revolução constitucionalista e estado novo

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Revolução Constitucionalista e Estado Novo 01 - A Internacional (1871/1888) Não foi possível encontrar uma gravação da “Internacional Socialista” em português dos anos 30 ou 40, embora a canção revolucionária fosse muito popular entre os comunistas brasileiros e portugueses na época. A inexistência de registros fonográficos deve -se provavelmente à clandestinidade em que atuavam os comunistas naquele período, tanto no Brasil como em Portugal . A Internacional foi composta pelo artesão parisiense Eugéne Pottier, eleito, durante a Comuna de Paris, para administrar um das zonas da cidade. Esmagada a insurreição – estima-se que mais de 30 mil “comunnards” foram mortos – Pottiers exilou-se e, entre 1871 e 1880, escreveu a letra do hino. A melodia foi composta pelo belga Pierre Degeyter bem mais tarde, em 1888, depois de ler o livro “Cantos revolucionários” de Pottier. A tradução para o português é do anarquista Neno Vasco e data de 1902. ”De pé, ó vitimas da fome! De pé, famélicos da Terra! Da idéia a chama já consome A crosta bruta que a soterra. Cortai o mal bem pelo fundo! De pé, de pé não mais senhores! Se nada somos, em tal mundo, Sejamos todos produtores! (Coro) Bem unidos, façamos, Nesta luta final Uma terra sem amos A Internacional! Messias, Deus, chefes supremos, nada esperamos de nenhum! Sejamos nós que conquistemos A terra-mãe livre e comum! Para não ter protestos vãos, para sair deste antro estreito, façamos nós, por nossas mãos, tudo o que a nós nos diz respeito! (Coro) Bem unidos ...

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Revolução Constitucionalista e Estado Novo

01 - A Internacional (1871/1888)

Não foi possível encontrar uma gravação da “Internacional Socialista” emportuguês dos anos 30 ou 40, embora a canção revolucionária fosse muitopopular entre os comunistas brasileiros e portugueses na época. A inexistênciade registros fonográficos deve-se provavelmente à clandestinidade em queatuavam os comunistas naquele período, tanto no Brasil como em Portugal .

A Internacional foi composta pelo artesão parisiense Eugéne Pottier, eleito,durante a Comuna de Paris, para administrar um das zonas da cidade.Esmagada a insurreição – estima-se que mais de 30 mil “comunnards” forammortos – Pottiers exilou-se e, entre 1871 e 1880, escreveu a letra do hino. Amelodia foi composta pelo belga Pierre Degeyter bem mais tarde, em 1888,depois de ler o livro “Cantos revolucionários” de Pottier.

A tradução para o português é do anarquista Neno Vasco e data de 1902.

”De pé, ó vitimas da fome!De pé, famélicos da Terra!Da idéia a chama já consomeA crosta bruta que a soterra.Cortai o mal bem pelo fundo!De pé, de pé não mais senhores!Se nada somos, em tal mundo,Sejamos todos produtores!

(Coro)Bem unidos, façamos,Nesta luta finalUma terra sem amosA Internacional!

Messias, Deus, chefes supremos,nada esperamos de nenhum!Sejamos nós que conquistemosA terra-mãe livre e comum!

Para não ter protestos vãos,para sair deste antro estreito,façamos nós, por nossas mãos,tudo o que a nós nos diz respeito!

(Coro)Bem unidos ...

O crime de rico a lei encobre,O Estado esmaga o oprimido:Não há direitos para o pobre,Ao rico tudo é permitido.À opressão não mais sujeitos!Somos iguais todos os seres.Não mais deveres sem direitos,Não mais direitos sem deveres!

(Coro)Bem unidos ...

Abomináveis na grandeza,Os reis das minas e da fornalhaEdificaram a riquezaSobre o suor de quem trabalha.Todo o produto de quem suaA corja rica o recolheuQuerendo que ela o restitua,O povo só quer o que é seu.

(Coro)Bem unidos ...

Nós fomos de fumo embriagados.Paz entre nós, guerra aos senhores!Façamos greve de soldados!Somos irmãos trabalhadores!Se a raça vil cheia de galasNos quer à força canibais,Logo verá que as nossas balasSão para os nossos generais!

(Coro)Bem unidos ...

Somos o povo dos ativos,Trabalhador, forte e fecundo.Pertence a terra aos produtivos:Ó parasita, deixa o mundo!Ó parasita, que te nutresDo nosso sangue a gotejar,Se nos faltarem os abutres,Não deixa o Sol de fulgurar!(Coro)

02 - Samba da boa vontade (1931)

Autor: João de Barro (Braguinha) e Noel Rosa

Intérprete: João de Barro (Braguinha), Noel Rosa e Bando dos TangarásGênero: SambaGravadora: Parlophon

Vitoriosa a revolução de 30, as autoridades deflagraram uma campanha paraconvencer o povo a não perder o otimismo diante das dificuldades econômicasprovocadas pela crise de 29 e pela derrubada dos preços do café. O lema era “Émelhor apertar agora para que a fartura venha depois”.

Noel Rosa e Braguinha, fazendo eco ao sentimento popular, trataram logo degozar o discurso oficial: “Viver alegre hoje é preciso/ Conserva sempre o teusorriso/ Mesmo que a vida esteja feia/ E que vivas na pinimba/ Passando apirão de areia”. O “aterro de café”, nas últimas estrofes do samba, refere -se àdecisão do governo de jogar ao mar ou queimar três milhões de sacas de café, natentativa de segurar o preço do produto.

“Viver alegre hoje é precisoConserva sempre o teu sorrisoMesmo que a vida esteja feiaE que vivas na pinimbaPassando a pirão de areia

Gastei o teu dinheiroMas não tive compaixãoPorque tenho a certezaQue ele volta à tua mãoE, se ele acaso não voltarEu te pago com sorrisoE um recibo hás de pagar(Nesta questão solução sei dar)

Neste Brasil tão grandeNão se deve ser mesquinhoPois quem ganha na avarezaSempre perde no carinhoNão admito ninhariaPois qualquer economiaSempre acaba em porcaria(Minha barriga não está vazia)

Comparo o meu BrasilA uma criança perduláriaQue anda sem vintémMas tem a mãe que é milionáriaE que jurou, batendo pé,Que iremos à EuropaNum aterro de café(Nisto eu sempre tive fé)”.

03 - Eu vou pegá Lampião (1931)Autor: J. ThomazIntérprete: Castro BarbosaGênero: SambaGravadora: Victor

Em 1930, o governo baiano ofereceu 50 contos de réis pela captura de Lampião.Era dinheiro suficiente para comprar seis carros de luxo.

J. Thomaz, que em suas composições costumava abordar temas da atualidade ,aproveitou a deixa para lançar esse samba bem humorado, que mostra como asandanças do famoso cangaceiro repercutiam no imaginário da capital daRepública.

Lampião só foi morrer bem mais tarde, na manhã de 28 de julho de 1938, naFazenda Angico, em Sergipe. Os trinta homens e cinco mulheres do bandoforam surpreendidos, ao despertarem, por uma ataque comandado pelo tenenteJoão Bezerra, à frente de 48 policiais de Alagoas bem armados, inclusive comquatro metralhadoras Hotkiss. O combate durou apenas dez minutos. Lampião,Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos e tiveram as cabeças cortadas.Os outros conseguiram escapar.

