revista subversa vol 4 nº5 março2016

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SUBVERSA ERICK AMANCIO | RAFAEL SIMEÃO LUIZ DA FRANCA | RENATO OLIVEIRA | ANDRÉ GUILHERME PAULO GABARDO | SABRINA DALBELO | EBER S. CHAVES EDSON AMARO | PEDRO BELO CLARA Vol. 4 | n.º 05 | março de 2016 ISSN 2359-5817 Ilustração | THAÍS NOZAKI

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Subversa n.º 5 | volume 4 | 15 de março de 2015

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Page 1: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

SUBVERSA

ERICK AMANCIO | RAFAEL SIMEÃO

LUIZ DA FRANCA | RENATO OLIVEIRA | ANDRÉ GUILHERME

PAULO GABARDO | SABRINA DALBELO | EBER S. CHAVES

EDSON AMARO | PEDRO BELO CLARA

Vol. 4 | n.º 05 | março de 2016 ISSN 2359-5817

Ilustração | THAÍS NOZAKI

Page 2: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

2

WWW.FACEBOOK.COM/CANALSUBVERSA

@CANALSUBVERSA

[email protected]

Subversa | literatura luso-brasileira |

V. 4 | n.º 05

© originalmente publicado em 15 de março de 2016 sob o título de

Subversa ©

Edição e Revisão:

Morgana Rech e Tânia Ardito

Ilustrações

THAÍS NOZAKI| PORTFÓLIO | FACEBOOK | BEHANCE

Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados

como autores desta obra.

Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos

textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem

com a realidade.

Page 3: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

3

ANDRÉ GUILHERME | OMAR | 6

EBER S. CHAVES | À MARGEM | 9

EDSON AMARO | OURIQUE | 11

ERICK AMANCIO | BOTÃO DE FLOR | 14

LUIZ DA FRANCA | CEILÂNDIA À ESQUERDA – 24,8km | 16

PAULO GABARDO | DÍPTICO LITERÁRIO: CONTROLE | 22

PEDRO BELO CLARA | O TARDAR DAS ESTRELAS | 34

RAFAEL SIMEÃO | OSMOSE NÃO AUTORIZADA| 36

RENATO OLIVEIRA | ERVAS DANINHAS | 39

SABRINA DALBELO | O BOM REI NOS ENSINOU TUDO | 43

SOBRE THAÍS NOZAKI: “Silenciei essa paixão por anos” | 46

SUBVERSA

Page 4: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

4

EDITORIAL

“Eu te dou pão e preferes ouro.

Eu te dou ouro mas tua fome legítima é de pão”

Clarice Lispector (Jornal do Brasil, 1971)

Em mais um número de Subversa, buscamos unir nestas páginas

uma diversidade literária que procura o equilíbrio. Por um lado, o

equilíbrio estético que foi feito a partir de um trabalho de análise,

seleção, revisão, ilustração e edição. Do outro, o desequilíbrio que a

leitura é capaz de provocar, colocando à mostra a dicotomia que a

literatura põe em prática: encontrar na forma estética “perfeita” a

melhor maneira de instalar o incômodo.

Na escrita, não há equilíbrio possível. Não há a definição da

localização exata “daquele” ponto. Quando muito, o escritor vivencia

por alguns instantes um momento de unificação, quando consegue

encontrar a maneira de exprimir algo não comunicável em linguagem

comum. Se esse ponto fosse permanente, é fácil concluir: não haveria a

próxima obra, o próximo texto.

Neste quinto número do nosso Volume 4, as ilustrações de Thaís

Nozaki contribuem para que a experiência seja ainda mais confortável

e desconfortável, simultaneamente. A artista é de São José dos

Campos, trabalha com técnicas variadas e interligadas que vão do

grafite à aquarela. Seus trabalhos podem ser adquiridos em forma de

sketchbooks com capas autorias.

Desejamos uma ótima leitura a todos.

As editoras.

Page 6: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

6

Page 7: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

7

ANDRÉ GUILHERME | Santo Antônio da Platina, PR.

Enquanto o Sol dormia

alguém vagava

Quando o Sol acordou

continuou vagando

enorme vaga

rebentando

contra o cais

de uma calçada

qualquer

Ancorado à beira-bar

Omar se afoga

no seu próprio

vômito

Homempeixe fora d’água

nem peixe

nem homem

só água

ardente

Enquanto o sol arde

queima a pele

OMAR

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8

no asfalto quente

nem vê passar

toda essa gente

que também o ignora

Omar ressaqueado acorda

e espera a Lua

pra poder subir

ANDRÉ GUILHERME está em aprendizado da arte poética há 3 anos. Costuma

dizer que é a voz que fala em sua cabeça e toma conta dos seus sentidos.

Tem um poema publicado no Concurso Rima Rara de 2013, realizado pela

Biblioteca Nacional Brasileira. Atualmente está tentando publicar um livro

independente. Cursa o 2° ano de Letras/Inglês na Universidade Estadual do

Norte do Paraná – UENP. Tem como influências Paulo Leminski, Fernando

Pessoa, em especial Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, Arnaldo Antunes,

Ferreira Gullar, dentre outros. | ANDRÉ[email protected]

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EBER S. CHAVES | Vitória da Conquista, BA.

Se não fosse por escravidão

não dariam a João

o pão

que o diabo amassou

com falsa jura

e a vida seguiria

sem perder

À MARGEM

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a ternura.

Se não for por zombaria

não darão a Maria

a alegria

de uvas viníferas

do vinho da amargura

e a vida seguirá

sem perder

a ternura.

Mas e quanto a José,

que dorme o presente

do sonho de Ícaro deitado

numa cama de gato

posta em cima do telhado?

A vida, ainda assim, segue.

Aqui, no novo velho mundo

para Joãos, Marias e Josés

a vida segue

– e persegue

periférica, desigual

entre ruas, becos e vielas

à margem, invisível

num recanto qualquer de alguma

metrópole latino-americana.

EBER S. CHAVES (Itaquara, 1979) atualmente reside em Vitória da

Conquista/BA. Graduado em Administração, é blogueiro, apreciador de

psicanálise, filosofia, poesia, literatura fantástica, filmes de ficção e fantasia,

rock’n’roll, cervejas especiais e feijoada. | [email protected]

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EDSON AMARO| São Gonçalo, RJ.

A Maria Lúcia Wiltshire

(que não leu o Gita).

“Se, pois, me julgares capaz de te contemplar em teu

supremo esplendor, ó Onipotente, mostra-me a tua face e

revela-me o teu excelso Eu Cósmico.”

(Bhagavad-Gita, Capítulo 11, 4; tradução de Huberto

Rohden)

“A matutina luz, serena e fria,

As estrelas do pólo já apartava,

Quando na cruz o Filho de Maria,

Amostrando-se a Afonso o animava.”

(Camões, Os Lusíadas, III, 45)

Sou mais que o Alfa e o Ômega.

Estou aquém do A e além do Z.

Vagueio entre os verbetes da Britânica.

Sou um livro que nunca lestes.

Eu sou o Deus que adoras

E o ídolo que renegas.

