revista foto grafia #04

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ed.04 LEITURA DE PORTFÓLIO COM KAZUO OKUBO MOSTRA `UM CERTO BRASIL` CLICK LITERÁRIO COM MARCELO JUCHEM PROJETOS FOTOGRÁFICOS ARTIGOS CIENTÍFICOS

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Revista digital Foto Grafia: Universo Fotográfico - Digital Photographic Magazine

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ed.04LE I TURA DE PORTFÓL IO COM KAZUO OKUBO MOSTRA `UM CERTO BRAS I L ` CL ICK L I TERÁR IO COM MARCELO JUCHEM PROJETOS FOTOGRÁF ICOS ART IGOS C IENT Í F ICOS

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grafiau n i v e r s o f o t o g r á f i c o

#participe, acesse, leia e divulgue!

veja como participar

Publique na quinta edição da revista

Foto Grafia

Clique aqui e leia as instruções necessárias para nos enviar seu projeto fotográfico, artigo científico, ilustração ou sugestão de pauta. Cumprindo com as especificações descritas você tem muito mais chance de ser selecionado. O procedimento é simples e objetivo, participe e boa sorte!

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Há mais de 30 anos atuando no mercado fotográfico, experiência profissional é o que não falta ao Kazuo Okubo, Fotógrafo que analisa o projeto “Como Você Se Vê?”, de Raphael Delesderrier, artista com 4 anos de carreira.

Ricardo Gallarza fala sobre a migração da Foto Grafia para o meio digital como forma de democratizar informação fazendo uso das tecnologias atuais. Confira também a apre-sentação do conteúdo desta edição nas pa-lavras do Editor.

Conheça a Mostra, os artistas e as obras brasileiras que foram ao PIP 2010 (Pingyao International Photography Festival), um dos maiores festivais de fotografia do mundo, re-alizado na cidade de Pingyao, China.

Leitura de Portfólio

Editorial Um Certo Brasil Foi à China

Revista Foto GrafiaEdição n° 4Janeiro de 2011

Idealizador/Editor: Ricardo GallarzaDiretor de Arte: Felipe H. GallarzaDiretor de Redação: Sergio Antonio UlberColunista: Marcelo Juchem Revisora Ortográfica: Jane Cardozo da Sil-veira - SC00187JP

Colaboradores desta edição: Alessandro Gruetzmacher, Ana Carolina Lima San-tos, Ângela Magalhães, Davilym Dourado, Fábio Augusto Almeida de Oliveira, Júlio César Riccó Plácido da Silva, Kazuo Oku-bo, Lourenço Lima Cardoso, Maria Augusta Baptista Gaissler, Michel de Oliveira Silva, Nadja Peregrino, Raphael Delesderrier e Rogerio Zanetti Gomes.

Imagem de capa e paginas 08, 34 e 66: Davilym DouradoIlustração paginas 20, 56 e 62: Felipe H. Gallarza

ISSN: 2178-8596

Editora:RGF Comunicação e CulturaBalneário Camboriú - SC - [email protected]

As fotografias e os artigos científicos assi-nados são de total responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. A produção total ou parcial de qualquer texto ou imagem, por qualquer meio, sem autorização dos responsáveis ou da revista é totalmente proibido. Para participar da seleção para publicação confira as instruções no site da revista.

A revista Foto Grafia é um projeto de fo-mento à produção fotográfica. A LAPIS Co-municação e Cultura agradece a todos que colaboram com a revista Foto Grafia: Universo Fotográfico e aos autores que par-ticipam das seleções de projeto, tornando possível a realização desta.

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62O Professor Marcelo Juchem estréia sua Coluna sobre obras literárias fornecendo di-versas dicas para auxiliar os Fotógrafos na hora de escolher o melhor livro para tirar da prateleira.

Confira os trabalhos selecionados para esta edição e veja como enviar o seu.

Conheça a Mostra, os artistas e as obras brasileiras que foram ao PIP 2010 (Pingyao International Photography Festival), um dos maiores festivais de fotografia do mundo, re-alizado na cidade de Pingyao, China.

Aprimore seu conhecimento intelectual no ramo da fotografia e fique por dentro dos estudos que estão acontecendo dentro das universidades.

