revista fertilitat - ciência & atualidade

40

Upload: criterio-inteligencia-em-conteudo

Post on 25-Jul-2016

221 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade
Page 2: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade
Page 3: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade
Page 4: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Sumário18. especial

4 mil vezes a vida

05. editorial

08. UNidades Fertilitat

27. “o papel da eNFermagem

Na reprodUção assistida”

Juliana Lanziotti | Enfermeira

22. FazeNdo ciêNcia

32. Fertilitat Na mídia

34. dicas de Viagem

36. dicas de leitUra

29. redes sociais

38. crôNica

35. gastroNomia 15. “preserVação da Fertilidade em

pacieNtes com câNcer ”

Alice Ribeiro | Embriologista

28. Vida acadêmica

especial 20 anos12Nossa História06

entrevista30perfil16

09. “altas taxas de graVidez UtilizaNdo

ciclo NatUral”

João Michelon | Ginecologista

10. “iNFertilidade e estilo de Vida”

Ana Luiza Berwanger | Ginecologista

Page 5: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Editorial

Fertilitat Centro de Medicina Reprodutiva Av. Ipiranga, 6690, conj. 801, Porto Alegre – RS | Fone: 51 3339-1142 | www.fertilitat.com.br | ISSN: 2178-3837

Conselho Editorial: Mariangela Badalotti, Alvaro Petracco, Débora Farinati | Jornalista Responsável: Soraia Hanna (Mtb 9038) Edição: Soraia Hanna | Capa: Moove Comunicação Transmídia | Projeto Gráfico e Editoração: Moove Comunicação Transmídia - (51) 3330-2200

Colaboradores: Andressa Dorneles, Antonio Felipe Purcino e Janaína Casanova | Reportagens: Demétrio Rocha PereiraRevisão: Press Revisão - (51) 3055-2115

expedieNte

Esta nova edição da Revista Fertilitat comemora não

uma, mas milhares de vitórias. Desde a inauguração

efetiva do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva,

mais de 4 mil bebês vieram ao mundo através do trabalho

da clínica. A esse número se somam novos pais e dezenas

de profissionais do Fertilitat, em um grande mosaico de

incontáveis sonhos realizados. Entre os primeiros desses

sonhos está o nascimento do próprio centro, em 1991,

fruto da união de forças dos especialistas Alvaro Petracco

e Mariangela Badalotti.

Hoje, a taxa crescente dessas novas famílias traduz o

compromisso com a ciência e a relação de carinho com os

pacientes.

Para cada casal, o Fertilitat oferece uma estrutura mo-

derna, acolhida carinhosa e dedicação individual, come-

çando pela primeira consulta, passando pelo acompanha-

mento psicológico e pela excelência de ginecologistas,

urologistas, embriologistas, geneticistas e equipe de en-

fermagem. Afinal, tão importante quanto o melhor que a

ciência e a tecnologia podem oferecer, são fundamentais

o afeto e o trabalho respeitoso e ético para cada casal que

busca atendimento para infertilidade.

Ao longo de sua trajetória, o Fertilitat sempre perse-

guiu a inovação, com aperfeiçoamento profissional conti-

nuado e atualização constante, através de trabalhos cien-

tíficos e da participação em congressos e encontros no

Brasil e no exterior, buscando o intercâmbio de técnicas,

experiências e tecnologias. Um dos capítulos mais marcan-

tes dessa jornada acaba de completar 20 anos: em 1995,

o trabalho do urologista Claudio Telöken possibilitou a pri-

meira gravidez por espermatozoide extraído diretamente

do testículo no sul do Brasil. As páginas a seguir celebram

também esta vitória.

Além disso, a revista repercute a participação da equi-

pe Fertilitat em encontros científicos, presenças na mídia

do Estado e do país e artigos produzidos pelos especialis-

tas do centro de medicina reprodutiva. A edição também

contempla notícias e dicas sobre saúde, viagem, cultura e

gastronomia.

Boa leitura!

ar

qU

iVo

Page 6: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Fazer ciência de ponta exige pesquisa séria, atualização

permanente e ousadia para inovar. Essas virtudes aju-

daram o Fertilitat a preencher uma história de êxitos que

consagrou o centro como referência de medicina reprodu-

tiva no meio médico. Essas mesmas virtudes acabam de

ser aplicadas à renovação do site do Fertilitat, que agora

expressa tanto a modernidade dos nossos laboratórios

quanto o acolhimento com que recebemos os pacientes.

“Os desafios específicos foram ressaltar credibilidade

e tradição, trazendo, ao mesmo tempo, elementos inova-

dores ao projeto”, explica Paulo Vogel, Diretor de Negó-

cios da agência Ready, empresa responsável por redese-

nhar a página.

“Os conceitos que balizaram a reestruturação da pági-

na foram o design flat, site responsivo e tecnologias mo-

dernas que trazem melhor desempenho em diferentes dis-

positivos e telas”, afirma Vogel.

Segundo Paulo Vogel, um site limpo, intuitivo e amigá-

vel contribui para fixar o posicionamento do centro, “tra-

zendo uma excelente experiência online para o usuário ter

um impacto positivo no que, muitas vezes, é o primeiro

ponto de contato com o novo paciente”.

pioneirismo, ética e paixãoO Fertilitat é um centro de medicina reprodutiva que,

desde a década de 1990, une inovação científica, sensibi-

lidade e ética na realização do sonho de diversos casais. A

Um novo Fertilitat

Nossa História

6 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

na internetclínica, liderada pelos médicos Alvaro Petracco e Marian-

gela Badalotti, tem como objetivo prestar um serviço qua-

lificado e alinhado com as mais avançadas tecnologias da

área de reprodução humana.

Dedicado à investigação e ao tratamento da infertilida-

de conjugal, bem como à preservação da fertilidade, o

centro conta com o empenho de uma equipe de especia-

listas que inclui professores renomados com vasta produ-

ção na área da pesquisa científica. Somam-se a isso um la-

boratório moderno, equipamentos de alta tecnologia e as

técnicas mais atuais e confiáveis, muitas vezes trazidas ao

Brasil em primeira mão pelo Fertilitat, resultado do inter-

câmbio científico com instituições internacionais.

Inaugurado efetivamente em 1991, o Fertilitat teve sua

trajetória iniciada em 1987, quando era ainda o Grupo de

Fertilização Assistida. Foi trabalho desse grupo o nasci-

mento do primeiro bebê de reprodução assistida do Rio

Grande do Sul, em 1989.

No início da década de 1990, nasceram, através do tra-

balho do Fertilitat, os primeiros gêmeos de fertilização in

vitro do Estado. Quatro anos depois, a clínica foi respon-

sável pelo primeiro relato de gravidez com uso de esper-

matozoide retirado do epidídimo da América Latina. E, em

1995, veio a primeira gravidez com espermatozoide extraí-

do do testículo no Sul do Brasil (leia mais na página 12). O

Fertilitat foi responsável, ainda, pelo primeiro nascimento

através de congelamento de óvulos por técnica lenta do

Brasil, em 2002.

Page 7: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Em 2009, a clínica foi premiada pela

ADVB, na categoria Responsabilidade Social

Em 2009, a clínica foi premiada pela ADVB, na catego-

ria Responsabilidade Social, pela criação do Instituto As-

sistireh, que facilita o acesso dos casais às técnicas de re-

produção assistida. No ano seguinte, o projeto recebeu o

prêmio Top Cidadania, da ABRH.

Essas e outras conquistas do Fertilitat, você conhecerá

nas próximas páginas e visitando a nossa nova casa na in-

ternet. Acesse www.fertilitat.com.br e seja bem-vindo!

Foto

ro

cH

a

7edição nº 9 JUlHO 2015

Page 8: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

UNIDADES FERTILITAT

Unidade de Pesquisa

Seguindo a evolução da ciência e o pioneirismo sem-pre marcante na trajetória do Fertilitat, a clínica desen-volve importantes pesquisas e produção científica em diversos segmentos da reprodução assistida.

A endometriose afeta 10% das mulheres em idade reprodutiva, e de 30 a 50% delas terão dificuldade de conceber. Por este motivo, o Fertilitat criou esta unida-de específica para tratar dessa importante doença.

O acompanhamento genético reprodutivo contribui pa-ra oportunizar escolhas mais adequadas a casais com risco aumentado de anormalidades para a prole. O diagnóstico pré-implantacional executado pela equipe do Fertilitat con-siste na identificação de anormalidades genéticas de em- briões antes de sua transferência para o útero, ou seja, an-tes do estabelecimento da gravidez.

A realização do sonho de ter filhos pode se tornar real até mesmo para pacientes oncológicos, cujo tratamento le-va à perda da função gonadal (dos ovários ou dos testículos). Por meio do congelamento de óvulos ou espermatozoides, este sonho pode tornar-se realidade após o tratamento con-tra o câncer. Oncofertilidade é o termo que tem sido utili-zado para designar as ações de preservação de fertilidade em pacientes oncológicos.

A infertilidade é um acontecimento que, na maioria das vezes, gera um profundo sofrimento. Por essa razão, o apoio emocional é parte integrante do tratamento de infertilida-de, sendo direcionado a todos os casais em atendimento no Fertilitat, objetivando proporcionar segurança e equilíbrio emocional nas diferentes etapas do processo de reprodução assistida.

Além do espermograma, que é o estudo qualitativo e quan-titativo dos espermatozoides, esta unidade se dedica também às avaliações complementares de investigação do fator mas-culino. Além disso, o Ferti Sperm é responsável pelo preparo do sêmen que será utilizado nos processos de inseminação artificial ou para a fertilização in vitro.

Unidade focada na investigação e no tratamento da infertilidade masculina. A infertilidade por fator masculino está presente em até 50% dos casais infér-teis de forma isolada ou associada a fatores femininos. O Fertilitat conta com unidade de excelência, com tecnologia de ponta e profissionais altamente qualifi-cados para tratar estas alterações.

O Fertilitat se divide em unidades altamente qualificadas para garantir os melhores resultados no âmbito da reprodução assistida. O que há de melhor na tecnologia

e no apoio ao processo é empregado no atendimento aos pacientes da clínica.

A unidade trabalha com técnicas endoscópicas utilizadas no diagnóstico e no tratamento da infertilidade, como a video-laparoscopia e a vídeo-histeroscopia, que possibilitam proce-dimentos cirúrgicos minimamente invasivos.

A criopreservação permite armazenar material bio-lógico, incluindo óvulos, espermatozoides, embriões e tecidos ovariano e testicular, para serem utilizados fu-turamente, sem que percam suas propriedades. É uma técnica segura, e o material armazenado não tem pra-zo de validade, podendo ser utilizado muito tempo após a criopreservação.

A fertilização in vitro é uma técnica de reprodução assis-tida em que a fertilização ocorre em laboratório. A insemi-nação do óvulo pode ser feita com a colocação de um gran-de número de espermatozoides (50 a 100 mil) em torno do óvulo, ou pela introdução de um único espermatozoide no interior do óvulo - técnica conhecida como ICSI.

8 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Page 9: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Altas taxas de

João Michelon | Ginecologista

A medicina reprodutiva vive em constantes desafios para buscar resultados cada vez melhores. Não basta, ape-

nas, ter altas taxas de fertilização ou clivagem embrionária, queremos gravidez. Da mesma forma, não só um teste po-sitivo, mas gravidez clínica, aquela que podemos ver em-brião e batimentos cardíacos ao ultrassom. Mais que tudo isso, o “bebê em casa” é o apogeu, que interessa a todos.

