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OBSERVA MAGAZINE REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT OBSERVA MAGAZINE 01 / ABRIL EDIÇÃO 16

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Page 1: REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT OBSERVA · Jovem português, Alexander Dumont dos Santos Advogado e Mestre em Gestão Internacional ... As atividades da nossa associação estão,

OBSERVAM A G A Z I N E

R E V I S T A M E N S A L O B S E R V A M A G A Z I N E . P T

O B S E R V A M A G A Z I N E

0 1 / A B R I L

E D I Ç Ã O

16

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OBSERVA

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 3

OBSERVAM A G A Z I N E

EDITORIAL, POR MADALENA PIRES DE LIMA A Fé dos portugueses em tempos incertosUm povo diferente de todos os outros

AILD - ASS. INTER. DOS LUSODESCENDENTES As eleições Municipais em França. A ascensão de portugueses na política francesa

DE REGRESSO A PORTUGAL Jovem português, Alexander Dumont dos Santos Advogado e Mestre em Gestão Internacional

GRANDE ENTREVISTA, JOÃO LUÍS DUQUE Economista, Professor do ISEG, cronista e comentador. Especial Covid-19

ESPAÇO DO CCP Fernando Campos Topa Conselheiro das Comunidades Portuguesas

PORTUGAL, CÁ DENTRO Descentralização, uma visão comparadaUrge em Portugal. Por Gonçalo Sampaio de Melo

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13

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CURIOSIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA Livros, Autores e Poetas Lusos Padre António Vieira e a profecia do V Império

O CÉU QUE NOS ÚNE Por Inês BernardesO vírus, a crise e a nova “U(ma)nidade”

À ESPREITA LÁ FORA Vale de Hunza. Mito ou realidade? A imunidade e a alimentação

DA ALMA: SABORES LUSOS EM ESTADO LÍQUIDO Por Pedro GuerreiroAs curvas de crescimento e do absurdo

LEGAL Brexit e Covid-19: Nunca se espera o inesperadoPor Abreu Advogados

DIREITO FISCAL COVID -19Por Rogério Fernandes Ferreira & Associados

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46

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58

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OBRAS DE CAPA

A CRIATIVIDADE NATA

A pobreza é um fator comum na vida da maioria das pessoas que sempre viveram nos arquipélagos do Golfo da Guiné, e que a história de origem esclavagista não o nega, igualmente, em toda a extensão do continente negro. Falar em desen-volvimento nesta região é focar no auge da exploração do café, do cacau e da fragmentação crescente de uma sociedade em classes, que de um lado espelhava a riqueza palaciana, e do outro, a total pobreza. Na atualidade, essa estrutura de organização social mantém-se, o que condiciona o crescimento dos mais desfa-vorecidos, embora, na constituição política e do direito santomense esteja plasmado o contrário. Uma herança colonial que faz da pobreza o maior fertilizante da imagina-ção, e constitui por sua vez, a motivação para a superação de todas as dificuldades do quotidiano.Como podemos ter um país ou mesmo o continente africano, a melhorar as condi-ções de vida desta parte feminina da sua população, se a sua potencialidade nata não é reconhecida, nem é ajudada pela sociedade?

Ismaël [email protected]

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DOTCOME : [email protected]

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A Wonderpotential Lda, não é respon-sável pelo conteúdo dos anúncios nem pela exatidão das características e pro-priedades dos produtos e/ ou bens anunciados. A respectiva veracidade e conformidade com a realidade são da integral e exclusiva responsabilidade dos anunciantes e agências ou empresas publicitárias.

CONTACTOS

E : [email protected] : https://observamagazine.ptT : 309 921 350

PERIODICIDADE

MENSAL

DIREITOS

Em virtude do disposto no artigo 68º nº2, i) e j), artigo 75º nº2, m) do Código do Di-reito de Autor e dos Direitos Conexos ar-tigos 10º e 10º Bis da Conv. de Berna, são expressamente proibidas a reprodução, a distribuição, a comunicação pública ou colocação à disposição, da totalidade ou parte dos conteúdos desta publicação, com fins comerciais directos ou indirec-tos, em qualquer suporte e por quaisquer meio técnico, sem a autorização da Won-derpotential Lda.

EDIÇÃO

Abril 2020, Edição 16 - GRATUITAVersão digital

R E V I S Ã OJG Consulting

D I R E T O R A A D J U N T A

Madalena Pires de Lima

E S T A T U T O E D I T O R I A L

https://observamagazine.pt/estatuto-editorial

R E G I S T O E R C

127150

E D I T O R E P R O P R I E T Á R I O

Wonderpotential Lda, NIF 514077840

D I R E T O R

Jorge Vilela

D I R E T O R A C O M E R C I A L

Gilda Pereira

D E S I G N G R Á F I C OColors Design - https://colorsdesign.eu

E D I T O R E S

António Manuel Monteiro, Cristina Passas, Flávio Alves Martins, Fernando Campos Topa , Fernando Cerqueira Barros, Gilda Pereira, Gonçalo Sampaio e Melo, Inês Bernardes, Ismaël Sequeira, João Vacas, José Governo, Liliana Silva, Marco Neves, Pedro Guerreiro, Philippe Fernandes, Renata Silva Alves, Rogério M. Fernandes Ferreira, Sonia Coelho, Tiago Sabarigo, Vitor Afonso, Vanda de Mello

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 5

Cá estamos nós engaiolados, enquanto os seres com asas

de verdade continuam a cantar-nos ao nosso interior, do

exterior das nossas grades. Como se pode prender seres

com asas? Perguntei a um amigo. « Ainda assim conti-

nuam a cantar para nós - lá de fora - em solidariedade

connosco ». É tempo de nos despirmos de artificialismos

e nos aproximarmos da Verdade. Para morrer todos te-

mos de arranjar tempo, sem poses nem selfies. Falemos

de Vida, de soluções e de criatividade, que vão surgindo

sempre em alturas de aflição. Na nossa primeira edição

prometemos-lhe ser positivos e vamos cumprir a nossa

promessa.

A AILD - ASSOCIAÇAO INTERNACIONAL DOS LUSO-

DESCENTES - no seu espaço entre nós, dá-nos conta das

eleições municipais em França. Fomos recebidos, na sua

casa, por João Luís Correia Duque, Professor do ISEG e

Doutor em Economia que, com a habitual boa disposição

nos concedeu a nossa grande entrevista, um especial Co-

vid-19. Descubra duas novas rubricas. Leia a opinião do

Conselheiro das Comunidades, Fernando Campos Topa,

que nos fala da Venezuela e fique a saber que “os por-

tugueses são os principais “sócios” do Estado Venezue-

lano para a manutenção da cadeia alimentar do povo”.

A Sociedade Abreu Advogados assina a rubrica “Legal”.

No Alto Minho temos o maior parque eólico da Europa.

Venham as energias verdadeiramente verdes, mas e os

pescadores, senhores? Na ávida procura científica de re-

médio e de uma vacina, a que todos querem chegar pri-

meiro a patentear o seu Ego, lembrei-me de uma cena

de um antigo filme português, o Leão da Estrela em que o

nosso grande actor António Silva discutia com a mulher,

dizendo-lhe esta que não tinha razão - em casa do ca-

pitão viajado e ausente - enquanto ele, lhe lembrou que

não era precisa a razão para nada e o que era necessário

eram malas. As malas que tantos portugueses fazem e

desfazem por este mundo fora, um mundo que podemos

olhar também à luz, não da razão ou da ciência, mas das

profecias, como a do Padre António Vieira sobre o V Im-

pério, que, pertencerá aos portugueses, não em forma

de território mas de espiritualidade, seja ela advinda de

qualquer uma Fé, mas sempre da Esperança semeada

por todos os cantos do mundo onde todos os outros fi-

cam benignamente « infectados».

Muitas palavras estão espalhadas por esta edição.

Resta-me desejar que se produzam mais máscaras e que

todos as usem, mais ventiladores e poucos os usem e re-

zar para que nos acuda também quem sabe manuseá-

-los, enquanto olha com ternura nos olhos dos doentes,

aos quais desejo melhoras.

Muita saúde!

EDITORIAL

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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PAG 6 | OBSERVA - MAGAZINE

AILDEleições municipais em França

No passado dia 15 de Março de

2020, ocorreu a primeira volta das

eleições municipais francesas, no

entanto, a pandemia do corona-

vírus provocou uma abstenção

recorde de mais de 50%.

Estima-se que haja 1 milhão e

200 mil portugueses e luso-

descendentes em França, e um

número recorde de 15 mil candi-

datos de origem portuguesa que

se apresentaram a esta primeira

volta, o que poderá significar,

também, um número recorde de

eleitos.

Nas eleições municipais francesas,

podem participar os cidadãos

maiores de 18 anos, que tenham

a nacionalidade francesa, ou

a nacionalidade de um estado

membro, com residência em

França. Muitos lusodescendentes

foram já eleitos durante a primeira

volta, encontrando-se, suspensa a

segunda volta, devido à evolução

da pandemia.

Esta situação, poderá obrigar

à validação dos resultados da

primeira volta como definitivos,

ou podendo mesmo, a primeira

volta ficar sem efeito e ter de ser

repetida. Esta situação obrigaria

o Parlamento a ter de reunir para

prolongar os mandatos dos conse-

lheiros municipais, que expiram a

31 de Março.

Verificamos que, cada vez mais,

os nossos emigrantes e os seus

descendentes começam a viver

em pleno os seus direitos, pois, o

seu principal foco tem sido o cum-

primento das suas obrigações. É

um imperativo, viverem de forma

plena as obrigações, mas também,

os seus direitos, resultantes das

duplas nacionalidades, detentora

por muitos lusodescendentes.

As comunidades francesas no

estrangeiro, poderão eleger, no

próximo dia 20 de Maio, senado-

res franceses. Os lusodescenden-

tes com nacionalidade francesa

podem não só eleger estes sena-

dores, como podem eles próprios

concorrer a senadores.

O voto e a participação em elei-

ções deve ser um hábito salutar

entre as nossas comunidades

portuguesas. É extremamente

importante e traduz uma maior

confiança, que a comunidade

portuguesa seja representada por

um dos seus, na defesa dos seus

interesses e no seu contributo para

o bem comum da sociedade onde

estão integrados.

As vantagens de termos eleitos de

origem portuguesa são enormes.

Em primeiro lugar, porque são cha-

mados a dar uma opinião sobre a

organização e prioridades políticas

para a sua cidade; depois, porque

a sua participação como eleitores

ou como candidatos serve de

referência para as Comunidades

e ainda, porque são os próprios

partidos políticos que estão

interessados em ter nas suas listas

representantes das Comunidades

mais importantes, como é o caso

da portuguesa, pois, podem ser

decisivos nos resultados.

A eleição de Portugueses e luso-

descendentes dá um poderoso

contributo para reforçar os laços

entre Portugal e a França, para

valorizar a presença portuguesa,

além de haver mais possibilidades

de se realizarem geminações,

intercâmbios em termos econó-

micos e culturais, promoção do

turismo, reforço dos laços insti-

tucionais entre Câmaras e outras

instituições em Portugal.

Vamos aguardar pelo que irá acon-

tecer e qual será o desfecho destas

eleições municipais, sendo certo

que os nossos lusodescendentes

estão efetivamente, de parabéns,

pela sua participação e adesão. A

AILD, regozija-se com esse impor-

tante facto, desejando os maiores

sucessos aos eleitos.

O que aconteceu?

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 7

Precisamos uns dos outros

O COVID-19 afecta a sociedade em to-das as suas dimensões. As atividades da nossa associação estão, neste momen-to, em suspenso até dias mais tranqui-los. Todos os nossos esforços devem-se concentrar na proteção da vida huma-na, na saúde de todos nós e na defesa de Portugal.Muitos começam a associar o combate à COVID-19 a uma situação de guer-ra, não é para menos. Para o bem de todos, as atividades essenciais ao fun-cionamento do país não podem parar, evidentemente, haverá grandes sacri-fícios das pessoas que participam nes-sas atividades. Todos nós devemos dar o nosso contributo para mitigar esse sacrifício, para atuar noutros campos que permitem manter o ânimo de to-dos e contribuir para o rápido fim desta crise. Caberá a cada um encontrar for-mas de contribuir de maneira positiva para esta batalha, inspirando-se no que acontece noutros países ou na História da humanidade.Por essa razão foi criado o site https://anticovid19.site para reunir as melho-res ideias e propostas no combate a este vírus. É notícia: estudantes universitários que criam ventiladores, é também notícia,

que uma Federação Portuguesa de Desporto doou 300.000 Euros para a compra de ventiladores, e tantos ou-tros exemplos. Deve-se propagar, neste tempo, bons exemplos em todos os do-mínios, para inspirar outros e para nos focarmos em ações positivas que acon-tecem e podem acontecer.O combate desta crise não se pode confinar nas mãos do Estado ou dos outros, mas em todos nós, dando o contributo possível, quer estejamos na linha da frente ou na retaguarda em se-gurança.Por outro lado, impõem-se medidas que minimizem a falência de pessoas, famílias e empresas. Muitas destas me-didas terão de partir dos nossos políti-cos e governantes, como por exemplo, estabelecer um período de carência para as rendas habitacionais, comer-ciais e os empréstimos. Só este facto vai provocar um dano irreparável em muitos de nós e não o podemos per-mitir.Estamos de facto num momento, em que o tempo parou, em que travamos uma guerra que exige que cada um de nós esteja no seu melhor para travar esta luta, onde quer que esteja. O país que teremos depois desta guer-ra depende sobretudo, do que façamos agora.Mantenhamos o moral elevado e seja-mos valentes e imortais.

Philippe FernandesPresidente da Associação Internacional

de [email protected]

MBA de finanças e doutorado em direito, Gabriel Silva Marques, é diretor fiscal em Nova Iorque. Professor adjunto de eco-nomia na universidade local e consultor de negócios. Conselheiro das Comuni-dades Portuguesas. Fundou a NYPALC, sendo presidente entre 2012/15. Em 2012, foi nomeado, Homem do Ano da Comunidade Portuguesa em NY, e em 2016, Grande Marshal do desfile de Nova Iorque e Presidente Emérito do NYPALC. Foi ainda nomeado, Homem do Ano pela American Foundation Charities Portugal. Diretor-fundador da Ordem dos Advoga-dos Portugueses na América.

Advogado especializado em direito penal, Martin Fabian D’Oliveira, exerce funções no Ministério Publico na Província de Buenos Aires, onde desempenha funções em áreas especializadas tais como: vio-lência Sexual e de género, estupefacien-tes, entre outros. Com 6 anos, integrou um grupo folclórico português, e desde a sua adolescência, que iniciou um intenso percurso no associativismo juvenil. Atual-mente, desempenha funções como Vice--presidente do Conselho das Comunida-des Portuguesas da República Argentina, federação que representa mais de 20 associações lusas, repartidas em todo o território argentino. É também, diretor do programa de rádio “Voz da Fátima – Hora da Saudade”, a emitir desde 2011.

G a b r i e l S i lva M a r q u e s

M a r t i n F a b i a n D ’ O l i v e i r a

A S S O C I A D O S a i l d

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PAG 8 | OBSERVA - MAGAZINE

Alexander Dumont dos Santos

DE REGRESSO A PORTUGAL

Tem 30 anos e nasceu na República Federal da Alemanha, em Colónia (Köln). Licenciatura em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Mestrado em Gestão Internacional no ISCTE

Observa Magazine: Com que idade de regressou a Portugal?

Alexander Dumont dos Santos: Re-gressei a Portugal aos 5 anos, em 1994. A minha família e eu voltamos para Portugal, para a Ilha da Madeira, nesse mesmo ano.

OM: Quais as motivações desse re-gresso?

ADS: Por questões laborais e pelo ex-celente clima e sol, que existe em Por-

tugal (completamente diferente da Alemanha), em especial na Madeira, que tem um microclima fantástico.

OM: Quais os atuais projetos em Por-tugal e sua localização?

ADS: Atualmente, trabalho com in-vestimentos em Portugal. Quer in-vestimentos na área imobiliária, quer investimentos em fundos de investi-mento. Ajudamos investidores, para obtenção do Visto Gold, para inves-timento puro, a encontrar os imóveis

de sonho ou a investirem em fundos.Muitos dos nossos investidores pre-tendem adquirir a nacionalidade por-tuguesa, após viverem 5 anos no nos-so país, o que é demonstrativo do país interessante e atrativo que é Portugal.Procuramos adequar todos os nossos serviços a cada caso, personalizando o mais possível, procurando ter sem-pre em conta o desejo e o interesse específico do cliente, em cada caso que trabalhamos. Tentamos marcar a diferença também, desta forma.