Click Literário

Projetos FotográficosUm Certo Brasil Foi à China

Artigos Científicos

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Capa - Dav i l ym Dourado

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Ao darmos início às atividades de 2011 com o lançamento da quarta edição, estamos, também, cumprindo com a primeira etapa do nosso mais importante projeto, a consoli-dação da Revista Foto Grafia como um periódico voltado exclusivamente para a mídia digital. Foram quatro edições que transitaram da versão impressa à digital em busca de uma identidade própria, mas que, antes de tudo, mantiveram o foco nos objetivos da LAPIS Comunicação e Cultura. E chegamos a um modelo que acreditamos ser o mais coerente e possível do que projetamos para o futuro, uma revista que propicie a democratização da informação fazendo uso das tecnologias disponíveis no seu tempo, permitindo, assim, que cada vez mais um número maior de pessoas tenha acesso gratuito aos conteúdos especí-ficos do mundo da fotografia. Nesta edição, portanto, colocamos em prática a ideia de que, mais do que nunca, e hoje contamos com a tecnologia necessária e acessível para isso, podemos aproximar de uma forma definitiva e interativa o leitor do próprio autor, criando links diretos entre seus textos e trabalhos com seus espaços próprios de divulgação. A Revista Foto Grafia só existe porque estabeleceu esta relação com seus leitores e colaboradores, mas temos consciência de que necessitamos empreender de forma dedicada nossas idéias em prol da fotografia.No que tange ao conteúdo desta edição, contamos com a colaboração de duas impor-tantes autoras, Ângela Magalhães e Nadja Peregrino, que, por suas trajetórias tão bem percorridas, nos permitem um vínculo com a história da fotografia no Brasil de forma indis-cutível, mas, muito mais do que isso, nos remetem ao futuro ao mostrarem uma visão dife-renciada do presente fotográfico brasileiro. Apresentam um grupo de artistas com produção atual, contemporânea e que fizeram parte da mostra “Um Certo Brasil”, exibida no PIP 2010 (Pingyao International Photography Festival), na China. A matéria escrita por Ângela e Nadja vem muito bem acompanhada pela presença con-temporânea de Kazuo Okubo, fazendo uma leitura do trabalho de um fotógrafo iniciante como forma de orientar a nova geração em busca de um espaço de notoriedade no fazer artístico. Outro aspecto importante do conteúdo desta edição é a criação de um espaço voltado para a orientação de leitura relacionada à fotografia, muito bem conduzida pelo Prof. Marcelo Juchem que mostrará aspectos fundamentais da escolha de uma boa leitura, indi-cando títulos que podem compor a biblioteca particular do nosso leitor.E como forma de cumprirmos com um dos mais importantes propósitos da Revista Foto Grafia, que é o incentivo à produção fotográfica, complementamos com duas seções que julgamos de fundamental importância, Projetos Fotográficos que busca dar visibilidade à produção de novos fotógrafos e Artigos Científicos que nos permite afirmar que a Revista Foto Grafia, embora busque permanentemente a atualização e a ampliação de seus hori-zontes, se mantém fiel ao núcleo acadêmico que foi e tem sido grande incentivador deste periódico e continua firme no propósito de aproximar sua produção de outros meios produ-tivos do conhecimento fotográfico.

Ricardo GallarzaEditor-Chefe da Foto Grafia e Diretor da LAPIS Comunicação e Cultura

Pala-vra doEditor

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Fotógrafo publicitário brasiliense com mais de 30 anos de carreira, Kazuo tem em seu portfólio di-

versos trabalhos reconhecidos e premiados. Desde 2006 procura em seu projeto autoral novas formas de abordar o nu. O fotógrafo também é proprie-tário da Casa da Luz Vermelha, a primeira galeria de Brasília (DF) exclusivamente voltada à fotografia. Kazuo foi convidado para inaugurar a Leitura de Portfólio e analisar o projeto “Como Você Se Vê?”, elaborado por Raphael Delesderrier, 26 anos, como trabalho de graduação no Curso de Fotografia do UVV (Centro Universitário de Vila Velha), Espírito San-to. Na academia, Raphael teve contato com Cine-ma e Vídeo Arte, porém optou por se dedicar uni-camente à fotografia, pois, segundo ele, foi onde se encontrou verdadeiramente.

L e i t u r ad e P o r t f ó l i o

acasadaluzvermelha.com

kazuookubo.com.br

Kazuo Okubo analisa o projeto “Como Você Se Vê?”,desenvolvido por Raphael Delesderrier

foto Andre Kazuo

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Captar as diversas realidades e dimensões da vida urbana: as suas contradições,

a sua humanidade, a sua desumanidade. A obra de arte “instantânea”, no sentido fotográ-fico do termo, concede ao observador, a qualquer amante de arte, o grato prazer de apreciar e contemplar as diferentes “paisa-gens”, tal como, da mesma forma, a pintura o permite.O trabalho apresenta, por meio da arte con-temporânea, ensaios fotográficos com uma estética surrealista, proporcionando ao es-pectador um deslocamento da realidade do objeto fotografado. O projeto desenvolve uma abordagem psicológica e social do mundo, buscando causar um impacto veemente no público através de possíveis identificações geradas diante das imagens expostas.

C o m o V o c ê S e V ê ?

f l ick r .com/rde lesder r ie r

Projeto desenvolvido por Raphael Delesderrier

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De início, é preciso expor o sentimento de estranheza e descon-forto obtido no primeiro contato com as imagens. Da mesma forma, também é preciso deixar claro que a Arte é subjetiva e relativa, o que torna impossível afirmar, ou definir, um tra-balho artístico como bom ou ruim, pois isso é uma conclusão variante que resulta da opinião pessoal de cada observador.

A Análise de Kazuo Okubo

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O trabalho de Raphael tem uma proposta de elaboração interessante, mas o resul-

tado final não a acompanha. Algumas ima-gens são apenas detalhes de outras, causan-do a impressão de mesmice, isso torna difícil avaliar a intenção de forma concreta, mas, vamos lá. Mostrar as diversas realidades da vida urbana ele tenta, elaborando cenários e figurinos; mas a luz, sempre a mesma, homogeneíza o resul-tado tirando a individualidade das imagens, deixando o ensaio todo muito igual. Por outra perspectiva, manter alguns elementos de lin-guagem pode caracterizar as imagens como um só projeto. No texto, o autor afirma que o instantâneo tem relação direta com a pin-tura. Justamente o oposto, a pintura tem uma elaboração (que ele pretende nos retratos) de composição de fundo, de luz, de tonalidades.