Estou em todos os hinos

E na fé que desconheces.

Sou o pai que castraste

E o filho que te apunhala.

Sou o irmão que vendeste

OURIQUE

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E o discípulo que traiu-te.

Sou a noiva que esperas

E o carrasco que te aguarda.

De teu avô sou o berço, sou teu santo leito adulterino

E o esquife de teus netos.

E tu? Quem és? Afonso? Arjuna? Moisés?

Por que me buscas? Que és para mim?

Que tenho para ensinar-te

Que sejas capaz de entender?

EDSON AMARO DE SOUZA é professor de Língua Portuguesa na rede pública

estadual do Rio de Janeiro. Publicou pela editora Buriti sua tradução do

romance "Valperga", de Mary Shelley e no site Amazon, em formato e-book,

sua tradução da tragédia "O Rei Saul: Davi em Gilboé" de Vittorio Alfieri. |

[email protected]

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ERICK AMANCIO | Niterói, RJ.

se até numa terra

destruída pela guerra

entre escombros e pedras

nasce um botão de flor,

por que não deveria

minha poesia

nascer da revolta

do ódio

e da dor?

ERICK AMANCIO é poeta, artesão e estudante de Sociologia da Universidade

Federal Fluminense. Tem paixão pela arte marginal, seja literária, musical,

teatral, performática, visual ou plástica. Frequenta saraus e publica de forma

independente o fanzine poético "Certo na Contramão", distribuindo-o como

poeta de rua pelo Rio de Janeiro e Niterói. Mantém também um blog e uma

página no facebook que fazem parte do mesmo projeto do fanzine

(www.facebook.com/certonacontramao | zinecertonacontramao.blogspot.c

om.br). Escreve poesia pela necessidade de gritar contra os opressores, de dar

vazão à sua revolta, de resistir e de agir politicamente também através da

arte, mas às vezes escreve sobre amor, tristeza ou sobre seus pensamentos

filosóficos e suas viagens psicológicas. |[email protected]

BOTÃO DE FLOR

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LUIZ DA FRANCA | Rio de Janeiro, RJ.

Certa vez eu tomei um café colombiano, daquele passado num coador

bem velho; acho que de uma avó mineira, daquelas bem velhas; acho

que de uma família tradicional, daquelas bem velhas; acho que de um

Brasil metido a novo, mas que na realidade, habitado por povos

menores, e é bem velho, e não se descobriu por completo. Falava que

certa vez tomei um café, pois bem, certa vez tomei um café com

Clarice Lispector. Estávamos em seu apartamento no Rio de Janeiro,

ela, já de mais idade, devorava-me com um olhar doravante sedutor;

CEILÂNDIA À ESQUERDA – 24,8KM

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eu, ainda de menos idade, importunava-a com citações, essas,

secretas em tempos posteriores. Certa vez, quando tomei o tal café

com Clarice Lispector em seu apartamento no Rio de Janeiro, ela, num

rompante só, me disse algo estupendo sobre Brasília, ou será que eu li e

certa vez delirei?1 Nesse (possível) delírio de prosa, deparei-me com

uma instigação, disse ela, A cidade de Brasília fica fora da cidade, ou

algo do feiti(ç)o. Certo, digo isso pois algo é certo em minha reflexão

retumbante. Ribomba em mim certa bateria em hardcore, certo

espaço que tenho certeza, eu vi girafas! e nada delas me fez mais

certeza que a incongruência conflitante da Brasília, a dos povos loiros e

mortos; e dos morenos e menores, se resolvia na fronteira. Pois, onde

mais teria essa fronteira? A sim, tenho certeza, trata-se de Ceilândia!, e

vibrei com minha certeza, ainda que ela carregasse no semblante uma

certa dúvida. Cá comigo, onde podemos encontrar as girafas? E o que

mais são as girafas senão o devir-animal de D.H. Lawrence, como

Deleuze certa vez me instigou. O que digo, quando digo que é um

Devir-animal? Digo que, como já dizem, o HOMEM é, em sua

estabilidade, potente e se impõe a tudo e o animal, uma proliferação

capaz de levar o HOMEM à fronteira da civilização. Não costumo

proferir obviedades, digo a Clarice, mas essa Brasília que falta cavalos e

girafas, na realidade se trata de uma possibilidade de

desterritorialização. Ela debocha de mim, sem que eu perceba ela

provou num retoque que aquela cidade constantemente se

desterritorializava e se reterritorializava, mas como? Sendo assim, ela ao

chegar, percebia a distância e que, como dito antes no texto2, aquele

lugar fora habitado por HOMEMs(e mulheres) altos, loiros e cegos (a

cegueira importa); depois, chegaram uns pequenos e menores (o

1 Certamente o autor delira, nascido em 1989, Luiz da Franca nunca pôde ter tal prosa. A realidade é que

leu Brasília ou Brasília: esplendor, ambos textos de Clarice publicados em jornais. Imagino que, no

decorrer do texto poderemos solucionar esse mistério, entretanto, certamente não foi uma prosa, mas

sim uma leitura.

2 Não era uma prosa?

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menor também importa): naquele espaço houve uma habitação

norma, derivativa, falha, onde se construiu um povo modernizado, mas

que pouco procriava, a realidade é que eram tão civilizados que se

bastavam e num espaço/tempo isso não basta; desse território surgiram

os trabalhadores menores, esses que construíram uma outra cidade,

uma cidade que devem gabiru, esses, carregados de uma outra língua,

que era a mesma língua, tencionaram as relações do que já era pleno

e estabelecido; dessa suruba um processo constante de vida e morte

tornou aquele espaço que, até então não via HOMEM, um espaço de

desterritorialização constante, sendo então, um devir-lobo-guará e

nesse dia que a espécie entrou em extinção. Certo, concordo, mas ela

continua, Brasília ainda não tem o HOMEM de Brasília, e eu pergunto se

esse não seria o habitante anterior, o tal do loiro e alto e cego, mas ela

me responde com um seco não!. Trago à tona uma questão, mas ela

segue me interrompendo, dois homens beatificados pela solidão me

criaram aqui de pé, inquieta, sozinha, a esse vento3, eu sou Brasília e eu

aplaudo Brasília e ela sorri sem riso. É certo, então, que aquela Brasília

da prosa é um espaço em constante desterritorialização e meu

pensamento de que isso só aconteceria em Ceilândia é falho. Desisto4,

pois o que pensei ao iniciar meu relato, esse da prosa com Clarice, em

seu apartamento, tomando um café, era de que Brasília sozinha seria

norma e só teria fronteira com Ceilândia. E qual a importância de

defender esse pensamento? É que o menor moreno na realidade,

ainda que aparente doente, é o encantador-curandeiro responsável

por tirar do lugar um certo espaço de um HOMEM problemático, esse,

que é certo para mim, é Brasília!. Como não pensar na capital,

habitada por parlapatões e HOMEMS, que nem sempre são o mesmo,

mas muitas vezes o são, poderia ser sozinha um processo de

desterritorialização? Clarice, sim, ela me convenceu. Convencer é

3 Confirmo oficialmente, trata-se do texto Brasília.

4 Duvido muitíssimo dessa desistência.

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(certamente) infrutífero5 e, portanto, serei breve em minhas palavras

redundantes. Brasília como grande obra nunca poderia gerar o

processo de desterritorialização, mas sim, ela como espaço de

nomadismos irá permitir essa relação apontada por Clarice. Sim, assim

sendo, como um espaço sem povo que desesperadamente precisa de

um povo para que não se torne um lugar que não o seja para pessoas.