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 9

D E R E G R E S S O A P O RT U G A L A L E X A N D E R D U M O N T D O S S A N TO S

OM: Quais são as suas expetativas re-lativas a Portugal?

ADS: Melhoria na organização e mai-or eficiência das entidades públicas. Impõe-se a necessidade de mais for-mação às entidades públicas, me-lhorando assim, os níveis de eficiên-cia. Penso ainda que deve haver uma preocupação para a criação de melho-res condições para os trabalhadores, e mais incentivos para as gerações mais novas, motivando para o interesse em trabalhar para as entidades públicas, tornando a máquina do estado mais dinâmica, mais eficaz, capaz de cor-responder às necessidades das pes-soas, das empresas, dos investidores.

OM: Quais as dificuldades que sentiu no seu regresso?

ADS: As maiores dificuldades senti-das foram de âmbito linguístico, uma vez que foi necessário aprender uma língua nunca antes falada, mas que foi ultrapassada.

OM: Quais as sugestões para que vol-tem mais lusodescendentes a Portu-gal?

ADS: Não é necessário dar sugestões porque, as fotografias e vídeos que são diariamente publicados nas redes sociais falam por si e, motivam, natu-ralmente, ao regresso.

OM: O que mais o encanta em Portu-gal?

ADS: Portugal tem imensos encantos! Não me focando numa área específica, destacaria a simpatia e humildade das pessoas; o clima privilegiado, a boa comida e gastronomia de excelência, praias maravilhosas, e naturalmente, os nossos bons vinhos, cada vez mais em destaque no mundo.

OM: O que menos o encanta em Por-tugal?

ADS: A falta de eficiência e em mui-tas situações as ideias conservadoras. Penso também, que existe muita le-gislação desactualizada, que precisa de ser revista.

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PAG 10 | OBSERVA - MAGAZINE

D E R E G R E S S O A P O RT U G A L A L E X A N D E R D U M O N T D O S S A N TO S

OM: Mediante esta pandemia, pensa que as me-didas tomadas pelas autoridades portuguesas são as adequadas para parar o aumento de casos de doentes infetados?

ADS: Creio que sim, dentro do possível. Nenhum país estava preparado para uma situação destas. A máxima deve ser sempre a de prevenir antes de remediar, tendo-se verificado que o governo por-tuguês teve essa consciência, aplicando as medi-das necessárias para atenuar o aumento dos casos de doentes infetados, mas por outro lado, procu-rando não comprometer em absoluto a economia do nosso país. As restrições para andar na rua e o fecho de mi-lhares de estabelecimentos visam a prevenção da propagação do vírus Covid-19, e proteger o bem maior que é o da saúde de cada cidadão. Assistimos e bem, à limitação da liberdade de circulação dos infetados, com vigilância ativa, cujo desrespeito, incorre em situação de crime de desobediência.O governo deve aproveitar-se da vantagem tem-poral, para aprender com os outros países que es-tão já numa fase mais adiantada, e assim, poder antecipar-se nas medidas e numa atuação mais ajustada, por forma a menorizar os efeitos nega-tivos e dramáticos.Os investidores estrangeiros têm olhado para Portugal com bons olhos estando de acordo com as medidas tomadas pelo Governo português, in-clusivamente, a comunicação social francesa tem vindo a público afirmar que Portugal estava me-lhor preparado e que tem estado bem na atuação.

OM: O que pensa do comportamento dos portu-gueses relativamente ao estado de emergência decretado?

ADS: Em relação aqueles que tenho falado, sinto que existe uma grande responsabilidade e cons-ciência da gravidade da situação. Desde os primei-ros dias que muitos conhecidos ficaram em casa e apenas saem para irem às compras ou à farmácia. As medidas de consciencialização efetuadas nas estradas pelas autoridades policiais, e também, a sensibilização que tem vindo a ser feita pelos te-

lejornais, tem transmitido aos cidadãos portugueses a necessida-de e importância desta tarefa de atuação coletiva, de acabar com o vírus, não sendo importante, somente para cada um de nós, mas também, para todos os nossos amigos, familiares e cidadãos em geral.Na sua maioria, os portugueses estão a portar-se bem. Sinto que existe uma grande ansiedade e angústia por parte dos gestores e também, por parte dos trabalhadores em geral. Sendo Portugal um país de pequenas e médias empresas tenho já alguns amigos que vão fechar os negócios, e que sentem insegurança em relação ao seu posto de trabalho.

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Q U I N T A D A R I B E I R I N H A . P T

i n f o @ q u i n t a d a r i b e i r i n h a . p t

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GRANDE ENTREVISTAESPECIAL COVID-19

J O Ã O L U Í S C O R R E I A D U Q U E

P R O F E S S O R O F F I N A N C E I S E G - L I S B O N S C H O O L O F E C O N O M I C S & M A N A G E M E N T

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PAG 14 | OBSERVA - MAGAZINE

João Luís Correia Duque licenciou-se em Organização e Gestão de Empresas pelo ISEG, Universidade de Lisboa, em 1984. Obteve o grau de doutor em 1995, pela Universidade de Manchester (Manchester Business School), com uma tese sobre mercados de opções finan-ceiras. Em 2009 tomou posse como Presidente do ISEG, cargo que exerceu até 2014, onde permanece como professor catedrático do Departamento de Gestão. Para além das ativi-dades académicas assina a coluna Confusion de Confusiones no jornal Expresso, participa no programa semanal de educação económico-financeira da SIC “A Economia com Quem Sabe” e é comentador residente do programa semanal “A Vida do Dinheiro” na TSF. Foi um dos membros do painel permanente do famoso programa Plano Inclinado no canal de tele-visão português SIC Notícias, onde continua como comentador. É membro do Conselho Geral e de Supervisão da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo e preside ao Comité de Remune-rações da REN e ao Conselho Fiscal da Novabase Capital.

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 15

Observa Magazine: Muito agradecidos por nos conceder a honra desta entrevista.

João Duque: Ora essa. É um gosto poder estar convosco para uma conversa animada, espero (sorrisos), e assim partilhar algumas preocupações sobre o ambiente que nos acolhe e onde vivemos.

OM: O país e o mundo estão hoje a viver uma crise global de saúde pública que impõe fortes restrições à mobilidade, à atividade das pessoas e empresas, obrigando o mundo glo-bal a paralisar. Tendo presente os números conhecidos de infetados em Portugal, até à data, como pensa que irá com-portar-se a curva? Como avalia a forma como Portugal e os portugueses estão a comportar-se perante esta pandemia do Covid-19?

JD: Eu não sou epidemiologista e por isso a minha ex-pectativa é de um não especialista. A progressão depende

totalmente da forma como nos contagiamos e da forma como estamos preparados individualmente para enfren-tar a doença do ponto de vista imunológico. Se baixarmos o contágio e se formos muito saudáveis e fortes a pandemia quase não nos afetará. Se formos muito permissivos e pou-co saudáveis assistiremos a uma terrível catástrofe. Uma população muito envelhecida como a nossa tem elevada probabilidade de sofrer muito com a esta crise porque uma população envelhecida apresenta sempre um elevado nú-mero de doentes crónicos, o que fragiliza muito essa popu-lação na luta contra o Covid19. A Itália é o país europeu mais envelhecido. Isso diz alguma coisa? Eles têm 171 idosos por cada 100 jovens. A Espanha é apenas o 12º país da Europa, tem 130 idosos por cada 100 jovens e está num sufoco a lidar com a pandemia. Portugal é o 3º país mais idoso da Europa! Temos 157 idosos por cada 100 jovens! Perante isto, se não cuidarmos de nos mantermos em casa e seguir estritamen-te os conselhos das autoridades, o resultado será calamito-so! Basta olhar para Itália!

GRANDE ENTREVISTAJ O Ã O L U Í S C O R R E I A D U Q U E

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PAG 16 | OBSERVA - MAGAZINE

Mas de um modo geral os portugueses estão a cumprir bem. Só tenho um receio: os lares de idosos… E nesse âmbi-to, pelo que conheço e já vi, infelizmente, podemos ter um desempenho muito, mas muito deficiente. É o resultado de muitos anos de pouco investimento, pouco rendimento e deficiente regulação e supervisão.

OM: O que muda e vai mudar na vida das pessoas? Como é que as pessoas estão a viver este fenómeno, num momento em que é solicitado isolamento social e domiciliário, qua-rentena profilática e um conjunto de cuidados e medidas para evitar a propagação e eliminação das cadeias de con-tágio?

JD: Vamos descobrir à força muitas coisas que já existiam, estava à nossa mão, mas das quais pouco uso fazíamos. Em 2001, após o ataque às Torres Gémeas, imaginei que as via-gens de avião iriam diminuir e que as pessoas iriam usar muito mais a comunicação digital. No entanto, apesar de em 2001, 2002 e 2003 o volume de passageiros ter dimi-nuído face a 2000, em 2004 o volume de tráfego mundial de passageiros já tinha superado o do ano 2000.Vamos aprender a viver de modo diferente e a aceitar a dis-tância digital. E vamos dar muito mais valor ao contacto

social quando permitido! Mas há muita coisa que fazemos que passaremos a fazer por via digital sem necessidade de perda de tempo. Por exemplo, as aulas serão diferentes no futuro, aceitando que muitos alunos prefiram assistir aos cursos por via digital, enquanto outros se quiserem, podem assistir presencial, mas assistindo às aulas ao vivo! Não su-cede isso já com os jogos de futebol? Há quem vá ao estádio e quem assista em direto na TV. E até as provas académi-cas poderão ter membros a participar à distância. As regras acabaram de ser mudadas agora e já não vão regredir! E por aí fora! O próprio trabalho em casa vai aumentar imen-so, diminuindo as deslocações, a poluição e aumentando o bem-estar dos colaboradores. Mas as empresas terão de se organizar e, baixando custos com instalações físicas, devem compensar os trabalhadores que passarão a “usar” mais os seus recursos e a sua energia!

OM: Considera que as autoridades de saúde, a direção geral de saúde e o ministério da saúde têm estado â altura deste desafio (conscientes, naturalmente, tratar-se de uma ba-talha sem precedentes)?

JD: Sim, uma batalha nunca travada. E quem acabar por passar por ela bem, vai aprender muito! Quanto às autori-

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GRANDE ENTREVISTAJ O Ã O L U Í S C O R R E I A D U Q U E

dades de saúde não sei bem. Essa avaliação só será feita no final. Mas há medidas que não entendo. Quando se anun-ciam determinados cortes, suspensões, etc. elas devem ser anunciadas com efeitos imediatos e nunca avisando que se vão implementar daí a uns dias. Foi esse erro que os italia-nos cometeram, quando anunciaram o fecho do Norte uns dias após esse anúncio, o que levou a que muitos saíssem e depois espalhassem a pandemia pelo resto do país! Há me-didas que se anunciam com efeitos imediatos. A obrigação de quarentena obrigatória para os que entrassem em Por-tugal a partir do dia 23, foi anunciada no dia 19 quando to-dos estavam já em regime de exceção! Isto não faz sentido nenhum! A minha filha Mafalda chegou do Reino Unido no dia 21 e fechou-se num quarto por 14 dias voluntariamen-te, antecipando civicamente o que a lei deveria obrigar! A minha filha Madalena regressou do Norte de Itália, após o Carnaval. Não foi infetada felizmente, mas quando aterrou fechou-se voluntariamente num quarto 14 dias, sem que ninguém lhe tivesse dito nada à chegada ao aeroporto! Nem um conselho! Assim não sei… E quanto aos dados que vão sendo libertados pela DGS há coisas estranhas. Ainda va-mos ouvir falar nisso…

OM: Considera que o Governo português está a tomar as medidas corretas, mais ajustadas e suficientes, perante esta situação de pandemia do Covid-19 e Estado de Emer-gência? Se tivesse a responsabilidade governativa, tomaria

as mesmas medidas ou teria tomado outro tipo de medidas, outra estratégia de intervenção e de ação?

JD: Se eu tivesse responsabilidade governativa não conse-guiria viver com a minha consciência pensando que poderia ter evitado mais umas mortes se tivesse atuado mais cedo. Por isso, tenderia a ser mais duro e mais precoce na deci-são. A ideia de que podemos maximizar a proteção da vida e a economia, neste caso, é impossível. A questão está na estratégia adotada. Se é para avançar numa estratégia de contenção, então que o façamos de modo implacável e cé-lere. O fecho das escolas foi feito a pedido dos pais! O fecho das fronteiras foi feito a pedido dos portugueses! O governo e até o Presidente da República têm andado a reboque do povo! Não se recordam do Presidente andar a dar beijinhos a todos e depois meter-se em casa “debaixo da cama”? No dia 7 de Março, com 21 casos já detetados e 8 mortos ve-rificados, ainda o Presidente dizia que dava beijos a quem queria! Isso não são modos de atuar numa situação que é verdadeiramente séria. Ou não é? Mas cuidado que ao mesmo tempo temos de manter as ca-deias de produção / importação absolutamente oleadas! Caso contrário, temos criadas as condições para o flores-cimento do mercado negro, o desrespeito da propriedade privada, a desordem pública e dá-se o colapso social. E te-mos de evitar isso a todo o custo!

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OM: Considera que a EDP e a Banca deveriam já ter uma palavra a dizer? O que nos pode explicar sobre as primei-ras medidas de ajuda, nomeadamente as linhas de crédito postas ao dispor dos empresários? Os critérios na escolha das atividades económicas são justos? A título de exemplo é contemplada a atividade comercial da cortiça. Porque não também, o setor dos vinhos e do azeite, sendo produtos de excelência nas nossas exportações? Não é contraprodu-cente e causador de indignação que estejam a ser lançadas estas linhas de crédito? Os portugueses não vão ficar mais endividados?

JD: As empresas lucrativas orientam-se de acordo com de-terminados fins. A EDP e a banca privada têm funções im-portantes e são, nalguns casos, cuidadores de bens ou ser-viços que são absolutamente vitais. Mas a sua propriedade é privada. Ora, é para isso que existem os reguladores. Para evitar que o interesse privado se desalinhe do interesse pú-blico. E muitas vezes, não podem responder de modo es-pontâneo sem que isso ponha em causa o seu equilíbrio. Até porque há muitos consumidores cuja capacidade financeira não foi beliscada. Porque é que um funcionário público cujo

rendimento até vai aumentar com a entrada em vigor do novo Orçamento do Estado em 1 de Abril de 2020, deve dei-xar de pagar a eletricidade ou a água ou até a mensalidade ao banco? Essas medidas têm de provir do regulador ou do Estado e a discriminação até pode existir, desde que se jus-tifique. Se um banco não respeitar as regras de supervisão bancária, acaba um destes dias numa resolução bancária e lá vamos nós acudir ao banco. Não pode ser.Como temos de manter as máximas capacidades produti-vas há que ser muito duro na afetação de pessoas às tarefas produtivas essenciais não só para nós, como para terceiros (exportação). Não há, normalmente, jovens que gostem de ir combater numa guerra. Todos tinham medo de morrer ou ficar profundamente debilitados. Mas, se hoje temos li-berdade e democracia na Europa, é porque milhões de jo-vens combateram por um ideal e muitos pereceram nessa II Guerra Mundial. Também hoje, há que manter muitas estruturas e empresas a funcionar mesmo que isso envolva risco físico de alguns. Há um sentido de sociedade que vale mais do que o nosso conforto e segurança pessoais. Isso de-monstra os nossos médicos e pessoal de saúde diariamente, mas também, todos os que se expõem na cadeia logística.

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OM: Como avalia a prestação do Primeiro-ministro Antó-nio Costa ao longo de todo este processo? Tem estado à al-tura dos acontecimentos? Relativamente aos partidos com assento parlamentar, como avalia o seu comportamento ao longo de toda esta crise sanitária?