Somente em 1940, Corisco, o "Diabo Loiro", o último sobrevivente do grupocomandando por Lampião, foi morto.

“Adeus, AméliaVou decidir minha sorteEu vou pro NorteVou pegar o Lampião

Cinqüenta contosNão fazem mal a ninguémVamos ver se esse malandroDesta vez vem ou não vem

Não quero nadaNem revólver nem canhãoVou pegá-lo a cabeçadaPontapé e bofetão

Não sou criançaEle vai virar estopaVou acabar com esta lambançaLampião pra mim é sopa”

04 - O sem trabalho (1931)

Autor: E. Frazão e Nássara sobre a música “Sussuarana”,de Hekel TavaresIntérprete: NássaraGênero: ParódiaGravadora: Parlophon

Outra composição sobre as dificuldades econômicas do país logo depois daRevolução de 30. Há quem atribua erradamente esta paródia a Noel Rosa, masela é da lavra de Erastótenes Frazão e do compositor e caricaturista AntonioNássara. Aliás, é o próprio Nássara quem canta a paródia no disco que traz dooutro lado “Mal de fome” (ver em “Outras músicas”). Com bom humor, osautores da paródia, muito antes do nascimento dos “sem te rra” ou dos “semteto”, mostram as dificuldades dos “sem trabalho”. De quebra, registram osurgimento do Ministério do Trabalho, criado por Vargas em novembro de1930, dias depois da vitória da revolução.

“Faz tres semanatô cumeno só bananaporque não arranjo a grananem ao menos prá almoçáo que eu tô vendoé que se não me defendovô acabá me comendoprá pudê me alimentáisso é dispachonunca tive tão por baixoque se eu não me agachovô morrê de inaniçãoeu me escangalhode pulá de galho em galhoseu ministro do trabalhonão me dá colocaçãomeu esqueletotá pió do que um gravetoeu já tô virando espetomeus óio tão lá no fundonum bruto treinode tomá café pequenoquero vê se me envenenoprá ir comê lá noutro mundoindo outro diafui até a galeriasó prá vê se mordiao primeiro a aparecêchegô a horaeu quiz dizê, é agoramas vige Nossa Senhoracadê jeito prá mordêtô cum vontadede deixá essa cidade

onde há tanta maldadeonde há tanto mordedôMas ando tesoe tamanho é o meu pesoque sô capaz de eu sê presoe nomeado interventô”

05 - Mal de fome (1931)

Autor: Whitting, Cristovão de Alencar e Nássara. Sobrea música “Mon idéal”, de Maurice ChevalierIntérprete: Luiz Antonio (o próprio Nássara)Gênero: ParódiaGravadora: Parlophon

“Matarei jamaisA fome que éQue é todo o meu mal(................)(.................)Dans une gimnastyque trés desigual

Vejo junto a moiTu es ma petit poisE não me canso de olharBife ... rotiMete um triste fimToujours a jejuar

Molho de tomateÉ comme un relogie fataleÔ suvaco(?), passei malLe petit (......) infernalDe le redus en temps,(.......) grand momentMais Mon Dieu, Mon DieuPas de l’argentJe vois un couchon a voir (......)Un (.......) de parfum, soir

J’ai de lure(?)Quero um patê de foie grasSinto a fome de ver(?)Je ne sais pás

Bife da rotiMe mete um triste fimToujours a jejuar”

06 - O passo do soldado (1932)

Autor: Marcelo Tupinambá e Guilherme de AlmeidaIntérprete: Máximo PuglisiGravadora: Colúmbia

Esta marcha ficou popularmente conhecida como “O passo do soldado”, mas seunome original era “Marcha da Liga da Defesa Paulista”, entidade fundada em 28de maio de 1932, no calor do enfrentamento crescente entre as forças políticasde São Paulo e o governo federal. Em julho, estouraria a RevoluçãoConstitucionalista.

Marcelo Tupinambá é pseudônimo do músico Fernando Lobo.

Marca o passo, soldado, não vês,Que essa terra foi ele quem fez;Que seu passo é compasso seguro;Seu passado, o presente e o futuro.

Vem, soldado, que grande tu és.Tua terra se atira aos teus pés.Estremece de orgulho e ergue os braços.Ergue braços e beira os seus passos.

Marcha, soldado paulista,Marca seu passo na história.Deixa na terra uma pista,Deixa um rastilho de glória (Bis)

07 - Hino do Partido Constitucionalista (1932)

Autor: Marcelo TupinambáIntérprete: Francisco AlvesGênero: Hino

O hino foi composto e gravado em 1932. Portanto, não está se referindo aoPartido Constitucionalista, que somente seria fundado em São Paulo em 1934 eteria curta duração. Provavelmente trata -se de uma homenagem ao MovimentoConstitucionalista de 1932, na qual se usa com alguma liberdade o termo“partido”. Raposo Tavares e Anhangüera são dois bandeirantes que, partindo deSão Paulo, desbravaram o interior do país. Sua citação, claramente, tem oobjetivo de evocar as tradiçõe s gloriosas do estado e seu papel na formação doBrasil.

“Da alma cívica de um povoIrmanado nas trincheiras,Surgem as novas bandeiras,Criando São Paulo novo.O povo heróico à luta afeitoFirma a sua tradição,Tendo nas mãos o DireitoE a Pátria no coração.Marchemos cheios de glória!Conosco marcha a vitória!(bis)Amigos, surto (?) gracioso,Que a nossa alma destempera(?)A ânsia feita de RaposoE a firmeza de Anhangüera.Rumando a novas conquistas,Fiel ao destino da raça,Eia, abre alas, paulistasPois é São Paulo que passaMarchemos cheios de glóriaConosco marcha a vitória (bis)”

08 - Acorda, Maria Bonita (1932/1934)

Autor: Antonio dos Santos (Volta Seca)Intérprete: Antonio dos Santos (Volta Seca)Gênero: Toada sertanejaGravadora: Todamérica

Maria Bonita era o apelido da mulher de Lampião. Batizada como Maria Déia, lafoi criada na pequena fazenda do pai, na região de Jeremoabo, na Bahia, comseus 11 irmãos. Aos 18 anos casou-se com José de Neném, comerciante esapateiro, mas um dia, em 1931, quando estava de visita à fazenda do pai, ocangaceiro passou por lá com seu bando. Foi amor à primeira vista, de parte aparte, e Maria seguiu com Lampião – ela com pouco mais de 20 anos, ele com33.

Era baixa e tinha olhos e cabelos escuros e pele morena clara. Era chamada de"Dona Maria" pelos cangaceiros, quando lhe dirigiam a palavra, ou "a mulher doCapitão", quando se referiam a ela. Maria Bonita teve uma f ilha, MariaExpedita, em 1932, entregue pelos pais a um coiteiro de confiança em Sergipe.

