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imagem rp NOVEMBRO / 2014 | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO/RS DEMOCRACIA 50 Anos do Golpe Militar l 100 Anos de Relações Públicas

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DEMOCRACIA - 50 Anos do Golpe Militar | 100 Anos de Relações Públicas

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imagemrpNOVEMBRO / 2014 | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO/RS

D E M O C R A C I A50 Anos do Golpe Militar l 100 Anos de Relações Públicas

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Neste ano trabalhamos com dois momentos simbólicos na Revista Imagem RP: os 50 Anos do Golpe Civil-Militar e os 100 Anos da Profissão de Relações Públicas no Bra-

sil. Não há relação direta entre esses momentos, aparentemente. Mas a turma de Redação em Rela-ções Públicas IV 2014/1 trouxe questões para a re-flexão aos alunos e professores do Curso.

Ao entendermos a nossa história, o que foi fei-to no passado, conseguimos entender o presente e mudar os rumos futuros. Dos 100 Anos de Profissão de Relações Públicas, apenas nos últimos 30 anos é que a carreira e a atividade tiveram reconhecimento. Hoje o mercado de comunicação empresarial e ins-titucional está em franca expansão e demandando profissionais que atendam os desafios de uma socie-dade informada e globalizada.

Por outro lado, com os 50 Anos do Golpe Civil--Militar, retomamos e recontamos o que se passou naquela época e suas consequências nas gerações até hoje. E Relações Públicas, apesar de ainda inci-piente na época com poucos profissionais atuantes, foi um dos protagonistas na construção da imagem manipulada sobre o Regime Militar. Apesar de pouco explicado ou mesmo comprovado, houve a partici-pação das Relações Públicas num regime totalitário e torturador, e entendemos que isso jamais deve se repetir.

Relações Públicas não pode servir a propósitos contra a sociedade e à cidadania. Entendemos que nossa atividade só existe em sociedades democrá-ticas e com práticas de transparência e para pro-moção das relações éticas, respeitosas e verdadeiras entre as organizações e seus públicos.

Cada aluna desta turma, cada uma de seu jeito, encarou o desafio e buscou trazer uma reflexão, que ora associa RP ao tema Ditadura, ora a Ditadura e nossa história. Esperamos que o trabalho dedicado e experimental de nossas alunas traga alguma con-tribuição ao curso, à formação dos estudantes de Relações Públicas e ao desenvolvimento de nossa atividade e profissão.

Erica Hiwatashi Professora orientadora

ÍNDICE4RP na Ditadura MilitarA história oficial recontada

6Pra frente BrasilDa Copa da repressão à Copa das Copas

8Anos de chumboAs empresas e a Ditadura

10Memória50 anos depois, quem se importa?

12HistóriaRelações Públicas nas Forças Armadas

14Cerimonial e ProtocoloRigor que vem do Regime Militar

16Lado socialUma outra Relações Públicas é possível?

17MúsicaEstratégia de resistência contra a ditadura

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CARTA DAREDAÇÃO

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Relações Públicas na Ditadura Militar

A história oficial recontada

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Relações Públicas na Ditadura Militar

MELISSA VILLANOVATAMIRES REBICKI

Este ano a atividade profissional das Relações Públicas completa 100 anos de história no Brasil. A coincidência é que também com-

pletamos 50 anos do golpe militar. Apro-veitamos a edição da revista Imagem RP para lembrarmos quais marcas deixadas nesses “anos de chumbo” adentraram na história das Relações Públicas no Brasil.

Ao longo dos 21 anos da Dita-dura Militar, as Relações Públicas foram conhecidos pela atuação na comunicação governamental controlada pela Assessoria Espe-cial das Relações Públicas - AERP. “O fato mais grave é que foi um instrumento de manipulação de informação para manutenção do regime vigente. O que se fazia era uma propaganda ideológica persuasiva para as massas, por meio, sobretudo, de programas de televisão. A AERP não estava a serviço da sociedade e do in-teresse público, mas do regime totalitário da época”, é o que afirma Margarida Maria Krohling Kunsch, renomada e pioneira pes-quisadora brasileira de Relações Públicas e professora da Univer-sidade São Paulo - USP, que con-cedeu entrevista à Revista sobre o tema dessa edição.

Kunsch lembra que apesar do Regime Militar, ocorreram avan-ços importantes para a forma-ção de profissionais graduados na época, como em 1966, quando a “Escola de Comunicação e Artes da USP cria o primeiro curso de Relações Públicas. Outro marco aconteceu em 1967 com a funda-ção da Escola Superior de Rela-ções Públicas -Esurp, em Recife, Pernambuco”. E ela destaca que na época “os cargos de relações públicas nos governos militares eram ocupados tanto por militares como por civis que conseguiram o registro profis-sional provisionado, já que até o momento não haviam cursos superiores na área”. Assim, apesar de utilizarem do nome e darem fama equivocada as Relações Pú-blicas, Kunsch diz que “certamente estes cargos foram ocupados por civis e milita-

res não formados. Vale lembrar que quem dirigiu a AERP e a ARP foram generais”.

A visão da profissão de Relações Pú-blicas teria sido deturpada durante a di-tadura militar. No julgamento de Kuns-ch, “os fatos ocorridos justificam a fama com nome de Relações Públicas. Fazia--se propaganda política que se caracte-rizava como uma ‘lavagem cerebral’. As assessorias de Relações Públicas estavam a serviço da manutenção do regime. Jus-tamente no auge da ditadura (1867-1868)

veio a regulamentação da profissão. Tudo fazia parte de uma questão de seguran-ça nacional”.

