revista jurídica - ceaf-esmp · genival veloso de frança, professor de medicina legal. revista...

189
Rev Rev Rev Rev Revista Jurídica ista Jurídica ista Jurídica ista Jurídica ista Jurídica Escola Superior do Ministério Público Volume 2 - n.º 3 (Janeiro a Junho/2002) LOGO DA IMESP

Upload: others

Post on 24-Sep-2019

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

RevRevRevRevRevista Jurídicaista Jurídicaista Jurídicaista Jurídicaista JurídicaEscola Superior do Ministério Público

Volume 2 - n.º 3

(Janeiro a Junho/2002)

LOGO DAIMESP

Page 2: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

EXPEDIENTE

ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO(Rua Minas Gerais, 316 - Higienópolis - São Paulo/SP)

Conselho Editorial:Carlos Alberto de Salles

Hugo Nigro MazzilliLuiz Otavio de Oliveira Rocha

Luiz Roberto Cicogna FaggioniOswaldo Henrique Duek Marques

Ricardo Barbosa Alves

Diretor: Luís Daniel Pereira Cintra

Assessores:Edgard Moreira da Silva

Maria Amélia Nardy PereiraOswaldo Peregrina RodriguesVânia Ferrari Trópia Padilla

Jornalista responsável:Rosana Sanches (MTb 17.993)

Capa:Luís Antônio Alves dos Santos

Impresso por: Imprensa Oficial do Estado

(Rua da Mooca, 1.921)

“Revista Jurídica da ESMP” é semestral, com tiragem de 3 mil exemplares.

Page 3: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 3

Apresentação...............................................................Luís Daniel Pereira Cintra

A Perícia em Casos de Tortura....................................Genivel Veloso de França

O Preso e o “Direito” de Fugir.....................................Fernando Pacoal Lupo

Limite de Juros: Uma Questão de Ordem....................Guilherme Ferreira da Cruz

A Prescrição no Estatuto da Criança e do Adolescente..Roberto Barbosa Alves

O Parecer Criminal do Ministério Público Perante osTribunais: Ato Essencial do Processo.............................Sérgio Demoro Hamilton

A Obrigatoriedade da Intervenção do MinistérioPúblico nas Lides Acidentárias......................................Sérgio Neves Coelho

Ana Martha Smith Correa Orlando

Juang Yuh Yu

Maria Cristina Bittencourt Prata Magalhães

La Privación Cautelar de la Libertad em el ProcesoPenal Peruano................................................................Cesar Eugenio Martín Castro

ÍÍÍÍÍNNNNNDDDDDIIIIICCCCCEEEEE

7

9

31

39

73

81

93

105

Page 4: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 5: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 5

AAAAAPPPPPRRRRREEEEESSSSSEEEEENNNNNTTTTTAAAAAÇÇÇÇÇÃÃÃÃÃOOOOO

A ESMP tem a honra de apresentar a Revista Jurídica n.º 3,a primeira editada sob nossa direção. Como é do conhe-cimento geral, estamos implantando uma filosofia de atuaçãodiferente na ESMP, a fim de lhe dar um perfil profissional ede eficiência na promoção de cursos e eventos necessáriosà adequada preparação e atualização dos membros doMinistério Público. Nesse perfil de atuação, a Revista Jurídicaconstitui-se em instrumento poderoso de irradiação de idéias,de reflexões e teses voltadas à atuação funcional do promo-tor, particularmente para dotar-lhe de informações aptas afacilitar e tornar mais eficiente seu trabalho institucional, ouseja, propiciar harmonia cognitiva na base informativa quedará sustentação às manifestações exaradas nos processos,inquéritos, protocolados etc.

Um dos nossos desafios é fazer com que a Revista Jurídicaseja instrumento de difusão do conteúdo dos principais semi-nários e palestras da Escola, especialmente em relação aostemas mais relevantes e polêmicos. Somando-se a eles, elatambém deve servir como meio de divulgação de trabalhosjurídicos vinculados a temáticas novas, pouco exploradas ediretamente tratadas no cotidiano do exercício funcional dosmembros do MP. Tema amplamente debatido no 1.º semestredo ano, não só na sede da Escola, mas também em diversosdos seus núcleos regionais espalhados pelo Estado (Araçatu-ba-Lins-Marília, Baixada Santista, Bauru, Franca e São Josédo Rio Preto), foi o relativo às eventuais repercussões dalegislação que instituiu o Juizado Especial Criminal na JustiçaFederal, no tocante à Justiça Estadual. A publicação do con-teúdo das respectivas palestras, no entanto, nada obstanteconveniente, especialmente em face de tratar-se de assuntomomentoso, bem assim porque o posicionamento a que sedeu maior difusão coincide com o adotado pela ProcuradoriaGeral de Justiça, tal como pelas 2.ª e 3.ª Procuradorias deJustiça, que com ele lidam, não se fez possível nesta oportu-nidade, tendo em vista a pendência de inúmeros outrosartigos, igualmente relevantes, que aqui já se encontravam,no aguardo de publicação, porque a falta de espaço físicoimpediu que tal ocorresse em edições anteriores.

Page 6: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 36

AAAAAPPPPPRRRRREEEEESSSSSEEEEENNNNNTTTTTAAAAAÇÇÇÇÇÃÃÃÃÃOOOOO

Luís Daniel Pereira Cintra,procurador de Justiça, diretor da ESMP

Os artigos editados estão vinculados ao exercício funcionaldo membro do MP. O professor Genival Veloso de Françadiscorre sobre o exame de corpo de delito no crime de tortura.A bravata do “Direito de Fugir” do preso é abordada compercuciência por Fernando Pascoal Lupo. O ensinamentodo vestuto provérbio francês L´argent est um bom serviteuret um mauvais maitre ressurge no trabalho “Limite de juros –Uma Questão de Ordem”, de Guilherme Ferreira da Cruz, noqual se procura trazer novamente à discussão a problemáticados juros bancários. Tema inédito na doutrina é o artigo deRoberto Barbosa Alves (“A Prescrição no Estatuto da Criançae do Adolescente”), visto que o ECA não regulou a matériaem relação aos atos infracionais de adolescentes ou dasmedidas a que estão sujeitos em decorrência delas. “OParecer Criminal do MP perante os Tribunais” é o tema deSergio Demoro Hamilton, procurador decano no MP/RJ, noqual esclarece o equívoco em que incorrem doutrinadoresque tentam argumentar a inutilidade da atuação, no mérito,da Procuradoria nos feitos criminais oriundos da 1.ª instância.

Questão em discussão no MP paulista é examinada notrabalho “A Obrigatoriedade da Intervenção do MinistérioPúblico nas Lides Acidentárias”, ocasião em que os colegasSergio Neves Coelho, Ana Martha Smith Correa Orlando,Juang Yuh Yu e Maria Cristina Bittencourt Prata Magalhãesdefendem a obrigatoriedade da intervenção do Parquet emrazão de imposição constitucional e infraconstitucional. Noâmbito do direito comparado, temos artigo do professorCésar Eugenio San Martin Castro, sob o título “La PrivaciónCautelar de la Libertad en el Proceso Penal Peruano”, noqual aborda a questão sob a perspectiva do direito peruanoe os princípios que balizam o processo penal na atualidade.

A variedade dos temas permite vislumbrar a importânciada presente edição. A partir de agora, deixamos aos leitoreso prazer de abeberarem-se dos conhecimentos, informaçõese reflexões exaradas naqueles estudos.

Page 7: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

a perícia em casosa perícia em casosa perícia em casosa perícia em casosa perícia em casosde torturade torturade torturade torturade tortura

genival veloso de frança,professor de medicina legal

Page 8: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 9: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9

A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*)

Genival Veloso de França

Resumo: o autor, além de conceituar a tortura à luz dalegislação brasileira vigente, fala da violência institucionalno Brasil, faz uma série de recomendações quando doexame das vítimas de alegada tortura, chamando a atençãopara o exame clínico e as necropsias em casos de mortepor maus-tratos sob a tutela policial ou judiciária.

Preliminares

Toda e qualquer ação que tenha como destino as pessoas e o seumodo de viver, implica necessariamente no reconhecimento de certosvalores. Qualquer que seja a maneira de abordar esta questão vamoschegar a um entendimento que o mais significativo desses valores ésempre o próprio ser humano, no conjunto de seus atributos materiais,físicos e morais. Se não for assim, cada um de nós nada mais representasenão um simples objeto, sem identidade e sem nenhum destino.

1. A vida humana como valor ético. O valor da vida é de tal magni-tude que, até mesmo nos momentos mais graves, quando tudo pareceperdido, dadas as condições mais excepcionais e precárias – como nosconflitos internacionais, na hora em que o direito da força se instala ne-gando o próprio Direito, e quando tudo é paradoxal e inconcebível -, aindaassim a intuição humana tenta protegê-la contra a insânia coletiva, criandoregras que impeçam a prática de crueldades inúteis.

Quando a paz passa a ser apenas um instante entre dois tumultos,o homem tenta encontrar nos céus do amanhã uma aurora de salvação.

(*) Palestra proferida durante o Brasil Forense 200, Recife, outubro de 2001.

Page 10: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 310

A ciência, de forma desesperada, convoca os cientistas a se debruçaremsobre as mesas de seus laboratórios, na procura de meios salvadoresda vida. Nas mesas das conversações internacionais, mesmo entreintrigas e astúcias, os líderes do mundo inteiro tentam se reencontrarcom a mais irrecusável de suas normas: o respeito pela vida humana.

Assim, no âmago de todos os valores está o mais indeclinável detodos eles: a vida humana. Sem ela, não existe a pessoa humana. Nãoexiste a base de sua identidade. Mesmo diante da proletária tragédiade cada homem e de cada mulher, quase naufragados na lutadesesperada pela sobrevivência do dia a dia, ninguém abre mão dosseus direitos de sobrevivência. Essa consciência é que faz a vida maisque um bem: um valor.

A partir dessa concepção, hoje, mais ainda, a vida passa a serrespeitada e protegida não só como um bem afetivo ou patrimonial, maspelo que ela se reveste de valor ético. Não se constitui apenas de ummeio de continuidade biológica, mas de uma qualidade e de uma dignidadeque faz com que cada um realize seu destino de criatura humana.

2. A vida humana como valor jurídico. Vivemos sob a égide deuma Constituição que orienta o Estado no sentido da “dignidade dapessoa humana”, tendo como normas a promoção do bem comum, agarantia da integridade física e moral do cidadão e a proteçãoincondicional do direito à vida. Tal proteção é de tal forma solene que oatentado a essa integridade eleva-se a condição de ato de lesa-Humanidade: um atentado contra todos os homens.

Afirma-se que a Constituição do Brasil protege a vida e que tudoaquilo que soa diferente é contrário ao Direito e por isso não poderealizar-se. Todavia, dizer que a vida depende da proteção da CartaMaior é superfetação porque a vida está acima das normas e compõetodos os artigos, parágrafos, incisos e alíneas de todas as Constituintes.

Cada dia que passa, a consciência atual, despertada e aturdidapela insensibilidade e pela indiferença do mundo tecnicista, começa ase reencontrar com a mais lógica de suas normas: a tutela da vida.

Page 11: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 11

Essa consciência de que a vida humana necessita de umimperiosa proteção vai criando uma série de regras que vai se ajustandomais e mais com cada agressão sofrida, não apenas no sentido de secriar dispositivos legais, mas como maneira de estabelecer formas maisfraternas de convivência. Este sim, seria o melhor caminho.

Tudo isso vai sedimentando uma idéia de que a vida de todo serhumano é ornada de especial dignidade e que isto deve ser colocadode forma clara em defesa da proteção das necessidades e dasobrevivência de cada um. Esses direitos fundamentais e irrecusáveisda pessoa humana devem ser definidos por um conjunto de normaspossibilitando que cada um tenha condições de desenvolver suasaptidões e suas possibilidades.

3. A defesa da pessoa e da vida e os direitos humanos. O maisefetivo marco em favor da defesa da pessoa humana e conseqüen-temente da sua vida vem da vitória da Revolução Francesa, com aedição da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789,onde já no seu artigo primeiro se lê: “todos os homens nascem epermanecem livres e iguais em direitos”. E no artigo 5º é mais enfáticaquando diz: “ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento oucastigo cruel, desumano ou degradante”.

Mesmo que o mundo tenha assistido dois grandes conflitosinternacionais neste século e que algumas pessoas continuem mais emais em busca de privilégios e vantagens individuais, não se pode negarque algo vem sendo feito em favor dos valores humanos. O que nosfaz pensar assim é o crescimento de uma significativa parcela da socie-dade que já se conscientizou, de forma isolada ou em grupos, que adefesa dos direitos humanos não é apenas algo emblemático, mas umargumento muito forte em favor da sobrevivência do homem. Isto nãoquer dizer que não haja por parte de alguns a alegação de que a defesados direitos humanos seja um risco para a sociedade, uma subversãoda ordem pública, um jogo de interesses ideológicos ou uma ameaçaaos direitos patrimoniais. Outros, por ingenuidade ou má-fé, admitemque a luta em favor dos direitos humanos é uma apologia ao crime eum endosso ao criminoso.

Page 12: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 312

A partir da edição da Declaração Universal dos Direitos Humanospela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 1948,embora sem eficácia jurídica, pode-se dizer que ela representa ummomento importante na história das liberdades humanas, não apenaspelo que ali se lê em termos do ideal de uma convivência humana, maspelas declaradas adesões dos países membros desta Organização.

Espera-se que passo a passo a humanidade vá construindo umideário onde fique evidente a importância da valorização da pessoa e oreconhecimento irrecusável dos direitos humanos. Não adianta todoesse encantamento com o progresso da técnica e da ciência se não forem favor do homem. Se não, esse progresso será uma coisa pobre emesquinha.

Violência institucional no Brasil

Os aparelhos do poder organizado em nosso país que disciplinamas relações sociais e que administram a repressão (polícia), que julgame aplicam as sanções (justiça) e que executam a punição (prisão) nãodeixam, de certo modo, de exercer ou tolerar a violência. O Estadoconstitui-se sem dúvida na mais grave forma de arbítrio porque ela fluide um órgão de proteção e contra a qual dificilmente se tem remédio.

Parte da estrutura policial tornou-se viciada pelo arbítrio e pelacorrupção, imbuída de uma mentalidade repressiva, reacionária epreconceituosa, na mais absoluta fidelidade que o Sistema lhe impôsdesde os anos de repressão. Hoje tal fração desta estrutura não somenteperdeu a credibilidade da população, como lhe causa medo.

O aparelho policial mostra-se cada vez mais violento a partir daorganização dos movimentos coletivos de reivindicação e protesto.Dessa forma, com o surgimento mais constante desses movimentospopulares, o poder passou a prevenir e controlar de forma agressiva oque ele chamou de “desordens públicas”. Esse aparelho de poderautorizado legalmente a usar a violência contra os trabalhadores semterra e sem emprego, deixa claro que a garantia da “ordem social” tem

Page 13: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 13

suas razões ditadas pelas classes dominantes que se sentemameaçadas. Esse modo de atuar do aparelho policial não deixa de seruma fonte permanente de conflitos, fazendo que essa corporação seconstitua numa forma de violência institucional.

De certa forma pode-se dizer que o aparelho judicial tambémconstitui numa modalidade de violência institucional, a partir do instanteem que suas decisões se inclinam obstinadamente para o lado dolegalismo insensível, deixando de agir pela equidade. Não é outro senãoo próprio Presidente do Supremo Tribunal Federal que diz:“necessitamos de um sistema que seja processualmente célere,politicamente independente, socialmente eficaz e tecnicamenteeficiente” (Revista Veja, ano 32, n.º 12, 22/mar./1999, pag. 36).

O princípio da legalidade é o eixo da lógica da justiça criminal,mas se olharmos para os presídios não é difícil entender que essaideologia, pelo menos na prática, favorece os interesses e as pessoasdas classes dominantes. Estes indivíduos, pertencentes a certa castasocial, exageram o limite da liberdade real, enquanto os outros,marginalizados pelo processo de produção, estão submetidos às regrasde sua categoria e, por isso, têm suas liberdades condicionadas. Atéporque as leis que são seguidas fielmente pelo aparelho judicial sãoelaboradas a partir dos interesses que os legisladores defendem erepresentam. E estes não têm nenhuma intimidade com aspiraçõesda população que mais necessita e anseia por justiça.

A violência do aparelho carcerário é certamente a mais impie-dosa e humilhante porque o presidiário, principalmente o de crimescomuns, representa para o poder e para uma fração da sociedade,uma escória. Não passa pelos critérios dessas pessoas que a penaseja uma medida de recuperação e de ressocialização, mas tão-sóum instrumento de vindita e de reparação. O próprio sentido deintimidação e de excessivo rigor punitivo não deixam de constituir umamodalidade de terrorismo oficial.

A forma como essas instituições são administradas e o perfil dosseus administradores não deixam dúvidas do verdadeiro sentido dessasprisões. Não é nenhuma novidade afirmar que essas casas de custódia

Page 14: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 314

funcionam como desestímulo arrasador aos programas de recuperação.E é nesse ambiente de trabalhos inúteis, de degradação e coaçãodisciplinar, de prática sistemática de torturas e maus tratos que o regimecarcerário propõe recuperar seus presos.

Tudo que existe de sórdido no sistema carcerário: a prepotência,a falta de disciplina e a brutalidade gratuita de alguns agentes do podere o seu desdém pelas entidades que promovem a defesa e a proteçãodos direitos humanos, é com certeza a manifestação mais abjeta daintolerância, da irreverência e do arbítrio. Esta “justiça paralela”, amparadapela mesma inspiração de violência instituída, só serve paradesmoralizar a Justiça e aviltar a dignidade humana.

Desvinculação dos IMLs da área da Segurança

Dentro deste quadro, um dos fatos mais graves e desalentadores,tem sido a inserção dos Institutos Médico-Legais nos organismos derepressão, quando deviam estar entre aqueles que são os verdadeirosarautos na defesa dos direitos humanos. Isso infelizmente podecomprometer os interesses mais legítimos da sociedade. Muitos dessesInstitutos estão subordinados diretamente a Delegados de Polícia.

Por isso, pela incidência quase generalizada da violência e do arbítriodos órgãos de repressão, sempre defendemos a idéia da imediatadesvinculação dos Institutos de Medicina Legal da área de Segurança,não só pela possibilidade de se estabelecer pressões, mas pelaoportunidade de se levantar dúvidas na credibilidade do ato pericial. Apolícia que prende, espanca e mata é a mesma que conduz o processo.

Como sempre, mas hoje muito mais, os órgãos de perícia são deimportância significativa na prevenção, repressão e reparação dosdelitos, porque a prova técnico-científica prevalece sobre as demaisprovas ditas racionais, notadamente nas questões criminais.

Por isso a Medicina Legal não pode deixar de ser vista como umnúcleo de ciência a serviço da Justiça, e o médico nestas condições é

Page 15: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 15

sempre um analista do Juiz, e não um preposto da autoridade policial.Desse modo, sente-se a necessidade cada vez mais premente detransformar esses Institutos em órgãos auxiliares do Poder Judiciário,e sempre com a denominação de Institutos Médico-Legais, como atradição os consagrou pelo seu mais alto destino. Atualmente há umatendência da tecnocracia estatal chamar esses departamentos deInstitutos de Polícia Científica ou de Polícia Técnica. Nem se pode admitirPolícia como ciência nem Medicina Legal como polícia.

Lamentavelmente, por distorção de origem, quando as repartiçõesmédico-legais nada mais representavam senão simples apêndices dasCentrais de Polícia e os legistas meros auxiliares subordinados àautoridade policial, permanece o desagradável engano, ficando até hojea idéia entre muitos que a legisperícia é parte integrante e inerente daatividade policial. E o mais grave: isso fez que se criasse, num bomnúmero de legistas brasileiros, uma postura nitidamente policialesca quese satisfaz com a exibição de carteiras de polícia ou de portes de arma.

A Medicina Legal tem outra missão, mais ampla e mais decisivadentro da esfera do judiciário, no sentido de estabelecer a verdade dosfatos, na mais justa aspiração do direito.

Foi com esse pensamento que a Comissão de Estudos do Crimee da Violência, criada pelo Ministério da Justiça, propôs ao Governo adesvinculação dos Institutos Médico-Legais e da própria Perícia Criminal,dos órgãos de polícia repressiva. O objetivo era “evitar a imagem docomprometimento sempre presente, quando, por interesse da Justiça,são convocados para participar de investigações sobre autoria de crimesatribuídos à Polícia”.

A solução apresentada pela Comissão, tendo como presidente oProfessor Viana de Moraes, era “que estes serviços técnicos hoje sujeitosà Secretaria de Segurança Pública, passem a integrar o quadroadministrativo das Secretarias de Justiça”. Pessoalmente acho que poucomudaria se os órgãos de perícias fossem para tais Secretarias, ou mesmopara o Ministério da Justiça. O local mais adequado seria o MinistérioPúblico Estadual, a quem constitucionalmente cabe o ônus da prova.

Page 16: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 316

A justificativa era baseada em trabalhos do juiz João de DeusMena Barreto e do criminalista Serrano Neves, documentado por várioscrimes atribuídos aos policiais, onde os laudos elaborados por peritosoficiais subordinados às Secretarias de Segurança, segundo aquelesautores contestavam e negavam a autoria, entre eles o da morte dooperário Aézio da Silva Fonseca, servente do Itanhangá Golf Clube doRio de Janeiro e do operário Manoel Fiel Filho, este último dado comosuicida por estrangulamento, o que teoricamente e naquelascircunstâncias era inaceitável.

Ninguém de bom-senso pode assegurar que dessa vinculaçãopossa existir sempre qualquer forma de coação. Mas, dificilmente sepoderia deixar de aceitar a idéia de que em algumas ocasiões possaexistir pressão, quando se sabe que os órgãos de repressão no Brasilestiveram ou estão seriamente envolvidos no arbítrio e na violência.Pelo menos, suprimiria esse grave fator de suspeição, criado peladependência e pela subordinação funcional.

Enquanto o aparelho policial permanecer vinculado a esseslamentáveis episódios, e os cargos de direção das repartições médico-legais forem distribuídos entre indivíduos da confiança e da intimidadedo partido oficial, haverá, pelo menos, dúvidas em alguns resultados.Pelo menos foi assim que decidiu o juiz Márcio José de Moraes sobre olaudo pericial do jornalista Vlademir Herzog.

Tortura

A Lei n.º 9.455, de 7 de abril de 1997, que regulamenta o incisoXLIII do artigo 5º da Constituição do Brasil de 1988, define tortura comoo sofrimento físico ou mental causado a alguém com emprego deviolência ou grave ameaça, com o fim de obter informação, declaraçãoou confissão de vítima ou de terceira pessoa, outrossim, para provocaração ou omissão de natureza criminosa ou então em razão dediscriminação racial ou religiosa. Por sua vez, a Declaração de Tóquio,aprovada pela Assembléia Geral da Associação Médica Mundial, em

Page 17: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 17

10 de outubro de 1975, define como: “a imposição deliberada,sistemática e desconsiderada de sofrimento físico ou mental por partede uma ou mais pessoas, atuando por própria conta ou seguindo ordensde qualquer tipo de poder, com o fim de forçar uma outra pessoa a darinformações, confessar, ou por outra razão qualquer”.

A Convenção da Organização das Nações Unidas contra aTortura a define como “um ato pelo qual são infligidos, intencional-mente, a uma pessoa, dores ou sofrimentos graves, sejam eles físicosou mentais, com o fim de obter informações ou uma confissão, decastigá-la por um ato cometido ou que se suspeita que tenha cometido,de intimidá-la ou coagi-la, ou por qualquer razão baseada em qualquertipo de discriminação”.

A Convenção Interamericana para Prevenir e Sancionar a Torturadá definição mais avançada que esta da Convenção da ONU quandodefine a tortura como “a aplicação, em uma pessoa, de métodos quetendem a anular a personalidade da vítima ou diminuir sua capacidadefísica ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica”.

A verdade é que o fato de o ser humano sofrer de forma deliberadade tratamento desumano, degradante e cruel, com a finalidade deproduzir sofrimentos físicos ou morais, é tão antigo quando a históriada própria Humanidade. Houve uma época, não tão distante, que a Igrejae o Estado usavam a tortura como formas legais de expiação de culpaou como forma legal de pena. A Inquisição e a Doutrina de SegurançaNacional não são diferentes em seus métodos, princípios e objetivos.

Na atualidade, malgrado um ou outro esforço, muitos são ospaíses que ainda praticam, ou toleram a tortura em pessoas indefesas,sem nenhuma justificativa ou qualquer fundamento de ordem normativa.Muitas dessas práticas têm por finalidade punir tendências ideológicasou reprovar e inibir os movimentos libertários ou as manifestaçõespolíticas de protesto. Muitas dessas práticas cruéis e degradantes nadatem que ver com a chamada “obtenção da verdade”, mas uma estratégiado sistema repressivo que dispõe o Estado, contra os direitos e asliberdades dos seus opositores, como estratégia de manutenção nopoder. Não é por outra razão que sua metodologia e seus princípios

Page 18: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 318

estão nos currículos, como matéria teórica e prática das corporaçõesmilitares e policiais. Não quer dizer que não exista também a banalizaçãodo instinto violento como maneira torpe de dobrar o espírito das pessoaspara o torturado admitir o que quer o torturador. No fundo mesmo o quese procura com a tortura é o sofrimento corporal insuportável, levandoa uma fragmentação do corpo e da mente. Tais procedimentos, porrazões muito óbvias, são desconhecidas na maioria das vezes, poissua divulgação, mesmo em países ditos democráticos, é evitada demaneira disfarçada, e assim os organismos internacionais que cuidamdos direitos humanos não têm informações nem acesso aos torturados.Por outro lado, as próprias autoridades locais do setor de saúde nãoincluem essas vítimas dentro de um programa capaz de resgatá-las desuas graves seqüelas.

Recomendações em perícias de casos de tortura

1 – valorizar o exame esquelético-tegumentar.2 – descrever detalhadamente a sede e as características dos

ferimentos.3 – registrar em esquemas corporais todas as lesões encontradas.4 – fotografar as lesões e alterações existentes nos exames

interno e externo.5 – detalhar em todas as lesões, independente do seu vulto, a

forma, idade, dimensões, localização e particularidades.6 – radiografar, quando possível, todos os segmentos e regiões

agredidos ou suspeitos de violência.7 – examinar a vítima de tortura sem a presença dos agentes

do poder.8 – trabalhar sempre em equipe.9 – examinar à luz do dia.10 – usar os meios subsidiários disponíveis.

Exame clínico em casos de tortura

Além das lesões esquelético-tegumentares e de suas caracterís-ticas que serão descritas mais adiante para o exame externo do cadáver

Page 19: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 19

em casos de morte por tortura, existe uma série de perturbaçõespsíquicas que devem ser registradas com certo cuidado, pois elas podemser confundidas com sintomas de outras manifestações.

Essas perturbações psíquicas, conhecidas como síndrome pós-tortura, são caracterizadas por transtornos mentais e de conduta,apresnetand0o desordens psicossomáticas (cefaléia, pesadelos,insônia, tremores, desmaios, sudorese e diarréia), desordens afetivas(depressão, ansiedade, medos e fobias) e desordens comportamentais(isolamento, irritabilidade, impulsividade, disfunções sexuais e tentativasde suicídio). O mais grave desta síndrome é a permanente recordaçãodas torturas, os pesadelos e a recusa fóbica de estímulos que possamtrazer a lembrança dos maus tratos praticados.

Necropsia em morte por tortura

Todas as mortes ocorridas em presídios, notadamente deindivíduos que faleceram sem assistência médica, no curso de umprocesso clínico de evolução atípica ou de morte súbita ou inesperada,devem ser consideradas a priori como “mortes suspeitas”. Com certezaessas mortes, especialmente quando súbitas, são as de maiorcomplexidade na determinação da causa e do mecanismo da morte.

Quando da perícia em casos de morte súbita, onde se evidenciamlesões orgânicas significativas e incompatibilidade com a continuidadeda vida, além da ausência de lesões ou alterações produzidas por açãoexterna, não há o que duvidar de morte natural, melhor chamada de“morte com antecedentes patológicos” ou de “morte orgânica natural”.

No entanto, se são diagnosticadas lesões orgânicas mas se essasalterações morfopatológicas não se mostram totalmente suficiente paraexplicar a morte, então com certeza estamos diante da situação maiscomplexa e difícil da perícia médico-legal, ainda mais quando não existequalquer manifestação exógena que se possa atribuir como causa do óbito.

Pode excepcionalmente ocorrer uma situação em que o indivíduoé vítima de morte súbita, não tem registro de antecedentes patológicos,

Page 20: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 320

nem lesões orgânicas evidentes na necropsia, além, de não apresentarmanifestações de agressão violenta, registrada por aquilo que sechamou de “necropsia branca”. Desde que se afaste definitivamente acausa violenta de morte, tenha-se tomado os cuidados necessários napesquisa anatomopatológica, não há o que fugir da morte por causaindeterminada. Ainda mais se existe os fatores não violentos de inibiçãosobre regiões reflexógenas, predisposição constitucional e estadospsíquicos inibidores.

Como última hipótese aquelas situações de morte inesperada ondese evidenciam lesões e alterações típicas que justificam a morte violenta.

No primeiro caso, quando da chamada “morte súbita lesional”,onde o óbito é diagnosticado e explicado de forma segura pela presençade antecedentes patológicos, isso deve ficar confirmado de maneiraclara, pois dificilmente tal evento deixa de apresentar algunsconstrangimentos pelas insinuações de dúvida e desconfiança.

As causas das chamadas mortes naturais mais comuns são:cardiocirculatórias (cardiopatias isquêmicas, alterações valvulares,cardiomiopatias, miocardites, endocardites, alterações congênitas,anomalias no sistema de condução, roturas de aneurismas, etc.),respiratórias (broncopneumonias, tuberculose, pneumoconioses, etc.),digestivas (processos hemorrágicos, enfarte intestinal, pancreatite,cirrose, etc.), uro-genitais (afecções renais, lesões decorrentes dagravidez e do parto); encefalomeníngeas (processos hemorrágicos,tromboembólicos e infecciosos), endócrinas (diabetes), obstétricas(aborto, gravidez ectópica, infecção puerperal, etc.), entre outras.

Nas situações de morte súbita sem registro de antecedentespatológicos, com alterações orgânicas de menor importância eausência de manifestações violentas, o caso é ainda mais complexoe pode ser explicada como “morte súbita funcional com basepatológica”. Exemplo: arritmia cardíaca. Quando isso ocorrer, éimportante que se examine cuidadosamente o local dos fatos, seanalise as informações do serviço médico do presídio ou do médicoassistente e se use os meios subsidiários mais adequados a cadacaso, com destaque para o exame toxicológico.

Page 21: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 21

Mais cuidado ainda se deve ter quando não existe qualqueralteração orgânica que justifique a morte, nem se encontrammanifestações de ação violenta, mas o indivíduo é portador de algumaperturbação funcional. Em alguns casos pode-se justificar como “mortesúbita funcional”. Exemplo: a morte pós-crise convulsiva. Nesses casosdeve-se usar de todos os meios complementares disponíveis no sentidode afastar a morte violenta e, se possível, confirmar a morte natural apartir da confirmação daquelas perturbações.

Por fim, os casos de morte violenta cuja perícia não deve apenasse restringir ao diagnóstico da causa da morte e da ação ou do meiocausador, mas também ao estudo do mecanismo e das circunstânciasem que esse óbito ocorreu, no sentido de se determinar sua causa jurídica.

Recomenda-se que em tais situações a necropsia seja realizadade forma completa, metódica, sem pressa, sistemática e ilustrativa,com a anotação de todos os dados e com a participação de no mínimooutro legista. Além disso, deve-se usar fotografias, gráficos e esquemas,assim como os exames complementares necessários.

A. Exame externo do cadáver. Nos casos de morte violenta, emgeral, o exame externo tem muita importância não só para o desfechodo diagnóstico da causa da morte, como também para se considerarseu mecanismo, sua etiologia jurídica e as circunstâncias queantecederam o óbito. Essa é a regra, embora possa em determinadasituação soar diferente. Nas mortes em que se evidencia tortura, sevíciasou outros meios degradantes, desumanos ou cruéis, os achadosanalisados no hábito externo do cadáver são de muita relevância. Oselementos mais significativos nessa inspeção são:

A.1 –Sinais relativos à identificação do morto. Todos os elementosantropológicos e antropométricos, como estigmas pessoais eprofissionais, estatura, malformações congênitas e adquiridas, alémda descrição de cicatrizes, tatuagens e das vestes, assim como acoleta de impressões digitais e de sangue, registro da presença,alteração e ausência dos dentes e do estudo fotográfico.

A.2 – Sinais relativos às condições do estado de nutrição,conservação e da compleição física. Tal cuidado tem o sentido não só

Page 22: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 322

de determinar as condições de maus tratos por falta de higiene corporalhigiênicas, mas ainda de constatar a privação de alimentação ecuidados. Essas manifestações encontradas no detento podemconfirmar a privação de alimentos.

A.3 – Sinais relativos aos fenômenos cadavéricos. Devem seranotados todos os fenômenos cadavéricos abióticos consecutivos etransformativos, como rigidez cadavérica, livores hipostáticos, temperaturaretal e as manifestações imediatas ou tardias da putrefação.

A.4 - Sinais relativos ao tempo aproximado de morte. Todos os si-nais acima referidos devem ser registrados num contexto que possamorientar a perícia para uma avaliação do tempo aproximado de morte,pois tal interesse pode resultar útil diante de certas circunstâncias de morte.

A.5 – Sinais relativos ao meio ou às condições onde o cadáver seencontrava. Estes são elementos muito importantes quando presentes,pois assim é possível saber se o indivíduo foi levado em vida para outrolocal e depois transportado para a cela onde foi achado, como porexemplo, presidiários que morreram em “sessões de afogamento” forada cela carcerária.

A.6 – Sinais relativos à causa da morte. Mesmo que se considereser o diagnóstico da causa da morte o resultado do estudo externo einterno da necropsia, podemos afirmar que no caso das mortes portortura o exame externo do cadáver apresenta um significado especialpela evidência das lesões sofridas de forma violenta.

Assim, devemos considerar:

A.6.1 – Lesões traumáticas. É muito importante que as lesõesesquelético-tegumentares, que são as mais freqüentes e mais visíveis,sejam valorizadas e descritas de forma correta, pois na maioria dasvezes, em casos dessa espécie, elas contribuem de forma eloqüentepara o diagnóstico da morte e as circunstâncias em que ela ocorreu.

No estudo das lesões externas do cadáver em casos de mortepor tortura deve-se valorizar as seguintes características: multiplicidade,diversidade, diversidade de idade, forma, natureza etiológica, falta decuidados e local de predileção.

Page 23: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 23

.

Quanto a sua natureza, as lesões podem se apresentar com asseguintes características:

a) Equimoses e hematomas são as lesões maiscomuns, localizando-se mais comumente na face, tronco,extremidades e bolsa escrotal, apresentando processosevolutivos de cronologia diferente, pelas as agressõesrepetidas em épocas diversas;

b) Escoriações generalizadas, também de idadesdiferentes, mais encontradas na face, nos cotovelos,joelhos, tornozelos e demais partes proeminentes do corpo;

c) Edemas por constrição nos punhos e tornozelos,por compressão vascular, em face da ectasia sangüíneae linfática;

d) Feridas, na maioria contusas, nas diversas regiões,com predileção pelo rosto (supercílios e lábios)¸ tambémde evolução distinta pelas épocas diferentes de suaprodução, e quase sempre infectadas pela falta de higienee assistência;

e) Queimaduras, principalmente de cigarros acesosno dorso, no tórax e no ventre, ou outras formas dequeimaduras, as quais quando bilaterais têm maiorevidência de mau trato, sendo quase sempre infectadaspela falta de cuidados. As lesões produzidas por substânciascáusticas são muito raras devido seu aspecto denunciador;

f) Fraturas dos ossos próprios do nariz que, apóssucessivos traumas, podem produzir o chamado “nariz deboxeador”, quase sempre acompanhado de fratura dotabique nasal, com hematoma bilateral ao nível do espaçosubcondral, além das fraturas de costelas e de alguns ossoslongos das extremidades, sendo mais rara a fratura dosossos da coluna e da pélvis;

g) Alopécias com zonas hemorrágicas difusas docouro cabeludo pelo arrancamento de tufos de cabelo;

Page 24: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 324

h) Edemas e ferimentos das regiões palmares efraturas dos dedos pelo uso de palmatória;

i) Lesões oculares que vão desde as retinopatias ecristalinopatias até as roturas oculares com esvaziamentodo humor vítreo e cegueira consecutiva;

j) Lesões otológicas como rotura dos tímpanos eotorragia provocadas por uma agressão de nome “telefone”;

l) Fraturas e avulsões dentárias por traumatismosfaciais;

m) Sinais de abuso sexual de outros presidiários comomanobra de tortura e humilhação da própria administraçãocarcerária;

n) Lesões eletroespecíficas produzidas pela eletricida-de industrial, como técnica de tortura utilizada para obtençãode confissões, sempre em regiões ou órgãos sensíveis,como os genitais, o reto e a boca; ou pelo uso de uma cadei-ra com assento de zinco ou alumínio conhecida como“cadeira do dragão”. Aquelas lesões são reconhecidas como“marca elétrica de Jellineck”, na maioria das vezesmacroscopicamente insignificante e podendo ter comocaracterísticas a forma do condutor causador da lesão,tonalidade branco-amarelada, forma circular, elítica ouestrelada, consistência endurecida, bordas altas, leitodeprimido, fixa, indolor, asséptica e de fácil cicatrização.Tudo faz crer que esta lesão é acompanhada de um pro-cesso de desidratação, podendo se apresentar nasseguintes configurações: estado poroso (inúmeros alvéolosirregulares, juntos uns aos outros, com uma imagem defavo de mel), estado anfractuoso (tem um aspecto parecidocom o anterior, mas com alvéolos maiores e tabiques rotos)e estado cavitário (em forma de cratera com apreciávelquantidade de tecido carbonizado). As lesões eletro-específicas (marca elétrica de Jellinek) não são muitodiferentes das lesões produzidas em “sessões de choque

Page 25: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 25

elétrico”, a não ser o fato destas últimas não apresentaremos depósitos metálicos face os cuidados de não se deixarvestígios. Todas essas lesões são de difíceis diagnósticoquanto à idade, podendo-se dizer apenas se são recentesou antigas, mesmo através de estudo histo-patológico;

o) Lesões produzidas em ambientes de baixíssimatemperatura conhecidos como “geladeira”, podendo ocorrerinclusive gangrena das extremidades ;

p) Lesões decorrentes de avitaminoses e desnutriçãoem face de omissão de alimentos e por falta de cuidadosadequados e de higiene corporal;

q) Lesões produzidas por insetos e roedores.

A.6.2 – Processos patológicos naturais. Embora aparentementede interesse mais anatomopatológico, esses achados podem oferecerrespostas para o diagnóstico de causa mortis e de algumascircunstâncias, como também ajudar a compreender algumasmanifestações quando do exame interno do cadáver, como: desnutrição,edemas, escaras de decúbito, conjuntivas ictéricas, processosinfecciosos agudos ou crônicos, lesões dos órgãos genitais, entre tantos.

B. Exame interno do cadáver. Alguns chamam essa fase daperícia como a necropsia propriamente dita, mas já dissemos que háocasiões ou tipos de morte onde o exame externo tem uma contri-buição muito valiosa.

Aqui também o exame deve ser metódico, sistemático, sempressa, com o registro de todos os achados e, como se opera emcavidade, deve-se trabalhar à luz do dia, sem as inconveniências daluz artificial. Todos os segmentos e cavidades devem ser explorados:cabeça, pescoço, tórax e abdome, coluna e extremidades, comdestaque em alguns casos para os genitais.

As lesões internas mais comuns em casos de morte por tortura:

B.1 – lesões cranianas: a) hematomas sub ou extradural não sãoraros em sevícias com traumatismos de cabeça; b) hemorragiasmeningeas; c) meningite; lesões encefálicas; micro-hemorragia cerebral.

Page 26: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 326

B.2 – Lesões cervicais: a) infiltração hemorrágica da telasubcutânea e da musculatura; b) lesões internas e externas dos vasosdo pescoço; c) fraturas do osso hióide, da traquéia e das cartilagenstireóide e cricóide; d) lesões crônicas da laringe e da traquéia portentativas de esganadura e estrangulamento.

B.3 – lesões tóraco-abdominais: a) hemo e pneumotórax traumático;b) manifestações de afogamento como presença de líquido na árvorerespiratória, nos pulmões, no estômago e primeira porção do duodeno,além dos sinais clássicos como enfisema aquoso subpleural e asmanchas de Paltauf, em face de imersão do indivíduo algemado emtanques de água em processo chamado “banho chinês” ou introduçãode tubos de borracha na boca com jato de água de pressão, devendo-sevalorizar o conteúdo do estômago e dos intestinos; c) manifestações deasfixia, micro-hemorragias do assoalho do 3º e 4º ventrículo, edema dospulmões, cavidades cardíacas distendidas e cheias de sangue, presençade lesões eletroespecíficas e ausência de outras lesões, falam em favorde morte por eletricidade industrial, mesmo que se diga não existir umquadro anatomopatológico típico de morte por eletricidade; d) roturas dofígado, do baço, do pâncreas, dos rins, estômago e dos intestinos; e)desgarramento dos ligamentos suspensores do fígado; f) hemo epneumoperitônio; g) rotura do mesentério.

B.4 - lesões raquimedulares: a) fraturas e luxações de vértebras;b) lesões medulares.

Genival Veloso de França,

professor de Medicina Legal da Escola Superior daMagistratura da Paraíba, membro titular daAcademia Internacional de Medicina Legal

Page 27: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 27

LEI N.º 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997

Define os crimes de tortura e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono aseguinte Lei:

Artigo 1º - Constitui crime de tortura:I - constranger alguém com emprego de violência ou grave

ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental; a) com o fim deobter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceirapessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c)em razão de discriminação racial ou religiosa.

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, comemprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico oumental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráterpreventivo.

Pena: reclusão, de dois a oito anos.§1º- Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou

sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, porintermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante demedida legal.

§2º - Aquele que se omite em face dessas condutas, quandotinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção deum a quatro anos.

§3º -Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, apena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusãoé de oito a dezesseis anos.

§4º - Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:I - se o crime é cometido por agente público; II - se o crime é

cometido contra criança, gestante, deficiente e adolescente; III - se ocrime é cometido mediante seqüestro.

Page 28: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 328

§5º - A condenação acarretará a perda do cargo, função ouemprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazoda pena aplicada.

§6º - O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ouanistia.

§7º - O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótesedo §2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

Artigo 2º - O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crimenão tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileiraou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Artigo 3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Artigo 4º - Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de Julho de1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

Brasília, 7 de Abril de 1997; 176º da Independência e 109º daRepública.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Nelson A. Jobim

Page 29: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

O PRESO E OO PRESO E OO PRESO E OO PRESO E OO PRESO E O“DIREITO”DE FUGIR“DIREITO”DE FUGIR“DIREITO”DE FUGIR“DIREITO”DE FUGIR“DIREITO”DE FUGIR

FERNANDO PASCOAL LUPO,PROMOTOR DE JUSTIÇA

Page 30: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 31: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 31

O PRESO E O “DIREITO” DE FUGIR

Fernando Pascoal Lupo

É comum ouvir-se no meio social e até no âmbito policial que oindivíduo preso possui o “direito” de fugir. Todavia, tal assertiva nãocondiz com a verdade, como demostraremos a seguir.

Sabe-se, indubitavelmente, que toda a pessoa humana possui odireito à liberdade de locomoção, ou seja, o poder de ir, vir e permanecer,constitucionalmente assegurado.

No entanto, em certas situações, a norma permite que o direitoindividual se restrinja em face do coletivo, como princípio da supremaciado interesse público, que prevalece sobre o particular.

Nessa linha de raciocínio, a título de exemplificação, o Estado podedeterminar a internação compulsório de loucos furiosos, psicopatas,toxicômanos e pessoas viciadas em substâncias capazes de determinardependência física e psíquica, bem como autorizar a prisão de pessoaspor violação às normas civis (sentido amplo) ou penais.

Ao ser transgredida a norma penal surge para o Estado apossibilidade de perseguir o delinqüente, visando sua punição.

Transitada em julgado a sentença penal condenatória, que aplicara pena privativa de liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o juizdeterminará a expedição da guia de recolhimento para a execução darespectiva pena.

A pena aplicada tem tripla função, ou seja, serve como formade retribuição ao condenado pela prática do delito, visa à prevençãosocial do crime, bem como à readaptação do indivíduo ao convívioem comunidade.

Em contrapartida, surge para o preso o dever e a obrigação derespeitar a sanção imposta, visando cumpri-la, integralmente.

Page 32: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 332

Ao ser condenado e preso o indivíduo, ele perde diversos direitosque antes possuía, embora sejam respeitados outros não atingidos pelasentença penal condenatória.

Embora encarcerado, ao ser preso são assegurados à pessoavários direitos que detinha quando em liberdade, isto é, à assistênciajurídica, à saúde, à educação, ao trabalho, à prerrogativa de formularrepresentação e petição em sua defesa, entre outros.