Maria permaneceu no cangaço durante 7 anos. No tiroteio em Angicos, tombouao lado de Lampião. Foi a primeira mulher no bando, mas, depois que ela seuniu a Lampião, outros cangaceiros também arrumaram companheiras. Elasparticipavam de todas as atividades, inclusive dos combates. Não se sabe aocerto quando a música foi composta, mas provavelmente deve ter sido entre1932, quando Antônio dos Santos, o Volta Sec a, entrou para o bando deLampião, e 1934, ano da sua prisão. A gravação é de 1957, pela Todamérica, noCD “Cantigas de Lampeão”, com arranjos e direção do maestro Guio de Morais e

narração de Paulo Roberto. Quem canta é o próprio Volta Seca, que sobrev iveuao cangaço, aos macacos e à prisão.

“Acorda, Maria BonitaLevanta, vai fazer o caféQue o dia já vem raiandoE a polícia já está em pé”

09 - São Paulo em 1932 (1932)

Intérprete: Zé Pagão e FostinoGênero: Moda de viola

Provavelmente a gravação dessa moda de viola é bem posterior à revolução de32, não só porque se refere ao movimento como algo que já teria ocor rido haviabastante tempo, como também porque a dupla Zé Pagão e Fostino somenteatuou junta a partir da década de 50.

As menções à entrega de jóias e ouro fazem alusão às campanhas popularesrealizadas em São Paulo durante a Revolução Constitucionalis ta para financiar oesforço de guerra.

“Em 1932,São Paulo se levantouPela nossa liberdadeSão Paulo foi quem lutou

Com muitos atrai o gritoMeu São Paulo foi traídoAs mães perderam seus filhosAs esposas, seus maridos

Por causa de namoradoCom seus sonhos destruídosAté hoje tem paulistaCom o coração ferido

Eu entreguei muito ouroPara ajudar nossos soldadosCorrentinhas das criançasE alianças de noivado

Eu também dei minhas jóiasQue da lembrança não saiEu era um menino pobreDei a vida do meu pai

Em 1932,São Paulo se levantouPela nossa liberdadeSão Paulo foi quem lutou

Com muitos atrai o gritoMeu São Paulo foi traídoAs mães perderam seus filhosAs esposas seus maridos

Por causa de namoradoCom seus sonhos destruídosAté hoje tem paulistaCom o coração ferido”

10 - Trem blindado (1933)

Autor: João de BarroIntérprete: AlmiranteGênero: Marchinha

A marcha "Trem Blindado", lançada no carnaval de 33, por João de Barro, oBraguinha, mistura com muito bom humor a Revolução de 32 com o esforço dosambista para conquistar o amor da mulata. Alguns esclarecimentos: a) amatraca, instrumento de madeira que produz ruído semelhante ao de umametralhadora, era usada pelos paulistas para saudar os oradores nos comícioscontra Vargas; b) no enfrentamento com as tropas federais ao longo dasferrovias, os revoltosos improvisaram um trem blindado, com metralhad oras echapas de aço.

Embora de eficácia militar duvidosa, o trem ficou famoso na época, Daí o nomeda música; c) o capacete de aço era um dos símbolos do movimentoconstitucionalista; d) a referência à anistia mostra que a questão do perdão paraos líderes da revolução constitucionalista, na sua maioria presos ou exilados, jáestava na ordem do dia.

"Meu bem, pra me livrar da matracaDa língua de uma sogra infernal,Eu comprei um trem blindadoPra poder sair no carnaval.Mulata por seu encanto,Muito eu levei na cabeçaPorém agora eu duvidoQue isso outra vez aconteçaDo teu falado feitiçoPouco caso hoje eu façoMandei fazer em São Paulo, mulata,Um capacete de aço

Meu bem, pra me livrar da matracaDa língua de uma sogra infernal,Eu comprei um trem blindadoPra poder sair no carnaval.Mulata, quando eu te vi,Logo pedi anistiaPois os seus olhos lançavamTerrível fuzilariaE pra ninguém aderirAo nosso acordo amorosoBotei na porta de casa, mulata,Um canhão misterioso."

11 - Anistia (1933/1934)

Autor: Ary BarrosoIntérprete: Francisco AlvesGênero: SambaGravadora: Odeon

Muitos dos chefes políticos da Revolução Constitucionalista de 32, após aderrota, foram deportados ou buscaram o exílio. A maioria teve os direitospolíticos cassados por três anos. Em 1933, em meio à campanha eleitoral paraConstituinte, cresceram as pressões sobre o governo federal para que eleconcedesse anistia política, pacificando o país.

Neste samba, Ary Barroso, que tinha simpatias pelo movimento de 32, nãochega a pedir com todas as letras anistia para os derrotados, até porque o climageral no país ainda era de relativo fechamento, mas, com o talento de sempre,faz metáforas com o amor, o trabalho e o carnaval para poder abordar oproblema.

“Anistia, anistiaNos três dias de foliaSeu doutor, não faça isso, por favorNa prisão basta só meu coraçãoPor isso é que eu peço

Anista, anistia...

Passo a vida no batenteAli rente somentePorque sei que é o trabalho é naturalSeu doutor, quero ir emboraÉ hora lá foraComeçou minha festa, o carnavalAi, seu doutor...

Anistia, anistia...

Meu amor está me esperandoChorando e passandoUm pierrô que comprei à prestaçãoSeu doutor, por piedade,É maldade, essa gradeSeparar de mim o meu coração

Por isso é que eu peço

Anistia, anistia...”

12 - Positivismo (1933)

Autor: Noel Rosa e Orestes BarbosaIntérprete: Noel RosaGênero: SambaGravadora: Columbia

“O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim” era o lema dopositivismo, misto de filosofia e religião desenvolvido pelo francês AugustoComte, que, sob o impulso dos grandes avanços das ciências naturais no séculoXIX, tentou aplicar seus princípios e métodos às questões sociais.

O positivismo teve forte influência em setores da intelectualidade brasileira noperíodo de declínio do Império, tornando -se muito popular entre os jovensoficiais do Exército. Com a proclamação da República, o lema positivista,condensado, foi parar na nova bandeira: “Ordem e Progresso”. Noel Rosa brincacom Comte e com a incerteza econômica do período – juros exorbitantes,câmbio incerto, dívida flutuante –, para se queixar da mulher interesseira que oabandonou, pondo o desejo do progresso à frente do amor.

“A verdade, meu amor, mora num poçoÉ Pilatos, lá na Bíblia, quem nos dizE também faleceu por ter pescoçoO infeliz autor da guilhotina de Paris

Vai orgulhosa, queridaMas aceita esta liçãoNo câmbio incerto da vidaA libra sempre é o coração

O amor vem por princípio, a ordem por baseO progresso é que deve vir por fimDesprezastes esta lei de Augusto ComteE fostes ser feliz longe de mim

Vai, coração que não vibraCom teu juro exorbitante

Transformar mais outra libraEm dívida flutuante

A intriga nasce num café pequenoQue se toma para ver quem vai pagarPara não sentir mais o teu venenoFoi que eu já resolvi me envenenar”

13 - Invasão de São Paulo (1934)

Autor: MandiIntérprete: Mandi e SorocabinhaGênero: Moda de violaGravadora: Odeon

Desde o primeiro instante, São Paulo foi uma pedra no sapato de GetulioVargas. Afastado do poder o Partido Republicano Paulista (PRP), ligado àoligarquia cafeeira, estabeleceu-se uma intensa disputa nos bastidores entre aala mais radical da Revolução de 30, ligada aos “tenentes” – entre eles MiguelCosta e João Alberto – e o Partido Democrático de São Paulo (PD), que apoiaraa mudança do regime, mas não chegara a ter maior participação na organizaçãodo movimento.

