revista vitamina #1
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A P R E S E N T A
O que seria a criatividade
senão um cavalo sem cela?
Uma imagem fotográfica
indefinida com tempo errado
de revelação?
Haveria um tempo certo?
M i s t u r a
P e n s a m e n t o
D i s s o n  n c i a
A ç ã o .
ME
S
T
Iç
A
Nesses estados, nesses esforços
constantes, a experiência
muitas vezes indescritível se
transforma
na mais valia do jogo.
Desvela-se numa realidade
apartada do nosso campo de ação
que não vemos, a princípio,
nenhuma saída cabível para ela
afora pendurá-la na parede,
para em seguida despencarmos
numa admiração obtusa.
Entre os eternos estados
de emanência, os rompantes
do indivíduo/coletivo e os
trânsitos territoriais, é
possível perceber um ponto
de irradiação singular,
a criação. Trata-se de
uma misteriosa brecha
que demarca uma infinita
cartografia de semânticas
e afirmativas ameaçadoras.
E , l o g o a p ó s , n o s
r e s s e n t i m o s .
R E S P I R O I
FA
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IN
FA
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T
C R I A T I V I D A D E
N Ã O
I N S P I R A T I V A
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IRO
III
R E S P I R O I I
R E F L E X Õ E S
S O B R E
U P C Y C L I N G
I N D U S T R I A L
B R E C H A
D E S O B E D I Ê N C I A C U L T U R A L
Aquele que se atreva a
escrever, ou falar sobre
criatividade e sua economia,
deve antes investigar a arte e seus
motivos.
A arte rupestre nos prova que a
habilidade humana em se expressar
artisticamente data de incríveis
40 mil anos. O Nazareno, fonte de
inspiração para algumas expressões
artísticas, tem 2 mil anos de idade
e ainda pensamos que arte é coisa
recente, da Renascença quiçá.
Picasso, ao entrar em contato
pela primeira vez com os desenhos
milenares das cavernas europeias
exclamou: “Não aprendemos nada em
todos esses anos!”. Ele estava certo!
A qualidade figurativa daqueles
desenhos é igual
à de hoje e até melhor em certos
casos. Profundidade, sobreposição,
movimento, forma e contexto são
emocionantes. Algo que permaneça
íntegro por tanto tempo deve ser
considerado em qualquer
estudo sobre criação.
se hoje temos
dificuldade em precificar
o valor criativo, é
porque deixamos de lado
a essência da criação,
abandonamos a incerteza
do sentir, para valorar a
certeza do saber, e assim
construímos a indústria
e o consumo explícito,
montado num sistema
financeiro que especula
e impõe verdades
numéricas incabíveis na
arte e na cultura
de um povo em seu tempo.
De todas as conclusões, a que mais
me chama a atenção é: a arte
rupestre não está relacionada à mera
documentação do cotidiano pré-
histórico, e sim, às manifestações
da alma em uma espécie de transe.
Essa certeza se dá pelo fato de os
desenhos terem sido executados nas
profundezas de cavernas de difícil
acesso, no escuro, situação bem
diferente do que hoje seria uma
iluminada galeria para a contemplação
artística. Alguns artistas pré-
históricos representavam um universo
imaginário – com entidades espirituais
e outros animais –, sem relação
direta com sua dieta ou forma de vida
cotidiana. Quando em espaços maiores,
os desenhos serviam também para
experiências coletivas,
como pano de fundo, para contar
histórias de uma geração para outra,
com música e figurino, assim como
faz o teatro contemporâneo.
Arte é, por fim, e para
começo de conversa,
IMAGINAÇÃO, ou seja
imagem em ação na mente,
nas mãos, no corpo e na
voz do ser humano. Esse
imaginário, fundamental
para a formação de uma
sociedade organizada,
nasce muito antes de
qualquer espécie ou
tipo de economia, muito
antes de qualquer forma
ou métrica capaz de dar
concretude a valores.
O recente documentário da BBC sobre a influencia da arte nos dias de hoje explora essas pinturas e faz descobertas surpreendente.
de
como as “coisas”
funcionam, a arte nos contempla
com a visão de como as “pessoas”
são. Numa sociedade onde ambas parecem
bem resolvidas, por que então ainda tateamos a
superfície de uma possível harmonia? Parte da resposta
está obviamente no sucesso do modelo econômico vigente.
A moeda é sem sombra de dúvida uma ferramenta eficiente.
É fantástico imaginar uma solução igual para todas as
culturas do mundo. Realmente parece que tudo fica mais
fácil quando a vida se apoia em números, que podem ser
convertidos e valorados sobre praticamente qualquer
civilização. A solução econômica se apropria do
quantitativo da matéria, único elemento
realmente palpável.
Mas
calma lá, caro
autor, nem tanto ao céu nem tanto
ao inferno. A razão também faz parte da
cultura humana, não há nada de abominável nela.
Nosso anseio por respostas racionais nos trouxe
até aqui, nos diferencia de outros animais. O doutor
Einstein já dizia que o mistério é a essência de toda
arte e ciência. Ele foi um dos poucos cientistas que nunca
brigaram com o espírito imagético e, por isso, talvez tenha
despertado tantos avanços. Trago a ciência neste momento,
pois é dela que nasce a matemática financeira e a
economia que hoje nos trazem mais dúvidas
do que respostas. Separar a arte da ciência
é desperdiçar o precioso tempo de uma
geração. Enquanto a ciência nos
entrega a razão
Na agricultura, na indústria, no mercado
imobiliário, calculam-se “bens” pela
energia (tempo + matéria) despendida na
manufatura ou aquisição daquele conforto, seja
ele natural, sintético ou artificial. Para se chegar a
essa precisão e consenso mundial, a ciência que explica
tudo precisou ser reducionista em essência. É comum ver
economistas, ditos da ciência humana, deixarem de lado o fator
intelectual e forjarem a realidade de que precisam, para darem sentido
também aos números. Por meio de contas de chegada ou engenharia reversa.
Na agricultura, na indústria, no mercado imobiliário, calculam-se “bens”
pela energia (tempo + matéria) despendida na manufatura ou aquisição
daquele conforto, seja ele natural, sintético ou artificial. Para
se chegar a essa precisão e consenso mundial, a ciência que
explica tudo precisou ser reducionista em essência. É comum
ver economistas, ditos da ciência humana, deixarem de
lado o fator intelectual e forjarem a realidade de
que precisam, para darem sentido também aos
números. Por meio de contas de chegada ou
engenharia reversa.
Fica claro que a economia,
com base na moeda,
apesar de funcional, reduz
nossa vida a uma única
manifestação de troca, que se
apresenta medíocre diante das
infinitas variedades
de expressões gestuais e
sentimentais,pelas quais o ser
humano pratica sua existência.
