revista meiaum nº 19

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19 PERFIL Kelvin Johnson, Dragão da Independência + + OPINIÃO Brasília, Cingapura e Sucupira Ano 2 | Novembro 2012 | www.meiaum.com.br U A dura vida de quem vai de bicicleta

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A dura vida de quem vai de bicicleta

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N°19

PERFILKelvin Johnson, Dragão daIndependência

+ +OPINIÃOBrasília, Cingapura e Sucupira

Ano

2 |

Nove

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A dura vida de quem vai de bicicleta

( ) Gastou além da conta

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Uma nova marca. O Sesc de sempre.

A marca do Sesc está presente em todo o Brasil. Ela faz parte da vidade milhões de pessoas a quem o Sesc proporciona qualidade de vida

e bem-estar. São brasileiros que se transformam e ajudam o Brasila se transformar. Agora, a marca do Sesc se transforma também.

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A marca do Sesc está presente em todo o Brasil. Ela faz parte da vidade milhões de pessoas a quem o Sesc proporciona qualidade de vida

e bem-estar. São brasileiros que se transformam e ajudam o Brasila se transformar. Agora, a marca do Sesc se transforma também.

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Papos da CidadeReflexões, análises e resmungos de quem vive em Brasília

Enigmas– Truman MacedoDescubra de onde são as fotos Artigo – Antônio Carlos QueirozO que Hamlet diria sobre a PPP do lixo?

PerfilKelvin Johnson conta como é o dia a dia de um Dragão da Independência

Fora do PlanoAgnelo comprou briga no PT

Conto – Ângelo dos Santos Muitos eram os costumes e as coisas da casa, que se confundia com a própria Avó

Artigo – Aldo PavianiBrasília e seu papel de metrópole

CapaHistórias de gente como Lia, que adotou a bicicleta como meio de transporte

Artigo – TT CatalãoUma reflexão sobre a cultura e os programas de governo

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Opinião – Orlando CarielloO arrebatamento do governador pelo Plano Cingapura

Artigo – João Rafael TorresAté quando tudo parece preenchido, vem um estranho desejo de desejar

Conto – Mariana VieiraDemorou para ela entender o que era feio

Artigo – Kátia MarsicanoSe você passa o dia com fones de ouvido, leia este texto

Caixa-Preta A vitória nas eleições municipais foi do PT, mas o PSB foi a grande estrela

Charges do GougonTem até um convite para o ministro Joaquim Barbosa

Arte, Cultura e LazerOs destaques da programação da cidade

Banquetes e BotecosEm cada edição, Marcela Benet visita um restaurante. E ninguém sabe quem ela é

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ÍNDICE

ColaboraDorEs

Mateus Zanon pág. 38Criar e ser prático, duas coisas que o definem muito bem e servem como pilares para seu modo de vida. Seguidor do pensamento função do designer como “facilitador da vida” ou “solucionador de problemas”, e não um cara bitolado em grids e estéticas aleatórias. Não o entenda mal, ele não é contra esses caras; só acha que as pessoas complicam a vida mais do que deveriam e a vida é uma piada, e curta.

Ângelo dos Santospág. 24

Detalhista e recluso, este norte-mineiro é um

contador de estórias, inventor de pessoas. Vive

em Brasília há mais de dez anos dando palavras às

fantasias que permeiam as relações familiares.

Lançará o livro Viagem em família no próximo ano.

Lucas Munizpág. 16

Designer e ilustrador, nascido em Brasília,

apaixonado por artes, cinema, HQ e games.

Tem como maior fonte de inspiração

para seus trabalhos a cultura nerd em geral.

Antônio Carlos Queirozpág. 16Jornalista há 35 anos, foi repórter de Movimento, editor do Porantim (Cimi) e da revista Tema (Serpro). Trabalhou no Diário da Manhã, Brasil Agora, Reportagem e Retrato do Brasil. Foi secretário-adjunto de Comunicação do governo Cristovam. Vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas (gestão 2004–2007) e diretor da Coohaj.

Mariana Vieira pág. 42Brasiliense de nascença, de criação e de coração. Provável formanda em comunicação social na Universidade de Brasília. Estado civil imaginário: casada com o jornalismo, de rolo com a gastronomia e amante da literatura. Faz contos, reportagens, bolos, fotos, festas, frases, listas, projetos e, quando dorme, sonha.

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E mais...Francisco Bronze pág. 8 Larissa Leite pág. 9 Bruna Gil pág. 9 Priscila Praxedes págs. 10 e 48 Gougon págs. 23, 46 e 47 TT Catalão pág. 36 André Zottich pág. 42 Kátia Marsicanopág. 44 Miguel Oliveira pág. 46 Lúcio Flávio pág. 49 Marcela Benet pág. 54 Rômulo Geraldino pág. 54

Truman Macedo pág.12Do sertão do Cariri no Ceará, ficou espantado com as formas da arquitetura de Brasília, como ficou com John Lennon, Belchior, Fernando Pessoa, Nicolas Behr e Van Gogh.

João Rafael Torres pág. 40

É psicoterapeuta e analista junguiano, especialista

em dependências, abusos e compulsões. Tarólogo de vocação, desde garotinho. Aplica as teorias do velho

Jung nas cartas. Nos tempos de jornalismo, já

se dedicava às questões do comportamento humano.

Hoje, sacia a vontade de escrever com participações

especiais em revistas e portais, falando de bem-

estar e espiritualidade.

Aldo Paviani pág. 26Gaúcho, é geógrafo com doutorado em Geografia Urbana (UFMG) e pós-doutorado na Universidade do Texas. Transferiu-se da Universidade Federal de Santa Maria (RS) para a UnB em 1969. Pesquisa emprego/desemprego em áreas metropolitanas e evolução urbana de Brasília. É professor emérito da UnB e cidadão honorário de Brasília.

Orlando Cariello pág. 38Arquiteto. Trabalhou na Novacap por 34 anos, e também em escritório de projetos. É especialista em planejamento habitacional e planejamento urbano e mestre em arquitetura e urbanismo. No ano passado defendeu, na FAU-UnB, tese de doutorado com análise crítica das políticas federais de habitação popular. Capixaba de Vitória, passou a infância no Rio de Janeiro e veio para Brasília em 1963.

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(meiaum) é uma publicação mensal da editora meiaum Conselho editorial: AnnA HAlley, CArlos DrumonD, Hélio Doyle (CoorDenADor), luAnA llerAs, noelle oliveirA e PAulA oliveirADiretora de Redação: AnnA HAlley Fotografia: luAnA llerAs Projeto gráfico e diagramação: CArlos DrumonDAssistente de Produção: Cristine sAntosPubliCiDADe Sucesso Mídia Comunicações – (61) 3328-8046 – [email protected] 12 mil exemplares iMPReSSão Gráfica imprima (brasília) – (61) 3356-7654Os textos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Editora Meiaum. | Contato: [email protected]

Acompanhe nossa página Siga @revistameiaum | www.meiAum.Com.br

CAPA | Por PeDro ernestoDesenho a nanquim e vetorial

Designer gráfico, atua no mercado brasiliense, é autor de livro infantil

e colabora na meiaum desde seu primeiro número. Faz parte do

escritório Grande Circular. Veja os trabalhos da equipe em

www.grandecircular.com.

Carta da editora

A cidade do futuro

Anna Halley e Hélio Doyle (sócios) SHiN CA 1 lote A Sala 351 Deck Norte Shopping – lago Norte | brasília-DF | (61) 3468-1466

www.editorameiaum.com.br

()MEIAU

Como estará Brasília em 2062? Não sabemos, claro, mas o governo do Distrito Federal encomendou o planejamento de nosso futuro a uma empresa de

Cingapura. Sim, a cidade-país na Ásia onde mascar chicletes é proibido. Podemos, pois, dormir tranquilos, esquecendo as agruras de nosso dia a dia. Já que os brasileiros não conseguem resolver os graves problemas de nossa cidade, os cingapurenses o farão, em troca de alguns milhões de dólares. O arquiteto Orlando Cariello avalia para a meiaum o que esse contrato representa para Brasília e para os brasilienses. Cariello mora na capital desde a década de 1960 e, poucos sabem, foi competente repórter de O Globo antes de se dedicar aos projetos arquitetônicos.

Que Brasília precisa de planejamento, não há dúvida. Aqui predominam as improvisações, as irregularidades de todo tipo nas barbas das

autoridades, a especulação imobiliária, as medidas adotadas especialmente para beneficiar empresários. Um planejamento sério certamente será bem-vindo. Mas pode ser feito por aqui mesmo, no Brasil. Não é preciso buscá-lo tão longe, quase em sigilo e com pagamento em dólares.

Demonstração da falta de planejamento é a política de facilitar o uso de bicicletas pelos cidadãos. O governo promete 600 quilômetros de ciclovias no Distrito Federal e já começou a construir em algumas áreas. Mas para fazer a ciclovia na Asa Norte foi preciso passar tratores em cima das calçadas novinhas da L2. Ao estilo do que foi feito na W3: pintaram as faixas nas pistas, para assegurar que na da direita só circulem ônibus, e depois renovaram o asfalto, apagando as faixas, que agora têm de ser pintadas de novo.

Certo, vamos ter as vias exclusivas para bicicletas, mas se os ciclistas quiserem fazer compras, não têm

onde estacionar. E se eles se afastarem das bicicletas, há elevadas chances de elas serem roubadas, a julgar pelos crescentes índices de criminalidade em nossa cidade. E as bicicletas? Não há nenhum plano de oferecê-las gratuitamente ou mediante um módico pagamento, como se faz em outras cidades, inclusive no Rio de Janeiro. Que cada um compre a sua! A repórter Paula Oliveira, que não pretende deixar seu carro na garagem para pedalar, conta nesta edição as venturas e desventuras de quem se dispõe a circular de bicicleta em Brasília.

E eu aqui querendo saber, em novembro, a programação do réveillon 2012/2013 na Esplanada dos Ministérios. Tolice. O governo do DF já está pensando nas atrações da passagem de ano de 2062 para 2063.

Anna Halley

issn 2236-2274

PaPos Da CIDaDE } i lustrações Francisco Bronze

Os segredos da rampa e da políticaNem só os fanáticos estavam preocupados com o final da novela Avenida Brasil e com a identidade do assassino do personagem Max (Marcelo Novaes), em 19 de outubro. Com a ampla audiência conquistada pela Rede Globo, os engenheiros do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) planejavam um consumo excessivo de energia após o capítulo, o que é conhecido no setor como “rampa”. Enquanto Nina e Carminha duelavam na sexta-feira à noite, boa parte dos brasileiros estava sentada no sofá, assistindo ao desenrolar da trama e consumindo pouco volume de energia elétrica. Mas, quando o entretenimento acabou, todo mundo resolveu fazer algo, como tomar banho, abrir a geladeira e, com isso, gastar grande quantidade de energia de uma vez só. Haja organização para dar conta do recado. Ingênuo, no entanto, é quem pensa que a tal rampa é matéria de estudo apenas de senhores das ciências exatas e dos escritores das tramas televisivas. Quem deveria estar de olho nela são muitos sociólogos e cientistas políticos brasileiros. Afinal, no período eleitoral também existe rampa. Mas ao contrário. Justamente no horário em que os políticos apresentam suas propostas na televisão, o consumo de energia aumenta. Isso porque os brasileiros desligam seus equipamentos e vão fazer algo mais produtivo, como tomar banho, esquentar uma pizza no micro-ondas ou buscar uma bebida na geladeira. A campeã das rampas ocorre após a transmissão de jogos da Copa do Mundo de Futebol. Aí, sim, pouquíssimo de energia é consumido durante os jogos, havendo um salto de consumo com o término das partidas. Talvez esse comportamento explique em parte os escândalos políticos e os representantes populares que vêm sendo eleitos por aí. Alguém conta para os

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candidatos que, nesse caso, é melhor estar no pé da rampa do que lá em cima? “Rampa” não é palanque, a não ser para o Romário. Noelle Oliveira

Fora, área VIP! “Estou com estafa cultural”, disse o colega curitibano, morador de Brasília por paixão e opção. Mal-acostumada com o deboche daqueles que reclamam, emburram e se quedam no bar, a frase soou libertadora. Veio feliz, com um sorriso de uma ponta à outra, de alguém que gostaria de engolir tudo, mas não tem noites, fins de tardes, madrugadas suficientes. Os festivais e as mostras de cinema se emendam, novos arranjos ou grupos de teatro aparecem na programação do fim de semana, as oficinas estão por toda parte. Como contrapartidas, ou como a partida para uma experiência que propõe o se mover. Sem contar que é de graça. Sem contar que a gente vai passando, vê gente e música, e para. Encontra pessoas sem ter combinado, ou apenas se diverte ao observar um espaço até então inusitado para misturar gente e música. Na praça, na calçada, na passarela. E que ocupem as pontes, e continuem fechando as ruas e conduzindo o trio elétrico pelo balão da quadra afora. Opa, ainda não é carnaval! Mas é quase réveillon e a debandada do povo da Bras-ilha já se anuncia. Mas, até lá, já fomos cercados, inundados por uma maré boa de interação. Pode começar desajeitado e eu posso ficar tímida, desconfiada. Posso não ter sucesso na primeira vez e não saber quem vai comigo. Não fosse eu candanga, tivesse vindo do Paraná, de Minas, do Rio, talvez achasse curioso o rompante da “ocupação dos espaços públicos”. Mas, como brasiliense por amor e certidão de nascimento, abro um sorriso daqueles largos. Esquece o bar, me convida pra

dançar! Juro que da próxima vez eu vou.Larissa Leite

Jornalista não é profetaEm março mandei a seguinte mensagem para um amigo meu que é jornalista: “Caro, não aposte nesta volta da Marta nem na derrota consumada do Haddad. Quem trabalha com campanha sabe que 3 por cento agora em nada inviabiliza o Haddad. Há inúmeros casos assim”. Ele respondeu falando da falta de votos, de carisma e de alianças do candidato do PT à prefeitura de São Paulo. Minha resposta: “Não será isso que vai decidir. Há muita coisa pela frente”.Meu amigo não foi o único jornalista a apostar na derrota de Fernando Haddad e a dizer que teria sido melhor para o PT que a candidata fosse Marta Suplicy. Lembro-me bem de que no início de 1989, quando a campanha eleitoral nem tinha começado, um grupo de jornalistas foi almoçar com o candidato Fernando Collor e um deles reclamou: “É perda de tempo, este cara não tem a menor chance de se eleger”. Tinha.Em 1994, dois meses antes das eleições, entrei em um elevador cheio e alguém falou sobre a candidatura de Cristovam Buarque a governador. Um jornalista que não me conhecia riu e disse: “Fica para a próxima, esta já está decidida e Valmir Campelo será eleito no primeiro turno”. Cristovam ganhou.Há inúmeros outros exemplos de candidatos que saíram disparados na frente e nem foram para o segundo turno, e de outros, como Cristovam, Collor e Haddad, que começaram mal, pareciam derrotados e se elegeram. A política é assim. Pesquisas são meras indicadoras de tendências, eleições podem surpreender e é uma grande bobagem dizer que um candidato não tem chances de ser eleito quando falta mais de um mês

para a votação. Tudo isso é óbvio, ou deveria ser, pelo menos para analistas e jornalistas políticos. Hélio Doyle

Ah, o verãoÉ somente uma hora de diferença, mas o rebuliço é grande. O horário de verão chegou e, com ele, os jornais se apressaram para dar matérias de questionável utilidade pública: a dieta ideal para a adaptação, o melhor horário para fazer exercícios físicos e, claro, dicas para não ficar tão sonolento durante o dia. Mas não é só uma hora de diferença? As pessoas reclamam de mudanças no metabolismo, de dificuldade em dormir cedo e acordar tarde e de se sentir mais cansadas. Repito: mas não é só uma hora de diferença? Para mim, frescura. O único transtorno é o primeiro dia útil com o horário. Procrastinar é comigo mesmo: só acerto o relógio depois que acordo atrasada! Eu sei que no verão os dias são mais longos e o objetivo do governo é aproveitar a luz no fim do dia para diminuir o consumo no chamado horário de pico. Mas assim quem precisa acordar muito cedo acende a luz. Se antes já acordava com o dia claro, passa a se levantar ainda sem a luz do sol. Então dá na mesma. Por isso acho que, se a mudança provoca economia de energia e diminui a sobrecarga nas redes de alta tensão, qualquer estação do ano serviria. E outra, também não vejo essa melhora tão grande no serviço de distribuição de energia mesmo com tantos anos de mudanças para poupar a usinas geradoras.O fato é que prefiro o horário de verão ao das outras estações do ano. Terminar o dia uma hora antes compensa os minutos a menos na cama de manhã, quando o despertador toca. Não entendo por que não o adotar o ano inteiro. Vai ter gente que vai dizer: o nome já diz tudo, porque é de verão! Mas, e daí? Que

