revista fale! edição 58

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Revista de informação ANO VI — Nº 58 OMNI EDITORA www.revistafale.com.br U M CIDADãO O RGâNICO O JORNALISTA E ESCRITOR FLÁVIO PAIVA CHEGA AOS 50 ANOS CONSOLIDANDO UMA PRODUçãO INTELECTUAL QUE VAI DA LITERATURA à MúSICA TODA VOLTADA PARA A EDUCAçãO, A POLíTICA E A CIDADANIA ESPECIAL CULTURA A INCRíVEL MúSICA DE PAULO JOSÉ. A ARTE FOTOGRÁFICA DE PATRICIA PAES Flávio Paiva no Passeio Público, em Fortaleza, tendo ao fundo um monumental baobá com detalhes da arquitetura do centro histórico CAPA: FOTO JARBAS OLIVEIRA 9 771519 953002 00058> R$ 9,00

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Revista Fale! Edição 58. História de Capa. Um Cidadão Orgânico. O jornalista e escritor Flávio Paiva chega aos 50 anos consolidando uma produção intelectual que vai da literatura à música toda voltada para a educação, a política e a cidadania.

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Page 1: Revista Fale! Edição 58

Revista de informaçãoANO VI — Nº 58OMNI EDITORAwww.revistafale.com.br

UM Cidadão orgâniCoo JornaLiSTa E ESCriTor FLÁVio PaiVa CHEga aoS 50 anoS ConSoLidando UMa ProdUção inTELECTUaL qUE Vai da LiTEraTUra à MúSiCa Toda VoLTada Para a EdUCação, a PoLíTiCa E a Cidadania

E S P E C i a L C U L T U r a a i n C r í V E L M ú S i C a d E P a U L o J o S É . a a r T E F o T o g r Á F i C a d E P a T r i C i a P a E S

Flávio Paiva no Passeio Público, em Fortaleza, tendo ao fundo um monumental baobá com detalhes da arquitetura do centro histórico

CAPA

: FOT

O JA

RBAS

OLI

VEIR

A

9 771519 953002 00058>

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10Efeito estufa O Brasil é o quarto emissor

mundial de gases do efeito estufa, mesmo sem a sua matriz energética ser baseada em combustíveis fósseis. Como isso é possível?

EDITOR&PUBLISHER Luís-Sérgio Santos EDITOR SENIOR Isabela Martin EDITOR ASSOcIADO Luís Carlos Martins REDAÇÃO Vitor Ferns EDITOR DE ARTE Jon Romano e

Everton Sousa de Paula Pessoa ARTE Itallo Cardoso ASSISTENTE DE ARTE Luís Sérgio Santos JR REvISÃO Priscila Peres cOLABORADORES Roberto Martins Rodrigues e

Roberto Costa IMAGEM Agência Brasil, Reuters REDAÇÃO E PUBLIcIDADE Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim Sá, 746 Fones: (85) 3247.6101 e 3091.3966

CEP 60.130-050, Aldeota, Fortaleza, Ceará e-mail: [email protected] home-page: www.revistafale.com.br Fale! é publicada pela Omni Editora Associados

Lltda. Preço da assinatura anual no Brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção. Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00, exceto em

promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados não refletem

necessariamente o pensamento da revista. Fale! não se responsabiliza pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o conteúdo editorial de Fale! podem

ser feitos por fax, telefone ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereço do autor. Fale!é marca registrada da Omni Editora Associados Ltda. Fale! é marca registrada no Instituto

Nacional de Propriedade Industrial. Copyright © 2007 Omni Editora Associados Ltda. Todos os direitos reservados. IMPRESSÃO Halley Impresso no Brasil/Printed in Brazil. Fale! is published monthly

by Omni Editora Associados Ltda. A yearly subscription abroad costs US$ 99,00. To subscribe call (55+85) 3247.6101 or by e-mail: [email protected]

S E ç Õ E S06 Talking Heads07 Online

08 Arena Política45 Persona

Março de 2009 Ano VI No 58

ISSN 1519-9533

© 2009 Omni Editora

22Sobrenome Cultura

Roteirista, compositor, escritor, jornalista, poeta, cidadão engajado, muitas

são as palavras que podem servir de sinônimo para o ‘Cidadão Orgânico’

Flávio Paiva.

P o L í T i Ca

34A bela voz Paulo José é dono de um voz

marcante e original. Versátil, passeia com naturalidade por vários estilos musicais rivalizando com artistas do primeiro time da música nacional e internacional.

O Livro do Ano 2008-2009. A história é de quem faz.

O mais completo documento de 2008 e os cenários para 2009.Mais um lançamento da Omni Editora. www.omnieditora.com.br

CAPA

: FOT

O JA

RBAS

OLI

VEIR

A

18A fatura da crise Reunião do G-20 decide que

governos teram que injetar recursos para tirar a economia mundial do buraco. A fatura da crise logo vai chegar para o cidadão.

EspecialCU LT U r a

38Portfólio universal A ex-modelo cearense Patrícia

Paes girou o mundo, ganhou know-how como fotógrafo profissional e hoje, dona de um rico portfólio, se dedica ao editorial de moda e publicidade.

E n T r E V i S Ta

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Page 6: Revista Fale! Edição 58

TalkingHeadsAd commodum suum quisquis callidus est.

Ad commodum suum quisquis callidus est.

Se a prefeita diz que os hospitais públicos estão uma maravilha, por que ela não se internou num hospital público?

lácido Filho, vereador (PDT), não perdeu a oportunidade de criticar a gestão municipal.

o problema da Luizianne não poderia ser resolvido em hospital público.

Acrísio senA, líder da prefeita na Câmara de Fortaleza, respondendo a provocação do vereador Plácido Filho (PDT), que disse que Luizianne Lins deveria ter se tratado do pico hipertensivo que sofreu na semana passada em hospital da rede municipal.

a administração já está parada. Se foi sugerido para ela diminuir sua carga horária, agora nós vamos andar é de marcha-ré.

ciro MArQUes, vereador - PTC, ironiza orientações médicas que sugeriram diminuição da carga de trabalho de Luizianne Lins.

P r E S S ã o , M U i T a P r E S S ã o Há a necessidade de uma reforma

exaustiva no sistema regulador financeiro.

BArAck oBAMA, presidente dos EUA, buscando alternativas para superar a crise financeira e moral do sistema monetário americano.

a n T E S T a r d E d o q U E n U n C a

quando eu era sindicalista, eu culpava o governo. quando eu era da oposição, eu culpava o governo. quando eu virei governo, eu culpei a Europa e os Estados Unidos.

lUlA, citado pelo primeiro-ministro britânico Gordon Brown.

não vamos depender do bom humor de ninguém, vamos nos virar.

lUiz inácio lUlA dA silvA, Presidente da República, afirmando que vai reduzir a dependência brasiliera do Gás natural da Bolívia.

não sei por que agora resolveram tirar todos os esqueletos do armário.

José sArney, (PMDB-AP) presidente do Senado, sobre as várias denúncias que atigiram o Senado no mês de março.

Como diria a negrada da Praça do Ferreira, tô ficando é velho e não doido!

ciro GoMes, deputado federal PSB-CE, sobre uma aproximação com o PSDB de José Serra para as eleições presidenciais em 2010.

Se tivesse outra chance, não teria bloqueado a poupança de pessoas físicas e jurídicas.

FernAndo collor de Mello, ex-presidente da república e atual senador pelo PTB-AL, admitiu que o bloqueio da poupança, medida adotada por ele em 1990, a pretexto de conter inflação, foi um grande equívoco de seu governo. [A AIDS] não pode ser

derrotada pela distribuição de preservativos. Pelo contrário, eles só aumentam o problema.

pApA Bento Xvi, em sua primeira viagem à África, onde concentram-se 75% das mortes por Aids no mundo.

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OnLine

O Google Earth 5 cai na rede cheio de

novidade, entre elas o “Ocean”, agora é possível também explorar o fundo do mar. Posteriormente, informa o Google, rios e lagos serão acrescentados nas próximas versões.O Google informa ainda que será possível navegar

em torno de vulcões submarinos representados em três dimensões, acompanhar a viagem de uma baleia ou visitar a Grande Barreira de Corais na Austrália. O “Ocean” se dirige tanto à comunidade científica quanto ao grande público, que poderá partilhar suas experiências on-line, como por exemplo os melhores locais para surfar.

o Q U e é n o v o

Geografia virtual

McDonald’s ganha clientes com Wi-Fi gratuitoCafés da manhã com BigMac estão ficando mais comuns no Reino Unido, mas o que atrai os consumidores aos restaurantes do McDonald’s não são necessariamente os sanduíches. Um artigo publicado no jornal britânico The Guardian observa que a rede de fast-food tem atraído um grande número de novos clientes devido o acesso sem fio e gratuito à internet que os restaurantes oferecem.

Toca baixoProjeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados quer proibir a venda de aparelhos de MP3 que toquem acima de 90 decibéis. O projeto, de autoria do deputado Jefferson Campos (PTB-SP), inclui ainda aparelhos “de múltiplas funções capazes de reproduzir música em formato digital”, como celulares por exemplo. Segundo o deputado, o objetivo é evitar a perda de audição, o problema “já é frequente entre os jovens”.

O fim do Internet ExplorerA Microsoft já trabalha para aposentar e substituir o Internet Explorer, o nome do novo projeto é Gazelle (Gazela). A intensão da empresa é estancar as perdas provocadas pelos concorrentes Firefox, Opera, Safari e Chrome.Não foi divulgado quando o Gazelle estará disponível aos internautas.

A saga do Blu-ray Um ano após a Toshiba agitar a bandeira branca e

abandonar o mercado de alta definição com seu HD DVD, o padrão Blu-ray enfrenta o estranho processo

de ser o vencedor da batalha, mas ainda não colher os louros da vitória.

O formato de alta definição liderado pela Sony enfrenta agora outros rivais, mais cruéis, no Brasil: preços altos tanto do players como da mídia. O “ultrapassado” DVD player pode ser levado para casa por menos de 100 reais. Entre os discos, um lançamento de Blu-ray sai por até 90 reais, quase o dobro da média de 50 reais pedida por novidades em DVD. Ao que parece, nenhum setor da cadeia, seja fabricante ou consumidor, dá o primeiro passo para justificar uma penetração em massa do laser azul.

Livro remoto

Um aplicativo recém-lançado pela Wikimedia Foundation permite que os fãs da

Wikipedia imprimam suas páginas com os verbetes preferidos em formato de livro.

O recurso, chamado Wiki-to-print, foi feito em parceria com a startup alemã PediaPress e já recebeu sua versão em português.

O livro personalizado pode ser criado a partir de uma lista de conteúdos e categorias e, então, ser baixado como arquivos gratuitos em PDF. Também há a opção de encomendar um livro impresso.

Os livros da companhia medem 13 por 20 centímetros, com interior em preto e branco. O valor depende do número de páginas – a partir de 8,90 dólares por 100 páginas.

Google e a invasão de privacidadeUma juíza federal dos Estados Unidos rejeitou uma ação movida por um casal de Pittsburgh que alegava que a ferramenta Street View, do Google Maps, violava a privacidade. A Street View mostra fotos em 360 graus, no nível da rua, tiradas por veículos do Google especialmente equipados para fazer essas imagens. O Google, por sua vez, afirma que a companhia respeita a privacidade individual e disponibiliza ferramentas para manter esta privacidade. “É lamentável que os envolvidos decidam entrar com uma ação ao invés de usar estas ferramentas”, acrescentou o Google em seu comunicado.

[ A segunda maior quota de mercado no mundo é do Windows pirata ou sem licença. Este é um

concorrente difícil de vencer: ele tem um bom preço e é um produto indiscutivelmente muito bom, mas nós estamos trabalhando nisso.]

steve BAllMer, ceo da Microsoft

A revolução dos netbooksTudo começou quando a Asus lançou em 2007 seu mininotebook de baixo custo, o EeePC. O computador, do tamanho de um pequeno caderno, com tela e teclado apertados e pouca capacidade de memória, foi considerado um sucesso e todos os outros fabricantes de PCs entraram nessa. O nome netbooks é um corruptela de “notebook”, que ao mesmo tempo indica um dos grandes trunfos desses aparelhos: conexão com a internet. Em 2008, foram vendidos mais de 5 milhões de unidades no mundo.

Diga não ao SpamMuito spam na sua caixa de e-mail? Também pudera, o volume de lixo eletrônico no Brasil tem crescido a uma velocidade que já nos coloca em segundo lugar no ranking mundial. Segundo dados da Symantec, 10% de todos os e-mails indesejados registrados em janeiro em todo o mundo foram provenientes de computadores brasileiros. No primeiro posto, estão os Estados Unidos, 23%. O terceiro lugar é da China, 7%, seguida pela Índia, 4% e Coreia do Sul, 3%.

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Page 8: Revista Fale! Edição 58

ArenaPolíticaLula e Obama em entrevista após comversa reservada

obaMa qUEr TroCar PETróLEo da VEnEzUELa PELo do braSiL

o jornal espanhol El Pais publicou uma matéria, sugerindo que o presidente norte-americano Barack Obama, trataria em seu encontro com o presidente Lula ocorrido

no dia 14 de março, sobre a possibilidade do Brasil exportar petróleo para os EUA.

Segundo a reportagem, a decisão final depende apenas do governo brasileiro, já que o negócio poderia afetar fortemente a economia da Venezuela, que exporta grande parte de sua produção de petróleo para os EUA. Obama acredita que as reservas do pré-sal brasileiro, são a salvação da dependência do petróleo

venezuelano. A situação política brasileira, muito mais estável que a da Venezuela, também é outro forte argumento. Ainda, a localização geográfica mais vantajosa do Brasil em relação a costa leste americana - a região mais desenvolvida -, completam o cenário favorável para a concretização de um acordo.

Mas Lula já deixou claro que está mais interessado na venda de derivado, como a gasolina, que resultam em muitos mais lucros que a venda do petróleo cru. E é ai que a região nordeste pode ser bastante beneficiada, através das refinaria de Pernambuco – em construção, Ceará e Maranhão – com projeto em andamento. Se o Brasil decidir exporta apenas derivados, em detrimento do petróleo cru, Obama vai enfrentar a concorrência de China e Japão, que já anunciaram interesse nos derivado brasileiros.

Após o encontro com Obama, Lula não quis cometar sobre o assunto, alias, o presidente brasileiro parece está mais interessado em exporta etanol do que petróleo para os EUA.

Sem concorrência, TAM e Gol casam a batizamEnquanto em mercados como Estados Unidos a competição em preços da passagens aéreas se dá até no balcão dos aeroportos, no Brasil o setor está cartelizado, controlado por duas companhias que mandam no mercado sob o olhar omisso e até conivente dos órgãos reguladores. Os preços de passagens de TAM e Gol são praticamente iguais, as política de relacionamento com os clientes são as mesmas, idem para os serviços de bordo. É pegar ou largar.

Os Amigos da Presidente Dilma“Sou a favor do 3° mandato para o Lula: por isso voto em Dilma.” Esse é o lema do blog Os Amigos da Presidente Dilma criado para ‘divulgar’ a então ministra da casa civil e presidenciável Dilma Rousseff. Na rede desde maio de 2008, o blog repercute o dia-a-dia da ministra e suas ‘melhores’ notícias e declarações.

Quem não chora...O prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PR) e de Caucaia, Wellington Góes (PRB), reclamam da parceria para execução de obras anunciadas entre o governador Cid Gomes e a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. Segundo os prefeitos, a capital, tem melhor condição de custear projetos importantes em relação aos outros 11 municípios da região. Ciumeira?

a F r a S E

[Acorda Fortaleza bela adormecida. Obrigado prefeito

Cid Gomes.] ciro MArQUes, vereador - PTC,

sobre a letargia da gestão de Fortaleza e a ação do governo do Estado para

ajudar na execução das obras

A mais recente crise moral que “ataca” o senado, com certeza não será a última.