Já na opinião pessoal de Maria Luísa Delgado Assad, Secretária-Geral do Con-selho Federal de Relações Públicas (CON-FREP), com o vínculo da atividade com a ditadura militar “não houve impacto ne-

nhum, pelo contrário. Os Centros de Co-municação Social das três áreas (Exérci-to, Marinha e Aeronáutica) foram criados. Naquela época, houve uma valorização, aproximação e abertura maior das Forças Armadas com os profissionais de comuni-cação”. Assad afirma que “várias ativida-des que desenvolvemos foram realizadas em conjunto com militares, e nunca tive-mos dificuldades ou entraves que pudes-sem prejudicar nossas atribuições. Pelo contrário, sempre foram extremamente

profissionais com os civis”.A imagem de RP associada

ao Regime Militar não perma-nece nos dias de hoje, afirma Kunsch. Em sua opinião, “houve uma grande evolução de lá para cá. Há uma nova percepção e as práticas de hoje nos órgãos pú-blicos nos níveis federal, estadu-al e municipal e nas três esferas de poderes é bem diferente do passado.” Kunsch é categórica: “as verdadeiras Relações Públicas são possíveis se forem praticadas na sua plenitude na democracia, com o fortalecimento da socie-dade civil.”

Por fim, Kunsch apresenta como deve ser hoje a atuação das Relações Públicas na promoção da verdadeira comunicação pública. Diz ela, “alguns princípios são fun-damentais para nortear a comuni-cação na administração pública. A instituição pública/governamental deve ser concebida como institui-ção aberta, que interage com a so-ciedade, com os veículos de comu-nicação e com o sistema produtivo. Ela precisa atuar como um órgão que extrapola os muros da buro-cracia para chegar ao cidadão, em parceria com os meios de comuni-cação. É a instituição que ouve a sociedade, que atende às deman-das sociais, procurando, por meio da abertura de canais, amenizar os problemas cruciais da população,

como saúde, educação, transportes, mo-radia e exclusão social”. Kunsch completa: “tudo isto está na teoria e na essência da área de relações públicas. Os princípios e fundamentos das relações públicas na es-fera governamental são os mesmos que são defendidos para a prática da comunicação pública em geral”.

Margarida Kunsch: “as verdadeiras Relações Públicas são possíveis se forem praticadas na sua plenitude na democracia, com o fortalecimento da sociedade civil”

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CAROLINE MACIEL MARIANE ARAÚJO

O ano de 1970 ficou mar-cado pela conquista do tricampeonato mundial, pela seleção brasileira

de futebol. Ao mesmo tempo em que a população comemorava a conquista do título, outros acontecimentos tumultuavam o país. No auge do Regime Mi-litar linha dura, presidido pelo general Emílio Garrastazu Médi-ci, o país vivia um momento de grande repreensão e censura, em que as pessoas que desafia-vam o governo eram torturadas e assassinadas.

Mas os militares se preocu-pavam em manter as aparências, um indício disso foi a música “Prá frente Brasil” que virou um hit, sendo muito utilizado pela mídia colaboracionista da época. A letra desta música de-monstrava, aparentemente, um país alegre e unido. Para isso, foram utilizadas estratégias para promover o presidente e os o crescimento econômico do Re-gime Militar. No artigo “Brasil, modelo 70: futebol e política na Revista Veja em 1970” de Lívia dos Santos Chagas, publicado em 2009, a autora afirma que “através da propaganda gover-namental, desenvolvida pela Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), eram divulga-dos ideais de identidade e par-ticipação nacional”.

A promoção do regime fun-cionava. “Aos 19 anos, eu era soldado da 11ª Companhia de Comunicações Mecanizadas – CIA COM de Santiago/RS. Me lembro que na Copa todos paravam para assistir os jogos. Era colocada uma TV nos alojamentos e era incentivado que todos olhassem e apoiassem a seleção”, lembra Manoel Amado Alves dos Santos, 63 anos, atualmente aposenta-do. Santos comenta que naque-

Pra frente Brasil

Da Copa da repressão à Copa das Copas

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la época as pessoas não podiam se manifestar e os militares não podiam nem andar a paisana, tinham que estar com roupas militares mesmo que não esti-vessem de serviço.

Hoje vivemos numa demo-cracia. As pessoas podem ex-pressar suas opiniões. Em meio a os preparativos para a Copa do Mundo no Brasil, o país viveu um momento importante. A popula-ção foi às ruas reivindicar seus direitos por transporte público de qualidade, melhor educação, saúde, segurança, entre outras. Para a estudante Melissa Villa-nova, ex-moderadora de grupos ligados ao movimento “Vem pra rua” nas redes sociais, hoje vi-vemos em duas frentes de ma-nifestações. A primeira, contra a Copa, que acreditava que ela não deveria acontecer, e, na se-gunda, que considerava os va-lores investidos muito abusivos, e que ainda acredita que a ma-nifestação deve acontecer nas eleições de outubro. “O povo mais instruído não é atingido. Já o alimentado da política ‘pão e circo’ vai esquecer isso”, afir-ma a estudante.

Às vésperas do Mundial, a presidente Dilma Rousseff fez seu pronunciamento em rede na-cional com uma dose de motiva-ção aos brasileiros e uma justifi-cativa a todos que contestavam as dificuldades enfrentadas no país. “Desde 2010, quando come-çaram as obras dos estádios, até 2013, o governo federal, os es-tados e os municípios investiram cerca de 1 trilhão e 700 bilhões em educação e saúde. Repito: 1 trilhão e 700 bilhões de reais. Ou seja, no mesmo período, o valor investido em educação e saúde no Brasil é 212 vezes maior que o valor investido nos estádios.”, disse a presidente. E finaliza a defesa: “A Copa não representa apenas gastos, ela traz também receitas para o país; é fator de desenvolvimento econômico e social; gera negócios, injeta bi-lhões de reais na economia, cria empregos.”

