revista ilustrar 07

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Nesta Edição: Junior Lopes, Carlos Nine, Ricardo Antunes, Eugênio Colonnese, Soud e Hiro

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desenho, pintura, ilustração

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Nesta Edição:Junior Lopes, Carlos Nine,Ricardo Antunes, EugênioColonnese, Soud e Hiro

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uita gente me pergunta o que é,exatamente, a Revista Ilustrar: seria uma revista oua apresentação do portfolio de ilustradores?

Na verdade são os dois; é realmente uma revista apresentandoportfolios, mas acima de tudo é também uma grandehomenagem aos artistas que se dedicam à ilustração, apresentandoos mais talentosos, criativos e inspiradores do mercado.

Dessa forma, a revista tenta, através de seus convidados ede seus portfolios, apresentar as melhores referênciassobre como ser um grande profissional de ilustração.

Assim, nesta edição temos a participação de JuniorLopes e suas inusitadas ilustrações com retalhos de

tecidos; Soud, em um passo a passo sensacional; Hirocontando suas histórias na seção 15 perguntas; Ricardo

Antunes - este que vos fala - na seção Sketchbook; o saudoso Eugênio Collonese - recentemente falecido -

na seção Memória, e, na seção Internacional, o brilhanteilustrador e artista plástico argentino Carlos Nine.

Espero que gostem, e dia 1 de janeiro tem mais, comuma edição especial. Aguardem...

Abraços

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DIREÇÃO, COORDENAÇÃO E ARTE-FINAL: Ricardo Antunes [email protected]

DIREÇÃO DE ARTE: Neno Dutra - [email protected] Ricardo Antunes - [email protected]

REDAÇÃO: Ricardo Antunes - [email protected]

REVISÃO:

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:

ILUSTRAÇÃO DE CAPA: Eugênio Colonnese

PUBLICIDADE: [email protected]

DIREITOS DE REPRODUÇÃO: Esta revista pode ser copiada, impressa, publicada,postada, distribuída e divulgada livremente, desde que seja na íntegra, gratuitamente,sem qualquer alteração, edição, revisão ou cortes, juntamente com os créditosaos autores e co-autores.Os direitos de todas as imagens pertencem aos respectivos ilustradores de cada seção.

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• EDITORIAL ......................................................................... 2

• PORTFOLIO: Junior Lopes .................................................... 4

• INTERNACIONAL: Carlos Nine .......................................... 14

• SKETCHBOOK: Ricardo Antunes ........................................... 26

• MEMÓRIA: Eugênio Colonnese ............................................... 36

• STEP BY STEP: Soud ........................................................ 46

• 15 PERGUNTAS PARA: Hiro ............................................ 55

• CURTAS ............................................................................... 72

• LINKS DE IMPORTÂNCIA ............................................ 74

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Jal (Colonnese) - [email protected] (Colonnese) - [email protected] Shuman (divulgação) - [email protected]

Neno Dutra - [email protected] Jansen - [email protected]

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araense da cidadede Castanhal, mas morando em SãoPaulo, Junior Lopes tem um trabalho

bastante variado, atuando comoilustrador, cartunista, quadrinista,

retratista e desenhista de moda.

Mas é com os seus retratos feitos apartir de retalhos de tecido que seu

trabalho ganha força, expressividadee originalidade sem igual.

E essa originalidade acabouprojetando seu nome no exterior,

onde tem exposições planejadas emMoçambique e Alemanha, além de terexposto seus trabalhos em Porto Alegre,

no ano passado.

A seguir, Junior fala mais detalhesda sua trajetória.

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Autodidata total. O Allan Sieber tem umcartum genial, que é um cartunista dandouma entrevista, todo sujo, com mosquinhascirculando sua cabeça e o balão é oseguinte:

"hoje vocês me vêem dormindo numaconfortável caixa de papelão, mas saibamque nem tudo foram flores nesse percurso!".

É mais ou menos por aí… rsss

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Para não fazer uma lista enorme e maçante,prefiro que vejam os retratos que faço.Essa galera que retratei é o resultado deuma boa parte de influências que absorvi,nesses 40 anos de vida.

Não posso esquecer de uma figura muitoimportante em minha formação, que foium especialista em cartum, que conheci

quando tinha 20 anos, em Castanhal,no Pará (onde morei dos 4 aos 30 anos),chamado Luiz Fernando Carvalho, que meapresentou esse universo de artistasgráficos que desde sempre admirei, comoLoredano, Daumier, Millôr, Kalixto, J. Carlos,Egon Schiele, Klimt, Francis Bacon, LucienFreud, Vik Muniz, Andy Warhol, Trimano,Biratan Porto, etc.

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Somos páginas em branco, né?

Tudo que lemos, ouvimos e vemos vai seamalgamando e nos moldando (para obem ou para o mal) nesses monstrinhosque nos tornamos.

Ler é fundamental.

Caretice é não se deixar envolver poresse universo preto e branco de idéiasdispostas nessas caixinhas de celulosechamadas livros.

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Essa parte é surreal: acordei umdia, de ressaca, e, indo para obanheiro, vi, no chão da sala, o rostode Jimi Hendrix.

Achei que fosse delirium tremens,mas eram simplesmente retalhos deuma saia que minha sogra estavacosturando!

O retalho maior era escuro e pedaçosbrancos formavam,miraculosamente, o design do rosto(esse retrato está no blog).O mais louco é que é tudo verdade.

Eu costumo ver formas (e acho quevocê também) em coisascompletamente desconexas, tipoaquela brincadeira de ver desenhosem nuvens.

Às vezes, no escuro do quarto, umacalça jogada no chão parece umperfil de um rosto ou algo dogênero... Ricardo, eu sou meiomaluco, cara! rsss

Depois que colei esse Jimi Hendrixem uma cartolina, vi que ali tinhaalgo novo a ser explorado… Entãofoi só aprofundar o conhecimento.

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Depois de 8 anos fazendo retratos comretalhos, já sei que retalhos específicosirão compor um retrato X.

Depois de pronto, caso ainda não tenhasaído exatamente como imaginei, é soacrescentar mais um layer (mais retalho)por cima da última camada.

Alguns retratos são formados por 5 ou 6camadas de retalhos; depois é só achatara imagem… rsss

O barato de fazer retratos é que eu sempreacho que não vai sair como planejei, masos retalhos sempre me surpreendem. Émeio mágica a coisa.

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Fiz uma exposição em Porto Alegre, noano passado, a convite de uma escolade arte têxtil, presidida por uma artistamaravilhosa, chamada Maria Rita.

Essa escola mantém um intercâmbiocom países africanos e o convite veio

naturalmente para expor, em Moçambique,uma série de 15 retratos de personalidadesmoçambicanas.