Mais pense rápido o que é pior: errar ou fingir consertar o erro? Os escandalosos 181 cargos de diretoria que o senado possui, mesmo que cortados pela metade, como propoe o o presidente da casa, José Sarney – PMDB/AP, ainda restariam

inacreditáveis 90 cargos. É muita gente recebendo para não fazer absolutamente nada. Pior, mesmo quando deixam o cargo, a gratificação extra que recebiam, fica incorporada ao salário. E assim vai se criando uma estrutura pesada que o trabalhador brasileiro tem que suportar.

O senado possui um diretor para coordenação administrativa de

residências, também conhecido como diretor de garagem. E o que dizer da coordenação de apoio aeroportuário, ou diretoria de check-in. Os próprios senadores não suportam o fardo e fasem piada. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse que o senado conseguiu produzir até “diretor de rinha de galo”. Tem alguma graça uma situação dessa?

o que é pior: errar ou fingir consertar o erro?

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briga dE CaCHorro grandE: FoLHa x rECordO Rede Record, exibiu em seus telejornais

noturnos na terça-feira dia 17 de março, uma reportagem na qual critica o jornal Folha de S.Paulo por publicações de supostas “notícias caluniosas” sobre a emissora. Segundo o canal de TV, o articulista Daniel Castro, autor da coluna “Outro Canal”, no caderno “Ilustrada”, teria publicado, em diversas ocasiões, informações falsas sobre a audiência da Record News, a compra de direitos de transmissão de jogos esportivos e, por último, sobre o estado de saúde do bispo Edir Macedo.

No início da reportagem, os âncoras do telejornal, ao fazerem a chamada da matéria, disseram que a Folha “veicula notícias caluniosas com um só objetivo: a mentira”.

A reportagem rebate todas as críticas e ataca, ainda, ao afima que a queda na vendagem de exemplares da Folha de S.Paulo, e uma associação com a Rede Globo, como possíveis causas da “perseguição”. Já no final, a matéria ironicamente

questiona se a perda de circulação do periódico teria consequência na diminuição da “qualidade editorial”.

Na matéria em entrevista, por telefone, o empresário e fundador da Igreja Universal, Edir Macedo, nega que esteja doente, ao contrário do que foi publicado pela Folha, e também deixa claro que qualquer novo ataque que a emissora venha a sofrer, será “respondido a altura” em sua programação.

Em nota publicada no dia seguinte a Folha cita que, a Record entrou na Justiça com 107 ações contra o jornal. Segundo o veículo, nos 66 processos julgados, todos os resultados foram favoráveis ao periódico impresso, e fez menção à reportagem de Elvira Lobato, que mapeou os bens acumulados pela Igreja em seus trinta anos de existência.

Os dois conglomerados da comunicação veem se desentendendo desde o início de 2008.

FoTUnaS. os mais ricos agora estão mais pobresA REvISTA FORbES DIvuLgOu SEu tradicional ranking dos mais ricos do mundo e uma constatação: os mais ricos agora estão mais pobres. A primeira grande mudança é, o mesmo aposentado, bill gates volta a ser o mais rico do mundo. Ele perdeu “apenas” uS$ 18 bilhões durante o ano passado. O fundador da Microsoft, possui patrimônio avaliado em “meros” US$ 40 bilhões.gates está no topo, pois, dos grandes bilionários foi o que menos perdeu em 2008. Warren Buffet e Carlos Slim viram suas fortunas encolherem uS$ 25 bilhões e agora estão com uS$ 37 bilhões e uS$ 35 bilhões, segundo a Forbes.

PSDB é PATO, E PT é GALInHASegundo o governador de São Paulo e presidenciável, José Serra – PSDb, um ponto fraco de seu partido em realção ao PT é a falta “de talento mercadológico, de marketing”. O governador foi buscar no mundo animal uma metáfora para comparar os dois partidos. “A galinha põe o ovo pequenininho, mas cacareja e todo mundo vê. Já a pata põe o ovo maior, mas fica quietinha e ninguém nota. A gente está mais para o lado da pata”, disse. Serra tem criticado a antecipação da disputa de 2010, mas não conseguiu ainda controlar as dircursões internas de seu próprio partido.

Lula cai, Dilma sobe

Segundo Datafolha e Ibope, a aprovação avaliação positiva do governo do presidente Lula caiu. No Datafolha de 70%, em novembro do

ano passado, para 65%. Já no Ibope a queda foi maior, de 73% em dezembro, para 64% agora em março. Já na corrida presidencial de 2010, em um cenário ainda confuso, devido ao grande número de pré-candidatos, Dilma subiu, na pesquisa realizada pelos Datafolha, entre 3 e 4 pontos, e agora chega ao total de 11% a 16% de indicações. O tucano, atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB) seria o favorito, com percentuais de intenção de voto que variam entre 35% e 47%. Ciro Gomes (PSB) oscilou entre 14% e 25%. Heloisa Helena (PSol) varia de 11% a 26% nas intenções de voto. O melhor desempenho de Serra seria sem que Ciro Gomes concorresse a presidência.

a S F r a S E S

[Não se constrói um projeto para o país de alguns gabinetes ou

da Avenida Paulista. Se constrói caminhando pelo país.]

Aécio neves, PSDB - governador de Minas Gerais e presidenciável, anunciando

que vai percorrer o Brasil em busca de apoio a sua candidatura.

[Sou uma mulher dura cercada de homens meigos.]

dilMA roUsseFF, ministra chefe da Casa Civil, e pré-candidata do PT à sucessão em

2010, defendeu maior participação da mulher na política.

ExPLORAçãO DE ITATAIA MAIS PERTO DE SAIR DO PAPEL

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis — Ibama, concedeu a licença de instalação da Usina

Nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro. O início das obras depende ainda da licença de construção da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN. O cronograma de Angra 3 prevê que a usina entre em operação em 2014. A exploração da jazida de urânio de Itataia que fica no município de Santa Quitéria dependia bastante da construção da terceira usina nuclear do país. Estima-se que 750 milhões em investimentos na construção da estrutura de exploração e processamento do minério no interior cearense.

a CriSE não TEM naCionaLidadE nEM TaManHoProva de que a crise econômica mundial não tem nacionalidade nem tamanho, e que não é apenas uma marolinha já pode ser vista por todos. O PIB despenca, o desemprego dispara, a produção industrial paraliza, o comercio retrai. Não são apenas o megainvestidores que perdem dinheiro, os banqueiros que lucram menos, o empresário que vai a falência. O povo brasileiro está cada vez mais endividado, com a renda menor, seja o trabalhado da industria, do comercio, do setor de serviços ou informal. Os catadores de materiais recicláveis estão sofrendo duplamente

com a crise: além da diminuição do crédito e da renda, e a consequente queda no consumo e na produção de lixo, o preço pago por alguns materiais recicláveis caiu mais da metade.

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Política

o ranking do EFEiTo

ESTUFaBrasil é o quarto emissor mundial de gases do efeito estufa, aponta WWF.

Ao contrário de outros países, o Brasil não tem sua matriz energética

baseada em combustíveis fósseis, mas tem a queimada na Amazônia

contribuindo para lançar toneladas de carbono na atmosfera

a hOrA é DE AlErTA. O PlAnETA PA-RECE PEDIR SOCorro, dada às turbu-lências climáricas dos últimos anos e aos alertas da ciência. A hora do Planeta, o manifesto que aconteceu no final de março em 84 países do

mundo, foi um sinal de que há consciência do problema. Os efeitos das mudanças cli-máticas têm um significado especial para o brasil, que detém as maiores áreas ainda preservadas de florestas tropicais do planeta. No entanto, o brasil aparece como o quarto

10 | Fale! | MARçO DE 2009 www.revistafale.com.br10 | Fale! | MARçO DE 2009 www.revistafale.com.br

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maior emissor de carbono — o prin-cipal gás do efeito estufa no até agora insuspeito ranking da organização não-governamental WWF — sigla da World Wildlife Fund.

A superintendente de Desenvol-vimento Organizacional da WWF, Regina Cavini, lembra que “o brasil é o quarto emissor de gases de efeito estufa no mundo e a principal cau-sa da emissão no país é o desflores-tamento e as queimadas na região

Amazônica.” Cavini diz que, ao con-trário de outros países, o brasil não tem sua matriz energética baseada em combustíveis fósseis, mas tem a queimada na Amazônia contribuin-do para lançar toneladas de carbono na atmosfera.

A devastação é consequencia di-reta da explosão populacional da espécie humana. Em muitas regiões onde vulcões, furacões e maremotos causaram estragos aparentemente ir-

reparáveis, a natureza deu sinais de recuperação e acomodação. Mas a ação do homem tem se mostrado ir-reversível. Só em agosto do ano pas-sado, uma área superior à metade da cidade de São Paulo literalmente virou fumaça na Amazônia. núme-ros, divulgados nesta semana pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesqui-sas Espaciais) daquele período mos-tram que em um único mês a floresta perdeu 756,7 quilômetros quadrados

BLECAUTE. Alguns dos principais ícones arquitetônicos do mundo, como o Cristo Redentor, o Ninho do Pássaro, em Pequim, a Ópera, em Sydney, e o Congresso Nacional, em Brasília, apagaram as luzes em sinal de alerta. FOTOS WWF E LUIz FERnAnDEz (COnGRESSO)

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reservas indígenas e unidades de conservação, porcentagem menor que os vizinhos Equador (79,7% de sua região amazônica protegi-da), guiana Francesa (72,3%), ve-nezuela (71,5%), Colômbia (56%) e Bolívia (41,1% ). Apenas o Peru fica para trás, com 34,9% de seu território amazônico protegido. Não há informações sobre a guia-na e o Suriname.

Quando se considera a área absoluta sob proteção, contudo, o Brasil é o que tem maior espaço. São 1.984.570 quilômetros qua-

drados dentro de parques, reservas e terras indígenas. Para se ter uma ideia, a área correspon-de ao México, ocupa 23% do ter-ritório brasileiro e é maior que o tamanho total de qualquer outro país amazônico individualmente.

Apesar de tudo, a superinten-dente Regina Cavini vê avanços na política brasileira para o meio am-biente. Mas também previu enor-mes desafios nos próximos anos.

“O WWF vê que o governo bra-sileiro tem feito um esforço grande para controlar o desmatamento na Amazônia, mas isso não pode ser só um esforço do governo, tem o papel das empresas também e de toda a sociedade, de estarem con-tribuindo para esse resultado.”

Dado o tamanho da destruição, Cavini diz que ações como a Hora do

Planeta são insuficientes para levar a mudanças concretas. O movimen-to é muito mais um ato simbólico importante de conscientização.

“A Hora do Planeta é insuficien-te, não vai dar conta do problema, mas é uma forma das pessoas mostrarem para os governos que a questão ambiental do aquecimento global é muito importante.”

Segundo ela, a verdadeira mu-dança só vai ocorrer a partir de cada indivíduo. “Temos que ser mais eficientes energeticamente, durante as escolhas de compra, op-

tando por eletrodomésticos que utilizem menos

e n e r -gia, e nos hábitos pessoais, usando menos água e separando o lixo. São pequenas coisas que a gente pode ir mudan-do e que, no final, se todos fize-rem, representam um grande re-sultado.”

não há mais tempo para desenvolvimento

sustentável Prakki Satyamurty, doutor em

Meteorologia, pesquisador do Ins-tituto Nacional de Pesquisas Es-paciais (Inpe) e ex-presidente da Sociedade brasileira de Meteoro-logia, defende que o mundo ado-te outro caminho para reverter o

de cobertura verde, o que significa um aumento de 133% em comparação com o índice de julho daquele ano. E, pior, a devastação não parou aí.

A Ong Imazon — Instituto do Ho-mem e Meio Ambiente da Amazônia — registrou a destruição de 62 km² de florestas na Amazônia legal em fevereiro deste ano, área equivalente a 1,5 vez o Parque nacional da Tijuca.Em janeiro, haviam sido encontrados 51 km² de devastação. A medição do Imazon é feita paralelamente à do Instituto Nacional de Pesquisas Es-paciais (Inpe), ligado ao governo fede-

ral. A maior parte do desmatamento registrado pelo Imazon em fevereiro ocorreu em Mato Grosso (65%). O Pará teve 25%, seguido de Roraima e Amazonas, com 4% cada, e Rondônia, com 2%.

Apesar de ter um ministério do Meio-Ambiente, polícia ambiental e uma pesada estrutura burocrática li-gada ao setor, o brasil protege menos a sua Amazônia que países vizinhos proporcionalmente, o país tem me-nos parques e reservas na região. Em área absouta, contudo, o brasil prote-ge território igual ao México. é o que revela um mapa montado pela Rede Amazônica de Informação Socioam-biental georreferenciada (Raisg), for-mada por diversas ONgs da América do Sul.

Segundo a rede, o brasil tem 39,6% de sua área amazônica protegida por

P o L í T i Ca

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quadro de destruição do meio am-biente que tem como consequência as mudanças climáticas.

Para ele, o desenvolvimento sustentável já não é o caminho mais aconselhável para a reversão desse quadro. A saída agora seria a retirada sustentável, ou seja, a diminuição drástica do consumo de recursos naturais aliada a um controle de natalidade que levasse a um crescimento menos acelerado do número da população mundial.

A capacidade do planeta Terra de suportar o uso que se faz dos re-cursos naturais está cada vez mais limitada, diz Satyamurty. “O con-sumo de recursos naturais deve-ria ser menor ou igual à reposição dessas riquezas ambientais na na-

tureza”. Segundo ele, a exploração

d o s r e c u r s o s naturais pela população mundial já ultrapassou a capaci-dade de oferta do meio ambiente em escala global.

“Já passou o tempo do desenvol-vimento sustentável. Agora é tempo de fazer uma retirada sustentável. Temos que retirar, gradativamente, o número de automóveis das ruas, por exemplo. Tudo o que foi coloca-do em excesso e hoje contribui para a destruição do meio ambiente pre-cisa sair de cena.”

As estratégias pensadas em escala mundial para lidar com os diversos problemas causados pe-

las mudanças climáticas, como a falta de água, devem focar na ex-plosão demográfica. A população mundial quadruplicou em 50 anos, e o aumento da temperatura da superfície terrestre, do nível dos oceanos, bem como a poluição de todos ambientes são as principais consequências desse crescimento populacional.

“Com o aumento da população mundial, a diminuição das áreas de f loresta e de espécies animais é inevitável. Mais áreas de lavou-ra, pastos e gado. Tudo isso provo-cou aumento de gás carbônico, gás metano e aumento substancial da temperatura na Terra”, relatou.

Ainda de acordo com o pes-quisador indiano, assim como foi criado o mercado do crédito de carbono, também deveria existir o crédito de população. Para ele,

outra missão das autoridades é o reflorestamento.

“Todo país que estivesse cres-cendo demais deveria pagar por isso. Seria um incentivo à redu-ção das populações e um benefício para o meio ambiente como um todo porque o planeta não aguenta mais essa situação.”

Na avaliação do chefe da di-visão de Meteorologia do Centro Técnico Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) no Amazonas, Ricardo Delarosa, é in-contestável que o desenvolvimento

e o progresso geram perturbações e degradações nos sistemas natu-rais. Contudo, ele ponderou que o grande problema das nações não é a falta de alimentos, mas a distri-buição imperfeita desses recursos alimentares.

“Entendo que o que está acon-tecendo é uma distribuição de-sigual das riquezas e recursos. A população cresceu bastante, mas a produção de alimentos também cresceu”, disse.

Com relação à polêmica avalia-ção de Satyamurty sobre a retira-da sustentável, Delarosa ponderou que não existe maneira de desen-volver sem degradar de alguma forma. Para ele, a redução da po-pulação seria uma das alternativas existentes.

