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O mais completo revista on line de Saneamento Básico da América Latina.

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Page 1: Revista Water DB 02

Dia da Água e fim da Crise HídricaPodemos Comemorar?

Matéria Principal

Coisas que você precisa saber para acabar com a crise (ainda) hídrica

Matéria Secundária

5 Anos em 20Matéria Curta

Água de PapelMatéria Terciária

No. 2

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Editorial

Em Março comemorou-se o Dia Mundial da Água. Claro que há mui-to a comemorar. Tivemos muitos avanços em tecnologia, gestão de pessoas e inovações. Ainda assim, o país sofre com a gestão da água, com as perdas enormes, e com grandes parcelas da população ainda sem acesso a água potável.Podemos melhorar, mas pode levar algum tempo. Dizemos isso pois vontade de mudar não falta, mas carecemos de algo que chamamos de prioridade. Não cremos que nossos governantes tenham abraçado a causa da água com o entusiasmo que ela merece. Por mais que diversos pro-gramas tentem reverter o quadro atual, faltam muitos investimentos e políticas emergenciais para reverter o problema.Nesta edição, nós trouxemos novas informa-ções e repassamos os tópicos principais para que você possa transformar suas equipes, alavancarsua empresa, reduzir suas perdas e ter um papel relevante na con-tenção da crise. Contamos com você! Boa leitura.

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Matéria Principal

Dia da Água e Fim da Crise Hídrica. Podemos comemorar?O Dia Mundial da Água já pas-sou. Concordo que a data tem sua função comemorativa, afi-nal, água é vida. Mesmo assim, de “mundial” este dia não tem nada, já que um terço da popu-lação mundial não tem acesso a água potável, de acordo com o G1. E pior: só no Brasil, mais de um terço da água tratada é per-dida, causando um prejuízo de 8 bilhões (Folha de SP).

eles considerado um absurdo. Os EUA fazem melhor e des-perdiçam cerca de 13% da água produzida. Mas não, por lá eles também não comemoram.

Ainda assim, no dia 7 de Março deste ano, Geraldo Alckmin de-clarou que a crise hídrica tinha acabado. Será?

Uma das grandes vantagens de trabalhar como sanitaristas é a certeza de que podemos, sim, acabar com a crise e fazer um bom trabalho. Outra vantagem, um tanto triste, é saber que a de-claração acima deve ser ques-tionada.

Num ranking global, podemoscolocar assim. O Brasil desperdiça 33% da água que produz. A Rússiafica pouco de-pois, com 22%. Já a China, está nos seus 22%, para

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Matéria Secundária

7 Coisas que você precisa saber para acabar com a crise (ainda) hídrica

1 Mudanças na gestão da águaOh yeah. Você precisa mudar. Tudo co-meça por você. Sim! Você, meu caro. Se você é líder de alguma grande organização de sanea-mento, ou gerencia grupos liga-dos a empresa de saneamen-to, você é o responsável. Tudo converge na liderança. Logo, para que suas perdas caiam, é

vital que você faça das tripas, coração, para que sua gestão mude.

A primeira dica é a medição. Qual é sua perda real? Ela é exemplo positivo, ou negativo? Se é ne-gativo, como pode virar posi-tivo? Quais níveis de operação podem mudar? Lembre-se: seja a mudança que você quer para o mundo. E pense globalmente, mas aja localmente.

2 Uso racional pela sociedadeQual o impacto de suas cam-panhas de conscientização? Como seu consumidor por con-sumir menos e desperdiçar me-nos?Uma pesquisa recente revelou que as pessoas acham a água barata. Não que ela seja, mas ninguém morre de fome por pa-gar a conta de água. Então, o brasileiro tem o hábito de não economizar. E pior: ele desperdiça consciente, sem se doer.

3 Investimentos em infraestru-turaEm plena crise política, isso cer-

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tamente não deve ser difícil de entender. O Brasil (e principal-mente São Paulo) sofrem com tubulações com mais de 50 anos. Quando da construção destas tubulações o problema de abastecimento certamente foi resolvido, mas não se pen-sou no desgaste dos materiais. E hoje, com tanta corrupção em jogo, novos investimentos deixaram de ser prioridade.

4 Novos contratos com a in-dústriaSegundo o CEO da Levi’s, produ-tora mundial de jeans, você pre-cisa de 100 litros de água para produzir uma calça. É bastante água. E vale lembrar que a em-presa reduziu, e muito, o con-sumo tradicional tornando-se referência no setor. Ainda as-sim, vale lembrar que a indús-tria é o maior consumidor de água no pais. O problema é que os contratos com a indústria só garantem descontos a par-tir de imensas quantidades de água consumida. Deste modo, o industrial se vê forçado a au-mentar o consumido (leia-se “desperdiçar mais”) para pagar

menos. O resultado a gente já conhece.

5 Despoluição dos riosCerta vez, num momento de grande lucidez, o cantor Lobão defendeu projetos de revitali-zação do rio Tietê. À época, ele imaginou o quão bom seria se o Tietê fosse como o Sena, reple-to de barquinhos para apaixona-dos e turistas cruzarem a cidade em águas límpidas.

