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A história da Biblioteca Pública Benedito Leite número 15 abril/maio

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A história daBiblioteca PúblicaBenedito Leite

número 15 abril/maio

Page 2: Revista plural 15

ÍNDICEnúmero 15 abril / maio 2014

ÍNDICE

IDEIA DA CRIAÇÃO DA BIBLIOTECA PÚBLICA

Jomar Moraes

SOB O SIGNO DO LIVRO

Sebastião Moreira Duarte

HISTÓRIA ALIADA À MODERNIZAÇÃO

Rosa Maria Ferreira Lima

Rosa Maria Ferreira Lima

DOADORES ILUSTRES

CURIOSIDADES

Rosa Maria Ferreira Lima

APRESENTAÇÃO EXPEDIENTE

Page 3: Revista plural 15

Esta edição da revista Plural é totalmente dedicada à Biblioteca Pública Benedito Leite.

Com textos de Jomar Moraes, Sebastião Moreira Duarte e Rosa Maria Ferreira Lima, o leitor encontrará um breve relato sobre os fatos que marcaram a sua história na vida intelectual e literária do Maranhão.

Fundada em maio de 1831, é a segunda mais antiga instituição pública no Brasil. Gonçalves Dias, Sousândrade, Joaquim Gomes de Sousa, Aluísio e Artur Azevedo e Humberto de Campos foram alguns de seus frequentadores e usuários de seu acervo, que conta, hoje, mais de 130 mil livros, coleções de jornais e antigos manuscritos.

Em 2013, no governo Roseana Sarney, a Biblioteca foi reaberta, totalmente reformada e com novos equipamentos de digitalização, scanner e leitora de microfilme.

A sede atual, inaugurada em janeiro de 1951, está localizada na Praça do Panteon, e transformou-se num marco da arquitetura neoclássica em São Luís.

Jorge MuradPresidente do Conselho Deliberativo

Instituto Geia

APRESENTAÇÃO

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IDEIA DA CRIAÇÃO DA

BIBLIOTECA PÚBLICA

Jomar Moraes

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Ao que até hoje sabemos, a primeira proposta da criação de uma biblioteca pública no Maranhão foi apresentada a 8 de julho de 1826, no curso de uma ses-são do Conselho do Governo da Provín-cia. Formalizou-a o Dr. Antônio Pedro da Costa Ferreira (Alcântara-MA, 1778 - Rio de Janeiro, 1860), bacharel em Câ-nones pela Universidade de Coimbra, futuro presidente da Província do Ma-ranhão, senador do Império e agracia-do com o titulo de barão de Pindaré.

Tal proposta, entretanto, não produ-ziu nenhum efeito imediato, embora haja desempenhado o papel de semen-te boa lançada à terra e com efetivo po-der de germinação.

É que a providência sugerida por Costa Ferreira indicava que, para a aquisição dos livros destinados à pro-jetada biblioteca pública, fosse destina-da uma dotação anual correspondente a um oitavo do superávit provincial. Mas como o Conselho não dispusesse de dados que lhe permitissem estimar o valor do “superávit” e muito menos o de sua oitava parte, nenhuma decisão foi adotada em relação à criação da bi-blioteca.

A proposta de criação desse órgão foi apresentada quando presidia a Provín-cia e, consequentemente, o respectivo Conselho do Governo o tenente-coro-nel Pedro José da Costa Barros, que go-vernou o Maranhão de 31 de agosto de 1825 a 1º de março de 1827, o qual foi sucedido pelo vice-presidente Romual-do Antônio Franco de Sá, cuja interi-

nidade se estendeu até 28 de fevereiro de 1888, data em que assumiu o posto o marechal-de-campo Manuel da Costa Pinto. Este, a exemplo de seus dois ci-tados antecessores, nada providenciou relacionado com a criação da biblioteca, talvez por motivo dos breves períodos em que todos estiveram no Governo da Província.

Coube ao governante seguinte, de-sembargador Cândido José de Araújo Viana, futuro Marquês de Sapucaí, que presidiu a Província de 14 de janeiro de 1829 a 11 de outubro de 1832, dar efe-tividade à proposta de Costa Ferreira. Por ofício de 17 de junho do mesmo ano em que assumiu o Governo da Provín-cia, fez chegar a S.M.I.¹ pedido de auto-rização e de ajuda financeira para que fosse criada em São Luís uma bibliote-ca pública, ofício esse acompanhado da referida ata do Conselho.

A resposta, em nome do Imperador Pedro I, assinada pelo ministro José Clemente Pereira, datada de 30 de ou-tubro do mesmo ano de 1829, dizia ha-ver Sua Majestade determinado fosse participado ao presidente da Província “que as circunstâncias atuais das ren-das públicas não permitem que se faça, por ora, esta despesa.”

Era, assim ontem tal qual hoje, o co-nhecido e lamentável menosprezo pela cultura e pela educação, um dos males que infelicitam o Brasil. Recursos os mais comezinhos são negados para fins culturais, ao mesmo tempo em que são dissipadas quantias exponencialmen-

1. S.M.I - Sua Majestade Imperial

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te maiores de que aquelas que mante-riam em bom funcionamento um órgão cultural de importância relevante ou custeariam um programa editorial de-cente.

O presidente da Província, Araújo Viana, entretanto, não se deu por ven-cido em face da negativa imperial.

Desautorizado em sua pretensão de utilizar recursos oficiais, empreendeu uma subscrição popular e voluntária, para obtenção dos meios necessários à instalação da biblioteca. À Câmara Mu-nicipal de São Luís delegou a incum-bência de promover uma subscrição e organizar a biblioteca.

É de 24 de setembro de 1829 o ofício em que a Câmara se declarou honrada pela deferência de sua escolha “para dirigir o quanto fosse concernente à li-vraria pública.” Para desobrigar-se do compromisso assumido, designou uma comissão composta dos vereadores Ma-nuel Raimundo Correia de Faria e João Gualberto da Costa.

A 10 de novembro o presidente Araújo Viana comunicava ao impera-dor a solução encontrada para o estabe-lecimento da Biblioteca, sem acarretar qualquer dispêndio para a Fazenda Na-cional. Recebeu, por isso, a aprovação e louvor de D. Pedro I, conforme ofício que a 23 de janeiro de 1830 lhe dirigiu o marquês de Caravelas, nestes termos:

“Aviso aprovando a medida tomada para a Biblioteca Pública – Ilmo. e Exmo. Snr. – Sendo presente a S.M. o Imperador ofício de V. Exª., de 10 de novembro do

ano p. p., em que participa ter empreen-dido uma subscrição voluntária para o es-tabelecimento de uma Biblioteca Pública nessa cidade, sem dispêndio da Fazenda Nacional. Houve por bem o Mesmo Au-gusto Senhor aprovar a deliberação da V. Exª. àquele respeito; e me ordena louvar no Seu Imperial Nome o zelo com que V. Exª., sem aumentar as despesas do Esta-do, procura tornar cada vez mais próspe-ra a condição dos habitantes da Província que lhe foi confiada. – Deus Guarde a V. Exª. – Palácio do Rio de Janeiro, em 23 de janeiro de 1830. – Marquês de Carave-las – Snr. Cândido José de Araújo Viana – Cumpra-se e registre-se. – Maranhão, Palácio do Governo, em 12 de março do 1330 – Araújo Viana.” ²

3 DE MAIO DE 1831, NO CONVENTO DO CARMO

Ocupando a parte superior do Con-vento do Carmo, foi a Biblioteca Pú-blica Provincial aberta oficialmente ao público de São Luís em 3 de maio de 1831. Dispunha, à época, de um acervo de 1.448 volumes, provenientes, em sua maioria, de generosas doações, como a que fez o Dr. Costa Ferreira, de 300 li-vros. Em ofício dirigido à Corte, Araú-jo Viana, além de comunicar a abertura da Biblioteca, pedia “algum socorro pe-cuniário da Fazenda Pública”, para ma-nutenção e desenvolvimento do órgão recém-fundado.

Instalada graças a subscrição popular e mantida, inicialmente, com recursos da Província e das Câmaras Munici-pais, já no Orçamento do Império, para

2. Do Livro 133, de Provisões e Avisos, 1826/30, fl. 174 ev.

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o exercício de 1832/33, era contemplada com a dotação de um conto, trezentos e cinquenta mil réis. Mas logo em 1834, com a edição do Ato Adicional, passou a depender exclusivamente da Provín-cia a sua manutenção.

A Biblioteca possuía, nesse ano, um acervo de 2.399 volumes, 443 dos quais doados pela Biblioteca Imperial e Públi-ca do Rio de Janeiro, a pedido do barão de Pindaré.

Tudo leva a crer tenha a Biblioteca vivido, inicialmente, um período de re-lativa prosperidade, mormente quando se sabe que pouco depois de sua insta-lação assumiu o Governo da Província o barão de Pindaré, grande entusiasta de sua criação e funcionamento.

Em 1836 já possuía um acervo de 3.376 volumes. A análise, porém, das leis or-çamentárias provinciais no período que vai de 1835/36 a 1843/44 demonstra a ausência de qualquer empenho em possibilitar meios para sua expansão. Antes, foram as dotações, mantidas em dois contos de réis até 1842/43, reduzi-das a um conto e duzentos mil réis, no orçamento para o exercício de 1843/44.

É fácil inferir, por esse e outros mo-tivos, haja a Biblioteca, depois do im-pulso que lhe deu Costa Ferreira, en-trado numa fase de involução cada vez maior, à medida em que não dispunha da recursos materiais para crescer pelo menos na proporção em que o fazia a cidade.

Com o decorrer do tempo essa situa-ção não mudou para melhor, senão que se agravou consideravelmente. Pelo que se conclui de consulta a diversas fontes, continuou para a Biblioteca uma época de franca decadência e abandono.