“Eu entendo que o desenvol-vimento sustentável é

um paradoxo”, diz ricardo Delarosa. “não vejo como desenvolver e, ao mesmo tempo, ter sustentabilidade, pelo menos não do ponto de vista da conservação dos sistemas naturais como a gente os conhece hoje. Te-mos que trabalhar para minimizar esse custo que é um ônus imposto à natureza. na minha opinião, é preciso haver uma conscientização de que é preciso distribuir melhor os recursos e as riquezas. Acho que isso seria mais efetivo do ponto de vista de preservar mais o ambiente que a gente vive.”

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Modelagens e números servem a diversos propósitos em nossa sociedade. Seu uso correto permite preparar-nos para o futuro, revela conclusões surpreendentes

sobre o mundo ao nosso redor e é essencial para o progresso técnico da sociedade.

No entanto, quando mal usado, um número pode ser corrompido para expressar ideias que a ele não compete por ser completamente livre de qualquer ideologia.

É como diz aquele velho ditado: “torture os números e eles te dirão o que você quer”. Um bom exemplo disso é o famoso Produto Interno Bruto (PIB) per capita. O PIB é a soma de todas as riquezas produzidas no país e não inclui considerações de distribuição de renda ou demográfica ou mesmo outros fatores de bem-estar social ou ambiental. Em um país onde a distribuição de renda é o seu calcanhar de Aquiles, usar PIB per capita para medir riqueza é um instrumento que acaba não

refletindo a realidade.No debate sobre o setor elétrico, ocorre

semelhante distorção, já que é frequente o uso inadequado de duas variáveis como argumentos para justificar diversas políticas de planejamento e expansão do setor elétrico brasileiro. A primeira é o consumo de kWh por habitante como única variável capaz de medir o bem-estar advindo do consumo de energia elétrica. Essa medida não considera eventuais desperdícios,

que acabam aumentando os custos para os consumidores e ainda geram impactos socioambientais desnecessários. Isso sem falar nas questões de distribuição, onde o desperdício também é grande.

O próprio Plano Nacional de Mudanças Climáticas destaca que o potencial atual de conservação no país está na faixa de 32 TWh, ou seja, quase 8% do consumo per capita de energia elétrica no país. Otimizar o consumo não significa redução do bem-estar. Muito pelo contrário, pode contribuir

A R T I G O

a iLUSão doS núMEroSPor André Tavares e Karen Suassuna

enormemente para este fim ao reduzir custos. Nada ilustra melhor o potencial de redução de consumo de energia que a lâmpada fluorescente, que consome até 9 vezes menos energia que lâmpadas convencionais, dura dez vezes mais e oferece o mesmo bem-estar.

Além disso, comparar este dado entre diferentes países do mundo mascara as diferentes realidades de consumo entre os países, realidade moldada por variáveis tão heterogêneas quanto clima — por viver nos trópicos, precisamos de mais eletricidade para refrigeração, por exemplo — ou arquitetura.

energias alternativasOutra deturpação ocorre com os custos

mais elevados de formas alternativas de energia também conhecidas como energias renováveis não-convencionais. O dado bruto de custos por MWh compara diversas formas de geração de energia e mostra que energia eólica, por exemplo, pode ser mais cara que outras formas de energias convencionais como hidrelétricas convencionais. Entretanto, o preço final da eletricidade gerada está diretamente relacionado a diversas considerações

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políticas, financeiras e tributárias. Ora, se fossem tomadas medidas

adequadas, como estabelecimento de uma política industrial efetiva, isenções fiscais ou regras de amortização diferenciadas para a energia eólica, o preço da energia poderia cair consideravelmente sem a necessidade de novos avanços tecnológicos. Além disso, o fato de o Brasil operar hoje com um sistema de rateio por todo o sistema elétrico do custo da transmissão de energia entre os centros geradores e os centros consumidores, faz com que os dados de custo por MWh mascarem o fato de que energias produzidas em lugares mais distantes, como por exemplo na Amazônia, são de fato mais caras do que aquelas produzidas em lugares mais próximos.

complementariedadeA questão fundamental posta

na mesa não é o embate entre hidrelétricas e termelétricas, mas sim a complementariedade entre as duas fontes.

No período do ano de menos chuvas ou durante picos de consumo de energia, são necessárias outras fontes para suprir as necessidades de consumo de eletricidade. Em outras palavras, a energia hídrica produzida pelo país não é suficiente para satisfazer a demanda o tempo todo.

São necessárias outras fontes que a complementam.

A visão do WWF-BrasilO WWF-Brasil defende o uso de

biomassa e de energia eólica, não por ser um substituto à energia hídrica, mas sim por ser uma alternativa ambientalmente mais correta e de farta disponibilidade em comparação às fontes térmicas convencionais movidas a óleo combustível, carvão ou gás. Além disso, podem vir a ser igualmente competitivas, visto o leque de opções de apoio financeiro disponível ao estado.

Em setembro de 2006, o WWF-Brasil deu importante contribuição para o setor ao lançar o estudo Agenda Elétrica Sustentável 2020,

documento realizado por pesquisadores da Universidade de Campinas, que resume as principais colocações da instituição sobre o tema mais amplo de planejamento do setor elétrico.

No ano de sua publicação, o estudo apontava uma possibilidade de baixar a demanda esperada de energia em 38% até 2020, bem como gerar 8 milhões de novos postos de trabalho e manter um patamar de 20% de energias renováveis não-convencionais na matriz elétrica brasileira.

Não cabe aqui ressaltar todas as vantagens do estudo. Basta dizer que o país possui um enorme potencial para produção de energias alternativas em curto, médio e longo prazo, e este ainda não está sendo plenamente utilizado. Medidas específicas para as diversas energias renováveis não-convencionais devem ser implementadas pelo governo com vista a transformá-las de alternativas a convencionais.

Entre essas medidas, estão leilões específicos para diferentes tipos de energia elétrica como de biomassa ou energia eólica, algo que já está sendo feito pelo governo. Mas, o esforço precisa ser ainda maior, sobretudo considerando as necessidades

urgentes em reduzir as emissões de gases de efeito estufa da humanidade.

Em suma, em muito aumentaria o bem-estar dos brasileiros se esta guerra de números se transformasse no que realmente deveria ser o foco das discussões: um debate de funções.

André taveres e karen suassuna são analistas em Mudanças climáticas do WWF-Brasil. © copyright WWF-Brasil e-mail [email protected]

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a Saída PELo

ESTadoO Conselho nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da

Presidência da República promoveu em Brasília um Seminário Internacional sobre Desenvolvimento, que teve como tônica o

reconhecimento da gravidade da crise que eclodiu nos EUA

a CRISE DESENCADEADA EM TODO o mundo pelo estouro da bo-lha do sistema financeiro nos países de economia avançada, sobretudo nos Estados uni-dos e em parte da união Eu-

ropeia, produziu o endividamento e o enfraquecimento de moedas fortes como o dólar e o euro, criando espaço para um melhor posicionamento dos emergentes, dentre estes o brasil, na geopolítica mundial.

Diante dessa situação, o Conse-lho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Pre-sidência da República promoveu nos dias 5 e 6 de março, em brasília, um Seminário Internacional sobre De-senvolvimento, que teve como tônica o reconhecimento da gravidade da crise, a situação privilegiada do bra-sil no contexto atual e a indicação de que a saída está no fortalecimento do Estado.

Na abertura do evento, que con-tou com a participação de convida-dos empresários, trabalhadores, aca-dêmicos, religiosos e representantes das minorias sociais, o presidente Lula ressaltou que o País está fazen-do uma travessia singular em sua his-tória, onde não é mais o governo que precisa ser desafiado a investir em infra-estrutura, pois, segundo ele, o desafio está nas mãos dos empreen-dedores brasileiros que precisam se preparar para atender as demandas

o Brasil, com todas as carências que ainda precisa superar, não tem, conforme oBserva maria da conceição tavares, uma miséria tão gritante a incorporar como Índia e china.

que estão sendo criadas.Lula lembrou que quando acon-

teceu a queda do Muro de berlim, em 1989, ele foi criticado porque viu naquela ocasião a oportunidade de se pensar saídas para o socialismo sem a rigidez dos dogmas. Agora, com a crise do neoliberalismo, ele vê também uma oportunidade para os governantes voltarem a governar. Para isso, defendeu, a agenda do de-senvolvimento exige um novo idioma político.

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Para a reunião da Cúpula do g20, marcada para 2 de abril em Londres, Lula pretende levar a provocação de que chegou a hora da política. “A ver-dade é que os presidentes acabaram muito dependentes dos assessores. Já propus no g8 que decidíssemos os rumos a tomar e determinássemos às nossas equipes a executar o que precisa ser feito”. Diz que é possível equilibrar a melhoria da qualida-de de vida dos pobres, com os ricos ganhando dinheiro. Ao contrário do que se pregava antes no brasil, ele afirma que é preciso distribuir ren-da e riqueza para a economia poder

crescer.A ministra Dilma Rousseff, da

Casa Civil, criticou o modelo que vi-nha sendo adotado pelo País desde a década de 1960, quando o aumento do Produto Interno bruto (PIb) era a principal medida de um crescimento com base em alta concentração de renda, de riqueza e de terra. Cresci-mento que teve agravado o seu nível de concentração nas últimas três décadas, pelo aumento da vulnera-bilidade externa do País. “O desloca-mento de algumas funções do Estado para o plano privado desestimulou o profissionalismo e a meritocracia na gestão pública”, deduz.

Para ela, o brasil começa a contar com um Estado atuante, com pla-nejamento e indução do desenvol-vimento, por meio do crescimento econômico, da promoção da equida-de, da garantia de investimentos em infra-estrutura e de direitos sociais. Menciona como próximo passo das políticas sociais a construção de um milhão de casas, mediante subsídios, criação de fundo garantidor e redu-ção dos componentes de seguro nas prestações. realça que a crise alcan-çou o País em um ciclo de desenvol-vimento, cujas bases burocráticas já estavam resolvidas e muitas ações em fase de implementação.

Com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra pre-tende aumentar significativamente a eficiência do sistema produtivo nacio-nal, por meio de malha logística, se-gurança energética e universalização dos serviços públicos (saneamento, água etc), sem esquecer do desenvol-vimento educacional, nas dimensões social, tecnológica e da inovação. Dil-ma reforça que as reservas do Pré-sal estão nos planos do governo para res-gatar a dívida histórica da educação brasileira, assim como a Petrobrás vai aumentar em R$ 60 bilhões os seus investimentos, em 2009 / 2010, para fortalecer o setor petroquímico, de forma que o País não precise ex-portar petróleo bruto.

O ministro guido Mantega, da Fazenda, chama a atenção para o fato de que, nas crises anteriores, era co-mum o aumento dos juros, da dívi-da pública e a aplicação de políticas fiscais contracionistas, enquanto, no cenário atual, há um afrouxamento da política monetária, com medidas fiscais englobando desonerações.

Dentre as medidas mais recentes do governo, ele destaca a indução de mais liquidez na economia, o finan-ciamento às exportações, a alteração na alíquota do Imposto de Renda, a redução do IPI para veículos e a dis-ponibilização por parte do banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (bNDES) de R$ 168 bilhões para financiamento de capi-tal de giro.

Gravidade da crise pede cautela

As exposições apresentadas no seminário do CDES tiveram como ponto comum a interpretação de que a crise é grave e que, mesmo em boa situação, o brasil deve agir com precaução. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, adverte para a segunda rodada das turbu-lências, que provavelmente terá foco nos países do Leste Europeu, onde o financiamento do crédito é na sua grande maioria externo. Países como a Croácia dependem 70% de finan-ciamento estrangeiro.

A economista Maria da Conceição Tavares diz, recorrendo a uma figura de xadrez, que o fato de o brasil estar sem qualquer dependência externa tira o País da condição de peão para a de cavalo no jogo internacional. Ela se declara otimista com o ciclo de desenvolvimento experienciado pelo País e tem a expectativa de que não haja interrupção nesse processo. Referindo-se de modo implícito ao governador paulista José Serra, Con-ceição diz que “o candidato à Presi-dência pela oposição é um desen-volvimentista, mas é contraditório quanto à combinação do econômico com o social”. Ainda nesse mesmo sentido, ela fala que um dos maiores problemas do brasil é a falta de com-promisso das suas elites com o inte-resse público.

A ausência de um projeto de na-ção dificulta, segundo a economis-ta, a integração dos 20 milhões de incluídos por programas sociais nos últimos anos. “Essas pessoas ainda não pertencem ao sistema público de saúde e de educação de qualidade”, denuncia. Ao mesmo tempo, argu-menta, precisamos de uma sociedade civil fortalecida para poder reformar o Estado e garantir que o PAC não so-

CONSELHO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, participam de seminário promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) FOTO AnTOnIO CRUz _ ABR

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fra descontinuidades em 2010. “Todo mundo é contra o Estado, mas da boca para fora”, insinua. Conceição Tavares acredita que a Constituição de 1988 é o núcleo duro da democra-cia brasileira, e as lideranças da so-ciedade deveriam se empenhar mais na construção do estado de bem-es-tar que a Carta Magna possibilita que seja criado.

O brasil, com todas as carências que ainda precisa superar, como por exemplo, o emprego para jovens, não tem, conforme observa Conceição Tavares, uma miséria tão gritante a incorporar como Índia e China. As-sim como Lula e Dilma Rousseff, ela pensa na riqueza do Pré-sal como uma garantia para as gerações futu-ras. lamenta que a discussão sobre o assunto acabe reduzida ao tipo de empresa que deve explorar a jazida. Em concordância com o posiciona-mento do presidente Lula de que chegou a hora dos políticos assumi-rem a responsabilidade que lhes cabe nas grandes questões da atualidade, ela advoga a favor da necessidade da construção de consensos mínimos para a promoção das transforma-ções. “Acredito mais nisso do que numa nova arquitetura financeira in-ternacional”, desabafa.

O argumento da saída pelo Esta-do, sinalizada por Lula, e a necessi-dade de estímulo ao profissionalismo e à meritocracia na gestão pública, defendida por Dilma Rousseff, é re-forçado pelo presidente do bNDES, Luciano Coutinho, quando ele diz que o brasil precisa dar visibilidade a seus projetos, retomar o planeja-mento de longo prazo, tratar de fren-te a questão regional e construir uma burocracia estatal estável. Coutinho estima que, mesmo a crise durando entre três e quatro anos, o País está entre as exceções dos que manterão atratividade com relação a capitais estrangeiros e um dos poucos a po-der se apoiar em demandas domés-ticas e a ter capacidade de financiar investimentos.

O risco do que Octávio de bar-ros, economista-chefe do bradesco, chama de “desglobalização” é gran-de. “O protecionismo é uma ameaça, diante da perspectiva de que em cin-co anos haverá um deslocamento da economia dos emergentes dos países desenvolvidos”. Barros prevê que o peso relativo dos emergentes aumen-

tará com o encolhimento das econo-mias avançadas, a ponto de, em 2014, a soma do PIb desses países superar o PIB dos desenvolvidos. Tirando a óbvia dificuldade de tratar da redu-ção do spread bancário, ele faz um prognóstico de que o brasil crescerá 0,6% em 2009 e isso colocará o País entre os cinco de maior crescimento no mundo.

Na hora que a plateia esperava algum sinal de como os bancos po-deriam abrir mão de alguma coisa em favor da coletividade, barros se recolhe à sua condição de banqueiro e não tem nada a declarar. Com re-lação ao silêncio dos bancos, Maria da Conceição Tavares é taxativa ao dizer que banqueiro é banqueiro em todo lugar e, no brasil, eles só vão se comportar, ou seja, só vão praticar uma intermediação financeira de-cente, se o Banco Central os obrigar. A provocação da economista implica ainda em ter cuidado para o gover-no não ficar injetando mais dinheiro público nas mãos dos especuladores, sem uma garantia de que esses re-cursos se transformarão em crédito, de modo a aquecer a economia. Os bancos privados precisam participar da dinamização produtiva, saindo do bem-bom da compra de títulos do governo federal, com juros baixos da taxa Selic.