Entretanto, Brasília não o é o que já foi ou será. Não que ela vá decorrer

do que foi, mas àquela Brasília era construída por nômades, viajantes,

pois, (provavelmente) somente quem foge iria para Brasília, do contrário

não haveriam de entrar no lugar onde não há como se entrar ou sair.

Não há, de maneira alguma, dúvida que ao conceber um espaço ao

mesmo tempo incapaz de se concretizar numa cultura, um não-lugar,

mas que, ao ser habitado por seres fabricantes de linguagem, Brasília

torna, então, a enunciar algo que não é simples, é pungente e pulsante,

é o povo que ali construiu e o povo que ali manda6, dessa maneira, é

sim possível ver o que Clarice disse. Sim, o é, mas não vou parar, menti!

e sei bem disso, não desisti nada e vou seguir em meu pensamento

original, acho que forçando um pouco aqui e um muito ali posso tirar

um leite dessa pe(d)ra. Sim, é certo que naquela época essa Brasília

produzia fronteiras e é tão certo quanto, que noutra época, talvez não.

Eu não me meto a falar que a produção de linguagem fora

normatizada e os romances enunciados pelos candangos fossem logo

territorializados, não à toa são candangos7. Sim, é certo que logo Brasília

5 Descaradamente roubado de Walter Benjamin, que, na realidade se utiliza do termo em alemão:

überzeugen ist unfruchtbar, que além de conotar a tal tradução, pode significar: super-gerar é

infrutífero.

6 O autor se esquece do sábio, aquele devir-coruja-buraqueira, escondido na terra vermelha, fabricando

fronteiras nas cátedras da UNB; ou será que ele o coloca nos que mandam?

7 Possivelmente a parte mais inteligente dessa baboseira; aqui ele traz um termo interessante,

candangos foram: primeiro, àqueles que migraram para construir Brasília; segundo, é o termo dado aos

naturais de Brasília, quando isso se tornou possível; terceiro, é (possivelmente) um termo de origem

africana que designa ordinário ou ruim; ultimeiro, é possível que seja um termo do dialeto quimbundo

que designe os senhores-de-engenho. Portanto, candango carrega um matiz de significâncias capaz de

abranger essa ideia do texto.

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se tornou um espaço territorializado novamente e fora habitado por

HOMEMS, dentre tantos outros. O que então acontece para produzir

fronteira? O que resolve Brasília? Primeiro, meto-me a resolver algo: esses

espaços não criam linguagens e perpetuam noções nocivas, noções

poucos instituídas num cenário de egoísmos pulsantes. É estar à direita e

ver o mundo a partir dos próprios olhos e não se alocar numa desforra

capaz de perceber o mais distante de si como (potencialmente) tão ou

mais essencial. Isso, necessariamente, precisa de solução. O café

acabou, puxei uma cerveja, uma IPA bem amarga, servi em duas

taças, Clarice deu um gole, fechou o rosto, achei que não iria gostar,

mas me disse, gostei e eu sorri abrindo um riso. Coloquei para tocar um

hardcore fudido, bandas sem nomes que tocam no Ferrock desde 1984

e até hoje, seja lá quando for. O som nervoso a interessou, eu acho8, e

fui mostrando calmamente cada louco punk que urrava. Festival

Revolução e Rock intitulava um movimento, mas não somente um

como uma manada, uma matilha, o espaço para onde os menores

morenos se mudaram quando um processo brabo de gentrificação

tomou Brasília. Não era mais possível aderir àquela cidade sem

perceber que lá a única fronteira capaz de resolver era a sombra suja

que ela tentava esconder. Ceilândia, como também, Taguatinga e

todas as outras cidades-satélites, eram capazes de formar em Brasília

algo que ela mesma não seria. O espaço de Brasília quando habitado

por um sertanejo ou roqueiro, certamente seria marcado por uma

linguagem correta, mas, quando no devir-lobo-guará seriam capazes

de gerar uma fronteira e, assim, produzir linguagens e, assim, ser de

novo aquele espaço que foi enquanto Clarice me proseava. Levo a ela

o seguinte, sabe a razão das girafas estarem em Ceilândia? e ela

continuou me olhando, desafiando-me, certamente. Disse-lhe, em

Brasília são todos cachorrinhos e olham com repúdio para a girafa.

Clarice logo me interrompe, mas eu gosto de girafas, bom eu também e

8 Será?

Page 21: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

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eles? Pensamos juntos, cá eu penso, será realmente que

necessariamente Ceilândia é a Brasília fora de Brasília? e de certa forma

vou me acomodando com a ideia de que, também, a é, como

possivelmente não é, sendo ela sozinha um espaço de HOMEMS e de

animais, mulheres e crianças. Vou-me valendo da cerveja, ela vai

bebendo intensamente e nem sei se ela bebia ou beberia, mas vai

bebendo. Dou-lhe um beijo, ela me deixa e se põe a escrever. Gostaria

de ter mais prosas com ela, mas estou intimidado para pedir um instante

de sua produção. Coloco-me a ir embora para meu tempo, penso, o

movimento da cidade não pode ser justificado, mas os tempos

exprimem novas relações. Brasília, sim, faltam girafas, mas e os cavalos?

Estou certo que eles têm cavalos, mas até que ponto cavalos podem

ser nômades? mesmo quando pangarés domados. Estou certo que em

Ceilândia voa o carcará e o gabiru, ambos (novos-)candangos. Seria o

carcará produtor de fronteira? Penso que sim, sempre que ouço a

Betânia ao menos. Agora me pergunto, onde estão os incendiadores

do cerrado?

LUIZ DA FRANCA é Cientista Social formado pela PUC-Rio, sócio fundador da

produtora audiovisual independente Zênite Produções, co-fundador da revista

literária PORRADA (revistaporrada.com.br). Publica seus escritos pessoais no

tumblr 1,3,7-trimetilxantina (137trimetilxantina.tumblr.com), Escreveu o livro de

poemas Café Para publicado pela editora Multifoco em 2011, escreveu os

curtas Fora da Janela e Cigarros e Vodka, co-dirigiu o curta Cigarros e Vodka,

produziu documentário curta de artes marciais Budô. Entretanto, não se sente

nada disso. | [email protected]

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Page 23: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

23

PAULO GABARDO| Brasília, DF.

AGÔNICO

Acordou em pânico. Não conseguia respirar. De súbito expeliu o ar com

força sentindo o rompimento violento da membrana que encobria suas

narinas. O nariz sangrava, mas isso tinha menor relevância comparado

àquela horrível sensação de sufocamento.