Quando a coisa fica complicada,
a economia simplesmente emprega
o termo salva-vidas: “fatores
externos” para não deixar feio o
balanço final daquela planilha.
Não generalizando, economistas
são contratados para dar sentido
aos números de um cliente,
que geralmente é uma empresa
ou indústria exploradora de
recursos humanos e naturais.
Por exemplo, o litro do petróleo
é calculado pelo número
de pessoas que substitui
na produção ou colheita.
Graças à tecnologia, um litro
de petróleo numa máquina
de colher grãos equivale a
impressionantes 100 pares de
mãos na lavoura. Mas nenhum
economista, fazendeiro ou
supermercadista leva em
conta o custo de famílias
desempregadas. Para eles isso
é uma variável externa. Variável
esta que tem custo muito alto
para a sociedade como um todo.
Tanto que, hoje, a maior carência
do ser humano não é de produtos ou
life st yles, mas, sim, de afeto.
Mas o que é a economia criativa? O termo nasce nos
anos 1990 batizado então de economia da cultura.
Foi nesse período recente que as pessoas, mais
uma vez, mudaram seu sistema de crenças quanto
ao consumo e às relações familiares. Nas décadas
anteriores, a capacidade da indústria evoluiu
tanto que logo sua capacidade de oferta superou a
capacidade de escolha, ou até mesmo a capacidade
de conquista. No final do século XX, ficou
claro que as possibilidades eram impossíveis. A
qualidade de vida que estava no carro, na máquina
de lavar, no emprego estável, no casamento e na
casa própria já não acontecia de forma sensata.
Era preciso cada vez mais, e a insatisfação se
tornou status quo, de uma geração as(i)solada por
querências manipuladas pelo marketing.
O carro tem de ser um jato; a casa não é para
morar e ser feliz, é para vender; o casamento não
é por amor, torna-se uma sociedade planejada;
e o reconhecimento pessoal só acontece quando se
ganha um Oscar – como se ele representasse
os milhares de filmes produzidos mas que não
chegam à sala de exibição. É nesse cenário
de natureza manipulada que a arte e a cultura
voltam para resgatar nossos valores. Elas nos
mostram que a qualidade de vida poderia muito
bem estar em uma casa no campo, nas notas
descompromissadas de um instrumento ou num vídeo
dos primeiros passos do seu filho.
Sentir é o valor. O preço é uma
doença que precisa ser tratada.
Essa visão ficou incubada por
vinte anos, até os dias de hoje.
Isso porque a tecnologia ainda
não era o suficiente para dar forma
financeira è expressão cultural.
Foi somente com o advento da
digitalização dos objetos culturais
que a economia criativa começou
a fazer algum sentido na selva
monetária. Começando pela música,
a distribuição e a visibilidade
se tornam tangíveis pelo mundo
sem a necessidade de canais
dominados pelos barões da mídia.
A ruptura foi tamanha que
afetou até mesmo a capacidade
de produção. Hoje, vivemos num
fenômeno jamais visto.
A produção criativa foi parar
nas mãos do mais jovem,
Essa nova economia se baseia no intangível, naquilo que oferece infinitas variações e contextos.
O reconhecimento e a
satisfação poderiam,
sim, vir como fruto do
trabalho ordinário,
e não somente do
extraordinário
como diziam. Valores
novos, preços antigos
Oscar Wilde já
questionava:
“Para onde vai esta
sociedade que sabe
o preço de tudo mas não
sabe o valor de nada?”.
e distribuição da música,
e de grande parte dos recursos
das práticas criativas, já não
dependem da experiência do
mais velho e suas indústrias.
A prática incansável de games
e programação da nova
linguagem digital trouxe o
amadurecimento precoce do
profissional. A promissora
economia criativa traz conforto
e significado para a rebeldia
desses talentos.
Estamos falando de design,
publicidade, moda, artesanato,
entretenimento, software e tantos
mais, numa lista que não para de
crescer de modo sustentável. Essa
capacidade se deve principalmente
à natureza bipolar da economia
criativa. Ela é ao mesmo tempo
uma forma de produção de bens
industriais – como design,
engenharia e arquitetura – e também
uma forma de expressão cultural com
serviços, entretenimento e ações
sociais. Quando uma faceta está em
baixa, a outra vem para socorrer, e
juntas erguem o corpo inteiro.
as duas últimas décadas,
lutamos para regular a criação
artística, desenvolvemos novos
modelos de negócio e, aos poucos,
vamos aceitando a instabilidade da
arte como um mal necessário para
os negócios. A economia criativa
provou na crise financeira
de 2008. De todas as economias,
a criativa foi a única que não
encolheu e, caladinha, nos salvou
da maior crise de mercado de
todos os tempos. No fundo do
poço, ninguém deixou de consumir
cultura, produtos e serviços
relacionados.
Projetos são o transporte que ideias
inovadoras utilizam para se tornarem
realidade.
Será
com base em
projetos públicos e
privados, grandes e pequenos,
que moldaremos essa economia e a
faremos decolar! Por ter inicio, meio
e fim predeterminados, um projeto não
poderá ser tratado de forma completamente
isolada. Para assegurar legados, precisamos
de uma combinação recorrente. Ao estimularmos
projetos, devemos construir uma plataforma
nacional de políticas públicas que permita
a cultura brasileira no gerúndio. Algo
que sustente sua continuidade com a
transferência de tecnologias e de
processos criativos. Só assim
projetos serão traduzidos em
diversidade e transformação
cultural.
* ESSE CONTEÚDO FOI EXTRAÍDO DO ARTIGO PÚBLICO LANÇADO EM 2011 PELO ARTICULADOR FABRÍCIO DACOSTA.
A economia que irá revolucionar a sociedade e as formas como nos relacionamos com a tecnologia, com a natureza e com o próximo.
Sem ainda saber, a economia
criativa tem como método: envolver
para desenvolver. A obsessão humana
pelo desenvolvimento deve acabar
em breve. Aquilo que desenvolve se
distancia e se isola no universo.
É preciso chamar todos de volta,
uma espécie de recall cultural. Ao
rever os fundamentos da criação,
nos envolveremos em um “poliverso”
de projetos que não focam a
autoria, e sim a interpretação;
projetos que deixam transparente o
processo criativo e se alimentam do
conhecimento em prática, projetos
que erram antes de acertar!
Sonho meu... pode ser. Mas o que
seria do “alto” se não existisse o
“baixo”? Simplesmente não seria
reconhecido como tal. Sonhos são
contraponto para a realidade.
Aquele que não sonha não enxerga
o que é real. Não há limites para
sonhar, e melhor: sonhar não custa
nada!
C R I A T I V O S
D I S S O N A N T E S
P O R
z a n k
B O U T I Q U E
H O T E L
COMPOR UMA ESTRUTURA VISUAL
DE IMAGENS E FRAGMENTOS DE
TEXTOS CORRELATOS, EXTRAÍDOS
DA PLATAFORMA DO CRIATIVOS
DISSONANTES.