Crise não vem acompanhada de inflação

O salário mínimo real cresceu em mais de 50% na gestão do governo lula. Quanto às dúvidas sobre em-prego, Octávio de barros adota a ten-dência de que o brasil não interrom-perá seu ciclo de geração de emprego. “Mesmo com crescimento zero, o País ainda terá aumento de 3,5% no nível de emprego e de 2,2% de massa sa-larial em 2009”. Essa visão positiva do País tem como lastro, segundo o banqueiro, o fato de o brasil ter acer-tado mais do que errado nos últimos

15 anos, tornando-se mais previsível, mais disciplinado e mais organizado. “Esta é a primeira vez que uma crise não vem acompanhada de inflação nem de alto índice de desemprego no brasil, o que faz com que a população não se sinta tão desconfortável com o que está acontecendo”, explica Octá-vio de Barros.

O diretor-executivo do Fundo Mo-netário Internacional (FMI) Paulo nogueira Batista Jr., fala do quanto é difícil, mas indispensável, a atualiza-ção das agências multilaterais (FMI, BID, BIrD) aos novos tempos. Essas agências têm estruturas dominadas pelos Estados unidos e pela Europa, com sistema de votação totalmente desigual. “Para se ter uma ideia, o sistema de decisão é por maioria de 85% dos votos. Apenas os EUA têm 17% dos votos, o que dá a um só país o direito de bloquear qualquer de-cisão”, explica. Paulo nogueira diz que, diante da crise, que enfraquece as velhas potências sob o ponto de vista econômico, político e moral, os emergentes estão se esforçando para reformar o sistema de representação, as condicionalidades para emprésti-mos e os instrumentos de financia-mento.

Na próxima reunião do g20 o go-verno brasileiro vai procurar influen-ciar para que a discussão não se limi-te à regulação do sistema financeiro. “vamos ter que discutir o crédito no planeta, pois sem crédito a economia não roda”, explana o presidente lula. Dentro dessa mesma lógica, o pro-fessor de Economia da universidade Estadual do Rio de Janeiro (uERJ), Luiz Fernando de Paula, defende que cabe à cúpula dos chefes de Estado determinar que a reforma no sistema de cooperação seja feita com transpa-rência e controle de fluxo de capitais.

Assim como é imprescindível pressionar as velhas potências a abrirem espaço para o g20, vários palestrantes se pronunciaram favo-ráveis à intensificação da atuação dos blocos regionais. no debate sobre a

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“o faturamento das três maiores corporações mundiais equivale ao piB do Brasil, que é a nona economia do mundo”, lemBra márcio pochmann, presidente do ipea.

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integração da América Latina, o as-sessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Marco Aurélio garcia, esclareceu que a in-tegração do continente faz parte do projeto de desenvolvimento do bra-sil. E nesse esforço de compatibiliza-ção de interesses estão sendo traba-lhadas ações para a criação do banco do Sul, o estabelecimento de convê-nios de crédito recíproco, o comércio entre países sem a utilização do dólar como padrão monetário, grupos de trabalho para tratar das assimetrias, mecanismos para o enfrentamento dos assédios para acordos bilaterais e a institucionalização da Unasul.

O caráter de indispensabilidade da política na retomada do sentido de destino das nações depende, na opinião de Márcio Pochmann, presi-dente do Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada (IPEA), de pressão social. A crise é para ele uma chance de preparação de um novo padrão ci-

vilizatório necessário ao século XXI, no qual os trabalhadores tenham jornada de trabalho mais humanas e possam recuperar o espaço de so-ciabilidade doméstica, perdido no modelo que chega à exaustão. Poch-mann ilustra sua fala dizendo que houve um tempo em que os países tinham as empresas, mas hoje são as empresas que têm os países. “O faturamento das três maiores cor-porações mundiais equivale ao PIb do brasil, que é a nona economia do mundo”, exemplifica.

A oportunidade de mudança está posta para países como o Brasil. Ig-nacy Sachs, diretor na França do Centro de Estudos sobre o brasil Con-temporâneo, acredita nessa possibili-dade, mas diz que isso só acontecerá se o País desenvolver um projeto na-cional com a participação do Estado, dos Trabalhadores, dos Empresários e da Sociedade Civil, ao mesmo tem-po em que investir em tecnologias pú-

blicas adequadas às vantagens com-parativas brasileiras e desenvolver cooperação técnica e cultural com os demais países emergentes, de modo a reforçar o bloco na nova ordem eco-nômica internacional.

O sinal de que o primeiro passo é a saída pelo Estado confirma-se com a estatização de bancos na união Eu-ropeia e nos Estados Unidos. luciano Coutinho afirma que, pela extensão das intervenções, o sistema de cré-dito estadunidense já foi estatizado. José Múcio Monteiro, ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, também concorda com o fortalecimento do Estado pelo aquecimento da política, no sentido de amplo envolvimento da sociedade. no que se refere à crise em si, ele conclui que é preciso agir de uma forma que se possa “dizer aos nossos filhos que a crise foi grande, mas que fomos mais fortes do que ela”. — FP

Brasil vai pôr dinheiro no FMi, como credor. Em Londres, onde participou da reunião do G-20 e posou ao lado da rainha na foto oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil está pronto para injetar dinheiro no Fundo Monetário Internacional (FMI), como forma de ajudar numa solução para a crise global e a reforma da instituição. “O Brasil não vai agir como se fosse um paisinho pequeno e

sem importância”, disse. A reunião de cúpula do G-20 (grupo de países ricos e principais emergentes) foi maracada por muitos protestos. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou que os países do G-20 estão negociando uma injeção de até US$ 1 trilhão, não apenas no FMI mas também em outras instituições multilaterais, como o Banco Mundial, para socorrer os países que não estão conseguindo crédito.

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Cidadão orgâniCo

FLÁVio PaiVa

O ‘Cidadão Orgânico’ é de um lugar, não de uma classe e

não precisa ser um intelectual nem ter atuação partidária; age porque o todo lhe interessa, porque se sente parte do todo. é universal porque associa o futuro do planeta ao seu futuro e vice-versa.

História de Capa

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FLÁVio PaiVa nASCIDO EM INDEPENDêNCIA, NO INTERIOR DO ESTADO DO CEARá, em 1959, Flávio Paiva é jornalista de formação. Já passou pelo O Povo, onde começou em 1985, e escreve desde 2005 para o Diário do Nor-deste. Paralelamente ao jornalis-mo, entrou no mundo da poesia em

1979, dos livros em 1982, das HQs em 1983, da mobilização político-social em 1987, do mundo

empresarial em 1988, da música em 1994, das composições infantis em 1999 e vem enveredan-do também de forma despretensiosa por uma certa filosofia marginal.

Roteirista, compositor, escritor, jornalista, assessor de comunicação, poeta, cidadão engajado, muitas são as palavras que podem servir de sinônimo para Flávio Paiva. nenhuma capaz de traduzí-lo em sua essência múltipla. Também muitas foram as obras legadas por ele, desde

FOTO JARBAS OLIVEIRA

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que saiu de Independência, sua terra natal, para Fortaleza, em 1976.

CDs infantis e adultos, livro-reportagem, re-vistas alternativas e campanhas de consumo consciente foram só algumas delas. Chegando aos 50 anos, em março de 2009, Flávio Paiva lança mais um livro envolvendo a temática da infância, uma das marcas de seu trabalho nos diversos campos do saber. “Eu era assim – In-fância, Cultura e Consumismo”, com prefácio de Pedrinho Guareschi e capa de Geraldo Jesuíno.

Nessa entrevista, exclusiva para a Fale!, o também pensador atualiza o conceito de “Inte-lectual Orgânico”, de gramsci, e cria o de “Ci-dadão Orgânico”, ou, nas palavras do próprio Flávio Paiva, “aquele que tem uma experiência

autêntica, para com ela existir de forma inte-grada à natureza, independente de ser viajado ou não.”

De opiniões fortes, fala no fim do mito do neoliberalismo, critica o que chama de aliena-ção da era Tasso, da violência cultural contra as crianças e fala da experiência como colunista semanal do jornal Diário do Nordeste e como Secretário-Executivo de Comunicação do tra-dicional grupo J. Macêdo.

Tudo isso sem esquecer passagens pitorescas e poéticas, tais como a ameaça de morte, que sofreu ao lado do, hoje ídolo brega, Falcão, por conta de uma fotomontagem que produziu, ou a homenagem marcante feita por uma criança de horizonte. — Por Adriano Queiroz

Fale! Como foi chegar de Independência em Fortaleza? Que lembranças e marcas traz da infância no interior do Ceará?Flávio Paiva. A minha chegada em Fortaleza se deu de uma forma mui-to acolhedora. Fui estudar na Escola Técnica Federal, que foi a minha se-gunda casa. Ali, que hoje é o CEFET, fiz os primeiros amigos aqui em For-taleza. Eu vim para cá em agosto de

1976, e na Escola Técnica tinha uma efervescência cultural muito boa. O Paulo Abel do Nascimento, cantor castratti, já falecido, estava criando um coral e eu participei desse coral... Naturalmente, eu tinha uma base muito boa aqui em Fortaleza, que era o meu irmão, Paulo, que já morava aqui. Mas eu trouxe as melhores lem-branças de Independência. Porque,

apesar de ser um lugar muito “larga-dão” do mundo, no meio do sertão, é um lugar que sempre me ajudou a enxergar a beleza na sua diversidade.

Fale! E o jornalismo, em que medida está inserido na vida de Flávio Paiva? Como foi transitar pelos principais jornais da capital cearense?Flávio Paiva. Tem uma coisa que está

A vida tem uma parte que é a gestão

da vida, que está ligada aos fatos, e outra que é o viver, que está ligada à alma, à imensidão, e a arte está aí dentro.

H i S T ó r i a dE Ca PaFOTO JARBAS OLIVEIRA

24 | Fale! | MARçO DE 2009 www.revistafale.com.br

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ligada à comunicação, que é uma vontade que a gente tem de explicar e multiplicar determinadas percep-ções. Por exemplo, eu, menino, ficava olhando os caminhões que passavam com os retirantes e me pergun-tava: para onde iam aquelas pes-soas? Depois que eu terminei o curso de Comunicação Social na UFC e comecei a trabalhar, fiz um livro-reportagem sobre reti-rantes. Eu nunca tinha me ima-ginado trabalhando em jornais como O Povo e Diário do Nor-deste. Eu fazia uma revista para uma entidade de educação, a CNEC, Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, e um belo dia recebi um telefonema do jornal O Povo, me convidan-do para trabalhar no Segundo Caderno [hoje Vida & Arte]. Entrei em parafuso porque não sabia bem como era essa coisa, mas fui e deu certo.

Fale! Como foi a iniciativa da Coo-perativa de Escritores e Poetas? É possível que poetas reeditem algo similar no contexto atual?Flávio Paiva. Eu acho que o coo-perativismo é uma maneira não datada e formidável de condu-ção de processos. Tanto valeu no passado como pode valer no futuro e agora no presente. na verdade, quando eu conheci a Cooperativa, ela estava sendo criada pelo Farias Frazão, um poeta com uma cabeça agitada e um corpo paraplégico. Talvez pelo fato de ele ter dificuldade de locomoção, agisse como a ostra de Rubem Alves, produ-zindo pérolas para transformar a dor em beleza. Então ali tinha literatura, tinha poesia, tinha o pessoal da música... era um am-biente de muita inventividade. As reuniões eram muito boas e nós produzimos lá muitas ideias interessantes, todas sustentadas na ideia de que, se a produção alternativa fosse mais associa-tiva, a gente teria condições de produzir uma massa crítica mais influente.

Fale! O jornalismo, pretensamente objeti-vo, ainda pode servir de impulso a trans-formações sócio-culturais?Flávio Paiva. Tem muitas maneiras de

o jornalismo se desenvolver na atuali-dade. Eu acho que muitos jornalistas têm percebido isso. no caso do jornal impresso, que é onde eu atuo, a gente podia ter avançado mais, no sentido

de ir além do fato como novidade. A instantaneidade dos outros meios é muito mais intensa e mais eficaz nesse sentido. Todas as editorias po-deriam humanizar mais a forma de apresentar os atores da notícia e os

personagens. Sobre o meu trabalho, eu sempre gosto de dizer aos amigos que faço jornalismo expressionista, em busca da luz que o negrume da passividade do cotidiano teima em

esconder, coisas que sublimem mais a vida, e não ficar insistin-do na tristeza dos fatos tristes. O fato é sempre muito frio e eu gosto de tentar me aproximar da nossa própria alma, muitas ve-zes com uma inquietação meio vangoghiana, meio desespera-da.

Fale! Como você enxerga a produ-ção independente hoje? E como foi editar Um Jornal Sem Regras?Flávio Paiva. O “um Jornal Sem Regras” surgiu de uma das in-quietações naturais da juven-tude. nós tirávamos o mínimo de 2000 e o máximo de 3000 exemplares por cada edição e uma boa parte dessa tiragem ganhava o mundo. Um dia, hou-ve um fórum internacional de revistas alternativas em borde-aux, na França, promovido pelo PTT [correios franceses], e eles selecionaram as 300 melhores do mundo. Do Brasil, foram escolhidas a revista Dimensão, de Uberaba, e o nosso jornal. O “um Jornal Sem Regras” fazia parte de uma rede e a compa-ração mais próxima que eu faço com o que está acontecendo hoje é com os blogs. Foi um momen-to muito importante que depois eu tentei dar continuidade numa revista chamada Complexo B. Mas era um momento muito mais complicado que hoje, nin-guém tinha essas facilidades de trabalho gráfico, de design que se tem agora.

Fale! É verdade que vocês foram ameaçados de morte, devido a um ‘fotocauso’ que vocês montaram nessa época do “Jornal Sem Re-gras”?Flávio Paiva. No curso de Comuni-cação, tinha um senhor, o seu Rui, reformado da Aeronáutica. O bo-

ato que circulava era de que ele fosse um espião. nós fizemos uma história que era meio obscena. Precisava de um pai para uma moça. E convidamos o seu rui. Aí pronto, ele avisou para a família que tinha participado de uma

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fotonovela e, quando o jornal saiu, ele levou para casa sem ler. E a história era “esculhambada”. Então ele pegou o revólver e foi para a universidade nos matar. Como a universidade nos apoiava na parte da impressão, o reitor sugeriu que recolhêssemos os jornais que o Sr. rui queria rasgar um a um. E ele recebeu as tais páginas e rasgou fu-rioso... Mas na verdade, a edição circu-lou inteira, menos 50 exemplares, que realmente foram desfeitos. Ele rasgou páginas que a gente havia imprimido na noite anterior.

Fale! Como foi que você começou com os HQs?Flávio Paiva. Quando o professor ge-raldo Jesuíno teve a ideia de criar a Oficina de Quadrinhos e Cartuns, eu fui um dos primeiros a estar junto. Certa vez, o Maurício de Souza veio a Fortaleza lançar um filme da Turma da Mônica e eu o levei para conhecer a Oficina. Ele me disse que nunca ti-nha visto algo assim: “crianças, numa universidade, sem chamada, sem merenda escolar, sem dinheiro para o transporte, aprendendo a desenhar em pleno sábado”. Quando eu fui tra-balhar no Jornal O Povo, em 1985, o que saia de HQs era o Pafúncio, o recruta Zero, o Pato Donald... Mas quando o Ziraldo assumiu a Funarte,

levamos ao Demócrito [Dummar] a sugestão de publicar tiras nacionais e ele comprou a ideia na hora. Aprovei-tamos para abrir espaço para tirinhas locais do Jesuíno, do Cosmo Lopes, do Fernando Lima e as Naftalinas, que eu fazia com o Valber Benevides.

