revista saúde são paulo

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ANO 6 | NUMERO 15 | agosto de 2009 Cerco Mundial Como outros países combatem o cigarro Fumo Passivo mesmo quem não fuma tem sua saúde prejudicada Hora de parar Ajuda especializada é fundamental para largar o vício Edição Especial

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Publicação da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo - Edição especial: Lei Antifumo

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Page 1: Revista Saúde São Paulo

ANO 6 | NUMERO 15 | agosto de 2009

Cerco MundialComo outros países

combatem o cigarro

Fumo Passivomesmo quem não fuma

tem sua saúde prejudicada

Hora de pararAjuda especializadaé fundamental para

largar o vício

Edição Esp

ecia

l

Page 2: Revista Saúde São Paulo

SÃO PAULO NOCOMBATE AO FUMO

Geraldo, avô, marido e, conforme as onze crianças que ele criou, “o melhor pai do mundo”. Era

de uma bondade absurdamente fora do comum.

Albano, médico, pai coruja. Estava prestes a ser avô. Era de um carater ímpar.

Margarete, “filha nota 10”, dizia a mãe. Sensível, inteligente e, acima de tudo, leal.

Não tivessem suas vidas roubadas pelo cigarro, certamente estariam comemorando com todos

aqueles que lutam por um mundo melhor o importante dia de 7 de agosto de 2009.

É nessa data que entra em vigor a lei 13.541, que proíbe o consumo de tabaco em ambientes

públicos de uso coletivo no Estado de São Paulo.

A nova lei é, sem dúvida, a favor da saúde pública e de milhares de pessoas que diariamente se

veem obrigados a respirar durante horas a fumaça exalada do cigarro dos outros.

Para se ter idéia dos malefícios do cigarro e seus derivados, o fumo é a terceira causa de morte

evitável em todo o planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Os números em

relação ao assunto estarrecem qualquer um: por ano, são cerca de 4,9 milhões de vítimas do

tabaco, ou uma morte a cada seis minutos.

Só no Brasil, de acordo com números do Instituto Nacional de Câncer, são aproximadamente

200 mil mortes anualmente.

Esta edição especial da Saúde São Paulo esclarece tudo sobre a lei antifumo implantada no

Estado de São Paulo. A revista explica de forma didática porque a lei foi criada, esclarece as

principais dúvidas a respeito da nova legislação e informa onde é proibido ou liberado fumar.

A Saúde São Paulo traz ainda reportagens sobre os males do cigarro e como diversos países

entraram na luta contra o tabaco. Já para aqueles que querem deixar o cigarro, uma matéria

traz histórias de pessoas que conseguiram largar o vício, além de dicas de como chegar lá.

Nas páginas seguintes, você vai poder constatar que a nova lei paulista é um alento para

todos aqueles que esperam viver em um país onde número de mortes de Geraldos, Albanos,

Margaretes e tantas outras vítimas do tabaco seja cada vez menor. Boa leitura.

Vanderlei FrançaCoordenador de Comunicação

EDITORIAL | SAÚDE SÃO PAULO

Expediente

Saúde SP é uma publicação produzida pela Assessoriade Comunicação Social da Secretaria de Estado da SaúdeCoordenador de Comunicação: Vanderlei FrançaCoordenadora de Imprensa: Vanessa Silva PintoEditor: Denilson Oliveira (Mtb 044747) Coordenador de Marketing: Denis Zanini Lima

Direção de Arte: Flávio Hypólito e Gustavo Palladini Fotos: Paulo Alexandrowitsch / Rafael Andrade (Folha Imagem) / Photostogo.comRedação: Alessandra Pecoraro, Flavia Queiroz, Roberta Rodrigues,Rubens Rinaldi, Victor RamosContatos: (11) 3066-8712 - [email protected], impressão e acabamento: Imprensa Oficial

Agosto / Setembro - 2009

Lei

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� | Agosto de 2009 Agosto de 2009 | �

LEI ANTIFUMO SP | SAÚDE SÃO PAULO

O dia 7 de agosto marcará uma

importante mudança para a

saúde pública no Estado de

São Paulo. Nessa data, entra

em vigor a nova legislação antifumo. A

partir daí, fica proibido fumar em ambien-

tes fechados de uso coletivo como bares,

restaurantes, casas noturnas, escolas e

boates. A nova lei acaba, inclusive, com os

fumódromos em ambientes de trabalho e

as áreas reservadas para fumantes em res-

taurantes. Defende, portanto, ambientes

100% livres do tabaco.

São Paulo segue assim uma tendência

internacional de restrição ao tabagismo

que vem na esteira de inúmeros estudos

que comprovam os males provocados

pelo cigarro a fumantes e não-fumantes.

É fundamentalmente a proteção da saúde

dos fumantes passivos que a nova lei mira.

Segundo dados da OMS (Organização

Mundial de Saúde), o fumo passivo é a ter-

ceira maior causa de mortes evitáveis no

mundo. À frente dele, apenas o alcoolismo

e, claro, o próprio tabagismo. Pelo menos

200 mil trabalhadores morrem todos os

anos por essa razão. São garçons, funcioná-

rios de casas noturnas, entre outros profis-

sionais, que se veem obrigados a respirar

durante horas, todos os dias, a fumaça exa-

lada do cigarro dos outros. Assim, mesmo

quem não fuma, acaba exposto aos diver-

sos males a que se sujeitam os fumantes.

“São esses trabalhadores que a lei vai

beneficiar em primeiro lugar. Sem a restri-

ção, eles acabam sendo obrigados a tra-

balhar em ambientes insalubres. Todos os

fumantes passivos serão positivamente

afetados. Incluindo aí as crianças, que so-

frem com a fumaça exalada pelos adultos.

Por fim, os próprios fumantes serão bene-

ficiados. Para eles, haverá uma redução de

danos, uma vez que acabarão diminuindo

o número de cigarros fumados por dia”, afir-

ma a dra. Luizemir Lago, diretora do Centro

de Referência de Álcool, Tabaco e Outras

Drogas da Secretaria de Estado da Saúde.

Estimativas apontam que há cerca de

2 bilhões de fumantes passivos no mundo

todo, incluindo aí cerca de 700 milhões de

crianças. A exposição à fumaça do cigarro

provoca efeitos imediatos como irritação

dos olhos e nariz, tosse, dor de garganta e

dor de cabeça. As crianças que são expos-

tas frequentemente à fumaça do cigarro

têm maior chance de desenvolver infec-

ções do ouvido e doenças respiratórias tais

como pneumonia, bronquite e asma. Já no

caso dos adultos, há um risco 30% maior

de desenvolver câncer de pulmão e 24%

maior de ter um infarto do coração.

A nova lei restringe, mas não proíbe o

ato de fumar. O cigarro continua autoriza-

do dentro das residências, das vias públicas

e em locais ao ar livre. Estádios de futebol

também estão liberados, assim como quar-

tos de hotéis e pousadas, desde que estejam

ocupados por hóspedes. Em todos os casos,

a responsabilidade por garantir os ambien-

tes livres de tabaco será de proprietários e

responsáveis pelos estabelecimentos. Os

SÃO PAULO PROÍBECIGARROS EM AMBIENTES

FECHADOS DE USO COLETIVOVICTOR RAMOS

A nova lei

restringe, mas

não proíbe

o ato de fumar.

O cigarro

continua

liberado dentro

das residências,

vias públicas e

locais ao ar livre

Agosto de 2009 | � � | Agosto de 2009

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� | Agosto de 2009 Agosto de 2009 | �

fumantes não

serão alvo da

fiscalização.

Para evitar san-

ções, os responsáveis pelos

estabelecimentos devem tomar medidas

práticas para manter os ambientes livres

de tabaco. Entre elas, a fixação de cartazes

alertando sobre a proibição, e a retirada dos

cinzeiros das mesas de bares e restaurantes

como forma de desestimular que os cigar-

ros sejam acesos. Devem, também, orientar

seus clientes sobre a nova lei e pedir para

que não fumem. Em casos extremos, a pre-

sença da polícia poderá ser solicitada.

“A lei não é contra os fumantes. Ela é a

favor da saúde pública. Por isso os fiscais

não abordarão as pessoas que estiverem

com cigarro. São os proprietários que serão

alvo da fiscalização, pois eles devem zelar

pela saúde de seus clientes e funcionários.

Mas acreditamos que haverá uma colabo-

ração generalizada da população. O índice

de aprovação à medida é muito alto”, afirma

Cristina Megid, coordenadora da Vigilância

Sanitária do Estado de São Paulo. Pesquisas

de opinião revelaram que mais de 90% da

população é favorável à lei antifumo.

Quando a fiscalização constatar o des-

respeito à lei, os estabelecimentos serão

multados. Em caso de reincidência, as

multas poderão ser dobradas e, em caso

de novas reincidências, os locais deverão

ser temporariamente interditados.

Para que a nova legislação seja de

fato implementada, e não caia no rol das

leis que “não pegam” no país, a fiscalização

ficará a cargo de 500 fiscais da Vigilância

Sanitária e do Procon, especialmente trei-

nados para isso.

Eles contarão com o apoio de todos

os agentes das vigilâncias estadual e mu-

nicipais de todo o Estado, que irão incor-

porar a fiscalização ao fumo às suas ati-

vidades rotineiras. Com isso, serão cerca

de 1.500 agentes na defesa de ambientes

livres de tabaco.

A participação da população para que

a lei seja respeitada nos diferentes locais

será fundamental. Não apenas por parte

dos não-fumantes, que correspondem a

81% dos habitantes do estado. A maioria

dos fumantes também se mostrou favorá-

vel à nova legislação.

O respeito à restrição, de resto, já é ve-

rificado hoje em dia. São raros os casos de

pessoas que ignoram a proibição em sho-

ppings, aviões ou áreas de restaurantes

onde o fumo já é vetado.

Quem quiser denunciar estabelecimen-

tos onde a nova legislação for desrespeitada,

poderá usar o telefone 0800 – 771 3541, ou

acessar o site www.leiantifumo.sp.com.br,

onde haverá um link para denúncias, além

de diversas informações sobre o tema. Esses

canais estarão abertos a partir do dia 7 de

agosto, quando a lei passa a vigorar.

Ao proibir que se fume em ambientes

fechados de uso coletivo, a lei antifumo

estabelece uma mudança de comporta-

mento com reflexos diretos na saúde pú-

blica. Mudança que será estimulada por

campanhas educativas e fiscalizada pelo

poder público. E que terá na colaboração

da população sua principal arma.