Estou também fazendo uma série deretratos de artistas brasileiros e alemães,para uma possível exposição em Berlim,no ano que vem.

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estre argentino dosquadrinhos e da ilustração, Carlos

Nine tem um enorme reconhecimentointernacional, devido ao seu traço

original e técnica brilhante.

Premiado diversas vezes, seu trabalhoé bem mais extenso, atuando também

como escultor, roteirista, pintor eescritor, sendo autor de vários livros.

Além disso, costuma dar seminários,workshops e cursos, na Argentina

e na França.

Mais recentemente participou do projeto“Cidades Ilustradas”, onde cada

volume mostra uma cidade brasileirapelo traço de um artista - e coube

Carlos Nine apresentar a suade Porto Alegre.

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Começou desde criança; concretamente,na escola.

Além disso o desenho é a nossa primeiralíngua e começa bem antes da linguagemescrita.

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Tudo depende das épocas da vida.

Na infância a minha grande influência foia arte gráfica, que qualquer um poderiaencontrar em revistas populares.

Na verdade, muito antes de saber queexistem Picasso ou Van Gogh ou Monet,as crianças são confrontadas comquadrinistas ou ilustradores.

Se esses interesses se transformam ao

longo dos anos em vocação é lógico pensarque esse processo se originou na obracertamente modesta e quase anônimadesses pioneiros.

E é muito provável que dificilmente alguémrecorde dessas primeiras experiênciasestéticas.

Eu nunca me esqueci, sinto enormegratidão por eles, já que tiveram e têmuma enorme responsabilidade pedagógica.

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Muitas vezes uma boa idéia, ou umaboa imagem, se desvirtua porque nãose encontra a técnica ou linguagemadequada para poder ser representadaem sua exata natureza.

É devido a isso, e aproveitando quena escola de belas artes pude aprendera experimentar em diversas técnicas,que trato de aplicar o mais convenientepara cada caso.

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A verdade é que me custa estabelecer asdiferenças.

Para "democratizar" o meu trabalho, hámuito tempo que estou habituado a meconsiderar um trabalhador da imagem.

Evito, dessa maneira, a palavra "artista",tão perigosa e propensa a gerar equívocose confusões. Eu trabalho em geração deimagens, esse é o meu trabalho.

Muito poucas vezes saem como eu queria,mas eu dedico a elas todo o esforçopossível, independentemente do suportepara a qual estão destinadas.

Podem ser pinturas, quadrinhos,ilustrações, esculturas, tipografias etc.,mas a todas considero com o mesmointeresse.

Todas são formas, são as imagens.

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Muitas vezes o meu trabalho foi rejeitadopor aqueles que me haviam contratado,geralmente porque as imagens osassustavam.

Em alguns casos teriam alguma razão,mas outras vezes acontece o de sempre,os diretores de arte são, na maioria,bastante conservadores.

Também não se pode acusá-los de grandesdelitos; em última análise quase semprecumprem ordens ou comandos.

Porém, em outras ocasiões eu os pudeconvencer com argumentações insólitasque me foram dotando ao longo do tempode um grande trabalho para dizer mentiras.

Acima de tudo, o que eu quero ver impressoé um bom desenho, meu próprio, maisalém do que pensa o autor do texto ouo diretor de arte.

Se para eles é necessário mentir um pouco,não é tão grave, e além disso serve tambémcomo um exercício de imaginação.

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É curioso, porque eu nunca gostei decaricatura, apesar de ter tido que fazê-lasdurante quase dez anos na revista "Humor",mas é uma especialidade específicaque não me atrai, falando especificamentede trabalhar sobre personagens conhecidas,políticos etc.

Eu as aprecio só como espectador,em especial as obras de Daumier.

Sim, no entanto, me interessacriar personagens onde apareçamalguns traços caricaturados oudefinitivamente animalescos.

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Bem, foi uma experiência única,extraordinária, incomum, lá.

Para começar, era a primeira vez que umnão-europeu dirigia o festival, e além disso,José Muñoz teve a generosa idéia dehomenagear, tal como expliquei em umapergunta anterior, esses mestres poucoconhecidos que nos levaram neste caminho.

José tinha direito, por ter sido eleitodiretor do festival, a uma megaexposição

do seu próprio trabalho.

No entanto, cedeu a maior parte doespaço (reservou a si apenas uma partemuito pequena) para homenagear atodos os artistas gráficos que tanto nosensinaram com sua arte e que eramabsolutamente desconhecidos por lá.

Foi um grande choque para as pessoas,especialmente para os alunos da l'ecolede l'image.

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Sim, penso que mesmo para aqueles quenão o usam normalmente para o trabalho,como no meu caso, já que só o utilizo paraaplicar cores planas em alguns desenhosoriginalmente feitos em preto e branco,deu-nos uma outra maneira de olhar.

Muitos dos problemas que tem nos meustrabalhos, descubro na tela docomputador, depois de scannea-los.

E esses mesmos defeitos não os haviadetectado, observando o original.

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Eu não tenho muito conhecimento dopanorama geral e amplo da ilustração noBrasil, já que estou apenas familiarizadocom os trabalhos de alguns artistas amigos,como por exemplo Fabio Zimbres ouZiraldo, mas suponho que haveráproblemas parecidos conosco.

Eu discuto bastante, aqui na Argentina,em especial com os mais jovens, porquestões estilísticas, porque a todos noscusta bastante romper com os mandatosestéticos globais e desenvolver umapersonalidade de uma certa originalidade.Os europeus têm o mesmo problema.

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Para conhecer melhor Carlos Nine, veja:http://br.youtube.com/watch?v=BhwsQV2aG74

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tilizando o grafite,um de seus materiais preferidos, o

ilustrador Ricardo Antunes tenta mostrarum pouco do seu trabalho mais pessoal

através de sketches feitos em folhasnormalmente maiores que A3.

Seus sketches costumam ter algumasoltura, mas sempre trabalhando em

pormenor certos detalhes, explorandoas possibilidades de luz e sombra, pelas

quais sempre sentiu um enormeinteresse, devido à dramaticidade que

pode conseguir.

Mas também fala da sua mania meioestranha de jogar quase todos os

sketches fora, sobrando poucos, nofinal, para contar história.

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“Por incrível que pareça, eu nunca tiveum sketchbook. O único que tenho épara que outros amigos ilustradoresdeixem a sua marca de lembrança.

Não que eu não faça sketches, muitopelo contrário, mas tenho a mania defazer os estudos sempre em folhas soltas,folhas velhas que vou guardando eusando para ir rabiscando muito.