O bom prognóstico reprodutivo depende, na essência, de um bom embrião e da receptividade endometrial. Por ve-zes, a janela de implantação (pe-queno período de receptivi-dade para a nidação do em-brião no útero) pode ser modificada por inúmeros fatores no processo de fertilização e compro-meter as taxas de su-cesso; saber identi-ficar e manejar estes entraves é funda-mental.

A intensa ação hormonal durante a fertilização in vitro é uma das razões para desencadear altera-ções morfofuncionais que comprometem os re-sultados. Algumas publi-cações têm demonstrado que o endométrio preparado, fora do ciclo de estimulação ovariana, apresenta melhores taxas de gravidez e menos complicações materno-fetais.

Nós, do Fertilitat, temos criado uma interessante ex-periência, com resultados de gravidez excelentes, transfe-rindo embriões em estágio de blastocisto, previamente congelados, em ciclos naturais. A técnica prevê o acom-panhamento da ovulação espontânea da mulher e, na se-

quência, a transferência do(s) embrião(ões), conforme o estágio de desenvolvimento. Não há utilização de hormô-nios para preparo do útero. Tudo é “natural”.

Nosso resultado global de gravidez clínica, com base nos primeiros 44 casos, foi de 72,7%. A taxa de implanta-ção foi de 59,1%. A média de idade das pacientes foi de

34 anos, e o número máximo de embriões transferidos foram dois. Ao desdobrarmos os resultados

com base no número de embriões trans-feridos, tivemos uma taxa de gra-

videz clínica de 52,9% quando transferimos apenas um em-

brião, e 85,2% quando transferimos dois em-

briões. Nesse caso, o índice de gemelarida-de foi de 37%, con-siderado alto (o ideal é não ultra-passar 20%). As ta-xas de aborto e gravidez ectópica foram de 18,7% e 12,5% (também elevada), respecti-vamente.

Com base nos da-dos apresentados, não

podemos catalogar esses resultados a todos os ca-

sais, indistintamente. A idade feminina e o histórico reprodu-

tivo do casal são essenciais para consignar a indicação do método. En-

tretanto, o desempenho reprodutivo usando o ciclo natural é animador e promissor. Há que se ter ou-sadia para intervir menos, facultar a onipotência da tecno-logia e permitir a mediação da natureza. O uso da alta tec-nologia associada à simplicidade da natureza parece reve-lar o melhor caminho na busca do “bebê em casa”.

jeff

er

son

be

rn

ar

de

s

Artigo

gravidez utilizando ciclo natural

9edição nº 9 JUlHO 2015

Embrião no estágiode blastocisto.

Page 10: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Ana Luiza Berwanger | Ginecologista

Sabe-se que a fertilidade de um casal depende da perfei-ta harmonia entre vários aspectos, dentre eles, hormonais

e anatômicos. Um estado da saúde geral adequado, porém, também se mostra condição essencial para que a concepção ocorra, e a gestação evolua de maneira segura e adequada. O estilo de vida, envolvendo questões como tabagismo, ali-mentação e estresse, é apontado e questionado como um dos possíveis fatores que podem dificultar o plano de ter fi-lhos. Alguns desses fatores são discutidos a seguir.

Tabagismo: o consumo de tabaco é conhecido como causa de subfertilidade, tanto feminina quanto masculina, sendo apontado como fator principal em até 13% dos ca-sais inférteis (1). Nas mulheres, o tabaco tem sido associado a alterações nas trompas e no muco cervical, dano aos óvu-los, aborto espontâneo e gestação ectópica (2). Relaciona-se também a uma diminuição prematura do pool folicular dos ovários e ao seu envelhecimento precoce. Já no homem, o cigarro pode ser responsável por diminuição de até 20% na concentração e 15% na motilidade espermáticas (3). Uma preocupação em especial é o fato de que as alterações cau-sadas pelo cigarro não podem ser anuladas por métodos de Reprodução Assistida. Acredita-se que esses efeitos de-letérios possam ser revertidos após 1 ano livre do cigarro.

Peso: tanto o excesso quanto a falta de peso são asso-ciados à diminuição da fertilidade. Um IMC (índice de massa corporal) entre 17,5 e 25 kg/m2 é considerado ideal para os casais que estão tentando gestar. Em mulheres obesas a re-dução de peso tanto cirúrgica quanto não cirúrgica mostra-se comprovadamente benéfica (4). Um IMC alto parece levar à hiperinsulinemia e ao excesso androgênico, alterando o funcionamento ovariano. Um peso insuficiente também po-de dificultar na ovulação. Igualmente, no homem, o excesso de peso associa-se a um estado hormonal inadequado.

Uso de álcool: a quantidade exata segura para uso de álcool no período da concepção ainda não foi es-tabelecida, mas acredita-se que < 2 taças/dia de be-bidas não destiladas não se associe à diminuição da fertilidade (5,6). Por outro lado, a abstinência al-coólica é recomendada durante toda a gestação, incluindo as primeiras semanas.

Dieta: em casais saudáveis, não há evidências fortes de que uma dieta específica seja associada à melhora da fer-tilidade (6), exceto em casos de doença celíaca (intolerân-cia total ao glúten) não diagnosticada. Por outro lado, o glúten tem sido associado a processos inflamatórios diver-sos, o que poderia influenciar na concepção (7). Em alguns estudos observacionais, mostrou-se que a “dieta da ferti-lidade” mais apropriada seria aquela livre de gordura trans, rica em proteínas (principalmente de origem vegetal), bai-xo índice glicêmico, rica em laticínios e ferro (8-11). Apesar da falta de estudos adequados, é altamente recomendada, por tratar-se de uma alimentação saudável, favorecendo a homeostase glicêmica e insulínica.

Estresse: estudos observacionais associam altos níveis de estresse à infertilidade; por outro lado, o diagnóstico e tratamento dessa condição, por si só, constituem-se em fatores geradores de estresse (6). Não há evidências esta-tísticas de que o estresse possa ser causador único da di-ficuldade de engravidar, porém, por estar normalmente envolvido no tratamento e por influenciar de forma impor-tante a vida conjugal, medidas como acompanhamento psicológico, e a própria atividade física são recomendadas.

Artigo

Infertilidade e estilo de vida

10 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

Page 11: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade
Page 12: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Especial 20 Anos

A vida colhida

12 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Foi como um parto preliminar antes do parto definitivo:

o médico extraiu do pai a matéria-prima da vida, a se-

mente que, depois, juntar-se-ia ao gameta feminino e, fe-

cundada, seria transferida para a mãe. Assim, há 20 anos,

o urologista Cláudio Telöken gravou mais uma marca na

cronologia de pioneirismos do Fertilitat. Pela primeira vez

no sul do país, um espermatozoide extraído diretamente

do testículo produziu um embrião, a gravidez e, finalmen-

te, um bebê.

Um ano antes, em 1994, Telöken já havia se tornado o

primeiro médico na América Latina a possibilitar uma gra-

videz por espermatozoide extraído do epidídimo (duto que

coleta e armazena os espermatozoides produzidos nos tes-

tículos). Em ambos os casos, o Fertilitat seguiu de perto as

inaugurações mundiais dessas técnicas, posição de van-

guarda que não veio por acaso.

“Eu tinha recém-voltado dos Estados Unidos e estava fa-

miliarizado com o assunto. Trabalhei na Cleveland Clinic,

Wayne State University, Dallas University, sempre estudando

disfunções sexuais e infertilidade. Tinha o problema de impor-

tar instrumental, o que era mais difícil na época, mas o pessoal

estava decidido a fazer para valer”, lembra o doutor, mencio-

nando a estrutura diferenciada que encontrou na clínica.

o procedimentoA técnica adotada para extrair espermatozoides depen-

de do diagnóstico. Se o paciente tem azoospermia não

obstrutiva (NOA, ausência de espermatozoides no sêmen

que não é causada por obstrução dos canais pós-testicu-

lares), significa que a “matéria-prima” parou na fase de

“produção”, e não de “transporte”. Em 1994, a coleta a

partir do epidídimo foi possível porque havia obstrução,

mas na cirurgia de 1995 detectou-se NOA, sendo neces-

sário aspirar espermatozoides diretamente do testículo.

“O espermatozoide é produzido dentro do testículo,

mas de lá não sai. É diferente do sujeito que, por exemplo,

faz vasectomia e

quer reverter: aí

houve obstrução, en-

tão podemos revertê-la ou buscar no epidídimo. Essa é a

diferença fundamental”, explica Telöken.

Quando o paciente tem NOA, a chance de haver es-

permatozoides no testículo é de aproximadamente 60%.

Em 1995, bastou puncionar com uma agulha fina o testí-

culo para obter espermatozoides em um procedimento

chamado TESA (Testicular Sperm Aspiration). Acoplada a

uma seringa, a agulha perfurou o escroto e aspirou o flui-

do de dentro do testículo. Todo o procedimento, que con-

ta com anestesia local, demanda menos de 30 minutos.

Os espermatozoides coletados foram, depois, injeta-

dos em laboratório nos óvulos da futura mãe, ao que se

seguiu a transferência dos embriões para o útero. O su-

cesso do TESA relevou que o espermatozoide não preci-

sava transitar pelo epidídimo para estar em condições de

fertilizar o óvulo. Entre as vantagens dessa técnica, está a

pronta recuperação do paciente, que, logo após o proce-

dimento já pode voltar para casa.

na origem

Page 13: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

atualização constanteDesde 1995, novas técnicas apareceram para dar conta

de casos mais graves. A TESE (Testicular Sperm Extraction)

envolve a abertura do escroto e do testículo, de cujo inte-

rior são retirados fragmentos onde estão localizados os ga-

metas. Mais recentemente, descobriu-se que as porções

esbranquiçadas dentro dos testículos são propensas a hos-

pedar espermatozoides, encaminhando o desenvolvimento

da MICROTESE, que, com a ajuda de um microscópio, per-

mite uma operação menos invasiva e mais profícua.

É costumeiro, para o urologista, ter de explicar que es-

sas cirurgias não comprometem a ereção, um medo que

Telöken identifica como típico dos latinos. “É um pouco

diferente nos outros países. O homem latino, quando se

trata da genitália, logo demonstra o temor de perder libi-

do. Então temos que explicar fisiologia, que há pessoas

que nascem sem um testículo e nem por isso têm o dese-

jo sexual comprometido”, conta o médico, ressaltando que

o importante seria se preocupar com questões relaciona-

das ao estilo de vida.

De acordo com Telöken, a área de reprodução assistida

exige atualização constante, e todos os anos é necessário

sair pelo menos três vezes do país para acompanhar as

inovações mundiais mais recentes. Fazer medicina no rit-

mo das pesquisas de ponta, em 1995, implicou desafiar

convenções sociais que mudam a passos lentos.

“A única resposta era adotar uma criança. Abriu-se uma

janela para mostrar para o mundo médico que tu podes

ajudar o casal na obtenção de prole saudável. Quebraram-

se alguns paradigmas. Quem não tinha espermatozoide

ou tinha apenas um testículo bom entrava automaticamen-

te na fila da adoção. Agora não. Vais ter filho. Se não tens

espermatozoide, nós vamos procurar”, diz Telöken, acres-

centando que, hoje em dia, poucos homens não terão pro-

le, a não ser em casos sindrômicos, retirada de ambos os

testículos ou pacientes que tiveram tumores e fizeram tra-

tamento de quimio ou radioterapia sem antes armazenar

o ejaculado.