O Instantâneo como linguagem fotográfica não permite esta elaboração de figurino, maquiagem, entre outros, que ele apresenta no ensaio. Raphael busca isto nas imagens, mas foi pouco elaborado. Ele também propôs apresentar uma estética surrealista, mas não foi esse o sentimento despertado. O amadurecimento de um artista não acon-tece por acaso, envolve muita dedicação ao trabalho, ao estudo; é um reflexo de experiên-cias vividas, de crises, de taras, de referências. O que se pode concluir, nesta análise, é a ne-cessidade que o autor apresenta de trabalhar mais, no sentido de estabelecer uma lingua-gem própria, fazendo com que os elementos utilizados na montagem cênica sejam, de fato, representativos de uma essência pes-soal do autor. É a partir deste raciocínio que o Raphael conseguirá elaborar um trabalho fotográfico autoral e de expressão.

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I lus t ra cao - Fe l ipe Gal la rza

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Um Certo Brasil Foi à China

Por Ângela Magalhães e Nadja Peregrino, Cura-doras e Pesquisadoras Associadas, responsáveis pela mostra “Um Certo Brasil”

Exibida em setembro de 2010 a décima edição do PIP (Ping-yao International Photography Festival), um dos maiores festi-vais de fotografia da China e do mundo, a mostra “Um Cer-to Brasil” levou originalidade brasileira ao exterior

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Foto - T iago Santana

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A exuberância da paisagem amazônica, a arquitetura dos aglomerados urbanos, a

descontrolada explosão populacional brasilei-ra, os singelos interiores das casas rurais, o misticismo religioso e a cultura sincrética - eis aqui alguns símbolos brasileiros que fazem parte desta proposta de exposição. Todavia, sob uma perspectiva mais alargada, estimu-lam uma nova mirada direcionada para muito além do foco nacionalista. Não por deixa-rem de ser o que são - enquanto marcas da história de nossa cultura - mas porque põem em pauta uma expressão poética e um sen-timento de re-ligação da realidade sociocul-tural com o corpo da arte. De alguma maneira, a realização desta mostra, intitulada “Um Certo Brasil”, transcende a simples observação de um olhar turístico recoberto de aspectos exóticos bem peculi-ares àqueles que querem simplesmente con-

sumir culturas alheias. Assim, os fotógrafos-ar-tistas - participantes deste projeto - mostram que é possível transcender os estereótipos culturais, que se mostram cada vez mais pre-sentes no cotidiano virtual e globalizado do século XXI. Estereótipos que, com suas “logo-marcas visuais”, como no Brasil o carnaval e o futebol, constroem uma visão parcial e en-ganadora da cultura, bem diferente do que esta mostra deixa entrever, como se pode avaliar no conjunto de imagens aqui selecio-nadas. As diversas abordagens apontam para a apreciação de um novo foco - induzem o espectador a perceber a visão do próprio ar-tista como produtor de conhecimento. Trazem o encontro de uma vontade de saber pela lente de uma imaginação simbolizadora. Ou seja, diante do que é exaustivamente dito, é a arte que pode fazer transcender estes limites através do imaginário. Daqui emerge também uma vivência pauta-

Foto - Michael Ende

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da pelo sentimento do artista de estar muito próximo do contexto de nossa cultura. O que implica compreender o Brasil, um país com enorme extensão territorial, não como um ponto geográfico distanciado e, portanto, livre de quaisquer conexões. Sem dúvida, um aspecto importante a ser considerado porque nos propicia cogitar sobre o sentido da obra numa dimensão íntima, afetiva e universal. Daí emerge o campo de trocas culturais como uma instância de intersecção onde a fotogra-fia é o fio condutor que liga espaço público e privado. Não sem razão, a conhecida escrito-ra ucraniana Clarice Lispector (1925-1977) di-zia que a intensa vontade de pertencer é que a fazia brasileira. E é neste pertencer que a essência da produção brasileira se consome, sem deixar de lado outras referências pelas quais o fotógrafo enuncia ou mesmo desesta-biliza o foco nacionalista.

Foto - João Urban

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Foto - João Urban

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Foto - Ia tã Cannabrava

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A Mostra foi composta por fotografias de Ale-xandre Sequeira, Elza Lima, Guy Veloso, Iatã

Cannabrava, João Urban, Joaquim Paiva, Leo-nardo Wen, Luiz Frota, Luiz Santos, Mestre Júlio, Michael Ende, Pedro Lobo, Rosa Gauditano, Tiago Santana e Tonho Ceará. Ao todo, são 15 Fotógrafos e 15 ensaios que levaram ao oriente recortes de um Brasil raro, desconhecido até mesmo por muitos brasileiros. Artistas como Rosa Gauditano, Elza Lima e Ale-xandre Sequeira colocam a cultura regional amazônica como principal fulcro de suas obras. Gauditano reafirma e traduz a iconografia pro-jetada da região – o habitat das nações indíge-nas, a pintura corporal ali praticada e os ritos de iniciação dos jovens adolescentes – enquanto Elza Lima põe em foco dezesseis comunidades afro-brasileiras, descendentes dos escravos fu-gidios do século XIX, que vivem às margens do extenso rio Trombetas, um dos maiores afluentes do Rio Amazonas. Já Sequeira estabelece rela-ções estreitas com a comunidade do vilarejo de Nazaré do Mocajuba, localizado a 150 km de Belém, cidade da Região Norte do país. Pro-duz uma série de imagens fotográficas impres-sas sobre os próprios pertences dos moradores: objetos cotidianos como redes, lençóis, mos-quiteiros. Do viés do seu trabalho surge uma dimensão afetiva baseada na confiança e no respeito mútuo. Luiz Santos também se sintoniza com Sequeira em direção a uma fotografia compartilhada. Trilhando outro universo, Santos produz em par-ceria com o lambe-lambe Tonho Ceará e com o foto-pintor Mestre Júlio – diversos retratos que permitem agregar os códigos visuais da chama-da fotografia popular ao cenário da arte con-temporânea. Na verdade, os processos artesa-nais, que dão corpo aos retratos aqui expostos, se diferenciam da tecnologia digital que, em sua rapidez e facilidade, os superam e subs-tituem num movimento contínuo e ininterrupto. No caso de João Urban, esse inventário memo-

