revista_conexa_academia 5 resíduos sólidos

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  • Dezembro 2013 - Ano III - N 5

  • Editorial

    Chegamos a uma nova edio da Revista Conexo Academia com o cumprimento de mais um dos objetivos estabelecidos quando do lanamento desse projeto.

    A edio que ora lhe chega s mos uma edio muito

    especial, pois traz os melhores trabalhos apresentados no Seminrio GRAL 2013 Gestin de Residuos en America Latina, realizado em So Paulo, no incio de setembro de 2013, por meio de uma parceria entre a ABES-SP, a ABRELPE e o IWWG.

    O Comit Cientfico do GRAL 2013, composto por renomados experts na rea de resduos slidos da Amrica Latina, analisou mais de setenta artigos que foram submetidos por pesquisadores de todo o continente para apresentao no Seminrio. Desse total, os dez trabalhos com maior pontuao foram selecionados para publicao nessa edio especial da Revista Conexo Academia.

    A publicao de uma edio especial da Revista com os melhores trabalhos de um congresso cientfico de altssimo nvel traz um reconhecimento diferenciado para os autores, que ganham um espao adicional para apresentao de seus estudos e pesquisas e, traz um ganho ainda maior para os leitores, que recebem um contedo bastante atual e qualificado, que at ento no estaria disponvel como fonte de consulta.

    Alm disso, a edio da Revista coincide com a abertura da Chamada de Trabalhos para o Congresso Mundial de Resduos Slidos da ISWA International Solid Waste Association, que acontecer pela primeira vez no Brasil, em setembro de 2014. Aproveitamos o ensejo para convidar todos os leitores a encaminharem seus resumos, pois mais uma vez editaremos uma edio especial da Revista Conexo Academia, com os trabalhos apresentados no Congresso.

    Desfrutem dessa edio especial e no esqueam de encaminhar suas contribuies e impresses para o aperfeioamento contnuo da publicao.

    Carlos R V Silva Filho

  • Expediente

    Revista Conexo Academia uma publicao de periodicidadesemestral da ABRELPE Associao Brasileira de Empresas deLimpeza Pblica e Resduos Especiais.

    Editor responsvel: Carlos Roberto Vieira Silva Filho CoordenaoTcnica: Gabriela Gomes Prol Otero Coordenao e reviso: AnaLucia Montoro Projeto Editorial: Mistura Fina ComunicaoOrganizacional Projeto Grfico e Editorao: Grappa Editora eComunicao Capa: Shutterstock.com/ jannoon028

    Permitida a reproduo total ou parcial, desde que citada afonte. Os artigos so de responsabilidade do autor e no refletemnecessariamente a posio da ABRELPE. Dvidas, crticas ousugestes podem ser encaminhadas para o e-mail:[email protected]

    Comit Cientfico - GRALProf. Carlos R V Silva FilhoProf. Emilia Wanda Rutkowski - UNICAMPProf. Francisco Jos Pereira de Oliveira - FRALProf. Fernando Lavoie - Instituto Mau de TecnologiaProf. Miriam Gonalves Miguel - UNICAMPProf. Roseane Maria Garcia Lopes de Souza - ABESProf. Thelma Sumie Maggi Marisa Kamiji - FRAL

    Conselho de Administrao (2012-2015)Alberto BianchiniI (Mosca Grupo Nacional de Servios Ltda.) EdisonGabriel da Silva (Litucera Limpeza e Engenharia Ltda.) Gilberto D. deO. Belleza (Empresa Tejofran de Saneamento e Servios Ltda.) IvanValente Benevides (Construtora Marquise S/A) Jos Carlos Ventri (EPPOSaneamento Ambiental e Obras Ltda.) Jos Eduardo Sampaio (VitalEngenharia Ambiental Ltda.) Jos Reginaldo Bezerra da Silva (VegaEngenharia Ambiental S/A) Nesterson Silva (TB Servios, Transporte, Limpeza e Recursos Humanos) Oswaldo Darcy Aldrighi (Silcon Ambiental Ltda.) Ricardo Gonalves Valente (Corpus Saneamento e Obras Ltda.) Walmir Beneditti (Sanepav Saneamento Ambiental Ltda.)

    Diretor ExecutivoCarlos Roberto Vieira Silva Filho

    Conselho EditorialCarlos Roberto Vieira Silva Filho (Diretor Executivo da ABRELPE eDiretor da ISWA para Amrica Latina) Ernesto Paulella (Professorda Escola de Economia e Administrao da PUC - Campinas) Flviode Miranda Ribeiro (Doutor em Cincias Ambientais) FranciscoHumberto de Carvalho Jr. (Professor Titular do Instituto Federalem educao, Tecnologia e Cincia do Estado do Cear IFCE) Jos Dantas de Lima (Mestre em Engenharia Civil e Ambiental.Professor convidado nas disciplinas sobre resduos slidos) JosFernando Thom Juc (Professor Titular da Universidade Federalde Pernambuco - UFPE).

    NATIONAL MEMBER OF

  • Sumrio

    Destaque ......................................................................... p. 9

    Ferramenta de anlise para o gerenciamento de resduos da construo e demolio ............................................ p.11

    Artigos ............................................................................ p.23

    A importncia da logstica reversa de resduos eletroeletrnicos na poltica nacional de resduos slidos: um estudo de caso na regio nordeste .......................... p.25

    Gesto de resduos slidos e sustentabilidade em portos: anlise e proposies para a poltica brasileira luz da experincia europia ...............................................p. 37

    Eliminao de dqo, nitrognio (tkn, nh4+, no3) e cr (vi) em humedales construdos com policultivos tratando lixiviados de aterros sanitrios em escala piloto ........................ p.49

    Como prevenir conflitos por causa dos resduos slidos: um estudo de caso no encerramento do lixo de rauyhuana, provncia huayllay-pasco (peru) ........... p.61

    Otimizao da alocao de cargas em aterros sanitrios regionais ......................................................................... p.69

    Implementao de um centro de compostagem como estratgia de vanguarda e inovao para o ensino de educao e conservao do meio ambiente. ................ p.81

    Avaliao do processo produtivo de uma cooperativa de materiais reciclveis no df estudo de caso ................ p.89

    Seleo de sistemas de tratamento de resduos slidos residenciais atravs de tcnicas multicritrio ............... p.95

    Caracterizao da borra oleosa de petrleo e dos materiais aps estabilizao por solidificao ............................ p.107

    Normas para publicao ............................................. p. 119

  • Destaque

    Ferramenta de anlise para o gerenciamento de resduos da construo e demolio.

  • Ferramenta de anlise para o gerenciamento de resduos da construo e demolioGonalvES, Pedro H.1 ; BranDStEttEr, Maria Carolina2 1Programa de Ps-Graduao em Geotecnia, Estrutura e Construo Civil, Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Gois, e-mail: [email protected] de Ps-Graduao em Geotecnia, Estrutura e Construo Civil, Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Gois, e-mail: [email protected]

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    RESUMOMuito se tem debatido a respeito da gerao de resduos, muitos pases possuem o objetivo essencial de dissociar a gerao de resduos do crescimento econmico. A crescente conscincia das preocupaes de gesto de resduos de construo e demolio levou ao desenvolvimento da gesto de resduos como uma funo importante da gesto de projetos de construo. Um dos fatos que agrava esta preocupao que o custo dos materiais reduz em comparao com o custo da mo de obra, de modo que se torna mais barato materiais perdidos, ao invs de investir em treinamento na utilizao de materiais de forma mais eficiente. O objetivo deste trabalho levantar as dificuldades referentes implantao dos Planos de Gerenciamento dos Resduos Slidos da Construo Civil (PGRSCD), criando um escopo para uma ferramenta de gerenciamento de resduo da construo dentro da realidade brasileira de acordo com Poltica Nacional de Resduos Slidos e a Resoluo 307/431/448 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Para analisar esta cadeia com suas problemticas referentes aos PGRCC a metodologia utilizada abrangeu a reviso de trabalhos nacionais e internacionais relacionados ao tema voltados eficincia e dificuldade na implantao dos PGRCC e a aplicao de um questionrio sobre o peso das aes dentro do planejamento dos planos de reduo entre diversos agentes da cadeia produtiva. Os resultados apontam que a criao de um banco de informaes e o desenvolvimento de mtodos para reduzir o desperdcio so os principais benefcios obtidos com a implementao de um mtodo de planejamento e gerenciamento do resduo. No entanto, o baixo incentivo financeiro e a falta de fiscalizao so considerados como as principais dificuldades na implementao. A partir da a mudana cultural considerada como a principal medida para incentivar a implementao de uma metodologia de reduo na gerao de resduos.

    Palavras-chave: Resduo, Construo Civil, Gerenciamento, Ferramenta.

    analysis tool for construction and demolition waste management

    ABSTRACT There is a great discussion on waste generation, many countries have the essential goal to decouple waste generation from economic growth. The growing awareness of the concerns of construction and demolition waste management led to the development of waste management as an important function of construction projects management. One of the facts is that the reduced material costs compared with the labor cost, the materials lost becomes cheaper than to invest in training in use of materials more efficiently. The objective of this work is to raise the difficulties related to the implementation of a Management Plan Solid Waste Construction (PGRSCD), create a scope for a waste management tool construction in the Brazilian reality in accordance with the National Policy

    ConEXo aCaDEMIaA Revista Cientfica sobre Resduos Slidos

    Dezembro 2013 - Ano III - Volume 5

  • GonalvES, BranDStEttErFerramenta de anlise para o gerenciamento de resduos da ...12

    1. INTRODUO

    O cenrio a respeito da gerao de resduos palco de muitos debates pelo mundo, vrios pases direcionam esforos h alguns anos para alcanar o objetivo de dis-sociar a relao direta entre gerao de resduos e cresci-mento econmico.