O sucesso daquelas primeiras cirurgias também mobi-

lizou um aumento da demanda na área. “Também abriu

portas para as pessoas se conscientizarem de que, não

obstante a ausência de espermatozoides, elas podem ter

paternidade e maternidade. No passado, até separações

ocorriam por conta disso. Hoje não. Vamos ver e vamos

tratar”, assegura Telöken.

As pessoas se conscientizaram de que, não obstante a ausência

de espermatozoides, elas podem ter paternidade

e maternidade

13edição nº 9 JUlHO 2015

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

Page 14: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Especial 20 Anos

14 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

de olho na prevençãoPara produzir um espermatozoide, o testículo demora

64 dias, mais 14 dias de “viagem” até a ejaculação. Ao lon-

go dessas duas semanas de transporte, o esperma é bas-

tante sensível, sofrendo influência de eventual consumo

de drogas e até do estado psicológico do indivíduo. Os

fatores de risco de infertilidade vão desde distúrbios do

sono até exposição do escroto ao calor. Telöken repara

que, enquanto os pacientes têm relutado em aceitar o im-

pacto dos vícios na reprodução humana, em contrapartida

as gerações estão cada vez mais conscientes da importân-

cia dos exercícios físicos. Confira o que evitar:

1. Sedentarismo

2. Obesidade

3. Distúrbios do sono (apneia, ronco)

4. Drogas (cocaína, maconha, crack)

5. Hormônios

6. Cigarro

7. Álcool (para prejudicar a espermogênese, basta um aperitivo diário de destilado, como cachaça, uísque ou vodka)

8. Sauna e banhos de imersão (o calor local é nocivo: o escroto encolhe com o frio e relaxa com o calor para permanecer 1,2°C abaixo da temperatura do corpo)

9. Depressão não tratada.

A paternidade também pode ser salvaguardada para

pacientes com câncer. “Um indivíduo de 14 anos, por

exemplo, que teve que retirar um testículo em função de

um tumor, atualmente necessitará fazer radioterapia ou

quimioterapia. É de bom alvitre colher, salvar material do

testículo e guardar para ele poder ser pai no futuro, ain-

da que não é todo mundo que faz quimio ou radioterapia

que não poderá ter filhos”, afirma o médico.

Page 15: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Preservação

Alice Ribeiro | Embriologista

O congelamento de gametas tornou-se uma técnica fun-damental em reprodução assistida fornecendo a opor-

tunidade de manter a saúde reprodutiva do paciente por tempo indeterminado. A criopreservação de oócitos em pa-cientes que desejam postergar a maternidade, ou com risco de uma menopausa precoce, é algo rotineiro em qualquer laboratório de reprodução assistida. Assim como o conge-lamento de sêmen é considerado um procedimento-padrão antes do paciente se submeter a uma vasectomia. Porém, pacientes com câncer se apresentam como os maiores be-neficiários das técnicas de preservação da fertilidade. O al-vo principal das terapias contra o câncer é a interrupção do ciclo celular, o que provoca graves defeitos no DNA e em seus mecanismos de replicação, podendo levar à infertili-dade permanente.

A radioterapia e quimioterapia possuem efeitos graves sobre a fertilidade masculina. Dependendo da dose de ra-diação e do tipo de agente quimioterápico, a concentra-ção espermática pode ser alterada, havendo diminuição no número de espermatozoides no ejaculado ou até mes-mo a paralisação da produção dos mesmos (azoospermia). Além da alteração na concentração espermática, o DNA dos espermatozoides também pode sofrer danos. Irradia-ções em determinada fase do ciclo celular induzem aber-rações cromossômicas, diminuindo a capacidade de ferti-lização desses espermatozoides. Cirurgias relacionadas ao câncer de testículo e próstata também possuem um gran-de impacto na saúde reprodutiva do homem, podendo re-sultar na infertilidade permanente (quando há a retirada dos dois testículos) ou provocar graves perturbações na ejaculação, qualidade espermática e função erétil.

Nas mulheres, os danos causados pela radioterapia e quimioterapia também dependem da dose e do campo de irradiação, do tipo de agente quimioterápico e da idade da paciente. No entanto, sabe-se que a radiação pode ter um impacto negativo direto sobre a função ovariana e no útero através da alteração da vascularização, além de pro-duzir uma perda de 50% da reserva folicular. Os agentes quimioterápicos afetam a função ovariana por vários me-

canismos, como o empobrecimento folicular, dano vascu-lar, fibrose e alteração no ciclo menstrual.

Atualmente, o método estabelecido para a preservação da fertilidade em pacientes do sexo masculino é a criopre-servação dos espermatozoides em adolescentes e adultos. Em pacientes pré-púberes, a criopreservação de biópsia testicular é oferecida em alguns centros, mas a forma de utilização desse tecido no futuro é incerta. Em mulheres adultas, a criopreservação de oócitos é a opção preferida, enquanto para meninas pré-púberes a criopreservação de tecido ovariano com posterior reimplante é a única possi-bilidade; porém, essa técnica ainda é considerada experi-mental na maioria dos países.

Pacientes que se submetem a tratamentos oncológicos possuem muitas incertezas quanto ao futuro, e a saúde re-produtiva é uma dessas questões. Assim, a criopreservação de gametas oferece aos pacientes opções reais de preser-var a fertilidade, sendo de extrema importância que infor-mações sobre opções e técnicas para a preservação da fertilidade sejam abordadas logo que um tratamento on-cológico é indicado.

Artigo

da fertilidade em pacientes com câncer

15edição nº 9 JUlHO 2015

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

Page 16: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Perfil

Ana Maria Puperi Bratkowski gerente administrativa

16 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Perfil

16 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Enquanto corre, Ana Maria escuta a cidade, calcu-

la as distâncias, projeta-se à frente. É no jogo dos

sons ambientes com a voz interior que a gerente ad-

ministrativa do Fertilitat consegue vencer o cansaço e

se superar a cada maratona. Às terças, quintas e sá-

bados, Ana veste uniforme laranja e se junta aos mais

de 100 atletas da equipe Perfect Run. Não se trata de

mero passatempo: Ana disputou maratonas em cida-

des como Berlim e Miami, participou de revezamento

para completar uma volta na ilha de Florianópolis e já

percorreu 42 km sem parar para descansar.

Por isso, faz todo sentido quando, ao elencar a sua

maior virtude como profissional, Ana pense um pouco no

assunto e responda: “Sou muito persistente. Não é qual-

quer coisa que vai me tirar do prumo. Mas é uma

característica geral aqui na clínica: a eficiência tam-

bém vem da persistência, da tenacidade”.

A corrida pode ser solitária, mas o progresso

depende do time: sem a parceria do marido e

dos amigos “laranjinhas”, diz Ana, seria fácil de-

sistir no meio do trajeto. Formada em Pedago-

sou muito persistente. Não é qualquer coisa que

vai me tirar do prumo. mas é uma característica geral

aqui na clínica: a eficiência também vem da persistência,

da tenacidade

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

Page 17: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

gia e pós-graduada em Administração de Recursos

Humanos, Ana traz essa valorização das relações

interpessoais também para o Fertilitat, onde traba-

lha desde 1997. “É como uma família. Desde o iní-

cio são as mesmas pessoas, todo mundo se conhe-

ce. É esse padrão que forma o conjunto da obra”,

conclui, exaltando a disposição permanente dos

médicos do Fertilitat em ensinar as minúcias da li-

da científica aos demais funcionários.

Natural de Guaporé, Ana veio para Porto Ale-

gre fazer o Ensino Médio no Colégio Estadual Júlio

de Castilhos, de onde saiu para a faculdade e a pós.

Depois de 15 anos no Banrisul, decidiu que era ho-

ra de ir viajar: foi para Roma, rodou a Itália e, de

volta ao Brasil, agarrou a oportunidade de trabalho

na clínica. “Sempre achei a área médica maravilho-

sa. Admiro profundamente as pessoas que têm a

medicina como vocação. Embora, administrativa-

mente, eu fique na retaguarda, acabo acompanhan-

do muito, e me fascina interagir e crescer em con-

tato com pessoas e histórias diferentes. Dentro de

um sonho, tanto a cirurgia quanto a questão finan-

ceira têm peso, e são ambas delicadas.”

Por isso, assim como os médicos se tornam in-

tegrantes de muitas novas famílias, Ana também

percebe o reconhecimento dos pacientes. “É uma

realização imensa. O investimento emocional das

pessoas é muito grande, e é tão bom lembrarem

de ti com carinho! Não é o que chamam de traba-

lho ‘vazio’, em que tu não te aproprias do que tu

fazes. Aqui é ao contrário.”

Ana acredita que seria uma excelente mãe caso

tivesse filhos. “E a vida é tão grande, tu nunca sa-

bes o que vai te acontecer. As pessoas acham que

‘agora deu’, ‘não tem saída’, ‘passou do tempo’,

e, de repente, tudo muda, a vida se abre de outra

forma.” Há sempre uma rota para cada sonho. Ana

ensina não apenas com conquistas próprias, mas

também construindo pontes entre diversos casais

e uma vitória que parecia impossível alcançar.

Mesmo no escasso tempo longe da clínica e do

asfalto, Ana segue a passadas largas: na cabeceira,

os livros vão do maratonista Haruki Murakami até

José Saramago, em que a leitura não tem atalhos

e é cheia de esquinas. Mas nem sempre Ana vence

o percurso. Depois de uma jornada de trabalho

mais corrida, às vezes bate o sono, o olho pesa, e

um filme fica assistido pela metade: porque os atle-

tas, por mais persistentes que sejam, também me-

recem descansar de vez em quando.

17edição nº 9 JUlHO 2015

Page 18: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

De um lado delicadeza e

excelência, de outro persistência

e paixão

Especial

4 mil vezes a vidaO Fertilitat em gestação: da luta para fazer ciência até as vitórias de mais de 4 mil bebês

Começou modesto, equipado pela mão de obra dos

doutores Alvaro Petracco e Mariangela Badalotti.

Quando não voltavam de viagens internacionais com novos

conhecimentos e itens de laboratório estufando as malas,

eles mesmos construíam os seus próprios instrumentos, so-

fisticados demais para um Brasil ainda no ocaso dos anos

80. De ousadia, engenho, suor e insônia, se fez uma clínica

laureada com ciência e tecnologia de última geração. O

Fertilitat já ajudou no nascimento de mais de 4 mil bebês.

Na biografia do Fertilitat, os primeiros capítulos evo-

cam paradoxos típicos desse germinal da medicina repro-

dutiva: de um lado, delicadeza, perícia e excelência técni-

ca; de outro, persistência, força de vontade e paixão.

18 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva18 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Page 19: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

– Segurar um óvulo e injetar um espermatozoide den-

tro ou retirar uma célula do embrião para que seja exami-

nada, bem como congelar óvulos ou embriões, é tecnolo-

gia extremamente sofisticada, que utilizamos rotineiramen-

te de um jeito especial, do nosso jeito, com carinho e aten-

ção. É um trabalho extremamente técnico, mas envolto por

muito afeto. A infertilidade sensibiliza, ela nos fisgou des-

de a faculdade, e acho que os pacientes sentem a nossa

preocupação, o nosso querer de verdade. Nessa área, a

gente não imagina que possa ser diferente, afirma Marian-

gela Badalotti, diretora do Fertilitat.