De todo o material que faço, 95% acaborasgando e vai para o lixo. Quase nãoguardo nada... cada louco com a suamania... rsrsrs

Mas de tempos em tempos, depoisde montanhas de papel rabiscadoe rasgado, paro para fazer algo commais atenção, usando às vezes folhasgrandes, maiores que um A3.”

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“Quando resolvo fazer algo maisinteressante, faço dois ou três trabalhose depois volto à matança generalizadade papéis, utilizando só o grafite comomunição...

Os ambientalistas devem me odiar peladestruição das florestas... rsrsrs...

Uma das características que mais gostono grafite é que, sem uso de outrosrecursos, não há como disfarçar certasdeficiências de desenho: ou ele sai bomde verdade ou então a gente volta paraa prancheta, com mais folhas.

Não tem truques, efeitos, cores, filtrosou atalhos para disfarçar um desenhodefeituoso, e a borracha é usada só parapequenos acertos ou abrir brilhos, e nãopara corrigir deficiências.”

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“Algo que sempre me encantou foi a anatomiahumana, e acho bárbaro como a iluminação, o jogode luz e sombra podem criar um desenho muitoexpressivo, mesmo apenas se trabalhando empequenas áreas.

Acho que a magia do desenho se encontra nisso,em perceber que mesmo em pequenos detalhesàs vezes se encontra uma riqueza enorme depormenores.”

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“Uso grafite de todos os gêneros, além de conté, lápis pastele giz branco, e, para abrir largas manchas de fundo, uso grafite

em pó, que raspo de um lápis, e esfrego no papel com umpedaço de pano ou guardanapo. E, ao invés de borracha,

uso o limpa-tipos, só para abrir os brilhos”

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esponda rápido: comose chama a primeira personagemde história em quadrinhos que émulher, vampira, morena, linda,

gostosa e seduz os homens?

Quem respondeu "Vampirella" erroufeio. Vampirella foi criada em 1969nos EUA, mas dois anos antes tinha

sido criada a personagem "Mirza,A Mulher Vampira", a criaçãomais conhecida e cultuada de

Eugênio Colonnese.

Com um desenho extraordinárioe um acabamento melhor

ainda, Colonnese foi um dosmaiores desenhistas de histórias

em quadrinhos de terror do Brasil, além de grande ilustrador, da mesma

geração de outros gênios como JaymeCortez, Nico Rosso e outros.

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Responda rápido novamente: como se chamao personagem de histórias em quadrinhos que é um

ser estranho, disforme, vive aterrorizandoas pessoas e mora em um pântano?

Quem respondeu que é o "Homem-Coisa" daMarvel Comics, mais uma vez errou... e quem

respondeu que é o "Monstro do Pântano"da DC Comics, também errou longe.

Outra criação genial de Colonnese,o "Morto do Pântano" foi criado 5 anos

antes dos seus parentes americanos.

Colonnese nunca pensou em processaras editoras americanas por plágio,

desestimulado pela morosidadeda justiça brasileira.

Infelizmente a falta de informaçãofez com que muitos brasileirosacusassem Colonnese, durantetoda a sua vida, de ter copiado

os personagens americanos.

Assim como vários artistas da mesmageração, Eugênio Colonnese foi mais umimigrante que acabou se firmando noBrasil depois de um começo sinuoso demoradias.

Ele nasceu em Fuscaldo, no extremo sulda Itália (bem no bico da bota) em 3 desetembro de 1929, filho de pai italianoe mãe brasileira.

Aos 2 anos de idade vem para o Brasil,indo morar logo em seguida no Uruguai,ficando por 3 anos. A seguir, se mudapara Buenos Aires, na Argentina, ondesua família se fixa de vez.

Desde cedo mostrou interesse pelodesenho, e mais tarde chegou aabandonar os estudos secundáriospara se dedicar só aos quadrinhos.

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Em 1948 ganha a medalha de ouro pelo 1º lugar em umconcurso de quadrinhos em Buenos Aires, abrindo as portasprofissionalmente, e, um ano depois, já estava publicandoem várias revistas da Editora Columba e Editorial Frontera.

Durante a década de 1950, participa da grandeexplosão de quadrinhos que a Argentina estavavivendo, ao lado de grandes nomes como HugoPratt, Breccia, Salinas e outros.

De férias no Brasil, em 1955, é apresentadoa Jayme Cortez – que fica impressionado como seu trabalho -, além de conhecer váriosoutros grandes nomes da área gráfica, comoÁlvaro de Moya, Miguel Penteado, Syllas Roberge outros.

Com uma carta de apresentação de Jayme Cortez,Colonnese vai para o Rio de Janeiro conhecer agrande Editora Ebal - Editora Brasil-América, sendorecebido pelo próprio Adolfo Aizen, diretor-presidente.

Entusiasmado com o trabalho, imediatamente solicitoua Colonnese a quadrinização do poema "NavioNegreiro", de Castro Alves, que seria entreguesemanas depois e publicado em 1957.

Entretanto, Colonnese volta aBuenos Aires para dar continuidadeaos seus trabalhos. Em 1961, aindana Argentina, é convidado pelaFleetway Publications para fazer umahistória em quadrinhos sobre umabatalha naval da II Guerra Mundialpara a revista Tide War, onde é muitoelogiado pela fidelidade nos detalhese na enorme pesquisa feita.

Em 1964 Colonnese muda-sedefinitivamente para o Brasil,estabelecendo-se em Santo André,São Paulo, onde logo no ano seguintejá estaria trabalhando com asprincipais editoras da época.

Ao perceber que havia um grandemercado para o seu trabalho,Colonnese se associa ao tambémquadrinista argentino Rodolfo Zalla,criando, em 1964, o Estúdio D-Arte,onde empregavam vários jovensartistas que se tornariam grandestalentos.

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De 1964 a 1970, o Estúdio D-Arte tomouboa parte do mercado de quadrinhosbrasileiro, já que eram praticamente osúnicos que cumpriam os prazos e faziamhistórias de qualidade, embasadas emampla pesquisa histórica e de figurinos.

Com uma produção gigantesca, o estúdiochegou a fazer perto de 300 páginasde quadrinhos por mês (fora as capas),graças a uma equipe muito bem treinada.

Dessa forma, Colonnese e Zallaimplantaram no Brasil um esquemaeficiente e necessário para o segmentode quadrinhos da época.

Em 1967, fez as primeiras históriasde Mirza, a Mulher-Vampiro, e, na mesmaépoca, criou seu outro personagemligado ao terror: Morto do Pântano.As histórias de terror eram publicadaspela Editora D-Arte.