Fale! Você também teve experiências marcantes com a música. Como isso co-meçou e quais suas influências musicais naquela época?Flávio Paiva. Sempre tive um fascínio muito grande pela música. Eu tive um

grupo lá em Independência, cover do Secos e Molhados, que foi o grupo musical que mais me influenciou. vim para Fortaleza com essa coisa da música muito forte. nessa épo-ca, eu conheci o Abidoral Jamacaru, o Quarteto Pan... Era um momento muito rico. Depois criamos o gru-po bufo-bufo, que tinha o Falcão, a Marta Aurélia, o Assis Silvino, o Jor-ge Pieiro, o Marcos Fonseca, o Tarcí-sio Matos, e a gente fazia músicas de brincadeira. Mas foi nos anos 1990 que eu tive uma relação bem mais in-tensa com a música. Em 1994, eu fiz um disco: Rolimã, feito na realidade por um selo de São Paulo, o Came-ratti, do Cláudo lucci. E ele veio para o lançamento do rolimã. Ele estava pensando em fazer uma fábrica de CDs e eu o convenci a fazer no Ceará. Foi daí que nasceu a CD+.

Fale! Como surgiu o conceito de Música Plural Brasileira?Flávio Paiva. Foi uma forma que encon-trei de manter o conceito de MPb e ao mesmo tempo de atualizá-lo. Então, a gente começou a trabalhar com Mú-sica Plural Brasileira. nisso, o Moacir Maia, que era presidente do Sindicato dos Jornalistas, embarcou de coração e criamos o projeto “Sexta com Arte” lá no Sindicato. Dentro desse mesmo

O Maurício de Souza me disse

que nunca tinha visto algo como a oficina de quadrinhos: crianças, numa universidade, sem chamada, sem merenda escolar, sem dinheiro para o transporte, aprendendo a desenhar.

TIRINHAS. Em 1989, Flávio Paiva (F.d’I) e Valber Benevides combinaram traços de HQ com política.

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AçõES CULTURAIS. Ao lado, encontro com crianças e educadores na Escola Pública de Horizonte. Acima, Flávio recebe da professora Raquel Lima o Baú Flor de Maravilha do Colégio Santa Isabel, em Fortaleza

escopo, criei para a brahma o “brah-ma Cultural” e esse projeto apoiou outros projetos musicais importan-tes. O próprio “Sexta com Arte” tinha apoio do “Brahma Cultural”. A partir daí, surgiu a ideia de criar o “Fórum pelo Fortalecimento da Música Plural brasileira”, como uma das iniciativas do Pacto de Cooperação.

Fale! O CD Terra do Nunca, que foi pro-duzido ao lado de outros dois imigrantes, está inserido no contexto de Música Plu-ral Brasileira?Flávio Paiva. Foi uma experiência re-almente da pluralidade. Eu conheci a Anna Torres, lá no Maranhão, quan-do o Ricardo black ganhou o Canta Nordeste, com uma música minha e do Tato Fischer. Conversando com o Josias Sobrinho, que é um composi-tor que eu gosto muito, ele me pas-sou o contato e eu falei com a Anna. A gente marcou de se encontrar lá mesmo em São luiz. Depois ela veio a Fortaleza. Começamos a desenvolver o trabalho e convidamos o Paulinho Lepetit, que eu conhecia do tempo em que ele tocava com o Itamar Assump-ção, na banda Isca de Polícia. Foi um experimentação bem interessante. A Anna Torres, uma cafuza, lá de Lago da Pedra; eu, lá de Independência; e o Paulinho, lá do interior de São Pau-lo, juntos no que nos unia em termos de vida urbana... e produzimos aque-le disco. Foi uma grande experiência de relação e de criatividade.

Fale! Como é o seu processo de composi-ção musical e literária?

Fale! Você vê que semelhanças e que di-ferenças entre os diferentes aspectos de sua vida e em que medida isso já esta-va presente em seu livro “Retirantes na Apartação”? Flávio Paiva. Eu acho que a grande semelhança de tudo o que eu faço é uma tentativa de colocar, de compar-tilhar coisas que me emocionam. Isso vai variando. Quer dizer, o meio, in-clusive, nem é o mais importante. A vida tem uma parte que é a gestão da vida, que está ligada aos fatos, e outra que é o viver, que está ligada à alma, à imensidão, e a arte está aí dentro. A primeira divisão que eu faço é essa. E a outra divisão foi separar para poder juntar o que é da minha vida comuni-tária, o que é da minha vida familiar e dos amigos, a afetiva, e o que é da minha vida profissional. Então, eu nunca deixei nenhuma delas domi-nar a outra.

Fale! Com que objetivos você trabalha para o público infantil? Flávio Paiva. Eu sempre trabalhei com as referências da infância, mas na re-alidade não é com a coisa da infância em si, é com o lúdico. E o lúdico é do humano, ele não é só da criança. O lúdico vem da necessidade do jogo, que existe no ser humano. Mas quan-do eu faço alguma coisa para crian-ças, ou disco, ou música, ou literatura eu nunca faço querendo ser criança. É sempre o adulto que acha que tem uma coisa a dizer para ela experien-ciar ou trocar. Eu não tenho dificul-dade para colocar uma palavra que eu acho que ela não vá entender, por-

Flávio Paiva. Eu comecei a observar que as grandes obras, as mais legais, eram feitas em parceria. nas histórias em quadrinhos, se for olhar, por trás de todos os grandes personagens não era um cara genial fazendo as coisas, sozinho. A existência da complemen-taridade foi uma descoberta que me ajudou muito em tudo. Eu nunca quis fazer as coisas sozinho. Então, se eu posso fazer uma parte da música e outra pessoa pode fazer outra, eu vou fazer uma parceria. Se eu posso com-por e outro pode cantar e canta mui-to melhor do que eu, prefiro que ele cante. Apesar de fazer muitas coisas e gostar disso, eu sempre procurei fazer tudo maximizando ou capturando si-nergias com quem também faz e gosta de fazer aquilo. Junto, você faz muito mais legal do que se fizesse sozinho.

Prefiro participar das ações

transformadoras, as que produzem a compreensão de que não há milagres nem milagreiros na luta pela superação das desigualdades, das injustiças e da violência simbólica.

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1. Missa sanfonada para Toinzinho e Socorro (2004) 2. Grupo de Teatro O Canarinho (2007) 3. Flávio e Claúdio Lucci (1994) 4. Júri do Prêmio Literário Cidade de Belo Horizonte (2007) 5. Lançamento do 1º livro (1982) 6. Nice, Gilmar de Carvalho, Estrigas e Flávio (2006) 7. Flávio e Dom Fragoso (1987) 8. Flávio e Amarílio Macêdo (1998) 9. Flávio no Pilão da Madrugada (2000) 10. Flávio, Andréa Pinheiro e Betinho (1992) 11. Mona Gadelha, André Magalhães, Olga Ribeiro e Flávio (1997) 12. Artur, Andréa, Apolônio Melônio, Lucas e Flávio (2006) 13. Alberto Lima e Flávio (2001) 14. Rachel de Queiroz e Flávio (1999) 15. HQ Bia Bedran (1991) 16. Grupo Bufo-Bufo (1986) 17. Flávio e Miguel Macêdo (1995) 18. Cláudio Ferreira, João de Paula, Flávio e Osmundo Rebouças (1992) 19. Flávio, Anna Torres e Paulo Lepetit (1997) 20. Flávio, Guilherme Sampaio e Auto Filho (2007) 21. José Macêdo, Flávio e Pedro Albuquerque (1991) 22. Olga Ribeiro canta Flávio Paiva (1999) 23. Banda Dona Zefinha canta Flávio Paiva (2008) 24. Ismênia Tavares e Flávio (1986).

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que isso não importa para ela e não importa para mim. Para mim, o que interessa quando ela escuta música, ou quando ela lê um trabalho literá-rio, é que ela sinta coisas que ajudem a mover o metabolismo espiritual e mental dela. Isso é que é importante.

Fale! Você prefere trabalhar o conceito de “cidadão orgânico” em vez de “cida-dão do mundo”, isso representa uma mu-dança de que paradigmas?Flávio Paiva. O “Cidadão do Mundo” acaba tendo uma conotação mui-to geopolítica, muito geocultural. Como se o cidadão que nunca saiu de um determinado lugar no mundo não pudesse ser cidadão do mundo porque não tem acesso ao que está acontecendo do outro lado do pla-neta. Prefiro o “Cidadão Orgânico”, aquele que tem uma experiência au-têntica, para com ela existir de forma integrada à natureza, independente de ser viajado ou não. Pensei nesse conceito como uma atualização da concepção gramsciana de “Intelec-tual Orgânico”. Mas, diferentemente do “Intelectual Orgânico”, o “Cidadão Orgânico” é de um lugar, não de uma classe e não precisa ser um intelec-tual nem ter atuação partidária; age porque o todo lhe interessa, porque se sente parte do todo. é universal porque associa o futuro do planeta ao seu futuro e vice-versa.

Fale! Como ser um indivíduo socialmente participativo, sem cair no assistencia-lismo? Como você experimenta isso em sua vida?Flávio Paiva. Temos historicamente uma tendência ao assistencialismo que, a meu ver, resulta de duas mo-tivações principais: uma, a que faz parte do exercício de solidariedade praticamente imposto pela realidade emergencial, comum aos países em situação de colonizado, como o bra-sil; já a outra, a que é praticada por força de culpas e remorsos, vem de deformações religiosas e políticas, que visam à permanência da sub-missão. na minha vida comunitária, prefiro participar das ações transfor-madoras, as que produzem a compre-ensão de que não há milagres nem milagreiros na luta pela superação das desigualdades, das injustiças e da violência simbólica.

Fale! Como você enxerga a mobilização

da sociedade na chamada era Tasso? Que frutos colhemos hoje?Flávio Paiva. A política neoliberal e autoritária do Cambeba deixou mar-cas profundas de alienação no Ceará. A proposta do “governo das mudan-ças”, como alternativa aos coronéis, que até 1986 controlavam o Estado, parecia um avanço, mas, por ter sido mal conduzida, acabou sendo um re-trocesso social e democrático. Con-tribuí com os esforços do Movimento Pró-Mudanças de co-responsabilida-de da sociedade na gestão pública e vi de perto o quanto o governo Tasso mostrou-se incapaz, diante dos desa-fios da política contemporânea. Para não dizer que tudo foi precário nos 20 anos de autocracia cambebana, vivenciei diretamente uma experiên-cia exitosa de gestão compartilhada, quando o Amarílio Macêdo propôs e o então governador, Ciro gomes, concordou com a criação do Pacto de Cooperação, entre o setor produtivo, o governo e a sociedade.

Fale! Você foi um dos fundadores do Ins-tituto Equatorial de Cultura Contemporâ-nea. O que aquele grupo desejava e de que forma você avalia os resultados da-queles esforços no contexto atual?Flávio Paiva. Em linhas gerais, o Ins-tituto Equatorial tinha como objeti-vo a democratização da informação e do conhecimento. Dirigido pelo sociólogo Pedro Albuquerque e fi-nanciado pelo Grupo J.Macêdo, era uma ONg que convergia interesses cidadãos, entre intelectuais livres, e uma empresa que, antecipando-se à realidade atual, via, no fortalecimen-to da cidadania, um caminho para a construção do consumidor conscien-te. A promoção de discussões, como o seminário “Ceará, os indicadores do futuro – pulsão de vida ou morte”, realizado nos principais municípios do Ceará, explicitou para a população a correlação entre a nossa pobreza econômica e a nossa pobreza política. Acho que o Equatorial deu uma boa contribuição à percepção de desen-volvimento local, de uso dos espaços públicos intercomunicativos e de sus-tentabilidade.

Fale! Como arte, ecologia e economia solidária podem se entrelaçar? Quais as semelhanças entre esses campos?Flávio Paiva. A separação entre natu-reza e natureza humana é um recor-

Para mim, o que interessa

quando a criança escuta música, ou quando lê um trabalho literário, é que ela sinta coisas que ajudem a mover o seu metabolismo espiritual e mental.

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nice e estrigas, artistas plásticos“Nós temos muitos filhos adotivos. O Gilmar de Carvalho, o Bené [Fonteles], o Flávio Paiva, o Carlos Macêdo. Eles vêm aqui e preenchem muito bem o espaço de não termos tido filhos.” (2009)

Ana lúcia villela, pedagoga, presidente do Instituto Alana“Flávio Paiva descobriu a chave secreta para libertar as criaturas do bem. Chamou (...) gnomos, bruxas, sacis (...) um time imbatível, chefiado por esse brilhante jornalista e escritor na sua luta contra a massificação cultural e o consumismo desenfreado de nossas crianças.” (2007)

edson vaz Musa, empresário“Você é um desses valores que toda empresa precisa ter, mas que poucas conseguem.” (2007)

José Borzacchiello, geógrafo“Flávio Paiva evidencia questões urgentes da agenda cearense. Especialista na arte de desvendar, cada tema percorrido por sua análise ganha maior visibilidade. O texto revela uma cumplicidade com o leitor.” (2005)

cristovam Buarque, senador“O estilo do livro -repor tagem de F lávio Paiva tem uma característica de raros dos grandes escritores realistas: nós sentimos a presença do escritor em cada minuto da narração.” (1995)

henfil, cartunista“Terão meu pai e minha mãe viajado por For taleza? Que irmão é esse que eu não sabia existir?” (1983)

José louzeiro, escr itor“Flávio Paiva resgata o nosso envergonhado realismo. Graças a sua aguçada sensibilidade e tino de repór ter, toma a temática esquecida pela intelectualidade brasileira.” (1995)

luizianne lins, prefeita de Fortaleza“Fortaleza, de Flávio Paiva, é um livro infantil em que a própria cidade

narra sua história de uma maneira muito afetiva.” (2006)

Judicael sudário, juiz do trabalho“É Fortaleza a terra de Lustosa da Costa, de Moreira Campos, de Milton Dias, de Eduardo Campos, de Costa Matos, de Francisco Carvalho, de Dimas Macedo, de Flávio Paiva (o Flávio d’Independência) e de Antônio Sales.” (2008)

Moreira campos, contista“Flávio Paiva possui a inspiração poética, um bom domínio da língua, revelado aqui e ali na palavra necessária ou na frase expressiva.” (1982)

nonato Albuquerque, jornalista“Flávio Paiva é uma das figuras mais incríveis que eu já conheci nesta minha encarnação. Texto primoroso, colega inigualável, criativo e criador.” (2008)

paul singer, economista, ministro da Secretaria da Socioeconomia Solidária“Flávio Paiva procura extrair de cada evento

um sentido, expandindo sua reflexão que frequentemente alcança o Ceará, o Brasil e o cenário mundial, desnudando o que o retrato ou discurso bem comportado trata de ocultar.” (2001)

pedrinho Guareschi, filósofo“Flávio Paiva é um escritor-educador que vai fazendo as perguntas, que não pára, que incomoda e desacomoda, que procura levar consciência às pessoas, uma consciência que liberte.” (2009)

ricardo Bezerra, músico“Posso dizer que o Flávio Paiva e o Nelson Augusto são os principais responsáveis por eu estar de volta ao palco.” (1998)

rubem Alves, educador“Diferente das outras aves, o Benedito Bacurau não nasceu de um ovo. Ele nasceu de uma cantiga de ninar que a mãe do Flávio Paiva cantava para ele.” (2003)

tom zé, multiartista“Quando alguém me disser que não tem tempo de fazer as coisas, mandarei falar com você.” (2009)

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te racional da modernidade. Tenho a esperança de estarmos realmente inclinados a avançar nos campos da agroecologia, da socioeconomia so-lidária, do sentimento de que preci-samos produzir para viver e não de viver para produzir. Fala-se que a so-lução está na educação. As vozes bem e mal intencionadas que reproduzem

esse discurso acabam não atentan-do para o pano de fundo real desse problema, que está na cultura. Para mim, trabalhos como o de formigui-nha, que o professor Paul Singer vem desenvolvendo à frente da Secretaria Federal da Socioeconomia Solidária, são muito mais importantes do que muitos dos milionários programas

educacionais que falam de sustenta-bilidade e inclusão digital, com altos índices de dissonância cognitiva.