Depois de algumas semanas de hesitação, Vargas nomeou como interventorJoão Alberto, que não era paulista. Miguel Costa, chefe da LegiãoRevolucionária, organização de choque criada para dar sustentação a mudançaspolíticas, econômicas e sociais mais profundas (ver músi cas “LegiãoRevolucionária” e “Legionários Alerta”, no CD “Revolução de 30”), assumiu ocomando da poderosa Força Pública do estado.

Mas a vitória da ala “tenentista” não foi aceita passivamente pelo PD e pelasforças políticas tradicionais de São Pau lo, que passaram a hostilizar o novogoverno estadual e a exigir a convocação de uma Assembléia NacionalConstituinte, adotando slogans como "São Paulo dominado por gente estranha”,"São Paulo conquistado"; "Tudo pela Constituição" e "Convocação imediat a daConstituinte".

Em 1931, diante do crescimento da pressão política, o interventor João Albertopediu demissão, sendo nomeado para seu lugar um paulista, o diplomata Pedrode Toledo. Mas era tarde demais. A concessão, longe de acalmar os ânimos,botou mais lenha na fogueira.

No dia 25 de janeiro de 1932, aniversário da cidade de São Paulo, houve umimenso comício na Praça da Sé contra Getulio. Em 22 e 23 de maio, estudantes epopulares queimaram e empastelaram as redações dos jornais favoráveis aogoverno federal. Quatro estudantes foram mortos nos conflitos. Em 9 de julhode 1932, estourou a Revolução Constitucionalista.

São Paulo, sob o comando do general Isidoro Dias Lopes, herói da revolução de

1924 que havia se distanciado da ala “tenen tista”, esperava contar com o apoiodas tropas de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, mas somente aguarnição desse último estado aderiu à rebelião. Isolados, os paulistasresistiram por três meses, mas foram derrotados militarmente. Vargasreassumiu o controle da situação, mandando prender ou exilar os principaislíderes do movimento constitucionalista. Em termos políticos, porém, arevolução acabou conquistando o que queria: o governo do estado, antesentregue a políticos de fora, foi devolvido às forças políticas paulistas e GetúlioVargas teve de convocar eleições para Constituinte no ano seguinte.

“Invasão de São Paulo” foi gravada em 1934, mas seguramente foi composta noprimeiro semestre de 1932, quando o confronto entre São Paulo e o governofederal ainda não havia entrado no terreno militar, mas a temperatura políticaestava em franca ascensão. Mandi e Sorocabinha, paulistas que cantavam paraum público basicamente paulista, tomam, é claro, o partido de São Paulo contrao “Norte”, mas diplomaticamente evitam caracterizar o governo federal comoum inimigo.

“Eu soube de uma noticia, eu não sei se é certo ou nãoO estado de São Paulo recebeu provocaçãoDo pessoar lá do Norte que é metido a valentãoAmeaçaram nosso estado de seg unda invasãoPorque a primeira já foi feita nos emprego e cavadão (?).Agora é com soldados, metralhadoras e canhãoSó pra mor de nós paulistas querer a Constituição

O estado de São Paulo eu faço comparaçãoPasto que ficou sem dono e se encheu de criaçãoQue vieram de outros pastos sem capim nem ribeirãoE aqui vão se engordando no meio da farturãoSujando o lugar que come, paga o bem com a ingratidãoNão se lembra que São Paulo é o esteio da naçãoSão Paulo é o trem elétrico puxado pelo vagão

Paulista não tem medo da chuva nem do ronco do trovãoAi, quem troveja, troveja, fica só em baruiãoNortista, cuida da sua casa, faça sua obrigaçãoSe arme de carabina e se arme de facãoQue se arme de coragem, que se atire no sertãoPara ajudar o sertanejo que também são nosso irmãoAcabe com os cangaceiros e vá prender o Lampião”

14 - Atualidades (1934)

Autor: MandiIntérprete: Mandi e SorocabinhaGênero: Moda de violaGravadora: Odeon

Mandi e Sorocabinha continuam fazendo a crônica política do país mesmodepois da derrota de 32. Em “Atualidades” dão conta das dificuldadeseconômicas – a queda no preço do café, o câmbio deprimi do, a incerteza daagricultura e o crescimento da miséria -, mas falam também dos problemaspolíticos.

Apelando para a gozação, lembram as eleições para a Assembléia Constituinte,realizadas no ano anterior. Nelas, pelo menos, o sujeito podia vender o voto emtroca de um “cinquentão”. E, prosseguindo na ironia, dizem que não tem razãoquem critica o governo, a revolução de 30 ou a guerra pelos nossos problemas.“A culpa é de Pedro Álvares Cabral, que descobriu essa terra”.

“Houve tanto rebuliçoNo território brasileiroHouve tanta novidadeQue até eu fiquei banzeiroO pobre lá do sertão,Levaram tudo ao desesperoDescobriram uma santaLá na vila dos CoqueiroLá na vila dos Coqueiro

O câmbio desceu a dois,Não há meio de subirO estado de São Paulo,Pois não quer mais progredirA crise voltou pro climaE veio morar aquiE a miséria anda passeandoPor todo nosso Brasil,Por todo nosso Brasil

O que sustenta o Brasil, ai,É São Paulo, isto é,O que sustenta São PauloÉ a lavoura de caféSe o café não tem mais preço,Nem dado ninguém não querÉ que nós vai caminhandoNuma bruta marcha a ré,Numa bruta marcha a ré

Ao menos se voltasseAquele tempinho bomTempinho de Constituinte,Tempinho de eleiçãoQuem não tinha nada pra vender,Nem café nem algodão,Vinha prometer um votoE recebia cinquentão.

E recebia cinquentão

O povo está descontente,Tem gente que grita e berraPõe a culpa no governo,Nesse ponto o povo erra,O culpado não é o governo,Nem a revolução e nem a guerraÉ Pedro Álvares CabralQue descobriu, ai, essa terraDescobriu, ai, essa terra”

15 - Avante (1934/1935)

Autor: Plínio SalgadoGênero: Hino integralistaGravadora: Gravação especial

Tanto a música como a letra do hino são de Plínio Salgado, chefe da AçãoIntegralista Brasileira, movimento fundado em 1932 por Plínio Salgado, sobinspiração da ideologia fascista, que defendia a necessidade de um Estadoautoritário e nacionalista, acima das classes. Era furiosamente anticomunista epregava “guerra de morte à liberal democracia”.

A AIB possuía uma organização interna militarizada, nos moldes fascistas, eseus militantes eram chamados de “camisa s verdes” ou “galinhas verdes”,devido à cor dos uniformes. Seu símbolo era a letra grega sigma; seu lema"Deus, pátria e família"; e sua saudação, o braço direito levantado,acompanhado do grito “Anauê” – em tupi “você é meu parente”. No auge de suaforça, em 1936, a AIB chegou a contar com 600 mil militantes em todo o país.

Em março de 1938, depois da implantação do Estado Novo, os integralistastentaram matar Getulio Vargas e tomar o poder, mas o golpe de estadofracassou.

Foram duramente reprimidos.

