revista medatual - 5ª edição

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PROFISSIONAL INTERCÂMBIO Estágios no exterior são tendência entre médicos brasileiros MULTIDISCIPLINAR PROFISSIONAIS DE DESTAQUE A experiência que mudou a vida do oncologista Luiz Paulo Kowalski e sua relação com os pacientes. A adoção de diferentes formas de aprendizado pelas universidades brasileiras. ESPECIAL A psicologia hospitalar como suporte ao tratamento médico.

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Revista MedAtual - 5ª edição

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Page 1: Revista MedAtual - 5ª edição

PROFISSIONALINTERCÂMBIO

Estágios no exterior são tendência entre médicos brasileiros

MULTIDISCIPLINAR

PROFISSIONAIS DE DESTAQUEA experiência que mudou a vida do

oncologista Luiz Paulo Kowalski e sua relação com os pacientes.

A adoção de diferentes formas de aprendizado pelas universidades

brasileiras.

ESPECIAL

A psicologia hospitalar como suporte ao tratamento médico.

Page 2: Revista MedAtual - 5ª edição

ÍndiceATUALIZAÇÕES PATOLÓGICAS

MEDICAMENTOS

EM DEBATE

ACONTECE

06

101215

Efeitos terapêuticos da alimentaçãocontra o câncer

Direto ao ponto

Pílula contra a AIDS

Profissionais da oncologia

ALERTA

18 Erros plásticos

RESOLUÇÕES

20Ministros autorizam interrupçãoda gravidez em casos de bebêsanencéfalos

MERCADO DE TRABALHO

22 Agulhas médicas

PROFISSIONAIS DE DESTAQUE

25 Luiz Paulo Kowalski

DIREITOS DO MÉDICO

29 Planos de previdência privada:um olhar médico

MULTIDISCIPLINAR

32 Psicologia no ambientehospitalar

Page 3: Revista MedAtual - 5ª edição

MATÉRIA DE CAPA

34 Intercâmbio Profissional

ESPECIAL

37 Medicina: PBL x ModeloTradicional

HOSPITAIS

40 Gestão inovadora nasaúde penitenciária

CURIOSIDADES

43 Quantos presidentes brasileiroseram médicos?

ÉTICA

46 Ditames de consciência

EM PAUTA

48 SAMU x PM x Bombeiros

PROCEDIMENTOS

50 Hipnose à luz da Psiquiatria

FATOS HISTÓRICOS

52 Breve histórico da ressurreiçãocardiopulmonar (RCP)

MEDICIN@

54 Caindo na rede

BEM ESTAR

56 Permanecer sentado pode sertão prejudicial quanto ficar muitotempo em pé

CULTURA

58 Profissionais da música

MATÉRIAS CURTAS

60 iPhone transformado em microscópio detecta infecções

VERDADES & MITOS

67 Verdades e mitos

Page 4: Revista MedAtual - 5ª edição

Diretores: Atílio Barbosa e Sandriani CalderiaProdução Editorial: Fátima Rodrigues MoraisConselho Editorial: Dr Eduardo Bertolli – espe-cialista em Cirurgia Geral pela PUC-SP e em Cirurgia Oncológica pelo Hospital do Câncer A. C. Camargo; Dr Marcos Laercio Pontes Reis – espe-cialista em Hematologia pela Casa de Saúde Santa Marcelina e mestre em Transplante de Medula Óssea pela UNIFESP; Dra Denize Borges Pedretti – Especialista em Clínica Médica e resi-dente em Endocrinologia pela UNIFESP; Dr Lean-dro Faustino – residente em Cirurgia Geral pela UNIFESP; Dra Maria Helena Lopes Amigo – Oftal-mologista pelo Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal; Dra Fernanda Antunes – graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Santo Amaro. Jornalista Responsável: Fátima Rodrigues Morais - MTB 48447Reportagens: Paula Maria Prado e Ana Beatriz GebaraColaboração: Laisa de Moura, Diego Matias, Aline Alvarenga, Amanda Novaretti, Andressa Schpallir, Bruno Castilho e Isabela RosembackRevisão: Gabriela Magalhães Monteiro, Hélen Xavier, Henrique Tadeu Malfará de Souza, Isabela Biz, Karina Novais, Leandro Martins, Lívia Stevaux, Luiz Filipe Armani e Mariana Rezende Goulart

Periodicidade: SemestralCirculação: NacionalDistribuição: GratuitaAvenida Paulista, 1776 - 2º andarwww.medatual.com.br

Envie suas opiniões e sugestõ[email protected](11) 3511-6182

Expediente

Caro Leitor,É com grande satisfação que apresentamos a 5ª edição da Revista MedAtual. Sempre inovando e com o objetivo de trazer novidades e atualizações, lançamos uma edição exclusiva para iPad.

Sabemos o quanto a Residência é importante na carreira médica e, por isso, trazemos uma matéria sobre o intercâmbio profissional – profissionais que optam pela Residência Médica em outros países. Nossa matéria especial aborda os currículos PBL e tradi-cional na faculdade de medicina, apontando as vantagens e as desvantagens de cada forma de aprendizado. Na seção em pauta abordamos os protocolos dos serviços do SAMU, da PM e dos bombeiros. Em multidisciplinar, ressaltamos a importância da Psicologia nos tratamentos.

Contamos com a colaboração dos leitores para a próxima edição da revista e agra-decemos as mensagens de incentivo e de sugestões recebidas.

Boa leitura!EditoresED

ITO

RIA

L

Serviços Editoriais: Denis de Jesus Souza e Tatiana TakiutiAssistentes Administrativos: Luan Vander-linde e Vanessa Araújo

Produção DigitalCoordenação: Luciane Simões SturaroCapa: Robson Pazotto (ilustração) e Rafael Tirelli (Animação)Projeto gráfico: Mark WatanabeDesign e diagramação: Mark Watanabe, Robson Pazotto, Ricardo Capuano e Thiago VanderlindeProgramação: Bruna Perez e Raul Magalhães

Marketing e Publicidade: Coordenação: Camila MiquelimAnúncios: Carla Mancini e Bruno Belomi

Page 5: Revista MedAtual - 5ª edição

MedAtual Atualizações Patológicas

Efeitos terapêuticosda alimentaçãocontra o câncer

Especialistas defendem que uma boa alimentação aumenta a probabilidade de cura e evita a reincidência da doença

O regime alimentar é parte importante no tratamento do câncer. Além de contribuir para o bem-estar e o fortaleci-mento do paciente, impedindo infecções, uma alimentação nutritiva ajuda a manter o corpo sadio, evitando a degenera-ção dos tecidos e contribuindo ainda para a reconstrução daqueles que estejam danificados. Alimentos dos grupos proteicos, frutas e vegetais – ricos em vitaminas A e C e cereais – que possuem carboi-dratos e vitamina B, além de carnes e laticínios – fontes de cálcio – devem ser ingeridos diariamente. Segundo estudo realizado pelo NCI (Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos), apesar de os médicos sa-berem que os pacientes que se alimentam de forma correta durante o tratamento da doença têm mais condições de vencer os efeitos colaterais advindos da terapia, não exis-tem provas de dietas ou de alimentos que sejam capazes de curar um câncer ou de evitar o seu retorno ao organismo. “O câncer é uma doença que exige muito do corpo. Não só a cirurgia, mas também a radioterapia costuma lesar partes sadias. E a quimioterapia prejudica também partes do organismo que atuam nessa parte da alimentação, na absorção de nutrientes. Então, uma boa dieta indicada por um médico ou nutricionista é muito bem indicada e produz excelentes resultados”, afirma Jone Robson de Almeida, diretor do departamento de Nutrologia do hospital A.C. Camargo.

Há evidências de que a farinha de trigo integral reduz o risco de câncer, então é uma indicação comer bolos e pães feitos com esse tipo de farinha

Page 6: Revista MedAtual - 5ª edição

Alimentos que devem ser consumidos ao longo do tratamento:

Frutas e vegetais Alimentos proteicosVerduras cruas ou cozidas, frutas e sucos são fontes de algumas vitaminas (como A e C) e de sais minerais necessários ao organismo.

As proteínas contribuem para a rege-neração do organismo e o combate às infecções.Carnes em geral, peixes, aves, ovos, leite, iogurte e queijo fornecem não só proteínas, como também diversas vitaminas e sais minerais.

CereaisTanto aqueles in natura quanto os presentes no pão, nas massas e no arroz fornecem vários carboidratos e vitamina B. Os carboidratos são ótima fonte de energia, necessários para o bom funcionamento do orga-nismo.

LaticíniosO leite e os seus derivados fornecem pro-teínas e vitaminas variadas, constituindo a melhor fonte de cálcio.

*Tabela do INCA(Instituto Nacional do Câncer)

Ainda não há estudos confirmados, mas, se-gundo especialistas, pesquisas indicam, por exem-plo, que a reincidência de câncer em médio e longo prazos se deve ao excessivo consumo de queijos e carnes, ricos em ferro. Segundo Almeida, alguns alimentos devem ser consumidos com moderação. “Ovos, frango e carnes vermelhas não indico ao paciente que está em tratamento, então recomendo não exagerar no consumo. As altas taxas de hormônios durante a criação do animal podem ser prejudiciais ao homem”, acrescenta. Atenção no consumo de alimentos pode ser uma forma de prevenção da doença. “Há evidências de que a farinha de trigo integral reduz o risco de câncer, então é uma indicação comer bolos e pães feitos com esse tipo de farinha”, explica o nutrólogo Sidney Federmann, da ABRAN (Associação Brasilei-ra de Nutrólogos). Enquanto os cereais integrais podem diminuir cálculos por causa do fosfato, os doces devem ser evitados.

O regime alimentar é parte importante no tratamento do câncer. Além de contribuir para o bem-estar e o fortaleci-mento do paciente, impedindo infecções, uma alimentação nutritiva ajuda a manter o corpo sadio, evitando a degenera-ção dos tecidos e contribuindo ainda para a reconstrução daqueles que estejam danificados. Alimentos dos grupos proteicos, frutas e vegetais – ricos em vitaminas A e C e cereais – que possuem carboi-dratos e vitamina B, além de carnes e laticínios – fontes de cálcio – devem ser ingeridos diariamente. Segundo estudo realizado pelo NCI (Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos), apesar de os médicos sa-berem que os pacientes que se alimentam de forma correta durante o tratamento da doença têm mais condições de vencer os efeitos colaterais advindos da terapia, não exis-tem provas de dietas ou de alimentos que sejam capazes de curar um câncer ou de evitar o seu retorno ao organismo. “O câncer é uma doença que exige muito do corpo. Não só a cirurgia, mas também a radioterapia costuma lesar partes sadias. E a quimioterapia prejudica também partes do organismo que atuam nessa parte da alimentação, na absorção de nutrientes. Então, uma boa dieta indicada por um médico ou nutricionista é muito bem indicada e produz excelentes resultados”, afirma Jone Robson de Almeida, diretor do departamento de Nutrologia do hospital A.C. Camargo.

Profilaxia

MedAtual Atualizações Patológicas

Page 7: Revista MedAtual - 5ª edição

Paula Maria Prado | Isabela RosembackDa redação

De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer), 70% dos diagnósticos da doença aconte-cem em pessoas acima dos 60 anos. Destes, 60% têm mais de 70 anos. É preciso atenção redobrada com esse público em virtude de alterações fisiológi-cas características do envelhecimento. “A assistência nutricional ao paciente idoso on-cológico tem como objetivo prevenir ou reverter o declínio do estado nutricional, amenizar os efeitos colaterais do tratamento, melhorar o sistema imuno-lógico, assim como promover qualidade de vida”, declara a nutricionista Marina Lopes, supervisora do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital Erasto Gaertner. Apesar de os riscos do idoso serem os mesmos de uma pessoa jovem, o câncer pode se

manifestar nele de forma mais acentuada, com casos de anemia grave, perda de apetite, insu-ficiência renal, perda de peso, desnutrição pro-

funda e aumento de internações e infecções. A recomendação é consumir uma dieta equilibra-

da, com carboidratos complexos, fibras, gorduras insaturadas, carnes magras e brancas, frutas, ver-duras e legumes. Segundo Almeida, dois fatores disponíveis a todos e praticamente gratuitos são extremamente importantes no combate e na prevenção do câncer: água e sol. “Não há nada melhor do que isso. Dez minutos de vitamina D (sol) por dia já ajudam o organismo a se proteger, bem como garantem uma boa hidratação”.

Idosos

MedAtual Atualizações Patológicas

Page 8: Revista MedAtual - 5ª edição

De que modo o tratamento do câncer interfere na alimentação:

Pode tornar a ingestão mais lenta, além de prejudicar o funcionamento da boca, da garganta e do estômago.

Cirurgia

Pode lesar células sadias, causar dores na boca e na garganta, disfagia, xerosto-mia, mudança no gosto do alimento e problemas dentais.

Radioterapia

Pode causar náusea, vomito, perda do apetite, diarreia, constipação, dor na boca e na garganta, ganho de peso e mudança no gosto do ali-mento.

ImunoterapiaEmagrecimento, dor na boca, xerosto-mia e mudança no gosto do alimento.

Quimioterapia

MedAtual Atualizações Patológicas

em que o internauta pode testar os seus conheci-mentos sobre o diagnóstico e o tratamento contra

o câncer de mama.

O Hospital Israelita Albert Einstein criou uma ferramenta para disseminar informa-ções sobre o câncer para o público.

Conheça a ferramenta

“QUIZ DA PREVENÇÃO”(http://quizdaprevencao.com.br)

Criado em parceria com a ONG americana Suzan G. Komen for the Cure, é um jogo ligado aoFacebook e ao Twitter,

Page 9: Revista MedAtual - 5ª edição

Direto ao ponto

Medicamentos

Como os anticorpos monoclonais revolucionaram tratamentos

esenvolvidos a partir da ideia de que o sistema imune pode combater o câncer, os anticorpos monoclonais (mAbs) são imuno-globulinas produzidas naturalmente em resposta à exposição de antígenos. Diferentemente dos anticorpos policlonais, produzidos por linhagens diferentes de linfócitos B e, portanto, dirigidos a epitopos diferentes do antígeno, os mAbs são homogêneos, ligando-se ao mesmo epitopo do antígeno.

D

Câncer

Foi estabelecida a técnica de humanização, isto é, substituição de sequências murinas por humanas, reduzindo as reações a anticorpos murinos.

Os mAbs são produzidos, a partir da geração de hibridomas, com base na fusão de linfócitos B murinos e células de mieloma.

O primeiro anticorpo monoclonal começou a ser comercializado: o rituximabe, anti-CD20, apro-vado para tratamento de linfoma do tipo não Hodgkin. Atualmente, vinte mAbs são aprovados pela FDA (Food and Drug Administration), agên-cia regulatória norte-americana, sendo doze próprios para o tratamento do câncer.

1970

1980

1997

Page 10: Revista MedAtual - 5ª edição

Medicamentos

Segundo Maria Carolina B. Tuma, dire-tora de pesquisa e desenvolvimento da Recepta Biopharma, a imunoterapia é a área de pesquisa mais promissora para mAbs. “Sabe-se há muito tempo que o sistema imune pode combater o câncer, no entanto somente nos últimos 10 anos se chegou ao entendimento de que a progressão da doença envolve mecanismos de evasão, de modo que o sistema imune do paciente com câncer não reconhece as células tumorais e o tumor fica ‘protegido’”, explica. Segundo Maria, são várias as maneiras como os mAbs afetam as células cancerígenas. As 2 mais comuns que envolvem a resposta imune são citotoxicidade celular anticorpo-dependente (ADCC), processo no qual os anti-corpos medeiam as ações líticas de células efe-toras como as células natural killlers, e Citotoxici-dade Dependente de Complemento (CDC), em que os anticorpos causam lise por ativação da cascata de sinalização de proteínas-complemen-to. Para agir dessa forma, a pesquisadora res-salva que os melhores mAbs são os que recon-hecem antígenos tumorais, tornando as reações especificamente dirigidas. Além destas, existem outras formas de os mAbs afetarem células cancerígenas: por blo-queio de sinais de crescimento, com a inibição das células tumorais, que leva à apoptose e à morte celular, e por inibição de angiogênese, que leva à necrose de grande parte do tumor e à con-sequente falta de nutrientes. “Com o progresso da pesquisa para o de-senvolvimento de mAbs, espera-se aumentar o portfólio de tratamentos disponíveis para pa-cientes que, até o momento, não têm opção tera-pêutica, isto é, tratamento de tumores para os quais ainda não há tratamento eficaz ou novos tratamentos capazes de tratar ou prolongar a so-brevida de pacientes com tumores resistentes ou refratários a quimioterapia e tratamentos ex-istentes”, completa Maria.

Oftalmologia

Na Oftalmologia, os mAbs são utilizados para o tratamento de doenças vasculares de retina e de doenças inflamatórias intraoculares. “Nas doenças vasculares retinianas, os mAbs do tipo anti-VEGF (fator do crescimento vascular endotelial) têm-se mostrado bastante eficazes no controle da neovascularização associada à degeneração macular relacionada à idade, além de permitir a regressão do edema retiniano (principalmente na mácula) presente nos casos de retinopatia diabética e de oclusões venosas retinianas”, explica Wener Cella, especialista em retina. Já para o tratamento das uveítes associa-das a diversas doenças autoimunes, os mAbs utilizados são do tipo anti-TNF alfa (fator de ne-crose tumoral alfa). “Os anticorpos anti-VEGF, por exemplo, inibem a secreção do VEGF-A responsável pelo aumento da permeabilidade vascular e conse-quente edema retiniano”, explica. Além disso, são capazes de melhorar a visão em casos de degen-eração macular, maculopatia diabética e oclusões venosas retinianas quando utilizados de forma crônica, fato que, segundo Cella, dificilmente podia ser alcançado com as terapias prévias. “A principal vantagem do tratamento com mAbs é a maior especificidade de ação direcionada ao agente etiológico. Além disso, quando administra-dos intravítreo, os níveis de segurança são altíssi-mos, com raras complicações”.

Disponibilidade

Apesar da alta eficiência e de já ser ampla-mente utilizado, o tratamento com mAbs ainda é pouco acessível financeiramente. “Como a produção de monoclonais não é um processo trivial, ainda não se tem no Brasil capacidade para produção de mAbs com grau GMP (Good Manu-facturing Practices), isto é, para uso em humanos”, finaliza a pesquisadora.

Paula Maria Prado | Andressa Schpallir Da redação

Page 11: Revista MedAtual - 5ª edição

E

Pílula contra a AIDSEm debate

m agosto de 2012, uma pílula que previne a AIDS e que deve ser usada por pessoas saudáveis recebeu apoio de um painel de especialistas norte-americanos. O medicamento, chamado Truvada®, traz uma combinação de drogas já autorizadas (inclusive no Brasil) e é recomendada para pessoas que têm um alto índice de risco de contrair HIV. Por enquanto, a droga está aprovada pela FDA (Food and Drug Administration) apenas para ser usada em pessoas que são HIV positivo. A primeira vez que um estudo sobre o Truvada® chegou à comunidade científica foi em novembro de 2010, quando um artigo sobre o assunto foi publicado no The New England Journal of Medi-cine, um dos mais conceituados jornais da área médica. Segundo os resultados, é possível reduzir em até 43,75% o risco de contami-nação pelo vírus da imunodeficiência humana.

Apesar do Truvada® combinar 2 drogas já utilizadas no país, o Ministério da Saúde

ainda vê o seu uso como medida profi-lática com ressalvas

Combinação

O Truvada® combina 2 drogas: tenofovir e entricitabina. De acordo com o Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, o Brasil disponibiliza tenofovir e lamivudina, que é um análogo da entricitabina. A diferença é que, no caso do Truvada®, eles vêm coformulados. Aqui está sendo buscada a coformulação no mesmo com-primido para facilitar a adesão das pessoas. No entanto, não é ado-tada a profilaxia antes da exposição sexual do indivíduo. Segundo o Ministério da Saúde, esta é uma estratégia com poucas evidên-cias sólidas. Em nota, eles afirmaram que “[o remédio] tem resulta-dos de eficácia em estudos controlados, entretanto ainda acredita-mos que é preciso um amadurecimento maior para, eventualmente, pensarmos na sua introdução no contexto de saúde pública, como parte da política de prevenção”. Os resultados da utilização do tenofovir via oral como pro-filaxia pré-exposição sexual para pessoas não infectadas pelo HIV já são conhecidos há alguns anos. No Brasil, a lamivudina, que tem atividade antiviral e toxicidade semelhantes à entricitabina, é dis-ponibilizada desde os anos 1990. E, desde 2003, passou a ser dis-

ponibilizado o tenofovir. Ambos produzidos no país para o tratamento de pessoas que já con-vivem com o HIV/AIDS e como profilaxia pós-exposição sexual ao HIV, em esquemas combina-dos com a zidovudina (AZT).

Page 12: Revista MedAtual - 5ª edição

Paula Maria Prado | Da redação

m agosto de 2012, uma pílula que previne a AIDS e que deve ser usada por pessoas saudáveis recebeu apoio de um painel de especialistas norte-americanos. O medicamento, chamado Truvada®, traz uma combinação de drogas já autorizadas (inclusive no Brasil) e é recomendada para pessoas que têm um alto índice de risco de contrair HIV. Por enquanto, a droga está aprovada pela FDA (Food and Drug Administration) apenas para ser usada em pessoas que são HIV positivo. A primeira vez que um estudo sobre o Truvada® chegou à comunidade científica foi em novembro de 2010, quando um artigo sobre o assunto foi publicado no The New England Journal of Medi-cine, um dos mais conceituados jornais da área médica. Segundo os resultados, é possível reduzir em até 43,75% o risco de contami-nação pelo vírus da imunodeficiência humana.

Debates

A utilização de antirretrovirais na pro-filaxia pré-exposição sexual ao HIV vem sendo discutida nos últimos anos nos contextos na-cional e internacional. E o Ministério da Saúde afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que tem participado ativamente desse debate. Segundo nota, em 2011, o Brasil orga- nizou junto da Organização Mundial da Saúde (OMS) uma consulta na América Latina para analisar as evidências relacionadas aos estudos sobre a profilaxia pré-exposição sexual. O Departamento de DST, AIDS e He- patites Virais concorda que a terapia antirretrovi-ral já demonstrou redução do risco de transmis-são do HIV entre casais sorodiscordantes. “Essa evidência estabelece a relevância da ampliação do acesso ao diagnóstico como prioritária para alcançar a diminuição do risco de transmissão do HIV, melhora da qualidade de vida e redução da mortalidade para o PVHA [pessoas vivendo com HIV/AIDS]”, diz a nota enviada à MedAtual. “[No entanto, em relação à pré-profilaxia] per-manecem muitas incertezas quanto à sua utili-zação ‘na vida real’ para que se possa avaliar sua possível aplicabilidade como estratégia de saúde pública. Exemplo disso é que possíveis problemas na adesão ao medicamento não reduzem o risco de adquirir o HIV”.