Os Fotógrafos

e as Obras

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Foto - E l za L ima

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rialístico é estendido para o resgate da cul-tura polonesa no Paraná, um estado situado na Região Sul do Brasil. Ao mergulhar em suas origens, Urban traz para suas imagens a força indicial da fotografia colorida: uma espécie de irradiação que se projeta sobre os signos arquitetônicos e religiosos ainda mantidos pe-los descendentes dos poloneses, imigrantes que chegaram da Europa em 1869. Outro artista que parte de sua própria vivência é Tiago Santana. Suas fotos estão entrelaça-das com o antológico livro Vidas Secas (1938) do escritor brasileiro Graciliano Ramos e a paisagem árida do sertão nordestino. Empen-hado em registrar esse canto do mundo de forma vívida, Tiago percorre sua longa exten-são de Alagoas a Pernambuco, num trajeto em que não somente acentua os elementos característicos da cultura local – a casa de pau a pique, os animais, os cactos – como também instaura uma dinâmica concretizada pelo estilo fotográfico espontâneo e vibrante. Leonardo Wen, Pedro Lobo e Iatã Cannabrava situam-se num mundo diametralmente oposto ao de Tiago. Somos agora levados a esprei-tar não apenas o sertão, com sua inquietante placidez, mas também a amplitude espacial e a face convulsiva das metrópoles brasilei-ras. Assim, Leonardo capta com desolação os vestígios da arquitetura planejada de Brasília, enquanto que Pedro mostra, com seu ensaio “Arquitetura de Sobrevivência”, as formas la-birínticas e desordenadas das favelas do Rio de Janeiro, cidade banhada pelo mar e de-limitada pela deslumbrante topografia mon-tanhosa. Esses aglomerados urbanos são a tradução de uma hidra contemporânea - um “bicho de sete cabeças” que se espraia com voracidade pelas grandes cidades brasileiras, formando complexas redes de sociabilidade.

Já Cannabrava delineia uma faceta me-nos visível da cidade de São Paulo, a maior megalópole da América Latina. De suas fotos emana a pulsão do cotidiano da periferia em seus múltiplos contornos: a gravidez precoce das meninas adolescentes, a precariedade das moradias, as manifestações de alegria traduzidas no sorriso largo dos personagens que retrata.

Por outra via, Joaquim Paiva expõe a topogra-fia do céu de Brasília como mapa de devaneio. É como se olhássemos para uma cidade que, projetada no horizonte, não inspira riscos nem inquietude, porque se encontra envolvida por um ponto de vista mais metafísico. Tal como Paiva, o fotógrafo Luiz Frota segue uma linha oblíqua para representar a paixão do brasileiro pelo futebol. Não vemos em seus registros os grandes estádios cheios de torcedores, muito menos imagens dos jogadores – heróis em campo, que pontuam com excesso a mídia

Foto - Pedro lobo

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globalizada. Ao contrário. O futebol aparece ancorado nas cenas corriqueiras captadas nos espaços improvisados de um viaduto em plena São Paulo, bem como na ocupação de uma praia no Maranhão. São anônimos, anti-heróis, que trazem o futebol entranhado na existência como fonte de prazer lúdico e sonho de redenção de uma vida de pobreza. Guy Veloso também se soma a Frota ao co-locar em foco a religiosidade como um tema visceral para a cultura brasileira. O mosaico conformado pelo artista está impregnado pelo misticismo e pela poética ritualística. Há uma ambiguidade de sentido na representa-ção dos homens encapuzados quando com-parados aos violentos Ku-Klux-Klan, ao em-blemático Chador das mulheres muçulmanas e aos sequestradores contemporâneos que evocam o clima de insegurança tão presente no mundo globalizado. Além disto, Guy cor-robora o clima misterioso de suas fotos através da linguagem em preto e branco, que reforça o caráter circunspecto das vestes e da ex-pressão gestual dos penitentes.