Antes, contudo, o condenado tem deveres a serem observados,dentre eles o de ter comportamento disciplinado e cumprimento fiel dasentença que o condenou, sendo-lhe vedada conduta tendente a apoiarmovimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordemou à disciplina.

A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediênciaàs determinações das autoridades e seus agentes e no desempenhodo trabalho.

No cumprimento da sentença, o recluso deve respeitar asdisposições gerais disciplinares, legais ou regulamentares. Taisdispositivos também se aplicam ao preso provisório, naquilo quefor compatível.

Destarte, ao iniciar a execução da pena, o condenado oudenunciado (preso provisório) será cientificado das sançõesdisciplinares, cujas infrações se subdividem em graves, médias e leves.

As sanções médias e leves serão regidas por lei local ouregulamento. Por seu turno, as faltas graves estão expressamentereguladas na Lei n.º 7.210/84 (Lei de Execução Penal) e, portanto, devemser observadas por presunção legal.

Contudo, é certo que não haverá falta nem sanção disciplinar semexpressa e anterior previsão legal ou regulamentar.

O art. 50 e incisos da L.E.P. elenca situações em que se considerafalta grave do condenado à pena privativa de liberdade, dentre elas afuga. Tal proibição se estende ao preso provisório por força do parágrafoúnico do artigo citado.

Page 33: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 33

Portanto, fica evidente que o preso, condenado ou provisório, nãotem o direito de fugir, como antes se pensava, pois sua liberdade delocomoção foi restringida temporariamente em virtude da execução dapena, ou da possibilidade de futura sentença condenatória.

E, para dar maior ênfase ao pensamento do legislador, considerou-seque a mera tentativa de falta grave será punida com a sanção corres-pondente à falta consumada. Dessa forma, se o preso tentar se evadirtambém receberá a punição, como se consumada fosse a falta grave.

Para se aplicar a sanção referente à falta grave, porém, devemoslembrar que devem ser respeitados os preceitos constitucionais dodevido processo legal, com os conseqüentes princípios do contraditórioe da ampla defesa, em seu sentido amplo, bem como recordar-se quetal medida tem natureza jurisdicional, e não administrativa,desenvolvendo-se perante o Juízo da Execução.

Além do cometimento da falta grave mencionada, a fugaconsumada ou tentada acarreta outros efeitos com relação à execuçãoda pena. Dentre eles, podemos destacar que referido ato provocará aregressão de regime, para outro mais rigoroso no cumprimento da pena,assim como a perda de eventual tempo remido pelo trabalho.

Se o condenado estiver cumprindo pena em regime fechado, afuga consumada ou tentada por ele praticada o impede de obter aprogressão de regime para outro menos rigoroso (semi-aberto).

Ademais, a fuga faz com que se interrompa o prazo prescricionale sujeita o infrator às penalidades administrativas consistentes nasuspensão ou restrição de direitos, ou isolamento temporário na própriacela, ou em local adequado, nos estabelecimentos que possuamalojamento coletivo.

É relevante declinar que na aplicação das sanções disciplinareslevar-se-á em conta a pessoa do faltoso, a natureza e as circunstânciasdo fato, bem como as suas conseqüências.

A nível de execução da pena, outrossim, se o preso que cumprirpena em regime semi-aberto fugir ou tentar fugir, com a punição pelafalta grave perderá automaticamente a possibilidade de obter autorização

Page 34: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 334

para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, paravisitar sua família, freqüentar curso supletivo profissionalizante, bem comode instrução de segundo grau ou superior, na comarca do Juízo daExecução ou participar em atividades que concorram para o retorno aoconvívio social, caso tenha cumprido o mínimo de um sexto da pena, seo condenado for primário, e um quarto se reincidente.

A recuperação do direito à saída temporária dependerá daabsolvição no processo penal, do cancelamento da punição disciplinarou da demonstração do merecimento do condenado.

Além do mais, os condenados que cumprem pena em regimefechado ou semi-aberto e os presos provisórios, na hipótese da práticada infração em epígrafe, perderão o direito de obter permissão de saídado estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer falecimento oudoença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ouirmão, ou em caso de necessidade de receber tratamento médico.

Cumpre ressaltar, sobremais, que nas hipóteses legais em quese admite a autorização para o trabalho externo, isto é, dependendo daaptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimode um sexto da pena, a prática da falta grave em foco acarretará arevogação do benefício mencionado.

Na hipótese de estar a pessoa condenada à pena restritiva dedireitos, se for punido pela infração disciplinar em tela dará ensejo àconversão da medida em pena privativa de liberdade, a exemplo do queacontece no caso das penas de prestação de serviços à comunidade ede limitação de fim de semana.

Nesta hipótese, no cálculo da pena privativa de liberdade a executarserá deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitadoo saldo mínimo de 30 (trinta) dias de detenção ou reclusão, consoantea recente modificação legislativa dada pela Lei n.º 9.714, de 25 denovembro de 1998.

Não se pode deixar de atentar, além disso, que se o detento praticaraludida infração administrativa durante o cumprimento da reprimenda,pode deixar de ser beneficiado em eventual indulto que lhe concederia

Page 35: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 35

a comutação da pena, vez que em face da sua má conduta prisionaldeixaria de deter requisito objetivo autorizador da benesse.

Da mesma maneira, se o detento praticar a falta grave disciplinarem questão deixará de ser beneficiado com o livramento condicional, pornão ter comportamento satisfatório durante a execução da pena revelandoseus antecedentes carcerários e demonstrando que a pena que lhe foiimposta ainda não cumpriu as finalidades supra mencionadas.

É relevante ressaltar, ainda, que se o detento contribuir de qualquermaneira para que seu companheiro de cela consiga ou tente fugir, istoé, se ele auxiliar, induzir ou instigar outrém a cometer a aludida infraçãodisciplinar também sofrerá as consequ6encias traçadas.

Em nível processual, se a fuga ocorrer após a interposição dorecurso de apelação de apelação da sentença condenatória, fará comque o apelo seja considerado deserto, inviabilizando o seu julgamento,extinguindo-o de forma anômala.

Finalmente, devemos ressaltar que, em certas situações, alémdas sanções referidas, concomitantemente pode o preso estarpraticando crime de dano qualificado ou de evasão mediante violência,e pela simples circunstância de Ter sido praticado fato previsto comocrime doloso, tal conduta constitui falta grave e sujeita o preso, oucondenado à sanção disciplinar, sem prejuízo da sanção penal.

Por essas razões, definitivamente está afastado o entendi-mento errôneo de que o preso teria o direito de fugir, quando, narealidade, verificamos as diversas sanções decorrentes da fugaconsumada ou tentada.

Fernando Pascoal Lupo,

promotor de Justiça

Page 36: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 37: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

LIMITE DE JUROS:LIMITE DE JUROS:LIMITE DE JUROS:LIMITE DE JUROS:LIMITE DE JUROS:UMA QUESTÃO DE ORDEMUMA QUESTÃO DE ORDEMUMA QUESTÃO DE ORDEMUMA QUESTÃO DE ORDEMUMA QUESTÃO DE ORDEM

gUILHERME FERREIRA DA CRUZ,jUIZ DE DIREITO TITULAR DA 4.ª vARA cÍVELDA cOMARCA DE sANTOS-sp

Page 38: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 39: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 39

LIMITE DE JUROS:

UMA QUESTÃO DE ORDEM(A inconstitucionalidade da Lei da Reforma Bancária)

Guilherme Ferreira da Cruz

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Constitucional. 2.1. Da auto-aplicabilidade. 2.2. Da eficácia contida. 2.3. Da interpretaçãosistemática. 3. Infraconstitucional. 3.1. Da inconstitucionali-dade da Lei da Reforma Bancária (Lei nº 4.595/64). 3.1.1.Do artigo 36, § 2º, da Constituição de 1946. 3.1.2. Do artigo25 do ADCT/88. 3.2. Da autorização do Conselho MonetárioNacional. 3.3. Da legislação federal. 4. Moral. 5. Conclusões.6. Bibliografia.

1. Introdução

Estabelece o artigo 192 da Constituição Federal: “O sistemafinanceiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimentoequilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, seráregulado em lei complementar, que disporá, inclusive, sobre:

..................................................................................

§ 3º – As taxas de juros reais, nelas incluídascomissões e quaisquer outras remunerações direta ouindiretamente referidas à concessão de crédito, nãopoderão ser superiores a doze por cento ao ano; acobrança acima deste limite será conceituada comocrime de usura, punido, em todas as suas modalidades,nos termos que a lei determinar.”

Page 40: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 340

Diante disso, estão as instituições financeiras limitadas à cobrançade juros remuneratórios, no máximo, à taxa de 12% ao ano? Ou acontratação é livre até disciplinamento em lei complementar?

Eis uma das grandes controvérsias existentes em nossoordenamento jurídico, quiçá a maior, considerando-se os inúmerosinteresses vinculados à captação de recursos no mercado financeiro.

Chamado a interpretar a quaestio, na qualidade de guarda daConstituição (CF, art. 102, caput), o Excelso Supremo Tribunal Federal,em sessão plenária e por maioria de votos (6X4 – impedido o MinistroSepúlveda Pertence), entendeu que o dispositivo sub examine não éauto-aplicável1.

O V. Aresto, no que interessa, encontra-se assim ementado:“Tendo a Constituição Federal, no único artigo em que trata do SistemaFinanceiro Nacional (art. 192), estabelecido que este será regulado porlei complementar, com observância do que determinou no caput, nosseus incisos e parágrafos, não é de se admitir a eficácia imediata eisolada do disposto em seu parágrafo 3º, sobre taxa de juros reais (12%ao ano), até porque estes não foram conceituados. Só o tratamentoglobal do Sistema Financeiro Nacional, na futura lei complementar, coma observância de todas as normas do caput, dos incisos e parágrafosdo art. 192, é que permitirá a incidência da referida norma sobre jurosreais e desde que estes também sejam conceituados em tal diploma”.

Nem se argumente que a conclusão tirada a partir da ADIN nº 04reputou indispensável a edição da lei complementar mencionada nocaput do artigo 192, pois tal polêmica jurídica está longe de pacificar-se. Ocorre que ali somente se decidiu ser impossível a auto-aplicabilidade da norma constitucional ora enfocada, posição que nãoperfilhamos, sem embargo do brilhantismo reconhecido do seu relatore na companhia dos Eminentes Ministros Marco Aurélio, Carlos Velloso,Paulo Brossard e Néri da Silveira.

1 Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4/DF, Relator Ministro Sydney Sanches, j. 7.3.91, RTJ147/719.

Page 41: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 41

Ora, observa Sérgio Gischkow Pereira2: “Nem há porque oJudiciário não possa concretizar labor interpretativo colimando darsignificado à noção de juros reais. Desde quando o Judiciário não temque interpretar, antes de aplicar, qualquer norma jurídica, constitucionalou não constitucional?”.

No que tange aos juros, bem que tentou o Eminente Ministro MarcoAurélio quando do julgamento do Mandado de Injunção nº 3613,declarando: “.... que os juros reais são aqueles encontrados após aexclusão da correção monetária, ou seja, revelam tão-somente aremuneração do capital, o ganho alcançado pelo credor em razão doempréstimo, computadas as comissões e quaisquer outras parcelasestranhas à simples atualização da moeda”.

Em outra oportunidade asseverou4: “Diz-se que a referência a‘juros reais’ é de molde a condicionar a aplicação do texto a uma leique os defina. Com isto, data venia, é olvidado o alcance do vocábuloque se segue à referência a juros, como se de adjetivo não se tratassee, portanto, elemento gramatical que caracteriza o substantivo,indicando-lhe, no dizer sempre oportuno de Aurélio, uma qualidade,caráter, modo de ser ou estado. A consideração que os constituintestiveram pelo vernáculo é tomada em sentido diametralmente opostoao visado. De forma pouco ortodoxa, assenta-se que a adjetivação,ao invés de qualificar juros, permitindo definição precisa, torna-oscarentes de melhor explicitação. Em plano inferior fica a ordem naturaldas coisas, o sentido inteligente das expressões, remetendo-se àlegislação algo que não carece de disciplina, mesmo porque não sepoderá fugir, sem ou com subterfúgios, à norma proibitiva que já secontém na própria Carta. Talvez, quem sabe, inexistisse a explicitaçãonesta última, com o emprego do adjetivo ‘real’, não estivéssemos aquie agora a discutir a aplicação imediata do preceito. Contivesse estereferência simplesmente a juros expungida a alusão qualificadora –

2 Revista de Direito Civil nº 54, Doutrina – Direito Empresarial, pág. 149.3 STF – RT 713/244.4 STF – RT 781/167-8.

Page 42: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 342

real – antônimo de aparente, fictício, ilusório etc., certamente nãoestaríamos aqui a julgar o tema”.

Impende salientar, em que pese à opinião de alguns, que o limitede juros foi erigido, por ato da soberania popular, em mandamentoconstitucional. Lembra, a propósito, o constituinte Cid Sabóia deCarvalho5: “Criou-se aqui na Constituinte ... a idéia de que há matériaconstitucional e há matéria que não é constitucional. Então, é muitocomum alguém ... dizer que isto é matéria para a legislação ordinária,ou isto é matéria para a Constituição. Acho, pela minha experiênciaexatamente no campo do Direito em que estamos atuando, que serámatéria constitucional tudo o que a constituinte resolver como tal.Espera-se que a Constituição tenha a sua parte básica, tenha certosparâmetros. Agora, esses parâmetros não podem obedecer àConstituição dos Estados Unidos, nem à Constituição da França, nemà Constituição de nenhum país. Esses parâmetros devem serescolhidos por todos nós, constituintes, no uso absoluto de nossasliberdades. Nós é que vamos definir o que é e o que não éconstitucional. Não vejo por que nos restringirmos”.

E não poderia ser de outra forma, pois como, na época, se referiao constituinte Itamar Franco6: “Posso relatar a prova cabal de que nãopodemos remeter essa matéria para a legislação ordinária. Em 1981,apresentamos ao Senado Federal – observem o ano, Sras. e Srs.Constituintes, 1981 – um projeto de lei determinando a aplicação da leide usura. O que aconteceu com esse projeto? Está tramitando até hojeno Congresso Nacional”.

De fato, arredando-se as hipóteses excepcionais (Decs.-Lei nºs167/67 e 413/69 e Lei nº 6.840/80) as razões autorizadoras da imediataadoção, ou simplesmente da manutenção, do limite da taxa de juros(12% a.a.) podem ser enquadradas em três categorias distintas: aconstitucional, a infraconstitucional e a moral.

5 Discurso, Diário da Assembléia Nacional Constituinte, Brasília, 24.6.87, supl. ao nº 82, pág. 162.6 Discurso, Diário da Assembléia Nacional Constituinte, Brasília, 19.9.88, nº 305, pág. 14.007.

Page 43: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 43

2. Constitucional

2.1. Da auto-aplicabilidade

Sem embargo das respeitáveis decisões em contrário, afigura-se-me que o § 3º, do artigo 192, da Constituição Federal é norma deeficácia plena e, assim, de aplicação imediata.

Mister se faz trazer à colação, neste passo, os ensinamentos doProfessor José Afonso da Silva7. Ei-los: “Se o texto em causa fosseum inciso do artigo, embora com normatividade autônoma, ficaria nadependência do que viesse a estabelecer a lei complementar. Mas, tendosido organizado um parágrafo, com normatividade autônoma, sem referir-se a qualquer previsão legal ulterior, detém eficácia plena e aplicabilidadeimediata. O Dispositivo, aliás, tem autonomia de artigo ...”.

Em coro, surge Roberto Braga de Andrade8: “Quando a primeiraparte do enunciado do parágrafo 3º do art. 192 diz que ‘as taxas dejuros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remuneraçõesdireta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderãoser superiores a 12% ao ano’, estabelece norma bastante a si mesma,na qual inexiste omissão de elemento lógico-estrutural, ou mesmodefeito de conformação que reclame interposição legal paradeflagrar seus efeitos. A hipótese de fato, embora constituída de algunstermos vagos, é cabal: taxa de juros reais, relativas à concessão decrédito, na qual se incluem comissões e remunerações diretas ouindiretas; o mandamento é claro: não poderão ser superiores a 12% aoano; e a sanção, conquanto implícita, é a nulidade. Já a segunda partedo enunciado – nitidamente separada da primeira pelo ponto evírgula – diz que ‘a cobrança acima desse limite será conceituadacomo crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos

7 Curso de Direito Constitucional Positivo. 9ª edição, São Paulo: Malheiros, 1994, pág. 704.8 A limitação da taxa de juros reais e a revisão constitucional: um golpe de misericórdia? – Cadernode Direito Tributário e Finanças Públicas nº 3 – Finanças Públicas, págs. 244/245.

Page 44: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 344

termos que a lei determinar’. Embora contida no mesmo parágrafo,trata-se de segunda norma que, evidentemente, não é auto-aplicável,visto traduzir um mandamento ao legislador ordinário, para que esteorganize a sanção penal do crime de usura, tal como tipificado pelanorma constitucional (g.n.)”.

Força é concluir, portanto, que o dispositivo constitucional em foco,além de desvinculado do caput, regula inteiramente a matéria, revelando-se auto-aplicável.

O Relator da Assembléia Nacional Constituinte Bernardo Cabral9,esclarecendo dúvida do seu par César Maia, elucidou: “A remissão ‘nostermos da lei’ é feita quanto ao crime de usura. O que se estabelece notexto definitivo é que as taxas de juros reais não poderão ser superioresa 12% ao ano. Isto é auto-aplicável, evidentemente”.

Vale lembrar, ainda, com Affonso Henriques Prates Correia10 –então Vice-Procurador-Geral da República responsável pelo pareceroferecido na ADIN nº 04, no sentido da auto-aplicabilidade do dispositivo– que: “ ... a eficácia da norma constitucional é a regra, somente podendoser afastada pela vontade expressa da própria Constituição”. É que emboa técnica legislativa, como anota Hésio Fernandes Pinheiro11, oparágrafo costuma ser utilizado como forma de excepcionar ou limitaro disposto no comando principal do artigo.

Ainda que admitida a inexistência de eficácia plena (STF – RTJ147/219), tal circunstância em nada altera a limitação imposta pela CartaMagna e a sua observância, visto que o § 3º, do artigo 192 da ConstituiçãoFederal poderia, quando muito e em raciocínio elástico, ser qualificadocomo norma de eficácia contida ou redutível, embora a remissão sejafeita no caput e, portanto, fora do parágrafo objeto.

9 Parecer, Diário da Assembléia Nacional Constituinte, Brasília, 1.9.88, nº 305, pág. 14.009, apudRoberto Braga de Andrade, Ob, cit., pág. 241.10 A luta contra a usura. Coordenação de Roberto Fernandes de Almeida, Graal, 1990, pág. 44,apud Roberto Braga de Andrade, Ob, cit., pág. 243.11 Técnica Legislativa. 2ª edição, São Paulo: Freitas Bastos, 1962, pág. 100.

Page 45: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 45

2.2. Da eficácia contida

Quadram, aqui, algumas considerações. Com efeito, a doutrinaé unânime em afirmar a necessidade de normação posterior, sem quea falta desta norma, entretanto, impeça a aplicabilidade da primeira naparte que independe da nova lei12.

A respeito, anote-se o magistério de José Afonso da Silva13: “I –são normas que, em regra, solicitam a intervenção do legisladorordinário, fazendo expressa remissão a uma legislação futura; mas oapelo ao legislador ordinário visa a restringir-lhes a plenitude daeficácia, regulamentando os direitos subjetivos que delas decorrempara os cidadãos, indivíduos ou grupos; II – enquanto o legisladorordinário não expedir o normação restritiva sua eficácia será plena; III– são de aplicabilidade direta e imediata, visto que o legisladorconstituinte deu normatividade suficiente aos interesses vinculados àmatéria de que cogitam”.

Por conseguinte, mesmo sem aplicação imediata, o limite do artigo192, § 3º, da Constituição Federal só pode ser reduzido, já que a leicomplementar regulamentadora, tão decantada, jamais poderá estabele-cer juros acima de 12% ao ano, sob pena de verdadeira incompatibilidadevertical com a lex fundamentalis.

Vem a talho de foice o magistério, sempre lúcido, de GeraldoAtaliba14: “A concepção – segundo a qual as disposições constitucionaisexigentes de lei complementar são destituídas de eficácia – erainaceitável. Se a eficácia é o atributo específico das normas jurídicas –entendida eficácia como a produção de seus efeitos próprios pelasnormas e atos jurídicos, na precisa concepção de Zanobini – afirmarque uma norma não tem eficácia é o mesmo que negar-lhe caráterjurídico. Ora, como deixar de reconhecer caráter jurídico a umadisposição constitucional?

12 NETO, João Battaus, Juiz de Direito no Estado de São Paulo, sentença proferida nos autos nº082/97 da 3ª Vara da Comarca de Andradina/SP.13 Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 2ª ed., São Paulo: Rev. dos Tribunais, 1982, pág. 92.14 Lei Complementar na Constituição. São Paulo: Revista dos Tribunais, págs. 17/18.

Page 46: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 346

Na pior das hipóteses a disposição constitucional mais abstrata evaga possui, no mínimo, a eficácia paralisante de todas as normasinferiores, se contrastantes com seu sentido, bem como determinadorade importantíssimas conseqüências na compreensão do contextoconstitucional e de cada disposição que o integra, bem como determinarelevantes conseqüências exegéticas, relativamente a todo o sistemanormativo (incluídas as leis ordinárias e normas inferiores)”.

2.3. Da interpretação sistemática

Não se perca de vista, neste passo, o caráter programático dodispositivo em tela, mas, advirta-se, de conteúdo nitidamente concreto.J. J. Gomes Canotilho15, com autoridade de mestre, elucida: “O sentidodestas normas não é porém o assinalado pela doutrina tradicional:simples programas, exortações morais, declarações, sentençaspolíticas, aforismos políticos, promessas, apelos ao legislador,programas futuros juridicamente desprovidos de qualquer vinculativi-dade. Às normas programáticas é reconhecido hoje um valor jurídicoconstitucionalmente idêntico ao dos restantes dos preceitos da consti-tuição. Não deve, pois, falar-se de simples eficácia programática (oudirectiva), porque qualquer norma constitucional deve conside-rar-se obrigatória perante perante quaisquer órgãos do poderpolítico (Crisafulli). Mais do que isso: a eventual mediação concreti-zadora, pela instância legiferante, das normas programáticas, nãosignifica que este tipo de normas careça de positividade jurídicaautónoma, isto é, que sua normatividade seja apenas gerada pelainterpositio do legislador; é a positividade das normas-fim e normas-tarefa(normas programáticas) que justifica a necessidade da intervenção dosórgãos legiferantes. Concretizando melhor, a positividade jurídico-constitucional das normas programáticas significa fundamentalmente:(1) vinculação do legislador, de forma permanente, à sua realização(imposição constitucional); (2) vinculação positiva de todos os órgãos

15 Direito Constitucional. 4ª edição, Portugal, Coimbra: Almedina, págs. 1.140/1.141.

Page 47: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 47

concretizadores, devendo estes tomá-las em consideração comodirectivas materiais permanentes, em qualquer dos momentos daactividade concretizadora (legislação, execução, jurisdição); (3)vinculação, na qualidade de limites materiais negativos, dos poderespúblicos, justificando a eventual censura, sob a forma deinconstitucionalidade, em relação aos actos que as contrariam (g.n.)”.

Já Maria Helena Diniz16 afirma que tais normas: “impedem que olegislador comum edite normas em sentido oposto ao direito asseguradopelo constituinte, antes mesmo da possível legislação integrativa quelhes dá plena aplicabilidade, condicionando assim a futura legislaçãocom a conseqüência de ser inconstitucional”.

E, arrimada em Hans Kelsen, prossegue a emérita professora17:“Não há, portanto, sob o ângulo programático, norma constitucional semeficácia. Todo e qualquer preceito constitucional que contiver ummínimo de eficácia tem a possibilidade de produzir, concretamente,efeitos jurídicos.

Kelsen ... assevera com muita propriedade que um mínimo deeficácia é condição de sua vigência. A norma constitucional nãopode, portanto, permanecer duradouramente ineficaz; deveconter um mínimo de eficácia. Logo, se ela nunca puder ser aplicadapelo órgão público competente, nem obedecida pelo seu destinatário,perderá sua eficácia (g.n.)” .

Assim, cabe ao intérprete distanciar-se do equívoco de nãoconferir nenhuma eficácia à norma constitucional comentada, o queconsistiria em raciocínio absurdo – seja ela de eficácia plena, contidaou programática – relegando-a tão-só ao status constante de inutilidade,com função meramente estética ou ornamental.

E o inigualável Rui Barbosa18 adverte: “Não há, numa Constituição,cláusulas, a que se deva atribuir meramente o valor moral de conselhos,

16 Norma Constitucional e seus Efeitos. 2ª edição, São Paulo: Saraiva, pág. 104.17 Ob. cit., págs. 74/75.18 Comentários à Constituição Federal Brasileira. Vol. II (arts. 16 a 40), São Paulo: Livraria Acadêmica,Saraiva, 1933, pág. 489.

Page 48: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 348

avisos e lições. Todas têm força imperativa de regras, ditadas pelasoberania nacional ou popular a seus órgãos”.

Preleciona, por sua vez, o Desembargador aposentado do Tribunalde Justiça do Estado de São Paulo, ex-Deputado Federal, ex-Vice-Prefeitoda Cidade de São Paulo e Jurista Régis Fernandes de Oliveira19 que naexegese do mencionado artigo 192 deve ser observado que a exigênciada lei complementar, contida no caput do dispositivo, não implica emdiminuição da aplicabilidade da norma contida no § 3º estabelecedor dolimite máximo da taxa de juros. Imaginar o contrário seria instituir umdelimitador à eficácia da norma constitucional que representaria, em últimaanálise, um atentado à soberania do poder constituinte originário.

A interpretação imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF –RTJ 147/219), no dizer de Celso Ribeiro Bastos20, é inconveniente, pois:“ ... resulta em admitir, dentro da Constituição, normas não-jurídicas, e,em conseqüência, despidas de coatividade. É a própria força daConstituição que sai enfraquecida com tal doutrina”.

Diante desse quadro, mesmo aceitando-se como correta aposição firmada a partir da ADIN nº 04, impossível admitir-serecepcionado dispositivo que contrarie as diretrizes – com eficácia etonus concreto, conforme acima exposto – da própria Constituição.

3. Infraconstitucional

3.1 Inconstitucionalidade da Lei da Reforma Bancária(Lei nº 4.595/64)Com efeito, a Lei nº 4.595, de 31.12.64, estruturou e regulou o

Sistema Financeiro Nacional, que seria composto, entre outros, doConselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil (art. 1º, I eII), ambos vinculados ao Poder Executivo Federal. O Primeiro, não

19 RT 666/323.20 Curso de Direito Constitucional. 9ª edição, São Paulo: Saraiva, 1986, págs. 88/89.

Page 49: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 49

bastasse sua composição (art. 6º), atua segundo as diretrizesestabelecidas pelo Presidente da República (art. 4º, caput); enquanto osegundo, sucessor da Superintendência da Moeda e do Crédito,constitui-se em autarquia federal (art. 8º).

Assevere-se que tais órgãos estão intimamente ligados, conformeelucida Nelson Abrão21: “O Banco Central do Brasil é uma autarquiafederal, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, administradopor uma diretoria de cinco membros, sendo um presidente, escolhidospelo Conselho Monetário Nacional. De um modo geral, cabe ao BancoCentral cumprir as prescrições legais e as normas expedidas peloConselho Monetário Nacional no que diz respeito à política financeira”.

3.1.1 Do artigo 36, § 2º, da Constituição de 1946

Pois bem. A Lei nº 4.595/64 foi promulgada sob a égide daConstituição de 1946, cujo texto atribuía à União a competência exclusivapara legislar sobre direito civil e direito comercial (art. 5º, XV, “a”), ouseja, sobre direito privado.

É essa a orientação de Pontes de Miranda22: “Pospor-se, comose fêz em 1934, o direito civil ao comercial, nada justificaria. Constituiu,evidentemente, êrro de técnica. Da especialidade fala-se depois de sefalar a generalidade. O direito comercial supõe o civil, em cuja teoriaassenta e de que, em parte, depende. Melhor seria dizer-se: direitoprivado. É o que aliás quer dizer o texto, a despeito de se referir a direitocivil e comercial”.

A inovação legislativa, por seu turno, transferiu ao ConselhoMonetário Nacional – órgão do Poder Executivo – a competência paralimitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos ecomissões e qualquer outra forma de remuneração de operações eserviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo BancoCentral do Brasil (art. 4º, IX).

21 Direito Bancário. 3ª edição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996, pág. 41.22 Comentários à Constituição de 1946. Tomo I, 3ª ed., Rio de Janeiro: Borsoi, 1969, pág. 437, item 22.

Page 50: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 350

Tal circunstância orienta, em grande parte, a postura do EgrégioSuperior Tribunal de Justiça23 no sentido de considerar que a taxa dejuros pode ser abertamente pactuada com a instituição financeira; sendo,pois, em princípio livre. Ao Conselho Monetário Nacional competiria tão-só intervir para limitá-la.

Anote-se24: “A Lei 4.595/64, que rege o Sistema FinanceiroNacional e o Mercado de Capitais, ao dispor no seu art. 4º, IX que cabeao Conselho Monetário Nacional limitar taxas de juros, revogou, nasoperações realizadas por instituições financeiras, salvo exceções legais,como nos mútuos rurais, quaisquer outras restrições a limitar o tetomáximo daqueles”.

Na mesma linha de pensamento, tem-se entendido que, nesteparticular, a Lei nº4.595/64 revogou a chamada Lei de Usura, ao menosno concernente às instituições financeiras; motivo determinante da ediçãoda Súmula nº 596 do Excelso Supremo Tribunal Federal, ipsis litteris: “Asdisposições do Decreto nº 22.626/33 não se aplicam às taxas de juros eaos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituiçõespúblicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional”.

A premissa do silogismo adotado pelos nossos Tribunaissuperiores padece de vício histórico insanável. Ocorre que a Constituiçãode 1946, após reconhecer como poderes da União, harmônicos entresi, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, veda a qualquer deles delegaratribuições (art. 36, § 2º).

Eduardo Espínola25 justifica a medida: “O legislador de 1934,impressionado pela facilidade com que, entre nós, o Poder Legislativodelegava, a todo o propósito, suas atribuições ao Executivo, provocandonumerosas contestações levadas ao Supremo Tribunal, julgou necessárioestabelecer no texto constitucional a proibição expressa das delegações”.

23 RESPs nºs 4285/RJ, 13099/GO, 89815/RS, 113723/RS, 139727/RS, 122777/RS, 149919/RS,160166/RS, 102371/RS, 181051/RS e 180306/RS.24 STJ, RESP nº 264.560/SE, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 5.10.2000.25 Constituição dos Estados Unidos do Brasil. 1º Vol., São Paulo: Freitas Bastos, 1952, pág. 275.

Page 51: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 51

Para Carlos Maximiliano26: “.... a causa para o combate àsDELEGAÇÕES residia no receio de ampliar o arbítrio do Executivo,aumentando os perigos para a liberdade e o patrimônio dos cidadãos”.

Ora, se a Constituição de 1946 conferia ao Poder Legislativo daUnião a competência exclusiva para legislar sobre direito privado (art.5º, XV, “a”), vedando a delegação de atribuições (art. 36, § 2º), claracomo o sol que reluz a inconstitucionalidade da Lei nº 4.595/64 no pontoem que transferiu ao Conselho Monetário Nacional – órgão do PoderExecutivo – a competência para limitar a taxa de juros (art. 4º, IX).

Infere-se de tal pormenor, que a Lei da Reforma Bancária nasceuinconstitucional e, por isso, sequer ingressou no mundo jurídico. É comose escrita não estivesse; logo, conseqüência alguma pode dela advir,muito menos a de fundamentar uma suposta revogação dos Estatutosque regem a temática dos juros no ordenamento jurídico pátrio (CC,art. 1.063 e Dec. 22.626/33).

A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente amatéria de que tratava a lei anterior; ao revés, a lei nova, que estabeleçadisposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nemmodifica a lei anterior (LICC, art. 2º, §s 1º e 2º) e, assim, a tal limitação(Lei nº 4.595/64, art. 4º, IX), se admitida em sua constitucionalidade,deveria, se tanto, partir da taxa máxima de 1% ao mês (CC, art. 1.063c.c. Dec. nº 22626/33, art. 1º c.c. CF, art. 192, § 3º).

Outro não é o pensamento de Antônio Ferreira Álvares da Silva27:“Liminarmente, é de se ressaltar a inexistência na Lei 4.595/64 de qualquerdispositivo revogando os comandos do art. 1º do Dec. 22.626/33 ouconfigurando qualquer das hipóteses previstas nos parágrafos do art. 2ºda LICC e que o enunciado da Súmula 596 cristaliza, pura e

26 Comentários à Constituição Brasileira. 4ª edição, Vol. I, São Paulo: Livraria Editora FreitasBastos, 1948, pág. 410.27 Revista de Direito Civil nº 64, Doutrina – Direito Empresarial, pág. 117, item 8.

Page 52: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 352

inusitadamente, o pensamento retranscrito no tópico 6 acima28. Evidentee obviamente, pensamento não modifica nem revoga lei”.

Nem se cogite de uma suposta repristinização, pois este fenômeno,se aceito, reclama uma prévia eficácia da legislação infraconstitucionalnão recepcionada. Assim pondera Michel Temer29: “Essa restauração deeficácia é categorizável como repristinação, inadmitida em nome doprincípio da segurança e da estabilidade das relações sociais. Opermanente fluxo e refluxo de legislação geraria dificuldades insuperáveisao aplicador da lei, circunstância não desejada pelo constituinte”.

In casu, a hipótese é outra, visto que na época da promulgaçãoda Lei nº 4.595/64 era impossível a delegação de atribuições entre ospoderes da União (C/46, art. 36, § 2º), além do mais, mutatis mutandis,salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter alei revogadora perdido a vigência (LICC, art. 2º, § 3º).

3.1.2 Do artigo 25 do ADCT/88

Mas não é só: ainda que admitida a competência do ConselhoMonetário Nacional para limitar a taxa de juros – que passou a ser livre– a partir da vigência da Lei nº 4.595/64 (art. 4º, IX), o artigo 25 do atualADCT revogou de forma expressa todos os dispositivos legais queatribuíam ou delegavam ao Poder Executivo competência assinaladapela Constituição ao Congresso Nacional.

Manoel Gonçalves Ferreira Filho30, com acuidade, observa:“Revogação de delegações. É curioso este artigo. A Constituição anterior,inclusive com a redação da Emenda nº 1/69 (art. 6º, parágrafo único),proibia a qualquer Poder, portanto inclusive ao Legislativo, delegar

29 Elementos de Direito Constitucional. 10º edição, São Paulo: Malheiros, 1993, pág. 39.30 Comentários à Constituição Brasileira de 1988. 2ª edição, Vol. 4, São Paulo: Saraiva, 1997, pág. 148.28 “Penso que o art. 1º do Dec. 22.626 está revogado, não pelo desuso ou pela inflação, mas pelaLei 4.595, pelo menos no pertinente às operações com as instituições de crédito, pública ouprivada, que funcionam sob o estreito controle co Conselho Monetário Nacional” (STF, TribunalPleno, RE nº 78.953/SP, Relator Ministro Oswaldo Trigueiro, j. 9.4.75).

Page 53: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 53

atribuições ou competências a outro Poder, como o Executivo. Assim,se delegações houve, eram elas inconstitucionais, e, assim, o casonão era de revogação, e sim de anulação”.

Advirta-se que ao Congresso Nacional cabe dispor sobre todasas matérias de competência da União, especialmente as relativas adireito privado (Civil e Comercial) e às instituições financeiras e suasoperações (CF, arts. 22, I c.c. 48, XIII).

No máximo, findo o prazo de 180 dias, prorrogável (ADCT/88, art.25), os órgãos do Poder Executivo (CMN e Bacen), de uma vez por todas,ficaram impossibilitados de intervir na oscilação da taxa de juros, atéporque tal procedimento implica em ação normativa (ADCT/88, art. 25, I).

No que tange ao prazo assinado (180 dias – e não dias úteis), aAssembléia Nacional Constituinte – incondicionada e ilimitada – autorizoua prorrogação por lei, e não por medida provisória; espécies normativasontologicamente distintas (CF, art. 59, II, III, IV e V), em especial no atinenteao Poder de origem: a primeira, do Legislativo; a segunda, do Executivo.

A meu ver, data venia, não é adequada a posição assumida peloEgrégio Superior Tribunal de Justiça31 sobre a matéria; confira-se:“Prorrogou-se o prazo previsto no art. 25 do ADCT (para fins dedelegação legislativa) por força da edição de sucessivas medidasprovisórias e, ao final, da Lei nº 8.392, de 30.12.91”.

Em análise histórica, lembra o Ministro Ruy Rosado de Aguiar32

que o “.... prazo foi sucessiva e oportunamente prorrogado, a primeiravez pela MP nº 45, de 31.03.89, sendo que a hoje vigente estendeu operíodo até a publicação da lei complementar que vier dispor a respeitodo Sistema Financeiro Nacional (Lei nº 8.392, de 30.12.91)”.

Observe-se, ainda, que nesse período foram editadas outrasmedidas provisórias (nºs 53, 100 e 188) e leis (nºs 7.770/89, 7.892/89,8.056/90, 8.127/90 e 8.201/91), todas com o mesmo objeto: prorrogaçãoda delegação legislativa.

31 RESP nº 188329/MG, Relator Ministro Barros Monteiro, j. 2.5.2000.32 RESP nº 178374/MG, j. 27.10.1998.

Page 54: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 354

Apesar de dotada de força de lei (CF, art. 62, caput), a medidaprovisória não é lei: precisa da necessária conversão, no prazo de 30dias contados da publicação, para transformá-la em lei, sob pena deperder a eficácia (CF, art. 62, parágrafo único).

Pois bem. A medida provisória que inaugurou a extensão do prazolimite das delegações de competência, inicialmente estipulado até03.04.89 (ADCT, art. 25), foi editada em 31.03.89 e publicada em 03.04.89(180º dia); todavia, a Lei nº 7.770 – primeira a tratar da matéria – só foipromulgada em 31.05.89 e publicada em 01.06.89. Entre elas houveinconstitucional hiato, mormente pela reedição da matéria na medidaprovisória nº 53, de 03.05.89, publicada em 05.05.89.

Leia-se, sobre o tema, o comentário de Hugo de Brito Machado33:“ ... terminado o prazo de trinta dias sem que seja apreciada peloCongresso Nacional a medida provisória, não pode o Presidente daRepública editar outra com o mesmo teor. Se o fizer, estará violandoduplamente a Constituição”.

As medidas provisórias34: “São, como se nota, medidas de lei (têmforça de lei) sujeitas a uma condição resolutiva, ou seja, sujeitas a perdersua qualificação legal no prazo de 30 dias. Vale dizer, dentro desse prazo,perdem sua condição de medidas provisórias por uma das duas situaçõesprevistas no parágrafo único do art. 62: sua conversão em lei naqueleprazo ou, não se verificando esta, a perda de sua eficácia”.

O ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal Paulo Brossard, comoanota Alexandre de Moraes35: “ ... é mais contundente, ao concluir,categoricamente, que ‘a medida provisória não convertida em lei, sejapor desaprovação formal, seja por não apreciação no prazo de 30 dias,não pode ser reeditada’ (cf. ADIn 295-3-DF, Pleno, em 22-6-90)”.

Ressalte-se que as medidas provisórias têm como vigasmedulares a relevância e a urgência, ficando o Presidente da República

33 Os Princípios Jurídicos da Tributação na Constituição de 1988. São Paulo: Atlas, 1990, pág. 31.34 SILVA, José Afonso da. Ob. cit., (Curso), pág. 465.35 Direito Constitucional. 7ª edição, São Paulo: Atlas, 2000, pág. 534, nota 4.

Page 55: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 55

obrigado, se adotá-las, a submetê-las de imediato ao CongressoNacional, que, se em recesso, será convocado extraordinariamentepara se reunir (CF, art. 62, caput); realidade incompatível comsucessivas reedições, que, na verdade, usurpam a função típica doPoder Legislativo.

Lúcido como o sol o mandamento constitucional ao dispor: “Asmedidas provisórias perderão eficácia, desde a edição, se não foremconvertidas em lei no prazo de 30 dias, a partir de sua publicação ...”;não há, pois, confundir conversão com reedição.

Ou, em outras palavras, a leitura do dispositivo (CF, art. 62) develevar o intérprete à conclusão de que as matérias de relevância eurgência comportam disciplina pelo Presidente da República – chefedo Poder Executivo Federal – tão-só por 30 dias, circunstância impeditivade inumeráveis reedições de normas que haveriam de ser nitidamentelegais; porém, in casu, para frustração dos juristas, não passam depseudo-leis, conquanto mascaradas de novas medidas provisórias.

E vejam como zombam do povo, dos juristas: se a medida éprovisória, temporária, não pode eternizar-se pela via estranha daastúcia, da mentira, que é a reedição do provisório.

O Poder Executivo na hipótese sub-examine afronta o CongressoNacional que, ao aprovar reedição de medida provisória, transforma-aem permanente.

Que deplorável aberração!

De fato, foi o que sucedeu com a medida provisória nº 45.Publicada em 03.04.89, sua vigência perdurou até 03.05.89; mesmodia da sua reedição, embora na roupagem de nº 53. Contudo, a segundaentrou em vigor a partir de 05.05.89, data da sua publicação (art. 2º),momento em que a primeira prorrogação já tinha perdido a eficácia,por um dia é verdade (04.05.89), mas o suficiente para inviabilizar novasprorrogações, até porque os efeitos retroagem à edição (CF, art. 62,parágrafo único).

Prazo extinto não pode ser prorrogado.

Page 56: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 356

Não bastasse isso, in casu, inexistia a urgência, a prova é que oCongresso Nacional até hoje não se preocupou em regular o SistemaFinanceiro Nacional. Também não se pode atribuir relevância à atuação“eficiente” do Poder Executivo contra o expresso texto constitucional.

E mais: a Assembléia Nacional Constituinte poderia, se fosse deseu interesse, ter previsto a possibilidade de prorrogação do prazo de180 dias, expressamente, por medida provisória; porém, assim nãoprocedeu, relegando a hipótese permissiva tão-só à lei (ADCT, art. 25).

Lógica a solução. Se o escopo claro do Constituinte de 1988 foieliminar todos os dispositivos legais – ressalvada a lei delegada (CF, art.68) – que atribuíssem ou delegassem ao Poder Executivo competênciaassinalada ao Congresso Nacional, como admitir que a prorrogação doprazo limite (180 dias) – de cunho nitidamente excepcional – pudessederivar do Presidente da República, via medida provisória?

Impende frisar que, entre todas (CF, art. 59), a lei foi a espécienormativa eleita pelo Poder Constituinte Originário para tal função, ouseja, ao Poder Legislativo cabia, após as necessárias discussõespreliminares, decidir sobre a prorrogação; e não ao Poder Executivo.

Não se ponha no oblívio que a medida provisória constitui atounilateral do Presidente da República e, destarte, afasta-se a possi-bilidade de as medidas provisórias nºs 45 e 53 desafiarem o artigo 25do ADCT, apenas a Lei nº 7.770/89 poderia prorrogar a delegação decompetência, mas isto não ocorreu, visto que promulgada após os 180dias limítrofes, quando já extinta essa possibilidade.

Conseguintemente, a referida delegação (Lei nº 4.595/64, art. 4º,IX) se encontra fulminada desde a sua origem (C/46, art. 36, § 2º) pormotivos de tamanha relevância que foram acolhidos e renovados pelaConstituição Federal de 1967 (art. 6º, § único), emendada em 1969, epela Assembléia Nacional Constituinte de 1988 (ADCT, art. 25) e, portanto,à míngua de oportuna e adequada prorrogação, ante a nova ordem jurídica,resta soberana a Lei de Usura, único diploma consentâneo com a realidadeconstitucional e com os interesses da coletividade (CF, art. 192, caput),revogadas as disposições em contrário, súmulas inclusive.

Page 57: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 57

3.2 Autorização do Conselho Monetário Nacional

De outra banda, admitindo-se a constitucionalidade do artigo 4º,inciso IX, da Lei nº 4.595/64, as instituições financeiras somente poderãocobrar juros superiores a 12% ao ano se demonstrarem expressaautorização do Conselho Monetário Nacional para tal procedimento;em caso contrário a remuneração do capital cedido deve limitar-se aopercentual constitucionalmente previsto (CF, art. 192, § 3º).

Vem a talho de foice, neste passo, o voto do Ministro Ruy Rosadode Aguiar36 quando relator do Recurso Especial nº 98616/RS, de ondese extrai o seguinte excerto: “Cumpre, portanto, definir uma orientaçãoa respeito do tema: o reconhecimento judicial da legitimidade da cláusulade juros acima de 12% ao ano depende de demonstração nos autos deque a entidade financeira está praticando juros de acordo com resoluçãodo Conselho Monetário Nacional.

Enfrentando a matéria – e admitindo como ainda vigente aautorização legislativa contida no art. 4º, inc. IX da Lei 4.595/64 (temaque ainda deverá ser enfrentado à luz do disposto no art. 25 do ADCT,combinado com o art. 48, XIII da CR) –, tenho que a estipulação dejuros acima do limite permitido na lei (Código Civil e Dec. 22.626/33),pode constar de contratos bancários celebrados por instituiçõesfinanceiras, desde que demonstrada a existência de ato do ConselhoMonetário Nacional autorizando esse procedimento”.