A participação

da população

para que a lei

seja respeitada

nos diferentes

locais será

fundamental

Essa lei acaba com a liberdade individual de cada pessoa para decidir se quer fumar ou não?Não. A lei não proíbe o cigarro, que segue liberado em áreas ao ar livre ou dentro de casa, por exemplo.Apenas proíbe fumar em ambientes fechados de uso coletivo, para que a saúde de quem não fuma não seja prejudicada.

Os fumantes poderão ser penalizados?Não. A fiscalização não será feita sobre os fumantes. O alvo da fiscalização será os estabelecimentos,que deverão cuidar para que os ambientes estejam 100% livres de tabaco.

A ação da polícia na fiscalização será ostensiva?Não. O responsável pelo estabelecimento que deverá orientar os clientes a não fumar.A polícia só será chamada em último caso.

Por que os proprietários dos estabelecimentos, e não seus clientes, é que serão fiscalizados?Porque a legislação do consumidor e da vigilância sanitária definem que é obrigação dos donosdos estabelecimentos garantir ambientes saudáveis para seus clientes.

Por que a lei não prevê áreas exclusivas para fumantes?Porque as áreas para fumantes não impedem que a fumaça do cigarro circule. As pessoas continuam expostasaos males do cigarro, seja em lugares com áreas exclusivas para fumantes, seja em lugares com fumódromos.

Podem ocorrer demissões em bares e restaurantes?A experiência internacional mostra que, em cidades onde foram adotadas medidas semelhantes,não houve diminuição de empregos em bares e restaurantes. Em alguns casos, houve até aumento.

Apagar os cigarros no momento da fiscalização será suficiente para que os estabelecimentos não sejam punidos?Não. Os fiscais estarão atentos a outros sinais, como a existência de cinzeiros nos estabelecimentos, a presençade bitucas de cigarro ou se os estabelecimentos colocaram os cartazes avisando sobre a proibição.

O que acontece com os estabelecimentos que não respeitarem a lei antifumo?Eles receberão punições que vão de multas a interdição temporária do local.

Agosto de 2009 | � � | Agosto de 2009

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� | Agosto de 2009 Agosto de 2009 | � Agosto de 2009 | � � | Agosto de 2009

COMO FICA SUA CIDADE COM A NOVA LEI

Estádios de futebolO cigarro está autorizado.

Carros particularesO cigarro está autorizado.

Ruas e avenidasEm vias públicas, o cigarro está autorizado.

Parques e praçasEm locais ao ar livre o cigarro está autorizado.

TabacariasO cigarro em tabacarias está liberado, mas esses estabelecimentos estarão sujeitos a sanções, caso comercializem bebidas e comidas.

Quartos de hotéis, pousadas e similaresDesde que os quartos estejam ocupados por hóspedes, o cigarro está autorizado.

Mesas nas calçadasEm mesas na calçada de bares e restaurantes, desde que o local não esteja isolado por toldos e coberturas laterais,o cigarro está autorizado.

Boates e casas de showsNo interior desses estabelecimentos não será permitido fumar. Nenhuma espécie de fumódromo está autorizada.

CondomíniosEm áreas fechadas de uso coletivo, como hall de entrada, corredores e salões de festa.

Escolas, museus e bibliotecasNo interior desses estabelecimentos não será permitido fumar. Nenhuma espécie de fumódromo está autorizada.

Shoppings, lojas, cinemas e teatrosNo interior desses estabelecimentos não será permitido fumar. Nenhuma espécie de fumódromo está autorizada.

Veículos públicos ou privados de transporte coletivo e táxisO cigarro não está autorizado.

Bares e restaurantesNo interior desses estabelecimentos não será permitido fumar. Nenhuma espécie de fumódromo está autorizada.

Hotéis e pousadasEm áreas fechadas de uso coletivo, como saguões, restaurantes e corredores, o cigarro mão está autorizado

Empresas e escritóriosNo interior desses estabelecimentos não será permitido fumar. Nenhuma espécie de fumódromo está autorizada.

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A LEI PELO MUNDO | SAÚDE SÃO PAULO

10 | Agosto de 2009

Seja em português, espanhol, in-glês, russo ou qualquer outro idioma, a frase “Proibido fumar” é cada vez mais constante mundo

afora. Desde fevereiro de 2005 entrou em vigor a Convenção Quadro para o Contro-le do Tabaco (CQTC), um tratado feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e assinado por 192 países.

A convenção traz em seu texto medi-das para reduzir a epidemia do tabagis-mo em proporções mundiais, abordando temas como propaganda, publicidade e patrocínio, advertências, marketing, taba-gismo passivo, tratamento de fumantes, comércio ilegal e impostos.

O Brasil foi um dos líderes em seu processo de desenvolvimento, entre 1999 e 2003, e o principal objetivo do tratado é, a partir de tais medidas, pro-teger gerações presentes e futuras das conseqüências sanitárias, sociais, am-bientais e econômicas geradas pelo con-sumo e pela exposição ao tabaco.

A Irlanda foi o primeiro país do mundo a aprovar uma lei nacional de banimento do fumo, em 2004, antes mesmo da CQTC entrar em vigor. A idéia logo foi seguida pela Noruega, Suécia e Nova Zelândia.

No mesmo ano, o Butão, na Ásia, to-mou uma atitude bem mais radical: ba-niu totalmente o tabaco de seu território, inclusive a venda de cigarros. Até o mo-mento, não há registro de nenhum outro país que tenha uma lei tão rígida. Apesar disso, os cidadãos deste país que viajam ao exterior, podem entrar no país com ci-garros, mas os produtos estão sujeitos a um imposto de pelo menos 100%.

Mas foi o ano de 2006 que ficou marcado como o da luta contra o cigar-ro. No Canadá, as províncias de Ontário e Quebec, as mais populosas do país, aprovaram uma legislação rigorosa após a morte de uma garçonete. Ativista anti-tabaco, ela virou celebridade ao assumir na televisão que desenvolveu um câncer

de pulmão por ser fumante passiva em seu ambiente de trabalho.

Nos Estados Unidos já são 2.300 cida-des que incluíram o tabaco na lista negra. Entre elas figuram Nova Iorque, São Fran-cisco, Los Angeles, Chicago e Washing-ton. No Estado de Ohio, por exemplo, é proibido fumar nas entradas dos edifí-cios, já que a lei obriga que os fumantes permaneçam a pelo menos seis metros de distância do local para que a fumaça não contamine o ambiente de trabalho. Já nos Estados de Luisiana, Arkansas e Te-xas o tabaco não é permitido nem dentro dos automóveis caso haja a presença de menores de seis anos.

Mas é a pequena Calabasas, na Califór-nia, que se destaca: desde março de 2006 é a única cidade norte-americana a ser total-mente livre de fumaça, já que lá é proibido fumar até nas calçadas. Os infratores estão sujeitos a multas e até prisão.

Em junho, o presidente norte-ameri-cano, Barack Obama, assinou um projeto de lei que, pela primeira vez, confere ao governo dos EUA poderes amplos para re-gulamentar os cigarros e outros produtos à base de tabaco.

Obama, que contou ter começado a fumar quando era adolescente, disse que a nova lei vai reduzir a capacidade das em-presas de tabaco de divulgar seus produ-tos junto a crianças e adolescentes.

Na época da assinatura ele chegou a declarar que a lei vai forçar as empresas produtoras de tabaco a admitirem mais clara e publicamente os efeitos prejudi-ciais e mortais dos produtos que vendem.

A lei marcou o ponto culminante de uma luta lançada há mais de uma década por parlamentares adversários da indús-tria do tabaco para colocar os cigarros sob o controle da Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês).

A lei autoriza a FDA a impor novos e rígi-dos limites à fabricação e ao marketing dos produtos à base de tabaco, mas não chega a proibir os cigarros ou seu ingrediente cau-sador de dependência, a nicotina.

DENILSON OLIVEIRA

Junho de 2009 | 11 Agosto de 2009 | 11

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ChinaDos mais de 1,3 bilhão de habitantes da China, cerca de 66% dos homens fumam. Já entre as mulheres, este número é bem mais baixo, 3,1%. Por ano, o país consome cerca de 1,8 bilhão de unidades de cigarro. A publicidade é proibida em TV, jornais e revistas. Segundo dados da OMS, o fumo é proibido somente em centros educacionais e universidades. Preço do maço: 12 yuans (R$ 3,53).

FrançaEntre os 60,5 milhões de franceses, 33,3 % dos homens e 26,5% das mulheres fumam. A cada ano são consumidos cerca de 50 milhões de cigarros no país. Na França, a publicidade é permitida apenas em pontos de venda. O governo local também proibiu o consumo de tabaco em todos os ambientes públicos fechados. Preço do maço: 5,30 euros (R$ 14,77).

AlemanhaNa Alemanha, com aproximadamente 82,6 milhões de habitantes, 33,2 % dos homens e 22,4% das mulheres fumam. A cada ano, o país europeu consome cerca de 200 milhões de unidades de cigarro. Segundo a OMS, os alemães proibiram a publicidade de tabaco apenas nas redes de TV e rádios nacionais. No país, o fumo é proibido em repartições públicas e escritórios. Preço do maço: 4,45 euros (R$ 12,40).

ÍndiaNo segundo país mais populosodo mundo, com cerca de 1,1 bilhão de habitantes, 57% da população adulta masculina fuma. Já entre as mulheres a taxa é bem mais baixa: 3,1%. Por ano, a Índia consome aproximadamente 100 milhões de unidades de cigarro. A publicidade é permitida apenas em pontos de venda. O fumo é proibido em hospitais, escolas, universidades, repartições públicas, escritórios, bares e pubs. Nos restaurantes, é permitido. Preço do maço: 68 rúpias (R$ 2,82).

ItáliaDas cerca 58 milhões de pessoas que vivem na Itália, 28,3% dos homens fumam. Entre as italianas, o índice é de 16,2%. Anualmente, são consumidos cerca de 100 milhões de cigarros no país. A publicidade é proibida na TV, rádio, jornais, revistas, outdoors e pontos de venda. Também não é permitida a aparição de cigarro ou produtos relacionados em programas de TV ou filmes. O fumo é proibido em todos os ambientes públicos fechados. Preço do maço: 3,20 euros (R$ 8,92).

JapãoNo país asiático, com uma população de aproximadamente 130 milhões, 43,3% dos homens e 12% das mulheres fumam. Por ano, são consumidas cerca de 280 milhões de unidades de cigarro. A publicidade é permitida e o fumo não é proibido em nenhum ambiente público fechado. Preço do maço: 300 ienes (R$ 6,29).

RússiaDa população de cerca de 143 milhões de pessoas, 60,4% dos homens e 15,5% das mulheres fumam. Anualmente, a Rússia consome 400 milhões de unidades de cigarro. A publicidade é proibida apenas em emissoras de televisão e rádio. Além disso, não é permitida a aparição de cigarro ou derivados em filmes ou programas de TV. O fumo é permitido em ambientes públicos fechados. Preço do maço: 24 rublos (R$ 1,53).

