanção guerreira, uma marcha por exemplo, e o"14" que entra Faxina a dentro á custa da Cançãodo Soldado, cantada seguramente llrnas dez vezes.Povo por todos os lados, vivas, oS. Paulo do dia14 em miniatura. Ahi Faxina! As pessoas maisidosas espiam a tropa e mal disfarçam a pl'eoc-0upação de espirito peculiar aos que sabem da im-portaneia c sigllificação de uma retirada de tan-tos kilometros,

Recepção-almoço offerecido pela cidade naEseola N onnal. N ormalistas a postos, um encan-to. Carclapio monumental. Discurso do juiz daComarca, gratos. A' vontade, e é um comer bru-lal, lllIl mastigar alto e inconveniente, Só então {~q 11(~ o "H", In<'1o observador de selnpre, nota se-

1"'111 hOl1itas todas as JlorIna1islas que estão servin-do o ('a 1'(',, t 1111 ~;()Idado pergunta ao padre presentese a igl'l.ja ('ollsic!cra pcecado o gesto de roubarcal1('('as dc IIHH'aS ))ollitas, N~Io é, As nl0cas estãoCOIlI as III:IOS v;'lsias, aÍlal1:ll1do-sc por cau;a dos ci-garros, a sOl'rir. I': as ('alln:as rOralll para as mo-chilas. O padl"(~ Orr,'rl'('" a ('aS;I, UJIl banheiro, toa-lha e sabão, a qUI:III o quizcl', Fa;.o;o mesmo o juiz.A cidade está disposta a I:Iv:lr () pÚ de lLararé, umafaxina. Os apostolos sc Cnll'IHkm admiravehnen-te, Besultado: os soldados de S, Paulo vão para oTheatro S. Pedra, novo quartel. Descansa-se doalmoço, nas frizas, No palco, "1 am delicious; umamm1ia. Um passeio por uma cidade 1illlIJa, bonita,cheinha de normalistas, vira a cabeça de qualqu2rsolclado, <Iue passa a considerar-se general. Os ge-neraes cllmprimentam a todos e tuclo, estão con-

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vencidos de ter conquistado Faxina graças á for-ça e á estraucgia. Ainda não ha ordem prohihitivada venda de alcool, - esquecimento do comman-do, - e s6 o cervcj as que se exgotam geladinhas.Um paraizo authentico essa Faxina hospitaleira.Em cada janella um anjo e olhares meigos portoda parte. Xo bar situado uo largo da "igreja, mnanj o de barbas pagava cervej a!

A vida do "1.1" em Faxina. ::VIissa campal can-tada dia 20 e um rythmo musical guerreiro que ja-mais sahiri3 dos ouvidos. O p3dre officiante aben-çoa os soldados, discursa um hymno (k fé na vi-daria e declara pertencer á diocese de... e "deentão eln diante ao "l/I", ao qual acompanhariapela campanha afÓra, em qualquer rincào, dentrode S. Paulo". Dois professores de Direito, em vi-sita aos estudantes, tambem falam em nome da Fa-culdade. Um delles haveria de, com grande assi-duidade, acompanhar passo a passo a vida do ba-l:t lhão, onde só tinha amigos. Discursos feitos, dis-clIrsos agradecidos. Todos quites e impressionadoscom o juramento de fé e de honra feito pelo ora-dor academico.

Sem noticias do inimigo. Plantões, guardas,pall'lllhas permanentes nas eslradas de rodagem,I)('qllenas trincheiras, ,um treino.

Um dia, bumba! Tropa que toma posições, tro-pa qlle se acantona perto da estação. (7) Parte do

"'.1 ", depois de um longo vac-e-vem por descidas eslIhidas, fica co11ocado em trincheiras.

(7) "Nesta data, por determinação superior, locali-';f)IIS" ('stc' batalhão, em postos avançados na frente sulde' li:1\ i11:1,guarnecendo a Estrada de Ferro Soroeaba'na."(1\01. clCI I\al. 11, 4, de 21 de Julho).

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Faxina se esvaisava aos poucos, desde a che-gada (10 batalhão. Agora, então, com maior inten-sidade, E os retirantes a perguntar aos soldados senão haveria perigo em Ttapetininga!",

N em todo batalhão reoebe fuzis novos. Quebrilho, um fuzil novo! Um caminhão particularchega de S. Paulo abarrotado de j ornaes, chocola-tes e cache-cols, qne são novidade. Um automoveldistribue ovos cozidos.

Aquelle homem alto é o Coronel Klingelhoe-fer, grandes bigodes, botas cobrindo os joelhos, umgenllcman fardado. E' o commandante do Sector.

O Coronel passeia pelo caminho que liga oP. C. aos soldados acan tonados. Impertubavel,como impertubavcl estaria o seu porte na longa se-rie de combates por elle dirigidos sempre de pé,no p, C., na trincheira, ou ainda no mais entranha-do e exposto lugar. Um soldado que não se aga-cha.

Conlalll qlle () Coronel Klingclhocfer, Christia-no Klillgelhodl'l', pel'l(,II('(~ll Ú Legião Estrangeira,no Mm'l'()('os, olld(~ 1'.llI'goll a eapitão. Que?! Entãoos bellos higoÜes ,i:', ('lIl'l'ilar:!l1I () Mar'l'ocos que f.eza gloria dos Lyallky'! I'ol,,'('s rebeldes marroqui-nos! A guerra ellrOp(':;l r(~I-o CoroneL Continenciaao Coronel dos Alliados, soldados paulistas!

Unl insinuunl e con V('I'sa do 1', 11m animador,.esse genlleman que COlllhalia com ,</ capacete tra-zido da grande guerra:

-- - V ocês são meninos, soldados sem experien-cia. Não interpretem a nossa rcLirada de Itararécomo derrota. No Marne os alliados tambem re-cuaram, e muito; porém o bastante para, em no-vas posições cuidadosamente estudadas, fazerem a

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1'('sislel1eia, a offensiva. Depois do 1\larne, a victo-ri:l. Um jogo militar, meuinos.

1':lle está de pé, vertical. Uma vontade geral de)I:I~;sar a mão sobre aque11c peito eoroado de ban-(h'ir:ls, as bandeiras das nações ao lado das ({uaes(' pelas qllaes se batera.

Ai d o inimigo, se lhe visse no 21 de Julho osIJigodcs eriçados, a e11e, que luta de pé!

Dia 21, bumba! O inimigo está perto, - espa-IIIal11. Troca de tiros e a cxplicac;ilo tardia de ({ue:;(' Iratava do cl1contro de uma patrulha do "14"('0111outra da Força Publica. Pequena confusão.1\ do "14" não conhecia a senha, que não lhe fôradada, e quasi s'e perde. Uma ordem apressada, to-dos prevenidos. Outra ordem apressada, todosp:lI'a a estação. Tiros aprcssadissimos ao longe,"lllh:\l'<Jue para Itapetininga. (8)

Mais uma vez se fazia de mão beijada (exces-::i\'a p1'o(ligalidade paulista) um 11l"2Sente regia, ---

('1':1 Faxina. Pobres faxinenses paulistas!()

"11 de Julho" viaj a novamente, desta vez,'0111 :Ircs de tOlll'iste rico, á vontade. Casinhas hu-Illild('s, aqui e alli, enfeitam pohrcmcnte campos::('111 ('lllIlIl'a. E11as parecem perguntar ao trem li-I:,'im, d('lltro do abandono em que vivem e osten-111111,'111t' gll erra é essa de correr para IrÚs, abando-1IIIIIdo IlIdo, até cIlas?

() halalhão está chegando a Itapctininga, re-1",,:;,,"la<loÚ somhra dos carros de L" classe da Es-

(K) "!\ 21, por determinação superior, embarcou em1,'lId"". "01" ",'stillO a Itnpetininga, onde chegou a 22,(11'11111011"11"" li(' 111) pl'('dio da Escola Normal," (BoI. do1\111. li, :1\,

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..1 Il l' e o d e A 1 m e i d a C a m a r ,q o

Irada de Ferro Sorocabana, do Governo do Es-lado.

Os jornaes já tinham puhlicado a seguinte his-toria mysteriosa:

"O Coronel é um severo cumpridor dos seusdeveres e sabe como poucos dar solução rapida eadequada aos compromissos que assume, perantePedra ou Paulo, em Tombouctou ou na Laponia,com gregos ou troianos. Da vez pres'cnte o compro-misso é com Tróia, c, tratando-se de Tróia, os troia-nos estão de armas nas mãos.

Para ir a Tróia e tomar partido na luta é indis-pensavel, em primeiro lugar, sahir da cidade quenão se pcrturba com tão pouca coisa (ora os troia-nos! diz ella) e continúa a viver a mesma intensi-,dade de luz, como um grande e impcrtubavcl pha-rol perennemente acceso, quer as alegrias ou asadversidades lhe vivam á volta. E' que os pharóessão immutaveis na sua grandeza, desde que lhe nãotoquem directamente a pelle, rezam as chronicasde Alexandria, da sabia Alexandria.

O Coronel tem mais de 60 annos c os seus ca-bellos são brancos. Os musculos adquiridos na mo-cidade ainda vigoram no regimen de vida metho-dica de quem lê e dorme com o relogio na frente,ás Ü 1/2 banho frio. 60 annos cheio de horarioscumpridos á risca conservam um corpo firme, umhomem finnc. Tróia precisa de gente desse feitio,ellc o sabe, e quer partir.

() Coronel, morador em A, precisa inadiavel-11\(~ntc cumprir uma obrigação em B, distante dej\ ;1 di:,tancia K. Qual o caminho a seguir?

Com? se trata de uma avcntura, seja o mar

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A EPOP"&A

o cumplice. '';''0<1as as aventuras da vida dos povosforam feitas á custa de remos e, quando a terraestá em guerra e a época é de "frio, o mar se enco-lhe com pequenos arrepios, são as ondas curtas. Elançou-se ao mar, num diminuto monstro de ma-deira, remos noite e dia, o Coronel, bom amigo.

(Levanta.-te e vae á grande cidade. . .Ao mesmo tempo preparou o Senhor

um grande peixe que enguliu a Jonas, eJonas estava no ventre do peixe. . .

Então o Senhor mandou ao peixe, co peixe vomitou a Jonas na praia. Bib.J onas, I, II) .

A praia cobiçada, o Cruzeiro attonito... Sa-bem os nossos leitores o que a eonstellação pre-senciou?

- Um homem que sahe das aguas e finca oremo na areia hospitaleira, e qual novo bandei-rante, lança o grita das conquistas:

"Glorias e victorias para S. Paulo."Sentado na areia, um padre escrevendo ver-

S(IS. Elle parte ao encontro do desconhecido, apon-l:t pa ra a serra distan te o dedo magro:

"Marte não gosta das praias. A serra é alli, de-JHlis {~a minha Piratininga, onde Marte se di-\' I 'I' I('. . . "

() Coronel marcha para a serra. Um outro pa-01)'(' :tlli o aguardava e o adverte:

"llldo eu subindo com meu companheiro oIlIcio (I<-sla serra, nos divertia hUl11 estrondo es-Il'lIordill:trio, (~desusado, do mais intimo della. Pa-I'ct'ill IIOS IJIII' ollvi,lIllOS o grande boaLo de muitas

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fili 1 [T'eo de Almeida Camúl'yn

- ~~---,---- ----

pc(;as de artelherla juntas, que pelas quebradasdos montes fazia o som m&is medonho. (9).

"OlJrigauo, padre Simão, é o que procuro, obarulho. "

A serra de Paranapiacaba ficou conhecendonum só salto o foh:~go de um 60 annos firme. Eis oplanalto!

Os campos do Sul, do 'l~<1raré ao Paranapane-ma, bem que se encheram .;om 7 letras em linha defogo

TABORDA

Era o tempo dos monstros marinhos, prezadossenhores leitores." (10)

---(9) Chronica da Companhia de Jesus, padre Simão

de Vasconcellos.(10) "o.. tendo sahido do Rio em canôa, tendo de-

pois fcito parte do percurso a pé, pelo litoral, chegandoa São Paulo exhaustos e maltrapilhos. Esses officíae,s sãoos seguintes, coronel da artilheria llrasilio Taborda, pri-meir06-tenentes João Angelo Gomes Ribe,iro e Orsini deAraujo Coriolano e o ciyil dr. Mario Machado Bittencourt."

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A EPOPEA~

Itapetininga, Comarca, DelegaciaRegional, Inspedoria de Ensino, EscolaNormal, Quartel do 8.° Batalhão, Offici-na da Sorocabana, uma serie de prcdiospublicos, séde disto, séde daquillo. Poraqu' .mdou governo camarada. Popula-çãoJo Municipio 25.000. Kilometro 202da E. F. S.

Itape: pedra, lage. Tininga: secco.Itapetininga: Lage secca.

o trem do "14" encontra muita tropa no lar-go amplo da estação. V oluntarios e wldados re-gulares, espiando-se. Examinam-se as caras, osphysicos, alguns olh~Hes mais arrojados alcançamos cantis. A manhã -está fria, pedem um golinho.O cheiro não engana, - é pinga.

- Em Itararé descobri uma bôa!. .. Lambe oslabios, offerece cigarro e fogo, é a retribuiç'io.

Para o quartel do 8.°, grande, com uma partepor terminar. Já ha tropa aIli, uma de voluntarios,o "Borba Gato" que tambem acaba de chegar e quefaria mais tarde o commando do Sector orgulhar-se de semelhantes commandados. O "14" partepara a Escola Normal, predio volumoso pertencen-te a um grupo de tres outros, dos quaes é o maior,o oentral. O Coronel Taborda faria alli, posterior-mel,te, o seu quartel-general. Um predio predesti-nado. Os mais supersticiosos (todo soldado é su-persticioso) jamais perdoariam essa simples coin-cidencia.

Lstão installando a cozinha no pateo e um fre-]]('si percorre a tropa, - são as gorduras que vãochegar. Toma-se um trago. Os cantis deram umavolta completa e estão vasios, ao contrario do con-

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,\ 11r I'()

d,' ,t I m (' i ri a C a 11111r g o

10 francez, a historia in\'crosimil de um cacho delI\'as qu(' percorre inlal'lo toda uma familia, deIn:io l'm 111<10,:\'os crJlltos hrasikiros os cantis vi'iode IJOcca cm bon'a, Agora, trata dc {'sperar o almo-(:0, estoJJlilgo insatisfeito, miseravel preoccllpa\~ãode todos os momentos, FUl1la-se para distr,lhil-o,para conservar a tCJJlI)('ralura daquclIa ])('hidazi-n!;a quc o eslÚ qu('in1aI1<lo gosto~mml'nte. Cma pi-lheria, esses canlis! Se o frio niio resiste ao calor,qllanlo mais o cslolllago, as yisccras! A fome scprolonga pelo olhar alL~ os call1toi['()cs, Os I~OÚ-nheiros ganham cigarros a lIwlIcl1cias, são 11horas,

Sll'io dia, quartel impedido. Soldados quc dor-n1<'m ('1l1 cima de lonas csll'ndidas pelo cl1:lo. Es-cala de sCl'vico, Aut0l110\'I'i;; de S, Paulo em visi-Ia, :\'() palco' 1111\photogl'apho cobra (i8000 o gl'u-pll, J() po;;lacs, Milito caro, lk~ixol\ por cinco.

:\';'10 S(' salH' no certo como consl'glliram sahiro;, sold;,dl),s Ijll(' ('sl:,o d(' \'(dla,

i\ ;;:!!Iida ('Osq.(r(Odo,() 1)('s;;:):1I do mcu pclo-

1:'rI) Ijlll' 11;'!t1 1'('1'('1)('11 fllí:is 110"'OS ('li! í<':lxina I'('SOlVI~lI

IOll!al-os :10 "'I\ol'hn (;alo", aqllal'klado no R,o, En-IrÚn1fls Ijual'kl a d('III;-o, ('0111 firlll('za, COl\lO se es-

li'''l'~;sl'l\lOS ('111 IIOSS;I ('asa, ()s fuzis l'sll1\',un (,l1sa-

ril!lUdos 110 pnko {~jul1to dclles ('O 11oeÚ 111os os110SS0S, na 111CSl11a posj(:;1o, par aliei os , (inco nÚ-nutos depois o nosso ('onll11l1ndanle i111P]'O\'isadoordena "Desensarilltar arlllas!", Cahimos entãosobre o ilrnlal1lCnto do "Hurha Galu", c, scm I10','J-dade:i, eslamos de volta. CI1S fuzis formidaveis,estes!

o novo cOl11l1landante do Seclor é o CoronelBrllsilio Tabonla" Ilue recebe o commando do (0-

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59

ronel1\iingcllJoefer, (11) A h!sloria da luta no se-dor ~;oL () sell commando faria delle o seu herÓe, aI'igura central, o campeão,

O Coronel, Bom-h lIlllor:"S<~.ia desiIl(~orjJorado t~ entregu<~ o pimpolho

Ú mãe," (12)O Coronel, l\IÚo-hlllllor:"Os chefcs dt, ser\'i<:o tem auloridade para im-

por ca~;ligos, Um cmÍl'. de I'on:ns <'m opera<,'ões nuopóde pnder tcnl])() com cssas milldesas." (13).

O Coronel, Coronel:

"lIa grande prejuizo cnl tinu'-sr' lllll hOlllem .dafrcn[e para servil,~oS da retnguanla. De\'(~ haver emS. Paulo muita gente em condições.". lI)

O "11 de .J[ilho" considerou-o sem pre o seulnelhor ~llnigo, "Os mcus qucridos rapazcs", dirÚfrcqllcn(('nlCnle o Coroncl Taborda, Quanta vcznão demorou o seu pensamento no halalhÜo can-sado,e"hausto quasi, que elle mcslllo reconhecianecessario repousar um pouco! A presença do ba-talhão na linha de fren((', porém, se impunha como"uma garantia <~um estimulo Ús tropas JnellOS

(11) "nt'cí'iJia o cOm]n:tnl]o d:]s mãos do \'oronp]Chri sli:]l1o KI i 111-(('IIIO('['CI', ('x !)(']' i I1H'11lado mi] il ar qUl' COI11-mandara iJatalh:lo na (;]':]IHIl' GUPlTa e ('.uja sitlJar::lo po-litico-socia] e :I]JP:'J'I']]('ia al'islocratica, lI:lO lhl' haviam napaz assPl-(lli'ado gral1dps s~'mp:ilhias ria Forc;a Puhlica Es-la(]ua!. Sl'US ('o]lhl'cÜIICulos adquiridos lia l'seu!a de

gUl'I'J'a fl':IIl('l'za l' attingindo ao :ulI]Jilo do regimcnto,,'I':UlI di' moldl' a indical-o p']]'a um magnifico cDlnman-danll' dI' dpst:)('a!llenlo. SlIa 1>1'a"lIl':1 JH'ssoa1, "eu sloicis-]110 lia dl'sfortul1a ]110Il1l'nlal1l"], fizl'ram-l1o crl'dor do !'l'S-pl.ilo gl'1':1I, ,," ("I':dll1o a Palmo", Cap. A. Bastos, pg. 33).

(12) Bo1ptim n. ;;;; do Q. G.(13) BoJl'!im n. 5K do Q. G.

(1'1) Bo]l'!im 11. 2:J do Q. G.

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fill :\ II l' (' () ri e ill111 e i d a C a 111a r g o

adt'xlr:tdas". Qnanta vez o "1,1" mal caminha! Mas(I sÚ appeIlo do Coronel tem um poder magico,IIllIa qualquer coisa qne faz levantar o animo dossoldados, que revigora os musculos dos "meus ra-pazes". A's vossas ordens, Campeão!

Assim organizado o Q. G. do Sector Sul, a 21de Julho:

Commandante, Coronel Brasilio Taborda;Chefe do Estado Maior, Coronel Christiano Klin-gelhoefer; Chefe da 1." S'ecçuo, Capo Manoel Cal-das Braga; Chefe da 2." e :L" Sccção, Cal). AmericoGonçalves Ferreira; Chefe do Servi<;~o do MaterialBellico e Abastecimento, Major Eloy de Souza Mei-relles. (15)

"Em uma composição ela Estrada de Ferro So-rocabana, dcslol:ou-sC este Q. G., Ús 4 horas damanhã, com destino Ú estação de Bury, onde che-gou ás 2;\ horas c 15 minutos, estacionando na re-ferida composição." (lG)

"Ficam constituindo o Sector Sul deste des-tacamento os corpos abaixo:

8.° B. C. Paulista, dividido em 2 batalhões, sobo commando dos Capo João Hoelrigucs Bio e Hoelri-glles Alves; Bt1. "14 de .Ttdho", sob o commando do.Major José Gan~ia; Bateria Mixla, conunanel:mteCapo Valença; 13t1. "Barba Gato", commandanteCapo I3enedido i\Iario da Silva; Esquadrão de Ca-"aliaria da F. PllhliLa, LOIllmalH}anle Capo Sebas-

--,-~~--(I ii) Soffreria Illodifica(:Ôes. Por exemplo, quando

"CI'!. 1\lingelhocfpr seguiu para a frente, em opera(;ões, a

.1d" Agoslo. passou a responder pelas funcções de Chefe

do )';sl'l(lo :\laior, () Capo Joaquim Alves Basto",(((j) BoI. n. 1 do Q. G.

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A EPOPÉll.. Gi

tião Amaral; Bateria da Força Publica, comman-dante Capo Laercio GOI1C:alves de Oliveira." (17)

(Outros effedivos de voluntarios vieram maistarde, bem assim elementos do 6.° e do 7.° B. C. P.e o 4.° R, L, que se manteve no Sul pouco tempo,e o batalhão "Taunay", de Malto Grosso, o qualchegaria a Itapetininga em Setembro, dia 13) .

A noite chega carregada de noticias. Em to-dos os cantos gritam: "a Marinha adheriu, pes-soal!" (18)

A imaginação vê o "São Paulo" fundeandofestivamente no porto de Santos, batendo o pen-dão do Almirantado, ao vento! Sem bloqueios. oabastecimento de marterial de gu,erra se faria fol-gadamente. Meia guerra ganha, dizem uns. Li-quidada a situação, diz o intimo de todos. Homemdecidido o Protogenes! A Marinha! O Custo di o ! O"São Paulo" em 24! E qucm não se lembra do JoãoCandido! Já se conversa sobre a batalha naval daJ utlandia.

- Se a marinha adheriu, o Copacabana tam-bem.

Confronto entre o calibre dos canhões da forta-leza e os do "São Paulo". Copacabana possue 305,os que arrehentam os vidros das janellas do bairro.O couraçado possue o mesmo calibre, uma fartu-ra de ~05!

-----(17) BoI. n. i do Q. G.

(18) "Desde hontelJl Ú noite que são correntes as111)1idas de que a ~Ial'inha, solidaria com o povo interviriajllllto Ú ditadura no sentido de fazer cessar a luta, rea-1j,a lido assim uma missão dipJomatica apoiada nos seus('IIIII'ac:ados, !lOIS seus cruzadores, nos se.us "destroyer"("Col'l't'io de S. Paulo", de 23-7).

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62 A 11r c o d c A 1m c i d a C a m a r g o

- Com certesa a fortaleza está bombardean-do o Cattete. . .

A officialidade toda de branco descendo emSantos, os marinheiros em fórma no convez, o Itai-vú saudando. .. Com os fuzildros navaes ao ladode S. Paulo! Em 2,1 elles lutaram á arma brancano Ipiranga, uns valentes! Os fuzileiros, os classi-cos torcedores dos palllistas nos jogos Rio-SãoPaulo!.. .

Itapetininga tambem recebe a bôa-nova e ossinos estão badalando alegria. E' noite.

Uma má noticia. Consta que o Coronel Salga-do falleceu. O filho, soldado do "14", tem ordemde partir para a Capital. E um irmão, sargento daF. P. aggregado ao batalhão.

O dia s~gujntc desmente a adhesào da Mari-nha. Confirmada a morte do Cel. Salgado.

A tropa, que vive a par dos pormenores doquartcl, V(~11Ia saber que o commandante do bata-Ihiio vae IOluar banho Da casa do promotor publicoda Conwl'c:!, dI'. Carvalho Pinto, e vae. A tropatamhcm 1111('1'sahil', insiste e consegue. Ha umaturma esperando a sahida do Major daquella casa,lima curiosidade de verificar um simples habito delimpcza.

Centro telephonico. Ligações para S. Paulo,]Jagas nuuestinu.

"E' Mamãe? Como vae?""Onde v. está, em Itapetininga? Fazendo o

quê? Vocês vão voltar para S. Paulo? Então estátudo perdido? Coitado de... Alô, alô!"

"A censura avisa que cortará a ligação caso aSnra. persista nas perguntas."

"Alô, é v. ? Então adeus, ouviu?"

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A EPOPl~A 63----

Itapctininga. Passeio, Um hotel que vende be-bidas clandestinamente, Soldados por toda parte.As igrejas estão cheias. Foi-se o dia 24.

o Coronel T,aborda tem o seu quadel-generalIlUlll trem estacionado ora em Bury, ora em Itape-tininga. Dia 24, nesta ultima, o "H de Julho" for-nece a guarda, 12 homens e Ulll sargento, um gru-po completo do 2.0 pelotão da L" Cia.

O sargento conta ter visto o Commandante,um homem sympathico, a sorrir para os soldados,cumprimentando-os. Mentirosos os livros de guer-ra que apresentam os simples cabos cheios de ran-cores!... Na guerra paulista a etiqueta conquistaos soldados, O Coronel Taborda é o chefe ideal, oamigo que sorriu no 24 de Julho. Caracteristicorios que sabem fazer as guerras com intelligencia,cOlnmandar mocos sorridentes.

Chega o tre~ blindado e delle se contam ma-ru vilhas de segurança e efficiencia. Uma surprczapara o inimigo, adcanta um official. A sua primei-ra guarnição leva soldados do "14", (19) sob ocommando do Tenente Affonso Negrão. (20)

Pela manhã, as L" e 2." Cias. partem para Ca-p:"1oBonito, (21) pela estrada de rodagem, em ca-

.--(19) No 1.0 carro, Atugasmin Mediei Filho, Fernan-

do Penteado Mediei c Tomaz Nunes da Fonseca. No 2.°":II'J'o, João Junqucira Franco, Serafim Lconi c AurelianoNascimento.

()~ Lres primeiros foram transferidos em 4 de Setem-10 1I,lI'a o auLa-blindado "14 de. Julho".

(20) Quasi no fim da campanha, receberia variasf,'/'illtl'l1los pelo corpo, em virtude do seu arrojo.

(21) "De ordem superior, embarcou nosta data pelaItlallh:j I"n IIapcLininga, em auto-caminhões, com destino

"C. 1I""j(o. onde chegou ás' 11,30, acantonando-sc no pre-

di.. d.. (:l'lIpO Escolar." (BoI. do BU. n. 7).

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111 ,\ Il /. C () d e it l m e i d a C a m a r g o.-. -.-,-.---...

Illillh(-)('s, - uma esplendidaestrada, 63 kilome-lros d c percurso. A 3." Cia. embarca de trem, di-ZI'II! [llle lambem para Capão Bonito, via Bury,iksdc que não pudera acompanhar as outras duaspor falta de condllcção adequada.

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05 gaÚch05 no Fundão em 31 de Agosto.

TI"i"dll'ir:tOlllllhrn.

paulista

I><.u os

em Ta,!uaralull imos tiros

Abaixo. 2 deda cam()anha.

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Combate de Bury -

Capão Bonito

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Em Itapetininga ficam somente os soldados do"1-1" de guarda ao earro do eommando, e, no mo-mcnto, incorporados "á guarda pessoal do Coro-lIel Taborda". Ao escurecer do dia seguinte, umIlfficial determina llue os soldados levem até Bu-I'Y, pela estrada de rodagem, seis caminhões.

- O trem do eommando parte para Bury den-11'0em pouco. As nossas tropas necessitam .do au-xilia dos caminhões, que deverão chegar lã custe1i que custar. Confio nos senhores, Boa viagem!

Já é noite, quando os caminhões chegam a Ca-)I:i () Bonito, completam/cnte ás escuras. O com-(lIandante do "14" impcdc que os mesmos conti-1111('111a viagem, apesar do aviso de que se tratavadI' 11111a ordem do commando do Sector, Que os\TlriC.lllos não chegariam ao destino, a estrada es-1:1 \':1 sendo batida pelo inimigo. Que, além dos vc-l,i('II)OS, ellc pcrderia os soldados. Cumpram-se asIIl'dlollS, os caminhões estão encostados junto ao(:l'llpO Escolar onde as L" oe 2." Cias. se haviamillsl:dl:ldo eom o commandante do batalhão.

l\1:ldrugada, e a noticia de que tropa paulista,"lIlIlpl'!°lrcndendo elementos da 3," Cia. do "14",

I' 1'11('11ra aJeançar Capão Bonito depois de um vio-klllo ('ollJlrate em Bury.

1II'pois da retirada de Itararé, o commando

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68 Alll'CU dc Almcida Camargo

resolveu fazer uma operação, tendo por eixoBury, sob a direcção do Coronel Taborda.

"Essa pequena cidade offerecia no caso, parti-cular interesse militar. Importante nó de com-municações, sua posse garantiria uma cabeça deponte para além do Apiahy, sobre a via ferrea,essa localidade marca o inicio da grande campinaondulada que existe entre o citado Apiahye o Pa-ranapanema. Para lá, difficuldadcs de terreno,zonas de malta - segundo a phrase de um adver-sario morto em combate, "terra de bibocas e decarrapatos"; para cá, natureza verdadeiramenteacolhedora, - lindos descampados onde apropriaguerra parece menos rude... De par com tudoisso, Bury se apresenta num desfiladeiro de facildef eza." (22).

Em Bury se faria a maior resistencia possivel,CllH['Uanto que o Tte. Coronel Moraes Pinto toman-do a offcnsiva frente a linha Faxina-Rondinha,alacaria o inimigo pelo nanco e retaguarda com osL!íOO hOlllens sol> () seu cOllllllando e apoiados naurlilheria. (Ess(~ nlovilllenlo não foi feito, o quefez falhar o plallo e o (~xilo do combate). (23)

A :\./1Cia. do "1,1 (k .IlIlho", que partira pelaestrada dc ferro dwga a Bllry, kilometro 292, ás17 horas, dcpois de 11111a parada de duas horas em

(22) "Palmo a Pahllo" ,Cal). Alv<'s Bastos, pago 34.

(23) "Por causas <lue l'seapam ao nosso conheci-mento, e6sa ordem 'não foi cUlllpl'ida." ("A RevoluçãoConstitucionalista", Herculano de Carvalho, pg. 155). I utL

". .. Ilem si quer foi esboçado; no dia seguinte" de

~<ponto

.

inteiramente diverso do de seu destino, sobre di-recção diversa da que lho fôra prescripta, o seu comman-

"dante "pedia ordens"!..." ("Palmo a Palmo", Capo A.Bastos, pg. 36).

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A EPOPEA lI!!

Victorino Carmillo. InstaUa-se desde logo no Tllea-tro e na Agencia do Correio. A' noite, parte paratomar posição, mas volta logo após ter alcançadoas alturas do cemiterio, que fica áesquerda e bemna frente da cidade. O ;-3.0pelotão parte novamen-te, desta vez para se col1ocar junto a uma capel-linha no alto de uma encosta, bem á esquerda daestação de Bury, posição commandada por um of-ficial da E. O. da F. Publica, Ruttemberg Rocha,(2i) o qual dispõe de 12 homens.

Os soldados do "1:1" são coUocados em linhade fogo, sem trincheira, aguentando a impertinen-cia de uma chuva fina e fria pela noite toda. E ocommandante Ruttemberg, de dez em dcz minu-tos: "Moço, não durma não". Dormir, como?! A'direita, fuzilaria intensa até alcançar a manhã.Novas ordens, e o pelotão parte ao encontro doI"l'stante da Cia., com elle embarcando a seguirpara posições em campo aberto. Os soldados sãovisados pelo fogo inimigo com insistencia. Onde(','-;(Úo inimigo, é o que se pergunta, uma vez queos Iiros não indicam a sua origem. A artilheria1':1111ista está trabalhando com vigor. Sabe-se queo IlIlmero dos contrarios é bastante numeroso, o<)11(' lIão constitue novidade.

Mais ou menos ás 11 horas, a 3.a Cia., comple-l:t, volta para as immediações da capellinha, ondeI",rlll:lllcce pouco tempo, pois ao meio dia está de\,,011:\ para Bury. Depois de muito corre-corre (al-/',11111:1coisa de extraordinario está acontecendo)IIOV:lS posições nas redondezas do cemiterio, desta\'"", 1'111 trincheiras. A tropa está coUocada na1'1"'11 li- da artilharia, e os tiros que lhe passam pela

( :~,I) Morreu no dia seguinte, lutando valorosamente.

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70 .1l1reo de Almeida Camargo

t;abeça são uma festa, e, não mentindo ao intimodos soldados, um prazer para os paulistas comba-tentes. Onde teriam arranjado tanta munição? Odia é da artilharia paulista, uma bateria do Regi-mento Mixto de Matto Grosso.

O "14" combate até ás 18 horas, sahindo feri-do um soldado. Para a capellinha novamente,onde ao chegar a 3.a Cia. é recebida por uma fuzi-laria inesperada e proxima, de uns 80 metros. Or-dem de voltar, pouco depois. Um vae-e-vem queenche o tempo em Bury. E, desde a chegada, umsimples café. A tropa está cansada, molhada, comfome.

Combate-se em Burv dia 26 de Julho, uma lutaencarniçada de lado a lãdo. O inimigo faz avança-das successivas e os que cahem são substitui dos poroutros, immediatamente. A artilheira paulista fazmaravilhas e é heroica. A fuzilaria que lhe attin-gc os escudos dão uma sonoridade especial ao ba-rulho do combate. O trem blindado (ás 14 horasjá tinha entrado cm acc:ão) que o inimigo segura-mente tomou pelo carro do Commando ou pelo demunição, avança sikncioso, pesado, para logo sercercado por um grosso de soldados, que mal espe-ravam ser recehidos tão violcntamente. E o blin-dado faz funccionar as snas armas automaticas,que ceifam vidas e vidas impiedosamente,e os cor-pos dos que cahem são a prova do calculo elevadodo morticinio. Ha soldado que se encosta ao tremfatidico, onde se sente mais garantido, lançandomaldições de desespero. Um chega a desafiar aguarnição ~m altos brados: "Venham para fóra!"O blindado está impertubavel, realisando friamen-te o seu mister. Morre-se facilmente em Bury.

