revista menisqüência! | edição 03

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m En i s ÊnciA! quadrinhos*cultura*opinião* ano 2 número 3 já sabemos escolher presidente? Em um papo sem gravatas Roger nos conta o que pensa sobre o atual cenário político e futebolístico no Brasil* futebol: paixão que ultrapassa os limites da razão* trampo: trabalhar dá muito trabalho!* e mais: quadrinhos, fotonovela e crônicas daqui, ó! ultraje a rigor preço: R$ 3,00 [R$ 2,00 vai para o vendedor] www.menisquencia.com.br

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3ª Edição da Revista Menisqüência! quadrinhos* cultura*

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Page 1: Revista Menisqüência! | Edição 03

mEnisQÜÊnciA!quadrinhos*cultura*opinião*

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Agradecimentos especiais:

Adriano Alves, Alejandro “Lala” Ledezma, Alexandre Mello, Amanda Rahra, Ana Claudia de Mauro, Ana Flávia Sá, Arthur Neves Torres, Barbara Stutz, Carlos César Allende, Carol ‘Dickinson’, Carolina de Andrade, Carolina Simões, Cecília Toloza, Claudinho Miranda, Cléia Silveira, Dalton Correa, Daniela Fornari, David Galasse, David Hertz, Denis Mizne, Dirce Pranzetti, Dona Ângela, Dona Luzia, Dona Maria, Dona Rosa Maria, Dona Rosangela, Dona Zenaide, Dr. Carlos Artur Aguena, Éder Brás, Edgar Gouveia Jr., Edu Marin, Equipe do Programa VAI, Estúdio Guilherme Young, Fabio Novo, Fabio Santiago, Família Artemísia, Fernanda Amarante, Fernanda Arantes, Giana Bardi, Gisela Gerotto, Guilherme Carvalho, Helena Freire, Henrique Bussacos, Hernán Olmos, Imagemágica, Instituto Azzi, Iris Yan, Ivy Moreira, Juliana Amaral, Juliana Amaral, Kelly Mitchell, Kiko Ferrite, Leda Lopes, Leopoldo Figueiredo, Leslye Revely, Ligia Rechenberg, Lilian Gouvêa “Amita”, Luiz Enrique Miranda, Marcelo Cavalcanti, Marcelo Silva Rocha “DJ Bola”, Marcio Jappe, Marcos Flávio Azzi, Marcos Lauro, Maria do Rosário Ramalho, Mark Van Loo, Mary Matsumura, Maure Pessanha, Melina Risso, MovinTreck, Nicolas Olmos, Nina Valentini, Paulo César Dias “Paulinho”, Pedro Felicio, Raimundo Macedo, Rayssa Aguiar, Ricardo Ogliari, Roberta Faria, Rodrigo Bandeira, Rodrigo Pontes, Roger Duran, Roger Rocha, Rogério Skylab, Ronaldo Paixão, Roseana Nogueira, SENAC São Paulo, Soninha Francine, Tereza Melo, Thiago Vinicius.

E a toda a galera que nos acompanha desde a primeira edição, seja pela publicação impressa, site e comunidade virtual. Valeu pessoal! Vocês fazem parte da Menisqüência!

Esta edição de Menisqüência! foi produzida não somente com determinação, mas com a garra e os sonhos de dois membros que queriam vê-la do jeito que você a vê agora. Nós a dedicamos a Ronaldo Araújo e Giovani Contani, grandes amigos e companheiros de trabalho que fizeram tudo em vida para que este projeto desse certo. Vocês fazem falta!

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contato imediato – entrevistaultraje a rigor: “eu não tenho nada pra dizer”20

na pegada – opiniãofutebol: “se não for paixão!”07

fala sério: por xico sá “qualé, rapa!?”16

trampo: “o primeiro dia [de trabalho] do resto da sua vida”30

casos crônicos e poéticoscasos crônicos: “hoje não é natal”34

casos crônicos: “treze de dezembro”24

quadrinhossiga a letra: “uma partida de futebol”04

de repente: “décimo círculo”35

revelações: “sexta-feira treze”25

pirateando: por Laerte19

de repente: “flores pra você”13

mais seçõescircuito menisqüência!33

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na quebrada: “antes soul do que mal acompanhado”12

interativo: por rogério skylab “uma jovem”39

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não é fácil entender de futebol hoje em dia. Parece, mas não é fácil: são onze caras que formam um time e disputam contra os outros onze a posse de uma bola - que rola por um gramado enorme durante aproximados 90 minutos. Ganha quem fizer mais gols, claro. Mas há muito mais entre o céu e a grama do que podemos ima-ginar. Tem a história dos pontos corridos. Tem também o juiz, autoridade máxima dentro de campo e que, como toda autoridade brasileira é duramente criticado, arrasta a decisão além do tempo necessário e no final deixa passar vários lances duvidosos com aquela cara de “É comigo?”.

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aqueles incríveis programas domini-cais da tevê aberta – talvez seja por esse último motivo que tanta gente sai de casa nesse dia. Mas há também os motivos, digamos, do coração.