África do SulDos cerca de 47 milhões de sul-africanos, 36% dos homens e 10,2% das mulheres fumam. Não existem dados recentes, mas até meados da década de 90 o país consumia por ano aproximadamente 22 milhões de unidades de cigarro. A publicidade, promoção e patrocínio foram totalmente banidos da África do Sul. O ato de fumar em ambientes públicos fechados só não é proibido em bares e restaurantes. Preço do maço: 15,70 randes (R$ 3,84).

Agosto de 2009 | 13

Reino UnidoEntre os cerca de 69 milhões de habitantes, 27% dos homens e 25%das mulheres fumam. Anualmente o país consome 70 milhões de unidades de cigarro. A publicidade só é permitida em pontos de venda e internet. Já o fumo é proibido em todos os ambientes públicos fechados. Preço do maço: 5,66 libras (R$ 18,60).

ArgentinaNo país vizinho, com aproximadamente 38,7 milhões de habitantes, cerca de 35,1 % dos homens adultos e 24,9% das mulheres adultas fumam. Por ano, são consumidos aproximadamente 40 milhões de unidades de cigarro. A publicidade, promoção e patrocínio de empresas de tabaco ainda é permitida. Em quase todas as províncias do país é proibido fumar em lugares públicos fechados, bares, restaurantes e repartições públicas. Preço do maço: 4,20 pesos argentinos (R$ 2,23).

MéxicoEntre os cerca de 107 milhões de mexicanos, 30,4% dos homens e 9,5% das mulheres fumam. Por ano, o país latino consome aproximadamente 43 milhões de unidades de cigarros. A publicidade é proibida apenas na TV e no rádio. Além disso, é permitido fumar em qualquer ambiente público fechado. Preço do maço: 16 pesos mexicanos (R$ 2,40).

Estados UnidosNa nação com aproximadamente 300 milhões de habitantes, 27,5% e19% dos homens e mulheres, respectivamente, fumam. Por ano, os norte-americanos consomem aproximadamente 500 milhões de unidades de cigarros. No país, a publicidade é proibida somente em emissoras de televisão e rádio. Já o fumo é proibido em lugares públicos fechados dependendo da legislação do estado ou cidade. O governo federal não possui leis nesse sentido. Preço do maço: 4 dólares (R$ 8,04).

EspanhaNa Espanha, que tem uma população de 43 milhões de habitantes, 40% dos homens e 26,8% das mulheres fumam. Anualmente, o país consome cerca de 100 milhões de unidades de cigarro. O governo local proibiu a publicidade e promoção de cigarro em TVs, rádios, revistas, jornais, pontos de venda e eventos. Também não é permitida a aparição de cigarro e derivados em filmes e programas de televisão. O fumo é proibido em ambientes como hospitais, universidades, escritórios e repartições públicas. Preço do maço: 2 euros (R$ 5,57).

Esforço mundialVeja o que alguns dos 192 países que assinaram

a Convenção Quadro para o Controle do Tabaco

(CQCT) já fizeram para combater o consumo do

cigarro e seus derivados. Fonte: Organização

Mundial de Saúde (OMS)

12 | Agosto de 2009

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1� | Agosto de 2009 Agosto de 2009 | 1�

Quase 20% dos norte-americanos são fumantes. O tabaco mata 440 mil pessoas por ano nos Estados Unidos em função de câncer, doenças cardíacas, enfisema e ou-tras doenças, dizem as autoridades.

A Espanha possui leis brandas contra o tabaco. No país, é proibido fumar em am-bientes fechados. Alguns locais com mais de 100 metros quadrados podem designar 30% de sua área a fumantes. Já estabeleci-mentos com espaços menores podem ter fumantes ou não.

Segundo Ildefonso Aguado, diretor de saúde pública na Espanha, infelizmen-te não se respeita muito essa separação. “Em Madri, mesmo com a fiscalização, muita gente fuma onde bem entender. E para que a lei seja cumprida é necessário que haja uma denúncia, coisa que poucos fazem”, diz.

Além disso, ele conta que a princípio, mesmo com parte da população apro-vando a norma, houve certa resistência. “Os comerciantes, donos de bares e res-taurantes queriam impedir a aprovação da lei. Eles contavam com a ajuda de organizações sindicais. Mas, por sorte, nós contávamos com um grande apoio parlamentar.”

Na Argentina a legislação que contro-la o tabaco avançou a níveis municipais e provinciais. “Infelizmente nacionalmente não tivemos as mesmas conquistas, ape-sar dos vários projetos apresentados por parte dos poderes Executivo e Legislati-vo”, diz Mario Virgolini, coordenador do Programa Nacional de Controle do Taba-co naquele país.

Atualmente, sete províncias argen-tinas contam com leis vigentes de am-bientes 100% livres de fumo. São elas: Santa Fé, Córdoba, Tucumã, San Juan, Neuquem, Mendoza e Entre Rios. Nes-ses lugares foi proibido o consumo de cigarro e derivados em espaços públicos fechados, sem admitir separação entre fumantes ou não fumantes.

Outras três províncias estabeleceram ambientes livres de tabaco, mas ainda permitem setores para fumar em bares e

restaurantes, de acordo com o tamanho do estabelecimento. É o caso de Catamar-ca, província de Buenos Aires e a capital do país. Aliás, na cidade de Buenos Aires há restrições quanto à publicidade, pro-moção e patrocínio do tabaco.

Segundo Virgolini, a legislação antita-baco vem sendo cumprida pelos argenti-nos. “A maioria das províncias estabelece-ram mecanismos de fiscalização através de um corpo de inspetores e um telefone para denúncias. Além disso, muitas pesso-as não permitem que se fume em ambien-tes fechados e acabam colaborando para o cumprimento da mesma”, diz.

Um estudo realizado pelo Ministério da Saúde argentino, em 2006, apontou que o país gastou em 2006 aproximada-mente 6,9 bilhões de pesos argentinos para atender pessoas com problemas causados pelo consumo de tabaco. Para se ter idéia, a cifra é muito superior ao que o governo arrecadou de impostos no mesmo ano, algo em torno de 4,2 bilhões de pesos argentinos.

Do outro lado do mundo, o Japão não tem proibição nacional do fumo. Uma lei de 2003 encoraja escolas, hos-pitais, teatros e restaurantes a fazer es-forços para evitar a exposição de não fu-mantes, mas não prevê punições. Hoje, há banimentos pontuais, como em táxis, trens e estações, além de prédios públi-cos. Tóquio e Kyoto têm ruas em que é proibido fumar. Nessas ruas, uma indús-tria do tabaco instalou espaços para fu-módromos. A multa para quem fuma nas ruas de Chiyoda Ward, região que imple-mentou o banimento, ou atira bitucas no chão, vai de 2 mil a 20 mil ienes, algo em torno de 20 e 200 dólares.

Mas, apesar de todo esse esforço em todo o planeta, um relatório publicado pela OMS em 2008 apontou que apenas 5% de população mundial está plenamen-te coberta por qualquer das principais intervenções que reduziram significativa-mente o consumo de tabaco nos países que as implementaram. Ou seja: ainda há muito a ser feito.

Segundo um

relatório da OMS,

apenas 5% da

população

mundial está

coberta por leis

contra do tabaco

1� | Agosto de 2009

A revista Saúde São Paulo reservou este espaço para

o leitor tirar qualquer tipo de dúvida em relação

à saúde. Envie uma pergunta para dloliveira@

saude.sp.gov.br. Sua dúvida será publicada nas

próximas edições da revista Saúde São Paulo.

Leitor: Chicletes e adesivos especiais inibem a vontade de fumar?Sebastião Andrade – Ribeirão Preto/SPDoutor: Sim, eles são chamados de terapias de reposição ou substituição de nicotina. Usados adequadamente, e de preferência sob orientação de profissional de saúde, são instrumentos muito eficazes no tratamento desta dependência.Gustavo Prado, pneumologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)

Leitor: Porque fumantes sentem menos fome? Amaro Figueiredo – Santos/SPDoutor: Existe uma razão para isso: o cigarro tende a aumentar o metabolismo. Quando a pessoa para de fumar, compensa a falta do cigarro com a comida, para saciar esse metabolismo. O que ajuda é a prática do exercício físico, que libera endorfina, dando a mesma sensação de saciedade que o alimento.Célia Lídia da Costa é psiquiatra e coordenadora do grupo de apoio ao tabagismo do Hospital A.C. Camargo

Leitor: Porque muitas pessoas relacionam festas e bebidas ao cigarro? Ana Luísa de Paiva Santos – São Paulo/SPDoutor: Fumar dá prazer, pois a nicotina libera neuritransmissores, nesse caso a dopamina, que dá uma forte sensação de bem estar. Então, como uma festa é um local em que a pessoa se sente bem, acaba fumando mais para manter esse nível de satisfação. Em relação à bebida, já está estabelecido que o álcool acidifica a urina, o que faz com que a nicotina seja menos absorvida pelo fumante. Dessa forma, ele tende a consumir mais cigarros para compensar a baixa absorção de nicotina causada pela ingestão alcoólica.Ricardo Meirelles é pneumologista e técnico da divisão de controle do tabagismo do Instituto Nacional do Câncer (Inca)

Agosto de 2009 | 1�

Page 9: Revista Saúde São Paulo

1� | Agosto de 2009 Agosto de 2009 | 1�

DENILSON OLIVEIRA

Nem Estados Unidos, nem

Canadá ou qualquer outro

país da Europa. Quando o

assunto é exemplo em con-

trole ao tabaco, a nação que se destaca é o

Uruguai. Isso mesmo, nossos “hermanos”

do Mercosul são considerados pela Or-

ganização Mundial de Saúde (OMS) uma

liderança no combate ao fumo.

O Uruguai passou recentemente à

vanguarda dos líderes do controle do

tabagismo na região das Américas e no

mundo. De país que há três anos tinha

escassas políticas públicas em relação ao

fumo, o Uruguai realizou o que muitos

diziam que não poderia se conseguir na

América Latina: instituiu ambientes li-

vres do fumo. No dia 1° de março de 2006,

tornou-se o primeiro país do continente

a conseguir esse feito. Um mês depois,

começou a exigir que todos os produtos

de tabaco vendidos no país levassem

uma das oito inexoráveis advertências

sanitárias ilustradas, ocupando a meta-

de de cada uma das faces principais da

embalagem. Essas mensagens estão en-

tre as mais inovadoras no mundo. Muitas

delas concentram-se no dano causado

pela exposição passiva à fumaça do ci-

garro, reforçando a nova e bem sucedida

lei que restringe o uso de tabaco.