População

Já estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) medidas para o controle da epi-demia de AIDS, como a promoção do uso de preservativo, que possui 98% de eficácia, e uso de antirretrovirais para as pessoas vivendo com HIV, com eficácia comprovada de 96%. Segundo o Ministério da Saúde, a política de prevenção às DSTs (Doenças Sexual-mente Transmissíveis), AIDS e hepatites virais adotada no Brasil prioriza o estímulo às práticas sexuais seguras. Essa política tem como obje-tivos melhorar a qualidade de vida, evitar a pro-gressão de doenças e reduzir o risco de trans-missão do HIV por meio da supressão da repli-cação viral. Enquanto o debate permanece no Brasil, a companhia fabricante do Truvada® já estabele-ceu parceria com outras empresas para ajudar no desenvolvimento de genéricos. Isso fará com que a droga chegue a pacientes que tenham HIV em países mais pobres.

Em debate

Combinação

O Truvada® combina 2 drogas: tenofovir e entricitabina. De acordo com o Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, o Brasil disponibiliza tenofovir e lamivudina, que é um análogo da entricitabina. A diferença é que, no caso do Truvada®, eles vêm coformulados. Aqui está sendo buscada a coformulação no mesmo com-primido para facilitar a adesão das pessoas. No entanto, não é ado-tada a profilaxia antes da exposição sexual do indivíduo. Segundo o Ministério da Saúde, esta é uma estratégia com poucas evidên-cias sólidas. Em nota, eles afirmaram que “[o remédio] tem resulta-dos de eficácia em estudos controlados, entretanto ainda acredita-mos que é preciso um amadurecimento maior para, eventualmente, pensarmos na sua introdução no contexto de saúde pública, como parte da política de prevenção”. Os resultados da utilização do tenofovir via oral como pro-filaxia pré-exposição sexual para pessoas não infectadas pelo HIV já são conhecidos há alguns anos. No Brasil, a lamivudina, que tem atividade antiviral e toxicidade semelhantes à entricitabina, é dis-ponibilizada desde os anos 1990. E, desde 2003, passou a ser dis-

ponibilizado o tenofovir. Ambos produzidos no país para o tratamento de pessoas que já con-vivem com o HIV/AIDS e como profilaxia pós-exposição sexual ao HIV, em esquemas combina-dos com a zidovudina (AZT).

Page 13: Revista MedAtual - 5ª edição
Page 14: Revista MedAtual - 5ª edição

MedAtual Acontece

da OncologiaProfissionais

Apenas oncologistas e cirurgiões gerais com experiência na área estão habilitados para realizar uma cirurgia de remoção de um câncer; equipe multidisciplinar ajuda a definir o tratamento do paciente

MedAtual

pesar de o princípio ser o mesmo, cada cirurgia para a remoção de um câncer tem as suas peculiaridades depen- dendo do órgão a ser tratado. Segundo o médico Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo, cirurgião geral do Hospital Israelita Albert Einstein, apesar das diferenças entre as operações, o princípio da cirurgia é sempre o mesmo: a remoção da doença e das possíveis vias de drenagem linfática.Dentre as peculiaridades de cada cirurgia estão procedimen-tos como a proteção da ferida operatória com campos se-cundários, evitando o contato do tumor com a parede ab-dominal e a pele, o inventário minucioso da cavidade abdomi-nal (indicado apenas para alguns tipos de tumores), a ma-nipulação do tumor em compressas, evitando o contato direto e o cuidado para a não perfuração tumoral, ligadura das veias antes das artérias, ligadura das artérias de origem, dissecção centrípeta da peça cirúrgica e ressecção em bloco associada a linfadenectomia. “A distância entre o tumor e a área livre a ser ressecada varia conforme o tipo histológico e a localização do câncer. Além disso, é feita a marcação com clipes metálicos se for necessário para orientar a radioterapia e a troca de luvas e do material cirúrgico que teve contato com o tumor após a reti-rada da peça cirúrgica”, afirmou a cirurgiã oncológica Caro-lina Benvegnu Nahime, do hospital viValle.

A

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Page 15: Revista MedAtual - 5ª edição

Segundo Macedo, cirurgiões gerais têm ha-bilitação para operar um câncer. “Desde que tenha volume de cirurgias para o tratamento de câncer, que permita ao profissional ter bom resultado e controle eficiente da doença”, ressalva. Ainda de acordo com o médico, é muito im-portante a participação dos profissionais em reuniões de Oncologia Multidisciplinar. “Elas per-mitem ao médico manter-se atualizado com o diagnóstico e a terapêutica dos pacientes com câncer”, afirmou. Já Carolina acredita que nem todos os pro-cedimentos podem ser feitos a partir da experiên-cia do cirurgião. “Depende da experiência do cirur-gião, do tipo de tumor, da localização e do grau de complexidade da cirurgia”, opinou. “Atualmente, os modelos internacionais de equipe oncológica exigem um grupo multidisciplinar com treinamento cada vez mais específico e avançado”.

Profissionais

Segundo a médica, mais importante do que identificar um câncer é suspeitar da existência dele e saber encaminhar ao especialista. “Mais difícil e fundamental em Oncologia é fazer o diag-nóstico precoce do câncer, possibilitando o trata-mento curativo. É imprescindível que qualquer médico saiba suspeitar da existência dele”, afir-mou Carolina. Ainda de acordo com ela, queixas vagas, como emagrecimento, anemia, alteração do hábito intestinal (fezes afiladas, alteração para constipação ou diarreia, melena e presença de sangue), inapetência e disfagia, entre outras, devem chamar a atenção do médico para iniciar uma investigação mais detalhada. “A história da família devem chamar atenção do médico para uma investigação mais detalhada. Além disso, é necessário fazer o ‘screening’ já pré-estabelecido para alguns tipos específicos de câncer (mama, próstata e intestino)”, disse a cirur-giã oncológica.

Médicos atentos

Tipos mais comuns de câncer(Distribuição proporcional dos tipos de câncer mais incidentes estimados para 2012 por sexo, exceto pele não melanoma)

MedAtual Acontece

Cólon e reto310 casos novos

Linfoma não Hodgkin170 casos novos

Leucemias280 casos novos

Homens

Próstata2.390 casos novos

Estômago850 casos novos

Traqueia, brônquio e pulmão630 casos novos

Cavidade oral250 casos novos

Sistema nervoso central160 casos novos

Laringe210 casos novos

Bexiga150 casos novos

Page 16: Revista MedAtual - 5ª edição

No caso da existência de um câncer e encaminhamento para cirurgia, muitos reco-mendam que o paciente ouça a opinião de outro profissional especialista na área. “Como a cirurgia é um procedimento ex-tremamente invasivo e, muitas vezes, muti-lante, é natural que os pacientes se sintam mais confortáveis pedindo uma segunda opin-ião”, afirmou a médica. “Em alguns casos, existe mais de uma opção terapêutica. Um bom exemplo é o câncer de ovário em que se pode fazer cirurgia primária seguida de quimi-oterapia ou cirurgia de intervalo entre quimi-oterapia pré e pós-operatória, não sendo errada nenhuma dessas condutas”. Além disso, principalmente em hospitais, a discussão multidisciplinar ajuda a esta-belecer o plano terapêutico para o paciente. “É importante ouvir a opinião do cirurgião, do oncologista clínico e, frequentemente, do radi-oterapeuta”, afirmou Macedo.

Segunda opiniãoTabela INCA (Instituto Nacional de Câncer), de 2012, do Ministério da Saúde

Paula Maria Prado | Da redação

MedAtual Acontece

Mulheres

Colo do útero1.860 casos novos

Ovário200 casos novos

Cólon e reto380 casos novos

Mama1.530 casos novos

Estômago450 casos novos

Glândula tireoide580 casos novos

Traqueia, brônquio e pulmão400 casos novos

Leucemias220 casos novos

Page 17: Revista MedAtual - 5ª edição

Erros plásticosO aumento da busca pelo corpo perfeito tem crescido junto dos casos de erros médicos em cirurgias plásticas

m busca de padrões estéticos, cada vez mais pessoas têm procurado alterar o corpo. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) mostram que, no ano de 2011, foram realizadas no País 905.124 cirurgias plásticas, sendo que o procedimento campeão foi a lipoaspiração com 211.108 casos – o que representa 23,32% das intervenções cirúrgicas. Na sequência, vem a mamoplastia de aumento com 148.962 cirurgias (16,45%) e mamoplastia com 131.377 casos (14,51%). Tais números colocam o País em segundo lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas realizadas, atrás apenas dos Estados Unidos, que registraram 1.094.146 procedimentos cirúrgicos. A busca pelo corpo ideal tem feito com que pessoas busquem a cirurgia de forma barata e rápida. De acordo com o médico Denis Calazans, secretário geral da SBCP, o grande pro-blema hoje em dia são as empresas que oferecem planos para cirurgia plástica. “Nosso problema não são nem as clínicas clandestinas e sim as empresas travestidas de clínicas, que oferecem planos para fazer a cirurgia e muitas vezes acabam fazendo de qualquer modo”, afirma. Segundo o psicólogo Paulo Sodré, a busca por padrões estéticos pode trazer riscos ao paciente. “Muitos pacientes querem modificar o corpo principalmente para se sentir mais próximos dos famosos”, afirma. “A busca inces-sante faz com que a pessoa perca os parâmetros do que é bonito e do que não é”, completa.

E

Alerta

Page 18: Revista MedAtual - 5ª edição

Paula Maria Prado | Bruno CastilhoDa redação

Aumento da mama Entre os procedimentos mais procurados no Brasil está a cirur-gia das mamas. Esse tipo de intervenção cirúrgica teve, em 2011, um aumento de 54,54%, em relação ao levantamento realizado em 2007 pela SBCP. Segundo Calazans, os problemas mais frequentes em uma cirurgia de aumento de mama são o endurecimento da prótese por causa de rejeição do organismo e infecção ocasionada por algum erro na assepsia. “É muito importante que as pessoas que vão fazer algum tipo de cirurgia plástica conheçam o médico e se certifiquem de que ele faz parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. No nosso site tem a lista de médicos”, aconselha.

Preparação Para poder ingressar na SBCP, o médico deve ter, além dos 6 anos de medicina, 2 anos de residência em Cirurgia Geral e 3 anos de residência em Cirurgia Plástica. Um estudo do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) revelou que 97% dos médicos que respondem a processos ético-profissionais relacionados a cirurgias plásticas e procedimentos estéticos não possuem título de especialista na área. Durante a pesquisa, foram analisados processos envolvendo 289 médicos entre janeiro de 2001 e julho de 2008. Destes, 139 médicos (48,1%) não tinham qualquer título de especialista. Outros 143 (49,5%) tinham habilitação para outras áreas, como Ginecologia, Cirurgia Geral e Ortopedia. Dentro os processados, apenas 6 eram cirurgiões plásticos (2,1%) e um dermatologista (0,3%).

Responsabilidade Quando o resultado esperado com o procedimento é insatis-fatório, a responsabilidade é do médico. Apesar da responsabilidade civil decorrente de erro médico seja subjetiva, em casos de cirurgias plásticas estéticas a situação muda. Apesar da resolução nº 1.621/2001 do Conselho Federal de Medicina definir que não há diferenças entre o ato médico na cirurgia plástica reconstrutiva e plástica estética, o poder judiciário julga de acordo com a finalidade de sua execução. Excetuam-se casos de cirurgia plástica corretiva, em que há a necessidade da intervenção cirúrgica. Neste caso, teria de ser comprovada a culpa do profissional. Em caso de erro médico, dificilmente, o médico conseguirá deixar de arcar com os eventuais danos ao paciente. E, nesse caso, o erro pode ter consequências nas esferas cível e criminal.

Alerta

Trechos da resolução CFM nº 1.621/2001

Art. 3º - Na Cirurgia Plástica, como em qualquer especiali-dade médica, não se pode prometer resultados ou garantir o sucesso do tratamento, devendo o médico informar ao paciente, de forma clara, os benefícios e riscos do procedi-mento.

Art. 4º - O objetivo do ato médico na Cirurgia Plástica, como em toda a prática médica, constitui obrigação de meio e não de fim ou resultado.

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Ministros autorizaminterrupção da gravidezem casos de bebês anencéfalosDepois de 8 anos de luta, o assunto finalmente entrou na pauta do Supremo Tribunal Federal

A interrupção da gravidez em casos de bebês anencéfalos sem que a prática se configure crime é uma vitória da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). A decisão foi tomada em abril do ano passado, depois de 2 dias de julgamento. Por 8 votos a 2, os ministros consideraram procedente a ação que tramitava desde 2004 na Corte, movida pela CNTS (Confederação Nacional dos Trabalhado-res de Saúde). Durante os debates, foram abordadas ques-tões como a definição do início da vida – uma vez que nem mesmo a Constituição ou o Código Penal estabelecem o momento –, o sofrimento da mãe e a legislação em outros países. Uma das preocupações foi estabelecer o diagnóstico correto da doença. No entanto, 32 dias depois da decisão do STF, o CFM (Conselho Federal de Medicina) publicou no Diário Oficial da União critérios para a interrupção da gravidez e que deveriam ser seguidos por todos os médicos. As normas foram criadas por uma comissão de especialistas em Ginecologia, Obstetrícia, Gené-tica e Bioética. Segundo o documento, a interrupção só deve ocorrer depois de um exame ultrassonográ-fico detalhado e assinado por 2 médicos. Além disso, a cirurgia para interromper a gravidez deve ocorrer em local com estrutura adequada.

Segundo a Febrasgo, o argumento usado contra o aborto, de que o bebê sofreria, é infun-dado. “Um feto sem cérebro não tem sentimen-tos”, garante Moraes. “Só existe dor quando há atividade cerebral”. De acordo com a prática médica, cerca de 60% dos bebês anencéfalos costumam falecer dentro do útero da mãe. Alguns chegam a 7 meses de vida. Dos raros que nascem, poucos ultrapas-

Sentimento

“A identificação é fácil. Basta um simples exame de ultrassom com 2 fotos assinado por 2 médicos”, afirma o médico Olimpio Moraes, vice-presidente da região Nordeste da Febras-go e que participou das reuniões com o STF como representante da federação. “Não é uma definição de que o aborto deve ser feito. Mas as mães que assim o quiserem poderão fazê-lo em qualquer hospital que tenha uma ala de Obstetrícia com toda a assistência possível”, esclarece. Ainda de acordo com o médico, esse tipo de gravidez coloca a mãe em risco de vida. “Há um aumento do líquido amniótico. Além disso, é um parto mais difícil de ser feito, já que o bebê deve ser retirado pelos ombros. O procedimen-to pode gerar hemorragia pós-parto”.

Page 20: Revista MedAtual - 5ª edição

Por causa da inviabilidade de encontrar rapidamente um receptor, a doação dos órgãos do recém-nascido nessas condições não é feita. “Esse é o tipo de coisa que jamais deve ser pro-metido à família. Quando não acontece, a de-cepção é muito grande. Além disso, muitas vezes os bebês anencéfalos também possuem uma série de outras malformações”, explica o médico.

Doação

A Febrasgo agora luta pela descriminaliza-ção do aborto como um todo, já que, segundo a federação, trata-se de um problema de saúde pública. “Todos os anos, cerca de 300 mulheres morrem em decorrência de abortos realizados em clínicas clandestinas. Se a prática fosse descriminalizada, estaríamos salvando 300 vidas. Em países desenvolvidos, como os euro-peus, o aborto não é crime, nem por isso houve um aumento do número de mulheres que procu-ram o serviço. É uma decisão que deve ser de-batida como forma de respeito à vida delas”, afirma Moraes.

Luta

Na época do debate, entidades contrárias pressionaram contra a decisão dos ministros. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), por exemplo, encaminhou uma carta aos seus afiliados pedindo para que fosse feita uma vigília em “defesa dos indefesos”. Em nota oficial, a CNBB lamentou a deci-são, afirmando que “legalizar o aborto de fetos erroneamente diagnosticados como mortos ce-rebrais é descartar um ser humano frágil e inde-feso”.

Dispõe sobre o diagnóstico de anencefalia para a antecipação terapêutica do parto e dá outras providências.(...) Art. 1º Na ocorrência do diagnóstico inequívoco de anencefalia o médico pode, a pedido da ges-tante, independente de autorização do Estado, interromper a gravidez.Art. 2º O diagnóstico de anencefalia é feito por exame ultrassonográfico realizado a partir da 12ª (décima segunda) semana de gestação.(...)§2º Ante o diagnóstico de anencefalia, a gestan-te tem o direito de:I - manter a gravidez;II - interromper imediatamente a gravidez, inde-pendente do tempo de gestação, ou adiar essa decisão para outro momento.(...)§4º Se a gestante optar pela manutenção da gra-videz, ser-lhe-á assegurada assistência médica pré-natal.(...)

Oposição

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINARESOLUÇÃO CFM Nº 1.989, DE 10 DE MAIO DE 2012

Resolução CFM nº 1.989(principais trechos)

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Paula Maria Prado | Da redação

sam as primeiras 24 horas. “Nesse caso, o pro-cedimento fica a cargo do neonatologista e da mãe. Muitas vezes ela quer passar os últimos minutos com o bebê no colo. Isso é natural. Faz parte do processo de luto”, conta Moraes.

Para ler o texto na íntegra acessewww.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2012/1989_2012.pdf

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Agulhas médicasDecisão do Tribunal Regional Federal reserva o mercado da acupuntura exclusivamente para os médicos; conselhos de Farmácia e Fisioterapia discordam da decisão

A acupuntura só pode ser exercida por médicos. Essa foi a decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, em Brasília, em março de 2012. Até então, farmacêuticos, psicólogos e fisioterapeutas poderiam aplicá-la em pacientes. Desde 2001, o Conselho Federal de Medicina (CFM) pedia a anulação de resoluções que permitiam que outros profissionais espetassem a suas agulhas por aí. De acordo com os argumentos apresentados pelo órgão, o tratamento de doenças (função da acupuntura), e o diagnóstico das mesmas são, no Brasil, atividades médicas. De acordo com Dirceu Sales, um dos membros da Câmara Técnica de Acupuntura do CFM e ex-presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, a transformação da acupuntura em especialidade, em 1995, foi uma decisão acertada para proteger a popu-lação de profissionais despreparados. “Só quem sabe diagnosticar o que o paciente tem é o médico”, afirmou. “Há diversos tipos de dores de cabeça, por exemplo, mas não é todo profissional que sabe a diferença entre uma cefaleia primária e uma secundária. Na hora do tratamento, isso pode trazer complicações”, explicou.

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acupuntura só pode ser exercida por médicos. Essa foi a decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, em Brasília, em março de 2012. Até então, farmacêuticos, psicólogos e fisioterapeutas poderiam aplicá-la em pacientes. Desde 2001, o Conselho Federal de Medicina (CFM) pedia a anulação de resoluções que permitiam que outros profissionais espetassem a suas agulhas por aí. De acordo com os argumentos apresentados pelo órgão, o tratamento de doenças (função da acupuntura), e o diagnóstico das mesmas são, no Brasil, atividades médicas. De acordo com Dirceu Sales, um dos membros da Câmara Técnica de Acupuntura do CFM e ex-presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, a transformação da acupuntura em especialidade, em 1995, foi uma decisão acertada para proteger a popu-lação de profissionais despreparados. “Só quem sabe diagnosticar o que o paciente tem é o médico”, afirmou. “Há diversos tipos de dores de cabeça, por exemplo, mas não é todo profissional que sabe a diferença entre uma cefaleia primária e uma secundária. Na hora do tratamento, isso pode trazer complicações”, explicou.

Técnica invasiva A acupuntura oferece ao paciente um tratamento invasivo, com agulhas que variam entre 1 e 10cm. “Essa ideia popular de que se não fizer bem, também não fará mal é falsa. As agulhas são aplicadas sobre terminações nervosas. Ela passa pela pele, pela gordura e atinge os músculos. O profissional que quer oferecer esse tipo de tratamento tem de ter uma formação em anatomia, anatomofisiologia e neurofisiologia, por exemplo”, afirmou Sales. Segundo o expresidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, a decisão do TRF é baseada nas leis que regulam as profissões. “Farmacêuticos e fisioterapeutas, por exemplo, não podem fazer diagnósticos, prescrever medicamentos nem realizar procedimentos invasivos”, afirmou. “O que as pessoas estão fazendo é confundindo uma resolução interna com lei. O que eles querem é um aumento no seu campo de atuação. Assim, determi-naram que podiam realizar a acupuntura. Mas, pela lei de seus próprios órgãos que regulam as profissões, não podem”.

Formação Para poder ser um acupunturista, a partir de agora é necessário que o indivíduo conclua os 6 anos de medicina e depois faça um curso de 2 anos ou 800 horas/aula e 1 ano de serviço médico. Então, o profis-sional deverá se submeter a uma prova do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura e da Associação Médica Brasileira de Acupuntura a fim de conseguir o título de especialista na área.

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A acupuntura oferece ao paciente um tratamento invasivo, com agulhas que variam entre 1 e 10cm. “Essa ideia popular de que se não fizer bem, também não fará mal é falsa. As agulhas são aplicadas sobre terminações nervosas. Ela passa pela pele, pela gordura e atinge os músculos. O profissional que quer oferecer esse tipo de tratamento tem de ter uma formação em anatomia, anatomofisiologia e neurofisiologia, por exemplo”, afirmou Sales. Segundo o expresidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, a decisão do TRF é baseada nas leis que regulam as profissões. “Farmacêuticos e fisioterapeutas, por exemplo, não podem fazer diagnósticos, prescrever medicamentos nem realizar procedimentos invasivos”, afirmou. “O que as pessoas estão fazendo é confundindo uma resolução interna com lei. O que eles querem é um aumento no seu campo de atuação. Assim, determi-naram que podiam realizar a acupuntura. Mas, pela lei de seus próprios órgãos que regulam as profissões, não podem”.

Para poder ser um acupunturista, a partir de agora é necessário que o indivíduo conclua os 6 anos de medicina e depois faça um curso de 2 anos ou 800 horas/aula e 1 ano de serviço médico. Então, o profis-sional deverá se submeter a uma prova do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura e da Associação Médica Brasileira de Acupuntura a fim de conseguir o título de especialista na área.