Fernando Bolla, 24 anos, torcedor do América de Natal, justifica por que veio de tão longe para ver seu time jogar: “Porque meu irmão é goleiro”, afirma o jovem. O jogo era contra o Corinthians. Uma curiosi-dade é que antes de Fernando se tornar um apaixonado torcedor do América, era um fanático corintia-no, assim como seu irmão, na épo-ca goleiro do Corinthians. Vai en-tender o futebol.

Intervalo

Pausa para comentar o primeiro tempo, tomar um sorvete e enfren-tar as intermináveis filas para o ba-nheiro. Ninguém que perder um só lance dentro de campo.

Aquecimento

São sempre 11 jogadores pra cada lado. E milhares de torcedores. Com o intuito de incentivar o time, os devotos seguidores fazem apostas, gritam, tentam com todas as forças cansar os adversários. Somente uma legitima e intensa paixão é capaz de levar mi-lhares aos estádios em dias de domingo, com ingres-sos tão caros e questionáveis desempenhos de seus times, dirigentes, jogadores... Ou isso é paixão, ou não temos explicação melhor.

A competitividade é uma questão a parte. Quem nunca gastou algumas horas discutindo sobre quem é o melhor artilheiro do brasileirão, a virada do azarão no campeonato ou até sobre o vergonho-so rebaixamento de um time bastante popular? Se você ainda não experimentou esse tipo de embate, perdeu uma grande oportunidade de desenvolver sua capacidade de argumentar e fazer amigos e ini-migos por aí.

1º Tempo

São inúmeras as razões que levam tanta gente para os estádios de futebol aos finais de semana, deixando para trás deliciosas macarronadas de suas mamães e

2º Tempo

De 0 a 10, Eduardo Farias de 26 anos, também tor-cedor do América, avalia o seu amor pelo time com nota 11. Dona Edivalda, 48 anos, uma tatuagem, casa pintada com as cores branca e preta e dezenas de promessas já feitas pelo time costuma freqüentar o estádio com netos e avisa: “faço qualquer coisa pelo time”. Quando perguntada sobre a origem de sua paixão, não tem uma resposta ao certo. “Meu marido fala que sou louca, doente. Pior que eu sou mesmo”. E completa “Se me pedirem para escolher entre ir a Bahia visitar minha mãe ou ir ver o Corin-thians, vou ver o Corinthians”.

E tem torcedor que faz sacrifícios ainda maiores pelo time. Quando tudo está perdido e parece não haver mais esperança, eis que surge a última carta: atrapalhar o adversário. Waldir de Zarina tem 45 anos e todas as vezes que ia ao estádio torcer pelo seu time, o mesmo perdia. Na ânsia de ajudar rever-ter esta infeliz situação, não teve dúvidas: resolveu assistir aos jogos na torcida adversária. “Eu vim para trazer azar para o time adversário. Sou bastante aza-rento!”, afirma. No final, não é que deu certo?

Acréscimos

Não estamos falando aqui sobre as torcidas organi-zadas, tema para alguma edição vindoura do Na Pe-gada, mas que sem dúvida elas mechem com o ima-ginário coletivo, isso sim é uma verdade. Veja bem, não queremos criar caso aos 49 do 2° Tempo, mas é bom que se diga que até mesmo as organizadas são criadas de forma legitima, a principio em nome do amor que inúmeras pessoas têm pelo seu time. Reunir os amigos, dar um nome e uma cara para o grupo, constituir formalmente essa associação, definir quem serão os administradores. Tudo certo. Nessa hora dá até para esquecer que a maioria dos jogadores só está esperando o primeiro convite para comprar chuteiras em euros. O lance é encher os pulmões e torcer como se fosse a última partida. E se deixar levar pela emoção do gol sem se importar com o desodorante vencido do camarada ao lado. Do lado de cá dos anéis que formam o estádio de futebol, somos todos irmãos. Temos o mesmo desejo de ver o time do coração fazer bonito. E quem sabe levantar a taça. E.... atenção! Tá perto, vai ser, é ago-ra, chuta, chuta, chuta... Uuuuuuu. Mais uma tenta-tiva frustrada. Mas não é que... Ai, ai, ai... Lindo! E aí é abraçar forte, cerrar os punhos e.... Goooooooool.

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ARTEMISIA APRESENTA

NegociaNdo soNhos

Quando as empresas se

tornaram capazes de

mudar vidas, pra melhor!

Até quando empresários visarão apenas o lucro como meta final? A verdade é que empresas que não promovem significativos impactos am-bientais e sociais positivos não sobreviverão em um futuro próximo. O conceito de sustentabili-dade está crescendo, não porque é um termo bonitinho, que está na moda, mas porque é necessário para a sobrevivência dos empreen-dimentos, e claro, do planeta.

A crise econômica pela qual o mundo todo está imerso hoje é um sinal claro de que o atual mo-delo de organização das empresas e governos não é mais viável e clama por mudanças ra-dicais e imediatas. Em meio a um cenário de incertezas, surge um novo modelo de negócios que pode ser uma alternativa possível para a transformação radical nos hábitos de produção e consumo em nossa sociedade. Estamos fa-lando dos Negócios Sociais.

