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1 Revista OPET Entrevista com Myriam Tricate Pedro Demo: Tecnologia e escola, uma questão delicada Formação Global: a chave do sucesso na Educação Infantil A tecnologia na prática docente Dez coisas que os pais precisam saber a respeito de filhos e de tecnologia A importância da língua estrangeira no mundo contemporâneo Educação a Distância um modelo capaz de aproximar o aluno da faculdade, promovendo a inclusão e o avanço social 8 jeitos de mudar o mundo: a experiência de Mandaguari

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Revista OPET

Entrevista com Myriam Tricate

Pedro Demo: Tecnologia e escola, uma questão delicada

Formação Global: a chave do sucesso na Educação Infantil

A tecnologia na prática docente

Dez coisas que os pais precisam saber a respeito de filhos e de tecnologia

A importância da língua estrangeira no mundo contemporâneo

Educação a Distância um modelo capaz de aproximar o aluno da faculdade, promovendo a inclusão e o avanço social

8 jeitos de mudar o mundo: a experiência de Mandaguari

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SUMário

6 Avaliação: uma ferramenta para a qualidade na educação

1 0Cidadania: uma prática pela vida

12Formação global: a chave do sucesso na Educação Infantil

14A tecnologia na prática docente

16Projetos de cidadania

20Características legais e pedagógicas do Ensino Religioso

22 Tecnologia e escola: uma questão delicada

24Dez coisas que os pais precisam saber a respeito de filhos e de tecnologia

26A importância da língua estrangeira no mundo contemporâneo

28Por que Filosofia e Sociologia na escola?

308 jeitos de mudar o mundo: a experiência de Mandaguari

33Gestão educacional com ênfase empresarial

38Educação a Distância: um modelo capaz de aproximar o aluno da faculdade, promovendo a inclusão e o avanço social

40Cidadania: CDI mais que computadores, conhecimento que transforma

42A última professora de quadro e giz

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EDITORIAL

Jacqueline Mendes Menezes, diretora da Editora OPET.

Escola, tecnologia e o desafio de formar cidadãos

Nosso mundo vem passando por grandes transformações. O trabalho, os relacionamentos e as relações de troca são cada vez mais influenciados pela tecnologia e pela velocidade decorrente dela. Nesse cenário, a educação – fator civilizador que ao mesmo tempo sintetiza e constrói a realidade – experimenta mudanças importantes. Como os educadores devem lidar com essa evolução? Como agir diante da relação que os jovens têm com as novas tecnologias? Como, enfim, manter a educação como algo interessante em um mundo tão rico de possibilidades sensoriais e criativas? Buscando respostas a estas e a outras questões associadas ao tema educação e tecnologia, ouvimos, nesta edição da revista OPET – Educação & Cidadania, o professor Pedro Demo, uma das maiores autoridades brasileiras em educação.

Outro assunto importante que consta da agenda educacional brasileira, a avaliação institucional, também foi objeto de nossa atenção. Em uma reportagem especial, a pedagoga Myriam Tricate, coordenadora regional do Programa das Escolas Associadas da Unesco em São Paulo e diretora geral do Instituto de Desenvolvimento, Investigação e Avaliação Institucional (Idéia), faz uma leitura técnica da avaliação institucional e mostra como lidar, de forma inteligente e enriquecedora, com os diferentes elementos que a compõem.

Por fim, dando continuidade à nossa proposta de apresentar idéias que contribuam para o desenvolvimento da educação cidadã, abrimos espaço para que especialistas se manifestem em artigos que focalizam os diversos temas que compõem o universo escolar. Escola se faz com diálogo, apresentação de idéias e reflexão – fortalecer esses elementos é a proposta fundamental desta revista.

Boa leitura!

GRUPO EDUCACIONAL OPET

Presidência

José Antônio Karam

Superintendência Administrativa e Financeira

Adriana Veríssimo Karam Koleski

Superintendência de Marketing e Comercial

Maria Cristina Rodrigues Swiatovsky

Direção Geral da Editora Opet

Jacqueline Mendes Menezes

Gerência Editorial

Jeanine Grivot

Revisão

Carlos Melnik

Miriam Raquel Moro Conforto

Coordenação de Editoração

Marcelene Maria Tomeleri

Projeto Gráfico e Editoração

Adriana Regina de Oliveira

Ilustrações

Marcos Yuji Higashiyama (capa)

Simone Bordin

Carlos Eduardo Zubek (Zuba)

Adriana Regina de Oliveira

Jornalista Responsável

Rodrigo Wolff Apolloni – Sindijor – PR – 3195/12/17v

Colaboraram nesta edição

Anna Carolina Guimarães Mendes Curto,

Graziella Rollemberg, Miriam Raquel Moro Conforto,

Renata Chaguri de Oliveira, Nilceia Amaral.

Educação e Cidadania é uma publicação da Editora Opet.

Artigos assinados não refletem, necessariamente,

a opinião do Grupo Educacional Opet.

Ano I – Número 2

Tiragem 10 000 exemplares

[email protected]

www.opet.com.br

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Myriam Tricate

ENTREvista

De algum tempo para cá, o termo “avaliação institucional” passou a fazer parte do vocabulário das escolas e da mídia sobre educação no Brasil. Mais do que isso, a avaliação passou a ser encarada como ferramenta estratégica de transformação da escola. Porém como todo elemento transformador, ela pode provocar dúvidas e ansiedade. A pedagoga Myriam Tricate, coordenadora regional do Progra-ma das Escolas Associadas da Unesco em São Paulo e diretora geral do Instituto de Desenvolvimento, Investigação e Avaliação Institucional (Idéia), com base em suas experiências, faz uma análise dessa questão e fornece elementos para uma leitura eficiente a respeito do assunto.

OPET – Como a senhora analisa a evolução da avaliação no Brasil?

Myriam – Nos últimos dez anos, o tema avaliação se tornou uma constante nas políticas públicas voltadas à educação. Isso guarda estreita relação com a instalação, em todo o segmento de ensino – ou seja, também nas escolas privadas –, de uma cultura de avaliação. No campo das escolas privadas, o Idéia esteve entre as primeiras instituições não apenas a defender a necessidade da avaliação como um passo em direção à qualidade mas também a propor um modelo que contemplasse toda a complexidade da escola – não se restringindo, assim, à medição do rendimento em Matemática e Linguagem. O caminho no País é longo e demanda uma ampliação e uma sofisticação do próprio conceito de avaliação, pois ainda predomina uma idéia de avaliação acadêmica, que explicita sintomas e informa pouco sobre os problemas ou questões que lhes dão origem. Por outro lado, os gestores devem começar a utilizar efetivamente os dados resultantes das avaliações para promover uma transformação da escola, de forma gradual, mas contínua.

AVALIAÇÃO:

OPET – Pode-se considerar que, na atualidade, ainda há certa “resistência” quanto à avaliação?

Myriam – É possível observar que, com a evolução do processo de avaliação no país, as resistências foram atenuadas. Elas, porém, ainda existem e são de diferentes ordens. Vamos tomar o caso das escolas particulares. Atualmente, o grande temor da rede privada é que a avaliação seja um ranking disfarçado. O que se fez, por exemplo, com a divulgação à revelia das notas do ENEM traz grandes prejuízos para a implanta-ção de uma cultura de avaliação mais equilibrada. Ainda que o MEC tenha afirmado que a mídia foi a responsável pela produção de um ranking, esse fato determinou uma corrida algumas vezes desleal para obter uma boa posição nas tabelas publicadas pelos jornais. Ou seja, as escolas acabam desarticulando bons projetos para entrar na maratona do ENEM, que nunca pretendeu avaliar a qualidade do trabalho educativo da escola como um todo. Além do medo de que se estabeleça um ranking, os gestores esco-lares muitas vezes enxergam a avaliação como uma

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uma ferramenta para a qualidade na educação

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ulga

ção

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principal dificuldade e, portanto, o principal desafio é mostrar para os professores que avaliar não é um processo inquisitório, ou seja, que não se está buscando apontar culpados. Avaliação é um processo de autoconhecimento e o que precisamos é ter os professores ao nosso lado, para que a avaliação obtenha melhores resultados. Mas para que isso aconteça é necessária uma conversa franca e sem subterfúgios.

OPET – Quais são os temas que uma avaliação deve levar em conta para possibilitar um resultado de qualidade?

Myriam – Uma boa proposta de avaliação deve lançar luzes sobre os seguintes pontos: vida acadêmica dos alunos; desenvolvimento de habilidades e de competências cognitivas; visão dos professores sobre a escola, sobre o aluno e sobre seu próprio trabalho; visão da família sobre o trabalho da escola; visão do aluno sobre o aprendizado, os professores e a vida comunitária.

A avaliação passa por todas as questões fundamentais da escola, como a qualidade de ensino, o uso de tecnologia, o ambiente, o trabalho dos professores, a eficiência da gestão. E, para se chegar a respostas que possibilitem um resultado de qualidade, é necessário desenvolver um questionário inteligente e adequado à realidade específica da escola. É preciso conhecer muito sobre a escola, ter muita experiência para elaborar um bom instrumento de avaliação.

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ferramenta punitiva, quando na verdade ela é uma oportunidade de autocrítica e de aprimoramento da organização. Nesses casos, se a decisão de avaliar, ou não, cai nas mãos de coordenadores e não do mantenedor, dificilmente a coisa vai em frente.

OPET – Além da questão do ranking e do significado punitivo que a avaliação muitas vezes carrega, há outros fatores que podem ser considerados formas atenuadas de resistência?

Myriam – Sim. Para transformar a escola é necessário energia. É um trabalho cotidiano que, com freqüência, demanda investimentos, mudanças culturais e reposicionamento. É um processo que exige, enfim, coragem e determinação, o que acaba por inibir a iniciativa de avaliar quando a convicção de mudança ainda não está firmada.

OPET – Quem são os envolvidos no processo de avaliação?

Myriam – A avaliação institucional envolve professores, gestores, alunos e seus familiares. Geralmente, quando a escola toma a iniciativa de buscar a avaliação, os alunos e suas famílias são os menos resistentes ao processo. Estas, assim como a comunidade em geral, percebem a avaliação como um claro sinal da intenção de melhorar a qualidade ensino. Aqueles encaram o processo com seriedade, embora envolva aspectos emocionais, já que é um “olhar para dentro”. Pode-se considerar que a

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OPET – Os elementos resultantes de uma avaliação podem ser considerados, em um primeiro momento, como “frios”, já que não trazem consigo opiniões ou estratégias para o futuro.

Como devem ser encarados, então, os re-sultados das avaliações?

Myriam – A avaliação, em si, proporciona um olhar externo que, embora muito revelador, só é validado pelo olhar interno da instituição. É o gestor, o coordenador, o professor, ou seja, quem vive o cotidiano daquela instituição, portanto, que terá condições de analisar o resultado com propriedade. Se, por exemplo, os alunos de uma determinada série são, ou não, motivados pelo ensino da Matemática, isso pode se dever ao professor, ao tema, à metodologia, a problemas específicos como a falta freqüente e a troca de docentes. Nenhuma avaliação dirá isso sozinha, sem a interpretação daqueles que estão na escola. Todos os dados ganham mais sentido e são mais bem incorporados quando se conjuga o olhar externo e a reflexão interna. E como fazer essa reflexão interna? Com o espírito de alguém que não está lidando com uma bula de remédio ou uma receita médica, mas com um rico acervo de informações que deverá ser utilizado com inteligência e sensibilidade. Os dados de uma avaliação trazem uma coerência interna, que remete seu leitor a questões de fundo que devem ser encontradas. Dificilmente se encontrará um ‘culpado’, mas será possível identificar uma cultura interna que produz certos desequilíbrios, que devem ser enfrentados. O que não se pode fazer é partir com o relatório em mãos à procura de um bode expiatório.

Da mesma forma, não é adequado engavetar as informações e não ler os dados com a profundidade necessária. Por fim, o gestor não deve se excluir da análise, acreditando não ter nada a ver com os problemas encontrados.

