revista portuguesa de ciÊncias do desporto 2019/1 · literature reviews may have a maximum...
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1 — RPCD 19 (1)
2019/1REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO
ÍNDICE
Viagem – Síntese do meu
trajeto académico
Manuel Conceição Botelho
Nível de atividade física e fatores
associados em idosos longevos
comunitários assistidos pela
Atenção Primária à Saúde
Edson Rios D´Angelo, Sarah de Souza
Mendonça, Ana Paula de Oliveira Marques,
Márcia Carrera Campos Leal
Efeito da idade relativa no acesso às
selecções distritais e nacionais de
futsal em Portugal
João M Serrano, Shakib Shahidian, Maria F
Serrano, Jorge Braz, Nuno Leite
Efeito do espelho na oscilação
postural de bailarinas
Paula Hentschel Lobo da Costa, Isabella
de Oliveira Freguglia, Érica Maria Corrêa,
Marcus Fraga Vieira
9
14
31
42
53
64
72
Relação entre antropometria
e desempenho em testes de
potência e agilidade em jogadores
de polo aquático
Camila Dias de Castro, Guilherme Tucher,
Emilson Colantonio, Flávio Antônio
de Souza Castro
The relationship among
throwing velocity, one-repetition
maximum bench press and squat
and body composition in college
baseball pitchers.
Samuel Aloi, Michael Ryan, Paul Reneau,
Julia Matzenbacher dos Santos
Does a lower jaw protruding
device improve running aerobic
performance?
Filipa Cardoso, Francisco Maligno,
Diogo D Carvalho, João Paulo Vilas-Boas,
Ricardo J Fernandes, João C Pinho
2019/1
7
REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO
A RPCD TEM O APOIO DA FCT
PROGRAMA OPERACIONAL CIÊNCIA,
TECNOLOGIA, INOVAÇÃO DO QUADRO
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Artigos de síntese da literatura que contribuam para a generalização do conhecimento em ciências do desporto. Artigos de meta-análise e revisões críticas de literatura apenas estarão abertos a especialistas convidados pela RPCD.
ESTUDOS DE CASO
Estudos de caso considerados relevantes para as ciências do desporto.
ENSAIOS
Ensaios, reflexões profundas sobre temas específicos, sínteses de múltiplas abordagens próprias, onde se adiciona uma forte componente literária à argumentação científica, filosófica ou de outra natureza. Este tipo de publicação está reservado a a especialistas convidados pela RPCD.
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9 — RPCD 19 (1): 09-13
Editorial
Viagem – Síntese do
meu trajeto académico
No final de curso no Instituto Nacional de Educação Física (INEF)/ Instituto Superior de
Educação Física (ISEF) de Lisboa fui convidado por dois professores para ficar como As-
sistente Convidado. Porém, a realidade e o peso dos afetos familiares falaram mais alto e
como tal recusei o convite. Com efeito, como seres humanos, e uma história de vida pare-
cida, na verdade todos somos bem distintos porque encaramos essa vida com objetivos e
valores diferentes. Ora, ironia do destino, nunca pensaria que um dia aceitava enveredar
pela carreira académica numa instituição idêntica na cidade do Porto.
Quando em 1970, deixando a Universidade Católica, fizemos exame de admissão ao INEF,
e alguns meses depois obrigado a embarcar no Vera Cruz para a guerra do Ultramar, o “mun-
do” que nos rodeava imediatamente passou a ter outro significado, i. e., fomos obrigados a
mudar o que os franceses chamam “gabarit”. O cidadão cujo padrão de vida passava pela
captação irrefletida dos detalhes locais de que precisava para sobreviver e as pressões am-
bientais de guerrilha, passa para outro que obrigava à refletida prática / aprendizagem de
vários desportos, mas também de outras disciplinas teóricas e / ou práticas. Esta mudança
só mais tarde a começámos a perceber quando as circunstâncias académicas nos levaram a
comprar o livro “Les voies et centres nerveux” de André Delmas1.
Mas o responsável foi o Prof. Fernando Nelson Mendes (Diretor do INEF). E porquê? Numa aula
prática de Ginástica (1º ano), caminhando nós passo a passo na trave olímpica, com os membros
EManuel F Conceição Botelho1
1 Professor Auxiliar Aposentado, Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Portugal
https://doi.org/10.5628/RPCD.19.01.09
1 Delmas, A. (1975). Les voies et centres nerveux: Introduction à la neurologie. Paris: Editions Masson.
11 — RPCD 19 (1)
da nossa formação e nas publicações francesas e inglesas a que tínhamos acesso (eramos
transmissores de conhecimentos produzidos por outros), mas não possuíamos a qualificação
académica exigida na formação universitária. Mas felizmente que mais uma vez a obra de Nel-
son Mendes8 nos obrigou a refletir sobre o que é “Ser Professor”:
Sim Não
É ser polémico
É uma maneira de ser
É uma ação
É um faz
É um é
É um corpo
É um criativo
É um futuro
É um crítico
É um diferente
É uma existência
É um consequente
É um auto-artesanato
É uma mentalidade
É um computador
É uma experiência
É um radar
É um etc.
UM não se dá por ele
Não uma maneira de dizer
Não uma intenção
Não um faz-tudo
Não um diz
Não um fato
Não um esquema
Não um papagaio
Não um concorda
Não mais um igual
Não uma desistência
Não uma consequência
Não uma indústria
Não um mentalizado
Não uma fita gravada
Não um modelo
Não um farol
Não um ponto final
Esuperiores estendidos no prolongamento lateral dos ombros, aparece o Diretor, com os dedos
das mãos nos bolsos (como era seu costume…) e, fixando-me nos olhos, pergunta-me: “Porque
está com os braços abertos?”. “Para me equilibrar!!!”, respondi. “Então você acha que são os bra-
ços que lhe dão o equilíbrio?” e, perante o meu curto silêncio, diz ele a sorrir, com aqueles bondo-
sos olhos azuis a brilhar: “Parece que os seus neurónios estão a arder!!!”. Parafraseando Vergílio
Ferreira2 : o homem é o futuro do homem, porque esse futuro é que é…O para quê é a pergunta
obsessiva depois de tudo o que perfeitamente lhe respondeu. Mas não se responde para calar
uma pergunta e sim para lhe dar tréguas e ela poder erguer-se outra vez. Lindsey e Norman3
ensinaram-nos como percebemos / interpretamos e nos adaptamos a tudo o que nos rodeia e
também mais tarde António Damásio4 afirmava que o organismo…interage com os objetos, e o
cérebro reage à interação; ao invés de criar o registo da estrutura de uma identidade, o cérebro
na realidade regista as múltiplas consequências das interações do organismo com a entidade.
Os comportamentos exploratórios visuais e motores implicam dois tipos de atividade: a
psicossemântica que informa o praticante desportivo sobre o significado da situação em que
participa e a psicossensorio-motora que assegura as funções de troca motora entre o indiví-
duo e o meio físico5 , tudo isto é a formidável capacidade de adaptação do cérebro conhecida
como plasticidade cerebral5. Com efeito, a perceção consciente continua ainda a ser um dos
enigmas mais desconcertantes da neurociência moderna…; tudo o que experienciamos - cada
visão, som ou dor - não é uma experiência direta, mas sim uma interpretação eletroquímica
num auditório às escuras6. O ventre que nos acolhe é a primeira “escola” de comunicação,
um lugar de escuta e de contacto físico onde começamos a familiarizar-nos com o mundo
exterior, num ambiente protegido, com o som reconfortante do batimento cardíaco da mãe7.
Na verdade, fazendo nós o rewind do que foi a nossa função no ISEF / Faculdade de Ciências
do Desporto e de Educação Física (FCDEF) / Faculdade de Desporto (FADE), recordamos as
veredas tortuosas por que passámos como professor, tendo em conta que foi preciso empurrar
algumas das portas do saber para entrarmos, a pari passu com as outras áreas científicas,
no vasto domínio do conhecimento…O peso da tradição cultural ainda se nota facilmente na
obrigação de ter que evidenciar os benefícios da atividade desportiva sobre a melhoria das
condutas motoras, encaradas aqui como manifestações do comportamento humano4. Com
efeito, estávamos preparados para o ensino lançando mão do background adquirido na escola
2 Ferreira, V. (1992). Pensar. Lisboa: Bertrand Editora.3 Lindsey, P. H., & Norman, D.A. (1977). Human information processing: An introdution to psychology.
Cambridge, MA: Academic Press.4 Damásio, A. (2010). O livro da consciência: A construção do cérebro consciente. Lisboa: Temas e
Debates e Círculo dos Leitores.5 Botelho, M. (1998). A actividade gímnica e factores de eficácia no processamento da informação
visual. Braga: Oficinas de S. José.6 Eagleman, D. (2017). O cérebro: À descoberta de quem somos. Alfragide: Lua de Papel.7 Papa Francisco (2016). A alegria do amor: Exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia. Prior
Velho: Paulinas Editora.
Para preencher os requisitos de professor universitário foi preciso reajustar e alinhar o azi-
mute professoral afim de cumprir convenientemente a minha função / missão. Com efeito,
algum tempo depois de ser convidado para lecionar no ISEF, houve uma grande pressão
para que os professores diplomados do INEF realizassem o seu doutoramento, o que levou ao
afastamento de vários professores com larga experiência mas que não se predispuseram a
realizar os estudos para obtenção do grau de doutor9 . Esta exigência obrigou-nos a uma
8 Mendes, N. (1974). Pedagogo ou peda bobo? Lisboa: Editorial Intervenção.9 Graça, A. (2013). Formar professores de educação física: Notas breves sobre o nosso percurso insti-
tucional. In P. Batista, P. Queirós, & R. Rolim (Eds.), Olhares sobre o estágio profissional em educação
física. Porto: FADEUP.
13 — RPCD 19 (1)
a paciência dos Homens que da vida tiraram ensinamentos para dar aos mais novos, es-
perando por estes no dobrar da esquina, a fim de lhes indicar o azimute certo; (ii) René
Goossens, professor da Universidade Livre de Bruxelas, porque teve sempre uma palavra
inteligente e perspicaz para que este trabalho (Tese de Doutoramento) se concretizasse.
Com o seu apoio a minha tarefa tornou-se mais fácil pois me recebeu no seio da sua família
onde sempre fui tratado como um dos seus; (iii) José Alves, cuja ponderação e análise do
saber nunca poderei esquecer: sem a sua prestimosa ajuda não teria levado a Cruz ao Cal-
vário pois sempre me ajudou a encontrar o rumo certo, pegando muitas vezes na bússola
quando o meu ânimo desvanecia. Não foi apenas o Professor, mas também foi o Psicólogo
e amigo com A5.
Em suma, ser professor universitário em Portugal é por vezes uma tarefa hercúlea por-
que, além da exigência constante de um curriculum privilegiando a investigação, está
obrigado a estas tarefas: preparar e dar as aulas, criar / orientar projetos de investiga-
ção e publicar resultados, apoiar e acompanhar os estudantes na dupla tarefa quer da
aquisição de conhecimentos quer do desempenho dos trabalhos, ter por vezes funções de
gestão de departamentos ou laboratórios, e uma constante atualização dos conhecimen-
tos inerentes às funções que desempenha. Ora todo este manancial académico exige dos
professores um envolvimento tal que muitas vezes provoca em alguns uma certa angústia
existencial ou até chega a mexer com a sua vida familiar.
Ereviravolta completa no modus operandi. Com o recrutamento de licenciados do ISEF
como Assistentes Estagiários, a qualificação universitária começou a ganhar corpo, as
Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica permitiram a iniciação à
investigação científica, capacidade que se expandiu e consolidou com os estudos de
doutoramento e a atividade científica dos novos doutores9. O professor que se limitava a
transmitir o conhecimento ad-quirido tem então de investigar atualizando-se, publicar
resultados de estudos, mas também criar nos estudantes as preocupações de pesquisa.
Entretanto, mudou-se o nome de FCDEF para FADE e tivemos a surpresa do Processo de
Bolonha (Decreto Lei nº 74 / 2006, de 24 de março) fruto da assinatura da Magna Charta
Universitatum10. Em 2010, ao criar-se o Espaço Europeu, vários países, visando favorecer
a mobilidade quer dos estudantes, quer dos professores (mas também criarem um espaço
europeu de conhecimento), comprometeram-se a adotar um sistema com graus académi-
cos de fácil equivalência e daí estabelecer-se um sistema de créditos transferíveis e acu-
muláveis - European Credit Transfer System (ECTS), comum aos países europeus aderen-
tes, permitindo assim promover a mobilidade mais alargada dos estudantes. Tudo isto foi
entendido por nós como tendo sido uma imposição política que a todos desagradou porque
obrigou a um espartilhamento curricular no projeto de formação em vigor, i. e., antes do
processo de Bolonha o plano curricular era de cinco anos de licenciatura cujos estudantes
ficavam habilitados à docência da disciplina de Educação Física tanto no Ensino Básico
como no Secundário, mas também recebiam formação em áreas específicas como Treino
Desportivo (numa modalidade desportiva à sua escolha), Desporto de Recreação e
Tempos Livres e Desporto de Reeducação e Reabilitação. Para tal foram criados os
Centros de Trei-no, sendo o primeiro dos quais de Ginástica Desportiva (hoje Ginástica
Artística) Feminina, funcionando um no pavilhão de Ginástica do ISEF e outro em Vila do
Conde, ambos sob a nossa tutela. O que era ensinado em cinco passou para três anos
mais dois, não permitindo aos estudantes tantas vivências em distintos modelos de
desporto uma vez que o ensino superior passa a ser desenvolvido em três ciclos:
licenciatura (1° ciclo), mestrado (2° ciclo) e doutoramento (3° ciclo).
Todo este trajeto como professor deve-se por um lado ao espírito de solidariedade e
companheirismo que norteou durante muitos anos os docentes desta Instituição – ISEF /
FCDEF / FADE - e por outro a três Professores muito importantes no meu trajeto académico:
(i) António Paula Brito (de boa memória e descanse em paz), verdadeiro pai da psicologia
do desporto em Portugal11, …o “meu professor” soube criticar, corrigir e, sobretudo, teve
10 Magna Charta Universitatum (1988). University of Bologna, Italy.11 Cruz, J. (1996). Psicologia do desporto e da actividade física: Natureza, história e desenvolvimento.
In J. Cruz (Ed.), Manual de psicologia do desporto (pp. 17-41). Braga: Sistemas Humanos e Organi-
zacionais (SHO).
01Nível de atividade
física e fatores associados
em idosos longevos
comunitários assistidos
pela Atenção Primária à Saúde
PLAVRAS CHAVE:
Envelhecimento. Idoso de 80 anos ou mais.
Atividade motora. Nível de saúde.
SUBMISSÃO: 25 de Agosto de 2018ACEITAÇÃO: 20 de Abril de 2019
RESUMO
Objetivou-se avaliar os fatores associados à prática da atividade física em idosos longevos
comunitários. Trata-se de um estudo de corte transversal cuja amostra foi constituída por 98
longevos, comunitários, assistidos pela Estratégia de Saúde da Família da cidade de Recife-
-PE. Foram coletados mediante entrevista: identificação do participante, dados sociodemo-
gráficos, condições de saúde, e escalas que avaliaram comprometimento cognitivo (MEEM),
sintomatologia depressiva (GDS), risco nutricional (MAN), e nível de atividade física (IPAQ).
Para a análise bivariada foi utilizado o teste Qui-Quadrado de Pearson, já na análise multi-
variada foi gerada uma árvore de decisão utilizando o algoritmo “Exhaustive CHAID”. Houve
predominância de idosos com idade entre 80 e 85 anos; sexo feminino; viúvos; baixa escola-
ridade; renda de 1 a 2 salários mínimos; aposentados; hipertensos; sem sintomatologia de-
pressiva; eutróficos. A maioria dos idosos foram classificados como muito ativos, destacan-
do-se o domínio para as atividades físicas domésticas. Na análise bivariada associou-se ao
nível de atividade física a escolaridade (p = .010) e presença de doenças cardiovasculares (p
= .017), permanecendo na análise multivariada apenas a escolaridade. Os resultados apon-
tam a importância de estratégias para a prática regular da atividade física entre longevos
para promoção do envelhecimento bem-sucedido e redução das incapacidades.
AUTORES:
Edson Rios D´Angelo1
Sarah de Souza Mendonça2
Ana Paula de O Marques 1,2
Márcia C Campos Leal 1,2
1 Programa de Pós-Graduação em Gerontologia. Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil.
2 Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil.
https://doi.org/10.5628/RPCD.19.01.14
Autor para correspondência: Correspondência: Edson Rios D´Angelo. Rua Pio IX, n.º 435, Apt. 401-B, Madalena, Recife,
Pernambuco, Brasil. CEP 50710-265. email: [email protected]
15 — RPCD 19 (1): 14-30
Levels of physical activity and associated factors
in elderly people living in the community assisted
by the Primary Health Care
ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate the factors associated with
the practice of physical activity in elderly people living in the community.
It is a cross-sectional study whose sample consisted of 98 community-
dwelling individuals, assisted by the Family Health Strategy of the city of
Recife-PE. Participant identification, socio-demographic data, health con-
ditions, and scales that assessed cognitive impairment (MMSE), depres-
sive symptomatology (GDS), nutritional risk (MAN), and physical activity
level (IPAQ) were collected through interviews. Pearson’s Chi-Square test
was used for the bivariate analysis. In the multivariate analysis, a deci-
sion tree was generated using the “Exhaustive CHAID” algorithm. There
was a predominance of elderly individuals aged between 80 and 85 years;
women; widowers; low education level; income from 1 to 2 minimum
wages; retirees; hypertensive; without depressive symptomatology; eu-
trophic. Most of the elderly were classified as very active, highlighting the
domain for domestic physical activities. In the bivariate analysis, the level
of physical activity was associated with schooling (p = .010) and presence
of cardiovascular diseases (p = .017), with only the schooling remaining in
the multivariate analysis. The results point to the importance of strategies
for the regular practice of physical activity among the elderly to promote
successful aging and reduction of disabilities.
KEYWORDS:
Aging. Aged 80 and over.
Motor activity. Health status.
01
17 — RPCD 19 (1)
INTRODUÇÃO
O contingente de pessoas idosas vem aumentando de forma significativa no mundo nas
últimas décadas, especialmente a faixa etária com idade igual ou superior a 80 anos, de-
nominados de longevos. No Brasil, entre 1980 e 2005 este grupo etário apresentou acrés-
cimo de cerca de 246%, se consolidando como o segmento populacional de maior cresci-
mento dentre os idosos (Inouye, Pedrazzani, & Pavarini, 2008).
A velocidade desse fenômeno demográfico é resultado da redução significativa das taxas
de fecundidade e mortalidade por causas gerais. Esse cenário impõe o surgimento de novas
demandas sociais, econômicas e sanitárias, principalmente aos países em desenvolvimento
(Oliveira, Francisco, Costa, & Barros, 2012). Diante do já consolidado debate sobre a transi-
ção demográfica, o que se especula agora são as formas do envelhecer (Veras, 2012). Nesta
perspectiva, a promoção da saúde se destaca como estratégia primordial nos cuidados de
saúde à pessoa idosa, com vistas a manutenção da capacidade funcional e qualidade de vida
desses indivíduos que, superando adversidades, conseguiram envelhecer (Veras, 2009).
No Brasil, a Estratégia Saúde da Família (ESF) surge como proposta de reorientação do
modelo assistencial, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS),
com foco na família e não mais apenas no indivíduo doente. De maneira mais específica, as
práticas de saúde coletiva voltadas aos indivíduos idosos têm como proposta a identifica-
ção dos riscos e determinantes que comprometem a sua saúde, aspirando o planejamento
de medidas preventivas na tentativa de reduzir a demanda por serviços assistenciais de
maior complexidade (Gontijo & Leão, 2013).
A inatividade física é identificada como o quarto maior fator de risco para mortalidade glo-
bal, sendo, em idosos, preditora de doenças crônicas, incapacidade funcional, pior qualidade
de vida, dores, obesidade, doenças cardiovasculares, depressão e polimedicação (Henriques,
2013; Krug, Lopes, Mazo, & Marchesan, 2013; Mazo, Krug, Virtuoso, Lopes, & Tavares, 2012).