Acima de tudo, o compromisso de um Negó-cio Social é sua responsabilidade com o meio em que vivemos, qualidade de vida das pes-soas que nele trabalham e a comunidade na qual está inserido. Nesse modelo de empresa, o lucro é bem vindo, porém boa parte dele é reinvestido na causa para a qual o empreendi-mento foi criado.

Para o empreendedor que lidera esse tipo de negócio, tão importante quanto os resultados financeiros alcançados, são os impactos am-bientais e sociais positivos promovidos durante os processos de produção de um bem, presta-ção de um serviço, hábitos de consumo e des-tino final dos resíduos gerados.

Se você hoje lidera – ou pensa liderar algum dia - um projeto ou empresa, prepare-se para uma verdadeira revolução nas formas de pensar e fazer mercado. Os Negócios Sociais estão aí, e vieram pra ficar!

MultiplicaNdo idéias

espaços para iNovar

Conheça mais sobre a Artemisia e Negócios Sociais em www.artemisia.org.br e também www.artemisia-international.org

Com o objetivo de promover o conceito de Negócios Sociais em todo o mundo, surgiu em 2002 a Artemisia, organização internacional que identifica, ins-pira e apóia empreendedores lideres desses novos negócios. A Artemisia investe no desen-

volvimento pessoal de empre-endedores, entendendo as ne-cessidades multidimensionais que esses possuem enquanto seres humanos e agentes de transformação social. Ao mes-mo tempo aposta na formação desses para criação de negó-

cios que integram geração de renda a desenvolvimento sócio-ambiental. Com isso, esses ino-vadores são capazes de inspirar o surgimento de iniciativas que propiciem novas formas de fa-zer negócios que solucionam problemas ambientais e sociais.

Com escritórios no Brasil, França e Se-negal a Artemisia apóia mais de 80 ne-gócios sociais que, desde 2003, rece-bem investimento financeiro, formações e apoio técnico possibilitando-os ga-nharem escala e expandirem ainda mais seus impactos, melhorando a qualidade de vida de milhares de pessoas.Um desses negócios é a revista que você lê agora! Menisqüência é um em-preendimento apoiado pela Artemisia desde a chegada da organização ao Brasil, em 2004. Nesses pouco mais de 4 anos, mais de 300 jovens foram bene-ficiados com formações, oportunidades de trabalho, geração de renda, e até in-tercâmbios internacionais. Além de Menisqüência! a Artemisia no Brasil apóia outros 20 negócios sociais em diversas áreas de atuação, como gastronomia, dança, arquitetura e co-

mércio justo. Todos possuem em co-mum a preocupação com a melhoria da qualidade de vida de suas comunidades e a vida em harmonia com nosso plane-ta. Milhares de pessoas são beneficia-das diretamente, e sem dúvida milha-res de outras já foram ou ainda serão influenciadas a repensarem seus papéis na construção de uma nova forma de viver em sociedade.Não temos dúvidas de que um outro mundo é possível, e necessário. Dife-rente do mercado que conhecíamos até pouco tempo, os Negócios Sociais são capazes de cativar e estimular pessoas a participarem da transformação que querem ver no mundo. Afinal de contas, o objetivo de todos nós é o mesmo: vi-ver num mundo em que caibam os so-nhos de todas as pessoas, respeitando os limites do planeta, claro!

“O capitalismo tem uma visão estreita da natureza humana, assumindo que as pessoas são seres unidimensionais preocupados somente com a busca de máximo lucro.”Muhammad Yunus

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myspace.com/poesiasambasouloficial[11] 5833-5901 – Para Informações sobre a Banda, Estúdio e Poesia AudiovisualClaudinho - [email protected] Mc - [email protected]

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acompanhadoA partir de projetos como o Poesia Audiovisual a banda forma jovens para atuarem no mercado. “A propos-ta é ensinar a molecada da quebrada a usar áudio e vídeo profissional-mente e como meio de se expressar também” comenta Kapot. A idéia de Claudinho é criar um banco de ta-lentos na região, o que possibilitará atender um maior número de clien-tes e gerar oportunidades de trabalho e renda pra toda essa galera.

Com letras alegres e mensagens de incentivo, o Poesia Samba Soul mos-tra que é possível entreter sem tirar a atenção do que soa além da voz.

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viagem até o Jardim Nakamura, extremo Sul de São Paulo, revela um cenário familiar ao que es-tamos acostumados d’outro lado da cidade [Brasilân-dia, sede de nossa publicação]. Casas simples, crian-ças brincando na rua, a precariedade do transporte coletivo na região. É nesse local que, em 1989, Clau-dinho e companhia davam seus primeiros batuques, em instrumentos que eles criavam, tamanha era a falta de grana e excessiva vontade de musicalizar as quebradas do Ângela. “Nos juntamos e começamos a fazer instrumentos de lata pra aprender a tocar. Foi aí que surgiu o grupo”, conta Claudinho remontando a origem do Poesia Samba Soul.

As influências são inúmeras, evidentes em cada acor-de do cavaquinho, levada do soul norte americano e no free style de Kapot Mc. “Nosso som tem influência ativa da soul music, passando pelo samba de Cartola, Ivone Lara e Zeca Pagodinho, e com um pouco de hip hop pra complementar a mistura” diz Kapot.