Sentiu um estranho alívio, mas havia ainda alguma incoerência naquela

experiência. Sua respiração mantinha-se dificultosa. Foi quando

percebeu que a pele de sua face revestia também sua boca. É claro!

Acordara impossibilitado de respirar, se pudesse abrir sua boca isso não

teria acontecido! A língua ainda existia, conseguia tatear o interior das

bochechas e sentir seus dentes, mas não havia orifício que lhe permitisse

usufruir dessa via respiratória.

Porém isso não era tudo. Já havia se passado algum tempo desde que

acordara; por que não enxergava nada? Notou então, já quase sem

surpresa, que seus olhos também estavam fechados pelo tecido

contínuo de seu rosto, estendido sobre cada orifício de sua cabeça, até

os ouvidos. Ficou deitado por um longo tempo tentando entender o

que acontecera e o que faria.

Muito tempo depois, horas, dias, minutos, segundos, não conseguia

saber, a fome e a sede começaram a castigá-lo intensamente.

Levantou tateando o ambiente de seu apartamento até encontrar a

cozinha. Tamanha era sua necessidade de água e alimento, tamanho

era seu sofrimento físico pela desidratação e inanição, que num ato de

DÍPTICO LITERÁRIO: CONTROLE

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24

desespero buscou uma faca e com torpes movimentos cerrou a

superfície de seu rosto no local onde anteriormente fora a sua boca.

Comeu e bebeu como se estivesse insensível àquele horrendo ferimento

autoincutido, ingerindo sangue quente misturado a restos da comida

fria e insossa pega da geladeira.

Após sentir-se satisfeito, a dor do corte começou a incomodá-lo. Ela,

que estava inerte frente ao sofrimento anteriormente causado pela

fome e pela sede, passava a concentrar todas as suas atenções. Era

uma dor insuportável agora que estava em evidência. Sentiu que

chorava, mas o choro, impedido de escorrer pela sua face, pressionava

seus olhos, despertando uma horrível enxaqueca e aumentando sua

angústia. Desmaiou.

Retornou à consciência, esparramado no chão e com profundas dores

musculares. A boca não lhe incomodava mais, o sangue havia

coagulado. Sentiu o odor de excrementos e urina. Lembrava-se

vagamente de ter sofrido espasmos convulsivos antes de apagar, o que

certamente causara aquela degradação. Questionava o que estava

acontecendo. Não havia lógica alguma, tudo era inexplicável e

irracional. Porque havia se tornado vítima de uma condição tão

humilhante; tão sub-humana?

Sentiu-se profundamente deprimido. Respirou fundo. Tentou recobrar a

calma, não podia chorar, a pressão causada na cabeça era

insuportável. Ficou desnorteado. Pensou em suicídio, mas não tinha

coragem para seguir em frente. Tentando ignorar essa covardia e

restabelecer o domínio de sua situação, pegou novamente a faca com

a qual havia aberto sua boca, esticou a pele que cobria seus olhos e

com um ímpeto extraordinário cortou um lado de cada vez. A faca caiu

de sua mão, a nova dor era ainda pior do que as anteriores. Um misto

de sangue e de lágrimas represadas inundava sua visão e transbordava

pelo seu rosto.

Page 25: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

25

Muito tempo passou sem que conseguisse enxergar qualquer coisa, a

não ser o fluxo liquefeito que escorria de seus olhos. Era novamente livre

para chorar e chorava copiosamente como se pudesse expulsar pelos

olhos a última gota da frustração que o acometia, como se isso lhe

permitisse atingir o ponto de inflexão, a partir do qual poderia galgar e

recuperar sua condição preexistente.

Sua visão adaptava-se gradativamente ao ambiente e com isso crescia

sua confiança de que a penúria teria fim e de que a desgraça que lhe

havia ocorrido seria revertida. Havia alternativas cirúrgicas que lhe

devolveriam o contorno humano e a plena funcionalidade. O trauma

era superável, havia sofrimentos piores, havia pessoas que nasciam em

condição deficiente de tratamento impossível. Aquilo havia sido um

puro acidente, sobrenatural talvez, mas não tinha significado. Podia

com o tempo tornar-se motivo de riso, podia até ser esquecido. Não

prejudicaria sua sanidade, não lhe tornaria obtuso.

Porém a esperança era vã. Quando sua visão ajustou-se

completamente, percebeu que já não estava mais em seu

apartamento, mas num ambiente totalmente vazio, preenchido de uma

claridade infinita, sem horizontes, sem solidez, sem chão, sem teto. Em

desespero, buscou novamente a faca. Dessa vez, a coragem de

suicidar-se superava a covardia de enfrentar aquele isolamento, aquela

presença desajustada de si mesmo. Todavia, já não havia faca, nem

roupa, nem nada. Estava completamente nu, completamente sem

recursos, perdido entre a vida e a morte, sem poder qualquer uma das

duas, a não ser esperar que uma delas se realizasse espontaneamente.

MAHAVATAR

Quando me contaram essa panaceia, duvidei prontamente. Minha

dúvida, entretanto, decorreu menos da sobrenaturalidade dos eventos

Page 26: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

26

e mais do fato de as pessoas envolvidas na experiência fantástica

terem decidido retornar ao mundo real. Antes de eu mesmo buscar

reproduzir o que me haviam relatado, parecia-me completamente

impossível que alguém em sã consciência desistisse da promessa de

realização de seus sonhos idílicos.

Tinha de fazer minha própria tentativa. Primeiro porque queria testar se

tudo não era uma grande piada de mau gosto fruto de algum

charlatanismo barato baseado na exploração da fragilidade

emocional das pessoas. Segundo porque, sendo toda aquela fantasia

realmente possível, o que me parecia absurdo e improvável, me era

imperativo compreender porque ninguém havia suportado sustê-la

eternamente ou durante todo o restante da vida.

Com essa firme determinação de desmascarar e ridicularizar toda

aquela fábula, segui os passos de meus interlocutores e parti rumo à

minha própria experimentação. Coordenadas em mãos, iniciei meu

caminho.

Em um estágio impreciso da minha jornada encontrei o guru, o homem

que supostamente dominou a morte, a fome, o envelhecimento e todas

as demais condições debilitantes de nossa natureza física.

Não foi no pico mais alto das redondezas. Não foi em um ponto de

difícil acesso. O local era ermo, sim, o ar rarefeito, mas o esforço físico

necessário para se chegar lá não era impeditivo nem mesmo a

sedentários como eu. Fazia frio, porém suportável. A caminhada desde

o vilarejo mais próximo tinha durado algo em torno de quatro dias.

Exigia-se muito pouco para o que se prometia, o que me pareceu muito

suspeito. Aliás, o encontro foi tão súbito que fiquei com a impressão de

que o guru estava à minha espera, que ele havia me encontrado e não

o contrário. Tudo isso aumentou minha desconfiança. Estava tão

aficionado pela ideia de que tudo não passava de uma encenação

Page 27: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

27

bem elaborada que qualquer acontecimento se me aparentava como

uma confirmação desse meu raciocínio.