A tropa que não fraqueja (ainda existe quem

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A EPOP!?'A 71

abandone as posições) sustenta o fogo até as ulti-mas horas, meia noite. "O "14 de Julho" teve pe-lotões que só recuaram quando submergidos pelassuccessivas ondas assaltantes..." (25)

A artilharia, desamparada p>ela infantaria,está na primeira linha atirando com shrapnel azero! Quantos tiros? (26) Em Bury se combat.e, eha confusão, e ha defecções. O Coronel Klingelhoe-fer percorrc as trincheiras (k pé, um trabalhadorincansavel. O commandante do Sector, CoronelTaborda, quc se instalIara na estação, sabe que otrem do Commando havia partido com as outrascomposições (trem sanitario etc.), levando o ma-terial indispensavel ao momento, e é sobre um map-pa oommum que .eUe traça .eacompanha, á luz devela, o desenrolar do combate. Uma arma automa-tica atira contra a estação de poucos metros, o Co-ronel sahe pela janelIa, hem assim os companhei-ros, chegando a machucar-se numa das pernas.Uma locomotiva isolada e previamente destacadaé a salvação. N elIa se embarca para Itapetininga.

A retirada sc faz, mantendo a artilheria (alçaa zero!) o inimigo, afoito nos primeiros instantes.mais á distancia. Em Bury ainda se combate, com-bate sangvento, corajoso, palmo-a-palmo, dente-a-dente. Foram-se as victorias faceis, Itararé, Faxi-na. .. Agora é Bury, a pequena e paulista Bu-ry. (27)

"Fala Cel. Taborda pt Acabo de chegar de

(25) "Palmo a Palmo", Capo A. Bastos, pg. 36).(26) Correu mais tarde com visos de verdade. que'

um dos canhões se inutilisara (desgaste do tubo) devidoá quantidade de tiros dados rapidamente.

(2i) Ao redor de Bury, o "14 de Julho" ainda com-bateria fi 26 de Agosto!

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72 Aureo de Almeida Camargo

Bury onde assisti ao espectaculo horrivel da der-rota pela trahição de uns e pela covardia de ou-tros 1>t Cerca de dez horas vg hora e meia depoisda partida do general vg começou o ataque masaos primeiros tiros o capo Aranha c sua cia. fugi-ram das trincheiras e desappareceram vg o 13tl.NIarcilio Franco ficou reduzido á metade ou mc-nos e o 13t1. "Floriano Peixoto" debandou todo ouquasi todo pt Os elemcntos que aguentaram o em-bate ficaram muito reduzidos e o inimigo foi-se in-filtrando ao .anoitecer pt Novas des,erções se veri-ficavam cada vez mais e eu acabava de determinarum retraimento para o outro lado do rio q,uandode bem perto da estação onde csLavamos vg fomosalvej ados por uma metralhadora ou F. M. eolloca-do distancia mais ou lnenos trinta metros e que sópodia ser dos que haviam abandonado as trinchei-ras ou de inimigo por elles guiados aLrav,és dos lu-gares de que haviam fugido pt Houve grande nu-mero de mortos e feridos de ambos os lados pt Es-tou fatigadissimo e por isso não continuo pt Atélogo pt Taborda." (28)

"Mas, a actuação de flanco (Morwes Pinto), il-lusoriamente espermla, não se faz sentir; e, essaoperação de Bllry que poderia ter sido para asnossas armas .um brilhantissimo successo, desfazia-se melancolicam.ente na perda lamentavel de umaposição vantajosissima..." (29).

Os soldados do "H de Julho" caminham pelaestrada Bury-Capão Bonito. Cansados, esfomea-dos, com () peso de lllais uma retirada. São :~5 ki-

(21)) "A Hevolução CO'nstitucionalista", H'. de Car-valho, pago 15(».

(29) "Palmo a Palmo", Capo A. Bastos, pg. 39..

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A EPOPEA 73

lometros de percurso e muitos se deixam ficar pelocaminho, para só chegar ao d'estino no dia seguin-te. Os que continuam a viagem pela noite afórasão soccorridos por um ou outro caminhão envia-do ao seu encontro. Soldados da 1." e 2." Cias. vãoá procura dos companheiros, chegando a uns 5 ki-lometros de Bury, sem noticias do inimigo. (30)Frio muito forte. Chove, e a agua é um allivio paraos gUie combateram na lama.

No grupo escolar, a manhã vem encontrar obatalhão installado como sardinha em lata, parteno porão, andando de rastro, parte nas salas dounico andar. Todos mal installados, ~ é a lei daguerra.

Chega o restante da 3." Cia. As peripecias docombate da vespera alcançam o almoço.

O novo quartel é um bom predio, talvez o me-lhor da cidade, porém mal conservado. (31) No pa-lco, uma cisterna. Dez metros contados da frentedo predio, uma serie de 10 VV. C. Uma cerca toscade arame limita a area do grupo. Atrás deste, a('asa do preto Domingos, cuja familia seria a la-valleira particular da tropa, bem assim a cozinhei-J'a das gallinhas conseguidas sabem os soldados deql\l~ maneira.

(30) Se o recúo não foi de ambos os lados nessed ia. pelo menos o inimigo evitou e.ntrar na cidade depoisdo combate e ainda na manhã de 27. O dr. Antonio da1':11111:1 que servia como medico de um batalhão, só aban-d"lIlIlI Buryás 10 horas desse dia, sem ter visto soldadosi IIÍIllÍgos.

(:11) Soffreria uma limpeza parcial mais tarde, quan-do d:1 inslallação do Hospital da Unidade Mediea Italiana.

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7.1 Allrco de Almeida Carnargo

Capão Bonito, séde de Com arca, Dis-tricto de Paz, Delegacia, Sub-dckgacia,Correio, estação mais proxima Bury. So-irocabana. População do municipio17.000. Servida pela estrada de rodagemS. Paulo-Paraná.

Primiti vamente collocada como ca-pella á margem direita do rio S. José ouApiahy Mirim, sob a invocação de N. S.da Conceição. Mais tarde, em 1700 maisou menos, foi transf,erida para o lugarchamado Arraial Velho. Annos depois,passou-se para o lugar denominado Fre-guezia Velha, Ú mnrgem direita do Riodas Almas, com o nome de Paranapane-ma, onde esteve 60 annos. Em 1850 mu-dou-se para a localidnde actual. A villade Capão Bonito do Paranapanema pas-sou a denominar-se simplesmente CapãoBonito.

Domina a cidade a torl'ie da igreja grande, daqual se clcscortina o mais commum, porque é umsó, dos panoramas da região: campos em terrenolevemente ondulado, um capão de matto alli, ou-tro mais adiante, - o reino dos carrapatos.

Zona pobre, cidade pobre. Nenhuma cultura,que a riqueza consiste na criação de animaes detropa e gallinhas. Capão Bonito é a melhor forne-cedora de frangos e ovos do Mercadinho de Pinhei-ros. Bôa noticia para os soldados.

G,uarda na estrada de Bury. Guarda na estra-da de Guapiara, que vae á Ribeira. Guarda na es-(nula Itapetininga-C. Bonito.

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A EPOPÉA 75

A cidade, logo após a chegada da tropa de Bu-ry, é abandonada pelos moradores. Dois dias de-pois, porém, começam a chegar, aos poucos, comdesconfiança, os pobres retirantes, qure nas fazen-das onde se haviam homiziado acabavam de exgo-tal' de vez os poucos recursos de que as mesmasdispunham. Só num pequeno sitio procuraramabrigo 27 f amilias .

Oespectaculo do abandono impl'lessiona pelopavor que os retirantes apresentam nos menoresgestos, nos passos, nos rostos, E um vasio desola-dor vae ficando para trás... As familias mais nu-merosas vão mollemente, arrastando os filhos p€lobraço, em cima da caheça uma trouxa, talvez pro-tegendo a unica economia. O chefe, pobre homem,carrega a sua miseria, que é apropria familia. Pou-cos os que possuem um porco, uma ou duas galli-Ilhas, assim mesmo escondidos ao olhar dosguardas.

Homem retirante, escuta! O soldado do "14"sabia que aquella trouxa escondia um frango, doisrl'angos, talvez ovos. Que o teu leitão era carrega-do embrulhado no cobertor miseravel, nada esca-p:l va á vigilancia obrigatoria. Saiba, retirante, que:10 soldado do "14" bastava dolorosamente a tua111iS(~l'ia, elle não mancharia as mãos mettendo-asdl'llIl'o da tua pequena reserva, dos teus filhos. O"'li infortunio tambem lhe tocava, a elle que allipsl:lva para a defesa dos teus frangos, da tua fami-lia. () soldado do "14" uma vez ou outra alliviava11111 'IniBtal, é verdade. Nunca, porém, o teu quin-1111,isso nunca! Lembra-te sempre, retirante, de

'1'"' o pão que a tua mulher guardava para os fi-IIlos roi dado pelo soldado, ao passar.es pelos mo-,;os dll tua terra. Lembra-te, não para agradeceres

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7(; L1 II r e o d e ,I [ 111e i ri a C a 111a r g o

a corriqueira gencrosidadc quc o scntimcnto docora~:ão paulist,a ohriga, mas para quc o tenhasscmprc em mcnte, dc que o soldado quc te defcn-dia qucria partilhar do teu pcsar, da tua miseria,queria quc a tua familia tambem o visse sujo, ma-gro, que o pão se apresentassc como a comida com-mum, de todos, ligando sentimentos iguacs, qu~clles cram iguacs - pau listas . E voltaste dois diasdepois, retirantc, e a tua família já agora sorri!

Fartura de laranja por todos os lados, emqualquer quintal. Arroz, fcijão, carne cnsopada,farinha. Pão bC111fcito. Agua dc poço. Banhospagos no hotcl. Banhos gra tis, são os corrcgos.Despc-se a gcnte, lava a roupa de baixo ebanha-sc, a seguir. Um hanho frio, gostoso, quasidá para nadar. A roupa estÚ enxuta e ch.eia de for-migas saúvas, as quc vão matar o Brasil. Um sol-dado eslá lavando o companhciro, fInc é pcsarlo etem mcdo de se atolar, á custa de caneeadas da-gua, no barranco. :\Iuito interesse pela partida defutcbol, dois times completos. Caneladas á von-tade, que as perneÜ'as garantem. :~ a 1.

Já é alta noitc, qnando sc dá o alarme C0111-mUll1, total. Corridas, encontros, ]1Nlgas. Não haluz. Uma confnsão dos dcmonios (eram dcmo-nios) !lessc 2R de .Julho chuvuso e frio. Os zulÚscm rcvolta não fariam algazarra scmelhantc. Oeommandantc apparcec, quer saber "o que éisto?", "onde cstão os commandantcs das Cias.?"Um soldado conta quc assistiu cm :\Iatto Grosso aoestourar de uma boiada. "Era assirn InesnlO".

Um dialogo nas trevas.

- Que ha?-- E' o ventre...

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A. EPOPÉA 77, ~_._' '---

- Que ventre, responda?

- Ah, é o conlluandante? A barriga da tropa

desandou, snr. Major.

O flagello se aecentua pela madrugada e a ma-

nhã encontra centenas de caras pallidas, branc,as.Centenas de soldados na mesma posição da vespe-ra, olhares supplices, como se fôsse possivel al-gum auxilio para o mal commum. Se os soldados

estão doentes, inhabitavel vae ficar o quartel. Fi-cou. As salas, os corredores, as escadas, tudo. Nem

o Egypto mereceu tal castigo, é a guerra. O com-mando se afoba, o corpo medico coça a cabeça, os

soldados reclamam, querem sarar, s-a-r-a-r! Unsattribuem ás laranjas, já passadas, outros á comi-

da. Os moradores da cidade garantem que é daagua, extranhada pelas pessôas que pisam Capão

Bonito pela primeira vez. Mas que depois se acos-tumam, não adeanta. Se o inimigo soubesse do es-

tado do "14", dominaria a tropa com um simplesbilhete de "rendam-se". Se dominaria!

A' hora do almoço (poucos almoçariam) oconlluando recebe um telegramma do medico-chefe

do batalhão:

"Molestia não esclarecido.ainda. Per-manecerei Itapetininga providenciandomedicamentos e outros materiaes. Se-guirá medico serviço sanitario com de-

sinfectadores. A tropa deve tomar aguafervida e mudar Ímmediatamcnte de 0.1-lojamento. E' absolutamente necessario

isolar nosso batalhão para que não trans-mitta a doença outras tropas. Hontemseguiu material medico que deve estarcorpo saúde 8.° batalhão."

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78 Allrco de illillcitlu CUfIIll/'lIo

A irreverencia de tres estudantes glosa o acolI-tecimentoem quadrinhas musicadas. O comman-dante ganha dois versos, o que razoavelmente oindispõe com os commandados. Bocage faz versos(tres Bocages) e as risadas que se espalham es-candalosas, agora dóem os figados.

Os mais fracos baixam ao hospital, partem al-guns para Itapetininga. A tropa está imprestav.el,diz a ord.em do dia de cada soldado. Imprestavelestá o quartel, inhabitavel. Mas no dia seguinte o"14" se apresenta mais sadio, alguns assobiam euma Cia.está ahrindo trincheiras a 50 metros doGrupo-Quartel. Os soldados acreditam que é umamedida de higiene publica (fazer trincheiras den-tro de C. Bonito!) para isolar o batalhão segundoo preceito tclegraphico, talvez um fosso e ponteselevadiças, qual!

Sabe-se, é quasi official, que o capote do com-mandante foi furtado, pela manhã, da propria salado commando. O indigitado gatuno está sendo fe-licitado pelo arrojo. O que teria clle feito com oobjecto do furto, ni IIgucm sabc. Ao meio dia ocommandanlc assisle Ú distribuição de comida, di-rigindo olhares I'uzi Ia 11tes aos soldados enfileira-dos. E diz palavras imperceptiveis nos labias ner-vasos. Elle tem razão.

" o .Mando-te um resumo da vida da nossarua, do nosso S. Paulo. Cuidado, meufilho, muito cuidado com a saúde. QueDeus te protej a. Viva S. Paulo! Tuamãe. "

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li 79

(Paginas recolhidas da rua da Contribuição)

Aquelle rapaz alegre que percorria o bairro,despertando a manhã, "Olhe o Estado ", "o Diario ",partiu para a guerra calçando um par de batinas"lIlprestadas.

Aquellc outro que distribui a leite, empoleirado11:\ carrocinha branca, tem somente 10 annos. O ca-\':\110 foi mandado para a guerra.

o entregador de pão partiu para a guerra.I\gora o irmãozÜlho faz o serviço, trazendo umdislindivo bem á mostra, no peito da camisa.

Aquelle chauffeur desordeiro da esquina, do-111. de um carro fechado, foi para a guerra com o10',,1'.1c tudo. Elle é casado.

() harbeirinho VicLor parliu logo como bar-1H'i1"1}, Agora só trabalha com o fuzil, - as guer-/'IIS precisam de Samsões.

Todos os j ornaes publicaram a gréve das 8 co-I.illllt'iras que (IUeriam cozinhar no front,

Ilolllcm ás 12 horas S. Paulo inteiro cantouEu vou, tu vaes, elle vae

A Ill:ie do entregador de pão deixou de com-

1"'111' I"ile para depositar diariamente 600 réis no/llli,'I,,'1 "Para os nossos soldados". Devido á in-lIiHI"lH'ia dos vizinhos, resolveu comprar leite para1111"I'ill'lI;as, mas a carne só aos domingos.

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110 ,l /I /' ('()

11 e ,I I 11l c i d (/ C a 11l 11 r {J (J

A rua da Contribuição anda cada vez maislimpa. Os velhos cuidam da agua e as criançastrazem as yassouras. :\Iontadas é que ellas vêm.Onde a autoridade paterna?

o menino que nasceu no numero 62 vac cha-mar-se Bemvindo Paulo Buonfiglio. O pae é Deo-dato Buonfiglio. O General Klinger foi convidadopara padrinho.

Rendeu dois contos e pouco a subscripção"Ouro para a Yictoria". A viÚva do numero 23,que aluga quartos com pensão, vendeu no sêbopor 40 mil réis uma collecçiio completa de AnatoleFrance pertencente a um estudante que morreuno Tunnel, e fez a entrega do dinheiro em nomedos paes auzentes.

Os meninos niio conseguiram brincar de "es-tado". Eram 15 mais ou menos disputando entresi S. Paulo c l\Ia tio Grosso. Mesmo assim can~a-ram o hymno scm panlr.

As moças do hail'l'o choram o namorado quenão conheciam, :lqllcllc que era estudante e mor-reu no Tunllcl.

Quem lê o jornal em voz alta é o proprio car-teiro. Quando Cunha foi tomada, elle soletrou to-ma-da. E desde então é conhecido por Beau-Geste.A menina da grita: "Bogé vem vindo!"

Dentro daquella casa bonita mora um moçobonito, "que não foi criado para as trincheiras" -diz elle. Os paes dos moços que morreram por

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.4. EPOPÉ.4. 81

ideaes, por vergonha, por solidariedade, prccisamencontral-o face a face. Todos conhecem o mocofujão, o que deixou morrer um collega, um pare~-Ic, um amigo, um homem da geração que teve ver-gonha em 1932. O poltrão!

O povo de S. Paulo, por acclamação, decidiuq lIC todas as ruas ficassem uma só - rua da Con-I I'ibuição ,

E' a nossa rua, meu filho, oS. Paulo-Julho-I~K!2."

Largo da Igrej a, O commandante Moraes Pin-\41 (:>2) está visivelmente alegre, agitado, sorri eIlInstra um papel escuro.

- Acabo de receber um telegramma do Cel.1'.,111'0Dias de Campos, (33) communicando que1'1'1cIIIlOUItararé. Viva S. Paulo!

Os vivas enchem de panico a cidade, os sinoslI~il:t1ll o ar, dHn-dlon. Dlin-dlon em 30 de Julho éI~IIIII a "Démos duro", Quanta alegria enganosaIIH'I'I'CCUo "14" no seu peregrinar pelo Sul, quan-111J Pararam os sinos. Que diria o inimigo, (com41""111

() "14" precisa manter relações falsas e con-\"'IH'innaes cheias de disfarces) se viesse a saberdn ,'xercito de vivas e sinos arrebatando-lhe Ita-

(:I~) "O senhor Tenente Coronel Pedro de Moraes1'11110('ommunicou hoje em officio que, de ordem do se-01001'Coronel Brasilio Tahorda, commandante das tropasnlll ol"'ra~'ijcs no sul, este batalhão passa a pertencer ao111'~"""IIIII('nlosob seu commando." (BoJ. do Btl. n. 10 de:til 7).

(:1:1) Parece que em Fartura, na occasião.

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82 A II r e (J d e A i li! e i d a C a m a r g o

raré no largo da igreja de Capão Bonito, á custade um telegramma mal passado'!!

Agosto, 1.°. Posse do novo commandante do"14 de Julho", o batalhão em forma no campo defutebol, vae haver solemnidade, talvez discursos.Chega o novo chefe, pelo andar e physionomia umhomem severo. E' o Capitão Candido Bravo. Con-tam que elle enfrentou um commandante da For-ça Publica, durante a apresentação da officialida-de, com um "morra" ao improvisado general. OCapitão declara que assume o commando em ca-racter provisorio, que o commandanteefectivo éo Major Heliodoro da n. Marques. (34) Discursode cinco minutos. Percorre a tropa com a cabeçainclinada para a frente, olhos perscruta dores, nasua postura habitual.

(34) "Sejam commissionados respectivamente nospostos de. Major e Capitão o Capo Hcliodoro Tenorio daRocha Marques e tenente Canrlido Bravo.

Assuma o commando do Ba!. "14 de Julho" o sr.Major Heliodoro T. H. Masques.

Sejam incluidos no Bat. "14 de Julho" os srs. MajorI:reliodoro T. H. Marques, Capo Candido Bravo e 2.° te-nente Napoleão José Leite, este ultimo com transferenciado Carro de Assalto." (1301. do Q. G. n. 5, de 1.0-8).

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I

Guapiára

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Ribeirão Branco em poder do inimigo. .. Qué-da de Ribeira. .. (35) E Apiahy?

O 8.° B. C, P. parte para Guapiára ás 13 horasdo dia 2.

Pouco depois chcula em Capão a noticia dad,'posição do governo federal, espalhada por um,.ITi<.;ial graduado da Força. A alegria attinge aoIII:lximo, quando se vê um soldado da F. Publical:ill(:ar-se sobre um do "14" e beijal-o com effusão.

A' tarde, a l.a Cia. do "14", que na vespera oc-,'li par'a durante cinco minutos somente uma trin-..I1('in1 afastada da cidade 2 kilometros, parte,Jo('olllpanhada de um esquadrão de cavallaria do,'0111 mandante Amaral, para a região do Fundão,:;ohf'l~ o rio Paranapitanga. Em caminhões até aIIlI'ladc do caminho, o restante a pé. Chegada ao"ld:lJ'(lcccr, Chove á noite, torrencialmente, e a fal-

CI[» "Devia ter um fim diverso do que teve. A pro-fllll<la bl'llcza com que se manteve inabordavel por quasi11111111('Z cl'a digna de um desfecho mais bonito". ("Palmoli ":111111)", Capo A. Bastos, pg. 31).

.. Niio fosse um dos varios actos individuaes que ma-"111111':1111a nobresa da causa de São Paulo e a dignidade<111f:ll'lla, (' difficUmente aqllelle passo seria transposto."( .. 1\ n I'volução Constitucionalista", H. de Carvalho, pg.I!.I!),

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86 A II r e o de 111m e i da Ca m a r g o

ta de pratica e o inesperado da chuva impedem quea tropa se utilise do panno de harraca. De nadavalem os capões de matto nessas ocasiões. Muitofrio.

I

O valle do Paranapitanga é atravessado pelaestrada Capão Bonito-Bury, distando poucos kilo-metros desta ultima. A tropa está de reserva paraum eventual reforço do flanco esquerdo.

As Cias. restantes, 2.n e 3.a, partem na manhãseguinte, de caminhão. Chove e as lonas são esten-didas sobre as cabeças. Mesmo assim, alguns sol-dados, mal refeitos do enfraquecimento, estão fe-bris. Um delles vomita desagradavelmente. AtéGuapiára, São José do Guapiára, chuva a valer du-rante os 35 kilometros do percurso. Uma igrej abonita é o que ha na cidadezinha. Noticias de queo inimigo está perto, uns 12 kilometros, já tendocortado a retaguarda da tropa de Apiahy. Conoen-tração de tropas, alguns corpos. Patrulha do "14"na estrada da Ribeira. Acompanha as duas Cias.o Capo Candido Bravo. Noticias de um desastre decaminhão. OU)

Na manhã seguinte passam tres aviões pau-listas. Para a linha de frente tcm partido muitatropa acompanhada de artilhcria. Uma serie deconstas e noticias infundadas enchem o dia.

(36) "Acantonamento cm Guapiara, 3 de Agosto de1932. Snr.Commandante do Batalhão. No transporte daambulancia do Corpo de SaÜde do Batalhão, de CapãoBonito para esta localidade, o caminhão soffrendo umaderrapage cahiu em um buraco de 10 meh'os, perdendotodos os medicamentos e o material, devido á chuva.Eram passageiros do caminhão guiado pelo dr. M. Soares,os srs. Durval Carvalho. Orlando Tiani, Eduardo Mesqui-ta Sampaio e Ismael Caiuby.

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.4 EPOPl~.4 87

Uma surpreza estava reservada para o dia 5:(~apacetes de aço para a tropa combatente. Os sol-dados assim equipados experimentam novas sen-sações, julgam-se combatentes da guerra européa.Aviação, artilheria, capacetes. Para ser igual á(:rande Guerra só faltam os gazes asphyxiantes,que todos esperam não serão empregados na "lutade irmãos", pelo menos da parte paulista. Annun-(~ia-Sie que S. Paulo fabricará dentro em brevemascaras contra gazes, dahi os capacetes serem fu-I":Hlosem cima para a sua adaptação, Os capacetespesam, mala soldado se acostuma com as oscilla-(Jies sobre a cabeça, já que é preciso mantel-os fol-gados, afim de os estilhaços encontrarem fraca re-sislcncia e resvalarem. Só ha um tamanho, paraas caheças grandes e pequenas, As primeiras nãoc,omportam o capacete folgado, o que é uma des-v:lIltagem. Que faria Ruy Barbosa em Guapiára,('lIe que ahi está emprestando o nome ao largo daigr'cja? Dez minutos depois, cada capacete traz umlIome de mulher, um numero, uma legenda. Umsoldado escreve: "A guerra só me causa horror".

A's 11 horas do dia 6 o 1.0 Pelotão da 2.a Cia.,soh o commando do 2.° tte, Ataliba Duarte, parted(~ Guapiára para a linha de frente, afim de guar-Ii't'eer o flanco direito, onde permanece até o dialI, qando recebe ordem de retirada, Chega a Ca-pi'.o Bonito dia 12, pela manhã, depois de passarpor Guapiara.

NeslS,e aecidente ficaram feridos, com gravidade, os:;r,~, Eduardo Mesquita Sampaio e Ismael Caiuby, que fo-1'11111 I'Ilviados para o Hospital de Prompto Soccorro do,\)',.)lt'IlCdicto Montrue.aru, em Capão Bonito, e o dI'. Mar-

',',,110 Soares que veio a esta localidade. Os demais todos('0111 krimentos leves. -- a)M. Soares,"

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88 Allreo de Almcida Cumul'go

Um avião sobre Guapiara dia 6, pela manhã.A's 10 horas, um avião paulista bombardeia, aolonge. O dia é dos aviões. A's 17 horas, um appa-relho inimigo bombardeia a tropa com surpreza,pois os soldados julgavam que elle viéra "adherir",tal a semceremonia com que voou sobre Guapia-1'0.,calmamente.

A' noite, 21 horas, o 3.° pelotão da 2.a Cia., sobo commando do 2.° tte. Milton Bressane, parte paraa linha de fogo, distante 10 kilometros de Guapia-1'0.,afim de l'eforçar o fIanco esquerdo. Até á ma-nhã de 11 este pelotão combate. Chega no mesmodia a Guapiara e no dia seguinte está em CapãoBonito, pela manhã. Uma bella estréa para os ca-pacetes de aço, porque em Guapiára se combateuvalorosamente. E depois de Guapiára:

Carta dirigido. pelo Tenente Coronel MarciliJlFranco ao commandante do batalhão, data de 13.- "Snr. Capitão Candido Bravo. E' com a ma-xima satisfação qnc venho communicar-vos umepisodio que Illuito honra a tropa do "14 de Julho".Na manhã del1, por ()(:easiii o da retirada de Gua-piára a... kilomelros daquclla cidade, rcccbi or-dens do snr. Coronel l\'loraes Pinto, commandantedo Destacamento, para fazer volLar a tropa á Ser-ra dos Pinheiros para estahelecer l'csistcncia, e,então, fiz um appeIIo ao patriotismo do elementomais proximo que era um pelotão do Batalhão "14de Julho" e este num beIlo gesto de dignidade mi-litar, voltou a frente de sua tropa e partiu na di-recção do inimigo para a posição indicado.. Essebom exemplo permittiu a facilidade da volta detoda a tropa em retirada, para enfrentar o inimi-go. O pelotão do "14 de Julho" é digno dos melho-

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res elogios. Com estima e apreço, camarada ami-go, Marcilio Franco, Tenente Coronel."

E o Boletim .do Batalhão n. lI, de 14 de Agos-to, traz a r1elação da tropa elogiada. (37)

Dia 7, ás 15.30, bombardeio aerco sobre a tro-pa do "14", acantonada em Guapiara. Quando osaviões não hostilizam os paulistas, passam ao lon-ge, em observação. Raros, entretanto, os momen-(os em que não são vistos aviões paulistas e inimi-W>s. Raros os dias em que não ha bombardeio departe a parte.

Sob o commando do 2.° tte. Francisco de Pau-Ia Quarticr, parte dia 8, ás 8 horas, o 2.° pelotãoda 2." Cia. Vae fazer o serviço de segurança da es-Imda que liga Guapiara a Faxina. Ao longe, arti-IlIcria e armas automaticas fnnccionando. EmJlHlrcha novamente, para tomar posição á esquer-da de elementos do Batalhão Marcilio Franco. Pou-(:0 adiante, eambate-se com vigor. A's 6 e meia dodia 10, partida para Monjolado, onde chega ás 12

--(37) "2.os tenentes Napoleão José Leite e Milton

I:r('s5ane, 1.0 sarg. Tacito de Souza, 2.° sarg. Alberto Silva;\wvedo, 3.0 sarg. José Albuque.rque de Carvalho, 3.° sar-'~"lIlo Flavio de Araujo, cabos Milton Queiroz Moraes,Jorge de Assumpção, Salim Relou, Alcl'ste Schoenaker,.\ki(lcs Duarte Silva e soldados Raul Soares de l\1e1l0,\,,'11110 Ribei!'o dos Sanlos, Augusto de Sonza Queiroz, An-IOllio Vampré, Bernardo Meyer Junior, João Tolosa, Jo.sédI' O. Pirajá, l\Iarce1l0 Ribeiro dos Santo;;, Dalstein Epin-/(II:IIIS, Alceu Nascimento, Cyro Savoy, Ricardo G. Gon-<,:01\'(,.S, Antonio C. Castro, Benjamin Soares, José :Mendes,1':oIgal'{l Alencar Matos, Decio Flexa, Fabricio Vampré,1\i,.lson Silveirn, Carlos Virgilio Savoy, Luiz Fontes Romei-ro. Darei Ribas, Cados Romen, Antonio Cardoso de Al-III('ida, Paulo Bnstos Cruz, Alfredo Lazareschi, Vicente de,\Ioura, Silvio Dias Rebelo e Luciano Nogueira Filho,"

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90 AllrC() ele Allllcidu CumarllO

horas, sob o commando do Capo Bravo, e na com-panhia de um pelotão do Marcilio Franco. Uma se-rie de monj olos. O inimigo está abrindo trinchei-ras a uns tres kilometros. A tropa tambem o faz.A's 10 horas do dia 11, ordem de retirada para Ca-pão Bonito, via Capella de Santo Antonio, (sobreo Apiahy Mirim). Chegada a esta ultima no mes-mo dia, ás 21 horas. A's 6 horas de 13 pros'egue amarcha, chegando a Capão ás 22.

A 3." Cia., commandada pelo tenente BenedictoDourival, parte de Guapiara dia 8, afim de tomarposições. A 10, deixa as trincheiras com destino áCapella dos Pintos, onde chega no mesmo dia, ás23 horas. Dia 11, ás 14 horas, ordem de retirada (jáé conhecida a quéda de Guapiára) com destino áCapella de Santo Antonio do Apiahy Mirim, ondechega ás 10 horas do dia seguinte. Dia 14, ás 8 ho-ras, partida para Capão Bonito.

"E Sicglle-se () abandono de Guapiára peJo Te-nente Coronel Moracs Pinto, sem causa seria queo impuzcssc. . ." (:18)

O balanço da jomada de GlIapiára dá o se-guinte resultado para a maior parte da tropa do"14": 51 kilol1letl'Os de lIIan.;l1a a pé. São muitosos soldados que aprcs'cnlam os p{;s sa ngrando, po-rejando sangue. Não podcl'ito andar tão cedo.Poucos os feridos. 4 prisionciros. (:IH)

(38) "Palmo a Palmo", pg. 46.(39) Milton SoareI; Campos, "João Soldado", '\Valter

Penteado Lorenz (fugiu da Ilha das Flores) e o ehauffeurproprietario de um caminhão de S. Boque, eU,jo nome nãofoi conseguido.

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A RPOJ>l;'A

Dia 14 o Capitão Bravo passa o commando ao!\'Iajor Heliodoro. (40) O novo cOl1lmflndante é Ullldos mais brilhantes officiaes da F. Publica, tendotomado parte no levante dc 28 de Abril, A suaactuação cm Guapiára, como chefc do E. M. doDestacamento Tenorio, sÓ lhc pÓdc ser clogiosa,

"Exercito Constituéionalista. Sector SuL Ba-tnlhão "14 de Julho".

Commando do Batalhão.E' com justificada ufania que passo a com-

mandar o batalhão "14 ele .Tulho".Constituida por elementos dos mais represen-

tativos da intellectualidadc paulista, esta unidadelcm sabido conduzir-se á aUura das grandes res-ponsabilidades que pesam sobre os nossos ombros110 grave momento que atravessa a nacionalidadehrasileira,

E' de elementar pl'eccito da sociologia que oequilibrio social e politico dos povos só pó de sermantido mediante o imperio de leis que assegurem() livro exercício de todos os direitos do cidadão,rcguladas convenicntemente as relações cntre go-vcrnantes e governados, Entretanto, ha perto dedois annos o Brasil soffre os eft'eitos desaggrega-dores da politica de recalcamento e suppressãodess1cs direitos, com a implantação da dictaduraquc, procurando etcrnisar-sc no poder, fez ruir portcrra, sem qualquer compensação, o regimen re-pl't~scntatiyo á cuja sombra se e~crcitavam, embo-

(40) "O sr. l\Iajor Heliodoro T, da Rocha l\Iarquesl'ol1llllunicou haver assumido a 1,1 do corrento o com:'(lI:indo do btl. "14 de .Jnlho", que lhe foi passado peloSI', Capitão Candido Bravo, que lambem communicou aJ'(~spectiva passagem de commanclo." (BoI. do Q. G. n. 26).

91

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92 AlIl'CO de Almeida Camargo

ra com imperfeição, os direitos do cidadão bra-sileiro.

Precisamos affirmar a nossa existencia poli-tica, exigindo o restabelecimento do regimen cons-titucional, com as !Ilodificaçõ:es e aperfeiçoamen-tos aconselhados pela experiencia e exigidos pelaconsciencia nacional.

Assim pensando e assim agindo ha perto dedois annos, aqui cstou, disposto a fazer todos os sa-crificios para coordenar os esforços do "14 de .Tu-lho" pela forma que melhor possa corresponderaos interesses da grande causa que defendemos eassegurar a continuidade dos esforços empregadosno commando interino do meu grande amigo e va-loroso companheiro na preparação e execução dosmovimentos revolucionarias irrompidos em S,Paulo desde o triumpho da revolução de 1930 aesta parte, o capitão commissionado CandidoBravo. "

Missa dia 15, assistida pelo "14 de .Tulha".