JD: Os partidos da oposição quase sumiram. A esquer-da eclipsou-se. Não sei bem porquê… Talvez porque com o plenário parlamentar “fechado” e todos em quarente-na, com as reuniões e sessões públicas proibidas, as ações partidárias e de manifestação de rua sumiram-se. Os par-tidos estão orientados para esse tipo de ação. Talvez daí o seu apagão. Destacou-se a ação do Rui Rio a oferecer todo o apoio ao governo e agora uma proposta do BE sobre apoio a pequenas empresas (como se pudéssemos deixar falir as grandes). Depois entram pelo reino das grandes empresas e propõem logo a nacionalização da TAP, depois a da banca, e mais virão aí. Eu tenho para mim que esta crise tem sido vista com deliciosos olhos pela esquerda de ganas naciona-lizadora pois, há muitos que adoram ver demolir o sistema social vigente (mesmo com enorme sacrifícios de muitos cidadãos), para poderem sonhar com o reerguer de uma so-ciedade totalmente estatizada e coletivizada. Não podemos cair nesse erro. Quanto a António Costa tem ido um bom pedaço atrás da onda. Chegou mesmo a fechar escolas, contra a vontade de quem lhe dizia para não fechar, quando percebeu que os pais não iriam respeitar a abertura das escolas. Isso não é liderança. É “seguidança” (sorrisos). E não fica bem afir-mar que “Até agora não faltou nada e não é previsível que venha a faltar” ao serviço nacional de saúde. Onde é que ele tem andado? Feio!

OM: Na qualidade de professor catedrático nas áreas de economia, finanças e gestão empresarial, e sendo uma pes-soa “que se delicia a ler o mundo e explica-o à sua manei-ra” (citação da sua autoria), que impacto prevê, dos pontos de vista económico e financeiro, tendo em conta a previ-são que o país irá estar a funcionar nos mínimos durante os próximos meses?

JD: Acredito que vamos ter uma recessão este ano, que pode levar o PIB a cair para valores que eu estimo estarem entre os -4,7% e os -7,3%. É muito arriscado fazer este tipo de previsões e a maioria dos meus colegas recusam fazê-las pois, não passam de pura especulação. Eu sei. Mas assu-

mindo alguns pressupostos (que é o que os economistas fa-zem) e fazendo alguns cálculos arrisco. O Banco de Portu-gal acaba de publicar informação que vai no mesmo sentido com valores que podem ir dos -3,7% e os -5,7% conforme o cenário base ou mais pessimista. Quanto à recuperação é que vamos ver… Eu acredito numa recuperação em “V” assimétrico, isto é, em que o afundamento da economia foi brusco, mas a recuperação será relativamente rápida embora, não tão rápida como a da queda. Quem está a fa-lar numa recuperação vertiginosa é o ministro das finanças que tem mais fé do que eu (risos) e que quer dar o ar de que tudo está bem. É natural. Quer ir-se embora com o triun-fo de ter executado o único orçamento excedentário… Mas sabe que ninguém quer agora ficar com a batata quente… Porque o rombo no orçamento será gigantesco e ao ficar no lugar é provável que vá acabar com o pior défice orçamental de que há memória… Veremos…Se tudo correr bem, acredito que 2021 poderá será um ano de retoma da atividade normal. Mas se vier uma segunda vaga de Covid19, então será catastrófico. Eu estou a afastar esse cenário e acredito numa cura ou vacina. Porque, ao não emitirmos eurobonds, vamos sair desta crise em estado muito pior do que começámos a anterior…

OM: No rescaldo deste surto pandémico (ainda sem previ-sões certas para o seu fim), além de todas as consequências em termos de saúde pública e perdas de vidas humanas, adivinha-se o fim do excedente, para dar lugar ao endivi-damento orçamental e uma nova crise económica, finan-ceira e social? Vamos ter de novo o povo português a passar sacrifícios e a pagar uma nova crise, com uma nova carga fiscal, já por si em níveis altíssimos? Os portugueses depois de saírem deste sufoco da pandemia do Covid-19, como irão resistir a uma nova crise económica?

JD: Essa é a questão. De momento o BCE garante que nos compra 18 mil milhões de euros de nova dívida, o que cor-responde a 8,5% do nosso PIB. Mas acredito que se a Europa do euro necessitar de mais, o BCE irá providenciar a moeda necessária. Claro que nem todos necessitam do mesmo e por isso, temos de prever a possibilidade de termos de ser novamente intervencionados. Mas quer nesse, quer no caso “normal”, de aproveitarmos já este pacote, os danos serão terríveis e mais austeridade virá. Iremos então ver o custo que a “Primavera” do governo de António Costa nos dei-xou…

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OM: Portugal insere-se na EU. Relativamente à europa e ao mundo, o que vai mudar? Que impactos vai haver? Que Europa é esta hoje? Que Europa teremos amanhã? Existem correntes de opinião que defendem um maior distancia-mento desta europa um pouco (ou muito) desunida, hete-rogénea e que não se tem mantido auto-solidária. Também defendem que Portugal se deverá guinar mais para o Mar, para a América Latina e para Africa. Correntes ilusórias baseadas em premissas de ligações, também emocionais e culturais do passado?

JD: A Europa está a dar mais uma vez sinais desencorajan-tes de união. E temo pela sua desagregação. Ou surgem ra-pidamente líderes europeístas provindos dos países “mais pesados” da União que unam e reforcem a Europa, ou temo a sua decadência. A hora é de juntarmos forças e recons-truirmos internamente mais e melhor. Mas temo o pior. A última crise reforçou a unidade nas áreas mais afetadas: a bancária e a do mercado de capitais. E assistimos à criação da União Bancária, Seguradora e do Mercado de Capitais. Veremos se desta vez se cria a Europa da Saúde e por aí as-sim sucessivamente. Como europeísta muito gostaria que assim fosse.

OM: A propósito do orçamento de estado para 2020, afir-mou “que este não era o orçamento que o país precisava”. Agora, com o impacto da pandemia do Covid-19, a dar-nos previsões de um cenário macroeconómico negativo, com as dificuldades que as empresas vão enfrentar, com o desem-prego que irá aumentar, com problemas sociais a ganhar expressão. Ora, a prever-se que o país que irá ficar num “plano inclinado”, que orçamento o país vai precisar para 2021?

JD: Para 2021 um orçamento que estimule a economia e a atividade empresarial, um orçamento que promova a pro-dutividade e olhe para os recursos de modo consertado. Por exemplo, o SNS não tem de ser todo privado como agora se viu ao serem agregados os hospitais privados aos esforços públicos. Podemos usar recursos privados para benefí-cio público. Foi isso que se fez agora e que se deveria fa-zer sempre. Se há uma lição a tirar desta crise é que usar as empresas para proteger as pessoas é a forma mais segura. Essa não é a visão do BE ou do PCP, admito, mas é um pro-blema deles. Eles são partidos de outro tipo de sistema. Não do nosso.

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OM: Que país precisamos ter amanhã? Para onde temos de caminhar? Defende que precisamos de “choques” para criarmos mais riqueza, continuar a apostar nas exporta-ções, produzirmos mais, criarmos um suporte económico estrutural, que nos permita enfrentar o futuro com mais confiança?

JD: Sem dúvida. Orientar a produção para as áreas de ele-vado valor acrescentado. Atrair investimento estrangeiro de qualidade e deixarmos de assustar os investidores com impostos ameaçadores e com ameaças do estilo da depu-tada Mortágua: “Temos de perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular dinheiro”. É este tipo de ameaças que temos de evitar. Claro que eu conheço o ideal de sociedade da deputada Mortágua, mas esse ideal não é o da maioria da população portuguesa.

OM: Como sabe, o turismo tem sido um pilar importante para o PIB português, tem tido um impacto enorme na eco-nomia portuguesa. Com esta situação, como fica o turismo em Portugal? Que impacto vai ter este ano? Qual o feedback que tem tido das regiões de turismo e dos operadores de tu-rismo sobre o presente e o futuro?

JD: Esqueça 2020 em termos de turismo! Os portugueses terão de fazer um esforço (e farão) para tentar compensar um pouco com o turismo interno o que não vier externa-mente. E não acredito que venha. E mesmo assim, apenas quando nos deixarem sair de casa! Depois, à medida que o tempo passar, e à medida que consigamos aprender a viver no “novo normal” a atividade turística vai voltar. Espero que 2021 seja já de alguma retoma se não para os níveis de 2019, pelo menos para níveis confortáveis para a sobrevi-vência do setor. A demasiada dependência de um modelo de negócio dá nisto.

OM: O AL (ALOJAMENTE LOCAL) nas suas três formas tem sido um motor responsável que fez crescer a construção ci-vil, a hotelaria convencional, a restauração, a arquitetura, a decoração de Interiores, a indústria dos eletrodomésti-cos, têxtil lar, pequeno comércio, artesanato, entre outros. Como atividade empresarial foi recentemente fustigada com impostos. Podemos estar a matar uma galinha de ovos de ouro? Não seria importante estender os incentivos tam-bém, ao Interior do país, tirando o stress a Lisboa e Porto? Em paralelo, o que está também, a ser feito pela nossa in-dústria em geral, tecnologia de ponta e mercado de ener-gias verdes?

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JD: A extensão do AL ao interior não só deveria ser feita como é de todo desejável. Assistimos a uma concentração demasiado elevada nos centros urbanos mais turísticos e isso criou autênticas Disneylândias nos bairros tradicio-nais. Os turistas vivem com os turistas e não conhecem, afinal, os portugueses. A “suave mistura” seria de todo preferível. Mas então as comunidades do interior terão de oferecer algo que valha a pena viver… Experiências! E isso está na capacidade dos locais. É um desafio! Usem os jovens e a sua criatividade!

OM: O que pensa da indústria extrativista de lílio num ter-ritório tão pequeno como o nosso? Vamos ser a lixeira de baterias da Europa? Os automóveis elétricos vão resolver o problema das emissões de CO2 e paradoxalmente, aca-bar com a natureza, ecossistemas, biodiversidade, aldeias, agricultura? Não deveremos incrementar o transporte co-letivo?

JD: O transporte coletivo é excelente para a grande viagem. Na viagem local de penetração alveolar é mais difícil a sua aceitação. Sabe porque são tão populares as trotinetas, as bicicletas, etc.? Porque as usamos para ir de onde estamos, para onde queremos ir. Diretamente! Outra coisa é o trans-porte de propriedade coletiva, mas de uso individual. Esse sim parece ser um modelo muito interessante e a vingar! Quanto ao lítio, veremos se essa será a solução para os mo-tores do futuro. O que assisto é a muita crítica quanto à sua extração. Parece que ninguém quer as consequências da atividade económica e apenas os benefícios. Bem, no limi-

te, parece que assim é que estamos bem. Mas se nada fi-zermos quem vai providenciar os bens e os meios para nos alimentarmos e vivermos? Somos mais de 7 biliões de seres humanos a alimentar…

OM: Um dos problemas do país são as assimetrias regio-nais, um interior desinvestido, abandonado e despovoado, que pode agora ficar ainda muito pior. O que preconiza para inverter esta realidade? Temos tido da parte do governo central uma tímida descentralização, será a descentrali-zação um caminho? Ou é mais adepto da regionalização? Como se inverte a tendência demográfica dos territórios de baixa densidade? Que medidas e políticas de descriminação positiva para o interior e consequente, coesão territorial?

JD: O Governo deveria instalar centros de competência em áreas do interior pagando de modo generoso e dando con-dições ao talento que aí se queira instalar. Se, por exemplo, fixarmos o melhor centro de cardiologia no interior, com os melhores especialistas cardio, não acha que quem quer mesmo tratar-se vai lá? E não acha que depois a atividade voltava a recentrar-se à sua volta? Agora não me venham com esta de colocar uma secretaria de estado, que é com-posta pela senhora Secretária de Estado, o seu motorista e uma secretária, que acumula ser perto da sua casa de ori-gem, como uma medida de descentralização! É de rir!

OM: Quais as novas competências profissionais que tenta valorizar e passar aos seus alunos? Que novos paradigmas assumiram os players na gestão das empresas?

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JD: Aprender a pensar e abertura da mente para aprender constantemente! Eu já aprendi mais num mês desde o iní-cio da crise do que no mês anterior, apesar da vida ter ficado de pernas para o ar! É essa a maior competência: resiliência, adaptação e abertura de mente para pensar “fora da caixa”. Bem precisamos dela agora!

OM: Sabemos que viveu no Reino Unido e aproveitando esse conhecimento real do terreno, qual o impacto do Brexit no novo desenho da europa e do Mundo? Qual o impacto para Portugal?

JD: Ao pé do que estamos a viver, o Brexit é uma brincadei-ra, porque pode ser planeado e devidamente compensado. Espero que o turismo britânico volte aos níveis anteriores, e que esta crise não deteriore o que nos custou séculos a construir. E o mesmo no sentido contrário.

OM: É conhecida a sua proximidade ao PSD, inclusivamen-te, foi um dos nomes apontados para ministro das finan-ças de Pedro Passos Coelho. No entanto, tem dito sempre “não”, invocando três razões. Que razões são essas?

JD: Não estou muito motivado para a vida política partidá-ria, apesar de adorar a política. Sou talvez demasiado rebel-de para isso. Ganhei a minha independência fora dos parti-dos e sinto que nada devo a qualquer partido. E assim gosto de ser. Gosto da política e não de viver da política nem das

benesses que a mesma propicia aos que dela vivem e que nada sabem fazer fora dela. E posso assim, contribuir, com a minha independência para a construção de um Portugal melhor.

OM: Além de apreciar muito ser professor, que outras pai-xões tem na vida e como ocupa o tempo livre?

JD: Gosto de música, cinema, teatro, poesia, algum despor-to e muito, mas mesmo muito, de estar com a família e os amigos!

OM: Deseja fazer uma saudação especial dirigida aos mi-lhões de portugueses, incluindo as nossas comunidades portuguesas disseminadas pelo mundo, que vão ter o gosto de ler a sua entrevista? Apesar de tudo, é possível deixar aos portugueses uma palavra de esperança?

JD: Milhões (risos)? Muita saúde! E aproveitem bem a vida. Já imaginou o prazer que é uma boa conversa com amigos à volta de um queijo e um bom vinho? Ou de um chá quente a fumegar com a neve a cair lá fora, enquanto escutamos as estórias (mesmo recontadas) dos nossos amigos?

OM: A OBSERVA Magazine agradece-lhe novamente a hon-ra desta entrevista.

JD: Obrigado pelo convite!

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É curioso, ao estudarmos a História de Portugal desde

quando ainda não eramos sequer uma nação, analisando

criticamente os desenvolvimentos mais recentes na socie-

dade, na política e na economia portuguesa, e verificarmos

como fomos flutuando entre extremos opostos ao longo

dos séculos. Especialmente no que diz respeito ao lugar que

ocupamos no mundo e à imagem que passamos lá para fora.

No auge da época dos Descobrimentos, muito à semelhan-

ça de hoje, ouviam-se várias línguas a serem faladas nas

ruas das maiores cidades Lusas. Lisboa era alvo de gran-

des e novos investimentos a nível dos comércios, das artes

e de grandes empreendimentos navais. Mesmo sendo um

país pequeno, de quem muito poucos tinham ouvido falar

até então, de súbito, Portugal tornara-se famoso e atrativo

para ingleses, espanhóis, franceses, italianos e holandeses

trazerem para cá as suas riquezas e aqui investirem os seus

patrimónios em empresas de diversas géneses.

Meio milénio passado, novamente voltamos a ouvir inú-

meras línguas a serem faladas pelas ruas de Portugal. E

porquê? O que terá cativado os investidores estrangeiros? O

que nos elevou uma vez mais a uma visibilidade e reconhe-

cida fama que inspirou a confiança de quem tem fundos,

ideias e património, para investir no nosso país?

Com um crescimento mais notório a ter início no segundo

semestre de 2016 e a alcançar valores percentuais bastante

significativos entre 2018 e 2019, os investimentos estran-

geiros no nosso país têm sido variados. Desde infraestru-

turas, passando por investigação científica e tecnologias da

informação, até 1.2M de euros apenas em resorts e turismo

de luxo e quase 763M em imóveis, as áreas e o volume de

investimento que o cidadão estrangeiro tem feito em Por-

tugal são notórias.

M I G R AÇ Õ E S P O R T U G A L P O D E R Á C O N T I N U A R A S E R

U M A B O A A P O S TA PA R A O S S E U S I N V E S T I M E N TO S

Antes da atual pandemia, Portugal tinha-se tornado num novo centro de investimento

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Terão sido diversos os fatores emocionais e sociais que

fizeram os estrangeiros querer apostar no nosso país. O

clima, a gastronomia, a cultura e a segurança, foram os

aspetos mais enumerados. Contudo, a maioria dos inves-

tidores olhou para outras questões. Por exemplo o facto

de estarmos no TOP 3 de países mais seguros do mundo,

o facto de estarmos em 22º lugar no Quality of Life Index

da Numbeo e de sermos considerados pela agência Trans-

parency International como um dos países do mundo com

maior grau de transparência política e social, colocando-

nos na 30ª posição num rank onde constam 180 países.