De antemão, tomei diversas precauções para evitar ser ludibriado.

Sabendo que o ar rarefeito poderia influenciar minha cognição, antes

de perseguir o encontro, preparei-me antecipadamente com

treinamentos de altitude. Além disso, decidi não aceitar nenhum

alimento ou bebida que o guru me oferecesse, pois uma de minhas

hipóteses era de que ele fazia as pessoas ingerirem substâncias

entorpecentes e alucinógenas e depois as conduzia hipnoticamente

aproveitando o estado letárgico em que lhes tinha inserido.

Não obstante, posso hoje confessar com tranquilidade que, mesmo

com todos os meus pré-julgamentos a respeito do guru e toda a minha

má vontade em acreditá-lo, o primeiro contato que tive com a sua

presença me causou uma profunda impressão e uma grande

comoção, ainda que tenha suprimido qualquer manifestação desses

sentimentos e tenha até me recriminado pelo que considerei estupidez

e tolice sentimental.

Seguindo o que para mim se tratava de um roteiro ensaiado, o guru

ofereceu-me a mesma experiência “única” ofertada indistintamente a

todos que lhe visitavam.

- Os que aceitam minha oferta desfrutam do poder de vivenciar um

mundo paralelo, com estímulos absolutamente reais, criado

inteiramente por seus anseios e desejos, com total controle da vontade

de tudo e de todos. É possível ainda para o visitante permanecer nesse

mundo paralelo por todo tempo que lhe convier, em eterno gozo de

sua soberania.

É claro que aceitei, afinal era para isso que eu estava lá. Era preciso

seguir adiante para desconstruir toda aquela ficção. Após dizer sim,

fiquei ainda mais alerta e concentrado, atento aos movimentos do

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guru, mas na primeira vez que pisquei, meus olhos se abriram em outro

mundo. Ao que parecia essa parte da história que me haviam contado

era verdadeira. Aquele homem realmente tinha algo extraordinário

para oferecer. Algo que seria capaz de suprir todos os meus desejos,

que me permitiria finalmente conhecer a felicidade plena; um mundo

inteiro submisso à minha vontade.

A descrição de meu mundo imaginário, todavia, está longe der ser o

mais interessante. Na verdade foi uma experiência preenchida de

obviedades, não obstante tenha revelado lados obscuros de minha

personalidade. A princípio, desacostumado com o poder recebido,

comecei com a imposição de vontades tímidas. À medida que

confirmava minha capacidade de determinar a realidade, fui

ampliando minha dominação, ficando mais ousado, experimentando

as manifestações de meu jugo ilimitado com mais e mais desenvoltura e

intensidade.

Tive absolutamente tudo, fiz todo e qualquer ato nobre ou vil. Mandei e

desmandei nos meus súditos humanos, animais e plantas. Fui o mais

forte, o mais belo, o mais rico, o mais corajoso. Todos me queriam e me

amavam. Tudo era pacífico, se assim eu quisesse, e quando despertava

em mim algum sadismo ou desejo impetuoso por conflito, todas as

batalhas eram épicas e eu sempre saía vencedor. Não havia doenças

sem cura, pelo menos não para mim, imune a todas que

eventualmente inventava. Não havia crimes sem punição, nos quais fui

assumindo o papel de juiz e carrasco, ainda que tudo que acontecia

de errado fosse consciente obra minha. Também não havia iniciativa.

Não havia diversidade nem surpresa. Não havia novidade. Todos eram

iguais e respondiam igualmente. Tudo era monótono.

Três vezes desejei que todos tivessem livre arbítrio, mas não fui capaz de

suportar a minha superioridade colocada em dúvida. Três vezes

revoguei esse desejo. Depois dessa terceira vez nada mais aconteceu.

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Anos se passaram em completa inércia. Tornei-me semelhante a todos

os seres apáticos que aguardavam minha próxima ordem. Não havia

respostas autênticas. Nada era verdadeiro. Não era realmente amado,

nem querido, nem temido. Meu mundo minguava e morria

paulatinamente. Voltei. O retorno também era verdade.

Em meu regresso encontrei o guru ao meu lado exatamente na mesma

posição em estava quando o tinha visto pela última vez. Indiferente às

minhas aflições, o guru estampava um sorriso reconfortante. Após um

curto período, ele falou:

- Deseja perguntar-me algo?

- Quanto tempo se passou? - questionei.

- Quanto tempo deseja que tenha se passado?

- Acho não tem muita importância, não é mesmo?

- Pois bem, nesse caso façamos com que seja um piscar de olhos.

Essa frase despertou minha consciência para o ambiente que me

rodeava. De fato, recobrando meus sentidos e minha percepção de

tempo e espaço, reparei que não poderia ter estado ali na companhia

do guru mais do que uma hora, conquanto tenha passado anos no

meu mundo imaginário.

- Imagino que muitos sábios lhe tenham visitado.

- Alguns – respondeu o guru.

- Quantos aceitaram sua oferta?

- Nenhum. Minha oferta não é tentadora para sábios.

Sim!, essa era a única resposta possível. Afinal, a experiência que

vivenciei era ilusória, expletiva para aqueles que despertaram

internamente à verdadeira sabedoria superior. Compreendi que era

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30

preciso ter algum grau de egoísmo, que era preciso ser autocentrado e

destituído de uma concepção de pertencimento ao mundo para se

sentir tentado a aceitar aquela oferta, características que estavam

presentes em mim, ainda que não as achasse tão cristalinas antes

daquela experiência.

- Porque voltei? - perguntei ainda sem compreender adequadamente

minha frustração.

- Porque foi esse seu último desejo.

- Mas porque não suportei viver em um lugar no qual eu tinha

absolutamente tudo que me convinha?

Com uma feição angelical e tranquilizadora, o guru disse:

- Nossa expressão individual e nosso ilusório eu não estão dissociados de

nossa natureza holística. Somos invariavelmente dotados de empatia.

Reconhecermos, de modo consciente ou inconsciente, que os demais

seres são nossos semelhantes. A supressão da vontade e da potência

criativa desses seres cria um mundo débil e entediante, limitando o

ilimitado e impossibilitando manifestações autênticas e surpreendentes,

que passam a condicionar-se à visão mesquinha do eu ilusório. Nosso eu

superior, por sua vez, reage empaticamente a essa agressão promovida

pelo eu ilusório, criando um conflito entre o material e o espiritual. Assim,

quanto mais realizamos nossos desejos aparentes, mais sufocamos nossa

capacidade de manter o mundo que criamos, pois maior passa a ser a

nossa rejeição a esse mundo. Percebemos então que a superioridade

de nossa vontade não nos traz verdadeira satisfação. Percebemos que

a imposição de nossos desejos materiais e físicos não nos traz

contentamento perene, apenas saturação, tédio e tristeza. A

continuidade desse estado resulta na morte do desejo e do eu, mas

nenhum dos que aceitam minha oferta consegue suster a experiência

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até esse ponto. Ao primeiro sinal de anulação do eu ilusório, todos

voltam à segurança do estado anterior.

