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TOM BOSSA NOVA: O COMEÇO, EVOLUÇÃO E OS GRANDES NOMES Tempos de Bossa PÁG. 08 Maysa, a rainha da fossa PÁG. 10 O Saxofonista da Rua 29 PÁG. 14 1a ed. R$ 10,00

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TOMBOSSA NOVA: O COMEÇO, EVOLUÇÃO E OS GRANDES NOMES

Tempos de BossaPÁG. 08

Maysa, a rainha da fossaPÁG. 10

O Saxofonistada Rua 29PÁG. 14

1a ed. R$ 10,00

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Por Gabriel Xibli e Lucano Brito.

A bossa- ova talvez seja a parte mais signifi cante de toda a história da música popular brasileira. Criada em Copacabana, durante reuniões informais realizadas no apartamento da cantora capixaba Nara Leão em meados da década de 50, a bossa foi lançada por João Gilberto e, posteriormente, adotada por muitos outros imortais da músi-ca popular brasileira, como Tom Jobim, Vinicius de Morais, Carlos Lyra e o violonista Baden Powell. Apesar de estarem em meio a Era dos grandes Festivais, os pioneiros da bossa-nova não foram compreendidos como sendo uma página importante na história da música brasileira, quer seja por jura-dos ou plateias que lotavam os ginásios de todo o Brasil. Um dos episódios mais marcantes deste confl ito aconteceu du-rante o III Festival da Canção, em 1968. Tom e Chico subiram no palco para cantar a belíssima “Sabiá”, uma das composições mais aclama-das da dupla, quando foram prontamente vaiados. Pouco depois, Ger-aldo Vandré, apesar de venerado pela suposta ideologia de esquerda descrita nas letras de “Pra Não Dizer Que Eu Não Falei das Flores”, subiu ao palco e saiu em defesa dos colegas, enfrentando a murmu-rante multidão. Cena esta que fi cou marcada nos anais da MPB. Após este e outros lamentáveis episódios, houve um boicote explícito dos grandes expoentes do movimento aos festivais realizados no país. Nas entrevistas, era possível perceber o descontentamento pela forma como eram conduzidos, principalmente por conta da forma como acontecia escolha dos jurados. Fomos obrigados a ver nossas estrelas num êxodo quase sem volta, brilhando bem longe dos grandes palcos brasileiros. Não era raro ver Tom Jobim e Chico Buarque serem ovacionados durante o célebre Festival de Montreaux; João Gilberto em suas extenuantes turnês pela Europa e fazendo história no Carneggie Hall, por exemplo. A nova música brasileira tipo exportação ganhou o mundo an-tes mesmo de conquistar o Brasil e esta saída por novos públicos em muito infl uenciou a geração que viria a seguir, criando um movimento diferente chamado Tropicália. Confi ra, nas páginas que seguem, o trabalho de pesquisa e produção jornalística e publicitária a respeito da Bossa Nova realizado pela turma de 3º período do curso de Comunicação Social da facul-dade Estácio de Sá/Vitória. Trata-se de um recorte sobre a história deste importante movimento e a decisiva participação capixaba para que a bossa fosse o sucesso mundial que é hoje. Boa leitura!

EDITORIAL

O FINO DA BOSSA

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JOÃO GILBERTOE O SEU JEITO DIFERENTE DE TOCAR

Por Bruno Duarte, Cléo Armani, Jéssica Maciel e Pedro Alves.

Conhecido por cantar baixinho e sua forma simples de tocar violão, o baiano João Gilberto defi nitiva-mente mudou o DNA da Música Popular Brasileira e consagrou a Bossa Nova. Aos 26 anos de idade, em meio a uma grande festa, João impressionou Rob-erto Menescal cantando Bim Bom. Dali em diante, se apresentou em turnês para Ronaldo Bôscoli e passou a frequentar o tão comentado apartamento de Nara Leão. Foi ali que João explicou a sua forma de tocar a Menescal e Bôscoli: a mão direita tocava acordes, e não notas, produzindo harmonia e rit-mo ao mesmo tempo. Além disso, utilizava-se de técnicas de respiração de ioga, o que lhe permitiu alongar frases melódicas sem perder o fôlego. E é por estes e muitos outros motivos que ele é considerado gênio para alguns. Já para outros, ele pode ter sido visto como um tremendo louco, pos-

sivelmente por não comparecer em alguns shows marcados; por não se apresentar, como Maysa, em locais com pessoas que falassem durante suas apresentações, e principalmente, por sua obsessão com a perfeição técnica em suas gravações e apre-sentações, desde o compacto de Chega de Sau-dade, que levou dias para ser gravado. Entretanto, é a partir de Chega de Saudade, que a Bossa Nova se tornou uma realidade.

“Em pouquíssimo tempo, João Gilberto infl uenciou toda uma geração de arranjadores, instrumentistas e cantores”, disse Jobim, certa vez. Já para o músi-co capixaba Wilson Maia, João Gilberto é um cha-to, cheio de manias e a pior delas é a meticulosa passagem de som. Porém admite que as músicas são lindas.

Após quase duas décadas vividas nos Estados Unidos e um tempo no México, João Gilberto vol-tou ao Brasil, lançando alguns discos, com músi-cas inéditas e principalmente releituras de outros compositores e até de suas próprias composições. João continua fazendo shows esporadicamente e excursiona com frequência para o Japão, Ásia e Américas. João Gilberto deixou um legado: inter-nacionalizou a Bossa Nova nos quatro cantos do mundo, começando por Nova Iorque junto com Tom Jobim, Roberto Menescal e Vinícius de Moraes.

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Por Lenice Santos.

Nara Lofego Leão nasceu no Espírito Santo, filha do casal Jairo Leão e Altina Lofego. Mudou-se para o Rio de Janeiro com apenas um ano de idade com os pais e a irmã, Danuza Leão.

Aos 14 anos, em 1956, resolveu estudar violão na academia Carlos Lyra e Roberto Menescal. A Bossa Nova nasceu em reuniões no apartamento dos pais da cantora, em Copacabana, das quais partici-pavam nomes que seriam consagrados no gêne-ro, como Roberto Menescal, Carlos Lyra, Sérgio Mendes e seu então namorado, Ronaldo Bôscoli. No fim dos anos 1950, Nara foi repórter do jornal “Última Hora”, onde Bôscoli também trabalhava, e que pertencia a Samuel Wainer, casado com a irmã de Nara, Danuza Leão.

A estréia profissional se deu quando da partici-pação, ao lado de Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, na comédia Pobre Menina Rica (1963). O títu-lo de musa da Bossa Nova foi a ela creditado pelo cronista Sérgio Porto. Mas a consagração efetiva ocorre após o movimento militar de 1964, com a apresentação do espetáculo Opinião, ao lado de João do Vale e Zé Keti, um espetáculo de crítica social a dura repressão imposta pelo regime militar.

