revista negócio sustentável

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SOCIAL Segurança no trabalho CASE: Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção AMBIENTAL Alimentos e biocombustíveis ECONÔMICO Finanças sustentáveis edição - 1 • outubro de 2008 • R$ 15,00 REVISTA Os desafios da sustentabilidade empresarial A incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas.

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Revista Negócio Sustentável edição 01

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Page 1: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 1

SOCIALSegurança no trabalho

CASE: Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção

AMBIENTALAlimentos e biocombustíveis

ECONÔMICO Finanças sustentáveis

edição - 1 • outubro de 2008 • R$ 15,00

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Os desafios da sustentabilidade empresarialA incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas.

Page 2: Revista Negócio Sustentável

A Kimberly-Clark tem várias marcas registradas. Sustentabilidade é uma delas.A Kimberly-Clark acredita que a chave para qualquer negócio é asustentabilidade. Por isso trabalhamos para ser referência tanto para outrasempresas no Brasil como para nossas unidades distribuídas pelo mundo.

Page 3: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 3

Kimberly

Editorial

A Revista Negócio Sustentável se originou da incontestável e crescente relevância que o tema Sustentabilidade assume no mundo empresarial e, como decorrência disso, da carência de informação qualificada e na linguagem profissional para empresários e executivos que traçam os contornos deste mundo.

A visão que inspirou a Revista Negócio Sustentável é a de que a postura e a atitude de cada empresa gera impacto não apenas em si mesma, mas, especialmente, em todo o ambiente de negócios, na sociedade e no ambiente.

Entendemos haver uma base de valores e crenças que ancora a discussão da sustentabilidade e que transforma numa relação de causa e efeito atrair para perto das empresas que a praticam parceiros interessantes, adequados e duráveis, sejam clientes, consumidores, fornecedores, entre outros.

Assim, quando levamos aos empresários e executivos de centenas das importantes empresas do País, conceitos e boas práticas de Sustetabilidade, acreditamos que nos tornamos agentes de transformação do cenário empresarial.

Sustentabilidade é para nós fator de inovação e de moderação de risco empresarial, que implica na perenidade e no sucesso dos negócios; desejamos estar ao seu lado nestes desafios, apoiando-os para que considerem a sustentabilidade de uma forma pragmática e vinculada aos seus resultados.

Convidamos você a avaliar e participar da Revista Negócio Sustentável, com sua atenção, opinião e mensagem. Muito obrigado e boa leitura!

Sergio Molinari Sócio [email protected]

Page 4: Revista Negócio Sustentável

4 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Colaboraram nesta edição

Fabrizio G. Violini Sócio-Diretor da Ecosfera Consultoria Ambiental

Arnaldo Marques de Oliveira Neto Sócio-Diretor da Performance Alliott Brasil Consultoria

Nélio Bilate CEO da Addcomm Comunicação Digital e Marketing

Raquel Sabrina Consultora de Comunicação e Sustentabilidade

Andrea Goldschmidt Diretora da Apoena Sustentável Consultoria em Gestão

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“A REVISTA NEGÓCIO SUSTENTÁVEL BUSCA SE TORNAR UMA DAS MAIS IMPORTANTES FONTES DE INFORMAÇÕES E INTERCÂMBIO

DE IDÉIAS E EXPERIÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. O OBJETIVO É ELEGER E APROFUNDAR AS PRINCIPAIS DISCUSSÕES

DO MOVIMENTO PELA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL, MOSTRANDO CAMINHOS PARA QUE FAÇA PARTE DO PROCESSO DE TOMADA

DE DECISÃO E GESTÃO ESTRATÉGICA.”

Sócio Responsável: Sergio Molinari – [email protected]

Conselheira Executiva: Andrea Goldschmidt – [email protected]

Jornalista Responsável: Raquel Sabrina – [email protected] – MTB SC02747JP

Direção de Arte: Caio Carlucci – [email protected]

Diagramação: Casa Brasileira – www.casabrasileira.com.br

Pesquisa: UFR – Unit for Research – www.ufr.com.br

Fotografia: Márcio Kato – [email protected]

Revisão: Geni Goldschmidt – [email protected]

Administração: Márcia M. Bertolino – [email protected]

Distribuição dirigida: Treelog S/A Logística e Distribuição

Impressão: Vox Gráfica - revista impressa em papel couché 90 g/m2 (miolo) e 150 g/m2 (capa) da Suzano Papel e Celulose, produzido a partir de florestas renováveis de eucalipto; cada árvore utilizada foi plantada para este fim.

Adalgiso Telles - Grupo Bunge • Almiro dos Reis Neto - Franquality • Daniela de Fiori - Wal-Mart • Flávia Moraes - FCM Consultoria

Juracy Parente - CEV - Fundação Getúlio Vargas – SP • Marco Antonio Iszlaji - Kimberly-Clark • Paulo Roberto Ferreira da Cunha - ESPM

Sandra Turchi - Associação Comercial de São Paulo

Expediente

Conselho Editorial

A Revista Negócio Sustentável é uma publicação bimestral da Ombrello Editora Ltda. • CNPJ 05.800.433/0001-45 Rua Dr. Luiz Nazareno de Assumpção, 13 – CEP 02316-190 - São Paulo – SPTiragem desta edição: 8.000 exemplaresEscreva para a Redação: [email protected] suas críticas e sugestões: [email protected] Anuncie em Negócio Sustentável: [email protected] Faça sua pergunta para a Seção Consultoria – [email protected] outros assuntos: [email protected] Atualize suas informações: [email protected] www.negociosustentavel.com.br

Page 5: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 5

Compartilhe suas ações, estratégias sustentáveis e outros assuntos de alta relevância com nossos parceiros,

anunciando na Revista Negócio Sustentável.

Cada empresa tem seus objetivos e estratégias específicos. Consideramos fundamental

formular um plano específico para cada parceiro, em linha com estas situações individuais.

Estamos prontos para desenvolver um “case” único para sua empresa.

Entre em contato conosco e conheça como podemos apoiá-los

em seus esforços junto à Sustentabilidade Empresarial.

[email protected]

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Page 6: Revista Negócio Sustentável

6 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

08 CONSULTORIA

52 SNACKS

54 ARTIGOS

59 10 DICAS

Outubro2008

Sumário

Os desafios da sustentabilidade empresarial A incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada

de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas.

22

Segurança no trabalho 500 mil acidentes e 2 mil mortes por ano mostram um país

com empresas que ainda precisam evoluir para se tornar sustentáveis.

46

Alimentos e biocombustíveis Os biocombustíveis e o aumento no preço dos alimentos:

uma questão econômica, ambiental ou política?

10

Os impactos socioambientais da construção civil Afinal, o que é realmente essencial para que uma construção

seja sustentável?

38

A evolução das finanças sustentáveis no país Considerar indicadores de sustentabilidade para a concessão de

financiamentos desponta nas carteiras de crédito das instituições brasileiras.

35

Consumo consciente Pesquisa confirma que consumidor ainda não exerce seu poder de

compra como forma de incentivar o desenvolvimento sustentável.

30

CASE: Ética empresarial Wal-Mart Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção16

Page 7: Revista Negócio Sustentável
Page 8: Revista Negócio Sustentável

8 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Definitivamente o conceito é global.

Por mais que cada gestor seja responsável

pelas atividades que controla localmente,

como empresa, os impactos gerados pela

atividade econômica devem ser pensados

globalmente.

Neste sentido, uma empresa que

transfere sua área de produção para a

China - ou para qualquer outro lugar

onde as exigências e o nível de controle

sejam menores - pensando apenas na

redução de custos que irá obter, sem

se preocupar com os impactos sociais

e ambientais que possa estar causando

localmente, não está agindo de forma

sustentável.

Como as empresas podem se dizer a favor da sustentabilidade, se ainda continuam comprando

produtos e serviços “made in China” (que todos sabem que são às custas de trabalho

escravo/infanti)? A sustentabilidade é um conceito global ou local?

Luciana Jacob – RH – Lanxess

O mesmo vale para empresas que

mantêm sua produção em países mais

desenvolvidos, mas não se preocupam

com a origem dos insumos ou das

matérias-primas que compõem o seu

produto final.

É importante lembrar que o conceito

de sustentabilidade envolve aspectos

econômicos, sociais e ambientais e,

neste sentido, as oportunidades que a

globalização traz para reduzir custos

sempre devem ser avaliadas. No entanto,

justamente porque a sustentabilidade é

um conceito global, as empresas nunca

devem tomar uma decisão sem levar em

consideração as outras duas dimensões.

Problemas ambientais, como

o aquecimento global, não se

restringem ao local onde as emissões

de poluentes ocorrem, mas afetam

o planeta como um todo e seus

habitantes em todos os continentes.

Sugiro que você assista ao filme “A

história das coisas”, disponível no

Youtube, que aborda este tema de

forma muito interessante e mostra

claramente como as decisões dos

gestores, sem dúvida, devem estar

baseadas nos impactos econômicos,

sociais e ambientais de curto e longo

prazo para que realmente estejamos

falando de desenvolvimento sustentável.

Consultoria

A Revista Negócio Sustentável desenvolveu a Seção Consultoria em parceria

com a Consultoria Apoena Sustentável, que responderá às questões

encaminhadas por nossos leitores.

Em “Consultoria”, receberemos perguntas sobre os mais variados temas relacionados

à Sustentabilidade, através do e-mail [email protected].

Com o com o apoio de nosso Conselho Editorial, selecionaremos sempre duas perguntas

que serão respondidas pela Apoena Sustentável e publicadas na revista impressa.

Outras perguntas que também sejam de interesse amplo para os leitores serão

respondidas e estarão disponíveis para consulta no site

www.negociosustentavel.com.br.

Para saber mais ou entrar em contato com a Apoena Sustentável, nossa parceira

nesta Seção, acesse: www.apoenasustentavel.com.br – (11) 3079-0312

Page 9: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 9

Quais os mecanismos mais interessantes de mensuração dos benefícios da sustentabilidade para as empresas? Adriana Cozzette e Daniel Périgo – Responsabilidade Social – Fleury

Consultoria

Mensurar os benefícios da sustentabilidade

para as empresas não é realmente uma

tarefa simples de ser executada.

Como o objetivo é abordar os impactos

de um negócio levando em consideração

o tripé composto por questões

econômicas, sociais e ambientais, a

mensuração de resultados também deve

levar em consideração estes 3 aspectos.

Neste sentido, há vários indicadores

sociais e ambientais que afetam os

resultados econômicos de uma empresa

e, desta forma, devem ser perdiodicamente

monitorados para que se possa realmente

avaliar os benefícios de uma gestão

baseada nos princípios da sustentabilidade.

Do ponto de vista social, os benefícios

podem ser de diferentes origens como:

• Diminuição da abstinência e/ou da

rotatividade dos funcionários – que

gera redução de custos de substi-

tuição e treinamento e evita a

perda de produtividade.

• Melhoria da qualidade de vida das

pessoas, podendo até gerar impactos

na área de saúde (governamental)

• Aumento do acesso de populações

menos favorecidas a produtos e serviços,

por exemplo, através de programas de

geração de emprego e renda. O que

aumenta o fluxo econômico na região

afeta e pode aumentar o volume de

vendas da empresa.

Do ponto de vista ambiental:

• Diminuição dos resíduos – que

têm alto custo de processamento e

podem afetar a saúde das pessoas

• Economia de recursos - como

acontece, por exemplo, quando

a empresa substitui alguma fonte

de energia ou quando inicia

um programa de mobilização dos

funcionários para redução de consumo.

• Diminuição de riscos – como por

exemplo, de autuação por problemas

ambientais, boicotes de consumi-

dores e necessidades de recall.

Antes de iniciar qualquer nova ação, a

empresa precisa identificar quais são os

seus objetivos e determinar as metas que

pretende atingir em relação a cada um

destes 3 aspectos.

Em seguida, deve-se selecionar a

metodologia mais adequada para

levantamento e registro de dados.

O relatório de sustentabilidade, por

exemplo, é um instrumento bastante

completo e que pode ajudar na

mensuração dos benefícios das ações

desenvolvidas pelas empresas.

Através dele, a empresa conseguirá

identificar quais os impactos mais

relevantes para o seu negócio e para

os seus públicos de interesse; poderá

criar indicadores que possam ser

acompanhados permanentemente e

monitorá-los de forma a aproveitar ao

máximo os benefícios e evitar, sempre que

possível, os custos associados.

Além disso, a publicação destes

indicadores torna todo o processo mais

transparente e ajuda a dar visibilidade à

empresa, destacando seus pontos fortes

e esclarecendo que medidas ela irá tomar

para evitar seus pontos fracos e, com isso,

pode conseguir também o benefício do

envolvimento das partes interessadas.

Page 10: Revista Negócio Sustentável

10 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

A preocupação e a ação desencadeada pela crise envolve

dados impressionantes. A previsão da Organização das Nações

Unidas é que, em função da alta mundial dos alimentos, 100

milhões de pessoas entrem na linha da extrema pobreza,

mais de um bilhão de pessoas na Ásia se tornaram pobres e

que a miséria e a fome aumentem em pelo menos 37 países.

A organização também prevê que 10 milhões de latino-

americanos podem se juntar à camada mais miserável da

população.

Segundo dados da entidade da ONU para agricultura e

alimentação, a FAO, nos últimos dois anos, importantes

produtos da dieta da maior parte da população mundial e da

balança comercial dos países aumentaram de preço em mais

de 100%. A soja subiu 107%, o milho 125%, o trigo, 136%

e o arroz aumentou 217%.

OS NÚMEROS DA CRISE

A miséria e a fome aumentaram

em pelo menos 37 países.

10 milhões de latino-americanos

podem se juntar à camada mais

miserável da população.

Os biocombustíveis e o aumento no preço dos alimentos: uma questão

econômica, ambiental ou polít ica?

A crise dos alimentos, como já está sendo chamada, é uma questão

que tem ocupado a agenda de organizações internacionais

e governos pelo mundo afora. Que os preços subiram não há

discussão e que a tendência é mundial também não. O principal

debate está em torno dos motivos para o aumento: embora sejam

apontados vários fatores, o foco entre as nações industrializadas

e organismos internacionais é o aumento da produção de

biocombustíveis. Assim, o Brasil ganha o centro das discussões no

cenário internacional como proponente e produtor de combustíveis

alternativos, em especial o etanol, feito da cana-de-açúcar.

Entre os que acusam os biocombustíveis e o etanol como

responsáveis pelo aumento do preço dos alimentos, o argumento

é que 100 milhões de toneladas de grãos são usadas para fazer

combustíveis alternativos todos os anos. Apontam também

uma tendência de haver um crescente aumento da demanda

pelos biocombustíveis, financiados por subsídios dos governos.

Os biocombustíveis e a produção de alimentos

Page 11: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 11

Desde janeiro deste ano os alimentos contribuíram com 6,4%

do aumento do índice, contra 2,81% no ano passado. Com

isso, o preço do pão subiu 19,38%, o do arroz 25,75%, o do

tomate 109,36% e do óleo de soja 30,05%.

OS AUMENTOS DE 2008

Média mundial de aumento de

preços para itens importantes

da dieta da população.

Este ano, o custo global de importação de alimentos,

conforme a FAO, deve chegar a US$ 1.035 bilhões, 26% a

mais do que no ano passado. Os países economicamente mais

vulneráveis vão pagar a maior conta no custo de importação

de alimentos. Devem acumular uma despesa total entre 37%

e 40% em relação a 2007.

Mais de 1 bilhão de pessoas na

Ásia se tornaram pobres.

Afinal o etanol é vilão, reduzindo a produção de alimentos e contribuindo para aumentar os preços da comida

ou é o mocinho, contribuindo para aumentar o interesse dos mercados e dos produtores pelo campo e oferecendo

uma alternativa sustentável para a redução dos gases e para o desenvolvimento que não polua o planeta?

O espaço de terra e os próprios grãos que deveriam servir

para alimentar estariam indo para a produção de combustível,

causando escassez, aumento da procura e conseqüente aumento

de preço. O consumo de etanol aumentou de 20 bilhões de litros

em 2006, para 26 bilhões em 2007, apenas nos EUA.

Etanol de milho X etanol de cana

O documento reconhece, no entanto, que a produção brasileira do

etanol à base de cana não levou a altas substanciais no preço do

açúcar. O Banco Mundial também compara o custo das diferentes

produções. Enquanto o etanol da cana-de-açúcar custava US$

0,90 o galão em 2007, contra um custo de US$ 1,70 por galão

do etanol de milho produzido pelos Estados Unidos e US$ 4 por

galão do biodiesel produzido pelos americanos e europeus.

Brasil - Mas o Brasil, que além do etanol também investe

em combustível a partir de óleos vegetais, é um dos principais

interessados tanto na produção de combustíveis alternativos

Os biocombustíveis e a produção de alimentos

Page 12: Revista Negócio Sustentável

12 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

quanto na de alimentos, já que investe

para crescer ambos os produtos, visando

os mercados interno e externo. O principal

argumento do governo brasileiro é a

distinção entre o etanol de milho, produzido

nos Estados Unidos, e o etanol de cana

feito no país. A FAO também admite

que a demanda adicional por milho para

combustível tem tido um grande impacto

nos preços. Segundo a organização da

ONU, das quase 40 milhões de toneladas

a mais de milho utilizadas em 2007, quase

30 milhões foram destinadas às indústrias

de etanol. A maior parte dessa expansão

ocorreu nos Estados Unidos, o maior

produtor mundial e exportador de milho.