A vida da 1." Cia, no Fundiio... Alarmes umav.cz ou outra. l>inrinlll('llle pnlrulhas dc ligação,pela cslradatk Bury, ('0)11 o I)(~stncamenlo Arlin-do, por intel'lllcdio (k cavallnl'innos soh o C0111man-do do Tcncntc l'oJ'l'irio.

01.° pcloli:io eslÚ cldJ'illdlcirado Ú margem dorio Paranapitanga, c os dois I'(~slanles acampadosjunto ás trincheiras col\oc:1Clns IlIais alrÚs. O gru-po de metralhadora tambcm occupa trincheira,dominando o flanco esquerdo.

Vida de soldado, comida mal feila, constas,uma ou outra aventura interessante, um cmbrutc-cimento qne faz o soldado pensar da manhã á noi-te na alimentação. Uma picada num dos capões de

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A EPOPÉA 93

matto, para uma possivellocomoção da M. P. Chu-va algumas vezes, frio sempre. Commandante daCia., 2.° tte. Angelo Bernardelli, que é operado nonariz dia 14, por um soldado do 1.0 pelotão, comgrande curiosidade para os soldados, quasi umafesta. (41)

Dia 15 vôa sobre o acampamento um avião ini-migo, que bombardeia sem resultado. Poucos ki-lometros adiante, desenrola-se, começado pela ma-nhã e terminado a noitinha, o combate classifica-do como" o maior da America do Sul". Mais demil tiros de artilheria, muito mais, (42) sobre umapequena linha de trincheira . Aviação constante ecrepitar ineterruptn de armas automaticas. Quan-to custara esse combate para o governo federal?- pergunta-se. A tropa do "14" esta boquiaberta,Ú vista do numero de munição gasta. Sabe-se quea Cia. Hernani, do batalhão "Borba Gato", está emcombate. A' noite, retira-se por falta de munição,depois de ter calado baioneta para enfrentar o ini-migo.

"Bom conforto, bom soldado" - dizem os li-vros da guerra européa. E a só lembrança de 1914encheu os 18 annos de cobertores, chocolates e sa-lames: uma vida de suores e gorduras.

A principio, por um luxo das guerras moder-nas, o radio enchia de amôr villas, campos e trin-ehciras. Sim, o amôr que o radio levava da reta-

(41) Substituido pelo 2.° te.nente João Garcia de Oli-veira, não mais voltou a commandar.

(42) "Das oito baterias assignalas em acção, cujoscanhões despejavam projectis a mancheias..." ("Palmoa Palmo", Capo A. Bastos, pg. 70).

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94 A 11l' e o d e A 1m e i d li C II 1/1(Il' fI

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guarda para os 18 annos. SÓ então os IX allnOR re-solveram meditar, cabeças inclinadas -- a IIIcdidarecommendada para localizar IIUIII sÚ lugm' ospensamentos dispersos pelo corpo, c as scnsaçtics.Os 18 annos querem pensar, uma VCh quc 115gucr-ras prohibem o raciocinio. Este seria iJlu LiI, fl'cn Lcao inimigo (canhão-fuzil-avião) e talvez provocas-se o estado-maior a lancar boletim: "O racioeiniodo soldado poupa o iniri'1igo e desmoraliza a gucr-ra. " Um granadeiro habil é capaz de destruir a ef-ficiencia de dezenas de pessoas. O granadeiro emacção raciocina com as .dezenas? Elle pensa nasgranadas e na sua rapida trajectoria, dentro daqual se definem ou decidem as dez,enas ou as cen-tenas.

Os 18 annos pensam. O radio é uma arma pe-rigosa, pÓde facilmente recambiar a guerra paraos ouvidos da retaguarda, gritar-Ihes a guerra que éfeita de gritos de ferros e de peitos, um infernode estalos ede ais. Os 18 annos ficaram conhe-cendo o mundo c sabcm que a guerra lá para trásé mais inLcllsa, cxclusivamcnte humana, humanis-sima, sc possivel; (lUe um consolo-carinho-amôrirradiado para o fronl custa lagrimas, significa ap-prehensões da distancia; que uma casa tem os ali-cerces no ar e uma desgraça (como classificar adesgraça?) recanbiada póde desmoronal-a. Os 18annos sabem disso. Que um arroz é consumido aossuspiros e entre duvidas e pergunLas intimas, ásvezes manikstadas numa explosão tremenda, se-guida de um degelo de emoções: "e elles come-rão?" Os 18 annos tapam os ouvidos, temem ouvira casa e o "elles comerão?". EUes não querem des-moronar a casa, os 18 annos desprezam o radio,(perdoae, retaguarda!) a pureza de um 18 annos

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11 BPOPJ~A 95

não merece ouvir a outra guerra, a humana, a hu-manissima, a irradiação da casa. E, ao mesmotempo, teme que a casa o ouça, a elle, á guerra.

Só o silencio, só o silencio, só o silencio!. . .Sucoodeu então o lIue ninguem esperava: as

casas ficaram mudas, mudos ficaram o front e aretaguarda. A guerra do silencio começava. Eraa segunda de uma sÓ campanha.

"De ordcm da Chefia Suprema fi-cam terminantemente prohibidas as ir-radiações para o front, sendo que já fo-ram tomadas providencias no sentido deevitar que o {ront tambem se commu-nique com a retaguarda da mesma for-ma. Estabelecida a censura telcgraphi-ca e postal.

A vanguarda tem que viver o fronle o f ront é a guerra".

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I

"O Allemão"

Combate daRegião da Ba]sa

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As duas Cias. dó "14", 2." e 3.R, que se encon-Iravam em Capão Bonito desde a volta de Gua-piara, partcm ao encontro da 1.", no Fundão. Pelapl'illlcira vez, depois de Itararé, o batalhão se"!'lIIIC para combater completo, fazer a gu.erraIIllido. O "14" integral é um desafio. Attenção,illillligos!

(:alllanl<lagem, narrações de aventuras passa-das, he'.:ls c mÚs noticias, estas em maior nume-1'0, Apesar da longa separação, os soldados seS('III('III Ú vontade, como irmãos que, tendo nasci-do lia IIICSlna casa, palpitarn ao IneSIllO carinho,Ús IIH'SllIaS sensacões. Unido o batalhão, maisSIIII\'(' lhe scrá a guerra, porque reparti.das serãoIIS dol'cs, os maiores pesares. Porventura a ale-g.-ia ('.I'csça tambem para ser dividida. QuemslllH' I. . .

\' oalll sobre a tropa dois aviões inimigos. Ossoldados se abrigam pressurosos nos capões deIlIallo mais ao alcance. Continuam a vôar, destaV('Z CIII observação, os má os amigos dos bons sol-dados. .JÚ estão longe.

l'al'lida do "11", marcha de uns 8 kilomctros.Sol,!' ('IIl;os!a, desce encosta, quanta encosta! AII'O!,II dH'gll Ús "nussas antigas posições, em cuja

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100 AlIrco de A.lmcida Cama.rgo

linha existia uma fazendola conhecida entre ossoldados pela "casa do allemão". (43).

O "Allemão".A estrada Capão Bonito-Bury, pouco antes de

chegar a esta ultima, atravessa e desce uma pe-quena encosta, na baixada da qual se encontrabem para a direita uma casa de madeira. Nos fun-dos da habitação, cuj a frente dá para a estrada,começa um pequeno morro coberto de malta. A'esquerda da estrada, já descendo a encosta, o ter-reno se apresenta mais accidentado e coberto demalta. Para a frente, até Bury, terreno levemen-te ondulado. Samambaias bravas por todos oslados. Um oceano! As trincheiras paulistas fi-carão na encosta, que domina a pequena baixadacom vantagens. O P. C. está installado em casade barro, pertencente a um allemão, á esquerdada estrada, num lugar visivel e absolutamente do-minado pelo inimigo. Com effeito!

O destacamento, composto do "14 de Julho",batalhão Arlindo, batalhão Pirassununga e porduas Cias. da Legião Negra, (44) é commandadopelo major ~r]ind() ri" Oliveira. cuja fama é co-nhecida da tropa. (45).

O command:\Ilte Arlindo de Olh'.eira (46) é osoldado para as guerras nacionacs. Official-capi-

(43) "Palmo a Pnlmo", Capo A. Bnslos, pg. 83).(44) Dentre os soldados tia Legiãu Negra, uma

mulher-soldado!(45) "O ~Iajor Arlindo de Oliveira, ela F. P., tenta

e consegue reconquistar Victorino Carmillo, e a 5 deAgosto as nossas tropas estão de posse daquella e.stação."(u.'\. Revol. Constitucionalista, H. de Carvalho, pg. 163).

(46) "Confurme telegramma n. 410, desta data, oCel. Comte. da F. Publica comlllunicou a este, cOlllmando.

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li'io-dc-matto, elJe se bate á moda da terra, obede-cc Ús vantagens que offerece a guerrilha, uma mis-IlIra de audacia, surpreza e coragem.

Espigado, a pelJe do rosto descascada, sujo,tem mal amarrada uma das mãos attingida portiro e, com a outra, faz a guerra. Percorre incan-savdmente as posições, montando cavallo em pelloc tendo corda por rédea. Não usa capacete, umchapéo largo protege-lhe... Que protecção pó deofferecer um chapéo, ainda que largo? Conversác fuma com os soldados, até o ponto de a confian-ça dos commandados chegar ao limite da inti-midade.

Quando menos se espera, resolve fazer uma in-ClIrsão pelos flallcos inimigos. Escolhe indistin-clamente oito soldados, carrega um F. M. e.....

\' amos a tra palhar os homens". M.eia hora de-pois, arrebenta uma fuzilaria dos demonios, o ini-IIligo está gastando munição, o commandante Ar-lilldo sorri: "Que gaste".

Um dia, um mensageiro do adversario, lenço!Ira 11(;0da parlamentação, traz carta para o com-111:lIldante. Este, depois da leitura e de ter enru-g:ldo a testa, r,eÚne os soldados mais proximos:

.. () inimigo me convida a adherir. . . "Ni'io termina, dá uma risada forte de mistu-

1'11("()III raiva, despacha o mensageiro eom a res-

li:"...,. gl':t<l:1ado ao posto de Tte.-coronel o ~Iajor ArlindocI.. «11i"..i I"a, eomtc. de Unidade deste Sector, graduação,'ssa ql1e visa prcmiu!-o na aeluação destacada que vemcI".':"II\'ol\"('II<lo nas operações deste Sector."

«(tol. do Q. G. n. 22, d 18 de Agosto).n"pois do clia :!O, o destacamento passou ao comman-

d.. cio '1"'11. C1'1, Anchida, "para (jue, o já agora Tent.

CI'I, ,\!'lllIclo, P'TI1I:III..eessl':'t '~'sla de seu batalhão". ("Pa!-11111 1\ "1\111"''',

pg. Xli\.

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102 Allreo de Almeida Camargo

posta, um palavrão nacional. A tropa não se. en-rubece com tão pouco. mas promove hurras aochefe. O inimigo se põe de sobreaviso. julga tra-tar-se de um ataque, e é outra fuzilaria que ar-rebenta.

Logo após a chegada. bombardeio por tresaviões inimigos. Que recepção!

.

A 2." Cia. parte pelo flanco esquerdo, afim detentar retomar as posições abandonadas na ves-pera por falta de munição. Chega bem proximoao inimigo e póde avaliar a sua bôa situação deentrincheiramento, o que a impede de avançar.Quando está para voltar, recebe do inimigo já alar-mado intensa fuzilaria. E' com grande difficulda-de que consegue retroceder.

Pela madrugada de 17, o 2.° Pelotão avançapela direita e se abriga na casa de madeira, atrásde barricas abandonadas. Dentro da habita cão,colchões cnsangllcntados. A tropa é visada pelofogo inimigo, S(~1lIpodcr responder no mesmo tom,por falta de ordcm nesse senlido. A's 10 horas,retirada eOI1l (:11idadosa pr('(,;all~.iio, difficil re-tirada.

A 3." Cia. lambcm par.te dia !li, pelo fIanco di-reito. Conuuanda-a o CapitÜo Bl'Uvo. Depois delonga caminhada através o mallo. immediações doacampamento inimigo. EslÚ hem pcrlo delle. aponto de se ouvirem vozcs. Um soldado é feitoprisioneiro, com grande successo para os do "14",e o Capitão Bravo se encarrega de conduzil-o aoP. C. A tropa mais avançada percebe approximar-se um offidal medico. Que bella presa! As diffi-culdades de terreno, porém, impedem o aprisiona-

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A BPOPEA 10:1

IlIento tão desejado. Alguns tiros disparados afoi-lamente na occasião provocam alarme inimigo, oofficial consegue escapar, lançando-se por terra.N a confusão estabelecida, pouco atiram os solda-dos inimigos, limitando-se a : "Venham paulistas,venham!" Convite inacceitav,el. Penosa a caminha-da ele volta. Assume o commando da Cia. o tenen-te .rosé Mada de Azevedo, e é elle quem a orientacom f.elicidade através de terreno accidentado emal conhecido, cujo itinerario da vespera não podeser seguido sem risco immediato para a tropa. Eaincla ,encontra queimada, o que mais a desoden-Ia. O inimigo está batendo o malto com armas au-lomaticas. A tropa se sente perdida e só a firmezacio commando consegue levantar-lhe o animo.Quasi meio dia, quando a 3." Cia. chega ás posi-~~C)Cscio destacamento, os soLdados exhaustos, ras-gados, alguns com o pé sangrando como nas lon-gas marchas de Guapiára.

Ainda dia 16, á tardinha, quatro aviões pau-lislas bombardeiam com vigor, lançando bombasdt' I amanho e efficiencia até en tão desconhecidasdi I "'4". Os soldados vibram com a acrobacia de11111 dclles, que por espaço de meia hora desce atéIIS Il'incheiras inimigas, metralhando. Na volta tem11 cI('li(~adesa de fazer a ultima acrobacia sobre oclc'slllC'alll en 10. Os ponlinhos pretos desapparecemno ('SP:H:O sobre a protecção dos olhares paulistas.III'('v(~ I'egresso - é o que todos dizem e desejam.

1\ IlOikce, Consta que os bombeiros vão ten-1111'11111ataque, Fuzilaria durante a noite. Muitof,'jo. () COllIllHIIHlanle Arlinclo está nUIlla aclividacle11(1111lilllÍlcs.

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104 AlIrco úe Almcida Camargo

o 1.0 pelotão da 2." Cia. e elementos do Corpode Bombeiros, postados na estrada de rodagem,ficam na manhã de 17 localizados pelas armas au-tomaticas inimigas, sem poder sahir do lugar, oque só conseguem, na companhia de um ferido do"14", durante o bombardeio de tr,es aviões paulis-tas, (a aviação constitucionalista tem sido de umaaggressivida1de admiravel) quando o inimigo ain-da se restabelecia do susto violento e vingativo.

.

Abertura de trincheiras, parte f,eitas com o sa-bre, parte com o capacete, pois é reduzido o mate-rial de sapa. A terra é arenosa, dura na superficiee suave para ser trabalhada, quando s,e aprofundao buraco. Antes assim. De outra forma não se ex-plicaria o uso do capacete. Apesar de tudo, os cal-Ios voltam a imperar em todas as mãos.

A 1.0 Cia. está á direita da estrada e a 2." maisadiante. A 3." permanece na retagual'da, em repou-so, dizem tambem que em reserva.

A' olho I1Úse avista o movimento inimigo, tro-pa quc chega, camillhões que chegam e partem.Com ccrtesa lI'az{'m matcI'ial para a artilheria. Asluetralhadoras, quc fllllcciollam desde a vespera,redobram de adividadc. (17) Apcsar disso, conti-

(47) Entre as L" e 2: Cias. ('slÚ n M. P. dirigidapor bombeiros. São uns hravos. Um <lelles se queixa dasrevoluções, que tornou parte ('11\ lo<las, mas que o papeldoIS bombeiros não Ó esse. Dia:!1 cllc se põe de pÓ evisa com o fuzil um soldndo inimigo postado na estradabatida pela me.tralhadora. O inimigo pula para o lado.e a seguir tmnbem atira. O bomheil'o faz com o braçosignal de que não foi attingido e atirn novamente. O ini-migo faz identico signal e respondo ao segundo lira. Du-ra,nte 15 minutos o dueHo ol"iginal se desenrola inutil-mente debaixo da torcida geral. Silencio completo, comoacontece nas assistencias educadas. Um tiro, um gelSto,

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A Rl'OP{:;A 105

nÚa cheio de movimento o corre-corre inimigo,eonstante. Ao longe, Bury, que cstÚ a poucos kilo-)lIcll'OS e é avistado de algumas trincheiras da 2."Cia. A torre da igreja lá está, ponteaguda, a appel-lar para os paulistas. ElIes vão combater para tedisputar a posse novamente, Bury paulista!

Fogo 110 malto, posto pelo inimigo. O ventonão ajuda e o feitiço vira contra o feitiçeiro. Fci-li(,~ciros gaÚchos, aguentem o teu feitiço!

Uma patrulha inimiga tenta avançar dia 19 enada consegue anle a vigilancia (Iue está a pos-tos, nos postos con trarios, Aviões <rue passam (pau-lislas ou inimigos'!), ningucm sabe a sua proce-dcncia, o s,cu destino, 'Ircs tiros fortes, pesados csurdos, pnra a direita. E' o 150 do "Itaipú", sau-dando os gaúchos. Salve scmpre! Chove, o vcn-10 é impicdoso. O "14" se agasalha, capuz, cache-cols, mantas e pllll-ovcl's. Depois, reflecle na sortedos contrarios, no meio dos qua.es existem solda-dos pernambucanos que desconhccem o rigor doclima paulista, talvez lhes falte agasalho. O fogoque virou fcitiço aquecel-os-á, sem duvida alguma.

A definicão archaica considera a trincheira.. fosso, que o~ cércatClores fazem para chegarcIIl co-h <'1'1os ao p(~ do Illuro da praça si liada". (48).

n:i.. :1('('I'lou. Outro liro con!ntrio, novo gesto, não accr-(ou' () COll1l11andanlc ArJiJ1(lo lem () mÚo gosto de man-tI:l1' :1(':1h:11' com a .. hrinca(leira, depressa, vamos!"

Os hOluheil'os cnsinam :tOS ,"oJunlarios um processoti.. (''''1.('1'('ogo p:n'a o eafé sem despeJ'tar a altenção ini.IlIlglI: 11111hllr:l('o cheio do tUlJlJcis c hem eObl'I'to, uma

\'''111p Ii"H(::i" qlle não pÔde i nleressal' Ú primeira vista.

(-li!) Di<'donal'io tIa Li nglJa POl'lngueza, Morais',

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106 Allreo de Almeida Call1u/"{J()

No Brasil ella tem a sua hisLol'ia, os scus an-tccedentes elucidativos. A mcnLalidade popul:1r rc-cebeu desordenadamcnte na infancia unIa ordcmque mais tarde se soube encampadu pclo MillisLc-rio da Agricultura - "Rumo ao Campo". Periodi-camente, a ordem se faz cumprida (obcdecida) porintermedio dessas festas colleclivas que se chamamrevoluções do, pelo e para o povo. Lundús gucrrci-ros de idéas e vocações, muitos nascem assim pre-dispostos. Rumo ao campo, isto é, rasgarás a terracom o suor do teu rosto. As mãos trabalham, naterra dura funcciona a picareta, ella pésa. A páretira a terra revolvida, o buraco cresce até ficartrincheira. Trincheiras de todos os tamanhos e lar-guras, algumas são fundas e outras rasas, tudoconforme a capacidade da artilheria contraria. Oparap.eito espia o inimigo, os soldados ficam den-tro fumando.

Uma casa com todas as indispensaveis depen-<lcndas uum sÚ local. Fuma-se do mesmo modo escm sallil' do lugar no -VY.C., na sala de refeições,no dOl'llliLorio. Ao (;oIlLl'ario das residencias anti-gas, os elelllclltos aguu, sol e fogo entram porcima. Nos dias pJ'(~d('sLillados, qualldo as granadasprocuram Ú viva 1'01\'a illvadir a propriedadealheia com a mcsllla semeel'ClIIonia dos elementos,a trincheira sc transforma IIUllla sÚ depcndencia,numa exLensa sala dc visiLas, ollde todos se des-pedem com fortcs apeltus de mão, COIllO se esti-vesse na hora de alguem parLir para UIll lugar dis-tante, de vez.

As chuvas fortes inundam a trincheira e o ho-mem volta a ser barro. A lama entra pelas orelhas,pelos bolsos. O fuzil é a unica coisa resguardada.Elle é bem o "irmão do soldado" nessas occasiões,

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A J~ l' O P É A 107

lodo embrulhadinho na lona, o previlegiado quesÚ pode viver hem segundo a lei secca. As regrascommuns mandam que se lave o pão enlameadoexpondo-o á chuva, a mais facil e talvez unica ma-ncira de tornal-ü macio. Depois da chuva, o solda-do despregado da lama é um cupim ambulante,Lcrroso, um despistador da vigilancia inimiga. "Tu(~s pó..." Os cupins ambulantes estão agachados,scccando a lama fóra ,da trincheira, quasi de có-coras.

A aviação inimiga localiza a trincheira paraos tiros da artilheria e a bombardeia e metralhapor sua vez. O soldado cuida então de enganal-acollocando samambaias bravas no parapeito e ar-Imstozinhos na parte de trás. Agora os soldadosestão deitados, espiando o avião desorientado. Odisfarce é renovado cada ,dia, para evitar que oilIimigo perceba a esperteza, pois a côr verde se(orna amarella de um dia para outro. (Mais a côr;Izul igual á bandeira nacional). E a devastaçãod as redondezas é tamanha que em determinadoti ia sÓ existe, na grande extensão de terra, a vege-(IH;iío comprida e verd,e da trincheira. Para a avia-(;:'1o {~uma festa, o observador diz ao companheiro,lipOli(ando o dedo para o bosque artificial: "E'nll i". Os soldados estão de bruços, fazendo cal-('Idos e conjecturas: "Cahiu perto", "Nãü arreben-1011", "Esla foi na trincheira do 3.° Pelotão ", "Elle('NI:', IIIl:lntlhando". Quando o avião parte, a trin-(',Iwil'a em peso balança gestos, dizendo palavrõesIn'III('IHlos, uma serie delles. Ha uma praga horri-\'(", cOlllposla de 8 nomcs feios numa só phras.e e1'.11'1111111110dllas ora(,~õcs. Horrivel!

1\ Il'illdl('iI'H joga o ]Jokcr, fuma, come, bebe c

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108 AlIl'eo de Almcida (;((lI/((l'UO

dorme. Com sol, com chuva, de din, de noil<" comf0111e, com sede, C0111saudades, COIII odios, --- dor-111e-se, bebe-,s.e, fuula-se, joga-se. 1\' IJOiIl-, o jogoÓ um roubar collectivo e, porisso IIICSIIIO, t~quili-brado, eIle se faz sem prejuizo, e quclII pude lIlui-to é porque roubou pouco. No dia s,eguinlc lodosdizem: "AqueIle é o lrouxa".

Competições de trincheira, (extra-guerra) daespecialidade dos Ettore, dos Pietro, dos Halo. Dosilalos-paulistas. O Pecarelli, pequeno e vermelhi-nho, é o recordista. Sabbado mexeram com o ca-lJ.zllo delle. De pé, espondo-se ao inimigo, esbrave-j ou vermclhissimo:

"Eu sempre vivi no patriotismo, desde a fa-brica. Então não fomos nós que fizémos o Braz,eh?"

Cada soldado traz comsigo, além da farda-ea-))ncete-botilla-perncira, um fuzil, um sabre, cartu-cheil'a COIII !)O tiros, bissaca com otIlros tantos ti-ros, rcvolver t~1I1I1Ili(,~iio(alglllls), dois cantis (aguae outra hchida qllallfll('J'), IJissaca para pão-cigar-ros-choco)alt" I':IC;IO d(~ Jnallo (kpclldurado comoo revol"er l1a carlllcll('ira, p:da, capole ou lnanta,dois ou lIlais cohcrlorcs, nlOclI iIa COlltendo pannode barraca e material para arllwl-a, e bem assimlataria, laranjas, garrafas de pinga, vinho ou co-gnac, ou ainda algum remedio purgativo, pllll-oversde reserva, cache-cois de reserva, bOllct de campa-nha ou lJibi, etc., etc. Estes etc. significam um ar-senal de miudezas, papel, lapis, vidrillhos de iodo,Alguns soldados carregam a Biblia, domingo é odia della.

Soldado que se préza carrega a moamba toda

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A J~ P U P l~ A 1()!I

lIlesmo nas maiores caminhadas, doam os ombros,as cadeiras, pernas e braços. A's vezes, porém, tor-lia-se indispensavel carregar o fuzil do companhei-1'0 cxhausto, uma tristeza. Quando chove, o agasa-lho fica ensopado, enchumbado, a caminhada éI'eita com as pernas dobradas, é o prego. Uma far-tura de peso e material, o bastante para uma via-gem ao polo, a qualquer polo.

Quando um soldado paulista é feito prisionei-ro, O inimigo sabe quanta novidade e guloseimavariada vae apanhar.

" . .. e fui obrigado então a gritar-Ihes na sualingua Ayú ichebe enê remiurama, que se traduzcheguei eu, vosso regalo, ou, em outros termos,([qui estou para vossa comida". (49)

A preoccupação do soldado bem abastecido é oIlledo que o invade .do "mão leve", que conleu o(rUCpossuia e agora se lembra do que o companhei-ro poupou. Hoje desapparece uma lata de sardi-Ilhas, amanhã o cantil está pela metade, depois éo cohertor, "mão leve" andou por aqui, mas todosapresentam rosto angelica!. O melhor é fechar osolhos. Fechou, zás, "mão leve" carrega a mochila.() pal1no de barraca sempre sobra, pesa muito.

Na trincheira vigora o regimen economico daspl'l'lIllilas, troca de mercadorias de todo genero,IIIIIIIS pelas outras. Uma taboa de chocolate chegou11 valer, em tempo, duas latas de sardinhas. Umg('''(~ fiscalizado, se de pinga, vale meio pão. Se de,'ogllac, lima lata de sardinhas, das pequenas. Cer-lus IlIlIrC:lS de cigarros valem por duas de uma ou-

(.ltI) 11:lIIS Stadcu, "Viagcm ao BraGil".

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j 10 :111/'1'0 dI' ;I/I/lcitlll Ca/llll/'i/()

tra. Uma laranja é igual a um 111:1<.:0de eigalTos,dos bons. Uma lata de goiabada tCIII 11111valor >incs-tilllavel, porque doce é raro. Qllallllo a Illllni~:iiose tornou escassa cerla vcz, dcvclldo ser pOllpada,a goiabada alcançou o pre~:o maximo do lIIereado- dois pentes carregados.

Um dia, os 18 annos recebem o Jornal das Tl'il1-cheiras: (50)

"A Gran(le Guel'ra inventára infernos inédi-tos para desgraçar o homem: o tank, o gaz asfi-xiante, o fogo liquido, o "cafard".. .

Sim, o "cafard". Mas este "cafard" - o tédiodas trincheiras - parecia a pior de todas as tor-turas, porque era, não a morte rapida do corpo,mas a morte vagarosa da alma. A actividade quediminuia, o fogo que descallçava, a inercia, a fal-ta de noticias, o pensamento na familia, a sauda-de... E, um dia, vinha o "permis", a licença deuma visila ao lar. E o soldado, chegado do fronl,soffria el1l:lo o lIlaior de todos os supplicios: des-cohria, surprcso e atclTorisado, que Cl'a uma illu-são trislc aql\(:II(: "It':dio das trincheiras". Era aqui,nas l'etagllardas tl':llIqllillas, qllc lIIorava o "ca-fard", o grande t{'dio, o v('rdadeiro "spleen", anostalgia nlorlal. 1<:o S('II d('s('.io era voltar depres-sa, correr, voar para aqll(:11<:huraco no chão, ondeclle apprendcra a gostar divill:l1l1cnle da vida..."

E os 18 annos, quc sabclll aprovcitar os cnsi-namentos da retaguarda, os sahios cnsinamcntos,se lançam por terra, no proprio vClltrc da trin-cheira.

"Et aussitôt, avec des cxcIamutiüllS et des ru-gissements de délivrance, nous glissons, nous rou-

(50) N. 3, ue 21 de Agosto.

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.\ 111

IIIIIS, IIOUS Lombons vivanLs dans le vcntre de IaIra IIchée"! (51)

Nas retiradas, os soldados limpam a trinchei-ra de Ludo, com excepção da lataria vasia, que é(kixada para o inimigo saber da fartura de ali-1lII'IItação paulista, (52) e de alguns maços de ci-gal'l'os eom dedicatorias, que variam conforme a('dllcação de cada um. Os jornaes tambem ficam,com o noticiaria "Ouro para a Victoria" hem áIIll>sLra e outras noticias alviçareiras.

o ultimo dia de trincheira... Os soldadosall;lIIdonam a casa que fizeram e oceuparam, a fo-IlIe que supportaram,e sede, e frio, o lugar dos(,lIlIlpanheiros que se despediram definitivamente,(' IlIais um pedaço de S. Paulo que se entrega aoillillligo, e... até quando, Santos Céos?

Aviões paulistas na manhã 20, quatro appa-1',,1hos, bombardeiam as posições inimigas. Hon-1,'111('ra queimada, hoje é fogo legiLimo - o infer-110 abriu sueeursal ao redor de Bury. Silencio abso-IlIto, (é o prestigio da aviação) somente interrom-pido pelo arrebentar das bombas, quasi 20. A ter-1"11S(' projecta para o ar misturada em fumaça1"'11111':1,(:OIllO a appellar para o céo neutro. Agora('1111\"(' «('ra lima vez a neutralidade celeste) e os11\' j,'ws voll am para Itapetininga. A' tarde traba-Illalll IIS linHas automatieas inimigas ,cheias de ira.

() sa rgcll Lo da ligação avisa que o café mati-

(I'd) (/'(' F('II. He.nri Barbusse, pg, 253).

(Ii:n I h'pois dos dois primeiros mezes de luta, a la-1111'1'1 IIIIIIIU'III ('('a !'I'colhida, c, dizem, mandada para S.1'11I!lo, 01101" 1'1':0 IIPI'oveitada.

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112 fi 11r e o d e ..\ l J/I e i 1111 C a 111a r [f ()

nal vac scr substituido por chocolate, um Iuxo des-conhccido pela tropa. A bebida Ó feita dc misturacom agua, mas quente e saborosa, os soldados ex-pcrimentam uma sensação de conforto, chcgam ase convencer de que engordaram 11mpOIlCO.Depoisdo chocolate, vespas "cassunungas" resolvem hos-tilizar a tropa, mordem.

Novos aviões paulistas, quatro apparclhos, Lal-vez os mesmos da vespera. Recebem manifesLa~;ãodo "14", os capacetes se agitam. Perdem-se no ho-rizonte. Para onde irão elles? Para Faxina? A's 11horas estão de volta, desta vez para bombardearos contrarios, que inutilmente os visam com o fogodas F. M. Pela tarde toda, as metralhadoras inimi-gas, em actividade, dão successivas descargas.

O commandante Arlindo ordena que se ponhafogo em parte do samambaial, afim de favorecera visibilidade das trincheiras. Queimada no capãode malto do flanco esquerdo, provocada pelo ini-migo. O estalar das tabocas mistura-se prazeirosa-mcnte com os tiros Lrocados na occasião. Clarãopela noite a dcnlro c um calor gostoso que aqueceo ar frio.

Esperado 11111alaqllc inimigo dia 22. Grandesconjectul'as sohn: a sna crficiencia. Bombardeiopela artiIllcria inillliga. Os dois primeiros tiros vi-sam e alcançam o 1'. C., Ús 10 horas, ferindo lllor-talmente a Alonsll Fl~ITeira dI: Camargo, (53) le-vemente dois bombeiros c m a Iando dois cavallos.

O bombal1deiu cUllliníla, para maLar RubensFraga no 37.0 tiro.

Começa a ser penosa para U "14", aLi: então in-COIUlllC dc mortes, a guerra (lue se tornava demorte.

(53) Falleceu a 30, em S. Paulo.

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o P. C. é tranferido mais para trás. Bombar-deio até á tarde, quando se estabelece fuzilaria dep:1l"k a parte. Um avanço inimigo tentado pelaIda dil'cita é rechassado de uns 200 metros de dis-11111 (",ia. Para trás, inimigos!

"SÓ então é que muitos dos nossos compre-1Il'IHlemm o que é uma revolução dc vcrdade: comj',olllbates serios e sem adhesõ.es em massa. Mes-1110 com os nervos abalados, conseguimos dor-IlIil"". (54).

I'ela madrugada as trincheiras são reforçadas,IIlais :qJrofundadas. A manhã estabelece um due-lo d(~ fuzilaria. Depois, o silencio, que todos per-",,111'111prenuncio de bombardeio. A tropa euidacI" dClTubar uma ou outra arvore utilisada peloIIl'lilllCiro inimigo como ponto de referencia. Agó-1"11 111i I"(~m á vontrnde, no escuro, senhores arti-/11(' i /"IIS !

/\ 'i.-ás 18 horas bombardeio, muitos os shra-p11"ls. Durante a noite, o commandante Arlindo)'I,)lt'k uma de suas habit'Uaes incursões, conse-I{lIilldo tomar dois F. M. ao inimigo. Arrehentou

d" v(~lho um fuzil nas mãos de um soldado, e alIoli(:ia corre as trincheiras em forma de máo pre-,'lllgio. "Te exeonjuro!" Um soldado do "14"1I('('lll"da agitado e salta a trincheira em direcçãocllIN posi,:<"ics inimigas, empunhando baioneta ca-

1"",", IlIclo Ilum breve segundo e ante a estupe-fllt','lio dos companheiros. Pouco depois está devollll, lIeal1hado, Julgou ter uma visão, explica.

I':sl (~ fado não constitue novidade, pois nalIoil,' 1111I('I'iol' IIIlI cHltro soldado impedia que umadll,l 111'111ill"lIus rendidas entrasse na trincheira,

IIH) 110 "lJilll.jo" clp C('SIII" I'nnna Hamos.