A prática regular de exercícios físicos se associa a melhoras nas condições gerais de saúde
e funcionalidade em idosos (Cipriani, Meurer, Benedetti, & Lopes, 2010), pois minimizam ou
retardam a instalação desses desfechos negativos, além de aumentar as habilidades funcio-
nais e cognitivas e reduzir as chances de dependência (Boscatto, Duarte, & Barbosa, 2012).
Embora os benefícios dos exercícios para os idosos estejam bem estabelecidos na lite-
ratura científica, e apesar de no Brasil a Política Nacional de Promoção da Saúde instituir
o Programa Academia da Saúde, com foco na promoção da saúde e prevenção de doenças
crônicas e agravos não transmissíveis, através do estímulo à adoção de práticas saudáveis,
incluindo a atividade física, ainda há a diminuição nos níveis de atividade física e a resistên-
cia na adesão a novos hábitos de vida como fatores usualmente identificados nessa popu-
lação (Boscatto et al., 2012). Neste contexto, percebe-se a necessidade da realização de
estudos que identifiquem fatores determinantes da inatividade física, principalmente entre
idosos longevos. Sendo assim, o presente artigo tem como objetivo avaliar a prevalência
e os fatores associados a prática da atividade física em idosos longevos assistidos pela
atenção primária à saúde de um município do Nordeste brasileiro.
MÉTODO
DESENHO DO ESTUDO
Tratou-se de um estudo analítico, quantitativo e de corte transversal vinculado ao projeto “En-
velhecimento bem-sucedido em idosos longevos e fatores associados”, aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sob o registro CAAE
nº 34900514.0.0000.5208. Os voluntários foram incluídos na pesquisa somente após tomar
ciência dos objetivos do estudo e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
AMOSTRA
A população estudada foi composta por idosos comunitários, com idade igual ou superior
a 80 anos, assistidos nas Unidades de Saúde da Família (USF) da microrregião 4.2, Distri-
to Sanitário IV, do município de Recife, Pernambuco, Brasil. Após levantamento de todos
os prontuários, foram identificados 485 indivíduos com idade mínima de 80 anos. Para o
cálculo amostral e calibração do uso dos instrumentos de coleta de dados, realizou-se
um estudo piloto com 30 indivíduos sorteados aleatoriamente entre os cadastrados nas
USF, considerando erro máximo de 5% e intervalo de confiança de 95%. Foram excluídos
aqueles que apresentaram comprometimento cognitivo e os que estivessem acamados
ou hospitalizados no período da pesquisa. Definiu-se uma amostra de 98 idosos longevos.
INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS
Os dados de interesse para investigação incluíram: informações sociodemográficas, mor-
bidades com diagnóstico registrados em prontuário, comprometimento cognitivo, nível de
atividade física, sintomatologia depressiva e risco nutricional, obtidos por meio de entre-
vistas domiciliares e consultas aos prontuários existentes nas USF. Para rastreio de com-
prometimento cognitivo (critério de exclusão) foi aplicado o Mini Exame do Estado Mental
- MEEM, adotando-se o ponto de corte por escolaridade sugerido por Bertolucci, Bruscki,
Campacci, e Juliano (1994).
O nível de atividade física foi avaliado por meio do Questionário Internacional de Ativi-
dade Física (International Physical Activity Questionnaire - IPAQ – versão 8), versão longa
para semana usual adaptada para idosos (Benedetti, Antunes, Rodriguez-Añez, Mazo, &
Petroski, 2007; Benedetti, Mazo, & Borges, 2012). Para fins de interpretação e análise do
nível de atividade física, os idosos foram classificados em insuficientemente ativos (< 150
min/sem) e muito ativos ���150 min/sem) (Cardoso, Levandoski, Mazo, Prado, & Cardoso,
2008; Krug, Conceição, Garcia, Streit, & Mazo, 2011). Para investigar a sintomatologia de-
19 — RPCD 19 (1)
01QUADRO 1. Características sociodemográficas dos idosos longevos que compuseram a amostra.
CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS n %
Faixa etária (anos)
Menos que 85 anos 52 53.1
85 anos ou mais 46 46.9
Sexo
Masculino 22 22.4
Feminino 76 77.6
Situação Conjugal
Solteiro (a) 10 10.2
Casado ou tem companheiro (a) 21 21.4
Viúvo (a) 62 63.3
Separado (a) ou Divorciado (a) 5 5.1
Escolaridade
Analfabeto 30 30.6
1-4 anos 45 45.9
5-8 anos 20 20.4
9-11 anos 3 3.1
Renda* (em salários mínimos)
Menos de 1 15 15.3
De 1 a 2 75 76.5
Entre 2 e 4 6 6.1
Mais de 4 2 2.1
Situação Previdenciária
Aposentado 71 72.4
Aposentado e Pensionista 3 3.1
Pensionista 24 24.5
TOTAL 98 100.0
* Salário mínimo vigente em 2014 igual a R$ 724,00
pressiva foi utilizada a Escala de Depressão Geriátrica com 15 itens (Geriatric Depressive
Scale - GDS), adotando-se os seguintes pontos de corte: ��5 pontos (ausência de depres-
são), de 5 a 10 (depressão menor) e > 10 pontos (depressão maior) (Yesavage et al., 1983).
O risco nutricional foi analisado por meio da Mini Avaliação Nutricional - MAN. Os idosos que
pontuaram entre 12 e 14 pontos foram considerados eutróficos, os que somaram entre 8 e 11
pontos estavam sob o risco nutricional e os que apresentaram pontuação menor ou igual a 7
pontos foram considerados desnutridos (Rubenstein, Harker, Salva, Guigoz, & Vellas, 2001).
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Na análise dos dados foram utilizadas técnicas de estatística descritiva por meio do soft-
ware Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 19.0, a fim de obter as dis-
tribuições absolutas bivariadas, na estatística inferencial foi utilizado o teste Qui-Quadrado
de Pearson. Verificada as associações, na análise multivariada foi gerada uma árvore de
decisão com o objetivo de testar a associação entre o nível de atividade física e as variáveis
investigadas. O algoritmo de crescimento escolhido foi o Exhaustive CHAID (Chi-Squared
Automatic Interaction Detection), uma variação do algoritmo CHAID, o qual tem como
base a associação por meio do teste Qui-quadrado onde variáveis independentes tentam
explicar a variável dependente (atividade física).
RESULTADOS
A amostra da presente pesquisa correspondeu a 98 idosos com média de idade de 84,3
anos (��3.15), variando entre 80 e 94 anos. Observou-se o domínio de mulheres (77.6%),
idosos sem companheiro (a) (78.6%), com 1 a 4 anos de escolaridade (46%) e com renda
entre 1 e 2 salários mínimos (76.5%), proveniente de aposentadoria para 72.4% dos entre-
vistados (QUADRO 1). No que se refere às condições de saúde, a hipertensão arterial sistêmi-
ca (76.6%), o diabetes mellitus (33.7%) e as doenças cardiovasculares (25.5%) foram as
patologias crônicas mais prevalentes na amostra. No tocante a sintomatologia depressiva,
63.3% dos idosos não apresentaram esta condição, entretanto, 42.8% dos idosos estavam
sob risco nutricional (QUADRO 2).
21 — RPCD 19 (1)
realizou-se a soma de todos os domínios do IPAQ e os idosos foram classificados em dois
níveis: muito ativos (� 150 min/sem) e insuficientemente ativos (< 150 min/sem) (QUADRO 3).
QUADRO 3. Nível de atividade física dos idosos longevos que compuseram a amostra, por domínio, segundo o IPAQ.
NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA n %
Domínio 1. Atividade física no trabalho
Muito ativo 4 4.1
Insuficientemente ativo 94 95.9
Domínio 2. Atividade física como meio de transporte
Muito ativo 6 6.1
Insuficientemente ativo 92 93.9
Domínio 3. Atividade física em casa, tarefas domésticas e atenção à família
Muito ativo 42 42.9
Insuficientemente ativo 56 57.1
Domínio 4. Atividade física de recreação, esporte, exercício e lazer
Muito ativo 8 8.2
Insuficientemente ativo 90 91.8
TOTAL 98 100.0
* IPAQ = International Physical Activity Questionnaire.
Quando avaliado o nível de atividade física dos participantes, no domínio da “atividade fí-
sica no trabalho”, atividades físicas moderadas ou vigorosas executadas, por semana, no
seu ambiente de trabalho, remunerado ou voluntário, apenas quatro idosos mantinham
práticas laborais e foram considerados fisicamente ativos. No domínio das “atividades fí-
sicas como meio de transporte”, deslocamento de um local para outro (caminhando ou
de bicicleta), a caminhada foi o tipo de atividade referida por 40 idosos (40.8%) que as
realizavam com intensidade moderada. O domínio das “atividades domésticas”, atividades
de intensidade moderada a vigorosa realizadas dentro e ao redor da casa, incluindo-se
tarefas como: limpeza do quintal, cuidados com o jardim, transporte de objetos pesados,
manutenção da casa ou ainda cuidar de crianças, foi o domínio em que os entrevistados
apresentavam maior nível de atividade física (61.2%). O domínio “atividade física de la-
zer” que corresponde as atividades de recreação, esporte ou lazer realizadas pelos idosos
numa semana habitual com um mínimo de 10 minutos contínuos, incluem-se os exercícios
físicos como, por exemplo: musculação, ginástica, hidroginástica, natação, dança, corrida
e a caminhada. De todos os indivíduos avaliados, apenas oito (8.2%) foram considerados
muito ativos para este domínio. O tempo médio referido por estes idosos para este tipo de
atividade foi de 205.6 min/sem.
01QUADRO 2. Características clínicas dos idosos longevos que compuseram a amostra
CONDIÇÕES DE SAÚDE n %
Hipertensão Arterial Sistêmica
Sim 76 77.6
Não 22 22.4
Diabetes Mellitus
Sim 33 33.7
Não 65 66.3
Doenças Cardiovasculares
Sim 25 25.5
Não 73 74.5
Osteoporose
Sim 21 21.4
Não 77 78.6
Osteoartrose
Sim 20 20.4
Não 78 79.6
Doenças Neurológicas
Sim 3 3.1
Não 95 96.9
Doenças Respiratórias
Sim 8 8.2
Não 90 91.8
Neoplasias
Sim 2 2.0
Não 96 98.0
Sintomatologia Depressiva
Sim 36 36.7
Não 62 63.3
Escore da MAN*
Desnutrido 9 9.2
Risco nutricional 42 42.8
Estado nutricional normal 47 48.0
TOTAL 98 100.0
* MAN = Mini avaliação nutricional
A soma das atividades físicas desenvolvidas nos diferentes domínios (trabalho, transporte, ati-
vidades domésticas e lazer), resultam no tempo total despendido em atividades físicas mo-
deradas e vigorosas durante a semana. Para a interpretação do nível de atividade física total
23 — RPCD 19 (1)
QUADRO 5. Análise bivariada do nível de atividade física em relação às condições de saúde.
VARIÁVEL NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA
Muito ativo Insuficientemente ativo p valor
n % n %
Interpretação da MAN .549
Desnutrido 4 44.4 5 55.6
Normal 30 63.8 17 36.2
Risco nutricional 25 59.5 17 40.5
Sintomatologia depressiva .975
Ausente 21 60.0 14 40.0
Presente 38 60.3 25 39.7
Hipertensão arterial sistêmica .063
Ausente 17 77.3 5 22.7
Presente 42 55.3 34 44.7
Diabetes mellitus .091
Ausente 43 66.2 22 33.8
Presente 16 48.5 17 51.5
Doenças cardiovasculares .017
Ausente 49 67.1 24 32.9
Presente 10 40.0 15 60.0
Osteoporose .067
Ausente 50 64.9 27 35.1
Presente 9 42.9 12 57.1
Osteoartrose .119
Ausente 50 64.1 28 35.9
Presente 9 45.0 11 55.0
Doenças Neurológicas .816
Ausente 57 60.0 38 40.0
Presente 2 66.7 1 33.3
Doenças Respiratórias .890
Presente 5 62.5 3 37.5
Ausente 59 61.5 37 38.5
Neoplasias .079
Ausente 59 61.5 37 38.5
Presente 0 0.0 2 100.0
01QUADRO 4. Análise bivariada do nível de atividade física em relação às variáveis sociodemográficas.
VARIÁVELNÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA
Muito ativo Insuficientemente ativo p valor
n % n %
Faixa Etária .484
Menos que 85 anos 33 63.5 19 36.5
85 anos ou mais 26 56.5 20 43.5
Sexo .385
Masculino 15 68.2 7 31.8
Feminino 44 57.9 32 42.1
Situação conjugal .139
Solteiro (a) 8 80.0 2 20.0
Casado ou tem companheiro (a) 14 66.7 7 33.3
Viúvo (a) 36 58.1 26 41.9
Separado (a) ou divorciado (a) 1 20.0 4 80.0
Escolaridade .010
Analfabeto 11 36.7 19 63.3
1-4 anos 34 75.6 11 24.4
5-8 anos 12 60.0 8 40.0
9-11 anos 2 66.7 1 33.3
Renda .224
Menos de 1 salário mínimo 9 60.0 6 40.0
De 1 a 2 salários mínimos 45 60.0 30 40.0
De 2 a 4 salários mínimos 5 83.3 1 16.7
Mais de 4 salários mínimos 0 0.0 2 100.0
Situação Previdenciária .330
Aposentado 41 57.7 30 42.3
Aposentado e pensionista 1 33.3 2 66.7
Pensionista 17 70.8 7 29.2
O somatório de todas as atividades desenvolvidas nos diferentes domínios: trabalho,
transporte, atividades domésticas e lazer, com atividades físicas moderadas e vigorosas
resultaram numa média de 351.18 min/sem. De acordo coma classificação adotada para
este estudo, a prevalência de idosos fisicamente ativos foi de 60.2%.
25 — RPCD 19 (1)
DISCUSSÃO
Em relação ao nível de atividade física total, o elevado percentual de idosos no presente estu-
do classificados como muito ativos, pode sugerir resultado favorável, se levarmos em conta
a faixa de idade mínima para inclusão na pesquisa. Ao se considerar a análise por domínio,
essa prática se concentra relacionada às atividades do lar, o que pode ser justificado pela pre-
dominância de mulheres entre os longevos aqui estudados. Resultado similar é apontado por
Tribess, Virtuoso-Junior, e Petroski (2009), em investigação acerca da prática de atividade fí-
sica entre idosos, onde 54.6% do tempo gasto com atividades moderadas e vigorosas se mos-
tram relacionadas às tarefas domésticas, também pela maior prevalência do sexo feminino.
As mulheres, por questões sociais e históricas relacionadas ao gênero, assumem os cuidados
da casa e dos filhos, gastando mais tempo com este tipo de atividade (Figueiredo et al., 2007).
A prática regular de atividade física proporciona melhorias na força, no condicionamento
físico, nas habilidades motoras e cognitivas. Entretanto, parte dos longevos aqui estuda-
dos ainda dedica tempo insuficiente às atividades de lazer e recreação (exercício físico
programado). Um possível fator relacionado, entretanto, não avaliado, talvez seja a falta
de suporte estrutural do território com locais adequados para este tipo de atividade.
A prática de atividade física está associada a maior expectativa de vida e prevenção de doenças,
além de estar ligada diretamente ao envelhecimento bem-sucedido, com melhor desempenho
para as atividades motoras e cognitivas, proporcionando também interação social entre seus
praticantes (Moore et al., 2012; Penha, Piçarro, & Barros Neto, 2012; Ribeiro & Neri, 2012).
Pesquisa feita em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, com 352 longevos, participantes
de grupos de convivência, obtiveram na soma de todos os domínios do IPAQ resultados
que apontaram 55.1% de idosos classificados como inativos ou pouco ativos. No estudo
de Boscatto et al. (2012), mais da metade dos idosos analisados não atendiam aos 150
minutos por semana, e destes, 64.7% não realizavam atividade física alguma por mais de
10 minutos contínuos. Tais resultados não corroboram com os achados aqui encontrados
e reforçam a ideia que o avançar da idade cronológica é acompanhada por maior inativida-
de física, apesar das evidências sobre os benefícios da prática mesmo entre os longevos
(Tuna, Edeer, Malkoc, & Aksakoglu, 2009).
A prática de atividade física esteve associada à escolaridade, com maior proporção de inativi-
dade física entre aqueles com menos anos de estudos. Vale ressaltar que a baixa escolaridade
nestes idosos está associada a menor renda e dificuldade de acesso a locais para a prática de
exercício físico, tendo em vista que os bairros periféricos não apresentam equipamentos públi-
cos adequados, como praças e parques. Este dado também foi encontrado por Nunes, Ribeiro,
Rosado, e Franceschini (2009), em um estudo sobre a influência das características sociode-
mográficas e epidemiológicas na capacidade funcional de idosos comunitários. A resistência
destes idosos à prática regular de atividade física é maior quando comparado a outros grupos,
01Na análise bivariada realizada por meio do teste Qui-quadrado de Pearson, se associa-
ram estatisticamente ao nível de atividade física a escolaridade (p =.010) e o diagnóstico
de doenças cardiovasculares (p = .017) (QUADROS 4 E 5), permanecendo como variáveis for-
temente relacionadas ao nível de atividade física no modelo multivariado (FIGURA 1). Na ár-
vore de decisão, o “nó raiz” correspondeu ao nível de atividade física e a baixa escolaridade
foi o fator que mais se relacionou aos idosos insuficientemente ativos (63.3%).
FIGURA 1. Análise multivariada por meio da árvore de decisão obtida a partir do algorítmo Exhaustive CHAID.
Na categorização da escolaridade, 69.4% dos indivíduos eram alfabetizados, destes 70.6%
eram fisicamente ativos segundo o IPAQ, em contrapartida, dentre os analfabetos (30.6%),
apenas 36.7% foram considerados muito ativos. Dos que referiram alguma escolarização,
15.3% referenciavam presença de doenças cardiovasculares. A árvore de decisão apre-
sentou um nível de assertividade de 71.4%, ou seja, utilizando as variáveis escolaridade e
doenças cardiovasculares pode-se estimar em 71.4% se os idosos eram fisicamente ativos.
27 — RPCD 19 (1)
aposentados e/ou pensionistas ganhando entre um e dois salários mínimos mensais.
No que se refere ao rastreio de risco nutricional, houve prevalência para aqueles consi-
derados eutróficos (48%), seguidos dos que apresentavam risco nutricional, que somaram
42.9%, o que pode ser considerado um dado importante a se destacar. Boscatto, Duarte,
Coqueiro, e Barbosa (2013) ao realizarem estudo epidemiológico para verificação dos fato-
res associados ao estado nutricional de idosos longevos que viviam em comunidade no sul
do Brasil, encontraram uma prevalência de baixo peso em 27.3% dos homens e 12.8% das
mulheres entrevistadas e de forma inversa, o excesso de peso afetou 25.5% dos homens
e 53.8% das mulheres, o que é associado negativamente por estes autores às doenças
crônicas incapacitantes, tais como as doenças osteomioarticulares, cardiocirculatórias e
diabetes tipo 2, patologias associadas com baixos níveis de atividade física.
É importante enfatizar que o percentual de longevos desnutridos, possivelmente seria
maior do que o observado caso os idosos com comprometimento cognitivo, hospitalizados,
institucionalizados e acamados fossem incluídos, uma vez que essas condições estão as-
sociadas a maior ocorrência de desnutrição.
Observou-se nesta investigação uma maior prevalência de idosos com enfermidades
relacionadas ao sistema cardiocirculatório, resultados que se assemelham aos encontra-
dos em estudo realizado em Antônio Carlos/SC, onde os autores verificaram o nível de
atividade física em idosos longevos e seus fatores associados (Boscatto et al., 2012). O
alto número de idosos hipertensos surge a partir de inúmeras alterações que ocorrem nas
propriedades vasculares da artéria aorta, que atua como papel importante na gênese e
progressão da hipertensão arterial sistêmica.
O nível de atividade física total evidenciou que os idosos participantes deste estudo são
mais ativos nas atividades domésticas. É provável que a redução de atividades físicas no
segmento etário mais envelhecido da população esteja relacionada às dificuldades para
a execução de sua prática, presença de dores articulares, resistência em conhecer novas
pessoas ou participar de novos grupos, além da limitação fisiológica para o exercício.