O milho, inclusive, tomou espaço de outras

culturas no país.

A situação do Brasil parece ser diferente e

particular, segundo a FAO, em função da

disponibilidade de terras (ver grafico). Mesmo

assim, o produto está na mira de entidades

internacionais e governos em função dos

números robustos que a produção tem

apresentado no Brasil. O etanol brasileiro,

feito de cana-de-açúcar, este ano terá a

maior colheita da história: entre 607 e 631

milhões de toneladas. Cerca de 55% da

colheita de cana será usada na produção

de biocombustíveis, mas a cana-de-açúcar

ocupa hoje apenas 0,4% da área antes

plantada com grãos. Ainda assim a ONU

rebate dizendo que 27% da expansão da

cana ocorreu em áreas ocupadas antes por

soja, milho, café e laranja.

O governo brasileiro defende o etanol

e os biocombustíveis dizendo que

eles impulsionaram a agricultura no

país, geraram renda para os pequenos

agricultores e ofereceram oportunidades

no campo ao invés de promover o êxodo

para as cidades. Cerca de 85% da mamona

produzida no Brasil, oleoginosa largamente

usada para a produção de biocombustível,

está concentrada na Bahia e é cultivada

por pequenos agricultores. Junto com o

produto, muitos agricultores plantam, por

exemplo, milho e feijão já que a colheita

da mamona ocorre justamente nos meses

de seca. O produto, que foi importante

nos anos 1980 e depois perdeu valor

econômico, agora volta a se valorizar

e dá mais rendimento aos agricultores

Entre 2000 e 2008, diminuíram as áreas plantadas com soja, algodão e arroz. O

resultado é que o preço do milho subiu 224% entre 2005 e 2008, em

todo o mundo.

O DESTAQUE DAS EMPRESAS BRASILEIRASO mercado brasileiro de etanol

movimenta cerca de 10 bilhões de

dólares por ano em investimentos.

A Votorantim, uma das empresas

com atuação mais marcante, investe

anualmente cerca de um milhão

em pesquisas. As maiores empresas

brasileiras que produzem etanol são as

maiores do mundo, junto com algumas

americanas.

Os destaques brasileiros são: Copersucar,

Crystalsev, Cosan, São Martinho, Irmãos

Biagi, João Lyra, Tércio Wanderley, Nova

América e Carlos Lyra. Há em operação

no Brasil cerca de 350 usinas, a maioria

controlada por famílias tradicionais.

Outras 100 usinas estão sendo

construídas, a maioria também por

empresários locais.

Os biocombustíveis e a produção de alimentos

Page 13: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 13

da região. Em 2004, a saca de 60kg era

vendida a atravessadores por 16 reais. Em

2008, a mesma saca rende o mínimo de

45 reais e é vendida direto para o produtor

de biocombustível. Para isso, o Governo

Federal criou o selo Combustível Social,

que garante a venda do produto e

estabelece um preço fixo. A indústria do

biodiesel compra direto dos produtores

e oferece assistência técnica. Luciano

Brito, pequeno agricultor do interior

da Bahia, garante que a mamona mudou

a economia da região e a condição de vida

dos agricultores. “Se não fosse a mamona,

muita gente já teria deixado esse sertão em

busca de outros lugares por aí”, afirma.

Respondendo aos debates e à reação de

países como o Brasil, que não aceitam que

o etanol e os biocombustíveis paguem a

conta, importantes entidades como o G-8,

já começam a ter que dar explicações sobre

os outros fatores apontados. No encontro

do G-8 realizado no início de julho no

Japão, a alta dos preços dos alimentos foi

tema de destaque. A expectativa era de

estabelecer medidas de médio e longo prazos

para combater a inflação dos alimentos e

garantir a segurança alimentar tanto em países

pobres quanto nas nações desenvolvidas.

Mais do que recriminar os biocombustíveis

e o etanol pela alta dos preços, retrocedendo

na questão climática e de novas alternativas

energéticas, a questão agora parece se

concentrar nos elementos econômicos,

tarifários, na especulação financeira

e, especialmente, no investimento em

agricultura para superar a crise, baixar

os preços e garantir o abastecimento.

No encontro do G-8 foram apresentadas

propostas de liberação de recursos para

aumentar a produção de alimentos. A

União Européia (UE), que não faz parte

do G-8, mas participa de suas cúpulas,

anunciou a disposição de liberar 1 bilhão

de euros para apoio à agricultura nos

países em desenvolvimento. A informação

foi dada pelo presidente da Comissão

Européia, José Manuel Durão Barroso,

no primeiro dia da reunião. O Japão vai

dobrar a ajuda oficial ao continente e

abrirá linhas de crédito para a região.

A guerra de versões, culpas e opor-

tunidades no mercado internacional

continua, com cada um dos atores

procurando defender a sua posição. As

respostas à crise dos alimentos podem

impulsionar os debates sobre planos de

desenvolvimento de energias alternativas,

priorizando culturas de pouco impacto,

como a da cana, ao invés do milho, e gerar

oportunidades internacionais para o Brasil

aumentar sua produção de alimentos para

abastecer a própria população e atender

parte do aumento da demanda mundial.

A opinião das ONGS

Estudo WWF confirma benefício

ambiental do etanol brasileiro

A produção de etanol à base de cana-de-

açúcar tem efeitos benéficos do ponto de

vista ambiental, não avança sobre áreas

de floresta na Amazônia e não compete

de forma significativa com a produção de

alimentos, afirma estudo da organização

ambientalista WWF-Brasil.

O estudo, divulgado em julho, foi

encomendado há três anos e é parte de

um projeto financiado pelo Ministério de

Assuntos Internacionais da Holanda. O

objetivo inicial era avaliar os efeitos da

expansão do setor de cana-de-açúcar no

Brasil, em razão da Rodada de Doha, da

Organização Mundial do Comércio (OMC).

“O estudo conclui que existem benefícios

ambientais confirmados e consolidados

no que diz respeito à produção de etanol

(a partir de cana-de-açúcar)”, disse o

coordenador do programa de Agricultura

e Meio Ambiente da ONG, Luis Fernando

Laranja. Segundo ele, o etanol brasileiro

tem um balanço energético mais positivo

(ou seja, é mais eficiente) do que, por

exemplo, o etanol à base de milho,

produzido nos Estados Unidos. O estudo

referenda a posição defendida pelo

governo brasileiro. “Do ponto de vista

ambiental, é um bom negócio substituir

gasolina por etanol”, afirmou Laranja.

Os biocombustíveis e a produção de alimentos

Page 14: Revista Negócio Sustentável

14 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

O estudo do WWF-Brasil analisou algumas das dúvidas que

envolvem a produção de etanol.

O primeiro seria sobre a eventual expansão de plantações de cana-de-

açúcar na Amazônia. Segundo ele, há em torno de 200 mil hectares

de cana-de-açúcar na Amazônia. “Isso não significa nada no universo

da Amazônia. Só de pastagens, há 50 milhões de hectares.”

O segundo ponto analisado é o quanto a produção de cana-de-

açúcar compete com outras culturas alimentares, considerando-

se o atual cenário de crise mundial dos alimentos. De acordo

com Laranja, esse risco é baixo. “Compete pouco com as culturas

alimentares, especialmente porque ocupa pouca área e sendo que

metade vai para a produção de açúcar, e a outra metade para o

etanol”, disse.

O estudo, porém, alerta para alguns riscos ambientais da produção

de etanol em escala regional. “É uma cultura muito concentrada,

quase toda no Estado de São Paulo e em regiões vizinhas. Isso

representa um risco em potencial sobre a biodiversidade, sobre

os recursos hídricos e efeitos diretos sobre o solo. “Precisamos

fazer essa ocupação das novas áreas de forma mais estratégica,

da maneira mais racional possível”, disse.

O fracasso da Rodada Doha e o empresariado brasileiroNa nova rodada de negociações para liberalização do comércio

mundial, realizada pelos países-membros da OMC (Organização

Mundial do Comércio), o Brasil defendia que o álcool deveria

fazer parte de uma lista de produtos ambientais com acesso livre

a todos os mercados por sua contribuição em conter a mudança

climática e preservar o meio ambiente. Com a liberação, o produto

brasileiro não deveria ser submetido aos cortes gerais de tarifas

de importação. A rodada foi considerada um fracasso e os países

não conseguiram um acordo sobre tarifas de importação para o

setor agrícola.

O setor privado no Brasil defende que a sobretaxa é uma forma

mascarada de proteger contra a concorrência os produtores

americanos, menos competitivos. O presidente da União

da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, que

acompanhava as negociações, defende que a redução das tarifas

européia e americana para o etanol permitiria a esses países

aumentarem suas importações, o que beneficiaria os países mais

pobres produtores de matérias-primas.

Os Estados Unidos e União Européia se opõem a ideia, onde

grandes recursos públicos e altas tarifas de importação asseguram

a liderança de mercado, se opõem à idéia, alegando que faltam

ETANOL X AMAZÔNIADurante sua recente visita ao Brasil, Al Gore, ex-candidato

à Presidência dos Estados Unidos e uma das principais

vozes da causa ambiental, veio saber se a expansão do etanol

faria com que as plantações de cana avançassem sobre a

floresta Amazônica. A resposta do governo a Al Gore: não.

Primeiro, porque o ambiente amazônico não é propício ao

cultivo de cana. Segundo, porque essa cultura não requer

grandes extensões de terra. O país pode dobrar a produção

de etanol sem ter de avançar sobre áreas preservadas.

estudos mais profundos que comprovem sua eficácia e impacto

ambiental. O álcool brasileiro paga, atualmente, uma taxa extra

de US$ 0,54 por galão para entrar no mercado americano, além

da tarifa regular de importação de 2,5% sobre valor do produto.

Com o fracasso da Rodada e a conseqüente paralisação das

negociações sobre o etanol, sujeitas ao acordo global, o Brasil

agora considera fazer uma consulta na OMC (Organização Mundial

do Comércio) sobre as tarifas para a exportação do produto cobradas

pelos Estados Unidos.

Os biocombustíveis e a produção de alimentos

Page 15: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 15

ETANOL X PRODUÇÃO DE ALIMENTOSNa safra de 2007/2008, a área plantada com

cana-de-açúcar aumentou 653.700 hectares, um

crescimento de 12% em comparação com a safra

anterior, sendo 0,4% da área total cultivada com

grãos. Os canaviais avançaram principalmente sobre

as áreas de pastagens (65%), não ameaçando

as áreas de produção de alimentos.

ETANOL DE CANA X ETANOL DE MILHO

O etanol de cana-de-açucar é o mais eficiente...

Os biocombustíveis e a produção de alimentos

Page 16: Revista Negócio Sustentável

16 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção

Para uma empresa, a corrupção significa aumento de despesa, o

risco com fornecedores, a cobrança de propinas para aberturas

legais e chance de aumentar o risco de uma ação da justiça ou

uma condenação por parte dos clientes. Quantas empresas já

não foram prejudicadas em seu direito de competir por acordos

corruptos entre participantes de licitações públicas ou sofrem

constantes pedidos de propina em troca de fiscalizações brandas?

Um país com alto índice de corrupção pode ter impacto sobre

os negócios de todas a empresas. Quando a corrupção é prática

comum em um país, as empresas daquele lugar tem custos mais

altos para obter financiamento externo, por exemplo, e o custo

será significativamente maior. Os efeitos poderão ser observados

no custo mais elevado dos recursos para as empresas.

Gigante do setor de varejo, o Wal-Mart é uma rede mundial e

por isso é uma de muitas empresas que pode encontrar casos

de corrupção. Com faturamento de R$ 15 bilhões em 2007

apenas no Brasil, 320 lojas em 17 estados brasileiros e no Distrito

Federal e mais de 70 mil funcionários, ao planejar aumentar suas

atividades a empresa precisa lidar com maiores riscos, e investe

agora no combate à corrupção. A novidade é a capacitação dos

funcionários para lidar com todas as situações do cotidiano de

forma ética, com ênfase para o tratamento com governos locais.

Combate à Corrupção

Page 17: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 17

Tendo as diretrizes mundiais voltadas para o tema da

sustentabilidade, o Wal-Mart busca atuar agora com ações

coordenadas para o combate à corrupção. Ao mesmo tempo em que

cresce sua participação no país, a empresa expande sua atuação com

projetos e ações corporativas relacionadas à ética e à transparência.

Com iniciativas sistemáticas e consistentes de expansão dos

negócios ao longo dos últimos anos, o ano de 2007 é considerado

pela empresa como um marco. Nas iniciativas de fomento da

ética, foi o início de um novo projeto que implica no trabalho

sistematizado de treinamento e conscientização sobre o tema. Já

foram realizados treinamentos presenciais de três horas com todas

as lideranças dos escritórios e o aperfeiçoamento dos sistemas de

monitoramento e avaliação.

Para melhorar a identificação de problemas potenciais,

todos os setores em contato com órgãos públicos passaram

a ser monitorados mais de perto.

A capacitação tem dois focos principais. O primeiro é relacionado

à integridade, lidando com eventuais dilemas éticos que os

funcionários tenham e preparando-os para tomar a decisão correta,

com base em princípios éticos, em qualquer situação. O segundo

foco é em relação ao contato com entidades públicas. Cada

setor tem contatos diferentes com representantes públicos. “Os

vendedores, por exemplo, têm contato com fiscais. O programa

quer ensinar como lidar de forma ética com esse público”,

afirma Leonardo Machado, gerente de ética e conformidade da

Wal-Mart. Para os diretores, a orientação é, por exemplo, como

realizar reuniões com entidades públicas e como registrar gastos

realizados em situações em que esteja presente um representante

de órgão público.

A questão ética, além de ser um tema incorporado às

práticas empresariais através da difusão de conceitos de

responsabilidade social, hoje é também uma questão de

saúde e sustentabilidade do próprio negócio.

O Programa Global de Combate à Corrupção do Wal-Mart é

composto de mais três ações em diferentes frentes. O primeiro

módulo passa pela formalização de políticas e procedimentos

internos, treinamentos para todos os colaboradores no Brasil e a

identificação dos parceiros contratados para atuar em nome da

empresa perante qualquer autoridade pública no país. Uma vez

implantada a primeira etapa do programa, o módulo seguinte

visa a transparência e deve viabilizar a criação de um software que

permitirá a centralização de todas as informações e documentos

gerados por cada país pelo Departamento Jurídico nos Estados

Unidos. O terceiro módulo consiste em um programa de auditoria

intenso que contará com a participação de equipes internas

e empresas independentes, responsáveis por avaliar e validar

o programa, identificando possíveis falhas nos processos.

O objetivo geral é proporcionar relacionamentos mais

consistentes para a rede no Brasil, contribuindo para a

melhoria do desempenho em todas as frentes de negócio.

As aspirações são altas, tanto no âmbito das relações públicas e

privadas com bases éticas quanto nos objetivos de expansão da

rede. Até o final de 2008, a empresa vai inaugurar mais 36 lojas e

levar as bandeiras da companhia a mais cidades. O investimento

este ano é de R$ 1,2 bilhão em todos os formatos. Segundo a

empresa, o mercado de baixa renda tem especial destaque. Com o

crescimento do número de lojas e do numero de funcionários, os

desafios de capacitação e envolvimento são também cada vez maiores.

“Enquanto houver algum ato de corrupção, a concorrência será sempre desleal”, concluiu Machado.

A meta é capacitar 100% dos funcionários ainda este ano.

O Brasil está em 80º lugar no último ranking de corrupção

2008 divulgado em setembro pela ONG Transparência

Internacional. A instituição classifica 180 países com base

na percepção de corrupção entre autoridades públicas e

políticos, criando o Índice de Percepção de Corrupção

referência no mundo. Mesmo com a manutenção do

índice em 3,5, o Brasil aparece atrás de países como Butão,

Botsuana, Gana e Seicheles na lista da ONG.

Em 2008, o treinamento está sendo estendido a todos os

funcionários. Foi produzido um DVD de 30 minutos com

orientações específicas para o dia-a-dia dos colaboradores,

exemplificando situações que eles vivem no cotidiano.

Combate à Corrupção

Equipe responsável pelo programa

Page 18: Revista Negócio Sustentável

18 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Os desafios da sustentabilidade empresarial

A incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas

As ferramentas utilizadas pelas empresas

Os indicadores com maior evolução

As conquistas já alcançadas pelo movimento

Page 19: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 19

Page 20: Revista Negócio Sustentável

20 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

No 15°andar de um imponente prédio na Avenida Paulista, o diretor de responsabilidade corporativa de uma grande

empresa faz os últimos ajustes na apresentação do relatório de sustentabilidade 2007. Esse foi um ano decisivo para os

negócios e faltam poucos minutos para mostrar aos acionistas os resultados consolidados no relatório. A tarefa dele é

apresentar a executivos acostumados a excelentes resultados financeiros as novas diretrizes de sustentabilidade a que a

empresa busca se alinhar a partir deste ano e que resultarão em escolhas importantes nos negócios.