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~~~Aureo de Almeida Camargo114

sob a allegação de que a mesma estava "cheia debonlbas explosivas, que ao 1ncnor conlado arre-bentariam". Ainda ha o caso de Ulll rapaz quecomia terra, durante um dos bomhardeios maisintensos.

Dia de S. Bartholomeu, 24 de Agosto, dia azia-go. Quaes seriam os "huguenotes" elo dia, - pau-listas ou inimigos? Vae haver coisa, diz a expecta-tiva do "14". O inillligo está em festa, pois bom-bardeia e provoca fuzilaria com "zé-pereiras", queeram previlegio elos paulistas. Que teriam cllesvisto? O bombardeio é mais intenso, alguns co-pos de 105 cahem nas vizinhanças de uma das trin-cheiras. São bellos troféos e os soldados tratamde apanhal-os. Um, da Legião Negra, conseguiurecolher dois estojos, que não vende por dinheiroalgum; "Vou fazer museu pros filhos". Nemuma nota de 20$000 causa effeito; "Cobre aquinão vale...". Dia aziago, agora são tres aviõesinimigos que bomdardeiam c metralham, sobemalto e metralham, descem baixo e metralham. Haordem de não atirar contra eHes, que voam a pou-ca altura. Bombas incendiarias, jogadas por umdelles. Eis o samambaial que arde com rapidez,na retaguarda das trincheiras. Muitos abandonama posição e fazem um acero de emcrgencia, con-seguindo dominar a progressão do fogo, ufa! Facilao inimigo tentar um avanço na occasião, talvezque o proposito vingasse. Bella opportunidadeperdida!

A artilharia rccomcca o bombardeio. Fuzila-ria á tarde, de lado a {aelo. As trincheiras pau-listas atiram com vigor.

- Cá estam os, gritam os fuzis.Bombardeio durante a noite, os chamados ti-

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ms de inquietação, Ninguem dorme, pois é espe-I'a,do um ataque, Duplicada a vigilancia. Comora;,; frio!

E' manhã e o sol (virá sol no 25 de Agosto ne-buloso'!) ainda está longe de apparecer, O inimi-gu abre trincheiras, visando a ala direita das po-si(;ões do "14", a uns 250 metros dellas. GanhamruÚlaria, mas conseguem terminar o trabalho osr(dizardos! Começa o bombardeio da gente tei.IlIosa,

Até que emfjm canhões paulistas! São dois(~ um delles faz á tarde dois disparas, dois, somen-Ie dois. Não lia conforto mais desej ardo pelos sol-dados que esse de ter ao lado canhões amigos.I )epois dos disparas feitos, silencio das artilha-rias paulista e inimiga, e retirada dos canhões.T:ln to trabalho por dois minusculos tiros! Malsabia o "14" quc a artilharia paulista vinha fazen-do prodigios de acção, ora amparando um pontoIIIais visado do dcstacamento X, ora fazendo calarli Ili IIinho de metralhadoras na posição Y, aos ti-I"IS pingados e ás pressas, que o Sector era exten-,';0 c reduzido o numero de canhões e municão.()s ('anhões volantes do Sul! Pequenos heróe; d2illllllllJ('ras jornadas! Em Bury defendestes a re-I ir:l(la dos soldados do "14", alvejando (alça a1,1'1'0) Ín imigos pressurosos de f aceis successos! Se111'10I'ic.astcs conl o "14", no Allemão, e"'porque vos('hlllll:lvam mais alénl. O vosso auxilio e a vossa1"'('S('II<;a iam levar um pouco de consolo ta'mbem/I 011I..as tropas paulistas, - um conforto fugaz, oIlIli(,o <)11(' podeis dar, O "14" sabe disso, não seqlll'ixlI, (' imperdoavel seria se se queixasse.

SÚo ou vidos tiros na retaguarda, fuzilaria que111' IlJlproX Íllla cada vez mais. Os proprios Offl"

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116 .1llrcu de Allllcidu Camargo

ciacs se espantam. Retaguarda cortada? Ordemde retirada, a tropa deve eslar preparada, mochi-las promptas. Que se passa na retaguarda? Or-dens em contrario, (55) a tropa passarÚ a noitenas trincheiras de rigorosa promplidão, algunssuggerem baioneta calada. lia mystcrios no ar,na fumaça da qucimada.

Grande movimcnto de caminhões do lado ini-migo. Mais ao longe e numa extensão de kilo-metros o fogo se alastra com uma rapidez espan-tosa. Uma pequena luz percorre determinadospontos, dos quaes apparece a seguir uma serie delabare.das. Que pretenderá o inimigo? Devastaras maltas, os pobres capões do Sul? Limpar arctaguarda, que porventura lhe causa difficulda-des para o transporte? Um sargento do Corpo deBombeiros, combatente das revoluções post-1924,conta que o incendio é processo muito usado pelossulistas c que em Catanduvas tambem foi assim.Ha contestação dc um antigo sorteado: "as quei-madas visam localizar a tropa paulista". Porqueentão essa exlcnsa linha de rogo'! E porque tãoalrÚs das j)osi<.:ôes do inimigo'! Vão queimar oEstado de S. I'aulo, se vão! Oulros ainda queremencontrar rda~:ão cnlre o fogo dos rio-grandensese a expedição de J'izarro ao PcrÚ, como foi con-tada por Francisco Lopcs de Gomara:

(55) a parada que se ,impõe da nossa parte éo retraimento immediato. A vontade que a tropa de-monstrava de guardar as sllas posições e o exercicio delima certa iniciativa excessiva por parte do commando dodestacamc.nto retardaram de uma jornada o movimentoprescripto". (Palmo a Palmo, pg. 88).

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,1 EPOPÉA 117

"encendió muchas fuegas para desmentir losenemigos. . . " (56)

Nisto o "14" se recorda de que existe um poetagaÚcho, talvez soldado, talvez alli na frente, tal-vez atiçando fogo, talvez declamando no fogo:

" ligorachama os guerreiros para a guerra!Olha a uolllpia de ouro das linguCL~ uerticaescantando uma canção de forja rubra na queimada!" (57)

Madrugada, quando o inimigo força insisten-temente o flanco esquerdo, sem resullado. Maisforte a fuzilaria na retaguarda.

Afinal, a noticia que andava no ar: retaguar-da cortada.

Do "14 de Julho" só se encontra separado oV pelotão da l.a Cia., que desde o dia 16 se col-locara sobre o Apiahy Mirim, Ponte Velha, sob ocommando do Tte. Napoleão, afim de garantir oflanco esquerdo do Destacamento Arlindo de umapossivel tentativa inimiga de envolvimento.

Tres dias depois, chegam para reforçar a po-sição 20 homens da Legião Negra, que são collo-locados á esquerda das trincheiras do "14", e mais4 cavalladanos, para o serviço de ligação, que éfeito pelo atalho batido que vae ter á estrada Ca-pão Bonito-Bury, a estrada real, num ponto pouco.distante das trincheiras do Destacamento.

Depois do dia 20 começam as aventuras da pe-quena tropa do ApiaI1y .Mirim. O inimigo certo

(56) (Historia de Ias Inchas, \'01. 22 da Bib. de Aut.EspanoIes, pg. 263).

(5i) (Coração Verde, Augusto Meyer).

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118 Aureo de Almcida Camargo

dia se mostra ao longe e é recebido com tiros con-tados, 5 para cada soldado, sendo que os da LegiãoNegra, por um mal entendido qualquer, ou jul-gando tratar-se de um avanço dos contrarias, gas-tam numa fuzilaria in'l1til de poucos minutos umcunhete, um preciosissimo cunhcte de munição.São mil tiros que desejam bôas-vindas ao inimi-go. Mais economia, senhores ela Legião Negra!A ordem é poupar munição. Elles dizem o con-trario, quc a guerra é para não poupar o inimi-go. O cunhete está vasio, - uma optima mesa depoker. Ha um romantico, soldado do "14", conta-giando a tropa. A's 20 horas, infallivelrncllte, opequeno apaixonado se extasia olhos fitos na lúa.E' a hora combinada com a namorada de S. Paulo,tambem a postos c igualmente em extase amorosoás mesmas horas. A hora-arnôr. A lúa não appa-rece? Lúa ingrata, céo ingrato. A ingratidão éum gmnde risco S. Paulo-Apiahy-Mirim. Nas noi-te claras, ás 20 horas em ponto, ha um namorono céo. Um namoro lunar, -- dizem os compa-nheiros mal iniciados no romantismo.

Com a chegada do Capitão Candido Bravo,que vem commandal' a posição ameaça da, os sol-dados da Legião Negra são distribuidos pelas pe-quenas trincheiras do "14", estabelecendo-se rigo-roso serviço de vigilancia. O plano inimigo é adi-vinhado: infiltração pela região e consequente cór-te de retaguarda do Destacamento.

O commandante prohibe um soldado de repe-tir o que vem praticando desde muito: atravessarnú o rio e furtar cavallos no acampamento ini-migo. Até o momento, tres animaes roubados. Odecoro, porém, não permitte que um soldado pau-lista se aprescnte nÚ (que pensaria o inimigo, s('

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A EPOPÉA 119

assim o encontrasse?) e a honestidade não pódeficar a mercê de um furto pouco aprcciavel. Aguerra tem uma mais alta finalidade. Nada denudismo e roubos ridiculos. Agora, os cavallari<l-nos inimigos estão descansa,dos.

Uma patrulha enviada para reconhecimentoavista e atira o inimigo, quando atravessava o rio,á direita da posição, e já se infiltrava pelo densosamambaial.

Na manhã 26, forte neblina. Sem visibilida-de, os paulistas são atacados, mal podendo res-ponder aos tiros. 13 horas,

°inimigo surge ines-

peradamente pelo flanco direito, facto que é vc-rificado na trincheira mais proxima pelas altaspalavras que tres soldados ditatoriaes trocam en-tre si a uns 10 metros dos paulistas. 10 metros!Suprema ousadia! Ou engano de quem julga teralcançado a retaguarda das trincheiras? E' enga-no, pois os tres soldados dão as costas para ospaulistas, procurando orientar-se para a frente.Outros ditatoriaes que se approximam, os paulis-tas calam baioneta é, aos gritos, simulam um gran-deeffectivo: "Baioneta calada, toda a Cia.! ","Grupo de Metralhadoras Pesadas, attenção! "," Avançar, granadeiros!" E atiram, e tornam aatirar. Sempre aos gritos. Um ditatorial é ati-rado de 30 metros e se salva pulando para o lado.Novo tiro, novo pulo. No terceiro disparo, pulodefinitivo. Combate-se no Apiahy-Mirim. Mal re-feitos da surpreza, o inimigo procura e conseguetomar posição de combate. Os paulistas, aos gri-tos. A Legião Negra combate valorosamente, per-de dois homens.

Tiros na retaguarda, é o inimigo que se infil-lrou. Tiroteio mais forte, - é o inimigo quc cn-

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120 A 11r c () li e A.lm e i rI a C a m a r g o

con troll resistencia. Que paulistas andarão lápara trás? (58).

A's 14 horas, mais ou menos, aproveitando acessação do fogo contrario, a tropa se retira porlances, pelas trincheiras da direita, que são as maisvisadas pelos F. M. E, quando o inimigo appare-ce numa elevação do nanco esquerdo, tiroteandocom vantagem a tropa que já se considera perdi-da, chegam elementos da Cavallaria Rio Pardo,que garantem a retirada mal começada, desvian-do para si a attenção das armas automaticas ini-migas. E' a salvação, a inesperada salvação. Tudono instante i. O Capitão Bravo tem procedidobem, com serenidade e firmeza. Por brejos e ea-pões de matto, procura a tropa alcançar a estra-da real que a levará até Capão, certa de que asposições do Destacamento haviam cahido e, comellas, a do Fundão. Acampamento Rio Pardo,agradecimentos pelo inesperado auxilio. Sim,porque foi um authentico ponto final de romanceaventureiro em seric, com o hcrÓc salvador appa-recendo Ú beira do abyslllo... Ou uma scenacheia de laIJecs arrepiantes, onde a fragilidade seexpõe Ú sanha de façanhudos all~ Ú chegada dogalã inevitavel e allllcl:l... f.:ta, Cavallar1a RioPardo! E é um :1]wrtal' de miios sem fim. E oscavallarianos, cheios de bolas e esporas, cruzamos braços, bem herÚes, l)(~nl ga liis. lmpossivel queelles não se orgulhcm da façanha.

Uma ligação que chega. A tropa do Apiahy-Mirim se dirige ao encontro do batalhão acampa-do no Fundão, ainda paulista, e sobre o qual se

(58) Elementos do 2.0 pelotão da 3." Cia. e algunssoldados do 1.0 pelotão da L" Cia., mal chegados de S.Paulo.

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EPOFJ1A 121

combateria a seguir. Quando? A Legião Negra('slÚ sem sorte. Teve quatro homens prisioneiroslia retirada, além dos dois mortos. Na guerra nãolia consolo. Toca para a frente, tropa do Apiahy!

Parte chega ao destino, parte a Capão Bonito.i\bllhãzinha.

o 2.° pelotão da 3.a Cia. monta guarda aos com-hoios c caminhões do Dcstacamcnto, na retaguar-da, ,1 margem direita da estrada de rodagem. A','sqllcrda, o atalho pisado que vae ter ao Apiahy-1\1irim. Pequenos abrigos contra o bombardeio.

Dia 20, o 2.° pelotão vae guarnecer a trinchei-ra da M. P. e volta á noitinha. O restante da Cia.v:w occupar trincheiras. Más noticias dia 25,lllIli(o boato. 10 homens do 2.° pelotão partemIH'lo atalho pisado e se entrincheiram com 20 bom-Iwi ros, pouco aquem do rio Apiahy Mirim, avis-1:1lido desde logo tropa inimiga. Tiroteio. Novas(losi(:()es mais atrás, no entroncamento de diversas(li";l{lns que vão ter ás posições inimigas, atravéscI.. capoeiras e samambaial. Dia 26, pela manhã,

"illillligo tenta avançar e é rechassado. Imprati-

,'11\'(.1 ligar-se com a tropa do Apiahy-Mirim, o que,,'. 111:'1<1signal. Nova e intensa fuzilaria á tarde. 7I.. >1111H'i!'Os Illortos. Infiltração do inimigo, Cahem(ll'i,'!i"II,.il'oS ;) soldados do "14", (59) 3 que pro-,'111'11\'11111ligar-se á estrada C. Bonito-Bury e os 21'('~illlll((oS.que iam ao encontro dos companheiros.

(r,~1) ()1I1:11'Viegas de Camal'go I3ittencourt, Moysésl'I'ld,. 1:"\,1'1'1 Tl'ixeil'a, Aguina]do Augusto Pinto e A. Feo.

I :1II1""zido~ :'1pre~cnça de officiaes, um delles é intel'-

I'''/tll'''' 1""' 11111(,ollheei(lo :\lajor sobre o effeito da arti-111111'11111/1';p"sic,'t}(.s p:lulistas c a attitude dos soldados na111'1'111,10"

""1IIIII,II:II'II!'io. Hcsposta: que, apesar de inten-

'''I, 11(1111l'"ri/j~1I li 1I1'lilh:lria C:Iusa maiores apprehensões,

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122 11 11/' C o d e A. l 111e i d a C a m a r g o

Muito grande a infiltração inimiga pelas im-IIIl:diações, A tropa se retira para o matto, visa;JIl:ançar a estrada real, evitando o atalho já con-siderado em poder dos contrarias. O inimigo,tcndo tomado os pequenos abrigos feitos na entra-da do atalho por trincheiras, sahe em perseguiçãodos retirantes por uma picada mais ao alcance,das innumeras existentes. Chegados, os paulistasestabelecem ligação com elementos do Capitão Ne-grão que, com o carro blindado "14 de Julho", faza vigilancia da estrada e da picada utilisada peloinimigo. Incorporam-se á guarda do referidoblindado. Chega um reforço acompanhado do Ma-jor Heliodoro e sob o commando do Tte. José Ma-ria de Azeve-do. A' approximação do inimigo, for-te fuzilaria se estabelece. José Maria cahe mortal-mente ferido. (60) E' sustado o avanço inimigo,evitado o corte de relaguarda do grosso do Des-tacamento, ainda nas trincheiras do "Allemão".Soldados paulistas por toda a extensão da estrada,margeando o matto. Um do "14" consegueu pren-der um soldado pernambucano, preto, curiosamen-te vestido. (61).

O commandante Arlindo (62), á frente de ele-

pois" terminado o bombardeio sempre ha um soldado per-correndo as trincheiras aos gritos: "Primpiro grupo do"pernaquio", responder Í1 artilheria inim iga".

E' o ineverpnte bom-humor do soldado paulisla.((]O) Fallrceu no mesmo (lia, Ú noite, no Hospital

da Unid3do :\ledic3 ltali3na, em Capão Bonito.(61) Só vestia uma camiseta, botinas e sem pernei-

ras. O restante, como manda o nudismo. Ensanguenta-do completamente pelo sangue que escorria do pescoço.

(G2)" . .. procurando se ligar a esse elemento, per-

<Ir-se na malta onde \'em a ser aprisionado pelo adversa-rio. . .

"(Palmo a Palmo, Capo A. Bastos, pg. 89).

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A EPOPlí'A I:W

mentos da Legião Negra, resolve praticar maisuma façanha, a uJtima: ligar-se á tropa do Apiahy-Mirim, através do inimigo. Interna-se pela maltacom os companheiros, deixando para ligação, jun-to ao caminhão conductor, o soldado do "14" Octa-via Seppi, que é morlo pelo inimigo pouco depois.

Ao longe, o blindado "14 de .Tulho" em acti-vidade. (63).

Bombardeio pela artilharia, flue (; avistada eestÚ a uns 1.000 metros de flistancia, 1.000 me-tros! Quasi no peito dos paulistas! Quantos ca-nhões? As 16 horas ellcs enlouquecem de vez,perturbam

°céo, o ar, a terra, e, porque não di-

zer, as trincheiras se perturbam. Atiram (alça azero) um alluvião de ferro, 246 tiros directos ebem contados, alguns 105, que cahcm sobre os pau-listas no espaço de menos de hora e meia. Uminferno! (64). Pobre destacamento, pobre "14de Julho!" A impressão é a de um assassinatocommettido friamente, as victimas perto do algoz(canhões a 1.000 metros) que lhes atira na cara,folgadamente, o que bem entende atirar. E' alIlorte que atiram c que ronca pelo espaço nos me-nores estilhaeos, nos menores...

O inimig~ grita:

-----(G3) Encalhou mais tarde. Helirado á 1 hora de 27,

('OI!L grande difficllldade e sob a vigilancia do fogo ini-IllÍgo.

(G4) Talvez o bombardeio mais intenso e brutal elelodos os sectores de S, Paulo, e se leva!' em conta a linhadI' IriJlC'heira (pouco mais de kilometro), o numero de ti-ros (:'!'I(j), a sua natureza (directos), c o espaço de !cmIJo(1IIt'JlOS (10 hora c meia). Os soldados do Sul sahem qllan-10 \'al(' 11111tiJ'o elirecto".

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12,1 i\ 11r e o d e :l I III C i li a C a 11!a I' fi o

-- Avancem paulistas. . .! E termina com umpalavrão.

(O sol se esp an ta) .Os paulistas gritam:- Avancem gaúchos...! E tcrminam com

um palavrão.(O sol enrubcce).O inimigo faz a rcplica:- NÓs não somos gaúchos, somos pernalllbu-

canos, SC'llS paulistas...! E termina com um pa-lavrão.

(O sol se esconde).Os paulistas respondem á replica:- Então avancem, seus pernambucanos...! E

terminam com um palavrão.(On de está o sol?).Rio Grande, S. Paulo, Pernambuco. Sul, cen-

tro, norte. O Brasil parlamenta com violencia aoredor de Bury, no 2G de Agosto. Congresso dosBons-Amigos presidido pelo Marechal Palavrão,qu.e é o unico a escapar incolume dos debates, sa-hi llldo eomo entrara: limpo e sereno. E com a glo-ria de tcr salvo a honra da literatura brasileirados nomes fcios de uma conversa desinteressante eimprestavel, o que se costuma chamar - meioimproprio.

(O sol apparece vermelho, bufando).Pobre astro celeste, a quanto te obriga uma

gucrra de mal educados!Em meio ao b/'ouhaha de ferros, estampidos e

pala vrões, o inimigo tenta avançar, correr atrásda presa facil... E avança. O "1.1 de Julho"('s!Ú de pé nas trincheiras, v1 os canhões dispa-":1lido, assiste ao arrebentar infindavel das gra-fiadas. sabe que os ferros que lhe voam á cabeça

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.1 E P O P É ..1 125

s:-t() o fim, ellc sabe e está de pé nas trincheirasp:tulistas, empunhando (suprema irrisâo!) o pe-queno fuzil que dispara, que torna a disparar, quefaz frente aos homens~mil, aos tiros-mil, aos ca-ItlJões-mil. Que venham aos milhares! O avanço(.~ contido, a artilharia envergonhada se cala (teriad Ia visto os soldados de pé 7), mas o duclo de fu-ziria é mais intenso que nunca. 0"14" quer quc() inimigo saiba da disposição dos paulistas, por-que alguem gritou "Tudo por S. Paulo", e se en-Irega ao combate, c procura mais munição, A'sIX li ~ horas dimiu ue a fuzilaria, só trabalham asal'lnas automaticas, o soldado precisa poupar oresto da munição, guardar um pouco de tiros paraIlIalS tarde, Para quando?. ,

"Hesiste, com o batalhão de seu commando,:1 grande e pertinaz offensiva inimiga, montada,")111 efficientissimo apoio da artilharia, que dis-p:II'O[J mais de mil tiros, inclusive alguns de 105,11<'111como da aviacâo de reconhecimento e bom-I':mkio, emquanto 'que de nossa parte houve ape-II:IS ;\ disparos de artilharia de calibre 75", (65).

() destacamento recebe ordem definitiva de re-Ii1':1da, suo 20 horas, EUa se processa em ordem,

111'111'uma capsula vasia para o inimigo, todo(I III:ill'I'ial é levado, tudo. Os contrarios percebem

"IIIO\illlcnto, atiraIn, e as armas aUlOlllaticas vi-

1111111os rctirantes com uma teimosia sem par.Ill'Iil":l(la debaixo da fuzilaria, Um unico solda-d..

"""1,1" é ferido, no braço, recebendo cumpri-

(I!!o) lJo HI'!:tlodo do ~Iajor He]iodoro ao Comte. da1", 1'111011"".

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126 Allreo de illlllCida Clll/lnrgo

mentos pela sorte. Elle mesmo se considera feliz.Todos o secundarn, "feliz, sim".

Depois de 10 dias de trincheira, mal trabalhamas pernas, os musculos estão rebeldes. A cargapésa, uns levam munição, outros dividem o mate-rial de sapo., bem assim os fuzis dos cumpanhei-ros mais cansados. A retirada tambem pésa, e in-justamente, porque o combate foi dos paulista~,delles, portanto, a victoria.

O "14" se mistura com os soldados da LegiãoNegra, com os que souberam ficar até o fim e fa-zer um pedaço da ruta de S. Paulo, isto é, com-pletar a historia paulista que ajudaram a fazer.Porque. . .

"Discurso irradiado a 13 de Maio de 1932.Trechos".

"Lembra o antigo theatro popular, onde aspersonagens conseguiam por malabarismos pes-soaes cuidadosamente estudados eentralisar de talforma a attenção popular que a peça figurava emplano secundario, chegando a evaporar-se por al-gum tempo para resurgir de novo e com feição di-versa nos attractivos da personagem seguinte.

Cada personagem um enredo, um motivo, otheatro.

Assim, a personagem P lembra a p,eça p.Assim tambem a nossa Historia. Joaquim

N ahuco absorveu a abolição e o preto, emquantoa aboliciio viveu. Durantc cincocllta annos, Pe-dro II f~i o imperio brasileiro. E a campanha doParaguay? Caxias e Caxias...

No 32, o preto viveu S. Paulo e a sua epopéa.Cuidemos, pois, delle.

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11 E P O P É A 127

Era o 9 de Julho e mãe-preta falou:---o Preto tem compromisso, a sua palavra ~

11111;1 só. Em 1700, em 1800, em 1900. Criou o';r:lIlCO, amamentou-o, fez o branco viver, e desde"111;-'0elle é nosso. Preto é barulhento? Para o11:1rlllho, pois! Que as festas exigem musculosIIg('is c alegria nos olhos? Para a festa, festeiros!A IlIcninada vac partir, nhô-nhô branco não pó deHlldar sÓsinho.

!'acU foi raciocinar a guerra: um campo tra-":1111:1<10,um embalo de negra velha, o cafezal,lira 11<:0tão bom, S. Paulo vinha de longe, cora-0::"10falava, mãe-preta exigia...

-- .Já lá vamos, brancos!

Ainda mais. A guerra era commum, irmã, oIIIl'SIIIO pão, a mesma agua, e, para as mesmas"IIIl)(,~ÔCS, um só coração venuelho, - a guerralilllla côr.

I.eães enfurecidos? Leoas que elles eram.()s 11rancos estão em perigo? Cuidado, inimigos!I 'oll)la as tuas ballas para as nossas pelles. En-1110preto não é alvo mais precioso? Branco foiIl'I'ido'! Maldita a guerra! O inimigo descobriuo IlOSSO amôr, elle quer destruir o amôr do preto,d"sllIoralizar-lhe a vigilancia. Está em jogo aIIO~;SIl responsabilidade e mãe-preta é rigorosa naIII'o':llaçio de contas. EUa disse "Não durma para1III'IIillO dormir". O inimigo não terá o branco,III'I~; o ddenderemos nas noites infindas, os dentes,'.t'ITHdos cm desafio. E que as noites de campa-IIIrIl sl'jalll longas como a luz das estreUas...

.

1\ llenção, senhOlies inimigos! Mãe-preta1IIIIIIIIIIill li commando, attenção!

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128 A 11r e o li e Li l Ilt e i ú u C a JlI a l' 9 o

Duranle 80 dias e1Ja falou 80 vezes:- A guerra é minha, dos prelos do 32, da ne-

grada da historia brasileira. Eu fa(:o a gucrra.

E, mais uma vez dentro da Ilisloria, nós ti-nhamos nas mãos o S. Paulo (11lCfizl~lIl(JS para aHistoria. "

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o Fundão

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o combate do "Allcmão". .. A lembranca doscompanheiros que se foram por S. Paulo faz. emu-dceer o "1/1". Frio, fome e cansaço desapparecem:llIte o pesar commum. De vez para sempre ia terri 111 a alegri a que caracterisava o batalhão dc mo-,:os, de soldados que conseguiam respirar prazerIIlcsmo dos ares mais sobrecarregados de odioso(.!lta de vida c de morte, para o futuro. A guerraj:'\ tem sabidamente os seus horrores, sentidos, pal-pa veis, tristemente sabidos e experimentados, a111:'1guerra. (66). Pobres moços que se foram!(>lho por olho, para o futuro. O "14" marcha soh

°peso da lembrança triste. Já não possue moci-

dade o batalhão que só respirava prazer. Diassombrios haviam-lhe tirado o que teria scmpre deIII(~nos para o futuro - alegria. Onde os olhos\'ivos, a risada franca, o InuHor expansivo e sorri-dente do batalhão que entrara cantando em Itara-I'l:~? Que fizeram da mocidade do "14'''! Calem-S(~frio, fomc, chuva, cansaço. Responda, canhão!V!le fizeste da mocidade?

A' meia noite, o "14" chega ás antigas posiçõesoc(jupadas pela L" Cia. sobre o Paranapitanga eacampa pouco adiante. Estende-se pelo campo en-

(66) O numero de feridos, apesar de pequeno, não,',ll('.gol\ a ser conhecido exactamc'nte por parte do Autor.

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132 AUl'eo de Almcida Camargo

sopado de garôa fina e impertinente, dorme. Oinimigo, ouve-se ainda, atira L:OIll a artilhari~LUns ao tiros. A noite é dos justos, canhão inimi..go! O batalhÜo dorme, c o arfar dos peitos can-sados é o unico signal de vida na immensi,dão doscampos sulinos, ainda paulistas.

São 5 horas, e o "14" se põe em forma. Os de-dos estão gelados, entorpecidos, mal o soldado con-segue segurar o fuzil. A marcha da vespera COll-tinÚa, mais uns 8 kilomelros de percurso. A ar-tilheria inimiga, sobre quem estarÚ ella atirandoagora? Descanso Ú beira da estrada C. Bonito..Bury. Signal de aviões inimigos, dois dos lluacslançam bombas sobre o Paranapitanga. (G7).

Ordem de voltar. Para onde, para o "AlIe-mão~'? O "14" volta e se installa a 4 kilometrosdo Paranapitanga, em capões de matto quc mar-geiam a estrada de rodagem. EstÚ na 2." linha e,ao mesmo tempo, garantindo o flanco esquerdo datropa do batalhão Ribeiro.

A nova posição (pensa um 18 annos) parecenão offerecer muita vantagem sob o ponto de vis-ta militar. O canhão inimigo grita ao longe:

- Que vantagens?Tambem atiram os canhões pa'ulistas. Poucos

tiros, mas atiram. Dois aviões inimigos bombar-deiam ao longe. Sobre o Parallapilanga, nova-mente?

Parece (lUe foram os canhões que trouxeram alembrança da comida, das gorduras. Porque, no"AlIemão", depois do dia 23, o serviço de distribui-ção de comida ficoll muito irregular e cada trin-

(6í) Sobre o antigo batalhão Arlindo, agora commal1-dmlo pelo CapitÜo Pedro nibeiro, o batalhão Ribeiro.

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A EPOPE:A 133

('(I('i I'a tinha de destacar dois homens para ir bus-(':11-:1 mais de um kilometro atrás. A alimentação,111I1:lSlatas de corned-beef, aliás profusamente dis-Irilmidas; no fim de certo tempo já se tornava in-I()lcravel. E' 1)0risso que agora, já mais folgados11:1 2." linha, os soldados esperam alguma coisaslIbstanciosa c que tenha eôr e gosto de feijão, mes-1110que não seja feijão. E carne, que é o melhornlimento. Estão distrihuindo chocolate em taboa,() (Iue é uma bôa eoisa. SÓ cntão é que o "14" dÚ('onta de si. Sujo, magro, hraços e pernas e peito{' costas em poder dos carrapatos. IJa os "polvora"(~os "estrella", todos nojentos e damninhos. Quan-do o hatalhão se achava, certa vez, de bom humor,os soldados se divertiam coJ1ocando alguns car-rapatos, dos maiores, no pescoço dos companhei-['os, Agora já não lia dessas coisas. lVIas o nume-ro dos "polvora" e dos "estrella" é cada vez nIaior.E coça-se, as feridas crescem e ha puz em algumasclellas. Infeccionadas, jJorque as unhas estão su-jas de muitos dias. Catar carrapatos, divertida oc-(~llpação para estoIlJagos vasios! Os bichinhos sel1l11ltiplicam deante da vista, pois se um é pegadodezenas de cHltros estão ao deredor do lugar va-go, á espera de quc lhcs chegue a vez. Esta nun-('.:!chega, a quantidade é enorme, e-n-o-r-me-! Emgeral o carrapato sÓbe pelas pernas, que são a par-Ie do corpo mais atacada, talvez a mais preferida.()nando o solda(lo se deita, porém, movimentam-se alegremcutc, entrando-lhe pelos braços, pelopescoço. Nada escapa. Agora o corpo é delles, Úvontade!

Comida hoje, dia 28, ás 16 horas. E' a hora-('sIOIlIago.

Estão abrindo trincheiras. Um combaLe no

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134 Allreo de Almeida Camargo

terreno trabalhado, que é plano, será bastante pe-noso. Talvez que os canhões-mil avancem dispa-rando com alça a zero, assassinando... Que osdeuses protejam os paulistas, que l\1arLe os pro-teja. . .

Chega de S. Paulo um grupo de .E-0litico"li-Touristes de trin' ,'.. s, é o que são eUes. Deci-

1 amente vieram eonhecer de perto o decantado"moral da tropa", tão falado quão discutido na re-taguarda. As cartas que chegam de lá trazem in-variavelmente a pergunta de estilo: "e o moralda tropa ?". Os soldados estão para responder,mas responder o q'uê? Já não basta o que ellesdizem e sustentam: "Tudo por S. Paulo"?

Os visitantes contam anedoctas, logo de ini-cio, e alguns riem antes dos ouvintes.

O "moral da tropa"!. ,. Vieram de S. Paulopara conhecel-o, mas não ousam fazer a pergun-ta, não se arriscmll a perguntar COlllO vae "eUe".Porque? Se até photographar os soldados elles po-dem, quanto mais perguntar-lhes pelo moral! (Oshomens da retaguarda ainda não comprehenderama mentalidade do soldado, que, no (ront, repel1enaturalmente e de maneira explicavel o contadoconI "civis", Porque, na guerra, as relações dosoldado se limitam ao sarg-cnto, ao commandantedo batalhão, ao cozinheiro. E' a guerra, a sua lei éuma só), ElIes contam alviçareiros que está parachegar armamento em grande quantidade (sensa-ção); que a Marinha é sympathica (sensação) ; queem Minas c principalmente no Rio Grande o movi-mento é uma realidade e vae-se alastrando rapida-mente (sensação); que (oh perscrutadores do mo-

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.4 EP()PÉA 135

I'al alheio!) a retaguarda das tropas inimigas do Sulestá cortada (sensação); que a belligeranda estásendo pleiteada com successo, só havendo .emba-!'aços por parte dos Estados Unidos. Assim: a Ita-lia estaria disposta a reconhecer o estado de bel-ligerancia, mas os Estados Unidos, lançando mãoda doutrina de Monroe, não via com bons olhos aintromissão de um paiz europeo em negocios daAmerica. A França, por sna vez, rival da ItaEa,acompanharia a attitude dos Estados Unidos. Eo barulho estaria armado na Europa. .. Mais umavez a Europa se curva ante o Brasil. .. (Sensação).Os 18 annos não estão acost'umados a receber tan-las hôas-nolicias, e os corações dão sacudidelas quepoderiam ser fataes. Ponlue causar sensações tãoagradaveis e perigosas? Em geral, as noticias al-viçareiras são da exclusividade dos que não estão110fl'onl. E, quando este as recebe, estabelece-se11mcontraste, (entre a situação do soldado e o sen-lido das mesmas) que é ao mesmo lempo inulil cCOlltraproducente. Alguns affirmam que não, epOl'isso o fronl vive á custa de contrastes, dos quaes(', um dos elementos, o mais ingenuo delles.