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Na década de 1970, após uma inversãodo mercado, com uma das piores crisesdo setor de quadrinhos, passou a ilustrarlivros didáticos para várias das grandeseditoras, em especial a Editora Ática,

que adotou as histórias em quadrinhoscomo linguagem de ensino.Acabou por assumir o cargo de diretorde arte da editora em 1979,permanecendo no cargo até 1999.

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De 1980 em diante, retoma suaprodução de histórias emquadrinhos, publicando emrevistas de terror da época,como a "Spectro" e os títulos"Calafrio" e "Mestres do Terror",da Editora D-Arte. Nesta época,quadrinizou também as aventurasdo cowboy Beto Carrero.

Criou vários outros personagens comoMylar, o Caçador e Pele de Cobra;também se destacou nas áreas depublicidade, onde seus trabalhos maisconhecidos foram as histórias emquadrinhos institucionais do InstitutoUniversal Brasileiro.

Ganhou diversos prêmios, entre eles ostroféus Angelo Agostini e HQ Mix, nacategoria Mestre do Quadrinho Brasileiro.

A partir da década de 1990, dividiu aatuação entre trabalhos institucionaiscom outros, sobre a produção dequadrinhos. Nos últimos anos, vinha sededicando ao ensino de quadrinhos naEscola Studio de Artes, em Santo André.

Estava hospitalizado desdejunho deste ano, após sofrerum AVC; porém uma sériede outros problemas de saúdeapareceu neste período, grande parteem decorrência do uso prolongado docigarro durante a vida, e ele acaboupor falecer no dia 8 de agosto de 2008,pouco antes de completar 79 anos.

Ainda existem à venda, nas livrarias,dois livros da autoria de Colonnese,ensinando a desenhar suas maravilhosasmulheres – um último presente deixadoa todos por este genial artista.

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arioca radicadoem São Paulo, Rogério Soudtem desenvolvido o seu trabalhode ilustração através de um dosprogramas de computador maisimportantes do mercado:o Painter.

Apesar disso, não deixa demisturar o programa comtécnicas de pintura tradicional,criando assim uma textura maisrica e realista da tinta.

Fã de cartazes de cinema, Soudtem desenvolvido uma série deobras sobre filmes brasileiros,e através de um deles mostrouum passo a passo para aIlustrar.

Também não esconde a suapredileção pela caricatura, comum traço expressivo ecuidadoso, onde os detalhessão um prazer para quem vê.

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Quando assistoo filme, vou embusca de elementosque me permitirãocriar umacomposição em que,de alguma forma, ahistória esteja lá.

Então, apósseparar váriascenas com osprincipais atores,objetos de cenáriose fundos, partopara o esboço.

Esta ilustração faz parte de uma série quevenho fazendo nas horas vagas, e que tratade interpretações livres sobre filmesbrasileiros de comédia produzidos nos últimostempos. Desta vez o escolhido foi “O Xangôde Baker Street”, que foi baseado no livrode Jô Soares.

Vale dizer que meu objetivo nestasinterpretações não é o de caricaturar osrostos dos atores, já que a caricatura deverdade é uma ciência mais profunda.

Para isso, o artista deve capturarcaracterísticas de sua “vítima” e desenvolver“distorções” em cima de sua personalidade,o que não caberia nesta minha proposta.Então, o que faço tem a ver mais com a“desestruturação” das feições, mantendoo “realismo” das formas, suas luzes,sombras e brilhos.

Estou juntando este material para montaruma exposição tão logo tenha algumaquantidade considerável.

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Fundo pronto e escaneado,com o Painter começo a

“encaixar” o esboço.

Para esta pintura, eu quis que todoo fundo tivesse como base o efeitoreal da aquarela.

Como normalmente faço tudo noprograma Painter e, infelizmente, eleainda não possibilita o efeito desejado,fui para a mesa de luz e marquei todoo contorno dos elementos numa folhade Canson.

Peguei os vidros de ecoline, há anos semabrir, os pincéis empoeirados e, sobreo papel, deixei a tinta fazer aquilo quechamo de “encontro das águas”.

Agora sim, tudo pronto para o inícioda pintura com o software, a tabletWacom e o Mac.

Aliás, digo sempre que se não fosse essetrio bacana, eu não teria direcionado todoo meu trabalho para o digital.

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O fundo vai ganhando definição.

Com o Painter na sua versão9, procuro trabalhar asilustrações o máximo

possível com a ferramenta “DigitalWatercolor/New Simple Water”ajustada em:- Dab Type: Circular- Stroke Type: Single- Method: Digital Wet- Subcategory: Grain Digital Wet

Dessa forma, o resultado da pinturase mantém dentro do efeito deaquarela inicialmente pretendido.

No início, eu havia pensado o morro cobrindotoda esta parte da composição, mas depoisdecidi acrescentar um pedaço de mar, pois

assim fica mais clara a idéia de que a trama dofilme acontece na cidade do Rio de Janeiro.

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Conseguido o primeiro, sigo para os outros com mais tranquilidade.

Começa a parte maisimportante e divertida:pintar os rostos dos atores.

É um desafio deixá-los reconhecíveisdentro da “desestruturação” quefaço, de seus retratos. Sempre coma ferramenta de aquarela,primeiramente marco a expressãoda figura com um meio-tom da corque usarei na sombra, assim tenhogarantida a expressão da figura.

Depois, como na técnicaconvencional, trabalho do claro parao escuro, “secando” as cores esobrepondo os tons.

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Aqui eu usei o lápis do próprio Painter para fazer algumascorreções.

Mais um rosto, então começo marcando primeiro a expressão.Tendo definidos olhos, nariz e boca, o resto segue naturalmente.

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Mantenho o efeito de aquarelado fundo na medida que fiqueharmônico com as figuras e

elementos da composição.

Trabalho finalizado, o esboço –que eu mantinha separado emlayer – é descartado, ficando

somente o resultado da pintura.

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xistem ilustradoresque passam uma vida de trabalho sem

deixar qualquer marca, e outros queacabam por deixar uma marca profunda,quer pelo seu trabalho artístico, quer por

sua postura profissional.

O ilustrador Marcos Hiroshi Kawahara, ousimplesmente Hiro, como é conhecido, é

esse segundo tipo de ilustrador.

Qualquer pessoa que já tenha ido ao McDonald’s no Brasil já

teve contato com o seu trabalho, umavez que ele é o responsável pela imagem

da empresa estampada nas famosastoalhas de bandeja, únicas no mundo,

e em outras peças.

Mas muito além de serapenas o “homem das toalhasdo McDonald’s”, Hiro é, acima

de tudo, um profissionaltalentoso e inteligente, e que

soube criar novos rumosprofissionais a partir do seu

trabalho como ilustrador.