Foi observada associação importante entre o nível de atividade física total, escolaridade
e a ocorrência de doenças cardiocirculatórias identificadas por meio da análise multiva-
riada, sendo possível observar que idosos fisicamente inativos apresentam mais doenças
cardiovasculares e são menos escolarizados. Considerando as características regionais e
a relação entre as variáveis estudadas, reforçar-se a importância do incentivo à prática de
atividade física regular na população de longevos.
Cabe ainda considerar que o desenho metodológico aqui proposto traz limitações próprias de
um estudo de natureza transversal, não sendo possível estabelecer relações de causalidade,
quanto à determinação dos fatores que interferem no nível de atividade física dos idosos lon-
gevos ora estudados, apenas sendo possível inferir associação entre as variáveis investigadas.
Quanto aos instrumentos utilizados na coleta de dados, pode-se considerar um possível viés
01assim como é maior também o nível de dependência (Aires, Paskulin, & Morais, 2010).
Divergindo dos achados aqui encontrados, Tribess et al. (2009), em levantamento rea-
lizado com 265 idosas de comunidades de baixa renda não encontraram associações sig-
nificativas entre o nível de atividade física e a escolaridade. Entretanto, Alves et al. (2010)
em pesquisa sobre a prevalência de adultos e idosos insuficientemente ativos em áreas
de USF com e sem Programa de Saúde da Família, relatam associação significante entre
sedentarismo e baixa escolaridade. A maior prevalência de idosos insuficientemente ativos
relacionados com a baixa escolaridade destaca a importância para o conhecimento acerca
dos benefícios da atividade física para a contribuição de menores índices de doenças inca-
pacitantes e melhor qualidade de vida.
A idade cronológica não marca precisamente as mudanças que acompanham o enve-
lhecimento, este dinamismo provoca diferenças consideráveis relacionadas ao estado de
saúde, participação social e níveis de independência entre pessoas que possuem a mesma
faixa etária (Silveira, Pasqualotti, Colussi, & Wibelinger, 2010).
Segundo Chaimowicz (2013), a crescente tendência para a longevidade entre as mulheres
acontece especialmente entre os países desenvolvidos; contudo, o mesmo fenômeno tam-
bém é observado nos países em desenvolvimento, em consequência da sobremortalidade
masculina em todas as faixas etárias, onde fatores de risco como: fumo, álcool, acidentes de
trabalho, homicídios e doenças cardiocirculatórias assumem uma importância significativa.
No tocante a situação conjugal, os dados desta pesquisa se assemelham ao estudo de
Mazo et al. (2012), que identificaram 77.3% de viúvos e 14.3% de casados. O elevado per-
centual de pessoas viúvas pode ser explicado pelo maior número de óbitos masculinos
nessa faixa etária, influenciando o fenômeno da feminização da velhice.
Com relação à escolaridade, neste estudo constatou-se que 45% dos idosos tem ensi-
no fundamental incompleto seguido de 30.6% de analfabetos. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) refere que, em países em desenvolvimento, 31% das mulheres adultas são
analfabetas, gênero predominante neste estudo.
As idosas entrevistadas neste estudo nasceram e cresceram num período de difícil acesso à
educação neste país, sobretudo para as mulheres. O baixo nível educacional de idosas brasileiras
pode ser explicado por valores culturais e sociais herdados do século passado no qual as mulhe-
res assumiam principalmente os cuidados domiciliares, além do que, a grande maioria não tinha
acesso às escolas públicas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2012).
A única fonte de renda dos entrevistados era a aposentadoria, com valor entre um e dois
salários mínimos (salário mínimo de referência para o ano de 2014 igual a 724.00 reais).
Estes dados concordam com a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE (2012), que refere
o benefício da previdência social para aproximadamente 77% dos idosos com rendimento
igual ou superior a um salário mínimo. Os achados ora apresentados também são similares
aos registrados por Mazo et al. (2012) que verificaram entre idosos longevos 96.3% de
01de memória para os questionamentos sobre tempo e atividades ao longo da semana no IPAQ.
Vale destacar a insuficiente produção na área da Gerontologia a respeito da prática de
atividade física em idosos longevos, aqui representados por indivíduos com 80 anos e mais.
Tal fato pode ser justificado por razões inerentes as dificuldades de mensuração dessa prá-
tica e relacionadas a comparações de resultados a partir de metodologias diferenciadas.
Envelhecer ativamente ainda é difícil, tendo em vista as limitações do meio ambiente em
que vivem a maioria dos idosos brasileiros.
Os resultados aqui obtidos reforçam a importância de estratégias e programas destina-
dos aos mais velhos que favoreçam a prática regular da atividade física em seus diversos
domínios de análise, com vistas ao envelhecimento bem-sucedido e redução das incapa-
cidades, como preconiza a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Para tal, se faz
necessário a organização do ambiente social e comunitário em que esses idosos vivem, a
fim de uma melhor aptidão funcional e melhor qualidade de vida.
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Efeito da idade relativa
no acesso às selecções
distritais e nacionais
de futsal em Portugal
PALAVRAS CHAVE:
Efeito da idade relativa. Futsal.
Género. Escalão. Nível competitivo.
Função específica.
SUBMISSÃO: 10 de Fevereiro de 2019ACEITAÇÃO: 28 de Abril de 2019
RESUMO
O conceito de efeito da idade relativa está associado com diferenças de maturação (física e
psicológica) relacionadas com a data de nascimento de atletas do mesmo escalão, favore-
cendo os jogadores que nascem nos primeiros meses do ano. Este estudo teve por objectivo
analisar a ocorrência e a magnitude deste efeito no futsal em Portugal, em função do género,
do escalão etário, do nível competitivo e da função específica no campo. Pretendeu-se as-
sim obter um melhor conhecimento do acesso dos jogadores ao espaço de excelência que é
proporcionado pelas selecções distritais e nacionais, principal momento de identificação de
talentos nesta modalidade em Portugal. A amostra foi constituída por 2621 jogadores, 220
adultos internacionais “AA” e 2401 jovens jogadores das selecções distritais que participa-
ram nos torneios inter-associações entre 2014 e 2019. Os resultados obtidos mostram que o
futsal em Portugal apresenta duas realidades completamente diferentes, manifestando-se
o efeito da idade relativa no género masculino, mas não sendo evidente no género feminino.
A análise inferencial da amostra masculina revelou este efeito: (a) nos escalões etários sub-
15, sub-16 e sub-17 anos; (b) em todos os níveis competitivos, excepto no nível elite; (c) em
todas as funções específicas no jogo, excepto na função “pivot”.
AUTORES:
João M Serrano 1
Shakib Shahidian 1
Maria F Serrano 2
Jorge Braz 3
Nuno Leite 4
1 Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora, Portugal2 Real Madrid TV, Madrid, Espanha3 Federação Portuguesa de Futebol, Lisboa, Portugal4 Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal
https://doi.org/10.5628/RPCD.19.01.31
Correspondência: João M. Serrano. Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora.
telefone: +351963824046. email: [email protected]
02
31 — RPCD 19 (1): 31-41
33 — RPCD 19 (1)
02INTRODUÇÃO
O conceito de efeito da idade relativa está associado com diferenças de maturação (física
e psicológica) relacionadas com a data de nascimento de atletas do mesmo escalão, fa-
vorecendo os jogadores que nascem nos primeiros meses do ano (Andronikos, Elumaro,
Westbury, & Martindale, 2016). Vários estudos indicam que o processo de selecção des-
portiva é influenciado pelo efeito da idade relativa, sendo que as diferenças referidas são
especialmente pronunciadas no período crítico de acelerado desenvolvimento biológico
que ocorre entre a infância e a adolescência (Mazzardo, Jacob, Dognini, & Campos, 2016).
A definição de escalões etários constitui uma estratégia de organização comum no despor-
to (Cobley, Baker, Wattie, & McKenna, 2009). No futsal, em Portugal, esses escalões são de
dois anos, pelo que as diferenças cronológicas entre jogadores mais velhos, jogadores de se-
gundo ano do escalão nascidos no início de Janeiro, e jogadores mais novos, jogadores do pri-
meiro ano do escalão nascidos no final de Dezembro, podem ser de praticamente 24 meses,
o que, naturalmente, reflecte diferenças de maturação (Baker, Schorer, Cobley, Schimmer, &
Wattie, 2009). Os aspectos da maturação física (como peso e massa), e os correspondentes
factores de rendimento desportivo que podem ser influenciados pela massa muscular (sprint
e potência explosiva), são particularmente importantes no futsal, modalidade caracterizada
por deslocamentos rápidos e constantes mudanças de direcção em espaços reduzidos, re-
querendo altas capacidades de velocidade, agilidade e potência muscular (Kirkendall, 2014;
Mazzardo et al., 2016). Este cenário acontece porque desde muito cedo o foco está centrado
nos resultados imediatos e não no processo de formação de longo prazo, conferindo carác-
ter competitivo à prática desportiva antes da puberdade (Júnior, Alves, Galatti, & Marques,
2017; Mazzardo et al., 2016; Silva, Garganta, Brito, Cardoso, & Teoldo, 2018).
Em Portugal, o principal momento para identificação e selecção de talentos tem lugar
nos torneios nacionais inter-associações organizados pela Federação Portuguesa de Fu-
tebol (FPF). Este processo de constituição das selecções distritais pode conduzir a uma
situação negativa para os mais novos e pode levar ao abandono prematuro da modalidade
devido à falta de motivação e à baixa percepção de competência (Baker et al., 2009), factor
importante na participação desportiva, com reflexo nos níveis de desempenho no futuro
(Mazzardo et al., 2016). No sentido de obter um melhor conhecimento sobre o futsal em
Portugal e sobre a detecção e selecção de talentos no acesso dos jogadores ao espaço de
excelência que é proporcionado, numa primeira fase, pelas selecções distritais nas catego-
rias jovens e, em última instância, pelas selecções nacionais, o objectivo deste estudo foi
analisar a ocorrência e a magnitude do efeito da idade relativa nesta modalidade e avaliar
se este efeito depende do género, do escalão etário, do nível competitivo e da função espe-
cífica desempenhada no jogo.
A relação entre velocidade de arremesso,
composição corporal, o teste de uma repetição
máximo de supino e agachamento em jogadores
de beisebol universitário.
ABSTRACT
The concept of relative age effect is associated with differential maturation
(physical and psychological) related to birth date amongst athletes of the
same selection year, favouring athletes born in the first quartiles. The pur-
pose of this study was to analyse the occurrence and magnitude of this effect
and evaluate if this effect is different depending on the gender, the age group,
the competitive level, and the specific function in the game. This will provide
a better understanding of the access of Futsal players to the space of excel-
lence that is provided by the regional and national teams, the main occasion
for talent identification in Portuguese futsal. The sample was composed of
2621 players, 220 adults international “AA” and 2401 young players of region-
al teams who participated in the inter-association national tournaments be-
tween 2014 and 2019. Our findings demonstrate that futsal in Portugal pre-
sents two completely different realities, with relative age effect being found
in the male gender, but with no significant evidence in women. The inferential
analysis of the male sample revealed this effect in: (a) the age groups under
15 (U-15), U-16 and U-17 years; (b) all competitive levels, except at the elite
level; (c) all specific functions in the game, except “pivot”.
KEYWORDS:
Relative age effect. Futsal. Gender. Age group.
Competitive level. Specific functions.
35 — RPCD 19 (1)
02MATERIAL E MÉTODOS
A amostra foi constituída por 2621 jogadores de futsal portugueses, 220 dos quais internacio-
nais “AA” por Portugal (144 masculinos e 76 femininos), e 2401 (1485 masculinos e 916 femi-
ninos) que integraram as selecções distritais de escalões de formação nos torneios nacionais
inter-associações entre 2014 e 2019. A informação sobre os internacionais “AA” foi recolhida
no link oficial da FPF (http://www.fpf.pt/pt/Players) em Março de 2018, enquanto a informação
acerca dos jogadores jovens das selecções distritais foi obtida nos respectivos torneios na-
cionais inter-associações organizados nos seguintes escalões: sub 15 (528 jogadores), sub 16
(504 jogadores), sub 17 (251 jogadores) e sub 18 (202 jogadores) no masculino; e sub 17 (226
jogadoras), sub 18 (228 jogadoras), sub 19 (228 jogadoras), sub 20 (127 jogadoras) e sub 21
(107 jogadoras) no feminino. Os escalões etários dos torneios inter-associações de cada ano
são definidos pela equipa técnica da FPF, normalmente com dois escalões masculinos (sub 15
e sub 17) e um escalão feminino (principalmente sub 17, sub 18 ou sub 19).
Em termos de organização dos dados, foi elaborada uma folha de cálculo do Excel com to-
dos os registos, codificados em termos de género, escalão etário, nível competitivo, função
específica no jogo e mês de nascimento. No que se refere ao nível competitivo, a amostra foi
subdividida em quatro grupos: elite (jogadores das selecções nacionais), alto, médio e baixo.
Estes três últimos grupos foram estabelecidos com base no número de jogadores federados
na modalidade, em cada Associação de Futebol, na época desportiva 2017/2018. Os jogadores
das associações com mais de 1000 federados foram incluídos no nível competitivo alto (Lisboa,
Porto, Leiria, Aveiro, Setúbal, Braga e Coimbra); os jogadores das associações com número de
federados entre 500 e 1000 foram incluídos no nível competitivo médio (Viseu, Ponta Delgada,
Angra do Heroísmo, Algarve, Santarém, Vila Real, Castelo Branco e Bragança); e os jogadores
das associações com menos de 500 jogadores federados foram incluídos no nível competitivo
baixo (Horta, Viana do Castelo, Portalegre, Madeira, Évora, Guarda e Beja).
Quanto às funções específicas desempenhadas no jogo, foram consideradas as seguin-
tes: guarda-redes, fixo, ala, pivot e universal. A função universal incluiu os jogadores com
indicação de mais do que uma função específica (normalmente fixo-ala ou ala-pivot).
A data de nascimento de cada jogador foi classificada em quatro trimestres: T1 (Janeiro-
-Março), T2 (Abril-Junho), T3 (Julho-Setembro) e T4 (Outubro-Dezembro).
O protocolo de estudo seguiu as orientações da Declaração de Helsínquia e foi aprovado pela
Comissão de Ética do Centro de Investigação em Desporto e Saúde da Universidade de Évora.
Todos os procedimentos estatísticos foram desenvolvidos no programa Statistical Package for
Social Sciencse (SPSS) para o Windows®, versão 20.0 (SPSS Inc., Chicago, IL). Além da análise
descritiva, por frequências e em percentagem, as várias hipóteses testadas foram submetidas
ao teste não paramétrico de Kruskall-Wallis para analisar, através do qui-quadrado (ѯ2), as
diferenças entre distribuições das datas de nascimento, por trimestres, para as variáveis estu-
dadas. Todos os procedimentos estatísticos utilizaram um nível de significância inferior a .05.
RESULTADOS
Para enquadrar os dados deste estudo, foi avaliada a distribuição das datas de nascimento
da população portuguesa entre 1995 e 2018 (QUADRO 1), com base nos dados fornecidos
pelo Instituto Nacional de Estatística, tendo esta confirmado que não existem diferenças
significativas entre trimestres de nascimento na população portuguesa, tanto masculina
como feminina. Ainda no quadro 1 é apresentada a distribuição das frequências de nasci-
mento de jogadores de futsal considerados nesta amostra (em valor absoluto e em per-
centagem do total), por género e por trimestre. Os resultados sugerem duas realidades
completamente diferentes: a manifestação do efeito da idade relativa no género masculino,
mas não no género feminino.
QUADRO 1 — Distribuição das datas de nascimento da população portuguesa entre 1998 e 2015 e na amostra de jogadores de Futsal, por género e por trimestre.
Género Amostra T1 T2 T3 T4 Total Ȥ2 p
Feminino
População portuguesa
285455 (24.0%)
291906 (24.5%)
312264 (26.2%)
300435 (25.2%)
1190060 (100%) 0.987 .856
Jogadores de futsal
261(26.2%)
241(24.3%)
235(23.7%)
255(25.7%)
992(100%) 1.758 .624
Masculino
População portuguesa
302041 (23.9%)
311795 (24.7%)
331031 (26.2%)
317653 (25.2%)
1262520 (100%) 0.953 .862
Jogadores de futsal
499(30.6%)
453(27.8%)
381(23.4%)
296(18.2%)
1629(100%) 57.893 .000*
* Diferenças significativas (p < .05)
O quadro 2 mostra a distribuição das datas de nascimento (em valor absoluto e em percen-
tagem do total) por trimestre, no género masculino, nos diferentes escalões considerados.
É evidente em todos os escalões a maior frequência de nascimentos nos primeiros tri-
mestres do ano e uma sistemática redução nos trimestres seguintes. A análise inferencial
mostra que esta tendência foi significativa nos escalões sub 15, sub 16 e sub 17. no escalão
sub 18 e nos seniores não se manifestou o efeito da idade relativa.
37 — RPCD 19 (1)
02QUADRO 2 — Distribuição das datas de nascimento por escalão etário e por trimestre na amostra de jogadores do género masculino.
Escalão T1 T2 T3 T4 Total Ȥ2 p
Sub 15 92 (32.7%) 66 (26.3%) 49 (19.5%) 44 (17.5%) 251 (100%) 22.418 .000*
Sub 16 153 (30.4%) 160 (31.7%) 109 (21.6%) 82 (16.3%) 504 (100%) 32.619 .000*
Sub 17 158 (29.9%) 139 (26.3%) 135 (25.6%) 96 (18.2%) 528 (100%) 15.379 .002*
Sub 18 55 (27.2%) 53 (26.2%) 53 (26.2%) 41 (20.3%) 202 (100%) 2.436 .487
Seniores 41 (28.5%) 35 (24.3%) 35 (24.3%) 33 (22.9%) 144 (100%) 1.000 .801
* Diferenças significativas (p < .05)
O quadro 3 mostra a distribuição das datas de nascimento (em valor absoluto e em per-
centagem do total) por trimestre, no género masculino, nos diferentes níveis competitivos
considerados. Os resultados mostram, em todos os níveis competitivos, uma frequência
mais elevada de nascimentos nos primeiros trimestres do ano e uma tendência sistemá-
tica de redução nos trimestres seguintes. A análise inferencial revelou o efeito da idade
relativa em todos os níveis competitivos, excepto no nível elite (seniores).
QUADRO 3 — Distribuição das datas de nascimento por nível competitivo e por trimestre na amostra de jogadores do género masculino.
Nível competitivo T1 T2 T3 T4 Total Ȥ2 p
Baixo 115 (29.0%) 101 (25.5%) 104 (26.3%) 76 (19.2%) 396 (100%) 8.222 .042*
Médio 178 (30.4%) 152 (30.2%) 127 (21.7%) 115 (19.7%) 585 (100%) 18.508 .000*
Alto 165 (32.7%) 152 (30.2%) 115 (22.8%) 72 (14.3%) 504 (100%) 41.540 .000*
Elite 41 (28.5%) 35 (24.3%) 35 (24.3%) 33 (22.9%) 144 (100%) 1.000 .801
* Diferenças significativas (p < .05)
O quadro 4 mostra a distribuição das datas de nascimento (em valor absoluto e em percen-
tagem do total) por trimestre, no género masculino, para as funções específicas no jogo
consideradas. A análise inferencial revelou o efeito da idade relativa em todas as funções
específicas, excepto na função “pivot”, mas também com uma clara maior percentagem de
jogadores desta função específica nascidos no primeiro semestre do ano do que no segun-
do semestre (56.8 e 43.2%, respectivamente).
QUADRO 4 — Distribuição das datas de nascimento por função específica no jogo e por trimestre na amostra de jogadores do género masculino.
