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nº 12 Outubro 2011 2 Boinas REVISTA MONUMENTO AO FUZILEIRO ALMOÇO DE NATAL 10 DEZEMBRO

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nº 12Outubro 2011

2 Boinas

R E V I S TA

MONUMENTO AO FUZILEIRO ALMOÇO DE NATAL

10 DEZEMBRO

2

Associação de Fuzileiros | 2011

EditorialTítulo ........................................................................................3

Cartas ao Director .................................................................4No ciasComandante Anaia e Eng.º Lema Santos Visitam a Associação de Fuzileiros ...........................................................5 Marques Pinto

No cias50.º Aniversário da Escola de Fuzileiros ..................................6 Serafim Lobato com Marques Pinto

ComunicadosA Vossa Associação de Fuzileiros vive das vossas Quotas ........7Monumento ao Fuzileiro Contributos ......................................7

OpiniãoVa cínios ou Desejos - Tanto Faz .............................................8  Mário Manso

O Direito de Dizer .....................................................................9  Carla Marques Pinto

Uma Década Depois! .............................................................11  Fernando Figueiredo

A Minha Outra Casa Mãe .......................................................12Associados

O Início da Despedida ............................................................13  Saj. Fz SilvaO Corpo de Cadetes do Mar de Portugal ...............................14  António Ribeiro Ramos

Fuzo-poesia“Véspera de Combate” ..........................................................15  Alpoim Calvão

CrónicasCrónica de Outros TemposAérea Nova Lisboa (Humbambo) - Lisboa ..............................16  Marques PintoEpisódios de Uma Ponte Aérea ..............................................17

Corpo de FuzileirosPiloto Elisabete Jacinto Colabora comEscola de Fuzileiros ................................................................21Sala de Estar de Praças QP daBase de Fuzileiros ....................22Marinheiro FZE Manuel José Franco Belo ..............................22

EventosPresidente da República InauguraMonumento ao Fuzileiro ........................................................23Discurso do Presidente da Associaçãode Fuzileiros ...........................................................................24Discurso do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro .............................................................................26Discurso do Presidente da República .....................................27Coral “Alma de Coimbra” na Casa de Cultura do Barreiro......28Discurso do Presidente do Coral “Alma de Coimbra” .............29Dia de Portugal, de Camões e das Comunidadese do Combate .........................................................................30Mais uma Igreja Nova ............................................................31Associação na Comemoração da Batalha de LA LYS ...............31

EstóriasO Domingos ...........................................................................32O 2.º Tenente que ninguém conseguia calar .........................33 Manuel Pires da Silva

ÍNDICE

Sumário

Ficha TécnicaDirector e Responsável Editorial: Cmte. Lhano Preto. Director-Adjunto: Marques Pinto. Redacção: Editor, Serafim Lobato. Colaboradores: Mário Manso; Comte Ribeiro Ramos; Sargento Miranda Neto. Fotografia: Ribeiro.Impressão: Tipografia Lobão, R. Qta. Gato Bravo, 5, Feijó; Telf. 21 255 98 90; E-mail: geral@ pografialobao.pt www. pografialobao.ptPropriedade e Edição: Associação de Fuzileiros, Rua Miguel Pais, 25 - 1º Esq.; 2830-356 Barreiro; Tel: 212 060 079; Fax: 210 884 156; E-mail: [email protected]; Site: www.associacaofuzileiros.pt

DelegaçõesDelegação do Algarve .............................................................34Comemorações da Batalha de LA LYS no Algarve...................34Delegação de Elvas-Juromenha..............................................35Delegação de Vila Nova de Gaia.............................................36 António CastroEntrega de Guiões às Delegações ................................ 36

Convívios Vai Arrancar Motards da Associação Fuzileiross ......... 37Convívio da Companhia N.º 6 ...................................... 38

Mário MansoXIV Encontro / Convívio da Companhia N.º 2Guiné 1972/74 ............................................................ 38

Manuel Pires da SilvaUm dia muito especial ................................................. 39

José CostaConvívio do Destacamento de FuzileirosEspeciais N.º 13 ........................................................... 39

João MotaEncontro Convívio da Escola de 80 .............................. 40Crónica de Uma Confraternização ............................... 40

Arnaldo Batalha Duarte1.º Encontro do DFE2 (Angola, 1973-1975) ................. 41O Destacamento de Fuzileiros Especiais - Angola1965/67 ....................................................................... 42Noite de fados da Delegação de Fuzileiros do Algarve 42

Mário MansoUma visita guiada à Escola de Fuzileiros ..................... 43

SPMSPM 0468 N.º 6 ........................................................... 44

DesportoCampeonato Regional Sul de Tiro Prá co - IPSC ......... 45

Espada PereiraIn Perpetuam Memoriam

Homenagem ao Comandante Côrte-Real Negrão ..................46Diversos

Assinaturas anuais da RevistaNovos SóciosDona vos .................................................................... 47

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Associação de Fuzileiros | 2011

Editorial

Para o director de qualquer revista lançar, em primeira página, o “Edito-rial” nem sempre é tarefa fácil exigin-do certamente alguma imaginação. Porque neste caso acumulo o encar-go com o de Presidente da Direcção, a tarefa aparece-me rela vamen-te facilitada uma vez que assuntos não me faltam mesmo que faltasse imaginação. Com os normais condicionamentos de espaço há que optar e, por isso, desta vez, gostaria de abordar dois temas que me parecem importan ssimos.

O primeiro - o Cinquentenário da Re-criação dos Fuzileiros – sendo embo-ra do conhecimento alguns parece-me importante que todos fiquem a par do que já se realizou e do que estamos aptos para concre zar. Como foi divulgado, iniciámos as co-memorações na nossa “Casa Mãe”, no dia 3 de Junho, onde houve “ronco”.Alterámos o Dia do Fuzileiro para 2 de Julho, por razões ponderosas já que era nossa ambição ter a presença de Sua Ex.ª o Presidente da República (o Comandante-Chefe das Forças Ar-madas e o mais alto Magistrado da Nação) na inauguração do “Monu-mento ao Fuzileiro”, o que se veio a verificar, dignificando a cerimónia. As palavras que nos foram dirigidas encheram-nos de alegria e orgulho, só podendo lamentar-se as ausências que certamente ocorreram por várias e válidas razões. O acto não teve só grande solenidade, como teve uma carga muito emocionante para os mi-lhares que disseram “presente”. Tudo correu tão bem que me pareceu estar num outro país, onde tudo se planeia com vontade de fazer sempre me-lhor. Pensando um pouco mais, gos-taria de fazer “jus” aos fuzileiros do passado e do presente, pois sempre que organizamos qualquer cerimónia ou nos envolvemos numa ou noutra

missão, por norma, nada é esquecido: o planeamento e o treino. Tudo isto teve o apoio da Marinha e como é óbvio, a total entrega do nosso Corpo de Fuzileiros, aliviando-nos algumas dificuldades. Não queria deixar de fora, nestas pa-lavras, que são de agradecimento, al-guns elementos da Câmara Municipal do Barreiro que foram inexcedíveis e, designadamente, o seu Presidente. O monumento não está completo como era nosso desejo, mas penso que irá ser concluído a breve trecho. Falta, apenas, a colocação de cinco pedras que representarão os cinco con nentes, onde os Fuzileiros es ve-ram ao serviço da Pátria, ligadas por uma amarra que fará eco do mar que os liga. Outro evento a emoldurar o Cinquen-tenário, ocorreu no dia 5 de Outubro, com um concerto do Coral “Alma de Coimbra” (um grupo de extraordiná-ria qualidade) na casa da Cultura do Barreiro, que não só nos emocionou como levou ao rubro toda a plateia, de cerca de trezentas e cinquenta pesso-as, quanto entoou o Hino da Associa-ção de Fuzileiros, cantado de pé por toda a gente. Valeu a pena o trabalho e a dedicação de muitos e o patrocí-nio do Com. Moniz, só se cuidando la-mentar não poderem estar presentes os milhares de fuzileiros espalhados pelo Mundo já que se viveram mo-mentos únicos e inesquecíveis. Mas, as comemorações do nosso Cin-quentenário não se ficaram por aqui. No dia 15 de Outubro foi inaugurado na Escola de Fuzileiros, o “Monumen-to ao Instrutor”, figura de profissional do melhor que houve neste País e que ao longo de tantos anos deram o me-lhor de si próprios na moldagem dos fuzileiros que somos. Quem não assis-

u à homenagem ao Instrutor, deve deslocar-se logo que possa à nossa Es-cola, já que a estátua, parecendo ter movimento, tem enorme dignidade.

Homenagearemos ainda este ano, o “Destacamento de Fuzileiros Espe-ciais Nº 1”, no dia 9 de Novembro, data da sua par da para Angola. Assim se concluirão as nossas comemorações e do nosso Corpo de Fuzileiros.

Discorramos e reflictamos sobre este primeiro tema e perguntemo-nos se poderíamos ter feito melhor.

E vamos ao segundo tema, não menos importante.

Nos termos da Lei, e dos Estatuto e Regulamentos da Associação de Fuzi-leiros deve realizar-se e assim se fará, uma Assembleia-Geral para análise e aprovação do Relatório e Contas/2011 e para eleger os Corpos Sociais para novo mandato, até 31 de Março de 2012 - Mesa da Assembleia-Geral, Di-recção, Conselho Fiscal e Conselho de Veteranos (na parte não nata) – já que os actuais Órgãos cessarão mandato.

Havendo muito trabalho realizado mas outro tanto para realizar desejo (desejamos todos) que se apresentem voluntários, homens de boa vontade, com a estatura necessária, repito, com a estatura necessária, mas tam-bém com a carolice suficiente, para fazerem o que sempre faltará realizar.

Para tanto e até lá solicitar-se-á a reunião do Conselho de Veteranos, Órgão que desejo ac vo e não nobi-liárquico para que “os mais velhos”, os “cocoanas” se pronunciem e sugi-ram, sem prejuízo das determinações estatutárias.

Termino, desejando que as par cipa-ções sejam muito ac vas mas sempre leais e frontais.

É nesta ausência de preditos e de preconceitos que a Associação de Fu-zileiros se revê e se tornará cada vez maior.

Pela colaboração que me deram (que nos deram) OBRIGADO.

Lhano PretoPresidente da Associação de Fuzileiros

DOIS TEMAS PARA BREVE REFLEXÃO

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Associação de Fuzileiros | 2011

Cartas ao Director

Sinto muito orgulho e muita Honra em estar, por mérito, rodeado de tão bons Portugueses.Tentarei ir à inauguração do Monu-mento aos Fuzileiros no Barreiro no próximo dia 2 de JulhoUm grande abraço a si e a todos os meus novos camaradas

José Campos e Sousa Sócio de Mérito nº 1421

ADORO VIVERSábado dia 28 sen as mesmas sensa-ções e emoções do que quando anda-va nos Fuzileiros... foram únicas.Aceitei um desafio do Salvador (Asso-ciação Salvador)... ele desafiou-me a fazer o Slide e ro ao alvo... nem hesi-tei um segundo sequer e foi espectacu-lar... acho que fui dos primeiros para-plégicos a fazer o Slide, ao ir, consegui mo var mais uns quatro que estavam com muito receio e negaram-se sem-pre a ir... dei-lhes a volta...mas o que mais gozo me deu foi dar a volta ao Salvador... malhei-lhe tanto na cabeça que o convenci a ir.No fim todos estavam agradados com esta experiência. No ro ao arco? Hu-

mildade à parte, mas foi o costume... na muche!... em breve terei fotos des-se evento também. Mas o mais impor-tante do que estas aventuras foi que conheci uma dezena de pessoas com deficiência (como eu... alguns muito piores, o caso do Salvador) e o meu rol de amigos melhorou e muito com estas novas amizades.Já fui convidado pelo Salvador para outra aventura radical no rio Douro e lá estarei dia 25 de Junho... por isso eu digoAbraço a todos...e vivam

LAU

DESEMBARQUE EM FRANÇA

durante catorze anos, empunhou a G3 nos rios e matas de África con-tra um adversário mo vado, bem preparado e bem armado. Mas, Senhor Diretor, passado este ciclo, o Fuzileiro não ficou moribundo abraçado à história. Bem instruí-do, ele tem demonstrado grande capacidade para enfrentar todo o

po de ac vidade onde a sua pre-sença seja solicitada, caminhando num clarão de glória sem precisar de retroceder décadas.

Hoje, aproveitando este mesmo espaço da nossa Revista, quero manifestar toda a minha gra dão aos que, revelando notórias quali-dades profissionais, intervieram na Guiné-Bissau, em 1998, aquando do levantamento militar naquele país; aos que cumprem e aos que cumpriram honrosas missões de pacificação, integrados em Forças de Manutenção da Paz, nos mais diversos países; àqueles que luta-ram contra a pirataria marí ma ao largo da Somália e aos que, na co-operação militar, muito têm contri-buido para a formação de Unida-des de Fuzileiros nos novos países de Língua Oficial Portuguesa.

Sen mos natural orgulho dos seus feitos, da sua bravura, da sua abnegação.

Guilhermino Ângelo Sócio 1527

CONVÍVIO

Venho por este meio expressar o meu agradecimento pelo convívio que me foi proporcionado nessa Ilustre Asso-ciação por ocasião da minha breve visita, envolvido por tão camarada como fraterno ambiente. Não poden-do individualizar o envio desta men-sagem a cada elemento da Direcção ou Convidado, presente ou não, aqui deixo o meu reforçado testemunho.

Foi uma honra e, plagiando os Fuzilei-ros, “Reserva Naval uma vez... Reser-va Naval para sempre”.

Forte abraço para todos,

Manuel Lema Santos

Meu Caro Comandante Francisco Lha-no PretoVenho-lhe agradecer e em si , agrade-cer a todos os meus amigos da ASSO-CIAÇÃO DE FUZILEIROS , a minha ele-vação a Sócio de Mérito.Com uma ressalva– Pretendo con nuar a pagar a minha quota!Foi um percurso longo desde o dia em que o nosso comum amigo Alberto Re-bordão de Brito nos desafiou, a mim e ao Diogo, para cantarmos a Saga dos Fuzileiros. Passando pela nossa primeira ida à Escola então sob o Co-mando do António Mateus. Até aos dias de hoje.

Campos e Sousa e Pacheco do Amorim, autores da música e letra do Hino da Associação

Lau na cavaqueira com o Salvador

Eu aqui em França já tenho cá essa magnífica revista “O Desembarque”. Obrigado.

Silvestre Oliveira

GRATIDÃO E ORGULHOFiz questão que as minhas primei-ras palavras nesta secção da Re-vista O Desembarque fossem um cân co em honra do Fuzileiro que,

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Associação de Fuzileiros | 2011

Notícias

Porque vale a pena informar os nossos sócios do que se vai passando na Sede da nossa Associação, sobretudo quan-do o que acontece tem algum valor sen mental ou mesmo histórico, aqui ficam as no cias.

Na passada Quinta-Feira, dia 18 de Julho/11 almoçaram na sede da AFZ, a convite da Direcção, o Sr. Comandante Amadeu Cardoso Anaia, Comandante do Destacamento de Fuzileiros Espe-ciais N.º 22 – Guiné – 1972/73, acom-panhado do filho do ex-2.º Tenente Costa Corvo e o ex-1.º Tenente RN (8.º CEORN) Eng.º Manuel Lema Santos, autor do “Anuário da Reserva Naval 1976/1979”.

O Comt. Cardoso Anaia ofereceu à AFZ um volume inédito que relata de forma esquemá ca e cronológica a “Historia da Unidade” (1972/73) des-crevendo, com precisão: os locais de

Marques Pinto

COMANDANTE ANAIA E ENG.º LEMA SANTOS VISITAM A ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS

estacionamento do Destacamento; as operações efectuadas (21, num total de 577 horas); os feridos e os mortos em combate (5 feridos ligeiros, 12 fe-ridos ligeiros e 3 mortos); as baixas provocadas ao inimigo (50 mortos, 4 feridos e 2 capturados) o número de populares recuperados (65); o número de “moranças” e de acampamentos IN destruídos (394); o material de guerra e de guerrilha capturado (165, entre armas, minas, granadas e outro mate-rial); enfim, os prémios, os louvores e os cas gos (poucos) e a lista do pessoal do Destacamento, Oficiais, Sargentos e Praças.Tudo isto é tanto mais inédito quanto é certo ter sido este um dos Destaca-mentos cons tuídos na sua grande maioria por pessoal natural da Guiné e que aí rou o respec vo curso de fuzi-leiro especial.Na Obra que ofereceu à Associação de Fuzileiros e que ficará a fazer parte do seu arquivo de inéditos lavrou o Comt. Anaia a seguinte dedicatória:

“À Associação de FuzileirosDigna defensora do espírito de ‘Fuzi-leiros uma vez Fuzileiros sempre’, que tem sabido aglu nar em seu redor todos os que, nos mais variados tea-tros de operações souberam dignifi-car a Marinha de Guerra Portuguesa,

através dos seus ‘Homens’ de boina azul ferrete, bem como elevar bem alto o nome de Portugal”.

As fotos, da autoria do nosso Camarada Afonso Brandão, registam para a poste-ridade os momentos que se viveram. Por sua vez, o Sr. Eng.º Lema Santos obsequiou a Associação de Fuzileiros com o seu Anuário da Reserva Naval 1976/1992 que irá fazer parte do res-pec vo arquivo. E, para marcar e per-sonalizar a sua oferta exarou, na pri-meira página do “Anuário”:

“Para a Associação de Fuzileiros, dig-níssima representante daquela clas-se de marinha, incluídos os Oficiais da Reserva Naval.Pretende-se que esta edição se assu-ma como uma modesta ajuda na re-descoberta da sua história.Com amizade do

Manuel Lema Santos 1.º Ten. RN (8.º CEORN)”.

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Associação de Fuzileiros | 2011

Notícias

Sob a presidência do então Ministro da Defesa Nacional, dr. Augusto San-tos Silva teve lugar, no passado dia 3 de Junho, na Escola de Fuzileiros, em Vale do Zebro a comemoração do 50º aniversário da criação daquele esta-belecimento de formação da Armada Portuguesa.O acto, que teve todo o garbo e digni-dade, apanágio dos Fuzileiros portu-gueses contou com a presença do Che-fe e do Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, respec vamente, Almirante Saldanha Lopes e Vice-Almirante Car-valho Abreu (que anteriormente foi comandante do Corpo de Fuzileiros, com o posto de contra-almirante), entre outros oficiais-generais da Ma-rinha de Guerra portuguesa.Entre os convidados especiais, três são de destacar, a propósito dos quais importa fazer algumas referencias históricas: O Comandante-Geral dos Fuzileiros Navais Brasileiros, Almirante-de-Es-quadra (FN) Marco António Corrêa Guimarães.(A Brigada Real da Marinha Portugue-sa foi a origem do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil. Criada em Portugal em 28 de Agosto de 1797, por Alva-rá da rainha D. Maria I, seguiu para o Rio de Janeiro, em 7 de Março de 1808, acompanhando, como corpo de guarda pessoal, a família real portu-guesa que se transferiu para o Brasil, salvaguardando-se da ameaça de ficar prisioneira dos exércitos invasores de Napoleão I.O Comando-Geral do Corpo de Fuzi-leiros Navais brasileiros está localiza-do na histórica Fortaleza de São José, Ilha das Cobras, na cidade do Rio de Janeiro tendo-se, ali instalado em 21 de Março de 1809).Outro convidado de honra foi Alpoim Calvão. O Comandante Alpoim Cal-vão, figura de referência para os fu-zileiros portugueses é sócio da Asso-ciação de Fuzileiros desde longa data, tendo sido recentemente dis nguido, em Assembleia-Geral, como Sócio Honorário e eleito pelos respec vos membros do Conselho de Veteranos seu Presidente. Tendo sido um dos primeiros Directores de Instrução da Escola de Fuzileiros (entre 1966 e 1967) comandou uma das primei-ras unidades de FZE´s em missão de serviço na an ga província da Guiné

e é o único oficial oriundo da classe da Marinha que recebeu, até hoje, a mais alta condecoração das an gas Ordens Militares, a medalha de Torre Espada, do Valor, Lealdade e Mérito sendo, seguramente, o Oficial mais condecorado da Marinha de Guerra Portuguesa, precisamente pelos ser-viços prestados como oficial fuzileiro especial.

Convidado muito especial foi, tam-bém, Pascoal Rodrigues, ex-Oficial Fu-zileiro a residir há anos no Brasil que se deslocou, expressamente, a Portu-gal para estar presente na efeméride.

Pascoal Rodrigues, então segundo-tenente, chefiou um grupo de três praças da Marinha que, em Agosto e Setembro de 1960, frequentaram em Inglaterra, um curso dos Royal Ma-rines ingleses, e que vieram a ser os primeiros instrutores dos fuzileiros portugueses.

Do grupo de marinheiros MAN fize-ram parte Ludjero dos Santos Silva (Piçarra), Mário José Ba sta Claudino e João Cândido dos Santos San nho, sendo que apenas o primeiro está en-tre nós.

Da cerimónia comemora va que de-correu na Escola de Fuzileiros é de assinalar que esta se efectuou, como sempre, com um aprumo exemplar.

Foi celebrada ainda uma missa cam-pal, tendo a viúva, filhos e netos do primeiro Comandante da Escola (28/7/961 a 31/7/965) o então Capi-tão-Tenente Melo Cris no (depois, Vi-ce-Almirante) descerrado uma placa que passou a perpetuar o seu nome numa parada (a hoje conhecida por parada velha).

Em perfeita sintonia e cooperação com a autarquia do Barreiro, abriu-se a Escola a centenas de crianças, onde passaram uma manhã recheada de ac vidades lúdicas.

Teve lugar ainda um concerto pela Banda da Armada no Barreiro, cuja actuação foi saudada e apreciada pe-los presentes.

A actual estrutura organiza va dos fu-zileiros navais portugueses foi criada, oficialmente, por lei, a 24 de Feverei-ro de 1961, sendo estabelecido, en-tão, que haveria duas especializações: a de monitor (IM) e a de fuzileiro es-pecial (IEP).

Os fuzileiros comemoraram, portanto, este ano o seu 50º aniversário da sua recriação.

O primeiro curso de fuzileiros teve lugar no Verão de 1961, tendo decor-rido no então Corpo de Marinheiros, em Vila Franca de Xira, (que foi depois o Grupo 2 de Escolas da Armada e, posteriormente, a Escola de Tecnolo-gias Navais).

O curso foi dividido em duas fases – a primeira com início a 5 de Junho de 1961, e a segunda a 14 de Agosto. Teve a frequência de 40 praças (que vieram a fazer parte do primeiro Des-tacamento de Fuzileiros Especiais) e ainda dos 1ºs Tenentes Coelho Met-zener e Maxfredo da Costa Campos e pelos 2ºs Tenentes Mendes Barata, Vasconcelos Caeiro e Oliveira Rego.

A Associação de Fuzileiros pretende prestar com esta no cia a sua home-nagem à “Escola Mãe” – a Escola de Fuzileiros – assinalando o meio século da sua existência.

50º ANIVERSÁRIO DA ESCOLA DE FUZILEIROS Serafim Lobato com Marques Pinto

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Associação de Fuzileiros | 2011

Comunicados

A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROSVIVE DAS VOSSAS QUOTASPrezados Camaradas: Pela es ma que temos por todos os Só-cios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa par cipação. Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que nos propusemos é determi-nante podermos contar com a quo zação de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação se vai juntando. Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas podem ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais evidentemente ponderosas. Po-

rém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema.

Esperamos pela vontade e disponibilida-de desta família de Fuzileiros no sen do de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da Associação e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.

Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento. Para obstar a isto aconse-lhamos e incen vamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses.

Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de qua-tro cafés por mês?

Por razões de custos - e desta vez será em defini vo - vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro à Associação, para os ca-maradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.

Consideramos ser este um acto de jus ça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não pagam.

Cordiais e amigas saudações associa vas.

MONUMENTO AO FUZILEIROCONTRIBUTOS

Como é sabido e se no ciou no nosso site e no cia, abundantemente, neste número de “O Desembarque” conseguimos levar por diante o ambicioso projecto de implantação do Monumento ao Fuzileiro, na rotunda a que a Câmara Municipal do Barreiro deu o nome de Praça dos Fuzileiros. Tratando-se de uma inicia va conjunta da Associação de Fuzileiros da Câmara Municipal do Barreiro e do Corpo/Escola de Fuzileiros o Monumento foi pago integralmente pela Associação de Fuzileiros tendo o respec vo Município suportado a quase totalidade das despesas com as infraestruturas, designadamente, ao nível do obelisco que suporta o Monumento.Porém, ainda se projecta concluir o conjunto, colocando na rotunda

cinco pedras representando os cinco con nentes com as inscrições adequadas.

Em fase de crise generalizada ao nível do País e da Europa é natural que as dificuldades económicas limitem inicia vas desta natureza.