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passe a ser chamado de horário de todas as estações. E pronto.Bruna Gil

Os espaços culturais ficam para depoisJá deu para perceber que a prioridade da cúpula do governo brasiliense realmente é a Copa do Mundo. Nada contra, torço para que seja excelente – que o evento ajude no desenvolvimento do País, contribua para a melhoria dos aeroportos, das estradas e gere empregos. Mas é preciso pensar no pós-2014. A copa dura apenas um mês, mas as necessidades de quem vive aqui não têm prazo de validade. Brasília é uma capital nova e não consegue sequer garantir locais de cultura permanentes. Gasta milhões no mundial esportivo. Enquanto isso, bem ali na Asa Sul, o Teatro Goldoni, que há 15 anos recebe peças e oficinas, será fechado. Não sabemos nem mesmo o que será construído no lugar. E o Cine Brasília? O fim da reforma do espaço estava programado para novembro, mas a reabertura já foi adiada para abril de 2013 (aposto que até lá será adiada novamente). Ainda pior é a situação do Polo do Cinema, em Sobradinho, que está caindo aos pedaços. A Secretaria de Cultura já foi clara: obras só depois de 2014, a prioridade agora é o Plano Piloto, devido ao grande evento esportivo. Bem... mas o Polo de Cinema não foi feito só para Sobradinho, foi construído para atender às necessidades de quem trabalha com audiovisual no DF. Triste essa realidade. A copa vai acabar e, pelo jeito, os espaços culturais em Brasília também. Priscila Praxedes

Pelo prazer de incomodar, parte 2Sentir-se orgulhoso do que faz é um privilégio. Nem todo mundo pode dizer que tem esse

sentimento. Existe jornalista com vergonha de escrever matérias encomendadas. Advogado com vergonha do próprio cliente. E médico que não confessa nem sob tortura possíveis deslizes no diagnóstico, por pura vergonha. Mas tem gente que fica satisfeita com pouca coisa. Que sorte desse pessoal!Na edição de junho da revista meiaum, escrevi aqui sobre vandalismo. Disse que não entendia a cabeça de quem gosta de estragar a propriedade alheia por pura sacanagem. Mostrei casos que se deram à época de depredações justificadas por revoltas populares contra crimes, política, serviços públicos de péssima qualidade. Mostrei também o resultado dos atos de vandalismo. Nenhum. Ninguém conquistou nada com o protesto. Também existem aqueles que depredam por nada, por causa alguma. Não têm o que fazer e passam o tempo imaginando e executando maldades. Isso tudo para rir depois. Para mostrar que tiveram coragem de fazer algo que nem eu nem você teríamos, espero. A moda, em junho, era pichar carros estacionados em quadras residenciais da Asa Norte. Como se já não bastasse estragar muros e portões. Só de ler a notícia, meu sangue ferveu. Como assim? Nunca tinha ouvido falar nisso. No início do mês, me levantei para trabalhar, como faço todos os dias. Fui até o meu carro e vi um risco, provavelmente feito com uma chave, na porta traseira. Não gostei, claro, mas também não me abalei muito. Reclamei com conhecidos e pronto. Nem perguntei ao porteiro se as câmeras de segurança haviam registrado quem era o engraçadinho. Dois dias depois, o capô do meu carro estava todo riscado. Não sei se foram as mesmas pessoas da primeira vez. Nem se foi um grupo ou alguém que agiu isoladamente. Senti-me vítima de violência. Abalada psicológica e fisicamente com a situação, precisei segurar

momentaneamente a revolta, já que tinha trabalhos inadiáveis para fazer. A única coisa que sei é que são pessoas de sorte. Afinal, escreveram bem profundamente na lataria do meu carro: vândalos com orgulho. Paula Oliveira

Não será desta vezEstamos em novembro e a tradicional pergunta já começou: “Onde você vai passar o réveillon?” A pouco mais de um mês do último dia do ano, é natural que as pessoas queiram se planejar. Difícil é apostar no escuro, como tem sido tradição aqui na capital. Moro há 15 anos em Brasília e nunca passei uma virada na Esplanada dos Ministérios. Sempre ouvi dos próprios brasilienses que é roubada. Com o tempo passei a achar que era um pouco de preconceito e faz uns anos que decidi que ainda vou assistir à queima de fogos no centro do poder. O problema é que, toda vez que o período se aproxima, os organizadores me dão pistas de que tem tudo para ser uma roubada mesmo. Demoram a se planejar, fazem editais de licitação questionáveis e acabam atrasando ainda mais o processo. Ficamos naquela dúvida se vai mesmo ter festa. E, se tiver, será que as atrações musicais serão aquelas que não conseguiram um contrato melhor? Como em outros lugares sei que a festa é garantida, minha decisão em novembro ou em dezembro, quando vejo que vai ser roubada mesmo, acaba sendo comprar uma passagem. Quero absorver boas energias na virada. Quando volto, no comecinho do ano, ouço sempre que fiz bem em não arriscar. O fato é que sou teimosa.Antes de comprar minha passagem neste ano, fui atrás do governo para saber como estão os planos. A Secretaria de Cultura, responsável pelo evento, me informou que

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não preciso programar viagem nenhuma. Segundo o órgão, já houve reuniões e estão avançando na preparação da festa para receber 2013. Os editais de licitação para a parte estrutural – palco, iluminação, camarotes, fogos – estão sendo elaborados. Vamos torcer para que fiquem prontos logo e não tenham de ser suspensos pelo Tribunal de Contas até que o governo corte os gastos. Foi isso que aconteceu no ano passado, quando os valores iniciais superavam em até 200% os de mercado. Outro fiasco que a Secretaria de Cultura promete que não vai se repetir é o anúncio de atrações não confirmadas. Dizem que serão boas surpresas. Do jeito que estão as últimas surpresas deste governo, prefiro não arriscar. Quem sabe em 2062, quando os cingapurenses tiverem nos ensinado a fazer planejamento direito?Anna Halley

ENIgmas

Este cearense diz que ficou espantado com a arquitetura da cidade. Percorreu lugares muito visitados e monumentos que tornaram a capital mundialmente admirada. Truman desafia você,

leitor, a identificá-los nestas imagens

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Há algo de podre na PPP do lixo Por que entregar os serviços da limpeza urbana do DF a um monopólio privado por 30 anos mais cinco e R$ 11,7 bilhões?

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Texto AnTôniO CArLOs QuEirOz Ilustração LuCAs [email protected] [email protected]

17

Passava das 14h da quarta-feira, dia 10 de outubro, e as cenas na sala lateral esquerda do Teatro Nacional eram no mínimo grotescas. Lembravam trechos com a “gente azoinada e assustadiça” da

Garatuja, a ópera cômica composta pelo músico do final do século 19 que dá nome ao local, o cearense Alberto Nepomuceno. A salinha, apropriada para apresentações de música de câmara, comporta 80 pessoas sentadas, mas naquela tarde calorenta tinha o triplo ou mais da lotação, pessoas que esperavam a audiência pública de apresentação da proposta da PPP do lixo.

Márcio Galvão Fonseca, o secretário-executivo do Conselho Gestor de PPP do GDF, tentava acalmar os ânimos, sem sucesso. Pediu que as pessoas tomassem assento. Mas onde? Pediu silêncio. Mas, quando o técnico encarregado de apresentar a proposta garantiu que não mais haveria incineração, a casa veio abaixo com gritos de “mentira!”. De boné vermelho e voz de tenor, o líder dos catadores, Rônei da Silva, entoou: “Você está mentindo! A incineração está, sim, prevista no item 1.5, página 4, do Anexo I do Projeto Básico”. A partir daí os apupos foram engrossando até que alguém, também aos berros, alertou que a situação tinha ficado perigosa, com risco de descontrole. Sem alternativa, os funcionários do GDF decidiram suspender a audiência.

Devagarinho, a multidão foi deixando a sala, mas o alvoroço continuou no hall do teatro, onde havia uma massa de gente cinco vezes maior, apinhada em torno de um telão. Os mil catadores que compareceram ao teatro saíram para o estacionamento dos fundos, em frente à Sala Martins Pena, onde ficaram os 25 ônibus que alugaram. Em vez de rumarem para casa, porém, decidiram fazer uma marcha até o Palácio do Buriti, portando faixas contra a PPP do lixo, contra a extinção do SLU, e exigindo a coleta seletiva universal em todo o DF, não apenas no Plano Piloto, como previsto no Anexo I.

O Correio Braziliense pautou um repórter e uma fotógrafa, mas no dia seguinte não deu uma linha nem sobre o fracasso da audiência, nem sobre a marcha dos catadores ou o bloqueio do lixão da Estrutural, iniciado na terça-feira, dia 9. Por que a censura? Por que o GDF não publicou os anexos, contendo os estudos de viabilidade técnica e econômico-financeira, da minuta do contrato da PPP antes da audiência pública?

Todos os movimentos do GDF envolvendo essa PPP soam estranhos, desde a escamoteação de informações básicas até as justificativas que não fazem o menor sentido.

A opção da administração pública por uma parceria público-privada, forma de concessão dos serviços públicos prevista na Lei 11.079/2004, tem lógica quando, por exemplo, o governo esgotou a capacidade de se endividar para fazer investimentos. Nesse caso, o parceiro privado contrai os empréstimos, assume parte dos riscos e é remunerado pelo negócio, ou diretamente pelo governo, como no caso da construção de um hospital, ou pelos usuários, por meio de tarifas, como no caso de uma estrada com pedágio. No caso da PPP do lixo, a justificativa do GDF é que precisa de investimentos da ordem de R$ 770 milhões para universalizar os serviços de limpeza, implantar a coleta mecanizada, implantar dois aterros sanitários, mitigar o lixão da Estrutural etc. Mas o que são R$ 770 milhões (com seis zeros) diante do astronômico valor previsto para o contrato, da ordem de R$ 11,7 bilhões (com nove zeros)? Coisa de 6,5% ou R$ 25,6 milhões por ano, durante a vigência do contrato, de 30 anos, renováveis por mais cinco.

Os números dos investimentos podem impressionar à primeira vista, mas são fichinhas diante os valores anuais que o GDF pagará pela contraprestação dos serviços prestados pela empresa que vier a ganhar a concorrência. Basta dividir os R$ 11,7 bilhões por 30 anos. Dá R$ 390 milhões por ano, o dobro do que se gasta hoje com esses serviços. Em quatro anos, portanto, só o que o GDF pagará a mais (R$ 190 milhões por ano) será igual à soma dos investimentos a ser feitos ao longo do contrato. Isso não faz sentido.

Também não faz sentido, e é ilegal, entregar todos os serviços da limpeza urbana a uma só empresa, estabelecendo um monopólio privado num setor que não constitui monopólio natural, como é o caso do abastecimento de água.

A PPP dos Resíduos Sólidos que o GDF propõe contraria a legislação distrital e federal, aponta para o aprofundamento da privatização e a futura extinção do SLU, e atropela todos os esforços despendidos para a organização dos serviços da limpeza pública no DF em consórcio com os municípios do Entorno.

Em quatro anos, só o que o GDF pagará a mais será igual à soma dos investimentos a ser feitosao longo do contrato.

Eles são pomposos, usam farda branca, capacete dourado, seguem tradições nascidas há quase dois séculos e fazem parte da paisagem turística de Brasília

Texto PAuLA OLivEirA Fotos LuAnA LLErAs

PErfIl

[email protected] [email protected]

Manter o uniforme branco e vermelho sempre limpo e bem conservado é um de-safio. Ainda mais se for os-

tentado por homens que montam a cavalo e usam botas pretas bem engraxadas. Mas sabe como é militar. A disciplina em se-guir as tradições não deixa essa dificuldade transparecer. Ou você já reparou em algum sujinho no uniforme do soldado que fica em posição de sentinela em frente ao Palácio da Alvorada? Ou em alguma falha na vestimen-ta daqueles que acompanham a presidente da República em eventos oficiais?

Quem lava é o próprio soldado, pelo me-nos no caso dos que compõem o cerimonial dos Dragões da Independência, como Kelvin Johnson Pereira da Silva, de 21 anos. O sabão é especial para não encardir o tecido claro. O cuidado é tamanho que ele faz questão de lavar a farda, que não é pequena nem leve, à mão. Ele mesmo passa o uniforme a ferro para que nenhum amarrotado tire o brilho histórico do modelo desenhado pelo pintor francês Jean--Baptiste Debret, ainda em 1816, a pedido do príncipe regente, d. João.

O uniforme é composto por dez peças. O soldado garante que fica pronto em dez minu-tos. Muito tempo para os padrões do Exército, mas o ritual é complicado. Depois de vestir a calça branca, as botas pretas, o cinto e a blusa camuflada, é a hora da jaqueta, das charlatei-ras (adornos nos ombros) e da faixa verme-lha. Este último é o item mais complexo. É preciso contar com a ajuda de outro soldado para se enrolar no tecido e deixar a faixa bem esticada. “Quando não tem ninguém para ajudar, a gente amarra uma das pontas em algo fixo e vai se enrolando sozinho”, explica. Para completar a farda, o cinturão, o capacete dourado e as luvas brancas.

Johnson é um dos 1.534 militares brasi-leiros que usam o uniforme criado há quase dois séculos. O 1º Regimento de Cavalaria de Guarda (1º RCG), que abriga a tropa dos Dra-gões da Independência, é o mais antigo e mais tradicional do Exército Brasileiro. Foi criado

como 1º Regimento de Cavalaria do Exército, composto pelos 70 soldados portugueses que vieram como guardiões do império e da família real. Os membros do regimento chegaram ao Brasil em 1808 com d. João, que fugiu de Por-tugal quando o país foi invadido pela tropa de Napoleão Bonaparte.

Os Dragões da Independência tiveram par-ticipações importantes em vários momentos da história do País. O primeiro que vem à ca-beça – e que dá nome à tropa – é o famoso Grito do Ipiranga. Os antecessores de Johnson esta-vam lá – pelo menos é o que está escrito nos li-vros de história. E também de Rafael dos San-tos Pereira, de 21 anos, que completa a dupla da foto na página anterior. Eles não questionam nada e respeitam todas as tradições à risca. Se houve evolução ou mudança nas instruções ou nas cerimônias, foi por esquecimento, diz o comandante do regimento, o tenente-coronel de cavalaria Fábio Ricardo Marques. Quando pergunto o porquê de algum costume ou rito, a resposta é direta: “Porque é tradição”. As variações são “Porque sempre foi assim” ou “Porque é histórico”.

Sério e concentrado em serviço, Johnson não perde a postura nem mesmo na hora de explicar como é a sequência de movimentos usada para descansar enquanto está em sen-tinela. Aliás, a capacidade de ficar imóvel é o que mais intriga os civis que o conhecem. “O que mais me perguntam é como consigo ficar tanto tempo na mesma posição”, diver-te-se. A resposta? “Sou treinado para isso, não vejo dificuldade em executar.” Bom, mas ficar ali parado durante mais ou menos duas horas sem se render às provocações do público, ao calor, ao frio, à chuva ou à coceira na ponta do nariz não deve ser fácil. No trei-namento, conta Johnson, todas essas situa-ções são simuladas. Os colegas tentam “atra-palhar” a sentinela para já se acostumarem com a curiosidade das pessoas que visitam as instalações presidenciais.

Os soldados também são preparados fisica-mente. Antes de assumirem o posto, recebem o catanho – sacola com alimentos ricos em

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carboidrato e açúcar. Além disso, a prepara-ção engloba fortalecimento físico e hidrata-ção, como em outros regimentos e batalhões do Exército. A concentração é essencial. Eles não ficam ali parados pensando na vida, mas atentos a tudo o que acontece ao redor. Em uma emergência, como a tentativa de invasão, devem estar prontos para agir. Mas isso é em último caso, porque existem outras instâncias de segurança que devem entrar em ação antes de o soldado tomar alguma atitude. “Estamos em serviço e cumprindo um papel importan-te de guarda, não podemos nos distrair”, diz.

Nada pode abalar o soldado em sentinela. “E se a presidente passar por lá e puxar papo?” A pergunta ficou sem resposta.