OPET – Se o avaliador está próximo da escola, se consegue manter o distanciamento crítico necessário e fornece dados extraordina-riamente importantes a respeito do futuro de determinada instituição, não seria ele uma exce-lente fonte de conselhos sobre o que fazer para melhorar os resultados considerados ruins?

Myriam – Essa questão deve ser analisada com cuidado. Muitas vezes, o avaliador pode ser um excelente consultor, e a pesquisa é parte do diagnóstico para se enfrentar adequadamente um problema. O único risco é que, como se trata de uma relação de confiança, o gestor não pode pensar que a pesquisa criou problemas para o consultor resolver. O importante é observar o caráter de independência do processo de avaliação. Muitas vezes, dou conselhos informais e até me coloco à disposição para ajudar a escola a encontrar consultorias especializadas. Isso não impede que, em breve, as duas faces do trabalho possam ser integradas.

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uma prática pela vida

É certo: de tempos em tempos, veículos de comunicação de todo o país alertam para os reduzidos estoques de sangue nos hemocentros e para o número insuficiente de doadores no Brasil. Isso acontece porque o país sofre de uma falta crônica – e perigosa – de doadores. Segundo dados do Ministério da Saúde, 1,8% da população brasileira adulta doa sangue regularmente, quando o ideal, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é que de 3% a 5% da população de cada país seja doadora. Isso tem implicações dramáticas na vida de muitos pacientes. Doar sangue e difundir a cultura da doação são ações de cidadania que vão muito além da solidariedade imediata, decorrente, por exemplo, da ajuda a um amigo ou a um conhecido que necessita passar por uma cirurgia.

Foi pensando justamente nesta urgente demanda social – e no papel que a educação tem na formação dos cidadãos – que

Projeto de escola parceira do Sistema de Ensino OPET, em São Paulo, incentiva doações de sangue e fortalece a prática da cidadania

a direção do Colégio Active, de São Miguel Paulista (distrito da região leste da cidade de São Paulo), resolveu se envolver em campanhas locais para a doação de sangue. A escola é parceira do Sistema de Ensino OPET desde 2005 e, seguindo o princípio de educação cidadã, põe mãos a obra quando a questão é cultivar e promover a cidadania. Uma vez por ano, durante a semana cultural promovida pela escola, professores e alunos levam informação e realizam um trabalho de convencimento de possíveis doadores. “Foi a forma que encontramos para vivenciar a cidadania e, com isso, reforçar esse importante conceito”, explica a coordenadora pedagógica do colégio, professora Marinalva Gomes Silva.

O trabalho envolve duas etapas: uma de conscientização de professores, alunos e pais, e outra de conscientização da população. Durante a semana cultural (que neste ano ocorre no

período de 23 a 25 de outubro), os visitantes assistem a palestras e, depois, são convidados a doar sangue. As pessoas que se sensibilizam e decidem doá-lo são transportadas, por veículo fornecido pela própria escola, para um hemocentro de referência como o do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A maioria dos alunos da escola (que atende da Educação Infantil ao Ensino Médio) não está, contudo, em condições de doá-lo, isto porque a doação de sangue tem como um de seus pré-requisitos legais e éticos a idade mínima de 18 anos. Esse fato, contudo, não constitui um problema, e, sim, um desafio que é vencido com inteligência. No momento em que os estudantes são levados a conscientizar outras pessoas sobre a importância da doação, estão também se dando conta do mérito desse ato e, no futuro, tendem a encará-lo como parte do perfil de cidadania.

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Cidadania na escola – segundo a coordenadora pedagógica, o Colégio Active tem na educação associada à cidadania seu mote de trabalho. Tanto os alunos da instituição (cerca de 150) quanto a equipe de 22 professores vivenciam este conceito, diariamente, em sala, e carregam consigo princípios direcionados para a construção de um mundo melhor. “Nós nos preocupamos muito com a questão do ser humano, do cidadão, do trabalho com uma sociedade que, infelizmente, apresenta-se muitas vezes doente. Nossa maior preocupação é formar bons cidadãos, pessoas que respeitem seus semelhantes e o mundo onde vivem.”

Na avaliação da consultora pedagógica Vera Lúcia Bochenek, responsável na Editora OPET pelo acompanhamento pedagógico do Colégio Active, o compromisso de trabalhar com a cidadania é um diferencial da instituição paulistana. “Nós percebemos que, no Active, os professores e a equipe pedagógica procuram colocar em prática a educação cidadã. Isso, para a Editora OPET, é maravilhoso, porque vai ao encontro de tudo o que pregamos, de nosso ideal de trabalho.”

Além do envolvimento com a saúde, o Active também desenvolve outros projetos que buscam integrar educação e cidadania. Aí também entra, de forma expressiva, o apoio da Editora OPET. “Nós desenvolvemos projetos e trabalhos a partir das propostas presentes no material didático, que supre nossas necessidades”, diz a coordenadora.

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“No momento em que os estudantes são levados a conscientizar outras pessoas sobre a importância da doação estão também se dando conta do mérito desse ato e, no futuro, tendem a encará-lo como parte do perfil de cidadania.”

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EDUCAÇÃO

infantil

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Pensar na Educação Infantil é refletir sobre o desenvolvimento da criança nessa fase de vida, num contexto amplo e integrado, que engloba o físico, o afetivo, o intelectual e o social.

Durante muito tempo a criança foi vista como um ser que nascia carente de elementos essenciais à vida adulta. Cabia, então, à escola a formação plena desse ser ‘vazio’. A partir das contribuições de Piaget, de Vygotsky, de Wallon, entre outros, que a escola de Educação Infantil teve seus objetivos ressignificados e sua prática repensada, inter-relacionando-se com a família e com a sociedade.

Na teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual abrange dois componentes: o cognitivo e o afetivo, que se desenvolvem paralelamente. O afeto abrange os sentimentos, os interesses, os desejos, os valores e as emoções. Piaget utiliza a metáfora: “A afetividade seria como a gasolina, que ativa o motor de um carro, mas não modifica sua estrutura”.

Vygotsky aprofundou seus estudos no funciona-mento dos aspectos cognitivos, mais precisamente sobre as funções mentais, ou seja, como se processam

o pensamento, a memória, a percepção, a atenção e a consciência, que abordam o afeto e o intelecto. Segundo o estudioso, o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui as inclinações, as necessidades, os interesses, os impulsos, o afeto e as emoções. Sendo assim, pode-se afirmar que há conexão entre pensamento e afetividade.

Henry Wallon, cujos estudos são baseados na psicogenética, afirma que a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento. Para ele, a emoção ocupa o papel de mediadora do processo de aprendizagem.

A partir desses estudiosos, houve a evolução da prática na Educação Infantil. A criança passou a ser percebida como um ser completo, amplo e dinâmico. O desenvolvimento infantil, portanto, deve ser compreendido como um processo que se realiza a partir das interações, objetivando a satisfação das necessidades básicas e, também, a construção de novas relações sociais.

FORMAÇÃO GLOBAL a chave do sucesso na EDUCAÇÃO INFANTIL

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Tendo como base as relações, podemos afirmar que o educador da Educação Infantil tem grande importância na formação da criança. A relação entre professor e aluno, bem como a inter-relação entre o grupo da sala de aula, fará com que haja uma parceria afetiva, proporcionando uma abertura ao desenvolvimento cognitivo.

Segundo SALTINI (1997, p. 89.), “o educador serve de continente para a criança”. Poderíamos dizer, portanto, que o continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde elas tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim, onde elas são acolhidas e valorizadas, tal qual um útero acolhe um embrião.

Podemos afirmar que a afetividade exerce um papel fundamental na formação da personalidade humana; a auto-estima se desenvolve com base na confiança que é depositada pelos adultos na criança, confiança essa que possibilita a ela estabelecer vínculos com os adultos com quem convive. Por isso, também, a importância da participação da família em um trabalho conjunto com a escola.

É possível destacar algumas situações importantes para o dia-a-dia na escola, que podem ser entendidas como rotina na Educação Infantil. A rotina é um fator importante por proporcionar à criança sentimentos de estabilidade e de segurança. Alguns momentos, como a ‘roda de conversa’, a ‘hora da higiene’, o ‘momento de leitura’, a ‘hora da brincadeira’, entre tantos outros que fazem diferença no cotidiano da criança, desenvolvem, ao longo do tempo, os hábitos, as atitudes e as habilidades de comunicação. Além disso, estimulam a construção do conhecimento e facilitam a organização espaço-temporal.

A brincadeira e o jogo também são instrumentos importantíssimos à Educação Infantil, interferindo di-retamente no desenvolvimento social da criança, além de ser um poderoso instrumento à sua auto-estima.

A literatura especializada aponta algumas contribuições que a brincadeira proporciona para o desenvolvimento afetivo-social da criança, tais como:

•Desenvolveralinguagem.• Favorecerasuperaçãodoegocentrismo.• Fomentaracooperaçãoeainteraçãoentreiguais.• Educarparaoautodomínioeavontade.• Desenvolveraconstruçãodeatitudesedevalores.• Desenvolveraconsciênciapessoal.• Facilitaraconvivência.• Favoreceracapacidadedeindagar,deexperimentar.• Elaboraredesenvolverasestruturasmentais.• Estimular a memória, a atenção e o desenvolvi-

mento cognitivo.• Favorecer a distinção entre fantasia e realidade;

entre outras.

Como vimos, a organização do trabalho pedagó-gico na Educação Infantil deverá ser orientada com o objetivo de proporcionar à criança o desenvolvimento da autonomia e de suas capacidades intelectuais de forma a auxiliá-la em sua formação global, para que se possa ter uma visão evolutiva do processo ensino-aprendizagem.

Renata Chaguri de OliveiraPedagoga e Psicóloga. Autora de material didático e Coordenadora Editorial daEditora OPET.

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PRÁTICA de sala de aula

No século XXI, o computador se transformou em uma ferramenta importante para o sucesso educacional. Quando utilizados corretamente, software e hardware podem ajudar a preparar os estudantes tanto em termos de formação “clássica” quanto para sua inserção em uma sociedade cada vez mais integrada à tecnologia.

Diante de uma primeira leitura, o tema se afigura lógico; afinal, os computadores estão em praticamente todos os segmentos da vida humana: do monitoramento ambiental à saúde, da conquista espacial aos cartões de banco e transporte. Como não dominar seus princípios de uso? Infelizmente, a realidade é um pouco diferente, pois muitos professores ainda oferecem resistência à capacitação. Acreditam que diante do conjunto de conhecimentos adquiridos e construídos ao longo de sua vida profissional, o uso de um recurso como o computador é algo “desnecessário”, “menor” ou sanável por meio de conhecimentos rudimentares. Crianças e adolescentes, porém, dominam o computador e as tecnologias associadas a ele com desenvoltura, estabelecendo assim, diante de mestres despreparados, uma barreira que soma descrédito, dificuldade de comunicação e enfado diante de aulas pouco animadas.

Como superar o preconceito, a falta de paciência ou de tempo ante a essa ferramenta tecnológica? Com planejamento e sabedoria. Para isto, é fundamental o papel do coordenador pedagógico no sentido de auxiliar o corpo docente no planejamento de atividades que utilizem esse equipamento.

Além disso, é importante que o coordenador pedagógico observe o nível de domínio de cada docente (muitas vezes, professores de gerações pouco informatizadas manifestam uma resistência maior em relação a tecnologia) e, a partir do que for constatado, defina as linhas de trabalho para a inserção digital.

Como bem observa Moran (2004, p. 44): “O primeiro passo é procurar de todas as formas

tornar viável o acesso freqüente e personalizado de professores e alunos às novas tecnologias, notadamente à Internet. É imprescindível que haja salas de aulas conectadas, salas adequadas para a pesquisa, laboratórios bem equipados”.

Ainda segundo Moran (2004, p. 44.), o computador “[...] nos permite pesquisar, simular situações, testar conhecimentos específicos, descobrir novos conceitos, lugares, idéias”. Se o docente tiver isso claro, e se essa percepção superar o medo e a desconfiança em relação à tecnologia –, a inclusão será rápida e certamente terá reflexos positivos sobre seu trabalho.