Outros paísesOutro lado

Procurados, os Conselhos Federais de Farmácia, Fisi-oterapia e Psicologia não se manifestaram sobre a decisão. Em nota publicada logo após a decisão do TRF, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) afirmou que tomará todas as providências necessárias para assegurar o direito do exercício profissional. “Em primeiro lugar, não existe lei determinando que a acupuntura é um ato privativo do médico. Em segundo, o Código Brasileiro de Ocupação prevê a figura do médico acupunturista, ou seja, a medicina também pode exercer a atividade. Em terceiro, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria 971/06, que trata da Política Nacional de Práticas Integrativas Complementa-res dos SUS (Sistema Único de Saúde), inclui a acupuntura sem restrição profissional. E, por fim, é preciso esclarecer que a recente decisão do TRF não abrange os termos da Resolução

516/09, do CFF, que define os as-pectos técnicos do exercício da acupuntura na Medicina Tradi-cional Chinesa como especiali-dade do farmacêutico”, afirmou em nota Walter Jorge João, presidente do CFF. Em outubro, o ministro do Supe-rior Tribunal de Justiça (STJ), Arnaldo Esteves Lima, suspendeu a ação cautelar proposta pela CFM e pelo CMM (Colégio Médico de Medicina). Os psicólogos, assim como os fisioterapeutas, poderão continuar exercendo normalmente

a acupuntura em seu campo de atuação. De acordo com informações do Conselho Nacional de Saúde, a utilização da acupuntura no Brasil enquanto recurso tera-pêutico, além de seguir a legislação sanitária, é regulamentada e fiscalizada pelos conselhos profissionais. Esses conselhos reco- nhecem a prática e a respectiva especialização profissional, nas quais são estabelecidos, por meio de resoluções específicas, crité-rios para garantir à população um tratamento ético e responsável. Assim, a prática estaria respaldada com segurança e eficácia.

Berço da acupuntura. Lá é preciso fazer um curso de 4 anos (ou 5.000 horas) para se tornar médico acupunturista.

Médicos, dentistas e pessoas com formação apenas em acupuntura podem exercer a profissão. Mas a regra varia de acordo com os estados.

CHINA

EUA

O governo não regula a atividade.

Reino Unido

Paula Maria PradoDa redação

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De acordo com o CFM existem 1.810 médicos especialistas em acupuntura no país. Como muitos médicos possuem mais de uma especialidade, este número pode chegar a 3.000.

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ENTREVISTA

O cirurgião de cabeça e pescoço Luiz Paulo Kowalski, um dos maiores especialistas na área de Oncologia, levou um susto em dezembro de 2005, quando descobriu, aos 48 anos, um nódulo na parótida direita. Paciente da enfermidade na qual é especialista, o médico se submeteu à retirada do tumor, o que o deixou com parte do rosto paralisada. A experiência o fez repensar a sua comunicação com os pacientes, tornando-se mais cuidadoso com esse diálogo.A MedAtual conversou com o espe-cialista, que contou como foi essa experiência e o que mudou desde então. Conf ira!

PerguntasRevista MEDATUAL

RespostasLuiz Paulo Kowalski

Quando o senhor se decidiu pela medicina?

Foi no terceiro ano do ginásio, quando estudei biologia. O estudo do corpo humano foi a coisa mais bacana que eu vi e gostei na época. Lembro-me de que, naquele ano, enquanto as minhas notas nas outras matérias eram o suf iciente para eu passar, em biologia tive um pico de notas. Então, decidi que era com isso eu que queria trabalhar.

Como foi a sua vida acadêmica?

Eu estudei na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, que oferecia algumas facilidades, como horários vagos para que os alunos frequentassem locais além do hospital universitário. Então, desde muito cedo, no segundo ou no terceiro ano, comecei a ir ao hospital do câncer Erasto Gaertner. No começo, o meu inte- resse era pela cirurgia. Depois, no quarto ano, fui para o hospital Nossa Senhora das Graças, e, no quinto ano, tive a oportunidade de voltar ao hospital do câncer.

E por que escolheu Oncologia?

A Cirurgia Oncológica me fascinou em relação à Cirurgia Geral. Na época, esta era pouco diversif icada, enquanto nos procedi-mentos oncológicos era possível operar doentes da cabeça aos pés em cirurgias diferentes. Hoje, as cirurgias gerais também me fascinam muito, mas, na época, a oncológica me parecia menos monótona, mais desaf ia-dora, e o câncer era uma doença com muitos detalhes desco- nhecidos, havia muito a investigar, e isso me chamou a atenção, além da maneira como ela é realizada. É uma cirurgia anatômica em que se têm padrões de cirurgias oncológicas, mas a sua execução obriga a combinações de técnicas e a usar os recur-sos da cirurgia geral tradicional. ��

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Luiz Paulo Kowalski

Page 25: Revista MedAtual - 5ª edição

Depois, o senhor optou pela área de cabeça e pescoço

Dentro da Cirurgia Oncológica, a de cabeça e pescoço foi a mais interessante justamente por não ter um procedimento igual ao outro. Obvia-mente, é preciso obedecer aos princípios téc-nicos, mas as ressecções são diferentes e muito personalizadas. Deve-se pensar em recons- truções diferentes adaptadas a cada paciente, e no tratamento como um todo. E acho que tive bons exemplos de bons professores na área da cirurgia, que foram bastante inspiradores, e eu devo muito a eles. A maneira como operavam e como atendiam o paciente me inspira até hoje.

Atualmente, quais desafios o se- nhor encontra na medicina?

Me formei em 1979. Sou pesquisador na área clínica e tenho uma interação muito grande com pessoas da área básica. Procuramos discutir perguntas que sejam de interesse comum, cujas respostas possam ser usadas para, futuramente, serem tomadas decisões de diagnóstico e de terapêuticas. Não sou um consumidor de infor-mação científ ica. Acho que temos a obrigação de produzir informações que possam ajudar a modif icar tratamentos e diagnósticos e na reabili-tação do paciente. A minha área de cabeça e pescoço é bastante nova, e há muito a ser desbravado. Não se pode f icar realmente parado contem- plando o que está acontecendo. É necessário intervir porque há muitos problemas a serem solucionados.

O senhor é pesquisador aqui no hospital

É muito bom quando se consegue trabalhar em uma instituição [hospital A. C. Camargo] que tem essa preocupação [descobrir novos pro-cedimentos] e com colegas que compartilham o mesmo ideal de pesquisa voltada para a apli-cação prática. Aqui, não somos pesquisadores básicos, nossa pesquisa visa à utilização prática, o que traz uma relação de custo–benefício bastante grande, e o resultado pode ter um grande impacto na saúde das pessoas. É possível monitorar diretamente aquilo que está acon-tecendo e verif icar se esse novo conhecimento realmente está trazendo avanços. Temos trabal-hado muito nesses últimos 30 anos, podendo, em etapas sucessivas, com base em pesqui-sas anteriores, verif icar resultados e medidas adotados na prática, mostrando claramente

O senhor é pesquisador aqui no hospital

É muito bom quando se consegue trabalhar em uma instituição [hospital A. C. Camargo] que tem essa preocupação [descobrir novos procedi-mentos] e com colegas que compartilham o

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mesmo ideal de pesquisa voltada para a apli-cação prática. Aqui, não somos pesquisadores básicos, nossa pesquisa visa à utilização prática, o que traz uma relação de custo–benefício bastante grande, e o resultado pode ter um grande impacto na saúde das pessoas. É possível monitorar diretamente aquilo que está acon-tecendo e verif icar se esse novo conhecimento realmente está trazendo avanços. Temos traba- lhado muito nesses últimos 30 anos, podendo, em etapas sucessivas, com base em pesqui-sas anteriores, verif icar resultados e medidas adotados na prática, mostrando claramente melhorias tanto em termos de sobrevida como em qualidade de vida. Há a possibilidade de mostrar cientif icamente a necessidade de mu-danças e como realizá-las, e, depois, checar os resultados, obviamente, requer disciplina e método cientif ico. Podemos, por exemplo, com-parar os resultados de tratamentos que tínha-mos há alguns anos com os que temos atual-mente. E eles melhoraram substancialmente, acompanhando padrões internacionais.

Page 26: Revista MedAtual - 5ª edição

Por exemplo?

O médico, algumas vezes por razão de tempo, acaba se posicionando como um técnico diante do paciente, explicando as coisas tec-nicamente: “o senhor tem essa doença, nessa extensão, e precisa desse tratamento. As conse-quências são essas, os resultados esperados são esses, e as complicações são essas”. O paciente ouve calado, aceita, e parece que está tudo certo. Eu acho que o que mudou foi a expli-cação um pouco mais detalhada, dando espaço para o paciente resolver as suas dúvi-das. Algo que parece óbvio para a gente pode não ser para ele. Então, ele deve ter tempo para pensar. Não digo hoje, se eu sinto que o paciente está em dúvida, que ele deve decidir se aceita ou não um tratamento. Eu digo: “o senhor vai fazer outros exames, vai voltar, e nós continu-amos a conversa. Se quiser trazer mais alguém da família para conversar, traga”. É preciso que o paciente entenda tudo o que está acon-tecendo. Não podemos oferecer milagres, e nem sempre o tratamento é agradável, principal-mente em Oncologia, em que quase sempre há riscos e sequelas. O paciente deve estar enten-dendo muito bem isso e conhecendo as limi-tações do seu tratamento. Infelizmente, não podemos curar todos, e de maneira alguma podemos garantir a cura. Podemos, sim, garantir que estamos fazendo o maior esforço possível naquele momento, utili-zando o melhor que conhecemos e oferecendo a melhor chance de cura. É muito frustrante para o paciente imaginar que amanhã vai dar tudo

E o senhor acha que falta essa “hu-manização” na formação do médico?

Acho que a medicina se tornou bastante tec-nológica. O médico realmente se afastou um pouco do paciente, mas muitas escolas estão incluindo no seu currículo a disciplina de humanização. Essa, aliás, é uma palavra impor-tante que entrou na discussão da medicina e da enfermagem. Não se falava em acolhimento anos atrás. O médico era a autoridade absoluta que decidia as coisas em nome do paciente. Isso acabou. Hoje, ele é o especialista que con-hece o assunto, mas a postura não é a de que “eu sei”, “eu decido como vai ser feito”. Devemos dizer: “eu conheço, sim, a doença, e o trata-mento é este. No seu caso específ ico, por essa ou aquela razão, eu preciso fazer modif i-cações”. É muito importante que o paciente compreenda a sua doença e o seu tratamento. E a família deve participar, af inal é ela junto dele que sofrerão as consequências. Sem essa par-ticipação, as chances de aquilo que o especial-ista propôs dar certo são muito pequenas. O paciente pode, inclusive, não aderir ao trata-mento.� O médico pode prescrever o remédio corretamente, mas nada adianta se o paciente não entende a importância de seguir as instruções.�

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melhorias tanto em termos de sobrevida como em qualidade de vida. Há a possibilidade de mostrar cientif icamente a necessidade de mu-danças e como realizá-las, e, depois, checar os resultados, obviamente, requer disciplina e método cientif ico. Podemos, por exemplo, com-parar os resultados de tratamentos que tínha-mos há alguns anos com os que temos atual-mente. E eles melhoraram substancialmente, acompanhando padrões internacionais.

certo e isso não acontecer. Se o médico fala que vai dar tudo certo, ele está assumindo um compromisso que não terá com cumprir. É pos-sível dizer que está fazendo o melhor que con-hece e que isso aumenta as chances de con-trole da doença. Esse tipo de diálogo é um pouco diferente agora. Aproximar-se do paciente, daquilo que ele real-mente precisa, daquilo que ele quer, e individual-izar dentro de suas expectativas é algo que, às vezes, toma bastante tempo. É preciso debater com ele. Em alguns casos, consegue-se expli-car em 5 minutos, em outro, são necessárias 2 horas. Não há um pacote fechado.

Page 27: Revista MedAtual - 5ª edição

O senhor teve há alguns anos um nódulo na parótida. A experiência mudou a sua relação com os seus pacientes?

O médico não precisa, necessariamente, passar pela experiência de ser doente na sua especialidade para entender o que está acon-tecendo. É claro que, em algumas especiali-dades, é mais fácil, como na Pediatria, quando o prof issional tem f ilhos, na Obstetrícia, quando a prof issional dá a luz, cardiologistas que podem enfartar... Então, muitos médicos passam por doenças relativas à sua especialidade.� E, ao longo da vida, você convive com os pacientes e sente coisas que não estão escritas nos livros e artigos, coisas até difíceis de transmitir porque dependem muito do “feeling”, da maneira como se interage com o paciente. Na verdade, ele pre-cisa conf iar em você para se sentir à vontade para contar detalhes, às vezes, do seu sofri-mento. Muitos não contam tudo porque acham

E quando o paciente não quer seguir as instruções ou não quer se sub-meter a uma cirurgia?

Às vezes, as pessoas têm expectativas pouco realistas. Digamos que o paciente saiba que a cirurgia é melhor do que uma alternativa a ela, mas ele não aceita o tratamento cirúrgico. Eu não posso dizer simplesmente “não quer operar, então vamos fazer outra coisa”. Tenho obrig-ação, nesse caso específ ico, em que eu sei que a cirurgia é a melhor opção, de explicar e fazer o paciente entender isso. Se eu tiver certeza de que ele entendeu e, por uma razão pessoal, ele não quiser a cirurgia, de jeito nenhum, aí passará a ser corresponsável por essa decisão. Às vezes, o paciente acha complicados alguns procedi-mentos e não quer passar por aquele sofri-mento, mas é o único jeito de se tratar. Então, o médico deve ter bagagem para saber explicar o que está acontecendo. À hora que ele percebe que tanto o médico quanto a sua equipe sabem ajudá-lo a passar por essa dif iculdade, f ica muito mais fácil aceitar os desaf ios que virão.

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que vão aborrecer o médico com uma situação que ele acha bobagem. Então, quando se passa por uma situação de saúde, assim como qualquer experiência de vida, ela deixa marcas e algum tipo de modif icação. Conversar com o paciente, explicar a doença, o tratamento e as consequências são coisas que eu já fazia. Não foi por causa disso. Mas, talvez, o jeito de falar tenha mudado. E eu tenho procurado inf luenciar minha equipe em relação a isso.

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um olhar médico

Planos deprevidência privada:

Setor privado propõe alternativas confiáveis para a aposentadoria

S egundo a última edição da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988,

todo cidadão brasileiro deve ter assegurado pelo Estado seu direito à Seguridade Social. Ao Estado

cabe, portanto, garantir acesso às 3 entidades básicas que formam a Seguridade: saúde, as-

sistência social e previdência. Em contribuição, o cidadão brasileiro paga seus impostos e taxas, na esperança de usufruir de seus direi-tos quando precisar. Mas o que acontece quando um dos dois não cumpre sua parte? Da perspectiva do cidadão fica quase impos-

sível esquivar-se da contribuição para com o Estado brasileiro, dado que qualquer item neste país (consumível ou não) gera uma por-centagem de renda aos cofres públicos. Já do lado do governo, a ineficiência na gestão é comum e se traduz na ausência de direitos

básicos, como bem conhecemos no âmbito da saúde. Neste contexto de incapacidade do setor público, o setor privado costuma crescer e, de maneira eficiente, propor alternativas na área. No caso da Previdên-cia Social, com seu déficit histórico e insanável, a iniciativa privada não deixou por menos: propôs alternativas, soluções,

planos, empresas e produtos; cresceu e estabeleceu-se como opção confiável ao

cidadão brasileiro. Ao Estado sobrou a regula-mentação e fiscalização do setor, além de atuar

também na área através do regime geral de pre-vidência social.

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A previdência privada no Brasil foi oficial-mente instituída através da Lei nº 6.435, de julho de 1977 e regulamentada por decreto em janeiro de 1978. Surgiu de uma conjunção de fatores alicerçados no aumento da renda per capita e na incapacidade do Estado em manter qualidade de vida digna para a crescente população ina-tiva. Os brasileiros que começavam a aumentar seus ganhos mensais viram com pessimismo um futuro no qual a previdência oficial não seria capaz de manter seus meios de vida. A iniciativa privada, então, ofereceu planos, produtos, fundos e métodos diversos para que o indivíduo guardasse parte de suas reservas para a aposentadoria. Ao longo dessas 3 décadas, diversas formas de organização e regulamen-tação foram instituídas, de maneira que, atual-mente, a previdência privada está dividida em Entidades Abertas (acessível a todos, finalidade

Previdência privada Previdência pública- Fica sob gestão de empresas especializadas e sob regulamen-tação e fiscalização do setor pú-blico;- Cada contribuinte é responsável por formar sua própria reserva, de acordo com sua capacidade de pagamento e com o valor que deseja receber ao se aposentar.

Ponto em comum:- Têm os mesmos objetivos: poupar durante os anos de atividade para usufruir dos recursos na aposentadoria

- Fica com a gestão, regulamen-tação e fiscalização, todos, a cargo de setores do governo;- Existe um fundo comum, onde a renda paga aos trabalhadores aposentados é formada a partir das contribuições oriundas da-queles que permanecem na ativa.

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Apesar da óbvia dicotomia público-privada, a Previdência Social está hoje dividida em 3 esferas: o Regime Complementar (previdência privada), o Regime Geral (previdência pública – INSS) e os chamados Regimes Próprios, fundos de previdência ex-clusivos para servidores públicos. De con-tribuição obrigatória, apenas os regimes Geral e Próprio, já que o Complementar, como o próprio nome diz, vem somar de forma faculta-tiva aos outros 2.

lucrativa, sociedade anônima) e Entidades Fechadas (finalidade não lucrativa, sociedade civil/fundação; planos previdenciários dos fun-cionários da Bosch, IBM, Ambev). De maneira voluntária, a participação nas Entidades Abertas da previdência privada se dá através da aquisição de planos e participações em fundos, disponibilizados no mercado por bancos ou seguradoras. Basta o cidadão ter capital e um mínimo planejamento em médio e longo prazo para obter um plano de previdência

privada, não importando se trabalha com carteira assinada ou na ilegalidade. Os planos mais comumente vendidos são os conhecidos como PGBL e VGBL. O VGBL é o Vida Gerador de Benefícios Livre, modalidade criada em 2002 como parte de uma estratégia de disponibili-zação de previdência privada para as classes mais baixas da população. O PGBL é o Plano Gerador de Benefícios Livre, no qual as con-tribuições são passíveis de dedução no imposto de renda, sendo esta a principal diferença entre os planos. No VGBL a tributação incide nos res-gates, enquanto no PGBL a tributação recai sobre o montante final da reserva. Ambos os planos permitem o uso da reserva financeira para investimentos em renda fixa ou variável, ou seja, antes mesmo de resgatar os recursos na aposentadoria, o dono do plano já pode traba- lhar com aquele dinheiro fazendo-o render ainda

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MedAtual Direitos do Médico

mais antes de usufruir do conforto na velhice. Apesar das mudanças ocorridas no sis-tema previdenciário nas últimas décadas, a ideia de poupar para a velhice permanece constante nas diversas gerações de trabalhadores. A busca pelo trabalho com carteira assinada traduz a vontade de garantir a aposentadoria da população. Trabalhar com carteira assinada ga-rante um resgate futuro na previdência pública. Profissionais autônomos, como médicos e profissionais da saúde, também têm direito a recursos do Regime Geral, desde que compro-vem contribuição ao Instituto Nacional de Seguri-dade Social (o que na modalidade CLT é obrig-atório). Além disso, quem contribui para a previ-dência pública também tem acesso a outros itens da seguridade social, como o FGTS (uma espécie de “bolsa-desemprego”) e inserção no PIS.

Por outro lado, a contribuição para a previ-dência pública não exclui a participação na pri-vada. É muito comum que um médico tenha um contrato de trabalho que o obrigue a contribuir com o INSS e ainda contrate um plano de previ-dência privada. Na verdade, como sugere o próprio termo “previdência complementar”, um plano privado pode se somar a um resgate público e, ainda mais, a um resgate em Entidade Fechadas. Por exemplo, basta um médico tra-balhar em um hospital com contrato CLT, ser gestor de um plano privado adquirido em um banco e ter um 2º emprego em uma empresa que disponibiliza plano de previdência aos seus funcionários. Dessa forma, vemos que a previdência pri-vada é uma opção confiável para garantia de qualidade de vida na aposentadoria. Da per-spectiva médica, vê-se que existem inúmeras possibilidades previdenciárias, esclarecendo o mito de que médico não tem aposentadoria gar-antida. Bastam informações, planejamento e um pouco de atitude pois, do contrário, ficamos à mercê da velha máquina do Estado, com sua conhecidíssima ineficiência e responsabilidade, adjetivos que, sem dúvida, não condizem com o que almejamos para nossos dias de velhice.

Leandro FaustinoMédico, Cirurgião pela Escola Paulista de Medicina – UNIFESP

Laisa de MouraAdvogada, Especialista em Responsabilidade Civil pela GVLaw - Fundação Getúlio Vargas e Mestre em Direito Civil pela PUC-SP

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MedAtual Multidisciplinar

no ambiente hospitalarPsicologiaMais um membro de equipe multidisciplinar que, junto do médico, atua na saúde psíquica do paciente

C ada vez mais difundida no país, a psicolo-gia hospitalar é a área que cuida da interação familiar, social, biológica e psicológica de cada pa-ciente. Trata-se de mais uma contribuição multi-disciplinar destinada à equipe médica no intuito de auxiliar no tratamento e na recuperação do doente. “O psicólogo hospitalar se insere para traba-lhar com conteúdos psíquicos auxiliando pa-cientes, familiares e equipe médica com as reper-cussões emocionais decorrentes do adoeci-mento. Assim, através de seu conheci mento técnico, ele adota uma postura de escuta ativa em relação às situações de angústia, ansiedade e comportamento depressivo e trabalha esses con-teúdos com o intuito de favorecer o restabeleci-mento da condição psíquica saudável durante o período de internação”, afirma Ana Merzel Kernkraut, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein. “Nossa atuação é principalmente voltada àqueles que têm doenças crônicas, como o câncer. Ajudamo-los a enfrentar o diagnóstico e o processo de reabilitação e a aderir ao tratamento. São pessoas que têm cura ou não. Em alguns casos, é necessário também um trabalho junto à família, para que ela também consiga ajudar aquele que está doente da melhor forma”, explica Daniela Achette, psicóloga do Hospital Sírio-Libanês.

Os psicólogos só entram em ação com a autorização do paciente. O médico também deve estar ciente e dar anuência para que ocorra o atendimento. “No HIAE existem 11 profissionais aloca-dos nas áreas de pacientes graves, clínica médico-cirúrgica, materno-infantil, oncologia, diálise, cirurgia bariátrica e psiquiatria. E os pedidos de atendimentos são encaminhados através de solicitação médica, identificação de necessidade de atendimento psicológico pelo enfermeiro ou solicitação do próprio paciente”, conta Ana Merzel. No Sírio-Libanês, a equipe é composta por 8 profissionais também divididos em áreas clíni-cas, atuando casos de obesidade, checkups e internações. “Fazemos, geralmente, 2 atendi-mentos por semana, mas essa quantidade pode ser ajustada de acordo com o paciente. Tudo é feito de modo individualizado”, diz Daniela.

Terapia

A presença do psicólogo é necessária em casos de quadros de ansiedade, depressão, an-gústia, falta de adesão ao tratamento, além da dificuldade de relacionamento com os familiares ou a equipe.