O 1º RCG não se restringe ao cerimonial da guarda presidencial, tem funções bas-tante específicas: guarda das instalações presidenciais (Granja do Torto, Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto e Palácio do Ja-buru), manutenção das tradições equestres, participação em operações de garantia da lei e da ordem com prazo e local específicos, cumprimento de missões internacionais. Eles participam de treinamentos diários

para cumprir qualquer um desses papéis.Johnson entrou no Exército contra a vonta-

de do pai, que é policial militar. “Eu queria ter essa experiência e ele me fez prometer que eu ficaria apenas para cumprir o período obriga-tório de um ano”, conta. Ele está há quase três no regimento. Gosta da vida de militar, apesar de o dia a dia no 1º RCG ser puxado. A cada dois dias, eles cumprem o serviço de 24 horas. As-sim mesmo, sem dó. Tudo tem uma razão de ser, garante o comandante. Qual, eu pergunto. “É tradição!” Os soldados precisam estar mui-to bem preparados, ser resistentes ao cansaço

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e estar prontos para agir quando solicitados. Além do mais, são eles que mantêm todo

o regimento. Os mais de mil soldados são di-vididos em subunidades, denominadas es-quadrões. Um é o de apoio, responsável pela parte administrativa, pela limpeza, pela ali-mentação. Cerca de 200 soldados fazem parte da cavalaria. Outros 300 são do cerimonial a pé, entre eles o Johnson. Outro esquadrão do regimento está sendo reativado e, por enquan-to, os membros estão espalhados pelos outros grupos. Existem ainda os militares que estão cedidos para missões no exterior.

O regimento é enorme – 11 hectares – e o que não falta é trabalho para os soldados. São 400 cavalos que precisam ser bem cuidados. O pessoal de plantão acorda de madrugada para não perder o horário de alimentar os animais. Johnson não é dessa turma, mas, se precisar, faz o serviço. Quem quiser pode visitar as instalações.

Nos dias em que não está de plantão nas de-pendências presidenciais, Johnson trabalha na parte administrativa do regimento. Ele gosta e se identifica com a função, mas o grande bara-to de ser um Dragão da Independência é estar vestido com a farda e cumprir com o protocolo. Na primeira vez que fez a guarda no Palácio da Alvorada, avisou a toda a família. O orgulho de ver o rapaz na posição foi geral. “Tiraram um monte de fotos”, recorda-se, com alegria.

No ano que vem, pretende fazer alguma fa-culdade. Até quando conseguir, vai conciliar as duas carreiras: a civil e a militar. De qual-quer forma, o Exército lhe ensinou muito sobre como se portar fora das dependências do 1º RCG. “Aprendi a disciplina, o respeito à hierarquia, o companheirismo e a humil-dade e sei que vou levar tudo isso para o resto da minha vida”, afirma. Enquanto isso, é um orgulhoso Dragão da Independência, que, no auge da sua simplicidade, quis uma foto com a equipe de reportagem para mostrar para a família e para os amigos. E foi assim que me-ros civis que tantas fotos tiraram ao lado dos imponentes soldados no Palácio da Alvorada viraram atração também. ) )

disciplina, o respeito à hierarquia, o

companheirismo e a humildade e sei que vou

levar tudo isso para o resto da minha vida.”

“Aprendi a

Alvo erradoQuando seus escolhidos não parecem tão alinhados às suas con-vicções, ou podem prejudicar grupos poderosos, Agnelo Quei-roz não pensa duas vezes para fazer trocas de comando. Depois de Marcelo Piancastelli perder o cargo na Secretaria de Fazenda, em setembro, por defender a retirada de benefícios fiscais de empresários e o aumento da arrecadação tributária, no último mês, o petista Jacques Penna foi convidado a deixar a presidên-cia do Banco de Brasília (BRB). A mudança foi interferência direta do governador. Embates envolvendo patrocínios com os quais Penna não concordava e outras divergências o motivaram. Agnelo indicou de imediato, para a substituição de Jacques, o empresário do setor varejista Abdon Henrique, seu grande amigo. Péssima jogada.Conseguiu comprar briga com o grupo majoritário do PT, do qual Jacques faz parte, e com nomes im-portantes no partido, como Chico Vigilante, que segue a mesma linha. Logo Chico, que sempre o defendeu de tudo quanto foi tipo de acusação durante a campanha e nestes quase dois anos. Esse mesmo grupo petista bancou o ingresso de Agnelo no PT quando este saiu do PCdoB. Com carreira técnica respeitada, Jacques parece “perseguido” – foi demitido de três cargos desde o começo do governo, passando pelas funções de chefe da Casa Civil, secretário de Desenvolvimento Econômico e presidente do BRB. Abdon, por sua vez, exibe carreira meteórica – de admi-nistrador do Lago Sul, passou para secretário e para o comando do banco. Nos dois últimos substituiu justamente Jacques.

DesavençasCom a mudança no BRB, Agnelo comprou briga com o PT. Já com a contratação de con-sultoria de uma empresa de Cingapura – para a criação de um plano de desenvolvimento –, Agnelo desagradou a aliados no Congresso e levantou muitas suspeitas. Os senadores Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollem-berg (PSB) alfinetaram, o petista respondeu na imprensa. Agora, é questão de tempo, e não muito, para o PSB deixar o governo. Uma reunião já ocorreu para debater o assunto, mas não chegou a nenhuma conclusão. A

Memória curtaProjeto de lei da oposição pra lá, veto do go-vernador pra cá, e no fim das contas o novo estádio continuou levando o nome de Mané Garrincha, mas com prenomes extras: Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Agora, o governo, que antes se opunha à manutenção do nome do craque futebolístico no estádio, pretende construir no local o Museu do Mané Garrincha. A Secretaria de Comunicação So-cial produziu até mesmo uma edição de um programa semanal de rádio dedicada ao joga-dor de futebol. Assim fica difícil ser coerente.

existência de cargos no governo local ainda precisa ser solucionada pelo partido para o desfecho. Quem tem vaga está com receio de sair, já os mais ideológicos mantêm o propó-sito firme. Também se torna inevitável a can-didatura de Rollemberg para governador em 2014. O apoio, comenta-se, pode vir de To-ninho do Psol e de Reguffe, todos em prol de uma chapa mais limpa e que deve se propor a encontrar o “novo caminho” que a gestão pe-tista até agora não achou. A “hora de botar a casa em ordem” já passou, será que ninguém percebeu?

fora Do PlaNopor NOELLE OLIVEIRA

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O xodó de Avó

A cristaleiraAs crianças não podiam entrar naquela sala nem sair da cama antes

das oito. Mas um dia Soninha resolveu quebrar as regras

Texto ÂnGELO dOs sAnTOs

CoNto

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A casa, desde a entrada, cheirava a mato, a mato e a terra molhada. O avô tinha ido buscar seu neto mais velho, mas teve que levar a menina também.

“Eles são irmãos, aonde vai um vai o outro”, disse Marta, mãe de Soninha.

Olhando de fora se via o portão e ao fundo o segundo andar da casa, escondido atrás das árvores altas e da trepadei-ra que cobria quase comple-tamente as paredes mofadas. O telhado de cerâmica, já es-verdeado pela umidade e pelo tempo, deitava suas faces so-bre as paredes imponentes. Ao tocar o portão Soninha já sen-tia o cheiro forte de verde. No caminho de pedras que levava até o pomar, as orquídeas bem cuidadas por Avó embelezavam ainda mais a mata atlântica na-tiva. O quintal era imenso, for-mado pelo pomar, pela longa entrada e por um banco, pró-

ximo ao portão. Esse banco, feito na pedra, estava sempre tomado pelos musgos, nunca por gente.

Naquele lugar viviam seus avós e uma tia solteira. Mui-tos eram os costumes e as coi-sas da casa, que se confundia com a própria Avó – também imponente, um tanto mofada e de cabelos cor de cerâmi-ca. Contavam que tinha sido muito bonita. Soninha não via como. Parecia-lhe uma velha rabugenta e cinza. A voz tor-nada grave pelos muitos anos de tabaco assustava a menina. Sempre com olhar desafiador, seios grandes, queixo a no-venta graus dos ombros e um chinelo disposto a cantar na bunda dos meninos. Assim era Avó.

Soninha não era a preferida do avô, tampouco de Avó ou da tia. O avô não largava o neto mais velho pra nada. As duas mulheres só tinham olhos pros

homens da casa, o pai de Soni-nha e seu tio. À menina cabia a tarefa de ajudar a pôr e a tirar a mesa, assim como a de limpar a casa e lavar a louça. Odiava ter que ficar com as mulheres na cozinha limpando a sujeira daqueles homens falantes que fumavam e gritavam na sala da cristaleira após as refeições.

***Independentemente da hora

em que acordassem, só a velha Avó podia sair da cama antes das oito da manhã. Não se sa-bia ao certo a razão de tal regra, mas assim era. Soninha ficava acordada por muito tempo até poder se levantar. Nesse tem-po pensava na casa, que falava com ela. Os longos corredores do segundo andar, onde fica-vam os cinco quartos, tinham azulejos verdes no chão frio e ecoavam a cada passo da ve-lha. Nas paredes, os quadros com fotos tão antigas quanto

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o próprio tempo, faziam Soninha pensar quantos anos Avó teria. Tinha ainda a sala da cristaleira. Uma sala pequena, quando comparada aos outros cômodos. As crian-ças não podiam entrar lá. A cristaleira era o xodó de Avó, que a mantinha sempre brilhante. Pelo menos era o que diziam os adultos. Nesses momentos do início da manhã era quando a menina podia melhor escutar a casa.

Naquela manhã Soninha decidiu que não ficaria na cama até a hora estabele-cida. Pisou o mais leve que pôde no chão. Sabia que Avó não estava por perto. To-cou seu pezinho de menina no chão frio de azulejos verdes e sentiu-se levada por eles. Enquanto os azulejos corriam sob seus pés sentiu um frio no estômago. En-trou na sala da cristaleira.

Seus olhos esbugalhados quase cegaram com a luz que vinha dos cristais. Entendeu por que Avó não deixava que as crianças olhassem aquilo. Eram muito novos para tanta beleza. O sol que entrava pela janela grande de madeira se refletia nos cristais rosados criando cores indescritíveis. Foi possível ouvir o som das cores fluores-centes. Paralisada, talvez tenha chegado a sorrir. Ouviu alguma coisa e chispou esca-da abaixo, rumo ao pomar.

***Estava tudo diferente. As árvores altas

pareciam ansiosas por algo. Pôde perceber que a mata respirava. As orquídeas a olha-ram com desconfiança. Teve medo. Lem-brou-se de Avó e de sua proibição. Quis voltar pra cama. A terra sob seus pés se movia lentamente, como um grande len-çol balançado a quatro mãos. Equilibrou--se. Olhou para as trepadeiras que pare-ciam cobrir toda a casa, rastejando parede acima. A casa estava mesmo viva, toda ela. Ouviu chamarem seu nome. Era Avó, es-tava sentada no banco de pedra perto do portão. Tinha sido descoberta. Caminhou

cabisbaixa em direção ao banco enquanto pensava em alguma desculpa.

Avó lhe sorriu. Estava também diferen-te, assim como a casa, estava mais viva. Soninha notou em seus olhos uma doçura que nunca tinha reparado. Parecia mais leve. Pediu que a menina sentasse e come-çou a lhe contar sua história enquanto lhe afagava os cabelos. Tinha fugido de casa, ainda bem nova, para casar. Sua família não gostava do avô de Soninha. Era uma estória linda, de romance de livro – pen-sou a menina. Pela primeira vez imaginou que Avó não tinha nascido velha. Durante os anos seguintes viveram muitas coisas naquela casa, que era também ela mesma. Disso a menina já sabia, sentia. Nesse mo-mento Avó fitou-a longamente e com uma delicadeza emocionada pediu a Soninha que cuidasse dos cristais, quando ela não pudesse mais fazê-lo.

A menina sentiu um arrepio estranho. Nada daquilo podia ser. No meio da mata respirante, entre orquídeas desafiadoras, Avó a adulava e pedia que cuidasse dos cristais? Não se lembrava de já ter rece-bido carinhos de Avó. Olhou mais uma vez pra velha. Achou-a bonita. Seus olhos passavam uma tranquilidade fúnebre. Teve medo, muito medo, aquela não podia ser Avó. Correu o máximo que pôde, dei-xando a velha pra trás.

Ofegante, passou pelo quintal e subiu os degraus até a sala da cristaleira. Quando entrou viu Avó, no chão. Seu corpo resse-cado e mais velho do que nunca. Suas mãos em forma de gancho seguravam a crista-leira, endurecidas. Avó, ou o que restava dela, parecia agarrar-se àquele móvel com todas as forças que lhe sobravam. Levava no rosto uma expressão de pavor intenso, que fazia com que suas bochechas entras-sem cara adentro. A menina tremeu.

Pé ante pé, caminhou para seu quarto, abriu a porta e deitou-se. Olhou o relógio do quarto, ainda era cedo. Cobriu-se e es-perou dar oito horas. ) )

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Em vertiginoso crescimentoAssim está a metrópole em que vivemos. Ou você ainda não notou que moramos em uma das maiores cidades brasileiras?

artIgo

Texto ALdO PAviAni Foto niLsOn [email protected] [email protected]

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Muitos habitantes da capital federal ainda não se deram conta de que residem em uma metrópole. Isso significa morar em grande cidade ou em uma das maiores

cidades brasileiras. Brasília é metrópole integradora de vasto território à sua volta, tendo a “missão” de ser diversa na organização espacial, se comparada aos demais grandes aglomerados, porque nasceu de vontade política de Juscelino Kubitschek e da prancheta de dois gênios da arquitetura e urbanismo – Lucio Costa e Oscar Niemeyer.

Passados 52 anos da transferência da capital para o Planalto Central, verificamos que Brasília é classificada como metrópole 1B, junto com o Rio de Janeiro, segundo o IBGE. Em termos de hierarquia urbana, São Paulo tem posição superior, pois é nossa metrópole 1A. Esse trio metropolitano é diversificado no que toca à evolução e à história e quanto ao volume populacional, atividades e funções de cada uma delas. Para a formulação dessa hierarquia urbana, foram selecionadas características como possuir “grande massa populacional”, além de funções econômicas estruturantes. São Paulo possui um parque industrial que se destaca de outros na América Latina e mantém área de influência nacional. O Rio de Janeiro, mesmo após a transferência da capital, mantém influência regional importante e se destaca pelas belezas naturais que o tornam atrativo para o turismo. Brasília tende a diversificar suas atividades e a ampliar seu papel de capital política e administrativa do Brasil. Daqui para a frente terá maior desempenho funcional, em razão da tendência a integrar vasto território à sua volta – constituindo sua região geoeconômica.

Pelo Censo de 2010, Brasília atingiu a casa dos 2,5 milhões de habitantes, mas, internamente, sua população não está bem distribuída no Distrito Federal. Há localidades urbanas com grande número de habitantes, como Ceilândia – mais de 400 mil – e cidades com pequena “massa populacional”, como o Núcleo Bandeirante, a antiga Cidade Livre, com cerca de 38 mil. Há, igualmente, cerca de 900 mil habitantes nos municípios goianos limítrofes ao DF. Funcionalmente, esses municípios compõem a Área Metropolitana Integrada de Brasília (AMIB), em organização. É em Brasília, sobretudo no Plano Piloto, que essa população trabalha e busca serviços. O estreitamento das relações urbanas enseja que se pense na AMIB como ente metropolitano, capaz de conduzir a gestão dos “serviços de uso comum”, para que os benefícios de Brasília cheguem até a periferia metropolitana.

No passado, a capital planejada possuía uma aura de organização interna. Todavia, o planejamento se perdeu no açodamento na criação de cidades-satélites, a partir de 1958 com Taguatinga, que surgiu com trabalhadores residentes em favelas próximas ao Núcleo Bandeirante. Sucessivamente, outros núcleos foram criados para receber a população que, compulsoriamente, foi transferida das “Localidades Provisórias” ou as “Grandes Invasões” (favelas), abrigos dos imigrantes que vieram erguer os ministérios, os blocos das superquadras e os palácios. Como a transferência (“erradicação”?) de favelados para as novas localidades obedeceu a critérios burocráticos e repetitivos, hoje temos 31 núcleos ou regiões administrativas. Por vezes, fala-se em outras mais. Contudo, o território começa a ter esgotados os espaços livres para assentamentos, em razão dos impedimentos ambientais contidos nas áreas de proteção ambiental – as APAs. Felizmente, a época dos “condomínios irregulares ou “invasões” deve ser ultrapassada, pois tomam-se medidas para a regularização fundiária e o povoamento se dará sob o império da lei. Ademais, algumas medidas permitem o adensamento dos núcleos existentes, sem o desatino cometido com Águas Claras, onde há prédios com 30 andares, totalmente em desacordo com a arquitetura do DF. Será importante conter o ímpeto imobiliário sobre a Quadra 901 do Setor Hoteleiro Norte. Essa área de reserva poderá ser mantida ou se submeter ao padrão construtivo que deu a Brasília o honroso galardão de Patrimônio Cultural da Humanidade.