A importância dos portaisAtualmente, muitos portais, como o Portal

OPET Virtual, contribuem para o preparo do professor em aulas específicas de Informática. Mais do que isso, auxiliam-no quanto ao planejamento de atividades de outras disciplinas. Esses espaços virtuais possibilitam coleta de informações, inter-câmbios, troca de experiências e acesso fácil a vários serviços. Por meio deles os estudantes podem acessar bibliotecas em todo o mundo, tirar dúvidas com professores a qualquer hora, exercitar seus conheci-mentos acerca de outras línguas e desenvolver novas formas de socialização, aprendendo a lidar com a diversidade cultural – habilidade fundamental em uma realidade de globalização. Aliás, é preciso que o computador deixe de ser visto apenas no contexto das aulas de Informática. Esta disciplina, evidentemente, tem grande importância – mas o computador também deve estar presente em todas as áreas do conhecimento.

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na prática docente“Eu nunca ensino aos meus alunos.

Somente tento criar condições nas quais eles possam aprender.” Albert Einstein

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Portal OPET Virtual

BIBLIOGRAFIAMORAN, J. M. Ensino e aprendizagem

inovadora com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: MORAN, J. M. MASETTO, M. T. BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 8. ed. Campinas: Papirus, 2004. p. 11-63.

VALENTE, J. A. Computadores e conheci-mento: repensando a educação. Campinas: Nied, 1995. p. 21-76; VEIGA, M. S. Computador e educação? uma ótima combinação. In: BELLO, J. L. de P. Pedagogia em foco. Petrópolis: Rio de Janeiro, 2001.

DéborahAraújoMaia(àdireita)Consultora pedagógica da Editora OPET.RogériaNassarden(àesquerda)Consultora em tecnologia da Editora OPET.

No Portal OPET o professor encontra uma sugestão de plano de aula. Para acessá-lo, ele deve ingressar no ambiente virtual do Portal com seu login e senha. Além disso, na seção Estudo Interativo ele encontra diversas atividades apresentadas por meio de animações, sons, links de apoio, etc.

Exemplo:

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Latinstock

“Resolver SISTEMAS DE EQUAÇ ES. Neste primeiro contato com os sistemas, estudaremos dois métodos de resolução: adição e substituição. Navegue neste Estudo!”

Depois de utilizar a ferramenta disponível no Portal OPET Virtual,

percebe-se sua facilidade de manuseio e o enorme potencial de aplicação em aulas.

Com uma aproximação feita de forma acertada, em pouco tempo o encantamento

que a tecnologia exerce sobre crianças e adolescentes será compartilhado

pelos professores.

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Projetos de CIDADANIArepresentam o diferencial das escolas privadas

“Antes de começar um projeto, os gestores devem ter em mente alguns fatores decisivos para o sucesso de uma iniciativa. É preciso, em primeiro lugar, planejar”.

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Geraldo Peçanha de Almeida, consultor e autor de projetos pedagógicos em mais de 50 municípios do Brasil, em participação no III Seminário Nacional de Gestores de Escolas Conveniadas OPET, promovido pela Editora OPET, no mês de setembro/2008, em Curitiba, salientou que as escolas particulares precisam estar atentas à evolução da qualidade na escola pública brasileira e, a partir disso, encontrar caminhos para crescer. Para ilustrar o avanço da educação pública, Peçanha citou o caso das escolas municipais de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, cujo padrão de qualidade é comparável ao de instituições do Canadá e dos Estados Unidos. O município, atualmente um dos mais ricos do Brasil, tem alto investimento em educação e colhe excelentes resultados.

A atual visibilidade das escolas públicas é apenas um dos problemas a serem enfrentados pela educação privada. Outra questão fundamental, segundo o consultor, é a que se refere à formação dos professores. “Atualmente, temos, no Brasil, uma demanda de, aproximadamente, quatro milhões de docentes, e somente dois milhões e quinhentos mil professores regentes atuantes. Do total de profissionais que atuam, menos de 50% possuem nível superior. Além da formação, muitas vezes deficitária, os profissionais são excessivamente exigidos. Boa parte dos docentes tem jornada excessiva de trabalho, chegando a 70 horas semanais. Esse é um problema sério de gestão de recursos humanos, que, infelizmente, não é percebido pela maioria dos gestores.”

De acordo com Geraldo, não basta, porém, no atual contexto, apenas colocar a própria escola em um nível de qualidade satisfatório. Questões como a da captação de alunos, própria do universo do Marketing Escolar (e da sobrevivência econômica das instituições), também são essenciais. Surge, daí, o terceiro grande problema – e desafio – das escolas particulares na atualidade: como encontrar um diferencial que permita à escola se sobressair num futuro próximo?

Uma saída de mestre – Para o consultor, um caminho que as escolas devem encarar com seriedade é o dos projetos de cidadania. Esses projetos podem, ao mesmo tempo, conferir visibilidade à escola, educar para valores e valorizar os profissionais de educação. “Na escola pública, os projetos de cidadania não são tão aparentes porque estão diluídos. Quando inseridos na escola privada, porém, a visibilidade e o impacto podem ser muito significativos.” Outra vantagem, para ele, diz respeito à própria identidade da escola: com o tempo, um bom projeto de cidadania é capaz de conferir uma imagem positiva à instituição, o que, em termos de Marketing Escolar, é algo extremamente interessante.

Segundo Geraldo, há muitos temas interessantes que podem ser tratados por meio de projetos de cidadania, como inclusão, arte, cultura, esportes, meio ambiente, educação fiscal, que podem ter por objeto diferentes públicos. Antes de começar um

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Isabel Mandiola e Geraldo Peçanha de Almeida

projeto, porém, os gestores devem ter em mente alguns fatores decisivos para o sucesso de uma iniciativa. É preciso, em primeiro lugar, planejar. Isso pode ser feito a partir de uma visão própria ou, então, por meio de uma consultoria especializada. O planejamento envolve a avaliação do cenário local (o que permite eleger o tema), das ações (o que e como fazer), dos custos (quanto a escola precisará investir) e dos resultados esperados (que tipo de resposta será obtida). A avaliação exata desse cenário faz com que o gestor escape da generalidade, ou seja, pare de “atirar para todos os lados” e foque em um único objeto. No caso dos investimentos, ele deve ter em mente que, para que

“Uma das grandes lições que aprendemos, ao longo do tempo, é a da importância do trabalho integrado. Mais do que isso, percebemos a importância que as pessoas têm.”

QUALIDADE na educação

segundo o modelo chileno

o projeto funcione, deve-se investir, pelo menos, 2% dos recursos líquidos mensais. “O ideal é que esse percentual de investimento seja de 6% a 9%.”

Para o consultor, a questão seqüência didática dos projetos também é importante. De nada adianta, por exemplo, implementar um projeto de cidadania que não contemple as diferentes faixas etárias dos estudantes ou, então, que não tenha acompanhamento direcionado. “Os bons projetos têm seqüência didática e aprofundamento de acordo com o avanço pedagógico. Com um bom planejamento e gerenciamento adequado, os projetos de cidadania podem representar, de fato, um fantástico diferencial para as escolas privadas.”

O III Seminário Nacional de Gestores de Escolas Conveniadas OPET trouxe a educadora chilena Isabel Margarita Mandiola Serrano, Secretária Geral do Conselho de Administração do Chile desde 1997, que falou aos participantes do encontro sobre o trabalho desenvolvido pelas escolas públicas da Comuna de Providencia, em Santiago. No Chile, as “Comunas” são unidades administrativas semelhantes aos municípios ou subprefeituras brasileiras. Providencia é uma das 26 Comunas que formam a capital chilena.

Em sua palestra, Isabel destacou o sucesso da planificação estratégica para a educação em seu país, processo que envolve fatores como a participação da comunidade e a organização do trabalho; a determinação de metas; a motivação dos grupos de trabalho e a auto-percepção dos participantes como equipe disposta a superar desafios.

Outro destaque de sua palestra foi em relação às interações estabelecidas, em Providencia, entre as escolas e a comunidade. Lá, os projetos de cidadania e a promoção de uma cultura de valores (a chamada “educação em virtudes”) surgem na escola e se espalham por toda a comunidade. Segundo a educadora, é comum, por exemplo, observar mensagens de cidadania estabelecidas pelas escolas nas laterais de ônibus e em lugares de maior circulação de pessoas. Esses projetos também são fortemente estruturados e concretizados em materiais didáticos específicos para alunos, professores e pais, que também acompanham a educação dos filhos e os projetos da escola por meio do computador, via e-learning. “Uma das grandes lições que aprendemos, ao longo do tempo, é a da importância do trabalho integrado. Mais do que isso, percebemos a importância que as pessoas têm, e que, em educação, elas devem ser motivadas a oferecer o que têm de melhor.”

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CARACTERÍSTICAS legais e pedagógicas do CARACTERÍSTICAS legais e pedagógicas do

ENSINO RELIGIOSOPara compreender uma sociedade é preciso entendê-la como um todo, observando suas relações entre

as gerações, os gêneros, as classes e, também, os fatos sociais ocorridos em determinado contexto (MATTOS, 2001). Por isso, a caracterização social do sujeito e dos papéis por ele exercidos é necessária para reconhecer o quanto as relações sociais são efetivas na formação do indivíduo. Olhando a História, percebemos que não há época nem espaços sem a busca do ser humano pelo Transcendente.

Muitos vêem o Ensino Religioso como disciplina à parte, fora do compasso do Sistema de Ensino, e o compreendem como inferência da religião e não da educação, não se constituindo como área de conhecimento. É certo que a família e a Igreja são, por excelência, os espaços da reflexão do conhecimento religioso, mas a escola pode ser um lugar privilegiado para se realizar tais debates. Como local da aprendizagem, a escola pode trabalhar as regras do espaço público democrático, buscando a superação de todo e qualquer tipo de discriminação e exclusão social, valorizando cada indivíduo e todos os grupos que compõem a sociedade brasileira, garantindo o exercício da cidadania e o direito da expressão religiosa.

Para imprimir ao Ensino Religioso um enfoque de disciplina escolar, a nova redação do Artigo 33 da LDBEN n.º 9 394/96, Lei n.º 9 475/97, declara que:

ESPAÇO

do autor

Art. 33. O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

§1.º Os Sistemas de Ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do Ensino Religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.

§2.º Os Sistemas de Ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do Ensino Religioso.

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Mas há que se perguntar: Precisa-se mesmo do Ensino Religioso? – É óbvio que uma criança não com-preende os dogmas e princípios da religião. No entanto, ela possui o sentimento de religiosidade. Ao formar conexões com algumas questões fortes da vida, como: “por que isso acontece?”, “por que não?” essa criança está refletindo sobre a espiritualidade e, dependendo dos pais e docentes, pode ou não ser dirigida por um canal positivo (CORTELLA, 2006, p.17-18).

Pensar no Ensino Religioso como área de conhecimento é pensar nos seus fundamentos epistemológicos e na sua metodologia. Esses são aspectos que estão em desenvolvimento por se tratar de uma área recente de conhecimento. Há muito que compreender para poder respeitar as relações entre os seres humanos e a natureza.

Articulado com as demais disciplinas, o Ensino Religioso pode acrescentar à visão sobre a realidade e uma abertura ao sentido fundamental da existência do ser humano, “(...) contribuindo na formação do cidadão, que, vivendo em uma sociedade pluralista, necessita saber dialogar nela e com ela” (JUNQUEIRA, 2008).

Considerando o religioso como uma dimensão humana que vai além da superfície dos fatos, acontecimentos, gestos, ritos, normas e formulações, estaremos contribuindo para a construção de outra visão de mundo, de ser humano e de sociedade, auxiliando o aluno a interagir na sociedade de forma responsável e atuante.