A devastação das matas ciliares tem sido tão intenso e irrefreável que os filtros naturais já não se-guram a sujeira, situação ainda mais agravada pela erosão.

6 Preservação dos mananciaisO nascimento de um rio não é somente bonito – é também a raiz do nosso abastecimento. Mas com o avanço da agricultu-ra e o uso de agrotóxicos cada vez mais potentes transforma nossas nascentes em lixões. Sem uma mudança deste hábi-to, declaração nenhuma sobre o fim da crise é válida.

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7 A arte de plantar árvoresPlantar árvores é uma medida 6 vezes mais barata do que au-mentar a produção de água. Isto posto, vale dizer que as árvo-res atuam como filtros naturais e contribuem para que o ciclo da água e do carbono seja vivo e intenso – garantindo que to-dos tenham uma fonte suficien-te de água de qualidade. Mas o avanço das cidades, da agricul-tura e da má destinação do lixo estão ceifando as árvores. Há pouco a ser feito.

Pra o PlanSab (Plano Nacional

Matéria Curta

5 ANOS EM 20

de Saneamento Básico), a meta para universalização dos ser-viços de água é 2033, ao custo de R$304 bilhões. Com os valo-res investidos de 2002 a 2012, no entanto, essa meta só será atingida em 2054. E com o va-lor de hoje, a previsão fica ainda pior.Para agravar, em 2014 o Brasil perdeu 36,7% da água que dis-tribuiu. Em 1995, a porcentagem era de 42%. Como explicar uma diferença de apenas 5% em 20 anos? Vale lembrar que o mun-dialmente tolerável é 20%. No Japão, valores superiores a 10% já são um problema.

42%Esta foi a percentagem em 1995

20%Mundialmente tolerável

10%No Japão valores acima destepercentual já são um problema

36.7%2014 o Brasil perdeu essepercentual em água distribuída

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ÁGUA DE PAPEL

Em 1956, Juscelino Kubistchek criou o Plano de Metas, mais conhecido como “50 anos em 5”. Ele deixou claro que o objeti-vo era acelerar o crescimentodo Brasil e cravar novos recor-des em cinco anos. E ele fez um bom trabalho. No entanto, pare-ce que na questão água, em 20 anos avançamos meros cinco, provando que a promessa go-vernamental na questão da água não passam de ideias no papel.

Em 1992, a ONU estabeleceu

Matéria Terciária

o dia 22 de março como o Dia Mundial da Água. Para discutir e estabelecer o tema, foram cria-dos 10 Mandamentos da água. Este documento é chamado de Constituição da Água. E pelo nome, já sabemos que ela não passa de ideias no papel

Art. 1º A água faz parte do pa-trimônio do planeta.

Sim. A água é um recurso natu-ral muito abundante. Infelizmen-te, apenas uma pequena porção está disponível. E por mais que todos tenhamos direito a ela, ainda assim são poucos os que podem usufruir de seu estado cristalino e potável.

Art. 2º A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essen-cial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vege-tação, a cultura ou a agricultura.

“Conceber” é uma palavra ex-celente para se aplicar ao texto acima. E é justamente a desin-tegração da concepção do esta-

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do natural da água que tem feito tão mal ao nosso planeta.

Art. 3º Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados.

Um fragmento de lucidez, aqui.

Art. 4º O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos.

A dependência do futuro con-dicionada a este equilíbrio é, sem dúvida, uma grande verda-de, mas justamente o ponto de maior fragilidade do delicado ci-clo da água.

Art. 5º A água não é somente uma herança dos nossos prede-cessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos suces-sores.

Outro fragmento de lucidez. Os cuidados, ou descuidados de nosso presente vão deixar uma herança amarga às próximas ge-rações. Este empréstimo, como

todo empréstimo, será cobrado com juros.

Art. 6º A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se sa-ber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qual-quer região do mundo.

Esta frase, na nossa opinião, tem um defeito grave: ela sugere um valor econômico à agua. O va-lor econômico faz da água um produto, um bem de consumo, que como tal, pode ser desper-diçado, manipulado e destruí-do. Quem sabe se o valor fosse considerado vital, a importância seria maior...

Art. 7º A água não deve ser des-perdiçada, nem poluída, nem en-venenada.

Art. 8º A utilização da água im-plica respeito à lei.Lei frágil. E como toda lei, facil-mente distorcida, e quebrada.

Art. 9º A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperati-

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vos de sua proteção e as neces-sidades de ordem econômica, sanitária e social.

Podemos resumir esta sen-tença em consumo sustentável. A sustentabilidade do consumo da água é um sonho vivido des-de as civilizações mais primiti-vas da Terra. Apenas talvez sua ampla oferta (ou a impressão de vasta oferta) nos faz pensar que é infinita.

Art. 10º O planejamento da ges-tão da água deve levar em con-ta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

Falar em democracia da água é bastante promissor e saudá-vel. Se pudéssemos distribuir a água de forma igualitária, mas de modo que cada um recebes-se o que de fato precisasse, e não apenas o consumo mínimo, certamente teríamos um uso muito mais inteligente do líqui-do. Mas como a gestão da água está condicionada ao Estado e ainda possui valor econômico

poderoso, este planejamento continuará distante e ralo.

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