Outra influência permanente no som e atitude dos integrantes do grupo é o ativismo social. Além da banda, os caras encontram tempo para desenvolver projetos culturais capazes de promover a inclusão de novos jovens artistas no mercado musical. Claudinho lembra que a idéia de montar um estúdio para en-saios e gravações surgiu a partir de uma demanda do Poesia Samba Soul, mas logo percebeu-se que outras bandas tinham a mesma dificuldade. “Desde que ini-ciei esse trabalho, já passaram pelo estúdio mais de 700 artistas. Temos preços camaradas e atendemos gratuitamente bandas sem condições de pagar”, diz.

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nrapá!?

ada explica um homem bater em uma mu-lher. Nem mesmo o contrário. Dane-se a tal da honra que só resulta em horrores, estamos fora.

Ora, ora, machão idiota, cometeste todos os pe-cados possíveis e não agüenta meia hora de revés, de contrariedades?

Qualé, rapá?

Não agüentas 15 minutos de boatos no bairro ou na firma, muito menos nas comunidades virtuais, motivo suficiente para lançar-te mão do conceito furado da honra, que fraco és!

Passaste a vida a cometer os pecados que conde-nas, por que te alucinas justo agora?

Claro que estamos pensando sobre os últimos acontecimentos midiáticos, donde o machismo aliado às escrotices gananciosas de Anas Marias Bragas, de Sônias Abrahãos, dos Datenas, de todos os globais, Sbtês, Redes Tevês, Records dos bispos sensacionalistas do inferno, que ardam sob o fogo do dinheiro queimado dos dízimos, assim como os desgraçados das Bandeirantes e de outros urubus de plantão que só ajudaram a levar todo mundo para a mesma vala.

Não creio que essa gentalha acredite em um Deus, pelo jeito que trata a humanidade, não acredito mesmo! Sim, essa corporação acredita no deus dos negócios, dos dízimos, do dinheiro, da escrotice

explicita, no assalto sem carecer de revólver, no roubo explícito dos fal-sos pastores, eu acho mais honesto uma violência olho no olho, prefiro um assalto na rua a estes ladrões de almas e imagens.

Gentalha bancando de moralista e levando todos à ruína, argh!

Os urubus faturando horrores em nome do sangue dos outros e você ai, amigo e amiga, colaborando com toda essa desgraça, mesmo sem cul-pa, apenas por fazer parte do espetá-culo desses abutres da Sierra Madre.

Talvez por isso mesmo, você, querida, você, de-salmado, aceitem repetir o que vêem na telinha, seja na telenovela sem criatividade, seja nas men-tiras globais a grosso e a varejo. Talvez essa seja a grande desgraça de nossa pátria, salve, salve, bem feito, quem manda acreditar nesse instituto da ficção 100%?.

Mas se todos aceitam, que engulam o café com leite e votem nos idiotas, afinal de contas, como diz Fred Zero Quatro (da banda mundo livre s/a), “jornalistas mortos não mentem”.Por que bater em uma mulher, covardes?Por que não saber que foram trouxas e perderam na vida amorosa?Perderam por vários motivos, inclusive por não te-rem sido homens o bastante. Perderam pela falta de delicadeza, perderam por que estavam viciados no trago superficial do cigarro do abandono.

Infelizmente é necessário gritar de novo o slogan das antigas: “Quem ama não mata”. Ora, quem ama faz cafunés e comunga manteigas e tapiocas!

Mas se todos aceitam, que

engulam o café com leite e

votem nos idiotas, afinal

de contas, como diz Fred

Zero Quatro, “jornalistas

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São necessários mais de 20 anos de carreira para afirmar que uma banda vai viver para sempre? Se depender do novo público do Ultraje a Rigor, até em um futuro distante, com a terra povoada por macacos superdesenvolvidos, eles continuarão cantando “Pelado, pelado, nu com a mão no bolso!”. É impressionante como o Ultraje ainda grita “A gente somos inútil” e nós não ouvimos. As suas críticas à política, vindas de anos atrás, ainda fazem muito sentindo. Seja com um “Filha da Puta” muito bem colocado ou assumindo que “a gente não sabemos escolher presidente”.

Se a banda causa impacto até hoje, imagina na época dos garotões [atuais tiozões], que na noite carioca dançavam o hit “Ciúme” sem imaginar a explosão que isto seria. A voz do vocalista Roger ainda está lá, nos shows que estão lotados de pivetes e de coroas. Conti-nua gritando que “somos inútil” e continuamos não entendendo. É essa voz que fala abaixo à Menisqüência!

Como vocês se sentem sendo entrevistados por pessoas que nas-ceram depois de vocês terem gravado seus maiores sucessos?Velhos! [risos] Sabe, mas é um prazer, só de pensar que logicamente não estávamos pensando em vocês quando começamos a banda...é legal ver que continua agradando uma, duas gerações depois.