Minimizada em sua importância pela anexação, em 1851, ao Liceu Maranhen-se, também instalado, desde sua funda-ção em 1839, no Convento do Carmo, projeto de Joaquim Serra ao Conselho da Província, em 1865, buscava certamente salvar o que ainda restava, pondo-a sob a proteção do Instituto Literário Mara-nhense³, entidade recém-fundada em São Luís.

Digno de atenção, para comprovar a decadência em que se afundava nossa principal casa de leitura, é o registro que a 9 de maio faz o Publicador Mara-nhense:

Biblioteca Pública – Este estabeleci-mento conta apenas 1.900 volumes, dos quais um grande número se acha conside-ravelmente arruinado.

Com o regulamento que tem, no edifício em que está e desprovida de livros como se acha, a Biblioteca continua a ser de perfei-ta inutilidade para o público.

Urge, pois, mudá-la para casa apropria-da, enriquecê-la de grande cópia de obras de todos os ramos de conhecimentos hu-manos e dar-lhes regímen, de maneira que esteja ela aberta nas horas em que pode ser maior a afluência dos estudiosos.

3. Instituto Literário Maranhense – instalado em 25 de março de 1865, no pavimento superior do Convento do Carmo. A 9 de abril de 1866 elegeu a seguinte Diretoria: Presidente, Francisco Sotero dos Reis; Vice-Presidente, Francisco de Melo Coutinho de Vilhena; 1º Secretário, Bráulio C. do Rêgo Mendes; Tesoureiro, Luís Carlos Pereira de Castro; Bibliotecário, Antônio Rêgo (apud. Publicador Maranhense, 10 de abril de 1866)

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A capital do Maranhão, por sua adiantada civilização, pela conheci-da aptidão dos seus habitantes para as letras e ciências, tem direito a possuir um estabelecimento deste gênero nas condições expostas.

E para comprovar a situação de pro-gressivo abandono da Biblioteca, certa-mente nenhum testemunho seria mais forte que as palavras do próprio Chefe do Governo Maranhense, conselheiro Antônio Manoel de Campos Melo, em Relatório à Assembleia Legislativa Pro-vincial, no ano de 1862:

TRANSFERÊNCIA PARA O INSTITUTO LITERÁRIOMARANHENSE

A Biblioteca era, então, um órgão de-cadente e sem utilidade social. O pro-jeto de Joaquim Serra não poderia ser mais oportuno. Ao Governo importava

afastá-la de si, já que não providenciava sua restauração, talvez por exiguidade de recursos orçamentários. Com efeito, entregou-a ao Instituto Literário Mara-nhense, através da Lei nº 752, de 1º de julho de 1866, cujo primeiro artigo re-zava:

“A Biblioteca Pública Provincial fica, desde já, a cargo e sob a guarda do Ins-tituto Literário Maranhense, sem ônus nenhum para a Província.”

Para se ter uma ideia do estado da Biblioteca ao ser entregue aos cuida-dos do Instituto Literário Maranhense, basta ler a parte que lhe diz respeito no Relatório do Presidente Franklin A. de Menezes Dória. Registrando o feito, o Almanaque do Maranhão, ed. de 1867 (p. 98), referia-se ao pouco valor da ins-tituição transferida e, na edição de 1868 (p. 96), dava notícia de que o Instituto Literário Maranhense consertara-lhe as instalações e salvara das “traças e ca-runchos” 984 volumes.

Realmente tudo leva a crer estivesse a Biblioteca tão esquecida e mal cuidada, que o Governo Provincial, eximindo-se da obrigação de mantê-la, fez-lhe gran-de bem.

Ora, se em 1836 chegara a ter 3.376 vo-lumes e em 1866 só dispunha de 1.931, de que puderam ser aproveitados ape-nas 984, sua transferência para o Institu-to Literário Maranhense constituiu me-dida altamente benéfica, pois o zelo dos dirigentes daquela notável sociedade re-sultou na incorporação de peças que até hoje, não obstante extravios e descami-nhos, enriquecem o seu acervo, como as

“BIBLIOTECA – Possui a Biblioteca 1.931 volumes arruinados, como observei. Segundo informou o bibliotecário, {Dire-tor, à época} este estrago é devido às más condições da Biblioteca, e à dificuldade na renovação do ar no edifício, e à péssima dis-posição das estantes, que, sendo fixas nas paredes, não podem ser espanejadas pela parte interna, o que facilmente as sujeita à ação das traças, brocas e outros vermes. Nenhum aumento tem tido a Biblioteca no número de volumes, a não ser o de alguns livretes ou coleções de leis gerais e provin-ciais.” E, no ano seguinte, a mesma auto-ridade afirmava em seu relatório, quanto à Biblioteca: “Nada tenho a acrescentar ao que o ano passado vos disse a este respei-to.”

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doações de Alexandre Teófilo de Carva-lho Leal, Antônio Rego, viúvas de Gon-çalves Dias e Teixeira Mendes, irmãos do Dr. Caetano Cândido Cantanhede e outras várias, merecendo especial re-ferência a que fez Antônio Henriques Leal, de livros e coleções dos seguin-tes jornais: O Conciliador (1821/23), O Censor (1825/30), A Estrela do Nor-te do Brasil (1829/30), O Argos da Lei (1825), Crônica Maranhense (1838/41), O Farol Maranhense (1827/33), O Brasi-leiro (1830/32), Eco do Norte (1834/36) e alguns mais que integram, ainda hoje, a sua importante coleção de jornais ma-ranhenses.

Sob nova gestão, a Biblioteca, depois de recuperadas suas péssimas instala-ções, foi reaberta ao público, dispondo de um acervo de 2.234 livros encader-nados e convenientemente arrumados.

SEGUNDA TRANSFERÊNCIA: SOCIEDADE 11 DE AGOSTO

Assim funcionou esta casa de leitura, tendo por sede o mesmo local (Conven-to do Carmo), até que o desmoronamen-to e consequente extinção do Instituto fê-la retornar ao Governo da Província.

Mas este novamente e sem nenhuma tardança a confiou a terceiros. Desta vez, à Sociedade Onze de Agosto (conforme Lei n. 991, de 10 de junho de 1872), que lhe deu instalações condignas em seu salão de honra, no pavimento superior do prédio da Rua do Egito, que sediou a Assembleia Legislativa do Estado.

Durante cerca de dez anos, a Socie-

dade Onze de Agosto floresceu entre nós, graças à capacidade de trabalho de seus dirigentes. Incorporando a Bi-blioteca Pública Provincial, proveu-lhe boas condições de funcionamento, des-tinando espaço e equipamento para a guarda de todas as peças de seu acervo, conforme se depreende das palavras de Henrique Costa Fernandes, em seu li-vro Administrações maranhenses.

Sucedeu, porém, que as dificuldades financeiras em que, após alguns anos de relevantes serviços à educação e à cultura de nossa terra, se encontrou a Sociedade Promotora da Instrução Pú-blica – Escola Onze de Agosto torna-ram absolutamente impossível sua sub-sistência. Entregue a sede ao Governo Provincial, que indenizou a extinta cor-poração das despesas de reconstrução e adaptação do prédio, adquirido na condição de próprio público cedido, a Biblioteca perdeu suas instalações.

Algum tempo depois, foi resolvi-do que, não dispondo de sede própria para suas reuniões, a Assembleia Pro-vincial deveria ocupar o imóvel da ex-tinta Escola Onze de Agosto. Até então nosso Legislativo se vinha reunindo em dependência da Cúria Metropolita-na, contígua à Sé Catedral, frente à hoje Praça Benedito Leite.

Isto posto, uma simples troca de po-sições possibilitou a execução plena do projeto que dava sede própria à Assem-bleia. Enquanto “pedreiros metiam o al-vião nas paredes e arrancavam as estantes, carapinas levantavam os estrados, desloca-vam as mesas e preparavam a sala para re-

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ceber os representantes da Província” (do Relatório do comendador Temístocles da Silva Maciel Aranha, citado por Hen-rique Costa Fernandes, in Administra-ções maranhenses, p. 335).

Extinta a Sociedade Onze de Agosto, não foi o prédio de sua sede vendido ao Governo Provincial, para pagamento de dívidas, como informa o professor Je-rônimo de Viveiros, em seu livro Bene-dito Leite, um verdadeiro republicano, p. 154. O imóvel, adquirido no Gover-no do Dr. Augusto Olympio Gomes de Castro, foi cedido à Sociedade Onze de Agosto por ato do presidente José Ben-to da Cunha Figueiredo Júnior. A quan-tia de Rs. 8:231$208 paga aos credores da Sociedade referia-se a despesas de reconstrução e adaptação do prédio.

RETORNO AO CONVENTO DO CARMO, COM PASSAGEM PELA SÉ

Ato contínuo, o local anteriormente ocupado pelo Congresso passava a ser a nova sede da Biblioteca. Foi ao pro-mover tão desastrosa mudança que, nas palavras do comendador Temísto-cles Aranha, “os carregadores dos li-vros muitas vezes deixavam os caixões nas portas das quitandas, e, enquanto faziam suas libações, o moleque que passava subtraía um volume para di-vertir-se ou vender mais adiante. As ruas compreendidas entre os dois edi-fícios, o que era despojado dos livros e o que os recebia, ficavam alastradas de estampas, mapas, jornais e folhas de livros” (op. cit,, p. 335) .

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Por ato de 7 de junho de 1882, o Go-verno incumbiu Augusto da Silva Fon-tes de organizar – ou reorganizar? – a Biblioteca, após transferi-la para com-partimento da Sé, desocupado pelo Le-gislativo Provincial.

Ali teria a Biblioteca sido reaberta ao público em 4 de abril de 1883, com 3.842 volumes.

Mas, ainda segundo o comendador Maciel Aranha, designado em 1886 para estudar as providências de salvação do que restava da malfadada casa de cultu-ra, os responsáveis pela administração da Sé Catedral não tardaram a exigir o espaço ali ocupado pela Biblioteca. A solução para o impasse foi recorrer ao Convento do Carmo, cujo provin-cial, “satisfeito e sem protesto”, a rece-beu de volta.