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DEVE-SE PENSAR A EXISTêNCIA DE
qUASE-ObjETOS E qUASE-SUjEITOS
EM VEz DE PENSAR EM UMA PURA
LIbERDADE DA EXISTêNCIA hUMANA
E EM ObjETOS PRáTICOS-INERTES.
NãO EXISTE NATUREzA DE UM LADO E
SOCIEDADE DE OUTRO, AS DUAS NãO
CONSTITUEM PóLOS DISTINTOS. OS
ARTEFATOS PARTICIPAM NOS COLETIVOS
PENSANTES: DA CANETA AO AEROPORTO,
DOS ALFAbETOS à TELEVISãO, DOS
COMPUTADORES AOS SINAIS DE
TRâNSITO. É PRECISO PERCEbER
AS GRANDES MáqUINAS hÍbRIDAS
CONSTITUÍDAS DE PEDRAS E hUMANOS,
TINTA E PAPEL, PALAVRAS E ESTRADAS
DE FERRO, REDES TELEFôNICAS E
COMPUTADORES
1
2
Música para cogumelos - J O H N C A G E // Tradução THAÍS MEDEIROS
SE VOCê NãO TEM O INSTRUMENTO DE
PERCUSSãO REqUISITADO, VOCê PODE
SUbSTITUÍ-LO POR qUALqUER COISA
2
AMbOS, hOMENS E VAMPyROTEUThES,
ESTAMOS ENGAjADOS CONTRA
O ESqUECIMENTO, ESSA TENDêNCIA
FUNDAMENTAL DA NATUREzA. AMbOS
ARMAzENAMOS E TRANSMITIMOS
INFORMAçõES ADqUIRIDAS. AMbOS
SOMOS SERES hISTóRICOS. EMbORA
ESTEjAMOS AMbOS ENGAjADOS NA
MEMóRIA, NãO O SOMOS NO MESMO
TIPO DE MEMóRIA, NEM UTILIzAMOS
OS MESMOS MÉTODOS PARA ARMAzENAR
DADOS NELA. ESTA DIFERENçA
É DECISIVA.
3
OS TEXTOS COMPLETOS CITADOS AQUI
PODEM SER LIDOS EM CRIATIVOSDISSONANTES.COM/bLOG
PLATAFORMA DE CONTEÚDOS DO PROJETO CRIATIVOS DISSONANTES.
3 Vampyro
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4 PARÁGRAFOS S
OBRE A
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ONCEITUAL -
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Lewit
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AS IDEIAS NãO VêM NECESSARIAMENTE
EM UMA SEqUêNCIA LóGICA. PODEM
PARTIR EM DIREçõES INESPERADAS,
MAS UMA IDEIA DEVE NECESSARIAMENTE
ESTAR COMPLETA NA CAbEçA ANTES
qUE A PRóXIMA SE FORME.
4
Parto do princípio que todo processo criativo,
nas artes ou na moda, é sempre um processo de troca.
As ideias e as imagens se configuram misturando
memórias , referências, pesquisas e desejos.
Sem sequência lógica, abrindo e fechando
em fade in e fade out, em qualquer lugar da tela
do nosso corpo, alma ou pensamento. Ora as imagens
são palavras, ora as palavras são imagens.
Parto do princípio que todo processo criativo,
nas artes ou na moda, é sempre um processo de troca.
As ideias e as imagens se configuram misturando
memórias , referências, pesquisas e desejos.
Sem sequência lógica, abrindo e fechando
em fade in e fade out, em qualquer lugar da tela
do nosso corpo, alma ou pensamento. Ora as imagens
são palavras, ora as palavras são imagens.
“ M ay b e f a s h i o n a n d c i n e m a h a d s o m e t h i n g i n c o m m o n ” W i M W e n d e r s
Quand o me refiro
a tro cas ou Às tro cas,
me refiro a uma constante
alimentação e oxigenação
d os valores estéticos e morais.
Um pouco de subversão
é s e m p r e s au dáv e l !
Sob o meu ponto de vista, moda,
arte e literatura podem e devem
borrar as suas fronteiras.
Quanto a mim, no meio da minha
trajetória, tive a felicidade
de encontrar Karlla Girot to,
que ocupa aqui uma outra página
e a quem dedico estas viagens!
COMO UM(A) PIPA CUJA RABIOLA
RABISCA O CÉU, OS INSIGHTS
DEVEM SER CONDUZIDOS PELO
FIO QUE O LIGA À TERRA.
O VENTO QUE É O FATOR
DA NATUREZA, IMPRESCINDÍVEL
E IMPREVISÍVEL, DEVE SER
CURTIDO EM TODOS
OS SEUS SABORES, CHEIROS
E TEMPERATURAS.
MAS É PRECISO FICAR ATENTO...
SENÃO O VENTO LEVA.. . !
Esta estratégia é comprovada
nos mais diversos estilistas,
artistas e cineatas: Wim Wenders
quando fala de Yohji Yamamoto 1
, nos trabalhos de Ricardo Tisci
para Givenchy, em Hélio Oiticica,
Jorge Luis Borges, Haruki
Murakami,
Kazuo Ohno, Waly Salomão,
Vanessa Beecroft,
entre tantos que gerariam
assuntos suficienteS
para teses de livre docência.
1 D o cumentario Identidade de nós mesmos,
WiM Wenders, ano 1989.
D E P E N D E N D O D A
N O S S A H I S T Ó R I A O U
C U LT U R A , O P E R A Ç Õ E S
C R I AT I VA S A C O N T E C E M
M A G R I T I A N A M E N T E O U E M
U M E S TA L O D E H A I C A I .
N O S S O C O N T E X T O C U LT U R A L
D E T E R M I N A E S T E S M É T O D O S .
É S A U D ÁV E L Q U E M E S M O
E S T E S M É T O D O S C R I AT I V O S
S E J A M R E V I S A D O S
C O N S TA N T E M E N T E PA R A Q U E
N Ã O C A I A M E M U M A Z O N A
D E C O N F O R T O , C O N H E C I D A
E N T R E O S A R T I S TA S C O M O O
A PAV O R A N T E L I M B O C R I AT I V O .
O u t r a p a r t e f u n d a m e n t a l d e t o d o s o s p r o c e s s o s d e
c r i a ç ã o é e s t a r a t e n t o a o e n t o r n o . J á d i r i a L a c r o i x :
a s r u a s s ã o p e r i g o s a m e n t e c r i a t i v a s ! ! !