Apesar da generalidade dos fundamentos, essa orientação temprevalecido tão-só para as hipóteses especiais dos títulos de créditorural37, industrial38 e comercial39.

36 STJ, j. 3.12.1996.37 “Ao Conselho Monetário Nacional, segundo o art. 5º do Decreto-lei nº 167/67, compete a fixaçãodas taxas de juros aplicáveis aos títulos de crédito rural. Omitindo-se o órgão no desempenho da talmister, torna-se aplicável a regra geral do art. 1º, caput, da Lei de Usura, que veda a cobrança de jurosem percentual superior ao dobro da taxa legal (12% ao ano), afastada a incidência da Súmula nº596 do C. STF, porquanto se dirige à Lei nº 4.595/64, ultrapassada, no particular, pelo diploma legalmais moderno e específico, de 1967. Precedentes do STJ” (STJ – RESP nº 167389/SP – RelatorMinistro Aldir Passarinho Jr. – 10.10.2000. No mesmo sentido: RESPs nºs 78349/RS, 165265/RS,198243/RS e 111881/RS.38 “O Decreto-lei nº 413/69, art. 5º, posterior à Lei nº 4.595/64 e específico para as cédulas decrédito industrial e comercial, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fixar os juros a

Page 58: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 358

O tratamento desigual não convence. O Colendo Superior Tribunalde Justiça considera revogada a Lei de Usura pelo artigo 4º, inciso IX,da Lei nº 4.595/64; entretanto, restaura sua eficácia para disciplinar asoperações derivadas dos Decretos-Lei nºs 167/67 e 413/69 e da Lei nº6.840/80, à falta de autorização do Conselho Monetário Nacional.

Ora, ou o Decreto nº 22.626/33 está revogado, ou não está – enão está mesmo (item 3.1.1 supra). O que não se pode admitir é otratamento com dois pesos e duas medidas, até porque, salvodisposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a leirevogadora perdido a vigência (LICC, art. 2º, § 3º).

Não se ponha, porém, no oblívio que a autorização do CMN, dadasua substancialidade, deve instruir a petição inicial (CPC, art. 283) ou acontestação (CPC, art. 297) – respectivamente para as hipóteses emque a instituição financeira figurar nos pólos ativo e passivo da relaçãojurídica processual – sob pena de preclusão (CPC, art. 396).

3.3 Da legislação federal

Abstraindo, agora, a Lei nº 4.595/64, da legislaçãoinfraconstitucional aplicável à espécie, cumpre destacar, em breve relato,que a limitação dos juros faz parte da tradição do Direito pátrio, tendoem vista que remonta à elaboração do Projeto do Código Civil, em finsdo século XIX, e nada justifica sua alteração neste momento histórico.

serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12%ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto nº 22.626/33), não alcançando a cédula de créditoindustrial o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula nº 596/STF” (STJ – AGA nº289487/RS – Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito – 26.06.2000). Em igual linha:RESP nº 162363/RS.39 “O art. 5º da Lei nº 6.840/80 c/c o art. 5º do Decreto-lei 413/69, posteriores à Lei nº 4.595/64,conferem ao Conselho Monetário Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados na cédulase notas de crédito comercial. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide alimitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto nº 22.626/33), não alcançando acédula de crédito comercial o entimento jurisprudencial consolidado na Súmula nº 596/STF” (STJ– RESP nº 183048/RS – Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito – 18.03.1999). Com omesmo pensamento: RESPs nºs 251968/RS, 150465/RS, 147583/RS, 223746/SP, 183048/RS e163796/RS.

Page 59: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 59

Frise-se, desde já, o horizonte traçado nos artigos 1.062 e 1.063do Código Civil para os juros legais. Menos de duas décadas depoisentra em pauta o Decreto nº 22.626/33, dispondo sobre juros contratuaise estabelecendo como limite o dobro da taxa legal (art. 1º, caput), estadisciplinada em 6% ao ano (art. 1º, § 3º).

Mesmo após a Lei nº 4.595/64, que sequer implicitamente revogaraquaisquer dos mencionados Estatutos (LICC, art. 2º, §s 1º e 2º), houveconsenso neste particular, situação que perdurou até o advento daResolução nº 389 do CMN, tempo em que se abala a convivência dorazoável na política de juros40.

Todavia, o elastério alcançado pela citada resolução, legitimando– segundo alguns – o descontrole dos limites de então, não se podehaver como admissível. Isto porque singela interpretação da Lei daReforma Bancária em nenhum instante permite a inferência de estarautorizada a ultrapassagem do percentual máximo legalmente fixado.

Ao rigor desse raciocínio, inviável a incidência de juros acima de1% ao mês, haja vista a imprescindível interpretação sistemática dasnormas – constitucionais e infraconstitucionais – pertinentes à matériasub examine. Ou seja, independentemente de se não atribuir auto-aplicabilidade ao artigo 192, § 3º, da Constituição Federal – como finalizaa ADIN nº 04 – ou de se aceitar uma flexibilidade na interpretação dasresoluções do CMN e do Bacen, força é concluir pela manutenção dosEstatutos limitadores de outrora, porquanto nada indica outra realidade.

Assiste razão a Arnaldo Rizzardo41 ao afirmar: “ ... a Lei 4.595 emnenhum momento permitiu a graduação de juros acima da taxa legal.Autorizou o Conselho Monetário Nacional a delimitar as taxas de juros eoutros encargos, mas não a elevá-los a quaisquer níveis, ficando liberadosos bancos dos percentuais ordenados pelo CC e pelo Dec. 22.626”.

40 SILVEIRA, João José Custódio da, Juiz de Direito no Estado de São Paulo, sentença proferidanos autos nº 024/96 da 1ª Vara da Comarca de Andradina/SP.41 Revista Ajuris nº 42, págs. 158/163.

Page 60: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 360

E prossegue: “.... as taxas de juros estão previstas em lei. Éignominioso deixar ao arbítrio de um órgão federal a decisão deestabelecer os patamares dos juros, tolhendo qualquer poder dedeliberação do mutuário e ferindo o princípio da consensualidade e dabilateralidade do contrato. Diante da natureza adesiva desse tipo denegócio, fica a parte na contingência de submeter-se obrigatoriamenteàs decisões impostas pelo banco, sob pena de não conseguir o mútuo”.

4. Moral

Considerando-se, assim, que o ordenamento jurídico pátriodelimita bases fixas à temática dos juros, deverá o Sistema FinanceiroNacional – dirigido de modo que promova o desenvolvimento equilibradodo País e que sirva aos interesses da coletividade (CF, art. 192, caput)– amoldar-se a esta condição, e não o contrário, sobretudo porque opovo não pode ser relegado ao esquecimento do Congresso Nacionalque pouco tem feito no sentido de definir a quaestio.

O Excelso Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, no V.Acórdão proferido no Mandado de Injunção nº 457/SP42, da relatoria doEminente Ministro Moreira Alves, assim como em outras oportunidades,declarou a mora do Poder Legislativo Federal. O V. Aresto, no queinteressa, está assim ementado: “Mandado de Injunção. Juros reais.Parágrafo 3º do artigo 192 da Constituição. Passados mais de cincoanos da promulgação da Constituição, sem que o Congresso Nacionalhaja regulamentado o referido dispositivo constitucional, e sendo certoque a simples tramitação de projetos nesse sentido não é capaz deelidir a mora legislativa, não há dúvida de que esta, no caso, ocorre.Mandado de Injunção deferido em parte, para que se comunique aoPoder Legislativo a mora em que se encontra, a fim de que adote asprovidências necessárias para suprir a omissão”.

42 STF, por maioria, j. 26.5.1995.

Page 61: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 61

Ainda não é o bastante, visto que predomina no Supremo TribunalFederal a corrente chamada não concretista43: “ ... no sentido de atribuirao mandado de injunção a finalidade específica de ensejar oreconhecimento formal da inércia do Poder Público, ‘em dar concreçãoà norma constitucional positivadora do direito postulado, buscando-se,com essa exortação ao legislador, a plena integração normativa dopreceito fundamental invocado pelo impetrante do writ como fundamentoda prerrogativa que lhe foi outorgada pela Carta Política’ (RTJ 133/11).Sendo esse o conteúdo possível da decisão injuncional, não há falarem medidas jurisdicionais que estabeleçam, desde logo, condiçõesviabilizadoras do exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativaconstitucionalmente prevista (STF – MI nº 288-6/DF – Rel. Min. Celsode Mello – DJ 03.05.95, p. 11.629), mas, tão-somente, deverá ser dadociência ao poder competente para que edite a norma faltante”.

Sob pena de igualar os efeitos do Mandado de Injunção aos daAção Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (CF, art. 103, § 2º),melhor seria – até porque se trata de garantia fundamental (CF, art. 5º,LXXI) – a prevalência da teoria concretista44, segundo a qual: “....presentes os requisitos constitucionais exigidos para o mandado deinjunção, o Poder Judiciário através de uma decisão constitutiva, declaraa existência da omissão administrativa ou legislativa, e implementa oexercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa constitucional atéque sobrevenha regulamentação do poder competente”.

Aflitiva é a atual realidade fática imposta pelos três poderes daUnião (CF, art. 2º). O legislativo há anos se omite na regulamentaçãodo Sistema Financeiro Nacional (CF, art. 192); o judiciário, nada obstantedecidir pela não auto-aplicabilidade da norma constitucional (ADIN nº04/DF), sistematicamente nega ao povo – único titular do poder (CF,art. 1º, parágrafo único) – a efetividade do Mandado de Injunção, umade suas garantias fundamentais (CF, art. 5º, LXXI); enquanto isso, o

43 MORAES, Alexandre de. Ob. cit., págs. 177/178.44 Ob. cit., pág. 175.

Page 62: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 362

executivo – numa conduta que beira com o autoritarismo civil – sozinho,por via de seus órgãos administrativos (CMN e Bacen), controla atemática dos juros no território nacional.

Impõe-se, neste momento histórico, uma efetiva reflexão sobre alúcida advertência publicada pela Gazeta Mercantil45: “O intérprete nãopode ler a Constituição com os olhos do autoritarismo e do aproveitamentoespeculativo. Não adianta poder constituinte se vamos ler as normascom a velha visão de quem não quer mudanças e resiste a qualquerinovação, buscando pretextos para descumprir a Lei Maior ... Este é oBrasil que já chegaram a dizer que não é um País sério. Deve ser o únicoPaís do mundo onde a Carta Magna não tem valor. Pode ser descumpridaescancaradamente. Suas normas são inúteis e podem ser derrogadastão-somente por inércia e qualquer tentativa de fazer cumpri-la ou atenderuma ordem da Suprema Corte é desde logo descartada”.

Quanto ao Mandado de Injunção, é evidente (um dever até) que oPoder Judiciário, ao julgá-lo, implemente a eficácia do preceito semregulamentação, viabilizando o exercício dos direitos e liberdadesconstitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, àsoberania e à cidadania (CF, art. 5º, LXXI).

Trata-se da solução pregada pela vertente concretista individualdireta46, que encontra vozes nos Eminentes Ministros Marco Aurélio e CarlosVelloso. Quando muito, a razoabilidade estacionaria na variante concretistaindividual intermediária47, como quer o preclaro Ministro Néri da Silveira.

E salienta, ainda, Alexandre de Moraes48: “ ... após julgar aprocedência do mandado de injunção, fixa ao Congresso Nacional o

45 Em 25.9.1998, pág. 1.46 STF – MI nº 321-1, Relator Ministro Carlos Velloso, Diário da Justiça, Seção I, 30.7.1994, p.26.164; STF – MI nº 431-5, Relator Ministro Celso de Mello, Diário da Justiça, Seção I, 23.9.1994,p. 25.325 e JSTF-LEX , nov./1992, 167:105/128.47 STF – MI nº 335-1, Relator Ministro Celso de Mello, Diário da Justiça, Seção I, 17.10.1994, p.27.807; STF – MI nº 431-5, Relator Ministro Celso de Mello, Diário da Justiça, Seção I, 23.9.1994,p. 25.325.48 Ob. cit., pág. 176.

Page 63: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 63

prazo de 120 dias para a elaboração da norma regulamentadora. Aotérmino desse prazo, se a inércia permanecer o Poder Judiciário devefixar as condições necessárias ao exercício do direito por parte do autor”.

Não obstante tudo isso, se a dúvida é o conceito de juros reais,socorrem-nos os esclarecimentos de Luiz Carlos Mendonça de Barros,ex-Diretor da Área de Mercado de Capitais do Banco Central, ex-Pre-sidente do BNDES e ex-Ministro de Estado do governo Fernando HenriqueCardoso (Pasta das Comunicações), lembrado por Sérgio Gischkow49,prestados em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em 09.10.88, ouseja, quatro dias após a promulgação da atual Carta Magna.

Vejamo-los: “Apesar de todas as questões negativas associadasa esta decisão dos constituintes, o limite de 12% é hoje um preceitoconstitucional em nosso País. Temos que ter em relação a ele o mesmorespeito que devemos a pontos como a liberdade de expressão, deassociação e outros tantos aspectos positivos da nossa novaConstituição. A tentativa de, através de raciocínios oblíquos, burlarmosesta limitação imposta às operações do mercado financeiro vai poderjustificar o mesmo comportamento em relação a outras questõesfundamentais para a sociedade brasileira. A argüição de que este limitenão pode ser aplicado de imediato porque não está definido o conceitode juro real é, para dizer pouco, uma mentira. O interessante é quemuitas pessoas que defendem esta posição pertencem ao grupo queacusava nossa Constituição de prolixa e detalhista. Apontavam oexemplo americano e inglês para defender um texto simples e quedefinisse apenas os conceitos e princípios básicos do arcabouçoconstitucional do país. Ora, o conceito de juro real é simplíssimo: é ojuro acima da inflação no período da operação financeira em questão.... Bastaria portanto uma simples reunião do CMN para acertar todasestas questões de natureza operacional. Portanto, o que temos naverdade é uma encenação orquestrada para não cumprir uma normalegal de nosso arcabouço jurídico”.

49 Ob. cit., pág. 151.

Page 64: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 364

Ao Poder Judiciário cumpre o sagrado dever de garantir aprevalência do certo e do justo, assegurando os impostergáveis direitosconquistados a duras penas durante pouco mais de um século deRepública, prevenindo excessos e omissões dos outros poderes; e,por isso, não mais pode silenciar quanto ao limite constitucional de juros,de modo que a Lei Maior, nessa especial circunstância, não permaneçaletra morta, e o povo, do qual emana o poder legítimo, deixe de serlesado dia após dia.

Hoje, mais do que nunca, os Juízes deste País devem repensaros motivos que os levaram a escolher a toga como missão (a um tempoapanágio e dever), e quando assim o fizerem, não se deslembrem dainexorável virtude de dar a cada um o que lhe pertence, ou seja, suumcuique tribuere, à Ulpiano, ou unicuique suum, à Cícero.

Ad concludendum, há que se insculpir nos fastos da cidadania,com indeléveis traços, o desabafo de um lídimo Magistrado, em alma ecoração, no concernente à matéria ora enfrentada50: “.... a conseqüênciafoi única: de um lado, o § 3º do art. 192, no que limita os juros anuais a12% ao ano, não tem aplicação imediata; de outro, em que pese a previsãosobre o mandado de injunção, aquele tomador de empréstimos – comjuros extorsivos a conduzirem, fatalmente à morte civil – não conta commeio hábil a tornar prevalecente o direito assegurado constitucionalmente”.

E prossegue o Ínclito Ministro Marco Aurélio, exemplo para todauma classe: “O resultado dessa visão, distanciada dos interessesmaiores do povo brasileiro, está aí mesmo, com o desempregograssando, a economia paralisada e o País partindo para situaçãoinconcebível. Por isso, resolvi reexaminar a matéria e, mesmo correndoo risco de ser mal compreendido, tornar claro e preciso o meuentendimento sobre o que se contém a Carta da República. Dir-se-áque haverá, apenas, mais um voto vencido. A mim, isso não importa,porquanto devo cumprir o dever assumido de tornar eficaz a CartaPolítica da República, honrando a toga que tenho sobre os ombros

50 STF – RT 781/164-5.

Page 65: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 65

até que falte entusiasmo para tanto e a deixe em definitivo. Vozesque calam são vozes coniventes, contribuindo para o que BárbaraTuchamn aponta, como ‘a marcha da insensatez’. Destarte, até mesmocom algum lamento, porquanto silenciei, ressalvando o entendimentopessoal, nesses últimos oito anos, mas isto serve de alerta quanto aoutras situações semelhantes, volto à posição primeira e o faço com atranqüilidade de estar combatendo o bom combate (g.n.)”.

Nada mais há, pois, ser dito.

5. Conclusões

5.1 O limite de juros em 12% ao ano foi erigido, por ato dasoberania popular exercido de modo originário e incondicionado, emmandamento constitucional (CF, art. 192, § 3º).

5.2 O Supremo Tribunal Federal, por maioria (ADIN nº 04/DF),apenas concluiu ser impossível a auto-aplicabilidade do dispositivo, atéporque a expressão “juros reais” não foi conceituada.

5.3 O Poder Judiciário antes de aplicar qualquer norma jurídica,constitucional ou não, realiza labor interpretativo colimando darsignificado concreto à abstração legal.

5.4 Juros reais são aqueles encontrados após a exclusão dacorreção monetária, ou seja, revelam tão-somente a remuneração docapital, o ganho alcançado pelo credor em razão do empréstimo,computadas as comissões e quaisquer outras parcelas estranhas àsimples atualização da moeda.

5.5 Real é mero adjetivo, que somente qualifica o objeto juros.

5.6 Afora as hipóteses excepcionais (Decs.-Lei nºs 167/67 e 413/69e Lei nº 6.840/80), que reclamam estudo próprio, a taxa limite de 12%ao ano encontra fundamento constitucional, infraconstitucional e moral.

5.7 O § 3º, do artigo 192 da Constituição Federal, dotado denormatividade autônoma, estabelece regra bastante em si mesma, onde

Page 66: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 366

inexiste omissão de elemento lógico-estrutural, ou mesmo defeito deconformação que reclame interposição legal para deflagrar seus efeitos.

5.8 Sua segunda parte, nitidamente separada da primeira peloponto e vírgula, é que traduz um mandamento ao legislador ordinário;porém, tão-só no concernente à tipificação do crime de usura.

5.9 A regra é a eficácia da norma constitucional, que só pode serafastada pela própria Constituição, expressamente. A boa técnica legislativarecomenda a utilização do parágrafo como forma de excepcionar ou delimitar o disposto no comando principal (caput) do artigo.

5.10 Ainda que admitida a inexistência de auto-aplicabilidade (ADINnº 04/DF), o § 3º, do artigo 192 da Constituição Federal evidencia, quandomuito, norma de eficácia contida ou redutível; logo, dotada de eficáciaplena até que o legislador ordinário edite a normação restritiva.

5.11 O limite imposto pela Constituição Federal só comportaredução, porquanto a lei complementar regulamentadora jamais poderáestabelecer juros acima de 12% ao ano.

5.12 Negar eficácia às disposições constitucionais depen-dentesde lei complementar é o mesmo que lhe retirar o caráter jurídico,realidade inadmissível em se tratando de disposição constitucional.

5.13 Na pior das hipóteses a disposição constitucional maisabstrata e vaga possui, no mínimo, a eficácia paralisante de todas asnormas inferiores, se contrastantes com seu sentido.

5.14 Às normas programáticas é reconhecido um valor jurídicoconstitucionalmente idêntico ao dos restantes dos preceitos daconstituição, pois vinculam, na qualidade de limites materiais negativos,os poderes públicos, sob pena de inconstitucionalidade.

5.15 Inexiste norma constitucional sem eficácia. Todo e qualquerpreceito constitucional que contiver um mínimo de eficácia tem apossibilidade de produzir, concretamente, efeitos jurídicos.

5.16 Um mínimo de eficácia é condição de sua vigência e, portanto,a norma constitucional não pode permanecer duradouramente ineficaz;há de conter um mínimo de eficácia.

Page 67: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 67

5.17 Não há, numa Constituição, dispositivos a que se devaatribuir meramente o valor moral de conselhos, avisos e lições. Todostêm força imperativa de regras, ditadas pela soberania nacional oupopular a seus órgãos.

5.18 Inadmissível se cogitar, dentro da Constituição, de normasnão-jurídicas, despidas de coatividade, visto que isto enfraqueceria aprópria força da Constituição.

5.19 A Lei nº 4.595/64 estruturou e regulou o Sistema FinanceiroNacional, composto, entre outros, do Conselho Monetário Nacional e doBanco Central do Brasil, ambos vinculados ao Poder Executivo Federal.

5.20 Sua promulgação se deu sob a égide da Constituição de 1946e, assim, restou inconstitucional (art. 36, § 2º) ao transferir ao ConselhoMonetário Nacional – órgão do Poder Executivo – a competência paralimitar as taxas de juros, descontos e comissões e qualquer outra formade remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros,inclusive os prestados pelo Banco Central do Brasil (art. 4º, IX).

5.21 A causa para o combate às delegações reside no receio deampliar o arbítrio do Poder Executivo, aumentando os perigos para aliberdade e o patrimônio dos cidadãos.

5.22 Neste pormenor, a Lei da Reforma Bancária nasceuinconstitucional e, por isso, sequer ingressou no mundo jurídico. É comose escrita não estivesse; logo, conseqüência alguma pode dela advir,muito menos a de fundamentar uma suposta revogação dos Estatutosque regem a temática dos juros no ordenamento jurídico pátrio (CC,art. 1.063 e Dec. 22.626/33).

5.23 O artigo 25 do ADCT/88 revogou de modo expresso todosos dispositivos legais que atribuíam ou delegavam ao Poder Executivocompetência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional.

5.24 O prazo fatal assinado (180 dias – e não dias úteis) apenaspoderia ser prorrogado por lei, e não por medida provisória, que diferemquanto ao Poder de origem: a primeira, do Legislativo; a segunda,do Executivo.

Page 68: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 368

5.25 Ainda que aceita a prorrogação por medida provisória, termi-nado o prazo de 30 dias sem que seja apreciada pelo Congresso Nacional,não pode o Presidente da República editar outra com o mesmo teor.

5.26 Não há confundir conversão com reedição.

5.27 Admitindo-se a reedição, a medida provisória nº 45 perdeusua eficácia antes da publicação da de nº 53, houve o intervalo de umdia (04.05.89); assim, prazo extinto não pode ser prorrogado.

5.28 A limitação dos juros integra a tradição do Direito pátrio,conforme se infere dos artigos 1.062 e 1.063 do Código Civil e do De-creto nº 22.626/33; situação que subsistiu até o advento da Resoluçãonº 389 do CMN.

5.29 A Lei nº 4.595/64, ao autorizar o CMN a delimitar as taxas dejuros, em nenhum momento permitiu a graduação acima dos percentuaisordenados pelo Código Civil e pelo Decreto nº 22.626/33.

5.30 O povo vem sendo relegado ao esquecimento e ao descasopor seus representantes. O legislativo há anos se omite na regulamentaçãodo Sistema Financeiro Nacional; o judiciário, apesar de decidir-se pelanão auto-aplicabilidade da norma constitucional, sistematicamentenega efetividade ao Mandado de Injunção; enquanto isso, o executivocontrola os juros.

5.31 Sob pena de igualá-lo à Ação Direta de Inconstitucionalidadepor Omissão, cabe ao Poder Judiciário, ao julgar o Mandado de Injunção,tornar concreta a eficácia do preceito constitucional sem regulamentação.

5.32 O Poder Judiciário é fundamental no sistema de freios econtrapesos, e, nessa qualidade, não pode mais silenciar no pertinenteao limite constitucional de juros.

5.33 Se permanecer tal modus faciendi, a inelutável conseqüênciaé única: de um lado, o artigo 192, § 3º, da Constituição Federal não temaplicação imediata; de outro, o mandado de injunção não se presta aconcretizar o direito assegurado.

5.34 O Poder Judiciário há de cumprir o dever assumido de tornareficaz a Carta Política da República, honrando a toga que traz sobre os

Page 69: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 69

ombros. Não há como emudecer sem prevaricar aos deveres. Vozesque se calam são vozes coniventes.

Posto isto, e com base em nove (09) fundamentos – (1) auto-aplicabilidade, (2) eficácia contida, (3) interpretação sistemática, (4)inconstitucionalidade da Lei da Reforma Bancária frente o artigo 36, §2º, da Constituição de 1946, (5) artigo 25 do ADCT/88, (6) necessidadede autorização do Conselho Monetário Nacional, (7) análise da legislaçãofederal, (8) injustificada mora do Congresso Nacional e (9) razões deordem moral – ressai, entendo, à evidência, que as taxas de jurosaplicadas pelo mercado financeiro deverão respeitar os lindes traçadospelo artigo 192, § 3º, da Constituição Federal.

“A ninguém importa mais do que à magistratura fugir do medo,esquivar humilhações, e não conhecer a covardia” (Rui Barbosa).

Guilherme Ferreira da Cruz,

juiz de Direito Titular da 4ª Vara Cível da Comarca de Santos,Estado de São Paulo, professor de Direito Civil e mestrando em

Direito pela Universidade Metropolitana de Santos – UNIMES

BIBLIOGRAFIA

ABRÃO, Nelson. Direito Bancário. 3ª edição, São Paulo: Rev. dos Tribunais, 1996.ANDRADE, Roberto Braga de. A limitação da taxa de juros reais e a revisãoconstitucional: um golpe de misericórdia? – Caderno de Direito Tributário eFinanças Públicas nº 3 – Finanças Públicas.ATALIBA, Geraldo. Lei Complementar na Constituição. São Paulo: Revista dosTribunais.BARBOSA, Rui. Comentários à Constituição Federal Brasileira. Vol. II (arts. 16a 40) São Paulo: Livraria Acadêmica, Saraiva, 1933.BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 9ª edição, São Paulo:Saraiva, 1986.CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. 4ª edição, Portugal, Coimbra:Almedina.

Page 70: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 370

DINIZ, Maia Helena. Norma Constitucional e seus Efeitos. 2ª ed., São Paulo: Saraiva.ESPÍNOLA, Eduardo. Constituição dos Estados Unidos do Brasil. 1º Vol., SãoPaulo: Livraria Freitas Bastos, 1952.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição Brasileirade 1988. Vols. 1 e 4, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 1997.FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira. 1º vol., São Paulo:Saraiva, 1989.KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. MACHADO, João Baptista. 6ªed., Portugal, Coimbra: Armênio Amado Editora, 1984.MAGALHÃES, Roberto Barcellos de. Comentários à Constituição Federal de1988. Vol. II, Rio de Janeiro, 1997.MACHADO, Hugo de Brito. Os Princípios Jurídicos da Tributação na Constituiçãode 1988. São Paulo: Atlas, 1990.MAXIMILIANO, Carlos. Comentários à Constituição Brasileira. 4ª edição, Vol. I,São Paulo: Livraria Editora Freitas Bastos, 1948.MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1946. Tomo I, 3ª edição,Rio de Janeiro: Borsoi, 1969.MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 7ª ed., São Paulo: Atlas, 2000.PEREIRA, Sérgio Gischkow. Revista de Direito Civil nº 54, Doutrina – DireitoEmpresarial.PINHEIRO, Hésio Fernandes. Técnica Legislativa. 2ª edição, São Paulo:Freitas Bastos, 1962, pág. 100.RIZZARDO, Arnaldo. Revista Ajuris nº 42.SILVA, Antônio Ferreira Álvares da. Revista de Direito Civil nº 64, Doutrina –Direito Empresarial.SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 2ª edição,São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982.____. Curso de Direito Constitucional Positivo. 9ª ed., São Paulo: Malheiros, 1994.TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 10º edição, São Paulo:Malheiros, 1993.

Page 71: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

a prescrição noa prescrição noa prescrição noa prescrição noa prescrição noestatuto da criançaestatuto da criançaestatuto da criançaestatuto da criançaestatuto da criança

e do adolescentee do adolescentee do adolescentee do adolescentee do adolescente

roberto barbosa alves,promotor de justiça

Page 72: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 73: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 73

A PRESCRIÇÃO NO ESTATUTO

DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Roberto Barbosa Alves

O decurso do tempo atua em favor do agente, porque limita parao Estado o exercício da atividade de persecução do delito, da imposiçãode uma pena ou da execução desta. Mais que isso, a prescrição é“direito subjetivo e fundamental inerente a todo cidadão, evidenciadoem todos os ramos do direito (tributário, civil, comercial, administrativo,processual) esclarecendo, a própria Lex Mater, as circunstâncias emque tal não se prestará a ser utilizado (art. 5º, incisos XLII e XLIV)”.1

O Estatuto da Criança e do Adolescente não contém nenhumaregra relativa à prescrição dos atos infracionais cometidos poradolescente ou das medidas deles decorrentes. A doutrina, longe dechegar à unanimidade, costuma propor soluções diversas.

A primeira das propostas acadêmicas compreende que aprescrição não é aplicável aos atos infracionais, já que as medidassócio-educativas –aquelas medidas que correspondem à sanção pelaprática de ditos atos– têm natureza e finalidade diferentes da naturezae da finalidade das penas. Além disso, a prescrição é instituto de Direitomaterial, e o Estatuto da Criança e do Adolescente não permite senãoa aplicação subsidiária das normas processuais.2

Outros investigadores mantêm que a medida educativa é, emsentido amplo, uma pena. O ato infracional é um delito, com todas as

1 FARLEY EGER, Joubert, “Nova classificação da infração penal no atual sistema criminal brasileiroe o aplacamento da controvérsia de aplicação do instituto prescricional”, disponível na Internet:www.direitocriminal.com.br, 28.08.2001.2 AGUIAR MICHELMAN, Marina de, “Da impossibilidade de se aplicar ou executar medidasocioeducativa em virtude da ação do tempo”, em Revista Brasileira de Ciências Criminais, 1999,julho-agosto, n. 27, pp. 211-212.

Page 74: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 374

suas características. O adulto que pratica um delito pode deixar, emrazão do decurso do tempo, de sofrer a conseqüência jurídica de seuato. Não há razão, portanto, para que não se aplique o mesmo institutoaos adolescentes. A isso se acresça que o adolescente deve sempreser tratado com menor rigor que um adulto3.

Conforme entendemos, as regras relativas à prescrição, nãohavendo vedação no Estatuto da Criança e do Adolescente, tambémse aplicam aos agentes menores de dezoito anos. Ainda que ditasnormas afetem ao Direito material, estão igualmente situadas entre ascausas de extinção da punibilidade, que por sua vez pertencem aosistema processual penal brasileiro (Código de Processo Penal, artigo61). Por outro lado, as medidas sócio-educativas, como as sançõespenais, são mecanismos de defesa social; e a exclusão do atoinfracional da incidência da prescrição configura violação do princípioconstitucional de igualdade (Constituição Federal, artigo 5º, caput)4.

Em nome deste último princípio, o adolescente nunca poderáreceber tratamento mais gravoso que aquele previsto para o adulto queesteja em situação idêntica5. Com efeito, o processo por ato infracionaltende a excluir a pena. Não obstante, isto não lhe subtrai o caráterinstrumental, porque nem mesmo o processo penal tem a finalidade deaplicar uma pena. Num e noutro caso, o que se persegue é um adequadojulgamento de uma prática supostamente ilícita.

No processo de apuração de ato infracional não vigora, evidente-mente, o binômio processo-pena; mas tampouco é verdadeira a relação

3 ELIAS PACAGNAN, Rosaldo, “Prescrição e remissão no Estatuto da Criança e do Adolescente”,em Revista Jurídica, 1995, maio, n. 211, pp. 22-23; FARLEY EGER, Joubert, “Nova classificaçãoda infração penal no atual sistema criminal brasileiro e o aplacamento da controvérsia de aplicaçãodo instituto prescricional”, cit.4 Ampla referência a esses argumentos se encontra em AGUIAR MICHELMAN, Marina de, “Daimpossibilidade de se aplicar ou executar medida socioeducativa em virtude da ação do tempo”,cit., pp. 212-213.5 Como sustenta LORCA NAVARRETE, Antonio María, El proceso español del menor, Madrid,Dykinson, 1993, p. 118, com base em instrução do Ministério Público espanhol (publicada naRevista Aranzadi n. 1063), a atuação do Promotor de Justiça deve tender a limitar adiscricionariedade do julgador, no momento de impor a medida ao adolescente, assim como apossibilidade de aplicá-la in pejus a través de uma gravidade ou duração maior que a que sepudesse impor, pelos mesmos fatos, a um maior de idade, ou ainda mediante a aplicação decircunstâncias agravantes.

Page 75: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 75

processo-medida. O processo penal e o processo juvenil são instrumen-tais em relação aos mesmos preceitos típicos. O fato que, a priori, seencaixa na definição legal, tem na lei penal substantiva um caráterestático. A dinâmica será oferecida pelo processo, independentementedo reconhecimento ou não da responsabilidade do agente. A instrumen-talidade do processo por ato infracional não significa, portanto, a relaçãoprocesso-pena ou processo-medida, senão uma atuação dinâmicafrente ao Direito penal.

De maneira conveniente, entretanto, essa intromissão do DireitoPenal não se limita à tipicidade dos fatos, mas se estende a todas ascircunstâncias eximentes de responsabilidade. Só assim se faz possívelassumir a instrumentalidade do processo por ato infracional, que tem,portanto, natureza formalmente penal, mas materialmente sancio-nadora-educativa.

O processo por ato infracional se converte, com isso, no elo deligação entre os fatos típicos e a intervenção de natureza educativa,com a especial função de assegurar, em todo este iter, os direitos egarantias constitucionais que o adolescente merece. Não há razão paraque, em nome da manutenção de tais garantias do processo, se recusea incidência da prescrição.

Por outro lado, o argumento segundo o qual o adolescente estariaabandonado pelo Estado, se reconhecida a prescrição, pode ser facil-mente contestado. É que com a prescrição se deixa apenas de aplicarmedida sócio-educativa pelo decurso do tempo; mas, reconhecida anecessidade de proteção, o adolescente estará amparado, conforme ocaso, pelas medidas de proteção previstas no artigo 101 do Estatuto daCriança e do Adolescente.

Decantando-nos nesta opção, resta delimitar o regime de aplicaçãoda prescrição no âmbito do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Uma das soluções possíveis é a utilização do prazo de três anospara todos os atos infracionais. Tem-se em conta, para isso, o artigo2º, parágrafo único, do Estatuto: praticado o ato por menor de dezoitoanos, o Estado lhe pode impor uma medida até que complete os vinte

Page 76: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 376

e um. Este lapso de três anos servirá, então, de parâmetro para qualqueroutra hipótese, à falta de previsão legal.6

Entendemos que tal solução sugere dois problemas: primeiro,confunde a prescrição com a legitimidade do sujeito para beneficiar-sedo sistema de proteção integral do Estatuto7; segundo, significa, emalguns casos, um prazo prescricional mais amplo que aquelesestabelecidos para os adultos pelo Código Penal.

Parece-nos que também deve ser repelida a opinião segundo aqual os prazos de prescrição para os adolescentes devem ser os mesmosprevistos para os adultos, ainda que reduzidos de metade8. Adotada talsolução, e de acordo com o artigo 109 do Código Penal, ter-se-ia a regraseguinte: o prazo de prescrição das medidas de internação esemiliberdade (cuja duração não pode exceder de três anos) seria deoito anos; e o da liberdade assistida dependeria da duração estabelecidana sentença (dois, quatro ou oito anos, conforme se imponha a medidapor prazo inferior a um ano, entre um e dois anos ou igual a superior adois anos). A prestação de serviços à comunidade, a obrigação de repararo dano e a advertência teriam prazo de prescrição de dois anos9.

Esta última proposta, conforme entendemos, não considera maisque as hipóteses de prescrição da medida, quando, muito mais queisso, a prescrição abrange também a pretensão punitiva, ou o própriodelito. Levando-se em conta que a medida mais rigorosa –a internação–não comporta prazo determinado, será impossível o cálculo daprescrição de acordo com a sentença concreta; e isso irá supor, umavez mais, um prejuízo do adolescente em relação ao adulto que seencontre em situação semelhante.

6 Não se confunda esta posição com outra, que considera que a prescrição incide sempre que oinfrator completar 21 anos. Este último limite de idade poderia, em tese, caracterizar a decadência;mas, em última análise, não é mais que hipótese de exclusão da legitimidade passiva.7 Neste sentido, AGUIAR MICHELMAN, Marina de, “Da impossibilidade de se aplicar ou executarmedida socioeducativa em virtude da ação do tempo”, cit., p. 212.8 Tal opinião mantém ELIAS PACAGNAN, Rosaldo, “Prescrição e remissão no Estatuto da Criançae do Adolescente”, cit., pp. 22-23.9 A opinião está recolhida por AGUIAR MICHELMAN, Marina de, “Da impossibilidade de se aplicarou executar medida socioeducativa em virtude da ação do tempo”, cit., pp. 213-214.

Page 77: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 77

De qualquer maneira, nenhuma regra de analogia pode seraplicada contra o adolescente. Daí a necessidade evidente de que seregule por lei a questão dos prazos de prescrição. Enquanto não serepare a omissão legislativa, resta aplicar-se o prazo mais benéfico aoadolescente, seja antes ou depois do advento de uma medida concreta.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não permite a imposiçãode sanções ajustáveis ao artigo 109 do Código Penal, senão de medidassócio-educativas de caráter fungível e precário. Tratando-se daprescrição posterior à aplicação de medida sócio-educativa, portanto,faltará o parâmetro de uma medida que tenha duração definida. Nestecaso, não resta alternativa que não a aplicação do mínimo prazo deprescrição encontrável na legislação penal10, que é de um ano,indistintamente, para todos os atos infracionais e para todas as medidasa eles correspondentes.

Admitida, por outro lado, a prescrição anterior à imposição demedida, a adoção do esquema dos incisos do artigo 109 do CódigoPenal não pareceria objetável. Trata-se de norma preceptiva, que servede referência para que o Estado possa, num lapso razoável, ocupar-seda persecução do ilícito e da aplicação da medida mais adequada. Alémdo mais, nenhum prejuízo sofreria o adolescente em face do adulto:evidentemente, os prazos deverão ser reduzidos de metade (CódigoPenal, artigo 115), sob pena de haver afronta à já invocada igualdade –no mínimo– entre maiores e menores de dezoito anos.

Mas a adoção de um prazo único de prescrição após a sentençadelimita também, e com idêntico espaço de tempo, a prescrição anterior àsentença. De fato, a acomodação do regime prescricional ao Estatuto daCriança exige que se incorporem as causas de interrupção da prescriçãocompatíveis com as medidas sócio-educativas. Daí estender-se oinciso I do artigo 117 à representação; o inciso IV à sentença queimpuser qualquer medida sócio-educativa; o inciso V ao início oucontinuação do cumprimento de medida sócio-educativa; e o inciso

10 Artigos 109, VI; 114, II; e 115, do Código Penal.

Page 78: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 378

VI à reincidência. Não há, com isso, analogia aplicada contra o infrator;a hipótese, antes, indica que a prescrição, apreciada como sistema, serásempre benéfica ao adolescente.

A importação do sistema prescricional do Código Penal, que deveportanto manter orientação garantista, inclui ainda a chamada prescriçãoretroativa, que se regula pela pena em concreto e se encaixa entre osespaços deixados pelas causas interruptivas do artigo 117 do CódigoPenal. A conclusão imperativa é de que tais intervalos nunca devemser superiores a um ano, sob pena de incidir, ainda que retroativamente,a prescrição posterior à fixação de medida sócio-educativa.

Roberto Barbosa Alves

promotor de Justiça em São Paulo,doutor em Direito Processual pela

Universidad Complutense de Madrid

Page 79: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

o parecer criminal do MPo parecer criminal do MPo parecer criminal do MPo parecer criminal do MPo parecer criminal do MPperante os tribunais: atoperante os tribunais: atoperante os tribunais: atoperante os tribunais: atoperante os tribunais: ato

essencial do processoessencial do processoessencial do processoessencial do processoessencial do processo

sérgio demoro hamilton,procurador de justiça no rio de janeiro

Page 80: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 81: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 81

O PARECER CRIMINAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO PERANTE OS

TRIBUNAIS: ATO ESSENCIAL DO PROCESSO

Sérgio Demoro Hamilton

Querem fazer do Ministério Público a quinta roda do carro?

1. Vem de longe, na doutrina, a tendência de considerar indevidoo parecer criminal emitido pelo Ministério Público perante o segundograu de jurisdição, tal como regrado nos arts. 610 e 613 do CPP.

FREDERICO MARQUES e, mais recentemente, TOURINHO estão entreos autores que mais fustigam a presença do Ministério Público naquelafase, muito embora fazendo uso de argumentações distintas. O simplesfato de dois totens do processo penal brasileiro assumirem posiçãodoutrinária tão radical em relação ao thema é motivo, mais que suficie-nte, para meditação.

2. FREDERICO MARQUES (1), no início da década de sessenta do séculopassado, considerava “errônea e infeliz a disposição contida no art.610 do CPP, sobre a abertura de vista ao procurador-geral”. Porém,sustentava que, naquela disposição, a participação do Parquet “só seafina com os princípios do nosso processo penal se for entendida emtermos restritos”. E acrescentava: “o procurador-geral só deveria tervista dos autos não para neles oficiar, e sim para tomar conhecimentoda causa e acompanhar seus trâmites pelo juízo ad quem”.

(1) JOSÉ FREDERICO MARQUES, Elementos de Direito Processual Penal, vol. IV, pág. 221, Forense, Rio,1965, 1ª edição.

Page 82: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 382

Sem deslustrar o grande mestre do processo penal a quem todosreverenciamos, confesso minha perplexidade a respeito dos termosvagos e imprecisos com que a matéria está posta em seu ensinamento.O que pretenderia o douto professor ao afirmar “tomar conhecimentoda causa” ou, ainda, “acompanhar seus trâmites”. Ele mesmo, sentindoa indefinição do que antes dissera, justifica a vista para que o procurador-geral verifique se deve ou não fazer sustentação oral da acusação,buscando colocar-se a par das questões debatidas no recurso. Portanto,no seu entendimento, a tanto se resumiria a atuação do Parquet nostribunais: sustentação oral do procurador de justiça quando dojulgamento da causa, caso assim desejasse.

Do mesmo sentir é a posição de TOURINHO (2) se bem que porrazões outras. Salienta o eminente professor de processo penal queo Ministério Público, na segunda instância, deveria limitar sua atuaçãoà análise dos processos “sob o aspecto formal”, deixando o méritopara ser apreciado pelos Tribunais. Segundo ele, o procurador dehoje é o promotor de ontem, a impedir que o Ministério Público fiqueeqüidistante das partes. Decerto haveria uma tendência natural emprol da acusação até mesmo por mero esprit de corps. Não esclareceo renomado processualista o que seja o “aspecto formal” do recurso,ao afastar o Parquet do exame da questão de fundo. É justoespecular-se que estaria a restringir a atividade do procurador dejustiça ao exame dos pressupostos objetivos do recurso (previsãolegal, tempestividade e formalidade legal) bem como dos subjetivos(sucumbência, interesse e legitimidade). Terminaria aí sua atuação,sem dúvida, bem mais limitada que a do Promotor de Justiça! Ouserá que estarei errado na interpretação da sua lição, semprerespeitável, a respeito da matéria?

3. Para um perfeito exame do assunto, cumpre estudá-lo,inicialmente, à luz do Texto Magno. Com efeito, dispõe o art. 127 ser oMinistério Público instituição essencial à função jurisdicional do Estado

(2) FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO, Código de Processo Penal Comentado, vol. 2, pág. 361, EditoraSaraiva, 5ª edição, 1999.

Page 83: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 83

com a incumbência da defesa da ordem jurídica. O aludido dispositivointegra a Seção I do Capítulo IV da Carta Magna que cuida das funçõesessenciais à justiça.

Já tivemos a oportunidade de analisar a questão em outraoportunidade e para fins outros, (3) mostrando que a questão ontológicaque se põe repousa, unicamente, no exame do conceito que o vocábuloessencial encerra.

Que vem a ser função essencial?

Como ensinam os dicionários, função essencial é aquela quenão pode ser postergada, justamente por ser indispensável, integrandoa natureza das coisas. (4) Daí que a obrigatoriedade da presença doMinistério Público no processo penal assume o caráter de normaimperativa, de ius cogens, de maneira que não é lícito derrogá-la paraqualquer fim, em razão do que a Lei Maior dispôs. Em caso contrário,seria pura retórica a colocação que a matéria ganhou perante aConstituição Federal de 1988. Estaríamos diante de um discursoprimoroso da Lei das Leis, porém vazio de conteúdo, destinado a nãooperar no plano real.

Quando se faz alusão à essencialidade da presença do MinistérioPúblico no processo penal, há que se entender que sua atuação sedará de forma plena, abrangendo todas as questões discutidas norecurso, quer aquelas de forma quer aquelas de fundo. Para tanto deveráexarar parecer escrito, necessariamente fundamentado, como exigea Lex Maxima, pois, segundo ela, obrigado está a indicar, sempre, “osfundamentos jurídicos de suas manifestações processuais” (art. 129,VIII). Além disso, terá a faculdade de realizar sustentação oral peranteo Tribunal desde que entenda cabível a providência. Em ambas as

(3) O thema mereceu delongado exame por ocasião do meu estudo A questão do Promotor ad hoc,in Temas de Processo Penal, pág. 229 e seguintes, Editora Lumens Juris, Rio de Janeiro, 2ªedição, 2000.(4) AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 1ª edição, EditoraNova Fronteira, pág 574.