DIALOGO DAS BARRACAS

1.a BARRACA

-- Temos visita.2." DITA

~São politicos pauEstas, isto é, de S. Paulo.Vi('l'am de lá, devem saber novidades.

1.8 DITA. .- N ovhlades vem elles buscar aqui, dos 801-

dndos.

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136 Aureo de Almeida Camargo

2." DITA

- Quem sabe.

1.' DITA

-- Vem conhecer o "moral da tropa", dar pal-pites e distribuir" peixes". Repare como eHes s~apresenlam. Como credenciaes, allegam que o fi-lho está no {['onl, noutro {['onl, e, no emtanto, é onosso que visitam, qual!

2.' DITA

- Nada de maldades. V.lhões estão cheios de parentes

sabc que os bala-de politicos...

1." DITA-- Não dissc o contrario.

2." DITA- ... c todos elles bons soldados.

1.n DITA

- Os bons soldados a que v. se refere, paren~tes ou filhos de politicos, são bons paulistas, opti-mos até. Nã o rliscu to com eHes, que valcm m ui to.Os velhos são os que me interessam. Repare noacanhamento com que os visi tan les conversam.AqueHe alé está vermelho, talvez que o remorso. . .

2.8 DITA

- Remorso?1.8 DITA

- Vamos conversar com claresa, fazer jogofranco. Esses homens que ahi estão, e quc não po-dem ser estudados isoladamente, pcrtenccm Ú mas-sa infcrnal dos politicos, dos máos politicos, dosmáos pa'lllislas, á massa dos que infelicitaram São

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EPOPÉA 137

Paulo. Uns pertencem ao gruIJo l\-Ião-Grande, oqual controlou a intelligcncia, a consciencia, a arte,o trabalho e a vida de um Estado, durante annosseguidos, e da mesma forma desgraçada. Até amoral paulisla (niío sorria, niío é o "moral da tro-pa") estcve na imincncia de sossohrar de vez, pe-rante a Nação e a Historia, porqne elle, Mão-Gran-de, tudo encampara, - o Estado era elle. A ve1'-'ganha que ainda restava esquecida numa ou noutracasa, escondida numa ou noutra fazendola do in-terior, figurava nos ultimos tempos como o dCITa-deiro ob.ieclo procurado para encerrar o leilão quese processava miseravelmcnte. Mais um lance ePal's Lem~ era vendido.

O outro grupo, o da Mão-Pe(IUena, nasceu pe-qucno, fez-se forte, mas sempre do mesmo tama-nho - pequeno. Quantos se illudiram com a esta-tura mesquinha! E se não chegou a possuir pormuito tempo a machina que lhe fugiu das unhas,e na qual continuaria o trabalho rasteiro da Mão-Grande, nem porisso deixo'l1 de se nivelar a essegrupo.

2." DITA-- Quanto rigor!

L" DITA-_o N:'ío me interrompa. Se nós não podemos

falar descmbaraçadamente nos campos Sul de S.Paulo...

2." DITA.-- NÚs, não.

L" DITA- Sim, os soldudos. Como dizia, os grupos

ahi estão, descriptos á moda da terra, - com ri-gor. S. Paulo post-1930 nivelou-os, cllcs que tem

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138 Allreo de .llmeida Camal'go

o mesmo sangue, os mesmos vicios, um só apetite.Os dois grupos fizeram a guerra. . .

2." DITA- Foram os paulistas, protesto!

L" DITA

- Concordo, fOI'am os puulistas. Foram estesque se levanlaram, lodos sabemos. Levantaram-seporquc? Porque não queriam respirar um diamais a athmosphera carregada de mlios c fomen-tada por clles. Por ellcs, sim. Sem os grupos não

Ihaveria Outubro de ln:~O, sem elles o 9 de .Tulhaseria um simples n de Julho de folhinha, nada mais.Depois de :~O, Mão-Grande se calou naturalmente,l-P~pois estava vendda c sÓ aguardava o golpe de mi-\ I

sericordia, que nunca chegou. Mas, se não podiadirigir o Estado gostosamenle como outróra, podia,contudo, amar S. Paulo, ajudal-o, na medida dasforças de que ainda dispunha, a carregar o fardoque enchera quasi totalmente. Não. Nunca. Li-mitou-se a dizer arrogantemente "um dia ha dechegar". Só esperava voltar para as posições qucainda lhe conservava a forma do corpo. E a cadaerro da rcvo}uçâo em S. Paulo, que foram muitos,encolhia os ombros, largando com um sorriso (clas-sifique v. a especie de sorriso) a phrase que nãotinha o direito de dizer: "V ocês queriam a revo-lução, agora aguentem as suas eonscquencias". E.dizer-se que Mão Grande se julgou e ainda se jul-ga espoliada do emprego, victima iUllocente de umabrutalidade, e, suprema ironia, exclusivo bonspaulislas!. . .

~~

Depois de :~O,o gruDo ~ueno participou dos }Y .

erros da revohlção el~Paulo, viveu-Ihes sempre

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A EPOPEA

Ú sombra, esperando realisar a ambição de vez,lIlas só para eUe, nunca para S. Paulo, que poucose lhe importava. Falou e gritou: "Temos o di-I'eito, soffremos..." E calou-se, quando se pra-Iicavam as grandes injurias a S. Paulo, muitas in-sufladas e applaudidas por elIe mesmo. Quando sefizer a historia da revolução cm S. Paulo post-19iW,a miseria dos ambiciosos que puzeram o Estado aperder apparecerÚ como o ultimo trapo de honraalardcada pelos derradeiros mÚos paulistas.

As Mãos... Uma q'ueria que S. Paulo sof-fresse a situação que a substituira na direcção damachina; que um ambiente saudosista lhe fossepropicio para o futuro; que em S. Paulo se criasseabsurdamente nma nostalgia absurda a seu fa-vor. .. A outra queria S. Paulo para si, só parasi, para satisfazer Ú volupia peculiar aos despeita-dos, para quebrar o pedacinho que ainda ficarada pobre machina, (lUC andava aos tl'ancos, o pe-dacinho. . .

2.' DITA

- Y. mu(lou o rUlIlO da conversa

l.a DITA

- A guerra é uma Ile(:essidade, dizem, umabella opportunidac\e para demonstrar que S. Paulonão é covarde coUeetivamente, como alardeava umministro revolucionario, que hoje deve estar 1>0-([uiaberto. Que se guerreie, pois. O cerlo é queos polilieos sc uniram para fazer a guerra e cha-maram justamente os moços que estavam por tudo,por S. Paulo. Porém, não lhes deram armas. SÓviam o Cattete pela frente e adhesões promettidas(politico prometter a politico!...) sÓ isso eUesviam. Elles que não eslavam Ú altura de S. Paulo,

139

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140 Aureo de illmeida Camargo

que nunca estiveram senão fugazmente, tambemdesta vez escapam á altura da situação que cria-ram. Os moços vão para a frente. Estão aqui.Vieram cxpontaneamente guerrear por S. Paulo,nunca suicidar-se por clle, porque o suicidio se fa..ria lá mesmo, na Capital, dentro da casa, no ba-uheiro. Pobre S. Paulo! Dia a dia é terreno amais que perde, apesar da Illta dente-a-dente, pal-mo-a-palmo. Por S. Paulo! Os politicos deviamafastar-se definitivamente de todo e qualquer lu-gar de procminencia. Elles compromettem a bel-leza do sacrificio da mocidadc. A terminar a guer-ra favoravel aos paulistas, vae ser um inf.crno paraacertar em S. Paulo qual a Mão que deverá agarraro bocado em primeiro lugar. A Grande, a Pequcna '?

2." DITA

- Quando terminar a guerra, os soldados vãovoltar para mandar um pouco.

L" DITA

- Vae ser o inicio da grande luta. Confionos soldados, quero acreditar que elles estabelece-rão um regimen de honra, de. . .

2." DITA

- E11es estão de partida, os políticos.

1." DITA

- Passem bem, boa viagem.

2.11 DITA

- Passem bem, boa viagem.

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!::P()PÉA 141

Ha UIlla frescura de desabafo que enche ospulmões. São os ares sulinos. (68).

o canhão 150 do Itaipú dispara, ao longe, co estampido fére o espaço, o pobre espaço. Amea-ças dc chuva, - um desastre para a tropa CJue nasua maior partc já não dispôe dc lonas de barra-ca, perdidas umas, arrebentadas, outras, algumasabandonadas. Desaba á noitinha o maior tempo-ral apanhado pelo "14" e quiçá pelo Sul de S.Paulo. Uma tempcstade de agua, raios e ventopela noite toda. Os capões são atravcssados poruma serie de peq'uenos rios enlameados, os qnaesem nada lembram as enxurradas de cidade. Umsoldado, mais dc um, tem o expediente de atraves-sar dois fuzis sobre um dellcs, improvisando umaponte, - "leito de campanha", segundo a expres-são do constructor. O batalhão, que não dormeante a invasão da agua suja, julga ouvir artilheriainimiga de mistura com descargas electricas. Se-guramente, até os elemcntos conspiram contra ospaulisLas. Raio ou canhão, o barulho é um só,porque unico é o obj ectivo - os paulistas. E pra-gueja-se justamcnte.

Manhã sem chuva, mas encoberta e fria. O"14" tresnoitado e, de accordo com a opinião exa-da de um soldado, apodrecendo.

Apodrecendo é igual a: sujo, rasgado, molha---

(68) A aeluação dos politiccs na retaguarda e na di-rccção da gnc1Ta não poderia ser analysada com detalhesneste livro nmTalivo. Os que se inlere(jsam pelos homenspublicos paulistas devem ]er o liVl'o de Maltos Pin~'Iue é um cidadiio honrado e amigo de S. "Paulo. '[;: lCa sua narrativa sobre as miserias politicas que assistiu e.mS. Paulo - 1932.

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142 A. LLr e u d e ,l I J/l e i cI a C alI! a r [J o

do e cheirando. (69). E' o "14 de Julho" a 29 deAgosto de 19~~2. Nada de sol. Os soldados espe-ram pelo café, que melhorará a situação, impedin-do, quem sabe, o desenvolvimento do reumathismoincipiente. Ademais, ainda ha os arrepios de frio,prenuncio de uma pequena ou grande grippe. Ocaminhão da intcndcncia apparcce, barrento. Ochauffeur, assustado, conta que o carro virou e comelle o café, tudo numa derrapage forte. Que sósobrou pão, assim mesmo molhado, possivelmentesujo, e que de camaradagem arranjou cinco queijos,cuja origem esconde. Os soldados reclamam café,"café quente", mas o chauffeur quer socego", "elleque soffreudores na quéda".

Quantos são os solda:dos que baixam ao hospi-tal de Capão Bonito, reumathicos, febris? UmaCia. quer descansar, trocar roupas em Capão ouItapetininga. Descansar todos querem, todos pre-cisam, mas o commandante Heliodoro pondera queo "14" é indispensavel no momento; que o proprioCoronel Taborda cuidará de attender aos desejosdo batalhão, aliÚs razoaveis, dentro de breves dias.Ha muita tropa seguindo para Capão Bonito, paraItapetininga.

Corre com insistencia que o inimigo vae bom-bardear aquella cidade. Onde teriam encontradoa noticia? Até á noitillha, nada de aviões, e o ini-

(6\) "Sem que houvesse outro elemento para subs-tituil-o, cumpria elle ser conservado em linha, mesmo por-que ainda nos era dado esperar que no momento criticose produzisse uma galvanisação nesses olementos cujabravura agora eclipsada pela depressão organica re.surgi-I1ia mais tarde em manifestação surprehendellte". (Palmoa Palmo, pg. (5).

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.4 EPOP1~fl 143

Illigo felizmente não dispôe de canhões de grandellleance. Estás salva, Capão!

Manhã, quando Ia artilharia g-e faz ouvir, sur-da, pesada, devastadora. Os canhões paulistas jáIlaviam partido, iam acudir outras tropas, percor-I'('t. outras linhas. Os tiros são sobre o destaca-IlIcnto Anchieta, no Paranapitanga. O "14" se re-rar., descansa, joga poker e enxuga as roupas. Esabe que lutará dentro em breve, pois o ar estácarregado, ha ambiente de guerra. E sonha acor-dado, olhando para o céo, com um avião derruba-d o por um tiro certeiro. . .

O dia 31 amanhece com forte fuzilaria na re-Iaguarda e para os lados do Paranapitanga. Ocaminhão do café não apparece, o que é máo si-gnal.

A situação das tropas paulistas:Sobre o Paranapitanga, o destacamento An-

l'.!lida, composto de elementos do 6.° B. C. P., Le-gi:io Negra e batalhão Ribeiro, antigo batalhão Ar-lindo. Quatro kilometros atrás, o "14 de Julho""('scalonado, em pontos dominantes, á esquerda da('si rada Capão Bonito-Bury, na região de Fundão,dt' modo a proteger o flanco esquerdo e retaguardada tropa do commando do capo Ribeiro, que fica"111 primeira linha". (70).

Graves acontecimentos na retaguarda: o ini-111igo, aproveitando-se de inexplicavel recúo de umI"tlalhào baptizado com o nome de 'Um bairro daC:tpital, havia conseguido ineursionar um kilome-11'11alrÚs do P. C. do destacamento, pelo flanco es-

~ .---(70) Do Relataria do Comte. Heliodol'o ao Comte.

"11 Fon;n Publica.

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J.!.1 ..III}'('" .1(' .111:lci,/" I:II/I/(/}'!I()-.-------

((lJ(:rdo. Pou('o anlt-s de a]('al\l::lr a I'slrada di' I'tl-

dagl'm CapÜn I\IIIJiIIJ-I\llry (' Il'I' 1dlimado IJ IJhj,'-l'Ii\'o, -- cor!l' da rl'iagllard:1 paulista -- o inilni-go (')\I'lJllll'a J'l'siskll('ia orgal\isada pelos [:nIl1ll1an-

dall«'s do d('sla('al1lcllIo c do "1.1", (elemcnlos I'S-parsos l' <.:arro-ldiIHlado) ('lJnsegllindü nwnll'l-o :'tdisl:ll1ci:l, apesar dc nÚo o d('salojar de \'l'Z. ()

inill1igo alli ficaria sem prlJgredil', mas dlJll1illan-do a ('sll'ada, [ornalldo-a il1lraw;i!a\'el. Os I('igoschaJl1al'iam a Si!tl<lI:;IO de J'l'tagnal'lla "((nasi ('lJr-lada ", Sabe-se, de IJnlro lado, !flll' estÜo pl'I)\'idl'lI-ciando a ('onslrllclJw (prodigilJs:1 cngenharia doSul!) de uma I:slrada de eml'rgcncia. (71),

FlJrte fuzil:iria I' hombal'dl'ilJ do lado I'al'ana-pitanga, Os C:llJiI()('S cstúo visalldo os palllistaseom al(:a a zero. SI'I'\'i(:o L'xlrallrdinnrío de \'igi-Jal\cia. Dois a\'il-)('s, ;'IS 1I !Jol'as. Apesar dl: \,oa-rem elU o!JSCI'\'al:Úo, 11;-\0deixalll dI: ('riar a]HlI'I'(:('i-IIH'n!os aos pau listas. Hepc!t'II1-se os cuidados ('os cpisodios de SCll1pre: corridas para o ma!lo, 1)(:-didos de silellcilJ. protestos ('ol1lra os mais il1lprll-de)) leso

Primciro ala 1'111C: signaes Ik illimigo Illl))la de-\,a(::-Io de colli))a. A tropa Sl' espalha pelo eall1l")elll li))ha de atiradorcs, atrÚs dc parcos cupil1s,proclIrando aillda pro!c('(:Úo 110S ac('idc))tes Iwtll-raes do terreno,

Ainda niio S(' l'omhall'. Os soldados se pre-o('('npam ('om o ((IIC Ihes tem perturhado lodos ossoccgos - eomida. Ilo.jc dia 1\:"0 virÚ, e sim o.inimigo, cuja j!I'l'SI'lll,:a foi assignalada hontcm 110.flan('ü eSlluerdo por il\tcl'll!edio de grandes quei-madas,---

(71) Chegou:1 SI'I' ('onslruida (' po!' dIa passaram oscaminhões do deslaeal1ll'llto, Ú IllJi!l~.

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.\ 145

A's };') horas mais ou menos, vindos do Para-Ilnpilanga, appareeem alguns vehiculos em carrei-1':1 \'('rtiginosa. Cavallarianos em disparada tam-1"'1)} se mostram na estrada. Um delles, offegan-11', cOlJ}munica que a tropa está a retirar-se eomditTiculdades, acossada pela numerosa cavallaria1lllll1Jga.

"Se ,"oces virem ca\'allarianos por essas eol-lill<\s, fa~'am fogo sem piedade, para salvar a nos-,"n tropa."

Afinal, o grosso de soldados em retirada. Osdi! "H", em posit:{lo avançada, tambem se re-Irallcm.

Os primeiros retirantes tinham atea'do fogo noIlIatto proximo Ú estrada. Hesu1tado: está causan-do damno aOs mais atrasados, (!lIe protestam inu-lilllleute em altos hrados.

Lm caboclo esbaforido conta que a cavallariaillimiga estÚ passando grandes effectiyos no nan-

''o esqucrdo. ;\Ialdito flanco eS[IUerdo! Os paulis-1:1S ,"{lo ser envolvidos, se yÜo! Pela fumaça já oI's 1:10. Que venham os homens, agora! Proeura-~;(' fazer fogo-de-encontro, o qual nào produz o ef-r,'i[o desejado. Que pensarÚ o inimigo ante a pro-rIlS:lO desordenada de queimadas? Que os paulis-I:IS () imitam erradamcnte? São labaredas que se:dl('(:cdem allueinantcs. SÓ ha uma prcoccupação:qlJ(:imar o maximo possivel. ,(\ão ha soldado queII:'J() proeure, para o fogo, 11m pedacinho de ar\'o-I"'. UI11 palmo de capim. E' a hora-fogo; são !fj

" Illeia horas. Como oricntar-sc com fogo c fu-111:II:a por todos os lados? Onde os paulistas cIIIIIIc os conlrarios? As labaredas crescem nos la-dlls, na frente, atrÚs, UlIl (!uadrantc ycrmelho, -li I<'undão em fogo.

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146 ,tu l' e (J li e ,li /1l e i ri a C a 1Il a l' g o

Ao longe, no alto de uma collina, limpa demalto, entre um aberto na fumaça, uma lista ne-gra-azulada, são os dictatoriaes em formação deataque. Os assobios das balas, passando uma auma pelo meio da tropa em retirada, attestam queo inimigo se approxima cada vez mais.

Nas proximidades do P. C., o com mandanteHcliodoro a clamar com voz forte, dirigindo-seaos soldados do "14", e a lhe::; mostrar um caminhotransversal á estra'da. Do fluxo da gente em re-tirada, começa a pingar um ou outro soldado, que,immediatamente, toma o caminho indicado.

Duas trincheiras, ladeando a estrada. Na daesquerda o "14", na da direita o 13.°B. C. P. Lar-ga, alta e bem feita a trincheira do "14". EUa seextcnde pela orla de um capão de matto, no mo-mento da occupação attingida pelo fogo levadoatravés o campo.

Vultos na estrada, a uma centena de metros.Os ultimos retirantes ou os primeiros inimigos?Apesar da duvida e dos signaes que os vultos fa-zem com braços e lenços brancos, estalam os pri-meiros tiros, arrebenta com violencia a fuzilaria dolado paulista. São inimigos! O Major Heliodoropercorre a trincheira aos gritos: "Passem fogo,passem fogo!" No Fundão se combate, no Fun-dão se mata o inimigo surprehendido e manhoso.

Julgando correr atrás dos retirantes até CapãoBonito e faz.el-os prisioneiros, o inimigo vem esbar-rar perplexo ante a inesperada resistencia. (72).

(72) "Tão logo se sente atlingido pelos tiros do ini-migo, o "14 de .Julho" resllrge, como era Pl'cvislo pelocommando e, quando os elementos adversal"ios postadosem nosso flanco esquerdo inicimn a sua progressão, desa-

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A EPOPEA 147

.. Quando na tarde desse mesmo dia 31, o ba-'IIIII:Ú) "Ribeiro" ccdctcrreno ao inimigo, que tam-114'111

() atacara desde a manhã, COIn elementos mui-IIIS v('zes superiores, obrigando-o a abandonar, de-1111 ix() de tenaz perseguição, as posições que occupa-\'11, Ú custa de grandes esforços consegue fazer'1("(,llpar, pelos elcmcntos de scu commando, as po-:;i,:Úcs de segunda linha, previamente organisadas.I':ssc esforço foi coroado do melhor exito, pois oillillligo, que vinha perseguindo de pcrto a tropa re-lir:lIlte, teria conseguido a nossa completa derro-1:1,se não ti vcsse os scus passos barrados, a curtadislancla, pclo fogo que abrimos das posições re-c'('ldcmente occupadas, dando-lhe a imprcssão dcCJlIC enfrentava tropa fresca e convcnientcmenteIIpparclhada para a resistcncia, quando em verda-ck jÚ estavam os com a munição quasi exgotada ciIIl(>ossibilitados de receber reabastecimento, emvisla de estarmos com a retaguarda cortada desdc11 manhã" (73).

Enchem-s'c as trincheiras .de folhas e ramos,'()rlados ás arvores pclos tiros inimigos. O pipo-'-ar dc balas de fuzil descalibrado, porém, impres-~;i()lla muito mais, porque embaraça o perceb€r deCJl1(~lado partem os tiros. No Fundão se com-1,:11 c.

Uma ordem: "Calar baioneta e prestar muitaIIllcll<;ão á frcntc das trinchciras." A segunda par-

\'iS:Hlos da posic:i'ío por clle n(~('.upada, vêm cahir justa-IIH'1I1(,' sob o fogo de SIl:1S mclralhadOl'as, a monos de cemII,,'II'OS de distaílcia!... E, é um ceifar impiedoso". (PaI-1110

"Palmo, pg. 08).

(7:n Do Hrlatorio do Com te. He)iodoro ao comte.

ti" 1'. Publica.

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148 Allreo de Alllleida Cllmlll'go

te era dispensavcl. A fuzilaria continúa com abaioneta na ponta do fuzil. Ferido gravementeum soldado do "14". Um outro tem o couro ca-helludo riscado pelo projedil, que varou a salicn-da posterior do capacete. Dois dictatoriaes avan-çam, um delles cahe, o outro é poupado, á vistada expressão physionomica que apresenta: "Pódelevar o companheiro".

O inimigo repete os signacs de paz, lençosbranços em penea. No flanco esquerdo, approxi-ma-se tanto da trincheira que parlamentares deum e outro lado estabelecem conversa. E porisso,só porisso, ordem dc cessar fogo, com a recommen-dação da mais absoluta vigilancia, cinco cartuchosno fuzil, baioneta calada, e "fogo contra os quese aproximarcm". Os ouvidos paulistas estão rc-pletos de narrativas de trahições do inimigo, asquaes costumam cOll1eçar por disfarce semelhan-te. Muitos não querem cumprir a ordem, outrosnão a ouvem. A trincheira da direita, afastadaque é da do "14", ainda não sabe da cessação defogo, e sustenta a fuzilaria. "Cessem o fogo, ces-sem o fogo", mas parece que os homens do 6.° sen-tem cocegas no dedo, ao verem os vultos que noflanco esquerdo sc aproximam e se afastam do"14".

N otida de (rUe elementos gaúchos procuramadherir aos paulistas. (74).--

(74) Esse facto se. confirmaria mais tarde. Um dossoldados do batalhão, quando remettido prisioneiro parao Rio, soube em Faxina que 70 soldados e respectivos of-ficiaes de um dos corpos riogran(lenses, sabendo-se emma situação frente á resistencia inesperada, haviam ]e-vantado o lenço branco da parlamentação com o fito deadhorir aolS paulistas. o que não fizeram em virtude datrcgua estabe]ecida.

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A EPOPEA 149

() ferido na cabeça, que já se restabelecera doslIslo, começa a dizer improperios contra o capa-",'1(', e faz menção de esmurral-o. Acalma-se de-pois que algucm lhe lembra a preciosidade da re-liIJuia.

Passa pela trinchcira, cm direcção ao com-111:lndo, um tenente gaúcho, Magro e pallido, of-f('gante de cansaço c de emm;ão, é levado pelo bra-('!} dc um oft'icial da F. Publica: "Daqui por dean-I<' nos batercmos juntos pela causa da Constitui.-<::'I()". (75).

De repente, quando tres gaúchos, a um de fun-do, caminham em direcção opposta ás trincheiras,('anta um F. 1\1. Lançam-se os homens por terra.IlIas apenas dois se levantam. Segun'do depois um!~I'llpO se forma em torno do companheiro cahido,('!}1Ilevidente despreso para COIll a possibilidade deIIOVOSdisparos, que se tornariam faccis pela excel-f('!lcia do alvo, Os paulistas atiram contra os que'lucrem quebrar tréguas e armisticios, nunca con-Ira os conductores de feridos ou mortos, á vonta-de gaúchos! Elles levam o companheiro.

Dura ccrca de duas horas a confraternisa-'::'10 ('!) com os gaÚchos. Até photographias sãoIiradas, algumas de pose. Camaradagem descon-fiada. A tropa inimiga é composta de um corpoPl'ovisorio de Palmciras e de um batalhão pernam-IIlle:1nO, Presentes reeiprocos, pequenas miudezas,11111e outro comcstíve1. () convite para visitar o;I(';\lnpamento inimigo não é acceiLo, apesar dasg:II'antias offcrecidas e a promessa de um garrafãodI' aguardente, "genuina", dizem.

(75) ParceL' que o offieial em qnestão voltou para

"s('lI l>os10, [.crminado o armblicio-trcgua-adhesão, ele,

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150 A u r e o d c ,t l 111e i d a C a m a r 9 o

Grandcs baixas dos adversarios: 13 mortos enumerosos feridos.

O front está cm paz. Nada de novo no front.Não ha soldados no front.

"Naus ne sommes pas des soldats, nous, noussommes des hommes. . ." (76).

Um official gaúcho traz na cabeça um capace-te de aço, evidentemcnte paulista. E' paulista, nel-le está escripto o nome do pI:oprietario, soldadodo "14" aprisionado no "Allcmão". O official con-ta que os prisionciros do batalhão além de "intelli-gentes", são "agradaveis e até engraçados".

Conversa adaptavel ao momento. Nada deassumptos de guerra. Não se diz mal de ninguem,e a palestra gira em torno dos campos do Sulpaulista c os do Rio Grande, sobre os carrapatose a chuva da noite 28-29. Não é um official maleducado.

Ha um grupo fazendo declarações de amôr:- Sentimos combater irmãos.- Ficamos tristes por combater irmãos.

- Esta guerra precisa acabar.

- Prccisa acabar esta gucrra.- Os gaúchos são leacs e valentes.

- Os paulistas são valentes e leaes.Os contrarios já conheccm o "14", o "batalhão

de estudantes", "Sabem lutar, mas levam desvan-tagens comnosco, porque não conheccm o maUo".

Noutro grupo, depois de manter conversaçãocom dois officiaes, gaúcho um e o outro p-crnam-bucano, um soldado conta que o "14" é compostona sua maior parte de medicas, bachareis, enge-nheiros c estudantes, e que elle é medico. Os of'fi-

(76) (Lc Fen, Hcnri Barbnsse, pg. 45).

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A EPOPEA 151

(.jacs insistem, duvidando. "Medico, sim". E dis-ral\~adamente, no desenrolar da conversa, faz con-:;idcraçães clinicas, empregando termos da techni-(':1 medica. Os homens se convencem, - é medi-1'0. O facto lhes causa tanta admiração que che-1~:lm a mudar o tom da conversa, já rebuscampltrases, já existe um certo cerimonial no accender() cigarro.

Um soldado pernambueano se approxima, ar-rogante:

- Mas então vocês, paulistas, querem brigarcom o Brasil inteiro... Têm que apanhar mes-IIJO. . .

Os officiaes mandam-no embora, com energia.Pela frente da trincheira, acompanhado de al-

guns soldados paulistas, passa um official, o Ma-jor Reis, commandante do 3.0 Corpo Auxiliar. (77)o Major Benjamin Reis. Alto, com um chapelãode abas largas, longo pala gaúcho e charuto namão direita, pisa com arrogancia, olhando de sos-laio as pontas dos sabres e os capacetes de aço.

Corre pouco depois uma nova versão sobre aIrégua: os gaúchos não haviam adherido, preten-diam tão somente a rendicão incondicional dospaulistas! . . . E pensar-se que o inimigo poderialer cahido sob o fogo paulista, d~ uma vez parasempre!.. .

Grave a situação. A tropa adversa, relativa-IIlcnteescassa a principio, tem recebido reforços.() cerco em que procura manter os paulistas con-Irasla violentamente com a palavra empenhada, de

.-'.----(77) Trazido ao acampamento e P. C., bem assim o

TIe. Alvim ('1), por um soldado do "11", que fôra ao:w:lIllpamento inimigo durante a cessação do fogo.

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152 Alll'eO de Alllleida Cumul'go

que ficaria nas posições primitivas. Lamentavelcompromisso! Mais cuidado para o futuro, sol-dado paulista! Nada de confiar em lenços bran-cos, nada de tréguas e parlamcntações! Confiano teu fuzil somente, paulista, e só com ellc par-lamento. de futuro!

Ordem dc retirada, que deverá tcr inicio de-pois doescurccer, afim de illudir a vigilancia ini-miga.

"Major I-Ieliodoro.A M. P. engasgou. Peço mandar com urgcn-

cia uma caixa de accessorios completa. Ttc. Al-varo Gordo."

E, no mesmo papel, logo abaixo:"A's 18 horas, inicic o rctrahimcnto dos ho-

mens, sem dcixar coisa ncnhuma, cm direcção áFazenda do Candoca. Faça ligação comnosco logoque sahir no campo. Leve consigo o pcssoal do Ba-talhão Pirassununga e do Eraz, e avise o carro deassalto. 31-8-HB2. Maj 01' IIc1iodoro."

O que houve foi um armisticio (!) com o adver-sario, que devia durar até á manhã seguinte, (Juan-do se daria a rendiçfío dos paulistas ou o reiniciodas hostilidades. A' vista da situação, porém, (re-taguarda eortada e forças inimigas em posiçõesdominantes, estas consegui das por uma esperteza(lue escapa ás leis de guerra) nada mais restavaao commando senão ordenar a retirada. Escurcce.

Um ninho de metralhadora do 6.° B. C. P.,com um soldado decidido, "em condições de fazerfogo até o amanhecer..."

Quando o primciro grupo de retirantes attin-ge a eslrada, afim de alcançar o que reslava deterreno livre e menos visado pelo inimigo, appare-

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.1 E P () P 1\ 1\ 153

ce, alarmado, um official da Força. E' que o Ma-jor Rcis, contrariamcnte ao que se supunha, ain-da não havia abandonado as posições paulistas, e,no momento, vinha do P. C. Estaria perdida a re-tirada, caso pcrcebcsse o movimcnto já iniciado.

Debaixo da qucimada, para a Fazenda Can-doca. .

Marcha pcnosa, as botinas estão enchareadase pesam lama. Alguns andam descalços e se ar-riscam a ter os pÓs rasgados, como ia acontecer.A tropa se divide em grupos, pois ha duvida sobreo rumo a seguir. Pequenas columnas iniciam otraj ceLo em linha quc .iu]gam reda, outras se des-viam mais para o lado. Soldados, quasi todos daLp.giiío Ncgra, deixam-se ficar pelo caminho, áespera de uma conducção absurda, de uma fatali-dadc qualqucr que os vcnha amparar absurdamen-te. O inimigo apanharia alguns, os mais fatalistas.

Sc pCllosa cra a marcha, a sêde ainda a tor-nou maior c agora é um castigo. Solda(los que seespalham pelo campo adormccem, sÓ p-cla luanhãcontinuariam a marcha. Ao mcio dia, mais oumcnos, rcuuião no Candoca, faltando os mais re-tardatarios. Talvcz que o cansaço lhes tenha im-pedi,do a cam inhada, talvez que o inimigo. . .

"No sul, travon-sc lula renhida na região deFundão, terminando de maneira vantajosa para asIropas conslilucionalistas". (78).

Tres aviões inimigos em obscrvação.Partida para o rio das Almas. Nem ao menos

~

(78) (Sl'rviço (]C Pl1hlieidadc de 2-!J, 11 horas).inimigo devia puhlicar um idclltico trcs dias u'ntcs.

o

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154 Allreo de illmeida Cqmargo

se passa por Capão Bonito, que está perdida, quevae ser entregue, que vae augmentar o patrimoniode conquista dos conquistadores. Pobre CapãoBonito, já não baterão pelos paulistas os sinosde tua igreja! Nem reconhecerias o batalhão quete enfeitava outrora as ruas alegremente. Tumesmo, que o conheceste moço, não haverias dequerel-o agora sem a mocidade, que ficou distan-te, lá para trás. O "14" te abandona ao destinodas tuas irmãs, que tambem ficaram distantes, elle,que tambem possue um destino desconhecido e acujo, encontro vae pressuroso... Pressuroso, o"14" vae combater por ti, por Dury, por S. Paulo!

Rio das Almas, em cujas immediações o bata-lhão se acampa. Aviões ao longe, os incansaveis.Comida, ás 17 horas. E' a hora-felicidade. Exhaus-tos, os soldados se atiram pelo chão molhado, ador-mecendo desde logo. Mais uma noite dos justos.

Quasi certa a ida para Itapetininga, onde o"14" ficaria de reserva. Depende da vinda de tro-pa para substituil-o. Comida ás 14 horas e umcaminhão com correspondencia, guloseimas e ci-garros, estes para o lugar dos que se perderam coma "grande chuva". O batalhão embarcará na ma-nhã seguinte.

Novamente tres aviões inimigos. E todos te-cem commcntario sobre os aviões nacionaes, quesó soffrem panne quando a passeio, e, na guer-ra, de uma feliddade unica.

