revista trimestral de jurisprudência – vol. 214 – out. - mar. de 2010

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Revista Trimestral de Jurisprudência volume 214 outubro a dezembro de 2010

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Revista Trimestral de Jurisprudncia

volume 214 outubro a dezembro de 2010

Diretoria Geral Alcides Diniz da Silva SecretariadeDocumentao Janeth Aparecida Dias de Melo CoordenadoriadeDivulgaodeJurisprudncia Leide Maria Soares Corra Cesar SeodePreparodePublicaes Cntia Machado Gonalves Soares SeodePadronizaoeReviso Rochelle Quito SeodeDistribuiodeEdies Maria Cristina Hilrio da Silva Diagramao: Eduardo Franco Dias Capa:Ncleo de Programao Visual

(Supremo Tribunal Federal Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)Revista Trimestral de Jurisprudncia / Supremo Tribunal Federal. V. 1, n. 1(abr./jun. 1957) . Braslia : STF, 1957 . v. ;22 x 16 cm. Trimestral. Ttulo varia: RTJ. Repositrio Oficial de Jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal. Nome do editor varia: Imprensa Nacional / Supremo Tribunal Federal, 1957 a 2001; Editora Braslia Jurdica, 2002 a 2006; Supremo Tribunal Federal, 2007 . Disponvel tambm em formato eletrnico a partir de abr. 1957: http://www.stf.jus.br/portal/indiceRtj/pesquisarIndiceRtj.asp. ISSN00350540. 1. Tribunal supremo, jurisprudncia, Brasil. 2. Tribunal supremo, peridico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Coordenadoria de Divulgao de Jurisprudncia. II. Ttulo: RTJ. CDD340.6

Solicitasepermuta. Pdese canje. On demande lchange. Si richiede loscambio. We ask forexchange. Wir bitten umAustausch.

STF/CDJU Anexo II, Cobertura Praa dos Trs Poderes 70175900 BrasliaDF [email protected] Fone: (0xx61)32174766

Su RE oTRIBuNALFEDERAL P mMinistro Antonio CEZAR PELUSO (2562003), Presidente Ministro Carlos Augusto AyRES de Freitas BRITTO (2562003), VicePresidente Ministro Jos CELSO DE MELLO Filho (1781989) Ministro MARCO AURLIO Mendes de Farias Mello (1361990) Ministra ELLEN GRACIE Northfleet (14122000) Ministro GILMAR Ferreira MENDES (2062002) Ministro JOAQUIM Benedito BARBOSA Gomes (2562003) Ministro Enrique RICARDO LEWANDOWSKI (1632006) Ministra CRMEN LCIA Antunes Rocha (2162006) Ministro Jos Antonio DIAS TOFFOLI (2310 2009)

COMPOSIO DAS TURMASPRIMEIRA TURMA

Ministro Enrique RICARDO LEWANDOWSKI, Presidente Ministro MARCO AURLIO Mendes de Farias Mello Ministra CRMEN LCIA Antunes Rocha Ministro Jos Antonio DIAS TOFFOLISEGUNDA TURMA

Ministro GILMAR Ferreira MENDES, Presidente Ministro Jos CELSO DE MELLO Filho Ministra ELLEN GRACIE Northfleet Ministro Carlos Augusto AyRES de Freitas BRITTO Ministro JOAQUIM Benedito BARBOSA Gomes

PROCURADORGERAL DA REPBLICA

Doutor ROBERTO MONTEIRO GURGEL SANTOS

COMPOSIO DAS COMISSESCOMISSO DE REGIMENTO

Ministro MARCO AURLIO Ministro GILMAR MENDES Ministra CRMEN LCIA Ministro DIAS TOFFOLI SuplenteCOMISSO DE JURISPRUDNCIA

Ministra ELLEN GRACIE Ministro AyRES BRITTO Ministro JOAQUIM BARBOSACOMISSO DE DOCUMENTAO

Ministro CELSO DE MELLO Ministro DIAS TOFFOLICOMISSO DE COORDENAO

Ministro GILMAR MENDES Ministro RICARDO LEWANDOWSKI

SumRIoPg.

ACRDOS .................................................................................................................... 9 NDICE ALFABTICO ........................................................................................... 581 NDICE NUMRICO .............................................................................................. 661

ACRDOS

EXTRADIo1.170REPBLICAARGENTINA Relatora: A Sra. Ministra Ellen Gracie Requerente: Governo da Argentina Extraditando: Gustavo Francisco Bueno Extradio. Documento de refugiado expedido peloAlto Comissariado da oNu (ACNuR). Conare. Reconhecimento da condioderefugiadopeloministrodaJustia.Princpiodonon refoulement.Indeferimento. 1. Pedido de extradio formulado pelo Governo da ArgentinaemdesfavordonacionalargentinoGustavoFrancisco Buenopelasupostaprticadoscrimesdeprivaoilegtimada liberdadeagravadaeameaas. 2. No momento da efetivao da referida priso cautelar, apreendeu se, em posse do extraditando, documento expedido peloAlto Comissariado da oNu para Refugiados (ACNuR) dandocontadesuapossvelcondioderefugiado. 3. o Presidente do Comit Nacional para os Refugiados (CoNARE) atesta que o extraditando um refugiado reconhe cidopeloGovernobrasileiro,conformeodocumento326,datado de12 6 1989. 4.ofundamentojurdicoparaaconcessoounodoref gio,anteriormenteLei9.474/1997,eramasrecomendaesdo ACNuRe,portanto,ocotejoeraformuladocombasenoamol damentodasituaoconcretasreferidasrecomendaes,resul tandodaodeferimentoounodopedidoderefgio. 5. o extraditando est acobertado pela sua condio de refugiado, devidamente comprovado pelo rgo competente Conare,eseucasonoseenquadranoroldasexceesautori zadorasdaextradiodeagenterefugiado.

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R.T.J. 214 6.ParecerdaProcuradoria GeraldaRepblicapelaextin odofeitosemresoluodemritoepelaimediataconcessode liberdadeaoextraditando. 7.Extradioindeferida. 8.Prisopreventivarevogada. ACRDO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sesso plenria, sob a Presidncia do Ministro Cezar Peluso, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrficas, por unanimidade de votos, declarar extinto o processo sem resoluo de mrito e determinar a imediata expedio de alvar de soltura do extraditando, se por outro motivo no estiver preso, nos termos do voto da Relatora. Braslia, 18 de maro de 2010 Ellen Gracie, Relatora. RELATRIO A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. O Ministrio da Justia encaminhou a esta Corte, por meio do Aviso 1.203, de 2462009 (fl. 2), pedido de extradio (fl. 4)formulado pelo Governo da Argentina em desfavor do nacional argentino Gustavo Francisco Bueno. O pedido, consubstanciado no Ofcio 235, de 2952009 (fl. 3), que enca minha a Nota Verbal 232, de 2652009, da Embaixada da Repblica Argentina (fl.4), est fundado no art.IV do Tratado de Extradio firmado entre a Repblica Federativa do Brasil e a Repblica Argentina em 15 de novembro de 1961, cuja promulgao se deu pelo Decreto 62.979, de 11 de julho de 1968. No mesmo pedido se informa sobre o cometimento dos crimes de privao ilegtima da liber dade agravada e ameaas, com fundamento no requerimento do Juizado Federal4, de Rosrio, e na ordem de priso proferida por autoridade judiciria competente do Estado requerente, bem como nos dispositivos legais pertinentes (fls. 5/11). 2. AProcuradoriaGeral da Repblica se manifestou no sentido da decretao da custdia preventiva para fins de extradio do nacional argentino (fls. 30/31). 3. Em19 de agosto de 2009, decretei a priso preventiva do extraditando (fls. 34/35), em atendimento ao pleito do Ministrio Pblico Federal de fls. 30/31. 4. Ocorre que, no momento da efetivao da referida priso cautelar, apreendeuse, em posse de Gustavo, documento expedido pelo Alto Comissa riado da ONU para Refugiados (ACNUR) dando conta de sua possvel condio de refugiado. 5. Em razo desses fatos, e para confirmar a veracidade do documento, determinouse s fls. 76/77 a expedio de ofcios ao Ministrio da Justia, Departamento da Polcia Federal e Alto Comissariado da ONU em Braslia.

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6. Aps a vinda das respostas, abriuse vista ProcuradoriaGeral da Repblica, a qual lanou parecer encartado nas fls. 187/191 no sentido da extin o sem resoluo de mrito da presente extradio e da imediata concesso de liberdade ao extraditando. VOTO A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. Tenho como corretos e precisos os argumentos lanados pelo Parquet, porquanto a situao do nacional argentino Gustavo Francisco Bueno no autoriza a extradio. Ademais, o status de refu giado do extraditando no restou infirmado. 2. Com efeito, o ofcio de fl. 152 expedido pelo Presidente do Comit Nacional para os Refugiados (CONARE) claro ao afirmar que o nacional argentino Gustavo um refugiado reconhecido pelo Governo brasileiro, con forme o documento 326, datado de 1261989, constante fl. 153. interessante notar inexistirem nos autos os motivos determinantes do refgio ao nacional argentino. No vislumbrei qualquer manifestao do Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados (ACNUR), tampouco do Conare, explicitando as razes pelas quais foi concedido o refgio. Tambm oportuno reproduzir aquilo que o Presidente do Conare disse no ofcio de fl. 152, ou seja, que os refgios concedidos anteriormente entrada em vigor da Lei 9.474/1997 eram frutos das recomendaes expedidas pelo Acnur. Assim sendo, depreendo que a concesso do status de refugiado, na hip tese em questo, deuse de forma legal e isenta de qualquer mcula que a invalide. O fundamento jurdico para a concesso ou no do refgio, anteriormente Lei 9.474/1997, eram as recomendaes do Acnur e, portanto, o cotejo era for mulado com base no amoldamento da situao concreta s referidas recomenda es, resultando da o deferimento ou no do pedido de refgio. 3. No se olvide que, mesmo detendo a condio de refugiado, existem hipteses que autorizam a extradio, mas esse fato no passou despercebido pela percuciente anlise da ProcuradoriaGeral da Repblica, da qual reproduzo a seguinte passagem:9. fato que, conforme o art. 33 da Lei n. 9.474/97, (o) reconhecimento da condio de refugiado obstar o seguimento de qualquer pedido de extradio baseado nos fatos que fundamentaram a concesso de refgio (grifo nosso). 10. Entretanto, a legislao em questo referese ao reconhecimento da con dio de refugiado pelo Estado brasileiro, nos termos de seu art.1. Defato, dispe o art.4 desse diploma legal que: Art.4 O reconhecimento da condio de refugiado, nos termos das definies anteriores, sujeitar seu beneficirio ao preceituado nesta Lei, sem prejuzo do disposto em instrumentos internacionais de que o Governo brasileiro seja parte, ratifique ou venha a aderir. (Grifo do MPF.) 11. Assim sendo, aplicase ao extraditando, de forma direta, as normas da Conveno sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 e de seu Protocolo de