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O psicólogo hospitalar ainda atua em casos de fase terminal. “Em muitos casos, o paciente e os seus familiares já estão em acompanhamento psicológico. Então, o profissional atua no sentido de favorecer a expressão de sentimentos e desejos e de iniciar um trabalho em que o luto possa ser elaborado pelos fami-liares”, explica Ana. “Os pacientes falam de conteúdos que trazem desconforto emocional. É claro que poder comparti-lhar com alguém que tenha escuta pro-move um desabafo, mas o trabalho que o psicólogo realiza vai muito além disso. Ele dá voz, compreensão e interpretação aos conteúdos psíquicos, tentando, desta maneira, promover alívio da condição psíquica instalada diante do adoeci-mento”. Atualmente, os pacientes têm rece-bido bem todo o processo de cuidados psicológicos. “Nos últimos anos, a cultura das pessoas está diferente em relação à aceitação da psicologia. Antes havia uma resistência. Ainda acontece eventual-mente, mas no geral se tem percebido que estamos ali para ajudar, inclusive, no fornecimento de informações para que o paciente consiga entender e decidir diante do que lhe está acontecendo”, es-clarece Daniela. Segundo ela, manter distância emo-cional dos casos encontrados no ambi-ente hospitalar é essencial nesse tra-balho. “Não podemos misturar as coisas, senão o profissional desmorona. Lidamos com a perda o tempo todo. Então, temos técnicas, além da prática, que nos ajuda a manter certo distanciamento”, ressalta.

Pacientes terminais

Paula Maria Prado | Da redação

Desde a década de 1940, já é praticada a psicologia hospitalar no país. A Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar foi fun-dada em 1997, com sede em Belo Horizonte (MG). O título de especialista foi regulamen-tado pela resolução 014/2000, do Conselho Federal de Psicologia.

Juntamente com assistentes sociais e médi-cos. Participa da tomada de decisões, princi-palmente para fornecer e solicitar infor-mações, bem como expandir as discussões durante as reuniões. O ideal é acompanhar o paciente desde a sua chegada ao hospital.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia, o psicólogo pode realizar o atendimento psicoterapêutico, em ambulatórios e em Unidades de Terapia Intensiva, pronto atendi-mento nas enfermarias, em conjunto com uma equipe multidisciplinar na avaliação diagnóstica, na consultoria, na psicoedu-cação e na psicoprofilaxia.

Adaptação: intervém na qualidade do pro-cesso de adaptação e recuperação do paciente internadoInterconsulta: ajuda outros profissionais no trato com o pacienteEnlace: ajuda a modificar ou a instalar comportamentos adequados no pacienteAssistencial: atua com o paciente de forma direta

Especialidade

Atuação

Atividades

Principais funções

MedAtual Multidisciplinar

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Matéria de Capa

Para incentivar o intercâmbio de alunos, universidades investem em instituições médicas de outros países.

PROFISSIONALINTERCÂMBIO

om um mundo cada vez mais globalizado, o número de profissionais que buscam formação em instituições internacionais só cresce. Fazer a especialização fora do país é algo bastante cus-toso e com uma série de etapas burocráticas, além disso, o profissional precisa validar o diplo-ma caso deseje ser reconhecido como especia-lista no Brasil. Por conta disso, opções como es-tágios e intercâmbios, que permitem que o médico faça apenas parte dos estudos fora do país, são cada vez mais comuns nos programas de residência nacionais. Prova disso é que universidades de renome como USP e Unifesp, por exemplo, estão investindo consideravelmente em socie-dades com instituições internacionais. “Já esta-belecemos parcerias com uma série de serviços

C na Europa, nos EUA e na América Latina. Re-centemente, nos aproximamos do Japão para criar um canal de relacionamento entre as insti-tuições médicas dos 2 países“, afirma Gilmar Fernandes do Prado, coordenador da Comissão de Residência Médica da Unifesp. Segundo o especialista, vivenciar a cultura médica em outros países possibilita uma formação profis-sional mais rica e completa. O Hospital Israelita Albert Einstein, um dos mais conceituados centros médicos do Brasil, compartilha da ideia. Entre as parcerias feitas pela instituição estão estágios de 2 meses no MD Anderson Cancer Center e de um mês no Cincinatti Children’s Hospital, ambos nos EUA. Ambos os programas estão disponíveis para médicos residentes da instituição após uma

pré-seleção. “Com certeza a troca de experiências é relevante para a formação do médico. Além disso, os contatos estabelecidos permitem ampliar o leque de oportunidades para as instituições en-volvidas”, afirma a diretora de ensino superior da Faculdade Israelita de Saúde Albert Einstein, Olga Guilhermina Farah.A maioria dos médicos prefere fazer estágios de curta duração em universidades e hospitais de grande renome na Europa e nos EUA. As temporadas de estudo fora de casa costu-mam durar de 1 a 6 meses, tempo mais que sufi-ciente, segundo professores e alunos, para conhe-cer a realidade de outros serviços e voltar com o que há de melhor na bagagem. “Complementar a formação dos residentes em instituições interna-cionais é algo bastante vantajoso e contribui para médicos mais completos e experientes”, avalia Luis Yu, coordenador da comissão de residência médica da Faculdade de Medicina da USP. Especializada em genética médica pela Uni-fesp, Renata Moldenhauer Minillo, 30 anos, optou por fazer um estágio de um mês e meio na Johns Hopkins University (EUA). A médica baseou-se na possibilidade de ter contato com técnicas de ponta ao selecionar a universidade americana. “Sempre tive muita vontade de conhecer um desses gran-des centros para vivenciar o cotidiano deles, co-nhecer desde aspectos culturais na forma de lidar como paciente até questões financeiras e de trami-tes burocráticos”, revela. Durante a residência de clínica médica na Unifesp, Luiza Helena Degani Costa, 26 anos, es-colheu passar um mês em Cambridge, na Inglater-ra. “Foi minha escolha de estágio opcional. Já sabia que queria fazer pneumologia e achei inte-ressante conhecer mais sobre a especialidade e suas possibilidades em um serviço totalmente dife-rente do que conhecia aqui.“ Atualmente no R4 em pneumologia a médica pretende repetir a experiên-cia. “Vou passar um ano em Harvard (EUA), dessa vez mais focada na área de pesquisa”, explica. Para Luiza, este tipo de vivência permite que o pro-fissional conheça mais sobre sua área e abra seu leque de opções.

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om um mundo cada vez mais globalizado, o número de profissionais que buscam formação em instituições internacionais só cresce. Fazer a especialização fora do país é algo bastante cus-toso e com uma série de etapas burocráticas, além disso, o profissional precisa validar o diplo-ma caso deseje ser reconhecido como especia-lista no Brasil. Por conta disso, opções como es-tágios e intercâmbios, que permitem que o médico faça apenas parte dos estudos fora do país, são cada vez mais comuns nos programas de residência nacionais. Prova disso é que universidades de renome como USP e Unifesp, por exemplo, estão investindo consideravelmente em socie-dades com instituições internacionais. “Já esta-belecemos parcerias com uma série de serviços

Matéria de Capa

na Europa, nos EUA e na América Latina. Re-centemente, nos aproximamos do Japão para criar um canal de relacionamento entre as insti-tuições médicas dos 2 países“, afirma Gilmar Fernandes do Prado, coordenador da Comissão de Residência Médica da Unifesp. Segundo o especialista, vivenciar a cultura médica em outros países possibilita uma formação profis-sional mais rica e completa. O Hospital Israelita Albert Einstein, um dos mais conceituados centros médicos do Brasil, compartilha da ideia. Entre as parcerias feitas pela instituição estão estágios de 2 meses no MD Anderson Cancer Center e de um mês no Cincinatti Children’s Hospital, ambos nos EUA. Ambos os programas estão disponíveis para médicos residentes da instituição após uma

Brasil na mira dos estrangeiros Não são apenas os brasileiros que buscam adquirir conhecimento em centros consagrados internacionalmente. Muitos médi-cos de fora do país têm investido em especiali-zações em instituições nacionais. Universi-dades como a USP e a Unifesp estão no topo da lista de preferências dos estrangeiros, prin-cipalmente da Colômbia, Argentina, Espanha e Portugal, mas muitos investem em cursos ofer-ecidos por hospitais de referência. Assim como para os brasileiros que viajam para fora do país, os estágios de curta duração são a opção da maioria dos estrangei-ros que vêm para cá, mas alguns optam por cursar o programa completo de residência. É o caso de Maria Julia Torres Nieto, 34 anos. Para cursar a residência de neuropediatria na USP de Ribeirão Preto a médica colombiana preci-sou passar por uma série de exames para vali-dar seu diploma e para ser admitida na residência médica. “Optei por vir ao Brasil pelo alto nível das faculdades daqui, além da opor-tunidade de apreender uma nova língua e con-hecer a diversidade da cultura brasileira”, afirma. Maria Julia conta que, apesar de gostar do Brasil, não pretende ficar por aqui. “Meu ob-jetivo é levar o conhecimento e o aprendizado adquiridos em minha estadia para o meu país.”Como Maria Julia, muitos profissionais veem ao Brasil em busca de um ensino de qualidade, mas não têm a intenção de atuar como médicos no país. Por conta disso, algumas universi-dades brasileiras iniciaram um movimento para a criação de vagas para residentes internacion-ais que não tenham como pré-requisito a vali-dação do diploma. “Ainda precisamos passar por uma série de protocolos, mas o processo para termos vagas para alunos internacionais já foi iniciado. Nossa proposta é criar um fluxo de mé-dicos que irão voltar para seus países após a conclusão do curso e que, por este motivo, não precisariam ter um diploma válido no Brasil. É

uma forma de internacionalizar a universidade, au-mentando a credibilidade das instituições brasilei-ras e do ensino que temos no país”, finaliza Gilmar Fernandes do Prado.

pré-seleção. “Com certeza a troca de experiências é relevante para a formação do médico. Além disso, os contatos estabelecidos permitem ampliar o leque de oportunidades para as instituições en-volvidas”, afirma a diretora de ensino superior da Faculdade Israelita de Saúde Albert Einstein, Olga Guilhermina Farah.A maioria dos médicos prefere fazer estágios de curta duração em universidades e hospitais de grande renome na Europa e nos EUA. As temporadas de estudo fora de casa costu-mam durar de 1 a 6 meses, tempo mais que sufi-ciente, segundo professores e alunos, para conhe-cer a realidade de outros serviços e voltar com o que há de melhor na bagagem. “Complementar a formação dos residentes em instituições interna-cionais é algo bastante vantajoso e contribui para médicos mais completos e experientes”, avalia Luis Yu, coordenador da comissão de residência médica da Faculdade de Medicina da USP. Especializada em genética médica pela Uni-fesp, Renata Moldenhauer Minillo, 30 anos, optou por fazer um estágio de um mês e meio na Johns Hopkins University (EUA). A médica baseou-se na possibilidade de ter contato com técnicas de ponta ao selecionar a universidade americana. “Sempre tive muita vontade de conhecer um desses gran-des centros para vivenciar o cotidiano deles, co-nhecer desde aspectos culturais na forma de lidar como paciente até questões financeiras e de trami-tes burocráticos”, revela. Durante a residência de clínica médica na Unifesp, Luiza Helena Degani Costa, 26 anos, es-colheu passar um mês em Cambridge, na Inglater-ra. “Foi minha escolha de estágio opcional. Já sabia que queria fazer pneumologia e achei inte-ressante conhecer mais sobre a especialidade e suas possibilidades em um serviço totalmente dife-rente do que conhecia aqui.“ Atualmente no R4 em pneumologia a médica pretende repetir a experiên-cia. “Vou passar um ano em Harvard (EUA), dessa vez mais focada na área de pesquisa”, explica. Para Luiza, este tipo de vivência permite que o pro-fissional conheça mais sobre sua área e abra seu leque de opções.

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Paula Maria Prado | Amanda NovarettiDa redação

O que diz o

MECDicas para quem

quer estudar fora do

País

Matéria de Capa

• Converse com pessoas que passaram pelo pro-grama que você quer fazer;

• Veja se o curso escolhido é reconhecido por fac-uldades e associações médicas do Brasil, isso facilitará a validação do currículo ao fim do pro-grama;

• Informe-se a respeito de sociedades fechadas entre estabelecimentos de ensino do Brasil com outros países. Muitas universidades oferecem programas de intercâmbio para seus alunos em instituições parceiras;

• Existem diferentes tipos de estágio e cursos volta-dos tanto para estudantes de medicina quanto para profissionais formados. Verifique qual é mais ad-equado em relação às suas necessidades e expec-tativas;

• Lembre-se de que residências feitas no exterior precisam ser validadas para que o diploma de es-pecialista seja reconhecido no Brasil e que o pro-cesso pode ser bastante longo e burocrático;

• Verifique se o seu nível linguístico é compatível com o exigido pela instituição. Na maioria das vezes é necessário comprovar o co- nhecimento da língua estrangeira por meio de um teste de proficiência;

• Pesquise sobre o país e a cidade escolhidos e avalie como será sua adaptação em relação a clima, estilo de vida, cultura local etc.;

• Programe-se com antecedência para evitar proble-mas com visto de entrada e outros documentos exigidos para entrada no país de destino.

• Certificados de programas de residência médica expedidos por estabelecimentos es-trangeiros devem ser validados para que sejam declarados equivalentes aos concedi-dos no Brasil;

• São passíveis de validação certificados de cursos que correspondam aos fornecidos no Brasil em relação ao conteúdo curricular, carga horária e modalidade de especialidade;

• O processo de validação é feito junto a uma instituição de ensino público nacional e é necessária a apresentação de documentos que comprovem a formação do profissional e a origem do certificado internacional a ser vali-dado, entre outros;

• Médicos formados em universidades fora do país (brasileiros ou estrangeiros) devem vali-dar o diploma universitário antes de prestar o concurso para residência médica no Brasil. Os estrangeiros ainda precisam apresentar visto de permanência (exceto MERCOSUL) e certi-ficado de proficiência em língua portuguesa;

• O médico estrangeiro sem visto de per-manência não pode cursar residência médica no Brasil, mas pode especializar-se por meio de “Programa de Capacitação Profissional para Médicos Estrangeiros”, nas condições acima descritas por lei. Nestes casos não há previsão de pagamento de bolsa e o exercício da profissão fica limitado estritamente ao am-biente do programa e sob supervisão e responsabilidade direta de um professor.

Não são apenas os brasileiros que buscam adquirir conhecimento em centros consagrados internacionalmente. Muitos médi-cos de fora do país têm investido em especiali-zações em instituições nacionais. Universi-dades como a USP e a Unifesp estão no topo da lista de preferências dos estrangeiros, prin-cipalmente da Colômbia, Argentina, Espanha e Portugal, mas muitos investem em cursos ofer-ecidos por hospitais de referência. Assim como para os brasileiros que viajam para fora do país, os estágios de curta duração são a opção da maioria dos estrangei-ros que vêm para cá, mas alguns optam por cursar o programa completo de residência. É o caso de Maria Julia Torres Nieto, 34 anos. Para cursar a residência de neuropediatria na USP de Ribeirão Preto a médica colombiana preci-sou passar por uma série de exames para vali-dar seu diploma e para ser admitida na residência médica. “Optei por vir ao Brasil pelo alto nível das faculdades daqui, além da opor-tunidade de apreender uma nova língua e con-hecer a diversidade da cultura brasileira”, afirma. Maria Julia conta que, apesar de gostar do Brasil, não pretende ficar por aqui. “Meu ob-jetivo é levar o conhecimento e o aprendizado adquiridos em minha estadia para o meu país.”Como Maria Julia, muitos profissionais veem ao Brasil em busca de um ensino de qualidade, mas não têm a intenção de atuar como médicos no país. Por conta disso, algumas universi-dades brasileiras iniciaram um movimento para a criação de vagas para residentes internacion-ais que não tenham como pré-requisito a vali-dação do diploma. “Ainda precisamos passar por uma série de protocolos, mas o processo para termos vagas para alunos internacionais já foi iniciado. Nossa proposta é criar um fluxo de mé-dicos que irão voltar para seus países após a conclusão do curso e que, por este motivo, não precisariam ter um diploma válido no Brasil. É

uma forma de internacionalizar a universidade, au-mentando a credibilidade das instituições brasilei-ras e do ensino que temos no país”, finaliza Gilmar Fernandes do Prado.

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minutos entre uma aula e outra, que usávamos para pesquisar. A biblioteca até foi ampliada, por causa dessa necessidade de atualização. Mas claro que muito também depende do aluno”, con-sidera. Isabela Nogueira Torregrossa, 28 anos, formou-se há 2 anos pela Faculdade de Medicina de Pouso Alegre, que não aderiu ao PBL e con-corda com a observação de Telmo. “As matérias, os professores e os pacientes estão à disposição de todos, mas o estudo e a dedicação pessoais são fundamentais. E não só na época acadêmica, mas para a vida toda”, avalia. Nem por isso ela recrimina o PBL. “O fato de não compartimentar as matérias em várias gave-tas e depois, em um paciente, saber juntar todas essas informações é interessante. Mas talvez o estudo eficaz desse aluno dependa muito de sua organização, pois não segue o padrão que te mostra etapa por etapa”, conclui. Jadete Barbosa Lampert, presidente da Abem (Associação Brasileira de Educação Médica), segue o mesmo pensamento ao cogitar uma comparação. “Os 2 métodos convivem uma

vez que, estruturados em disciplinas ou módulos, os conteúdos são abordados por diferentes do-centes e poucos deles têm capacitação para me-todologias ativas, PBL e outros. A vivência dos futuros profissionais é positiva ou não dependen-do das práticas que lhes são oportunizadas e da forma como eles são orientados, acompanhados e avaliados em seus conhecimentos, habilidades e atitudes. E isso do início ao final do curso de graduação”, diz. Ela resume o PBL como favorável a uma visão contextualizada frente a problemas e, o tra-dicional, a princípio, ao recebimento e memoriza-ção de conteúdos. Sobre a recepção dos egressos no mercado de trabalho, ela diz que não há o que temer. “Não há notícias de que o PBL tenha sido barreira para o profissional médico. Para a contratação de qual-quer profissional, o exigido deve ser as competên-cias que ele demonstra possuir, independente de como as adquiriu”, encerra.

MedAtual Especial

MEDICINA:Especialistas não definem qual método de ensino é mais eficaz na obtenção do conhecimento; alunos apontam van-tagens e desvantagens de cada forma de aprendizado

PBL X Modelo Tradicional

A Aquele modelo clássico de aula, com cronograma de conteúdos a serem transmi-tidos aos alunos, para que formem a base conceitual que futuramente será aplicada em casos clínicos, tem sido substituído aos poucos nas universidades de Medicina do país que optam pelo método PBL (Problem-based Learning) de ensino, que intenciona proporcionar ao estudante uma formação mais autônoma, participativa e prática desde seu ingresso no curso. Ainda que defendidas e questionadas sob vários aspectos, as 2 metodologias coexistem sem que haja uma resposta oficial sobre se uma se sobres-sairia à outra. Mas vantagens e desvantagens de cada grade curricular são apontadas por especialistas, que concordam que professores devem estar atualizados e os alunos devem ser mais ativos para a construção eficaz do conhecimento. Simplificando, a diferença entre os 2 métodos estaria na relação estabelecida entre o estudante e o professor, e na forma como os mesmos conteúdos deverão ser absorvidos ao longo da vida acadêmica do formando. Enquanto os modelos tradicio-nais ainda privilegiam as aulas expositivas como fonte primária de conhecimento, a aprendizagem baseada em problemas – como se traduz o PBL— apresenta desde cedo, a grupos de alunos, casos clínicos a serem solucionados por eles sob supervi-são de um professor, que deve incentivá-los a buscarem informações por conta pró-pria. Claro que a complexidade dessas diferenças não se esgota aí, mas é nessa pro-posta interdisciplinar e pró-ativa do modelo mais novo que os mais reticentes espetam as suas agulhas. Não seria, esta, uma metodologia que deixa os alunos mais perdidos na hora de encontrarem soluções para as problemáticas com que são confrontados? Ou, mesmo, esses futuros profissionais não correriam o risco de formarem-se com de-fasagem? “Não. Se bem aplicado o método PBL, o aluno não fica solto. Se nos moldes tradicionais as aulas costumam ser unilaterais (ou seja, com o conhecimento passado do mestre ao aluno), no PBL o professor serve como um provocador ou guia para que os estudantes encontrem as respostas, não simplesmente as dá. A ideia é que o aluno construa o seu aprendizado a partir da descoberta de novos conteúdos”, afirma Eli Bo-rochovicius, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas que acaba de defender uma dissertação sobre o ensino baseado em problemas, sistema elaborado na década de 1960 por pesquisadores da Escola de Medicina da Universi-dade McMaster, no Canadá. “Ele é fundamentado em princípios filosóficos, psicológi-

cos e pedagógicos bem anteriores à sua criação, chegou ao Brasil na década de 1990, e parte da ideia de que a pessoa deve aprender a partir de problemas reais”, explica. Após serem apresentados a um caso clíni-co, portanto, os alunos fazem interpretações indi-viduais do caso antes de trocarem informações com os demais integrantes do grupo e de pesqui-sarem. Só então a equipe apresenta a sua con-clusão aos outros grupos da classe e recebe a avaliação e as considerações do tutor (professor) – que durante todo o processo coloca-se à dispo-sição de todos para orientá-los nos estudos. “Os estudantes têm conferências e ativida-des práticas complementares às atividades de tutoria”, explica Mércia Ilias, coordenadora do curso de Medicina da Famema (Faculdade de Medicina de Marília), uma das pioneiras na apli-cação do PBL no Brasil. “No nosso curso eles têm, também, atividades práticas nos diferentes cenários do SUS desde a 1ª série, quando se utili-za a problematização. Ali, eles são recebidos com todos os cuidados relacionados à adaptação ao método, e contam com capacitações, com a con-ferência e com um núcleo de apoio aos estudan-tes. A maioria se adequa bem à metodologia após o 1º semestre”, completa. Mas ainda que a Famema seja bem avalia-da na formação de seus alunos, atingindo a faixa do resultado máximo (5) do Enade (Exame Na-cional de Desempenho dos Estudantes) de 2010, Mércia enxerga as vantagens e desvantagens do modelo. “Ele estimula a busca contínua por conheci-mento, possibilita avaliação de forma processual (e não só ao final do período), e favorece aspec-tos cognitivos, atitudinais e desenvolve habilida-des. Mas sua principal desvantagem está no alto investimento em recursos humanos e na necessi-dade de constante capacitação destes profissio-nais, atualização de bibliotecas e manutenção de laboratórios bem equipados”, afirma. Esta demanda de especialização dos pro-fessores, inclusive, é o motivo apontado por Valé-ria Holmo Batista, diretora do curso de Medicina

da Unitau (Universidade de Taubaté), para o PBL não ter sido adotado quando, em 2007, a institui-ção reviu toda a sua grade curricular. “Nosso corpo docente não tinha esse perfil, porque, para ser tutor, o professor precisa estar muito bem preparado. Deve haver muito envolvi-mento com a sua formação para aplicar essa me-todologia, que favorece o trabalho conjunto e faz o aluno aprender mais rápido a buscar o conheci-mento”, justifica. No Enade de 2010, a Unitau fechou com nota 4. “Apesar de mantermos as aulas expositi-vas, aumentamos muito as atividades práticas e seminários no nosso currículo nessa revisão de 2007. A diferença está basicamente na metodolo-gia. O PBL pede a resolução de um problema e, então, apresenta um conceito. E nós apresenta-mos o conceito para serem aplicados em proble-mas. Mas mantemos uma correlação de educa-ção básica com casos clínicos, porque o ensino de hoje deve ser misto. O aluno não está mais acostumado a só ouvir a aula teórica, o que resul-taria em baixa retenção de conhecimento”, ressal-ta. Formado pela PUC de Campinas em 2011 – instituição que obteve nota 4 no Enade de 2010 —, o médico Telmo Augusto Barba Belsuzarri, 24 anos, aprova a formação que teve unindo os 2 perfis de ensino. “Não era 100% PBL, mas sim uma versão híbrida, com um pouco dos 2. Achei um método ótimo. A semana era aberta por um caso clínico que obedecia a um tema que estava sendo passado, e era fechada na 6ª, após estu-dos direcionados. Não tínhamos o orientador totalmente à nossa disposição, mas o contatáva-mos por e-mail ou telefone. Junto a isso, tínhamos as aulas magistrais”, afirma. A combinação do teórico e da prática logo de início, para ele, faz diferença. “No 2º ano já entra-mos no hospital para observar sinais e sintomas de pacientes, o que foi precoce e importante. Aprender um conteúdo no 1º ano e só usá-lo na prática ao final do curso, como acontece em outros lugares, me parece ultrapassado. Fica de-satualizado. Nós tínhamos intervalos de até 50