Função específica T1 T2 T3 T4 Total Ȥ2 p
Guarda-redes 84 (31.3%) 73 (27.2%) 65 (24.3%) 46 (17.2%) 268 (100%) 11.493 .009*
Fixo 86 (36.0%) 60 (25.1%) 51 (21.3%) 42 (17.6%) 239 (100%) 18.088 .000*
Ala 147 (27.9%) 144 (27.3%) 131 (24.9%) 105 (19.9%) 527 (100%) 8.340 .039*
Pivot 49 (27.8%) 51 (29.0%) 41 (23.3%) 35 (19.9%) 176 (100%) 3.727 .292
Universal 133 (31.7%) 125 (29.8%) 93 (22.2%) 68 (16.2%) 419 (100%) 13.902 .003*
* Diferenças significativas (p < .05)
DISCUSSÃO
Relativamente ao efeito da idade relativa por género, os resultados obtidos revelaram
este efeito no sector masculino, mas não no sector feminino, o que corrobora os resul-
tados de outros autores. Augste e Lames (2011) e Baker et al. (2009) referem a maior
susceptibilidade de ocorrência do efeito da idade relativa no género masculino do que
no feminino, no desporto em geral. Júnior et al. (2017), em concreto no futsal no Bra-
sil, também registaram a ocorrência do efeito da idade relativa no masculino e não no
feminino, tendo justificado o facto com o reduzido número praticantes (crianças e jovens
adolescentes) do género feminino porque, tal como o futebol, o futsal também é histórica
e culturalmente considerado um desporto exclusivamente masculino.
As diferenças registadas entre géneros podem ser explicadas por uma complexa inte-
racção de factores biológicos e maturacionais com factores sócio-culturais (Vincent &
Glamser, 2006), justificação com aplicação ao nosso estudo. Por um lado, no género femi-
nino, o escalão mais baixo considerado foi o sub 17, o primeiro torneio inter-associações
oficial no género feminino, idade em que normalmente já se completou o processo matu-
racional e, por isso, diminuem as diferenças resultantes da idade relativa (Júnior et al.,
2017). Por outro lado, em Portugal, o futsal feminino é relativamente recente, com um
número muito menor de praticantes do que no sector masculino: dados da FPF mostram
que na época desportiva 2017/2018 havia em Portugal 3918 jogadoras federadas de futsal
(12.6% do total), enquanto os jogadores eram 27171 (87.4% do total). O menor número
de praticantes no sector feminino leva a menor pressão de selecção, menor competição
39 — RPCD 19 (1)
por oportunidades e, consequentemente, a menor probabilidade de ocorrência do efeito
da idade relativa (Delorme, Boiché, & Raspaud, 2010; Júnior et al., 2017; Mazzardo et al.,
2016). Estas considerações podem alargar-se a um contexto internacional, uma vez que
enquanto o primeiro Campeonato Europeu de futsal masculino teve lugar em 1999, o seu
homólogo feminino aconteceu apenas 20 anos depois (em 2019).
A análise inferencial na amostra do género masculino mostrou o efeito da idade relativa
por escalão etário apenas nos escalões inferiores (sub 15, sub 16 e sub 17), o que pode
ser justificado pela tendência natural a esbater o diferencial de maturação entre jogadores
nascidos em diferentes fases do ano à medida que o escalão se aproxima da idade sénior
(Mazzardo et al., 2016). Estes resultados estão em linha com outros trabalhos. Júnior et
al. (2017) e Kirkendall (2014) mostraram que o efeito da idade relativa e as reportadas
diferenças ou semelhanças dentro de um determinado escalão etário são mais evidentes
durante a adolescência, tendendo a esbater-se no escalão adulto.
A análise do efeito da idade relativa por nível competitivo justifica uma breve contex-
tualização. Portugal apresenta um importante desequilíbrio demográfico, especialmente
marcado entre regiões do litoral e regiões do interior. Este contraste reflecte-se no hete-
rogéneo desenvolvimento do futsal. Em termos de jogadores federados na modalidade, na
época desportiva 2017/2018, as Associações de Futebol de Lisboa e do Porto representam
36% do total de jogadores inscritos (5671 e 5108 jogadores federados, respectivamente).
Por outro lado, em 16 das 22 Associações de Futebol do país, o número de praticantes
federados é inferior a 1000, e em toda a região do Alentejo (Associações de Portalegre,
Évora e Beja) o número total de praticantes federados não excede 1200. Como esperado,
no presente estudo, o efeito da idade relativa foi mais evidente nos distritos do país com
mais praticantes federados de futsal. Estes resultados estão em linha com os estudos
de Baker et al. (2009) e Mazzardo et al. (2016), que introduziram a variável geográfica e
identificaram a prevalência do efeito da idade relativa nos ambientes mais competitivos.
Relativamente à avaliação do efeito da idade relativa por função específica no jogo, a
análise inferencial revelou efeito significativo em todas as funções específicas, excepto
“pivot”. O estudo desenvolvido por Mazzardo et al. (2016) sobre o futsal no Brasil verifi-
cou a existência do efeito da idade relativa para todas as funções específicas. Segundo
os autores, e ao contrário do que acontece no futebol, as posições no campo são apenas
representações teóricas da estrutura táctica das equipas, uma vez que, na dinâmica do
jogo, os jogadores são obrigados a participar de forma similar em todos os momentos,
com exigências físicas semelhantes. Vários investigadores avaliaram as exigências e os
padrões de actividade dos jogadores de futsal durante a competição. O número ilimitado
de substituições faz com que a intensidade do jogo se mantenha elevada durante todo o
jogo (Barbero-Alvarez, Soto, Barbero-Alvarez, & Granda-Vera, 2008). Numa perspectiva
táctica, o desenvolvimento recente do sistema ofensivo “4:0” e do método de jogo defensi-
vo “individual-pressionante” aumentou as exigências do jogo. Barbero-Alvarez et al. (2008)
não observaram diferenças significativas entre funções específicas no jogo no que respeita
à distância percorrida a diferentes intensidades, reflectindo padrões de movimento seme-
lhantes, excluindo naturalmente os guarda-redes. Esta evidência demonstra a versatili-
dade dos jogadores de futsal, confirmada também neste estudo, onde 26% dos jogadores
desempenhavam duas ou mais funções (“universal”), dependendo das circunstâncias do
jogo, das necessidades específicas da equipa em cada momento, ou das características
dos jogadores (Barbero-Alvarez et al., 2008).
No que se refere às diferenças encontradas neste estudo para a função específica “pivot”,
importa referir que esta é apenas utilizada num dos três sistemas ofensivos mais comuns
no futsal actual (o sistema “3:1”), não fazendo parte da estrutura dos outros dois sistemas
(4:0” e “2:2”). É uma função muito específica, que requer características particulares para
que o sistema seja efectivo: usualmente exige jogadores bem constituídos fisicamente e que
finalizm bem, com capacidade para segurar a bola de costas para a baliza adversária em si-
tuações de inferioridade numérica, tecnicamente evoluídos e fortes nas situações ofensivas
de “1!1”. Estas características fazem do “pivot” um jogador diferenciado, muito pretendido
pelos treinadores para que possam variar o seu sistema durante o jogo. É, por isso, normal
que, sendo poucos os jogadores com estas características (apenas 11% da amostra masculi-
na deste estudo), o efeito da idade relativa não se tenha manifestado nesta função específica.
Estando confirmada a existência do efeito da idade relativa no futsal masculino em Por-
tugal, e sabendo que este resulta em perda de potencial para a identificação de talentos
(Delorme et al., 2010) e que, a longo prazo, contribui para a redução do nível das selecções
nacionais, será importante promover estratégias que diminuam o seu impacto, especial-
mente nas regiões do país com maior número de praticantes (níveis competitivos médio e
alto). Na literatura científica, várias são as soluções de intervenção propostas. Pierson et
al. (2014), Padrón-Cabo, Rey e García-Soidán (2016), e Smith, Weir, Till, Romann e Cobley
(2018) sugerem uma combinação de: (a) adaptações ao nível da estrutura organizacional das
competições desportivas (como a diminuição do período de tempo de cada escalão, a criação
de datas intermédias de corte dos escalões etários ou a utilização de um sistema de cotas de
participação dos mais novos de cada escalão), com (b) a intervenção que leve à prestação de
apoio adicional (reforço do processo de ensino/aprendizagem) aos jogadores mais novos de
cada escalão etário. Uma possibilidade para identificação de talentos nos eventos passa por
utilizar números nas camisolas que reflictam a idade dos jogadores (Mann & van Ginneken,
2017). Ainda no processo de detecção de talentos, deve proporcionar-se aos treinadores e a
outros decisores critérios e indicadores do potencial de desempenho e de desenvolvimento
desportivo, mais do que da capacidade competitiva actual (Júnior et al., 2017; Kirkendall,
2014). Compreender o processo de desenvolvimento de longo prazo e as diferenças multi-
dimensionais entre as exigências ao nível da adolescência e as exigências ao nível de elite
02
(adultos) pode constituir um objectivo mais realístico para avaliar os jogadores com talento
potencial (Burgess & Naughton, 2010; Augste & Lames, 2011). É, portanto, fundamental
investir na formação dos treinadores, incluindo nos cursos de formação conceitos teóricos
sobre a identificação de talentos e, contrariamente à noção que prevalece actualmente de
que o talento é determinado geneticamente, deve ser enfatizado o potencial do processo de
desenvolvimento dos jogadores (Augste & Lames, 2011).
Este trabalho revela duas perspectivas para promover o desenvolvimento equilibrado do
futsal em Portugal. A primeira, dirigida às Associações de Futebol com níveis competitivos
mais elevados, onde é importante mitigar o efeito da idade relativa. A segunda, centrada
no futsal feminino em geral e no futsal masculino nas Associações de Futebol do interior
do país (com baixo nível competitivo), onde é necessário implementar medidas de inter-
venção ao nível: (a) do desporto escolar (principalmente no primeiro ciclo de escolaridade),
para aumentar significativamente a percentagem de crianças com prática desportiva fe-
derada, revertendo a alta taxa de absentismo que existe; (b) do poder local, onde a regio-
nalização é um imperativo para apoio à criação de clubes desportivos; e (c) da FPF, com a
criação de centros de treino, processo semelhante ao que foi já implementado no futebol
feminino, sob coordenação da equipa técnica nacional e onde se promove a proximidade
aos jogadores com maior potencial como veículo privilegiado de identificação e formação.
REFERÊNCIAS
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02
03Efeito do espelho na oscilação
postural de bailarinas
PLAVRAS CHAVE:
Controle postural estático.
Centro de pressão.
Informação visual. Ballet.
SUBMISSÃO: 9 de Fevereiro de 2019ACEITAÇÃO: 30 de Abril de 2019
RESUMO
Este estudo objetivou investigar os efeitos do uso do espelho na oscilação postural estáti-
ca de praticantes experientes de ballet. Uma plataforma de força foi usada e as seguintes
variáveis do comportamento do centro de pressão foram calculadas: raiz quadrática média
da oscilação corporal e velocidades médias de oscilação nas direções anteroposterior e
mediolateral. Participaram voluntariamente do estudo 14 bailarinas experientes e 14 jo-
vens fisicamente ativas não-bailarinas, com idade média de 23 anos. Foram realizadas três
tentativas em apoio bipodal por 30 s nas condições visuais: olhos abertos, olhos fechados
e de frente para um espelho. A contribuição da informação visual para a correção postural
foi estimada pelo coeficiente de Romberg, calculado com as velocidades médias de osci-
lação do centro de pressão. Valores maiores para as velocidades médias de oscilação do
centro de pressão na direção médio-lateral foram encontrados para o grupo “ballet” na
condição de “olhos abertos” (2.00 ± 0.93 cm/s, p = .02), de “olhos fechados” (3.36 ± 1.51
cm/s, p < .01), assim como na condição de frente para o espelho (1.79 ± 0.89 cm/s, p = .01).
Adicionalmente, os coeficientes de Romberg não foram diferentes entre os grupos e foram
maiores na condição “espelho” do que na condição “olhos abertos” em ambas as direções.
Em conclusão, as bailarinas demandaram maior atividade postural para realizar as corre-
ções necessárias e usaram a informação visual do espelho da mesma maneira que as não-
-bailarinas. Além disso, o uso do espelho não favoreceu a redução da oscilação postural.
AUTORES:
Paula Hentschel Lobo da Costa 1,2
Isabella de Oliveira Freguglia 2
Érica Maria Corrêa 2
Marcus Fraga Vieira 3
1 Departamento de Educação Física e Motricidade Humana, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil2 Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil3 Laboratório de Bioengenharia e Biomecânica, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil
https://doi.org/10.5628/RPCD.19.01.42
Correspondência: Isabella de Oliveira Freguglia. Rua Silmara Francine Otaviano, nº 30. Piracicaba – SP, Brasil.
email: [email protected]
43 — RPCD 19 (1): 42-52
The mirror effect on the postural oscillation
of ballet dancers.
ABSTRACT
This study aimed to investigate the effects of using a mirror on static
standing balance of experienced female ballet dancers. A force platform
was used and the following center of pressure variables were calculat-
ed: root mean squares of the center of pressure positions and mean
velocities in the anterior-posterior and medial-lateral directions. Two
groups of 14 female volunteers, mean age of 23 years old, participated
in the study: one group of experienced ballet dancers and another group
of active non-dancers. The volunteers made three attempts in bipodal
support for 30 s in the following visual conditions: eyes opened, eyes
closed and in front of a mirror. The visual contribution to postural steadi-
ness was estimated by the Romberg coefficient calculated for the center
of pressures mean velocities. The results showed higher values for the
mean velocities of the center of pressure in the medial-lateral direction
for the “ballet” group in the “eyes-open” condition (2.00 ± 0.93 cm/s, p
= .02), in the “eyes-closed” condition (3.36 ± 1.51 cm/s, p < .01), as well
as in the “mirror” condition (1.79 ± 0.89 cm/s, p = .01). Romberg coef-
ficients were not different between groups. The “mirror” condition in-
creased Romberg coefficients when compared to “eyes open” condition
for both directions. In conclusion, ballet dancers demanded higher pos-
tural activity to maintain standing balance and used the visual feedback
provided by the mirror the same way as the non-dancers. In addition,
the use of a mirror did not improve postural corrections.
KEYWORDS:
Postural balance. Center of pressure.
Visual information. Ballet.
45 — RPCD 19 (1)
INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje o ballet clássico também é visto como uma forma de atividade física que,
além de técnica rigorosa, exige altos níveis de rendimento físico e conhecimento musi-
cal e teatral dos bailarinos (Gomez-Guzmán, 2017). Tanto a prática quanto o ensino do
ballet clássico baseiam-se nas tradições das diferentes escolas, tais como a francesa, a
inglesa e a russa (Ambegaonkar et al., 2013). O conhecimento científico sobre as técnicas
do ballet clássico tem evoluído (Hutt & Redding, 2014), norteado pela necessidade de se
compreender melhor os mecanismos de controle de movimentos complexos como os giros
e as poses de equilíbrio, além dos fatores que podem predispor o aparelho locomotor de
bailarinos a lesões (Sobrino, de la Cuadra, & Guillén, 2015).
Uma das capacidades físicas mais requeridas pela prática do ballet clássico é o equilí-
brio corporal estático. Este pode ser definido como um estado caracterizado por forças e
torques balanceados que incidem sobre o corpo e garantem a permanência em uma posi-
ção, de forma que a projeção do centro de massa sobre o solo esteja dentro da área que
compreende a base de apoio (Crotts, Thompson, Nahom, Ryan, & Newton, 1996). Durante
a execução das poses de equilíbrio do ballet clássico, chamadas ballancé, ocorrem trans-
ferências de peso que reposicionam continuamente o centro de massa em torno do eixo
corporal e relativamente à base de apoio do corpo. Bailarinos praticam tarefas de equilí-
brio desde os primeiros anos de estudo e considera-se que estes tenham elevados níveis
de aptidão em estabilidade postural estática (Kiefer et al., 2011).
Entretanto, estudos que impuseram maiores dificuldades ao equilíbrio corporal, como uma
mudança no tipo de superfície de apoio ou privação da informação visual, revelaram que baila-
rinos apresentaram respostas inferiores quanto à estabilidade postural estática (Pérez, Solana,
Murillo, & Hernández, 2014; Simmons, 2005). Esse efeito provavelmente deve-se à constante
ênfase sobre a informação visual durante o treinamento de bailarinos, que pode torná-los mais
dependentes desta para o controle postural. Neste contexto, a busca por uma execução plasti-
camente perfeita exige muitas vezes a rotina de exercitar-se em frente a espelhos. Porém, não é
conhecido como o uso frequente do espelho afeta o controle do equilíbrio estático de bailarinos.
O objetivo do presente estudo foi verificar o papel do uso do espelho no controle pos-
tural de bailarinas e jovens fisicamente ativas. A fim de aumentar o desafio postural da
posição bipodal, foi imposta uma maior instabilidade na superfície de apoio através do
uso de uma espuma. As hipóteses são: (a) bailarinas experientes oscilam menos que
não-bailarinas fisicamente ativas; (b) bailarinas experientes corrigem mais a oscilação
postural quando usam o espelho do que não-bailarinas fisicamente ativas,; (c) a maior
disponibilidade de informação visual dada pelo espelho produz mais oscilação postural
do que a condição de olhos abertos com foco em alvo fixo.
03METODOLOGIA
PARTICIPANTES
Vinte e oito jovens mulheres, entre 15 e 30 anos, participaram voluntariamente deste estu-
do que respeitou as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração
de Helsínquia de 1975). Estas foram agrupadas em: (a) grupo de bailarinas (grupo ballet),
composto por 14 bailarinas experientes não profissionais, com idade média de 23 ± 5.4
anos, massa média de 61.0 ± 3.7 quilos e estatura média de 1.67 ± 7.4 m, e (b) grupo de jo-
vens universitárias fisicamente ativas (grupo controle) pareadas pela idade, composto por
14 universitárias, com idade média de 22.5 ± 1.4 anos, massa média de 61.5 ± 6.7 quilos e
estatura média de 1.63 ± 5.6 m. Estas praticavam modalidades como musculação, futsal,
triathlon, natação e pilates há um tempo médio de 2.5 anos.
Como critérios de inclusão, todas deveriam ter pelo menos quatro anos de prática diária
de ballet (para o grupo ballet); para o grupo controle, as jovens deveriam ser fisicamente
ativas, não possuir qualquer experiência com a prática do ballet, e ser praticantes diárias
de qualquer atividade física ou modalidade esportiva há pelo menos dois anos. Esta pes-
quisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade
(Parecer no 939.026), sendo necessário o preenchimento do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, por todas as participantes, antes do início do estudo.
DESENHO EXPERIMENTAL E PROCEDIMENTOS
Este foi um estudo transversal que utilizou o método dinamométrico. Um protocolo de
posturografia com plataforma de força (Advanced Mechanical Technology, Inc., modelo
1396, USA) foi elaborado para quantificar variáveis de interesse do comportamento do
centro de pressão (CoP) na postura em pé estática. O protocolo consistia em resposta
a um questionário, seguido pelos testes na plataforma de força. Todas as participantes
estavam descalças em apoio bipodal. O afastamento dos pés foi auto-selecionado, porém
mantido no limite entre 10 e 15 cm entre as bordas mediais. Os membros superiores foram
mantidos soltos ao longo do corpo.
Três tentativas válidas na posição de pé em cima de uma espuma selada com densida-
de de 33 g/cm3 foram realizadas nas seguintes condições visuais: “olhos abertos”, “olhos
fechados” e “de frente para o espelho”. A densidade da espuma impedia o contato dos pés
com a superfície rígida da plataforma de força. Na condição de “olhos abertos”, as volun-
tárias deveriam focar um alvo branco fixo localizado a 1.5 m à sua frente. Na condição
“espelho”, um espelho de 1.9 m de altura por 0.8 m de largura foi fixado na parede a 1.5 m
de distância em frente à voluntária. Este refletia o corpo todo da participante e nenhuma
instrução especial foi dada quanto ao foco da visão durante as tentativas nesta condição.
Cada tentativa teve a duração de 30 s, com um intervalo de descanso de 30 s entre elas,
tendo os dados sido coletados a 100 Hz.