Roger, você tem um QI de 172.Para que você o usa? Pra isso [escrever]! [risos] Entre outras coisas, em geral. As pessoas acham que é como se fosse um super poder, mas não é bem assim. Por exemplo, eu sempre tive vontade de ter uma banda. Isso não parecia muito possível quando eu era peque-no, ainda mais que as bandas dos anos 70 princi-palmente eram cheias de virtuosos e tal. Mas de repente, lá pros anos 80, finzinho de 70, o povo começou a voltar pro rock and roll mais simples: Sex Pistols, Ramones, essas coisas assim. E eu como sempre prestei muita atenção nos meus ídolos. Eu estudei música, na verdade, desde pequeno, mas aprendi a compor vendo, copiando.

Hoje em dia está na moda parcerias musicais. Vocês já pensaram em fazer um som com algu-ma banda folclórica escandinava ou eltre-jazz-pop-japonesa?[risos] Não, nunca pensamos! Mas a gente mistura muita coisa que as vezes o público nem percebe. Música que a gente ouvia em filme, desenho ani-mado, música de filme de cowboy, musica mexi-cana, surf music, bolero... a gente mistura depois passa tudo no liquidificador. Enfim, tem influencia de muita coisa no Ultraje, embora o resultado final seja mais pro rock.

Vocês tem muitos sucessos. Como é que fica na hora de escolher o que vai tocar no show? A gente já sabe mais ou menos o que o pessoal quer ouvir. E tem umas que mesmo eles querendo a gente não toca. Ás vezes porque eu não dormi direito, a garganta não está boa...e são musicas que eu com-pus a mais tempo. Algumas ficam alto demais pra eu cantar hoje em dia, como ‘Eu me amo’, por exem-plo. A gente gosta disso, acho que o rock and roll é meio assim, a festa, todo mundo junto.

Como seria o Roger no poder? Bom, eu acho que eu seria bom se eu conseguisse acordar cedo. Também ia ter que andar de avião, né? Então, essas partes são meio difíceis. Mas, sem dúvidas, eu seria pelo menos honesto. [Nota do Editor: Roger tem fobia de avião!]

Ainda não sabemos escolher presidente?Ah, a gente já está um pouco melhor. Bem, você vê que o processo ainda tem falhas, como sempre teve, em todo lugar. Mas tem essa coisa de todo mundo ser obrigado a votar e nem todo mundo tem a cultura necessária pra saber o que está es-colhendo. As vezes eles fazem você acreditar que tem o direito de escolha, mas na verdade você só tem candidatos ruins para escolher. Os deputados, vereadores, você acaba nem conhecendo direi-to. Vota no partido depois não lembra em quem votou, não tem realmente aquele cara que você conhece. De qualquer forma melhorou muito,a gente já pode votar pelo menos.

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lha, mas na ver-

dade você só tem

candidatos ruins

para escolher. [...]

Eles criam regras

que não permitem

mudar a coisa.

Falando do álbum, Nos Vamos Inva-dir Sua Praia] Hoje em dia, você ima-gina uma banda colocar nove músi-cas no rádio ou na boca da galera?Sempre foi difícil. Modéstia à parte, nem mesmo a gente esperava. O repertório do nosso primeiro disco foi quase todo escolhido em uma votação que fizemos num show. En-tão, meio que a gente já sabia ‘Bom, essas daqui o pessoal gosta e tal’. Mas nós também fizemos ‘Ciúme’ e ‘Nós vamos invadir sua praia’, além das que o pessoal votou. Foi mesmo um “discão”, quase um greatest hits logo de cara. Fica difícil até para nós repetirmos o feito. Muito difícil para qualquer um, eu acho.

Se vocês pudessem escalar qual-quer pessoa ou ser fictício para aju-dar a seleção brasileira, qual seria?Pelé![risos]

E algum ser fictício ou pessoa para aju-dar o Congresso Nacional, qual seria?O Batman! Porque ali é jogo duro, viu. Melhor tirar todo mundo e ir readmi-tindo depois de passar em algum teste. O difícil é que eles criam regras que não permitem mudar a coisa. É absur-do o número de deputados, de vere-adores, e não tem nada que a gente possa fazer a respeito.

O humor informa, o humor contesta, o humor entretém. Vocês ainda se acham caras gozados? Essa pergunta é capciosa! [risos] Bom, eu me acho um cara engraçado, mas não necessa-riamente faço músicas engraçadas. Faço mais [músicas] divertidas. E gosto muito de entreter sim. Eu acho que uma característica que falta nos artistas de hoje é a de entreter. O artista é praticamente um servidor, um cara que gosta de entreter. E atualmente acho que está muito voltado a si próprio, esse culto à celebridade.

Quando tentou falar sério você já teve al-gum problema?Já! O pessoal não acredita. Em certos assuntos o pessoal fala ‘ah, vai, qualé meu’. E eu pró-prio não consigo fazer música romântica ou qualquer coisa assim porque eu próprio vou me avacalhando. Enquanto eu estou compon-do eu falo ‘ah, não vai dar’... não combina.

NX Zero é uma bosta. Não, isso não é uma pergunta. Só queriamos que soubessem que achamos uma bosta! Eu sei que no começo da carreira a gente fa-lava como se estivesse falando com os amigos ‘E tal banda é uma merda’, mas depois você vai e encontra com o pessoal, sabe, e é chato pra caramba. É uma questão de ética e tal, então a gente não quer falar mal de ninguém. Fala bem das coisas que a gente gosta e não fala nada dos outros.