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minutos entre uma aula e outra, que usávamos para pesquisar. A biblioteca até foi ampliada, por causa dessa necessidade de atualização. Mas claro que muito também depende do aluno”, con-sidera. Isabela Nogueira Torregrossa, 28 anos, formou-se há 2 anos pela Faculdade de Medicina de Pouso Alegre, que não aderiu ao PBL e con-corda com a observação de Telmo. “As matérias, os professores e os pacientes estão à disposição de todos, mas o estudo e a dedicação pessoais são fundamentais. E não só na época acadêmica, mas para a vida toda”, avalia. Nem por isso ela recrimina o PBL. “O fato de não compartimentar as matérias em várias gave-tas e depois, em um paciente, saber juntar todas essas informações é interessante. Mas talvez o estudo eficaz desse aluno dependa muito de sua organização, pois não segue o padrão que te mostra etapa por etapa”, conclui. Jadete Barbosa Lampert, presidente da Abem (Associação Brasileira de Educação Médica), segue o mesmo pensamento ao cogitar uma comparação. “Os 2 métodos convivem uma

vez que, estruturados em disciplinas ou módulos, os conteúdos são abordados por diferentes do-centes e poucos deles têm capacitação para me-todologias ativas, PBL e outros. A vivência dos futuros profissionais é positiva ou não dependen-do das práticas que lhes são oportunizadas e da forma como eles são orientados, acompanhados e avaliados em seus conhecimentos, habilidades e atitudes. E isso do início ao final do curso de graduação”, diz. Ela resume o PBL como favorável a uma visão contextualizada frente a problemas e, o tra-dicional, a princípio, ao recebimento e memoriza-ção de conteúdos. Sobre a recepção dos egressos no mercado de trabalho, ela diz que não há o que temer. “Não há notícias de que o PBL tenha sido barreira para o profissional médico. Para a contratação de qual-quer profissional, o exigido deve ser as competên-cias que ele demonstra possuir, independente de como as adquiriu”, encerra.

Aquele modelo clássico de aula, com cronograma de conteúdos a serem transmi-tidos aos alunos, para que formem a base conceitual que futuramente será aplicada em casos clínicos, tem sido substituído aos poucos nas universidades de Medicina do país que optam pelo método PBL (Problem-based Learning) de ensino, que intenciona proporcionar ao estudante uma formação mais autônoma, participativa e prática desde seu ingresso no curso. Ainda que defendidas e questionadas sob vários aspectos, as 2 metodologias coexistem sem que haja uma resposta oficial sobre se uma se sobres-sairia à outra. Mas vantagens e desvantagens de cada grade curricular são apontadas por especialistas, que concordam que professores devem estar atualizados e os alunos devem ser mais ativos para a construção eficaz do conhecimento. Simplificando, a diferença entre os 2 métodos estaria na relação estabelecida entre o estudante e o professor, e na forma como os mesmos conteúdos deverão ser absorvidos ao longo da vida acadêmica do formando. Enquanto os modelos tradicio-nais ainda privilegiam as aulas expositivas como fonte primária de conhecimento, a aprendizagem baseada em problemas – como se traduz o PBL— apresenta desde cedo, a grupos de alunos, casos clínicos a serem solucionados por eles sob supervi-são de um professor, que deve incentivá-los a buscarem informações por conta pró-pria. Claro que a complexidade dessas diferenças não se esgota aí, mas é nessa pro-posta interdisciplinar e pró-ativa do modelo mais novo que os mais reticentes espetam as suas agulhas. Não seria, esta, uma metodologia que deixa os alunos mais perdidos na hora de encontrarem soluções para as problemáticas com que são confrontados? Ou, mesmo, esses futuros profissionais não correriam o risco de formarem-se com de-fasagem? “Não. Se bem aplicado o método PBL, o aluno não fica solto. Se nos moldes tradicionais as aulas costumam ser unilaterais (ou seja, com o conhecimento passado do mestre ao aluno), no PBL o professor serve como um provocador ou guia para que os estudantes encontrem as respostas, não simplesmente as dá. A ideia é que o aluno construa o seu aprendizado a partir da descoberta de novos conteúdos”, afirma Eli Bo-rochovicius, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas que acaba de defender uma dissertação sobre o ensino baseado em problemas, sistema elaborado na década de 1960 por pesquisadores da Escola de Medicina da Universi-dade McMaster, no Canadá. “Ele é fundamentado em princípios filosóficos, psicológi-

MedAtual Especial

cos e pedagógicos bem anteriores à sua criação, chegou ao Brasil na década de 1990, e parte da ideia de que a pessoa deve aprender a partir de problemas reais”, explica. Após serem apresentados a um caso clíni-co, portanto, os alunos fazem interpretações indi-viduais do caso antes de trocarem informações com os demais integrantes do grupo e de pesqui-sarem. Só então a equipe apresenta a sua con-clusão aos outros grupos da classe e recebe a avaliação e as considerações do tutor (professor) – que durante todo o processo coloca-se à dispo-sição de todos para orientá-los nos estudos. “Os estudantes têm conferências e ativida-des práticas complementares às atividades de tutoria”, explica Mércia Ilias, coordenadora do curso de Medicina da Famema (Faculdade de Medicina de Marília), uma das pioneiras na apli-cação do PBL no Brasil. “No nosso curso eles têm, também, atividades práticas nos diferentes cenários do SUS desde a 1ª série, quando se utili-za a problematização. Ali, eles são recebidos com todos os cuidados relacionados à adaptação ao método, e contam com capacitações, com a con-ferência e com um núcleo de apoio aos estudan-tes. A maioria se adequa bem à metodologia após o 1º semestre”, completa. Mas ainda que a Famema seja bem avalia-da na formação de seus alunos, atingindo a faixa do resultado máximo (5) do Enade (Exame Na-cional de Desempenho dos Estudantes) de 2010, Mércia enxerga as vantagens e desvantagens do modelo. “Ele estimula a busca contínua por conheci-mento, possibilita avaliação de forma processual (e não só ao final do período), e favorece aspec-tos cognitivos, atitudinais e desenvolve habilida-des. Mas sua principal desvantagem está no alto investimento em recursos humanos e na necessi-dade de constante capacitação destes profissio-nais, atualização de bibliotecas e manutenção de laboratórios bem equipados”, afirma. Esta demanda de especialização dos pro-fessores, inclusive, é o motivo apontado por Valé-ria Holmo Batista, diretora do curso de Medicina

da Unitau (Universidade de Taubaté), para o PBL não ter sido adotado quando, em 2007, a institui-ção reviu toda a sua grade curricular. “Nosso corpo docente não tinha esse perfil, porque, para ser tutor, o professor precisa estar muito bem preparado. Deve haver muito envolvi-mento com a sua formação para aplicar essa me-todologia, que favorece o trabalho conjunto e faz o aluno aprender mais rápido a buscar o conheci-mento”, justifica. No Enade de 2010, a Unitau fechou com nota 4. “Apesar de mantermos as aulas expositi-vas, aumentamos muito as atividades práticas e seminários no nosso currículo nessa revisão de 2007. A diferença está basicamente na metodolo-gia. O PBL pede a resolução de um problema e, então, apresenta um conceito. E nós apresenta-mos o conceito para serem aplicados em proble-mas. Mas mantemos uma correlação de educa-ção básica com casos clínicos, porque o ensino de hoje deve ser misto. O aluno não está mais acostumado a só ouvir a aula teórica, o que resul-taria em baixa retenção de conhecimento”, ressal-ta. Formado pela PUC de Campinas em 2011 – instituição que obteve nota 4 no Enade de 2010 —, o médico Telmo Augusto Barba Belsuzarri, 24 anos, aprova a formação que teve unindo os 2 perfis de ensino. “Não era 100% PBL, mas sim uma versão híbrida, com um pouco dos 2. Achei um método ótimo. A semana era aberta por um caso clínico que obedecia a um tema que estava sendo passado, e era fechada na 6ª, após estu-dos direcionados. Não tínhamos o orientador totalmente à nossa disposição, mas o contatáva-mos por e-mail ou telefone. Junto a isso, tínhamos as aulas magistrais”, afirma. A combinação do teórico e da prática logo de início, para ele, faz diferença. “No 2º ano já entra-mos no hospital para observar sinais e sintomas de pacientes, o que foi precoce e importante. Aprender um conteúdo no 1º ano e só usá-lo na prática ao final do curso, como acontece em outros lugares, me parece ultrapassado. Fica de-satualizado. Nós tínhamos intervalos de até 50

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minutos entre uma aula e outra, que usávamos para pesquisar. A biblioteca até foi ampliada, por causa dessa necessidade de atualização. Mas claro que muito também depende do aluno”, con-sidera. Isabela Nogueira Torregrossa, 28 anos, formou-se há 2 anos pela Faculdade de Medicina de Pouso Alegre, que não aderiu ao PBL e con-corda com a observação de Telmo. “As matérias, os professores e os pacientes estão à disposição de todos, mas o estudo e a dedicação pessoais são fundamentais. E não só na época acadêmica, mas para a vida toda”, avalia. Nem por isso ela recrimina o PBL. “O fato de não compartimentar as matérias em várias gave-tas e depois, em um paciente, saber juntar todas essas informações é interessante. Mas talvez o estudo eficaz desse aluno dependa muito de sua organização, pois não segue o padrão que te mostra etapa por etapa”, conclui. Jadete Barbosa Lampert, presidente da Abem (Associação Brasileira de Educação Médica), segue o mesmo pensamento ao cogitar uma comparação. “Os 2 métodos convivem uma

vez que, estruturados em disciplinas ou módulos, os conteúdos são abordados por diferentes do-centes e poucos deles têm capacitação para me-todologias ativas, PBL e outros. A vivência dos futuros profissionais é positiva ou não dependen-do das práticas que lhes são oportunizadas e da forma como eles são orientados, acompanhados e avaliados em seus conhecimentos, habilidades e atitudes. E isso do início ao final do curso de graduação”, diz. Ela resume o PBL como favorável a uma visão contextualizada frente a problemas e, o tra-dicional, a princípio, ao recebimento e memoriza-ção de conteúdos. Sobre a recepção dos egressos no mercado de trabalho, ela diz que não há o que temer. “Não há notícias de que o PBL tenha sido barreira para o profissional médico. Para a contratação de qual-quer profissional, o exigido deve ser as competên-cias que ele demonstra possuir, independente de como as adquiriu”, encerra.

Aquele modelo clássico de aula, com cronograma de conteúdos a serem transmi-tidos aos alunos, para que formem a base conceitual que futuramente será aplicada em casos clínicos, tem sido substituído aos poucos nas universidades de Medicina do país que optam pelo método PBL (Problem-based Learning) de ensino, que intenciona proporcionar ao estudante uma formação mais autônoma, participativa e prática desde seu ingresso no curso. Ainda que defendidas e questionadas sob vários aspectos, as 2 metodologias coexistem sem que haja uma resposta oficial sobre se uma se sobres-sairia à outra. Mas vantagens e desvantagens de cada grade curricular são apontadas por especialistas, que concordam que professores devem estar atualizados e os alunos devem ser mais ativos para a construção eficaz do conhecimento. Simplificando, a diferença entre os 2 métodos estaria na relação estabelecida entre o estudante e o professor, e na forma como os mesmos conteúdos deverão ser absorvidos ao longo da vida acadêmica do formando. Enquanto os modelos tradicio-nais ainda privilegiam as aulas expositivas como fonte primária de conhecimento, a aprendizagem baseada em problemas – como se traduz o PBL— apresenta desde cedo, a grupos de alunos, casos clínicos a serem solucionados por eles sob supervi-são de um professor, que deve incentivá-los a buscarem informações por conta pró-pria. Claro que a complexidade dessas diferenças não se esgota aí, mas é nessa pro-posta interdisciplinar e pró-ativa do modelo mais novo que os mais reticentes espetam as suas agulhas. Não seria, esta, uma metodologia que deixa os alunos mais perdidos na hora de encontrarem soluções para as problemáticas com que são confrontados? Ou, mesmo, esses futuros profissionais não correriam o risco de formarem-se com de-fasagem? “Não. Se bem aplicado o método PBL, o aluno não fica solto. Se nos moldes tradicionais as aulas costumam ser unilaterais (ou seja, com o conhecimento passado do mestre ao aluno), no PBL o professor serve como um provocador ou guia para que os estudantes encontrem as respostas, não simplesmente as dá. A ideia é que o aluno construa o seu aprendizado a partir da descoberta de novos conteúdos”, afirma Eli Bo-rochovicius, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas que acaba de defender uma dissertação sobre o ensino baseado em problemas, sistema elaborado na década de 1960 por pesquisadores da Escola de Medicina da Universi-dade McMaster, no Canadá. “Ele é fundamentado em princípios filosóficos, psicológi-

COMO FUNCIONA

Tradicional PBL- Ensino formatado a partir de um cronograma de conteúdo; - Aulas expositivas mi-nistradas pelo professor;- Professor dá as res-postas e a melhor forma de realizar um procedi-mento.

- Formação autônoma, participativa e prática do aluno;- Aprendizagem baseada em problemas e casos clínicos que os alunos devem solucionar por conta própria com super-visão de um professor;- Professor como um provocador ou guia para que os estudantes en-contrem as respostas.

DESVANTAGENS O aluno pode se acomo-dar. É preciso que ele sempre seja estimulado a buscar novos conheci-mentos que não estão nos livros.

Se mal orientado, o aluno pode ficar com um déficit de aprendizagem.

Paula Maria Prado | Isabela RosembackDa redação

cos e pedagógicos bem anteriores à sua criação, chegou ao Brasil na década de 1990, e parte da ideia de que a pessoa deve aprender a partir de problemas reais”, explica. Após serem apresentados a um caso clíni-co, portanto, os alunos fazem interpretações indi-viduais do caso antes de trocarem informações com os demais integrantes do grupo e de pesqui-sarem. Só então a equipe apresenta a sua con-clusão aos outros grupos da classe e recebe a avaliação e as considerações do tutor (professor) – que durante todo o processo coloca-se à dispo-sição de todos para orientá-los nos estudos. “Os estudantes têm conferências e ativida-des práticas complementares às atividades de tutoria”, explica Mércia Ilias, coordenadora do curso de Medicina da Famema (Faculdade de Medicina de Marília), uma das pioneiras na apli-cação do PBL no Brasil. “No nosso curso eles têm, também, atividades práticas nos diferentes cenários do SUS desde a 1ª série, quando se utili-za a problematização. Ali, eles são recebidos com todos os cuidados relacionados à adaptação ao método, e contam com capacitações, com a con-ferência e com um núcleo de apoio aos estudan-tes. A maioria se adequa bem à metodologia após o 1º semestre”, completa. Mas ainda que a Famema seja bem avalia-da na formação de seus alunos, atingindo a faixa do resultado máximo (5) do Enade (Exame Na-cional de Desempenho dos Estudantes) de 2010, Mércia enxerga as vantagens e desvantagens do modelo. “Ele estimula a busca contínua por conheci-mento, possibilita avaliação de forma processual (e não só ao final do período), e favorece aspec-tos cognitivos, atitudinais e desenvolve habilida-des. Mas sua principal desvantagem está no alto investimento em recursos humanos e na necessi-dade de constante capacitação destes profissio-nais, atualização de bibliotecas e manutenção de laboratórios bem equipados”, afirma. Esta demanda de especialização dos pro-fessores, inclusive, é o motivo apontado por Valé-ria Holmo Batista, diretora do curso de Medicina

da Unitau (Universidade de Taubaté), para o PBL não ter sido adotado quando, em 2007, a institui-ção reviu toda a sua grade curricular. “Nosso corpo docente não tinha esse perfil, porque, para ser tutor, o professor precisa estar muito bem preparado. Deve haver muito envolvi-mento com a sua formação para aplicar essa me-todologia, que favorece o trabalho conjunto e faz o aluno aprender mais rápido a buscar o conheci-mento”, justifica. No Enade de 2010, a Unitau fechou com nota 4. “Apesar de mantermos as aulas expositi-vas, aumentamos muito as atividades práticas e seminários no nosso currículo nessa revisão de 2007. A diferença está basicamente na metodolo-gia. O PBL pede a resolução de um problema e, então, apresenta um conceito. E nós apresenta-mos o conceito para serem aplicados em proble-mas. Mas mantemos uma correlação de educa-ção básica com casos clínicos, porque o ensino de hoje deve ser misto. O aluno não está mais acostumado a só ouvir a aula teórica, o que resul-taria em baixa retenção de conhecimento”, ressal-ta. Formado pela PUC de Campinas em 2011 – instituição que obteve nota 4 no Enade de 2010 —, o médico Telmo Augusto Barba Belsuzarri, 24 anos, aprova a formação que teve unindo os 2 perfis de ensino. “Não era 100% PBL, mas sim uma versão híbrida, com um pouco dos 2. Achei um método ótimo. A semana era aberta por um caso clínico que obedecia a um tema que estava sendo passado, e era fechada na 6ª, após estu-dos direcionados. Não tínhamos o orientador totalmente à nossa disposição, mas o contatáva-mos por e-mail ou telefone. Junto a isso, tínhamos as aulas magistrais”, afirma. A combinação do teórico e da prática logo de início, para ele, faz diferença. “No 2º ano já entra-mos no hospital para observar sinais e sintomas de pacientes, o que foi precoce e importante. Aprender um conteúdo no 1º ano e só usá-lo na prática ao final do curso, como acontece em outros lugares, me parece ultrapassado. Fica de-satualizado. Nós tínhamos intervalos de até 50

MedAtual Especial

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na saúde penitenciáriaGestão inovadora

O Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário (CHSP), antigo Centro de Observação Criminológica (COC), é diferente da maioria dos hospitais brasileiros, pois tem como foco uma parcela específica da população: os pacientes do sistema prisional do estado de São Paulo. Vinculado à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), o hospital foi transferido para a Secretaria de Estado da Saúde (SES) em 2009, quando passou para a gestão da Irmandade da Santa Casa de Mise- ricórdia de São Paulo. O diretor técnico do CHSP, Hélvio Geraldo Nunes Junior, explica que o modelo de administração da unidade é inovador e único no país. “A gestão do hospital é feita por uma Organização Social de Saúde e a gestão da segurança pela SAP”, afirmou. Toda a demanda de saúde do sistema carcerário de São Paulo passa pela unidade, localizada no Carandiru, Zona Norte da capital pau-lista. O CHSP estava dentro do complexo da Casa de Detenção, presí-dio mais conhecido de São Paulo, que foi demolido e deu lugar ao Parque da Juventude. É com a área verde ao lado que o hospital tra-balha para recuperar a saúde dos presos paulistas. Agentes penitenciários e médicos dividem os corredores do hospi-tal, que é referência nacional no atendimento infectológico, cirúrgico, psiquiátrico e da saúde da mulher. Dentro do CHSP, que faz cerca de 2.600 atendimentos por mês, cada detento é tratado apenas como um doente que necessita de cuidados. Os profissionais da unidade não têm acesso à ficha criminal dos pacientes, que especifica o delito cometido e o tempo de reclusão. A medida faz parte do esforço para que todos sejam tratados igualmente e sem preconceito. No entanto, a presença de agentes penitenciários não é dispensada. “Atendemos o doente, aquele que necessita de cuidados de saúde, e não a pessoa que cometeu o delito e já foi ou não julgada. Para isso, existe o sistema judiciário”, afirma o Nunes. A humanização do atendimento é uma preocupação constante da instituição. A Organização Social de Saúde Centro Hospitalar do Sis-

Hospitais

Parceria com instituição privada torna o Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário referência no atendimento

tema Penitenciário busca manter o padrão de atendimento preconizado pela Santa Casa de São Paulo. O diretor comenta que a meta é tornar o CHSP uma referência no atendimento de saúde para o sistema penitenciário. Porém, o hospital necessita de verbas para investi-mento, a fim de proporcionar a execução de cirurgias eletivas mais complexas e evitar a remoção de pacientes para outras institu-ições. “Realizamos, no hospital, o atendimento secundário e terciário da população carcerária. Para melhoria da assistência, como preconiza o SUS, precisaríamos ter um atendimento primário efetivo com o intuito de tratar a nível hospitalar somente as doenças que necessitem de internação e com diag-nóstico precoce”, afirma. Atualmente, a unidade atende a 215 pa-cientes. Desses, 83 são mulheres que estão para dar à luz ou que há pouco tempo tiveram seus bebês. Porém, até mesmo em uma instituição que preza o atendimento humani-zado, a separação entre as mães e os recém-nascidos é um momento delicado. O hospital não realiza os partos, mas acolhe a mãe e o bebê até os 6 meses de vida. Após o período de amamentação, a criança deve ser entregue à família. Em 2010, o CHSP firmou Termo de Ajusta-mento de Conduta com o Ministério Público pensando no futuro desses bebês. A parceria garante que, após essa etapa, a criança seja entregue diretamente à família.