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R.T.J. 2141967, promulgadas pelo Estado brasileiro por meio dos Decretos n. 50.215/61 e 70.946/72, respectivamente, com as modificaes promovidas pelos Decretos n. 98.602/89 e 99.757/90, que retiraram as reservas geogrficas e temporais anterior mente estabelecidas. 12. AConveno de 1951 e seu Protocolo de 1967 no protegem do julga mento os refugiados e os solicitantes de refgio que tenham cometido crimes, nem impedem a sua extradio. Entretanto, o art.33 da Conveno abriga o chamado princpio da no devoluo, (...) pedra angular do regime internacional de prote o dos refugiados, o qual probe o retorno forado dos refugiados que os exponha a um risco de perseguio (...). 13. Dispe o citado art.33(1) que: Nenhum Estado Contratante poder, por expulso ou devoluo, rechaar de modo algum um refugiado nas fronteiras dos territrios onde sua vida ou sua liberdade estejam em perigo por causa de sua raa, reli gio, nacionalidade, pertencimento a determinado grupo social, ou de suas opiniespolticas. 14. Conforme consta da Nota de Orientao sobre Extradio e Proteo Internacional de Refugiados, emitida pelo Alto Comissariado das Naes Unidas para Refugiados ACNUR em abril de 2008, (e)sta disposio plenamente apli cvel ao contexto da extradio, conforme a redao do artigo 33(1) da Conveno de 1951, que se refere proibio da expulso ou devoluo ao utilizar as palavras rechaar de modo algum. 15. Contudo, a prpria Conveno, no 2 do art.33, prev excees ao prin cpio da no devoluo: O benefcio da presente disposio no poder, todavia, ser invocado por um refugiado que, por motivos srios, seja considerado um perigo para a segurana do pas no qual ele se encontre ou que, tendo sido condenado defi nitivamente por crime ou delito particularmente grave, constitui ameaa para a comunidade do referido pas. (Grifo do MPF.) 16. Emrelao ao pargrafo em questo, merece novamente destaque a Nota emitida pelo Alto Comissariado das Naes Unidas para Refugiados ACNUR: A aplicao deste dispositivo requer que o pas de refgio determine de forma individualizada que sejam cumpridos os seguintes critrios a res peito das excees ao princpio de no devoluo: (i) Para que se aplique a exceo de segurana do pas, devese deter minar que o refugiado constitui um perigo atual ou futuro para o pas de aco lhida. Operigo deve ser muito grave e no de nvel menor, e deve constituir uma ameaa para a segurana nacional do pas de acolhida. (ii) Para que se aplique a exceo da ameaa para a comunidade, o refugiado implicado no apenas tem que haver sido condenado de um crime muito grave, mas tambm preciso determinar que, em vista do crime e da condenao, o refugiado constitui um perigo muito grave no presente e no futuro para a comunidade do pas de acolhida. O fato de que uma pessoa tenha sido condenada por um delito de particular gravidade no necessa riamente significa que a pessoa tambm rena o requisito de ameaa para a comunidade. Para determinar se este o caso, devese considerar a natu reza e as circunstncias do delito em particular e outros fatores relevantes. (GrifodoMPF).

(Fls. 187191.)

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4. Tenho que tais excees extradio do agente refugiado no se fizeram presentes. Desvelase, portanto, o princpio do non refoulement, o qual merece prestgio e acolhimento. Na mesma linha de entendimento da ProcuradoriaGeral da Repblica, penso que no ficou demonstrada a existncia de qualquer indcio, meno ou prova no sentido de que o nacional argentino representou ou representa perigo para a Repblica Federativa do Brasil e que tampouco foi prolatada sentena penal condenatria definitiva pelo Estado requerente. 5. Assim, no mais vislumbro a viabilidade do processamento da extradi o justamente pela ausncia de pressuposto vlido ao desenvolvimento regular do feito. O extraditando est acobertado pela sua condio de refugiado, devida mente comprovado pelo rgo competente Conare, e seu caso no se enqua dra no rol das excees autorizadoras da extradio de agente refugiado. 6. Ante o exposto, declaro extinto sem resoluo de mrito o presente processo de extradio. Como corolrio lgico, e na esteira da manifestao da douta ProcuradoriaGeral da Repblica, revogo a priso preventiva outrora decretada nestes autos. 7. Expease alvar de soltura, colocandose em liberdade o nacional argentino Gustavo Francisco Bueno, se por outro motivo no estiver preso. Comuniquese o resultado ao eminente Relator do HC102.349/PA desta Suprema Corte. como voto. EXTRATO DA ATA Ext 1.170/Repblica Argentina Relatora: Ministra Ellen Gracie. Reque rente: Governo da Argentina. Extraditando: Gustavo Francisco Bueno (Procura dor: Defensor PblicoGeral Federal). Deciso: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora, declarou extinto o processo sem resoluo de mrito e determinou a imediata expedio de alvar de soltura do extraditando, se por outro motivo no esti ver preso. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Gilmar Mendes (Presidente) e Marco Aurlio. Presidiu o julgamento o Ministro Cezar Peluso (VicePresidente). Presidncia do Ministro Gilmar Mendes. Presentes sesso os Ministros Celso de Mello, Marco Aurlio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Crmen Lcia e Dias Toffoli. ProcuradorGeral da Repblica, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos. Braslia, 18 de maro de 2010 Luiz Tomimatsu, Secretrio.

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R.T.J. 214 AoDIRETADEINCoNSTITuCIoNALIDADE1.698DF

Relatora: A Sra. Ministra Crmen Lcia Requerentes: Partido dos Trabalhadores PT, Partido Comunista do Brasil PC do B e Partido Democrtico Trabalhista PDT Requeridos: Pre sidente da Repblica e Ministro de Estado da Educao Aodiretadeinconstitucionalidadeporomissoemrela oaodispostonosarts.6;23,incisoV;208,incisoI;e214,in cisoI,daConstituiodaRepblica.Alegadainrciaatribudaao PresidentedaRepblicaparaerradicaroanalfabetismonoPas eparaimplementaroensinofundamentalobrigatrioegratuito atodososbrasileiros. 1.DadosdorecenseamentodoInstitutoBrasileirodeGeo grafiaeEstatsticademonstramreduodondicedapopulao analfabeta,complementadopeloaumentodaescolaridadedejo venseadultos. 2.Ausncia de omisso por parte do chefe do Poder Exe cutivofederalemrazodoelevadonmerodeprogramasgover namentaisparaareadeeducao. 3.A edio da Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional) e da Lei 10.172/2001 (aprova o Plano Nacional de Educao) demonstra atuao do poder pblico dandocumprimentoConstituio. 4.Ao direta de inconstitucionalidade por omisso im procedente. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sesso plenria, sob a Presidncia do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrficas, por maioria e nos termos do voto da Relatora, em julgar improcedente a ao direta, vencido o Ministro Marco Aurlio. Votou o Presidente e impedido o Ministro Dias Toffoli. Ausentes, licenciado, o Ministro Celso de Mello e, justificada mente, a Ministra Ellen Gracie. Braslia, 25 de fevereiro de 2010 Crmen Lcia, Relatora. RELATRIO A Sra. Ministra Crmen Lcia: 1. Em29101997, o Partido dos Trabalha dores (PT), o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e o Partido Democrtico Trabalhista (PDT), com fundamento nos arts.102, incisoI, alneasa e p, e 103, incisoVIII e 2, da Constituio da Repblica, ajuizaram a presente ao direta de inconstitucionalidade por omisso.

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2. A omisso atribuda ao Presidente da Repblica decorreria da inr cia dessa autoridade, segundo os autores, em face do disposto nos arts.6; 23, incisoV; 208, incisoI; e 214, incisoI, da Constituio da Repblica, que estabe lecem (...) anecessidadedeerradicaodoanalfabetismonoPaseagaran tiadaofertaeimplementaoperenedeensinofundamentalobrigatrioe gratuitoparatodososbrasileiros,inclusiveparaosqueaelenotiveram acessonaidadeprpria(...) (fl. 3 grifos no original). 3. Osautores alegam que o Presidente da Repblica (...) no tem envidado qualquer esforo no sentido de garantir em plenitude (...) (fl. 3)a educao de qualidade no Brasil. Noticiam que, no Pas, o nmero de crianas fora das escolas ou que (...) jamais foram apresentadas a qualquer tipo de transmisso de conhecimento (fl.4) seria de mais de 6 milhes de pessoas, enquanto o nmero de jovens e adul tos analfabetos, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), seria superior a 32 milhes de cidados (dados contidos na petio inicial, datada de 1997). Asseveram serem os dados citados suficientes para (...) declarar de formapacficaeacertada,aomissodoExecutivoFederal(...) emfaceda noefetivaodosprincpiosconstitucionaisatinenteseducaodosbrasi leiros (...) (grifos no original, fl. 6). Salientam que, aps a publicao da Lei 9.424/1996, que dispe sobre o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio, na forma prevista no art. 60, 7, do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias (fl. 9), o Presidente da Repblica teria vetado o incisoII do 1 do art.2 dessa lei, por entend locontrrioaointe ressepblico (grifos no original, fl. 10). Aquela norma dispunha:Art.2 Os recursos do Fundo sero aplicados na manuteno e desenvolvi mento do ensino fundamental pblico, e na valorizao de seu Magistrio. 1 A distribuio dos recursos, no mbito de cada Estado e do Distrito Federal, darse, entre o Governo Estadual e os Governos Municipais, na propor o do nmero de alunos matriculados anualmente nas escolas cadastradas das res pectivas redes de ensino, considerandose para esse fim: I (...) II as matrculas do ensino fundamental nos cursos de educao de jovens e adultos, na funo de suplncia.

(Incisovetado.) Destacam os dados coletados pelo IBGE, publicados no Anurio Estatstico do Brasil do ano de 1995, que noticiam que, no ano de 1991, na faixa etria de 15 a 70 anos, [havia] 15.405.311 analfabetos no meio urbano, ao passo que no meio rural, esse nmero chega, na mesma faixa etria, a 9.671.790, totalizando 25.077.101 pessoas (fl. 15).

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4.Pleiteiam no pela concesso da liminar, mas pela celeridade no pro nunciamento judicial considerada a enorme importncia da matria para o futuro de milhares de brasileiros (fl. 22 grifos no original). Requerem a procedncia desta ao, para (...) declararse a inconstitucio nalidade por omisso, por inrcia do Senhor Presidente da Repblica em no estar cumprindo o texto da Constituio no que pertine oferta de educao populao e erradicao do analfabetismo no pas (...) (fl. 23). E pedem que se determine (...) a adoo, no prazo de 30 dias, a teor do disposto no art.103, 2 da [Constituio da Repblica], de medidas que visem plena implementao desses postulados e princpios constitucionais (fl. 23). 5. OMinistro da Educao e do Desporto rgo que congregava as duas matrias naquela ocasio prestou as informaes solicitadas, em 28101997, afirmando que o analfabetismo (...) um problema histrico, no um mal que surgiu e pode ser derrotado no atual governo (fl. 65). Informou ter o Poder Executivo federal implantado polticas educacio nais de curto, mdio e longo prazo em todo o Pas e que (...) o analfabetismo e o nmero de pessoas fora da escola esto sendo reduzidos em propores animadoras (...), no existindo, portanto, a alegada (...) omisso por parte do Poder Executivo federal em face dos arts.6, 23, incisoV, 208, incisoI, alm do expresso no art.214, incisoI (...) da Constituio da Repblica (fl. 68). 6.OAdvogadoGeral da Unio encaminhou informaes que seriam devi das pelo Presidente da Repblica, defendendo no haver omisso inconstitucional da autoridade, em especial pelo elevado nmero de Programas Governamentais para a rea de educao (fls. 219236). 7. OMinistro Octavio Gallotti, ento Relator da ao, fez ouvir o Advoga doGeral da Unio, que lembrou a dispensa de sua interveno nas aes diretas de inconstitucionalidade por omisso [questo de ordem na ADI 233/600/SP, devolvendo, por isso, os autos sem manifestao expressa (fl. 400)]. 8. OProcuradorGeral da Repblica, sua vez, opinou pela improcedncia da presente ao (...) ante a edio da Lei 9.394/1996 que estabelece as diretri zes e bases da educao nacional, com dispositivos especificamente garantidores do ensino fundamental, como obrigatrio e gratuito, inclusive para os que a ele no tiveram acesso na idade prpria (...) (fl. 407). o relatrio, do qual devero ser encaminhadas cpias aos eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 9 da Lei 9.868/1999 e art. 87, incisoI, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). VOTO A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): 1.Ospartidos polticos autores, valendose de dados do Anurio Estatstico do Brasil, de 1995, fonte o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), requereram a declarao de incons titucionalidade em face de pretensa omisso do Presidente da Repblica, ao

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argumento de manterse ele inerte quanto adoo de medidas para a erradicao do analfabetismo no Brasil. 2.Temse a omisso inconstitucional quando a autoridade competente para adotar determinada providncia, que torne eficaz direito constitucionalmente assegurado, deixa de agir na forma prevista no sistema. Ao examinar os argumentos na ADI19, decidiu o Ministro Aldir Passari nho que:A medida que alude o 2 do art.103 da [Constituio da Repblica] e cuja omisso deve ser suprida, h de ser compreender como de carter normativo e no referente prtica de ato em caso concreto.