Por fim, o caráter orgiástico da mostra “Um Cer-to Brasil” foi ressaltado pelo fotógrafo alemão-carioca-chinês Michael Ende, em seu extenso ensaio “Rio by Night”, onde enfoca os bailes Funk e a vida noturna dos travestis no Rio de Janeiro. De origem norte-americana, o funk se traduz pelo ritmo sincopado, e pelas frases e palavras de ordem cantadas pelos funkeiros, que exploram a violência, o consumo das dro-gas, o tráfico de armas, o sexo livre e o co-tidiano das favelas. É, como diria o jornalista Zuenir Ventura, o reflexo de uma cidade par-tida com territórios geográficos quase intoca-dos pelo poder público, que começa a intervir amiúde com políticas socializantes. No cora-joso ensaio de Ende há uma espécie de trans-bordamento que emerge através do erotismo perturbador e transgressivo identificado nos gestos ousados, na exposição e transforma-ção dos corpos desnudos, com a subversão de parâmetros comportamentais. São visões de um certo Brasil atravessadas pela ambigui-dade entre o que o artista vê, cria e imagina sinais do enigma da visibilidade.

Foto - Rosa Gaudi tano

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Foto - A lexandre Sequei ra

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Foto - A lexandre Sequei ra

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tabelecidos fomentam a cultura visual de boa parte dos museus e galerias internacionais, que vêm participando há alguns anos da ex-tensa programação do festival. Trata-se, por-tanto, de um espaço privilegiado para a inser-ção da fotografia brasileira contemporânea, pela primeira vez convidada para integrar a edição PIP/2010, realizada entre os dias 19 e 25 de setembro. Cabe lembrar que a apre-sentação da rica e complexa produção na-cional, sintetizada na mostra “Um Certo Brasil”, com curadoria de Ângela Magalhães e Nadja Peregrino, e co-curadoria de Michael Ende, reveste-se de significação especial, à medi-da que se somará ao crescente intercâmbio cultural proposto entre as duas nações. Nesse sentido, veja-se o projeto de exposição “Dis-tant Neighbors”, um diálogo entre fotógrafos chineses e brasileiros, já em curso para os próximos anos. Por outro lado, deverá estimu-lar também o promissor mercado de arte no qual a fotografia se insere, na atualidade, com grande vigor.

Inaugurado em 2001, o PIP está entre os dez mais aclamados eventos de fotografia da

China, sendo o único a ocupar uma cidade tombada pelo patrimônio. O desafio de seus organizadores é dar visibilidade mundial ao evento, mantendo seu espírito profissional e artístico, fato que tem ocorrido nas nove edi-ções anteriores. Seu calendário de atividades é ambicioso e vem envolvendo curadores e fotógrafos de mais de 50 países. Na última edição, por exemplo, as ruas da cidade de Pingyao foram tomadas por uma plateia de mais de um milhão e seiscentos mil visitantes, que percorreram exposições produzidas por cerca de 1300 fotógrafos-artistas. As mostras são reunidas, em sua maioria, num grandioso espaço expositivo, onde também ocorrem os fóruns de discussão. Ali, descortinam-se os mais distintos aspectos da linguagem fotográ-fica - desde suas raízes históricas às questões da poética visual contemporânea. O evento é assistido de perto pela comunidade acadêmi-ca que participa, também, da leitura de portfólios junto com curadores chineses e es-trangeiros. Os canais de intercâmbio aqui es-

O Evento

Foto - Guy Ve loso

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Foto - Dav i l ym Dourado

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ProjetosFOTOGRÁFICOS.

38 A VIDA NA SELVA

ENVIE SEU TRABALHO:Acesse www.revistafotografia.com.br e veja como participar.

Maria Augusta Baptista Gaissler

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5044 LAJÃO ILHAS DA MAGIAAlessandro GruetzmacherLourenço Lima Cardoso

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A vida na selva

Este é um estudo imagético da interação entre o habi-

tat natural e o urbano. Busca refletir sobre como o homem-macaco se adapta, se relacio-na e se locomove na cidade. Utiliza a linguagem de foto-montagem digital, em que as imagens captadas adquirem maior significado após serem sobrepostas, revelando a poe-sia da transparência, do véu de percepção sutil que tanto encobre quanto revela a vida na terra. Todas as fotografias foram tiradas no centro da ci-dade de Curitiba (PR).

www.oficinaprojetos.blogspot.com

PorMaria Augusta Baptista GaisslerCuritiba (PR)EMBAP (Escola de Música e Belas Artes do Paraná)

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Lajão

Lajão é o resultado de um ano de registro fotográfico sobre o

cotidiano de homens que extraem quartzito nas minas da cidade de Pirenópolis, estado de Goiás. Re-alizado entre os anos de 2008 e 2009, o projeto virou livro e teve pa-trocínio do Fundo de Apoio à Cul-tura do Governo do Distrito Federal (FAC). Esse conjunto de imagens é uma proposta de incluir na margem fotográfica aqueles que, às mar-gens, sempre se encontraram. Ex-põe uma visão crítica sobre essa ci-dade, comumente observada pela face do turismo e da arquitetura colonial.