Contamos, no entanto, com a ajuda de todos os nossos Associados, par cularmente dos mais favorecidos, para concluirmos o que parecia ser um sonho e acabou por – com muito trabalho e dedicação – se traduzir na realidade que S. Ex.ª o Presidente da República consagrou no passado dia 11de Julho: o perpetuar da imagem do Fuzileiro, em praça nobre da cidade onde se situa a nossa sede e que viu renascer este corpo de gente tão especial.

Para tanto aqui fica o NIB da conta bancária onde poderão depositar os vossos contributos de solidariedade:

003506760000811583069

Para possibilitar a listagem dos dona vos e a sua contabilização específica, a Direcção agradece que se registe, na transferência, o seu des no – Monumento ao Fuzileiro – com indicação do número de sócio, se o for, ou do respec vo nome, ou ainda nos informem por carta, telefone ou E-mail da respec va transferência e seu quan ta vo, para:

Associação de Fuzileiros

R. Miguel Paes, 25 - 2830-356 Barreiro

Tel: 212 060 079

Telm: 927 979 461

E-mail: [email protected]

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Associação de Fuzileiros | 2011

Opinião

VATICÍNIOS OU DESEJOS TANTO FAZ

Daqui a uns meses iremos de novo ter eleições na nossa Associação. Assim está previsto no seu regimento estatutário, sufragado de uma forma que não ofereceu dúvidas a ninguém, por ter sido votado por unanimidade e aclamação.

Temos a sua congénere que dá pelo nome da Cons tuição da República, que apenas foi votada por uma parte dos que estavam mandatados para o fazer, mas não deixa de ser, para acatar. De facto, não é grande exemplo, dado que só é feita cumprir a alguns, o que faz com que a sua aplicação seja algumas vezes enviesada um pouco ao sabor de quem a interpreta. Sendo certo que o problema, não estará nos preceitos a que a todos obriga, mas, porque permite aos homens de má fé, adulterá-la ou seja: interpreta-la a seu belo prazer. Assim sendo, há que acabar com os homens com tal crença, e que a sua verdadeira jus ça, se mereça e vença.

Para se estar numa Associação, seja ela de que índole for, é preciso primeiro que tudo, estar disponível para dar, sem ter em perspec va horizontes, que lhe tragam bene cios especiais para além do prazer, que cada um pode ter em servir a nobre causa, que pode ser o associa vismo. É com este espírito de servir, que se pode credibilizar tais ins tuições. Infelizmente, prá cas dissociadas de objec vos claros, corroem a razão de ser de uma qualquer ins tuição por mais sólida que se julgue estar, mesmo até monetariamente.

É preciso antes de mais, ter capacidade de trabalho, humildade, e seriedade suficiente. Mesmo até, ter capacidade de resis r, ao oportunismo que algumas vezes se expõe descaradamente, a que infelizmente ainda há quem não resista, e casos não faltam mas que felizmente arredados da nossa causa. A nossa Associação, reflecte uma base social de apoio diversificada, quer pelos conhecimentos, que resultem da academia de cada um, pelos postos dos ex. e actuais militares, que podem influenciar alguma conduta, ou mesmo pelo amor à camisola de cada um dos seus membros, alguns deles com problemas traumá cos que a torna muito par cular, e ainda pelo

cunho valora vo de muitos sócios aderentes.Es ve em simultâneo integrado nos corpos sociais de duas Associações, cada qual com objec vos diferen- ciados. Em ambas me esforcei para dar resposta á confiança depositada por quantos elegeram as listas mais votadas, se não sur u os efeitos desejados, não foi por falta de empenhamento, ou de sempre tentar dar o meu melhor, ainda que acredite, que possa haver quem o entenda de fraca qualidade. Os abanões que as Associações levam, são normalmente fruto de ambições e oportunismos desmedidos, infringidos por pessoas que nelas se infiltram para se servir, e não para servir. É claro que isto não deixa de acontecer com muitos outros mesmo - e demais - em muitas áreas dos serviços públicos. Quero eu dizer, que a imoralidade e a incompetência, vivem paredes meias com a incapacitada jus ça que temos, que mais rapidamente actua numa fraude, ou incumprimento de tostões, do que se forem milhões. Veja-se o morto de longa duração, que não liquidou, porque se finou, e foi a casa com o recheio do seu cadáver, que garan u, e de que a jus ça se serviu, para saldar uma pequenina divida, comparada com tantas outras enormidades, que chegam ao nosso conhecimento, mas já prescritas. Esses outros, os vivinhos da silva, ninguém lhes vai à mão, mesmo que, sempre em alta velocidade, e em contra mão, mesmo assim, ninguém os mete na prisão. Sinto-me mal neste País, em que para uns, é só desculpas e perdões, os outros são analisados e penalizados a três dimensões. Paga porque é pobre, é parvo, e não é nobre. Temos um povo, onde a maioria é honesto e trabalhador, mas pouco tem a seu favor, e se quer singrar honestamente, tem que emigrar, onde lhe é reconhecido o seu valor.É bom que não deixemos de resis r quando é necessário, para defender o que nos dita a consciência, que as outras, não conseguiram alterar. Assim tenho feito dentro do que me é possível, e que cada momento aconselha. Não sou melhor nem pior, sou o que sou, e sou capaz de rar o dedo do ga lho, se a bala só silvou.

Todos estamos sujeitos a momentos menos bons, desculpar para ser desculpado, é importante! Mas: quanto baste. É também boa norma, que cada guarnição, não desfeite a anterior, porque se é possível navegar sem sobressaltos de maior, é porque já houve quem se sujeitasse e resolvesse contra tempos surgidos na nau, e que não se confinam mais.

Para haver presente, já houve passado. E se tudo vesse sido feito, os moneiros de cada momento nunca brilhavam, e para exis r futuro tem que haver presente.

Com mais ou menos limitações, todos me merecem respeito, desde que haja lisura de comportamentos, - lealdade, alguma humildade, e até consideração por quem, tenha limitações, e mais não dá.

Os fuzileiros sempre souberam ultrapassar as adversidades, e mesmo ao nível associa vo são capazes de se empolgar. A esperança que tal con nue acontecer, é uma expecta va que não vou descurar.

Estamos chegando, e obrigados a mais um momento, onde a disponibilidade e empenho de novos camaradas será - presumo - bem vindo, para reforçar ou mesmo subs tuir, os que começam a estar gastos pelo tempo, como é o meu caso. Apareçam e digam, em que podem ajudar a Associação, para que, com a vossa ajuda ela fique cada vez mais forte, seja de todos, e nunca de alguém!

Todos os momentos, que ditam acção posi va, projectam a nossa Associação, façamos também das próximas eleições, um momento que augure um con nuado futuro promissor.

Mário Manso

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Associação de Fuzileiros | 2011

Opinião

O DIREITO DE DIZERDOS DEVERES DEONTOLÓGICOS GERAIS AOS ESPECÍFICOS DA PROFISSÃO

Após uma ausência de cerca de cinco meses mas ao ritmo de publicação de “O Desembarque” aqui estamos a ten-tar cumprir com os nossos leitores e com os Fuzileiros de Portugal, a meto-dologia a que nos obrigámos nas nos-sas “Primeiras Palavras” deste “Direito de Dizer” (Revistas números 10 e 11) falando de forma sucinta do «ADVO-GADO» - alguns dos quais, porventura muitos, também Fuzileiros - e da sua milenar história que é de liberdade de jus ça e de irreverência que o mesmo é dizer de espírito de classe e de disci-plina consen da.E de tão disciplinados somos que - de-vendo o Estado à volta de 30 milhões de euros, aos cerca de 10 mil Advoga-dos oficiosos, sobretudo aos mais jo-vens, que são aqueles que asseguram o acesso à jus ça aos mais pobres - ainda ninguém se revoltou!

Onde há sociedade há direito

Mas deixando de lado crises que todos temos de encarar de frente mas, so-bretudo com grande espírito de corpo nacional e de solidariedade e de en-treajuda, lá temos nós, para não fugir ao tema, de começar pela via e mo-lógica, não só para ajudar a imprimir algum conteúdo ao tulo como para encontrar a lógica da metodologia da exposição. E convenhamos que come-çar pelo princípio é sempre reconfor-tante e reparador…! Ensinaram-nos há já uns tempos – e a culpa foi de um ilustre Professor – que, «Ubi societas ibi jus», isto é, onde há sociedade há direito, o que o mesmo pode significar, com alguma boa vontade, que onde existe Direito há Sociedade, onde existe Sociedade existe o Homem e onde existe o Ho-mem, Sociedade e Direito é uma ine-xorável inevitabilidade a existência do Advogado.E por estes caminhos que nos leva a História dos primórdios da Humanida-de e nos conduz, ainda nas sociedades primárias, a uma importante figura social com contornos similares de boa parte do que hoje sabemos do Advo-gado, sobretudo, do advogado de pro-víncia, do tempo dos nossos avós.

Vista geral da Assembleia

Carla Marques Pinto (Advogada)

E-mail: [email protected]

Sócia Descendente n.º 1870

É de todos sabido que o Homem des-de muito cedo se agrupou por razões de sobrevivência e, pelas mesmas ra-zões, teve de criar regras de convivên-cia social.Do que se tratava era de normas comu-nitárias que brotavam aparentemente de geração espontânea mas que eram consequência de necessidades sen -das e veram por razões mais profun-das o empirismo consuetudinário das sabedorias do povo (dos totens, dos clãs, das tribos, dos grupos, enfim, das pequenas comunidades primárias em vias de complexibilização).Estes conjuntos de regras que sucessi-vamente foram adquirindo a dignida-de de ordenamentos norma vos, in-dispensáveis embora à vida societária agravaram a conflituosidade. Daí à necessidade, naturalmente sen-

da, de «um Homem Bom» (persona-lidade sensata, proba e pres giada) para dirimir os conflitos, foi um salto de inevitabilidade.

A jus ça e a ordem nascem à medida que as sociedades

evoluem

É assim que a jus ça e a ordem nascem à medida que as sociedades evoluem para a consciência social sendo para nós óbvio que esta “jus ça” e esta “ordem” pouco teriam a ver com os padrões do actual mundo ocidental.Parecendo claro que o Advogado é produto da necessidade social e de as comunidades terem de resolver os seus conflitos de forma ordenada e não anárquica, a figura do Advogado surge, inicialmente, como a do «HO-MEM BOM», “o que é chamado”, “o protector” com a missão de defender os mais fracos e, mais tarde, como “o patrono”, aquele que já expõe a causa de uma das partes em conflito.

Da advocacia, muito antes de se poder considerar profissão, encontramos ves gios nas civilizações mesopotâmi-cas, com início na Suméria, quando se deu forma escrita a normas consuetu-dinárias, no III milénio A.C.Na civilização egípcia exis a já a figura do «Conselheiro» em questões jurí-dicas que estava já ligada a fórmulas processuais escritas e de onde, curio-samente, se excluía a oratória como meio ao serviço do convencimento.Na an guidade clássica, porém, é so-bretudo na Grécia que a eloquência é o pilar da defesa forense aqui surgindo os “Corógrafos”, defensores de acusa-dos, que já eram remunerados pelos seus serviços.A defesa forense impôs, assim, neces-sariamente, a criação «de regras deon-tológicas que impunham que o orador fosse um homem livre, independente e digno» fazendo já ressalva a questões como a violação do sigilo profissional, o uso de expressões pouco corteses e a limitação de tempo de interven-ção de cada orador. (Valério Bexiga, o Advogado e a História – 2000 – cit. de Guedes da Costa, in. Direito Pro-fissional do Advogado – Almedina – Uot.º/2003).É, contudo, na Civilização Romana que a advocacia surge na forma de uma profissão organizada tendo sido este o ponto de par da, digamos, a origem do “Advocatus” com os contornos que hoje conhecemos. É exactamente nesta era da civilização romana que temos no cia dos “Patronus” e dos “Oratores” que, inicialmente, através da arte da oratória vieram posterior-mente, a assumir o verdadeiro patro-cínio de cidadãos e se transformaram em advogados (“advocatus”).

Mulheres que se notabilizaram como Advogadas,

apenas, dois séculos D.C.

Para quem é Mulher e aborda estas coisas da história da nossa profissão não consegue, naturalmente, resis r a não trazer à colação um pormenor que podendo parecer de somenos im-portância é, quanto a nós, suficiente

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Opinião

para nos fazer reflec r sobre os “mo-vimentos evolu vos das Sociedades, das Culturas e das Civilizações”.Para não desvirtuar a curiosidade pe-dimos vénia para citar “ipsi verbis” o ilustre colega, Dr. Orlando Guedes da Costa, na sua actualíssima obra (já cit.) que, a propósito do uso da toga evo-ca, também, duas Mulheres (Amásia e Hortência) que se terão notabilizado na era do Augusto:«Tendo decaído o uso da toga, que era branca, sem mangas e apertada na cintura (toga viril) e cons tuía o trajo habitual do “advocatus”, Au-gustus que inicia o Principado e um grande intervencionismo sobre os ju-ristas, limitando a atribuição do “jus publice respondendi”, em reforço da sua própria autoridade tornou obri-gatório o uso da toga perante os tri-bunais, pelo que o termo “togadus” passou a iden ficar os Advogados.Inicialmente, as mulheres podiam advogar e tal como Cícero, Crasso, Múcio Scévola, Gaio, Paulo, Celso, Papiniano, Modes no, também se notabilizaram Amásia e Hortência».Ao deambularmos por estas notas históricas sobre o Advogado não re-sis mos à tentação de registar que no início desta época de, apenas, dois séculos depois de Cristo, as mulheres poderem advogar e, ao menos duas, se terem notabilizado o que nos revela de forma irrefutável os revezes da His-tória ao nível da evolução cultural da velha Europa.Mas, no fundo, este breve deambular pela história da Profissão serviu, so-bretudo para, mais do que deleitar o espírito com algumas singularidades (para nós desconhecidas) verificar da dignidade “gené ca” do Advogado como garante das liberdades, e da necessidade de reaver e tornar consis-tente o nosso pres gio profissional.É que temos para nós que enquanto não nos dignificarmos a nós próprios assumindo e amplificando a imprescin-

dibilidade do Advogado como Opera-dor da Jus ça e sua incontornável peça, ninguém procurará fazê-lo olhando-nos alguns como pequenos estorvos à celeridade da Jus ça já que, eventual-mente, a dois tudo seria mais breve…!

Mas vamos aos deveres deontológi-cos. É comum considerarem-se como deveres deontológicos gerais aqueles que são especificamente aceites pelas diversas profissões que tradicional-mente se definem pelo seu carácter eminentemente intelectual caracteri-zando-se, ainda, pelo exercício da pro-fissão em função do interesse público (v.g., os médicos, os farmacêu cos, os enfermeiros, os engenheiros, etc.).

Os par culares deveres do Advogado envolvem, sem dúvida, especificida-des que se plasmam na exigência da maioria dos respec vos Códigos De-ontológicos dos Países Europeus e no próprio Código Deontológico dos Ad-vogados da União Europeia, cuja ver-são portuguesa foi aprovada por deli-beração do Conselho Geral da Ordem dos Advogados, de 26 de Outubro de 2001.

A lealdade processual

O exemplo mais corrente de um dever específico que é normalmente “rei-vindicado” apenas pelos Advogados – sugerido, aliás, pelo ilustre colega Dr. Guedes da Costa, no seu “Direito Profissional do Advogado” (Almedina-2003) – é o da lealdade processual,

do como exclusivo da profissão fo-rense. Como se compreenderá este importante dever deontológico, para além dos seus aspectos morais obsta, também na prá ca, ao inquinamento da verdade processual sendo por isso reduto indispensável á boa execução da jus ça.

Outros, embora comuns a algumas profissões, designadamente aos médi-cos têm especial acuidade na profissão do advogado quais sejam os deveres de urbanidade e de probidade e um outro ainda, para nós especialmente importante: o dever “de consciência moral”.

Estes mesmos são o suporte da im-prescindível confiança que o Advoga-do deve inspirar no seu cliente onde, aliás, assenta a livre escolha do profis-sional do foro e sem o que se perderia a nobreza da profissão.

“Actua segundo a ciência e a consciência”

A consciência moral é, de tal ordem, o esteio dos deveres deontológicos do Advogado que Kant, na sua “Crí ca da Razão Pura” recomendou: «actua de tal modo que possas querer a regra de que a tua acção se torne numa lei universal» pretendendo naturalmen-te significar que a lei moral seria uma realidade em si mesma, inspirada pela intenção moral e sem influência «do mundo dos fenómenos».

Também Carlo Lega, na sua “Deonto-logia de la Profission de Adbogado” (1976) se refere ao dever de consciên-cia moral afirmando: «traduz-se num impera vo categórico que se conden-sa na frase “actua segundo a ciência e a consciência”».

Ainda Angel OssorioY Gallardo, na “Alma da Toga” (1956, Trad. De A.S. Madeira Pinto) ao tratar deste impor-tante dever refere: «…no Advogado, a rec dão de consciência é mil vezes mais importante do que o tesouro dos conhecimentos. Primeiro, ser bom; de-pois, ser firme; por úl mo ser pruden-te: A ilustração vem em quarto lugar; a perícia no fim de tudo».

Mas depois desta intensidade de con-ceitos acerca dos deveres e, designa-damente, do dever rainha, “o de cons-ciência moral” permitam-nos que, descendo à terra, arrisquemos a nossa mais u lizada qualidade/dever, para nós “autên co dever deontológico” que temos como importante motor dos sucessos, dos nossos e dos clien-tes: o senso comum. Tão simples como o tão complicado senso comum…!

E por aqui nos ficamos neste capítulo do Advogado e dos Deveres, deveres que temos, sobretudo, por qualidades, certos de que, “ar lhados” de todo este arsenal de virtudes só precisarí-amos mesmo de acrescentar Q.I. (co-eficiente de inteligência) e espírito de corpo, de sacri cio e de solidariedade, enfim, as virtudes dos bons Fuzileiros.

Para o número 13 de “O Desembar-que” cá estaremos se a Providência e os homens quiserem a falar da “Advo-cacia como Profissão de Interesse Pú-blico”.Até lá, com o grito a ecoar de,

“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”.

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Associação de Fuzileiros | 2011

Opinião

Corria o ano de 2000, já lá vai uma déca-da e Viseu recebia a boa nova da cons -tuição de uma Força Nacional Destacada, com des no à missão das Nações Unidas em Timor Leste, quase ao mesmo tem-po que, neste massacrado território, se aplaudia a chegada dos primeiros milita-res portugueses, na madrugada de quar-ta-feira 9 de Fevereiro desse ano. 25 anos depois de terem ficado entregues às sor-tes do des no e às poli cas dos homens, as tropas lusitanas, nas quais se incluia um con ngente de Fuzileiros, voltavam a pisar as Terras do Sol Nascente. Vivia-se então um momento de grande esperança em Timor, de intensa tensão diplomá ca em variados fóruns internacionais e de muita preocupação polí ca em Portugal na esperança da concre zação do desejo de libertação e independência de Timor Leste. Por cá, por terras de Viriato, o Co-mando do Batalhão começava a desenhar o seu plano de aprontamento com a cida-de, as ins tuições e as gentes beirãs a en-volverem-se com o Regimento, apoiando essa missão com o propósito de que Viseu também se fizesse sen r em Timor e os dias deste primeiro trimestre de 2000 fo-ram de grande azáfama. Havia que ajustar a Unidade para esta nova realidade, recu-perando as casernas para instalação do pessoal, adaptando o an go mini-ginásio numa estrutura de open-space para fun-cionamento das Secções de Estado Maior do Batalhão e arrumando armazéns para aumentar a capacidade de parqueamento de viaturas e acondicionamento dos diver-sos materiais e equipamentos que o Bata-lhão iria precisar no seu aprontamento e treino operacional com vista à missão. Em paralelo, definiu-se superiormente que o 2º Batalhão de Infantaria (2º BI) seria cons tuído por uma Companhia de Co-mando e Serviços (CCS), cons tuída por Pelotões/Módulos provenientes da Esco-la Prá ca de Infantaria (EPI), Escola Prá-

ca de Transmissões (EPT), Escola Prá ca de Administração Militar (EPAM), Escola Prá ca do Serviço de Material (EPSM), Centro de Instrução de Operações Espe-ciais (CIOE), Regimento de Ar lharia 5 (RA 5), Regimento de Engenharia 3 (RE 3) e Batalhão do Serviço de Saúde (BSS), 2 Companhias de A radores (uma do RI 14 e outra com pelotão de militares do Re-gimento de Infantaria 19 (RI 19), um Pe-lotão da Zona Militar da Madeira (ZMM) e um Pelotão Zona Militar dos Açores (ZMA)) e uma Força de Fuzileiros, cons -tuída por uma estrutura de comando com militares des nados ao Estado-Maior do Batalhão e pela Companhia de Fuzileiros Nº 21 (CF21), que se juntaria ao Batalhão a 06 de Novembro. Em função da evolu-ção da situação em Timor, o Estado Maior do Exército acabou, ainda nesse ano, por decidir reforçar o Batalhão com uma Uni-dade de Escalão Companhia (Esquadrão

de Reconhecimento de Cavalaria Nº6) e a parte proporcional de apoio de Serviços, em reforço da CCS, designadamente, uma Equipa de Evacuação, uma Equipa de Ali-mentação e uma Equipa de Manutenção Auto que se juntariam ao Batalhão no dia 08 de Janeiro de 2001, a um mês do inicio da missão em Timor. Com esta cons tui-ção o 2º BI acabou, até ao momento, por ser a maior força que Portugal, depois do 25 Abril, projectou em Missões de Ope-rações de Apoio à Paz, com um efec vo de 952 militares e que, seguindo o lema camoniano do RI 14 “Cuja fama ninguém virá que dome”, adoptou a divisa “Que nas asas da fama se sustenha” e toda a sua heráldica foi pensada em função da missão, nomeadamente o Galo do seu Estandarte que, em Timor Loro Sae é sim-bolo da luta leal e da amizade e alude à confiança com que o 2º BI anunciará aos

morenses a alvorada da reconstrução nacional.Naturalmente que nem tudo foram rosas durante este período do aprontamento e houve necessidade de ultrapassar um sem número de dificuldades, mas não foram suficientes para esmorecer o em-penho e ânimo dos militares do Batalhão que ainda foram encontrando tempo su-ficiente para, em saudável convívio, acei-tarem como iguais os militares do Corpo de Fuzileiros, sendo certo logo notório um grande espirito de corpo no Batalhão onde todos se associavam já sem dificul-dade e com grande sen mento de per-tença de um todo que nha por Portugal uma missão fundamental a cumprir em breve.A cons tuição de Forças Conjuntas não era novidade nestas missões mas o ca-pital angariado em ulteriores experiên-cias nham deixado a sensação de que a convivência de forças com diferentes graus de formação, cultura organizacio-nal e preparação militar nem sempre se revelam posi vas. Ciente deste es gma que se parecia ter instalado, desde logo o Comando definiu que no Batalhão não havia lugar a “filhos e enteados” pelo que a Marinha ao disponibilizar o melhor do seu potencial a favor da Força não pode-ria ser entendida de forma diferente. Se um barco é navio pois que assim seja uma vez que o sangue que corre nas veias do Soldado Português é em todo o lado igual e merecedor de respeito e dignidade ou não vessem todos, com fardas diferen-tes apesar de tudo, realizado o juramento supremo do sacrificio da própria vida por uma Nação que é de todos se a missão assim o exigisse! E foi esta a mensagem que por todos os militares do Batalhão foi assimilada e logo no aprontamento, a tro-pa da “boina azul ferrete” deu a entender que, desde o primeiro dia eram parte do todo e que, com eles o Batalhão via au-

UMA DÉCADA DEPOIS!Fernando Figueiredo,

Cor Inf./ Res([email protected])

mentadas as suas capacidades operacio-nais para o bom desempenho da missão. A CF 21 vinha desde logo preparada para no Teatro de Operações de Timor condu-zir as missões próprias de uma sub-uni-dade do Batalhão de Fuzileiros Nº 2, mas quando integrada no Batalhão Português (PORBATT) com o fim de executar sob o mandato da UNTAET, soube acrescentar com profissionalismo e dedicação outras tarefas de relevante importância para a missão. O aprontamento da CF 21 englo-bou a Formação de Comando, Secções Técnicas (transportes, comunicações, manutenção e quartel-mestre), 3 Pelo-tões de A radores e 1 Pelotão de Apoio de Combate num total de 152 homens, prolongando-se até 24 de Janeiro de 2001 com a recepção do Estandarte Nacional que a todos iria acompanhar até Terras do Sol Nascente.E às 07 da manhã do dia 06 de Fevereiro a 1ª leva de militares do 2º BI começa os prepara vos para a viagem com des no a Figo Maduro onde os espera um voo de projecção da ONU que no dia 8 de Feve-reiro acaba por se imobilizar abrindo as portas para deixar entrar o calor quente e húmido que, àquela hora da manhã, já se fazia sen r em Baucau e finalmente anun-ciar aos morenses:- Chegámos! Agora é a nossa vez!E durante 9 longos meses Timor foi a nossa familia e Same a casa da CF 21 em cuja área de responsabilidade, para além dos trabalhos de recuperação das instala-ções e melhoria das condições de vida da tropa, os Fuzileiros realizaram centenas de operações em missões de manuten-ção de paz, como assaltos a áreas edifi-cadas e resgate de prisioneiros; controlo de mul dões, escoltas a VIP´s e refugia-dos, montagem de zonas para aterragem de helicópteros; patrulhas motorizadas e apeadas, postos de controlo (Check Points); postos de observação; etc... e nem mesmo a componente an bia, como capacidade fundamental de uma unidade do Corpo de Fuzileiros foi descurada, vin-do a permi r o seu emprego no Teatro de Operações na região de Betano, através da projecção de pelotões para zonas ina-cessíveis por viaturas. O empenhamen-to da CF 21 assentou em três vertentes básicas:

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Opinião

- Missão de segurança propriamente dita, que englobou inicialmente, para além do próprio aquartelamento, pontos sensíveis como o transmissor do Ramelau entre outros;- Patrulhamento apeado e motorizado, assim como o emprego de um Pelotão de intervenção a zero horas para actuar no sector de responsabilidade do Batalhão e mais tarde no sector central;- O contacto e apoio à população e a ac-

vidade civil militar, através de formação despor va nas escolas, distribuição de materiais escolares, criação de um viveiro de café e distribuição destas plantas pela população local, entrega de material hos-pitalar e recuperação de infra-estruturas básicas garan do, entre outras, a capa-cidade de reabastecimento de água ao povo de Same.Apesar de todas as contrariedades, deri-vadas das condições do terreno, do clima tropical (com temperaturas entre os 25º e os 35º Celsius e uma humidade a rondar os 95%), dos previsíveis problemas logís -cos com o alojamento, alimentação, con-dições sanitárias e meios de transporte, é justo afirmar que esta unidade do Corpo de Fuzileiros soube, desde logo, ultrapas-sar com brio e profissionalismo estas vi-cissitudes cumprindo a missão que lhe foi

confiada, e levando até terras longínquas e ao coração do povo maubere o espíri-to dos Fuzileiros, o nome da Marinha e a Bandeira de Portugal.E podia resumir-se assim aquela que foi a par cipação desta Força de Fuzileiros na missão do Batalhão mas permitam que vos roube ainda algum tempo para, em jeito de nota pessoal e sem falsas modés-

as, vos deixar a expressão do orgulho e da oportunidade única de ter do o privi-légio de comandar tal tropa. Em Roma sê romano, costuma afirmar-se e assim, para se entender o espirito fuzileiro, há que ser capaz de entender a especificidade própria da força e creio ter compreendido na verdadeira dimensão esse valor pois, à minha frente enquanto escrevo estas duas linhas está uma boina azul ferrete encimada com o emblema dos fuzos e que me foi colocada pela primeira vez na cabeça pelo então Comandante do Cor-po de Fuzileiros, o CMG Cunha Brazão. Desde o notável comando e reconhecida liderança do Comandante Mário Tavares à leal assessoria e aconselhamento de Es-tado Maior do Comandante Leão Seabra passando pelo profissionalismo e empe-nhamento de todos os militares da CFuz 21 e porque não dizê-lo até pela amizade e es ma recíproca que me dedicaram e ainda hoje lhes dedico de todos guardo

grata memória. Fosse nas missões opera-cionais de grande desgaste fisico e risco previsivel, fosse nos momentos de lazer sempre, encontrei nesta tropa da CF 21 um grande sen do de missão, noção per-feita do dever e vontade de bem cumprir que os colocam em pé de igualdade com qualquer das forças que Portugal dispõe ao serviço das Forças Armadas e ainda hoje, dez anos depois, com a destreza fi-sica já reduzida pelo peso da idade acre-dito que, com o valor moral e animico dos Fuzileiros por companhia, seria capaz de repe r a missão em iguais ou piores con-dições de sacrificio e risco que aquelas que nos uniram noutros tempos e nou-tras paragens. Que me perdoe o Exército por tal empa a mas em abono da ver-dade não posso ainda hoje de deixar de também me sen r Infante de Marinha e Fuzileiro honorário e se algum mérito isto tem que o seja em homenagem aqueles que como o Comandante Albano e outros que me acompanharam nessa jornada já abandonaram por força das circunstân-cias a nossa companhia térrea e são hoje disso memória de saudade e exemplo a reter para todos aqueles que, com orgu-lho, con nuam a fazer do lema Fuzileiro a sua forma de vida porque Fuzileiro uma vez... Fuzileiro para sempre!

Permita-me a sofrida paciência dos meus camaradas Fuzileiros falar hoje aqui um pouco de uma outra escola que, à semelhança da EFZ, comple-tou este ano um número redondo de anos: cem. Falo do Ins tuto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE), onde me foram formalmente inculcados os valores que as minhas incursões infan s na EFZ já nham começado a fazer-me interiorizar.Mas, sendo evidentes os laços afec -vos que unem a este Ins tuto o humil-de autor destas linhas, perguntar-me-ão os impacientes leitores qual o mo-

vo que me leva a trazer uma escola do Exército a um bole m dirigido aos nossos bravos infantes de Marinha. Passo, então, a explicar:Em primeiro lugar, quando foi criado, a 25 de Maio de 1911 por acção do então Ministro da Guerra, General An-tónio Xavier Correia Barreto, o IMPE foi originalmente bap zado como Ins tuto Profissional dos Pupilos dos Exércitos de Terra e Mar, o que já lhe dá, à par da, alguma transversalidade em relação às Forças Armadas. Tendo a missão explícita de “formar cidadãos úteis à Pátria”, des nava-se a acolher, a par r dos 10 anos, os mais desfavo-recidos descendentes masculinos dos militares da Armada e do Exército. Conhecidos como “pilões”, cedo es-tes jovens começaram a “dar cartas” no mundo profissional e empresarial,

ex-alunos do IMPE que terão cumpri-do nos Fuzileiros o seu serviço militar, alguns deles durante o di cil período das guerras do Ultramar. Talvez numa outra ocasião o possamos fazer.Quanto aos outros “pilões” da de cumprir o equivalente à Recruta do Exército nos dá, logo à par da Mari-nha, entre os quais tenho a honra de me incluir, julgo que posso afirmar com toda a propriedade que o facto de termos ingressado nas fileiras na-vais logo depois, um certo carácter an bio. Concordam? E com esta quarta jus ficação en-cerremos esta breve digressão pelo mundo pilónico, estendendo ao cen-tenário IMPE as felicitações e desejos de sucesso que já vemos oportuni-dade de endereçar à nossa rela va-mente jovem EFZ.

CFR M Moreira Silva

sócio nº 1741

A MINHA OUTRA CASA MÃEgraças à qualidade do ensino que lhes era ministrado. Quando a EFZ foi cria-da, em 1961, já o IMPE, na passagem do seu primeiro cinquentenário, nha os créditos bem firmados na socie-dade portuguesa. E eis uma redonda coincidência de datas que nos dá uma segunda jus ficação para este ar go.Naturalmente, a formação profissio-nalizante não impediu que alguns “pi-lões” viessem a optar pela vida militar e é claro que os Fuzileiros não podiam ser excluídos de algumas destas esco-lhas. O exemplo mais ilustre terá sido o do Comandante Alberto Rebordão de Brito, cujo nome não é, decerto, estranho aos leitores. Não haverá, po-rém, muitos que saibam que este ce-lebrado oficial era oriundo do IMPE. Chegados à terceira jus ficação, im-porta referir que os “pilões” não po-diam deixar de estar presentes quan-do a classe de Fuzileiros integrou o elenco dos cursos tradicionais da Es-cola Naval, em 1986, tendo sido re-presentados pelo pupilo Rogério Mar-

ns de Brito. Hoje, para além do CFR FZ Mar ns de Brito e do CTEN FZ Cos-ta Frescata – que ficam, deste modo, devidamente “denunciados” – os fuzileiros no ac vo conhecerão bem um outro “pilão” que, embora não sendo fuzileiro, é o responsável pela formação em Liderança na EFZ: o CFR Lourenço Afonso. Ficarão, certamen-te, por mencionar outros nomes de Com. Rebordão de Brito no Colégio

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Associados

O INÍCIO DA DESPEDIDA Saj. Fz Silva

Nos ciclos, tal como na vida, tudo tem um princípio e um fim.Começámos o nosso contacto com os militares do Centro de Instrução Militar de Cabul (KMTC), sedeada no Afeganistão, não com medo, porque imbuídos do espírito de Bartolomeu Dias, mas também com o nosso Cabo das Tormentas, a que podemos hoje, sem medo, chamar de Cabo da Boa Esperança.Fomos descobrindo minuciosamente a sua forma de trabalhar, sem ter se-quer a coragem de os interpelar. Mas o nosso objec vo estava traçado e apesar dos olhares, muitas vezes des-confiados e indiferentes, nunca desis-

mos e os frutos estavam, sem dúvi-da, à nossa espera no final da tarefa.Com a calma do felino que sabe espe-rar e a paciência aprendida na lição da vida, fomos amparando, aconse-lhando e modificando sempre que era possível. Percebemos a forma de os conquistar e a velocidade que teria que ser im-pressa. Tudo tem que estar conjugado, caso contrário a engrenagem deixa de estar em sintonia e não funciona. O levantamento de algumas necessida-des na sala de aula e a oferta de al-guns materiais foram também impor-tantes. Iden ficámos algumas lacunas na área da formação e aconselhámos o ”Train the trainers” para os instru-

tores que se mostrassem disponíveis para aprender.

Recordo as primeiras sessões de for-mação: vemos de enfrentar olhos inquisidores que esperavam de nós, falhas e incapacidade. Reves mo-nos de simplicidade e referimos que não éramos professores, mas tão-só mili-tares como eles e que gostaríamos de lhe rar algumas dúvidas que ves-sem e sobretudo ajudar a melhorar a formação.

O tempo trouxe a vitória e hoje, volvi-dos quase três meses, na úl ma for-mação de instrutores, numa matéria que passará a vigorar a par r de agora no planeamento do TLC, o “Combate em Áreas Edificadas”, temos pra ca-mente todos os alunos presentes.

Terminada a formação, ficou agen-dada para as 14.00 horas do dia 23 de Fevereiro, a entrega de diplomas. Chegada a hora determinada, come-çou a surgir um nó na garganta, pois esta singela, mas importante cerimó-nia, sabe-nos já a despedida. Esta foi a úl ma formação que os instrutores irão receber deste grupo de Mento-res/Formadores, até á sua par da de regresso a Portugal. Foi agradável ver nos seus rostos aquela felicidade de vencedores. Estão, a par r de agora, mais bem preparados para formar melhor!

Um a um foram sendo chamados. Foi-lhes dito que, a par r de agora, a sua responsabilidade é maior porque de-têm conhecimento que só servirá se for passado a outras gerações de alu-nos, que por sua vez a passarão aos seus subordinados.Ao grito da palavra “Jwand”, que signi-fica “vida longa”, mostram aos cama-radas o Diploma que receberam das nossas mãos.Mas a maior surpresa estava para vir, quando, pela boca do Tcor Abdul Yahya, Comandante do TLC, ouvimos pronunciar o nosso nome para rece-bermos um diploma assinado pelo BGen. Aminullah, Comandante do Centro de Instrução Militar de Cabul (KMTC). Ficámos também sensibiliza-dos e o nó, que se nha desvanecido, voltou agora mais forte. É apenas um papel, escrito em inglês e Dari, mas é sem dúvida a confirmação que conse-guimos, acima de tudo, a sua amiza-de, o respeito e reconhecimento.Esperamos que o trabalho desenvol-vido durante estes seis meses, sirva duas causas: a primeira, para enrique-cer o conhecimento e a capacidade dos militares do ANA para servirem as Forças Armadas Afegãs e o Afeganis-tão. A segunda, para servir de plata-forma à equipa que abraçar de segui-da, a tarefa de Mentorar os próximos cursos de Sargentos do ANA.

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O CORPO DE CADETES DO MAR DE PORTUGAL

Associados

O Mar foi, desde sempre, um elemen-to constante na história de Portugal. Mas ainda que o País não vesse al-cançado o brilhan smo histórico que o notabilizou no passado, bastaria a nossa localização geográfica e geo-estratégica, levando ainda em conta a vas dão da nossa Zona Económica Exclusiva, para nos obrigar a compre-ender o mar nos dias de hoje, e a lidar com ele com os conhecimentos e com os meios adequados. Mas como em todas as coisas perigo-samente di ceis que se enfrentam, e o Mar é uma delas, é preciso ainda assim tomar-lhe o gosto e o jeito, ou seja, é preciso que haja vocação.A vocação marí ma, nas suas varia-das vertentes, é pois uma qualidade valiosa que muito pode ajudar Portu-gal. E por isso devemos cuidá-la hoje para que dela possamos beneficiar amanhã.À semelhança de outros 19 países ac-tualmente inseridos na Interna onal Sea Cadet Associa on, foi fundado em 2010 sob a tutela do GAMMA (Grupo de Amigos do Museu de Marinha) o Corpo de Cadetes do Mar de Portu-gal (CCM-Pt), que conta com o reco-nhecimento ins tucional da Armada Portuguesa, condição essencial, como acontece em todos os outros países filiados, sendo o Almirante CEMA o Comandante-Chefe do CCM-Pt, a -tulo honorífico. O Corpo de Cadetes do Mar de Portugal congrega através do GAMMA o trabalho voluntário de várias associações da sociedade ci-vil vocacionadas para os assuntos e ac vidades do Mar, contando com o apoio de quatro Ins tuições do Ensi-no Superior, com a cooperação, até ao presente, de duas Escolas secundárias em Cascais e em Carcavelos, e da Es-cola de Marinhas do Sal em Rio Maior. Jovens que frequentam as duas pri-meiras Escolas cons tuem uma uni-dade em Cascais, contando-se com mais duas unidades, que integram os ainda mais jovens, em Rio Maior. Des-te modo, o Corpo de Cadetes do Mar de Portugal integra actualmente um total de cerca de 60 elementos distri-buídos por 3 unidades. Na sequência de um anterior projecto ao qual o Cte. Bellem Ribeiro (Ilustre associado da AFZ) deu alma e que designou por “A minha Escola adop-ta um Museu”, acabou por ser criado com o seu notável empenhamento, o

Corpo de Cadetes do Mar de Portugal. Os seus actuais elementos contam, designadamente, com o acompanha-mento de ac vidades e de conteúdos por parte do Ins tuto de Defesa Na-cional, com a colaboração do Museu de Marinha e do Museu Militar, com a disponibilidade de meios didác cos por parte do Ins tuto Hidrográfico e da Escola Superior Náu ca Infante D. Henrique, e com o apoio do Ins tuto de Socorros a Náufragos, ao qual se encontram ligados pelas estações sal-va – vidas de Cascais, de Peniche e da Nazaré. Levando em conta os conhe-cimentos adquiridos pelos Cadetes do Mar em cultura de defesa e em cau-sas do Mar, estes podem ser agracia-dos com cer ficados de mérito, com o suporte de algumas das Ins tuições citadas, uma vez a ngido o nível de “jovens guias de museu” (de Mari-nha ou Militar), “jovem colaborador de estação salva-vidas do I.S.N.”, ou de “jovens auditores de defesa nacio-nal”, entre outros, estando em estu-do a possibilidade de visitas a navios e até mesmo de futuros embarques. Uma vez superadas as provas teóricas e prá cas, os Cadetes do Mar podem ainda prosseguir para as candidaturas às cartas da Marinha de Recreio e de Radioamador, aos cer ficados de Na-dador Salvador, de Socorrista e de Ar-queologia Subaquá ca.O Reino Unido foi o país fundador do Sea Cadet Corps há 150 anos e conta hoje com mais de 400 unidades e para cima de 14.000 Cadetes do Mar. Tra-ta-se de uma organização que capta numerosas vocações para as carreiras do Mar, e cuja senioridade secular lhe conferiu caracterís cas admiráveis. À semelhança do que acontece no Reino Unido em relação aos “Royal Marines”, está a cons tuir-se entre nós a primeira unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros. Neste sen do foi assinado, na sede da Associação, um protocolo entre a Associação de Fu-zileiros e o GAMMA, no passado dia

26 de Setembro. Esta será a quarta unidade do Corpo de Cadetes do Mar de Portugal e integra jovens que têm a par cularidade de pretenderem ser futuros candidatos a Fuzileiros.Uma vez que se trata em Portugal de uma organização em crescimento, muito recente, mas que se deseja di-latada a todo o País e que vive apenas dos orçamentos que já existem para as Ins tuições que os cons tuem, sendo todas as ac vidades desempenhadas por voluntários, é muito desejável e fundamental a adesão de elementos da Armada, das Marinhas Mercante, de Pesca ou de Recreio, que habitem nas mais diversas regiões onde seja viável a criação de uma unidade do CCM – Pt, e que na sua situação de reforma e/ou por disponibilidade pes-soal, possam colaborar nas diferentes funções, de acordo com a sua experi-ência e categoria profissional. O dia do Corpo de Cadetes do Mar de Portugal é o dia 29 de Abril, escolhi-do por se relacionar com os 200 anos da recriação pelo Príncipe Regente D. João, da Ordem da Torre e Espada, em 1808, após a transferência da Corte de Portugal para o Brasil, em face da ameaça das invasões francesas. Como Ordem de Cavalaria, esta remonta, não obstante, ao reinado de D. Afonso V “o Africano” e ostenta como divisa, Valor Lealdade e Mérito, virtudes que deverão inspirar os nossos Cadetes do Mar, para que se tornem dignos obreiros de um futuro promissor para o País, qualquer que seja a posição ou a ac vidade profissional que nele ve-nham a desempenhar.

António Ribeiro Ramos Sócio aderente 1053

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Fuso-Poesia

“VÉSPERA DE COMBATE”

A noite é negra. Negros são os meus pensamentos!Minha mãe, tenho medo. Ouve os meus lamentosE vem junto de mim. Vem de além do mar, E canta-me outra vez, a canção de embalar.Nesse abrigo forte dos teus frágeis braços.Deixa que eu repouse uns instantes escassos.Diz-me outra vez, que sou eu o teu menino,O teu filho, o teu amor tão pequenino.As larvas da morte, já rondam muito pertoE o teu filho está só! Está só no deserto.No deserto negro, de tão escuro medo,Só a posso, confiar o meu segredo:Amanhã… Amanhã, é outra vez a guerra,A metralha, os ros, gritos e traição.Corpos a tombar, feridos, sobre a terra,Carnes rasgadas, gemidos de aflição.Na infrene fogueira, assim ateada,Pois tal ordenam a Honra e o Dever,Há um homem, átomo, pó, cisco de nada,Que não pode, nem ao menos, estremecer!De pé, sereno, o inimigo enfrenta, O peito às balas, os lábios a sorrir.E a luta, bárbara, cruel e sangrenta,Remoinha à sua volta, sem o ferir.Os homens que comanda, vibram de emoção,Ao vê-lo assim. Crescem. Rugem. Sem parar,Avançam firmes, temerosos. De roldão, O torpe inimigo fazem debandar.Esse herói tão al vo, bravo e forte,Símbolo cheio de luz, des no de glória, Que desdenhoso, ousado, enfrente a morteE aponte aos homens, a senda a vitória,E o ideal sublime, rei dos meus sonhos,Dos meus sonhos felizes, dos dias risonhos.Dos meus sonhos felizes, dos dias risonhos.Mas… mãe os sonhos não são realidade,E a , só poderei dizer verdade.Eu tenho medo. Tenho medo de morrer,Medo de falhar, de fugir sem combater.Por isso te peço que venhas até mimE me embales devagar, devagar, assim.Como é bom estar outra vez nos teus braços,Sen r-me a unido, por tão fortes laços.Já estou melhor. Refugio não há no mundo,Tão bom, tão acolhedor, quente e profundo.Foi-se a noite. Esplendente, já lá vem o dia,Com o sol radioso, nascendo a brilhar.A luz surge em mim. O canto da cotovia

Por: Alpoim Calvão(Cap. Ten)

Toca-me os ouvidos, num suave trinar.Olho de frente a morte. Enfrento a vida.O medo foi-se embora. Mãe muito querida.A teus pés me ajoelho. Vou beijar-te a mãoE pedir-te fervoroso, a tua bênção.E se amanhã, a morte me tombar,No momento supremo, os olhos em Deus,Transpondo o além, eu hei-de murmurar:Santa mãe! Para será o meu adeus.

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Crónicas

Das primeiras palavrasAo decidir-me publicar as minhas “Crónicas de Outros Tempos”, na Re-vista “O Desembarque” tenho de ex-plicar porquê – sendo sócio originário e an go da Associação de Fuzileiros – não optei por escrever contando “es-tórias” da guerra do Ultramar ou dos fuzileiros já que, embora Oficial da Reserva Naval, também por lá andei, e para além de Luanda, pela Quissan-

então u lizados, podiam transportar entre 170 a 200 pessoas e estavam cerca de 100.000 à espera de entrar no primeiro avião…

Voltarei ao assunto um pouco mais para diante…

Enquadramento

É preciso que se diga que em Maio/Ju-nho de 1975, a então Nova Lisboa, no Distrito do Huambo era ainda consi-derada, em Angola, “a cidade da paz” e, na aparência, respirava-se rela va-mente esse ambiente.

Porém, os “movimentos de liberta-ção” já ocupavam várias posições na cidade - as chamadas delegações - com pessoal e os respec vos depósi-tos de armamento como aliás era re-gra em quase todas as cidades e vilas de Angola.

De um momento para o outro, nos princípios do mês de Julho (10/12) de-sencadearam-se confrontos, em plena cidade – como vinha acontecendo por toda a Angola – entre guerrilheiros da UNITA (União Nacional para a In-dependência Total de Angola) o movi-mento de Jonas Malheiro Savimbi e o MPLA (Movimento Popular de Liber-tação de Angola), liderado por Agos-

nho Neto, cujo resultado foi a vitória dos primeiros, com reduzido número de mortos e feridos.

As forças do MPLA refugiaram-se no quartel das Forças Armadas Portugue-sas – Regimento de Infantaria de Nova Lisboa – no que foram acompanhadas por outros tantos civis, aderentes e simpa zantes do Movimento (pre-tos, brancos e mes ços) em número à volta de cerca de 120 pessoas que, sob ameaça da UNITA foram perma-necendo sob custódia das tropas portuguesas.

Dominando pela força das armas a cidade, sob o aparente olhar displi-cente dos militares portugueses, dois “movimentos de libertação”: a UNI-

CRÓNICAS DE OUTROS TEMPOSAÉREA NOVA LISBOA HUAMBO LISBOAEPISÓDIOS DE UMA PONTE AÉREA

ga, pela Pedra do Fei ço, pela Macala (rio Zaire) e pelo Massábi (Cabinda).