(DJ de 2321989.) Na lio de Canotilho, o (...) conceito de omisso legislativa no um con ceito naturalstico, reconduzvel a um simples no fazer, a um simples conceito de negao. Omisso, em sentido jurdicoconstitucional, significa no fazer aquilo a que, de forma concreta, se estava constitucionalmente obrigado. Aomisso legis lativa, para ganhar significado autnomo e relevante, deve conexionarse com uma exigncia constitucional de aco, no bastando o simples dever geral de legis lar para dar fundamento a uma omisso inconstitucional. (CANOTILHO, Jos Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1991. p.1100.) Os autores buscam, no presente caso, o reconhecimento de omisso por parte do Presidente da Repblica, por entenderem no ter ele adotado (...) medidas (...) para tornar efetiva norma constitucional (...) (art. 103, 2, da Constituio da Repblica), o que significaria admitir uma negativa aos direitos constitucionalmente assegurados, no caso especfico, a educao. 3.Oestudo do que nos autos se contm demonstra no ser o que ocorre no caso em pauta. 4. OProjeto de Lei 1.258B, aprovado na Cmara Federal em 1993, deu origem Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na qual foram estabelecidas as (...) diretrizes e bases da Educao Nacional. Da leitura do art.4 da Lei 9.394/1996 extraise a dimenso das garantias asseguradas para a erradicao do analfabetismo:Art.4 O dever do Estado com educao escolar pblica ser efetivado me diante a garantia de: I ensino fundamental, obrigatrio e gratuito, inclusive para os que a ele no tiveram acesso na idade prpria; II progressiva extenso da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino mdio; III atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com ne cessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; IV atendimento gratuito em creches e prescolas s crianas de zero a seis anos de idade; V acesso aos nveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criao arts tica, segundo a capacidade de cada um;

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R.T.J. 214VI oferta de ensino noturno regular, adequado s condies do educando; VII oferta de educao escolar regular para jovens e adultos, com ca ractersticas e modalidades adequadas s suas necessidades e disponibilidades, garantindose aos que forem trabalhadores as condies de acesso e permanncia na escola; VIII atendimento ao educando, no ensino fundamental pblico, por meio de programas suplementares de material didticoescolar, transporte, alimentao e assistncia sade; IX padres mnimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mnimas, por aluno, de insumos indispensveis ao desenvolvimento do processo de ensinoaprendizagem.

De se notar que, em 2001, sobreveio a Lei 10.172, que aprovou o plano nacional de educao, determinando um conjunto de providncias visando, exa tamente, dar cobro s exigncias constitucionais de superao das enormes difi culdades que o Brasil tinha e, deixese claro, ainda tem com a garantia plena de educao de qualidade para todos. 5. Entre as polticas sociais adotadas para a implementao do quanto legal mente determinado, h uma gama, que no se pode ter como parca, de aes e programas propostos e implementados pelo Ministrio da Educao priorizando a erradicao do analfabetismo e o acesso de todos educao. Entre eles, poderia ser mencionado, por exemplo, o Programa Brasil Alfabetizado que inclui ampliao do perodo de alfabetizao de seis para at oito meses; aumento de 50% nos recursos para a formao dos alfabetizadores; estabelecimento de um piso para o valor da bolsa paga ao alfabetizador, aumen tando a quantidade de turmas em regies com baixa densidade populacional e em comunidades populares de periferias urbanas; implantao de um sistema integrado de monitoramento e avaliao do programa; maior oportunidade de continuidade da escolarizao de jovens e adultos, a partir do aumento de 42% para 68% do percentual dos recursos alocados para estados e municpios. No stio da Presidncia da Repblica, entre os Principais Programas de Cidadania e Incluso do Governo Federal, temse o Bolsa Famlia, cujo objetivo a (...) incluso social das famlias em situao de pobreza e extrema pobreza por meio da transferncia de renda e da promoo do acesso aos direitos sociais bsicos de sade e educao (...). 6. Quando do ajuizamento da presente ao, os dados do IBGE informavam a existncia de mais de 32 milhes de brasileiros que no sabiam ler ou escrever. Hoje, j no so mais esses os dados que vigoram, conquanto haja divergncia entre eles. Aquele instituto recenseou, no ano 2000, a existncia de 14,6 milhes de analfabetos que, embora no seja nmero com o qual o Pas possa conviver sem adoo de drsticas medidas para extirpar to grave mal, dando pleno cumpri mento Constituio, demonstra a atuao do Poder Pblico na reverso dos dados apresentados na petio inicial da ao. Entre essas polticas, temse a edio de normas que regulam as medidas para a erradicao do analfabetismo.

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7. Deoutra parte, em 2004 foi lanado pelo Presidente da Repblica o antes mencionado Programa Brasil Alfabetizado, segundo o qual, a partir da consta tao de que 65 milhes de pessoas no completaram o ensino fundamental no Brasil e que, entre estes, 33 milhes so analfabetos funcionais, isto , pessoas com menos de quatro anos de estudos, foram adotadas providncias para prover as necessidades destas pessoas no sentido de se completarem os perodos de estudo necessrios sua incluso, em igualdade de condies, com os que dis pem de perfeito entendimento sobre os assuntos de seu interesse. Dentro desse contingente, 16 milhes de pessoas, com idade acima de 15 anos, so analfabetas. OGoverno Federal criou, ento, o Programa Brasil Alfabetizado para servir como porta de entrada e de integrao escola a todos os que esto fora do sis tema de ensino. OBrasil Alfabetizado faz parcerias com Estados, Municpios, universidades, empresas privadas, organizaes no governamentais, organismos internacionais e instituies civis como forma de potencializar o esforo nacio nal de combate ao analfabetismo. Oprograma, articulado Educao de Jovens e Adultos (EJA), fortalece polticas que estimulam a continuidade nos estudos e a reinsero nos sistemas de ensino. O stio do Ministrio da Educao, por sua vez, d notcia de que o Censo Escolar evidencia uma melhora significativa da educao brasileira. Ampliouse, por exemplo, o acesso dos alunos da rede pblica s novas tecnologias. Em2003, 58,2% dos 7,9 milhes dos estudantes do ensino mdio do sistema pblico fre quentaram escolas com laboratrios de informtica. Outros 53% estavam matricu lados em estabelecimentos conectados internet. Em1999, quando a rede pblica tinha 6,5 milhes de matrculas, esses ndices eram de 46% e 14,2%, respectiva mente. OCenso constatou, ainda, a melhoria em relao infraestrutura bsica, como energia eltrica, esgoto sanitrio e abastecimento de gua. Nmero de esco las: 207.234, sendo 208 federais; 33.718 estaduais; 137.793 municipais; e 35.515 particulares em 2005. Taxa de analfabetismo: 11,4% entre pessoas com 15 anos de idade ou mais em 2004 Fontes: IBGE/Pnad e Ministrio da Educao/Inep. Quantidade de matrculas: 56,6 milhes, na Educao Bsica, em 2005. bem certo que, em setembro de 2007, notcia de uma pesquisa elaborada pela Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL) sobre as taxas de analfabetismo na Amrica Latina mostrou um quadro ainda gravssimo no Brasil, posicionado em nono lugar entre os pases com maior percentual de analfabetos. Segundo tal pesquisa, a taxa de analfabetismo brasileiro (11,1%) superior mdia dos pases da regio (9,5%). O Brasil perderia para Haiti, Nicargua, Guatemala, Honduras, El Salvador, Repblica Dominicana, Bolvia e Jamaica em nmero de pessoas que no sabem ler nem escrever. O levantamento teria tomado como base estimativas da populao de 15 anos ou mais em reas urba nas da Amrica Latina e do Caribe. A comparao demonstrou, certo, que o Brasil conseguiu reduzir sua populao analfabeta: em 1995, ela estava em 15,3% da populao urbana. Com isso avanou uma posio na lista dos pases da regio.

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Por outro lado, pases como Barbados, Chile, Argentina, Costa Rica, Guiana, Uruguai, Trinidad e Tobago, Cuba, Antilhas Holandesas e Bahamas mantm as menores taxas da regio, com at 5% da populao urbana analfabeta. A serem estes os dados que ainda predominam, de se concluir que o Brasil tem muitssimo a fazer em termos de compromisso constitucionalmente imposto de erradicar o analfabetismo, at mesmo para que os direitos fundamen tais, a dignidade da pessoa humana, a sua liberdade, a igualdade de oportunida des possam ser efetivados. Todavia, para os fins da ao direta de inconstitucionalidade por omisso, no h como se afirmar, aqui, ter havido inrcia do Presidente da Repblica de modo a se lhe imputar providncia administrativa que ainda no tivesse sido por ele adotada e que poderia ser suprida pela procedncia desta ao. At mesmo, por informaes prestadas pelo Ministrio da Educao, tem se que:A Unio Federal, por meio do Ministrio da Educao, tem atuado nas duas frentes. Desde 2003, foi institudo o Programa Brasil Alfabetizado, posterior mente formalizado na Lei 10.880, de 2004, que resultou da converso da Medida Provisria n. 173, de 16 de maro de 2004. Em 2007, a Lei 10.880 foi alterada, modificandose o modelo de atuao do Programa Brasil Alfabetizado, a fim de privilegiar a atuao em regime de coopera o com Estados e Municpios. Osprofessores das redes pblicas passaram a ter a oportunidade de colaborar com o trabalho de alfabetizao de adultos, em lugar do antigo modelo baseado na atuao de organizaes no governamentais. Essa pol tica foi institucionalizada no Decreto n. 6.093, de 24 de abril de 2007. 3. No bastasse isso, o Ministrio da Educao vem tratando da questo em sua integral complexidade. sabido que a alfabetizao, isoladamente, representa apenas a porta de sada do analfabetismo. No sendo complementada pela frequncia Educao de Jovens e Adultos (EJA), o indivduo retorna condio de analfabeto. Com o objetivo de atacar tambm esse aspecto do problema, por iniciativa do Poder Executivo, foi encaminhada ao Congresso Nacional proposta de emenda constitucional, promulgada como Emenda Constitucional n. 53, de dezembro de 2006, que instituiu o Fundo Nacional de Educao Bsica (FUNDEB), prevendo o financiamento pblico para a Educao de Jovens e Adultos, o que permite que Municpios, Estados e Distrito Federal destinem recursos do Fundo, garantindo a continuidade dos estudos. A cooperao federativa que estrutura o Programa Brasil Alfabetizado resul tou no repasse da integralidade dos recursos do programa, em 2007, aos Estados e Municpios (tabela 1), o que demonstra que se trata, portanto, de poltica pblica articulada, tambm no plano do financiamento, para alfabetizao e educao de jovens e adultos. 4. Acrescentese, ainda, ter havido especial ateno com relao ao aspecto re gional da distribuio de analfabetos. Aedio 2007 do Programa, cumprindo a orien tao contida no Decreto n. 6.093, de 2007, concentrou seus esforos no atendimento das populaes do Nordeste, onde as taxas de analfabetismo nos Estados da regio variam entre 18 e 26%. Nesta regio esto mais de 80% das turmas do Programa, o que representar um ganho de efetividade na implementao do direito educao.