Não obstante o gesto hospitaleiro da acolhida em situação tão crítica, so-breleva esclarecer, novamente citando o Relatório de Temístocles Aranha ao presidente da Província, que foi “esta mudança ainda mais precipitada que a anterior, pois as salas (se salas são esses quartos) que deviam receber os livros nem sequer estavam caiadas e ladrilhadas. O resultado foi o que em princípio disse a V. Exa. – desaparecer a Biblioteca!”

Daí por diante, a Biblioteca permane-ceu abandonada e esquecida, tanto que, pelo comum, deixou de figurar nos Re-latórios dos Presidentes da Província, e quando alguma rara ocasião tal aconte-ceu, nada de importante se disse dela, como neste exemplo: “BIBLIOTECA

PÚBLICA – Funciona atualmente este estabelecimento em um dos salões do pavimento térreo do Convento do Car-mo. É diretor da Biblioteca o cidadão Raimundo Carlos de Almeida Sobral. (Presidente José Bento de Araújo, in Fala à Assembleia Legislativa Provin-cial do Maranhão, em 11.2.1888, p. 18).

Embora retificando a afirmação do prof. Jerônimo de Viveiros (Benedi-to Leite, um verdadeiro republicano, p 156/161), sobre ser a atual Biblioteca Pública Benedito Leite outro órgão que não o fundado em 1831, em consequên-cia da proposta apresentada ao Conse-lho da Província pelo futuro barão de Pindaré, importa reconhecer sua ne-nhuma utilidade desde que voltou ao Convento do Carmo, após a extinção da Sociedade Onze de Agosto.

Sem recursos para manter-se e com-prar livros novos, praticamente não existia, com o seu acervo em ruínas, empilhado no pavimento inferior do Convento do Carmo.

UMA GLORIOSA RESSURREIÇÃO

É curioso observar como, ao período em que se extinguem as grandes figu-ras do Grupo Maranhense, corresponde uma das fases mais críticas da história da Biblioteca. E mais curioso ainda será observar que sua reorganização ocorre exatamente ao tempo em que o Mara-nhão ressurge de suas próprias cinzas gloriosas, pelas mãos dos chamados “novos atenienses”.

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Em 1892, acompanhando o Liceu Ma-ranhense, transfere-se do Convento do Carmo para a Rua Afonso Pena (então, Formosa), canto com a Rua Henriques Leal, onde atualmente existe uma uni-dade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão.

Seus livros, destruídos e/ou extravia-dos em grande parte, não ultrapassam 500 em 1895, ano em que é determinada sua organização, graças a Lei oriunda de projeto apresentado por Benedito Leite ao Congresso Legislativo do Estado.

Encarregado, em caráter provisório, de cuidar da Biblioteca, por ato gover-namental de 5 de junho de 1895, o pro-fessor José Ribeiro do Amaral desenvol-ve intensa atividade na transferência do acervo restante para o prédio da Rua da Paz nº 80, sede, hoje, da Academia Ma-

ranhense de Letras. Nomeado Diretor a 13 de abril de 1896, prossegue o profes-sor Ribeiro do Amaral em seu desvela-do mister de restabelecer a Biblioteca, providenciando-lhe instalações e solici-tando doações de livros. Aos 500 volu-mes a que, aproximadamente, montava o acervo encontrado, somam-se, agora, substanciais ofertas, como a de Benedi-to Leite, constante de 341 volumes.

Finalmente, no ano de 1898, a 25 de janeiro, foi a Biblioteca reaberta ao pú-blico, já sob a direção de Antônio Lobo.Inegavelmente, a administração de An-tônio Lobo marcou uma das fases mais brilhantes da história atormentada e si-nuosa de nossa principal casa de leitura.

Transformada em ponto de conver-gência da atividade intelectual mara-

Antiga sede da Biblioteca Pública, entre 1896 e 1950.

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nhense, ali foram proferidas as famosas conferências da Universidade Popular do Maranhão, movimento surgido m 1909, e que contou com o entusiasmo das mais proeminentes figuras, à épo-ca, do mundo intelectual maranhense.

Local de encontro de jornalistas, pro-fessores e intelectuais militantes, repre-sentou, sem dúvida alguma, importante papel em nossa vida cultural. Lá, foram fundados, no tempo de Antônio Lobo, a Oficina dos Novos, a Sociedade Cívica das Datas Nacionais, a Academia Ma-ranhense de Letras, jornais, revistas, etc.

Dentre as muitas personalidades que a visitaram nessa época, deixando re-gistradas suas impressões, seja-nos per-mitido transcrever a de Coelho Neto, que assim se expressou:

Não seria demais repetir que a Biblio-teca Pública foi, em verdade, o centro propulsor da grande fermentação espi-ritual que aos albores deste século fez refulgir nosso perdido brilho de terra do talento e da inteligência.

Antes da reorganização, a contar de 1895, merece referência especial o des-velo com que se houvessem Antônio Henriques Leal e Antônio Rêgo, pelo tempo que funcionou entre nós o Insti-tuto Literário Maranhense, a cuja guar-da e cuidados foi entregue a Biblioteca em 1866.

MUDANÇAS, NOVAMENTE

As mudanças, como já vimos, consti-tuíram terrível flagelo imposto à Biblio-teca durante largo tempo. Relativamen-te bem instalada na Rua da Paz nº 80, a partir de 25 de janeiro de 1898, determi-nação governamental fê-la retornar ao prédio da Rua do Egito (onde estivera ao tempo da Escola Onze de Agosto). E, desta vez, para a parte térrea, em que permaneceu de 1914 até 1927, quando por ordem do governador Magalhães de Almeida, foi novamente transferida para sua sede anterior, na Rua da Paz.

Quatro anos depois, em 1931, é provi-soriamente instalada no sobrado nº 107, da mesma rua (justamente naquele em que Humberto de Campos serviu como caixeiro da Casa Trasmontana), a fim de que se efetuassem reformas em sua sede, cujo teto ameaçava desabar. So-mente quase dois anos depois retorna-ria ao prédio anterior, cuja reforma le-vou mais de um ano para ser concluída.

“Esta é a grande colméia.Aqui, nos seus alvéolos, vivem as abe-

lhas que trazem da grande flora do Espí-rito Humano o mel sápido da Inspiração e a cera da Sabedoria.

Distila o mel dourado das estrofes e os conceito, feito da cera casta que é a ma-téria-prima dos círios, dão luz ao altar do mundo, onde o Pensamento é o Deus único, forte, criador eviterno.

Guarda, Aristeu, às abelhas serenas e aos que te pedirem mel ou cera, vai pro-digamente dando, que, assim, praticas a mais meiga e salutar das misericórdias, qual a de consolar e esclarecer os espíri-tos.”

Maranhão, 15 de julho de 1899.Coelho Neto.

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Além dessa impressionante sequên-cia de mudanças, pelo comum alta-mente prejudiciais à integridade de seu acervo e instalações, a história de nossa Biblioteca Pública registra períodos de graves dificuldades financeiras, em que o orçamento estadual não lhe consigna-va qualquer importância para aquisição de livros e manutenção de serviços in-dispensáveis, como limpeza, desinfec-ção, encadernação, etc.

Dessa indiferença queixava-se ao Se-cretário-Geral do Estado, em 31 de mar-ço de 1933 (Of. n. 252), o Diretor Corrêa de Araújo, reclamando a majoração de vencimentos dos servidores da Casa, congelados de 1899 a 1920, e desse ano até 1933.

Vários diretores, especialmente An-tônio Lobo e Domingos Perdigão, fi-zeram repetidamente constar de seus relatórios anuais sérias críticas às pre-cárias condições de funcionamento da Biblioteca. Apontavam sempre, como solução para o problema, a construção ou adaptação de um imóvel especial-mente destinado a abrigar a Bibliote-ca. Em 24 de abril de 1918, o governa-dor José Joaquim Marques sancionou a Lei n. 816, que autorizava o Poder Executivo a construir ou adaptar um prédio destinado a tornar efetiva essa justa aspiração. Tal lei, entretanto, não teve execução, e mais de quarenta anos se passaram sem que nenhuma provi-

Sala de leitura da antiga sede da Biblioteca Pública

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dência objetiva merecesse o problema. A imponente sede atual, na Praça do

Panteon, é obra do Governo Sebastião Archer da Silva, inaugurada a 29 de ja-neiro de 1951, sendo sua Diretora a Srª Aricéya Moreira Lima da Silva, a cujo trabalho muito se deve.

Nome que também não pode ser es-quecido entre os que mais lutaram pela construção de um prédio próprio para a Biblioteca é o do escritor maranhense Josué Montello, que após encarregar-se gratuitamente de adquirir, sob critérios técnicos, todo o mobiliário da nova casa de leitura, veio ao Maranhão para de-fendê-la junto à Assembleia Legislativa, contra alguns parlamentares que acha-vam a obra suntuosa demais para uma biblioteca! O discurso que ali proferiu em 11 de dezembro de 1950, verdadeira peça literária, cuja a íntegra a seguir vai reproduzida:

Senhor Presidente,Senhores DeputadosQuero agradecer a Vossas Excelências,

inicialmente, a honra que neste momen-to me concedem, para expor desta tribuna, tradicionalmente honrada pelos propugna-dores da causa democrática no Maranhão, o projeto das novas instalações da Biblioteca Pública do Estado.

Não sendo eu elemento do Executi-vo Maranhense nem possuindo as prerro-gativas de um mandato popular, bem sei que Vossas Excelências, convocando-me a esta exposição, me distinguem de maneira excepcional, que particularmente me sensi-biliza.