Portanto, a hora é de prever o futuro, reservando espaços estratégicos para nossos pósteros e para que tenhamos uma cidade com maior descentralização de oportunidades, mais humana, mantendo qualidade ambiental. Para esse propósito, há capacidade profissional – técnica e intelectual – para que o planejamento seja feito pelos herdeiros dos sempre lembrados fundadores.

Como a transferência (“erradicação”?) de favelados para as novas localidades obedeceu a critérios burocráticos e repetitivos, hoje temos 31 núcleos ou regiões administrativas.

Missão nãocumprida

[email protected]

Texto PAuLA OLivEirA

Pedalar é preciso para termos trânsito não

tão tumultuado, menos emissão de gases

tóxicos e mais saúde, mas vale o sacrifício? Nossa repórter acha que sim, mas ainda

prefere o carro

CaPa

Parecia simples. Minha missão era ir de casa para o meu local de trabalho de bicicleta. Eu teria que começar do zero. Nem bici-

cleta eu tinha e precisaria pegar uma em-prestada, mas não me pareceu complicado cumprir a tarefa proposta em reunião de pauta da meiaum. A distância não é gran-de – do fim da Asa Norte ao início do Lago Norte – e o trânsito é relativamente tran-quilo por estar sempre no contrafluxo. Sedentária que sou, temia o cansaço, mas isso eu poderia resolver saindo bem mais cedo para ter a liberdade de ir parando no meio do caminho. Passada a empolgação inicial comum de quando somos desafia-dos, parei para pensar o que seria essa ex-periência na prática. A saga começou em julho.

O discurso comum dos defensores da bicicleta como meio de transporte não é simplesmente ambiental. Há argumentos para quase tudo: ela ocupa menos espaço, é um veículo mais lento, não precisa de combustível e dá liberdade para o condu-tor ir e vir sem depender de equipamentos públicos. É o tal do Direito à Cidade. “Uma pessoa que mora em Samambaia não pode ir ao Plano Piloto à noite se depender de ônibus ou de metrô”, exemplifica o servi-dor público, ciclista e defensor do Direito à Cidade Renato Zerbinato, de 35 anos. Se não tiver carro, precisa prestar atenção no horário para não perder a condução. De madrugada, nada funciona.

Então está bem, comprei o discurso. Um carro a menos nas ruas já faria dife-rença. Além disso, eu poderia me empol-gar com a experiência e, quem sabe, me

Missão nãocumprida

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seriam as dificuldades para adotar o hábito, ou pelo menos cumprir a pauta.

PELA POnTE, Eu nãO vOuEnfrentar as ruas cheias de carros, mo-

tos e pedestres era, e continua sendo, uma das minhas maiores preocupações. Para Zerbinato, que tem esse costume há mais de dez anos, as vias de Brasília são perfei-tas para transitar de bicicleta. “Para mim, não vejo necessidade de adaptação”, ga-rante. Mas, quando o filho de 12 anos pe-dala com ele, o servidor público prefere as calçadas. “É perigoso”, admite. E eu? Não tive coragem de ir de uma quadra residen-cial a outra sem me desgarrar do caminho que faria a pé. Se eu soubesse na época que existe uma organização chamada Bike Anjo (www.bikeanjo.com.br), em que vo-luntários ajudam iniciantes a enfrentar o trânsito, talvez tivesse conseguido.

A socióloga Renata Florentino, de 28 anos, recorreu ao serviço para se iniciar na vida de ciclista. Precisou de ajuda para sair do Sudoeste, onde mora, para a Asa Sul, onde trabalha. Ainda tem medo, ad-mite. “Pedalo só há uns meses, ainda es-tou me adaptando, mas está dando certo.”

Zerbinato é um voluntário, mas, mes-mo se eu tivesse a companhia dele, acho que minha missão teria furado. O fato de eu ter que passar pela Ponte do Bragueto atrapalha. “Não aconselho porque é muito perigoso”, sentencia. E olha que trabalho a apenas sete quilômetros de casa. Estaria dentro da convenção mundial e gastaria apenas uns 15 minutos a mais para chegar. Mas o conselho de um Bike Anjo é sagra-do. Minha alternativa seria pegar a Epia e

tornar ciclista. Tenho costumes típicos de brasilienses, como não andar a pé nunca. Nem mesmo para percorrer distâncias curtíssimas. Mas eu poderia diminuir o uso do meu carro e contribuir um pouco para a preservação do planeta. E contri-buir também para a minha tão desejada boa forma, mas essa é outra história!

“A convenção mundial é de que o trans-porte por bicicleta seja feito em percursos máximos de sete quilômetros”, diz Zerbi-nato. Mais do que isso fica cansativo e de-morado. Em média, se gastam 30 minutos nessa distância. O pedestre caminha apro-ximadamente seis quilômetros por hora. De bicicleta, a velocidade dobra. Mesmo dentro do DF, que tem o território peque-no, muita gente que depende de ônibus ou enfrenta engarrafamentos gasta mais do que meia hora para chegar ao trabalho.

Comprei a bicicleta (sim, de verdade!). Tive dificuldade de encontrar a ideal. Pes-quisei e vi que há o tamanho certo para cada pessoa, mas as personalizadas são ca-ras demais. A que eu vi sairia no mínimo por R$ 1,2 mil, fora os acessórios. Como eu estava começando, preferi não fazer um investimento tão alto. Mesmo assim, gas-tei pouco mais de R$ 400. A que comprei ficou grande para mim. O ideal é encostar os pés no chão quando no sentado no se-lim. Eu fico na ponta dos pés. Mas, tudo bem, eu me acostumaria.

Resolvi treinar antes de pensar em pe-dalar para o trabalho. O medo foi grande e a vergonha também. Dizem que ninguém se esquece de como é andar de bicicleta. Eu tinha me esquecido. O segundo dia foi mais tranquilo. Estava mais segura. Fiz isso algu-mas vezes e comecei a ver na prática quais

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Renato defende o direito de ir e vir sem depender de equipamentos públicos. É voluntário e ajuda novos ciclistas a enfrentar o trânsito.

entrar no Lago Norte por ela, mas é mui-ta contramão. Sem contar que, para quem tem medo de circular no Plano Piloto, se-guir para uma estrada de velocidade alta não seria coerente. Missão não cumprida.

PrECisO dE FôLEGOJá ouvi muito que a endorfina, produzi-

da quando fazemos exercícios, traz sensa-ção de prazer. Eu mesma nunca senti isso, mas é o que dizem. Pedalar por meia hora, para quem não é atleta, é uma malhação. Eu tentei, juro, mas depois desse tempo todo em cima da bicicleta eu não produzi-ria uma só linha de texto. Queria ajudar a melhorar o trânsito, mas preciso chegar ao trabalho disposta.

Enquanto estou com preguiça dos meus sete quilômetros, o garçom Afonso Pacheco Portela, de 43 anos, percorre o quíntuplo para o trabalho. É um entusiasta da bi-cicleta. Em casa, tem cinco. Um carro e uma moto tam-bém, mas os xo-dós são as

“magrelas”. Trabalha há nove anos como copeiro em uma empresa no Setor Bancá-rio Norte e mora em Ceilândia. Desde os primeiros meses no emprego, vai de bi-cicleta. “De ônibus é um sacrifício.” Além de lotados, não estão em bom estado. “Sem contar o estresse de ficar no ponto de ôni-bus esperando a boa vontade dos motoris-tas em parar”, reclama. Como já pedalava por esporte, viu que não haveria problema em adotar a bicicleta como meio de trans-porte também.

São nove anos de persistência. O garçom tinha mais ou menos a minha idade quando tomou essa decisão e garante que não é preciso muito prepa-

ro para enfrentar o caminho pedalando. “Em pouco tempo você se acostuma”, incentiva. Sei. Para ele, é fácil. É maratonista e também participa de competições ciclísticas. Porte-la diz que o pior dos 70 quilômetros que ele percorre por dia é o trânsito pesado (ele pas-sa pela Via Estrutural), a sujeira no asfalto, a falta de educação de motoristas e, claro, as condições da via.

Luan

a Ll

eras

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QuErO ChEGAr vivAQualquer pedregulho ou peça de veícu-

lo no chão representa grande perigo para o ciclista. Se o motorista precisa ficar atento a milhões de coisas enquanto dirige, quem está de bicicleta pode dobrar o grau de preo-cupação. “É complicado”, reclama o garçom maratonista. Ele usa no dia a dia um pneu próprio para competições de mountain bike para diminuir a possibilidade de furar com cacos de vidro, comuns no meio do cami-nho. “Acho que as pessoas desistem da bici-cleta por causa dessas pequenas dificuldades que, no fim das contas, se tornam grandes.” Ele mesmo desiste quando está chovendo. A falta de ciclovias agrava o problema. Quem sabe isso se resolva quando o governo do DF entregar os 421 quilômetros de ciclovias que promete construir até 2014? Ainda assim,

para ele, circular de bicicleta compensa.O Código de Trânsito reco-

nhece a bicicleta como meio de trans-

porte. É

Renata pedala de vestido e enfeitou a bicicleta ao seu estilo, bem feminino.

chamado veículo não motorizado e precisa seguir regras. Uma delas, com a qual nun-ca me conformei, é andar sempre na mes-ma direção dos carros. Fico insegura. De costas para os veículos, não vejo como está o trânsito, quem chega perto. Mas a norma segue uma lógica física. Se a colisão se der de frente, as velocidades se somam e o estrago é maior. Outra regra é que o ciclista deve dar preferência ao pedestre e evitar as calçadas. As ciclovias que estão sendo construídas na cidade são de uso misto (pedestres e ciclis-tas), e a preferência é de quem está a pé. Se-gundo o Código de Trânsito, na falta de ci-clovias ou acostamentos, lugar de bicicleta é na via. “Inserir o ciclista no trânsito é difícil porque nem o motorista vê a bicicleta nem o ciclista vê o carro”, diz Zerbinato. A im-pressão que dá é de que em qualquer lugar a bicicleta é um incômodo. Os motoristas não a querem nas vias e, na calçada, representam risco para os pedestres.

Solteira e sem filho, Eliz Pessoa, de 35 anos, é estudante de pedagogia e trabalha com produção de eventos. A inseguran-ça dela vem toda do trânsito mesmo. Se os

motoristas já respeitam pouco o ciclista uniformizado, imagine aqueles que

circulam com roupas do dia a dia? Talvez a roupa e os

equipamentos impo-nham um pouco

mais de res-p e i t o ,

mas ela não tem nada disso. Prefere andar livre, como nos filmes europeus ou nas no-velas escritas por Manoel Carlos. É errado, sim. Precisa de campainha, de sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais e de espelho retrovisor do lado es-querdo, além do capacete e de roupas claras e chamativas. É o que diz o Código de Trân-sito. Mas, se não for obedecido, não tem pu-nição. Há previsão de multas, mas não existe regulamentação para que sejam aplicadas. O preço mais alto é mesmo a exposição em caso de acidente.

Para a publicitária Lia Tavares, de 32 anos, a segurança é imprescindível. Ela tem tudo. Até a sapatilha especial que se encaixa no pedal. A bicicleta está na vida dela desde a adolescência. Ela não quer poluir ainda mais o planeta e diz que sempre teve essa postura mais consciente. E a bicicleta faz parte dessa cultura que adotou como estilo de vida. Ain-da jovem, fazia tudo de bicicleta: faculdade, estágios, festas, cinema, shopping. Tinha resistência em comprar um carro, mesmo quando passou a ter condições financeiras.

Além disso, nunca teve paciência para o trânsito. “Bom é pedalar no meio dos car-ros parados no engarrafamento e sentir que você não precisa daquele estresse para che-gar a algum lugar”, reflete. Lia é natural ao extremo. Mora em uma área rural perto do Lago Norte chamada Córrego do Tamanduá. Houve uma época em que abandonou a bici-cleta como veículo para trabalhar e adotou o caiaque. Sim, a casa dela é perto do Lago Pa-ranoá e o lugar em que trabalhava também. Então, todos os dias ela remava de um lado para o outro. Precisava de 15 minutos e esse tempo servia de meditação, de relaxamento.

Agora mãe de duas crianças – uma de 4 e a outra de 2 anos –, precisou comprar um car-ro. Foi chocante, como ela mesma descreve, mas não havia jeito. Morar no Lago Norte, trabalhar na Esplanada dos Ministérios e ter duas filhas para levar à escola, tudo de bici-cleta, não é prático. Nem mesmo para Lia, tão dedicada à preservação ambiental.

Luana Lleras

Quando quer fazer compras, a bicicleta também não é mais viável. Ela tem uma famí-lia de quatro pessoas e precisa carregar muita coisa. Se precisa resolver alguma pendência em órgãos públicos também não pode ir de bicicleta. Geralmente eles não têm estacio-namentos próprios, apesar de existir uma lei distrital que os obriga a instalar bicicletário (Lei 4.800, de março de 2012). Só que uma volta pelo Setor de Autarquias Sul já denun-cia que a regra não é cumprida. Eles têm dois anos para se adaptar. Enquanto isso, se não há bicicletário, não há solução. O Departa-mento de Trânsito do DF não tem nenhuma orientação sobre onde o ciclista deve parar.

Quando chove, pior ainda. Como vai ficar o dia inteiro com a roupa molhada? Mesmo que tenha como se trocar, é um transtorno. Certa vez, foi impedida de entrar na garagem de um shopping por estar de bicicleta. Hoje, os shoppings já perceberam a falha e alguns oferecem estacionamento para os ciclistas. Eles pagam como motoristas.

“Os impedimentos são muitos, mas vale a pena tentar”, garante a publicitária. Hoje não pode levar a vida que tinha quando adolescen-te, mas o gosto pela bicicleta e a convicção de que é possível ter uma vida mais harmoniosa com a preservação do meio ambiente não a deixaram abandonar o hábito tão facilmente. Uma ou duas vezes na semana, Lia vai traba-lhar de bicicleta. A operação é trabalhosa, mas ela diz que parece mais complicada do que realmente é. Ela sai de casa de carro, com as duas crianças, o material da escola, uma mo-chila com roupa para trabalhar, água e, claro, a bicicleta no porta-malas. Deixa as meninas na escola e segue de carro até uma quadra da Asa Norte. Para o veículo, monta a bicicleta e segue para a Esplanada dos Ministérios. Ela demora cerca de 30 minutos e diz que esse se-ria o tempo que perderia se estivesse de car-ro. “O tempo que levo para chegar pedalando compensa o que perco procurando vaga para estacionar”, calcula. Na volta, a mesma coisa. Só não busca as crianças na escola. O marido dela faz isso mais cedo.

OndE vOu TOmAr BAnhO?Por estar ao ar livre, o ciclista tem con-

tato maior com a poluição liberada pelos veículos – além de toda a poeira da rua, do vento forte, do sol intenso, da chuva, do frio. Enfim, está sujeito a tudo. Chegar limpinho e cheiroso? Pode se esquecer disso. Porte-la, o garçom ciclista, usou, por quase uma década, o banheiro do shopping ao lado do prédio em que trabalha para tomar banho antes de iniciar o expediente. Tudo precisa ser bem planejado. No armário do trabalho, guarda os produtos de higiene e carrega a to-alha na mochila – acessório indispensável. Uma trabalheira! Para conseguir liberação, precisou conversar com o pessoal da admi-nistração do centro comercial. Não foi fácil. Neste ano, depois de muito insistir, Portela foi autorizado a tomar banho no edifício em que trabalha. Ele e mais uns três ou quatro têm o mesmo hábito. Mas nada de bagun-ça! Essa foi a exigência da administração. Cada um chega em um horário e toma o seu banho. Outro pré-requisito: precisa ser ho-mem. Não há espaço para as mulheres, pelo menos nesse prédio.

Ao me preparar psicologicamente para o desafio de pedalar pela cidade, o primei-ro problema que veio à minha cabeça foi o cansaço. O segundo foi justamente a higie-ne. Ter que carregar uma mochila cheia de roupas, acessórios para o banho, secador de cabelo e sapato não seria prático para mim. Onde eu trabalho não há chuveiro. Não por má vontade da empresa, mas por falta de infraestrutura mesmo. Nem no prédio que abriga a agência há chuveiro disponível. Tal-vez, se eu negociasse por nove anos, como fez Portela, eu conseguisse. Mas até lá che-garia ao trabalho suada e incomodada.

É aquela velha história do que deve vir primeiro: a consciência individual de ado-tar um meio de transporte alternativo ou a consciência coletiva de preparar os ambien-tes para incentivar as pessoas a adotarem hábitos mais saudáveis para elas, para a ci-dade e para o planeta?