Nesse sentido, alguns aspectos importantes precisam ser considerados:• ocontextosocialdoseducandos(seusconheci-

mentos prévios – bagagem cultural e religiosa); • opapeldastradiçõesreligiosasnaestruturação

e manutenção das diferentes culturas e manifes-tações socioculturais;

• acomplexidadedosassuntosreligiososemfunçãoda pluralidade cultural e religiosa;

• acompreensãodosignificadodasafirmaçõese verdades de fé das tradições religiosas (FONAPER, 1998).Educar implica levar o aluno a participar

ativamente da construção do processo da aquisição de conhecimentos, utilizando a dimensão racional de seu ser e, também, as dimensões sensíveis, emocionais e intuitivas.

Educar implica uma intencionalidade em formar cidadãos informados e motivados a pensar criticamente, por isso é desejável que se proporcione um espaço em que os problemas sejam analisados e as soluções sejam propostas. É o acesso ao conhe-cimento que favorece a compreensão do direito e

dever de cada um, bem como a participação social e política na comunidade em que se está inserido, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, de cooperação e repúdio às injustiças e de respeito ao direito de todos.

Educar para conhecer diversas religiões e compreender as culturas que lhes dão forma, analisar a relação entre presente e passado para produzir um saber histórico implica exercitar o diálogo com o diferente, baseado no respeito profundo e no desejo de preservar a dignidade e o direito de existência de cada manifestação cultural-religiosa.

Ao considerar todos esses aspectos, estaremos possibilitando múltiplas relações e interações entre os conhecimentos dos alunos, os conhecimentos religiosos de seus colegas e aqueles apresentados pela escola, estabelecendo um contínuo processo de observação e de reflexão, não somente por parte dos alunos, mas, também, do professor.

Diante do exposto, pode-se afirmar que os conhecimentos gerados pelas tradições religiosas, seus valores e o espaço escolar humanizado podem colaborar na vivência de práticas sociais indispensáveis ao exercício de uma vida de cidadania plena.

O desafio está em aprendermos a conviver com as diferentes tradições religiosas, vivenciando a própria cultura e respeitando as diversas formas de expressão cultural, permitindo ao outro ser sujeito de sua cultura e de seus desejos. Por isso, os debates e as reflexões prosseguem na busca por estabelecer o Ensino Religioso como um espaço para pensar o ser humano, partindo de uma visão mais ampla que reúna todas as áreas do conhecimento.

BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional LEI 9.394/96. Brasília: MEC, 1996.

CORTELA, M. S. Educação, ensino religioso e formação docente. In: SENA, L. (Org.). Ensino religioso e formação docente: ciências da religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2006.

FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO (FONAPER). Parâmetros curriculares nacionais do ensino religioso. 3. ed. São Paulo: Ave Maria, 1998.

_______. História, legislação e fundamentos do ensino religioso. Curitiba: IBPEX, 2008. (no prelo)

MATTOS, C. L. G. de. Abordagem etnográfica na investigação científica. Disponível em: http://www.ines.org.br/paginas/revista/A%20bordag%20_etnogr_para%20Monica.htm. Acesso em: 17 set. 2007.

EdileMariaFracaroRodriguesEscritora e educadora há mais de vinte anos, mestre em educação pela PUC-PR, coordenadora pedagó-gica do Trabalho em Conjunto do Ministério Igreja em Células no Brasil.

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TECNOLOGIA E ESCOLA: UMA QUESTÃO DELICADA

CAPA

UmdosintelectuaismaisrespeitadosdoBrasil,PedroDemo

– pós-doutor pela Universidade da Califórnia (UCLA) e, atualmente, professor titular do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) – é profundo conhecedor do ensino brasileiro. Um de seus principais pontos de atenção são os professores do Ensino Básico, seus desafios, problemas e perspectivas. Em tempos recentes, seus estudos o levaram a examinar de perto a questão da tecnologia e como ela se relaciona com a escola. Neste texto exclusivo para a Revista OPET ele expõe como estudantes, professores e escolas lidam com a tecnologia em nosso país, ao mesmo tempo em que faz um alerta: se a escola não souber como lidar com os avanços tecnológicos, corre o risco de ser tragada por eles.

Em uma palestra ministrada por mim há 8 anos, durante o Educador 2000 – Congresso Internacional de Educação, afirmei que chegaria o dia em que toda educação seria teleducação. Atualmente, isto se confirma tanto mais. A presença física, a proximidade entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem não vai desaparecer, obviamente, porque a relação educacional implica também contato físico (como ocorre entre mãe e filho), mas a presença virtual vai preponderar. O papel do professor vai direcionando-se para o de orientador, não de transmissor de conteúdos. O problema que persiste é que a aprendizagem continua duvidosa: aprende-se pouco, insiste-se no instrucionismo, buscam-se resumos, receitas prontas, e domina a cópia. Esse problema, contudo, só pode ser resolvido com aprendizagem autêntica. E como aprendizagem virtual autêntica deve-se entender aquela de estilo reconstrutivo, interpretativo, aquela que é geradora de autoria. Em outras palavras: deve ajudar a criar, e não virar um mecanismo de mera replicação de conhecimentos sem fonte definida.

A relação de jovens e adultos com a tecnologia

Quanto ao computador e as tecnologias a ele associadas, os jovens são “nativos”, isto é, pertencem a um mundo em que essas tecnologias já existiam. Os adultos são “imigrantes”, ou seja, eles se vêem forçados a compreender o novo. A questão, porém, vai além. Um tópico fundamental é a liberdade, ainda que ela seja, em boa parte, fantasiosa (a Internet está mais priva-tizada do que se imagina). Na Internet não há tutor, professor, pai, chefe – em certa medida anda-se como se quer, busca-se o que se quer. Isto frutifica facilmente no abuso da liberdade (pornografia, por exemplo, ou plágio). Por isso mesmo, os jovens preferem o mundo virtual ao da escola, também porque este lhes parece ultrapassado. Os jogos “bons” transmitem a sensação de autoria (fazer um “avatar”, mudar regras do jogo, modificar os cenários, discutir on-line, etc.), algo que a escola não está conseguindo.

O uso da tecnologia, contudo, em geral, é muito imperfeito, porque predomina ainda o lado da máquina e de seu consumismo. É preciso construir aprendizagem virtual genuína, de estilo reconstrutivo, interpretativo, autopoiético e geradora de autoria.

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Com o advento da Web 2.0 as coisas melhoraram muito, porque seus programas supõem autoria (blog, wiki). Em particular na escola pública, poucos professores são fluentes em tecnologia. Isto não está resolvido. Aliás, por enquanto, a Pedagogia está atrás, muitíssimo atrás. Por isso, tudo é decidido no mundo tecnológico, não no pedagógico. É preciso urgentemente também superar a aula, porque ela continua signo da transmissão copiada de informação. É preciso superar, também, a distinção presencial/ não-presencial: quem estuda, está presente. É questão de estudar, não de ter aula. É inútil usar tecnologia de ponta para “enfeitar” a aula, porque estamos enfeitando defunto. É preciso aprender a estudar, a pesquisar, a elaborar. O professor, neste processo, coloca-se como avaliado, como orientador e, como alguém que, sendo autor, ensina a ser autor. O que define o professor não é a aula, mas a autoria: quem não é autor não tem aula para dar. Há, nos Estados Unidos, milhares de crianças por volta de sete anos que são autoras de Harry Potter (ficção), reescrevendo as histórias do personagem de forma colaborativa em blogs – e nunca precisaram de aula sobre o assunto.

experiências adequadas (por exemplo, escolas de tempo integral tecnologicamente corretas). A questão maior, entretanto, é preparar os professores. A verdadeira inclusão digital é aquela feita pela via da alfabetização, que demanda professores a cavaleiro do desafio tecnológico. É um desafio sem tamanho: não conseguimos sequer alfabetizar bem no tradicional, imagine no virtual! Entre nós ainda pedimos três anos para alfabetizar uma criança. Um absurdo sem nome, porque toda criança, mesmo muito pobre, alfabetiza-se bem em um ano (E. Grossi diz que isto se faz em três meses!).

O melhor caminho para promover a inclusão digital dos docentes é uma nova pedagogia, tecnologicamente correta, que tenha como objetivo inserir, definitivamente, a aprendizagem virtual na vida do professor.

A escola, enfim, precisa sacudir-se para não ser tragada pelas novas tecnologias, porque estas vieram para ficar.

A escola e a tecnologia A escola, na atualidade, está totalmente

despreparada para lidar com os novos saberes produzidos pela tecnologia. A razão maior é a “velha pedagogia”, muito alienada, voltada para o século passado. Por conta disso, os professores são leigos no assunto, quando não, resistem bravamente. Olhando bem, alfabetizar as crianças como ainda fazemos (ler, escrever e contar) é algo atrasado porque os textos do século XXI são centrados na imagem e na imaginação, não no impresso. As tecnologias não são apenas instrumentos de alfabetização. São, elas mesmas, alfabetização. Não se pode andar mais rápido que o tamanho das pernas. Estamos muito atrasados, mas não dá para sair correndo. Temos, pois, que começar a colocar esta questão no ar e a fazer

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FA

MÍLIA

e escola

2. Estabeleça horários para o uso da Internet. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê a utilização diária de apenas duas horas – somando TV e Internet – para crianças e adolescentes. Ao ultrapassar esse tempo, o corpo de seu filho já sofrerá conseqüências fisiológicas, como: má circulação, obesidade, problemas de postura, lesões por esforço repetitivo, etc. Mesmo que seu filho use pouco o computador é importante que ele aprenda, por exemplo, a piscar bastante para não ressecar a córnea nem irritá-la; a levantar várias vezes para ativar a circulação sanguínea nas pernas e a fazer movimentos de alongamento nas mãos e nos braços para não forçar as articulações pelo uso excessivo do mouse ou do teclado.

1. Computador em lugar público! Evite

que seu filho fique sozinho quando ele acessa a

Internet, principalmente se o computador está no

quarto dele. As possibilidades de envolvimento

com sites pornográficos ou que incentivam a

violência e o preconceito são muito grandes.

Procure deixar o computador da casa (ou o dele)

na sala ou em outro ambiente movimentado.

A criança deve saber recusar ou substituir um

jogo impróprio por outro mais adequado. Esse

“filtro interno” que a faz evitar problemas é

melhor do que um filtro tecnológico instalado no

computador de casa, pois esse dispositivo pode

não estar disponível na lan house ou na casa do

amigo. Quando a criança tem consciência de suas

escolhas ela por si só se protege. A construção do

filtro interno acontece quando os pais explicam as

razões de suas censuras; esclarecem os porquês

de suas desconfianças; analisam com o filho os

programas que passam na TV, os games e as

páginas na Internet. É a mediação que permite ao

filho o desenvolvimento emocional saudável.

DEZ COISAS QUE OS PAIS PRECISAM SABER

a respeito de filhos e de tecnologia

3. Jogos on-line ativam a adrenalina das crianças na mesma proporção em que ela é ativada em executivos de empresas nas situações de estresse. Isso significa que seu filho tende a estar estressado para outras atividades. Fica mais irritado, sensível, mal-humorado, começa a reclamar de tudo e de todos, fica “manhoso” e apresenta outras alterações emocionais. Ao invés de conversar quando questionado, responde com agressividade na fala ou até mesmo com violência física. Só há um caminho para melhorar: diminuir o tempo de exposição a esses estímulos e ensinar seu filho a controlar melhor suas emoções (o que é mais difícil).

4. Observe mudanças de comporta-

mento que são indicativos de dependência de

Internet: (Procure ajuda profissional caso isso

esteja acontecendo). Sono demasiado durante o dia

(uso da Internet na madrugada), irritabilidade,

falta de paciência, dificuldade de socializar-se em

festas familiares. Prefere ficar em casa a passear

com a família. Baixo rendimento escolar. Não

estuda adequadamente nem faz as pesquisas

escolares ou tarefas de casa. Solicitações para

desligar o computador ou proibição de seu uso

transformam-se em brigas com explosões

emocionais exageradas.