Há, para aproximar-nos, uma razão comum: a defesa de uma cultura ameaçada – a do Maranhão –, simbolizada no templo que se lhe pretende erigir, com as galas de uma casa de Atenas, na nova Biblioteca Pú-blica do Estado.

Não medi sacrifícios, Senhores De-putados, ao deixar a oficina de meu trabalho e aqui comparecer, com as insígnias de meu título de maranhense que ama seu berço e jamais conta as horas dos dias e das noites, quando se acha em causa a batalha em prol da preservação de patrimônio cultural de nossa terra.

Confesso, no entanto, a Vossas Ex-celências, como exórdio desta minha expla-nação, que, ao ser distinguido pelo Governa-dor Archer da Silva, em dias do ano passado, com a honrosa incumbência de planejar as novas instalações da Biblioteca de São Luís, meu impulso foi esquivar-me à responsabi-lidade da missão, em face dos dois motivos ponderáveis, que a seguir apresento.

O primeiro, ligava-se ao fator tem-po, que, com a graça de Deus, mercê de mi-nha dedicação ao trabalho, nunca deixou de me ser escasso, mormente agora, quando me pesam sobre os ombros os dois milhões de volumes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Único maranhense a galgar a sua direção, em mais de um século de existência de nossa mais importante livraria, busquei compensar, em redobrado esforço, a circuns-tância de haver chegado a um cargo de an-cião letrado com menos de trinta anos. De que não desservi a Casa nem comprometi minha terra – aí estão as provas, no reco-nhecimento público à operosidade de minha administração, por parte das mais diversas correntes culturais e políticas de meu país.

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Jamais deixei de associar minha pre-sença, na direção de nossa mais alta insti-tuição de cultura, ao nome de minha terra. E recordo, para atestá-lo, os oito volumes que a Biblioteca Nacional, na minha gestão, já publicou até hoje a título de subsídios ao documento da vida pregressa do Maranhão.

Por outro lado, pessoalmente ou como diretor da Casa, sucessivas remessas de publicações tenho orientado para a Biblio-teca Pública de minha terra, além de haver cooperado com o Deputado Odilon Soares na instalação e na manutenção de numero-sas pequenas bibliotecas que se acham dis-seminadas por todos os pontos do território maranhense. Os técnicos que hoje servem à livraria maranhense foram formados por mim, nos Cursos da Biblioteca Nacional, através de bolsas de estudo que coloquei à disposição do Estado. E devo acrescentar, para reavivar um pouco a minha própria memória, que o primeiro Curso de Bibliote-conomia ministrado em nossa terra, fui eu quem dele se incumbiu, gratuitamente, em 1946, no intuito de disseminar os conheci-mentos básicos de organização e adminis-tração de uma biblioteca moderna em São Luís.

Possivelmente em razão desse reite-rado propósito de servir ao Maranhão (de que fui, certa vez, o único Secretário-Geral sem ônus para o Estado), foi que o Gover-nador Archer da Silva me distinguiu com a convocação para orientar as instalações da Biblioteca Pública que se pensa inaugurar dentro em breve. Mas é preciso que eu diga, Senhores Deputados, que a incumbência, aceita nas mesmas condições de gratuida-de de todos os meus trabalhos anteriores ao Maranhão, correspondia a alguns meses de

labor constante, o qual deveria ser concilia-do, ainda, com as minhas atividades à frente da Biblioteca Nacional e também com as de-mais obrigações de minha vida de escritor.

A essa dificuldade de conciliação do tempo vinha somar-se um motivo de ordem moral, bem mais delicado e de difícil supera-ção. Eu teria naturalmente de envolver-me, embora de maneira apenas opinativa, em problema que demandava apelo ulterior aos cofres do Estado, e deveria, por conseguin-te, salvaguardar, no curso da transação que dependia de meu veredito, ao mesmo tempo a limpidez de meu nome e os interesses ma-teriais de meu Estado.

Por isso, Senhores Deputados, man-dava a minha prudência que eu, cautelosa-mente, atordoado na minha falta de tempo, me esquivasse à honraria do convite que me fora dirigido.

E foi o que fiz, em carta ao Exmº. Sr. Governador Archer da Silva.

Mas a minha condição de Diretor da Biblioteca Nacional, que eu invocara como argumento à recusa, serviu ao Governador maranhense, precisamente, como motivo à reiteração do convite.

Conta Jean Jacques Brousson que Anatole France, ao chegar ao Rio, disse ao almirante Jaceguai, que lhe fora apresenta-do:

- Almirante, o senhor é um herói. E como o almirante, contente, lhe

perguntasse se lhe conhecia os feitos glorio-sos, Anatole France abanou negativamente a cabeça e explicou-se:

- Por definição, um almirante é um herói.

Pelo menos por definição, eu deveria 16 / 45Ìndice

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entender do problema que o Maranhão me convidava a resolver.

Anuindo então ao novo apelo, que me lisonjeava, ponderei que seria de minha conveniência expusesse eu a esta Assem-bleia, no instante da decisão legislativa do processo, todas as etapas de meu trabalho, e, se possível, em sessão pública, para que, as-sim, mais esclarecido ficasse o povo, numa obra que ao povo unicamente se destina.

A aquiescência desta Casa, facultan-do-me a palavra, corresponde, dessa forma, a um desejo meu, na salvaguarda de meu nome e dos supremos interesses de nosso Estado.

Agradeço, portanto, bastante pe-nhorado, à gentileza de Vossas Excelências, Senhores Deputados, na oportunidade que se me concede para honrar-me no altiplano desta tribuna.

Por sua tradição cultural e por seu culto ininterrupto ao bom gosto literário, o Maranhão deveria erguer as pedras de sua biblioteca pública com o fervor com que, na Idade Média, a Cristandade projetou no es-paço as linhas góticas de suas catedrais. Não se poderia medir sacrifícios à consecução de uma obra que se vincularia ao passado, ao presente e ao futuro, e que devesse exprimir, na beleza de sua imponência, toda a glória cultural de um grande povo. Se os religiosos antigos batiam o pó das estradas esmolando em nome de Deus para construírem as igre-jas opulentas, que simbolizariam a grande-za da fé na humildade da condição humana, por que motivo haveríamos nós, no nosso devotamento às tradições intelectuais, de erigir um templo mesquinho à cultura, na Atenas Brasileira?

Em minha opinião, Senhores Depu-

tados, esse argumento bastaria para justi-ficar a obra que nos vai envaidecer, se não houvesse outras razões ponderáveis, bem mais objetivas, de sentido mais prático, para explicar, à luz do sol, com a clareza das verdades evidentes, uma iniciativa que não pertence unicamente ao Governo do coronel Sebastião Archer da Silva, mas sobretudo a Vossas Excelências, que souberam ratificar, no texto das leis, a sugestão do Executivo maranhense.

Quando recebi o convite para pro-jetar as instalações da nova Biblioteca, já o seu edifício, com a imponência das linhas clássicas, dominava a praça Deodoro, numa eminência de que descortina toda a cidade. Cumpria-me traçar um plano que, dentro dos princípios básicos da biblioteconomia moderna, ajustasse as instalações ao edifí-cio, a fim de que a obra não resultasse se-gundo os versos populares:

“Por fora, bela viola; Por dentro, pão bolorento” Durante três meses consecutivos es-

tudei pormenorizadamente cada aspecto do problema, apaixonando-me por ele, como maranhense, e posso dizer a Vossas Exce-lências que a obra, uma vez concluída, po-derá servir de padrão às iniciativas congê-neres em nosso país.

No primeiro pavimento, projetei o salão de leitura, com seu serviço de referên-cia, o vestíbulo, os catálogos, as acomoda-ções do público e dos servidores; a seguir, no segundo pavimento, previ a Biblioteca Infantil, o Museu de Arte e a Biblioteca de Adolescentes, convenientemente separadas por paredes de vidros e com o mobiliário adequado; no último pavimento procurei aglutinar toda a obra cultural da instituição

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num salão de conferências, com duzentas e quatro acomodações, e ainda um palco de doze metros, de tal sorte que aí seria o teatro natural da inteligência maranhense, para as suas experiências dramáticas, os seus concertos, as suas palestras, os seus debates eruditos. Tudo isso, Senhores Deputados, se projetou com equilíbrio e bom gosto, de que constituem resumo expressivo as plantas e desenhos que submeti à consideração do Sr. Governador do Estado.

Aprovado esse plano, que atendia perfeitamente aos propósitos de dotar-se o Maranhão com uma biblioteca-modelo, cou-be-me ainda processar a coleta de preços en-tre as firmas especializadas e disto dei conta ao Sr. Governador Archer da Silva no tex-to do ofício que lhe dirigi em data de 18 de agosto último e que se acha anexado ao pro-cesso respectivo.

Dirigi-me, então, em nome do Go-vernador maranhense, às seguintes firmas especializadas:

G. F. Gunther, do Rio de Janeiro. Brasileira Fornecedora Escolar, S.

A., de São Paulo. Tapeçarias Souza Batista S.A., do

Rio de Janeiro. Fábrica de Móveis Piratininga

Ltda., de São Paulo. Certo de que tais firmas se poderiam

desincumbir-se do projeto, com exatidão e rigor, escolhi-as entre as demais, da capital da República e de São Paulo, em razão de ter eu, como Diretor da Biblioteca Nacio-nal, conhecimento direto de obras congêne-res pelas mesmas firmas executadas.

Verifica-se pela documentação em anexo, que a firma G. F. Gunther apresen-

tara a proposta que melhor consultava os interesses do Estado, na base global de Cr$ 3.067.000,00 (três milhões e sessenta e sete mil cruzeiros).

Eram as seguintes as condições das demais firmas consultadas:

Brasileira Fornecedora Escolar S. A., de São Paulo:

- Cr$ 4.221.000,00 (quatro milhões e duzentos e vinte e um mil cruzeiros).

Tapeçarias Souza Batista S. S., do Rio de Janeiro.