Dentre as suas interpretações mais conhecidas, destacam-se O barquinho, A Banda e Com Açúcar e com Afeto, feita a seu pedido por Chico Buarque, cantor e compositor a quem homenagearia nesse disco homônimo, lançado em 1980.

Nara também aderiu ao movimento tropicalista, tendo participado do disco-manifesto do movimen-to - Topicália ou Panis et Circensis, lançado pela Philips em 1968 e disponível hoje em CD.

Nara Leão morreu na manhã de 7 de junho de 1989, vítima de um tumor cerebral inoperável, aos 47 anos de idade. Nara já sabia do tumor, e sof-ria com o problema havia 10 anos. O tumor esta-va numa área delicada do cérebro, por isso não podia ser operado. Seu último disco foi My foolish heart, lançado naquele mesmo ano, interpretando versões de clássicos americanos.

No ano em que Nara Leão completaria 70 anos de idade (dia 19 de janeiro) e depois de 23 anos de sua morte, a família decidiu ‘oficializar’ as buscas pela cantora em um site oficial. A filha da cantora, a cineasta Isabel Diegues, afirma que o site começou a ser elaborado há três anos. “Queríamos reunir as informações sobre a carreira dela, mostrar às pes-soas o que ela cantava e pensava”, diz Isabel que é filha de Nara com o cineasta Cacá Diegues. Além de Isabel, a cantora também é mãe do produtor Francisco Diegues.

A cantora e compositora Fernanda Takai gravou em 2007 um solo em homenagem a Nara Leão. O cd é totalmente dedicado ao repertório da cantora e a idéia partiu de Nelson Motta, que enviou um e-mail a Fernanda contando sobre seu desejo de ver e produzir um projeto no qual a vocalista do Pato Fu interpretaria Nara Leão. O Disco já recebeu uma vasta coleção de críticas favoráveis em todo país, dentre elas a do jornalista e crítico musical carioca Mauro Ferreira e a da Associação Paulista de críti-cos de Arte.

Em comum com Nara Leão (1942-1989), a cantora Fernanda Takai tem a delicadeza, a discrição, a voz macia e contida, o bom gosto e a diversidade musi-cal. Moderna e criativa, com todos esse predicados já revelados como integrante do Pato Fu, ela tinha, enfim, requisitos de sobra para prestar um original tributo à “musa da bossa nova”.

NARA LEÃOa calmaria em forma de voz

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Com seu jeito suave, de batida alegre e apaix-onante ela chegou. Nascia nos anos 50 a musica popular brasileira, a Bossa Nova, oriunda do sam-ba e do Jazz. Um grupo de amigos, entre compos-itores e cantores, se uniu para criar algo que fosse mais despojado, que refl etissem sobre o cotidiano e que as letras fossem mais elaboradas.

Seu inicio ofi cial se deu depois do lançamen-to em 1958 do LP Canção do Amor Demais, de João Gilberto. Em 1962, seu marco internacional aconteceu em um concerto no Carnegie Hall de Nova Iorque, no qual participaram vários artistas. Com o Golpe militar em 1964, a MPB teve surgi-mento e suas canções apresentavam temas mais sociais e a Bossa nova foi perdendo seu espaço.

Atualmente muito se discute se a Bossa Nova tenha chegado ao fi m, mas será? Em entrev-ista a publicitária e carioca Maria Amélia, ela diz: “A MPB tem muito da Bossa Nova, e mui-tos cantores da época interpretavam as duas, mas como todo movimento de boa qualidade, se aquieta, se adéqua a novos tempos, silen-cia muitas vezes, mas sempre ressurge, e forte”.

Maria Amélia é amante da Bossa Nova desde a ad-olescência, foi infl uenciada por João Gilberto e Nara Leão ícones naquela época.Muitos eram os lugares que costumavam ir, entre eles um bar no Beco das Garrafas, que atualmente é chamado Bar do Tom. Mas o seu lugar preferido para curtir a Bossa, aprove-itar um cubra-libre e dançar, sempre foi na casa de seus amigos. Ela ressalta que na noite carioca a Bossa Nova nunca falta, mas se procura algum lu-gar especial, ela indica claro, o Bar do Tom, a Plata-forma e o Mirandasno Lagoon, ambos no Leblon.

Em relação não só dos jovens, mas uma grande parte da população em geral, apreciarem músicas com o ritmo mais animado, sem apreciar a letra, foi

perguntado a Amélia se a Bossa Nova poderia ter um maior espaço, no que ela disse: “Sim, mas de-vemos considerar que esse tipo de música e ritmo, são modismos, passam rápido e não deixam mar-cas, sobretudo quando você vê que mesmo nestes ambientes, quando se toca uma música de trinta ou quarenta anos atrás, qualquer adolescente sabe cantar, elas são imortais. Temos a impressão que há pouco espaço porque há pouca mídia, também por ser um ritmo meio elitizado, mas posso garantir, aqui no Rio de Janeiro, se vive muito mais Bossa nova do que se possa imaginar”.

Vitória Sant’Anna(16 anos),acredita também que vivemos em uma era de modismo.Com forte infl uência dos seus pais,sua paixão pela Bossa foi rápida, Maysa,Tom e Vinicius são alguns dos seus ídolos: “Hoje em dia vivemos numa era do instantâneo, um hit é lançado hoje e daqui a seis meses já é rotulado como velho. E a minha ger-ação tem muito disso. Mas felizmente tem uma galera que curte arrematar coisas passadas, uma coisa retro, cult, e a bossa é uma delas”.

Estudante do ensino médio,Vitória apesar da idade não vê muitos lugares para se frequentar aqui no estado,ou que divulguem esse estilo e gostaria que houvesse mais espaço.Não imagina sua vida sem trilha sonora.Diz:”Amo, respiro músi-ca. E a bossa tem um poder de trazer paz, te le-var a uma calmaria imensa em poucos segundos”.

Como se é possível observar a Bossa nunca perdeu seu espaço, ela está em nossos corações e nas lembranças daqueles saudosos dias nas ruas, em bares no Rio, ou nas casas ao som do radio. Um revolucionário estilo musical, que nos presente-ou com um delicioso ritmo e uma poesia que emo-ciona e encanta.

TEMPOS DE BOSSA

Ellen Barbosa e Marcus Vinicius Rocha

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TEMPOS DE BOSSARevista TOM 9

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Maysa pulou muitos carnavais de rua na pra-ça oito na década de 50. Foi eleita a madrinha do bloco Marujos por Acaso, que era formado pelos sócios do Praia Tênis Clube, freqüentado pela alta sociedade da capital capixaba. Nessa época, a jo-vem de temperamento forte, beijava na boca dos brotos nos blocos carnavalescos, segundo Rober-to Menescal, nascido em Vitória e criado no Rio de janeiro, sempre passava férias no Espiríto Santo e, mais tarde, viria a ser um nome de proa da música Brasileira. “Ela namorou o bloco inteiro, menos eu, que era o mais novinho e magricela da Turma”, re-cordou o músico.