Porém, tendo do o privilégio de ter coordenado uma ponte aérea – fun-ções para que me vi a rado, em se-gunda escolha e por razões meramen-te circunstanciais, mas que voluntaria-mente aceitei (seguramente, por não ter, na altura, a mínima consciência da dimensão e da responsabilidade que viria a assumir) e tendo escrito ao longo dos anos muitas páginas que aguardam que o tempo cure as feri-das – entendi que, não tendo sido um “guerrilheiro” fuzileiro em teatros de

guerra como o da Guiné, deveria dei-xar os episódios de guerra para tantos que a fizeram com maior dureza e contar, antes, para os leitores do “De-sembarque”, traços de uma descoloni-zação vivida com muita intensidade.Apenas para esboçar eventuais curio-sidades posso suscitar a pergunta:Mas o que é isso de uma ponte aé-rea e qual é o problema? Tão simples como complicado: é que os aviões,

Marques Pinto* sócio nº 221

*Escreve de acordo com a an ga ortografia

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TA, esmagadoramente maioritária e, em teórico pacto de boa vizinhança, o chamado “ESQUADRÃO CHIPENDA”, facção dissidente do MPLA que terá integrado a auto-denominada “Revol-ta do Leste” grupo que, após a cimei-ra de Nakuru, se coligou com a FNLA (Frente Nacional de Libertação de An-gola – ex UPA) juntado aos seus guer-rilheiros (que no Huambo pareciam poucos) pessoal, equipamento militar e armamento (estes sim visíveis) do então Congo Kinshasa, dominado por Mobutu Sessé Séco, dito cunhado do líder da FNLA, Holden Roberto.A UNITA, a ganhadora dos confrontos, para além das várias delegações, nos bairros da cidade, par lhou algumas estruturas sicas dos vencidos (as que não foram destruídas) com o “Esqua-drão Chipenda”, quase todas ocupan-do instalações residenciais de quem

nha negociado para fugir, ou já nha abandonado, todas elas carregadas de armamento.O “ESQUADRÃO CHIPENDA” nha um “quartel” na Chianga, a mais ou me-nos 16 quilómetros da cidade, ocu-pando parte das instalações onde funcionava o Ins tuto de Inves gação Agronómica de Angola e nha a sua “sede urbana” instalada na melhor Casa de Saúde e de clínica médica, privada, de Nova Lisboa, nesta altura já negociada/abandonada pelos pro-prietários, cujo principal desígnio era, sobretudo, fugir.Pese embora o domínio “militar” pela UNITA da cidade e arredores e das vias de comunicação, para Silva Porto (Bié) e Serpa Pinto (Menongue) cida-des que, claramente, controlava, Nova Lisboa já nessa altura estava “cerca-da” (nas estradas de acesso) num raio de 60/100 quilómetros (a Norte, Sul e Oeste) por forças do MPLA deslocadas de Luanda e Malange que formavam uma cintura (apenas com abertura a Sudeste) muito di cil de romper por quem pretendia fazer chegar os seus haveres a um porto de mar.Era assim que, da cidade de Nova Lis-boa só era possível sair-se, com um mínimo de segurança, de avião – em ponte aérea, uma vez que já não fun-cionavam os voos comerciais – ou, com grande risco, tentando romper por terra, para Sudoeste, em direcção

a Benguela/Lobito, para Sul, via Sá da Bandeira (Huíla) com des no a Moçâ-medes (Namibe) ou, ainda, com re-dobrado risco, via Silva Porto e Serpa Pinto, com des no ao Sudoeste Afri-cano, hoje Namíbia.Para Nova Lisboa, a tal ”cidade da paz” acorriam, todos os dias, algumas cen-tenas de refugiados (brancos, mes -ços e pretos) fugindo à total “balcani-zação” provocada pelos cada vez mais violentos recontros armados entre a UNITA/FNLA e o MPLA, nas faixas Norte/Centro/Leste – Norte/Oeste de Angola.Era o fazer das malas para quem já não podia alcançar Luanda com um mínimo de segurança sendo que, quem fugia aspirava chegar a Nova Lisboa porque constava que iria ou estaria a funcionar uma ponte aérea ou porque Jonas Malheiro Savimbi, o líder da UNITA, ainda fazia apelos para que “os brancos não abandonassem Angola”.De facto, em Nova Lisboa, não havia no cia de qualquer perseguição racial por parte da UNITA havendo, mesmo, grande número de brancos e mes ços filiados no movimento de Savimbi.De qualquer forma, uma cidade com cerca de 60/70 mil habitantes, na zona urbana, viu-se progressivamente tomada por avalanches de refugiados de todas as zonas de Angola (Centro/Norte/, do Leste e do Sul) deslocan-do-se em pequenas ou maiores colu-nas de viaturas ficando, algumas des-tas, pelo caminho por falta de com-bus vel ou eventual avaria…Desenhava-se o êxodo fruto da guerra aberta entre os “Movimentos de Li-bertação”, da total inacção que a polí-

ca portuguesa registava e do conhe-cimento no meio dos refugiados de que, já estaria a funcionar, em Lisboa, um Ins tuto de Apoio aos Retorno de Nacionais – IARN (de que aliás eu pró-prio viria a ser, após “descolonizado”, dirigente de topo).Entretanto, projectava-se a “Ponte Aérea” Nova Lisboa/Lisboa, da inicia-

va do Governo Português e com o apoio de vários países especialmente dos Estados Unidos, Inglaterra, Fran-ça, Alemanha, Suíça mas, também e em menor escala, da então URSS.À guisa de um parêntesis deve dizer que, os acontecimentos – mesmo já

sem comunicações civis ou jornais e, obviamente, na ausência de televisão (a rádio ouvia-se em onda curta es-tando a onda média limitada ao Rádio Clube do Huambo e à Rádio Libertas já ocupados pela UNITA) – se sucediam em ritmo alucinante e os boatos, o pior drama de situações desta natu-reza, amplificavam e drama zavam as poucas no cias a que a maioria nha acesso.O medo instalava-se no seio dos re-fugiados, entre ao responsáveis das reduzidíssimas estruturas existentes (os serviços públicos iam paralisando todos os dias) e também nos próprios “Movimentos de Libertação” que pre-tendiam controlar a cidade.

Talvez por isso, a UNITA resolveu esta-belecer uma cintura de segurança de pessoal armado na periferia urbana, segundo os seus chefes, com duplo objec vo: Tentar travar possíveis infiltrações de guerrilheiros ou comissários polí cos do MPLA, disfarçados, nas colunas de desalojados – já que os que anterior-mente exis am ou estavam sob cus-tódia da tropa Portuguesa ou se diluí-am pela cidade, já saturada de gente, tentando passar despercebidos – que pudessem obter informações e, pos-teriormente, pudessem juntar-se às forças do MPLA que procuravam aproximar-se e tomar a cidade;E evitar que estas rompessem a cintu-ra periférica da UNITA “ajudada” pelo grupo auto-denominado de “Esqua-drão Chipenda” (mais ou menos 200 homens, muitos dos quais congoleses de Mobutu e ex-militares do Exército Português) grupo que, todos os dias ia engrossando com voluntários oportu-nistas – brancos e pretos – que, assim, viam a única forma de subsis rem e de se enquadrarem, armados, para depois fugir.Entretanto sucediam-se os combates entre o MPLA e a UNITA, a cerca de 60/100 quilómetros da cidade do Hu-ambo tentando, uns e outros ganhar posições.

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Crónicas

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É nesta “Cidade Acampamento” e neste

ambiente de caos absoluto…

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Mas, mesmo com o espectro dos con-frontos armados nas linhas viárias Nova Lisboa/Lobito e Nova Lisboa/Sá da Bandeira/Moçâmedes sempre havia refugiados e gentes de Nova Lis-boa que, de quando em quando, ten-tavam romper os cercos do MPLA, em colunas de viaturas mais ou menos numerosas arriscando fazer chegar ao mar (Lobito e Moçâmedes) os caixo-tes que con nham os poucos have-res, os únicos que lhes restavam das casas já desfeitas, na esperança de os poderem fazer embarcar, com des no a Portugal, num qualquer navio car-gueiro que demandasse os respec -vos portos.

Muitos deles, senão a maior parte, voltavam para trás trazendo consigo a desilusão e os caixotes, por vezes destruídos, vandalizados e/ou rouba-dos e, quiçá, algum ferido ou mesmo morto, escorraçados que nham sido, a ro, sob a acusação de desviarem para Portugal “património” de Ango-la, pelos guerrilheiros dos cercos.

Com o rolar dos dias, Nova Lisboa transformou-se numa “cidade acam-pamento” sendo di cil imaginar mais tectos para albergar toda a mole de gente, cuja única esperança era alme-jar um lugar num qualquer avião da Ponte Aérea, para a ngir Portugal.

Colégios, escolas primárias, liceus, ins-tutos industriais, escolas comerciais

e industriais, instalações de serviços públicos já paralisados, hangares dos caminhos de ferros (estes já há mui-to paralisados) armazéns públicos e privados, já esvaziados de conteú-dos, enfim e por fim, as instalações da Feira Internacional das Indústrias de Nova Lisboa (incluindo as instala-ções de gado) – tudo era pouco para recolher gente desiludida e, por vezes já amorfa, muitos apenas com um col-chão por baixo e uma manta rús ca por cima (no Huambo, Planalto Cen-tral de Angola faz frio na estação do cacimbo) e, para o fim, só com uma manta por baixo e outra por cima por-que os colchões já se haviam esgota-do e os cobertores escasseavam, já funcionando como moeda de troca.

É nesta “Cidade Acampamento” e neste ambiente de caos absoluto que se inicia a Ponte Aérea Nova Lisboa (Angola) /Lisboa (Portugal).

Da Ponte AéreaEm fins de Julho, princípios de Agos-to de 1975 chegam a Nova Lisboa en-viados do Alto-Comissário de Angola para os primeiros contactos.

Com a situação a degradar-se dia a dia tornava-se impera vo cons tuir uma “Comissão Execu va de Repatriamen-

to” (vivia-se o tempo das comissões e assim lhe chamaram) para organizar uma ponte aérea.Como é óbvio teria de ser uma comis-são de voluntários e de boas vontades – eu diria mesmo de altruísmos – por-que os poderes já estavam na rua, nas mãos dos “Movimentos de Liber-tação” ou, quando muito, em quem ainda de nha algum poder de facto porque o “de jure” nha-se esvaído.Teoricamente, repito, teoricamente, a estrutura devia apoiar-se noutra comissão dita CNAD – Comissão Na-cional de Apoio aos Desalojados que deveria integrar: o Encarregado do Governo do Distrito (O Governador do Huambo já nha par do); o Co-mandante Militar da ZIC – Zona de Intervenção Centro (já apenas ao ní-vel de Tenente-Coronel quanto a pa-tente normal era Brigadeiro mas que, também, já nha se nha acoitado na Metrópole); o Delegado Saúde (mé-dico indiano que, não se sabe bem porquê, ainda exis a); a Presidente da Cruz Vermelha local (uma grande Senhora que, contra todas as expecta-

vas ficou até ao fim); e o Coordena-dor da tal CER – Comissão Execu va de Repatriamento (que era imperioso encontrar).A previsão dos representantes do Alto-Comissário era de que seria ne-cessário evacuar de avião, em ponte aérea (os transportes aéreos comer-ciais já não funcionavam, à excepção de um ou outro “teco-teco” que ain-da se poderia alugar) cerca de dez mil pessoas.O Coordenador que os enviados de Luanda traziam na manga era um Eng.º Agrónomo, Chefe da Missão de Extensão Rural de Angola, com sede em Nova Lisboa e Coordenador do Plano Regional de Desenvolvimento do Planalto Central (de que eu era técnico assessor) personalidade que

nha, de facto, o perfil adequado mas que logo foi ameaçado fisicamente pela UNITA, sob o pretexto de que -nha a sua Missão de Extensão Rural infiltrada de MPLAs!Tendo este de se “ausentar” rapida-mente para Luanda/Lisboa lembrou-se de dizer, aos Senhores de Luanda, que eu, também um funcionário público, jovem licenciado (35 anos recentes)

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Chefe de um Serviço Distrital, “era o homem mais adequado”.Pudera! Tratava-se de um ex fuzileiro e, de qualquer forma, nestas situações de emergência, de quase catástrofe e de poucos quadros disponíveis, qual-quer um serve, desde que aceite o en-cargo, ou porque já não anda bem da cabeça ou porque, ingénuo, não tem a noção do que pode vir aí!Fui eu o voluntário indigitado.Os militares portugueses, comanda-dos por um Tenente-Coronel, an go, de extraordinária valia (pese embora já rodeado de vários MFAs que lhe seguiam a sombra) colocaram à dis-posição do Coordenador da Comissão Execu va de Repatriamento, as insta-lações do Distrito de Recrutamento e Mobilização do Huambo, uma vez que já não havia mobilização e muito me-nos recrutamento, estando o edi cio todo equipado, mas totalmente vazio de pessoal. O MFA, ou os mais que fossem que de vessem o poder militar, já haviam reduzido as tropas portuguesas do Huambo ao mínimo, uma vez que, na Mãe Pátria, já se gritava, designa-damente, os SUVs - Soldados Unidos Venceremos e os MUVs - Marinheiros Unidos Venceremos: «NEM MAIS UM SOLDADO PARA AS COLÓNIAS»!

Em princípio (dizia Luanda) a Comissão Execu va de Repatriamento (CER) de-veria evacuar apenas refugiados, não funcionários públicos – estes eram imensamente minoritários – uma vez que teriam à disposição aviões espe-cíficos cabendo a sua coordenação ao

Encarregado do Governo, um Inten-dente de Distrito que por lá perma-necia, convencido de que ainda nha poder quando, ele próprio sem par -cular pres gio, os seus serviços esta-vam a paralisar e era visível que se ia instalando o caos!

Apenas com estes pressupostos, de-masiado simplistas e imprecisos de quem não faz a mínima ideia da rea-lidade do terreno (os conhecidos personagens do ar condicionado) se cons tuiu a Comissão Execu va de Repatriamento da CNAD (Comissão Nacional de Apoio aos Desalojados) que verdade seja dita só exis u no papel - ao redor deste voluntário, fun-cionário público, ex fuzileiro que ape-nas colocou como condição evacuar a família no primeiro avião. Coragens da juventude…!

O Coordenador – a quem já não eram pagos vencimentos, por impossibili-dade de processamento, face à pa-ralisação dos serviços – rodeou-se, também, de voluntários que convidou e na altura terá escolhido de entre quem se disponibilizava para ajudar: Eng.º de máquinas, Eng.ª química, Eng.ºs Agrários, Bancários, Funcioná-rios Públicos, Economistas, Médicos, Enfermeiros, Socorristas, Secretárias de Direcção, enfim, todos eles, por-ventura convencidos de que o Coor-denador estaria possuído de reais po-deres que lhe vinham de Luanda e do Alto-Comissário quando eu, na verda-de, nem este conhecia… Mas era ne-cessário mostrar “alguma coisa”…

Estes Colaboradores que iriam cons-tuir e “chefiar” (ninguém chefiava

coisa alguma) as principais estruturas

escolheram outros voluntários (pes-soal mais execu vo) e a Comissão de Repatriamento chega a a ngir os 200 elementos que, obviamente, ninguém

nha a veleidade de coordenar.Já com as “pedras” por mim escolhi-das cria-se, “ad hoc”, uma organiza-ção com os seguintes serviços, depar-tamentos, sectores, secções – como quiserem.Citam-se, u lizando os documentos que consegui preservar, apenas para situar os leitores, não por ordem hie-rárquica (as hierarquias, nestas cir-cunstancias, eram os poderes fác cos e tantas vezes fic cios):9 Secções Regionais de Inscrição; 1 Secretaria-Geral; 1 Secção de Atendi-mento; 1 Secção de Planeamento de Voos; 1 Secção de Saúde; 1 Gabinete de Análise; 1 Departamento de Rela-ções Públicas; 1 Secção de Informa-ção; 1 Tesouraria; 1 Secção de Contro-lo de Voos.Tudo “isto” “tutelado” pelo Coorde-nador (este escriba que se pretende fazer-se ler) e por mais 4 Coordenado-res Adjuntos. Como vêm, “brilhante” para uma situação de caos público e de poder na rua…!Mas para que se compreendam a his-tória e as “estórias” que se hão-de contar, é indispensável que voltemos à pergunta:Qual é o problema de uma ponte aé-rea, em que se perspec va evacuar cerca de 10.000 pessoas e acabam por “fugir” cerca de 80/100.000?Numa cidade de à volta de 60/70 mil

habitantes “despejam-se” mais cer-ca de 100.000 seres humanos. Cada pessoa considera que o seu caso e o seu problema são mais importantes do que os do vizinho do lado, porven-tura o corpo que repousa no colchão ao seu lado, coberto pelo tecto de um pavilhão de feira. Por isso - “porque os meus problemas são os mais graves e importantes, tenho o direito de seguir no primeiro avião”.Cento e sessenta mil almas pensam da mesma maneira e estão convictas das suas verdades!

EPISÓDIOS DE UMA PONTE AÉREA

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Quem vai primeiro? Trocavam-se viaturas por

combus vel.

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Só que, cada avião, neste caso, apenas transporta entre 170 a 200 pessoas.

Então coloca-se este “pequeno” pro-blema: Quem vai primeiro?

As mulheres que, eventualmente, com as crianças estão mais fragilizadas? Os velhos e os doentes? Os jovens com mais esperança de vida? Os homens válidos ficam para o fim? E as famílias separam-se? E se não há aviões para todos? E os polí ca e militarmente ameaçados de morte, pelos “Movi-mentos de Libertação” que controlam, pelas armas, o terreno, mesmo sendo pretos angolanos, deixam-se morrer, já que não há poder que os proteja? E as Famílias “extensas” mul rraciais e mul nacionais separam-se? Ficam os pretos e os de pele escura e vão, ape-nas os brancos? Quem são os nacio-nais portugueses que têm o direito e a legi midade de ser repatriados? Só os brancos? Ou também os pretos e os mes ços que nasceram sob a Ban-deira das Quinas?

E quem define tudo isto, quando o po-der está na rua ou para lá caminha?

Aos olhos da mul dão de desiludidos – de cansados, de quem apenas vis-lumbra muito pouca luz ao fundo do seu túnel – é óbvio que quem deve

definir será a “Comissão” e o seu Co-ordenador, figura que ainda é vista com algum poder, pelo menos, por-que terá alguns aviões “no bolso” e se faz transportar num carro do Estado (ainda português) com combus vel fornecido pelos militares portugue-ses. O abastecimento comercial de combus vel nha paralizado e já se trocavam viaturas por combus vel, isso mesmo, trocavam-se viaturas por combus vel.

Esta sim uma “telenovela” da vida real, com episódios burlescos e in-sólitos que atravessam o drama da sobrevivência e a tragédia de vidas dissolvidas, em meia dúzia de meses, e o desmoronar do castelo de cartas de várias gerações, ruindo ao sopro de uma História que con nua por escreveras, em meia dúzia de meses e o desmoronar do castelo de cartas de várias gerações, ruindo ao sopro de uma História que con nua por escrever.

Mas que Comissão era esta?Como já foi aflorado era exclusiva-mente cons tuída por voluntários, a maior parte dos quais apenas se ofe-recia para conhecer os meandros da “organização” e para mais facilmente

furar as regras que se tentavam defi-nir – para que houvesse ordem – e en-quadrar “esquemas” que possibilitas-sem as corruptelas dos oportunistas e permi ssem fugir mais rapidamente, num qualquer avião que “caísse” na pista, mesmo que sob dissimulação, no “cockpit”.

Foi esta “organização” que este escri-ba procurou coordenar, apoiado por dúzia e meia de verdadeiros altruístas (Homens e Mulheres).

Depois “disto”, compreender-se-ão muitas “estórias” que se poderão contar – quiçá se contarão – onde o drama, a ternura, a emoção, o amor e o ódio, a paixão e o medo, o altruísmo e o desespero e, seguramente a cora-gem, se entrecruzam temperando au-tên cos casos de telenovela.

Esta sim, uma “telenovela” da vida real com episódios burlescos e insóli-tos que atravessam o drama da sobre-vivência e a tragédia de vidas dissolvi-das, em meia dúzia de meses, e o des-moronar do castelo de cartas de vá-rias gerações, ruindo ao sopro de uma História que con nua por escrever.

(Con nua no próximo numero)

Crónicas

EPISÓDIOS DE UMA PONTE AÉREA

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No ano de 2005, a formação de con-dução na Marinha foi transferida to-talmente para a Escola de Fuzileiros, no contexto da ex nção do Grupo nº 1 de Escolas da Armada, em Vila Fran-ca de Xira. Na Escola de Fuzileiros já exis a um pólo de formação e um dos dois centros de exames da Marinha, reconhecidos pela então DGV. Assim, todos os recursos, humanos e mate-riais, foram transferidos para a Escola de Fuzileiros, sendo criado o Departa-mento de Formação em Transportes Terrestres (DFTT) que inclui o Gabine-te de Instrução de Viaturas (GIV) e o Centro de Exames de Marinha, reco-nhecido pelo Ins tuto para a Mobili-dade e Transportes Terrestres (IMTT), para a atribuição de cer ficados de condução de todas as categorias de veículos, passíveis de serem averba-dos directamente aos bole ns de con-dução civis.

O DFTT ficou assim responsável pela formação de praças e sargentos das classes V (Condutores - em ex nção) e MS (Manobras e Serviços) na ver-tente da condução, e da realização de cursos de aperfeiçoamento (ex.: autocarros e veículos ar culados) e de especialização, como é o caso do curso de Especialização em Conduto-res para Fuzileiros (FZV).

Este curso, com uma duração de cerca de 4 meses, confere aos formandos a qualificação legalmente exigida para a condução de todas as categorias de veículos e proporciona-lhes co-nhecimentos e perícias no âmbito da condução tác ca e da condução em todo-o-terreno (TT). Para tal, o DFTT realiza, em alguns casos com a cola-boração da Companhia de Apoio de Transportes Tác cos (CATT) do Corpo de Fuzileiros, exercícios de campo, para o treino e aperfeiçoamento des-tas técnicas e perícias.

Neste enquadramento e no âmbito do Curso de Especialização em Conduto-res de Automóveis (EMV02) 1ª Edição de 2011, realizou-se o Exercício de condução Tác ca e Todo-o-Terreno TT1101, de 12 a 14 de Julho de 2011, na zona de Tróia e Pinheiro da Cruz.

Tendo-se considerado importante co-nhecer outras técnicas e abordagens à condução TT, bem como técnicas de desempanagem, o DFTT propôs-se,

com a autorização do Comando da EF, endereçar um convite a um piloto de referência nesta matéria com o intui-to de colaborar nesta formação. Diría-mos que naturalmente o nome de imediato lembrado foi o da Piloto Eli-sabete Jacinto, face à sua enorme ex-periência nesta matéria, fruto da sua par cipação em inúmeras provas TT, de que se salientam o Rali Paris-Dakar e o Rali Africa Race, com resultados dignos de registo, quer na condução de motas, quer, sobretudo, ao volan-te do seu camião MAN TGS do Team Oleoban/MAN Portugal, no qual ain-da recentemente repe u o triunfo al-cançado no ano passado numa prova da Taça do Mundo.

A este convite, a Piloto Elisabete Ja-cinto respondeu com enorme dispo-nibilidade e simpa a, deslocando-se à área de exercícios no dia 13 de Ju-lho, acompanhada pelo gestor da sua equipa e responsável pela logís ca e também seu marido, Jorge Gil.

Após a recepção efectuada pelo Co-mandante do Corpo de Fuzileiros, CALM Picciochi e pelo Comandante da Escola de Fuzileiros, CMG FZ Pe-reira Leite, seguiu-se um almoço no Ponto de Apoio Naval de Tróia, e a deslocação para a área de exercícios onde foi possível trocar experiências e conhecimentos, tendo Elisabete Ja-cinto par lhado a sua vasta experiên-cia com os formadores e formandos presentes no exercício, bem como a oportunidade de observar o que é feito em ambiente militar, e, inclusiva-mente feito uma pequena experiência

de condução com veículos do Corpo de Fuzileiros.

Elisabete Jacinto revelou a curiosida-de e sa sfação de ter sido a primeira vez que foi convidada para par lhar a sua experiência na área de condu-ção. Enalteceu o profissionalismo dos condutores presentes e salientou a importância de vários aspectos de se-gurança em TT, nomeadamente o uso do cinto de segurança, como factores que contribuem para o sucesso da “missão” de condução nas mais di -ceis condições do terreno, referindo as vezes em que um adequado cinto de segurança lhe permi u permane-cer com o total controlo da condução (volante e pedais), mesmo quando a viatura se eleva nas irregularidades do terreno.

Corpo de Fuzileiros

PILOTO ELISABETE JACINTO COLABORACOM ESCOLA DE FUZILEIROS

Referiu também a importância da manutenção de uma boa condição

sica – a piloto dedica, diariamente, duas horas ao seu treino sico – que considera essencial para manter a plenitude das suas faculdades ao longo das provas e para o organismo responder “em tempo ú l” ao esforço requerido.

Tratou-se de uma primeira aborda-gem, de uma par lha de conhecimen-tos muito proveitosa para formadores e formandos, ficando a promessa para futuras colaborações nesta área, que a Escola de Fuzileiros e o DFTT preten-dem ver aprofundadas.