- Cr$ 4.293.000,00 (quatro milhões e duzentos e noventa e três mil cruzeiros).

Fábrica de Móveis Piratininga S. A., de São Paulo.

- Cr$ 4.602.000,00 (quatro milhões seiscentos e dois mil cruzeiros)

A firma que exibia a proposta de preços mais reduzidos e que se distanciava sensivelmente das demais apresentava como credenciais de sua idoneidade, entre deze-nas de outras, as seguintes obras de vulto, de que, ultimamente, se desobrigara, após vencer, na administração federal, as respec-tivas concorrências públicas:

Reforma Geral da Biblioteca NacionalInstalações da biblioteca do:Ministério da Educação e Saúde.Tribunal de Contas da União.DASP.Departamento Nacional de Saúde.SAPS (Rio, Niterói, Juiz de Fora). Instalação completa do Hospital dos

Servidores Públicos, no Rio de Janeiro.Instalação de nove pavimentos do Mi-

nistério da Educação e Saúde.18 / 45Ìndice

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Instalação do Gabinete do Presidente e dos doze Ministros do Tribunal de Contas.

Instalação do Gabinete do Presidente do DASP.

Instalação dos salões e restaurante de Oficinas da Base Aérea do Galeão.

Talvez se possa presumir, em virtu-de do desconhecimento pormenorizado do vulto da obra projetada, que se trata de ins-talação onerosa. A esse propósito, julgo de meu dever prestar ainda um esclarecimen-to.

A obra que o Maranhão vai realizar, no ano de 1950, está orçada em bases bem mais módicas do que as que foram proces-sadas na Biblioteca Nacional, em 1946, no curso de administração anterior à minha. Resumindo a questão direi apenas que os dois salões de leitura da Biblioteca Nacio-nal, também feitos em madeira, custaram, há quase cinco anos, cerca de dois milhões de cruzeiros – enquanto todas as instalações da Biblioteca de São Luís, do primeiro ao último pavimento, incluindo as decorações e a iluminação e ainda um pequeno teatro moderno, e um museu de arte, e uma biblio-teca infantil, e uma biblioteca escolar, e os depósitos de livros, e o salão de leitura, e o gabinete de estudo, custarão ao nosso Es-tado Cr$ 2.784.000,00, a que se somam as despesas de transporte, calculadas em Cr$ 283.000,00.

O principal argumento que natu-ralmente se levanta contra as instalações da Biblioteca do Estado é que se trata de uma obra suntuosa. Penso que devemos, li-minarmente, repelir esse adjetivo. Não foi a suntuosidade que se buscou, mas sim o bom-gosto, dentro das condições básicas de uma biblioteca moderna.

Aos que presumem que miramos muito alto, no propósito de dotar o Mara-nhão de uma livraria modelar, desejo ape-nas arguir que, em nossa terra, construímos acertadamente um Palácio da Educação e outro para a Justiça, enquanto a cultura permanecia albergada num casarão obsole-to, sem conforto e segurança.

No entanto, Senhores Deputados, o renome do Maranhão advém precisamente de suas letras, de seu amor à sabedoria, de seu devotamento às humanidades. Presumi-mo-nos de atenienses, envaidecidos de nos-sas glórias intelectuais, e esquecemos que, talvez por falta de uma catedral para a nossa Inteligência, acabem rareando os sacerdotes do culto de Minerva, para não falarmos no abandono dos fiéis.

É necessário que eu diga a Vossa Ex-celências, com a prova das estatísticas, que o Maranhão se enfileira entre os Estados que menos adquirem livros, na queixa universal dos editores. Obras básicas essenciais para a compreensão do mundo moderno vêm a São Luís e dão aqui as de Viladiogo, porque não encontram quem as escolha, num sintoma aparente de desapreço.

Felizmente, Senhores Deputados, se trata de um fenômeno de aparência, por-quanto, mercê de Deus, continua bem viva a inteligência dos maranhenses e a sua ân-sia de sabedoria. O que ocorre, para expli-car a situação desalentadora, é que o preço do livro, alto demais para a bolsa do pobre, se transformou numa iguaria de ricos, os quais, com as exceções de praxe, parecem atacados de dispepsia nos banquetes de Mi-nerva.

Se verificarmos a média dos orde-nados no Maranhão, concluiremos que o

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livro, por seu elevado custo, se converteu para nós em artigo de luxo. É essa a razão por que as nossas livrarias têm mais aspecto de bazar do que de casa especializada no co-mércio do livro. Há muitos anos perdemos contato com os editores europeus, que dis-punham em São Luís, no começo do século, de um mercado para as novidades literárias que surgiam em Paris, Lisboa e mesmo Lon-dres. Na velha Livraria Teixeira, ainda en-contrei Pierre Loti, Anatole France, Balzac, nas edições Calman Levi. A literatura por-tuguesa encontrava consumo certo nesta ci-dade, reavivando-nos a memória dos moldes antigos da língua, hauridos nas suas ma-trizes essenciais. E hoje, Senhores Deputa-dos? Qual a obra estrangeira que nos bate à porta, trazida pelo livreiro solícito e expe-dito, e interessado em nos impressionar a inteligência com os valores de sua mensa-gem? Verificamos que nada existe. Teremos de concluir que minguou dentro de nós a sedução da cultura? De maneira alguma. A fascinação continua, mas talvez se possa di-luir, pouco a pouco, no espírito das gerações que se formam como consequência daquela ausência da função que faz o órgão.

A única solução para o problema, que nos consulta a vaidade e nos fere as tra-dições, é a interferência do Estado, apare-lhando convenientemente a sua biblioteca pública e ajustando-a às condições técnicas modernas, que a transformarão não na água estagnada, que se converte em pântano, mas na água corrente, que irriga as terras por onde passa.

Cumpre-me dizer a Vossas Excelên-cias que a Biblioteca, tal como hoje a com-preendemos, se associa, de modo objetivo, à comunidade a que se destina. Todas as fa-

cilidades são criadas para a sua articulação efetiva com o público. Não visa unicamente ao letrado, que a procura já com o domínio das técnicas essenciais para bem explorá-la. Nem o erudito, que dela se acerca interessa-do na pesquisa. Nem ainda ao diletante, que faz da leitura o tapete mágico das evasões ociosas. É mais do que isso, porque se reves-te das características de uma força social, voltada para as mais diversas direções, po-dendo atender à criança e ao ancião, ao ope-rário e ao estudante, ao advogado e ao médi-co, numa conciliação ecumênica dos valores patrimoniais do espírito e da cultura. Não pode converter-se, assim, numa instituição de iniciados, mas numa casa do povo, com as facilidades básicas para a disseminação constante das técnicas e das ideias, consti-tuída, portanto, em núcleo radiativo da res-surreição intelectual do Maranhão.

JOSUÉ MONTELLO

A Biblioteca Pública do Estado do Maranhão foi denominada, pelo Decre-to nº1316, de 8 de abril de 1958, Biblio-teca Pública Benedito Leite, em home-nagem ao ilustre político maranhense que propôs sua reorganização.

A bem da verdade histórica, deve ser registrada, aqui, a ocupação, pela As-sembleia Legislativa do Estado, dos 3º e 4º pavimentos do atual prédio da Biblio-teca, no período de 1964 a 1970. Então em obras a sua sede, veio o Legislativo instalar-se provisoriamente na Bibliote-ca, mas terminou permanecendo nela durante seis anos.

Não obstando os altos e baixos por

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que tem passado através dos tempos, é a Biblioteca Pública Benedito Leite a guardiã de precioso tesouro que en-cerra livros raros, documentos impor-tantes de nossa história política, admi-nistrativa e social, originais de livros e uma riquíssima coleção de jornais que se inicia com o número 1 do Concilia-dor do Maranhão, primeiro jornal sur-gido entre nós, em 1821.

Incorporou a seu acervo a parte bi-bliográfica da Coleção Arthur Azeve-do, bem como as bibliotecas particula-res deixadas por Humberto de Campos e Urbano Santos. Em 1970 transferiu diversas peças de sua antiga Seção de Museu para o Museu Histórico e Artís-tico do Maranhão, entre as quais a Es-tante Júlio Roca, doada pela Argentina à Cidade de São Luís, e um fragmento do Ville de Boulogne, em que naufra-gou o poeta Gonçalves Dias.

No Governo Roseana Sarney, pas-sou por uma interdição entre setembro de 2009 e outubro de 2012, funcionan-do provisoriamente na Rua do Egito nº 218. Nesse período foram realizadas consideráveis reformas materiais e es-truturais no prédio sede que, ao pou-cos, lhe vêm devolvendo o prestígio e a fase áurea que inegavelmente viveu. Seu acervo, aumentado, de 1971 até esta data, em muitos milhares de volu-mes, já responde satisfatoriamente aos reclamos dos leitores que a frequentam, diariamente.

Sua incorporação à estruturação da Fundação Cultural do Maranhão e, na sequência, à Secretaria de Estado da Cultura, representa a garantia de que, daqui por diante, continuará sempre crescendo, para melhor e mais servir à comunidade.

Escritor, historiador e ex-Presidente da Academia Maranhense de Letras.

Jomar Moraes

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Coleção Geia de Temas Maranhenses

Av. Colares Moreira, nº 01, qd. 121, sl. 102Ed. Adriana, Renascença II, São Luís/MACep: 65075-441Tel: (98) 3227 66 55 [email protected]

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O Padre Antônio Vieira queixava-se, a meados do século XVII, que o Brasil estava infante. Ao pé da letra: incapaz de falar. De falar e de ler: faltavam-lhe livros, conforme era a prática em todos os domínios coloniais portugueses.

O Maranhão, ao contrário, nasceu sob o signo do livro. Como num feliz augúrio, a Capitania desse nome foi confiada a João de Barros (c. 1496-1570), primeiro romancista da língua portuguesa (Crônica do imperador Clarimundo, 1522) e seu segundo gramático (Gramática da língua portuguesa, 1540).