Page 84: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 384

ocasiões abrangendo qualquer matéria, substantiva ou processual, porventura agitada no recurso.

Ao contrário do que sustentam aqueles eminentes professores,nunca assaz louvados, seria inconcebível a presença mitigada doMinistério Público perante o segundo grau de jurisdição somente parafazer eventual sustentação oral (como entende FREDERICO MARQUES) ou,ainda, para dizer se o recurso é tempestivo, se houve sucumbência, sea parte dispõe de legitimidade et quid genitu (como sustenta TOURINHO).É interessante observar que FREDERICO MARQUES não exclui o exame,ainda que parcial, da questão de fundo ao passo que TOURINHO somenteadmite que o Ministério Público se manifeste sob o aspecto formal,vedando ao procurador de justiça a discussão de qualquer questão demérito, sob o argumento de que faltaria ao membro do Ministério Públicoa necessária isenção para o exame daquela matéria, pois o Procuradorde hoje nada mais é que o Promotor de ontem.

Penso, data venia, que o Ministério Público não merece tamanhadesconfiança. Vai longe o tempo em que se via no Promotor umacusador sistemático, colecionar dos anos de condenação queobtivera, no exercício das suas atribuições, para enriquecer seucurrículo. Na atualidade, dentro de uma visão moderna da Instituição,não mais se concebe tal postura. (5) Não conheço um trabalho dedoutrina que defenda tal ponto de vista totalmente superado. Todas asescolas de formação do Ministério Público ensinam ser dever daInstituição pugnar por um processo justo.

Dessa maneira, o Parquet atua como custos legis, eqüidistantedas partes, quando chamado a valorar o fato penal em julgamento. Assimdeve ser. Averbe-se que o Ministério Público não julga, não estando,dessa forma, o Tribunal vinculado ao seu pronunciamento, tal como

(5) Em longo e minucioso estudo, elaborado em 1992, procurei esboçar as linhas gerais que umbom parecer criminal deve conter, analisando não somente os aspectos técnicos mas ferindo,igualmente, o comportamento ético do parecerista para com o juiz, o réu e seu advogado. Paraeventual consulta veja-se: Justitia, vol. 169, pág. 09 e seguintes, 1995, Órgão do MinistérioPúblico de São Paulo.

Page 85: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 85

ocorre em relação ao pedido absolvição apresentado pelo Promotor deJustiça na primeira instância (art. 385 do CPP). Se houver excessoacusatório, os juízes saberão depurar o parecer, dele escoimando oque entenderem incabível.

É justamente por tal razão que, como fiscal da lei, o procuradorde justiça fala por último (arts. 610 § único e 613 do CPP). Diversa,porém, situa-se a disciplina legislativa que a lei emprestou às razõesfinais do promotor de justiça perante o primeiro grau de jurisdição. Lá,como parte autora, o Ministério Público postula em primeiro lugar (arts.500, I e 538 § 2º do CPP), norma também seguida em todas as leisextravagantes. No entretanto, mesmo atuando como parte, ele o fazde forma imparcial, pugnando, quando for o caso, pela absolvição doréu (art. 385 do CPP), podendo, inclusive, recorrer contra umacondenação que repute injusta.

Vale a observação de que constitui nulidade a falta da inter-venção do Ministério Público em todos os termos da ação por eleintentada e nos da proposta pela parte ofendida quando se tratar deação pública (art. 29 do CPP), consoante dispõe o art. 564, III, “d” doCPP. Verifica-se, destarte, que a presença do Parquet é erigida noprocesso penal à qualidade de norma perfeita, cuja inobservânciasofre a sanção de nulidade.

Guarda, assim, a lei processual penal perfeita consonância como tratamento que a matéria recebeu perante a Constituição Federal aoconsiderar inafastável a presença do Ministério Público no processopenal, sem fazer qualquer distinção entre a sua atuação na primeirainstância e aquela do parecerista oficiante no segundo grau de jurisdição.

4. Cabe destacar que tanto art. 610 como o 613 do CPP nãousam o vocábulo “parecer”, indicando, apenas, que os autos “irão comvista ao procurador-geral pelo prazo...” e, em seguida, passarão aorelator, e, após, ao revisor (quando for o caso).

Porém, como é óbvio, a vista destina-se à prolação de parecer,até porque a Lei Magna exige dos membros do Ministério Público, emqualquer caso, a indicação dos “fundamentos jurídicos de suas

Page 86: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 386

manifestações processuais” (art. 129, VIII), tal como ocorre com amagistratura judicante (art. 93, IX). Incumbe assinalar que o próprioprofessor JOSÉ FREDERICO MARQUES alude ao fato de que os autos sãoenviados, com vista, ao procurador de justiça para fim de parecer,seguindo, após ele, ao relator... (6)

Para que fim outro o recurso iria ter às mãos do procurador dejustiça?

Para ele apor seu “visto”?

Ou ainda, para dizer que o recurso é tempestivo. E ponto final!

Ou, finalmente, para protestar que, no momento oportuno, fariasustentação oral?

Evidentemente que não. Seria risível manter-se um Procuradorde Justiça ocioso, vazio de funções no Tribunal!

Com o devido respeito que nutro pelas opiniões contrárias ao meupensamento, não posso admitir como aceitáveis tais colocaçõesdoutrinárias, ainda que originárias de nomes que me mereçam o maiorrespeito e admiração.

5. Chego, agora, a uma questão crucial, que, ao meu pensar,bem demonstra a essencialidade do parecer. Estou a referir-me aoprequestionamento (6-A) da questão federal constitucional indispensávelpara a eventual interposição do recurso extraordinário (Súmula 282-STF) por parte do Ministério Público. Sabe-se que se a questãoconstitucional não foi ventilada na decisão recorrida a Turma ou Plenárionão conhecerá do apelo raro por contrariar a jurisprudência predo-minante do Excelso Pretório. Aliás, em tal caso, o próprio relator, quandodo ingresso da causa na Suprema Corte, poderá julgar prejudicado oextraordinário assim interposto (art. 21, IX, e § 1.º do RISTF). Por sinal,

(6) JOSÉ FREDERICO MARQUES, “Elementos de Direito Processual Penal”, vol. IV, pág. 254, Forense, Rio,1ª edição, 1965.(6-A) Há autores que não usam a forma aglutinada do vocábulo, preferindo adotar pré-questionamento.

Page 87: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 87

o prequestionamento da matéria Constitucional deve ter origem no apeloda parte, impondo-se, então, que o Tribunal ao julgar o recurso venha amanifestar-se sobre a questão e, caso não o faça, cumpre aointeressado opor embargos de declaração em relação ao ponto omissoda decisão (art. 619 do CPP). Pois bem: o interessado não é somentea parte recorrente mas também o parecerista que examinou a questãoantes do julgamento e que, como fiscal da lei, poderá opor embargosde declaração no objetivo de suprir a omissão do decisum. Ora, casonão houvesse atuado no segundo grau de jurisdição emitindo parecersobre questão constitucional, o Ministério Público jamais poderia recorrerextraordinariamente pois não abordara, de forma expressa e medianteparecer escrito, o tema ensejador do extraordinário. Demais disso, comopoderia opor embargos declaratórios, quando cabíveis, caso não tivessemanifestado opinamento por ocasião do parecer ministerial a respeitodo thema decidendum, pois sequer estudara a matéria, deixando-aregistrada no corpo dos autos, tudo nos termos da Súmula 356 do STF.Trata-se de tema complexo, sujeito a severo juízo de admissibilidade,que não admite improvisação.

Aliás, fico a indagar, perplexo, no final das contas que faria oprocurador de Justiça na segunda instância?

De que valeria dar-lhe ciência do acórdão se ele não manifestousua opinio sobre o recurso, pois, como sabido e ressabido, não estáele vinculado ao entendimento do promotor de justiça, recorrente ourecorrido, que oficiou perante o juízo a quo?

Acrescente-se que o Promotor de Justiça recorrente não atuaperante o Tribunal.

Diga-se o mesmo, mutatis mutandis, em relação ao recursoespecial, pois também ele fica sujeito ao prequestionamento na decisãorecorrida da questão federal suscitada. Como de conhecimento comum,a Constituição Federal de 1988 criou o recurso especial com o objetivode substituir o recurso extraordinário quando em jogo questão federalrelacionada com a uniformização da interpretação das leis federaisinfraconstitucionais. Daí que o especial, basicamente, segue procedi-mento assemelhado ao do apelo extremo.

Page 88: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 388

Ora, sem parecer ou com parecer mutilado (o que dá no mesmo),como poderia o procurador de justiça interpor recurso especial, pois,sequer, oficiara nos autos examinando o(s) recurso(s) em toda a suaextensão?

Para que dar-lhe ciência do decisum?

Para adornar os autos com um pomposo “ciente”, tendo em contaque inexistiria, nos autos, qualquer vestígio escrito e documentado desua presença no decorrer do procedimento recursal perante o Tribunal?

6. Não bastassem todos os argumentos expendidos até aqui eteríamos outro, agora definitivo, que põe término a qualquer discussãoque a matéria ainda pudesse ensejar. Refiro-me à lei federal que exige,expressamente, a participação efetiva e não apenas formal do MinistérioPúblico perante o Tribunal. Ela vem indicada no art. 41, III, da Lei 8625,de 12.2.93 (LONMP), onde está dito que constituem prerrogativas dosmembros do Ministério Público, no exercício da sua função:

(omissis) ...

“III – ter vista dos autos após distribuição àsTurmas ou Câmaras e intervir nas sessões dejulgamento, para sustentação oral ou esclarecimentode matéria do fato.” (grifo meu)

Pode-se observar que a lei faz perfeita distinção entre os doismomentos processuais:

a) a vista após a distribuição ao Colégiorespectivo para parecer;

b) sustentação oral e esclarecimento de matériade fato (se for o caso) por ocasião de sua intervençãonas sessões de julgamento.

Page 89: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 89

Caso não houvesse estes dois momentos, na sua atuação, aconjunção aditiva “e” ficaria deslocada no texto.

Examinando o dispositivo em questão, assinala DECOMAIN (7) que:

“A prerrogativa na verdade constitui verdadeiraregra do Direito Processual, definindo-se em quemomento caberá ao Ministério Público intervir nosfeitos nos quais lhe incumba oficiar, quando estesestejam tramitando perante a segunda instânciajudiciária.

Cuida-se de prerrogativa relacionada aprocedimento e, como tal, diretamente ligadatambém ao processo, razão pela qual era e épossível de disciplinamento através de lei da União,em especial ordinária (cf., art. 22, I, competência daUnião para legislar sobre direito processual).”[destaques meus].

Verifica-se, destarte, que a matéria é processual, não com-portando tergiversação.

Portanto, o ato de oficiar perante os Tribunais há de ser exercidoplenamente sob pena de violar-se a garantia constitucional do devidoprocesso legal (art. 5º, LIV, da CF), mare magnum onde desaguamtodas as demais garantias processuais de índole constitucional(contraditório, juiz natural, promotor legal e ampla defesa).

7. Torna-se necessário, ao findar, tecer severo reparo a certacorrente doutrinária que vislumbra na atuação do Ministério Público

(7) PEDRO ROBERTO DECOMAIN, Comentários à Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, pág. 347,Editora Obra Jurídica, 1996, Florianópolis, Santa Catarina.

Page 90: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 390

perante os Tribunais a função de órgão consultivo. (8) O procurador dejustiça não oficia como órgão consultivo de qualquer juiz ou Tribunal. Paratanto, os magistrados dispõem de assessores que lhes prestamrelevantes serviços de consultoria. Tal colocação, de todo equivocada,demonstra total erronia a respeito do que seja a presença do MinistérioPúblico nos feitos criminais que lhe vão com vista. Assessor não recorre,é subordinado ao juiz, fazendo o que juiz lhe determina. O procurador dejustiça, ao contrário, serve à lei, através do seu parecer isento, que sedistingue, basicamente, do parecer apresentado pela parte interessadana defesa da sua pretensão recursal (geralmente elaborado por juristade nomeada contratado pelo interessado). Seu opinamento resguardacompleta liberdade de opinião, valendo notar que nem mesmo oprocurador-geral pode interferir no seu pronun-ciamento em razão dasua independência funcional assegurada pela Lex Legum (art. 127 § 1º,in fine). Tal disposição constitucional vem reafirmada na Lei 8.625, de12.2.93 (LONMP) em seu artigo 41, V.

Considero, pois, com todas as vênias possíveis e imagináveis,erro crasso qualquer assemelhação que se possa fazer entre oconsultor e o procurador de justiça.

8. Minha finalidade nestas breves e despretensiosas linhas foi,antes de tudo, informativa, buscando desfazer equívocos. No entanto,não pude deixar de aflorar, na medida em que os diversos temasganhavam desenvolvimento, diversos juízos de valor, deixando bemnítidas minhas próprias opções, coincidentes, sem dúvida, com omoderno conceito de Ministério Público.

Rio, outono de 2001.

Sérgio Demoro Hamilton,

procurador de Justiça no Estado do Rio de Janeiro

(8) SEABRA FAGUNDES, Dos Recursos Ordinários em Matéria Civil, pág. 44, 1948, apud op. cit. in nº 01,dessas notas, pág. 220/221.

Page 91: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

a obrigatoriedade daa obrigatoriedade daa obrigatoriedade daa obrigatoriedade daa obrigatoriedade daintervintervintervintervintervenção do MP nasenção do MP nasenção do MP nasenção do MP nasenção do MP nas

lides acidentáriaslides acidentáriaslides acidentáriaslides acidentáriaslides acidentárias

Sérgio Neves coelho, procurador, anaMartha smith correa orlando, juangyuh yu e maria cristina bitencourt pratamagalhães, promotoras de justiça-SP

Page 92: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 93: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 93

A OBRIGATORIEDADE DA INTERVENÇÃO

DO MINISTÉRIO PÚBLICO

NAS LIDES ACIDENTÁRIAS

Sérgio Neves CoelhoAna Martha Smith Correa Orlando

Juang Yuh YuMaria Cristina Bittencourt Prata Magalhães

A Constituição Federal, a legislação federal e as disposiçõescontidas nas Leis Orgânicas de diversos Estados da Federação sus-tentam a tese ora proposta da obrigatoriedade da intervenção doMinistério Público nas demandas acidentárias.

Estabelece a Constituição Federal, no seu art. 1.º, como um dosfundamentos da República Federativa do Brasil os valores sociais dotrabalho; dispõe, no art.170, ser o trabalho fundamento da ordemeconômica e ressalta, no art. 193, que o primado do trabalho, ao ladodo bem-estar e da justiça sociais, é uma das bases da ordem social.

Classificado o trabalho como um direito social no título dos direitose garantias fundamentais (art. 6.o), a Carta Magna elenca os direitosdos trabalhadores urbanos e rurais nos 34 incisos do seu art. 7.o edispõe, especificamente, no inciso XXVIII, ser direito do trabalhador oseguro contra acidentes do trabalho.

Diante deste quadro traçado pela Constituição Federal, não hádúvida de que as condições para o exercício trabalho são de sumaimportância e interessam a toda a sociedade, e que é dever do Estado,como organização social, oferecer tais condições.

Destarte, pode-se concluir que condições inadequadas detrabalho, que minem as forças dos trabalhadores, atentam contra aordem social e econômica.

Page 94: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 394

Em razão dessa importância, o art. 127, da Constituição Federal,dispõe que: “O Ministério Público é instituição permanente, essencial àfunção jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Presentes, pois, o interesse social e o direito individual indispo-nível, incumbe ao Ministério Público a sua defesa.

Considerando que o exercício da cidadania está atrelado à eficáciada atuação estatal em garantir a cada membro da sociedade civil oexercício dos seus direitos fundamentais, conclui-se que a não interven-ção do Ministério Público nas lides acidentárias afronta a determinaçãodada à Instituição de defesa do interesse social, nos termos do art. 127,“caput” e no art. 129, II, da Constituição Federal. (cf. “Considerações arespeito de proposta de racionalização da intervenção do MinistérioPúblico no processo civil, como fiscal da lei”, elaborado pelos Procu-radores de Justiça membros da 5.ª Procuradoria de Justiça/SP, publicadona Revista da Associação Paulista do Ministério Público, Ano II, n.º 21,Agosto de 1998, p. 20/24).

É na lide acidentária que efetivamente se torna possível verificar ofuncionamento do esforço integrado das ações dos Poderes Públicos eda sociedade (art. 194, da Constituição Federal), financiado por todos,mediante os recursos provenientes da União, dos Estados, do DistritoFederal, dos Municípios e das contribuições dos empregadores, dostrabalhadores e dos concursos de prognósticos (Art. 195, incisos I, II e III,da CF), fiscalizando a observância no curso da atuação estatal dosdireitos sociais previstos no art. 201, inciso I, II, V e parágrafos 2.º, 3.º, 4.º,5.º e 6.º, na órbita do direito infortunístico. (cf. Trabalho da 5.a Procuradoriade Justiça/SP citado).

Aliás, a Lei de Acidentes existe mais em função do interesse geralda sociedade do que dos interesses individuais do trabalhador (MOZARV. RUSSOMANO, “Comentário à Lei de Acidentes do Trabalho”, Rio deJaneiro, Konfino, 1957, v. 2, pág. 560).

Indisponível, de outro lado, o direito à reparação infortunística,o caráter de verba alimentar do benefício acidentário é reconhecidosem contestação.

Page 95: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 95

A indisponibilidade, aliás, vem sendo reconhecida pelos TribunaisSuperiores, notadamente pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, permi-tindo recursos do Ministério Público em ações acidentárias, inclusivequando há advogado constituído (cf. V. Acórdão do E. Superior Tribunalde Justiça proferido no Recurso Especial n.º 161.168-SP (97/0093580-9), de 19 de março de 1998, relator o Excelentíssimo Senhor MinistroLuiz Vicente Cernicchiaro).

A legislação federal está em perfeita consonância com a Consti-tuição Federal.

O art. 82, III, do Código de Processo Civil, determina a intervençãodo Ministério Público nas causas em que há interesse público a sertutelado, evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.

O caráter alimentar da lide acidentária e a hipossuficiência doobreiro por si só evidenciam o interesse público a ensejar a intervençãodo Ministério Público.

Não bastassem os dispositivos de ordem Constitucional e o art.82,III, do Código de Processo Civil, suficientes a justificar a intervençãodo Ministério Público nas demandas acidentárias, em diversos Estadosda Federação, as Leis Orgânicas do Ministério Público contém dispo-sição específica a respeito.

A Lei Complementar n.º 02, de 12 de novembro de 1990, com asalterações das Leis Complementares ns. 9 e 12, de 13 de abril de 1992e 27 de maio de 1993, respectivamente, que trata da Organização eAtribuições do Ministério Público do Estado do Sergipe, dispõe no art.39 que competem aos Promotores de Justiça as atribuições deAcidentados do Trabalho (inciso III). No art. 40, estabelece que sãoatribuições da Coordenadoria-Geral do Ministério Público, definida comoórgão auxiliar, defender e proteger judicial e extrajudicialmente oacidentado do trabalho (inciso I, número 5).

No Amazonas, a Lei Orgânica do Ministério Público (Lei Com-plementar n.º 011, de 17 de dezembro de 1993) estabelece no art. 61as atribuições do Promotor de Justiça, na Promotoria Especializadaem Acidentes do Trabalho, entre outras, a de oficiar em todas as ações

Page 96: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 396

acidentárias, fiscalizando a aplicação da lei e os interesses doacidentado. Previsão semelhante encontra-se no art. 45 da Lei Orgânicado Ministério Público do Estado da Bahia (Lei n.º 4.264/84, modificadapela Lei n.º 6.347/91). O art. 49, da Lei Complementar n.º 12, de 18 deDezembro de 1993, do Estado do Piauí, prevê a existência de Promotorde Justiça atuando em matéria de acidente do trabalho.

A Lei Orgânica do Ministério Público do Rio Grande do Sul (Lei n.º7.669, de 17 de junho de 1982), no art. 31, inciso V, prevê as atribuiçõesdo Promotor de Justiça na Curadoria de Acidentes do Trabalho.

A atuação do Promotor de Justiça em demandas acidentárias éainda prevista nas Leis Orgânicas dos Estados do Rio Grande do Norte(Lei Complementar 141/96, art. 54), do Paraná (Lei Complementar 85/99, art. 67, II e art. 68, XI), Maranhão ( Lei Complementar 13/91, art. 35,XXIX), Rondônia (Lei Complementar 93/93, art. 60, VI), Paraíba (LeiComplementar 19/94, art. 72), Rio de Janeiro (Lei Complementar 28/82, arts. 27, VIII e 36), Pará (Lei Complementar n.º 1/82, art. 39) e MinasGerais (Lei Complementar 34/94).

Em São Paulo, a Lei Orgânica do Ministério Público (Lei Comple-mentar n.º 734, de 26.11.93), aponta claramente as funções judiciais eextrajudiciais do Promotor de Justiça de Acidentes do Trabalho: “relaçõesjurídicas de natureza acidentária, inclusive para defesa dos interessesdifusos ou coletivos relacionados com o meio ambiente do trabalho”(art. 295, II, da LOEMP).

Acrescente-se, ademais, que a posição institucional paulista éno sentido da intervenção do Ministério Público nos feitos de naturezaacidentária.

No anteprojeto de alteração da Lei Orgânica Estadual do MinistérioPúblico, enviado pela Egrégia Procuradoria Geral de Justiça de SãoPaulo, foi mantido o cargo especializado de Promotor de Justiça deAcidentes do Trabalho e a função judicial nas relações jurídicas denatureza acidentária (art. 59 do anteprojeto).

Assim, está perfeitamente justificada a intervenção do MinistérioPúblico como custos legis nas ações acidentárias.

Page 97: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 97

De outro lado, para que o obreiro não tenha a sua saúde preju-dicada em razão do trabalho, o Ministério Público age, dentro de suacompetência, para conscientizar as empresas a se adequarem aoshorários, condições e equipamentos que possam, se não evitar o todo,ao menos minimizar o aparecimento das doenças ocupacionais eocorrência de acidentes típicos, uma vez que é lhes mais interessantemanter um empregado hígido e experiente nas funções (a produção equalidade tenderão a ser maiores), do que empregar várias pessoasem curtos espaços de tempo em razão de afastamentos por doençaou acidente (ensejará queda da produção e da qualidade).

E o Ministério Público atua coletando informações sobre quan-tidade de acidentes e doenças que ocorrem em determinadas atividadesou ambientes laborativos para, de posse de elementos que indiquemexistência desses fatos, instaurar inquérito civil para resultar em acordosextrajudiciais que, não cumpridos, serão executados judicialmente, ouculminar com propositura de ação civil pública para compelir asempresas a melhorar as condições de trabalho a seus empregados.

Adite-se ainda que, se o obreiro já for portador de doença profissionalou vítima de acidente do trabalho típico e não estiver recebendo nenhumtratamento ou indenização da autarquia, atua o Ministério Público emseu atendimento pessoal para assegurar que ele receba seus direitosdecorrentes do seguro de acidentes do trabalho, requisitando-se direta-mente do INSS a prestação do devido tratamento, ou da reabilitação, ouindenização acidentária (seqüelas incapacitantes oriundos de acidentetípico ou de tecnopatia), ou propondo judicialmente a ação de indenizaçãodecorrente de seguro de acidentes do trabalho face à seguradora.

Neste particular, além dos citados dispositivos constitucionais edas leis ordinárias, a competência decorre também da garantiaconstitucional de ser obrigação do Estado prestar assistência jurídicaintegral e gratuita aos hipossuficientes (art. 5º, LXXV, CF), e ostrabalhadores têm a presunção legal dessa condição, como dispostono art. 129, par. único da Lei 8.21/91.

Ressalta-se que a intervenção do Ministério Público na demandaacidentária é obrigatória ainda que de conteúdo econômico,

Page 98: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 398

compensatório da extensão do acidente laboral (cf. V. Acórdão do E.Superior Tribunal de Justiça supra citado). A verba tem caráteralimentar e decorre da incapacidade total ou parcial para o trabalho, oqual é a base de toda a ordem social e econômica. De outro lado, osrecursos para a satisfação desta indenização provêm dos PoderesPúblicos, com financiamento feito por toda a sociedade (art. 195,“caput”, da Constituição Federal).

Presentes, pois, o interesse social, o interesse público evidenciadopela qualidade da parte e pela natureza da lide e, ainda, havendoexpressa previsão de atuação (relações jurídicas de natureza acidentária)em Leis Estaduais, também nas demandas acidentárias de conteúdoeconômico deve intervir o Promotor de Justiça de Acidentes do Trabalho.

Na esteira do raciocínio exposto, está perfeitamente justificada acontinuidade da intervenção do Ministério Público, como “custos legis”,sob pena de nulidade, no processo de execução de indenização emseguro de acidente do trabalho, já que a sentença condenatória nadasignifica ao trabalhador se ele não receber o que a Constituição Federale a lei acidentária lhe garantem para o próprio sustento e o de sua famíliaapós a incapacidade laborativa verificada.

Atente-se que a questão não é meramente patrimonial, pois se tratade indenização de nítido caráter alimentar, assim reconhecido desde aregulamentação da primeira lei acidentária no começo do século passado,tanto que o art. 25 do Decreto Legislativo n.º 3.724, de 15.01.1919, jádispunha ser privilegiado e insuscetível de penhora o crédito da vítimapelas indenizações nele determinadas, e o ilustre Andrade Bezerra, comorelator da Comissão de Legislação Social do Regulamento 13.498, de12.03.1919, declarou que “A Commissão é a primeira a reconhecer que,tendo a indemnização por acidentes do trabalho o carácter jurídico dealimentos, deveria ser assegurada pelo tempo que durasse a incapacidade,para permitir a subsistência da víctima ou de seus representantes.”

A necessidade de se recompor o salário do trabalhador incapacitado,para que não houvesse queda do seu nível sócio-econômico eraperceptível, na medida em que, se o seguro privado de acidentes dotrabalho não era suficiente, a empregadora respondia até atingir o limite,

Page 99: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 99

e para evitar que houvesse desvio das finalidades daquele primeiro (por-quanto as companhias não realizavam somente esse tipo de seguro), oartigo 29, letra a, do Regulamento do Decreto 13.498, de 12.03.1919, de-terminou que as sociedades de seguros “só seriam autorizadas se essasoperações fossem separadas de quaisquer outras que realizassem”.

Da mesma forma, pela necessidade de se assegurar esse direitoao trabalhador, em razão das conseqüências diretas e indiretas que causao seu descumprimento, a intervenção do Ministério Público é previstadesde essa época, quer assistindo o acidentado ou seus beneficiários afim de assegurar-lhes o recebimento da indenização devida, quer comocustos legis para anular convenções nulas promovidas pelos interessados(art. 56 do Regulamento do Decreto 13.498, de 12.03.1919), dispositivosque foram seguidos pela maioria dos Estados em suas leis estaduais.

Isto porque, desde os primórdios do século passado, estavapresente a consciência de que, além da educação e da saúde, a forçalaborativa de uma sociedade é indicativo do seu nível de desen-volvimento, e esse trio de elementos está de tal forma atrelado que uminfluencia diretamente na qualidade do outro.

Observe-se que não só a alimentação, mas também a educaçãoe a saúde de uma família, além do lazer, locomoção e vestuário,dependem basicamente do salário do trabalhador; pois, mesmo paraos que freqüentam a escola pública ou se utilizam de postos de saúdee hospitais públicos, dependem dos proventos para adquirir material euniforme escolares, remédios, curativos, passagens, e, tudo o maisque demanda dinheiro.

Logo, é cristalino que a diminuição da remuneração ocasionará odeclínio da qualidade de vida do trabalhador e de sua família o queacarretará o desbordoamento da educação dos filhos, que desembocaráem difícil acesso a bons empregos, e redução das capacidades mentale política como consciência da cidadania, só para citar uma delas. Cria-se assim um ciclo vicioso geometricamente progressivo e danoso.

Ainda, na tentativa desordenada de aumentar a renda familiar ainfância adentra de forma precoce e mal preparada ao trabalho, o que

Page 100: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3100

eleva a incidência dos acidentes de trabalho. A família, sem horizontes,torna-se berço da incursão aos atos infracionais gerando o crescimentoda criminalidade e o recrudescimento da violência.

Não se pretende aqui desenhar um quadro do caos, mas, na reali-dade o descuido com as condições de exercício do trabalho cria, indiscu-tivelmente, ônus insuportável para a sociedade que estará sempre àsvoltas com problemas de segurança pública, aumento de infraçõespenais e, principalmente, enfrentando os bolsões de miséria.

Como se vê, está perfeitamente caracterizado que o direito àindenização do seguro de acidentes do trabalho é um direito individual eindisponível do trabalhador face aos reflexos que enseja não só a si e àsua família mas também à sociedade, de modo que, sendo misterconstitucional do Ministério Público essa defesa, como disposto no art.127 da Constituição Federal, não poderá deixar de intervir nas açõesacidentárias, e, muito menos no processo de execução que é justamenteo momento em que o obreiro receberá o valor da indenização.

Se a presença do Ministério Público é exigida desde os primórdiosdas leis acidentárias para assistir o obreiro acidentado, com aConstituição Federal de 1988, cabe-lhe, de outro lado, zelar pelo efetivorespeito dos serviços de relevância pública aos direitos nela asse-gurados, promovendo as medidas necessárias à sua garantia, o quesignifica que terá, também, de atuar de forma a resguardar o erário daautarquia federal para que esta atinja os seus objetivos de atender osacidentados e seus beneficiários.

E isso porque, com a falência do seguro privado de acidentes dotrabalho, que nem todas as empresas faziam, o Estado assumiu parasi este encargo ao instituir o monopólio estatal e determinar orecolhimento compulsório das empresas para essa finalidade, comopreceituado no art. 7º, XXV, da Carta Magna.

Ora, o seguro de acidentes do trabalho foi formado visando nãosó o pagamento da indenização permanente, mas também oatendimento, tratamento e eventual necessidade de reabilitação doacidentado, de modo que, na medida em que a sua “caixa” é constituída

Page 101: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 101

de contribuições das empresas de toda a sociedade, e como se tratade serviço de relevância pública, há de intervir o Ministério Público paraevitar que a autarquia pague mais do que fora condenado, o que lesariao seu cofre e ensejaria, como se tem visto, aumento da alíquota decontribuição (que atinge diretamente a empresa, e indiretamente osconsumidores pela alta do preço das mercadorias e a sociedade todapor influir no aumento da taxa inflacionária) e queda do montante a serpago pela seguradora (redução do valor indenizatório devido ao aciden-tado e o não reajustamento como determina a lei).

Assim, a atuação do Ministério Público não se restringe a merocoadjuvante do patrono do acidentado, mas sim a uma intervençãoefetiva para que o obreiro receba o montante a que tem direito e aseguradora pague somente aquilo a que fora condenada, o que exige apresença do custos legis nos processos de execução porquanto setrata do momento de se cumprir o título executivo.

Ademais, a gama de modificações que a lei infortunística temsofrido nesses últimos anos, por força de medidas provisórias, impõea necessidade da intervenção do Ministério Público, no cuidado de seaplicar as leis corretas dentro do lapso temporal de vigência dasmesmas para que não haja ultratividade e nem retroatividade, bem comose proceda à escorreita apuração do montante da indenização, comincorporação dos corretos índices de atualização e que se proceda àimplantação administrativa pelo valor efetivamente devido ao obreiro.

Destarte, diante das atribuições do Ministério Público, inseridasna Constituição Federal, mesmo não havendo expressa previsão na leiacidentária para sua intervenção, subsiste o dever previsto na primeiralei acidentária de nosso Direito de requerer a nulidade de acordos entreseguradora e acidentado que ultrapassem os limites da legalidade e,na concepção atual, significa que não poderão ter validade acordosque extrapolem os contornos da condenação e nem aqueles quereduzam de forma considerável o valor da indenização do obreiro.

Portanto, para cabal cumprimento de tal mister, é imprescindívela intervenção do Ministério Público no processo de execução acidentária.

Page 102: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3102

CONCLUSÃO:

O Ministério Público é constitucionalmente definido como guardiãodos interesses da sociedade, dos direitos individuais indisponíveis edos serviços de relevância pública assegurados pela ConstituiçãoFederal, do que se conclui ser inegável o seu mister em atuar na esferainfortunística, quer de forma preventiva, quer assistindo diretamente oobreiro, quer como “custos legis” para garantir a inocorrência de eventuallocupletamento de qualquer das partes, evitando, assim, prejuízo aoobreiro e ao erário público.

Sérgio Neves Coelho,procurador de Justiça do Estado de São Paulo

Ana Martha Smith Correa Orlando,2.ª promotora de Justiça de Registros Públicos, convocada

na 5.ª Procuradoria de Justiça

Juang Yuh Yu,14.ª promotora de Justiça de Acidentes do Trabalho de São

Paulo, designada para atuar junto à 5.ª Procuradoria de Justiça

Maria Cristina Bittencourt Prata Magalhães,8.ª promotora de Justiça Cível de Santo Amaro, designada

para atuar junto à 5.ª Procuradoria de Justiça

Page 103: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

la privación cautelarla privación cautelarla privación cautelarla privación cautelarla privación cautelarde la libertad en elde la libertad en elde la libertad en elde la libertad en elde la libertad en el

proceso penal peruanoproceso penal peruanoproceso penal peruanoproceso penal peruanoproceso penal peruano

cesar eugenio san martín castro,professor de direito processual penalda universidad catolica del peru

Page 104: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de
Page 105: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 105

LA PRIVACIÓN CAUTELAR

DE LA LIBERTAD EN EL

PROCESO PENAL PERUANO1

Cesar Eugenio San Martin Castro

I. INTRODUCCIÓN

§ 1. El ordenamiento jurídico peruano, en materia punitiva, presentacaracterísticas muy singulares, que en cierto sentido lo hacenparticularmente interesante. Tal vez el rasgo más definido y que, enrigor, permite entenderlo acabadamente, tiene que ver con los avataresde una década, la de 1990, donde se asentó –con un definido apoyosocial producto del auge del terrorismo y de la ineficacia de los dosgobiernos democráticos precedentes- un modelo personal y autoritariode conducción del Estado y de la Sociedad.

La politólogos y analistas nacionales han calificado de autoritarioal régimen del ahora prófugo, bajo protección del Japón, Fujomiri Fujimoriy de su socio -hoy en prisión por numerosos cargos de corrupción,narcotráfico y extendidas violaciones de derechos humanos- VladimiroMontesinos Torres. En puridad se instauró lo que el sociólogo peruanoSinesio López denominó una “democratura”, esto es, fachadademocrática pero un ostensible manejo autoritario del Estado y de laSociedad2 . Este régimen singular entendió la utilización de los recursos

1 Ponencia presentada en el Seminario Internacional sobre el proceso penal “Temas actualesdesde una perspectiva comparada y Derecho brasileño”. Sao Paolo, 31 julio / 3 de agosto, 2001.2 Otros politólogos han denominado a ese modo de ejercer el poder como “democracia delegativa”(Guillermo O’DONNELL), aunque, por ejemplo, Carlos BASOMBRIO IGLESIAS, la califica de “dictaduraposible” (vid.: La crisis del “fujimorismo” en el Perú: un balance provisional. Separata de la Rev. IdeleN° 131, septiembre 2000, Lima, p. 4).

Page 106: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3106

del poder a partir de la imposición de la voluntad y hegemonía de unindividuo y su entorno, sin una ideología definida pero un pragmatismode corto plazo, particularmente ‘eficaz’ y destructiva de los espaciosdemocráticos y participativos.

El manejo de medios, la sumisión del poder mediático vía coaccióny corrupción, la cooptación de personajes particularmente siniestros, elclientelismo orientado a los sectores más olvidados de la población, laguerra atroz contra los opositores políticos y la limitación sostenida yprofunda de las libertad públicas, unida a un fortalecimiento de la presenciaindebida y actividad ilícita de un sector politizado de las Fuerzas Armadasy, en especial, de los organismos de inteligencia, constituyeron los rasgosmás perversos de este régimen3 . A ello se agregó una intervención delMinisterio Público y del Poder Judicial, una reforma judicial ilegítima y unconjunto de normas procesales que desnaturalizaron por completo el“debido proceso”4 .

3 Una distinguida política nacional, ex candidata a la Presidencia de la República, caracterizandoel gobierno de Fujimori, señaló que éste instituyó “... formas encubiertas de totalitarismo sustentadaen tres puntos: un líder carismático de contacto popular que concentra el poder y que hace delpopulismo personal una forma de hacer política; un ataque brutal a los partidos políticos, y elmantenimiento de instituciones que funcionan, pero se van minando por una mayoría que terminahaciendo lo que el gobernante quiere hacer, o un Poder Judicial amenazado o debilitado”. ElComercio, Revista Somos, Año XIV, N° 758, Lima, 16/06/01, p. 3.4 Según el Informe Anual sobre la Región Andina, de enero de 200, elaborado por la COMISIÓNANDINA DE JURISTAS, el Perú, bajo el Fujimorato, se erigió en uno de los países de la regiónandina con mayores problemas en cuanto a la consolidación de la democracia, donde lainstitucionalidad presentaba un notable retroceso. En el país, añade el Informe, persistió -en eseperiodo- la situación de impunidad de los violadores de derechos humanos y no se constató lavoluntad del gobierno para desentrañar el paradero y número de desaparecidos durante losúltimos años. Asimismo, enfatiza el Informe, la falta de independencia del Poder Judicial y laampliación de la competencia de la justicia militar incidieron en la ausencia de garantías deldebido proceso [En: Democracia en la Encrucijada, Ed. CAJ, Lima, 200, pp. 49/50]. En ese mismoorden de ideas, juristas de la talla de Jorge AVENDAÑO y Javier DE BELAUNDE han precisado quela creación de las Comisiones Ejecutivas del Poder Judicial y del Ministerio Público obedecieronal interés del Gobierno de Fujimori de controlar la justicia y, con ese fin, colocaron a magistradosprovisionales; que su característica común es que se han especializado en temas particularmentesensibles al poder político, al crear circuitos judiciales al margen del ordinario, con lo que bastabacontrolar a un número más o menos reducido de magistrados para ejercer el control sobre todos losproblemas que tienen algún tipo de incidencia política (En: Revista Idéele, N° 130, Agosto de 200,Lima, pp. 28 y 29. Cabe agregar, finalmente, que según cifras de la Academia de la Magistraturaal finalizar la gestión de Fujimori, el Poder Judicial tenía sólo un 17% de magistrados titulares,frente a un 17% de fiscales titulares en el Ministerio Público [Vid.: Diario “Expreso”, 15 de octubrey 5 de noviembre de 2000, pp. 10 y 6, respectivamente].

Page 107: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 107

La irremediable caída del fujimorato operó luego de las irregulareselecciones generales de 2000, así reconocidas por la comunidadinternacional (aunque es de lamentar la tibieza, por decir lo menos, enlos momentos más álgidos de la cruzada antidemocrática del régimenpor parte de la OEA). Feneció, felizmente, por el impulso de una fuertecorriente ciudadana opositora y víctima de sus propios e inevitableserrores, radicados básicamente en una voluntad desmedida e ilegítimade permanecer en el poder, pese a lo obvio de su imposibilidadconstitucional, y por las contradicciones internas que generó a partir dela amplia y profunda corrupción que se evidenció como consecuenciade la ruptura de la alianza entre Fujimori y Montesinos.

§ 2. La Constitución de 1993, aprobada por el CongresoConstituyente Democrático [instaurado, por elecciones generales,luego del autogolpe de Estado perpetrado por el ex Presidente Fujimoricon el apoyo de los mandos militares en abril de 1992 y merced a unaexigencia de la OEA] y ratificada por un referéndum popular el 31 deoctubre de 1993, ha sido calificada como una Ley Fundamental que,en muchas de sus disposiciones, repitió a la Constitución de 1979,pero que en los mecanismos vinculados al ejercicio del poder configuróun modelo autoritario a medida del Jefe de Estado5 [El GobiernoTransitorio del Presidente Valentín Paniagua formó sucesivamentesendas Comisiones de Expertos para indagar por la legitimidadconstitucional de la legislación producida por el fujimorato y para evaluary proponer en su caso los necesarios cambios constitucionales queayudarán a la democratización del Estado. Sus resultados son muyinteresantes, amén del listado impresionante de normas inconstitucionalesque produjo el fenecido régimen, resulta particularmente significativo elconjunto de cambios constitucionales que proponen y que cruza todoel ámbito del sistema político].

5 Por todos: FERNÁNDEZ SEGADO, Francisco: El nuevo ordenamiento constitucional del Perú.En: La Constitución de 1993 - Análisis y Comentarios, COMISIÓN ANDINA DE JURISTAS, Lima,1994,, pp. 11/15.

Page 108: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3108

§ 3. De todos los derechos subjetivos, públicos y privados, enseñacon toda razón Gimeno Sendra, el derecho a la libertad es, sin dudaalguna, el más preciado, siendo ésta la razón de su más contundentereconocimiento y refinada reglamentación6 . En relación a la situaciónperuana, materia del presente estudio, es de rigor transcribir el art.2.°.24.f) de la Constitución. Dice lo siguiente:

“Toda persona tiene derecho: A la libertad y seguridadpersonales. En consecuencia: f) Nadie puede ser detenidosino por mandamiento escrito y motivado del juez o por lasautoridades policiales en caso de flagrante delito.

El detenido debe ser puesto a disposición del juzgadocorrespondiente, dentro de las veinticuatro horas o en eltérmino de la distancia.

Estos plazos no se aplican a los casos de terrorismo,espionaje y tráfico ilícito de drogas. En tales casos, lasautoridades policiales pueden efectuar la detenciónpreventiva de los presuntos implicados por un término nomayor de quince días naturales. Deben dar cuenta alMinisterio Público y al Juez, quien puede asumir jurisdicciónantes de vencido dicho término”.

En esta misma perspectiva, es del caso puntualizar, a partir delas prescripciones de la Constitución vigente:

1) Que no se permite forma alguna de restricción dela libertad personal, salvo en los casos previstos por la ley[art. 2°.24.’b’];

2) Que la incomunicación de una persona sólo esposible por exclusivas razones de investigación de un delitoy sólo para garantizar su esclarecimiento, correspondiendoa la Ley fijar la forma y tiempo de duración de la medida,norma que a su vez obligatoriamente debe reconocer el

6 GIMENO SENDRA, Vicente: El proceso de Habeas Corpus, Ed. Tecnos, Madrid, 1996, p. 15.

Page 109: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 109

deber de la autoridad de señalar sin dilación y por escrito ellugar donde se halla la persona detenida [art. 2°.24.’g’];

3) Que los tratados en materia de Derechos Humanosdeben ser aprobados por el Congreso, luego de lo cualforman parte del derecho nacional [arts. 55° y 56°]; y,

4) Que las normas relativas a los derechosfundamentales y a las libertades públicas que reconoce laConstitución deben interpretarse –siguiendo el modeloespañol- de conformidad con la Declaración Universal deDerechos Humanos y con los tratados y acuerdosinternacionales sobre las mismas materias ratificadas por elPerú [4ta. Disposición Final].

Todo lo expuesto significa, siempre siguiendo a Gimeno Sendra,que el derecho a la libertad ofrece la importante característica de que laactividad de los tribunales no permanece a un mero nivel de control aposteriori de los actos del Poder Ejecutivo [en concreto, de la Policía –en el caso de la libertad personal- diríamos nosotros]; que el principiode “autotutela administrativa” no puede alcanzar la privación de la libertadpersonal; que a la Administración le está vedada dictar acto alguno quepudiera limitar su libre ejercicio; que, por tanto, los Tribunales ostentanno sólo la última, sino también la primera palabra7 .

§ 4. Las normas básicas de la Constitución, en rigor, los literalesb) y f) del inc. 24 del art. 2°, garantizan la libertad “física” del individuo,permitiendo su libertad de movimiento, aunque destacándose losbaremos en que la autoridad puede limitarla legítimamente8 . Ahora bien,cuando se hace referencia a la libertad personal, ella significa, apunta

7 GIMENO SENDRA, Vicente: El proceso de Habeas Corpus, Ob. Cit., p. 16.8 Es particularmente claro que toda limitación de derechos fundamentales ha de ser equitativa,como expresa el Tribunal Europeo de Derechos Humanos en el “caso Buckley” (STEDH, 25 deseptiembre de 1969. La libertad, como otros derechos humanos, es limitable, pero como señala elindicado Tribunal en el “caso Hadyside” (STEDH, 7 de diciembre de 1976) siempre y cuando serespeten determinadas condiciones expresas adecuadas al fin.

Page 110: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3110

Faúndes Ledesma, la libertad de movimiento efectiva de la persona,mientras que la seguridad personal –ambas expresamente reconocidasen la Constitución- consiste en la condición de que esa libertad seencuentre protegida en la ley, la cual debe satisfacer ciertos estándaresvinculados a hacer predecible cualquier privación de libertad y evitar laarbitrariedad en su interpretación9 .

§ 5. El Ex Presidente Fujimori Fujimori llegó al poder en el marcode la Constitución de 1979, en julio de 1990. Merced a una delegacióndel Congreso, plasmada en la Ley n.° 25281, de 30 de octubre de 1990,luego de un dilatado procedimiento de reforma procesal que venía deaños atrás, promulgó el nuevo Código Procesal Penal mediante DecretoLegislativo n.° 638, de 27 de abril de 1991.