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Eu fiz a faculdade de Biologia da USP durantequatro anos, mas não terminei, faltando apenasquatro matérias pra terminar o curso, devidoà minha insensatez juvenil. Já tinha requisitadoaté bolsa do CNPq pra trabalhar com pesquisade peixes.

Depois disso comecei a trabalhar com ilustraçãoe não me preocupei mais em ter uma formaçãoacadêmica.

Tenho pensado muito em fazer uma faculdadede propaganda por causa do diploma, já quea minha empresa está registrada como umaagência de publicidade, e uma parte dos meustrabalhos envolve criação de projetos econsultoria na área de mercado infantil,principalmente porque prevejo que é questãode tempo para ser criado um Conselho Federalde Publicidade.

De qualquer forma, isso também seriaquestionável, porque tenho mais de 20 anosde carteira assinada como diretor de arte,o que deve pesar de alguma forma no direitode continuar sendo publicitário.

Em relação à ilustração, só recentemente fizum curso com Gilberto Marchi, uma enciclopédiahumana de desenho, e infelizmente tive quesuspendê-lo por um tempo por causa de umtrabalho muito grande que assumi este ano.

Um curso, que me comprometi comigo mesmoa fazer, é o Illustration Academy, por influênciado Montalvo Machado, que o cursou há algunsanos.

É um curso de imersão total de ilustração emSarasota, na Flórida, e só de mencionar MarkEnglish e Anita Kuntz como professores já fazmeu braço esquerdo formigarde ansiedade.

É um curso de altíssimo nível, mas bastanteexigente, pois requer um investimentoalto (U$5.800,00, fora passagem, comida ehospedagem) e se programar profissionalmente,já que o curso leva aproximadamente 7 semanas.

Foi por um triz que não o fiz no ano passado;estou apostando muito que eu consiga fazê-loem 2010.

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No últimos meses da faculdade, uma amigatambém abandonou a Biologia para fazerfaculdade de Editoração.

Depois ela conseguiu um emprego na EditoraTrês, nos fascículos de uma revista chamadaVida, que era um guia de autosuficiência (queensinava a plantar cenoura, fazer sabão combanha de porco e castrar leitões, entre outrascoisas).

Naquele momento a revista estava precisandode ilustradores, e como eu tinha o hábito derabiscar cadernos com caneta Bic durante asaulas, e esses rabiscos faziam um certo sucessoentre os colegas de classe, ela me indicou parafazer um teste na revista – e por uma daquelascoisas que parecem um alinhamento de planetas,por mais que as probabilidades diziam que não,consegui o emprego.

As lâminas de bandeja são os maioresbeneficiados pela faculdade.

A maioria delas trata de curiosidades de assuntosmuito diversos, mas que precisam serpesquisados, checados, confirmados e

procurados na bibliografia correta.

Eu fazia muito isso na faculdade, e essa práticaajudou muito na metodologia para fazer aslâminas. Ser curioso é fundamental nessetrabalho.

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Essa lista para mim é gigantesca, pois todasemana encontro algum ilustrador que meinfluencia de alguma forma.

Mas para mencionar os top de linha, acho que,sem dúvida, posso começar com HayaoMiyazaki, porque não usa fórmulas fáceistrabalhando com fantasia, e é de umasensibilidade alienígena (devo ter assistido “Kiki’sDelivery Service” tantas vezes que deve terfurado o disco de DVD).

Al Hirschfeld, acho que é o ilustrador com o traçomais elegante que já existiu. Além disso, suahistória é pessoal e faz seu coração ficar dotamanho de uma ervilha.

Eu quero ficar velho e desenhando como ele. Etambém quero uma cadeira de barbeiro paratrabalhar, igual à dele.

Al Jaffee, Sérgio Aragonés, as minhas influênciasdiretas dos quadrinhos. Eu só comprava a revistaMad por causa deles.

Al Jaffee influenciou muito o tipo de humor queuso até hoje, essa coisa de misturar coisasfuncionais e racionais com absurdo e humornegro. E esse meu hábito de desenhar coisasmiúdas, amontoadas e em grande quantidadefoi influência de Aragonés.

E posso parecer o maior puxa-saco do Benício,mas a grande verdade é que eu admiro o trabalhodele desde a minha infância.

Eu tinha quase todos os cartazes dos filmes dosTrapalhões e me perdia horas observando osdetalhes.

E o cartaz da Dona Flor e Seus Dois Maridos foiparte importante da minha transição entre infantee adolescente.

Fora que, pessoalmente, ele é um sujeito muitofofo.

E tem ainda outros ilustradores que meinfluenciam de alguma maneira, gente que eusempre fico de olho nos novos desenhos eobservo cuidadosamente a maneira que elestrabalham, um exercício de controle de invejasaudável, acreditando que dessa forma eu consigaabsorver algum talento por osmose.

Will Murai, Rafael Grampá, Gustavo Duarte,Cárcamo, Suppa, Alarcão, Patrícia Lima, Kako,Fernanda Guedes, só pra mencionar algunsbrasileiros, e Ronnie del Carmen, Vera Brosgol,Scott Campbell, Arthur de Pins, Peter de Seve,Tara McPherson, Luc la Tulippe, Bill Presing,Brianne Drouhard e Cris Sanders, naturma que não fala português.

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A primeira ilustração na minha carreira foi oteste que recebi para ser contratado na EditoraTrês. Tive que ilustrar dois repolhos aquareladosem um final de semana.

O detalhe funesto: eu nunca havia desenhadonada que não fossem rabiscos de canto decaderno e nunca havia molhado um pincel deaquarela em minha vida.

Juntei os últimos trocados que tinha guardadoe comprei uma aquarela Guitar vagabunda epincéis idem; alguns repolhos na quitanda euma folha de papel Vergé, pois em Mogi dasCruzes não se vendia papel para aquarela.

E assim montei um espacinho na mesa da cozinhae pintei os repolhos da mesma maneira que vocêmama pela primeira vez: instintivamente.

Na hora de mostrar os desenhos para os editores,aconteceu uma reunião imprevista e perguntaramse eu não gostaria de voltar outro dia, pois iriademorar um pouco.

Não queria ir, voltar, para depois ter que ir evoltar de novo pra Mogi das Cruzes só por causada reunião, então eu optei por esperar.

Na redação vazia, encontrei na estante um livroinglês com ilustrações aquareladas, e o que euencontro? Uma bela página dupla com um repolhomaravilhoso.

Olhei para o meu repolho e para o do livro ebateu um desespero, pois o meu repolho tinhaacabado de virar um catarro aquarelado pertodaquele desenho do livro.

Como eu trazia todo material de desenho namochila e uma pasta grande, eu me tranqueinuma privada (obviamente dei a descarga antes),montei tudo no meu colo e retoquei o repolho,usando o livro como referência e a água daprivada.

