revista mundo literário

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Ano 1 - nº 5 - Julho de 2009 www.revistamundoliterario.com.br Ponto de vista A poesia e o mercado editorial Making of Regina Porto e os diversos aspéctos do livro “Grandes Sertões: Veredas Cinema e Literatura Walter Carvalho fala do seu novo filme Budapeste , livro consagrado de Chico Buarque

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Page 1: Revista Mundo Literário

Ano 1 - nº 5 - Julho de 2009www.revistamundoliterario.com.br

Ponto de vistaA poesia e o mercado editorial

Making ofRegina Porto e os diversos aspéctos do livro “Grandes Sertões: Veredas

Cinema e LiteraturaWalter Carvalho fala do seu novo filme Budapeste , livro consagrado de Chico Buarque

Page 2: Revista Mundo Literário

PropagandaMárcio

Page 3: Revista Mundo Literário

Editora Andaluzia Ltda.Diretora Executiva

Carmen MírioDiretor Administrativo

Marcelo SyringGerente Comercial

Valda PellissariConsultora de Negócios

Mayara MuscatAssinatura e parcerias

[email protected]: (11) 2208.1176

Revista Mundo LiterárioEditora e Jornalista Responsável

Carmen MírioEdição de arte,

Produão gráfica e Diagramação

Fernando de A. Almeida e Julia MuscatReportagens

Robinson Machado, Leandro Monteiro, Fabiana Cavalcanti e Lígia Sena

Fotógrafos Jorge Syring

e Robinson MachadoRevisora

Amanda AlexandriniPARTICIPARAM DESTA EDIÇÃO

Augusto Massi,Rodrigo Capella,

Walter de Carvalho,Regina Porto, Betty Faria,

William, Heródoto Barbeiro, Negra Li,

Dr.Newton Silveira , Vinícios MoisésMaria Amália Camargo

ImpressãoDuograf

Editora Andaluzia Ltda.Empresa filiada à Associação Nacionaldos Editores de Publicações, Anatec.

Avenida Zumkeller,140 - sala 01 - cep 02420-000

São Paulo - Capital. Tel.: 11 2208-1176.www.revistamundoliterario.com.br

Dúvidas ou sugestões:[email protected]

Os textos assinados são responsabilidade dos

seus autores. Não estão autorizados a falar

pela revista, bem como retirar produções,

pessoas que não constem deste expediente e

não possuam carta de referência.

3

Editorial

A RML entra numa nova fase. Bus-camos inovações sempre, novos lugares, novos públicos. Passa-

mos a circular, além das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, em Belo Horizonte. A revis-ta traz algumas mudanças, procurando sem-pre aperfeiçoar a maneira de levar aos leito-res notícias do mundo literário, para que a leitura seja o mais agradável possível.

Esta edição é contemplada na seção Ponto de Vista com o tema “A poesia e o mercado editorial” e traz Augusto Massi, Di-retor Editorial da CosacNaify e Rodrigo Ca-pella, autor do livro “Poesia não vende”. Na matéria de capa, a RML entrevistou Walter Carvalho, premiado diretor de fotografia que dirigiu o filme “Budapeste”, para falar sobre o tema “O Cinema e a Literatura.”

Em “Perfil Literário”, falamos um pouco da vida e da obra do ilustre escritor Manuel Bandeira. Este mês, temos também o revisor Vinícius Moisés, contando sua experiência na profissão; além da seção “Sua Estante”, onde Negra Li, Heródoto Barbeiro, Betty Fa-ria e o jogador de futebol William comentam sobre seus livros preferidos.

A RML traz na seção “Making of” uma matéria sobre o interessante trabalho da musicista Regina Porto, baseado nas obras do genial Guimarães Rosa; na seção “Con-sultoria Jurídica”, o Dr. Newton Silveira es-clarece “O que é propriedade intelectual?”; e, ainda, a “Coluna” nos encanta com o texto sobre Literatura Infantil, da escritora Maria Amália Camargo.

Carmen Mírio [email protected]

Luis

Hen

riqu

e Be

rald

o

Page 4: Revista Mundo Literário

4 sumário

10 8 14 16

Julho de 2009

EntrevistaPerfilliterário

Ponto de vista

Capa

O revisor ou preparador de textos, conta como é o trabalho de um profis-sional que faz de qual-quer texto um primor gramatical da língua portuguesa. Com a fun-ção de organizar as ideias Do material que será organizado, excluin-do os excessos, ajus-tando os parágrafos, harmonizando e pa-dronizando o texto.

Manuel Bandeira, uma história de ganhos e perdas. Foi professor, cronista, tradutor, crí-tico e historiador literá-rio. Sofria de tuberculo-se e sabia que morreria cedo desde os 18 anos. “Vou me embora para Passárgada, saiu sem es-forço, como se estivesse pronta dentro de mim.”

Qual o tipo de público que consome livros de poesia? Como o mercado editorial trata os novos poetas? Veja na seção Ponto de vista, um edi-tor e um poeta respon-dem as questões e suge-rem os caminhos para mudar esse panorama.

Quantos livros ga-nharam versão ci-n e m a t o g r á f i c a ?Quantos personagens foram interpretados por atores e atrizes con-sagrados ou que se con-sagraram? A literatura sempre esteve nas telas do cinema. O cinema e a literatura andaram, lado a lado, e para tratar deste assunto, o repór-ter Robinson Machado, conversou com o dire-tor Walter Carvalho.

Page 5: Revista Mundo Literário

5

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6 Notas & Notícias

20 Consumo litarário

22 Sua estante

24 Programas culturais

30 Acontece nas livrarias

32 Consultoria jurídica

34 Coluna

Making of

Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

Os bastidores do incrí-vel trabalho de Regi-na Porto. Um projeto cultural que fala sobre diversos aspectos do eterno livro “Grandes sertões: veredas” que mobiliza quase uma centena de especialistas e entusiastas da obra de Guimarães Rosa. “Este livro é a música das músicas”, diz Regina.

O ranking dos 40 livros mais vendidos nas quatro categorias e os 10 áudio livros.

Notas a respeito da Viagem literária, do Festival Poéti-co e do Museu da Língua Portuguesa.

Acompanhe a indicação de leitura com a atriz Betty Fa-ria, o jogador William, a cantora Negra Li e o jornalista e apresentador Heródoto Barbeiro.

A Casa da Palavra, oficina cultural Mário de Andrade é mostrada na seção do mês de julho.

Eventos, cursos e lançamentos de livros os fatos que agitam as livrarias no Brasil.

O Dr. Newton Silveira nos esclarece sobre: “O que é propriedade intelectual?”.

A escritora Maria Amália Camargo fala sobre o tema da próxima edição: Literatura infantil.

Page 6: Revista Mundo Literário

6 notas & notícias

Foi lançado, no dia 10 de junho, pela Secretaria Estadual da Cultura de São Paulo, o programa Viagem Literária. Foram selecionadas 55 cidades para receberem escritores consagrados que conversarão com o público em bibliotecas espalha-das por todo o Estado de Junho a Novembro de 2009.

A viagem literária busca demo-cratizar e estimular a leitura atra-vés da interação entre escritores e o público, principalmente aqueles que vivem fora dos grandes centros urbanos, em atrações como ofici-nas de criação literária e contação de histórias. A programação é gra-tuita e beneficiará todas as faixas

etárias, em cidades que variam de 3 a 220 mil habitantes.

O objetivo é fazer com que o pú-blico faça uma verdadeira viagem ao mundo da Literatura, incenti-var a ida às bibliotecas públicas e

valorizar a sua importância no co-tidiano de todas as cidades.

Para saber mais acesse o site www.cultura.sp.gov.br.

A revista britânica The Economist, publicou um artigo no qual analisa a situação da Educação no Brasil e assegura que a má qualidade do ensino é o que paralisa o desen-volvimento do país.

A publicação compara a situação brasileira à da Coréia do Sul, que apre-senta bons resultados no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Na déca-da de 70, os dois países tinham a mesma prosperidade em relação à qualidade de ensino, mas a Coréia do Sul se desenvolveu de forma

significativa e, atualmente, possui renda per capta cerca de quatro ve-zes maior.

Segundo a revista, para melho-rar a Educação em nosso país, seria necessária a realização de uma re-

forma no sistema escolar, enfren-tando o Sindicato dos Professores e investindo mais em Educação Básica.

www.abrelivros.org.br

Viagem literária

A Economist afirma que para melhorar a Educação do nosso país é necessária uma reforma no sistema escolar, enfrentando o Sindicato dos Professores e investindo mais em Educação Básica

Page 7: Revista Mundo Literário

7Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

O Museu da Língua Portuguesa, localizado na cidade de São Pau-lo, apresenta “O francês no Brasil em todos os sentidos”. Trata-se de uma exposição temporária, reali-zada pela Secretaria do Estado e co-patrocínio da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, por meio do Consulado Geral da França em

São Paulo.Serão abordados na mostra Li-

teratura, pontos de contato entre os idiomas francês e português, moda, dança, gastronomia e cul-tura popular, inclusive, foi criada para essa atividade uma interes-sante cidade cenográfica mesclan-do São Paulo e Paris.

A exposição que apresenta a in-fluência cultural francesa presente em nosso país e é um dos eventos oficiais do Ano da França no Brasil e será exibida até o dia 11 de outu-bro de 2009. www.museulinguaportuguesa.org.br

O Sesc Cornélio Pro-cópio, no estado do Pa-raná, promoverá mais uma vez o Festival Po-ético, que comemora 25 anos de realização. Nesse festival, poetas de todo o Brasil terão a oportunidade de divul-gar os seus trabalhos en-tre todos os segmentos envolvidos no evento.