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DEZ COISAS QUE OS PAIS PRECISAM SABER

a respeito de filhos e de tecnologia

5. Nem tudo é ruim. Crianças amam tecnologia. Nossa primeira reação é achar que isso trará muitos problemas no desenvolvimento delas e que deveríamos proibir o acesso a essa moderna ferramenta. Entretanto não podemos “demonizar” as novas tecnologias. Há jogos eletrônicos que desenvolvem a criatividade, o poder de decisão, a estratégia, o uso de táticas e outros valores ou habilidades importantes para a vida na sociedade atual. A dica nesse caso é conhecer o que há de mais saudável e investir nessa direção. Sempre que recursos tecnológicos puderem potencializar valores fundamentais para o ser humano, eles devem ser usados.

8. Proibir não é a solução. O lado oposto

da história toda seria impedir as crianças de

usarem as novas tecnologias, mas, obviamente,

isso não é recomendável. A tecnologia faz parte

da vida. Ela será cada vez mais necessária e

as crianças precisam saber lidar com ela. Os

problemas podem ser evitados colocando limites

bem definidos quanto ao tempo de uso da Internet

ou dos games. Limites e não proibição.

9. Excesso de informações não signi-fica conhecimento adquirido. Há um mito de que a Internet desenvolve a aprendi-zagem e amplia o conhecimento. Por si só, isso não acontece. A Internet tem informações que jamais imaginaríamos em tempos atrás. No entanto, o adolescente não se apropria dela com facilidade. É preciso que tenha incentivo e necessidade para isso. Se houver objetivos, metas, necessidades específicas que possam fazer o jovem usar a Internet de forma mais aprimo-rada, então ela pode, sim, ser muito útil. Ajude seu filho a buscar informações relevantes.

7. Internet pode desenvolver a socialização ou prejudicá-la. A comunicação on-line no estilo do Messenger faz com que o adolescente possa conversar inclusive em grupo. Como a violência e o medo de sair de casa estavam forçando o jovem a ficar isolado, essa tecnologia recuperou esse espaço. A interação social ajuda no desenvolvimento da maturidade emocional. No mundo real seu filho precisa saber discutir, defender-se, fazer valer sua palavra e desistir ou ceder quando necessário. No mundo virtual isso também pode acontecer, no entanto, e aí que mora o perigo, pois quando o adolescente está em conflito, basta simplesmente desligar o programa de comunicação. Isso cria uma falsa ilusão de que é assim que se resolvem os problemas. Além disso, um jovem que fica conectado na Internet muitas horas por dia não desenvolve uma percepção adequada sobre si mesmo ou sobre as outras pessoas de sua relação. Ele não constrói os mecanismos básicos de socialização. Não aprende a discutir, a argumentar, a contra-argumentar.

6. Celular aumenta a capacidade de comunicação. Comunicar-se é um valor fundamental para os adolescentes e o celular potencializa isso. O uso do aparelho acaba facilitando os primeiros contatos e os primeiros encontros entre eles e fortalece a continuidade dos relacionamentos.

10. A tecnologia não estraga a

interação na família. Há vários jogos

coletivos e não há limites para a criatividade

no uso da tecnologia para propiciar momentos

lúdicos em família. No entanto, a maioria dos

jogos é individual e restringe o convívio. É mais

fácil ver uma família em torno de um tabuleiro

de “banco imobiliário” do que em torno de uma

tela de computador. A tela é muito solitária. Ao

adquirir um game busque justamente aquele

que irá facilitar o uso em família.

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EN

SINO

fundamental

NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A Internet, a rede mundial de computadores interconectados, veio para eliminar fronteiras, possibilitar o acesso a outras culturas e facilitar a comunicação entre as pessoas; é um dos privilégios da vida moderna e uma forma democrática de acesso às diversas informações.

Para que isso aconteça de forma eficaz, é necessário que a pessoa que a está acessando tenha pelo menos os requisitos básicos de domínio do idioma que irá utilizar.

Claro que há ferramentas de traduções, mas você já tentou ler um texto traduzido por essas ferramentas? O tradutor técnico faz transcrições lógicas com base nos bancos de dados das palavras e não tem capacidade de diferenciar se uma palavra é usada no sentido de verbo ou substantivo. A palavra via, por exemplo, pode significar “qualquer caminho ou estrada que conduz a algum lugar”, ou “o passado do verbo ver”. Neste caso, a ferramenta de tradução não consegue fazer a análise do contexto da frase em que o termo está sendo empregado. Criam-se, assim, distorções no sentido do texto (a mensagem fica prejudicada, assim como o propósito e a cadência) que obrigarão o usuário, necessariamente, a dominar o idioma para recuperar o significado original com que o autor quis empregá-lo, para que não se perca a finalidade comunicativa do texto.

Diante deste cenário, a educação lingüística, num mundo em que a linguagem ocupa papel central, tomou uma dimensão importante e essencial, já que ela serve como meio para circulação da informação, o que acontece num ritmo cada vez mais intenso,

tendo em vista os avanços tecnológicos e o processo de globalização. A aprendizagem de uma Língua Estrangeira é atualmente tida como um direito de todo cidadão. Com relação a essa questão ALMEIDA FILHO (2000, p.7.) afirma: “A sociedade brasileira reconhece um valor educacional formativo na experiência de aprender outras línguas na escola. Reconhece esse bem cultural ao garantir de alguma forma a presença da disciplina Língua Estrangeira no currículo e mesmo quando duvida da eficácia do ensino escolar e leva seus filhos e a si mesmo para aprender língua em escolas e institutos particulares de idiomas (...)”.

O governo, para atender a essa necessidade da sociedade contemporânea, formulou os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de Língua Estrangeira, que apontam a disciplina como parte integrante para a formação do aprendiz: “(...) Assim, integrada à área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, as Línguas Estrangeiras assumem a condição de ser parte indissolúvel do conjunto de conhecimentos essenciais que permitam ao estudante aproximar-se de várias culturas e, conseqüentemente, propiciam sua integração num mundo globalizado”. (PCN-LE)

Para que essa aprendizagem seja significativa, o ensino da Língua Estrangeira deve ter como objetivo que os alunos consigam fazer uso do idioma-alvo em situações da vida real. Quando se aprende uma língua não se aprende apenas um sistema de signos. Aprender uma nova língua significa interpretar a

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NO MUNDO CONTEMPORÂNEOSegundo pesquisas, o Espanhol como Língua Estrangeira ocupa o segundo lugar na lista das línguas nativas mais faladas no mundo e é o idioma oficial de 21 países.

Anna Carolina Guimarães Mendes Curto

Pedagoga, autora de material didático e coordenadora

editorial da Editora OPET.

realidade com outros olhos por meio da inserção do aluno num universo de práticas culturais. É nesse sentido que o ensino de uma Língua Estrangeira tem uma função educativa que extrapola os aspectos meramente lingüísticos e adquire relevância na formação integral de um cidadão ativo e crítico no mundo contemporâneo.

A Língua Inglesa foi, durante muitos anos, a língua estrangeira de cunho obrigatório no currículo escolar. Atualmente, a Língua Espanhola também ganhou força, a partir da Lei n.º 11 161/ 2005, que tornou-a obrigatória nas escolas públicas e privadas do Ensino Médio e faculta sua inclusão nos currículos de 5.ª a 8.ª séries/ 6.º ao 9.º ano do Ensino Fundamental. Este fato se deve a uma necessidade de se estabelecer uma integração entre o Brasil e os outros países da América Latina, em especial os que compõem o Tratado do MERCOSUL.

No Brasil, muitas escolas, antes de quaisquer exigências por parte do poder público, têm iniciado a implantação dessa língua a partir do Ensino Fundamental.

Entretanto é importante deixar claro que qualquer que seja a língua estrangeira que será ensinada é preciso ter em mente que a motivação é a chave principal para que o aluno se comprometa realmente no processo de aprendizagem. Para isso a aula de Língua Estrangeira deve ser dinâmica, usar como atividades motivadoras os jogos e atividades lúdicas por meio dos

quais os estudantes consigam realizar a comunicação de forma espontânea e criativa. A manutenção da motivação deve ser oportunizada pelo professor em atividades extras, por meio das quais sejam indicados aos alunos instrumentos que lhes possibilitem manter o contato com o idioma, como livros, revistas, filmes, música e Internet, criando-se, assim, um ambiente para que eles consolidem e ampliem o que foi aprendido em sala de aula.

O importante é lembrar que o objetivo do ensino da Língua Estrangeira é levar o aluno a contrastar a sua cultura com a cultura do idioma estudado, conduzindo-o à compreensão de um dos grandes desafios do século: a aceitação e a valorização da diversidade.

Referências BibliográficasALMEIDA, J. C. P. F. Dimensões comunicativas no ensino de línguas.

Campinas: Pontes, 2000. p. 7.BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e

Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais, códigos e suas tecnologias. Língua estrangeira moderna. Brasília: MEC, 1999. p. 49.

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Por que Filosofia e Sociologia na escola?

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SIN

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édio

Por que Filosofia e Sociologia na escola?

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“Jovens ou velhos, devemos sempre filosofar; no último caso, para rejuvenescermos pela lembrança dos dias passados, e, no primeiro, para sermos, embora jovens, tão firmes quanto um ancião diante do futuro.” (Epicuro)

“A Filosofia é um sistema de dúvidas.” (Jorge Luís Borges)

“É preciso sentir a necessidade da experiência, da observação, ou seja, a necessidade de sair de nós próprios para ascender à escola das coisas, se as queremos conhecer e compreender.” (Émile Durkheim)

O que um filósofo do período helenístico e um escritor argentino contemporâneo têm em comum?

Ambos tiveram uma existência marcada pela dor. Epicuro padecia de cálculo renal. Borges quase sucumbiu a uma septicemia, sofreu inúmeras operações de catarata e, aos cinqüenta anos, perdeu por completo a visão. De personalidade refinada, Epicuro almejava fazer da beleza o princípio inspirador da vida e fruir dessa beleza na própria experiência pessoal. Não menos refinado, para Borges o importante era revelar beleza e só se pode revelar o que se sente.

Tanto o filósofo quanto o escritor transcenderam, em suas obras, suas mazelas pessoais e tematizaram, nelas, questões como liberdade, beleza, medo, morte, existência, as quais continuam a povoar o pensamento de grande parte das pessoas; assim como as transformações da sociedade e de suas relações foram preocupações de sociólogos como Durkhein e de escritores como Victor Hugo.

Da retomadaA volta da Filosofia e da Sociologia como disciplinas integrantes do currículo do

Ensino Médio vem, finalmente, propiciar a retomada de temas como estes, ao mesmo tempo em que possibilita aos alunos questionar sobre a realidade em que estão inseridos.

Retiradas do currículo pelo governo militar em 1971 e substituídas por Educação, Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira), essas disciplinas voltam a integrar a grade comum do Ensino Médio, por meio do Projeto de Lei sancionado em junho de 2008. Esse projeto torna obrigatória a reinclusão de Filosofia e de Sociologia no currículo das escolas de Ensino médio públicas e privadas.

Embora o número de professores formados anualmente em Filosofia e em Sociologia seja insuficiente, 2 884 e 3 018, respectivamente (Fonte: Gazeta do Povo, 03 ago. 2008), o retorno dessas disciplinas ao currículo do Ensino Médio abre espaço para que se invista tanto na ampliação do quadro de profissionais quanto na reforma curricular, levando-se em conta a aplicabilidade desses campos na educação.

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Graduado em Ciências Sociais pela Unicamp, com especialização junto ao Programa de Mestrado em Sociologia da Cultura (Unicamp). Mestrando em Estudos Literários pela UFPR. Professor de Ensino Fundamental e Médio. Desenvolveu pesquisas na área de meio ambiente e sociedade. Analista crítico e autor de material didático. Crítico literário na imprensa geral e especializada.

Por que é importante o retorno da Sociologia ao Ensino Médio?

O chamado “pensamento crítico” é próprio de sociedades democráticas, nas quais há livre expressão de idéias, privilegiando-se o livre fluxo de informações e possibilitando-se a visão discordante sobre a realidade. Dessa forma, a Sociologia para o Ensino Médio deveria ter sido retomada no Brasil já na década de 1980, quando o País reconquistou a democracia. Talvez seja sintoma da maturidade e da estabilidade democráticas a inserção da ciência social mais de vinte anos após o fim da Ditadura Militar.