Nesta entrevista, Saúde São Paulo fala

com Winston Abascal, diretor do progra-

ma de controle de tabaco uruguaio. Ele conta

como foram os desafios de implementar a lei

que proibiu o fumo em ambientes públicos

fechados, como reagiu a população do país,

o apoio dos meios de comunicação e como o

Uruguai atingiu essa liderança no planeta.

Saúde São Paulo - Por que o Uruguai

entrou na luta contra o tabaco? Como era o

consumo antes da lei entrar em vigor?

aBASCAL - O consumo no Uruguai tinha

uma prevalência de 32% na população adulta.

Entre os adolescentes, de 12 a 17 anos, esse nú-

mero era 30%. Nossas duas principais causas de

morte são as doenças do coração e o câncer. O

tabagismo está fortemente ligado a isso. Tam-

bém se sabia que o custo do sistema de saúde

era muito alto. No ano 2000, foi criada a Aliança

Nacional para o Controle do Tabaco, cujo objeti-

vo era a luta para o controle do tabagismo, atra-

vés da unificação do discurso e das estratégias

e a coordenação de atividades. Então, o Uruguai

ratificou a Convenção Quadro para o Controle

do Tabaco, da OMS, sendo o primeiro país da

América do Sul a colocá-lo em prática. Em mar-

ço de 2005, foi criado o Programa Nacional de

Controle do Tabaco, ponto central das políticas

nacionais de controle do tabaco. A partir daí foi

formulado um Plano Nacional de Ação. Em mar-

ço de 2006, o país se converteu no primeiro das

Américas a ser 100% livre de tabaco.

Saúde São Paulo - Como é a lei em seu

país? Quais foram as conquistas desde que co-

meçou a proibição?

Abascal - A lei no Uruguai se refere à proibi-

NOSSAS DUAS

PRINCIPAIS

CAUSAS DE

MORTE SãO

AS DOENçAS

DO CORAçãO

E CâNCER . O

TAbAGISMO ESTÁ

FORTEMENTE

LIGADO A ISSO

Em 2006, o país vizinho foi o primeiro de todo o continente americano a implementar leisde controle ao tabaco. Hoje, a nação é considerada pela OMS uma liderança no assunto

O exemplo dos hermanos

URUGUAIOS

ENTREVISTA | WINSTON ABASCAL

1� | Agosto de 2009

Foto: Rafael Andrade (Fo

lha Im

agem

)

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1� | Agosto de 2009 Agosto de 2009 | 1�

o ar mais limpo. Também há estudos eco-

nômicos demonstrando que o comércio

em geral não sofreu perdas.

Saúde São Paulo - Como é para

o Uruguai ser considerado pela OMS um

exemplo mundial em combate ao taba-

co? Como o país chegou a esse posto?

Abascal - Atualmente o Uruguai cum-

priu praticamente 100% do compromisso

assumido ao ratificar a Convenção Qua-

dro. Esse resultado é um mérito não só

do Ministério, mas fundamentalmente da

população e da cidadania de todo o país,

que pode compreender a dimensão de um

problema e atuar em seguida.

Saúde São Paulo - Não é mais fá-

cil para um país como o Uruguai contro-

lar e proibir o consumo de tabaco que em

países maiores e mais populosos, como

Brasil e Estados Unidos, por exemplo?

Abascal - Provavelmente, sim. Mas, em

todo caso, os países deveriam ter uma deci-

são política muito firme quando o assunto

é saúde da população. Nos países com ad-

ministração federal, os Estados deveriam ter

planos estaduais para o controle do tabaco

e entender que estamos falando de doença

e morte que podem ser prevenidas.

Saúde São Paulo - Como o gover-

no uruguaio trabalha com o consumo de

tabaco entre jovens?

Abascal - Essa faixa etária foi contem-

plada na proibição da venda por e para

menores de 18 anos. Alem disso, há a proi-

bição da publicidade, que já está muito

relacionada ao consumo entre os adoles-

centes, a proibição da venda de produtos

derivados do tabaco em lugares freqüen-

tados por um público jovem (cyber cafés,

parques de diversões, espetáculos esporti-

vos, etc). Também começamos a capacitar

líderes juvenis para trabalharem com ou-

tros jovens essa problemática.

Saúde São Paulo - Por que outros

países demoram tanto ou são tão lentos

em criar leis contra o tabaco?

Abascal - A partir do momento em que os

países ratificaram a Convenção Quadro, eles

se comprometeram a cumpri-la. Nesse acordo

há prazos para diferentes medidas. Também

deve-se lembrar que a indústria tem seus inte-

resses e, de alguma maneira, busca entorpecer

o avanço dessas medidas. Essa é uma epidemia

que tem um vetor, como todas. Por exemplo: a

dengue tem seu vetor, que é o mosquito. Com

relação ao fumo, é a indústria do tabaco. Nós

nunca veremos publicidade a favor do mosqui-

to. Mas sim a favor da indústria do tabaco. Essa

é a grande diferença.

Saúde São Paulo - Como o senhor vê o

Brasil em relação a isso?

Abascal - Há muito tempo o brasil lidera na

região a luta contra o tabaco. Mas, nos últimos

tempos, teve que enfrentar algumas dificulda-

des sobre a aplicação de algumas normas con-

tidas na Convenção Quadro. Nós, na América do

Sul, temos esperança de que o brasil continue

liderando esse processo.

Saúde São Paulo - O que o senhor acha

da lei paulista?

Abascal - Na minha opinião é um grande

passo que São Paulo dá para proteger a saúde

de seus habitantes. Mas, para isso, será necessá-

rio que os paulistas compreendam o benefício

que isso significa para eles e defendam os alcan-

ces dessa lei.

Saúde São Paulo - Quais são os próxi-

mos passos do país em relação ao assunto?

Abascal - Como eu disse anteriormente,

nosso país atualmente está implementando

praticamente 100% da Convenção Quadro. Nós

estamos terminando estudos sobre mudanças

epidemiológicas e de comportamento social.

Também somos o facilitador chave para a reda-

ção de diretrizes referentes ao artigo 14 da Con-

venção, que se referem à redução da demanda

relativa ao tratamento da dependência do taba-

co. Finalmente, o mais importante: Uruguai as-

sumiu o enorme desafio de organizar a próxima

conferência das Partes da Convenção Quadro,

que reunirá, em 2010, representantes oficiais de

mais de 160 países, representantes de ONGs de

todo o mundo e jornalistas.

Agosto de 2009 | 1�

ção de fumar em todo espaço público fechado e

todo ambiente de trabalho, público ou privado.

Também estão incluídas as inspeções e as san-

ções com multas que vão de mil a 9 mil dólares,

dependendo da gravidade da infração, como

fumar na presença de crianças, mulheres grá-

vidas ou pessoas doentes. A lei também inclui

a proibição de ampla publicidade, advertências

sanitárias nas embalagens de produtos de taba-

co e a inclusão do diagnóstico e tratamento do

tabagismo na atenção básica.

Saúde São Paulo - Proibir o consumo

do cigarro não fere o direito que o indivíduo

tem de fumar ou não?

Abascal - Em primeiro lugar, não está proi-

bido o consumo. Está regulado o lugar onde o

tabaco pode ser consumido. O Ministério da

Saúde tem a obrigação de proteger o direito

à saúde e à vida da população. O ato de per-

manecer em ambientes contaminados com a

fumaça de cigarro, sem dúvidas, é um fator de

risco para a saúde e existem evidências cientí-

ficas de que a fumaça de cigarro em ambientes

fechados provoca doenças e em algum casos

até a morte. Também foi discutido, por parte da

indústria, o argumento da liberdade das pes-

soas. Sobre esse tema, nós pensamos que, ao

se tratar de um vício, o indivíduo, nesse caso,

entrega parte de sua liberdade. Isso quer dizer

que o fumante não pode decidir entre fumar

ou não fumar. Ele precisa consumir a droga.

Prova disso é que 70% dos fumantes adultos

deseja deixar o cigarro e não consegue, preci-

sando de várias tentativas. Então, ele não pode

exercer sua vontade, que é abandonar o vício, e

continua a consumir a substância.

Saúde São Paulo - Como o governo

uruguaio trabalhou para conscientizar a po-

pulação sobre a importância da lei?

Abascal - Houve um período de preparação

antes da lei entrar em vigor, composto por três

fases. A primeira foi informação. Realizamos uma

campanha junto à imprensa, que envolveu o con-

tato com jornalistas praticamente todos os dias.

Logo, uma metódica divulgação de relatórios,

reportagens e entrevistas, que foram pautando a

agenda informativa dos jornais, revistas, rádio e

televisão. Nessa campanha, foi mostrado o cará-

ter epidemiológico do consumo de tabaco

e foi estabelecida a magnitude do proble-

ma. Quando a população entende o tama-

nho do problema, ela pode compreender

a dimensão das medidas para controlá-lo.

A segunda fase foi a sensibilização. Foram

estabelecidos contatos com as associações

de comerciantes, diversas empresas, fábri-

cas, centros educativos, para sensibilizá-los

da importância das medidas que seriam

tomadas, das sanções que seriam impos-

tas aos infratores e, finalmente, utilizou-se

esse tempo para coordenar atividades

com esses representantes. A última fase

foi a implementação da lei. Nesse momen-

to, buscamos incluir os fumantes e evitar a

discriminação. Para isso, houve uma grande

campanha de agradecimento de toda a po-

pulação aos fumantes porque a partir de 1º

de março de 2006, deixariam de fumar em

lugares fechados e fariam com que o resto

das pessoas não corressem riscos de saúde.

SAÚDE SÃO PAULO - Houve algum

tipo de resistência? Como foi o trabalho

junto aos donos de bares, restaurantes e

casas noturnas?

ABASCAL - Praticamente não houve re-

sistência porque na fase de sensibilização

foi acordado como seriam implementadas

as medidas e como seria feito o controle.

Dessa forma foi estabelecida uma via de

comunicação muito eficiente entre o Pro-

grama Nacional para Controle do Tabaco e

as associações de comerciantes.

Saúde São Paulo - A lei entrou em

vigor em 2006. Três anos depois, a fiscali-

zação segue rígida?

Abascal - Depois de três anos a fisca-

lização segue como sempre e as pessoas

continuam respeitando a lei. Nós temos

um nível de cumprimento próximo a 100%.

Nos últimos tempos foi surgindo, progres-

sivamente, o controle cidadão. Há estudos

comparativos de medição de partículas no

ar que mostram que deixamos de ser um

dos países com o ambiente mais contami-

nado em lugares fechados e, junto com a

Nova Zelândia, nos tornamos a nação com

O FUMANTE

NãO PODE

DECIDIR ENTRE

FUMAR OU NãO.