Naquele momento comecei a sentir-me constrangido pela minha

ignorância. O guru era a expressão física da energia pura. Situava-se no

limiar do autoconhecimento espiritual. Era a personificação do ser

holístico. Eu não merecia a sua sagrada companhia. Percebendo-me

inquieto, o guru sorriu placidamente e continuou:

- Os que aceitam minha oferta vivem em constante esforço para

preservar o hermetismo de suas personalidades, como se essa fosse a

verdadeira dádiva de sua existência. Sentem-se superiores aos demais.

Sentem-se entediados em relação ao mundo que conhecem. Sentem-

se vazios nesse festival de aparências. Acreditam que todo o seu

sofrimento é fruto da ausência de controle sobre o que consideram

uma realidade caótica e acidental na qual foram obrigados a viver.

Consideram-se vítimas fortuitas de uma existência sem sentido. Ofereço-

lhes então a experimentação de seus desejos egoístas realizados, a

sensação de total domínio e determinação do destino, para que

percebam que o resultado obtido é o mesmo, a infelicidade é a

mesma, o vazio é o mesmo.

Vazio. A fala do guru correspondia perfeitamente ao meu sentimento

após retornar do mundo imaginário. Apesar da frustração que aquela

verdade me causava, a compreensão que o guru tinha da minha

angústia criava uma conexão cada vez maior entre nós, causando-me

simultaneamente uma sensação de acolhimento até então

desconhecida.

- A questão, portanto, não está na mudança do mundo – continuou o

guru -, mas na autorrealização, no abandono do eu ilusório, na

aceitação de nossa empatia como característica de nossa integridade

holística, na aceitação de nossa potência criativa, na aceitação de

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nosso eu superior, plural, indivisível e não dual, não pertencente a

nenhuma individualidade.

- Mas como poderei fazer isso, eu que sempre estive tão longe dessa

sabedoria? - perguntei.

- A redenção, de uma forma ou de outra, está disponível a todos. Para

obtê-la não é preciso exercer o controle, apenas experimentar a

entrega. Todos nós somos divinos, cada um a seu modo e ao mesmo

tempo iguais. Todos nós podemos experimentar a sublimação por meio

dessa oculta divindade, basta que nos deixemos abertos a ela, nossa

verdadeira essência. Dessa forma, nossa experiência material será

verdadeiramente abundante e sem esforço, pois será alimentada pela

harmonia espiritual.

Esse era o verdadeiro conhecimento oferecido pelo guru. Essa era a

revelação presenteada a qualquer um que o visitasse. Renasci naquele

momento e assim renasceu minha realidade. Meu eu renascido

certamente não aceitaria uma nova oferta do guru. Não era preciso

testar novamente o controle. O necessário agora era entregar-se.

Curiosamente, eu não havia trilhado o caminho do santo, nem do

extremo pródigo. Não houvera grande sacrifício, não fora preciso sofrer,

não houvera incontáveis penitências. A resposta estava no amor, na

entrega e na confiança.

Passei ainda todo o restante daquele dia em silêncio contemplativo na

companhia do guru. As montanhas que nos cercavam, o horizonte

delineado e colorido pelo sol já poente, a vida que nos envolvia, a

vibração do mundo que nos sustentava, tudo era infinitamente belo,

perfeito e dadivoso. Tudo era abundante, natural e simples, sem

artificialidades. Entregue a um estado de sublimação, ri à lembrança já

evanescente de meu mundo imaginário. Ri quando o comparei à

colossal riqueza de nosso mundo. Como não pude percebê-la antes? Ri

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33

ao saber que essa riqueza também era minha, criador, criatura, parte,

todo. Ri e me senti genuinamente feliz. Assim me sinto até hoje.

Ainda antes de me afastar com certa relutância da presença do guru,

perguntei:

- Qual o seu nome?

- Não tenho um nome meu, mas muitos possuem nomes com os quais se

referenciam a mim. Há diversos nomes. A escolha é sua.

PAULO GABARDO é brasileiro nascido em Curitiba, Paraná, em 1985. É poeta,

cantor e compositor. Desde 2011 reside em Brasília, Distrito Federal. É autor dos

livros Dobras no Tempo e Poesias para quem escreve cartas de amor,

lançados simultaneamente em 2014 pela editora Chiado, de Portugal.

Atualmente, parte de suas composições são apresentadas pela banda

Without Cash, da qual é vocalista. Site: paulogabardo.com

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PEDRO BELO CLARA | Lisboa, Portugal.

No horizonte do olhar há um cálice que se esvazia. À sombra dum

plátano em crescente nudez, uma branca flor entrega-se à ausência de

ser. Quem conta os passos por um vulto despidos rumo ao vazio do dia?

Ninguém sabe da morte que vive nas margens do verão. Ou

talvez as mãos sejam demasiado inocentes para se abrirem aos

espinhos que negam. Serão como as bocas, que sorriem quando os

peitos decifram a alegria dos rios?

O TARDAR DAS ESTRELAS

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A cortina que se descerra lembra a aguda imagem dos corpos.

Abandono é o seu nome. Não aquele que tanto cantaram no auge

dum desapego de pássaro azul, mas aquele que no ventre traz o esfriar

de todo o lume. Olha a romã, diria. Rasgado o fruto na impetuosidade

dos ventos, ainda palpita um rubro coração de semente. Quem socorre

a agonia dos ramos?

Os despojos da vida estregues estão à voracidade das chamas.

Crescem como lobos cercando as presas. Os fumos das frágeis formas

erguem-se a um céu em queda lenta, tão próximo que algum braço

ainda o rasga. Aproxima-se e cerca e oprime, apertando as galerias

onde aves já não pairam.

Há quem diga que a chaga dói menos quando a pele aceita o

incêndio. Seja por melancolia ou evocação de antigas dores, isto se

sabe: as estrelas tardam em cintilar.

PEDRO BELO CLARA é autor das obras “A Jornada da Loucura” (2010), “Nova

Era” (2011), “Palavras de Luz” (2012), “O velho sábio das montanhas” (2013) e

Cristal (2015). Além de prelector de sessões literárias, é actualmente

colaborador e colunista de publicações literárias. Outros trabalhos seus

poderão ser encontrados no seu blogue pessoal, “Recortes do Real” (crónicas

diversas) | https://www.facebook.com/pbeloclara/

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RAFAEL SIMEÃO | Fortaleza, CE.