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5. Rebatendo aos argumentos apresentados na inicial, possvel tambm afirmar, com segurana, que a Unio Federal tem polticas voltadas para a educao bsica, as quais tm contribudo para a expressiva reduo do ingresso de jovens no universo do analfabetismo (grfico 5). Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domiclios (PNAD), se em 1982, cerca de 55% das crianas de 8 anos eram analfabetas, em 2006 esse nmero reduziuse para aproximadamente 15%. Para as crianas de 10 anos, a reduo de 32% para pouco mais de 5% em 2006. Em1982, mais de 13% dos jovens de 15 anos eram analfabetos e em 2006 esse percentual foi reduzido para cerca de 1,5%. As polticas em curso a partir do Plano de Desenvolvimento da Educao e os indicadores fornecidos pela PNAD apontam para a superao do analfabetismo no Brasil, combinando polticas de ampliao da oferta de alfabetizao e educao de jovens e adultos, com especial ateno regio do Nordeste do pas, e polticas de qualidade da educao bsica, que j contam com a adeso dos sistemas de ensino. 6. Importa trazer alguns dados que apresentem o contraditrio em relao aos nmeros indicados na petio inicial. Dizem os autores, com base em publicao especializada, que em 1991 havia cerca de 15 milhes de analfabetos na faixa entre 15 e 70 anos, no meio urbano, e quase dez milhes na mesma faixa no meio rural, totalizando cerca de 25 milhes de analfabetos. Os nmeros apresentados nos quadros em anexo demonstram que essa taxa (a qual, na verdade, inferior ao nmero apresentado, correspondendo a cerca de 16 milhes em 1992) vem caindo, nos ltimos 15 anos (grficos 2 e 3). Osdados da PNAD (grfico 4) indicam que h crescente oferta de cursos de alfabetizao de jo vens e adultos, em grande medida decorrente da ao do Governo Federal por meio da implantao do Programa Brasil Alfabetizado. Alm disso, a populao com 15 anos ou mais que frequenta cursos de Alfabetizao de Adultos aumentou de 241 mil na poca da propositura da ao, em 1997 para 523 mil em 2002 e 790 mil, em 2003, permanecendo neste patamar nos anos seguintes. Isso revela, portanto, no que concerne ao contingente de pessoas analfabetas por deficincias de escolarizao no passado, uma ntida ampliao de oferta, o que resultou na reduo do nmero de analfabetos em cerca de 2 milhes de pessoas, entre 1997 e 2006. Este nmero tende a crescer de modo mais acelerado, tendo em vista as polticas focalizadas, a estruturao do Programa e a reduo do ingresso de jovens analfabetos, decorrente das aes no campo da educao bsica.

(Memorial.) 8.Por isso que, no demonstrada a omisso inconstitucional arguida na petio inicial,votonosentidodejulgarimprocedenteaao. VOTO O Sr. Ministro Ayres Britto: Senhor Presidente, a eminente Relatora no est negando a possibilidade de controle de constitucionalidade por omisso de polticas pblicas no campo da educao. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): No, pelo contrrio, at acentuo, em todos os campos do direito constitucional e muito mais dos direitos sociais. At fiz um item especfico sobre a possibilidade de se poder e dever cobrar a adoo de polticas pblicas para chegar no apenas s normas de princpios e de

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regras, mas inclusive aos objetivos do art.3, que s sero conseguidos quando se chegar erradicao total do analfabetismo formal e informal. Exatamente por isso fiz levantamentos at uma das ltimas vezes que veio pauta este processo, consegui at o ms de novembro manter atualizados todos os programas feitos no sentido no apenas de aumentar o nmero de vagas, aumen tar o nmero de escolas e de professores, mas inclusive, Ministro, da incluso informal, de melhorar aqueles que tinham tido acesso precrio. O Sr. Ministro Ayres Britto: No h nenhuma prova de contingenciamento de despesas nessa rea de educao? A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): No, de jeito nenhum. O Sr. Ministro Ayres Britto: Acompanho Vossa Excelncia. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Por isso que acentuei, porque o questionamento do Ministro Marco Aurlio, naquela ocasio, foi extremamente pertinente, como sempre, mas de uma forma maior aqui. O Sr. Ministro Marco Aurlio: Confesso a Vossa Excelncia, Ministra Crmen Lcia, que, antes, fiquei em dvida, mas na dinmica dos trabalhos no Plenrio a acompanhei. Hoje, estou convencido de que os passos que vm sendo dados nesse campo da educao so passos muito curtos. Divirjo, pois entendo que, ante at mesmo a carga tributria, a receita, h uma certa, e eu diria, uma grande inrcia do poder pblico, do Estado, nesse campo. fato notrio que estamos a engatinhar no campo da educao. muito sria a matria, porque a partir do momento em que o Tribunal assente que no h a inconstitucionalidade por omisso, quer sob o ngulo administrativo, quer sob o ngulo legal, estar dando um certificado de que tudo vem sendo feito para erradicar o analfabetismo. Eassim, individualmente, no o . O Sr. Ministro Ayres Britto: No, eu entendi que no exatamente isso. que os elementos carreados para os autos, objetivamente, no do conta dessa omisso. O Sr. Ministro Marco Aurlio: Mas eu digo que esse panorama notrio. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Est achando que ainda no seria suficiente. O Sr. Ministro Marco Aurlio: notrio quanto educao no Pas. H esforos, mas muito aqum do desejvel para se erradicar o analfabetismo. No basta, simplesmente, dizer que j se vem atendendo ao piso, em termos de parte da receita que deve ser destinada educao, previsto na Carta da Repblica. Hde se fazer um pouco mais. Eo Supremo deve sinalizar nesse sentido. O Sr. Ministro Ayres Britto: Eu falei de contingenciamento, porque cada vez mais entendo que, quando se trata de despesa exigida pela Constituio, por que a receita vinculada... O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Ministro Britto, veja Vossa Excelncia que, depois da ao, ns j tivemos Fundef, Fundeb, piso salarial de

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professores, quer dizer, a Ministra Crmen, na assentada passada, destacou uma srie de medidas, de programas. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Fiz um levantamento, de progra mas inclusive voltados para isso. O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): E de repasse de recursos. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Alguns Estados, claro que neste caso era contra o Presidente da Repblica, mas s para tranquilidade... O Sr. Ministro Marco Aurlio: Certamente no estamos na Sua! A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): ...mas s para se ter uma ideia, alguns Estados, pois eu levantei tambm nos Estados, que tm obrigao de 25%, chegam a 38%, o que no se tem, por exemplo, com a sade. Oque insuficiente ainda, porm eu no poderia alegar a inrcia, porque inrcia no h. O Sr. Ministro Eros Grau: Eu queria fazer uma pergunta, se me permitir. No est confirmada a inobservncia de preceito constitucional, isso? A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): No, porque inrcia no h. O Sr. Ministro Eros Grau:De modo que no restante eu daria uma opinio pessoal, que certamente no expressa a opinio do Poder Judicirio. Euconcordo com o Ministro Marco Aurlio, e gostaria que fosse feito muito mais, mas no tem nada constitucionalmente. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Claro, por isso foi que eu disse exatamente, Ministro. No tem nada inconstitucional no sentido da omisso. O Sr. Ministro Eros Grau:Ento, eu acompanho Vossa Excelncia. O Sr. Ministro Ayres Britto: E os percentuais mnimos, os percentuais oramentrios que a Constituio estabelece em termos de educao esto sendo observados tambm. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Esto sendo at aumentados, no caso federal. O Sr. Ministro Ayres Britto: Perfeito. Muito menos no est havendo contingenciamento. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): No. O Sr. Ministro Marco Aurlio: Vossa Excelncia colocou muito bem. ACarta da Repblica cogita de percentuais mnimos. Indago: se se tem a obser vncia desses percentuais mnimos, simplesmente se diz que tudo vem sendo feito para se erradicar o analfabetismo no Brasil? Tudo vem sendo feito para se implementar a educao? O Sr. Ministro Ayres Britto: Eu acho que no cabe Relatora dizer que tudo est sendo feito. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Eu acho que no cabe ao Supre mo dizer o que mais pode ser feito. O Sr. Ministro Ayres Britto: O juzo objetivo da Relatora, calado em ele mentos empricos, de que no houve demonstrao da mora, da inrcia.

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A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): S para responder a Vossa Excelncia, Ministro, no final do meu voto eu at acentuo que numa das datas em que foi chamado esse processo que, afinal, no conseguimos julgar, eu obtive naquela data, o seguinte do Ministrio da Educao:A Unio Federal, por meio do Ministrio da Educao, tem atuado nas duas frentes. Desde 2003, foi institudo o Programa Brasil Alfabetizado, posterior mente formalizado na Lei 10.880, de 2004, que resultou da converso da Medida Provisria n. 173, de 16 de maro de 2004. Em 2007, a Lei 10.880 foi alterada, modificandose o modelo de atuao do Programa Brasil Alfabetizado, a fim de privilegiar a atuao em regime de coopera o com Estados e Municpios. Osprofessores das redes pblicas passaram a ter a oportunidade de colaborar com o trabalho de alfabetizao de adultos, em lugar do antigo modelo baseado na atuao de organizaes no governamentais. Essa pol tica foi institucionalizada no Decreto n. 6.093, de 24 de abril de 2007. O Ministrio vem tratando ainda da questo em sua integral complexidade. sabido que a alfabetizao, isoladamente, representa apenas a porta de sada do analfabetismo. No sendo complementada pela frequncia Educao de Jovens e Adultos (EJA), o indivduo retornaria condio de analfabeto. Com o objetivo de atacar tambm este aspecto do problema, por iniciativa do Poder Executivo, foi encaminhada ao Congresso Nacional proposta de emenda cons titucional, promulgada como Emenda Constitucional n. 53, de 2006, que instituiu o Fundo Nacional de Educao Bsica (FUNDEB), prevendo o financiamento pblico para Educao de Jovens e Adultos, o que permite que Municpios, Estados e Distrito Federal destinem recursos do Fundo, garantindo a continuidade dos estudos. A cooperao federativa que estrutura o Programa Brasil Alfabetizado resul tou num repasse da integralidade do programa, em 2007, aos Estados e Municpios (tabela 1) [e h anexo tabelas aqui], o que demonstra que se trata, portanto, de po ltica pblica articulada, tambm no plano do financiamento, para alfabetizao e educao de jovens e adultos.