Portugal recuperou uma interessante competitivida-

de económica, pela qual deverá continuar a lutar após a

pandemia do COVID-19, e iniciou uma profunda diversi-

ficação das suas exportações (setoriais e geográficas). Os

principais pontos fortes que os investidores estrangeiros

salientam em Portugal foram os seguintes:

• Infraestruturas modernas e de qualidade;

• Uma força de trabalho qualificada, muitas vezes mul-

tilíngue, a um custo significativamente menor comparan-

do a outros países da Europa Ocidental;

• Um sistema que promove investimentos em inovação,

que permitiu ao país atrair novos Integrated Development

Environments (IDE), essenciais para o seu desenvolvi-

mento.

• As nossas relações estratégicas internacionais com a

Europa, África e América, para além de sermos membros

da UE, permitem a Portugal manter laços estreitos com as

ex-colónias como Brasil, Moçambique, Macau e Angola,

e podem servir de porta de entrada para outros mercados

da lusofonia.

Somos a nova porta para a Europa. Em pouco mais de duas

horas atravessamos (em condições normais) a fronteira

para Espanha, em duas horas de voo, por preços acessí-

veis, estamos em Londres ou em Paris.

Seja um cidadão estrangeiro, seja um português há muito

longe de casa, ou seja, um luso-descendente para quem

Portugal não passe de uma ténue memória, a verdade é

que acreditamos que, apesar da conjuntura mundial atual,

que se afigura bastante incerta, Portugal poderá continuar

a ser uma boa aposta para os seus investimentos!

Gilda PereiraSócia fundadora da Ei! Assessoria migratória

[email protected]

P O R T U G A L P O D E R Á C O N T I N U A R A S E R U M A B O A A P O S TA PA R A O S S E U S I N V E S T I M E N TO S

M I G R AÇ Õ E S

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C O N S E L H O DA S C O M U N I DA D E SP O RT U G U E S A S

V I V E R N A V E N E Z U E L A

Os portugueses imigraram massivamente para a Venezue-la depois da 2ª. Grande guerra mundial, ou seja, depois de 1945, especialmente, desde a ilha da Madeira, uns poucos dos Açores e outros tantos, de Portugal continental de nor-te a sul, mas muito especialmente, das zonas de Aveiro, Es-pinho, Porto e arredores.Chegaram, viram e muitos venceram na vida. Fixaram raí-zes, constituíram família e por cá ficaram.Estamos a falar de uma onda de imigração com mais de 80 anos. Atualmente, os madeirenses são a grande maioria. Dedica-ram-se ao comércio e à restauração. Padarias, mercearias e supermercados estão nas mãos dos lusitanos. Assumem um papel importante na segurança alimentar do povo ve-nezuelano.

Nos últimos 25 anos, aquilo a que estavam acostumados mudou. Não só politicamente, senão, e mais importante, socialmente. Consequência, de erros passados cometidos por aqueles que tinham a responsabilidade de governar. Os portugueses sempre muito alheados da política, simples-mente, trabalhavam, trabalhavam. Os filhos estudaram e muitos formaram-se nas universidades. Alguns exerceram as suas profissões, mas a maioria, assumiu como geração de relevo os negócios e comércios dos pais, sempre com a política local lá longe e à distância. Muitos até esqueceram o “seu” Portugal, pois, nem portu-guês falavam aos filhos. Os filhos pouco ou nada queriam saber de Portugal. Ser o filho do “portu” (como chamavam e chamam aos portugueses), era uma afronta e era até mal visto.

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C O N S E L H O DA S C O M U N I DA D E SP O RT U G U E S A S

Fernando Campos Topa Conselheiro das Comunidades Portuguesas

[email protected]

V I V E R N A V E N E Z U E L A

Mas as coisas mudaram, e com o 25 de abril de 1974, a aber-tura de Portugal ao mundo e, sobretudo, à Europa, à CEE e mais tarde à EU, fez despertar a comunidade, mais por in-teresse (não todos,) que pela convicção do querer ser por-tuguês. A verdade é que o interesse era mesmo ter um pas-saporte que lhes abrisse as portas para o mundo.Viver na Venezuela! Esse é o verdadeiro problema que se coloca. Sobretudo, viver na Venezuela de hoje, a Venezuela em crise social, económica e política.Fala-se muito que os portugueses querem ir-se embora, que os portugueses estão a regressar ou a imigrar para ou-tros países. Na verdade, a capacidade de adaptação dos por-tugueses é “assombrosa”. Eu estou convencido que não é bem assim. Sim, é verda-de, muitos saíram, mas foram os portugueses de segunda e terceira geração. Os portugueses nascidos na Venezuela, os que vieram de lá para cá e que estão aqui estabelecidos, esses não querem ir embora.E ao “regressar” a Portugal, a grande maioria ao territó-rio insular da Madeira, a língua e o idioma português, é o grande problema. Há portugueses com cartão de cidadão e passaporte português, mas não entendem nada de portu-guês! Agora, todos querem aprender português, para quan-do chegarem a Portugal não andarem a “atirar bolas para o pinhal”.Nos últimos anos, o ensino do português na Venezuela tem marcado um antes e um depois. As associações abriram cursos para os seus sócios, familiares, inclusive, para os venezuelanos. Mas as dificuldades continuam a ser imen-sas: professores com pouca preparação; os livros que não chegam; uma inflação de 4 dígitos em 2019; o dinheiro é in-suficiente, não dando nem para comer, para a saúde e para as necessidades básicas de bem-estar.

Mas os portugueses continuam a reinventar-se, e con-tornar uma crise que parece não ter fim. São os principais “sócios” do estado venezuelano para a manutenção da ca-deia alimentar do povo e, é talvez por isso, que as relações diplomáticas entre os dois países, sempre tiveram conver-gências para que os portugueses se mantenham neste país.A Venezuela bem pode agradecer aos lusitanos pelo desen-volvimento nas décadas de 60, 70 e 80 da construção civil. Estradas, prédios, monumentos, portos, aeroportos, hotéis e muitas outras estruturas, têm a assinatura portuguesa. As grandes cadeias de supermercados estão na mão dos ma-deirenses. As padarias com um conceito muito diferente ao de Portugal são também, propriedade dos portugueses, assim como os melhores e principais restaurantes do país.As novas gerações, na sua grande maioria, estão compro-metidas com o país e vão continuar a trabalhar, a produzir e construir novas oportunidades, que permitam fazer crescer a economia, apesar da situação política.É preciso que os portugueses de primeira geração conti-nuem a trabalhar nas áreas da língua, da cultura e do fol-clore, com os lusodescendentes que também, sentem que Portugal está na moda e que as instituições portuguesas da Venezuela contarão com o relevo geracional que lhes per-mita sobreviver a uma crise que é também, associativa.Talvez se atrevam também, a ingressar na política local, e num futuro de curto prazo, tenhamos lusodescendentes nas mais altas esferas da política e do estado venezuelano. Será a forma de honrar os seus pais, o país que os acolheu, o país que os viu nascer, e que bem merece uma segunda oportunidade.Viver na Venezuela em crise pode ser também, a oportuni-dade de voltar a triunfar na vida!Bem-haja.

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P O RT U G A L P E L O M U N D OFÁT I M A F O N S E C A A B R A S I L E I R A FA D I S TA

Observa Magazine: Obrigada por conceder esta pequena

conversa. Conte-nos um pouco da sua história de lusodes-

cendente.

Fátima Fonseca: Nasci e cresci em São Paulo. Meus pais são

imigrantes portugueses do distrito de Viseu. Minha mãe, de

Rio de Moinhos, Sátão, e o meu pai, de Cimbres, Armamar,

terra de Manuel Monteiro, primeiro cantor português com

grande sucesso no Brasil, entre as décadas de 30 e 60. Os

meus pais conheceram-se no Brasil, na década de 60.

Minha mãe, quando era jovem, adorava cantarolar e dan-

çar. Alguns amigos chamavam-na de Amália, pois, gosta-

vam muito da sua voz. Mas, naquela época, não teve a opor-

tunidade de cantar profissionalmente.

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P O RT U G A L P E L O M U N D OFÁT I M A F O N S E C A A B R A S I L E I R A FA D I S TA

Foi para ela, que compus o meu primeiro fado canção, cujo

nome é, “Rio de Moinhos” (nome da freguesia onde ela

nasceu). A letra é minha e a música de David Pasqua. Ins-

pirei-me na vida da minha mãe, e sempre a dedico aos imi-

grantes presentes nos meus concertos.

O videoclipe do fado canção “Rio de Moinhos”, foi lançado

no dia do aniversário da minha mãe. Foi partilhado muitas

vezes, até que surgiu o primeiro convite para eu realizar um

concerto em Portugal, no concelho de Sátão. Foi uma gran-

de emoção.

A minha experiência internacional, nesse período, dividia

o meu tempo de diretora de um banco estrangeiro, com a

música, tendo, também, contribuído para a criação de no-

vos temas. A música tornou-se mais importante na minha

vida da cantora na década de 90, quando residi em Londres.

Nessa época, iniciei aulas de canto, por recomendação de

uma amiga do curso de sueco.

OM: O que mais lhe agrada nesta irmandade entre portu-

gueses e brasileiros? O que podemos fazer para sermos ain-

da mais unidos como povos?

FF: Eu vejo uma grande afinidade entre brasileiros e portu-

gueses. O imigrante português que vive no Brasil, sente-se

em casa. O clima e a música brasileira, que aliás, recebeu

fortes influências de Portugal através, entre outros, dos

instrumentos musicais trazidos na época dos descobri-

mentos, propiciam uma certa leveza e otimismo, no modo

de agir de ambos os povos e que os aproxima. Hoje em dia,

noto que Portugal, tem dado muito destaque à música bra-

sileira, enquanto no Brasil, pouco se faz em prol da música

portuguesa.

Como filha de imigrantes portugueses, tenho o desejo de

unir ainda mais os dois países irmãos. O meu projeto mu-

sical contempla isso, através da saudade boa, narrada em

“Rio de Moinhos”, da união de estilos musicais em “A Bos-

sa e o Fado”, do amor além mar, narrado em “Amor Via-

jante”, e mais recentemente, no encontro do Samba com a

Bossa e o Fado em “Samba Português”.

OM: O que lhe agrada nos portugueses como povo? E nos

brasileiros?

FF: Agrada-me muito o espirito conquistador e lutador do

imigrante português, o qual, consegue vencer as batalhas

que são impostas no dia a dia, e muitas vezes, atingem o seu

objetivo, levando para Portugal, as conquistas que possibi-

litam uma vida melhor e mais confortável.

O povo brasileiro tem uma natureza mais disposta a coo-

perar e acolher. Os dois povos completam-se de maneira

muito harmónica.

OM: Que músicos portugueses, ouve?

FF: Eu gosto muito de ouvir a Mariza, Ana Moura, Carmi-

nho e a Raquel Tavares. Lamento que a Raquel Tavares, te-

nha desistido da carreira musical, pois, tem uma voz mara-

vilhosa e uma linda presença em palco.

OM: Qual o estilo de música com o qual mais se identifica?

FF: Encantei-me com o fado ao compor o fado canção “Rio

de Moinhos”, em homenagem a todos os emigrantes por-

tugueses. O respetivo videoclipe, conquistou muitos pú-

blicos, tendo sido posteriormente, convidada a apresentar

concertos de fado e outros estilos musicais em Portugal.

Nos últimos anos, realizei vários concertos na Europa, e fiz

recentemente, o pré lançamento de músicas de minha co-

-autoria no Brasil, que passam pelo Samba, a Bossa Nova

e o Fado. Trata-se de um encontro festivo entre o Brasil e

Portugal, assim como “A Bossa e o Fado” e “Samba Portu-

guês”. Felizmente, os meus álbuns têm tido muito êxito em

várias rádios europeias e também, no Canadá.

Em Abril de 2018, fui indicada para o prémio internacional

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P O RT U G A L P E L O M U N D OFÁT I M A F O N S E C A A B R A S I L E I R A FA D I S TA

da música portuguesa IPMA 2018, categoria World Music,

nos Estados Unidos, com a música “A Bossa e o Fado”. E

tenho o enorme gosto de anunciar uma notícia muito re-

cente, que o tema recém lançado “Samba Português”, letra

Fátima Fonseca e música David Pasqua, acaba de ser indi-

cado para o Prémio Internacional da Música Portuguesa,

IPMA Awards 2020, categoria World Music. Infelizmente,

a cerimónia de entrega do prémio, que seria realizada nos

Estados Unidos, foi cancelada por causa da pandemia do

Coronavírus. Aliás, vários concertos estão a ser cancelados

por causa desta pandemia, desejando, a toda a humanidade

que esta situação passe rapidamente.

A minha experiência europeia, enriqueceu a minha cultura

musical, tornando-me uma cantora e compositora eclética

e reunindo uma variedade de ritmos musicais, que percor-

rem o Fado, a Bossa, o Samba, o Jazz e o Blues.

OM: Fale-nos um pouco da sua experiência como música,

em Portugal, concertos, vivências e revele-nos, por favor,

algumas novidades.

FF: Tenho realizado diversos concertos no Brasil, inclusive,

na Casa de Portugal de São Paulo, e noutros grandes tea-

tros. Fiz o lançamento oficial do álbum “Fado Bossa Nova”,

em vários programas da TV e rádios portuguesas e fran-

cesas, bem como concertos em várias regiões de Portugal

(inclusive na Feira de São Mateus em Viseu), procurando

sempre aproximar os meus dois países do coração, Brasil e

Portugal. Fiz o pré-lançamento do meu novo single “Sam-

ba Português”, em São Paulo, que será divulgado nos meus

concertos pelo Brasil, nos próximos meses. Em breve, es-

tarei novamente, em Portugal para nova tournée, quando

apresentarei oficialmente o meu novo single. Quem quiser

acompanhar o meu trabalho, além dos concertos e das re-

des sociais, poderá também fazê-lo através do meu websi-

te: fatimafonseca.com.br.

OM: Desejamos-lhe muito sucesso e agradecemos mais

uma vez a sua disponibilidade.

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P O RT U G A L C Á D E N T R OD E S C E N T R A L I Z A Ç Ã O : U M A V I S Ã O C O M PA R A D A

A história revela-nos ter sido no crescente fértil, que se ini-

ciou a eleição de chefes tribais, através de diversos rituais

que testavam a liderança. Antes da revolução agrária, a es-

trutura social baseava-se numa sociedade descentralizada,

na qual as interações entre os indivíduos eram mais livres e

cuja estrutura hierárquica era limitada.

Emergiram impérios que, devido à necessidade de prote-

ção armada, tornaram-se institucionalizados em grupos

políticos e religiosos. Desenvolveu-se a hierarquia social

baseada na inevitável propriedade, dando origem à classe

dominante e às massas.

A centralização política incita a atrofia dos sistemas socio-

-organizacionais induzindo as pessoas ao desinteresse e à

apatia cívica. O abuso do poder central - dos tempos atuais

- chega ao ponto de nomear candidatos, os quais são mui-

tas vezes deslocados dos distritos onde nascem e vivem,

eleitos para representar distritos que desconhecem.

Esta excessiva partidocracia - que tão bem se viu refletida

nas últimas eleições - tem-se vindo a instalar sob a supo-

sição de que a liderança superior visa ir ao encontro dos in-

teresses das pessoas.

No entanto, a realidade histórica demonstra que formas hi-

percentralizadas de governação acabam por se transformar

em formas de autocracia de liderança.

À medida que os sistemas centralizados se desenvolvem, as

decisões são tomadas no topo, afetando todos os assuntos

na base da pirâmide.

Uma redução no nível da eficiência é experimentada, che-

gando até a uma total desconexão, que resulta em ressen-

timento e abstenção por parte dos subordinados. Toda a

deliberação quando é esmagadora e oligárquica acaba, ir-

remediavelmente, em diminuição da qualidade.

Inúmeros exemplos existem para ilustrar a importância da

descentralização como processo que distribui, delegando a

tomada de decisão e o planeamento de responsabilidade.

Este agitado e perturbador tema, mexe com interesses ao

propor uma forma diferente de distribuição de poder num

processo em que existe, quem ganhe e quem perca. Na

grande maioria dos países europeus, este problema está

resolvido.

Portugal, mais de 40 anos após a redação da Constituição,

a circunstância de prever a criação de regiões, encontra-se

controlada por uma cultura dominante claramente conser-

vadora e retrógrada, e por esse facto, o país continua a ser

um dos mais centralizados da União Europeia.

A intensa concentração nas áreas metropolitanas de Lisboa

e Porto, tem-se mesmo agravado nos últimos anos devi-

do ao desinvestimento na periferia e, consequentemente,

levando ao desperdício das condições endógenas e ao des-

povoamento.