Este Código, sin embargo, no entró en vigencia en su integridad.El art. 2.° del citado Decreto Legislativo y, luego, algunas otras normassucesivas, adelantaron la vigencia de algunas de sus disposiciones,especialmente las vinculadas a la detención o prisión provisional, a lacomparecencia y a la libertad provisional. El viejo Código deProcedimientos Penales, de 1940, continuó rigiendo en el grueso desus disposiciones, algunas vinculadas a determinadas excarcelaciones.

§ 6. Desde esta perspectiva, en cuanto al estatuto ordinario de lasmedidas cautelares personales, se tiene el siguiente esquema normativo:

1) Que, en materia de detención policial, de carácterpreliminar al proceso penal, el viejo Código no desarrollónormas específicas. Esta omisión legislativa, por lo demás,no sólo se presentó a consecuencia de la entrada en vigorde la anterior Constitución de 1979, sino que viene de másatrás, de la Constitución de 1933. El Código Procesal Penalde 1991 se limitó, de un lado, a configurar una intervencióny control del Ministerio Público sobre la actividad policial –profundizando las pautas fiscalizadoras de la Ley Orgánica

9 FAÚNDEZ LEDESMA, Héctor: derecho a la libertad y seguridad personal. En LecturasConstitucionales Andinas N° 1, Comisión Andina de Juristas, Lima, 1991, pp.144, 150/151.

Page 111: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 111

del Ministerio Público de 18 de marzo de 1981-, y, de otrolado, a instituir normas específicas de control (vid.: art.109.°) en materia de detención por delitos especiales oexceptuados: Tráfico Ilícito de Drogas, Terrorismo yEspionaje –nueva categoría de delitos acuñada por laConstitución de 1979 y reiterada por la Ley Fundamental de1993-. Sin embargo y sintomáticamente, no se pusieron envigor pese a lo trascendental que en materia de limitaciónde la libertad individual significó –¡desde el año 1978!-autorizar una detención policial hasta por 15 días en lossupuestos de delito de Tráfico Ilícito de Drogas10 .

2) Que la medida cautelar personal que el viejo CPPdenominó “Detención provisional” (vid.: arts.: 81.°/84.°) y quedebía dictarse una vez se denunciaba un delito por el Fiscal ose recibía el Atestado Policial, fue eliminada mediante la Leyn.° 24388, de 6 de diciembre de 1985. La detención provisionalfacultaba al Juez Instructor a privar cautelarmente de la libertada un imputado, inicialmente, cuando:

a) se le había intervenido en flagrante delito;

b) el delito perpetrado era contra el patrimonio del Estado;

c) fuere reincidente, vago, careciese de domicilio omediaran presunciones fundadas de fuga; o,

d) lo solicite el Fiscal y a juicio del Juez la naturalezadel delito lo exija. El Decreto Legislativo n.° 126, de junio de1981, modificando esas bases, estableció que la detenciónprovisional procedía, sin atender al peligro de fuga, cuando eldelito objeto de imputación merecía una sanción privativa dela libertad mayor de dos años.

10 El art. 71° a) del Decreto Ley N° 22095 –Ley de represión del Tráfico Ilícito de Drogas-, de 21 defebrero de 1978, inició la práctica legislativa –y hasta cierto punto es la fuente legal del art.2°.20.G de la Constitución de 1979- de autorizar un plazo de detención policial hasta por 15 días,no obstante que el art. 56° de la Constitución vigente en ese entonces, de 1933, establecía que elplazo de detención policial –sea cual fuere el delito imputado- no podía durar más de 24 horas.

Page 112: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3112

La detención provisional se dictaba al inicio del proceso, cuando elJuez conocía de los cargos y los calificaba a fin de expedir, o no, elcorrespondiente auto de apertura de instrucción. Su objeto consistía,fundamentalmente, en que el imputado rinda indagatoria o instructiva. Laduración de esta medida cautelar personal no podía exceder de diez díasluego de que la Policía había arrestado al implicado, salvo que la instrucciónse siga contra más de 20 imputados, caso en el cual el plazo se extendíahasta 20 días y, en circunstancias más graves, hasta 30 días, pero conautorización del Tribunal. A su vencimiento, el Juez debía decidir siexcarcelaba al imputado o si dictada detención definitiva –que es lo quese denomina prisión provisional en el derecho comparado- en su contra,en la medida en que “...presume la culpabilidad”.

3) Que en materia de detención judicial o prisiónprovisional, el art. 135° CPP estipuló que esta medida -siempre de carácter temporal- procedía cuando el Juez Penalpueda determinar, a partir de los primeros recaudosacompañados por el Fiscal Provincial:

a) que existan suficientes elementos probatorios de lacomisión de un delito doloso que vincule al imputado comoautor o partícipe del mismo;

b) que la sanción a imponerse sea superior a los cuatroaños de pena privativa de libertad; y,

c) que existan suficientes elementos probatorios paraconcluir que el imputado intenta eludir la acción de la justiciao perturbar la actividad probatoria.

La Ley n.° 27226, de 17 de diciembre de 1999, incorporó variosagregados a esta norma básica. En primer lugar, estipuló que noconstituye elemento probatorio suficiente la condición de director,gerente, socio, accionista, directivo o asociado en los casos en quedelito se haya cometido en el ejercicio de una actividad realizada poruna persona jurídica de derecho privado. En segundo lugar, precisó queno constituye criterio suficiente para establecer la intención de eludir ala justicia la pena prevista en la Ley para el delito que se le imputa. En

Page 113: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 113

tercer lugar, dispuso que el Juez podía revocar de oficio esta medidacuando nuevos actos de investigación pongan en cuestión la suficienciade las pruebas que dieron lugar a la medida.

4) El Juez Penal no está atado irremediablemente a lamedida de detención, pues muy bien puede optar por elmandato de comparecencia [vid.: art. 143.° CPP]. El mandatode “comparecencia simple” procede cuando el delito objetode imputación está penado con una sanción leve (que en suextremo máximo nunca supere los cuatro años de privaciónde libertad) o cuando las “pruebas” –mejor dicho, los ‘actosde investigación’ acompañados por el Fiscal en su denunciaformalizada- no justifican la detención, esto es, cuando noexiste el menor indicio de criminalidad o de fuga oentorpecimiento de la actividad probatoria. Por su parte, elmandato de “comparecencia restrictiva” se impone:

a) obligatoriamente –estricto sucedáneo a la prisiónprovisional-, cuando se está ante un imputado valetudinario(persona mayor de 65 años que adolezca de una enfermedadgrave o de incapacidad física que anule el peligro de fuga ode oscurecimiento); y,

b) facultativamente, cuando el delito es de medianaentidad y cuando el riesgo de fuga o de entorpecimiento puedeevitarse con limitaciones menos intensas a la detención enun Establecimiento Penal. Las restricciones o alternativasque prevé la ley son varias; entre ellas tenemos el arrestodomiciliario, el cuidado o vigilancia por una persona oinstitución, la orden de no ausentarse de la localidad o de noconcurrir a determinados lugares o de presentarse ante unaautoridad determinados días, la prohibición de comunicarsecon determinadas personas y la prestación de una caución.

§ 7. El mencionado estatuto ordinario, sin embargo, fueexpresamente excluido en una serie de delitos graves que, a final decuentas, dio lugar a un sub-sistema normativo propio de la emergenciapenal; podemos decir, parafraseando a Vassalli, el sistema penal fue

Page 114: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3114

dominado por las exigencias de la defensa social contra la criminalidad yla legislación creada a su amparo –vista su vocación de permanencia-constituye en verdad no una emergencia sino una emersión11 . Ello implicóen el Perú la configuración de normas penales materiales amplias consanciones altísimas y la estructuración de un proceso penal con opcionespor la detención y lo sumarísimo para condenar a los “antisociales”.

La Constitución de 1979, que en este punto siguió la línea jurídicainiciada por la legislación contra el tráfico de drogas, contempló tresdelitos para someterlos a un régimen excepcional en materia derestricción de la libertad: tráfico ilícito de drogas, terrorismo y espionaje.

(1) Las normas sobre el primer delito, como ya se dijo, sonanteriores a la Constitución de 1979 y violaban flagrantemente la propiaConstitución de 1933. La limitación cautelar preliminar de la libertad noha sufrido ningún cambio hasta la actualidad; ni siquiera el control delFiscal ha sido efectivo, tampoco ha evitado un trabajo cuasi autónomode la policía en materia de investigación y de limitación de derechos delos “presuntos implicados”.

(2) En materia de terrorismo “clásico” la evolución ha sido cadavez más represiva. El Decreto Ley n.° 25476, de 6 de junio de 1992,autorizó –sin detallar los presupuestos de habilitación correspondiente-que la Policía podía efectuar la detención de los presuntos implicados porel término no mayor de 15 días naturales. A los implicados, además,podía incomunicarlos y trasladarlos a diversos lugares a fin de agotar lainvestigación o por razones de seguridad. En todos estos supuestosbastaba comunicar el hecho al Fiscal y al Juez (art. 12.°, literales ‘c’ –‘e’).

En sede judicial, el Juez Penal estaba obligado a dictar mandatode detención si decidía abrir instrucción contra los imputados, a la vezque se prohibió toda excarcelación, salvo el mandato de libertadincondicional (art. 13.°.literal ’a’).

11 VASSALI, GIULIANO: Emergencia Criminal y sistema penal. En: El Derecho Penal Hoy, MAIER,Julio – BINDER, Alberto (compiladores). Ed. Del Puerto, Buenos Aires, 1995, pp.436 y 452.

Page 115: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 115

(3) En los delitos de “traición a la patria”, en puridad, un conjuntodelictivo especialmente agravado del delito de terrorismo clásico, quehabilitó la competencia material de la jurisdicción militar [vid.: DecretoLey n.° 25659, de 3 de agosto de 1992, arts. 1.°, 2.° y 4.°], el DecretoLey n.° 25744, de 27 de setiembre de 1992, extendió inusitadamente eltiempo en que el presunto implicado podía encontrarse detenido en sedepolicial. En efecto, el art. 2.°.’a’ prescribió que la Policía Nacional podíaefectuar la detención con carácter de preventiva de los presuntosimplicados por un término no mayor de 15 días naturales, dando cuentaal juez militar, detención que podía ser prorrogada por un período iguala pedido debidamente justificado de la Policía Nacional “ ...a efectos deobtener mejores resultados en la investigación, ...”.

(4) El Decreto Ley n.° 25916, de 2 de diciembre de 1992, establecióel mantenimiento de las prohibiciones de excarcelación previstas en lalegislación vigente hasta esa fecha. Asimismo, incluyó en la prohibición laexcarcelación por vencimiento del plazo de detención a que hacía referenciael art. 137.° CPP. Los delitos comprendidos en dicha norma de excepciónson los de Tráfico Ilícito de Drogas, Terrorismo y Traición a la Patria.

(5) En los delitos de terrorismo especial (Decreto Legislativon.° 895, de 23 de junio de 1998), que inicialmente se instruyeron yjuzgaron en la jurisdicción castrense (art. 3.°) bajo la denominaciónde delitos de terrorismo agravado (art. 1.°) y que en rigor se tratabade delincuencia común organizada y especialmente violenta, quepara la comisión de sus delitos utiliza armamento de guerra, ladetención preliminar policial tenía un plazo de 15 días naturales y, anivel judicial, el mandato de detención era obligatorio en los supuestosde flagrancia delictiva (vid.: arts. 6.°.’b’ y 7.°.’b’), al punto que laexcarcelación no era posible, ni siquiera en los supuestos ordinariosde libertad incondicional (art. 7.°.’c’). La Ley n.° 27235, de 20 dediciembre de 1999, se limitó a cambiar la denominación y trasladarel conocimiento de estos delitos a la jurisdicción ordinaria, pero nomodificó el estatuto procesal excepcional, esencialmente parecidoal de terrorismo clásico.

Page 116: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2116

(6) En los denominados “delitos agravados” instituidos por el DecretoLegislativo n.° 896, de 24 de mayo de 1998, y que se trata de delitoscomunes tales como asesinato, secuestro, violación sexual de menorde edad, robo, robo agravado, extorsión y tráfico de armas, el DecretoLegislativo n.° 897, de 26 de mayo de 1998, estatuyó que producida ladetención policial, en los casos de flagrancia delictiva, el Juez está obligadoa dictar mandato de detención (art. 1.°.’e’); y, cuando se trata de un númeroimportante de implicados, de reos peligrosos o de investigacionescomplejas, el Fiscal a solicitud de la Policía deberá solicitar al Juez queautorice la ampliación de la investigación policial, en cuyo caso este últimoestá obligado a concederla por un término no mayor de quince días, lapsoen el cual los encausados permanecerán detenidos en las instalacionespoliciales hasta la formulación del Atestado Policial ampliatorio (art. 1.°.’f’).En esos procedimientos no procede la concesión de libertad, conexcepción de la libertad incondicional (art. 2.°.’a’).

§ 8. Un primer problema, muy serio por cierto, que presenta nuestralegislación en materia de restricción de la libertad personal es el vinculadoa la noción de “ley”. Recuérdese que el Pacto Internacional de DerechosCiviles y Políticos, en su art. 9.°.1 establece que “Nadie podrá ser privadode su libertad, salvo por las causas fijadas por ley [...]”; y, que el art. 7.°.2de la Convención Americana de Derechos Humanos prescribe que: “Nadiepuede ser privado de su libertad física, salvo por las causas y en lascondiciones fijadas de antemano por las Constituciones Políticas de losEstados partes o por las leyes dictadas conforme a ellas”.

Es sabido que la Corte Europea de Derechos Humanos, en lasentencia expedida en el “caso The Sunday Times”, de 26 de abril de1979, interpretando similar artículo de la Convención Europea, asumió unconcepto substantivo de ley, indicando que no debe divorciarse del contextodel orden jurídico que le presta sentido e incide en su aplicación [tenía encuenta, por cierto, la diversidad de sistemas jurídicos y tradicionesconstitucionales, las figuras de leyes parlamentarias, las leyes aprobadasen forma irregular, los decretos-leyes, los decretos con fuerza de ley,incluso los simples decretos]. Empero, la Corte Interamericana deDerechos Humanos, en la Opinión Consultiva OC-6/86, del 9 de mayo de

Page 117: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 117

1986, asumió –invocando el Preámbulo de la Convención Americana deDerechos Humanos- un criterio formal muy estricto, sindicando que “lapalabra leyes... significa norma jurídica de carácter general, ceñida albien común, emanada de los órganos legislativos constitucionalmenteprevistos y democráticamente elegidos, y elaborada según elprocedimiento establecido por las constituciones de los Estados Partespara la formación de las leyes”.

El sistema jurídico nacional, bajo los parámetros constitucionales,si bien no tolera que mediante simples decretos o reglamentos seinstituyan normas que limiten la libertad, sea desde la perspectivapenal material o procesal penal, empero permite que por medio deDecretos Legislativos [normas con rango de ley emitidas por el PoderEjecutivo previa autorización del Congreso plasmada en una Leyautoritativa] se creen delitos y normas procesales diversas –de hechoel propio Código Penal y el Código Procesal Penal se aprobaronmediante Decretos Legislativos12 .

Es claro, sin embargo, vista la penosa experiencia en materia deatentados al sistema de libertades, que entregar al Ejecutivo facultadeslegislativas en materia penal o procesal penal es un indicio muy sólidode vulneración de las mínimas exigencias de seguridad jurídica y derespeto a los derechos fundamentales.

Por tanto, a partir de lo interpretado por la Corte Interamericanano puede aceptarse la función legislativa del Poder Ejecutivo en materiade restricción o de limitación de la libertad individual.

12 Cfr.: URQUIZO OLAECHEA, José: El principio de legalidad, Ed. Gráfica Horizonte, Lima, 2000,p. 33. Los Decretos Legislativos, dice RUBIO CORREA, son, para efectos del sistema jurídico,normas con rango de ley equivalentes a las leyes que aprueba el congreso (RUBIO CORREA,Marcial: Estudio de la Constitución de 1993, Ed. PUCP – Fondo Editorial, Lima, 1999, p. 201). Porotro lado, según la concordancia del art. 104° y el segundo párrafo del inc. 4) del art. 101°Constitucional, la aprobación de leyes penales no está incluida en el listado de materias dedelegación prohibida.

Page 118: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3118

II. LA DETENCIÓN IMPUTATIVA.

A. Aspectos Generales.

§ 1. Se llama detención imputativa, siguiendo a Moreno Catena,a toda privación de libertad deambulatoria de duración muy brevedispuesta por la autoridad judicial o la Policía Judicial, en los casosprevistos legalmente y que tiene como única finalidad asegurar lapersona del presunto responsable de una infracción penal investigada.Sus notas características son las siguientes: a) tiene un carácterpreventivo –en función al plazo y a su objeto-; b) constituye una situaciónde efectiva privación de libertad deambulatoria; y, c) es una verdaderamedida cautelar, al basarse en la imputación de una infracción criminal,al imponerse únicamente al sujeto reputado responsable de la misma yal estar preordenada en función a la incoación de un proceso penalpara garantizar la futura aplicación del ius puniendi13 .

Cabe aclarar que toda limitación de la libertad personal,especialmente aquella que importe conducir a una persona a unadependencia policial para esclarecimiento de un supuesto hechocriminoso, constituye detención; y, como tal, amparada por lasprescripciones constitucionales, según lo ha declarado el TribunalConstitucional en la STC de 24 de agosto de 2000, dictada en el “casoPedro Saldaña Ludeña”14 . Este énfasis parte de una consideración deprincipio; nuestro Tribunal Constitucional estima que la Constituciónconsagra la libertad individual como un valor superior del ordenamientojurídico del Estado, en cuyo desarrollo se debe tener en consideración elreconocimiento del derecho constitucional de presunción de inocencia y,como una de sus consecuencias, que el grado de exigencia cautelarsiempre ser el menos gravoso y aflictivo para el imputado tomando como

13 MORENO CATENA, Víctor (Director): El proceso penal, Volumen II, Ed. Tirant lo Blanch, Valencia,2000, pp.1559/1561.14 Exp. N° 433-2000-HC/TC. Diario Oficial “El Peruano”, de 16 de diciembre de 2000, pp. 3820/3821.

Page 119: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 119

base el peligro procesal15 . En un sentido muy similar se pronuncia ladoctrina nacional; Eguiguren Praeli, por ejemplo, apunta que: “La libertadindividual es un valor y un derecho fundamental, cuya privación debeautorizarse sólo en circunstancias especiales donde resulta indispensablepara alcanzar o preservar un fin social mayor”16 .

§ 2. El art. 2°.24.f) de la Constitución de 1993 reconoce la detenciónimputativa, como un limitación razonable y legítima de la libertad personal.Pero, en cuanto excepción que es al derecho fundamental a la libertad, lasomete a puntuales presupuestos de imposición.

En primer lugar, sólo puede ser autorizada por mandamientoescrito y motivado del juez o, por la autoridad policial, de motu proprio,en flagrante delito (opción constitucional que se inicia con la LeyFundamental de 1826). Ello traduce el principio de legalidad procesalpenal, que requiere que un Juez penal, como consecuencia de lafundada sospecha de la comisión de un delito y a través de unaactuación dirigida al ejercicio del ius puniendi limite la libertad personal;principio que permite como excepción –aunque no como derogacióndel mismo- la detención policial motu proprio, en cuyo caso la PolicíaJudicial actúa como órgano auxiliar de la jurisdicción penal a través deuna medida que debe considerarse provisionalísima y precautelar, queserá o no confirmada por la Autoridad Judicial17 .

En segundo lugar, efectuada la detención, el plazo de duraciónen sede policial, no puede exceder de las veinticuatro horas, a cuyovencimiento o en el término de la distancia, el detenido debe ser puestoa disposición del juzgado correspondiente.

En tercer lugar, el plazo antes indicado no se aplica a la detenciónpor delitos de terrorismo, espionaje y tráfico ilícito de drogas, pues se

15 STC de 28 de abril de 2000, “caso Rafael Eduardo Franco de la Cuba”, Exp. N° 122 y 261-2000-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 16 de junio de 2000, pp. 3111/3112.16 EGUIGUREN PARELI, Francisco José: La libertad individual y su protección judicial mediante laacción de hábeas corpus. En: Sobre la Jurisdicción Constitucional, Quiroga León, Aníbal(Compilador), PUCP Fondo Editorial, Lima, 1990, p. 292.17 GIMENO SENDRA, Vicente: El proceso de Habeas ..., p. 28.

Page 120: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3120

extiende a un término no mayor de quince días naturales, en cuyo caso laPolicía está obligada a comunicar dicha medida al Ministerio Público y alJuez, quien puede asumir jurisdicción antes de vencido dicho término.

Los presupuestos materiales arriba citados no hacen sino entenderque la detención, más allá de su propio texto, en tanto medida cautelarsólo debe ser utilizada en los casos en que no exista otra medida menosgravosa (simple citación, inmediata liberación en los primeros momentosdel traslado de la persona a la Comisaría, etc.) que pueda producir idénticosresultados: evitar la incomparecencia y presentación del implicado antela autoridad judicial, es decir, siempre debe operar bajo el principio deproporcionalidad, de forma que la detención figure como una medidaproporcionada y alejada de toda arbitrariedad, a la par que se produzcaen los supuestos estrictos que contempla la ley18 .

El Tribunal Constitucional, en esta misma perspectiva, en el “casoAlfredo Raúl Sihuay Morales” (STC de 19 de enero de 2001) precisóque el art. 2°, 24.f) de la Constitución debe ser interpretada de manerateleológica, vale decir, como prescripciones garantistas con la finalidadde tutelar el derecho a la libertad individual, por lo que resultainconstitucional habilitar un supuesto de detención no contemplado enlas dos circunstancias previstas en dicho texto supremo: orden judicialy flagrancia delictiva (FJ N° 2)19 .

B. Detención preliminar policial. El fumus delicti.

§ 3. El primer presupuesto, común a toda clase de detenciónimputativa, es el denominado fumus delicti. Se concreta en nuestro modeloconstitucional a un supuesto sumamente excepcional de imputación deun hecho delictivo, siempre que la detención se realice de motu propriopor la Policía: la flagrancia delictiva. En caso que esta detención seaordenada por el Juez, es exigible una resolución escrita y motivada.

18 LOPEZ BARJA DE QUIROGA, Jacobo: Instituciones de Derecho Procesal Penal, Ed. Akal,Madrid, 1999, p. 220.19 EXP. N° 1364-2000-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, 11 de abril de 2001, pp. 4001/402.

Page 121: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 121

Lo expuesto significa que existen dos clases de detenciónimputativa, según quién sea autoridad que la disponga o la lleve a cabo.Si la detención es dispuesta por la Policía ex officio sólo procede en casode flagrante delito, noción que en su caso elimina la intervención policialy la privación de libertad por meras conjeturas o sospechas; y, si esordenada por el Juez, más allá de su ejecución por la Policía, requiereuna resolución escrita y motivada. Ninguna autoridad distinta de la Policíao el Juez puede ejecutarla o dictarla, salvo –claro está- los supuestos deestados de excepción constitucional, en que la privación de libertad puedeprovenir de autoridades políticas encargadas del control del orden público(vid.: art. 137.° Const.)20 . Desde este última perspectiva, las detencionesmasivas producidas en las denominadas “órdenes de operaciones”, sintener como base una imputación delictiva o la declaración de un régimende excepción, son absolutamente arbitrarias por no tener fundamento enlas permisiones del art. 2.°.24.f) de la Constitución21 .

El Tribunal Constitucional ha incorporado otra garantía implícitacuando se detiene a una persona. Así, en el “caso Epifanio Pérez Tapia”,sienta la doctrina que en tanto la libertad individual es un derechofundamental que tiene su origen en la dignidad humana, como seguridada su reconocimiento, toda detención policial debe ser puesta enconocimiento del Fiscal Provincial respectivo y del Juez Penalcorrespondiente, para que, en su caso, procedan de acuerdo a sucompetencia. Con ello, enfatiza el Tribunal Constitucional, se evita el secretode las detenciones y la posible incomunicación del detenido, que en cuantoa tiempo y forma debe estar previamente previsto en la ley (FJ 1°)22 .

20 El art. 137° Constitucional autoriza al Poder Ejecutivo a decretar estados de excepción, en loscuales se suspenden, entre otros derechos, el de la libertad y seguridad personales [2°.24.’f’]. Estamodificación, excepcional y temporal, del ordenamiento institucional permite básicamente que laautoridad política, o la que ésta designe, pueda efectuar detenciones, aún si concurren finesrepresivos, de actuación del ius puniendi. Es claro, a mi juicio, que si el artículo suspendidocircunscribe la privación de libertad a la detención imputativa, con fines de incoación de unproceso penal, y delimita a los sujetos autorizados para disponerla o acordarla (Policía y Juez),entonces, superado ese obstáculo de modo momentáneo es de rigor concluir que en estados deexcepción la autoridad política se erige en un sujeto legitimado para disponerla.21 STC de 9 de diciembre de 1999 (Exp. N° 1045-99-HC/TC), Diario Oficial “El Peruano”, Lima, de16 de marzo de 2000, pp. 2801/2802.22 STC de 17 de junio de 1998 (Exp. N° 992-96-HC/TC), Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 24 deseptiembre de 1998, pp. 1202/1203.

Page 122: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3122

La flagrancia delictiva es, pues, un elemento común a la denominadadetención preliminar policial, es decir, a aquella privación de libertad realizadapor la Policía en funciones de Policía Judicial, de cara a la prevención einvestigación de delitos, tal como lo reconoce adicionalmente el art. 166.°de la Constitución23 . Se trata, como apunta Garberí Llobregat, de una delas dos formas en que puede manifestarse exteriormente el delito, y en talsentido el delito flagrante se contrapone al delito clandestino24 .

La finalidad de esta privación de la libertad, como es obvio, estribaen asegurar la persona del presunto responsable de una infracciónpunible. No constituye un deber de la policía detener a un individuo enflagrante delito, sino en todo caso una potestad, pues a la Policía –prima facie- corresponde apreciar los fundamentos legales de suimposición y, de cara al principio de proporcionalidad, determinar si deberealizarla hasta sus últimas consecuencias25 . Por lo demás, el hechode que una persona esté siendo investigada policialmente por laatribución de un delito, “[...] no cohonesta su detención sin la exhibicióndel respectivo mandato judicial, y menos aún al no haber existido en sucaso una situación de flagrante delito”26 .

§ 4. La Constitución no define la flagrancia delictiva. Es un concepto,sin duda alguna, dejado al legislador ordinario, aunque su regulación no

23 Dice el art. 166° Constitucional: “La Policía Nacional tiene por finalidad fundamental garantizar,mantener y restablecer el orden interno. Presta protección y ayuda a las personas y a la comunidad.Garantiza el cumplimiento de las leyes y la seguridad del patrimonio público y del privado.Previene, investiga y combate la delincuencia. Vigila y controla las fronteras”.24 GARBERI LLOBREGAT, José: La flagrancia habilitadora de la entrada y registro. Revista Colex,N° 8, noviembre - diciembre, Madrid, 1993, pp. 97/98.25 SAN MARTÍN CASTRO, César: Derecho Procesal Penal, Tomo II, Ed. Grijley, Lima, 1999, p. 804.26 STC de 22 de junio de 1999, Exp. N° 123-99-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 7 deseptiembre de 1999, pp. 2136/2137. Un mes después, empero, en el “caso Fritz Antonio OstolazaFarro” [STC de 28 de diciembre de 1988, Exp. N° 740-98-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, Lima,16 de julio 1999, pp. 1883/1884], retrocedió ostensiblemente –aunque posteriormente, según fallosque luego se citarán, volvió al ‘camino correcto’- al señalar que si existían motivos racionalmentesuficientes para creer que el actor había cometido infracciones graves castigados por la ley y existepresunción cierta que si se dejaba a los detenidos en libertad se sustraerían a la acción de la justicia,la detención no es arbitraria, confundiendo o integrando dos conceptos distintos como son la “urgencia”–prevista en otras Constituciones como la de México- y la “flagrancia”, supuesto primero no reconocidopor nuestra Constitución (vid.: SAN MARTIN CASTRO, César, Ob. Cit., p. 808).

Page 123: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 123

puede desconocer su contenido esencial27 . El Código de ProcedimientosPenales de 1440 en su originario art. 81°.1 la definía claramente. Serequería que el imputado fuese “[...] sorprendido en el acto de laperpetración del delito, o en los actos preparatorios del mismo, o huya, alser perseguido, inmediatamente, por el agraviado, por la policía, o porcualquier persona”. Esta norma, sin embargo, se modificó otorgándoleotro contenido y, por consiguiente, se eliminó dicho concepto legal.

No obstante ello, la jurisprudencia ordinaria proporcionó un conceptomás preciso y limitado de flagrancia delictiva, al eliminar la dudosareferencia a los actos preparatorios. La Corte Suprema señaló que lanoción de delito flagrante “[...] comprende la hipótesis de descubrirse alautor en el momento que lo comete o cuando el agente es perseguido ydetenido inmediatamente después de haber delinquido ...”28 .

El art. 106.°.8, 2do Párrafo, del Código Procesal Penal de 1991, novigente en ese extremo, contiene una definición más amplia que lajurisprudencial al incorporar la noción de la “cuasi flagrancia”. En efecto,estipuló que “Hay flagrancia cuando la comisión del delito es actual y enesa circunstancia su autor es descubierto, o cuando el agente esperseguido y detenido inmediatamente de haber cometido delito o cuandoes sorprendido con objetos o huellas que revelan que viene de ejecutarlo”.Empero, el Tribunal Constitucional en la STC 19 de enero de 2001, “CasoCornelio Lino Flores”, estipula –en primer lugar- que el art. 2.°,24.f)Constitucional debe ser interpretado teleológicamente, vale decir, comoprescripciones garantistas con la finalidad de tutelar el derecho a la libertadindividual, por lo que resulta inconstitucional la habilitación de cualquiersupuesto no contemplado bajo las dos circunstancias antes mencionadas;en segundo lugar, que la flagrancia supone “la aprehensión del autor delhecho delictivo en el preciso momento de la comisión del mismo, másaún tratándose de delitos de comisión instantánea”; y, en tercer lugar,

27 Etimológicamente, el adjetivo flagrante deriva del latín flagrans-flagrantis, participio presentedel verbo flagro, que significa quemar o arder, y por lo tanto flagrante es propiamente lo que estáardiendo, en el sentido de aquello que se presenta a la percepción sensorial de modo inequívoco.Vid.: RODRIGUEZ SOL, LUIS: Registro Domiciliario y Prueba Ilícita, Ed. Comares, Granada, 1998,pp. 110/111.28 Ejecutoria Suprema de 17.2.84. Exp. N° 318-84. Lima. Habeas Corpus - Caso Larriega Huamán v. MP.

Page 124: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3124

que la cuasiflagrancia, en cuanto supone la detención en el momentoinmediatamente seguido a la presunta comisión del hecho delictivo, noestá contemplada en la Constitución, de suerte que no es válido habilitarsubrepticiamente supuestos de detención no contempladosconstitucionalmente al estar proscrito una interpretación extensiva delprecepto constitucional antes invocado29 . Este criterio, sin embargo, hacede la flagrancia un concepto muy limitado y político criminalmenteinconveniente, a la par que no es conforme a toda la doctrina procesalistasobre la materia30 [la doctrina del Tribunal Constitucional Español, sobrela base de similar concepto igualmente no definido expresamente en laConstitución Española, en la emblemática sentencia n.° 341/1993, de 18de noviembre, contempla tal posibilidad como un supuesto lógico yrazonable de limitación legítima a la libertad personal].

Más allá de cualquier polémica en orden a los alcances más omenos latos con que puede configurarlo el legislador, lo esencial estribaen que el concepto de delito flagrante está necesariamente vinculadocon aquellas situaciones fácticas en las que queda excusada laautorización judicial, precisamente, porque la comisión del delito sepercibe con evidencia y exige de manera inexcusable una inmediataintervención para evitar: la consumación del delito que se está

29 Exp. N° 1318-2000-HC/TC. Diario Oficial “El Peruano”, 13 de abril de 2001, pp. 4003/4004. Llamala atención que, con anterioridad, en la STC de 14 de enero de 1999 (Exp. N° 818-98-HC/TC, Caso“ Rafael Leonardo Carpio Castro”, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 25 de mayo de 1999, pp. 1749/1750) adoptó un concepto insólito de flagrancia delictiva al señalar en su FJ 3° que: “Se está ante uncaso de esta naturaleza cuando se interviene u observa en el mismo momento de su perpetración ocuando posteriormente a ella, antes del vencimiento del plazo de prescripción, existen hechos opruebas evidentes, sustentados en la técnica o la ciencia, que demuestren la producción del delito”.El concepto resaltado, sin duda alguna, no tiene nada que ver con la exigencia de inmediaciónpersonal o temporal propios de esta institución procesal. Por su parte Pablo SÁNCHEZ VELARDEincorpora dentro de la noción de flagrancia propiamente dicha la cuasiflagrancia y la presunción delegal de flagrancia, que son estados en que propiamente se manifiesta la flagrancia, destacandocomo límite de apreciación la nota de temporalidad y una pauta de interpretación restrictiva (vid.:Privación de libertad personales e implicancias procesales. En: II Congreso Internacional de DerechoPenal – Ponencias, Ed. PUCP – Ara Editores, Lima, 1997, pp. 172/173).30 Por todos: ORE GUARDIA, Arsenio: Manual de Derecho procesal Penal, Ed. Alternativas, Lima,1999, pp. 345/347. Este autor hace mención a la flagrancia estricta, la cuasiflagrancia y la presunciónde flagrancia.

Page 125: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 125

cometiendo; el agotamiento del ya cometido; o la fuga o desaparicióndel delincuente o de los efectos del delito31 .

Por tanto, habrá de exigirse, como postula Aragoneses Martinez,tres requisitos:

1) inmediatez temporal: es decir, que se esté cometiendo un delitoo que haya sido cometido instantes antes;

2) inmediatez personal: consistente en que el delincuente seencuentre allí en ese momento en situación tal con relación al objeto oa los instrumentos del delito que ello ofrezca una prueba de suparticipación en el hecho; y,

3) necesidad urgente: de tal modo que la policía, por lascircunstancias concurrentes al caso concreto, se vea impelida aintervenir inmediatamente con el doble fin de poner término a la situaciónexistente impidiendo en todo caso la posible propagación del mal que lainfracción penal acarrea, y de conseguir la detención del autor de loshechos32 .

§ 5. La detención preliminar, en caso de flagrante delito, estásometida a un plazo ineludible: 24 horas o en el término de la distancia.Este último, como puntualiza Bernales Ballesteros, “es un conceptoprocesal que está referido al tiempo que debe demorar un viaje desdedonde está la persona hasta donde debe finalmente llegar. Losorganismos judiciales aprueban una tabla de términos de la distancia,de tal forma que son cantidades de tiempo conocidas”.33 Se trata, enpalabras de García Toma, de un intervalo de tiempo en que se recorre

31 RIFÁ SOLER, José María – VALLS GOMBAU, José Francisco: Derecho Procesal Penal, Ed.Iurgium, Madrid, 2000, p. 206. Un ejemplo de flagrancia delictiva se encuentra en el FJ N° 2 de laSTC de 23 de octubre de 1998 (Exp. N° 357-98-HC/TC) al estimar legítima la detención de quienes sorprendida en posesión de pasta básica de cocaína y de ocultar dicha sustancia en el inmueblede su propiedad [Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 13 de diciembre de 1998, p. 1465].32 DE LA OLIVA SANTOS, Andrés y otros: Derecho Procesal Penal, Ed. Ceura, Madrid, 1993, pp.366/367.33 BERNALES BALLESTEROS, Enrique: La Constitución de 1993 – Análisis Comparado, Ed.Constitución y Sociedad ICS, 3ra. Edición, Lima, 1997, p. 180. El art. 82°.7 del Texto ÚnicoOrdenado del Poder Judicial atribuye al Consejo Ejecutivo del Poder Judicial la aprobación delCuadro de Términos de Distancia.

Page 126: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3126

la distancia entre dos puntos de la geografía del país.34 Tal término de ladistancia, como es obvio, cuando corresponda, se añade al de 24 horas;al respecto, con recto criterio, apunta Rubio Correa, que “no es lomismo detener a una persona en un barrio y trasladarla a otro barrio dela misma ciudad, que prender a una persona en un paraje desolado yllevarla a un lugar que queda a lo largo del camino. En este último caso,a las horas habrá que sumar lo que demora hacer el trayecto”35 .

§ 6. Empero, el plazo se extiende hasta 15 días en tres supuestosdelictivos, que el Código Penal o la legislación penal especial ha reguladopuntualmente: terrorismo (vid.: Decretos Leyes n.° 24765, de fecha 6de mayo de 1992, n.° 25659, de fecha 3 de agosto de 1992, de fecha 3de agosto de 1992, y n.° 25880, de fecha 26 de noviembre de 1992, asícomo Ley n.° 26508, de fecha 21 de julio de 1995), Tráfico Ilícito deDrogas (vid.: Sección II del Capítulo III del Título XII del Libro Segundodel Código Penal) y espionaje (vid.: arts. 331.° y 341.° CP, y arts. 81.°,82.° y 323.° del Código de Justicia Militar). Esta configuración excepcionalde la detención policial para los delitos mencionados se inició con laConstitución de 1979 (art. 2.°.20.’g’), cuyo precedente fue el art. 71.°.a)de la Ley de Represión del Tráfico Ilícito de Drogas –Decreto Ley n.°22095, de 21 de febrero de 1978-36 .

Cabe señalar que desde la Constitución de 1856 se instituyó comoplazo límite para la detención policial el de 24 horas [La anterior Constituciónde 1826 había fijado el plazo en 48 horas], mientras que el denominadotérmino de la distancia recién se incorporó en la Constitución de 1933.

34 GARCÍA TOMA, Víctor: Los Derechos Humanos y la Constitución, Ed. Gráfica Horizonte, Lima,2001, p. 186.35 RUBIO CORREA, Marcial: Estudio de la Constitución Política de 1993,Tomo I, Ed. PUCP FondoEditorial, Lima, 1999, p. 497.36 Esta excepción fue muy criticada en su momento. Se consideró que un plazo tan extenso –sin unefectivo control de las agencias jurídicas- podía conducir a muchos abusos, ya que después de sutranscurso –real o simuladamente- podía terminarse con una declaración de inocencia, al margenque -visto el poder fáctico de la policía- se dejaba en sus manos la calificación de los hechosdelictivos que integraban los tipos penales exceptuados. Vid.: ALZAMORA VALDEZ, Mario: Derechosy deberes fundamentales de la persona; en La Nueva Constitución y su aplicación legal, Ed. CIC,Lima, 1980, p. 37. RUBIO CORREA, Marcial – BERNALES BALLESTEROS, Enrique: Perú –Constitución y Sociedad Política, Ed. DESCO, Lima, 1981, p. 128.

Page 127: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 127

Dada la inusitada extensión de la detención preventiva policial endichos delitos exceptuados, el propio texto constitucional incorpora dosgarantías adicionales al detenido: 1) Que tal medida sea comunicadainmediatamente al Fiscal y al Juez; 2) Que el Juez puede asumirjurisdicción antes de vencido ese término. Lamentablemente esadisposición garantista, especialmente el poder de control del Fiscal y delJuez, no han sido desarrolladas y puestas en vigor por la legislaciónespecial dictada al efecto, tanto para tráfico ilícito de drogas cuanto paraterrorismo [que incluye su modalidad hiper agravada denominada “traicióna la patria”, en tanto delito contra la seguridad interior del Estado].

Fue el CPP de 1991 el que se encargó de regular el poder de controlde las agencias jurídicas, aunque sus normas hasta la fecha no sepusieron en vigencia, permaneciendo en una vacatio legis indefinida37 .Dicho Código estableció:

1) Que, en cualquier supuesto de detención preliminarpolicial, el Fiscal Provincial debe ser notificado de tal medida,al punto de tener autoridad suficiente para disponer la libertaddel detenido si la medida no cumplió con los presupuestoshabilitadores constitucionalmente previstos, cuando fueredesproporcionada o cuando no fuere indispensable –en lamedida y tiempo estrictamente necesarios- para asegurar laaveriguación de la verdad, el desarrollo del procedimiento yla aplicación de la ley (art. 108.°).

2) Que el Juez, en los supuestos analizados, estáfacultado para:

A. Constituirse al lugar de detención, indagar por los motivosde la detención, el avance de las investigaciones y el estado

37 Después de una serie de suspensiones temporales, la Ley N° 26299, de fecha 30 de abril de1994, bajo el argumento de la dación de una nueva Constitución y de la necesaria adaptacióndel nuevo Código a ese texto fundamental, dejó en suspenso indefinidamente el Código de1991. Los proyectos de modificación del citado Código, pese a que en varias oportunidadesfueron aprobados por el Congreso, fueron observados o vetados por el Presidente. Vid.: SANMARTÍN CASTRO, César: La reforma del proceso penal peruano. Revista Peruana de DerechoProcesal, N° II, Marzo, 1998, Lima, pp. 229/257.

Page 128: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3128

del detenido, al punto de disponer la culminación de laactividad policial y la remisión del detenido al Fiscal, si adviertela ilegalidad de la detención, la afectación indebida delderecho de defensa o de irregularidades que perjudiquengravemente el éxito de las investigaciones;

B. Disponer el inmediato reconocimiento médico legal deldetenido y garantizar el acceso de médicos particulares; y,

C. Autorizar el traslado del detenido de un lugar a otro dela República después de efectuados los reconocimientosmédicos, previo pedido fundamentado del Fiscal, siempreque la medida sea estrictamente necesaria al éxito de lainvestigación o la seguridad del detenido, con intervencióndel Fiscal y del Juez del lugar de destino (art. 109.°).

§ 7. La discusión constitucional interna se centró en los alcancesde la excepción, esto es, si tratándose de la detención preventiva portráfico ilícito de drogas, terrorismo y espionaje, la policía podía detenersin la exigencia de la flagrancia delictiva. La doctrina nacional está divididaal respecto. Un sector sostiene que la excepción alcanza a la basemisma de la imputación y, por ende, que no se requiere flagranciadelictiva en estos delitos, generalmente vinculados a delincuenciaorganizada, de investigación y esclarecimiento muy complejo38 . Otro

38 EGUIGUREN PRAELI, Francisco: Los retos de una democracia insuficiente, Ed. ComisiónAndina de Juristas – Fundación Friedrich Naumann, Lima, 1990, p.111. Dicho autor, sobre la basede la Constitución anterior y citando algunas decisiones del Tribunal de Garantías Constitucionales,entre ellas la del caso Dominguez Berrospi, STGC de 23.3.85, dice: “Puede entonces resultarrazonable sostener que en los casos de terrorismo, narcotráfico y espionaje, seríanconstitucionalmente admisibles las detenciones policiales de sospechosos o con finesinvestigatorios, es decir sin que medie mandato judicial o flagrante delito, siempre que suduración no exceda de 15 días y se cumpla con dar cuenta al Ministerio Público y al Juez dentrode las primeras 24 horas, ...”. En igual sentido se pronuncia Alberto BOREA ODRÍA, quienconsidera que el párrafo pertinente comentado instituye una excepción, “ ...necesaria por el pesode las circunstancias y por el propio carácter grave tanto del delito cuanto de la forma organizadaen que éstos se desarrollan. En este caso la detención puede producirse en el procesoinvestigatorio y por disposición de la propia autoridad encargada de llevar a cabo la inquisición.La única obligación que existe en estos casos es la de dar noticia antes de las 24 horas o deltérmino de la distancia, que se ha producido la detención de determinada persona quien seencuentra bajo la investigación por la comisión de estros delitos” [Evolución de las GarantíasConstitucionales, Ed. Grijley, Lima, 1996, p. 179]. Insiste en esa posición Enrique CHIRINOSSOTO (Vid.: Lectura y Comentario. Constitución de 1993, Ed. Piedul, Lima, 1995, p. 38).

Page 129: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 129

sector, en cambio, afinando la propia redacción del art. 2.°.24.f) de laConstitución, recalca –como sanciona la norma constitucional- que laexcepción está referida al plazo, no a la exigencia de flagrancia delictiva39 .

Es claro, como ya lo sostuve en otro trabajo40 , que tanto la vigenteConstitución como la de 1979, estructuraba un sistema de excepcioneslimitado y sólo autorizaba a la policía a detener ex officio en los casos deflagrante delito. Esta polémica, sin embargo, se vio replanteada en partecon la mejor redacción del art. 2.°.24.) de la vigente Carta Política, enrelación al art. 2.°.20.g) de la Ley Fundamental de 1979; y, creo,definitivamente superada por las últimas decisiones del TribunalConstitucional. En efecto, en los casos “Francisca Acosta Agüero” y“Manuel Santiago Solari Morgan” el Alto Tribunal dejó sentado que laflagrancia delictiva es necesaria en todo tipo de delitos, incluidos losexceptuados, cuya singularidad versa exclusivamente en el plazo dedetención41 . En el “caso Ricardo Quintanilla Cárdenas” puntualizó: “[...]este Tribunal ha establecido en diversos precedentes que ni aún en elcaso de delitos exceptuados previstos en el art. 2.°.24.f) de la ConstituciónPolítica, que establece la “detención preventiva” por un plazo superior alas veinticuatro horas, está permitida la restricción de la libertad individualfuera de las hipótesis del mandato judicial y del flagrante delito, por cuantodichas variables siguen siendo la regla a respetar en cualquier caso”42 .