O artista é praticamen-

te um servidor, um cara

que gosta de entreter.

E atualmente acho que

está muito voltado a

si próprio, esse culto

à celebridade.

Você postou um comentário di-zendo que o material pronto para será disponibilizado por downlo-ad e um fã seu está todo revolta-do, dizendo que a maior parte dos fãs de carteirinha do Ultraje gosta de comprar CD na loja, por con-ta da capa, do encarte, das letras, das cifras, enfim, ele perguntou: E como ficam os colecionadores?É porque para nós lançarmos o disco inteiro precisávamos, normalmente, de uma gravadora. Mesmo pra ter todo esse trabalho de distribuição, de fabricação. Mas para os colecio-nadores a gente pode lançar sim, mil CDs, por exemplo, com as mesmas músicas que vão estar na internet e vender pelo correio. Não há de ser por isso que a gente não vai satisfa-zer um ou outro aí.

Pênalti. 49 do segundo tempo. Um a Um. Como o Roger bate esse pênalti?Eu venho correndo, olho para o lado direito e chuto no cantinho esquerdo.

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de dezembro_ “Julio, irmã minha, porque pedes a mim aquilo que tu mesma podes obter?” – acordou, acendeu a luz, se olhou no espelho, ao lado do teu reflexo viu a imagem de um leão. _ “Eis, tua mãe foi curada pela tua fé”.

Antes do galo cantar. Deixou a fazenda como quem deixa tudo. Lançou-se de costas pro mundo, num galope sedento. Comeu o chão de terra com farinha, e nem era seis horas ainda já cheirava a asfalto nas léguas da cida-de. Quando se deu por conta, o vazio fazia ronda nos olhos. E o estômago que nada ruía afagou-se numa padaria. Escorou uma média e um pão com geléia. Só fazia idéia, somente, que a merreca dava pruns três dias e que barriga vazia não pari inseto.

Tirou do saco de couro uma gaita e lembrou da tua mãe moribunda, agora curada. Tentou arranhar um rock. O recado na luz tava dado: procurar o leão. Mas como cada qual tem o teu fardo, contou os trocados e antes do troco pediu cigarro, um maço, pra aliviar os calos no sapato roto.

Sentou na praça de fronte à imagem de Santa Luzia, apoiou um cigarro na boca e soprou fumaça vazia. Largou os olhos como quem espera ver algo que ali nunca estivesse. Ouviu doutro lado da praça uma cantoria, cravou os olhos no canto da negra, ao meio dia, com seus pixulés estirados no banco. Calado, carregou suas ventas pro banco da senhora negra e pediu para se olhar no espelho incrustado em meio as contas. O leão estava lá. Pediu amparo.

A senhora pôs fé numa vela amarela, rolou as conchas. Olhou fundo.

_ “Tu recebeu uma graça e agora Iansã te apegou a missão”._ “O leão?”_ “O Leão!” – a negra pôs uma das mãos na cabeça de Julio e com a outra lhe cobriu os olhos._ “Não consegue ver...”_ “Porque novamente o leão?”_ “És filho de Oxum Opará, e a ela deve o que pode e o que não pode ver”.

No saco de couro vasculhou um sanduíche, sacou a bíblia, abriu e leu a esmo. Marcos, capítulo cinco, versículo vigésimo quinto. Foi até o trinta e quatro, olhou pra imagem da santa, e, quis tocar os olhos dispostos no prato.

Decidiu escalar a capela. O sol nem havia se posto. Por ali rasgava um sol-dado que armou pra Julio a quizumba. Déciu ordenou descer. Não escu-tou. O sangue lhe fervia em fé. Uma hemorragia considerada incurável.

Num estampido, balaço preso no pescoço. Rezava a lenda que nos cruzei-ros daquela quebrada, quando o sino dobrasse seis horas, Julio morreria, metendo as botucas na guia.

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“Eu acho tipo assim... brincadeira! Se há cotas para negros na escola, pode ter cotas para brancos nos presídios”. Sidney Polverente, 54 anos, Representante Comercial

“Tanto branco quanto preto, Deus vê da mesma forma. Então é isso aí. Não sou a favor de cota nenhuma, nem pra um nem pra outro. Ele tem que ser preso de acordo com o crime que cometeu”.André A. Brandão, 24 anos, Aux. Geral

“Eu acho que não precisa ter cotas para eles não, porque vai pouco branco para a cadeia. Eles são tranqüilo, tem vagas para eles lá, ta bem vazio para eles lá”.Marcio Milhorantes, 35 anos, Arquiteto

Eu acho que sim. Deveria haver cotas para brancos, porque é uma sacanagem do caramba, o que acontece no Brasil! Só vai preso: preto, pobree puta”.Alex de Almeida, 32 anos, Chaveiro

“Devia ter cotas para brancos, assim como devia ter para extraterrestre”.David Santoza, 23 anos, Produtor de TV

“Deveria haver cotas para brancos. Tem muitos brancos que deveriam estar lá dentro, temos que ter uma cota enorme”. Thiago Borges, 25 anos, Teleoperador

Você é a favor das

nas cadeias?