Não por acaso, mantemos alto índice de pacientes re-

ferenciados por seus médicos, ou encaminhados por ami-

gos que já foram nossos pacientes.

– Isso traduz uma identidade muito particular da clínica:

como a gente trata, como a gente cuida do casal, dos es-

permatozoides, dos óvulos e dos embriões. Tudo é checa-

do duplamente. duplamente. Se um embriologista está tra-

balhando, observando um óvulo, por exemplo, tem outro

embriologista atrás, checando o processo. O cuidado, o

controle de qualidade, tudo isso é fundamental para os nos-

sos resultados, explica Alvaro Petracco, diretor do Centro.

de lá para cáO primeiro bebê de proveta nasceu em 1978, deixan-

do a comunidade médica do mundo inteiro “estarrecida”,

nas palavras do ginecologista:

– Estávamos entusiasmados com a possibilidade de tra-

tar efetivamente a infertilidade conjugal, relembra.

Naquele período, precisávamos passar por uma fase

experimental e com apoio de vários setores já estabeleci-

dos do Hospital, fomos aprender a identificar óvulos, pre-

parar os espermatozoides e aprender sobre as condições

de fertilização.

Em 1986, convidado a ir a Sorrento (Itália), Petracco de-

cidiu encontrar Mariangela, que usufruía de uma bolsa de

estudos na Europa. Ficou combinado que ela iria para Bo-

logna se especializar em fertilização in vitro. De volta ao Bra-

sil, Mariangela turbinou o patrimônio científico do grupo.

19edição nº 9 JUlHO 2015

Page 20: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

20 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Especial

– Quando ela voltou, com suporte do hospital, a gente

montou um laboratório pequeno, extremamente humilde

na época. Uma pequena equipe já se articulava, ocupando

o bloco cirúrgico nas madrugadas – a direção do hospital

apoiava a empreitada, contanto que não alterasse a rotina

diária do hospital. A fertilização in vitro ainda estava mer-

gulhada em brumas de desconfiança. Havia algo de miste-

rioso, quiçá até místico, rondando o imaginário acerca do

tema, recorda Petracco.

– Fazíamos tudo: meio de cultura, cuidávamos da incu-

badora como se enfermo fosse, transnoitávamos cuidando

da temperatura e controle de gases necessários para que

a fertilização acontecesse a contento. As agulhas necessá-

rias para injetar o espermatozoide no óvulo, por exemplo,

não existiam prontas. São agulhas extremamente finas, e

era a dra. Mariangela que fazia, noite adentro, como um

ourives. Quebravam-se várias pipetas para obter uma mí-

sera agulha. Hoje se importa todo este material pronto,

destaca o médico.

– Os meios de cultura eram feitos artesanalmente. A

gente tinha que ir buscar água ultrapura. Para isso, esteri-

lizávamos garrafões de vidro, porque não podíamos usar

plástico: apenas metal ou vidro. Tudo isso era absoluta-

mente empírico, conta o ginecologista.

Isso sem falar nos infortúnios da burocracia: aqui era

uma alfândega que retinha remédios; ali eram leis prote-

cionistas que impediam a importação de eletrônicos; aco-

lá vinham equipamentos monumentais trazidos “nas cos-

tas”, direto do exterior.

– Começamos a nos desenvolver de forma mais susten-

tada do ponto de vista técnico e, em seguida, tivemos o

primeiro resultado. A gente se atirou de cabeça nisso, lem-

bra o diretor da clínica.

O primeiro bebê de laboratório do Rio Grande do Sul,

nascido em 23 de fevereiro de 1989, deu à luz a primeira

grande recompensa de Alvaro Petracco, pois ali nascia, no-

meado em sua homenagem, Álvaro Luis Gonçalvez Santos.

Na sequência, em meados de 1992, foi publicado o pri-

meiro caso de gravidez com a injeção do espermatozoide

diretamente no óvulo. Em dezembro do mesmo ano, a dra.

Mariangela foi aos Estados Unidos e voltou com o material

que manteve o Fertilitat na vanguarda mundial da área. A

aquisição foi possibilitada pelo mecenato de um paciente.

– Havia tecnologia e havia pacientes, mas nós não tí-

nhamos dinheiro. O valor dos equipamentos era exorbi-

tante, uma fortuna. E nós ainda fazíamos plantão para so-

breviver. Aí um paciente disse: ‘Eu pago para vocês, dou

de presente o equipamento’, conta Petracco.

Ao lado dessa atmosfera exploratória, tempero agrido-

ce de todo empreendimento precursor, os tempos de ago-

ra poderiam parecer calmos, mas os sucessivos êxitos vie-

ram lançando desafios novos na história do Fertilitat. Ao

se tornar referência internacional em reprodução assistida,

a clínica cada vez mais atrai pacientes de todos os cantos

do Brasil e do mundo.

– Acho que isso se deve, primeiro, à desmistificação do

processo em si, e, segundo, ao resultado positivo da tec-

nologia. A desmistificação fez com que os pacientes con-

versassem mais entre si, o que também motiva esse au-

mento significativo da demanda, avalia o dr. Petracco.

De acordo com Mariangela, outra questão a ser obser-

vada é comportamental: o progressivo adiamento da ma-

ternidade, que vem acompanhado pela redução aguda das

chances de gravidez (16,6% para um casal jovem, entre 8%

e 12% aos 40 anos, em torno de 5% aos 43).

– Quando eu me formei, nos idos dos anos 80, uma

gravidez depois dos 35 anos era vista com preocupação.

A mulher, nesse caso, era considerada uma grávida idosa.

Hoje, esse tipo de discurso é de extremo mau gosto. As

mulheres já não precisam ter aquele medo de uma gravi-

dez aos 40 anos, observa a ginecologista.

20 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Ao se tornar referência internacional em

reprodução assistida, a clínica cada vez mais

atrai pacientes de todos os cantos do Brasil e do mundo

Page 21: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

21edição nº 9 JUlHO 2015

a educação fertilizadaO diretor da clínica aponta e sublinha: nas portas do

Fertilitat não se apregoam os nomes de nenhum médico,

pois temos a mais absoluta certeza que essa é uma ciência

de Equipe.

– A gente busca sempre manter a induvidualidade da

relação médico-paciente, a obrigatoriedade da atualização

científica e as chamas da pesquisa e da assistência acesas

em todo o grupo, sem exceção, diz Petracco.

– O fato de todas as sextas-feiras nos reunirmos ao re-

dor de uma mesa faz com que a gente se mantenha, real-

mente, uma equipe, acrescenta Mariangela, em menção

às reuniões científicas semanais do time.

A harmonia entre o todo e as partes, trazida desde o ber-

ço, permitiu ao Fertilitat se consolidar como referência e, co-

mo corolário inevitável do renome, multiplicar aos milhares as

vidas sopradas. A via desse vento, entretanto, é de duas mãos.

– Chegamos a esse número de mais de 4 mil bebês, mas

o retorno de gratificação é infinito. Quando começou a fer-

tilização in vitro, a chance de dar certo, global, era de 5%

ou menos. Com o avanço da técnica, hoje a paciente com

menos de 35 anos já tem 50% de chances. Não é fantásti-

co?, pergunta a dra. Mariangela, pouco antes de repassar

um fio de memória.

– Há alguns dias veio um aluno conhecer a clínica. Um

aluno aqui da faculdade que veio nos visitar porque foi re-

sultado de fertilização, do nosso trabalho. Isto é o que nos

move, é a ciência aplicada à vida.

Somados todos os bebês nascidos em virtude do tra-

balho do Fertilitat, já seria possível preencher as mais de

4 mil vagas para alunos de pós-graduação na PUCRS, in-

cluindo cursos de especialização.

Não é fantástico?

Page 22: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

22 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Fazendo Ciência

Rafaella PetRacco é PRemiada em congResso mundial na fRança

Congresso na espanha

A ginecologista do Fertilitat Rafaella Petracco foi pre-miada no 20º Congresso Mundial de Controvérsias em Obstetrícia, Ginecologia e Infertilidade (COGI). O even-to reuniu especialistas da área em Paris (França), entre os dias 4 e 7 de dezembro de 2014. A tese de doutora-do de Rafaella, “Diminuição da expressão do miRNA 135 na fase secretora do ciclo menstrual em pacientes com endometriose”, foi reconhecida pelo júri científico e agra-ciada com o prêmio de melhor trabalho do congresso. “O estudo evidencia novidades do ponto de vista das causas genéticas da endometriose e podem servir, no futuro, para o desenvolvimento de ferramentas terapêu-ticas”, explica.

O ginecologista e diretor do Fertilitat, Alvaro Petracco, e a embriologista Lilian Okada estiveram na Espanha para troca de experiências e aprimo-ramento na área da reprodução assistida. Os es-pecialistas participaram do 6º Congresso Interna-cional do IVI (6th IVI International Congress), em Alicante, que ocorreu entre os dias 23 e 25 de abril de 2015. O evento é uma referência na área e reú-ne cerca de mil profissionais que se destacam em diversos países.

ar

qU

iVo

ar

qU

iVo

Page 23: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Fibrose cística

SimpóSio de AtuAlizAção em GinecoloGiA

A geneticista Maria Teresa Sanseve-rino, consultora em Genética do Ferti-litat, fez parte da programação cientí-fica do V Congresso Brasileiro de Fibro-se Cística, em Gramado/RS. No dia 22 de abril, a médica palestrou sobre o ge-ne CFTR, no módulo Aspectos Genéti-cos da Fibrose Cística Parte I. A muta-ção desse gene, que regula algumas funções celulares no corpo humano, é a causadora da doença. Já no dia 23, Maria Teresa coordenou a oficina inte-rativa sobre fertilidade e aconselhamen-to genético em Fibrose Cística.

A diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti, participou, entre os dias 14 e 16 de maio, do XII Simpósio Franco- Brasileiro de Atualização em Ginecolo-gia, realizado em Natal/RN. Mariange-la ministrou uma aula sobre o tema “Mu-lher no século XXI: até quando retardar a maternidade?”. A ginecologista tam-bém palestrou sobre a “Avaliação da reserva ovariana: papel do AMH e ou-tros marcadores”. O Simpósio, que con-tou com a coordenação científica do di-retor do Fertilitat, Alvaro Petracco, foi realizado pelo Instituto Leide Morais.

Os profissionais do Fertilitat par-ticiparam de diversas palestras, me-sas-redondas e cursos durante o 26º Congresso Brasileiro de Repro-dução Humana, que ocorreu entre os dias 6 e 8 de novembro de 2014, em Porto Alegre/RS.

A então presidente da Socieda-de Brasileira de Reprodução Hu-mana e diretora do Fertilitat, Ma-riangela Badalotti, foi a anfitriã do evento, que reuniu cerca de 1,5 mil profissionais do Brasil e do exterior. A extensa programação contou com 150 professores e 19 especialistas estrangeiros. O diretor da clínica, Alvaro Petracco, presidiu a confe-

ar

qU

iVo

26º Congresso Brasileiro de reprodução Humana

rência “O que há de novo em pre-servação da fertilidade”, ministra-da pela especialista espanhola Mar-ta Devesa Rodríguez de La Rúa, professora do Institut Universitari Dexeus, de Barcelona (Espanha).