Poderão participar poetas de qualquer idade, apresentando a quantidade máxima de duas poe-sias de própria autoria. O tema é livre e as inscrições vão até o dia

31 de Julho. A premiação aconte-cerá no Anfiteatro da UTFPR (Uni-versidade Tecnológica Federal do Paraná), no dia 16 de Outubro, às

Festival Poético 2009

“O francês no Brasil em todos os sentidos”

19h30min. Para obter maiores informações,

basta telefonar para: (43) 3904-1600.

Page 8: Revista Mundo Literário

8 ponto de vista

Para responder a esta e outras questões, convida-mos Augusto Massi, editor, jornalista, professor e poeta para esclarecer e informar quais os cami-

nhos e o que de fato acontece com o mercado editorial. Do outro lado, Rodrigo Capella, poeta, jornalista e escritor, contando como é o lado de quem busca a publicação do tra-balho poético.

Ambos têm em comum o fato de serem poetas, porém Augusto Massi, é também editor e nos relata o tra-tamento dado à poesia pelo mercado editorial: “As editoras de poesia se dividem geralmente em dois grupos: as gran-des editoras comerciais e as pequenas editoras alternativas. As grandes não correm riscos e só publicam os poetas já consagrados: Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, etc. As pequenas se dedicam a lançar os novos nomes. E correm todos os riscos. Na maio-ria, são editoras inteiramente voltadas ao público da poesia. De modo geral, acho que o tratamento dado pelas grandes editoras à poesia vem melhorando.”

Para Rodrigo Capella, “O mercado editorial pre-cisa, urgentemente, de uma revolução poética. Todo bom escritor tem uma ligação com a poesia e as editoras não po-dem menosprezar esse fato.”

O debate continua e a questão do pouco espaço concedido pelo mercado editorial, à poesia, é colocada da seguinte forma: faltam grandes poetas ou há falta de inte-resse em publicá-las? O editor Augusto Massi entende que não ocorre nenhuma das duas coisas. “Em primeiro lugar, acho que falta conhecimento crítico. Temos poucos críticos aptos a mapear a produção contemporânea (Ah! Que falta faz um crítico como o José Paulo Paes...). Em segundo lu-gar, os jornais também tratam a poesia com uma pauta já

“Poesia não vende”, “A tribo dos poetas”, “Lou-cos, pobres e suicidas”, são denominações atribu-ídas aos poetas que buscam divulgação na mídia impressa. Afinal, qual a razão do mercado edito-rial e da mídia não investirem na publicação e na divulgação da poesia?

A POESIA E O MERCADO EDITORIAL

O mercado editorial precisa, urgentemente, de uma

revolução poética.Rodrigo Capella

“”

por Carmen Mírio

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9Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

pré-estabelecida: nunca dão espaço, mas, quando re-solvem dedicar algum, sempre é coletivo e do tipo “a tribo dos poetas”, “poesia não vende”, “loucos, pobres e suicidas”.

Rodrigo vê a situação de outra maneira e diz que: “Há falta de interesse das editoras em publicar poesia. Atualmente existe um ciclo vicioso: as editoras publicam pouca poesia, os poucos livros que vão para as editoras ficam em estantes empoeiradas e o público não compra. Não compra porque não vê. O ciclo volta na editora e o editor diz: poesia não vende. Há mui-tos poetas que se escondem na gaveta e têm medo de mostrar o seu talento, de serem criticados. Talentos existem, há os blogs, twitter, skoob, The Library Thigs e tantas outras mídias sociais espalhadas. As editoras precisam e devem incentivar cada vez mais esses ta-lentos.”

A venda de livros de poesia é outra questão a ser analisada e Augusto nos revela que: “Vende de todas as formas. Vende muito: Lero lero, de Cacaso e Belvedere, de Chacal, ambos volumes com mais de 300 páginas, com preços em torno de 55 a 60 reais, já tiveram mais de duas edições, com tiragens de 3.000 exemplares cada. Sem adoção. Venda em livraria.”

Rodrigo discorda em parte e entende que: “Poesia não vende como deveria, infelizmente. Esse gênero tem forte venda em lançamentos e ponto. Di-ficilmente se vende durante três meses seguidos. A principal culpa cabe às editoras, que menosprezam a poesia, por não entendê-la, por preferirem a prosa, por ser mais fácil de ler.”

Quanto ao público leitor de poesia, Rodri-go diz que: “Todo mundo lê ou deveria ler poesia. A poesia está na alma, no dia a dia das pessoas, propi-ciando uma melhor sinergia, um melhor fluído. Nin-guém vive sem poesia, por isso todos a consomem, mesmo sem saber, mesmo sem ter vontade.” Augus-to entende que: “ Precisamos pensar no público e no mercado num sentido mais amplo. Por exemplo, na editora, investimos em livros de poesia voltados para público mais complexo, híbrido e amplo: Dia de folga, de Jacques Prévert ou Livro das perguntas, de Pablo Neruda. Eles podem atingir tanto o público infantil quanto o adulto. Podem encantar tanto o poeta quan-to o designer. E são livros de alta voltagem poética. Em outras palavras: o público de poesia é o público em geral.”

Sintetizando o debate e o ponto de vista a respeito da poesia e do mercado editorial, Augusto Massi complementa: “Tudo que envolve desconhe-cimento, falta de intimidade ou convivência provoca pânico nas pessoas. Os editores não escapam a esta lógica. Nisso, o quadro brasileiro não é muito diferen-te da situação mundial. Penso que esta falta de cultura poética tem conexões mais profundas com questões

ligadas à educação e à vida universitária. A cena con-temporânea é mais hostil à poesia. Não vejo como um complô, mas é inegável que a poesia é consumida em outra forma de manifestação da cultura: nas letras de música, no cinema, na publicidade etc. Em outras pa-lavras: a poesia não está só nos livros. Além disso, o próprio livro perdeu o lugar central que ocupava na cultura mundial. Isso é um processo histórico; A po-esia precisa ser repensada. Nos anos de 1950, João Cabral escreveu um excelente ensaio importante so-bre esta questão. De certa forma, ele viu com muita clareza todos estes problemas. E não foi à toa que bus-cou dar novos rumos à sua própriaforma de escrever poesia. Como a poesia está sempre na ponta, penso que também está tendo que enfrentar estas questões antes das outras áreas.” E quanto aos caminhos para mudar esse panorama editorial, Augusto finaliza e conclui: “Talvez, ela tenha que migrar para o celular, para a TV a cabo, para o DVD. Todos os momentos de crise da linguagem são propícios para a poesia. Ela acumulou muita sabedoria para travar este combate. A prosa ganha por pontos. O poeta por nocaute. Mas a arte de perder é uma divisa de todo poeta.”

A prosa ganha por pontos. O poe-ta por nocaute. Mas a arte de per-

der é uma divisa de todo poeta.Augusto Massi

“”

Page 10: Revista Mundo Literário

10 capa

Livro,

AçãoCâmera e

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11Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

Quando a palavra chuva é inserida em um livro, ela pode ser interpretada pelo leitor de muitas maneiras: a ima-ginação é capaz de criar uma tempes-

tade ou uma garoa, inserir trovões, variar a intensi-dade do vento e escolher a densidade das gotas. Esse é o exemplo dado, ultimamente, pelo cineasta Walter Carvalho quando lhe perguntam as diferenças entre literatura e cinema. Para ele, “em um filme, o especta-dor está condenado a ‘entender’ a chuva exatamente daquela maneira”.

Carvalho, responsável pela fotografia cine-matográfica de quase 70 longas-metragens, se firma como diretor e acaba de lançar nos cinemas Budapes-te, uma adaptação do livro homônimo de Chico Buar-que – obra que já vendeu mais de 280 mil cópias e foi lançado em mais de vinte países.

Mais que um best-seller, o livro publicado em 2003 trouxe à tona o brilhantismo do autor no uni-verso literário por conta do bom uso da metalingua-gem – ou seja, o livro fala de livro – e da complexidade da trama, por meio de uma narrativa pouco conven-cional. “Decidi fazer o filme justamente por ser difí-cil – não gosto de ficar seguro no meu trabalho”, diz Carvalho, que foi convidado a dirigir o longa e afirma que tentou ser fiel à essência do livro, mesmo tendo inserido cenas que não existem na obra impressa. Seja como for, Chico Buarque participou de todo o projeto e ficou bastante satisfeito com o resultado.

Os direitos de filmagem de Budapeste foram negociados pela produtora Rita Buzzar, que cuidou da adaptação do livro para o filme. Ela já havia feito o mesmo trabalho com o longa-metragem Olga, ins-pirado na obra de Fernando Moraes. Rita conheceu e conversou bastante com o autor no dia da assinatura do contrato de cessão de direitos. Ouviu dele suges-tões sobre a adaptação em outras oportunidades tam-bém. Depois de escrever três tratamentos do roteiro, Rita ofereceu o texto para a leitura do “músico-poeta-

escritor”. Ao todo, foram sete versões, que foram re-cebendo outras situações específicas do roteiro. Isso mostra que um filme não é necessariamente uma re-produção audiovisual de uma obra literária. Há sem-pre especificidades em cada produto cultural.

Walter Carvalho, de 62 anos, foi escolhido para dirigir o filme após alguns meses do processo inicial. Diretor de fotografia premiado, entre suas obra se destacam: Carandiru, Abril Despedaçado, Lavoura Arcaica, Central do Brasil, Madame Satã e Amarelo Manga. Dirigiu, também, o longa-metragem Cazuza – O Tempo Não Pára, ao lado de Sandra Werneck, além do documentário Janela da Alma, com João Jardim e Moacir Arte Bruta.

O diretor acredita que foi chamado para fazer o filme por ser considerado um profissional bem rela-cionado com a questão da transposição dos significa-dos das palavras em imagens. O desafio para Carvalho não é “ilustrar” a palavra, mas traduzi-la em cinema – e é justamente essa característica que dá autonomia a um trabalho cinematográfico em relação ao livro em que se inspira.