Page 40: Revista MedAtual - 5ª edição

Psiquiatria

O Centro Hospitalar do Sistema Peniten-ciário também realiza atendimento psiquiátrico a seus pacientes. Para atender a essa demanda, foi criado um ambulatório de saúde mental, que conta com uma equipe multiprofissional das áreas de Psiquiatria,

Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário (CHSP), antigo Centro de Observação Criminológica (COC), é diferente da maioria dos hospitais brasileiros, pois tem como foco uma parcela específica da população: os pacientes do sistema prisional do estado de São Paulo. Vinculado à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), o hospital foi transferido para a Secretaria de Estado da Saúde (SES) em 2009, quando passou para a gestão da Irmandade da Santa Casa de Mise- ricórdia de São Paulo. O diretor técnico do CHSP, Hélvio Geraldo Nunes Junior, explica que o modelo de administração da unidade é inovador e único no país. “A gestão do hospital é feita por uma Organização Social de Saúde e a gestão da segurança pela SAP”, afirmou. Toda a demanda de saúde do sistema carcerário de São Paulo passa pela unidade, localizada no Carandiru, Zona Norte da capital pau-lista. O CHSP estava dentro do complexo da Casa de Detenção, presí-dio mais conhecido de São Paulo, que foi demolido e deu lugar ao Parque da Juventude. É com a área verde ao lado que o hospital tra-balha para recuperar a saúde dos presos paulistas. Agentes penitenciários e médicos dividem os corredores do hospi-tal, que é referência nacional no atendimento infectológico, cirúrgico, psiquiátrico e da saúde da mulher. Dentro do CHSP, que faz cerca de 2.600 atendimentos por mês, cada detento é tratado apenas como um doente que necessita de cuidados. Os profissionais da unidade não têm acesso à ficha criminal dos pacientes, que especifica o delito cometido e o tempo de reclusão. A medida faz parte do esforço para que todos sejam tratados igualmente e sem preconceito. No entanto, a presença de agentes penitenciários não é dispensada. “Atendemos o doente, aquele que necessita de cuidados de saúde, e não a pessoa que cometeu o delito e já foi ou não julgada. Para isso, existe o sistema judiciário”, afirma o Nunes. A humanização do atendimento é uma preocupação constante da instituição. A Organização Social de Saúde Centro Hospitalar do Sis-

Hospitais

tema Penitenciário busca manter o padrão de atendimento preconizado pela Santa Casa de São Paulo. O diretor comenta que a meta é tornar o CHSP uma referência no atendimento de saúde para o sistema penitenciário. Porém, o hospital necessita de verbas para investi-mento, a fim de proporcionar a execução de cirurgias eletivas mais complexas e evitar a remoção de pacientes para outras institu-ições. “Realizamos, no hospital, o atendimento secundário e terciário da população carcerária. Para melhoria da assistência, como preconiza o SUS, precisaríamos ter um atendimento primário efetivo com o intuito de tratar a nível hospitalar somente as doenças que necessitem de internação e com diag-nóstico precoce”, afirma. Atualmente, a unidade atende a 215 pa-cientes. Desses, 83 são mulheres que estão para dar à luz ou que há pouco tempo tiveram seus bebês. Porém, até mesmo em uma instituição que preza o atendimento humani-zado, a separação entre as mães e os recém-nascidos é um momento delicado. O hospital não realiza os partos, mas acolhe a mãe e o bebê até os 6 meses de vida. Após o período de amamentação, a criança deve ser entregue à família. Em 2010, o CHSP firmou Termo de Ajusta-mento de Conduta com o Ministério Público pensando no futuro desses bebês. A parceria garante que, após essa etapa, a criança seja entregue diretamente à família.

Terapia Ocupacional, Psicologia, Serviço Social e Enfermagem. Juntos, estes profis-sionais traçam estratégias de intervenção individual considerando o caso de cada pa-ciente. A internação no ambulatório de saúde mental visa interromper e reverter o quadro clínico agudo e reduzir ou erradicar seus sin-tomas, além de trabalhar para a reinserção do detento no contexto prisional, ou social, quando deixar o cárcere. O tratamento é feito com uma proposta de intervenção breve, focada na crise e no motivo do adoecimento. Durante o período de internação, o paciente recebe tratamento intensivo e adequado ao seu quadro clínico. A família também é envolvida, recebendo apoio e es-clarecimento no processo de aproximação da realidade enfrentada pelo doente. Após a alta médica, o paciente é reen-caminhado para a unidade prisional de origem, que é contatada previamente para que ocorra acolhimento.

Page 41: Revista MedAtual - 5ª edição

Reconhecimento

A mudança nos rumos do hospital em 2009, com o início do trabalho da Santa Casa de São Paulo, pos-sibilitou o aumento no número de atendimentos e nos resultados obtidos. O CHSP passou a minimizar prob-lemas de saúde comuns nas cadeias brasileiras, como a tuberculose, a AIDS e a hepatite C. “Acreditamos que houve uma efetiva melhora no atendimento do paciente hospitalizado e na assistên-cia ambulatorial. Há ainda muito a ser realizado, mas as possibilidades de melhoria nesta área são inúmeras para atender a demanda carcerária cres-cente em nosso país”, disse Nunes. O trabalho realizado pelo hospital no atendi-mento de pacientes com tuberculose rendeu por 2 anos seguidos o prêmio concedido pela COVISA (Coordenação de Vigilância em Saúde de São Paulo). A premiação reconheceu os esforços na identificação da doença e na manutenção do tratamento, mesmo nos casos de multirresistência aos antibióticos. O Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário não é um hospital qualquer. Enfrenta diariamente as dificuldades de devolver a saúde e a cidadania a bra-sileiros que, dentro das cadeias, também sofrem com as dificuldades de acesso ao Sistema Único de Saúde.

O CHSP possui 375 leitos distribuídos em 4 alas de internação, com 2 andares cada. O hospital conta com 544 funcionários para atender a demanda carcerária do Estado e São Paulo.

INFRAESTRUTURA e atendimento

Atendimento ambulatorial2.667, sendo 1.125 atendimentos médicos e 1.542 não médicos;

Número atual de pacientes 117 homens, 15 mulheres e 83 puérperas;

Doenças prevalentesHIV, tuberculose e hepatite C (Infectologia); transtornos psiquiátricos (Psiquiatria); portadores de colostomia e colecistopatia crônica calculosa (Cirurgia);

Especialidades atendidas Cardiologia, Clínica Cirúrgica, Clínica Médica, Dermatologia, Fisiatria, Ginecolo-gia, Infectologia, Ortopedia, Psiquiatria, Urologia e Proctologia;

Cirurgias realizadaspredominam procedimentos como fecha-mento de colostomia, colecistectomia e hérnia inguinal. Em menor número, realiza cirurgia de cabeça e pescoço, plástica reconstrutiva, cirurgias urológicas, de tórax e vascular.

Paula Maria Prado | Aline AlvarengaDa redação

Hospitais

Page 42: Revista MedAtual - 5ª edição

Curiosidades

Quantos presidentes brasileiros eram médicos?

Eduardo BertolliCirurgião pela PUC-SP e Cirurgião Oncológico pelo Hospital do Câncer A. C. Camargo

esde 1899, com a Proclamação da República, apenas um médico elegeu-se como presidente brasileiro. Foi o mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, que governou de 1956 a 1961. Levando-se em consideração os vice-presidentes que assumiram o cargo, chegaram à presidência 20 advogados, 10 militares, 1 professor, 1 empresário, 1 engenheiro, 1 sociólogo, 1 metalúrgico e 1 economista.

Juscelino Kubitschek, ou JK (1902-1976), foi prefeito de Belo Horizonte entre 1940 e 1945 e governador de Minas Gerais entre 1951 e 1955 antes de assumir a presidência. Seu governo ficou conhecido pelo lema “crescer 50 anos em 5”, caracterizando um período de notável crescimento econômico. Foi também no governo de JK que se criou Brasília, atual capital política do país.

Como médico, JK ingressou em 1922 na Universidade Federal de Minas Gerais. Formou-se em 1927 e passou a integrar a cadeira de Clínica Cirúrgica da Santa Casa de Belo Horizonte. Especializou-se em Urologia, tendo realizado em 1930 um estágio intensivo em Paris. Em 1956, Juscelino foi Presidente de Honra do V Congresso Brasileiro de Cirurgia e do X Congresso

Interamericano de Cirurgia, quando foi empossado como Membro Honorário do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

D

Em 1933, JK iniciou sua vida política e, aos poucos, abdicou da prática clínica e cirúrgica. Para muitos, Juscelino foi um dos melhores presidentes que o Brasil já teve, por sua habilidade política, por suas realizações e pelo seu respeito às instituições democráticas.

Page 43: Revista MedAtual - 5ª edição

A noção inicial da óptica desenvolveu-se primeira-mente pelos egípcios e babilônios durante a construção da arquitetura e das pirâmides, onde demonstraram a propagação retilínea da luz e o fenômeno da refração. Após esse período, Tales cultivou esse conceito para a cultura grega, onde foi criado o museu da Alexan-dria e se imprimiu pela primeira vez a óptica pro-priamente dita. Em 1772, Janin descreve a hiper-metropia e a partir daí foram desenvolvidas as primeiras lentes oftálmicas, como a côncava, a convexa e para a presbiopia. Em 1793, Tomás Young descreve pela primeira vez o astigmatismo e o oftalmoscópio. Em 1840, Suspici, óptico romano, descreve as lentes tóricas e, por fim, Donders (1818-1889) confirmou a relação de hipermetropia com os estrabismos convergentes.

Maria Helena Lopes AmigoOftalmologista pelo Instituto de Oftalmo-logia Tadeu Cvintal, fellow em estra-bismo pela Universidade de São Paulo

esde 1899, com a Proclamação da República, apenas um médico elegeu-se como presidente brasileiro. Foi o mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, que governou de 1956 a 1961. Levando-se em consideração os vice-presidentes que assumiram o cargo, chegaram à presidência 20 advogados, 10 militares, 1 professor, 1 empresário, 1 engenheiro, 1 sociólogo, 1 metalúrgico e 1 economista.

Juscelino Kubitschek, ou JK (1902-1976), foi prefeito de Belo Horizonte entre 1940 e 1945 e governador de Minas Gerais entre 1951 e 1955 antes de assumir a presidência. Seu governo ficou conhecido pelo lema “crescer 50 anos em 5”, caracterizando um período de notável crescimento econômico. Foi também no governo de JK que se criou Brasília, atual capital política do país.

Como médico, JK ingressou em 1922 na Universidade Federal de Minas Gerais. Formou-se em 1927 e passou a integrar a cadeira de Clínica Cirúrgica da Santa Casa de Belo Horizonte. Especializou-se em Urologia, tendo realizado em 1930 um estágio intensivo em Paris. Em 1956, Juscelino foi Presidente de Honra do V Congresso Brasileiro de Cirurgia e do X Congresso

Interamericano de Cirurgia, quando foi empossado como Membro Honorário do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

Em 1933, JK iniciou sua vida política e, aos poucos, abdicou da prática clínica e cirúrgica. Para muitos, Juscelino foi um dos melhores presidentes que o Brasil já teve, por sua habilidade política, por suas realizações e pelo seu respeito às instituições democráticas.

Como foi o primeiro uso de lentes/óculos

Curiosidades

Page 44: Revista MedAtual - 5ª edição

Jimi Hendrix (1942-1970) Morreu em um quarto de hotel em Londres. A causa atestada foi asfixia, mas há especulações indicando que a CIA estaria envolvida devido à ligação do cantor com o movimento black dos EUA.

Janis Joplin (1943-1970) Também morreu em um quarto de hotel, como consequência de uma overdose de heroína e álcool.

Kurt Cobain (1967-1994) No relatório policial, consta como suicídio, mas existem várias teorias de que ele foi assassinado.

Amy Winehouse (1983-2011) Com uma forte tendência a autodestruição, apesar das especulações, a causa constatada foi elevado nível alcoólico no sangue.

Clube dos 27 A lista não é pequena e inclui: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain e Amy Winehouse. E qual a relação entre eles? Existiria algum motivo para que essas mortes estivessem relacionadas? Coincidência? Conspiração? Pacto diabólico pela fama? Maldição? Drogas? Teorias existem, porém o fato é que todos morreram com 27 anos, época da vida de grandes transformações e na qual são comuns vários transtornos psiquiátricos. Contudo, nesta idade já haviam experimentado, não só a fama, mas um grande número de substâncias ilícitas e excessos em geral. Segue a lista de famosos e causas “oficiais”:

Diego Matias Residente em Psiquiatria pela UNIFESP

Curiosidades

Page 45: Revista MedAtual - 5ª edição

MedAtual Ética

A pesar de ser amplamente divulgado que o médico tem a obrigação de prestar so-corro ao paciente em caso de urgência e emergência, pouco se fala sobre seus direitos em recusar-se a realizar atos médicos com os quais não concorda. Os ditames da consciência são parâmetros que norteiam a postura profissional do médico, garantido pelo código de ética. “O médico exercerá sua profissão com autono-mia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente”, aponta o item VII, do capítulo II. “A relação médico–paciente permite do ponto de vista ético a escolha da utilização de meios de diagnósticos e tratamento, consagrando desta maneira a expressão de vontade de ambos quanto às suas convicções morais e religiosas”, afirma Reinaldo Ayer de Oliveira, conse-lheiro do CREMESP e professor de bioética na Universidade de São Paulo (USP).

Até que ponto vai a obrigação do médico de exercer sua atividadeDITAMES DE CONSCIÊNCIA

Page 46: Revista MedAtual - 5ª edição

Paula Maria Prado / Andressa Schpallir Da redação

O médico também pode recusar-se a prestar atendimento quando não tem condições de tra-balho adequadas ou se considera insuficiente sua experiência. Nesses casos, segundo Oliveira, o profissional deve proceder o encaminhamento de tal forma que garanta ao paciente condições adequadas de atendimento. “Mas é fundamental o encaminhamento, e não a alegação de descon-forto em decorrência dos ditames de consciência”, reitera a responsabilidade ética do profissional. Para Humberto Barbosa de Freitas, psiquiatra e mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), é comum, em sua área, o paciente ou os familiares imaginarem ter um diagnóstico ou quererem fazer uso de medicamentos de tipos ou doses equivocadas, assim como o doente recusar-se às medidas terapêuticas ou insistir em medidas não terapêuticas que coloquem em risco a qualidade do seu tratamento. Nesses casos, ele considera que é prudente ex-

plicar claramente a posição do profissional a respeito do que ele considera adequado como tratamento. “Em caso de não se chegar a algum termo que atenda ao pa-

ciente sem ferir os princípios do profissional, cabe liberá-lo (se em condições de decidir, e se uma situação de urgência não se impuser) para procurar outra linha de tratamento, afinal a ética não é unilateral e um médico não deve transgredir os limites que considera balizadores de seu modo de trabalhar”, declara.

SEM CONDIÇÕES

“A esposa e a filha não aceitavam a ideia de sua morte. Na fase final, tive de encaminhá-lo à UTI por uma piora clínica que exigia intubação. Eu me recusei a executar o procedimento por não acreditar em benefício para ele, e quem o fez foi uma colega da equipe. Ele morreu poucos dias depois, em grande sofrimento. Fiquei muito triste”.

Fundadora da Academia Nacional de Cuida-dos Paliativos, sobre um paciente seu, um colega médico com neoplasia avançada, já paraplégico e sem conseguir expressar suas vontades.

Relato

Maria Goretti Maciel

MedAtual Ética

Page 47: Revista MedAtual - 5ª edição

m casos graves de saúde, que necessitam de atendi-mento imediato e/ou de encaminhamento a um hospital ou uma unidade de pronto atendimento, ligue para o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) no 192. Os Bombeiros, acionados via 193, devem ser chamados apenas quando há a necessidade de algum tipo de intervenção ou manobra para acessar a vítima ou de estabilizá-la.A confusão sobre quem chamar em caso de emergências relacionadas à área da saúde é comum. No entanto, de acordo com a Polícia Militar do Estado de São Paulo – responsável pelo Corpo de Bombeiros e pela própria Polícia Militar –, esses protocolos são bem definidos. Segundo nota, os atendentes dos serviços de emergência estão aptos a dar o encaminhamento correto aos mais diversos tipos de chamados. Visto que frações de segundos podem ser cruciais para a so-brevida das vítimas, quando o Corpo de Bombeiros recebe ligações que contemplem, por exemplo, casos de engasga-mentos ou parada respiratória, as atendentes fornecem ori-entações por telefone a fim de que o solicitante, ainda que leigo, tenha condições de aplicar os procedimentos corretos. “Para os casos de infarto, a ressuscitação cardiopulmonar é o procedimento indicado, que pode ser administrado com sucesso tanto por socorristas quanto por profissionais de saúde”, diz a PM, em nota.Segundo o Corpo de Bombeiros, cerca de 25% dos casos de resgate se referem a mal súbito ou a acidentes vasculares.

E

MedAtual Em pauta

SAMU x PM X BombeirosProtocolos definem a função de cada órgão público

Page 48: Revista MedAtual - 5ª edição

PolíciaMilitar (190)Destinado a emergências policiais, como furtos e roubos

SAMU (192)Disponível para atender traumas, como infartos e acidentes domésticos

Para trabalhar no Resgate, o policial militar bombeiro deve con-cluir o Curso de Técnicas de Emergências Médicas, com dura-ção de 280 horas. Entre os assuntos aborda-dos em sala de aula, segundo a Escola de Bombeiros do Estado de São Paulo, estão resgate e primeiros-socorros, com avalia-ção das vítimas, reanimação car-diopulmonar, desmaios, engasga-mentos, queimaduras, fraturas, crises convulsivas, uso do desfi-brilador cardíaco, imobilização de cervical e transporte de vítimas. Além disso, os profissionais recebem instruções regulares du-rante os turnos de serviço, semi-nário e estágios de aperfeiçoa-mento profissional.

Bombeiros (193)Atende emergências clínicas em que haja a necessidade de inter-venção para acessar e estabilizar a vítima, como acidentes de trân-sito e incêndios

Nem todos os municípios possuem o Serviço de Atendi-mento Móvel de Urgência. O pro-jeto é oferecido pelo Governo Fe-deral em parceria com estados e municípios. De acordo com o Ministério de Saúde, o governo entra com uma contrapartida mensal ban-cando 50% do custeio dos servi-ços. Municípios sem estrutura para implantar o SAMU têm a opção de parceria com outras cidades que têm o projeto. Até novembro de 2012, o valor investido pelo Governo Fe-deral foi de R$ 443,8 milhões mensais. No país, são 2.834 uni-dades móveis, e destas 2.141 são USBs (Unidades de Suporte Básico), 517 USAs (Unidades de Suporte Avançado) – chamadas UTIs móveis, usadas em casos mais graves –, 167 motos – usadas para pré-atendimento –, 7 embarcações e 2 aeromédicos. Atualmente, são 2.527 mu-nicípios atendidos, o que de-manda 70% da população aten-dida ou 134.078.675 milhões de habitantes, de acordo com o IBGE 2010. Outros 1.464 municípios estão em situação de expansão ou implantação.

O 190 deve ser acionado apenas em caso de emergências criminais, em que há crimes ou contravenções com chance de prisão do autor. Segundo a Polícia Militar do Estado de São Paulo, os aten-dentes desse sistema são habili-tados pela Escola Superior de Soldados. O foco do ensino são Direitos Humanos, Ciências Hu-manas, Teorias, Legislações, Tá-ticas e Técnicas Profissionais destinados à preservação da ordem pública. Os policiais militares rece-bem ainda instruções regulares por meio de preleções, estudos de casos e Estágios de Aperfeiço-amento Profissional. Por meio da resolução SSP 5/13, a Secretaria de Segurança Pública determinou que, em ocor-rências com vítimas graves em confrontos, os policiais devem acionar de imediato a equipe do resgate médico para o pronto atendimento, preservando, deste modo, maior qualidade no socor-ro à vítima e preservação do local da ocorrência.

Paula Maria Prado | Da redação

MedAtual Em pauta

Page 49: Revista MedAtual - 5ª edição

Procedimentos

Até hoje a técnica é cercada por mistério e crenças

Fisiologia

A maior parte dos estudos mostra que as alterações verificadas no paciente submetido à hipnose seriam secundárias ao estado hipnótico. Claramente há uma diminuição das frequências cardíaca e respiratória. No eletro-encefalograma (EEG), pode haver alteração no padrão de ondas cerebrais, aumentando a frequência, o que é compatível com o estado de vigília e não com o de sono. Alguns estudos mostram ainda que o córtex direito diminui de atividade, enquanto o es-querdo tem aumento do padrão de ondas. Isso confirmaria a teoria de que na hipnose há a diminuição das funções analíticas e o aumento das funções relacionadas à imaginação e à cria-tividade. Outras teorias sugerem que a hip-nose afetaria o sistema reticular ascen- dente, diminuindo a atenção, causando a alte- ração da consciên-cia.Conclusão

Apesar de muito tempo se ter passado desde a época em que Mesmer aplicava o processo hip-nótico, ainda é necessário avançar os estudos sobre os seus mecanis-mos para que esse tom mágico deixe de permear a hipnose.

Referência | Associação Ameri-cana

de Psicologia.

Diego Matias | Residente de Psiquia-tria pela UNIFESP

R elaxe! Você está ficando com sono, muito sono...

Geralmente, quando as pessoas pensam em hipnose, imaginam coisas parecidas como a frase acima. Tentamos aqui uma abordagem mais pautada em evidências do que propria-mente avaliar a eficácia do método.

Histórico

Meditação, transe e outras técnicas de indução são utilizadas pelo homem desde a an-tiguidade em diferentes culturas. Já o que chamamos de hipnose contemporaneamente só surgiu no fim do século XVIII. É considerado o pai da hipnose moderna um médico austríaco chamado Franz Anton Mesmer (1734-1815), que utilizava a técnica terapêutica em seus pacientes neuróticos.

Hipnose à luz da Psiquiatria

Em 1885, Freud foi à França estudar com Charcot e ficou impressionado com o potencial de resolução em distúrbios na época considera-dos neuróticos. Quando voltou para Viena, passou também a empregar a técnica para auxiliar pacientes a se lembrarem dos conteú-dos mentais que estavam aparentemente es-quecidos. Porém, conforme foi desenvolvendo a psicanálise, percebeu que, apesar de ser des- coberto o conflito inicial, o efeito terapêutico não se mantinha como o desejado, acabando por descartar a hipnose e favorecer a livre as-sociação.

Page 50: Revista MedAtual - 5ª edição

Procedimentos

Fisiologia

A maior parte dos estudos mostra que as alterações verificadas no paciente submetido à hipnose seriam secundárias ao estado hipnótico. Claramente há uma diminuição das frequências cardíaca e respiratória. No eletro-encefalograma (EEG), pode haver alteração no padrão de ondas cerebrais, aumentando a frequência, o que é compatível com o estado de vigília e não com o de sono. Alguns estudos mostram ainda que o córtex direito diminui de atividade, enquanto o es-querdo tem aumento do padrão de ondas. Isso confirmaria a teoria de que na hipnose há a diminuição das funções analíticas e o aumento das funções relacionadas à imaginação e à cria-tividade. Outras teorias sugerem que a hip-nose afetaria o sistema reticular ascen- dente, diminuindo a atenção, causando a alte- ração da consciên-cia.Conclusão

Apesar de muito tempo se ter passado desde a época em que Mesmer aplicava o processo hip-nótico, ainda é necessário avançar os estudos sobre os seus mecanis-mos para que esse tom mágico deixe de permear a hipnose.