Eliz P e s s o a

diz que isso não é problema. Para ela,

é fácil. Ela jura que não sua. Acorda e veste roupas confortáveis

para pedalar, chega ao trabalho um pouco antes e troca tudo. Como não transpira, não toma banho. “Não é qualquer empresa que tolera que o funcionário chegue com roupa esporte e use as dependências para se trocar, mas com jeitinho a gente acaba conseguindo a liberação.” Quando a entrevistei, em agos-to, tinha acabado de trocar de emprego e ainda não sabia se teria essa liberdade. Mas ela dá um jeito e insiste em usar a sua velha bicicleta para ir para lá e para cá.

E sE O PnEu FurAr?O hábito de Eliz começou por necessida-

de. Estudante e sem dinheiro, viu que seria viável fazer o trajeto de casa para a faculda-de de bicicleta. E ela gostou da experiência. “Via aqueles filmes europeus em que as pes-soas pedalam felizes e bucólicas pelas ruas e eu queria aquilo para mim também”, conta.

Além de ter condicionamento físico para aguentar 70 km diários, Afonso investe na segurança.

Leonardo Arruda

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Talvez por isso abomine uniformes de ci-clistas e grupos de pedal. Prefere ser livre e pedalar sem compromisso com nada, nem com ninguém. “Não sou ciclista, sou bici-clista”, define-se.

Hoje teria condições de utilizar outro meio de transporte, mas persiste. Para Eliz, pedalar é um prazer, apesar dos obstáculos. Se um pneu fura, por exemplo, é um proble-ma. Se de carro já é motivo de chateação, de atraso e de trabalho sujo, de bicicleta é pior. A primeira dificuldade é encontrar borra-cheiro por aí. Sempre tem um por perto, mas não um que conserte pneu de bicicleta. Se alguma peça se quebra no meio do caminho, também complica. Acaba que todo ciclista, ou biciclista, é um pouco mecânico.

A sorte de Eliz é se ela encontrar um co-lega do pedal como Portela, o garçom que

sai de Ceilândia todos os dias para trabalhar no Setor Ban-

cário Norte. Ele

costuma carregar ferramentas para ajudar os ciclistas com dificuldades. Só que ela tem uma vantagem: todo o seu percurso é dentro do Plano Piloto. Não enfrenta uma autoes-trada como Portela. Assim fica realmente mais fácil encontrar ajuda.

Ela não tem carro. Então, tudo é feito pe-dalando. Até as compras de casa. A mãe a acompanha. Cada uma na sua bicicleta. E as compras precisam ser picadas. Não dá para fazer o mercado do mês, por exemplo. Se se empolgarem, o peso fica insuportável e o que já não é prático fica ainda pior. “Já di-minuímos o volume porque ficávamos com muitas dores. Agora acertamos a quantida-de, eu acho”, diz. E como já escrevi, Eliz tem sorte. Ela mora em um lugar em que o acesso ao comércio é facilitado. Tem tudo por perto. Então não é um sacrifício tão grande assim, na avaliação dela. Mas eu acho que ir várias vezes ao mercado por não conseguir carregar todas as compras não é tão legal assim.

Eliz vai de bicicleta até para festas e sho-ws. Diz que não vai produzida porque pre-fere o conforto. “Às vezes até tenho vontade de me vestir de mulherzinha, colocar um vestido bonito, arrumar os cabelos, mas de bicicleta não dá.” Levar mochila para trocar de roupa no trabalho até vai, mas em uma festa fica difícil. O jeito é se conformar e se divertir conforme as possibilidades. Chegar perto do palco, no caso de shows, não dá. Ela não se sente segura em prender a bicicleta em um poste qualquer. Tem medo de que a levem embora. Então, fica pelos cantos, nas áreas mais vazias para não ter problemas. Se quiser ir a dois eventos em uma mesma noite, também não dá. Ainda mais se forem distantes um do outro.

Já voltou de festas de madrugada sozinha. O problema é a segurança. Na bicicleta, a pessoa fica mais vulnerável a tudo. Medo

ela não tem, mas procura não repetir os ca-minhos com frequência. Às vezes percorre distâncias mais longas, mas prefere assim. “De qualquer forma, nunca fui abordada por ninguém. Quando estou em movimento, me sinto segura.”

uniFOrmE PrA Quê? Como trabalha com produção de even-

tos, Eliz precisa estar vestida com trajes so-ciais. Salto alto e tudo o mais. Claro que não vai pedalar assim. Coloca tudo na mochila e segue viagem. No trabalho, troca tudo. Levar vestido e sapato é fácil. Quero ver no dia em que estiver frio e precisar enfiar calça jeans, botas, casaco. Seria muito peso para carregar.

A socióloga Renata, por sua vez, prefere enfrentar o pedal com a roupa com que vai trabalhar. Renato Zerbinato também. Mas ele é homem e fica mais fácil. Como é asses-sor de uma deputada federal, às vezes preci-sa ir de terno. “Não troco nada, nem carrego nada, vou do jeito que estiver”, diz, despren-dido. A única adaptação é dobrar a perna da calça para não correr o risco de rasgá-la no pedal. Já perdeu algumas peças assim.

A publicitária Lia faz questão de pedalar com roupas de trabalho. Acredita que as-sim os motoristas terão mais consciência de que ela é uma pessoa comum, que vai trabalhar e que precisa de espaço na pista. “Tenho vontade de fazer uma placa dizendo que sou mãe e que preciso chegar em casa com segurança.”

Lia é veterana, mas Renata começou a pe-dalar no meio do ano. Antes, não sabia nem se conseguiria se equilibrar nas duas rodas. As-sim como eu. Comprou uma bicicleta dobrá-vel e do tamanho ideal para ela. Sorte a dela! E adaptou o novo veículo à sua personalidade. Enfeitada com flores, cesto de palha e adesi-vos do tipo “Um carro a menos na rua”, a bici-

Eliz faz tudo de bicicleta: Vai ao trabalho, ao mercado, a festas e a shows.

Leonardo Arruda

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cle-ta charmosa é reconhecida de longe. Nada de roupas com cores fluorescen-tes, capacete futurista e coletes refletores. Renata tem estilo. Ela vai de vestido!

Quando a vi pedalando assim, quase saí correndo, também de vestido, para alcan-çá-la. Queria perguntar para alguém como é ser ciclista e continuar se vestindo de for-ma feminina. Para ela, não tem problema. “Comprei um acessório em um site gringo que é basicamente um elástico que coloca-mos na coxa com uma presilha para segu-rar a saia; assim, fico protegida das rajadas

sEm FrEsCurA, ATé dAriAVendo as soluções e as justificativas dos

ciclistas com quem conversei, entendi que eleger a bicicleta como meio de trans-porte não é muito simples. Faz bem para o corpo, para a natureza e para a cidade, mas não faz bem para a minha praticida-de. Talvez, em uma cidade adaptada, com espaço para as bicicletas, para os carros e para os pedestres, com estacionamento e segurança para todos, com infraestrutura para receber quem optou por pedalar, eu pudesse abrir mão da comodidade do car-ro e das minhas frescuras para entrar para o grupo dos ciclistas.

De que adianta eu comprar uma bicicle-ta, se, quando chego ao trabalho, não te-nho estrutura para me apoiar? Não preciso nem chegar a tanto. Na minha experiência como ciclista, dei uma volta perto da mi-nha casa. Depois de uma hora pedalan-do, fiquei com fome e quis comer em um restaurante por perto. Quando cheguei, vi que não teria onde deixar a minha Caloi. A solução foi pedalar até a minha casa, pegar o carro e voltar ao restaurante. “Acredito que, se o governo investisse mais em es-tacionamento para bicicletas e menos em ciclovias, por exemplo, o estímulo seria bem maior”, avalia Renato Zerbinato. E eu concordo. Os 600 quilômetros de ci-clovias, ainda que ligadas, acredito eu, vão estimular a prática de atividade física. Não de locomoção por meio da bicicleta. ) )

Lia só comprou carro para dar conta da rotina com as duas filhas. Mesmo assim, não abandonou o hábito.

Leon

ard

o A

rru

da

d e v e n t o ” , explica. Aí, sim, já fi-quei mais feliz. No lugar do colete, ela usa uma faixa, como de miss, também re-fletora. Sobra charme, mas falta o capacete.

Depois que pedalo, meu cabelo está todo bagunçado e duro. Perguntei como Renata faz para manter o dela arrumado. Ela disse que al-gumas mulheres usam lenço para proteger os fios do vento e da poeira, mas ela prefere ape-nas prendê-los. Equipamento de segurança? Somente a faixa de miss para pedalar à noite.

quem te atura?É preciso exterminar aquela figura do artista

coitadinho que mendiga verbinhas ao Estado paternal

artIgo

Texto e fotomontagem TT CATALã[email protected]

cultura,

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Desprezada nos programas eleitorais, acessória por receber dotação orçamentária insignificante, sem foco quando confundida com arte. A cultura é muito falada e pouco efetiva

quando se trata de planos estruturais dos governos para mudar, profundamente, a sociedade. Ironicamente, “está na cultura” dos políticos entender que “artista” é um ser extraordinário. Eterno carente que precisa ser paparicado mais pelo ego do que ser atendido, coletivamente, por ativas políticas públicas. Velhos vícios impedem novos viços.

Vigora o toma lá dá cá nos projetos pessoais – sob excessiva ótica partidária e nenhuma estética autônoma –, a efeméride das celebridades pautadas por eventos gigantescos que funcionam como ralo de recursos e discutível retorno midiático. Dura enquanto duram os spots das coberturas. Morre no dia seguinte sem deixar raízes locais nem favorecer alimento para fortalecer o processo vivo.

No poder, os partidos alegam que “o buraco é mais embaixo” e, em nome de uma realidade difusa, mesquinha, limitada, leiloam a cultura como “coisa de sonhadores” sem assumir alguns passos históricos do próprio Estado (que entrou em recuo, tomara, transitório): a cultura aliada do desenvolvimento (não pragmático só fundado em obras físicas) em uma outra economia de criação e narrativas simbólicas com força estruturante para uma cidadania que reclama porque se reconhece – exatamente pelos valores culturais expressos.

Capacidade de expressão exige condições para se expressar. Linguagem resulta de misturas, circuitos livres, acesso aberto, invenção, experimento e trocas. “Expresso com o que tenho” é um grafite que fotografei no Recife, em 2004, e serviu de bandeira para os Pontos de Cultura do Brasil (sim, pois há Pontos de Cultura na Argentina, no Uruguai e na Colômbia pelo movimento Pueblo Hace Cultura). Expressar-se também exige espaço equipado e equipamentos mínimos para o básico do registro e da edição para daí chegarmos a canais de divulgação. Lembrei mais tarde que o grafite resumia um verso de Jorge Ben Jor na canção-manifesto Charles Jr. (o filho do Charles Anjo 45): “não importa o que eu tenho e sim o que eu posso fazer com que tenho”.

É preciso ir além de uma postura antichororô, da dependência mascarada por chavões do tipo “mais apoio para a arte”, onde está embutido, no fundo, “mais apoio para o MEU projeto”. Lutar por estrutura, fundos permanentes com diretrizes claras e editais realizados com a participação

da sociedade é se contrapor ao muro das lamentações (como governantes adoram classificar “reivindicações” de grupos). Exterminar o artista coitadinho que mendiga verbinhas ao Estado paternal na pieguice do atendimento pontual ou esporádico de um evento.

No plano local, o DF já deu passos estruturais e tem pedido respeito ao Fundo de Apoio à Cultura (não enfiem a faca no FAC), que cresceu e tomou rumos institucionais ao ser vinculado à Lei Orgânica, avançou em consolidação quando (após duas audiências públicas) criou princípios e conceitos de uso ao considerar e incluir a cultura popular e as práticas experimentais (a famosa vanguarda). O salto em política pública também avançou ao estar em consonância com as ousadias do MinC (que estiveram nos últimos dois anos interrompidas e até abortadas), mas que agora se reacende de esperança com a chegada de Marta Suplicy e a volta das políticas mais participativas geradas pela autonomia dos pontos e por novas tecnologias e compartilhamentos da cultura digital.

O plano federal promete retomar as bases do Plano Nacional de Cultura (hoje há um sistema que provoca extensões da cultura em redes municipais) e a volta de uma discussão urgente: as cartografias culturais das regiões, que resultem na grande cartografia do Brasil plural e mestiço para orientar políticas públicas. Isso precisa repercutir no DF como reconhecimento das forças atuantes (independentemente do Estado, o DF cria fortemente e resiste) e a criação de estrutura em bases de expressão além do Plano e a favor dos Pilotos.

Como dizem os Pontos de Cultura: “nós somos os autores das autoridades” ou “a gente muda quando a gente diz sim, eu sinto, eu sei, eu posso, eu faço, eu mudo” – “o Estado não impõe, o Estado dispõe”. É potencializar o que já existe para fortalecer o geral sem a perda do singular. E aí a cultura cai de boca na vida, mata outras fomes, vira gênero de primeira necessidade – fator de mudança, vetor de desenvolvimento, valor de sociedade!

É preciso ir além de uma postura antichororô, da dependência mascarada por chavões do tipo “mais apoio para a arte”, onde está embutido, no fundo, “mais apoio para o MEU projeto”.

Made in Asia

Sobre Brasília, Cingapura e Sucupira

A decisão de fazer o tal planejamento de 50 anos passa ao largo de qualquer traço democrático de participação, de consulta e mesmo de comunicação à população

Texto OrLAndO CAriELLO Ilustração mATEus zAnOn

oPINIão

[email protected] [email protected]

Em Brasília, a primavera traz as chuvas que encerram os longos meses de seca implacá-vel e revigoram o verde. Neste ano, o governo local tomou a si a missão de encorpar o já ba-tido e previsível presente da natureza e agraciar o Distrito Federal com uma surpresa, um mimo a seu ver irrecusável: um “plano estratégico” completo para os próximos cinquenta anos, comprado pessoalmente pelo governador Agnelo Quei-roz nas boutiques de novidades metodológicas do capitalismo emergente da Ásia, que ali-ás tem visitado assiduamente nos quase dois anos de gestão. Mais que um anúncio, a anun-ciação de tempos de desen-volvimento irrigados por uma enxurrada de investimentos

de grandes grupos econômicos internacionais carreados pela expertise (o termo da moda) dos especialistas da Jurong Con-sultants de Cingapura, em-presa contratada sem licitação por “módicos” 8,6 milhões de reais, com plenos poderes para dizer como deve ser Brasília e todo o DF daqui para a frente.

O arrebatamento do gover-nador e de alguns destemidos auxiliares pelo Plano Cinga-pura faz lembrar a obsessão do prefeito Odorico Paraguaçu pela construção e inauguração do cemitério da fictícia cidade de Sucupira, em O Bem-Ama-do, novela televisiva de Dias Gomes levada ao ar quarenta anos atrás. Como Odorico fez com seu cemitério, o governa-dor Agnelo parece ter trans-

formado o plano na razão de ser de seu governo, ainda que a população do Distrito Fe-deral esteja, neste momento, penando com a precariedade dos sistemas públicos de saú-de, de segurança, de educação, de transporte etc. No discurso sucupirano do governador, o plano será o rompimento com “um passado de atraso e obs-curantismo, para um projeto de longo prazo, sustentável e ao lado de parceiros com cre-dibilidade no mundo”, en-quanto as críticas de arquitetos e urbanistas, de jornalistas, de entidades profissionais ou de políticos (inclusive aliados do governo) são meras manifes-tações de “provincianismo”, “miopia”, “falta de informa-ção” e “fundamentalismo”1.

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Pode-se discutir tudo isso, a começar pela possibilidade do governo de Agnelo, com a composição política e os parceiros que tem, romper com o passado.

A “falta de informação” é de respon-sabilidade exclusiva do governo, já que a decisão de fazer o tal planejamento de 50 anos e contratar os consultores cingapu-renses passa ao largo de qualquer traço democrático de participação, de consulta e mesmo de comunicação à população – tudo indica ter sido tomada entre o gover-nador e seus círculos mais próximos, par-ticularmente os empresariais. O contrato da Jurong com a Terracap (por que com a imobiliária estatal?), sem assinaturas, só foi tornado público no portal do GDF na internet no dia 25 de outubro, um mês de-pois de aprovado no conselho de adminis-tração da empresa. O termo de referência, publicado no mesmo dia, mostra a empre-sa consultora estabelecendo os termos do contrato, e não uma definição, pelo gover-no local, do trabalho a ser feito; a tradução juramentada desse termo tem data de 23 de outubro, portanto, vinte dias depois da data de assinatura do contrato. Ao contrá-rio do que diz o governador em sua acusa-ção de “miopia”, as críticas em geral es-tão vendo longe, enxergando até mesmo o deslumbramento provinciano que parece ter tomado conta do governo.