De igual manera, en el “caso Andrés Justiniano Tacca Hancco yotros”, dictada en un procedimiento de Hábeas Corpus derivada de una

39 Es particularmente claro al respecto Enrique BERNALES BALLESTEROS, quien enfatiza que“el plazo de veinticuatro horas puede ser ampliado en los casos de terrorismo, espionaje y tráficoilícito de drogas (vid.: Ob. Cit., p. 180). Igual perspectiva comparte Víctor GARCÍA TOMA, quienapunta que el segundo condicionamiento impuesto por la Constitución a la detención legalcorresponde al plazo y sólo presenta tres excepciones referidos a los delitos de terrorismo, espionajey tráfico ilícito de drogas; “en estos supuestos las autoridades policiales pueden efectuar ladetención preventiva de los presuntos implicados por un término no mayor de quince días naturales,con cargo a dar cuenta al Ministerio Público y al juez” [Ob. Cit., p. 185].40 Ob. Cit., Tomo II, p. 805.41 STC de 2 de julio de 1998 (Exp. N° 1004-98-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 23 deseptiembre de 1998). STC de 18 de junio de 1998, Exp. N° 596-HC/TC, Lima.42 Exp. N° 468-98-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 22 de julio de 1999, pp. 1889/1890.

Page 130: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 2130

detención policial por delito de tráfico ilícito de drogas, si bien reconocióque la detención de los actores, según las circunstancias en que operó,avalaron la verosimilitud de las sospecha policial, empero afirmó queesa situación no constituye motivo legal suficiente o justificante de susdetenciones (FJ 3.°)43 ; en otra sentencia, dictada en el “caso SoniaPajuelo Delzo”, bajo supuestos semejantes, señaló que la detención,sin flagrancia delictiva, desnaturalizó el principio constitucional dejudicialidad que rige a las órdenes de detención, conforme se desprendede la cláusula constitucional anteriormente citada [art. 2.°.24.’f’]44 ;asimismo, en el fallo dictado en el “caso Rosa Villegas Rubio”, precisóque la detención que se produce como consecuencia de la sindicacióndel detenido como partícipe de la comisión de un delito, constituye unamera detención por sospecha, resultando por ello arbitraria y excluidade la autorización constitucional de detención (FJ 5.°)45 ; posición quereiteró en la sentencia recaída en el “caso Francisca Acosta Agüero”, alnegar la flagrancia delictiva en una detención producida a mérito de laimputación vertida por un sospechoso contra el implicado por un delitode tráfico ilícito de drogas que se acogió a los alcances de la colaboracióneficaz prevista por el Decreto Legislativo n.° 824 (FJ 3.°)46 .

43 STC de 7 de mayo de 1998 (Exp. N° 185-95-HC/TC), Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 13 deagosto de 1998, pp. 1007/1008. En la STC de 14 de enero de 1999, (Exp. N° 818-98-HC/TC),Revista Normas Legales, Tomo 277, Junio 1999, pp. A-23/A-24, pronunciada a raíz de una detenciónpor delito de tráfico ilícito de drogas, estableció que “el hecho de encontrar droga del inmueble delinvestigado no acredita la existencia de flagrante delito porque falta el nexo de causalidad entreel lugar de ubicación de la droga y el detenido, máximo cuando la autoridad policial afirmó que aldetenido no se le encontró droga alguna en sus bolsillos”.44 STC de 24 de abril de 1998 (Exp. N° 580-96-HC/TC), Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 8 de juliode 1998, pp. 917/918.45 STC de 15 de abril de 1998 (Exp. N° 828-97-HC/TC), Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 25 demayo de 1998, pp. 843/844. En igual sentido, excluyendo la detención como consecuencia depesquisas policiales, STC de 24 de septiembre de 1998 (Exp. N° 005-96-HC/TC), Diario Oficial “ElPeruano”, Lima, 30 de noviembre de 1998, pp. 1377/1378; y, la detención sustentada en uncertificado de antecedentes judiciales que registraba una orden de detención ya caducada (STCde 5 de noviembre de 1998, Exp. N° 773-98-HC/TC,, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 22 de enerode 1999, pp. 1521/152).46 STC de 2 de julio de 1998 (Exp. N° 104-97-HC/TC), Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 23 deseptiembre de 1998, pp. 1187/1188. Similares razonamientos fueron expuestos en la STC de 3 de juliode 1998 (Exp. N° 665-96-HC/TC), Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 17 de octubre de 1998, p. 1319.

Page 131: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 131

Con posterioridad el Tribunal Constitucional ha sido todavía másenfático. Dos casos emblemáticos pueden citarse. El primero, es el“caso Silvestre Uscamayta Estofanero” (STC de 1 de diciembre de1999), dictada en un supuesto de detención por delito de Tráfico Ilícitode Drogas, cuya doctrina sienta dos principios básicos:

1. Que, con cita en la STC recaída en el expediente n.° 953-97-HC/TC, las variables de causalidad (mandato de detención y flagrante delito)constituyen la regla general aplicable en todos los casos de detención eincluso en los casos concernientes a los delitos calificados (terrorismo,espionaje y tráfico ilícito de drogas), lo que permite suponer que lainterpretación del art. 2.°.24.f) Constitucional solo puede marcar comoúnica pauta diferencial el tratamiento que se otorga al plazo de detenciónen las detenciones referidas a delitos comunes (24 horas) respecto delque corresponde a las detenciones referidas a delitos calificados (15días); por consiguiente, las variables de causalidad no se alteran ni puedenser extendidas hasta el extremo de considerar como válidas lasdetenciones preventivas sustentadas en la mera sospecha policial.

2. Que el hecho que haya participado el Ministerio Público durantela investigación policial no convierte en legítima la detención producida,pues dicha autoridad no está autorizada a convalidar actos de detenciónfuera de las hipótesis previstas por la Norma Fundamental; lo quetampoco justifica la invocación de disposiciones legales supuestamentepermisivas, tales como el art. 71.° de la Ley N° 22095 –Ley General deDrogas- y el art. 17.° del Decreto Legislativo N° 824 –Ley de lucha contrael tráfico ilícito de drogas47 .

Cabe puntualizar, sin embargo, que el propio Tribunal Constitucionalen el “caso Liz Eveline Temoche Vargas”, un año antes, había sostenido-con absoluto error, por cierto- que aún cuando la detención policialno se había producido en flagrancia delictiva o por orden judicial, noera arbitraria porque “las acciones que han efectuado los miembrosde la Policía, [se han realizado] ... dentro de un tiempo prudencial,

47 Exp. N° 1107-99-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 26 de julio de 2000, pp. 3263/3264.

Page 132: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3132

cumpliendo con sus obligaciones señaladas en la última parte del art.166° y el inc. 4) del art. 159.° de la Constitución Política del Estado, encuanto se refiere al cumplimiento de los mandatos del Ministerio Públicoen el ámbito de su función, lo que han practicado con pleno conocimientoy presencia de la Fiscal ...”48 .

El segundo, es el “caso Gerardo Joaquín Rodrigo Mamani” (STC de7 de abril de 2000), dictada en un supuesto por delito de terrorismo, cuyadoctrina reitera que la detención practicada por la autoridad policial con elobjeto de investigar presuntos cargos criminales, sin que esté debidamentesustentada en los presupuestos contenidos en el art. 2.°.24.f) de laConstitución se encuentran al margen de ésta; si la detención no se sustentaen la existencia del respectivo mandato judicial de detención o lacircunstancia de flagrante delito, no se puede justificar constitucionalmente49 .

§ 8. El art. 71.°.a) de la Ley de Represión del Tráfico Ilícito de Drogas,Decreto Ley N° 22095; el art. 12.°.c) de la Ley de Represión para losdelitos de terrorismo, Decreto Ley n° 25475; y, el art. 2.°.a) de la Ley deProcedimiento de los delitos de Traición a la Patria, establecen que laPolicía en la investigación de tales delitos –exceptuados o especialessegún la nomenclatura acuñada por el Tribunal Constitucional- estáfacultada a efectuar la detención preventiva de los presuntos implicadospor un término no mayor de quince (15) días.

Estas normas sólo hacen referencia expresa al plazo máximo dedetención, omitiendo en cambio mencionar la exigencia de flagranciadelictiva. La interpretación de aquéllas, como ya lo tiene establecido elTribunal Constitucional, no puede obviar la necesaria presencia deflagrancia delictiva. Como ya apuntáramos: “En el caso de la detención,el análisis se focaliza –por imperativo constitucional- en la flagranciadelictiva. El hecho de tratarse de delitos que presuponen, en una granparte de supuestos, la intervención de organizaciones delictivas, noexcepciona el presupuesto constitucional de la flagrancia delictiva.

48 STC de 22 de junio de 1999, Exp. N° 317-99-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 5 deoctubre de 1999, p. 2251.49 Exp. N° 121-2000-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 20 de julio de 2000, pp. 3237/3238.

Page 133: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 133

Recuérdese que nuestra norma fundamental no ha incorporado laexcepción de la urgencia como otro supuesto habilitante o título deimputación para la detención ex officio de la policía”50 .

§ 9. En el caso de Traición a la Patria se adiciona otro supuestoexcepcional. El párrafo final del inc. a) del art. 2.° del Decreto Ley 25744establece que: “A efectos de obtener mejores resultados en lainvestigación, el término antes referido [15 días] podrá ser prorrogadopor un período igual a solicitud debidamente justificada de la PolicíaNacional del Perú”. Ahora bien, en tanto resulta evidente que tratándosede detención policial ex officio la Constitución menciona un plazomáximo debidamente determinado y no autoriza –vista su naturalezaexcepcional- la posibilidad de una ampliación por orden judicial.

La perspectiva constitucional no deja lugar a dudas. Efectuada ladetención policial imputativa, a efectos de llevar a cabo una investigaciónpreprocesal, ésta no puede superar los quince días, a cuyo vencimientoel detenido debe ser puesto a disposición del Juez para los fines de ley;no es posible que, sin más, autorice la ampliación de una detención ensede preprocesal, sin ulterior control judicial ni conducción del MinisterioPúblico, como lo estipula el art. 159.°.4 de la Constitución. Además,desde el punto de vista del principio constitucional de proporcionalidadno puede justificarse tal medida, en tanto que la detención preventivatiene un plazo amplísimo de quince días.

El Tribunal Constitucional, en el “caso Heriberto Manuel BenítezRivas”, consideró dicha norma incompatible con el art. 2.°.24, f) de laConstitución, “por virtud del principio de supremacía constitucional”,dado que ese supuesto no está contemplado en el dispositivoconstitucional antes invocado y, por tanto, “ninguna autoridad debecohonestar la agravación ilegítima de las formas y condiciones enque se cumple la detención de una persona, menos aún fundamentarla detención indebida en razones legales que resulten incompatiblescon la Constitución” (FJ n.° 5 y 6)51 .

50 SAN MARTÍN CASTRO, César: Ob. Cit., p. 811.51 STC de 5 de agosto de 1998 (Exp. N° 098-98-HC/TC), Diario Oficial “El Peruano”, Lima, 25 deseptiembre de 1998, pp. 1213/1214.

Page 134: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3134

§ 9. El plazo de detención, es pertinente insistir, por mor del principiode proporcionalidad, es aquél estrictamente necesario para elesclarecimiento de los hechos. Por esto último, enseña Gimeno Sendra,“no cabe entender la realización de la totalidad de los actos de investigación,que constituyen la función de la fase instructora [...]. Por dicho conceptohay que entender la práctica de aquellos actos de investigación, propiosde las diligencias policiales que [...] son exclusivamente estos dos: elreconocimiento de identidad y la declaración del detenido. [...]Recientemente el Tribunal Constitucional (STC 224/1998) a podido afirmarque ‘[...] este tiempo actúa como límite máximo absoluto y no impide quepuedan calificarse como privaciones de libertad ilegales, en cuantoindebidamente prolongadas o mantenidas, aquellas que, aun sin rebasarel indicado límite máximo, sobrepasen el tiempo indispensable pararealizar las oportunas pesquisas dirigidas al esclarecimiento del hechodelictivo que se imputa al detenido, pues en tal caso se opera unarestricción del derecho fundamental a la libertad personal que la normaconstitucional no consiente. A tal efecto deberán tener en cuenta, comohan establecido las SSTC 31/1996 y 86/1996, ‘las circunstancias delcaso y, en especial, el fin perseguido por la medida de privación delibertad, la actividad de las autoridades implicadas y el comportamientodel afectado por la medida’ ”52 .

§ 10. La Ley n.° 26950, de 19 de mayo de 1998, delegó facultadeslegislativas al Poder Ejecutivo para que expida Decretos Legislativossobre materia de Seguridad Nacional e implemente una estrategia paraerradicar un peligroso factor de perturbación, generado por la situaciónde violencia creciente, que se viene produciendo por las acciones de ladelincuencia común organizada en bandas, utilizando armas de guerray explosivos, y provocando un estado de zozobra e inseguridadpermanente en la sociedad.

Al amparo de esa disposición se promulgaron varios dispositivoslegales de carácter punitivo, siendo de destacar:

52 GIMENO SENDRA, VICENTE y otros: Los procesos penales, Tomo IV, Ed. Bosch, Barcelona,2000, p. 79.

Page 135: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 135

1) La creación de la figura típica de terrorismo agravado por elDecreto Legislativo n.° 895, de 23 de junio de 1998, posteriormentedenominado terrorismo especial por la Ley n.° 27235, de 20 de diciembrede 1999, en cuya virtud se sancionó con penas que fluctúan entre lacadena perpetua y privación de libertad no menor de veinticinco años, alque “[...] integra o es cómplice de una banda, asociación o agrupacióncriminal que porta o utiliza armas de guerra, granadas y/o explosivos,para perpetrar un robo, secuestro, extorsión u otro delito contra la vida, elcuerpo, la salud, el patrimonio, la libertad individual o la seguridad pública,[...] aunque para la comisión del delito actúe en forma individual”. El art.6.°.b), al calificar esa conducta como terrorismo, tergiversando sin dudael concepto jurídico de esa figura penal vinculada a las bandas armadas,que causan grave alarma social a partir de acciones violentas,indiscriminadas o selectivas, y que persiguen alterar el sistemainstitucional de un país, equipara su regulación al subsistema excepcionalantiterrorista. Dicha norma estipula que “La detención preventiva de losimplicados será por un término no mayor de quince días calendario, dandocuenta en el plazo de veinticuatro horas por escrito al Fiscal Militar quienconducirá la investigación del hecho y al Juez Instructor Militar queasumirá competencia”. Es de aclarar que el art. 3.° de la Ley 27235estableció, modificando el citado Decreto Legislativo, que estos delitosserán de conocimiento de la jurisdicción ordinaria.

2) La creación de los denominados delitos agravados en virtuddel Decreto Legislativo n.° 896, de 24 de junio de 1998, que en realidadse trata de varios delitos comunes (asesinato, secuestro, violaciónsexual de menores, robo y extorsión) a los que se aumentó la pena y seagregó, en algunos casos, agravantes específicas. El DecretoLegislativo n.° 898, de 27 de junio de 1998, incorporó a esa nueva “familiadelictiva”, dos delitos vinculados a la posesión, almacenamiento,fabricación suministro o sustracción de armamento de guerra.

Lo singular, desde el punto de vista procesal, se encuentra en elart. 1.°.f) del Decreto Legislativo n.° 897, de 26 de junio de 1998, queestablece que “cuando el número de implicados o por la peligrosidadde los mismos o la complejidad de las investigaciones lo exija el Fiscal,a solicitud de la Policía Nacional, deberá necesariamente incluir en la

Page 136: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3136

denuncia a la que se refiere el inciso c) anterior, la petición de ampliaciónde la investigación policial. En este caso, el Juez está obligado a autorizaren el auto que abre instrucción que la Policía Nacional realice lasinvestigaciones complementarias en el término no mayor de quincedías, lapso durante el cual los encausados permanecerán detenidos enlas instalaciones policiales, formulándose al término de dicho plazo elAtestado ampliatorio correspondiente.

Dos son las objeciones centrales a tan singular dispositivo. Laprimera está referida a lo que taxativamente dispone el art. 2°.24.f) de laConstitución, en cuya virtud la posibilidad que un detenido permanezcaen sede policial y por investigaciones que ella realice está sujeta a unplazo determinado e improrrogable [si la detención es una limitación dela libertad personal, garantizada constitucionalmente, toda limitacióngrave de ese espacio individual debe estar taxativamente contempladaen la Ley Fundamental]. La segunda tiene que ver con la obligatoriedaddel mandato judicial exigido, lo que crea una presunción iure et de iure yno se condice con la exclusividad judicial, reconocida en el art. 139°.1de la Constitución, en cuya virtud corresponde a la jurisdicción definir elmarco fáctico de un conflicto de intereses puesto en su conocimiento yaplicar, independientemente, la consecuencia jurídica que corresponda,lo que no se condice con una imposición legislativa, pues en ese casoel Congreso está sustituyendo al Juez en su función privativa, que implicadeterminar los hechos a partir de las pruebas y, luego, subsumirlos enuna norma jurídica. Por lo demás, según anotábamos en otro trabajo, laexigencia de motivación, propia de toda detención por orden judicial,necesariamente se correlaciona con la búsqueda de elementosprobatorios que den contornos típicos a una conducta y vinculen alimputado a esa infracción penal, lo cual implica una valoración libre queel juez deber realizar53 .

Es de insistir que se está limitando un derecho fundamental, comoes la libertad personal. Por ende, enfatiza Gómez de Liaño, toda

53 SAN MARTIN CASTRO, César: La detención en el proceso penal peruano. En: Derecho Penal,libro homenaje al Dr. Raúl Peña Cabrera, Ed. Jurídicas, Lima, 1991, pp. 600/601.

Page 137: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 137

interpretación de estas normas debe realizarse en el sentido másfavorable a la verdadera presencia de los derechos constitucionales yen definitiva de la libertad, por lo que la detención debe durar loimprescindible en relación con su propio objeto54 . La extensión sólo podríajustificarse, por imperativo constitucional, en los estados de emergencia,donde precisamente se suspende el derecho a la libertad personal y, aunasí, sometido a un control judicial de razonabilidad.

C. La detención policial y el periculum libertatis:peligro de fuga.§ 11. La imputación, como eje esencial del fumus delicti, no es el

único presupuesto material de la detención preliminar policial. Noobstante no encontrarse explícitamente enunciado en el art. 2.°.24.f) dela Constitución, siguiendo a Gimeno Sendra, el peligro de fuga constituyeel segundo y necesario presupuesto material, en cuya virtud es depresumir que el presunto implicado se sustraerá a la actividad de lajusticia. Para apreciar este peligro, insiste Gimeno Sendra, habrá detener en cuenta, de un lado, la especial gravedad del delito imputado –dehecho la detención está proscrita en las simples faltas, pues de ellasse deduce un mínimo peligro de fuga- y, de otro lado, de no tratarse deun delito grave, el funcionario de policía puede advertir el peligro defuga, de las circunstancias del hecho o de la personalidad del imputado(v.gr.: antecedentes, ausencia de domicilio fijo etc.)55 .

Cabe acotar que, como resalta Arangüena Fanego siguiendo aPedráz Penalva, el periculum in mora o el peligro en el retraso,tratándose de medidas cautelares personales adoptables en el procesopenal, adquiere tintes que hacen que la expresión más adecuada paraidentificarlo sea la de periculum libertatis56 . Además, el indicado peligro

54 GÓMEZ DE LIAÑO GONZÁLEZ, Fernando: el proceso penal, Ed. Forum, Oviedo, 1997, pp.176/177,55 GIMENO SENDRA, Vicente y otros: Ob. Cit., pp. 77/78.56 ARAGÜENA FANEGO, Coral: La reforma de la Ley de Enjuiciamiento Criminal por Ley Orgánica14/1999, de 9 de junio, en materia de malos tratos; especial referencia a las nuevas medidascautelares del art. 544° bis. Revista Actualidad Penal, Madrid, 2000, p. 252.

Page 138: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3138

es el fundamento mismo de las medidas cautelares o precautelares,en el caso de las medidas preprocesales, en tanto están orientadas a lafutura actuación del ius puniendi, y persiguen que el procedimiento deejecución no se frustre.

En concreto, según entiende Ortells Ramos, el principal caráctercautelar de la detención se funda en que el citado presupuesto seconfigura como peligro de no comparecencia ante el órganojurisdiccional; y, si se toma en consideración el plazo fijado y el tiemponecesario para realizar las averiguaciones tendentes al esclarecimientode los hechos, no se justifica que dicha medida sea un medio paraposibilitar o facilitar esas averiguaciones, porque esa finalidad no serecoge en los presupuestos de la detención57 .

D. La detención preliminar judicial. Análisis de dos modelos.

1. La detención provisional.

§ 12. El Código de 1940, en su texto originario, estableció lo quedenominó detención provisional. Una vez que la Policía remitía al JuezInstructor el Atestado respectivo conteniendo el resultado de susinvestigaciones preliminares –en cuyo caso se consideraba que seestaba ante una denuncia oficial- o el Agente Fiscal formulaba denunciaante su Despacho, o lo hacía la víctima, era del caso decidir si seprocesaba penalmente al denunciado. El Juez Instructor, inclusive deoficio, debía dictar auto de apertura de instrucción si consideraba que elhecho era constitutivo de delito y si la acción penal no había prescrito(art. 77.°, I extremo); en caso contrario, dictaba un auto de no ha lugar ala apertura de instrucción (art. 77.°, II extremo).

En la resolución que acordada el procesamiento penal, deconformidad con el art. 79.°, era del caso, concurrentemente, definir lamedida cautelar personal contra el imputado; por tanto, debía dictarseorden de comparecencia o, en su defecto, detención provisional contra

57 MONTERO AROCA, Juan y otros: Derecho Jurisdiccional, Tomo III – Proceso penal, Ed. Tirant loBlanch, Valencia, 1997, p. 445.

Page 139: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 139

quien el Juez Instructor presumía culpable. Su objeto, según el art. 83.°,era que el inculpado rinda declaración instructiva. Al vencimiento deesta declaración y, en su caso, actuadas las primeras diligencias en unplazo no superior a diez días, si el Juez Instructor presumía laculpabilidad del inculpado estaba obligado a expedir en su contra autode detención definitiva (prisión provisional).

La doctrina nacional de la época sostuvo, reconociendo lodiscrecional de los poderes del Juez, que la conversión de la detenciónprovisional en detención definitiva (prisión provisional) ocurría cuandoexistía una prueba que acredite de modo más o menos pleno la comisióndel delito o, por lo menos, indicios vehementes de su verificación. Nobastaba la simple denuncia para dar por probado el hecho, ni aún en elcaso de que el denunciado, por sus antecedentes, pueda ser autor de loque se denuncia58 .

§ 13. El originario art. 81.° fijaba los motivos de detención provisionalen cuatro supuestos alternativos:

a) casos de flagrancia delictiva;

b) perpetración de delitos en agravio del Estado;

c) exigencia del Fiscal, siempre que la naturaleza del delito lo exija; y,

d) cuando el reo fuere reincidente, vago, careciese de domicilio ohubieran presunciones fundadas de que trata de evitar el juzgamiento.Normas posteriores, manteniendo la lógica del procedimiento, es decir,respetando la existencia de una fase preprocesal divorciada por completodel sumario judicial, y definiendo el inicio del proceso penal a partir de ladenuncia correspondiente y de la expedición por el Juez Instructor deldenominado auto de apertura de instrucción, modificaron los motivoslegales que autorizaban la expedición de un mandato de detenciónprovisional o de simple comparecencia.

Es de destacar, en primer lugar, que el Decreto Legislativo n.° 126,de 12 junio de 1981, determinó que el mandato de comparecencia

58 GARCÍA RADA, Domingo: La Instrucción, Volumen I El Inculpado, Ed. San Martí y Cía, Lima,1967, p. 102.

Page 140: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3140

procedía siempre que el delito objeto de imputación no supere los dosaños de prisión o, si estuviere conminado con una pena mayor, cuandopor las circunstancias del hecho y las condiciones personales delinculpado era de presumirse que no será mayor de ese cuantum; enlos demás casos, era obligatoria la detención provisional59 . En segundolugar, cabe mencionar la Ley 23612, de 11 de junio de 1983, que determinóque la detención provisional –variando la sistemática del Código y delDecreto Legislativo 126-, procedía siempre que:

1) la denuncia se sustente en suficientes elementos probatorios; y,

2) se trate de determinados delitos, taxativamente contemplados,entre los que destacan los delitos de homicidio, aborto, lesiones graves,violación sexual, patrimoniales cuyo monto exceda de 25 sueldosmínimos vitales, rebelión, incendio, asalto y robo, peculado, corrupción,contra la administración de justicia, falsificación de monedas,contrabando, tributarios, espionaje y tráfico ilícito de drogas.

Como puede apreciarse tanto del texto originario del Código cuantode las dos normas modificatorias, después de radicar la medida en unprimer parámetro vinculado al delito objeto de imputación, aunque sinmayores precisiones, así como –independientemente considerado- enlas calidades personales del imputado, posteriormente las reformas tiendena limitar el poder de apreciación judicial en orden a las conductas típicassusceptibles de tal medida inicial, acudiéndose al efecto –en un primermomento- a la fijación del cuantum de pena fijado en los dos años y –enun segundo momento- a la enumeración de tipos penales concretos. Lasegunda reforma exigió que el juez valore la presencia de elementos deconvicción para determinar si sobre la base de la imputación debía dictarmandato de detención provisional, aunque tanto ésta como la primera

59 Cabe aclarar que el baremo de los dos años de pena privativa de libertad guardaba relación conla posibilidad de suspender la ejecución de la pena (condena condicional). El art. 286° CPP 1940,modificó la Ley N° 9014, de noviembre de 1939, que su vez había sustituido el art. 53°.1 delCódigo Penal, estableciendo que era posible suspender la ejecución de la pena cuando se dictabauna sentencia a pena privativa de la libertad que no exceda de seis meses [la norma modificadaúnicamente lo permitía para los delitos culposos]. Posteriormente, el Decreto Legislativo N° 126,de 12 de junio de 1981, aumentó ese límite en dos años; norma compatible con las reformas arribaesbozadas, que la misma norma impuso.

Page 141: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 141

reforma omitieron tomar en consideración, unido al elemento objetivode delito objeto de la denuncia, el elemento subjetivo vinculado a lascaracterísticas personales del imputado en orden al peligro de fuga,que tímidamente contemplaba el modelo originario del Código.

§ 14. La institución de la detención provisional en todos los modelosmixtos es considerada como especialmente necesaria. Está sujeta, comoes obvio, dado que se dicta al inicio de las actuaciones propiamentejudiciales, a exigencias relativamente menores que la prisión preventiva.Éstas se traducen en motivos puntuales que, en cierto modo, incorporan–como apunta Asencio Mellado- los presupuestos, propios de todamedida cautelar: (1) el periculum in mora, constituido por aquellossupuestos vinculados a la fuga del imputado, a su captura cuando estáhuyendo del lugar del delito, a la comisión de delitos especialmente gravesy, cuando no se dé este último supuesto, exista peligro -de forma concretay determinada- de que huya; y, (2) el fumus boni iuris, constituido por elsupuesto de flagrancia delictiva y, de no ser así, cuando existensospechas concretas y determinadas de comisión de delito, siempre ycuando unido al necesario periculum in mora, exista un riesgo, tambiénconcreto y determinado, de fuga o elusión de los efectos de la justicia60 .

La detención provisional era el paso previo, según las actuacionesrealizadas luego de su expedición, especialmente la declaración delimputado y otras urgentes que podían realizarse en un plazo breve –dediez días-, para decidir si se disponía la libertad del imputado o si sedictaba detención definitiva (prisión provisional). Su objeto, como apuntanAlcalá Zamora y Levene (h), consistía, no tanto en asegurar la efectividadde la sentencia que se dicte, como de manera más directa en evitar ladesaparición del presunto culpable y que utilice su libertad para borrarlas huellas del delito y dificultar la acción de la justicia61 .

Lamentablemente esta institución fue eliminada por la Ley 24388,de 6 de diciembre de 1985, cuyas bases jurídicas persisten desde esafecha hasta la actualidad, incluyendo el CPP de 1991, en sus normas

60 ASENCIO MELLADO, José María: Derecho Procesal Penal, Ed. Tirant lo Blanch, Valencia, 1998, p. 179.61 ALCALÁ-ZAMORA Y CASTILLO, Niceto – LEVENE (h), Ricardo: Derecho Procesal Penal, TomoII Ed. Kraft, Buenos Aires, 1945, p. 273.

Page 142: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3142

vigentes. Hoy en día, una vez que el Fiscal formaliza denuncia ante elJuez Penal, éste al dictar el auto de apertura de instrucción debe decidirsi decreta contra el imputado comparecencia simple, comparecenciarestrictiva o detención (prisión preventiva).

2. La detención preliminar. Ley n.° 27379.

§ 15. La Ley 27379, de 21 de diciembre de 2000, surgida luego dela entrada en vigor de la Ley Orgánica del Ministerio Público, DecretoLegislativo n.° 52, de 18 de marzo de 1981, luego de restaurada la Fiscalíacomo institución del Estado de Derecho Constitucional encargada de lapersecución de los delitos públicos, desarrolló un ámbito descuidadoen la legislación anterior, especialmente de las dos primeras grandesreformas del procedimiento penal peruano: el Decreto Legislativo 126,de 15 de junio de 1981, y la Ley 24388, de 6 de diciembre de 1985, quemodificaron sucesivamente numerosos artículos del Código deProcedimientos Penales62 .

La Constitución de 1979, al configurar al Ministerio Público comoun órgano autónomo del Estado, le atribuyó la vigilancia e intervenciónen la investigación del delito desde la etapa policial, y la función de promoverla acción penal de oficio o a petición de parte (art. 250.°.5)63 . El art. 9.° dela LOMP, entendió la vigilancia e intervención antes mencionada comouna labor de inspección de la investigación propiamente policial del delito,de suerte que sólo le correspondía orientar a la policía en cuanto a laspruebas que era menester actuar, y supervigilarla para que cumpla lasdisposiciones legales pertinentes sobre el ejercicio oportuno de la acciónpenal; asimismo, amén de atribuirle la carga de la prueba y la titularidadde la acción penal (arts. 11.° y 14.°), le entregó el monopolio de la

62 Para una revisión integral de la Ley: SAN MARTÍN CASTRO, César: “Las medidas limitativas dederechos en la investigación preliminar del delito”. En: Revista “Actualidad Jurídica, Tomo 86,Enero, 2001, Lima, pp. 9-24.63 Así lo entendió, enfáticamente, la Corte Suprema en la Ejecutoria Suprema de fecha 16 defebrero de 1984, recaída en el exp. N° 319-84-Lima, al decir: “Al Ministerio Público le corresponde,entre otras facultades, vigilar e intervenir en la investigación del delito desde la etapa policial ypromover la acción penal de oficio o a petición de parte” (Vid.: Rev. Normas Legales, Tomo 126,marzo-abril, 1984, Lima, p. 460).

Page 143: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 143

promoción de la misma por delitos públicos, la exclusividad de la denunciapor estos delitos y la posibilidad de ordenar a la policía una indagaciónprevia, pues sus denuncias formalizadas debían escoltarse conelementos de convicción suficientes para disponer el procesamientojudicial del imputado (art. 94.°.2). Posteriormente, la Ley 24388 almodificar el art. 72.° CPP, primero, reconoció que el Ministerio Públicopodía realizar investigaciones previas sin la intermediación de la Policíay, segundo, otorgó a las actuaciones fiscales similar valor que lasactuaciones judiciales, siempre que el Fiscal y el defensor del imputadohayan intervenido en las diligencias de investigación. La Constituciónde 1993 desarrolla el poder de intervención fiscal, tanto al establecerque la investigación del delito es una actividad propia del Ministerio Públicoy no del Poder Judicial, cuanto al entregarle la dirección jurídico funcionalde la Policía en funciones de policía judicial, que para estos efectosesta obligada a cumplir sus órdenes (art. 159.°.4).

§ 16. La Ley 27379 no sólo reconoce un ámbito propio a lainvestigación fiscal del delito, reafirmando su carácter prejurisdiccional,sino que –esencialmente- instituye la posibilidad de que en esa fasepreprocesal, bajo conducción fiscal, sea posible que el Juez Penal, ainstancias del Ministerio Público, pueda dictar diversas medidaslimitativas de derechos: medidas cautelares –en puridad, precautelares-y medidas instrumentales restrictivas de derechos. Esto último es loque la doctrina alemana denomina medidas coercitivas, definidas porEllen Schlüchter, como aquellos actos procesales (la voluntad de lossujetos procesales se manifiesta en ellos) con los cuales se interfiere ointerviene un derecho fundamental de una persona contra su voluntadpor causa de la persecución penal64 .

El motivo de este espacio de investigación que permite imponermedidas limitativas de derechos se asienta, primero, en que la propiaLey Orgánica del Ministerio Público considera que la denuncia formalizadadel Fiscal es el vehículo de una inculpación formal que requiere indiciosde criminalidad para justificar el pedido de procesamiento judicial contra

64 SCHLÜCHTER, ELLEN: Derecho Procesal Penal, Ed. Tirant lo Blanch, Valencia, 1999, p. 64.

Page 144: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3144

una persona; y, segundo, en que la investigación del delito,específicamente, los vinculados a la delincuencia organizada y a los delitosno convencionales, necesita de un tiempo prudencial para suesclarecimiento, cuya eficacia exige que en su órbita puedan limitarsederechos, en vía cautelar o instrumental.

Las diligencias preprocesales o investigación preliminar permite alFiscal, receptor de todas las denuncias y Atestados Policiales por delitospúblicos, no provocar la iniciación de un proceso penal sin suficienteselementos de juicio y sólo por noticias y referencias cuya exactitud no hacontrastado. Por medio de la investigación preliminar, explica MorenoCatena, el Ministerio Público tiene un instrumento útil para depurar la realidady auténtica trascendencia delictiva de los hechos puestos en suconocimiento. El fiscal, precisa el mismo autor, puede practicar cualquiermedio de investigación, ya se trate de inspecciones oculares, informespericiales o declaraciones de implicados y testigos, a cuyo fin podrá hacercomparecer ante sí a cualquier persona en los términos establecidos en laLey para la citación judicial, a fin de recibirle declaración, en a cual seobservarán las mismas garantías señaladas en la Ley para la declaraciónjudicial; lo que no puede hacer, en cambio, es la adopción de medidascautelares personales y reales, así como medidas instrumentales limitativasde derechos fundamentales, que son de exclusiva competencia judicial65 .

§ 17. La citada Ley, al instituir esta especialidad procedimiental,tiene como objeto determinados delitos, que se consideran de especialgravedad y sus autores de extrema peligrosidad. Se trata de lossiguientes delitos:

1) Delitos cometidos por una pluralidad de agentes (dos o más)o por organizaciones criminales (estructuras organizadas con divisiónde funciones) que utilizan recursos públicos, o que intervenganfuncionarios o servidores públicos o cualquier otra persona que actúecon su consentimiento.

2) Delitos, que a continuación se indicarán, siempre que secometan por una pluralidad de agentes o que el agente forma parte de

65 MORENO CATENA, Víctor y otros. Ob. Cit., Vol. II, pp. 861/864.

Page 145: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 145

una organización criminal: delitos de peligro común, delitos contra laAdministración Pública (abuso de autoridad, concusión, peculado ycorrupción de funcionarios, delitos agravados, delitos aduaneros ydelitos tributarios.

3) Delitos de terrorismo clásico, Tráfico Ilícito de Drogas, TerrorismoEspecial, contra la Humanidad (genocidio, desaparición forzada depersonas y tortura) y contra el Estado y la Defensa Nacional.

En estos casos, el Fiscal está autorizado para solicitar al JuezPenal las siguientes medidas limitativas:

1. Detención preliminar del imputado.

2. Comparecencia restrictiva del imputado: detencióndomiciliaria, sometimiento al cuidado de una persona o institución,orden de presentación a la autoridad determinados días o de noausentarse de la localidad o de concurrir a determinados lugares, yprohibición de comunicarse con determinadas personas.

3. Impedimento de salida del país o de la localidad en dondedomicilia el imputado o del lugar que se le fije.

4. Embargo u orden de inhibición para disponer o gravar bienes.

5. Levantamiento del secreto bancario y de la reserva tributaria.

6. Exhibición y remisión de información en poder de institucionespúblicas o privadas.

7. Allanamiento de inmuebles o lugares cerrados fuera de loscasos de flagrante delito.

8. Inmovilización de bienes muebles y clausura temporal de locales.

9. Incautación de documentos privados, libros contables y debienes en general, así como interceptación de correspondencia.

§ 18. Estas medidas, específicamente las cautelares y, dentro deellas, las personales, sólo pueden imponerse en casos de estrictanecesidad y urgencia. Ambos conceptos definen el marco conceptualde esta institución. La necesidad exige que la medida sólo debeimponerse cuando resulta indispensable limitar un derecho para evitar

Page 146: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3146

el peligro de fuga, sin cuya ejecución el objetivo de aseguramiento sepuede frustrar. La urgencia –en cierto sentido un sinónimo de la necesidad-denota la obligación apremiante en atención a las circunstancias de lainvestigación de limitar un derecho para asegurar la persona del investigado.Ambos elementos, sin duda alguna, integran desde la lógica cautelar elpresupuesto material de peligro de fuga o de oscurecimiento de la actividadprobatoria (la denominada “necesidad cautelar o periculum in mora”).

Desde el punto de vista de la racionalidad de la imputación, paralimitar un derecho fundamental se requieren bases mínimas queacrediten cierta verosimilitud de los cargos [el denominado fumus delicti].La exigencia de actos de investigación, obviamente, varía según elderecho que se trate de limitar y el momento de la investigación. Así,para adoptar la medida más grave, la detención preliminar se debecontar con elementos de convicción mínimos que permitan advertirrazonable y justificadamente la verosimilitud de la participación delinvestigado en la comisión del delito imputado, de aquellos fijados en laLey. Se requiere, por tanto, base incriminatoria mínimamente suficiente,que por cierto es un elemento cuantitativamente menor al denominado“elemento probatorio” necesario para dictar mandato de prisiónprovisional con arreglo al art. 135.° CPP 1991.

En esta misma línea, aclara Banacloche Palao, el Tribunal Europeode Derechos Humanos afirma:

1) Que la corrección o incorrección de una detención hay queenjuiciarla caso por caso, teniendo en cuenta que el criterio habilitante dela detención debe ser la existencia de “razones verosímiles o plausibles”de la comisión de un delito, esto es, circunstancias que permitan conjeturarrazonablemente que el detenido ha participado en la realización de unhecho punible;

2) Que la existencia de sospechas o indicios racionales presuponela de hechos o informes adecuados para convencer a un observadorimparcial de que el individuo de que se trate pueda haber cometido el delito[caso Fox, Campbell y Hartley, sentencia de 30 de agosto de 1990]; y,

3) Que los hechos que puedan dar origen a las sospechas racionalesno deben ser del mismo nivel que los necesarios para justificar una

Page 147: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 147

condena, incluso para formalizar una acusación, que deben tener lugaren una ulterior fase del proceso penal [caso K.F. contra Alemania,sentencia de 27 de noviembre de 1997]66 .

Por otro lado, cabe acotar, en primer lugar, que el sujeto legitimadopara requerir las medidas limitativas es el Fiscal Provincial, a quien porcierto pueden solicitarla la víctima, el Procurador Público (abogado delEstado) o la Policía. En segundo lugar, el sujeto pasivo de estas medidases por regla general –siempre en las medidas cautelares personales- esla persona formalmente investigada en sede preliminar. En tercer lugar,las medidas son temporales: 15 días imporrogables para la detenciónpreliminar y 15 días, susceptible de una prórroga judicial por igual plazo,para las demás medidas cautelares personales y reales.

§ 19. En cuanto a la denominada detención preliminar es del casopuntualizar seis datos esenciales para su ulterior análisis constitucional.

1. Requerida la detención preliminar por el Fiscal al Juez Penal, éstepuede aceptar el pedido, desestimarlo de plano u optar por cualquiera delas formulas restrictivas arbitradas para la comparecencia según la propialey (detención domiciliaria, sometimiento al cuidado de una persona etc.),la cual a diferencia del modelo de alternativas previstas para el ámbitopropiamente procesal o jurisdiccional no acepta la libertad caucionada. Aeste respecto, siguiendo a Franco Cordero, el Juez tendrá en cuenta,como no podía dejar de hacerlo, la naturaleza y grado de la necesidadcautelar y, luego, la entidad del hecho y pena presumible a imponerse67 .

2. Aceptado el pedido del Fiscal, expedida la orden de captura yejecutada la detención por la Policía, ésta inmediatamente debe poneral detenido a disposición de la Fiscalía que requirió el mandato judicial.El Fiscal comunicará al reo por escrito las causas o razones de sudetención (vid.: art. 139.°.14 Const.). Acto seguido, el Fiscal le tomará sudeclaración, siempre que sea posible en ese breve lapso y el imputado

66 BANACLOCHE PALAO, Julio: Los Derechos a la Libertad y a la Seguridad y supuestos dedetención en el Derecho Español. En: Seminario sobre la jurisprudencia del TEDH, GeneralitadValenciana, Valencia, 1998, p. 55/56.67 CORDERO, Franco: Procedimiento Penal, Ed. Temis, Bogotá, 2000, pp. 405/407.

Page 148: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3148

acepte ser interrogado y en tanto sea factible que éste cuente con laasistencia de un defensor de su confianza o de oficio. Finalmente, antesde las 24 horas lo pondrá a disposición del Juez Penal, con todas lasevidencias, actas y diligencias realizadas en ese brevísimo lapso.

3. El Juez Penal, acto seguido, realizará una audiencia de examende la detención, con presencia del detenido, su abogado y el Fiscal, porlo que ésta tiene un carácter privado, excluyéndose la asistencia eintervención de toda persona ajena a las autorizadas por la ley. Estadiligencia judicial está destinada, obligatoriamente, a verificar la identidaddel detenido y garantizar el ejercicio de sus derechos, así como aexaminar y resolver las incidencias que se planteen en su desarrollo. ElJuez, desde esta perspectiva, puede:

a) liberar al detenido si no es la persona contra quien se dictó ladetención o cuando –como consecuencia de nuevas evidenciasrealizadas en ese breve lapso entre la orden de detención y la puesta adisposición judicial- se enerva el fumus boni iuris o el periculum in mora;

b) modificar la detención por otra medida menos intensa, segúnel tenor de los indicios presentados en orden a la atribución del hechopunible y al peligrosismo procesal; o,

c) ratificar la detención, si los nuevos indicios no enervan elmandato dictado anteriormente [es obvio que no se puede cambiar dedecisión con una nueva valoración realizada sobre base exclusiva almaterial analizado al dictar la medida].

4. La medida de detención dictada no es definitiva, no causaestado. Está sometida, como toda medida cautelar, a la regla del rebussic stantibus, por lo que, previa audiencia de reexamen de la detención,el Juez –a pedido del imputado- puede variarla si decaen lospresupuestos materiales que en su día justificaron su imposición, seaimponiendo una medida alternativa menos intensa o, levantándola,disponiendo la comparecencia simple o mera citación cautelar.

5. El control de la detención está reservada al Juez. A instancia departe se llevará a cabo una audiencia de control de la detención cuandose alegue una afectación del derecho de defensa del detenido o la presencia

Page 149: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 149

de irregularidades, graves y trascendentes, durante la investigación preliminar.Si el Juez las estima fundadas, en tanto lesionan gravemente la posiciónjurídica del imputado y distorsionan el objetivo investigatorio, a cuya efectividadse dictó la restricción de la libertad, ordenará:

a) se comunique al Fiscal Superior las irregularidades advertidas;

b) se concluya la investigación preliminar; y,

c) que el Fiscal Provincial en el término de 24 horas decida lapromoción de la acción penal o el archivo de las actuaciones. Lasresoluciones que se dicten en ese ámbito son inimpugnables, pero si elpedido del imputado se desestima, la resolución que lo acuerdo, desdeluego, es apelable en un plazo de tres días.

6. La detención preliminar se lleva a cabo en un EstablecimientoPolicial. Su ejecución es de responsabilidad del Ministerio Público.Corresponde al Juez decidir el local policial de detención preliminar yautorizar el cambio de sede.

§ 20. En cuanto a las alternativas a la detención, la medida decomparecencia restrictiva, es del caso apuntar tres datos especialmenterelevantes.

1. El Fiscal Provincial puede solicitar al Juez Penal un mandatode comparecencia restrictiva, bajo las alternativas previstas en el art.143° del CPP 1991, que en rigor reproduce la Ley con la sola excepciónde la libertad caucionada. Cabe insistir que el Juez, frente a unrequerimiento fiscal de detención preliminar, puede optar por dictarmandato de comparecencia restrictiva.