C R I A T I V O S
D I S S O N A N T E S
P O R
T E A T R O
C A S T R O
A L V E S
C R I A T I V O S
D I S S O N A N T E S
P O R
A P 3 0 3
“ I N S P I R A ç Ã O é
B á S I C O , C O m P O S T O
D E 1 0 0 % A C R í L I C O
D E q U A L I D A D E
S U P E R I O R . ”CAMPANhA ASLAN TRENDS
N ã O
A primeira peça produzida a
partir de toda a conceituação do
Generator (software desenvolvido em
2008/2009 de deformação aleatória de
modelagens) me apresentou um
cenário muito novo e único; um fluxo
criativo extremamente fluido e veloz,
a não-necessidade de conhecimentos
aprofundados em modelagem para se
produzir uma roupa, uma reflexão
que busca caminhos opostos aos
tradicionais na cadeia produtiva da
moda, e a possibilidade de tornar
úteis e facilitadores ‘objetos’ que
muita vezes tememos e evitamos;
o erro e o acaso. Temas de já alguns
estudos e publicações, o que me
encanta no erro e no acaso é menos
o caminho que encontrei para meu
próprio processo criativo, mas mais
o potencial que a proposta tem para
a educação em áreas criativas
e em formas de abordar a “ideia”de
maneira leve e desprovida de receios
e hesitações.
improvável imagem dos
profissionais nas áreas criativas
(ou de outras áreas, como
exatas, biologicas, etc, ) sendo
frequentemente preenchidos por
completo pela inspiração, com soluções
inimagináveis surgindo como mágica
para desenhar todos os paradigmas
profissionais e criativos não é rara
no imaginário do observador, mas um
evento de escassa aparição para quem
a poderia exercê-la. A criatividade,
no entanto, raramente é a inspiração
ocasional. O acaso, porém, bem pode
funcionar como motor criativo quando
utilizado de maneira organizada e
visto como trabalho quase que braçal,
de tentativas e erros, práticas e
descobertas. De forma quase hermética,
porém descrita de forma muito
bem humorada e interessante, esse
processo foi explicado e recebeu
regras pelo movimento conceitualista
em meados do século XX. Desde então
uma série de criadores, cientes ou não
desta delimitação por artistas como
Sol LeWitt (e seu divertido “Sentences
on Conceptual Art”), se valem do
erro e da sorte, associados a uma
organização processual, para alcançar
um fluxo criativo único.
A proposta do generator para o último
workshop integrante do Criativos
Dissonantes, durante os dias 6 e 7
de dezembro de 2012, partiu dessa
possibilidade, de acreditar que a
criatividade não é exclusiva de
quem recebe o dom, quase que divino
de alguma forma, de materializar
inspirações. Criar, na maior parte
das vezes, é resultado de um
processo prático e exaustivo de se
extrair o máximo (frequentemente
depois reduzido ao melhor mínimo)
de uma matéria ou ideia. E como
expectativa para os dois dias de
trabalho, conseguir compartilhar
com o grupo o pensar na criatividade
como não exclusiva das áreas que
nomalmente tomamos como criativas e a
plurificação do impulso criativo pelo
RECONhECIMENTO DO ERRO/ACASO COMO POSSIbILIDADE
DE GERAçãO DE EVOLUçõES ESTÉTICAS
E PROGRESSO PROCESSUAL.
er a dissonância como ponto
central de um projeto de processos
criativos é reconhecer a pluralidade,
transversalidade e amplitude do
que chamamos de ‘criação’, ‘design’
e ‘arte’, e entender a ausência de
limites claros e definidos entre estes
campos. É compreender o valor da
crescente transdisciplinaridade e da
flexibilização de conceitos acerca do
que, durante tanto tempo, foi tentado
conter em espaços muito bem definidos
com preceitos e leis definidoras.
Pensando sobre esta dissonância,
chegamos a algumas outras palavras
que devem levantar ainda outras
reflexões e exercícios futuros para
este grupo, que de 3 ou 4 ou 5,
conseguiu alcançar o Brasil inteiro,
sem limites de contenção.
de vestido, blusa;
de blusa, saia;
R E S U L T A D O D A y 1
P A R T E 1
C A D ER N
O
C R I A T I V O S D I S S O N A N T E S 2 0 1 2
de resto, tecido.
de igual, único.
L A B 5
P A R T E 1
C A D ER N
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3 m
old
es b
ásic
os, c
om d
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form
ações a
leató
rias
modelados por designers,
artistas, modelistas,
E S T U D A N T E S , A S T R O L O G O S ,
P E R F O R m E R S , A T O R E S ,
P R O F E S S O R E S ,
A C I m A
D E T U D O ,
C R I A D O R E S .
o m
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e s
em d
ireção, o p
rimeir
o p
ed
ala
r de c
ostu
ra, o f
uro
de a
gulh
a,
o zipper em papel,
o primeiro retalho
em loop, o overlock-ventura.
formulas
projetuais
L A B 5
C R I A T I V O S D I S S O N A N T E S 2 0 1 2R E S U L T A D O D A y 2
P A RT E 2
C A D ER N O
Participar de um grupo
absolutamente heterogêneo trouxe
inenarrável enriquecimento
para a proposta inicial. O que,
a princípio, aparentava ser um
workshop de modelagem de roupas,
se transformou em um workshop
de modelagem de ideias, das mais
variadas, que foram trabalhadas,
apesar do curto prazo, em
uma consonância de interesses
em trocas de conhecimentos
amplamente plurais.
Um caderno de alterações de
superfície têxtil, um jogo-
estamparia em motivos tropicais,
imageificações de mapas astrais
temporais e pessoais, uma receita
para jantares aleatórios, uma
metodologia para modificação
P A RT E 2
C A D ER N O
de modelagens de roupas, dentre
tantos outros, objetificados e
desenvolvidos ou não,
foram apenas algumas das propostas
levantadas neste intervalo de tempo
que tomou a participação como
objeto essencial para um melhor
proveito dos fluxos criativos
e dis-sonância criativa.
COMPOR UMA ESTRUTURA VISUAL
DE IMAGENS E FRAGMENTOS DE
TEXTOS CORRELATOS, EXTRAÍDOS
DA PLATAFORMA DO CRIATIVOS
DISSONANTES.
2
SE AbANDONAR A INGENUIDADE E OS
PRECONCEITOS DO SENSO COMUM FOR
úTIL; SE NãO SE DEIXA GUIAR PELA
SUbMISSãO àS IDEIAS DOMINANTES
E AOS PODERES ESTAbELECIDOS FOR
úTIL; SE bUSCAR COMPREENDER
A SIGNIFICAçãO DO MUNDO, DA
CULTURA, DA hISTóRIA FOR úTIL;
SE CONhECER O SENTIDO DAS CRIAçõES
hUMANAS NAS ARTES, NAS CIêNCIAS
E NA POLÍTICA FOR úTIL; SE DAR A
CADA UM DE NóS E à NOSSA SOCIEDADE
OS MEIOS PARA SEREM CONSCIENTES DE
SI E DE SUAS AçõES NUMA PRáTICA qUE
DESEjA A LIbERDADE E A FELICIDADE
PARA TODOS FOR úTIL, ENTãO PODEMOS
DIzER qUE A FILOSOFIA É O MAIS úTIL
DE TODOS OS SAbERES DE qUE
OS SERES hUMANOS SãO CAPAzES.