ELE PRECISA

CONSUMIR A

DROGA. PROVA

DISSO É QUE 70%

DESEJA DEIxAR

O CIGARRO E

NãO CONSEGUE

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20 | Agosto de 2009 Agosto de 2009 | 21

A fumaça do cigarro é também cons-tituída por monóxido de carbono (CO), cuja concentração no sangue circulante de quem fuma aumenta rapidamente pela manhã, continua a subir durante o dia e decresce à noite.

Aproximadamente, cerca de 3 a 6% da fumaça exalada pelo cigarro é composta por monóxido de carbono. Quando inala-do, atinge os pulmões e dali segue para o sangue, reduzindo sua capacidade de car-regar oxigênio.

Em conseqüência, as células deixam de respirar e produzir energia, o que faz com que o fumante tenha o fôlego prejudicado e fique exposto ao risco de doenças car-diovasculares e respiratórias.

Além de venenoso em altas concen-trações, o CO está implicado em muitas doenças associadas ao fumo, inclusive nos efeitos danosos sobre o desenvolvimento do feto das grávidas tabagistas.

Ela atua da mesma forma que a co-caína, o álcool e a morfina, causando de-pendência e obrigando o fumante a usar continuamente o cigarro. Em altas concen-trações, é também um potente veneno. Na próxima página, veja um qudadro com al-gumas das doenças que o cigarro e seus derivados podem causar.

igual para homens ou mulheres, mas se agrava na mulher quando ela toma anti-concepcionais”, alerta.

Então, se você fuma, é bom ficar aten-to aos males que o cigarro causa sobre seu organismo e também das pessoas que es-tão à sua volta todos os dias.

É do tabaco, erva da família das sola-náceas (Nicotiana tabacum), que é feito o cigarro. Sua principal substância é a nicoti-na, que age mais rapidamente, chegando ao cérebro em apenas nove segundos.

A maioria dos fumantes descreve pra-zer e bem-estar no vício. Isso ocorre porque a nicotina desencadeia a liberação de do-pamina e endorfina, responsáveis pela sen-sação de prazer ligada ao ato de fumar.

“Com o passar do tempo, porém, o efeito desejado só é obtido com doses maiores. A suspensão da nicotina faz o organismo reagir com irritabilidade, inquietação, ansiedade, sonolência ou insônia”, diz o pneumologista Lucio de Souza Ribeiro.

A nicotina também é é responsável pela redução da capacidade de circula-ção sangüínea, aumenta o depósito de gordura nas paredes dos vasos e sobrecar-rega o coração, podendo levar ao infarto do miocárdio e ao câncer, mas seu papel

“Quem vê cara não vê coração”, diz o ditado popular, totalmente verdadeiro no caso do

cigarro. A maioria dos fumantes não ima-gina as conseqüências do fumo.

Ao dar uma tragada, há um ime-diato aumento dos batimentos cardíacos, elevação da pressão ar-terial e constrição dos vasos, o que

obriga o coração a exercer maior es-forço para bombear o sangue.

Com o tempo, eleva-se a proba-bilidade de desenvolvimento de

doenças coronárias, como angina, infarto, derrame, espasmo, arrit-mia cardíaca e morte súbita. Não é demais lembrar que quase todas as pessoas com até 35 anos que so-

frem infarto são fumantes. “A quantidade de cigarros con-

sumidos e os anos que a pessoa levou fumando vão determinar a freqüência e a extensão desses males”, explica o cardio-logista Edson Duarte da Costa Mendes.

“E o risco de desenvolvimento de uma doença cardiovascular em fumantes é

MALES DO CIGARRO | SAÚDE SÃO PAULO

20 | Agosto de 2009

DENILSON OLIVEIRA mais importante é reforçar e potencializar a vontade de fumar.

Um cigarro contém uma mistura de cerca de 4.700 substâncias tóxicas. Parte delas é gasosa – incluindo o monóxido de carbono, e algumas são partículas, como o alcatrão e a água. Em sua composição ainda são encontrados acetona, amônia, naftalina, formol, fósforo P4/P6 (usado em veneno para ratos) e terebintina (que dilui a tinta a óleo). Isso sem falar urânio, polô-nio 210 e carbono 14, elementos compro-vadamente carcinogênicos, ou seja, que provocam o câncer, já que alteram o nú-cleo das células de nosso organismo.

A fumaça do cigarro contém toxinas que produzem irritação nos olhos, nariz e garganta, bem como diminuem a mobili-dade dos cílios pulmonares, ocasionando alergia respiratória em fumantes e não-fumantes. Esses cílios, semelhantes a ca-belos muito finos, são projeções da muco-sa que ajudam a remover sujeiras e outros detritos do pulmão. Quando eles têm seus movimentos paralisados pela exposição à fumaça do cigarro, as secreções acumu-lam-se, contribuindo para a tosse ou pigar-ro típico do fumante e para o surgimento de infecções respiratórias, freqüentes em quem tem contato com a fumaça.

Agosto de 2009 | 21

Um cigarro

contém uma

mistura de

cerca de 4.700

substâncias

tóxicas

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CâNCEREstudos comprovam que mais de 40 produtos químicos encontrados no cigarro causam câncer. Os fumantes tem uma chance 20 vezes maior de ter um câncer no pulmão. O tabaco é a causa de tumores no órgão em 90% dos homens que fumam e em 80% das fumantes. Quem mantém o vício por muito tempo tam-bém tem mais risco de desenvolver outros tipos de câncer, como por exemplo, nas cavidades nasal, bucal, nasofaríngeo, orofaríngeo, hipofaríngeo, laríngeo, esôfago, estômago, pâncreas e rins. Pesquisas também já sugerem que fumar também favorece o surgimento de câncer de mama.

CâNCER DO COLO DO úTERO E ABORTO ESPONTâNEOAlém de aumentar o risco do câncer cérvico-uterino, o tabaco traz consigo proble-mas de infertilidade nas mulheres e provoca complicações durante a gravidez e o parto. O consumo de cigarros durante a gestação aumenta o risco de retardo do crescimento fetal e do bebê ter problemas de saúde no futuro. O aborto espontâ-neo é aproximadamente três vezes mais freqüente entre as mulheres que fumam, assim como a morte pré-natal, devido à privação de oxigênio que o feto sofre. Isso sem falar nas anomalias que afetam a placenta em decorrência do monóxido de carbono e da nicotina presentes na fumaça do cigarro. A síndrome da morte súbita do bebê também está associada ao consumo de tabaco. Por último, o ato de fumar pode reduzir os níveis de estrogênio e adiantar a menopausa.

RUGASO tabaco provoca um envelhecimento prematuro da pele devido ao desgaste das proteínas que conferem elasticidade ao tecido, assim como a queda de vitamina A e redução da irrigação dos vasos sanguíneos. Os fumantes tem uma pele mais seca, áspera e cheia de pequenas rugas, especialmente ao redor dos lábios e olhos.

PERDA DA AUDIçÃOO cigarro faz com que se formem placas nas paredes dos vasos sanguíneos, com a conseqüente diminuição da irrigação do ouvido interno. Por isso, os fumantes podem perder a audição mais cedo que aqueles que não fumam. Além disso, são mais vulneráveis a esse tipo de complicação em caso de infecção do ouvido ou exposição a ruídos intensos. As pessoas que fumam também são três vezes mais propensas a sofrer infecções no ouvido médio.

ENFISEMA E BRONqUITEAlém do câncer de pulmão, o cigarro causa enfisema pulmonar (distensão e ruptura dos alvéolos) e reduz a capacidade do órgão de captar oxigênio e eliminar dióxido de carbono. Em casos extremos, para que se possa res-pirar, é feita uma traqueostomia no paciente. Já a bronquite crônica con-tribui para o acúmulo de secreções, provocando tosse dolorosa e dificul- dades respiratórias.

úLCERA GáSTRICAO consumo do tabaco diminui a resistência às bactérias que causam a úlcera gástri-ca. Além disso, reduz a capacidade do estômago de neutralizar a acidez depois da digestão, o que propicia a corrosão das paredes do órgão. Nos fumantes, as úlceras não respondem tão bem ao tratamento e as recidivas são mais freqüentes.

DEFORMAçÃO DOS ESPERMATOzÓIDESO tabaco pode alterar a morfología dos espermatozóides e danificar seu DNA, o que aumenta o risco de aborto e defeitos congênitos. Segundo alguns estudos, os homens que fumam tem mais probabilidade de gerar uma filho que morra de câncer. O tabaco também reduz o número de espermatozóides e dificulta a irrigação sanguínea do pênis, o que pode provocar impotência. A esterilidade é mais freqüente entre os fumantes.

DOENçA DE BUERGUERTambém conhecida como tromboangeíte obliterante, é uma inflamação das artérias, veias e nervos, principalmente das pernas, que reduz a irrigação san-guínea. Se não é tratada, pode provocar gangrena (morte dos tecidos). Nesse caso, é necessário a amputação das zonas afetadas.

CATARATAO cigarro pode causar ou agravar vários problemas oculares. A incidência de catarata é 40% maior nas pessoas que fumam. O tabaco provoca o surgimento da doença de duas maneiras: a irritação direta dos olhos, por conta da fumaça, e a liberação nos pulmões de substâncias químicas que chegam ao globo ocular através da corrente sanguínea. O ato de fumar também se associa à degeneração macular, uma doença incurável, que geralmente atinge pessoas de idade, e que causa a degeneração da zona central da retina, região responsável por focar as imagens, que nos permite ler, dirigir, reconhecer pessoas e cores e apreciar os detalhes de um objeto.

DENTESO tabaco interfere nos processos químicos que acontecem em nossa boca, contribuindo para o excesso de tártaro. Além disso, deixa os dentes amarelos e acelera a deterioração da arcada dentária. Alguns estudos comprovam que fumar contribui para o surgimento de cáries. O risco do fumante perder os dentes é 50% maior do que quem não fuma

DOENçAS CARDÍACASOs problemas cardiovasculares são a causa de uma a cada três mortes no mun-do. O consumo do tabaco figura entre os principais fatores de risco associados às doenças do coração. Nos países desenvolvidos, são 600 mil óbitos por ano. Já nos mais pobres, esse número chega a 1 milhão. Tudo porque o tabaco acelera a freqüência cardíaca, eleva a pressão arterial e aumenta o risco de hipertensão e obstrução das artérias, o que pode provocar ataques cardíacos e um acidente vascular cerebral.

PSORÍASEOs fumantes estão mais propensos a desenvolver a psoríase, uma doença infla-matória da pele que se manifesta através de manchas avermelhadas, prurigino-sas e com secreção que afetam todo o corpo.