    Diante desta visibilidade mundial sobre a problemtica dos resduos, desde 1980 o empenho contnuo de muitos pesquisadores vem sendo voltado para a minimizao da

    gerao dos resduos da construo e demolio (RCD) em ordem de reduzir os impactos associados durante a construo e demolio dos edifcios (LU e YUAN, 2011). Porm existe o fato agravante sobre a preocupao da relao entre os materiais e a mo de obra, onde o custo dos materiais reduz em comparao com o custo da mo de obra. Desse modo se torna mais barata a perda de materiais do que o investimento em treinamento da mo de obra na utilizao de materiais de forma mais eficien-te (CIB, 2011), aumentando assim os fatores impactantes

    on Solid Waste and 307/431/448 resolution of the National Council of Environment (CONAMA). To analyze this string with their problems pertaining to the methodology used was PGRCC, review of national and international work related to the topic focused on the efficiency and the difficulty of PGRCC deployment and application of a questionnaire on the actions weight within the reduction plans. The results showed that create a information database and the development of methods for reducing waste are the main benefits gained by implementing a method of waste planning and managing. However, the low financial incentives and lack of supervision are considered as the main difficulties. From this cultural change is considered as the main measure to encourage the implementation of a methodology to reduce waste generation.

    Key Words: Waste, Construction, Management, Tool.

    Herramienta de anlisis para la gestin de los residuos de construccin y demolicin

    RESUMENSe ha debatido mucho sobre la generacin de residuos y muchos pases tienen el objetivo final de disociarla del crecimiento econmico. La creciente toma de conciencia sobre las preocupaciones que genera la gestin de residuos de construccin y demolicin, llev al desarrollo de la gestin de residuos como una funcin importante de la gestin de proyectos de construccin. Un hecho que agrava este problema es que el material tiene menor costo comparado con el costo de mano de obra, por lo que se hace ms barato materiales perdidos, en lugar de invertir en la formacin en el uso ms eficiente del material. El objetivo de este trabajo es identificar las dificultades relacionadas con la aplicacin de un Plan de Gestin de Residuos Slidos de la Construccin (PGRSCC) y crear una herramienta de gestin de residuos de la construccin para la realidad brasilea , de acuerdo con la Poltica Nacional de Residuos Slidos y la Resolucin 307/431/448 del Consejo Nacional del Medio Ambiente ( CONAMA ). La metodologa utilizada para analizar los problemas fue: Revisin de trabajos nacionales e internacionales ligados al tema de la eficiencia y la dificultad de implementacin PGRSCC y la aplicacin de un cuestionario para analizar el peso de las acciones, dentro de los planes de reduccin. Los resultados dejaron evidencia de que crear una base de datos de informacin e implementar el desarrollo de mtodos para la reduccin de residuos son los principales beneficios que se obtienen mediante la aplicacin de un mtodo de planificacin y gestin de los residuos. Los incentivos econmicos bajos y la falta de supervisin fueron considerados como las principales dificultades en la implementacin. A partir de estos resultados, es que se plantea que la modificacin de la cultura, es la principal medida para fomentar la aplicacin de una metodologa para reducir la generacin de residuos.

    Palabras-clave: residuos, construccin, gestin, herramientas.

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    (PGRSCD) possui importantes benefcios como, por exem-plo: a preveno da poluio, melhor utilizao dos re-cursos, maior conformidade nos produtos e avaliao dos riscos. Com a implantao de um planejamento eficiente, os agentes responsveis conseguem prevenir os poten-ciais problemas advindos do processo da construo civil. E esse conjunto de aes significa uma reduo de custos tanto para as construtoras como para os cofres pblicos.

    WRAP (2007) estabelece o conceito de um PGRSCD como uma ferramenta que fornece uma estrutura que pode ajudar os agentes responsveis pela gerao de re-sduos a prever, registrar a quantidade, planejar e auxiliar na criao de uma gesto adequada. Tal gesto deve re-sultar em aes para reduo da quantidade de resdu-os que sero produzidos no processo da construo, de modo que o planejamento permita tanto durante o de-senvolvimento como ao final do processo de gesto, uma reviso dos resultados obtidos, a fim de retroalimentar o processo e criar um ciclo de melhoria continua, como ilustrado na Figura 1.

    causados pela indstria da construo, no qual incluem a deteriorao do uso da terra, esgotamento dos recursos naturais e as formas de poluio.

    O gerenciamento de resduos na indstria da constru-o no controlado com sucesso e h a necessidade de mais esforos para se alcanar um nvel satisfatrio de desempenho. De acordo com Tam (2008), no passado, os resduos da construo eram depositados normalmente em aterros, no entanto, esses aterros esto chegando ao seu limite, fato que implica na necessidade de mtodos para gerenciar e reduzir o desperdcio. Wang et al. (2004) e Yuan et al. (2012) afirmam que a limitao da capacida-de dos locais de disposio juntamente com a dificulda-de de desenvolver novos aterros, em especial devido ao novo contexto sobre a importncia do meio ambiente que hoje se tornou uma preocupao generalizada da opinio pblica, reforam a necessidade de criao de um plano de reduo das disposies. Determinando, assim, que haja investigaes ao alcance de todos os tpicos sobre os diferentes temas a respeito de gerenciamento de re-sduos, desde a reduo, reutilizao e reciclagem at a sua disposio final.

    No Brasil existem trabalhos importantes voltados a te-mtica de gerenciamento dos resduos como, por exem-plo, Blumenschein (2007), Rocha (2006), Schneider (2003) e Pinto (1999) com o intuito de analisar a eficincia dos programas de gesto de resduos. Pode-se observar em comum entre tais trabalhos a dificuldade de se levantar dados quantitativamente sobre essa gerao de resduos, sendo exposto pelos autores que em sua grande maioria este problema origina-se devido falta de informaes dentro do planejamento advinda de um mau gerencia-mento dos dados (ou a falta dos mesmos) desde o incio do processo de criao do plano, resultando na criao de um programa com falhas j na sua origem.

    Este trabalho tem como objetivos levantar as dificul-dades referentes implantao dos Planos de Gerencia-mento dos Resduos Slidos da Construo e Demolio (PGRSCD) no cenrio nacional e criar um escopo para uma ferramenta de gerenciamento de resduo da construo dentro da realidade brasileira de acordo com Poltica Na-cional de Resduos Slidos, Resoluo 307/431/448 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), con-tribuindo para o desenvolvimento de boas prticas na ca-deia dos agentes responsveis pela gerao de resduos.

    2 - O PLANO DE GERENCIAMENTO DOS RESDUOS

    A implementao do mtodo de um Plano de Gerencia-mento dos Resduos Slidos da Construo e Demolio

    Figura 1 - Processo do PGRSCD

    No contexto mundial e principalmente nos pases mais desenvolvidos, os PGRSCD vm ganhando popularidade e se tornando uma importante ferramenta para minimizar no s os impactos ambientais causados pela indstria da construo civil, mas tambm impactos econmicos e so-ciais. Os planos requerem a cooperao entre os agentes envolvidos no processo da construo, como clientes, cons-trutores, projetistas, engenheiros, subcontratados, colabo-radores e fornecedores (PAPARGYROPOULOU et al., 2011). Estes envolvem a cadeia de responsveis desde o incio da preparao, passando por todas as etapas, at o final para garantir a eficcia do gerenciamento dos resduos.

    No Brasil a ao efetiva em termos legais, visando mudana deste quadro foi a publicao da Resoluo n

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  • 307 do CONAMA (2002), em vigor desde janeiro de 2003. Com esta resoluo foram estabelecidas responsabilida-des para os geradores em todas as etapas de produo, atribuindo uma maior importncia nas prticas de ge-renciamento de resduos dentro dos canteiros. A Reso-luo n 307 sofreu alteraes em algumas atribuies de acordo com a Resoluo n 431 de maio de 2011 e a Resoluo n 448 de janeiro de 2012, que reforaram a necessidade e a obrigao dos PGRSCD.

    E por fim a aprovao da Lei Federal n 12.305/2010, que instituiu a Poltica Nacional de Resduos Slidos, onde o pas passou a contar com uma definio legal de mbito nacional do que so os resduos slidos urbanos. Porm, o que se prev nas resolues no a realidade que ocorre efetivamente no pas e hoje h uma grande dificuldade do governo em avanar as barreiras que difi-cultam a efetivao da execuo das polticas.

    2.1 - INFLUNCIA DAS FERRAMENTAS NOS PGRSCD

    Muitas das principais ferramentas de auxlio ao geren-

    ciamento como, por exemplo, SMARTWASTE Plan (2009) e WRAP (2007), foram criadas para auxiliar as etapas na criao dos PGRSCD de forma que facilitem o enten-dimento do usurio, permitindo que se alcance o mxi-mo de eficincia dentro do planejamento de reduo de resduos.

    Suas influncias podem ser inseridas no conceito de-senvolvido por LU e YUAN (2011) onde existem quatro componentes principais (Figura 2) dentro da cadeia de trabalho das estratgias de gerenciamento de resduos: 1) as estratgias prioritrias; 2) o ciclo de vida do proje-to, indicando os estgios que o planejamento est sen-do conduzido; 3) o ciclo de vida dos materiais, ajudando a traar e analisar os desperdcios dos materiais; 4) os espectro das abordagens, variando de tcnicas a tecno-logias complicadas ou simples dentro do contexto eco-nmico e gerencial do ciclo de aes. Todos os compo-nentes citados foram desenvolvidos baseados na sntese dos principais conceitos do gerenciamento de resduos, incluindo a gerao, reduo, reutilizao, reciclagem e disposio final.

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    Figura 2 - Etapas do PGRSCD (LU; YUAN, 2011)

    LU e YUAN (2011) desenvolveram uma pesquisa onde analisaram 250 artigos produzidos em diferentes pases e chegaram a um resultado demonstrativo de que, dos arti-gos analisados, revelou-se que os pesquisadores devotam 42,2% a estudos relacionados reduo do resduo, 23,8% gerao, 23,8% reciclagem, 6,1% disposio final e 4,1% reutilizao do material. Fica claro que a reduo o tpico mais importante dentro dos PGRSCD, refletindo que a influncia da ao de reduo a torna a principal es-tratgia dentro deste ciclo de reduo do desperdcio.