O jornalista e empresário Ronaldo Bôscoli des-cobriu em Maysa a oportunidade de uma parceria e divulgação de seu projeto e a atraiu de vez para quadros da Bossa Nova, tratado pela imprensa como “música jovem” a partir do fi nal da década de 50.

Porém, dessa mistura nasceu um romance proibido e conturbado entre a fera e o lobo. O noi-vado com a cantora Nara leão (na época não era famosa), no início dos anos 60, não permitiu que o galanteador pulasse a cerca de imediato, mesmo

assim surgiram indícios da parceria dele com Maysa e que lançariam um disco inteiro de

Bossa Nova, produzido por ele.Em abril de 1961 surgiram dois álbuns

“Maysa exclusiva da Bossa Nova e Maysa e a Nova Onda”, mas, somente o segun-

do teve mais destaque. Informou o caderno B, no Jornal do

Brasil em Abril daque-le ano. “Meu gênero

ainda é o român-tico, mas preci-sei me atualizar, além disso, ter conhecido os meninos (ins-

Maysa, a Deusa da “Fossa”

Nascida no Rio de Janeiro, Maysa Monjardim, que após o casamento passou a assinar o sobrenome Matarazzo, mudou ainda criança

para a capital capixaba e viveu no Centro de Vi-tória até os 14 anos. Maysa era conhecida como a deusa da fossa. “Quem anda pra trás é samba-canção”, dizia Ronaldo Boscoli se referindo as mú-sicas dela, uma de suas frases favoritas.

Maysa Matarazzo

Por Lorenna Soares Weslley Barcelos

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trumentistas) me deu a vanta-gem de aperfeiçoar meu esti-lo” declarou Maysa ao jornal carioca, na época.

O também parceiro de Bôscoli e instrumentista da banda, o capixaba Roberto Menescal, a conhecia de lon-ga data, quando ela foi coro-ada rainha do bloco Marujos, em Vitória. “Quando Ronaldo Boscoli nos apresentou, per-guntei se ela não se lembrava de mim e dos carnavais da adolescência no Es-pírito Santo e ela então respondeu com um mais ou menos, para meu desapontamento” declarou ele, em uma entrevista exclusiva com Lira Neto, autor da Biografi a da Cantora intitulada “Só numa multidão de amores”, que seria uma das principais fontes para a construção da minissérie “Maysa Quando fala o coração” exibida na Rede Globo em 2009. Por isso a chance de escrever arranjos de um disco de Maysa na época para ele, era uma oportunidade de ouro.

Antes do lançamento do disco, nem tudo cor-reu bem desde o primeiro ensaio. Bôscoli por muitas vezes praguejou contra Maysa em relação à adaptação da sua voz ao balanço doce que a Bossa nova exigia. Ele reclamava nos bastidores, mesmo assim, entre muitas discussões, as gra-vações prosseguiram “Maysa assim não dá, você está cantando Bossa Nova como se estivesse can-tando samba-canção daqueles bem cafonas” dizia Bôscoli. O fato foi registrado por Lira Neto, na Bio-grafi a “Só numa multidão de amores”.

O disco chegou às prateleiras das lojas naquele mesmo ano. Contudo, aquele disco não parecia ter sido gravado pela mesma artista que dali a poucos dias apareceria cantando “O Barquinho” de Bôs-coli e Menescal. Pouca gente sabe, mas a primeira

gravação de “O barquinho”, a canção que se tor-nou um dos ícones absolutos da Bossa Nova havia sido composta originalmente por Nara Leão, e não feita por Maysa como se costuma acreditar.

Após o fi m do explosivo romance com Nara, Bôscoli se sentiu à vontade para fazer daquela mú-sica o carro chefe do disco que estava produzindo. “O Barquinho certamente os levará a mares nun-ca antes navegados, velejemos comigo na Nova Onda”, declarou Maysa no lançamento. Na época, parcela considerável da critica não aceitou o con-vite para velejar com Maysa e os fãs mais conser-vadores iriam acusá-la de ter subido a bordo não de um barquinho, mas sim de uma canoa furada.

Em meados de 76, Maysa veio ao Estado onde se apresentou em Guarapari na Praia dos Namo-rados. Ramuldo Scampini, Advogado, na época com 19 anos, relatou como foi seu encontro com a cantora: “Maysa estava na praia com sua equipe, meu pai era amigo de um dos produtores dela. Ela não estava muito bem, bebia e fumava muito, mas continuava sedutora, eu a vi e me sentei à mesa, foi quando ela me disse que eu tinha os olhos de en-cantar qualquer mulher, não sei se foi uma cantada, mas fi quei bastante orgulhoso, principalmente por tê-la conhecido já no fi m de sua carreira”, ressaltou ele ainda morador da cidade, hoje com 56 anos.

Capa do disco “O Barquinho”. A música que intitulou este albúm se tornou ícone da Bossa Nova e que

foi composta por Nara Leão.

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Há exatos 100 anos atrás, nasce Marcus Vinicius de Melo Moraes, no dia 19 de Outubro de 1913, no Jardim Botânico – Rio de Janeiro. Filho de Clodoal-do Pereira da Silva Moraes e Dona Lydia Cruz de Moraes. Juntos com seus pais eles mudaram muito de um lugar para outro, mas sempre em Botafogo, só mudaram de rua. Mas também morou com seus avós paternos Dona Maria da Conceição de Melo

Moraes e Anthero Pereira da Silva Moraes.Sua família o matriculou num colégio Jesuíta, em Santo Inácio, onde já se

mostrava interessado pela poesia, pois foi aos 9 anos de idade que já escrevia seu primeiro poema de amor, que era sobre uma menina que estudava com ele.

O “Poetinha” como fi cou con-hecido, era muito mulherengo, ou melhor, mulherólogo como ele mesmo costumava falar.

Durante sua ofi cialmente se relacionou com 9 mulheres que foram: Tati ( com quem teve 2 fi l-

hos, Susana e Pedro), Regina Pederneiras, Lida Bôscoli (Mãe de Georgina e Luciana), Maria Lúcia Proença, Nelita, Cristi-ana Gurjão (mãe de Maria),

a baiana Gesse Gessy, a argentina Marta Ibañes e a Gilda Mattoso.