Os desafios da sustentabi l idade empresarial

Pauta recorrente na mídia e tema de dezenas de eventos e

palestras, a sustentabilidade empresarial desgasta seu discurso,

irritando céticos, mas ainda enchendo de esperanças os otimistas,

que acreditam no papel das empresas na construção de um

mundo melhor. O fato é que a incorporação de critérios sociais e

ambientais ao processo de tomada de decisão ainda é um ideal a

ser alcançado e existe o risco de que o tema se perca em marketing

institucional antes mesmo de fazer parte da gestão estratégica

da maioria das empresas. No Brasil, que ganha cada vez mais

visibilidade nesse universo, a pouca evolução dos indicadores é

um sinal do longo caminho que temos a percorrer.

Segundo pesquisa realizada pela Aberje, Associação Brasileira

de Jornalismo Empresarial, o tema foi pauta de 256 matérias no

período de fevereiro a maio de 2008, pesquisado junto às mídias

impressas de grande impacto, como O Estado de São Paulo, Folha

de São Paulo, Gazeta Mercantil, Valor Econômico, O Globo, Jornal

do Brasil, Gazeta do Povo (PR), Estado de Minas, Zero Hora (RS) e

Correio Braziliense (DF). As matérias tiveram tom positivo em 91% dos

casos, nestes quatro meses, correspondendo a 96 páginas de jornal

e 45 páginas de revista. Matérias negativas representaram menos

de oito páginas nos jornais e não tiveram representação nas revistas

pesquisadas – entre elas Exame, Veja, Isto É, Época e Carta Capital.

Uma estratégia do movimento pelo desenvolvimento sustentável

é a valorização das boas práticas realizadas pelas empresas, para

que sirvam de referência e estimulem outras boas iniciativas.

A disseminação do tema na imprensa é uma das conquistas

alcançadas. Mas no Brasil, país do contra-senso em cada um

dos itens do tripple bottom line, a contradição se faz quando

cada pequena conquista é anunciada aos quatro ventos como

um caso de sucesso, enquanto os indicadores socioambientais

não mostram melhorias significativas. O risco maior para todos

que trabalham seriamente pela melhoria dos indicadores é o

marketing pouco responsável, com o qual empresas querem ter sua

imagem associada ao conceito ‘sustentável’ e levantam a bandeira

assinando um slogan e investindo milhões em campanhas. Mesmo

quando a intenção é apenas disseminar a idéia, cada ação como

essa constrói para todo o movimento um imenso telhado de vidro

e expõe as fraquezas de todas as empresas.

As recentes declarações de algumas personalidades

envolvidas no movimento podem ajudar a compor

esse cenário. Ricardo Young, presidente do Instituto

Ethos, a principal instituição referência brasileira em

sustentabilidade, afirmou que ainda há uma grande

distância entre o discurso das empresas e a aplicação

prática de boas intenções. Georg Kell, diretor do

Pacto Global, a iniciativa da ONU voltada para a

promoção da responsabilidade socioambiental das

empresas, disse que a sustentabilidade ainda não

entrou com profundidade na estratégia das empresas.

O economista Gustavo Pimentel, gerente de ecofinanças

da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, afirma que

as estratégias socioambientais evoluem no setor financeiro

de forma mais lenta do que anuncia o marketing dos bancos.

Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial

Page 21: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 21

GRI já são utilizadas por 1.500 instituições no mundo. No Brasil

a adesão tem sido crescente: em 2007, setenta e duas empresas

elaboram seus relatórios nesse padrão. Dentro dos critérios criados

pela GRI é possível avaliar os indicadores que apresentam avanços

e os indicadores mais atrasados no Brasil, excluindo-se, é claro,

aqueles pouco aplicáveis, já que a referência é mundial.

O levantamento Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS)

2008, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) com cruzamento de dados de 60 pesquisas, mostra que,

nos últimos anos, os maiores avanços do país ocorreram na área

econômica. O que não é pouco, já que a distribuição de renda é

um dos fatores principais para a promoção do desenvolvimento

sustentável em qualquer lugar do mundo.

O problema é que os avanços param por aí. No Brasil, enquanto

as mulheres representam 40% da População Economicamente

Ativa (PEA), elas ocupam somente 35% das vagas de emprego.

Enquanto mais da metade da população brasileira é negra e outros

13% têm alguma deficiência, só 3,5% e 0,4% dos cargos de

direção são ocupados pelos negros e deficientes, respectivamente.

“Os números indicam que não há inclusão nas empresas. Nem

as leis estão sendo aplicadas corretamente”, conclui Ricardo

Young, lembrando que já existe legislação que prevê a reserva de

vagas de emprego em empresas com mais de 100 funcionários para

trabalhadores com deficiência. Dados de levantamentos citados pelo

próprio Young apontam que há, aproximadamente, 1,4 milhão de

crianças exercendo alguma atividade de trabalho no Brasil. Maranhão

e Piauí têm 18% das suas crianças trabalhando e o Ceará tem 17%,

bem acima da média nacional. A taxa brasileira é de 11%.

Um indicador de difícil evolução para qualquer empresa do mundo

hoje é o que se refere à responsabilidade sobre os fornecedores

e à criação de uma cadeia de valor sustentável. As condições de

trabalho nos países asiáticos e a oferta de produtos que chegam

ao mercado às custas da violação aos Direitos Humanos ou sem

cumprimento de qualquer legislação ambiental, é uma realidade a

ser enfrentada por empresas de todos os portes.

No Brasil, as discussões acabam refletindo na Amazônia. Uma lei

criada pelo Ministério do Meio Ambiente, em junho, diz que todas

as grandes empresas que atuam em território amazônico terão

que apresentar a lista de seus fornecedores até o final do ano.

Siderúrgicas, frigoríficos e madeireiras estão sendo notificados

pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais

Renováveis (Ibama) sobre o procedimento. O objetivo é tornar as grandes

empresas co-responsáveis por crimes ambientais da sua cadeia.

Indicadores básicos ainda em evolução

Os indicadores de sustentabilidade apresentam diferentes versões

e subdivisões. O padrão mais respeitado hoje, para publicação de

relatórios, é o da Global Reporting Initiative (GRI). As diretrizes

Os principais desafios da sustentabilidade empresarial:

Os clássicos- aplicar os critérios ambientais e sociais a cada processo

de tomada de decisão

- comprovar os resultados dos projetos e iniciativas

- convencer a alta cúpula da importância de investimentos sustentáveis

- engajar e dialogar com os principais públicos de relacionamento

Os atuais

- coerência entre o discurso e a prática

- timing: monitoramento e melhoria de indicadores

- conceito departamentalizado: sustentabilidade é responsabilidade de toda a empresa e não de uma área.

Os futuros

- separar o joio do trigo: quais empresas estão realmente alinhadas e o que é só marketing

- persistência: continuar a evolução de indicadores enquanto os resultados só aparecem a médio e longo prazo

- perseverança: manter o movimento em alta, apesar da lentidão dos resultados e do desgaste natural do tema.

Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial

Page 22: Revista Negócio Sustentável

22 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

O desafio da evolução de indicadoresEstratégias de combate às mudanças climáticas, aumento da

eficiência energética, desenvolvimento do capital humano,

gestão do conhecimento, relacionamento com acionistas e

governança corporativa são alguns dos indicadores avaliados pela

GRI. No Brasil, os indicadores mais aplicáveis podem ser classificados,

segundo o nível de evolução das empresas:

Os básicos: Os indicadores de

desempenho ambiental obrigatórios

para as empresas que optam por

relatar no nível C da GRI ainda

são os mais simples: como

consumo de energia e água.

Os demais aspectos da

responsabilidade

ambiental são

difíceis de ser

relatados pela

maioria das

empresas,

ou por falta

de histórico

e medição,

ou por falta de

conscientização da

necessidade de mitigação

dos impactos ambientais.

Os evoluídos: Os indicadores de

desempenho econômico também são

um desafio para a maioria das empresas,

mas estão mais evoluídos devido a tradição de

publicação do Ibase, o padrão do Instituto Brasileiro

de Análise Sócio-Econômica. Os indicadores relacionados

aos fornecedores locais ainda são raros nas publicações.

Os avançados: indicadores de desempenho social, que dizem

respeito à gestão do público interno, como práticas trabalhistas

e direitos humanos, exigidos pela legislação brasileira, acabam

se tornando o centro dos relatórios de sustentabilidade. Mesmo

assim, sair do nível inicial de comprometimento ainda é difícil.

Os maiores desafios são os indicadores que dizem respeito

a práticas anti-corrupção e à transparência em relação às

contribuições para campanhas políticas.

Mas se os indicadores da GRI são complexos para qualquer

empresa, quando aplicados à realidade brasileira, a dificuldade

é ainda maior. Mesmo para os indicadores mais básicos, o país

ainda tem uma difícil lição de casa a fazer. Quando o indicador é o

vergonhoso trabalho escravo, impensável para qualquer empresa

que fale de responsabilidade social, os dados mostram que,

só em 2007, 5.975 trabalhadores foram libertados

dessa condição em 115 ações realizadas pelo

Ministério do Trabalho, sendo citadas

como responsáveis 179 empresas

brasileiras. Segundo

levantamento realizado

pela Organização

Internacional do

Trabalho e o Instituto

Ethos, a pecuária bovina

da Amazônia é responsável

por mais de 50% dos

empreendimentos que usam

trabalho escravo no país.

Reconhecendo as conquistas

Embora a realidade seja muito

diferente do que anunciam as

campanhas institucionais e do

que os prêmios se esforçam

para estimular, os primeiros

passos têm sido dados

pelas empresas e indicam o

potencial de evolução das

práticas sustentáveis no país.

Algumas empresas brasileiras

têm sido reconhecidas

internacionalmente por seu

conjunto de ações nesta direção

e impulsionam seus fornecedores a alinhar suas estratégias de

gestão. Entre os importantes resultados estão o número de

relatórios de sustentabilidade publicados, o lançamento de

produtos com impacto ambiental reduzido e o fato de que o

desempenho em sustentabilidade começa a se tornar parâmetro

para investidores em índices.

Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial

Page 23: Revista Negócio Sustentável

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Page 24: Revista Negócio Sustentável

24 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Os índices de sustentabilidade têm por objetivo reunir as

empresas que atuam como promotoras das boas práticas no meio

empresarial. A Bolsa de Nova York é pioneira com a criação, em

1999, do Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Outras bolsas

pegaram carona no movimento e estabeleceram seus próprios

índices, como são os casos da Bolsa de Londres, que criou o

FTSE4Good (Footsie for good) em 2001 e a de Johanesburgo,

com o JSE (2003). A metodologia desenvolvida pelo Índice Dow

Jones de Sustentabilidade seleciona 10% das 2500 companhias

líderes na prática desse conceito em 58 setores e tem registrado

um retorno anual de 16,1%, enquanto o Morgan Stanley Capital

Index (MSCI), por exemplo, tem retorno de 15,6% ao ano.

Esses índices funcionam como uma espécie de selo de qualidade

e o reconhecimento mundial facilita a disseminação por aqui.

Seguindo a tendência, a Bovespa criou em 2005 o Índice de

Sustentabilidade Empresarial (ISE) brasileiro. Com 32 empresas

de 13 setores, somando 40 ações e um valor de mercado de R$

927 bilhões, o ISE representa cerca de 40% da capitalização da

Bovespa. Mas o índice ainda tem uma alta alternância de empresas

presentes, sendo alvo de críticas e desconfiança.

Relatório e transparência

O número cada vez maior de adesão das empresas brasileiras

às diretrizes da GRI é outra importante conquista que merece

ser destacada. Uma iniciativa que deve ampliar ainda mais esse

número foi realizada pela Fundação Getúlio Vargas. Um Grupo

de Trabalho organizado pela FGV, com certificação da própria

GRI, lançou no final de junho uma publicação para facilitar a

compreensão de relatórios de sustentabilidade GRI . O grupo

busca proporcionar às empresas um espaço para troca de

experiências e discussão dos desafios em torno deste processo,

ainda pouco compreendido. O objetivo é que o maior número de

empresas, stakeholders e ONGs tenham acesso aos indicadores.

Com a tema “o que você não mede, não pode gerenciar, e

o que você não gerencia, não muda”, a intenção da GRI é

ser uma ferramenta que aponte caminhos de gestão, incentive a

transparência na prestação de contas das empresas, abordando

os impactos sociais e ambientais das organizações.

Apesar do aumento do número de relatórios, os conteúdos ainda

têm um longo processo de melhoria a percorrer. Segundo a GRI,

um dos desafios enfrentados pelas empresas que decidem fazer

seus relatórios de sustentabilidade é definir quais aspectos devem

ser relatados e saber se eles atendem às demandas dos leitores.

Segundo a pesquisa Readers’ Choice Awards, realizada pela GRI,

os leitores esperam que os relatórios mostrem o aprendizado

das organizações por meio de suas falhas e incluam mais os

stakeholders no processo de levantamento de dados. Já os

investidores desejam relatórios concisos e com foco nas questões

mais relevantes para a empresa, sugerindo que os indicadores

Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial

Page 25: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 25

sejam usados de forma mais consistente

para facilitar a comparabilidade entre

os relatórios de diferentes empresas e da

mesma empresa de um ano para o outro.

Outro ponto destacado é a necessidade de

transparência e coerência: 80% dos leitores

afirmam ficar com uma visão mais positiva

da organização quando essa assume seus

problemas e falhas. “Cada vez mais as

empresas vão reportar não só aquilo que

fazem de positivo, mas também os seus

desafios. Do contrário, a impressão que

se tem é que a companhia está tentando

passar uma imagem de que é perfeita,

o que gera desconfiança nos leitores

de que ela não está informando tudo o

que deveria”, conclui a representante da

organização no Brasil, Gláucia Térreo.

Perspectivas futuras

Segundo especialistas da Anders & Winst

Company, importante escritório internacional

de consultoria em sustentabilidade, nos

próximos cinco anos muitas empresas

deverão reconhecer que a responsabilidade

socioambiental impactou os negócios

menos do que deveria e não construiu o

valor se esperava. Mas é fato que o setor

empresarial é um agente importante na

promoção das mudanças necessárias,

por ser detentor de enormes recursos

financeiros, econômicos e tecnológicos,

bem como por sua influência política e

capital intelectual.

Mesmo com pouco esforço, a maioria

das empresas parece já ter compreendido

os porquês da sustentabilidade. As

mudanças necessárias não refletem

apenas em benefícios para a sociedade,

mas também para seus próprios negócios.

As empresas que agem de forma ética,

por exemplo, contribuem para a criação

de um mercado baseado na concorrência

leal, preservando sua marca e reputação.

Ao valorizar a diversidade, colaboram

para que a discriminação não seja uma

barreira para a atração e retenção de

talentos e contribuem para a redução

das desigualdades sociais. Empresas

que adotam práticas de ecoeficiência

tendem a reduzir seus custos, utilizando

menos recursos naturais do planeta. Ao

investir em ações sociais que beneficiam

a comunidade de entorno, promovem

o desenvolvimento social, criando uma

parceria que também favorecerá a

estabilidade da empresa e a qualidade de

vida de seus funcionários. Organizações

que adotam práticas de governança

corporativa tendem a aumentar o valor de

suas ações, e assim por diante.

A contribuição das empresas será

determinante para mudanças estruturais

nos modelos atuais de produção e

consumo, um novo paradigma que deverá

ocupar os corações e mentes dos gestores.

A sustentabilidade é um compromisso

com o futuro; não é uma meta que

possa ser atingida, mas um caminho

que as organizações devem trilhar. Este

compromisso com o futuro se expressa

de diversas maneiras e em distintos graus

dentro das organizações. O fundamental

é que permeie sempre qualquer decisão

dentro dos processos de gestão.

6Execute – fase de criação e

implantação dos planos de ação

advindos do diagnóstico efetuado.5 Relate – organização das

informações adquiridas em todas

as etapas anteriores no relatório

propriamente dito.

4 Monitore – coleta e análise das

informações que vão compor o

relatório de sustentabilidade.

3Defina – seleção de temas sobre

os quais a empresa vai atuar, de

acordo com suas estratégias e

com os desejos de seus stakeholders.

2 Conecte-se/engaje – fase de

identificação, priorização e

diálogo com os stakeholders. 1Prepare – esta fase envolve o

planejamento do relatório, o

desenvolvimento de um plano de

ação para cumpri-lo, o estabelecimento

de datas e a definição da equipe que vai

participar do processo.

Como melhorar o processo de elaboração do relatório de sustentabilidade, segundo a GRI:

Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial

Page 26: Revista Negócio Sustentável

26 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

As empresas vitrine

Real - Desde que abraçou esse tema, no início da década, o

Banco Real avançou de forma consistente na integração de

princípios sustentáveis à sua estratégia de negócios. Criou uma

área dedicada à avaliação de riscos socioambientais, linhas de

financiamento para empresas interessadas em melhorar seus

padrões de atuação e produtos sustentáveis para pessoas físicas.

Criou também um programa de microcrédito e o primeiro fundo

de investimentos socialmente responsável do país. Iniciativas

como essas foram possíveis por meio da disseminação do conceito

internamente. Dos 30 mil colaborares no Brasil, cerca de 19 mil já

passaram por treinamentos sobre desenvolvimento sustentável. O

banco foi o primeiro a inserir o tema em programas de educação

voltados para quem trabalha na ponta da operação, nas agências.