Com o fim desastroso desse campeonato mundial, entra em evidência outro momento impor-tante para o país: as eleições gerais. Só nos resta saber se o resultado da Copa irá interferir na resposta das urnas.

Da Copa da repressão à Copa das Copas

Ao lado de Pelé, presidente Médici participa das comemorações do tricampeonato conquistado pela Seleção, em 1970. À esquerda, Fernandinho lamenta mais um gol sofrido no fatídico jogo Brasil 1 x 7 Alemanha. A equipe adversária sagrou-se campeã da Copa de 2014

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REPRODUÇÃO / TV GLOBO

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LÍLIAN LEMKEMARIANA PAIM

A Ditadura Militar instaurada em 1964 foi um período cinzento da história do Brasil, que foi esquecida propositadamente, mas que agora começa a ter espaço na memória

com a criação da Comissão Nacional da Verda-de. Uma das lembranças restauradas impacta na imagem institucional de empresas, que se fortaleceram e expandiram seus negócios com regime vigente. Mas será que a relação entre essas empresas e o Regime Militar afetou a reputação delas?

Para Cíntia Carvalho, professora do curso de Relações Públicas da Unisinos, a adesão de alguns empresários à ditadura não se deu ape-nas ao suporte dado ao golpe de Estado, mas também ao apoio fi-nanceiro e adoção da política de repressão e terrorismo dentro de organizações civis. “A ditadura criou um cenário altamente fa-vorável para o desen-volvimento e cresci-mento das atividades das empresas, engen-drando um ambiente propício para a acu-mulação de capital”, completa.

Maria Helena We-ber, professora do curso de Biblioteco-nomia e Comunicação (FABICO), da UFRGS, acredita que como o Brasil ingressou numa fase de desenvolvi-mento econômico, atraindo investidores e favorecendo os lu-cros das empresas, fi-cou evidente o apoio a elas na política econômica da época. “O que pode ser dito é que as empresas passam a ser protegidas pelo governo, que afastou o fan-tasma do comunismo”, enfatiza.

Essa relação pode ter impacto na imagem dessas organizações, como ressalta Maria Hele-na: “Hoje, quando uma empresa é identificada como colaboradora do regime militar, eviden-temente que acarreta uma carga negativa a sua imagem”. Cíntia relembra que a profissão de relações públicas cresceu no regime militar e seu exercício era controlado pelo Governo: “Creio que muito da falta de credibilidade à área ainda vigente, se deve a esse fato! Da

mesma forma, acredito que o imaginário co-letivo voltado às organizações se constitua de igual maneira”.

Com a criação da Comissão Nacional da Verdade, iniciamos a compreensão de que as empresas que tiveram vínculo com a repres-são, tortura e crimes contra a humanidade de-veriam ser responsabilizadas e punidas. “São crimes que não prescrevem. Do modo com que a Comissão da Verdade e a justiça assim defi-nirem”, destaca Maria Helena. Como muitas empresas se adaptaram ao regime para conti-nuar desempenhando suas atividades, muitas se aproveitaram do fato para enriquecer, reprimir e assediar os sindicalistas que lutavam pelos trabalhadores. “Sou favorável a um resgate dessas “orgias” ocorridas na época, acompa-nhado de reembolsos ao povo, sejam eles sob

a forma monetária, social, educacional ou cultural”, ressal-ta Cíntia.

Em abril de 2014, a Comissão Nacional da Verdade realizou o seminário “Como as empresas se bene-ficiaram e apoiaram a ditadura militar”, apresentando estudos que apontam nomes de empresas que con-tribuíram com o Gol-pe de 64 (ver box). “Seu impacto para a política e a sociedade é extremamente im-portante e positivo, mas para a empre-sa é negativo à sua reputação”, afirma Maria Helena. Para Cíntia: “É um projeto louvável que contri-buiria para responder a muitos questiona-

mentos em aberto”.Fica evidente que as empresas que apoia-

ram a ditadura na época viram nesse apoio uma forma de crescer. A imagem “daquelas que apoiaram a ditadura” não é positiva. Po-rém, na cultura do “jeitinho brasileiro”, elas ainda não sofreram punição ou impacto al-gum e todas as empresas continuam prósperas ou passaram por fusões ou aquisições. Neste caso, cabe ao profissional de RP desvincular essa imagem que ainda permanece ou deve-mos mostrar que a empresa de 50 anos atrás, que apoiou o golpe, hoje em dia pensa de for-ma diferente?

As empresas e a Ditadura

Para a professora Cíntia Carvalho, a divulgação dos nomes das empresas que apoiaram a Ditadura contribui para responder a muitos questionamentos

ARQUIVO PESSOAL

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Elas ajudaramno RegimeEmpresas que contribuíram com o Golpe de 64, segundo apurado pela Comissão Nacional da Verdade

l Alpargatasl Antarctical Arno l Associação Comercial de São Paulol Atlas S.A l Banespa l Brastemp S.A.l Brink 's l Carbono Lorenal Cia Sorocabanal Ciesp-Fiespl Cobrasma S.A. COFAPEl COSIPAl Diários Associados l Ducal S.Al Dunlop l Duratex S.A. l Esso l Estaleiro Mauá l Fundição Progresso l General Electric l Grupo Ultra l Grupo Votorantin l Hanna Miningl Itaú l ITT Comunicações l Light l Lloyde Brasileirol Lucas do Brasill Massey Ferguson l Mercedes – Benz l O Globol Páginas Amarelas l Philips do Brasil S.A. l Refinaria Capuaval Rhodia l Rockwell S.A.l Rolls Royce l SKF do Brasill Sofunge l Souza Cruz l Standart Oill Telefunken do Brasil S.A. l Union Carbide l Vidraçaria Santa Marina l Villares / Atlas l Volkswagen