Por outro lado, em que pese o potencial “crítico” da Sociologia (sua possibilidade de desvelar o outro lado da ideologia e do senso comum, que muitas vezes encobre o real conhecimento dos fatos e de suas inter-relações), é importante que sua abordagem em termos pedagógicos seja centralizada na idéia de que a Sociologia é, antes de qualquer formulação contestatória, uma forma de pesquisa, um meio de acesso à complexidade do real. Sociologia é investigação, é pesquisa social cujos resultados nem sempre coincidem com nossos valores e preconceitos já estabelecidos. E pesquisa não se faz só com vontade crítica, mas, principalmente, com rigor metodológico e conhecimento do passado e das ferramentas disponíveis nos autores clássicos e contemporâneos da disciplina. Neste sentido, a proposta de abordagem da Sociologia no Ensino Médio deve levar em consideração que não se trata de mera expressão de opiniões dos jovens, muito pelo contrário. Trata-se, sim, entre outras coisas, da investigação do porquê de termos tais opiniões e de que forma elas justificam ou negam a realidade social.

Ricardo Pedrosa Alves

Miriam Raquel Moro ConfortoProfessora de Língua Portuguesa e Produção de Texto, especialista em Literatura Brasileira, Coordenadora Editorial de Ensino Médio da Editora OPET.

Por que é importante o retorno da Filosofia ao Ensino Médio?

O retorno da disciplina de Filosofia à

grade curricular do Ensino Médio no Brasil

deve ser comemorado por todos aqueles que

dão valor ao desenvolvimento intelectual do

País. Esse retorno, isoladamente, não é capaz

de provocar transformações radicais no ensino

brasileiro, mas representa uma mudança

bastante significativa no objetivo almejado.

Atualmente, considera-se que a melhor

educação possível não é mais aquela em que

é priorizada a reprodução fiel do conteúdo

aprendido, mas, sim, aquela que forma

alunos mais críticos e questionadores. A

disciplina de Filosofia pode, sem a menor

dúvida, auxiliar neste processo. Sua função

principal é ensinar a questionar. Por meio

dela o aluno passa a compreender como é

formado o mundo em que ele vive, como a

história do pensamento foi sendo elaborada

durante os séculos, como o conhecimento

se formou e transformou até chegar às

atuais concepções de verdade, de homem e

de mundo. A Filosofia, portanto, auxilia-nos a

questionar a realidade na qual estamos inse-

ridos. Ela prioriza a postura crítica do aluno

no enfrentamento com o mundo, porque,

antes de tudo, não apresenta respostas aos

problemas, mas perguntas. Ela “pousa” seu

olhar crítico no que consideramos inques-

tionável, plantando a semente da dúvida.

Caroline Kelm

Graduada em Filosofia, com Pós-Graduação em

Pedagogia Empresarial. Professora de Filosofia

do Ensino Médio e de Supletivo. Desenvolveu

projetos para cursos profissionalizantes dos

Liceus de Ofícios de Curitiba.

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No ano 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu colocar mãos à obra. Mais do que fornecer soluções de caráter imediato aos problemas da humanidade, o objetivo da Organização era conquistar as pessoas para o compromisso com uma realidade mais justa e solidária. Assim surgiu a Declaração do Milênio aprovada pela ONU, pacto assinado pelos países-membros, que estabelece um compromisso com a sustentabilidade do Planeta. Os Objetivos do Milênio, denominados Oito Jeitos de Mudar o Mundo, a serem alcançados pelos países até o ano 2015, foram abraçados pelo Sistema de Ensino Opet e colocados como fundamento de sua proposta de educação centrada na cidadania.

Duas escolas parceiras do Sistema de Ensino Opet, situadas em Mandaguari, na região de Maringá, norte do Paraná, elegeram os Objetivos como tema de um projeto pedagógico especial em 2007. As insti-tuições – Arco-Íris Educação Infantil e Escola Alfa Ensino Fundamental, pertencentes aos mesmos mantenedores e que atendem cerca de 120 alunos do maternal ao quinto ano – ampliaram a discussão pre-sente no material didático e levaram o tema para a comunidade. “Ao longo de todo o ano trabalhamos os temas em sala, em grupos, ficando cada um deles responsável por apresentar um dos jeitos. Todos, do maternal ao quinto ano, participaram”, conta a diretora das duas escolas, professora Ermelinda Maria de Lourdes Martins Ribeiro.

No encerramento das atividades letivas, as crianças fizeram uma apresentação especial para os pais, na escola, com direito à caracterização por meio de camisetas (cada um dos Objetivos do Milênio foi identificado por uma cor). Segundo a diretora, a comunidade recebeu muito bem a iniciativa. Ao todo, cerca de 500 pessoas participaram da atividade.

Em casa – Uma das vitórias do projeto foi o fato de disseminar as metas da ONU além

do ambiente escolar e do período de duração do projeto. “Com o

desenvolvimento das atividades, os alunos foram incorporando as idéias ao seu dia-a-dia. Eles as assumiram com muita responsa-bilidade, interesse, participação e

consciência. E, como o trabalho na escola foi feito de forma integrada,

mesmo que cada grupo tenha se especializado em uma das metas pôde

ter uma visão geral de todos os Jeitos de Mudar o Mundo. Além disso, a força das crianças

é muito grande. Ao comunicar as idéias elas não deixam que estas se esgotem. O objetivo é fazer com que as coisas mudem até 2015 e nós estamos trabalhando para isso”, explica a diretora.

No ano passado, a professora Vanessa Rossi Silva trabalhou a meta número um do Milênio – Acabar com a extrema pobreza e a fome – junto com seus alunos da Educação Infantil. De acordo com ela, as crianças responderam de forma muito positiva à proposta. “Elas perceberam que há outras crianças no mundo que sofrem justamente por conta da miséria e da fome”.

8 JEITOS DEMUDAR O MUNDO

“Com o desenvolvimento das

atividades, os alunos foram incorporando as idéias ao seu

dia-a-dia. Eles as assumiram com muita responsabilidade, interesse,

participação e consciência.”

A EXPERIÊNCIA DE MANDAGUARI

Escolas parceiras OPET no norte do Paraná dão exemplo de cidadania

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Retomada – Em setembro de 2008, o tema foi reavivado durante o desfile municipal do Dia da Independência. Segundo a diretora, como as turmas já estão motivadas e têm a consciência da importância de todos os temas para a sustentabilidade do planeta, o trabalho fica mais fácil; e a população de Mandaguari dá o maior apoio às metas para transformar o mundo para melhor.

As duas escolas também desenvolvem outros projetos importantes, como o Parada de Leitura, que busca estimular a leitura tanto em sala de aula quanto em casa. Toda sexta-feira, as atividades são suspensas por trinta minutos para que todas as crianças leiam ou, no caso das mais jovens, escutem histórias lidas por uma professora. “Elas também são motivadas a levar os livros para casa e a pedir para que os pais leiam em família. Com isso, abre-se a possibilidade de criação de um momento de proximidade e afeto entre pais e filhos”, explica a diretora.

Luz para uma excelente idéia

“A Editora OPET deu

a dica, a luz para a

gente oferecer um

diferencial. E nós

fizemos isso.”

Mais do que difundir uma excelente idéia junto à

comunidade, o trabalho com os 8 Jeitos de Mudar o Mundo

também forneceu um diferencial de marketing às escolas Arco-

Íris e Alfa. De acordo com a diretora, ambas as escolas foram as

únicas, na região, a trabalhar com esse tema, justamente quando ele

estava sendo mais debatido nos meios de comunicação. “É um tema atual,

polêmico, e que tem tudo a ver com a educação. A Editora OPET deu a dica, a luz

para a gente oferecer um diferencial. E nós fizemos isso.”

A respeito da parceria com a Editora, iniciada em 1999, a diretora se diz satisfeita. “Nós temos

sido procurados por outros sistemas de ensino, mas eu gosto do material didático OPET. Ele

vai ao encontro de nossa filosofia de ensino, de educação por princípios. Além disso, somos

sempre muito bem-atendidos pela equipe OPET, tanto na parte pedagógica quanto na

administrativa.”

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Ao falarmos de Educação Corporativa e Marketing Educacional

nos deparamos, de imediato, com alguns desafios.

Devemos tratar a educação como produto?

Como definir preço para algo que não é percebido como serviço?

Em que praça devemos atuar?

Em quais mercados devemos procurar nos inserir?

Nossa escola sempre existiu no mesmo lugar. As pessoas é que

resolveram mudar de casa. Será que a promoção

“Traga um amiguinho e receba 10% de desconto” funcionará em nossa escola ?

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Gestão Educacional com ênfase empresarial

Gestão Educacional com ênfase empresarial

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O inícioO Marketing como ciência social é algo

extremamente recente. Organizações de grande porte e de vários segmentos ainda estão aprendendo a trabalhar com marketing. Há uma confusão quanto à relevância, empregabilidade das suas ferramentas e desenvolvimento de estratégias. De um lado, alguns defendem estratégia como uma combinação de dados e sua aplicação pura. É o que chamamos de pragmatismo excessivo ou imediatismo. Por outro lado, há aqueles que resistem às mudanças e se prendem à relação de troca ou venda com pouca ou nenhuma ênfase no FOCO DO CLIENTE. Observe que estamos falando no FOCO DO CLIENTE. Não no cliente. Isso significa dizer que as organizações mais avançadas e bem-estruturadas perceberam que não basta o FOCO NO CLIENTE, ou seja, na satisfação do cliente. Na verdade, atualmente falamos no Foco do Cliente, que significa posicionar-se na condição de cliente e procurar enxergar qual o interesse dele. Por que ele está adquirindo esse serviço? Quais são os objetivos implícitos do cliente ao escolher o serviço? Qual a sua percepção de valor? Ao identificarmos esses pontos, alcançamos a força motriz do processo de compra e de realização das necessidades e desejos do consumidor. Em síntese, relacionamos o indivíduo e suas circunstâncias. Afinal, ao mudarmos nossa leitura e interpretação de mundo, mudam também nossos interesses e percepções do que desejamos e sonhamos.

Com relação ao Marketing Educacional a coisa é ainda mais complicada e confusa. As instituições de ensino, principalmente as do Ensino Básico (Fundamental e Médio), estão em sua maioria perdidas. Falta a bússola. Falta o norte. Falta tudo. Há uma verdadeira salada de ações em que o “sabor final é indefinido”, o resultado final acaba por ficar sem identidade, sem corpo, sem estratégia, embora, algumas instituições se esforcem na busca de resultados. E Marketing é resultado. Caso contrário, será somente um aglomerado de idéias lindas, repletas de discursos bonitos, gráficos bem-elaborados e absolutamente inócuos. Portanto, observe: Gestão é output. Gestão NÃO é esforço. O gestor pode trabalhar 12 horas por dia, ser o primeiro a chegar à escola e anotar todos os funcionários que chegaram atrasados. Pode cobrar de alguém que a pia está entupida, de outro que o portão continua empenado, do professor que se atrasou e terminar o dia convencido de que fez o melhor para a escola. Na verdade, jogou tempo fora. Não produziu

resultados e, pior ainda, concentrou na sua figura, GESTOR, atribuições e responsabilidades que nem de longe deveriam estar sob sua obrigação.

Então, qual o papel do Marketing Educacional? Quais, afinal, são as suas áreas de atuação? Simples. Desenhe mentalmente uma escola. Portão. Secretaria. Coordenação. Sala de Professores. Diretoria. Sala de Aula. Biblioteca. Laboratório. Pátio. Cantina. Banheiros. Agora encaixe isso no organograma da empresa, combinando naturalmente com os respectivos colaboradores. Mas ao se falar em organograma, setores, etc., percebe-se que alguns gestores dirão que administram uma escola e não uma empresa e este é o primeiro e um dos principais problemas. Nossos gestores não se admitem empre-sários. Não assumem o papel de empresários. Aqui e acolá ensaiam um discurso, mas não incorporam o verdadeiro papel. E isso serve para todas as instituições, leigas e religiosas. Inclusive, entre as religiosas o problema se agrava porque em muitos casos quem as administra nunca estudou Administração, Marketing ou áreas afins e, com isto, acaba por confundir as coisas. Acolhimento com atendimento. Marketing com propaganda. Comunicação com circulares enfadonhas, entre outras coisas.