5Comentários e troca de ideias sobre os exercícios realizados (Pinheiro da Cruz)

CALM Picciochi recebe Elisabete Jacinto em PAN Tróia

Almoço e oferta de livro alusivo aos 50 anos da EF (PAN Tróia)

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Corpo de Fuzileiros

SALA DE ESTAR DE PRAÇAS QP DA BASE DE FUZILEIROS

Após um interregno de cerca de dez anos, foi reaberta em novas instala-ções, a Sala “Marinheiro FZE Manuel José Franco Belo” des nada às Praças dos Quadros Permanentes (QP´s) da Base de Fuzileiros, no passado dia 25 de Maio de 2011. Este novo espaço de lazer cons tuía uma an ga ambição do Comando, e des na-se aos milita-res QP´s da guarnição sendo extensiva aos seus familiares e convidados. Na cerimónia presidida pelo Coman-dante da Base de Fuzileiros, CMG FZ Ova Correia, es veram presentes Sua Excelência o Comandante do Corpo de Fuzileiros, CALM Cortes Picciochi, o Segundo Comandante do Corpo de Fuzileiros, CMG FZ Sousa Ribeiro, ou-tros Oficiais do Estado-Maior, o Oficial Capelão e Comandantes de Unidades FZ, Chefes de Serviço, Sargentos e a Praça QP mais an ga de cada Serviço.A reconversão desta infra-estrutura si-tuada junto ao Bar da Guarnição, e na praça onde se encontra exposta a via-tura “Chaimite”, foi feita com grande dedicação e empenho pelo pessoal do

Nasceu a 28 de Agosto de 1947, na freguesia da Atouguia da Baleia, Pe-niche, e requereu a admissão à Ar-mada em Dezembro de 1964, com a idade de 17 anos. Após a formação no G.2.E.A (E.F.) foi promovido a 2º Grumete FZ, e par u para a sua pri-meira campanha na Guiné em Junho de 1966. Três meses depois de ter iniciado a sua primeira campanha é louvado pelo Comandante do Destacamen-

to Nº7 de Fuzileiros Especiais (DFE 7), pelos serviços extraordinários e importantes que nha realizado em campanha, tendo o louvor sido avo-cado pelo Comandante da Defesa Marí ma da Guiné, Comodoro Fran-cisco Ferrer Caeiro a 19 de Setembro de 1966.Em Dezembro de 1966, volta a ser louvado pelo DFE 7 e pelo mesmo Comodoro, por ter demonstrado ele-vado espírito comba vo, coragem e desprezo pelo perigo, sendo-lhe pos-teriormente atribuída a medalha de Mérito Militar de Cobre dos Serviços Dis ntos por despacho do General Chefe das Forças Armadas da Guiné.Aos 23 anos de idade, registava dois Louvores Individuais por actos pra cados em operações na Guiné e 5 Louvores Colec vos. Também havia sido condecorado com a cruz de Guerra de 4ª Classe, por serviços prestados em combate e com a Me-dalha Militar de Serviços Dis ntos

(Guiné). Na mesma altura, e ao lon-go de uma comissão em Angola, foi agraciado com um Louvor Individual, onde se considerava os serviços por ele prestados como extraordinários, relevantes e dis ntos.No dia 15 de Novembro de 1973 pe-las 16:40 horas, quando se efectuava o transporte de pessoal para patru-lhamento das matas a Leste do Chi-lombo, Angola, foi accionada uma mina an -carro nas proximidades do Rio Matoche. Do rebentamento desta resultou ferimentos no 119/65 Mar FZE Belo, que após evacuação para o aquartelamento do destaca-mento de Marinha do Zambeze, fale-ceu ví ma dos ferimentos sofridos.Após a transladação do corpo em 18 de Janeiro de 1974, da Vila de Tei-xeira de Sousa para Luanda, a urna chegou a Lisboa, via marí ma, em 07 de Abril de 1974, tendo sido sepulta-do dois dias depois no cemitério da Nazaré.

MARINHEIRO FZE MANUEL JOSÉ FRANCO BELONotas pessoais

Serviço Geral, Serviço de Electricida-de, Secção de Serralharia e Carpinta-ria da Unidade, sendo o novo recheio e decoração ob da por via de verbas da Unidade, e outras ofertas das Uni-dades, nomeadamente da Unidade de Meios de Desembarque.

O patrono da Sala, que serviu a Arma-da nos Fuzileiros desde os 18 anos de

idade (ver notas pessoais na caixa), combateu no território da Guiné e de Angola, tendo evidenciado sem-pre um enorme espírito comba vo e coragem sica invulgar, faleceu na sequência do rebentamento de uma mina an -carro no Chilombo, Angola em Novembro de 1973, ao serviço da CF 6.

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Na sequência das no cias já publica-das em “destaque”, no Site da Asso-ciação de Fuzileiros dá-se à estampa um pequeno resumo do que foi a comemoração do Dia do Fuzileiro e, especialmente, da cerimónia de inau-guração do Monumento ao Fuzileiro implantado na rotunda a que a Câ-mara Municipal do Barreiro deliberou chamar “Rotunda dos Fuzileiros” inte-grando-a na toponímia da cidade.

S. Ex.ª o Presidente da República che-gou ao local da cerimónia às 11.30 ho-ras acompanhado pelo Senhor Tenen-te-General, Chefe da sua Casa Militar, sendo recebido pelos Senhores Pre-sidentes da Câmara e da Associação de Fuzileiros e pelos Senhores, Secre-tário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional e Chefe do Estado Maior da Armada.

As honras militares ao Primeiro Ma-gistrado da Nação foram prestadas por um Batalhão de Fuzileiros a três companhias, integrando o Estandarte Nacional e os Estandartes do Corpo, da Escola e da Base de Fuzileiros, a Fanfarra e a Banda da Armada, bem como os Guiões das an gas Unidades de Fuzileiros que prestaram serviço em Angola, Guiné e Moçambique.

À volta da Rotunda dos Fuzileiros e do Monumento marcaram presença, também, os guiões, da Associação de Fuzileiros e das nossas Delegações do Algarve, de Gaia e de Juromenha/Elvas.

Nas Tribunas veram lugar todas as en dades convidadas pela Câmara Municipal do Barreiro e pela Asso-ciação Nacional de Fuzileiros ron-dando as trezentas personalidades civis e militares incluindo as Altas Individualidades.

Assis u à cerimónia uma mul dão de gente que se deslocou de todo o País e que se juntou à população do Barreiro podendo falar-se em muitos milhares de pessoas.

Esta cerimónia teve a inicia va da As-sociação de Fuzileiros sendo apoiada pelo Município do Barreiro e pela Ma-rinha, com especial destaque para o Corpo de Fuzileiros.

A comemoração do Dia do Fuzileiro iniciou-se cerca das 09.00 horas, com a concentração da “Grande Família dos Fuzileiros” na Escola de Fuzileiros e com a par da de cinco autocarros da Direcção de Transportes da Mari-nha que efectuaram o transporte de

O Monumento é da autoria do es-cultor Tolen no de Lagos e pretende retratar um desembarque dando o relevo a um bote zebro com um fuzi-leiro a saltar para terra e mostrando, ao fundo, a silhueta de um navio de guerra.

ida e regresso das pessoas para e do Barreiro.

Finda a cerimónia de inauguração, cerca das 12.30 horas e, de volta a Vale do Zebro houve o tradicional al-moço convívio, na Escola de Fuzilei-ros, tendo a respec va organização melhorado muito em relação ao ano passado.

Tratou-se de uma longa mas bonita e emocional jornada, cheia de nível e de disciplina consen da que terminou perto das 5 horas da tarde, no decur-so da qual se mataram saudades e se distenderam nostalgias.

De notar que a específica cerimó-nia de inauguração do Monumento – junto do qual S. Ex.ª o Presidente da República descerrou uma lápide e prestou homenagem aos Fuzileiros já desaparecidos, nomeadamente, aos que pereceram em combate – de-correu com par cular civismo, ordem disciplina e rigor, não tendo sido pos-sível vislumbrar a mais pequena nota discordante.

Estamos, pois, todos de parabéns: Associação de Fuzileiros, Câmara Mu-nicipal do Barreiro, e a Marinha (Cor-po, Escola e Base de Fuzileiros) sendo

DIA DO FUZILEIRO 2 DE JULHO DE 2011

PRESIDENTE DA REPÚBLICA INAUGURA MONUMENTO AO FUZILEIRO

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justo destacar o empenhamento do pessoal do Corpo de Fuzileiros e do Município do Barreiro, bem como a par cular dedicação dos tulares dos Órgãos Sociais da AFZ, designadamen-te, da sua Direcção e dos dirigentes das Delegações, sem o empenhamen-to e espírito de entrega dos quais, não seria possível este rotundo sucesso.Segundo cremos foi a primeira vez que um Presidente da República, em Portugal, inaugurou um Monumento em homenagem a uma força militar

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DISCURSO DO PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS

de elite, em praça pública e discursou em cerimónia desta natureza.Importa referir que o nosso Monu-mento vai ser melhorado.Venceu e sedimentou-se a ideia de serem colocadas, estratégica e este-

camente, cinco pedras ao redor do monumento com uma das faces re-ves da de pedra “moleana”, nelas se recortando as imagens planificadas dos cinco con nentes com os locais, por onde os Fuzileiros es veram, de-vidamente assinalados.Orgulho de todos nós e profusamente referenciado por Ins tuições Milita-res e Civis, porventura anteriormente alheias à Associação, o Monumento ao Fuzileiro cons tui já referencial altaneiro do Município do Barreiro, da Marinha de Guerra, da Associação que é nossa e do próprio País.Por tudo isto cons tui – diríamos – a quase obrigação de todos os Fuzilei-

ros e de cada um, perder ganhando, pelo menos um dia para visitar o Mo-numento e homenagear a memória de todos nós mas, especialmente, dos que já encetaram a viagem para além de nós. Mais do que muitas palavras falará o conjunto de fotos que se publica e os discursos dos Presidentes da Associa-ção de Fuzileiros, da Câmara Munici-pal do Barreiro e o de S. Ex.ª o Pre-sidente da República para o qual se chama par cular atenção.

Excelen ssimo Senhor Presidente da República, Exm.º Senhor Presiden-te da Câmara Municipal do Barreiro, Exm.º Senhor Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Exm.º Senhor Almirante Chefe do Estado Maior da Armada, Exm.º Presidente da Assembleia Municipal, Exm.º Se-nhor Chefe da Casa Militar de S. Exª. o P. da R., Exm.º Senhor Almirante CN , Emm.º Senhor Comandante do Corpo de Fuzileiros, Exms.º Senhores Almirantes ex- CEMAs, Sr.s Almirantes e Generais , Ilustres Convidados, Mi-nhas Senhoras e Meus Senhores.Permita-me V. Ex.ª, Senhor Presidente da República de lhe pedir vénia para o cumprimentar e para lhe dizer da subida honra que a Associação de Fu-zileiros sente em que o nosso monu-mento seja inaugurado pela mão do Senhor Professor Doutor Aníbal Cava-co Silva.Permita-me, ainda, V. Ex.ª que em lar-gas pinceladas – não de ar sta mas de homem de todos os dias que sen-te pulsar no coração este vírus que não mata mas que se alimenta a si a próprio, qual seja o do mís co fuzilei-ro – trace alguma história, porque de

história já se pode e deve falar quanto o tempo transforma o tempo em 390 anos.Os Fuzileiros Portugueses têm origem na mais an ga unidade militar perma-nente de Portugal, o Terço da Arma-da da Coroa (1621) tendo sido, desde logo considerado uma unidade de eli-te que, a responsabilidade e a honra da guarda pessoal do Rei de Portugal confirmou.Ao longo do século XVIII, o Terço da Armada da Coroa de Portugal so-freu reorganizações mas a maior foi quando, no final do século, D. Maria I mandou concentrar todos os seus re-gimentos de marinha na nova Brigada Real da Marinha. Quando da ocupação napoleónica (1808) e da par da da Família Real, a Brigada Real embarcou, também, na sua maioria, para o Brasil e, neste nos-so País irmão deu origem ao Corpo de Fuzileiros Navais.Em meados do século XIX, com a total militarização do pessoal da Armada Portuguesa esta decidiu ex nguir a sua componente an bia e, natural-mente, a Brigada Real.

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Porém, em 1924, volta-se a uma uni-dade an bia permanente, a Brigada da Guarda Naval, ex nta em 1934.Contudo, a indispensabilidade dos fuzileiros transformou-se em necessi-dade óbvia e sen da a par r de 1961, com o início da Guerra do Ultramar sendo então estes recriados e cons-

tuídos em Destacamentos de Fuzi-leiros Especiais e em Companhias de Fuzileiros Navais sendo que, até 1975, mais de 14.000 fuzileiros combateram nos teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambique.Mas, voltada que foi a página da des-colonização, esta força de elite, com reconhecidos pergaminhos na guerra, logo soube criá-los na Paz com igual dignidade e assinalando, outrossim, com igual elevação, o seu conhecido e pico cariz humanista.Foi então que os Fuzileiros marcaram novamente presença em três con -nentes: Europa – Bósnia; África – Gui-né, Cabo Verde, Moçambique, Angola e Congo; Ásia - Timor e Afeganistão;Enfim, o reinício do percurso dos cin-co con nentes tantos quanto, desde o Terço da Armada da Coroa, os fuzi-leiros veram de percorrer com igual garbo e sen do de missão e honra da Pátria.Ilustres Convidados,Minhas senhoras e meus Senhores:Teria de me penitenciar junto de to-dos quantos, neste momento repre-sento se não tornasse pública, ao me-nos, cur ssima resenha da sua ainda pequena história mas for ssima afir-mação, no quadro do associa vismo nacional e se não retratasse, sumaria-mente, a sua natureza e fins.Quanto à história: - Após a Revolução de Abril, não fa-zendo excepção à ânsia generalizada de criação de movimentos associa -vos, também os fuzileiros, com pre-ocupação patrió ca tentaram reunir-se em associação na defesa dos seus par culares princípios e valores.- Porém só em 29 de Março 1977 foi registada a 1.ª escritura pública.- Decorrida a úl ma década de árduo e pro cuo trabalho, que envolveu de-zenas e dezenas de Homens que de-ram o melhor de si próprios à causa, aqui estamos – com um novo quadro estatutário – orgulhosos do passado e do presente, com muita Fé no futuro

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e com a consciência de termos a n-gido um nível de parceiro dialogante, nas vertentes civil e militar.Quanto à natureza e fins:- A AFZ tem a natureza de uma asso-ciação de direito privado, com perso-nalidade jurídica, sem fins lucra vos e procura conservar e desenvolver os valores que sempre presidiram ao espírito de serviço, de camaradagem, de lealdade, de coragem, de sacri -cio e de solidariedade dos Fuzileiros e da Marinha de Guerra Portuguesa, pretendendo desenvolver interven-ção nos âmbitos cultural cien fico, histórico, das ciências militares e das artes mas, par cularmente, na área social de apoio aos mais carenciados e desfavorecidos.Senhor Presidente da República, Excelência:Esta inicia va, também ela de exce-lência – perpetuar a figura do Fuzilei-ro, na guerra e na Paz – não tem só a ver com a Associação de Fuzileiros. A “culpa” de tudo isto e do incómodo que causámos a V. Ex.ª sobrecarregan-do a sua já pesada agenda é, também, da Câmara Municipal do Barreiro e da Marinha, dentro da qual – permita-se-nos o pequeno “bairrismo” – real-çamos o Corpo de Fuzileiros.A Câmara Municipal, personalizada no indispensável e claro apoio do seu Presidente deu-nos a rotunda, as in-fra-estruturas e, sobretudo, a sua ma-nifesta colaboração.A Marinha, a nossa Marinha, deu-nos os meios que sempre envolvem a re-cepção condigna do Primeiro Magis-trado da Nação, quase diríamos, “deu-nos tudo”, o que equivale por dizer, a capacidade de fazer e de fazer bem e, não menos importante, os apoios aní-

micos que nos permi ram levar por diante esta pequena aventura. V. Ex.ª Sr. Chefe do Estado Maior da Armada é, também, o “culpado”. “Penitencie-se”.O Senhor Tolen no de Lagos, benefi-ciou-nos com seu talento e arte.Vamos terminar por agradecer a todos quantos, sem excepção, contribuíram para tornar possível esta realização que, cremos, cons tui marco históri-co que permi rá à Associação de Fu-zileiros, no futuro, cumprir no âmbito social, o sonho dos nossos desígnios: a “Casa Sénior dos Fuzileiros” - para que todos possamos morrer com dignidade.Obrigado à Marinha, obrigado à Câ-mara Municipal do Barreiro, obriga-do a todos os Ilustres Convidados, porque todos o são, por terem dado lustro e visibilidade a esta cerimónia, obrigado aos sócios pela forma como colaboraram.A todos muito obrigado porque, por-ventura terão contribuído para que a Associação de Fuzileiros – neste mun-do alucinantemente veloz e eivado de resquícios do mais puro individualis-mo ponha de lado inexoráveis inevita-bilidades e con nue com a Esperança de, quiçá poder cons tuir mais uma ilha de ventos tranquilos soprando solidariedade.V. Ex.ª Senhor Presidente da Repúbli-ca integrou, seguramente, boa parte do vento de solidariedade que por aqui soprou, muito obrigado. MUITO Obrigado, por PORTUGAL.Disse.

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DISCURSO DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DO BARREIROSua Excelência Senhor Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva; Senhor Secretário de Estado Adjunto da Defesa Nacional, Dr. Paulo Braga Lino; Senhor Chefe do Estado Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes; Senhor Presidente da Associação de Fuzileiros, Comandante Francisco Preto; Senhores Autarcas; Restantes Convidados; Minhas Senho-ras e Meus SenhoresA todos saúdo!Bem-vindos ao Barreiro.Esta é a nossa terra. Com o seu pas-sado, o seu presente e o seu futuro: todos feitos de resistência, de com-bate, de Liberdade, de trabalho e de sonho.Um molde forjado, como em tantos outros lugares e por tantos outros portugueses, na defesa dos interesses públicos do País e do Povo português: da sua autonomia e independência, da sua Liberdade e crescimento.É nesta terra e entre este povo que hoje vos encontrais.E é com eles, connosco, que podeis contar para, em defesa daqueles mesmos interesses e princípios, criar mais riqueza, mais emprego e maior produ vidade.Bem-vindos, pois! É com imenso respeito e grande con-sideração que par cipamos na Ceri-mónia de Inauguração do Monumen-to de Homenagem aos Fuzileiros, no mesmo momento em que se come-mora o quinquagésimo aniversário da sua escola em Vale de Zebro, aqui no concelho do Barreiro.As forças armadas representam um elemento central na defesa da sobe-rania e da independência nacional, assumindo-se como pilar da Liberda-de e da Democracia.A defesa que estas lhes devem, e que a Cons tuição da República de 1976 lhes confere, exige muito. Impõe mui-tos sacri cios. Mas impõe-nos a todos nós.As forças armadas e a marinha, das barricadas da rotunda ou da revolta dos marinheiros à madrugada de 25 de Abril, demonstraram, sempre, es-tar à altura dos valores cuja defesa lhes foi confiada.

Saibamos, também, cada um de nós estar a esta altura.Vivemos tempos di ceis. Muitas das opções que hoje estão a ser tomadas afectarão o futuro próximo de Portugal e da generalidade dos portugueses. No entanto, somos dos que convicta-mente acreditamos nas capacidades dos Barreirenses para encontrar as so-luções adequadas à superação das di-ficuldades com que nos confrontam.Construímos ao longo dos úl mos anos um conjunto de projectos que, uma vez concre zados, permi rão transformar o Barreiro, uma vez mais, num pólo de progresso, de crescimen-to e de produção de riqueza. Permi que, a traços breves, vos transmita três das nossas principais ambições: Necessitamos que o território da an-

ga Cuf/Quimigal, actualmente patri-mónio do estado, se reerga.Para ele, estamos, com o apoio de muitos parceiros, a construir um pla-no que, associado à construção da TTT com funções rodo-ferroviárias, contribuirá para a afirmação de Lis-boa enquanto grande Cidade Região, mais internacional, apta a disputar o seu lugar com outras grandes cidades europeias. Temos uma imensa zona ribeirinha abrangendo os rios Tejo e Coina.

O Barreiro tentará, sem precipitações mas com convicção, firmeza e ambi-ção, concre zar uma estratégia que aposte neste imenso território.Mas apenas um esforço integrado pode, a este tulo, produzir os resul-tados que precisamos de alcançar.O Barreiro cresce com quem nele vive, trabalha e intervém.É terra de desporto, de música, de cul-tura e de artes. Com um importan s-simo património industrial.Estes traços são os nossos. Este patri-mónio é o nosso. Reforçar estas apostas, reforçar a aposta nas pessoas, mesmo quando condicionados pela conjuntura eco-nómica e financeira, é essencial e determinante.Meus senhores,Os tempos que vivemos exigem-nos a todos, e par cularmente aos que têm responsabilidades nos órgãos de soberania, o respeito e a defesa clara e intransigente da nossa história e das nossas aspirações.Só poderemos superar os problemas com que nos confrontamos com mais trabalho e com mais Democracia.Excelências, Desejo finalizar afirman-do a sa sfação que tenho por estar aqui com os representantes da Ma-rinha e das Forças Armadas, na Sua presença, a prestar esta homenagem aos mais de 22 000 Fuzileiros que, ao longo dos úl mos 50 anos, passaram pela Escola de Fuzileiros. Temos man do um excelente relacio-namento. Temos trabalhado e ar cu-lado em conjunto, e reconhecemos, em primeira mão, o papel que a Esco-la os Fuzileiros têm para o Barreiro.Hoje, com o monumento aqui inau-gurado, perpetuamos o trabalho re-alizado e reforçamos os laços que construímos.Dediquemos, por fim, este monumen-to aos filhos da Escola de Fuzileiros.Todos eles foram, e são, pelo menos em parte, filhos do nosso Barreiro.Todos nós somos, também em parte, filhos da vossa Escola.Vivam os Fuzileiros!Viva a Associação de Fuzileiros!Viva a Escola de Fuzileiros!Viva o Barreiro!

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Homenageamos, neste dia, os Fuzilei-ros portugueses. Fazemo-lo nesta la-boriosa cidade do Barreiro, tão ligada à Marinha e aos Descobrimentos, tan-to ao nível da construção naval como da produção de man mentos para o abastecimento das nossas frotas.Os Fuzileiros, com origem longínqua no “Terço da Armada da Coroa de Portugal”, estão ligados a momentos importantes da nossa História. São militares de elite que, pela sua bravu-ra, coragem e determinação, se dis n-guiram nos teatros de operações em África e que tão relevantes serviços têm prestado ao País. Saúdo de forma especial os Veteranos de Guerra aqui presentes.Na actualidade, releva-se o elevado padrão de desempenho dos nossos Fuzileiros em operações internacio-nais de apoio à paz e de assistência humanitária em Timor-Leste, Guiné-Bissau, Moçambique, República De-mocrá ca do Congo e Afeganistão, sendo de sublinhar, igualmente, a forma profissional e destemida como têm par cipado nas missões de com-bate à pirataria no Índico.São militares altamente treinados, que cruzam e protegem o mar, e deste projectam na terra o seu poder, pela surpresa, pelo ímpeto e pela valen a, abrindo caminho e cumprindo mis-sões em quaisquer ambientes opera-cionais, onde quer que Portugal deles precise.Fuzileiros,É o espírito vivido nas dificuldades de quem sen u o perigo à sua volta, de quem viu os camaradas sofrerem no corpo e na alma as agruras do com-bate, é o orgulho de serem servidores da Pátria com uma conduta digna, e quantas vezes heróica, que hoje vos une e aqui vos traz em tão grande nú-mero, para um são convívio e par lha de emoções. Como é vosso apaná-gio, “Fuzileiro uma vez Fuzileiro para sempre”.É este espírito que vos leva a congre-garem-se à volta da vossa Associação, contagiando aqueles que vos são pró-ximos com o apego a valores essen-ciais, bem vivos em cada um de vós: o sen do do dever, a amizade, a cama-radagem e a solidariedade.

DIA DO FUZILEIRO 2 DE JULHO DE 2011

DISCURSO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

A Associação de Fuzileiros tem acom-panhado com dedicação os proble-mas dos seus associados. A união de esforços e as acções de apoio àqueles a quem a vida não corre de feição são fundamentais. Na vida, como no com-bate, o Fuzileiro não deixa ninguém para trás.É de toda a jus ça dirigir, nesta oca-sião, uma palavra especial à cidade do Barreiro, pela forma como tem aco-lhido e acarinhado os seus Fuzileiros, traduzida num forte sen mento de mútua pertença, de que todos, justa-mente, se orgulham.Quero saudar a conjugação de esfor-ços entre a Associação de Fuzileiros e a Câmara Municipal do Barreiro, que permi u a criação de um monumento que se perpetuará no tempo e que dá expressão ao reconhecimento do Fu-zileiro como um pilar de coragem, de galhardia e de respeito pelos valores pátrios.Fuzileiros,Mantenham este vosso espírito de corpo, espalhem esta cultura de pro-fissionalismo e de capacidade de bem-fazer. Sem bons exemplos, não há bons seguidores, e todos temos de par cipar no esforço de construir um Portugal mais forte e capaz, tanto nas grandes como nas pequenas realiza-ções do nosso dia-a-dia.Como acabámos de ouvir no hino da Associação de Fuzileiros, “só tem Pá-tria quem sabe lutar”.Os Portugueses são um Povo lúcido, valente e com uma sabedoria ances-tral que lhes permite, em situações

de grande crise, escolher um caminho seguro rumo à estabilidade e à garan-

a da sua independência.Somos um Povo com uma Pátria que amamos, com referências, com va-lores e com capacidade de comba-ter e superar os desafios que se nos apresentam.Essa capacidade está agora posta à prova. Estou certo de que, mais uma vez, iremos vencer.Muito obrigado.