DISCROMIA DOS DEDOSO alcatrão contido na fumaça do cigarro se acumula nos dedos e nas unhas, dei-xando-os com uma coloração amarelada.

OSTEOPOROSEO monóxido de carbono, o gás mais nocivo proveniente das fumaças de veículos e cigarros, é absorvido pelo sangue muito mais rápido que o oxigênio. Como conseqüência, os ossos perdem densidade, sofrem fraturas mais facilmente e demoram mais para se regenerarem.

Fonte: Organização Mundial de Saúde (OMS)

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2� | Agosto de 2009 Agosto de 2009 | 2�

do Inca. Segundo ele, os pediatras estão tentando levar a questão para dentro dos consultórios. A Sociedade Brasileira de Pediatria enfatiza a importância do pro-fissional lidar com o tema dentro do seu ambiente de trabalho.

Para Meirelles, a lei recentemente apro-vada no Estado de São Paulo é um modelo que deve ser copiado em nível federal. O Brasil é signatário da Convenção Quadro e esse é um importante passo para o bani-mento do cigarro. “A lei não é discriminató-ria, mas sim de proteção ao não fumante”, frisa. Segundo ele, a criança filha de pais que fumam tem mais chances de se tornar um fumante quando adolescente. “Ela co-pia o modelo que tem em casa”, argumen-ta. A criança exposta ao fumo passivo cria uma relação com a nicotina e pode mais fa-cilmente experimentar a droga. “O primeiro cigarro é horrível, mas ela tende a fumar novamente e com isso o cérebro se adapta àquela nova situação e a pessoa tende a se tornar um viciado”, finaliza.

Um estudo do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) comprovou que pessoas não fumantes que sofrem exposição regular à fumaça do tabaco tem concentração de monóxido de carbono compatível com cidadãos fu-mantes. O levantamento foi realizado com 1.310 pessoas e atestou que 35,9% desse total podem ser consideradas “fumantes”. Os participantes foram submetidos ao tes-te do monoxímetro, que mede o nível de monóxido de carbono no organismo.

Cerca de 18% podem ser considerados fumantes leves, ou seja, que consomem me-nos de um maço de cigarros por dia. Outros 15% foram apontados como fumantes (me-nos de dois maços de cigarros diários). O estudo revelou ainda que 2,29% dos entre-vistados podem ser considerados fumantes pesados (mais de dois maços por dia).

De acordo com especialistas, uma pessoa que nunca fumou, mas trabalha há 20 anos com pessoas que fumam per-to tem queda na capacidade respiratória igual a uma pessoa que fuma dez cigar-ros por dia.

quais devem largar o cigarro e não voltar a fumar após o parto. “Há deficiência ain-da no trabalho de pré-natal”. Segundo o médico, o fumo passivo ainda não é visto como uma prioridade. O fumante ativo é tido como doente e recebe toda a atenção necessária quando quer largar o vício, mas esse precisa ser devidamente alertado dos malefícios que traz à saúde do outro quan-do fuma em ambientes fechados ou de pouca ventilação.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) de-nomina como poluição tabagística ambien-tal a fumaça derivada do tabaco. Mais de 4,7 mil substâncias tóxicas são jogadas no ar pela fumaça do cigarro. Nas crianças, o fumo passivo aumenta a incidência de resfriados, bronquites, pneumonia e infecções de ouvi-do (otites). Nos bebês favorece um risco cin-co vezes maior de morte súbita infantil (sem causa aparente) e maior chance de doenças pulmonares até um ano de idade.

Segundo especialistas, a fumaça que sai da ponta do cigarro tem alta concentração de substâncias cancerígenas, como nicoti-na, monóxido de carbono, amônia, benze-no e nitrosaminas. “A fumaça da ponta do cigarro não é filtrada como a que é solta pelo fumante, que passa pelo filtro do ci-garro”, explica Lotufo.

Segundo Ricardo Meirelles, pneumo-logista e técnico da Divisão de Controle de Tabagismo do Inca, as gestantes e lactantes precisam ser informadas sobre os riscos do fumo passivo para os filhos ainda durante a gestação. “O monóxido interfere na oxi-genação, inibe a passagem de nutrientes

O fumo passivo é a terceira cau-sa de morte evitável no mun-do. E as crianças não estão imunes a esse problema. Evi-

tar o fumo passivo em crianças é o traba-lho do médico João Paulo Lotufo, do Hos-pital Universitário da Universidade de São Paulo. Desde 2001, o pediatra coordena o serviço antitabágico da unidade. Em 2005, o hospital ganhou o selo de ambiente li-vre do tabaco. “O fumo passivo ainda não é tratado pelos médicos, mas acredito que isso vai melhorar com a lei aprovada”, afir-ma Lotufo. De acordo com dados do Hos-pital Universitário, 23,8% das crianças de 0 a 5 anos que chegam ao pronto-socorro com problemas respiratórios apresentam cotinina na urina, uma substância derivada da nicotina.

Para Lotufo, o pediatra precisa entrar na luta contra o tabaco. Outro estudo do hospital apontou que 42,2% dos 90 pedia-tras que trabalham na unidade não falam

com seus pacientes sobre o cigarro. Apenas 3,3% dos pediatras

falam com os pais sobre o tabagismo.

Lotufo enfatiza que muitas ve-

zes as mulheres não são infor-madas sobre

os reais mo-tivos pelos

CRIANÇAS E O TABACO | SAÚDE SÃO PAULO

2� | Agosto de 2009

ROBERTA RODRIGUESAs crianças

são as maiores

vítimas

do fumo

passivo

e aumenta o risco de aborto espontâneo”, garante Meirelles. O pneumologista explica ainda que o fumo aumenta a chance dos be-bês desenvolverem problemas respiratórios, nascerem com baixo peso ou prematuros.

Segundo Meirelles, um comportamen-to comum quando a mulher descobre que está grávida é abandonar o vício durante a gestação e voltar a fumar durante o período de amamentação. “O leite materno passa as substâncias tóxicas. Voltar a fumar depois do parto ainda é prejudicial à saúde da criança.”

Segundo dados da Organização Mun-dial de Saúde, 700 milhões de crianças no mundo são vítimas do fumo passivo. Le-vando em consideração os adultos, esse número sobe para 2 bilhões de pessoas. Cerca de 70% dos filhos de mães fumantes são crianças que apresentam infecções res-piratórias. O número cai para 30% quando são pais fumantes. “O contato com o pai é muito menor. A mãe que fica com a criança a maior parte do tempo e por isso justifica os 70% dos casos”, garante Meirelles.

Algumas famílias elegem cômodos como ambientes dedicados ao fumo den-tro de casa, porém, segundo especialistas, isso não inibe a exposição às substâncias nocivas. Não há como fixar um prazo para que o ambiente onde a fumaça foi exala-da esteja totalmente livre do conteúdo tóxico. É preciso considerar a ventilação, janelas e portas, além do espaço físico. Ambientes como quartos e salas concen-tram ainda mais substâncias por conta dos tecidos encontrados em cortinas, len-çóis e sofás. “Está comprovado que não existe ambiente seguro para fumantes e não fumantes”, enfatiza o pneumologista.

A síndrome da morte súbita infantil é o maior risco a que um bebê está exposto quando os pais são fumantes. A chance de um filho de pais viciados em tabaco sofrer uma morte súbita sobe de 15% a 50%, de-pendendo da quantidade de cigarros que são ingeridos pela família. Essas crianças também são mais propensas a apresentar problemas cardíacos e respiratórios.

Lidar com o fumo passivo é uma ques-tão de saúde pública, afirma o especialista

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está em uma área do cérebro conhecida como o centro do prazer. Por isso que, mesmo com o gosto nada saboroso e o mau cheiro, o fumante gosta tanto do ci-garro. Não há nada mais prazeroso para um fumante do que dar umas tragadas. E por isso parece ser tão difícil parar.

Parar de fumar interfere no humor das pessoas ou no grau de ansiedade e depressão. O acompanhamento com profissionais qualificados é importante para dar suporte ao paciente. A dire-tora do Núcleo Antitabagismo do Ins-tituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas de São Paulo, Jaqueline Scholz Issa, indica o tratamento para todas as pessoas que já tentaram parar de fumar e não conseguiram, ou que apresentem uma doença e ainda assim não querem deixar o vício. “Essas situa-ções demonstram que a pessoa tem um alto grau de dependência à nicotina e certamente vai precisar buscar ajuda”, afirma Jaqueline.

Essa lição Fátima Casonato aprendeu na prática. “Antes de procurar um grupo de tratamento fiz coisas completamente erradas. O que torna mais difícil conse-guir largar o vício,” comenta. Ela chegou a ficar trancada três dias no apartamento ao lado do seu e pediu para os filhos só mandarem comida pela janela. “As cha-ves ficavam com eles. Para o apartamen-to levei apenas um colchão e uma tele-visão. Sofri bastante, chorava muito, e o meu marido vendo isso ficava com dó e jogava uns três cigarros por debaixo da porta. Conclusão: sofri e não consegui parar de fumar,” conta.

A última atitude desesperada que tomou antes de procurar tratamen-to adequado foi percorrer a cidade de ônibus. “O único lugar que não fumo é dentro de ônibus. Então, entrava em um e descia no ponto final. Logo, subia em outro. E assim foi um dia inteiro. Perdi a noção de quantas horas fiquei rodando. Só sei que não consegui ficar sem fu-mar. No fim, peguei bituca no meio da rua e fumei”.

Quantos fumantes têm consci-ência que o cigarro é nocivo? Além disso, quantos sabem que o tabaco é uma droga po-

tentíssima? Certamente poucos. E há mo-tivos para se desconfiar dessa abordagem. É possível comprar cigarro em padarias, bancas de jornal, restaurantes, supermer-cados, enfim, nos mais diversos estabele-cimentos. A venda e o consumo são lícitos e usar o tabaco e seus derivados não é um caso de polícia.

Foi esse o choque de realidade que o casal Vicente de Paula Casonato, de 54 anos, e Fátima Vieira Casonato, de 49, teve ao começar o tratamento no ambulatório antitabagismo Prev Fumo, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que funciona dentro do Lar Escola São Francisco, na Capital. “Lá, conhecemos um lado do cigarro que nem imaginávamos. Não víamos como uma droga,” comenta Casonato. Para sua mulher, além do baque ao perceber que era dependente química, ela aprendeu que não era fraca, mas que o fumo é mesmo perigoso.

A nicotina vicia rapidamente e de maneira crônica. Seu consumo leva à pro-dução de dopamina no cérebro, que traz a sensação de prazer. Por isso, as pessoas fumam várias vezes ao dia.