Referência | Associação Ameri-cana

de Psicologia.

Diego Matias | Residente de Psiquia-tria pela UNIFESP

Definição

Segundo a Divisão de Hipnose Psicológica da Associação Americana de Psicologia, hipnose é um procedimento terapêutico em que um profis-sional sugere que um paciente experimente mu-danças, sejam elas de comportamento, percepção, sensação ou pensamento. Cada pessoa pode reagir de um jeito à hip-nose; alguns respondem mais e outros menos às sugestões hipnóticas. Medo e desconfiança podem inibir o hipnotizado. O paciente permanece consci-ente de quem é e de onde está durante todo o pro-cesso e acaba por entender as sugestões do hipno-tizador como se fossem suas próprias. No entanto, este nunca pode obrigá-lo a fazer o que não quer. Existem pré-requisitos para a utilização do método. O indivíduo deve estar calmo, relaxado e confiante, e ter vontade deser hipnotizado. A indução hipnótica pode ocorrer de várias formas; de modo geral, o que ocorre é prender a atenção da pessoa enquanto sugestões repetitivas são murmuradas. A hipnose é um estado alterado de consciên-cia (nem sono nem vigília), que pode variar de um transe leve até a um profundo, caracterizado por alto grau de sugestionabilidade, no qual se diminui a atenção do mundo externo e se concentra nos conteúdos mentais e sensoriais. Psicopatologicamente, o transe constitui uma alteração qualitativa, ou seja, um estreitamento no

Histórico

Meditação, transe e outras técnicas de indução são utilizadas pelo homem desde a an-tiguidade em diferentes culturas. Já o que chamamos de hipnose contemporaneamente só surgiu no fim do século XVIII. É considerado o pai da hipnose moderna um médico austríaco chamado Franz Anton Mesmer (1734-1815), que utilizava a técnica terapêutica em seus pacientes neuróticos.

Em 1885, Freud foi à França estudar com Charcot e ficou impressionado com o potencial de resolução em distúrbios na época considera-dos neuróticos. Quando voltou para Viena, passou também a empregar a técnica para auxiliar pacientes a se lembrarem dos conteú-dos mentais que estavam aparentemente es-quecidos. Porém, conforme foi desenvolvendo a psicanálise, percebeu que, apesar de ser des- coberto o conflito inicial, o efeito terapêutico não se mantinha como o desejado, acabando por descartar a hipnose e favorecer a livre as-sociação.

campo da consciência (não uma diminuição do nível de consciência propriamente dito) acompa- nhado de um aumento da atenção voluntária e da diminuição da atenção espontânea.

Page 51: Revista MedAtual - 5ª edição

MedAtual Fatos históricos

Breve históricoda ressuscitaçãocardiopulmonar (RCP)

Especialistas defendem que uma boa alimentação aumenta a probabilidade de cura e evita a reincidência da doença

e certa forma, o mistério da morte sempre causou fas-cínio no ser humano. Mais do que isso, o medo desse evento levou a humanidade a tentar criar manobras efetivas para reverter esse processo inexorável. A citação mais antiga consta da Bíblia e relaciona-se ao profeta Elias, no entanto a menção é pobre em detalhes. A que mais se aproximaria de uma manobra é a do profeta Eliseu, que ressuscitou o filho da viúva sunamita. Existem evidências históricas da RCP desde o Egito antigo. As práticas mais comuns eram o aquecimento, apli-cando calor de cinzas ou água quente sobre o abdome, além da flagelação, em que chicotadas eram dadas a fim de res-taurar a vida. Por volta de 1530, Paracelso usou foles de lareira para tentar introduzir ar nos pulmões, uma das primeiras tentativas mais próximas dos métodos contemporâneos. Durante 300 anos essa técnica foi usada em toda a Europa. Entre os anos de 1700 e 1767, índios americanos utiliza-vam uma técnica rudimentar que consistia em assoprar fumaça na bexiga de um animal morto para posteriormente introduzir esse ar no reto do paciente. No século XVIII, surgiram métodos manuais com movi-mentos de compressão e relaxamento do tórax. Provavel-mente o “Estudo Anatômico do Movimento do Coração e do Sangue em Animais”, de William Harvey, publicado em 1628, contribuiu de forma propulsora para esses procedimentos. Por volta de 1770, o método da inversão foi utilizado na Europa para casos de afogamento, pois, colocando a vítima

D

Page 52: Revista MedAtual - 5ª edição

Diego Matias Residente em Psiquiatria pela UNIFESP

Técnicas semelhantes surgidas entre os séculos XVIII e XIXMétodo do barril

Método russo

Método do cavalo em trote

Método de Leroy

Método de Dalrymple

Método de Marshall Hall

Provocação da expiração e da inspiração con-forme se rola o barril sobre o qual a vítima é co-locada

Enterro parcial que ocasionaria pressão no tórax

Colocação do corpo sobre um cavalo, pois o movimento de trote pode reativar a expansão torácica

Pioneiro no uso do decúbito dorsal e de com-pressões torácicas e abdominais

Enfaixamento do tórax seguido de tração para simulação da respiração

Tórax elevado e colocado momentaneamente em posição lateral e em seguida solto, para fazer as pressões torácicas

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de cabeça para baixo, o ar poderia ser expulso dos pulmões, o que levaria a uma inspiração após cessar a compressão torácica. Em 1933, Kouwenhoven relatou a primeira desfibrilação com êxito em animais. Quinze anos mais tarde, foi promovida uma conferência pela Academia Nacional de Ciências com o intuito de responder qual método seria mais eficaz para os socorros iniciais. Mesmo não se tendo chegado a uma conclusão clara, posteriormente um grupo mantido pelo Departamento de Defesa ameri-cano concluiu que os melhores procedimentos seriam os de Holger-Nielsen modificado (pressão nas costas seguida de levantamento dos braços) e o de Silvester (decúbito dorsal, língua segurada para manter as vias aéreas abertas, as mãos acima da cabeça e por meio da movimentação dos braços promover as compressões). Em 1954, foi o princípio do uso dos marca-passos transcutâneos. Kouwenhoven, Jude e

Knickerbocker observaram, em 1960, que a compressão sobre o terço inferior do esterno for-necia uma circulação artificial efetiva a pacientes com parada cardíaca. Mais estudos surgiram indicando a necessidade de associação da mas-sagem cardíaca externa à respiração artificial. Bernard Lown provou, em 1962, que o uso da corrente contínua era superior nas desfi-brilações e iniciou os princípios da cardioversão elétrica no tratamento das arritmias.A AHA (American Heart Association) criou um comitê de RCP em 1961. Desde então a organi-zação tem promovido um grande trabalho em pesquisa, padronização e treinamento de RCP, incluindo os suportes básico e avançado de vida. Seus esforços para a melhora dos procedi-mentos de RCP continuam até hoje.

MedAtual Fatos históricos

Page 53: Revista MedAtual - 5ª edição

Caindo na rede

B

Medicin@

De acordo com o Código de Ética Médica, não é permitido divulgar imagens em meios de comunicação em geral, mesmo com a autoriza-ção do paciente

asta uma pesquisa na internet e qualquer pessoa tem acesso a vídeos de inúmeros pro-cedimentos cirúrgicos. As intenções são diver-sas: de divulgação de clínicas e profissionais a aulas abertas sobre técnicas, além da filmagem de métodos curiosos ou engraçados. Muitas vezes, as imagens captadas por celular, poste-riormente, “caem na rede”. Um exemplo recente é o de uma cirurgia no intestino para a retirada de um peixe empa-lado na ampola retal de um paciente no Hospi-tal Universitário de Londrina. As imagens estão disponíveis no YouTube e, até o fechamento desta reportagem, já tinham sido vistas por mais de 235 mil internautas. Na gravação é possível observar que o grupo de pessoas que aparece assistindo ao procedimento ri da condi-ção do paciente, além de registrar a cirurgia com aparelhos celulares. O caso ganhou tanta

repercussão que saiu nos principais jornais do país. Não se sabe o autor da ação, porém a Universidade Estadual de Londrina (UEL), res-ponsável pelo hospital, abriu sindicância para punir os responsáveis e proibiu o uso de celula-res e máquinas fotográficas no centro cirúrgico. Para Carlos Adriano Silva dos Santos, cirurgião vascular e doutorando em bioética pelo Centro Universitário São Camilo, as mídias sociais têm um papel importante no desenvolvi-mento de uma população consciente, mas a divulgação de imagens deve ser feita de forma responsável. “A obediência às regras legais deve ser garantida, caso contrário a credibilida-de da informação passa a não ter fundamento”, afirma. Ainda segundo o médico, tanto quem obteve as imagens quanto quem as divulgou devem assumir o seu ônus.

Page 54: Revista MedAtual - 5ª edição

Divulgação: quando

pode?Punição

O médico que divulga imagens de forma antiética pode sofrer um processo ético profissional. “Se for considerado culpado, as penas previstas são: advertência con-fidencial em aviso reservado; censura confidencial em aviso reservado; censura pública em publicação oficial; suspensão do exercício profissional até 30 di as; ou cassação do exercício profissional”, finaliza Vinagre.

Paula Maria Prado | Andressa SchpallirDa redação

A divulgação da imagem de pacientes é abordada no Capítulo IX, artigo 75 do Código de Ética Médica (resolução CFM n. 1.931/2009). Se-gundo o documento, “é vedado ao médico fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissio-nais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com au-torização do paciente”. O corregedor do Conselho Federal de Medi-cina (CFM) José Fernando Maia Vinagre explica que as imagens de procedimentos cirúrgicos podem ser feitas desde que o paciente assine um termo de consentimento e que não seja possível a sua identificação. Porém, ressalta que a exposi-ção não deve ocorrer com fins promocionais: “Mesmo que o paciente autorize a divulgação de sua imagem, estas não podem ser divulgadas, a não ser em veículos científicos, como revistas médicas e congressos de especialidades”. Para Santos, a divulgação de imagens de pacientes deve ter um propósito que traga rele-vância e acréscimo às ciências. “Os fins devem ser estritamente educativos e não gerar na socie-dade intranquilidade ou qualquer perturbação de ordem emocional”, esclarece. Ainda segundo Santos, o médico deve res-peitar as determinações deontológicas preesta-belecidas no Conselho Federal de Medicina, assim como garantir a sua integridade profissio-nal e pessoal, bem como a de seus pacientes. “Ferir qualquer um dos ditames da profissão médica é descaracterizar uma relação milenar entre quem precisa e quem pode ajudar”, explica.

Medicin@

Page 55: Revista MedAtual - 5ª edição

e no consultório você tem por hábito passar cerca de 8 horas sentado, é hora de se preocupar. Apesar de parecer inofensivo, esse hábito pode aumentar em até 54% as chances de sofrer um ataque cardíaco, de acordo com um estudo divulgado pela revista Medi-cine & Science in Sports & Exercise, em junho de 2011. Segundo a pesquisa, quem fica sentado por 6 horas ou mais tem 40% mais chance de morrer nos próximos 15 anos do que quem fica apenas 3 horas diárias nessa posição. Engana-se, no entanto, quem acredita que passar muito tempo em pé nos corredores dos hos-pitais seja menos prejudicial. “Para permanecermos na mesma posição (em pé ou sentado), certo grupo muscular permanece contraído. E, se ficarmos muito tempo na mesma posição, estes músculos entrarão em fadiga, o que produzirá toxinas para o nosso corpo, que, se acumuladas, causam descon-forto, dores e até aceleram o aparecimento de doen-ças, como varizes, lombalgia e artralgias, entre outras”, afirma o ortopedista e traumatologista Thiago Pasqualin, da clínica Anchieta Ortopedia. Segundo o médico, permanecer na mesma posição é prejudicial ao equilíbrio do corpo. “O grande problema em ficar prolongadamente em uma só posição, está na postura inadequada, que gera compressões e estases”, completa Pasqualin. Alguns cuidados simples podem trazer bons resultados. “Quem trabalha muito tempo em pé deve utilizar sapatos confortáveis e movimentar-se com leves caminhadas ou exercícios que estimulem a circulação sanguínea dos membros inferiores, para facilitar o retorno venoso”, afirma Valquíria de Lima, presidente da Associação Brasileira de Ginás-tica Laboral (ABGL), autora do livro “Ginástica Labo-ral – Atividade física no ambiente de trabalho” (ed. Phorte). “Sempre que sentir sobrecarga na coluna lombar, relaxe o tronco à frente para que possa também relaxar os músculos e aumentar os espaços intervertebrais”, completa.

S

Bem estar

Estudos mostram riscos para quem passa mais de 6 horas sentado; alguns cuidados e exercícios podem ajudar a equilibrar o corpo

Permanecer sentado pode ser tão prejudicial quanto f icar muito tempo em pé

Já quem passa muito tempo na frente do computador, o importante é realizar movimentos com os ombros e a coluna cervical para distensionar a região. “É muito comum o indivíduo acumular tensão muscular e chegar ao final do dia com dor no pescoço, na nuca ou com dor de cabeça”, diz Valquíria. É importante ainda não ter uma vida sedentária, realizando exercícios físicos regular-mente para garantir boa saúde. “A algia provocada nos pés e joelhos pelo tempo excessivo em cada posição, pode ser aliviada também realizando movimentos circulares, flexão-dorsiflexão, alonga-mento dos artelhos em extensão e flexão para alongamento da fáscia plantar”, explica Samantha Sanches, fisioterapeuta e diretora da Master Fisio. “No caso de inchaço e cansaço, observamos a diminuição desses sintomas alternando a con-tração do tríceps sural e com a realização de algu-mas repetições de flexo-extensão dos joelhos, exercícios estes que estimulam o retorno venoso e aliviam as articulações”, diz. Ainda de acordo com dicas da fisiotera-peuta, antes de iniciar o seu plantão e ao término dele, realize alongamentos globais, ou seja, em todo o corpo. “Durante o trabalho, alterne a postura sentada e ortostática sempre que possível, des-cansando a região lombar, pernas e pés”, completa. Os exercícios relacionados ao trabalho (ver fotos) podem ser realizados em apenas 5 minutos, 3 vezes ao dia, durante uma jornada de 8 a 12 horas diárias. “São totalmente exequíveis, sem comprometer o trabalho e a produtividade”, garante Valquíria.

Imagens baseadas no livro “Ginástica Laboral: atividade física no ambiente de trabalho” da editora Phorte, de

Valquíria de Lima.

SAIBA MAIS:http://www.medicalbillingandcoding.org/sitting-kills/

Paula Maria Prado | Da redação

Page 56: Revista MedAtual - 5ª edição

Já quem passa muito tempo na frente do computador, o importante é realizar movimentos com os ombros e a coluna cervical para distensionar a região. “É muito comum o indivíduo acumular tensão muscular e chegar ao final do dia com dor no pescoço, na nuca ou com dor de cabeça”, diz Valquíria. É importante ainda não ter uma vida sedentária, realizando exercícios físicos regular-mente para garantir boa saúde. “A algia provocada nos pés e joelhos pelo tempo excessivo em cada posição, pode ser aliviada também realizando movimentos circulares, flexão-dorsiflexão, alonga-mento dos artelhos em extensão e flexão para alongamento da fáscia plantar”, explica Samantha Sanches, fisioterapeuta e diretora da Master Fisio. “No caso de inchaço e cansaço, observamos a diminuição desses sintomas alternando a con-tração do tríceps sural e com a realização de algu-mas repetições de flexo-extensão dos joelhos, exercícios estes que estimulam o retorno venoso e aliviam as articulações”, diz. Ainda de acordo com dicas da fisiotera-peuta, antes de iniciar o seu plantão e ao término dele, realize alongamentos globais, ou seja, em todo o corpo. “Durante o trabalho, alterne a postura sentada e ortostática sempre que possível, des-cansando a região lombar, pernas e pés”, completa. Os exercícios relacionados ao trabalho (ver fotos) podem ser realizados em apenas 5 minutos, 3 vezes ao dia, durante uma jornada de 8 a 12 horas diárias. “São totalmente exequíveis, sem comprometer o trabalho e a produtividade”, garante Valquíria.

Imagens baseadas no livro “Ginástica Laboral: atividade física no ambiente de trabalho” da editora Phorte, de

Valquíria de Lima.

SAIBA MAIS:http://www.medicalbillingandcoding.org/sitting-kills/

Paula Maria Prado | Da redação

Bem estar

Cruze a mão esquerda por cima do antebraço direito, apoie o dorso da mão direita. O apoio realizado irá intensificar a flexão do punho direito e do respec-tivo antebraço. Mantenha o posicionamento por 15 se-gundos e troque o lado.

Alongamento para membros inferiores (quadríceps e iliopsoas)

Alongamento para membros inferiores

Alongamento para antebraço e punhos (musculatura flexora)

Em seguida, inverta a po- sição do antebraço e es-tenda o punho. Apoie a mão esquerda sobre a pal- ma da mão direta, e intensi-fique a extensão do punho.

Realize a flexão do joelho direito, apoiando a mão no dorso do pé direito até que o calcanhar fique próximo do glúteo. Em seguida, realize a an-tiversão do quadril e a retração dos ombros. Sustente por 20 segun-dos, e inverta o lado.

Alongamento da região da coluna torácica, ombros e braços

Realize uma extensão dos cúbitos, inspire e flexione os ombros a 90°. Flexione a coluna cervical, aproxi-mando o queixo do peito. Rotacione o tronco para o lado esquerdo, man-tendo o posicionamento por 10 seg-undos. Em seguida, inspire lenta-mente e retorne à postura inicial. Re-alize o mesmo movimento para o outro lado.

Sente no meio da ca-deira, e realize a exten-são do joelho direito e flexionando o tronco à frente durante 20 se- gundos; em seguida, inverta o lado.

Alongamento para membros inferiores

Realize a flexão e ex-tensão plantar (15 ve- zes) com a perna direita estendida – uti-lize a cadeira como ponto de apoio – em seguida faça o mesmo com a outra perna.

Faça um alongamento para o antebraço e punhos (musculatura extensora)

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DESCRIÇÃO DOS EXERCÍCIOS

Page 57: Revista MedAtual - 5ª edição

Cultura

Profissionaisda música

Médicos que fazem dosacordes um complemento

do seu trabalho

Page 58: Revista MedAtual - 5ª edição

edicina e música, 2 profissões que numa primeira percepção são muito diferentes entre si, cada qual com sua particularidade, uma buscando solucionar as mazelas que afligem o corpo humano e a outra trazendo alegria e calmaria para quem a ouve. Mas ao se avaliar a objetividade imbricada em suas essências vemos o quão interessante elas são e se interrelacionam, onde uma busca curar as patologias físicas e a outra, as da alma. A música tem grande poder sobre as emoções e a psique humana, podendo influenciar no humor, elevando potencialmente os seus as-pectos positivos, como a energia, o entusiasmo e a felicidade, e reduzindo a depressão, a tensão, a fadiga, a raiva e a confusão. Para o oftalmologista e músico Marcelo Macedo, integrante da Doctor’s Band, a música surgiu em sua vida desde a infância, pois quase toda sua família toca um instru-mento. Além disso, cresceu ouvindo música, entendendo como um instrumento fazia diferença nela e como a melodia ia sendo construída, o que foi fundamental para que ele viesse a pensar em ser músico. Como a medicina tem um caminho muito árduo a ser percorrido, já pensou algumas vezes em abandonar a medicina para viver da música, pois sempre sentiu uma paixão muito intensa por ela, mas essa ideia não persistiu por muito tempo. “Sempre tive o pensamento bem estruturado quanto a vontade de ser médico, sabia desse sonho e não podia desistir. Infelizmente, a vida de músico no Brasil é muito difícil, conheço músicos excelentes e que dificil-mente sobrevivem com o que ganham. Isso é muito triste, pois devia ser muito mais valori-zada essa profissão tão linda”, afirma. Foi nesse contexto de entender os estímulos provocados por determinadas melodias, diag-nosticar as consequências destas na vida das pessoas e utilizar todo esse conhecimento para facilitar a cura de enfermidades e tratamentos psicológicos que a musicoterapia se firmou. Atualmente, é utilizada por grande parte dos

MCultura

hospitais e clínicas em todo o mundo, possui cientistas específicos da área, envolvidos em pesquisas para melhorar os tratamentos, e abrange uma grande quantidade de profissionais da medicina e da educação, que se unem aos musicoterapeutas para executar, de forma inte-gral, a terapia. Para o doutor Marcelo a música tem um poder terapêutico sobre o paciente, e não somente acha isso como já o comprovou. “Já toquei para pessoas que estavam mal, tristes ou até doen-tes e que depois melhoram, não fisicamente, mas psicologicamente, e isso faz muita difer-ença para elas. Fico feliz de ver essas pes-soas com outra cara, se sentindo mais aliviadas e felizes”, conta. Percebendo o poder que a música tem para acelerar o tratamento de diversas enfermi-dades, pode-se refletir sobre a importância da boa utilização daquilo que o homem encontra ao seu redor. E como experiência, conta que já fez algumas coisas diferentes, mas a que mais o marcou foi a apresentação a uma escola de crianças com síndrome de Down. “Foi maravil-hoso ver as crianças me agarrando depois de tocar por estarem felizes e do jeito que me olhavam. Essas coisas não tem preço e ficam para o resto da vida”, explica. Quanto a conciliar as 2 carreiras, para ele não é problema e sim uma solução. “A música com-pleta a medicina e vice-versa, claro que ocupam tempo e muitas vezes quase não durmo ou passo por estresse para poder fazer as 2, mas não deixaria nunca de realizar alguma delas”, enfatiza. A música o ajuda a desestressar, o faz viajar, sorrir, sentir-se alegre quando está triste e esquecer, pelo menos momentaneamente, dos problemas e sofrimentos do dia a dia. “É im-pagável a satisfação que se sente, além do privilegio de ter esse dom e poder usufruir dele. Só quem toca e tem essa paixão entende isso”, finaliza.

Fernanda AntunesGraduada em medicina pela UNISA

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MedAtual Além da medicina

como equilibrar a equação?

Medicina ematernidade:

O preço que se paga ao tentar unir vida familiar, carreira profissional e independência financeira

ão é novidade falar sobre a presença feminina no mercado de trabalho. Totalmente incorporadas ao cotidiano moderno, elas conquistaram espaço em carreiras tradicionais, como a medicina. Hoje, as mulheres são maioria em vários setores e estão gan-

hando destaque em espe-cialidades antes vistas como

exclusividade masculina, como a Ortopedia e a Urolo-gia. Mas, conquistar inde-pendência profissional e

financeira tem os seus preços, especial-mente quando os filhos entram na conta. “Os pais, e em especial as mu- lheres, sofrem para adaptar a vida

profissional com a criação dos filhos, por vivenciarem a culpa, um sentimento de tristeza que está relacionado com o fato da pessoa sentir-se causadora de um dano indevido a outra”, afirma a psicanalista Rosangela Montenegro de Souza.