M ais que mera indignação. A ensurdecedora verda-de grita, ri, cospe em nossa cara. Por mais que já esteja na cultura dos brasileiros, sentar e ver o show dos engravata-dos, as pizzas e o maldito hábeas corpus! Nada faz mais sentido que a falcatrua, que o vem e vai, o entra e sai nas delegacias... Enfim, só a impunidade nos une.

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Chupa essa manga!

É hora de acordar! As badaladas do celular marcam o início da segunda-feira. A carteira de trabalho já está condenada – digo - carimbada. Agora começa a verdadeira batalha, na qual toda sua devoção será testada e onde começam as buscas [Ei, tem alguém aí?] por seus sonhos e objetivos. O primeiro objetivo é conseguir driblar a inércia, padroeira de todos os recém empregados.

Ao abrir a janela os olhos se impressionam, por descobrirem que 6h30 da manhã existe – sim - luz do sol! Não há tempo para apreciar a crosta cinza que encobre as nuvens. Hora do banho! É incrível como 45 minutos de água quente no corpo conseguem te fazer esquecer do resto mundo. Há relatos de pessoas que entraram pelo ralo no primeiro dia de trabalho. É mentira!

Bumba meu Busão

Para quem mora e trabalha em grandes centros urbanos o sonho acaba na hora de pegar, ou melhor, ser pego pelo transporte coletivo, que o levará até o local de trabalho. Nesse momento nos deparamos com o trânsito de São Paulo, o maior moedor de carne da América Latina a céu aberto. Sem dúvida sua principal dieta é o trabalhador. Não existe um consenso sobre o tempo ideal de cozimento de um assalariado. Alguns chegam a passar mais de três horas em Banho-Maria. Especula-se que o mesmo cara que inventou a galinha desossada do McDonald’s tenha sido o responsável pela logística das ruas da capital.

O drama todo na verdade gira em torno de uma questão: viajar em pé ou sentado? A competição é desleal e ninguém desiste até chegar ao ponto final, envolvendo na mesma disputa velhinhos, grávidas, ceguinhos e vendedores de bala sem escrúpulos [pra onde vão todos os velhinhos do mundo às seis da manhã?]. Hesitar é perder quando se trata de conquistar a tão sonhada vaga na janelinha, com vista para o engarrafamento.

Bom dia Vietnã!

Seja bem-vindo a um novo meio-ambiente: o seu trampo! Logo ao cruzar a porta uma voz vinda dos fundos, de um corredor sombrio ou de uma mesa maior que as outras, chamará seu nome, a princí-pio difícil de distinguir como seu em meio a tanta pompa e circunstância. No início será como topar com um juiz em um tribunal. Mais tarde patrão e empregado estarão discutindo sobre o lanterninha do campeonato brasileiro, a novela das oito e Ca-valeiros do Zodíaco.

O que você precisa saber sobre hierarquia é: man-da quem tem o chapéu maior! Importante é sem-pre tirar o chapéu para as decisões do chefe.

Não se engane com seus colegas de trabalho. Eles são humanos e de perto ninguém é normal. Não se engane com aquela secretária toda cheia de pó de arroz, com fala de boneca Barbie ao telefone. Por trás daquela agenda de clientes se esconde uma dançarina de strip-tease. Lá no fundo, o cara sério que corrige os balancetes sonha mesmo em vestir-se de mulher-maravilha e desfilar na Paulis-ta em cima de um trio elétrico. Quanto ao cole-ga da máquina de xerox, bem, sobre esse é bom nem comentar...

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uando imaginávamos que nosso herói teria um final feliz, após percorrer gélidas montanhas em busca de seu primeiro emprego, passando por incontáveis entrevistas, tortuosas dinâmicas e fero-zes recrutadores de 5 braços e 13 olhos, surge o derradeiro desafio: o primeiro dia de trabalho!

A carteira de traba-

lho já está conde-

nada – digo - carim-

bada. Agora começa

a verdadeira bata-

lha, na qual toda

sua devoção será

testada e onde co-

meçam as buscas

[Ei, tem alguém aí?]

por seus sonhos e

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O dia depois de amanhã

Você vai acordar pensando que foi tudo um so-nho capitalista ruim, mas esse foi somente o pri-meiro dos 16.425 dias até o golpe de misericór-dia chamado ‘aposentadoria’. Virar para o outro lado e se enfiar no travesseiro não adiantará. O contrato está assinado. Sua alma é deles!Afinal, alguém já disse por aí que “quem trabalha muito não tem tempo de ganhar dinheiro”.

As andorinhas voltaram... e eu também voltei

A volta pra casa é um grande repeteco do caótico rito de locomoção descrito anteriormente, levado as últimas conseqüências em dias chuva ou terre-moto. Com o tempo o milagre da adaptação fará com que tudo isso se torne piada. O mesmo me-canismo que faz com que seres humanos comam lesmas com limão e cocô de peixe o tornará apto a engolir sapos e fazer amigos no meio da trincheira.

Após tudo isso, ao chegar em casa sua mãe esta-rá lá, esperando-o a porta, de braços abertos. Lhe dará um forte abraço, e com uma das mãos leves pegará sua carteira no bolso de trás e avaliará o dinheiro do pagamento – que cairá somente daqui a trinta dias. É incrível como do nada os eletrodo-mésticos não funcionam, a casa precisa de refor-mas, sobe o preço de tudo na feira, enfim, mãe também é patroa.