O “fundamentalismo” apontado pelo governador está, na verdade, no sentido neoliberal de sua proposta de desenvolvi-mento da cidade, que submete rigidamen-te os interesses da maioria da população aos interesses empresariais. Gerou-se, ao redor do mundo, uma rede de consultores especializados no chamado “planejamen-to estratégico urbano”, modelo de inter-venção que se traduz na aplicação de mé-todos empresariais de planejamento, de gestão e de marketing às cidades, tratadas como organizações econômicas privadas e como mercadorias. O “modelo cingapu-riano” é apenas uma variante dessa rede

comandada pelo capital internacional, as-sim como os “consultores catalães”, estes ancorados na venda do modelo da revitali-zação de Barcelona. No Rio de Janeiro, em 1993, um acordo formal entre a prefeitura de Cesar Maia, a Associação Comercial e a Federação das Indústrias deu origem ao Plano Estratégico da Cidade, que viria a ser financiado e conduzido diretamente por um consórcio de 46 empresas e associa-ções empresariais. O plano carioca produ-ziu pérolas como considerar as favelas um “incômodo” na cidade projetada para o lu-cro, e não o resultado de uma imensa desi-gualdade social, esta sim, indesejável2.

Os especialistas desse “planejamen-to estratégico” seguem a mesma proposta global de cidades ditas “competitivas”, francamente regidas pelos interesses do grande capital (os “investidores”, imobi-liários ou não). Seus planos requerem a adesão consensual da população para seu completo sucesso, como se não houvesse desigualdades, exploradores e explorados, classes e interesses de classes contradi-tórios na cidade capitalista. São cidades para o capital e seus negócios, não para os habitantes. O que se vê no discurso oficial em Brasília e na tentativa de supressão da crítica é a imposição desse falso consenso em torno do modelo cingapuriano, a apre-sentação da Jurong como portadora da so-lução única para o futuro do DF.

O “fundamentalismo” neoliberal, o “pro-vincianismo” e a “miopia” (ou hipermetro-pia, quem sabe?) de Agnelo estão fazendo o Palácio do Buriti assemelhar-se à prefeitura de Sucupira, e esse definitivamente não é o melhor destino para Brasília, nem para o governador. Ainda que pelo menos Sucupira seja uma coisa brasileira. ) )

1Entrevista a Ana Maria Campos, no Correio Braziliense de 21 de outubro de 2012.

2 Ver ARANTES, Otília, VAINER, Carlos e MARICATO, Ermínia. A cidade do pensamento único:

desmanchando consensos. Petrópolis (RJ): Vozes, 2000. brasileira.

A casa vermelhaQuanto mais a observamos, mais ela cresce. Lá dentro, tudo parece imprescindível

artIgo

Texto JOãO rAFAEL TOrrEs Foto LuAnA [email protected] [email protected]

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Dentro de nós existe uma rua. Nela, nada lembra conjuntos habitacionais, planos urbanísticos ou qualquer coisa que os valha. Cada casa é de um jeito, moldada a partir das

necessidades e condições de cada morador. Tem casa de fachada monumental, ostensiva. Tem taperinha, onde vive a espontaneidade. O sobrado alto é usado como torre de controle. Na casa grande, as portas estão sempre abertas para acolher os amigos. A rua é grande, sinuosa, tão populosa quanto é a nossa alma. Logo na entrada, temos uma casa vermelha. Resplandece, como os ipês no auge da seca. Essa é a casa do desejo.

Lá dentro, tudo parece imprescindível. Há sempre uma parede lisa, pedindo um quadro; um cômodo vazio, que exige mobília. A demanda é a lei nesse lar. Nem tudo que se deseja é necessário, é verdade. Mas a falta consome, mobiliza, inquieta. Até quando tudo parece preenchido, vem um estranho desejo de desejar. Quanto mais observamos a casa vermelha, mais ela cresce. Invade, empurra as demais, tomando-lhes o lugar para existir.

A sensação de falta é condição natural ao homem. Marcamos nossa progressão a partir daquilo que adquirimos, do que conseguimos suprir – seja na dimensão material, psíquica, social ou espiritual. O contentamento, entretanto, não chega. O desejo está associado a nossa capacidade de reflexão sobre a própria vida. Estabelecemos, com ele, parâmetros de uma suposta felicidade, que virá a partir de diversos fatores. Queremos ser bem-sucedidos, ou seja, atestar que conseguimos suprir faltas: relacionamentos, estabilidade profissional, conta bancária, saúde, autoimagem... uma lista composta por um sem-número de fatores.

A base de diversas filosofias orientais é uma máxima: a insaciedade é a porta para que adentremos o sofrimento. Uma vez dentro da casa vermelha, o exercício de percorrê-la se transforma num martírio. Surge sempre um novo aspecto a ser explorado. Ela é sedutora demais para ser abandonada. O mundo nos diz que é nela que reside a felicidade. Demoramos, inclusive, a perceber o dano que ela nos gera, até que nos decidamos por abandoná-la. Mas, mesmo de fora, ela permanece convidativa, provocante. Impossível encará-la sem que afetos sejam mobilizados.

A falta de algo, ou a incapacidade circunstancial para adquiri-lo, desperta em nós um sentimento distorcido de impotência. Mas, afinal, a impotência é o antônimo de potência ou de prepotência? Seríamos mesmo capazes de conquistar tudo que está na casa dos desejos? Um dos

desafios da existência é aprender a distinguir a necessidade da vontade e do desejo. Ou seja, separar aquilo que é verdadeiramente imprescindível para que prossigamos. E elencar as motivações que nos fazem buscar isto ou aquilo. Em geral, a aura de realização que cremos encontrar naquilo que buscamos não se encerra em si: queremos um bom emprego para suplementar um déficit relacional, cremos que um bom casamento repararia as feridas da família de origem, um corpo atraente para disfarçar a baixa autoestima... Ou seja, o desejo deturpa as necessidades reais – age nocivamente, como paliativos que levam a crer que a doença foi curada.

Em suma, verdadeiramente necessitamos de muito pouco para viver – isto é, quando comparado com tudo aquilo que supomos ser primordial, mas que, após cinco minutos de observação mais apurada, percebemos que pode esperar. Sim, na maioria das vezes, adiamos os desejos, como quem não quer ficar órfão deles. Tolice. Desejos são tão profusos como a nossa vontade de sobreviver.

A depressão, apontada como doença do século, pode ser classificada como uma patologia do desejo: da ausência dele, para ser mais preciso. Parece incongruente num primeiro olhar. A questão é que a ausência de desejo não é sinônimo de saciedade. A depressão vem como um vazio, uma dissociação do sentido existencial. Nesse quadro, o desejo se faz necessário como instrumento de cura. Mas não os desejos vazios, que nada traduziam da alma – afinal, é geralmente isso que desperta a doença.

A “boa falta” é aquela que nos leva a compreender que lidamos com um cronômetro em contagem regressiva, escondido na casa escura da incerteza – nunca sabemos quanto tempo nos resta, mas não conseguimos ignorar que ele continua gotejando a vida que se esvai. Para alguns, tal imagem nutre apenas uma angústia. Em outros, propicia o resultado: querem buscar um legado, uma afirmação do que foram enquanto indivíduos, únicos, exclusivos. Geralmente, esses últimos têm como resultado a dita felicidade. Não aquela lida nos parâmetros estatísticos, e sim a que se mede a partir da realização pessoal. Esse é o desejo bem-vindo, que gera bons frutos.

A questão é que a ausência de desejo não é sinônimo de saciedade. A depressão vem como um vazio, uma dissociação do sentido existencial.

Resquício

Éle e ponto Vida inteira que poderia ter sido

Texto mAriAnA viEirA Ilustração André zOTTiCh

CoNto

[email protected] [email protected]

A nossa cidade não abriga barraquinhas de flores; mal se veem vendedores de rosas com suas cestas por aí. Que pena, na nossa cidade flores são para oca-siões muito especiais, quando se dispensam muitos cruzeiros. É preciso pedir pelo telefone e pagar no banco as flores burocráticas, decorativas, estéreis. Quando muito, se encomendam flores para os mortos, na loja na beira do cemitério.

As flores dos canteiros centrais são servidoras públicas, cheias de leis que as protegem contra as minhas boas intenções de te pre-sentear.

Mas não seja por isso. Já é quase setembro e eu te ofereço a vista coalhada de flores do hori-

zonte plano da nossa cidade. Te ofereço as cores amarela e rosa, te ofereço o branco límpido, seu preferido, dos ipês. Eu sei, de-moraram esses quase nove meses para desabrochar e não duram mais que alguns dias. Bonita, a gente tem que aproveitar o tempo que tem, mesmo que seja o tempo dos ipês, porque não para de jeito nenhum, só com foto. Eu te ofe-reço este instante congelado, as nossas flores no seu caminho.

Para sempre e além,L. Iara dobrou o papel já mar-

cado nas mesmas dobras, colocou-o de volta no envelo-pe pardo, junto da fotografia. Margens brancas, papel foto-gráfico que um dia foi brilhan-

te cheio de digitais, evidências do manuseio excessivo. Nada ali era novo. Nem ela.

Deixou cair no colo os ócu-los, pendurados em volta do pescoço por uma cordinha de contas azuis. Passou a mão nos cabelos esfarelados pelo tem-po, chamuscados de branco por todos os lados. Entendia afinal a metáfora fácil do pas-sar de primaveras. Havia che-gado finalmente ao inverno da própria existência, e estava cansada. Ao passo que os ipês da foto – dois amarelos fron-dosos, um rosa discreto e um branco mirrado de nada – per-maneceriam incansáveis, nes-sa primavera louca de Brasília, para sempre e além.

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Respirou fundo, a dor no peito cinti-lando. Alcançou o copo d’água na mesa. Tomou um gole, fazendo careta. Nessa idade, pensou Iara, era mais fácil virar uma garrafa de vinho do que beber água no conta-gotas. Não podia beber, de qual-quer forma. Ainda que pudesse, não tinha com quem brindar. As taças haviam todas se partido, há anos usava copos de requei-jão. L. nunca aprovaria. Fazia muito gosto de uma louça bonita. Não tinha dinheiro depois de romper com a família, mas con-servou até o fim o bom gosto típico dos bem-nascidos. Era simples, elegante e linda, tão linda.

L. era firme e suave, seguiu com a cabe-ça erguida. Tinha orgulho de ser quem era mesmo naquela época, em que a vergonha era a única reação e o disfarce, o melhor caminho.

Mais um forçoso copo d’água, outro es-tralo no peito. Era bobagem, sabia, des-culpa de covarde. Ela recolocou os óculos, guardou o envelope pardo no paletó, pe-gou a bolsa, as chaves.

Deu uma olhada no cômodo antes de trancar a porta: o quarto e sala na Asa Norte era pura fuligem. Já desistira de lutar con-tra a época de seca, as chuvas de outubro que dessem conta da faxina necessária.

***Pegou o carro e dirigiu pelo Eixão até

a altura da sete sul. Encostou no retorno. Pegou um saco plástico de supermerca-do no porta-luvas e desceu. Dali a pouco estava de volta. Dirigiu até o final da Asa Sul, pegou a saída para o Setor Hospitalar, estacionou.

Na entrada do Campo da Esperança, dois homens de macacão cinza e boné azul-ma-rinho fumavam encostados no muro. Iara passou por eles e seguiu cortando caminho pela grama, passando por seções e números, alas e letras. Os mortos de Brasília estão até mais bem-ordenados que os vivos, com seus condomínios irregulares, pensou. Estava

próxima agora, a mão que segurava a sacola plástica suando, gélida.

Parada em frente ao túmulo de L., a se-nhora relembrou a última conversa delas, ao telefone, ela embargada pelo misto de saudade, prepotência, carinho, vergonha. L. calma, fazendo piada mesmo com a voz e tudo o mais debilitados pela doença. Não aceitou desculpas e perdões, disse apenas “bonita, eu entendo, você fez o que podia na época, fez tudo que conseguiu, eu só acho ruim que você não tenha conseguido ficar mais perto, vê se não me esquece de uma vez, tá bom?”

Depois de dois meses estava morta, mais ou menos na época em que faleceu também o marido de Iara. Foi uma infeliz coincidên-cia, mas muito conveniente: pôde chorar por ela todas as lágrimas que pensavam que era por ele. O disfarce perfeito até o fim. Havia sido tão ingênua.

Afastou as folhas secas que teimavam em volta do nome de L. Tirou os galhos de ipê carregados de flores da sacola, dispondo-os ao redor do túmulo delicadamente. Para se confortar, gostava de fingir que tinha nas-cido no tempo errado, quando ainda era feio ser o que ela era. Hoje sabia que feio foi ter se jogado num casamento mentiroso. Ter vivido longe da cidade que tanto amava por tanto tempo, só para fugir. Feio foi ter se embriagado copiosamente todas as noi-tes durante quarenta anos para que fosse menos repugnante se deitar com o marido. Feio foi ter condenado à morte um inocente: o filhinho que não nasceu, porque quando engravidou já não conseguia parar de beber.

Ali, naquele fim de tarde no cemitério, Iara chorou as lágrimas já tão velhas e cho-cas como aquelas lembranças, seu próprio rio de mágoas. Ajoelhou-se, beijou a lápi-de e murmurou: “me perdoa, me perdoa, me perdoa”.

Foi apenas na manhã seguinte que os funcionários do cemitério a encontraram lá, estirada de bruços e rodeada de flores de ipê. Reunida. ) )

Sob o risco da overdose sonora Pesquisa mostra que jovens de Brasília colocam audição em risco e podem chegar à velhice pedindo bis a tudo que ouvirem

artIgo

Texto KáTiA mArsiCAnO Foto LuAnA [email protected] [email protected]

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O olhar perdido, absorto em algo que só ele sabe o que é. No ônibus apertado, gente tentando passar se espreme entre mochilas e bolsas avantajadas. O garoto de uniforme parece

estar ali apenas fisicamente. A cabeça está longe. Passo bem atrás dele rumo à saída e entendo, então, o motivo da aparente letargia. Dois fones de ouvido despejam em seus pavilhões auditivos um monocórdico batidão a pleno volume. Penso: “Será que ele ainda tem tímpanos?”

Olho para os lados e vejo uma moça sentada com a cabeça encostada na janela, também com seus fones no ouvido. O rapaz de cabelo espetado está na mesma situação. À direita, duas jovens compartilham as “pernas” do mesmo acessório. Até o cobrador, que batuca os dedinhos no ritmo da sua trilha sonora particular, está “ligado”. Para eles – deduzi – melhor trocar o som do trânsito por funk, rock, sertanejo, samba, ou seja lá o que for para se distrair e começar melhor o dia.

Cenas comuns como essa parecem não exigir reflexões, mas não pude deixar de prestar mais atenção e concluí que, em Brasília, o hábito de ouvir música com fones é muito mais comum do que pensava. Para explicar o fenômeno, imaginei dezenas de possibilidades: a evolução da tecnologia, a melhoria do poder aquisitivo, a tendência à alienação no mundo moderno, a timidez do brasiliense que prefere não conversar ou simplesmente o prazer de ouvir música. Sei lá.

O fato é que o assunto chegou à academia. Foi o que me contou o doutor em Física Sérgio Garavelli, da Universidade Católica de Brasília, autor de pesquisa que busca os efeitos do uso excessivo do pequeno e recorrente objeto auricular. O resultado foi de estarrecer. O que parece apenas mania, modismo de adolescentes, é, sim, problema de saúde pública. Pais, professores e, claro, as próprias pessoas que adotaram o hábito precisam ficar atentos às consequências.

Duzentos jovens de Brasília, de 11 a 25 anos, responderam a um questionário que procurou identificar, entre outras coisas, o tempo de exposição diária ao som dos fones de ouvido e a partir daí avaliar o grau de risco de perdas auditivas. Meninos e meninas em proporções semelhantes foram entrevistados – 61% na faixa de 16 a 20 anos. A maioria (42% e 41%, respectivamente) alunos dos ensinos médio e superior, que declararam, em 51% dos casos, usar o celular para ouvir música. E isso nunca por tempo inferior a uma hora por dia. Durante pelo menos três horas permanecem conectados.

Quer mais? Disseram que é um hábito que mantêm há no mínimo três anos, em todos os lugares. Em casa (57%), no trajeto para a escola ou para o shopping (48%) e na sala de aula (43%) não abrem mão dele. Agora, se segure: o menino que encontrei no ônibus quase arrebentando os tímpanos não é exceção. Mais da metade (55%) admitiu usar o volume em nível igual ou mais alto (35%) ao que foi medido no momento da pesquisa. Gostam mesmo é de “som na caixa”, ou melhor, nos tímpanos. E a situação é ainda mais grave se o ruído do ambiente também for alto. Quanto mais barulho, mais o usuário aumenta o volume.