É comum a comparação imediata pelo públi-co de qualquer filme baseado em uma obra literária com o livro, assim como, a curiosidade de ver na tela um livro de sucesso. A crítica cinematográfica passa a contar com o livro como referência de avaliação, já que a obra transposta deixa de pertencer ao domínio literário.

Para Angélica Bito, crítica do site “Cineclick”, é normal haver perguntas e comentários tentando con-trapor livro e filme. “Acho até saudável ter uma base para se comparar, porque o leitor também se interessa nisso”, diz. Já com seu trabalho, ela explica que o livro é mais um dado para a elaboração da crítica. “Com-parar o filme com o livro é mais um complemento à crítica, a fim de dialogar com o leitor que conhece a obra literária”. Angélica acredita ser natural o espec-tador que conhece o livro querer saber também o que

Budapeste, livro consagrado de Chico Buarque, ganha versão para os cinemas e aquece a

discussão sobre as inevitáveis comparações entre filmes e obras literárias.

Por Robinson Machado

Page 12: Revista Mundo Literário

12 capa

o filme traz de diferente, mas deixa claro que os critérios para avaliação não devem se prender somente à referência literária.

No caso de Budapeste, a questão acerca da relação entre cinema e literatura está con-templada na história. A duali-dade está fortemente presente no livro de Chico Buarque. Há um diálogo entre diversos ele-mentos que perpassa toda a obra, funcionando como um “espelho invertido” – a ficção e a realidade, o português e o húngaro, o casamento e a trai-ção, o escritor e o ghost-writer, uma família brasileira e outra húngara, entre muitos outros exemplos. Com a criação do filme, as duplicidades ganham outra característica marcante: a

Budapeste – sinopse ou resenha

O acaso levou José Costa, um bem sucedido porém, anônimo escritor (ghost-writer), à cidade de Budapeste. Desde seus primeiros momentos na cidade, fica fascinado pelo idioma húngaro. De volta ao Rio, reen-contra sua esposa, uma apresentadora de telejornal, e seu filho. Mas o casamento se deteriora e, cada dia mais infeliz, ele passa a murmurar o húngaro enquanto dorme. Escrevendo autobiografias, tenta, por meio da vida de outras pessoas, acalmar sua insatisfação e tédio. Frustrado pela falta de reconhecimento de sua profissão e distanciamento de sua mulher, Costa retorna para Budapeste. Lá conhece Kriska, uma profes-sora de húngaro, que lhe ensina seu idioma. Com muito empenho e mo-tivado pela paixão por Kriska, torna-se também ghost-writer e poeta, em húngaro. No livro ou no filme, a complexa trama – que lida o tempo todo com dualidades – não nos permite identificar se o autor escreve o que vive ou vive o que escreve: um dos inúmeros fatores que tornam a história uma obra-prima da literatura e agora um filme de garantido sucesso.

tensão entre as linguagens literária e cinematográfi-ca – enquanto no livro a própria literatura é persona-gem, no filme o cinema é integrado à história. Soman-do este fator às cenas exclusivas do longa-metragem, aquelas que não existem no livro, há mais argumentos para a afirmação de que são produtos culturais distin-tos, ainda que haja um mesmo enredo, personagens e tudo que fez do livro uma premiada obra da literatura brasileira.

Mas nem sempre o sucesso de um filme base-ado em um best-seller é garantido. A crítica Angéli-ca Bito relembra o fracasso do filme Pergunte ao Pó (2006, Paramount) como exemplo. O clássico livro homônimo, escrito em 1939, por John Fante, é ova-cionado há décadas; algo inversamente proporcional ao longa-metragem baseado na obra, dirigido por Ro-bert Towne.

(Colaborou Marcelo Paradella)

Decidi fazer o filme justa-mente por ser difícil – não gosto de ficar seguro no

meu trabalho

foto divulgação

“”

Page 13: Revista Mundo Literário

13Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

Filme LivroBudapeste - 2009Walter CarvalhoImagem Filmes

Budapeste - 2003Chico BuarqueCompanhia das Letras

Veronika Decide Morrer - 2009Emily YoungImagem Filmes

Veronika Decide Morrer - 1998Paulo CoelhoPlaneta

Divã - 2009José Alvarenga Jr.Downtown Filmes

Divã - 2002Martha MedeirosObjetiva

Ensaio Sobre a Cegueira - 2008Fernando MeirellesFox

Ensaio Sobre a Cegueira - 1995José SaramagoCompanhia das Letras

Onde andará Dulce Veiga? - 2008Guilherme de Almeida PradoStar Filmes

Onde andará Dulce Veiga? - 1990Caio Fernando AbreuCompanhia das Letras

O Cheiro do Ralo - 2006Heitor DhaliaUniversal

O Cheiro do Ralo - 2002Lourenço MutarelliDevir

Valsa para Bruno Stein - 2007Paulo NascimentoPanda Filmes

Valsa para Bruno Stein - 2006Charles KieferRecord

Vida de Menina - 2004Helena SolbergEuropa Filmes

Vida de Menina - 1999Helena MorleyCompanhia das Letras

Meu nome não é Johnny - 2008Mauro LimaSony

Meu nome não é Johnny - 2007Guilherme FiuzaRecord

Carandiru - 2003Hector BabencoSony

Carandiru - 1999Drauzio VarellaCompanhia das Letras

Cidade de Deus - 2002Fernando Meirelles e Kátia LundImagem Filmes

Cidade de Deus - 1997Paulo LinsCompanhia das Letras

Benjamin - 2003Monique GardenbergDueto Filmes

Benjamim - 1995Chico BuarqueCompanhia das Letras

Lavoura Arcaica - 2001Luiz Fernando CarvalhoEuropa

Lavoura Arcaica - 1975Raduan NassarCompanhia das Letras

Dom - 2003Moacyr GóesWarner

Dom Casmurro - 1899Machado de AssisMartins Fontes

Um Copo de Cólera - 1999Aluisio AbranchesWarner / Versátil

Um Copo de Cólera - 1978Raduan NassarCompanhia das Letras

Estorvo - 2000Ruy GuerraRiofilmes

Estorvo - 1991Chico BuarqueCompanhia das Letras

O Xangô de Baker Street - 2001Miguel Faria Jr.Sony

O Xangô de Baker Street - 1995Jô SoaresCompanhia das Letras

O Menino Maluquinho - 1994Helvecio RattonEuropa

O Menino Maluquinho - 1980ZiraldoMelhoramentos

S. Bernardo - 1971Leon HirszmanEmbrafilme

S. Bernardo - 1934Graciliano RamosRecord

Olga - 2004Jayme MonjardimLumière / Europa

Olga - 1985Fernando MoraisCompanhia das Letras

Macunaíma - 1969Joaquim Pedro de AndradeDifilm

Macunaíma - 1928Mario de AndradeVilla Rica

O Homem do Pau Brasil - 1982Joaquim Pedro de AndradeEmbrafilme

O Homem do Pau BrasilBaseado em vários escritos de Oswald de Andrade

O Invasor - 2002Beto BrantEuropa

O Invasor - 2002Marçal AquinoGeração

Leia e assistaVeja alguns exemplos de filmes nacionais baseados em livros.

O ator Leonardo Medeiros e a atriz Gabrielle Hámori, em cena do filme Budapeste - adap-tação do livro de Chico Buarque.

foto divulgação

foto divulgação

Page 14: Revista Mundo Literário

14 perfil literário

Nasce, em Recife, no dia 19 de abril de 1886, Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, conhecido simplesmente como Manuel

Bandeira, poeta de grande destaque na Literatura bra-sileira e membro da terceira ocupação na 24ª cadeira da Academia Brasileira de Letras, não foi apenas poe-ta. Ao longo de sua vida também foi professor, cronis-ta, tradutor, crítico e historiador literário.

Doente dos pulmões, Manuel sofria de tuber-culose e sabia que morreria cedo desde os 18 anos, quando recebeu o diagnóstico, no entanto, viveu até os 82. Esse “adiar de viver” é refletido em muitas de suas poesias que carregam em seu estilo certa an-gustia, como o poema Desencanto, e a melancolia de quem mais observa a vida do que a vive de fato; asso-ciadas ao humor também característico desse poeta, como é possível perceber em Andorinha, Carnaval ou Pneumotórax.

Com a perda dos pais, entre 1916 e 1920, o es-critor se afastou dos amigos e da cadeira da Academia Brasileira de Letras, porém continuou a escrever e sem perder seu toque de humor singular. Bandeira nunca se casou e a solidão também foi uma temática recor-rente em suas obras; Na Solidão das Noites Úmidas expressa muito bem essa ideia de isolamento.

Esse escritor pernambucano tinha muita sen-sibilidade e era capaz de fazer poesia inspirado no que há de mais simples e comum, o cotidiano; um dos exemplos disso é Pensão familiar. Vale ressaltar, ainda, sua espontaneidade. Uma de suas poesias mais conhecidas, Vou-me embora para Pasárgada, foi com-posta naturalmente, em palavras do autor: “Saiu sem esforço, como se estivesse pronta dentro de mim”. Devido a essas e outras particularidades, estudar a biografia desse poeta é essencial para entender a sua obra.

Vou me embora passa-rada, saiu sem

esforço, como se estivesse

pronta dentro de mim

Uma longa história entre ganhos e perdas

Manoel Bandeira

por Amanda Alexandrini

Page 15: Revista Mundo Literário

15Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

As obras de Bandeira foram se desenvolvendo assim como o cenário literário brasileiro. Seu poema Os Sapos, lido na Semana de Arte Moderna, em 1922, por Ronald de Carvalho, no Teatro Municipal de São Paulo, carrega forte crítica aos poemas de temas con-servadores e representou muito bem o movimento de renovação artística da época, o Modernismo. No entanto, Manuel Bandeira participou da Semana de Arte Moderna apenas “à distância”, pois acreditava que as críticas aos parnasianos e simbolistas eram muito agressivas. De todo modo, o escritor teve gran-de influência, afinal, Os Sapos causou grande impacto no público com toda a quebra e crítica que indicava.