    Dentro do gerenciamento da construo existem fato-res que definem qual a influncia no aumento ou na di-minuio da produo de resduos, afetando seu poder de reuso ou reciclagem em canteiros. Segundo Kim et al. (2006), existe uma significativa possibilidade de reduzir os desperdcios e aumentar a reciclagem de acordo com sua eficincia no gerenciamento.

    No Japo o ndice de reduo do desperdcio est na casa dos 92% e isso se d devido a vrias aes pr-esta-belecidas por seus agentes como, por exemplo, durante

    GonalvES, BranDStEttErFerramenta de anlise para o gerenciamento de resduos da ...

  • a fase de planejamento os projetistas consideram a des-construo do edifcio em longo prazo e escolhem mate-riais de construo que facilite a reutilizao e a recicla-gem dos resduos gerados pelo processo de utilizao dos materiais de forma mais eficiente, eficaz e rentvel, sem-pre evitando materiais que contenham substncias peri-gosas, pois so difceis e caros de reciclar (CIB 364, 2011).

    3 - METODOLOGIA

    A pesquisa tem como intuito analisar a cadeia de RCD com suas problemticas referentes aos planos de geren-ciamento de resduos da construo e demolio (PGR-CD). Foi realizado um estudo exploratrio por meio da aplicao um questionrio baseado no trabalho de Tam (2008), sobre o peso das aes dentro do planejamen-to dos planos de reduo e enviados a uma amostra no probabilstica intencional de 50 agentes, divididos em 20 construtoras, 10 consultores/gestores ambientais, 10 empresas de reciclagem e 10 agentes do governo. O questionrio analisa as dificuldades na implantao de um PGRSCD de acordo com a viso de cada agente em sua rea de atuao, levantando quais os resduos mais comuns na construo civil, qual a disposio de todos os agentes em reduzir o desperdcio, bem como identifi-cao dos fatores mais/menos importantes na cadeia da construo.

    Os questionrios tm como objetivo levantar qual o nvel de importncia de trs cenrios ao PGRSCD: 1) pro-postas de aes e mtodos para melhorar a eficincia do programa de gesto; 2) problemas na implantao do plano de gerenciamento e 3) prticas para reduzir o des-perdcio. As respostas foram classificadas em categorias

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    Tabela 1 - Resultado do questionrio sobre os principais resduos da construo civil

    Tabela 2 - Resultado do questionrio sobre a existncia de prticas para reduo de resduos

    de acordo com cada grupo avaliando o peso de cada res-posta conforme a classificao contida no questionrio e indicando quais as maiores preocupaes referentes a cada agente no contexto nacional. Para se determinar o grau de importncia das aes foi estabelecido um peso de 1 menos importante a 5 mais importante e trans-formando-os em ndices baseado na equao:

    onde a somatria das pontuaes, A=5 sendo pontuao mxima, Q o nmero total de amostras e R o ndi-ce relativo importncia, 0 R 1.

    4 - RESULTADO DO LEVANTAMENTO DA CADEIA NACIO-NAL DE RCD

    Os resultados foram obtidos a partir de 50 questionrios enviados. Houve o retorno de 30, sendo 8 secretarias do governo, 6 consultores, 10 construtoras e 6 recicladoras. A seguir apresentada a compilao dos resultados obtidos por meio dos questionrios. Os resultados apresentados na Tabela 1 confirmaram que os resduos de classe A so a maioria na construo civil, seguido por madeira, gesso e papelo, apontados por todos os agentes. A Resoluo n 448 define que estes tipos de resduos, a partir de 2013, de-vero ser reutilizados, reciclados e ou encaminhados para aterros de preservao para uso futuro.

    Os resultados a respeito da existncia de prticas para reduo de resduos (Tabela 2) foram negativos. Os agen-tes apontaram que ainda existe uma falta de conscincia a

    respeito da existncia deste tipo de prtica no Brasil e isso resulta em uma difcil trajetria para alcanar esta meta por falta de informaes e metodologias.

    ConEXo aCaDEMIaA Revista Cientfica sobre Resduos Slidos

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    Conforme a Tabela 3 os resultados referentes boa von-tade dos agentes em implantarem um programa de redu-o de resduos mostrou que o governo (48%) e clientes (52%) esto dispostos a reduzir os resduos, resultado negativo para as construtoras (48%) e projetistas (52%).

    Tal fato pode ser explicado devido produo de proje-tos mal detalhados, falta de conhecimento de mtodos construtivos, desconhecimento do comportamento dos materiais e pela falta de comunicao entre os envolvidos nas etapas projetuais.

    Tabela 3 - Resultado do questionrio sobre a boa vontade em minimizar a gerao de resduos

    Tabela 5 - Resultado do questionrio sobre a importncia das aes no PGRSCD

    Tabela 4 - Resultado do questionrio sobre a importncia das metas na construo civil

    Sobre os fatores de importncia nas metas da constru-o civil como custo, tempo, qualidade, meio ambiente e segurana (Tabela 4), o fator custo foi o mais importante (55,6%) e o tempo (44,4%) o menos importante na cadeia da construo. Uma das construtoras explicou que custo e qualidade so requisitos e que devem ser cumpridos,

    principalmente nas atuais mudanas que o setor vem so-frendo. Mas se observa a nova tendncia a respeito do meio ambiente de deixar de ser o menos importante, pois governos, instituies financeiras e o prprio merca-do tem dado maior visibilidade a esta temtica.

    A Tabela 5 ilustra os resultados sobre a importncia das aes no PGRSCD. As aes tem finalidade de se tornar benefcios para a construo, prevenir poluio no can-teiro, melhor estocagem, organizao na obra, entre ou-tras. Monitorar e auditar o gerenciamento do programa

    de resduos e desenvolver uma estrutural organizacional para gerenciar o resduo foram as aes avaliadas como as mais importantes no planejamento, reforando assim a necessidade de ferramentas que auxiliem o gestor no planejamento e no controle.

    GonalvES, BranDStEttErFerramenta de anlise para o gerenciamento de resduos da ...

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    Tabela 6 - Resultado do questionrio sobre as dificuldades na implantao do PGRSCD

    O PGRSCD embora traga vrios benefcios para a cons-truo, enfrenta vrias dificuldades para sua implan-tao. Na pesquisa realizada, os resultados na Tabela 6 demonstram que o comportamento e a cultura na cons-truo, falta de treinamento e educao e a falta de conhecimento de mtodos efetivos de gerenciamento so as maiores dificuldades na implantao do plano.

    O baixo custo para a disposio revela ser um fator de baixa importncia, no contribuindo para a mudana de comportamento no setor da construo. O que se obser-va em outros pases a aplicao de polticas para o au-mento do valor da disposio obrigando os geradores a reduzir seus resduos, reduzindo seus custos.

    No questionrio a respeito da importncia das pr-ticas para a reduo do resduo, as aes levantadas para se reduzir os resduos na construo civil (Tabe-la 7), a educao e treinamento e a participao da

    alta administrao no gerenciamento se mostraram as mais importantes no PGRSCD. Tais resultados mostram a necessidade da participao de todos os agentes para que os planos de gesto de resduos sejam implanta-

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    dos de forma eficiente. A educao e o treinamento se mostraram os fatores de maior importncia em todas as pesquisas, entendendo que para se desenvolver uma

    estrutura organizacional de gerenciamento exige trei-namento e educao no seu planejamento, execuo e monitoramento.

    Tabela 7 - Resultado sobre a importncia das prticas para a reduo do resduo no PGRSCD

    Fica claro aps as anlises dos resultados desta primeira etapa que a gerao de resduos uma questo de gran-de importncia pelo mundo e, no Brasil, ela tem ganhado fora, com legislao prpria, investimentos tanto pbli-cos como privados e tambm devido visibilidade que as preocupaes ambientais ganharam nos ltimos anos.

    A construo civil est inserida neste contexto por ser um dos maiores geradores de resduos e consumidores dos recursos naturais, necessitando assim de uma meto-dologia efetiva que auxilia na reduo deste problema. A complexidade da implantao de um sistema de geren-ciamento de resduo grande, mas no difcil de alcanar.

    4.1 - ESCOPO DE UMA FERRAMENTA DE GERENCIA-MENTO

    Por meio da anlise dos resultados obtidos, prope-se um escopo para o desenvolvimento de uma ferramenta de gerenciamento de resduos baseados nos processos utilizados pelas ferramentas internacionais SMARTWast Plan e WRAP Plan. Os resultados ajudaram a traar metas para que esse escopo fosse uma proposta dentro do ce-nrio nacional, abrangendo as seguintes etapas:

    Preparao: Antes do incio do desenvolvimento das ati-

    vidades os agentes devem levantar todas as etapas que po-dem influenciar na gerao de resduos. Listar quais os mate-riais mais impactantes, tomar e prever aes de acordo com seu grau de impacto, sistematizando-as e desenvolvendo um plano de orientao para as demais etapas. Neste planeja-mento deve-se ter um detalhamento da concepo dentro das legislaes pertinentes, elencar os responsveis, prever aes de reduo ainda na fase de projeto e estimar essa reduo valorizando os resduos.

    Implantao na pr-construo: Buscar oportunidades para reduzir o desperdcio durante o desenvolvimento dos projetos. Projetar pensando em aes para minimizar as per-das e aumentar o uso de materiais suscetveis reutilizao/reciclagem. A equipe de projeto o principal agente para que esse objetivo seja alcanado. A ferramenta deve auxi-liar na identificao dos geradores, rastrear as destinaes e seus transportadores, treinamento dos agentes e indicar quais so os deveres de cada um no planejamento.

    Implantao na construo: Esta etapa foi indicada nos resultados como a ao mais importante dentro do PGRSCD, definidas como execuo, monitoramento e auditoria. Estas etapas so as responsveis pela efetivao de todo o plane-jamento. A execuo deve ser baseada nas prticas de se reutilizar, reciclar e recuperar.

    GonalvES, BranDStEttErFerramenta de anlise para o gerenciamento de resduos da ...