A área de desenvolvimento sustentável do Real, responsável por

disseminar o conceito pela organização, tem 65 pessoas.

Petrobrás - Apontada pelo terceiro ano seguido como a

empresa mais sustentável do país, a Petrobrás tem evoluído

suas práticas, o que se reflete tanto em indicadores como no

reconhecimento público. Entre 2005 e 2007, o valor de mercado

da Petrobras cresceu 148% e a incorporação da sustentabilidade

na estratégia do negócio teve impacto significativo na reputação

da empresa. Em 2007, a companhia saltou da 83 para a 8 posição

no ranking das empresas mais respeitadas do mundo, organizado

pelo Reputation Institute, de Nova York. A participação da

Petrobrás nos índices Dow Jones de Sustentabilidade e no ISE

da bolsa brasileira ampliou o acesso a um mercado potencial de

investidores em empresas social e ambientalmente responsáveis. O

reconhecimento foi atestado pelo instituto de pesquisa de mercado

e opinião pública Marketing Analysis. A pesquisa apresenta

os resultados do levantamento que aponta as dez melhores e

piores companhias em Responsabilidade Social atuantes no país.

A Petrobrás foi a mais bem avaliada com 19,8%. A empresa

também ganhou o prêmio “Prêmio GRI por escolha dos leitores”

(GRI Reader’s Choice Awards) por sua transparência e evolução

no relatório de sustentabilidade. Mas todo esse reconhecimento

coloca a empresa na vitrine e expõe dilemas e contradições.

Durante a última Conferência Internacional Ethos, a empresa

precisou responder porque ainda não cumpriu a meta de redução

de enxofre em seu diesel. A meta visa reduzir o enxofre no diesel

para 50 ppm, valor duas vezes mais alto que o estabelecido em

países que contém essa política de redução.

Natura - Pioneira na implantação do conceito da sustentabilidade,

a Natura é uma das empresas que está em uma nova fase da

busca pela evolução: diminuiu suas ações de divulgação da marca

vinculadas ao tema e aumentou o investimento na melhoria de

seus indicadores. Ser vitrine da sustentabilidade tornou a empresa

alvo fácil de críticas e levou a importantes decisões, como a redução

de gases geradores do efeito estufa em sua cadeia produtiva e o

fim aos testes em animais em 100% de sua linha de produtos.

Referência no relacionamento com comunidades produtoras

de seus insumos, a empresa tem parceria com comunidades da

Amazônia e da Bahia, que são treinadas para fazer o extrativismo

sustentado de matérias primas. A Natura repassa às comunidades

um percentual da receita líquida proveniente das vendas do

produto final. A empresa também é patrocinadora ou apoiadora

de quase todas as iniciativas de promoção e desenvolvimento

da sustentabilidade no país e todos os anos é destaque entre

os melhores relatórios de sustentabilidade. Em 2007, a empresa

passou por questões financeiras importantes, fincando abaixo

das expectativas dos investidores. Buscando um novo ciclo de

crescimento, a empresa investe agora em produtos voltados

para crianças, sem abrir mão de seus demais investimentos em

sustentabilidade.

Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial

Page 27: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 27

O papel das consultorias

Um dos caminhos para a efetiva

implantação de indicadores como forma

de medir e melhorar o desempenho da

empresa é a contratação de consultorias.

O principal papel de uma consultoria

nessa área é conseguir realizar um bom

diagnóstico do estágio de evolução da

empresa e propor soluções viáveis para

a evolução dos indicadores. Alguns dos

critérios para a escolha de uma consultoria:

- alinhamento conceitual: é importante

que a consultoria apresente os conceitos

alinhados com o que pensa e defende a

empresa e as organizações-referência em

sustentabilidade.

- cases: o portfólio de clientes e projetos

já realizados pela consultoria mostra

os trabalhos já realizados e o acúmulo

de experiências bem e mal sucedidas,

fundamentais nesta área.

- consultores: a experiência dos

profissionais-líderes é sempre um importante

diferencial em consultoria empresarial. Mas

é interessante também verificar quem são os

profissionais que realmente devem atuar no

trabalho a ser realizado.

- presença em eventos-referência: a

presença dos consultores em eventos-

referência e congressos contribui para

indicar alinhamento e credibilidade.

- empatia: o processo é longo e é

importante que os consultores sejam

capazes de entender a cultura da empresa e

trabalhar com sua equipe para alcançar os

melhores resultados.

Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial

Page 28: Revista Negócio Sustentável

28 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Os fornecedores entram no climaPressionados por clientes e seguindo tendências mundiais, as

empresas fornecedoras buscam se alinhar aos conceitos adotados

por seus clientes e contribuem para criação da cadeia de valor

sustentável. O exemplo buscado pelos fornecedores da carne:

Varejo sustentável - O engajamento das redes varejistas

na busca por fornecedores mais sustentáveis é tema de uma

campanha do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

A preocupação sobre as condições de produção da carne, por

exemplo, está levando redes varejistas a investirem na chamada

“carne sustentável’’, produzida em condições menos agressivas

ao ambiente e com respeito às leis trabalhistas. Além de fomentar

boas práticas nas fazendas, o objetivo é o desenvolvimento da

qualidade da carne, com rastreamento da produção e identificação

clara nas lojas.

Wal-Mart - Seguindo as diretrizes mundiais de sustentabilidade,

a rede Wal-Mart passou a pedir que seus fornecedores busquem

se alinhar às boas práticas, melhorando indicadores e minimizando

seus impactos ambientais. Entre outras medidas incorporou ao

Top to Top (encontro semestral entre os gestores de alta hierarquia

da rede com seus pares de mais de 100 empresas fornecedoras,

entre elas as principais fornecedoras de carnes) a proposta de

criar ações sociais e/ou ambientais conjuntas.

JBS Friboi - O gigante dos frigoríficos lançou em 2004 uma linha-

piloto de carne orgânica, que hoje representa 3% da produção do

grupo. A carne é oriunda de um grupo de 20 fazendas da região

de Tangará da Serra (MT), que fornecem exclusivamente para a

empresa e cuja produção inclui cuidados com o bem-estar e a

rastreabilidade dos animais. Parte da produção é exportada para

Europa e Oriente Médio.

Asa Alimentos - Empresa integrada de produção de aves e

suínos de Brasília, também vislumbra um mercado para a carne

sustentável. A divisão de suinocultura da companhia, por exemplo,

adotou um sistema de criação de porcos que utiliza camas de

palha nas granjas, um sistema que permite produzir com menor

impacto ao meio ambiente e traz ganhos para a qualidade da

carne, já que os animais são mais saudáveis. O cuidado ambiental

ajudou a garantir contratos de fornecimento para as redes

Carrefour e Pão de Açúcar.

Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial

Page 29: Revista Negócio Sustentável
Page 30: Revista Negócio Sustentável

30 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

A decisão de compra e a sustentabil idade das empresas

Pesquisa realizada com exclusividade para a Revista Negócio Sustentável

pela UFR – Unit For Research, confirma que consumidor ainda não exerce

seu poder de compra como forma de incentivar o desenvolvimento sustentável

Consumo consciente

Page 31: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 31

Cada edição da Revista Negócio Sustentável deve

trazer uma pesquisa especial sobre um tema

relacionado a sustentabilidade. Para complementar a

edição de lançamento, o tema escolhido foi a visão

do consumidor como parte interessada no movimento

pela sustentabilidade empresarial. A pesquisa foi

encomendada à consultoria Unit For Research®,

especializada em metodologias interativas, e realizada

por meio de 750 entrevistas com pessoas de todo o

país. O objetivo principal foi verificar junto à população

com acesso à internet (classes AB do critério Brasil), o

conhecimento sobre o conceito de sustentabilidade e a

aplicação desse conhecimento no ato da compra.

Os resultadosA maioria dos consumidores entrevistados diz saber o

que é o consumo consciente e 72% dos consumidores

consideram comprar produtos de empresas responsáveis

e sustentáveis uma forma de construir um mundo

melhor.

Alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza são

as áreas de consumo em que mais são considerados os

critérios de sustentabilidade na hora da compra com

96% dos participantes da pesquisa. Este alto índice

indica uma oportunidade para os chamados produtos

sustentáveis. Como exemplos, podem ser citados os

vegetais orgânicos, produtos biodegradáveis, com

material de reflorestamento ou que consomem menos

embalagem e geram menos resíduos. Ainda segundo a

pesquisa, os consumidores de maneira geral consideram

os produtos que emitem menos poluentes e resíduos

como os que melhor se enquadram no conceito

de sustentabilidade.

Como principais conclusões da pesquisa vale citar

que a maioria dos entrevistados 96% assume

o seu poder de compra, mas 46% consideram

difícil associar consciência e consumo. Outros

54% consideram difícil aplicar o conceito de

sustentabilidade no dia-a-dia.

Sim, eu procuro ser um

consumidor consciente.

Roupas e acessórios

Sim, eu entendo e busco escolher as empresas mais

responsáveis

Sim, mas acho difícil aplicar no

dia-a-dia.

Alimentos e bebidas

Sim, mas acho difícil comprar

com consciência

Você sabe o que é consumo consciente?

Em qual área de consumo suas compras consideram critérios e sustentabilidade das empresas?

Você que entende que consumo consciente e sustentabilidade estão associados?

Não, eu não sei.

Higiene e Limpeza

Não, eu não entendo que as

duas coisas estão associadas

Não sei responder

Consumo consciente

Page 32: Revista Negócio Sustentável

32 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

O papel do consumidorA dificuldade de aplicar o conceito de sustentabilidade ao ato de consumo e a falta de conhecimento do consumidor sobre indicadores sociais e ambientais das empresas são consideradas entraves para o desenvolvimento sustentável. Segundo dados do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, a humanidade já consome 25% a mais de recursos naturais do que a capacidade de renovação da Terra e, se os padrões de consumo e produção se mantiverem no atual patamar, em menos de 50 anos serão necessários dois planetas Terra para atender nossas necessidades de água, energia e alimentos. A mudança nos padrões de consumo é vista como uma das maneiras de evitar esse cenário.

Um meio para que os consumidores possam obter informações sobre empresas ou produtos é a internet. Nela, é possível acompanhar a trajetória de cada empresa, conhecer o Código de Defesa do Consumidor e comparar indicadores de sustentabilidade de cada empresa e até de setores inteiros. Para contribuir, a Fundação Procon de São Paulo criou, no ano passado, uma lista das empresas que mais tiveram problemas com os clientes. A lista, com um total de 2.639 empresas fornecedoras, busca orientar a compra de produtos ou contratação de serviços. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça também lançou um Catálogo Virtual de Educação para o Consumo, que reúne em um site os diversos trabalhos realizados pelos Procons estaduais, por entidades civis, pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública em relação à defesa do consumidor.

O site traz, além do Código de Defesa do Consumidor e da Cartilha do Consumidor, um atlas geopolítico de defesa do consumidor na América Latina e o Guia do Consumidor Estrangeiro. Para ter acesso ao Catálogo Virtual de Educação para o Consumo, basta acessar o site www.mj.gov.br/dpdc e clicar no link Educação para o Consumo.

Sobre a Unit For ResearchA Unit For Research é parceiro estratégico da Revista

Negócio Sustentável em pesquisa e inteligência de

mercado. Conheça melhor as soluções inovadoras e

diferenciadas da UFR através de:

[email protected]

Tel.: (11) 3170 - 3142

Alameda Santos, 1800

Cerqueira César • São Paulo SP

O poder do consumidorSegundo a pesquisadora da Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado de São Paulo, Marta Caputo, os consumidores brasileiros

ainda não estão acostumados a utilizar uma outra poderosa arma

para fazer valer reivindicações a empresas: o boicote. Segundo

ela, o boicote a determinados produtos pode fazer com que as

empresas prestem mais atenção às demandas dos consumidores.

Marta Caputo lembra que a história do boicote é antiga. Um dos

primeiros atos de boicote organizado foi a luta do ativista negro

norte-americano Martin Luther King, que liderou uma campanha

de boicote aos ônibus em Montgomery (Alabama, Estados Unidos),

contra o sistema de segregação racial no transporte público da

cidade. Segundo a pesquisadora, os boicotes se tornaram cada

vez mais populares no mundo a partir da década de 90.

Como conhecer mais sobre as empresas

• Busque informações no Relatório de Sustentabilidade e

compare alguns indicadores que julgar relevantes com os de

outras empresas, de preferência do mesmo setor.

• Você pode olhar, por exemplo, a quantidade de mulheres em

cargos de chefia, de profissionais negros contratados e em cargos

de chefia, ou ainda o percentual de investimento em projetos

de proteção e educação ambiental e no relacionamento com

fornecedores.

• O mais importante, entretanto, é tentar identificar qual o

principal impacto ocasionado pela empresa e que ações estão

sendo realizadas para minimizá-lo.

• Por exemplo, se a empresa for consumidora de cobre, o que

ela tem feito para evitar a compra de material de procedência

duvidosa? A revenda de cobre é um dos principais estimuladores

do roubo de fios nas cidades.

São exemplos ainda:

• Cosméticos: extração de recursos naturais, testes

em animais, embalagens.

• Confecção: condições de trabalho, relações trabalhistas,

uso de materiais ecológicos.

• Alimentos: impactos das monoculturas, relacionamento com

as comunidades de entorno das plantações, fornecedores

em áreas de plantio próximas da Amazônia.

• Celulose: certificação da cadeia de custódia garantem o

plantio e não uso de florestas nativas, questões sobre a

monocultura e a biodiversidade, relacionamento com as

comunidades de entorno.

• Varejo: cuidados na seleção de fornecedores, relações trabalhistas,

estímulo ao consumo consciente nos pontos de venda.

Consumo consciente

Page 33: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 33

O papel das ONGs

AkatuO Instituto Akatu foca suas atividades na mudança de

comportamento do consumidor. Para isso desenvolve ações

em duas frentes de atuação: Educação e Comunicação, com

o desenvolvimento de conteúdos, pesquisas, dinâmicas e

metodologias. O trabalho de educação é desenvolvido junto a

comunidades, funcionários de empresas e instituições de ensino.

Este trabalho é realizado por meio de palestras de sensibilização, da

capacitação de formadores de opinião para serem multiplicadores

do consumo consciente e da sistematização dos conteúdos,

materiais, metodologias e processos utilizados, de modo a levar

este trabalho a uma larga escala.

http://www.akatu.org.br

IdecO Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançou em

2008 a campanha “Mude o consumo para não mudar o clima”,

com ações para disseminar o conceito de consumo consciente

e exigir de empresas e autoridades a elaboração de políticas

públicas que promovam a produção e o consumo sustentável.

Paralelo à campanha de conscientização, o Idec promoveu um

abaixo-assinado entre consumidores para ser enviado ao governo

federal, com o objetivo de cobrar dos órgãos competentes políticas

públicas relacionadas às mudanças climáticas e ao consumo.

http://www.idec.org.br

GreenpeaceO Greenpeace alerta os consumidores sobre a rotulagem

inadequada de transgênicos. O objetivo é cobrar das empresas

a identificarão de produtos com organismos geneticamente

modificados – determinação legal desde 2004. A organização

trabalha para que as empresas se ajustem à legislação, colocando

a informação em todos os seus produtos. A entidade reconhece

que ainda não foram comprovados danos à saúde causados por

transgênicos, embora destaque impactos no meio ambiente como

o aparecimento de ervas daninhas resistentes e a contaminação

genética de lavouras orgânicas. Mas o principal objetivo é que,

com a devida informação na embalagem, o consumidor tenha a

opção de comprar produtos de forma mais consciente.

http://www.greenpeace.org.br

ProtesteA PRO TESTE é uma entidade civil independente, que tem como

objetivo a defesa do consumidor, ajudando-o a fortalecer seu

poder de compra e a conhecer seus direitos. A organização

utiliza testes comparativos e artigos publicados em suas revistas,

orientando e intermediando pendências com fornecedores. A

ONG também encaminha a empresas e governos as reivindicações

e propostas pertinentes.

http://www.proteste.org.br/

Consumo consciente

Page 34: Revista Negócio Sustentável

34 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

A evolução das f inanças sustentáveis no país

Considerar indicadores de sustentabilidade para a concessão de financiamentos e investir em microcrédito

são tendências que já despontam nas carteiras de crédito das instituições brasileiras.

Na busca pela sustentabilidade, as instituições financeiras podem

desempenhar um papel decisivo. Não apenas pela importância

dos ativos financeiros na atividade econômica, mas também pela

necessidade de se proteger dos crescentes riscos financeiros causados

pelas más práticas sociais e ambientais. O processo de incorporação

no mercado financeiro brasileiro também tem se desenvolvido

por meio da criação de políticas e produtos específicos com foco

socioambiental. Cada vez mais, estão disponíveis linhas voltadas aos

créditos de carbono, energia renovável e eficiência energética.

O volume dos chamados investimentos sustentáveis no Brasil

é estimado em cerca de R$ 1 bilhão, representando 0,1% do

patrimônio dos fundos de investimento no país e milhares de

cotistas de dez instituições diferentes.