A administração local representa apenas 12% da despesa

pública total; de resto, um valor situado ao nível da década

de 1990 e o sexto mais baixo entre os 28 países da União

Europeia.

Em 2016, último ano do qual possuímos dados, mais de

60% das vendas a entidades públicas foram realizadas por

empresas da área metropolitana de Lisboa. Estas empre-

sas são as principais fornecedoras do Estado, agravando

este ávido fenómeno de centralização na capital.

Um estudo de 2019 da Marktest, constata que 50% do poder

de compra do continente concentra-se em 26 municípios,

representando apenas 6% do território nacional.

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O aumento das receitas dos municípios através da con-

sequente transferência da responsabilidade de receitas do

Governo central para a administração local, constitui um

importante instrumento para o aumento da resiliência a

choques externos e para a operacionalização de estraté-

gias de desenvolvimento económico.

A administração local representa o nível mais próximo do

cidadão, quer através das autarquias, quer das freguesias.

A tendência natural das populações é unirem-se perante

um problema ou objetivo comum, mas a distância dissua-

sora aos centros de decisão afasta-as dos problemas, cujas

respostas tornam-se lentas e ineficazes.

A descentralização seria incompreensível se o seu princi-

pal propósito não fosse associável a um maior crescimen-

to económico e social; a um proporcionar de uma distri-

buição geográfica mais equilibrada, quer das entidades

públicas quer das empresas fornecedoras do Estado, e fi-

nalmente, a um impulsionar de uma maior independência

do poder político e económico.

A deslocação das entidades reguladoras para fora de Lis-

boa, planeada em duas ou três legislaturas, pode promo-

ver uma maior competitividade da economia e um melhor

funcionamento dos mercados em todo o território nacio-

nal.

Comparativamente com os outros estados-membros ob-

serva--se uma correlação positiva entre descentralização

e fatores de capital económico mas, também, entre des-

centralização e capital social ou cultural. A cooperação

descentralizada, ou o empowerment promove o envolvi-

mento das pessoas no bem comum. Segundo Aristóteles:

‘Só uma cidadania ativa equivale à participação dos cida-

dãos numa comunidade’.

A descentralização, contextualiza-se como resposta às

novas emergências de forma a dissolverem a concentra-

ção, e implica que, em primeiro lugar, os diversos agen-

tes sejam responsáveis pelo seu próprio desenvolvimento,

pelo que é decisiva a sua participação em todas as fases

do processo, segundo, a complementaridade entre eles

(i.e. através de parcerias público-privadas). Dessa forma,

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potencializam-se novas abordagens, a procedência de pro-

jetos integrados e, por último, atribui-se uma prioridade à

capacitação institucional, através de uma gestão de recur-

sos descentralizada e do desenvolvimento nas ações de coo-

peração.

Depois destas décadas, o poder central continua indispo-

nível para ceder poder à periferia, a não ser em reduzidos

escalões, ao nível municipal e das freguesias.

Alexandre Herculano, no seculo XIX, via a centralização

como sinónimo de tirania, chegando a propor uma solução

apoiada nos municípios pela qual seriam transferidos pode-

res de decisão, (até aí pertencentes a órgãos de Estado), para

órgãos independentes.

Enquanto a regionalização se refere a um processo de na-

tureza política, que dá lugar à criação de instituições au-

tónomas, a descentralização, por sua vez,(através da atri-

buição de novas competências, às já existentes autarquias),

aproxima os centros de decisão à economia real; aperfeiçoa

a lógica do aproveitamento dos recursos endógenos, apro-

ximando também, os centros de decisão às atividades eco-

nómicas, à atração do investimento e à partilha de conhe-

cimento.

O incentivo fiscal dirigido às empresas pode ajudar, mas, é

necessária uma descentralização determinante e planeada a

longo-prazo.

Quando em 1986, o nosso país entrou na União Europeia, o

Norte de Portugal e a Galiza tinham uma situação equipa-

rada em termos de produtividade e criação de riqueza. De-

pois de 33 anos, vai bem à frente a região da Galiza. Identi-

camente, a Madeira e os Açores, apresentam um ritmo de

crescimento claramente, associado à descentralização que

foi implementada ao longo de um extenso período.

A centralização traduz-se numa inadequada política de

serviços públicos, com um efeito negativo no crescimento

económico e é inadmissível persistir, quando tanto fazemos

para convergir com os outros países da União Europeia.

Gonçalo Sampaio e MeloGestor de Empresas

[email protected]

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S APA D R E A N TÓ N I O V I E I R A E A P R O F E C I A D O V I M P É R I O

Nasceu em Lisboa a 6 de fevereiro de 1608 e faleceu na Baía, Brasil a 18 de julho de 1697. Em 1615, partiu de Por-tugal com a sua família para a Baía, provavelmente porque seu pai, João Francisco Lisboa fora nomeado secretário do governo da Baía, cargo que efetivamente exerceu. A 20 de janeiro de 1616, quase naufragaram na Paraíba, mas, sal-varam-se, como por milagre. António Vieira contraiu tam-bém uma gravíssima doença, da qual se curou e por isso podemos estar a escrever sobre este nome incontornável da língua portuguesa. Começou a estudar no colégio da Companhia de Jesus, re-velando ao início, dificuldades na aprendizagem, facto que já nos parece um clássico entre os génios. Os padres jesuí-tas, vendo o grande talento procuraram atrai-lo à devoção por uma vida religiosa. Supostamente, dizia o próprio padre António Vieira, que sentiu essa grande vocação em março de 1623, quando ouvia o padre Manuel do Carmo pregar, fa-zendo uma descrição do inferno. Assim, e por não con-seguir o apoio dos pais para tal clausura, na noite de 5 de maio de 1623, fugiu para colégio dos jesuítas.

Não obs-tante ser pa-

dre, António Vieira revelou-se um ser humano

com um profundo sentido de missão, que olhava a evangelização do Novo Mundo como uma oportunidade fantástica de re-viver a autenticidade dos primeiros cris-tãos. Ao longo da sua longa vida realizou sete viagens transatlânticas. Andou sem-pre, entre Portugal e o Brasil. No sécu-lo XVII, não se apanhavam aviões e não sendo marinheiro nem comerciante, sete viagens foi um grande número,

«Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos».

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S APA D R E A N TÓ N I O V I E I R A E A P R O F E C I A D O V I M P É R I O

Quem de nós, no momento presente, ameaçados e amedrontados, não se vai querer erguer e quedar a essa Fé de António Vieira, no desígnio dos portugueses e de Portugal? Vivamos, pelo menos, de Esperança, inspirados pelas glórias de conquistadores de corações que precisam ser resgatados no regaço do V Império do Amor, com o engenho - tão nosso - em unir todos, especialmente aqueles que alimentam a ilusão de alguma coisa controlar.

implicando dolorosas travessias no oceano.Aquilo que mais se destaca e comove na sua obra e na sua vida é sua proximidade e preocupação pelo outro e a sabe-doria na humildade em aprender com todos. Caminhou à frente do seu tempo e olhava para os outros: judeus, ne-gros, indígenas americanos, como iguais: simples seres humanos que jamais julgava. Assim viveu, sem dificulda-des de adaptação nos sertões do Brasil, com os índios, nas cortes europeias, tendo privado com a família real portu-guesa. Um ser humano feito desta glória tem sempre um

preço a pagar e, assim, foi muito criticado e perseguido pela nobreza, pelos colonos brasileiros e pela Igreja por-

tuguesa, tendo passado dois anos preso nos cárceres da Inquisição em Coimbra. Homem culto, quis mudar as mentalidades, baseado

na sua Fé e nos ensinamentos mais genuínos de Cris-to: o amor ao próximo, a humildade e a justiça social. O jesuíta português passou muito tempo a tentar provar

que a História e as profecias do antigo tes-tamento anunciavam um novo império, o Quinto Império, intimamente ligado à ação

civilizadora dos portugueses. De resto, a ideia do Quinto Império, afirmada por António

Vieira, fora assumida por Fernando Pessoa e reiterada pelo filósofo Agostinho da Silva, os

quais enaltecem Portugal como país cujo destino é o de conduzir todos os povos à liberdade, construída com

uma base espiritual e assente na globalidade do planeta Terra. Indubitavelmente, que esta ideia nos remete para os portugueses disseminados pelo mundo.Nesta crença, o Apocalipse, o Fim do Mundo, que por via de algumas teorias, nos aparece agora anunciado, não encerra um fim, mas o início de uma nova etapa para a humanida-de, um novo reino, onde finalmente a humanidade viverá e progredirá em paz, em sintonia com a vontade do Criador. Pensava Agostinho da Silva.Seja o Criador um bondoso e simples arquitecto - minucio-so - de tudo que nos rodeia e esforçado por afastar o caos, para o qual, alguém mergulhado nas trevas, nos quer ar-rastar. Podemos refletir nós.Fernando Pessoa acreditava que essas profecias – onde se destaca a liderança de Portugal num novo mundo – se encontram claramente expressas nas trovas do Bandarra e nas quadras de Nostradamus.Agostinho da Silva, dizia: “É claro que acredito no Quinto Império, porque senão o ato de viver era inútil.” Mas, um império sem imperadores. Um Império que leve aos povos do mundo uma filosofia capaz de abranger a liberdade. “O Quinto Império será o restaurar da criança em nós e em nós a coroarmos imperador, eis aí o primeiro passo para a for-mação do império”. Considerava que esta era uma filoso-fia que não partia imediatamente de uma reflexão sobre as ciências exatas, mas da Fé. A mesma Fé de António Vieira.

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P O RT U G U Ê S . O B S E RVAA S C O N T R A C Ç Õ E S E M P O RT U G U Ê S

As palavras da nossa língua, uma vez por outra, juntam-se

num abraço apertado e criam «contracções». Existem, por

exemplo, contracções de preposições com os artigos:

«a» + artigo definido: «ao», «à», «aos», «às»

«de» + artigo definido: «do», «da», «dos», «das»

«em» + artigo definido: «no», «na», «nos», «nas»

«por» + artigo definido: «pelo», «pela», «pelos», «pelas»

«de» + artigo indefinido: «dum», «duma», «duns», «dumas»

«em» + artigo indefinido: «num», «numa», «nuns», «nu-

mas»

Existem ainda contracções da preposição «a» com outras

palavras: «àquele», «àquela», etc.

Mas há mais, muitas mais! Por exemplo, contracções do

«de» com os pronomes pessoais da terceira pessoa: «dele»,

«dela», «deles», «delas».

Existem ainda contracções entre pronomes pessoais:

«mo», «mos», «ma», «mas», «to», «tos», «ta», «tas»,

«lho», «lhos», «lha», «lhas». Por exemplo, «dá-mas» ou

«dá-lhos».

Atenção: as contracções devem ser evitadas, na escrita,

sempre que a segunda palavra da contracção pertence a

uma oração no infinitivo:

Não gosto de o amor eterno ser visto como um mito.

Não gosto de uma criança chegar lá e ver aquilo!

Cheguei antes de ela aparecer.

Quando a preposição «com» se encontra com alguns dos

pronomes pessoais, surgem algumas formas curiosas: «co-

migo», «contigo», «connosco», «convosco», «consigo».

São curiosas porque o «migo», por exemplo, tem origem

no «mēcum» latino, que já queria dizer «comigo». Ao longo

da história que veio do latim ao português, começámos a

introduzir um «com» no início. No fundo, «comigo» quer

dizer «com com eu», numa duplicação interessante, que só

prova como a língua é feita de imperfeições, duplicações,

redundâncias sem fim. É uma floresta antiga, onde árvores

milenares se misturam com arbustos recentes e sementes

do que há-de vir.

Marco Neves Universidade Nova de Lisboa

in Almanaque da Língua Portuguesa

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“Só quem conhece estas paragens bravias, pobres e agrestes, compreende as causas que determinaram a persistência das formas rústicas e dos aspectos culturais arcaicos.” (Jorge Dias)

Em Fevereiro o Entrudo sinalizou o fim do Inverno e a tran-sição para um novo ciclo climático, a Primavera, chegada em finais de Março. O período que se situa entre o fim do Inverno e os inícios de Maio era, em tempos remotos, marcado pelos movimentos transumantes de pastores e seus rebanhos, que seguindo o ciclo da natureza faziam territorialmente uma gestão do tempo e dos parcos recursos que as condicionantes geográ-ficas lhes facultavam.

A transumância, derivada da composição das expressões “trans” (além de) e “húmus” (a terra, a região), designa es-ses movimentos sazonais no território, normalmente fei-tos entre as partes baixas (planícies ou vales) e as partes altas (montanhas), podendo subdividir-se em dois tipos:- a transumância horizontal, que consiste em desloca-mentos de grandes amplitude, como as que se faziam, por exemplo da Serra da Estrela para o Alto-Alentejo, ou para o vale do Douro;- a transumância vertical, caracterizada por movimentos realizados de uma aldeia para os pastos altos situados na sua proximidade (Angel Molina; Jorge Rodríguez), praticada pelas comunidades agro-pastoris das montanhas do com-plexo montanhoso Peneda – Amarela – Gerês, e sua con-tinuidade nas montanhas galegas do Leboreiro – Quinxo – Santa Eufémia – Xurés.

E S T U D O S DA A R Q U I T E T U R A L U S A “ N A S O L I D Ã O D A S A LT U R A S D E S P O V O A D A S . . .”

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E S T U D O S DA A R Q U I T E T U R A L U S A “ N A S O L I D Ã O D A S A LT U R A S D E S P O V O A D A S . . .”

É o segundo tipo de movimento, mais concretamente as suas consequências na construção da paisagem e na confi-guração das formas arquitectónicas e técnicas construtivas tradicionais, que abordarei neste artigo.

A economia praticada nestas montanhas caracterizava-se por um conjunto de dualidades complementares: público/privado, vale/montanha, agricultura/pastorícia, verão/in-verno; relevando laços comunitários centrais para a vida destas sociedades aldeãs. Diversas actividades eram rea-lizadas colectivamente, nomeadamente a guarda do gado – seja através das vigias de gado miúdo (que diariamente polvilhavam as encostas das serras), seja através das ve-zeiras comunitárias de bovinos (que permaneciam na serra entre Maio e Novembro).

“A necessidade de sobrevivência obrigaria, assim, a percorrer, minuciosamente, as extensas áreas montanhosas, mesmo as mais recônditas, e arquitectar esquemas de humanização que melhor rentabilizassem os recursos do sítio escolhido. Gradual-mente, uma rede de fluxos foi gizada, cuja intensidade e pere-nidade dependeria das potencialidades oferecidas pelos sítios em interacção, o lugar principal e aqueles, também, marcados por construções relativamente laboradas, como as brandas...” (Elza Carvalho)

A permanência dos rebanhos nos pontos altos da serra era essencial pois permitia, por um lado, a exploração das pas-tagens de altitude (que de outro modo seria muito difícil de se realizar) e, por outro, a disponibilização dos terrenos mais férteis nos vales, para a agricultura.

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Para garantir a boa guarda e maneio dos animais, os pas-tores acompanhavam-nos e pernoitavam, à vez, junto aos gados, em currais. Aí, existiam pequenas construções-ha-bitáculos, designadas cabanas (fornos, chivanas, chozas). Estas construções são circulares, com uma exígua entrada, e construídas integralmente em pedra sobreposta, em jun-ta seca, e cobertura em falsa cúpula. Por cima da estrutura da cobertura, em alguns casos, eram utilizados terrões que garantiam um melhor isolamento térmico do interior.Os currais e as cabanas eram pertença da comunidade, que zelava pela sua conservação, em data fixada antes da subida dos gados. Este tipo de organização poderia ser encontra-da em aldeias como Vilarinho da Furna, Lindoso ou Ermida

(Serra Amarela), em várias aldeias das faldas da Serra do Gerês, ou ainda nas várias serras galegas que conformam este território transfronteiriço, como Compostela, S. Xés de Vilariño ou Olelas, em concelhos como Lobios ou Entrimo.