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    Tabela 8- Estgios para implantao do PGRSCD

    O reuso a reincorporao dos resduos na construo civil com o mnimo de energia embutida no processo como afirma Addis (2006), onde o reuso e ideia de uma interveno mni-ma exigida para que o material ou componente continue sen-do utilizado, ou reutilizado em outro local evitando o grande volume de entulho e a demanda de novos materiais.

    De acordo com Addis (2006) os materiais descartados no processo de produo podem ser coletados e melhorados (limpeza) a fim de reincorpor-los para serem utilizados como novos produtos. A reciclagem dentro do PGRSCD uti-lizada como materiais descartados que se tornam um novo produto. Na construo normalmente se tem a mistura de materiais reciclados com materiais virgens.

    A recuperao um conceito muito utilizado fora do Bra-sil, consiste em utilizar os resduos que no possuam possi-bilidade de reutilizao nem reciclagem para gerar energia antes de serem encaminhados para a disposio final.

    Resultados e Reviso: Final do ciclo PDCA (Plan-Do-Che-ck-Action), criao de um banco de dados e de mtodos im-plantados no PGRSCD possibilitando uma retroalimentao dos dados e mtodos obtidos com a finalidade de melhorar o processo em futuros projetos. Deve-se fiscalizar as aes previstas anteriormente, medir os resultados e compar-los com os alcanados, gerando benchmarks do processo.

    Todo o processo de gerenciamento deve ser cclico, conforme ilustrado na Tabela 8.

    A falta de conhecimentos a respeito de mtodos e in-formaes sobre o gerenciamento se d pela falta de controle por no haver uma retroalimentao nos pla-nejamentos e a falha na criao de um banco de dados sobre os resultados alcanados.

    5 - CONCLUSES

    A gerao de resduos uma questo de grande im-portncia pelo mundo, no Brasil ela tem ganhando for-a, com legislao prpria, investimentos tanto pblicos como privados e tambm devido visibilidade que as preocupaes ambientais ganharam nos ltimos anos. A construo civil est inserida neste contexto por ser um

    dos maiores geradores de resduos e consumidores dos recursos naturais, necessitando assim de uma metodo-logia efetiva que auxilia na reduo desde problema.

    A ideia de se aplicar uma metodologia cclica criar um banco de dados de informaes que auxiliem os gestores j na concepo do projeto, auxiliando duran-te todo o restante do planejamento. imprescindvel que se crie uma agenda de reunies da equipe, clien-te, planejador e a alta administrao para apresentar as orientaes do projeto do PGRSCD, bem como discutir o plano com todos os atores, identificar em todo o pro-cesso seus geradores, falhas, pontos positivos, permi-tindo a continuidade com o programa a fim de alcanar os objetivos.

    ConEXo aCaDEMIaA Revista Cientfica sobre Resduos Slidos

    Dezembro 2013 - Ano III - Volume 5

  • 5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    20GonalvES, BranDStEttErFerramenta de anlise para o gerenciamento de resduos da ...

  • artigos

    A importncia da logstica reversa de resduos eletroeletrnicos na poltica nacional de resduos

    slidos: um estudo de caso na regio nordeste

    Gesto de resduos slidos e sustentabilidade em portos: anlise e proposies para a poltica

    brasileira luz da experincia europia

    Eliminao de dqo, nitrognio (tkn, nh4+, no3) e cr (vi) em humedales construdos com

    policultivos tratando lixiviados de aterros sanitrios em escala piloto

    Como prevenir conflitos por causa dos resduos slidos: um estudo de caso no encerramento

    do lixo de rauyhuana, provncia huayllay-pasco (peru)

    Otimizao da alocao de cargas em aterros sanitrios regionais

    Implementao de um centro de compostagem como estratgia de vanguarda e inovao

    para o ensino de educao e conservao do meio ambiente.

    Avaliao do processo produtivo de uma cooperativa de materiais reciclveis no df

    estudo de caso

    Seleo de sistemas de tratamento de resduos slidos residenciais atravs de tcnicas

    multicritrio

    Caracterizao da borra oleosa de petrleo e dos materiais aps estabilizao por solidificao

  • a importncia da logstica reversa de resduos eletroeletrnicos na poltica nacional de resduos slidos: um estudo de caso na regio nordestelIMa, lu Sarmanho1; DE MaCEDo, thatiana Cristina Pereira2; FIGuEIrEDo, aline do vale3; luCEna, luciana de Figueirdo lopes4.

    25

    RESUMOA diminuio do ciclo de vida dos equipamentos entre a produo e descarte agrava os problemas ambientais na medida em que h uma maior rotatividade de artigos eletroeletrnicos, um menor interesse em reparos ou trocas e um aumento da gerao de resduos, para os quais no h uma destinao final ambiental adequada. Deste modo, a insero de canais de distribuio reversos, ou logstica reversa, destes produtos descartados torna-se essencial para que possam retorn-los ao ciclo produtivo e diminuir o impacto gerado. Visando reduzir os impactos provocados pela rpida obsolescncia dos Resduos Eletroeletrnicos (REE), a Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS), instituda pela Lei 12.305 em 2010, torna obrigatria a estruturao e implementao de sistemas de logstica reversa entre consumidores e fabricantes de produtos eletrnicos e seus componentes. Com o objetivo de realizar um diagnstico da cadeia da logstica reversa compreendendo as empresas que trabalham diretamente com esse tipo de resduo, buscou-se realizar uma anlise da situao atual de coleta, beneficiamento e descarte de REE, mais especificamente na Regio Nordeste do Brasil, e identificar a sua cadeia logstica reversa. A partir de um levantamento realizado com aplicao de um questionrio procurou-se realizar um mapeamento na regio em estudo. A partir dos resultados obtidos, possvel concluir que poucas empresas trabalham desde a coleta do material at o beneficiamento e raramente possuem contatos interestaduais, atuando muitas vezes de maneira desintegrada. Notou-se o interesse pontual de alguns empresrios j ativos no setor de coleta, recondicionamento e beneficiamento antes mesmo da sano da PNRS e que, por meio de parcerias, enviam o material eletrnico para o Sudeste do pas para que ento seja encaminhado para outros pases e assim reinserido na cadeia de produo. Desse modo, o xito da cadeia reversa depende da participao dos consumidores, das empresas recicladoras e dos fabricantes para que se desenvolva uma gesto compartilhada de REE no pas, cuja gerao tem crescido exponencialmente.

    Palavras-chave: Resduos eletroeletrnicos, logstica reversa, PNRS.

    the importance of logistic reverse in eletrical & electronics waste in the national policy solid waste: case study in northeast region

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  • lIMa, DE MaCEDo, FIGuEIrEDo, luCEna a importncia da logstica reversa deresduos eletroeletrnicos na poltica...26

    ABSTRACT The decrease of the life cycle of the equipment between the production and disposal prejudices the environmental problems since there is an increasing turnover of electronics, a lower interest in repair or replacement and an increasing generation of wastes for which there is no proper environmental disposal. Thus, the insertion of discharged products into distribution reverse channels or reverse logistic becomes essential to promote their return to the production cycle and reduce the impact made. To reduce the impacts caused by the rapid obsolescence of Electrical & Electronics Waste (EEW), the National Policy on Solid Waste (NPSW), introduced by Law 12,305 in 2010, mandates the structuring and implementation of reverse logistics systems between consumers and manufacturers of electronic products and its components. In order to make a diagnosis of the reverse logistics chain comprising businesses that work directly with this type of waste, we attempted to perform an analysis of the current status of collection, processing and disposal of REE, more specifically in the Northeast of Brazil, and identify their reverse logistics chain. From a survey with a questionnaire aimed to conduct a mapping in the study area. The achieved results show that just few enterprises processes involve the collection of material until the processing activities. They also dont have connections to each other and act in a disintegrated way. It was noted the interest off of some entrepreneurs who already operate in the collection, processing and reconditioning even before the enactment of PNRS and, through partnerships, send the electronics to the Southeast of the country to then be sent to other countries. Thus, the importance of reverse logistics depends on the participation of consumers, recycling companies and manufacturers in order to develop a shared management of REE in the country, given that its production has grown exponentially.

    Key-words: Electrical & Electronic Waste, reverse logistics, NPSW.

    la importancia de la logstica inversa de los residuos de aparatos elctricos y electrnicos en la poltica nacional de residuos slidos: un estudio de caso en la regin noreste

    RESUMENLa disminucin en el ciclo de vida de los equipamientos electrnicos entre su fabricacin y su desuso agrava los problemas ambientales, debido a que existe una mayor substitucin de estos artculos existiendo un menor inters en la reparacin o reemplazo y un aumento en la generacin de residuos para los que no hay una destinacin final adecuada para el medio ambiente. Por lo tanto, la insercin de canales de distribucin inversa o logstica inversa a estos productos de desechos, se convierte en esencial para que regresen al ciclo de produccin y disminuir el impacto generado. Para reducir los impactos causados por la rpida obsolescencia de los Residuos de Aparatos Elctricos y Electrnicos (REE), la Poltica Nacional de Residuos Slidos (PNR), fue introducida por la Ley 12.305 en 2010, obliga a la estructuracin e implementacin de sistemas de logstica inversa entre los consumidores y fabricantes de productos electrnicos y componentes. Con el objetivo de realizar un diagnstico de la cadena de logstica inversa que comprende las empresas que trabajan directamente con este tipo de residuos, se busco llevar a cabo una anlisis de la situacin actual de recogida, tratamiento y eliminacin de REE, ms concretamente, en el noreste de Brasil, e identificar su cadena logstica inversa. A partir de los datos reunidos por la aplicacin de un cuestionario, se intento realizar un reconocimiento en la rea de estudio. De los resultados obtenidos, se puede concluir que muy

  • 27

    pocas empresas trabajan desde a recoleccin de material para el tratamiento y rara vez tienen contactos interestatales, actuando de forma desintegrada. Se observ el inters de algunos de los empresarios que ya trabajaban en la recogida de muestras, procesamiento y acondicionamiento, incluso antes de la promulgacin de PNRS, a travs de asociaciones, enviando material electrnico para el sureste del pas, para exportar luego a otros pases y as reintegrado en la cadena de produccin. Por lo tanto, el xito de la cadena inversa depende de la participacin de los consumidores, las empresas de reciclaje y fabricantes con el fin de desarrollar una gestin compartida de REE en el pas, donde a produccin ha crecido de manera exponencial.