Com página no Facebook e site, a

Comissão Nacional da Verdade está presente

também na internet

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MemóriaEVLYN LOUISE ZILCH

Os anos de chumbo, como conhecidos por parte de quem viveu o Regime Militar, marcaram profun-damente homens e mulheres e suas vidas foram transformadas. Mas não somente as vidas dos

anos 60 e 70. O período mudou tudo o que aconteceria no futuro. 50 anos depois, os acontecimentos permane-ceram na memória dos brasileiros. Homens e mulheres jo-vens ou nem tão jovens. O que ficou em suas lembranças?

Guilherme Lima de Quadros tem 23 anos, vive em São Leopoldo e trabalha em Porto Alegre com seu pai. Ape-sar de conhecer pessoas que sofreram no período, pensa que de alguma forma o retorno ao regime ditatorial po-deria ser positivo.

“Fico dividido se a ditadura foi um período de certa forma bom ou não. Sei que muitas pessoas desaparece-ram e foram censuradas. Meu tio, por exemplo, foi in-terrogado diversas vezes e acusado de comunista. Mas também, pelo que escuto das gerações mais antigas, as coisas funcionavam. Não havia tanto vandalismo. E hoje, mesmo que pareça que vivamos em uma democracia, nada de fato mudou, já que as grandes emissoras con-tinuam manipulando e censurando informações. É uma ditadura encoberta”.

A estudante de Educação Física da Unisinos, Mônia Zilch, 26, é ainda mais enfática.

“Para mim, a ditadura poderia retornar. Em um país como o Brasil, onde tudo está errado, é necessário radi-calismo para mudar as coisas”.

Mateus Pinto Pereira é estudante do ensino médio e tem 19 anos. Para ele, o governo deveria exercer mais sua autoridade.

“Ouvi coisas muito terríveis sobre a ditadura, prin-cipalmente no que diz respeito à violência e à tortura. Acredito que a ditadura até poderia retornar, porém de uma forma muito diferente, onde não houvesse a vio-lência extrema, física, emocional e psicológica que foi praticada. O país precisa de pulso firme, mas também de respeito”.

Para quem viveu os anos de chumbo, a opinião é dife-rente. O professor aposentado de Filosofia Laurício Neu-mann, 67 anos, de São Paulo das Missões (RS), foi seques-trado, interrogado e torturado por militares na ditadura. Ele deixa claro quais os motivos para crer que a ditadura nunca mais pode retornar ao país.

“Em 1968, com 21 anos, vim para Viamão, para a faculdade de Filosofia. Chegar lá era como ter a faca e o queijo na mão. Era tudo o que eu sonhava, o que eu queria, mas, ao mesmo tempo, não tinha clareza. Um mundo fascinante de abertura a tudo e assim comecei a participar do diretório de estudantes... Oportunidades, possibilidades, espaços.”

Assim Laurício inicia sua história. É um dos autores da Revista Mundo Jovem, que existe até hoje. Esta revista, que tem um caráter filosófico, social e teológico, possibilita a publicação de temas instigantes e questões importantes para a humanidade. Mas os acontecimentos em 64 não permitiram mais que a revista se mantivesse da mesma forma. Após o fechamento da faculdade de Viamão em 1970, a revista também foi perseguida e, com isso, seus autores. Neumann foi preso em 3 de setembro de 1970.

“Acho que era depois das 11h da noite. Eu estava lá no jornal, quando saí já estava tudo muito deserto, es-curo, eu me dirigi para o ponto de ônibus. Estava com uma pasta, com material da universidade e na outra mão

50 anos depois,

quem se importa?

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com uma dúzia de ovos e um saco de pão. Quando cheguei na parada de ônibus tinha um carro da polí-cia parado. Na hora eu não suspei-tei, comecei a suspeitar quando o ônibus andou e o carro da polícia me acompanhava, acompanhava o ônibus.

Quando o ônibus chegou no centro da cidade, bem em frente a histórica Igreja da Matriz, que é o ponto final, tinha um outro carro da polícia parado. Quando chego na esquina, havia mais um

carro da polícia e também na se-guinte. Em frente à entrada da pensão onde vivia, havia mais dois carros da polícia. Um total de 6 carros. Aí quando eu subi a escada, o primeiro quarto à direita era o nosso, a porta estava entreaberta. Com o cotovelo empurrei a porta

e aí o cano do fuzil apontava na minha cara.

Eles já estavam dentro do quarto, com os outros colegas já presos, o material todo encaixo-tado. Levaram tudo, tudo, tudo. E só estavam aguardando por mim. Botaram o capuz. O tempo todo que eu fiquei preso eu não sabia onde é que eu estava. Tu não fa-zes ideia. Tu escutas barulhos de carro, de gritos, mas tu não sa-bes em que mundo tu estás. Então fomos levados encapuzados para um local e eu lembro que tinha que subir escadas, bastante es-cadas e aí já fomos direto para a sessão de tortura. Mais tarde eu fui saber que esse local era o atual Palácio de Polícia em Porto Alegre. Nós ficávamos no segundo e terceiro piso, onde eram as ce-las, as salas de tortura, enfim... As torturas... o que que eu vou te dizer? São as mais perversas possíveis. Têm livros, filmes, ví-deos que mostram. Eu acho que dá pra ter mais ou menos uma ideia do que é possível imaginar o que seja uma sessão de tortura. Mas não tem como descrever. Só é. Isso é impossível. A única coisa que eu me pergunto é como é que

é possível um ser humano, que se diz humano, que é pai, que tem filhos, tratar outro ser humano com tamanha selvageria?