Você vai acordar pensan-

do que foi tudo um sonho

capitalista ruim, mas esse

foi somente o primeiro

dos 16.425 dias até o gol-

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mado ‘aposentadoria’.

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Maria era pobre. Gostava de José. Menina bonita, gentil, que amava sua mãe. Vivia na favela e ajudava no sustento da casa sempre que possível.

José fazia trabalhos manuais. Pegava produtos vindos da terra, empacotava em malotes sem que a polícia visse e revendia para pessoas da sua idade. Às vezes abria exceções e vendia para pessoas mais novas ou mais velhas.

Maria era muito jovem quando um dia recebeu a visita de um anjo. O Espírito Santo era moreno e forte. Maria ficou grávida do Espírito Santo. Ela estava noiva de José.

Tudo isso aconteceu em uma vila pequena, onde as notícias correm muito rapidamente. Maria não podia contar para José que estava grávida e que era filho do Espírito Santo. Bem provável que José com raiva subisse ao céu para resolver o problema com as mãos. Então, seria o fim do Espírito Santo.

Bem sabia ela que seu filho viria para salvar o mundo e que Deus quis tudo assim. Mas bem sabia ela também que Deus não iria pagar pensão em nome do Espírito Santo.

O menino que ainda nem pensava, já tinha um nome. Jesus de Nazaré. Foi o pai que escolheu. Maria pensou em contar para José, fugir com ele, passar uns dias naquela casa abandonada, ter seu filho em uma manjedoura e ganhar presentes de três amigos que eles confiassem.

Maria contou para José, que não entendia no começo. No começo ninguém entende. Mas Maria já estava entendendo e sabia tudo estava escrito e ela poderia resolver. Ela queria continuar com seu noivo, José. Ela queria que tudo desse certo.

Maria abortou o menino Jesus.

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ISeria mais um show entre tantos. Os músicos haviam encontrado um bo-tequim bem em frente ao teatro onde aconteceria o show. Haviam todos já abandonado o camarim, o que pra mim não era nada mal. Eu permane-ceria só aguardando a hora do show e não havia melhor companhia. Foi quando eles entraram. Vinham em cinco: quatro rapazes e uma menina. Todos cheios daquela energia juvenil que eu há muito perdera.

Um deles trazia a câmera. Eram to-dos estudantes e já tinham pedido a autorização pra que eu concedesse a entrevista.

Riam muito, estavam contentes.

Contrastavam dessa maneira com o ar de tédio que eu sempre trazia estampado. Se remexiam muito. Pa-reciam estar acometidos de uma es-tranha coceira. E perguntavam o que

todos perguntavam. As entrevistas vinham se tornan-do pra mim uma contínua tortura. Foi quando passei a me divertir, respondendo de maneiras diferentes as mesmas perguntas.

IIEla tinha os olhos verdes, assim como um deles era magro e meio viado. Mas de uma certa forma ela havia me chamado a atenção. Como sou o rei da dissimulação, pus-me a responder de maneira que pudesse despertar naquela pequena platéia alguns urros. E fui bem sucedido. Enquanto isso, olhava de soslaio aqueles olhos e acho que nem ela chegoua reparar.

Ao final da entrevista, depois das fotos de praxe, des-pedi-me dos jovens e apertei forte a sua mão.

IIIAo final do show, reapareceu-me no camarim.E estava só.

Para ter seu trabalho publicado nesse espaço, basta man-dar o seu material para [email protected] e entrar você também para o time de Menisqüência!

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+ Mais + Aproveite e dê uma olhada na entrevista exclusiva que fizemos com o Rogério Skylab para o nosso site em www.menisquencia.com.br

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Mais que uma revista...

Menisqüência! é a primeira experiência de publicação de rua no mundo inteiramente produzida e distribuída por jo-vens. Como acontece em outros países, a revista é distribu-ída nas ruas por jovens em situação de vulnerabilidade so-cioeconômica, gerando trabalho e renda para os mesmos.

Além disso, sua concepção se dá em processos de formação que permitem que seus produtores desenvolvam suas ha-bilidades técnicas e artísticas produzindo uma revista com-portamental para jovens, que trata de temas relevantes para esse público de forma inteligente e bem humorada.

Revista Menisqüência! é desenvolvida pelo Instituto Sala 5, organização juvenil situada na Região Brasilândia - Zona Norte da Cidade de São Paulo -, que desde 2001 desenvolve formações e intervenções comunitárias contribuindo para a expansão das perspectivas de jovens, incentivando-os a ge-raram oportunidades e desenvolvimento social, educacional, cultural e econômico para si mesmos e suas comunidades.

Para conhecer mais sobre o Instituto Sala 5 e suas atividades, acesse www.sala5.org.

Parcerias que geram oportunidades!

Os impactos socioeconômicos gerados aos aprendizes de Me-nisqüência! não seriam possíveis sem essa série de especiais parceiros, organizações e pessoas que fazem a diferença!

Obrigado por acreditarem!

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