Os maiores bancos nacionais cada vez mais se comprometem a

seguir critérios socioambientais no financiamento de operações

com custo total acima de US$ 10 milhões. Bancos públicos e

privados buscam formas de garantir a inclusão de indicadores de

sustentabilidade como critério para a concessão de financiamento.

Apenas este ano:

- Foram lançadas as linhas de crédito com foco socioambiental

do HSBC;

- O Unibanco obteve linha de crédito inédita da International

Finance Corporation (IFC), entidade do Banco Mundial que

promove investimento sustentável do setor privado dos

países em desenvolvimento, para financiamento de projetos

nas áreas de energia renovável, eficiência energética e

construção sustentável;

- O BNDES criou o Fundo Brasil Sustentabilidade, primeiro fundo

de investimento do país voltado para o desenvolvimento de

projetos ambientais;

- O Itaú lançou política de crédito com classificação do risco

socioambiental dos clientes corporativos.

Em 2007, o Bradesco anunciou o lançamento de produtos com

foco socioambiental que iriam gerar recursos financeiros para

a Fundação Amazônia Sustentável, além de lançar o Banco do

Planeta, uma área dedicada a centralizar e ampliar todos os seus

projetos e iniciativas socioambientais. A Bolsa de Mercadorias &

Futuros (BM&F) realizou o primeiro leilão público de créditos de

carbono do mundo. O Unibanco, em convênio com o Japan Bank

for International Cooperation (JBIC), criou linha de financiamento

para projetos de comercialização de créditos de carbono. A

Serasa (empresa de análise de crédito) lançou o Rating de

Responsabilidade Ambiental que incorpora questões ambientais

na avaliação de risco de crédito.

O mais sustentável do mundoO ABN Amro Real criou o primeiro fundo de sustentabilidade,

o fundo Ethical. O banco foi um precursor na área e

recebeu o prêmio de instituição financeira mais sustentável

do mundo, segundo o jornal britânico Financial Times. O

Ethical ainda é o maior dos fundos de sustentabilidade,

com mais de 500 milhões de reais em patrimônio líquido.

Com metodologia própria para escolher os papéis das

empresas nas quais vai investir, o índice reúne as ações mais

negociadas da Bovespa e é a principal referência do país.

Finanças

Page 35: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 35

O Banco do Brasil concentrou na Agenda 21 as suas ações de

negócios “com foco no desenvolvimento sustentável, em práticas

administrativas e negociais com Responsabilidade Socioambiental

(RSA) e investimento social privado”. Dentro da gestão de negócios

do BB, fazem parte da Agenda a disseminação dos princípios

e da cultura de Responsabilidade Socioambiental a manutenção

de processos administrativos coerentes com os princípios

de sustentabilidade.

Entre as ações que exemplificam os objetivos da Agenda 21 está o

modo de operar os processos negociais. Foi aprovada em agosto

de 2004 a suspensão de novos créditos a clientes que submetem

seus trabalhadores a formas degradantes de trabalho ou que

os mantenham em condições de trabalho escravo, incluídos em

relação de empregadores e proprietários rurais divulgada pelo

Ministério do Trabalho e Emprego. A decisão também abrange

negativas de financiamentos a clientes envolvidos com exploração

sexual de crianças e com o uso do trabalho infantil.

Como uma política nacional da instituição em termos de finanças

sustentáveis está o Desenvolvimento Regional Sustentável.

O objetivo é sensibilizar, mobilizar e capacitar funcionários e parceiros

do BB para diagnosticar e fomentar as atividades produtivas de

cada região. Segundo o banco, já foram identificadas e estão sendo

trabalhadas mais de 100 atividades produtivas diferentes, como

sistemas agroflorestais, turismo, artesanato, cerâmica marajoara,

aqüicultura, fruticultura, calçados, cotonicultura, confeções,

ovinocaprinocultura, apicultura, horticultura, pecuária de corte

e leiteira, floricultura, mandiocultura, atividades extrativistas,

avicultura e reciclagem de resíduos sólidos. Os projetos recebem

prioridade do banco, dentro da estratégia de desenvolvimento

regional e são financiados, incentivados e desenvolvidos para ser

sustentáveis, ambientalmente, socialmente e economicamente.

A relação entre as instituições financeiras e os valores que

A sustentabilidade pode ser aplicada em várias frentes:

• na relação com os investidores, que dependem

dos recursos dos bancos

• na relação com seus funcionários e fornecedores

• ações exclusivas da administração da instituição

financeira, como a gestão do negócio

e a estrutura física.

desenham a sustentabilidade tem oferecido oportunidades a

diversos grupos e contribuído para o desenvolvimento regional

e nacional. Ela promove a responsabilidade socioambiental na

mesma medida em que consolida a necessidade dos projetos

e empreendimentos sociais de considerar a sustentabilidade

econômica como um pilar importante das suas iniciativas.

Finanças Sustentáveis

- Avalia riscos socioambientais em financiamentos?

- Possui programa de microcrédito produtivo orientado?

- Possui fundos socialmente responsáveis?

- Possui linhas de financiamento socioambientais?

- Comercializa títulos de crédito de carbono?

- Oferece seguros ambientais?

Gestão

- Utiliza critérios socioambientais na seleção de fornecedores?

- Possui relatório para informações socioambientais?

- Divulga emissões de GEE?

- Divulga informações sobre diversidade na força de trabalho?

- Divulga políticas relacionadas à segurança da informação?

- Divulga políticas relacionadas à lavagem de dinheiro?

Fonte: Pesquisa FBDS/07

Pode-se debater a sustentabilidade do setor financeiro a partir de dois aspectos:

Finanças

Page 36: Revista Negócio Sustentável

36 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

1Permear o conceito de

sustentabilidade por

toda a organização.

4Mensurar o valor da

sustentabilidade no

Bottom Line.

7Inovar constantemente,

como novos produtos e

processos.

5Assegurar uso

responsável do crédito

por parte dos tomadores

de empréstimo.

8Equilibrar benefícios

de curto prazo com

necessidades de longo

prazo em setor extremamente

orientado para resultados.

6 Aumentar o valor

dos negócios

socioambientais.

9 Incentivar a inclusão

bancária.

10Mudar a imagem

negativa do setor

diante dos clientes.

2Conscientizar e engajar

os colaboradores no tema. 3Mensurar riscos

socioambientais

em atividades de

financiamento.

Os 10 principais desafios para a sustentabilidade no setor bancário:

Produtos – Iniciativas do Setor BancárioCartões de Crédito Socioambientais – Bradesco – Citi – HSBC - Unibanco

Fundos de Investimentos Socioambientais – Bradesco – Banco do Brasil – Banco Real – CEF – Unibanco – HSBC - Itaú

Títulos de Capitalização Socioambientais – Bradesco - Itaú

Mercado de Carbono – Banco Real – Unibanco

Microcrédito – Banco do Brasil – Real – Bradesco – CEF – Unibanco – Itaú

Empréstimos e Financiamentos Socioambientais – Bradesco – Banco do Brasil – Banco Real – CEF – Itaú (46% com políticas / 33% com

linhas – diversidade)

Seguros Ambientais – Unibanco

O histórico do movimentoAs finanças pensadas no seu aproveitamento social - ou levando-se em conta não apenas a lucratividade - começaram a aparecer nos

anos de 1960. O movimento começou com fundos de investimentos ligados a organizações religiosas até chegar ao que se chama hoje

de investimentos socialmente responsáveis ou SRI (Socially Responsible Investments). Na década de 1990, as instituições financeiras

começaram a ser pressionadas pela sociedade civil a se ocupar da responsabilidade do credor e da forma como eram utilizados os

recursos financeiros. O Fórum Latino-Americano sobre Finanças Sustentáveis (LASFF) destacou nessa época campanhas como a da

RainForest Alliance, que pediam aos depositantes que questionassem os grandes bancos sobre a forma de aplicação dos recursos e

incitavam os clientes a fechar a conta bancária ou cortar o cartão de crédito em repúdio à forma de gestão dos bancos.

Finanças

Page 37: Revista Negócio Sustentável

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Page 38: Revista Negócio Sustentável

38 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

O que é essencial em uma construção sustentável?

A Revista Negócio Sustentável ouviu especialistas da construção civil e pesquisadores para apontar os principais

impactos das construções versus o que mais impacta para que um projeto seja realmente sustentável.

A construção civil desperdiça em média 56% de cimento, 44%

de areia, 30% de gesso, 27% de condutores e 15% de tubos de

PVC e eletrodutos, segundo pesquisa da Escola Politécnica da USP.

Ações para reduzir o desperdício ocupam cada vez mais espaço nos

novos empreendimentos e a atenção agora se volta para os critérios

e iniciativas sustentáveis em todas as etapas da obra: do projeto à

execução, passando pela escolha do tipo e da proveniência dos

materiais e da forma de contratação da mão-de-obra.

Não adianta, por exemplo, pensar em duas camadas de tijolo

para garantir o equilíbrio térmico, se os tijolos serão produzidos

com material de procedência duvidosa. Há economia de

energia, mas contribui-se mais para a degradação do meio

ambiente, já que será utilizado barro em dobro.

Cada vez mais as construções sustentáveis têm sido objetivo de

grandes e pequenos empreendimentos na hora de projetar plantas.

Mas, como tudo que envolve sustentabilidade, é importante avaliar

qual o grau de disposição e possibilidade para que realmente um

empreendimento leve em consideração aspectos ambientais,

econômicos e sociais: o tipo de material utilizado, a forma como

a mão-de-obra é contratada e empregada, como o projeto é

estruturado para que respeite o meio ambiente e aproveite

melhor as condições naturais. Dentro desse contexto, o aspecto

social é um outro importante desafio do setor – a valorização

das pessoas envolvidas, com o cumprimento de leis trabalhistas e

bom relacionamento com a comunidade do entorno.

Há iniciativas que buscam oferecer soluções sustentáveis que

complementem projetos bem pensados de engenharia e

arquitetura, como é o caso do Programa Brasileiro da Qualidade e

Produtividade do Habitat (PBQP-H). O Programa está completando

10 anos e hoje é coordenado pelo Ministério das Cidades. O

objetivo é organizar o setor da construção civil em torno de duas

questões principais: melhoria da qualidade das habitações e

modernização produtiva. Com um espírito bem mais propositivo

do que punitivo, o programa busca a inserção das empresas

no processo produtivo normatizado, garantindo construções

de melhor qualidade, com redução do uso de material e mais

respeito ao meio ambiente.

Arquitetura e Urbanismo

Page 39: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 39

Os principais impactos- RECURSOS

A construção e a manutenção da infra-estrutura

do país consomem até 75% dos recursos

naturais extraídos, sendo a cadeia produtiva do

setor a maior consumidora.

A utilização de madeira extraída ilegalmente,

além de comprometer a sustentabilidade das

florestas representa séria ameaça ao equilíbrio

ecossistêmico.

Os edifícios brasileiros gastam 21% da água

consumida no país.

- ENERGIA

No Brasil, as construções consomem 44%

da energia gasta no país. Sendo 22% em

uso residencial, 14% em comercial e 8% em

prédios públicos. Nos edifícios comerciais, 22%

da energia é gasta com iluminação, 47% com

ar condicionado e 31% em outros usos.

- RESÍDUOS

A quantidade de resíduos de construção e

demolição é estimada em torno de 450 kg/

hab ano ou cerca de 80 milhões de toneladas.

A este total devem ser somados os outros

resíduos industriais formados pela da cadeia:

os canteiros de obras são geradores de poeira e

ruído e causam erosões.

- POLUIÇÃO

A cadeia produtiva da construção contribui

para a poluição, inclusive na liberação de gases

do efeito estufa, como CO2 durante a queima

de combustíveis fósseis e a descarbonatação

de calcário e de compostos orgânicos voláteis,

que afetam também os usuários dos edifícios;

contaminação ambiental pela lixiviação de

biocidas e metais pesados.

Arquitetura e Urbanismo

Page 40: Revista Negócio Sustentável

40 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Com apoio do Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD), a iniciativa busca o

desenvolvimento para toda a cadeia

produtiva do setor da construção civil.

Cerca de 1.300 empresas fornecedoras

já foram certificadas pelo projeto. A

Caixa Econômica Federal já exige a

certificação PBQP-H para a concessão

de financiamentos habitacionais.

Um projeto importante do PBPQ-H é a

normatização da cerâmica vermelha (tijolo)

por ser um segmento que se encontrava

quase completameante fora das normas

no país. Os resultados do trabalho foram

a melhoria na qualidade do produto e

a redução do preço. Uma empresa que

produz em torno de 1.000 milheiros

de tijolos por mês, consegue reduzir

o custo de matéria prima em torno de

R$ 32.000,00 ao ano, conseguindo reduzir

o custo do frete do produto final em torno

de 20%”, conclui um dos coordenadores

do PBPQ-H, Paulo Sérgio Arias.

Para as construtoras, materiais de

construção e obras diretas, a economia

gerada pelo uso destes produtos

normatizados é ainda é maior. Na confecção

de paredes e reboco a economia na massa

e na argamassa utilizadas é de cerca de

50%, além de reduzir os custos com a

limpeza no canteiro da obra já que há

redução de quebra de produtos, entrando

na classificação de obra limpa. “Por isso os

empresários não oferecem resistência e se

interessaram”, avalia Paulo Arias.

Na avaliação dos diretores do projeto, além

de baixar o custo e evitar o desperdício,

outra questão importante é a redução do

passivo ambiental da construção civil. Se

o peso do tijolo reduziu em 20%, é 20%

menos queima, o que aumenta a vida útil

da jazida de argila. Menor uso de argila

significa menos lenha pra queimar os

tijolos, menos transporte, menos poluição.

Evita também o desperdício porque antes

o produto quebrava com facilidade. “Nós

estamos reduzindo o passivo ambiental

em 40%”, avalia Arias. Este pode ser

considerado um dos muitos aspectos e

Certificação cobiçadaEdifícios no Brasil buscam certificado de

“construção verde”. Excelência no uso

de energia e no design ambiental são

características que dão nome à sigla LEED

(Leadership in Energy and Environmental

Design), certificação para edifícios

sustentáveis - residenciais e comerciais -

concedida pelo Conselho de Greenbuilding

dos Estados Unidos. A primeira construção

a obter o cobiçado selo foi uma agência

do ABNAmro Real, em São Paulo.

Para obter o selo LEED é necessário que o

empreendimento obedeça a vários critérios

de sustentabilidade, desde a escolha do

terreno até a entrega do imóvel. Os edifícios

devem apresentar alguns pré-requisitos

que dizem respeito à economia de recursos

naturais como energia elétrica, água e

gás; materiais utilizados na construção e

qualidade interna dos empreendimentos.

Ainda recebem pontuações adicionais

conforme apresentarem novidades.

LEED no Brasil A organização gestora da certificação de

sustentabilidade Leed no País, GBC (Green

Building Council) Brasil, apresentou durante

seminário em São Paulo suas propostas

de adaptação à realidade brasileira dos

requisitos para a obtenção do selo.

Alinhada às novas legislações do País, a

versão nacional da certificação para novas

construções comerciais deverá reconhecer

projetos que privilegiem a acessibilidade

a pessoas portadoras de deficiência, o

aquecimento solar e a redução do consumo

de água e, entre outros.

Os trabalhos de adaptação dos requisitos

começaram em janeiro deste ano e devem

ser concluídos no primeiro semestre de

2009. Enquanto isso, continuam valendo

os requisitos norte-americanos para os

empreendimentos brasileiros que quiserem

obter a certificação.

Os tijolos normatizados são:

• 20% mais leves

• 150% mais resistentes

• gastam 20% menos energia com a queima

Arquitetura e Urbanismo

Page 41: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 41

exemplos de busca pela sustentabilidade

na construção civil, sendo associado

a diversas outras idéias que reduzem

custo, poupam o meio ambiente, trazem

conforto, recorrendo a idéias e materiais

que aproveitem as condições locais, a

força do vento, a insolação e atendam às

necessidades de pessoas e empresas.

Ainda que a preocupação tenha aumentado

em relação à sustentabilidade em toda

a cadeia de produção da arquitetura

sustentável, este é um conceito recente

e que ainda é absorvido em pequenas

doses e não integralmente. Mas, para o

engenheiro norte-americano Tom Paladino,

que é uma autoridade internacional em

construções ambientalmente sustentáveis,

a busca pela sustentabilidade é crescente.

O mais comum, segundo Paladino, é as

Para saber se uma obra é sustentável:- Pesquise o histórico da empresa

construtora e avalie seu comprometimento

com a sustentabilidade. Certificações

e sistemas de gestão indicam cuidado

da empresa com aspectos sociais e

ambientais.

- Procure saber se o imóvel atende às

demandas ambientais do lugar onde ele

será construído. Áreas de mananciais

pedem cuidado extra com o uso da água.

Regiões frias reforçam a importância do

aquecedor solar.

- Visite a obra para conhecer as condições

de trabalho. Um projeto que se pretende

sustentável deve primar pela segurança e

pela saúde dos trabalhadores.

- Fique de olho nas vantagens oferecidas.

Negócios tentadores podem esconder

procedimentos que esbarram na

informalidade.