Isso é inacreditável. Inacreditá-vel. Você não faz ideia da dimensão da selvageria, da brutalidade, da irracionalidade. Eu trago seque-las até hoje, tanto físicas quanto emocionais. Choques nos órgãos ge-nitais, no ânus... Esse negócio de pontapé, de soco, isso é carinho! O pior são os choques elétricos na boca, nos ouvidos, nos órgãos ge-nitais. Você fica tão inchado que parece uma abóbora. Fica tudo inflamado, tudo arrebentado. E não tem tratamento, você tem que aguentar no osso. Quem consegue sobreviver é sorte. E depois o pau de arara. O pau de arara é cruel. Afinal, você fica pendurado que nem uma galinha estacada para ser assada. Isso você aguenta uns mi-nutos, mas não aguenta por muito tempo. O corpo todo fica pendurado com as pernas amarradas e na outra ponta com os braços amarrados. E aí... socos, coices e pontapés nos rins. Isso é cruel, é terrível. E de-pois a coluna não aguenta. Isso foi em 70 e há poucos anos atrás tive que fazer duas cirurgias por cau-sa de uma hérnia de disco, entre a 3ª e a 4ª vértebra. Descobri que era por causa das torturas. Isso é sob o aspecto físico. Sob o aspecto emocional, um psiquiatra me dis-se uma vez que não tem escovão de aço, produto químico ou ácido que consiga apagar isto. Ele disse que ou eu tinha que aprender a ad-ministrar e a conviver com isso ou então eu iria acabar me torturan-do, ou seja, uma segunda tortura, estragando minha vida, minhas re-lações e a vida das pessoas que es-tavam ao meu redor. Eu acho que não tem mais como eu voltar a ser uma pessoa normal.”

“Você não faz ideia da dimensão da selvageria, da brutalidade, da irracionalidade. Eu trago sequelas até hoje, tanto físicas quanto emocionais”

Professor Laurício Neumann: um

depoimento para não esquecer

“Eu acho que não tem mais

como eu voltar a ser uma

pessoa normal”

“Um psiquiatra me disse uma vez que não

tem escovão de aço, produto químico ou ácido que

consiga apagar isto”

“Na hora eu não suspeitei,

comecei a suspeitar quando o

ônibus andou e o carro da polícia me

acompanhava”

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Relações Públicas nas Forças Armadas

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MARLUCE OLIVEIRA DE BEM

A comunicação em sociedades de-mocráticas propõe práticas dia-lógicas, como um processo per-manente de negociação entre

pessoas em condições iguais em direitos e deveres. Esse ideal ainda está em cons-trução desde o fim do Regime Militar no Brasil, que restringiu fortemente a liberdade de ex-pressão naquele período, além de tentar controlar as informa-ções para ter opinião pública fa-vorável. Assim, surge a dúvida: as Relações Públicas eram pra-ticadas como deveriam?

Nadege Lomando, professora do curso de Relações Públicas na Unisinos, utiliza Roberto Simões para afirmar que os profissionais da área de Relações Públicas não tinham espaço para atuar durante o Regime. Segundo ela, baseado na teoria desse autor, “só existe comunicação na de-mocracia” e que a prática de RP ideal tem via de mão dupla pelo modelo de James E. Gru-nig. Para ela, mesmo que nesse período tenham surgido os pri-meiros departamentos de Rela-ções Públicas, dentro das Forças Armadas, ligados ao governo do Medici, não houve a atuação de profissionais de Relações Públi-cas durante a ditadura.

Nadege entende que nessa época os públicos opinavam ba-seados em informações manipu-ladas, com mensagens persuasi-vas. Ela propõe discussão se ha-via prática de Relações Públicas ou não. A professora comparou o regime ditatorial com a atuação de Hitler, cujas ações de comu-nicação eram para enaltecer e preservar a imagem do nazismo. Para ela trata-se da mesma coisa, não se ouviam os públicos. Nadege defende que “nós nunca faríamos aquilo.”

A professora lembra que foi uma das pessoas que viveu o período e se conside-rava alienada dos fatos: “Eu me lembro de ser criança e ir com minha vó em uma

fila para ganhar uma aliança que dizia ‘Dei ouro para o bem do Brasil’. Depois, na ado-lescência, presenciei a campanha ‘Ame-o ou deixe-o’, nos adesivos com essa frase e não podíamos falar mal do país.”

As Relações Públicas iniciaram seu de-senvolvimento mais destacado junto aos governos de exceção, na década de 40 com

a criação de Departamento de Relações Pú-blicas, por Getúlio Vargas. E assim, ficaram estigmatizados pela forte vinculação de seu nome com a Ditadura iniciada em 1964, nas Forças Armadas.

A perspectiva da profissão nas Forças Armadas nos dias de hoje é diferente e positiva. A prova disso são as declarações

que a Tenente Clarissa Oliveira de Carva-lho deu para a revista em uma entrevista no seu local de trabalho, o Quinto Coman-do Aéreo Regional de Canoas (5º Comar). Ela ingressou na Força Aérea Brasileira em 2006, por meio de concurso público concorrendo para a vaga de Relações Pú-blicas. Atualmente ela exerce essa fun-

ção e é responsável pela comu-nicação social nesse Comando Regional, ocupando o cargo de primeiro tenente. Ela fez está-gio para a formação militar e lá aprendeu que, antes mesmo de ser relações públicas, ela é militar. Clarissa atua fortemen-te em prol das atividades de RP na Força Aérea.