PorLourenço Lima Cardoso Brasília (DF)UNB (Universidade de Brasília)

www.flickr.com/lourenco_cardoso

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Ilhas daMagia

As imagens deste projeto têm o objetivo de despertar a admi-

ração do público por estas pai-sagens, para que a preservação destes pequenos espaços de terra seja almejada. As ilhas estão loca-lizadas ao redor de Florianópolis, capital catarinense, também con-hecida como Ilha da Magia. Como forma de referenciar a técnica uti-lizada no surgimento da fotografia (quando uma imagem demorava até oito horas para ser registrada), o Fotógrafo fez estas com longas ex-posições de um a quatro minutos.

www.grutzfotografia.com.br

PorAlessandro GruetzmacherFlorianópolis (SC) UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí)

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CLICK

LIte-rárioO que ler ou o que não ler, eis a questãoPor Marcelo Juchem

Formado em Comunicação Social pela UFRGS, ao longo do curso de Publicidade e Propaganda Marcelo aprendeu, tra-balhou com e passou a ensinar fotogra-fia em cursos de extensão. Durante seu mestrado em Literatura Alemã (UFRGS e Bonn Universität, Alemanha) pesquisou possíveis relações entre fotografia, pintu-ra e literatura. Atualmente é professor de graduação e pós-gradução em Fotogra-fia, Comunicação e Literatura na UNIVALI e na FURB, em Santa Catarina

Olá, caríssimo leitor, caro fotógrafo, caríssi-ma fotógrafa, caros estudantes, amantes

e interessados em fotografia em geral. Estou aqui para trocar algumas ideias sobre duas grandes paixões: fotografia e literatura. Ao longo das próximas edições vou apresen-tar alguns livros que podem e devem ser lidos por nós que fazemos, pensamos e admiramos fotografia. É sabida a importância da leitura na forma-ção de todos os profissionais que pretendem se destacar em suas respectivas áreas. Fotó-grafos, em especial, ao executarem seus tra-balhos, não estão apenas operando um equi-pamento, como algumas pessoas pensavam quando surgiu a fotografia, em meados do século XIX. Em tempo: não vou, hoje, tratar da invenção da Daguerreotipia (processo fotográ-fico criado pelo francês Daguerre no século XIX), mas registre-se que a discussão é longa e as controvérsias são muitas. Aceitemos 1839 como o ano do registro oficial da fotografia na França. Vamos pensar que, na época, diver-sas pessoas tratavam o novo medium como um simples e automático aparelho que de-senhava sozinho, sem a interferência do fotó-grafo, do artista ou do operador.Dessa forma, sendo o fotógrafo muito mais do que apenas um operador de equipamento, é importante que este profissional tenha conhe-cimentos variados e aprofundados. Fotógrafo trabalha com imagens de pessoas, objetos e lugares. Trabalha com diferentes indivíduos, sociedades e culturas. O fotógrafo é um pro-fissional multitarefa de quem se espera muito! Deve ser inteligente, estar bem informado e ser conhecedor não só da sua área de es-pecialidade, mas também de muitas outras

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também é a cultura popular que nos auxilia: “A primeira impressão é a que fica”. Disso, tomo a liberdade para afirmar o óbvio: capa não é tudo, mas tem seu valor. Imagine-se na frente de uma prateleira repleta de livros e pergunte-se até que ponto uma bela capa, seja uma boa imagem, uma composição diferenciada ou algo do tipo pode chamar sua atenção e despertar seu interesse para a leitura daquela obra. Neste mesmo raciocínio podemos incluir outros aspectos gráficos do livro, que não são exatamente os definidores da excelência do dito cujo, mas podem lhe acrescentar algu-mas qualidades: tipo de papel, impressões especiais, encadernações, capas duras etc. Quem de nós não gosta de ter em mãos um livro bonito e bem impresso?

Título

O título merece atenção, mas devemos lem-brar que é uma tarefa árdua e, muitas vezes, o resultado não agrada nem ao próprio pai da criança, seja ela um livro, uma fotografia, um filme, uma música, uma pintura e por aí vai. Particularmente sou um apaixonado por bons títulos, inclusive já desenvolvi algumas pesqui-sas acadêmicas sobre o tema, buscando jus-tamente entender o como e o porquê de um bom título, mas os resultados não foram sa-tis-fatórios: nem os autores sabem! Porém, nen-hum dúvida da potencialidade de um título.

áreas. Chame-se isso de massa crítica, baga-gem cultural ou outro termo bonito de citar e difícil de construir, o importante para nós, neste momento, é que a literatura pode nos ajudar nessa difícil, mas prazerosa, tarefa.Pense comigo: quantas declarações de bons fotógrafos você já leu e ouviu afirmando justa-mente que estudos e leituras são importantes? Pois, então! Não é à toa que tantos conse-lhos dos bem sucedidos vão justamente neste caminho: leia, estude, procure conhecimen-to. E mais: só leitura também não soluciona todos os nossos problemas, há que se praticar! Mas esta tarefa eu deixo pra você, caro leitor, caro fotógrafo, pois estou aqui pra te ajudar a selecionar melhor o quê e o porquê ler.

Antes de tratarmos de uma ou outra obra es-pecífica, como pretendo fazer nas próximas edições da Foto Grafia, gostaria de começar sugerindo algumas maneiras eficientes de avaliar um livro que ainda está na prateleira.