E seguese ainda so ainda trs ou quatro laudas com todos os nmeros que acompanham de 1992 at o ms de novembro do ano passado, demonstrando exatamente. Ento, de fato, temos um problema gravssimo no Brasil, como disse o Ministro Eros Grau, ns todos cidados temos cincia da gravidade do quadro. Esse quadro, no entanto, no demonstra uma inrcia, uma inao, ou uma omis so nos termos constitucionalmente estabelecidos para fins de declarao da inconstitucionalidade. Foi o que me levou concluso. O Sr. Ministro Ayres Britto: o quanto me basta para julgar, tambm, na linha do voto da Relatora, a improcedncia da ao direta de inconstitu cionalidade. VOTO O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, data venia, no vejo como, sem que o Tribunal se invista na funo de administrador, ir alm do voto da Relatora, que acompanho.

R.T.J. 214 VOTO

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O Sr. Ministro Marco Aurlio: Senhor Presidente, entendo que o poder pblico ainda est muito a dever sociedade nesse campo sensvel o da educa o, considerado um pas que pretenda figurar no cenrio internacional. Muito precisa ser feito a respeito. A circunstncia de se observar o piso, que se mostra no grande todo o mnimo, previsto na Carta da Repblica, no me conduz a assentar que no h omisso do poder pblico. Por isso, peo vnia Relatora e queles que a acompanham para julgar procedente o pedido formulado, que, por sinal, foi formulado por partidos que tm os olhos voltados ao social: o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Comunista do Brasil (PC do B), e o Partido Democrtico Trabalhista (PDT). como voto. O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Eu tambm me manifesto no sentido j apontado pela Relatora, pedindo vnia ao eminente Ministro Marco Aurlio, destacando que, ao identificar que vem sendo feito um esforo no sen tido de atender demanda constitucional, quanto erradicao do analfabetismo, e a essa satisfao dos requisitos pertinentes educao, o Tribunal no est a dizer que ns atingimos ndices satisfatrios. Em outra ocasio tive oportunidade de anotar, com base na doutrina alem da chamada Annherungslehre doutrina da aproximao, que estamos muitas vezes diante de desafios que exigem no a satisfao completa, mas a realizao de polticas que se aproximem do desiderato constitucional estabelecido. A eminente Relatora est a apontar que vrias medidas foram tomadas no sentido de se aproximar daquilo que essa chamada normaprograma, norma tarefa, normafim. Estabelece atividade que de ndole legislativa e, tambm, de ndole administrativa, toda cooperao que hoje se estabelece na relao entre a Unio, Estados e Municpios. uma tarefa extremamente complexa e desafiadora. No futuro, se esse tema vier a se colocar novamente e se se entender que as polticas pblicas no se encaminham nesse propsito, certamente, o Tribunal poder ter outro entendimento. Mas esse o juzo que se est a emitir. A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Neste caso, Presidente, alis, como realou tambm o Ministro Carlos Britto, estamos afirmando que h possi bilidade, sim, de a Constituio ser descumprida por uma omisso em relao a polticas pblicas que so exigidas das entidades do poder pblico. O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Polticas pblicas que j so definidas no prprio texto constitucional. O Sr. Ministro Ayres Britto: E isso fundamental.

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A Sra. Ministra Crmen Lcia (Relatora): Exatamente. Acontece que, neste caso, eu examinei, por isso chamei a ateno do Ministro nesse sentido de que est constando em meu voto, que no li na sua integralidade, essa possibilidade pelo que conheci da ao. Conheci e verifiquei no apenas a parte referente legislao que se alterou de 1997 para c no sentido de ampliar a prestao desse servio essencialssimo, como tambm dos programas que foram encaminhados. Essa a razo pela qual eu fiz questo de ler pelo menos essa passagem do voto. O Sr. Ministro Ayres Britto: Essa inflexo de Vossa Excelncia, essa afir mativa de que franqueado ao Supremo Tribunal Federal sindicar do cumpri mento das polticas pblicas que j esto definidas na prpria Constituio, ainda que em linhas gerais, mas aqui at com percentuais mnimos, essa afirmativa de Vossa Excelncia que me parece colocar as coisas no devido lugar. O Supremo Tribunal Federal est exercendo, com legitimidade, um ofcio de controle de constitucionalidade que, de fato, lhe cabe. Agora, como disse o Ministro Gilmar, tratase de poltica pblica predefinida, claro que no com todas as minudncias, com todas as especificidades, na prpria Constituio Federal. E a norma de fato normaprograma ou normatarefa, segundo a melhor doutrina. O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): . EXTRATO DA ATA ADI1.698/DF Relatora: Ministra Crmen Lcia. Requerentes: Partido dos Trabalhadores PT, Partido Comunista do Brasil PC do B e Partido Democrtico Trabalhista PDT (Advogados: Alberto Moreira Rodrigues, Paulo Machado Guimares e Hugo Leal Melo da Silva). Requeridos: Presidente da Repblica (Advogado: AdvogadoGeral da Unio) e Ministro de Estado da Educao. Deciso: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto da Relatora, jul gou improcedente a ao direta, vencido o Ministro Marco Aurlio. Votou o Presidente, Ministro Gilmar Mendes. Impedido o Ministro Dias Toffoli. Ausentes, licenciado, o Ministro Celso de Mello e, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie. Presidncia do Ministro Gilmar Mendes. Presentes sesso os Ministros Marco Aurlio, Cezar Peluso, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Crmen Lcia e Dias Toffoli. ViceProcuradoraGeral da Repblica, Dra. Deborah Macedo Duprat de Britto Pereira. Braslia, 25 de fevereiro de 2010 Luiz Tomimatsu, Secretrio.

R.T.J. 214 AoDIRETADEINCoNSTITuCIoNALIDADE3.235AL

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Relator: O Sr. Ministro Carlos Velloso Relator para o acrdo: O Sr. Ministro Gilmar Mendes Requerente: Confederao Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (COBRAPOL) Requerido: Governador do Estado de Alagoas 1.Aodiretadeinconstitucionalidade.2.Pargrafonico doart.1doDecretoestadual1.807,publicadonoDirio Oficial doEstadodeAlagoasde26demarode2004.3.Determinao de imediata exonerao de servidor pblico em estgio proba trio,casosejaconfirmadasuaparticipaoemparalisaodo servioattulode greve.4.Alegadaofensadodireitodegreve dosservidorespblicos(art.37,VII)edasgarantiasdocontra ditrioedaampladefesa(art.5,LV).5.Inconstitucionalidade. 6.oSupremoTribunalFederal,nostermosdosmI670/ES,708/ DF e 712/PA, j manifestou o entendimento no sentido da efi cciaimediatadodireitoconstitucionaldegrevedosservidores pblicos,aserexercidopormeiodaaplicaodaLei7.783/1989, atquesobrevenhaleiespecficapararegulamentaraquesto. 7.DecretoestadualqueviolaaConstituioFederal,por(a)con sideraroexerccionoabusivododireitoconstitucionaldegreve como fato desabonador da conduta do servidor pblico e por (b)criardistinodetratamentoaservidorespblicosestveis enoestveisemrazodoexercciododireitodegreve.8.Ao julgadaprocedente. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supre mo Tribunal Federal, em sesso plenria, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrficas, por maioria de votos, julgar procedente a ao direta. Braslia, 4 de fevereiro de 2010 Ministro Gilmar Mendes (art. 38, II, RISTF), Presidente e Relator para acrdo. RELATRIO O Sr. MinistroCarlos Velloso: A ConfederaoBrasileiradeTra aha b l do esPoliciaisCivis(CoBRAPoL)prope, com fundamento no art.103, IX, r da Constituio Federal, aodiretadeinconstitucionalidade, com pedidode suspensocautelar,do pargrafonicodo art.1 do Decreto1.807,de25de marode2004,doGovernadordoEstadodeAlagoas, que estabelece provi dncias para o caso de paralisao de servidores pblicos a ttulo de greve. O dispositivo impugnado tem o seguinte teor:

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R.T.J. 214Art.1 Omissis. Pargrafo nico. Caso comprovada, mediante processo administrativo pr prio, a participao de servidor, em estgio probatrio, na paralisao do servio, a ttulo de greve, ser este imediatamente exonerado.

Sustenta a autora, em sntese, o seguinte: a) violaoaoincisoLVdoart.5daConstituioFederal, uma vez que a norma impugnada prev a exonerao imediata do servidor pblico em estgio probatrio que venha a participar, a ttulo de greve, da paralisao do servio; b) ofensaaolivreexercciododireitodegreveporpartedosservidores pblicosemestgioprobatrio,direitoesseprevistonoincisoVIIdoart.37 da Constituio Federal, porquanto os servidores pblicos que ainda esto em estgio probatrio, muito embora, como se sabe, no estejam efetivados no servio pblico e, no cargo que ocupam, tm assegurado todos os direitos pre vistos para os demais servidores, inclusive o constitucional de exercer o direito de greve, sem que isso seja considerado falta grave passvel de exonerao imediata (fls. 67). Ao final, requer a autora, liminarmente, a suspensoda norma impugnada e, no mrito, a procedncia da presente ao direta de inconstitucionalidade. Solicitadasinformaes (fl. 29), na forma do art.12daLei9.868/1999, o GovernadordoEstadodeAlagoas as prestou(fls. 3547), sustentando, em sntese, o seguinte: a) constitucionalidade do dispositivoimpugnado, porquanto esta ao no representa uma questo nova a ser apreciada por este colegiado, posto que o Estado da Bahia e o de Sergipe j editaram em tempos passados decretos seme lhantes ao que ora se impugna, tendo este Supremo Tribunal a oportunidade de reconhecerlhes a constitucionalidade quando do julgamento da ADINn.1.306/ BA e da ADINn.1.696 9/SE (fl. 41). Nesse contexto, ressalta que o incisoVII do art.37 da Constituio Federal no impede que o ente federado discipline as consequncias administrativas decorrentes da paralisao do servio, a ttulo de greve, por parte dos servidores pblicos; b) observnciadagarantiadocontraditrioedaampladefesa, dado que a norma impugnada assegura de forma clara que a exonerao ser prece dida de processo administrativo que venha a comprovar que o servidor pblico em estgio probatrio, a ttulo de greve, concorreu para a paralisao do serviopblico; c) no violao ao exerccio do direito de greve, mormente porque o entendimento firmado pela doutrina e pelos tribunais de que o servidor pblico em estgio probatrio no se encontra abrangido pela estabilidade decorrente do provimento de cargos em carter efetivo (fl. 45). O ilustre Advogado Geraldaunio, Dr. lvaro Augusto Ribeiro Costa, manifestase pela constitucionalidade do Decreto 1.807, de 25 de maro de 2004,doEstadodeAlagoas (fls. 4953).