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Mais um evento cultural notável, da inicia va da Direcção, teve lugar no passado dia 5 de Outubro.O coral “Alma de Coimbra” deslocou-se à Casa da Cultura do Barreiro para presentear a Cidade e os Sócios da Associação de Fuzileiros com um con-certo de grande nível.O “Alma de Coimbra” integrando cer-ca de 40 figuras incluiu, para além das vozes, um piano, um trompete, um violino e um violoncelo, bem como um grupo de guitarras de Coimbra e abriu o seu espectáculo com a inter-pretação do Hino da Associação de Fuzileiros, especialmente ensaiado para o evento. Para conhecimento das caracterís -cas e da história deste coral remete-mos para o texto do Comt. Cardoso Moniz, publicado neste número de “O Desembarque” e para os elementos oportunamente inseridos no site da Associação.No grande anfiteatro da Casa da Cul-tura do Barreiro es veram presentes cerca de 400 pessoas a que se junta-ram o Presidente da Câmara e alguns Vereadores, os Comandantes do Cor-po, da Escola e da Base de Fuzileiros, vários convidados de honra da Câma-

ra e da Associação de Fuzileiros e, ob-viamente, os seus Dirigentes, ao nível de todos os órgãos sociais.A inicia va foi apoiada pelo Município que cedeu as instalações, os equipa-mentos de som e luz, bem como o respec vo pessoal, que actuou com grande profissionalismo. Cabe aqui, também, uma palavra de saudação e elogio às equipas de relações públicas da Câmara e ao Secretariado Nacional da AFZ que, embora num dia de feria-do, não se pouparam a esforços para que tudo decorresse com organização e normalidade revelando, muito para além da sua competência, uma verda-deira dedicação às causas.Merece referência a nossa Delegação de Gaia que não quis deixar de se fa-zer representar expressivamente, o que mereceu muitos comentários po-si vos da várias personalidades e em-prestou à festa o especial cunho dos Fuzileiros. Par cular destaque deve ser dado ao patrocínio do Comt. José Cardoso Moniz, Presidente do Conselho Fiscal e Vice-Presidente do Conselho de Ve-teranos da AFZ sem os conhecimen-tos e a colaboração do qual não teria sido possível ter-se posto de pé mais

este grande evento da Associação de Fuzileiros.No inicio do espectáculo, o Vice-Pre-sidente da AFZ deu as boas-vindas à Câmara Municipal do Barreiro, aos Comandos do Corpo de Fuzileiros, às muitas Senhoras presentes na sala, à população do Barreiro e ao “Alma de Coimbra”.Por fim, os Presidentes da Câmara e da Associação de Fuzileiros discursaram, agradecendo aos munícipes, aos fuzi-leiros e, par cularmente, ao “Alma de Coimbra” os grandes momentos que nos proporcionaram.O Presidente da Câmara fez largado elogio aos fuzileiros de Portugal e o Presidente da Associação fechou com um oportuno “Viva Portugal” secun-dado por toda a assistência.O espectáculo encerrou com a cha-mada ao palco dos sócios Campos e Sousa, autor da música, Pacheco de Amorim, autor da letra do Hino da Associação de Fuzileiros, e do Coman-dante Cardoso Moniz, a alma desta inicia va, com mais uma interpreta-ção do Hino, cantado de pé por toda a gente, com o grito dos Fuzileiros e com um vibrante “FRA” do “Alma de Coimbra.

CORAL “ALMA DE COIMBRA”NA CASA DE CULTURA DO BARREIRO

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Eventos

A presença do Alma de Coimbra a convite da Direcção da Associação de Fuzileiros, e por intermédio do nosso querido Amigo, Comandante José Cardoso Moniz, é, simultanea-mente uma grande honra e um acto de gra dão devido a um Corpo de Combatentes que, desde sempre e ao longo do meio século de existên-cia, que ora comemoramos, não ra-ras vezes em momentos e teatros de operações muito di ceis, ofereceu exemplos admiráveis de bravura e de abnegação. Permitam-me que, em nota pessoal – par lhada por alguns dos presentes que com ele igualmen-te privaram ‒ evoque a figura do 1.º Tenente Fuzileiro José Carlos Falcão Lucas, saudoso e incomparável ami-go dos tempos de Coimbra, que tão prematuramente nos deixou. Como o lembrámos na preciosíssima letra que o Diogo Pacheco de Amorim compôs para a Marcha dos Fuzileiros! E como sen mos a injus ça do silêncio a que tem sido votado o autor da música, o Zé Campos e Sousa, ar sta de supe-rior dimensão musical e moral.O Alma de Coimbra é obra da vontade de um grupo de an gos estudantes de Coimbra, hoje dispersos pelo Con-

nente e Ilhas (temos um represen-tante da Madeira e outro dos Açores), que - acima da saudável diversidade de opiniões e de sensibilidades – se revêem na memória de uma juventu-de académica imbuída dos Valores e da Mís ca da velha Escola, no gosto pela música coral e no convívio e na

troca de experiências que tudo isso propicia. O segredo da vitalidade alcançada pelo Alma de Coimbra em meia dúzia de anos e do seu percurso apesar dis-so já assinalável assenta no talento, na cria vidade – e por que não dizê-lo? ‒ Na infinita paciência do Maestro Augusto Mesquita, em boa verdade o motor e a bússola que nos foi guian-do e aclarando pelo caminho que intuíamos.Na esteira de Mestres como Fernando Pessoa, Agos nho da Silva ou Adriano Moreira, acreditamos que, encerrado em defini vo um ciclo da nossa Histó-ria, com as suas luzes e as suas som-bras – todas elas nosso património sagrado! – a nossa Pátria é a Língua Portuguesa. Uma Pátria que sen mos com acrescida intensidade em todos aqueles espaços e lugares onde a pre-sença de Portugal, mesmo em tem-pos afastados, ainda é recordada num manto de saudade que se transmite de geração em geração…Permitam-me que, a este propósito e não sem alguma emoção, lembre aqui as visitas do Alma de Coimbra a Ma-cau, a Timor-Leste, ou a Goa, Damão e Cochim - onde perduram centenas de vocábulos de origem portuguesa deixados pelos nossos antepassados, e se exibe com orgulho e júbilo, nos cartões pessoais, entre parêntesis, o nome de família português de que não abdicam.Este concerto é o primeiro após o fa-lecimento de mais um querido ami-go do Alma de Coimbra. Se mais não

houvesse – e há – o culto dos valores que nos animam neste nosso percur-so - a amizade, a gra dão, o respeito pelo outro, na afinidade como na di-ferença! – Jamais me dispensariam de evocar o espírito independente, generoso e humilde do José Niza, fi-gura incontornável da nossa música e da nossa cultura. Nele - como no tam-bém muito saudoso maestro José Cal-vário – encontrámos desde a primeira hora palavras de apoio e incen vo deveras importantes. E, em par cu-lar o Prof. Augusto Mesquita que com ambos manteve, ao longo dos úl mos 15/20 anos, uma relação de amizade e de trabalho muito frutuosas no pla-no da criação musical.São dele, José Niza, estas palavras, di-tas por ocasião da nossa par cipação em 2008, na homenagem que lhe foi prestada pela Câmara Municipal de Santarém: “O Alma de Coimbra está a fazer êxito, em Portugal e pelo mun-do, cantando exclusivamente música portuguesa; o que prova que não só no estrangeiro como em Portugal se faz boa música. O Alma de Coimbra cons tui um exemplo de homenagem à Língua portuguesa e aos composito-res portugueses. Por isso, na qualida-de de Presidente da Assembleia-Geral da Sociedade Portuguesa de Autores, quero também agradecer-vos em nome de todos eles...”. Mais palavras, para quê?...Em sua homenagem, e cingidos pela enorme beleza da melodia, Sras e Srs, “E Depois do Adeus”.

DISCURSO DO PRESIDENTE DO CORAL “ALMA DE COIMBRA”

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Como é sabido, as comemorações ofi-ciais do “Dia de Portugal e do Comba-tente” ocorreram, este ano, em Caste-lo Branco, sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da República e em Lisboa (Belém), sob a presidência do Senhor Tenente-General José Armando Vizela Cardoso.

Em Castelo Branco, para além dos discursos do Presidente da Comissão Organizadora Senhor Prof. Doutor An-tónio Barreto e de S. Ex.ª o Presiden-te da República marcou ponto alto a parada militar e o desfile das forças militares tendo desfilado, também, os an gos combatentes integrados em representações das suas associações.

A Associação de Fuzileiros foi repre-sentada pelo seu Presidente da Direc-ção, Comt. Lhano.

É de realçar a postura e o aprumo da nossa representação o que proporcio-nou referências de várias en dades.

Em Lisboa, onde marcaram presença milhares de pessoas veram também, lugar as comemorações do “Dia do Combatente” junto ao Monumento dos Combatentes e na Igreja dos Je-rónimos (com a celebração de Missa) que foram “marcadas pelo espírito de fraternidade lusófona e pela eleva-ção e dignidade” tendo “como único propósito celebrar a Pátria e honrar

os seus combatentes”. As cerimónias em Belém foram precedidas por uma Conferência, na Fundação Calouste Gulbenkian, presidida pelo Prof. Dou-tor Adriano Moreira, subordinada ao tema “A Presença de Portugal em Áfri-ca” sendo um dos painéis moderado pelo nosso Sócio Honorário, Almiran-te Vieira Ma as.

O Presidente da Comissão Execu va, Tenente-General Vizela Cardoso dis-cursou, tendo homenageado de uma forma geral, “todos quantos, ao longo da nossa história, chamados um dia “a Servir, tombaram no campo da honra, em qualquer época ou ponto do glo-bo” e foram, em par cular evocados os elementos da PSP mortos ao servi-ço de Portugal.

Seguidamente, representantes de vá-rias en dades depositaram coroas de flores no Monumento, homenagean-do os mortos em combate, designa-damente, a Liga e as Associações de Combatentes, cabendo aqui destacar o nosso Sócio Honorário, Comandan-te Alpoim Calvão que depositou coroa em nome dos galardoados com a Or-dem Militar da Torre Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

A Associação de Fuzileiro fez-se re-presentar pelo seu Vice-Presidente da Direcção, Dr. Marques Pinto (que

integrou, na tribuna, os convidados de honra) e por uma delegação cons-

tuída por 16 sócios comandada pelo Sarg. José Talhadas que – impecavel-mente trajados – desfilaram, com par-

cular postura e aprumo, precedidos do nosso já tradicional Porta Guião, o SarMor Coisinhas, seguida de mais cerca de meia centena de sócios. Ou-viu-se, no final, o “Grito do Fuzileiro”.O ponto de venda de ar gos da nossa “Loja” deu também, visibilidade à As-sociação e aos Fuzileiros de Portugal.No final das cerimónias, O Vice-Pre-sidente recebeu, em nome da AFZ, par culares referências e os parabéns do General Vizela Cardoso, de outros Oficiais Generais, do Almirante Vieira Ma as e do Presidente da Associação de Comandos que disse: «Vocês, este ano capricharam».Posteriormente recebeu-se uma car-ta pessoal do General Vizela Cardoso agradecendo a boa colaboração da Associação de Fuzileiros que, fazia a seguinte referência especial:«Destaco a forma garbosa e impecá-vel como os Fuzileiros marcharam em redor do Monumento na parte final da cerimónia». Sem dúvida, mérito de todos nós mas, par cularmente, dos que integraram o grupo do nosso Encontro Nacional.

A ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS FEZ SE REPRESENTAR E PARTICIPOU EM CASTELO BRANCO E EM LISBOA

DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES E DO COMBATENTE

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MAIS UMA CONQUISTA NA IGREJA NOVA

ASSOCIAÇÃO NA COMEMORAÇÃO DA BATALHA DE LA LYS

Costuma dizer-se que quem não apa-rece esquece. Provérbio que desta vez não funcionou, porque todos os oradores, que intervieram na cerimó-nia, referenciaram de forma elogiosa a presença da Associação de Fuzi-leiros. Todos os Fuzos sen ram que valeu a pena, mais uma vez, termos estado presentes aceitando o convite do nosso camarada e amigo Domin-gos Janota que desde a primeira hora tem dinamizado todos os eventos que na freguesia da Igreja Nova têm sido efectuados, dando a devida relevân-cia aos ex. combatentes, e a quantos deram a vida pela Pátria. É disso teste-munho o monumento já inaugurado e do agora talhão para os combatentes, muito destacado pelo emoldurado re-quinte que o envolve, no cemitério da freguesia, obra com tal dignidade que só um Fuzileiro com a sensibilidade e o querer do Janota, podia conseguir. O seu empenho em mais uma conquista que dignifique a úl ma morada dos combatentes da sua freguesia foi real-çado por todos os oradores, nas pes-soas dos Senhores Coronel Figueiredo representando a Associação dos Com-

Decorreram no passado dia 09 de Abril de 2011, as Cerimónias Come-mora vas do 93º Aniversário da Bata-lha de La Lys, Dia do Combatente e da 75ª Romagem ao Túmulo do Soldado Desconhecido, presidida por S. Ex.ª o Ministro da Defesa Nacional Prof. Dr. Augusto Santos Silva, estando ainda presentes as mais altas en dades Mi-litares Civis. Nas Cerimónias, alusivas a esta efemé-ride assinalaram a sua presença uma Companhia Mista a (03) Três Pelotões, comandada por (Oficial) Capitão da Força Aérea, com o 3º Pelotão de Fu-zileiros integrado e a ser comandado pelo GMAR FZ Maia, da Companhia nº 22, do Corpo de Fuzileiros. Os Guiões da Liga/núcleos de Com-batentes e da Associação de Fuzilei-ros, associaram-se às Comemorações deste aniversário, marcando presença na missa, parada Militar e, posterior-mente, no interior do Mosteiro da Batalha.A AFUZ, associando-se a outras As-sociações neste acto, digno e solene,

batentes de Mafra, do Coronel Hilário, da Liga dos Combatentes e do Senhor Deputado Hélder Sousa Dias, ex Vere-ador da Câmara de Mafra, agora tam-bém membro da Comissão de Defesa Nacional. A exemplo dos outros anos, mais uma vez honrou todos os com-batentes no discurso proferido, dando o devido relevo ao que o País deve aos seus Combatentes. Depois das cerimónias alusivas, que deram moldura a este dia 06 de Agos-to seguiu-se o almoço, a que se asso-

ciaram as pessoas da Freguesia, e to-dos os convidados. Nunca é demais agradecer ao Domin-gos Janota, o quanto tem feito pela Associação de Fuzileiros e pelos ex Combatentes.A alegria que dele emana, por ter pre-sentes os seus Camaradas Fuzileiros, nos eventos que organiza é testemu-nho vivo do alto apreço em que tem a sua Associação.Mário Manso

prestando assim homenagem a todos aqueles que combateram e tombaram em defesa da Pátria. Várias Ins tuições Militares, Civis e Estrangeiras, tal como a Associação de Fuzileiros colocaram uma coroa de flores, no tumulto do Soldado Desconhecido. A convite da comissão organizadora Liga dos Combatentes, a Associação de Fuzileiros fez-se representar nesta

sua deslocação ao Mosteiro da Bata-lha, com 09 elementos, tendo sido chefiada pelo Presidente da Direcção.No final da cerimónia, e durante o al-moço, ainda assim, houve tempo para confraternizar com an gos e novos camaradas de armas, prevalecendo assim o espírito de grupo, lealdade, camaradagem, solidariedade e a boa disposição de todos os presentes.

Eventos

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Estórias

O DOMINGOSEram 23 horas daquela noite escu-ra quando, no cais Pigigui , se dá início ao embarque do Destaca-mento na LDM (302 ou 303?). Es-távamos em Junho de 1967 e era o princípio de mais uma operação. Como o Fuzileiro nunca avança para uma missão com dúvidas sobre a sua finalidade, o disposi vo tác co a em-pregar no local e quais os meios dis-poníveis para actuar, o briefing que antecedeu o embarque nha sido bem claro: o objec vo da operação era um acampamento referenciado pelo Domingos, situado a pouco mais de dois quilómetros da margem do rio Grande de Buba e que seria tomado pelo Destacamento, através de um golpe de mão, logo que rompessem os primeiros alvores. Era um acampa-mento com dezenas de guerrilheiros bem armados e ditribuídos por várias palhotas. A progressão seria através de uma mata muito densa, por isso di cil. Por ser classificada como uma operação de alto risco, houve um re-forço em munições e granadas.O Domingos era um rapaz dos seus 18/19 anos, ligado ao PAIGC desde criança e capturado numa embosca-da. Bem cons tuído fisicamente, fala-va, escrevia e lia correctamente o por-tuguês. Pela sua simpa a o Domingos conquistou a confiança de todos e, sem ser subme do a qualquer pres-são, deu importantes informações so-bre este e outros acampamentos.Aproximava-se a hora do desembar-que e aquela noite escura começa a ser iluminada por grandes “flashes” vindos não se sabe de onde, seguidos de enormes trovões e descargas de água vinda do céu.Passavam vinte minutos das três ho-ras quando a porta da lancha se aba-teu sobre a margem esquerda daque-le grande rio começando de imediato o desembarque feito, como se previa, em condições muito di ceis: água pelo peito seguido de uma penosa tra-vessia pelo tarrafe e lodo. Os Destaca-mentos eram formados por homens que se destavam pela sua agilidade -sica e pela sua resistência, qualidades uma vez mais aqui demonstradas.Chegados a terra firme, enquanto uns tentam rar o máximo de lama do ca-muflado, outros aproveitam para be-ber uma golada daquela aguardente

Guilhermino Augusto Ângelo

embalada em saquinhos de plás co e previamente distribuída pelo quartel-mestre. A secção da vanguarda pe-gou na bússola, viu o rumo a seguir e, acompanhada pelo Domingos, entrou na mata numa marcha lenta e cuidada, pois é aqui que inimigo muitas vezes aproveita para dar as “boas-vindas”. A vegetação é densa e a noite muito es-

cura, por isso os homens avançam de mãos dadas não vá algum perder-se.

A escuridão, os trovões e a chuva que con nuava a cair copiosamente, fo-ram fenómenos que jogaram a favor do Destacamento, permi ndo-lhe po-sicionar-se sem ser detectado a pou-cos metros do acampamento a aguar-dar a melhor hora para desencadear o ataque final.

Tudo estava a correr como o previsto na Ordem de Operações até um guer-rilheiro, provalmente a sen nela, sair do seu reduto para fazer uma necessi-dade fisiológica e no regresso tropeçar nas pernas de um elemento do Desta-mento alertando de imediato quem ainda dormia com gritos de “tropa no tabanca”. Calou-se quando uma sarai-vada de balas de uma qualquer G3 foi ao seu encontro. Seguiu-se uma luta muito violenta até o inimigo se sen r impotente optando por se refugiar na mata beneficiando, ele também, da escuridão e da chuva. Claro que al-guns deles ficaram. Ficaram mesmo para sempre. Apreenderam-se muitas armas e munições e destruiram-se as casas à granada e pelo fogo.

Consumado o propósito da operação o Destacamento desloca-se para o ponto de reembarque para o seu re-

gresso a Bissau, deixando na sua rec-taguarda o vermelhão de um sol inca-paz de romper aquelas nuvens negras e um silêncio pesado, medonho, um silêncio de morte. Não muito longe vêm-se abutres voando na direcção às colunas de fumo que se erguem no céu.

O Domingos esteve alguns meses no Destacamento. Era já considerado como mais um elemento da unidade. O seu comportamento desde a captu-ra não deixava dúvidas: estávamos pe-rante uma pessoa de confiança. Estava mesmo em estudo uma proposta para lhe ser distribuída uma arma. Puro en-gano. O Domingos soube conquistar a confiança de todos e soube esperar, mas logo que teve oportunidade de-sapareceu. Essa oportunidade teve-a numa operação quando o Destamen-to reagia em força a uma emboscada. O Domingos aproveitou a confusão e voltou para junto dos seus.

Domingos, estejas onde es veres, quero que saibas que ainda hoje sinto uma grande simpa a por . É verdade que não veste coragem de enfrentar o bote emboscado na margem, mas

veste o arrojo de te lançares à água mesmo não sabendo nadar. Cheguei a tempo e salvei-te de morreres afo-gado. A mesma sorte não veram os que te acompanhavam a descer o rio naquela enorme piroga. Não te recri-mino pela tua “deserção”. O teu pa-trio smo foi mais forte e o teu PAIGC certamente te voltou a receber de braços abertos. Para , Domingos, um abraço do tamanho da tua Guiné.

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O 2º TENENTE QUE NINGUÉM CONSEGUIA CALAR

Estórias

O Segundo Tenente que ninguém con-seguia calar

Durante o mês de Janeiro, Feverei-ro e Março de 1970, es ve com o 2º Tenente RN Fuz na base de Canturé, na Guiné. Um Oficial altamente inteli-gente, com grande formação literária, mas com muito pouco espírito Militar. Refilava com os Oficiais mais an gos, como nunca nha conhecido outro igual, ao ponto de eu lhe dizer, se con-

nuar assim, qualquer dia vai para a prisão! Tendo-me respondido, talvez isso fosse bom! Seria a maneira de eu ir para Bissau. Mas já agora, agradeço-lhe o conselho e vou pensar seriamen-te nisso. À noite, à hora do jantar, era a altura ideal para debater os pontos de vista de cada um. Como é evidente o mais an go era o que nha mais tem-po de antena, por norma era o que sabia mais de guerrilha, pelo menos estava melhor informado. Só que, o Ten. raramente estava de acordo com o chefe, como tal, eram frequentes as discussões entre eles. Mas até aqui, nada a notar de especial. Passado uns dias, nha eu acabado de comer, já estava na esplanada a conversar com uns camaradas, quando começamos a ouvir um daqueles debates mais a sério, mas que discussão! Ouvia-se o mais an go a gritar para o outro: Burro! Burro! Burro! Mas que é isto? Comento eu com o meu amigo! Ele responde-me, já não vai mais vinho para aquela mesa! Qual não é o meu espanto, quando vejo o Ten. a sair da messe a correr aos ziguezagues para a esplanada a zurrar como os burros, hi! hó! hi! hó! hi! hó! Perguntei-lhe, mas o que é isso Sr. Tenente? Responde-me altamente. Fui promovido a burro e agora ando a pra car!

O mesmo Sr. Ten. foi por mim infor-mado, no dia 18 de Fevereiro de 1970, de que três elementos da minha sec-ção, 1225/7 Sen eiro, e 1227/7 Pinto e 790/8 Alfaiate, após o regresso de uma operação, nham esvaziado os respe vos cacifos e, supostamente, fugido em direção ao Senegal. O 2º Ten. foi logo relatar o caso ao mais an-

go, com é evidente. O chefe é apa-nhado de surpresa, reage a quente, e manda-o imediatamente à procura deles, mas nunca pensando que fosse sozinho! Entretanto eu vou à can na beber uma fresquinha e no caminho

sou abordado pelo Comandante per-guntando-me! Então o Senhor, não foi com o Ten. F. à procura dos fugi vos? Eu fiquei embasbacado! Eu não recebi ordens nenhumas Sr. Comandante! O chefe faz um comentário: queres ver que temos mais um fugi vo! Entra em contacto com ele e diz-lhe para regressar à base antes que seja tarde! O 2º Ten. responde que está seguindo o rasto e que só termina na frontei-ra do Senegal, porque as ordens são para se cumprir. Chegado a Canturé, sem qualquer sucesso, com agravante de ter ido sozinho, arrastou consigo, matéria para uma grande discussão! Só que o 2º Ten. mais uma vez diz que tem razão, e que ninguém o consegue calar!

Manuel Pires da Silva Homem Ferro

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A Delegação de Fuzileiros do Algarve re-alizou, no dia 14 Maio 2011, a sua solene apresentação que contou com as honro-sas presenças dos Senhores Presidente da Câmara Municipal de Albufeira (Dr. Desidério Jorge Silva), do Comandante do Corpo de Fuzileiros (CAlm. Picciochi) e do Presidente da Associação de Fuzileiros (Com. Lhano Preto), de entre outras ilus-tres en dades, Camaradas e familiares juntando, nesta primeira inicia va, cerca de 75 pessoas. A seguir dão-se à estampa, a lista das en -dades presentes, o programa do evento - que teve como pontos altos a demonstra-ção operacional levada a cabo pelo Grupo Etnográfico de Quelfes, a apresentação da Delegação de Fuzileiros do Algarve, a troca de lembranças e os discursos do Sr. Presidente da Câmara de Albufeira, do Comandante do Corpo de Fuzileiros e do Presidente da Associação de Fuzileiros Outras en dades presentes: o 2º Coman-dante do Corpo de Fuzileiros, o Coman-dante da Base de Fuzileiros, o Coman-dante da Escola de Fuzileiros, o Capitão do Porto de Por mão, o Representante do Comando da Zona Marí ma do Sul, o Representante da Delegação Marí ma de Albufeira, o Representante da Liga dos Combatentes (Faro) o Representação do Clube “Escolamizade, o Presidente da De-legação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas e o Presidente da Delegação de Fuzileiros de Gaia.A todos a direcção agradece.