- Já é perseguição, gritam.O :Major Heliodoro, commandante do "14",

reúne a tropa e lhe fala sobre o descanso promet-tido c em vespera de ser realisado. Que o bata-lhão teria em Itapetininga um novo commandante.

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EPOPIL1. 155

(77) SaÚda os commandados, parte. Os solda-dos estão cerlos de que ha um ligeiro amargar naspalavras ouvidas. P01'(IUC fazer considerações so-bre um pormenor da grande campanha? E' indis-cutivel que o Major Heliodoro foi um bom com-m~ndaIlte, lendo sabido enfrenlar situações diffi-celSo

Ilapelillinga, á 1l0ile. Aqnarlelamento no Gru-po Escolar junlo Ú Escola Normal, ollde eslá instal-lado o Q. G. do Seclor. Vizinhos do Coronel 1'0.-borda!

Grandes coisas na manhã 4. O Capitão AlvesBastos, Chefe do Estado Maior do Sectar, saÚda o"1:1" em grande estilo e lhe apresenta o novo com-mandanle, Arislides Leite Penteado. (80). O ma-jor Penleado é paulista, de S. Roque. Moço, a suaidade oscila 28-;m annos, agradavel figura de mili-tar. Agil IlOS olhos, nas pernas. Athleta, antigo

(7!J) "Passa:'t disposição do CeJ. AJvaro Martins,!HIl'a serv:r IlO seu Estado :\!aior, o ;\[ajor HeJiodoro Te-l1orio da Hocha :\brques, quc pOl' l'ste motivo deixa oConlluando do bLI. "14 de Julho". Agrac1rç'0 a este bri-lhante orrieial os rell'yan!es sel'yi(:os que prestou no com-man(10 que acaba de dcixar, ccl"!o de que eontinuará aagir com a I11<'S111agalhan!ia na iJllportante missão queagora lhc é (,ollfiada. Em virtll(l(~ da alteração acima nocOJllmando do !lU. "14 de .Julho", determino que assumao cOJllm:lI1do do mesmo btl. o snr. :\Iajor Aristides LeitePenteado". (BoI. do Q. G. n,O :37, de, 2 ele S('tembro),

(80) "Chamado a Itapetininga, a esse batalhão foidado j'Cj)()USO e armamento novo e, na maxima demons-trac:\o do quc para eJJe nH'recia o "H d(' JuJho", d('u-Jheo (OI'onel Tahonl:J p:lra eomman(1ant.e, aqueJJe offídaJque pejas repetidas j)\'(JYas dr hl'avul'a e de bom senso, decOJllpctencía e de eaJma, atraIJiJ'a para si a sympatIJia eeonfinn(::1 g(,I':H'S -- () 1.1) tc,nl'nte <10 Exrreilo Aristides

PenteacIo". (1'a1lno a PaJmo, Capo A. Bastos, pg. 127).

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156 Alll'eo de Alllleida Call1argo

corredor de 100 metros rasos, contaria mais tar-de, Arrojo moço, senso amadurecido. Senso dasopportunidades, dos momentos agudos. Um com-mandante de moços paulistas, eis o paulista LeitePenteado. Elle cumprimenta a tropa com largogesto, e, com surpreza geral, manda a primeira or-dem, inédita para o batalhão - limpar os fuzis,O conunandante ainda não tem 30 annos.

Esses soldados sujos, enfeiando as ruas, per-tencem ao "14 de .Tulha", u batalhão de soldadosandarilhos. Agora, trata de te limpar: vae havercinema, photographias. No cinema, "Navio Si-nistro", fita antiga, um dramalhão maritimo gene-1'0 forte, um galã que surra o navio todo. O baileserá mais tal'de (em Itapetininga ha bailes). Umbaile longo e permanente, começa durante o dia.Artes do M. M. D. C.

Revista matinal.Missa dedicacla a Alonso Camargo. A igreja

repleta de flôres, o "14" em peso, toda Itapetinin-ga. Pela primeira vez a cidade assiste a missa de7." dia cantada por soldados. Hymnos patrioLicos-guerreiros, alguns mal resistem e se commovem.Pelo com panheiro morto? Pelos que morreram '!Pela mocidade que ficou distante? O orgão en-che o arde rylhmos extranhos, dolentes. Marte sehumanisa no fi de Setembro catholico.

Exercicio com granadas de mão. Um com-mentario unico: "Pobres inimigos!"

Sem novidades de maior monta, e com umaserie de irritantes revistas, passam-se as horas atéalcançar a corneta que annuncia 7 de Setembro.Que Pedro I ainda é persona grata dos guerreiros.O "14" desfila em grande forma pela cidade.Aviões paulistas, em formação sobre o desfile. O

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Coronel Taborda esta presente, montado, em revis-ta a tropa. A montaria dispara assustada, e assus-tados ficam os soldados pela sorte do commandan-te do Sector. Bom cavalleiro, esta de volta e sor-ri. Os soldados tambem sorriem, imprudentes.Um grande desfile. Onde esta o Arco do Trium-pho, para ser a Parada da Victoria?

Revista ás 21 horas e a eommunicação de queo "14" forneceria soldados para a Escola de Of-ficiaes, em S. Paulo. Grande honra, grandissimahonra. Os proprios soldados fazem a escolha, hon-radissimos. Uma eleição-escolha de capazes enada mais. Os eleitos estão recebendo abra-ços. (81).

Dia 8, depois da revista, baile offerecido peJoM. M. D. C., ás 14 horas. Os soldados dansam,são gentis, dizem coisas gentis. (Que gentilezapóde ter um soldado, ainda que dansarino?). Quea guerra é suave, um treino para a resistencia phy-sica que muito approveita, divertida em summa.As damas se decepcionam, (ellas que julgavam aguerra tão differente) perdem tempo com moci-nhos festeiros. Os soldados dizem as ultimas pa-lavras gentis, são 20 horas.

(81) Alfredo Co1ornbo, Jayrne Barroso e Luiz de '1'0-Ieda O." Cia.); Antonio Dourado, Jorge Assumpção e Or-lando Siqueira Tiani (2: Cin.); Ernesto Weimberg, Fran-cisco Dias Cesar e Milton Pinto Cocl1:uL (3." Cia.).

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o Cerrado(Combate doRio das Almas)

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. o

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Bem municiado pela farta distribuição de ti-ros, o "14" embarca para o fronl, ás 22 horas dodia seguinte. Vae combater, pouco lhe importao destino. E' para a frente, para o fronl, para atrincheira.

" . . . j e vais m' abímer de nouveau ,dans Ia dé-mence de Ia tranchée. La vie du dehors avec la-quelle mon âme avait un peu repris contact pen-dant Ia période de repos, m'est redevenue loin-taine. L'humanité lá-bas, aves ses peines et sesjoies, ses actes et ses pensées, mc paralt étrange-ment fantômale. Le Christ eut-il eette vision dumonde, lorsqu'il remonta au ciel?" (82)

Manhã, CapeJIa dos Ferreiras, um pequcno ar-raial, meia duzia de casebres, capella. Depois docafé, viagem novamente. Agora, a tropa sabe quevae para a região denominada Cerrado.

"Havia para o extremo sul da nossa frente,nas lindes já ,do sertão que precede os alcantisaggressivos da Paranapiacaba, uma larga exten-são de terreno confuso onde, ao lado de banha-dos intransponiveis desenvolviam-se os eapoeirõestraiçoeiros, em toda a largura comprehendida en-

(X2) (Lettres d'Etudiants Allemands Tués a Ia Guer-1'(', ~HF, pg. 210).

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tre o curso do Almas e do alto Paranapanema.Era o Cerrado." (83)

O Cerrado, com ameaça de chuva. Triste efunebre panorama, cheio de 11ulos prognosticas.Terreno levemente ondulado em alguns pontos;em outros, pcquenos morros cobertos .de malta.Campos, samambaial, pinheiros, alagadiços, ca-pões. Vegetação complexa, complicada. Uma se-rie interminavel de atalhos, um labyrintho. Es-trada para Capão Bonito, que é a cidade mais pro-xima, talvez uns 8 kilometros. E antes de Capão,em poder do inimigo, o rio das Almas. No meiodo sertão paulista, levanta-se magestosa a Serra-ria do Americano, a uIlica coisa a lembrar no Cer-rado a civilisação distante.

Que surprezas offcrecerá o Cerrado para o ba-talhão, pergunta-se, olhando o "panorama incom-pleto" (expressão civil-militar). Que surprezas'!E cada soldado esconde para si os presenlimel~losde todo o batalhão. Chove fino, muito forte cfrio.

O destacamento, eommandado pelo official daForça Publica, Capitão Sebastião Amaral, copllnis-siollado no posto de Tenente-Coronel, compõe-sedo "14 de .Tulho", uma Cia. do 7.° B. C. P., umaCia. da Legião Negra (bombardas) e EsquadrãoAmaral. Quanto poderá SOllllllar tudo, desfalca-dos como estão os cffecLivos? Mais de 400 homens?O Chefe é um soldado valoroso, bella figura de mi-litar, com um habito inveterado que sustentariadurante toda a call1puuha - ser o ultimo nas reti-radas. O seu P. C. está installado nas immedia-ções da Serraria, uma simplcs barraca de solda-

(83) (Palmo a Palmo, Capo A. Dastos, pg. 133).

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.I", () "14 de Julho" viu-o pela primeira vez emli;1.\illa. No Fundão elle examinou as trincheiras('(1111 grande interesse, corrigindo-Ihes os defeitos,i:;(o nos primeiros dias de Agosto. Como no SulIlidos os soldados se conhecem, o batalhão está á

'''11 Lade sob o commando Amara!. E, mais qu('Ilido, confia nelle.

O rio das Almas offerece aprcciavel linha der,':iistcncia. As pontes que poderiam facilitar in-('lIl'sões inimigas estão destruidas. E' preciso,/lois, que o rio fique neutro, cada tropa comba-!!'IIle numa das margens. Acontece que o inimi-!',O conseguiu collocar elementos na margem direi-Ia do rio, a margem paulista, desde 9 .de Setembro.").; desde então, sem o podermos recalcar, sentia-IIIOSá ilharga de nosso dispositivo a ameaça pun-;~('(lle desse aguilhão." (84) O commandante/\lIlaral vinha se empcnhando inutilmente paradesalojar os intrusos.

MaIo batalhão alcança as alluras de uma pe-(plcna elevação e já a artilharia o visa, carrancuda.' pesada.

A tropa vae avançar, apoiada pelas bombar-das, cujos homens estão retemperados pelas aspe-I'('zas da campanha. Avanço, - a l.a Cia. peloI'I;IIICOesquel'do, a 2." pelo da direita. A 3.a está!~llanJecendo posições do lado da Serraria e de re-S('I'va.

Avanço, tiros que parecem partir da retaguar-(h. lima exquisitice só explicada pelo máo conhe-,'illJ('lIlo do terreno. O soldado está desorientado11;1"lIalureza incompleta". O batalhão vae tentar",'('aleal' o inimigo para a outra margem, a mar-/!,"III dl'ile.

IH.I) (I)almo a Palmo, Capo A. Bastos, pg. 133).

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J(H A 11 l' e () d c li 1m c i (! (/ C (I li! :1 r g ()

"As condiçõcs em que o adversario havia lan-çado seus elementos para a margem direita do rioeram technicamente perfeitas. Sob a protccçãode numerosas metralhadoras inslalladas nas altu-ras da outra margem, favorecidos pela conforma-cão do terreno, esses elementos zombariam dos es-forços do "14 de Julho" que, com as dcmais uni-dades do destacamento, tudo fez para recalcal-os.Todavia eram elles ali detidos por algum tem-po." (85)

Sem resultados o avanço, pois a 2." Cia. nãoconsegue progredir ante o fogo de barragem dasarmas automaticas, que dominam vantajosamentetoda a extensão palmilhada. Já elementos do 7.°,cujas trinchdras cram contornadas pelos solda-dos do "14", haviam prevelÜdo as patrulhas avan-çadas ele uma seria resistencia do ÜÜnÜgo, sendoque este se localizara nas immediações de umatrincheira abandonada por elementos paulistas,por insustentavel. Accresce que o terrcno longeestá de favorecer uma arremettida semelhante átentada pelo "14", Que remedio, senão voltar?

Escurece. As patrulhas de reconhecimentopartcm e voltam com bons informcs. Comida ás21 horas, um gosto desagradavel de feijão frio. Obatalhão dorme ao relento, chuva fina por cimae frio.

Pouco antes de meia noite, fuzilaria sobre astrincheiras do 7.° até alcancar a manhã 11.

Chove forte. Bombard~io ao longe, bem paraa dircita, talvez sobre o "Marcilio Franco", quefaz parte do destacamento mais proximo. Aviãoinimigo em observação. Com chuva! Uma patru-lha original, pois é chefiada pelos commandantes

(85) (Palmo a Palmo, Capo A. Bastos, pg. 128).

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Amaral e Penteado. Como as guerras estão mu-dadas! Comida ás 13 112 horas, debaixo (10 agua-eelro.

Elementos do "14" vão reforçar uma Irinchei-I'a do 7.°, seriamente visada. As 1." e 2." Cias. estãoacampadas. E sabem que dentro em breve irãooccupar trincheiras no flanco esquerdo, - o li-mite maximo de defeza do Destacamento.

Novo ataque dia 12. A L" Cia. segue o mes-mo caminho da vespera. Fuzilaria com o ini-migo proximo. O fito é impedir a reconstrueçãoda ponte destruida pelo commandante Amaral,importunar o trabalho, martellar o inimigo, afas-tal-o, se possivel. Fuzilaria ide lado a lado. Ossoldados entram pelo charco, atiram meio atola-dos. Ataque mais para a direita, atiram de pé,de joelhos. Uma guerra de malto. A resistenciadas armas automaticas é inabalavel, - a 1." Cia.volta sem conseguir o objectivo. Os soldados res-mungam: "Mas fogo inesperado o inimigo ga-nhou".

A 2." Cia. contorna as posições do 7.° até al-cançar o malto denso, no qual penetra. Vae en-frentar o inimigo de perto, de Sl1rpreza. A sur-preza! O inimigo é atacado com vigor, está des-orientado. Feliz 2." Cia.! Consegue recalcar oscontrarias para a outra margem. A seguir reoc-cupa a antiga trincheira do 7.° A posição é mÚ.E' abandonada. A tropa está de volta, victoriosa.

Fuzilaria sobre o 7.°. As trincheiras recebemliras directos de um "37" que, a julgar pelos ponlos('111que atira, está montado sobre um caminhão.Um pequeno canhão volante.

Durante a comida, ás 14 horas, aviacão inimi-ga. Novos apparelhos ás 16 horas, pei'lo de :10

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166 Allreo de Almeida Camargo

bombas são lancadas. Devem ser das de 50 kiJos,ufa! Um baruiho infernal, a terra em tremores.AIguem faz a conta: "29 bombas". O "37" per-corre as linhas novamente, dansando (com certe-za) em cima do caminhão. Fuzilaria intensa du-rante a noite. O inimigo é farto em munição, eas armas automaticas, como sempre, insaciaveis.

A guerra primitiva em scena - fogo no mat-to fronteira ás posições paulistas. Já estava tar-dando. O fogo progride com calma. Porque pres-sa? De qualquer forma eJIe acabará com as ar-vores de S. Paulo. Frio, fogo, estampidos - quasiuma noite de S. João!

Um prisioneiro inimigo pela manhã. Poucosferidos do "14" e sem gravidade.

Mais uma vez o "37" em scena, são 11 horas.A's 11,10 o canhão volante está 50 metros adiante;ás 11,20 mais 50 metros e, ás 11,30, outros 50. Aomeio dia, dá os ultimas disparas. O caminhãodeve estar cansado, pois andou 300 metros. Parao artilheiro deve ter sido um divertimento. Os en-tendidos em marcas de automovel affirmam queo caminhão está inutilisa,do pelos trancas do "37".Se ha outros para substituiJ-o, ninguem sabe. A<;granadas arremessadas são de pequeno effeito,pelo menos auditivo, mas a massada consiste lJ::\surpreza dos tiros. "Pobre caminhão!" Afinal,trata-se de uma phrase curta e sem razão de ser.

- Avião, pessoa]!

E' um apparelho rapido e elegante. Onde te-riam cahido as bombas? Perto ou não, a terratreme da mesma forma. E os soldados que estãoprégados a eJIa? Por força que tambem tremem.Seis bombas, seis explosões, seis tremores. Os nu-meras na guerra são infaJIiveis, possuem uma uni-

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A EPOPÊA 167

ca sequencia. As bombas lança das são iguaes ásdo dia 11. O vôo agora é de observação.

Artilharia inimiga - o avião localisou ospaulistas. Bombardeio e bombardeio. São ca-nhões 75, o "37" está descansando.

Bombardeio e novidade para o dia chuvoso:canas imeermeaveis. Inegualavel retaguarda! Onovo agasalho é C1ITtO,permitte amplamente qual-quer movimento. Lcmbra um typo de capa ro-mantica, uma noitada de estudantes em Coimbra,um galanteio e um madrigal. Todos com a mesmasuccessão evocativa. Em resumo, um collapso ro-mantico no Cerrado. Maldita artilharia!

Dia 14, a 2.a Cia. nas trincheiras, a 1.a acam-pada de reserva junta ao P. C. do batalhão. Frio,tempo encoberto. Fogo no matto perto das trin-cheiras occupadas pelo pessoal do "14". Artilha-ria, shnapncls c mais shnapncls.

O Major Penteado é de uma actividade sur-prehenrlente, confunde-se com os soldados e comelles combate. Quem o teria visto dormindo?

A 3.a Cia., nas immediacões da Serraria. Dis-tante desta uns 12 kilometros está Capuava (?),um arraial. uma venda, reduzidos moradores. Sol-dados da Cia. vão lá algumas vezes, a passeio, en-riquecer o vendeiro. Um dia este não resiste, pre-vine os freguezes de que o inimigo tambem costu-ma frequentar o lugar diariamente, sem horasmarcadas, "para beber e fazer corrida de cavallos,corrida de raia". Quando sonhaste com seme-lhante divertimento, arraial paulista?

15 de Setembro! Como chove dia 15! Ataquegeral do Sector! Os paulistas vão atacar! O ini-migo vae conhecer a offensiva paulista, attenção!Uma demonstração de força, pesoal! A manhã 15

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repleta de enthusiasmo,dc "aux armes citoyens!"A's armas! Sus!

Todos de pé, são 5 horas. A's 6, comida. Umafarofa quente para ser guardada embrulhada empapel, em panno, solta na bissaca. Uma canecagrande cheia de farofa. Um soldado mais amigofaz a distribuição com um prato, rende mais. Co-mida ás 6 da manhã! As instrucções do Maj 01' Pen-teado mandam que a farofa seja poupada, "a jor-nada vae ser longa". 6 e meia, a maior parte com acomida pela metade. Irresistivel, uma quenturagordurosa pela manhã.

Dia 15, ataque geral do Sector Sul, o sectordos 100 kilometros vae atacar. Que aconteça omenos possivel para os paulistas. Atacar!?..

"Ampliando a idéa anterior ,prescreve o Com-mandante do Sector, para um certo dia "D", umademonstracão offensiva em toda a frente. Cadasub-sector "organisaria u seu gulpe de mão parti-cular,emquantu que no grupo de destacamentos,com o 'emprego de toda reserva do Sector, far-se~ia uma operação destinada a desequiJibrar o dis.positivo adversario, já prompto a se lançar em of-fensiva energica, rumo talvez a São Miguel Ar-chanjo, onde ainda não haviamos reunido meiostranquilisadores. .

:No mesmo dia o adversario opulento em effe-ctivos, armamento e munição deveria ver crepita-rem a um sÓ tempo, todas as armas de nossas tro-pas em cobertura através da sua centena de kilo-metros de frente. Desde a região longinqua daTapera até as cabeceiras do Almas, por toda aparte, nossos canhões em reduzido numero entra-riam em actividadee, em determinados pontostentativas mais profundas mostrariam ao adver-

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r1 EPOPIL4 1!i!J

S:I riu que, sabedores embora da abundancia deSI 'IIS recursos, não se arreceiavam os paulistas doITcontro a peito descoberto, fóra das trincheiras.

O dia" D" foi o de 15 de Setembro." (86)7 horas, partida. Dizem que o ataque deverÚ

d 1Irar até Ús 18 horas. Munido á vontade. Gra-II:I<la8 de mão e lança-granad'~s.

- E' hoje, gritam.A 1.a Cia. avança, terá apoio das bombardas

d:I Legião Negra. Um grupo de combate da 2."(:ia. é escalado para o serviço de patrulhamento.!,O cavallarianos mais ou menos, para auxiliar aillvcstida. Ordens espcdacs para a M. P.:

"Etl. 14 de .Julho. Sector Sul. Or-dens de operações n.O 1. Comt. Cia. Mts.

I - Deveis ter a vossa peça prom-pla para enlrar em aeção, logo.

11 - Deveis auxiliar a progressão da1." Cia., com os fogos das ar-mas alltomaticas, batendo asalturas onde se encontra o ini-migo.

111 - Deveis ter cuidado com a pro-tecçào da nossa tropa e não amolestar com os tiros.

IV - Terá inicio o vosso fogo, desdeque a 1." Cia. entre em contadocom o inimigo.

V - Deveis providenciar para queo fogo tenha cficacia, procu-rando ncuLralisar a acção doinimigo, c bem intenso.

(Xti) (Palmo a Palmo, Capo Alves Bastos, pg. 12!1).

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170 Aureo de Almeida Camargo

VI - Junto á ponte do vale, onde es-tivemos acampados, estará o P.Medico.

VII -- Deverá agir no mompnto op-portuno.

VIII - O avanço da l.a Cia. iniciar-se-á ás 6 horas.

IX - O nosso avanço terá a protecçãoda cavaUaria Amaral, pelof1anco esquerdo.

X - O meu P. C. será no vale juntoa ponte.

Em 15-9-932. A. Penteado. Maj.Com. Cmt."

O mesmo caminho, mais uma vez. Pela es-querda, depois para a direita, até alcançar as im-mediações da ponte destruida. As bombardasiniciam o ataque, procuram provocar o inimigo,localizar-lhe a posição. Fuzilaria de lado a lado"intensa. Pessimas as posições dos paulistas: par-te no charco, sem um dedo de terra para prote-ger o nariz; parte no campo, nas mesmas condi-ções. Nem todos os projectis das bomhardas ex-plodem, e, collocadas as peças atrás dos solda-dos, quasi que os alcançam. São muitas as ar-mas automaticas inimigas em funccionamento. AM. P. do "14" crepita um "zé-pereira" musical.Ha um rythmo carnavalesco no Cerrado, tan-tan-tan, tan, tan-tan-tan.

Insustentavel posição. Além disso, o inimigonão é avistado. Os tiros partem como sahem dofuzil, - sem alvo. Um nome para a situação:"Ruerra no escuro". Granadas de mão lancadas

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por um bocal collocado no fuzil. Uma dellas con-segue fazer calar uma lVI.P., segundo apuram os ou-vidos de um sargento antigo combatente da guerraeuropéa. Se attingi u as posições inimigas, claro éque estas estão a pouca distancia, pois as granadasarremessadas daquella maneira alcançam poucomais de 100 metros.

A guerra é no escuro, a posição é insustenta-vel. No escuro, pensam os soldados, os paulistascahirão dentro em breve. Que o inimigo está en-trinchcirado não resta a menor duvida. Como,pois, desaloj al-o com fuzis? Ten tal' um avançopelo brejo lançando granndns? c'oisa duvidosa. deexito incerto - os paulistas poderão perder a me-tade dos seus homens. Depois, mesmo conseguidoo objectivo, compensaria o sacrificio a conquistade uma posição que difficilmente poderia ser man-tida?

A fuzilaria continúa, intensa. O fogo da M. P.paulista cruza forçosamente com o do inimigo á.curta distancia dos soldados do "14". Muitos, emcampo raso, sentem-se impossibilitados de levan-tar a cabeça do chão. Seriam attingidos pela armacompanheira. cujo fogo é necessario no momento.Ou os soldados ou a M. P., porque ambos ao mes-mo tempo não é possivcl.

Poueo antes das 10 horas o commandante da1." c'ia., João Gareia de Oliveira, ordena cessaçãode fogo e rctrahimcnto da tropa. Os soldados seapalpam meticulosamente: "Que felicidade!" Defacto, estão todos illesos. Um tiro proximo: um do"11", ao scntar-sc, dcixa disparar o revolver, quelhe atravcssa uma das pernas.

No valc junto Ú pontc, o commandantc Ama-ra] interpella os soldados sobre o retrahimcnto, "O

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172 .'1 11r e n ti e :I 1m e i ti a C a m a r g o

ataque dcve durar até a tarde". E extranha a 01'-dcm dada naquelle sentido. O commandante Gar-cia responde que a posição é absolutamente insus-tentave1, e sÓ o milagrc teria conseguido poupar atropa. Que para não sacrificar os commandados,o que seria fatal, a durar mais tempo o ataque, or-denara o retrahimento, estando disposto a voltarpara a mesma posi(:ão, porém scm os soldados,cujo sacrificio considera desncccssario. Que a in-fcrioridadc dc armamcnto, mais ainda que a mÚcollocação dos atacantes, fôra o que o impellira aordenar a medida.

Artilharia para a direita. "E' nossa ", gritam.Sim, é paulista. Contam-se os tiros - 18.

O batalhão espera novas ordens junto ao P. C.do "14". Chega o seu commandante. Cunhetes demunição, os soldados sc municiam Ú vontade.Granadas de mão. A' Lan!inha, para o aLaque no-vamentc, sob o comnHlJl<!o do :Major Pcn teado.

Antes de chegar Ús posições da manhã, uma1\'1.P. inimiga, collocada depois do retrahimentoem situação vanLajosa, a bater a estrada palmilha-da. Nas mesmas posições, os soldados aguardamordem de fogo.

"Em vão lançamos na propria região do Cer-rado esse "14 de .Julho" que se atirava cada dia so-bre o adversario protegido pela macéga densa. . ."

"Por toda uma semana, isto é, até o dia 16 é((uasi sÓzinho que o pequeno "14 de .Julho seguin-do scm repouso esse commandante admiravel quese lhe havia dado, luta para reduzir a cabeça deponte existente. Ataca-a pela direita, volta paramontar uma operação pela esquerda; - escarniça-

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173

:se numa obstinação que não cança mas que poucoconsegue. . ." (87)

Escurece, o Major Penteado ordena o retrahi-Illenlo. O ataque tem prazo: até ás 18 horas.

20 horas, e os ultimos soldados chegam aoacampamento. O :3.0pelotão da 1." Cia. tivera umdia cheio, e sÓ Ú noite conseguira sahir das posi-l,'ões. Armando Pereira, promovido a tcncnte ecOll1missionado no P()sto de capitão, é o novo com-mandante da 1." Cia.

Manhã, as trincheiras são visadas pela artilha-ria, que rcpéte o "AIlemão", dando tiros directos.O écho é o mesmo de sempre: "Brutalidade". Pou-co antes, as armas automaticas em grande activi-dade. Agora os canhões as substituem. Os fuzispaulistas fazcm a guerra no Sul, guerreiam. Aolonge, avistado com binoculo, desusado movimen-to de tropa inimiga. Tamhem são vistos uns 150homens a conduzir cargueiros. Abastecimento?

Depois da comida, ás 13 1/2 horas, a L" Cia.vae reforçar as trincheiras da 2.", - "a pressão temsido grande". Canhoneio e fuzilaria até á noite.Bum-bull1-bum. Uma serie de bum-bum do ladoinimigo. Tac-tac-tac. Uma scrie de tac-tac do ladopaulista. O fuzil contra o canhão. Noite fechada,algumas M. P. inimigas atiram scm cessar. Rigo-roso serviço de sen tinellas. As granadas de mão,Ú espera de que lhes chegue a vez, completam a vi-gilancia.

Dia 17, com fuzilaria forte pela manhã. Já ésabido, pois muitas trincheiras o notaram, que ojnimigo conseguiu atravessar durante a noite gran-des effectivos para a margem direita do rio. A

(87) (PaJmo a Palmo, Capo AI\'e,~ Bastos, pg. 134).

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17.1 fI u r e u ri (' ,I / /li (' i d (1 C a 11!a r g o

manhã ainda avista os ultimos cavallarianos emfila de lIlll, longa fila.

"Effectivamente, desde o amanhecer de 17, jálHlYia o inimigo atravessado o rio com todo o 8.°D.egimento de infantaria e um H.egimento de Caval-laria Independente que, após violenta prl'para~;ãode artilharia tentam progredir sobre a Serraria doAmericano." (88)

"De Itapetininga para S. Paulo, general Klin-ger, n.O 46, parte de fim de jornada.

3.° Grupo do destacamellto l\liltOll.a) A lillha de postos avançados foi restabele-

cida. b) O contra-ataque na região de Ponte deCampinas não pOl1de ser executado. O inimigoatravessou na noite de 1(j-17 a totalidade do 8.° n.1., elementos cavallaria, num total de 700 homensna cabeça da ponte de Campinas. Depois de vio-lenta preparação de artilharia elle se lançou aoataque que até a tarde não tinha conseguido pro-gredir. Elle 'continÚa ~ atravessar unidades. Das16 horas elle iniciou violento ataque contra as po-sicões do 8.° B. C. P. sem resultado tambem..

4.0 A aviação inimiga na tarde de hoje (15.40)fez um reconhecimento sobre o rio das Almas quedurou eerca de 2 horas. Bombardeou as nossas li-nhas e metralhou viaturas na estrada, inclusiveduas ambulaneias da Cruz V ermclha.

5.0 Conclusão. O inimigo eomeçou o movimen-to offensivo pelo flanco sul; desde a tarde de hojeelIe movimentou muitas unidades direcção á pon-te de Campinas para... E' possivel continuar oataque que foi detido hoj e.

(88) Palmo ri Palmo, Capo Alves Bastos, pg. 136.

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fi B P O P ]~ ,1 175

." (89)

o 2.° pelotão da 3 fi Cia. vae reforçar uma dastrincheiras. Uma nova M. P. é collocada na linhade fogo.

Pouco antes de meio dia, canhões inimigos emscena. Brutaes! O fogo das armas automaticas éde rara violencia. As trincheiras paulistas estãobem localisadas; as menores hervinhas são corta-das, renle ao solo. Artilharia e artilharia. Quan-tas peças?

Fogo no malta, em direcção ás trincheiras pau-listas.

O ataque inimigo é violento. Os canhões qu ~o digam! Um quadro: artilharia, M. P., fogo nomaLto, granadas de mão (do lado paulista). um es.carcéo dos demonios! Desoccupada uma trincheirainutilisada pela artilharia. Lauro Barros Penteadeé aLtingido por um estilhaço de granada. (90) JoséVasconcellos, "pagador de boia", morre, attingidopor um tiro, na mesma posição em que se encon-trava, - deitado debaixo do caminhão.

Aviação inimiga. Bombardeia e metralha.Mais de hora e meia de vôo. Metralha.

Uma pequena trincheira á esquerda, a ultimada linha, e mais de observação que de combate, éabandonada pela meia duzia de occupantes, ante onumero de cavallarianos, mais de 100.

As trincheiras são reforçadas, ampliadas, afimde abrigar os soldados das que foram attingidas

(89)(90)

(Do "Diario de S. Paulo", de 20-9-32).

Morre pouco tempo depois.

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l7(j .turco ele Allllcida Ca/JIargo

pelas queimadas 'c inutilisadas pcla arlilharia. Umadellas cedera a um projectil de 105, soterrando umsoldado que, segundos após o desmoronamento, édalli retirado com vida. (91).

Chove, um triste fim de tarde no Cerrado san-grcnto.

Serviço especial de vigilancia, pois é esperadonovo ataque, durante a noite. Scntinellas, de pé, nafrente das trincheiras cerca de 10 metros, expon-do-se ao fogo incessante das armas automaticas.Granadas de mão, nas mâos attentas. Tiros espa-çados de artilharia. Fuzilaria até a manhã. Frio.

Penoso foi o combate da vespera. Além dosmortos e feridos, alguns prisioneiros. Penoso e de-sigual, mesmo assim conseguiram os paulistas evi-tar o avanço projedado, o que não impede, pen-sam os soldados, seja tentado outro hoje. O com-mandante Penteado, combatente COlIJOos ~eus su-bordinados, a estes dá instrucçõcs cspeciaes - nãoha duvida: o inimigo insistirá no ataque. A con-fiança quc os paulistas depositam nas granadas demão é um novo factor de animo c resistencia. Eo major Pentcado, não cstá elle junto aos sol-dados?

A's 5 da mallhi'í. sapadorcs abrcm trincheiraem meia lúa, para 12 homcns.

Aviso ele que o inimigo iniciou o esperado ata-que pela esquerda da linha. A postos! Intensa é afuzilaria que se eslabelece. Aviões inimigos quebombardeiam, são cm numero de 3. Partem e sãosubstituidos immcdiaÚuuente por :3 novos appare-lhos. Estes partem, novos 3. Um revezamento.

((H) Horas depojs voltava para combater.

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:;

~o.cr.

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A EPOI'É/! 177

Brutal aviação! E que insistencia! Ordem de ter omaterial prcparado para possivel retrahim~nto.

O bombardeio da aviação continúa. Agora é avez da artilharia. Cl'eria o inimigo montado fabri-ca de munição em Bury?) Chove. Comida ás 13horas. Chuva forte e artilharia.

"Ainda caberiam ao "14 de Julho", a esse ma-gnifico esquadrão Amaral c á primeira companhiado 7." B. C. P. todas as penas do momento.

Pelas quatorze horas combatia-se em toda afrente do grupo de destacamentos em que, mcsmoá direita, mal se mantinham nossos postos avança-dos para lá do rio.

As trincheiras do "1,1 de Julho" são revolvidaspelas granadas de 105 mas seus oceupantes não ar-rcdam pé." (92)

De pé, "14 de Julho"!O começo do fim, são 14 e mcia horas. Luta

DENTE-A-DENTE. O inimigo avança em mas-sa, baioneta calada, - o ataque. O Cerrado chei-ra a sanguc, rcspira sangue, o SANGUE. .. As gra-nadas de mão fazem a guerra, arrebentam no pei-to dos eontrarios, nas pernas... Confundem-secom os de dôr os gritos de combate e incitamento.São todos iguaes e assustam mais que a fuzilaria.Um inferno, o Cerrado. O inimigo, tcimoso. avan-ça. Teimosas são as granadas de mão, que lambemavançam. Sangue: eis o resultado fatal do encon- .