47 — RPCD 19 (1)
03ANÁLISE DE DADOS
O grau de controle postural foi avaliado através do comportamento do CoP e as foram
calculadas as variáveis globais (Prieto, Myklebust, Hoffmann, Lovett, & Myklebust, 1996)
relativas à raiz quadrática média (RMS) das posições do CoP nas direções anteroposterior
(RMS-AP) e mediolateral (RMS-ML), dada em cm, e as respetivas velocidades médias de
oscilação (VEL-AP e VEL-ML), dadas em cm/s. Foi utilizado um código elaborado em am-
biente MATLAB (Mathworks, USA) e levou-se em consideração a deformação da espuma
para o cálculo destas variáveis. Um filtro Butterworth passa-baixa de segunda ordem com
frequência de corte de 12.5 Hz foi usado para filtrar o sinal bruto do CoP. Após a remoção da
tendência do sinal do CoP em variar em torno do valor médio, a raiz quadrática média das
trajetórias do CoP nas direções anteroposterior e mediolateral foi usada para o cálculo das
oscilações. As velocidades do CoP nas duas direções foram calculadas pela diferenciação
dos respetivos deslocamentos.
O coeficiente de Romberg tem sido usado para a investigação da dependência visual
na estabilidade postural estática (Cornilleau-Pérès et al, 2005; Silva, Nadal, & Infanto-
si, 2012). Assim, a fim de se verificar a contribuição visual para a estabilização postural
dada tanto pela condição “olhos abertos”, quanto pela condição “espelho”, foi calculado o
coeficiente de Romberg com as velocidades de oscilação nas direções anteroposterior e
mediolateral. Este é mensurado pela razão entre o valor da velocidade do CoP tomada na
condição “olhos fechados” pelo valor tomado na condição “olhos abertos” (Romberg_OA).
O mesmo cálculo foi feito, mas considerando-se no denominador o valor da mesma variá-
vel na condição “espelho” (Romberg_Espelho).
A média de três tentativas válidas de cada sujeito em cada condição experimental foi
usada para análise. As análises estatísticas dos dados foram feitas no programa SPSS
Statistics 17.0 (IBM, USA). Inicialmente, foi testada a normalidade da distribuição dos da-
dos através do teste de Shapiro-Wilk. Para a comparação das variáveis dependentes entre
os grupos ballet e controle foi utilizado o teste U de Mann-Whitney, e para as comparações
entre as condições visuais “olhos abertos” e “espelho” foi usado o teste de ordenação em-
parelhada de Wilcoxon, pois as variáveis apresentaram distribuição aleatória. O nível de
significância para a identificação de diferenças foi definido como 5%.
RESULTADOS
As medidas antropométricas não mostraram diferenças entre os dois grupos, pelo que se po-
derá considerar que os dados de massa e estatura não influenciaram os resultados obtidos
para o comportamento do centro de pressão. Na condição “olhos abertos” foram encontradas
diferenças entre o grupo ballet e controle para a RMS da oscilação e para a VEL de oscilação,
ambas na direção mediolateral. O grupo ballet apresentou maiores RMS e VEL que o grupo
controle (QUADRO 1). Não houve diferenças para as variáveis na direção anteroposterior.
Para a condição “olhos fechados”, foram encontradas diferenças para RMS e VEL na di-
reção mediolateral, com maiores valores produzidos pelo grupo ballet. Na direção antero-
posterior não houve diferenças (QUADRO 1). Na condição “espelho”, o grupo ballet também
apresentou valores maiores para a RMS da oscilação e VEL de oscilação do CoP na direção
mediolateral. Já para a variável na direção anteroposterior, a RMS para o grupo ballet foi
menor que a do grupo controle (QUADRO 1).
QUADRO 1. Resultados médios e desvios-padrão para RMS e velocidade do centro de pressão nas direções anteroposterior (AP) e mediolateral (ML) e condições “olhos abertos”, “olhos fechados” e “espelho” para os grupos ballet (BA) e controle (C).
Condições Grupos RMS-AP (cm) RMS-ML (cm) VEL-AP (cm/s) VEL-ML (cm/s)
Olhos Abertos
BA (n = 14) 0.43 (± 0.16) 1.48 (± 0.99) 0.98 (± 0.21) 2.00 (± 0.93)
C (n = 14) 0.51(± 0.17) 0.36 (± 0.98) 1.04 (± 0.16) 1.04 (± 0.16)
p-valor .07 < .01 .23 .02
Olhos Fechados
BA (n = 14) 0.70 (± 0.17) 4.34 (± 3.4) 2.10 (± 0.80) 3.36 (± 1.51)
C (n = 14) 0.75 (± 0.18) 0.58 (± 0.19) 2.42 (± 1.43) 1.58 (± 0.81)
p-valor .58 < .01 .58 < .01
Espelho
BA (n = 14) 0.49 (± 0.23) 1.46 (± 1.12) 0.93 (± 0.19) 1.79 (± 0.89)
C (n = 14) 0.59 (± 0.17) 0.40 (± 0.10) 0.94 (± 0.13) 0.85 (± 0.14)
p-valor .03 .02 .89 .01
O coeficiente de Romberg é um indicador de como a oscilação postural provocada pela
condição “olhos fechados” é corrigida ao se abrir os olhos e, de outra forma, ao se visuali-
zar a imagem refletida no espelho, é feita correção feita na condição “espelho”. A correção
postural causada pela condição “olhos abertos” foi chamada de Romberg_OA e pela con-
dição “espelho” de Romberg_Espelho. Os resultados dos coeficientes de Romberg, tanto
na condição “olhos abertos” quanto na condição “espelho” não foram diferentes entre os
grupos (QUADRO 2). Assim, os grupos ballet e controle não diferiram quanto ao uso da infor-
mação visual para corrigir a oscilação postural causada ao se fechar os olhos, tanto na
condição de olhos abertos, quanto na condição de frente para o espelho.
49 — RPCD 19 (1)
03QUADRO 2. Resultados médios e desvios-padrão para os coeficientes de Romberg_OA e Romberg_Espelho nas direções anteroposterior (AP) e mediolateral (ML) para os grupos ballet (BA) e controle (C). OF (“olhos fechados”) e OA (“olhos abertos”).
Coeficiente
Romberg
AP
OF/OA
AP
OF/Espelho
ML
OF/OA
ML
OF/Espelho
Ballet (n = 14) 2.06 (± 0.51) 2.18 (± 0.47) 1.94 (± 0.91) 2.16 (± 1.51)
Controle (n = 14) 2.23 (± 1.1) 2.48 (± 1.3) 1.52 (± 0.62) 2.17(± 1.41)
p-valor .85 .76 .85 .79
Ao se agrupar os resultados do coeficiente de Romberg entre todas as participantes, procu-
rou-se identificar se a correção postural produzida pela condição “olhos abertos”, com o foco
visual fixo em um alvo, equivale àquela produzida pela condição “espelho”, na qual há informa-
ção visual aumentada, dado o reflexo do próprio corpo logo à frente. Comparando-se os coefi-
cientes de Romberg_OA com o Romberg_Espelho, tanto para a VEL-AP quanto para a VEL-ML,
o teste de Wilcoxon revelou que estes foram maiores para a condição “espelho” (QUADRO 3).
QUADRO 3. Resultados de médias e desvios-padrão para os coeficientes de Romberg_OA e Romberg_Espelho nas direções anteroposterior (AP) e mediolateral (ML) para todas as participantes. OA (“olhos abertos”).
Coeficientes de Romberg AP ML
Romberg_OA (n = 28) 2.15 (± 0.85) 1.73 (± 0.79)
Romberg_Espelho (n = 28) 2.33(± 0.95) 2.17 (± 1.4)
p-valor .03 .04
DISCUSSÃO
O objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos do uso do espelho na oscilação pos-
tural de praticantes experientes de ballet, habituadas ao seu uso diário. Foi comparada
a oscilação postural estática em um grupo de bailarinas experientes e outro de jovens
fisicamente ativas, pareadas pela idade, em diferentes situações de disponibilidade de in-
formação visual: de “olhos abertos” com olhar fixo a um alvo, de “olhos fechados” e “de
frente para um espelho”. Uma superfície de espuma foi usada como base de apoio, a fim de
desafiar mais a tarefa de ficar em pé em apoio bipodal.
O uso de uma espuma sobre a superfície de apoio é uma estratégia efetiva para confundir a
informação somatossensorial e demandar dependência extra do sistema visual (para a condi-
ção de “olhos abertos”) e do sistema vestibular (para a condição de “olhos fechados”). Assim,
a utilização de uma espuma para apoio desafia a tarefa de equilíbrio bipodal, criando uma per-
turbação multidirecional na estabilidade (Patel, Fransson, Johansson, & Magnusson, 2011).
O valor RMS é um indicador da variabilidade na amplitude de deslocamento do CoP. Por sua
vez, a VEL média de oscilação é a medida do quão rápido foram os deslocamentos do centro
de pressão (Duarte & Freitas, 2010). Esta é considerada umas das variáveis mais confiáveis
da magnitude das oscilações posturais (Silva et al., 2012)y e, portanto, um indicador do grau
de correção postural necessária durante a tarefa de ficar em pé parado. Além disso, é vista
como a melhor variável para se discriminar grupos etários (Hunter, & Hoffman, 2001) e dife-
rentes condições experimentais (Silva et al., 2012). As principais diferenças entre os grupos
foram observadas para a direção mediolateral, fato que provavelmente reflete a perturba-
ção sobre a informação sensorial propriocetiva causada pelo apoio na espuma (Silva et al.,
2012)y, uma vez que a distância entre os pés foi controlada.
Os maiores valores encontrados no grupo ballet para as variabilidades e velocidades do
centro de pressão na direção mediolateral em todas as condições visuais testadas contra-
dizem a primeira hipótese formulada. Estes resultados são indicativos de que o grupo bal-
let demanda maiores níveis de atividade de correção postural para o controle das oscila-
ções do centro de massa provocadas pelas condições experimentais impostas. É provável
que bailarinos tenham uma maior dependência da informação visual para este controle
(Bruyneel, Mesure, Paré, & Bertrand, 2010) o que já foi sugerido quando estes foram com-
parados a jovens ativos como atletas de judô (Perrin, Deviterne, & Hugel, 2002). A maior
dependência visual de bailarinos também foi observada quando estes foram comparados
a não-bailarinos (Pérez et al., 2014), pois os primeiros tiveram desempenhos posturais
inferiores na condição de “olhos fechados”.
Como nenhuma instrução quanto ao objeto a ser focado foi dada às participantes durante as
tentativas na condição “espelho”, estas puderam manter seu olhar livre. Por outro lado, a condição
“olhos abertos” exigiu que as participantes mantivessem o olhar no alvo fixo exatamente à frente.
Ao refletir a própria imagem, a condição “espelho” oferece maior quantidade de informação vi-
sual. Se, nesse caso, o foco visual for o próprio corpo, este também está oscilando. Além disso, o
indivíduo tem à sua disposição uma abundância de informações visuais que podem demandar um
tempo maior para a tomada de decisão sobre o alvo a ser escolhido para manter os olhos fixos.
Porém, os movimentos dos olhos não foram controlados neste estudo e não é possível afirmar
qual foi o objeto focado pelas participantes durante as tentativas com os olhos abertos.
Os grupos estudados não foram diferentes quanto ao uso da informação visual fornecida
pela condição “espelho” para a correção postural, fato que está em desacordo com a segun-
da hipótese formulada. Este resultado não era esperado, dada a conhecida rotina de uso do
espelho na prática diária do ballet, que supostamente provocaria adaptações importantes em
favor deste grupo quanto ao uso da informação fornecida pelo espelho para a correção das
oscilações posturais. Resultados semelhantes já foram encontrados antes (Miller et al., 2018)
51 — RPCD 19 (1)
03segundo os quais o uso do espelho não afetou o equilíbrio dinâmico de bailarinas, porém a
frouxidão ligamentar. Mesmo após 32 aulas de ballet usando espelhos, o controle postural di-
nâmico de estudantes de ballet não foi superior ao do grupo que não usou os espelhos em sua
prática (Notarnicola et al., 2014). Adicionalmente, um grupo de bailarinas que não utilizou o
espelho teve desempenho técnico superior na execução do passo addagio, quando comparado
ao grupo que praticou com o espelho (Radell, 2003).
No presente estudo, o coeficiente de Romberg revelou que a condição “espelho” corrigiu
menos o aumento das velocidades das oscilações posturais dadas quando os olhos esta-
vam fechados, quando comparada à condição “olhos abertos”, fato que concorda com a
terceira hipótese formulada. Assim, é possível que a condição “espelho” tenha dificultado
a identificação de qual informação visual era a mais relevante para a correção postural e,
assim, atrasou a efetivação das compensações.
O presente estudo pode ser um dos primeiros a comparar as oscilações posturais de
praticantes experientes de ballet com as de jovens fisicamente ativas não-bailarinas nas
condições com olhar fixo em um alvo e de frente para o espelho. Em conjunto, estes resul-
tados e de estudos prévios semelhantes sugerem que a prática do ballet deva desenvol-
ver adaptações específicas que provavelmente não sejam transferidas para situações de
equilibrar o corpo de olhos fechados em condição quase-estática. Estas adaptações devem
relacionar-se mais à capacidade de dançar em ambientes diversos, com dimensões espa-
ciais e iluminação variadas, além da visão ser mais empregada para a orientação espacial
e correção técnica (Miller et al., 2018; Notarnicola et al., 2014. O uso frequente do espelho
deve inibir a capacidade dos bailarinos de se concentrar na dinâmica do movimento (Ra-
dell, 2003) e também estimular o uso contínuo da informação visual, criando maior depen-
dência da visão para a correção das oscilações posturais estáticas (Bruyneel et al., 2010).
Os resultados dos coeficientes de Romberg revelam que a informação visual aumenta-
da, provida ao se abrir os olhos de frente para um espelho, não favoreceu a correção das
oscilações posturais provocadas ao se fechar os olhos, mesmo em indivíduos habituados ao
seu uso. Assim, é possível que a condição “espelho” seja equivalente a uma condição de ta-
refa dupla e todos os participantes do presente estudo estejam sendo distraídos pela própria
imagem refletida no espelho, sem priorizar um alvo visual para o controle do equilíbrio pos-
tural estático. Assim, pode-se dizer que a informação visual fornecida pelo espelho foi me-
nos relevante para as correções das oscilações posturais do que quando se usa um alvo fixo.
Estas são evidências de que as informações sensoriais adquiridas pela propriocepção e
pelo sistema vestibular não foram suficientes para compensar as oscilações provocadas
pela ausência da visão e pela abundância de informações visuais, dada pelo espelho. Estes
fatos são especialmente relevantes quando se considera que, no presente estudo, o apoio
foi feito sobre uma superfície de espuma que exigiu atividade aumentada do sistema ves-
tibular e propriocetivo. Portanto, se a visão é de fato o mecanismo dominante no controle
postural estático, bailarinos poderiam se beneficiar de um tipo de treinamento vestibular
e propriocetivo que estimule os mecanismos de integração sensorial e reduza a relativa
dependência da visão para uma melhor execução das poses de equilíbrio.
Em conclusão, as bailarinas participantes deste estudo demandaram maior atividade
postural para realizar as correções necessárias pelas condições visuais impostas. A con-
tribuição visual dada pelo espelho para o controle das oscilações posturais estáticas não
equivale à condição de olhos abertos com foco em alvo fixo. Além disso, a informação
visual fornecida pelo espelho não favoreceu as correções posturais quando comparada à
situação de olhos abertos, porém bailarinas experientes e jovens fisicamente ativas usam
a informação do espelho de maneira semelhante.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem às jovens que participaram deste estudo, às escolas de Ballet pelo
apoio e à Victória Maria Celestini pela coleta de dados.
REFERÊNCIAS
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04
53 — RPCD 19 (1): 53-63
A relação entre antropometria
e desempenho em testes
de potência e agilidade em
jogadores de polo aquático
PLAVRAS CHAVE:
Avaliação. Esporte.
Desempenho. Polo aquático.
SUBMISSÃO: 22 de Janeiro de 2019ACEITAÇÃO: 30 de Abril de 2019
RESUMO
O desempenho no polo aquático depende de jogadores com adequadas características an-
tropométricas e com boas capacidades coordenativas e condicionais. Essas características
permitem deslocamentos rápidos e intensos, e eficiente organização coletiva de ataque e de-
fesa. O objetivo deste estudo foi avaliar a existência de relação entre parâmetros antropomé-
tricos e de desempenho em testes de potência e agilidade, realizados fora e dentro da água,
em jogadores de polo aquático de nível regional. Doze jogadores do sexo masculino (32.6 (
7.9 anos de idade, 12.7(9.7 anos de experiência em treinos e competições) participaram des-
te estudo. Após avaliação antropométrica, os jogadores realizaram testes de salto vertical
em terra, salto vertical na água em eggbeater, velocidade da bola após arremesso e agilida-
de em polo aquático. Testes de correlação apontaram correlação estatística entre estatura e
altura atingida no salto vertical em eggbeater, massa corporal total e altura atingida no salto
vertical em terra, massa corporal total e potência de membros inferiores e salto vertical em
terra e potência de membros inferiores relativa à massa corporal. Não foi encontrada rela-
ção entre os desempenhos nos testes dentro e fora da água. Resultados foram similares ou
inferiores aos de jogadoras de polo aquático de nível internacional.
AUTORES:
Camila Dias de Castro 1, 2
Guilherme Tucher 1, 3
Emilson Colantonio 4
Flávio Antônio S Castro 1, 2
1 Grupo de Pesquisa em Esportes Aquáticos,
Escola de Educação Física, Fisioterapia e
Dança, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil2 Escola de Educação Física, Fisioterapia
e Dança, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil 3 Escola de Educação Física e Desportos,
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil4 Departamento de Ciências do
Movimento Humano, Universidade
Federal de São Paulo, Santos, SP, Brasil
https://doi.org/10.5628/RPCD.19.01.53
Correspondência: Flávio Antônio de Souza Castro. Rua Felizardo, 750, Centro Natatório, ESEFID, Jardim Botânico, Porto
Alegre, RS, Brasil. email: [email protected]
04Relationship between anthropometry
and performance in power and agility tests
in water polo players
ABSTRACT
Water polo performance depends on players with both adequate anthro-
pometric characteristics and good coordinative and conditional skills.
These features enable rapid and intense displacements, as well as an
efficient collective organization of attack and defense. The aim of this
study was to evaluate the relationship between anthropometric and per-
formance parameters in power and agility tests, conducted in and out
of the water, in regional-level water polo players. Twelve male players
(32.6�(�7.9 years old, 12.7�(�9.7 years of training and competition expe-
rience) participated in this study. After anthropometric measurements
were taken, the athletes performed tests of dry-land vertical jump, on-
-water eggbeater vertical jump, ball speed after throwing, and agility
in water polo. Correlation tests found statistical correlation between
height and height achieved in dry-land vertical jump in eggbeater, to-
tal body mass and height achieved in dry-land vertical jump, total body
mass and lower limb power, and dry-land vertical jump and lower limb
power relative to body mass. No relationship was found between in and
out of water test performances. Results were similar to or below those
of world-class female water polo players.
KEYWORDS:
Assessment. Sport. Performance.
Water polo.
55 — RPCD 19 (1)
INTRODUÇÃO
O polo aquático é uma modalidade coletiva de invasão cujo objetivo é marcar gols na equi-
pa adversária (Lamas, Barrera, Otranto, & Ugrinowitsch, 2014). Suas ações intermitentes
de alta intensidade (movimentação rápida e potente dos jogadores em situações de arre-
messo e disputas pela posse de bola, passes e busca por espaço) correspondem a cerca
de 70% do tempo de jogo (D’Auria & Gabbett, 2008; Smith, 1998). Características antropo-
métricas como tamanho corporal, perímetro de braço, diâmetro biacromial e femoral, em
alguns estudos, apresentaram relação com a velocidade máxima de arremesso da bola
que origina o gol (Ferragut et al., 2011; Vila Suárez et al., 2009). Assim, o desempenho
competitivo no polo aquático depende de jogadores com adequadas características antro-
pométricas e boas capacidades coordenativas e condicionais, que permitam deslocamen-
tos rápidos e intensos (Ferragut et al., 2011; Tucher et al., 2014; Veliz, Requena, Suarez-
-Arrones, Newton, & Villarreal, 2014) e suficiente organização coletiva de ataque e defesa
(Lupo, Condello, Capranica, & Tessitore, 2014; Pérez, Ordóñez, & González, 2016).