Disputado por franceses e portugueses, o Maranhão talvez seja o Estado brasileiro que tem mais bem documentados em livro os inícios de sua colonização. (Não esqueçamos que, a partir do século XVII, aqui se constituiu um Estado à parte do Brasil). Basta mencionar a História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão... (1614), de Claude d’Abbeville, e sua continuação, a Viagem ao norte do Brasil (publicada somente em 1874), de Yves d’Evreux, obras a que se jun-tam, antes, a Jornada do Maranhão por ordem de S. Majestade, feita no ano de 1614, que detalha a luta pela reivindicação portuguesa ao territó-rio maranhense, e, depois, o circunstanciado Relatório de Alexandre de Moura (1615), que documenta a rendição do francês Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière.SOB

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Do Período Colonial, a educação jesuítica nos legou numerosa bi-bliografia, da qual pode dizer-se emblemática a Crônica da missão dos padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão, do padre João Fi-lipe Bettendorf (edição de 1910, na Revista do IHGB), sem esquecer os sermões aqui pronunciados por Antônio Vieira, alguns dos quais estão entre os mais afamados da obra do grande pregador.

No entanto, não há negar-se: escreviam-se livros sobre o Maranhão, mas os livros não eram conhecidos no Maranhão. Também por estes lados do Norte, a existência de bibliotecas não foi marca da colonização portuguesa. Os livros que transpunham o Oceano guardavam-se nos conventos coloniais e destinavam-se, em sua quase absoluta exclusi-vidade, à catequese e à formação dos religiosos.

Entende-se, nesse contexto, a lacuna, apontada pelo Dr. Antônio Pedro da Costa Ferreira, Barão de Pindaré (1778-1860), e sua propos-ta, logo após a Independência, de destinar uma parte do Orçamen-to do Maranhão a criar-se uma biblioteca pública para a Capital da Província. Começa o longo percurso, a que não faltaram vicissitudes de diversa ordem, e chegam à que hoje se chama Biblioteca Pública Benedito Leite, cuja história está contada noutro lugar desta revista. Aqui se sumarizam, em dados breves, algumas curiosidades que per-meiam a história da Biblioteca.

Pouca gente se dará conta, por exemplo, que o Dr. Cândido José de Araújo Viana (1793-1875), cujo título de nobreza (Marquês de Sa-pucaí) se perpetua na praça do Sambódromo, no Rio de Janeiro, foi governador da Província do Maranhão e é lembrado por seu esforço para o surgimento da Biblioteca maranhense. Escasseando recursos públicos, ele propôs (1829) que os cidadãos particulares fizessem doa-ções de livros para formalizar a iniciativa, a qual não levou a mais que 315 títulos

Firmado no propósito de deixar uma biblioteca na Capital da Pro-víncia, Araújo Viana delegou o empreendimento à Câmara Municipal de São Luís. Acolhida com entusiasmo a “provocação”, o governador comunicou o feito ao imperador Pedro I, de quem recebeu louvores por haver poupado o Erário. A Biblioteca Pública Provincial abriu-se ao público a 3 de maio de 1831, reunindo um total de 1.448 obras.

Em 1851, Gonçalves Dias, comissionado pelo Governo Imperial, viajou do Rio de Janeiro, com a finalidade de investigar a situação educacional do Norte do Brasil e levar para a Capital do Império do-cumentos históricos das províncias visitadas. No Maranhão, anotou a

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precária situação em que se encontravam as bibliotecas dos conventos de Santo Antônio e das Mercês, cujos livros estavam, uns “sem prin-cípios, outros sem fim, e todos sem préstimo”, conforme registrou em famoso relatório. Em razão, talvez, da precariedade aqui verificada, a viúva do Poeta, “satisfazendo uma de suas últimas vontades” (Cé-sar Marques), fez remeter à Província natal do Poeta, em 1865, vários retratos de bispos e missionários que aqui estiveram. O material foi entregue à sociedade que se denominou Instituto Literário, que não durou muito.

Destaque especial merece agora, como promotor da instrução pú-blica e incentivador da Biblioteca, o maranhense Antônio de Almeida Oliveira, figura de proa na criação e manutenção da Sociedade 11 de Agosto, em 1870, uma das mais ativas instituições culturais de seu tempo e para cujo prédio foram transferidos os livros do Instituto Li-terário, como modo de permanência da Biblioteca, a qual depois an-dou por diversos lugares em São Luís, quase fazendo perder-se o seu acervo. Isso durou quase até ao fim do século XIX.

Anote-se, nesse interregno, a grande serventia para a difusão do sa-ber letrado, que prestou o Gabinete Português de Leitura, criado em São Luís a 9.10.1852, no nº 1 da Rua da Paz, e que chegou a catalogar mais de 8 mil volumes (numa cidade cuja população andava pelos 40 mil habitantes). Quando, no final do século, o Gabinete fechou portas e foi transferido à Sociedade Humanitária 1º de Dezembro, seu acervo foi inventariado como dos maiores entre as bibliotecas brasileiras.

E nem se esqueça o surpreendente desenvolvimento que teve a imprensa na Província do Maranhão, por lar-

go tempo no século XIX, e cuja história é capítulo a contar-se em separado, fugindo a este esquema rá-

pido. A quantidade de tipografias, jornais e livros impressos, e sua alta qualidade, arrebatadora

de prêmios para além dos limites provinciais, é algo que surpreende a quem desconheça o elevado padrão cultural que valeu à velha São Luís a antonomásia de Atenas Brasileira.

Já alcançado o Período Republicano, outro nome a ser enaltecido é o de Antônio Lobo

(1870-1916), que recuperou a Biblioteca, então instalada onde hoje funciona a

Academia Maranhense de Letras.

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“Nessa fase, a Biblioteca Pública teve papel saliente na vida intelec-tual do Maranhão, pois à volta dessa preclara figura [Antônio Lobo] reuniam-se os homens cultos e os moços que ambicionavam lugar nas letras e ciências.” (Antônio Lopes). Antônio Lobo, enfermo de hiper-sensibilidade, perseguido e insultado em sua honra pessoal, suicidou-se na noite de São João de 1916.

Chamava atenção, na Biblioteca daquele começo de século, uma es-tante doada pelo presidente Júlio Roca, da Argentina, contendo obras de autores de seu país. A estante, “hoje totalmente desfalcada de seu acervo bibliográfico” (Jomar Moraes), acha-se agora no Museu Histó-rico e Artístico do Maranhão. Em retribuição pelo presente, o Governo do Maranhão ofereceu ao presidente Roca um busto de Gonçalves Dias. Essa obra de arte, talhada em bronze, foi readquirida e hoje or-namenta o salão nobre da Academia Maranhense de Letras.

Outra preciosa aquisição da Biblioteca foi a famosa Coleção Artís-tica Artur Azevedo, reunião de gravuras que pertenceram ao Teatró-logo maranhense, compradas na administração de Luís Domingues (1910-1914). Esse material, também desbaratado em larga medida, foi repassado à Curadoria de Bens Culturais do Palácio dos Leões, sede do Governo Estadual.

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Maranhenses ilustres fizeram incorporar suas bibliotecas particula-res à Biblioteca do Estado. Lembrem-se os nomes de Urbano Santos, José Ribeiro do Amaral e Humberto de Campos.

A Biblioteca pública pôde contar com egrégios representantes da in-telectualidade maranhense como seus diretores. Entre eles, José Ribei-ro do Amaral, Domingos de Castro Perdigão e Jomar Moraes.

Mas não passe sem registro, a título de curiosidade, a extravagância de outro Diretor da Biblioteca, leitor em moto-contínuo, que, tendo à mão os livros da Biblioteca, deu-se ao trabalho de danificá-los à medida em que os lia, marcando-lhes as letras maiúsculas, todas, com canetas de cor variável, segundo um código de seu exclusivo uso e domínio.

Indiscutivelmente, porém, o fato de maior importância a referir, na história da Biblioteca Pública, é o valioso achado, que aí se fez nos dias 12 e 13 de fevereiro de 1970, respectivamente, dos textos inéditos Harpas de ouro e Liras perdidas, do poeta Joaquim de Sousa Andrade, o Sousân-drade (1832-1902). A descoberta, que se deu às mãos de Jomar Moraes e Frederick G. Williams, associou-se a escrito revelador de Luiz Costa Lima, de uma década antes, para tornar real a “profecia” do Poeta, se-gundo a qual a sua obra seria ignorada enquanto não se passasse meio século. (Por feliz coincidência, naquele mesmo fevereiro de 1970, Jomar Moraes encontrou uma fotografia de Sousândrade, feita em tamanho postal, dobrada várias vezes, dentro de um livro da Academia Mara-nhense de Letras. O retrato mostra o Poeta na fase final de sua vida, e é a segunda das duas únicas imagens que dele se conservaram).

Sala de atendimento

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Em 12.9.1951, no governo de Sebastião Archer (1947-1951), a Biblio-teca Pública será finalmente instalada em belo edifício de linhas neo-clássicas, à Praça do Panteon, centro da Capital maranhense.

Em 8.4.1958, por decreto do governador José de Matos Carvalho, a instituição centenária ganhará a denominação de Biblioteca Pública Benedito Leite, em memória do grande estadista que a reorganizou no início do século XX.

De aí até os nossos dias, a Biblioteca Pública Benedito Leite sofreram várias reformas, a última das quais, feita por ação da governadora Roseana Sarney, foi além das instalações físico-estruturais, e a enri-queceu de equipamentos que a equiparam às mais modernas casas de cultura do País.

Setor de obras raras

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Mestre em Administração Universitária, University of Alabama; PhD em Literatura Latino Americana, University Illinois, Membro da Academia Maranhense de Letras.