A tenente conta que nunca havia existido um profissional de RP no 5ª comando de Canoas, porém havia o desenvolvimen-to de atividades de comunica-ção. A assessoria de imprensa e a organização do cerimonial já eram praticadas. Entretan-to, não eram desenvolvidas por oficiais graduados em comuni-cação, os próprios militares do local eram os responsáveis. Com a chegada da tenente, houve a contribuição para o fortaleci-mento do relacionamento com a imprensa, da relação com o público externo e interno, crian-do vínculos do 5º Comando com esses públicos.

Clarissa relatou que “a co-municação social na FAB está melhorando, se aperfeiçoando no decorrer dos anos. Está em uma fase muito boa, apesar de não ter a quantidade de profis-sionais pra suprir toda a neces-sidade. A coordenação geral e central fica em Brasília”. A Força Aérea busca a aproximação com

a comunidade e sua ideologia institucio-nal reforça que todos os integrantes da Aeronáutica Brasileira são elos da comu-nicação social. A ideia segue uma conclu-são de Nadege, quanto mais os públicos puderem ser ouvidos, ter voz, melhor a atividade estará sendo exercida, é o que se espera desse profissional.

Nadege Lomando acredita que as ações de comunicação do regime ditatorial brasileiro são comparáveis com a atuação de Hitler durante os anos 30 e 40, que focava no enaltecimento e na preservação da imagem do nazismo sem ouvir os públicos

MARIAN

A BLAUTH

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CAROLINA MONTEIRO VOLPATTO

O s eventos formais com a presença de autoridades governamentais no Brasil têm as cerimônias regidas

por uma lei promulgada em pleno regime militar, em 1972, durante o governo Médici. O decreto federal 70.274, de 1972 e a lei 5.700/1971 está em vigor e tem o rigor de or-dem e valorização das pessoas so-mente pela sua posição política e social. Perguntamos se isso ainda tem cabimento? Numa democracia, não é a cidadania que deveria ser valorizada?

Atualmente, os brasileiros já entendem que numa sociedade de-mocrática, a igualdade é um direi-to, e devemos considerar que não há diferença de tratamento entre ricos e pobres, autoridades ou não. Também somos culturalmente mais informais nas relações sociais e in-terpessoais. Pensando assim, em eventos governamentais ou públi-cos, seja do executivo, legislativo ou judiciário, o cidadão deveria ser o alvo dos holofotes e da prioridade das falas, dos discursos e jogo de cena desses atos oficiais.

Os produtores de eventos e ce-rimonialistas ainda mantêm a pom-pa e seguem grande parte do que a Lei e o Decreto estabelecem, mas já não é hora de repensar e mudar

tanto isso? Eles representam o jeito brasileiro de fazer um evento públi-co? Para Leila Santos, ex-chefe do cerimonial da Prefeitura de Porto Alegre, o Decreto Federal instituído na Ditadura veio substituir o ante-rior de 1948, que deixava muito a desejar para aquele momento em

que os militares estavam no poder. Para a época foi o ideal, mas com a democracia, hoje se faz necessário mudanças. Leila diz que modifica-ções já foram pretendidas. Houve uma discussão sobre o assunto no Conselho Federal de Relações Pú-blicas, encaminhado aos Conselhos Regionais para que fosse discutido com seus associados.

Para Adriano Braun Domingos Xa-vier, Relações Públicas responsável pelo Cerimonial da Unisinos, não é necessário realizar modificações radicais, mas atualizações, com a inclusão dos novos cargos, novos órgãos e instituições que vem sen-do criadas. Adriano alerta que fa-zemos cerimônias com protocolos definidos nacional ou internacional-mente para que um evento não vire um caos, e que todo mundo queira pegar no microfone. Dessa forma, realmente não há como ter uma ce-rimônia pacífica.

Tanto Leila quanto Adriano con-sideram as normas ultrapassadas, tendo em vista o atual momento em que vivemos e o governo demo-crático que rege o nosso país. Mas propor essas atualizações mesmo na atual conjuntura política e so-cial requer iniciativa e tempo dis-ponível. O que ainda não teve força e motivação entre os profissionais que atuam nesse segmento. Quem se habilita?

Cerimonial e Protocoloim

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Rigor que vem doRegime Militar

Dentro da Ordem de precedência os artigos a seguir apresentam-se inadequados para um estado laico e democrático, por isso merecem uma revisão.

Art . 14. Os Cardeais da Igreja Católica, como possíveis sucessores do Papa, têm situação correspondente à dos Príncipes herdeiros.

Art . 15. Para colocação de personalidades nacionais e estrangeiras, sem função oficial, o Chefe do Cerimonial levará em consideração a sua posição social, idade, cargos ou funções que ocupem ou tenham desempenhado ou a sua posição na hierarquia eclesiástica.

O que deve ser revisado na Lei

Adriano Xavier, relações públicas responsável pelo Cerimonial

da Unisinos: “Não é necessário realizar modificações radicais, mas

atualizações”

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JADE CRISTIANETTISABRINA CAMARGO

Se a rotina na sociedade bra-sileira durante o Regime Militar era controlar e cen-surar — com forte apelo de

propaganda política pró-regime — na democracia, esse cenário mu-dou, focando na transparência e valorização da opinião pública ou do clamor popular. Esse contexto paradoxal originou a ideia que pou-cos conhecem ainda, as Relações Públicas Comunitárias.