2. De la lectura del art. 143° CPP 1991, que en puridad es la basedel art. 2°.1 in fine de la Ley, fluye que esta medida se impone, desdeuna perspectiva negativa, cuando no corresponde la detención, decisiónque desde luego está informada por los principios de intervenciónindiciaria y de proporcionalidad; y, desde una perspectiva positiva, cuando(a) se está ante un delito de mediana gravedad o entidad, o (b) losindicios aportados por el Fiscal tienen consistencia en relación al fumusdelicti, aunque respecto al periculum in mora, atento a las característicasdel caso, del hecho imputado y del individuo –a su actuación personal y

Page 150: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3150

moralidad- permiten un medio de aseguramiento menos intenso que ladetención. En el caso de la Ley analizada la evaluación, si bien tienecomo primer referente la entidad del delito objeto de investigaciónpreliminar, se centra en el conjunto de indicios de criminalidad presentesen el momento de calificación, y en el nivel o entidad de los riesgos parala eficacia de la investigación que existen en el caso concreto.

3. Estas medidas alternativas a la detención tienen una duraciónmáxima de 15 días, pero pueden prorrogarse por un plazo igual, entanto la investigación no está concluida y subsistan las bases indiciarias(fumus delicti) y los riesgos que determinaron la imposición de lasmismas (periculum in mora atenuado). Al vencimiento del plazo, en tantono se haya dictado una medida en sede judicial al iniciarse el procesopenal, decaen y se levantan de pleno derecho; por tanto, ni siquierahace falta una resolución de cesación.

§ 21. La dación de esta Ley, inclusive en su fase de elaboración ydiscusión parlamentaria, suscitó un debate acerca de la necesidad ylegitimidad de las medidas limitativas, en especial de la detenciónpreliminar. Finalmente se impuso la posición favorable a la nueva ley.Se estimó que si la investigación del delito es un acto de autoridad –como consecuencia del principio de oficialidad- y si ésta puede durarun tiempo variable, aunque siempre breve, el riesgo de ineficacia enatención al peligro por la demora puede resultar muy serio y frustrante,lesionando de ese modo el valor eficacia de la persecución penal; estoúltimo explica y justifica que el aseguramiento es una de las funcionesinsustituibles de la investigación penal. Por lo demás, desde laperspectiva criminalística se considera que, si en los primerosmomentos de la investigación no se obtienen y aseguran rápidamentelas fuentes de prueba y a las personas vinculadas al delito, la meta delesclarecimiento se vería seriamente dificultada. Su indispensabilidades, como postula Roxín, a todas luces indiscutible, de suerte que elproceso penal no puede funcionar sin ellas68 .

68 ROXIN, Claus: Derecho procesal penal, Ed. Del Puerto, Buenos Aires, 2000, p. 249.

Page 151: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 151

En la justificación de esta especialidad procedimental se invocólos nuevos modelos legislativos diseñados en los últimos intentos dereforma integral del proceso penal peruano. Tanto el Código ProcesalPenal de 1991, como el Proyecto de 1995, que aunque instituyen –con un rigor que es del caso revisar en su oportunidad- una tajantedivisión entre lo que denominan investigación preliminar [realizadapor el Fiscal directamente o por la Policía bajo dirección o conduccióndel Fiscal, en una fase previa a la inculpación formal] e investigaciónformal (que prosigue, de ser el caso la investigación preliminar, unavez que se haya promovido la acción penal y el juez haya aprobado lamisma expidiendo el auto de procesamiento correspondiente), hanvenido reconociendo pacíficamente la existencia de medidascoercitivas en sede de investigación preliminar, que para el caso elFiscal debía solicitar al Juez Penal69 .

§ 22. La Constitución Nacional se refiere en muchas de sus normasa la limitación o restricción de derechos con obvios fines de afirmar lajusticia penal y garantizar la seguridad ciudadana. Menciona, por ejemplo,sin perjuicio de exigir ley expresa (art. 2.°.24.’b’): 1) que el secreto bancarioy la reserva tributaria se pueden levantar a “pedido” del juez (art. 2.°.5); 2)que el allanamiento domiciliario requiere, fuera de la flagrancia,“mandamiento motivado” del juez (art. 2.°.9); 3) que la intervención decomunicaciones y documentos privados requiere “mandamiento motivadodel juez”, al igual que la incautación de libros, comprobantes y documentoscontables y administrativos (art. 2.°.10); 4) que la limitación de la libertadde tránsito requiere “mandato judicial” (art. 2.°.11); y, 5) que la detencióncon fines de persecución penal procede por “mandamiento escrito ymotivado del juez”, en cuyo caso el detenido debe ser puesto a disposición

69 El art. 197° CPP 1991 establece lo siguiente en su párrafo in fine: “Asimismo, en casos deurgencia y peligro por la demora, antes de iniciar formalmente la investigación podrá solicitar [elFiscal Provincial] al Juez Penal dicte mandato de detención [...] cuando no se da el supuesto deflagrancia, así como las medidas coercitivas señaladas en el Título III del Libro Segundo de esteCódigo”. Las medidas coercitivas establecidas en el Título citado son, entre otras, la detencióndomiciliaria, la obligación de no ausentarse de la localidad, el impedimento de salida del país, elcontrol de comunicaciones, el embargo etc.

Page 152: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3152

del Juzgado correspondiente dentro de las 24 horas o en el término de ladistancia, el que puede asumir jurisdicción antes de vencido el plazo de15 días en delitos exceptuados (art. 2.°.24’f’).

Como se observa de las disposiciones constitucionales citadas,lo que –en principio- se requiere para limitar derechos con fines deinvestigación penal es la existencia de una orden judicial, que debe serescrita y motivada (vid.: art. 139.°.5 Const.). Obviamente la ley que reguleestos poderes al Juez, y sólo al Juez, debe establecer un procedimientoque establezca competencias y ritos puntuales, así como requisitos,garantías, recursos, etc., en resguardo no sólo de la eficacia, sino delvalor justicia y de la incolumidad de los derechos fundamentales.

La Constitución Política no impone que exista un proceso judicialabierto, un auto de procesamiento, o que el Fiscal indefectiblementehaya promovido la acción penal y el Juez la hubiera aceptado, paraprever la posibilidad de dictarse –por el Juez- medidas coercitivas. Deno ser así no se explicaría la existencia de una fase fiscal propia de lainvestigación, pese a que la Constitución encarga esa tarea al MinisterioPúblico; además, contradictoriamente, no se tendría en cuenta, apropósito de la eficacia, las nociones de urgencia y peligro por la demora.

Por otro lado, el Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos,en una línea más amplia que nuestra Constitución, por ejemplo, (1) prohibela detención o prisión arbitraria, que según el Comité de DerechosHumanos de Naciones Unidas es aquella impuesta fuera de los marcoso causas legales preestablecidas y con infracción de los procedimientosque la ley estatuye, así como dictada conforme a una ley cuya finalidadfundamental sea incompatible con el respeto del derecho del individuoa la libertad y la seguridad70 ; (2) establece que el detenido o preso debeser puesto sin demora ante un juez y que tiene derecho a ser juzgadodentro de un plazo razonable o a ser puesto en libertad; (3) permite ladetención para asegurar el procedimiento y que el detenido o preso

70 Vid.: O’DONNELL, Daniel: Protección internacional de los derechos humanos. Comisión Andinade Juristas, Lima, 1988, pp. 125 y 130.

Page 153: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 153

tiene el derecho recurrir ante un juez para que decida sobre la legalidadde su detención; y, (4) veda las injerencias arbitrarias o ilegales en lavida privada de las personas, así como las limitaciones a la libertad detransito. La Convención Americana de Derechos Humanos, en su art.7°, reitera los postulados del Pacto Internacional. En lo particular, precisa:(1) que la privación de la libertad física procede por las causas y en lascondiciones fijadas de antemano por las Constituciones Políticas delos Estados Partes o por las leyes dictadas conforme a ellas; (2) que eldetenido debe ser informado de las razones de su detención y notificado,sin demora, del cargo o cargos formulados contra él; y, (3) que debeser llevado, sin demora, ante un juez u otro funcionario autorizado porla ley para ejercer funciones judiciales, y tendrá derecho a ser juzgadodentro de un plazo razonable.

El conjunto de preceptos citados, incluida nuestra Constitución, loque disponen es la existencia de una norma con rango de ley que desarrolleestas posibilidades y que, en su día, garantice la puntual y efectivaintervención judicial. No se requiere la existencia de un proceso judicialprevio a la expedición de una resolución cautelar, situación que se deja enmanos del derecho interno y, en nuestro caso, de la ley ordinaria.

§ 23. Las medidas coercitivas en general y las cautelares en loespecífico, con arreglo a las normas supranacionales y constitucionalesdeben cumplir, para ser legítimas, con varios principios y garantíasabsolutamente necesarios. Son los siguientes:

1. Principio de primacía de la ley y del derecho o de legalidadprocesal. Significa que en cada caso de intervención estatal que afectelos derechos fundamentales de una persona, la ley deberá prever y fijarlos requisitos y las consecuencias jurídicas de cada autorización deintervención71 . Su objetivo, en tanto fundamento justificativo, siempredebe estar en asegurar el proceso.

2. Principio de jurisdiccionalidad. Fundamentalmente, el Juez esel único que puede dictarlas, ellos poseen en esta materia la primera

71 SCHLÜCHTER, Ellen. Ob. Cit., p. 65.

Page 154: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3154

palabra. Sólo por razones de urgencia y expresa habilitación constitucionalpueden hacerlo otras autoridades, obviamente con cargo inmediato a unexamen judicial de la medida72 .

3. Principio de intervención indiciaria. Toda medida que limite underecho fundamental y, en especial, la detención requiere de “indicios decriminalidad”, cuyo nivel de exigencia variará según el derecho limitado,el estado y circunstancias de la causa, y el carácter de la medida. Éstosvarían desde sospechas simples a sospechas vehementes. En principio,debe existir datos, hechos o datos plausibles que permitan al juez estimarla existencia de una conducta delictiva y la participación en ella del imputadoo de la persona contra quien se dicta la medida, así como algún tipo deinformación, en función al individuo, en orden a los fines procesales quepersiguen mantenerse incólumes. Este principio –considerado unagarantía constitucional, de carácter implícito y transversal, inherente a lanoción de Estado de Derecho y que está en la propia esencia de losderechos fundamentales- es, desde luego, independiente del deproporcionalidad al que se le suele integrar, puesto que está focalizadoen exigencias fácticas, independientemente de otra consideración, quepermitan entender que existe fundamento para limitar un derechofundamental, a partir del cual puede razonarse el nivel, intensidad yextensión de una concreta coerción73 .

La necesidad de indicios delictivos ha sido enfatizada, por ejemplo,por el Tribunal Europeo de Derechos Humanos en el “caso Klass”(STEDH, 6 de septiembre de 1978). Señala al respecto AsencioMellado, dado cuenta de ese fallo: “[...] la restricción de derechos en elámbito de una investigación penal, sólo resulta justificada frente apersonas sobre las que recaigan indicios delictivos, estoes, se trate, entérminos procesales, de imputados.- Se trata con ello, se afirma enesta misma sentencia, de garantizar que las medidas restrictivas seadopten únicamente “a posteriori” de la comisión de un delito, y se dirijan

72 ASENCIO MELLADO, José María: Ob. Cit., p. 127.73 MARTÍN MORALES, Ricardo (Coordinador): El principio constitucional de intervención indiciaria.Parte Primera: Teoría General, Grupo Editorial Universitario, Madrid, 2000, pp. 10/23.

Page 155: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 155

a su investigación.- En este sentido, se prohíben, pues-y esta es laprincipal repercusión de la exigencia-, las medidas adoptadas paraverificar un fin de vigilancia exploratoria o personal”74 .

4. Principio de proporcionalidad. Se trata de un principio jurídico-constitucional que, al decir de Gonzáles Cuellar Serrano, incorporacomo requisitos generales, amén de orden judicial motivada –en elsentido de suficiente y razonable, sin errores patentes ni generación deindefensión (STC Español 66/1997, de 7 de abril)- y “[...] delreconocimiento de fines constitucionalmente legítimos y congruentescon la medida a adoptarse” (STC Español 44/1997, de 10 de marzo),que la medida limitativa sea idónea, necesaria y estrictamenteproporcional75 . La proporcionalidad, postula Pedraz Penalva, exige quelos derechos fundamentales sólo han de ser limitado en la estrictamedida en que fuere inevitable para amparar intereses generales; laintromisión ha de ser adecuada y necesaria para alcanzar el fin deaseguramiento del procedimiento de conocimiento o de ejecución, dela administración de justicia penal; objetivo que debe ser alcanzado através de un medio idóneo y menos gravoso, reconociendo que la cargaimpuesta ha de estar en razonable relación con las ventajas que derivarántanto para el investigado como para la generalidad76 . Por tanto, comopor ejemplo apunta el Tribunal Supremo de España, “la detención ha deser dispuesta sólo cuando de forma inequívoca se dan los presupuestosestablecidos en la ley y de acuerdo con el principio de proporcionalidad,por lo que debe adecuarse al fin perseguido y tomarse únicamente encasos concretos y en la forma prevista por la ley“ (STS de 16 de octubrede 1993 y de 7 de mayo de 1997)77 .

5. Garantía de ejecución de la restricción. La medida ha de serejecutada con respeto a unas mínimas garantías que tienden tanto a

74 ASENCIO MELLADO, José María: “Los derechos contemplados en el art. 8° del ConvenioEuropeo de Protección de los derechos Humanos y de las Libertades Fundamentales”. En: Seminariosobre la Jurisprudencia..., Ob., Cit., p. 153.75 GONZÁLEZ CUELLAR SERRANO, Nicolás: Proporcionalidad y Derechos Fundamentales en elproceso penal, Ed. Colex, Madrid, 1990, pp. 69 y ss.76 PEDRAZ PENALVA, Ernesto y otros: Derecho procesal penal, Tomo I, Ed. Colex, 2000, p. 154.77 RODRÍGUEZ FERNANDEZ, Ricardo: Derechos fundamentales y garantías individuales en elproceso penal, Ed. Comares, Granada, 2000, p.137.

Page 156: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3156

asegurar la fiabilidad del medio utilizado, como la integridad de la personainvestigada78 (v.gr.: presencia y dirección del Fiscal en su ejecución inicial,conocimiento de cargos, respeto del derecho de defensa y control judicialulterior y permanente). En esta misma perspectiva, en tanto elementoque integra esta garantía, la ley debe prever los recursos impugnatorioscorrespondientes y la posibilidad de instar reclamos o solicitudesefectivas para garantizar la provisionalidad, racionalidad y temporalidadde la medida, es decir, su permanente revisión.

La detención preliminar dispuesta por la Ley n.° 27379 cumple losprincipios y garantías arriba enunciados. No sólo –por lo ya expuesto- noestá prohibida por la Constitución, sino que desarrolla acabadamente todoslos postulados de control y garantía necesarios para evitar su adopciónarbitraria y generar indefensión. El Juez tiene permanente injerencia enella, no sólo porque él es quien la dicta, sino porque el imputado es puestoa disposición judicial antes de las 24 horas y a su cargo está el desarrollode cumplidas audiencias de examen de la detención (la inicial y obligatoria),de reexamen de la misma y de control de su ejecución, a pedido delimputado; además, está autorizada la impugnación y el inmediatoconocimiento en vía de alzada por el Tribunal Superior.

III. LA PRISIÓN PREVENTIVA.

A. Descripción, fundamento y fines.

§ 1. El art. 2.°.24.f) de la Constitución Nacional reconoce de modogeneral el encarcelamiento preventivo de las personas como unaconcreta limitación de la libertad personal; no menciona expresamentea la prisión preventiva. Dicha norma exige, como presupuestosformales, la intervención de una autoridad judicial; y, que la decisióntomada por esta autoridad conste por escrito y esté debidamentemotivada. Esto último es concordante con lo dispuesto por el art. 139.°.5

78 ASENCIO MELLADO, José María: Ob.Cit., p. 127.

Page 157: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 157

de la propia Constitución Política, que considera como un principio dela función jurisdiccional: “La motivación escrita de las resolucionesjudiciales [...] con mención expresa de la ley aplicable y de losfundamentos de hecho que se sustentan”. Cabe señalar, sin embargo,que el art. 9.°.3 –segunda oración- del Pacto Internacional de DerechosCiviles y Políticos le otorga carta expresa de ciudadanía, al señalar:“La prisión preventiva de las personas que hayan de ser juzgadas nodebe ser la regla general, pero su libertad podrá estar subordinada agarantías que aseguren la comparecencia del acusado en el acto deljuicio, o en cualquier otro momento de las diligencias procesales y, ensu caso, para la ejecución del fallo”.

En virtud de la exigencia constitucional de regulación por ley detoda forma de restricción de la libertad personal (art. 2.°.24.’b’), el CódigoProcesal Penal de 1991, vigente en este extremo, cumple ese cometidoacabadamente. La norma básica es el art. 135° CPP, cuyo tenor literal,según el texto últimamente definido a partir de la Ley n.° 27226, de 17de diciembre de 1999, es el siguiente:

“El Juez puede dictar mandato de detención si atendiendoa los primeros recaudos acompañados por el FiscalProvincial sea posible determinar:1. Que existen suficientes elementos probatorios de lacomisión de un delito doloso que vincule al imputado comoautor o partícipe del mismo.

No constituye elemento probatorio suficiente la condiciónde miembro de directorio, gerente, socio, accionista,directivo o asociado cuando el delito imputado se hayacometido en el ejercicio de una actividad realizada por unapersona jurídica de derecho privado.

2. Que la sanción a imponerse sea superior a los cuatroaños de pena privativa de libertad; y,

3. Que existen suficientes elementos probatorios paraconcluir que el imputado intenta eludir la acción de la justiciao perturbar la actividad probatoria. No constituye criteriosuficiente para establecer la intención de eludir a la justicia,

Page 158: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3158

la pena prevista en la Ley para el delito que se le imputa.En todo caso, el Juez Penal podrá revocar de oficio elmandato de detención previamente ordenado cuandonuevos actos de investigación pongan en cuestión lasuficiencia de las pruebas que dieron lugar a la medida”.

Por tanto, se puede entender la prisión preventiva –siguiendo enlo pertinente a Gimeno Sendra- como la situación nacida de unaresolución jurisdiccional de carácter provisional y duración limitada porla que se restringe el derecho a la libertad personal del imputado por undelito de especial gravedad y en quien concurre un peligro de fugasuficiente para presumir racionalmente que no acudirá a la llamada dela celebración del juicio oral o -agregamos nosotros a partir de la leynacional- un peligro de entorpecimiento de la actividad probatoriasuficiente para poner en peligro el deber social de esclarecimientoimpuesto a los órganos de persecución79 .

§ 2. Sin duda alguna, pese a que rebasaría el presente estudio elnecesario y siempre renovado análisis profundo de la finalidad y legitimidadde esta medida, la prisión preventiva –en tanto es la limitación más gravosade todas las medidas cautelares personales al suponer la privación de lalibertad y afectar, por ello, de modo intenso la dignidad de la persona-exige, como reconoce Barona Vilar, una necesaria ponderación de losintereses en juego, que son el derecho a la libertad de todo ciudadano y asu presunción de inocencia y el derecho de la sociedad a mantener elorden y la seguridad para la convivencia pacífica; ponderación que requiereque toda privación de libertad debe:

1) estar predeterminada por ley;

2) encontrarse justificada en la ley el fin de la privación; y,

3) tener predeterminados legalmente los presupuestos,condiciones y elementos necesarios que deben concurrir para que puedaproducirse la citada privación80 .

79 GIMENO SENDRA, Vicente: los procesos penales, Ob. Cit., p. 126.80 BARONA VILAR, Silvia: Prisión provisional: “sólo” una medida cautelar (reflexiones ante ladoctrina del TEDH y del TC, en especial de la STC 46/200, 17 febrero). Rev. Actualidad Penal, N°42, noviembre 2000, Madrid, pp. 894/895.

Page 159: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 159

Lo esencial es, sin duda, identificar el fin constitucionalmentelegítimo que pueda justificarla (la libertad personal, desde luego, noes un derecho absoluto). La eficacia de la persecución de los delitos,entendida genéricamente como la justificación básica de la prisiónpreventiva, en tanto especificación de la tutela cautelar penal, seconcreta en último término en la imprescindible función cautelar quese le asigna: garantizar o, más ampliamente, prevenir 1) la presenciadel imputado para la ejecución de la sanción a imponerse (funcióncautelar-final) y, relativamente, 2) la debida incorporación de lasevidencias que permitan la reconstrucción, con la mayor aproximaciónposible, de los hechos delictivos objeto de imputación y de laparticipación en ellos del imputado (función cautelar-instrumental); esdecir, la fuga o el peligro de fuga y la contaminación probatoria.

Es cierto, no obstante ello, que la prisión preventiva es unainstitución difícil de justificar dado lo contradictorio que significa que seprive de la libertad a una persona sin haber sido juzgada, merced ameros indicios y no de auténticas pruebas, sin haber sido sometido aun juicio oral contradictorio en el que haya podido ejercitar con todaslas garantías su derecho de defensa y obtenido una resolución definitiva,amén de que en si misma importa una efectiva disminución de lasposibilidades de defensa del imputado y una sensible limitación de lapresunción de inocencia. Empero, frente a tales cuestionamientos, dehondo calado por cierto, cabe exigir una regulación legal de dichainstitución circunscripta a sus fines estrictamente procesales,cautelares, evitando en todo momento adulterarlos, o adicionando aellos fines o funciones de prevención general y especial propias de laspenas y de las medidas de seguridad81 .

En esta perspectiva, Hassemer insiste en que no se encuentra ala vista una alternativa idónea para hacer uso de la prisión preventiva,posibilidad que se deriva de claros presupuestos fundamentales delderecho procesal penal:

81 JORGE BARREIRO, Alberto: La prisión provisional en la Ley de Enjuiciamiento Criminal (I). En:La Ley, Año XVIII, N° 4997, mayo 1997, Madrid, pp. 1/2.

Page 160: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3160

1) si la sospecha de un hecho punible se encuentra fundada,entonces debe tener lugar el procedimiento penal;

2) si la sospecha se dirige contra una persona determinada,entonces, esa persona debe ser parte en el proceso penal (elprocedimiento no puede estar limitado exclusivamente a los auxiliaresjurídicos profesionales);

3) debe ser posible jurídicamente, en ciertas partes delprocedimiento, mantener a la persona sospechosa corporalmentepresente (a esa persona le debe estar prohibido renunciar totalmente asu participación); y,

4) el procedimiento debe asegurar las consecuencias jurídicas queproduce (no puede quedar sujeto a la voluntad del condenado el sustraerseprematuramente a la consecuencia penal). En tanto deban permanecerfirmes estos presupuestos, la prisión preventiva por fuga, peligro de fuga,y –menos necesariamente- por peligro de obstrucción de la averiguaciónde la verdad debe ser jurídicamente posible, pues de otro modo estospresupuestos no serían realizables82 .

La Ley, en consecuencia, debe prever el fin constitucionalmentelegítimo que justifique la prisión preventiva; fin que, por ejemplo y comoapunta la sentencia del Tribunal Constitucional Español 46/2000 de 17 defebrero, debe expresarse en la resolución que se acuerda y que, junto ala gravedad de la pena que pudiera llegar a imponerse, se examinen, enel juicio de proporcionalidad que requiere la adopción de la medida, lascircunstancias particulares del hecho y del presunto autor del mismo.Asimismo, la compatibilidad con el principio de inocencia, requiere que laresolución de prisión preventiva sea fundada en derecho y se pronunciecuidadosamente acerca de la finalidad que, en el caso concreto, sepersiga: fuga u oscurecimiento (utilidad del aseguramiento) y de lascircunstancias concurrentes en el caso, evaluando al efecto toda lainformación disponible en el momento en que ha de adoptarse la decisión.

82 HASSEMER, Winfried: Crítica al derecho penal de hoy, Ed. Ad Hoc, Buenos Aires, 1998, pp. 115/116.

Page 161: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 161

B. Notas características y presupuestos.

§ 3. En tanto medida cautelar está sujeta a una serie de notascaracterísticas o esenciales. Del concepto que se ha dado de prisiónpreventiva fluyen las siguientes:

1. Jurisdiccionalidad. En tanto la jurisdicción, como ya se dijo,tiene la primera palabra en materia de protección de la libertad, conservael monopolio de la imposición de la prisión preventiva. Así lo estipulanuestra Constitución, que a su vez exige que sólo el juez penalcompetente –como juez natural- pueda hacerlo.

2. Proporcionalidad. La prisión preventiva, en primer lugar, sóloprocede en virtud de causas legales preestablecidas, de motivostasados que justifican el sacrificio del derecho fundamental a la libertad,debidamente motivados en la resolución judicial. Como tal fija unparámetro objetivo, centrado en delitos que pueden merecer en el casoconcreto una pena superior a cuatro años de privación de libertad (criteriodel quantum del gravamen de la imputación), conjugado con dosestándares alternativos: peligro de fuga o peligro de entorpecimiento.

En segundo lugar, la prisión preventiva debe justificarse objetivamentepara obtener el cumplimiento de los fines constitucionales que la legitiman.La necesidad, desde esta perspectiva, entraña, de un lado, considerarque la prisión preventiva es excepcional –la prisión preventiva es laexcepción frente a la regla general de la libertad de las personas, deesperar el juicio en estado de libertad, o en su caso mediante la restricciónde la libertad en cualquier de sus manifestaciones que no comporte laprivación de la misma- y, por ello, debe adoptarse cuando se cumplanescrupulosamente los fines que la justifican; y, de otro lado, entenderque sólo se impondrá si no existe alguna otra alternativa menos gravosapara el derecho a la libertad personal (subsidiaridad), al punto que siestas exigencias no se mantienen a lo largo de todo el procedimiento,es del caso que se disponga su excarcelación inmediata, que importala vigencia de la cláusula rebus sic stantibus.

Una nota esencial, que tiene plena autonomía con la proporcionalidadaunque íntimamente ligada a ella, es la intervencion indiciaria. Se necesitan

Page 162: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3162

determinados elementos de juicio que permitan estimar la realidad deldelito imputado y probable la participación delictiva del imputado.

3. Provisionalidad. La prisión provisional sólo durará mientrassubsistan los motivos que la hayan ocasionado, por lo que, atento a lacláusula rebus sic stantibus, si varían las circunstancias quedeterminaron su imposición el Juez debe variarla; como tal, es revisableen cualquier momento del procedimiento. A este respecto, es posibleque dicte mandato de comparecencia, otorgue libertad provisional oconceda libertad incondicional, según los casos (vid.: arts. 135.° in fineCPP 1991, 180.° CPP 1991 y 201.° CPP 1940).

A ello se agrega un requisito específico: la temporalidad, reconocidoen el art. 137.° CPP 1991, modificado por el Decreto Ley n.° 25824, de 9de noviembre de 1992. En tal virtud, según la gravedad del delito y elprocedimiento que tiene asignado, se fijan plazos predeterminados, acuyo vencimiento el Juez debe poner en libertad al procesado.

4. Instrumentalidad. En la medida que el transcurso del tiemponecesario para la realización de los actos procesales de investigación,enjuiciamiento y sanción, pueda poner en peligro el éxito del proceso dedeclaración y/o de ejecución, el Juez está autorizado a limitar la libertadpersonal del imputado, bajo parámetros estrictamente configurados dedirecta relevancia constitucional (medida cautelar que, por afectar elderecho a la libertad y la presunción de inocencia, incide sobre la personaque la padece). La prisión preventiva, por tanto, persigue garantizar elnormal desarrollo del proceso y, por tanto, la eficaz aplicación del iuspuniendi, que es precisamente la nota de instrumentalidad que loconfigura como medio para alcanzar esa doble finalidad83 ; su adopcióndepende de la concurrencia de una posible imputación. Esta última nota,al igual que la provisionalidad, como enfatiza Moreno Catena, más alláde reconocer la extraordinaria semejanza que la prisión preventiva tienecon las penas de privación de libertad, es lo que desde un punto devista jurídico procesal permite diferenciarla claramente de ellas84 .

83 ARAGONESES MARTINEZ, Sara: Derecho Procesal Penal, Ob. Cit., p. 381.84 MORENO CATENA, Víctor: los procesos penales, Ob. Cit., p. 1657.

Page 163: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 163

§ 4. La prisión preventiva, en tanto es una medida cautelar penalde naturaleza personal, está sometida de conformidad con el art. 135°CPP 1991 a los siguientes presupuestos materiales:

1) Fumus comissi delicti. Se trata de una expresión utilizada porGuariniello, que adapta al proceso penal la expresión propia del procesocivil del fumus boni iuris o apariencia de buen derecho. Cordero explicaque se trata de una prognosis sobre el fondo y constituye un requisitosimétrico con el fumus boni iuris del derecho civil85 .

Consta, al decir de Ortells Ramos, de dos reglas. La primeraregla está referida a la constancia en la causa de la existencia de unhecho que presente los caracteres de delito. Comprende los aspectosobjetivos del delito, no los condicionantes de la responsabilidad penalque se dan en la atribución subjetiva del delito a una personadeterminada. Los datos de la investigación han de ofrecer plenaseguridad sobre estos aspectos, por lo que en caso de duda no esposible acordar la prisión86 .

La segunda regla está en función, propiamente, al juicio de imputacióncontra el imputado. Este juicio debe contener un elevadísimo índice decertidumbre y verosimilitud acerca de la intervención del encausado en elhecho delictivo. Se requiere, por tanto, algo más que “un indicio racional decriminalidad”; el plus material es la existencia de una sospecha motivada yobjetiva sobre la autoría del imputado, al punto que a ello se agrega que nose acredite la concurrencia de alguna causa de exención o de extinción dela responsabilidad penal87 . Roxín, en esta misma perspectiva, señala quedebe existir un alto grado de probabilidad de que el imputado haya cometidoel hecho, y de que estén presentes todos los presupuestos de la punibilidady de la perseguibilidad; y, aclara que cuando de forma manifiesta queda delado la culpabilidad a causa de incapacidad de imputabilidad, entra enconsideración una orden de internación88 .

85 CORDERO, Franco: Procedimiento Penal, Tomo I, Ed. Temis, Bogotá, 2000, p. 40486 ORTELLS RAMOS, Manuel: Derecho Jurisdiccional, Ob. Cit., pp. 455/456.87 GIMENO SENDRA, Vicente: Los procesos penales, Ob. Cit., p. 137.88 ROXIN, Claus: Ob. Cit., p. 259.

Page 164: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3164

2) Periculum libertatis. Traduce la necesidad cautelar, que buscaevitar que durante el iter procesal ocurran cosas nocivas a los intereseslesionados. Se trata del peligro de retraso o de daño jurídico, pero quetratándose de medidas cautelares penales personales –siguiendo aPedraz Penalva y Arangüena Fanego- no es de recibo denominarpericulum in mora a este presupuesto, en la medida que incide en larespuesta limitativa del derecho a la libertad para garantizar la eficaciadel proceso de conocimiento o de ejecución89 .

Dos son los motivos de prisión preventiva que bajo su amparo es delcaso postular y que, en puridad, en cuanto se trata de límites de la misma,son -enfatiza Hassemer- concreciones del principio de proporcionalidad90 :

A. El primer motivo está referido a la pena prevista en el casoconcreto para el imputado, siempre que se trate de la comisión un delitodoloso [se excluye por completo el delito culposo o imprudente]; el art.135.°.1 CPP 1991 la fija en cuatro años de pena privativa de la libertad,con lo que –siguiendo una pauta histórica- el marco de referencia estáen función a la posibilidad de que hasta ese baremo es posible imponeruna condena condicional (vid.: art. 57.°.1 CP). La ley presume laincomparecencia del reo si la pena prevista es mayor a cuatro años deprivación de libertad, empero –llama la atención certeramente AsencioMellado- se trata de una presunción que, en cualquier caso, puede serdestruida por otros datos relevantes del proceso, puesto que hacerdepender la adopción de la prisión provisional exclusivamente a partirde tal presunción vulneraría el estado de inocencia del imputado, y sedictaría una resolución sin la motivación correspondiente91 .

B. El segundo motivo se vincula a dos reglas, de carácter subjetivo,referidas al peligrosismo procesal: peligro de fuga y peligro de oscurecimientode la actividad probatoria. Estas reglas constituyen motivos concretos,signos de alta importancia inductiva, al decir de Cordero92 .

89 ARANGÜEÑA FANEGO, Coral: Ob. Cit., p. 252.90 HASSEMER, Winfried: Crítica ..., p. 123.91 ASENCIO MELLADO, José María: La prisión provisional, Ed. Civitas, Madrid, 1987, pp. 68/69.92 CORDERO, Franco: Ob. Cit., p. 404.

Page 165: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 165

i. El peligro de fuga es la regla que en todo momento del iter procesalconfiere legitimidad a la medida y es la base de su justificaciónconstitucional; es la primera y esencial regla desde la que debe partirse93 .En este sentido, Hassemer precisa que fines de la prisión preventivasólo pueden ser fines de aseguramiento del procedimiento y de laejecución, porque la legitimación de la prisión preventiva se derivaexclusivamente de tales intereses de aseguramiento94 .

Apunta Asencio Mellado que esta función se concreta en dosdatos básicos: 1) aseguramiento de la presencia del imputado en elproceso, fundamentalmente en el juicio oral; y, 2) sometimiento delinculpado a la ejecución de la presumible pena a imponer95 . Ambosdatos se conjugan mutuamente, de suerte que el peligro de fuga nosólo se incrementa o disminuye en función de la gravedad del delito,sino también de la naturaleza del hecho punible y, sobre todo, de lascondiciones de arraigo del procesado, tales como el número de hijos ode personas a su cargo, su vecindad conocida, trabajo estable,reputación social o fama, domicilio conocido, etc., circunstancias todasellas que permitirán al juez inferir que el imputado no se ocultará a laactividad de la justicia, y acudirá a la llamada del juicio oral96 .

Roxín aclara que el peligro de fuga ”... no puede ser apreciadoesquemáticamente, según criterios abstractos, sino, con arreglo al clarotexto de la ley, sólo en razón de las circunstancias del caso particular.Así, de la gravedad de la imputación y del monto de la pena esperadano se puede derivar, sin más, la sospecha de fuga, sino que deben serconsiderados también el peso de las pruebas de cargo conocidas porel imputado así como su personalidad y su situación particular. Por otraparte, el hecho de que el imputado tenga un domicilio fijo no es suficiente,de ningún modo, para negar el peligro de fuga”97 . Esto último aceptó laúltima reforma peruana, al señalar que ”no constituye criterio suficiente

93 BARONA VILAR, Silvia: Prisión Provisional: sólo ..., p. 899.94 HASSEMER, Winfried: Crítica ..., p. 119.95 Asencio Mellado, José María: La prisión ... p. 33.96 GIMENO SENDRA, Vicente: los procesos penales ..., p. 139 y 141.97 ROXÍN, Claus: Ob. Cit., p. 260.

Page 166: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3166

para establecer la intención de eludir a la justicia, la pena prevista en aLey para el delito que se le imputa”.

ii. El peligro de entorpecimiento, en cuanto finalidad cautelar –instrumental, tiene presencia básicamente durante la etapa de instrucción–es una típica protección instructoria, de ninguna manera aplicable paraarrancar la verdad98 - y, como tal, tiende a desaparecer a medida que lasfuentes de prueba se descubren y aseguran. Sin duda la ley peruana, aloptar por esta regla –que por lo demás debe fundarse en circunstanciasdeterminadas y en función al caso concreto, sin que la negativa delimputado a ser interrogado o declarar puedan ser invocados al respecto99 -asume el criterio de que la prisión preventiva también tiene una funciónde garantía del éxito de la instrucción, evitando la ocultación y perturbaciónde los futuros medios de prueba que, en su momento, habrán de servirde base para dictar una sentencia determinada. Por el primero, se intentaevitar la frustración de la investigación al impedir que se agencien a lacausa informaciones relevantes al esclarecimiento de los hechos; y, porlo segundo, se aísla al imputado en sus comunicaciones con el exteriorpara evitar que se confabule con terceros, y de ese modo impida el accesode información veraz al proceso100 .

Esta función, de asegurar la instrucción, en verdad, no explicael fenómeno cautelar y no justifica el acuerdo de prisión, más allá deque una vez trabada puede cumplirla. Si bien Hassemer la tolera con laincorporación de criterios más limitativos, Gimeno Sendra es radicalen su crítica; apunta dicho procesalista que, “por muy nobles quepudieran ser las causas que, en la práctica forense, inducen a determinadasjueces a acudir a este atípico motivo, en el proceso penal moderno ‘nopuede la verdad ser obtenida a cualquier precio’, prohibición quenaturalmente incluye la utilización de la prisión preventiva como armaarrojadiza contra el imputado para arrancarle una confesión de contenidodeterminado. Esta práctica inquisitiva, debiera ser considerada, cuandomenos, un ‘trato inhumano o degradante’ a los efectos de la aplicación

98 CORDERO, Franco: Ob. Cit., p. 405.99 ROXÍN, Claus: Ob. Cit., p. 261.100 ASENCIO MELLADO, José María: La prisión ..., p. 35.

Page 167: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 167

del art. 1.°.1 de la Convención contra la tortura y otros tratos o penascrueles, inhumanas o degradantes”101 .

C. Perspectiva jurisprudencial.

§ 5. (1) Un primer tema, hondamente discutido en la jurisprudenciaperuana, fue si los presupuestos materiales de la detención (prisiónpreventiva) se aplicaban conjuntamente. La Corte Suprema, en las pocasoportunidades que por razones excepcionales ha podido conocer de losincidentes cautelares, fue muy clara en sostener que tales circunstanciasdeben concurrir en forma conjunta para que resulten arreglados a Ley102 ,de modo que se trata de un punto definitivamente resuelto. En igualsentido se pronunció la doctrina nacional103 .

(2) Anteriormente, sin embargo, en Ejecutoria Suprema de 16 deoctubre de 1990, interpretando los alcances de la norma anterior alCódigo Procesal Penal, que no fijaba la finalidad de la medida, se afilióa la teoría del único peligro, esto es, el de fuga. Señaló, al efecto, que laracionalidad de la Ley n.° 24388 exige no sólo la gravedad de la comisióndel delito, sino que la imputación se sustente en la existencia de indiciosprobatorios fehacientes que persuadan de la directa responsabilidaddel imputado, y en la necesidad de asegurar el enjuiciamiento sin

101 HASSEMER, Winfried: Crítica ..., p.123; GIMENO SENDRA, Vicente: Los procesos penales ..., p. 142.102 La Ejecutoria Suprema más reciente ratifica esta tendencia. Así, Ej. Sup. de 19.1.2000, Exp. N°5182-99 Lima, en: Revista Normas Legales, Tomo 287, Abril 2000, p. A-73. Otros fallos, de fechaanterior, son el de 17.9.1993, Exp. N° 1945-93, Lima, en: ROJJASI PELLA, Carmen: EjecutoriasSupremas Penales, Ed. Legrima, Lima, 1997, pp. 329/330; y, el de 21.8.97, Exp. N° 1328-96,Cono Norte Lima, en: Jurisprudencia Penal y Procesal Penal, Ed. Gaceta Jurídica, Lima, 2001, p.183. En esta última se dice: “El Juez puede dictar mandato de detención cuando de los primerosrecaudos sea posible determinar que existen suficientes elementos probatorios de la comisión deun delito doloso que vincule al imputado como autor o partícipe del mismo, que la sanción aimponerse sea superior a cuatro años de pena privativa de la libertad y que el imputado en razónde sus antecedentes y otras circunstancias, tratase de eludir la acción de la justicia o perturbar laactividad probatoria”. El Acuerdo Plenario N° 3-97, de los Vocales de las Cortes Superiores de laRepública, de fecha 15.12.97, en su primer punto, estableció que los tres requisitos son concurrentesy que, por tanto, la ausencia de uno de ellos impide dictar dicha medida cautelar (vid.: CUBASVILLANUEVA, Víctor: Código de Procedimientos Penales, Ed. Palestra, Lima, 1999, p. 93/95).103 SÁNCHEZ VELARDE, Pablo: Comentarios al Código Procesal Penal, Ed. Idemsa, Lima, 1994,p. 219; ORÉ GUARDIA, Arsenio: Manual de Derecho Procesal Penal, Ob. Cit., pp. 341/342.

Page 168: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3168

posibilidad razonable de elusión por parte del inculpado, sin cuyapresencia la detención corporal deviene innecesaria104 .

(3) El Supremo Tribunal en la Sentencia de 17 de setiembre de1993 precisó que, si bien la apreciación de la suficiencia de elementosde prueba y del peligro de fuga como de entorpecimiento permite unaapreciación subjetiva del Juez, la determinación de la penalidad superiora cuatro años de privación de libertad es meramente objetiva y debeconsiderarse lo expresado en el ordenamiento sustantivo para cadauna de las conductas delictivas que contempla105 . En la Sentencia de27 de abril de 1994 estipuló, aclarando los alcances de la decisiónanterior, que si el delito objeto de imputación está conminado con unapenalidad relativamente indeterminada cuyo extremo máximo superalos cuatro años de privación de libertad, tal circunstancia no basta paradictar la medida de detención, ya que el Juez puede considerar quedentro del marco legal que señala la norma la pena a imponerle nosuperará ese límite106 .

(4) Las medidas coercitivas personales si bien deben ser decididaspor el juez según las circunstancias de la causa, enseña la Corte Supremaen la Ejecutoria de 18 de marzo de 1998, su decisión debe responderfundamentalmente al principio de necesidad, esto es, cuando resulteabsolutamente indispensable para asegurar que el encausado no sesustraiga a la acción de la justicia o no perturbe la actividad probatoria107 .Bajo esta misma perspectiva, en la Ejecutoria Suprema de 27 de febrerode 1998, sostuvo que “se debe tener en cuenta que la detención es unamedida coercitiva que sólo debe ser aplicada en casos en que seaindispensable para los fines del proceso, puesto que se trata de larestricción de la libertad que es un bien jurídico susceptible de ser afectosiempre que se den los presupuestos legales, no así en caso deinterpretación extensiva sobre las normas restrictivas de derechos”108 .

104 Exp. N° 765-90, Piura, en: NOGUERA RAMOS, Iván: Detención y libertades en el proceso penalperuano, Ed. Forense, Lima, 1997, pp. 346/347.105 Exp. N° 1945-93 – Lima, en: ROJJASI PELLA, Carmen: Ejecutorias ..., p. 329/330.106 Exp. N° 3225-93 – Lima, en: ROJJASI PELLA, Carmen: Ejecutorias ..., p. 333/334.107 Exp. N° 6714-97-A – Lima, en: Jurisprudencia penal y procesal penal, Ob. Cit., p. 183.108 Exp. N° 843-98-A – Lima, en: Jurisprudencia penal y procesal penal, Ob. Cit., p. 184.

Page 169: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 169

Un aspecto esencial del principio de proporcionalidad fueexpresamente invocado por el Tribunal Constitucional en el “caso MoisésPolo Giraldo” (STC de 23 de agosto de 2000), al señalar en su FJ n° 4, quesobre la base del grado de exigencia cautelar la medida a dictarse debeser la menos gravosa y aflictiva posible109 . Por otro lado, El TribunalConstitucional en el “caso Gregorio Martín Velarde Queirolo” (STC de 25de agosto de 2000) incorporó definitivamente el principio de excepcionalidaden materia de privación cautelar de la libertad. Señaló: “[...] una interpretacióncoherente de la Constitución Política del Estado, de conformidad con lostratados y acuerdos internacionales, permite afirmar que la detención judicialen tanto importa la limitación más intensa del derecho fundamental a lalibertad personal, sólo debe aplicarse excepcionalmente y bajo determinadascircunstancias legalmente configuradas”110 .

(5) En lo atinente al “peligrosismo procesal”, lo primero que la CorteSuprema ha dejado sentado es que el Juez debe precisar el tercer elementofijado en la ley para determinar la procedencia de la prisión preventiva, de locontrario está ausente la motivación genuina para la procedencia de lacitada medida, siendo del caso que lo primero que debe valorar son losantecedentes policiales, judiciales o penales que registra el encausado111 ;en igual sentido, en la Ejecutoria Suprema de 26 de noviembre de 1997,indicó que constituye una infracción al deber de motivación de lasresoluciones judiciales impuesta por el art. 139.°.5 de la Constitución, quees una garantía del debido proceso, no haber precisado en qué consistirála perturbación o distorsión probatoria en la que incidiría la conducta procesaldel agente para lograr la ineficacia del proceso112 .

(6) Analizando en concreto los alcances del peligro de fuga, elSupremo Tribunal ha dejado sentado: a) que se prevé la no existencia depeligro procesal si el inculpado ha señalado domicilio y tiene ocupaciónconocida, así como que carece de antecedentes y no registrarequisitorias en su haber (Ej. Sup. de 16.1.1998); y, b) que, por el contrario,

109 Exp. N° 612-2000-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, 16 de enero de 2001, pp. 3890/3891.110 Exp. N° 500-2000-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, 16 de enero de 2001, pp. 3888/3890.111 Exp. N° 1007-99 – Huara, Ej. Sup. 4.5.99, en: Jurisprudencia penal y procesal penal, Ob. Cit., p. 183.112 Exp. N° 86-97 – Huancavelica, en: Jurisprudencia penal y procesal penal, Ob. Cit., p. 184.