1
1
Convite à Filosofia – Marilena Chauí
2
PODEMOS ObSERVAR NO VAMPyROTEUThIS
qUE A PROGRAMAçãO DAS INFORMAçõES
PODE DISPENSAR APARELhOS.
O PRóPRIO ORGANISMO PODE PASSAR
A FUNCIONAR COMO APARELhO.
O FUNCIONAMENTO APARELhÍSTICO PODE
SER “INTEGRADO”.
O COMPORTAMENTO APARELhÍSTICO
PODE “SUPERAR OS APARELhOS”. PODE
SURGIR O TOTALITARISMO
DE APARELhOS INTEGRADOS, PORTANTO
INVISÍVEIS E IMPERCEPTÍVEIS,
COMO A MASSA GELATINOSA DO
VAMPyROTEUThIS. A CONTEMPLAçãO
DA ARTE VAMPyROTêUThICA EVITA
POIS qUE GLORIFIqUEMOS A ARTE
TOTAL, O ARTIFICIAL, O ARTIFÍCIO,
A ARTIMANhA. qUE EVITEMOS
TODO ROMANTISMO. PORqUE O
VAMPyROTEUThIS ILUSTRA A ESSêNCIA
DO ROMANTISMO: O INFERNO.
2
Vampyroteuthis Infernalis – Vilém Flusser e Louis Bec // tradução: Daniel P. P. da Costa
3TODA REPRESENTAçãO DA PELE SUPõE
UM PERCURSO ENTRE NATUREzA
E CULTURA COM CONFIGURAçõES
PRóPRIAS. SE COMO LIMITE DO CORPO
A PELE SANCIONA A SUA INTEGRIDADE,
COMO LUGAR DE DESFIGURAçãO E
METAMORFOSE ELA LhE SUbTRAI TAL
INTEIREzA E DEVOLVE-O AO INFORME.
COMO INVóLUCRO, A PELE EXPLICITA
UMA DINâMICA ENTRE SUPERFÍCIE
E PROFUNDIDADE AO ACEITAR E
ACOMPANhAR, AO MESMO TEMPO,
RELEVOS E DEPRESSõES.
3 META
MORFOSE D
O C
ORPO -
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OS TEXTOS COMPLETOS CITADOS AQUI
PODEM SER LIDOS EM CRIATIVOSDISSONANTES.COM/bLOG
PLATAFORMA DE CONTEÚDOS DO PROJETO CRIATIVOS DISSONANTES.
B R EC H AELAbORAçãO ARTÍSTICA
SObRE
O hOMEM
E A SOCIEDADE
CONTEMPORâNEA
bREChA
Esse trabalho delineia dois
territórios distintos: em um,
confronta o homem com suas
demandas sociais e sua
presença no mundo, e em outro,
propõe estados de inércia
e repouso como resposta
artística a essas demandas.
Por presença vamos nominar
o corpo e suas representações
simbólicas. E não somente
o corpo-eu, pessoal e elemento
social, mas também o corpo-
outro, alteridade.
T r a t a d a t e n s ã o p e r m a n e n t e q u e s e e s t a b e l e c e e n t r e
a s a t u a l i z a ç õ e s v i t a i s , p u l s i o n a i s ,
c r i a t i v a s e a s f i x a ç õ e s s o c i a i s , t e n d o c o m o i n t e r f a c e
o c o r p o , s u a r e p r e s e n t a ç ã o s i m b ó l i c a
e p e r f o r m a t i v i d a d e .
N o c o r p o - e u , o p u l s a n t e , o a t i v o
e p a s s í v e l d e s e r a f e t a d o ,
t r a n s f o r m a d o , p e r f o r m a t i z a d o ,
e n u n c i a d O .
N o c o r p o - e u , o p u l s a n t e , o a t i v o
e p a s s í v e l d e s e r a f e t a d o ,
t r a n s f o r m a d o , p e r f o r m a t i z a d o ,
e n u n c i a d O . A subjetividade em
constante atualização.
No corpo-outro, alteridade,
o fora que habita cada um,
parte e todo de construções
e enunciações, intensidades
e interrogações.
A presença no mundo não
diz respeito somente à
matéria percebida pela
visão, mas a toda construção
de presença que se dá a
partir do invisível, de tudo
que não pode ser visto ou
ouvido, emergindo novos
acontecimentos e gerando
novos campos de força.
A presença está sujeita
tanto à ação, entendida aqui
como manifestação de uma
afecção e, ao mesmo tempo,
experiência e produção,
como também à estagnação,
captura e mutilação do
SENSÍVEL, FORçA REACIONáRIA qUE bLOqUEIA
A PASSAGEM DE AFETOS E AFECçõES,
IMPEDINDO OS FLUXOS qUE PRODUzEM
VIDA CRIATIVA.
evidencia a estagnação como processo
permanente.
O que, numa sociedade ideal, seria
tempo de passagem e estranhamento,
grávido de possibilidades e princípios
vitais, torna-se esvaziamento e falta
A s o c i e d a d e c o n t e m p o r â n e a
c o m s e u s i m p e r a t i v o s d e c o n s u m o
e m a p a s d e v i d a d e s c a r t á v e i s
de sentido pela repetição sistematizada
e normatizada de regras e valores.
Para operar nessa frequência, perversa
e mutiladora, os mecanismos de ação dessa
sociedade anestesiam, paralisam torna-se
esvaziamento e falta de sentido pela r e p e t i ç ã o s i s t e m a t i z a d a
e n o r m a t i z a d a d e r e g r a s e
v a l o r e s .
P a r ao p e r a r NESSA FREqUêNCIA,
PERVERSA E MUTILADORA,
OS MECANISMOS DE AçãO
DESSA SOCIEDADE ANESTESIAM,
PARALISAM
E CONDICIONAM
A PRESENçA.
Estagnam-se processos
e fluxos vitais,
despotencializando
a vida e a criação.
Nesse panorama
não haveria, então,
emergências possíveis
de subjetividade, porque
estas estão por demais
expostas às escalas de
padrão e normatização
que congela os
devires minoritários
pertencentes à escala
do acontecimento, da
emergência de novas
potências.
do devir minoritário, que
têm relação íntima com a
subjetividade e faz nascerem
novas forças e potências
de ação, são congelados
e transformados em devir
majoritário, por meio de
operações de majoração
pautadas pelo sistema de
capital e consumo – e não só
por ele. Tudo isso para que as
vidas, em suas experiências
cotidianas, não se
estabeleçam em sua plenitude,
em sua potência máxima de
acontecimento, estagnando e
estancando seu fluxo e sua
pulsão vital.