O urologista Claudio Telöken, os ginecologistas Adriana Arent, João Michelon e Rafaella Petracco, a ge-neticista Maria Teresa Sanseverino, a psicanalista Débora Farinati, o di-retor do Laboratório de Embriolo-gia, Ricardo Azambuja, e os embrio-logistas Lilian Okada, David Kvitko, Alice Tagliani Ribeiro e Virgínia Reig também representaram o Fertilitat em palestras e cursos do evento.

EspEcialistas aprEsEntam trabalhos no pEru

A diretora Mariangela Badalotti e a embrio-logista Virgínia Reig apresentaram dois traba-lhos do Fertilitat durante o 12º Congresso Ge-ral da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida, em Lima (Peru). Entre os dias 26 e 28 de março, as especialistas exibiram em pôster as pesquisas “Determinação da carga viral no sêmen de pacientes submetidos a ICSI” e “Ex-periência utilizando vitrificação de oócitos em reprodução humana assistida”.

23edição nº 9 JUlHO 2015

Foto

ro

cH

a

Diretores e embriologistas do Fertilitat

Page 24: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

24 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Fazendo Ciência

A geneticista Maria Teresa San-severino apresentou um trabalho cien-tífico realizado pelo Fertilitat duran-te a 14ª Conferência Internacional de Diagnóstico Genético Pré-Implanta-cional, em Chicago (Estados Unidos). A pesquisa “Triagem pré- implan -tacional para alterações cromossô-micas (PGS) através da comparação genômica por hibridização de mi-croarranjos” (técnica que busca iden-tificar os embriões sem alterações cromossômicas para aumentar o su-cesso das fertilizações) foi exposta em pôster durante o evento, que ocorreu entre 11 e 13 de maio.

Os ginecologistas João Michelon e Fernando Badalotti e a psicanalista Débora Farinati participaram, entre os dias 14 e 17 de junho, do Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE), em Lisboa (Portugal). O evento é o mais importante da área na Europa.

No encontro, os especialistas apresentaram um traba-lho científico da equipe em formato de pôster. A pesqui-sa “Resultados de screening genético pré- implantacional realizados em mulheres com 40 anos ou mais” avaliou as análises genéticas dos embriões de pacientes com idade materna avançada, que se submeteram à fertilização in vitro. O estudo analisou 155 embriões, de 40 ciclos de biópsias embrionárias, de pacientes com idade média de 41,9 anos, entre junho de 2012 e novembro de 2014.

A taxa de gestação observada foi de 53,8%. Os dados confirmaram a alta incidência de aneuploidias em mulhe-res com 40 anos ou mais. Quando essas pacientes apre-sentaram embriões cromossomicamente normais para se-rem transferidos, a taxa de gestação foi similar a pacientes de 30 anos. Os resultados mostram que, embora a técnica de screening genético não melhore a taxa global de gra-videz, ela pode diminuir os abortos por aneuploidias, be-neficiando pacientes com idade materna avançada.

Fertilitat participa de congresso de reprodução humana na europa

ar

qU

iVo

pe

sso

al

Fertilitat expõe pesquisa em conFerência nos estados unidos

jeFFersoN berNardes

Page 25: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

25edição nº 9 JUlHO 2015

No mesmo prédio em que fica localizada a clínica, é no laboratório do Fertilitat que ocorre a retirada de óvulos das futuras mães e a fertilização in vitro. O material é manti-do em estufas e incubadoras, com meio de cultivo adequado. O desenvolvimento dos embriões passa por cuidadosa observação. Óvulos e sêmen destinados ao congelamen-to são transferidos. Células são retiradas pa-ra biópsia embrionária, em uma avaliação que permite auferir a composição genética do embrião.

Laboratório em sintonia com a ciência de ponta

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

– É um trabalho meticuloso, que garante que o laboratório ofereça as me-lhores condições para o casal ter a gravidez, desde o cuidado com cada equi-pamento, controles e meios de cultivo, tudo o que entra em contato com esse material, esclarece Ricardo Azambuja, diretor do laboratório.

Além da afinação perfeita de cada instrumento nessa orquestra tecnológi-ca, não existe passo, por minúsculo que seja, que passe desacompanhado pe-la observação atenta de pelo menos um segundo profissional.

O dinamismo das descobertas na área também se faz sentir no andar térreo do Fertilitat. Avanços científicos e tecnológicos tendem a redundar em aumen-to na demanda da clínica e, por consequência, mudanças no ambiente de tra-balho de Ricardo, cujos colegas vieram crescendo em número: de zero para os atuais cinco.

– Em relação ao ano anterior, sempre mais pacientes vêm fazer procedimen-tos. Adaptamos a estrutura com a contratação de mais pessoas e, cada vez que incorporamos uma técnica diferente, é mais um trabalho adicionado ao labo-ratório. Não basta se manter atualizado em leituras, em ciência. É preciso tam-bém investir em equipamentos, treinamento, pessoas. Existe um investimento em todos aqui, tanto na área médica quanto no laboratório, porque são seto-res que não funcionam sozinhos, observa.

Page 26: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Fazendo Ciência

Somente nos últimos meses, os estudos em reprodução assistida alcançaram duas façanhas que ganharam manchetes em todo o mundo. Em Toronto, no Canadá, um bebê nasceu a partir de um método que promete possibilitar a gravidez de mulheres com disfunções nos óvulos. A técnica envolve a remoção das mito-côndrias de células-tronco retiradas do ovário.

A premissa é de que mulheres de idade mais avançada apresentam óvulos de pior qua-lidade por terem pouca energia. Um experi-mento feito décadas atrás retirou, de uma pa-ciente jovem, mitocôndrias (estruturas que produzem energia para as atividades da cé-lula) que foram injetadas, em seguida, no óvu-lo da paciente mais velha. Deu certo, mas en-volveu os DNAs de três pessoas (duas “mães” e um pai), o que não foi autorizado. A dife-rença é que, nesse caso recente, não existe uma terceira origem de DNA mitocondrial, explica Ricardo.

Agora, são necessários mais informações e testes para que a descoberta seja ratificada e considerada segura. Caso o procedimento vin-gue, o embriologista prevê que um grande nú-mero de mulheres irá se beneficiar, especial-mente aquelas com mais de 39 anos, com me-nor produção de óvulos.

Novas pesquisas

A segunda façanha vem da França e traz boas notícias para homens que não apre-sentam produção de células reprodutivas: a companhia Kallistem alega ter criado es-permatozoides in vitro a partir de células “imaturas”. De acordo com a empresa, a pesquisa “abre caminho para terapias ino-vadoras para preservar e restaurar a ferti-lidade masculina, um problema real na so-ciedade global, onde observamos há 50 anos uma diminuição de 50% na contagem de esperma”.

“Homens que, por alguma deficiência, não conseguem produzir nenhum esperma-tozoide e têm apenas as células primordiais (espermatogônias) serão, finalmente, con-templados. Poderemos abranger uma outra área de dificuldades”, comemora Ricardo.

O embriologista estreou no laboratório do Fertilitat em 1999, cinco anos depois de completar um Doutorado em Fisiologia da Reprodução na Texas A&M University, Esta-dos Unidos. Na bagagem, vinha a experiên-cia de acompanhar de perto o desenvolvi-mento de novas técnicas de fertilização in vitro, o que se provaria um trunfo no labo-ratório de uma clínica sempre em harmonia com a vanguarda da ciência.

26 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

Na

bo

r g

oU

lart

Ricardo Azambuja, diretor do laboratório de embriologia

Page 27: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

O papel da enfermagem na reprodução assistidaJuliana Lanziotti | Enfermeira

Grande parte dos casais que procuram pela investi-

gação da infertilidade e a possibilidade de um tra-

tamento para engravidar deixou para mais tarde o sonho

da realização do desejo de conceber um filho. Um dos

principais fatores é a decisão de desenvolver uma carreira

profissional antes de aumentar a família. Outros fatores

como disfunções hormonais, endometriose, SOP, seque-

las de DSTs, os fatores genéticos, o uso de drogas, podem

acometer os casais com dificuldades para engravidar.

A incerteza do tratamento gera medo, angústia e an-

siedade, deixando os envolvidos com muitos questiona-

mentos e incertezas. Para o sucesso do tratamento de re-

produção humana assistida, é fundamental que haja o ca-

rinho, o respeito e a dedicação dos profissionais envolvidos

e que estes estejam preparados para lidar com questões

emocionais e sociais, peculiares de cada casal.

Segundo Badalotti, Petracco e Teloken, “a infertilidade

não é um tema comum, tampouco é fácil de trabalhar. É

um tema forte e mobilizador, que sacode estruturas e des-

perta vários tipos de ansiedade, nem sempre detectadas

ou reconhecidas por parte dos profissionais”. Frente a is-

so, durante o processo de investigação da infertilidade,

juntamente com os demais integrantes da equipe multi-

profissional, é de suma importância que o enfermeiro e os

técnicos de enfermagem que acompanham e participam

em tempo integral do desenvolvimento desse processo

com o casal estejam treinados e capacitados adequada-

mente para oferecer o suporte necessário do início ao fim

do tratamento.

Para alcançar melhores resultados, é essencial a união

e a integração de toda a equipe de saúde (médicos, em-

briologistas, enfermeiro e técnicos de enfermagem) aliada

à ciência e ao conhecimento, transmitindo ao casal em in-

vestigação e em tratamento mais segurança e confiança

com a assistência prestada, diminuindo o medo e a ansie-

dade. O comportamento do enfermeiro e dos técnicos de

enfermagem, e também de todos os outros profissionais

envolvidos, com relação aos pacientes e familiares, baseia-

se no respeito, na compreensão do complexo e delicado

momento e na preservação dos seus direitos e sigilos.

Os profissionais da enfermagem têm um papel funda-

mental no tratamento do casal infértil. São importantes

pela sua participação em todo o processo, desde a entra-

da no serviço, durante o tratamento até a alta para o obs-

tetra iniciar o pré-natal.

Por ser um momento muito estressante na vida do ca-

sal, no período em que antecede o exame de B-HCG o

enfermeiro mantém um contato mais próximo com eles,

diminuindo a ansiedade e colaborando para que todo o

tratamento transcorra de maneira natural.

Artigo

27edição nº 9 JUlHO 2015

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

Page 28: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Tempo de amamentação Vida Acadêmica aumenta inteligência

e renda futura dos bebêsJá é lugar-comum lembrar que o leite materno protege o

bebê contra diversas doenças e alergias, mas uma pes-

quisa publicada em março deste ano acaba de apontar que

não só a saúde, como também a educação começam no

ato de amamentar.

Em um estudo de fôlego que monitorou 3.493 indiví-

duos ao longo de três décadas, pesquisadores da Univer-

sidade Federal de Pelotas (UFPel) identificaram que crian-

ças amamentadas por pelo menos um ano obtiveram, aos

30 anos de idade, quatro pontos a mais em testes de Q.I.

e vantagem de cerca de R$ 350 na renda mensal em rela-

ção aos participantes submetidos a apenas um mês de alei-

tamento materno.

Os dados se destacam por sugerir que o tempo de ama-

mentação tem incidência de longo prazo sobre a constitui-

ção da inteligência e a renda futura dos recém-nascidos.