Fale! Como é hoje a sua participação no Cetra, o Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador?Flávio Paiva. Sou apenas um conse-lheiro do Cetra. é uma organização

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com uma consistente história de luta por emancipação social no Ceará, que está iniciando um novo ciclo, com uma nova geração de participantes. Minha contribuição tem se resumi-do a aspectos conceituais que devem motivar a existência de uma entidade dessa natureza. Tenho tentado esti-mular a aproximação da cultura com os eixos temáticos da organização. Não é uma assimilação fácil, mas al-guma coisa já tem acontecido, como as “Conversas de Quintal” e a entrega da Medalha da Terra ao compositor Eugênio Leandro, pelo seu trabalho de cantar os conflitos e a poética do campo. Tenho dito nas nossas reuni-ões que pouca idade não quer dizer juventude e que, por isso, precisamos ser cada vez mais insurgentes, evitan-do qualquer tentação de comodismo.

Fale! Dentro dessa linha, você também fala de uma vivência e de um fazer polí-tico não-partidário. Isso tem relação com o dito fim das grandes ideologias ou vai mais além?Flávio Paiva. Vai mais além. Primeiro porque não concordo que as grandes ideologias tenham chegado ao fim. Temos aí a ideologia do consumismo, a ideologia do primeiro-mundismo, a ideologia do mercado da fé, a ideolo-

gia tecnocientífica, enfim, temos um sem-número de dogmas organizados, sustentados por vulgatas falaciosas. A situação histórica, sim, pode ser outra. A multipolaridade é uma rea-lidade que se construiu nas duas úl-timas décadas, com a queda do Muro de berlim, em 1989, e com o suicídio do Mito do neoliberalismo, em 2008. Quanto ao fazer político não-partidá-rio, a que você se refere, vejo brotar cada vez mais uma organicidade cida-dã que tende a considerar a represen-tação não apenas com fins eleitorais e de preservação da institucionalidade,

mas, principalmente, em seu papel de tratar do que realmente importa para a vida.

Fale! Ao mesmo tempo que vivencia a arte e a mobilização social, você atua como comunicador empresarial. Como conciliar atividades por vezes tão conflitantes?Flávio Paiva. não há conflito quando há clareza de propósito e respeito mú-tuo nas relações. não tenho discursos diferentes nos diferentes lugares em que atuo. Todos sabem o que penso e o que faço. O exemplo mais emblemá-tico do respeito à autonomia do pen-samento na minha relação profissio-nal com a J.Macêdo ainda é um que foi dado pelo fundador José Macêdo, por ocasião de uma campanha eleito-ral para a Presidência da República, quando eu declarei em uma reunião que votaria no lula. O Sr. Macêdo aproveitou a situação para fazer um comentário que para mim soou como lição: “Eu gosto de quem não esconde o que pensa. no tempo em que além de empresário fui deputado e sena-dor, o melhor assessor que tive foi o Américo barreira, que era do Partido Comunista”. Essa transparência me dá muito conforto na nossa relação.

Fale! Como foi participar e colaborar com

Vivenciamos no Brasil um

fenômeno precioso que tenho chamado de “Democracia Empírica.” Trata-se de uma construção democrática fora dos parâmetros importados e dos modelos tradicionais.

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essa decisão do Grupo J.Macêdo de não dirigir publicidade às crianças, mesmo tendo uma linha infantil de produtos? Criança e consumo não combinam?Flávio Paiva. O que você está colo-cando é um exemplo típico de como a atuação múltipla é positivamente complementar. Desde 2005, inte-gro o conselho do Projeto Criança e Consumo, à convite da pedagoga Ana Lúcia villela, e, de lá para cá, os problemas do consumismo na infân-cia passaram a se fazer presentes de maneira mais sistemática em minha vida. Quando a J.Macêdo pensou em lançar uma linha de produtos infan-tis, nada foi mais natural do que a mi-nha contribuição no desenho do Sis-tema de Posicionamento de Marca e na criação de normas de compromis-so da empresa, no sentido de dirigir a comunicação da nova linha de produ-tos aos pais, às mães, aos cuidadores em geral, mas não à criança. E, digo com muita satisfação, a J.Macêdo foi a primeira empresa brasileira a ter essa atitude concreta.

Fale! O brasileiro e o cearense estão dei-xando de ser colonizados culturalmente e descobrindo seus próprios modelos? Que impacto isso pode ter?Flávio Paiva. vivenciamos no brasil e, óbvio, também no Ceará, um fenô-meno precioso que tenho chamado de “Democracia Empírica”. Trata-se de uma construção democrática fora dos parâmetros importados e dos mo-delos tradicionais. é incrível como, mesmo em condições de desigualda-de de acesso às informações, o povo brasileiro tem conseguido resultados eleitorais surpreendentes. Toman-do por base as esferas colocadas na sua pergunta, temos hoje a Luizian-ne Lins, na Prefeitura de Fortaleza, o Cid gomes, no governo do Ceará, e lula, na Presidência da república. Isso certamente não implica dizer que já temos um modelo próprio, mas não deixa de ser indício de que avançamos na desconstrução de algumas amar-ras coloniais. Atribuo o advento dessa disciplina social coletiva à nossa ex-cepcional cultura futurista.

Fale! Como tem sido a experiência de re-digir uma coluna de tanto êxito no Diário do Nordeste?Flávio Paiva. Neste mês de março, está completando três anos que passei a escrever no Diário. Como é da natu-

reza de uma coluna, o que faço é pro-curar enxergar o cotidiano, por an-gulações nem sempre consideradas pela linha editorial do jornal. Assim, me sinto livre para me posicionar em questões paradoxais, como a data do aniversário de Fortaleza, a necessida-de de inibição do uso do automóvel nos centros urbanos, a decisão preci-pitada do Ministério da Cultura pelo novo sistema de copyright estaduni-dense, o acordo ortográfico da comu-nidade da língua portuguesa e outras bandeiras, como a construção de um centro interativo do Padre Cícero no Seminário da Prainha, próximo ao Centro Dragão do Mar. E o melhor de tudo é a resposta quase sempre fra-ternal que recebo dos leitores, mani-festando que sentiram alguma coisa ao ler o que escrevi.

Fale! Você lançará um livro no próximo dia 28 de março. O que o leitor pode es-perar dele?Flávio Paiva. Faço 50 anos de idade no dia 20 de março. na verdade, sempre que tenho algum trabalho para lan-çar me sinto aniversariando. Desta vez, procurei sincronizar os eventos e a Editora Cortez concordou. O livro “Eu era assim – Infância, Cultura e Consumismo”, que tem prefácio do querido professor Pedrinho gua-reschi e capa do meu amigo e velho parceiro geraldo Jesuíno, reúne en-saios e artigos publicados na última década sobre a violência contra a in-fância, sobretudo na sua dimensão simbólica e de vacuidade cultural. O livro está cheio de invencionices como a criação de uma rede interna-cional de mitos populares orgânicos, como o nosso Saci-Pererê. Quem for

LANçAMENTO. EU ERA ASSIM — INFÂNCIA, CULTURA E CONSUMISMO. Editora Cortez, 336 páginas. R$ 42,00.

ao lançamento, que será no Centro de Referência à Infância, Incere, em Fortaleza, vai poder se deliciar com um espetáculo da Banda Dona Zefi-nha para crianças, cantando músicas dos meus livros.

Fale! Entre as diversas condecorações, títulos e prêmios que você já recebeu em suas diversas atividades, alguma lhe marcou de modo especial? Por que?Flávio Paiva. Todas representam al-gum tipo de reconhecimento e dei-xam marcas do seu jeito e motivo. Foi assim quando recebi o Título de Ci-dadão de Fortaleza, a Medalha Capis-trano de Abreu, a comenda do Dia da Cultura e da Ciência, a menção honro-sa do Prêmio vladimir Herzog, o Tro-féu Saci do Mendobi, a condecoração do Conservatório Alberto Nepomuce-no e todas as vezes que sou homena-geado nas escolas pelo meu trabalho literário e musical. nunca esqueci o dia em que, homenageado por uma escola da cidade de Horizonte, fui abordado por uma garotinha que disse para mim: “Meu nome é geór-gia. Estou no grupo que vai dançar a música “Amarelinha”. Você olha para mim quando eu estiver dançando?”. Falei: “Claro que olho, Geórgia”. Ela me abraçou e saiu correndo acompa-nhada por sua fantasia.

Fui abordado por uma garotinha que

disse para mim: ‘Meu nome é Geórgia. Estou no grupo que vai dançar a música ‘Amarelinha’. Você olha para mim quando eu estiver dançando?’. Falei: ‘Claro que olho, Geórgia’.

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PaULo JoSÉ,o CaSaMEnTo da Voz

CoM o boM goSToEle é dono de um voz marcante e consistente, cheia de

originalidade. Versátil, passeia com naturalidade por vários estilos musicais rivalizando com artistas do primeiro time da

música nacional e internacional.

JAZZ, bLuES, TANgO, bOLERO, bOSSA NOvA, MPb. Todos esses gêneros estiveram nos primeiros lugares das paradas musicais do brasil e do mundo até a dé-cada de 1960. Mas se engana quem acha que eles estão fora de moda. Prova disso, é o repertório dos

quase cinco mil casamentos, nos quais o cantor cea-rense Paulo José benevides já se apresentou, em 15 anos de carreira. Em comum, essas cerimônias tiveram clássicos de Frank Sinatra, Charles Aznavour, Tom Jo-bim, entre outros representantes de um “old fashioned way” musical.

Cultura

Especial

Mas o que antes era apenas uma aposta no bom gosto, começa a ga-nhar status de sucesso. Mundo a fora, parece haver um movimento de re-torno a essas origens da música oci-dental contemporânea. nomes como

Michael bublé, Robbie Williams e buena vista Social Club estão dando uma cara contemporânea a estilos clássicos da música popular e vice-versa. Até o rock polêmico do nirva-na já foi gravado em formato jazz. Os

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britânicos do Coldplay, por sua vez, ganharam uma versão em legítima salsa cubana, digna da terra de Fidel.

Pioneiro nesse processo, Paulo José se entusiasma com o novo momento da música mundial, onde big bands e vozeirões come-çam a ser novamente valorizados. Ele mesmo investiu muito em formação musical, tendo estudado canto por sete anos, com passagens inclusive pela Áustria. “Os timbres estão vol-tando a ser valorizados. As pessoas estão valo-rizando cada vez mais a música ao vivo e não mais como um sampler, com tudo feito num teclado digital.” é exatamente nesse momento histórico que ele lança o seu primeiro álbum de carreira.

“Minha voz” reúne grandes composições, de Flávio venturini a Sammy Davis Jr,

em arranjos que misturam jazz, bolero e bossa nova. O álbum foi produzido em

2008, no Rio de Janeiro, por José Milton. O produtor musical já pro-

duziu discos e shows para Domin-ginhos, família Caymmi e Emílio

Santiago, entre outros grandes nomes. renomados músicos

cariocas, como Cristóvão bastos, Chico batera,

Don Chacal, João Lyra e Jorge Hélder, também integram o projeto. Para

o intérprete cearense, o período no Rio de Janei-

ro trouxe uma maior percep-ção da importância de casar voz e

instrumentos, evitando excessos. “Minha Voz” foi lançado oficialmente em fevereiro, embora, desde o início de 2009, o álbum já esteja nas principais lojas de disco do país, in-cluindo a Desafinado e as Americanas.com.

O Theatro José de Alencar foi o palco da estreia de Paulo José, que aconteceu nos dias 11 e 12 de fevereiro. Somente no primeiro mês de vendas, o álbum já vendeu 10 mil cópias. Paulo José já havia lançado outros quatro ál-buns, que venderam mais de 100 mil cópias no total. Mas todos eram voltados para a temática religiosa. Essa, aliás, é outra face marcante na vida do artista. Tendo debutado como cantor profissional aos 12 anos, na cerimônia de casa-mento da irmã Inês, e sendo um bem-sucedido empresário do ramo de festas e eventos, Paulo José não evitou trazer um pouco dessa religio-sidade para o seu novo trabalho. A última faixa do álbum é uma versão inédita da “Ave Ma-ria”, de Charles Aznavour, em francês. A com-posição jamais havia sido gravada por outro intérprete, que não o próprio franco-armênio, ícone da música francesa do século XX.

A Fale! foi saber mais desse talento da voz e do mundo dos negócios. Confira a entrevista exclusiva.

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Como foi o processo de gravação e produ-ção do “Minha Voz” e as experiências com o produtor musical José Milton e com os músicos cariocas?Paulo José. Foi engraçado até como a gente se conheceu, eu e o José Mil-ton. Ele veio aqui fazer um show com o Emílio Santiago e eu estava abrindo esse show deles. Quando eu desci do palco, ele me segurou pelo braço e dis-se: nós vamos gravar um disco. Che-guei no Rio de Janeiro, gravei com o Cristóvão bastos, que é músico do Chi-co buarque e compositor que faz músi-ca para ele; com o Jorge Hélder, que é um dos maiores baixistas acústicos do mundo; com o João Lyra, o maior vio-lão do brasil; com o Paulo braga, que tocou com o Tom Jobim a vida intei-ra; e com Chico batera e Don Chacal, os dois percussionistas que já tocaram com Gloria Stefan e Frank Sinatra... Então, você sentar com esse povo e ir para uma esquina com eles comer uma coxinha... o papo vai numa simplicida-de impressionante e eles são simples também na hora de tocar.

Como está sendo feita a distribuição, pela Som Livre, do álbum “Minha Voz”?Paulo José. Está vendendo muito bem realmente, já são 10 mil cópias, muita

gente grande da MPb não está ven-dendo isso hoje em dia. E é porque os primeiros shows foram dias 11 e 12 de fevereiro, no Theatro José de Alencar. Com orquestra de metais, orquestra de cordas, com base, veio gente do Rio de Janeiro tocar... O José Milton, que pro-duziu o “Minha voz”, veio produzir o show também.

Como os grandes jazzistas e o Frank Si-natra influenciaram o seu trabalho? Você acredita que as big bands estão voltando?Paulo José. È impressionante como coincide de eu pesquisar uma música, botar na big band para tocar e um mês depois algum cantor lá fora gravar a mesma coisa que eu pensei, porque está todo mundo atrás disso. Isso porque satura o tipo de música que está sen-do ouvida hoje no Brasil. nada contra o funk, o axé, essas coisas, mas eu não vou ouvir isso no meu carro ou dentro de casa. Vai ter sempre espaço para a música romântica, para música que te faça pensar no que a letra quer dizer.

Você sempre investiu no canto, na voz. Você acredita que está havendo uma reva-lorização da voz hoje em dia?Paulo José. O cantor tem que estudar, o cantor tem que tocar um instrumento.

Se não entender de tom, entender de alguma coisa. Eu investi muito nisso, fiz cursos fora, em Madri e em Viena, estudei canto sete ou oito anos, fiz fa-culdade de música. A gente tem que ir atrás de se aperfeiçoar nisso. Eu acredi-to no meu trabalho e se hoje eu consigo falar de música, consigo ter uma noção das coisas é porque eu estudei. Existe o talento, existe o dom, mas você tem que aprimorar, tem que estudar. E eu acredito na voz. Eu acho que a voz vol-tou a ser valorizada. Os timbres estão voltando a ser valorizados. As pesso-as estão valorizando cada vez mais a música ao vivo e não mais como um sampler, com tudo feito num teclado digital. Esse disco, o “Minha Voz”, ele tem essa sonoridade porque todos os instrumentos foram reais e esse é outro grandíssimo diferencial.