Como parâmetros de desempenho coletivo no polo aquático, tem sido estudado o per-
centual de gols realizados em relação ao número de arremessos, ataques e gols realizados
em igualdade ou superioridade numérica, local e distância ao gol no qual o arremesso
foi realizado, organização ofensiva e defensiva, bem como a influência destes fatores no
resultado da partida (Escalante et al., 2012; Lupo et al., 2014; Pérez et al., 2016). Por ou-
tro lado, como parâmetro de desempenho individual, encontra-se a avaliação da potência
de membros inferiores (Platanou, 2006), da potência de membros superiores (Abraldes,
Ferragut, Rodríguez, Alcaraz, & Vila, 2011; Alcaraz et al., 2011) e dos deslocamentos rápi-
dos em ataque e defesa que acontecem próximos ao gol (Tucher, Castro, Silva, & Garrido,
2016). Tais parâmetros podem ser identificados por meio do salto vertical fora e dentro
de água, pela velocidade da bola após arremesso a gol e em teste específico de agilidade
(Abraldes et al., 2011; Platanou, 2006, Tucher et al., 2016).
A maior parte dos estudos com polo aquático foi realizada com jogadores internacionais
e de elevado nível de desempenho (Ferragut et al., 2011). Apesar desses resultados serem
importantes e servirem de referência, dados de jogadores de nível regional podem ajudar
a melhor caracterizar o desempenho e também ajudar treinadores e estudiosos da modali-
dade. Além disso, ainda que testes de potência de membros inferiores e superiores realiza-
dos dentro e fora da água sejam comuns no polo aquático, não se conhece a existência de
relação entre características antropométricas selecionadas e o desempenho em potência
e agilidade. Deste modo, o principal objetivo deste estudo foi avaliar a existência de relação
entre parâmetros antropométricos e de desempenho em testes de potência e agilidade,
realizados fora e dentro da água, em jogadores de polo aquático de nível de rendimento re-
gional. De modo secundário, objetiva-se a apresentação descritiva do desempenho destes
jogadores, como parâmetros de comparação para treinadores e estudiosos da área.
04ção do teste, foram utilizados uma câmera de vídeo (Sanyo, VPC-WH1, Osaka, Japão) operan-
do a 60 Hz sobre um tripé e um calibrador vertical (1,5 m de comprimento). Posteriormente,
as imagens foram analisadas (quadro-a-quadro, software Kinovea®), transformando pixels
em metros e identificando-se a altura atingida no salto vertical na água em eggbeater pelo
ponto extremo da mão em relação à superfície da água. Aquecimento em eggbeater, por 3
min, com deslocamentos livres pela piscina, foi realizado antes do protocolo.
No teste de velocidade da bola após arremesso (m.s-1) (Ferragut et al., 2011; Skoufas
et al., 2003) cada participante arremessou a bola três vezes ao gol a partir da distância
do pênalti (5 m) e perpendicularmente à meta (traves) de tamanho oficial sem goleiro.
Observou-se intervalo de 1 min entre os arremessos, a fim de se evitarem possíveis efeitos
da fadiga. Foi considerado como referência de desempenho o arremesso que alcançou a
maior velocidade entre os três. Os arremessos que não atingiram diretamente o gol ou
tocaram na água antes de atingi-lo foram desconsiderados e nova tentativa foi oportu-
nizada. A velocidade da bola após arremesso a gol foi mensurada com uma pistola radar
(Bushnell®, Kansas City, EUA) que opera na banda K, cobrindo frequências de 26.5-40 GHz
(Skoufas et al., 2003). Aquecimento com passes e arremessos livres, na piscina, por 3 min,
em deslocamentos livres, foi realizado antes do protocolo.
A agilidade (s) foi testada por meio do Teste Funcional de Desempenho da Agilidade
(Tucher, Castro, Silva, & Garrido, 2015; Tucher et al., 2016). Neste teste, mede-se o tempo
necessário para o jogador se deslocar o mais rapidamente possível dentro de uma área
de avaliação de 3 m2, tendo como referência três passes aleatórios realizados por outros
jogadores. Cada jogador realizou o teste três vezes mantendo intervalo mínimo de 3 min
entre as repetições, sendo registrado o melhor resultado. Um avaliador treinado para este
procedimento marcou manualmente o tempo (s), utilizando um cronômetro esportivo (En-
dubro®, JS-9006P, Bolzano, Itália). Caso houvesse algum erro na realização do teste, o
jogador repetia o procedimento após 2 min de recuperação passiva. Aquecimento com pas-
ses e deslocamentos livres, na piscina, foi realizado por 3 min, antes do teste de agilidade.
ESTATÍSTICA
A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk. A média, o desvio-
-padrão e o intervalo de confiança da média (95%) foram calculados para todas as medidas.
O teste de correlação cinear produto-momento de Pearson foi utilizado para testar a existên-
cia de correlação entre as medidas antropométricas e o desempenho nos testes realizados
(dentro e fora da água) bem como entre o desempenho dos testes realizados dentro e fora da
água. Adotou-se ʸ�= 5% e os cálculos foram realizados no programa SPSS v. 20.0.
57 — RPCD 19 (1)
MÉTODO
Participaram deste estudo 12 jogadores de polo aquático do sexo masculino de nível regional
(idade média: 32.6 ( 7.9 anos, experiência na modalidade: 12.7 ( 9.7 anos, massa corporal total:
82.2 ( 14.6 kg, estatura: 179.1 ( 6.4 cm), pertencentes a uma mesma equipa de polo aquático
e que apresentavam frequência mínima de três sessões de 90 min de treino por semana. Os
jogadores não apresentavam qualquer tipo de lesão que comprometesse sua participação nos
treinamentos e no estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. No pri-
meiro dia de testagem realizaram-se a leitura e explicação do protocolo, a tomada das medidas
antropométricas e a familiarização aos testes. Após 24 horas realizaram-se, sequencialmente,
aquecimento, testes de salto vertical em terra, salto vertical na água em eggbeater, velocida-
de da bola após arremesso e agilidade. Entre os diferentes testes, foi oportunizado intervalo
passivo de recuperação de, no mínimo, 10 min e, após, aquecimento específico para cada teste.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (número 22954713400005347)
A altura atingida no salto vertical em terra, a potência dos membros inferiores e a potên-
cia dos membros inferiores relativo à massa corporal dos jogadores foram medidas por meio
do desempenho em salto vertical em terra (Bosco, 2007) sobre um tapete de contato (Jump
System 1.0®, CEFISE, São Paulo, Brasil). A altura no salto vertical em terra (cm) foi estimada
por meio do tempo de voo (ms) a partir da perda de contato com o solo após o salto, de acordo
com a Equação , onde, “SV” é a altura atingida no salto vertical em terra, “g” é a aceleração da
gravidade e é o tempo de voo. A potência de membros inferiores (W) foi calculada a partir da
equação , onde é potência de membros inferiores, “g” é aceleração da gravidade e é o tempo
de voo. A potência relativa de membros inferiores relativa à massa corporal (W.kg-1) foi obtida
por meio do quociente entre a potência de membros inferiores e a massa corporal do jogador.
Como aquecimento do teste de salto realizado fora da água, os jogadores realizaram
cinco saltos submáximos. Posteriormente, realizou-se o teste: o jogador saltava com o
objetivo de atingir a maior altura possível, iniciando sobre o tapete, partindo da posição
estática de 5 s de duração, com flexão do joelho de aproximadamente 120°, sem contra
movimento prévio de qualquer segmento e com as mãos fixas próximas ao quadril. Para
manter a validade do salto, os joelhos dos participantes deveriam permanecer em exten-
são durante a fase de voo. Foram realizadas três tentativas, com intervalo de 2 min, sendo
selecionados, para análise, os dados referentes ao salto mais alto.
No teste de salto vertical na água em eggbeater (cm), os jogadores iniciaram o teste na
piscina com água a nível do acrômio e leve palmateio executado por ambas as mãos (Plata-
nou, 2005). Após sinal sonoro, impulsionaram-se com o objetivo de saltar o mais alto possí-
vel, utilizando-se a técnica de eggbeater. A mão dominante do jogador foi direcionada para
cima (flexão de ombro e extensão de cotovelo), enquanto a outra mantinha o movimento de
palmateio. Foram realizadas três tentativas com intervalo de 2 min. Para registrar a execu-
59 — RPCD 19 (1)
O desempenho médio apresentado pelos jogadores no presente estudo foi comparativamen-
te abaixo do encontrado na literatura para jogadores mais novos e adultos (Idrizovic, Milosevic,
& Pavlovic, 2013; McCluskey et al., 2010), com exceção daquele demonstrado no teste de agi-
lidade. Este resultado era esperado porque se tratam de jogadores com nível de treinamento
abaixo daqueles de elevado desempenho. Estes resultados mostram, também, a relevância do
treinamento na melhoria da condição específica de rendimento (Idrizovic e al., 2013; Tucher
et al., 2016). Entre os critérios que diferenciaram o nível dos jogadores estão os de natureza
específica, como a velocidade de arremesso da bola ao gol, capacidade de força máxima com
pernada vertical em eggbeater e agilidade (Idrizovic et al., 2013; McCluskey et al., 2010; Tu-
cher et al., 2016). Variáveis antropométricas e de velocidade de nado não apresentam, neces-
sariamente, diferença significativa entre os níveis de rendimento (Idrizovic et al., 2013).
Foi encontrado desempenho superior na altura atingida no salto vertical em terra (37.9 ± 5.1 cm) e inferior na potência de membros inferiores (3342 ± 558 W) comparativamente a
jogadoras de nível olímpico (McCluskey et al., 2010). Por outro lado, jogadores com idade
entre 10 e 18 anos apresentaram altura no salto vertical em terra entre 22.5 ± 5.0 cm e
30.3 ± 5.4 cm, com os jogadores mais velhos apresentando resultados estatisticamente
superiores (De Siati et al., 2015). Apesar de termos encontrado resultados superiores de
altura atingida no salto vertical em terra e potência de membros inferiores em compara-
ção a estudos anteriores (De Siati et al., 2015; McCluskey et al., 2010), o importante para
a modalidade é que haja transferência na capacidade de produzir força/potência fora da
água para os movimentos específicos realizados dentro da água (aqui representado pelo
salto realizado dentro da água) (Crowley, Harrison, & Lyons 2017; Suchomel, Nimphius, &
Stone, 2016), o que parece não ter ocorrido no presente estudo.
Jogadores jovens (15 e 16 anos) considerados de alto nível alcançaram desempenho mais
elevado no salto vertical na água em eggbeater (196.0 ± 18.0 cm) (Uljevic, Spasic, & Sekulic,
2013) do que os encontrados no presente estudo. Por outro lado, jogadores de nível nacional
(15.8 ± 0.8 anos) (Bratu"a & Dopsaj, 2015), de sub-elite (23.2 ± 7.2 anos) (Canossa, Abraldes,
Soares, Fernandes, & Garganta, 2016), da primeira divisão de polo aquático na Grécia (22.9 ± 2.1 anos) (Platanou, 2006) e jogadores juniores de alto nível (17-18 anos) (Kondriȏ, UljeviDž,
Gabrilo, KontiDž, & SekuliDž, 2012) apresentaram, respectivamente, desempenhos no salto verti-
cal realizado na água em eggbeater mais próximos aos dos jogadores do presente estudo com
148.2 ± 21 5.9 cm, 146.4 ± 6.9 cm, 148.0 ± 6.8 cm e 148.3 ± 7.1 cm. A capacidade de alcançar
adequada altura em movimentos verticais na água é importante no bloqueio defensivo ou mes-
mo para assumir melhor condição de arremesso ou passe (McCluskey et al., 2010).
Jogadores de elite apresentaram velocidade da bola após arremesso a gol de 20.8 ± 1.4 m.s-1
(Uljevic et al., 2013) e 21.6 m.s-1 e 22.7 m.s-1 (Idrizovic et al., 2013). Jogadores de nível sub-elite
alcançaram 17.4 ± 1.6 m.s-1 (Canossa et al., 2016) e jogadoras de nível olímpico 16.0 ± 0.6 m.s-1
(Varamenti & Platanou, 2008). Em contrapartida, jogadores mais novos (10 a 18 anos) apre-
RESULTADOS
A estatística descritiva dos resultados dos testes realizados está disponível no quadro 1.
Foi encontrada correlação entre a estatura do jogador e a altura atingida no salto vertical
na água em eggbeater (r = .73; p = .01), entre a massa corporal total e a altura atingida
no salto vertical em terra (r = - .67; p = .01), massa corporal total e potência de membros
inferiores (r = .88; p < .001) e altura no salto vertical em terra e potência de membros in-
feriores relativa à massa corporal (r = .97; p < .001). Não foi encontrada qualquer relação
entre os parâmetros de desempenho avaliados na água (altura atingida no salto vertical
na água em eggbeater, velocidade da bola alcançada no arremesso a gol e agilidade) e
em terra (altura no salto vertical em terra, potência de membros inferiores e potência de
membros inferiores relativa à massa corporal).
QUADRO 1 – Estatística descritiva (média, dp e 95% de intervalo de confiança da média) para altura no salto vertical em terra, potência de membros inferiores, potência de membros inferiores relativa à massa corporal, altura atingida no salto vertical na água em eggbeater, velocidade da bola após arremesso a gol e agilidade.
Média dp 95% IC
Altura no salto vertical em terra (cm) 32.6 5.2 29.5 – 36.1
Potência de membros inferiores (w) 3637.0 500.2 3319.2 – 3954.9
Potência de membros inferiores relativa (w.kg-1) 44.7 3.41 42.5 – 46.9
Altura no salto vertical na água em eggbeater (cm) 143.4 7.8 138.4 – 148.3
Velocidade da bola após arremesso (m.s-1) 16.9 1.4 16.0 – 17.8
Agilidade (s) 3.8 0.4 3.4 – 4.1
DISCUSSÃO
Este estudo teve por objetivo avaliar a existência de relação entre a estatura e a massa cor-
poral dos jogadores com o desempenho em testes de potência de membros inferiores (por
meio de testes de salto realizados fora e dentro da água), potência de membros superiores
(por meio da velocidade do arremesso a gol) e agilidade (por meio da movimentação rápida
do jogador dentro de uma área determinada) de jogadores brasileiros de polo aquático de
nível regional. Também foi testada a existência de correlação entre o desempenho dos tes-
tes realizados dentro e fora da água. Quatro correlações estatísticas significativas foram
encontradas entre: (a) a estatura do jogador e a altura atingida no salto vertical na água em
eggbeater; (b) a massa corporal total e a altura atingida no salto vertical; (c) a potência de
membros inferiores e a entre a altura atingida no salto vertical; e (d) entre a entre a potência
de membros inferiores relativa à massa corporal e a altura atingida no salto vertical.
04
61 — RPCD 19 (1)
sentaram velocidade entre 9.2 ± 2.0 e 13.7 ± 2.0 m.s-1 (De Siati et al., 2015). A velocidade da
bola após arremesso parece ser dependente do nível de rendimento, idade e sexo. Associados
a estas variáveis, estão o tamanho corporal, a capacidade de produção de força e a elevação
do corpo na água (Ferragut et al., 2011; Vila Suárez et al., 2009). Considerando a velocidade da
bola no arremesso a gol do presente estudo (16.9 ± 1.4 m.s-1), parece que o desempenho neste
teste está adequado ao nível de treinamento da população avaliada.
O desempenho no teste de agilidade obtido no presente estudo (3.8 ± 0.4 s) foi relativa-
mente melhor do que aqueles encontrados na literatura (Tucher, Castro, & Garrido, 2014;
Tucher, Castro, Silva et al., 2015), o que pode ser devido a diferenças de idade e experiência
na modalidade – mesmo que o desempenho atual não seja elevado. Jogadores com idade
média de 16.3 ± 1.8 anos e tempo mínimo de dois anos de prática no polo aquático apre-
sentaram resultado de 4.6 ± 0.41 s no teste de agilidade (Tucher, Castro, & Garrido, 2014).
Jogadores com idade média de 17.8 ± 3.2 anos e 7.0 ± 2.8 anos de experiência na modali-
dade apresentaram desempenho de 4.1 ± 0.4 s (Tucher et al., 2015). Jogadores juniores
de elite que participaram dos jogos Pan Americanos da categoria apresentaram resultado
inicial de 4.3 ± 0.1 s e após 16 meses de treinamento melhora significativa para 4.0 ± 0.1 s
(Tucher et al., 2016). Foi demonstrado que o teste de agilidade pode ser considerado como
de natureza específica porque representa uma necessidade competitiva de movimentação,
atenção e tomada de decisão no polo aquático – comum aos jogadores mais experientes.
A potência dos membros inferiores tem demonstrado relação com a massa corporal, com a
altura e a potência obtida em testes fora da água (Loturco et al., 2016; Suchomel et al., 2016).
A relação entre massa corporal, potência de membros inferiores, potência de membros inferio-
res relativa à massa corporal e altura atingida no salto vertical fora da água não foram repro-
duzidas para as medidas dos testes realizados na água. A transferência de capacidade de pro-
dução de força destas condições para força/potência produzida dentro da água (altura atingida
no salto vertical na água em eggbeater) depende de correta execução técnica de eggbeater e
consequente aplicação da força (McCluskey et al., 2010), o que pode não ter ocorrido com os
jogadores avaliados em nosso estudo, possivelmente pelo nível de desempenho. Além disso,
estamos tratando de movimentos esportivos específicos do polo aquático, que exigem ações
musculares específicas e que são realizados em um ambiente diferente (Uljevic et al., 2013).
No presente estudo foi encontrada relação entre a altura atingida no salto vertical na água
em eggbeater e a estatura (r = .73; p = .01). Isso pode demostrar a importância da estatura
para este nível de rendimento de jogadores, permitindo maior alcance vertical dentro da
água. Estudo com jogadores mais novos (15 a 17 anos, 7-9 de experiência na modalidade e
considerados de elevado desempenho) encontrou relação baixa e significativa entre a altura
atingida no salto vertical na água em eggbeater e a força de membros inferiores medida
em eggbeater (r = .41), a estatura (r = .46), a massa corporal (r = .34) e a velocidade de
arremesso da bola (r = .36) (Uljevic et al., 2013). Apesar de se reconhecer a importância
da altura atingida no salto vertical na água em eggbeater para as ações realizadas na água
existe estudo (McCluskey et al., 2010) que não encontrou relação entre a altura atingida no
salto vertical na água em eggbeater e a velocidade da bola após arremesso.
Elevada velocidade de arremesso da bola tem sido determinada como uma importante
capacidade de realizar gols no polo aquático. A literatura indica que a velocidade de arre-
messo tem certa dependência da força do membro superior e do tronco, da técnica de arre-
messo e da condição de saltar verticalmente na água (McCluskey et al., 2010). Entretanto,
essa relação parece ser influenciada pelo nível dos jogadores. Em jogadoras de elite o pico
de potência dos membros inferiores medido no salto vertical na água em eggbeater foi o
melhor preditor da velocidade da bola após arremesso, explicando cerca de 62% na varia-
ção da velocidade. Por outro lado, nenhuma variável física (massa magra, massa gorda,
altura do salto vertical em terra e antropometria) mostrou-se relevante para a velocidade
da bola após arremesso neste grupo de jogadoras (McCluskey et al., 2010).
Os testes específicos realizados fora da água, como o salto vertical e a velocidade da bola após
arremesso, não apresentam necessariamente o mesmo padrão de inter-relação aos seus relati-
vos realizados na água. Isso pode dever-se a diferente influência que fatores como a composição
corporal e o domínio do corpo exercem fora e dentro da água (Uljevic et al., 2013). Jogadoras de
polo aquático das categorias júnior e sênior, por exemplo, não se diferenciaram em termos de
condições antropométricas básicas. Suas principais diferenças ocorreram nas condições espe-
cíficas necessárias e impostas pelo treinamento da modalidade (Varamenti & Platanou, 2008).
Dessa forma, a capacidade de arremesso, de salto vertical, de nado em velocidade e de agilidade
não se correlacionam necessariamente no jogador de polo aquático (Uljevic et al., 2013).