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A Procuradoria Geral da Repblica, em parecer lavrado pelo ento ProcuradorGeral da Repblica, Prof. Cludio Fonteles, opinou pela improce dnciadopedido(fls. 5558). o relatrio, do qual sero expedidas cpias aos Exmos. Srs. Ministros. VOTO Ementa: Constitucional. Greve de servidor pblico. CF, art.37, VII. Decreto 1.807, de 2004, do Governador do Estado de Alagoas. I Dependendo o direito de greve do servidor pblico CF, art.37, VII de lei especfica, no inconstitucional o pargrafo nico do art.1 do Decreto 1.807, de 2004, do Governador de Alagoas, que estabelece que, comprovado, mediante processo administrativo prprio, a participao de servidor, em estgio probatrio, na paralisao do servio, a ttulo de greve, ser este imediatamente exonerado. que o direito de greve do servidor pblico depende de lei especfica CF, art.37, VII, lei esta ine xistente. MI20/DF, Ministro Celso de Mello, e MI438/GO, Ministro Nri da Silveira; ADI1.306MC/BA, Ministro Octavio Gallotti; ADI1.696/SE, Ministro Seplveda Pertence. II Ao direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. O Sr. MinistroCarlos Velloso (Relator): Tratase de ao direta de incons titucionalidade ajuizada pela Confederao Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (COBRAPOL), com o objetivo de ser declarada a inconstitucionalidade do pargrafo nico do art.1 do Decreto 1.807, 2532004, que dispe:Art.1 (...) Pargrafo nico. Caso comprovada, mediante processo administrativo pr prio, a participao de servidor, em estgio probatrio, na paralisao do servio, a ttulo de greve, ser este imediatamente exonerado.

(Fl. 12.) Oficiando nos autos, assim se pronunciou o eminente ProcuradorGeral da Repblica, Prof. Claudio Fonteles:(...) 6. Inicialmente, cumpre consignar que improcedente afigurase a alegao de desrespeito aos princpios do contraditrio e da ampla defesa. Depreendese da simples leitura do dispositivo impugnado que a punio disciplinar nele prevista somente ser aplicada ao servidor caso comprovada sua participao mediante pro cesso administrativo prprio. 7. Notocante aduzida ofensa ao direito de greve, no procede a presente ao direta de inconstitucionalidade. Isso porque o Decreto n. 1.807/2004, do Estado de Alagoas, vem apenas a no mbito da competncia reservada ao chefe do Poder Executivo (art.84, VI, da CF) disciplinar as consequncias, de ordem emi nentemente administrativa, de um ato (a greve por parte dos servidores pblicos) que, luz da jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, construda a partir do julgamento do Mandado de Injuno n. 20, carece de fundamento legal, at que seja editado o diploma normativo a que alude o incisoVII do art.37, da Carta Federal.

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R.T.J. 2148. Tal o entendimento que se colhe do voto proferido, em sede liminar, pelo ento Relator da ADI n. 1.306/BA, o eminente Min. Octavio Gallotti, proposta con tra decreto expedido pelo Governador do Estado da Bahia, de contedo normativo semelhante ao do impugnado na presente ao. Eis o voto: Cabe, primordialmente, esclarecer que o decreto atacado no est pro priamente a regulamentar o exerccio do direito de greve, como prope a inicial. Vem, ao revs, disciplinar as consequncias de uma conduta (a greve) cuja pr tica, no mbito do servio pblico, foi julgada inconstitucional pelo Supremo Tribunal, at a edio (que at hoje no ocorreu) da lei complementar exigida pelo art.37, VII, da Constituio (cfr. deciso no MI20, sesso de 1951994). Passando a analisar as medidas estabelecidas, penso dentro da pre missa fixada no comeo deste voto, no haver motivos de reserva, ao primeiro exame, para convocao dos grevistas, conforme previsto no incisoI do art.1. Quanto ao item II do mesmo art.1, ressalto que no existe ali criao de norma disciplinar, porquanto as penalidades, a que se remete, so as insti tudas na lei mencionada, o mesmo sucedendo, com o incisoIV, a respeito da contratao temporria, tambm a ser realizada de acordo com lei j existente. O item III dispe sobre o desconto correspondente aos vencimentos e vantagens dos dias de falta ao servio, providncia cuja adoo no vejo como impugnar. Recordo que, ao referendar despacho cautelar de minha autoria, na ADI546, este Plenrio deu pela suspenso da eficcia de lei do Estado do Rio Grande do Sul que considerava como de efetivo exerccio os dias no trabalhados. Eflo com base no art.61, III, c, 63, I, e 84, VI, to dos da Constituio Federal, o ltimo a indicar que a matria se contm na competncia do Poder Executivo para dispor sobre a organizao e o funcio namento da administrao pblica, de onde no parece, igualmente possvel excluir as medidas para que genericamente acena o art.2 do decreto. Julgo, finalmente, que a exonerao mencionada pelo art.2, tambm se insere na competncia acima lembrada, sem que se lhe possa imputar a eiva da abran gncia de servidores estveis ou cargos providos em carter efetivo. 9. Ainda nesse sentido, ressaltase aresto proferido por essa Corte Suprema nos autos da Ao Direta de Inconstitucionalidade n. 1.696/SE, de relatoria do emi nente Min. Seplveda Pertence, assim ementado: Greve de servidor pblico: no ofende a competncia privativa da Unio para disciplinarlhe, por lei complementar, os termos e limites o que o STF reputa indispensvel licitude do exerccio do direito (MI20 e MI438; ressalva do Relator) o decreto do Governador que a partir da pre missa de ilegalidade da paralisao, falta da lei complementar federal dis cipline suas consequncias administrativas, disciplinares ou no (precedente: ADI1.306MC, 3061995). 10. Assim, tendo em vista que no h exerccio lcito do direito de greve en quanto no forem fixados seus termos e limites por lei especfica, o ato normativo em questo, que disciplina as consequncias administrativas da paralisao re conhecidamente ilegal, plenamente compatvel com as normas e princpios da Constituio Federal. 11. Ante o exposto, manifestase o Ministrio Pblico Federal pela improce dncia da presente ao direta. (...).

(Fls. 5658.)

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Correto o parecer. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos MI20/DF, Rel. oSr. Min. Celso de Mello, e 438/GO, Rel. oSr. Min. Nri da Silveira, decidiu que o direito do servidor pblico CF, art.37, VII depende de lei. Noutras palavras, a norma do art.37, VII, CF no de eficcia plena, dependendo essa eficcia de norma tizao ulterior. Proferi, quando dos citados julgamentos, voto, estabelecendo, para o caso concreto, a norma que asseguraria o exerccio do direito de greve ao empregado da iniciativa privada. Fiquei vencido, entretanto. Assim o voto que proferi no julgamento do MI438/GO:(...) Senhor Presidente, conheo em parte do pedido, vale dizer, conheo do mandado de injuno no ponto em que requerida a viabilizao do exerccio do direito de greve que a Constituio concede aos servidores pblicos, no incisoVII do art.37, direito cujo exerccio depende de norma infraconstitucional regulamen tadora. conferir: Art.37. (...) VII o direito de greve ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei complementar. Nesta parte, pois, conheo do pedido. Prosseguindo, reportome ao voto que proferi no MI20, no qual aduzi: Senhor Presidente, o eminente Ministro Celso de Mello, no seu douto voto, trouxe ao debate um dos primeiros despachos que proferi, nesta Casa, em julho de 1990, quando tinha pouco mais de trinta dias de investidura na Corte. Lembrome bem, tive que despachar nas frias a ADI339, do Rio de Janeiro, em que se arguia a inconstitucionalidade de uma resoluo do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro, que considerava ilegal a greve dos seus servidores. Na oportunidade, examinando a matria, cheguei concluso de que estvamos diante de uma norma de eficcia limitada. Sei que bons autores sustentam que essa norma de eficcia contida. Hpouco comentava com o eminente Ministro Seplveda Pertence a opinio de Arion Sayo Romita, no seu livro Os direitos sociais na Constituio e outros estudos, de 1991, refe rida no voto do eminente Ministro Celso de Mello, que, inclusive, trouxe a pesquisa feita pelo autor a respeito de direito de greve no Direito comparado. Naquela oportunidade, repito, entendi que estvamos diante de uma norma de eficcia limitada, e no de eficcia contida. Ainda continuo pensando assim. Destaco da deciso que proferi na citada ADI339/RJ: A Constituio assegura aos trabalhadores, de modo amplo, o direito de greve, competindolhes decidir sobre a oportunidade de exerclo e sobre os interesses que devam por meio dele defender (CF, art.9). Os1 e 2 do citado art.9 estabelecem, a seguir, que a lei definir os servios ou atividades essenciais e dispor sobre o entendi mento das necessidades inadiveis da comunidade (1) e que os abu sos cometidos sujeitam os responsveis s penas da lei (2). Assim em relao aos trabalhadores de modo geral, excludos, entretanto, os servidores pblicos, para os quais h norma especfica, o art.37, VII, que dispe: Art.37. (...) VII o direito de greve ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei complementar; (...)

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R.T.J. 214Verificase, destarte, que, enquanto trabalhadores no servidores pblicos gozam, com amplitude, do direito de greve, direito estabe lecido em norma constitucional de aplicabilidade imediata art.9 e seus pargrafos o direito de greve do servidor pblico ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei complementar (art.37, VII). Quer dizer, enquanto a norma do art.9 de eficcia plena, assim de aplicabilidade imediata, direta, integral, porque independe de norma tividade ulterior para a sua operatividade, a norma do art.37, VII, da Constituio, no autoaplicvel (Walter Ceneviva, Direito constitu cional brasileiro, Ed. Saraiva, 1989, p. 135), assim de eficcia limi tada, porque, segundo leciona Jos Afonso da Silva, o constituinte ainda no teve coragem de admitir amplo direito de greve aos servi dores pblicos, pois, em relao a estes, submeteu o exerccio desse direito aos termos e limites definidos em lei complementar (art. 37, VII) (Jos Antnio da Silva, Curso de direito constitucional positivo, Ed. RT, 5. ed., 1989, p. 268269). Deste, alis, a lio, no que concerne ao direito de greve ao servidor pblico, que, (...) quanto greve, o texto constitucional no avanou seno timidamente, estabelecendo que o direito de greve dos servidores pblicos ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei complementar, o que, na prtica, quase o mesmo que recusar o direito prometido; primeiro porque, se a lei no vier, o direito inexistir; segundo porque, vindo, no h parmetro para seu contedo, tanto por ser mais aberta como mais restritiva. (Jos Afonso da Silva, ob. cit., p. 584). No sendo, pois, autoaplicvel a disposio inscrita no art.37, VII, da Constituio, no se poderia falar em direito de greve do ser vidor pblico. Dirse que a regra inscrita no art. 5, 1, da Constituio, emprestaria aplicabilidade imediata norma do art. 37, VII, da Constituio. O argumento, entretanto, no me parece procedente, pelo menos por ora, em sede de exame de pedido de liminar. A uma, porque a regra do 1 do art.5diria respeito, em linha de princpio, aos direitos inscritos no art.5. Aduas, porque a regra do 1do art.5 deve ser entendida com temperamentos. Vale, no ponto, a lio de Celso Bastos, ao comentar o citado 1 do art.5:O que deve ser entendido pelo dispositivo ora comentado que as normas de finidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata tanto quanto possvel. dizer, o dispositivo quis eliminar a dvida que paira sobre aquela rea penumbrosa que normalmente se forma em torno de muitos dos dispositivos constitucionais. Tem ele aplicao imediata? Ou no seria prefervel aguardarse a legislao regulamen tadora? Responde o constitucionalista: Tero aplicao imediata todos os direitos e garantias fundamentais, desde que no obstados por uma expressa referncia da lei a uma legislao integradora, nem por um vazio semntico tamanho que torne o preceito absolutamente dependente de uma integrao normativa. E, resumindo o seu pen samento, conclui o professor paulista: Em sntese, o contedo deste pargrafo consiste no seguinte: o princpio vigorante o da aplicabi lidade imediata, que, no entanto, cede em duas hipteses: a) quando

