revista novo folheto
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NOVO FOLH-ETO
Artista Visual. Ana Carolina Ximenez
Projeto Gráfico. Maria José de Oliveira
Crítica. Natália Gil
ÍNDICE
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Introdução
Sinopse
Da autora
Crítica
INTRO-DUÇÃO
A performance é uma forma de arte que
pode combinar elementos das artes visuais,
teatro, música, poesia ou vídeo e, além da
participação do artista, pode contar com
a participação do espectador.
É uma manifestação que se expande a
diferentes experiências culturais,
introduzindo novas orientações, como as
tentativas de relacionar a criação artística
às coisas do mundo e à realidade em que
vivemos. A necessidade de expressar
inquietações ou preocupações pessoais
pode nos levar a criar, a construir novos
significados que sejam capazes de transpas-
sar sensações e sentimentos muito profundos
ao outro e que, por vezes, somente
palavras não conseguiriam expressar.
Esta revista abordará sobre o trabalho
Novo Folheto, performance em audiovisual
de Ana Carolina Ximenez, onde a artista
é registrada fazendo colagens em alguns
pontos da cidade de São Paulo, com o
objetivo de promover questionamentos e
refletir sobre como as estruturas de poder
e influências religiosas contribuem para as
desigualdades presentes na sociedade atual.
“..Novo Folheto, performance em audiovisual de Ana Carolina Ximenez, onde a artista é registrada fazendo colagens..”
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Sino-pse
Novo Folheto consiste no registro de uma
ação performática em um vídeo documental
de aproximadamente cinco minutos, no qual
a artista é registrada fazendo colagens feitas
a partir de lambe-lambes em alguns pontos
da cidade de São Paulo próximos às igrejas
católicas. O papel da colagem consiste em
uma intervenção a partir de desenhos de
vulvas feitos por cima do jornal impresso dessas igrejas.
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Au-tora
DA
“Respirei fundo e escutei o velho e orgulhoso som do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou.”
Sylvia Plath
O corpo e o pessoal. Duas instâncias indisso-
ciáveis que se articulam em pensamentos e
fazem parte da minha produção artística.
Ao considerar o gênero, me permito
recolocar questões de estética relativas às
condições da experiência criadora e das
especificidades das produções femininas
no interior das práticas artísticas feministas,
relacionando-me com as áreas políticas e
culturais relativas à subjugação das
mulheres, principalmente seu lugar e seu
papel em uma sociedade já impregnada
pelos preceitos morais advindos da tradição
cristã que imperam na cultura ocidental.
Meu corpo é laico, mas não imparcial. Den-
tro deste contexto, ele se torna minha arma.
Se a igreja deseja consagrá-lo e o estado
demarcá-lo é porque as crenças e situações
que o ameaçam ainda permanecem.
Assim, quem poderia ser grande o bastante capaz de classificar meus sentimentos e sensações?
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ACESSE AQUI: https://vimeo.com/104230001
Crí-tica
Arquitetando outra possibilidade
Novo Folheto (2014), de Ana Carolina
Ximenez, é uma vídeo-performance docu-
mental, como denomina a própria artista.
Na primeira cena vemos uma pessoa, que
é Ana Carolina, recortando alguns papéis,
desenhando - “Poder de Deus” é o nome
que aparece. Estamos na rua. Cidade
movimentada, pessoas, barulhos, buzinas.
Em locais próximos à igrejas católicas é que
as ações acontecem: lambe-lambes são co-
lados por postes e paredes. A partir de uma
câmera que anda junto com a artista (que
balança ao caminhar, registra o som em
volta) vemos que os lambe-lambes são os
papéis mostrados no início com uma vulva
desenhada por cima das palavras...
Ana veste uma camisa xadrez, outro dia
saia, e, depois, um shorts. A cidade é São
Paulo, que se mostra por seu barulho do
trânsito de carros, motos; pelo trânsito de
pessoas. Em quase toda a vídeo-perfor-
mance são exibidas duas cenas ao mesmo
tempo: de um lado Ana colando os lam-
be-lambes, do outro uma pessoa rezando
dentro de uma igreja; o cartaz colado, agora,
num poste, e um altar. A cidade, a Igreja, a
mulher, Ana Carolina, as outras pessoas -
elementos que se tornam simbólicos,
inseridos numa espécie de jogo de forças.
Ana vira personagem: pessoa-mulher-con-
temporânea. A cidade grande de várias
igrejas: um quase-cenário-religioso.
Assim como a vídeo-performance que se
dá pela oposição de cenas, com os folhetos
colados em frente às igrejas, Ana cria um
espaço de comparação ideológica. O espaço
da Igreja se coloca através de sua arquite-
tura estilizada e estabelecida, e a imagem
de sua fachada se faz como discurso históri-
co-cultural: posturas comportamentais,
condutas sagradas. O lambe-lambe com
uma vulva desenhada por cima de palavras
religiosas, então, se apresenta como con-
traponto direto e assumido. Ana pega os
folhetos, intervêm sobre eles, cola-os em
frente de onde pegou, registra toda a ação,
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POR NATÁLIA GIL
estabelece um embate. Como que sobrepõe
sua visão nua e objetiva, o órgão feminino
livre sobre interpretações humanas.
O discurso milenar da Igreja Católica que se
faz presente ainda hoje, e a escolha de Ana
como o determinante de seu lugar na
sociedade contemporânea.
Toda a ação de Novos Folhetos parece
querer criar um novo discurso a partir da
ressignificação, da releitura, da “ressim-
bolização” de um discurso tradicional e
convencional. O desenhar sobre o folheto
da igreja é a pista: não só se apresenta o
que poderíamos considerar como um novo
símbolo, a vulva, como este está colocado
sobre outro, o símbolo do discurso católico.
Entre os passantes, Ana age com a sutileza
dos pixadores e de outros coladores de
lambe-lambes, quase invisível, e, em meio
aos discursos impositivos vindos de todos
lados, é como se ação se fizesse necessária
para tentar, também, discursar, dizer, falar.
E é aí que Ana arquiteta outra possibilidade:
toda o embate acontece no plano da cidade,
o que a deixa tão invisível quanto sujeita
- visível, então - à interferência de outras
pessoas - tanto no momento em que estiver
colando, ou depois, sobre seus folhetos.
Temos aí outra pista: a ação registrada em
vídeo é, também, documental, pois é real.
E os novos folhetos de Ana podem estar
colados por São Paulo neste exato momento.
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“Há mais de dois modos de pensar Há mais de um modo de saber Há mais de dois modos de ser Há mais de um caminho a seguir”
Resist Psychic Death – Bikini Kill