Page 170: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3170

si el imputado no acudió a rendir manifestación policial, si no acreditócon documentos su calidad personal y la ocupación laboral que aduce,entonces, se evidencia peligro procesal en su conducta (Ej. Sup. de15.7.1998)113 . Llama la atención una Ejecutoria Suprema de 25 de abrilde 1996, particularmente equivocada que no cumple con ratificar lapresencia conjunta de todos los presupuestos materiales de la prisiónpreventiva; al respecto, señala: “Que, de otro lado, en cuanto al peligroprocesal, se refiere si bien es cierto no existe en autos elementos queindiquen una razonable probabilidad que el imputado rehuya eljuzgamiento o perturba la actividad probatoria, más aun si éste se hasometido a las investigaciones iniciales desde el nivel policial, tambiénlo es que por la gravedad de los hechos, resulta coherente asegurar elsometimiento procesal al imputado, cumpliéndose así en el caso materiade autos en forma concurrente con los tres presupuestos materialesestablecidos en el la ley (sic)”114 .

(7) En lo atinente al peligro de entorpecimiento la Corte Supremaen una ocasión, debidamente documentada (Ejecutoria de 26.11.97),sentó la doctrina que cuando se trata de delitos cuya fuente probatoriatiene base documental y pericial, debe precisarse en qué consistirá laperturbación o distorsión probatoria en la que incidiría la conductaprocesal del agente para lograr la ineficacia del proceso.

(8) La jurisprudencia menor, dictada por la Corte Superior de Limaen los procesos sumarios por delitos menos graves, sigue los lineamientosde la jurisprudencia suprema. Es de destacar, por su mayor desarrollo, elAuto de 18.12.98: “[...] si bien es cierto el Juez Penal está facultado a imponeral procesado una o varias de las alternativas previstas en la norma procesalpenal, no es menos cierto que su decisión no puede arbitraria, sino quetiene estar guiada por los principios de necesidad y proporcionalidad;considerándose el fundamento de estos principios en la adecuada relacióncon la entidad y trascendencia del hecho que se imputa al inculpado; además,que la medida concretamente adoptada sea precisamente la necesaria

113 Exp. N° 7158-97-A – Lima; y, Exp. N° 1013-98-B, en: Jurisprudencia penal y procesal penal, Ob.Cit., pp. 184/185.114 Exp. N° 80-96 – Callao, en: NOGUERA RAMOS, Iván: Detención ..., pp. 324/325.

Page 171: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 171

para alcanzar de modo eficaz el objeto previsto y que dicha medida, resultela menos gravosa para el sujeto que la asume”115 .

D. La Jurisprudencia Regional Americana.

§ 6. La Corte Interamericana de Derechos Humanos, en el “casoSuarez Rosero”, SCIDH de 12 de noviembre de 1997, señaló que no sepuede restringir la libertad del detenido más allá del límite estrictamentenecesario para asegurar que no impedirá el desarrollo eficiente de lainvestigación; fallo en el que también precisó que la prisión preventivaes una medida cautelar no punitiva. En el “caso Gangarán Panday”,SCIDH de 21 de enero de 1994, estableció que un encarcelamientoserá arbitrario aún cuando se ampare en una ley, en la medida quepueda reputarse como incompatible con el respeto a los derechosfundamentales del individuo por ser, entre otras cosas, irrazonable,imprevisible, o falta de proporcionalidad”.

La Comisión Interamericana de Derechos Humanos, por su parte,en los diversos Informes que publica sobre la situación de los derechoshumanos en la región y en los Informes especiales vinculados a casosespecíficos, ha dejado sentada algunas directrices importantes. Asítenemos: a) que la detención preventiva sólo se aplica en casosexcepcionales, siempre que exista una sospecha razonable de que elacusado podrá evadir la justicia, obstaculizar la investigación preliminarintimidando a los testigos, o destruir evidencia (“caso Jorge A. Giménez”,Informe N° 12/96, 1996); b) que en todos los casos de privación de libertaddeben tomarse en consideración los principios universales de presunciónde inocencia y de respeto de la libertad individual (“caso Jorge L. Bronstein”,Informe N° 2/97, 11.3.1997); c) que la detención de una persona sólo puedejustificarse si existe sospecha de que haya participado en la comisión deuna conducta contraria a bienes jurídicos estimados como socialmentevaliosos en una sociedad democrática (“fcaso Luis Lizardo Cabrera”,Informe N° 35/96, 7.4.96); y, d) que si los magistrados que entienden en

115 Exp. N° 5333-98”A”, en ROJAS VARGAS, Fidel y otros: Jurisprudencia Penal – Procesos Sumarios,Ed. Gaceta Jurídica, Lima, 1999, p. 675/676.

Page 172: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3172

una causa no tienen la posibilidad de demostrar que existe suficienteevidencia de una eventual intención de fuga u ocultamiento, la prisión sevuelve injustificada (“caso Jorge L. Bronstein”)116 .

Como se aprecia, las posibilidades de intervención de la CorteInteramericana en materia de detención provisional y prisión preventivason escasas. De ahí que, salvo planteamientos de principio generales,las decisiones del máximo órgano judicial americano no han definidoaspectos claves de las notas esenciales y presupuestos de ambasformas de encarcelamiento preventivo. Por el contrario, el TribunalEuropeo de Derechos Humanos ha tenido, por razón de su ámbitocompetencial y del activismo de la Comisión Europea y de los ciudadanoseuropeos, una gran producción jurisprudencial cuyas orientaciones nosson muy valiosas, dada la práctica similitud entre las ConvencionesAmericana y Europea sobre Derechos Humanos.

Resultan particularmente interesantes y, por cierto, aplicables alámbito americano, las siguientes sentencias referidas a la prisión preventiva:

1) “Caso Bizzotto c/Grecia”, STEDH 15.11.1996, que estableceque, con carácter preliminar, toda prisión provisional debe tener lugarsegún las vías legales y ser regular, teniendo presente que toda privaciónde libertad debe ser conforme a la finalidad básica del Convenio: la deproteger al individuo contra la arbitrariedad. Esta doctrina se repite en el“caso Giulia Manzoni C/Italia, STEDH 1.7.1997.

2) “Caso Fox, Campbell y Hartley c/Reino Unido”, STEDH30.8.1990, que sostiene que la existencia de sospechas (o indicios)racionales presupone la de hechos o informes adecuados pardaconvencer a un observador imparcial de que el individuo de que se tratepueda haber cometido el delito. En todo caso, lo que se puede entenderpor “racional” dependerá del conjunto de las circunstancias.

3) “Caso Stögmüller C/Austria”, STEDH 10.11.69, que precisa queel primer dato que necesariamente tiene que estar presente para poder

116 Ver al respecto: 1) CAFFERATA NORES, José I.: Proceso penal y derechos humanos, Ed. DelPuerto, Buenos Aires, 2000, pp. 185/202; y, 2) BOVINO, Alberto: Problemas del derecho procesalpenal contemporáneo, Ed. Del Puerto, Buenos Aires, 1998, pp. 136/167.

Page 173: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 173

acordar una prisión, es el de que recaigan sobre el afectado sospechasfundadas de haber cometido un delito. Este primer elemento debe iracompañado de otros que pongan de relieve la existencia de periculumin mora: antecedentes penales, riesgo de colusión o entorpecimiento delproceso, alarma social, riesgo de fuga. No basta, por tanto, la persistenciade las sospechas para justificar, después de algún tiempo la prolongaciónde la detención, y exige que ésta no exceda de un plazo razonable.

4) “Caso Neumeister C/Austria”, STEDH 27.6.1968, que declaraque el peligro de fuga no puede apreciarse basándose únicamente enla entidad de la pena conminada por el delito objeto de imputación, acuyo efecto hay otras circunstancias, referentes especialmente alcarácter del interesado, a su moralidad, a su domicilio, profesión,recursos, lazos familiares y de cualquier naturaleza con el país en queestá procesado, que pueden confirmar que existe peligro de fuga, obien que no se justifica la detención provisional, peligro que disminuyea medida que transcurre el tiempo de la detención. Esta doctrina serepite en los “casos Letellier” de 26.6.1991, “Sargin” de 8.6.1995,”Wemhoff” de 17.6.1987 y “Tomasi” de 27.8.1992.

5) “Caso W. c/Suiza”, STEDH 26.1.1993, que estipula que paraacordar y mantener una prisión provisional hay que valorar lascircunstancias que concurren en cada caso concreto para saber siprocede o no la citada medida cautelar, sin olvidar tener en cuenta elcriterio favorable al derecho a la libertad personal. Esta doctrina es reiteradaen varios fallos, como son los “casos Toth” de 12.12.1991; “Clooth” de12.12.1991 y “Muller” de 17.3.1997.

6) “Caso Wemhoff”, STEDH 27.6.1987 que acepta el peligro deocultación o alteración de elementos probatorios. En ese fallo seconsideró justificado el temor de supresión de pruebas que estuvierenen poder del imputado, vista la naturaleza del delito y su extremagravedad. A su vez, en los “casos Ringeisen” de 16.7.1971, “Tomasi”de 27.8.1992 y “Letellier” de 26.6.1991, se estimó que este riesgo puedevenir conectado con la confabulación con terceros o la presión sobretestigos, riesgo que en todo caso, como se anotó en el “caso Tomasi”de 27.8.1992, el transcurso del tiempo debilita.

Page 174: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3174

E. Legislación excepcional en materia de prisión preventiva.

§ 7. Frente al estatuto ordinario en materia de prisión preventiva, ellegislador nacional ha creado un cuerpo normativo de excepción radicadoen tres órdenes de delitos. El primero, referido a los delitos de terrorismoclásico y de traición a la patria; el segundo, circunscrito a los delitos gravesperpetrados por la delincuencia común, tales como los de terrorismoespecial y delitos agravados; y, el tercero, radicado en los delitosrelacionados con la noción de “violencia familiar”.

1. La regla excepcional por excelencia se inauguró con lalegislación anti-terrorista, que luego se extendió a otras formas dedelincuencia urbana violenta. El art. 13.°.a) del Decreto Ley n.° 25475,de 6 de junio de 1992, estableció que: “Formalizada la denuncia por elMinisterio Público, los detenidos serán puestos a disposición del JuezPenal, quien dictará el Auto de Apertura de Instrucción con orden dedetención, en el plazo de veinticuatro horas, adoptándose las necesariasmedidas de seguridad”; norma que a su vez rige para los delitos detraición a la patria, por imperio del art. 2.° del Decreto Ley n.° 25744.

2. Otra regla parecida, aunque con ciertos matices, es laintroducida para los delitos de Terrorismo Especial y Agravados. Segúnel art. 7.°, b) del Decreto Legislativo N° 895, de 23 de junio de 1998, deprocedimiento para los delitos agravados, al igual que el art. 1.°, e) delDecreto Legislativo n.° 897, de 26 de junio de 1998, una vez que elFiscal Provincial formalice denuncia en los casos de delito flagrante, elJuez Penal debe abrir instrucción con mandato de detención.

Es evidente que ambas reglas son absolutamente ilegítimas.Imponer al Juez a dictar obligatoriamente la medida de prisión preventiva,por el solo mérito de la información policial-fiscal, sin darle cabida a unaopción distinta de la privación cautelar de la libertad, vulnera el derecho ala libertad individual por incumplir dos principios esenciales en materia decoerción personal: intervención indiciaria y proporcionalidad, así como lagarantía constitucional de exclusividad judicial, y el derecho fundamentala la presunción de inocencia. Si toda medida cautelar personal exige dosclaros presupuestos materiales: fumus comissi delicti (indicios gravesde la realidad de la comisión de un delito doloso por el imputado) y

Page 175: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 175

periculum libertatis (comisión de delito grave en concurrencia con peligrode fuga o de entorpecimiento), ambos deben ser apreciados en concretopor el Juez, sobre la base de los actos de investigación aportados alefecto y luego razonados adecuadamente en la resolución cautelar deprisión; el legislador no puede sustituir al juez en esta exigencia de análisisde los presupuestos de la medida, pues apreciar la realidad de unosdeterminados hechos y subsumirlos en la norma jurídica pertinente esuna actividad exclusivamente jurisdiccional, que no puede ser privadapor otro Poder del Estado117 .

La regla en caso de delitos agravados flagrantes y de terrorismoespecial también incurre en la inconstitucionalidad arriba denunciada. Sibien es cierto que la detención en flagrancia de ilícitos graves aporta undato indiciario seguro, es posible que existan otras circunstanciasradicadas especialmente en el carácter y moralidad del imputado o ensu actitud frente a la persecución penal que en el caso concreto nopermiten dictar mandato de prisión preventiva por ausencia o poca entidaddel periculum. Dice al respecto Barona Vilar que “[...] en el principio deproporcionalidad deberán entrar en juego, además, todas aquellascircunstancias no ya del asunto en sí, pena esperada o dificultad deresolución del mismo, sino incluso además las circunstancias personalesy particulares del individuo al que presuntamente se le tuviere por acusadoy al que pretende someterse a una de las medidas cautelares del procesopenal y, en este supuesto, de la prisión provisional”118 .

Los Vocales Superiores de la República, en el Acuerdo Plenarion.° 06-98, de 14 de noviembre de 1998, “corrigiendo” los alcances dela legislación en referencia estipuló -por unanimidad- que en los delitosflagrantes agravados la prisión preventiva sólo será posible si secumplen los requisitos o presupuestos materiales establecidos en elart. 135.° CPP 1991, puesto que “[...] como la medida de detenciónexige, en lo esencial, peligrosidad procesal, sobre la base del principioconstitucional de proporcionalidad, si ésta no se configura en el caso

117 SAN MARTÍN CASTRO, César: Derecho procesal penal, Ob. Cit., pp. 829/830, 993.118 BARONA VILAR, Silvia: Prisión provisional y medidas alternativas, Ed. Bosch, Barcelona,1988, p. 71.

Page 176: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3176

de autos vulneraría el derecho constitucional a la libertad dictarlaautomáticamente (FJ n.° 8)”119 .

3. La última regla de excepción es la del art. 25.° del Texto ÚnicoOrdenado de la Ley de Violencia Familiar, aprobado por Decreto SupremoN° 006-97-JUS, de 27 de junio de 1997. Dice esta norma: “Dictado el autoapertorio de instrucción por hechos tipificados como delitos y que serelacionan con la violencia familiar, corresponde al juez dictar de oficio lasmedidas cautelares que señala la presente así, como, según la naturalezao gravedad de los hechos, o su reiteración, disponer la detención delencausado”. Según el art. 2.° de ese Estatuto se entenderá por violenciafamiliar, cualquier acción u omisión que cause daño físico o psicológico,maltrato sin lesión inclusive la amenaza o coacción graves y/o reiteradas,así como la violencia sexual, que se produzca entre cónyuges, excónyuges, convivientes, ex convivientes, ascendientes, descendientesy parientes, así como entre quienes habitan en el mismo hogar en tantono medien relaciones contractuales o laborales, y quienes hayanprocreado hijos en común independientemente que convivan o no almomento de producirse la violencia.

En cuanto a la prisión preventiva es de destacar un cambio deperspectiva normativa en relación al art. 135.° CPP 1991. Desde el puntode vista del periculum libertatis, eje de la reforma, incorpora una nociónmás amplia de delito grave, no circunscrito a la regla objetiva de los cuatroaños de privación de libertad –aunque nada evita homologar ese supuestoal criterio general del estatuto ordinario-, y, esencialmente, introduce laaplicación del denominado “tercer peligro”: de reiteración delictiva.

La doctrina procesalista es unánime en rechazar tal peligro, puesintroduce un factor desvinculado de lo propiamente cautelar y radicadoen fines preventivo especiales “... en absoluto defendibles en losparámetros procesales en los que la misma debe enmarcarse”120 .

119 PRADO SALDARRIAGA, Víctor: Derecho penal, Jueces y Jurisprudencia, Ed. Palestra, Lima,1999, pp. 509/513.120 BARONA VILAR, Silvia: Prisión provisional: solo una medida cautelar ... p. 902.

Page 177: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 177

Jorge Barreiro sostiene que es indiscutible que se trata de un criteriode prevención especial cimentado sobre el concepto de peligrosidad,en virtud del cual se hace un juicio de prognosis en el que, partiendode la conducta delictiva que se le imputa en el proceso y de lascircunstancias del inculpado, se especula acerca de cuál puede sersu conducta en un futuro inmediato, de modo que se encausa lainstitución de la prisión preventiva hacia los fines propios de la pena yde la medida de seguridad121 .

No obstante ello, el Tribunal Europeo de Derechos Humanos enel “caso Matznetter” (Sentencia de 10.11.69) admite este peligro, encuya virtud: “Un juez puede razonablemente tomar en cuenta lagravedad de las consecuencias de delitos, cuando se trata de tomaren consideración el peligro de ver repetirse esas infracciones, convistas a apreciar la posibilidad de poner en libertad al interesado apesar de la existencia eventual de tal peligro”. En el “caso Clooth”(Sentencia de 12.12.91), imponiendo una concepción más restrictivade apreciación de dicho peligro, apunta que “es preciso, entre otrascondiciones, que las circunstancias de la causa y, especialmente, losantecedentes y personalidad del interesado, hagan viable el peligro yadecuada la medida”. De esos fallos, así como de los “casosStogmuller” (Sentencia de 10.11.69), “Ringeisen” (Sentencia de16.7.71), “B c/Suiza” (Sentencia de 28.3.90) y “W c/Suiza” (Sentenciade 26.1.983) se consolidan como parámetros de apreciación: lacontinuación prolongada de actos punibles, la gravedad de losperjuicios sufridos por las víctimas, la nocividad del acusado, y laexperiencia y el grado de capacidad del imputado para facilitar larepetición de los actos delictivos122 .

121 JORGE BARREIRO, Alberto: La prisión provisional ..., p. 4.122 JORGE BARREIRO, Alberto: La prisión provisional ..., p. 4. GUTIERREZ ZARZAR, Ángeles(Investigación y Enjuiciamiento de los delitos económicos, Ed. Colex, Madrid, 2000, p.330) sostieneque la apreciación de ese criterio “[...] exige al órgano jurisdiccional tener en cuenta especialmentela peligrosidad criminal del sujeto, atendidos sus antecedentes penales y su personalidad yhábitos criminales sin que sea suficiente la apreciación de una genérica tendencia criminal”.

Page 178: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3178

F. Plazo de la prisión preventiva.

§ 8. El art. 137.° CPP 1991, modificado por el Decreto Ley n.°25824, de 9 de noviembre de 1992, fijó el plazo de duración de la prisiónpreventiva en función al rito procedimental asignado a los delitos, a cuyovencimiento el tribunal tiene la obligación de excarcelar al detenido. Eltexto de la norma es el siguiente:

“La detención no durará más de nueve meses en elprocedimiento ordinario, y de quince meses en elprocedimiento especial. Tratándose de procedimientos pordelitos de tráfico ilícito de drogas, terrorismo, espionaje y otrosde naturaleza compleja seguidos contra más de diezimputados, o en agravio de igual número de personas, el plazolímite de la detención se duplicará. A su vencimiento, sinhaberse dictado la sentencia de primer grado, deberádecretarse la inmediata libertad del inculpado, debiendo eljuez dictar las medidas necesarias para asegurar su presenciaen las diligencias judiciales.

Cuando concurren circunstancias que importen una especialdificultad o una especial prolongación de la investigación yque el inculpado pudiera sustraerse a la acción de la justicia,la detención podrá prolongarse por un plazo igual.

La prolongación de la detención se acordará mediante autodebidamente motivado, a solicitud del fiscal y con audienciadel inculpado. Contra este auto procede el recurso de apelación,que resolverá la Sala previo dictamen del Fiscal Superior.

No se tendrá en cuenta para el cómputo de los plazosestablecidos en este artículo, el tiempo en que la causa sufrieredilaciones maliciosas imputables al inculpado o su defensa.

La libertad será revocada si el inculpado no cumple con asistir,sin motivo legítimo, a la primera citación que se le formulecada vez que se considere necesaria su concurrencia.

El Juez deberá poner en conocimiento de la Sala la ordende libertad como la de prolongación de la detención. La Sala,

Page 179: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 179

de oficio o a solicitud de otro sujeto procesal, o del MinisterioPúblico, y previo informe del juez, dictará las medidascorrectivas y disciplinarias que correspondan.”.

El Decreto Ley n.° 25916, de 2 de diciembre de 1992, sinembargo, alterando el principio de temporalidad de la prisión preventiva,dispuso que para los agentes de los delitos de tráfico ilícito de drogas,terrorismo y traición a la patria se mantenían las prohibiciones debeneficios penitenciarios y procesales, incluido el establecido en el art.137.° del Código Procesal Penal.

§ 9. El Código acudió, preferentemente, al sistema de los plazosmáximos establecidos en función a la gravedad del delito objeto delproceso penal. La gravedad, por cierto, se apreciaba indirectamente,pues atendió al procedimiento asignado al delito, el mismo que seestructuró a partir de la naturaleza del delito, de suerte que para losdelitos menos graves se instituyó el denominado procedimiento sumarioy para los delitos graves el procedimiento ordinario.

Tres criterios de corrección, de vocación concreta, presenta el art.137.° CPP. El primero, se refiere a los procedimientos con causascomplejas; el segundo, que rige para prolongación de la medida, secircunscribe a la concurrencia de causas excepcionales en orden a laespecial dificultad o prolongación de la investigación, siempre que elimputado pueda sustraerse a la acción de la justicia; el último,desnaturalizador de la institución antes que correctivo, se vincula a losdelitos exceptuados previstos en la Constitución.

La excepcionalidad, como se sabe, trae consigo la regla de latemporalidad. Es de tener presente que la detención debe durar el tiempoestrictamente necesario para asegurar la finalidad de toda medidacautelar personal. Cuando el fin de aseguramiento no necesite de laprisión preventiva, debe excarcelarse al imputado (rebus sic stantibus),pero además, como segunda vía, se encuentra el plazo límite deencarcelamiento, cuya existencia obedece a razones de justicia, queactúa como remedio ante la poca virtualidad práctica de lo anterior.

Por ello, como expresó el Tribunal Constitucional en el “casoErnesto Fuentes Corro” (STC de 2 de junio de 1999), la dilación indebida

Page 180: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3180

del proceso no imputable al beneficiario de la acción no puede ni debeafectarle; y, por consiguiente, la medida preventiva privativa de la libertadno debe durar más del tiempo que sea necesario para el logro de losobjetivos de la investigación judicial y deberá ser aplicada con humanidady respeto por la dignidad del ser humano123 .

El límite legal de la prisión preventiva, apunta la ComisiónInteramericana de Derechos Humanos, en su Informe n.° 12/96 del “CasoJorge Jiménez c/Argentina”, tiene como objetivo proteger al acusado enlo que se refiere a su derecho básico de libertad personal, así como suseguridad personal frente a la posibilidad de que sea objeto de un riesgode procedimiento injustificado. Ese límite permite considerar, prima facie,ilegítima una detención que lo sobrepase, lo cual no obsta –añade laComisión Interamericana en el Informe n.° 2/96- la declaración deilegitimidad de la prisión preventiva aún antes del vencimiento del plazo.En ese orden de ideas, la Corte Interamericana de Derechos Humanos,en el “caso Suarez Rosero” (SCIDH, de 12 de noviembre de 1997), fijótres elementos para determinar la razonabilidad del plazo en el cual sedesarrolla el proceso: a) la complejidad del asunto; b) la actividadprocesal del interesado; y, c) la conducta de las autoridades judiciales.

§ 10. La limitación temporal tiene como objetivo hacer cesar elencarcelamiento preventivo, atendiendo al mero transcurso del tiempo.No es posible incorporar criterios “concretos” de supuesta peligrosidadprocesal para autorizar la prolongación de la detención más allá de losplazos fijados en la ley124 ; estos motivos, en todo caso, servirán paraanalizar si es posible estimar que en una causa específica el tiempo deencarcelamiento deviene excesivo, aún cuando el plazo legal máximono haya transcurrido. Por lo demás, lo que la normatividad exige anteun preso preventivo es una especial diligencia del procedimiento penalcorrespondiente125 , por lo que si el Estado se fija un límite determinado,más allá del juicio de razonabilidad que puede merecer el período detiempo que envuelve, éste no puede ser rebasado sea cual fuere el

123 Exp. N° 110-99-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”,7 de diciembre de 1999, pp. 2426/2427.124 BOVINO, Alberto: Problemas del derecho procesal penal contemporáneo, Ob. Cit., p.176.125 COMISIÓN EUROPEA DE DERECHOS HUMANOS: Informe “Caso Vallon” de 8.5.1984, parr. 51.

Page 181: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 181

motivo en contrario que se alegue sobre la base de una supuestasubsistencia del peligrosismo procesal.

En la STC de 19 de enero de 2001 recaída en el “caso Luis MartínAlemán Delgado”, el Tribunal Constitucional señala que ”[...] no puededejar de relievarse que cuando el art. 137.° del CPP, otorga la libertad porexceso de detención, lo que ofrece en realidad es un paliativo a la eventualinjusticia ocasionada por la lentitud o ineficacia en la administración dejusticia, optando por el mal menor de que un culpable salga libre mientrasespera su condena, frente al mal mayor de que un inocente permanezcaencarcelado en espera de su tardía absolución definitiva. En talescircunstancias es obvio que hacer prevalecer el derecho de todo individuoa ser juzgado en un tiempo razonable, es una forma de anteponer lapersona al Estado, tal y cual lo proclama el art. 1.° de la Constitución.”126 .

Por otro lado, el Tribunal Constitucional en reiterada jurisprudencia,entre la que destaca la STC de 15 de diciembre de 2000 dictada en el“caso Yuvis Alvarado Linares”, claramente se afilió a la tesis de la aplicaciónautomática del plazo de la prisión preventiva127 . En ese fallo, además, secuestionó la norma de excepción del Decreto Ley n.° 25916 que noimponía límite alguno a la prisión preventiva por los delitos de terrorismo,tráfico ilícito de drogas y espionaje. Señala el máximo interprete de laConstitución (1) que al haberse vencido el plazo de detención, la libertades imperativa, pues no hacerlo así, obligando al reo a permanecer detenidoad infinitum, transgrede las reglas que garantizan un proceso debido oregular y el derecho a la presunción de inocencia; y, (2) que el DecretoLey n.° 250916 no es aplicable porque el art. 137.° CPP es de contenidoimperativo y la excarcelación no es un beneficio procesal cuyocumplimiento queda librado a la discrecionalidad del juzgador penal128 .

126 Exp. N° 664-2000-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, 8 de febrero de 2001, pp. 3936/3937.127 Una postura contraria, de la no automaticidad, por ejemplo, es documentada por EDWARDS,Carlos Enrique (Plazos de la prisión preventiva, Ed. Astrea, Buenos Aires, 1995, p. 25), plasmadapor el fallo de la Corte Suprema de la Nación de Argentina [CSJN, 28/7/87, JA, 1987-IV-138], quese basa para no conceder la excarcelación –no obstante haberse vencido el límite fijado por la ley-en la gravedad del delito instruido, y en que su comisión guarda estrecha relación con la posibilidadde que el imputado pueda intentar burlar la acción de la justicia y con ello impedir la concrecióndel derecho material.128 Exp.N° 1159-2000-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, 14 de mayo de 2001, pp. 4077/4078.

Page 182: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3182

En el “caso Gilberto Andrés Ormeño Barraza” (STC de 30 de noviembrede 2000), agregó que el citado decreto Ley es esencialmente una normapreconstitucional, y que al tener un mandato reñido con las disposicionesde la constitución, es el Texto Constitucional el que debe prevalecerconforme al artículo 51.° de la misma norma fundamental (FJ n.° 7)129 .

Los plazos legales, como insiste Barona Vilar, persiguen evitaruna prisión preventiva indefinida, que pudiera suponer la objetivacióndel hombre, la quiebra de todos los derechos fundamentales que sereconocen constitucionalmente y la mayor injusticia que un hombrepodría sufrir, al verse privado de su libertad y ser declarado, conposterioridad, inocente; aunque, claro está, la vía de solución al retardojudicial envuelve otras áreas, pues se requiere conseguir una mayordotación de medios materiales humanos, que supongan y traigan consigouna vía de mejora para la organización y funcionamiento de laAdministración de Justicia, a la par que eliminar todas aquellasformalidades que obstaculizan y ponen impedimentos para laconsecución de mayor rapidez de los procesos y establecerprocedimiento orales basados en los principios de oralidad,concentración, prueba libre e inmediación130 .

IV. PERSPECTIVAS DE LA LEGISLACIÓN PERUANASOBRE LA PRIVACIÓN CAUTELAR DE LA LIBERTAD.

§ 1. Según se desprende de lo expuesto, la regulación y aplicaciónjudicial del encarcelamiento preventivo –una institución sumamentepolémica pero reconocida como insustituible en los casos más graves,en función a determinados “peligros” que es del caso conjurar- constituyeun ámbito de la actividad pública de especial gravedad institucional, porincidir en la privación del derecho fundamental de mayor importancia enun Estado de Derecho. Ello obliga, en relación a la exigencia constitucional

129 Exp. N° 1034-2000-HC/TC, Diario Oficial “El Peruano”, 21 de febrero de 2001, pp. 3960/3962.130 BARONA VILAR, Silvia: La prisión provisional ..., Ob . Cit., p. 126.

Page 183: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 183

de investigación y ulterior sanción de las conductas delictivas, a ponderarcaso por caso la necesidad de su limitación, acorde con los principiosconstitucionales de intervención indiciaria y de proporcionalidad.

Vista la importancia del derecho a la libertad personal, la legislacióninternacional, a partir de la Declaración Universal de Derechos Humanos,se vio obligada a contemplarlo en sus diversas perspectivas. La primeraafirmación que es de formular estriba en reconocer la primacía de lalegislación internacional, plasmada esencialmente en el Pacto Internacionalde Derechos Civiles y Políticos y, para nosotros, en la ConvenciónAmericana de Derechos Humanos. Tal prioridad no ofrece duda alguna; esmás, la Corte Interamericana de Derechos Humanos ha sostenido quesus fallos –que tienen poder anulatorio de las decisiones jurisdiccionalesnacionales- no sólo tienen una eficacia interpretativa de la Convención,sino directa y ejecutiva en los ordenamientos nacionales, posición quenuestra Corte Suprema asumió sin ninguna dificultad a raíz de los “casosLoayza Tamayo”, “Baruch Ivcher” y “Barrios Altos”, entre otros.

§ 2. La Constitución Nacional en su art. 2.°. 24.f), aún cuando escueta,regula la detención o arresto preliminar e, implícitamente, hace mención ala prisión preventiva. Exige, para los casos en que no media orden judicial,la flagrancia delictiva; y, para los demás supuestos, que preexista una ordenjudicial escrita y motivada expedida por juez competente, mandato quedebe dictarse, según su art. 2.°.24.b), en los casos expresamentecontemplados por la ley . Asimismo, obliga que el detenido sea puestoinmediatamente a disposición judicial y que las investigaciones seanconducidas por el Ministerio Público (art. 159.°.4 Const.).

§ 3. La detención imputativa, en tanto se trata de una medidacautelar, necesita en su momento de una confirmación judicial y persigueponer al reo a disposición del juez, así como garantizar que prestedeclaración en orden a los cargos que se le imputen. Tal medida estáinformada por la noción de urgencia y busca el aseguramiento delpresunto implicado para someterlo a la justicia, de ahí que seaprovisionalísima y que no pueda excluirse el ulterior control judicial y,antes, del Ministerio Público, que en nuestro ordenamiento jurídicocarece de facultades coercitivas en general.

Page 184: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3184

Resulta lamentable que una de las tantas reformas del Código deProcedimientos Penales eliminara la figura de la detención provisional.Con ello obligaron al juez, al iniciar las actuaciones, a decidir, sin escucharal imputado o a las partes ni valorar mínimos actos de investigación, laprisión preventiva u otra medida cautelar personal, con vulneración delderecho de audiencia previa que impone el art. 7.°.5 de la CADH.

§ 4. Las normas sobre encarcelamiento preventivo, según postulanuestro Tribunal Constitucional y tanto la Comisión como la CorteInteramericana de Derechos Humanos, se interpretan restrictivamente.De las decisiones de dichos órganos jurídicos se desprende, igualmente,que dicha institución está sometida a los principios de excepcionalidady de extrema necesidad. Se le concibe, además, como una medidacautelar, no punitiva. La prisión preventiva, igualmente, responde alprincipio de proporcionalidad y, en la medida de lo posible, si lasexigencias cautelares no son determinantes, debe optarse por unamedida menos intensa. Finalmente, para su imposición, debe tomarseen consideración los principios universales de presunción de inocenciay de respeto de la libertad individual.

§ 5. Sobre los presupuestos de la prisión preventiva, la jurisprudenciaconstitucional y la de los órganos regionales requiere –en cumplimientoal principio de intervención indiciaria- sospecha grave o motivos bastantes,sustentados en actos de investigación regulares, para estimarrazonablemente que el imputado está vinculado a la comisión de un delitode determinada entidad (fumus delicti comissi). También precisa que elmandato judicial deba ser fundado, es decir, motivado en función a lospresupuestos que justifican la medida.

El tema más conflictivo a dilucidar e, sin duda alguna, el vinculadoal periculum in mora o periculum libertatis. Es claro que un primer dato,de común aceptación, tiene que ver con la entidad del delito objeto delproceso penal, el cual debe ser grave; y, el segundo, con los peligrosque pretende evitar o enfrentar la prisión preventiva.

Respecto al primer punto, la legislación peruana toma como referenciaun dato objetivo: que se trate de un delito doloso y que, en el caso concreto,el imputado pueda merecer una sanción de cuatro años de privación de

Page 185: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 185

libertad; implícitamente, esa cuantía está en relación a la posibilidad de queel imputado sea pasible de una pena de ejecución suspendida o condenacondicional. Sobre este tema nos pronunciaremos más adelante.

§ 6. El art. 7.°.5 de la CADH establece que la libertad del imputadoestá condicionada a “[...] garantías que aseguren su comparecencia enel juicio”. En igual sentido se pronuncia el art. 9.°.3 del PIDCP, agregandoque estas garantías de aseguramiento se extienden, además del actodel juicio, a cualquier otro momento de las diligencias procesales y, ensu caso, a la ejecución del fallo. Tal frase, interpretada estrictamente,traduce el “peligro de fuga”.

Empero, la legislación nacional y, con ella, varias legislacionesmodernas de América Latina, han incorporado expresamente –siguiendoel modelo germano- el “peligro de entorpecimiento”, esto es, ladesaparición de pruebas o, en un sentido más amplio, la necesidad degarantizar el éxito de la instrucción, que podría frustrarse si el procesadotuviera ocasión de confabularse con otros sujetos, o de ocultar losindicios que pudieran incriminarle. Motivo, cuya apreciación, se ha vistolimitada sensiblemente por la doctrina, pues superada la fase deinstrucción no tiene mayor sentido mantenerla131 .

El tercer peligro: de reiteración delictiva, es otro de los motivosque en un sector de la legislación se alega como justificación de laprisión preventiva. La doctrina procesalista se opone decididamente asu incorporación legal por exceder la función procesal de la prisiónpreventiva y acudir a justificaciones propios de las penas o de lasmedidas de seguridad, aunque –como hemos visto- el Tribunal Europeode Derechos Humanos la acepta si bien con limitaciones concretas.

Aún cuando considero que el único peligro, justificado en todomomento procesal y compatible con la naturaleza procesal y cautelarde la institución, es el de fuga, no puede dejar de mencionarse la

131 ASENCIO MELLADO anota que el TEDH, en el asunto RINGEISEN (Sentencia de 16 de julio de1971), estimó que no se puede alegar esta razón cuando desde el inicio de las intervencionesjudiciales y hasta la detención preventiva ha transcurrido un lapso de tiempo considerable en el cual,si el inculpado lo ha querido, ha podido llevar a efecto su finalidad [La prisión provisional, ..., p. 284].

Page 186: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3186

jurisprudencia del TEDH y de la CIDH [“caso Suárez Rosero”. Sentenciade 12.11.97] que incorpora el ”peligro de entorpecimiento”; y, que,adicionalmente a él, por lo menos el TEDH y, ahora, el Estatuto de laCorte Penal Internacional, el “peligro de reiteración delictiva”132 .

§ 7. El grave problema que presenta el sistema procesal peruano,pese a las normas sobre prisión preventiva, es el alto índice de presossin condena. Según la última investigación de la Defensoría del Pueblo,al mes de junio de 2000, existían 27,835 internos en los EstablecimientosPenales de la República, de los cuales la proporción de presos preventivoses del 54.69% frente a 45.31% de condenados133 ; en el año 1997 elporcentaje era de 70% de presos preventivos vs. 30% de condenados134 .

La explicación, sin duda alguna, no sólo se encuentra en la propianorma procesal sobre prisión preventiva, sino en diversos factores, entre losque destacan la alarmante contra-reforma del Código Penal de 1991, quetuvo como rasgo más notorio la agravación de las penas, la desorganizacióndel sistema de justicia y la profundización inquisitiva del procedimientopenal, potenciada por las normas dictadas en el último decenio.

Tal vez un factor muy importante, unido a la cultura inquisitiva aúnsubsistente en los operadores judiciales, radica en que la ley pone comodato objetivo para apreciar la gravedad del delito el límite de los cuatroaños de privación de libertad y que, a partir de esa limitación, todas lasreformas –entre ellas del derecho penal patrimonial, sexual y fiscal- hanestablecido como mínimo legal una pena privativa de libertad superior a

132 Art. 58.°.1 del Estatuto CPI estipula que la orden detención procede, siempre que haya motivorazonable para creer que una persona ha cometido un crimen de la competencia de la Corte; y ladetención parece necesaria para: i) Asegurar que la persona comparezca en juicio; ii) Asegurar quela persona n o obstruya ni ponga en peligro la investigación ni las actuaciones de la Corte; o iii)En su caso, impedir que la persona siga cometiendo ese crimen o un crimen conexo que sea de lacompetencia de la Corte y tenga su origen en las mismas circunstancias.133 INFORME DEFENSORIAL N° 29 “Derechos Humanos y Sistema Penitenciario”. Diario Oficial “ElPeruano, 14 de octubre de 2000, p. 19398.134 SECRETARIA EJECUTIVA DE LA COMISIÓN EJECUTIVA DEL PODER JUDICIAL. Proceso deReforma y Modernización del Poder Judicial. Informe Ejecutivo al 30 de junio del 2000. DiarioOficial “El Peruano”.

Page 187: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 187

ese límite. Ello obliga a reflexionar acerca de la necesidad de revisar laredacción de esa disposición legal (art. 135.°.2 CPP 1991)135 .

§ 8. En cuanto a las otras características necesarias de la prisiónprovisional, atento a la vigencia de los principios de proporcionalidad yacusatorio, y al respeto de la garantía de imparcialidad judicial, a laintangibilidad del derecho de defensa y a la necesaria afirmación delprincipio acusatorio, resulta del caso postular las siguientes reformas:

1. En vista que la Constitución erige un Ministerio Público autónomodel Poder Ejecutivo y reconoce a sus miembros un estatuto jurídico similaral de los jueces, deviene indispensable -luego de entregarle la conducciónde la investigación del delito- no sólo restituir la denominada “detenciónprovisional”, sino establecer que la decisión judicial acerca de la prisiónpreventiva o comparecencia, en sus formas de simple o restrictiva, seadopte luego de una audiencia preliminar contradictoria con asistenciade las partes136 . Modelo que, desde luego, debe extenderse no sólo a ladecisión sobre prolongación de la prisión preventiva, sino también alprocedimiento recursal contra dicha medida y al de variación de aquélla.

La audiencia, señala Benacloche Palao, es una exigencia del TribunalEuropeo de Derechos Humanos, que impone el respeto a la igualdad dearmas y la participación del interesado en todos los procedimientos en losque se trata de una posible privación de libertad (“casos Kampanis c/Grecia,STEDH de 13 de julio de 95; “Bezicheri”, STEDH de 25 de octubre de 1989)137 .

2. La prisión preventiva, primero, no es una medida inmutable; estásometida a la regla de variabilidad (rebus sic stantibus), sin perjuicio de que seestablezcan plazos máximos de vencimiento o decaimiento de la misma138 .

135 Vid.: SAN MARTÍN CASTRO, César: Derecho procesal penal, cit., pp. 842/843. Una propuestade reforma razonable del sistema penal peruano, luego del fujimorato, ha sido planteada por elInforme de la Misión PNUD-Ministerio de Justicia del Perú; vid.: “Fortalecimiento Institucional dela Justicia en el Perú”, Inédito, abril 2001.136 Una posición favorable al “sistema de contradicción previa” y la exigencia que quien dicta lamedida no sea quien investigue, la tiene Rafael BELLIDO PENADÉS (Vid.: Poderes del órganojurisdiccional y garantía de la imparcialidad en la adopción de la prisión y libertad provisionales.En: Actualidad Penal, N° 18, 4 al 10 de Mayo de 1988, pp. 363/378.137 BANACLOCHE PALAO, Julio: los derechos ..., cit., p. 68.138 El plazo de duración de la prisión preventiva, apunta CAFFERATA NORES, se establece, no enel interés de la justicia, sino en el interés del acusado (Comisión Interamericana de DerechosHumanos. Informe N° 35/96, 7.IV.98) [proceso penal ..., cit., p. 192].

Page 188: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Revista Jurídica da ESMP - n.º 3188

Segundo, debe ser objeto de exámenes periódicos (TEDH, “caso Hussain”,Sentencia de 21.1.1996). Por lo demás, si es del caso decidir su continuacióno prolongación, la resolución que decida el petitorio debe producirse en unplazo corto (TEDH, “caso Bezicheri, Sentencia de 25.10.1989).

La legislación nacional, en orden a la variabilidad, prevé no sólo laconversión directa de la prisión preventiva en comparecencia, sino tambiénla libertad provisional, la libertad por exceso del plazo de detención, la libertadbajo vigilancia y la libertad incondicional (ausencia del fumus comissi delicti).

3. La prisión preventiva nunca debe ser obligatoria. Correspondeal Juez decidir si, excepcionalmente, procede su imposición. La leydebe reconocer una amplia posibilidad de medidas alternativas, tal comoaparece regulado en el CPP de 1991. También debe disponer que eltiempo pasado cautelarmente en prisión preventiva debe computarse alos efectos de la condena (vid.: art. 47.° CP del Perú).

4. La gravedad del delito, como motivo de detención, debe fijarsede un modo flexible, nunca en términos fijos como el caso peruano. Debeenfatizarse, al respecto, que este motivo, por si sólo, no es suficientepara deducir el peligro de fuga.

§ 9. Finalmente, considero que una corrección esencial para evitardetenciones arbitrarias y de este modo garantizar el derecho a la libertadpersonal, debe ser –como sugiere Alejandro D. CARRIÓ- excluir detodo valor probatorio cualquier manifestación que la persona detenidahaga, cualquier objeto que sea encontrado en su poder o cualquier otraevidencia obtenida como consecuencia de ese proceder ilegal, aúncuando es del caso reconocer algunas variantes y excepciones139 .

Cesar Eugenio San Martín Castro,

professor de Direito Processual Penal daPontificia Universidad Católica del Peru

139 CARRIÓ, Alejandro: Garantías constitucionales en el proceso penal, Ed. Hammurabi, BuenosAires, 1984, pp. 46/47.

Page 189: Revista Jurídica - CEAF-ESMP · genival veloso de frança, professor de medicina legal. Revista Jurídica da ESMP - n.º 3 9 A PERÍCIA EM CASOS DE TORTURA (*) Genival Veloso de

Procurador-geral de JustiçaLuiz Antonio Guimarães Marrey

Membros NatosGomides Vaz de Lima JúniorJosé Roberto Garcia DurandClóvis Almir Vital de UzedaJobst Dieter Horst NiemayerGuido Roque JacobLuiz Cesar Gama PellegriniHerberto Magalhães da Silveira JúniorRené Pereira de CarvalhoFrancisco Morais Ribeiro SampaioNewton Alves de OliveiraJosé Ricardo Peirão RodriguesLuiz Antonio ForlinJosé Roberto Dealis TucunduvaEduardo Francisco CrespoOswaldo Hamilton TavaresFernando José MarquesIrineu Roberto da Costa LopesRegina Helena da Silva SimõesAntonio Paulo Costa de Oliveira e SilvaRoberto João EliasClaus PaioneJosé de Arruda Silveira Filho

Membros EleitosCyrdêmia da Gama BottoAntonio Augusto Mello de C. FerrazAdelina Bitelli Dias CamposJethro PiresCarlos Roberto BarretoPaulo Álvaro Chaves Martins FontesCarlos Henrique MundRenato Nascimento FabbriniGeraldo Félix de LimaRuy Alberto GattoMaurício Augusto GomesNelson Gonzaga de OliveiraLuiz Claudio PastinaHeloísa Antonia Barreiros de SouzaAntonio Ferreira PintoRubens RodriguesPaulo Marcos Eduardo Reali F. NunesAntonio ViscontiJosé Correia de Arruda NetoLúcia Maria Casali de Oliveira

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça

Corregedor-geral do Ministério PúblicoAgenor Nakazone

Luiz Antonio Guimarães MarreyAgenor NakazoneRenato Nascimento FabbriniWalter Paulo Sabella

Conselho do CEAF/ESMP

Arthur de Oliveira Costa FilhoSilvana BuogoJocimar GuimarãesLuís Daniel Pereira Cintra

Conselho Superior do Ministério Público

Francisco Stella JúniorJosé Benedito TarifaJosé Oswaldo MolineiroNewton Alves de OliveiraPaulo Hideo ShimizuWalter Paulo Sabella

Luiz Antonio Guimarães Marrey(presidente)Agenor NakazoneAntonio Hermen de Vasconcellos e BenjaminEduardo Francisco CrespoFernando Grella Vieira