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a Constituio expressamente refere que o direito acenado s ser exercitvel nos termos e na forma da lei; b) quando o preceito constitu cional for destitudo de elementos mnimos que assegurem a sua apli cao, dizer, no pode o vazio semntico ser to acentuado a ponto de forar magistrado a converterse em legislador. (Celso Ribeiro Bastos, Comentrios Constituio do Brasil, Ed. Saraiva, 1989, II/393). Ora, a norma de que cuidamos, o inciso VII do art. 37 da Constituio absolutamente dependente de legislao ulterior, porque a Constituio deixa claro que o direito ser exercido nos termos e nos limites definidos em lei complementar. Se o incisoVII do art.37 da Constituio dispusesse que o direito de greve ser exercido nos limites definidos em lei complementar, teramos uma norma de eficcia contida. Vale dizer, a norma concessiva do direito de greve seria eficaz, teria aplicabilidade imediata, mas a norma infraconstitucional,a lei complementar, poderia limitar o direito de greve. Todavia, do modo como a norma constitucional veiculada no incisoVII do art.37, ela de eficcia limitada, dado que a greve ser exercida nos termos da lei complementar. O Supremo Tribunal Federal, hoje, tomar importantssima deciso: a norma ins crita no incisoVII do art.37 de eficcia limitada, vale dizer, no autoaplic vel, no de aplicabilidade imediata, j que depende de normatizao ulterior. Posta assim a questo, devemos prosseguir no julgamento do mandado de injuno. A Casa conhece o meu pensamento a respeito do mandado de injun o. Estamos diante de um caso em que cabvel esta medida. Sustento que devemos emprestar ao mandado de injuno a mxima eficcia. Reportome aos votos que tenho proferido nesta Casa, a respeito do tema, em que sustento que, julgada procedente a injuno, deve o Supremo Tribunal Federal elabo rar a norma para o caso concreto, vale dizer, a norma que viabilizar o exer ccio do direito. Reportome, por exemplo, aos votos que proferi nos MI369/ DF, 219/DF, 384/RJ, 429/RJ, 95/RR, 124/SP, 278/MG. Assim, Senhor Presidente, passo a fazer aquilo que a Constituio determina que eu faa, como juiz: elaborar a norma para o caso concreto, a norma que viabilizar, na forma do disposto no art.5, LXXI, da Lei Maior, o exerccio do direito de greve do servidor pblico. A norma para o caso concreto ser a lei de greve dos trabalhadores, a Lei 7.783, de 2861989. dizer, determino que seja aplicada, no caso con creto, a lei que dispe sobre o exerccio do direito de greve dos trabalhadores em geral, que define as atividades essenciais e que regula o atendimento das necessidades inadiveis da comunidade. Sei que na Lei 7.783 est disposto que ela no se aplicar aos servido res pblicos. Todavia, como devo fixar a norma para o caso concreto, penso que devo e posso estender aos servidores pblicos a norma j existente, que dispe a respeito do direito de greve. Nesses termos, Senhor Presidente, julgo procedente o presente man dado de injuno. Tambm aqui, Senhor Presidente, viabilizando o exerccio do direito de greve por parte dos servidores pblicos, adoto, como norma para ocaso concreto, a Lei 7.783, de 2861989. Nesses termos, julgo procedente, em parte, o pedido.

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Assim posta a questo, dependendo o direito de greve do servidor pblico de lei especfica CF, art.37, VII, no inconstitucional a norma do pargrafo nico do art.1 do Decreto estadual 1.807, de 2004. Em caso semelhante, ADI 1.306MC/BA, Rel. o Min. Octavio Gallotti, decidiu o Supremo Tribunal:Ementa: Insuficincia de relevo de fundamentao jurdica em exame caute lar, da arguio de inconstitucionalidade de decreto estadual que no est a regular (como propem os requerentes) o exerccio do direito de grave pelos servidores pblicos; mas a disciplinar uma conduta julgada inconstitucional pelo Supremo Tribunal, at que venha a ser editada a lei complementar prevista no art.37, II, da Carta de 1988 (MI20, sesso de 1951994).

(DJ de 27101995.) Tambm na ADI 1.696/SE, Rel. o Min. Seplveda Pertence, decidiu o Supremo Tribunal:Ementa: Grevedeservidorpblico: no ofende a competncia privativa da Unio para disciplinarlhe, por lei complementar, os termos e limites e o que o STF reputa indispensvel licitude do exerccio do direito (MI20 e MI438; ressalva do Relator) o decreto do Governador que a partir da premissa de ilegalidade da para lisao, falta da lei complementar federal discipline suas consequncias adminis trativas, disciplinares ou no (precedente: ADI1.306MC, 3061995).

(DJ de 1462002.) Assim posta a questo, julgo improcedente a ao e declaro a constitucio nalidade do pargrafo nico do art.1 do Decreto 1.807, de 2004, do Governador do Estado de Alagoas. DEBATE O Sr. Ministro Marco Aurlio: Ministro, Vossa Excelncia me permite uma ponderao? Comungamos quanto aplicao da legislao comum, relativa aos empregados da iniciativa privada, aos servidores pblicos e ficamos vencidos. OMinistro Seplveda Pertence, inclusive, sustentou que a greve algo natural e ocorre independentemente de regulamentao seria quase um direito natural. H no caso, entretanto, algumas peculiaridades: primeiro, desprezase o processo, inviabilizandose a defesa at mesmo para se esclarecer quanto parti cipao, ou no cogitase da imediata exonerao do servidor; segundo, penso que no razovel a disciplina que estabelece tratamento diferenciado. Osim ples fato de se estar no estgio probatrio no leva a tratamento diverso, conside rados os servidores em geral. O Sr. Ministro Carlos Velloso (Relator): No sei se Vossa Excelncia estaria de acordo. Asua ponderao me parece relevante. Faramos uma interpretao conforme a Constituio, no sentido de que essa exonerao dependeria...

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O Sr. Ministro Marco Aurlio: Haveria, entretanto, esse segundo argu mento quanto ao tratamento especfico: rigor maior em relao queles que esto no estgio probatrio. Tendo a afastar a previso do cenrio. O Sr. Ministro Seplveda Pertence: Caso comprovado, seria mediante pro cesso administrativo. Estou ciente de que o Ministro Eros Grau vai ressuscitar essa discusso. Ele me disse que tem voto pronto. EXTRATO DA ATA ADI 3.235/AL Relator: Ministro Carlos Velloso. Requerente: Con fe derao Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis COBRAPOL (Advogados: Paulo Csar Matos da Silva e outros). Requerido: Governador do Estado de Alagoas (Advogado: Aluisio Lundgren Corra Regis). Deciso: Aps o voto do Ministro Carlos Velloso (Relator), julgando improcedente a ao, pediu vista dos autos o Ministro Gilmar Mendes. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Eros Grau. Presidncia do Ministro Nelson Jobim. Presidncia do Ministro Nelson Jobim. Presentes sesso os Ministros Seplveda Pertence, Carlos Velloso, Marco Aurlio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto e Joaquim Barbosa. ProcuradorGeral da Repblica, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza. Braslia, 19 de dezembro de 2005 Luiz Tomimatsu, Secretrio. VOTOVISTA O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Tratase de ao direta de inconstitu cionalidade com pedido de medida liminar, ajuizada em junho de 2004 pela Confederao Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (COBRAPOL), com fundamento no art.103, incisoIX, da Constituio Federal, em face do pargrafo nico do art.1 do Decreto 1.807, de 25 de maro de 2004, do Governador do Estado de Alagoas. Eis o teor do ato normativo impugnado:Art.1 (...) Pargrafo nico. Caso comprovada, mediante processo administrativo pr prio, a participao de servidor, em estgio probatrio, na paralisao do servio, a ttulo de greve, ser este imediatamente exonerado.

Segundo os autores da ao direta, o dispositivo impugnado ofenderia o art.5, LV, e o art.37, VII, da Constituio Federal. Na sesso plenria de 19122005, o Ministro Carlos Velloso votou no sentido da improcedncia da ao. O fundamento central do voto do Ministro Relator seria o fato de que o direito de greve dos servidores pblicos (art.37, VII, CF/1988) dependeria de lei, conforme a jurisprudncia do Supremo Tribunal

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Federal que prevalecia poca, explicitada nos seguintes julgados: MI20/DF, Rel. Celso de Mello; MI438/GO, Rel. Nri da Silveira. Diante da relevncia da questo, pedi vista dos autos para melhor compreen so da matria. Oexame da ao aponta para duas questes: (a) a eficcia do direito de greve dos servidores pblicos, a despeito da existncia de lei especfica que trate sobre o tema; (b) a constitucionalidade do critrio de efeitos distintos para servido res estveis e no estveis, em razo da adeso a um movimento grevista. Entre a formulao do meu pedido de vista e a presente data, houve o jul gamento dos MI 670/ES, 708/DF e 712/PA, que alterou significativamente o entendimento jurisprudencial desta Corte em relao eficcia e ao modo de exerccio do direito de greve dos servidores pblicos em geral, ainda que inexis tente lei especfica, capaz de alterar o curso da deciso da presente ao direta de inconstitucionalidade. Dessa forma, retomo aqui alguns fundamentos daquele julgamento, para melhor anlise da presente ao direta de inconstitucionalidade. No julgamento do MI 708/DF, de minha relatoria (DJE de 31102008, Pleno), fixouse uma nova possibilidade para o caso da regulamentao da greve dos servidores pblicos (art.37, VII, CF/1988). Naquela oportunidade, asseverei que o direito de greve dos servidores pblicos tem sido objeto de sucessivas dila es desde 1988 e que a omisso legislativa neste mbito gerava grande instabili dade e falta de controle jurdico dos movimentos grevistas dos servidores pblicos. Afirmei que a no regulao do direito de greve acabou por propiciar um quadro de selvageria com srias consequncias para o Estado de Direito, a no mais justificar a inrcia legislativa e a inoperncia das decises desta Corte. Nesse contexto, era de se concluir que no se poderia considerar simplesmente que a satisfao do exerccio do direito de greve pelos servidores pblicos civis devesse ficar submetida absoluta e exclusivamente a juzo de oportunidade e con venincia do Poder Legislativo. Apontouse naquela oportunidade qual era a antiga orientao jurispruden cial desta Corte quanto amplitude dos efeitos do mandado de injuno, abaixo resumida:Em resumo, podese afirmar que: i) os direitos constitucionalmente garantidos apresentamse como direitos expedio de um ato normativo e no podem ser satisfeitos atravs de eventual execuo direta por parte do Tribunal; a deciso judicial que declara a existncia de uma omisso inconstitucional constata, igualmente, a mora do rgo ou poder legi ferante, e o condena a editar a norma requerida; ii) a omisso inconstitucional tanto pode referirse a uma omisso total do legislador quanto a uma omisso parcial; iii) a deciso proferida no controle abstrato da omisso tem eficcia erga om nes, e no tem diferena fundamental da deciso prolatada no mandado de injuno; iv) possvel que o Supremo Tribunal Federal determine, na ao de man dado de injuno, a suspenso de processos administrativos ou judiciais, com in tuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado pela norma mais benfica. Essa faculdade legitima, igualmente, a edio de outras medidas que garantam a posio do impetrante at a expedio das normas pelo legislador.