Vinicius iniciou em 1929 a Faculdade de Direito no Rio de Janeiro, só que não exerceu a Ad-vocacia. Durante a Faculdade publica seu primeiro livro es-timulado por Otávio de Faria, “O Camin-

ho para a Distância”. Depois do primeiro, ele

começa a publicar mais e devido sua sabedoria e pela

paixão que escrevia seus poemas, chamou muita atenção. E devido a isso foi contemplado com uma bolsa de estudos do Conselho Britânico para estudar Língua e Literatura Inglesa na Universidade de Ox-ford, onde por lá trabalhou na BBC de Londres.

E depois de um tempo em Londres, volta para o Bra-sil. Começa a fazer outra Faculdade que foi de Jornal-ismo, também atuava com crítico cinematográfi co e passa num concurso para ser Diplomata. E depois vai para o EUA, onde assume o posto de Vice-Cônsul de Los Angles.

Mas o que ele mais gostava mesmo era de fazer seus poemas, se juntar com seus amigos, fi car com mulheres, curtir a vida e principalmente beber muito. Alias, era nessas horas que desses encontros rega-dos de muita bebida que saia suas musicas e que hoje são uma das mais conhecidas pelo mundo e que leva o nome do Brasil como o berço da Bossa Nova.

Suas parecerias musicais foram Toquinho, Tom Jobim, Badem Powell, João Gilberto, Francis Hayme, Carlos Lyra e Chico Buarque. Uma das musicas de maior sucesso foi a Garota de Ipanema (home-nagem a uma garotinha de 15 anos que se chamava Helô Pinheiro, que passava todos os dias em frente ao bar onde Vinicius de Moraes se encontrava com seus amigos), e também outras como Gente humil-de, Aquarela, A Casa, Arrastão, A rosa de Hiroshima, Berimbau, A Tonga da Mironga do Kaburetê, Canto de Ossanha, Insensatez, Eu sei que vou te amar e Chega de Saudade.

Entre suas amizades se destacava a de Toquinho, onde essa parceria foi considerada a mais produtiva. Mas também gravou com Chico Buarque de Holanda, Elis Regina, Dorival Caymmi, Maria Creuza, Miúcha e Maria Bethânia.

Vinicius era muito querido pelos seus amigos, que juntamente com eles participou de vários shows, pro-gramas de TV e gravações só que para Vinicius o tempo chegou.

O Poetinha morreu em sua casa no banheiro – de Edema Pulmonar, na companhia do seu amigo Toquinho no dia 09 de Julho de 1980.

Frase: “Não estou com medo da Morte. Estou é com saudades da Vida”.

Vinícius de Moraes: O Centenário

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Crônica:

O Saxofonistada Rua 29

Aleandro Coelho e Samuel Prado

Imagine você morando em uma casa tendo um vizinho qe tivesse o costume de tocar, todos os dias, saxofone pelas ma-nhãs ou nos fins de tardes. Essa situação é realidade para os morado-res da Rua 29, de um bairro de Vila Velha. Essa história não teria nada de extraordinário se não fosse o fato de que é quase impossível encontrar alguém que conheça aquela pessoa que toca músicas da Bossa Nova, como Wave, de Tom Jobim. Alguns moradores da Rua 29 foram questionados sobre o mistério a respeito do saxofonista. Respostas surpreendentes surgiram, como “ah! Ele é uma lenda!” ou “Nunca vi essa pessoa, só sei que existe. Nem sei se é homem ou mulher”. Al-guns gostariam até de conhecer tal pessoa para que pudesse agradecê-la. A moradora Nair Pa-cif, que reside há aproxima-damente um ano naquela rua, acredita que o sa-xofonista é um homem idoso, já de poucos cabelos brancos, que ela costuma ver, vez em quando, entrar na casa ao lado da dela. Nair revela que o melhor lo-cal para ouvi-lo é em sua cozinha. “Como é raro vê-lo e sou tímida, fico com vergonha e não falo nada com ele”, disse a moradora. Depois de falarmos com algumas pesso-as, resolvemos desvendar o mistério. Batemos em várias residências perguntando se ali morava uma pessoa que tocava saxofone. As primeiras respostas eram sempre um “Não” repentino, mas houve uma pessoa que fez uma expressão de estranheza e, depois de um tempo, perguntou sorrindo se havia algo de errado em tocar saxofone. Pronto! Diante de nós estava o artista anônimo daquela rua.

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O Saxofonistada Rua 29

Rua 29. Foto: Samuel Prado

Identificamo-nos como jornalistas e per-guntei se teria tempo para conversar conosco. Ele sorriu e nos convidou para tomar um café. Come-çamos a conversa com a intenção de quebrar um possível “gelo” existente, pois percebíamos uma estranheza e desconfiança, mas compreende-mos. Afinal, não era comum àquele senhor rece-ber dois jornalistas de uma revista de música em sua casa. Falamos sobre a fama que ele tem na rua. Dissemos que várias pessoas gostariam de conhecer quem era o saxofonista da 29. Consta-tamos também que algumas pessoas acertaram o palpite. A dona Nair, por exemplo, estava total-mente certa sobre seu vizinho. Eu disse a ele que quando eu perguntei à dona Nair se aquele som atrapalhava, ela foi enfática ao dizer: “De jeito al-gum. Na verdade eu me sinto privilegiada”. Depois de alguns minutos já estávamos oficialmente entrevistando o saxofonista. Foi nes-se instante que ele nos interrompeu e disse que queria o anonimato. Que ele não era saxofonista, só gostava de tocar. Era um apaixonado, e só. A história mudou nesse momento. Em vez de escrevermos sobre um senhor, de tal idade, profissional de certa área, tínhamos agora uma história sobre um homem misterioso, que, as pes-soas pouco conheciam, mas sabiam de sua exis-tência pelo dom que ele chama de hobby.

Esse senhor atualmente não é casado e cuida de uma mãe que precisa de atenção especial por motivos de saúde. Um homem que mesmo não tendo tempo de conhecer bem os seus vizinhos oferece a eles um bom som, que apazigua o cora-ção e traz tranquilidade à alma. Toda essa procura pelo famoso deixou claro que a reconhecimento não o atrai. E saímos dali com a conclusão de que não é preciso ser famoso para trazer algo de bom às pessoas.

Temos uma SURPRESA para você:

Com muita insistência– devida à timidez do tal senhor – conseguimos gravar um vídeo em que ele toca a música Wave, de Tom Jobim. Acesse ao vídeo que está no Canal da Revista Tom e aprecie esse ma-ravilhoso som, assim como os moradores

da Rua 29.