    Palabras Clave: residuos de aparatos elctricos y electrnicos, logstica inversa, PNRS.

    1. INTRODUO

    A conscientizao ecolgica quanto aos impactos ambien-tais de produtos e materiais tem provocado uma mudana no modelo de gesto empresarial atual: o investimento na melhoria da cadeia produtiva, adicionando novos valores de sustentabilidade empresarial-ambiental e adotando os canais de distribuio reversos aos seus produtos. Tem se buscado por eficincia em custos e servios, de maneira que haja uma viso holstica tanto do processo produtivo como do fornecimento ao consumidor. Isso implica em in-vestir na inovao e contnuo lanamentos de novos produ-tos, contribuindo para a reduo do ciclo de vida e gerando mais resduos em menor tempo. Dentre os inmeros res-duos produzidos pela sociedade atual, alm de domiciliar, de sade, h um tipo especfico que vem se destacando: os eletroeletrnicos (REE), que tem sua classificao con-troversa entre um bem semidurvel e descartvel, devido ao fenmeno da obsolescncia programada (BACHI, 2013).

    A obsolescncia programada ou descartabilidade pode ser definida como o encurtamento do ciclo de vida de pro-dutos ou servios, impulsionados pela cultura de inutilizar tais produtos na medida em que surgem de novas verses mais avanadas tecnologicamente, gerando consequncias negativas nos mbitos ambiental, econmico e social (SAKAI, 2009). Ambiental porque nem sempre esse produto despre-zado possui uma disposio final ambientalmente adequa-da; econmico porque os valores desses bens, quando com-parados com os produtos atuais, no despertam interesse em reparos e social porque essa troca dinmica no se torna acessvel para todo consumidor (LEITE, 2009). Com o pro-psito de evitar o envio de materiais ainda servveis para os aterros sanitrios e agregar valor ao resduo gerado, surgiu o conceito de logstica reversa e a possibilidade de reinsero desses produtos no mercado.

    A Logstica Reversa est relacionada com a garantia da

    qualidade de produo em adequao a prazos e quanti-dades, com o contnuo planejamento logstico empresarial e a preocupao com o meio ambiente no que diz respeito a gerao mnima de resduo e mximo aproveitamento do produto descartado para outros fins (LEITE, 2009).Este eixo de atuao da Logstica inclui o caminho inverso da entrega do produto e/ou servio, por meio dos canais de distribuio reversos de bens de ps-consumo nos quais uma parcela dos produtos julgados como inservveis so reinseridos no ciclo produtivo, seja pela extenso do seu uso (reuso), pelo aproveitamento apenas dos componen-tes que esto em funcionamento (remanufatura), ou pela revalorizao dos materiais descartados para outros fins (reciclagem) (SAKAI, 2009)

    A Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) realizou um estudo de Viabilidade da Logstica Reversa de Eletroeletrnicos em 2012 e pontuou que o investimento nesta rea poder trazer alm da reduo de impactos am-bientais, o aumento do nmero de empregos; maior for-malizao do setor de reciclagem; gerao de renda com a reinsero de matrias primas e remunerao de ativida-des na cadeia produtiva; a promoo da imagem do setor eletroeletrnico junto sociedade e a rejeio prticas ambientais danosas . Ela estima que 800 mil toneladas de matrias primas sejam reinseridas no mercado, ente elas alumnio, ao, cobre, plstico e vidro; haver gerao de 10 a 15 mil empregos, incluindo a fase de entrega ao reci-clador; e ser mitigada a gerao de 268 mil toneladas de Gases de Efeito Estufa ao meio ambiente (ABDI, 2012).

    O crescimento da Indstria Eletroeletrnica no Brasil est relacionado com o investimento aplicado em polticas pblicas de fomento inovao, como a Lei n 10.973 de 2004 que ressalta a importncia do alcance da autonomia, a ampliao da capacidade produtiva e o desenvolvimento tecnolgico em setores estratgicos. Prova disso a contri-buio anual do pas na produo mundial de eletroeletr-

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    nicos que em 2005 produziu 2,3% a mais de equipamentos, por exemplo (BNB,2011).

    O mercado brasileiro de eletroeletrnicos dividido em dois segmentos: o Eltrico, que possui suas inovaes rela-tivamente lentas e considerado um setor com tecnologia madura; e o Eletrnico, avaliado como um dos mais dinmi-cos setores, pelo constante desenvolvimento tecnolgico e o contnuo processo de inovao dos equipamentos, levan-do a uma rpida obsolescncia e maior gerao de resduos eletroeletrnicos (ABINEE,2012).

    Natume (2011) pontua que o alto consumo de matria-prima (na sua maioria recursos no renovveis) e energia utilizados na produo de eletroeletrnicos degradam o ambiente tanto quanto os riscos ambientais decorrentes de uma disposio final inadequada de REE. Os problemas relacionados gerao de resduos slidos desta natureza se referem no somente aos resduos produzidos anual-mente, mas tambm aos pelos efeitos nocivos sade e ao meio ambiente devido a presena de elementos e com-postos qumicos, como mercrio, chumbo, cdmio, silcio, amianto, arsnio 8, retardadores de chama bromados, s-teres difenlicos polibromados entre outros.

    O dano ao ambiente ocorre quando h a contaminao do solo por compostos e elementos qumicos que atingem os lenis freticos e, por consequncia, comprometem os usos previstos dos recursos hdricos quando h uma dispo-sio final inadequada. Incinerar os resduos ocorre a for-mao de dixidos e furanos, compostos altamente txicos que atingem a comunidade do entorno destas regies com-prometendo o ambiente (FAVERA, 2008).

    O descarte de equipamentos eletroeletrnicos geral-mente realizado indiscriminadamente agregando-o ao lixo domiciliar. Em outros casos, utiliza-se de sistemas reversos pontuais, como coletas informais que nem sempre pro-movem uma destinao final ambientalmente adequada e culminam na disposio desses bens inservveis em aterros sanitrios ou lixes (SELPIS, 2012). Mais ainda, a ausncia de leis normativas federais que motivassem a gesto integrada de REE e os fabricantes a terem a preo-cupao e/ou sensibilidade ecolgica e sustentvel quanto as cadeias produtivas e o ciclo de vida dos produtos levou a regulamentao da Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS),sancionada em 2010, a incorporar essas recomen-daes em seu arcabouo jurdico.

    Nesse contexto, o presente trabalho procura diagnosticar a cadeia logstica reversa de resduos tecnolgicos aps a vigorao da PNRS, na Regio Nordeste, bem como a sua importncia para o meio econmico, social e ambiental. A partir de dados primrios com a aplicao de um ques-tionrio entre empresas que trabalham com esse resduo

    (coleta, triagem, beneficiamento, recondicionamento e destinao) e por meio de dados secundrios fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e Sistemas Nacional de Informaes sobre Saneamento (SNIS) procura-se mapear a cadeira reversa dos resduos eletroeletrnicos, possveis conexes interestaduais entre organizaes e de parcerias firmadas entre fabricantes e empresas de reciclagem.

    2. ASPECTOS LEGAIS DA GESTO DE ELETROELETR-NICOS

    Partindo do pressuposto de que a gesto ambiental de re-sduos slidos tem como propsito a reduo e eliminao dos impactos gerados ao meio ambiente, ela pode ser im-plementada a partir da adoo de normas brasileiras como a NBR ISO 10.000 ou por meio de instrumentos legais que, alm da preservao do capital natural, objetivam o alcance de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida (DEL GROSSI, 2011).

    As discusses sobre os Resduos Slidos, de um modo geral, iniciavam h mais de 20 anos e, como instrumento poltico-democrtico, obtiveram a participao dos setores produtivo, civil e pblico, nas esferas municipais e estaduais, com o intuito de debater sobre temas como a gesto integra-da dos resduos slidos, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida, a logstica reversa e a incluso social dos catadores de materiais reciclveis (MMA, 2013). Como fru-to desse envolvimento, os Estados comearam a instituir as suas polticas de Resduos Slidos anteriormente a um mar-co legal nacional.

    O surgimento de leis que delineassem os caminhos de uma Gesto Integrada de Resduos Eletroeletrnicos (GIREE) ocorreu de forma pontual no pas, inicialmente nvel estadual, a partir de 2001 at em 2010 atingir a esfera federal com a regulamentao da Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS), influenciada pelo surgimento de legislaes ambientais cada vez mais rigorosas e pela crescente conscincia ecolgica apresentada pela socie-dade (SAKAI,2009).

    As primeiras normativas regulamentadoras de GIREE foram estabelecidas no Nordeste do pas, como o caso do Estado do Cear, em 2001, com a criao de uma Po-ltica Estadual de Resduos Slidos (PERS). No Decreto Lei n 13.103, de 24 de Janeiro de 2001, os resduos eletro-eletrnicos so classificados como resduos especiais e, portanto, os fabricantes e importadores so obrigados a desenvolver sistemas de coleta, acondicionamento, ar-mazenamento, tratamento e disposio final. Alm disso,

    lIMa, DE MaCEDo, FIGuEIrEDo, luCEna a importncia da logstica reversa deresduos eletroeletrnicos na poltica...

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    eles devem desenvolver processos de melhoramento na cadeia produtiva dos produtos favorecendo a preveno da poluio, minimizao dos resduos, efluentes e emis-ses gerados na fabricao; beneficiando a reciclagem de seus componentes.

    O Estado do Pernambuco elaborou a prpria Poltica Estadual de Resduos Slidos a partir do Decreto Lei n 23.941, de 11 de Janeiro de 2001. Nela, os REE so clas-sificados da mesma forma que a ISO 10.000, em resduos de Classe III - inerte, compreendendo: pilhas, baterias e assemelhados e componentes eletroeletrnicos. Os fa-bricantes e os importadores de pilhas, baterias e asseme-lhados so responsveis pelo recolhimento, descontami-nao e pela destinao final adequada de seus produtos.