Como foi a experiência em Viena, na Áus-tria, a capital da valsa e berço de grandes nomes da música clássica?Paulo José. Em viena, eu tive a expe-riência de um mês, no qual eu tive aulas com o maestro Pantschev, que é um maestro russo, e com a esposa dele também, que é uma professora de canto muito renomada na Euro-pa. Era mais o canto lírico, porque eu

Está vendendo muito bem [o CD], já são 10 mil cópias, muita gente grande da MPB não está vendendo isso hoje em dia.

CU LT U r a

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“Minha Voz”, com Paulo José1 Dorothy L’Amour 2 Vieste 3 Spotlight 4 O que é Amar 5 Minha Voz 6 E Era Copacabana 7 Old Fashioned Way 8 Color Esperanza 9 Cantar 10 Vieste 11 Hello, Detroit 12 Ave Maria

cantava óperas naquela época. Mas quem canta o lírico consegue jogar a voz no popular, facilmente, porque a técnica é a mesma. Fica até mais fácil cantar o popular. Mas quem canta o popular não consegue cantar o líri-co... Em Viena, a gente fez um show muito bonito, dentro da embaixada russa. Fantástico! Era eu e um pia-nista. no meio do show, eu cantei um tango, cantei um bolero, cantei um “Garota de Ipanema”.

Você regravou Ivan Lins e Flávio Venturini. Como é essa descoberta dos grandes íco-nes da MPB em seu repertório?Paulo José. Nesse novo disco, a gente gravou uma música chamada “E Era Copacabana”, do Carlos Lyra e da Joyce, que daqui a um ano ou dois vai ser um grande clássico, como “Copa-cabana”, como “Garota de Ipanema”. Essa mistura de bolero - bossa nova, que a gente fez nessa música e nesse disco, é tão atual. Isso não sai de moda nunca. Para mim, essa foi uma experi-ência enriquecedora: saber que a mú-sica boa tem espaço e não vai deixar de ter nunca.

O que mais influencia o seu trabalho?Paulo José. Meu pai tinha, na época do disco de vinil, 3000 discos, só de can-tores e grandes orquestras. Então, a minha influência é de Cauby Peixoto, Nelson gonçalves, Charles Aznavour, Plácido Domingo, Luciano Pavarotti; aí vai pelos cantores espanhóis, José Carreras, José Feliciano, Pedro Vargas. Tem também os norte-americanos, como Sinatra, Perry Como, Elvis Pres-ley; a bossa nova com Tom Jobim... A gente ouvia tudo, também as orques-

tras como a de Mantovani ou os pianis-tas como liberace.

Você já tem previsto algum show fora de Fortaleza? Pretende voltar ao Rio para fazer shows lá e divulgar o disco pessoal-mente?Pauo José. O disco, a gente vai come-çar a trabalhar agora, porque eu o fiz no meio de 150 casamentos e festas, nos quais eu cantei no ano passado. A gente vai fazer um show na Modern Sound, no Rio de Janeiro, e já tem convite para fazer um show, o mesmo que foi feito aqui no Theatro José de Alencar, em recife. Esse show agora do Theatro José de Alencar é que abriu realmente. A gente está montando a equipe do show. Mas eu sei também que tenho um show em San Francisco, nos Estados unidos, em agosto, talvez voltado para o que eu fazia antes desse disco.

Qual a sua avaliação desse mercado de eventos e como esse lado da sua carreira influencia o seu trabalho solo?Paulo José. Quando eu comecei, há 15 anos, havia três cantores na cidade, eram o Raimundo Arrais, Ayla Maria e a Daniela Montezuma. E de repente a gente foi entrando e conseguindo... buffets tinham um ou dois; fotógrafos de eventos, um ou dois, aí você pula 15 anos e vê como está hoje. hoje, você deve ter mais ou menos uns 60, 70 gru-pos musicais que fazem eventos, mais uns 20 ou 30 buffets, fotógrafos deve ter uns mil... (risos) E o pior, ou o me-lhor, é que todo mundo trabalha. Tem trabalho para todo mundo, porque são muitos eventos, muitas festas. Mas tudo isso que acontece nesse mercado

me influencia da seguinte forma: cada vez mais, eu procuro fazer com que a música seja a diferença.

Quanto à estética religiosa, uma vez que seus trabalhos anteriores foram focados nisso, de que forma essa religiosidade pode retornar ao seu trabalho e como ela influencia no teu cotidiano como cantor e empresário?Paulo José. Ela nunca vai sair do meu trabalho pelo fato de ser cristão, de ser católico, de ter nascido e me cria-do dentro de uma igreja. nesse disco, o “Minha voz”, eu não consegui me sair da parte religiosa, já que tem uma “Ave Maria” do Charles Aznavour, gravada em francês, com as Meninas Cantoras de Petrópolis, num coral de 56 vozes. A “Ave Maria” de Charles Aznavour foi a música que mais atrasou o disco por-que nunca tinha sido gravada por ou-tro cantor, ele canta em todos os shows que ele faz e nunca permitiu ninguém gravar. ninguém gravou essa músi-ca antes. E a gente gravou “no peito e na raça”. A Som livre mandou o tape para eles lá em Paris e a resposta veio positiva. Eu só soube depois que eu já tinha gravado, senão eu não tinha nem gravado.

O que há no Paulo José, dos familiares que o introduziram nesse mundo musical? O seu pai, Sérgio Armando Benevides, e seu tio Gilson Gomes, por exemplo?Paulo José. O meu nome é Paulo José Serpa benevides, eu tenho os lados Ser-pa e Benevides bem musicais. O lado benevides, que foi onde eu me criei realmente, com meu pai. na família dele, de onze irmãos, todos os homens cantavam, e muito bem, e as mulheres tocavam, muito bem, o piano. Do ou-tro lado, eu tenho um tio jornalista, chamado Egídio Serpa, que é uma ver-dadeira enciclopédia musical. A gran-de parte cultural dele, em música, é a música brasileira e eu sempre me es-pecializei em música internacional. Eu sempre ouvi Elvis Presley, Perry Como, Frank Sinatra, Charles Aznavour, es-panhóis... Mas da música brasileira mesmo, Dominguinhos, Sivuca, prin-cipalmente nessa coisa nordestina, de Fagner, Zé Ramalho, meu tio é quem me ensina muito. Como voz, os dois exemplos que eu tenho são o meu pai, que hoje ainda canta muito bem e um outro tio chamado Gilson Gomes. Os dois quando cantavam juntos não ti-nha Elvis Presley, Frank Sinatra...

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PaTríCia PaESPorTFóLio UniVErSaL

A ex-modelo cearense Patrícia Paes girou o mundo, ganhou know-how como fotógrafo profissional e hoje,

dona de um rico portfólio, se dedica ao editorial de moda

FORTALEZA, SãO PAuLO, COLôNIA, bRESCIA, MARRAkESH, ISTAMBUl, hOnG KOnG, DACA, rAnGUM, BAnGKOK, BAlI... Isso bem que poderia ser um roteiro de viagem, mas são apenas alguns dos lugares pelos quais passou a fotógrafa cearense Patrícia Paes. Cidadã do mundo, em suas muitas experiências acadêmicas, profissionais e antropológicas,

como costuma definir, Patrícia trouxe diversas influências para o seu trabalho com a fotografia de moda. O interesse por esse nicho ascendente tem origens no início de sua carreira, quando foi mo-delo profissional e, posteriormente, professora de modelos e pro-dutora de moda.

Cultura

Especial

Mas para além do olhar de quem já este-ve nas passarelas, Pa-trícia Paes acrescentou à sua fotografia a for-mação profissional que teve no Museu Inter-nacional de Fotografia, na cidade italiana de Brescia. Antes disso, na Alemanha, conheceu o Museu da Fotografia de Colônia o Museu Ludwig de Arte Con-temporânea e o Museu van gogh, em Amsterdam. Também se aprimorou

estudando Multimedia e branding, que é um trabalho de construção de uma marca junto ao mercado. Em Bangla-desh, país asiático, teve a oportunidade de ge-renciar o departamento de multimídia da k&b e trabalhar a marca do IFIC bank Limited, am-bas empresas próspe-ras da nação-berço do Nobel da Paz de 2006,

Muhammad Yunus, conhecido como “o banqueiro dos pobres”.

INDONÉSIA. Explosão de cores no registro de uma dancarina em Bali

A fotógrafa Patrícia Paes

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FOTO QUE NÃO SAI DE MODA Patrícia desenvolve

ensaios para os maiores nomes do segmento de

moda no Ceará e no país.

1. Mundo de Pandora 2. Lilás 3. Rihomo

4. Paroma

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Durante os quatro anos em que morou na ásia, Patrícia registrou a dura realidade de boa parte da popu-lação dos países do Sudeste Asiático, mas também as tradições e as rique-zas culturais e naturais. O roteiro in-cluiu Myanmar, Tailândia, Sri Lanka, Índia e Indonésia. Mas foi também na ásia que Patrícia Paes chegou a ter sua carreira interrompida por problemas conjugais. Em sua maior imersão no universo daquele conti-nente, casou com um muçulmano de bangladesh e se viu obrigada a deixar de lado a profissão. Em fevereiro de 2007, retornou ao Ceará. Agora, já li-vre das amarras da tradição bengali, assina diversos editoriais de moda e desenvolve ensaios para os maiores nomes do segmento, no estado e no país.

Pelas suas lentes, já passaram modelos das coleções de marcas como Zignum, Stalker, Donana, Cli-che, OW Line, Mundo de Pandora e Rihomo, onde fotografou o modelo Paulo Zulu. Entre os editoriais, tra-balhou para as revistas Seven, Am-bientes, InVoga, Chic, Caras e Quem. Trabalhou ainda no Dragão Fashion Week, em 2008, ao lado do produtor de moda Cláudio Silveira. Tem ainda no currículo, trabalhos como desig-ner, webdesigner, animadora 2-D, além de ter sido, ajudante de cozinha e pizzaiola na Europa. Para fechar, toda essa versatilidade se sustenta na paixão pela Psicologia, curso que pretende fazer no futuro. Para saber mais dessa personalidade forte, a re-vista Fale! entrevistou a perfeccionis-ta Patrícia Paes, a nova cara da foto-grafia de moda do Ceará.

Fale! A fotografia hoje é tida por muitos como sendo arte, mas enfrentou muita resistência dos demais artistas plásti-cos quando surgiu no século XIX. Você diria que a moda ainda será reconhecida como arte? E a fotografia de moda, pode contribuir para isso?Patrícia Paes. Por que não? Se uma

lata de Campbels virou arte nas mãos de Warhol, por que não um vestido nas mãos de algum grande estilis-ta? Tenho certeza de que a fotogra-fia pode contribuir para isso. Diria que moda conceitual é sim uma for-ma de arte, onde só existe sonho e fantasia. Mas não se deve esquecer nunca que o objetivo de uma marca ou da maioria dos estilistas é ven-der um produto.

Fale! Quais as principais diferenças entre a fotografia de moda e o fotojornalismo ou fotopublicidade, por exemplo? Patrícia Paes. Entre moda e fotojorna-lismo seria como comparar o direito criminal com o civil. A única coisa em comum seria a psicologia da in-formação. Já na foto publicitária, a moda também está inclusa. Qualquer produto que se quer comercializar está incluso. Acredito que a fotogra-fia de moda pretende captar a visão de uma marca, de uma coleção ou de uma roupa, a respeito de uma série de concepções e pesquisas que o estilista quer veicular por meio de seu traba-lho. E esta postura se insere na área de fotopublicidade. Já o fotojornalis-mo é fruto da captação do instante vi-vido por uma pessoa ou um grupo, ou ainda, o registro de uma dada situa-ção, que pode até vir a se tornar algo histórico. O interessante é que alguns fotógrafos de moda inspiraram-se no fotojornalismo para campanhas de grifes, como aconteceu com Oliviero Toscani, para a Benetton.

Fale! Como esse estilo de fotografia sur-giu no seu trabalho? Patrícia Paes. A moda entrou bem cedo em minha vida, quando me tor-nei modelo; depois como professo-ra de modelos, como produtora de moda, como designer gráfica; daí foi um passo para a fotografia. Tudo se interligou.

Fale! Como você enxerga o mercado de moda no Brasil e no Ceará?

Patrícia Paes. no Brasil e no Ceará, o mercado é amplo, com estilistas maravilhosos, reconhecidos aqui e lá fora. Alguns inclusive começaram a expandir suas marcas internacio-nalmente. Infelizmente, para trans-formar uma marca em grife é preciso investir tempo e dinheiro, pois supõe a sedimentação de uma imagem bas-tante específica, que desperta o dese-jo das pessoas em possuir uma peça de uma grife.

Fale! Você acredita que a fotografia de moda pode também ajudar a diminuir a barreira entre a moda das ruas e a das passarelas?Patrícia Paes. Acho que não existem mais barreiras, penso que tudo ou quase tudo já foi adaptado. A não ser que ainda existam marcas e estilis-tas que não aceitem essa interseção como uma possibilidade e achem que a roupa para se usar na rua tem que ser convencional e pouco criativa. Mas não falo das passarelas da moda conceitual, que na verdade quase ninguém usa... Fale! O fato de você ter sido modelo e produtora de moda te dá que tipo de perspectiva diferente quando você foto-grafa outras modelos?Patrícia Paes. Ajuda-me a reger a “or-questra” de um set para um catálo-go, por exemplo. Quero dizer, desde a maquiagem, a produção como um todo, até a pose e a expressão da mo-delo, tudo o que aprendi nos meus 16 anos de moda, claro que me ajuda. Já trabalhei com várias modelos novatas e não tive o menor problema em con-seguir um resultado satisfatório para a marca que havia me contratado. Fale! Nos seus trabalhos, é comum a mulher aparecer como algo misterioso, distante e um tanto taciturno. Esse é o ângulo mais interessante da essência fe-minina a ser captado pelas suas lentes ou é mais uma idealização do universo masculino sobre a mulher?

InfelIzmente, para transformar uma marca em grIfe é precIso InvestIr tempo e dInheIro. é precIso sedImentar a Imagem despertar o desejo das pessoas em possuIr uma peça com grIfe.

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Patrícia Paes. Tudo depende da pro-posta, da concepção da imagem de cada coleção: a mulher sexy, a inde-pendente, a prática, a discreta, a ca-sual, etc.. E cada público vai seguir a proposta que mais lhe fale à persona-lidade ou ao estilo de vida e compor-tamento. Porém, é claro que a essên-cia feminina, seus melhores ângulos, está em todas essas propostas.

Fale! Você também fotografou ensaios masculinos. Quais as principais diferen-ças entre esses dois tipos de modelos?Patrícia Paes. Eu poderia dizer que a diferença é a essência masculina e a essência feminina. Mas isso não só em termos práticos. Fotografar uma mulher deixa o profissional navegar por uma série de possibilidade de poses, trejeitos, olhares, posturas, gestos; ou seja, há uma variedade praticamente infinita para explorar o universo feminino na fotografia de moda. Já para fotografar um homem, as possibilidades se restringem sen-sivelmente. Um exemplo: pode-se fa-zer uma publicidade de moda em que a mulher aparece em poses arrojadas, irreais e até masculinas. A mesma va-riedade não se aplica quando se foto-grafa homens.

Fale! Você esteve na Ásia por quatro anos. Como o oriental, sobretudo nos pa-íses menos ocidentalizados em que você esteve enxerga a moda? E a fotografia?Patrícia Paes. Na moda, eles se limi-tam a novas versões dos seus trajes típicos, assim como o mundo todo [risos]. Já na fotografia, a área de fo-

tojornalismo é bastante explo-rada, mas não valorizada pelo próprio país, e sim por outros países com sede de informação a respeito das dife-rentes culturas.

Fale! Embora, você também explore o preto e branco, a cor é um traço mar-cante em seu trabalho. Isso é influência também da cultura oriental?