Minha sobrinha Julyanna, que não fez parte da pesquisa, é mais uma evidência dessa realidade. Depois de ter passado pelo celular e por toda a família MP3, 4 e 5, hoje usa o iPod Touch para ouvir as 700 músicas que baixou da internet. No auge da adolescência, diz que o vício é, na verdade, “alimento para a alma”. “Fico agoniada quando acaba a bateria ou quando a professora tira ele de mim na sala de aula”, me contou. De Chico Buarque e Capital Inicial a Tears for Fears, Adele e Light House Family, o ecletismo musical a acompanha mais de oito horas por dia.

Para o pesquisador, é preocupante. A facilidade de acesso aos equipamentos – que podem custar R$ 40 na Feira dos Importados ou R$ 700 a prazo, no shopping – garante a popularização do hábito. Para ele, o que falta é cada um assumir o seu papel na história, que nada tem de inofensiva: os fabricantes devem ser obrigados a seguir padrões rígidos de qualidade, assim como as escolas e os pais precisam se engajar em campanhas de esclarecimento sobre os riscos do uso prolongado e desmedido dos fones. “É um problema relativamente novo, que ainda não tem merecido atenção.”

Para resumir: 64% dos entrevistados estão em risco de perda auditiva. Com base nos padrões internacionais estabelecidos pela Comunidade Europeia, o limite de exposição diária prescrito é de 80 decibéis, no máximo oito horas por dia, cinco dias na semana. E não importa se está rolando um batidão trance ou um baladão sertanejo. Nesse caso, as buzinas no trânsito e a britadeira no asfalto têm o mesmo efeito de uma overdose de som todo santo dia diretamente dentro do ouvido.

Garavelli adverte que isso não quer dizer que no futuro as pessoas vão ficar surdas. O problema é que, se não “se ligarem”, quer dizer, se não desligarem seus aparelhos portáteis, podem chegar à idade adulta e à velhice pedindo bis para tudo o que ouvirem, em um mundo com mais silêncio e menos música.

Eleições municipais nãomudam o quadro políticoA vitória do PT nas eleições municipais foi clara, pelo nú-mero de votos, pelas prefeituras conquistadas e pelo re-sultado em São Paulo. E valorizada por ter ocorrido em meio à mais forte ofensiva já desferida contra o partido, da qual participaram intensamente órgãos da chamada gran-de imprensa, ministros do Supremo Tribunal Federal, jornalistas tucanos e da direita, articulistas e entidades neoliberais, como o Instituto Millenium, ancoradouro do conservadorismo no Brasil. Além dos adversários políti-cos de sempre: PSDB, DEM, PPS.Mas a vitória do PT se dá também em um quadro complexo, que não pode ser avaliado simplesmente a partir dos resulta-dos obtidos pelos partidos. Primeiro, porque estes são hoje aglomerados sem ideologia e que pouco representam. Não é o partido que ganha a eleição, de modo geral é o candida-to eventualmente inscrito nesse partido, e que poderá sair a qualquer momento, ou, se eleito como oposição, logo depois aderir alegremente à situação. O eleito poderá estar com o PT em um dia, com o PSDB em outro, ou com um em uma cidade ou estado, com o outro na cidade ou estado vizinhos.

PT vs. PSDB A política brasileira após as eleições mu-nicipais continua a mesma, polariza-da entre o PT e o PSDB. O PT, que surgiu como partido de esquerda, caminhou para a centro-esquerda. O PSDB, que nasceu como centro-esquerda, é hoje de centro--direita. Os demais partidos gravitam em torno desses dois, podendo apoiar um ou outro. Quando até o esquerdista PSol tem apoio do DEM e do PSDB, como em Maca-pá, essa hipótese se comprova. O PMDB é o partido com maior inserção municipal, o que o ajuda a formar grandes bancadas no Congresso Nacional e assim estar sempre presente no governo – qualquer governo –, mas não tem um projeto autônomo. Nas

E o PSB correndo por foraO PT ganhou, mas o PSB é a grande estrela dessas eleições. Colocou-se entre os maiores e com um líder de peso, o governador Eduar-do Campos. O PT quer mantê-lo ao seu lado, mas em diversas cidades os socialistas estive-ram aliados ao PSDB, o que anima as especu-lações para 2014: de que lado estará Eduardo Campos? Deverá estar com Dilma, mas não se descarta estar com Aécio Neves. Ou estará com ele mesmo, candidatando-se a presidente e contando com ventos favoráveis ou uma der-rota eleitoral que pode ser uma vitória política, dando-lhe mais cacife para 2018. Lula tinha 44 anos quando se candidatou a presidente em 1989, e foi eleito com 57. Eduardo Campos terá 49 anos em 2014, e 53 em 2018.

eleições de 2014, tudo indica que estará com o PT, mas poderá estar com o PSDB. Depois das eleições estará seguramente com o vencedor. O PSD, que mostrou força nessas eleições, graças aos insatisfeitos com outros parti-dos que encontraram um porto seguro, li-vre da cassação pelo TSE, também não tem um projeto próprio para 2014. Estará de um lado ou de outro, como estarão PP, PR, PRTB, PTC e outros pês que só são rele-vantes por um ou outro líder estadual com mais peso, por alguns votos no Congresso que podem fazer diferença e pelo tempo de televisão. O PCdoB estará com o PT, como sempre esteve. O DEM com o PSDB, com quem está desde 1994.

CaIxa-PrEtapor mIguEL [email protected]

[email protected]

CHargEs Do goUgoN

artE, CUltUra E lazEr

História da argentina em quadrinHos

Pela primeira vez no Brasil, e exclusivamente em Brasília, a exposição

Nos tocó hacer reír traz uma seleção de quadrinhos emblemáticos

de 156 artistas da Argentina. Os trabalhos foram selecionados

para mostrar a história do país, atestando como os desenhos estão

relacionados com a política, a cultura e a economia argentinas. O

destaque na imagem é de Alejandro del Prado (1925–1963), o Calé.

Ele retratava em seus desenhos o cotidiano de pessoas humildes. Tem

também a criação de Quino, Mafalda, personagem que completou 48

anos em 2012. A mostra começa em 22 de novembro e ficará por três

meses no Espaço Cultural Renato Russo.

Cinema – lançamentos

5x pacificaçãoDireção: Cadu Barcellos, Luciano Vidigal, Rodrigo Felha e Wagner Novais. A história das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas favelas do Rio do ponto de vista dos que moram nas comunidades. Documentário. Classificação 10

anos. Kinoplex em 16 de novembro. 80 minutos.

amanhecer – Parte 2 Direção: Bill Condon. Depois do nascimento de Renesmee (Mackenzie Foy), filha de Bella (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson), os Cullen se unem a outros clãs de vampiros e lobisomens para proteger a criança dos Volturi, que mantêm a ordem no mundo dos vampiros, não deixando que os humanos saibam de sua existência. Drama. Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex

em 15 de novembro. 125 minutos.

argoDireção: Ben Affleck. Em 1979, o especialista em disfarces Tony Mendez (Ben Affleck) é

recrutado pela CIA para resgatar seis norte-americanos, refugiados na casa do embaixador canadense em Teerã. Mendez cria um falso filme para tentar tirá-los do país. Com Bryan Cranston, John Goodman, Taylor Schilling, Kyle Chandler, Alan Arkin, Tate Donovan, Clea DuVall, Adrienne Barbeau, Rory Cochrane, Kerry Bishé e Richard Kind. Drama. Classificação

14 anos. Kinoplex em 9 de novembro. 120 minutos.

as palavrasDireção: Brian Klugman e Lee Sternthal. Rory Jansen (Bradley Cooper) é um escritor no auge da carreira. Mas não escreveu o livro que o levou ao sucesso. Perceberá que o reconhecimento à custa dos outros tem preço. No elenco, Zoe Saldana, Olivia Wilde, Ben Barnes, Jeremy Irons, Dennis Quaid, J.K. Simmon, John Hannah. Drama. Verifique a classificação. Cinemark

em 23 de novembro. 96 minutos.

Celeste e Jesse para sempreDireção: Lee Toland Krieger. Celeste (Rashida Jones) e Jesse (Andy Samberg) se conheceram no colégio e casaram-se jovens. Aos 30 anos se

divorciam, mas não estão prontos para deixar um ao outro: ainda moram juntos, têm os mesmos amigos e não se envolvem em outros relacionamentos. É quando Jesse diz que terá um filho com outra que Celeste sai em busca de um parceiro. Comédia. Classificação 12 anos.

Cinemark em 16 de novembro. 89 minutos.

Curvas da vidaDireção: Robert Lorenz. Gus Lobel (Clint Eastwood), veterano olheiro do baseball, descobre que está perdendo a visão. Embarca em uma última viagem com sua filha (Amy Adams) para analisar um jogador promissor. Forçados a passar mais tempo juntos pela primeira vez em anos, fazem descobertas que podem mudar o futuro. Justin Timberlake interpreta um ex-arremessador que se apaixona pela filha de Gus. Drama. Classificação

12 anos. Kinoplex em 23 de novembro. 111 minutos.

DisparosDireção: Juliana Reis. O fotógrafo Henrique (Gustavo Machado) é assaltado por um motoqueiro, que depois é atropelado por um

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carro não identificado. Após recuperar sua câmera, percebe que precisa voltar ao local para encontrar o cartão de memória e acaba acusado de omissão de socorro. Tentando provar sua inocência para o delegado (Caco Ciocler), começa a questionar sua responsabilidade diante dos fatos. Ação. Classificação 14 anos.

Cinemark em 9 de novembro. 82 minutos.

entre o amor e a paixãoDireção: Sarah Polley. Quando Margo (Michelle Williams) encontra Daniel (Luke Kirby), a química é perfeita. Porém, a jovem não pode assumir sua paixão: está casada com o renomado escritor Lou Rubin (Seth Rogen). Quando Margo descobre que sua nova paixão

A origem dos guardiões Direção: Peter Ramsey. A animação é baseada na série de livros The Guardians of Childhood, de William Joyce. Papai Noel (Alec Baldwin) e o Coelho da Páscoa (Hugh Jackman) se unem a outros seres folclóricos, como Jack Frost (Chris Pine) e a Fada do Dente (Isla Fisher), para combater o Bicho-Papão (Jude Law). Animação. Classificação livre. Cinemark e Kinoplex em 30 de novembro. 93

minutos.

vive do outro lado da rua, seu casamento é seriamente abalado. Romance. Classificação 14

anos. Kinoplex em 9 de novembro. 116 minutos.

HisteriaDireção: Tanya Wexler. Baseado em fatos. No século 19, a histeria era diagnosticada como doença exclusivamente feminina. Dois médicos ingleses, acreditando que a origem do problema se encontrava no útero, começam a procurar a cura. Robert Dalrymple (Jonathan Pryce) e Mortimer Granville (Hugh Dancy) acabam inventando o vibrador. Comédia.

Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 9

de novembro. 100 minutos.

Cinema

Luiz Gonzaga foi um dos maiores mi-

tos pop da música brasileira. Sem sua

invenção do Nordeste mítico, marcado

pela seca e pela miséria, imortalizado em

hinos como Asa branca e Assum preto,

provavelmente artistas como Caetano Ve-

loso, Gilberto Gil, Dominguinhos e tantos

outros não seriam o que são hoje.

Dirigido por Breno Silveira, o mesmo

cineasta que contou com delicadeza e

sinceridade a história da dupla Zezé Di

Camargo e Luciano, no sucesso Dois filhos

de Francisco, o drama Gonzaga: De pai

pra filho narra a trajetória do Rei do Baião

a partir de sua conturbada e shakespearia-

na relação com o filho Gonzaguinha.

“É um filme brasileiro universal, que tem

a família como tema central, a relação

que se estabelece entre pai e filho”, conta

o músico Chambinho do Acordeon, que

vive Gonzaga no auge da fama. “Minha

família é de sanfoneiros, ainda não estou

acreditando que faço o papel do meu

ídolo no cinema”, diz, emocionado. É a

história de dois ícones da nossa música,

desnudada de toda a pompa do sucesso e

da fama. Mais uma vez o diretor mos-

trou sensibilidade de sobra ao apostar na

humanização de seus personagens e nos

brinda com uma linda trama carregada de

amor, culpa e perdão.

O grande mérito está no roteiro bem

amarrado de Patrícia Andrade, mas não

há como não prestar atenção na belíssima

reconstituição de época e no cuidado

desmedido com a produção da fita em

todos os detalhes. Difícil conter lágrimas e

a vontade de sair dançando por aí ao fim

da sessão.

Lúcio FlávioJornalista especializado em cultura

Dre

amW

orks

na terra de amor e ódioDireção: Angelina Jolie. Uma mulher muçulmana (Zana Marjanovic) apaixona-se por um militar sérvio (Goran Kostic) dias antes do início da guerra da Bósnia e, durante o conflito, a relação fica profundamente afetada. Drama. Verifique a classificação. Kinoplex

em 23 de novembro. 127 minutos.

os penetrasDireção: Andrucha Waddington. Marco (Marcelo Adnet) e Beto (Eduardo Sterblitch) são opostos e acabam se juntando por acaso para festejar o fim de ano. Marco é bem-humorado, farrista, sedutor e aproveitador. Beto é tímido, inseguro e chato. A dupla passa por uma maratona de festas e aventuras no intuito de encontrar

o amor da vida de Beto. Mariana Ximenes, Andrea Beltrão e Susana Vieira também estão no elenco. Comédia. Classificação 12 anos.

Kinoplex em 30 de novembro. 121 minutos.

Quatro amigas e um casamentoDireção: Lesley Headland. Reagan (Kirsten Dunst), Katie (Isla Fisher) e Gena (Lizzy Ca-plan) ficam surpresas ao saber que Becky (Rebel Wilson), sua amiga gordinha da época do colégio, vai se casar. No fundo, Reagan se ressente de que alguém esteja se casando antes dela. Como serão madrinhas, decidem curtir uma arrasadora despedida de solteira. Comédia.

Classificação 14 anos. Cinemark e Kinoplex em 30 de

novembro. 101 minutos.

www.cinemark.com.br

www.kinoplex.com.br

Não informaram a programação a tempo:

www.itaucinemas.com.br

www.cinecultura.com.br

Cinema – outros

1º Curta Brasília Com 30 filmes, o festival será dividido em duas categorias de competição: Mostra Curta Brasília e Mostra Curta Brasil. E ainda contará com oficinas e debates. 29 de novembro a 2 de

dezembro, no Teatro Nacional. Classificação e a

programação em www.curtabrasilia.com.br.

Festival de Cinema PolonêsSão sete obras feitas de 2008 a 2011. O objetivo é revelar a diversidade e a qualidade do cinema polonês contemporâneo. As produções percorrem diferentes gêneros e assuntos. Até 11 de novembro, no Centro Cultural

Banco do Brasil. Classificação e programação em

www.bb.com.br/cultura.

Werner Herzog: sou o que são meus filmesExibe 27 trabalhos documentais do diretor, produtor, roteirista e ator alemão. Conta com documentários produzidos de 1965 a 2010 e inclui Hércules, seu trabalho de estreia. 20 de

novembro a 9 de dezembro, no CCBB. Classificação e

programação em www.bb.com.br/cultura.

músiCa

Bobines melodiesO show apresenta curtas de animação do estúdio Folimage com música ao vivo do trio L’effet Vapeur: Alfred Spirli (bateria e objetos, como canos e brinquedos), Xavier Garcia (sintetizador) e o Jean-Paul Autin (saxofone, clarineta e outros). 16 de novembro,

21h, no CCBB. Ingresso (inteira): R$ 6. Classificação

livre. Telefone: 3108-7600.

artE, CUltUra E lazErartE, CUltUra E lazEr

Marisa MonteA nova turnê, a primeira depois de cinco anos, tem como base as músicas de seu disco mais recente, O que você quer saber de verdade. O CD é o oitavo da sua carreira e foi lançado em 2011. 17

e 18 de novembro, sábado, às 21h30; domingo, às 19h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos

(inteira): Superior R$ 240; Setor B R$ 300; Setor A R$ 400; Gold Lateral R$ 400; VIP Gold R$ 500. Classificação

14 anos. Telefone: 3364-0000.

Leon

ard

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Charlie Brown Jr.A banda apresenta em Brasília o CD Música popular caiçara, que reúne canções selecionadas do repertório dos dez discos lançados nos 15 anos de carreira. O álbum marca também a fase em que a banda liderada pelo vocalista Chorão volta com a formação original. 30 de novembro, às 22h, na

AABB. Ingressos (inteira): Pista R$ 40; Área VIP R$

60. Classificação 16 anos. Telefone: 3342-2232.

David GuettaO DJ francês traz no repertório as músicas Titanium, Without you, Club can’t handle me, One love e Memories. Também farão apresentações os DJs Júnior C, André Pulse e Mário Fischetti. 14 de novembro, às 22h, no

estacionamento do Estádio Mané Garrincha.