Em 22, com o movimento vanguardista, os po-etas propunham, em suma, valorizar a libertação da poesia, trabalhando temas cotidianos (muito comuns na obra de Bandeira, por exemplo, Poema tirado de uma notícia de jornal), criando versos mais livres, sem a necessidade de rimas ricas ou de quaisquer ou-tras formalidades da poesia. Esses ideais são muito bem sintetizados em Poética, de Manuel Bandeira.

Obras

Sua obra de estréia foi A Cinza das Horas, pu-blicada no ano seguinte à morte de sua mãe (1917),

os duzentos exemplares do livro foram custeados pelo próprio autor.

Logo, lançou “Carnaval” (1919), que ainda contava com resíduos do estilo parnasiano e simbolis-ta, porém já indicando algumas mudanças de estilo, dando indícios da estética modernista, que acabou se tornando uma marca do autor, efetivada a partir de Ritmo Dissoluto (1924).

O ócio, devido à doença, proporcionou ao po-eta o tempo necessário para estudar e escrever; isso sem dúvidas foi um ganho para a Literatura nacional, pois além dos livros de poesias mencionados acima, há Libertinagem, 1930, Estrela da manhã, 1936, Lira dos cinquent’anos, 1940, Belo, belo, 1948, Mafuá do malungo, 1948 Opus 10, 1952, Estrela da tarde, 1960 e Estrela da vida inteira, 1966.

Morte

Manuel Bandeira morre aos 82 anos no dia 13 de outubro de 1968, não de tuberculose, doença que teve que conviver por toda a vida, mas de parada car-díaca, no estado do Rio de Janeiro, sendo sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no ce-mitério São João Batista.

Page 16: Revista Mundo Literário

16 entrevista

Leitura angustiada: morte ou correção!

Page 17: Revista Mundo Literário

17Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

O preparador de textos é um dos vários pro-fissionais do processo de produção de um livro. Sua função é organizar as idéias do material que será pu-blicado, excluindo os excessos, ajustando os parágra-fos, harmonizando e pradronizando o texto. É ele o

responsável por revisar o material com o intuito de conferir-lhe correção, clareza, concisão e harmonia agregando valor ao texto, tornando-o corrido e agra-dável aos olhos do leitor.

Vinicius, como preparador de textos, é per-feccionista; acredita que todos os livros precisam de revisão para acender e que é preciso uma, duas, três, às vezes, até quatro revisões para alcançar um bom resultado. “Revisar um texto não é uma tarefa fácil, porque todo mundo gostaria de reescrever pelo me-nos um trecho do texto revisado e esse não é o seu trabalho o revisor não deve se empolgar, não pode ter ego de autor, mas sim trabalhar em parceria com ele. Mas, vontade dá.” diz o revisor.

Hoje, existem vários instrumentos para auxi-liar o preparador de texto no caso de dúvidas. A tec-nologia se tornou uma preciosa aliada desse profissio-nal que pode trabalhar com vários dicionários online, fazer pesquisas lingüísticas e de contexto histórico, mas, acima disso, Vinicius acredita que é preciso ter consciência de que o texto não pode ser melhorado (pois isso incute análises subjetivas), mas sim ade-quado para que tenha mais consistência, coerência e sentido. Para desenvolver um bom trabalho como pre-parador/revisor é preciso um sentido editorial agu-çado e, naturalmente, um grande conhecimento cul-tural (prático) combinado a bastante conhecimento técnico. Sua formação, sobretudo, deve ser empírica, embora o conhecimento acadêmico ajude em certos casos. É necessária organização e padrão de trabalho. Mas, acima de tudo: um preparador/revisor deve ser um leitor voraz e sempre procurar se aprimorar. “Mas a “cancha” só se pega mesmo ao botar a mão na mas-sa,” exclama.

Por Leandro Monteiro

O revisor, ou o preparador de textos, como ele prefere ser chamado, Vinicius Moisés, conta como é o traba-lho de um profissional que faz de qualquer texto um

primor gramatical da língua portuguesa.

Vinicius Moisés começou a conviver nesse meio em 2005, quando entrou na faculdade de Letras da Universida-

de de São Paulo (USP). Em 2006, já fazia alguns traba-lhos de preparação e revisão de textos como freelan-cer quando foi contratado como editor assistente na Editora Terceiro Nome, trabalho que exerce até hoje, além das funções de assistente editorial, coordenando e executando projetos, e de assessor de comunicação. Como coordenador de projetos, trabalha na produção de mais de cinqüenta livros dos mais variados temas e formatos, entre os quais se destacam Donos do espe-táculo, de André Ribeiro, O Súdito, de Jorge Okubaro, e o que exigiu maior envolvimento e no qual teve a oportunidade de aprender bastante sobre todos os processos da produção editorial: Mar sem fim, de João Lara Mesquita (livro de 624 páginas divididas em dois volumes e com mais de quatrocentas imagens).

Como preparador, trabalhou nos livros da co-leção Réporter Especial (24 títulos), além de Canga-ceiros, Élon Brasil, Alice passou por aqui, Drosófila - a mosquinha famosa, Donos do espetáculo e, o ainda inédito, Nova história da Cosac Naify.

Page 18: Revista Mundo Literário

18 entrevista

O mundo está em constante transformação e a língua portuguesa, que é viva, acompanha essa mudança. Em um período em que a reforma ortográfica é tão recente, o profissional preparador de textos ganha mais importância ainda. Será mesmo?

“Como, normalmente, é um trabalho freelancer, e de remuneração incons-tante (varia com o tamanho do texto, com os preços e os tamanhos das laudas, com a dificuldade do trabalho, além de variar de editora para editora), acho que é muito difícil sobreviver só trabalhando com revisão/preparação”. Conclui.

Tido como um dos elos da cadeia que confecciona um livro, Vinicius tem uma visão otimista do mercado editorial e acredita sim que é possível ter seu valor reconhecido. O que ele faz, continua sendo uma prestação de serviços, mas há o devido crédito tanto nas páginas dos livros, quanto conceitualmente nas editoras. Agora, para o público leitor, o preparador passa realmente despercebido. “Até acho que sua discrição seja benéfica, já que seu trabalho é de bastidor. Enquanto houver gente escrevendo, haverá alguém para preparar ou revisar um texto. Com o boom da internet e dos blogs pessoais, houve a impressão de que todos podem escrever sobre qualquer coisa, mas editoras que lutam por um catálogo de qualidade, neces-sitam cada vez mais de preparadores; e preparadores bons, atualizados e dispostos. Para esses, sempre haverá trabalho.”

Mexer no texto dos outros e agradar autores e editores nunca é fácil. Não dá para interferir, há pessoas que reagem bem e outras que nem tanto e se recusam a ouvir críticas mesmo sendo construtivas. Lidar com esses egos e modificar um texto sem alterar seu estilo, encontrar palavras que não estão nos dicionários, mas são comuns, não no vocabulário popular, e sim no de uma determinada área de trabalho, entender os neologismos muito comuns nos romance e livros de ficção, como os de Fernando Pessoa e Guimarães Rosa, são os grandes desafios do trabalho de preparador, que ao mesmo tempo em que vai preparando vai aprendendo.

De todos os profissionais envolvidos na etapa de criação, o preparador/revisor é, com certeza, o que menos dispõe de um bom prazo para a entrega do seu trabalho. Muitas vezes tenho que entregar com menos de 24 horas após o recebimento, esse é o preço a ser pago para se ajustar à demanda de publi-cações e ao forte crescimento do mercado literário em todo o país, sem contar com a pressão dos autores ansiosos para terem suas obras publicadas.

Page 19: Revista Mundo Literário

19Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

Page 20: Revista Mundo Literário

20 consumo literário

2º Leite derramado Autor: Chico Buarque Editora: Companhia das letras

2° Gêmeas – Não se separa o que a vida juntou Autora: Mônica de Castro Editora: Vida e consciência

2° A arte da guerra Autor: Sun Tzu Editora: Audiolivro

2° Mentes perigosas Autora: Ana Beatriz Barbosa SilvaEditora: Fontanar

2° Querido diário otário, V.1Autor: Jim Benton Editora: Fundamento

4º Anjos e demônios Autor: Dan Brown Editora: Sextante

4° Como lidar com pessoas que te deixam louco Autor: Paul Hauck Editora: Fontanar

4° A morte de Quincas Berro d’água Autor: Jorge Amado Editora: Livro falante

4° O Ciclo da Auto-Sabota-gem Autores: Patrícia Hermes e Stanley RosnerEditora: Best Seller

4° Proibido para maiores Autor: Paulo Tadeu Editora: Matrix

6° Lua Nova Autora: Stephenie Meyer Editora: Intrínseca

6° Nunca desista de seus sonhos Autor: Augusto Cury Editora: Sextante

6° História da música clássica Autor: Irineu Franco Perpétuo Editora: Livro falante

6° O clube do filme Autor: David Gilmour Editora: Intrínseca

6° Diário de um banana Autor: Jeff Kinney Editora: Vergara&Riba

8° O vendedor de sonhos Autor: Augusto Cury Editora: Academia de Intelige

8° Vencendo o passado Autora: Zibia Gasparetto Editora: Vida e consciência

8° Contos do agora Autor: Moacyr Godoy MoreiraEditora: Livro falante

8° Maioridade penal Autores: Rogério Ceni e André PlihalEditora: Panda Books

8° O pequeno príncipe Autor: Antoine De Saint-ExuperyEditora: Agir

10° A cidade do sol Autor: Khaled HosseiniEditora: Nova Fronteira

10° Espíritos entre nósAutor: James Van Praagh Editora: Sextante

10° O caçador de pipasAutor: Khaled HosseiniEditora: Audiolivro

10° Marley e eu Autor: John Grogan Editora: Prestigio

10° Como falar com me-ninas Autor: Alec GrevenEditora: Galera Record

Os 50 livros mais vendidos

Ficção e Literatura Não-ficção Auto-ajuda e Esotérico Infanto-juvenil Audiolivro

1° A Cabana Autor: William Young Editora: SextanteSinopse: A filha de Mackenzie Allen Philip foi rapitada, assassinada e abandonada numa cabana. Quatro anos depois, Mack segue volta ao cenário de seu pior pesadelo.