Sebastião Moreira Duarte

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Rosa Maria Ferreira Lima

História aliadaà modernização

Scanner planetário

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Plural e democrática, a Biblioteca Pública Benedito Leite vem se modernizando através da história, transformando-se em espaço que vai muito além de um abrigo de livros, jornais e

revistas. Hoje, na era cibernética, alcança o conceito maior de difu-são do conhecimento e saber, em estrutura moderna e ampla, apoia-da em ferramentas tecnológicas, na acessibilidade e na segmentação para atendimento a todos os públicos -do bebê ao estudante, do pes-quisador àqueles que apenas apreciam a boa leitura.

A Biblioteca, por si só, rende muitas narrativas a serem contadas. Desde a sua criação, em 3 de maio de 1831, sempre recebeu notáveis da literatura e das ciências. O acervo do órgão do Governo do Esta-do, ligado à Secretaria de Estado de Cultura (Secma), guarda precio-sidades, como o manuscrito de Machado de Assis enviado a Arthur Azevedo, a maior expressão do teatro brasileiro, assim como outros documentos, hoje digitalizados.

O presidente da Província Cândido José de Araújo Viana, ao criar a Livraria Pública, deu a ela as funções de biblioteca, museu e ar-

quivo. A Casa é a segunda mais antiga de natureza pública do Brasil e foi financiada através de uma subscrição popular e vo-luntária. Se mergulharmos em seu passado, sua importância torna-se ainda maior ao sabermos que nela foram proferidas

as famosas Conferências da Universidade Popular do Maranhão e fundadas a Oficina dos Novos, a Sociedade Cívica das Datas

Nacionais e a Academia Maranhense de Letras. A busca por estar além do seu tempo e oferecer o melhor aos lei-

tores sempre permeou a trajetória do órgão. Embo-ra tenha surgido para atender as necessidades

dos filhos da aristocracia e aos bacharéis e autodidatas de então, com o advento

da República, democratizou o aces-so ao conhecimento, consolidando-

se como a maior guardiã da memória do nosso estado. Seu acervo, inicialmente formado à custa da subscrição pública, com o tempo passou a receber

a doação de intelectuais e autoridades públicas. Um bom exemplo disso são os donativos em nome de Manoel Odorico Mendes, Francisco Sotero dos Higienização de obras

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Reis, Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade), Aluísio de Azeve-do, Antônio Goncalves Dias, Henrique Coelho Neto, José Ribeiro do Amaral e até da República Argentina.

No decorrer dos seus 182 anos, inúmeras foram as sedes da Biblio-teca Pública, segundo apontam documentos remotos. No período de 1831 a 1951, entre idas e vindas (que ocasionaram perdas e danos ao seu acervo), ela passou pelo Convento do Carmo, Sociedade Onze de Agosto, na Rua do Egito; Catedral da Sé, na Praça Benedito Leite, e Rua da Paz, imóvel de número 13, onde atualmente está instalada a Academia Maranhense de Letras (AML). Ali, ela ficou até 1951, quando ganhou sede própria, onde funciona até hoje. O edifício, de notável valor arquitetônico, inspirado na arquitetura greco-romana, foi idealizado para homenagear os tempos áureos da intelectualida-de maranhense do século XIX, que deu a São Luís o título de Athe-nas Brasileira.

Atualmente, seu acervo é com-posto por mais de 130 mil li-vros, incluindo 10 mil obras ra-ras, como o jornal O Conciliador do Maranhão, Revista Elegante, Alteracoens de Evora, Mentor In-glês, O Censor, O Progresso e muitos outros. Também cons-tam de seu acervo dois mil ma-nuscritos dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX; 555 títulos de jor-nais maranhenses, do período de 1821-2014; 10 mil livros em braille e falados; 600 CDs, DVDs e fotografias.

AtualizaçãoPara manter o status de pon-

to de encontro de professores, pesquisadores, jornalistas, es-critores e intelectuais militan-tes, a biblioteca vem se atuali-zando ao longo dos anos. Entre Transcrição de manuscrito

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as reformas pelas quais passou, vale destacar duas mais significativas: a realizada em 1997 e a de 2013, ambas durante os governos de Rosea-na Sarney.

Em 1997, a Biblioteca iniciou seu processo de modernização, clima-tizando alguns setores e informatizando seu acervo. À época, recebeu seus primeiros computadores - antes, só dispunha de máquinas de es-crever Olivetti. O trabalho incluiu melhorias por meio de ações diversas. Nesse ano, teve início no Maranhão a implementação das primeiras políticas públicas do livro, leitura e biblioteca, envolvendo todos os segmentos da cadeia produtiva da área. O período marcou a criação do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), que incrementou os projetos no setor, além da ampliação e fortalecimento do Sistema de Bibliotecas Públicas do Estado, coordenado pela Casa.

Em 2013, a Biblioteca Pública Benedito Leite foi reinaugurada, total-mente reformada e modernizada, com ampliação do acervo, aquisição de 10 mil livros novos, móveis, equipamentos de ponta e criação de novos espaços. Entre os setores abertos ao público, destacam-se o de Obras Raras, Jornais, Revistas, Multimídia e Laboratório de Higieni-zação e Digitalização do acervo, Braille, Telecentro, Informação Utili-tária, Escritório de Direitos Autorais, Biblioteca do Bebê e um amplo auditório.

Seção de microfilme

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Vale destacar a Sala de Leitura e Estudo, um espaço de livre acesso, equipado com cabines individuais para que o usuário leia e estude em seus próprios materiais; o Telecentro, que disponibiliza acesso gratui-to à internet, bem como a serviços que facilitam a vida do cidadão, a exemplo de emissão de boletos de pagamentos, consulta ao CPF, entre outros, e a Biblioteca do Bebê, pioneira no Brasil, que contribui para os primeiros passos no mundo das letras.

Incentivo permanente Nesse contexto, a “Benedito Leite” também desenvolve projetos e

programas essenciais de incremento das ferramentas disponibiliza-das e de estímulo à leitura e ao conhecimento. Dentro do projeto de “Modernização do Acervo Raro da Biblioteca”, que tem parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), foram adquiridos equipamentos de ponta, como scanner planetário - que permite a digitalização de 10 mil imagens por dia -, scanner de digitalização de microfilmes, arqui-vos deslizantes, dentre outros. Os resultados alcançados com a inicia-tiva são bastante positivos. Ao todo, foram 350 rolos de microfilmes de 35 mm higienizados, 200 digitalizados e 6 mil e trezentas obras raras digitalizadas só em 2013, superando a meta traçada.

Seção Braille

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Outra ação realizada é o Projeto “Cidadania e Leitura”, do Proler, em parceria com a Biblioteca Nacional, e que consiste na contratação e formação de mediadores que atuam nas redes de bibliotecas comuni-tárias que integram o sistema de bibliotecas do Maranhão, a exemplo das Redes Leitoras “Ler pra Valer” e “Terra das Palmeiras”.

Há, também, o Projeto “Biblioteca Dinâmica”, desenvolvido em 30 bibliotecas municipais, propiciando a supervisão, capacitação, organi-zação e dinamização, em parceria com as Prefeituras.

Já o Projeto “Lendo o Verde: leitura sob uma perspectiva ecológica” é executado em conjunto com a Secretaria de Estado do Meio Ambien-te (Sema) e engloba atividades de incentivo à leitura para crianças, jo-vens e adultos, com uso do Carro-Biblioteca em municípios do estado, a exemplo de Alcântara, Axixá, Morros, entre outros.

O Fórum Estadual do Livro e Leitura é realizado anualmente, com o objetivo de fomentar as políticas públicas do livro, leitura e biblioteca implementadas pelo Governo do Estado. A ação se desdobra em duas iniciativas importantes: os Encontros Estaduais do Proler e os Seminá-rios Leitores em Rede, realizados em parceria com o Instituto C&A e

Biblioteca Infantil e Juvenil Viriato Corrêa

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as Redes Leitores “Ler pra Valer” e “Terra das Palmeiras”. Os públicos--alvos são bibliotecários, professores, gestores, mediadores de leitura e educadores.

A Biblioteca realiza, ainda, os Projetos “Livro na Praça”, premiado como “O Melhor Programa de Incentivo à Leitura junto a crianças e jovens de todo o Brasil”, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e Fundação Biblioteca Nacional (FBN), e a Quinzena do Livro Infantil, sempre no mês de abril, em homenagem aos escri-tores Hans Christian Andersen (pai da literatura infantil mundial) e Monteiro Lobato (criador da literatura infantil no Brasil).

Para estimular a produção, a Biblioteca promove também o Lança-mento Coletivo de Obras Maranhenses, ação que reúne escritores da capital, São Luís, e do interior do estado. O projeto trabalha o incentivo e a valorização de autores e ilustradores maranhenses.

Dessa forma, com ações permanentes e essenciais, a Biblioteca Públi-ca Benedito Leite segue firme, consolidando seu papel de grande rele-vância no desenvolvimento da cultura do Maranhão, um espaço social indispensável para a formação de leitores e construção da cidadania.

Sala de Pesquisa

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Bibliotecária, Diretora da Biblioteca Pública Benedito Leite e Coordenadora Estadual do Proler (Programa Nacional de Incentivo à Leitura).

Rosa Maria Ferreira Lima

Palavras de mestres das letras Os intelectuais, seguramente, se dirigiam à Biblioteca Pública no sé-

culo XIX para ler ou tomar emprestado obras adquiridas na Europa, Estados Unidos e mesmo em São Paulo, nas línguas inglesa, francesa, latina e portuguesa. Era ali que liam o Jornal do Comercio, publicações do Rio de Janeiro e os demais de outras capitais do país, assim como os jornais franceses e estadunidenses, cujas assinaturas eram regular-mente renovadas.