Ingressos (inteira): Área Standard R$ 140; Área

Premium (open bar) Fem. R$ 320; Área Premium (open

bar) Masc. R$ 380. Classificação 16 anos (18 anos na

área open bar). Telefone: 8121-0800.

Gaby amarantosA cantora paraense se apresenta no mês de aniversário da boate. A rainha do tecnobrega traz mais uma vez a Brasília o show com as canções compostas por ela para o seu primeiro álbum solo, Treme. 10 de novembro,

às 22h30, na Victoria Haus. Ingresso (inteira): R$ 20.

Classificação 18 anos. Telefone: 9552-2891.

isso é jazz? O projeto traz quatro shows com formações distintas. No repertório, temas autorais e reinvenções de clássicos. 12 a 15 de novembro,

às 20h, na Caixa Cultural. Ingresso (inteira): R$ 20.

Classificação 14 anos. Telefone: 3206-9448. Mauro

Senise e quarteto: 12 de novembro | Victor Biblione

e trio: 13 de novembro | Aquarela Carioca e trio: 14

de novembro | André Mehmari e trio: 15 novembro.

mart’náliaA cantora e compositora traz o seu novo trabalho, o álbum Não tente compreender, de 2012, que vai além do samba. Ela apresenta composições de Nando Reis, Gilberto Gil e Caetano Veloso, além do seu repertório já conhecido do público. 26 e 27 de novembro,

às 20h, na Caixa Cultural. Ingresso (inteira): R$ 20.

Classificação 14 anos. Telefone: 3206-9448.

Perfis de GonzagaEm comemoração ao centenário do nascimento de Luiz Gonzaga, a Caixa Cultural convida o violeiro Xangai e o cantor Marcelo Jeneci. 10 e 11 de novembro, na Caixa

Cultural. Ingresso (inteira): R$ 20. Classificação 12

anos. Telefone: 3206-9448. Xangai: 10 de novembro,

às 20h | Marcelo Jeneci: 11 de novembro, às 19h.

toquinho e Paulo ricardoCanções de Vinicius de Moraes interpretadas por dois ícones de estilos distintos: Toquinho,

violonista, compositor e intérprete da bossa nova, e Paulo Ricardo, representante do rock, baixista e vocalista do RPM. 21 de novembro, às

21h, no Espaço Unique Palace – Setor de Clubes Sul.

Ingressos (inteira): Mesa Avulsa e Mesa Bronze (cada

cadeira) R$ 240; Mesa Prata (cada cadeira) R$ 300;

Mesa Ouro (cada cadeira) R$ 400. Classificação 16

anos. Telefone: 9252-0234.

exPosições

CarametadeImagine o homofóbico Jair Bolsonaro misturado ao falecido Clodovil Hernandes. O artista goianiense Roger Regner faz a fusão de rostos célebres e cria um terceiro personagem, com um novo nome. Os 28 rostos se fundem em 14 painéis, desenhados manualmente. Até

15 de dezembro, de segunda a domingo, das 8h às

21h, na UnB – ICC Norte. Entrada franca e livre.

Telefone: 8126-5265.

Carlinhos Brown o olhar que ouve Cinco telas de traços exuberantes e cinco instalações. Como na música, o movimento e a energia são as marcas de Brown. A exposição revela um lado do baiano pouco conhecido pelo público. Até 2 de dezembro, de

terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural.

Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

Construção e geometria O Museu de Arte de Brasília (MAB) está fechado há cinco anos por determinação do Ministério Público, devido à falta de condições de garantir a conservação e a segurança do seu acervo. Parte desse acervo está na exposição, com 40 obras. As gravuras são feitas de água-tinta e metal. Obras de 11 artistas. Até 2 de dezembro, sábados, domingos e

feriados, das 9h às 17h, na Câmara dos Deputados.

Entrada franca e livre. Telefone: 3216-0000.

em Brasília – a paisagem interior na obra de Concha Gómez-aceboReúne 28 pinturas da espanhola que retratam o cotidiano, as paisagens urbanas e a natureza de quatro estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso e Amazonas) e do DF. Em 7 de novembro, às 19h30, a exposição será guiada pela própria artista. Até 10 de janeiro, de segunda a sexta, das

11h às 21h, no Instituto Cervantes. Entrada franca e

livre. Telefone: 3242-0603.

lambe-sujos e caboclinhosO fotógrafo Márcio Garcez traz 40 imagens da tradicional festa que narra o combate teatral entre escravos e índios, na histórica cidade de Laranjeiras (SE). A encenação é uma representação da luta do negro escravo pela conquista da liberdade. Os caboclinhos, índios catequizados pelas missões jesuítas, participam como auxiliares de captura dos escravos fugitivos. Até 29 de novembro, de segunda

a sexta, das 9h às 17h, na Câmara dos Deputados.

Entrada franca e livre. Telefone: 3215-8080.

nos tocó hacer reírA Embaixada da Argentina traz a exposição, com quadrinhos de 156 artistas daquele país. Os desenhos representam a política, cultura e economia de cada época. 22 de novembro a 3

de fevereiro, de segunda a domingo, das 9h às 18h,

no Espaço Cultural Renato Russo. Entrada franca e

livre. Telefone: 3325-6101.

Pneumática Esculturas infláveis de papel de seda criadas pelo paraense Paulo Paes a partir do contato com mestres baloeiros do Rio de Janeiro. Com uma pesquisa de todo o universo dessa tradição, o artista fez um resgate de fundamentos tecnológicos e elementos visuais da arte dos balões para criar objetos de caráter efêmero. Até 25 de novembro, de

terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural.

Entrada franca e livre. Telefone: 3206-9448.

um Brasil encantadoEsculturas de Marcella Ferreira, inspiradas no folclore brasileiro. Mais de 30 peças em técnica mista, entre elas papietagem (a partir de tiras ou pedaços de papel colados em camadas sucessivas sobre algum tipo de molde ou estrutura), papel machê, colagem, desenho, pintura e bordado. São pequenas esculturas, móbiles, quadros e dioramas (caixas com cenas em três dimensões). Até 25 de novembro,

de segunda a sexta, das 9h às 18h, na Câmara dos

Deputados. Entrada franca e livre. Telefone: 3215-8092.

teatro

À mesaInspirado em O banquete, de Platão. Quatro personagens, quatro amores, quatro opiniões, quatro meios diferentes para um mesmo fim em uma disputa divertida. Direção de Bruno Mendonça. No elenco, Emerson Dourado, Guilherme Cascais, Luana Fonteles e Luciana Barreto. Até 2 de

dezembro, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h.

Entrada franca. Classificação 16 anos. Telefone:

9641-8783. Sesc Taguatinga: 8 a 11 de novembro

| Centro de Ensino Médio 4 (Centrão): 13 e 14 de

novembro | Auditório da Administração Regional

de Ceilândia: 17 e 18 de novembro | Teatro Sesc Gama:

20 e 21 de novembro | Sesc Setor Comercial Sul: 30 de

novembro a 2 de dezembro.

ausênciaA companhia franco-brasileira Dos à Deux traz o ator Luis Melo numa Nova York de 2036,

quando o planeta está na iminência de uma catástrofe com a colisão de um asteroide. Um monólogo que discute a condição humana, a solidão e o caos na sociedade. 30 de novembro a

16 de dezembro, sextas e sábados, às 20h; domingos,

às 19h, na Caixa Cultural. Ingresso (inteira): R$ 20.

Classificação 12 anos. Telefone: 3206-9448.

ensaio geralDireção de Hugo Rodas, com a companhia ATA. A peça musical é uma conotação poética ao engajamento social, com discursos a partir de textos adaptados pelos próprios integrantes do grupo: Discurso para a humanidade, de Charlie Chaplin; Por trás da vidraça, de Caio Fernando Abreu; Um convite ao voo, de Eduardo Galeano; O cantar dos cantares, retirado da Bíblia; Dona história, de Hilda Hilst; e Um amor, um lugar, canção de Herbert Vianna. Até 11 de novembro,

de quinta a domingo, às 20h, no Espaço Cultural

Contemporâneo (Ecco). Ingresso (inteira): R$ 20.

Classificação 16 anos. Telefone: 3327-2027.

mais que dilmaisMonólogo mineiro Gustavo Mendes. É uma compilação dos seus melhores textos de stand-up comedy, piadas e performances musicais. O público poderá ver Maria Bethânia cantando funk e Alcione, Roberto Carlos e Ana Carolina em situações engraçadas. Mas o principal momento é a imitação da presidente Dilma Rousseff. 24

e 25 de novembro, sábado, às 19h; domingo, às 20h,

no Teatro dos Bancários. Ingresso (inteira): R$ 60.

Classificação 14 anos. Telefone: 3262-9090.

mercedez com ZO espetáculo dos Melhores do Mundo traz Adriana Nunes e Similião Aurélio. A história de uma mulher que abre o coração para Wanderley Wanderson, locutor de um programa de rádio das madrugadas. 14 de novembro, às 21h, no Teatro

dos Bancários. Ingresso (inteira): R$ 50. Classificação

14 anos. Telefone: 3262-9090.

artE, CUltUra E lazEr

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não leve a sérioMaurício Meirelles, do CQC, da Band, traz o espetáculo no formato de stand-up. Não é recomendado para vizinhos que reclamam do barulho, ecochatos, apreciadores de pizza de rúcula e fãs de cinema iraniano. 25

de novembro, às 20h, no Teatro da Unip (913 Sul).

Ingresso (inteira): R$ 60. Classificação 14 anos.

Telefone: 2109-2122.

namíbia, não!Em 2016, o governo brasileiro editou uma medida provisória obrigando que todos os de “melanina acentuada” fossem cenviados imediatamente à África. Mas, para não incorrer

Rei DavidNos livros bíblicos e didáticos, o rei David, interpretado por Denis Camargo (foto) aparece como importante figura. Sucessor de Saul, ele teria completado a conquista da Palestina e transformado a cidade de Jerusalém na nova capital do reino. Mas, e se a história não tiver sido assim? E se David não tiver sido descendente de uma linhagem real, mas um mito construído, um herói fabricado pelo povo? O diretor Hugo Rodas e o dramaturgo Marcus Mota partem dessa premissa no espetáculo musical. 28 de novembro a

2 de dezembro, duas sessões por dia, às 19h e às 21h, no Anfiteatro 9 da UnB (Campus Darcy Ribeiro). Entrada

franca. Classificação 14 anos. Telefone: 9214-4861.

Cla

ra B

raga

no crime de invasão a domicílio, só podem ser capturados na rua. Assim, André (Aldri Anunciação) e Antônio (Flávio Bauraqui), passam o dia no apartamento, debatendo questões sociais e econômicas, anseios pessoais e as consequências de um iminente retorno à África. Dirigido por Lázaro Ramos. 16

a 25 de novembro, sextas e sábados, às 20h; domingos,

às 19h, na Caixa Cultural. Ingresso (inteira): R$ 20.

Classificação 14 anos. Telefone: 3206-9448.

o matadouroO diretor e dramaturgo Bruno Estrela criou um blog com espaço para declarações anônimas que resultaram na peça. Dentro de uma

casa condenada, nos arredores de Brasília, quatro mulheres se apegam a subterfúgios fantasiosos para escapar de sua realidade. A chegada de um homem misterioso vai jogar por terra as certezas alimentadas até então. Diante da proposta de um jogo psicológico perverso e libertador, os personagens vão retirando suas máscaras sociais. No elenco, Andrea Borba, Cristine Bombarda, Eliane Silvestre, Fernando Bressan, Gê Martú, Marizilda Dias Rosa, Renata Cardoso, Viviane Piccinin e Yeda Gabriel. Até 2 de dezembro,

sextas, sábados e domingos, às 21h, no Espaço

Cultural Brasília Shopping. Ingresso (inteira): R$

30. Classificação 14 anos. Telefone: 8170-8839.

outros

em cena no PlanaltoDurante seis meses serão apresentados espetáculos de dança, circo e artes populares. Ao todo, serão 20 peças, oito oficinas e palestras, dois festivais e uma audição musical. Foram selecionados espetáculos que se destacaram em diversas regiões do País. Até 7 de março de 2013, no Teatro

Funarte. Classificação, preço e programação em

www.funarte.gov.br. Peças para os adultos: A

vida impressa em xerox, 8 a 11 de novembro | teatro

Açúcar: 8 e 11 de novembro | Mulheres de Caio, 15 a 18

de novembro. Peça infantil: Alma de peixe, 10 e 11 de

novembro e 17 e 18 de novembro.

Kukli – theatral Circo da rússiaMais de 40 artistas da Rússia e convidados de circos europeus. Entre os números estão: Futebol Juggler (o malabarista equilibra-se em cima de uma bola gigante, enquanto tenta não derrubar as bolas em movimento com as mãos), Homem Mola (as pernas viram braços e vice-versa), Duo Arni (um casal mostra que para trocar de roupa é só um passe de mágica), Duet Konfuz (dupla de palhaços). 15 de novembro,

às 19h, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos (inteira):

Arquibancadas R$ 60; Cadeiras Coloridas R$ 120; Área

Ouro R$ 240; Área Diamante R$ 480. Classificação

livre. Telefone: 9135-4445.

O New Koto é um restaurante tradicional, comandado pelo sushiman Ryozo Komiya, de uma família do ramo de confeitaria em Tóquio, que trabalhou para pagar seu curso de gastronomia e conseguiu uma bolsa do governo francês para estudar naquele país. Cozinhou em restaurantes em Paris e em Genebra, na Suíça. Voltou para o Japão e depois veio para o Brasil. Trabalhou no Kosui, na Academia de Tênis, por sete anos. Depois, no Torre Palace, até abrir, em sociedade, o seu próprio restaurante.

Este restaurante japonês tem decoração sem graça, chegando a ser até um pouco cafona, com peças orientais nada originais, que parecem ter sido compradas na 25 de Março, em São Paulo, e ainda uma televisão com vídeos japoneses. Sua fachada bege com portas de blindex pretas é tão discreta que passa despercebida. Mas a falta de charme e a claridade excessiva são esquecidas assim que o garçom chega com toda a sua simpatia. Uma vez tive uma aula de saquê. O garçom me deu amostras para escolher qual mais me agradava. Tem do mais suave até o demi-sec. O Gyonmaikon é um suave, mas gostei mesmo foi do Karkuchi, bem seco.

A excelência é garantida com a compra de peixes diretamente no Nordeste. Na primeira vez que fui senti falta do rodízio. Lá não tem! Não há também aquelas inovações de sushis, como maçaricados, cream cheese e outras coisas mais. Só a tradicional comida japonesa, conservadora na “essência”, preservando a qualidade dos produtos e trazendo especiarias como ovas de ouriços e enguias.

De entrada pedi as vieiras. São cozidas na manteiga, temperadas com bastante alho e acompanhadas de mexilhões e shimeji, e ainda vêm com fogo aceso para manter a manteiga derretida e quente. Não tem igual. Há outras opções para começar, como shimeji puro e sunomono, tudo gostoso.

Pedi um combinado que dava gosto de ver. Os peixes superfrescos, com brilho e uma textura especial. O atum e a anchova negra estavam ótimos e as ovas deliciosas, as de salmão em especial.

É uma experiência fantástica para os amantes de comida japonesa. Costumo ir a alguns restaurantes do gênero em Brasília. Adoro, mas não matam a minha vontade. No New Koto isso não acontece. O único problema é a conta. Como é caro! Se fizer opções como yakissoba sai um pouco mais em conta, mas o difícil é resistir ao restante. Então, se estiver com vontade de comer uma verdadeira comida japonesa, vá ao New Koto.

i lustração Rômulo geraldino

CLS 212, bloco C, loja 20(61) 3349-9668

Terça a sábado: 12h–15h e 19h–23h Domingo: 19h –22h

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Quer ir a um japonês de verdade, sem rococó e firulas? Vá ao New Koto

baNqUEtEs E botECos } Por marCEla [email protected]

[email protected]

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O Governo do Distrito Federal está plantando mais de 1,6 milhão de mudas

de árvores para preservar o Cerrado. Participe. Mobilize-se. Semeie esta ideia.

Porque a sua qualidade de vida tambémdepende de uma Brasília mais arborizada.

Para conhecer mais sobre o projeto, acesse www.semarh.df.gov.br

Para Brasiliacolher maisqualidade de vida. Para Brasilia