1° Comer, rezar, amar Autora: Elizabeth GilbertEditora: Objetiva Sinopse: Aos 30 anos, Eli-zabeth Gilbert enfrentou uma crise da meia-idade. Foi então que se demitiu do emprego, livrou-se dos bens materiais e partiu sozinha para uma viagem pelo mundo.

1° O código da inteli-gênciaAutor: Augusto Cury Editora: Thomas Nelson BrasilSinopse: O livro des-creve a maneira como os códigos da inteligência são capazes de estimu-lar tanto jovens quanto adultos a libertarem sua criatividade.

1° Formaturas infer-nais Autores: Meg Cabot, Kim Harrison, Stephe-nie Meyer, Michele Jaffe e Lauren MyracieEditora: Galera RecordSinopse: Contos de terror mostram que a formatura pode ser um evento muito mais aterrorizante do que se pensa.

1° Comer, rezar, amarAutora: Elizabeth GilbertEditora: AudiolivroSinopse: Aos 30 anos, Eli-zabeth Gilbert enfrentou uma crise da meia-idade. Foi então que se demitiu do emprego, livrou-se dos bens materiais e partiu sozinha para uma viagem pelo mundo.

3º Os homens que não amavam as mulheres Autor: Stieg Larsson Editora: Companhia das letras

3° Uma breve história do século XX Autor: Geoffrey Blainey Editora: Fundamento

5° Crepúsculo Autora: Stephenie Meyer Editora: Intrínseca

7° Eclipse Autora: Stephenie MeyerEditora: Intrínseca

9° A caça de Harry WinstonAutora: Lauren WeisbergerEditora: Record

5° Uma breve história do mundo Autor: Geoffrey BlaineyEditora: Fundamento

7° GomorraAutor: Roberto Saviano Editora: Bertrand Brasil

9° O crime do restaurante chinês Autor: Boris Fausto Editora: Companhia das letras

3° Cartas entre amigos – So-bre medos contemporâneos Autores: Fabio de Melo e Gabriel Chalita Editora: Ediouro

5° Quem me roubou de mim Autor: Fabio de Melo Editora: Canção Nova

7° Salomão – O homem mais rico que já existiuAutor: Steven K. Scott Editora: Sextante

9° O Segredo (Ed. Comemo-rativa)Autora: Rhonda Byrne Editora: Ediouro

3° O mar dos monstros Autor: Rick Riordan Editora: Intrínseca

5° O ladrão de raios Autor: Rick Riordan Editora: Intrínseca

7° Querido diário otário, V.2Autor: Jim Benton Editora: Fundamento

9° Até as princesas soltam pumAutor: Ilan BrenmanEditora: Brinque Book

3° Quando Nietzsche chorou Autor: Irvin D. YalomEditora: Plugme

5° Como passar em provas e concursos Autor: William DouglasEditora: Plugme

7° O monge e o executivo, V.2Autor: James C. HunterEditora: Audiolivro

9° Investimentos inteligentes Autor: Gustavo CerbasiEditora: Plugme

Fontes: rede das livrariassiciliano,Saraiva, Nobel e Cultura;Fnac, Livraria da Vila, Livrarias Curitiba, Travessa, Argumento, Laselva, Livro Falante, Audiolivro, Plugme

Page 21: Revista Mundo Literário

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22 sua estante

Indicações...

Heródoto BArBeiro Pela primeira vez tive ideia da

verdadeira evolução do país e porque nós não éramos uma na-ção tão desenvolvi-da quanto os países

da Europa

Livro que está lendo

Aprendendo a ViverAutor: Lucio Anneo Sêneca 2008Editora: L & PM pocket

As cartas de Sêneca a Lucílio são consideradas a grande obra-prima do filósofo latino. Aprenden-do a viver é uma seleção de 29 textos, desses 124 que Sêneca redigiu nos seus anos finais, entre 63 d.C. e 65 d.C., e apresenta uma síntese dos princí-pios de sabedoria, virtude e liberdade que o pensa-dor perseguiu em vida.

Primeiro livro

Filosofia da vida Autor: Will DurantEditora: Companhia Editora Nacional

Livro Marcante

História econômica do Brasil.Autor: Caio Prado JúniorEditora: Brasiliense

negrA li

O livro conta a história triste e fasci-nante de um escravo

chamado Kunta Kinte, relata o sofrimento dos negros

no navio negreiro, essa passagem me fez chorar e mexeu com minha imaginação.

Eu entrei naquela his-tória e nunca mais me esqueci dela, coloquei o nome do meu Pit

Bull de Kunta

O que está Lendo

Anjos e Demônios A primeira aventura de Robert LangdonAutor: Dan Brow Editora: Sextante

Antes de decifrar O Código Da Vinci, Robert Langdon, o famoso professor de simbologia de Harvard, vive sua primeira aventu-ra em Anjos e Demônios, quando tenta impedir que uma antiga sociedade secreta destrua a Cidade do Vaticano.

Primeiro livro “É difícil me lembrar o primeiro livro, já que foi na época de escola, mas lembro que era a história de um “Leão”...

Livro Marcante

Negras raízes Autor: Alex HaleyEditora: Círculo do Livro

Para os momentos de descontração, eles indicam o que mais gostam de ler.

Page 23: Revista Mundo Literário

23Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

BettY FAriA Gosto muito de ler, é um hábi-to que herdei do

meu pai, por isso é difícil citar apenas um, me recordo que li Capitães

da Areia de Jorge Amado, me mar-cou bastante pois estava entrando

na fase da adoles-cência

Primeiro Livro

A coleção toda de Monteiro Lobato

Livro Marcante

Capitães da AreiaAutor: Jorge AmadoEditora: Companhia das Letras

WilliAM MAcHAdo de oliveirA

Tive um pou-co de restrição no começo mas ado-rei o livro, tanto que sempre que vou presentear

alguém o escolho. Já foram mais de

20 livros

Primeiro Livro

Feliz ano velhoAutor: Marcelo Ru-bens PaivaEditora: Objetiva

Livro Marcante

O Futuro da Huma-nidadeAutor: Augusto CuryEditora: Sextante

O que está lendo

Diálogos: Direi-tos Humanos no Século XXAutor: Daisaku IkedaEditora: Record

Lições deixadas pelos defensores dos direitos humanos que ilustram a história da Humanidade - Mahat-ma Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela e Austregési-lo de Athayde inclu-sive.

O que está Lendo

Ramsés - O Filho da Luz Vol.1Autor: Christian JacqEditora: Bertrand Brasil

Ao recriar a grandiosidade e o mistério dos tempos antigos, Christian Jacq retrata, o magnífico faraó Ramsés.

Page 24: Revista Mundo Literário

24 programas culturais

A Oficina da Palavra, localizada na anti-ga casa do escritor Mário de Andrade, na Rua Lopes Chaves 546, no bairro da Barra Funda, São Paulo, é o local ideal

para quem quer se aprofundar na linguagem escrita e falada. A casa é tombada pelo patrimônio histórico, não pelo seu valor arquitetônico, mas sim pelo nome e

Muita coisa mudou desde a época em que o es-critor Mário de Andrade morou na casa que hoje abriga a Oficina da Palavra, mas a palavra escrita e a relação das palavras umas com as outras con-tinuam sendo fonte fundamental de informação

com significado cada vez mais rico.

Por Leandro Monteiro

Oficina da Palavra: Casa Mário de Andrade

Page 25: Revista Mundo Literário

25Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

pela importância na Literatura nacional de seu ilustre antigo morador. Perten-cente à rede de Oficinas Culturais, da Secretária da Cultura do Estado de São Paulo, a casa já foi ponto de encontro de intelectuais modernistas e abrigou muitas reuniões de preparação da Se-mana de Arte Moderna de 1922. Hoje, segue sua inclinação tratando de diver-sos gêneros literários, produção crítica e texto, promovendo oficinas, ciclos de debates, cursos, palestras, leituras dra-máticas, roteiro para cinema, poesia, jornalismo e dramaturgia.

Na casa, citada por Mário de An-drade em vários de seus poemas, não é possível encontrar muitos pertences, somente algumas estantes e uma con-versadeira fixada na parede. É possível ainda, ver um velho piano, no qual, di-zem, Mário de Andrade teria dado au-

munidade paulistana: o projeto Contos Interativos. Coordenado pela artista multimídia Ana Luisa Anker, em 2004, o projeto obteve muito sucesso com o público infantil. O processo se deu atra-vés da escolha de um tema para ser de-senvolvido; elaborado o roteiro, ganhou expressão gráfica através de desenhos,

colagens, fotos, produção de efeitos de áudio e trilha sonora, além dos softwares de animação.

Qualquer pessoa pode se inscrever e partici-par dos projetos propostos, desde que atendam os pré-requisitos exigidos. O cri-tério de seleção não é por formação acadêmica, mas pelo nível de interesse do candidato à vaga; a escolha é realizada pelo professor da atividade. As inscrições devem ser feitas pessoal-mente na Oficina, no ho-rário de funcionamento da Administração, das 12 às 20 horas. As atividades são gratuitas, custeadas pelo governo do estado de São Paulo.