    Em 2003, o Estado do Rio de Janeiro regulamentou a Lei n4191 que dispe sobre a Poltica Estadual de Re-sduos Slidos, porm no faz meno sobre os resdu-os eletroeletrnicos e sua gesto. O mesmo aplica-se ao Estado do Paran que, em 1999, elaborou a prpria lei estadual n 12.493.

    A Lei n 18.031, de 2009, que regulamenta a Poltica Estadual de Resduos Slidos no Estado de Minas Gerais no apresenta recomendaes acerca da gesto de REE, no entanto, apresenta a Logstica Reversa e atribui deve-res aos consumidores, titulares de servios pblicos de limpeza, fabricantes e comerciantes de produtos eletro-eletrnicos. Ainda acrescenta que o manejo desse tipo de resduo slido deve ser realizado por organizaes de catadores de materiais reciclveis.

    No mesmo ano de 2009, o Estado de So Paulo promul-gou a Lei 13.576 instituindo normas e procedimentos para a reciclagem, gerenciamento e destinao de resduo ele-troeletrnico, ento denominado de lixo tecnolgico. Foi atribuda a responsabilidade sobre a destinao final dos resduos aos fabricantes, comerciantes e importadores de equipamento eltricos e eletrnicos. A normativa estabe-lece que as formas de destinao ambientalmente ade-quada se restrinjam apenas aos processos de reciclagem e aproveitamento do produto ou componentes; prticas de reutilizao total ou parcial de produtos e componen-tes e neutralizao e disposio final apropriada dos componentes tecnolgicos equiparados a lixo qumico.

    A Resoluo CONAMA n401, publicada em 2008, contem-plou apenas pilhas e baterias e nela sendo estabelecidos os limites mximos de chumbo, cdmio e mercrio para pilhas e baterias, alm de exigir que haja um gerenciamento ambien-tal adequado desses produtos. A proposta de gesto apre-sentada inclui a coleta, reutilizao, reciclagem, tratamento e disposio final. recomendado que existam programas de conscientizao aos consumidores sobre os riscos sade

    e ao meio ambiente quanto ao descarte e preconizado que fabricantes e importadores informem aos consumidores que aps o uso de baterias chumbo-cido, nquel cdmio e xido mercrio, eles devem devolver aos revendedores ou rede de assistncia tcnica.

    Sancionada em Braslia no ano de 2010, a lei que insti-tui a Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS), Decre-to Lei n 12.305, conseguiu compilar em um documento a preocupao com a destinao adequada dos resduos eletroeletrnicos e a importncia da logstica reversa para a reduo de volume descartado em aterros sanitrios e lixes. Foi destinado um captulo para a instituio das res-ponsabilidades dos geradores e do poder pblico no qual conferida a importncia de se firmar acordos setoriais e termos de compromisso em prol de um bem maior: a ges-to adequada dos resduos.

    Os acordos setoriais podem ser firmados entre consumi-dores, revendedores, fabricantes de equipamentos eletro-eletrnicos, associaes de catadores de materiais recicl-veis e empresas de coleta-triagem-destinao adequada. A valorizao da funo dos trabalhadores que trabalham diretamente com a coleta de reciclveis um dos pontos fortes da PNRS, com a incluso social da classe aps o fe-chamento de lixes e com a gerao de emprego e renda com esses tipos de resduos slidos (NETO, 2011).

    apresentada na PNRS a obrigatoriedade pela estrutu-rao e implementao de sistemas de logstica reversa, promovendo o retorno do produto aps o uso pelo con-sumidor, de forma independente do servio pblico de limpeza urbana, ou seja, como j previsto no CONAMA 407/08, os fabricantes e comerciantes de equipamentos e componentes eletroeletrnicos, pilhas e baterias so responsabilizados pela destinao final.

    Diante do dinamismo do mercado atual que exige uma alta rotatividade no estoque, tanto para bens de ps-ven-da como bens de ps-consumo, torna-se imprescindvel que haja um planejamento integrado entre os usurios e fabricantes quanto ao ciclo de vida de produtos como os eletroeletrnicos, promovendo uma destinao adequa-da, seja atravs de empresas, ONGs, centros de recondi-cionamentos ou iniciativas individuais.

    3. A GESTO DE RESDUOS SLIDOS NO NORDESTE

    Com 53.081.950 habitantes, o Nordeste a tercei-ra maior regio do Brasil com nove estados: Maranho, Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Ele tem apresentado um cres-cimento econmico relativo desde 2004, em decorrncia da expanso do PIB, consequentemente, promovendo

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    uma melhora na qualidade de vida da regio (IBGE,2010)O desenvolvimento do Nordeste deriva do aumento do

    poder aquisitivo, expanso da classe mdia brasileira, como tambm a valorizao do salrio mnimo. Entre 2003 e 2008, apresentou o segundo maior crescimento real per capita das regies do pas, tanto para os indivduos de baixa renda quanto para os demais. Hoje, a renda per capita da regio de R$ 9.561,00 e h a estimativa de que, em 2015, alcance o valor de R$ 11.240,00 (BNB,2011).

    O aumento da qualidade de vida est intrinsecamen-te ligado com a melhoria do padro de vida da sociedade moderna. Em 2010, por exemplo, havia uma equiparao entre o nmero de habitantes e a aquisio de equipa-mentos como rdio, televiso, mquina de lavar, geladei-ra, microcomputador e celular (Tabela 1). No entanto, as consequncias dessa mudana tem influncia direta no uso de matrias-primas e na gerao de REE, requerendo uma preocupao acerca dos canais reversos desses produtos.

    Tabela 1. Nmero de habitantes e aquisio de eletrodomsticos na Regio Nordeste.

    Figura 1. Postos de Coleta de pilhas, baterias e eletroeletrnicos da Regio Nordeste de 2005 a 2011 (un).

    Fonte: (IBGE, 2010)

    Fonte: (SNIS, 2005,2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011)

    Os primeiros registros referentes s iniciativas dos Es-tados prefeituras, empresas e iniciativas individuais na gesto adequada de REE iniciou em 2002, quando o Siste-ma Nacional de Informao sobre Saneamento (SNIS) co-letou referentes aos dados de postos de coleta existentes no pas. Porm, apenas em 2005, o sistema alcanou maior

    abrangncia de resultados. At 2007, eram coletadas ape-nas informaes dos pontos de recebimento de pilhas e baterias. A partir de 2008, foi incorporado o recolhimento dos resduos eletroeletrnicos em estados como Alagoas, Bahia, Cear (Figura 1).

    lIMa, DE MaCEDo, FIGuEIrEDo, luCEna a importncia da logstica reversa deresduos eletroeletrnicos na poltica...

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    Figura 2. Resduos Coletados por Empresas do Nordeste

    Bahia e Paraba mantiveram menos de um posto de rece-bimento anualmente; j os estados de Maranho, Pernam-buco, Piau, Rio Grande do Norte e Sergipe no mantiveram uma continuidade. Entre 2005 e 2007am a participao des-contnua na coleta de REE. O Estado do Cear comeou a gesto integrada a partir de 2007. (Figura 2)

    A GIREE no Nordeste executada por empresas, Organi-zaes No-Governamentais (ONGs) e Centros de Recon-dicionamento de Computadores (CRCs). Cerca de 36% das empresas comearam a atuar no mercado aps a regula-mentao da PNRS, em 2010, havendo empresas de at mais de 10 anos trabalhando com algum tipo de coleta e

    destinao adequado de resduos slidos eletroeletrnicos. As empresas que atuam no setor so pequenas e apre-

    sentam um quadro de funcionrios reduzidos entre 2 e 12 pessoas que trabalham em segmentos diversos como triagem de componentes, tratamentos mecnicos, recon-dicionamento e a destinao a empresas recicladoras. Os resduos mais coletados por estas empresas so predo-minantemente as Placas de Circuito Impresso (Gabinetes/CPUS) e aparelhos celulares, alm de pilhas e baterias, sucatas de informtica (mouse, teclados, monitores, im-pressoras), equipamentos eletrnicos e computadores para recondicionamento (Figura 2).

    A predominncia da coleta de placas de circuito impres-so e aparelhos celulares pode indicar que estes bens pos-suem um maior valor de mercado e, consequentemente, um maior retorno financeiro, como no caso de empresas de celulares que adotam a reciclagem. Alm de diminuir a extrao de metais na fonte, j que para cada 1kg de celular possvel reciclar 540g de metal e 250 de plstico, a atividade pode fortalecer as cooperativas de catadores como oportunidade de gerao de renda (CARVALHO, 2011). Na informtica, organizaes como Dell, Itautec, IBM, HP, Positivo desenvolvem iniciativas de gesto am-biental para os seus produtos com projetos de coleta para reciclagem das peas como as placas de circuito impresso e tambm como ferramenta de incluso social com recon-dicionamento (XAVIER,2010).

    O recondicionamento tambm realizado por CRCs, pre-sentes na regio Nordeste no Estado de Recife e Bahia, cria-dos a partir do projeto Computadores para Incluso Social em 2004. Esse projeto tem o objetivo de formar centros no pas que, por meio de doaes de bens de ps-consumo eletroeletrnicos, eles conseguem testar as placas e recon-dicionar novos computadores que so doados a escolas

    pblicas. Alm da remanufatura, eles capacitam jovens de comunidades carentes com cursos tcnicos de manuteno e recondicionamento de micros.

    Os resduos so coletados pelas empresas a partir da implantao de postos de recolhimento em pontos estra-tgicos das capitais ou at mesmo na prpria sede, exem-plo da maioria das empresas. Vale ressaltar que h inicia-tivas de empresas no Estado da Paraba que, para melhor gesto e gerenciamento da coleta, dispem de mais de 15 ecopontos distribudos na rea metropolitana.