NESSE
SENTIDO,
OS ACONTECIMENTOS
DA ESCALA
Temos, então, as seguintes
situações: o devir majoritário,
adequado à norma, à regra
e aos sistemas de controle,
e o devir minoritário, da ordem
da variação, da diferenciação
e da transformação, alinhado,
portanto, ao constante fluxo de
processos e atualizações vitais
e criativas.
Há que se considerar, ainda,
que o primeiro é da escala
objetiva do mundo, visível,
material e palpável e o
segundo, da escala subjetiva,
molecular, imperceptível.
por meio de ferramentas e estratégias
próprias, congela e explicita alguns
desses mecanismos, expondo, ainda,
que o homem tem potencialmente um
devir menor que o permitiria escapar
ao padrão majoritário.
O que interessa, principalmente, é a
vida cotidiana do homem de um tipo
genérico, nada singular, que pode ser
B R EC H A ,
o vizinho, o padeiro, o professor,
o tio, o transeunte, o funcionário
de escritorio.
As ferramentas e estratégias foram
concebidas a fim de criar um ritmo
próprio, dando um tratamento menor
a elementos do devir maior e, assim,
pretende fazer emergir forças menores
em atividades antes impensáveis
ou insuspeitadas por meio de brechas,
rachaduras, reais ou metafóricas. Cria
certa analogia com a natureza viva
encontrada em brechas e rachaduras
de calçadas e cimentos, aparentemente
geração espontânea de vida em estado
bruto que, em resistência silenciosa,
irrompe e permanece.
“NADA É MAIS PERTURbADOR
qUE OS MOVIMENTOS INCESSANTES
DO qUE PARECE IMóVEL”, G. DELEUzE.
Há de se citar ainda a importância
do repouso e da inércia nas
ferramentas e estratégias como
operações de reação à estagnação,
trucando e pretendendo uma possível
imobilidade ativa, visto que,
na física, inércia é a resistência
da matéria à alteração de seu estado
e responsável por conservar um corpo
em seu estado de movimento.
Para Brecha, estar em repouso
e em inércia é resistir e descarrilar
a estagnação. Retira-se a estrutura
e dispara-se a variação
e as intensidades.
E s t r a t é g i a 1
E s t r a
E s t r a t é g i a 2
E s t r a t é g i a 3
E s t r a t é g i a 4
E s t r a t é g i a 5
SONO
Dormir sobre um colchão
de cimento, tamanho casal,
com travesseiros de cimento
bordados com metal.
Performance no espaço
expositivo, tempo real (uma
noite).
Registro fotográfico de
performance produzida com
transeuntes de uma rua
qualquer, onde foram instalados
na calçada alças de um chinelo,
utilizando o concreto como a
base do chinelo.
Pode-se repetir a estratégia
no espaço expositivo.
Registro fotográfico de
performance instalada em
uma rua qualquer, num muro
de pedras com plantas que
nasceram aleatoriamente, no
qual se abrirá o recorte de um
vestido. O transeunte é
convidado a se encaixar e
“vestir” o muro.
Registro fotográfico de
performance que instala 2
botões de punho de camisa em
uma parede qualquer e abotoa
os punhos dos transeuntes,
imobilizando-os.Pode-se
repetir a estratégia no espaço
expositivo.
ChINELO/MUNDO
VESTIDO/MURO
bOTãO/PAREDE
bOTãO/PAREDE2
Registro fotográfico de performance que instala 3 botões de terno em uma esquina,
na parede de um prédio de escritórios qualquer e abotoa os ternos dos transeuntes,
imobilizando-os. Pode-se repetir a estratégia no espaço expositivo.
E s t r a t é g i a 6
E s t r a t é g i a 7
E s t r a t é g i a 8
E s t r a t é g i a 9
bOLSA/MUNDO
Utiliza rachaduras produzidas
pela ação do tempo e
aleatoriamente em calçadas e
vias públicas transformando-as
em aberturas de bolsa. Insere
zíper, alças e acessórios
típicos desse objeto. A ação/
performance consiste em
carregar a bolsa/mundo ao
mesmo tempo em que imobiliza
o carregador no chão.
Desenhar com giz numa calçada
qualquer um colchão,
localizar uma pedra no lugar
onde seria o travesseiro, e
permitir que transeuntes
deitem.
Pode-se repetir a estratégia
no espaço expositivo.
Série fotográfica de calçadas,
muros, paredes, asfaltos e
vias públicas onde a natureza
encontrou brechas e rachaduras
e, a despeito da aridez, brotou
vida.
Série fotográfica de
calçadas, muros, paredes,
asfaltos e vias públicas
em que a artista faz uso
de buracos, brechas e
rachaduras aleatórias e
preexistentes para
preenchimento com ouro.
Registro fotográfico de performance que instala 3 botões de terno em uma esquina,
na parede de um prédio de escritórios qualquer e abotoa os ternos dos transeuntes,
imobilizando-os. Pode-se repetir a estratégia no espaço expositivo.
TRAVESSEIRO/PEDRA
NATUREzA/PEDRA
PREENChENDORAChADURASCOM OURO
/ a s f o t o s s ã o r a s c u n h o s d e p r o j e t o
e n ã o n e c e s s a r i a m e n t e d e f i n e m
o t r a b a l h o f i n a l .
E s t r a t é g i a
COMO
FORMA
DE
FAzER
ROUPAS
R E F L E X Õ E S S O B R EO U P C Y C L I N G I N D U S T R I A L
R E F L E X Õ E S S O B R EO U P C Y C L I N G I N D U S T R I A L
LAb1
CRIATIVOS DISSONANTES
2012
de empilhar um monte de camadas de
tecidos, colocar um molde em cima
e cortar seguindo o molde todos os
tecidos de uma vez.
A confecção industrializada como a
gente a conhece não existiu sempre,
as roupas eram feitas sob medida, por
costureiros e alfaiates. A confecção
industrializada foi uma nova forma de
fazer roupas.
Em 2010,
caminhava
pelo leste de
Londres, quando
de repente vi numa
vitrina duma loja
várias roupas feitas
de roupas, levei um
susto, isto é o que faço
no projeto IN.USE desde
2008 e nunca tinha visto
uma loja especializada em
comercializar este tipo de
produtos. Entrei na loja, provei
peças, comprei uma, conversei com
o vendedor, fui no atelier. Descobri
que faziam isto desde 1995.
Quando
caminhava
indo embora
senti uma
mistura de
sentimentos.
Por um lado, uma
certa frustração por
ver um projeto similar ao
meu na rua, já andando há
tantos anos, eu me achando
tão original fazendo roupas
de roupas… Mas por outro lado,
sentia uma excitação por ver um
projeto similar ao meu num estagio
bem mais avançado, deu um ânimo bom.