11'0 dos dois avaneos. O Cerrado em 18 de Setem-bro é igual a sanguc. Os combatentes se orientampclo cheiro morno - sangue. A guerra, coraçõesda humanidade!. . .

--(92) Palmo a Palmo, pg. 136.

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178 A.ureo de ,1/mcida Camargo

Gargalhadas com nm accento sinistro na im-mensidão do campo de batalha: é o inimigo queconsegnill tomal' uma Il'incheira, fazendo prisio-neiros os seus occllpantes.

Quantos cahem, dos pau listas ? Argemyro Al-ves Silvestl'c, Paulo Bifano Alves, Ary CarneiroFernandes, ÇJineu Braga MaQalhães. Cesar PennaHamos é rethado gl'avemcnte ferido da tdn-cheira. (93)

Situação difficil! () inimigo se infilLrou pelasposições paulistas, algnm<ls trincheiras estão en-volvidas. Granadas em scena. Soldados ditato-l'iaes investem com lenços bl'ancos na ponta dabaioneta. Granadas de mão para os lenços bran-cos. Os palavrões da guerra!. .. A loucura dos pe-rigos eminentes!...

Uma phrase pura no entrechoque brutal: "PorS. Paulo...".

Muitos os prisioneiros do "H". Quantos feri-dos? Insustentavel a linha. O inimigo domina al-gumas trincheiras, infiltrando-se cada vez mais.A tropa já não pode combatel-o, pois ellc está nafrente, nos lados, e, em alguns ponto::., atrás da li-nha. A retirada. As granadas de mão abrem ca-minha. As granadas. . .

"A sua consagração tem lugar porém, no com-bate do Ceuado onde os soldados do "14 de Ju-lho" appelam para ('Jlas ao se verem abordadospelos numerosos atacantes pertencentes ao 8.° R. Lc 13.0 R C. 1." (94)

(93) Morria pouco tempo depois, já prisioneiro ecercado pelo inimigo.

(94) Palmo a Palmo, Capo Alves Bastos, pg. 161.

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Ainda se eombate. Elcmentos valorosoE> da Le-gião Negra atiram em cima de arvores; são <tJ'lan-eo-atiradores. Um Lira, uma quéda. Uma caçadahumana, no Cerrado.

A retirada. Nas proximidades da Serraria, hatropa de MaLto Grosso rccentemente chpgada aoCerrado, cm linha dc atiradores em campo aberto.E' a resisleneia, a protecção dos retirantcs. Sold.a-dos do "14" escalados para o mesmo fim A caval-laria Amaral está preparada para entrar c;u acção.O major Penteado com elementos da 3." Cia. A ul-tima linha de resistencia.

Chove. A tropa se encaminha para a Capcllados FCl'rdras, distante eerca de 10 kilometros. Osultimos soldados siio visados pela artilharia ini-miga., :'1ovamente cm actividadc. Que aspecto ossoldados apresentam!. . .

"a.O Grupo do destaoamento :Milton.a) Fortemente atacados em toda a frente, no

correr da jornada foi obrigado em sua esquerda af azcr um retrahimento de cerca dc 2 kilometros.Mantem as alturas em scu centro a retrair os pos-tos avançados que sc achavam a Oeste do rio.Mantem as posições da direita.

b) O ataque inimigo partido da ponte de'Campinas revestiu-se de particular violencia. ln-cidiu sobre Amaral, onde o batalhão "14 df' Julho"ehegou a ser investido a baioneta." (95)

Uma das scenas do combate. E' H..emarque queestá no Cerrado.

4 soldados do "14", á procura de ligação com

(95) (Do "Diario de S. Paulo de 20-9).

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180 A li r e o d e .1 I /J! e i d a C a m a r g o

uma das trincheiras, encontram-se com um com-panheiro.

- Onde fica a nossa trincheira?-?- Responda: onde fica?- Fulano, estou preso.E os soldados dão conta de um soldad0 dilato-

daI agigantado, baioneta calada. O chefe do pe-queno grupo recebe a intimação de "entreguem-se". Como a deixar o fuzil no chão, tira o revolverda capa. Percebendo a manobra o inimigo contraellc investe, com um violento golpe de baioneta,que é ;lmparado por uma das mãos. Attingido, opaulista cahe de costas. Acompanhando o impulsodo golpe, o inimigo perde o equilíbrio e cahe sobreo corpo do adversario, que procura attingir nova-mente. Luta de morte, sob o céo triste. 4 assisten-tes attonitos, inuteis, ante o imprevisto da seena. Oinimig;j procura alcançar o adversario, que se de-fende com a mão ferida. A outra, a esquelda, dis-para o revolver no ventre do contendor. Ouve-seum urro, e, a seguir, um sangue quente molha oslutadores. No golpe evitado, a baioneta se enter-rara no chão. O inimigo ainda luta e quer agarraru sabre na cinta do adversario. Novo tiro, porémno peito. Novos gorgolhões de sangue. Luta demorte. O inimigo é robusto, quer viver, lutar, afas-tar o rpvolver. Um dos assistentes, já senhor de si,visa o ditatorial nas nadegas, com o fuzil. Nov'otiro de revolver, desta vez na cabeça. O tigre luta-dor está exangue c deixa-se cahir ao lado do pau-lista exhausto. Poucos minutos após á scena, oinimigo se dirige ao soldado do "14", "não queriamatar. Sou soldado paulista preso na Ribeira eobrigado a combater ao lado dos ditatoriaes." O

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A BPOPÉA 181

paulista se commove, pede perdão ao tigre luta-dor. "Atirei para não morrer", diz. Perdão, ain-da repete. O ditatorial perdoa. Um scenario cheiode perdão no Cerrado sangrento. 20 sold.1dos ini-migos que se approximam. Alguns do "14" conse-guem fugir, inclusive o lutador que ainda ouve asultimas palavras do adversario cahido: "Estespaulistas são covardes. Não tenham medo delles,são todos crianças." O falso paulista, o tigre luta-dor, ,está sendo carregado.

Uma scena tragi-comica.Ao Cerrado chegara com o batalhão um sol-

dado que logo se soube soffrer das faculdades men-taes. De combatente passou a servir no corpo d~saúde, onde teve fortes accessos de loucura, dianteda artilharia ensurdecedora. E porisso foi amar.,rado numa cadeira. Tendo a aviacão avistado mo-vimento nas immediaçães da ca~a, visou. a combombas. o que motivou a sahida, para o campo, dosseus moradores. E o louco? Ao ouvir os estampi-dos, consegue, ainda preso á cadeira, sahir parafóra, sem contudo distanciar-se da casa. E' senta-do que assiste ao lançamento das bombas quasi aalcancal-o. A sua cara conserva as mesmas ex-pressÕes violentas. A cada bomba responde comum palavrão. Consegue desembaraçar as mãos, di-rigindo-as injuriosamente aos aviões. Novas bom-bas, novos gestos. As ultimas arremessadas, e olouco a gesticular-se no mesmo lagar. "Não foi at-fingido", verifica mais tarde um companheiro. E olouco: "Venci a aviação, venci. . . " .

Na confusão do combate, um soldado que se'approxima das posições do "14".

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182 Allreo de Almeida Camargo

- V. são do 12.o?- ~ão, e v.?

- Eu sou do 13.0.

- Então, renda-se. Aqui é o "14".

FaJta muita gente - mortos, feridos. prisio-neiros, soldados que partiram para Grammadinho,para Itapetininga. Nunca uma manhã paulista foiIão cheia de ausentes nunca.

O balanço da jornada cruel (quem teria a co-ragem de pronunciar certos nomes?) se faz mcn-talmenre: 51 companheiros, entre mortos e prisio-neiros, lá ficaram. (95) E o olhar procura desco-brir na distancia uma brecha pequenina que lhepermitta ver mais UIlla vez o lugar onde o bRtalhãose hatpu junto, dente-a-dcntc, o lugar onde os quefaltam ficaram, alguns até para sempre.

"O "pa-

norama incompleto", a natureza trahiçoeira, o Cer-rado maldito. .. E dos prisioneiros, quantos esta-

(96) 44 é o numero dos prisioneiros: Henrique Ola-vo Costa, Fontes Romeiro, João Penido ~Ionteil'o Salles,Antonio Cardoso de Almeida (fugiu da ilha), Cal'los Vir-gUio Savoy, .José Lemos Freilas, Jorge Coury, 1lli~-fim Fontes, Gumerfindo Pontes Alves, .José Rib~de Mi-l'al1( a, us Plalltlls Coelho' '. Raul Soares de Mel-10, Paulus u us Om])e.la, IlI1io Riheiro ria Silva, Thomaz\Vhately, Antonio Luciano Neto, Paulo de Mesquita, Oeta-vio .Junqueira Neto, Antonio Silveira Machado (fugiu dailha), Renato Tolerlo, Tacito de Souza, Oscar Siqueira,~[anoel José 1\1onleiro de Barros Neto, Dagoberto SallesE.illw- AlheI'lo Guimarães, Henato Rios CãS'tro, :HenriquePamp]ona Menczes Filho, Eder Acorsi, José de Paula Ma-chado, Flavio BitteneolJrt, ~ny ,S~vej~:oJ 1\1anoel Gandara1Iendes, Epaminondas ValIe, ose - aselmento, Alipio Cha-ves l':unes, Paeheco Jllniol', José Carvalho, Luiz Leite, R.Mendes Goncalves e. Arnaldo Oetnvio Nebias. Os nomcsdos restantes não puderam scr conhecirlos pelo Autor ea Secretaria do Batalhão não os menciona nominalmente.

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A EPOPÉA 183

rão de facto vivos? A só incerteza de sua sorte, deseu destino, faz crescer a angustia collectj \'a, im-mensa. Que o inimigo perdeu muito mais! o. Maisdo dobt o, cinco vezes mais. lá ficou eslend: do para~empre. Talvez que estejam sendo enterrados osque cahiram debaixo das granadas d2 mão. (97)Olho por olho... Nem porisso a gllt~rra tem fim,nem porisso os homens se humanizam. nem poris-80. Olho por olho. . .

Aviões inimigos (que tem eUeo; a ver com oJuto alhcio?) metralham o "14", sem resuJtado.

Tarde o café, muito tarde a comida.5 aviões durante o dia. pareceJ11 paulistas.

Bombardeio ao longe, são paulistas .Flles tambemvão interromper as lamentações do inimigo. Olhopor olho... Pouco depois, aviões inimigos em di-rec~ão de Grammadinho. Ouve-se o metralhar dis-tante, é Grammadinho. Escure. Uma noite em Ca-pella dos Ferreiras, má noite.

Novos apparelhos inimigos sobre o "14",manhã.

Sabe-se que a tropa dc Matto G-rosso partiupara a frente e quc o "14" a seguirá dentro em bre-ve. Mais uma vez, aviões inimigos. Passam alto.sem hostilisar a tropa, arre!

Partida do batalhão ás 15 e meia horas parao Paranapancma. onde vae guarnec~r dois pontosem trinchciras á beira do rio. A' espcra dú inimi-go. Eslc não apparecc durante a noite. Cuida deOlÜros misteres, se cuida!

Nc::icia dc que o "14" embarca para Capellado Turvo. Para quc? Ordcm de deixar as trinchei-

(97) 35 é o numero de mortos, segundo affirmaramaos prisioneiros do "14", em Capão Bonito.

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184 Aureo de il1meida Camargo

ras, e, ~ uns 3 kilometros atrás, acampamer.to numcapão de malta. Chegam caminhões á meia noite.Madrugada e Capella do Turvo, onde os soldadosde!xam fuzil e munição. Mais adiante, em Gram-madinho, ficam as armas automaticas Grrespectivamtmiç.ão.

Itapetininga, ás 9 horas. No antigo quartel,Grupo Escolar, o "14" recebe um emissario do Co-ronel Taborda, que vem especial e exclusivamentedizer duas palavras em nome do commandante doSector: "Bom dia". Os soldados estão commentan-do os principios da bôa educação. Que, de facto,um cumprimento matinal entra pelo corpo a den-tro como os ares mais puros da manhã.

Vão passar a fita tirada dia 7, durante o des-file do "14". O batalhão se installa no cinema, áhora marcada, 15. f:hega o Major Penteado, os sol-dados se levantam num só impulso e o saudam."Penteado" é a palavra que enche o cinema ita-petiningano. O Majl)r julga tratar-se de um alar-me, de um ataque, do inimigo que avança paramatar mais soldados, conquistar mais terreno pau-lista. Considera-se no Cerrado, vae ordenar...Quando o espectacuhJ tem inicio com os ultimaséchos da ovação, as ultimas paredes ainda resoam"Penteado". . .

Revista ás 17 horas e reunião ás 20. quando o"14" vem a saber do .'embarque para S. Paulo","para descansar e preencher os claros do bata-lhão". Para S. Paulo?!. .. Mas então ha combateem S. Paulo?!...

- Não insistam, o batalhão vae desca.nsar.O "14" embarca ás 24 horas. E nunca se sen-

tiu tão bem installado na 2.a classe, a mesma que o

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levou para Itararé. Prestavel, confortavel, quasiadoraveI a Estrada de Ferro Sorocabana.

- Boa viagem! - gritam ao longe soldados,sefuramente invejoso,> do "14" - boa viagem!

E São Paulo ahi está, 8 e meia horas do dia 22dI: Setembro. Commovam-se á vontade, soldadosp~llIistas do batalhão "14 de .Tulha"!

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Depois de São

Paulo- Itapetiningao T aquaraI - Abaixo

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o hatalhão hisonho que a 14 de Julho partirapara Itararé, inexpericn te e descansado, revê S.Paulo já considerado desde muito tropa regular,depois de 70 dias de campanha, onde tudo aconte-ceu, desde a dôr de dentes até a quéda da moci-dade. Credenciaes para pisar S. Paulo: 70 dias delutas dente-a-dente, uma longa sede de mortos,feridos e prisioneiros.. e, em cada corpo. uma lem-brança, recordando o Sul paulista.

A volta do 18 annos! Elle corre para a casa, in-vade-a com beij os, incorpora-se de coração ao S.Paulo-1 !)32, á retaguarda-Mulher-paulista. Inda-ga-lhe pela saÚde, pelo frio, pelo collega-g,migo-ir-mão dislanle noulro seclor. E, inexplicavelmenle,sem que se lhe pergunte, conta que o companheiro,os companheiros morreram. E só - morreram.

E resolve percorrer a cidade, sondar-lhe o pen-samento, conhecer aquelles que lhe ditam a guer-ra, aquelles que lhe ajudam na guerra. E SE'admi-ra, e se espanta, e se orgulha. lVI.M. D. C, EscolaPoJyteehniea, a Mulher Paulista.

E lê os jornaes, e a campanha que recolhe ouroconfirma a verdade que lhe atormentava a cabeçano fronl, dolorosamente. Então o 18 annos sorri,porque sabe que a IIistoria mudará o nome "ouro"

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190 .<1/1r e o rí e ,\ 1m c i d a C a m a r g o

para "Campanha dos humildes", na qual o func-cionario publico depositava o relogio, a J!liança,quem sabe se o faqueirQ que lhe coubera na pe-quena partilha dos bens paternos; na qua1 o pe-queno escolar esvasiava o cofre, niquel por niquel;na qual as mães paulistas entregavam un1 pedaçoda rcfei~;ão diaria; na qual tambem o texto biblicoda viÚva pobre se repetia diariamente de um Indo,e, do outro, se viam magnatas paulistas entrega-rem obulos que mal lhes abalava o ultimo bolsodo collete. A fortuna paulista! A cid:)(le dos ho-mens-mil-contos! A Historia se commovcrÚ, rindodo obulo das viÚvas.

O homem-mil-contos repete a cada instante,batendo nos ombros do 18 annos: "Lutar até amorte. S. Paulo exige sacrificios".

O 18 anHOS, que sabe gargalhar, garg:1lha.

- Que S. Paulo exige sacrifícios!. . Outracoisa não fazem os soldados. Até o fim, até o sa-crifício total? Lá irão todos. No entanto, que ap-proveitaria aS. Paulo um sacrificio parei <lI, se. . .

- Defender a honra paulista é o dever detodos.

- Nada de phrases mil-contos. A "honrapaulista". .. Deixa esta phrasc para os poli ticos,que 1'a assopraram. A honra paulista foi conquis-tada no Tunnel, em Bury, nas trincheiras de Eleu-teria. Lá ficaram, no monturo, no apalll(,do, nocovão, os marcos humanos da honra paulista, -enterrados sujos e magros, mais sujos qUe a terraque os cobriu piedosamente.

("Si les messieus de chez nous que ne cessellJde réclamer Ia lutte á outrance, voyaicnt cc qui sepasse au front, dans qucl état sont nos troupcs, ilsrenonccraicnt á fabriqueI' leurs phrases. J e souhai-

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,1 E P O l' É A 191

terais de voir c<;sgens-lá ici pendant quelques joursseulemcn t." (88)

- E n50 reclamaram, nada exigiram. limita-ram-se a ohedecer. E todos tiveram uma ~Ó pala-vra derradeira: "Por S. Paulo". Um sacrificio to-tal"! Para elle caminharão todos, que a linha tra-çada é essa. Mas depois tocará a tua vez e a dospolitieos, porque o saerificio tem que ser total, elemorte, até o fim, até completar um fim dr. raça.Escuta, mil-contos: um fim de raça! Os ultimasmo(.~os pau listas cahindo de borco para sempre. . .E cahirão com a mesma palavra derradeÍla, con-vença-te disso. Do teu lado, agora: os homl:ns-mil-contos abrirão a bolsa, queimarão o cafesal. mata-rão o gado, arrazarão a casa, o arranha-eco. . .

- 'I...- Um fim de raça exige um sacrificio total,

um delirio collecti VO, uma loucura absurda. De-pois do absurdo, as mulheres e as crianças levarãopara longe, bem longe da cidade-cinza, a honraque os 18 annos (e tu tambem mil-contos) eonquis-taram para a Historia só c exclusivamC'ntr para aHistoria. E o capitulo chamar-se-á "Emigração daHonra". E nunca S. Paulo será tão grande. Ellesó encherá a Historia. Então, mil-contos, cst~IS dis-posto a acompanhar o 18 almas na arrancada fi-nal? Não? Pelo menos, abre a tua bo13a de vez! OuCampanha dos Humildes ou Campanha d) Ouro?Então, mil-contos?

Em todos os cantos, a mentira official, o des-controle convertido em bravalas pcssoaes e sacri-

(!)8) (!.('!lres tl'Ellldianls AlIemantls Tués a Ia Guer-!"c, I'\HF, pg. 220).

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192 Allrco de Almeida Camal'go

ficios alheios. A guerra chegara a um ponto que jánão comportava mais o engodo. S. Paulo precisa-va de estar ao par da sua verdadeira situação, de-liberar sobre a guerra, dirigir-se a si proprio. Por-que, a politica de hoje, que orienta S. Paulo, é amesma que o ludibriou a 23 de Maio, distribuindoentre si os lugares que ellc, S. Paulo, sÓ clle con-quistara na pequena epopéa popular. E, então, .nem um só elemento "sem expressão politica", mas'"expressão povo ", para representar o S. Paulo-23dc Maio. Se o movimento popular foi" encampadopela politica, encampada por ella tambem o foi aguerra, 40 dias depois. E, em .Tulho-1932, o grandemovimento sustentado e apoiado pelos moços

~~snão insuflado e provocado por elles) é contro a opelo mesmo espInto que delles tIrou as glorias do23 de Maio. A situação é grave. S. Paulo precisade estar-lhe ao par. Nada de politica. Esta nãocabe no momento, que é de guerra, que é paulista,que pertence á mocidade.

(Durante a batalha de Paris, "SUl' l'Ourcq",que decidiu o Marne:

"- AlI! Ia politique! grogna Gallieni... Com-ment ose-t-elle ancore élever Ia voix dans um parei!moment! . . .)" (99)

Onde um Conselho Paulista de Guerra, com-posto exclusiva e totalmente de representantes deS. Paulo'! Mais do que nunca elle se torna neces-sario, para falar por S. Paulo, para dirigir-lhe aguerra, emfim, para que a Historia (é preciso sem-pre pensar no futuro, na Historia que virá inexo-ravel) não venha a considerar o movimento. queé de todos, previlegio da politica que o encampou

-~-~

(99) (Lcs Carncts de GaJlieni, pg. 76).

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A EPOPÉA 193

habilmente, ella que se julga a honra paulista of-fendida, oS. Paulo-1932. Porque, se aos chefes deagora não falta "expressão politica", á dir~cção daguerra se exige uma" expressão pau lista", colle-ctiva, que sej a o proprio S. Paulo a dispor do seudeslino.

- L'État cesl moi, - diz a mentira official emtodos os cantos.

O 18 annos corre para a casa e, como os des-cobridores, violentamente a invade:

- Retaguarda, és mulher! Eureka!Agora, o 18 ann"os espera a ordem de partida

para o fronl.

24 de Setembro: dois bravos que rolam das al-turas do eéo santista - João Gome~ Ribeiro Ju-.!).ÍJJre ~rio Mnch.aoo Bittencourt. E, <;ublime in-versão de principios convencionaes, nunca subi-ram tanto no vôo. derradeiro - Alcançaram a Glo-ria. Li estão, formando na mesma galeria ~mpon-deravel dos que sabem cair, os dois moços que noSul paulista se fizeram amigos e admirados do "14dc Julho". O hatalhão conhece o trabal!lO da avia-çuo no Seetor, acompanhou-lhe o arrojo das arre-mctidas mais de uma vez, e mais de llma vez inve-jou-lhe o perigo a que se expunha nos aL'lS suli-nos, tão cheios de odios e devastações. Que ricomanancial de vidas forneceu o Sul fi guerra insa-ciavel! Quanto moço, quanta alegria, quanto ar-dor! Que pesado tributo para a mocirlad~! Cruelexigencia no criterio da escolha - Gomcs Ribeiroe Machado! Que galeria mais bella poJeria dese-jar S. Paulo, enfeitada eomo está?

Um programma de festas: entrega de uma

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l!)4 Aureo de Almcida Camargo

bandeira, irradiação especial etc. Radio Record,dia 25. Discursos: General Isidoro, Major LeitePenteado, professor Alcantara Machado, soldadosdo "14", .José Thomaz Sayão, Henrique B2stos Fi-lho, Francisco Ribeiro da Silva, Paulo da SilvaGordo, Commovente mensagem dos paes de Lau-1'0 Penteado dirigida ao batalhão.

.

Na manhã seguinte, missa na igreja Santa Ce-cilia pelos mortos em combate. A' tarde, entregade uma bandeira bn.sileira, por iniciativa de umgrnpo de senhoras paulistas. (100)

15 horas, o "14" na Praça da RppubJica, muitopovo. Chega o Govemador do Estado, acompanha-do dos Secretarios. .Discursos do Conego dI', Fran-cisco Bastos. O mesmo orador novamente, em no-me da madrinha do batalhão, snra. dI'. Bf'nedictoMontenegro. Ernani Coelho agradece, em nome do"14". Desfile, a seguir, pela cidade. Cheias as ruas,nunca S. Paulo reuniu tanta maca assim.. Cadaolhar feminino é um soldado que.'trop,:,çá, e o ba-talhão segue aos trancos, encabulado.

Partida para o ff'()f// dia 27, á noit~. Dizemuns que para o Norte. outros que pura Campinas,O "14" ehega a inslallar-se na Estação da Luz.

(100) Dd. Celina de B:HTOS Pentemlo, Alberlina Gor-do, Olga Oltoni de Hezende Barbosa, Genoveva JunqllciraNeto, Vidoca de Cal'valho l\iontenegl'o, Maria Julia deCarvalho Barros, Branca I3a610s Ma1ta, Henriqllcta Thomp-son, Marina de Toledo Piza, l\[al'ia Chl'istina de ToledoPiza, Olimpia dc Freitas Montenegro, Herminia de Lara.Tolodo, Lallrdes Fonsecat Antnnielta Muniz de Souza, Co-tinha Pereira Cesar, Yolanda M. de Barros, Maria CeciliaMartins,

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,1 BPOPEA JU!)

I)a 1'11a Sorocabana - é o mesmo Sul qne terá no-\'IIIIWIIlc o batalhão, Artimanhas do Coronel 1'a-IIm'da.

, Botafóra..boato: um general teria sido morto110 vallc do Parahyba; enterro ás escondidas noIlio de Janeiro de uma alta patente; as columnas<filaloriaes por um fio na zona Amparo-Campinas;o Hio Grande em poder dos gaúchos con~titucio-lI:distas. , ,

Mais uma vez, a santa ingenuidade procurafa;.:cr "ambiente de partida", o que hoje não tem"a;'::lo de ser. Parte quem quer e porqu" quer.A1<'~J11do mais, seria um contrasenso tentar enga~lia I' os verdadeiros conhecedores da situacão -- ossoldados, Estes são nm thermometro da' guerra:IOIHam a qualquer momento e em qualquer situa-~,Úo frente ao inimigo a temperatura exacta dasPl':isibilidades reciprocas. Um recúo para o sol-dado é mais significativo que a mirifica chegadad(~11111navio carregadinho de armamento, E um fn-zil dcscalibrado define cabalmente uma situacão,IlIIIe as armas automaticas inimigas. Qual o ther-IIIOll1ell'O que resiste aos canhões dos contra rios ?

A's 23 horas, 2.a classe, São 193 soldados, bemI'('dll;.:ido está 0"14", (101) Uma parte fica em S,1'111110,j>ara seguir no dia seguinte, com as bom-IIlIl'd:ls. (102)-

Ilapclininga, ás 6.30, café á espera na estação.

---- ( 1f)I ) Mais de 50 prisioneiI'os, 11 mortos, e uma lon-~II sC~I',i(. tlc~ rerillos, doentes e estropiados. Muitos fa].lo<'ios.

(102) Níio chegou a emharcar devido os aconteci-IIH'lIloK 1\111'.iÚ se (lcsclIl'olavam no dia.

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I!)(\ II /I l'(~(J li (' li I m e i ri a C a m a r [J o

Uma hora dcpois, cmbarquc em caminhõcs. Des-tino: Taquaral Abaixo. (103)

SÓ uma partc, porém, rccebe fuzi,>, que não osha para todos. Armas escandalosamcpte rlescali-bradas, com falta de peças, na maioria sem sabres.A 3." Cia. e alguns soldados menos afort1mados dasoutras duas cmbarcam para fazer a guerra. .. semarmas. E suo somcntc 193 soldados.

Ligeira parada cm S, Miguel Archanj ,), que épouco mais do que uma vi11a c, no momento, semi-despovoada.

Uma estrada regular com destino a TaquaralAbaixo. Atravessa uma região be1issima (é o ad-:icclivo mais extenso e verdadeiro do livro) já comas primeiras ondular;.ões da Serra do Mar, cujasmontanhas e florestas se percebem no ultimo pla-no do horizonte, na di recção Sul. Valta e meia oscaminhões afuu:daI~ por valles de riachos escon-didos no mcio de l\vores, transpõem pontilhões esobem novamente, em ladeiras ingremes e peque-lIas. BOlls ares. Mui 10 pourc a zona. Ondc a casa-dc-eahodo, ti uc scria ~: unÍea habitar'50 do lugar?

"A eSSt~lJalalh:to que IW1'cOI'I'era lodos os pon-los do illllllCIISO call1po de h:tl:dha elll ljllC se [rans-formara a zOlla SI11dt. S:IO Paulo, 1'alla\'.,1 ainda co-nhccel' esse e:lIIlo 10ngilHJlI0 ollde 'iC queimariamos ulLimos carlucllOs da call1p:1I1ha!...

E o "1-1 de .Julho" chega para e<;tab.olceer umasituação difficil". (101).

---(103\ "Desembarcou hoje nesla cid:Hlc, :IS 6,30 ho-

I'as, o hll. "14 de Julho", do Comdo. do SII[', ;\faj. AristidesLeite Penteado, cem pl'ocede,ncia de S. I'au]o, tcndo sc-guido para S. Miguel". (Bol. do Q. G. n,O 63, de 28-9).

(104) (Palmo a Palmo, Capo A. Bastos, pg, 140).

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l' I,' 11 I !)7

Cerca das 1G horas, chegada. Reunião de ca-sl,lIrcs no aBo ,de uma coUina, em cuj'l frente se ex-1('I)(1e grande bacia até á collina seguinte, por de-IrÚs da qual estão as trincheiras paulistas, forman-do UIll semi-circulo em torno de Taquaral. O "14"vac ficar no extremo esquerdo da linha. Mais paraa esquerda, basta a Serra do Mar para deter oa vanço inimigo. Para a direita, um e5paço des-guarnecido de 6 kilometros, depois do qud se en-contra o destacamento mais proximo. O inimigooccnpa as posições perdi'das pelo 4.° R. 1.

O "14" abre trincheiras, uma vez que a tropasllbstituida não providenciára a respeito, limitan-do-se a abrir uma unica, pequena e rasa, depois dorccúo. Trabalha, "14"! Noite, prompto o :-:erviço.C()lllmentarios sobre 04.° R. L, que foi l'l1('ontradopelo batalhão, quando em caminho de Taquaral,(::IITegando varias armas automaticas para 9. reta-guarda. E O "14" sem armamento e cheio de inve-.ia dos felizardos, qual!

Composição do Destacamento, commandadop(~lo Cd. Agnello de Souza: "14 de Julho", uma(:i:1. du 10 B. C. R., uma outra do batalhJ.o "Ban-Ikir:llltc" e um esquadrão do 11.° R. C. 1. df. Matto(;rosso, Menos de 400 homens, informa um offi-ci:.!, porquanto os tres primeiros elementos estãoI':lslallle desfalcados.

C:dlllO o dia 29. Fuzilaria e bomhardeio so-bn' o destacamento da direita. Tambem em Ta-'luar:.! ha aviões inimigos. Os soldados sem arma-111('1110trabalham na estrada de rodagem, está mui-

I" I'SIlIlnlcada.COlllllale-se no dia seguinte. Os canhões vi-

Slllll IIS Il'illcl1ciras paulistas, com o vigor de sem-pn', ()II(' V:lit'1I1 as hombardas (bat. Bandeirante),

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198 Alll'eo de Almcidll Ca/1/llrgú

ante os tiros longos da artilharia? E os fuzis des-calibrados? A luta é desigual, mas valorosa. O ini-migo não póde manter iJ]usõcs - a luta é paradisputar a terra palmo-a-palmo, dcnte-a-dent~.Um fuzil sem o ferrolho é entcrrado symbolica-Inente: "Vae dar sorte".

A' tarde, cstoura como uma bomba de alta po-lencia a nolicia de que viéra de S. Paulo ordcmpara um armisticio, para cessar fogo. Exquisitoque o inimigo não tenha recebido ordem identica.Armisticio sui-gcneris, porque a artilharia não quersaber deIlc. (105) Duas horas mais tarde, porém,nova ordem para os paulistas: recomeçar o fogo.A artilharia trabalha durante a noite toda, ummarteIlar constante, shnapnels a granel. Pareczque a viJ]a está sendo attingida.

Os jornaes recebidos á noitinha, dando contado armisticio, nada informam de positivo. As con-jecturas são disparatadas, todas crueis, e muitossol'dados não escondem o pensamento collecti vo:"E' o fiIn".

Uma trincheira do "11" percebc tropa inimigaa avançar, protegida pela vegetação de um brejo.Avança, cstá perto, (lUando recebe inesperada fu-

(105) "1\' o correr de todos esses dias em que a at-tenção era atrahida para os aeontecime.ntos da região doTaquaral, havia relativa calma no restante da frente doSector.

.

Os entendimentos para a paz que se processaram apartir de 28 de Setembro tiveram o condão de provocarda parte adversaria um recrudescimento extraordinariode actividade".

(Palmo a Palmo, Capo A. Bastos, pg. 144).

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A B P O P ]'; 11 I!)!)

zilaria e granadas de mão, a seguir. Rechassada,lIii() tenlaria mais o ataque. Promptidão rigorosa,:Ipesar do suecesso alcançado.

Bombardeio, o inimigo parece disposto a gas-lar toda a munição. Talvez que a julgue sem uti-lidade, no dia seguinte..,

Longas queimadas: é o sangue indio avivado110Scampos Sul, é o signal de guerra, de destruição.

Ainda bombardeio, manhã. Violenta é a fuzi-laria, A queimada continúa, grossas fumaçadas.Tl'cs prisioneiros com um F, lVI.BeUa presa fez o"'1-1"! Os homens podem apenas dar preoccupa-<:Ôcs,mas o F. .M. é um presente do Céo,

Novidades: o Coronel Taborda seguiu comI1l'gencia para S. Paulo; (106) o "14 .de Julho" te-ria sido requisitado para manter a ordem seria-Il1cule ameaça'da na Capital e o 4.° R. L lá estaria~'III seu lugar. Coisas -e mysterios da guerra,

Violento ataque ao meio dia. Uma trincheirado "J 4" cede á forte pressão. lnevitavel: occupadapor 18 homens, dispunha de 4 fuzis em condiçõesdI' tiro, 4 fuzis! Com esse desastre, toda a frente éol,,'igada a recuar, reunindo-se a tropa na viUa de'l'aqllal'al, perseguida duranle o percurso pela me-II':III,:,dora de um avião e pela fuzilaria ca.da vezIIllIis pl'Oxima. Um canhão paulista, chegado comopor ('I!Canto, faz calar as peças contrarias. Um al-Ii I'io !

() i 11i 111igo se instaUa na canina com vista so-1..,(. :I 111:111icic e a villa, varrendo a primeira comIIS 1I1'11I:ISautomaticas. Phrases que chegam aosoll,'idos do "11":

( I11ti )'" '01' necessidade- de serviço, deixo nesta data.. (:,"01... d,'sl" sITlnJ', p:\ssando-o ao snr. Cel. Milton dç

,.'I'I.llm, 1\InlciUiJ." , (1\01 rIo Q. G, 11.° 65, de 30-9).

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200 ,1 11l' e o ti e A I m e i d a C a m a r g o

Paulista, não vá embora! Espere, flue nÚsdamos munição para você!