“Avante, avantePelo Brasil toca a marcharAvante, avanteNosso Brasil vai despertar

Avante, avanteFelizes como os arrebóisA Pátria é a primaveraO que a Pátria esperaÉ o novo sol

Ei, avante brasileirosMocidade varonilSob a benção do cruzeiroViverás pelo Brasil

Avante, avantePelo Brasil toca a marcharAvante, avanteNosso Brasil vai despertar

Avante, avanteFelizes como os arrebóisA Pátria é a primaveraO que a Pátria esperaÉ o novo sol

Gloria à Patria que despertaMocidade varonilVai chamar-te, sempre alerta,Sentinela do Brasil

Avante, avanteFelizes como os arrebóisA Pátria é a primaveraO que a Pátria esperaÉ o novo sol

Ei, avante brasileirosMocidade varonilSob a benção do cruzeiroViverás pelo Brasil”

16 - São Paulo em 1932 (1932)

Intérprete: Zé Pagão e FostinoGênero: Moda de viola

Provavelmente a gravação dessa moda de viola é bem post erior à revolução de32, não só porque se refere ao movimento como algo que já teria ocorrido haviabastante tempo, como também porque a dupla Zé Pagão e Fostino somenteatuou junta a partir da década de 50.

As menções à entrega de jóias e ouro fazem a lusão às campanhas popularesrealizadas em São Paulo durante a Revolução Constitucionalista para financiar oesforço de guerra.

“Em 1932,São Paulo se levantouPela nossa liberdadeSão Paulo foi quem lutou

Com muitos atrai o gritoMeu São Paulo foi traídoAs mães perderam seus filhosAs esposas, seus maridos

Por causa de namoradoCom seus sonhos destruídosAté hoje tem paulistaCom o coração ferido

Eu entreguei muito ouroPara ajudar nossos soldadosCorrentinhas das criançasE alianças de noivado

Eu também dei minhas jóiasQue da lembrança não saiEu era um menino pobreDei a vida do meu pai

Em 1932,São Paulo se levantouPela nossa liberdadeSão Paulo foi quem lutou

Com muitos atrai o gritoMeu São Paulo foi traídoAs mães perderam seus filhosAs esposas seus maridos

Por causa de namoradoCom seus sonhos destruídosAté hoje tem paulistaCom o coração ferido”

17 - Hino a Carlos Prestes (1936)

Autor: Carlos Palacio, Rafael Espinosa e Armand GuerraIntérprete: Coros Proletários (Espanha)Gênero: HinoGravadora: Gravação especial

Este hino, composto por Carlos Palacio, Rafael Espinoza e Armand Guerra emhomenagem ao secretário-geral do Partido Comunista do Brasil, Luís Carlos

Prestes, preso em 1936, foi cantado pelos "Coros Proletarios” durante a visitaque fez à Espanha a mãe do revolucionário, Leocádia, em campanha pelalibertação do filho e da nora, Olga Benario.

Em setembro daquele ano, Olga, em adiantado estado de gravidez, seriaentregue pela polícia de Vargas à Gestapo e morreria em 1942 no campo deextermínio de Bernburg. Prestes permaneceria na cadeia, em regime deisolamento, até 1945.

Não foi possível encontrar qualquer gravação da época, em português, sobre osacontecimentos políticos que vão da fundação da Aliança Nacional Libertadora,em março de 1935, ao levante de novembro do mesmo ano, quando oficiais,sargentos e soldados ligados à ANL tentaram tomar de assalto diversasunidades militares.

Ao que tudo indica, a vida legal da ANL foi tão curta que não houve tempo paraque fossem feitos registros fonográficos das diversas paródias mencionadas pelahistoriadora Marly Viana, em seu inter essantíssimo livro “Pão, terra e liberdade– memória do movimento comunista de 1935”.

Entre as paródias citadas pela pesquisadora, estão: a) “Hino do brasileiropobre”, com letra de Agildo Barata em cima do Hino Nacional; b) “Hino daAliança Nacional Libertadora”, sobre a música do Hino da República; c) “PraiaMaravilhosa”, sobre a música de “Cidade maravilhosa”, homenageando asunidades militares sediadas na Praia Vermelha, no Rio, que participaram dasublevação da ANL em 1935; d) “As granadas vão caindo”, sobre a música de “Oorvalho vem caindo”; e) “Governo mais avacalhado”, sobre a música de “Umpierrô apaixonado”; e f) “Cavaleiro da Esperança”, homenagem a Luís CarlosPrestes, sobre a música do “Hino da Independência”.

A ANL, frente ampla que reunia comunistas, socialistas, católicos progressistase lideranças tenentistas frustradas com a estagnação da revolução de 30,propunha-se a combater o fascismo, o latifúndio e o imperialismo e a constituirum governo popular. Seu presidente de hon ra era Luís Carlos Prestes. Lançadano Rio, em fins de março, a ANL espalhou -se rapidamente pelos estados e,segundo seus organizadores, em junho, já teria 400 mil filiados, realizandograndes comícios nas principais cidades do país. O rápido crescimento da ANL esua radicalização levaram o governo a decretar o fechamento da organização emjunho.

Em novembro, grupos de militares ligados à ANL tentaram tomar váriosquartéis . A revolta começou em Natal, no dia 23, com relativo sucesso: a cidadecaiu em poder dos rebeldes, que constituíram um governo popularrevolucionário, que duraria quatro dias. No Recife, uma unidade militar chegoua ser tomada pelos revoltosos, mas o movimento foi prontamente sufocado. NoRio de Janeiro, oficiais ligados à ANL rebelaram-se no 3º Regimento deInfantaria, na Praia Vermelha, e na Escola de Aviação Militar do Campo dosAfonsos, mas, após intensos combates, foram dominados. O levante fracassara.

Aproveitando a oportunidade, Vargas desencadeou feroz repressão con tra aANL e toda a oposição de esquerda. A polícia política prendeu milhares de

pessoas em todo o país. No ano seguinte, Prestes, que regressaraclandestinamente ao país, foi detido no Méier, subúrbio do Rio, junto com suamulher, a alemã Olga Benario.

Duas curiosidades sobre o hino. Primeira: a música foi usada mais tarde,durante a Guerra Civil Espanhola, como música para a popularíssima “Marchadas Brigadas Internacionais”. Segunda: a primeira estrofe na canção não batecom a primeira estrofe existente no livro de Carlos Palacio, “Colección deCanciones de Lucha”. É possível que a música tenha tido mais de uma versão,recebendo registros distintos no papel e em disco. O trecho que aparece entreparênteses só consta do livro, e não desta gravação.

“La llammada que viene deste valienteQue al Brasil le enseñó con su palabraEntra el miedo entre todos los burguesesY el valor entre el mundo de los párias

(Las semillas rebeldes ya se extiendenpor los pueblos y aldeas del Brasil.Ni la cárcel, ni el yugo, ni el martiriolograran apagar la voz viril.Ni la cárcel, ni el yugo, ni el martiriolograrán apagar la voz viril.)

El pueblo brasileñoForma sus huestesAl son de la llamadaDe Luis Carlos Prestes.

Pueblo fiel, que estuviste adormecido,Se acabó tu existencia esclavizada.Ayudemos al Pueblo brasileñoQue se apresta a librar la gran batalla!¡Ayudemos al Pueblo brasileñoque se apresta a librar la gran batalla!