Capa

O dito popular diz que não deve ser o único julgamento. Tem razão o popularesco neste caso, assim como também tem quando afir-ma que “as aparências enganam”. A explica-ção é fácil: apenas a capa não dá conta do conteúdo, ou melhor, da qualidade do con-teúdo do livro. Mas, que é importante, é; ain-da mais num livro de fotografia. Nesse sentido,

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Autor

Fator importante no julgamento é quem afi-nal está afirmando tudo aquilo, ou seja, nosso amigo autor. Quem é esse cara? O que ele sabe de fotografia? Qual sua capacidade de reflexão sobre aquele assunto? Tem uma sólida formação teórica, tem bons trabalhos práticos? Não é apenas o fato de ter publi-cado um livro que torna qualquer um espe-cialista para dar seus pitacos sobre fotografia. Por isso, é muito útil conhecermos o autor e sua história, na medida do possível, e sempre com certa dose de criticidade. Autores tam-bém erram, e não é por ter escrito um, dois ou vários livros muito bons que qualquer coisa que Fulano ou Beltrano escrever será ótima, embora a experiência muitas vezes leve à ex-celência, devemos lembrar. Por outro lado, também devemos dar atenção aos autores novos, que se não têm lá aprofundadas ex-periências práticas e teóricas, podem, por vezes, compensar com outras qualidades, uma visão diferenciada sobre o assunto, mais contemporânea ou atualizada, por exemplo. Ou seja, podemos duvidar do autor, seja ele pensador emergente ou já consolidado na re-flexão sobre fotografia, mas devemos dar-lhe um voto de confiança. Seja sobre o autor ou sobre qualquer aspecto do livro, preconceito decididamente não aju-da em nada!

Pense você no seu livro preferido: por que justa-mente aquele título? Não teríamos uma opção mais eficiente para despertarmos a atenção do leitor ou mesmo contribuir com a história? E se você acha que é fácil criar um bom tí-tulo, pense nos e-mails que enviou e recebeu hoje: qual a função do “assunto”? Por vezes deve ser informativo, um resumo do que está sendo tratado. Em outras vezes pode ser mais livre, mais engraçadinho, algo até poético. Já em outros casos pode despertar justamente a curiosidade do futuro leitor – os divulgadores de vírus que o digam! Além disso, um título de livro não é decisão autônoma do autor. É de óbvio interesse dos editores que os títulos sejam vendáveis, e isso gera algumas discussões e até insatisfações entre autores, editores e outros preocupados com questões comerciais das publicações. No caso específico da nossa área, temos outro grande problema, pois é difícil nomear um livro de fotografia sem usar a palavra... Fotografia! Se por um lado é uma referência clara e direta sobre o assunto a ser abordado, por outro a repetição do termo nos títulos de livros acaba por limitar a criatividade dos autores no que tange aos nomes de seus filhos. Vez ou outra encontramos algumas soluções criativas e in-teressantes por meio do uso do subtítulo, que pode esclarecer um pouco mais sobre a obra.Assim como a capa, o título não é o mais efici-ente argumento para julgarmos um bom livro, mas tem lá sua importância, principalmente em despertar a atenção do leitor no primeiro momento.

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por outro, muitas vezes vendem pela internet.Pois bem: vi a bela capa do livro, interessei-me pelo título criativo, conheço um pouco o autor e gosto das suas abordagens, já tive contato com alguns livros daquela editora - e agora, será que vou gostar deste livro?

Contracapa e orelhas

Bem sabemos que livros não são objetos baratos aqui no Brasil, e já que estamos fa-lando da escolha do que ler, tem razão a preocupação de se fazer a melhor escolha possível.Com o livro em mãos, leia contracapa e ore-lhas, pois sempre trazem informações úteis sobre a obra, geralmente um breve resumo. Por mais que estas apresentações sejam fei-tas pelo editor ou pessoa da área geralmente conhecida do próprio autor do livro, o que normalmente resulta em comentários bastan-te elogiosos e positivos, pode-se ter uma ide-ia geral sobre a obra. E não se culpe, estima-do leitor! Por muitas vezes temos ótimas obras em mãos, mas não nos sentimos interessados naquele momento, não é nosso foco, nossa preocupação atual. É triste, mas é verdade: é impossível ler tudo o que queremos. E esse, aliás, é outro motivo para escolher bem o

Editora

Temos também outro aspecto importante que pode influenciar na qualidade de certas pu-blicações: a editora. Mais ou menos no mes-mo raciocínio aplicado ao autor, qualquer obra de editora que você já conheça e goste tem inicialmente pontos positivos, mas não é resultado garantido para todas as publi-cações. Gosto de pensar em editora como minha padaria preferida: gosto do pão, gosto da torta de chocolate e gosto dos salgados bem sequinhos. Logo, se eu for lá amanhã e tiver alguma novidade, vou experimentar com otimismo e alta expectativa, afinal tudo o que experimentei daquela padaria muito me agra-dou. O raciocínio parece absurdo, mas veja você, caro leitor, que tem lógica.Por isso, dê atenção às editoras de que você gosta, sejam de publicações caras ou bara-tas, de autores conhecidos ou nem tanto, mas esteja aberto a sugestões de outras editoras que você não conhece ou mesmo não goste tanto, pois poderá ser positivamente surpreen-dido. E mais: nem só das grandes e conhe-cidas editoras surgem bons trabalhos sobre fotografia! Editoras menores, por vezes, sur-preendem com a qualidade de forma e con-teúdo de seus livros. Se por um lado não con-seguem distribuir suas obras em todo território,