As ferramentas do MarketingDeve-se observar que não basta simplesmente

pegar as ferramentas do Marketing, copiá-las e apresentá-las ao gestor educacional. Isso é um absurdo. Primeiro porque a EMPRESA-ESCOLA possui especificidades, idiossincrasias que fazem de sua gestão algo extremamente complexo e com valores diferenciados. Exemplo: enquanto no varejo a relação cliente-empresa atinge o seu ápice no ato da compra ou aquisição do serviço, na escola é exatamente o contrário. No ato da assinatura do contrato essa relação só está começando. O cliente vai se relacionar com a empresa (escola) um quarto do seu dia, durante cinco dias na semana, ao longo do ano. É uma batalha diária.

Quando se fala em fatores específicos, deve-se lembrar que nesses anos todos de pesquisa, o aspecto que se considera de maior importância no Marketing e que necessariamente deve sofrer uma adaptação ao ser inserido no ambiente educacional é o Marketing de Relacionamento, instrumento poderosíssimo e apontado como um dos grandes diferenciais competitivos das organizações, inclusive as educacionais.

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Esse ambiente, contudo, deve ser repensado de maneira a não comprometer a sua eficácia. Em recente pesquisa pudemos perceber que 56% das pessoas entre-vistadas haviam levado em consideração a conversa com amigos na hora da escolha da escola dos filhos (indicação). Partindo desse princípio, fica evidente a importância do Marketing de Relacionamento para a escola. Agora, dada às circunstâncias que envolvem o serviço, precisamos refletir sobre a relação das famílias com a escola, em virtude da idade do aluno, do segmento em que vai ser matriculado, etc. Quanto menor a idade, maior e mais próxima será a relação do pai (provedor) com o filho (aluno = cliente). Assim, o relacionamento, o contato, a comunicação devem ser pensados, produzidos e trabalhados levando-se em consideração estes e outros fatores.

Quais são as ferramentas de Marketing mais aceitas e usadas pelas escolas?

Tecnicamente, com algumas exceções, nenhuma. Empiricamente podemos relacionar algumas: propaganda, que muitos ainda entendem como Marketing e não é, e pesquisa (já são encontradas algumas escolas preocupadas em elaborar questionários com ênfase na avaliação do composto do serviço, indo além da sala de aula (atendimento, velocidade de respostas, etc.), e, possivelmente, a mais difundida, ações abertas à comunidade. Esta é uma excelente ferramenta do Marketing, mas que precisa ganhar a identidade própria da educação. A escola oferece ao indivíduo a colaboração direta para construção de seu conhecimento. Sem isso ele não é nada. A escola simplesmente representa a plataforma para seu desenvolvimento e, por isso, é importante demais para ser tratada apenas como mais uma ferramenta para captação de alunos.

O foco do Marketing para escolas de pequeno, médio e grande porte deve ser diferenciado – o que cada uma deve privilegiar

Inicialmente devemos considerar, além do tamanho, expresso normalmente pelo quantitativo de clientes diretos (alunos), o segmento em que atua: Infantil Fundamental. Médio. A combinação desses dois hemisférios será decisiva para a elaboração das estratégias. Enquanto uma escola que tem o foco na Educação Infantil deve privilegiar o afeto, a segurança

e o desenvolvimento das competências do educando, a escola que possui o foco no Ensino Médio não pode abrir mão da valorização da formação para o exercício da profissão. Note-se que não estou falando de preparar para o mercado de trabalho, falo na percepção que o educando deve ter dos cenários competitivos, da preparação para o exercício de múltiplas funções. De que maneira ele pode se preparar para vivenciar um mundo em permanente transformação.

O fato de a escola ser de pequeno ou grande porte não altera o foco. O determinante é o foco do serviço, para que grupo vai ser prestado. Serão crianças entre 5 e 7 anos que estarão sendo alfabetizadas? Serão jovens entre 13 e 17 anos que iniciarão a jornada em busca da conquista do seu espaço individual, só obriga a maior a ser cada vez mais criteriosa no desenvolvi-mento de suas ações de Marketing e preocupada em ser ágil e dinâmica, não se esquecendo do seguinte: não é o maior que engole o menor, é o mais rápido que ultrapassa o mais lento.

Como unir ações que dêem resultado imediato com uma visão institucional de longo prazo?

Ações que logram sucesso imediato são normalmente simples. Se fizermos uma promoção de vendas na esquina e diminuirmos as margens de lucro, provavelmente nosso produto vai escoar das prateleiras. Acontece que na escola essa conversa de “traga um aluno e receba uma mensalidade” não funciona.

Qualquer ação de Marketing envolve dois pontos: tempo e investimento. Não há fórmulas mágicas. A única saída é o desenvolvimento de uma cultura de valorização do serviço. É a construção de uma política de relacionamento que priorize as ações de largo alcance social. É a valorização da marca como ativo de vida: “Eu estudei nessa escola. Foi aqui que aprendi a escrever. Foi aqui que me apaixonei pela primeira vez.” A combinação disso com o molho do Marketing é que dará certo.

A valorização da marca. O que há de especial na construção da marca no universo das escolas

A marca é um dos principais ativos de uma organização, pois comunica valor, status, credibilidade, confiança. A marca comunica a síntese da missão da empresa. Quando a opinião pública a referenda, esteja certo de que alcançou o topo da montanha.

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Não inventaram e provavelmente não vão conseguir inventar Marketing mais poderoso, eficiente do que o boca a boca. E o passo decisivo para isso está na consolidação da marca, o que só é possível com o tempo. O exemplo mais claro disso são as escolas católicas. Construíram uma marca de excelência e, atualmente, ainda conseguem sobreviver, a despeito de muitas resistirem à implementação de estratégias e gestões com foco no Marketing e no serviço.

O que o Marketing não deve fazer pelas escolasEstratégia é algo que convence, emociona. Estratégia é algo que se constrói permanentemente. Não se

pode engessar a estratégia, escravizá-la entre números e gráficos. É fundamental contextualizá-la, conceituá-la.Uma empresa é feita por e para pessoas, e estas são universos únicos, ao mesmo tempo em que estão

ligadas umas as outras. Todos que estão, neste momento, em sua escola, procuram alguma coisa em especial. E todos, ao mesmo tempo, desejam uma coisa em comum.

Professor André Pestana. Especialista em Marketing Educacional. Um dos mais renomados teóricos do Brasil em Gestão Educacional com

Ênfase Empresarial. Possui inúmeros trabalhos publicados nas principais revistas do segmento, inclusive internacionais. Foi diretor de Marketing da Universidade do Grande Rio – UNIGRANRIO. Autor de vários livros, entre eles, Gestão e educação: uma empresa chamada escola. Presidente da Gala Comunicação e Educação Integradas, Professor Coordenador do MBA Gestão de Instituições Educacionais da Universidade Católica de Brasília – Unidade RJ. Professor Universitário. Membro do Núcleo de Estudos e Projetos Integrados da Associação Brasileira de Marketing e Negócios ABMN e Instituições de Ensino Parceiras. Jornalista responsável pela Revista Ensino Particular – REP. Membro do Conselho Consultivo da Revista Gestão Educacional. Consultor em Gestão Estratégica de inúmeras Instituições de Ensino no Brasil. Conferencista Internacional.

([email protected])

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S e

sit

esLIVROS SITES

ZIZEK, S. Arriscar o impossível: conversas com Zizek. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 221 p.

Slavoj Zizek é uma das figuras mais instigantes do cenário intelectual recente. Sociólogo e filósofo forjado na Guerra Fria (nascido na Eslovênia, estudou em Paris e deu aulas em universidades de seu país), construiu uma rica visão de mundo. Em Arriscar o impossível – conversas com Zizek, o autor apresenta uma série de reflexões acerca de Psicanálise, Filosofia, cultura popular, totalitarismo, etc.

ALMEIDA, M. I. M de. (Org.) Culturas jovens – novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 240 p.

Compreender os jovens é uma tarefa complexa, muito mais em um universo permeado por fontes de informação e por saberes diversificados. Este é o assunto abordado na obra organizada por Maria Isabel Mendes de Almeida (pro-fessora do Departamento de Sociologia na PUC-RJ). O livro examina a juventude em sua multiplicidade, sem cair no lugar-comum.

Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil

Fundado em 1973, o CPDOC disponibiliza grande número de textos, de entrevistas, de artigos e de livros on-line sobre a nossa História a partir da Era Vargas. É, sem dúvida, uma fonte importante de informações para profes-sores, para alunos e para pesquisadores. Visite-o em:< http://www.cpdoc.fgv.br/comum/htm/index.htm>

National Geographic Maps Na onda iniciada pelo Google com seu serviço de

mapas via satélite, a National Geographic Society lançou o Map Machine, ferramenta de busca que permite ao usuá-rio acessar vários tipos de mapas de todas as regiões do mundo. O usuário pode ter, por exemplo, fotografias de satélite, mapas de rodovias, mapas físicos, informações sobre densidade demográfica e recursos naturais. Conteúdos em inglês. Visite-o em: <http://ngm.nationalgeographic.com/map-machine>

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O mundo, notadamente, está marcado por três grandes transformações: a primeira delas fixou o homem no campo e fez com que ele começasse a viver em grupos, originando o aparecimento das primeiras comunidades e sociedades.

A segunda grande transformação está associada às mudanças ocorridas nas sociedades entre os séculos XVI e XIX. A formação dos Estados Nacionais, a Reforma Protestante e a expansão das Grandes Navegações impulsionaram o desenvolvimento científico e tecnológico desse período, desencadeando o processo que mais tarde seria denominado de Revolução Industrial.

Em meados da década de 1950 iniciou-se um novo fenômeno a partir da invenção da televisão: o processo de globalização da informação e da cultura, além da crescente valorização do conhecimento. O telefone, a Internet e a comunicação por satélite trouxeram o mundo para o quintal de nossas casas. O acesso à informação passou a determinar o ritmo e a direção das mudanças locais e globais. As relações sociais foram alteradas e, com elas, toda a concepção do trabalho também mudou. Entramos na terceira e mais profunda mudança social: a Revolução do Conhecimento.

A Terceira Onda, como também é chamada a Revolução do Conhecimento, está promovendo transformações significativas na Educação. Atualmente as faculdades buscam formar um profissional bem-preparado para o mercado de trabalho, mas, sobretudo, preocupam-se em encontrar uma solução que promova acesso à educação de qualidade, com custos reduzidos, a uma massa de cidadãos excluídos do convívio de um ambiente de ensino universitário.

A Educação a Distância (EAD) – embora não seja novidade no cenário educacional – ao incorporar à sua estrutura novas tecnologias, como transmissão via satélite e Internet, apresenta-se como uma solução capaz de encurtar as distâncias de um país com extensões continentais como o Brasil. A EAD é capaz de promover acesso à Educação Superior para alunos que vivem fora dos grandes centros, além de proporcionar a atualização de professores e de profissionais de todas as áreas. De que outra forma seria possível levar cursos universitários com uma proposta pedagógica atual, professores titulados, material didático de excelente qualidade, aulas

interativas e dialogadas, às localidades mais longínquas de estados como Amazonas, Roraima ou Amapá, ou mesmo a ilhas e a tribos indígenas?

Com a EAD é possível proporcionar ao aluno a escolha do local e do horário de estudo, assim como possibilitar a adaptação de conteúdos às necessidades regionais e a utilização de metodologias e de materiais interativos que propiciam aprendizagem mais significativa e efetiva para o acadêmico. Isso está retratado nas últimas avaliações do ENAD que indicam alunos de EAD com melhor desempenho acadêmico em relação ao presencial.