Para construir- Entre em contato com o Grupo de

Trabalho de Sustentabilidade da Associação

Brasileira dos Escritórios de Arquitetura

para obter orientações ou indicações de

profissionais.

- Procure consultorias que prestam serviço

para construtoras em empreendimentos

que buscam a certificação LEED. Elas

poderão indicar profissionais gabaritados.

pessoas absorverem aquilo que podem

pagar, que interessa a elas e de alguma

maneira irem incorporando esses cuidados

no projeto de seus empreendimentos.

A sua conclusão é que não importa a

motivação, o importante é começar por

algum lugar. “Observar construções

verdes como modelo pode ajudar. Se os

governos acreditarem no conceito poderão

promover incentivos, como redução de

taxas, para esse tipo de obras,”, afirma.

O segredo, para ele, é pensar primeiro

nas necessidades do lugar e do

empreendimento, e pensar nisso

como uma oportunidade de empregar

aspectos sustentáveis desde o projeto.

“É incorporar o conceito às iniciativas

e buscar que as soluções se dêem em

diferentes aspectos.”

Arquitetura e Urbanismo

Page 42: Revista Negócio Sustentável

42 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

O aspecto social na construção civilPouca qualificação, baixa escolaridade, acidentes

e aprendizado na prática.

A construção civil avançou no campo tecnológico, racionalizou

e otimizou o desempenho e busca inserir critérios ambientais

aos processos, mas esquece de inserir a mão-de-obra nos seus

esforços de desenvolvimento. De acordo com a OIT (Organização

Internacional do Trabalho), mais de 33% dos trabalhadores

registrados na construção civil são analfabetos funcionais e,

em geral, desempenham funções auxiliares com pouca ou

nenhuma especialização. Cerca de 67% dos trabalhadores

empregados recebe menos de três salários mínimos, dos quais

34,22% ganham até dois salários mínimos. Apenas 3,61% dos

trabalhadores da construção se enquadram na faixa acima de dez

salários mínimos.

A informalidade é um desafio do setor. Segundo levantamento do

SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado

de São Paulo) e da FGV Projetos, 2 milhões de trabalhadores estão

registrados sob regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Haruo Hishikawa, presidente do Sinduscon-SP, estima que outros

2 milhões acabem trabalhando no setor informalmente. “Como o

setor da construção está em crescimento, as indústrias contratam

muita gente de outros estados”. Se para o operário a situação

não é boa, ao construtor restam também enormes problemas.

A terceirização, a alta rotatividade e a fragilidade dos vínculos

empregatícios tornam difícil para o gerenciador controlar a obra.

Um estudo realizado pela Poli-USP (Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo) revelou as dimensões do desafio: para

que a totalidade dos trabalhadores da construção (entre formais e

informais) tenha uma educação compatível com os quatro primeiros

anos do ensino formal é preciso capacitar meio milhão de pessoas.

Esse número sobe para mais de 1,1 milhão quando se pensa em

cumprir a lei, garantindo o ensino fundamental ou os oito primeiros

anos de ensino aos operários da construção. Segundo o professor

Francisco Ferreira Cardoso, do Departamento de Construção Civil

da Poli-USP, 80% dos trabalhadores do setor têm menos de quatro

anos de estudo e 20% são analfabetos funcionais.

Para piorar, o alto índice de rotatividade do setor impede uma

formação continuada, já que em média 55% dos funcionários

ficam menos de um ano na mesma empresa e em torno de 30%

permanecem até seis meses.

O perfil do trabalhadorHomem, migrante, com baixa escolaridade, exposto ao maior

índice de acidentes do trabalho dentre todos os setores econômicos

e com salários abaixo do mercado. Essa é a cara e a condição do

operário da construção civil. A última pesquisa realizada sobre o

perfil do trabalhador do setor, feita pelo Dieese (Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em 2003,

mostrou que 72,4% dos empregados pela construção não

contribuem para a Previdência Social, em sua maioria têm jornada

de trabalho que excede o limite de 44 horas semanais e ganham

menos de cinco salários mínimos.

O setor é composto, quase totalmente, por trabalhadores do sexo

masculino, com média de 35 anos, faixa etária superior à dos

demais setores da economia. O estudo também comprovou a

importância dos migrantes na construção das metrópoles: 86,1%

dos ocupados pelo mercado do Distrito Federal, e 76,4% dos

trabalhadores de São Paulo nasceram em outras regiões do País.

Os maiores impactosOutras soluções importantes

Cimento – A produção de cimento responde por quase 5% das

emissões mundiais de gás carbônico, principalmente por causa

do clínquer, componente do cimento, cuja fabricação libera na

atmosfera alta quantidade de CO2. Já existem alternativas para

substituir esse componente, como o cimento que utiliza 70% dos

resíduos de indústrias siderúrgicas (sobras da fusão de minério

de ferro, coque e calcário), conhecido como CPIII. O produto

tem, além das vantagens ambientais, maior durabilidade e é

mais barato. Ele está no mercado desde 1952, mas em tempos

de construções verdes, já representa 17% da venda de cimento

no país. No Sul do Brasil, os fabricantes produzem o cimento

pozolânico (CPIV), que emprega resíduos das termoelétricas e tem

desempenho semelhante ao do CPIII.

Arquitetura e Urbanismo

Page 43: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 43

Idéias importantes aos arquitetos e empresasSegundo o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura

• Localização urbana -- A posição de um edifício em relação ao

sol e aos ventos é muito importante e vai determinar várias das

necessidades térmicas dos espaços internos. Há inclusive normas

específicas para determinar o quanto de energia térmica cada

fachada recebe ao longo do dia em cada estação do ano.

• Circulação na região -- Devem ser preferidos locais arejados,

com pouco trânsito e bem servidos em termos de transportes

públicos. Com isto, haverá menos poluição e melhores alternativas

de locomoção.

• Orientação e insolação -- A energia solar é importante,

mas na medida certa. Aqui no hemisfério Sul, o ideal é ter os

ambientes nobres voltados para a face norte, que são frias no

verão e quentes no inverno.

• Proteção contra o sol -- Devem ser planejadas proteções nas

janelas para que não recebam tanto sol no verão. Pode-se usar

varandas, brise-soleils, persianas ou vegetação.

• Proteção contra ventos frios -- O lado sul da habitação deve

ser reservado a ambientes transitórios como banheiros, despensas,

cozinhas e outros cômodos que necessitem de poucas aberturas

para o exterior. Aqui no Brasil, especialmente na região Sul e

Sudeste, o vento frio vem predominantemente do sul, e deve-se

prever proteções como vegetação ou muros caso não se possa

usar esta face para os ambientes já citados. Com isto diminui-se a

necessidade de calefação.

• Fachadas -- Áreas envidraçadas causam grandes ganhos térmicos

na estação quente e perdas térmicas muito consideráveis durante

a estação fria, o que implica sistemas de climatização adicionais

para corrigir o efeito. Como sugestão, a área envidraçada de um

ambiente não deve ultrapassar 15% de sua área de pavimento.

Madeira certificada – Para o consumidor, atacadista ou varejista, a

madeira certificada é uma garantia de que o produto não vem de

floresta nativa e foi plantado para consumo. Para isso, o processo

de certificação assegura a manutenção das plantações, bem

como o emprego e a atividade econômica que a ela proporciona,

pois contribui para o desenvolvimento social e econômico das

comunidades nas quais a atividade florestal se insere. O FSC,

certificação do Conselho Mundial de Manejo Florestal (Forest

Stewardship Council ) é hoje o selo verde mais reconhecido

em todo o mundo, com presença em mais de 75 países e em

todos os continentes. O selo é atualmente o único sistema de

certificação florestal independente que adota padrões ambientais

internacionalmente aceitos e representa o melhor compromisso

disponível de que a atividade não acarreta destruição de florestas.

A área de florestas certificadas no mundo cresceu cerca de 10

milhões de hectares no ano passado, e atingiu a marca de 94

milhões de hectares, em 74 países. Cresceu também o número

de certificados para a cadeia de custódia, ou seja, de empresas

que possuem o selo verde porque processam e comercializam

produtos feitos com matéria-prima de floresta certificada ou de

origem controlada segundo as normas do FSC. Em 2007, eram

5400 empresas certificadas no mundo todo, hoje já somam 7700.

O Brasil é atualmente o país com maior área de florestas e o maior

número de produtos certificados pelo FSC, com cinco milhões de

hectares de florestas certificadas e 212 certificados de cadeia de

custódia. Estima-se que, no mundo, o comércio de produtos com

o selo FSC tenha movimentado cerca de 20 bilhões de dólares

em 2007.

Arquitetura e Urbanismo

Page 44: Revista Negócio Sustentável

44 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Arquitetura e Urbanismo

• Iluminação natural -- Prefira áreas

iluminadas naturalmente para minimizar o

uso de iluminação artificial.

• Lâmpadas adequadas -- Opte por

lâmpadas de baixo consumo e procure

usar iluminação localizada, colocando luz

só onde seja de fato necessária.

• Isolamento térmico -- A idéia é manter

uma temperatura constante no interior

do edifício, evitando perdas de calor no

inverno e ganhos de calor no verão. Prefira

materiais de isolamento com baixo índice

de condutibilidade térmica (U-value) e com

baixo teor de energia incorporada (energia

consumida desde a extração da matéria

prima até ao produto final). Em termos de

alvenaria, os tijolos de barro maciço são

uma ótima opção, já que não podemos

mais usar paredes de taipa de pilão como

nossos colonizadores.

• Cores -- As cores das fachadas e das

coberturas influenciam diretamente o

conforto térmico. Considere que as cores

claras não absorvem tanto calor como

as mais escuras: uma fachada branca

absorve só 25% do calor do sol enquanto

que a mesma fachada na cor preta pode

absorver até 90% de calor.

• Caixilhos e vidros -- Em termos de

conservação de energia, dê preferência

para vidros fabricados de forma a

promover redução da transmissão térmica.

Vidros duplos são indicados do ponto de

vista de conservação de energia, mas é

conveniente usar caixilhos com grelhas de

ventilação, para facilitar a renovação do ar

sem necessidade de exaustão mecânica.

• Materiais de construção -- Prefira os

de baixo impacto ambiental, não só na sua

produção mas também ao longo da sua

vida útil. Informe-se sobre a questão da

reciclagem, prefira aqueles que utilizam

material reciclado e/ou que geram resíduos

não agressivos ao ambiente e que possam

ser reciclados posteriormente.

• Cobertura -- Verifique que a

cobertura do edifício tenha isolamento

adequado em relação ao calor (poderá

fazê-lo através da FTH). Escolha um

isolamento durável e resistente à água,

preferencialmente colocado sobre uma

camada impermeabilizada logo acima da laje.

• Isolamento do solo -- No pavimento

térreo e em todos os pisos que tenham

contato direto com o solo, opte por

materiais resistentes à água. Se a região

for de clima frio, cuide do isolamento

térmico também, usando materiais que

evitem perdas térmicas ou então use

porões ou caixões perdidos.

• Ventilação -- Uma edificação com

ventilação insuficiente poderá reter

umidade do ar, afetando o conforto

e até mesmo a saúde dos habitantes.

Os caixilhos devem ter dispositivos que

permitam ventilação ou então deve existir

um sistema de renovação mecânica de ar.

• Energia renovável -- Procure usar

equipamentos que funcionem à base de

energia renovável. Algumas sugestões:

- Coletores solares térmicos -- Captam a

energia do Sol e a transformam em calor,

poupando até 70% da energia necessária

para o aquecimento de água.

- Painéis solares fotovoltaicos -- Por meio

do efeito fotovoltaico a energia do

sol é convertida em energia elétrica.

Podem ser utilizados inclusive em locais

isolados, com ou sem rede elétrica ou

como sistemas ligados à rede.

- Bombas de calor geotérmicas -- Sistemas

que aproveitam o calor do interior da

terra para o aquecimento do ambiente.

- Mini-turbinas eólicas -- Geram eletricidade

a partir da energia do vento. Muito usadas

nos EUA e na Europa, podem reduzir o

consumo de eletricidade de 50% a 90%.

- Sistemas de aquecimento a biomassa --

A biomassa pressupõe o aproveitamento

da matéria orgânica (resíduos das

florestas, agricultura e combustíveis).

Pode ser utilizada, por exemplo, em

sistemas de aquecimento representando

importantes vantagens econômicas

e ambientais.

• Água -- Use louças sanitárias que

funcionem com pouca água e instale

sistemas de regulagem do fluxo de água

nas torneiras. Se vai construir e tem

terreno disponível, existe a possibilidade

de usar mini-estações de tratamento de

água ou cisternas de armazenamento de

águas pluviais, para posterior utilização

em descargas não potáveis como

jardim, bacias sanitárias ou lavagem de

automóveis. Além de diminuir o consumo

de água da rede pública, a retenção de

águas pluviais dentro do lote diminui o

volume de água jogado nas vias públicas,

diminuindo as enchentes comuns nas

áreas urbanas no Brasil.

• Lixo -- Em condomínios preveja espaço

destinado à separação de resíduos

domésticos para facilitar a reciclagem.

Ao construir, procure adotar ao menos

algumas destas posturas. É muito mais caro

reformar um edifício com novos princípios

do que aplicá-los logo a partir do projeto.

A redução do consumo de energia e a

diminuição de resíduos lançados no meio

ambiente beneficiam a todos, inclusive o

proprietário do imóvel.

Page 45: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 45

As principais questões sobre a Sustentabilidade, respondidas pela Consultoria Apoena Sustentável.

Envie suas perguntas sobre os mais variados temas

relacionados à Sustentabilidade, através do e-mail:

[email protected]

Com o com o apoio de nosso Conselho Editorial, selecionaremos

sempre 2 perguntas que serão respondidas pela Apoena

Sustentável e publicadas na revista impressa.

Outras perguntas que também sejam de interesse amplo para

os leitores serão respondidas e estarão disponíveis para consulta

no site www.negociosustentavel.com.br

Para saber mais ou entrar em contato com a Apoena

Sustentável, nossa parceira nesta Seção, acesse:

www.apoenasustentavel.com.br – (11) 3079-0312.

Page 46: Revista Negócio Sustentável

46 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Segurança no trabalho e o cuidado com o públ ico interno

500 mil acidentes e 2 mil mortes por ano mostram um país com empresas

que ainda precisam evoluir para se tornar sustentáveis

Gestão de pessoas

Page 47: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 47

Dados do Anuário dos Trabalhadores

2007, divulgado este ano e produzido

pelo Departamento Intersindical de

Estatística e Estudos Socioeconômicos

(Dieese) em parceria com o Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE), mostram que

são registrados cerca de 500 mil

acidentes de trabalho por ano no

país, com mais de 2 mil mortes.

De acordo com dados da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil

ocupa o 4º lugar em número de mortes

em acidentes de trabalho, com 2.503

óbitos. O país perde apenas para China

(14.924), Estados Unidos (5.764) e

Rússia (3.090). As principais causas são

o descumprimento de normas básicas

de proteção aos trabalhadores e más

condições nos ambientes e processos de

trabalho.

Em tempos em que os debates e as ações

sobre sustentabilidade avançam tanto no

Brasil e no mundo, principalmente com

o aumento da preocupação com o meio

ambiente e com os modos de produção

ambientalmente responsáveis, a segurança

dos trabalhadores ainda depende da

garantia da aplicação das leis básicas e da

negociação constante com instâncias que

representam os empregados. As taxas de

acidentes no Brasil, apesar de estarem em

queda, ocupam lugar de destaque até em

comparação com outros países latino-americanos.

As leis brasileiras não deixam margem para

que os empresários ofereçam projetos

e tenham atitudes que beneficiem seus

trabalhadores? Ou, ao contrário, o Brasil

promove mudanças através da implantação

de leis mais detalhadas do que as existentes

em muitos países desenvolvidos? O tema é

complexo e possivelmente envolve todos

os elementos citados e muitos outros

aspectos.

A prevenção de acidentes está ligada a

mudanças de processo, enclausuramento

de máquinas perigosas, redução da

fonte: Anuário Brasileiro de Proteção 2007

exposição a barulho, poeira e substâncias

tóxicas, entre uma série de outras medidas.

Além disso, a prevenção de acidentes deve

ser uma política dentro de toda a empresa e

não apenas preocupação e responsabilidade

de comissões específicas.

A identificação dos setores econômicos

em que há maior incidência de acidentes

norteia o planejamento das ações de

fiscalização. Dados do Anuário 2007,

que dividem os acidentes em diferentes

atividades econômicas, mostram novos

setores como os principais causadores de

acidentes e doenças ocupacionais.

O setor da construção civil e a indústria

são históricos causadores de acidentes de

trabalho, mas atualmente, a área de serviços

assumiu a posição. “Principalmente micro

e pequenas empresas, porque os registros

mais comuns encontrados na Previdência

Social são relacionados às doenças de

Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e

Distúrbios Osteomoleculares Relacionados

ao Trabalho (Dort), ocasionadas por

posto de trabalho inadequado”, afirma

o representante do Conselho Federal de

Engenharia, Arquitetura e Agronomia

(Confea) e diretor técnico da Sociedade

Brasileira de Engenharia de Segurança,

Jaques Sherique.