Na FatacilNuma inicia va inédita, a Delegação de Fuzileiros do Algarve par cipou este ano na Feira anual “FATACIL” que decorreu em Lagoa, entre os dias 19 e 28 de Agosto 2011.A presença de uma tenda alusiva aos FU-ZILEIROS e à MARINHA, numa das maio-res e mais importantes feiras do Algarve foi tema que não passou despercebido aos milhares de visitantes que por lá pas-saram e que decerto marcou uma nova era na representação dos Fuzileiros no Algarve. Com o objec vo focado na divul-gação, a nossa presença dividiu-se entre o convívio com Filhos da Escola de várias gerações e a curiosidade dos mais novos que procuraram ali informações sobre a Marinha e os Fuzileiros.Logo na primeira noite, com uma postura de relevo e o aprumo que nos dis ngue, a DELEGAÇÃO de FUZILEIROS do ALGARVE enalteceu-se para receber o Sr. Ministro

da Economia, Doutor Álvaro Santos Pe-reira que não ficou indiferente ao Brio de quatro Fuzileiros ves dos a rigor, lá bem no fundo do pavilhão principal do parque de Feiras de Lagoa. O Sr. Ministro dignou-se a par lhar alguns minutos do seu tem-po connosco, facto que muito nos orgu-lhou e, entre dignos comentários e algu-mas curiosidades, enalteceu o excelente trabalho realizado pelos Fuzileiros Portu-gueses ao se viço de Portugal ao longo da sua honrosa história.Após o sucesso deste evento, a DELEGA-ÇÃO de FUZILEIROS do ALGARVE vai con-

nuar a sua acção de divulgação por todo o Algarve com variadíssimas inicia vas e sobretudo dizer “Presente!” aos demais Filhos da Escola residentes no Algarve, para que saibam e relembrem que nunca mais estarão sozinhos deste o momento em que conquistaram aquele boina azul ferrete, símbolo desta grande família que são os FUZILEIROS.

DELEGAÇÃO DO ALGARVE

Delegações

Na manhã de 09 de Abril 2011 e um pouco por todo o País, algumas das mais importantes En dades Nacionais juntaram-se aos militares e ex-comba-tentes para homenagear os Filhos de Portugal que, com honra e bravura, com-bateram nas Flandres há 83 anos naquela que ficou conhecida como a Batalha de La Lys e que reclamou à Pátria Portuguesa mais de 7000 vidas do Corpo Expe-dicionário Português.Ao convite da Liga de Combatentes (Delegação de Faro), a Delegação da Associação de Fuzileiros do Algarve gritou “Pronto!” e marcou presença com seis camaradas numa represen-

tação muito condigna da Associação de Fuzileiros na cerimónia que de-correu no Largo São Francisco em Faro. De fato azul-escuro e cordão vermelho, a nossa chegada na hora prevista e aprumo militar com o des-taque da boina azul ferrete foi ampla-

mente apreciada no seio das En dades, ex-combatentes e cidadãos civis presentes.A Cerimónia foi presidida pelo Sr. Presidente da Câma-ra de Faro, Dr. Macário Cor-reia que, no fim da mesma se dignou cumprimentar e agradecer àqueles seis Fu-zileiros que se destacavam firmes à frente do público. Foram-nos ainda apresenta-dos cumprimentos pelo Sr. Comandante da Zona Marí-

ma do Sul, CMG Marques Ferreira e pelo Sr. Presidente da Liga de Combatentes de Faro, Major Henrique Oliveira, agradecendo-nos pela honra e dignidade que a nossa presença acrescentou à cerimónia.

COMEMORAÇÕES DA BATALHA DE LA LYS NO ALGARVE

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DELEGAÇÃO DE ELVAS JUROMENHA

Delegação

ENCONTRO EM ELVASO evento deste dia não teve qualquer conotação polí ca, mesmo tendo acontecido no dia 28 de Maio, e em que alguém aproveitou para festejar o seu 85.º Aniversário, coincidência que ditou o curso do evento e teria sem-pre aniquilado quaisquer tenta vas de o poli zar.

Mais uma vez Elvas foi o local esco-lhido por Fuzileiros para emoldurar o encontro anual do Destacamento de FZEs. Nº 5 bem incluindo uns quantos do Destacamento de FZEs. Nº 6 e da Companhia de FZs. Nº 10. Um dos seus organizadores foi o Camarada Óscar Barradas um dos principais maestros de tão afinada orquestra, tendo como auxiliares o Pintor, o Mil Homens e o Garcia, apoiados, na parte burocrá -ca, pelo “doutorão” António Augusto. Mesmo sendo composta por diferen-tes escolas, e a ter havido alguma de-safinação, ninguém terá dado por ela. Depois de uma primeira “emboscada” que levou a que todos abandonassem as viaturas, envolvendo os “embos-cadores”, tudo voltou à normalidade sem que houvesse a lamentar qual-quer baixa. De seguida, foi colocada uma coroa de flores no monumento aos Ex Combatentes. O “assalto” se-guinte, teve como objec vo uma visita ao museu Militar, onde mais uma vez o Sr. Ten. Coronel Ribeiro nos brindou com uma excelente e sabedora expla-nação, faculdades já antes colocadas ao nosso dispor, aquando da visita ao forte da (des) Graça.

A manhã foi finalizada com uma mis-sa na histórica Igreja de S. Domingos. Seguidamente avançou-se para a “ra-ção de combate” atenuando assim a fome que já se manifestava. De real-çar também, a apresentação da De-legação de Juromenha/Elvas, que se fez representar por vários Camaradas, na que foi a sua primeira presentação pública. Este evento foi ainda emol-durado, com a comparência de vários convidados, nomeadamente, os Srs. Presidente da Câmara, Comt. do Cor-po de Fuzileiros, Comtes. da Escola e da Base de Fuzileiros, do Sr. Coronel Varandas, responsável pelo museu e do sempre disponível Ten- Coronel Ribeiro.

A representação da Associação de Fu-zileiros foi muito significa va, com a presença dos seus Presidente e Vice-

Presidente e, ainda, do ex Presidente da AFZ, Comt. António Mateus. Tam-bém muito visíveis foram os represen-tantes das Delegações da Associação de Fuzileiros do Algarve e Vila Nova de Gaia, numa bonita manifestação de apoio e solidariedade dos seus Ca-maradas de Juromenha/Elvas. Foi uma família de várias gerações que, mais uma vez, mostrou que é possível conviver sem preconceitos mas com nível, o que lhe emprestou o brilho a que todos já nos habituámos nos encontros de Fuzileiros. O regresso a Lisboa do maior grupo fez-se em autocarro cedido pela Ma-rinha, concessão que foi saudada por todos e que agradecemos. Os organizadores e os par cipantes, que ultrapassaram em muito a cente-na estão de parabéns.Mário Manso

Feira de São MateusNão foi certamente um acontecimen-to de arromba, mas foi bem demons-tra vo da capacidade da Delegação de Jorumenha /Elvas ao apresentar-se na feira de S. Mateus com uma exposição muito bem organizada e que muito dignificou os Fuzileiros. Mas não se ficou por aqui, pois fez questão de no arranque da feira de se apresentar na procissão do “Senhor Jesus da Pieda-de”, onde ombreou com umas cente-nas de associações e representações locais. De realçar é também a pre-sença do Presidente da Delegação de Gaia que não só quis dizer “presente” à chamada amiga, como compareceu com o seu guião para dar mais alegria à cerimónia. Mais palavras para quê se as imagens são bem demonstra -vas e nos transmitem a cor impossível de passar por palavras.

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DELEGAÇÃO DE VILA NOVA DE GAIA

ENTREGA DE GUIÕES ÀS DELEGAÇÕES

Delegação

De forma serena mas par cipa va, vai dando os seus passos que se querem seguros e respeitadores da máxima que nos acompanha de Fuzileiro uma vez, Fuzileiro sempre. E porque é dever de todos os que sen-tem orgulho na nossa Boina, ter com-portamentos que a honrem, assim va-mos fazendo e pugnando que outros o façam. E como também assumimos os sen mentos porque consideramos que os Fuzos são uma família, é mais que razão para não termos faltado aos convívios ou eventos para que fomos convidados. Es vemos na Delegação do Algarve nos fados e na sua apre-sentação oficial, bem como em Elvas, onde os Fuzileiros Juromenha/Evas também oficializaram a sua existên-cia. Valeu a pena, estarmos presentes em momentos, que marcaram dois novos nascimentos da ramificação da Associação Nacional de Fuzileiros. Não vamos falar do cinquentenário da nossa Escola, ou do dia da inaugu-ração do nosso monumento, porque as palavras dizem tudo. Mas também, nestes dias memoráveis lá es vemos, no evento nacional e inauguração do

monumento. A Delegação mobilizou umas largas dezenas de par cipan-tes no grande dia, sem que houvesse, qualquer problema que ensombrasse a nossa par cipação. Mais uma vez houve uma par cipação posi va, coi-sa que deve preocupar sempre, quem tem o dever de honrar a Boina Azul Ferrete, e a nossa casa mãe. Valeu a pena testemunharmos o es-forço feito pela Associação Nacional, e o de ter incluído as Delegações com os respec vos Guiões, na cerimónia da inauguração do monumento ao Fu-zileiro, foi honra enorme, depositada no fundo na nossa alma de Fuzileiro. Jamais esqueceremos tamanha consi-deração, que estamos certos não terá sido em vão.Informa-se que a sede da Delegação estará aberta nos primeiros sábados de cada mês sempre com um almo-ço convívio e vários eventos todos os meses diferentes e que o jantar de Na-tal, com a cerimónia para oficializar a Delegação terá lugar no dia 03/12/11, pelo que se espera casa cheia. A Direcção da D.V.N. Gaia

António Castro Ex-2TEN FZ/RC

O Passado dia 02 de Julho, Dia do Fuzileiro, despertou, na sede da AFZ, com o acto formal da entrega dos Guiões, pelo Presidente da Di-recção Nacional, aos Presidentes das Direcções das Delegações do Algarve e de Vila Nova de Gaia.O guião da Delegação de Juromenha/Elvas já havia sido entregue ao respec vo Presidente da Direcção, em sua “casa”, no passado dia 8 de Maio.As cerimónias, singelas embora, reves ram-se de grande significado.A todos os Dirigentes das nossas delegações como também aos sócios da Associação de Fuzileiros a elas afectos, a Direcção Nacional aproveita para desejar muita sorte, pessoal e ins tucional e Paz, nesta quadra emocio-nalmente tão significa va que se aproxima já que, pesem embora as dificuldades que o País atravessa, cremos no empenho e na qualida-de de todos para con nuarmos a trabalhar em prol de uma Associação cada vez mais forte e pres giada.As imagens que publicamos são bem a expres-são da dignidade das cerimónias e do orgulho que se sen u.

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VAI ARRANCARMOTARDS DA ASSOCIAÇÃO FUZILEIROS

Convívios

Mesmo sendo um objec vo já an go, não tem sido fácil a sua concre za-ção. Mas se os objec vos são bons, as consciências não fraquejam, para os levar por diante, e isso tem sido uma constante. Fiquei entusiasmado e mais tranqui-lo, quando no inicio de Setembro o Cambalhota me informou, que estava agendada uma concentração na Asso-ciação para o dia 29 de Outubro. Pro-pósito esse, que se veio concre zar nesse mesmo dia. Agruparam-se nes-te arranque um bom lote de Fuzilei-ros e alguns acompanhantes, mais de trinta.

Da conversa com os Camaradas par -cipantes, - que voltaram ao ponto de par da, onde almoçaram - e muito em par cular com o Cambalhota e o Sarg. Correia, uma coisa era manifesta no espírito do dialogo: de que o arranque do grupo de motards da Associação se viesse a concre zar no cinquentená-rio da recriação do Fuzileiros, fazendo a justa homenagem a todos quantos, através dos Fuzileiros, quiseram, que-rem e quererão, honrar Portugal. O entusiasmo foi grande, e o convívio destes motards nha algo de diferen-te. Era notório, que uma outra família de tão variadas gerações, nunca teria

aquele brilho! Mas tratando-se de Fuzos, sempre conseguem transmi r muita camaradagem e harmonia, por-que a diferença geracional, não traz divergência.Espera-se que este movimento não pare mais, e que seja um forte mo -vo, para que estes ideais também con-tribuam e for fiquem a coesão dos Fuzos, em todas s suas la tudes.A todos quanto contribuíram para dar corpo e alma a esta ideia, e aos que por qualquer razão não puderam res-ponder a esta primeira chamada, eu agradeço, e envio um abraço.

Mário Manso

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CONVÍVIO DA COMPANHIA Nº 6

XIV ENCONTRO/CONVÍVIO DA COMPANHIA Nº 2 GUINÉ 1972/74

Convívios

Não fora o falecimento, uns dias antes, do Camarada Inácio, um entusiasta dos en-contros desta sua unidade, e a boa dispo-sição teria sido exuberante como sempre aconteceu e foi por mim verificada nas vezes que com eles tenho convivido, mes-mo que não tenha pertencido, quando no ac vo, a esta unidade. Desta vez, nha-me comprome do mas,

á ul ma hora, não foi possível estar pre-sente pelo que deleguei no Camarada Afonso Brandão que, acompanhado do António Augusto, um par cipante ha-bitual por com eles ter par lhado o seu tempo quando em Moçambique que me fizeram o relato de mais um dia em cheio, e na descrição do qual espero ter sido o mais fiel possível.

Esta unidade teve como mentor o Coman-dante Patrício, e a exemplo do que vem fazendo todos os anos, mais um vez se reuniu no dia 30 de Julho para conviver alimentando assim uma amizade de algu-mas décadas. A Escola de Fuzileiros foi o primeiro objec vo desse dia, onde o gru-po colocou uma coroa de flores homena-geando os camaradas que, em combate, deram a vida sem ques onar razões. O Com. Patrício veio com o seus homens à casa que ele ajudou a estruturar, já lá vão 50 anos. Aquele dia, teve para ele um significado muito especial, porque veio colmatar uma falha que muitos filhos daquela casa verificaram, no Cinquen-tenário da Escola de Vale de Zebro, pela ausência de um dos mais emblemá cos oficiais que a ela muito deram para que hoje con nue a ser uma referência para todos os Fuzileiros.Seguiu-se o almoço no “Acordeão”, onde se falou de coisas muito an gas mas mui-to presentes nas memórias daquela ter-ceira idade.

tura daquele grupo de elite da Marinha de Guerra Portuguesa, o que determinou que, no relatório final constasse que devi-do à colaboração prestada pelos “prisio-neiros” a sua logís ca não fosse destruí-da. Ficando assim disponível para futuros confrontos com a malvada. Resultou de todo o envolvimento, um louvor colec vo manifestado através de um bolo, que veio premiar todos quantos mais uma vez disseram presente quando chamados a par cipar, como outrora o fi-zeram também, nos rios da Guiné nos de-correntes anos de 72/73/74, agrupados na Companhia de Fuzileiros nº 2, que com sacri cios bem maiores sempre respon-deram à chamada. E não fora a capacida-de dissuasora dos Fuzileiros e alguns não fariam jamais parte destes novos “grupos de combate”.Tendo em conta os êxitos alcançados em todos os embates anteriores, espera-se que os Camaradas Almada e Marques, que assumiram o comando para o assalto do ano de 2012, e que depois do apron-tamento na Escola de Fuzileiros, façam o desembarque no Barreiro, com o êxito á altura de todos os Oficiais, Sargentos e Praças, irmanados nesta unidade de eli-te, sempre pronta a enfrentar todos os perigos, não poupando mesmo, as suas fardas, às medalhas do nto, ditadas pelo tremelicar da pontaria, mas que, mesmo não tendo a firmeza de outrora, con nu-am Fuzileiros para sempre.

Foi num fes m, que teve como epicentro Torres Novas que, no dia 29 de Maio de 2010 no restaurante Valo Ásis, surgiram os rumores de que um grupo numeroso de combatentes fortemente “armado” rondava a zona de Vila Real com intenções declaradas de trazer “perturbações” à se-gurança e tranquilidade com que tem sido envolvida aquela terra trasmontana. Logo se começou a delinear a melhor forma de lhe dar “confronto”. Mas, para tanto era necessário encontrar-se o mentor que reunisse a qualidade de comando capaz de levar a bom termo uma “operação” de tão “elevado risco”. Era preciso “conquis-tar o objec vo e aniquilar o inimigo”, de forma a contentar todos quantos fizessem parte do grupo de assalto. Depois de uma reunião de fim de tarde onde a fome e a sede se nham sido por completo sacia-das, emergiu o nome do camarada Felis-berto Pina. O consenso foi total para que

fosse ele a tomar conta de tão delicada tarefa, porque havia já a garan a das suas qualidades em outros “golpes de mão” levados a cabo na região. Ficou então decidido que o respec vo “assalto” seria levado a cabo no dia 07/de Maio de 2011. A concentração das forças intervenientes na refrega veio a acontecer pelas 11h00 na Av. Carvalho Araújo, junto à estátua com seu nome. O perímetro de segurança foi garan do pelas forças locais. Termina-da a concentração de todos os Fuzos ajus-tados para a operação seguiu-se o respec-

vo briefing, tendo depois avançado para o objec vo, sendo Vilarinho da Samardã o local onde se ajustou contas com o ini-migo, que nha como código “fome de convívio”e que em pouco tempo foi des-baratado rendendo-se à capacidade de-molidora da perícia “no manejo da arma, por vezes mor fera, do copo cheio copo vazio”. A “ração de combate” esteve à al-

Mário Manso

Manuel Pires da SilvaHomem Ferro

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UM DIA MUITO ESPECIAL

CONVÍVIO DO DESTACAMENTO DE FUZILEIROS ESPECIAIS N.º 13

Camaradas foi com extremo agrado que nos voltámos a reunir para um convívio sempre salutar entre filhos da escola, neste caso a de Fevereiro 91. No passado dia 1 de Outubro, Setúbal mais uma vez viu desembarcar os Fuzileiros, desta feita para se reunirem à mesa onde também se revive parte da nossa história a histó-ria de tempos passados mas sempre pre-sentes. Desta feita, além da companhia das esposas e filhos, vemos dois ilustres convidados, os ex combatentes e sem-pre Fuzileiros Mário Manso, o Esquelas e o José Parreira ou Zé da Vinha para os amigos. A forma como se predispuseram a falar sobre algo que a nós, os mais no-vos, nos apraz ouvir, ou seja a curiosidade dos relatos da guerra na primeira pessoa, foi de tal forma absorvida por todos que penso não ter deixado ninguém com dúvi-das sobre a dureza da mesma. O convívio foi salutar, rimo-nos brincámos, trocámos histórias an gas, recordámos algo de que por certo já não nos lembrávamos e eu

falo por mim, ve o prazer de formar Fu-zileiros mas acima de tudo homens que hoje são chefes de família, pais de filhos e grandes Fuzileiros, pois tentam passar aos filhos a nossa cultura.A dado momento começámos a rar foto-grafias e foi com agrado que, a determi-nada altura, disse ao meu afilhado (4 anos de idade): “Filho vai buscar a tua boina e

ra uma foto com este senhor”.Mário Manso, rapidamente, como quem reage à emboscada, eis que pega no meu afilhado ao colo, põe-lhe a sua boina na cabeça e diz: “Está aqui um futuro Fuzi-leiro!” Bem, o puto encheu-se de orgulho ficou quieto para a foto e sorriu...Levei o livro “Fuzileiros Força de Elite” no intuito do José Parreira me dedicar algu-mas palavras tal como o Mário já o nha feito anteriormente. Não conhecia o Par-reira em pessoa. Li com toda a atenção a parte em que o livro dele fala. Confesso que, propositadamente, me sentei a seu lado ao almoço. Estava curioso sobre algo

que ele nha relatado no livro. A determi-nada altura fiz as perguntas para as quais queria respostas, ve-as com toda a fran-queza de quem por muito passou. Se ja o admirava sem o conhecer, agora posso dizer que eu ganhei um amigo e ele um admirador, pois tem uma fantás ca expe-riência de vida.

Termino dizendo e relembrando a todos os Fuzos presentes no convívio que eu sou o mesmo hoje que fui para maioria de vocês no passado, íntegro profissional mas acima de tudo justo, sem nunca mi-nimizar ninguém e isso por certo será a vossa opinião, pois caso contrário não me convidavam para os vossos convívios.

Agradeço a todos o carinho com que sem-pre me recebem o que me faz pensar que daqui a muitos anos serei eu a relatar tal como hoje o fazem o Manso e o Parreira histórias aos vossos filhos sobre as nossas eternas recordações militares.... Fuzileiro uma vez Fuzileiro para sempre. Que Deus vos abençoe sempre...

José CostaCabo Fze

Convívios

João Mata

O Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 13 (Guiné 1968 – 1970) celebrou este ano, em 30.04.2011, em Vila de Alva (Concelho de Cuba, Alentejo) mais um aniversário.Prestou-se, também, sen da homenagem ao 1º dos 4 mortos em combate, Pruden-cio Manuel Estevens Pacheco, ex- mari-nheiro FZE Nº 1503/66.Presidiu às cerimónias o Ex-Comandante do DFE 13, Ex.mo Sr. Almirante Nuno Gon-çalo Vieira Ma as, estando presentes 34 elementos destacamento. O sr. Presiden-

te da Junta de Freguesia, é representante dos ex-combatentes da localidade e irmão do camarada Pacheco, estando também presente bem como outros familiares do homenageado.Na referida homenagem, composta por uma equipa de três elementos clarins da fanfarra da Armada, foi descerrada uma pequena lápide em nome de todos os elementos do DFE 13 Na sua alocução, o Sr. Almirante proferiu algumas palavras com profunda emoção e nobreza de sen mentos para todos os

presentes, onde passados 42 anos relem-brou alguns episódios vividos naquela vio-lenta operação no Tancroal, onde perdeu a vida o nosso Camarada Pacheco. Posteriormente à homenagem, decor-reu um almoço convívio, no qual todos os elementos do DFE presentes e seus familiares confraternizaram com grande amizade relembrando alguns momentos vividos durante a comissão.Por fim, foi nomeada uma nova comissão para organizar novo evento, para o próxi-mo ano.

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Convívios

CRÓNICA DE UMA CONFRATERNIZAÇÃO

Decorreu no dia 24 de Setembro, mais um convívio dos ex-Marinheiros da Armada Portuguesa, incorporados em Setembro de 1962. Com início da “Concentração” previsto para cerca das 11,00 horas, pouco passava das 09,30 horas já diversos “Filhos da Es-cola” se encontravam no Parque do Restaurante Flor da Mata, demons-trando um grande desejo de abraçar os an gos “Companheiros de Armas”.O tempo estava agradável, numa compe ção em que o sol pretendia mostrar os seus raios e as nuvens a quererem lembrar que o Outono já chegara.

Como a temperatura não era elevada proporcionou a que todos iniciásse-mos o recordar de “velhos tempos” no Parque exterior do Restaurante. Cerca das 12,00 horas já se encon-travam presentes todos quantos se haviam inscrito para a confraterniza-ção. Apenas faltou um, por razões que desconhecemos. Num total de 165 pessoas presentes, 81 eram “Filhos da Escola”.De salientar a presença de oito “re-crutas”, assim denominados por ser a primeira vez que es veram presentes desde sempre.

Cerca das 13,15 horas foi dada a en-trada no Restaurante.Após terem sido feitas as saudações e apresentações da “Ordem”, foi guar-dado um minuto de silêncio em ho-menagem a todos os Marinheiros já falecidos.Seguiu-se o almoço, o qual estava sa-boroso e bem confeccionado. Assim se manifestaram os presentes.Cumprido o programa estabelecido, foi feita a apresentação dos membros que farão parte da organização das Comemorações do 50º Aniversário da Incorporação (Setembro 2012).