Entre os nomes que já passaram pela Oficina da Palavra estão: Lygia Fa-gundes Telles, Marcos Rey, João Silvé-rio Trevisan, Ivan Ângelo, Ruth Rocha, Ignácio de Loyola Brandão, João Cabral de Melo Neto, José Simão, Zé Rodrix e Marcelo Tas.

las. Tudo o mais está devidamente guar-dado e disponível para consulta pública no IEB (Instituto de Estudo Brasileiro) na Cidade Universitária da USP.

A Oficina da Palavra teve um de seus projetos reconhecido e seleciona-do pelo Ministério da Educação como exemplo da sua contribuição para a co-

Porão com quadros do escritor Mario de Andrade - foto: Jorge Syring

Sala com quadro dos Modernistas - foto: Jorge Syring

Page 26: Revista Mundo Literário

26 making of

Ninguém sai ileso da leitura de Grande Ser-tão: Veredas, um dos mais importantes livros brasileiros. O romance de João Gui-

marães Rosa (1908 – 1967) é consagrado como eterno por permitir uma interpretação a cada leitura. A gama de possibilidades de entendimento das diversas temá-ticas presentes no texto rosiano parece não ter fim.

Foi considerando essa amplitude, com uma dose de legítimo fascínio pelo clássico literário, que a musicista Regina Porto, 50, desenvolve o Além Ser-tão: O Livro Infinito de Guimarães Rosa, um dos mais criativos e amplos projetos artísticos já realizados para promover múltiplas reflexões sobre essa obra.

O tamanho da concepção faz jus à importância do livro: integram a empreitada 24 programas radio-fônicos, com uma hora de duração cada; um colóquio sobre Grande Sertão: Veredas, que reuniu no mês de maio, em São Paulo, 12 estudiosos da obra; e a grava-ção de dois CDs com a música vanguardista de Regina Porto, inspirada na intensidade poética e narrativa do escritor.

Ao longo de décadas, muitos letrados bus-cam compreender cada trecho dessa genial obra; e é no conjunto dessas análises que podemos perceber a predominância da vastidão conceitual da obra e a impossibilidade de se definir facilmente toda a sua genialidade. Sem pretensões acadêmicas e com a sen-sibilidade comum de quem lida com música, Regina aposta em um sistema interpretativo que se rende à grandiosidade da obra de Guimarães Rosa.

“Este livro é a música das músicas”, diz Regina, que leu a obra pela primeira vez há cerca de 15 anos,

Projeto cultural que fala sobre os diversos aspectos do eterno livro ‘Grande Sertão: Veredas’ mobiliza quase uma centena de especialistas e entusiastas da obra de Guimarães Rosa.Por Robinson Machado

Muito além

Grande Sertão: Veredas

das páginas

Regina Porto, sobre o livro de Guimarães Rosa

Este livro é a música das músicas“ ”

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Page 27: Revista Mundo Literário

27Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

durante uma viagem solitária pelo nordeste brasilei-ro. Mas foi em 2005 que partiu com Riobaldo e Dia-dorim rumo ao labirinto interior do romance rosiano. “Participei de uma oficina multidisciplinar que buscou investigar o ambiente utilizado por Guimarães Rosa”, conta. Percebeu que o livro pode ser lido muitas vezes e sempre surpreenderá: “novas palavras saltam a nos-sos olhos a cada leitura”. Ao todo, Regina leu o livro quatro vezes, além de uma bibliografia com mais de 20 livros sobre a obra.

Naquela época, ela foi convidada para cuidar da produção de áudio de uma trilogia de espetáculos de dança inspirada em Grande Sertão: Veredas na cidade natal de Rosa, Cordisburgo, em Minas Gerais. Nesse contexto, criou um trabalho artístico inédito, basea-do no que ela chama de paisagem sonora. A partir da captação de sons naturais, como o canto de pássaros ou o barulho de um rio, Regina buscou representar musicalmente as três fases do livro.

O resultado desse design sonoro é um “teci-do” musical baseado na junção de sonoridades puras, em composições que levam em conta timbres e tons, criando assim uma espécie de abstração musical.

Para chegar nessa criação de vanguarda, cada vez menos comum em diversas linguagens artísticas, ela não partiu do nada. Regina Porto é produtora, jor-nalista e “sound designer”. Dirigiu a Cultura FM de São Paulo e foi editora de música da revista “Bravo!”. Formada em piano, fez jornalismo na Universidade de São Paulo e estudou análise e regência com H.J. Koell-reutter. Um repertório tão acumulado garantiu a cria-ção de um projeto sólido e integrador de dezenas de personalidades em uma verdadeira celebração da obra de Guimarães Rosa.

O espetáculo de dança, sonorizado por Regina Porto, reuniu um público de três mil pessoas na região de Cordisburgo, ao ar livre, em frente à casa que fora de Guimarães Rosa. Ela assistiu a apresentação discre-tamente, junto a uma das enormes caixas de som que a fizeram ouvir sua própria obra com uma intensidade inédita e sempre atenta à reação da platéia. “Quando o público não tem necessariamente um compromis-so com o produto cultural, ele é muito mais autêntico nas reações; é diferente do que a gente tem aqui em São Paulo, essa ‘cultura do aplauso’”, diz Regina, ela acrescentou ainda, que diversas pessoas emocionadas foram cumprimentá-la após a apresentação.

Motivação não faltou para que Regina inves-tisse esforços no projeto. Durante a produção das pai-sagens sonoras dos espetáculos, ela inscreveu a pro-posta dos programas de rádio na Secretaria de Estado da Cultura e foi premiada em 1º lugar de uma lista de

60 projetos voltados ao incentivo à leitura, garantin-do o apoio necessário para a produção de 12 horas de programação, que já viraram 24, conforme o projeto vem ganhando corpo; além da gravação dos CDs e a realização do colóquio.

A série começa a ser veiculada a partir de agos-to deste ano em 40 emissoras públicas filiadas à Asso-ciação das Rádios Públicas Brasileiras. A especialista em rádio calcula que cada um dos programas alcance um público de 400 mil pessoas em todo o Brasil.

Os programas contarão com a participação de 70 personalidades da área de cultura e autoridades acadêmicas, que vão analisar a obra Grande Sertão: Veredas sob suas múltiplas dimensões. O ineditismo e multiplicidade do material impressionam: partici-param filósofos, antropólogos, cineastas, teólogos, biólogos, geógrafos e diversos outros profissionais.

PARTICIPANTES TEMA

Adélia Bezerra de Menezes

Profª de Literatura (USP)

Leitura psicana-lítica

Ana Lúcia Magela Antropóloga Sanitarismo: os párias

Ana Luiza Martins Costa

Antropóloga e roteirista

Símiles homéricos

Anna Maria Kieffer Cantora lírica A donzela guerreira

António Vieira Escritor (Portugal) A guerra civil

Carlos Augusto Monteiro

Geógrafo (USP, Unicamp)

Paisagens imagi-nárias

Carlos Rennó Letrista Poesia e prosódia

Carlos Rodrigues Brandão

Antropólogo (Uni-camp)

Veredas

Ceumar Cantora popular Natureza em versos

Cleusa Rios Pinhei-ro Passos

Profª de Literatura (USP)

A transgressão do feminino

Cristina Fonseca Documentarista apud Augusto de Campos

Davi Arrigucci Profº de Literatura (USP)

O Mundo Mistu-rado

Dora Guimarães Contadora de história

[excertos do livro]

Eduardo Coutinho Documentarista Aforismos, pro-vérbios

Frei Betto Teólogo e escritor O bem e o mal

Heloísa Starling Cientista Política (UFMG)

História e ficção

João Adolfo Hansen

Profº de Literatura (USP)

Sintaxes

Jorge Vieira Astrofísico e filóso-fo (PUC)

Teoria da comple-xidade

Page 28: Revista Mundo Literário

28 making of

José Oscar Beozzo Sociólogo e teólogo Representações religiosas

Leonardo Boff Teólogo e escritor Representações místicas

Letícia Malard Profª de Literatura (PUC-MG)

Geografia literária

Letícia Sabatella Atriz O Rio São Fran-cisco

Lúcia Santaella Semioticista Hipertexto

Luís Otávio Santos Violinista e musi-cólogo

Figuras de retórica

Luiz Carlos Prestes Filho

Economista A Coluna Prestes

Luiz Claudio Vieira de Oliveira

Profº de Literatura (UFMG)

Leminiscata: meta-linguagens

Luiz Fernando Carvalho

Cineasta Os olhos de Dia-dorim

Luiz Roncari Profº de Literatura (USP)

Platonismo e dionisismo

Márcia Marques de Morais

Profª de Literatura (PUC-MG)

Sujeito e desejo

Marcus Mazzari Profº de Literatura Romance de for-mação

Maria Elisa de Almeida

Contadora de história

[excertos do livro]

Maria Elisa Mader Profª de História (PUC-Rio)

Sertão: vazio

Murilo Marcondes Profº de Literatura (USP)

Canção de Siruiz

Oscar Beozzo Padre, sociólogo e teólogo

Representaçõres religiosas

Paulo César Carnei-ro Lopes

Profº de Literatura Síntese dialógica

Rodolfo Nanni Cineasta O Sertão

Rubem Alves Escritor Memórias

Sérgio Alcides Poeta Lira e liro-liros

Walnice Galvão Profª de Literatura (USP)

O Rapsodo da Língua

Wander Miranda Profº de Literatura (UFMG)

Romance de cavalaria

Willi Bolle Profº de Literatura (USP)

Sertão e cidade

Yudith Rosenbaum Profª de Literatura (USP)

Estrutura narrativa

As entrevistas duraram em média 90 mi-nutos. Personalidades do meio cultural receberam no momento da gravação um

livreto, produzido por Regina, contendo frases alea-tórias extraídas do livro, escolhidas de acordo com o perfil do entrevistado. A cada página virada, o convi-dado tecia um comentário emotivo ou fazia uma aná-lise sobre aquele trecho, como quisesse. Para algumas pessoas do meio artístico, por exemplo, o livreto pos-suía trechos para leitura interpretativa. Divido por temas gerais da obra, como o feminino e a astrologia, ou temas específicos, como “os olhos de Diadorim”, os programas de rádio publicarão em território nacional as quase infinitas percepções selecionadas.