Você fica me agradecendo pela paz que eu te dei, me enche de

beijos e dos maiores carinhos, lambe minha orelha, meus dedos, parece

um gato carente, não consegue largar minha mão nem enquanto tira

um cochilo e eu prefiro ficar lendo, mal consigo passar a página, nós no

sofá, diz que antes do nosso relacionamento você era tão ansiosa e

obsessiva, inquieta, enquanto agora aprendeu o valor de ser calma e

paciente, leve. Disse que não sente mais tanta vontade de matar a

OSMOSE NÃO AUTORIZADA

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37

caixa do supermercado que descaradamente enrola no atendimento,

contando as moedas cheia de má vontade, porque simplesmente não

gostaria de estar ali numa manhã ensolarada de domingo, ou a idosa

que paga no cartão e esquece momentaneamente a senha, quem

demora a te responder nos aplicativos de mensagem instantânea

também não precisa mais se preocupar com retaliações inflamadas e

entupimento da caixa de entrada, sobretudo sua ansiedade diminuiu

muito, a preocupação sobre o rumo da sua vida, a dependência dos

freelas, aquela incerteza sobre o futuro e sua vocação profissional. E

quando meus pais não estiverem mais aqui? Essa é uma pergunta que

já não martela tanto na sua cabeça. Você disse que isso foi

colaboração minha, que com toda minha paz consegui te contaminar,

e aí você já nem passa mais a madrugada em claro quando tem algum

compromisso importante no dia seguinte, quando acha que bebeu

café demais, quando escuta um barulho esquisito na rua lá embaixo,

quando tenta adivinhar se o nível de algum hormônio do seu exame de

sangue está fora do recomendado. Você diz que não remói mais as

coisas, aprendeu comigo a deixá-las simplesmente serem e,

positivamente, extrair ensinamentos. Ficou tão desencanada e de bem

com a vida, você me conta com um sorriso no rosto, que deixou de

navegar quatro horas diárias pelos sites de vagas de emprego e

concursos públicos, de programar durante a semana inteira a visita da

manicure e se chatear quando ela não estava disponível no horário que

você desejava, apesar de não ter compromisso algum que te impedisse

de mudar o horário. Aí você diz, brigado meu amor, você me deu a paz

de que tanto eu precisava. Só que é o seguinte, eu não te dei porra

nenhuma, você roubou isso de mim! Antes de me envolver contigo eu

era um sujeito tão tranquilo, praticava minha ioga, meditava e

mantinha a alimentação balanceada, atento às calorias e ao glúten,

corria quarenta minutos diários, respirava bem fundo quando alguém

me contrariava e tinha plena consciência de que eu tinha que ser pro

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mundo o que eu espero que ele me dê, que tá tudo interligado e

interdependente, eu fazia minha parte, ouvia mais do que falava, bebia

socialmente, escutava um disco inteiro deitado na cama com os olhos

entreabertos, atento a cada acorde, eu inclusive conseguia frequentar

filas sem me estressar, fone de ouvido no chet baker, lá longe, e às

vezes até emprestava meu ouvido pra reclamação de algum pobre

coitado, insistente citando a lei estadual de que não se pode demorar

mais que vinte minutos na fila do banco, lhe oferecia até um sorriso

complacente, estimulava sua ida à justiça, ao tribunal de pequenas

causas, aos órgãos competentes pra denunciar essa falta de atenção

às necessidades dos idosos, quiçá aos direitos humanos, eu era

realmente um bom sujeito, apoiando as causas feministas e oferecendo

meu lugar no ônibus pros mais velhos, não me importando com a

lerdeza da minha conexão com a internet tampouco com as festas de

família, que eu frequentava contrariado mas consciente da

importância desse elo. Eu, tão sereno, sempre fui incapaz de magoar

alguém, de não oferecer um obrigado a cada um que as obrigações

do dia a dia nos obriga a conviver, mas foi só você entrar em cena,

desse jeito feito um furacão, sanguessuga, asfixiante, sem me permitir

uma noite de liberdade com meus amigos ou uma desatenção ao seu

brinco novo, que eu destrambelhei, perdi o sossego e a paciência com

a vida, e agora não consigo nem parar de sacudir as pernas enquanto

tô aqui sentado escrevendo isso.

RAFAEL SIMEÃO, 28, Rio de janeiro. Não quis nos contar muito sobre ele, mas

fornece algumas pista quando escreve. | [email protected]

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RENATO OLIVEIRA | Belém, PA.

“Não se inscrevem iniciais com giz

na floresta branca do amor.”

Tes amants et ma îtresses _ Robert Desnos

As estrelas chegaram com o silêncio da madrugada. Dispersas

sob o véu negro e noturno, conspiram caladas sobre o corpo

adormecido no jardim. Ele dorme. Virgílio. O contorno do corpo

cintilando azul no reflexo das águas cansadas da piscina.

Mergulhei suavemente naquele azul. Rompi a placidez

preguiçosa da água e me aproximei silenciosamente da margem

ERVAS DANINHAS

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oposta. Na boca, o gosto de cloro. Uma sutil ardência nos olhos me

fazia piscar incessantemente, afinal, mergulho sempre de olhos abertos.

Ele. Não fosse sua respiração pesada seria possível ouvir as

batidas do seu coração... Os pés descalços, sujos de terra como raízes

expostas de uma árvore arrancada do solo, por um raio, quem sabe, lhe

impregnam de uma aparência frágil de coisa vencida, derruída. O

sereno nele pousa mansamente deixando seus cabelos úmidos. O que

sonha Virgílio?

Olhando-o assim, tão de perto, me assaltam repentinamente

pensamentos que perturbam... Afastam-me de quem busco ser. Fico

naquele meu abandono em mim. Angústia. E se ele acordasse e me

visse assim? O que eu diria? Virgílio, foi no mutismo da noite que brotou

venenosa e sorrateira, como as ervas daninhas, a intrusão incontrolável

do desejo. Assim... poético, como só ele gostava de ser.

Se chegasse mais perto, eu poderia sentir a sua barba roçar na

minha. O cheiro do vinho que sua boca emana... Talvez ainda estivesse

com aquele gosto de álcool, eu só saberia se encostasse, mesmo que

de leve, meus lábios nos teus. Ah, Virgílio.

Lembro bem da primeira vez que te vi. Eu estava perdido entre a

estante dos engajados escritores de trinta e a introspecção lírica dos de

quarenta e cinco. Tu que naquele momento era apenas um

desconhecido, distraído lendo As Horas Nuas em uma poltrona velha

num sebo no centro da cidade. Ah, e como te achei desde o princípio

misterioso com aquele ar desapegado de homem triste. Foi ali, naquele

momento exato, que eu sem saber como ou porque, te abordei. _ E já

descobriu o porquê do título? Por que As Horas Nuas, afinal? Tu sorriu.

Então viramos amigos, confesso, o que me confortava apesar das

minhas limitações de homem casado. O anel na mão esquerda, uma

mulher alegre esperando um filho meu em um apartamento financiado.

E eu ali, te rodeando, o que me bastava. Sim, era o suficiente para a

minha felicidade, te querer e te amar assim bem perto.

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E no nosso companheirismo: festas, bares e jantares. Foi em um

desses jantares improvisados em meu apartamento, enquanto meu

curumim, já com quatro anos, dormia no colo da mãe, e tu contavas

mais uma breve aventura de eterno solteiro que ela surgiu, Mariana. Tão

enérgica e solar a jovem estudante de Belas Artes com borboletas

tatuadas nas costas. Confesso, uma garota realmente atraente e que te

fez perder aquela tristeza no olhar, quando virou teu mundo.

E Mariana te roubou da minha presença. Nada fácil, a princípio,

te ver escorregando para longe, te ausentando da minha companhia,

no entanto aos poucos eu conseguia, com pesar, admitir que ela fosse

a tua felicidade.