Vimeo.com/ 67423549

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Revolução Musical Desembarca na ILha

Por volta dos anos 1950 até meados de 1960, Vitória viveu uma época intitulada como “O Período Histórico da Bossa Nova”. Os músicos da capital começaram a se entusias-mar com um novo jeito de se fazer música, até então, pouco conhecido, mas que ao mesmo tempo encantava e provocava reações por to-dos os cantos.Segundo o Coordenador do Núcleo de Músi-

ca Popular da Faculdade de Música do Es-pirito Santo (FAMES), Fabio Calazans, Vitória esteve afi nada com este movimento musical desde o seu nascedouro. “Encontros casuais de artistas capixabas - como Nara Leão e Roberto Menescal - com o grande pioneiro deste movimento, o João Gilberto, no Rio de Janeiro, fi zeram com que a Bossa Nova che-gasse à pequena ilha com uma maior rapidez, adaptando-se a realidade do povo capixaba”, comenta.Fabio Calazans foi enfático ao afi rmar que al-

gumas coincidências felizes fi zeram com que os ventos da Bossa Nova chegassem à pe-quena “ilha”. João Gilberto, que revolucionou a batida, os acordes do samba e a forma de cantá-lo, baixou aqui para uma longa lua de mel com Astrud, sua primeira mulher.Em trecho da crônica do livro “Vitória de

Todos os Ritmos”, Carlos Lindemberg Filho conta que o Sérgio Ricardo, um compositor

inspiradíssimo e cantor que se acompanha em vários instrumentos, veio à Vitória e acabou se apaixonando por uma linda jovem, com quem nunca sequer conversou. “Já meio enturmado com os caras locais, tinha razões de sobra para voltar inúmeras vezes aqui para fazer serena-tas e tocar nos barzinhos espalhados pela cap-ital”, segundo trecho da publicação.O “Tamba Trio” veio com Ronaldo Boscoli faz-

er um show com Maysa. Acabaram alugando uma casa e fi cando por aqui. Muitos outros ex-emplos, como estes, serviam de grande chance aos músicos da capital de se atualizarem com as novidades musicais.“O impacto causado pelo movimento musical

Bossa Nova da época é visto por atuais músi-cos da capital do Espirito Santo como positivo para a construção do processo histórico mu-sical capixaba”, frisou Carlos Papel, cantor e compositor, morador de Vitória.A cantora Maysa veio a Vitória várias vezes,

devido à forte ligação com seus parentes, a família Monjardim. Carlos Papel ressaltou, no entanto, que a passagem da cantora Maysa foi conturbada, quase sempre devido a questões familiares e pessoais, do que propriamente liga-das ao trabalho musical. Papel chegou a comentar durante a entrevis-

ta sobre o caso extraconjugal que a cantora manteve com o cantor Ronaldo Bôscoli, quando

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Desembarca na ILhaele ainda namorava Nara Leão. “Ela teve sua importância, não negligencio, todavia, creio que Nara Leão contribuiu muito mais signifi cativa-mente para a propagação da Bossa Nova em Vitória”, frisou Papel.

MÚSICOS QUE PASSARAM POR AQUI

Nara Leão - Nasceu em Vitória e, logo cedo, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, com os pais, Jairo Leão e Altina Lofego e a irmã, a jornalista Danuza Leão. Durante a infância, teve aulas de violão com Solon Ayala e Patrício Teixeira, ex-integrante do grupo “Os Oito Ba-tutas” de Pixinguinha. Aos 14 anos, em 1956, resolveu estudar violão na academia de Carlos Lyra e Roberto Menescal, que funcionava em um quarto-e-sala na rua Sá Ferreira, em Co-pacabana. Mais tarde, Nara tornou-se profes-sora da academia.

Roberto Menescal – Um dos mais importantes compositores, ao lado de Tom Jobim, Carlos Lyra e Vinicius de Morais. Cantor genuinamente capixaba participou por diversas vezes de re-uniões no apartamento da célebre Nara Leão, em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde o movimento começou. Tocou ao lado de diver-sas personalidades do movimento que revolu-cionou a história da musicalidade brasileira. Compôs canções que hoje são considerados hinos do movimento e da própria música pop-ular, como O barquinho, Você, Nós e o mar, Ah se eu pudesse Rio, dentre outras.

Maysa Figueira Monjardim (Maysa) – De uma tradicional família proveniente Espírito Santo, a cantora Maysa nasceu em maio de 1956 na ci-

dade de São Paulo, segundo reportagem feita pela revista Veja, na edição 2096 de 21 de janeiro de 2009. Visitou várias vezes a cap-ital capixaba. Representou a transição do período das cantoras do rádio para a bossa nova. O disco Barquinho, de 1961, foi um dos primeiros lançamentos de uma grande canto-ra a trazer compositores de bossa nova. Ela também foi a primeira artista a levar o estilo para os palcos internacionais.

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Por Leidimar Mendonça.

“Essa música se perpetuou no tempo e contin-ua sendo tocada não só no Brasil, mas em mui-tos países. É um verdadeiro clássico da músi-ca brasileira e marcou a época da bossa nova. Para mim teve enorme infl uência, pois fi z parte dessa geração e toco mais ou menos nesse esti-lo de bossa nova.”, o depoimento é do músico e também compositor capixaba, Carlos Cabalini. A música foi um ícone do movimento Bossa nova, um divisor de águas na musica popular brasileira. O cantor e compositor Tiago Gomes acredita que esse estilo musical trouxe uma leveza as canções: “Foi uma um tentativa de tornar a música brasileira que era muita “batucada” e percussiva, um tipo de músi-ca que a classe média alta também pudesse con-sumir. Por isso essa forma de cantar aveludada”.

O encantamento da música também é partilhada pela jornalista Danielle Souto: “Garota de Ipanema é um clássico que encanta gerações, das mais an-tigas as mais recentes, porém não é uma música que se ouve habitualmente por aí, na noite pode-se ouvi-la em alguns barzinhos de música ao vivo.

Garota de Ipanema inicialmente ganhou o nome de “Menina que passa”, feita por Vinicius de Mo

raes. Mas, não satisfeitos com a letra inicial, ele e Tom Jobim fi zeram algumas mudanças e che-garam à versão defi nitiva. A musa inspirado-ra foi a garota carioca Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto (mais conhecida como Helô Pinhei-ro), que sempre passava em frente ao bar, na praia de Ipanema, onde os dois se encontravam.

Hêlo, que se tornou uma celebridade em virtude da canção, e que atualmente mora em São Pau-lo, disse ao site Último Segundo que não perdeu suas raízes: “Ipanema não sai de mim. É uma música que mata a saudade de uma época”.A canção ganhou uma versão em inglês, inter-pretada por Astrud Gilberto e também cantada por Frank Sinatra, fi cando assim conhecida mun-dialmente. Torno-se a segunda música mais gra-vada de todos os tempos, de acordo com o site Último Segundo, perdendo apenas para “Yes-terday” dos Beatles, de 1965. Além de se tor-na cartão postal da cidade do Rio de Janeiro.