Iniciado em 1982 e coordenado pelos professores Cesar

Victora e Bernardo Horta (ambos do Centro de Epidemio-

logia da UFPel), o estudo foi publicado em uma das revistas

científicas mais importantes do mundo, The Lancet, sendo

o primeiro internacionalmente a traçar relação direta entre

amamentação e renda.

Esse foi também o primeiro estudo no Brasil a concluir

pelo impacto da amamentação no Q.I., que seria explicado

pela presença, no leite materno, de ácidos-graxos satura-

dos de cadeia longa, essenciais para o desenvolvimento do

cérebro.

“A amamentação está associada ao aumento de perfor-

mance em testes de inteligência 30 anos depois, e pode ter

um efeito importante na vida real, ao aumentar o desempe-

nho escolar e a renda na idade adulta”, conclui o time de

pesquisadores, ressaltando os efeitos tanto individuais quan-

to sociais do aleitamento materno.

Para se certificar de que os resultados mantinham elo

com a amamentação, os cientistas monitoraram outras dez

variáveis com possível influência, como a renda familiar ao

nascimento, o grau de escolaridade dos pais, ancestralida-

de genômica, tabagismo materno durante a gravidez, idade

materna, peso ao nascer e tipo de parto.

Também constatou-se que os níveis de amamentação no

Brasil não variavam de acordo com a classe social das mães, ou

seja, quem se deu melhor na vida adulta não necessariamente

provinha de berços mais privilegiados economicamente.

Inicialmente, quase 6 mil participantes foram distribuí-

dos em cinco grupos de acordo com a duração do aleita-

mento. No levantamento final, dentre os 3,5 mil adultos com

acompanhamento completo desde o nascimento, todos

aqueles nutridos por mais tempo com leite materno apre-

sentaram inteligência, escolaridade e renda superiores. Quan-

to maior o tempo de aleitamento, maiores os benefícios.

pátria amamentadoraDe acordo com levantamento do Ministério da Saúde

com quase 120 mil crianças, o tempo médio do período de

aleitamento materno no país cresceu um mês e meio, pas-

sando de 296 dias (1999) para 342 dias (2008). Ainda em

2008, 41% das mães brasileiras dedicavam os seis primeiros

meses de vida do bebê à amamentação exclusiva, cumprin-

do recomendação da Organização Mundial de Saúde. Esti-

ma-se que esse índice já tenha aumentado em 10,2%.

“Os impactos positivos mostrados pela pesquisa da Uni-

versidade de Pelotas são mais um motivo para o investimen-

to contínuo do Ministério da Saúde, pensando no desenvol-

vimento pleno das crianças durante a vida”, afirma o coor-

denador de saúde da criança e aleitamento materno do

Ministério da Saúde, Paulo Bonilha.

28 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Page 29: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Fertilitat no Facebook

facebook.com/pages/Fertilitat-Centro-de-Medicina-ReprodutivaSaiba mais em: www.fertilitat.com.br twitter.com/fertilitat

Casal esconde gravidez de gêmeos e filma a reação de amigos e familiares ao descobrirem o segredo

Sharon e Korey Rademacher guardaram um grande segredo durante 9 meses. Os dois disseram que não revelariam aos amigos qual era o sexo do bebê... mas, na verdade, estavam escondendo algo bem maior: Sharon estava grávida de gêmeos. As reações de amigos e familiares que foram conhecer o(s) bebê(s) na maternidade ou até via Skype foram impagáveis!

2.425 visualizações

Relação entre amamentação prolongada e inteligência

A amamentação prolongada pode contribuir para que a criança seja mais inteligente na idade adulta, diz um estudo brasileiro publicado na revista The Lancet Global Health. Realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e dirigido por Bernardo Lessa Horta, o estudo acompanhou o desenvolvimento de 3,5 mil crianças nascidas em 1982 e amamentadas por períodos variáveis. Trinta anos mais tar-de, os pesquisadores constataram que a amamentação foi benéfica para todos. O benefício foi maior para as crianças que receberam lei-te materno por um período mais longo.

995 visualizações

Papel do pai na amamentação

Em uma pesquisa da Universidade de Ontario (Canadá), 214 novas mães e seus parceiros foram divididos em dois grupos. Um deles recebeu suporte sobre amamentação no hospital e o outro buscou ajuda por conta própria. Mais de 95% das mães do primeiro grupo continuaram amamentando três meses depois do estudo, enquanto que 88% das outras ainda davam o próprio leite ao filho. As mães que tiveram apoio de seus parceiros relataram mais confiança para cuidar e amamentar seus bebês do que as demais mulheres.

951 visualizações

Dia do Obstetra

Por ocasião do Dia do Obstetra, comemorado em 12 de abril, a ginecologista Adriana Arent falou sobre a importância desses profissionais. Adriana destacou que o obstetra acompanha a gestação desde a pré-concepção, garantin-do assim mais segurança tanto para o bebê quanto para a mãe.

2.268 visualizações

Dicas de etiqueta na visita ao recém-nascidoA chegada de uma criança ao mundo é, sim, motivo de celebração. No entanto, é preciso ter calma, porque nesse momento cria-se uma nova família, que precisa se conhecer e se adaptar às mudanças que acontecem bruscamente, mesmo que tenham sido precedidas por nove meses de preparação. Quando for visitar o recém-nascido, vale seguir algumas dicas para evitar gafes.

872 visualizações

Dia Mundial da Enfermagem

No dia 12 de maio foi comemorado o Dia Mun-dial da Enfermagem. A data, uma homenagem a Florence Nightingale, profissional conhecida como a pioneira da Enfermagem, celebra esses profissionais que atuam em todas as áreas da saúde, auxiliando na assistência e recuperação do ser humano. “Carinho e cuidado norteiam o sentido de nossa profissão”, destaca a enfer-meira do Fertilitat Juliana Lanziotti, ao salientar a importância social e a contribuição dos pro-fissionais de Enfermagem à sociedade.

724 visualizações

Redes Sociais

29edição nº 9 JUlHO 2015

Page 30: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Os caminhos da genética na reprodução

Dra. Maria Teresa Sanseverino

Geneticista Maria Teresa Sanseverino explica como a medicina descobre e evita a transmissão de anomalias genéticas antes da gestação

Geneticista

genéticas que comprometem áreas críticas do metabolismo, causando doenças graves. O trabalho prático foi desenvolvi-do no laboratório de Genética do Hospital de Clínicas. Du-rante o mestrado fui contratada como médica do Serviço de Genética Médica, onde continuo trabalhando até hoje. A gen-te acompanha a evolução do conhecimento nessa área, por-que dependemos muito da tecnologia na parte de diagnós-tico pré-natal, pré-implantacional... Isso tudo a gente vai ven-do acontecer, e ainda tem muita coisa pela frente.

2. como responsável pelo programa de aconselhamen-to genético pré-Natal e reprodutivo do Hospital de clí-nicas de porto alegre (Hcpa), quais são as dúvidas mais comuns que a srª identifica entre os pacientes?

A maioria dos casos encaminhados para avaliação gené-tica reprodutiva envolve algum antecedente pessoal ou fa-miliar de anormalidades. De modo geral, a principal preo-cupação dos casais é identificar os possíveis riscos de anor-malidades para seus filhos e o que fazer para preveni-los.

3. Há como prevenir defeitos congênitos?

Sim, algumas medidas podem ajudar a prevenir deter-minados defeitos congênitos. Sabe-se que o uso de ácido fólico, iniciado antes da concepção e continuado até pelo menos os três meses de gestação, reduz a probabilidade de incidência e recorrência de defeitos de fechamento do tubo neural (como anencefalia e meningomielocele), além de pa-recer apresentar um efeito protetor em relação às fendas orais e às cardiopatias congênitas.

O álcool é a principal causa de retardo mental prevení-vel. Não existe dose segura de álcool na gestação. Trata-se de uma molécula que passa pela placenta e vai direto para o cérebro. E o cérebro do bebê está se desenvolvendo des-de a concepção até o segundo ano de vida.

Atualmente, tornou-se possível a prevenção de doenças gênicas para os casais que já tiveram um filho com doença

Entrevista

1. quando surgiu o seu interesse pela área da genética?

Após a conclusão do curso de Medicina na PUCRS, minha formação inicial foi de Pediatria. Meu interesse definitivo pela área surgiu a partir do mestrado, iniciado dois anos após a resi-dência. A área do mestrado era bioquímica, na UFRGS, e a dis-sertação foi sobre Erros Inatos do Metabolismo (EIM) em crian-ças agudamente doentes. Os EIM são um grupo de doenças

30 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

jeFF

er

soN

be

rN

ar

de

s

Page 31: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

recessiva grave ou que, sabidamente, são portadores de mutações já identificadas em uma família. Através do Diag-nóstico Genético Pré-implantacional (PGD), também é pos-sível evitar a transmissão de uma doença gênica dominante para os filhos. O PGD pode ser oferecido para casais que apresentam rearranjos cromossômicos balanceados e com risco aumentado de anormalidades na prole.

4. a gravidez tardia representa riscos?

A idade materna está relacionada, principalmente, a doen-ças cromossômicas, e o que mais vai aparecer, do ponto de vista epidemiológico, é a Síndrome de Down. Há uma as-cendência exponencial: a chance de nascer um bebê com Síndrome de Down começa em 1 para cada mil casos. Aos 30 anos, 1 pra 900. Aos 40 anos já é de 1%, e aos 45 é 5%. As demais alterações cromossômicas estão na mesma cur-va. E, se olharmos a curva da fertilidade, é o espelho dessa: a fertilidade vai caindo, e, certamente, os dois fatores estão relacionados. Quanto maior a idade, menor a chance de ter um embrião normal para transferir.

5. quais são as diferentes formas de diagnóstico gené-tico, e quando cada uma delas deve ser indicada?

O PGD é indicado para casais que tenham risco de anor-malidades específicas: doenças cromossômicas, doença gê-nica específica. O PGS (Screening Genético Pré-implanta-cional, na sigla em inglês) é indicado para vermos anorma-lidades cromossômicas em geral, principalmente para falhas repetidas de implantação ou casais com idade avançada. Conhecida a mutação, pode-se descobrir quais embriões a herdaram. A biópsia do embrião em si é igual; o que se faz com aquele material é que difere.

6. como a pesquisa e os congressos mais recentes per-mitem vislumbrar o futuro da área?

Estive há pouco em um congresso sobre fibrose cística em Gramado, e, em seguida, em um congresso em Chicago sobre PGD. O de fibrose cística teve dois aspectos especial-mente importantes. Primeiro: oportunizar a paternidade pa-ra homens que até pouco tempo eram considerados infér-teis. O homem com fibrose cística tem ausência de esper-matozoide na ejaculação, pela obstrução dos canais: era considerado infértil e ponto final. Desenvolveram-se técnicas para recuperar espermatozoides e fazer a reprodução assis-tida com um único espermatozoide. Segundo: evitar o nas-cimento de uma criança com a mesma doença dos pais, através do PGD. A disponibilidade, aqui, é recente. Nenhum convênio ou serviço de saúde pública oferece PGD ainda. O grande diferencial da clínica é ter a tecnologia, o avanço científico e os recursos. Fazemos aqui todo o tratamento da reprodução e a biópsia do embrião, um procedimento de-licadíssimo, que requer grande prática e habilidade.