A estatura se correlacionou positivamente com a altura alcançada no salto vertical realizado
dentro da água e acredita-se na existência dessa relação por causa do nível de rendimento dos
jogadores avaliados. A massa corporal se relacionou com a capacidade de saltar verticalmente
e produzir potência fora da água, como já demonstrado na literatura (Suchomel et al., 2016). Po-
rém, não foi encontrada relação entre o desempenho nos testes realizados dentro e fora da água
e isso pode dever-se a especificidade dos movimentos e a particularidade do ambiente. Esse re-
sultado reforça a ideia de que os testes empregados avaliam distintas capacidades condicionais
O polo aquático é um esporte que requer ampla variedade de habilidades físicas e técnicas
(Smith, 1998; Tucher et al., 2016; Uljevic et al., 2013). Assim, cada uma destas manifesta-
ções do desempenho parece requerer habilidades motoras em níveis diferentes. Destaca-se
ainda que, apesar da experiência prévia de treinamento do grupo avaliado, em função das
suas reais condições de treinamento, alguns parâmetros de desempenho estão próximos ou
abaixo daqueles de jogadores de polo aquático mais novos ou do sexo feminino que apresen-
tam maior quantidade e intensidade de treinamento. De qualquer forma, a oferta de treina-
mento adequado tenderia a elevar a condição de rendimento e, por consequência, o relacio-
namento entre o desempenho nos testes realizados no presente estudo poderia ser diferente.
04
REFERÊNCIAS
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The relationship
among throwing velocity,
one-repetition maximum
bench press and squat
and body composition in
college baseball pitchers
KEYWORDS:
One repetition maximum. BMI.
Mean maximum throwing velocity.
SUBMISSÃO: 10 de Março de 2019ACEITAÇÃO: 28 de Abril de 2019
ABSTRACT
The strength of the lower body is possibly the most crucial consideration when exami-
ning the maximal throwing velocity of a baseball pitcher. The relationship between one-
-repetition maximum (1-RM) squat and bench press, throwing velocity and body mass
index (BMI) have not received proper attention regarding research. This study aims to
examine the correlation between the 1-RM squat and bench press tests, and throwing
velocity in collegiate baseball pitchers. Thirteen pitchers from a National Collegiate Ath-
letic Association division II baseball team volunteered to participate in a single lifting
and throwing session. Height, weight and BMI were noted for each subject upon arrival
for testing. Each subject performed a 1RM-test in both squat and bench press. After two
days, pitching velocity measurements of 10 pitches throw at maximum effort from a
pitcher’s mound (60 ft 6 inches, 18.44 m) was assessed. Correlation among the mean
of 10 pitching throws, 1-RM (squat and bench press) and BMI was tested by Pearson
correlation test. Although 1-RM bench press and 1-RM squat were not found to be cor-
related with max throwing velocity (r = .01 and -.01, respectively), BMI was negatively
correlated with maximum throwing velocity (r = -.648). 1-RM of both bench press and
squat do not seem to predict throwing velocity. However, BMI was found to be a potential
predictor of throwing velocity of college baseball pitcher.
AUTHORS:
Samuel Aloi 1
Michael Ryan1
Paul Reneau 1
Julia Matzenbacher dos Santos1
1 Fairmont State University, Department of Education, Health and Human Performance, Fairmont, WV, USA
https://doi.org/10.5628/RPCD.19.01.64
Corresponding author: Julia Matzenbacher dos Santos. Department of Education, Health and Human Performance,
Fairmont State University, 1201 Locust Avenue, Fairmont, WV 26554, USA. email: [email protected];
05
65 — RPCD 19 (1): 64-71
A relação entre velocidade de arremesso,
composição corporal, o teste de uma repetição
máximo de supino e agachamento em jogadores
de beisebol universitário.
RESUMO
A força dos membros inferiores é possivelmente um fator crucial na de-
terminação da velocidade máxima de arremesso da bola no beisebol. Até
o momento, não há estudos sobre associações entre a velocidade de lan-
çamento no beisebol com teste de força de uma repetição máxima (1-RM).
Este estudo teve como objetivo avaliar as associações entre a velocidade
de arremesso de jogadores universitários de beisebol com o teste de força
de 1-RM de membros inferiores (agachamento e de supino) e com o índice
de massa corporal (IMC). Treze jogadores de beisebol da divisão II da As-
sociação Atlética Universitária dos Estados Unidos participaram voluntaria-
mente de uma única sessão de levantamento e de arremesso. Para cálculo
do IMC, a altura e o peso foram medidos antes dos testes. O teste 1-RM de
agachamento e de supino foi realizado dois dias antes do teste de arremes-
so. Posteriormente foram avaliadas as velocidades de 10 arremessos de
cada jogador executadas com esforço máximo. As variáveis apresentaram
distribuição normal (teste de Shapiro Wilks) e as associações entre a mé-
dia dos 10 arremessos e as demais variáveis foram avaliadas pelo teste de
correlação de Pearson. Embora o 1-RM agachamento e o 1-RM supino não
tenham se correlacionado com a velocidade máxima de arremesso (r = .01 e
-.01, respectivamente), o IMC relacionou-se inversamente com a velocidade
máxima de arremesso (r = -.648). Assim, os dados obtidos com 1-RM de su-
pino e de agachamento parecem não prever a velocidade de lançamento no
beisebol. No entanto, o IMC parece ser um potencial preditor de velocidade
de arremesso de jogadores de beisebol do nível universitário.
PALAVRAS CHAVE:
Uma repetição máxima. IMC.
Velocidade de arremesso máxima média.
67 — RPCD 19 (1)
INTRODUCTION
Since the first organized baseball game in the 1840s, the game has sustained a substantial
amount of adaptations (Kirsch, 1989). Pitching velocity, or throwing velocity, is perhaps
one of the most important elements in the sport today. An athlete’s ability to throw a base-
ball with high velocity is dependent on various components including pitching mechanics,
strength, and body size. The overall strength of an athlete has been shown in many studies
to have a positive correlation with throwing velocity (Lehman, Drinkwater, & Behm, 2013;
McEvoy & Newton, 1998; Van Den Tillaar, 2004).
The strength of the lower body is possibly the most crucial consideration when examin-
ing the maximal throwing velocity of a pitcher. The amount of lower body muscular activa-
tion is notably high throughout the pitching motion and is therefore reasonably assumed
a critical characteristic with regards to velocity (Campbell, Stodden, & Nixon, 2010). In
addition, lower body muscular strength has been linked to improved performance in explo-
sive movements such as sprinting (Comfort, Bullock, & Pearson, 2012). Since the pitching
motion in baseball is considered an extremely explosive movement it is easy to infer that
increased lower body strength will correlate with higher throwing velocities.
There have been numerous studies involving different training programs and field tests,
which included both upper body and lower body movements, and their relationships in
throwing velocity and performance (Bishop, Herron, Ryan, Katica, & Bishop, 2016; Lehman
et al. 2013; Yanagisawa, Wakamatsu, & Taniguchi 2019). However, there is an absence of
literature in the area of one-repetition maximum (1-RM) and pitching velocity (Lehman et
al. 2013; McEvoy & Newton, 1998; Van Den Tillaar, 2004). The main purpose of this study
was to examine the correlation between the 1-RM squat and bench press tests and throw-
ing velocity in collegiate baseball pitchers.
METHODS
Thirteen male (18-23 years old) division 2 college baseball players from Fairmont State
University participated in this study. All participants were pitchers and the study was
performed during the baseball season to ensure athlete was in maximal physical condi-
tion. Before data collecting the study was approved by the Institutional Review Board of
Fairmont State University and an Informed Consent were filled out by the participants
The instruments used to measure squat and bench press weight measurement were a
standard 45 lbs barbell (20.412 kg) and weight plates ranging from 5 pounds (2.268 kg)
up to 45 pounds (20.412kg.) A scale and a stadiometer (Ozeri Precision Digital Bath Scale)
were used to collect the weight (kg) and height (meters) of the subjects. The throwing
05velocity was measured by a radar gun in miles per hour (Ball Coach Radar-Model PR1000-
BC) from a distance of 60 feet 6 inches (18.44m).
The study was conducted over the course of one week. Before any testing was done,
each participant was given details regarding the testing procedures. The subjects were
asked to take two days of rest before the 1-RM test to ensure peak performance. Before
the 1-RM test, the pitchers warmed up (self-selected) for 5- 10 min. Subjects chose a
weight they felt they could perform 6-10 repetitions. Subjects then selected a weight they
felt they could do for 3 repetitions while using the first set as a reference point. Then sub-
jects added weight progressively until they reached their one-repetition maximum. Partici-
pants performed the same protocol for both 1-RM squat and bench-press test.
Two days after the 1-RM, throwing velocity was measured. After warm up, each partic-
ipant was asked to make 10 maximum effort pitches from the pitcher’s mound (18.44 m).
The velocity of each pitch was assessed using a radar gun.
For statistical analysis throwing velocity data was converted to meters per second. The
mean of the ten throws for each subject was calculated and used to compare with the
1-RM measurement. Statistical analyses were performed using SPSS-statistical software
(IBM SPSS- statistics 18). Normal distribution was tested by the Shapiro-Wilk test. Cor-
relation test between 1-RM tests, BMI and throwing velocity was analyzed by Pearson.
Data are represented as mean ± standard deviation.
RESULTS
The baseball pitchers weight, height and BMI were 88.9���6.9 kg, 186.4 ± 3.6 cm and 25.56
± 1.53 kg/m2, respectively (TABLE 1). The mean of the squat 1-RM test was 152.03 ±19.95
Kg, while the mean 1-RM bench press was 98.75 ± 8.12 Kg (TABLE 1). The mean maximum
throwing velocity was measured to be 36.09 ±1.81 m/s. The correlation between the 1-RM
bench press and mean maximum throwing velocity was weak (r = .099) as well as 1-RM
squat and throwing velocity (r = -.010) (Fig. 1A and 1B). However, a negative correlation
was found between body mass index (BMI) and mean maximum throwing velocity (r =
-.648), Fig 2A. A stronger correlation was found between body weight and mean maximum
throwing velocity (r = -.458) as presented in Fig 2B.
TABLE 1- Sample characteristics - Baseball players (n = 13), age, height, weight, body mass index (BMI), maximal bench press (Max Bench), maximal squat (Max squat), mean of maximal throwing velocity (Av. Max Velocity).
Subjects Age (years) Height (cm) weight (kg) BMI (kg/m2) Max Bench(kg)
Max Squat(kg)
Av. Max Velocity(m/s)
Players (n = 13) 21.3 ± 1.6 186.4 ± 3.6 88.9 ± 6.9 25.6 ± 1.5 98.7 ± 8.1 152 ± 19.9 36.1 ± 1.8
69 — RPCD 19 (1)
FIG 1. Correlation between throwing velocity and one max repetition of bench press (A) and squad (B) of 13 pitchers.
FIG 2. Correlation between throwing velocity and body mass index (BMI) (A) and body weight (B) of 13 pitchers. * Significant Person correlation.
FIG 3. Schematic figure illustrating the main finding of the study. Body mass index (BMI), one-repetition maximum (1-RM).
DISCUSSION
Throwing velocity of pitching is perhaps one of the most important elements in baseball
(Forsythe, Crotin, Greenwood, Bhan, & Karakolis, 2017). Several studies have been car-
ried out to understand pitching biomechanics to improve evidence-based athlete perfor-
mance in baseball (Darke, Dandekar, Aguinaldo, Hazelwood, & Klisch, 2018; Forsythe
et al., 2017; Nakata, Nagami, Higuchi, Sakamoto, & Kanosue, 2013; Thompson, Guess,
Plackis, Sherman, & Gray, 2018). Previous studies have shown that muscular strength
plays an important role in throwing velocity (Campbell et al. 2010). Our data suggest
that 1-RM squat and bench press might not be an accurate test to associate lower body
muscle strength with pitching velocity. However, our results strongly support that BMI
may be a potential predictor.
High measurements of maximum voluntary isometric contraction, a standardized meth-
od for measurement of muscle strength, have shown in lower extremity strength and en-
durance of highly skilled pitchers (Campbell et al. 2010). Moreover, these high levels of
activation are demonstrated when lifting at maximum. There is evidence that an increase
in muscular strength can have a positive effect on the throwing velocity of an athlete. Ath-
letes who trained at or above 85% of maximum, over a prolonged period demonstrated
a 1.2-18% higher throwing velocity post-training (Van Den Tillaar, 2004). Furthermore,
ballistic training and lateral/medial jumping abilities have shown a positive correlation to
higher throwing velocities in overhead athletes in various sports (McEvoy & Newton, 1998;
Van Den Tillaar, 2004). Considering that many studies have found muscular strength and
explosive agility to have a positive effect on throwing velocity, it is possible the 1-RM test
may not be a helpful predictor to velocity. It should not be ruled out that the lack of cor-
relation found between 1-RM squad and bench-press results and throwing velocity might
be attributed to the pitchers being in the middle of the competitive season. Furthermore,
we acknowledge that other measures of strength and explosive power could provide a
better correlation with the throwing velocity.
The role of anthropometric characteristics of baseball players has been studied by many
researchers (Darke et al., 2018; Forsythe et al., 2017; Nakata et al., 2013). Using pub-
licly available heights and weights of baseball pitchers’ to form a statistical database of
1028 pitching leaders from 1950-2010 it was demonstrated that pitchers with a higher
BMI has a positive correlation with the number of saves and negatively correlated with a
number of innings pitched. These results suggest that a more efficient pitcher has a high-
er BMI. Supporting this finding a study performed in youth baseball players (9-10 years
old) showed that higher BMI positive correlates with joint torque/force during pitching
movement (Darke et al., 2018). It has been shown that with young players (6.4-15.7 yrs.)
there is a positive correlation with BMI and throwing velocity (Nakata et al., 2013). Our
findings are opposed of what was found by Nakata et al. (2013), we suggest that there is a
05
correlation between lower BMI measurements and throwing velocity in division 2 college
baseball pitchers (Fig 3). The reason of the distinct results might be due the distinct age
group analyzed in this study, when compared to the previous report.
CONCLUSION
These findings suggest that one-repetition maximum squat and bench press might not be
an accurate test to predict maximum pitching velocity in college division 2 pitchers. On
the other hand, BMI did have a significant negative correlation on the mean maximum
throwing velocity. Therefore, college baseball coaches may want to continue to assess
BMI during the college baseball season as a predictor of throwing velocity and pitching
efficiency in their players.
05REFERENCES
Bishop, S. H., Herron, R. L., Ryan, G.A., Katica, C. P., & Bishop, P. A. (2016). The effect of intermittent arm and shoulder cooling on baseball pitching velocity. Journal of Strength & Conditioning Research, 30(4), 1027-3102. doi:10.1519/JSC.0000000000000256Campbell, B. M., Stodden, D. F., & Nixon, M. K. (2010). Lower extremity muscle activation during baseball pitching. The Journal of Strength & Con-ditioning Research, 24(4), 964-971. doi:10.1519/JSC.0b013e3181cb241bComfort, P., Bullock, N., & Pearson, S. J. (2012). A comparison of maximal squat strength and 5-, 10-, and 20-meter sprint times, in athletes and recrea-tionally trained men. The Journal of Strength & Con-ditioning Research, 26(4), 937-940. doi:10.1519/JSC.0b013e31822e5889Darke, J. D., Dandekar, E. M., Aguinaldo, A. L., Haze-lwood, S. J., & Klisch, S. M. (2018) Effects of game pi-tch count and body mass index on pitching biomecha-nics in 9- to 10-year-old baseball athletes. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, 6(4), 2325967118765655. doi:10.1177/2325967118765655.Forsythe, C. M., Crotin, R. L., Greenwood, M., Bhan, S., & Karakolis, T. (2017). Examining the influence of physical size among major league pitchers. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, 57(5), 572-579. doi:10.23736/S0022-4707.16.06355-6Kirsch, G. B. (1989). The creation of American team sports: Baseball and cricket. Chicago, IL, USA: Univer-sity of Illinois Press. Available at https://www.cabdi-rect.org/cabdirect/abstract/19921899668.Lehman, G., Drinkwater, E. J., & Behm, D. G. (2013). Correlation of throwing velocity to the results of lower-body field tests in male college baseball players. The Journal of Strength & Conditioning Research, 27(4), 902-908. doi:10.1519/JSC.0b013e3182606c79McEvoy, K. P., & Newton, R. U. (1998). Baseball throwing speed and base running speed: The effects of ballistic resistance training. The Journal of Streng-th & Conditioning Research, 12(4), 216-221.Nakata, H., Nagami, T., Higuchi, T., Sakamoto, K., & Kanosue, K. (2013). Relationship between per-formance variables and baseball ability in youth baseball players. The Journal of Strength & Condi-tioning Research, 27(10), 2887-2897. doi:10.1519/JSC.0b013e3182a1f58a
Thompson, S. F., Guess, T. M., Plackis, A. C., Sherman, S. L., & Gray, A. D. (2018). Youth baseball pitching me-chanics: A systematic review. Sports Health, 10(2), 133-140. doi:10.1177/1941738117738189Van Den Tillaar, R. (2004). Effect of different training programs on the velocity of overarm throwing: A brief review. The Journal of Strength & Conditioning Re-search, 18(2), 388-396. Yanagisawa, O., Wakamatsu, K., & Taniguchi, H. (2019). Functional hip: Characteristics and their relationship with ball velocity in college baseball pitchers. Jour-nal of Sport Rehabilitation. Advance online publication. doi:10.1123/jsr.2018-0122.
Does a lower jaw protruding
device improve running
aerobic performance?
KEYWORDS:
Oxygen consumption. Aerobic exercise.
Occlusal splints. Mandibular advancement.
Sports performance.
SUBMISSÃO: 10 de Dezembro de 2018ACEITAÇÃO: 16 de Março de 2019
ABSTRACT
Using occlusal splints aiming to increase sports performance has recently raised signi-
ficant interest, being speculated that it could lead to anatomical and physiological chan-
ges like upper airway enhancement and corresponding higher oxygen uptake ( O2). We
have studied the lower jaw protruding device effect in running aerobic performance. Nine
active male subjects performed two testing sessions (with a placebo and with a jaw pro-
truding device) on a treadmill, running 7 x 4 min until exhaustion with 1 km/h increments
(48 h rest). O2 and related variables, blood lactate concentrations and rating of percei-
ved exertion were determined for both experimental conditions across three intensity do-
mains. A t-test for repeated measures was used (p < .05) For both experimental conditions
and through the low-moderate, heavy and severe running intensity domains, no significant
differences were observed in any of the analysed variables (e.g. O2 = 34.54 ± 3.42 vs
34.20 ± 4.89, 39.80 ± 2.39 vs 40.19 ± 4.48 and 43.58 ± 3.80 vs 44.36 ± 4.00 mL·kg#1·min-1,
respectively). Data allowed to conclude that this specific lower jaw protruding device did
not influence the analysed variables related with running aerobic performance at a large
spectrum of exercise intensities.
AUTHORS:
Filipa Cardoso 1,2
Francisco Maligno 3
Diogo D. Carvalho 1,2
João Paulo Vilas-Boas 1,2
Ricardo J. Fernandes 1,2
João C. Pinho 3
1 Centre of Research, Education, Innovation and Intervention in Sport, CIFI2D, Faculty of Sport, University of Porto, Portugal2 Porto Biomechanics Laboratory, LABIOMEP, University of Porto, Portugal3 Faculty of Dental Medicine, University of Porto, Portugal
https://doi.org/10.5628/RPCD.19.01.72
Corresponding author: Filipa Cardoso. University of Porto. Faculty of Sport. Centre of Research, Education,
Innovation and Intervention in Sport, CIFI2D. Porto Biomechanics Laboratory, LABIOMEP. R. Dr. Plácido da Costa
91, 4200-450 Porto, Portugal. +351 22 04 25 200. Email: [email protected].
06
73 — RPCD 19 (1): 72-84
Um dispositivo de avanço mandibular implicará um
melhor desempenho aeróbio na corrida?