Para o coordenador do Prev Fumo, Sérgio Ricardo de Almeida Santos, a nicotina é quase perfeita do ponto de vista da droga. Ela vicia sem ter uma dose letal, que cause overdose. “Só que mata aos poucos, porque vai causando doenças crônicas que vão minando o organismo até que a pessoa desenvolva uma patologia aguda e fatal, como in-farto, derrame cerebral. A nicotina traz prazer suficiente para que a pessoa con-tinue fumando, mas matando de forma imperceptível.”

No organismo, o local que tem maior concentração de receptores para nicotina

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ACABE COM O VÍCIO | SAÚDE SÃO PAULO

DENILSON OLIVEIRARUBENS RINALDI NETO

Com a ajuda

especializada,

são empregadas

estratégias

que tornam

mais fácil

o tratamento

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LutAnDo contrA o VícioCom a ajuda especializada, são empre-

gadas estratégias que tornam mais fácil o tratamento, além do uso de medicamen-tos. Toda tentativa de parar de fumar deve vir precedida de uma decisão e um desejo. Se a pessoa não está interessada e busca o o tratamento apenas porque foi indicado por um médico ou por insistência da famí-lia, é feito um trabalho de motivação para que ela tenha determinação.

Depois, é necessário marcar a data do primeiro dia sem fumar. Na véspera, é im-portante se livrar de todos os objetos que lembrem o tabaco. Jogar fora cinzeiros, isqueiros e maços de cigarro. “Isso é fun-damental para que o indivíduo comece a construir no seu inconsciente a figura de uma nova pessoa, um não-fumante, com um comportamento diferente,” explica Santos, do Prev Fumo.

Alguns sintomas da síndrome de abstinência sempre surgem quando um paciente tenta abandonar uma dro-ga. Esses podem ser minimizados com ações simples. A primeira delas é ocupar a boca. O fumante faz isso o dia inteiro. A orientação é que a pessoa beba líquido diversas vezes em pequenas quantida-des e masque chicletes ou balas. Praticar atividades físicas também é importante, pois ajuda a produzir um conjunto de substâncias chamadas endorfinas, que aliviam a ansiedade. Além disso, ativi-dade física aumenta o gasto de energia, o que reduz o risco de ganho de peso quando deixa de fumar.

Durante o acompanhamento profis-sional também são ensinadas estratégias para se evitar recaídas. É importante que o paciente reconheça os fatores de risco, si-tuações que significam grande vontade de fumar, como momentos de estresse agu-do, ociosidade, tomar um cafezinho. Outra coisa é evitar bebidas alcoólicas, porque o álcool reduz o juízo crítico.

Além da intervenção comportamen-tal, os médicos hoje possuem um arsenal terapêutico para complementar o trata-mento. São repositores de nicotina em

forma de adesivos, gomas de mascar ou pastilhas, medicamentos que diminuem os sintomas de abstinência e outros que agem nos neurotransmissores onde a ni-cotina atua. Com a evolução dos medica-mentos, cada vez mais aumentou a possi-bilidade de sucesso.

A maioria dos medicamentos é distribu-ída gratuitamente em unidades que fazem o tratamento pelo Sistema Único de Saúde.

E foi justamente no SUS que Carlos An-tônio Figueiredo, de 61 anos, conseguiu largar o vício. Em maio deste ano, ele co-meçou no grupo de abandono ao tabagis-mo, mantido pelo Centro de Referência ao Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), da Secretaria de Estado da Saúde.

Figueiredo fumou por mais de quatro décadas. Em 2007, ele tomou a decisão de deixar o cigarro, mas só postergava a data. “Sempre que prometia, falhava. Fi-cava meio dia sem fumar e depois corria atrás de um cigarro. Fumava sem vonta-de. Mas eu me sentia inseguro sem o ví-cio”, lembra. Diariamente, ele consumia dois maços de cigarro.

Após o primeiro encontro no Cratod, Figueiredo voltou para casa já com a medicação em mãos. Ele recebeu com-primidos antidepressivos e adesivos de nicotina. “Saí da reunião e ainda fumei um cigarro. Mas depois, levei a sério”. A princípio, quem freqüenta esse grupo participa de quatro reuniões mensais. Na quinta, 15 dias após o último encontro semanal, é feita uma avaliação final para ver quem deixou o cigarro ou não.

No início de junho, quando a equipe da Saúde São Paulo visitou o Cratod, fe-lizmente Figueiredo estava entre aqueles que não fumavam mais. “Nem acredito que consegui. Ainda sinto vontade de fu-mar. Mas resisto. É algo controlável e passa rápido. Quando quero um cigarro, chupo uma bala ou masco um chiclete.”

Segundo ele, essa conquista pessoal mexeu com sua auto-estima. “Muitas pes-soas se afastaram de mim por conta do ci-garro. Não suportavam meu cheiro. Agora só recebo elogios e parabéns”.

Toda tentativa

de parar de

fumar deve

vir precedida

de uma decisão

e um desejo

nho, procure orientação médica. Cuidado com os métodos milagro-sos para deixar de fumar.

NÃO teNhA medO!Dos sintomas da síndrome de abstinência

O organismo volta a funcionar normalmente sem a presença de substâncias tóxicas e alguns fu-mantes podem apresentar (varia de fumante para fumante) sintomas de abstinência como fissura (vontade intensa de fumar), dor de cabeça, tonteira, irritabilidade, alteração do sono, tosse, indisposição gástrica e outros. Esses sintomas, quando se manifestam, duram de uma a duas semanas.

Da recaídaA recaída não é um fracasso.

Comece tudo novamente e procu-re ficar mais atento ao que fez você voltar a fumar. Dê várias chances a você, até conseguir. A maioria dos fumantes que deixou de fumar fez em média três a quatro tentativas até parar definitivamente.

De engordarSe a fome aumentar, não se as-

suste, é normal um ganho de peso de até 2 kg, pois seu paladar vai melhorando e o metabolismo se normalizando. De qualquer forma, procure não comer mais do que de costume. Evite doces e alimentos gordurosos. Mantenha uma dieta equilibrada com alimentos de bai-xa caloria, frutas, verduras, legumes etc. Prefira produtos diet / light e naturais. Beba sempre muito líqui-do, de preferência água e sucos

eSCOLhA Um mÉtOdO PARAdeIXAR de FUmARParada Abrupta

Você marca uma data e nesse dia não fumará mais. Além disso, jo-gue fora maços e lave suas roupas, inclusive as de cama Essa deve ser sempre sua primeira opção.

Parada GradualVocê pode utilizar este método

de duas formas. A primeira é reduzindo o nú-

mero de cigarros. Por exemplo: um indivíduo fuma 30 cigarros por dia. No primeiro dia, fuma os 30. No segundo, 25. No terceiro, 20. No quarto, 15. No quinto, 10. No sex-to, 5. O sétimo dia seria a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarros.

A segunda forma é retardando a hora do primeiro cigarro. Por exem-plo: no primeiro dia você começa a fumar às 9 horas. No segundo, às 11h. No terceiro, às 13 h. No quarto, às 15h. No quinto, às 17h. No sexto, às 19h. No sétimo dia seria a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarros.

A estratégia gradual não deve gastar mais de duas semanas para ser colocada em prática, pois pode se tornar uma forma de adiar, e não de parar de fumar. O mais impor-tante é marcar uma data-alvo para que seja seu primeiro dia de ex-fu-mante. Lembre-se também que fu-mar cigarros de baixos teores não é uma boa alternativa. Todos os tipos de derivados do tabaco (cigarros, charutos, cachimbos, cigarros de Bali, etc) fazem mal à saúde. Caso não consiga parar de fumar sozi-

Dicas para quem quer parar de fumarnaturais. Evite café e bebidas alco-ólicas. Eles podem ser um convite ao cigarro.

CUIdAdO COm AS ARmAdILhAS!nos momentos de estresse

Procure se acalmar e entender que momentos difíceis sempre vão ocorrer e fumar não vai resolver seus problemas.

Sentindo vontade de fumarA vontade de fumar não dura

mais que alguns minutos. Nesses momentos, para ajudar, você pode-rá mascar chicletes ou chupar balas, beber água gelada ou comer uma fruta. Mantenha as mãos ocupadas com um elástico, pedaço de papel, rabisque alguma coisa ou manu-seie objetos pequenos. Não fique parado - converse com um amigo, faça algo diferente que distraia sua atenção.

Exercícios de relaxamentoSão um ótimo recurso relaxar.

Faça a respiração profunda: respi-re fundo pelo nariz e vá contando até seis, depois deixe o ar sair len-tamente pela boca até esvaziar totalmente os pulmões. Relaxa-mento muscular: estique os bra-ços e pernas até sentir os múscu- los relaxarem.

Proteja-se!Após parar de fumar, uma sim-

ples tragada pode levar você a uma recaída. Evite o primeiro ci-garro e você estará evitando todos os outros.

Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca)

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SAIBA SEU GRAU DE DEPENDêNCIAElaborado pelo médico dinamarquês Karl Fagerström, em 1974, o método de avaliação de Fagerström é, hoje,

empregado por especialistas, para ajudar a definir a melhor estratégia para quem quer largar o cigarro. Este ques-tionário é utilizado por médicos a fim de determinar se uma pessoa está seriamente viciada na nicotina.

1 – quanto tempo depois de acordar você fuma o primeiro cigarro?

após 60 minutos – 0 ponto

entre 31 e 60 minutos – 1 ponto

entre seis e 30 minutos – 2 pontos

nos primeiros cinco minutos – 3 pontos

2 – Você encontra dificuldade em evitar de fumar em locais proibidos, como por exemplo igrejas, cinemas, shopping, etc?

não – 0 ponto

sim – 1 ponto

3 – qual o cigarro mais difícil de lagar de fumar?

qualquer outro – 0 ponto

o primeiro da manhã – 1 ponto

4 – Você fuma mais frequentemente nas primeiras horas do dia do que durante o resto do dia?

não – 0 ponto

sim – 1 ponto

5 – Você fuma mesmo estando doente ao ponto de ficar acamado na maior parte do dia?

não – 0 ponto

sim – 1 ponto

PONTUAçÃO:

0 A 4 PONTOSDependência leve

5 A 7 PONTOSDependência moderada

8 A 10 PONTOSDependência grave

83,2% dos patrões têm restrições a fumantesPesquisa da empresa Catho Online realizada com base em 16.207 entrevistas revela que 83,2% dos presidentes e

diretores de empresas têm restrições em contratar fumantes. A expressiva rejeição dos empregadores é crescente. Em 2003, 44% dos presidentes e diretores diziam ter objeções em contratar fumantes. O resultado desse comportamento é evidente: ao longo dos anos, o número de funcionários que fumam diminuiu. A pesquisa mostra que, neste ano, 11,9% dos empregados entrevistados mantêm o vício. Um número bem menor do que o registrado em 1997, quando 19,7% fumavam. O estudo observa que, ao fazer a opção por um profissional que não fuma, o empregador evita o absenteísmo, as frequentes interrupções que ocorrem quando o funcionário sai para fumar. A pesquisa mostra, no entanto, que apesar de diretores e presidentes não permitirem a contratação de funcionários fumantes, muitas vezes eles mantêm esse hábito. De acordo com o trabalho, 18,5% dos fumantes das empresas estão entre presidentes, gerentes ou cargo equivalente. Em segundo lugar, vêm consultores independentes, com 17,7%. Estagiários são os que têm maior restrição: respondem por 7,7% dos fumantes.