    Na Regio Nordeste, parte dos resduos destinados s empresas de coleta de REE so para recondicionamento em CRCs ou em iniciativas individuais, a exemplo do Esta-do do Piau que com parcerias firmadas com a prefeitura e empresa de carto de crdito desenvolve o projeto e os equipamentos recondicionados so utilizados em uma biblioteca comunitria. Nesses locais, alm da questo da logstica com a entrega de micros recondicionados, ainda h a preocupao em qualificar a populao para que se-jam formados profissionais capazes de desenvolver habi-lidades dessa rea no mercado de trabalho e promover a incluso digital.

    ConEXo aCaDEMIaA Revista Cientfica sobre Resduos Slidos

    Dezembro 2013 - Ano III - Volume 5

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    No obstante o trabalho dos CRCs, h ONGs como o Comit para a Democratizao da Informtica (CDI) pre-sente no Cear e na Bahia, que atuam tambm na logsti-ca reversa de equipamentos eletroeletrnicos, recolhen-do doaes de equipamentos, capacitando aprendizes na rea de Eletrnica e Programao de Computadores, par-ticipando de congressos e eventos da rea, como tambm construindo parcerias com empresas privadas e universi-dades para melhor embasamento tcnico-cientfico.

    As Universidades Federais, Estaduais e Institutos Fede-rais do Nordeste desenvolvem projetos voltados Gesto Integrada de REE no campo da pesquisa, ensino e exten-so. Entre alguns exemplos dessas iniciativas acadmicas podem ser citados a parceria firmada entre a Universi-dade Estadual do Maranho (UEMA) com o Instituto Fe-deral do Maranho (IFMA) em projetos de Gesto de REE e incluso social, a exposio na Universidade Federal da Paraba de artesanatos feito com peas de computado-res, os projetos de pesquisa e extenso da Universida-de Federal de Campina Grande em recondicionamento e incluso digital com computadores e a pesquisa so-bre a percepo ambiental dos consumidores da cidade de Mossor, no Rio Grande do Norte, sobre os REE. A maioria das universidades pblicas do Nordeste dispe de postos de recebimento de pilhas, baterias e resduos tecnolgicos de microcomputadores.

    A destinao, seja para tratamento ou disposio final em aterros, de resduos slidos de responsabilidade in-dividual, coletiva e dos poderes pblicos. Cada gerador de resduo deve ser consciente e responsvel pela des-tinao ambientalmente adequada. No Nordeste, essa preocupao ambiental tem se refletido na participao da populao em geral, como tambm das empresas que lideram a sociedade civil organizada para a coleta de REE (Figura 3).

    Contradizendo um dos cernes da PNRS, a participao de catadores e cooperativas na GIREE tem se mostrado preocupante na regio. Apenas 18% dos REE so coleta-dos por estes agentes, provavelmente devido s exign-cias de adequao da coleta para atender ao licenciamen-to para o trabalho com REE, no caso resduo perigoso, e necessidade de capacitao especfica para a realizao dessa atividade, trazidos pelas PNRS. No que tange a ca-pacitao, Neto (2011) considera como principal alterna-tiva a criao fruns de discusso municipal, regional e Estadual para organizao administrativa e operacional, sade e segurana dos cooperativados, adequao de in-fraestrutura e elaborao de projetos de financiamento, inserindo as cooperativas de catadores como atores na responsabilidade compartilhada dos resduos.

    A maioria dos atores envolvidos na cadeia reversa tra-balha de forma isolada na regio. Cerca de 30% das empre-sas identificadas no Nordeste, apesar de saberem da exis-tncia de outras organizaes que trabalhem com resduos eletroeletrnicos no prprio Estado, possuem contato ape-nas com cooperativas que comercializam e/ou possuem par-cerias com rgos pblicos e privados e 20% possuem algum tipo de parceria com outras empresas da regio em estudo. Em todos os Estados do Nordeste, os resduos coletados e beneficiados pelas empresas so encaminhados a outras empresas localizadas em So Paulo, para posterior envio a empresas estrangeiras de reciclagem de materiais eletroele-trnicos, como Blgica e Chile ( Figura 4). O Estado da Bahia aparece como intermedirio desse fluxo, recebendo mate-riais do Maranho e Alagoas, antes do encaminhamento a So Paulo, representando a nica conexo inter-regional identificada na presente pesquisa.

    Figura 3 - Participao da sociedade civil e organizada na destinao adequada de REE.

    Figura 4 - Destinos dos REE coletados no Nordeste

    lIMa, DE MaCEDo, FIGuEIrEDo, luCEna a importncia da logstica reversa deresduos eletroeletrnicos na poltica...

  • Apesar da regulamentao e publicizao da PNRS ter ocorrido a partir de 2010, o nvel de conhecimento em 2013 acerca das diretrizes, do Plano Nacional de Resduos Sli-dos e da Logstica Reversa de componentes e equipamentos eletroeletrnicos tem sido aprofundado, na maioria dos Es-tados do Nordeste.

    4 . CONCLUSO

    A gerao de resduos eletroeletrnicos vem aumentando com a inovao tecnolgica, na medida que novos produtos so lanados, tem ocorrido a substituio contnua, em um curto perodo, de aparelhos eletrnicos diversos. Embora a Regio Nordeste no seja o maior plo de descarte e coleta desses rejeitos, percebeu-se o interesse pontual de algumas empresas que j atuam no setor de coleta, recondiciona-mento e beneficiamento antes mesmo da sano da PNRS.

    O grau de percepo dos consumidores quanto a impor-tncia da destinao adequada dos resduos de todas as na-turezas esto aumentando, o que resulta em maior cobrana s empresas sobre a sua cadeia produtiva e formas susten-tveis de reuso, reciclagem e recondicionamento. Essa cons-cincia ecolgico-econmica leva tambm o poder pblico, por meio de instrumentos legais, estabelecerem padres mais rgidos de controle ambiental que no afetem a salubri-dade do meio.

    Mesmo se tratando de uma lei recentemente regulamen-tada, inciativas de manejo e gesto de REE j eram realizados antes de 2010. No entanto, hoje se faz necessrio a elabo-rao de diagnsticos que possam avaliar a efetividade da implementao da poltica, no que diz respeito ao gerencia-mento adequado de resduos especiais. No menos impor-tante, a necessidade de munir o poder pblico fiscalizador de mapeamento dos acordos setoriais firmados, dos pontos de coleta como das empresas que atuam na Logstica Rever-sa no pas so essenciais na avaliao acerca da destinao dos resduos eletroeletrnicos que crescem exponencial-mente no pas.

    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    33ConEXo aCaDEMIa

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    34lIMa, DE MaCEDo, FIGuEIrEDo, luCEna a importncia da logstica reversa deresduos eletroeletrnicos na poltica...

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    Gesto de resduos slidos e sustentabilidade em portos: anlise e proposies para a poltica brasileira luz da experincia europia

    MaGrInI, alessandra*1; JaCCouD, Cristiane*2; vEIGa, Lilian Bechara Elabras*3; Kurtz, Cristina41Engenheira Qumica (UFRJ), Mestre em Planejamento Energtico (COPPE/PPE/UFRJ), Doutora em Administrao (COPPEAD/UFRJ), Professora Associada (COPPE/PPE/UFRJ) - [email protected] 2Advogada e Engenheira Florestal, Mestre em Direito Ambiental (UNISANTOS), Doutoranda em Planejamento Ambiental (COPPE/PPE/UFRJ). - [email protected] 3Arquiteta, Mestre em Engenharia de Produo (COPPE/UFRJ), Mestre em Administrao (Johns Hopkins University USA), Doutora em Planejamento Energtico (COPPE/PPE/UFRJ), Ps-Doutoranda em Planejamento Ambiental (COPPE/PPE/UFRJ) - [email protected], Mestranda em Administrao (UFF) - [email protected]

    RESUMOO Brasil possui um setor porturio martimo constitudo de 34 portos pblicos e cerca de 120 terminais de uso privativo, distribudos em uma consta de 8,5 mil quilmetros, e que movimentam anualmente cerca de 900 milhes de toneladas de mercadorias. Por outro lado, a gesto dos resduos slidos das atividades porturias, dos navios e das cargas apresenta-se como um problema de extrema relevncia, tanto do ponto de vista das quantidades geradas como da diversidade dos resduos, o que demanda um complexo e integrado conjunto de prticas decorrentes no s de imposies legais, mas tambm de iniciativas pr ativas das Autoridades Porturias, das instituies do governo federal, bem como dos usurios, arrendatrios e concessionrios destes portos. Se por um lado, a legislao ambiental brasileira tem se tornado cada vez mais restritiva, particularmente em funo da recente publicao da Poltica Nacional de Resduos Slidos (Lei 12.305/10), por outro, expectativas de crescente atividade dos portos brasileiros tornam premente a necessidade de alinhamento com as melhores prticas de gesto ambiental visando uma efetiva e sustentvel insero internacional. Neste contexto, presente trabalho tem como objetivo analisar a poltica de resduos slidos para portos martimos no Brasil e na Europa com o intuito de propor melhores prticas de gesto ambiental, atravs de proposio de encaminhamentos e iniciativas para o setor.

    Palavras chaves: : Resdus Slidos, Portos, Gesto.

    Solid waste management and sustainability in ports: analysis and proposals for policy under the brazilian experience european

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    Dezembro 2013 - Ano III - Volume 5

  • MaGrInnI; JaCCouD; vEIGa; KurtzGesto de resduos slidos e sustentabilidade em portos: anlise e ...38

    ABSTRACT Brazils maritime port sector is composed of 34 public ports and some 120 private terminals, distributed along a coastline stretching 8,500 kilometers and handling 900 million tonnes of cargo annually. The management of the solid wastes generated by port activities, ships and cargoes is a relevant problem, both because of the quantities and diversity, requiring a complex and integrated set of practices resulting not only from legal impositions, but also from proactive initiatives by port authorities, other government entities, users, lessees and concessionaires. While Brazilian environmental legislation is becoming increasingly strict, particularly with the recent establishment of the National Solid Waste Policy (contained in Law 12,305/10), the outlook for expansion of the nations port activity makes it necessary to adopt the best environmental management practices to assure effective and sustainable international insertion. In this context, this article analyzes the solid waste management policies for maritime ports in Brazil and Europe with the purpose of proposing improved environmental management practices for the sector in the country.