Maranhenses que se destacaram no campo das letras têm suas histó-rias pontuadas por muitas idas à Biblioteca Pública. Entre frequenta-dores de destaque, estão os poetas Antônio Gonçalves Dias e Joaquim de Souza Andrade (Sousândrade), o matemático Joaquim Gomes de Sousa, o jurista Celso Magalhães, os escritores Arthur Azevedo, Aluí-sio Azevedo, Benedito Leite, Humberto de Campos, Ribeiro do Ama-ral, Viriato Correa, Antônio Lobo, José Sarney (ex-presidente da Re-pública), Josué Montello, Ferreira Gullar, Jomar Moraes (ex-diretor da Casa), Ubiratan Teixeira, Nauro Machado, dentre outros.

Ao falar da “Benedito Leite”, Gullar é enfático em ressaltar a impor-tância do ambiente em sua trajetória. “A Biblioteca fez parte de minha vida, porque foi nela que tomei conhecimento da literatura maranhense e da literatura de modo geral. Ia quase todas as semanas passar uma tarde lendo ali”, afirmou o autor de “Poema Sujo”.

O poeta Nauro Machado também é taxativo: “A Biblioteca Pública Be-nedito Leite está indissociavelmente ligada à minha formação intelectual, pois foi nela que me iniciei nas leituras”.

Ubiratan Teixeira fala da abrangência e das possibilidades oferecidas pelo local. “Nunca fui estudar, especificamente estudar, na Biblioteca Pú-blica. Sempre frequentei aquela Casa pra ler literatura, sobretudo romances e contos - nacionais e estrangeiros”, observou.

ReferênciasAcervos da Biblioteca Pública Benedito Leite, do Arquivo Público do Estado do Mara-nhão e da Fundação Biblioteca Nacional (FBN); Guia Histórico da Biblioteca Pública Benedito Leite, de Jomar Moraes.

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Rosa Maria Ferreira Lima

Doadores ilustres

O rico acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite foi construído também com a

colaboração de grandes personalidades. Entre os doadores ilustres, estão Manuel Odorico Mendes, Francisco Sotero dos Reis, Antônio Gonçalves Dias, Antônio Rego, Antônio Henriques Leal e muito mais.

Registros históricos dão conta que, Francisco Sotero dos Reis, em 23 de dezembro de 1861, doou exemplar da obra “Memórias sobre a história do extinto Estado do Maranhão e da Companhia de Jesus nas Províncias do Maranhão e do Pará”. Mais tarde, seis anos depois, então presidente do Instituto Letterario Maranhense, Francisco Sotero dos Reis recebeu a quantia de quinhentos mil reis, cedidos através da Lei da província nº 752, para a compra de livros, reparos da Biblioteca Pública e mudança desta para o Instituto.

Também em 1867, a viúva de Antônio Gonçalves Dias repassou ao espaço 16 quadros a óleo, representando bispos e religiosos dos tempos coloniais e 2 globos geográficos. O periódico também destacou

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as doações feitas pela viúva do Dr. Raymundo Teixeira Mendes, pelos irmãos do Dr. Caetano Candido Cantanhede e pelos sócios doutores Alexandre Theophilo de Carvalho Leal, Antonio Rego e Antonio Henriques Leal.

Além disso, já em 14 de novembro de 1899, o Diário do Maranhão noticiou a doação do filho de Sotero dos Reis, Américo Vespúcio dos Reis, de obras pertencentes ao pai, já falecido. Também estão nos registros históricos, as doações de 23 volumes de obras diversas pelo Dr. Domingos Pedro dos Santos, residente no Rio de Janeiro; de diversos romances das coleções em publicação, pelo Sr. Luiz Luz, residente em São Luís; e pelo Dr. Francisco Campello, residente no Rio de Janeiro.

Em 09 de agosto de 1900, o Diário do Maranhão destacou os doadores de abril a julho desse ano: Tenente Coronel Cláudio Cruz, coronel Pedro Freire; José Maria Correia de Frias (fundador do Diário do Maranhão), Dr. Anisio de Carvalho Palhano, Henrique Coelho Neto, Frias & Companhia, Dr. Alfredo Ferreira, tenente Antonio de Castro Pereira Rêgo, Dr. Cesar Marques (filho), José Ribeiro do Amaral, João Duarte Lisboa Serra.

Já em 10 de agosto de 1901, o Diário do Maranhão assinalou: “O nosso conterrâneo Conselheiro João Tavares da Silva, residente actualmente em Lisboa fez donativo ä Biblioteca desta Capital d’uma colleção de livros publicados em commemoração do centenário indiano pela Sociedade de Geographia de Lysboa. Os livros vindos no Vapor Brunswick por intermédio do Sr. Domingos Perdigão, já se acham recolhidos á Bibliotheca”.

Todas são doações que ajudaram a construir o acervo e a fazer da Biblioteca Pública o monumento que hoje é.

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Outras publicações, cd e dvd

Livros

Cd

Dvd

Av. Colares Moreira, nº 01, qd. 121, sl. 102, Ed. Adriana,Renascença II, São Luís/MA Cep: 65075-441Tel: (98) 3227 66 55 [email protected]

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02/05/1832 - No ofício nº 151, o presidente da Província sugere ao presidente da Câmara que as multas impostas aos eleitores faltosos sejam destinadas à manutenção da Biblioteca Pública.

09/05/1832 - Em oficio, de nº 163, o presidente da Câ-mara responde ao presidente da província declarando estar ciente da destinação dada ao dinheiro de multas impostas a eleitores faltosos.

10/01/1899 – Antônio Lobo, diretor da Biblioteca, suge-re ao Governador João Gualberto Torreão da Costa que, por indicação de usuários, a Biblioteca seja aberta tam-bém aos domingos. Sugere também que se altere o arti-go do Regimento da Instituição que restringe o acesso à sala de leitura a pessoas com idade inferior a 14 anos.

08/04/1899 - A Biblioteca ganha um aparelho telefôni-co, instalado pelo gerente da Commpanhia Telephonica, autorizado pelo governo.

23/05/1899 - O Diário do Maranhão noticia: “A Biblio-theca Pública do Estado, desta data em diante , achar-se-há aberta todos os dias, inclusive aos domingos, das 8 horas da manhã às 10 da noite”.

31/07/1899 - Foi criada uma sala de leitura exclusiva para mulheres. Essa novidade foi obra do governador João Gualberto Torreão da Costa.

11/11/1899 - O Diário do Maranhão noticia: “Está em exposição, no Salão das Senhoras na Biblioteca Pública, um grande quadro colorido de vistosos figurinos parisienses para a estação de inverno”.

14/11/1899 - O Diário do Maranhão noticia: “O Sr. Di-retor desta repartição chama a atenção dos interessados para a seguinte disposição do código penal: Art. 386. Deixar de reme-ter á Bibliotheca Pública, nos lugares onde a houver, um exemplar do escripto ou obra impressa. Pena de multa de 50$ a 400 mil reis. Assina- F. Sarapião Serra, Ad. Do Diretor.”

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CURIOSIDADES

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03/05/1901 - O movimento do mês de abril indica a frequência de 66 leitores infantis.

28/01/1902 - O Diário do Maranhão noticia que “A Biblioteca da Ar-gentina envia o telegrama seguinte: Buenos Ayres, 23. Acha-se prompto o artístico móvel que o General Julio Roca, presidente da República Argenti-na, vae offerecer à Bibliotheca Pública de São Luís do Maranhão. É uma obra de arte preciosíssima, sobretudo pelo trabalho de esculptura em madeira. Numa placa de honra está gravada a seguinte epigraphe dedicatória do Gene-ral Roca. À culta e intellectual cidade de São Luiz do Maranhão, o presidente da República Argentina, Julio Roca, offerece esta lembrança.”

14/08/1913 - O Jornal Pacotilha (FBN) registra à primeira página: “Foi transferida para o pavimento térreo do Congresso Estadual a Biblioteca Pública, acondicionando-se-lhe a Coleção Arthur Azevedo”.

26/03/1914 - Num esforço para conter gastos, o governante interino Affonso Giffining de Matos mandou retirar o uso do telefone da Bi-blioteca Pública.

03/08/1921 - O Jornal, sob o título na primeira página “Aluízio de Azevedo – um MEDALHÃO NA BIBLIOTECA”, registra: “Amanhã às 9 horas será solenemente inaugurado, num dos salões da Biblioteca Pública do Estado, um lindo medalhão de bronze de Celso Antonio – o jovem já é vitoriozo escultor maranhense – com a efígie do grande escritor conterrâneo Aluízio de Azevedo, autor gloriozo do Mulato”.

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Editor: Jorge MuradEdição: Instituto GeiaProdução Editorial: Josilene MaiaEditoração Eletrônica: Aline DuransFotografia: Albani RamosDesenvolvedor Web: Helder MaiaColaboradores: Jomar Moraes, Rosa Maria Ferreira Lima e Sebastião Moreira Duarte.

Plural é uma publicação bimensal editada pelo Instituto Geia, localizada na Av. Cel.Colares Moreira, nº 1, Q. 121, sala 102, São Luís–MA CEP 65.075-440 Fonefax: +55 98 3227 [email protected]: 2238-4413

As opiniões e conceitos emitidos pelos autores são de exclusiva responsabilidade dos mesmos, não refletindo a opinião da revista nem do Instituto Geia. Sua publicação tem o propósito de estimular o debate e refletir as diversas opiniões do pensamento atual.

EXPEDIENTE

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EMPRESAS ASSOCIADAS

Agropecuária e Industrial Serra Grande

Alpha Máquinas e Veículos do Nordeste

ALUMAR

Atlântica Serviços Gerais

Bel Sul Administração e Participações

CEMAR - Companhia Energética do Maranhão

CIGLA - Cia. Ind. Galletti de Laminados

Ducol Engenharia

Grupo Mateus

Lojas Gabryella

Mardisa Veículos

Moinhos Cruzeiro do Sul

Niágara Empreendimentos

Oi

Rápido London

SempreVerde

Televisão Mirante

UDI Hospital

VALE

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