Cigarro com sabor dificulta abandono do vícioUma pesquisa realizada pela Universidade de Medicina e Odontologia de Nova Jersey (EUA) com 1.688 fumantes que

buscaram tratamento especializado para parar de fumar mostrou que, entre os adeptos de cigarros com sabor, as taxas de abandono do vício nas primeiras quatro semanas foram menores. Segundo a coordenadora do Programa Nacional de Controle do Tabagismo,Tânia Cavalcante, a adição de substâncias adocicadas ao fumo, especialmente o mentol, é uma estratégia para conquistar o público mais jovem, já que mascara o gosto ruim que o tabaco tem para quem não fuma. No entanto, alerta, quando esses açúcares queimam, geram uma substância chamada acetaldeído, que é cancerígena. “A indústria tenta passar a ideia de que esses aditivos existem na comida e por isso não causam mal. Mas comer é diferente de inalar”, explica ela. O sistema digestivo tem uma barreira natural de desintoxicação, o que não acontece com os alvéolos pulmonares, que são desprovidos de defesa. Alguns desses aditivos não são inócuos podendo favorecer as hemorragias do pulmão. Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), há 25 produtos flavorizados registrados no País, em um total de 69. “Mas não existe regulação específica para a adição de açúcar, álcool, mentol, frutas ou sabores de bala nas marcas de cigarro. Também não há restrição à propaganda voltada para jovens nos pontos de venda. O ideal seria a proibição total da venda desses cigarros, mas um bom começo é criar uma legislação”, disse Tânia.

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DVD / FILME

Fumando Espero (Brasil, 2009)Adriana Dutra, diretora de festival de cinema brasileiro no ex-terior, decidiu ir a fundo na questão: por que é tão difícil parar de fumar? O filme reúne pesquisas, depoimentos de famosos e anônimos, avaliação de sociólogos, psicólogos, médicos e advo-gados. Além de mostrar a evolução do consumo do cigarro e suas transformações.

DVD / FILME

Obrigado por fumar (EUA, 2006)O filme conta a história de Nick, o principal porta-voz das gran-des empresas de cigarro nos Estados Unidos. Ele ganha a vida defendendo os direitos dos fumantes. Desafiado pelos vigilan-tes de saúde e também por um senador que deseja colocar rótulos de veneno nos maços de cigarro, ele passa a manipular informações em programas de TV, para diminuir os riscos do ci-garro. Repetidamente, ele diz que trabalha apenas para pagar as contas, mas a atenção cada vez maior que seu filho dá ao seu trabalho começa a preocupá-lo.

Livro

Tabagismo - Do Diagnóstico à saúde pública O livro mostra o trabalho científico de divulgação para a preven-ção e o tratamento dos indivíduos tabaco-dependentes. Expõe ações médicas extensivas à sociedade brasileira, com renovada e eficiente atenção por parte das instituições de saúde pública e privada de nosso país. O brasil é louvado por campanhas an-titabagistas cujas mortalidades decorrentes dessa dependência alcançarão, nos próximos anos, índices confortadores. Reflexo do trabalho médico-comunitário e da Saúde Pública.

DVD / FILME

O Informante (The Insider, EUA 1999)Arrebatador e poderoso, o filme prende sua respiração à me-dida que conta a série de eventos que colocam um homem comum contra uma grande multinacional, e acaba por envol-ver as pessoas no conflito mais importante de suas vidas. Al Pacino e Russel Crowe atuam como dois homens unidos em uma emocionante cruzada em favor de uma questão de saúde pública. E não demora muito para que eles descubram quão desesperadamente as megacorporações se empenham em preservar a si próprias.

o cigarro light faz menos mal? E os com sabores?Não existe cigarro light. Isso é mentira, pois o fumante acaba compensando no número de

tragadas ou cigarros consumidos. Já existem estudos que comprovam que cigarros com

sabor podem conter mais substancias tóxicas que o comum.

Célia Lídia da Costa é psiquiatra e coordenadora do grupo de apoio ao tabagismo do Hospital A.C. Camargo

A nicotina aumenta a criatividade?Ela de fato tem efeito estimulatório, deixando o usuário mais alerta. Ocorre que isso

não tem uma repercussão cognitiva, ou seja, a pessoa que faz uso dessa droga não

fica mais esperta, criativa ou necessariamente mais produtiva no trabalho. Há estudos

que apontam inclusive certa diminuição de produtividade pelos efeitos negativos da

abstinência entre os cigarros e pelas freqüentes interrupções ao longo do trabalho para

satisfazer a busca pela droga.

Gustavo Prado é pneumologista Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)

Qual a relação do café e o cigarro?Porque muitas pessoas gostam dos dois juntos?Não existe uma relação fisiológica entre cafeína e nicotina. As duas são substâncias

psicoativas estimulantes. O que há é uma associação que o fumante faz entre tomar um

café e fumar um cigarro em seguida. É como se fosse um estímulo condicionado.

Ricardo Meirelles é pneumologista e técnico da divisão de controle do tabagismo do Instituto Nacional do Câncer (Inca)

A revista Saúde São Paulo reserva este espaço para colocar os “pingos nos is” em certos boatos sobre saúde. Se você tem

alguma dúvida e gostaria de solucioná-la, envie-nos um e-mail para o seguinte endereço: [email protected].

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ARTIGO | SAÚDE SÃO PAULO

O brasil é internacionalmente co-

nhecido por sua liderança histórica

em controle do tabagismo. Muitos

dos avanços alcançados em nível

nacional aconteceram durante o pe-

ríodo de negociação da Convenção-

Quadro para o Controle do Tabaco

(CQCT), o primeiro tratado interna-

cional de saúde pública, considerado

um marco global. As negociações

ocorreram entre 1999 e 2003 e o tra-

tado entrou em vigor em fevereiro de

2005. O brasil integrou o tratado em

seu ordenamento jurídico através do

Decreto 5658 de 2006.

Dentre as medidas onde o brasil

já avançou, destacam-se a restrição

da publicidade e patrocínio, em 2000,

através da lei 10.167, e a adoção das

imagens de advertência nos maços

na mesma época, determinada pela

Anvisa. Importante observar que, em-

bora os produtos de tabaco sejam

regulados por uma agência sanitária,

eles não são liberados para consumo

pela mesma, sendo apenas registra-

dos para efeito de cadastro, registro

das marcas disponíveis no mercado e

regulamentação de embalagens. Tan-

to a restrição da publicidade quanto a

utilização de imagens de advertência

são medidas preconizadas pela CQCT

e adotadas durante as negociações

do tratado em âmbito global.

Após esse período, apesar da ra-

tificação da CQCT em 2005-2006 ser

um indicativo do envolvimento do

país com o tema, os avanços no brasil

tem sido tímidos em nível federal. O

passo mais significativo nos últimos

tempos foi a aprovação da lei antifu-

mo do Estado de São Paulo. O efeito

dominó já é claro. Após a lei paulista,

bahia, Paraná, Rio de Janeiro, Santa

Catarina e vários municípios traba-

lham na aprovação de leis similares.

Um tema de enorme importância

para a redução do consumo de taba-

co no brasil é a a questão dos preços

e impostos. Ao contrário do que foi

divulgado, o cigarro brasileiro não

está caro em termos de renda efetiva

da população e há espaço para novos

aumentos de preço. Há pouco tempo,

foi enviada uma MP (460/2009) para o

Congresso propondo elevar a alíquo-

ta efetiva ad valorem do PIS/COFINS

de 6,36% para 10,97% incidentes so-

bre o preço de venda a varejo do ci-

garro. Há também em tramitação no

Congresso um PL (314/08) do Senado

sugerindo um aumento de alíquota

de 5,5% pontos percentuais superior

à MP do executivo. A ACT entende

que um acordo entre o Executivo e

Legislativo é possível, que a alíquota

maior deve ser adotada e que a medi-

da contribuirá tanto para os objetivos

de arrecadação da Receita Federal

como de saúde pública preconizados

na CQCT.

Outra área onde ainda temos

muito espaço para avançar no brasil é

na questão da publicidade e promo-

ção de tabaco. Embora a publicidade

e promoção de cigarros sejam res-

tritas aos pontos de venda no brasil

desde 2000, a adaptação da indústria

a essa realidade é nítida e a comu-

nicação com o seu público-alvo, os

jovens, não foi afetada de forma sig-

nificativa apesar da restrição vigente.

Estudos demonstram que restrições

parciais, ao invés de atingir o seu pro-

pósito de diminuição de consumo,

tem como efeito uma migração dos

investimentos em publicidade para

os meios onde esta ainda é permitida.

Isso é o que se testemunha hoje no

brasil e em outros países que restrin-

giram a publicidade: os investimentos

em pontos de venda e estratégias de

comunicação direta com o público

alvo, até mesmo através de festas fe-

chadas voltadas para o público jovem,

aumentou muitíssimo. Precisamos se-

guir o exemplo da Tailândia, estados

do Canadá, Nova Zelândia e Austrália,

que hoje só vendem cigarro embaixo

do balcão e baniram todas as formas

de publicidade. No brasil, a detentora

da maior fatia de mercado do país tem

invadido as universidades com publi-

cidade corporativa. Além disso, vale

observar como os cigarros são aces-

síveis em qualquer esquina e sempre

ao lado de outros itens. Um produto

de consumo que mata um em cada

dois consumidores regulares ao ser

utilizado conforme as instruções do

fabricante não pode ser tratado como

um produto qualquer.

Por Paula Johns, socióloga, é di-

retora-executiva da Aliança de Con-

trole do Tabagismo (ACT)

OS DESAFIOS DO BRASILNO CONtROLe dO tABAGISmO

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3� | Agosto de 2009

Tecnologia de ponta;

Produção automatizada;

Capacidade para produzir 21,6 milhões de ampolas e 1,2 bilhão de comprimidos por ano;

Medicamentos de qualidade;

Mais saúde para população.