EDUCAÇÃO & Tecnologia

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA:um modelo capaz de aproximar o aluno da faculdade, promovendo a inclusão e o avanço social

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Números do INEP também apontam para essa tendência, além de confirmarem a crescente aceitação da sociedade em relação à modalidade EAD. A graduação à distância saltou de 8.000 alunos no ano de 2000 para pouco mais de 500.000 em 2007, enquanto que a graduação presencial cresceu de 2.694.245 para 5.040.011 alunos no mesmo período, o que significa um crescimento médio de 109% ao ano no EAD contra 9% no presencial, como demonstram as tabelas abaixo.

EAD Presencial EAD Presencial2000 8.002 2.694.245 2000 2001 13.967 3.030.754 2001 75% 12%2002 29.702 3.479.913 2002 113% 15%2003 21.873 3.887.771 2003 -26% 12%2004 50.706 4.163.733 2004 132% 7%2005 233.626 4.453.156 2005 361% 7%2006 430.229 4.676.646 2006 84% 5%2007 537.786 4.910.478 2007 25% 5%

Fonte: INEP – *projeção realizada com base no crescimento dos anos anteriores

No Brasil, concluem o Ensino Médio aproximadamente três milhões de alunos por ano. Com base nesses números, estima-se que nosso país some atualmente cerca de dez milhões de pessoas em condições de ingressar em um curso superior, isso apenas no âmbito da graduação. É fato que a Educação Superior não comporta esse volume de alunos e que é necessária a expansão de soluções que proporcionem não só o crescimento da oferta de vagas, como também a possibilidade de o acadêmico estudar em instituições de excelência educacional com mensalidades acessíveis.

Luiz Alberto VivanGraduado em Publicidade e Propaganda. Pós-graduado em Marketing. Mestre em Comunicação e Linguagem.

Trabalha na área de comunicação e marketing, onde desenvolveu projetos em empresas públicas e privadas. Atualmente é Coordenador do Centro de Educação a Distância do Grupo Educacional OPET, consultor do SEBRAE e da

Duo Criathivo – empresa especializada em Planejamento de Comunicação Integrada de Marketing.

Alguém conhece uma solução mais eficiente que a Educação a Distância?

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA:um modelo capaz de aproximar o aluno da faculdade, promovendo a inclusão e o avanço social

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www.sxc.hu

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Criado em 1995, ano em que a Internet chegava ao Brasil, o Comitê para Democratização da Informática (CDI) surgiu com a missão de promover a inclusão digital como uma ponte entre educação, tecnologia, cidadania e empreendedorismo. Em um cenário em que o conhecimento tecnológico despontava como condição de desenvolvimento econômico e de oportunidades de inserção social, restringir o uso de novas tecnologias a um pequeno círculo da população sinalizava o perigo de aprofundar, ainda mais, as desigualdades crônicas.

A identidade do CDI começou a ser moldada no Rio de Janeiro nos anos 90 do século XX, como fruto de três processos: a velocidade de implantação das tecnologias de informação e de comunicação; a violência resultante da exclusão social e as possibilidades de atuação da sociedade civil organizada como agente de mudanças. Esses fatores, somados, motivaram Rodrigo Baggio a fundar a organi-zação e a assumir o compromisso de fomentar e de disseminar a cultura da informática entre populações de baixa renda, favorecendo a construção e o exercício da cida-dania por meio da ferramenta tecnológica.

O modelo formatado pelo CDI para combater a exclusão foi a Escola de Informática e Cidadania (EIC), espaço informal de ensino onde os educandos são estimulados a se apropriar da tecnologia, utilizando-a como instrumento de reflexão, de ação

e de transformação de vidas – mas sempre numa visão colaborativa. A EIC implementa o seu trabalho com base em uma proposta político-pedagógica inspirada em conceitos de Paulo Freire, segundo a qual o papel do educador é apoiar o aluno a assumir uma posição no mundo, enquanto ser histórico que conhece e intervém na realidade.

Na busca de expandir os benefícios da informática como alavanca para a inclusão social, o CDI desenvolve seu programa educacional em diferentes cenários. Possui escolas em favelas, em penitenciárias, em instituições que atendem os portadores de deficiência e pacientes com trans-torno mental, em aldeias indígenas, em comunidades ribeirinhas e em áreas bem remotas. Isso o tornou uma das ONGs mais respeitadas da América Latina e referência em inclusão digital. Em função deste reconhecimento, o CDI conquistou títulos e prêmios concedidos por instituições nacionais e interna-cionais de renome, entre elas a ONU, a Unesco, a revista Time, a CNN, a Fundação Abrinq, a Fundação Banco do Brasil, a Tech Museum, a Schwab Foundation e o Fórum Econômico Internacional.

A Rede CDI pode ser entendida como um sistema em contínuo aprendizado, crescimento e aperfeiçoamento, representado em 24 cidades, de 18 estados brasileiros, e em 10 Comitês em outros 8 países. Com mais de 750 Escolas de Informática e Cidadania (EICs), mais de 1 400 educadores e mais de 6 000 computadores instalados, são atendidas em torno de 70 mil pessoas por ano.

Em relação ao impacto, já são mais de um milhão de jovens e adultos de comunidades de baixa renda capacitados para a Rede CDI nos últimos 13 anos. 87% dos formandos dizem que tiveram suas vidas alteradas positivamente após sua passagem pelo CDI, o que se traduz em práticas como voltar a estudar, encontrar um emprego, resgatar a auto-estima, etc.

Edgard Spitz Pinel.Coordenador executivo

do CDI no Paraná[email protected]

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“Inclusão digital compreende não só o acesso ao computador, mas a capacitação das pessoas para o uso deste conhecimento em favor de sua autonomia, de oportunidades, de desenvolvimento. Este é o grande potencial da revolução tecnológica! Este é o objetivo do trabalho no CDI.”

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A ÚLTIMA PROFESSORA ESPAÇO Livre

Quando Otaviano, chefe da polícia local, desceu do aeromóvel, de pronto, viu-se de frente com a multidão que se aglomerava próximo ao velho galpão de tijolos. Havia ali uma grande quantidade de repórteres e de curiosos que acotovelavam-se para conseguir a melhor vista do local. Otaviano, por parte de suas atribuições profissionais, deveria neutralizar a professora antes que ela começasse a agir nas mentes das crianças.

Assim que chegou perto do furgão central, José Carlos, seu assistente, apresentou-lhe um relatório preliminar da situação: a professora Heloisa Elides da Silva, de setenta e oito anos, presa há quarenta e dois na casa de detenção de segurança média de São Paulo, havia fugido da enfermaria do presídio. Ninguém sabia explicar como ela conseguira arregimentar, na fuga, treze crianças entre 6 a 11 anos de idade, levando-as para a velha construção subterrânea, fato muito estranho, pontuado por mistério, uma vez que a entrada até o abrigo dependia de códigos criptografados a que só a própria polícia metropolitana tinha acesso.

— Otaviano, tenho uma informação importante para compartilhar com você! – disse uma mulher baixa que se aproximava. Aimê era inspetora da polícia assim como ele. A presença dela, naquele caso, só vinha confirmar quão delicado se constituía o incidente com a lunática professora, pois raramente destacavam-se dois inspetores para resolver problemas daquela natureza.

— A professora não fez nada disso sozinha, como pode parecer. – Aimê disse assim que chegou perto dele.

— Achei que não! Fugir da casa de detenção até que não me surpreende, sabe? Mas conseguir entrar no abrigo! Isto já nos leva a concluir que ela recebeu ajuda externa.

— Pois é, então, tentamos descobrir quem foram os cúmplices que a ajudaram!

— E?— Você não vai acreditar!— Pode falar.— Foram crianças, Otaviano! Três crianças entre a idade de 7 a 11 anos.— Como? Você está brincando! Somos diretamente responsáveis pelos

abrigos anti-nucleares. Os códigos de acesso são criptografados com tecno-logia de última geração... somente alguns funcionários do departamento têm acesso a eles!

Aimê encarou o colega bem nos olhos por alguns segundos e, de repente, levou o olhar para o chão. Aquele gesto incomodou-o um pouco. Algo não ia bem!

— Espere aí. Você não está pensando que eu...— Seu filho, Otaviano!— O quê? Como assim? O que tem meu filho?— Seu filho Pedro, não sabemos como, acessou o seu computador

pessoal. Ele conseguiu decifrar os códigos. Pedro e mais dois amiguinhos planejaram retirar a professora da prisão!

Otaviano ficou lívido no mesmo instante.— Não pode ser verdade! Oh... não... não... O que será de mim? O que será

de Irene? O nome da minha família será jogado na lama da opinião pública!

Não achava nada bom o poder executivo do estado interferir nas lembranças do seu filho. A tecnologia da subtração neurônica ainda dava seus primeiros passos. Os cientistas, até então, não podiam selecionar as memórias específicas, aquelas indesejáveis, e deletá-las! Havia o comprometimento das experiências de vida adquiridas. Pedro retornaria mentalmente à idade de um bebê! Uma vergonha para ele e sua esposa. Irene não merecia passar por aquele constrangimento! Os pensamentos, então, voltaram-se à causadora daquela tragédia: a professora. Heloisa era a última dos remanescentes de sua classe, dos professores de quadro e giz, que há quase meio século haviam sido substituídos pelos robôs autômatos que trouxeram um processo pedagógico mais vigoroso, producente, prático, que fez a humanidade dar saltos de qualidade em sua evolução.

A professora, quando jovem, não conseguiu admitir a sua incapacidade de lidar com o avanço das novas tecnologias. Quando o ensino a distância e as comunidades virtuais na Internet surgiram como alternativas de aprendi-zagem, ela até aceitou bem as novas metodologias. Porém, ser substituída por robôs auto-suficientes para dar conta do processo educativo nos seus vários aspectos mexeu com seu orgulho e dignidade.

Otaviano quando entrou abruptamente no furgão, sem pedir licença a ninguém, afastou todos os pensamentos negativos e preparou-se para enfrentar a situação esperando que nem tudo estivesse perdido. Não podia distinguir exatamente o que Heloisa dizia porque o técnico ainda tentava, desesperadamente, dar os últimos ajustes na freqüência de áudio, mas o que conseguiu ver lhe arrepiou todos os cabelos do corpo.

A velha professora que falava e gesticulava muito, de modo teatral, estava sentada em um caixote de madeira cercada pelas crianças, sentadas também, passivamente, no chão, a ouvi-la atentamente.

Os olhos das crianças brilhavam! Os olhos das crianças brilhavam muito!Nossa senhora, como brilhavam!Porcaria, o processo começou! Estão hipnotizados por esse monstro!Nos primeiros segundos em que o áudio foi estabelecido de modo pleno,

e todos dentro do furgão puderam ouvir o que a velha professora dizia, foi que Otaviano, tomado de ânsias de vômito e horror indescritível, soube que sua vida havia caído definitivamente em desgraça. O Inspetor começou a chorar e a soluçar alto. Instintivamente levou as duas mãos para tampar os ouvidos, mas não adiantou. Por muitos anos ainda ouviria aquele monstro tirar a dignidade de seu filho. E a professora, a um quilômetro na profundidade subterrânea, alheia àquilo tudo, continuava a falar, embevecida com a oportunidade de uma vez mais fazer aquilo de que gostava.

— Então, crianças, imaginem só! O príncipe desceu do cavalo! Olhou curioso para os sete anões! Aproximou-se de Branca de Neve e lhe deu um beijo de amor. Nossa pequena heroína acordou do feitiço da bruxa e sorriu para todos a sua volta!

E aquelas pequenas almas, destituídas de sentimentos, foram tomadas de uma enorme felicidade, avassaladora, como nunca haviam sentido. Elas se levantaram, começaram a cantar, a bater palmas e a rir incontrolavelmente como as crianças faziam cinqüenta anos atrás.

A professora, de sua parte, apenas... ria, batia palmas e chorava!

Adaptado do conto escrito por Afonso Luiz PereiraDisponível na íntegra em:<http://recantodasletras.uol.com.br/contosdeficcaocientifica/1226223

15 de abril de 2095

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A ÚLTIMA PROFESSORA

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