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Ficaram consignadas, ainda, as transformaes pelas quais o instituto do mandado de injuno havia passado nesta Corte (MI 283, Rel. Seplveda Pertence; MI232, Rel. Moreira Alves; MI284, Rel. Celso de Mello), a eviden ciar uma nova perspectiva que admitiria uma soluo normativa para a deciso judicial, em que o Supremo Tribunal Federal passasse a aceitar a possibilidade de uma regulao provisria pelo prprio Judicirio, uma espcie de sentena aditiva (cf., nesse sentido, MI562/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 2062003; e MI543/DF, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ de 2452002, MI679, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 17122002). Especificamente em relao discusso do direito de greve em mandados de injuno, consta naquela deciso que esta Corte ficava adstrita to somente declarao da existncia da mora legislativa para a edio de norma reguladora especfica (MI20/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Pleno, maioria, DJ de 2211 1996; MI485/MT, Rel. Min. Maurcio Corra, Pleno, maioria, DJ de 2382002; e MI585/TO, Rel. Min. Ilmar Galvo, Pleno, maioria, DJ de 282002). O que se evidenciou que, sem buscar conferir um protagonismo legisla tivo deste Tribunal, a no atuao desta Corte no tema da greve dos servidores pblicos j configuraria quase uma omisso judicial, pelo que propugnei a necessidade de uma soluo obrigatria da perspectiva constitucional, uma vez que ao legislador no era dado escolher se concede ou no o direito de greve, mas a ele caberia to somente dispor sobre a adequada configurao da sua disciplina. Uma sistmica conduta omissiva do Legislativo poderia e deveria ser submetida apreciao do Judicirio (e por ele deve ser censurada), de forma a garantir, minimamente, direitos constitucionais reconhecidos (CF, art. 5, XXXV), como garantia de proteo judicial efetiva que no pode ser negligen ciada na vivncia democrtica de um Estado de Direito (CF, art.1). Em concluso, a deciso do MI708/DF estabeleceu uma mudana de pers pectiva quanto s possibilidades jurisdicionais de controle de constitucionalidade das omisses legislativas, para que a soluo alvitrada por essa posio no des bordasse do critrio da vontade hipottica do legislador, uma vez que se cuidaria de adotar, provisoriamente, para o mbito da greve no servio pblico, as regras aplicveis s greves no mbito privado. No mrito do referido julgado, houve o acolhimento da pretenso formulada to somente no sentido de que se aplicasse a Lei 7.783/1989 enquanto a omisso no for devidamente regulamentada por lei especfica para os servidores pblicos, desde que observados os parmetros institucionais e constitucionais de definio de competncia, provisria e ampliativa, para a apreciao de dissdios de greve instaurados entre o poder pblico e os servidores com vnculo estatutrio. Assim, em regra, definiuse que a deciso do mandado de injuno, ainda que dotada de carter subjetivo, comportaria uma dimenso objetiva, com efic cia erga omnes, que serviria para tantos quantos fossem os casos que demandas sem a concretizao de uma omisso geral do poder pblico, seja em relao a uma determinada conduta, seja em relao a uma determinada lei.

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Portanto, a partir do julgamento dos MI670/ES, 708/DF e 712/PA, novo entendimento se consolidou sobre o direito de greve dos servidores pblicos, para que pudesse ser exercido de imediato, por aplicao analgica da Lei 7.783/1989, de acordo com os parmetros estabelecidos naquelas decises. A par dessas prvias e essenciais consideraes, que esclarecem o atual entendimento jurisprudencial desta Corte quanto ao exerccio do direito de greve pelos servidores pblicos, retomo a discusso contida nesta ADI 3.235/AL, para destacar que no h como acolher a premissa formulada no voto do ento Ministro Relator, Carlos Velloso, a seguir transcrita:(...) Correto o parecer. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos MI 20/DF, Rel. o Sr. Min. Celso de Mello, e 438/GO, Rel. oSr. Min. Nri da Silveira, decidiu que o direito do ser vidor pblico CF, art.37, VII depende de lei. Noutras palavras, a norma do art.37, VII, CF no de eficcia plena, dependendo essa eficcia de normatizao ulterior. (...) Assim posta a questo, dependendo o direito de greve do servidor pblico de lei especfica CF, art.37, VII, no inconstitucional a norma do pargrafo nico do art.1 do Decreto estadual 1.807, de 2004. (...) Assim posta a questo, julgo improcedente a ao e declaro a constituciona lidade do pargrafo nico do art.1 do decreto, de 2004, do Governador do Estado de Alagoas.

Isso porque, conforme j aqui analisado, o direito de greve dos servidores pblicos pode ser exercido de imediato, por aplicao analgica da Lei 7.783/1989 e de acordo com os parmetros estabelecidos naquelas decises, conforme o entendimento consignado no julgamento dos MI670/ES, 708/DF e 712/PA. Assim, constatase que o dispositivo impugnado padece de inconstituciona lidade, na medida em que considera o exerccio no abusivo de um direito consti tucional direito de greve como falta grave ou fato desabonador da conduta no servio pblico, a ensejar a imediata exonerao do servidor pblico em estgio probatrio, mediante processo administrativo prprio. O exerccio de um direito constitucional garantia fundamental a ser pro tegida por esta Corte, desde que no exercido de forma abusiva. Odispositivo impugnado, na condio de norma geral e abstrata que imputa aos servidores pblicos do Estado de Alagoas consequncias extremamente gravosas, de forma irrestrita, tanto pelo exerccio abusivo, quanto pelo exerccio no abusivo do direito de greve, viola expressamente o disposto no art.37, VII, CF/1988. Alm disso, o dispositivo impugnado explicita uma diferenciao de efei tos do exerccio do direito de greve entre servidores estveis e no estveis, imputando consequncia gravosa apenas aos primeiros, consubstanciada no ato de imediata exonerao. AConstituio Federal de 1988 no alberga nenhuma diferenciao nesse sentido.

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Registrese que o texto originrio do art.41 da Constituio Federal de 1988, seguindo o disposto nas Constituies anteriores (art.188 da Constituio Federal de 1946; art. 100 da Constituio Federal de 1967 e Emenda Constitucional 1/1969), estabelecia o prazo de dois anos para que os servidores adquirissem estabilidade. Dessa forma, as legislaes pertinentes regulamentaram o tempo do estgio probatrio, perodo compreendido entre a nomeao e a aquisio da estabilidade, em que o servidor avaliado, quanto aos requisitos necessrios para o desempenho do cargo, em vinte e quatro meses. No entanto, o art. 6 da Emenda Constitucional 19, de 4 de junho de 1998, alterou a redao do art. 41 da Constituio Federal, elevando para trs anos o prazo para a aquisio da estabilidade no servio pblico. A Emenda Constitucional 19 acrescentou o 4 ao art.41 da Constituio, o qual estabelece, ainda, como condio obrigatria para a aquisio da estabilidade, a avaliao especial de desempenho por comisso instituda para essa finalidade. A nova norma constitucional do art.41 imediatamente aplicvel. Logo, as legislaes estatutrias que previam prazo inferior a trs anos para o estgio probatrio restaram em desconformidade com o comando constitucional. Isso porque, no h como se dissociar o prazo do estgio probatrio do prazo da estabilidade. A despeito dessa discusso sobre o tempo necessrio para aquisio da estabilidade no servio pblico, o que se destaca aqui a garantia dada pela Constituio Federal de que a avaliao ocorrida no perodo de estgio probat rio diga respeito to somente aptido e capacidade para o cargo e ao desem penho das funes pertinentes, em que so investigados, em geral, aspectos relacionados a fatores como assiduidade, disciplina, capacidade de iniciativa, produtividade e responsabilidade. O exerccio do direito constitucional de greve pelos servidores pblicos, previsto no art.37, VII, CF/1988, no se enquadra em nenhum dos fatores desa bonadores da avaliao da conduta de um servidor pblico em estgio probatrio. Ademais, no julgamento do MI 708/DF, de minha relatoria (DJE 3110 2008), ressaltei que a deflagrao da greve, em princpio, corresponde suspenso do contrato de trabalho. Nasuspenso do contrato de trabalho no h que se falar propriamente em prestao de servios, nem tampouco no pagamento de salrios. Assim, quando o servidor pblico adere a um movimento grevista e exerce seu direito constitucional de greve, no h, em princpio, condies de ser ava liado neste perodo, pois inexiste a prestao de servios. Ora, se inexiste pres tao de servio, inexiste o fato administrativo que objeto da avaliao de desempenho e de aptido para o cargo pblico no estgio probatrio. Isso no significa que no se possa levar em considerao, na avaliao do estgio probatrio, o eventual exerccio abusivo desse direito, desde que esse carter abusivo seja devidamente caracterizado em processo administrativo espe cfico e definitivo.

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Entretanto, ao considerar o exerccio do direito de greve como falta grave ou fato desabonador da conduta, em termos de avaliao de estgio probatrio, que enseja imediata exonerao do servidor pblico no estvel, o dispositivo impugnado viola o direito de greve conferido aos servidores pblicos no art.37, VII, CF/1988, na medida em que inclui, entre os fatores de avaliao do estgio probatrio, de forma inconstitucional, o exerccio no abusivo do direito de greve. Portanto, dado o atual entendimento jurisprudencial desta Corte em relao ao mandado de injuno e ao direito de greve dos servidores pblicos, concluise que o dispositivo impugnado viola o art.37, VII, da Constituio. Ante o exposto, peo vnia ao voto do ento Ministro Relator Carlos Velloso, para julgar procedente a presente ao, declarando a inconstitucionali dade do pargrafo nico do art.1 do Decreto 1.807, de 25 de maro de 2004, do Governador do Estado de Alagoas. VOTO O Sr. Ministro Marco Aurlio: Presidente, tambm acompanho Vossa Excelncia. Verificase regncia de matria estranha autonomia normativa do Estado, e temse, alm disso, a quebra da isonomia e tambm o abandono do devido processo legal. Declaro a inconstitucionalidade da norma. EXTRATO DA ATA ADI3.235/AL Relator: Ministro Carlos Velloso. Relator para o acrdo: Ministro Gilmar Mendes. Requerente: Confederao Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis COBRAPOL (Advogados: Paulo Csar Matos da Silva e outros). Requerido: Governador do Estado de Alagoas (Advogado: Aluisio Lundgren Corra Regis). Deciso: Renovado o pedido de vista do Ministro Gilmar Mendes, justifica damente, nos termos do 1 do art.1 da Resoluo 278, de 15 de dezembro de 2003. Presidncia do Ministro Nelson Jobim. Plenrio, 2222006. Deciso: O Tribunal, por maioria, julgou procedente a ao direta, ven cido o Ministro Carlos Velloso (Relator). Redigir o acrdo o Ministro Gilmar Mendes (Presidente). No votaram o Ministro Ricardo Lewandowski, por suce der ao Ministro Carlos Velloso, e os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau, ausentes neste julgamento. Ausente, licenciado, o Ministro Celso de Mello. Presidncia do Ministro Gilmar Mendes. Presentes sesso os Ministros Marco Aurlio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Crmen Lcia e Dias Toffoli. Procurador Geral da Repblica, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos. Braslia, 4 de fevereiro de 2010 Luiz Tomimatsu, Secretrio.

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