Arnaldo Batalha Duarte

Este 30 de Julho, foi mais um dia em cheio. Durante a manhã, a viagem até Albufeira, de seguida, o encontro com os camaradas que reunidos para mais um encontro es-peravam também por nós. Os Filhos da Escola Fuzileiros da Escola de 80, estão de parabéns porque conseguiram reunir, mesmo no limite do sul do Pai, um razo-ável grupo. Logo cedo, o inves mento começou com determinação, com as provocações das “lourinhas fresquinhas” que serviram de

chamariz, para o “ ntol” que estava com ciúmes de tão par cular envolvimento. O almoço estava bem recheado, havia mui-ta fartura de peixe e carne e sobremesas. Tudo foi grelhado à vista dos consumido-res e mesmo até com a sua intervenção, dando as voltas necessárias para que a sardinha ficasse suficientemente “alma-riada” e que assim, mais ape tosa, me-lhor se deixasse comer.Foi pois, em saudável convívio que tudo decorreu, com o Camarada Palma no co-

ENCONTRO CONVÍVIO DA ESCOLA DE 80mando das operações em todo aquele complicado assalto, efectuado ao parque de campismo de Pêra em Albufeira. É fá-cil prever, que com tropa tão disciplinada, tudo teria que correr bem, caso contrário, até lá estava o Araújo, barbeiro da Escola de Fuzileiros, para a respec va careca-da. Aproveito para agradecer às muitas Senhoras presentes algumas da quais se deslocaram do norte e da zona raiana de Portugal. Não sei o que seriamos, sem as nossas companheiras – e, porventura vi-ce-versa. A sua presença é sempre muito importante. Quero também dizer que foi votada por aclamação, pelas senhoras presentes, uma proposta feita ao secretário da Asso-ciação. Que fosse embelezada uma cami-sola com a seguinte descrição – “MULHER DE FUZILEIRO”.Por ter achado interessante a ideia, contri-buí com as palavras – “É SER DIFERENTE” ficando, então, “MULHER DE FUZILEIRO É SER DIFERENTE”. Mário Manso

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Convívios

1º ENCONTRO DO DFE2 ANGOLA, 1973 1975

Foi no dia 10 de Setembro que se realizou o 1º Encontro dos Fuzileiros Especiais que fizeram parte do DFE 2 que cumpriu a sua missão em Angola, no período de 1973 a 1975, e que ficou sediado no Lunguébun-go. Foram momentos de grande emoção porquanto este grupo de Homens não se reunia desde o dia em que foram desmo-bilizados do Destacamento de Fuzileiros onde serviram juntos durante dois anos.Como sempre estes reencontros tocam bem fundo na memória de todos. Recor-dam-se pequenas e grandes histórias. Fa-lou-se das muitas missões cumpridas. Dos acontecimentos que marcaram as vidas de alguns. Das mazelas que ficaram bem marcadas no corpo. Falou-se da coragem de tantos. Do sen do de cumprimento das missões de todos. Todas as conversas confirmaram o quanto ainda se encontra bem viva, em cada um daqueles fuzilei-ros, a guerra que viveram. Falou-se com saudade de todos os que já par ram.E como é apanágio dos fuzileiros o en-contro teve início na Escola de Fuzileiros seguindo-se um importante momento de homenagem aos camaradas falecidos, co-

locando-se, uma coroa de flores, no mo-numento aos fuzileiros mortos. Passados tantos anos o DFE2 formou de novo para com o sen do de responsabilidade dedi-car em silêncio todo o respeito àqueles que par ram mas cuja memória dos seus actos se conservam presentes em cada combatente que passou por África. O segundo momento ficou assinalado pela visita ao Museu do Fuzileiro existente na Escola e onde cada detalhe foi observa-do com o cuidado e a memória emocio-nal própria de quem se sente parte do que ali é exposto e conservado de forma exemplar. De seguida seguiu-se para o restaurante onde se encontrava uma exposição fo-tográfica assinalando factos e feitos de muitos dos que integravam o DFE2. As fotografias serviram de inspiração para muita conversas, comentários e desenca-dearam em muitos a vontade de fazerem chegar as fotografias que guardam no baú de memórias para que no próximo encon-tro possam fazer parte de uma renovada exposição.

Após o almoço o Comandante do DFE2 (C/ALM Gonçalves Cardoso) usou a palavra saudando a inicia va e a sua importância no contexto da história do Destacamen-to manifestando igualmente a vontade generalizada de todos o que es veram presentes para que esta inicia va tenha con nuidade.Es veram presentes quase todos os fu-zileiros do DFE2 localizados até agora e isso graças à colaboração de outros cama-radas também fuzileiros. Para o próximo encontro faltam localizar 27 fuzileiros o que cons tui a tarefa mais importante dos próximos meses. A alegria e a ma-nifestação da vontade para um segundo encontro, levou a que esse tenha lugar no final de Maio na região de Tomar. Durante a reunião foi apresentada a As-sociação dos Fuzileiros e distribuídas pro-postas de adesão o esperamos que se ve-nham a concre zar para engrandecimen-to desta importante organização.Ficou ali bem provado que «uma vez fuzi-leiro, fuzileiro para sempre».

Seguiu-se uma breve informação dos contactos já havidos com a Marinha, com vista às respec vas realizações comemora vas.Prosseguiu-se com as “praxes aos re-crutas” as quais constaram de “cas -gos” simulados às prá cas da instru-ção militar da nossa recruta.Assim, foram obrigados a ir às compras na “Can na”, todos veram que com-prar 5 rifas no valor de 1,00 € cada. Depois, por sorteio, cada um cumpriu o seu “cas go”: um teve de descascar 5 batatas grandes, cortá-las em palitos e entregar ao cozinheiro; outro teve de passar a ferro uma farda completa de Marinheiro; outro teve de bradar o “Sen nela Alerta” nos quatro cantos da Sala do Restaurante; outro teve de

dar duas voltas à Sala em passo largo; dois veram que vender dois sacos com rifas aos presentes; outro (lendo) teve que declarar um pedido de per-dão por nunca ter comparecido e teve de beijar o “Filho da Escola” mais an-

go ali presente; outro teve de cantar o Hino Nacional. Por ter sido o úl mo, foi muito bem acompanhado por toda a assistência.Cerca das 18,00 horas procedeu-se ao corte do bolo comemora vo. O convívio prosseguiu. Já o sol se escondia no horizonte quando os úl-

mos convivas abandonaram o res-taurante com um “adeus, até para o ano” já pensando – e muito – no 50º Aniversário da nossa Incorporação.

Registou-se também, a presença da Filha de um “Filho da Escola” que nós procurávamos e de quem ela também não nha quaisquer informação sobre seu Pai.. Foi-lhe fornecido os dados disponíveis. mas infelizmente, não foram os mais agradáveis para todos, porque o seu Pai havia já falecido em Paris no ano de 1982. Apesar destes factos, mostrou querer confraternizar connosco, acompanhada pelo marido e filhas, foi um momento de alguma nostalgia, cuja emoção se espelhava no semblante de todos. Assim decorreu esta nossa confrater-nização, a qual ficará na “nossa histó-ria” como mais um dia memorável.

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Convívios

Com a inicia va e a rigorosa organiza-ção do sempre operacional Carrilho Lança - o “Sousel” - foi possível come-morar, no passado dia 19 de Junho/11, em Estremoz, o 46º aniversário do Destacamento nº 2 de Fuzileiros Es-peciais/ Angola 1965/1967.O evento teve a presença de várias Senhoras que deram colorido a este almoço/convívio, onde se contaram histórias com emoção, nostalgia e saudade.Para o ano esperemos que nos possa-mos encontrar de novo, pelo menos, com tanta força e alegria quanto este ano o pudemos fazer.

Neste mesmo dia 30 de Julho, esta-vam programados os fados na Escola-mizade, sob a batuta da Delegação do Algarve. A desenvoltura do seu Presi-dente ficou bem patente na coorde-nação de uma equipa, que a exemplo das que funcionaram nas matas e rios da guerra do ultramar, foi também impecável. Lá estavam o olhar obser-vador e a opinião abalizada do vete-rano Mário Mar ns mostrando que, o querer aliado ao saber podem vencer todos os obstáculos. Mereceram por

tudo o que fizeram, que eu e o Egas Soares, por lá ficássemos até às tantas da manhã. O caldo verde, as bifanas e o chouriço estavam uma delícia o que me obrigou a repe r, e só por vergo-nha não fui mais além. Não fora o vento endiabrado que nin-guém conseguiu controlar, com inves-

das vindas do mar – como que a pro-vocar o pessoal de Marinha, e o êxito teria sido ainda maior.

O DESTACAMENTO DE FUZILEIROS ESPECIAIS ANGOLA 1965/67COMEMOROU O SEU 46.º ANIVERSÁRIO, EM ESTREMOZ

NOITE DE FADOS DA DELEGAÇÃO DE FUZILEIROS DO ALGARVE

No decurso do encontro, também se prestou homenagem aos que já nos deixaram e todos enviaram um abraço amigo e solidário aos que, por qualquer razão, não puderam comparecer.

Porque as imagens falam melhor e mais alto do que as palavras aqui fi-cam algumas fotos para ver e guardar na memória.

O apresentador Zé Manuel Parreira, que pela primeira vez vi actuar na-quele palco, como é hábito, não dei-xou por mãos alheias os seus créditos e, como sempre cantou, e contou as suas anedotas. A mais-valia que sem-pre acrescenta aos espectáculos onde par cipa mais uma vez teve aplausos. Lá es veram também a guitarra, a vio-la, e os fadistas que lhe deram à festa uma par cular qualidade que toda as-sistência muito aplaudiu. Es veram presentes, também, o Vere-ador/Vice-presidente, José Lopes Rolo em representação da Câmara Munici-pal de Albufeira, o Secretário-Geral da Associação de Fuzileiros Lopes Leal, o Jaime Ferro, e o Licínio Morgado e o Mendes, estes, representando as Delegações da Associação de Fuzilei-ros de Gaia e de Juromenha/Elvas, respec vamente, acompanhados das Esposas. Deixo por úl mo, um agradecimento muito especial ao camarada Fuzilei-ro José Lopes que gen lmente me levou ao serviço de saúde, para que me fosse re rado, uma camioneta de areia que abusivamente me entrou na vista, e que teimosamente me queria acompanhar para Lisboa, desfalcan-do as maravilhosas praias do nosso Algarve. E como um Fuzileiro nunca abandona um camarada, o solidário Filho da Escola sempre me acompa-nhou e, de novo, me transportou ao “local do crime”.

Mário Manso

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Convívios

Á Hora marcada (10.30 H), sob o es-plendor do Sol radiante, deu entrada na Escola de Fuzileiros, um Grupo de Escolas da Marinha acompanhados de seus familiares e amigos, vindo do Litoral Alentejano. Á entrada, foram recebidos pelo CFR. José Lopes Henri-ques e pelo Oficial dia, á Escola de Fu-zileiros, TEN. Tasanis, que conduziu/ guiou toda a cerimónia e visita. Reunidos os visitantes, junto ao Mo-numento do Fuzileiro, o anfitrião, apresentou as Boas Vindas, e fez um breve resumo histórico da Escola de Fuzileiros. A Escola de Fuzileiros foi criada em 1961. Entre 1962-1974, período que corresponde ás guerras d´África, for-mou cerca de 4.200 Fuzileiros Espe-ciais (Oficiais, sargentos e praças) e passaram pelos três teatros de Guerra, (Angola, Guiné e Moçambique) cerca

de 12.500 Homens, integrados em destacamentos de fuzileiros Especiais e companhias de Fuzileiros Navais. Desta formação destaca-se o Primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais que recebeu instrução no an go Cor-po de Marinheiros (Alfeite), do qual fez parte, e que muito par cularmen-te o honra. Este Destacamento, sob o comando do 1º. TEN. Metzner, par u para Angola, no dia 9 de Novembro de 1961 e regressou a Portugal a 14 de Julho de 1963 sem baixas, o que é de realçar.Entre 1962-1975, morreram em cam-panha, nas an gas colónias 154 Fuzi-leiros Especiais (Um oficial e os res-tantes Sargentos e Praças).Por isso, nós hoje ao visitarmos A Es-cola de Fuzileiros, é justo e merecido prestar esta singela homenagem, de-por esta coroa de flores, que simboliza

o nosso pesar por todos aqueles que tombaram nas guerras d´ África, em defesa da Pátria, e por isso mesmo, nunca e em tempo algum a Pátria os deveria esquecer, o que, infelizmente não é o caso.Prestada a Homenagem, o Grupo pousou para uma Fotografia, junto ao Edi cio do Comando, que irá perpe-tuar a sua visita á EF. Seguidamente, visitaram o canil onde assis ram a uma demonstração de uma equipa ci-notécnica, na busca de estupefacien-tes e explosivos, terminando a visita no Museu do Fuzileiro. Daí, seguiram para a Associação de Fuzileiros, onde foi servido um almoço.Escola de Fuzileiros, 11 de Junho de 2011-10-11

UMA VISITA GUIADA À ESCOLA DE FUZILEIROS

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SPM 0468 Nº 6

SPM

Operação “Mezena”, 9 de Junho de 1966, pelas 1330h, embarcámos em Bolama na LFG Hidra sob comando do 1º Ten. Gomes Teixeira, e rumámos para o rio Cacine, Ponta Canabem. Tratava-se de uma bacia hidrográfi-ca onde sempre encontrávamos o IN muito forte e aguerrido, e todos sa-bíamos que os combates eram ine-vitáveis e di ceis. Estávamos a meio da comissão, transbordávamos se-gurança, e a confiança que nhamos uns nos outros era muito grande, pois sabíamos bem o que devíamos fazer em todas as situações operacionais. Já nhamos sido testados em situa-ções bem complicadas e sempre nos saímos a contento sob condições bem adversas. Isto, traduzido em lingua-gem de hoje, fazia-nos crescer o sen-

mento de sermos “os maiores”, pois podíamos em certos momentos ser acome dos de receios mas os “tur-ras” seriam de certeza mais que nós.Voltando à operação em questão, cer-ca das 2330h, desembarcámos sem problemas, e logo iniciámos a pro-gressão em direcção ao ponto previs-to para montarmos uma emboscada ao inimigo. Eu ia à frente com a sec-ção D, chefiada pelo Sarg. Galego. A noite estava muito húmida e a mata encontrava-se cheia de um nevoeiro que tornava difusas todas as imagens que já nos eram familiares. Assim, com a transpiração do corpo e da alma a misturar-se com o “fog”, lá ía-mos avançando directos ao objec vo na fila indiana do costume, num silên-cio que nos permi a manter no nos-so espírito os pensamentos da nossa vida pessoal e a tremenda atenção ao mundo hos l que nos rodeava.Cerca das 0200h, o Sarg. Galego cha-mou-me a atenção para o que pare-cia ser o perfil de palhotas à nossa esquerda. Mandei parar o DFE, e saí da coluna com ele para ver o que se passava com aquelas silhuetas avista-das. Nesta situação, o procedimento treinado no Destacamento era passar a voz por toda a coluna informando que dois elementos nham saído da coluna para a sua esquerda. E assim lá fomos eu e o Galego tranquilamente (?) inves gar o que se passava. Após alguns minutos voltámos à coluna, por acaso não ao mesmo local de onde nhamos saído, mas uns metros mais para trás e direito à 2ª secção do DFE. Estávamos a cerca de 40 me-

tros da coluna quando o silêncio da mata foi violentamente sacudido por 2 rajadas de G3 dirigidas a nós. Eu, no primeiro instante, fiquei paralisado e lembro-me do Galego me dar um grande empurrão que quase me fez cair no chão. Ao mesmo tempo gritá-mos que éramos nós e não os “turras”. De facto o fogo parou e nós comple-tamente arrasados lá entrámos no-vamente na coluna. Obviamente que nosso equilíbrio emocional e também de todo o DFE ficou muito abalado, pois teoricamente nós deveríamos es-tar simplesmente mortos. Claro que a emboscada ficou estragada, pois a par r desse momento ficámos detec-tados na zona, e cerca das 0300h o IN tentou localizar-nos, disparando com ML MP e LGF, sobre as nossas cabe-ças e por cima da LFP que nos nha desembarcado.O que se passou então naqueles minu-tos de elevada ansiedade para todos nós? Como podia suceder uma coisa destas com pessoal tão bem treina-do? Pois bem, mais uma lição reco-lhida e bem aprendida para o futuro. Na verdade falhou simplesmente a comunicação da nossa saída, que não chegou à 2ª secção da coluna, e por-tanto o homem que fez o disparo agiu bem, pois não sabia da nossa saída da coluna. Para já diga-se que quem fez os disparos foi o meu amigo Má-rio Mar ns, que, para além de grande experiência em combate, era um che-fe de esquadra de muita serenidade debaixo de fogo. Quer se queira quer não, um episódio destes marcou-nos a todos, pois poderia ter sucedido com qualquer de nós, tanto ser a ngido como ter disparado, e acontecimen-tos como este podem arruinar a vida de várias pessoas e destruir o ânimo da unidade. Agora, e a par r deste fó-rum, presto homenagem à força aní-mica do meu amigo Mário, pois viveu de certeza momentos muito di ceis ao recordar o que poderia ter sido uma grave tragédia por ele protagoni-zada. A operação terminou sem gran-des problemas e voltámos para a Base em Bissau, onde aconteceu o epílogo caricato desta história de final feliz. Sempre que sucedia uma operação de alguma envergadura, havia um “de-briefing” no CDMG (Comando da De-fesa Marí ma), onde eram analisados todos os pormenores operacionais, e esta operação não fugiu à regra. As-

sim o Comodoro Ferrer Caeiro deu a palavra ao Cmte. do DFE4, para ele descrever a operação. O então o 1º Ten. Santos Paiva, ainda muito emo-cionado pelos acontecimentos come-çou por dizer: “Sr. Comodoro ontem aconteceu um milagre”, o Imediato e o Sarg. Galegos podiam estar mor-tos…. (e descreveu o episódio aconte-cido). O Comodoro Ferrer ouviu aten-tamente a exposição e depois disse ao Cmte. do DFE4: “ Milagre o ...., o que acontece é que esse homem não tem pontaria, pois se a vesse o Imediato e o Sarg. deveriam estar mortos. Por-tanto a par r de amanhã esse homem vai para a carreira de ro para apren-der a disparar como deve ser”.Claro que a história correu pela Mari-nha Guineense, e os risos que provo-cou ajudaram a levantar o moral das tropas, nesse momento di cil da nos-sa comissão.Assim era o nosso saudoso Comodo-ro Ferrer Caeiro, marinheiro de barba rija que nunca se deixava envolver ou ultrapassar pelos acontecimentos, fossem eles quais fossem. A Marinha estava sempre à frente.

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No passado dia 22 e 23 de Maio, reali-zou-se na Unidade Especial de Policia em Belas/Lisboa o Camp. Regional Sul de Tiro Prá co - IPSC.

Esta prova com uma par cipação de cerca de duzentos atletas na várias Divisões e de vários clubes e pontos do país, contou com a organização a cargo da Sociedade de Tiro de Tavira, tendo decorrido num bom ambiente despor vo tendo a ajuda de um bom dia de sol!

A prova cons tuída por oito pistas bem organizadas, contou com uma boa co-ordenação das Esquadras por parte do STAFF, que assim conseguiu cum-prir com os horários estabelecidos!

Nesta compe ção a Associação de Fuzileiros, contou com a par cipação dos atletas João Pereira, Bryan Ferrei-ra, Vasco Leitão ,Luís Araújo e Fernan-do Lopes!

Apesar de a nossa equipa ter sofrido duas desclassificações, chegou ao fim com quatro atletas que obterão o 2º lugar da classificação por equipas na Divisão de Modified e a seguinte clas-sificação em individual;

- João Pereira ....... 5º Lugar

- Bryan Ferreira ..... 19º Lugar

- Francisco Marques .. 20º Lugar

- Vasco Leitão ........21º Lugar

CAMPEONATO REGIONAL SUL DE TIRO PRÁTICO IPSC

Desporto

OPEN Nacional de IPSC 2011

Realizou-se no passado dia 11 de Se-tembro em Lisboa / Belas a prova de

ro prá co OPEN Nacional de 2011. A prova com a organização a cargo da Federação Portuguesa de Tiro e com o apoio do Clube de A radores do Pes-soal da PSP contou com a par cipação de cerca de 200 atletas vindos de toda a parte do país, contando com um tempo bastante favorável para a mo-dalidade e para os atletas!

A Secção de Tiro da AFz, fez-se re-presentar por dois dos seus atletas tendo sido eles Luís Araujo com a classificação geral de 15º lugar e Fer-nando Lopes que não concluiu a com-pe ção por quebra de um ângulo de segurança.

Campeonato Regional Sul de Pistola Sport 9mmRealizou-se no passado dia 03 de Agosto nas instalações da Carreira de Tiro do Centro de Educação Tísica da Armada ( CEFA) no Laranjeiro , o Campeonato Regional Sul de Tiro com PSport 9mm, tendo a Secção de Tiro Despor vo da AFz sido representada pelo Atleta Cmdt. Semedo de Matos que obteve o 4º lugar da geral!

A organização a cargo da Federação Portuguesa de Tiro, contou com a pa-

cipação de 17 par cipantes de vários clubes a nível nacional!

Espada Pereira

Dia importante para a secção de ro

A Secção de Tiro Despor vo da AFz., a ngiu a 20ª representação em pro-vas de ro oficiais no passado dia 08 de Outubro!Compe ndo nas diferentes modali-dades, os nossos atletas tem vindo a marcar cada vez mais presença no

ro despor vo e a fomentar a ade-são de novos sócios para a prá ca da modalidade!O nosso obrigado ao empenho de to-dos os Atletas que orgulhosamente são a imagem despor va da Nossa Associação!Saudações despor vas para todos os Atletas!

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In Perpetuam Memoriam

Faleceram ainda os camaradas:Inácio Serafim Teles Teixeira, José Ricardo Dionísio França, António Sebas ão Olipio Rin e Cmte. Ferreira Junior

Cada vez mais somos menos, porque mais oito camaradas fuzileiros nos deixaram. Cinco dos quais, eram sócios da Associação de Fuzileiros que aqui se rememora com as suas fotos. Também esta grande Família, fica mais pobre, mas a lei da vida não perdoa, e cedo de mais nos privou do seu convívio. Resta-nos honrar a sua memória, lembrando-os enquanto a vida nos der alento para os recordar com saudade. Que tenham por caridade, a paz que a vida lhes negou.Às suas famílias, esta outra, apresenta sen das condolências.

António Cartaxo Arnaldo Fernandes Álvaro Pereira Sardinha

No passado dia 16 de Julho faleceu, no Hospital Militar de Lisboa, o Ca-pitão de Mar-e-Guerra Rui Francisco Côrte-Real Negrão. O Comandante Negrão frequentou a Escola Naval entre 1953/56 sendo posteriormente promovido a Guarda-Marinha, tendo prestado serviço na Marinha durante 34 anos. Em 1986 passou, a seu pedido, à situação de Reserva da Armada.Além do Curso da Escola Naval pos-suía ao Cursos Geral e Superior Naval de Guerra, o de especialização em Fu-zileiro Especial e o dos Serviços Mo-nográficos e de Operações e Informa-ções Militares.No Mar esteve embarcado em várias unidades navais onde desempenhou as funções de Comandante dos NRP “ S. Vicente”, “Santa Luzia” e “Almirante Magalhães Corrêa”, e o de Oficial Ime-diato dos NRP “Pico”, “San ago” e “ Alm. Schultz” tendo desempenhado também as funções de Chefe dos Ser-viços de Navegação, Ar lharia, Comu-nicações e Abastecimento em vários navios da nossa Marinha. Em terra exerceu funções no Corpo de Marinheiros da Armada, Gabinete de Estudos e Director de Instrução da Es-cola de Fuzileiros, Subchefe dos Servi-ços da Marinha, na Guiné, Oficial Ime-diato do GIEA, Chefe Interino da 2.ª

Divisão do Estado Maior da Armada e Oficial Imediato e Director de Instru-ção da Escola Naval, Comandante da Defesa Marí ma dos Portos de Por-

mão e Lagos e Capitão dos mesmos Portos e de Adido da Defesa e Naval em Londres. Nos Fuzileiros, comandou o Desta-camento de Fuzileiros Especiais N.º 6 (Angola 1963/65) tendo exerci-do cumula vamente o comando do Agrupamento dos Destacamentos de Fuzileiros Especiais - Angola e a Com-panhia de Fuzileiros N.º 10 (Angola 1966/68).Em todas as unidades em que prestou serviços e, designadamente, nas de Fuzileiros, granjeou grande amizade e consideração entre todos os seus Ca-

maradas, superiores e subordinados, sendo do como Oficial de profunda competência e com excepcionais qua-lidades de comando.Da sua folha de serviços constam vá-rios louvores e condecorações de que se destacam: duas Medalhas Militares dos Serviços Dis ntos sendo uma com Palma; Medalha de Mérito Militar de 2.ª Classe; Medalha Naval de Vasco da Gama; três Medalhas Comemora vas das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas e a Medalha de Prata do Ins tuto de Socorros a Náufragos. A Associação de Fuzileiros, de que o Comandante Negrão era Sócio n.º 1149, ainda teve o gosto de O ter presente, como convidado especial, com lugar na tribuna, na cerimónia de inauguração do Monumento ao Fuzi-leiro (que Ele, também, patrocinou) no passado dia 2 de Julho.É com profunda emoção e pesar que – após termo-nos feito representar nas cerimónias fúnebres, nas quais o Cor-po de Fuzileiros Lhe prestou, também, honras militares – apresentamos pu-blicamente à Sua Esposa, Sr.ª D. Ana Maria, aos seus filhos Maria Teresa, Maria da Conceição, Rui Miguel e Francisco Luís e a toda a restante Fa-mília, os protestos do nosso par cular e profundo sen r.Até um dia Coman-dante Côrte-Real Negrão

COMANDANTE CÔRTE REAL NEGRÃOMAIS UM PRESTIGIADO SÓCIO E OFICIAL SUPERIOR FUZILEIRO QUE NOS DEIXA

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Diversos

NOVOS SÓCIOSASSINATURAS ANUAIS DA REVISTA

DONATIVOS

A Associação de Fuzileiros saúda todos quantos aderiram à nobre causa da Fa-milia Fuzileiro agora nesta vertente mais civilizada.Bem-Vindos Camaradas e Amigos!

DONATIVOS MONUMENTO

ADM

A Associação de Fuzileiros passou a receber as compar cipações do A.D.M.Todos os sócios que pretendam entregar o seu recibo podem fazê-lo atra-vés da associação.

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