El pueblo brasileño ...

Socorramos al héroe brasileñoQue, luchando al frente de sus huestes,Conquistó el corazón de todo un pueblo.¡Viva el «líder» Luis Carlos Prestes!”

18 - A baixa do café (1936)

Autor: Alvarenga, Ranchinho e Ariovaldo PiresIntérprete: Alvarenga, Ranchinho e Capitão Furta doGênero: Moda de violaGravadora: Odeon

A crise da bolsa de Nova York, em 1929, teve efeitos devastadores na lavoura docafé. Os preços despencaram e os estoques cresceram ainda mais. Paraenfrentar o problema, milhares de sacas foram queimadas e m ilhões de pés decafé destruídos. Apesar dos esforços do governo durante os anos seguintes, acrise estendeu-se por muito tempo. A moda de viola fala sobre o impacto da“baixa” na vida dos fazendeiros e na economia de São Paulo.

“O café já deu a baixa, o mercado suspendeuNão se vende mais café, acabou com os fazendeiroCom a baixa do café, fazendeiro (........)

Esse mundo tá perdido com a baixa do caféQuem comia com o tal de garfo hoje come de colherQuem andava de automóvel hoje anda de a pé

Quem chamava Josefina hoje chama Seu JoséQuem fumava só charuto, só cigarro de papéQuem andava de Buick hoje anda de Chevrolet

Quem era general abaixou pra coronéQuem morava em São Paulo hoje mora em TaubatéQuem usava meia fina hoje não tem meia no pé

Quem comia na pensão hoje o armoço é papéQuem andava de chapéu hoje anda de bonéQuem estava pra se casar está (....) sem mulher

Quem era fazendeiro já com casa (?) no papéQuem mandava era o dono, hoje manda é a mulherPor causa dessa mudança veio a baixa do café”

19 - É Lampa, é Lampa (1937/1938)

Autor: Manezinho AraújoIntérprete: Manezinho AraújoGênero: EmboladaGravadora: Odeon

Embolada de Manezinho Araújo, gravada pouco antes da morte de Lampião, em1938. O cangaceiro era tão poderoso que podia ser considerado “interventor láno sertão”. Sua mulher, Maria Bonita, chamada de Lampioa por Manezinho,chegava a avisar que, qualquer dia, o bando chegaria ao Distrito Federal.

“É Lampa, é Lampa,É Lampa, é Virgulino, Lampião

É Lampa, Lampa, é Lampa,É Lampa, é Lampa, é Lampião,É o bicho no cangaço,Interventô lá no sertão (bis)

Conheço Virgulino,Por alcunha Lampião,Desde o tempo de menino,Quando usava camisão.Sendo o mesmo cara ôio (caolho),Nunca deu um tiro erradoAté dá mais com um só ôioQue a gente com um punhado.

É Lampa, Lampa, é Lampa...

Esse ômi fez o cãoCom uma fia de LioteroVestiu ela de AdãoPra casar no cemitérioSe casa o descaradoInda houve coisa graveLampião ficou danadoCom o processo (descasado)

É Lampa, Lampa, é Lampa...

Ainda no mês passadoNo sertão de PernambucoEle prendeu tanto soldadoQue quase fica maluco.Tenente SamambaiaDeu o nome de AídaFalou que me visto saiaPra poder sair com vida.

É Lampa, Lampa, é Lampa...

Ele tem carro blindado,Muito tiro de espoleta.Tem mais de três mil soldadoPra ele ninguém se metaArmamento tá sobrando,Quem lhe leva é seu FelipeDiz que tá se preparandoPara dar combate à gripe.

É Lampa, Lampa, é Lampa...

A muié dele é muito boa,Mas as vezes se zangando

A peste da LampioaÉ uma cobra fumandoEla diz sempre surrindo,Vocês queiram acreditáLampião termina vindoNo Distrito Federá.

É Lampa, é Lampa, é Lampa ...”

20 - A menina presidência (1937)

Autor: A. Nássara e Cristóvão AlencarIntérprete: Sílvio CaldasGênero: MarchaGravadora: Odeon

A marchinha brinca com os vaivéns da campanha eleitoral de 1936/37, jáprevendo que seu desfecho se daria à margem dos marcos constitucionais. Nomomento em que a música foi gravada, duas candidaturas pareciam desti nadasa polarizar a disputa: a do paulista Armando Salles, "seu" Manduca, pelaoposição, e a do gaúcho Osvaldo Aranha, "seu" Vavá, um dos principais nomesda Revolução de 30, pelo governo.

Mas Getúlio tinha outros planos. Manobrou para evitar a forte candidatura deAranha e estimulou o surgimento do nome de paraibano José Américo deAlmeida, que se revelou incapaz de unir as forças governistas. Nessas condições,Armando Salles cresceu, mas sem entusiasmar. José Américo radicalizou suasposições, mas sem perspectivas de vitória. Aos poucos, o processo eleitoralparalisou-se num atoladeiro.

Amparado no clima de histeria anticomunista que dominava a cúpula dasForças Armadas, Getúlio, com um discurso cada vez mais semelhante ao dosfascistas em ascensão na Europa, deu o golpe de estado de 10 de novembro de1937, instaurando o Estado Novo e impondo ao país a ditadura. A músicacomeça citando uma de nossas mais conhecidas cantigas de roda:“Teresinha de Jesus”.

"A menina PresidênciaVai rifar seu coraçãoE já tem três pretendentes,Todos três chapéu na mão.E quem será?

O homem quem será?Será seu Manduca?Ou será seu Vavá?Entre esses doisMeu coração balança,Porque

Na hora H quem vai ficarÉ "seu" Gegê.

Agora todo mundo dá palpite,Mas eu sei que no fim ninguém se explica.É ligar, deixar como está,Pra depois então se ver como é que fica."

21 - Pensão do Catete (1937)

Autor: Lamartine Babo e Milton AmaralIntérprete: Jaime BrittoGênero: MarchaGravadora: Victor

Gegê é Getúlio Vargas. Jajá é José Américo de Almeida, escritor paraibano e umdos expoentes da Revolução de 30 no Nordeste, teoricamente apoiad o porVargas nas eleições presidenciais que deveriam se realizar em janeiro de 1938,mas abortadas pelo golpe do Estado Novo. Mas Juju, quem seria? ArmandoSalles de Oliveira, o candidato da oposição? Ou trata -se de uma menção aocunhado dele, Júlio de Mesquita Filho, diretor do jornal O Estado de São Paulo?

“Gegê, Juju, JajáRua do CateteNão tem placa no portãoGegê, Juju, JajáQuem será o homemPara governar a pressão?

Gegê, Juju, JajáRua do CateteNão tem placa no portãoGegê, Juju, mulher(?)Quem sabe se esse homemDessa vez vai ser mulher

Tem café pro Gegê,Requeijão pro Janjão,Tem churrasco ao Juju.No menu da pensãoComa quem quiserSenão os outros comemSeja mulher ou seja homem”

22 - Quem é o homem (1937)

Autor: Ary Barroso

Intérprete: Arnaldo AmaralGênero: MarchaGravadora: Columbia

Provavelmente a música foi cantada em alguma revista teatral, talve z do final de1936. Refere-se a eventuais candidatos para as eleições presidenciais previstaspara janeiro de 1938, que não chegaram a se realizar. Segundo a discografia deAry Barroso, foi lançada no carnaval de 1937, quando os candidatos ainda nãohaviam sido escolhidos e as especulações sobre os possíveis nomes corriamsoltas.