A função pastoril na humanização destas paragens de alta montanha é atestada quer pela toponímia (chã, prado(s), poulo, curro, curral de.., curral velho, alto das cortelhas, cabana de..., cortes, pardieiros, alto das bezerreiras) quer pela análise documental:- o pastoreio de gado vacum era importante já no séc.X, como constatado num documento da Condessa Mumadona Dias onde refere: “em Riba de Lima, a parte no Soajo em ter-

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ras e pomares (...) e vacas quantas temos na Várzea e no Soajo e quantas possuímos nas encomunhões com os nossos colonos,”;- cedo se incrementou nas comunidades aldeãs a explo-ração dos prados de altitude, com a construção de currais, como o curial de Lamelas (branda de Lamelas), ou curale de Cuco (branda de Porta Cuco), referidos em documentos régios do séc.XIII;- ocupação medieval dos espaços de altitude, onde se loca-lizam as brandas de São Bento do Cando, Aveleira e Vale de Poldros, referidas em documentos monásticos.Nas situações em que os grandes rebanhos comunitários dão lugar a pequenas explorações pastoris familiares, o que se observa é a repartição do gado, que em vez de pernoitar

junto num grande curral, se distribui nas chãs de altitude entre várias pequenas bezerreiras, às quais normalmente se associam pequenas construções-abrigo: os cortelhos. Nestes espaços de alta montanha, designados por brandas de gado, a entreajuda que caracteriza os laços de vizinhan-ça aldeã continua a verificar-se, estando normalmente no topo da branda um edifício comunitário, de maiores di-mensões – a cabana - onde pernoitam os pastores.

Assim, de acordo com os vários regimes pastoris, e com as disponibilidades de água e solo que permitia distintos pe-ríodos de permanência nas brandas, podemos encontrar diversas escalas de edifícios, marcando uma gradação dos

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modos de construir. É a este facto que se refere o etnólogo Jorge Dias: “(...) oferece-nos uma grande variedade de cabanas pastoris. Encontram-se lá, desde o abrigo troglodítico, cavado nos gra-nitos podres, até à cabana de planta circular, toda uma série de curiosas construções, que servem de abrigo temporário a pas-tores e por vezes aos seus rebanhos.” (Jorge Dias)

O sistema construtivo de cobertura em falsa cúpula em blo-cos de granito apresenta um elevado número de ocorrên-cias na região, estando as razões para a sua implementação e proliferação directamente relacionadas com a dificulda-de de acessos na serra (que impossibilitaria o transporte de materiais e ferramentas), a existência em abundância de pedra nestes locais (associada à escassez de outros mate-riais) e, sobretudo, a durabilidade apresentada pelo granito, capaz de resistir às agruras do clima serrano (com neves e geadas no inverno, e forte exposição solar durante o verão).

Nos locais onde os recursos hídricos, a exposição e as ca-racterísticas do solo o permitiram, foi associada a prática da agricultura (centeio e batata) à função inicialmente ape-nas pastoril. O espaço agrícola é nesses casos propriedade privada, tal como as construções, tendo a maior perma-nência no espaço ditado diferentes escalas no edificado, e maiores cuidados construtivos.

“Tem a serra sítios abrigados e com agoa, que nos mezes de Junho, Julho e Agosto produzem muita erva agreste a que cha-mam feno e ahi tem cazas e cortes a que chamam brandas adonde nos referidos mezes vão (asestir) muitos moradores das vezinhanças da serra com seus gados e criaçoens...” (Memórias Paroquiais, 1758)

“huma serra toda fragoza e despenhada e aspera (...) e no tem-po dos mezes de Verão como hé Junho, Julho e Agosto vão os moradores da dita freguezia apascentar à dita serra o gado va-cum (...) E em algumas partes os pobres moradores fazem ca-chadas para o centeio” (Memórias Paroquiais de 1758)

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Fernando Cerqueira BarrosFAUP – CEAU – PACT

[email protected]

No Norte da Península Ibérica (nomeadamente nas As-túrias e na Cantabria) este tipo de povoamento resulta na conformação de espaços designados por brãnas (brañizas, brañales), etimologicamente próximas do português bran-da (veranda), ambos derivados do latim verania. Associa-se assim a designação destes lugares ao facto de serem utili-zados sazonalmente, na época estival, resultando daí que em algumas regiões, como em Aragão e nas proximida-des dos Pirinéus, apareçam designadas pelo termo estiva, expressões que também surgem em Portugal, como por exemplo estivada(s).

As construções de falsa cúpula de um piso aparecem nestas brandas de cultivo conjugadas com outras mais complexas: conjuntos de construções, construções contíguas e comu-nicantes, e mesmo edifícios em falsa cúpula de dois pisos, também designados cardenhas. Observa-se uma maior complexidade na compartimentação do espaço, associan-do-se os edifícios aos espaços delimitados para pasto e cultivo, e conformando já uma rede de caminhos, delimita-da por sistemas murários, bem como espaços de transição público/privado, entre o caminho e o edifício, aos quais se associam, ainda, estruturas de irrigação (poços e levadas). Nesta tipologia de brandas observam-se, dispersos junto às zonas de pasto/cultivo, edifícios de dois pisos, de planta retangular e cobertura de duas águas, designados por casa

de branda, palheiro, ou colmaço, as quais eram cobertas com colmo, verificando-se, em épocas mais recentes, o recurso à telha. Em muitas situações estas casas estão volumetri-camente associadas a edifícios de falsa cúpula, formando curiosos conjuntos.

Um terceiro sistema transumante, praticou-se em Castro Laboreiro (Melgaço), e materializava-se com a mudan-ça de toda a família, representando um movimento cíclico bi-anual entre parte alta do planalto e parte baixa do vale, designadas por brandas e inverneiras. Duplicação de núcleos de povoamento, branda e inverneira apresentam-se como aglomerados de características similares, nos quais a pre-sença da função habitacional é marcada pela construção de casas.

“Na solidão das alturas despovoadas, frente à majestosa am-plidão da montanha que se desdobra em planos a perder de vista, mal se distinguindo da penedia que os rodeia por todos os lados, estes currais e brandas, cinzentos de líquenes, com as suas casotas sem idade, são bem a imagem da aspereza primi-tiva da vida das gentes serranas, frugal e dura, ao mesmo tem-po que sugerem uma povoação castreja, perdida na serrania, esquecida no tempo, abandonada e em ruínas” .(Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pe-reira)

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Que este ano seria muito marcante na história da nos-sa sociedade, que provavelmente haveria uma crise eco-nómica, tensão internacional com ajustes de fronteiras, guerra e pressão sobre a população, já aqui tinha sido su-gerido na edição de Janeiro a respeito da conjunção entre Saturno e Plutão. Agora, estamos em Abril e, sem sombra de dúvidas, a pan-demia de Covid-19 montou o cenário de crise mundial que os astrólogos previram e que está a fazer tremer o mundo. Vimos também que uma forma de interpretar o propósito por detrás do encontro entre Saturno e Plutão (manifes-tada na pandemia) é a “desconstrução de sistemas in-correctos e injustos e a construção de novas estruturas de organização social e económica mais humanizadas, mais consciente dos limites (quer pessoais, quer dos recursos da Terra), focadas em objectivos colectivos ou comuni-tários e orientadas por autoridades mais dignas das suas

posições de poder”. À data actual, esta descrição feita no início do ano, nada tem de misterioso ou encriptado, pois está demasiado evidente nos desafios que a pandemia tem colocado ao mundo.O medo espalhou-se tão rapidamente quanto o vírus atra-vés dos meios de comunicação social e, as autoridades, com maior ou menor seriedade, foram puxando as rédeas do controlo sobre a população que face ao caos se pola-rizou entre os indiferentes inconscientes e os moralistas histéricos, gerando ainda mais caos e doença e, conse-quentemente, mais medo e mais controlo.Neste cenário de guerra ao vírus e de descoordenação so-cial que desencadeou uma profunda crise económica e insegurança global, Saturno ingressou no signo de Aquá-rio, a 22 de Março. Quando Saturno ingressa num signo conduz-nos a um conjunto de experiências que estão re-lacionados com as lições mais importantes que a huma-

O vírus, a crise e a nova “U(ma)nidade”

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Inês BernardesAstróloga

[email protected]

nidade terá pela frente durante os 3 anos seguintes. A sincronicidade entre este ingresso e a ocorrência do pico da pandemia revela a importância que a CO-VID-19 tem como desencadeadora dos processos necessários à evolução da humanidade.Em traços gerais, podemos dizer que, em Aquário, Saturno vem testar:• Os paradigmas e as ideologias que estão na base da nossa civilização• A consciência grupal e a nossa capacidade de coo-perar voluntariamente em rede, em prol do benefí-cio comum, sem perder a identidade individual;• a nossa capacidade de conceber e erguer uma nova forma de organização colectiva que respeite simul-taneamente a necessidade de progresso, a necessi-dade de sintonização com a natureza e a necessida-de de expressão da singularidade individual. Repare-se como a pandemia veio interferir com o ciclo vicioso da sociedade capitalista, reduzindo ou interrompendo a produção, o consumo, apontando as cidades como focos infecciosos e o recolhimen-to e a natureza como âncoras de segurança. Com Saturno em Aquário, cada um de nós está a ganhar mais consciência de que as acções de um individuo interferem com todos os outros, nesta unidade in-divisível que é a humanidade, à medida que também recupera a reconexão com o seu corpo e com o corpo da Terra. Como aquário é o signo dos grandes contrastes, en-quanto o distanciamento social, a delimitação dos espaços e o encerramento de fronteiras se fazem sentir, também as ondas de solidariedade entre vi-zinhos, organizações e países começa a manifestar-se e a dar esperança.

No entanto, também é preciso olhar para as arma-dilhas com que Saturno em Aquário nos pode acor-rentar. Uma vez que, para superar esta crise é fun-damental uma eficaz coordenação colectiva, se nos evadirmos de participar por iniciativa própria e de coração aberto no processo de mudança, corremos o risco não só de exacerbar a vigilância/controlo entre iguais (colocando a confiança interpessoal em xe-que) mas também de conduzir progressivamente a medidas mais drásticas por parte das autoridades que tenderão a forçar-nos a marchar todos ao mes-mo ritmo e vestidos de igual. A ditadura da igualda-de (de opinião, de preferências, de comportamento, entre outros) poderá instalar-se. Espero que não; é bem mais agradável imaginar que conseguiremos em conjunto reorganizarmo-nos como uma unida-de saudável e funcional constituída por uma rede de indivíduos doadores da sua singularidade particular ao todo.É utopia? Talvez, mas no final deste ano, Júpiter e Saturno farão uma importante conjunção no grau 0 de Aquário e esse evento celeste, assinalará simbo-licamente o início (o início!) da criação da nova civi-lização, da nova humanidade.

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

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A M B I E N T E E S U S T E N TA B I L I DA D ET U D O PA S S A R Á …

Vitor AfonsoMestre em TIC

[email protected]

Em dias de sombra e tempestade, remetemos-nos à clausura de quatro paredes, enquanto a vida avança com as suas leis. Às saídas condicionadas, chamemos-lhe o lugar seguro que nos abriga da loucura, numa espécie de limiar de sobrevivência. Vivemos tempos nunca antes ima-ginados pelos vivos. Uma espécie de mundo novo, para o qual não estáva-mos e não estamos ainda preparados. Não podemos ver-nos, não podemos beijar-nos, nem sentir o calor de um abraço...

E lá fora, a natureza segue o seu rumo. Da janela vemos o espraiar dos rios, onde a água corre livremente até ao mar, povoados por cardumes de peixes envoltos em algas dançantes e em vísceras escorrentes de monta-nhas, destinadas ao ciclo de vida, que nos dará de beber. Apreciamos a dan-ça das folhas embaladas pelo vento, sentimos no rosto a neblina matinal e o soprar da fresca brisa, observamos as flores que tingem de cor os montes e os jardins, ouvimos as suaves me-lodias dos pássaros que, no seu ritmo frenético, se preparam para construir seus ninhos. Ao longe, e vagarosamente, um corso percorre uma floresta de bétulas, imune ao surto que nos tolhe os dias lentos, de dor e agonia.

Paremos para escutar e olhar em redor, há um maravilhoso mun-do lá fora, que precisa ser redes-coberto, logo que a pandemia passe. Até lá, o confinamento ao lar, salvará vidas. Em isolamen-to, teremos oportunidade de nos conectar connosco próprios, a nossa natureza mais profunda.Religuemos as nossas raízes, procuremos em nós os valores ancestrais, dos nossos avós, dos avós dos nossos avós…Façamos com que tudo volte a ter um sentido, a nossa vida em har-monia com a nossa casa, o nosso oráculo e o nosso sustento. Após a tempestade, a conexão terá ou-tras proporções e o mundo estará mais unido.

Mais um dia de clausura. Apetece abrir portas e janelas e voar por aí… Apetece tanto!

Percorrer montes, vales e atalhos, dançar ao som das gotículas da chuva, pisar os grãos de areia numa praia deserta, subir ao monte mais alto da cordilheira, beber a água fresca das fontes e daí, contemplar o nascer-do-sol e cascatas de águas cristalinas.

A natureza está em todo o lado, por toda a parte. Para onde quer que olhemos, ela vive, cresce, floresce, transforma-se e renasce… Aos poucos recupera o brilho de ou-trora.

Quando tudo isto passar, teremos uma nova oportunidade para a poder-mos contemplar, para a sentir, para a apreciar e proteger. Há que aproveitá-la, com sapiência!

Em breve, chegará o momento de “regressar à vida” e a tudo que isso implica. Nesse dia vamos poder abraçar-nos de novo! Quando? Não sei, ninguém sabe… Sei apenas que esse dia chegará! Tal como a natureza se renova a cada Primavera, também nós regressaremos à normalidade dos dias.

Precisamos de uma nova humani-dade, de um novo rumo! É preciso repensar as prioridades, fazer novas escolhas. Depois disto, nada será igual, nada poderá voltar a ser igual…

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E S PAÇ O L U S O - C R I A N Ç AN O Ç Õ E S B Á S I C A S S O B R E P O L Í T I C A E O R G A N I Z A Ç Ã O D A S S O C I E D A D E S

( PA R A C R I A N Ç A S E J O V E N S )

Vamos fazer um exercício de memória. Em Portugal exis-

tem quatro Órgãos de Soberania: Presidente da República,

Assembleia da República (parlamento), Governo e Tribu-

nais.

Neste mês, irei, também resumidamente, dar-te a co-

nhecer o :

Governo

Composição

O Governo é constituído pelo Primeiro-Ministro, pelos

Ministros e pelos Secretários de Estado.

São órgãos colegiais do Governo o Conselho de Ministros

e a Reunião de Secretários de Estado.

Ministros

Os ministros são uma espécie de chefes que comandam os

diversos ministérios e cada ministério tem a competên-

cia de tratar de assuntos diferentes. Ao longo do tempo,

podem mudar o número, o nome e as funções ou tarefas

dos ministérios e também, dos ministros. Neste momen-

to, em Portugal, o Governo é formado pelo Primeiro-mi-

nistro; Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros;

Ministro das Finanças; Ministro da Defesa Nacional; Mi-

nistra da Cultura; Ministro da Ciência, Tecnologia e En-

sino Superior; Ministro da Educação; Ministra do Traba-

lho, Solidariedade e Segurança Social; Ministra da Saúde;

Ministro de Estado e da Economia; Ministro do Ambien-

te; Ministra da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento

Rural; entre outros.

Competências do Primeiro-Ministro e dos restantes ministros

O Primeiro-Ministro possui a competência própria e

competência delegada pelo Conselho de Ministros. O Pri-

meiro-Ministro exerce os poderes relativos aos serviços,

organismos, entidades e estruturas compreendidas na

Presidência do Conselho de Ministros.

Os Ministros possuem a competência própria que a lei

lhes atribui e a competência que, nos termos da lei, lhes

seja delegada pelo Conselho de Ministros ou pelo Primei-

ro-Ministro.

Exemplo

O Ministro da Educação tem por missão formular, condu-

zir, executar e avaliar a política nacional relativa ao sis-

tema educativo, no âmbito da educação pré-escolar, dos

ensinos básico e secundário e da educação extraescolar, e

a política nacional de juventude e desporto, entre muitas

outras.

Competência dos Secretários de Estado

As/os Secretárias/os de Estado não dispõem de com-

petência própria, exceto no que se refere aos respetivos

gabinetes, e exercem, em cada caso, a competência que

neles seja delegada pelo Primeiro-Ministro ou pela/o mi-

nistra/o respetiva/o.

Exemplo

O Ministro dos Negócios Estrangeiros é coadjuvado pela

Secretária de Estado dos Assuntos Europeus, pela Secre-

tária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Coopera-

ção, pela Secretária de Estado das Comunidades Portu-

guesas e pelo Secretário de Estado da Internacionalização.

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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Características da Cidade

Viana do Castelo é a cidade capital do distrito com o mesmo

nome, na região do Norte de Portugal. É sede de um muni-

cípio, subdividido em 27 freguesias e habitada por 85 445

habitantes.