Saí de lá em menos de uma hora, o diretor dearte adorou a ilustração ainda úmida e foi assimque consegui o emprego. Isso aconteceu mesmo.

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Eu digo que sou um bastardo de sorte, pois osprimeiros anos como ilustrador na Editora Trêsfuncionaram como uma escola muito bemremunerada.

Tive a incrível sorte de ser contratado comoilustrador fixo em uma revista de uma editorade médio porte, sem saber desenhar uma luacheia!

Foram anos difíceis, de aprendizado forçado,errando muito e nem sempre aprendendo comos erros. Como não desenhava quase nada e anecessidade de ilustradores era enorme, fiqueiilustrando apenas coisas mais simples, comográficos e diagramas.

Mas tive ajuda de ninguém menos do que BrasílioMatsumoto, um dos maiores ilustradores doBrasil, dono do estúdio 6B.

Ele também ilustrava para a revista efrequentemente me ajudava, dando dicas deilustração quando eu atolava em algum desenhomais cabeludo, como uma escada em espiral.

Praticamente foi ele quem me ensinou comoilustrar com perspectiva.

E à medida que melhorava meu desenho,também pegava melhores trabalhos na revista.

Nessa época não tinha a mínima idéia de comonegociar valores e qual a importância dos direitosautorais, mas isso não importava muito, poispeguei o finalzinho da época de ouro da ilustraçãoeditorial.

Era uma época em que se pagava muito, muitobem pelo trabalho do ilustrador.

Para se ter uma idéia, com o salário de um mêsdava para comprar uma Brasília usada, o carrodo momento naquela época.

Ser ilustrador era sinônimo de fartura eexcentricidade, que saudade.

Para um garoto que nunca havia trabalhado evivia duro e liso como um azulejo, aqueles foramdias de usar caviar para engraxar sapato.

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Quando saí da Editora Três, tentei ser umilustrador freelancer. Mas como naquela épocaeu tinha a maturidade de uma larva, minhaempreitada pelo mundo autônomo acabou nãodando certo, pois não tinha disciplina nemhabilidades de negociação.

Então, com o dinheiro se resumindo a moedas,mudei de área e virei layoutman (o sujeito quefazia os layouts das agências de publicidade).Daí fui largando um pouco a ilustração para mededicar à carreira de diretor de arte, até chegarna Taterka, que é a agência do McDonald’s há16 anos. Era para ser um emprego temporário,mas fiquei lá 10 anos fixos e ainda trabalho paraeles como autônomo.

Naquela época, as lâminas de bandeja não tinhamnenhum apelo; em sua maioria eram anúnciosde promoções. Coisa chata mesmo. Isso porqueela era uma peça que não dava evidência, nãovendia nada e não trazia retorno, nem em vendase nem institucional.

Antes aconteceram tentativas de transformaressa peça em algo como ela é hoje, mas foramlâminas esporádicas, muitas vezes com muitotexto e com ilustrações muito simples.

A falta da periodicidade em manter esse trabalhodeixou ela meio que no limbo.

Aos poucos, imaginei como ela seria se fossecomo uma página dupla de uma revista, cheiade curiosidades e desenhos divertidos, com oúnico propósito de ser um motivador para pessoassozinhas terem o que ler durante o consumo dolanche (pouca gente sabe, mas o tempo que seleva pra ler uma lâmina de bandeja é quase omesmo tempo que você leva pra comer umNúmero 1).

Levei a proposta até os altos escalões da agênciae eles deixaram que eu criasse a lâmina, contantoque não a fizesse no horário de trabalho, e teriaque fazer tudo sozinho, pois a estrutura dalâmina exigia um perfil editorial que não seencaixava na agência - e os redatores tambémnão tinham muito interesse nesse trabalho.

Mas como eu vinha da área editorial e já gostavade escrever, somando a experiência de terpesquisado na faculdade, assumi esse trabalhocomo um projeto pessoal. No primeiro ano dasua existência, consegui uma pequena verbapara que o ilustrador Adelmo Barreira fizesse

os desenhosda lâmina.

A primeira lâmina debandeja deu certo, a diretora deMarketing do McDonald’s deu carta branca esinal verde para dar prosseguimento para novaslâminas.

A partir dali ela seria mensal e já podia ser feitano horário de trabalho, normalmente, ainda coma condição de assumir desde a criação até afinalização – o que acontece até hoje.

Em seguida, o Adelmo, por motivos pessoais,parou de ilustrar as lâminas de bandeja, e, paraconseguir entregá-las no prazo, comecei eumesmo a ilustrá-las. Foi a minha volta para ocampo da ilustração.

Às vezes eu ficava sobrecarregado de trabalhoe conseguia um prazo maior, o que possibilitavacontratar outros ilustradores. Graças à lâminacomecei a ter contato com outros ilustradores,como Ciça Esteves, Paulo Zilbermann, a grafiteiraNina...

Teve até uma lâmina que eu queria muito quefosse ilustrada pelo Fernando Gonsales, o paido Níquel Náusea, mas ela não foi aprovada.

Com um contato maior com ilustradores, comeceia namorar mais firme a idéia de me tornar umilustrador em tempo integral, depois queaconteceu um alinhamento da linha criativa doMcDonald’s do mundo inteiro – mais exatamentequando foi lançada a campanha “Amo MuitoTudo Isso” ou “I’m Loving it”, nos EUA.

Foi quando as caixinhas e campanhas deMcLanche Feliz começaram a vir prontas deoutros países, somente com o trabalho de adaptarpara o português.

Felizmente a direção do McDonald’s decidiudeixar que o Brasil continuasse o trabalho comas lâminas de bandeja, por ser um “case” único,e vi que não valia mais a pena ser contratadoapenas para fazê-las.

Foi quando pedi demissão e virei o que sou hoje,ilustrador autônomo.

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Os leitores das lâminas de bandeja não sãoapenas crianças, mas adolescentes e adultostambém. Porém, são as crianças e osadolescentes os mais entusiasmados com otrabalho, além dos aspirantes a ilustração –recebo muitos emails deles.

Eu procuro, sempre que possível, usar o texto,informação e ilustração de forma integrada, mascom uma pitada de irreverência, sempre lúdica.A proposta da lâmina de bandeja nunca foiensinar, mas de estimular curiosidade e a vontadede saber mais, dando pequenas “gotas deconhecimento”.

Esse conceito se chama “visual learning”(aprendizado visual), pois a informação ficamarcada se for vista de maneira divertida e

curiosa, ao contrário do que aconteceria se elafosse apresentada apenas com um texto corrido,modorrento.