7. e quanto ao congresso em chicago?

Lá, apresentamos um trabalho mostrando que, embora já se soubesse que 50% dos abortos espontâneos envolve ano-malia cromossômica, essas anomalias são muitíssimo mais fre-quentes do que se acreditava, em termos de biópsia do em-brião. Dizia-se que o nascimento era a ponta de um iceberg: na verdade, o que a gente viu agora é que o iceberg é muitís-simo maior, e que essas alterações, muitas vezes, estão na raiz da infertilidade, mesmo em casais relativamente jovens.

8. o que reforça que, em biologia, o milagre da vida é questão de tentativa e erro.

Exatamente. E também que há casais com maior predis-posição a esse tipo de acidente. A gente pensava, teorica-mente, que isso podia acontecer, e é efetivamente o que es-tamos vendo. Em termos da reprodução, nos ajuda porque, se conseguirmos selecionar um embrião mais normal, sabe-mos que terá mais potencial de dar certo.

9. sobre essa seleção de embriões, alega-se que a medicina genética pode dar margem para a eugenia, o “melhoramen-to” evolutivo da espécie. existem riscos nesse sentido?

É uma boa pergunta. O aconselhamento genético é sempre não diretivo. A gente nunca recomenda “tenha” ou “não te-nha” filhos, “pode” ou “não pode” engravidar. Apenas opor-tunizamos a informação necessária para que as pessoas to-mem a melhor decisão para si próprias. Vamos dizer que o risco é 25%, e o casal toma a decisão de ter ou não a gesta-ção. Há uma grande paranoia sobre o quanto a reprodução assistida interfere na diversidade genética. Apontam ques-tões eugênicas, de manipulação genética. É uma fantasia de alcance muito maior do que o nosso. E é contraproducente, pois prejudica o trabalho que temos feito, todos os benefí-cios que trazemos.

10. quais são os desafios cotidianos de trabalhar em uma especialidade que mobiliza grandes investimentos emo-cionais dos pacientes?

Houve pacientes que acompanhei em duas, três gesta-ções, e em cujas gestações iniciais ocorria má formação. Mas no diagnóstico pré-natal são esporádicas essas situações. Os casos mais agudos envolvem sofrimento, mas sempre há uma perspectiva futura de dar certo. O que faz muita diferença, no trabalho que fazemos aqui, são as equipes multidiscipli-nares. Tu podes contar com toda a parte técnica, das diver-sas áreas, e com suporte psicológico. E isso tudo faz muita diferença nos momentos mais delicados. Lidamos bastante com momentos críticos, mas com a vantagem de já termos visto muitas famílias passarem por isso, se organizarem e su-perarem, com a oportunidade de ter filhos e seguir adiante. Essa é a maior gratificação do trabalho.

31edição nº 9 JUlHO 2015

Page 32: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Fertilitat na Mídia

Bom Dia – Erechim – 12.12.2014

O jornal Bom Dia, de Erechim, publicou entrevista com a diretora do Fertilitat, Mariangela Badalotti. A especialista es-clareceu dúvidas sobre infertilidade.

Jornal do Comércio – 17.10.2014

O Jornal do Comércio publicou reportagem es-pecial sobre reprodução assistida, no caderno do Dia do Médico. O Fertilitat participou com entrevista do diretor Alvaro Petracco.

Caderno Vida – Zero Hora – 20.12.2014

Na edição de 2014, o caderno Vida, da Zero Hora, des-tacou o prêmio recebido pela ginecologista Rafaella Petracco, do Fertilitat, em congresso mundial realizado em Paris, na França.

Record – 18.12.2014

Mariangela Badalotti participou de reportagem da Record RS sobre fertilidade em casais com HIV.

Zero Hora – 16.01.2015

O trabalho do Fertilitat foi destaque na coluna Informe Especial, do jor-nalista Tulio Milman, na Zero Hora. A nota ressalta as mil fertilizações realizadas pela clínica em 2014.

32 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Fertilitat na Mídia

Page 33: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Diário da Manhã – 19.12.2014

O jornal Diário da Manhã, de Pelotas, publicou o artigo da ginecologista Adriana Arent. No texto, a médica fala sobre a gravidez após o câncer.

Bom Dia Rio Grande – RBS TV – 05.03.2015

A ginecologista Ana Luiza Berwanger, do Fertilitat, par-ticipou do Bom Dia Rio Grande, na RBS TV. A especia-lista falou sobre a endometriose e tirou dúvidas em re-lação à doença.

TVCOM Tudo+ - 05.01.2015 e 26.01.2015

Duas especialistas do Fertilitat foram entrevistadas pelo progra-ma TVCOM Tudo+ em 2015. No dia 5 de janeiro, a ginecologis-ta Rafaella Petracco falou sobre a en-dometriose. Já no dia 26 de janeiro, a médica Adriana Arent discutiu a ques-tão das mulheres que estão engravi-dando cada vez mais tarde.

Zero Hora online e jornal Hora de Santa Catarina – 20.12.2014

A diretora do Fertilitat, Mariangela Ba-dalotti, participou de reportagem do site do jornal Zero Hora sobre dificul-dade para engravidar. O texto tam-bém foi reproduzido no site do jornal A Hora de Santa Catarina.

Record – 14.04.2015

A ginecologista Adriana Arent foi entrevistada pela Record RS. A reportagem foi sobre uma menina que

foi concebida por fer-tilização in vitro para permitir o transplante de células-tronco com-patíveis com a irmã, que sofria com aplasia de medula óssea.

33edição nº 9 JUlHO 2015

Adriana Arent

Rafaella Petracco

Page 34: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Lisboa, capital das conquistas

O Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Hu-mana e Embriologia (ESHRE) ocorreu neste ano em meio a um idioma familiar, embora de sotaque distante. Entre 14 e 17 de junho, os ginecologistas João Michelon e Fer-nando Badalotti, do Fertilitat, participaram do encontro internacional em Lisboa (leia mais na página 24), famosa por suas universidades, institutos e museus, com destaque para o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, criado ainda no século XIV.

Ao porto-alegrense, convém que desembarque em Lisboa o único voo que, decolando daqui, ruma sem escalas até o velho continente. No fim de 2014, a TAP registrava 87,5 mil passageiros transportados e crescimento de 18% em três anos de rota. Com ocupação dos voos na faixa de 87%, a companhia estuda oferecer voos diários até a capital por-tuguesa, que avulta tanto como destino preferencial quan-to como primeira parada em um giro pela Europa.

São muitos os encantos da capital mais ocidental do con-tinente europeu. Se por séculos Lisboa atraiu conquista-dores, na época dos “descobrimentos” a cidade inverteu esse papel, disparando conquistadores mundo afora, ainda antes de sofrer um dos terremotos mais violentos da his-tória. Ali onde a terra despede o rio Tejo ao oceano, uma mistura de Oriente, África e Américas descobriu a Europa pela primeira vez.

Os emblemas máximos desse cruzamento de culturas são o Mosteiro dos Jerônimos (construído em 1502) e a Torre de Belém (1519), em que a arquitetura manuelina combina o romântico, o gótico e o renascentista com a arte islâmi-ca. Caminhar por Alfama, o bairro mais antigo da cidade, é provar ainda mais desse tempero árabe, passear por uma antiga casbá feita de ruelas perpassadas pela Cerca Mou-

ra, cuja fundação ainda guarda tijolos do período romano. À noite, nesse labirinto de vias estreitas, se ouvirá o tradi-cional fado harmonizar cântico mouro e guitarra portugue-sa, e subindo a colina pode ser que a música chegue ao Castelo de São Jorge, fortificação muçulmana rebatizada ao gosto católico do século XIV. A partir dos mirantes do bairro, a cidade se deita à vista e escorre, esplêndida e ho-rizontal, até as águas do Tejo.

Na zona do Chiado, epicentro da efervescência literária oitocentista, Fernando Pessoa cruza as pernas, petrifica-do em estátua. Além de ótima região para compras, o Chiado está repleto de teatros, entre eles o São Carlos, principal casa de ópera da cidade. A cidade conta com excelentes (e gratuitas) opções de walktours. É interes-sante planejar o passeio guiado para o primeiro dia, o que refina o olhar dos dias seguintes. Como nem sempre as subidas favorecem o pedestre, vale pegar um dos char-mosos bondinhos da Carris. Com um passe diário de cer-ca de 6 euros, tome o bonde 28 e serpenteie pela Lisboa histórica. Para quem vai de carro, a dica é percorrer a ponte Vasco da Gama, a mais longa da Europa, com 17,2 km de comprimento; e, se houver tempo, espichar até a belíssima Serra de Sintra.

Não há como sair sem provar pataniscas de bacalhau, pei-xinhos da horta ou sardinhas assadas. Outro prato típico é o bife à café, imortalizado pelo Marrare das Sete Portas, café inaugurado em 1804 e frequentado pelos boêmios do século XX. Para a sobremesa, é claro, pastéis de Belém, que podem ficar para o turno dedicado aos cartões-postais de Lisboa: próxima à Torre e ao Mosteiro dos Jerônimos, a Antiga Confeitaria de Belém conserva a receita tradi-cional do doce. Nessa freguesia, um lanche completo sai por menos de 10 euros.

Dicas de Viagem

Lisbon, Rossio Square

34 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Page 35: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Caldo de Aspargos Frescos combina com o inverno

Caldo de Aspargos Frescos

Ingredientes

2 maços de aspargos frescos

1 cebola

1 dente de alho

4 colheres de sopa

de farinha de trigo

100g de manteiga

2 litros de caldo de legumes

4 pães italianos redondos

1 gema de ovo

Queijo parmesão

Sal e pimenta do reino a gosto

Modo de preparo

1. Em uma panela, refogar a cebola e o alho na manteiga.2. Acrescentar a farinha de trigo, mexendo para não formar

grumos.3. Colocar os aspargos picados.4. Aos poucos, acrescentar o caldo de legumes.5. Depois de ferver, desligar e bater no liquidificador.6. Coar.7. Voltar para panela, temperar com sal e pimenta.8. Deixar em fogo baixo até ferver.

preparo do pão9. Enquanto o caldo ferve, abrir um pequeno furo no pão

italiano e retirar um pouco do miolo.10. Pincelar a gema de ovo na parte interna do pão e polvilhar

com o queijo parmesão.11. Levar ao forno pré-aquecido até aquecer.12. Colocar o caldo no pão e servir.

Gastronomia

Magnólia Cine Gastrô BarReceita da Chef Roberta Rech

Rende: quatro porções

Nossa receita vem de Canela, na Serra Gaúcha, apresentando uma sugestão

para celebrar bons momentos com charme e aconchego. Em uma proposta que vai além da gastronomia, o Magnólia – Cine Gastrô Bar convida para uma experiência que une a bele-za vintage do ambiente com o sabor dos pra-tos exclusivos. Um dos destaques do cardá-pio para os dias frios é o Caldo de Aspargos Frescos, da chef Roberta Rech. Ela comanda a cozinha do Magnólia - com foco contempo-râneo - e o Empório Canela, restaurante de cozinha bistrô.

O caldo de aspargos foi pensado para ser um momento de acalento. “Ele também agra-da os olhos das pessoas. Não é só uma refei-ção, a intenção é aproximar e ter um calorzinho no inverno”, explica a chef. Roberta Rech tem sido reconhecida como um dos destaques da gastronomia gaúcha. Seu talento vai dos pra-tos sofisticados às receitas mais simples. Em

todas, muito sabor e harmonia nos detalhes.