“Quem é o homemEu não digo nãoQuem é o homemÉ uma interrogaçãoEu sei quem éMas não quero dizerPois tenho medoDa polícia me prender

Virá do NorteQue bom!Virá do SulQue bom!Virá do LesteQue bom!Ou do OesteQue bom!Ele virá de qualquer maneiraPara a glória da terra brasileira”

23 - Paródia de Saudades do Matão

Autor: Jorge Galatti e Raul Torres (original) e Lauro Borges (paródia)Intérprete: Castro BarbosaGênero: Valsa sertaneja/paródia

“Saudades do Matão”, composição de Jorge G alatti e Raul Torres, gravada pelaprimeira vez em 1938 pelo próprio Raul Torres, fez um sucesso espetacular emtodo o país. Na paródia de Lauro Borges, as saudades são do tempo em quehavia fartura no Brasil. Caju é um cemitério, no Rio de Janeiro. Tem pi nta demusica de teatro de revista. Aribu é corruptela de urubu.

“Nós antigamente tinha carneNós antigamente tinha pãoAntigamente tinha tutu,Carne seca com feijão(Que era tão bom)

Nós antigamente tinha fioNós antigamente tinha fiaHoje nem fio nem fiaNós pode porqueNinguém agüenta tanta carestia

O cachaço subiu,A manteiga tambémA farinha de trigo sumiu outra vezAs bananas hoje em diaÉ artigo grã-finoE o pão, meu Deus do Céu,Como tá pequenino

Nós antigamente engordava os porcosCom abóbora d’água, repolho e chuchuHoje nós come as comidas dos porcosPra não ser comida de aribus(Lá no Caju)Nós antigamente não tinha filaNão faltava nada era tudo tão bomHoje tem fila pra tudoE a maior fila que temÉ a fila dos ladrão”

24 - Glórias do Brasil (1938 - outubro)

Autor: Zé Pretinho e Antônio dos SantosIntérprete: Nano RolandGênero: MarchaGravadora: Odeon

No dia 10 de novembro de 1937, com o apoio dos chefes das Forças Armadas,Getulio Vargas deu um golpe de estado, cancelou as eleições presi denciaismarcadas para janeiro de 1938, fechou o Congresso e instituiu o Estado Novo,regime ditatorial com inclinações fascistizantes que duraria até 1945.

Partidos proscritos, censura nos jornais, proibição de manifestações públicas,prisões de adversários políticos, campanhas publicitárias em louvor aopresidente – o novo regime apelou para tudo na tentativa de impor ao país umclima de ordem unida e congelar a luta política. O degelo só se teria início coma entrada do Brasil na II Guerra Mundial (ver CDs “O Brasil na guerra”), a partirde 1942.

Esta marchinha parece feita de encomenda para glorificar a figura de Getúlio,que, a essa altura do campeonato, depois de dominar o putsch integralista demarço de 1938 (ver “Avante” e “Galinha verde”), havia liquidado toda forma de

oposição a seu governo. Não fica claro quem, na visão de Zé Pretinho e deAntônio dos Santos, queria dominar o povo brasileiro. Seriam os comunistas ouos integralistas? Provavelmen te, ambos. Ao menos, esse era o discurso oficial daépoca.

“Brasil, ó rincão querido,Prezado pelo mundo novo,Destruído estava seu futuro,Porque pretendiam dominar seu povo.Surgiu Getúlio Vargas,O presidente brasileiro,Que entre seus filhosComo um herói foi o primeiro.

Ainda temos na memóriaEsses atos de patriotismo.Hoje tens nome na históriaNa emergência de teu negro abismo.Porque existia em seu seio,Entre os valores verdadeiros,Getúlio Vargas, que veioMostrar ser o Brasil dos brasileiros.

Brasil, ó rincão querido ...”

25 - Pra fazê inconomia (1939)

Autor: Renê BiitencourtIntérprete: Manezinho AraújoGênero: EmboladaGravadora: Odeon

“Aperta o nó, iaiá, da carestia,Aperta tudo pra fazê inconomia (bis)

Muié da moda sai pior que a encomendaTem dois metros de fazenda,Faz difícil pra chuchuNesse andamento de fazê inconomiaQualquer noite, qualquer dia,A gente tem que andar nu

Aperta o nó...

O meu cumpade que foi feito nas cavernasFicou sem as duas pernasNum quis mais se cacetar(?)E o danado está contente com esse f ato

Pois não compra mais sapatoNão tem mais no que gastar

Aperta o nó...

Andam dizendo por aí que meu cumpadeEstá estudando pra ser padrePra saber se aproveitar.Mas quando ele (....) primeiro na limpezaLevou pau (..............)Numa conta de somar

Aperta o nó...

Há muito moço que bancando o figurãoEnche os ombros de algodãoE vão para rua se mostrarProcuram um banho pois estão muito fedendoTiram a roupa de enchimentoQue (............) pra lavar

Aperta o nó...

Eu já parei é de fazer tanto exercícioQuase fui para o hospícioE meu peito não cresceuA minha sogra que é bojuda e esborrachadaNão faz força, não faz nadaTem mais peito do que eu.

Aperta o nó...”

26 - Canção do trabalhador (1940)

Autor: Ary KernerIntérprete: Carlos GalhardoGênero: Marcha

Alguns autores viram na exaltação forçada ao trabalho uma oportunidade deagradarem aos poderosos de plantão e chegarem assim ao sucesso. Ary Kerner,que não emplacava nada nas paradas desde o final dos anos 20, compôs amarcha “Canção do Trabalhador”, gravada por Carlos Galhardo em 1940 semmaior repercussão:

“Somos a voz do progressoE do Brasil a esperançaOs nossos braços de ferroDão-lhe grandeza e pujançaSeja na terra fecunda

Seja no céu ou no marSempre estaremos presentesTendo na Pátria o olhar.TrabalhadorIncansável, febrilEsse fervorExalta o BrasilTrabalhadorExpressão verdadeiraDo lema altivoDa nossa bandeira.”

27 - É negócio é casar (1941 - outubro)

Autor: Ataulfo Alves e Felisberto MartinsIntérprete: Ataulfo AlvesGênero: SambaGravadora: Odeon

Ataulfo Alves e Felisberto Martins mostram nesse samba como é possível puxaro saco sem perder o talento. Aproveitando a decisão governamental de pagar umprêmio em dinheiro ao chefe de família com mais de três filhos, atacam com osaboroso “O negócio é casar”, para retomar um tema muito caro à propagandaoficial da época, o do malandro que toma juízo e vira trabalhador - ofamosíssimo “O bonde de São Januário" é outro exemplo dessa safra.

“Veja só,A minha como vida está mudada.Não sou mais aqueleQue estava em casa alta madrugada.Faça o que eu fiz,Porque a vida é do trabalhador.Tenho um doce larE sou feliz com meu amor.O Estado NovoVeio para nos orientar.No Brasil não falta nada,Mas precisa trabalharTem café, petróleo e ouro.Ninguém pode duvidar.E quem for pai de quatro filhosO presidente manda premiar.É negócio casar.”