Em uma viagem recente a Amsterdã, o estudante de jornalismo da Faculdade Estácio de Sá em Vito-ria, Wesley Barcelos, disse ter entrado em uma loja onde estava tocando esse clássico da musica bra-sileira. Prova de que o sucesso continua não só aqui

51 ANOS DA GAROTA DE IPANEMA

no Espírito Santo e no Brasil, mais sim, no mundo.

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Bossa Nova é um movimento cultural que teve sua primeira manifestação em 1950, no Rio de Janeiro, antigo estado da Guanabara. Difícil fa-

lar desse ritmo sem lembrar dos maiores cantores que marcaram esse cenário musical como Tom Jo-bim, João Gilberto e Vinicius de Moraes.

Esses cantores mundialmente conhecidos tive-ram suas canções muito executadas nas Escolas de Música de todos os Estados, como o Espírito Santo, infl uenciando alunos a se especializarem nesse rit-mo musical. Este é o caso de alguns dos músicos da Banda de Música da Policia Militar do Espirito Santo (PMES).

Carregando consigo suas principais infl uências, a Banda de Música que tem uma forma versátil de se apresentar, abriu espaço para diversos ritmos musicais, como a Bossa Nova. A Banda toca mú-sicas do cantor nacional Tom Jobim com bastante frequencia em alguns eventos e festivais realizados.

Em uma conversa com o músico militar, soldado Pedro Roberto Souza, soubemos um pouco mais de como ele conheceu o ritmo que o infl uenciou. “Conheci a bossa nova no período em que toquei na orquestra pop e jazz do Ifes, pois esse estilo fazia parte dos estudos de música da orquestra”, relata o músico da PM.

Sobre sua infl uência ele enfatizou a admiração pelo ritmo, do qual tem uma das suas característi-cas a harmonia e generalidade que só se encontra na Bossa.

“Quando comecei a estudar trombone em 1999, fui a um festival e o professor Alciomar trouxe umas peças para a orquestra de trombone e quando ouvi a música ‘dindin’, fi quei apaixonado”, fi nalizou o soldado Pedro.

Com a chegada de novos ritmos, a Bossa Nova para muitos tem fi cado sem espaço, esquecido, tanto que muitos dos jovens não têm conhecimento sobre o ritmo que fez um enorme sucesso no pas-sado.

Para o soldado Rafael da Silva Rocha, a chega-da de novos ritmos não ofusca o brilho da Bossa, mas Rafael os consideram uma cultura capitalista que busca retorno imediato. “Se observamos bem, as pessoas são bombardeadas diariamente por mú-sicas muito simples que não têm contexto musical nem poético. Por isso a Bossa Nova está sendo esquecida, mas somente aqui no nosso país, por-que no exterior ela é o ritmo mais res-peitado quando o assunto é música brasileira”. Além da Bossa Nova, o

Bossa Nova e o Romantismo

A Bossa Nova, que tem o romantismo como sua principal característica, aborda le-tras poéticas dedicadas à mulher, com um tom suave de fundo e proporcionando assim um clima agradável. O músico militar Sebas-tião Jorge Siqueira cita que muitos músicos se inspiravam no romantismo, na mulher, como por exemplo, o Tom Jobim na música Garota de Ipanema, do qual tem uma frase marcan-te “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça”

Entre muitas opiniões, o militar soldado Oilluarb Ribeiro Louzada, não concorda com a opinião de muitos sobre o romantismo e a mulher no ritmo Bossa. “Não concordo. Pri-meiro porque a Bossa é mais que um estilo musical ou um mero ritmo; Segundo porque as composições variam sobre os temas. João Gilberto, considerado por muitos, como um dos fundadores da Bossa, sempre dizia que não sabia o que era Bossa. Para ele, cantava Samba”.

Bossa Nova na influência de músicos militares

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Instrumentos utilizados na Bossa Nova na Banda de Música

Os instrumentos marcantes na Bossa Nova são piano, violão, trompete, saxofone, pandeiro, contra-baixo e bateria. Já a Banda de música da PMES, entre os instrumentos ci-tados, possui o trompete, saxofone e bateria.

O trompete é uma corneta feita de metal. Ele é um instrumento de sopro que tem som forte e melodioso, que também ajuda a garan-tir o ritmo da Bossa; safoxone, que é um dos instrumentos mais charmosos, é famoso pela sua forma curva e elegante e por seu som ca-racterístico tão melodioso que já deu espaço para muitos solos. Ele pode ser utilizado para enriquecer sua melodia, enquanto a bateria talvez seja o instrumento de percussão mais famoso de todos. Na Bossa Nova, ela apa-rece de forma discreta. Nada parecido com o rock.

soldado Rafael acrescenta que ouve outros ritmos musicais, que o infl uenciaram, sendo eles Jazz, Samba, Música Clássica, Música Latina, Funk Ame-ricano dos anos 60, e outros.

Sargento da Banda de Música grava seu CD de Bossa Nova

O sargento musico da PMES Fredmam Fernan-des foi produtor do CD “Simplesmente Tom”, o qual homenageia o cantor Tom Jobim, no ano de 2010. O sargento militar toca na banda o instrumento Cla-rinete.

“A minha ideia em produzir o CD resgatando a origem da Bossa Nova, chamada de pré Bossa Nova, foi a de manter viva a memória das canções e dos compositores que infl uenciaram tantos músicos e mostrar como tudo começou. Embora um pouco esquecida no Brasil, ainda é muito escutada no ex-terior (Europa, Estados Unidos e principalmente no Japão).” Relata o militar Fredmam.

O CD “Simplesmente Tom” teve em seu reper-tório músicas que marcaram o início da carreira do cantor Tom Jobim. Vale ressaltar ainda a participa-ção de excelentes músicos e cantores que mostram, em faixas do CD, a beleza e a modernidade dessas canções dos anos 50.

Sobre os músicos militares, a infl uência e o prazer

de tocar Bossa Nova não fi cam somente dentro da corporação, mas também fora. Eles tocam Bossa em eventos particulares, em família e em bandas funda-das por eles mesmos. Eles também fazem questão de apresentar a Bossa para as próximas gerações.

Uma coisa é certa: para eles, ouvir e tocar Bossa Nova não é algo apenas profi ssional, mas sim praze-roso.

Músicos militares no ensaio da Banda de Música

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Por Lucano Brito e Ronise Souza.

Capixaba, autor de grandes clássicos da Bossa Nova, Roberto Menescal, em plena juventude mu-dou a sua vida, quando numa noite em Vitória, se apaixonou pelo violão. Roberto foi um jovem in-spirado pela vida ao mar e nas praias capixabas e cariocas, onde certamente compôs belas canções como “Nós e o Mar”, “Telefone”, “Você” e “O Bar-quinho”, esta última com uma história interessante.