Eduardo Coutinho grava para a série radiofônica no Rio de Janeiro. - abril de 2008 - foto divulgação

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29Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

“O tema do Arnaldo Antunes foi “Eu, Riobal-do, eu”. Arrasou. Topou de cara fazer, arranjou espa-ço no meio de uma turnê, cancelou compromisso só para gravar para gente. Em resumo: fez questão. E in-condicionalmente. Praticamente, todo mundo topou participar de cara e sem qualquer condição a priori. Devoção a Guimarães Rosa, loucura por esse livro... As pessoas se exaltam à menção do Grande Sertão: Veredas. Tira todo mundo do sério, uma coisa”, diz

Regina Porto“Dormindo pouco”, Regina Porto e sua equipe

estão em fase final de edição das gravações. O tra-balho é puxado: cerca de oito horas são usadas para reproduzir em texto uma gravação de pouco mais de uma hora. No processo, um banco de dados é criado para que o conteúdo possa servir de base a um roteiro temático, que será montado posteriormente na forma de programa radiofônico.

Esse fôlego todo foi também usado para a or-ganização do colóquio multidisciplinar que reuniu 12 estudiosos do autor em painéis dedicados a investigar “Figurações, Topologias e Escritura no Grande Sertão: Veredas”. O evento aconteceu em maio, na capital paulista, com público de cerca de 200 pessoas.

Registros da música de Regina Porto, produzi-da durante 4 anos de edição, pesquisa e captação da sonoridade do sertão mineiro em locais como Morro da Garça, também integram o projeto. Em um álbum duplo, todo o seu trabalho de design sonoro estará junto a composições recitativas, com trechos do livro na voz de convidados como Tetê e Alzira Espíndola, Ná Ozzetti, Ceumar e Marlui Miranda.

Boa parte desse trabalho acontece no aparta-mento da musicista, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Com ela trabalham Cecília Miglorancia, produtora executiva e de captação de som das entre-vistas e paisagens sonoras e Marta Fonterrada, pro-dutora da rádio cultura FM, que dá apoio na edição dos programas. A convivência do time, que respi-ra Guimarães Rosa, tem a companhia de dois gatos passeando o tempo todo entre as profissionais, além dos muitos livros e CDs, computadores e um estúdio para edição de áudio. Um mural organiza em listas os nomes e os próximos passos; anotações em blo-cos e folhas soltas ocupam não apenas as estações de trabalho: são vistas nos locais de suposto descanso, como prova de que não há pausa. Apesar disso, não há qualquer sinal de desânimo na produção desse im-pressionante projeto, que, pelas grandes proporções, nos deixa com uma vontade de que ele seja infinito, como o livro que exalta.

Regina Porto pensa em produzir em breve um site para disponibilizar todo o conteúdo. As transcri-ções já formam maços de papel encadernados e sepa-rados por entrevistado, precendo pedir para se tornar um livro; no entanto, ainda não está inteiramente nos planos da mais nova e diferenciada referência em Grande Sertão: Veredas do país.

Todo o projeto de Regina Porto contou com uma con-sistente bibliografia de apoio.

Grande Sertão: Veredas, João Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa: viator, Ana Luiza Martins Costa

Homero no Grande Sertão, Ana Luiza Martins Costa

Diadorin Belo Feroz, Ana Luiza Martins Costa

Grande Sertão: Veredas: no redemunho das cantigas, Cleusa Rios Pinheiro Passos

Guimarães Rosa: ver, lembrar, reinventar, Cleusa Rios Pinheiro Passos

Guimarães Rosa: do feminino e suas estórias, Cleusa Rios Pinheiro Passos

A Poesia do Acaso - Na Transversal da Cidade, Cristina Fonseca

Juó Bananére, o Abuso em Blague, Cristina Fonseca

Lembranças do Brasil - Teoria, Política, História e Ficção, Heloísa Starling

O sentido do moderno no Brasil de João Guimarães Rosa, Heloísa Starling

Grande Sertão: Veredas e o ponto de vista avaliativo do autor, João Adolfo Hansen

O Sertão de Rosa: Uma Ficção da Linguagem, João Adolfo Hansen

Guimarães Rosa e a linguagem pré-babélica, João Adolfo Hansen

Ideologia e Poder em Grande Sertão: Veredas, Luiz Claudio Vieira de Oliveira

O sentido e a máscara em Grande Sertão: Veredas, Luiz Claudio Vieira de Oliveira

Literatura Brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos, Luiz Roncari

O Brasil de Rosa: o amor e o poder, Luiz Roncari

A travessia dos fantasmas: literatura em psicanálise em Grande Sertão: Veredas, Márcia Marques de Morais

A Síntese Dialógica de Rosa, Paulo César Carneiro Lopes

Dialética da Iluminação, Paulo César Carneiro Lopes

Utopia cristã no sertão mineiro, Paulo César Carneiro Lopes

O narrador em Corpo de Baile, Paulo César Carneiro Lopes

A pergunta de Miguilin e a resposta da mãe, Paulo César Car-neiro Lopes

Page 30: Revista Mundo Literário

30 acontece nas livrarias

Cursos

A XP Educação promoverá, na Fnac Paulista, uma pa-lestra chamada Operando com o mercado em baixa. Nessa palestra, serão apresentadas as ferramentas necessárias para acabar com os mitos de que todos perdem com a baixa do mercado.

Quando: dia 16 de Agosto, às 19h.Onde: O Centro Cultural fica na Avenida Paulista, n° 901 – Térreo Mezanino e 1° subsolo – Bela Vista – São Paulo/SP. Telefone: (11) 3027-3729.

XP Educação fará palestra na Fnac Paulista

A Estação das Letras realizará quatro encontros com leituras diversas a respeito da evolução da história literária brasileira. Seus principais movimentos serão interpretados com textos para uma melhor compre-ensão de sua importância. O professor responsável será o poeta e romancista Carlos Nejar, que já publi-cou diversos títulos. As inscrições devem ser feitas no site: www.estaçãodasletras.com.br. Quando: de 03 a 24 de Agosto (toda segunda-feira), das 19h30 às 21h30. Onde: Rua Marquês de Abrantes, 177 – Loja 107 – Flamengo – Rio de Janeiro/RJ. Telefone: (21) 3237-3947.

História da Literatura

O Workshop tem como principal objetivo dar suges-tões aos participantes do fazer artístico das crianças, trabalhando o seu processo de movimentação e aprendizagem através da obra O Pequeno Príncipe. Serão ouvidos vários momentos da história para a realização de atividades, e a palestra terá a presença de Tânia Freire e Juliana Naso. As inscrições devem ser feitas no site: www.vivaedeixeviver.org.br. Quando: nos dias 16, 23 e 30 de Julho, das 19h às 22h. Onde: Associação Viva e Deixe Viver. Avenida Re-bouças, n° 1206 (Conj. 06) – Pinheiros – São Paulo/SP. Telefone: (11) 3081-6343.

Workshop - Pequeno Príncipe - As Pos-sibilidades do fazer artístico da histó-ria

Curso da Escola do Escritor mostrará como funciona o mercado editorial, desde o processo de criação até a chegada ao público. Como identificar as oportunida-des e os cuidados necessários em todas as etapas de produção para a publicação de uma obra. As inscri-ções devem ser feitas no site: www.escoladoescritor.com.br.

Quando: dia 15 de Agosto, das 9h às 13h. Onde: Rua Mourato Coelho, n° 393 (Conj. 01) – Pi-nheiros – São Paulo/SP. Telefone: 3034-2981.

Como produzir um livro

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31Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

A Academia de Ideias irá mostrar o surgimento do cinema clássico com suas primeiras imagens, as rupturas das vanguardas européias e o surgimento da narrativa moderna. Todas as tendências e escolas que contribuíram com o desenvolvimento e a conso-lidação da sétima arte. As inscrições devem ser feitas no site: www.academiadeideias.com. Quando: dias 15, 20, 22 e 27 de Julho, das 19h30 às 21h45. Onde: Rua República Argentina, n° 755 – Belo Hori-zonte – MG. Telefone: (31) 3281-7750.

História do cinema

Eventos

A Sá Editora acaba de lançar sua nova obra: Baby Ji. O livro conta a história de uma adolescente indiana e suas descobertas sobre o amor, sexo e a vida. O Romance iniciático é a estréia no Brasil da Roman-cista indiana Abha Dawesar, escritora saudada pela crítica internacional, com obras publicadas em mais de dez países.

Lançamento de livro

O ofício do contador de histórias exige um constan-te exercício de sua criatividade. Por isso, a oficina proporciona uma maior conexão com seus recursos internos e potencial inventivo, ferramentas que são essenciais na prática com jovens e crianças. Com Fabiana Prando, contadora de histórias na cidade de Santos. Maiores informações no telefone: (11) 3081-6343.

Quando: dia 18 de Julho, das 9h às 12h.Onde: Associação Viva e Deixe Viver. Avenida Re-bouças, n° 1206 (Conj. 06) – Pinheiros – São Paulo/SP.