Sherique ressalta que o perfil das doenças

do trabalho tem mudado conforme o

avanço das tecnologias e que os principais

registros do passado, ligados ao manuseio

do chumbo, do algodão e de minerais,

hoje dão lugar aos problemas relacionados

à ergonomia. “O maior número de

registros está ligado a doenças com o uso

Por que em um país que possui reconhecimento internacional por avanços importantes em sustentabilidade, os requisitos básicos

de segurança e saúde do público interno ainda são ignorados?

Gestão de pessoas

Page 48: Revista Negócio Sustentável

48 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

do aparelho esquelético, quando o trabalhador é obrigado a ter

um esforço muito grande. Casos que poderiam ser resolvidos

de forma simples, com um pouco de boa vontade, estudo de

ergonomia e adaptação das estações de trabalho.”

As empresas também são classificadas de acordo com o seu risco e

entre as áreas de maior riscos estão metalurgia, curtume, empresas

que lidam com alta tensão e com mercúrio. “A construção civil,

ainda merece atenção especial porque concentra grande número e

muitas possibilidades de ocorrerem tipos diferentes de acidentes”,

ressalta Lurdes Carvalho, técnica em segurança no trabalho que

atua em uma empresa privada do Rio Grande do Sul. Mas, para

a especialista, há uma questão de fundo neste tema: de quem é

a responsabilidade pelo trabalhador depois que ele retorna do

acidente? Das empresas ou exclusivamente da Previdência Social?

pergunta Lurdes. Ela acredita que as conseqüências do trabalho e

do risco gerado por ele devem ser compartilhados, principalmente

trazendo as empresas para assumir a sua parte.

Segundo estimativas da OIT, os casos de acidentes e doenças

ocupacionais chegam a comprometer 4% do PIB mundial. Em um

terço desses casos, cada acidente ou doença representa a perda

de quatro dias de trabalho.

“É mais fácil responsabilizar uma empresa por poluir um rio do que

pelas conseqüências causadas pelo trabalho a um funcionário”,

acredita Lurdes Carvalho

Qual a relação entre legislação trabalhista e a sustentabilidade de uma empresa?

Quais são os caminhos para que as empresas realizem de fato

ações de responsabilidade social que beneficiem seu público

interno e sejam mesmo sustentáveis? Cumprir a lei é fazer

responsabilidade social, ainda que não de forma espontânea, já

que a legislação brasileira tende a ser socialmente responsável

e muitas vezes mais completa do que em muitos países

desenvolvidos. Mas as empresas socialmente responsáveis

vão além da legislação, buscando alternativas para promover

a qualidade de vida e o bem o estar de seus funcionários,

oferecendo um ótimo ambiente para se trabalhar.

Além de iniciativas próprias das empresas para regular o trabalho

e garantir a segurança do seu público interno, a incorporação

de sistemas de gestão e de normas internacionais e obtenção de

certificações podem contribuir para garantir o cumprimento das

leis e promover outras práticas responsáveis e para alterar a cultura

do país. Segundo os dados do Anuário Brasileiro de Proteção,

478 empresas já estão certificadas em Segurança e Saúde do

Trabalho (SST). São Paulo possui hoje 194 empresas certificadas,

o Rio de Janeiro, 53 empresas, e Minas Gerais, 66 empresas.

A busca de melhorias deve ser o principal foco da

implantação de um sistema de gestão e conseqüente

certificação em Saúde e Segurança no Trabalho.

Implantar um sistema de gestão em Segurança e Saúde

do Trabalho exige profissionais especializados e capazes

de adaptá-lo à realidade da organização. Segundo os

especialistas, o foco deve ser a busca de melhorias para a

empresa e não a certificação. A certificação, inclusive, não é

uma obrigatoriedade e muitas empresas optam por implantar

apenas o sistema de gestão. O engenheiro químico e de

Segurança do Trabalho e consultor da área de Segurança e

Saúde, Elisio Carvalho Silva, concorda e ressalta que o sistema

de gestão e a certificação têm objetivos distintos. “O sistema

de gestão em SST tem o propósito de reduzir ou eliminar os

acidentes do trabalho. A certificação, por outro lado, tem a

finalidade de avaliar se um determinado processo está em

Gestão de pessoas

Page 49: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 49

conformidade com uma norma”, afirma. Os benefícios que o

sistema de gestão em SST podem trazer à organização vão desde

a redução no número de acidentes e doenças do trabalho até um

melhor relacionamento com o mercado externo.

O engajamento das partes interessadas também é fundamental

para a continuidade e manutenção do sistema de gestão e para

a busca de uma certificação. De acordo com a engenheira civil e

de Segurança do Trabalho e diretora de Pesquisa e Pós-Graduação

do Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba (Cefet/PB),

Nelma Chagas de Araújo, isto ocorre porque a implantação de um

sistema envolve pessoas e nem todas têm a mesma percepção

quanto à sua importância. Para implantar um sistema de gestão

em SST, há normas e diretrizes que devem ser seguidas, e é

fundamental o envolvimento das lideranças da empresa.

Posteriormente à implantação do sistema de gestão e sua

adequação à realidade da empresa, esta pode optar por obter ou

não a certificação. Em caso positivo, a empresa deve contratar um

organismo independente para auditá-la e certificá-la. A norma

mais utilizada em todo o mundo para certificação em SST é a

OHSAS 18001, um Sistema de Gestão voltado para a Saúde e

Segurança Ocupacional, que nasceu em 1998. A OHSAS 18001

especifica os requisitos para um sistema de gestão da SST, para

permitir que as organizações controlem de forma mais eficaz

seus riscos de acidentes e doenças ocupacionais, auxiliando-as a

alcançar seus objetivos.

A SA8000 (Social AccountAbility 8000)

é uma outra certificação, que abrange

requisitos que vão além da SST e

buscam critérios de responsabilidade

social e, por isso, pode se tornar

complementar à obtenção da OHSAS.

“O coração da SA8000 é acreditar que

todos os lugares de trabalho devem

ser geridos de forma que os direitos

humanos básicos sejam assegurados

e que a gerência esteja preparada a

assumir esta responsabilidade”, afirma

Yehuda Dror, gerente regional da

DNV Brasil, uma das autorizadas pela

Social Accountability International –

SAI, criadora da SA8000, a conduzir

auditorias e emitir certificados

credenciados.

Há ainda as Diretrizes da OIT sobre

sistemas de gestão em SST (ILO-OSH

2001), que não são usadas para

certificação, mas sim como um guia para a implantação do

sistema de gestão.

O fato é que as empresas estão longe de ser sustentáveis,

enquanto as leis não são cumpridas plenamente e os

trabalhadores não estão seguros para exercer suas funções.

Rati�cação de convenções da oit sobre o trabalho e o número de países que as ratificam - Brasil 2007

ConvençãoBrasil

ratidicaN° de países que ratificam

29

87

98100

105

111

122

135138

141

148

151

154

158

168

trabalho forçado ou obrigatórioliberdade sindical e a proteção do direito sindicalaplicação dos princípios do direito de sindicalização e de negociação coletiva

igualdade de remuneração de homens e mulheres trabalhadores por trabalho de igual valor

abolição do trabalho forçado

discriminação em matéria de emprego e profissão

política de emprego

sim 171

147156

163

167

165

96

79

148

40

43

44

38

34

7

simsim

simsim

sim

simsim

sim

sim

sim

sim

denúncia

não

não

proteção e facilidades a serem dispensadas a representantes de trabalhadores na empresaidade mínima de admissão a emprego

organização dos trabalhadores rurais

relações de trabalho na administração pública

negociação coletiva

término da relação de trabalho por iniciativa do empregador

fomento de emprego e a proteção contra o desemprego

proteção dos trabalhadores contra os riscos profissionais devidos à contaminação do ar, o ruído e as vibrações no local do trabalho

Fonte: OIT. Elaboração: DIEESEobs.: a) convenção é um instrumento sujeito a ratificações pelos países-membros da Organização e, uma vez ratificada, reveste-se da condição jurídica de um tratado internacional, isto é, obriga o Estado signatário a cumprir e fazer cumprir, no âmbito nacional, as suas disposições; b) Posição em 9 de abril de 2007

O que é a OHSAS?

OHSAS é uma sigla em inglês para Occupational Health and

Safety Assessment Series, cuja tradução é Série de Avaliação de

Saúde e Segurança Ocupacional. A OHSAS 18001 consiste em um

sistema de gestão, assim como a ISO 9000 e a ISO 14000, porém

com o foco voltado para a saúde e segurança ocupacional. Assim

como esses sistemas de gerenciamento ambiental e de qualidade,

o sistema de gestão de segurança e saúde ocupacional também

possui objetivos, indicadores, metas e planos de ação. A OHSAS

18001 é uma ferramenta que permite que uma empresa atinja e

sistematicamente controle e melhore o nível do desempenho da

Saúde e Segurança do Trabalho por ela mesma estabelecido.

A implantação da OHSAS 18001 retrata a preocupação da empresa

com a integridade física de seus colaboradores e parceiros. O

envolvimento e participação dos funcionários no processo de

implantação desse sistema de qualidade é, assim como outros

sistemas, de fundamental importância. A especificação OHSAS

18001 assegura a conformidade com os atuais requisitos legais,

reduzindo o risco de sanções e ações judiciais.

Gestão de pessoas

Page 50: Revista Negócio Sustentável

50 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Os benefícios do OHSAS 18001 - A norma OHSAS 18001 é um

referencial que contém requisitos para sistemas de gestão de

segurança e saúde no trabalho desenvolvida em conjunto por um

grupo de organismos de certificação internacionais, organismos

de normalização e outras partes interessadas. Permite às

organizações gerir riscos operacionais e melhorar o desempenho,

orientando a gestão dos aspectos de segurança e saúde no

trabalho de forma mais eficaz, tendo em grande consideração

a prevenção de acidentes, redução de riscos e o bem-estar dos

1Indicar um coordenador

que irá acompanhar

todos os trabalhos

relacionados à implantação do

sistema de gestão.

4Estruturar as equipes de

trabalho que participarão

da implantação do

sistema. Formar o Conselho

Diretor, representando a direção

da empresa, o Comitê Executivo,

representando colaboradores, e

grupos multifuncionais.

7Realizar auditorias

internas, com os

colaboradores da

empresa devidamente treinados,

efetuando possíveis ajustes no

sistema de gestão de SST.

5 A empresa deve

oferecer os treinamentos

necessários, que podem

incluir palestras de motivação

para direção e funcionários,

cursos sobre interpretação da

norma, formação de auditores

internos, entre outros.

8Certificar-se. A

certificação é realizada

por um Organismo

Certificador Independente, após

a adequação e conformidade do

sistema de gestão à OHSAS 18001.

6 A empresa deve

adequar ou criar a

Política de Segurança e

Saúde no Trabalho, a estrutura

organizacional e o Sistema de

Gestão da SST.

9 Após a obtenção da

certificação, a empresa

deve sanar eventuais

deficiências que possam

comprometer a manutenção

da certificação e a melhoria

contínua do sistema.

2Estabelecer a política da

empresa, identificando

os riscos da atividade e

os requisitos legais pertinentes.

3Elaborar o Plano de

Implantação, baseado na

análise crítica. O plano deve

conter ações a serem realizadas,

cronograma da implantação e

previsão do prazo de certificação.

funcionários. O resultado é a melhoria significativa da segurança

do funcionário e da qualidade do ambiente de trabalho porque as

responsabilidades são definidas e todos são preparados para lidar

de forma eficaz com quaisquer riscos futuros.

São exemplos de empresas certificadas com a OHSAS

Avon, Alcoa, Belgo, Cemig, Klabin, Perdigão, Petrobrás,

Philips, Samarco, Suzano, Votorantim, entre outras.

Informações do Anuário Brasileiro de Proteção, 2008.

Check List: Como implementar um Sistema de Gestão de Saúde e Segurança no Trabalho

Para saber mais:Alguns organismos certificadores no Brasil:

BRTÜV, BSI Brasil, BVQI – Bureau Veritas Quality International.

DNV – Det Norske Veritas Certificadora Ltda.

DQS do Brasil.

FCAV – Fundação Carlos Alberto Vanzolini.

LRQA – Loyd’s Register Q.A.

SAS Certificadora.

SGS ICS Certificadora Ltda.

Gestão de pessoas

Page 51: Revista Negócio Sustentável

Ser uma empresa líder e sustentável.

Esse é o novo

desafi o do mundo dos negócios.

Liderança sustentável.

Rua Ministro Nelson Hungria, 239, cj. 15 - Real Parque - 05690-050São Paulo - SP - Tel.: 11 3755-5520 - www.franquality.com.br

Hoje ser uma empresa sustentável e 100% responsável não se restringe a

apenas fazer a sua parte pelo meio ambiente. Suas lideranças têm o desafi o

de aplicar e multiplicar os conceitos de sustentabilidade também nas esferas

social e econômica.

Com o Programa de Liderança para Sustentabilidade, a Franquality tem

como objetivo sensibilizar os líderes, ajudá-los a desenvolver competências

específi cas, identifi car oportunidades e dar suporte para implantar projetos

que tornem as organizações mais sustentáveis.

A Franquality, consultoria especializada no desenvolvimento de lideranças,

ajuda as empresas a aumentar o impacto dessas idéias no resultado dos

negócios da organização e oferece suporte aos seus líderes para enfrentar

esse novo desafi o.

Page 52: Revista Negócio Sustentável

52 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Snacks

Igualdade social Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)

divulgado em setembro indica que 13,8 milhões

de brasileiros subiram de faixa social

entre 2001 e 2007. Desse total,

10,2 milhões saíram da classe

de renda baixa. Os dados são

da Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios,

de 2007.

Educação e retrocesso

A mesma pesquisa mostrou que

14 milhões de pessoas no país

que não sabem ler nem escrever

um bilhete simples.

Diversidade

Estudantes de 5.500 escolas estaduais

de São Paulo aprenderão, a partir de outubro,

a respeitar as opções sexuais com o projeto Diversidade. Cada escola receberá

DVDs com histórias de jovens que sofrem discriminação e livros sobre o tema.

Meio ambiente e transparência

O projeto de despoluição do Rio Tietê, em São Paulo, já custou quase US$ 1,5 bilhão, desde 1992.

Em Seul, capital da Coréia do Sul, um projeto semelhante custou quatro vezes menos e,

apoiado por políticas públicas, o rio já está despoluído.

Page 53: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 53

O papel de cada um

Segundo a Sabesp, quase a metade

do lixo recebido pelo Tietê vem das ruas.

Snacks

Qualidade de vida

51% dos brasileiros não estão satisfeitos com a qualidade

de vida na sua cidade, segundo pesquisa realizada com 1,5 mil

pessoas em oito capitais brasileiras. Em São Paulo, o número

de insatisfeitos sobe para 70%.

Iniciativa

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate

à Fome (MDS) vai disponibilizar R$ 2,2 milhões

para implantar feiras livres e mercados

populares. O objetivo é acelerar a

superação da pobreza e das

desigualdades sociais

no meio rural.

Futuro

Dossiê Universo Jovem, produzido

pela MTV Brasil, teve como tema principal

a sustentabilidade: apenas 17% do público

parece comprometido e seis em cada

dez jovens das classes de A a C

não sabem definir sustentabilidade.

Page 54: Revista Negócio Sustentável

54 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Muito se tem comentado - na imprensa

falada e escrita, em seminários,

congressos, e na doutrina - a respeito da

importância da governança corporativa e

da sustentabilidade na vida das empresas.

Neste artigo, demonstramos que o

planejamento tributário - visto como parte

integrante do planejamento estratégico -

agregará valor (no curto, médio e longo

prazos) aos acionistas/cotistas e demais

interessados (stakeholders), bem como

ajudará as empresas a se tornar mais

sustentáveis e com menos riscos, no

contexto do que preceituam os princípios

da boa governança corporativa.

Existe uma convergência natural entre

sustentabilidade e a aplicação das práticas

de governança corporativa. Do ponto

de vista econômico, podemos afirmar

que não existe sustentabilidade sem

lucratividade. A possibilidade de crescer

e se desenvolver está intrinsecamente

associada à capacidade de gerar lucros

que possam ser reinvestidos. É a lógica do

desenvolvimento contínuo.

O sistema tributário nacional é um conjunto

de leis e princípios que impõem, às

empresas e às pessoas físicas, uma série de

tributos que servirão para viabilizar os fins

sociais, econômicos e políticos do Estado.

A tributação tem o papel de garantir que o

Estado exerça o seu papel – pois, à míngua

de recursos ele não poderia oferecer aos

indivíduos o mínimo existencial a que

fazem jus como cidadãos, em termos de

saúde, educação, transporte, habitação,

segurança, etc.- mas deve estar limitada

pelo direito que cada contribuinte tem de

organizar e desfrutar de seu próprio patrimônio.

Surge, então, o planejamento tributário.

Planejamento tr ibutár io, governança corporat iva e sustentabi l idade

O planejamento tributário encontra,

na doutrina brasileira, as mais variadas

definições. Entretanto, visando simplificar,

dizemos que, com o planejamento

tributário, a empresa busca identificar

a hipótese de incidência de tributos

mais benéfica (que implique em menos

desembolso de recursos financeiros), a

fim de permitir que as suas atividades

operacionais possam ser beneficiadas por

redução de carga tributária ou até por

isenção de tributos.