Conforme artigo da pesquisa-dora em Comunicação Laura Maria Naves, da Universidade de Brasília, escrito em 2012, tais recursos, que controlaram mensagens no auto-ritário sistema político, foram es-tratégias da já conhecida Assesso-ria Especial de Relações Públicas (AERP). Com isso, o exercício de Relações Públicas foi considerado um ato de manipulação em prol do Governo, o que dificultou a visão da realidade que ocorria no país. As camuflagens eram feitas enquanto o nacionalismo era enaltecido. A profissão de RP se promoveu nes-te período, entretanto, causou um olhar negativo sobre a atividade.

Para a professora do Curso de Relações Públicas da Unisinos e da UniRitter, Tânia Almeida, durante o Regime as RPs atuaram conforme foi propício na época. A professora diz: “Os profissionais que construí-ram o trabalho de Relações Públicas no regime militar estavam alinha-dos ao projeto daquela época, ou seja, estavam integrados ao pensa-mento do regime.” Tânia destaca que existe diferença entre a téc-nica e a profissão. “É preciso ter em mente que uma coisa é a téc-nica, a profissão em si, o conheci-mento que uma determinada área profissional possui. Outra coisa é o uso disso, para quê, para quem, em nome de qual projeto se está fazendo uso deste conhecimento”.

O conhecimento mencionado por Tânia pode ser voltado a uma

nova Relações Públicas, as sociais/comunitárias. Cicilia Peruzzo foi a pioneira no assunto, lançando o primeiro livro sobre o tema em 1986, Relações Públicas no Modo de Produção Capitalista. Nesta obra, Cicilia traz a ideia de que devemos pensar na profissão como sendo um meio de canalizar a vontade do povo, colocando o homem como o centro da atividade social. For-mando, assim, uma consciência participativa, sendo possível atu-ar em comunidades carentes, sin-dicatos e Ongs.

O Movimento Sem Terra (MST) é um exemplo de mobilização de trabalhadores rurais que utilizam estratégias de RP a partir dos re-cursos que tem. Uma das articu-lações é a distribuição de releases para divulgar a ocupação de terra, gerando visibilidade na mídia (mes-mo que desfavorável, marcam po-sição). Outra tática desenvolvida é recepcionar bem os visitantes nos assentamentos ou participando de feiras da agricultura familiar, para aproximá-los do mundo urbano e

gerar uma boa imagem para a co-munidade local.

Tais estratégias não tem par-ticipação de profissionais de RP, e não acontecem como numa orga-nização empresarial, mas confor-me a abordagem de Cicilia é um campo no qual poderíamos atuar. Porém, esse assunto atrai poucos estudantes e profissionais, que fo-cam sua formação para atuação em empresas.

Mas há exceções entusiasma-das como a Relações Públicas Bru-na Kievel. Ela diz: “o que mais me motiva em tentar ser um RP Comu-nitário é trabalhar pelo benefício da sociedade civil.” Nos anos 80 já se pensava na área social da pro-fissão. Esta demanda vem aumen-tando com o passar do tempo, e, para Bruna, esta é uma tendência na qual as empresas privadas es-tão se inserindo. “Nos dias de hoje, não somente ONGs trabalham por causas sociais. Empresas e Gover-nos estão se reestruturando, se reinventando para fazerem parte deste novo cenário que, principal-

mente os jovens, estão pedindo”, conclui a Relações Públicas.

As Relações Públicas não tra-balham somente em prol do capi-talismo, melhorando a imagem e a reputação das empresas ou então promovendo eventos, mas também devem atuar com questões sociais, como a mobilização social e tornan-do transparentes as atividades das empresas de forma com que todos tenham conhecimento correto so-bre a organização. Assim, qualquer organização pode ser um campo de atuação. Que além do lucro, o ser humano e o bem estar social sejam a prioridade.

Uma outra Relações Públicas é possível?

Para Cicilia Peruzzo (à esquerda), devemos pensar

as relações públicas como meio de canalizar a vontade do povo. A professora Tânia Almeida destaca a diferença entre técnica e o uso que se

faz da profissão

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MAIARA MERGEN PEREIRA

Em meio às tensões do mo-mento político vivido na década de 70 no Brasil, alguns artistas arriscaram-

-se a ir contra o regime vigente, resistindo à censura instaurada no país. Alguns preferiram compor usando metáforas, de forma que as letras ocultassem o verdadei-ro sentido da mensagem. Outros mais insatisfeitos com a repres-são compuseram criticas diretas com letras que se tornaram a tri-lha sonora de resistência contra a ditadura. Porém, alguns músicos, mesmo sem conteúdos políticos, acabaram vítimas da censura, pois nas letras dessas canções os cen-sores entendiam que havia opo-sição ao governo.

Alguns artistas tornaram-se ícones no combate ao regime mi-litar. Considerado um dos maiores opositores à ditadura, Geraldo Vandré compôs a canção “Pra não dizer que não falei das flores”, considerada um hino contra o sis-tema. As entrelinhas desta música evidenciaram as injustiças (pelos campos há fome em grandes plan-tações), destacavam a presença do exército nas ruas (Há soldados armados, amados ou não) e cha-mavam as pessoas para se unirem na luta contra a ditadura (Vem, vamos embora que esperar não é saber/quem sabe faz a hora, não espera acontecer). Geraldo foi preso, torturado e exilado, mas “Caminhando”, como ficou popu-larmente conhecida, é um clássi-co da música popular brasileira.