E, numa noite de setembro, veio o noivado, mesmo hoje em dia

que está em desuso noivar. A troca de alianças. Minha esposa animada

por te ver “encontrando um rumo”, e todos os nossos amigos te

parabenizando naquela noite de champanhe e brindes. Mariana me

abraçava apertado agradecendo todo o apoio. Eu quis estar no lugar

dela...

Ah, Virgílio... O tempo escorre à conta gotas, mas agora é a

véspera do teu casamento. Despedida de solteiro. Depois de tanto

álcool e de uma puta que saiu de um bolo colorido, que te ver dormir

assim, já não me permito mais aquele pudor incomodo de resistir. É o

adeus. Aceito te levar de carro para a igreja amanhã e ser teu

padrinho. Sento ao teu lado. Sinto com os pés a superfície escorregadia

dos azulejos. O cheiro de sereno desta noite que me parece

interminável também nos embriagou. Num ato de coragem eu consigo

sentir o gosto do vinho barato da tua boca. Te beijar, enfim.

Tu te mexes procurando uma melhor posição na terra que suja teu

rosto. Nos teus pensamentos ou sonhos, nem imaginas que eu, teu

melhor amigo, tem guardado por ti um amor tão grande que te deixa

partir. Dá-se o nome de covardia? Não sei o que tu pensarias sobre

isso...

Page 42: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

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Afasto os pensamentos. Passo a língua em redor da boca, o leve

adocicado ainda perdura. Tiro a roupa e mergulho nu na piscina.

Submergindo, de olhos abertos, vejo teu contorno na margem. A

escuridão nos engole, a mim, sobretudo.

RENATO OLIVEIRA costura com a linha sutil das palavras a tessitura da própria

descoberta. No entanto, confessa, há entre as tramas muito mais sonhos e

vontades que propriamente verdades. Graduando em Letras pela

Universidade Federal do Pará. | [email protected]

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SABRINA DALBELO | Bento Gonçalves, RS.

No meu mundo temos ofícios, responsabilidades

e afazeres.

Somos um povo pacífico, respeitador e muito

justo. Todos somos treinados para cumprir as ordens reais.

O Rei é bom e o obedecemos com alegria e

esperança.

Ele nos ensina tudo!

O BOM REI NOS ENSINOU TUDO

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Quando realizamos nosso trabalho de forma

satisfatória, nosso supremo nos concede o luxo da comida,

da moradia, da confraternização e o da própria luz.

Moramos em lugares organizados e arejados e

nosso Rei nos deu as flores, os ventos, as colheitas e nos

ensinou tudo sobre o peso, a composição e a ordem das

coisas. Por isso, entendemos os limites e, assim, não

ultrapassamos barreiras.

Pertencemos ao nosso lugar, onde a

possibilidade é proporcional ao merecimento pessoal.

Nos unimos uns aos outros, mas confiamos na

nossa individualidade, pois dependemos dela para servir ao

Rei.

Conhecemos todas as palavras; o Bom Rei as nos

ensinou. Ele nos mostrou os animais, as coisas, os elementos

naturais, os artificiais e os extraordinários; também nos falou

sobre sentimentos – sobre todos eles, ele nos disse.

Ele é muito bom e não nos esconde nada!

Conhecemos e já vimos todas as coisas que

existem em nosso mundo.

Nosso mundo é sabidamente invejado por outros

mundos.

O querido Rei nos provou também porque

aquela moça que deixou de receber moedas de cobre,

comida e nossas visitas merecia ficar isolada e a mercê da

própria sorte, já que foi desobediente e não cumpriu as

ordens reais como devia.

Page 45: Revista subversa vol 4 nº5 março2016

45

Ele nos mostrou, devido a sua real bondade, que

qualquer ajuda que déssemos à moça, não autorizada por

ele, nada mais seria do que um retrocesso no aprendizado

dela. E é certo que precisamos contribuir para o bem

comum.

Todos nós entendemos e ficamos felizes com a

decisão do Bom Rei em relação àquela moça, pois temos

conhecimento de todas as palavras que ele usou para nos

explicar seus motivos, inquestionáveis, portanto.

Aquela moça acabou definhando, já que, de

certo, mereceu definhar.

Eu entendi como tudo ocorreu, porque conheço

o nome de todas as coisas – o Bom Rei nos explicou, uma a

uma – só não sei como se chama aquele olhar opaco e

distante que vejo nos rostos dos filhos da moça desobediente,

depois que ela se foi.

Mas não me atrevo a perguntar...

Se tivesse nome, nosso Bom Rei nos diria.

SABRINA NUNES DALBELO é gaúcha, graduada em Direito, servidora pública

do Ministério Público Federal e escritora de tudo um pouco. Participa de vários

grupos literários e mantém as páginas do Facebook "Se Tem Nome Existe",

onde publica contos, poesias e algumas poucas crônicas; e "Pensamento Sem

Moldura", com aforismos e pensamentos. Já participou de algumas antologias

poéticas pelas Editoras: Poesias Escolhidas (Belo Horizonte), Grupo Pastelaria

Studios (Lisboa - Portugal) e LiteraCidade (Macapá), mas ainda não publicou

seu livro solo. Utiliza-se das dualidades e dos paradoxos para contar as coisas

da vida. Escreve sobre tudo um pouco, e a qualquer momento, e tem

como característica não revisar seu texto, que comumente é postado

online, na hora em que é criado. | [email protected]

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PORTFÓLIO | BEHANCE | FACEBOOK |[email protected]

Thaís Nozaki é de São José dos Campos, São Paulo. Cresceu

cercada de artistas plásticos na família – o pai e o avô. Formou-se em

Geografia e trabalhou com desenho técnico, o que despertou aquilo

que ela chama de “resgate artístico”, espécie de despertar de um

processo criativo que, tendo permanecido latente, surgiu de forma

espontânea e intuitiva. É uma peculiaridade do trabalho de Thaís, que

hoje utiliza e mistura grafite, aquarela, aguadas de acrílica, nanquim,

óleo, carvão, lápis de cor, digital e colagem: “A dramaticidade do tema

é que vem me dizer quais técnicas possuem valor e densidade para

harmonizar a ilustração. [...] Assim também é com o ritmo do desenho,

da pintura. Não possuo uma linha que dê ‘assinatura’ ao meu trabalho,

tenho muito receio em fazê-lo, apesar de reconhecer que o espectador

sinta essa necessidade”. Apesar da dificuldade que enfrenta no

reconhecimento e valorização das artes plásticas, a artista tem planos

densos na área: além do estudo formal, almeja contribuir para o

desenvolvimento do mercado independente das artes gráficas, além

de se expandir na ilustração editorial. Já é possível adquirir sketchbooks

com capas autorias produzidos pela Thaís, que em breve serão

direcionados, também, para a exportação.

SOBRE THAÍS NOZAKI: “Silenciei essa paixão

por anos”

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PARCEIROS:

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48

Edição e Revisão:

Morgana Rech e Tânia Ardito

Recepção de originais:

[email protected]