Foi elevada a cidade em 1848. Chamava-se simplesmente

“Viana” (também referida como “Viana da Foz do Lima”

e “Viana do Minho”, para diferenciá-la de Viana do Alen-

tejo).

É uma das mais bonitas cidades do norte de Portugal, tra-

dicionalmente ligada ao mar, ligação que remonta dos Des-

cobrimentos Portugueses e, mais tarde, à tradição da pesca

do bacalhau, que foi atividade económica importante nos

finais do século XIX e início do século XX.

A sua situação geográfica é privilegiada. Do monte de San-

ta Luzia pode observar-se uma longa extensão de mar e a

foz do rio Lima, uma vista deslumbrante para quem visita

o Templo do Sagrado Coração de Jesus, comummente de-

nominado, Templo de Santa Luzia, edifício revivalista de

Ventura Terra, datado de 1898, podendo ser este o ponto de

partida para visitar a cidade.

A sua riqueza arquitetónica

Quem percorrer o concelho encontra uma beleza arquite-

tónica impar, nos seus palácios brasonados, igrejas e con-

ventos, chafarizes e fontanários, de inspiração manuelina,

renascentista, barroca, art deco ou do azulejo, que cons-

tituem a herança patrimonial da cidade. As ruas do centro

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histórico convergem para a Praça da República, o coração

da cidade. Nesta praça podemos encontrar o edifício da Mi-

sericórdia e o chafariz, da época quinhentista, assim como,

os antigos Paços do Concelho. Não muito longe, nesse mes-

mo centro histórico, fica a românica Sé e a Igreja Matriz.

E virada para o mar, esse mar que fez e continua a fazer a

história de Viana, situa-se uma barroca igreja, a Igreja da

Senhora da Agonia, que guarda a Santa que lhe dá nome, a

santa da devoção dos pescadores. A Senhora da Agonia sai,

tradicionalmente e religiosamente, todos os anos a 20 de

agosto, para abençoar o mar, os pescadores e todos, numa

das mais coloridas festas de Portugal – a Romaria de Nos-

sa Senhora d’Agonia. Nesta romaria, a par com as tradições

religiosas, salienta-se a beleza e a riqueza dos trajes típicos

que desfilam por todas as ruas da cidade e nas festas.

Viana do Castelo é, atualmente, considerada uma “Meca da

Arquitetura” graças ao importante edificado assinado por

ilustres nomes da arquitetura portuguesa contemporâ-

nea. A Praça da Liberdade é da autoria de Fernando Távora,

a Biblioteca Municipal de Álvaro Siza Vieira, a Pousada da

Juventude de Carrilho da Graça, o Hotel Axis de Jorge Albu-

querque e o Centro Cultural de Viana do Castelo, de Souto

Moura, entre outros.

Quando se fala no espólio patrimonial de Viana do Caste-

lo existe uma referência à qual não se pode ficar alheio – a

ponte Eiffel sobre o rio Lima, que completou 141 anos, com

processo aberto para classificação como imóvel de interes-

se nacional.

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As tradições – a filigrana em ouro, os seus ricos trajes tradicionais e o folclore

Viana, também, é conhecida pela filigrana em ouro e tem

sabido manter as suas tradições. O Coração de Viana é o

símbolo icónico da filigrana vianense e, ao contrário do

que se poderia pensar, o propósito primeiro da sua cria-

ção não foi ser um símbolo de amor, mas sim, um símbolo

de dedicação e de culto do Sagrado Coração de Jesus. Mas

também, destacam-se os Brincos Rainha, símbolo da fer-

tilidade feminina, e os Colares de Contas de Viana, peças

artisticamente trabalhadas e que fazem parte do legado das

famílias vianenses, geralmente um rico dote em ouro, que

as mulheres orgulhosamente exibem por altura das festas

populares, particularmente na Romaria de Nossa Senhora

d’Agonia.

A filigrana está intimamente ligada aos ricos trajes tradi-

cionais - o Traje de Lavradeira, o Traje de Mordoma, o Traje

de Noiva, o Traje de Meia Senhora, Traje de Dó, Traje de Do-

mingar, Traje de Feirar, Traje de Trabalho, principalmente

usados nas diversas festas e romarias que se realizam ao

longo do ano, em todo o concelho. É nestas alturas que o

passado revive e se torna presente, sendo possível admirar

todos os detalhes dos tradicionais e coloridos trajes das di-

ferentes freguesias do concelho de Viana do Castelo. A Ro-

maria da Senhora d’Agonia é a montra privilegiada destes

trajes, onde os podemos admirar no Desfile da Mordomia,

no Cortejo Etnográfico e na Festa do Traje. É quando as mu-

lheres minhotas envergam orgulhosamente os seus trajes,

ostentando o seu rico dote de ouro, com valiosas peças tra-

dicionais de filigrana. O famoso Traje à Vianesa é um ícone

do folclore de Viana, caraterizado pela beleza dos bordados

à mão e o das peças tecidas nos teares, uma rica herança

secular, perpetuada até aos nossos dias. Estas tradições são

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OA C I D A D E D E V I A N A D O C A S T E LO

adornadas pelo trabalho dos ourives que moldam o ouro

em filigrana, o mesmo ouro que complementa os trajes

vianenses.

O folclore vianense transporta consigo memórias de mui-

tas gerações. As músicas falam de amor, de namoro, da

realidade do trabalho nos campos, e que embalam o vira do

Alto Minho, marcado pelo ritmo do acordeão e das concer-

tinas e pelo som do cavaquinho.

Roteiro Gastronómico

De Viana partiam, para a sua faina, os navios bacalhoeiros

para a Terra Nova e Gronelândia. O bacalhau é, por isso,

uma referência gastronómica (Bacalhau à Viana, Bacalhau

à Gil Eanes, Bacalhau à Zé do Pipo, Bacalhau assado, Baca-

lhau na Brasa, Bacalhau de Cebolada, Bacalhau à Camelo,

entre outros). O arroz de Pé Descalço ou Pica no Chão, os

Rojões à Moda do Minho, o Cabrito assado ou Cabrito à Ser-

ra d’Arga, o Arroz de Sarrabulho, são outros dos deliciosos

pratos típicos.

Na doçaria destacam-se a torta de Viana, as Santas Luzias,

as bolas de Berlim, as Meias-luas de Viana, os Manjericos,

os Sidónios e os Doces de Gema.

Um destino turístico por excelência

Capital do Alto Minho, Viana do Castelo é rainha do folclore

e de tradições coloridas, também, do artesanato, e rainha

na sua tradição marítima, associada aos desportos e ati-

vidades náuticas – jet-ski, vela, remo ou canoagem no rio

Lima, surf, windsurf, kit surf e bodyboard.

Ao falar de turismo, o Caminho de Santiago, não pode ser

esquecido. O “Hospital Velho” foi construído no século XV,

para ajudar e receber peregrinos para Santiago.

O seu artesanato é detentor de exclusividade, com menção

especial para o traje à Vianesa e os bordados – ambos já

certificados – e a famosa louça de Viana.

Viana fica no coração – “Quem gosta vem, quem ama fica”!

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PAG 54 | OBSERVA - MAGAZINE

À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R AV A L E D E H U N Z A

A medicina natural, a medicina convencional e as terapias globais

Muito se tem falado dos tratamentos, diagnósticos, na ne-

cessidade de produzir remédios e vacinas. Pouco se questiona

sobre as causas, as verdades mais profundas, mais ou menos

idealistas ou realistas, aquelas com as quais parte da huma-

nidade ainda não está preparada a enfrentar. Porque existem

tantos idosos doentes em Portugal e noutros países, como

em Itália e Espanha? Quem de nós não necessitou já - em si-

tuações agudas - de uma anestesia geral? De penicilina para

curar uma amigdalite? Sem a medicina convencional, espe-

cialmente, a do Ocidente, não estaria a escrever este artigo.

Também em algumas doenças crónicas, esta medicina nos

tem valido e as deslocações ao médico de família, (que nome

tão estranho para um técnico de aviar receitas no computa-

dor), continuam a fazer com que duremos mais tempo.

A questão que se impõe é esta: esse tempo é de qualidade?

Sim, eles aconselham a deixar de fumar, a fazer exercício,

reencaminham para um colega nutricionista. Os médicos e as

farmácias vivem de pessoas saudáveis? Também! Felizmen-

te, encontramos médicos e farmacêuticos que nos «vendem

saúde».

Sim: temos dentes caninos, apesar de não servirem, agora,

para cortar carne crua, e não fora o consumo da carne não te-

ríamos evoluído tanto na nossa robustez. Depois da 2ª guerra

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mundial e principalmente, a partir dos anos 60, o consumo

diário e exagerado da mesma potenciou o aparecimento de

doenças como o cancro e os acidentes cerebrais vasculares?

As ideologias fundamentalistas e extremadas, assim como a

ganância, cegam uns e outros e o bem comum e ficamos de-

sinformados e confusos.

A medicina convencional alopática moderna e ocidental e as

muitas medicinas tradicionais de várias e diferentes culturas

orientais (agregadas hoje na designação de “alternativa”)

precisam unir-se, comunicar, deixar de guerrear e extremar

campos de batalha. Apenas assim chegaremos a uma «cura»

com base em terapias globais, e globais em todos os sentidos:

as que curam o corpo, o espírito e as quais pretendem chegar

a toda a humanidade. Muito ambicioso? Uma questão de pre-

servar a continuidade da nossa espécie?

Este artigo é sobre espreitar lá fora, com lupa. Então, cá va-

mos. Espreitemos:

Verdade ou mito?

O Vale de Hunza, onde, alegadamente se vivia com perfeita

saúde e alegria até aos 120 anos faz fronteira entre a Índia e o

Paquistão, e parece que ficou conhecido por “oásis da juven-

tude”. Alegadamente - porque não regressamos no tempo,

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mundial e principalmente, a partir dos anos 60, o consumo

diário e exagerado da mesma potenciou o aparecimento de

doenças como o cancro e os acidentes cerebrais vasculares?

As ideologias fundamentalistas e extremadas, assim como a

ganância, cegam uns e outros e o bem comum e ficamos de-

sinformados e confusos.

A medicina convencional alopática moderna e ocidental e as

muitas medicinas tradicionais de várias e diferentes culturas

orientais (agregadas hoje na designação de “alternativa”)

precisam unir-se, comunicar, deixar de guerrear e extremar

campos de batalha. Apenas assim chegaremos a uma «cura»

com base em terapias globais, e globais em todos os senti-

dos: De acordo com o médico escocês Mac Carrisson, que por

curiosidade foi conviver com este povo durante sete anos, o

segredo da saúde em Hunza residia na alimentação do seu

povo, à base de cereais integrais, frutas (principalmente o

damasco, considerado sagrado na região), verduras, casta-

nhas, queijo de ovelha e o invulgar pão de Hunza, com res-

trições de calorias.

O pão de Hunza

Seria 100% orgânico, sem aditivos sintéticos (produzidos em

laboratórios e derivados de petróleo), sem agro-tóxicos, nem

adubos de síntese, (denominadores comuns em quase todos

os produtos que hoje nos dão a consumir).

Jejum e atividade física

Os Hunza só faziam duas refeições por dia, sendo que a pri-

meira acontecia apenas ao meio-dia. Passavam várias horas

em jejum, dedicando-se a diversas atividades físicas. A carne

não era totalmente cortada na dieta, mas consumida apenas

em ocasiões especiais, e sempre em pequenas quantidades.

Nas últimas décadas, porém, os hábitos ocidentais também

lá chegaram e com isso a qualidade da longevidade degra-

dou-se.

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 57

Mas os Hunzas, do Paquistão, não são o único povo que nos

pode inspirar – a quem se quer deixar inspirar - com o seu

exemplo.

O vale de Vilcabamba no Equador, tem uma tradição fortís-

sima de cura, continuando a ser um local de romagem para

quem busca a cura. Aí, tradicionalmente, comiam principal-

mente quinoa, arroz e milho como também, muitas hortali-

ças e algumas leguminosas. A carne era só consumida espo-

radicamente e de animais silvestres caçados.

Talvez o mais conhecido exemplo seja a ilha de Okinawa, no

Japão. Hoje, ainda continuam a levantarem-se de manhã

cantando “o calor do coração impede o corpo de envelhecer”.

A idade avançada, ali, é vista e vivida como um tempo de li-

berdade e independência.

Em comum estes grupos tinham (ou têm) um estilo de vida

simples em contato com a terra, recheada de muita atividade

física diária, nomeadamente, devido a ocuparem-se da agri-

cultura, caminharem, terem ritmos de trabalho que contam

com muita cooperação entre a família alargada, em que os

mais velhos são respeitados para o bem de todos, mantendo-

se ativos, integrados e colaborantes. Por fim, vivem em zonas

muito salubres, longe da poluição, com uma água de quali-

dade com muitos minerais e nenhum aditivo. E agora o caro

leitor pergunta: vamos voltar às cavernas? E a ser pobres? E

a comer comida desagradável? Também aqui podemos ser

sensatos e curiosos sobre formas de cozinhar deliciosamente

e sobre bio - construção. É sempre uma escolha nossa pes-

quisar e entrar em mundos desconhecidos até aqui.

Neste tempo, em que aparece um vírus que - ao que pare-

ce - ataca de forma impiedosa aqueles que têm um sistema

imunitário mais debilitado, estes exemplos, no mínimo, des-

pertam para escolhas.

Em boa verdade, nada que façamos de muito «acertado» ou

cuidado, nos torna imortais. Mais saudáveis, em qualquer

idade, talvez!

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Quando, há pouco menos de 20 anos, comecei a trabalhar, o sector dos vinhos estava desgovernado. O mercado era dominado pelo sector das cervejas – o grande concorrente do vinho, que es-tava enraizado nos hábitos de consumo do público-alvo das empresas de vinho. O sector da produção estava desorien-tado. Não existia uma política de pro-dução consistente e, a bem da verda-de, Portugal estava 20 anos atrasado em relação aos melhores produtores mundiais. A viticultura era incipiente e experimentalista. A enologia era bási-ca. E o produto final era muitas vezes

resultado dos desígnios da Natureza, que agraciava as vinhas com excelência duas vezes por década. As Quintas e as Herdades estavam a obter os primeiros resultados da aplicação de métodos de produção internacionais, ainda incon-sistentes e pouco adaptados ao nosso terroir. O sector comercial e de marketing es-tava ainda mais desnorteado – o que é, aliás, um denominador comum aos vá-rios mercados portugueses, que sempre souberam produzir melhor do que criar marcas: tem sido assim nos vinhos e na agricultura, no calçado, no têxtil... e

em toda a linha da produção portugue-sa. A explicação pode ser simplificada. Em primeiro lugar, fomos tradicional-mente um povo aberto ao mundo, pai da globalização, mas fechado quanto a muitas matérias, que sempre nos pa-receram de implementação demasia-do difícil. Depois, e sobretudo, somos um país sem escala. Quando as nossas empresas, sediadas num país pequeno, adaptam os seus produtos ao merca-do, procuram responder a um público muito alargado, para abranger todos os consumidores potenciais. Ora, num país que precisa de exportar, pretender

As curvas de crescimento e do absurdo

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

Page 59: REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT OBSERVA · Jovem português, Alexander Dumont dos Santos Advogado e Mestre em Gestão Internacional ... As atividades da nossa associação estão,

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 59O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

abranger todos é ignorar a existência de segmentos, de perfis de consumo dife-renciados, que precisam de encontrar produtos com características únicas. Um exemplo? O semanário de maior ti-ragem em Portugal vende tanto quan-to uma pequena publicação sectorial nos EUA. Este é um factor crítico dos negócios portugueses: ao ignorar uma procura com necessidades específicas, chegamos ao mercado com produtos genéricos e somos preteridos pela con-corrência. Somos os reis das provas ce-gas. Mas somos relegados para o fundo das prateleiras no comércio externo. Há 20 anos, no contexto internacional dos vinhos, porém, os problemas eram ainda maiores. Não existia uma coor-denação da promoção internacional entre os vários agentes, que agiam por si próprios, sem concertação. Em mer-cados apetecíveis por todos os países produtores, cada agente, cada região, cada instituição lusa concorria por si no esforço de captação dos comprado-res e dos prescritores. Sendo residuais, nenhum prescritor sénior dava atenção ao que lhe chegava de Portugal sem ca-

dência, sem organização, sem método. O mundo transformou-se e Portugal soube conquistar o seu espaço nalguns sectores que se mostraram mais orga-nizados e dinâmicos. Com o Turismo à cabeça. Mas no mercado dos vinhos também. Foi criada e generalizada uma estratégia consistente. As exportações aceleraram. O consumo interno cresceu – fruto do Turismo, mas também pelo enraizamento de hábitos de consumo internos: se ignorarmos as cidades Es-tado, Portugal lidera o consumo mun-dial de vinhos per capita, mas consome menos do que no passado (perdemos o perfil dos clientes dependentes, que be-biam 5 litros por dia; e generalizamos o consumo de vinhos de qualidade, que passaram a estar presentes em casa de uma larga maioria de famílias portu-guesas). Em 2019 o sector vitivinícola voltou a atingir resultados históricos, com um crescimento de 2,5% só nas exportações, que ultrapassaram os 820 milhões de euros. O mercado parece de-finitivamente lançado.Actualmente, no entanto, o contexto de incerteza parece agudizar os problemas

tradicionais no mundo dos vinhos. Em primeiro lugar, porque a declaração de estado de emergência, decorrente do efeito da pandemia que veio insta-lar-se, tornou a pouca mão-de-obra agrícola disponível ainda mais escassa. Depois, porque os mercados pararam, os restaurantes fecharam e as pessoas ficaram em casa, diminuindo drastica-mente os níveis de consumo. O futuro declarou-se incerto. Mas con-tinua a residir nas mãos de cada um de nós. Agora que resolvemos um con-junto de problemas estruturais; ago-ra que estamos a crescer e a afirmar a diferenciação dos vinhos portugueses no mundo, não podemos baixar os bra-ços. Como consumidores, não podemos deixar de comprar. Como empresários e produtores, não podemos deixar de investir. Só depende de nós continuar a crescer. Mesmo sabendo que a econo-mia tem ciclos absurdos e que podemos ser como Sísifo: condenados a empur-rar penosamente a rocha até ao cume da montanha, sabendo que invariavel-mente ela acabará por voltar a cair an-tes de chegar ao cume.