A doutrina chama tal comportamento

de elisão (planejamento tributário), em

oposição à ação ilícita (ilegal) de alguns

contribuintes que recebe o nome de evasão

(sonegação). No caso desta última, existe

subtração parcial ou total do pagamento

do tributo devido, adotando-se condutas

fraudulentas ou omissivas. Já na hipótese

da elisão, a conduta do contribuinte é

legítima. Ele procura, através da utilização

de alternativas negociais, jurídicas e

contábeis lícitas, eliminar, reduzir ou

retardar o desembolso de tributos.

É inegável que a complexidade e o

dinamismo da legislação tributária

brasileira e a sua crescente sofisticação

têm ensejado a necessidade de as

empresas organizarem seus negócios sob

apropriado planejamento tributário. A

carga tributária que recai sobre as empresas

é considerada como uma das mais altas

do mundo. Logo, para o cumprimento

eficiente e eficaz das obrigações fiscais, o

planejamento e organização das empresas

são imprescindíveis, tanto para se evitar

possíveis questionamentos por parte das

autoridades fiscais, como para permitir

uma razoável economia tributária.

Portanto, a empresa eficiente e sustentável,

do ponto de vista tributário, será aquela

que busca identificar, com a indispensável

antecedência, as alternativas legais e

tributárias menos onerosas para atingir seus

objetivos empresariais. Lembramos que,

do ponto de vista dos acionistas/cotistas,

constitui obrigação da alta administração

da empresa planejar seus negócios,

com vistas a aumentar - de maneira

contínua, perene e sustentável - as suas

receitas e reduzir seus custos (inclusive,

os tributários), visando torná-la cada vez

mais lucrativa, obviamente respeitando os

princípios da boa governança corporativa.

Como disse Setúbal, do ponto de vista

econômico, não existe sustentabilidade

sem lucratividade.

Um dos princípios da boa governança

corporativa é que o conselho de

administração tem de prover a orientação

estratégica da empresa, cobrindo aspectos

de curto, médio e longo prazos. No tocante

ao último, deve-se considerar os temas

da sustentabilidade. O planejamento

tributário, como mitigador de riscos e

captador de oportunidades de redução de

carga tributária deve ser visto como parte

integrante do planejamento estratégico da

empresa, sendo uma das formas de torná-

la mais lucrativa e sustentável.

Artigo

Arnaldo Marques de Oliveira Neto Sócio-Diretor Performance Alliott Brasil Consultoria [email protected] [email protected]

Page 55: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 55

Quando a atuação das empresas sobre o meio ambiente vai além dos l imites tradicionaisDo ponto de vista dos recursos naturais

podemos afirmar que o Brasil é uma potência

de primeira grandeza. Para onde olharmos,

seja para a água doce, florestas, biodiversidade,

terras agricultáveis ou minérios, vamos

encontrar números significativos. Cuidar

bem desse patrimônio significará, cada vez

mais, uma questão estratégica e um grande

diferencial para o país. Será que estamos

tratando bem esse imenso patrimônio? A

quem cabe tal responsabilidade?

Dadas as dimensões e os desafios que tal

tarefa representa, todos necessariamente

temos um papel a cumprir. Ou seja, tal

responsabilidade não é exclusiva do estado,

da iniciativa privada ou da sociedade civil.

É, sim, de todos. E a eficiência das soluções

tende a aumentar quando as soluções são

integradas e compartilhadas entre esses

vários grupos.

Boa parte das empresas tem adotado

práticas de excelência em gestão ambiental

por perceber que, além de atender às

necessidades legais e evitar riscos de

autuação, tais práticas trazem vantagens

competitivas, agregam valor à imagem

e representam uma contribuição para a

sociedade como um todo.

Com o passar do tempo foi ficando claro

que boa parte do impacto ambiental das

empresas acontece antes das matérias

primas chegarem às suas fábricas e isso tem

motivado a ampliação das ações para toda

a cadeia produtiva, disseminando valores

ligados à sustentabilidade e identificando se

seus fornecedores conhecem e controlam

seus impactos sobre o meio ambiente.

Entendendo que tal informação é relevante

para os seus negócios, as brasileiras Vale e

Celesc (Empresa Elétrica de Santa Catarina),

em conjunto com outras 29 empresas, estão

verificando, através do Carbon Disclosure

Project, o padrão de emissões de gases de

efeito estufa nas suas cadeias produtivas e a

existência de ações para cuidar da questão.

O Projeto segue o princípio de que empresas

responsáveis devem cuidar dos seus impactos

e informar a sociedade, com transparência,

sobre suas ações; também visa ajudar a

entender melhor o clima, os impactos das

cadeias produtivas e servir de referência para

avaliar o grau de risco dos investimentos.

Por entender a potencialidade da atuação

das empresas ao longo da sua cadeia

produtiva, o Ministério do Meio Ambiente,

reuniu várias empresas na FIESP, em São

Paulo, na tentativa de adotar medidas mais

efetivas para combater o desmatamento

da Amazônia. Durante o encontro, o

Ministro Carlos Minc enfatizou que

as empresas que compram madeira

proveniente de fornecedores que praticam

o desmatamento ilegal são co-responsáveis

por tal ato, co-responsabilidade essa

prevista na Política Nacional de Meio

Ambiente (Lei Federal 6.938/81).

Outra forma de atuação das empresas é o

estabelecimento de uma agenda comum

com outras empresas para tratar variáveis

socioambientais comuns a suas cadeias

produtivas. Tal estratégia apareceu entre

as propostas de atuação de empresas

durante a Conferência internacional do

Instituto Ethos, realizado em maio de

2008. Um exemplo desse tipo de atuação

foi a criação do ARES – Instituto para

o Agronegócio Responsável, formado

pelos principais representantes do

agronegócio brasileiro para tratar de forma

conjunta os impactos socioambientais das

suas atividades.

Além do aumento da responsabilidade

com relação à origem das matérias-primas

e materiais consumidos pelas empresas,

percebe-se que há também uma tendência

de preocupação com os resíduos pós

consumo que, apesar de ainda estar

longe da eficiência desejada, já tem bons

exemplos de ações como acontece nos

setores de pneus, pilhas e baterias. Esse

tem sido um dos itens mais debatidos

para o estabelecimento da nova Política

Nacional de Resíduos Sólidos.

A situação de crise socioambiental global

e a necessidade urgente de que todas as

atividades humanas sejam mais sustentáveis

tem trazido grandes mudanças. Não é

um exagero dizer que estamos diante da

transição do nosso padrão civilizatório

para um outro que, embora não saibamos

claramente como será, certamente

influenciará na forma como as empresas

funcionam e se organizam.

Estamos ainda no início da trilha rumo

às soluções. Atuar em um momento de

transição e mudança como esse não é

nada fácil, os desafios são inúmeros, mas

certamente entre estes estão presentes

também inúmeras novas oportunidades.

Organização não governamental norte

americana. Entre seus objetivos está o

levantamento de informações referentes

à emissão de gases de efeito estufa das

maiores empresas do mundo, e a facilitação

do diálogo entre elas para incentivar ações

de controle da emissão desses gases.

Artigo

Fabrizio G. Violini Sócio-Diretor Ecosfera Consultoria [email protected]

Page 56: Revista Negócio Sustentável

56 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

Já há algum tempo os especialistas de

mercado pregoam a máxima do Branding

que nada mais é do que fazer marca ou

marcar, melhor ainda, marcando. Aí eu

penso na literalidade da nossa língua

maravilhosa e cheia de sutilezas; se estou

marcando, estou colocando a minha marca

em alguém ou em alguma coisa.

Minha crença vem daquilo que é possível

ser feito pelo BENEFÍCIO, pelo bem de

alguém ou de alguma coisa, causa ou

ideal. Uma marca só vive o ato de marcar

ou só permanece marcando, quando

tem um SENTIDO, quando FALA de um

propósito que conversa com o de alguém.

Com a geração digital, meninos, meninas,

homens e mulheres estão marcando

também. Estão colocando a sua marca na

marca dos outros. Pelo menos foi isso que

eles entenderam quando alguém disse pra

eles: “venham e me experimentem, me

adotem”. Pois bem, eles acreditaram e

estão fazendo isso. Não só pelo consumo

que conhecemos, mas pela opinião,

interação, ação e reação. Hoje esses caras

digitais estão pegando a marca que eles

querem (admirando ou não) e colocam

lá no Youtube com a sua marca, com o

seu jeito de ver, com o seu sentimento. E

o que podemos fazer para impedir isso?

NADA. Podemos sim nos antecipar a isso;

entender esse movimento, estar com eles

e fazer com que eles - os caras digitais -

admirem a nossa marca e queiram fazer

dela um novo motivo para blogs, orkuts,

comunidades e e-mails virais.

Marcando Marcas...

E não falo só dos caras digitais, falo também

da dona-de-casa ou da vovó que não entrou

na “cauda longa” e hoje interage com

uma marca pela tradição, respeito, crença,

preço, benefício e pela solidariedade. Isso

mesmo, solidariedade. As vovós e suas

tribos maravilhosas, que, apesar de não

saber bem o que é isso, se preocupam e

estão de olhos bem abertos nas marcas

que praticam a tal da sustentabilidade, que

são marcas do BEM. E como o movimento

do bem é inexorável, elas querem isso para

suas vidas, famílias, amigas...

Elas querem sim um mundo melhor porque

apesar de não serem totalmente digitais,

elas sabem das Isabellas jogadas dos prédios,

dos maníacos austríacos, dos pedófilos e

de tudo mais que cerca a sociedade e as

coloca como vítimas e solidárias na dor.

Por isso, é melhor, é mais humano, mais

bacana, comprar marcas que fazem o bem,

que querem, falam e praticam o bem.

Que estão marcando por fazerem algo por

um planeta mais humano, saudável e feliz

para todos.

Ou para elas, ou para os digitais, as marcas

devem marcar por serem marcantes. Por

serem relevantes, diferentes, benéficas

e solidárias. Bonitas sim, sofisticadas

também, mas acima de tudo fazendo algo

pelo bem dos que as compram, consomem

e admiram. Por isso, pensem se vocês estão

fazendo o tal do branding ou marcando e

como estão fazendo isso. Que sentido nós,

que trabalhamos com Marcas, estamos

dando a elas e a seus admiradores,

compradores e consumidores?

Volto a dizer: o movimento de fazer algo

para um ambiente melhor é inevitável!

Então a pergunta é: como você estará

falando, vendendo a sua marca daqui

a 5, 10 anos? Como o seu pessoal está

se sentindo hoje? A sua empresa tem

pessoas FELIZES e SAUDÁVEIS? Como a

sua equipe estará daqui a 10 anos? Sinto

em dizer que esse tempo já está aí. Bem

pertinho de nós.

Hoje o tempo é diferente. O relógio

continua o mesmo. O tempo ainda é

contado em 24 horas. O que mudou é o

que fazemos e como fazemos nessas 24

horas. Isso mudou e vai mudar muito mais.

Hoje somos mais multi do que mono, mais

digitais do que analógicos. E isso tem um

preço, que pode ficar muito mais caro,

se nós não percebermos a nossa genuína

responsabilidade. E que podemos sim,

construir marcas marcantes, marcas que

têm um sentido contemporâneo, social,

humano e solidário.

Artigo

Nélio Bilate CEO Addcomm Comunicação Digital e Marketing [email protected]

Page 57: Revista Negócio Sustentável

Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 57

RE

VIS

TA

Não perca na próxima edição de Negócio Sustentável

Relatório de Sustentabilidade

Cadeia de valor / Logística reversa

A cadeia do álcool em S.Paulo

Pesquisa – Lei seca

O papel do governo e da política na promoção da sustentabilidade

Case – Gestão de Clima

Case - Crédito e sustentabilidade

Mesa Redonda – Papel reciclado x certificado FSC

10 dicas – Como as empresas podem reduzir CO2

Snacks

Artigos

• Ambiental

• Varejo

• O CEO e a Sustentabilidade

Page 58: Revista Negócio Sustentável

58 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008

1Planejamento: A hora é de definir orçamento,

cronograma, equipe responsável pela

elaboração da relatório e, se possível,

contratar uma consultoria para aplicar os

indicadores.

2Inspiração:Já separou um tempo para olhar

com calma os relatórios das outras

empresas? Descubra ações interessantes,

abordagens diferentes e eleja seus favori-

tos. Quase todos os relatórios estão

publicados nos sites das empresas.

Aproveite. O objetivo não é avaliar

apenas a publicação em si, mas a escolha

de indicadores e boas práticas realizadas.

Anote idéias interessantes que poderiam

ser aplicadas à sua empresa. As boas

iniciativas estão aí para nos inspirar.

3 Equipe responsável:É importante avaliar o nível de moti-

vação e dedicação da equipe responsável

pelo relatório. Ainda que seja definida

uma única pessoa como facilitadora, é

fundamental que ela tenha o suporte e

a compreensão necessários para todo o

tempo que a execução da publicação vai

demandar.

4 Decisão: Se sua empresa ainda não aderiu ao

modelo GRI (Global Reporting Iniative),

é hora de se alinhar. Em 2007, mais de

70 empresas migraram seus relatórios do

Ethos para a GRI, e descobriram que não

é assim tão difícil quanto parece.

O final do ano é o período ideal para iniciar a elaboração do relatório de sustentabilidade 2008.

Fique atento às dicas da Negócio Sustentável e mãos à obra:

5Inovação:Se você já aplicou as diretrizes GRI

nos anos anteriores, talvez seja hora de

melhorar a qualidade de seu relato e

alcançar novos selos. Investigue as áreas

responsáveis pelos indicadores ainda

“não mensurados” e antecipe a busca

por respostas

6Engajamento: Uma outra inovação para o seu

relatório, ainda pouco aplicada pelas em-

presas brasileiras, é o engajamento dos

públicos na elaboração da publicação.

Começando o relatório mais cedo, a sua

empresa tem a oportunidade de evoluir,

ouvindo as expectativas desses públicos.

Escolha um ou mais grupos de interesse,

e convide-os para o processo.

7Comprometimento: Com mais tempo disponível, é pos-

sível ganhar também em envolvimento

e comprometimento do público interno.

Que tal organizar uma palestra sobre a

importância do desenvolvimento susten-

tável e inserir o relatório no contexto?

Entendendo o objetivo maior de todo o

trabalho extra, todos se sentirão mais

motivados a participar

8Avaliação:Antes de começar um novo ano, é im-

portante relembrar os problemas e desafios

enfrentados no ano anterior. O trabalho

é longo, com muitas pessoas envolvidas:

aprenda com os erros e antecipe soluções.

9Ânimo:Além dos pontos negativos, é

preciso lembrar as boas razões para a

tarefa anual de elaboração do relatório

de sustentabilidade. Ele serve como um

excelente diagnóstico da gestão interna

da empresa, sendo a oportunidade de

identificar seus pontos fortes e pontos de

melhoria para a efetiva incorporação de

princípios e práticas de sustentabilidade à

gestão do negócio.

10 Os resultados:

O atual desafio da publicação

de relatórios de sustentabilidade é en-

tender o verdadeiro objetivo da publica-

ção. Além de comunicar o desempenho

de sustentabilidade da empresa a seus

públicos, o relatório deve ser usado como

ferramenta de avaliação dos processos e

do relacionamento com as partes interes-

sadas para estabelecer processos de

melhoria contínua da gestão empresarial.

A análise das informações levantadas

deve servir para melhorar os indicadores,

com criação, execução e monitoramento

de planos de ação.

Aguarde a próxima edição da revista

Negócio Sustentável para saber mais.

Não perca!

10 D!casRelatório de sustentabilidade 2008

Page 59: Revista Negócio Sustentável

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Page 60: Revista Negócio Sustentável

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O que este lago está fazendo no anúncio de uma empresa de agronegócio?

Quando a gente olha para umlago, vê refletido muito mais queo próprio rosto. Vemos refletidos

anos de trabalho. A Bunge é a maior exporta-dora do agronegócio do país, contribui commais de US$ 2 bilhões em divisas à balançacomercial brasileira, recolhe cerca de R$ 1bilhão em impostos e gera mais de 14 milempregos diretos e indiretos. Só que, mais doque gerar lucro, produzir fertilizantes, margarinase maioneses de sucesso, a Bunge quer ajudara construir um futuro melhor. E isso significa

agir de maneira sustentável e ter atitudes quefavoreçam todos, inclusive este lago e quemdepende dele. Por isso, a Bunge trabalha narecuperação, na regularização e na criação dereservas ambientais em fazendas no cerrado,que já abrangem mais de 260 mil hectares;

cuida diretamente de 4 mil hectaresde floresta; utiliza energia renovávelem mais de 65% das operações;mantém, há mais de 50 anos, a

Fundação Bunge, que beneficia anualmentemais de 6 mil crianças e contribui para a

formação de 11 mil professores da redepública. Aplica mais de R$ 30 milhõesanuais em ações ambientais,e mais de R$ 8 milhõesanuais são investidos em

projetos junto às comunidades e à sociedade. E, levando a responsabilidade sempre além, a Bunge também participa do Pacto paraErradicação de Trabalho Análogo ao Escravono Brasil. Todos esses dados estão no nossosite, em um relatório de sustentabilidade tão transparente quanto este lago.