28 - Galinha verde (1942/1943)

Autor: José Gonçalves e André GargalhadaIntérprete: MariluGênero: Marcha

Gravadora: Victor

Deliciosa marchinha satirizando os “galinhas verdes”, apelido dados aosmilitantes da Ação Integralista Brasileira, chefiada por Plínio Salgado, a versãobrasileira do fascismo, por causa da cor verde de seus uniforme s. Quando amúsica foi composta e cantada, em 1942 e 1943, a AIB não existia mais. Haviasido dissolvida pelo governo, logo depois do putsch de 1938, quando osintegralistas atacaram o palácio Guanabara e tentaram matar Vargas.

Na marcha, o termo “galinha verde” é usado como sinônimo de simpatizante daAlemanha, com quem o Brasil já se encontrava em guerra. A expressão “quintacoluna” foi cunhada durante a guerra civil espanhola para designar aqueles que,em Madri, apoiavam as quatro colunas do Exérc ito que haviam se levantadocontra a República. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi utilizado parareferir-se a todos que, por debaixo do pano, colaboravam com os nazi -fascistas.

“Galinha verde não me entra no poleiro,Diz o meu galo que é o dono do t erreiroO papagaio já me pede por favorMe leva ao tintureiro que eu quero mudar de corMe leva ao tintureiro que eu quero mudar de cor

De manhã cedo quando eu chego no quintalAté tenho medo, é um barulho infernalMeu papagaio comprei lá na PavunaMas o galo cisma que ele é quinta -colunaO galo cisma que ele quinta coluna”

29 - O sorriso do presidente (1942 - maio)

Autor: Alcir Pires Vermelho e Alberto RibeiroIntérprete: DéoGênero: SambaGravadora: Colúmbia

Admiradores e adversários de Getúlio Vargas concordavam num ponto: ele foi oprimeiro político brasileiro a usar o sorriso como ar ma para conquistar o povo.Depois de quatro décadas de sisudez na República Velha, foi uma novidade etanto.

Para o puxa-saquismo em vigor no Estado Novo, deu samba, ainda que fosse umsamba desenxabido e sem sal. Na década de 50, quando Getulio, já i doso, voltouao Palácio do Catete pelo voto, deu uma marchinha deliciosa que cantava: “Osorriso do velhinho faz a gente trabalhar” (ver “O retrato do velho”, no CD“Redemocratização”).

“Quem já sondou o teu céuE já viu o teu marEu sei que não poderá quererOutro céu nem outro mar.E sob a benção do azulE aos beijos do marQue se sente a sonhar.É bem maior que o próprio céuE maior que o próprio marO seu amor por tiAh, o sorriso felizAlegrando o paísOnde eu nasci.”

30 - Brasil brasileiro (1942 - agosto)

Autor: Sebastião Lima e Henrique AlmeidaIntérprete: Carlos Galhard oGênero: SambaGravadora: Victor

Samba na linha ufanista que agrada tanto aos donos do poder durante asditaduras, no caso associando as glórias do Brasil ao heroísmo do timoneiroGetúlio Vargas.

“Meu coração é pequeno,Mas cabe inteirinho meu Brasil morenoBrasil, que os poetas cantaram em seu louvorE eu, qual feliz seresteiro, lembrando cantar,Igual ao jangadeiro vencendo a fúria do marDia e noite a cantar, a cantarBrasil, meu Brasil de verde mar,Gigante que desperta de um sono secular.Brasil, orgulho do brasileiro,Tens no leme do teu barcoUm herói por timoneiroBrasil, meu Brasil de Caxias,Herói consagrado, padrão de meu povo.Brasil, meu Brasil tão querido,Espelhas o mundoCom o Estado Novo.Eu vou cantando felizEsses versos que fiz em seu louvor,Que é uma mensagemSincera do seu trovador”

31 - Você já viu o cruzeiro? (1943)

Autor: Ariovaldo Pires, Palmeira e PiraciIntérprete: Alvarenga e RanchinhoGênero: Moda de violaGravadora: Odeon

No final de 1942, o mil-réis, moeda brasileira em circulação desde o início daRepública, quando substituiu os réis do Império, deu lugar ao cruzeiro, c omdivisões em centavos. A reforma monetária, uma das principais bandeiras decampanha de Washington Luís (ver “Já sei porque é” e “Seu doutor” no CD“República Velha”), veio ao mundo, portanto, com mais de quinze anos deatraso. Nesse período, a desvalorização da nossa moeda, com a criseinternacional e a queda dos preços do café, foi tremenda.

Como não poderia deixar de ser no Estado Novo, as moedas de maior circulação– dez, vinte e cinqüenta centavos – traziam a efígie de Getulio Vargas. Somentedepois da redemocratização, o rosto de Getulio seria substituído,respectivamente, pelos de José Bonifácio, Ruy Barbosa e Eurico Gaspar Dutra.

Alvarenga e Ranchinho pegam caro na na mudança da moeda para viajar pelomundo, na prática reeditando outro sucesso de Alvarenga, então formandodupla com Bentinho, em 1938 (Ver “Moda da moeda” em “Outras músicas”).

A pregunta do momentoÉ se já viu o cruzeiro.Eu se eu vi algum centavo.Desse tal novo dinheiroNão se chama mais o ricoDe sujeito endinheiradoPois agora é dizerFulano é encruzeirado

Eu ouvi dizer num bancoO nome da dinheiramaE vi em vários paísesComo o dinheiro chamaPortuguês é dos escudosInti para o peruanoO russo véve de rubloE de lira o italiano

Tem certas coisas absurdaComa moeda lá da estranjaMais é rico quem tem pesoSua vida é uma canjaÉ assim na nossa terraQuem tem peso é azaradoNa Argentina e outras parteQuem tem fortuna é pesado

O dinheiro lá da Espanha

Tem o nome de pesetaE lá na pobre AlemanhaÉ que a coisa anda pretaOs alemans me dá penaEu tenho dó dos coitadoDinheiro deles é marcoEsse povo tá marcado

Lá nos Estados UnidosAs coisas é bem deferenteDinheiro graúdo é dolarDinheiro miúdo é centE quem não tem cent senteO que é viver sem nadaMas quando a gente tem cent.Já tem a vida cansada

Andei passando em revistaO dinheiro doutras terrasVamos agora dar um puloLá na grande na InglaterraTem o cent, tem a libraPara cobrir o mundo inteiroE o ditado ..........Isso é tempo, é dinheiro

32 - Salve 19 de abril (1943 - maio)

Autor: Benedito Lacerda e Darci de OliveiraIntérprete: Dalva de OliveiraGênero: SambaGravadora: Odeon

Em matéria de puxa-saquismo, há poucos exemplos tão escrachados na nossamúsica como esse sambinha, em comemoração ao ani versário de GetulioVargas. A letra é pobre e medíocre, mas a música não é das piores.

“E veio ao mundoFoi Deus quem quisO timoneiroQue está com o leme do meu paísE pra que sigaRumo certo o meu BrasilDeus que lhe dê muitos 19 de abril”