N

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Para a psicóloga Tania Novinsky Haberkorn, uma das fundadoras do Instituto Mãe Pessoa, a questão é um reflexo da contemporaneidade. “São poucas as profis-sões que não comprometem a convivência familiar hoje em dia. Principalmente para quem mora em grandes centros urbanos que demandam grande desgaste físico e emocional. Distâncias longas, transportes ineficientes, enfim, muitas coisas comprom-etem o tempo e a energia que as pessoas reservam para estar com a família.” Seg-undo a especia- lista, algumas áreas de atu-ação, como a Médica, exigem longos perío-dos presenciais, horários fora do padrão, investimento educacional fora do tempo de trabalho e podem exigir que o profissional tenha mais de um emprego para conseguir um maior retorno financeiro. Estes fatores acabam comprometendo a convivência do- méstica. Especializada em Pediatria e Psiquiatria Infantil, Sonia Maria Baldini, 61 anos, sempre desejou ter filhos. Mãe de um menino e 2 meninas ela revela que a escolha da especialidade médica foi intimamente relacionada com a sua vontade de ter filhos. “Sempre gostei muito de crianças e a mater-nidade estava nos meus planos desde muito jovem. Tanto que pensava em ter 6 filhos”, recorda. Mas ela reconhece que pre-cisou fazer algumas concessões para ad-ministrar a dupla jornada como médica e mãe. “Obviamente que quando as crianças eram pequenas tive bastante dificuldade para conciliar família e trabalho, mas ajeit-ando aqui e ali e com alguma ajuda de familiares e funcionários foi possível aco-modar minhas 2 paixões.” Tania destaca a importância de uma rede de apoio: “Não queira dar conta da ma-ternidade sozinha. Peça ajuda, use os fami-

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liares e a comunidade. Aprenda a ouvir os sinais de que você está sobrecarregada e respeite seus limites. Não tenha medo de fazer mudanças.” Rosangela acredita que é necessário que os pais expliquem desde a tenra idade o que é trabalhar, por que trabal-ham, o que fazem, onde e, se possível, até levá-los para conhecer o local. “Dividir com eles o gosto pelo trabalho e também a ne-cessidade, não somente financeira, mas de crescimento pessoal, é fundamental para o entendimento da ausência diária.” Mãe de 2 meninas, com 2 e 3 anos e meio, a neonatologista Letícia Sefrin Helzel, 34 anos, é adepta da tática descrita pela terapeuta e faz questão de integrar as crian-

ças ao ambiente médico. Casada com o cardiologista Rafael Munerato de Almeida, 37 anos, Letícia inclui visitas aos hospitais onde ela e o marido trabalham na rotina das meninas, que começam a compreender a ausência dos pais que, em contrapartida, garante que possam ter rega-

lias, como ganhar presentes e viajar. Mais do que passar muito tempo com os filhos, as psicólogas concordam que é fundamental estar 100% presente nos mo-mentos de convivência. “Sempre pensei em priorizar a qualidade da atenção que dava aos filhos, pois metade do tempo tinha que trabalhar. Adaptei meus horários de trabalho para poder permanecer mais tempo com os filhos. Por exemplo, passei minha carga horária para regime de plantões. A medicina possibilitou que eu fizesse isso e que fosse adaptando minha rotina de trabalho em torno da rotina deles”, afirma Sonia. Ela reconhece que ser autônoma foi fundamen-tal para acomodar as 2 realidades. Poder adaptar os horários é uma das vantagens encontradas na carreira médica,

Mais do que passar muito tempo com os filhos, as psicólogas con-cordam que é fundamen-tal estar 100% presente nos momentos de con-vivência

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Paula Maria Prado | Amanda Novaretti Da redação

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mas isso não pode ser feito sem algum ônus profissional. A escolha não foi simples para Letícia: “Eu trabalhava horas seguidas, quase todos os dias da semana, mas o sonho de ser mãe sempre foi maior do que o de ser médica. Conversei muito com meu marido, antes de de-cidirmos ser pais, sobre como moldaríamos nossa vida para acolher as crianças. Juntos decidimos que o melhor era eu reduzir minha carga horária para poder ficar o máximo possível com elas”. Colocar a carreira em compasso de espera é um dos lados da moeda, mas o mais comum, é o adiamento da maternidade. “Não raro as profissionais da área da saúde adiam a chegada dos filhos. Algumas razões práticas levam à isso: a formação é longa, cara e exige total com-prometimento. Depois de passar por todo esse processo, muitas vezes o profissional não quer abrir mão dos frutos e vai jogando os planos familiares para o futuro. A ideia é se organizar para dar conta de tudo, mas alguns acabam abrindo mão da paternidade para se dedicar exclusiva-mente à profissão”, afirma. Segundo a psicóloga, o equilí-brio nunca é perfeito. “Cada pessoa vai achando o seu jeito de equilibrar a equação, seu jeito de ser pai/mãe e profissional.” Rafael concorda: “A medicina influencia muito a de-cisão do momento em que o casal deseja ter os filhos. É uma profissão que consome o tempo e nos tira do con-vívio com outras pessoas que não são da área”, explica. Rosangela crê que para encontrar o verdadeiro equilíbrio os pais devem lembrar que ter filhos não é o mesmo que se anular. “Devemos buscar sempre a reali-zação pessoal. Há momentos em nossa vida que precisa-mos dar evidência à carreira. Em outros, os filhos são o foco. O importante é não deixar de lado outros papéis, que são significativos e fundamentais. Pais não são somente pais, são também filhos, cônjuges, irmãos, amigos e profissionais. Existem momentos em que tudo acontece ao mesmo tempo. A adaptação faz parte da vida.”

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Uma equipe de cientistas na área rural da Tanzânia transformou um aparelho de celular num microscópio capaz de identificar infecções por vermes intestinais em crianças. Para examinar amostras de fezes, os pesquisadores cobriram uma lente de vidro simples com papel celofane, usaram uma tira de fita dupla face para anexá-lo à câmera de um iPhone, iluminaram com uma lanterna barata e depois tira-ram uma fotografia. O microscópio improvisado identificou a presença de ovos em 70% das amostras consideradas infectadas pelo aparelho tra-dicional. Os bons resultados do estudo, publicado no American So-ciety of Tropical Medicine and Hygiene, animaram os pesquisadores que acreditam que, num futuro não muito distante, esse tipo de mi-croscópio – fácil de fazer e com baixo custo – será um aliado impor-tante dos médicos em regiões pobres e com poucos recursos.

Cerca de 7 mil doenças raras afetam quase 7% da população brasileira, segundo a Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa). Enfermidades como a amiotrófica (doença degenerativa dos neurônios), a doença de Pompe (mal genético que causa hipertrofia cardíaca na infância) e a doença celíaca (intolerância ao glúten), são praticamente desconhecidas pelos brasileiros e encaradas como pouco preocupantes, já que atingem uma parcela relativamente pequena da população ativa. Desta forma, as barreiras para quem sofre com estas doenças são muitas; além da dificuldade de obter diagnóstico e tratamento corretos, muitos precisam recorrer à Justiça para obter os medicamentos necessários. O desafio do País, para a Interfarma, é aumentar a pesquisa e a divulgação de informações sobre essas doenças, para que os pacientes tenham tratamento adequado e maior qualidade de vida.

13 milhões de brasileiros têm doenças raras

iPhone transformado em microscópio detecta infecções

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A ausência de um plano de carreira sempre foi uma das causas para a falta de profissionais na saúde pública brasileira. Este problema, no entanto, parece estar próximo de ser resolvido. O Ministério da Saúde anunciou, em fevereiro, o plano de criar um atrativo para que médicos desejem trabalhar – e permanecer – no Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta é que estados e municípios selecionem os profissionais por meio de concursos, estabeleçam cargos e salários, e ainda que eles sejam gratificados e reconhecidos por trabalharem em locais mais distantes, por exemplo, e por seu desempenho e qualificação ao longo dos anos. A medida já funciona em algumas regiões do país. No estado de São Paulo os profissionais foram divididos em 3 classificações: Médico I, II e III. Os salários variam entre R$ 3,6 e R$ 14,7 mil, somados a benefícios e premiações por mérito.

Governo Federal estuda criação deplano de carreirapara médicos do SUS

País tem distribuição desigual de médicos

O número de médicos no Brasil não para de crescer. Segundo o Conselho Federal de Medicina, são formados de 6 a 8 mil novos profissionais todos os anos. Os últimos dados, de outubro de 2012, revelam que a média é de 2 profissionais por grupo de 1.000 habitantes no país. Esses médicos, porém, estão espalhados de maneira bastante desigual. De acordo com pesquisa, 16 estados, todos pertencentes à região Norte, Nordeste e Centro-Oeste, estão abaixo do índice nacional. Alguns têm números bem próximos dos países africanos, com menos de 1 profissional por grupo: Amapá (0,95), Pará (0,84) e Maranhão (0,71). Em contrapartida, outros superam a média; o Distrito Federal tem 4,09, o Rio de Janeiro 3,62 e São Paulo 2,64. As grandes cidades também têm vantagem sobre o interior; 9 capitais brasileiras têm mais de 5 médicos para cada 1.000 habitantes.

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Disponível para iPad

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Você sabia que a

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A BrasilCord, rede pública de armazenamento de sangue placentário e de cordão umbilical, que hoje conta com 12 bancos, a maioria na região Sudeste, ganhará mais 5 centros, nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A ideia é aumentar as chances de pacientes encontrarem doadores compatíveis para transplantes de medula óssea. Após análise do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula), foi identificada a falta de alguns grupos genéticos. Por isso, os novos bancos serão abertos em estados como o Amazonas, que possui diversidade genética por conta dos indígenas, e na Bahia, que recebeu muitos negros escravos oriundos da África. Hoje, a rede conta com 17 mil bolsas de sangue armazenadas, doadas voluntariamente por mães em hospitais conveniados, que são cedidas gratuitamente a quem necessita. A meta é chegar a 75 mil, garantindo uma amostragem genética satisfatória da população brasileira.

Brasil terá 5 novos bancos de sangue de cordão umbilical até 2014

O Governo Federal estuda algumas medidas para sanar o problema da baixa oferta de mé-dicos no SUS, sobretudo em áreas mais ca-rentes. Entre as políticas em análise está o recru-tamento de médicos formados no exterior. Depois da seleção, os profissionais trabalhariam por 2 anos no Brasil, sem a necessidade de um teste para revalidar o diploma obtido em outros países. Os Conselhos de Medicina – tanto o Federal quanto os Regionais – posicionaram-se contra essa medida, alegando que a estratégia pode comprometer a qualidade do sistema público, já que os estrangeiros não passariam por uma ava-liação de capacidade e qualidade do trabalho ou por treinamentos de preparação para trabalhar numa estrutura e cultura completamente diferentes dos locais de sua origem. Para as entidades, a melhor solução seria a implantação de um plano de carreira para os médicos brasileiros.

Conselhos de Medicinacriticam incentivo à vindade médicos estrangeiros

Cientistas israelenses e chineses descobriram que um simples exame de hálito é eficaz, em 90% dos casos, no diagnóstico de câncer de estômago e na diferenciação de outras doenças. A pesquisa pontou que os tumores malignos possuem uma característica marcante: compostos orgânicos voláteis que emitem um cheiro específico, facil-mente detectável por um kit médico e até mesmo por cães farejadores. O exame ainda é capaz de diferenciar, na maioria dos casos, o câncer de outros problemas de estômago, como a úlcera. O odor exalado também diz o estágio em que a doença se encontra; hoje, o câncer de estômago é detectado em estágio final em 4 a cada 5 casos, o que impede uma cirurgia e a possibilidade de cura do paciente. Estudos para o uso da mesma técnica em outros tipos de câncer, como o de pulmão, já estão sendo realizados, e representam uma revolução no diagnóstico da moléstia.

Exame de hálitopode detectar câncer de estômago

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Um rápido diagnóstico pode ser decisivo em caso de infarto. Uma luva repleta de eletrodos, criada em Israel para este fim, começou a ser testada no SUS de São José dos Campos, interior de São Paulo. O equipamento substitui o aparelho de eletrocardiograma convencional, e pode ser utilizado por qualquer pessoa. Basta o paciente vestir a luva e colocar o braço sobre o peito; os eletrodos captam os sinais e enviam para um notebook; do computador, o resultado segue, via 3G, para uma central da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e um médico emite o diagnóstico em, no máximo, 4 minutos. A chamada telemedicina é eficiente e faz a diferença. O pré--tratamento, realizado na residência do paciente ou na am-bulância, pode salvar vidas. O custo da tecnologia também é bastante atrativo: cada luva custa R$ 3.000. Depois da etapa

de testes, o sistema deve ser implantado em toda a rede pública do país.

SUS testa luva que diagnostica infarto em poucos minutos

Dispositivo eletrônico diagnostica AVC com 100% de precisãoPesquisadores americanos descobriram que um aparelho de vídeo-oculografia é capaz de diagnosticar se pacientes com tonturas fortes e constantes foram vítimas de derrame. O dispositivo portátil é composto por óculos de proteção, uma webcam conectada via USB a um notebook e um acelerômetro. A máquina garante a precisão do resultado do teste de impulsão horizontal da cabeça. Neste exame, o paciente deve ficar com o olhar fixo num ponto, enquanto o médico move sua cabeça para os lados. As imagens feitas pela câmera são enviadas simultaneamente para o computador, e um software interpreta a posição dos olhos de acordo com a deslocação. O aparelho detecta movimentos oculares que raramente são notados pelos profissionais, garantindo 100% de acerto no diagnóstico. De acordo com a pesquisa, o uso da tecnologia, em muitos dos casos, é tão eficaz quanto a ressonância magnética.

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Os roxos nos braços após coletas de sangue ou administração de medicamentos parecem estar com seus dias contados. OAccuVein, fabricado pela Becton, Dickinson & Company (BD), é um aparelho portátil que localiza veias periféricas (com até 7mm de profundidade) por meio de um laser. O dispositivo não substitui a localização tátil, mas auxilia o profissional em casos de coleta em com doenças que exigem muitas aplicações de remédios, como aqueles submetidos a sessões de quimioterapia. Este procedimento pode evitar o rompimento de vasos sanguíneos, que causam os hematomas. O aparelho, que pesa apenas 280g, tem bateria recarregável e não precisa de esterilização, uma vez que não entra em contato com o paciente. Utilizado em algumas clínicas e laboratórios do país, vem sendo elogiado por profissionais e pacientes.

Aparelho eletrônico contribui para coleta de sangue sem hematomas

Cientistas canadenses descobriram que um marca-passo implantado no cérebro, que já é usado há mais de 20 anos contra os tremores do Parkinson, dores crônicas e transtornos obsessivo-compulsivos, pode auxiliar também no tratamento da anorexia nervosa incurável. O aparelho envia impulsos elétricos às regiões do cérebro responsáveis pela ansiedade e pelo prazer, e é controlado por um emissor de pulsos colocado embaixo da pele, perto da clavícula. Depois da implantação e estimulação dos eletrodos em uma parte específica do cérebro, responsável pela emoção, boa parte dos pacientes envolvidos apresentou ganho de peso e melhorias no humor. Para os pesquisadores, além de representar uma alternativa para o difícil tratamento do distúrbio, o estudo contribui para um maior conhecimento do transtorno alimentar, seus sintomas e áreas do cérebro afetadas.

Marca-passo cerebral é aliadono tratamento contra anorexia

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Mais de 180 mil médicos brasileiros (46% do total) não têm título de especialista obtido após conclusão de Residência Médica. Segundo o estudo, feito pelo Conselho Federal de Medicina, muitos recém-formados têm dificuldade de cursar uma residência, pois o número de vagas é bastante inferior à quantidade de novos profissionais. Por este motivo, muitos passam anos estudando e tentando passar nas provas e en-trevistas e acabam passando boa parte da carreira – ou até mesmo ela toda – sem uma especialidade. Após os 6 anos de estudo (4 de faculdade e 2 de internato hospitalar) estes médicos podem atuar como clínicos gerais, mas a prática não é bem vista pelo mercado. Além disto, para o Conselho, se todos conseguissem fazer cursos de aprimoramento e atu-alização, muitas das carências do sistema de saúde brasilei-ro poderiam ser supridas.

Quase metade dos médicos brasileiros não tem especialização

Dez hospitais são incluídos em plano nacional de atendimento de urgênciaO Ministério da Saúde anunciou a ampliação do programa S.O.S. Emergência. O plano visa melhorar o atendimento de urgência e emergência da rede pública de saúde, e já contava com 12 hospitais em todo o país; agora, serão 22 centros. As instituições foram escolhidas por atender alguns requisitos básicos: possuir pronto atendimento, serem referências regionais e fazer muitos atendimentos por dia. Cada uma das unidades receberá do Governo Federal R$ 3 milhões para reformas, além de R$ 300 mil mensais. A expectativa é que os investimentos em informatização agilizem os atendimentos para acabar com as grandes filas. Espera-se, também, que o número de leitos seja aumentado, extinguindo macas e cadeiras nos corredores. Com a medida, todas as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 terão pelo menos um hospital dentro do programa.

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Uma pesquisa da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa) constatou que para atender adequadamente aos pacientes portadores de doenças raras – 6 pessoas a cada 10 mil – o país precisaria de mais 1.800 geneti-cistas, já que 80% dessas moléstias têm origem genética. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é que um país tenha 1 especialista para cada 100 mil habitantes; hoje, com cerca de 200 profissionais, o Brasil tem 1 para cada 1,25 milhão. O aumento no número de geneticistas contribuiria para mais diagnósticos acertados e estudos sobre o assunto. Segundo os pesquisadores, o aprofundamento e a popularização de informações seria o caminho para a entrada das chamadas “drogas órfãs” – muito caras e sem similares no mercado – no SUS, facilitando o acesso e melhorando a qualidade de vida dos doentes.

Brasil sofre comfalta de geneticistas

Um levantamento do Conselho Federal de Medicina apontou que 11,23% dos médicos especialistas no país são pediatras. Ainda de acordo com a pesquisa, junto da Pediatria, mais 14 especialidades concentram 74% do total de médicos titulados. São elas: Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia Geral, Clínica Médica, Anestesiologia Medicina do Trabalho, Cardiologia, Ortopedia e Traumatologia, Oftalmologia, Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Psiquiatria, Dermatologia, Otorrinolaringologia, Cirurgia Plástica e Medicina Intensiva. Por outro lado, algumas áreas parecem ser rejeitadas pelos residentes. A Radioterapia, por exemplo, possui apenas 497 profissionais (0,19%) em todo o país; a Cirurgia de Mão conta com 411 (0,15%). O mais surpreendente, no entanto, é a Genética Médica que, apesar de concentrar muitos estudos e perspectivas, é a especialidade de apenas 200 médicos brasileiros (0,07%).

Pediatria é a especialidade mais procurada no Brasil

Ana Beatriz Gebara | Da redação

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Cortar o cabelo na fase certa da lua o faz crescer mais rápido.

MIT

O

Fase da lua e crescimento capilar não têm nada a ver. A medicina é baseada em evidências, e não há comprovação científica da relação da lua com o cresci-mento do cabelo. O que ocorre é que, no verão, o cabelo cresce mais e, no inverno, há uma queda acentuada dele. Normalmente os fios crescem durante o dia, por causa do estímulo hormonal.

Natação é bom para quem tem asma.

VER

DA

DE

A natação é um exercício que induz a menos broncoconstrição do que outras práticas esportivas. Um dos fatores que ajuda a explicar isso é a alta umidade do ar ao nível da água. Outros benefícios são o fortaleci-mento da musculatura torácica e o aumento da capacidade aeróbica. No entanto a prática deve ser orientada pelo médico e restrita aos pacientes em controle da asma e que gostem do esporte. Piscinas com alto índice de cloro devem ser evitadas.

Flávia Regina Ferreira, Dermatologista

Érico Campos Moreira, Otorrinolaringologista

Verdades e Mitos

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Tomar sol dentro do carro é suficiente para as necessidades diárias de vitamina D. M

ITO

S

Provavelmente uma exposição diária ao sol, de 10 a 15 minutos, até seja suficiente para as necessidades diárias de vitamina D, porém essa não é a forma correta nem adequada. A Academia Americana de Dermato-logia aconselha não usar a exposição solar para esse propósito, pois pequenas doses de radiação ultravioleta são capazes de prejudicar o organismo, aumentando o risco de desenvolver câncer ou de acelerar o processo de envelhecimento, além das doenças degenerativas.

Comer maçã melhora a rouquidão.A maçã tem efeito adstringente e remove secreções espessas da via aerodigestiva, facilitando o bom funcionamento da laringe. Aliada ao repouso vocal, à ingestão hídrica e, em alguns casos, a medicamentos, a fruta pode ajudar no desempenho da voz. No caso da rouquidão que persiste por mais de duas se-manas, um diagnóstico deve ser estabel-ecido através do exame otorrinolarin-gológico. O diagnóstico correto é im-portante, pois, além das doenças virais e do uso inad-equado da voz, tumores be-nignos ou malignos também podem causar rouquidão.

VER

DA

DE

Érico Campos Moreira, Otorrinolaringologista

Gerson Gomes de Araújo, Dermatologista

Verdades e Mitos

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Pastilhas, sprays e balas têm efeito anestésico, mascarando a “dor de garganta”. O gengibre, apesar do seu reconhecido efeito cicatrizante, pode irritar as mucosas da laringe, desencadeando tosse intensa.

A maçã tem efeito adstringente e remove secreções espessas da via aerodigestiva, facilitando o bom funcionamento da laringe. Aliada ao repouso vocal, à ingestão hídrica e, em alguns casos, a medicamentos, a fruta pode ajudar no desempenho da voz. No caso da rouquidão que persiste por mais de duas se-manas, um diagnóstico deve ser estabel-ecido através do exame otorrinolarin-gológico. O diagnóstico correto é im-portante, pois, além das doenças virais e do uso inad-equado da voz, tumores be-nignos ou malignos também podem causar rouquidão.

Comer banana reduz a ocorrência de cãibra.Comer banana nos intervalos das competições é uma opção efetiva na prevenção de cãibras, embora a ingestão de líquidos contendo eletrólitos não possa ser negligenciada. O potássio juntamente com o sódio influencia a contração muscular e a atividade dos nervos, atuando no metabolismo de carboidratos e proteínas. Estudos demonstram que dietas ricas nesse nutriente previnem hipertensão e doenças cardiovasculares. Sua deficiência ou seu excesso podem levar a problemas cardía-cos e a diminuição da atividade muscular com o aparecimento de cãibras.

VER

DA

DE

MIT

O Todo profissional da voz (cantor, locutor, ator, operador de telemarketing etc.) deve usar pasti- lhas, sprays, balas de hortelã ou de gengibre para mantê-la saudável.

Flávia Regina Ferreira, Dermatologista

Paulo de Tarso C. de Araújo, Ortopedista

Verdades e Mitos

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