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que ler.Então, sigamos: lidas contracapa e orelhas, já temos uma ideia geral da obra. Querendo mais informações, leia a apresentação com-pleta que deve estar nas primeiras páginas. Esta, por vezes, escrita pelo próprio autor ou por um convidado. O prefácio, nem sempre presente, também pode ser útil, pois trata de forma um pouco mais aprofundada sobre o livro em geral. Posfácio, por sua vez, também raro, pretende dar um fechamento à obra, ou comentá-la, analisá-la, contextualizá-la para que o leitor tenha uma compreensão ainda melhor – e por isso merece sua atenção.Analise também o índice para saber como o livro está estruturado: é possível que algum tópico ou capítulo lhe interesse bastante e justifique a leitura de todo o livro. Outra dica bastante útil é conferir as referências bibli-ográficas utilizadas, ou seja, o que o autor leu antes de escrever o livro. Embora nem sem-pre os autores informem isso, é bastante efici-ente: é possível entendermos um pouco mais da abordagem e dos raciocínios do autor a partir das suas escolhas anteriores, e se não conhecermos todos os livros citados – aliás, dificilmente isso acontece – com o tempo va-mos perceber que diversos livros se repetem, ou seja, temos também os clássicos na litera-tura sobre fotografia.

E sobre estes clássicos também trataremos aqui, estimado leitor, nas colunas seguintes.

Hoje tratamos de livros em geral, desde a apresentação concreta da obra, passando pelas autoridades do autor e da editora, che-gando aos primeiros contatos com o con-teúdo e a estrutura do livro, e eu espero que tenha ajudado. Na sequência, pretendo co-mentar algumas obras específicas para facili-tar sua vida de leitor junto a nossa querida e estimada fotografia, para que com isso você consiga fazer escolhas mais conscientes do que pode, deve e quer ler.

Conte comigo nessa jornada e até a próxima!

Forte abraço,

Professor Marcelo.

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As reduções das titulações acadêmicas dos autores foram feitasbaseadas no vocabulário ortográfi co disponibilizado pela AssociaçãoBrasileira de Letras (ABL).

AR-TI-GOScientíficosENVIE SEU TRABALHO:Acesse www.revistafotografia.com.br e veja como participar.

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O subjetivo, o imaginário e as relações cromáticas estabelecidas na imagem figuram neste artigo como pontos de partida para se discutir a fotografia do nosso tempo. Tendo como marco re-ferencial estudos realizados pelo antropólogo Durand e o filósofo Goethe, entre outros, três registros fotográficos de Miguel Rio Bran-co são analisados pelo acadêmico do Curso de Artes Visuais – Multimídia da Universidade Norte do Paraná, Fábio Augusto Almei-da de Oliveira, e por seu orientador, o professor Rogério Ghomes, ambos da UNOPAR.

IMAGINÁRIO CROMÁTICOUM OLHAR SOBRE OS REGISTROS FOTOGRÁFICOS DE MIGUEL RIO BRANCO

Fábio Augusto Almeida de OliveiraM.e Rogerio Zanetti Gomes

Palavras Chaves: fotografia documental contemporânea, imaginário fotográfico, cromático.

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A constante discussão no plano teórico sobre a fotografia em tempos atuais é resultado de alterações no processo de captura, em que o aparelho mecânico foi transformado em digital, e a imagem é memorizada de forma numérica e não mais por pro-cessos químicos. Entretanto, essa constante discussão ocorre pelo fato de a foto-grafia ser a base tecnológica, conceitual e ideológica de diversas mídias contemporâneas (MACHADO, 2000), revelando grande im-portância nos meios de comunicação que se beneficiam cons-tantemente desse advento.Sua atual natureza tecnológica resulta em algumas restrições de suas possibilidades em seu meio criativo, reduzindo-a a um desti-no simplesmente documental, e parte de seu processo sofre uma hipertrofia do “momento decisivo” (MACHADO, 2000).Mas o objetivo do artigo não é criar uma discussão sobre a forma de se obter imagens ou por quais meios elas podem ser obtidas, isto é, através de recursos mecânicos ou de processos digitais, e nem mesmo a interferência por meio da manipulação digital muito questionada no mundo acadêmico e publicitário. Esse es-tudo busca questionar a forma como as imagens estão sendo utilizadas no meio midiático e como incentivar o desenvolvimento de outros processos fotográficos que não apresentem os fatos como eles realmente são, possibilitando a expressão de novas realidades interpretativas daquele que observa ou vê.

A VELOCIDADE DAS NOVAS TECNOLOGIAS: O MOVIMENTO AUTOMATIZADO NO MOMENTO DECISIVOB.el Júlio César Riccó Plácido da Silva

Palavras-chave: Fotografia. Digital. Antropofagia. Artes Visuais

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Discutir o papel da fotografia no ato de rememorar os que se foram é o que motiva os autores deste artigo, Michel de Oliveira Santos e Ana Carolina Lima Santos. Orientadora deste estudo, ela é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comu-nicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia e graduada em Comunicação Social – Bacha-rel em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe, instituição em que Michel cursa o 7º semestre do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. O texto aqui publicado é uma versão revisada e ampliada de parte do artigo ‘Saudades Eternas: a fotografia como culto à memória daqueles que já se foram’, apresentado no Intercom Júnior – Jornada de Iniciação Científica em Comunicação do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em 2009.

A FOTOGRAFIA COMO NEGAÇÃO DA MORTEELA FIXA LACUNAS DE TEMPO E ESPAÇO QUE TRAZEM DE VOLTA AS LEMBRANÇAS DE ENTES QUERIDOS PERDIDOS

Michel de Oliveira SilvaM.ª Ana Carolina Lima Santos

Palavras-chave: fotografia, memória, morte.

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Capa - Dav i l ym Dourado