“Estávamos em um barco a motor, eu, Nara Leão, Ronaldo Bôscoli e mais uma turma. O motor pifou e fi camos à deriva em Cabo Frio. Um barco nos res-gatou. Acabava a bossa nova naquele dia”, disse certa vez, aos risos.

Uma amizade muito estreita se fi rmava nesses mo-mentos e principalmente em reuniões sem com-promisso no apartamento da, também capixaba, Nara Leão. Bôscoli geralmente dizia que Menescal era “rabo de cometa”, tudo porque Roberto estava sempre atrás de uma estrela. E ele admite, “gosto de novos talentos”.

Esse capixaba, hoje de 75 anos, ajudou a propagar a música brasileira em todo o mundo, começando por Nova Iorque, nos anos 60, participando do fa-moso Concerto de Bossa Nova no Carnegie Hall, ao lado de amigos como Tom Jobim, Carlos Lyra, João Gilberto e outros. Mas apesar de tanto res-peito ao seu nome na música, Roberto se diz como um “número dois” na MPB, estando atrás dos três grandes ícones que são Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto.

Quanto ao “agora”, Roberto continua produzindo ótimos trabalhos em parcerias com grupos bra-sileiros e estrangeiros. No mês passado, Menes-cal voltou à sua terra natal para cantar uma bossa totalmente renovada no seu show “Bossa de Alma Nova” no Santa Teresa Jazz e Bossa.

ROBERTO MENESCALVIOLÃO, PŒ SIA E ALMA

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A Bossa Nova de Cara Nova A carioca Thais Motta, 33 anos, cantora, atriz e dançarina, descobriu seu talento para a música quando ela tinha apenas cinco anos, se aven-turando com os amigos da escola no karaokê. E o que um dia era apenas uma brincadeira tornou-se uma profissão aos 17 anos. Thais se apaixonou pela bossa nova e desde então não parou mais de cantar seu estilo preferido.

Thaís também já foi apresentadora e canto-ra do show infantil Roda do Tempo. No ano de 1989 foi considerada a mais jovem escritora do país com o seu livro de poesias infantis, sob o título Criança Criando, lançado na IV Bienal In-ternacional do Livro. Seu primeiro CD, Minha Estação, foi lançado em 2008, com arranjos e produção do pianista Marvio Ciribelli, com a par

ENTREVISTA: THAIS MOTTA por Ronise Souza e Ellen Barbosa

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ticipação de grandes nomes da MPB como Már-cio Montarroyos, Ronaldo do Bandolim, Sérgio Chiavazzoli, Daniela Spielmann, entre outros.

Em outubro de 2008 esteve na França, em mais uma parceria com o pianista Márvio Ciribel-li. Na Bienalle de Danse de Lion cantou músicas do seu CD, com shows no Maison de La Danse e na Place d’Italie cantou para um público de 10.000 pessoas, homenageando os cinquenta anos da Bossa Nova. Hoje Thaís é professora de canto e concilia a função com shows do seu CD Minha Estação e as apresentações regulares no Bar Vinícius, em Ipanema, no Rio de Janeiro, no local que é considerado o templo da bossa nova.

- Como surgiu o interesse pela Bos-sa Nova e quando começou a cantar?Já sabia cantar algumas bossas por influên-cia dos meus pais, que ouviam Vinicius, Chico, Tom, Elis, dentre outros. Cantava algumas no repertório ainda quando criança, antes mesmo de ter consciência do significado da bossa nova.Passei a ouvir e cantar Bossa Nova seria-mente aos 17 anos quando comecei a cantar em bares “na noite”. Tinha um repertório gigantes-co de Musica Popular Brasileira que renovava a cada semana e cantava no estilo voz e violão. Com a prática e a procura de repertorio, a Bos-sa Nova ia me agradando cada vez mais. Gosto de canções que, de certa forma, me desafiam.

- Qual a Diferença entre cantar Bos-sa Nova e outros gêneros musicais?Acho a Bossa extremamente rica no con-junto melodia, harmonia e ritmo. É preci-so estar sempre atento e estudar bastan-te por causa de diferenças sutis na melodia. É preciso extensão vocal e divisão rítmica ‘suin-gada’ e com dinâmica. Também gosto de cantar outros gêneros como Jazz, Baião, Coco, Choro, mas a bossa nova sempre me soa mais completa. Como definição, posso até dizer que a Bossa Nova também é um samba com harmonia jazzística.

- Algum cantor te inspir-ou a cantar esse gênero musical?Elis Regina, Leny Andrade e Rosa Passos, princi-palmente. Pelas divisões diferentes, pelo suingue, interpretação e por tê-las também como referên-cia melódica de muitas canções. Quando conheci

pessoalmente os músicos Marcel Powell e Philippe Baden, me envolvi com a vida e obra do pai de-les, Baden Powell, e seus parceiros, o que também me inspirou e contribuiu para que eu conhecesse ainda mais sobre a Bossa Nova e suas histórias.- Como surgiu o convite para tocar no Vi-nicius Bar, considerado como o temp-lo da Bossa Nova no Rio de Janeiro?Fui convidada pela Bossa Trio que ainda toca no Vini-cius Bar todas as segundas-feiras. Um dos músicos me viu cantar, fui convidada e prossegui cantando com eles quinzenalmente durante cinco anos segui-dos. Depois passei a cantar em pequenas tempora-das com Marvio Ciribelli Trio. Recentemente recebe-mos como convidados o baixista Alex Malheiros e o baterista Ivan Conti (Mamão), do grupo Azymuth.

- Muitos dos seus trabalhos, como seu pri-meiro CD “Minha Estação” feito em 2008 e alguns você realiza com o pianista Mar-vio Ciribelli. Como começou essa parceria? Conheci Marvio Ciribelli em 2004, quando ele pro-duzia o projeto musical Fazendo o que Gosta, em Niterói. É muito bacana quando cantores e músi-cos qualificados e com muito tempo de estrada, se interessam pelo seu trabalho. Conheci mui-tos músicos por causa do Marvio Ciribelli, piani-sta, produtor e arranjador do meu CD, que sem-pre se dedicou a projetos com vários convidados diferentes a cada semana. Com isso, proporciona encontros incríveis, como quando conheci Ron-aldo do Bandolim, Daniela Spielmann, Márcio Montarroyos, Marcio Bahia, entre outros. Alguns participaram do meu CD e trabalham comigo até hoje. A sintonia com Marvio é excelente e lá se vão quase nove anos trabalhando juntos, entre produção musical e shows no Brasil e exterior.

- Para finalizar, qual o seu planejamento para o futuro, e como a Bossa Nova está inserida nele? “Cantar e cantar e cantar…” muita musi-ca de qualidade. Viajar com meu canto e mostrar a musica brasileira por esse mun-do afora. Cantar Bossa Nova? Sempre.