A L G U m D I A U m m A L U C O T E V E A
I D é I A
C O m E S T A m I S T U R A D E
S E N T I m E N T O S E P E N S A m E N T O S
C H E G U E I A C O N C L U S Ã O q U E
A partir de dados levantados
na Abit, chegamos a alguns
números. O Brasil produz
anualmente uma media de 9,8
bilhões de peças, destas 5%
são para exportação, ficam
no mercado brasileiro 9,32
bilhões.
Pela experiência trabalhando
em marcas de moda, sabemos que
75% de sellout é uma media boa
de venda de coleção no varejo.
Do restante 25%, uns 20%
são vendidos na liquidação,
e o resto 5% é uma sobra
amortizada. Algo assim como
dizer que se você quer vender
7 peças e meio você vai ter
que comprar 10. Cruzando estas
porcentagens do varejo com os
dados na industria, podemos
concluir que para os negócios
funcionarem, 686 milhões de
peças sobram por ano no varejo.
o upcycling Industrial (como
chamamos na IN.USE ao ato de
fazer roupas de roupas em escala
industrial), não é uma idéia em si,
de uma marca, é uma forma de fazer
roupas. Uma forma que hoje é nova,
mas tão nova quanto foi a confecção
industrializada nos seus primórdios.
É um sistema de fazer roupas,
paralelo e alternativo ao hoje
tradicional, e que cobra sentido
no panorama de crise do mercado de
moda atual.
P A R A O N D E V A I T O D A E S S A S O B R A ?
É claro que não toda a roupa, jogada
no lixo, ou incinerada, ou armazenada,
muitas peças alimentam mercados
alternativos por exemplo de sacoleiras
Brasil dentro onde as peças ganham
uma nova chance de venda. Mas ainda
são muitas….Não negamos o sistema tradicional,
nos aliamos a ele e numa relação de
simbiose com a indústria, utilizamos
como matéria prima estas peças
paradas nos estoques das fabricas/
marcas (peças, tecidos, aviamentos),
limpando e dando lucro as industrias.
Desenvolver o conceito de Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
Pessoalmente, proponho fazer desenvolvimento
de produto (que é o que os estilistas fazemos
dentro do sistema tradicional), só que
reciclando “resíduos” da industrial têxtil e
de confecção, passando a olhar este material
como matéria prima.
FALAMOS EM EVOLUçãOE NãO REVOLUçãO.
É um método empírico, se faz
com as mãos na massa, com
as mãos pensando. O trabalho
começa com uma oficina de
moulage criativo onde se
começam buscando as muitas
outras possibilidades que
existem de vestir uma peça sem
cortá-la, sem transformá-la, se
restringindo completamente a
forma que ela tem, a modelagem,
as costuras, a estrutura: Design
por Restrição.
É um método de exaustão,
para chegarmos ao ponto
de dar um novo significado
a uma peça que já tem um
significado tão definido,
a desconstrução dos
conhecimentos que
carregamos como axiomas
sobre a modelagem e
construção de peças, tem
que ser radical.
S O B R E O m é T O D O D E
C R I A ç Ã O :
Para chegar no ponto de pensar com o
corpo, precisamos dar um nó no cérebro,
desorientá-lo, desarticulá-lo. E assim que
ao descontextualizar uma peça da sua função
original, experimentando com ensaio e erro,
começam a surgir possibilidades inimagináveis
racionalmente.
qUANDO CORTAR CObRA SENTIDO porque outra forma começa a aparecer
a partir da peça original, podemos
usar a tesoura. Agora o corte vai ser
direcionado, não ansioso e impulsivo,
vai nos levar a outro estágio, a novas
possibilidades.
Desta forma, entramos num modo de
ginástica mental, onde o cérebro de
alonga, tal como um músculo, chegando
mais longe.
Agora que temos uma idéia esboçada
de uma peça, precisamos baixá-la à
terra. Ou seja: por um lado dar a ela
uma cara de roupa boa, bem acabada
e por outro lado criar um processo
para que a mesma seja reproduzida
industrialmente.
Estar reciclando não quer dizer que
as roupas que façamos tenham um
aspecto artesanal e hippie. Para que
o upcycling industrial faça sentido
e tenha consistência ele tem que ser
feito em escala e para que possa ser
feito em escala tem que ser comprado
em escala, ou seja compreendido por
muitos, ou melhor, desejado por muitos.
Para ser feito em escala ele precisa
ser encaixável dentro dum processo
industrial, para isto elaboramos a
receita com os passos a serem seguidos
para a produção em série.
Partindo das peças atingidas no
exercício empírico de criação,
aplicamos o processo de Engenharia
Reversa, através do qual analisamos
a peça criada de forma livre, para a
partir dela fazer um produto final
S O B R E O m é T O D O D E P I L O T A G E m :
Com a piloto final na mão e sua ficha
técnica com memorial descritivo,
com passo a passo detalhado para
a reprodução em serie, fechamos o
processo de Upcycling Industrial.
S O B R E O m é T O D O D E P R O D U ç Ã O :
e sua ficha técnica. Neste momento,
voltam a razão e os conhecimentos
sobre construção de peças. É a
hora de por um lado compreender e
decodificar o que aconteceu no passo
prévio irracional e por outro lado,
escolher os melhores acabamentos e
avios, sempre aproveitando ao máximo
as informações que a peça original já
carrega, o conhecimento congelado que
ela tem. Quando observamos uma peça,
o tecido, os tipos de acabamentos,
maquinário que foi utilizado,
aviamentos, linha, etiquetas,
presenciamos o estado da história da
indústria têxtil e de confecção. Anos
de evolução ficam congelados nessa
peça. Procuramos aproveitar todo este
conhecimento que ela carrega,
e toda a energia que foi utilizada
para confeccioná-la. Como numa
sucessão, a nova peça herda as
características da peça original,
da sua matéria prima.
NãO DESCOSTURAMOS, CORTAMOS, E Só CORTAMOS O MÍNIMO NECESSáRIO.
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US
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.
COMPOR UMA ESTRUTURA VISUAL
DE IMAGENS E FRAGMENTOS
DE TEXTOS CORRELATOS,
EXTRAÍDOS DA PLATAFORMA
DO CRIATIVOS DISSONANTES.
3
O PLANEjAMENTO DINERGÉTICO,
É INCLUSIVO “E/E” E NãO DEIXA
DE LANçAR MãO DOS INSTRUMENTOS
TRADICIONAIS DE ANáLISE
E PLANEjAMENTO, MAS SE APROPRIA
DELES EM DIáLOGO COM OUTRAS
DISCIPLINAS. SãO NOVOS PADRõES
DE PENSAMENTO E AçãO. RAzãO
E INTUIçãO. CIêNCIA E ARTE.
ISTO E AqUILO. LADO DIREITO
E ESqUERDO DO CÉREbRO. CONCRETO
E AbSTRATO. TANGÍVEL E INTANGÍVEL.