Há 14 anos, quando comecei a trabalhar nesseconceito, ainda não existia internet, e issoaumentava ainda mais o interesse pelascuriosidades.

Tive essa consciência da importância desse papelsemi-educacional depois que virei autônomo,pois eu comecei a receber emails diretamentedos consumidores, com elogios e reclamações(antes somente as cartas de reclamações erammostradas para mim), o que me possibilitou umretorno e uma avaliação direta do trabalho.

Fiquei surpreso ao saber que muitas pessoascolecionavam as lâminas debandeja e que muitas escolassem recursos as usam comoferramenta de aprendizado.

Depois que também descobri quea tiragem das lâminas eramastodôntica, caiu a ficha de quea maneira como o público de SãoPaulo ou Rio de Janeiro via a lâminaera diferente da das pessoasque moravam em regiões extremase menos favorecidas.

Hoje tudo isso é levado em contana hora de criá-las.

Eu uso um raciocínio mestre, umalinha “pedagógica” que orientatodas as lâminas. Eu sou umadmirador de carteirinha de GianniRodari, um pedagogo italiano quenasceu em 1920.

Eu praticamente sigo todo oconteúdo do seu livro “A Gramáticada Fantasia”, não apenas naslâminas de bandeja, mas emqualquer trabalho que eu faço.

Entre outras coisas, ele estimula ouso do erro como ferramentacriativa e o como quebrar umraciocínio lógico para tentar explicaralgo, e reconstruir esse raciocíniode maneira diferente, para um usotambém diferente.

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Por volta de 12 milhões de unidades, a cadanova bandeja que é lançada. É coisa pra darapendicite em militante ecológico. Além disso,hoje também faço as chamadas lâminas debandeja regionais,

que são restritas a uma região ou a uma cidadedo Brasil (comemorações de aniversários oueventos regionais). Essas são um pouco menores,coisa de 500 mil unidades.

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Nunca é possível agradar a todos. Emboramilhares de pessoas escrevam elogiando otrabalho, são as reclamações que são ouvidas(e cobradas) pelo McDonald’s.

A grande verdade é que hoje ficou muito maisdifícil trabalhar, tanto com humor como cominformação, por causa do maldito “PoliticamenteCorreto”. Existe hoje uma militância, que tambémpode se chamar de intolerância, que parece coisade livro de George Orwell.

Já tive casos de leitores indignados porque ilustreiuma lagartixa (em um tópico numa lâmina sobreecologia que pedia para não matarem lagartixas);já tive quase uma cizânia diplomática com aembaixada da Coréia do Sul porque desenheium coreano com um chapéu típico de fazendeirochinês (mas que também é usado na Coréia)e pedidos lisérgicos impondo uma cota departicipação de negros, mulatos e pessoas comalgum tipo de deficiência (cheguei a receberuma ameaça de um sujeito que contava aquantidade de negros e mulatos que eudesenhava em uma lâmina de bandeja, mechamando escancaradamente de racista).

Existe também o problema de o McDonald’s seruma vitrine recém-lavada dos Estados Unidos.Já perdi a conta dos emails belicosos de seresque podem ser chamados de “radicais livres”,me acusando de “vender minha arte” para ocapitalismo selvagem, de ser parceiro doimperialismo americano.

Tem gente, inclusive, que não acredita que aslâminas de bandeja sejam feitas aqui no Brasil,e que o “Hiro” na verdade são funcionários mal-pagos trabalhando em Chicago e adaptando oconteúdo de maneira suína para o Brasil, comoos filmes gringos onde “Diaz” é sobrenomebrasileiro.

Existem casos absurdos, mas divertidos einofensivos, como de mães que querem ver osdesenhos dos seus filhos nas lâminas de bandejaou de um senhor que sempre manda um poemapara que eu coloque lá.

O crescimento da fama da lâmina de bandejase deu ao mesmo tempo em que eu saí da agênciae comecei a ser conhecido como “o cara dastoalhinhas de bandeja”, por causa de umareportagem que saiu na revista Época.

A partir daí minha cara ficou conhecidano mercado, o que me garantiu uma certaexposição salutar e, ao mesmo tempo, ointeresse pelas lâminas de bandeja tambémcomeçou a aumentar graças à internet,pois colecionadores e comunidades virtuaiscomeçaram a ser criados por causa delas.Isso fez com que departamentos daempresa e da agência vissem a dimensãodo trabalho com todo seu valorinstitucional.

Essa fama foi o fim da liberdade, poisantigamente eu tinha 90% de liberdadede propor todo tipo de temas e criar textose ilustrações muito diferentes e intrigantes,sempre com o cuidado de não usar sexo,religião e política.

Hoje, para se ter uma idéia, todas ostemas são criados pelo McDonald’s, comraríssimas exceções, e advogados fazemfila para caçar possíveis focos de problemasjurídicos. Infelizmente, lâminas como“Lendas Urbanas”, “Animais incríveisdemais para serem reais” ou “Coisas queeu odeio nas pessoas” dificilmente serãoproduzidas.

Não para o McDonald’s, pelo menos.

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Na verdade a experiência não veio das lâminasde bandeja, mas sim do tempo em que eucuidava de todo material de McLanche Feliz,pois eu fazia os filmes, criava as caixinhas, asbrincadeiras, os materiais de ponto-de-vendae até mesmo estratégias e diferenciais decampanha.

O que eu aprendi sobre crianças é que elas sãomais espertas do que a maioria dos diretores demarketing gostaria que elas fossem. Para domaresse tipo de consumidor poderoso e instintivo,cria-se uma série de rótulos onde se dá um valorque eu acho excessivo para dados, pesquisase números. Hoje, toda campanha de marketingsó começa se tiver esses dados cimentadosem cima da mesa.

Sempre achei que trabalhar com crianças é umaquestão de observação, tanto do momento e doambiente, quanto da própria criança, e partirpara o risco criativo. Crianças não são adultos,não adianta pensar linearmente com elas; temque arriscar e usar o absurdo, a fantasia e,principalmente, o que nunca foi visto antes, paraconseguir um grande “case” de mercado, pormais que se diga que 75% das crianças gostamde super-heróis de cueca vermelha.

Na grandiosa maioria das agências de publicidade,a criatividade ficou menos importante do que arazão, e mesmo quando há criatividade, ela vempresa em rótulos e engradados, idéias que viramclichê no momento em que são manifestadas.

E por causa disso, todas as grandes empresasnão arriscam; usam o Excel como sua fonte deinspiração, quando o lado esquerdo do cérebroé que deveria dominar isso e usar os dadose pesquisas para fortalecer o conceito.

