revolta e melancolia 2

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Page 1: Revolta e Melancolia 2

Revolta e Melancolia“O romantismo na contramão da modernidade”

Michael Löwy & Robert Sayre

Resenha

“Crítica Romântica da Modernidade”

O romantismo movimento surgido quase que simultaneamente na França, Alemanha e Inglaterra no século XVIII, não se opõe de forma total à modernidade, mas contesta uma série de características da mesma, principalmente no que se refere a sua visão capitalista-industrial do progresso.

Dentre as características contestadas destacam-se: “o desencantamento do mundo”, “a quantificação do mundo”, “a mecanização do mundo”, “a abstração racionalista” e “a dissolução dos vínculos sociais”.

O desencantamento do mundo: O mundo moderno é um mundo desencantado, ou seja, um mundo onde tudo é examinado e avaliado a luz da razão, não deixando assim espaço para o “encantamento” do homem para com a natureza, por exemplo, que é explicada pela ciência e vista como recurso a ser utilizado pela máquina comercial. Não existe espaço para o mito ou para o sonho, tudo ou torna-se fato ou é tido como inútil. Nesse contexto os pensadores românticos tentam reencantar-se com o mudo. O fazem principalmente através da religião ( recuperando tradições e misticismos passados, com um viés nostálgico) e do mito (buscando a mitologia do passado, renovando-a e criando novas mitologias ), tentam assim escapar do mundo frio e racional criado pela modernidade.

A quantificação do mundo: Um mundo regido pela razão é um mundo quantificado, a tudo é atribuído um valor numérico, um peso, tudo é reduzido a fórmulas aritméticas. A subjetividade é desvalorizada, e o que não serve a um fim específico é descartado. Cidades passam a ser regidas pela objetividade, são construídas e planejadas visando um determinado fim, a beleza das construções ou sua caracterização tradicional (a arquitetura que identifica uma Igreja como uma Igreja, e uma escola como uma escola) é desprezada uma vez que não gerariam benefícios a produção. A natureza agora não passa de uma fonte de recursos a ser utilizada.

A mecanização do mundo. Uma sociedade moderna e regida pelo relógio, as demarcações naturais do tempo (dia e noite, estações do ano) perdem espaço para o tempo artificial uma vez que a tecnologia permite cada vez mais que os seres humanos se desliguem do meio ambiente e das limitações que ele impõe. As pessoas passam a se adaptar ao ritmo das máquinas, não o contrário, de forma a realizar sua função no grande mecanismo da economia industrial.

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A abstração racionalista. A vida econômica, social e política passa a ser organizada segundo um sistema racional visando alcançar algum objetivo, ou seja uma razão instrumental que transforma a própria sociedade em um instrumento. Os românticos lembram que nem tudo na natureza humana pode ser reduzido a raciocínios lógicos, sendo o amor como emoção pura tema clássico da literatura romântica.

Dissolução dos vínculos sociais. O ser humano vive rodeado de seus semelhantes nas grandes metrópoles modernas, mas cada vez mais se fecha sobre si mesmo e seus objetivos. Esquece-se dos que o rodeiam e se concentra unicamente em seus objetivos individuais, perdendo a capacidade de estabelecer contato real com o resto da sociedade.

O romantismo não é necessariamente contra a modernidade e o progresso, mas se o opõe a desumanização, e ao abandono de valores que são um subproduto da continua busca de resultados empreendida pela economia industrial. O uso cego da razão como instrumento capaz de solucionar todos os problemas humanos, a quantificação ou abandono de valores subjetivos, a subserviência do ser humano a máquina econômica (tornando-se o homem também um mecanismo), a transformação da sociedade de um fim para uma ferramenta, o isolamento cada vez maior das pessoas dentro de si próprias, e o desencantamento com o mundo, é contra isso que o romantismo luta, não contra a ideia de modernidade ou progresso em si.