Patrícia Paes. não, não é. Existem fotos que ficam mais bonitas em co-lorido; e também as comerciais são preferíveis no colorido. Se bem que, para um registro mais atraente de um lugar como a Tailândia, a cor se transforma num componente indis-pensável, para que não se perca o banquete visual percebido no dia a dia daquelas pessoas. Fale! Por outro lado, o preto e branco pode ser tido como uma estética de influência europeia? Que detalhes inte-ressam na hora de produzir fotografias assim?Patrícia Paes. A fotografia nasceu em preto e branco por limitações tecno-lógicas. Foi criada na Europa sim, mas a colorida também, por um físico chamado James Clerk Maxwell. Po-rém, foi difundida por george East-man, fundador da kodak e inventor do filme fotográfico. O interessante na fotografia em preto e branco, em minha opinião, é a variedade de tons, o jogo de luz e sombra e a riqueza de efeitos e atmosferas conseguidos a partir do que parece uma limitação. Talvez seja por isso que muitas vezes uma foto em preto e branco pareça mais artística.

Fale! E o advento da fotografia digital, é um aliado da moda e do marketing? Em que medida?Patrícia Paes. A fotografia digital é um poderoso aliado de todos os setores da fotografia por sua velocidade e praticidade. O que era feito em dias, hoje é feito em horas ou em minutos. Fale! Você fez workshops com os fotó-grafos Clício Barroso, Danilo Russo, Luis Crispino, e muitos outros, quem são os fotógrafos brasileiros que mais te in-fluenciam hoje? E no exterior?Patrícia Paes. Como estudei em For-taleza, São Paulo e Itália, as influên-cias acabam se misturando, de modo que nem sei distinguir direito. Mas meus fotógrafos preferidos, aqueles cujos livros eu estou sempre folhe-ando para aprender mais, são Steven klein, Steven Meisel, Catier-bresson e Sebastião Salgado.

QUATRO ANOS NA ÁSIA. O registro do povo de Myanmar, fé (budista) e costumes num dos países mais reclusos do mundo.

em uma publIcIdade de moda, a mulher sempre aparece em poses arrojadas, IrreaIs e até masculInas.

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Cultura

EspecialA textura de Fernanda Quinderé

por dimas Macedo

FERNANDA QuINDERÉ POSSuI uM TRAçO distintivo na sua postura literária: permite que a sua obra se faça a expressão de sua vida. E a sua criação, não raro, se resume a este postulado: a dignidade do intelectual e o ponto de

vista do poeta se perfazem com a expansão do seu conhecimento, a concretização da sua segurança e a fragmentação do seu imaginário.

A paixão criativa, em Fernanda Quinderé, me parece a coisa mais espontânea possível, no sentido de que a fanopéia e o palco se possam construir enquanto cenários da sua consciência.

Transmuta-se Fernanda Quinderé em jornalista e atriz; cria-se, a partir de Fernanda Quinderé, o entorno das suas diversas personas, pintadas em retratos líquidos e plurais, que apontam para o movimento e a viagem; mas é a escritura e os vários recursos do texto literário, aquilo que lhe dá melhor leveza e unidade. O texto é o lugar do seu corpo e da sua beleza, mas é também o lugar da sua logopéia e da sua alteridade.

Fernanda é dona de um alfabeto literário próprio e de uma escritura pessoal e particularíssima. E é justamente disto que um artista de talento precisa: ser desigual em relação a seus contemporâneos; ser original no processo de montagem do seu universo criativo.

O drama e o tecido com os quais se afirma a boca de cena de um romance seriam, para a minha maneira de ver a sua arte, pontos de partida e de chegada da sua produção. Falei sobre isto quando li o seu livro – Calabouço Para os Reis (2005) –, quando reli as suas crônicas de Papos de Mulher (2001) ou quando entendi que os poemas de Mulher Azul (2002) podiam ser vistos como alegorias da sua personalidade fascinante.

Diferente não é o meu juízo a respeito deste

inquietante livro de memórias e de recortes e lembranças de uma possível solidão a dois: o romance da sua vida com Luizinho Eça, o gênio máximo do piano e da partitura musicalizada.

Neste livro de Fernanda Quinderé – Bodas da Solidão (Fortaleza, Edições Livro Técnico, 2007) – o que se reinventa é um mito e o que se conta é uma escritura literária do melhor quilate. As personagens, a autora e a condutora de todo o desempenho da trama, inesperadamente podem parecer ficção. não é este, contudo, o melhor enquadramento do texto, pois firmam-se, por certo, aqui, a percepção de suas entrelinhas, o prazer e o proveito que podemos tirar de todos os seus códigos semânticos.

A plenitude do ato criativo, a epifania do texto, a dramaturgia e a memória e, acima de tudo, o ritual do corpo e da entrega dão a este livro de Fernanda Quinderé um estatuto de monta entre os criadores da arte dramática do Brasil.

Não é, no entanto, de arte dramática que cuida a autora de Mulher Azul. A sua narrativa é límpida quando se trata de perquirir o drama que se esconde no subtexto do livro, porque aí

Fernanda Quinderé conquista a sua espessura de poeta e a sua partitura de musa e de atriz.

Trata-se, pois, do livro em que Fernanda melhor se espelha diante da arte de criar, superando os seus desafios estéticos, a sua necessidade de formas, as suas armadilhas verbais, e se consolidando, também, como um dos nomes visíveis da literatura que hoje faz no Ceará.

Escrevo, por igual, que sou fã de Fernanda Quinderé. E o que reescrevo, de público, é que vejo os sentidos do seu texto como fossem bodas de paixão, bodas que se tecem com os fios da memória e com os linhos e acentos da melhor linguagem literária.

Fernanda, múltipla

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Gerenciado por Paulino Jr, um dos mais conceituados e bem frequenta-dos salões de beleza de Fortaleza é o Paulinos Cebeleireiros, no Shopping Center Iguatemi. Montado por seu pai, Paulino, o salão sempre funcio-nou no Shopping Iguatemi.

Manter um salão no shopping é um investimento em qualidade e fator de diferenciação. Esse é o perfil do salão, atender às classses A e B com maior comodidade e praticidade, incluindo sábados e domingos, no mesmo ritimo de funcionamento das lojas.

O mercado de Beleza cresce 4 a 5 % ao ano, mas isso não significa

que tudo esteja a mil maravilhas. A concorrência é acirrada, mas ganha destaque quem trabalha com lealda-de aos clientes e oferece serviço de qualidade com transparência.

O salão Paulinos Cabeleireiros tem uma equipe de profissionais qua-lificados e especializados. A equipe de 50 pessoas assegura agilidade e qualidade nos serviços.

Uma nova linha de ação agora sãos os os serviços de drenagem e limpeza de pele.

Em dia com as novas tecnologias a serviço da beleza, Paulino trouxe para a sua loja a última novidade em

alisamento de cabelos, o Photon Hair. Essa técnica é à base de luz fotônica, que dispensa o uso de produtos quí-micos muito fortes, por isso, agride menos os fios, além de alisar e tratar ao mesmo tempo.

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O Governo do Estado condecorou, no último dia 30 de março, em solenidade realizada no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, duas personalidades cearenses com a Medalha da Abolição. A comenda foi entregue pelo governador Cid Gomes ao presidente do Superior Tribunal de Justiça, César Asfor Rocha, e ao cantor Raimundo Fagner. Acima, os agraciados ladeados pelo deputado federal Ciro Gomes e pelo governador Cid Gomes.

persona

FOTO DIVULGAçãO

Luiz Carlos Martins. De A a z no Caderno People, Jornal O Povo

Fagner e César AsforMEDALHA DA ABOLIÇÃO

Ciro, César Asfor, Fagner e Cid Gomes

Amarílio Macêdo e César Asfor Rocha

COBERTURA FOTOGRáFICA DE AUSTOn

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personaLuiz Carlos Martins

MedAlhA dA ABolição. O ministro César Asfor Rocha e o cantor Raimundo Fagner foram agraciados com a cobiçada Medalha da Abolição.

FOTOS: AUSTOn

Teodoro Soares, César Asfor e Renê Barreira

Raimundo Delfino e Andréa

Roberto Macêdo e Tasso Jereissati Napoleão Nunes Maia

Fagner

Dedé e José Edmar Barros de Oliveira

Fernando Ximenes e José Waldo SilvaCid e Maria Célia Gomes

Auto Filho

Agraciados César Asfor e Raimundo Fagner

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personaLuiz Carlos Martins

sUcessão no JUdiciário. Concorrida e prestigiada, a cerimônia de posse dos novos dirigentes do Tribunal de Justiça do Ceará, desembargadores Ernani Barreira e Arísio Lopes da Costa - presidente e vice - e Byron Frota - corregedor geral.

Célia e Cid Gomes entre Monique e Ernani Barreira

Novo presidente e Luizianne Lins

Ademar Mendes Bezerra e Adauto Bezerra

Ernani Barreira e Eunício Oliveira

José Antônio Parente e Tomás Figueiredo

Mesa oficial na solenidade no Palácio da Justiça

Mauro Benevides e Mauro Filho Hélio Leitão Morgana e Manuel Linhares

César Asfor, Cid Gomes e Fernando Ximenes Iracema do Vale Osmar e Beth Delboni e Renato Barroso

Domingos Filho, Ernani Barreira, Salmito Filho e Luiz Pontes Solange e Wanda Palhano e Ernani Barreira

Haroldo Rodrigues, Ernani Barreira e Raul Araújo

José Pimentel e Dulcina Palhano

FOTOS: AUSTOn

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personaLuiz Carlos Martins

no rol dos 40. Fernando Férrer reuniu familiares e amigos no piano bar do Iate Clube, para festejar seu aniversário. Tudo correu na pauta do preciso.

Fernando Férrer e Ivânia

Fernando Férrer, José Antônio e Maryane Parente Rayane Araújo e Gomes Farias Filho

Ana e Antônio Fortuna

Carlos Cruz e Elizabeth

Heitor e Fernando Férrer

Priscila e Viviane FérrerValdetário e Karine Monteiro

Lúcio Apoliano e Fernando Férrer

Luiz Carlos Martins, Carlos Rebonatto e Geraldo Bizerra

Hermano e Beth Queiroz

Flávia Bezerra e Mateus Moraes

Ivan Campos, Byron Frota e José Cláudio Carneiro

FOTOS: MAxIMILIAnO

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personaLuiz Carlos Martins

novA Gestão. Governador Cid Gomes presidiu a posse dos novos integrantes do Conselho Deliberativo do Sebrae-Ceará, tendo na presidência Jorge Parente e na vice João Porto Guimarães.

Governador Cid Gomes saudando os novos diretores do Conselho Deliberativo do Sebrae-Ceará

Conceição e João GuimarãesLuciana Dummar, Jorge Parente, Vânia e Dummar Neto Jorge Parente e Cid GomesAlcy Porto, Gony Arruda e Valmir Campelo

FOTOS: RODRIGUES

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Conhecimento e diploma não são sinônimos, sequer têm correlação positiva, mas para os brasileiros o diploma vem sempre em primeiro lugar, o conhecimento pode vir depois.

Pode-se afirmar sem medo de errar que este é um dos principais traços de nossa cultura que condenam a educação nacional ao fracasso, tão bem retratados e mostra-dos pelos diversos sistemas de avaliação e testes internacionais de desempenho. Nós amamos, profundamente, os diplomas. Não temos o mesmo sentimento para o conheci-mento, para o saber. Não são poucos os que confundem diplomas com conhecimento. E, pior, valorizam mais os diplomas e títulos. Há um verdadeiro abismo, no Brasil, entre se ter um diploma e ter tido as chances reais de desenvolver habilidades, competências e pe-rícias para o exercício de uma vida produtiva e próspera.

Mesmo ultrapassando os obstáculos do sistema, sobreviventes do funil educacional chegam ao ensino superior e, mesmo sendo diplomados, não adquirem os pré-requisitos para o exercício da profissão. São apenas ba-charéis, não podem exercer a profissão para a qual foram diplomados. Um exemplo co-nhecido desse fenômeno são os baixíssimos percentuais de aprovação no exame nacional da OAB. A grande maioria dos diplomados, que responde ao exame, não demonstra os conhecimentos mínimos para o exercício da profissão de advogado. Em tempo, para quem duvida de que o sistema educacional brasileiro é um severo funil, estreito em sua saída, basta lembrar deste fato: de cada 100 crianças matriculadas na primeira serie do ensino fundamental, somente 56 delas completarão esta etapa e menos de um terço chegará a completar o ensino médio, 11 che-gam a universidade, nove para as particulares e dois para as públicas.

Durante os anos 1990, houve uma grande ampliação da matrícula no ensino fundamental, muitas escolas foram cons-truídas, muitas crianças foram incorporadas

ao sistema. Àquela altura, a nova forma de financiamento da educação, o FUNDEF, atre-lou o financiamento ao aumento da matrícula no ensino fundamental. Esse crescimento registrado exaustivamente se refletiu no ensi-no médio, elevando também suas matrículas. O crescimento quantitativo das matrículas não foi acompanhado por um aumento de aprendizagem, de conhecimento.

Os resultados auferidos do Prova Brasil, do INEP, são claros em mostrar que há pelo menos 50% de crianças de 4ª série do ensino fundamental em situação de analfa-betismo, literal ou funcional. Os resultados da oitava série são ainda piores do que os da quarta série. De que vale um diploma de ensino fundamental sem ao menos os estu-dantes terem a capacidade de se informarem com competência por meio da leitura? Pois é, a realidade do ensino médio é ainda mais desoladora.

Os últimos resultados publicados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação básica mostram que a média mínima auferi-da pelos testes do Saeb para o ensino médio são desempenhos típicos de oitava série. Os estudantes que saem do ensino médio e não pretendem entrar em uma faculdade simples-mente obtêm um diploma que não serve para o sistema produtivo, eles não têm profissão e, ao menos pelos resultados dos testes, não possuem conhecimentos adequados de português e de matemática.

Em resumo, diplomamos, mas nos recu-samos a educar. Esses resultados medíocres na educação básica sequer chegam a assus-tar a sociedade. Ora, estamos produzindo pessoas que não têm os mínimos conheci-

mentos exigidos em uma sociedade moderna e tecnológica. Esse fato em si não promove a intenção de uma reforma da educação. Não estamos interessados nisso. Não há responsabilização pelos péssimos resultados, só os louros pelos diplomas e aumento de matrículas.

O amor ao diploma e a rejeição ao conhe-cimento estão na base do entendimento e do comportamento do brasileiro. O mérito é va-lorizado somente em seus aspectos formais, a questão é possuir um diploma ou não. Para avançar, é preciso reiterar o esforço, os mé-todos, a disciplina necessária para aprender. O Brasileiro acha que é possível aprender sem estudar. Isso está em nossas raízes, em nosso comportamento frente ao conhecimen-to e aos diplomados. Idolatramos o diploma, detestamos o conhecimento e fugimos do esforço e da responsabilidade por resultados educacionais. Essa mentalidade é de todos, pobres, remediados ou ricos. Por incrível que possa parecer, os pais de estudantes da rede pública de ensino fundamental aprovam o ensino ministrado aos seus filhos e, ainda, tascam um oito como nota para a qualidade das escolas públicas, segundo pesquisa do INEP, de 2005.

Em outros termos, os pobres, em parti-cular, percebem a importância da educação, mas não tem condições de avaliar o que os seus filhos estão aprendendo, pois eles mesmos não têm escolaridade para tanto. Não há pressão social suficiente por mais qualidade na educação. Essa pressão é, ainda, embrionária em todos os setores da sociedade. Na pesquisa do Inep, os pais deixam absolutamente claro que o maior critério para a escolha da escola dos filhos é o da proximidade da escola em relação à residência. Definitivamente, devemos superar a ideia de diplomar sem educar, lutar contra esse comportamento e valorizar quem sabe e o saber, pois, do contrário, o sistema edu-cacional pode desmoronar como um castelo feito de cartas.

Carlos Henrique Araújo é sociólogo e consul-tor para políticas de Educação.

O diploma ‘e conhecimento’por carlos henrique Araujo

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