Mas no futuro tudo isso pode mudar. Está emtrâmite no Congresso a aprovação de uma leiextremamente radical, que proíbe o uso depersonagens, ilustrações, cores ou quaisquer outrosdiferenciais em embalagens e propagandas infantis.Caso essa lei seja aprovada, provavelmenteacontecerá uma reviravolta na forma que apublicidade infantil é vista hoje.

Sim, ela é radical demais, irá provocarconsequências imprevisíveis na parte econômicae social, mas talvez isso também seja um sinal deque algum tipo de equilíbrio está por vir. Eu, pelomenos, consigo ver uma oportunidade de ouropara se trabalhar nessa área, caso isso realmenteseja efetivado.

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Adoro livros, menos os de auto-ajuda.

Nesse ponto a parte profissional e pessoal semisturam, pois o que eu leio por causa de umtrabalho começa a fazer parte da minha vidapessoal também.

Pelo fato de as lâminas de bandeja usarem temasdiversos, que vão de esporte a história da moda,toda vez que tenho um job novo, lá vou eu fazera compra do mês, seja ela na livraria da esquinaou na Amazon.com.

Eu era uma criança e adolescente muito só (sonsde violinos tristes ao fundo). Sempre carregueialgum livro na mochila, pois toda vez que euenfiava a cara no livro, a sensação de solidãosumia.

Eu sempre digo, parafraseando um outro ditado,que “O livro é o amigo portátil”.

Graças ao meu pai, meu gosto pela leituracomeçou muito cedo. Ele me estimulava dandogibis, os quadrinhos da Folha de São Pauloe a revista Recreio.

A leitura é algo que já se incorporouorganicamente dentro de mim, ajuda a formarnovas idéias, dá outros pontos de vista e algunsmarcam sua vida para sempre.

Tenho sorte de trabalhar em uma profissão ondeler é uma constante.

Hoje eu compro porque acho o livro interessante,mas não tenho necessidade de ler tudo queadquiro, com exceção dos livros que compropara pesquisas das lâminas de bandeja.

Hoje entendi que também não importa aquantidade de livros que você lê, e nemmesmo a qualidade, se não souber como cruzaras informações e o conhecimento que você tiradele para um uso mais prático, mesmo queseja para um auto-conhecimento.

Desse jeito você só acumula informação. Melhorler poucos livros e usá-los de maneira correta.

Fiquei felicíssimo ao ler um artigo de UmbertoEco (O Nome da Rosa) em que ele tira a dorda minha consciência por comprar muitos livrosque eu não chego a ler.

Ele acredita que todos os livros que você comprae guarda em sua estante formam o que elechama de “Antibiblioteca”.

Você não tem que ler todos os livros quecompra, mas eles devem ficar lá paradinhospara um dia serem consultados se você precisarde alguma informação.

Sua biblioteca particular jamais deve serum motivador para aumentar o ego doproprietário, mas sim uma ferramentade pesquisa, pois livros não lidos são tãoimportantes quanto livros já lidos.

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Ilustração e escrita são duas irmãs gêmeasfraternas, e não univitelinas (aqueles gêmeosque saem diferentes da barriga da mãe).

Você pode expressar uma idéia só pela escrita,só desenhando ou fazendo um bem-bolado entreos dois.

Isso veio desde as lâminas de bandeja, poisnesse trabalho a relação entre texto e ilustraçãoé quase íntima. Uma coisa depende da outrapara dar certo.

Daí veio o blog. Ele nasceu de um projetopara um cliente e depois resolvi seguir com ele,e decidi falar sobre o que eu mais entendia, queé ilustração.

E descobri que era possível falar sobre ilustraçãode maneira humorada e diferente, e não comum verniz acadêmico e sorumbático.

Isso desbloqueou minhas travas para escrevermeus textos particulares e histórias. E emboraseja ilustrador, tem dias em que acho que escrevomelhor do que desenho.

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Depois de tanto tempo trabalhando na área depublicidade e design, bateu uma vontadinha defazer algo mais autoral.

Acho que esse momento chega para todoilustrador, principalmente aqueles que dependemde briefings para trabalhar.

Começaram como livrinhos infantis, tornaram-se romances infantis e por fim se tornaramromances com toques infantis. A história já estápronta, e agora estou fazendo testes na partegráfica, pois ela depende de ilustrações para sertotalmente compreendida.

De repente eu chuto o balde e adapto tudo pravirar uma grande história em quadrinhos, quemsabe?

Ainda quero fazer uma versão aquarelada doI Ching, o Livro das Mutações, com um textotraduzido direto do chinês por um mestre taoístaque viveu no Brasil, até falecer, há alguns anos(pouca gente sabe, mas eu já dei aulas deI Ching em uma escola de acupuntura).

Mas esse é um projeto para a vida toda.

E agora surgiu essa vontade de fazer um livrosó com as lâminas de bandeja que nunca serãofeitas para o McDonald’s, mas ainda são idéiasboas demais para ficarem vagando soltas comoalmas penadas.

E elas dão um trabalho do cão para serem feitas.

Espero que antes de dezembro de 2012.

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A Revista Sacapuntas, a parenteargentina da Revista Ilustrar, estána edição nº 18, cada vez maior emelhor.

Neste número, uma entrevista comLuciano Vecchio; também acontinuação de uma matéria sobreilustração científica e um texto deLucas Nine sobre desenhos deRodolfo Fucile. Imperdível!

www.a-d-a.com.ar/sacapuntas.php

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A família latino-americana de revistasde ilustração está aumentando.

Paralela à Revista Sacapuntas, temostambém a Revista Artefacto, dos nossoscolegas do Perú, sob a batuta de OmarZevallos Velarde.

Já na edição nº 12, conta com váriasmatérias de diversos países, uma delassobre caricaturistas brasileiros.

http://artefacto.deartistas.com

Casamento perfeito:

um site bacana de crônicas, escritopor vários grandes escritores,

e muitos dos textos ilustrados porgrande artistas.

E o melhor, dá para se fazera busca dos textos por

ilustradores, que inclui umapequena biografia de cada artista:

www.releituras.com

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Com um trabalho delicado, que às vezesparece o de aquarelas ou ilustrações orientais, o artista holandês Albert Koetsier é técnico

em raio-x e fotógrafo amador.

E utilizando essa experiência, ele tiraraios-x de vários elementos na natureza,

resultando em uma composição interessante,além de revelar detalhes, às vezes

escondidos, dos elementos:

www.beyondlight.com

A japonesa Sachiko Kodama tem umcurrículo impressionante: após umagraduação em física, frequentou um cursode belas-artes, e logo em seguida iniciouo doutoramento na área da holografiae arte computacional.

O resultado? Esculturas em ferrofluido,ou fluído magnético.

www.kodama.hc.uec.ac.jp

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