A injuria costumeira encontrava os fuzis illl-prestaveis sacudidos nervosamente nas mãos pau-listas, quc munição não faltava. Pobres fuzis, po-bre S. Paulo!

A uns duzentos metros da viDa, em campo lim-po, uma linha composta oe cerca de 30 homcns do10,0 B. C. R. faz frente ao inimigo, protegendo a or-ganização do grosso da tropa, para a retirada. 1:111official, trilando um apito, commanda essa ultimae brava linha de resistencia.

Durante o reLrahimento, um feri do e nove 1)I'i-sioneiros do "1.!". (107)

Bôas trincheiras 4 kilometros atrás, dominan-do com vantagens a região fronteiriça, são occupa-das ao anoitecer. Como os soldados estão sujos!

Commentarios no dia seguinte sobre os acon-tecimentos, sobre os fuzis. Um problema, os fuzis,O inimigo é avistado ao longe, - pequenos pontosescuros, arrastando-se pela estrada, pelos campos.A alguns kilol1lclI'oS de dislancia, fogueiras fazemum circulo muito cxtenso de fumaça, em torno dospaulistas.

A' tarde, ordem para alirar o inimigo afoiLo,que tambem atira. Como o numcro de fuzis é rc-duzido, e eada soldado quer combater um pouco,as arIHaS passaHl de luão elU mão.

- Agora, é a minha vez.A durar mais tempo, a luta no Sul terá de ser'

suslentada com pedradas, estilingues e fundas.

(107) Jorge de Ulhoa Cintra, E!Jm11l)ÇJo :\"ava.iasJosé Penteado Salles, AII[onio Ghirl:llula. Waldemar'4:f?-'raldine, Odair Loho, Estanislall Biondi. NUa Porto, Guerra.

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A EPOPE.A 201

Ta l-e-qual a historia de David e o gigante Golias.Quem venceria?

Os ultimas tiros da campanha, 18 horas do dia2 de Outubro.

"Muitas horas depois de communicada ás tro-pas as sombrias noticias do momento, combatia-St~ ainda! Como as visceras de certos animaes re-pletos de vitalidade, palpitava ainda no rincão dis-lante de Taquaral Abaixo, o espirito de luta dessaJ\\ocidade estuante de brasilidade que, no "14 de.rulho", deveria dar os ultimas liras da campa-Ilha." (108)

Os ultimas tiros, 2 de Outubro. . ,As trincheiras occupadas são as melhores das

all: então conhecidas do "14", Feitas por um cor-po de sapadores, dispõem, quasi todas, de um luxoigllorado pelo batalhão: abrigo contra bombar-deio, uma verdadeira sala subterranea. E' com pe-S:II', portanto, que são recebidas as ordens de retra-hiJ\\ento para Pilar.

Pequena parada em S. l\Iiguel Archanjo, são2:1 horas. Pilar, com os ultimos caminhões de tro-pll chegando ás 2 1/2 horas de 3.

Noticias vindas de S. Paulo esclarecem umPOIIC:Omais a situação, Os boatos, fervilhando(~OlllOsempre, já não dão margem ás imaginaçõesflllllasislas, que ainda esperavam pelo milagre de11111:1paz igual e humana, promovida pelo governofc.dc'ral. E' a rendição pura e simples e o desmo-1'011:1111<:1110completo .dos ideaes guerreiros paulis-1m;. A rcndido!... A unica formula encontradaplll'lI rc'sol ve;: lima epopéa!,..

( 10/1) (I':tIIIIO a Palmo, Cap, A. Bastos, pg. 156).

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202 Allreo de Almeida Camargo

3 de Outubro, máo dia, más noticias: os pau-listas seriam obrigados a entregar-se ás tropas di-tatoriaes, para fazer acto de submissão; o "14" nãopoderia seguir para S. Paulo e sim para Itapeti-ninga; as tropas inimigas já haviam chegado a S.Miguel Archanjo e corriam em perseguição...

Scntinellas nas elevações mais proximas dePilar. Isto significa que o commando não permit-te a approximação dos contrarios. Antes assim.

Dia máo, más noticias: o Cel. Milton fôra fe-rido gravemente dias antes. Indisciplina de fim eleguerra. (109) Ao passar por Grammadinho, certavez, o "14" merecera do valoroso militar, que allitinha o seu P. C. uma saudação captivante. Elleagitara o capacete typo americano até á passagemdo ultimo caminhão ele tropa. Póde parecer minu-cia insignificante á primeira vista, mas o facto emsi, para o soldado combatente, diz muito. E' poris-80 que o batalhão lamenta o acontecido, e ha phra-ses: "O amigo Ccl. Milton..."

A ultima retirada. Embarque em caminhõesás 19 horas. Chove forte. Sorocaba, ás 2 da ma-drugada, depois de accidentada viagem pela es-trada enlamea'd a. Caminhões que tombam, outrosque atolam. Os soldados se transformam em tra-ctores: "Nada para o inimigo". Um caminhão daintendencia capota, sahindo illesos os seus trespassageiros. A viagem continúa. Os caminhões,

(109) "Em viio se expunha diar'iamente ás balas doadversario na inspecção infaIlivel ás posições mais arris-cadas de sua tropa, par'a ir tombar' gravemente fCl'idoquasi ao cncerrar da luta, deantc dos fuzis criminosos deum pelotão amotinado".

(Palmo a Palmo, Capo A. Bastos, pg. 79).

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A EPOPÉA 203

barro por todos os cantos, estão chegando a S.Paulo espaçadamente, das 6 até as 12 horas, dia 4.

Cada vehiculo carrega um pedaço da grandecampanha. E' o que sobrou do Sul de S. Paulo, dopobre S. Paulo.

o 18 annos:

- Que triste paz!

O écho:

-- TRIS-TE-PAZ...

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Palestro com oGeneral

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Conhecemo-nos do Sul, General. Muita vezo meu fuzil esteve frente á tropa que commanda-veis. :Não sinto remorso nisso. Pelo contrario, atéme orgulho de ter pertencido a um batalhão queenfrentou numero superior e consideravel de sol-dados e armas de ponta a ponta, quero dizer, dosItararés ao Taquaral-Abaixo, que foi o theatro doultimo combate tra\'ado, a 2 de Outubro. Sinto or-gulho, porque pertenci á resistencia que conseguiuretardar o vosso avanço facil até Bury, mas penosonelle e depois delIe, por um espaço de tempo suf-ficiente para gerar o que nós, paulistas, chamamosjustamente - Epopéa.

Não fui levado para o front por adio ao inimi-go, que não conhecia, pois os movimentos nacio-naes se fazem á custa de adhesões e, no caso, af-firmava-se como certo que os Estados sulinosacompanhariam os paulistas. Segui por amôr a S.Paulo, que é a minha terra muito amada, povoadaque tem sido pelos meus mais velhos durante se-culos a fio, desde Jusepe de Camargo, que se casoucom uma bisneta de Tibiriçá e, portanto, neta deJoão Ramalho, alé o meu avô paterno, que morreusegurando o eslilhaço de granada que lhe roubarao filho, 15 dias antes. Este se fôra em consequen-cia dos ferimentos recebidos no combate que omeu batalhão, que era lambem o delle, manteve

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208 A u r e o d e 11lm e i d a C a 111a r g o

com os vossos soldados nas immediações de Bury,no "Allemão". E, curiosa coincidencia, o bom ve-lho, qne morria longe da terra sempre estremecidae da qual só sahiria pela imposição dos primeirosdisparos da artilharia ditatorial - o Amparo, tam-bem percorrera, como soldado, o mesmo trecho deterra paulista amcaçada por Saraiva, em 93. Umdestino que se cumpre 39 annos depois, nada mais.Segui por amôr a S. Paulo, repito, por solidarie-dade aos moços da minha geração que partiampara a Guerra, e só depois de desencadeada a luta,de vez, percebi que em mim nascera um sentimen-to até então desconhecido e que me causou umgrande mal-estar, qual o de adio ao inimigo. Con-juguei mais de uma vez, e justamente, - eu odeio,odiarei. E fiz o maximo que o soldado pode fazer- atirar. Atirei o possivel contra a vossa tropa e,certa occasião, lembro-me bem, fui sustado no mis-ter, par economisar munição. Acreditae, Gcne-ral, nesse momento rangi os dentes, em direcção aoalvo poupado. O espirito de economia que, por ne-cessidade, presidiu sempre a guerra paulista, pou-pava, quem sabe, um soldado ditatorial. Quem te-ria ganho com a poupança, perguntei algumas ve-zes? Um momento houve, no Cerrado, - foi a 15de Setembro, - que gritei alto aquiHo que os meustiros levavam para a frente, para a vossa tropa:"Por Alonso, qne morreu por S. Paulo! ,Por Alon-so!" A guerra, por mal dos meus peeeados e aza-res, quasi que me transformava a serenidade. ~ ostempos de paz, todavia, sou homeln educado, emcondições de controlar os sentimentos adquiridosinvoluntariamente nos campos do sul. E, porisso,affirmo a todo o mundo, serenamente, que nuncafui tão bom paulista como agora, retemperado

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como eslou por ludo que aconteecn, pelas miseriasa que venho assistindo, desde os haneos acadcmi-cos. Vivi sempre orgulhoso de S. Paulo c das suasfiguras, dos homens do tempo dos meus antepas-sados c iguaes a elles, os Fernão, os Baposos, osAma(lor Bueno. Até Julho-32, esses symbolos eramo que se costumava chamar de "paulistas authen-tieos". E muitas outras figuras, do mesmo tama-nho, completavam a galeria immortal. Todasgrandes, dignas, paulistas. Sempr.e a mesma a figu-ra evocada: um mixto sentimental de heróe, debandoleiro, de rectidão e trabalho - o bandeiran-te. "Ali, os paulistas antigos, os bandeirantes!. . . "- é a phrase qne enchcu de sonoridades a I-listo-ria de S. Paulo, no Impcrio c na Hepublica. Nesta,porém, o espirito de S. Paulo soffreu o eolIapsoque ataca todas as cousas. O bandeirante!... A'sua simples evocação, ahsurdos innumeros se COl11-metteram. Era o pára-choque dos desastres e ini-ciativas infelizcs. Tudo contra S. Paulo. "Sou umbandeirante, dcsl:endo delle, não posso desejar mala minha terra." A mesma coisa tentarão dizer ain-da hoje os quc se approximaram do General, semnecessidade, gratuitamente, por uma cortezia ex-quisita que se chama altracção do Poder. Porque,em S. Paulo e no Brasil, muita gente soffre do 1'0-mantieo e expressivo fcitichismo pelos homens dopoder, pelos governos. Bem sei que o General co-nheee as tres palavras magicas "Governo é Go-verno". O S. Paulo de hoj e, porém, o S. Paulopost-32 já não pensa com os velhos e os envelhe-cidos, os mesmos que, por terem nascido em S.Paulo e alardeado durante a guerra "Tudo por S.Paulo", julgam mais uma vez que os seus aetos caltitudes imprudentes encontrem anteparo na ve-

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210 .4urcu de tllmeida Camar{Ju

lha formula dos tempos republicanos. "Descendodos bandeirantes ", - dirão. E o que ha de moçoem S. Paulo: "Pobres antepassados!" Não diviseis,General, uma parcella siquer de S. Paulo nessasfraquezas miseraveis. Já que não conheceis S.Paulo e somente alguns dos seus homens da hora,é possivcl que, na intimidade, vos ponhaes a rir dospseudos-paulistas e delles vos precavenhaes "á Iadiable", não os tomando a seria. Sei que os rece-beis e toleraes por altos motivos. Porque seria fal-ta de tactica militar afastar os approximadores dosmais fortes. Não vos illudaes, General, com os quevos cercam pressurosos, ou, pelo menos, não façaesa S. Paulo a injuria de os tomardes por paulistas.Será o maior bendicio prestado pelo General aesta pobre terra. De uma coisa não vos podereisqueixar-vos - da hospitalidade paulista o Ella sem-pre foi prodigao Que o diga a recepção( algunsmaldosamente julgaram tratar-se de homenagemdisfarçada) recebida pelo General num dos maisaltos cenacuIos paulistas o Se não eontaveis comella, muito menos os paulistas, aliás sempre hospi-taleiros. E que espanto não vos causaria uma ou-tra prestada numa casa cheia de luto, onde umquadro fixa um moço que morreu por So Paulo,deixando para sempre o nome illustre e igual aodo bandeirante que seguira na Gloria? E que es-panto para os paulistas, General! Queixar-vos dahospitalidade paulista, - nunca o podereis fazer.Os paulistas pódem queixar-se della, mas só elleso

Depois do movimento de Julho, nada mais res-tava a S. Paulo senão calar-se, como se calou, coma dignidade conquistada pelos que morreram. Esonhar, não com os velhos bandeirantes" despres-tigiados" pelos máos paulistas, c sim com as novas

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A :!II

figuras que encarll:Ull o S. Paulo de hoje, as da-qucHes que se fizeram matar por UIII in (,liSO :IPC-go á terra querida. Porque, com eslcs 011 Ú slIasombra, não haverá quem ouse COIII[)J'Ollll'II<'I'S.Paulo, sob pena de merecer as maldições das d('so-ladas mães paulistas, que são muitas. Adelllais, osmotivos que levaram S. Paulo a levanlar-..;e ('111massa, sem odios e rancores, ainda estão de [1<\ (~não os ignoraes: São Paulo, São Paulo, São P:lldo.A paz de Brest Litowsky não os solucionou. VÚsproprio não os poderieis resolver, que elles siio in-timos, fazem doer o coração. Quem sabe se o 1('111-po. .. Sim, o tempo liquidará o assumpto de vez.Até lá, os moços que combateram saberão zelarpela dignidade conquistada para a sua terra, pelopatrimonio que custou sangue e que deixariio paraos vindouros, como o mais brilhante troféo de hon-ra da IIistoria paulista.

Em resumo: Quereis conhecer o espirito pau-lista post-1932, um S. Paulo amplo, puro, cheio desacrificios? Nada mais facil. Procurae, ou melhor.cscolhei dentre os que se fôram, neste ou na<jucllebatalhão, um soldado paulista !jnalquer. No "1,1de Julho", que conheceis tão bem lá do Sul, exis-tem muitos nomes. Podereis escolher um deHes,com os olhos fechados. O preto Vasconcellos, quemorreu, como vivera, humildemente'! O pcquenoCesar? O Hermes, que cahiu nas calçadas paulis-tas? O Alonso'1 O Seppi, o Ary, o Bifano, o .Tos!:Maria, o Argemyro, o Clineu, o Lauro, o H 11-bens? .

"Qualquer delles, General. Escolhei! E sÚ

então ficareis conhecendo exactamente o S. Pauloque tem mais de 400 annos de Historia e, sÓ no "1-1de Julho ", 12 symbolos puros da sua grandeza.Escolhei !

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LAUS SÃO PAULO

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Apendice

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Pertenceram ao "14 de Julho" as seguintespessoas, cujos nomes constam dos papeis em poderdo autor:

A. Arouche ToledoA. de Barros :\IottaAcacio FcrnandoAdalberto Garc.ia FilhoAdaucto Martir.czAdhemar MartinezAdhernar RibeiroAdolpho :VIeIIo JuniorAffonso Celso Garcia Sobri-

nhoAJ'fonso CipulIo NetoAgnaldo Augusto PintoAgostinho OliveiraAjascio l\Iaia CoutinhoAlberto ArantesAlberto )3acele (conego)Alberto GuimarãesAlbcrto Portugal GomesAlberto RossiAlberto Silva Azev,edoAlceste SchroerckerAlceu NascimentoAlceu NascimentoAlcides Duarte, Gomes SilvaAldo de AguiarAldo Cassio VasconceIIos

FernandesAldo HernandezAJdo Lodi

Alexandre BarbouxAlexandre J. MirandaAIfredo ColornhoAlfredo LazareschiAlfredo Monteiro da SilvaAlfredo Pacheco JuniorAlipio Chaves NunesAlmiro E.stevesAlonso Ferreira de CamargoAluizio R. MendonçaAlvaro ArmbrustAlvaro Paula CamposAlvaro RudgeAlvaro da Silva GordoAiv,inar Castro CottiAnanias RibeiroAndré SantosAngelo BernardelliAngelo .\[atheusAngelo RossiAnselmo RorelliAn tenor FranciscoAntonio Algodoal SampaioAntonio de Almeida FilhoAntonio AzevedoAn tooio C. CastroAntonio de CamargoAntonio CardonaAntonio Cardoso de Almeida

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218 ilurc(J de .1lIllCidll Camargo

Antonio Carlos Campos Sal-les

Antonio C<Jrlos Crespo deCastro

Antonio CarvalhoAntonio DOUl'adoAntonio EleuterioAntonio GhirlandoAntonio GonçalvesAntonio tafaldeAntonio Lueiano NetoAntonio LuterioAntonio ;\L de. OliveiraAntonio :V[endonca BarrosAntonio :\lereado' .TuniorAntonio SaIle-sAntonio Silyeira ;\[achadoAntonio VampréAnual' CuriAquino RodriguesAraldo Penna HamosArgemyro Alyes SilvestreAristeu Marcondes MouraArmando MendonçaArmando Nosche-seArmando PereiraArmando RiosArmando ZenesseArnaldo Azevedo SilvaArnaldo Octavio NebiasArnaldo PedrosoArnaldo SerroniArnaldo ZenesiArthur Gre.ccoAry Carnciro FernandesAry N. CastroAtaliba DllarteAtaliba de Souza PintoAtugasmin :\Iedici Fi]ho-Auguslo de Souza QueirozAureliano C. N ascime.nto

Aurelio Estievam

~co dM A~meidê ~iJman!oulus . au us oe ho Pe-

-- relraAzo;-Mõ;;tcn egro

B\!rt=eu Bucno ~~~~Ii-'1

Benedicto dc Almcida San-tos

Bonedicto Correa SampaioBcnedicto MarcondesBenedicto U. AlyarcngaBenjamin SoaresBento Lacerda de OliyeiraBento J. Carvalho JUl1iorBento Luiz de Q. TeIlesBcrnardo F. ViannaBcrnardo Meyer JuniorBianor José CamposBnmo Mello Tcixe.iraC. Rios de CastroCaio de AlmeidaCaio CarneiroCaio Ribeiro de Moraps c

SilvaCandido Pacs de BarrosCarlos Adhemar de CamposCarlos de AraujoCarlos de Arruda BotelhoCarlos Augusto de Souza J01'-

dãoCarlos de Campos PagliuchiCarlos CamargoCarlos CostaCarlos Eduardo de CamposCarlos Lara CamposCarlos HomeoCarlos Virgilio SavoyCarolino A. AmaralCamillo Que.iroz :\IaraesCasimira p. NetoCas6iano Marcondes Hangel

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RPOPÉA ~I!I

Cassio GomesCassio M. C. PenteadoCassio Paes de BarrosCassio Ribeiro da SilvaCayrÚ TeixciraCelso BrandãoCelso Figlle.iredoCelso M. SallesCelso de Moraes Alves LimaCelso PagliucaCpsar Penna RamosCícero .TunqueiraCid Pinto CesarClaudino AmaralClrof:mo Lon\:s Oliveir~'1Clineu Braga :.VIagalhãesclovIs de Àzevedo 'Colombo de AlmeidaCUd \Vira"

.Cvro PassosC;'ro -SavoyCyro Hibeil'O ~larxCYI'o de Souza - e SilvaDagoberto Salles FilhoDalsten EpighausDare)' RibasDario di NapoJ.iDeeio FlexaDeeio SilvaDelphino de Ulhoa CintraDeodoro LopesDias HabeUoD.ialma Forjaz .Junior!)jalma P. Camargo Bitten-

eourtDjalma W. LimaDomingos BocutiDnrval Carvalho])urval Preilas RoehaDurvalino VieiraEllcl' AcorsiEdganl Alcncar Marques

Edgard RosoEdmundo Mendonçafuh11unr1o ~~E([uardo :Ylesquita Sampai<,Eduardo PaceEduardo Queiroz TellesEduardo Souza Queiro/:Eleio Pimentel de 1\1elloEmile Zola P. Me,ndl'sEmBiano BritoEmiliano de Toledo SoaresEmilio LambertEjlan1Í'nondas Val1eErnani CoelhoErnani Laeerda de OliveiraErnesto PuLol FilhoErnesto \VCJmbe,rgEsmeraldo A. de SouzaEstanj,~lau BiondiEstc.fano BarbatoEstevaldo:\1artinezEuclydes FerreiraEulalio BarrteoEurico de Oliveira ;\laiaEvaristo Teixeira PintoEveraldo R. :\'lelloFabio Oliveira BanosFabrido VampréFarid ChedeFausto ChavesFausto R. BarrosFausto ToledoFeJ.iciano CorrêaFelicio Cintra do PradoE\;.Iir c i\ ché J ~1l1iorF,elipe Neto

......

Fcrnando ArrudaFernando MedieiFernando :\Ie5quila SampajoFlavio de AraujoFlavio BiUencourtFlavio :\Iargarido da SiJva

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220 Aureo de Alllleida Camargo

MazzaToneliAntonio Lacaz

FortunatoFortunatoFrancisco

NetoFranciscoFranciscoFranciscoFranciscoFranciscoFranciscoFranciscoFrancilScoFranciscoFranciscoFrancisco

dre)Francisco de Pau]a Machado

ele CamposFrancisco de Paula QuartierFrancisco Pilar MattosFrancisco Pujo]Francisco Quirino dos SantosFrancisco R. OliveiraFrancisco R. ROlSasFrancisco Ribeiro da SilvaFrancisco Romeiro SobrinhoFrancisco dos Santos NetoFrancisco SerroniFrancisco T. MachadoFrancisco VasconceJlosFrancisco XimenesFrank]in Piza JuniorFrederico Elias OlsterGeraldo Mendonça BarrosGeral do SiqueiraGiJbcrto NogueiraGiordano Banzatto!:iu.ill11'.rmeA. Lyra .Guilherme CavalcaI1:tiGumercinelo CintraGumercindo MarianoGumereindo Pontes A]ves

ArantesAristodemoCarJos dos SantosCostaDias C(;sarEmigdio P. NetolrtmenezJosé da NovaJulio Salgadodas NevesNino Passos (Pa-

Heli FranehH enrique BastolS FilhoHenrique Fagundes JuniorHenrique Fagundes ~('toHenrique Olavo CostaHenrique Pamp]ona M. FilhoHermes O. CesarHomero Souza NeryHonorio P. LeiteHonorio Pires de OliveiraH'oraeio Paula LeiteHugo João SoJlerRuga MalheirQ$TI'ugo Sterman]brahim :'i1aseimentoIsmael Campos NavarroIsmael Couto CaiubyIsrael Campos NavarroIvaneo GuimarãesIvens Vioira.T. A. .Tesuino dos SautosJ. A]ves Almeida FeoJ. Penna MaltaJ. S. FerrariJ adcr Alves Lima.fanuario dcl MonacoJanuario MozzaJ aym e l3arroso.Tayme Loureiro FilhoJ ayro Loure.iroJoão A. Oliveira NetoJoão Albuquerque CarvalhoJoão Almeiela PradoJoão Antunes de OliveiraJoão B. M. Tolosa.João Baptista Fleury.Toão Baptista LeiteJoão E. Tthayde MarcondesJoão GareiaJoão Gonçalve.s BieudoJoão Guzzo FilhoJoão José Moreira

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A E P () P li Jt

.Ioiio LagoJoiio Luso FiJhoJoiio MonteiroJo:io Oc!avio NebiasJ oiio Passos l\1aiaJ oiio Pedro Goncalves Silva.João Penido Salfes.Ioão Romão da Silva.João Ruy CanteiroJoão Ve!loso Andrade.Joaquim Barbosa SantosJoaquim MirandaJoaquim Móra de FreitasJoaquim Octavio N ebiasJoaquim Walter dos Santos.JordãQ Prestes de Freitas.IoI'ge Alayon.Jor'ge AssumpçãoJorge CintraJorge CouryJorge F. Toledo.JoI'ge Fonse,ca Junior.Jorge Hermann.Jorge JunqtW1'rã Penteado.JoI'ge Lima de r.Ioraes.Jorge Mello.J(Jrge Tibiriçá Neto.José Aluizio Bittencourt da

Fonseca.José A. de Toledo Filho.Iosé de AImeida Camar o. ose Alten eI er unior.José AlbimJosé Antonio CanutoJosé Antonio CarusoJo"é Antonio MattosJosé Armando Telles.Iosé de Assis Pache<:o.Jos{~ Barl}Osa Passos.Ios{~ Barcellos.rOSl~ BalTOS Amaral.Iosé Barros de Camargo

José Benedicto dos Sanlo/;José Bento Pereira de Souza.Iosé Bcnifado C. SampaioJosé Borges VieiraJosé Carlos Augllsto AmaralJosé Carvalho.José de CasUlhoJosé Christino de :HelioJosé Collaco de Carvalho

V éras.

José Costa PintoJosé David Fon.seca.José David Jorge.José Dourado.José Dias ~jose Eamifdo de Oliveira

BarrosJosé Eugenio RezendeJos'é F. Santos.José Fernandes ;'\Iore.no.Tosé FerrazJosé Fleury SilveiraJosé Garci; Barbosa.José GodoyJosé GuilhermeW hitaekr.José Ignacio Lobo.Iosé J eronymo VasconcelosJosé Junqueira Franco.José Lemos FreHas,iosé LoriggioJosé M. B. Mello.José :\Iaria de AzevedoJosé Mario ReisJosé ?\IatheusJosé }Iendonca BarrosJosé Mendes'José de MoraesJosé :\Iovsés De.abJosé -NascimentoJosé l\"orherto .FolIsl'(:a .Iu-

niorJosé Paiva Dutra

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222 fi 11!' e o d e .\ I /li e i ri (l C a Il1 a r g o

José Paula :\Iachado.Iosé de Paula Cruz.José Penteado Salles.José Pestana Filho.José Pimentel Pinto.José Pirajá.José Ribei.-o :\liJ'anda.JOSl~ TI;ios CastroJ o;;é Hodrigues ArrudaJosé HodriglJC.S SilvaJosé Souza Pirajá.José Tavares Lihanin.José 1'homaz SnyãoJosé Virgilio Hamos.José Vita .Junior.José WatelyJulio Bomfim PontesJWIO pracro LaC!'em--'"Julio Santoro.1ustino Freitas Junior.JuvenCJin R!'rnardeJIiL. Pires FerrazLaurindo :\Iinhoto Junio!'L1Uro BezerraLauro Amaral CampOlsLauro Cer<iueira CesarLauro Barros PenteadoLicio Marcondes AmaralLincoln LonerLivio Costa AndradeLuciano Nogueira FilhoLucio Ca;;anovaLuiz Avila lVIacedoLuiz de CamposLuiz Carlos B. ./unio!'Luiz Dias da SilvaLuiz E. BarretoLuiz E. Riheiro MendonçaLuiz Ferre.ira GóesLuiz Fontes HonieiroLuiz .Franco de AbreuLuiz Leite

Luiz de LorenziLuiz :\ orato P.-oencLuiz Nogue!ra 1 10Luiz Prest0s CesarLuiz R. lVIendoncaLuiz Sales'Luiz SodréJ.uiz de SouzaLuiz Toledo.:\Ianoel I3randão:\[anoel Castro :\1onteiro ~e-

vesl\lanoel Costa Leite:\lanoel Dias 1'oledol\1anoel 'Gand ara :Men dcsl\Ianoel Guimarães Dias::\Ianoel José :\1. Barros NetoManoel :\1auricio Corrêa:\lanoe.1 Oeta\'io Cardoso:.\Ianoel P. Limas::\larcello Ribei.-o dos Santosl\1arcello Som'es::\1m'cio F. A. Lima"Iario Angelo CapochiIIlario Carneiro Cunha:\Iario Cinlra Léit<e .

Mario Faria .Jordão2Vlario, Goularl:\Iario Junqueira:Mario Lima:\Iario :.\Iessias:.\[ario Porto;.Iario Vasalo:lIario ValgekiMario Vi~ra da Cunho:\Ia\heus Cons'cientino:\Iouricio do Amorall\Iouro Aguiar~,IOl!l'O Toledo Piza:\1aximo Puglisil'ligu cI cõüTíiiIiõ.Milt.on Br,essane

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:\Iilton' GneHet:VJ:ilton Lodl::I1ilton LOllrenco OliveiraMilton Noronha:vliIton Pipto Coe.lhorniton Queiroz MoraesMilton Soares CamposMirko RodriguesMiro LeonelMoysés Silva.:\rucio Campos MaiaNaul N. NogudraNaur Rocha FiuzaNelson 'BarbosaNelson Osorio FrancoNelson PlanetNelson SilveiraNelson- Toledo Filhoj\ elSOll Urioste.:\fewton F'errazNilo PortoNoemio de Oliveira CostaO. Luiz PereiraOctacilio BandeiraOctacilio Costa }JaiaOctavio AlbuquerqueOctavio AntenorOctavio Camargo LimaOctavio Junque,ira NetoOctavio QueÜ'oz :\IatosoOctavio S. PortoOctavio SeppiOdair LoboOdilon SilveiraOdodno MeninOlavo Leonel de Barros0lavo~ Pinto ::IIoraesOluvo Rolim ThuryOJegario Fernundes de SouzaOlegario SantosOm,ur g,ampa\io DoriaOmar Viegas de Camargo

Bittencourt

EfJ()I'I~A

Oresles A. (;uilll:lr;',I';;(h'este/; :\'Iora(~s Alvl'.5 lilll..,Orestes PizH 'I'ol<-do Si I\'"Orlando

.SanlOI'o

OrIando SanlosÜdando TianiOdaüdo W. LongoOscar Percira AraujoOscar Siquc.iraOscar Thom~son F.ilho{Jsías SampalOOsnv SilveiraOSo~lO EIenoOswaldo

.Bellediclo da <:011

ceiçãoOswaldo Camargo Lill1:!Oswaldj1 GodoyOswa.m José de OJiveir:1Oswaldo MarroneOswaldo Móra de Freila,;Os\VaÍdo NunesOswaIdo Pires da MoltaOs'\valdo RodriguesOswaldo UntiPaulo de. AraujoPaulo Augllsto AmaraIPaulo Bastos CruzPaulo Bifano AlvesPaulo de CamposPaulo CerqueiraPaulo Frederico Humllll'llPaulo Frelre de :\'1. B:IITI'loPaulo GordoPaulo J. MachadoPaulo MaltosPaulo :\'IesquitaPaulo :\luniz CampelloPaulo Piza de Souz:!Paulo ToledoPaulo VampréPaulo Vi eiraPaulo VidigaI Vic('IILe di'

Az,evedo

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224 Aureo de Almeida Camargo

Paulo W. DuIleyPaulus Aulus PompeiaPedro Elias RoquielliPedro Paulo CorrêaPerge.ntino GomesPer6io Carrilho~CostaNinio ~PUnio Lacerda de Oliv,eiraPlinió RamosPUnio Ribeiro da SilvaPrudente ClauzetHaphael GiorgiRaphael Ribeiro da SilvaBaul AlvimBaul BoligerHau! Rebouças Soaresnaul Soares de Me110llenato PradoHenato Rios Cas'troHenato Soares de Tolrdo

~,n~tn T~vH~llettiIlenato ToledoRené Mendes de OliveiraRicardo M. Gonçalvesnicardo MargheritaRicardo d eSouza Filhonino Antonio CeraRoberto BoveHiberto di LorenziRodolpho ValgekiHigerio ToledoHoland Von Ohel MartinHomeo Azevedo OliveiraHomeo BoninaRoque' S. FerrariRubens F. Toledo ArrudaRub,ens Moraes Alves de

LimaHuy ArmandoHuv R3rh()~" rl,p Almp;rl:;jHuy Ferreira da Rocha

:!Juy ~1l.~ CastroHuy Mendes de OliveiraSalim HelouSalvador CamargoSalvador da SilvaSebast"..ião~arro6 MartinsSebastião truvineJ'Sebastião Fleury SilveiraSebastião FloridoSebastião José de Almeida~ebastião José dos PassosSebastião Portultal Gouvêa!;'eneslo Cerrone -Serafim LeoniScrvolo Pompeo ToledoSj]vio Bechel'Silvio Dias RebeloSilvio M. CamargoSilv.io Passos MaiaSilvio Pedrosa~ilvio RamolS MaiaSimão de Oliveira LimaSlnesio d:e Oliv.eir3Tacito de Souza'fheophilo de Almeida SãThomaz A. WhatelyThomaz Fonseca'kJ~~lrl~ r()~3'

F~.Ira] ara.. er1')eIra

Ulpiano Pinto de SouzaVieente Camargo Marques\ ieente Cerque ira CesarVioente GreccoViee.nte M. Freitas NetoVicente MouraVicente de OliveiraVicente Tolentino,r,icIo}" ni<:lc Si1JTn;r~Victorino Go.nçalvesVictorino VenturiWaldemal' F'c.l'raz

Page 231: Revolução de 1932 - A EPOPEA

A EPOPÉA 225

Waldemar"'aldemar

~WaldomuoWaldomiro

GeraldiniMarcondes

Waldomiro LopesWalter MerigoWalter Penteado LorenzWladimir AmaralY!;lmo Ribeiro dos Santos

Sal-

AlambertFonseca

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Indice

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Page 235: Revolução de 1932 - A EPOPEA

Depois rIo quartel, embarque....................

Itararé, portas sul de S. Paulo..................

19

33

Faxina - Itapetininga , . 47

C.ombate de Bury, Capão Bonito. . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

Guapiára . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

O "Allemão", combate da l'egião ela Balsa . . . 97

O Fundão"""""""""""""""""""

129

O Cerrado, c.ombate do rio das Almas 159

Depois de S. Paulo-Itapetininga, o Taqllaral-Abaixo 187

Palestro com o General... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Apendic.e ,. .

205

215

Page 236: Revolução de 1932 - A EPOPEA

Capa de Prudente Clauzet

Page 237: Revolução de 1932 - A EPOPEA

Este livro foi composto e impressonas officillas da Empreza Graphicada "Revista dos Tribunaes" á RuaXavier de Toledo, 72, em São Paulo,

em Maio de 1933

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Page 238: Revolução de 1932 - A EPOPEA

sobre

RI-"Otl'( \0editados ou

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A.CA.DEMICA.

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Largo do Ou.ldor, s-B

LIVRARIA ACADEMIC,~ . Saraha & Oa.

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