Pedro GuerreiroGestor

[email protected]

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

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PAG 60 | OBSERVA - MAGAZINE

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

Esta é a altura do ano em que tudo volta a nascer e na cozi-

nha aparecem, de novo, os sabores da época e os produtos

com as cores mais vivas e florais, e somos invadidos por

uma sensação mais leve e de pureza. Digamos que a Pri-

mavera nos traz a sensação do recomeçar da vida.

Primavera significa, portanto, o recomeço da vida, de um

novo ciclo. No meu caso e, este ano particularmente, tem

um significado ainda mais forte, ainda mais especial, re-

presenta “nascimento”. Estou a momentos de ser pai pela

primeira vez, e de abrir o meu próprio restaurante em Bu-

dapeste. As emoções são enormes e muito intensas.

O mundo, apesar de tudo, tem de continuar com a Espe-

rança depositada nas novas gerações. Este ano, em virtude

da epidemia, as reuniões familiares vão ser menos alar-

gadas, mas não deixem de transformar esta oportunida-

de de fazerem ou encomendarem os tradicionais sabores

da Páscoa. As minhas especialidades são portuguesas e

também, de origem húngara, que vão poder encontrar no

Primavera…

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 61

meu próprio espaço, muito em breve. Não se esqueçam de

cozinhar com a família nuclear, passarem receitas de fa-

mília, envolverem os mais jovens que estão em casa, e de

com todos os cuidados de higiene e segurança alimentar,

enviarem um miminho de sabor aos que convosco não se

podem sentar à mesa. Como uns papos de anjo ou umas

castanhas de ovos.

Relativamente ao meu novo espaço, em Budapeste,

momentos importantes se adivinham, num elaborado

“menu de diversos ingredientes”: realização de um so-

nho; alcançar de objetivos; agarrar de novos desafios;

enorme confiança. Só pode resultar em “pratos” de su-

cesso!

Eu estou a seguir uma receita de um miminho de Páscoa.

Estou a fazer “Pastéis Tia Rica”, Receita da avó (Textura

semelhante ao creme pastel de nata). Fica aqui esta su-

gestão, desejando ainda que todos cumpram as medidas

do Estado de Emergência, decretado em Portugal, para o

bem e pela saúde de todos nós.

Desejo a todos uma Boa Páscoa!

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

Tiago SabarigoChef

[email protected]

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C O L U N A S D E O P I N I ÃOD A T E R R A A O M A R

Numa altura em que tanto se fala em descarbonização e na necessidade de se arranjar alternativas aos combustí-veis fósseis, surgem-nos exemplos de sucesso de alternativas sustentáveis.O Alto Minho tem vindo, desde 2005, altura em que foi criado o Parque Eó-lico de Arga, a posicionar-se como exemplo de bom aproveitamento eóli-co do Vale do Minho, cujas caraterís-ticas climáticas lhe permite um rendi-mento e performance exponencial.Claro que antes de falar em vantagens temos de frisar que também, existem desvantagens. Falamos, por exemplo, do impacto visual considerável e no impacto sobre as aves do local, no-meadamente, no seu comportamento habitual de migração.No entanto, o destaque vai para as inúmeras vantagens trazidas pelos Parques Eólicos.Se por um lado, temos uma fonte inesgotável de energia, a produção da mesma não emite gases poluentes, nem gera resíduos.Ou seja, toda a economia rural e turís-tica pode coabitar com estes Parques, sendo perfeitamente compatível a uti-lização de terrenos para agricultura e criação de gado, como aliás, se vê o exemplo da Serra D’Arga.Por outro lado, os benefícios financei-

ros que revertem a favor dos Baldios e dos Municípios, também, são impor-tantes para que se possa investir no melhoramento destas zonas, quer ao nível de acessos, como de outras in-fraestruturas e equipamentos, que possam melhorar o nível de vida da população residente nestes territó-rios.O Alto Minho permite ainda que a energia eólica seja também, aprovei-tada a partir do alto mar. A nossa posição territorial é uma mais valia para o aproveitamento deste recurso, que produz milhões em energia limpa e renovável.O primeiro Parque Eólico flutuante da Europa, denominado Windfloat, surge exactamente, neste canto de Portugal, no distrito de Viana do Castelo, a 20 km da costa portuguesa.Esta central Eólica flutuante poderá fazer história no nosso País.À parte de todas as polémicas relacio-nadas com as respetivas indemniza-ções, a quem não poderá exercer a sua atividade económica, como é o caso dos pescadores, temos de aceitar que poderá ser uma mais valia para toda a região.É justo que os pescadores sejam res-sarcidos das suas perdas, e assim, como se atribui uma verba aos Baldios

e Municípios, também deveria ser atribuída uma verba anual às Asso-ciações de Pescadores para mitigação de situações derivadas da impossibi-lidade de exercerem a sua atividade económica no alinhamento definido para o Parque Eólico Flutuante.Se falamos de uma atividade com ex-celente rentabilidade do investimen-to, então, é justo que todos os que de alguma forma forem prejudicados pela execução deste projecto, sejam, de alguma forma, compensados.No entanto, apesar da mais valia ine-gável deste Parque Eólico flutuante, não posso deixar que fique no ar a preocupação, que reside no facto de existir um cabo marítimo de mui-ta alta tensão, que permite injetar a energia eólica com origem no mar, no sistema nacional. De facto, ainda não são conhecidas as repercussões destes cabos no meio ambiente marinho. Acreditando que este impacto foi de-vidamente avaliado, temos de nos re-gozijar com o facto de termos o maior Parque Eólico terrestre e o 1º Parque Eólico flutuante da Europa.Façamos história da Terra ao Mar e aproveitemos a fantástica posição geoespacial neste cantinho da Europa à beira mar plantado.

Liliana SilvaProfessora e Empresária

colunasdeopiniã[email protected]

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 63

L E G A LB R E X I T E C O V I D - 1 9 : N U N C A S E E S P E R A O I N E S P E R A D O - PA R T E I

Se perguntarmos a um empresário qual o problema que

afeta a Europa, a resposta será “Covid-19”. Há três me-

ses a prioridade era outra e o Brexit uma das primeiras

escolhas.

Esta rutura inédita na história do projeto europeu viu-se

agravada por se tratar de uma das mais relevantes eco-

nomias da UE e da sua principal potência militar.

A 31 de janeiro de 2020 entrou em vigor o Acordo sobre

a saída do RU, dia em que foi publicada uma Declaração

Política estabelecendo o quadro das futuras relações,

prevendo um futuro Acordo de Comércio Livre. A 18 de

março, após consulta ao Parlamento Europeu e ao Con-

selho, a Comissão transmitiu ao RU um projeto de tex-

to para nova parceria, propondo que a possibilidade de

celebração digital permaneça vedada aos contratos que

estabeleçam ou transmitam direitos sobre imóveis.

Seguindo o princípio da atribuição, o direito de proprie-

dade é sobretudo regulado ao nível nacional, onde re-

sidem as principais competências sobre regras, gestão,

execução e controlo da atividade imobiliária. Cada país

tem as suas soluções normativas, aplicáveis dentro do

respetivo território nacional, o que fará com que não se

conheçam alterações substanciais por força do Brexit.

Sem prejuízo, ainda antes do Brexit, o mercado portu-

guês lançou alguns sinais de alerta. Recorde-se que após

o referendo, sentiu-se uma quebra de cerca de 20% no

mercado inglês em Portugal. As perspetivas de desva-

lorização da libra e de descida da economia podem ter

retraído os ingleses, afetando sobretudo o Algarve e a

Madeira. Contudo, ultrapassado o primeiro embate, o

interesse por Portugal não esmoreceu. Atraídos pelo

menor custo de vida e o bom tempo, mantiveram a com-

pra de casas, especialmente no Algarve. O RU não deixou

de ser um dos principais investidores no nosso mercado.

Não cremos que a quebra no sector, e mesmo no do tu-

rismo, de “clientes” ingleses seja uma realidade ou es-

teja unicamente ligada ao Brexit. Um estudo publicado

sobre o “Mercado dos Resorts em Portugal” apurou que

os britânicos continuam a ser os principais investido-

res no imobiliário, com principal incidência no Algarve,

pese embora as compras feitas por outras 13 nacionali-

dades.

Mas, afinal, o que mudou na aquisição de uma proprie-

dade em Portugal por um nacional do RU? Nada. O pro-

cesso permanece igual: terá de obter número de con-

tribuinte português, abrir conta bancária em Portugal,

escolher um imóvel, analisar documentos, agendar o

instrumento de compra e venda e pagar o preço. O que

pode mudar, no fim do período de transição previsto

pelo Acordo de Saída (31.12.2020), são as regras para a

residência em Portugal. O nosso país tem vindo a pre-

parar o período pós-Acordo e continuará a atualizar o

Plano de Preparação e Contingência, aprovado a 17 de

janeiro de 2019.

Renata Silva AlvesAbreu Advogados

[email protected]

João VacasAbreu Advogados

[email protected]

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A Packman Solutions surge da necessidade do mercado empresarial português, ter à sua disposição um serviço transversal e completo de suporte permitindo que se foquem na sua actividade principal.Assim surge o conceito Pack of Management Solutions, que visa permitir aos nossos clientes escolher o seu pacote de soluções de gestão, através da combinação dos vários serviços disponibilizados

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 65

D I R E I TO F I S C A LC O V I D - 1 9

Rogério M. Fernandes FerreiraRogério Fernandes Ferreira & Associados

[email protected]

Após a declaração pela OMS da pan-demia global foram adoptadas pelo Governo português várias medidas excecionais.

No âmbito laboral, a situação de isolamento durante 14 dias foi equiparada a doença, com direito a subsídio correspondente a 100% da remuneração e o teletrabalho pode agora ser determinado uni-lateralmente pelo empregador ou requerido pelo trabalhador sem ne-cessidade de acordo. Foram ainda aprovados apoios imediatos para a manutenção dos contratos de tra-balho, incluindo apoios financei-ros, planos de formação e isenção, temporária, de contribuições para a segurança social a cargo da entida-de empregadora, aplicáveis às em-presas em situação de crise, ou seja, com paragem total da atividade ou em quebra abrupta de, pelo menos, 40% da faturação nos 60 dias ante-riores ao pedido.

A declaração de isolamento por risco de contágio é também tida como justificação de impedimen-

to à prática de actos processuais e procedimentais e foram suspensos os prazos para a prática de actos administrativos dado o encerra-mento das instalações onde estes devem ser praticados. Por seu lado, os documentos oficiais cuja valida-de termine a partir de 28 de feverei-ro passaram também a ser aceites, para todos os efeitos legais, até ao próximo dia 30 de junho e foram suspensos os prazos de cujo decur-so podia resultar o indeferimento tácito em pedidos de autorização ou licenciamento.

Foram também proibidos os ajun-tamentos de mais de 100 pessoas, bem como o consumo de álcool em público e foram suspensos os serviços de transporte internacio-nal de passageiros. O atendimento informativo passou a ser prestado exclusivamente por via telefónica e online sempre que possível e os pa-gamentos nos serviços presenciais são, agora, feitos por via eletrónica.

Foi temporariamente reposto o controlo documental de pessoas nas fronteiras e suspensa a circula-ção, em qualquer meio, com origem ou destino em Espanha, salvo para entrada de cidadãos nacionais ou saída de cidadãos estrangeiros.

Todas estas e outras medidas adoptadas pelo Governo português procuram fazer frente a esta nova realidade, sanitária e económica, podendo agora ainda ser mais efec-tivas perante a recente, e inédita, declaração de estado de emergên-cia e que irá implicar a suspensão adicional de alguns direitos, liber-dades e garantias.

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I N F O R M AÇ Õ E S F I S C A I SN O V O T E M P O

Uma das variáveis que marca de for-ma irremediável a humanidade, todos os ramos do saber e todas as dimen-sões do nosso mundo, é o tempo.Todos sabemos o que é, mas a defi-nição não é evidente e absoluta e tem fascinado homens de saber e não só, ao longo dos tempos. É uma daquelas variáveis do Universo que ninguém apalpa, cheira, vê, saboreia, não é material e, no entanto, dificilmente encontraremos um cientista que ne-gue a sua existência. Os gregos referiam-se ao tempo usan-do duas palavras: chronos e kairós. En-quanto o primeiro se refere ao tempo cronológico (ou sequencial) que pode ser medido, o segundo significa “o momento certo” ou “oportuno”: um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece. Em teologia considera-se o chronos o “tempo dos Homens” e o kairós acaba por ser o “tempo de Deus”).O momento do nosso universo antes do Big Bang era de singularidade, ou seja, nem as leis da física se aplica-vam nem a noção de tempo. Só depois de se dar o Big Bang é que passou a existir a noção de tempo.Neste tempo do Covid-19, o tempo fiscal deve parar e deixar de existir. Devemos viver em singularidade, fi-

cando suspensas todas as regras fis-cais e parafiscais. Temos, pois, que imitar a Natureza/Universo, tendo presente uma cita-ção de John Wheeler, em que considera o tempo como “o jeito que a natureza deu para não deixar que tudo aconte-cesse de uma vez só.”, já basta todos os constrangimentos provocados pelo Covid-19 quanto mais ainda fazer face aos prazos fiscais e parafiscais.Os nossos governantes já fizeram de-clarações, acerca de medidas que estão a ser tomadas e concretizadas, no sen-tido de evitar que todos os fatores ne-gativos que recaem sobre as empresas,

aconteçam todos ao mesmo tempo.Todas as organizações profissionais, patronais, funcionários públicos têm que ser pró-ativos para ajudar a sus-pender o tempo fiscal, fazendo chegar aos nossos governantes, sugestões oportunas e urgentes. O contributo e esforço de todos é vital, para evitar, por exemplo, que donativos de ma-teriais essenciais e de proteção feitos por parte de portugueses das nossas comunidades espalhadas pelo mun-do, esbarrem nas barreiras fiscais ou em procedimentos alfandegários, atrasando a proteção da vida humana.As normas fiscais e parafiscais estão ao serviço da nossa comunidade e não podem, por inércia, ficar do outro lado da barricada e do lado da ação do Covid-19. A nossa sociedade humana e empre-sarial poderá ficar de forma irreme-diavelmente afetada, se o tempo não for corretamente definido e valori-zado. Estejamos à altura deste novo tempo, sejamos pois, senhores do Tempo, sejamos nós a defini-lo, caso contrário “Tempus fugit”, como já di-ziam os romanos. Neste momento, o contributo dos contabilistas certifi-cados é muito pouco, pelo sim, pelo não, não deixe de recorrer a Deus, o verdadeiro Senhor do tempo.

Philippe FernandesBusiness Adviser

[email protected]

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