    Keywords: Solid wastes, ports, management.

    Gestin de residuos slidos y sostenibilidad en puertos: anlisis y propuestas de poltica en la experiencia brasilea europea

    RESUMEN Brasil tiene un sector martimo portuario que consta de 34 puertos pblicos e aproximadamente 120 terminales privados, distribuidos en una faja costera de 8500 km, que mueven anualmente alrededor de 900 millones de toneladas de mercancas. Por otro lado, la gestin de los residuos slidos resultantes de la actividad portuaria, de los buques y de las cargas, representa una cuestin de suma importancia tanto en relacin a la cantidad como a la diversidad de los residuos generados, lo que requiere la aplicacin de un conjunto complejo e integrado de prcticas que surgen no solamente de las imposiciones legales, sino tambin de las iniciativas pro activas de las Autoridades Portuarias, las instituciones del gobierno federal, as como de los usuarios y arrendatarios de estos puertos. Si por un lado, la legislacin ambiental brasilea se ha vuelto cada vez ms restrictiva, sobre todo teniendo en cuenta la reciente publicacin de la Poltica Nacional de Residuos Slidos (Ley 12.305/10 ), por otro lado, la expectativa de crecimiento de la actividad portuaria aceleran la necesidad de un alineamiento con las mejores prcticas de gestin ambiental buscando la integracin internacional de forma sostenible y eficaz. En este contexto, el presente trabajo tiene como objetivo analizar la poltica de residuos slidos en los puertos de Brasil y Europa con el fin de mejorar la gestin del medio ambiente, mediante la proposicin de acciones e iniciativas para este sector.

    Palabras clave: Residus Slidos, Puertos, Gestin.

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    1. INTRODUO

    O setor porturio martimo brasileiro tem apresentado crescimento expressivo nos ltimos anos. Segundo dados da ANTAQ (2012), entre os anos de 1990 e 2012, a mo-vimentao total nos portos brasileiros quase triplicou, passando de 306 milhes de toneladas em 1990 para 904 milhes de toneladas em 2012. Cerca de 90% dessa movi-mentao ocorre em portos e terminais martimos.

    Nesse contexto de magnitude e crescimento do setor, a gesto ambiental tem sido preocupao constante, tanto em nvel internacional quanto nacional.

    Na Europa, destacam-se as iniciativas da European Sea Ports Organisation (ESPO) que buscam incorporar, alm de segurana e eficincia, questes relacionadas susten-tabilidade ambiental porturia. Em nvel nacional, a Agn-cia Nacional de Transporte Aquavirios (ANTAQ) publicou em 2011, sob o ttulo Porto Verde, uma compilao das questes ambientais relativas s reas porturias, onde apresenta, ainda que de maneira tmida, direcionamentos ao setor. (ANTAQ, 2011).

    No mbito da gesto ambiental porturia, um aspecto que se destaca a gesto dos resduos, sejam eles ope-racionais, de embarcao ou de carga. Embora especi-ficamente os resduos de embarcao sejam objeto de regulamentaes internacionais, diferentes pases desen-volvidos vm implementando polticas prprias atravs de regulamentaes e iniciativas pr-ativas por parte das entidades setoriais e autoridades porturias, o que se-gundo a ESPO (2009), contribuiu de maneira significativa para o aprimoramento da gesto nos ltimos anos.

    No Brasil, a implementao de uma gesto adequada frente a regulamentaes sobre o tema ainda um fator a ser aprimorado. MURTA (2012), ao analisar os portos brasileiros, constata que gerenciamento de resduos s-lidos ainda no est implantado ou consolidado, mesmo sendo tema de convenes internacionais e de polticas nacionais, como legislao de meio ambiente e de vigi-lncia sanitria.

    Segundo a Associao Nacional de Transportes Aqua-virios (ANTAQ, 2011), os resduos das embarcaes e os resduos das atividades porturias so apontados como os principais fatores causadores de impacto da atividade. Em recente iniciativa, a Secretaria de Portos da Presidn-cia da Repblica (SEP/PR), vem desenvolvendo desde o ano de 2012 o Programa de Conformidade do Gerencia-mento de Resduos Slidos e Efluentes nos Portos Marti-mos Brasileiros, no intuito de inventariar os resduos dos portos martimos e propor melhores prticas de gesto (MAGRINI et al, 2012).

    Assim, o objetivo do presente trabalho analisar a estru-tura regulatria e institucional inerente gesto de resduos slidos porturios no Brasil e contrap-la com as iniciativas legais e voluntrias da Unio Europia, no intuito de identifi-car aspectos a serem ser aprimorados.

    2. BREVE QUADRO INSTITUCIONAL RELATIVO AO SE-TOR PORTURIO NO BRASIL

    Em consequencia, principalmente, da expanso e refor-mulao do setor pblico brasileiro que comeou na dca-da de 90, o atual quadro institucional que envolve o setor porturio brasileiro formado por distintos rgos com di-ferentes nveis de atuao e desempenho.

    No que tange vinculao estrutura governamental e subordinao regulamentar, atualmente os portos brasilei-ros, sejam pblicos ou privativos, so vinculados a dois r-gos distintos. Os portos fluviais e lacustres esto vinculados ao Ministrio dos Transportes (MT), criado em 2001. J os portos martimos, passaram ingerncia da Secretaria Espe-cial de Portos (SEP/PR), desde sua criao em 2007.

    A SEP/PR rgo vinculado Presidncia da Repblica, com competncia para assessorar de forma direta o Execu-tivo na formulao de polticas e diretrizes para o desenvol-vimento e o fomento do setor, e, especialmente, promover a execuo e avaliao de medidas, programas e projetos de apoio ao desenvolvimento da infraestrutura e superestrutu-ra dos portos e terminais porturios martimos.

    Com o processo de privatizao em curso a partir da dcada de 90, iniciou-se tambm a criao de agncias reguladoras, que, em sua rea especfica disciplinam e controlam a pres-tao dos servios pblicos pelos particulares. Assim, todo o setor porturio atualmente est sob a ingerncia da Agencia Nacional de Transportes Aquavirios (ANTAQ), criada em 2001 com vinculao ao Ministrio dos Transportes e SEP/PR, e que, dentre outras funes, implementa as polticas formu-ladas para o setor, regula, supervisiona e fiscaliza os servios prestados e a explorao da infraestrutura porturia.

    No que tange especificamente s questes ambientais e de resduos slidos, existem ainda agncias reguladoras e rgos que, embora no vinculados diretamente ao quadro institucional porturio, possuem intervenincia no setor em razo da necessidade de observncia de aspectos relaciona-dos segurana sanitria e proteo ambiental. Nesse senti-do, cabe destacar a Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONA-MA), sem prejzo de outras instituies, os quais tm inse-ridos em suas competncias a elaborao de normas regula-mentares que, de forma direta ou indireta, incidem sobre o setor porturio e/ou a gesto de resduos slidos nos portos.

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  • A ANVISA, criada em 1999 e vinculada Ministrio da Sa-de, atua em diversos setores, com objetivo de resguardar a sade da populao. Na rea porturia, especificamente em relao aos resduos slidos, possui atribuies norma-tivas e fiscalizatrias. J o CONAMA, vinculado ao Ministrio do Meio Ambiente, estabelece normas regulamentares de cunho ambiental no mbito federal, que versam tambm so-bre resduos e as quais os portos esto submetidos.

    No que tange a estrutura porturia martima brasileira, esta composta principalmente por portos pblicos, deno-minados Portos Organizados e Terminais de Uso Privati-vo, operados pela iniciativa privada. Existem atualmente 34 (trinta e quatro) Portos organizados, administrados direta-mente pela Unio, por entidade delegada pela Unio (Muni-cpios, Estados ou consrcios pblicos) ou por entidade con-cessionria e cerca de 120 (cento e vinte) Terminais de Uso Privativo (TUP), administrados pelos respectivos particulares autorizatrios.

    3. A LEGISLAO APLICVEL GESTO DE RESDUOS SLIDOS EM PORTOS ORGANIZADOS NO BRASIL

    Consoante o quadro institucional apresentado, a estru-tura legal e regulatria brasileira sobre gesto de resduos slidos de portos martimos extensa e complexa, envol-vendo desde normas gerais relativas a resduos slidos, oriundas da legislao federal e da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), at normas especficas rela-cionadas diretamente gesto de resduos porturios, de embarcaes e de carga, oriundas de Convenes Interna-cionais, como a MARPOL 73/78 e de diferentes setores da Adminsitrao Pblica, como CONAMA, ANVISA e ANTAQ.

    Sob o prisma cronolgico, a gesto dos resduos slidos de portos em normas especficas anterior tratativa do tema de forma genrica.

    A primeira normativa acerca do assunto, a Resoluo CO-NAMA 05/1993, se insere no mbito da legislao ambiental e dispe sobre o gerenciamento de resduos slidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferrovirios e rodovirios. Tal resoluo atribui aos respectivos responsveis pela rea porturia a responsabilidade pelo gerenciamento dos res-pectivos resduos, desde a gerao at a disposio final. Para tanto, institui o Plano de Gerenciamento de Resdu-os Slidos (PGRS), como parte integrante do licenciamento ambiental, o qual deve apontar e descrever as aes relati-vas ao manejo de resduos slidos, no mbito dos estabe-lecimentos contemplando os aspectos referentes gerao, segregao, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposio final, bem como a pro-teo sade pblica. Alm de uma classificao especfica

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    para resduos porturios, a norma define procedimentos m-nimos para o gerenciamento.

    Na seguncia cronolgica, faz-se destaque a duas normati-vas editadas pela ANVISA: a RDC 56/2008 e a RDC 72/2009.

    A RDC ANVISA 56/2008 trata do Regulamento Tcnico de Boas Prticas Sanitrias no Gerenciamento de Resduos Sli-dos nas reas de Portos, Aeroportos, Passagens d