SINGULARIDADE E DIVERSIDADE.
LINEAR E COMPLEXO. OS OPOSTOS
GERANDO O EqUILÍbRIO.
1
1 Economia
Cri
ati
va e
Inic
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vas S
ocio
cult
ura
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Energ
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ender
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uste
ntá
vel
- M
inom P
inho
A SUbjETIVIDADE É FRUTO
DE UM AGENCIAMENTO SOCIAL MúLTIPLO,
E NãO há PORqUE SEPARAR hOMEM
E MáqUINA. A RELAçãO DO hUMANO
COM A MATÉRIA - COM A NATUREzA,
COM OS ObjETOS, COM AS MáqUINAS -
É UMA RELAçãO NãO DE FORMATAçãO,
MAS DE ACOPLAMENTO, DE COMPOSIçãO.
O CAMPO DE SUbjETIVAçãO
É CONSTITUTIVO TANTO DO SUjEITO-
ObjETO qUANTO DO MEIO.
3
O VAMPyROTEUThIS NãO É PROVOCADO
POR ObjETOS. O SEU INTERESSE
EXISTENCIAL NãO É DESVIADO PELOS
ObjETOS: DIRIGE-SE SEMPRE RUMO AO
OUTRO. A SUA ATIVIDADE CRIADORA, PELA
qUAL VAI ELE ARMAzENANDO VIVêNCIAS
ADqUIRIDAS, TRANSPASSA OS ObjETOS E
SE DIRIGE RUMO AO OUTRO.
2
3
Tecnologia e subjetivação: a questão da agência - Rosana Medeiros de Oliveira
2 /
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Vampyro
teuth
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Vil
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lusser
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Bec /
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radução:
Danie
l P.
P.
da C
osta
qUANDO O hOMEM PROCURA EXPRIMIR
DETERMINADA VIVêNCIA, qUANDO
PROCURA TORNAR AUDÍVEL O INAUDITO
E VISÍVEL O INVISÍVEL, O FAz EM
FUNçãO DE DETERMINADO ObjETO.
NA ARTICULAçãO hUMANA, VIVêNCIA
E ObjETO SãO INDISSOLúVEIS UM DO
OUTRO. TUDO qUE O hOMEM VIVENCIA
É VIVENCIADO “PARA” UM DETERMINADO
ObjETO: PARA O MáRMORE, PARA
DETERMINADA LÍNGUA FALADA OU
ESCRITA, PARA SONS MUSICAIS, PARA
A FITA DE CELULOSE. E TODO ObjETO
qUE O hOMEM ENCONTRA NO SEU CAMINhO
RUMO à MORTE CONTÉM IMPLICITAMENTE
AS CATEGORIAS qUE PERMITEM ARTICULAR
DETERMINADAS VIVêNCIAS: DETERMINADO
SENTIMENTO, PENSAMENTO, VALOR,
DESEjO.
4
5
Co-criação em 11
“advérbios”
Andre Torales
ESTE CARA FALOU: “NãO IMPORTA qUEM
VOCê SEjA, A MAIORIA DAS PESSOAS
MAIS INTELIGENTES TRAbALhAM EM OUTRO
LUGAR”.
5
6
A altermodernidade
de Nicolas Bourriaud
- Ricardo Nascimento
Fabbrini
OS TEXTOS COMPLETOS CITADOS AQUI
PODEM SER LIDOS EM CRIATIVOSDISSONANTES.COM/bLOG
PLATAFORMA DE CONTEÚDOS DO PROJETO CRIATIVOS DISSONANTES.
É VERDADE qUE, SEGUNDO bOURRIAUD,
A ARTE CONTEMPORâNEA qUESTIONA
jUSTAMENTE A IDEIA DE “SINTAXE
DA FORMA ARTÍSTICA” qUE VIGOROU
NO PERÍODO DAS VANGUARDAS, POIS
“[...] NãO SE TRATARIA MAIS DE
GERAR SENTIDO ATRAVÉS DE SIGNOS
REPRESENTADOS”, MAS “DE PRODUzIR
RELAçõES COM O MUNDO”
6
C R I A T I V O S
D I S S O N A N T E S
P O R
P E R E I R A
C R I A T I V O S
D I S S O N A N T E S
P O R
S E N A I / F I E B
O
movimento para
a primeira edição da revista
Vitamina se deu através da confluência dos
processos desenvolvidos no ciclo de laboratórios
do Criativos Dissonantes em 2012
e suas experiências decorrentes que se drebruçaram
em observar um desenho mutante e transgressor dos
sistemas tradicionais de pensar o fazer, o ensino, as
didáticas e consequentemente a relação de novos territórios
entre o design, arte contemporânea e outros setores
criativos que o feitor hoje interage.
A partir dessa relação, foi possível construir
um material que fala de si mesmo e utiliza
os “processos” como motivação de uma matriz
de experiências, tentativas e ambientes
de estímulos criativos.
WWW.
CRIATIVOS
DISSO
NANTES
.COM
Pulverizado de ações convergentes
que pensam a produção artística e
as paisagens locais como estruturas
transversais de desenvolvimento
e intercâmbio de práticas/teorias
artísticas randômicas, os limites da
arte, design e cidade são a proposta
de uma cartografia de experiências
provocativas e de repercussão que
se abre em diálogo com indivíduos
críticos, abarcados pela perspectiva
de que apenas a diversidade gera
singularidade.
Preocupado com o tempo e
espaço no trânsito, o Criativos
Dissonantes, propõe uma proliferação
transfronteiriça que cambia uma
contínua alteração da noção
dos valores e significados da
ação. Sua ênfase repousa sobre a
compartimentalização da atividade
em detrimento da perspectiva,
considerando a atual economia
de produção criativa utiliza
a dissonância de experiências
intelectuais como uma metáfora para o
“trabalho” e, de certa forma,
C O m O U m A E S T R A T é G I A P A R A D E T E R m I N A R S U A P O S I ç Ã O C O m O U m C O m P L E X O S I S T E m A S O C I A L , P O L í T I C O E C U L T U R A L .
T A R C I S I O A L M E I D ADIREÇÃO CRIATIVAwww.tarcisioalmeida.com
V I T O R B A R R E T OCOORDENAÇÃO DE GESTÃ[email protected]
A L A N A C A M A R [email protected]
M A R I A N A P A I V AREVISÃ[email protected]
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EQUIPE CENTRO TÉCNICO DO TEATRO CASTRO ALVES,EQUIPE ZANK HOTEL BOUTIQUE, MARIANA PIRES (EQUIPE PEREIRA),
PHAEDRA BRASIL E ANALIVIA LESSA (CENTRO TÉCNICO DE DESIGN FIEB),EQUIPE MUSAS (MUSEU STREET ART DE SALVADOR)
FAMÍLIAS E AMIGOS INVESTIDORES.
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