Oficina Contar e Recriar

A Confraria Reinações reunirá escritores e leitores de literatura infantil e juvenil, para discutir a leitura de um texto específico. A escolhida para o mês de Julho será Meu pé de laranja lima, de José Mauro Vascon-celos. O debate da produção literária é voltado para crianças e adolescentes, destacando a importância da formação de um público leitor. Quando: dia 21 de Julho, às 19h30Onde: Livraria Letras & Cia, na Rua Oswaldo Ara-nha, n° 444, Bom Fim – Porto Alegre – Rio Grande do Sul.

Leitura de texto infantil

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32 consultoria jurídica

A propriedade intelectual abarca, além da propriedade industrial, os direitos autorais e outras matérias.

Foi no bojo da revolução industrial que eclo-diu, em 1789, na França, a revolução burgue-sa (social e política), sob o lema da liberté, Égalité et Fraternité. nesse período, os dois campos básicos dos direitos do inventor e do autor artista tomam forma e espaço próprio através, respectivamente, das leis francesas de 1791 e 1793.

Reflexo dessa nova ordem foi o Alvará de 28 de abril de 1809, de d. João vi, consi-derado a primeira lei de proteção aos invento-res no Brasil e a quarta no mundo, ao lado da inglaterra, França e estados Unidos da Amé-rica. A lei de 11 de agosto de 1827, que criou os cursos jurídicos no Brasil, foi também uma das primeiras leis de direitos de autor.

As marcas de indústria e comércio se inserem no campo da propriedade industrial e são protegidas no Brasil desde 1875, ano em que foi editada nossa primeira lei a respeito. essa nova ordem se internacionaliza através da convenção de Paris para a Proteção da Propriedade industrial de 1883 e da conven-ção de Berna para a Proteção das obras lite-rárias, Científicas e Artísticas de 1886, ambas subscritas pelo Brasil.

Aos direitos de autor foram acrescidos os dos artistas intérpretes e executantes, sob a rubrica de direitos autorais. A essa altura, a propriedade industrial compreendia os direi-tos dos inventores e dos sinais distintivos em-

pregados no comércio e os direitos autorais abrangiam os de autor, propriamente ditos, os dos intérpretes e executantes.

Mas o conteúdo da propriedade inte-lectual seguiu se alongando. em 1807 na França, napoleão Bonaparte editou uma lei específica de proteção aos desenhistas indus-triais. Hoje, os desenhos industriais consti-tuem capítulo da propriedade industrial, em-bora tenha natureza estética. nos anos 80, do século XX, foi desenvolvida a proteção aos programas de computador que, mesmo sendo de natureza técnica, se alojou sob o manto do direito autoral. nesse, também, foi incluída a proteção às empresas produtoras de fono-gramas e de radiodifusão, emissoras de rádio e televisão (mais de natureza industrial que artística)- são os chamados direitos conexos – que incluem também artistas (intérpretes e executantes).

Mais recentemente, passou-se a tutelar, também, as denominadas cultivares (varieda-des vegetais) e a biotecnologia, seja através do sistema de patentes, seja através de siste-ma sui generis.

Finalmente, por lei própria, o Brasil passou a tutelar os circuitos integrados. As-sim, temos, atualmente, a lei de propriedade industrial, que cuida das patentes de inven-ção, dos modelos de utilidade, dos desenhos industriais, das marcas e da concorrência des-leal. Além de, por leis próprias, as cultivares e os circuitos integrados.

O QUE É PROPRIEDADE INTELECTUAL?

Por Newton Silveira

Propriedade intelectual

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33Mundo Literário - www.revistamundoliterario.com.br

todas essas leis foram editadas após 1995, ano que entrou em vigor no Brasil o chamado Acordo triPs, que regula em âmbito internacional a propriedade inte-lectual nos países integrantes da oMc – organização Mundial do comércio.

Quanto à concorrência desleal, há que discriminar as normas de direito pri-vado (concorrência desleal ou ilícita) e de direito público (abuso de poder econômi-co). As normas de concorrência de direito privado tutelam diretamente o aviamento e têm aplicação subsidiária nas infrações aos demais direitos de propriedade indus-trial e de autor. As de abuso do poder eco-nômico tutelam a liberdade de concorrên-cia dentro da ordem econômica e social.

Segundo Asca-relli, o denominado direito patrimonial do autor tem como fato constitutivo a criação da obra e como ponto de referência a pró-pria obra, considera-da como externa ao sujeito, o qual conta com um direito abso-luto sobre sua utiliza-ção. Por esse motivo, Ascarelli utiliza o esquema da proprie-dade, considerando o direito absoluto do autor como um di-reito de propriedade sobre sua obra, bem imaterial.

o objeto do di-reito de autor é, em conseqüência, uma obra, entendida como produto da elabora-

ção do intelecto, enquanto, o invento con-siste em uma idéia no campo da técnica industrial. As demais criações de forma, como os modelos e desenhos, bem como os sinais distintivos, constituem também bens imateriais, mas a exclusividade con-ferida pela lei se refere a uma determina-da atividade correlacionada a esses bens imateriais.

enquanto os chamados bens ima-teriais tutelados diretamente por normas específicas (como as patentes, marcas e direitos de autor) gozam de exclusivida-de absoluta, podendo se incluir entre os direitos reais, outros bens imateriais nem chegaram a merecer do legislador essa tu-tela específica. Assim, os sinais distintivos

não registra-dos, os segre-dos de fábrica e de comércio, a cópia servil de produtos não patentea-dos recebem do legislador um tratamento genérico, atra-vés das normas de repressão à concorrência desleal, ficando entre os direi-tos de crédito, de exclusivi-dade relativa. A incidência da norma vai depender de uma situação de concorrên-cia entre os agentes.

Newton Silveira - Advo-gado, Mestre em Direito Civil e Doutor em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP. Mem-bro do Conselho Diretor do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados – CESA e diretor geral do Instituto Brasileiro de Pro-priedade Intelectual – IBPI. Membro do Conselho Con-sultivo e ex-presidente da ASPI e 3º vice-presidente da ABPI.

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34 coluna

Certa vez, uma jornalista me pergun-tou o que diferenciava a Literatura Adulta da Infanto-Juvenil. Na hora,

achei a pergunta meio óbvia e respondi que além do texto curto, da linguagem simplifica-da e das ilustrações, a literatura infantil fun-cionava como uma preparação para situações que as crianças um dia viriam a experimen-tar.

Depois de um tempo, comecei a perce-ber que minha resposta era óbvia e a pergunta, até complexa. O fundamental distanciamento entre as duas Literaturas é o desmerecimento da infantil em relação à adulta, isso sim. A ex-cessiva preocupação com a didática acabou, ao longo dos anos, desqualificando as obras des-se gênero. Os aumentativos, os diminutivos, a falta de conteúdo, o politicamente correto demais e a ousadia de menos, são de deixar de nariz torcido quem entende de Literatura Adulta muito bem e conheceu a Infantil ape-nas pelos livros dos filhos ou por aqueles que, às vezes, esbarram nas livrarias.

Dou razão a essas pessoas. Não é difícil encontrarmos livros recheados de narrativas que vão do nada a lugar nenhum; cheias de lugares-comuns e geralmente pobres, muito pobres, em vocabulário. E o pior de tudo, a Li-teratura Infantil é um território infestado de aventureiros: qualquer um, hoje em dia, acha que pode escrever para crianças. Pois se até a Madonna – que escandalizava pais e avós na minha infância e adolescência - tem livros in-fantis na praça.

Por outro lado, o mercado também dis-põe de publicações infanto-juvenis de altíssima qualidade - talvez não na mesma proporção das fraquinhas, infelizmente. Autores e ilustrado-res nacionais e estrangeiros preocupados não apenas em publicar livros em grande quanti-dade e ganhar fama, mas em fazer Literatura, pelo prazer de escrever – ou dar forma e cor, no caso dos ilustradores - a uma boa história.

Oras, mas então o que é qualidade lite-rária em livros infantis? Essa é uma discussão que vai longe... Basicamente, haverá qualida-de se a história tiver começo, meio e fim, se acrescentar algo de diferente no repertório das crianças - sobretudo o de palavras, se despertar a curiosidade em explorar novas áreas de co-nhecimento, se fizer pensar e, principalmente, se fugir dos estereótipos: afinal, meninas nem sempre gostam de cor-de-rosa e há aquelas que odeiam brincar de boneca e alguns meninos não vem graça em futebol e o azul pode não ser uma das suas cores preferidas.

Não é na ficção em que tudo acontece? Então por que subestimar a inteligência das crianças oferecendo historinhas bobas, rasas? É possível incentivá-las a irem muito além: descobrir as entrelinhas é transformar a leitu-ra num passatempo e mais ainda, numa ferra-menta de informação.

Literatura infantil verdadeira é aquela que faz bem aos ouvidos, aos olhos e à ima-ginação. E arriscaria dizer que se sobrepõe à adulta porque agrada gente de todas as idades: do zero aos cem anos.

De nariz torcido

Maria Amália Camargo é formada em italiano e em português pela Faculdade de Letras e Ciências Humanas da USP. Lançou, em 2006, Laranja-pêra, couve manteiga (Sele-ção Especial da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil para o catálogo de Bolonha 2007) e Acra de Eon. Participou, em 2007, como au-tora convidada da Flipinha e lançou seu terceiro livro, Romeu suspira, Julieta espirra. No ano seguinte, lançou Muito pano pra manga (texto finalista do Concurso de Literatura João de Barro e Seleção Especial da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil para o catálogo de Bolonha 2009) e participou do projeto Viagem Literária, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Em 2009, publicou seu primeiro texto longo, Companhia Três Marias, com ilustrações da autora. Todos os seus livros são editados pela Girafinha. Para conhecer mais sobre o seu traba-lho, visite:www.nacontramaodocontrario.blogspot.com

Maria Amália Camargo

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