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O Surgimento da Bossa Nova

A palavra bossa apareceu pela primeira vez na década de 1930, em Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a pron-tidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A expressão bossa nova passou a ser utilizada tam-bém na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.Bossa Nova é um gênero musical derivado do samba e com forte in� uência do jazz americano. A bossa nova surgiu no Brasil no � nal da década de 50. Inicialmente, o termo era apenas usado como um novo modo de cantar e tocar samba naquela época.A bossa nova surgiu entre os anos 60 e 70 quan-do o Brasil vivia o regime militar. Os jovens e estudantes da época não podia manifestar os seus desejos e emoções porque tudo era proibido. Criaram então os encontros dentro dos aparta-mento e como era proibido tocar e cantar alto, começaram a cantar baixinho com um rritmo calmo. Não deu outra. Criaram o que há de lindo da MPB. Nara Leão foi a voz que melhor se en-caixou no ritmo.João Gilberto, Tom Jobim, Carlos Lyra ou Carlos Lira, Nara Leão (interpréte) são os pricipais rep-resentantes desse gênero musical genuinamente brasileiro.De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba naquela época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do mod-erno samba carioca urbano.Com o passar dos anos, a Bossa Nova tornou-se um dos movimentos mais in� uentes da história da música popular brasileira,

conhecido em todo o mundo, um grande exem-plo disso é a música Garota de Ipanema compos-ta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim.Primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram realizados em âmbito universitário, pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas.Movimento que � cou associado ao crescimen-to urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek (1955-1960) -, a bossa nova ini-ciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em Agosto de 1958, um compacto simples do violonista baiano João Gilberto (considerado o papa do movimento), contendo as canções Che-ga de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Mo-raes) e Bim Bom (do próprio cantor).

Pessoas que curtem a Bossa novaGostar da bossa nova é gostar do barulho vindo do mar, do emaranhado de árvores a balanças. Um dos fundadores do gênero musical brasileiro mais conhecido lá fora falava que a Bossa nova nada mais é que o retrato da natureza brasileira antes do surgimento das grandes cidades. Águas de Março clássico imortalizado por Elis Regina criado pelo maestro soberano, Tom Jobim isso � ca ainda mais claro. A bossa é uma parte do Brasil que vai morrendo aos poucos, assim como nossas matas. Mas ainda há esperança de que ela[bossa] volte a � orescer. *balançarTiago Americo-Jornalista

Tudo mudou e João Gilberto e companhia tor-naram-se ícones, soltando a voz com um ban-quinho e um violão. O movimento ganhou força devido ao momento desenvolvimentista pelo qual passava o país. Juscelino era o presidente, São Paulo e Rio de Janeiro ganhavam urbani-dade e a sociedade se reorganizava. Passados mais de 50 anos, a história é outra, e já não há mais espaço para a Bossa Nova. Guitarras dis-torcidas, baixos e baterias invadiram acena cult e sepultaram o violão e a voz rouca dos bossistas.Alexandre Damazio - jornalista trabalha como editor TV Capixaba

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Por Gabriel Xibli.

Num cenário de escassez intelectual, o “Cult” veio para tomar conta deste espaço. A vel-ha-nova mania toma conta da cabeça, da moda e da música dessa nossa nova geração em todo o globo e não se sabe o porquê das quantas tem o seu viés inteiramente ligado a Bossa nova, quando na sua versão brasileira - Herbert Richards.

A Bossa Nova, o movimento que lançou e afi rmou inúmeros imortais da nossa música popu-lar brasileira, teve o seu nascimento e auge num tempo em que os casais apaixonados namoravam sob o olhar desconfi ado dos pais da moça, de uma época na qual o pedido da boca jamais viria an-tes da mão, enfi m, num tempo em que suas letras e melodias ainda faziam algum sentido dentro do contexto social.

A moça, normalmente, morava numa casa não muito alta e recebia galanteios da janela de seu quarto, provenientes de uma seresta feita a luz da lua, com todo o romantismo. Os ébrios se preocupavam em dançar pelas ruas e pronunciar letras de amor e sofrimento, e não em brigar e arru-mar confusão. Os tempos são tão distantes que o mais antigo nem parece ter existido. Imagine uma seresta para uma moça que mora no 15° andar do edifício do setor mais badalado da cidade hoje em dia. Será que ela escutaria o cantarolar natural do amado? De fato, não. Entáo, como considerar que o som daquela época ainda possa continuar se re-produzindo nos mesmos ramos? Não há como.

Como bem enfatizado pelo inoxidável Lobão, “bossa nova é uma punheta que toca de pau mole”. Em outras palavras, é o tipo de som que pode ser bonito, bem trabalho, mas que não rep-resenta os dias atuais. É um som que não dá mais frutos e que não ressuscita mais. É um som brocha. A desmoralização da bossa nova é o primeiro pas-so para que saiamos deste marasmo meio musical.

Os artistas têm medo de arriscar algo novo, experimental, por sentirem que não podem fugir dos paradigmas criados pelso adoradores dos fan-tasmas antepassados, sendo que estes, enquan-to encarnados, foram os que melhor souberam se aproveitar do novo.

O “Cult” deve ser abominado e jogado no mar do esquecimento por não ter uma linha de pensamento próprio. Trata-se de um parasita ali-mentado por quem tem preguiça de pensr em boas soluções para os dias atuais. Talvez embalados pelos timbres da viola de João Gilberto ou pelo so-taque adocicado de Caetano e Gil. O fato é que devemos nos espreguiçar e sair das redes para o novo. A Bossa Nova já morreu. O que temos de nova é uma outra bossa.

A OUTRA BOSSA

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ELIS E TOMAs águas que fecham o verão abrem um dueto.

Por Pollyana Caetano

O álbum intitulado Elis & Tom, foi lança-do em 1974, com o objetivo de comemorar os dez anos de carreira da cantora gaúcha Elis Re-gina. A proposta da parceria entre os dois íco-nes da música brasileira chegou a Tom Jobim por meio do presidente da gravadora Polygram (antiga Philips, atual Universal).

O empresário de Elis Regina, Roberto de oliveira, convenceu a gravadora a comemorar a data com um LP fora de série.

Roberto queria que o álbum fosse produzido em Los Angeles, sob a supervisão de Aloysio de Oliveira. O disco foi lançado com shows no Rio de Ja-neiro e em São Paulo e foi muito bem recebido nacionalmente e internacionalmente.

Uma das faixas de mais sucesso é “Águas De Março”, que abre o disco. Essa músi-ca foi apontada pelo crítico americano Leonard Feather com uma das dez canções do século. Elis e Tom entrosaram-se à perfeição neste álbum que conta também com os suces-sos: “Só Tinha Que Ser Com Você”, “Corcova-do” e “Por Toda A Minha Vida”.

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