Outra forma encontrada pe-los artistas para driblar a censu-ra e falar da realidade vivida foi a utilização de metáforas. Como foi o caso de Chico Buarque, au-tor da música Roda Viva, conside-rada um marco no meio cultural, pois fazia uma crítica indireta ao regime militar de forma metafó-rica. Mesmo tendo sofrido com a censura, e também tendo que se

exilar do país, Chico Buarque pro-curava compor suas canções com letras que não atacassem direta-mente o regime. Como no caso de “Roda Viva”, uma das melo-dias mais lembradas que pedia voz para o povo (ver box).

Outro grupo importante para a cultura nacional perseguido pela censura foi os cantores de música denominada “brega”. Compositor de letras diretas e melodias sim-ples, o músico goiano Odair José viveu um dos episódios mais emble-máticos de censura com a música “Uma Vida Só”, conhecida popu-larmente como “Pare de Tomar a Pílula”. A canção foi considerada como um ato de desobediência ci-vil e foi proibida de ser executada nas rádios, mesmo depois de já ter sido lançada. Na época, o governo brasileiro desenvolvia uma cam-panha de controle da natalidade,

que estimulava o uso da pílula en-tre os mais pobres, distribuindo o contraceptivo principalmente nas periferias da região Nordeste. Ape-sar de suas músicas falarem sobre assuntos que faziam parte da vida de qualquer pessoa e não terem cunho político, Odair José tornou--se um artista perseguido pela Cen-sura Federal, por tratar de temas que iam contra a moral e os bons costumes da época.

A ditadura foi capaz de atos extremos de censura à liberdade de expressão. Mas a voz do povo não calou mediante o controle im-posto. Passado meio século deste período que marcou a história do país, pode-se dizer que a música foi uma estratégia de comunica-ção que serviu para expressar e registrar um momento de forte efervescência cultural e manifes-tação de resistência.

Estratégia de resistência contra a ditadura

Composição e interpretação: Chico Buarque

Tem dias que a gente se senteComo quem partiu ou morreuA gente estancou de repenteOu foi o mundo então que cresceuA gente quer ter voz ativaNo nosso destino mandarMas eis que chega a roda-vivaE carrega o destino pra lá

(Refrão)Roda mundo, roda-giganteRodamoinho, roda piãoO tempo rodou num instanteNas voltas do meu coração

A gente vai contra a correnteAté não poder resistirNa volta do barco é que senteO quanto deixou de cumprirFaz tempo que a gente cultivaA mais linda roseira que háMas eis que chega a roda-vivaE carrega a roseira pra lá

(Refrão)

A roda da saia, a mulataNão quer mais rodar, não senhorNão posso fazer serenataA roda de samba acabouA gente toma a iniciativa Viola na rua, a cantar Mas eis que chega a roda-viva E carrega a viola pra lá

(Refrão)

O samba, a viola, a roseiraUm dia a fogueira queimouFoi tudo ilusão passageiraQue a brisa primeira levouNo peito a saudade cativaFaz força pro tempo pararMas eis que chega a roda-vivaE carrega a saudade pra lá

(Refrão 3x)

RENATA M

ACH

ADO

Alunas de Redação em RP IV do primeiro semestre de 2014

Roda Viva

Page 18: Revista Imagem RP

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)ENDEREÇO: Avenida Unisinos, 950. São Leopoldo, RS

CEP: 93022-000 TELEFONE: (51) 3591.1122INTERNET: www.unisinos.br E-MAIL: [email protected]

REITOR: VICE-REITOR:

PRÓ-REITOR ACADÊMICO: PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO:

DIRETOR UNIDADE DE GRADUAÇÃO:COORDENADORA CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS:

Marcelo Fernandes de AquinoJosé Ivo FollmannPedro Gilberto GomesJoão ZaniGustavo BorbaErica Hiwatashi

ADMINISTRAÇÃO

Erica Hiwatashi ([email protected])Carolina Monteiro Volpatto, Caroline Maciel dos Santos, Evlyn Louse Zilch, Jade Cristianetti, Lilian Lemke, Maiara Daniele Mergen Pereira, Mariana Mattos Paim, Mariane Delgado Araújo, Marluce Oliveira de Bem, Melissa Villanova, Sabrina Luisa Camargo e Tamires Rebick NunesGermana Zanettini

ORIENTAÇÃO:TEXTOS:

MONITORIA E REVISÃO:

A revista Imagem RP é uma produção dos alunos das disciplinas de Redação em Relações Públicas IV do

Curso de Relações Públicas da Unisinos

imagemrp

TEXTOS

Agência Experimental de Comunicação (Agexcom)Gabriela Menezes e Marcelo GarciaMarcelo Garcia

REALIZAÇÃO:DIAGRAMAÇÃO:

ARTE-FINALIZAÇÃO:

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINALIZAÇÃO

PUBLICIDADEREALIZAÇÃO:ORIENTAÇÃO:SUPERVISÃO:

ATENDIMENTO:REDAÇÃO:

DIREÇÃO DE ARTE:

Agência Experimental de Comunicação (AgexCOM)Letícia Rosa ([email protected])Robert Thieme ([email protected])Renata SaraivaLucas PiesCarlos Pivetta (contra-capa) e Douglas Reinado (páginas 2 e 19)

turma 2010/2 da disciplina de Projeto Experimental em Planejamento GráficoEverton Cardoso ([email protected])Gabriela Schuch

REALIZAÇÃO:ORIENTAÇÃO:

PROJETO:

PROJETO GRÁFICO

Renata Machado (Curso de Fotografia)Beatriz Sallet ([email protected])

PRODUÇÃO:ORIENTAÇÃO:

FOTO DE CAPA

imag

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