Ela começou o trabalho das duas casas gas-tronômicas: o Empório, há oito anos, e o Mag-nólia, há um ano. O último, um desafio na car-reira. “Fazer o que se gosta é bom, é difícil porque é novidade, mas se vê a evolução do trabalho, o quanto já amadureceu.”

ambiente que inspiraA receita pode ser preparada pensando na

inspiração do restaurante. O ambiente tem ele-trodomésticos coloridos, como geladeira azul, fogão a gás laranja de pé palito e batedeira vermelha. O casarão teve preservados seus as-pectos arquitetônicos, como as colunas jônicas e as lajotas hexagonais de cor magenta da fa-chada. O interior ganhou decoração vintage dos anos 50 a 70. Os papéis de parede de pa-drão geométrico ou psicodélico, poltronas ca-pitonê de veludo cor cereja e toalhas rendadas de tom nude têm inspiração retrô.

cr

isti

aN

o c

ar

Nie

l

cr

isti

aN

o c

ar

Nie

l

35edição nº 9 JUlHO 2015

Chef Roberta Rech

Page 36: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Crianças francesas não fazem manha: os segredos parisienses na arte de criar filhos

Dicas de Leitura

Você até tenta dormir, mas o choro que vem do berço anun-cia mais uma noite insone. O bebê tem fome, mas reprova a comida, joga tudo longe, vira o prato no chão. Ele bem que avisou, por meio de um escândalo no supermercado, que preferia outra janta. E nesse calvário a maternidade se-gue o seu destino – ou era o que imaginava a jornalista nor-te-americana Pamela Druckerman antes de se casar e ir mo-rar em Paris, onde descobriu crianças que, de tão educadas, até falavam francês.

O contraste foi grande: enquanto o bebê de Pamela reben-tava em choradeira dentro dos restaurantes da Cidade-Luz, os pequenos messieurs e dames, em fraldas, limpavam os cantos da boca com pinceladas de guardanapo e comenta-

vam o acervo do Louvre. Não é para tanto, mas também não fica longe disso: segundo Pamela, os parisienses têm uma receita fabulosa para a criação de filhos bem educados. Os principais ingredientes seriam o estímulo à paciência (das próprias crianças) e o cadre, espécie de “moldura” dentro da qual os pequenos têm absoluta liberdade e fora da qual não têm nenhuma.

Quando um Pierrezinho chora de noite, por exemplo, o ca-sal francês deixa a manha se estender alguns minutos antes de intervir, para dar tempo para o neném se aquietar por conta própria. A consequência, diz a jornalista, é que com dois meses de idade os parisienses já dormem sem acordar os pais. Os brasileiros estariam próximos do método “an-glófono”, que envolve saltar da cama imediatamente e ir remediar todos os reclames do bebê, verdadeira recompen-sa para a astúcia infantil. Enquanto as nossas crianças são paparicadas a cada movimento, as francesas esperam o seu turno de comer nos restaurantes e brincam nos parques sem depender das mães, liberadas para conversar entre si.

Já a “moldura” exige que se estabeleçam limites rígidos e se cultive o NÃO. Pais que aprendem a dizer “não” ensinam os filhos a contrabalancear vontade própria e vontade alheia. Limites para libertar: se a França diz não aos cardápios es-peciais para crianças, é para incentivar o paladar dos peque-nos a provar a diversidade do menu culinário dos adultos.

Qualquer livro que prometa elixir contra a histeria das mães e a tirania dos filhos está fadado a virar best-seller, e o su-cesso da autoajuda de Pamela está garantido desde o título. Convém notar, entretanto, que o livro opera em deslumbra-mento com uma parcela restrita das classes médias de Paris, e não carece apontar o evidente recurso a estereótipos que baliza o jogo de dicotomias nessa tese. Ainda assim, o hu-mor autodepreciativo e o tom mais confessional do que apo-logético embalam uma leitura agradável e esclarecedora.

de pamela druckerman

Crianças francesas não fazem manha: Os segredos parisienses na arte de criar filhos

druckerman, pamela

Editora: FontanarEdição: 1a (4 de janeiro de 2013) | 272 páginasTradução: regiane Winarski

36 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Page 37: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Comentário sobre o livro

i Psicóloga. Psicanalista. Doutora em Educação, com pós-doutorado na mesma área. Coordenadora e docente do curso de Psicologia da UNIFIN – Faculdade São Francisco de Assis. Membro da Enlace – Clínica e Projetos Interdisciplinares e da APPOA – Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Email: [email protected]

ana paula melchiors stahlschmidti

O livro proporciona aos leitores brasileiros uma agradável e instigante leitura, embora provoque, certamente, algum

estranhamento. A começar pelo título, que desafia nossas me-mórias e nos faz buscar em cenas de filmes, viagens ou relatos lembranças que comprovem ou coloquem em xeque a propo-sição de que as “crianças francesas não fazem manha”. Não é preciso buscar muito. Elas fazem manha, como, aliás, qualquer criança. O que talvez demarque a diferença que Pamela Dru-ckerman estabelece entre a educação francesa – com a qual se surpreende após mudar-se para Paris – e a norte-americana, sua cultura de origem, é a forma como os pais se posicionam em re-lação a essas manhas. Sem dúvida, proporcionar à criança uma resposta adequada pode auxiliá-la a lidar com suas frustrações e aprender que seus desejos nem sempre podem ser satisfeitos. E conhecer o “não” permite conviver com pequenas e grandes interdições que viver em grupos como o familiar ou o social exi-gem. Como já nos lembrava Sigmund Freud há cerca de um sé-culo, a vida em sociedade nos demanda abrir mão da satisfação de certos impulsos e a nos adaptarmos a normas. Sejam elas as que permitem que uma criança possa fazer civilizadamente uma refeição em família em um restaurante, como nos relata Druckerman, ou outras mais complexas que a vida exigirá.

Por outro lado, certos aspectos que a autora traz nos causam desconforto ou desacomodam, despertando a impressão de que os pais e professores franceses poderiam ser descritos, do nosso ponto de vista, como “menos afetivos” ou mesmo ríspidos. É preciso lembrar, quanto a isso, que cada cultura traz em si suas marcas, com aspectos mais ou menos sutis, que demarcam dife-renças nas formas de lidar e expressar o amor. E aí está o risco de tomar a obra em questão como “manual”. Talvez, então, não sejamos tão pontuais nas refeições e permitamos um lanchinho fora de hora. Mas também não podemos permitir que a criança escolha sistematicamente almoçar bolachas recheadas, por exem-plo. Da mesma forma, entre deixar o bebê chorar em completo desamparo e pular da cama imediatamente quando ouvimos o som de um simples “resmungo”, o desafio é encontrar nossa própria forma de agir. Cabe lembrar aqui o que Donald Winni-cott (por sinal, britânico) ensina sobre a importância da “mãe su-ficientemente boa”. Pode ser importante a prontidão que dedi-camos a um bebê recém-nascido. Mas é fundamental, em um segundo momento, que a criança conviva com a experiência de suportar frustrações ou não ter a imediata atenção da mãe a qualquer tempo. Nesta gradação às exigências da criança, de

acordo com seu amadurecimento, talvez esteja o segredo do “ca-dre” a que a autora se refere.

O que é essencial, e esse é o aspecto do livro que talvez demande reflexão e nos possibilite, mesmo que eventualmente, modificar algumas das formas de intervenção que utilizamos com nossas crian-ças, é o respeito a elas, no que tange à sua possibilidade de apreen-der os efeitos da cultura em que estão inseridas. Para os aspectos bons e os ruins, as mesmas se mostram, desde o início da vida, permeáveis e capazes de adaptar-se, convivendo com diferentes estilos de educação e tornando-se, com isso, cidadãos franceses, americanos, brasileiros. Capazes ou não de fazer suas refeições em um restaurante de forma educada, mas, especialmente, capazes ou não de respeitar o direito de seus pares, abrir mão da satisfação imediata que exacerba o consumo ou cumprir as leis de seu país. Algo importante, em tempos de constatação de tantas transgres-sões que ocorrem no cenário social e político brasileiro.

37edição nº 9 JUlHO 2015

Page 38: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade

Pelo direito de desmaiarCrônica

Tulio Milman | jornalista e pai de duas meninas

38 Revista do fertilitat - centro de medicina reprodutiva

Trabalhar, cuidar dos filhos, da saúde, da casa. Não é fácil ser pai. Mas é maravilhoso. Muitas vezes, é assim que me

sinto. E não estou louco. Esse é um discurso masculino. Antes, só as mães diziam isso. Mudou. Pra melhor. É lógico que ma-ternidade e paternidade são diferentes. Mas estão mais pare-cidos do que eram duas décadas atrás.

Esse rearranjo de papéis é uma conquista. Para as mulhe-res, mais livres, e para os homens, aos quais eram negadas al-gumas das experiências mais lindas do mundo: trocar fraldas, dar banho, fazer dormir, ver crescer.

Minha filha mais velha tem 12 anos. A noite em que ela nas-ceu foi mágica – e também estranha. Chegamos ao hospital. Minha mulher já estava em trabalho de parto. Foi tudo muito rápido. Marinheiro de primeira viagem, eu mal sabia para onde deveria ir. Perambulei pelos corredores - era madrugada, esta-va quase tudo vazio. Até que, no vestiário, encontrei um médi-co de jaleco e máscara. “Onde fica a sala de parto?”, perguntei. Ele, gentilmente, me explicou. “Obrigado, doutor”, eu disse. E ele: “Doutor? Eu não sou médico, sou o cara que vocês con-trataram para filmar o parto”. Foi ele quem me orientou.

Fui me dando conta que o papel do pai, nessas horas, era absolutamente subvalorizado. Outro exemplo: pais eram de-

sestimulados a assistir aos nascimentos de seus filhos porque muitos desmaiavam. O desmaio do “paizinho”, tratamento genérico e infantilizado dispensado a nós muitas vezes, era um transtorno. Jamais deveria ser. O nome disso é machismo, dos mais cretinos. Um pai tem o direito de desmaiar quando vê seu filho nascer e sua mulher se transformando em mãe. É tão legítimo quanto o grito da dor do parto, o das mulheres.

Também nunca entendi por que, quando minhas filhas nasceram, a pergunta que eu mais ouvia era: “E aí? Tá ba-bando muito?”. Por que eu haveria de babar? E por que a minha estupefação, a minha alegria, a minha emoção preci-sam ser ridicularizadas desse jeito? Existe uma falsa dicotomia nessa história. Todos os cuidados, carinhos e atenções do mundo às mães. Elas merecem e precisam. São divinas, má-gicas, lindas. Mas, para isso, não é preciso impor aos pais um papel ridículo. O de babões.

Já contei essa história. Quem já leu, desculpe. Um dia, faz alguns anos, minha filhinha olhou pra mim bem séria e per-guntou: “Papai, da próxima vez que eu nascer, posso nascer de ti?”. Foi uma das coisas mais lindas que ouvi. E que jamais ouvirei. Respondi que sim. “É claro que sim, minha filha”. Foi só então que entendi o que é ser mãe. E ser pai.

ce

lso

cH

itto

liN

a

Page 39: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade
Page 40: Revista Fertilitat - Ciência & Atualidade