RESUMO
O uso de dispositivos intraorais com o objetivo de aumentar o desempenho
desportivo recentemente despertou interesse significativo, especulando-
-se que poderiam desencadear alterações anatómicas e fisiológicas como
aumento das vias aéreas e do consumo de oxigénio ( O2). Estudou-se o
efeito de um dispositivo de avanço mandibular no desempenho aeróbio na
corrida. Nove indivíduos ativos do sexo masculino realizaram duas sessões
de teste (com um dispositivo placebo e de protrusão mandibular) numa
passadeira, correndo 7x4 min até à exaustão, com incrementos de 1 km/h
(48 h intervalo). O2 e variáveis relacionadas, concentrações de lactato
sanguíneo e perceção subjetiva do esforço foram determinadas para ambas
as condições experimentais em três domínios de intensidade. Foi utilizado
um teste t de medidas repetidas (p < .05). Para ambas as condições experi-
mentais nos domínios de intensidade baixa-moderada, pesada e severa não
foram encontradas diferenças significativas em nenhuma das variáveis ana-
lisadas (ex: O2 = 34.54 ± 3.42 vs 34.20 ± 4.89, 39.80 ± 2.39 vs 40.19 ±4.48 e 43.58 ± 3.80 vs 44.36 ± 4.00 mL·kg#1·min-1, respetivamente). Os da-
dos permitiram concluir que este dispositivo de protrusão mandibular não
influenciou as variáveis analisadas relacionadas ao desempenho aeróbio na
corrida num amplo espectro de intensidades do exercício.
PALAVRAS CHAVE:
Consumo de oxigénio Exercício aeróbio, Dispositivos oclusais,
Avanço mandibular, Desempenho desportivo.
75 — RPCD 19 (1)
INTRODUCTION
The use of occlusal splints on sport activities have been analysed since 1890 due to its
importance to avoid dental and/or orofacial injuries during contact sports. The splints use
aiming to increase performance only appeared in 1960 and, since then, has raised signifi-
cant interest and discussion (Gunepin et al., 2017). Traditional methods of occlusal splints
manufacturing are highly related to the temporomandibular joint decompression, mandib-
ular rest position, jaw advancement and occlusal vertical dimension increments (Garabee,
1981; Gunepin et al., 2017; Isselée et al., 2016). Sports related splints fabricants high-
lights its contribution for increasing aerobic and anaerobic capacity, muscle strength, flex-
ibility, balance, concentration and proprioception, as well reducing stress, muscle fatigue
and blood lactate levels (Gunepin et al., 2017).
Due to the mandibular protrusion created by advancement occlusal splints, it might be
suggested anatomical and physiological changes, namely enhancing the upper airway and
improving oxygen uptake ( O2) (Garner, 2016; Shultz, Girouard, Elliott, & Mekary, 2018).
Further ergogenic effects of these devices were associated with genioglossus, the ma-
jor responsible for increments in respiratory muscle tone during the breathing inspiratory
phase and, therefore, pharyngeal dimension enlargement (Garner, 2016; Garner, Dudgeon,
Scheett, & McDivitt, 2011). Similarly, the mandibular forward position results in pulling the
tongue complex down and forward, consequently placing the hyoid bone to an anterosu-
perior position and opening the upper airway (Aras, Pasaoglu, Olmez, Unal, & Aras, 2016;
Garner, 2016; Guarda-Nardini, Manfredini, Mion, Heir, & Marchese-Ragona, 2015).
Sports performance potentiation related to jaw advancement devices may be linked with
airway resistance decrease, airflow enhancements and possibly aerobic capacity changes
(Bailey et al., 2015; Piero et al., 2015; Shultz et al., 2018). However, data have been con-
troversial, and more investigation is necessary to understand the mechanisms that can be
proportioned by using intraoral devices in sport activities. The aim of the current study was
to analyse the effect of a lower jaw protruding device in running aerobic performance by
evaluating respiratory and metabolic variables of healthy and physically active subjects.
In accordance with the available knowledge about protruding devices and its potential
to improve the airway space, it was hypothesized that a lower jaw advancement would
enhance running aerobic performance.
MATERIAL AND METHODS
Nine healthy and active male subjects (mean ± SD: 22.7 ± 3.9 years old, 71.8 ± 8.6 kg of body
mass, 177.2 ± 5.3 cm of height,�� 4-5 training units/week of physical conditioning and > 10
years of sport experience) voluntarily participated in this study. All subjects were submit-
ted to a clinical exam adapted from Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders
(Schiffman et al., 2014) and answered a questionnaire screening for cardiorespiratory and
metabolic diseases, as well as physical injuries and/or limitations. Participants with muscu-
lar tenderness, articular and/or muscular pain, temporomandibular disorders, during ortho-
dontic treatment, poor oral health, absence of all molar teeth of one or more hemiarcades,
physical injury and/or limitation and that did not finish the testing protocol were excluded.
Subjects signed an informed consent conformed to the Declaration of Helsinki and approved
by the local University Ethics Committee (code nº 000519).
Dental arches impressions were taken using alginate (orthoprint®, Zhermack®, Italy) to
obtain study casts in dental gypsum type III (Crystacal®, Formula, Germany) for each par-
ticipant. The jaw protruding devices were fabricated from thermoforming plates (Erkodur,
Erkodent®, Germany) following previous reports in the field of splints design and mandibu-
lar repositioning (Aarab et al., 2010; Garner et al., 2011; Gelb & Gelb, 1991). The placebo
splints were produced in a similar manner despite not covering the occlusal teeth surfaces
and not modifying the occlusal vertical dimension or mandibular position (adapted from
Greenberg et al., 1981; Schubert et al., 1984). All intraoral devices were custom fitted.
Devices comfort, breathing, speaking, adaptability and comfortability were also checked
by qualified dentists and technicians.
Participants performed a running continuous incremental protocol of 7 x 4 min until ex-
haustion, with 1 km/h increments (Billat et al., 1996; Sousa et al., 2015), on a treadmill
(H/P/ Cosmos Quasar 4.0, Nussdorf, Germany), once wearing a placebo and 48 h latter
with a jaw protruding device (single blind condition). Subjects were familiarized with both
intraoral devices, instructed to avoid high intensity physical conditioning in the previous 24
h of each testing session and abstained from caffeine and alcohol in the 3 h before the ex-
periments. The O2, minute ventilation (VE), respiratory frequency, respiratory quotient,
blood lactate concentration ([La-]) and rating of perceived exertion (RPE) were deter-
mined for both experimental conditions. During the testing sessions, all participants were
verbally encouraged to perform their maximal effort throughout the incremental protocol.
Respiratory and pulmonary gas exchange variables were directly and continuously meas-
ured breath-by-breath using a portable telemetric gas analyser (Cosmed K4b2, Cosmed, Ita-
ly). The oximeter was calibrated before each test using a mixed gas of known concentrations
(16% O2 and 5% CO2) and the turbine volume transducer regulated with a 3 L syringe accord-
ing to the manufacturers specifications (see also Zacca et al., 2019). Capillary blood sam-
ples were collected at rest and during the 3rd min of the recovery period from the indicator
finger (de Jesus et al., 2015; Fernandes et al., 2012; Sousa et al., 2015) using a portable lac-
tate analyser (Lactate Pro, Arkay, Inc, Kyoto, Japan). The RPE values were obtained through
subjects direct feedback at each exercise step using a 6-20 points scale (Borg, 1982).
For each running intensity domain, the averaged values of the last 30 s of the corresponding
77 — RPCD 19 (1)
step were calculated. Afterwards, data were edited to exclude errant values (e.g. caused by
swallowing, coughing or signal failures) and, for absolute and relative O2 analysis, only
values between O2 mean ± 4 SD were considered (de Jesus et al., 2015; Fernandes et al.,
2012; Sousa et al., 2015). Each subject ventilatory threshold was assessed by the interception
point of a combined linear and exponential pair of regressions (VE vs velocity) using the least
square method and confirmed by visual inspection (Ribeiro et al., 2015). All physiological vari-
ables, as well as RPE, were evaluated in three exercise intensity exertions: (i) at the upper
limit of the low-moderate domain, i.e., at the step corresponding to the ventilatory threshold;
(ii) at the heavy domain, i.e., at the step immediately above the ventilatory threshold; and (iii) at
the severe domain, i.e., at the step corresponding to O2max (determined by the occurrence
of a O2 plateau (differences $ 2.1 mL·kg-1·min-1 in last 30 s of the step).
The collected data were exported from K4b2 software to Excel (version 15.0 for Win-
dows) and to Statistical Package for the Social Sciences (SPSS, version 25.0 for Windows)
for posterior analysis. Data distribution and homogeneity were checked using the Shapiro-
Wilk test. Standard statistical methods were used for the calculation of individual mean
and standard deviation and reported for all variables of the study. To assess the differenc-
es between experimental conditions, a t-test for repeated measures was used. A Bland-
Altman plot analysis (MedCalc Software, version 19.2.1 for Windows) (Bland & Altman,
1986) was also performed to characterize the differences between the two experimental
conditions in the three previous determined running intensity domains (using placebo as
the reference) and to assess the absence or presence of systematic and proportional er-
rors between conditions. Statistical significance was set at a two-tailed .05 level.
RESULTS
All participants finished the experimental protocol without adverse events and no im-
pairments in their comfort, breathing or concentration were reported while wearing both
intraoral devices. Table 1 displays the mean ± SD values of all the studied variables at
low-moderate, heavy and severe running intensity domains using the placebo and the jaw
protruding device. [La-] were only compared for the severe intensity domain since blood
samples were only collected at the final of the incremental protocol. No differences be-
tween experimental conditions were observed for any variable independently of the run-
ning intensity.
TABLE 1.¾ Mean and SD values of the tested variables in both experimental conditions at different running intensity domains.
LOW-MODERATE
Placebo device Jaw protruding device p
Absolute oxygen uptake (mL·min-1) 2492.74 ± 334.11 2456.33 ± 259.73 .76
Relative oxygen uptake (mL·kg"1·min-1) 34.54 ± 3.42 34.20 ± 4.89 .85
Minute ventilation (L·min"1) 63.18 ± 8.76 67.63 ± 8.74 .28
Respiratory frequency (f·min"1) 32.32 ± 5.67 35.44 ± 6.80 .25
Respiratory quotient 1.05 ± 0.12 1.02 ± 0.07 .56
Rating of perceived exertion 10 ± 3 8 ± 2 .18
HEAVY
Placebo device Jaw protruding device p
Absolute oxygen uptake (mL·min-1) 2877.12 ± 352.53 2889.99 ± 243.35 .91
Relative oxygen uptake (mL·kg"1·min-1) 39.80 ± 2.39 40.19 ± 4.48 .82
Minute ventilation (L·min"1) 85.19 ± 20.12 89.47 ± 12.10 .54
Respiratory frequency (f·min"1) 41.51 ± 9.09 43.17 ± 8.12 .66
Respiratory quotient 1.13 ± 0.20 1.07 ± 0.05 .41
Rating of perceived exertion 15 ± 2 14 ± 3 .52
SEVERE
Placebo device Jaw protruding device p
Absolute oxygen uptake (mL·min-1) 3140.87 ± 361.26 3191.75 ± 205.20 .91
Relative oxygen uptake (mL·kg"1·min-1) 43.58 ± 3.80 44.36 ± 4.00 .82
Minute ventilation (L·min"1) 111.41 ± 8.37 114.54 ± 18.98 .54
Respiratory frequency (f·min"1) 52.78 ± 8.29 52.45 ± 11.80 .66
Respiratory quotient 1.21 ± 0.16 1.14 ± 0.07 .41
Rating of perceived exertion 19 ± 1 20 ± 1 .52
Blood lactate concentration (mmol·L-1) 10.3 ± 4.2 9.9 ± 3.1
06
79 — RPCD 19 (1)
Agreement analyses between the two experimental conditions along the running inten-
sity domains are presented in Table 2. It was found that the two conditions were almost
unbiased and between the 95 % limits of agreement. However, the amplitude of the limits
of agreement showed that, in some of the participants, the differences between conditions
can be recognizable. In addition, the slopes and intercepts of the Bland Altman regres-
sions showed evidence of proportional and systematic errors (respectively) for O2
(absolute), VE and respiratory quotient in the severe intensity domain (FIGURE 1). The same
errors were found for respiratory quotient in the heavy intensity domain.
TABLE 2.¾ Bias and 95% limits of agreement of estimations between experimental conditions at different running intensity domains, using placebo as the standard.
LOW-MODERATE
Bias 95% IC p
Absolute oxygen uptake (mL·min-1) 36.41 -639.76 – 712.57 .76
Relative oxygen uptake (mL·kg"1·min-1) 0.33 -9.68 – 10.34 .85
Minute ventilation (L·min"1) -4.46 -27.27 – 18.35 .28
Respiratory frequency (f·min"1) -3.12 -17.97 – 11.72 .25
Respiratory quotient 0.03 -0.27 – 0.33 .56
Rating of perceived exertion 1.1 -3.32 – 5.54 .18
HEAVY
Bias 95% IC p
Absolute oxygen uptake (mL·min-1) -12.87 -657.42 – 631.68 .91
Relative oxygen uptake (mL·kg"1·min-1) 0.39 -8.22 – 10.23 .82
Minute ventilation (L·min"1) -4.28 -43.48 – 34.92 .54
Respiratory frequency (f·min"1) -1.66 -23.12 – 19.80 .66
Respiratory quotient 0.06 -0.37 – 0.49 .41
Rating of perceived exertion 0.67 -5.21 – 6.55 .52
SEVERE
Placebo device Jaw protruding device p
Absolute oxygen uptake (mL·min-1) -50.89 -529.67 – 427.90 .55
Relative oxygen uptake (mL·kg"1·min-1) 0.77 -8.56 – 7.02 .58
Minute ventilation (L·min"1) -3.13 -31.77 – 25.52 .54
Respiratory frequency (f·min"1) 0.33 -16.04 – 16.69 .91
Respiratory quotient 0.07 -0.35 – 0.48 .38
Rating of perceived exertion -0.33 -1.31 – 0.65 .08
Blood lactate concentration (mmol·L-1) 0.4 -11.5 – 12.3 .84
FIGURE 1. ¾ Bland Altman analyses for absolute oxygen uptake and minute ventilation in severe intensity domain (upper panels) and respiratory quotient in severe and heavy intensity domains (lower panels) between placebo and protruding devices. Black dotted lines representing bias and black dashed lines 95 % limits of agreement and linear regression of the respective variables.
DISCUSSION
Several athletes have been using occlusal splints for dental and orofacial protection dur-
ing contact sports, as well to optimize performance. They report feeling stronger and more
06
81 — RPCD 19 (1)
relaxed when wearing occlusal splints, suggesting aerobic and anaerobic ergogenic ef-
fects (Dudgeon, Buchanan, Strickland, Scheett, & Garner, 2017; Egret, Leroy, Loret, Chol-
let, & Weber, 2002; Lee, Hong, Park, & Choi, 2013). The mandibular repositioning applianc-
es are commonly used when managing patients with mild-to-moderate obstructive sleep
apnea due to its important contribution on airway volumetric changes. Based on the same
rational, these devices have been introduced in sports to maximize performance (Shultz et
al., 2018). Thus, we aimed to observe the effect of a lower jaw protruding device in healthy
active subjects during running at a large spectrum of intensities.
Pharyngeal airway improvements when using repositioning devices has been frequent-
ly suggested, resulting from a neuromuscular effect that provids the genioglossus muscle
contraction, upgrading the ventilatory dynamics by promoting the upper airway relaxation
(particularly the pharyngeal area) (Garner, 2016; Garner et. al., 2011; Remmers, 2001). De-
spite the potential benefits of advancement appliances, the effects of protective devices (e.g.
mouthguards) during exercise have been much more studied along the years. This could be
due to the fact that wearing different splints during exercise (even those that do not provide a
mandibular advancement) seem to result in biomechanical and physiological improvements,
like increasing running pattern symmetry and muscle strength, and decreasing [La-] and
cortisol levels (Garner & McDivitt, 2009; Maurer et al., 2015; Shultz et al., 2018).
Researchers are still unable to clarify which degree of forwarding jaw movement would
be the most suitable for improving athletic performance when wearing repositioning jaw
devices. However, by placing the jaw to a more forward position (providing a greater man-
dibular advancement) the airway opening is largely increased (Garner & Miskimin, 2009).
As it was not yet known which is the best mandibular advancement degree, the protru-
sion gradation chosen in the current study was based upon obstructive sleep apnea treat-
ment (Aarab et al., 2010). Moreover, as there is no certainty regarding the consequences
of large mandibular advancements, it was selected the lowest mandibular advancement
value used for apnea devices to manufacture our advancement splint.
Although with a significant anaerobic contribution, O2max is a physiological marker
frequently used to assess aerobic performance (de Jesus et al., 2015; Fernandes et al.,
2012; Zacca et al., 2019), being considered a reliable indicator of physical conditioning
status (Sousa et al., 2015). The occurrence of a O2 plateau is the primary physiologi-
cal criteria for achieving O2max, but it is not unusual to complete a maximal graded
exercise without reaching it (Howley, Bassett, & Welch, 1995). Thus, a variety of secondary
criteria have been proposed to validate the O2max achievement, particularly [La-]max % 8
mmol·L-1, respiratory quotient % 1.10, > 90% of an age-adjusted estimate of maximal heart
rate (220-age) and volitional exhaustion (Howley et al., 1995; Sousa et al., 2015; Zacca
et al., 2019). A O2 plateau was observed in the current study for both experimental
conditions. Respiratory quotient and [La-] values were also used to corroborate O2max
06achievement, together with the visual observation of participants exhaustion at the last
step of the incremental protocol.
Several authors have been reporting relevant results regarding the occlusal splints use
in sports (Garner et al., 2011; Schultz et al., 2018), but others evidenced conflicting data
(Golem et al., 2017; Bailey et al., 2015). This controversy is possibly justified by the use of dif-
ferent methodologies and devices. In the current study, no differences between conditions
were observed in any exercise intensity domain for O2 (absolute and relative) values
and respiratory-related variables, which is consistent with previous reports (Collares et al.,
2013; Gebauer et al., 2011; Piero et al., 2015). Nevertheless, other studies founded signifi-
cant improvements on O2 and VE when wearing repositioning devices during treadmill
running protocols (Garner et al., 2011; Schultz et al., 2018), resulting from a jaw forward
repositioning, leading to a greater upper airway volume, width and a decrease of the airway
resistance to airflow (Guarda-Nardini et al., 2015; Shultz et al., 2018).
The individual exertion perception during exercise is also an important variable to evalu-
ate since it is considered one of the single best indicators of physical stress and is very rel-
evant for prescribe exercise intensities (Borg, 1982). The RPE scale offers a simple method
to monitor exercise intensity, but also has demonstrated large inter-individual variability
(Johnson et al., 2017). Although RPE data did not differ between placebo and device condi-
tions in the current study, it provide relevant central and peripheral information from the
central nervous system, the musculoskeletal work and the cardiovascular and respira-
tory functions (Borg, 1982). The RPE has not yet been deeply studied regarding the use
of occlusal splints in sport activities. However, concurrently used with other variables, it
has been considered when validating the use of mouthguards without negatively impairing
performance (Bailey et al., 2015; Piero et al., 2015).
The high 95% limits of agreement amplitudes for all studied variables at the three run-
ning intensity domains, as well as the presence of proportional and systematic errors at
the severe intensity exertion, shows, even without significant differences between the
studied conditions, a tendency to differ depending on the level of the runners (proportional)
and conditions (systematic). Therefore, this methodology should be extended for more
numerous samples.
CONCLUSIONS
We conclude that the current lower jaw protruding device did not influenced the running
aerobic performance of subjects engaged in regular exercise practice. Although important
effects are reported when wearing occlusal splints during sport, these remain not fully
understood. Hence, the current results should be cautiously interpreted. In fact, there is
a significant literature inconsistency regarding experimental outcomes, as well as an evi-
dent lack of methodological details, existing heterogeneous samples and distinct sports,
devices design and protocols tested. Furthermore, the current results might have been
influenced by the small sample size, inter-subjects variability and the use of a device with
a minimal jaw protrusion. The inclusion of a more homogenous sample with better trained
subjects and the use of a device with a greater protrusion degree should be considered in
future investigations to clarify the advancement occlusal splints effects in sport.
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2019/1REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO